Tracy Sinclair - Farsa e Paixão (Sabrina 1157)[1]

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Farsa e Paixão Na Eligible Stranger

Tracy Sinclair

Nunca diga nunca... Nicole Trent nunca concordaria em entregar o filho de sua irmã àquele homem sem coração, mesmo sendo ele tio do menino. Também não lhe agradava a proposta de casamento que o riquíssimo Philippe Galantoire lhe fizera. Mas como negar ao sobrinho órfão a vida de conforto à qual ele tinha direito? Levada para o palácio europeu de Philippe, Nicole viu-se mergulhada em um mundo de luxo... E de desejos proibidos. Por trás da máscara sofisticada do homem com quem se casara em um momento de desespero ela vislumbrava um homem apaixonado, que pretendia ser seu marido de todas as maneiras...

Digitalização: Tinna Revisão: Bruna Cardoso

Sabrina 1157 ~ Força e Paixão ~ Tracy Sinclair

Copyright © 2000 by Tracy Sinclair Originalmente publicado em 2000 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e colofao são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: An Eligible Stranger Tradução: Ana Carolina Ferreira do Nascimento Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely S. Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10° andar CEP: 05424-010 - São Paulo – Brasil Copyright para a língua portuguesa: 2000 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

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CAPÍTULO I

Os olhos de Nicole Trent ficaram turvos quando ela pegou a pilha de contas a pagar, sobre a mesa da cozinha. Como as outras mães solteiras conseguiam viver com salários tão pequenos? Nunca imaginara que fosse tão caro cuidar de uma criança. Mesmo vivendo em uma cidade tão cara quanto San Francisco. Não que lamentasse o tempo e o dinheiro envolvidos. Robbie era o que tinha de mais precioso em sua vida. Ao lembrar-se de seu sobrinho adormecido no quarto, o rosto de Nicole enterneceuse. Após o acidente naquela terrível noite chuvosa que matara os pais dele, ela jurara que Robbie teria tudo que as outras crianças tinham, não importando os sacrifícios que teria que fazer. Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque do telefone. Ela o alcançou sem nenhuma premonição do problema que a atingiria. Uma voz de homem, profunda e com um leve sotaque francês, falou: — Aqui é Philippe Galantoire. Gostaria de falar com a Srta. Nicole Trent. Aquele nome causou-lhe um choque. Havia algum tempo, para apaziguar sua consciência, Nicole informara àquele homem sobre a morte do irmão dele. Fora apenas uma cortesia e não esperara nada mais em retorno. O falecido cunhado de Nicole, Raymond Galantoire, não tivera qualquer contato com a família dele na França, durante anos. Logo após sua morte, ela nem soubera como entrar em contato com seu irmão e só recentemente isto fora possível. Quando examinava os pertences de Raymond, encontrara o endereço de Philippe misturado com outros papéis sem importância. O que quer que Philippe Galantoire quisesse agora era tarde demais, não interessava. Nicole procurou ocultar o desagrado de sua voz, enquanto se identificava, mas era difícil. — Obrigado por nos avisar sobre a trágica morte de Raymond — Philippe disse com naturalidade. Não havia emoção na voz dele, Nicole pensou indignada. Com aquele tom de voz, ele poderia até estar agradecendo a oferta de uma cadeira para se sentar. Devia ter água gelada nas veias. — Eu sabia que você e Raymond não se falavam havia cinco anos, mas mesmo assim, achei que devia comunicar a morte de seu irmão — ela disse seca. Philippe Galantoire não reagiu a mal disfarçada hostilidade. Sua voz mostrava a mesma frieza, quando falou: — Em sua carta, você mencionou que meu irmão deixou um filho. Que idade ele tem? — Tem cinco anos — ela respondeu no mesmo tom. — Qual é seu nome? — É Robaire, mas todos o chamam de Robbie. — Onde está o menino agora? Quem toma conta dele no momento? — Ele está morando comigo — Nicole respondeu com rapidez e acrescentou: — Permanentemente. Projeto Revisoras

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Todo aquele interesse tardio deixava-a intrigada. Será que aquele homem frio e sem sentimentos iria se oferecer para auxiliar no sustento de Robbie? Ela bem que gostaria de alguma ajuda, mas não de alguém quê considerara sua irmã indigna de ser um membro de sua família. Os Galantoires eram fabulosamente ricos. Possuíam vinhedos na França e uma destilaria que produzia vinhos e champanhes premiados no mundo todo. O dinheiro que lhe oferecessem não significaria nada para eles. Simplesmente apaziguaria uma consciência culpada. Nicole enrijeceu o maxilar e falou firme. — Eu pretendo criar Robbie, logo, você não precisa se preocupar com ele. — Você é que não precisa se preocupar, Srta. Trent. Eu jamais permitiria tal arranjo. O menino é um Galantoire. Deve ser criado por mim e por minha família. — Ora, de forma alguma. Não vou deixar que tire meu sobrinho de meu convívio! Você é um completo estranho. Nem saberia da existência de Robbie, se eu não houvesse lhe comunicado — ela protestou, lamentando-se no íntimo, por tê-lo feito. — Infelizmente, é verdade, mas não é minha culpa. Como eu poderia saber? Raymond simplesmente desapareceu, assim que se casou. — Que surpresa! — ela exclamou irônica. — Vocês ameaçaram deserdá-lo se ele casasse com minha irmã e a insultaram de todas as maneiras. Acha estranho que ele tenha se ofendido? — Não preciso me justificar com você — Philippe retrucou com frieza. — Apenas diga quando pode pôr o menino em um avião para Paris. Farei todos os arranjos e enviarei uma passagem aérea. Quando ele estará pronto? — Que tal nunca? — ela replicou. — Bem, eu tinha esperança de que pudéssemos resolver isto amigavelmente, mas se você está decidida a tornar as coisas difíceis, terei de... — Ele se calou, ao ouvir uma voz de criança. Robbie tinha entrado na cozinha e olhava desconfiado para Nicole. — Com quem está brigando, tia Nicky? O que aconteceu? Ela tapou o fone com a mão e deu um sorriso tranqüilizador para o menino. — Está tudo bem, meu querido. Eu não estava brigando, apenas não percebi que estava falando tão alto. Volte para a cama que irei lá com você em um minuto. — Eu queria água — Robbie pediu. — Já a levarei para você — ela prometeu. — Deixe-me livrar... Terminar este telefonema. Quando a criança saiu, a voz de Philippe soou outra vez. — Era Robaire? O que uma criança da idade dele está fazendo acordado há esta hora? Já deve ser nove horas, aí. — São nove e quinze — ela respondeu e nem se deu ao trabalho de explicar àquele homem intragável que já pusera o sobrinho na cama havia mais de uma hora. — Não tenho nenhuma experiência pessoal com crianças, mas sei que elas devem estar na cama cedo. Se for assim que você toma conta de meu sobrinho, sei que será muito bom que eu a desobrigue desta carga — ele disse. — Você está sonhando! Robbie é meu sobrinho também e, ao contrário de você, não o considero uma carga. Esqueça esta história de levá-lo para a França, porque não vai acontecer. — Sem esperar resposta, ela desligou o aparelho com força. Projeto Revisoras

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Nicole forçou-se a sorrir enquanto dava água a Robbie. Em seguida, deu-lhe um beijo. Mas, quando saiu do quarto, sua fúria explodiu. Que petulância a daquele homem! Como ele podia imaginar que ela lhe entregaria Robbie? Depois da forma como ele tratara o próprio irmão, não confiaria nele nem para cuidar de um cachorrinho. Os Galantoire só queriam Robbie porque ele tinha o sobrenome da família. Ainda consideravam que sua irmã Sandra estava abaixo deles. Sandra e Raymond haviam se conhecido em um bistrô de Paris freqüentado por gente jovem, no verão em que ela se formara na faculdade. Ao contrário do que os Galantoire diziam Sandra não sabia que Raymond pertencia a uma família milionária. Ela só descobrira aquele fato, quando Raymond a pedira em casamento e a apresentara à mãe e ao irmão. Philippe Galantoire, o primogênito, tinha conduzido as empresas da família desde a morte de seu pai, muitos anos antes. Nicole não era tão ingênua e otimista a ponto de pensar que Philippe iria esquecer o assunto. Seu orgulho masculino não permitiria que uma simples mulher o fizesse recuar de suas intenções. Mas não havia nada que ele pudesse fazer. Os direitos dela eram iguais aos dele. Após mais alguns telefonemas autoritários, ele desistiria, arranjaria alguma desculpa para salvar seu amor-próprio e voltaria a cuidar de seus negócios e a namorar celebridades. De acordo com Raymond, seu irmão fazia um incrível sucesso entre as mulheres. Na manhã seguinte, Philippe Galantoire não passava de uma vaga e desagradável lembrança para Nicole. Seus dias e noites eram muito ocupados para ela se deter em superficialidades. Era difícil acreditar que houvera um tempo em que à noite, após o trabalho, costumava tomar um banho demorado e depois vestir algo sofisticado, para jantar em um lugar da moda com algum de seus admiradores. Não era surpresa que naquela ocasião, ela tivesse mais dinheiro. Não gastava praticamente nada em alimentação e divertimento e sempre renovava seu guarda-roupa em liquidações. "Olhe para o lado bom da coisa. Você não precisa de roupas novas toda semana, mesmo que tenham descontos," ela disse a si mesma com uma careta, enquanto olhava no espelho sua calça jeans surrada e uma velha camiseta. A frente da camiseta estava toda molhada, pois Robbie espalhara água durante o banho. Mas nem se incomodaria em trocá-la, não havia ninguém ali para vê-la. — Com quem está falando, tia Nicky? — Robbie perguntou desde o banheiro. — Estou falando com uma mulher mimada que eu conhecia — ela respondeu, dando-se conta de que estivera falando sozinha. — Não se esqueça de lavar atrás das orelhas. Enquanto se dirigia para a cozinha, a campainha da porta soou. — Quem é? — Robbie perguntou. — Se for visita, eu quero ver. — Acabe seu banho. Deve ser Grace, a vizinha do lado, querendo alguma coisa emprestada. Nicole abriu a porta e arregalou os olhos surpresa. Um homem alto, esguio, de ombros largos e corpo atlético, estava a sua frente. Usava um terno elegante que devia ter custado uma fortuna. Seus cabelos escuros e fartos estavam despenteados, mas ainda assim parecia impecável e tinha um ar imponente. Seu rosto era forte, o maxilar quadrado e a boca firme conseguia ser severa e sensual ao mesmo tempo. Seu olhar era penetrante. Ambos olharam-se por um momento, antes de ele falar: Projeto Revisoras

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— Gostaria de falar com Nicole Trent. Ela reconheceu a voz imediatamente. Era Philippe Galantoire e parecia tão arrogante quanto soara ao telefone. Aquilo não a espantava, mas na verdade não imaginara que ele fosse tão bonito. Era uma surpresa! — Sou Nicole Trent. Como chegou a Califórnia tão rápido? — ela perguntou, puxando a camiseta curta, na tentativa de cobrir a pele exposta. Philippe mal ouviu a pergunta. Seus olhos estavam fixos na malha molhada da camiseta de Nicole que se ajustava a seu corpo como uma segunda pele e não somente lhe moldava os seios, mas os mamilos também. Deus do céu! Aquela jovem tinha o corpo de uma deusa. — O que está fazendo aqui? — Nicole perguntou impaciente. — Pensei que tivesse sido bem clara ao telefone. Você não vai levar Robbie. Philippe afastou os olhos da camiseta e fixou-os no rosto dela, ignorando de propósito sua aparência sexy. A voz dele era gelada, quando falou: — Você desligou o telefone em minha cara e pensou que eu fosse deixar as coisas assim? — Não. Eu achei que você ia me aborrecer bastante, sim, mas não pensei que fosse louco o suficiente para voar metade do mundo, em uma viagem infrutífera. — Você não me conhece bem, Nicole Trent. Eu vou atrás do que quero e não desisto até conseguir — ele disse, com uma voz surpreendentemente macia. — Que pena que sua carreira vitoriosa vá acabar — ela o desafiou, erguendo o queixo, com os olhos azuis chamejando de raiva. — Não esteja tão certa. Os olhos de ambos pareciam querer fuzilar um ao outro, quando Robbie chamou do banheiro. — Onde você está tia Nicky? — A voz do menino estava trêmula. — Não foi embora e me deixou, não? — Não, querido, estou aqui mesmo, na sala. — Ela deixou Philippe de pé no hall e correu para o sobrinho. Robbie estava se adaptando muito bem à nova vida, mas às vezes ficava ansioso e inseguro. E quem podia culpá-lo? Seus pais haviam desaparecido de uma hora para a outra, sem nenhum aviso. Nicole era tudo o que ele tinha. Philippe olhou-a correr, descalça. Era tão graciosa! Com os cabelos longos e loiros caindo em torno do rosto delicado com feitio de coração, ela era irresistível. Philippe inspirou longamente. O que estava acontecendo com ele? Claro que Nicole Trent era sexy e atraente, mas ele conhecia muitas mulheres bonitas e estava acostumado a elas. Aquela mulher era sua oponente. Era importante que lembrasse aquilo. Se ela fosse tão esperta quanto era linda, não poderia se descuidar. Tinha de manter a guarda o tempo todo. Apertando os maxilares, ele atravessou a sala e seguiu o som da voz de Nicole. — O banho acabou, Robbie — ela avisou, ajoelhando-se do lado da banheira. — Você vai ficar enrugado como uma passa, se não sair da água já. — Ah! Eu quero ser uma passa — Robbie riu, erguendo os braços para que o tirasse da banheira. — Assim, não vou precisar mais tomar banho, nem comer brócolos ou... — Ele se interrompeu, olhando para Nicole. — Quem é ele?

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Virando-se, Nicole olhou sobre o ombro e ficou pasma. r— Poderia, por favor, esperar na sala? — ela pediu a Philippe. — Ou, melhor ainda, telefone para mim, mais tarde. Como vê, esta hora não é conveniente. Ele a ignorou e continuou olhando para Robbie, com visível emoção. — Você se parece com seu pai — Philippe disse, em voz baixa. — Os cabelos dele eram escuros também, mas seus olhos eram castanhos claros e não azuis como os seus. — Minha mãe, eu e tia Nicky temos olhos azuis. Só que a minha mãe se foi... — O menino o olhou com curiosidade. — Você conhecia minha mãe? ——Não muito bem — Philippe respondeu, com voz abafada. — Mas conhecia seu pai. Ele era meu irmão. Sou seu tio Philippe. Robbie olhou para Nicole, com ar de dúvida. — É mesmo? — Acho que sim — ela disse de má vontade. ——Você sabe que sim — Philippe interpôs irritado. — Primeiro tenta manter o menino longe de nós e, agora, quer negar até a existência da família de Raymond. Robbie enlaçou o pescoço de Nicole com os braços e cochichou: — Eu não gosto dele. "Você não é o único", ela pensou, mas controlou-se e sorriu de leve, para inspirar-lhe confiança. — Não se incomode ele não vai ficar aqui muito tempo. — Erguendo-o nos braços, ela virou-se para Philippe. — Espero que não se oponha a ir embora. Tenho que pôr Robbie na canta. — Posso esperar — ele retrucou secamente. — Pode demorar bastante. Vou ler uma história para ele. Uma bem comprida. Os olhos deles duelaram, enquanto Philippe respondia. ——Não se apresse. Não tenho nada para fazer e não vou a lugar algum. Nicole tomou cuidado para que Robbie não percebesse sua raiva, porque só o perturbaria mais ainda, mas foi um grande esforço não dizer a Philippe o que pensava dele. Aquele homem não tinha o menor direito de aparecer ali e perturbar suas vidas. De forma alguma o deixaria colocar as mãos em Robbie! Não tinha o menor jeito com uma criança. Até assustara Robbie! Falando baixinho para acalmá-lo, Nicole colocou Robbie na — Não seja ridícula! E, além disso, você está errada quanto a Raymond. Foi ele quem saiu de casa. — Isto é o que qualquer homem decente faria se alguém insultasse a mulher que ele amava. Sandra era um maravilhoso ser humano. Não tinha um único pensamento mesquinho em sua mente. — E como podíamos saber disto? — A atitude austera de Philippe se suavizou pela primeira vez. — Eles se conheciam havia tão pouco tempo. Casamento é um passo muito sério. Apenas pedimos a Raymond para esperar até que estivesse certo de seus sentimentos. Isto é tão terrível assim? — Você fez mais do que aconselhá-lo a esperar — Nicole disse seca. — Você disse que Sandra só estava interessada no dinheiro dele. — Não é uma situação tão rara entre uma jovem pobre e um homem rico. — No entanto, mesmo quando Raymond ficou sem dinheiro, Sandra continuou ao lado dele. Será que você tem idéia da luta que eles tiveram de travar? Raymond não Projeto Revisoras

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sabia fazer nada na vida a não ser trabalhar com vinho, que é a tradição da família. O único trabalho que ele conhecia era o das Empresas Galantoire. — Você parece insinuar que ele não costumava trabalhar — Philippe interpôs. — Pois saiba que meu irmão trabalhou desde criança, aprendendo nosso ofício. — Pois isto foi péssimo, por que ele não sabia fazer outra coisa. E Sandra não podia ajudá-lo, porque as leis francesas não permitem que estrangeiros trabalhem no país. Ficaram reduzidos a contar as moedas. Literalmente. Uma sombra passou pelo rosto de Philippe. — Raymond poderia ter me procurado, se precisasse de dinheiro. Ele devia saber que eu nunca lhe recusaria nada. — Ele tinha orgulho. Os dois eram jovens e estavam apaixonados. Lidavam com a miséria de modo tranqüilo. Sandra me disse que, às vezes, eles tiravam a sorte para saber se compravam comida para o jantar ou se iam para um bar com alguns amigos para conversarem, com um único drinque a noite toda. Não tinham dinheiro para fazer as duas coisas. — Nicole se interrompeu, ao ver a expressão angustiada no rosto de Philippe, mas logo disse a si mesma que ele merecia aquele sofrimento. — Bem, pelo menos fico contente de saber que eles eram felizes — ele murmurou. Calma deixou-o escolher a história que queria ouvir. Assim que ficaram a sós, o menino esqueceu o medo, e suas pálpebras começaram a pesar de sono. Para desconsolo de Nicole, ele dormiu quase imediatamente. Ela queria que Philippe perdesse a paciência de tanto esperar na sala. Seria bem feito! Após alisar as cobertas sobre a criança adormecida, Nicole resolveu trocar sua camiseta molhada antes de voltar à sala. A presença de Philippe era tão imponente e ele era tão alto que a sala parecia ter diminuído de tamanho. De pé, bem no meio do cômodo, ele olhava ao redor com visível desaprovação. Nicole sentiu-se um pouco embaraçada ao perceber que, sob o ponto de vista dele, aquele apartamento devia parecer pobre, feio e malcuidado. Os pratos usados no jantar ainda estavam sobre a modesta mesa, e havia uma pilha de roupas para passar sobre o sofá. Os brinquedos de Robbie estavam espalhados pelo assoalho, junto com revistas e jornais. — Ainda não tive tempo de arrumar a casa — ela disse defensiva. — É, estou vendo — ele ironizou. Nicole empinou as costas, arrumou os ombros e ergueu o queixo, quase agressiva. — E culpa sua, por ter chegado sem avisar. Ele arqueou uma sobrancelha negra. — Então, eu sou o responsável pelo estado desta sala? — Exatamente. Você deve ter muitos empregados para manter sua casa impecável, mas a maioria das pessoas não tem. Trabalho o dia inteiro, depois pego Robbie na préescola e venho para casa fazer o jantar. Geralmente, lavo a louça, recolho as roupas e arrumo os brinquedos, enquanto ele toma banho. Graças a você, saí de minha rotina e me atrasei. Pode me chamar de pouco hospitaleira, mas não tenho tempo para quem não foi convidado. — Bem, essa não é uma visita social. Se você não tivesse desligado o telefone, poderíamos ter concluído nosso assunto ontem. — Pelo que sei, já o concluímos, sim — ela disse ríspida. — Não se faça de boba. Robaire é um Galantoire. Nós pretendemos...

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— Seu irmão Raymond também era — Nicole o interrompeu. — Mas, você o expulsou de casa. O que tenciona fazer com Robbie se ele não corresponder as suas expectativas? Ao seu nível de exigência? Vai colocá-lo em um orfanato? — Pode ter certeza de que sim. Philippe pôs as mãos nos bolsos, tenso. — Você acha que eu sou o vilão, o irmão mais velho que usurpou Raymond de seus direitos, mas está errada. Eu estava honestamente preocupado com ele. Acredite, amava meu irmão e não queria que ele cometesse um erro. — Se você o amava, por que não o procurou para fazer as pazes? O orgulho é assim tão importante? — Nicole perguntou, com desdém. — Não sou o monstro que você pensa. Quando meu ânimo se acalmou, tentei entrar em contato com Raymond. Enviei várias mensagens, mas ele nunca respondeu. — Philippe começou a andar de um lado para o outro. — Após um tempo, cheguei à conclusão que devíamos nos sentar e conversar como adultos. Fui vê-lo, mas ele tinha mudado de endereço e não consegui encontrá-lo. Procurei-o por toda Paris, mas ninguém podia ou queria dizer onde ele estava. Como eu podia adivinhar que ele tinha saído da França? — Depois que Robbie nasceu, eles não tiveram escolha. As contas começaram a se acumular e não tinham como pagá-las. Se voltassem para San Francisco, pelo menos Sandra poderia conseguir um emprego decente para sustentar a família enquanto Raymond se iniciava em outra profissão. — AS coisas melhoraram para eles, então? — Sim. Tudo melhorou. Raymond se especializou em eletrônica, conseguiu um ótimo emprego em Silicon Valley e compraram uma casa pequena e encantadora. — Nicole baixou a cabeça e contemplou as mãos entrelaçadas. — Então, em uma noite chuvosa, quando voltavam do cinema, um bêbado bateu no carro deles. Ambos morreram instantaneamente. — É horrível. Sinto muito — Philippe murmurou. Nicole sacudiu a cabeça, sem dizer uma palavra. A animosidade entre eles arrefeceu. Ela teve um inexplicável desejo de repousar a cabeça no ombro largo daquele homem e deixá-lo apertá-la contra seu corpo forte. — Nós dois sofremos uma grande perda — ele disse, com gentileza — e agora queremos o melhor para o filho deles. O momento de fraqueza de Nicole passou. Ela endireitou os ombros e preparou-se para a batalha. — Se você é realmente sincero ao dizer isso, então terá de reconhecer que Robbie ficará melhor comigo. O rosto de Philippe se endureceu. — Não concordo. Se você for sensata, deve admitir que uma criança precisa de um lar estável. — Você é preconceituoso. Minha casa não está à altura de seus padrões porque há umas poucas coisas espalhadas no chão? — Nossa idéia de "poucas coisas" é bem diferente — ele disse, com um gesto de impaciência. — Agora não é hora de discutirmos bobagens. Temos coisas mais importantes para tratar. — Já tratamos. Robbie ficará comigo e você voltará para a França para plantar mais uvas e fazer mais dinheiro, que é tudo o que lhe interessa. — Que tipo de trabalho você faz? — ele perguntou, sem retrucar à provocação. Projeto Revisoras

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Aquela pergunta pegou-a de surpresa. — Eu... Bem... Trabalho para uma confecção. — E o que faz lá? — Costuro. Nicole não queria admitir que era uma mal paga ajudante de costureira. Aquilo não contaria a história toda. Ela sonhava tornar-se uma estilista de moda, e aquele emprego, embora humilde, dava-lhe a oportunidade de observar todos os aspectos da profissão. Talvez até tivesse a sorte de ter alguns de seus desenhos reconhecidos por alguém influente no mundo da moda. Mas ela não iria revelar seus sonhos e esperanças para aquele homem arrogante. — Por que esse interesse pelo que faço? — ela perguntou. — Seu emprego não lhe permite ficar o tempo necessário com Robaire. Imagino que ele fique aos cuidados de estranhos o dia todo, e você só o veja à noite. E nesta ocasião, está muito ocupada para dar-lhe toda a atenção que ele precisa. — Isto não é verdade! A qualidade de nosso tempo junto é o que conta. — Este é um argumento fraco — Philippe interrompeu. — Na minha casa, em Paris, que é o lugar dele. Lá, Robaire terá toda a atenção de que necessita. — Hum... A atenção de uma babá que só se preocupa com o ordenado do fim do mês? Eu posso dar a Robbie uma coisa que dinheiro nenhum pode comprar. Amor! Mas, acho que você nunca ouviu falar em amor, porque não dá lucro. — O rosto de Nicole estava corado, e seus olhos brilhavam como estrelas azuis. Philippe olhou seu rosto delicado, perdido em pensamentos. Se um garotinho podia provocar tanta paixão, como ela reagiria nos braços de um homem experiente? Apostaria qualquer coisa que ela desabrocharia como uma flor, dando-lhe toda sua doçura. Ele sacudiu a cabeça, espantando a visão quase erótica. Havia muita coisa em jogo para se deixar levar pela imaginação. — É um sentimento muito nobre, Srta. Trent — ele falou com frieza —, mas Robaire precisa mais do que amor. Ele precisa de um futuro garantido, coisa que o dinheiro que você despreza pode comprar. A discussão continuou avançando, sem que nenhum dos dois cedesse. Finalmente, Philippe viu-se forçado a usar seu maior trunfo. — Eu esperava que você cooperasse, pelo bem do menino, mas não necessito sua permissão para levá-lo de volta a Paris. Robaire nasceu na França e é filho de um francês. Isto o torna um cidadão francês. — Que absurdo! A mãe dele era americana, logo, ele é tão americano quanto francês. — Não, porque seu local de nascimento é a França — Philippe disse com ar de triunfo. Bem, aquela era uma péssima surpresa. Nicole não sábia se o que ele dizia era verdade, mas por certo era preocupante. Mesmo que seus direitos sobre Robbie fossem válidos, Philippe tinha dinheiro para levar o assunto aos tribunais, indefinidamente. E ela, que mal conseguia sobreviver, não teria dinheiro para contratar advogados enquanto a família Galantoire poderia pagar os melhores dos dois países. Nicole concluiu que sua única chance seria apelar para o senso de justiça dele. Rezava para que ele realmente tivesse algum. — Acho que está errado quanto a Robbie, mas também acho que nenhum de nós quer transformá-lo em objeto de disputa, — ela começou, em um tom de voz conciliador. Projeto Revisoras

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— Você não percebe que ele ficará infeliz, vivendo com estranhos? Ele não o conhece. Terá medo de você. — Lamento muito ter erguido minha voz na frente dele, mas prometo que não acontecerá outra vez. Será que ele queria que ela acreditasse naquilo? — Infelizmente, o mal já foi feito. Robbie acabou de perder pai e mãe. E você diz que vai levá-lo embora, para um país distante, longe da única pessoa com quem ele se sente seguro. Recuso-me a acreditar que alguém possa ser tão cruel com uma criança pequena. — Nisso você tem razão. — Philippe hesitou por um momento, franzindo o cenho, mas logo seu rosto se suavizou. — Tudo bem. Você pode vir conosco e ficar até o menino se adaptar. Nicole arregalou os olhos ultrajada. — Como você é petulante! Então, tenho de deixar meu emprego e mudar-me para o outro lado do mundo, só para o seu conforto? — Não, não seria por minha causa, mas por Robaire. Se você o ama e se preocupa tanto com ele como diz, não precisaria pensar duas vezes. Quanto a deixar seu emprego, acho que não estaria perdendo muita coisa. Tenho certeza de que conseguirá arranjar outro igual, assim que voltar. Por um instante, Nicole ficou muda de raiva, mas depois conseguiu falar. — Sem dúvida alguma, você é o mais irritante, o mais arrogante e antipático homem que já vi na vida. O sorriso de Philippe transformou-lhe o rosto por completo. Uma fileira de dentes perfeitos e brancos contrastou com a pele bronzeada. Naquele momento, diante de Nicole, Philippe Galantoire transformou-se em um homem charmoso com um exótico senso de humor. — Esta é a primeira impressão que costumo dar, sim. Mas, com o tempo, você passará a me considerar melhor. — Se fosse você, não apostaria seu palácio nisso — ela disse zombeteira. — Vou fazer as reservas do avião — ele afirmou, como se ela houvesse concordado. — Acredito que você tenha um passaporte, não? Nicole viu um raio de esperança. — Eu tenho passaporte, mas Robbie, não. Ele não poderia ir com você, mesmo que eu concordasse. — Eu cuidarei disso. O consulado francês pode contatar as autoridades certas e apressar o assunto. Esteja pronta para partir amanhã de tarde. — É impossível ficar pronta em tão pouco tempo — ela protestou. — Tolice! Telefone para seu chefe ponha alguma coisa na mala e feche a porta. Se esquecer alguma coisa, compre em Paris e mande-me a conta. — Você pensa que o dinheiro resolve tudo. — Pelo menos, ele nunca atrapalha nada — ele respondeu seco. Nicole teve a angustiante sensação de se encontrar em um trem disparado, sem condições de frear. Se ela se recusasse a ir, ele poderia conseguir uma ordem do juiz, mandando-a entregar-lhe Robbie. Aquelas coisas geralmente levavam um bom tempo, mas Philippe tinha meios de apressar tudo. Também não podia deixar Robbie partir sozinho, o pobrezinho ficaria aterrorizado. — Há um vôo para Paris amanhã, às cinco horas — ele disse. — Vou fazer três reservas. Projeto Revisoras

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— Por que temos de viajar tão rápido? — ela perguntou. — Porque tenho de voltar ao trabalho. Tenho várias reuniões agendadas. — Oh! Desculpe. Esqueci que você trabalha — ela disse com exagerada cortesia. — Como posso imaginar que perca seu precioso tempo com tolos assuntos pessoais? Ele a olhou impassível. — Virei pegá-la às três e trinta. Esteja pronta. E sem esperar por resposta, encaminhou-se para a saída. CAPÍTULO II

Quase por milagre, Nicole conseguiu aprontar todas suas coisas e as de Robbie para viajar na tarde seguinte, aquela tarefa ocupou-lhe a maior parte da noite. Quando Philippe apareceu com um aspecto descansado e elegantemente trajado, como se houvesse passado uma esplêndida noite, Nicole sentiu uma ponta de irritação. Contudo, era obrigada a admitir que era muito bom ter um homem para facilitar todos os incômodos burocráticos de uma viagem. Philippe conseguira a proeza de achar um carregador, quando todas as outras pessoas estavam clamando por um, sem sucesso. E, claro, estavam voando na primeira classe. Nada, senão o melhor para os Galantoires, Nicole pensou. Robbie mostrava-se um pouco intimidado pela multidão do aeroporto. O menino segurou a mão de Nicole e ignorou Philippe. Mas, tão logo embarcaram no avião, ele ficou mais à vontade. Tudo despertou sua curiosidade, principalmente os fones de ouvido que se encontravam sobre o assento das poltronas. Enquanto Nicole tirava o casaco de Robbie, uma comissária de bordo muito bonita parou no corredor, perto deles. Um crachá em seu uniforme dizia que seu nome era Glória. — Posso oferecer-lhe alguma coisa para beber, depois da decolagem, Sra. Galantoire? — ela perguntou. Sem dúvida, concluíra que Nicole era a esposa de Philippe, pois os vira embarcar juntos, com uma criança. Irônica, Nicole pensou que ela não levara muito tempo para descobrir o nome de Philippe. — Este não é o nome dela, ela é minha tia Nicky. E ele diz que é meu tio — Robbie disse, apontando para Philippe. — Mas a tia Nicky e eu... Nicole interrompeu-o. — Venha, sente-se aqui na janela para ver o avião levantar vôo — ela disse. O rosto de Philippe estava impassível. Quando a comissária se afastou, ele virou-se para Nicole. — Você está tornando tudo mais difícil para Robaire, mostrando que não gosta de mim. Pensei que houvéssemos chegado a um acordo. — Não houve um acordo. Eu não tive escolha! — Já que você sabe que não tem alternativa, por que não coopera e torna tudo mais fácil? Se persistir em me hostilizar, Robaire sofrerá mais. Nicole odiava ter que ceder para ele a toda a hora, mas o quê ele dissera era verdade, infelizmente. Seria melhor convencer Robbie de que ela gostava de Philippe, ou pelos menos disfarçar melhor seus sentimentos. Precisava ser uma verdadeira atriz.

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Após a decolagem, Nicole conseguiu relaxar pela primeira vez. Enfim, não tinha nada para fazer, a não ser distrair Robbie, o que poderia não ser fácil em uma viagem tão longa. — Você parece cansada — Philippe observou. — Imaginei que você fosse achar isto — ela disse irônica. — A maioria das pessoas tem pelo menos uma semana para se preparar para uma viagem à Europa. Eu tive menos de vinte e quatro horas. Não tive muito tempo para dormir. — Por que não troca de lugar comigo e dorme um pouco? — Ele sugeriu, pois estava do outro lado do corredor, sem ninguém próximo. Antes que Nicole pudesse responder, Robbie gritou: — Não! Quero que minha tia fique aqui comigo. Era impossível não se sentir gratificada com as palavras do menino. A dependência de Robbie e seu amor por ela mostrariam a Philippe que ele nunca poderia tomar o lugar dela. Mas, por outro lado, mantê-lo afastado não resolveria o problema. — Você tem bastante revistinhas para ver — ela disse ao menino. — Vou me sentar ali um pouco, onde você poderá me ver. Philippe observou-a reclinar a poltrona e fechar os olhos. — Sua poltrona abaixa mais que isto — ele disse. Ela abriu os olhos e viu-o, de pé, a seu lado. — Eu sei, mas não pretendo dormir. Vou apenas descansar um pouco. — Mas, mesmo que seja só para descansar, você pode ficar mais confortável — ele disse, mexendo nos controles da poltrona até que ela deitou quase por completo. Depois, ele retirou um cobertor e um travesseiro do compartimento acima da cabeça e acomodouos para ela, com incrível gentileza. — Hum... Está tão bom... Parece que estou na cama — ela suspirou. Ele não disse nada, mas as palavras dela provocaram uma imagem erótica em sua mente. Podia imaginá-la a seu lado em uma cama, serena, com os cabelos loiros revoltos sobre o travesseiro, depois de fazerem amor. Philippe enrijeceu. — Descanse — ele ordenou com voz de comando. Tudo o que Nicole queria era alguns minutos de sossego, consigo mesma. Mal fechou os olhos e adormeceu. Robbie recusou todas as tentativas de aproximação de Philippe, quando ficaram juntos. Philippe não tinha a menor experiência com crianças e estava se sentindo extremamente frustrado, coisa que era rara. Glória veio em seu socorro. Ela estava acostumada com crianças que ficavam inquietas durante o longo vôo e trouxera uma caixa com blocos e deu-a ao menino para ele montar. O humor de Robbie mudou e ele começou a construir uma torre, sobre a mesa em frente à poltrona. — Você me salvou de uma situação difícil — Philippe disse agradecido. Glória sorriu. — Estou apenas fazendo meu trabalho — ela respondeu e se afastou para atender outro passageiro, mas de tempos em tempos, retornava para conversar com Philippe. Quando ele se levantou para esticar as longas pernas, ela veio até ele. — Quer que lhe traga um drinque? — perguntou. Projeto Revisoras

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— Não, mas eu gostaria de uma xícara de café. Vou acompanhá-la — ele disse e a seguiu no corredor. Através de perguntas ardilosas, a moça descobriu que ele era solteiro, bem como o tipo de relacionamento que mantinha com Nicole e Robbie. — Você precisa de uma esposa — ela sorriu. — Já não tenho problemas que bastem? — ele perguntou, com uma expressão divertida nos olhos cinzentos. — Você apenas ainda não encontrou a mulher certa — ela disse, inclinando a cabeça de modo provocador. Um pouco mais tarde, Nicole acordou e ficou indignada ao ver Robbie brincando sozinho, enquanto Philippe e Glória conversavam no final do corredor. A bela comissária de bordo estava visivelmente feliz com a atenção de um homem tão bonito e bemsucedido. Philippe podia ser muito charmoso quando queria, Nicole pensou enervada. Lembrava-se bem de que ele até tentara usar aquele charme para fazê-la mudar de idéia e desistir de Robbie. Mal notou que ela acordara, Philippe retornou a seu lugar. — Sente-se melhor? — ele perguntou, sorrindo. — Não depois que vi que Robbie aqui sozinho — ela respondeu, com frieza. — Ele não estava sozinho. Deixei-o por um instante para tomar um café. Glória e eu o distraímos bastante. — O rosto dele mostrava sua raiva. — Posso falar com você a sós? — ele perguntou, mas seu tom era mais de ordem. Relutante, Nicole seguiu-o pelo corredor. Quando ele teve certeza de que Robbie não podia ouvi-lo, virou-se para Nicole. — Não me importo com o que pensa de mim, mas não quero que torne isto tão claro para Robaire. Não é de admirar que ele me considere um bicho-papão. — Não culpe a mim. As crianças são bons juízes de caráter. O rosto dele endureceu ainda mais. — Então, ele terá que se adaptar a mim, à força. — Talvez não seja necessário. Você ganhou a primeira batalha, não a guerra. Não está escrito em lugar algum que Robbie vai viver com você para sempre. — Não pense em me desafiar — Philippe disse, com voz macia. — Eu sempre consigo o que quero, não importa quanto custe. Eles se olharam dentro dos olhos, desafiadoramente, e Nicole sentiu um leve arrepio passar-lhe pela espinha. Aquele homem destruiria o que quer que ficasse em seu caminho, sem o menor remorso. A atmosfera ficou pesada entre eles até o final do vôo. Mas ao chegarem a Paris, Nicole achou muito difícil continuar mostrando sua má vontade. Embora já fosse noite avançada, o aeroporto estava movimentado, parecendo uma torre de babel. Era tudo muito exótico e excitante. Philippe tomou conta das formalidades, como antes, mas daquela vez Nicole não se mostrou tão grata. Depois da discussão no avião, entraria em uma briga somente quando tivesse certeza de vencê-la. Assim que eles passaram pela alfândega, ela pediu-lhe seu passaporte de volta. Philippe guardara os três passaportes no bolso. Estavam à espera das malas, e ele olhava em volta, procurando seu motorista e a esteira rolante onde as bagagens apareceriam. — Devolverei seu passaporte no carro — ele disse. — Não vai atrapalhar em nada devolver-me o passaporte agora — ela insistiu. Projeto Revisoras

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— Estou ocupado, e você não precisa dele agora — ele falou e dirigiu-se a um homem de uniforme que se encontrava em uma área com um cordão de isolamento. — Mas eu o quero — Nicole falou, com teimosia. Philippe resmungou baixinho em francês, pôs a mão no bolso de dentro do paletó e, com um gesto de impaciência, entregou-lhe o documento. — Pronto! Está aqui. Está feliz agora? Fora uma pequena vitória, mas que encheu Nicole de satisfação. Ela deu-lhe um sorriso radioso. — Mais feliz do que estava, pelo menos. Enquanto o motorista foi recolher as malas, Philippe conduziu Nicole e Robbie a uma bela limusine preta. Após uma pequena demora, Max retornou, e o potente carro seguiu pela estrada. Quando chegaram à cidade, uma grande excitação tomou conta de Nicole. Seu problema com Philippe foi temporariamente esquecido enquanto ela contemplava o magnífico Arco do Triunfo, colocado no centro das ruas como uma jóia preciosa. Ela debruçou-se sobre Philippe para ter uma melhor vista do monumento, através da janela. A irritação de Philippe também tinha se evaporado. Era impossível continuar irritado com o corpo dela encostado ao seu e com o rosto a curta distância de seus lábios. — Eu deveria tê-la colocado do lado da janela — ele falou baixinho. — Posso ver bem. Ela pousou a mão no ombro dele e virou-se para ter uma última visão do arco pela janela de trás. Nicole nem percebeu que seus corpos estavam se tocavam da cintura para cima, mas Philippe tinha plena consciência do fato. Quase sem se dar conta, ele deslizou o braço pela cintura dela. Com um sobressalto, ela voltou para ele seus olhos surpresos e, em seguida, afastou-se às pressas. — D-desculpe — ela gaguejou. — Acho que me entusiasmei demais. — Paris costuma fazer isto com as pessoas — ele disse orgulhoso de sua cidade. — Bem... Com certeza, é uma linda cidade — ela respondeu, pouco à vontade. O breve momento de intimidade foi embaraçoso. Nicole desejou que ele não imaginasse que ela planejara aquilo, embora sentisse que ele se aproveitara da ocasião. Precisava guardar aquilo em sua cabeça. Philippe dissera que faria qualquer coisa para conseguir o que queria. Cogitaria também fazer amor com ela? O automóvel parou diante de uma bela casa. Apesar da singeleza dos gerânios vermelhos e brancos, a casa tinha um aspecto imponente. O interior tinha ainda mais ostentação. Um imenso lustre de cristal pendia do teto altíssimo do hall que era maior que a sala de estar da casa de Nicole. Contra a parede, havia um aparador com intrincado trabalho de madeira. Sobre ele, um perfumado arranjo floral. Com o canto dos olhos, ela vislumbrou uma parte da sala de estar, e, naquele momento, Robbie exigiu sua atenção. — Estou com sono. Quero ir para a cama — ele disse. — Eu sei querido. A viagem foi longa, não é? — Vou levá-los a seus quartos — Philippe disse. Quando ele se dirigiu à escada, Robbie pediu à tia: — Me leva no colo! — Deixe que eu o carrego — Philippe interpôs. Projeto Revisoras

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— Não! Quero que a tia Nicky me leve! — Como já fizera no avião, mais uma vez o menino rejeitou o tio. O rosto de Philippe tornou-se sombrio, enquanto observava o esforço de Nicole para subir a escada com o menino nos braços, mas não fez nenhum comentário. O quarto que ele escolhera para Robbie era enorme. Tudo era grande. A cama larga de casal, o armário, as janelas que iam do chão ao teto e que conduziam a uma sacada. Era tão diferente do quarto do menino em San Francisco que Nicole teve medo que ele estranhasse. Ela prendeu a respiração, esperando reclamações, mas seu sobrinho estava sonolento demais para notar o que o rodeava. — Seu quarto fica do lado. Imaginei que gostaria de ficar perto de Robaire — Philippe explicou. O quarto de Nicole era tão grande quanto o de Robbie, mas apresentava uma decoração mais feminina. A larga cama estava coberta com uma colcha cor-de-rosa. — O banheiro é naquela porta e ao lado há um quarto de vestir. Espero que esteja confortável aqui — ele disse formalmente. — Tenho certeza de que estarei. — Ela hesitou, pensando em um modo de desculpar o comportamento arredio de Robbie. Philippe tentara se aproximar tinha de admitir. — Robbie está cansado, e tudo é novo para ele. Não considere o que ele disse pessoalmente. Na verdade, ele é uma criança muito sociável. — Bem, tenho que aceitar sua palavra quanto a isto — ele disse. — Se eu não estiver aqui pela manhã, quando você se levantar, os empregados servirão o café e providenciarão tudo que possa precisar. Paul administra a casa, e sua esposa Heloísa é a cozinheira. Depois que ele se foi, Nicole deu-se conta de seu próprio cansaço. Ela abriu a mala e retirou somente uma camisola. Normalmente, ela iria andar por tudo, inspecionando cada canto de sua luxuosa acomodação e depois desfaria a mala. Mas não naquela noite. Mal podia esperar para se deitar na cama. Ela adormeceu quase no mesmo instante em que seus olhos se fecharam. A cama era deliciosa, e o acolchoado, quente e leve como uma pluma. Na quietude da noite, um grito agudo e aflito acordou-a. Alguma coisa acontecera com Robbie. Ela correu para a porta e entrou no quarto. Estava muito escuro. Somente uns poucos raios de luar penetravam por uma pequena abertura nas cortinas. — Estou aqui, Robbie! — Ela apressou-se para a cama e tomou a criança em prantos em seus braços. — O que houve querido? — Há um monstro enorme ali — ele soluçou, apertando-se contra a tia. — Está dentro daquela coisa. — Que coisa? O armário? — Nicole acendeu a lâmpada de cabeceira. — É apenas um móvel para guardar roupas. Vou pôr suas roupas lá amanhã. — Não, lá é a caverna dele — o menino insistiu. — Ele vai pular dali e me pegar. Com ar muito sonolento, Philippe apareceu à porta. Seu cabelo estava revirado, e ele vestia somente a calça de um pijama de seda que lhe circundava a cintura frouxamente. — O que está acontecendo? Depois de ouvir as explicações de Nicole, ele foi até o armário e abriu suas portas duplas. — Vê? Não há nada aqui dentro — ele disse. — Você deve ter tido um pesadelo. Robbie ergueu os olhos para Nicole, sem se afastar dela. Projeto Revisoras

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lado.

— Não me importo! Não gosto de ficar aqui sozinho. Quero que fique aqui comigo. Philippe falou antes de Nicole. — Já mostrei para você que não há nada para ter medo. Sua tia está no quarto ao

— Quero que ela fique aqui. — Robbie começou a chorar outra vez. Nicole lançou um olhar indignado a Philippe, mas sua voz soou tranqüilizadora, quando ela falou. — Não chore querido. Vou ficar com você. Deite e volte a dormir. Vou falar com seu tio um minuto. Vou estar aqui perto da porta. Assim que Philippe e ela se encontraram no corredor, Nicole virou-se para ele, furiosa. — Como pode ser tão insensível? Não viu como a pobre criança estava apavorada? — Sim, e você viu que procurei mostrar a ele não havia motivos para ter medo. — E como? Fazendo-o dormir naquele quarto enorme sozinho? — Ele precisa se acostumar com isto. Você não pode permitir que um menino da idade dele estabeleça as regras. — Pode ter certeza que não vou deixá-lo neste quarto, sozinho e apavorado — Nicole afirmou. — Isto não é problema. Amanhã vou colocá-lo em outro quarto. — Em um tão grande e pouco aconchegante quanto este, estou certa — ela retrucou reprovadora. Philippe olhou-a com ar austero. — Sinto muito que não goste de minha casa, mas Robaire se habituará a ela, com o tempo. — Duvido muito. Você apenas não quer admitir que arrancar esta criança de seu lar e trazê-la até aqui foi um erro enorme — ela protestou. — Já chegou a essa conclusão depois de umas poucas horas? — Eu já sabia disto, mas não consegui convencê-lo. — E continua não me convencendo. Meu sobrinho veio para ficar — Philippe falou enfático. — Mesmo que ele fique infeliz? — Isto depende de você. Se você persistir em me transformar em um vilão, Robaire e eu nunca nos aproximaremos. — Ele a olhou de modo especulativo. — É este seu plano? — Você faria qualquer coisa para conseguir o que quer, mas eu nunca agiria de maneira tão baixa — ela respondeu com desdém. — Então a luta vai ficar desequilibrada. — Ele deu uma leve risada. Nicole não podia permitir que ele descobrisse como a fazia sentir-se sem poder. Erguendo o queixo, disse desafiante: — Tenho minhas próprias armas secretas. — Sim, já notei — ele murmurou, olhando apreciativamente dos pés à cabeça. — Acho que não julguei bem. A maneira insolente de Philippe foi um mecanismo de defesa para esconder a súbita onda de desejo que o invadiu ao vê-la em uma peça íntima que revelava toda sua beleza. Enquanto estavam discutindo, ele não havia reparado em como ela estava provocante Projeto Revisoras

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naquela exígua camisola transparente que escondia poucos de seus encantos. Podia ver que seus seios eram tão rosados como os imaginara. Com um gesto rápido, Nicole cruzou os braços sobre os seios ao mesmo tempo em que sentia o rosto arder de embaraço. Também pela primeira vez, ela avaliou a pele bronzeada sobre os músculos firmes do peito e foi com esforço que voltou os olhos para o rosto dele. — Você está dando valor a si mesmo, se pensa que eu usaria o sexo para influenciá-lo. Algumas coisas são horríveis demais. Em seu quarto, Philippe sofria sua própria crise emocional. Como pudera permitir que aquela mulher se insinuasse sob sua guarda? A inegável onda de desejo que Q acometera tomara-o de surpresa. Tinha sido a situação erótica em que se encontraram no M meio da noite, disse a si mesmo. Que homem normal não seria afetado pela provocadora visão daquele corpo adorável? Por um insano momento, ele desejara desfazer os laços da camisola de Nicole e vê-la escorregar-lhe pelo corpo até o chão, revelando sua nudez perfeita. Que erro colossal teria sido! Não podia se permitir aquelas fraquezas por causa de uma bela mulher que o detestava. Ela era perigosa e estava determinada a levar seu sobrinho para longe de seu convívio. Com olhos sombrios e cenho carregado, Philippe andava de um lado para o outro no quarto, recordando a fatídica tarde que redundara naquela situação, cinco anos atrás. Como aquela discussão com Raymond pudera ter uma conseqüência tão trágica? Ambos tinham temperamentos fortes, mas ele era o mais velho. Deveria ter feito seu irmão compreender que pessoalmente, ele não tinha nada contra Sandra. Tudo o que pedira é que os dois esperassem um pouco mais, até se conhecerem melhor, para dar um passo tão sério como o casamento. Passados aqueles anos, tudo o que descobrira é que Sandra fora uma jovem maravilhosa. Todos poderiam ter sido felizes. Sua mãe teria um neto. Ele teria um sobrinho... Mas, orgulhoso e magoado, Raymond cortara todos os laços com a família. Só Deus sabia como tentara encontrá-lo, Philippe pensou desolado. Bem, aquilo tudo era passado. Philippe endireitou os ombros. Fracassara com seu irmão e o prejudicara sem querer, mas não pretendia cometer o mesmo erro com o filho dele. Robaire viveria a vida a que tinha direito. Quer Nicole quisesse ou não!

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CAPÍTULO III

Nicole e Robbie dormiram até tarde, na manhã seguinte. O menino acordou com muita fome, por isto, após uma rápida ducha, acompanhado da tia, desceu a. escada para o café da manhã. Não havia tempo para usufruir a luxuosa banheira de mármore cor-de-rosa, nem para desfazer a mala. Revirando um pouco mais as roupas, Nicole escolheu uma camiseta e uma calça jeans. Á casa de Philippe era imensa. Era mobiliada com peças raras e com objetos caros que enfeitavam mesas e consoles. Ela estremeceu só em pensar nos danos que uma criança pequena podia causar àquilo tudo. Sem soltar Robbie, Nicole procurou a cozinha. Antes de encontrá-la, um homem de terno escuro apareceu a sua frente e se apresentou como Paul, o mordomo. Quando, com alguma cerimônia, ela pediu o café, ele os conduziu para uma sala de jantar formal, onde uma longa mesa de mogno estava posta com toalha de linho e porcelana delicada. Bem no centro da mesa havia um elaborado arranjo de flores. Pesadas cortinas de damasco ornamentavam as grandes janelas. Depois de se sentarem, Nicole notou apreensiva, o caro tapete oriental sob a mesa. Seria um desastre se Robbie respingasse leite sobre ele, como costumava fazer no apartamento dela. Será que não havia naquela casa enorme, um lugar mais informal para se tomar um café da manhã? Philippe chegou quando eles estavam comendo. Ele levantara cedo e já tinha feito compras. — Minha primeira preocupação do dia foi comprar mobília nova para seu quarto — ele disse a Robbie. — Acho que você vai gostar. Não vai mais ver aquele armário grande. E comprei um beliche. A vendedora disse que os meninos adoram estas coisas. — Ele sorriu sedutor para o sobrinho. Robbie nem ergueu os olhos de seu prato. — Eu gosto da cama de minha casa — ele disse. — Responder assim não é educado — Nicole falou, reprovando. Não conseguiu evitar um sentimento de pena por Philippe. Ele tivera tanto trabalho para tentar agradar o menino! Aquilo não mudava sua opinião pessoal sobre ele, mas de qualquer modo, ele estava tentando. — Seu tio quer que você se sinta bem aqui. Você o ofende, comportando-se assim. Surpreso, Philippe virou-se para ela, com um olhar agradecido. — Eu teria deixado que você e Robaire escolhessem o que quisessem, mas não sabia a que horas acordariam. E eu queria ter certeza que a mobília seria entregue ainda hoje. — Não tenho dúvidas de que escolheu o melhor — ela disse. Projeto Revisoras

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— Acho que sim. Pelo menos, a cômoda infantil tem que ser melhor que o armário antigo. Talvez esta noite todo mundo possa dormir melhor. Percebendo que Nicole evitava-lhe os olhos, Philippe entendeu que ela estava se lembrando do incidente erótico da noite anterior. Ele lamentou, pois não era sua intenção embarcá-la. — Minha mãe está ansiosa para conhecer Robaire — ele disse, para mudar de assunto. — Ela nos convidou para um chá hoje à tarde. Nicole não tinha nenhum desejo de conhecer madame Galantoire, mas temia quebrar seu acordo de paz com Philippe se dissesse o que pensava. A arrogante senhora tinha sido ainda mais radical em sua oposição ao casamento de Raymond, segundo o que Sandra lhe contara. — Espero que as roupas de Robbie não estejam muito amarrotadas — ela disse. — Ainda não tive ocasião de desfazer as malas. — Você terá bastante tempo. Não precisamos estar lá antes das três. — Preciso ver minhas roupas também. — Se precisar passar alguma coisa, peça para Paul. — Philippe levantou-se. — Vou providenciar a retirada dos móveis do quarto de Robaire. Quero que tudo esteja pronto, quando retornarmos. Depois de desfazer a mala de Robbie, Nicole começou a mexer na sua. Não foi tarefa longa. Tinha poucos pertences. As roupas que trouxera nem de longe enchiam o enorme closet, ao lado do banheiro. Nunca percebera que tinha tão pouca roupa. Em seguida, ela esvaziou o conteúdo da sacola de mão sobre a cama. Era uma parafernália de pequenas coisas, desde lenços de papel a revistas em quadrinhos para Robbie. Nicole sorriu ao lembrar como Philippe ficara furioso quando ela exigira seu passaporte de volta. Realmente, precisava parar de irritá-lo à toa e aceitar o fato de que nunca concordariam quanto ao que era melhor para o sobrinho de ambos. Não chegariam a um acordo, desafiando-o. Ao abrir a sofisticada capa de couro onde Philippe guardara o passaporte, Nicole teve uma surpresa. Era o passaporte de Robbie. Ele se enganara, e ela não percebera. Ali estavam os dados essenciais: Robaire Alain Galantoire. Sexo masculino. Cidadão americano. Nicole abriu a boca ao ler aquelas palavras. Cidadão americano! Philippe a enganara! Robbie não tinha cidadania francesa. Ele não poderia ter tirado Robbie dos Estados Unidos, sem a permissão dela. Por isso, ele tivera tanta pressa em sair do país. Os olhos azuis de Nicole falsearam. Se Philippe pensava que podia agir daquela forma, estava muito iludido! Iria exigir que ele os pusesse de volta no primeiro avião para os Estados Unidos. Decidida, deixou Robbie brincando com um baralho infantil e foi procurar Philippe. Encontrou-o no escritório. Ele ergueu os olhos com um sorriso amável até ver as evidências da indignação que dominava Nicole. Seu maxilar formava uma linha dura, seus olhos chispavam, e seu rosto estava vermelho. — O que aconteceu? Alguma coisa errada? — ele perguntou preocupado. — Segundo seus princípios, não houve nada errado. Qualquer ação abominável é aceitável desde que sirva a seus in-tentos. Nem se importa com o que possa causar às outras pessoas. Como pode viver assim? Não tem consciência? — ela perguntou, com desprezo. — Pode me dizer do que está me acusando? Ela atirou o passaporte sobre a mesa. Projeto Revisoras

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— Você me deu o passaporte de Robbie, por engano. Achou que eu não descobriria que mentiu para mim? Philippe encarou-a com calma. — Tinha esperança de que não descobrisse tão cedo. Ela o olhou, ultrajada. — É isto tudo o que tem a dizer? Nenhuma desculpa? Não tem vergonha? — Eu agi no interesse de Robaire. Posso dar a ele melhores cuidados e um futuro seguro, o que duvido que você possa fazer. Minha intenção é boa. — Está errado, mas nem vou me dar ao trabalho de discutir com você, porque pretendo levar meu sobrinho de volta para casa. Vou ao consulado americano e registrarei uma queixa. Contarei como você nos trouxe para cá sob falsas alegações. — Posso tê-la enganado sobre a cidadania de Robaire, mas tenho o mesmo direito sobre a guarda dele que você. Seu consulado não pode determinar nenhuma custódia. Isto é uma coisa que só a justiça decide. Neste caso, um tribunal francês, já que estamos todos aqui. As palavras de Philippe eram claras e firmes. Nicole entendeu a mensagem. Os Galantoires eram ricos e influentes naquele país. A probabilidade de uma decisão a favor dela era quase nula. Começava a se sentir como um pequeno animal, preso em uma armadilha. Ela olhou para o passaporte sobre a mesa e teve uma idéia. Philippe teria que ir trabalhar na manhã seguinte e, pelo jeito, ele costumava sair cedo. Quando ele saísse, ela procuraria os dois passaportes, pegaria Robbie e iria para o aeroporto. E de lá, para casa. Como se houvesse lido seus pensamentos, Philippe pegou o passaporte e colocou-o no bolso. — Sinto muito que tenha sido necessário enganá-la, mas você não me deu outra escolha. De certa forma, estou contente que já saiba. Não haverá nenhum subterfúgio entre nós, de agora em diante. — Pensa que posso confiar em você outra vez? Assim que Robbie começar a. se acostumar a você, pretende afastar-me da vida dele. — Não sou o monstro que pensa. Sei que realmente ama o menino. Apenas gostaria que mostrasse a mesma compreensão em relação a mim. Nicole compreendeu que teria que contemporizar ou então corria o risco de perder seu sobrinho para sempre. — Admito que Robbie seja seu sobrinho também — ela falou, com dificuldade. — Não quero impedir que vocês convivam e nenhum de nós quer que ele seja infeliz. Então, por que não tentamos chegar a um acordo? Por exemplo, e se ele passar um mês com você? Digamos... No verão? — Isto é inaceitável — Philippe rebateu. Nicole não se surpreendeu. Já sabia que não seria fácil. —Bem, então, podemos dividir a custódia. Seis meses com cada um de nós. — No íntimo, Nicole tinha esperança de encontrar um meio de ficar com o menino para sempre, uma vez chegando a casa. — Você não pode ficar mandando uma criança para lá e para cá, para os dois lados do mundo, como se fosse uma bola de tênis. Ele precisa de um lar estável, com pessoas dispostas a substituírem seus pais. — Infelizmente, ele terá que se acostumar com menos — ela falou com ar sombrio. Projeto Revisoras

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— Não necessariamente. — Philippe olhava-a de modo especulativo. — Sei que não vai desistir de tramar um jeito de ficar com Robaire só para você. Mas não pretendo deixá-la fazer isto. A discórdia entre nós poderia durar anos, o que seria péssimo para ele. — Isto é verdade, mas que outra solução existe? — ela perguntou, desanimada. — Poderíamos nos casar. Somente por conveniência — ele acrescentou, quando ela arregalou os olhos. — O que é isto? Uma piada de mau gosto? — De forma alguma, apenas estou sendo prático. Resolveria nosso problema, a não ser que você já esteja comprometida com outra pessoa nos Estados Unidos. — Não, não há alguém em especial — ela respondeu lacônica. — Se fossemos casados, Robaire teria a segurança de duas pessoas cuidando dele. Em vez de lutarmos por causa dele, poderíamos criá-lo juntos. — Não consigo acreditar que esteja me pedindo para desistir da minha independência, do meu emprego e de minha vida, apenas para tornar a sua vida mais fácil! — Tenho dúvidas de que mesmo um casamento verdadeiro a fizesse desistir de sua independência— ele comentou seco. — Casada comigo, poderia continuar a fazer o que quisesse. Estaria abrindo mão de um apartamento modesto e de um emprego medíocre. Não é muito. Como minha esposa, teria uma vida de luxo e privilégios. Todas suas contas seriam pagas e teria uma mesada generosa. — Existe um nome bem feio para mulheres que concordam com este tipo de arranjo — ela disse sarcástica. — Não. Ã minha proposta é diferente. Primeiro, estaríamos, legalmente casados. Segundo, não haveria sexo. — Isto é claro! Nem passou por minha cabeça o contrário — ela mentiu. Claro que pensara naquilo. Que mulher não se sentiria afetada por aquele corpo perfeito de atleta e por aquele charme diabólico? — Acho que você poderia gostar. — O olhar de Philippe tornou-se lento e sensual ao deslizar do rosto dela para as curvas suaves de seu corpo. — Não haverá a oportunidade — ela retrucou. Como aquele homem era perigoso! — Nicole, sua tola! — A voz dele parecia veludo. — Não sabe que é perigoso desafiar um homem? Faz com que ele sinta a necessidade de provar sua masculinidade. — Por um instante, os olhos de Philippe brilharam como os de um tigre à espreita. Depois, sua expressão mudou e, com um ar de indiferença disse: — Bem, acho que iria complicar tudo se fizéssemos amor. Você tem minha promessa de que cumprirei o trato. — Não temos nenhum trato! — Ele estava usando a mesma tática outra vez. Agindo como se ela houvesse aceito sua proposta. Mas desta vez, o assunto era mais importante que uma viagem às pressas, para Paris. — Eu estava perfeitamente satisfeita com minha vida até você aparecer! Não sabe nada a meu respeito. Sim, meu emprego é medíocre, mas é apenas um meio para chegar a um fim. Não ficarei nele para sempre. Estou lá apenas para aprender todos os aspectos de confecção de roupas. — Você quer ser dona de uma confecção? — Não. Eu quero ser uma estilista. Mas é preciso mais do que saber desenhar roupas. Estas são as coisas que estou aprendendo. Espero que quando tiver mais experiência, alguém, no lugar onde trabalho, goste de meus desenhos. — Por que ela Projeto Revisoras

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estava dizendo tudo aquilo? Nicole admirou-se. Que importância aquele homem arrogante dava a seus sonhos e projetos? Philippe olhava-a pensativo. — Gostaria de uma opinião profissional sobre seu trabalho? — Conhece alguém do meio? — ela perguntou cética. Seus olhos se arregalaram, quando ele mencionou um nome famoso da costura francesa. — Esta pessoa lhe dará uma opinião honesta, talvez até mesmo um conselho sobre como deveria começar. Uma onda de entusiasmo fez o coração de Nicole disparar. Nunca na vida sonhara com uma chance como aquela. Se um homem tão famoso gostasse de seus desenhos, poderia significar o começo de sua carreira! Surpreso, Philippe contemplava seus olhos cintilantes e os lábios entreabertos. Se uma coisa simples como aquela podia provocar tal arrebatamento, como ela reagiria nos braços de um homem que pudesse lhe dar prazer verdadeiro? Nicole voltou à realidade. A oferta de Philippe era boa demais para ser verdade. — Por que faria tal coisa por mim? — ela perguntou. — Meu motivo é egoísta — ele respondeu com calma. — Se construir uma nova vida na França, ficará contente em morar aqui e criará Robaire comigo. Darei ainda outro incentivo. Se provar que tem mesmo talento, eu a ajudarei a ter seu próprio negócio. Posso até recomendá-la a todas as minhas amigas, para a auxiliarem no que for preciso. — Faria tudo isto por Robbie? — ela quis saber. Ele deu de ombros. — Eu já lhe disse. Faço tudo para ter meu sobrinho a meu lado. Olhando o rosto másculo, ela se perguntou, curiosa, se ele seria capaz de se importar da mesma forma com uma mulher. — Então, temos um trato? Não sei de mais nada que eu possa acrescentar. — Ele sorriu malicioso. — Você já rejeitou todos meus outros serviços pessoais. — Pensei que não aceitasse não como resposta. — Você é uma mulher muito bonita. Qualquer homem se consideraria privilegiado de fazer amor com você. Mas, o caso é que nenhum de nós quer se envolver. Um casamento platônico vai nos dar o que queremos. Pode confiar em mim. Manterei minha parte do trato, nem que seja por motivos egoístas. — Ele deu-lhe um sorriso charmoso. — Casará comigo, Srta. Trent? Nicole não via com prazer o encontro com madame Galantoire e teve muito trabalho em convencer Robbie a ir. O ambiente novo e a quebra de sua rotina tinha transformado o meigo e obediente menino em uma criança rebelde. Madame Galantoire morava em um apartamento que ocupava todo um andar de um enorme edifício. Assim como a casa de Philippe, o apartamento dela era cheio de peças e móveis, caros e raros. Catherine Galantoire era uma mulher imponente, com cabelos muito brancos arrumados com esmero e com modos muito reservados. Ela cumprimentou Nicole com fria cortesia, não deixando nenhuma dúvida que sua opinião sobre a família Trent não havia mudado. Sua expressão austera se alterou, no entanto, quando ela se virou para o neto. — Ele se parece com Raymond — ela disse com emoção. — Que criança linda! Venha cá. Dê um beijo em sua avó, chérie. Robbie levantou os olhos para Nicole, ignorando a mão cheia de anéis que se estendia para ele. Projeto Revisoras

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— Eu não quero dar um beijo nela — ele cochichou. — Podemos voltar para casa agora? — Ela é sua avó e só está querendo agradar — Nicole respondeu em voz baixa, sem olhar para Philippe nem para madame Galantoire. Não tinha culpa da má vontade do menino, mas tinha certeza de que a julgariam responsável por ela. Pelo menos, quanto à majestosa senhora, Nicole tinha razão. O rosto de Catherine ficou vermelho de raiva. — Não acredite no que disseram sobre mim, Robaire. Venha aqui. Sou sua avó! Philippe interveio às pressas. — Talvez Robaire queira um refrigerante. Em seguida, ele puxou um cordão, chamando uma criada que se apresentou imediatamente, empurrando um carrinho de chá, cheio de iguarias apetitosas. Um belo prato de porcelana estava coberto com sanduíches. Vários salgadinhos e doces ornamentavam os outros pratos. Robbie mostrou-se intrigado com aquela mostra de coisas deliciosas. Pela primeira vez, afastou-se de Nicole e aproximou-se do carrinho de chá. Catherine ficou encantada. — Aqui, meu anjo, deixe sua avó servi-lo. — Ela colocou várias pequenas delícias em um prato e deu-o ao menino, juntamente com um guardanapo. Robbie pegou o prato, mas não o guardanapo. Depois, mordeu um dos salgadinhos e logo cuspiu. — Puf — ele exclamou, limpando a boca na manga da camisa. — Não, não, querido — Catherine repreendeu. — Uma pessoa educada não cospe assim o que não gosta. E também deve usar um guardanapo. — Ela lançou um olhar indignado a Nicole. — É desta forma que está criando meu neto? — Nunca houve uma situação como esta antes. Nunca ofereci lagosta com molho de sherry para uma criança. Philippe ofereceu a Robbie uma bomba de creme. — Experimente esta — ele disse. — Era meu doce favorito quando tinha sua idade. Você se lembra mamãe? O confronto entre as duas mulheres foi evitado, mas não foi uma visita bemsucedida. Catherine tentou agradar Robbie, mas ela não estava acostumada a entreter uma criança. Se alguma vez soubera, tinha esquecido. Portanto, não foi surpresa que o menino houvesse recusado todas as tentativas de aproximação. Nicole sentia-se grata por Philippe ter decidido falar sobre seus planos de casamento com sua mãe, em particular. Ele explicaria que seria um casamento apenas de fachada? Seria preciso mais que isto para acalmar a velha senhora, Nicole pensou cética. Ela tocou naquele assunto com Philippe, no caminho para casa. — Não sei como concordei com sua proposta. Você não vê que não funcionar? Sua mãe me detesta, e tenho de admitir que ela não é o tipo de pessoa de quem eu goste. — Vocês não precisam ser amigas. Não vão morar juntas — ele disse. — Estamos fazendo isto por Robaire. — Ele baixou a voz. — É melhor conversar com ele quando chegarmos a casa. Já dei alguns telefonemas e acho que a cerimônia poderá ser amanhã de tardinha. — Não é possível! Acho que nem você poderia conseguir tudo tão rápido. Philippe sorriu. —No entanto, consegui. Nunca cometa o erro de me subestimar. Projeto Revisoras

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Nicole sentiu a estranha sensação de estar sendo arrastada por uma força irresistível. Precisava fazer um esforço para retomar o controle de sua vida. — Não pense que pode tomar todas as decisões e esperar que eu as siga cegamente. Também tenho direito às minhas opiniões. Quem vai nos casar e onde? Não quero deixar Robbie em casa sozinho. O menino ergueu os olhos para a tia preocupado. — Aonde você vai, tia Nicky? Eu quero ir com você. — Ela não vai a lugar algum — Philippe respondeu. — Vamos ter uma pequena festa em minha casa, e você é convidado. — É seu aniversário? Vai haver bolo e sorvete? — Se é isto o que quer... — E virando-se para Nicole, Philippe acrescentou: — Achei melhor realizar a cerimônia em casa. Um amigo meu é juiz, e ele concordou em nos casar. Se você quiser flores, música e sei lá o quê mais, posso providenciar de boa vontade. — Não, isto seria uma bobagem, já que não é um casamento de verdade. — Mamãe e papai me levaram a um casamento, uma vez, — Robbie disse. — Eu gostei. Foi uma festa muito grande. Posso ter uma festa de aniversário quando voltarmos para nossa casa de verdade, tia Nicky? — Acho que agora seria uma boa ocasião de contar a ele — Philippe aconselhou, mas vendo que Nicole não se encorajava, disse ao menino: — Você vai viver comigo de agora em diante, Robaire. Sua tia e eu vamos nos casar. O menino olhou intrigado para Nicole. — Minha mãe me disse que as pessoas se casam quando estão apaixonadas. Você está apaixonada por ele? — Bem... Hum... Se morarmos aqui, você terá muitas coisas que não tem em casa — ela respondeu evasiva. — Aposto que seu tio vai lhe comprar aquele carrinho que viu na loja. Aquele em que você se sentou e até pedalou. — Uau! Você compraria mesmo? — Robbie olhou para Philippe, com os olhos brilhantes. — Sim. Vamos à loja para comprá-lo juntos — Philippe prometeu. Por um tempo, Robbie falou excitado sobre o carro, mas depois sua atenção voltouse outra vez para aquela estranha história de casamento. — Vocês vão dormir na mesma cama, como papai e mamãe? — ele perguntou a Nicole. — Não — ela respondeu monossilábica. — Por que não? — Porque tio Philippe tem uma casa tão grande que cada um pode ter seu próprio quarto. — Boa resposta — Philippe riu. — Então como vocês vão ter um bebê? — Robbie insistiu. — Meu amigo Kevin disse que é assim que as pessoas casadas têm bebês. Elas dormem na mesma cama. — Bem, agora você explica — ela disse a Philippe. — Acho que você não aprovaria se eu contasse a história da cegonha, não é? — Não, e as crianças também não acreditam mais na folha de repolho.

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Pela primeira vez, Nicole sentiu sua tensão diminuir com aqueles comentários jocosos. Philippe tinha senso de humor. Talvez o casamento não fosse um desastre, afinal de contas. As apreensões de Nicole retornaram com força total, à medida que a hora da cerimônia do casamento se aproximava. Teria feito um pacto com o demônio? Philippe tinha um jeito diabólico de conseguir o que queria. Estava até fazendo progressos com Robbie! Quando haviam retornado da visita a Catherine Galantoire, o menino encontrara seu quarto com móveis infantis e cheio de brinquedos. Philippe soubera exatamente o que fazer para agradá-los, Nicole pensou frustrada. Ofereceu uma carreira para ela e deu presentes adoráveis para Robbie. Nicole deixou o quarto e desceu a escada devagar, rezando para estar tomando a decisão certa. Vozes vinham do escritório. Aproximando-se mais, ela pode ver um homem de meiaidade e aparência distinta conversando com Philippe, enquanto Robbie se distraía com um sorvete. Os dois homens se viraram quando Nicole apareceu, e o olhar de ambos não escondia a admiração. Embora não pretendesse ter a aparência de uma noiva tradicional, ela colocara um vestido branco. Era a única peça conveniente para a ocasião, em seu limitado guarda roupa. Era um vestido simples e clássico e, acima de tudo, versátil. Para complementá-lo, pusera um fio de pérolas. Estaria muito parecida com uma noiva? Ela se perguntou, nervosa. Os dois homens não pouparam elogios. — Você está adorável! — Philippe cumprimentou e apresentou seu amigo como Mareei Lavoire. Devia ser o juiz, Nicole pensou. — Philippe sempre teve bom gosto com as mulheres — ele disse, beijando-lhe a mão. — Não é surpresa que tenha escolhido a mais bonita para sua noiva. Nicole olhou para Philippe intrigada. Sem dúvida, ele nada falara sobre a verdadeira natureza de seu casamento. — Você pode nos dar um minuto, por favor? — Philippe pediu e, tomando Nicole pela mão, conduziu-a para o outro lado da sala. — Você não explicou a situação para ele? — Nicole perguntou em voz baixa. — Acho que será melhor para Robaire que nosso trato permaneça em segredo somente entre nós. Afinal as pessoas poderiam comentar. Seus futuros colegas poderiam saber. Seria constrangedor se ele viesse nos perguntar se somos realmente casados. — Poderemos dizer que sim. Não seria uma mentira. — Está preparada para responder todas as outras possíveis perguntas? Por que não dormem no mesmo quarto? O que quer dizer um casamento que é como um negócio? Se ele não acreditar em nosso casamento, não se sentirá seguro. — Mas teríamos que fingir... — a voz de Nicole falhou. — Fingir que estamos apaixonados — Philippe terminou para ela. — Não seria difícil para mim — ele disse, com voz estranha. Quando ela o olhou surpresa, a expressão dele mudou. Será que tinha sido apenas imaginação ou vira um lampejo de desejo nos olhos dele? — Não se preocupe. Só farei o papel de marido apaixonado, quando estivermos em público — ele concluiu, em tom de brincadeira. Projeto Revisoras

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— Detesto ter de apressá-lo, Philippe — Mareei chamou. — Mas, tenho outros compromissos em seguida. Como em uma espécie de sonho, Nicole acompanhou a solene cerimônia que a vinculava a um quase estranho. Teve vontade de dizer não e acabar com aquela farsa, quando o juiz perguntou se ela aceitava Philippe como esposo. Mas, alguma coisa a impediu. Sandra e Raymond apareceram tão nítidos em sua mente como se estivessem ali na sala. Ambos sorriam e davam sinal de aprovação. CAPÍTULO IV

Nicole lutou para recuperar a naturalidade depois de excitante beijo de Philippe. Ele não parecia nem um pouco afetado, ela pensou aborrecida. Estava conversando com o juiz, como se fosse uma visita normal. Uns poucos minutos mais tarde, Mareei disse que tinha que ir embora. — Gostaria de ficar mais, mas tenho certeza de que vocês mal podem esperar para ficar sozinhos — ele disse e acrescentou qualquer coisa em francês para Philippe, e os dois riram. Depois, sério, ele se virou para Nicole e beijou-lhe a mão. — Por favor, aceite meus melhores votos, madame Galantoire. Sei que você e Philippe serão muito felizes juntos. Depois que ele partiu Nicole disso em tom seco: — Seu amigo tem um jeito muito vulgar de falar. O comentário que ele fez para você era digno de um adolescente. Pela primeira vez, desde que o conhecia, Philippe pareceu embaraçado. — Você entende francês, então? — Falo com fluência. — Por que nunca me disse? — Tive vontade de dizer, quando você praguejou tanto no aeroporto — ela disse, com uma incontrolável risada. — Peço perdão sinceramente. Se soubesse, teria controlado minha linguagem. Ela deu de ombros. — Já tinha ouvido aquelas palavras antes. — Nunca me ocorreu que você falasse duas línguas — Philippe estava surpreso. — Acho que, quase como todo mundo, pensei que americanos só falassem sua própria língua. — Não temos muitas oportunidades de praticar o que aprendemos na escola. Mas, quando Raymond e Sandra voltaram para San Francisco, falávamos francês para que ela não perdesse sua fluência. Robbie compreende um pouco de francês também. — Por preconceito, cometi o erro de subestimá-la. — Pode ser perigoso — ela falou com um leve sorriso. — Sei muito bem disso. De agora em diante, vou tomar cuidado com o que digo. Mas, começarei amanhã, porque não quero estragar minha noite de núpcias. — Quando Nicole olhou-o de viés, ele sorriu de leve. — Estava apenas sugerindo suspensão das hostilidades durante o jantar. Pensei em ir ao Chez Martine depois que Robaire se deitar. — Não posso deixá-lo sozinho — ela protestou. — Ele não ficará sozinho. Heloísa e Paul ficarão aqui com ele. Ela ficará no quarto com ele, até que ele durma. Projeto Revisoras

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Nicole sabia que Robbie iria chorar e incomodar. Mas, depois que Philippe prometeu levá-lo a um shopping no dia seguinte para comprar o carrinho que queria tanto, Robbie foi para a cama sem nenhum protesto. — Você precisa parar de comprá-lo com presentes — Nicole disse. — Sei que pode comprar tudo que ele quiser, mas aspira ele não será bem-educado. —Preferia não ter de usar este recurso, mas é a única forma que tenho de fazê-los me tolerarem. Vê? O dinheiro tem sua utilidade — Philippe disse sarcástico. Porém, Philippe não agia como um homem com algum desígnio secreto. A única coisa que parecia estar em sua mente era um calmo jantar em um lugar agradável. Chez Martine era um desses elegantes restaurantes onde as reservas tinham que ser feitas com semanas de antecedência. A atmosfera era sofisticada. As mesas estavam postas com a mais fina porcelana e prataria. Lustres de cristal lançavam uma luz suave sobre as pessoas bem vestidas que conversavam em voz baixa. O maitre apressou-se para receber Philippe. — Claro que podemos achar uma mesa para o senhor — ele disse, conduzindo-os para um excelente lugar, próximo à janela. Depois que se sentaram e o maitre os deixou a sós, Nicole comentou: — Ou você vem muito aqui, ou dá enormes gorjetas. Já li que é preciso até referências para entrar neste restaurante. — Não é tão difícil assim. Precisa-se somente de duas referências — ele brincou. Logo eles foram atendidos por um garçom solícito que lhes entregou a carta de vinhos. Depois de escolher o vinho, Philippe dispensou o garçom e, junto com Nicole, começou a ler o cardápio. — Por que não escolhe para mim? — ela sugeriu. — Não sei do que gosta, — Philippe olhou-a com curiosidade. — Estou pensando em quão pouco conhecemos um do outro. — Eu não diria isto. Sei que você é rico e mimado, e você sabe que eu não sou — ela riu. O rosto dele também mostrava divertimento. — Você admite que é teimosa e geniosa? — Veja só quem fala de mau gênio! — Se está se referindo aos meus palavrões no aeroporto, tem de admitir que fui provocado. Acho que fez de propósito. — Você não está acostumado a ver sua autoridade desafiada — ela disse suave. — E você está acostumada a homens que fazem tudo para agradá-la. — Você bem que podia fazer o mesmo. — Bem, eles não tiveram muito sucesso. Você disse que não está envolvida com ninguém. — Ele a observou com curiosidade. — Deve ter havido muitos homens em sua vida. Alguma vez esteve apaixonada? Antes que ela pudesse responder, o garçom veio servir o vinho e depois aguardou os pedidos. Mais uma vez, Nicole pediu que ele escolhesse por ela. Enquanto Philippe se concentrava no cardápio, ela pensou na pergunta dele. A resposta era não. Nunca encontrara alguém que fizesse seu coração bater mais depressa ou seu corpo despertar para o amor. Alguns homens que namorara sentiram-se daquela Projeto Revisoras

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forma por ela, mas ela não correspondera. Como seria se as coisas mudassem e o homem por quem se apaixonasse não correspondesse a seus sentimentos? — Pedi alguns dos pratos que o maitre recomendou — Philippe disse, interrompendo-lhe o devaneio. — Espero que goste da comida. Nicole não pensava na comida. — Você disse que não sabemos nada um do outro. É verdade em parte. Você sabe um pouco sobre mim, mas eu não sei nada sobre você. Agora, conte-me como é sua vida — ela pediu. — Não há nada surpreendente nela, garanto. Trabalho todas as manhãs, como todo mundo. Reúno-me com meus amigos às vezes. Levo uma vida normal. — Não é bem assim. — Ela olhou em torno da bela sala. — Nem todo mundo pode jantar no Chez Martine, sempre que tem vontade. Nem todo mundo mora em uma mansão. — Tenho mais bens materiais do que a maioria, mas mesmo assim, preciso trabalhar para me manter. Era verdade, mas não era o tipo de coisa que Nicole queria saber. Já que Philippe evitava falar sobre sua vida privada, ela resolveu ousar e perguntar, sem rodeios. Afinal de contas, ele perguntara sobre a dela. — E quanto a suas amizades femininas. Há alguma mulher especial em sua vida? — Não no momento. Ele tinha hesitado antes de responder? Nicole não tinha certeza. Era pouco provável que um homem como Philippe não tivesse um caso. Não podia esperar que ele renunciasse ao sexo por causa de um casamento de fachada, ele era muito viril para tal coisa. — Acho que é uma sorte que não esteja envolvido com alguém — ela disse. — Ia ter muito trabalho para explicar nosso súbito casamento. — Felizmente, isso não é problema. — Você já considerou os outros problemas? O casamento vai com certeza interferir em seu estilo de vida. — Nicole baixou os olhos para o prato que o garçom colocará a sua frente. — Talvez você já tenha uma solução. Ouvi dizer que é muito comum entre os franceses ter "uma amiga", fora de casa. — É muita consideração sua se preocupar com minha vida sexual. É a isto que está se referindo, não é? — Os olhos de Philippe brilhavam divertidos. — Está me dando permissão para ter um caso extra matrimonial? — Diante das circunstâncias, você não precisa de minha permissão — ela respondeu, pouco à vontade. — Existe um jeito de me manter fiel — ele disse mais divertido ainda. — Nem pense nisto! Não tenho a menor intenção de dormir com você — ela retrucou, com firmeza. — Você poderia gostar. Tentaria tudo para agradá-la. — A chama da vela refletiu-se nos olhos dele, quando lhe tomou as mãos. Sua voz baixa e rouca provocou um arrepio ao longo da espinha de Nicole. Podia muito bem imaginar as maneiras como ele lhe daria prazer, desde os beijos até a completa posse de seu corpo. Ela rompeu o contato para quebrar o contato magnético. — Tenho medo de que este arranjo não dê certo, Philippe — ela disse, com um longo suspiro. Projeto Revisoras

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— Porque fui honesto? Sei que muitos homens já desejaram fazer amor com você. É uma mulher encantadora. — Se soubesse que se sentia dessa forma, não teria concordado em me casar. — Nunca ouvi dizer que uma mulher considerasse um insulto ser desejada por um homem. — Philippe riu. —Você prometeu que seria um casamento de aparência, apenas. — E será. Nada acontecerá, se você não quiser. Mas é uma pena, porque acho que seríamos sensacionais na cama. — Não quero — ela retrucou, procurando soar convincente. Á inegável atração sexual entre os dois era desconcertante e perigosa. Philippe seria um amante maravilhoso, mas suas emoções mais profundas não estariam envolvidas. Não era tola a ponto de pensar que ele poderia envolver-se emocionalmente. Pelo menos, não com ela. — Nunca fiz amor com uma mulher que não me desejasse, por isso não tem com que se preocupar. Agora, coma, senão o maitre se ofenderá e não poderemos voltar mais aqui. A atenção de Nicole voltou-se para seu prato, pela primeira vez. A comida estava decorada e parecia uma foto em revista de culinária. — É um lindo prato! — ela exclamou. — Tomara que o ache tão gostoso quanto bonito. Da próxima vez, vamos ao Celestine. É um restaurante novo que tem sido muito elogiado. Talvez possamos ir lá amanhã à noite. — Ah! Não vou poder deixar Robbie outra vez — Nicole protestou. — Por que não? Ele está em mãos confiáveis e dorme cedo. Não acredito que ficava todas as noites em casa com ele. — Na verdade, ficava sim. Quando acabava todo o trabalho doméstico, já era muito tarde e nós dois tínhamos que nos levantar cedo no dia seguinte. Eu ficava feliz quando acabava de arrumar tudo e podia cair na cama. — Você desistiu de sua vida pessoal por seu sobrinho? Nicole deu de ombros. — Apenas dei um tempo. Não era tão horrível. — Duvido de que existam muitas mulheres jovens capazes de fazer este sacrifício. Pelo menos, sua vida será mais fácil agora — ele disse com simpatia. — Não necessariamente. Não precisarei lavar louça nem roupa, mas apenas troquei um tipo de problema por outro. — Não quero ser um problema para você, Nicole. — Não é você... Embora reconheça que você é o espinho que mais me espeta. — Ela riu das próprias palavras. — Diga-me o que a incomoda e darei um jeito, — Isto inclui mudar a atitude de sua mãe a meu respeito? — ela perguntou séria. — Acho que nem você poderia fazer este milagre. Philippe suspirou. — Compreendo que minha mãe é difícil. Não consegue aceitar o fato de que Raymond renunciou à família, por sua irmã. Ela tem de culpar alguém, já que não pode culpar a si mesma. Deve ser um inferno ter que viver com a lembrança do último encontro com Raymond. Eles tiveram uma briga muito feia. — Bem, posso entender a situação dela. É horrível mesmo.

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— Robaire é tudo o que lhe resta de Raymond. Minha mãe deseja o amor do neto desesperadamente, mas não sabe como conquistá-lo. Você faria uma verdadeira caridade, se pudesse convencer Robaire a ter um pouco de boa vontade com ela. Só um pouco. Nicole olhou-o incomodada. — Não há limite para o que espera de mim? Eu não posso fazer milagres. — Sei que peço muito, mas você é a única que pode mudar a disposição de Robaire para com ela. — E por que pensa que ela receberia bem minha interferência? Tenho certeza de que quando sua mãe soube do casamento, fez uma cena e tanto. — Nicole percebeu uma mudança na expressão dele. — Não estou certa sobre a reação dela? — Ela ficou aborrecida, sim — Philippe admitiu. — Mas acabará se habituando à idéia. — Admiro seu otimismo, mesmo se não compartilho dele. Imagino que deve tê-la convidado para o casamento, no entanto, ela não estava lá. — Conheço todos os defeitos de minha mãe, mas tenho pena dela. Não posso evitar — Philippe disse com ar pesaroso. — Mas se ela lhe causar problemas, quero que me diga. — Vamos deixar isto para lá. Estou mais preocupada com a adaptação de Robbie. Foi um bom sinal que ele tenha concordado em ficar com Heloísa hoje. Hum... Talvez eu devesse telefonar para ver se está tudo bem. — Se quiser... Mas Heloísa tem meu número. Ela teria chamado se houvesse acontecido alguma coisa. — Acho que tem razão. É que esta é a primeira vez que deixo Robbie, à noite. — De repente, Nicole riu. — Veja só nossa conversa! Parecemos o típico casal jovem, preocupado com uma babá nova. — Hum... É uma sensação boa. Acho que vou gostar de ser um pai de família. — Espere até Robbie acordá-lo no meio da noite, pedindo água ou qualquer outra coisa. Ou quando vier para sua cama porque está com medo e se mexer tanto que não o deixa dormir. Esta sensação boa vai passar logo. Criança dá muito trabalho. — Nenhuma destas coisas iria me incomodar — Philippe falou convicto. — Fizemos este arranjo para que Robaire pudesse crescer seguro. Por que não damos um passo adiante? Assim que ele ficar um pouco mais acostumado comigo, poderíamos adotá-lo. Um sinal vermelho se acendeu na mente de Nicole. Se aquele casamento não desse certo e ela quisesse uma separação, seria quase impossível ganhar a custódia de Robbie. Principalmente, porque tudo se resolveria em um tribunal francês. Teria Philippe pensado naquilo? Seria por esta razão que fizera a proposta? — Acho que qualquer conversa sobre adoção é prematura — ela retrucou reservada. — Mas é uma coisa para se pensar. — Não queira ir longe demais. — Os olhos azuis de Nicole chisparam. — Até agora, concordei com todos seus termos, contra todo o bom senso e sem ter nada em retorno, a não ser vagas promessas. Você pode me julgar facilmente influenciável, mas também tenho limites. — Desculpe-me se pensa que a estou manipulando. Pensei que tivesse sido bem claro sobre o que espero de você — ele falou sério. — De boa vontade, admito que tem sido mais que generosa, mas nunca fiz uma promessa vazia. Posso levá-la para falar com Projeto Revisoras

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meu amigo Jacques, que é um excelente estilista, quando quiser. Apenas diga o dia. Pode ser amanhã. — Não estou preparada. Não tenho meus desenhos comigo. Nem pensei em trazêlos. — Não pode reproduzi-los de memória? — Sim, mas levaria tempo. — Está bem, tudo que precisa fazer é me avisar. Quando estiver pronta, vou cumprir minha parte do trato. —. Philippe tomou a mão dela sobre a mesa e olhou-a nos olhos. — Admito que usei de uma artimanha para trazer Robaire para cá. Mas fiz isso porque acreditava que ele teria uma vida mais confortável comigo. — Você ainda pensa assim — ela murmurou, ignorando o calor da mão máscula. — Sim, mas você me mostrou que ele precisa de nós dois. Nicole quero que saiba que estou muito feliz com sua companhia. Foi inevitável. Nicole derreteu-se sob o calor dos olhos dele e com a ternura de sua voz. Ambos se olhavam sem palavras, quando um grupo de pessoas parou junto à mesa deles. — Philippe! — Uma mulher exclamou. — Você não me disse que vinha aqui esta noite. Disse apenas que estava ocupado. — Ele não precisa lhe dar um relatório de suas atividades como eu faço minha querida — um homem ao lado dela falou. — Prazer em vê-la, Marie. Resolvi sair na última hora — Philippe disse. — Tive vontade de jantar aqui. Experimente a lagosta, está excelente. Enquanto os outros faziam comentários, um homem loiro não tirava os olhos de Nicole. — Não vai nos apresentar sua adorável companheira? — ele perguntou. — Ou está com medo da concorrência? — Já derrotei a concorrência — Philippe disse. — Quero apresentar a vocês minha linda esposa, Nicole. Exclamações irromperam de todos os lados. Ninguém queria acreditar, achando que se tratava de uma brincadeira. — Não é brincadeira. Nós nos casamos esta tarde. — Se está falando sério, por que não fomos convidados? — Marie perguntou. — Foi uma cerimônia muito simples — Philippe explicou. Marie olhou-o, com as longas sobrancelhas arqueadas. — Também resolveu em cima da hora? — Mais ou menos. Quando a vi, soube logo que estávamos destinados um ao outro. — Ele estendeu o braço e pegou a mão de Nicole novamente. — Desde o primeiro momento que nos vimos, soubemos que nossos destinos estavam ligados. — Como se conheceram? — uma mulher do grupo perguntou. — Foi totalmente inesperado — ele respondeu vagamente. — Nicole é... Era... A cunhada de Raymond. Por um instante, o grupo silenciou. Todos adoravam Raymond. Passado o choque da revelação, todos falaram ao mesmo tempo e parabenizaram o novo casal. — Claudine sabe? — Marie perguntou. — Ainda não. — A expressão de Philippe era enigmática. Projeto Revisoras

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— Ainda não tivemos oportunidade de dizer a ninguém. Vocês são os primeiros, a saber. Nicole se perguntou quem seria Claudine. Alguém importante na vida de Philippe, a julgar pelos olhares que seus amigos trocaram. O grupo ainda continuava amontoado em torno da mesa, atrapalhando a passagem. Os garçons precisavam de muita destreza para abrirem caminho. — Acho que devíamos nos sentar, agora — Marie sugeriu relutante. — Olha, faço questão de ouvir todos os detalhes, mais tarde. Talvez pudéssemos jantar amanhã. — Acho que amanhã não será possível, mas nos reuniremos em breve — Philippe prometeu. — Ligarei para você de manhã — Marie insistiu. Depois que ficaram a sós, Philippe disse com ar pouco satisfeito: — Tinha esperança de que a notícia não se espalhasse por uns dias, mas devia ter adivinhado que encontraríamos conhecidos aqui. — Bem, não se trata de uma notícia que se possa esconder por muito tempo. Você deve conhecer metade de Paris. Por que não quer que saibam de nós? — Estou pensando em você. Precisa de tempo para se acostumar e precisa fingir que está apaixonada por mim. Sei que vai ser difícil. — Você tem o mesmo problema — ela respondeu. — Vai ser como um teatro. Uma comédia, talvez. Podemos até rir depois. — Será nossa piada particular. — Ele se calou, quando o garçom veio servir um maravilhoso suflê de chocolate. Depois que o garçom se retirou, continuou: — Muitos de meus amigos vão querer nos oferecer festas, principalmente para poderem olhar para você. Ficarão curiosos a seu respeito. Acho que seria mais fácil se déssemos uma recepção e satisfizesse a curiosidade de todo mundo de uma vez só. — É... Talvez tenha razão. — Não será tão ruim. Na verdade, são pessoas gentis. Acho que gostará deles, quando os conhecer melhor. — Quem é Claudine?— ela perguntou de repente e sem rodeios. — Claudine Duval. É uma velha e querida amiga. Ela vai ser de grande ajuda para você. Conhece todos os bons cabeleireiros e sabe onde fazer as melhores compras em Paris. Tenho certeza de que vocês duas vão se dar muito bem. Todo mundo adora Claudine. Ela é inteligente, interessante e muito divertida. Ficava cada vez mais aparente que Philippe tinha uma ligação especial com aquela mulher. Por que não se casara com ela? — Como ela é fisicamente? — Nicole perguntou. — É jovem, ruiva, tem olhos verdes e pele sedosa. Tem também umas charmosas sardas sobre o nariz. Aquela descrição parecia a de um homem apaixonado. Como podia pensar que Claudine recebesse bem a notícia de seu casamento? — Talvez você devesse contar a ela a verdade sobre o motivo de nosso casamento — Nicole falou. — Pode pedir-lhe para manter segredo. — A única maneira de guardar um segredo é não contá-lo a ninguém — Philippe disse com firmeza. — Não se preocupe. Após a recepção, as pessoas começarão a perder o interesse em nós e acharão outra coisa para se ocupar. — Espero que esteja certo. Projeto Revisoras

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— Confie em mim. Vou mandar meu secretário enviar os convites imediatamente. Assim que passar a festa, poderemos voltar à vida normal. — Nada em minha vida é normal, depois que o conheci — Nicole suspirou. Á casa estava silenciosa quando eles retornaram. Os criados haviam deixado as luzes acesas no andar térreo, mas todos já dormiam. — Gostaria de um drinque antes de ir dormir? — Philippe perguntou. Nicole sacudiu á cabeça. — Já tive mais drinques do que estou acostumada. Obrigada pelo maravilhoso jantar. Diverti-me bastante. —Você parece surpresa — ele disse. — Eu avisei que poderia mudar de opinião a meu respeito. — É porque passamos uma tarde inteira sem discutir. — Discutimos, sim, mas você ganhou todas as discussões. Quando ele parou em frente da porta do quarto dela, Nicole falou: — Vou olhar Robbie. — Vou com você. O menino dormia profundamente, encolhido e com um ursinho de pelúcia nos braços. Nicole alisou as cobertas e debruçou-se sobre ele para beijá-lo. — Eu poderia? — Philippe perguntou hesitante. — Claro! — Nicole sentiu-se tocada pela emoção no rosto dele. Com delicadeza, Philippe afastou os cabelos da testa do menino e depois o beijou. Nicole sentiu maior segurança. Ela e Philippe talvez tivessem diferenças irreconciliáveis, mas tinham algo em comum. Ambos amavam o sobrinho. Depois de saírem do quarto na ponta dos pés e de se despedirem para a noite, Nicole sentiu que a atmosfera entre eles mudara. Tinham se tornado muito mais conscientes um do outro. — Bem, acho que vou para a cama — ela disse. — Foi um dia cheio. — Anime-se, o pior já passou. Talvez você descubra que gosta de ser casada. — Nicole ficou tensa, quando Philippe se inclinou sobre ela, mas ele apenas tocou-lhe o queixo. — Você parece cansada. Descanse um pouco, chérie. — Depois, beijou-a na face e caminhou pelo corredor em direção a seu quarto.

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CAPÍTULO V

N; a manhã seguinte, Nicole usufruía do luxo de poder dormir até tarde, quando Paul acordou-a para dizer que a chamavam ao telefone. Só podia ser Philippe. Não conhecia ninguém mais em Paris. Ela pegou o telefone com uma estranha ansiedade. Uma voz feminina gritou em seus ouvidos. Sem nenhum preâmbulo, a mulher disse: — Você acha que eu vou aceitar este ultraje? Vou fazer com que anulem este casamento! Nós duas sabemos que você está apenas interessada no dinheiro de Philippe. Mas eu cuidarei para que não consiga nenhum centavo. — Madame Galantoire, imagino — Nicole disse tensa. — Não esperava suas congratulações, mas está desabafando sua raiva na pessoa errada. Discuta com seu filho. Foi ele quem insistiu neste casamento. — Isto é mentira! Você o seduziu da mesma maneira que sua irmã seduziu meu Raymond. Vocês são oportunistas vulgares. Conheço muito bem este tipo de mulher. Tentam e atormentam um homem até que eles não tenham outra saída a não ser o casamento. Os olhos de Nicole se estreitaram, diante da injustiça. — Pode me chamar todos os nomes que quiser porque posso me defender, mas não vou deixá-la falar mal de minha irmã. Ela deu a Raymond mais amor e felicidade no pouco tempo em que viveram juntos do que ele jamais teve com a família. Se a senhora realmente se importasse com seu filho, seria grata a Sandra em vez de caluniá-la. — Como ousa falar comigo desta forma? — Há muito tempo já deviam ter lhe falado assim — Nicole retrucou. — O que sabe do amor de uma mãe? Sua irmã roubou Raymond de mim, e agora você está querendo roubar Philippe e meu neto. — A voz da arrogante senhora estava cheia de desespero. Aquela mulher intolerante não merecia qualquer consideração, mas Nicole sentiu uma leve ponta de piedade. — Não quero interferir entre a senhora e seu filho — ela disse com mais gentileza. — Não há motivo para se preocupar. — Se suas palavras fossem sinceras, você voltaria para o lugar de onde veio e nos deixaria em paz. Posso dar-lhe dinheiro — Catherine propôs ansiosa. — Fique longe das pessoas que eu amo, e lhe darei qualquer quantia que estipule, — Pensa mesmo que eu venderia o filho de minha irmã? — Nicole perguntou com desprezo. — A senhora deve ser doente. Projeto Revisoras

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— Não seja tola! Vai sair deste casamento sem nada. Quando Philippe se cansar de você, ele a deixará sem um centavo. — Então, por que me faz propostas? Tudo o que tem a fazer é esperar. — Está muito confiante agora, mas o tempo está ao meu favor — Catherine gritou. — Vai acabar pisando em falso. Ambiciosas como você sempre cometem um erro, cedo ou tarde. E quando eu a pegar, vai lamentar ter conhecido um Galantoire. — Já lamento, pode ter certeza. Até mais, Sra. Galantoire — Nicole respondeu firme e desligou o telefone. Ela não erguera a voz, mas todo seu corpo tremia depois da confrontação. Ninguém jamais a odiara ou a maltratara antes. Seu primeiro impulso foi de contar tudo a Philippe e exigir que ele tomasse uma atitude em relação à mãe. Mas, depois, pensou melhor. Se contasse, ele seria envolvido naquela briga e nada mudaria. Ele já sabia que a mãe era difícil. Poderia até causar uma rusga entre mãe e filho, o que seria triste. Philippe era tudo o que Catherine tinha. Ela era uma mulher detestável, mas mesmo gente como ela tinha sentimentos. Nicole suspirou. Infelizmente, aquele não foi o único problema do dia. Teve muito trabalho para distrair Robbie. Philippe comprara-lhe o carrinho que prometera, deixara-o em casa e fora para o trabalho. Robbie ficou em êxtase com o novo brinquedo... Até passar a novidade. Depois, ficou atrás de Nicole, reclamando que não tinha nada para fazer. Ela não teve um minuto para si própria. Quando Philippe voltou para casa ao anoitecer, ele notou o rosto abatido de Nicole. — Peço desculpas pelo telefonema de minha mãe — ele pediu constrangido. Por um instante, Nicole ficou tão surpresa que até esqueceu seu cansaço. — Ela contou? O que foi que disse? — O suficiente para eu saber que foi de uma rudeza imperdoável. Mas já cuidei do assunto — ele disse soturno. — Ela não vai mais incomodá-la. — Lamento que ela tenha lhe contado. Espero que não tenha dito nada para se arrepender mais tarde. Ele lançou-lhe um olhar intrigado. — O comportamento de minha mãe foi inaceitável. Sei que ela foi horrível. Por que se preocupa com um desentendimento entre nós? ——Nada do que você diga vai mudar a opinião dela sobre mim. Jamais seremos amigas. Mas posso imaginar como deve ter sofrido com a morte de Raymond. É por isso que tem tanto medo de perder o único filho que lhe resta. Philippe olhou-a em silêncio. Quando ele falou, sua voz traía emoção. — É muito compreensiva. Lamento que os Galantoires não tenham sido tão generosos com você. — Nunca é tarde demais — ela disse em um tom breve, para disfarçar a satisfação que o apoio dele lhe dava. Era uma surpresa que ele ficasse ao seu lado. — Diga o que posso fazer por você. — Por mim, nada. Mas preciso lhe falar sobre Robbie. Ele é cheio de energia e não tem com quem brincar, nem tem atividade alguma o dia todo. — Hum... Também tenho pensado nisto. Concordo que esta cidade não é o melhor lugar para se criar um menino. Ele precisa de espaços seguros para correr, de bichos de estimação. — Isto seria o ideal. Onde podemos encontrar estas coisas? Projeto Revisoras

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— Em minha mansão, no interior. Vamos nos mudar para lá. Temos cavalos e cachorros e tenho amigos com filhos pequenos, na vizinhança. É um paraíso para crianças. Nicole sentiu um leve aperto no peito por ter que deixar Paris. Tivera apenas uma rápida visão da excitante cidade. E gostara do que vira. Mas as necessidades de Robbie eram mais importantes. — Parece a solução perfeita, mas e seu trabalho? Você poderá ir lá nos finais de semana? — Acha que eu ficaria longe de você uma semana inteira? Um calor gostoso e sorrateiro subiu pelo corpo de Nicole. Philippe continuou: — O que as pessoas pensariam? Somos recém-casados. Farei meu trabalho no escritório da vinicultura. — Ah... Bom! Se é assim, quando podemos ir? — Logo após a recepção. Faltavam ainda duas semanas! — O que faço com Robbie esse tempo todo? — Nicole perguntou aflita. — Não sei mais o que inventar para entretê-lo. — Deixe que eu me preocupo com isto. — Vendo seu ar de dúvida, Philippe acrescentou: — Quero que descanse e se divirta. Já abriu mão de muitas coisas por Robaire. — Nunca considerei nada do que fiz como sacrifício. — Eu sei. E é isto o que a torna tão especial — ele murmurou. Nicole ficou surpresa e perturbada com o prazer que aquele elogio lhe trouxe. Mas, não se iludiria. Sob aquela aparência atraente e charmosa, estava o mesmo homem duro que entrara em seu apartamento em San Francisco. Era importante não esquecer tal coisa. Philippe colocou as mãos sobre os ombros dela. O toque a sobressaltou. — Deixe-me dividir as responsabilidades com você, chérie. Não está mais sozinha. Fazia tanto tempo que Nicole não tinha em quem se apoiar... Desde a morte de seus pais, tantos anos atrás. Era uma ótima sensação ter alguém com quem dividir os problemas. Olhando nos olhos dele, quase desejou que Philippe pusesse os braços em torno de sua cintura e a abraçasse. Philippe prendeu a respiração, com os olhos fixos nos lábios dela. Inclinou a cabeça para ela, e Nicole não teve forças para se afastar. Mas, no último momento, ele se recompôs e recuou, murmurando: — Desculpe-me. Para Nicole, o recuo dele foi como um banho de água fria. Quantas vezes precisava repetir que não queria se envolver emocional nem fisicamente com ele? Com esforço, Philippe recuperou o autodomínio. — Por enquanto, colocarei Robaire no melhor jardim-de-infância de Paris. Paul irá levá-lo e buscá-lo. Robaire ficará ocupado, e você terá um tempo para si. — Gostaria de alugar uma máquina de costura e comprar tecido — ela admitiu. — Preciso fazer um vestido para a recepção-e não tenho muito tempo. Philippe tinha o maravilhoso dom de arranjar as coisas de modo rápido e, aparentemente, sem esforço. Entrara em contato com as pessoas certas e encontrara um jardim-de-infância que encantara Robbie. Philippe também se encarregou de comprar uma máquina nova para ela e conseguiu que fosse entregue no dia seguinte. Depois, transformou um dos quartos de hóspedes em uma espécie de ateliê. Projeto Revisoras

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Alguns dias mais tarde, Nicole estava atarefada, desenhando um modelo, quando Philippe chegou a casa inesperadamente, para convidá-la para almoçar e acompanhá-la nas compras. — Já comprei o tecido que queria. Não tenho mais compras para fazer. — Ela mostrou-lhe o tecido de seda, cor de champanhe. — Veja, é para o vestido que estou fazendo. Você gosta? — Sim, é muito bonito. Mas, você precisa de mais coisas. Por exemplo, não tem um anel de noivado nem uma aliança. — É mesmo necessário, Philippe? Parece-me uma despesa tão desnecessária. — Tudo faz parte da toalete. Meus amigos não notaram que você não usava um anel naquela noite, porque estavam surpresos demais com a notícia de nosso casamento. Mas, com toda certeza notarão na recepção. Não a agradava ter que lembrar a toda hora que viviam uma farsa. — Não preciso ir com você para isso. O que escolher estará bom. Ele a olhou de viés, surpreso com o tom dela. — A escolha de um anel de noivado deve ser feita pelo casal — ele disse paciente. — Nada em nosso relacionamento é comum. — Quer que sejamos um casal normal, Nicole? — A voz dele era muito insinuante. — Claro que não! — Ela se virou e continuou o trabalho. Ficou tensa, quando percebeu que ele se aproximava, mas não se mexeu. Assim, não viu a expressão no rosto dele, nem a mão que se erguera para tocar-lhe os cabelos. Passado um momento, Philippe baixou a mão e disse: — Vejo-a a noite, então, se tem certeza que não quer almoçar comigo. O vestido que Nicole havia idealizado para a recepção ficou exatamente como ela queria. Simples e elegante. A saia era longa, cortada enviesada e flutuava em torno de seu corpo. As alças finas deixavam seus ombros quase nus. Era provocante, sem ser vulgar. Na noite da festa, ela dedicou um tempo enorme à maquilagem, caprichando para que parecesse o mais natural possível. Seu penteado era gracioso. Escovara os cabelos loiros até brilharem como seda e deixara-os cair sobre os ombros. Quando terminou, Nicole ficou satisfeita. Parecia mesmo a esposa de um milionário. Embora confiasse em sua aparência, Nicole sentia-se um pouco nervosa por ter de encontrar os amigos de Philippe. Apesar de negar, temia ser rejeitada. Eles aceitariam um casamento tão rápido, para o qual nem tinham sido convidados? Acreditariam que tinham se apaixonado à primeira vista? Interpretar o papel de enamorados seria difícil. Contudo, a reação de Philippe aumentou-lhe a confiança. — Você está linda! Todos vão adorá-la! — ele exclamou. E o brilho sensual quê viu nos olhos cinzentos garantiu a Nicole que ele não estava sendo apenas delicado. — Mal posso acreditar que foi você mesma quem fez este vestido. — Eu disse que tinha talento para desenhar moda, não disse? Estava morrendo de medo que eu fosse causar sua desgraça hoje à noite? — ela perguntou, para chateá-lo. Em resposta, Philippe pegou-lhe a mão e levou-a aos lábios. — Você seria linda de qualquer jeito, querida, não importa o que usasse. Jamais teria vergonha de você. Para esconder seu prazer, ela perguntou brincalhona: — Está ensaiando o papel de noivo apaixonado? Projeto Revisoras

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— Não interpretei um papel. Falei a verdade. Será que algum dia vai confiar em mim? — ele indagou, irritado com as palavras dela. — Os convidados devem estar chegando a qualquer momento, então é melhor você colocar isto — ele disse e entregoulhe uma caixa de veludo. Dentro, havia um anel com uma enorme esmeralda quadrada. Era tão magnífico que Nicole prendeu a respiração. A perfeita pedra verde era rodeada por brilhantes que realçavam sua beleza. Não era apenas uma jóia, era uma obra de arte. — É lindo, Philippe, mas não precisava nada tão extravagante. Deve ter custado uma fortuna. — É que eu queria que minha devoção parecesse convincente. Por que tensão e ironia sempre acabavam surgindo entre eles, Nicole pensou contrafeita. Poucos minutos antes, a admiração de Philippe tinha parecido genuína, mas agora aquela frieza velada estava lá outra vez. O que ele queria dela? Quando os convidados começaram a chegar, Nicole viu-se tão ocupada que esqueceu seu relacionamento problemático com Philippe. Fora apresentada a tantas pessoas que no final desistiu de lembrar o nome de todas elas. Como já era esperado, os amigos de Philippe a examinaram disfarçadamente, procurando descobrir o que tinha de especial para haver conquistado o mais cobiçado e bem-sucedido solteiro do grupo. Fizeram inúmeras perguntas também. Não somente sobre como haviam se conhecido, mas também sobre quais eram seus planos futuros. — Para onde vão à lua-de-mel? — Marie perguntou. Sem saber o que responder, Nicole deixou que Philippe falasse. Colocando o braço em torno dela, ele disse: — Ainda não decidimos aonde ir. Até agora, estivemos muito ocupados em nos conhecer. — A melhor ocasião para se conhecer um ao outro é durante a lua-de-mel. A nossa foi tão romântica. Fomos ao Taiti — uma mulher chamada Claire suspirou saudosa. — Minha mulher e eu não precisamos ir a lugar especial para ficarmos românticos — Philippe ergueu o rosto de Nicole e olhou-a carinhoso. Apesar do esforço para parecer à vontade, Nicole ficou tensa. Estava consciente demais dos dedos dele deslizando sobre sua pele e de sua perna, musculosa pressionando a dela. Philippe era um grande ator. Todos os que o ouviam iam pensar que ambos passavam as noites fazendo amor com paixão. Cenas eróticas deviam estar na cabeça de todos. — É tão poético — Marie virou-se para o marido. — Por que nunca diz coisas lindas para mim? — Eles são recém-casados — ele respondeu. — Espere alguns anos. Vão ficar tão prosaicos como nós. — Está enganado, George — Philippe corrigiu, com sua voz mais suave. — A mágica entre nós vai crescer cada vez mais. Não é, meu anjo? — Sim — Nicole murmurou assustada com o desejo que via nos olhos dele. Por um instante, os olhos de ambos se encontraram, e eles esqueceram as pessoas ao redor. As vozes ficaram distantes e só havia os dois no mundo. Mas o feitiço foi quebrado quando um dos homens reclamou: — Está tornando a vida difícil para nós homens, Philippe. Nossas mulheres estão exigindo mais romance. — Elas estão certas. Nós dois somos um incentivo para porem mais romance em seus casamentos — ele respondeu e conduziu Nicole para outro grupo. — Acho que me saí muito bem, não? Projeto Revisoras

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— Acho que se saiu bem demais. Até exagerou — ela respondeu, libertando a mão. — Parecia um adolescente apaixonado. — O amor faz as pessoas se comportarem assim. Mas eu estava falando sobre o jeito como me esquivei das perguntas sobre a lua-de-mel. Tem de admitir que fui criativo. — Pois eu acho que minha performance foi melhor. Não mereço algum crédito também? — Você deveria ser uma atriz. Quase enganou a mim — ele afirmou zombeteiro e tomou-lhe a mão novamente. Philippe foi encantador com todos, mas seu rosto se iluminou de modo especial, quando avistou alguém que chegava atrasada. Uma ruiva maravilhosa! Trajava um vestido verde longo e um deslumbrante colar de esmeraldas. Claudine Duval, sem dúvida. — Lá está Claudine. Venha. Quero apresentá-la a você. — Philippe levou Nicole para o outro lado da sala. Após apresentá-las, ele reclamou: — Você está mais do que atrasada. Estava com medo de que não viesse. Ela o beijou nos dois lados do rosto. — Como poderia deixar passar a oportunidade de conhecer a mulher que finalmente conquistou nosso solteiro mais cobiçado, chérie? — Ah! Isto não é bem verdade — ele protestou. — Quem o conhece melhor que eu? — Ela sorriu maliciosa e, virando-se para Nicole, falou com franqueza: — Imagino que saiba que deixou todo o mundo louco de curiosidade. — Sim, eu sei. Acho que devia ter trazido uma espécie de currículo, para me apresentar — ela respondeu, procurando dar um tom leve à voz. Claudine era franca, Nicole concluiu. Pretendia abrir mão de seu romance com Philippe? Não que se importasse, Nicole disse para si mesma. Mas esperava que aqueles dois fossem, pelo menos, discretos. — Como americana, acha que vai gostar de viver na França? — Claudine perguntou. — Na verdade, eu preferia morar em San Francisco, mas Philippe é muito persuasivo. — Ela lançou um olhar a Philippe. — Eu prometi a Nicole que você a ajudaria em tudo que eu não puder — ele disse a Claudine. — Você sabe coisas de mulher. Cabeleireiro, etc. — Ficarei feliz em ajudar — ela disse e, virando-se para Nicole, continuou: — Vou levá-la a uma pequena loja que descobri e onde há roupas maravilhosas. Roupas exclusivas demoram sempre tanto tempo... Se precisar de alguma coisa já... Nicole ficou surpresa, quando Philippe a interrompeu: — Bem, disto ela não precisa. Nicole tem mãos de fada. Foi ela que fez o vestido que está usando. — Ah! Ele está brincando, não está? — Claudine olhou Nicole de cima a baixo, espantada. — Já tinha notado que seu vestido é lindo. Não posso acreditar que você o fez. Algumas mulheres que estavam perto ouviram o que ela disse e se aproximaram para ver o vestido melhor. Todos os comentários foram elogiosos, e a surpresa foi grande. — Ah! Acho que comprou o vestido às escondidas e disse que o fez — uma mulher chamada Simone brincou. Philippe passou o braço por sobre o ombro de Nicole. Projeto Revisoras

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— Não temos segredos um para o outro — disse. — Nosso casamento é baseado na confiança. Não é assim, chérie. — E no amor também — ela disse irônica e se espantou com a própria ousadia. Claudine observava-a com atenção, os olhos verdes semicerrados, mas as outras mulheres estavam mais interessadas no vestido de Nicole. Enquanto perguntavam como aprendera a costurar tão bem e se era desenho seu, Philippe e Claudine afastaram-se juntos. Nicole conseguiu responder a todas as perguntas, mas com o canto dos olhos observava o casal. Eles não deixaram a sala, mas ficaram absorvidos em uma conversa em voz baixa. Claudine falava com ar ansioso e parecia que Philippe tentava apaziguá-la. O que ele estaria dizendo? Que seu casamento não afetaria o relacionamento deles? Nicole sentiu-se revoltada. Pouco lhe importava o caso deles, mas Philippe poderia, pelo menos, ter a decência de guardar as aparências no dia da recepção. Quando um homem muito atraente juntou-se ao grupo e mostrou sua admiração por Nicole, ela foi mais receptiva do que costumava ser com qualquer outro. O nome dele era François Clermont e disse ser um velho amigo de Philippe. Após alguns minutos ele a afastou dos outros, levando-a para perto da janela para ficarem a sós. — Queria lhe dizer que todos nós ficamos muito espantados quando soubemos que Philippe havia se casado, mas depois de vê-la, acho compreensível — ele disse galanteador. — Que pena que não a encontrei primeiro! — Obrigada pelo elogio — Nicole respondeu e depois apontou para Philippe e Claudine. — Eles parecem ter uma relação especial — disse. — É verdade. Sempre tiveram um tipo especial de amizade e acho que o casamento não vai alterar isto. Nicole sorriu. — Acho que tenho muito que aprender com os franceses. Ele a olhou esperançoso. — Ficaria feliz em ensinar qualquer coisa que queira aprender — ele sussurrou. De repente, Philippe materializou-se ao lado de Nicole. Ele sorria, mas seus olhos estavam frios. — O que quer que François esteja dizendo, não acredite nele. — Estava apenas tentando fazer sua adorável noiva sentir-se bem-vinda. — E eu apreciei a gentileza — Nicole sorriu. — Agora, se nos der licença, eu queria falar com minha mulher — Philippe disse, tomando o braço dela com firmeza. Quando não podiam mais ser ouvidos, ele disse: — O momento é pouco indicado para flertar com François. Não esqueça que devemos agir como recém-casados apaixonados. — E o que estava fazendo no canto da sala, em uma conversa privada com sua amiga? — Não é a mesma coisa. Já disse que Claudine é uma amiga de muitos anos. — É exatamente a mesma coisa, só que François é um amigo novo.

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CAPÍTULO VI

Nicole ficou boquiaberta quando viu a mansão campestre de Philippe pela primeira vez. Ela se erguia imponente no meio de um verde gramado aveludado que terminava em um bosque a distância. Assim que Max parou a limusine em frente à maciça porta dupla da entrada, dois grandes cães correram para festejar os recém-chegados, latindo alegremente. — Estes cachorros moram aqui? — Robbie perguntou a Philippe, cheio de excitação. — De quem são? — São meus, e agora são seus também — ele respondeu. Robbie lançou um olhar extasiado ao tio e quis abrir a porta do carro. Um homem alto veio atrás dos cachorros. Um menino com idade semelhante à de Robbie acompanhava-o. Philippe apresentou o homem como Maurice, o encarregado da área em volta da mansão, e o menino, como seu filho Jules. Enquanto Maurice apresentava suas congratulações pelo enlace do patrão, os dois meninos olhavam um para o outro, como se estivessem se examinando. Por fim, o mútuo exame pareceu aprovado porque Jules convidou Robbie para ver uma ninhada de cachorrinhos, no outro lado da casa destinado aos empregados. — Posso ir lá ver, tia Nicky? — Robbie pediu, aflito. — Por favor, por favor. — Eu cuidarei do menino — Maurice ofereceu-se. Quando Nicole deu a permissão, os dois meninos correram pelo gramado, com os cachorros latindo atrás deles. — Ainda não tinha visto Robaire tão feliz — Philippe observou satisfeito, caminhando com Nicole em direção à porta de entrada. — Normalmente, Robbie é assim. Acho que ele vai ficar muito mais feliz aqui, com um garoto da idade dele para brincar. Quando eles entraram na casa, todos os criados estavam alinhados no imenso hall de entrada para cumprimentar a nova senhora. A mansão tinha mais ou menos o tamanho de um hotel de bom porte, por isto era necessário uma grande equipe para administrá-la. Além de Paul e Heloísa que tinham acompanhado os patrões, havia muitas arrumadeiras e copeiras, bem como jovens rapazes cujas funções eram desconhecidas para Nicole. Philippe riu do espanto de Nicole, quando a conduziu para o andar superior, após as apresentações. — Não se preocupe. Com tempo, vai aprender o nome de todos os empregados. — Espero que sim, mas minha experiência em lidar com uma equipe é quase zero. Em minha casa, faço tudo sozinha. — Bem, esta é sua casa agora, e não precisará fazer nada. Peça e será atendida. O sorriso de satisfação de Philippe incomodou Nicole um pouco. Ele podia financiar tudo que quisesse. Será que queria comprá-la também?

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As preocupações de Nicole foram esquecidas, quando Philippe mostrou a suíte dele. A cama era imensa, mas parecia até pequena no enorme quarto. Havia também uma lareira, com um conjunto de confortáveis poltronas à frente. Devia ser uma delícia dormir com o fogo crepitando nas noites frias. Sem dúvida, era um quarto masculino. Não havia enfeites, apenas livros e umas poucas fotografias em molduras de prata. Uma delas era de Raymond e a outra, de Claudine. Por que ele não guardava a foto daquela mulher no fundo da gaveta, ela se perguntou. Pelo menos, seria mais coerente com a farsa que encenavam. — É um bonito quarto de um homem. Com um brilho malicioso no olhar, ele retrucou: — Sinta-se livre para dar o toque feminino que quiser, caso queira ficar aqui. — Ah! Sabe muito bem que não tenho a menor intenção de dividir este quarto com você. — Bem, as mulheres são famosas por mudarem de idéia — ele a provocou. Ela ignorou o comentário e franziu a testa. — Temos um pequeno problema. O que os criados vão pensar ao ver que não compartilhamos o mesmo quarto? — Eles não farão perguntas sobre isto. Se mantivermos nossa encenação amorosa, eles vão pensar que dormimos separados porque um de nós ronca. — Espero que não pensem que sou eu — ela disse e, sem esperar resposta, perguntou: — Onde é meu quarto? — Por aqui — ele disse e abriu uma porta adjacente que conduzia a outra elegante suíte. No primeiro momento, Nicole nem notou a decoração do quarto, pois estava preocupada demais com as implicações de uma simples porta sem chave entre eles. Philippe percebia sua reserva. — Sabe, há um limite para o que os criados podem acreditar — ele disse. — Alguns casais dormem em quartos separados, por uma razão ou outra. É aceitável. Mas não colocam chaves ou cadeados em suas portas. Asseguro a você que não tenho intenção de me esgueirar para sua cama, no meio da noite para estuprá-la. Uma mulher que não me deseja perde toda a atração para mim. Não tenha receios. Nicole sentiu-se tola. Um homem como Philippe nunca precisaria recorrer à força para conseguir uma mulher. Era sedutor por natureza. — Não estou com medo — ela mentiu e virando-se para examinar o quarto, exclamou: — Que encantador! Aquilo pelo menos era verdade. Os móveis eram mais delicados que os do quarto de Philippe. Tudo era em tons pastéis. Cortinas leves esvoaçavam nas portas francesas que davam para uma sacada que se debruçava sobre um belo jardim. — Espero que se sinta confortável aqui. Seu closet e banheiro são ali. — Ele apontou uma porta do lado oposto. — Eu disse a Paul para preparar esta suíte para você. Ele é sempre muito eficiente, mas se quiser qualquer outra coisa, fale comigo. — Não consigo imaginar o que mais eu poderia desejar... — Bem, vou deixá-la arrumar suas coisas. Como Nicole não tinha muitas coisas para arrumar, resolveu examinar melhor seus aposentos. O closet era do tamanho de um quarto. Havia uma quantidade incrível de gavetas, bem como largos espaços para cabides e sapatos. Era impossível imaginar que ocuparia tudo aquilo um dia. Projeto Revisoras

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O que mais a encantou foi o banheiro, onde havia uma enorme banheira com torneiras de quartzo cor-de-rosa. Havia também um Box em vidro fosco. Uma das paredes era totalmente espelhada, refletindo todo aquele luxo. Nicole sempre soubera que Philippe era muito rico, mas nunca tinha imaginado quanto. Aquela mansão devia ter algumas centenas de anos, logo devia ter custado uma fortuna modernizar seu interior como ele o fizera, sem perder nada de seu charme antigo. Olhando a banheira mais uma vez, ela sorriu. Não precisaria mais lutar para convencer Robbie a tomar um banho. Ele iria adorar tudo aquilo. De repente, ela se lembrou que não sabia onde ficava o quarto do menino. Voltando ao quarto, dirigiu-se à porta de conexão. Estava fechada, e ela apenas bateu de leve e abriu-a. O que viu deixou seu sangue gelado e pregada no lugar. Philippe estava saindo do banheiro completamente nu. Com todo o vigor, ele enxugava os cabelos com uma toalha e por isto não percebeu sua presença no primeiro momento. Mas quando a viu, ficou tão paralisado quanto ela. Ambos ficaram se olhando em silêncio, por um tempo que pareceu uma eternidade. Nicole notou todos os detalhes de seu corpo magro e musculoso. Um perfeito corpo masculino que lembrava a estátua de um atleta grego. Seu corpo irradiava virilidade. Os olhos de Nicole não se continham e o olhavam de cima a baixo, até que ele passou a toalha em torno da cintura. A magia se quebrou, e seu rosto pareceu pegar fogo. — Desculpe-me... A porta estava... — ela gaguejou. Philippe mostrou-se mais divertido do que embaraçado. — Você parece tão chocada. Há alguma coisa em mim que seja diferente dos outros homens? — Não... Eu... — Será que ele não sabia que era um exemplo perfeito de beleza máscula? Vermelha, Nicole virou-se, balbuciando: — Vou deixá-lo se vestir. — Para seu constrangimento, ele a seguiu. — O que queria? — Minha dúvida pode esperar — ela disse, de costas para ele. Philippe pôs as mãos nos ombros dela e a fez voltar-se para encará-lo. — Não está fazendo uma tempestade em copo de água? Com certeza, já viu um homem nu antes. A proximidade de Philippe e o calor de suas mãos sobre seus ombros deixavam-na com as pernas bambas. — Isto é apenas uma espécie de piada da qual riremos, mais tarde — ele disse, tentando fazê-la rir da situação. Por fim, Nicole conseguiu sorrir; — Talvez você ria. Mas prefiro não me lembrar disto. — Para falar a verdade, foi bom ter me visto nu. Pôde comentar em suas conversas, que tenho um sinal secreto. — Não vi sinal algum. — É um pequeno sinal em forma de meia-lua, em minha virilha. Como ele ia tirar á toalha para mostrar-lhe, Nicole segurou-lhe as mãos. — Pode deixar. Acredito em sua palavra — ela falou ofegante. — Quer dizer que está começando a confiar em mim? — ele perguntou. A situação não poderia ser mais provocante. A mão dela ainda estava sobre a dele, de uma forma perigosamente convidativa. Devia afastar a mão, mas não conseguia. Projeto Revisoras

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A respiração de Philippe tornou-se mais apressada. Ele fixou os olhos na boca entreaberta de Nicole. — Doce Nicole — murmurou. — Você é tão adorável. Passando um braço em torno da cintura dela, puxou-a para si. Nicole poderia ter resistido, mas estava hipnotizada pelo brilho dos olhos dele. Queira que ele a apertasse nos braços e a beijasse sem restrições. Por um rápido momento, nem ouviram a voz de Robbie, mas ambos se afastaram quando o menino espiou pela porta. — Procurei por você em todos os quartos, tia Nicky — Robbie queixou-se. Nicole sorriu com os lábios trêmulos. — Bem, agora me encontrou. Divertiu-se com Jules? — Sim, ele é meu melhor amigo. A mãe dele me deu biscoitos, e Jules me mostrou uns cachorrinhos. Posso ficar com um tio Philippe? — Acho que pode. Contanto, que tome conta dele. — Oh! Tomo, sim. Prometo! — Robbie olhou com mais atenção para Philippe. — Você está usando uma toalha. Tia Nicky deu um banho em você? — E o menino deu uma gargalhada com a própria piada. — Não, mas é uma boa idéia — Philippe piscou para Nicole. — Vejo-os mais tarde. Agora vou me vestir. Ah! O quarto de Robaire fica no fim do corredor, ao lado do quarto de brinquedos. Após o traumático encontro, Nicole ficou pouco à vontade na presença de Philippe. Ele, no entanto, comportou-se de modo tão natural, que logo ela conseguiu vencer seu embaraço. Nos primeiros dias, Nicole ocupou-se em conhecer a mansão e os arredores. Além de inúmeros quartos e salas, havia um grande salão de recepções no terceiro andar. Todos os aposentos eram lindamente decorados, com quadros de pintores famosos e objetos de arte. Enquanto caminhavam por um longo corredor, Nicole comentou: — Uma pessoa poderia se perder neste lugar, e ninguém jamais a acharia. — Não se preocupe, há equipes de buscas as quartas e sextas — Philippe gracejou. Philippe prometeu levá-la a visitar os vinhedos e as adegas que ficavam próximos, mas aquela promessa não se concretizou. Os amigos de Philippe, das mansões vizinhas, começaram a fazer convites para os mais variados eventos. Todos queriam entreter o novo casal. Nicole percebeu que precisaria de um novo guarda roupa. Sua máquina de costura tinha vindo para o campo também, mas as lojas ali não tinham os tecidos sofisticados de Paris. Philippe, então, sugeriu que passassem um dia em Paris. Robbie já não a preocupava tanto. O menino gostava de brincar com Jules. As crianças eram sempre supervisionadas por Maurice ou por outra pessoa. Tinha que admitir, a infância de seu sobrinho seria saudável e feliz naquele lugar maravilhoso. Assim que chegaram à Cidade Luz, Philippe conduziu-a as lojas que procuravam. Quando ela comentou sobre o grande conhecimento que tinha da cidade, ele respondeu: — Depois de viver um tempo aqui, vai conhecer tanto quanto eu. Philippe falava como se esperasse que aquele arranjo fosse permanente. Poderiam mesmo continuar vivendo uma mentira indefinidamente? Seus pensamentos pouco alegres foram para o fundo da mente, quando ela viu a vitrine de uma loja de tecidos. Os metros de pano inspiravam-na como uma tela em Projeto Revisoras

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branco inspira um pintor. Mal podia esperar para entrar na loja e começar a examinar tudo. — Por que não espera por mim em um desses cafés de calçada, onde pode admirar as moças que passam? — ela sugeriu. — Vai morrer de tédio se ficar comigo enquanto visito a loja. — Nunca fico entediado quando estou com você — ele disse, com um sorriso nos olhos. — Irritado, algumas vezes talvez. Frustrado, quase sempre, mas nunca entediado. — Não sei se era sua intenção, mas acabou de me fazer um grande elogio. — Era minha intenção, sim. Depois de convencer Philippe a encontrá-la mais tarde, Nicole caminhou pela seção de Unho, renda, brocado e por toda a parte de aviamentos. O tempo voou. Quando olhou o relógio, soltou uma exclamação abafada. Ficara tempo demais ali! Philippe devia estar cansado e irritado. Quando chegou ao café onde haviam combinado de se encontrar, Nicole estava sem fôlego. — Oh! Sinto muito pela demora — ela se desculpou. — Perdi por completo a noção do tempo. — Imaginei que isso fosse acontecer — ele respondeu, com um sorriso indulgente. Nicole olhou-o, espantada. — Pensei que fosse estar muito bravo. Acho que eu ficaria se houvessem me deixado esperando tanto tempo. — Este dia é seu, chérie. Quero que se sinta feliz e o aproveite. — É muita gentileza sua — ela agradeceu, admirando sua paciência e consideração. — Na próxima vez em que se enfurecer comigo, eu a lembrarei de que tenho algumas boas qualidades. — Ele a olhou de um modo divertido. — Afinal, comprou alguma coisa? — Comprei tecidos maravilhosos! Estavam muito pesados para carregar, por isto disse à vendedora que pegaria a compra mais tarde. — Está bem. Onde quer almoçar? — Não podíamos ficar aqui mesmo? — Hum, está querendo contemplar os homens bonitos que passam? — Philippe brincou. — Acho que não gosto desta competição. Poucos homens poderiam competir com ele, Nicole pensou, examinando as feições másculas e bem-feitas de seu belo rosto. Philippe tinha beleza, charme, educação e riqueza. Era difícil acreditar que aquele homem era seu marido. Ainda que de um falso casamento. — O que gostaria de fazer esta tarde? — ele perguntou, ao acabarem a refeição. — Você não tem que voltar ao trabalho? Está gastando todo o seu tempo comigo. — Estamos em lua-de-mel, lembra-se? O que iriam pensar se eu voltasse a trabalhar imediatamente? Sempre que ela começava a esquecer que tudo era apenas uma farsa, Philippe a fazia lembrar. — Eu me esqueci desse detalhe. Você é muito bom em guardar as aparências — ela disse, em tom de brincadeira. — Foi o que combinamos para o bem de Robaire, não é mesmo?

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— Ele tomou a mão dela entre as suas. — Sei que não é fácil para você, Nicole. Sente falta de seus amigos, de seu velho estilo de vida. É compreensível. Se não achasse que é o melhor para Robaire, não lhe pediria para fazer tal sacrifício. Nicole estava em Paris, uma das cidades mais belas do mundo, com Philippe, um dos homens mais cobiçados do país. Tinha uma fortuna no dedo e morava em uma maravilhosa mansão francesa, servida por um batalhão de criados. Já estava na hora de valorizar suas benesses. — Você desistiu de muitas coisas também — ela disse. — Se pode agüentar a situação, eu também posso. — Ah! É muito mais fácil para mim. — Ele levou a mão dela aos lábios e beijou-lhe a ponta dos dedos. — Sinto prazer em olhar para você todos os dias. Um elegante casal de meia-idade que estava deixando o local parou à mesa deles. — Desculpe-nos, por nos intrometer — a mulher disse. — Mas eu tinha que dizer como é maravilhoso ver um jovem casal tão apaixonado. — É tão evidente assim? — Philippe perguntou, com um sorriso. — Vocês refletem o amor quando olham um para o outro — a mulher assegurou. Nicole ficou intrigada. Será que eles pareciam mesmo apaixonados? — Espero que sejam tão felizes quanto nós temos sido, nestes trinta anos — o homem disse, abraçando a esposa carinhosamente. — Ah! É claro que eles serão — a mulher disse confiante. — Foram feitos um para o outro. Aproveitem a vida, meus filhos, e tenham muitos bebês. Eles serão lindos! Quando o casal foi embora, Nicole exclamou: — Imagine! Casados por trinta anos. É uma prisão perpétua. — Daquela vez, tinha certeza que Philippe concordaria. No entanto, o rosto dele tornou-se duro e sério. — As pessoas se acostumam com tudo — ele disse e fez um gesto para o garçom. A pequena mudança na atmosfera entre eles deixou Nicole confusa. Em um momento, davam-se muito bem. Não como amantes, mas como bons companheiros. No momento seguinte, pareciam inimigos. Por que havia sempre aquela tensão entre eles? Era uma pena, Nicole pensou consternada. A tensão, porém se desfez enquanto visitavam o Louvre. Quem poderia ficar de mau humor, preocupado com pequenos problemas, em meio a tantas obras de arte? Eles passearam pelas salas e corredores, contemplando obras-primas. Nicole nem notou quando Philippe pegou sua mão. Ou talvez, ela tivesse pegado a dele... Não fazia diferença. Eles caminharam demoradamente pelos jardins do museu e tomaram um delicioso café. Quando foram à catedral de Notre Dame, ela rezou recolhida em seu ambiente de silêncio e paz. —Você é um bom cicerone — ela agradeceu quando voltavam para casa. — Aposto que detestou ter de fazer todos estes passeios de turista. — Você sabe que não é verdade. — Sei que está sendo delicado. — Pode não acreditar, mas me diverti muito hoje. — Você fala como se estivesse surpreso — ela riu. Projeto Revisoras

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— Tudo sobre você me surpreende. É por isso que é tão divertido estar com você. Nicole não tentou analisar a alegria que sentiu com aquele elogio, decidiu apenas usufruí-lo. Seu prazer durou até chegarem a casa. Um criado veio dizer que Robbie estava brincando no jardim dos fundos, e eles foram para lá, antecipando a alegria do menino ao ver os presentes que receberia. Nicole deparou com uma cena idílica. Claudine Duval estava sentada na grama, segurando Robbie no colo. O sol batia em seu rosto sorridente e fazia os cabelos dela parecerem uma labareda, formando um belo contraste com o verde ao redor. Ao vê-los, Robbie gritou excitado: — Venham aqui! Tia Claudine está me contando uma história. O coração de Nicole se apertou ao ver com que facilidade a outra mulher conquistara a afeição de Robbie. Pelo jeito, nenhum homem era imune a seus encantos, não importava a idade. — Que surpresa agradável — Philippe disse. — Por que não nos avisou que viria? Robbie puxou a manga do vestido dela. — Você tem que acabar a história. Quero ouvir o fim. — Conto a última parte, da próxima vez — Claudine disse. — Assim, você vai querer que eu volte. Claudine era uma moderna Scheerazade. Sabia como manter um homem interessado. No caso de Philippe, Nicole pensou, seus métodos deviam ser bem mais sofisticados.

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CAPÍTULO VII

Os pais de Claudine possuíam uma mansão nas redondezas e era lá que ela estava hospedada. Nicole encontrou-a inúmeras vezes, pois Claudine fora convidada praticamente para todas as festas em homenagem aos recém-casados. Um dia, Claudine apareceu inesperadamente. — Achei que poderíamos almoçar juntas, só nós duas — ela disse. — Há um delicioso restaurante perto daqui. Podemos almoçar e aproveitar para nos conhecermos melhor. Nicole preferia caminhar em cima de cacos de vidro, mas não havia maneira de se livrar daquele convite sem ser grosseira. Philippe fora trabalhar, Robbie andava tão ocupado que ela mal o via, e a criadagem tomava conta de tudo, dentro de casa. Só lhe restava aceitar o convite da forma mais graciosa possível. Se Claudine tinha algum motivo especial para convidá-la para almoçar, pelo menos não estava aparente. A caminho do restaurante, ela conversou sobre coisas corriqueiras e triviais como roupas e festas. Mais tarde, sentadas a uma mesa que dava para um lago tranqüilo, discutiram o cardápio. O nome de Philippe ainda não tinha sido mencionado. — Você sabe que todo o mundo ficou surpreso quando soube do casamento de Philippe — Claudine disse, em tom muito casual. — Sim, eu sei. E acho que você se surpreendeu mais que todos — Nicole respondeu também em tom casual. — Eu realmente fiquei furiosa! Não queria acreditar que Philippe houvesse tomado uma decisão dessas sem me dizer. Nós sempre contamos tudo um ao outro. — Vocês devem ter um relacionamento muito íntimo. — Sim, temos. Espero que isto não lhe crie nenhum problema. — Bem, acho que você e Philippe já devem ter discutido este assunto — Nicole disse aborrecida. O que Claudine queria? Sua aprovação para o romance deles? — Nossa amizade é importante para nós dois. Philippe é muito especial para mim. — Claudine fez uma pausa. —Acho que nem preciso lhe dizer que ele era um ótimo partido. Além de ser lindo, é muito rico. Metade das mulheres solteiras em Paris gostariam de ser sua esposa. — Por que ele casou comigo, então? — Nicole perguntou, em um tom áspero. — É isto o que a intriga tanto? — Se Philippe não havia contado a verdade sobre seu falso casamento, ela é que não iria contar!

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— Não, não foi o que eu quis dizer. Entendo perfeitamente que ele tenha se apaixonado por você. O que estou tentando descobrir é se você o ama — Claudine disse sem rodeios. — Você acha que me casei com Philippe por seu dinheiro? Foi isto o que ele e a mãe dele pensaram, quando minha irmã se casou com Raymond. — Nicole estava perdendo a paciência. — Será que existe uma mulher que os Galantoires considerem digna deles? — Sua irmã recebeu um tratamento vergonhoso da parte deles. Philippe não foi exatamente contra o casamento, só queria que eles esperassem um pouco até se conhecerem melhor. Nicole fez um gesto de incredulidade. — Daqui a pouco, você vai dizer que a mãe dele é uma pessoa boa e generosa. Claudine riu. — Não. Ela não é uma pessoa gentil, nem mesmo sensível. Catherine não entende que é preciso dar amor para recebê-lo. Tenho pena dela. — É porque você é muito caridosa. — Não posso culpá-la por se sentir assim em relação a ela. Sempre considerei uma pena que Catherine não tivesse conhecido sua irmã. Sandra era uma jovem tão encantadora... — Você conheceu minha irmã? — Nicole perguntou surpresa. — Encontrei-a uma vez. Raymond e eu éramos bons amigos. Ele a trouxe para me conhecer, logo depois do ruidoso rompimento com Catherine e Philippe. Acho que ele precisava de alguém com boa vontade para ouvi-lo. Eu me ofereci para tentar suavizar as coisas entre ele e a família, mas ele não quis. Estava com muita raiva. Era tudo tão triste! Philippe tem vivido no inferno, culpando-se pelo que aconteceu. — Ele não é exatamente uma pessoa de mente aberta — Nicole disse com frieza. — Se pensa assim, como pôde se casar com ele? — Claudine estreitou os olhos. — Por vingança? Nicole percebeu que tinha sido muito ingênua ao falar. Tentou minimizar o estrago, escolhendo as palavras com cuidado. — Nunca pensei que fosse me apaixonar por Philippe. Brigamos muito, mas a química entre nós sempre esteve presente, desde o primeiro momento. — Sim. Sei como é isto — Claudine disse suave. — Alguns homens fazem a gente esquecer o bom senso. Olhando para a bela mulher a sua frente, Nicole teve uma sensação de desamparo. Claudine era bela, rica, tinha charme e posição social. Não era de admirar que Philippe fosse apaixonado por ela. Cada vez entendia menos por que não tinham se casado. — Por que você e Philippe nunca se casaram? — ela perguntou. — Para quê? Para arruinar uma bela amizade? — Claudine fez uma careta e depois ficou séria. — Ah! Entendo agora. É por isto que tem sido tão reservada comigo? Pensa que Philippe e eu somos amantes? — Bem, é uma conclusão lógica, não? A primeira coisa que perguntaram foi: Claudine sabe que você se casou? E quando nos encontramos você me pareceu meio desconfiada. — Não era nada pessoal. Eu queria ter certeza de que você tinha se casado com Philippe pelas razões certas. Importo-me muito com a felicidade dele. Projeto Revisoras

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Nicole estava confusa. Claudine tinha demonstrado de tantas maneiras que amava Philippe! Será que uma mulher podia ser tão altruísta, a ponto de abrir mão de seu amado e desejar que ele fosse feliz com outra? Ou ela estaria dizendo a verdade, e eles eram apenas bons amigos, como Philippe também dissera? Claudine olhava-a com olhos atentos. — Você nunca respondeu a minha pergunta. Você o ama? — Sim, amo. — ela afirmou. Colocada contra a parede, era a única resposta possível. Mas assim que disse aquelas palavras, Nicole teve um breve momento de pânico. Seria verdade? Philippe fazia a estremecer com apenas um sorriso ou com um leve toque de seus dedos. Era tão fácil fingir-se apaixonada por ele, na frente de seus amigos. Ambos desempenhavam muito bem seus papéis. Mas, e se somente um deles estivesse representando? — Não duvidei de que você amasse Philippe. Já vi como seu rosto se ilumina quando está com ele — Claudine disse —, mas eu tinha que ter certeza. — Agora que isto está esclarecido, podemos ser amigas. Nicole nunca teria imaginado, mas aos poucos, relaxou e começou a usufruir o almoço. Antes mesmo de acabarem a refeição, elas estavam rindo e conversando com a naturalidade de velhas amigas. Quando Claudine deixou Nicole em casa, Philippe já estava de volta do trabalho. Ele surgiu para cumprimentá-las, mas Claudine apenas acenou e partiu com o carro. — Paul me disse que você tinha ido almoçar fora — Philippe comentou, conduzindo Nicole para o interior da casa. — Divertiu-se? — Sim, muito — ela concordou com sinceridade. — Claudine me levou ao albergue. A comida estava deliciosa! — Eu avisei que ela lhe mostraria boas coisas. — Ele abriu um painel na parede que escondia um bar completo e um pequeno refrigerador. — O que gostaria de beber? — Acho que só água com gás. Tomei vinho no almoço e ainda vamos a uma festa hoje à noite. Não quero beber muito e ficar sonolenta. Quero me divertir. Philippe pareceu contente. — Fico feliz que esteja começando a se descontrair. Viver aqui não é tão ruim, não é? — Não tenho muita certeza. Se nosso arranjo falhar, vai ser um terrível choque voltar a viver como uma pessoa normal — ela falou, entre brincalhona e séria. — E por que haveria de falhar? — Ele entregou-lhe um longo copo de cristal, com uma fatia de limão. — Robaire está muito feliz, e você começa a se sentir à vontade. O que pode dar errado? Tudo, Nicole pensou, considerando a precária relação deles. Mas, disse apenas: — Você pode cansar de ser casado. — Até agora, estou achando muito bom. É agradável ter para quem voltar no fim do dia. Você é que pode se cansar das restrições. Se ela realmente estava se apaixonando por Philippe, aquele casamento platônico ficaria muito difícil. Que desastre seria se ele descobrisse! Ela forçou-se a sorrir. — Ah! Não se preocupe. Como já disse, seria difícil deixar esta boa vida. Projeto Revisoras

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— Admito que desejei que este bem-estar influenciasse você — ele disse. — Mas, não sou tão cruel como pensa. Usei de subterfúgios para que casasse comigo, mas não quero que se sinta infeliz. Não importa o que decida, ficar ou partir, sempre cuidarei de você. Em outras palavras, ele queria que ela ficasse, mas não ia sofrer se ela partisse. Para Nicole foi impossível ocultar a frustração. — Isto é quase um insulto! Para você, tanto faz. Não quero seu dinheiro! Quero... — Ela calou-se, apavorada com o que quase revelara. Philippe ficou tenso, mas não tirou os olhos dela. — Diga-me o que quer, chérie — ele pediu com suavidade. Nicole baixou os longos cílios, para evitar o olhar dele. — Desculpe — murmurou. — Não foi delicado de minha parte falar assim. Mas eu posso cuidar de mim mesma. — Não duvido disso nem por um instante. — O tom leve de Philippe não deixava transparecer o tumulto que ia dentro dele. Queria tomá-la nos braços e apertá-la até seus corpos se fundirem. Nicole era tão deliciosa! Céus, como queria fazer amor com ela. Philippe conhecia bem as mulheres, e sua experiência lhe dizia que ela seria receptiva. Mas Nicole não era o tipo de mulher que fazia amor levianamente. Iria se lamentar e se arrepender mais tarde, e aquilo seria intolerável. — Bem, é melhor eu começar a me arrumar para a festa — ela murmurou. — Você tem bastante tempo. Conte-me que modelo maravilhoso criou para esta noite. O momento tenso passara graças à habilidade de Philippe de contornar todas as situações. Ela começou a descrever o traje que usaria e se acalmou. Ao perceber que se detinha em pequenos detalhes de costura, interrompeu-se. — Você tem muito bom humor e paciência para me ouvir. Sei que nada disso pode interessá-lo. — Admito que não entendo nada disso, mas gosto de ver o seu entusiasmo quando fala de seu trabalho. Sei que é talentosa. Claudine gostou do vestido que você fez, e ela é exigente e entende de moda. — Claudine é tudo o que você disse que ela era. É direta e divertida. Gostei muito do tempo que passamos juntas. -- Todo mundo gosta de Claudine. Nicole olhou-o de viés. — Vocês dois têm muito em comum. Tem o mesmo tipo de formação e se gostam. Para mim, parece estranho que não tenham se casado. — Disse isto a Claudine? — Hum... Sim — ela admitiu relutante. Ele parecia divertido. — Imagino o que ela respondeu. — Quando Philippe viu o ar de dúvida no rosto de Nicole, acrescentou: — Não sei como fazê-la entender o tipo de relacionamento que existe entre mim e Claudine. Ela é como uma irmã. Nunca houve nada romântico entre nós. A expressão de Philippe era sincera. Nicole sentiu-se bem melhor. — Ela é uma mulher bonita! É de se esperar que tenha sempre um séquito de admiradores atrás dela, mas sempre a vejo sozinha nas festas. Philippe sacudiu a cabeça com indulgência. Projeto Revisoras

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— É verdade. Claudine dispensa os homens como as outras mulheres dispensam roupas. Seu relacionamento atual é muito tempestuoso, então não sei quanto tempo vai durar. Depois disso, Philippe mudou de assunto sem que ela percebesse e continuaram a conversar até a hora de se aprontarem para a noite. Nicole aguardava a festa com expectativa, principalmente agora que acreditava não haver nada entre Philippe e Claudine. Sofrerá e sentira-se humilhada, imaginando que os amigos do marido a observavam para ver sua reação quando descobrisse. Tudo aquilo fora apenas sua imaginação. Tudo estava funcionando muito bem, Nicole pensou satisfeita. A festa daquela noite era um grande evento, e ela não economizara em metros e metros de brocado prateado para o novo traje. A saia era ampla e o corpete apertado emoldurava e acentuava os seios. O vestido fora tão bem estruturado que Nicole não precisava usar nada por baixo, a não ser um par de meias. Quando sua maquiagem ficou pronta e seu cabelo brilhava em ondas douradas, ela colocou o vestido. Com um olhar aprovador à criação, colocou as mãos para trás para puxar o zíper. Ele deslizou até um ponto e depois parou. Por mais que se esforçasse, o zíper não subia. De repente, em seus esforços para desemperrar o zíper, seu cotovelo bateu em um vaso próximo que se espatifou no chão, com grande ruído. — Oh! Não! — Ela gritou. Certamente era uma peça rara! Como pudera ser tão descuidada? Quase no mesmo instante, Philippe entrou pela porta de conexão. Usava calça e sua camisa estava desabotoada. — O que aconteceu? Você está bem? — Não. Sinto-me muito mal. Quebrei seu vaso. Por favor, diga-me que não é uma raridade insubstituível. Nicole estava tão aflita que nem reparou que estava despida da cintura para cima. O olhar de Philippe alertou-a. A expressão dele mudara em segundos, de preocupação para desejo. Enquanto ela lutava desajeitada, tentando trazer o carpete para cima, ele caminhou vagarosamente em sua direção. Seus olhos fixos devoravam-na com avidez. Ela se sentiu pregada ao chão, hipnotizada pela luz magnética dos olhos dele. — Era assim que eu imaginava seu corpo — ele murmurou, tomando-a nos braços. — Lindo! Nicole tentou lembrar-se de todos os motivos que tinha para resistir, mas com as mãos dele acariciando-lhe as costas nuas, com o corpo dele tão próximo, era difícil pensar. — Você faz idéia de quanto a desejo? — ele sussurrou, descendo a boca por seu pescoço. — Estou ficando louco por vê-la todos os dias, sem poder tocá-la. Ela procurou empurrá-lo, mas seu próprio desejo começava a fugir ao controle e a deixá-la fraca. — Isto não deve acontecer — ela murmurou quase suplicante. — Mas está fadado a acontecer, minha querida. — Ele beijou-lhe os cantos da boca, provocador, fazendo-a desejar um verdadeiro beijo. As pernas de Nicole amoleceram. Era a capitulação final. Ela estendeu os braços e sustentou-se nos ombros de Philippe.

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As chamas da paixão tornaram-se ainda mais ardentes, quando ele segurou seus seios e acariciou seus mamilos com sensualidade. Com um leve grito de prazer, ela o enlaçou pelo pescoço e puxou-o para si. — Minha adorável e linda criatura — ele falou com voz enrouquecida. Seus olhos cinzentos estavam incandescentes ao examinar-lhe o rosto, um instante antes de beijá-la. Nicole abriu os lábios e entregou-se àquele beijo, colando-se ao corpo de Philippe. Estremeceu e não fez objeção quando ele começou a empurrar o vestido dela para baixo. Philippe recuou um pouco para melhor observá-la. Era uma visão linda e provocante, nua da cintura para cima. — Você é tão maravilhosa — ele sussurrou. — Quero descobrir tudo o que lhe dá prazer. Quero que tenha comigo o que nunca conheceu com alguém. — Ele a ergueu nos braços e levou-a para a cama. Quando ele se estendeu ao lado dela, amoldando o corpo ao seu, Nicole enlaçou-o, deixando seus seios tocarem-lhe a pele quente e bronzeada. Por um instante, Philippe ficou sem fôlego, depois a beijou com o ímpeto de uma verdadeira paixão, e Nicole pôde sentir toda a excitação masculina. — Você também me quer, não é meu bem? — ele perguntou, no ouvido dela. — Você sabe que sim — ela cochichou. O rosto dele estava envolvido pela cabeleira loira, e sua voz saiu meio abafada. — Tenho sonhado com isto todas as noites e agora minhas preces serão atendidas. Nicole sorriu quase em transe. — Acho que estamos no céu. Até posso ouvir sinos. — Eles estão tocando para celebrar. — Os lábios dele mais uma vez buscaram os dela para um longo beijo. Aos poucos e muito ao longe, Nicole percebeu o som de um telefone chamando no quarto de Philippe. Como o ruído não parasse, ela ficou inquieta. — Alguém está tentando falar com você. Talvez seja importante. — Nada é mais importante do que você, chérie — ele disse, abaixando-se para beijar-lhe o seio. Nicole nem pensou em insistir. Passou as unhas de leve pelas costas dele. Naquele instante, ouviram uma batida à porta. — Sr. Galantoire? — Um criado chamou do lado de fora. Philippe ergueu a cabeça, com uma expressão irritada. — Estou ocupado — ele gritou, com a voz um tanto falha. — O que quer que seja, vai ter que esperar. — Sim, senhor. Eu não iria incomodá-lo, mas sua mãe está ao telefone. — Diga que ligo para ela mais tarde. O homem hesitou, entre a cruz e a espada. — Eu sugeri que o fizesse, mas ela disse que vai esperar na linha até o senhor atender. Philippe praguejou baixinho. — Está bem, mas diga-lhe para esperar. — Ele alisou os cabelos de Nicole e falou com ternura: — Desculpe amor. Prometo que isto nunca mais acontecerá. — Tudo bem, vá — ela conseguiu dizer, puxando a colcha sobre si. — Vou ver o que ela quer e volto logo. Projeto Revisoras

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— Não, não volte. — Ela desviou os olhos, evitando-o. — Não devíamos... Foi um momento de loucura. — Você não está sendo sincera. — Ele sentou-se na beira da cama, encarando-a. — Não a culpo por ficar aborrecida, mas não pode deixar uma bobagem dessas estragar algo tão bonito entre nós. — O que acabou de acontecer foi um erro. Admito que fui tão responsável quanto você, mas não deve acontecer outra vez. — Você não se sentia assim, um instante atrás. Como podia negar? O rosto de Nicole enrubesceu ao lembrar como correspondera aos carinhos dele. — Você é muito persuasivo — ela balbuciou. — Eu não a seduzi, Nicole — Philippe disse, com certa frieza. — Seja honesta. Você me desejava tanto quanto eu a desejava. — Nós dois sabemos que há uma forte atração física entre nós — ela disse, escolhendo as palavras com cuidado. — É uma simples questão de química. Pode acontecer entre pessoas que nem mesmo se gostam. — Bom, pelo menos, estabeleceu o fato de que nossa atração é mútua — ele disse contrariado. — Está querendo dizer que se havia envolvimento sexual? — E o que mais poderia ser? Não nos casamos por amor. Só nos casamos por causa de Robbie. — Ela o observou demoradamente. — Não é como se quiséssemos criar um vínculo sentimental.

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CAPÍTULO VIII

Philippe não estava com disposição de escutar as recriminações de sua mãe. Disse a si mesmo para não se exceder, mas ela tornava tudo difícil. — Onde você tem andado, Philippe? Estou sentada aqui, segurando o telefone há não sei quanto tempo! — ela reclamou. — Se você deixasse que eu a chamasse mais tarde, não precisaria ficar esperando. — Desculpe-me se é um sacrifício tão grande falar com sua mãe. Um músculo no maxilar de Philippe estremeceu, mas ele manteve o tom de voz calmo. — O que é tão urgente para querer falar comigo imediatamente? — E precisa ser urgente? O que estava fazendo era tão mais importante? Philippe desistiu de esconder sua irritação. — Sou adulto, um homem casado. Não gosto que minha mãe me trate como uma criança, interrompendo uma conversa que estava tendo com minha esposa. — Eu devia ter adivinhado! Ela tentou impedi-lo de atender ao telefone, não foi? — Ao contrário do que pensa, Nicole ficou feliz por sua ligação ter nos interrompido — Philippe respondeu mais irritado ainda. — Acha que vou acreditar nisso? — Francamente, mamãe, pouco me importa. Quer me dizer por que chamou? Nicole e eu vamos a uma festa e preciso me vestir. — Eu sabia que isto ia acontecer. Ela está jogando-o contra mim, assim como a irmã dela fez com Raymond. — Ninguém está contra você — Philippe retrucou com voz cansada. — Nicole é uma pessoa adorável e generosa. Fez muitos sacrifícios por Robaire. Sou grato a ela e você devia ser também. — Como vai meu neto querido? — Está se desenvolvendo muito bem aqui no campo. É um prazer observá-lo crescer cada vez mais saudável. — Então, você não vai trazê-lo de volta a Paris? — Catherine perguntou aflita. — Quando vou poder vê-lo? A irritação de Philippe diminuiu. Sabia que sua mãe estava se sentindo solitária e ameaçada. — Iremos a Paris periodicamente. Mas, você pode vir aqui nos visitar sempre que quiser. — Ele olhou o relógio. — Estou atrasado mesmo. Telefonarei para você amanhã, mamãe. Um abraço — ele disse antes de desligar o aparelho. Naquela noite, Nicole teria dado qualquer coisa para escapar daquela festa, mas sabia que não era possível. Afinal, era uma festa em homenagem ao casal. Se ela não aparecesse, os amigos de Philippe pensariam que eles tinham brigado. E se dissesse que não se sentia bem, pensariam que estava grávida, como deviam suspeitar, devido à pressa do casamento. Era muito engraçado! Então por que não tinha vontade de rir? Nicole se perguntou. Projeto Revisoras

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Quando Philippe bateu à porta, Nicole já tinha retocado a maquilagem e resolvido o problema com o zíper do vestido. Philippe olhou-a com aprovação, mas sem nenhum sinal da recente explosão de paixão. Ninguém poderia imaginar o que ocorrera entre eles, minutos atrás. Claro que ele teria gostado de ter feito amor com ela, mas não era tão importante. — Você está linda. Está pronta para sair? — ele perguntou. — Estamos muito atrasados. Ainda bem que o trajeto para o local da festa era curto. Apesar de Philippe não fazer nenhuma referência ao incidente no quarto dela, Nicole só se sentiu mais à vontade quando se viu rodeada de gente. A maioria dos convidados já havia chegado, incluindo Claudine, que daquela vez, viera acompanhada. Seu par era um homem atraente e formavam um casal tão vistoso que chamavam a atenção de todos. Claudine o apresentou como Justin Marchand. — E esta é Nicole, a encantadora esposa de Philippe — ela disse. — Então, foi você que conquistou o mais cobiçado solteirão de Paris — ele disse, sorrindo para Nicole. — Confesso que não foi uma tarefa fácil, mas alguém tinha que fazê-lo — ela respondeu com desembaraço. —Você deixou todos os solteirões apavorados - Justin disse. — Philippe era nosso modelo. Se ele não conseguiu escapar, que chance nós teremos? Philippe se aproximara em tempo de ouvir a queixa de Justin e pusera o braço em torno da cintura de Nicole. — Você entendeu tudo errado. Praticamente, tive que seqüestrar Nicole para ela se casar comigo — Philippe disse. Nicole ergueu a cabeça para ele. — Praticamente, não. Você me seqüestrou mesmo. — Eu teria feito qualquer coisa, minha querida. — Os braços dele apertaram-na com mais força e, abaixando-se, beijou-lhe a orelha. — Nunca duvidei disso — ela murmurou, lutando contra a traiçoeira fraqueza que fazia seu corpo relaxar no abraço dele, apesar da razão lhe dizer para se desvencilhar. De repente, o olhar de Nicole esbarrou em Claudine que a fitava com olhos fixos. Era uma expressão que se parecia muito com inveja. Teria mentido sobre seus sentimentos por Philippe? Nicole achou melhor concluir que estava imaginando coisas. Bem, fora apenas uma breve sensação que rapidamente passara. — Acho que tenho que olhar para o lado bom da coisa — Justin disse. — Agora que você é um recém-casado, não terá tanto tempo para os negócios. Talvez minhas vendas de vinho subam. — Os vinhedos da família de Justin são concorrentes de Philippe — Claudine explicou. — Seus vinhedos ficam aqui por perto também? — Nicole perguntou por delicadeza. — Não é longe — ele respondeu. — Eu a convidaria para uma visita, mas depois de ver as instalações dos Galantoires, as nossas vão parecer primitivas. — Não para mim. Nunca visitei as instalações daqui — ela disse. — Posso levá-la para visitá-las amanhã, se você quiser — Philippe ofereceu. — Sempre tive vontade de mostrar-lhe, mas não sabia se estaria interessada: — Deve ser bom ser casada com um negociante de vinhos Projeto Revisoras

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— Claudine comentou. — Não é preciso mandar o marido comprar vinho às pressas, se aparecer visitas para o jantar. — Hum, meu Deus! Por que todo o assunto tem que ser sobre casamento? — Justin resmungou. — Não é nada pessoal — Claudine disse, com uma leve ponta de irritação. — Foi apenas uma observação. Vou pegar um drinque — ela anunciou de repente e se afastou. Com um sorriso meio embaraçado, Justin foi atrás dela. — Bem, acho que este é um namoro que não vai durar muito — Nicole observou. — Assim que os vi, achei que formavam um casal perfeito. Mas, eles não parecem se dar muito bem. — Preferia que Claudine não o visse mais — Philippe disse, com uma expressão pouco amigável. — Deve ser um namorado recente. Ela nunca o trouxe para as outras festas a que fomos. — Não, ao contrário, é bem antigo. O relacionamento deles é assim: briga e reata, briga e reata. Claudine está com a idéia fixa de querer casar com Justin. — Ela terá um trabalho árduo pela frente para convencê-lo — Nicole disse descrente. — Pelo que conversamos aqui, parece que casamento não está na lista das prioridades dele. — Ela não precisa ter trabalho para convencer alguém. Claudine é uma mulher vibrante e desejável. Outros convidados juntaram-se a eles. Uma das mulheres olhou para a figura esguia de Nicole com inveja. — Adoro seu traje. Não me diga que você o fez também. Ao ver as mulheres começarem a conversar sobre roupas. Philippe afastou-se. Nicole sorria e respondia às perguntas mecanicamente. Seus pensamentos estavam em Philippe. Sua preocupação com Claudine parecia-lhe excessiva. Estaria com ciúme dos sentimentos dela por Justin? Nicole sentiu o estômago se contrair de angústia. Um arrepio a percorreu ao lembrar-se da expressão que vira no rosto de Claudine, um pouco antes. Era difícil acreditar que os dois eram apenas amigos. Mas, uma coisa era certa. Fosse qual fosse à emoção que sentiam, era mútua. Philippe retornou e tomou-lhe a mão. — Desculpem-nos, mas quero mostrar os jardins de rosas à minha mulher — ele disse aos outros. Era uma bela noite. O luar fazia os cascalhos do caminho brilharem, e o ar estava perfumado com a fragrância das flores. Enquanto caminhavam, Philippe perguntou: — Você estava com um olhar estranho, meio ausente. Não está gostando da festa? — Sim, muito — Nicole respondeu. — Todos são gentis comigo. — Pensei que estivesse começando a gostar de sua vida aqui. — E estou. Na maior parte do tempo. — Então, o que está errado? Ainda está incomodada pelo que aconteceu, antes da festa? — Bem, é uma situação um tanto esquisita; — ela disse. — Não se martirize. Não sou um adolescente, com os hormônios à flor da pele, chérie. Posso aceitar um não e sobreviver. Projeto Revisoras

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— É este o problema! Não posso fingir que sou indiferente a você — ela confessou com honestidade. — Então, não sei onde está o problema. Somos casados, e a atração é mútua. — Esse é um raciocínio machista — ela retrucou amuada. — Nenhuma vez o ouvi dizer a palavra "amor". A expressão dele era indecifrável. — Bem, não é assim tão mal — ele disse por fim. — Temos uma coisa a favor. — Você pode ficar satisfeito com isto. Eu, não. — Bem, então, acho que nós dois vamos ter que tomar muito banho frio. — Quando Nicole não retribuiu seu sorriso, Philippe pôs as mãos sobre os ombros dela e forçou-a a olhar para ele. — Quero muito fazer amor com você, e não quero que se arrependa depois. Não quero magoá-la, Nicole. Você é uma pessoa generosa e adorável, e lhe devo muito. Mais uma vez, ele a lembrava do motivo de seu casamento. Aquele trato era o obstáculo entre eles. Não era Claudine. Poderia tentar conquistá-lo, mas não acreditava que pudesse transformar desejo sexual em amor. — Bem, estamos em uma festa. Não é o lugar para acertarmos nossas diferenças — ela suspirou. — É melhor voltarmos lá para dentro. Nicole resolveu esquecer seus conflitos por um tempo. Era uma linda festa e iria aproveitá-la. Philippe ficou intrigado, e ao mesmo tempo encantado, ao ver que ela não resistia a seu abraço, nem virava a cabeça quando a beijava na face. Ao vê-los, um dos convidados fez um comentário brincalhão. — Quando esta lua-de-mel vai acabar? — Nunca, se depender de mim — Philippe replicou, olhando Nicole com ternura, Nicole confidenciou no ouvido dele. — Acho que estamos exagerando — disse. — Não. Na verdade, estou me contendo — ele riu. Um pouco mais tarde, ao entrar no toalete, Nicole encontrou Claudine. Após conversarem por alguns minutos, Claudine perguntou, com naturalidade. — O que achou de Justin? — É um homem muito bonito — Nicole respondeu sem rodeios. — Sim, eu sei. Mas gostou dele? — Até onde posso julgar, ele me pareceu uma boa pessoa. Mas só nos falamos por poucos minutos. Com ar pouco satisfeito, Claudine fixou o espelho. — Philippe não aprova Justin. Acha que não é bom para mim. — Bem, acho que você é a única pessoa que pode decidir isso. Você precisa da aprovação de Philippe para seus relacionamentos amorosos? — Não, claro que não. Mas, acontece que confio no bom senso dele e respeito sua opinião. — Talvez Philippe não tenha muita boa vontade com Justin porque ele é seu concorrente nos negócios. — Ah! Isto não tem nada a ver. O nome dos Galantoires é conhecido no mundo todo. A empresa de Justin é pequena, conhecida apenas localmente. Não se pode dizer que sejam concorrentes. Acho que é alguma coisa mais pessoal. — Seu caso com Justin é sério? Você o ama? — Nicole perguntou, sentindo-se à vontade para tal indiscrição, pois Claudine fizera-lhe a mesma pergunta. Projeto Revisoras

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— Sim. Ando pensando em me casar com ele. Com o canto dos olhos, Nicole observou a outra mulher. — Philippe desaprovou este relacionamento desde o começo? — Não. Talvez porque não acreditasse que nosso relacionamento fosse durar tanto. — Claudine deu um sorriso amarelo. — Meus namoros não costumam durar muito, sabe? Tenho fama de inconstante. Philippe aprovaria algum homem com quem ela quisesse se casar? Nicole teve uma súbita suspeitas Sentindo o espinho do ciúme atravessar-lhe o coração, ela procurou esconder sua humilhação o melhor possível. — Se você ama seu namorado, acho que o julgamento das outras pessoas não tem muita importância. Mas, se tem dúvidas, talvez ele não seja bom para você — ela disse com sinceridade. Claudine deu de ombros. — Bem, algum dia tenho de me casar com alguém. Gostaria que fosse com Justin. Quero ter uma família antes de ficar com os cabelos grisalhos. Se não, as pessoas vão pensar que sou a avó de meus filhos. — Tenho certeza que ainda tem muitos anos pela frente — Nicole tranqüilizou-a. — É o que Philippe diz, mas ele não precisa se preocupar. Os homens ficam mais atraentes à medida que envelhecem, não acha? Com os olhos da mente, Nicole viu o rosto másculo do marido e seu corpo atlético. Passados alguns anos, ele teria um ar mais sedutor ainda, com alguns cabelos grisalhos nas têmporas, contrastando com a pele bronzeada. Seu rosto ganharia em personalidade e charme. Será que ele ainda faria parte de sua vida? De repente, o toalete ficou abarrotado de convidadas, e as duas interromperam a conversa e resolveram voltar ao salão. Philippe estivera à procura de Nicole. — Onde esteve este tempo todo? — ele perguntou. — Encontrei Claudine no toalete e começamos a conversar. — Vocês estiveram juntas durante horas, no almoço de ontem. O que ainda tinham para conversar? Ele estava sorrindo, mas havia um brilho desconfiado nos olhos dele. Teria medo de que Claudine cometesse alguma indiscrição? — As mulheres sempre têm o que conversar — ela respondeu, com um sorriso. — Fico contente que tenha encontrado uma amiga, mas senti sua falta. Está com fome? Há um jantar na outra sala. — Ah! É por isto que sentiu minha falta. Está com fome e precisa de minha companhia. — Agora acredito que estejamos realmente casados. Você já aprendeu a ler meus pensamentos. — Philippe riu. Caminhando para a sala ao lado, Nicole resolveu falar sobre o que a atormentava, em vez de ficar remoendo suas desconfianças a noite toda. — Descobri que você tem muita influência sobre Claudine — ela comentou. — Ela está muito envolvida com Justin, mas não quer se casar com ele sem sua aprovação. — Se ela realmente soubesse o que quer minha opinião não importaria. — Foi o que lhe disse, mas ela não pareceu muito convencida. Projeto Revisoras

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— Você ainda não a conhece bem. Claudine sempre discute suas preocupações comigo, é verdade, mas no final segue a própria cabeça. Que é o certo, afinal. — A atenção dele voltou-se para um apetitoso prato sobre a mesa. — Não deixe de provar a mousse de salmão e a truta também. São especialidades do chefe. Philippe não parecia ter nada na mente a não ser o jantar. Se realmente estivesse preocupado com a possibilidade de perder a mulher amada, poderia esconder esta preocupação de modo tão perfeito? Mesmo sem saber sua posição naquela trama, Nicole decidiu pôr tudo de lado e divertir-se. No momento, não podia achar nada errado com seu marido. Ele dava-lhe toda a atenção, e a felicidade dela parecia ser seu único desejo. Era tarde, quando voltaram para casa. Nicole foi ver se tudo estava bem com Robbie, como sempre fazia, e Philippe acompanhou-a. Conforme prometera, ele mandara redecorar todo o quarto. A mobília era apropriada para o tamanho de uma criança e as paredes estavam cheias de quadros alegres. Todos os brinquedos que uma criança podia desejar estavam espalhados pelo chão e ainda havia mais dentro de um grande baú. Robbie dormia como um anjo, com um urso de pelúcia nos braços. Ele se mexeu de leve e murmurou: — Quero água. — Vou buscar — Philippe se ofereceu. — Não precisa. Ele está dormindo — Nicole cochichou. — Pede água automaticamente. É uma mania que ainda não tive coragem de corrigir. — Robbie ainda é muito pequeno — Philippe concordou. Depois de alguns minutos, ambos saíram do quarto na ponta dos pés. — Nunca imaginei que uma criança pudesse proporcionar tanta alegria — Philippe disse, enquanto caminhavam pelo corredor. — Antes do acidente, eu também não sabia. Foi cuidando dele que descobri. Robbie mudou minha vida — Nicole admitiu. — Para melhor, espero. — A voz de Philippe era suave quando ele tomou-lhe a mão. — Oh! Com certeza! — Ela respondeu com entusiasmo, afastando a mão. A sutil mudança entre eles pairava no ar. — Não posso mais imaginar minha vida sem ele. — Mesmo que signifique viver aqui comigo? — Quem poderia se queixar desta qualidade de vida? — Ela disse em tom brincalhão. — É bom saber que há um modo de fazê-la feliz, mesmo que não seja aquele que eu escolheria — Philippe disse, usando também um tom de graça. Chegando à porta de seu quarto, ela mudou de assunto. — A que horas pretende me levar para visitar as instalações de seus vinhedos? — Você escolhe a hora que quiser. Não, espere! — Philippe se corrigiu. — Tenho uma reunião amanhã, mas não lembro à hora exata. Venha até meu quarto. Vou checar minha agenda. Suas lâmpadas de cabeceira estavam acesas e derramavam uma suave luz dourada sobre a cama. Nicole desviou os olhos, pois não queria pensamentos eróticos perturbando-a. Pela primeira vez, Philippe parecia ignorar a atmosfera provocadora. Estava atento, examinando seus compromissos. Projeto Revisoras

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— Minha reunião é às nove horas. Não deve demorar muito. Assim, teremos o resto do dia. — Ótimo — ela murmurou, virando-se em direção à porta. — Vejo-o de manhã, então. — Está muito cansada? Fique e tome um último drinque comigo — ele convidou. — É alta madrugada. Devíamos ir para a cama. — Esta ia ser a próxima sugestão — ele riu. — É disso que tenho medo. Philippe tocou-lhe o rosto. Fora apenas um gesto casual, ela disse a si mesma, mas todas as partes de seu corpo responderam em uníssono. — Oh! Não, por favor. Não deve ter medo de mim — ele disse com voz de veludo. — Nunca a magoaria. Só que ele não sabia que já a havia magoado, Nicole pensou. Mas que culpa tinha por ela ter se apaixonado por ele? Sofria por não ser correspondida, mas não podia culpálo. Não se pode amar uma pessoa só para ser gentil. — Vamos terminar o que começamos hoje à tarde. — Philippe veio para mais perto e colocou a mão sobre a nuca de Nicole, enredando os dedos nos sedosos cabelos dourados. — Fique comigo esta noite, chérie. Sua voz rouca fez Nicole vibrar. Podia imaginá-lo tirando-lhe a roupa e levando-a para a cama. Só que daquela vez, não haveria interrupções. Ele se deitaria a seu lado e depositaria beijos escaldantes sobre sua pele nua. Philippe abaixou uma das alças de seu vestido e pousou os lábios na curva de seu seio. — Vamos fazer amor, meu anjo — ele sussurrou, enfraquecendo-a com a promessa do êxtase. — Quero possuí-la totalmente. Era uma terrível tentação. Uma onda de desejo amoleceu o corpo de Nicole. Mas, ela temia que Philippe viesse a ter muito mais que seu corpo, depois que fizessem amor. Não podia deixar que ele a possuísse completamente. Não, se ele não a amasse. Valendo-se de toda sua força de vontade, ela recuou e com dedos trêmulos recolocou a alça do vestido no lugar. — Nada mudou — ela falou baixinho. — Ainda acho que é melhor continuarmos assim. Por um longo momento, Philippe olhou-a fixamente e Nicole mal ousou respirar. Se ele a beijasse, estaria perdida. Por fim, ele falou: — Está bem. Aceito sua decisão. Um não é um não; mesmo que eu não concorde. — Ele a conduziu para a porta de conexão. — Mas, está apenas adiando o inevitável. Mais cedo ou mais tarde, vamos fazer amor, minha linda esposa — ele disse, com doçura. — Vale à pena esperar. Nicole deixou-o sem dizer nada e trocou de roupa como se estivesse hipnotizada. Philippe teria razão? Acabariam fazendo amor? Se era assim por que não agora, quando todo seu corpo ansiava por ele? Era difícil convencer-se de que fazia a coisa certa. Com um suspiro cansado e insatisfeito, ela apagou a lâmpada da cabeceira.

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CAPÍTULO IX

A manhã seguinte o humor de Nicole estava melhor. Seu relacionamento com Philippe continuava problemático, mas não queria estragar um dia raro como aquele em que ficaria sozinha com ele. Um dia que poderia ser tranqüilo e divertido. Nos vinhedos, não haveria muitas oportunidades de surgir um clima propício a tentações. Nicole adquirira o hábito de sempre se levantar cedo e tomar o café da manhã com Robbie, mesmo que houvesse deitado tarde na noite anterior. Achava importante que o menino começasse o dia com um sorriso e um beijo dela. Ele andava tão envolvido com diferentes atividades que ela o via pouco durante o dia. Seu bom humor se arrefeceu quando, ao descer a escada com Robbie, o mordomo avisou que Catherine tinha vindo fazer uma visita. — Madame Galantoire está na sala de jantar — Paul disse. — Ela está esperando pela senhora e pelo menino. — Não quero ir lá. Quero comer onde nós sempre comemos tia Nicky — Robbie protestou. Todos os dias, eles tomavam o café da manhã e às vezes até almoçavam no adorável e aconchegante jardim de inverno próximo a um impecável gramado com árvores frondosas, algumas delas carregadas de cerejas. Era natural que uma criança preferisse aquele ambiente à sala de jantar formal. — De vez em quando, é bom fazer uma coisa diferente — Nicole disse. — Lembrase de quando você não queria cortar o cabelo no barbeiro? E depois da primeira vez, passou a gostar muito. Robbie não estava convencido de que era a mesma coisa, mas seguiu a tia, sem maiores queixas. — Oh! Aqui está ele. Meu pequeno bebê! — O rosto de Catherine se iluminou quando viu Robbie. Mas o menino não gostou do que ouviu. — Eu não sou um bebê! — É só uma maneira afetuosa de falar — Nicole explicou. — Robbie está crescendo tanto, não é? — Ela se dirigiu a Catherine, na esperança de aplacar os ânimos. — Como posso saber? — A intratável senhora respondeu com frieza. — Perdi seus primeiros anos. — O sorriso dela voltou, quando olhou para Robbie outra vez. — Venha dar um beijo em sua avó, chérie. — Não quero. Ela tem um cheiro esquisito — Robbie cochichou alto demais, infelizmente. Catherine estremeceu e prendeu a respiração. — Isto é uma grosseria! Você não ensina boas maneiras a esta criança? Estou simplesmente chocada! Projeto Revisoras

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— Perdão. Acho que ele se referia a seu perfume. É forte — Nicole desculpou-se constrangida. — As crianças geralmente são muito francas quanto ao que gostam ou não. — É por isto que precisam receber educação. Ele é uma criança, mas não deve ser desculpado pela falta de modos. — Não, claro que não. — Nicole virou-se para Robbie. — Quero que peça desculpa a sua avó, porque a magoou. — Por que tenho que pedir desculpa? — ele perguntou rebelde. — Ela também disse coisas sobre mim. — Mesmo assim. Ela é sua avó, e você deve respeitá-la. Não quero nunca mais ouvi-lo falar deste jeito com ela. — Toda esta cena é para me impressionar com sua autoridade? — Catherine perguntou sarcástica. — Não me impressiona. Se você fosse apta para educar uma criança, já teria ensinado respeito pelos mais velhos há muito tempo. — Viu? — Robbie indagou ansioso. — Ela é brava com você também. Por que temos que ser bem-comportados com ela? — Quero que você seja bem-comportado com todo mundo — Nicole retrucou com firmeza. — Estou começando a ver por que Philippe se casou com você. Ele viu que não podia confiar em você para criar o filho de Raymond, coma um Galantoire deve ser criado. Nicole ficou admirada com a intuição de Catherine. Sem querer, adivinhara a verdade sobre seu casamento. A surpresa deixou-a sem fala por um momento. — Este foi seu plano, desde o início, não é mesmo? Valer-se da preocupação de Philippe com o sobrinho. Ele jamais se casaria com alguém como você, a menos que fosse forçado. — A senhora não conhece seu filho muito bem. — Nicole fez o melhor que pode para manter-se calma. — Ninguém força Philippe a fazer algo que ele não queira. — Não, em circunstâncias normais, mas quando uma mulher atrai um homem para sua cama, ele pára de pensar racionalmente. Nicole percebeu a expressão ansiosa e amedrontada de Robbie. — Talvez fosse melhor adiarmos esta discussão para um momento mais oportuno, longe da criança — propôs, controlando a revolta. O rosto de Catherine ficou rubro. — Você tem a audácia de dizer o que devo fazer? — Se a senhora se preocupasse com seu neto tanto quanto afirma, eu não precisaria dizer isto — Nicole respondeu sem rodeios. — Vejo muito bem o que está fazendo. Quer um pretexto para dizer a Philippe que sou má influência para a criança. Você já fez meu neto se voltar contra mim. Agora, quer me afastar de meu filho. — Não poderia fazer isto mesmo que quisesse. E não quero. — A raiva de Nicole diminuiu ao perceber o medo que a mulher escondia sob sua arrogância. — Acredite a senhora ou não, espero que possamos resolver nossas diferenças e viver como uma família. Pelo bem de Robbie, pelo menos. — O que pensa que eu sou? Uma idiota? Você ensinou esta criança a me ridicularizar e procura impedir que Philippe fale comigo ao telefone. É esta sua idéia de família? — Catherine levantou-se e jogou o guardanapo na mesa, no auge da ira. — Aproveite seu triunfo enquanto pode. Foi muito esperta em conquistar meu filho e obrigáProjeto Revisoras

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lo a casar-se, mas esta situação não vai durar. Você não é uma Galantoire e nunca será. — E com estas palavras, ela saiu da sala. Robbie tinha os olhos arregalados. — Por que ela está com tanta raiva de você, tia Nicky? — Não é bem assim. — Nicole sorriu, procurando mostrar despreocupação. — Às vezes, quando os adultos discutem, eles parecem estar muito bravos. Sua avó gosta muito de você e ficaria muito feliz se você fosse um pouquinho mais carinhoso com ela. — Eu preciso ser? — ele reclamou. — Não gosto dela. — Você não pode julgar as pessoas sem conhecê-las bem. Agora, acabe o café e vá brincar. — Nicole tentou não mostrar sua indignação, para tornar mais leve o incidente desagradável. Era estranho, Nicole pensou que durante toda a discussão entre as duas mulheres, Paul tinha servido a mesa com um rosto impassível. Era como se estivessem falando uma língua estrangeira que ele não entendesse. Devia ter sido treinado para manter aquele comportamento neutro em qualquer situação. Coisas da família Galantoire! Nicole se perguntou se Catherine tencionava contar a Philippe o que acontecera. Quanto a si própria, ela não diria palavra. Não seria justo exigir que ele escolhesse entre duas mulheres hostis. Ela estava sozinha na sala de jantar, com a cabeça apoiada na mão, quando Philippe chegou. — Há alguma coisa errada? — ele perguntou. — Não. Está tudo bem — ela respondeu, procurando mostrar-se animada. — Você parece preocupada. — Não. Estava apenas concentrada. Sonhando com um novo desenho de moda. Quer comer alguma coisa? — Ela procurou mudar de assunto. — Eu tomo mais um café para lhe fazer companhia. — Obrigado, mas já tomei café. Você e Robbie não costumam tomar o desjejum no jardim de inverno? — Eu gosto de mudar a rotina de Robbie de vez em quando. — Nicole calou-se, relutante em informar que tinham visita. Ela só desejava que Catherine não viesse com suas lamentações para junto deles. Philippe ficaria de mau humor e o belo dia que tinham planejado ficaria estragado. Bem, não podia evitar. Reprimindo um suspiro, ela começou: — Preciso lhe dizer uma coisa. — Diga no carro. Quero falar com Paul antes de sairmos Encontro-a na frente da casa. E antes que ela pudesse detê-lo, Philippe já tinha saído. A reunião de negócios de Philippe tinha transcorrido muito bem. A maioria dos participantes concordara com as desejadas reformas da propriedade. Em seu entusiasmo, ele começou a falar sobre os melhoramentos que tinha em mente, e Nicole o ouviu. Já estavam a alguns quilômetros de casa, quando ela conseguiu dizer que a mãe dele fora visitá-los. Philippe franziu o cenho. — Ela não me falou nada sobre vir nos visitar, quando lhe telefonei ontem à noite. O que será que motivou esta decisão repentina? — Talvez ela tenha vindo ver Robbie. — É provável — ele disse e pareceu mais satisfeito. — Bem, acho que ela não gostaria de vir conosco.

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Os vinhedos dos Galantoires ficavam no alto de uma colina que contemplava todo o campo ao redor. Uma estrada sinuosa e margeada por árvores era o caminho perfumado de uvas, para chegar até lá. Ao se aproximarem da ampla construção que abrigava escritórios e adegas, Nicole observou: — Não é como eu imaginava. Parece mais uma casa de campo. Nada lembra trabalho ou burocracia. — Esta construção pertenceu a um convento, muitos anos atrás. A sala de degustação de vinho e os escritórios executivos ficam na parte da frente. O verdadeiro trabalho com as uvas é feito nos fundos da propriedade. O local era fresco e calmo, mas pouco iluminado. A maioria das salas estava cheia de tonéis tão grandes que era preciso escada para se subir até a tampa. Empregados especializados vinham buscar amostras do vinho, com regularidade. Philippe explicou todo o processo da feitura do vinho, desde o esmaga-mento da uva até a fermentação e destilação. — Não esperava que eu lhe desse uma palestra tão técnica, não é? — Ele riu. — Você é uma ouvinte tão maravilhosa, que acho que me entusiasmei e falei demais. Desculpe-me. — Oh, não deve se desculpar. Achei sua narrativa fascinante, — ela disse. — Fiquei ainda mais impressionada com seu conhecimento geral. Você entende de tudo! — Meu pai nos instruiu Raymond e eu, desde a infância. Nós começamos a trabalhar nas primeiras etapas da fabricação e, aos poucos, fomos assumindo novos cargos até chegar à direção. Quando Robaire ficar um pouco mais velho, ele vai seguir a tradição da família para poder me substituir algum dia. — Bem, não é tão certo que ele cuidará de tudo. Você ainda pode ter seus próprios filhos. — Pelo jeito, acho que nunca vou tê-los... A não ser que você seja mais cooperativa. — Ele abafou uma risada. Nicole nem se permitiu pensar que felicidade seria ter os filhos dele. — Nossa situação não é permanente — ela falou cautelosa. — Tenho certeza de que você quer um filho. A maioria dos homens quer. — É possível. Mas Robaire sempre terá uma importante parte no negócio. Um arrepio gelado percorreu o corpo de Nicole e não era causado pela temperatura da sala. Philippe também pensava no futuro, um futuro que não a incluía. Bem, e o que esperava? Não podiam continuar como estavam, indefinidamente. Quando Philippe pôs o braço sobre seu ombro, ela se sobressaltou. Mas logo viu que não era um gesto de intimidade. — Cuidado com a poça no chão. Os empregados tentam deixar o assoalho seco, mas é fácil escorregar. — É escuro aqui. — Eu poderia explicar por que tem de ser escuro, mas já falei demais para um dia. — Foi muito interessante. Não me entediou nem um pouco. — Olhe em meus olhos e diga isto outra vez. — Ele segurou o rosto dela entre as mãos e ergueu-o para si. Mesmo o contato físico mais inocente de Philippe fazia Nicole tremer. Seus olhos se fixaram em sua boca firme, desejando senti-la sobre a sua em um beijo que satisfizesse sua paixão. Projeto Revisoras

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O sorriso de Philippe sumiu ao ver-lhe a expressão distraída. Seus longos dedos acariciaram-lhe a face e ele murmurou: — Minha doce Nicole, quando você assume este ar sonhador, faz minha promessa ficar muito difícil de ser cumprida. Quero fazer amor com você aqui e agora. Ela cambaleou na direção dele, incapaz de esconder que o queria com o mesmo fervor. Estavam tão absorvidos um pelo outro, que nem se deram conta de que não estavam mais a sós. Os passos de um funcionário finalmente os despertaram. Philippe afastou-se com a presença de espírito que sempre causava inveja a. Nicole. Talvez ele se recuperasse tão rápido, por não ficar tão afetado quanto ela. Quando eles chegaram a casa, Robbie os esperava impaciente, o que era uma raridade. Geralmente, precisavam ir atrás dele e convencê-lo a entrar. Era uma alegria vêlo tão interessado em suas atividades e desenvolvendo-se tão bem. — Jules teve que sair com a mãe dele, e não tenho com quem brincar — o menino se queixou. — Aonde vocês foram? Nicole falou sobre a visita que fizera e prometeu levá-lo na primeira oportunidade. — Quando você ficar um pouco mais velho poderá trabalhar lá como seu pai e eu trabalhamos— Philippe disse. — O que vocês faziam? — Robbie perguntou curioso. — Ah! Primeiro escolhemos as uvas, antes de elas irem para o espremedor. Raymond e eu comíamos tantas que quase perdemos o emprego — Philippe riu. — Posso fazer isto também! — Robbie exclamou entusiasmado. — Já estou bem grande. — Tem razão — Philippe concordou sério. — Você poderá ajudar quando a época da colheita chegar. — Ele se interrompeu ao ver o mordomo entrar. — Madame Galantoire pediu que lhe chamasse. Quer falar com o senhor. Depois que Paul se afastou, Philippe disse meio relutante: — Acho que devo avisar que já chegamos. Robaire, por que você não vai lá em cima pedir a sua avó que venha a nosso encontro? O menino olhou para Nicole. — Tenho de ir? Philippe franziu o cenho. — Eu gostaria que você fosse um pouco mais gentil com sua avó. Ela veio de Paris só para estar com você. — Eu não me importo não gosto dela. Ela brigou com tia Nicky. Philippe dirigiu um olhar indagador para Nicole. — Você não disse nada. Ela brigou com você? Por quê? — Não foi nada demais — ela se esquivou. — Robbie entendeu mal. — Não entendi mal, não — o menino insistiu. — Ela disse que tio Philippe não confiava em você. E depois, ela disse que você sabe chamar um homem para a cama. Não sei o que é isto, mas pelo jeito dela deve ser uma coisa muito ruim. Nicole ficou apavorada ao ver quanto o menino tinha entendido da discussão sórdida. O rosto de Philippe se endureceu. — Você devia ter me contado isto — ele disse. — Minha mãe foi longe demais desta vez! Só posso me desculpar e prometer que isto não tornará a acontecer. — Viu? — Robbie gritou em triunfo. — Tio Philippe disse que estou certo. Projeto Revisoras

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— Não foi o que ele falou — Nicole corrigiu. — Eu disse a você que era apenas uma discussão de adultos. Vá para cima e fique pronto para seu banho. Vou lá em um minuto, para lavar suas orelhas. Philippe e Nicole esperaram até o menino sair. Então Philippe disse: — Como pôde omitir uma coisa destas de mim? Você sabia que eu não ia tolerar isto. Nicole deu de ombros. — Que benefício há em começar uma briga em família? Sua mãe me detestará ainda mais, se isto é possível. — Que inferno! Ela poderia pelo menos ser civilizada. — Ela só veio fazer uma visita. Então, por que começar uma guerra? Talvez volte logo para Paris. — Não vou ficar surpreso se ela for. Principalmente depois da conversa que terei com ela — ele afirmou indignado. Nicole se levantou. — Robbie está me esperando. Prometa-me que não vai perder a paciência com ela. — Posso tentar, mas não prometo. Nicole sentiu-se envaidecida com a indignação de Philippe por ter sido maltratada pela mãe dele. Madame Galantoire podia realmente tornar sua vida um inferno. Com um suspiro, caminhou para o quarto de Robbie. Geralmente, Nicole arrumava as roupas de Robbie e recolhia seus brinquedos enquanto ele tomava banho. Mas, naquela tarde, ela pegou um banco, sentou-se ao lado da banheira e encorajou-o a falar. Perguntou-lhe sobre seu amigo Jules, sobre a ninhada de cachorrinhos e sobre tudo mais que fizesse o menino apagar as palavras de madame Galantoire de sua lembrança. Ela nem precisava ter se preocupado. A memória de uma criança é fugidia. Robbie estava mais interessado em falar sobre a festa de aniversário para a qual fora convidado. Quando ele acabou o banho, Nicole estava toda molhada e precisou ir até seu quarto trocar de roupa. Estava tirando a camiseta, quando ouviu uma batida na porta. — Quem é? — perguntou. — É Philippe. Posso entrar? Ela hesitou. — Pode voltar em cinco minutos? — Não vai demorar nada. Só quero verificar uma coisa, antes de falar com minha mãe. Nicole vestiu de novo a camiseta e, deixando de se preocupar com sua aparência desarrumada, caminhou até a porta. Aquilo era mais importante do que sua roupa molhada. Entrando no quarto, Philippe começou a caminhar de um lado para o outro. — Estive pensando sobre o que Robbie ouviu esta manhã. Minha mãe disse mesmo que eu não confiava em você? — Não exatamente. Ela disse que você não confiava que eu fosse capaz de criar Robbie como um Galantoire... — Nicole sorriu irônica. — Você não pode ficar aborrecido com ela por isto. Disse a mesma coisa, quando nos conhecemos. — Eu estava errado. — Philippe pôs as mãos sobre os braços dela. — Isto foi antes de saber que pessoa generosa e altruísta você é. — Eu disse que era uma boa pessoa, mas você não quis acreditar — ela brincou. Projeto Revisoras

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— Tive de descobrir por mim mesmo. — A expressão terna dele se transformou em algo mais intenso. De repente, Nicole se deu conta de que sua camiseta molhada estava grudada sobre seus seios, deixando pouco para a imaginação. Seus mamilos rosados estavam tão visíveis como se estivesse nua. Philippe sempre a surpreendia em momentos íntimos. Fora assim que ele a vira pela primeira vez, em seu apartamento em San Francisco. Uma eternidade havia passado, mas sentia o mesmo embaraço. Quando ela começou a cruzar os braços na frente do corpo, Philippe segurou-a, impedindo-a de se esconder. — Deixe-me olhar para você, querida. Seu corpo é tão bonito! — Preciso trocar de roupa e levar Robbie para jantar — ela murmurou, tentando se desvencilhar. — Ainda é cedo. — As mãos dele se insinuaram sob sua camiseta e começaram a subir com vagarosa deliberação. Nicole deixou escapar um gemido de prazer, quando os dedos dele tocaram seus seios com sensualidade. — Perdoe-me, mas não consigo ficar longe de você — ele sussurrou. — Sei que estou nos torturando, mas quando a vejo assim, não posso me controlar. — Eu também não — ela confessou. Cada encontro erótico aumentava seu desejo por aquele homem e derrubava suas defesas. — Eu não devia fazer isso com você — ele disse, mas em vez de se afastar, Philippe apertou-a nos braços e afundou o rosto em seus cabelos. O calor do corpo dele acabou com as inibições de Nicole. Com mãos sôfregas, enlaçou-o e puxou-o ainda mais para si. Ele estremeceu, e ela sentiu toda a excitação masculina e o prazer que sentia fazia seu coração disparar. Os lábios dele pousaram sobre os dela, com uma possessão tão grande que arrepios começaram a percorrer-lhe o corpo. — Não posso parar agora — ele disse ardente. — Eu sei — ela aquiesceu, puxando a camisa dele para fora da calça. — Minha querida, isto parece um sonho maravilhoso — ele murmurou e abriu-lhe o zíper da calça. Ambos estavam tão envolvidos um com o outro, que não ouviram os sons que vinham do quarto de Philippe. A batida insistente e a voz autoritária de Catherine os tiraram do paraíso dos sentidos. — Philippe! Sei que está aí. Abra esta porta! — Não acredito! — Philippe exclamou, erguendo a cabeça e olhando para Nicole. — É a segunda vez que ela faz isto conosco. O corpo de Nicole protestou contra a interrupção, tanto quanto o dele. Todos os instintos lhe diziam para ignorar Catherine. Mas a sanidade logo voltou, e ela controlou a respiração ofegante. — Estas interrupções não são acidentais. Ela deve ter alguma intuição — Nicole disse, fechando o zíper, com mãos trêmulas. — Sua mãe quer impedir que façamos amor, é isto. — Ela riu com amargura. — É até engraçado quando se pensa na situação. — É também surrealista. Minha mãe não pode ficar atrás de nós todas as noites.

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— Talvez os empregados tenham dito que nós não dormimos juntos, no mesmo quarto. Talvez ela pense que nosso casamento está em crise e está tentando impedir que o salvemos. — Eu sei que ela ainda não se conforma com nosso casamento — Philippe disse pensativo. — Mas não acredito que queira nos separar. — Tenho certeza de que ela só pensa em seu bem, mas já está em tempo de sua mãe enfrentar os fatos que a desagradam. Ela quer que eu vá embora. — A frustração que a consumia tornou Nicole mais cáustica do que era normal a sua natureza. — Se nosso casamento fracassar, a custódia de Robbie vai ficar outra vez em discussão. Não esqueço isto nem por um minuto. Sei que com sua fortuna, você pode lutar por ele, mas não pense que vai ser fácil me afastar. Farei tudo para ficar com meu sobrinho. Philippe ficou sério. — Por que está falando isto? Robaire é realmente a única pessoa que lhe importa, não é? — O bem-estar de Robbie foi à razão de nosso casamento — ela respondeu. — Concordei com seus termos, porque não tinha opção. — Já sei. Não quer nada, além disto. — Ele sorriu zombeteiro e dirigiu-se à porta. — Quase venci sua resistência algumas vezes, inclusive há alguns minutos. É uma pena que tenha escapado. Eu estaria com uma boa vantagem. As palavras dele a magoaram. Ele falava como se tudo não passasse de um jogo, de uma competição. Ele estava sendo honesto. Não perderia uma chance de fazer amor com ela, mas não devido a um sentimento. Queria levar vantagem. Queria vencer o jogo e tomá-la emocionalmente dependente dele. Como ela consentia em levar adiante a farsa daquele casamento? Porém, o que mais podia fazer?

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CAPÍTULO X

Apesar de detestar a idéia de ter que enfrentar Philippe e sua mãe, Nicole obrigouse a descer para o jantar. Pelo menos uma vez, a sorte estava do lado dela. Paul informou que Philippe tinha saído e, melhor ainda, madame Galantoire tinha voltado a Paris. Ele devia ter tido uma discussão franca com a mãe, exigindo que ela mudasse seu comportamento. Nicole não sentiu a menor satisfação. Não acreditava mais que ele o fizera em seu desagravo. Os dias seguintes foram solitários, porque Philippe estava em Paris, a negócios. Pelo menos, ela estava livre dos infindáveis compromissos sociais. Nicole foi convidada para vários eventos, mas esquivou-se deles, usando a ausência do marido como desculpa. Para sua surpresa, Robbie sentiu falta do tio. O menino já se acostumara com ele, Nicole admitiu. Porém, ainda não sabia a profundidade de seus sentimentos, nem que papel Philippe desempenhava na vida do sobrinho. — Quando meu tio volta? — Robbie perguntou. — Ele prometeu levar Jules e eu para pescar. — Talvez o pai de Jules possa levá-los — ela sugeriu. — Eu prefiro a companhia de tio Philippe. Ele me conta as coisas engraçadas que fazia, quando era pequeno. — Também posso contar histórias. — Já conheço todas suas histórias, tia Nicky. Nicole sentiu uma dolorosa sensação, ao ver que estava sendo colocada de lado na vida de Robbie. Claro que o menino a amava, mas já não precisava dela como antes. O tio podia dar tudo que ele precisava. Assim que Philippe percebesse que ganhara a afeição do sobrinho, ela não teria mais utilidade. Nicole censurou-se pela auto piedade. Robbie dependia dela para muitas coisas, disse a si mesma. Uma criança precisava de pai e mãe. Já estava na hora de seguir adiante com sua própria vida, cuidar de seus interesses pessoais. Deveria estar trabalhando mais em seus desenhos de moda. Desde que se mudara para o campo, estava sempre ocupada com uma coisa ou outra e não fizera quase nada. Se seu casamento acabasse, como parecia óbvio, iria precisar de um emprego. Philippe voltou para o final de semana e foi recebido com muita alegria por Robbie. Cumprimentou Nicole com cortesia, enquanto o menino correu e abraçou-lhe as pernas. — Trouxe alguma coisa para mim? — Robbie perguntou curioso. — Papai e mamãe sempre me traziam um presente quando chegavam de viagem. — Paul levou minha mala para o quarto. Peça para ele lhe dar uma sacola que eu trouxe. — Philippe remexeu os cabelos do sobrinho, com afeto. — Oh! Que bom! — Robbie correu para dentro de casa. Nicole se levantou para segui-lo, pois não queria ficar a sós com Philippe. — Não vá — ele pediu. — Tenho um presente para você também. — Para mim? Não era preciso. Projeto Revisoras

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— Eu não podia deixar nosso primeiro mês de casados passar em brancas nuvens. — Faz apenas um mês? — ela surpreendeu-se. — Eu sei que para você parece muito mais tempo — ele disse, rindo. Sim, parecia mais, mas não da forma que ele pensava. Seu passado pobre e monótono perdera-se na distância, desde que Philippe entrara em sua vida, dando-lhe cor e movimento. — Considere que isto é um prêmio de consolação — ele disse, tirando uma caixa de veludo azul do bolso e entregando-lhe. Dentro da caixa, havia um broche de brilhantes e safira, com o feitio de um pássaro e as pedras brilhavam sob a luz. — É lindo! — ela exclamou. — Mas você não devia. Quer dizer, nestas circunstâncias... — A voz dela falhou. — Por que não? Devido a nossa diferença de opinião? O problema é que a química entre nós é tão forte, que às vezes me esqueço de nossas discussões. Você também as esqueceu? — Ele sorriu com malícia. — Por favor, Philippe — Nicole murmurou. Ela não suportava que ele risse de seus momentos de fraqueza. — Nosso desejo era mútuo — ele continuou, apesar do protesto dela. — Por isso, não pude entender sua relutância. Mas, agradeço que tenha sido honesta comigo. Você é mais pragmática do que eu. Como diz, é um erro misturar negócios com emoções. — Concordo — ela disse meio formal. — Agora que esclarecemos esta questão, você não precisa mais se preocupar com novos incidentes. Infelizmente, ainda temos que nos comportar como um casal apaixonado em público. Mas até agora não tem sido difícil, não é mesmo? Nunca em sua vida, Nicole sentira-se tão infeliz. Não eram mais nem amigos. O feitiço virara-se contra o feiticeiro. Philippe considerava-a uma sócia em um negócio. Uma sócia da qual se livraria com frieza, assim que chegasse o momento certo. Com aparente tranqüilidade, ela segurou a caixa de veludo. — Não posso aceitar este presente — disse. — Você o merece, depois de tudo que aturou. Peço que fique com ele. Poderá usálo no almoço de domingo. — Que almoço? — ela indagou surpresa. — Esqueceu? — ele perguntou. — Os Clermont estão nos oferecendo um almoço pelo nosso primeiro mês de casados. Temos que ir. Somos os convidados de honra. — Será que, algum dia, seus amigos vão parar de comemorar nosso casamento? — Nicole queixou-se. — Eles continuarão usando este pretexto enquanto alguém mais não se casar ou alguma coisa mais interessante acontecer. Eles adoram festas. Cheguei a pensar que você gostava delas. Na verdade, tinha começado a gostar, mas isto fora antes de tudo ficar tão ruim entre ela e Philippe. No começo, quando ele a beijava e abraçava na frente dos amigos, ela achava constrangedor, mas não sofria, pois ainda não o amava. Mas, agora, qualquer toque seria uma tortura. Robbie voltou para perto deles, carregando uma caixa. — Eu quis montar o brinquedo que você trouxe, mas as peças não se encaixam — o menino falou ansioso, entregando a caixa ao tio. Projeto Revisoras

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— Hum... Vamos ver o que se pode fazer — Philippe disse, sentando-se e retirando as peças da caixa. — O que é? — Nicole perguntou. — Disseram-me que era um carro de bombeiros. — Philippe lia as instruções. — Como querem que uma criança monte uma coisa destas? É difícil até para um engenheiro. — Ele riu do próprio comentário. — Mas você pode montar, não pode tio Philippe? — Com certeza, vou tentar. — Philippe sorriu para o menino. A expressão preocupada de Robbie sumiu, e ele aproximou-se da tia. — Tio Philippe é mesmo o maior! Ele pode fazer tudo — Robaire disse, cheio de confiança. Philippe ergueu a cabeça e olhou para Nicole. — Bem... Quase tudo — ele disse. Depois que o carro de bombeiros ficou pronto, ele fez uma demonstração que encantou Robbie. — Quero mostrar para Jules — o menino gritou excitado. — Você vem comigo, tio Philippe? Agora mesmo? Nicole sentiu um nó na garganta, ao observar aquele homem alto e forte e o menino caminharem de mãos dadas. Aquela cena fazia qualquer sofrimento valer à pena. Seu sobrinho era o mais importante, afinal de contas. Nicole vestiu calça de seda branca e colocou um blazer azul para combinar com o broche de safira que Philippe lhe dera. Era melhor usá-lo e não discutir mais sobre o assunto. Que diferença fazia? Afinal, o broche não tinha nenhum valor sentimental. Philippe logo notou a jóia, mas não fez comentários. Contudo, as mulheres presentes ao almoço notaram e não pouparam elogios. — Adorei seu broche! — Monique, a anfitriã, exclamou. — É uma beleza! — Obrigada. — Nicole conseguiu sorrir. — Foi um presente de Philippe, pelo nosso primeiro mês de casados. — Que romântico! Espero que saiba reconhecer a sorte em ter um marido como Philippe. — Nicole sabe expressar seus sentimentos, posso lhes assegurar — Philippe falou com duplo sentido. Com um brilho malicioso no olhar, puxou-a para mais perto. — Um broche de safira e diamantes deixa qualquer mulher expressiva — um dos homens disse mordaz. — Nicole não é deste tipo — Philippe esclareceu. — É modesta em suas aspirações e está sempre me surpreendendo. — Bem, dizem que este é o segredo de um casamento feliz — François, o anfitrião, comentou. — O parceiro nunca fica entediado. — Philippe sabe exatamente como me sinto em relação a ele — Nicole falou suave, olhando-o de modo provocante. Ela também podia brincar um pouco. Em resposta, ele apertou-a ainda mais e beijou-lhe o canto da boca. — Poucos casamentos são como o nosso juro. Naquele momento, Claudine chegou, chamando a atenção de todos para alívio de Nicole. Como sempre, ela estava maravilhosa em um vestido de grife que realçava sua silhueta.

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Philippe deixou o grupo imediatamente e aproximou-se de Claudine para cumprimentá-la. Os dois tiveram uma rápida conversa, antes que outras pessoas se juntassem a eles. Um pouco mais tarde, Nicole encontrou-se com Claudine no jardim. O almoço seria servido ao ar livre, no vasto gramado dos Clermont. — Você está muito bonita — Claudine elogiou-a. — Você também. Seu vestido é lindo. É um Armani? — Nicole perguntou. — Acertou! Você realmente entende de estilistas. — Era meu trabalho, antes do casamento. Eu reconheço os modelos deles, mesmo sem o dinheiro para adquiri-los. — Nicole riu. Claudine pareceu surpresa. — Mas, você pode comprá-los. Tem meios para isto. — É verdade. Mas acostumei-me a economizar quando era solteira e tornou-se um hábito. Justin está aqui com você? — ela perguntou, para mudar de assunto. — Ainda não o vi. — Não, você não vai vê-lo. Acabei meu namoro com Justin. — Oh! Que pena! Vocês formavam um par tão bonito! — Não é suficiente — Claudine disse, dando de ombros. — Justin tem defeitos demais para meu gosto. Acho que Philippe me tornou muito exigente para com os outros homens. Nicole ficou muda. Aquelas palavras eram reveladoras. Entre Claudine e seu marido havia mais que amizade! — Você não sabe a sorte que tem — Claudine continuou. — É isto o que me dizem o tempo todo. — Nicole procurou dar um tom brincalhão às palavras, mas não teve sucesso. Philippe aproximou-se sem que nenhuma das duas notasse. Ele veio por trás de Nicole, colocou os braços ao redor de sua cintura e beijou-lhe a pele delicada atrás da orelha. — O que as duas mulheres mais bonitas da festa estão falando? — ele perguntou. — Você devia ter chegado um minuto antes — Claudine disse. — Eu estava dizendo para Nicole que estou procurando um homem igualzinho a você. — Ela se ofereceu para me emprestar a você? — Philippe brincou. — Ah! Isto já seria esperar demais — Claudine respondeu no mesmo tom. François aproximou-se com taças de champanhe. — Venham para cá — ele chamou. —Vamos brindar ao feliz casal apaixonado, antes do almoço. Logo, as pessoas se acercaram, formando um círculo em volta de Philippe e Nicole. Depois de preencher todas as taças, François fez o primeiro brinde, um tributo ao amor e ao casamento. Depois, os outros convidados fizeram os seus, alguns sentimentais, outros brincalhões. Finalmente, François declarou: — Agora é a hora de dar a palavra ao convidado de honra. Philippe? Olhando profundamente nos olhos de Nicole, Philippe disse: — Quero agradecer a minha adorável esposa por me fazer descobrir o que eu estava perdendo estes anos todos. Serei seu devedor para sempre, por ter enriquecido minha vida. Projeto Revisoras

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Alguém lhe tirou a taça de champanhe da mão, enquanto ele abraçava Nicole. Em uma reação inconsciente, ela correspondeu com ardor quando a boca de Philippe se apossou da sua. O mundo deixou de existir. Nicole sentiu-se arrebatada para um lugar mágico, onde Philippe a amava e onde seriam felizes para sempre. Aquela resposta provocou um gemido surdo de prazer em Philippe. Estava tão imerso no beijo quanto ela. — Você é tão doce e natural. Faz com que me envergonhe de mim mesmo — ele cochichou em seu ouvido. Houve uma chuva de aplausos depois do brinde de Philippe e muitas piadas quando os dois continuaram abraçados. Por fim, ele tomou consciência da audiência em volta e, relutante, soltou Nicole. Só depois que saiu dos braços dele, foi que Nicole se deu conta do que ele falara. Por que ele estava envergonhado? Por viver tentando seduzi-la? Ou por que nunca terminara seu caso com Claudine? Ao erguer um olhar cheio de dúvida para ele, Philippe sorriu e beijou-lhe a ponta do nariz. — Minha mulher é muito educada para dizer, François, mas acho que ela está faminta — Philippe dirigiu-se ao anfitrião. — Graças a Deus! — Monique exclamou. — Não queria interromper os brindes, mas o chefe está a ponto de ter um ataque nervoso. O suflê já está pronto para ser servido e pode murchar. Diante daquilo, todos se apressaram para as mesinhas espalhadas pelo verdejante gramado. Toalhas de linho de um amarelo muito suave cobriam todas as mesas e sobre elas havia um arranjo de flores do campo. Nicole nunca almoçara em um cenário daqueles. Mas o que era comum em sua vida depois que desposara Philippe? Os garçons continuavam a servir champanhe e mais outras deliciosas guloseimas. Todos estavam animados. No meio da alegria geral, ninguém, com exceção de Philippe, notou que Nicole estava muito silenciosa. — Sinto muito que isto seja um tédio para você — ele disse baixinho. — Iremos embora assim que o almoço terminar. — Não estou entediada — ela protestou convicta. — Ah! Você não precisa fingir para mim. Conheço-a muito bem. — Hum... Gostaria de saber se um homem e uma mulher chegam mesmo a se conhecer — ela suspirou, pensando na falta de confiança que havia entre eles. —As pessoas teriam mais chance dê se conhecerem se falassem mais e abrissem seus corações. Mas é mais fácil se deixar levar pela desconfiança e refiro-me a mim mesmo — Philippe esclareceu. Nicole não conseguiu disfarçar um sorriso. — Talvez eu tenha um temperamento desconfiado. — Vê? Temos muito em comum. — Ele deu uma risada e continuou: — Pensei muito sobre nós, enquanto estive sozinho em Paris, Nicole. Nós... — Interrompeu-se ao ver que Claudine lhe fazia um sinal. — Vamos terminar esta conversa mais tarde — ele concluiu. Depois do almoço, os convidados passearam pelo lindo jardim, enquanto os criados limpavam as mesas. O plano de Philippe de sair cedo foi frustrado pelos anfitriões. — Vamos ter algumas atrações — François anunciou. — Vocês vão adorar o mágico que contratei. Projeto Revisoras

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— Bem, eles terão dois convidados a menos para apreciar esta atração — Philippe cochichou. — Psiu! Seja educado — Nicole reclamou. — Monique teve tanto trabalho por nossa causa. Não podemos sair assim. — Acho que você tem razão. — Philippe tomou-lhe a mão e conduziu-a para longe dos outros, junto a uns arbustos. — Gostaria de esclarecer as coisas entre nós. Como estava dizendo antes, sinto muito por nossa discussão da outra noite. Disse coisas que não sentia. — As pessoas geralmente falam a verdade, quando estão com raiva — ela disse. — A única verdade é que foi um choque descobrir que ainda me vê como um inimigo, por isso é que minha reação foi tão exagerada. Você devia saber que nunca tentarei separá-la de Robaire. Não importa que tipo de relacionamento tenhamos no futuro. — Ele acariciou-lhe os cabelos com delicadeza. — Mesmo que não sejamos amantes, podemos ser amigos. Era preciso muita força de vontade para resistir ao fascínio de Philippe. — Amigos não usam o sexo para conseguir uma vantagem — ela replicou. — Você mesmo disse que o sexo lhe daria uma vantagem sobre mim. — Então, esta foi uma das coisas mais estúpidas que eu disse. — Ele tomou-lhe o rosto entre as mãos e a olhou com atenção nos olhos. — Quando a beijo ou toco seu corpo perfeito, você imagina que eu esteja pensando em vantagens? Ou em qualquer outra coisa que não seja tê-la em meus braços? O coração de Nicole disparou, e seu rosto se enrubesceu ao lembrar as carícias daquelas mãos fortes e bronzeadas e daquela boca carnuda, enlouquecendo-a de desejo. — Tivemos muitos mal-entendidos, mas eles não são intransponíveis. Quero fazer tudo o que seja possível para salvar nosso relacionamento. Quero que seja tão feliz quanto eu sou, desde que você entrou em minha vida — ele murmurou, com uma voz enrouquecida. Ela o olhou incerta, querendo acreditar, mas, ao mesmo tempo, temerosa de ser magoada outra vez. — Sempre que começamos a nos dar bem, alguma coisa acontece que estraga tudo. — A maioria dos casamentos é difícil no começo, querida. É natural que duas pessoas acostumadas à independência tenham atritos ao começarem a viver juntas. Mas, temos um incentivo especial para fazer nosso casamento funcionar. Estamos criando uma criança, um menino que ambos amamos. Nicole não podia mais duvidar da sinceridade dele. Uma sensação feliz começou a brotar dentro dela, com uma flor rara e bela. — Se você também quer, tenho toda a boa vontade de tentar. — Ela sorriu. — Minha adorável esposa! — Philippe exclamou, abraçando-a com carinho daquela vez e não com paixão. Nicole apoiou-se nele e sentiu o aroma másculo e agradável de sua pele, mas aquele enleio foi interrompido pelo chamado de Monique. — A atração vai começar dentro de dez minutos — ela anunciou. Com relutância, eles se separaram. Quando voltaram para junto dos outros, Nicole notou que Claudine os observava com aguda atenção. Qualquer coisa em seu olhar fixo deixou-a pouco à vontade. Ela pretendia comentar aquilo com Philippe, mas ele foi chamado por um de seus amigos. Projeto Revisoras

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Parada de pé no gramado, uma brisa leve sacudia-lhe os cabelos. Ao afastar uns fios do rosto, ela descobriu que perdera um dos brincos. Talvez ele houvesse caído quando Philippe segurara seu rosto entre as mãos, ela pensou sorrindo com a lembrança. Desculpando-se, ela voltou para perto do arbusto onde ambos tinham se abraçado. Não era uma peça de valor, mas fora o presente de uma amiga querida. Nicole estava determinada a não perdê-lo. Depois de procurar no local sem sucesso, ela se aventurou mais para dentro dos arbustos. Estava de cócoras no chão, quando ouviu as vozes de Claudine e Philippe. Não era sua intenção espionar, mas as primeiras palavras que escutou deixaram-na pregada no lugar. — Isso não podia esperar? — Philippe perguntou, com um traço de impaciência na voz. — Como pode ser tão insensível? — Claudine perguntou. Não notou como estou infeliz o dia inteiro? — Desculpe chérie — ele respondeu com uma voz mais doce. — Sei o que você tem passado, mas vai dar tudo certo no final. — Você fica dizendo isto, mas nada acontece. Quando vi a forma como olhou para Nicole ainda há pouco, tive vontade de chorar. — A sua vez chegará — ele disse apaziguador. — Quando? Não quero passar o resto de minha vida sozinha. — Você nunca estará sozinha, minha querida. Estarei sempre com você. Nicole ficou em estado de choque. Philippe mal acabara de protagonizar uma cena de romântica reconciliação com ela, com a mesma voz meiga e olhares ternos. Como ele era farsante! E ela deixara-se enganar como uma tola! Acreditara nele quando dissera que faria qualquer coisa para vê-la feliz. Mas era só interesse. Se ela estivesse satisfeita, continuaria casada com ele e não criaria problemas com Robbie. E o tempo todo, a pessoa que ele realmente queria ver feliz era Claudine. Seu único problema era convencê-la de que precisava ter paciência. Mas, aquilo não era nada para um homem como Philippe. Ele possuía maneiras irresistíveis de convencer uma mulher. Mas a ela, Nicole, ele não enganaria mais! Fora a última vez que a fizera de boba. Lágrimas encheram seus olhos ao contemplar um futuro sem ele. Mas, logo em seguida, endireitou os ombros e ergueu o queixo. Sobreviveria!

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CAPÍTULO XI

Após uma noite insone, Nicole tomou uma difícil decisão. Retornaria a San Francisco e recomeçaria sua vida. Partiria seu coração deixar Robbie, mas, sem dúvida, ele estaria melhor na França. Philippe podia dar-lhe tudo que ela não podia e era verdade que amava o sobrinho. O menino já gostava dele também. Philippe era capaz de enfeitiçar o demônio, Nicole pensou desanimada. Escreveria e telefonaria para Robbie com regularidade. E talvez, depois que a raiva passasse, Philippe deixaria o menino visitá-la. Ela é que não voltaria àquele lugar. Mas, por enquanto, precisava lidar com o presente. Seu rosto estava pálido, mas sob controle quando desceu para falar com Philippe. Ele suspeitava que alguma coisa acontecera no almoço do dia anterior. Nicole alegara uma súbita dor de cabeça que não o convencera. Porém seu ar abatido impediu-o de atormentá-la com perguntas. Naquele momento, ela reunia toda sua coragem para enfrentá-lo. Philippe reagiu chocado diante da notícia de que ela pretendia partir. Quando ela deu suas razões, ele não quis acreditar. — Não é possível que ainda tenha ciúme de Claudine! O que é preciso fazer para convencê-la de que não há nada romântico entre nós? Pensei que acreditasse em mim. — Assim como acreditei até agora? — ela perguntou irônica. — O que aconteceu que a aborreceu tanto, chérie? Conte-me que esclarecerei tudo — ele pediu com voz terna, aproximando-se dela. — Não me toque! — Nicole exclamou, empertigando-se. Por mais que estivesse desiludida com ele, Philippe sempre tinha um jeito de derreter o gelo de seu coração. — Pelo menos, diga-me o que aconteceu — ele pediu. — Escutei sua conversa particular com Claudine, ontem no almoço. Eu estava atrás dos arbustos, procurando um brinco. Eu o perdi enquanto me dizia todas aquelas mentiras. Você foi tão convincente que nem percebi que meu brinco caíra. — Certamente não fui assim tão convincente. Você ainda devia duvidar de minha sinceridade ou não ficaria escutando conversas, atrás dos arbustos. — Só falta dizer que é minha culpa ter escutado! Tudo o que se passou entre nós foi um jogo para você. Era um capricho seu me seduzir. Eu até poderia esquecer isso. Mas tentar me seduzir e mentir sobre sua vida privada foi desprezível. Philippe olhou-a impassível. — É isto que pensa? — E não me diga que não é verdade. Escutei-o dizer a Claudine que tudo vai dar certo e que ela não ficará sozinha. — É por isto que está assim? — Ele pareceu surpreso. — Você entendeu tudo errado. Eu estava somente... — Não precisa se preocupar em inventar uma explicação criativa — Nicole interrompeu. — Não acreditaria em você, mesmo que dissesse a verdade. O que seria uma novidade. Projeto Revisoras

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O maxilar de Philippe se endureceu, formando um quadrado rígido. — Bem, nada do que eu disser vai fazê-la mudar de idéia. Que desculpa pretende dar a Robaire sobre sua partida? — Pensarei em alguma coisa. — Nicole enfiou as unhas na palma das mãos, no esforço de controlar seu sofrimento. — Então, você pretende ir embora sem nem ao menos olhar para trás? — ele perguntou, muito devagar. Ele se importava? Claro que não! A resposta era simples. Ele queria um lar estável para Robbie e não queria problemas com custódia. — Tenho de fazer minhas malas. Pode pedir que alguém me leve ao aeroporto, em Paris? — ela perguntou. Ele fez um movimento de surpresa. — Já vai hoje? Você nem sabe se há lugar em algum vôo. — Se não conseguir um vôo direto para San Francisco, vou por Nova York. Há inúmeros vôos para lá. — Nicole estava ansiosa para acabar aquela conversa. Não sabia quanto tempo ainda poderia manter as aparências. Mas Philippe a retinha. — E quanto à carreira como estilista de moda? Minha oferta de ajuda ainda permanece. Os poucos desenhos que ela fizera ainda não tinham sido retocados o suficiente para serem mostrados a alguém de renome. Podia se desculpar pela negligência e dizer a si mesma que estivera ocupada demais com Robbie, mas a verdade é que sua vida com Philippe tinha sido tão intensa que não. se ocupara com mais nada. Enquanto ela hesitava, pensando em uma resposta, a campainha da porta soou. No momento seguinte, Paul acompanhava madame Galantoire que já chegara à sala. — Não se preocupe, não vou ficar — a mãe de Philippe disse sarcástica. — Só vim aqui para pegar minha caixa de jóias. Fiquei tão chocada com seu comportamento da última vez que estive aqui, que me esqueci de levá-la. — Tenho certeza de que tem outras jóias em casa — ele respondeu. — Não precisava fazer uma viagem especial. — Não precisa tornar claro que modo tão insultante, que não sou bem-vinda em sua casa — ela retrucou. — Não foi minha intenção. Só achei que poderia ter se poupado este cansaço. — Eu precisava vir a esta região, de qualquer maneira. Vou encontrar um grupo de amigas para um passeio pelas vinhas e depois almoçaremos juntas. Vou embora, assim que pegar minha caixa. — Talvez queira esperar um momento para despedir-se de Nicole. Ela está voltando para San Francisco. "Por que ele tinha que falar isso agora?", Nicole pensou aborrecida. Devia ter feito aquilo só para humilhá-la. Catherine nem se preocupou em esconder o prazer que a notícia lhe deu, mas logo seu semblante mostrou preocupação. — Você não vai deixá-la levar Robaire, não é mesmo? — Não pode ser gentil ao menos uma vez na vida? — Philippe repreendeu-a. — Nicole desistiu generosamente da custódia de seu neto. Ela e sua irmã mostraram muito mais compreensão em relação aos Galantoires do que nós em relação a elas. — Não gosto de seu tom, Philippe! Nada disso é culpa minha! Projeto Revisoras

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— Infelizmente, é. Minha e sua. Sou obrigado a reconhecer — ele suspirou. — Não faz sentido procurar culpados — Nicole disse impaciente. — Todos nós queremos o bem de Robbie, e é por isso que vou deixá-lo. Mas, por favor, não deixe que ele me esqueça. — Ela se virou rápida, pois as lágrimas estavam prestes a cair. — Vou fazer as malas. Sozinhos, mãe e filho ficaram em silêncio por um momento. Depois, Catherine começou a falar hesitante: — Talvez eu devesse ter sido um pouco mais... Philippe interrompeu-a, com dureza. — E tarde demais, mamãe. Nicole procurara adiar por um longo tempo o momento da despedida de Robbie, pois sabia como seria traumático para ambos. Mas, com as malas prontas e depois de ter checado duas vezes todos os armários e ver que não faltava nada, não poderia continuar adiando aquele instante. Philippe ainda estava na sala onde o deixara. Estava de pé, olhando pela janela. Nicole relanceou o olhar para seu porte elegante, acariciando-o com os olhos. Apesar de tudo, não podia deixar de amá-lo. Quando ele se virou e a viu, ela afastou o olhar apressada. — Estarei pronta para partir, depois de me despedir de Robbie. Alguém pode me levar? — Eu a levarei. — Não! — Como poderia suportar ficar junto dele no aconchego de um carro, sem poderem se tocar? — Quer dizer, você deve ter muitas coisas para resolver por aqui. Se não há alguém disponível, eu posso ir sozinha. —Você me odeia tanto assim, Nicole?—ele perguntou pesaroso. — Nunca disse isso! Mas sei que é uma boa distância e não quero atrapalhar seu trabalho — ela disse conciliatória, não querendo provocar mais uma discussão antes de partir. — Não vejo razão para que me leve ao aeroporto pessoalmente. — Por que não é honesta? Você não suporta olhar para mim. De certa forma, era verdade. Como podia olhar aquele rosto tão bonito e saber que jamais voltaria a sentir os lábios dele nos seus outra vez? Uma estranha fraqueza começou a se insinuar dentro dela. Não seria muito mais fácil fazer de conta que acreditava em suas mentiras e poder assim continuar a viver a seu lado? Ela inspirou profundamente, resistindo à tentação. — Não quero discutir com você, Philippe. Prefiro que nos separemos de maneira civilizada. Antes que ele pudesse responder, a campainha da porta soou várias vezes. Franzindo o cenho, Philippe foi abri-la. Um operário com macacão de trabalho estava diante da porta. — Houve um acidente, Sr. Galantoire. O senhor deve vir urgente, sua mãe se feriu. — Como? O que aconteceu? — Philippe perguntou. — Sua mãe e um grupo de amigas estavam fazendo um passeio pelos vinhedos, quando ela escorreu e bateu com a cabeça. Perdeu bastante sangue. — Onde ela está agora? — Chamaram uma ambulância e a levaram para o hospital. É melhor o senhor ir para lá correndo. Ela estava muito assustada. — Vou com você, Philippe — Nicole se ofereceu, seguindo-o. Ele parou por um momento. Projeto Revisoras

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— Você não deve se sentir com nenhuma obrigação. Sei que está com pressa de partir. — Que tipo de pessoa pensa que sou? — ela perguntou indignada. — Eu não o deixaria em um momento como este. A emoção era visível na voz dele, quando disse: — É... Ainda cometo o erro de subestimá-la. A caminho do hospital, eles falaram pouco. Philippe estava tenso, e Nicole não sabia dizer nada para tranqüilizá-lo. O estado de Catherine parecia grave. O máximo que podia fazer era colocar sua mão sobre o braço dele, em um gesto que revelava apoio moral. Em resposta, ele apertou-lhe a mão e lançou-lhe um olhar grato. Catherine se encontrava em uma sala de emergência, quando eles chegaram ao hospital. Os médicos e enfermeiras que a assistiam pareciam preocupados. O médico responsável veio até eles e explicou a condição da idosa senhora. Além de várias contusões internas, um corte na artéria era o que o preocupava mais. — Mas ela se recuperará, não é? — Philippe perguntou muito pálido. — O problema é que ela é idosa e perdeu muito sangue — o médico deu uma resposta indireta. — Sua mãe precisa de uma transfusão de sangue imediata. Infelizmente, seu sangue é do tipo AB negativo, muito raro. Somente um por cento da população tem este tipo. — Quer dizer que não há nem um doador disponível no momento? — Philippe perguntou. — Aqui não. Podemos conseguir em Paris, mas isto leva tempo. Não sei se ela agüentaria esperar. Nicole hesitara em interromper, mas por fim decidiu-se. — Eu sou tipo AB negativo. Fico feliz de poder doar meu sangue. — Mas isso é esplêndido! — O médico quase gritou. — Enfermeira, encontramos uma doadora. Venha cuidar desta jovem. Enquanto todos se apressavam de um lado para o outro, aprontando os equipamentos, Philippe segurou os ombros de Nicole. — Você vai fazer isto por uma mulher que só lhe causou humilhações e sofrimento? — Eu o faria por qualquer ser humano — ela respondeu com simplicidade. — Quando se trata de um caso de vida ou morte, não se fica pensa em mesquinharias. — Oh! Minha querida! — Philippe apertou-a nos braços. — Você tem um coração de ouro! Não é de admirar que eu a ame tanto. Será que ouvira direito? Não era nem a hora e nem o lugar para jogos de sedução, e Philippe estava nervoso demais para querer enredá-la. Se dissera aquilo é porque devia ser verdade. Em uma espécie de transe, Nicole seguiu a enfermeira até a outra sala. Quando acabou a transfusão de sangue, a enfermeira trouxe-lhe um suco de laranja e aconselhou-a a não se levantar imediatamente. Nicole sentia-se zonza, mas não era devido à transfusão. Precisava falar com Philippe e descobrir se ele realmente falara a verdade ao dizer que a amava. De repente, um arrepio gelado a percorreu. E se ele tivesse dito aquilo só por gratidão? Ignorando as ordens da enfermeira, Nicole o procurou e o encontrou acompanhado. Claudine estava lá com Justin. Era estranho, pois ela lhe dissera que haviam terminado o namoro! Projeto Revisoras

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— Você é uma heroína! — Claudine exclamou, cheia de entusiasmo ao vê-la. — Philippe me contou como você salvou a situação. — Está tão pálida, querida — Philippe olhou para Nicole preocupado. — Está se sentindo bem? — Estou bem, sim — ela respondeu, escondendo seu desapontamento. Que provas ainda precisava para comprovar que Claudine era a mulher mais importante da vida de Philippe? Eles tinham uma relação amorosa. Era só chamá-la, e ela vinha correndo. — Olá, Claudine — ela cumprimentou. — Você deve ter ficado chocada quando Philippe a chamou, não é? — Philippe não me chamou. Uma das amigas de Catherine me telefonou. Então, eu vim correndo, claro. — Foi gentileza sua vir com Claudine — Philippe dirigiu-se a Justin. — Justin gosta de esconder suas boas qualidades. Pode não ser o momento adequado, mas tenho que dar a grande notícia a vocês. Justin e eu vamos nos casar. — Bem, já era tempo de se resolverem. — Um sorriso apareceu no rosto de Philippe, e ele estendeu a mão para o outro homem. — Claudine estava pronta para desistir de você. — Foi isto que me fez decidir. Não suportei a idéia de perdê-la — Justin disse. Uma leve tontura passou pela cabeça de Nicole, enquanto os dois conversavam cheios de excitação sobre os planos para o casamento. Então, Philippe estivera dizendo a verdade o tempo todo? Mas e as palavras que escutara, quando estivera atrás dos arbustos? De repente, Philippe percebeu como ela estava quieta. — Nicole não devia estar aqui de pé. Ela precisa se deitar — ele explicou aos visitantes. — Claro — Claudine falou solícita. — Eu só queria saber do estado de Catherine e como vocês estavam reagindo. Tome conta de Nicole. Você é um homem de sorte. — Ela abraçou Nicole com carinho. Depois que o casal partiu, Philippe olhou com atenção o rosto pálido de Nicole. — Acho melhor eu chamar a enfermeira. — Não, vou me sentar um minuto. — Ela o olhou insegura, enquanto ele a conduzia para um sofá. —Você está mesmo contente com o casamento de Claudine? Pensei que não gostasse de Justin. — Eu andava aborrecido com ele porque ele estava fazendo Claudine sofrer, por pura teimosia. Eles se adoram, mas Justin se recusava a casar porque ela é muito mais rica que ele. — Mas eles não se comportam como pessoas apaixonadas — Nicole observou. — Claudine parece gostar mais de você do que de Justin. Ela mesma me disse que você a tornara muito exigente com os outros homens. — As pessoas têm um relacionamento mais pacífico quando não estão apaixonadas. — Philippe sorriu. Nicole queria acreditar nele e desistir de tudo, mas não conseguia. — Vi tantas indicações de que vocês eram muito mais que amigos — ela disse. — Procurei não dar muita importância a elas, mas quando vi Claudine chorar em seus braços e dizer que não queria passar a vida sozinha... — Foi por isso que decidiu partir? — Philippe perguntou incrédulo. Projeto Revisoras

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— Sim — Nicole admitiu. — Nós não temos um casamento de verdade, logo, eu não podia exigir que fosse fiel. — Quer acredite ou não, nunca fui infiel. Nem com Claudine, nem com qualquer outra mulher. — Ele a olhou bem dentro dos olhos. — Eu tinha esperanças de que nosso casamento desse certo, ainda que você me lembrasse constantemente que se casara só por causa de Robbie. — Você também se casou pela mesma razão. Eu vivia sempre com medo que você quisesse tirá-lo de mim. — Você acredita mesmo que eu faria uma coisa tão cruel? — ele perguntou reprovador. — Você deve me odiar. Nicole baixou o olhar, confusa e embaraçada. — Você sabe que não — ela murmurou. — Sei que posso deixá-la excitada, mas você nunca quis fazer amor — ele se queixou. Se ele soubesse como estava enganado! — Aconteceram muitas coisas entre nós. Muitos mal-entendidos — ela começou relutante. — Acho que o julguei mal por um bom tempo, mas ainda é difícil acreditar que seu relacionamento com Claudine é só amizade. Eu escutei quando você disse que ela nunca estaria sozinha, que você sempre estaria ao lado dela. — Eu disse isto, sim, mas não com o sentido que você interpretou. Qual foi o conselho que dei a ela? — Não sei. Vocês dois se afastaram, e eu não ouvi mais nada. Nem queria ouvir. — Pois foi péssimo. Teria me escutado aconselhando-a a não pressionar Justin para se casar. Disse que ela devia terminar o namoro. Achei que assim ele mudaria de idéia. — Você deu este conselho? Ele deu de ombros. — Ela já havia tentado de tudo. Se ele fosse tão estúpido a ponto de perdê-la, então ela devia seguir com sua vida e esquecê-lo. Claro que a consolei, dizendo que ela sempre podia contar comigo. É para isso que servem os amigos. Parecia que um fardo enorme tinha sido retirado dos ombros e do coração de Nicole. Poderia ter poupado muitos dias e noites de tristeza se tivesse confiado em Philippe. — Você parece cansada, querida. — Ele apertou a mão dela. — Vou levá-la para casa. — Ainda não. Vamos esperar até ter certeza que sua mãe está bem. Nenhum de nós ficará tranqüilo, se sairmos daqui sem notícias. Philippe concordou em ficar, e fez Nicole deitar-se no sofá, apesar dos protestos dela. Depois, ele lhe trouxe um suco de laranja e foi tão solícito que seu coração transbordou de alegria. Após algum tempo, o médico veio comunicar que todos os sinais vitais de Catherine estavam bons e que esperava uma boa recuperação. Como lhe haviam dado um sedativo, sugeriu que ambos fossem para casa e telefonassem mais tarde para mais informações. Enquanto eles caminhavam para o carro de Philippe, ele disse: — Sei que isso tem sido um verdadeiro tormento para você. Quero chegar a casa e colocá-la na cama, logo. — E o que você está tentando fazer desde que cheguei aqui.

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— Eu queria dizer... — Philippe riu e escolheu as palavras com cuidado, com medo de dizer algo errado. — Nunca fiz segredo de meus sentimentos, mas não me ajudou muito. Nicole riu encantada. — Não pensei que você fosse desistir tão facilmente. — Você não pode imaginar como foi difícil... — Você falou a verdade quando disse que me amava? — Sim. Eu a amo como nunca pensei amar alguém. — Ele a tomou nos braços e apertou-a tão junto a si que pareciam uma só pessoa. — Não me deixe minha querida. Farei qualquer coisa para torná-la feliz. Não precisa me amar, deixe que eu a amo por nós dois. Como posso viver sem você? Ela o fitou com olhos luminosos e apaixonados. — Meu querido Philippe, você é o amor da minha vida. Uma expressão de encantada surpresa apareceu no rosto de Philippe e, inclinando-se ele beijou-lhe a boca, cheio de paixão. Quando finalmente ele a soltou, Nicole suspirou feliz. — É difícil acreditar que duas pessoas que se amam tanto pudessem enfrentar tantos mal-entendidos. Precisamos ter uma longa conversa. — Daremos um jeito nisto também — ele disse. — Vamos para casa, chérie. Nicole e Philippe subiram a escada da mansão de mãos dadas. Pareciam estar dentro de um sonho. Porém, quando ele a tomou nos braços, seu corpo forte e rígido era bem real. — Esperei tanto por este momento — ele murmurou, passando os dedos pelos cabelos sedosos de Nicole e pousando beijos ardentes ao longo de seu pescoço. — Pensei que não fosse acontecer nunca. — Eu me sentia da mesma maneira — ela disse com um fio de voz porque era difícil falar enquanto ele procurava seus seios com a boca. Philippe desabotoara sua blusa e mergulhara a cabeça em seu colo. A excitação de Nicole crescia à medida que ele acariciava eroticamente seus mamilos rígidos. Quando ela se mexeu com sensualidade, ele falou muito baixo e rouco: — Você vai ser minha mulher de todas as maneiras, afinal. Em segundos, ele a despiu e depois ficou contemplando seu corpo escultural. O desejo estampado no rosto dele fez Nicole tremer. — Não seja tímida comigo, meu amor — ele disse ao vê-la enrubescer. — Quero explorar cada pedacinho de seu corpo adorável e quero quê faça o mesmo comigo. Temos de nos conhecer totalmente. Sem nenhum embaraço, Philippe retirou a própria roupa. Mas ele não tinha por que se sentir embaraçado, Nicole pensou. Seu corpo era perfeito como o de um atleta olímpico. Aproximando-se ainda mais e movida pelo desejo, ela levou as mãos aos ombros fortes e encostou-se toda contra ele. O contato da pele dele, bronzeada e quente, era uma delícia. O mundo ao redor se desvaneceu. Nicole entregou-se às deliciosas sensações, sem nenhuma reserva. — Quero que seja tão bom para você quanto é para mim — ele cochichou, com a voz embargada. Aquela voz rouca de paixão provocou um arrepio em Nicole. — E será. Esperamos tanto... — ela concordou. Abraçou-o com força, unindo sua excitação à dele, em uma perfeita coincidência de desejos. — Preciso tanto de você... — Isto era o que eu mais desejava ouvir na vida — ele disse, penetrando-a. Projeto Revisoras

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Juntos, em um ritmo frenético e apaixonado, alcançaram o clímax e caíram nos braços um do outro, trêmulos de exaustão. Saciada, Nicole deitou a cabeça com ternura sobre o peito de Philippe, beijando-o com infinito carinho. Adormeceu ali mesmo, vencida pela languidez que o ato de amor provocara. Acordou meia hora depois. Abrindo os olhos, viu que ele também estava acordado. — Sempre sonhei com minha noite de núpcias. Não sabia como seria. Mas nunca teria imaginado nada assim — ela confessou com suavidade. — Eu o amo, Philippe. Ele apertou-a com mais força. — Nunca vou me cansar de ouvi-la dizer isto. Pensei que a houvesse perdido para sempre quando disse que ia embora. Nem Robbie a prendia aqui. —Quando as coisas começaram a piorar entre nós, tive de admitir que ele fosse feliz com você, mesmo sem minha presença. — Ele precisa de nós dois. Poderíamos adotá-lo. Está pronta para pensar nisto agora? — Acho uma ótima idéia! — Nicole sorriu. — Tenho mais experiência como mãe do que como esposa. — Estou louco para corrigir isto. Podíamos pensar também em dar a Robaire um irmão ou uma irmã. Um filho de Philippe! Aquele pensamento era eletrizante. — Eu gostaria de ter os dois. Um menino e uma menina — ela disse. — Não devíamos perder tempo, então — ele disse, voltando a acariciá-la intimamente. Relutante, ela lembrou. — Temos de telefonar para o hospital, Philippe. O rosto dele readquiriu uma expressão sóbria, e ele olhou as horas. — Você tem razão. Minha mãe já deve estar acordada. Ele pegou o telefone e logo já estava conectado com o quarto de Catherine. Sua surpresa foi grande, quando ela pediu para falar com Nicole. Nicole pegou o aparelho. — Quero agradecer-lhe — a voz de Catherine soou hesitante, sem lembrar em nada a mulher arrogante que sempre fora com a nora. — O médico me disse o que fez por mim. — Não foi nada — Nicole falou com naturalidade. — Eu coincidentemente tinha o mesmo tipo de sangue. — Não. Nós duas sabemos que foi um gesto pouco comum de generosidade. Não espero que me perdoe pela maneira ignóbil como a tratei, mas quero pedir perdão mesmo assim. Se fosse possível, gostaria muito de pedir perdão a sua irmã também. — Você passou por uma terrível experiência — Nicole disse. — Podemos falar quando estiver se sentindo melhor. .— Você pensa que estou dizendo isto porque estou confusa com o efeito dos sedativos, mas não é verdade. Este acidente me fez compreender como tenho sido egoísta e mesquinha. Você faz meu filho feliz. E isto é tudo que uma mãe deve desejar. Não posso pedir quê esqueça meu comportamento, mas quero que saiba que sinto muito por tudo. Nicole sentiu um nó na garganta. — Todas as famílias têm problemas, e elas os superam. Temos coisas mais importantes para nos ocupar. Como Robbie, por exemplo. Philippe e eu vamos adotá-lo. Vou deixar que ele lhe fale sobre isto — ela disse e passou o telefone para o marido. Projeto Revisoras

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Depois que Catherine e o filho terminaram a conversa, ele disse: — Ela ficou feliz com a notícia. — Não posso acreditar que ela seja a mesma pessoa — Nicole afirmou incrédula. Philippe sorriu. — Às vezes, um choque transforma uma pessoa. Pelo menos, alguma coisa boa resultou de seu acidente. O médico disse que ela vai se recuperar bem. Então, vamos voltar ao assunto que estávamos discutindo — ele disse, puxando-a para si. — Acho que esta conversa não vai ser muito longa. — Ela riu. — Em certas ocasiões, palavras não são necessárias. Agora, você deve saber quanto a amo. Nicole não conseguiu confirmar seu amor com palavras porque foi silenciada pela boca sequiosa de seu amado.

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TRACY SINCLAIR começou sua carreira como fotógrafa de revistas e jornais. Inúmeras viagens pelo mundo proporcionaram a esta californiana experiências fascinantes nos mais diversos cenários que serviram de inspiração para as tramas de seus romances. Mesmo depois de escrever mais de cinqüenta livros para Silhouette, ainda está ansiosa por contar muitas histórias.

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Tracy Sinclair - Farsa e Paixão (Sabrina 1157)[1]

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