Renee Roszel - Noiva por Acaso - (Sabrina 1181)

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Renee Roszel

Noiva por Acaso

Noiva por Acaso (Renee Roszel)

Título original: Accidental Fiancée Serie Merit (The merits of marriage) 03 Copyright © 2001 by Renee Roszel Wilson Originalmente publicado em 2001 pela Harlequin Mills & Boon Ltd. Londres, Inglaterra EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Copyright para a língua portuguesa: 2001 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Digitalização: Polyana Revisão: Valéria Fratini

RESUMO: Os opostos se atraem... Zachary Merritt podia ter salvado a vida da filha de um político importante, mas jamais imaginara ver seu nome ligado ao dela, como seu noivo, na primeira página do jornal! Além disso, descobrira que Olivia o seguira à ilha, onde estava hospedado com sua família, para se desculpar... Olivia achara Zack atraente, dinâmico e excitante... Tudo que ela não era. Será que conseguiria ser como ele? Seria capaz de adotar seu estilo de vida? Provavelmente não. Então, por que estava tão determinada a ser sua noiva... de verdade? CAPÍTULO I Zack estava acabando de puxar o cordão que fazia inflar o pára-quedas quando 1

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os seguranças da ilha começaram a surgir de toda parte. Em questão de segundos, dezenas de armas apontavam para o alto. Em outras circunstâncias, Zack teria rido. Certamente não esperava que sua família estendesse um tapete vermelho e contratasse uma banda para recepcioná-lo, mas certamente se sentiria melhor sem projéteis apontados para sua cabeça. A aterrissagem foi perfeita apesar de ele não se lembrar mais da topografia da ilha após vinte anos de ausência. Tocou o chão com os pés e não demorou mais do que alguns segundos para firmar as pernas. Mas antes que pudesse se livrar da parafernália de equipamentos, a tropa já o havia cercado. Com rapidez e cuidado para que seus gestos não fossem mal interpretados, Zack tirou o capacete e se livrou do pára-quedas. Em seguida ergueu os braços para mostrar que estava desarmado e que não representava uma ameaça apesar da roupa preta que estava usando e que o fazia parecer uma espécie de invasor de outro planeta. — Olá, rapazes — ele cumprimentou, amigável. O que não adiantou a julgar pelos cenhos que continuavam franzidos. — Como podem observar — Zack apontou para o pára-quedas —, não dá para esconder armamentos nisso aí nem nesta roupa que estou usando. 0 mais sisudo dos guardas, provavelmente o líder, deu um passo à frente. — Terá de nos acompanhar, senhor. — Estou as suas ordens, general — Zack respondeu com um sorriso. O homem olhou para a mansão de três andares que Zack vira pela última vez à idade de dezessete anos. Uma intensa nostalgia o invadiu. Seu velho lar continuava a ser um tributo ao capitalismo com sua vista espetacular do Atlântico. Mas não era o esplendor da residência que estava falando a seus sentimentos e sim as lembranças de sua família. As aventuras foram muitas. A excitação ainda maior. Nada, porém, conseguiu preencher o vazio de sua existência durante todos aqueles anos. Só depois de sofrer um acidente de barco e perder seu melhor amigo, ele conseguiu despertar para a realidade da vida e da morte e reconhecer a inutilidade da existência que estava levando. O orgulho o impedira de voltar antes. Não que tivesse deixado de ser orgulhoso. Aconteceram fatos que o obrigaram a procurar abrigo junto dos seus. Não era uma questão de escolha. — Senhor? — Zack pestanejou ao ser arrancado de seus devaneios. O sentinela estava gesticulando para que ele seguisse à frente. Zack concordou com um movimento de cabeça. — Daria para um ou dois de seus colegas recolherem o pára-quedas? Se não são 2

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dobrados e guardados logo após a aterrissagem, torna-se difícil recuperá-los. O homem não respondeu. Seu irmão Jake deveria ter resolvido seguir a tradição da família e contratar somente aquelas pessoas que primavam pelo mau humor permanente. — Meu Deus! É você, Zachary? Ao ouvir seu nome, Zack se virou. Seu irmão mais velho, Jake, deveria ser um mestre em telepatia. Estava correndo pelos jardins e acabava de surgir de detrás da casa. — Jake! — Zack se pôs a correr ao mesmo tempo que se livrava das luvas e as colocava dentro do capacete. — Não vá ter um ataque do coração, ouviu? Um burburinho correu pelo grupo de sentinelas. O invasor, aparentemente, não viera à ilha para tentar pilhar a mina de esmeraldas. Atrás de Jake, vieram várias outras pessoas. Entre elas, o irmão mais novo, Marc, e duas mulheres. As esposas, Susan e Mimi, provavelmente. Um homem de cabelos grisalhos surgiu do interior da casa e Zack sentiu um nó na garganta. — Ora, ora, se não é o velho tirano em pessoa! — Zack falou consigo mesmo. Não houve tempo para tentar imaginar qual seria a reação de seu pai. Naquele instante, Jake lhe deu um pequeno soco no braço. — Não é que o filho pródigo voltou? Zack estava tão feliz ao ver o irmão que não soube o que fazer. Um aperto de mãos seria pouco em comparação com a intensidade do sentimento que lhe atravessava o peito. Após um breve instante de hesitação, Jake avançou e abraçou-o. — Zack, como é bom tê-lo outra vez conosco! Zack retribuiu o abraço, mas não as palavras. Sua voz precisou de um longo tempo para sair e não macular sua imagem de durão. A única vez que alguém o viu chorar foi no dia do funeral de sua mãe. O abraço terminou no instante que Marc, Mimi e Susan se aproximaram. — São meus olhos que estão me pregando uma peça, ou este é mesmo o mais famoso dos irmãos Merritt segundo os jornais? — caçoou Marc, o caçula. — O engraçadinho de sempre — Zack resmungou ao mesmo tempo que trocavam um forte abraço. Alguns instantes depois, quando se separaram, Marc segurou o queixo de Zack e deslizou o polegar sobre a pequena cicatriz. Zack não disse nada. Sabia que Marc havia se formado médico. Não esperava, 3

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contudo, que fosse se tornar alvo de seus cuidados. Nem que o gesto o remetesse ao trágico acidente que tirara a vida de seu amigo. — Então, doutor, quanto tempo ainda tenho de vida? — Zack tentou brincar. — Continue a saltar de aviões e a apostar corridas e... — Ninguém irá nos apresentar? — protestou a jovem ruiva que Zack reconheceu como Susan, a esposa de Jake. A outra, muito loira e tão bonita quanto Susan, era Mimi, a esposa de Marc. Ás duas seguraram os braços dos respectivos maridos. Por um instante, Zack sentiu inveja dos irmãos. Mas logo sorriu para as cunhadas e tornou a brincar. — Basta de formalidades! Já ouvi esses dois falarem tanto sobre vocês serem as esposas mais lindas e perfeitas do mundo que não ficarei satisfeito enquanto não beijá-las. Ao mesmo tempo que abusava do humor, Zack se perguntava se o pai estava demorando propositalmente para se aproximar de forma a aumentar a tensão. Se estivesse, ele havia conseguido seu intento. A respiração chegava a lhe faltar. — Elas são bonitas demais para vocês—Zack provocou-os. — E uma delas está grávida — Mimi acrescentou. Com um gesto instintivo, Zack examinou o corpo da esposa de Marc. Ela estava usando shorts e top. Não dava para notar. Zack fez uma mesura e piscou. — Que seus filhos sejam todos parecidos com você. E nenhum com o pai. Mimi deu uma risadinha. — Sinto lhe dizer, mas você é parecido com Marc. Se não fossem os olhos verdes como os de Jake, e as covinhas no rosto, vocês pareceriam gémeos. — Não esperava ouvir isso como boas-vindas, minha cara sra. Merritt — Zack caçoou. Susan balançou a cabeça. — Vocês três não são apenas parecidos fisicamente, mas em senso de humor também. E por falar em parecidos, você e Darin DeBruin são a imagem um do outro. — O sujeito tem sorte — Zack disse com ar de superioridade para em seguida dar uma piscada. — Quem é ele? Susan encarou-o, incrédula. — É o ator que representa você naquele filme sobre o salvamento da filha do senador Nordstrom. Out ofthe Blue era o nome do filme, se eu não estou enganada. Você não assistiu? 4

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Zack respirou fundo ao lembrete. — Não, mas eu poderia dar um jeito por uns dois milhões de dólares. — Eu achei que aquela história de amor entre você e Olívia Nordstrom foi pura invenção — disse Jake. — Fui obrigado a mudar de ideia ontem quando li a notícia sobre seu noivado com ela. Saiu na primeira página do jornal. — Jake atraiu Susan para junto de si. — A pobre deve ser maluca por concordar em casar com você. De nossa parte, porém, tivemos a grata satisfação de ver nossas ações subirem cinco pontos. Não é todo dia, afinal, que um Merritt se casa com a futura primeira filha do país. Meus parabéns, mano. A alegria de Zack se foi. — Aproveite e venda tudo depressa. — O quê? — Não quero ouvir o nome daquela mulher. — Zack passou uma das mãos pelos cabelos. — Não há nem sequer um fundo de verdade nessa história. Sua intuição sobre Olívia Nordstrom ser maluca estava certa. Zack olhou para cada um dos irmãos e das esposas. Suas expressões eram de total perplexidade. A dele, ao abrir o jornal, fora idêntica. O porquê de a filha do senador declarar à imprensa que eles estavam noivos era algo impossível de explicar. A única vez que ele havia pisado na casa do senador fora em resposta a um convite para jantar. Tanto o senador quanto sua esposa o receberam em agradecimento pela operação de salvamento à filha. Mas, nem sequer por um minuto, Zack se sentiu à vontade entre os membros daquela família. Os olhares frios e atentos do casal pareciam um aviso para que ele não tomasse aquele gesto como um incentivo para se aproximar da jovem Olívia. Linda, rica e formada pela Universidade de Yale, ela. não havia sido feita para um tipo que ganhava a vida com corridas de barco e saltos de pára-quedas. Qual seria, portanto, a justificativa de Olívia Nordstrom para aquela declaração dada à imprensa? Estresse, provavelmente. O fato de o pai estar em campanha de eleição, mais a perseguição dos paparazzi desde o lançamento do filme em que os dois haviam sido exibidos em todo o país como heróis daquela aventura, deviam ter provocado um colapso na protagonista. Zack estava voltando para casa após uma corrida de barcos quando a notícia estourou. Ele, por mais incrível que pudesse parecer, soube de seu próprio noivado pelo jornal qúe lhe entregaram durante o vôo, O pesadelo piorou depois que chegou em casa. Duzentos e-mails o esperavam no computador no aguardo de uma confirmação. O telefone não parou de tocar. Estava farto. Não suportava mais ver seu nome ligado à filha do senador. Zack queria sua tranquilidade devolta. Queria que todos esquecessem aquela loucura sobre ele estar noivo de Olívia Nordstrom. 5

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Apenas o tempo resolveria seu problema, Zack decidiu. O tempo e a distância do palco dos acontecimentos. Assim, no meio da noite, Zack chamou um táxi para levá-lo ao aeroporto e pegou um avião para a Ilha Merritt, na costa do Maine, seu forte Knox particular, onde pretendia se isolar até que Olívia Nordstrom recuperasse o bom senso ou, o que era mais provável, todos esquecessem o filme não autorizado, feito por um cinegrafista amador, sobre a operação de salvamento. As cunhadas, Susan e Minai, ficaram desapontadas quando souberam que a história de amor veiculada pelos canais de comunicação era falsa. Fez-se um longo silêncio após a explicação. — Ei, ninguém come nesta casa? — Zack procurou brincar e desanuviar o clima. — Estou faminto. O pai, por fim, se juntou ao grupo. — Como ousa invadir nossa casa como se fosse um mercenário, Zachary? Você não muda, não? Sempre desatinado. A acusação trouxe à lembrança de Zack outras cenas amargas de brigas e discussões. Mas ele se conteve. Daquela vez, a visita não seria como as outras. Faria com que desse certo. Não brigaria com seu pai e não tocaria no assunto sobre o fato de ter sido deserdado anos atrás em testamento. Não queria nada de sua família, exceto abrigo e paz por algum tempo. Com uma atitude que surpreendeu a si próprio, Zack colocou o braço ao redor dos ombros do pai e foi sincero ao dizer: — Também estou contente por vê-lo, pai. O que teremos para o jantar? Olívia não esperava tornar a ver Zack depois do jantar em casa de seus pais. A campanha do partido que pretendia eleger o senador Nordstrom a presidente a tragou como um redemoinho. Mas ela precisava encontrar Zack de qualquer maneira. Fizera uma tolice com ele e queria se desculpar além de combinar uma estratégia para que os jornalistas parassem de persegui-la. Sem saber como aportar na ilha sem autorização, Olívia respirou fundo. O barco com piloto que havia contratado para levá-la até a ilha da família de Zack fora detido duas vezes. Agora ela e o piloto estavam sob a mira de pelo menos uma dúzia de homens que mais pareciam soldados era guerra. — Por favor — ela gritou para ser ouvida sobre o ruído dos motores —, diga a Zachary Merritt que Olívia Nordstrom precisa lhe falar com urgência.

Ela não ouviu a resposta, mas cruzou os dedos para que suas palavras obtivessem êxito. Zachary deveria estar furioso com ela por causa da notícia. Mas não tão furioso quanto ela se encontrava com si mesma por ter usado de ironia com aquele 6

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estúpido jornalista e sido mal-interpre-tada. Fossem outras as circunstâncias, nada daquilo estaria acontecendo. Mas a campanha de seu pai mais a exibição daquele maldito filme deixaram seus nervos em frangalhos. Uma das poucas vezes em que resolvera deixar por algumas horas a vida de clausura que levava e se divertir com algo diferente, teria morrido se não fosse por Zachary Merritt. E como ela lhe retribuíra o favor? Em vez de manter a calma e se livrar de uma maneira inteligente dos paparazzi que exigiam "a verdade", inventara aquela história absurda de noivado. — Qual a relação entre o filme e o que realmente aconteceu quando ele a salvou daquele acidente com o pára-quedas? — fora a pergunta crucial. Depois de ter tentado ignorar o assédio daquele homem sem nenhum resultado, ela havia decidido inventar uma mentira, ou melhor, dar a ele o que ele queria para se livrar. — De certa forma, o filme é bastante preciso — ela disse. — Foi um resgate dramático. — No filme, o salvador e a acidentada se apaixonam. Aconteceu o mesmo com vocês? — Não. A vida não é ficção como em Hollywood — ela respondeu. Sua vontade era gritar que estava farta de responder aquela pergunta. Já o fizera umas cem vezes. Não havia nada entre ela e Zack Merritt. — Tem certeza? — o jornalista insistiu. — As pessoas que os viram juntos afirmaram que a atração entre os dois era evidente. Olívia queria gritar de frustração. Zack Merritt era o homem mais interessante que já conhecera. Além de bonito era bom, atencioso e tinha um sorriso irresistível. Mas não olhara para ela mais do que o necessário para salvá-la. — Eu... — Por que está hesitando, srta. Nordstrom? Por que não admite? Está acontecendo algo entre a filha do senador e o rei da liberdade, não está? — Não tenho visto Zack... — Mas logo o verá, não é? A insinuação era clara. JE paciência nunca fora o forte de Olívia. — Isso não é de sua conta! — Ah, então está acontecendo algo! Como no filme! A cabeça de Olívia estava latejando. — O que quer que eu diga? Ficaria satisfeito se eu admitisse que estou loucamente apaixonada por meu salvador e que decidimos nos casar? Agora, daria para 7

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me deixar em paz? O tom de sarcasmo fora tão forte que não ocorreu a Olívia que o jornalista fosse considerar seu depoimento. A manchete quase provocou um enfarte em seu pai e nela própria. Roxo de raiva, Lawrence Nordstrom agitou o jornal e gritou que jamais permitiria que seu nome se misturasse ao do rico e inútil playboy. O chefe de sua campanha, Jerry Skelton, foi incumbido de procurar Zachary e ordenar que se afastasse da filha do senador. , Se soubesse disso, Olívia teria assumido a culpa pela publicação da notícia. Mas como poderia imaginar que o pai acreditaria que Zachary Merritt havia sido o responsável por aquela mentira? Foi o silêncio que fomentou a especulação. O pobre Zachary deveria estar fora da cidade e quando soube sobre o escândalo já era tarde demais. Olívia o compreendia por ter procurado se isolar do mundo. Ela sabia que era a única culpada pelo problema. Por isso, não descansou enquanto não convenceu o pai a desistir de enviar Jerry como seu embaixador. Ela mesma teria de consertar a situação. Custasse o que custasse, precisaria reunir coragem e procurar Zachary. Ao mesmo tempo, estaria se livrando da perseguição daquele homem que não tolerava, apesar de ser o braço direito de seu pai. O modo sugestivo como ele olhava para ela era um sinal alarmante de que estava querendo conquistá-la. — Senhorita? Olívia pestanejou ao ser arrancada de seus devaneios e rezou para que Zack tivesse concordado em recebê-la. — Sim? — O sr. Merritt deu autorização para que suba a bordo. Olívia não conseguiu responder. De repente, estavam mão.

colocando uma escada metálica entre os dois barcos e alguém lhe estendia a — Nós a levaremos para a ilha. — Mas... e o barco que eu aluguei? O chefe dos seguranças olhou para o piloto com o cenho franzido. — Esse barco não está autorizado a se aproximar da ilha. Apenas a senhorita. Olívia hesitou por um instante, mas acabou concordando.

— Está bem. — Ela se virou para o piloto. — Espere-me aqui, por favor. Não devo demorar. O jovem fez um movimento negativo com a cabeça. 8

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— Sinto muito, mas preciso voltar. Tenho certeza de que poderão providenciar seu transporte mais tarde. Olívia não tentou dissuadir o piloto de sua decisão. Sabia que ele estava certo. No minuto seguinte, estava sendo transportada para a outra embarcação. Não estava vestida para um passeio de barco, propriamente, mas para uma reunião de negócios. Como pudera ser tão infeliz na escolha da roupa? Saia curta e sandálias de salto? A recepção a bordo não poderia ter sido mais fria. Pelos olhares que interceptou, Olívia percebeu que a notícia havia chegado à ilha. Assim, permaneceu em silêncio durante o trajeto e se limitou a apreciar a vista. A casa ficava no alto de uma colina no centro da ilha. Ou melhor, a mansão. Embora estivesse acostumada a ver e visitar mansões, filha de um senador como era, a casa dos Merritt era de tirar o fôlego. Ao final da tarde, os raios do sol atingiam as vidraças, transformando-as em ouro. Era como se ela estivesse se aproximando de um mundo fictício, de um universo alternativo. Como Zachary a receberia? Com um aperto de mão? Engoliu em seco. Zachary Merritt era um homem imponente como a casa de sua família. Alto e bonito. Teria sido fácil se apaixonar por Zack, o herói que arriscara a própria vida para salvá-la. Mas ele era arisco e solitário como um lobo. Não tinham nada em comum. O barco aportou naquele instante e não houve tempo para maiores conjeturas. — Venha, senhorita — disse o mesmo homem que a ajudara a subir no barco. — O sr. Merritt a espera. Com o coração aos saltos, Olívia tentou localizá-lo. — Onde? — ela perguntou sem conseguir vê-lo. — Não aqui. No embarcadouro, Olívia alisou a saia e ajeitou a alça da bolsa no ombro. Era difícil manter a elegância ao andar de salto alto no chão de tábuas. Se Zachary estava assistindo a seu desembarque, deveria estar rindo a valer. Por sorte, as tábuas deram lugar a pedras antes que alguém a visse cair esticada. De queixo erguido, ela continuou em frente, sem parar para admirar os canteiros de plantas e de flores que ladeavam o caminho. Estava ocupada demais em seguir rumo a seu destino. Temerosa demais com o tipo de recepção que poderia estar a sua espera. Por mais preparada que estivesse para o encontro, Olívia deu um grito ao trombar com Zack. Em seguida deu um passo para trás, colocou uma das mãos no coração e tentou respirar. 9

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O que havia com ela? Aquele era o homem que pedira para ver! E ele estava usando short e camisa pólo, não as vestes de um carrasco! A inspeção silenciosa durou cerca de um minuto. De braços cruzados, Zack a olhou da cabeça aos pés, dos pés à cabeça. E quando ela pensou que não iria mais suportar, ele ergueu uma sobrancelha e disse: — Olá, querida. Como tem passado? CAPITULO II A reação de Olívia o surpreendeu. Para uma lulher capaz de saltar de páraquedas, ela parecia um feixe de nervos. Era de admirar que tivesse conseguido se afastar do escritório do pai e vindo sozinha à ilha. Verdade fosse dita, ela estava ainda mais bonita, com os raios do sol transformando seus cabelos escuros em cobre. A pele parecia mais alva e os olhos pretos, embora ele soubesse que eram cor de mel. Zack notou também que Olívia estava mais magra e que sua aparência traduzia intenso cansaço. Mas antes que pudesse manifestar sua preocupação e perguntar se ela estava se sentindo bem, Olívia deu outro passo para trás. — Você me assustou! — Ainda bem, então, que mudei de ideia e não saltei a sua frente para gritar bool Ela sorriu sem convicção, o que o fez ter certeza de seu cansaço, de seu nervosismo, ou ambos. — Como me encontrou? — Zack quis saber. — Conhecia seu sobrenome. O resto foi fácil. O lugar onde sua família vive é conhecido como a ilha das esmeraldas. Decidi arriscar uma visita. O que Olívia desconhecia, era que ele deixara de fazer parte do negócio da família havia duas décadas. Caso o tivesse procurado ali uma semana antes, não o teria encontrado. Não era uma ironia do destino? — Em que posso ajudá-la, srta. Nordstrom? — Por favor, me chame de Liv. Ter salvado minha vida lhe confere esse direito. Um sorriso cínico curvou os lábios de Zack. — O fato de eu ser seu noivo não conta? Olívia pestanejou. — Bem... — Ok, Liv, o que a trouxe aqui? 1

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O olhar de Olívia concentrou-se na casa de barcos e na mansão ao longe. — Quero pedir que me desculpe sobre essa história de noivado — ela murmurou após um longo momento. Uma nova onda de irritação ameaçou engolfá-lo. — Ah, sim, eu devo ter lido alguma coisa a esse respeito nos jornais. Olívia engoliu em seco e passou uma das mãos nos cabelos. Zack surpreendeu-se admirando-os. Censurou-se por isso e depois achou natural. Apesar de tudo, Olívia Nordstrom era mulher e uma mulher atraente. Ele não deveria ser o primeiro a olhar para ela com interesse. Mas não era tolo. Aos trinta e sete anos, levando uma vida livre que alguns consideravam irresponsável, ele sabia que não era visto como um bom partido. Seu estilo de vida era excitante, mas as mulheres queriam estabilidade. Olívia suspirou. — A declaração sobre nosso noivado foi um erro. Eu estava irritada. Aquele jornalista estava me enlouquecendo com seu interrogatório. Eu falei aquilo apenas para me livrar de sua incomoda presença. Jamais imaginei que ele fosse me levar a sério. — Olívia baixou os olhos e depois encarou-o. — Sinto muito realmente. Meu pai está furioso comigo. — Eu acredito — Zack respondeu. — Não sou o genro ideal para um candidato à presidência pelo partido conservador. — Com certeza — Olívia concordou para tornar a se desculpar em seguida. — Oh, eu não quis dizer... Zack não disfarçou o riso. E ela não disfarçou o mal-estar que aquele riso causou. — Não se preocupe, Liv. Sou forte. Sou capaz de suportar um golpe. Ainda mais nervosa, Olívia levou uma das mãos aos lábios. — Sinto muito. Eu não queria que tivesse sido assim. Podemos fazer de conta que estou acabando de chegar? Por que não me pergunta o que estou fazendo aqui? Ele estreitou os olhos e estendeu a mão. — Olá, srta. Nordstrom. A mão de Olívia estava fria e trémula apesar de a voz parecer firme. — Olá, sr. Merritt. — Posso ajudá-la? — Zack perguntou, espantado consigo mesmo por seu súbito bom humor. Dessa vez, Olívia conseguiu sorrir. 1

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— De acordo com os chineses, aquele que salva a vida de alguém torna-se responsável por ele para sempre. Surpreso com o comentário inesperado, Zack encolheu os ombros. — Mas nenhum de nós é chinês. — Não — ela concordou. — De qualquer maneira, acho que vale lembrar que aquele que salva alguém ou é salvo, não pode jamais querer tirar a vida do outro, por mais furioso que esteja. A sinceridade na voz e nos olhos de Olívia o venceu. De repente, não sentia mais raiva. Raiva, aliás, era uma palavra fraca demais para exprimir o sentimento que o governara na última semana. Havia algo diferente em Olívia aquele dia. Ela parecia vulnerável. Na verdade, sua situação era pior do que a dele. Como se não bastassem os jornalistas, havia o pai senador e a campanha para ela enfrentar. A sede de vingança transformou-se em compaixão e simpatia. A calma da ilha deveria ser a responsável pela mudança. Ou melhor, o tédio infinito. Ele não havia sido talhado para uma existência pastoral. — Eu resolvi procurá-lo — Olívia continuou — para saber se concorda em discutirmos um plano para nos livrarmos da imprensa de uma vez por todas. Aliás, a esse respeito, meu pai sugeriu que nos separássemos amigavelmente. — Seu pai não preferiria se você dissesse que acabou descobrindo que eu não servia para ser seu noivo, com a vida que levo? Olívia baixou os olhos, mas Zack percebeu, por seu rubor, que ele havia adivinhado qual fora a verdadeira sugestão do senador. — Fora de cogitação — ela murmurou. — Eu jamais faria críticas ao homem que salvou minha vida. As palavras ficaram pairando no ar. Zack viu-se balançando a cabeça. A situação era ridícula. A conversa que estavam tendo era mais ridícula ainda. — Presumo que você queira resolver esse assunto o mais depressa possível. — Sim. Eu"preciso voltar o quanto antes. Mas fiz questão de vir aqui. Queria lhe falar em pessoa, não por telefone. Nada mais justo, não? — Olívia sorriu. —Afinal, você nem sequer foi comunicado sobre nosso noivado. — Obrigado por se lembrar de mim desta vez — Zack brincou e apontou para a mansão na colina. — Por que não vamos até lá e combinamos sobre nosso rompimento sem olhares curiosos? Passado o rubor, ocorreu novamente a Zack que Olívia não estava bem. Seus olhos estavam marcados por sombras escuras. Da última vez que a vira, naquele jantar, havia quase um ano, ela estava bronzeada e alegre. A mudança não a favorecia. 1

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Antes que Olívia tivesse tempo de responder, Zack a segurou pelo braço. — Se formos pelo campo, chegaremos mais depressa. — Pelo campo? — Olívia estranhou. — Você não quer? — Ele se deteve. — É alérgica a grama? — Não — Olívia respondeu. — Mas saltos costumam afundar na terra. Ele olhou para os pés de Olívia e não pôde evitar que o exame prosseguisse tornozelos acima. — Tire os sapatos — sugeriu. — E as meias também? — Olívia protestou. Zack suspirou. — O que pensou que iria encontrar na ilha? Um condomínio de luxo? Ela tornou a corar. — A decisão de vir aqui foi de momento — explicou. — Não esperava ficar mais de uma hora. Nem sequer me ocorreu trocar de roupa. — Seu pai aprovou sua ideia de vir aqui? — Não exatamente. — Olívia forçou-se a encará-lo. — Ele queria mandar Jerry Skelton, seu assistente. Eu não acho que teria dado certo. — Por que não? — Zack indagou. — Teve medo de que eu o machucasse? Ou que ele me machucasse? — Algo lhe dizia que a última alternativa era a mais provável. Olívia temia que o outro o humilhasse. O pensamento o perturbou. Por que não queria que Olívia o considerasse um feixe de músculos, sem cérebro? — Você não merecia ouvir ofensas — Olívia respondeu baixinho. Seria impressão ou havia um brilho de lágrimas nos olhos dela? — Eu seria capaz de apostar que Jerry o acusaria por não ter procurado os jornais e negado tudo. — Olívia respirou fundo. — Eu sabia que você estava zangado comigo e que seu silêncio foi a forma que encontrou para me dizer que eu mesma deveria sair da enrascada em que nos coloquei — Ela se encolheu com aquele seu jeito tímido que tanto o estava afetando. — Não quero lhe dar mais preocupações, Zack. Eu... — Obrigado — ele a interrompeu e a ergueu nos braços antes que qualquer um dos dois pudesse adivinhar que isso aconteceria. Então o importante senador e seu fiel assistente acreditavam que ele havia calado sobre aquela história em benefício próprio? A raiva retornou e o fez apressar o passo. Olívia não esperava cruzar a soleira da porta dos Merritt nos braços de Zachary. Se as condições fossem outras, ela teria feito uma piada sobre terem passado rapidamente do estado de noivos para casados em lua-de-mel. 1

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Enquanto era carregada pelo gramado, ela tentara lhe adivinhar os pensamentos. Não foi difícil. Ele não olhou em sua direção. Não tinha dúvidas disso. Não pudera afastar seus olhos dos olhos verdes e dos lábios carnudos de Zack nem sequer por um segundo. Zack deveria estar pensando que ela era uma desajeitada. Já sabia que não era capaz de saltar de um avião e sobreviver sem ajuda. Agora descobrira que não conseguia saltar de um barco para outro e que não era capaz de atravessar um gramado sobre seus próprios pés. Para completar o quadro, ele havia sido obrigado a se isolar em uma ilha para poder respirar em paz. Definitivamente, ela deveria encabeçar a lista das mulheres das quais Zachary Merritt queria distância. Entraram na mansão por uma porta dupla de vidro que dava para um terraço coberto. Olívia surpreendeu-se por não estarem sozinhos. Vários adultos se reuniam ali e também crianças. Havia música ambiente. As duas mulheres se entreolharam e sorriram para ela e para Zack. Deveriam tê-los visto se aproximarem. Um homem de cabelos grisalhos estava sentado no tapete e sorria para o bebé que carregava em seus braços. Ao erguer o rosto, o sorriso desapareceu. Os outros dois homens os receberam de modo afável, assim como as mulheres. Um deles segurava um menino de cerca de um ano e meio no colo. — O que nos diz, irmãozinho? — caçoou o homem de olhos verdes como os de Zack. — Você saiu daqui esta manhã furioso com ela e agora volta casado? — Ele piscou para Olívia. — Se seu pai tiver a metade de seu poder de persuasão, srta. Nordstrom, não tenho dúvidas de que seu próximo endereço será a Casa Branca. — Queira desculpá-lo — disse o outro. — Acho que ele deveria ter dito sra. Merritt, não srta. Nordstrom. Seja bem-vinda a nossa família. Zack pigarreou e Olívia fitou-o, apreensiva. Um segundo depois, ele disse: — Liv, este é o palhaço da casa, meu irmão mais velho, Jake. Olívia finalmente sentiu os pés tocarem o chão. No mesmo instante, estendeu a mão e cumprimentou Jake. — Muito prazer. — Este é Marc, o pirralho — Zack indicou o outro homem que estava apoiado na lareira de mármore. — O pirralho? — Marc protestou. — Bem, além de pirralho, sou o médico da família e esta é Mimi, minha esposa. — Marc estendeu a mão. — É um prazer conhecê-la, Olívia — afirmou Mimi. — Espero que o problema com sua perna logo seja resolvido. 1

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Olívia sentiu-se constrangida à observação e se apressou a corrigir o equívoco. — Não há nada de errado comigo. Estou usando salto e Zack quis cortar caminho pelo gramado. O sorriso de Mimi aumentou e ela olhou para Zack. - Que galante! Não sabia que tínhamos um sir Walter Ralegh na família! Oíívia notou o rubor que cobriu as faces bronzeadas de Zack. Em seguida, talvez para mostrar que não havia sido atingido, ele prosseguiu com as apresentações. — Esta é Susan, a esposa de Jake. A ruiva que havia se sentado no sofá olhou para Olívia e sorriu. — E um prazer conhecê-la, Olívia. Mimi e eu fomos a Portland na semana passada e assistimos ao filme. O assunto tornou-se tabu aqui, mas quero que saiba que o adoramos. Você não acha que Angela Cassio foi perfeita interpretando o seu personagem? Olívia morria de vergonha cada vez que alguém a comparava com a estrela mais sexy da atualidade. — Eu não vi o filme — ela se justificou. — O assunto também é tabu em rainha casa. Meu pai queria processar os produtores até descobrir que Aaron Scott faria o papel dele e Shellie Shipley o de minha mãe. Meu pai é fa de ambos. — Nervosa a ponto de gaguejar, Olívia procurou mudar de assunto. — E este é seu pai, Zachary? O homem parou de brincar com a criança e olhou para Olívia com desconfiança. Após um instante de hesitação, Zack apresentou-os. — Olívia Nordstrom, este é meu pai, George Merritt. O pai se limitou a fazer um gesto com a cabeça. Olívia sorriu e retribuiu o cumprimento. Ninguém precisava lhe dizer que o velho Merritt e seu filho do meio não se davam bem. Ou, então, que ele não concordava com as ideias políticas do senador. — O bebé se chama Benjamin — Zack concluiu. — É o membro mais novo da família, graças a Susan e a Jake. — E aquele anjinho que agora está dormindo no sofá? — Olívia se inclinou e acariciou os cabelos loiros do bebé. — Kyle é nosso primeiro filho — disse Susan e sorriu para Jake. Olívia interceptou o olhar de adoração entre eles e sentiu algo estranho. Ou seria uma tontura devido à falta de alimentação? Não havia encontrado tempo para almoçar aquele dia. Obrigou-se a olhar para Zack e ser objetiva. — Acho melhor resolvermos aquele problema de uma vez, não concorda? 1

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— Certo. — Zack olhou para todos, os presentes. — Se nos dão licença, Liv e eu precisamos redigir uma declaração para a imprensa. — É mesmo? — Mimi perguntou. — Sobre o quê? — Sobre nossa separação amigável — Zack respondeu, sério. — Pena — Susan murmurou. — Sinto saber que vocês não pretendem nem ao menos tentar. Zack fitou-a tão chocado que Susan não conseguiu controlar o riso. — Relaxe. Eu estava só brincando. Olívia notou a mudança no semblante de Zack. Ele estava novamente irritado. Que estranho. De repente, em vez de um, ele tinha dois narizes. Ela piscou para tentar firmar a. visão. Não adiantou. Agora, ele também estava com duas bocas. Ela balançou a cabeça e uma onda de náusea a invadiu. — Zack, eu... CAPITULO III Você fez o quê? — Zack não podia acreditar que Marc estivesse falando sério. — Eu liguei para o pai de Olívia e avisei que ela ficará na ilha ao menos por uma semana. — Por que fez isso? — Zack protestou. — Ela desmaiou, Zack. — Marc segurou o irmão pelo ombro. — Famoso como é, deve achar normal que as mulheres desmaiem a seus pés, mas está enganado. — Marc soltou-o. — Sou médico e posso reconhecer uma estafa. Olívia tem trabalhado demais e está precisando de descanso e de boa alimentação. — E ela não pode descansar e se alimentar na Califórnia? — Creio que não. Como poderia mandá-la de volta justamente para as pessoas que a levaram a esse estado? — Marc estreitou os olhos. — Qual o problema, afinal, em tê-la aqui conosco? Zack não soube o que responder, mas tinha certeza de que havia um problema. Afinal, todas as vezes que o nome de Olívia Nordstrom era mencionado, ele se via em encrenca. — Ela... ela... — Ela é bonita e inteligente? Sim, eu reparei. Mulheres como Olívia podem complicar a vida de um homem. Exatamente o que ele pensava! — Isso não me preocupa — Zack mentiu. O que lhe importava se alguém 1

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mencionara que ela era uma maga em assuntos financeiros? Que havia se formado de maneira brilhante em Yale? E que ele, em contrapartida, só sabia pilotar barcos e aviões? A verdade era que eles pertenciam a mundos diferentes e que Olívia não estava a seu alcance. Ele não havia nem sequer tirado o diploma do curso médio. De modo geral, ele nunca havia se importado por não ter estudo. Sua profissão lhe dera dinheiro e destaque. E liberdade para viver como bem entendia. — E o senador permitiu que ela ficasse, sem espernear? Marc deu um sorriso. — Ele detestou a ideia. Quando tentou discutir comigo, perguntei se ele preferia que eu a mandasse para um hospital onde ficaria à mercê dos jornalistas. Aproveitei e assustei-o. Quando mencionei a péssima publicidade que isso traria a sua campanha, ele parou imediatamente de brigar. — Você chantageou o senador! — Zack acusou o irmão. — Em absoluto. Eu apenas defendi minha paciente. Não podia ficar de braços cruzados quando ela estava à beira da exaustão de tanto trabalhar, por mais nobre que seja sua causa. Seu irmão estava certo, Zack pensou. Por mais que detestasse admitir, Olívia parecia uma sombra do que era antes. Ela havia perdido peso. Ele, melhor do que ninguém, era testemunha disso, pois vivia carregando-a de um lado para outro. — O que Liv disse sobre seu diagnóstico? Ele deveria ter adivinhado que a solução não seria tão fácil. — Como vocês são bons amigos, deixei para você a incumbência de lhe dar a notícia. A razão por Marc preferir calar diante de Olívia era óbvia. Sua saúde estava debilitada por causa da campanha de eleição. Sem tempo para comer ou dormir, ela acabara enfraquecendo. Ninguém podia ser culpado por isso. O senador não estava em condições de cuidar nem sequer de si próprio, com tanto trabalho. Como esperar que vigiasse a filha? E quem poderia comunicar a ela que estava proibida de voltar para casa antes que se recuperasse a não ser um homem forte, ou um suicida em potencial? — Isso é covardia! — Zack protestou. — Já fiz minha parte ao chantagear o senador, não acha? — Marc encolheu os ombros. — E agora, se me dá licença, preciso voltar para junto de minha mulher. Ela tem enjoado nessa gravidez. — Está bem. — Zack respirou fundo. — Só me diga mais uma coisa. Retirou todos os objetos pontiagudos do quarto de Olívia antes que eu entre lá? Marc deu um tapinha no ombro do irmão. — Você está acostumado a saltar de aviões, meu caro. O que uma jovem linda e 1

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delicada como Olívia pode fazer contra você? Ainda mais na condição em que se encontra? — Logo veremos, não é? — Zack fez um gesto de conformação com as mãos. — Espero que você mantenha em seu consultórip frascos de sangue para serem usados em casos de emergência. Marc se afastou, rindo, pelo corredor. — Até amanhã. Oh, a propósito, Mimi levou um prato de sopa para Olívia há algum tempo. Tome cuidado para ela não acertá-lo com a colher. Sem responder à provocação, Zack se dirigiu ao quarto de Olívia. O destino parecia estar conspirando contra eles. Maldição! Por outro lado, ela não tinha culpa dessa vez. Tornara-se praticamente uma prisioneira naquela casa. Bateu à porta e esperou. Talvez ela preferisse não recebê-lo. Seria ótimo. Ele poderia ir para seu próprio quarto sem ter de lhe contar sobre a situação. — Entre. Suas esperanças foram por água abaixo. Para criar coragem, ele respirou fundo e girou lentamente a maçaneta de cristal. Olívia parecia ainda menor e mais frágil, de pijama cor-de-rosa, na imensa cama de dossel. Ela o recebeu com um sorriso que morreu em seguida. — Por que está me olhando assim? — perguntou, séria. — Estou muito mai? Ele indicou uma cadeira e pediu permissão para se sentar. O que estava acontecendo? Sua intenção não era dar o recado e sair em seguida? — Claro que pode. Estava começando a me perguntar se tornaria a vê-lo algum. dia. Todos já vieram me visitar para saber como estou passando. Até o bebé. — Olívia ajeitou a gola do pijama. — Susan me emprestou. Ela é um doce de pessoa. Aliás, toda sua família é muito simpática. Zack se sentou e apoiou os cotovelos nas pernas. — Marc ligou para seu pai — disse sem preâmbulos. Olívia pestanejou. — Ele avisou-o para não esperá-la de volta antes de uma semana — Zack prosseguiu, sem esperar que Olívia se recuperasse da surpresa. — Seu tratamento exige repouso e boa alimentação. a fala.

Zack esperou que Olívia fizesse algum comentário. Mas ela parecia ter perdido — Não será possível... — Não será possível você deixar a ilha antes do prazo 1

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— Zack insistiu. — Ordens médicas. — O que meu pai disse? Zack não estava satisfeito com sua missão, nem com a estadia de Olívia. Mas preferia isso a saber que ela sofrera outro acidente. — Que estava tudo bem — ele respondeu, sem mencionar a chantagem. Zack notou que Olívia estava engolindo em seco. Depois que isso aconteceu umas três vezes, ele começou a se preocupar. De repente, ele viu duas lágrimas brotarem e não soube o que fazer. Pensou em segurar as mãos dela para confortá-la. Ou seria melhor chamar Marc? Mas, então, ela olhou para ele e deu um pequeno sorriso. — Parece que você terá de me salvar para sempre, Zack. Olívia empurrou os lençóis e se levantou. Bastava de descanso e de comida. Não estava doente. Tinha apenas vinte e quatro anos e três dias de repouso eram mais do que suficientes para superar uma pequena estafa. Por sorte, Susan e Mimi haviam previsto a possibilidade de ela decidir voltar à terra dos vivos antes da data marcada e lhe deixaram algumas roupas. Encontrou vários vestidos, saias e blusas no armário. Ocorreu-lhe que nenhuma das duas usara aquele tipo de vestuário durante aqueles dias. O fato de terem se dado ao trabalho de lhe providenciarem roupas formais a fez pensar. Seria normal alguém de sua idade ser tão conservadora? Após o banho, Olívia vestiu a lingerie de seda, tirada da embalagem, e um conjunto esporte de saia e blusa caqui com gola e punhos vermelhos. Como a roupa lhe caiu com perfeição, ela teve certeza de que tudo havia sido comprado especialmente. O que aumentou seu constrangimento. Por último, calçou as sandálias sem salto e estava terminando de prender as fivelas quando alguém bateu a sua porta. — Pode entrar. Surpreendeu-se ao ver Zack abrir a porta. Era a primeira vez que ele a visitava desde a primeira noite. E ele pareceu igualmente surpreso ao encontrá-la de pé e vestida. Ela sorriu de sua expressão. Zack tinha olhos lindos. Pareciam duas esmeraldas. E a camisa xadrez em verde e azul lhe ficava muito bem. — Boa tarde, Zachary. Exatamente quem eu queria ver. Por que ela se sentia tão alegre quando Zack estava por perto, se ele não dava a menor demonstração de apreiar sua companhia? Ele indicou o bloco e a caneta. 1

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— Achei que você já estaria pronta para redigirmos aquela declaração. Esquecida até aquele instante do motivo que a levara à ilha, Olívia franziu a testa, mas atravessou o quarto para os dois poderem se sentar e trabalhar. Ou tentou atravessar. Quando faltavam apenas dois passos para ela chegar até Zack, suas pernas bambearam. Olívia ouviu um som gutural. Não saberia dizer quem era o responsável por ele. A verdade era que ela havia trombado em Zack e o golpe deveria ter sido forte. Até que sua visão clareasse e ela tivesse condições de se apoiar nele e recuar, ficou com o nariz afundado em seu pescoço. — Se ainda está fraca, não deveria ter se levantado. pensa.

— Estou ótima — Olívia retrucou. — Não sou uma flor de estufa como você — Quem se sente ótimo, consegue ficar de pé sem cair em cima dos outros.

— Eu estou bem — Olívia insistiu, ferida em seu orgulho.— Apenas não estou acostumada a sandálias sem salto. — Não? — Ele a examinou com ironia da cabeça aos pés. — Não. Foi por isso que escorreguei. Zack encarou-a por um minuto. Em seguida guardou o bloco e a caneta no bolso. — Por que não anda pelo quarto até se acostumar com as sandálias? Depois que se sentir segura para caminhar, mande me chamar e eu virei. Ok? Olívia cerrou os punhos. — Por que critica tudo que faço? — Por quê? Você não consegue caminhar pela grama quando está usando saltos e não consegue caminhar pelo quarto sem saltos. O que consegue fazer, Olívia, a não ser cair? O comentário a magoou. — Comer — respondeu, irritada. — Se me der licença, pretendo ir à cozinha. Sozinha. Acredite você ou não. — Você é um imbecil! — Zack praguejou consigo mesmo. — Ela acaba de se levantar após três dias de repouso absoluto. Está fraca e tropeça em você. Em vez de.ampará-la, você a trata como se ela tivesse caído de propósito. Por quê? Sabe que ela não está tentando seduzi-lo. A única coisa que Olívia fez foi querer demonstrar sua gratidão e sua amizade. Até algum tempo antes, ele, como qualquer garoto, gostava de ser alvo do interesse das mulheres. Romances casuais nunca lhe faltaram. Na hora de casarem, contudo, elas o deixavam por homens em condições de lhes darem um lar e estabilidade. 2

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Zack fechou os olhos. Nunca se importara com lares e famílias. Agora, porém, estava sentindo inveja da felicidade de seus irmãos. E tédio. Ainda faltava uma hora para,o jantar. Marc estava trabalhando em seu consultório e Mimí fora à cidade para participar de uma reunião ecológica. Susane Jake estavam vistoriando a mina e seu pai estava dormindo como fazia todas as tardes. Zack não sabia onde Olívia se escondera. Não a via desde o instante que saíra de seu quarto liberando-a para a excursão à cozinha. Não a culpava por querer evitá-lo. Ficara tão assustado consigo mesmo pela onda de desejo que o assaltou quando ela caiu em seus braços, que disse a primeira tolice que lhe ocorreu. Subitamente, Zack detestou-se ainda mais pelo pensamento seguinte. Não estaria irritado por Olívia não querer nada com ele, exceto amizade? Não seria um problema de ego ferido? — O que há com você, Zachary Merritt? Perdeu o juízo? — Com quem você está falando? A pergunta de Olívia o pegou desprevenido. Por sorte ele se controlou e não caiu da cadeira. Nem deu um pulo. — Estou falando comigo mesmo — ele respondeu com fingida calma e se armou de coragem para prosseguir. — Peço que me desculpe pelo modo como me comportei. Acho que descontei meu tédio em você. Havia algo de verdade naquela afirmação. Zack não sabia até quando suportaria a tranquilidade da ilha. Olívia sentou-se de frente para ele e cruzou as pernas. — Vamos esquecer o que houve, está bem? Ele não controlou o impulso de olhar para aquelas pernas longas e esguias. Ela corou. A reação dele foi colossal. Olívia não precisava flertar. Bastava aparecer. Por um instante, ela umedeceu os lábios com a ponta da língua. Ele sentiu o sangue pulsar mais rápido nas veias. — Zack, sobre o que você disse... — Eu já lhe pedi desculpas, não? — Sim. Mas sobre aquilo que disse, eu estive pensando... — Ela se deteve, apertou as mãos, depois segurou os braços da cadeira com força. Seu constrangimento era evidente. — Diga, Olívia. — Bem, eu... Eu gostaria de saber se você poderia me ajudar... Zack estranhou o pedido. O que Olívia esperava que ele fizesse? — Quer que eu a carregue para algum lugar? 2

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Ela olhou com espanto para ele. Depois sorriu. Devia ter interpretado suas palavras como brincadeira. — Acho que, no fundo, eu já sabia. Você me fez pensar. Há algo que eu preciso fazer... Zack inclinou-se para ela e perguntou baixinho: — Está querendo que eu mate alguém? Ela riu com uma exuberância que o surpreendeu. — Estou tentando falar sério, Zack. Não caçoe de mim. — Está bem. Estou ouvindo. — Ok. Finalmente fui capaz de reconhecer, graças a você, que sou reservada e reprimida demais. — Eu não disse isso! — Não com essas palavras. Mas estava certo quando me acusou de estar fora da realidade ao não ter condições nem sequer de caminhar em um gramado. — Como chegou a essa conclusão? — Olhei para dentro de mim e me forcei a enxergar a verdade. Vivi toda minha vida como uma filha exemplar e prestimosa, mas, no fundo, não me sinto feliz. Talvez tenha sido esse o motivo que me levou a saltar de pára-quedas. Meu inconsciente estava ordenando que eu me soltasse. E como você foi meu mestre ao esclarecer o problema, deve-me lições de como abrir e bater minhas asas. Não dava para adivinhar se Olívia tentara elogiá-lo ou insultá-lo com aquela observação. Mas isso não importava. O importante era que Olívia estava falando sério. Ou pensava que estava. Ele procurou escapar por meio de outra brincadeira. — Fique calma, Liv. Deve ser algum efeito colateral da medicação que Marc lhe prescreveu. Por que não volta para a cama e descansa? — Por acaso está tentando me dizer que não devo me soltar? Que não devo ser mais ousada? Como sair daquela situação? Ele realmente achava que Olívia era controlada demais. Mas sua opinião não devia contar. O que sabia, afinal, sobre especialistas financeiros e campanhas presidenciais? — Acho que deveria deixar para lá. — Já entendi. — Ela lhe dirigiu um olhar de censura que o incomodou. — Está disposto a caçoar de mim, mas não a me ajudar. Muito bem! Eu deveria ter imaginado. Fui uma tola em defendê-lo perante meu pai. Você é exatamente o que ele disse: um playboy inútil que só conhece a lei do mínimo esforço! 2

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Ela se levantou, de repente, e deu a volta à mesa. — Como se atreve a me criticar para depois me negar ajuda quando decido acatar sua opinião? Ele também se levantou. — Está nervosa, srta. Nordstrom. Quando se acalmar, perceberá o ridículo desta conversa. Ele resolveu se afastar. Tinha problemas o suficiente para resolver. Não precisava de mais. Ao mesmo tempo, estava gostando de desfrutar da companhia de seus familiares e um pouco de distração viria a calhar... — Não me dispense como se eu fosse uma criança! — Olívia o fez parar com um puxão. — Estou decidida a mudar, Zack. Como a ideia foi sua e como nós dois estamos presos nesta ilha, por que não trabalhamos juntos? Por que não me ajuda a me livrar de meu lado obediente e refinado? Zack respirou fundo. Corada e entusiasmada como Olívia estava se mostrando, ela já havia assumido uma nova faceta de sua personalidade, embora não se desse conta disso. — O que pretende fazer com esse seu novo temperamento? — ele a desafiou. — Ajudar seu pai com mais empenho a chegar à presidência? — Isso não mudou — Olívia respondeu com firmeza. — Continuarei a fazer meu trabalho. Zack balançou a cabeça. — Encare a realidade, Liv. Você é uma mulher estável e batalhadora e não há nada a fazer a respeito. Sinto muito por ter caçoado de você. Esqueça o que eu disse. Quem sou eu, afinal, para caçoar de alguém? Ela apertou os lábios. — Pensei que você fosse a pessoa ideal para me ajudar — Olívia murmurou em tom de acusação. — Não fugiu de casa para encontrar seu verdadeiro eu? Não vive a vida que resolveu viver sem se importar com o que os outros pensam? Por que o modo de Olívia falar, que deveria funcionar como um elogio, soou tão errado? — Você não sabe o que está me pedindo. Não deseja realmente mudar. — Lógico que desejo! — ela protestou. — Por que acha que eu resolvi saltar de pára-quedas? Zack encolheu os ombros. Estava decidido a não lembrá-la sobre o fato de quase ter morrido na tentativa. — Tentaria de novo? 2

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— Eu saltei três vezes! — Mas saltaria a quarta? — Bem, em vez de saltar, eu me matriculei em uma academia para aprender caratê. — Quantas aulas teve? Ela hesitou. — Uma. — Uma? — Meu pai descobriu — ela desabafou. — Zack, eu preciso de sua ajuda! Que o pai influenciava a vida de Olívia, isso era certo. Zack sentiu compaixão por um instante. Mas dominou o sentimento em seguida. — Não conte comigo. Os olhares se cruzaram. — Por favor — ela implorou. — Mostre-me como enfrentar a vida com prazer e paixão. Você pode ser minha última chance. Zack suspirou. Teria ouvido bem? A filha do senador havia aberto o jogo por fim? Estava decidida a ter algumas noites de aventura antes de voltar a ser a executiva a serviço do papai? — Esqueça que eu existo, Olívia. — Não! — Ela se aproximou e colocou as mãos no peito de Zack. — Quero um beijo seu! A ideia já havia passado pela mente de Zack, mas a desilusão foi tão grande, que o desejo se transformou em raiva. — Desista. Você não é uma mulher liberada. Mesmo que fosse, estou cansado do tipo. Zack tentou se afastar, mas Olívia o deteve. — Mas você as conhece e sabe como se comportam! Diga, uma mulher liberada o deixaria ir embora? Antes que Zack pudesse responder, Olívia atirou-se nos braços dele e enlaçou-o pelo pescoço. CAPITULO IV Zack não tinha a menor intenção de retri-íbuir o beijo. Levantou os braços para tirar as mãos de Olívia de seu pescoço e acabar de vez com aquela loucura. Mas, no espaço de tempo entre a tomada de decisão e a concretização do ato surgiram faíscas de desejo que provocaram um curto-circuito em seu bom senso. 2

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Com o corpo pressionado ao dele, Olívia continuava beijando-o com doçura e ardor despertando o homem pri-mitiyo que existia dentro dele. A linha dos eventos não estava clara em seu raciocínio. Quando deu por si, seus lábios estavam se movendo sobre os de Olívia com volúpia. Ela entreabriu os lábios, então, em um convite a uma maior intimidade e cravou as unhas em suas costas. O que aconteceu foi algo que não podia ser comparado a nenhuma outra experiência. Um prazer profundo e perigoso o invadiu. As sensações explodiram ao ritmo das línguas a se procurarem. A necessidade de possuir aquele corpo quente e insinuante foi tão grande que ele chegou a sentir um arrepio percorrer suas pernas e costas. Deslizou as mãos por cada uma das curvas de Olívia. Parou por um instante nos quadris e atraiu-a com mais força para junto de si. Zachary Merritt estava de volta! O prazer sexual sempre fora o grande motivo que o unia às mulheres. Não era ingénuo nesse campo. Sabia o que estava fazendo. E exatamente por ser capaz de manter a cabeça fria em momentos como aquele, decidiu parar antes que fosse tarde demais. Olívia estava se portando como se também fosse uma mulher experiente. Mas e se ela apenas tivesse acabado de desabrochar e esse ardor fosse a justificativa? Ocupada como era e levando uma existência quase de clausura, teria Olívia vivido algum caso de amor? Enquanto lhe restavam forças, Zack segurou-a pela cintura e afastou-a. — Não peça o que não sabe se será bom para você. Há destinos piores do que ser a filha neurótica de um senador que talvez venha a ser o futuro presidente. Olívia ficou tão atónita com as sensações que o beijo de Zack lhe despertou que demorou a recuperar o raciocínio. Não era seu primeiro beijo, mas... Tentou andar, mas vacilou. Teria caído no chão se não tropeçasse em uma cadeira e desabasse sobre seu assento. O único pensamento que lhe ocorria além do efeito daquele beijo era o tamanho da rejeição que ele causou. Humilhada como nunca se sentira antes, Olívia escondeu o rosto com as mãos e soluçou. Devia ter aprendido a lição. Não sabia que o preço de uma ousadia era alto? Quando resolvera saltar de pára-quedas, não havia se precipitado, por pouco, para a morte? Ao se insinuar para Zack, não deveria ter pensado que ele era tão ou mais perigoso do que saltar de um avião? E quem era Zachary Merritt, afinal, para lhe dar aulas de moral? A raiva a levou a procurá-io com os olhos. E a fez levantar para examinar melhor a área. Quando o viu andando em direção à praia, não pensou duas vezes antes de gritar. — Como se atreve? 2

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Ele parou por um instante e depois continuou. Ela mordeu o lábio. — Se pensa que o que houve me fará deixar a ilha, está enganado, sr. Merritt! Quem pensa que é para me dar lições de moral? Justo você, o candidato mais provável a ganhar o prémio de sibarita do ano! Zack olhou para trás. — Pensa que pode me ofender com seu vocabulário arrogante? Se quiser me atingir, trate de falar nossa língua! — Muito bem. Mas primeiro explique o que quis dizer quando me chamou de neurótical — Quem entende o significado de sibarita, deveria entender o que significa neurótico — Zack caçoou. — Suma, menina. — Pare de me chamar de menina! — Olívia ergueu o queixo em desafio. — Ou isso é uma estratégia para se proteger? Afinal, já deu para notar que você não corresponde a sua fama. Uma expressão de assombro surgiu no rosto de Zack, seguida por outra de indignação. Mas Olívia não se acovardou. O que mais Zack poderia fazer para ofendêla? Nada seria pior do que sua rejeição. A única coisa pior seria continuar vivendo como um autómato. Queria ser mulher e queria ser feliz. — Então? — ela tornou a provocá-lo. — Você não é nada daquilo do que dizem? Por acaso subornou alguém na imprensa para falar a seu respeito como um dos homens mais cobiçados pelas mulheres? Ela o viu respirar fundo algumas vezes. Depois ele baixou a cabeça e ficou parado por um longo tempo. Quando tornou a erguer a cabeça, fez um gesto de impaciência com uma das mãos e voltou a caminhar em direção à praia. Ser rejeitada pela segunda vez a deixou furiosa como jamais se sentira antes. Sem condições de refletir sobre o que estava fazendo, Olívia correu atrás de Zack e agarrou-o pelo braço. — O que tenho de fazer para que você me ajude? Detesta-me tanto assim que não pode nem sequer me fazer um pequeno favor? — Um pequeno favor? — Zack repetiu, perplexo. — Acha que o modo como está me tratando, como se fosse um objeto sexual que usará durante sua breve permanência na ilha, pode ser chamado de pequeno favor? As palavras de Zack a emudeceram. Agora estava claro. Fazer amor com ela seria um sacrifício inominável para ele. — Eu nunca pedi que fizesse sexo comigo! — protestou, como se a ideia jamais lhe tivesse passado pela mente. — Mas, apenas por curiosidade, desde quando você se tornou um monge? — Nunca me pediu que fizesse sexo com você, não é? 2

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— Zack repetiu, irónico. — Talvez não seja de minha conta, mas o que significou, então, aquele beijo, srta. Nordstrom? Olívia preferia que Zack não tivesse comentado o assunto. Não sabia como explicar. — Eu estava ansiosa para chamar sua atenção — resolveu dizer quando o silêncio tornou-se incómodo. E como ele persistisse, disse outra bobagem. — Deveria ter lhe dado um pontapé, talvez? Ou lhe atirado uma cadeira? Ela não queria chorar, mas não estava conseguindo se conter. — Preciso de você, Zack. Preciso que me ajude. Juro que não tornarei a constrangê-lo, atirando-me em seus braços. Fora a pior atitude que poderia ter tomado. Não tinha nenhuma experiência.em sedução. A julgar pela reação de Zack, sua técnica fora um desastre. Se quisesse superar seu constrangimento, o melhor que tinha a fazer era recorrer à lógica, algo de que ela entendia. — Ensine-me apenas a me soltar, a ser mais espontânea. Ele continuou em silêncio por um longo tempo. Derepente, cruzou os braços e praguejou. — Maldição! Isso é ridículo! Se eu não estivesse morrendo de tédio aqui, não levaria essa história nem sequer em consideração. Quando tornou a encará-la, Zack fez um movimento quase imperceptível de afirmação com a cabeça. Mas foi o suficiente para Olívia suspirar de alívio. — Está bem — ele resmungou —, mas não pense que será fácil. Eu a levarei a seu limite de tolerância. Promete fazer tudo que eu mandar? Havia outro jeito? — Prometo! Quando começaremos? — Agora. Era primeiro lugar, cuidaremos de suas roupas. Susan e Mimi ficaram entusiasmadas com a oportunidade de participarem da experiência e se prontificaram a ajudar. Olívia mal podia acreditar que era ela mesma ao se mirar ao espelho. Nunca havia usado aquele tipo de roupa antes: saia curta e top que deixava a barriga à mostra. Como contadora e filha de um senador nunca pudera mostrar mais do que metade dos joelhos ao se sentar. De repente, estava usando uma saia curta e colante que além de evidenciar suas formas, deixava as coxas inteiras de fora quando se sentava. O suéter, a peça mais respeitável do conjunto, com sua gola rente ao pescoço e mangas curtas, também lhe parecia justo demais e curto em excesso. Embora não pudesse se gabar de ter seios grandes, a roupa não deixaria ninguém esquecer sua condição de mulher. Nem a falta de sol, tal a brancura de sua barriga. 2

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Por mais que tentasse esticar o tecido da blusa, o umbigo permanecia exposto como um tesouro nacional em exibição pública. O mesmo acontecia com a saia. Suas pernas não ficavam tão evidentes nem sequer quando usava shorts. Uma batida à porta a fez dar um passo para trás. Desabituada a usar sandálias de plataforma, teria caído se a cómoda não estivesse ao alcance de suas mãos. — Quem é? — perguntou, apreensiva. Susan e Mimi precisariam voltar à cidade e trocar aquela roupa. Não permitiria que ninguém a visse daquele jeito. — Zack. Tinha de ser! — O que você quer? — Estou vendendo bilhetes de loteria! Ora, o que você acha que eu quero? O estômago de Olívia deu uma reviravolta. — Ver como fiquei com a roupa nova? — Como conseguiu adivinhar? — Por que quer me ver? — Porque você pediu que eu a ajudasse e eu disse que ajudaria. Por que motivo seria? Olívia engoliu em seco. — Está bem. — Está na hora do jantar. Essa não! Seria difícil aparecer para Zack, quanto mais para o resto da família! — Liv? Estou enganado ou você se arrependeu de ter me pedido aquele favor? Zack estava perto demais da verdade. Era uma tola ao permitir que sua covardia a vencesse. Zack já estava caçoando dela outra vez e não podia culpá-lo. Céus! Seria realmente a menina neurótica que ele dissera? Não era capaz nem sequer de usar roupas modernas? Lógico que era! Olívia endireitou os ombros e mirou-se uma última vez ao espelho antes de se dirigir à porta. risos.

No último instante, hesitou. Era preciso estar preparada para a explosão de Mas a reação de Zack foi completamente diferente. — Não olhe para mim desse jeito — Olívia reclamou. — Não estou sem roupa! — Você está muito bem. Olívia olhou para si mesma e outra vez para ele. 2

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— Por quê, então, você fez uma careta? — Queria que eu aplaudisse? — Zack a pegou de surpresa pelas orelhas. — Brinquinhos de pérola? Quem pensa que é, a Miss Debutante de 1972? Não tem nada mais chamativo? — Deixe meus brincos em paz! — Olívia se afastou. — Não hã nada de errado com eles. — Por enquanto. Mais tarde, veremos. — Zack apontou para o relógio no pulso de Olívia. — Precisa tirá-lo. — Por quê? — Olívia segurou instintivamente a jóia. — Espíritos livres não se deixam influenciar pelas horas, querida. Olívia puxou o braço quando Zack tentou tirar seu relógio. Sentia-se estranha quando ele a tocava. mãos.

— Nós combinamos que não haveria intimidades e você está abusando com estas — Ok. Você mesma pode se livrar dele. Enquanto isso, cuidarei de seus cabelos. — O que há de errado com eles? — Olívia perguntou, apreensiva.

Zack afastou-se em direção à cómoda e ela o seguiu com os olhos. Talvez fosse a camisa justa que ele estava usando, mas nunca vira ombros tão largos e musculosos. Zack abriu e fechou duas gavetas até encontrar o que queria: uma fivela colorida. — Torça os cabelos e prenda-os com isto. — Por que não posso deixá-los soltos? — Porque você quer mudar, lembra-se? Com um suspiro, Olívia atendeu a última vontade de Zack. Depois encarou-o. — Se alguém rir de mim, eu o matarei! Zack acompanhou-a à sala de jantar. Quando estavam quase chegando, ele se inclinou e cochichou em seu ouvido, — Uma mulher descontraída ri com os outros, querida. Em seguida, os cabelos se soltaram e desmoronaram sobre os ombros. Olívia parou para arrumá-los, mas Zack foi mais rápido. — Deixe que eu coloco a fivela. Ao sentir oa dedos de Zack em sua nuca, um arrepio percorreu todo seu corpo, desde as pontas dos pés. — Assim está melhor. Naquele momento, Olívia deu-se conta de que havia parado de respirar. Forçou2

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se a se comportar com naturalidade. Mas o esforço se revelou inútil quando entraram na sala às escuras. — A mesa está posta para sete pessoas — Olívia observou. — Por que só estamos nós dois aqui? — O primeiro prato foi preparado para você apenas — Zack explicou e se colocou ao lado dela. Olívia esperou que Zack lhe puxasse a cadeira. Ele havia obedecido à etiqueta na noite que jantara em casa de seus pais. — Uma mulher liberada não precisa de ajuda para sentar — ele murmurou. — Talvez não, mas o homem que acompanha uma mulher liberada precisa ser um grosso? Olívia olhou, por acaso, para baixo. Suas pernas estavam inteiras à mostra. Ela se apressou a cobri-las com o guardanapo. — Grosso? — Zack apresentou uma travessa de prata. Quando tirou a tampa, Olívia viu uma comida que mais parecia um mingau de cor amarronzada. — Experimente um pouco. — O que é isso? — Algo que Mimi trouxe da Tasmânia. Não me lembro o nome. Mas sei que é feito com vários ingredientes, inclusive pés de porco. Olívia estava faminta. Mas ao ouvir a explicação, seu apetite evaporou. Zack serviu-se de algumas colheradas. Ela o observou, enojada. — O que está esperando? — ele insistiu. Era como se Olívia estivesse se mirando ao espelho. Via sua testa franzida de horror e os lábios apertados. boca.

— Por que os outros não querem comer isto? Zack levou outra pequena porção à — Porque é um prato exótico. Leva algum tempo para ser apreciado. — Mas se Mimi o comprou...

— Ela está grávida — Zack declarou como se o fato encerrasse o assunto. — Ninguém espera que uma gestante coma pés de porco. — Eu não daria pés nem sequer para a lata de lixo! Zack largou os talheres com proposital lentidão. Em seguida encarou-a. — Até agora, só lhe dei tarefas simples, srta. Nordstrom, e não está conseguindo realizá-las. Tem certeza de que está pronta para sair à procura de seu eu rebelde? Olívia abriu a boca para protestar. Em vez disso, respirou fundo e cruzou os 3

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braços. — Sou bem mais velho do que você, Liv — Zack prosseguiu. — Posso não ter estudado em Yale, mas conheço as pessoas. Você não é do tipo que aprecia pés de porco. Também não é do tipo que gosta de usar saias curtas e suéteres apertados. Por que se obriga a contrariar sua natureza? Ser conservadora não é um pecado. A observação a irritou. Não queria se dar por vencida. Por mais que lhe custasse, ela havia vestido aquelas roupas ridículas. Quanto aos pés de porco, Zack havia comido, não? Talvez, se ela fechasse os olhos e prendesse a respiração... Olhou para Zack e ele estava dando um sorriso cínico de vitória. Foi a gota que faltava! Ele não iria se levantar daquela mesa chamando-a de garotinha neurótica. E ela ainda não estava recuperada o suficiente para voltar para a maratona da campanha presidencial. Olhou para o prato e obrigou-se a pegar um pouco. No momento que levou o garfo à boca, fechou os olhos e obrigou-se a controlar o arrepio que subiu por sua nuca. Então, quando estava começando a pensar que teria de se levantar da mesa e correr para o banheiro, o sabor adocicado e agradável foi detectado por seu paladar e ela pôde abrir os olhos. Zack estava olhando para ela. Por um instante, Olívia quase se deixou levar pelo impulso de sorrir. Não só por ter cumprido a tarefa, mas por ter surpreendido Zack. Antes que eles voltassem a falar, Jake chegou. — Vocês já estão almoçando? — Ele se aproximou e examinou-a com admiração. — Gostei do suéter. Olívia pensou que seu rosto estava em chamas. — Ela está liberando seu eu rebelde — Mimi revelou à porta. — Pelo que pude notar, está indo muito bem. — Qual o homem que não reage de modo positivo a um suéter apertado? — Mimi caçoou e tocou o ombro de Olívia com carinho. — Você está atraente de verdade. Jake está certo e sua opinião deve ser levada em consideração. Jake não tem por hábito elogiar as mulheres. rosa.

— Concordo com meu marido — Susan afirmou. — Você fica ótima de cor-deOs recém-chegados se sentaram à mesa.

— Pudim de arroz? — Mimi perguntou, surpresa. — Por que estão comendo a sobremesa antes dos pratos salgados? — Pudim de arroz? — Olívia olhou para o próprio prato e depois para Zack. — Você não disse que era um prato exótico da Tasmânia? 3

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— Sina, mas não me lembrava do nome. — Que truque sujo, Zack! — Olívia censurou-o. E antes que Zack pudesse imaginar o que estava para acontecer, levou um chute no tornozelo por baixo da mesa. CAPÍTULO V Tédio era uma palavra de que Zack não se lembrava havia vários dias. Com a presença de Olívia na ilha, deixando várias partes de seu corpo à mostra, ele, ao menos, tinha com o que se distrair. Ou com o que se preocupar. Parecia uma conspiração contra ele. Ou Susan e Mími compravam blusas curtas que deixavam o umbigo de Olívia de fora, ou, então, saias curtas que expunham aquelas pernas que chamavam a atenção de qualquer homem com sangue nas veias. Se alguém desconhecia o significado da palavra tédio, ele tinha uma definição completa: estar entediado significa não ter uma garota sexy vestida com pouca roupa por perto. Olívia realmente parecia ter se transformado em outra mulher. O constrangimento dos primeiros momentos havia acabado. Agora, ela se apresentava não apenas com naturalidade, mas como se estivesse gostando de exibir a cintura e as pernas. Cada dia que passava, mais ele se conscientizava que cantara vitória antes do tempo. Se ao menos tivesse desconfiado de que Olívia iria conseguir vencer sua timidez e seu espírito conservador, ele não teria aceitado aquela tola empreitada. O que conseguira a não ser acabar com sua paz de espírito? De vez em quando ocorria-lhe a ideia de que Olívia não deveria ter consultado o pai sobre essa sua tentativa de mudança. Zack e seu pai nunca haviam se entendido. George não concordava com seu modo de encarar a vida e ele não aceitava viver aos moldes tradicionais. O impasse fora inevitável. Após tantos anos de separação, contudo, Zack esperava que os dois pudessem se relacionar melhor. Mas desde sua chegada na ilha, eles mal haviam trocado meia dúzia de palavras. E se Liv havia decidido mudar realmente de vida? E se a experiência a levasse a largar o emprego? E se a transformação física e emocional abrisse uma brecha em seu relacionamento familiar e ela se visse, de repente, só? Fora difícil para ele viver afastado da família. No momento, contava com o afeto dos irmãos e das cunhadas e isso estava lhe fazendo um bem enorme. O que aconteceria se Liv, sendo filha única, se visse totalmente desamparada? — Claro que não! — Zack falou consigo mesmo. — Ao final da semana, ela já 3

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estará cansada dessa história de saias curtas e blusas justas e voltará, de salto alto e conjunto de saia e blazer para os escritórios do senador. — O que está resmungando? — a voz do pai o fez voltar à realidade. —Se está reclamando de mim, fale direto! Zack enrijeceu à acusação injusta. Mas obrigou-se a olhar para o pai com calma e brandura. — Olá, pai. George Merritt estava apoiado à porta, com os tornozelos cruzados e os polegares no cinto da calça. O queixo erguido completava o quadro. O pai viera preparado para travar uma batalha. Algo que ele devia ter desejado fazer desde o dia de sua chegada. Bem, seu pai logo descobriria que essa tática não iria funcionar. Zack não viera à ilha para cultivar ressentimentos. Bastavam as brigas passadas. A paz seria mantida naquela casa a qualquer preço. — Você parece estar em forma, pai — Zack elogiou. — Ainda não tivemos chance de conversar. Por que não aproveitamos esta oportunidade? — Não deixa de ser uma surpresa ouvir isso — o pai ironizou. — Afinal, foi você quem nos deixou por vinte anos e fez sua mãe chorar até as lágrimas acabarem. Nunca conheci ninguém mais egoísta e irresponsável! A culpa o assaltou com força. Incapaz de conservar o sorriso nos lábios, Zack fez uma expressão solene ao encarar o pai. — Jamais saberá quanto me arrependi do que fiz. — Justamente você! — George avançou alguns passos em direção a Zack. — O mais brilhante de todos meus filhos. Os professores diziam que era um génio, mas não fazia as lições e não obedecia ordens. Seu enorme potencial era apontado por todos. E o que você fez? Jogou tudo para o alto! Que vergonha! Cada vez que olho para você e vejo o que se tornou, sinto vergonha de chamá-lo de filho. Zack empalideceu. Um medo terrível de não poder jamais reparar seu erro o dominou. O abismo entre ele e seu pai talvez fosse profundo demais para ser transposto. — Tudo isso para quê? — o pai continuou. — Para disputar corridas de barcos, para escalar montanhas e para perseguir mulheres. Meu Deus, Zack. Você poderia ter sido médico como Marc ou um administrador como Jake. Com sua inteligência privilegiada, poderia ter salvado vidas, deixado uma marca importante no mundo. A dor e a mágoa do pai eram tão grandes que Zack sentiu um nó na garganta que parecia sufocá-lo. — Até quando pretende me torturar com sua presença? Até quando terei de ficar pensando no que poderia ter sido... — o pai parou de falar como se sua voz 3

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estivesse embargada. — Pai! — Zack o segurou pelo braço quando ele tentou se afastar. — Fique comigo. Não mereço seu perdão, mas isso não impede que continue a ser seu filho e que o ame. Não posso ir embora. Não quero ir embora sem ao menos tentar uma reconciliação. — Zack puxou o pai de encontro ao peito e abraçou-o. — Estou de volta, pai, e não tornarei a deixá-lo. Tudo que quero... — Você quer! Sempre foi apenas o que você queria! Você e seu egoísmo! Ouça o que eu quero! — O pai se desvencilhou. — Quero que fique fora de meu caminho! George fez menção de sair e Zack tornou a detê-lo. — Espero que mude de ideia, pai. E que esse dia não aconteça tarde demais para nenhum de nós. O pai olhou para Zack por um instante. Em seguida saiu sem olhar para trás. Zack não saberia dizer quanto tempo permaneceu ali, parado. Quando deu por si, estava sendo interpelado por seu irmão, Jake. — Falando sozinho? Zack balançou a cabeça. — Tenho certeza de que o ouvi resmungar algo. Sobre a filha do senador, talvez? Uma careta foi a resposta de Zack. — Você não tem mais nada para fazer? Jake fez que não. — Uma máquina quebrou. Tivemos de encerrar mais cedo o expediente. Irritado como estava, Zack não estava disposto para conversas. — Todos nós temos nossos pequenos problemas, não é? — Por falar em pequenos problemas, onde está a srta. Nordstrom? Zack se sentou no sofá de frente para a lareira e resondeu, mal-humorado. — Como posso saber? — Não vejo Susan desde antes do almoço — Jake contou. — Nem Mimi. — Eu saí esta manhã. Não vejo ninguém desde o café. — Isso não é bom — Jake caçoou. — O que as três andam tramando? — O que quer que seja, espero que não deixem o umbigo de Olívia de fora. — O quê? — Nada. O som que Zack ouviu indicou aproximação, não afastamento de Jake. — Parece que eu ouvi algo sobre o umbigo de Liv. — Enquanto vagabundeava por aí, caí de cabeça em uma pedra — Zack 3

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respondeu. — Não estou falando coisa com coisa. — Pode ser — Jake concordou e se sentou na outra ponta do sofá. — Zack, o umbigo de liv está perturbando você? Zack estreitou os olhos. — Sei que você tem se esforçado para manter suas mãos longe dela — Jake continuou em tom divertido. — Ela é uma mulher que impõe respeito. Atraente, fina, formada em Yale e tudo mais. Como se não bastasse, é filha do Homem mais popular do país. — Jake tornou-se sério. — Qualquer homem se sentiria intimidado diante dela. Se serve de consolo, acho que ela gosta de você. Não que isso facilite sua situação. Apaixonar-se por uma mulher como Olívia Nordstrom seria o mesmo que tentar segurar um tigre com as mãos. A observação de Jake funcionou como a emissão de um raio. — Você está maluco? Eu não estou apaixonado por ela! — Zack deu um pulo do sofá. — E não tenho a menor intenção de me apaixonar. Jake balançou a cabeça. —Não é pecado se apaixonar por uma mulher excepcional, meu irmão. O pecado é você não acreditar que a merece. O protesto congelou na garganta de Zack. Jake aguardou alguns instantes e continuou: — Se está gostando dela, faça com que fique sabendo. Caso contrário, poderá se arrepender pelo resto de sua vida. — Gostando dela? — Zack não podia acreditar no que estava ouvindo. — Quanto antes ela for embora desta ilha, melhor será! Zack andou de um lado para o outro da sala. Imagens de Liv assaltavam sua mente. Seus olhos, sua boca, seus cabelos, seu sorriso e seu umbigo que acabaria enlouquecendo-o dançavam diante de seus olhos. Mulher alguma tivera o poder de afetá-lo de maneira tão bizarra. Incapaz de se controlar, ele deu as costas a Jake e saiu da sala. Foi de encontro a uma mulher com força suficiente para derrubá-la. Como Susan e Mimi se encontravam ao alcance de sua visão, o corpo macio e curvilíneo em seus braços só podia ser de... — Liv? — Ai! — ela gemeu. — Você está pisando em mim! Ele olhou imediatamente para os pés e deu um passo para trás. Precisava ficar sozinho. O desprezo do pai somado à presença sedutora de Olívia estavam sendo demais para ele. — Desculpe. Eu tenho algo para fazer e... Antes que pudesse se afastar, Susan o segurou pelo braço. 3

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— Não tem nada a dizer sobre os cabelos de Liv? Naquele momento, aturdido com o encontrão, ele não estava em condições de reparar em nada, mas obrigou-se a isso. Olívia estava usando uma saia preta abaixo dos joelhos e um suéter vermelho jogado sobre os ombros. Ao menos uma vez seu umbigo estava coberto e ele não precisou prender a respiração. Agora só faltava examinar os cabelos. Os cabelos pretos e sedosos que roçaram seu peito quando os dois foram parar um nos braços do outro. O que ele viu fez seu estômago dar uma reviravolta. — O que vocês fizeram? Os cabelos estavam curtos e arrepiados. Uma mecha larga e branca nascia de uma das têmporas e parecia acabar na nuca. Ele deu a volta para se certificar. Exatamente como pensara, a mecha ia até a nuca. — Meu Deus! — Zack exclamou, escandalizado. — Não consigo acreditar que vocês duas tenham achado que seria uma boa ideia. Mimi deu risadas. — Você não amou? Zack fez um movimento negativo com a cabeça. — Olívia voltará para a Califórnia na semana que vem e terá de se apresentar à imprensa. Seu pai tem chances de se tornar nosso próximo presidente! — Zack tornou a balançar a cabeça. — Vocês duas perderam o juízo? — Para um hedonista, você é puritano demais, Zack — Liv acusou com as mãos apoiadas no quadril. As unhas estavam pintadas de uma cor tão escura que era impossível não notar. — Você deveria estar aplaudindo minha coragem, não me criticando. — Eu deveria estar lhe dando umas boas palmadas, jovenzinha. Uma coisa é trocar roupas severas por atrevidas, outra é estragar os cabelos. Susan se pôs a rir. Um segundo depois, foi a vez de Mimi. Zack olhou para uma e para outra. Quando tornou a olhar para Olívia, notou que seus lábios estavam se movendo no esforço de não rir. Subitamente, ela puxou os cabelos e a cascata de cabelos negros tombou sobre os olhos. — Era brincadeira! Zack suspirou. Por que ficara tão perturbado com um simples corte de cabelos? — Muito engraçado — Zack resmungou e atacou Olívia para se defender. — Eu sabia que tudo isso era apenas um jogo para você. Você é exatamente o que eu pensei. Um falso espírito livre. 3

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Olívia deu de ombros. — Isso é pior do que ser uma falsa caçadora de aventuras? — Ela fez uma boa pergunta — afirmou Jake ao se juntar ao grupo. Zack não sabia para quem olhair. Não conseguia se comportar de maneira sensata, nem raciocinar desde que Liv chegara à ilha. Era preciso tirá-la dali e de sua vida o quanto antes. A graça já havia acabado. Teria de dar um jeito na pequena srta. Nordstrom de uma vez por todas. A decisão foi tomada naquele instante. Zack colocou um sorriso malicioso nos lábios e piscou para Olívia. — Ok, doçura. Você quer brincar? Então vamos brincar. CAPÍTULO VI Olívia obrigou-se a afugentar o sonho que estava tendo, acordada. Um intenso rubor cobria suas faces. Por que fizera aquilo? Por que despira mentalmente Zack? Por que não conseguia tirá-lo do pensamento desde a cena com a peruca, três horas antes? Zack havia se portado de uma maneira rude, sem razão. Afinal, elas só haviam feito uma pequena brincadeira. Além de tudo, Zack viera, depois, com aquela ameaça. O melhor que tinha a fazer era evitá-lo ao máximo. Estava voltando de uma caminhada pela ilha. Descalça. Um grande progresso em sua opinião, apesar de parecer uma trivialidade aos outros. A decisão fora tomada na último minuto. De short, top e sandálias, ela se olhou ao espelho e jogou as sandálias para o alto. Depois sorriu consigo mesma como se tivesse cometido um ato ilícito. Se fosse sincera consigo mesma, admitiria que as roupas já não a estavam chocando como nos primeiros dias. Chegara ao ponto, inclusive, de se mirar ao espelho e não odiar ver o umbigo de fora. O mar estava calmo aquele dia. Ela estava se sentindo bem ao ver as ondas beijando a areia. Mas nada, absolutamente nada, a fazia esquecer as palavras ameaçadoras de Zack. O que ele quisera dizer com "então vamos brincar"? A insinuação sexual lhe parecia patente. — Liv? Olívia virou-se com ímpeto. Não esperava ouvir a voz de Zack. — Já é hora do jantar? — perguntou, sem saber o que dizer. — Talvez seja melhor eu trocar de roupa. Sim, e colocar a roupa com que chegara à ilha, Zack pensou. — Não há pressa — ele respondeu. 3

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Não adiantava continuar escondendo a verdade de si mesmo. Olívia era linda, adorável e delicada como porcelana. Adorava sua beleza natural, sua pele branca, seu sorriso genuíno. Olívia era diferente da maioria das mulheres que conhecia, cuja beleza havia sido criada ou realçada pelas mãos de um cirurgião plástico. Todos os esforços empreendidos no sentido de ignorá-la haviam falhado. Não sabia que rumo tomar agora. Em vez de aliviá-lo, a tomada de consciência aumentara sua perturbação. Seus longos anos de experiência o haviam ensinado que homens como ele não serviam para mulheres como Liv. Eles eram como óleo e água, fogo e gelo. Até conseguiriam viver uma louca aventura por alguns dias, mas não havia futuro para eles. Após a felicidade e a euforia, viria um grande abalo emocional. Disso ele estava certo. Liv se levantou e encarou-o. Parecia cautelosa mas determinada. Evidentemente esperava que ele lhe contasse o que quisera dizer com "então vamos brincar". Também estava evidente que ela não esperava gostar da resposta que iria ouvir. E que não iria desistir do confronto enquanto não ficasse satisfeita. — Acho que está na hora de tentarmos algo diferente. A expressão receosa permaneceu. — Como o quê? Raspar a cabeça? — Talvez mais tarde. Olívia estreitou os olhos e Zack não conseguiu sufocar um sorriso. — Vamos entrar. O jantar já deve estar pronto. Iremos depois de comer. — Iremos? Aonde? — A Haunted Rock — Zack respondeu, aborrecido com o tom de desconfiança. A ideia, afinal, partira de Olívia. Ele apenas concordara em lhe fazer um favor. Passar a noite em um local deserto faria bem a ela. Olívia precisava fortalecer sua coragem e ele precisava ficar algum tempo longe dela. Com uma casa tão grande, não entendia o porquê de Susan tê-los colocado em quartos vizinhos. Aquilo estava cheirando a algo que ele conhecia como manipulação. — Haunted Rock é uma pequena ilha próxima daqui. Eu a deixarei lá esta noite e voltarei para buscá-la pela manhã. Não há nada como passar algumas horas em total isolamento para que a fera interior se liberte. Assim que terminou de jantar, Olívia foi para o quarto e se deitou. Tentava contemplar o cenário magnífico do pôr-do-sol, mas sua mente estava ocupada demais com o último desafio proposto por Zack. Que não podia recusar. Uma batida à porta a fez respirar, ansiosa. — Sim? — Está na hora. 3

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A frase foi dita como se ela tivesse sido condenada e o carrasco estivesse esperando para levá-la para o local da execução. Sem escolha, ela se levantou e apanhou a mochila onde guardara alguns itens básicos de sobrevivência. Precisava ter em mente que a viagem não oferecia perigo. Ela apenas iria acampar por uma noite em uma pedra no meio do oceano. Um fato corriqueiro. Milhões de mulheres ficariam exultantes com a chance de viver uma aventura como aquela. Olívia engoliu em seco ao se encaminhar para a porta. O som dos passos foi abafado pelo carpete. Estava usando botas, jeans e um suéter justo. Era ridículo ter de usar roupas apertadas e bonitas em vez de folgadas e confortáveis quando ninguém a veria. Mas não deixaria por menos. Zack não podia saber que estava amedrontada. — Liv? — Já vou. A porta foi aberta no instante seguinte. Zack estava sério. Por sorte. Quando sorria, ele ficava ainda mais sexy. E quanto menos olhasse para ele, melhor seria. Zack estava carregando um colchonete enrolado debaixo do braço. O que não deixava de ser um alívio. Ela se sentiria mais tranquila sozinha do que deitada ao lado de um homem como Zack, iluminado pelas chamas da fogueira. — Pronta? — ele perguntou. — Estou, mas em minha opinião, o que você quer que eu faça é mais uma estupidez do que uma ousadia. Ele sorriu, naquele momento, e segurou-a pelo pulso. — Em sua opinião, o que deveria fazer, querida? Olívia fitou-o entre ressentida e excitada. — Por acaso está admitindo, nas entrelinhas, que a ousadia muitas vezes é também uma estupidez? Zack a conduziu pelas escadas. Sua expressão dizia tudo. Ela estava certa ao deduzir sobre a parte absurda do experimento e sobre o desdém com que Zack encarava sua determinação. — Por que olha para mim com esse ar de superioridade? Justamente você que sempre levou uma vida desregrada! — Impressão sua — Zack respondeu sem se abalar com a provocação. — Agora vamos ou eu chegarei atrasado a meu encontro. Era o que faltava para abalar de vez a paz de espírito de Olívia. Mas, por quê? Não havia razão para aborrecimento. Ela queria ser empreendedora e destemida e a prova estipulada não era das mais terríveis. Ninguém, afinal, lhe pedira para se embrenhar na floresta Amazônica. Deveria estar exultante com a possibilidade de testar sua coragem. E não 3

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deveria nem sequer ter se lembrado de Zack. Não tinha nenhum direito sobre ele. E Zack, além de tudo, não era seu tipo. — Você tem um encontro com alguém que eu conheça? — perguntou apesar de todas as ordens em contrário dadas pelo bom senso. — Isto lhe interessa? — Você deveria usar a palavra isso, não isto. Zack apertou os lábios e os punhos. Um instante depois indicou um dos três barcos ancorados. — Iremos neste. — Ele parou diante do primeiro e estendeu a mão para ajudála a embarcar. No barco, a insistência de Olívia em descobrir o nome da pessoa com quem Zack iria se encontrar acabou por irritá-lo. — Acho melhor você se acomodar, srta. Nordstrom. O mar está agitado. Ela se sentou ao lado dele diante do painel de controle e se manteve em silêncio. Zack estava sério. Mas não era apenas concentração que via em seu semblante. Ela havia insultado a inteligência de Zack e ferido seu orgulho. Seria, no fundo, uma pessoa arrogante? Julgava-se mais do que os outros por sua formação? Largou a mochila no banco ao lado e se levantou. Não fora sua intenção magoar Zack, mas a atitude dele denunciava claramente isso. — Desculpe-me — murmurou. — O que disse? — ele falou alto por causa do barulho dos motores. — Eu quero pedir desculpa. — Por quê? — Por aquela pequena desavença sobre o uso do pronome. Não pretendia esnobálo. — Sim, você pretendia. — Em absoluto! E já pedi desculpas duas vezes pelo que houve. Portanto, por que não me responde quem é ela e acabamos com essa história? — Você não a conhece. — Aposto que não. Então, por que não me conta qual é seu nome e o lugar onde se conheceram? — Mary Louise — Zack respondeu, evasivo. — Não sei seu sobrenome. Não a conheço ainda. E uma das amigas de Mimi. — Ela virá à ilha para o encontro? O assunto não lhe dizia respeito. Por que não se poupava os detalhes? 4

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— Não. Eu irei a Portland. — Portland? — Olívia repetiu, espantada. — Não receia ser reconhecido e abordado? Zack fez um movimento negativo com a cabeça. — Vou arriscar. Nenhum dos dois falou durante um ou dois minutos. — E se houver uma emergência? — Olívia perguntou com um fio de voz. — De que você está falando? — Se eu cair e quebrar uma perna, por exemplo. Como farei para avisar você? Zack encolheu os ombros. — Não caia e não quebre uma perna. Olívia fitou-o, assustada. Afinal, que espécie de plano, era aquele? — Gostaria que você se olhasse em um espelho neste momento — Zack caçoou. — Não parece uma mulher pronta para viver uma aventura, mas uma garotinha medrosa que quer chamar o papai. Todo e qualquer sintoma de dúvida ou arrependimento desapareceu sob a explosão da raiva. — E eu gostaria que o senhor engolisse sua língua, sr. Merritt porque eu irei em frente e passarei a noite na ilha. E o senhor, pode ir tranquilo ao seu encontro com quem quer que seja! CAPITULO VII Ao desembarcar em Haunted Rock, o pri-íeiro pensamento de Olívia foi que a experiência não seria tão traumática quanto imaginara. A ilha era linda à luz do dia. E quando anoitecesse, ela se deitaria na praia e olharia para as estrelas até adormecer. Pela manhã, o sol nasceria outra vez e antes que ela se desse conta, Zack estaria chegando para buscá-la. A realidade, infelizmente, não acompanhou a linha de seus pensamentos- Ao ver Zack lidar com os comandos do barco para partir, ela se sentiu abandonada tanto física quanto emocionalmente. Não era justo. Por que deveria passar a noite sozinha no meio do nada enquanto ele se divertia em companhia de outra mulher? A determinação de provar que era forte e capaz de exercer controle sobre sua vida tornou-se maior ainda. Assim, Olívia ajeitou a mochila nas costas, colocou o colchonete enrolado sob o braço e virou-se em direção à ilha. O barulho do motor ecoou pelo ar. Pouco a pouco, o barulho parou. Alguns segundos depois, o barulho voltou e tornou a parar. 4

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— O que está acontecendo? — Ela se viu obrigada a parar e a perguntar. Zack não respondeu. Estava ocupado demais com o painel de instrumentos. Barulho... Silêncio. Barulho... Silêncio. Olívia percebeu logo que algo estava errado. Largou os objetos na areia e voltou para o barco. Não hesitou ao entrar novamente no mar. Já estava com o jeans molhado até a cintura por ter saltado do barco quando ainda faltavam alguns metros para alcançarem a terra firme. A bordo, sentou-se no mesmo assento de antes e olhou para Zack que não parava de girar a chave e produzir um fraco estalido. — Algum problema? Ele virou-se, irritado. — Não. Está tudo em ordem. Não deu para perceber que o motor não funciona? Olívia fez uma careta diante da resposta sarcástica e mal-educada. Se fosse sincera consigo mesma, porém, admitiria que estava mais contente do que preocupada com a pane no motor. Aquilo significava que o encontro com a tal mulher seria impossível. — Pelo jeito, você ficou sem bateria. — Ah, então além de maga das finanças e professora de gramática, você também entende de mecânica? — Um pouco — Olívia respondeu após dar um suspiro de resignação. — Tive algumas aulas sobre o funcionamento de carros na época do colégio. Se motores de barcos obedecem ao mesmo padrão de funcionamento, esse barulho indica bateria descarregada. — Muito bem. E o que a perita em motores sugere que eu faça? — Zack insistiu na ironia. — Se algum barco aparecer por aqui, poderemos rebocá-lo e... coisa.

— Não há outros barcos por aqui — Zack a interrompeu. — Pense em outra

— Trocar a bateria? — Olívia indagou com um sorriso de desalento que disfarçava uma grande satisfação. — Imaginei que você fosse o guru dos barcos. Tem certeza de que não lhe ocorre nenhuma solução? Como Zack não respondesse, Olívia tentou outra ideia. — O que acha de chamar ajuda? Zack fez um movimento negativo com a cabeça. — O rádio não funciona sem a bateria. A voz da consciência começou a chamar Olívia. Ela não queria que Zack a 4

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deixasse sozinha para ir ao encontro de outra mulher. Sabia, por outro lado, que nada de bom poderia advir de uma noite a sós com ele. — Trouxe meu celular comigo para o caso de uma emergência — disse por fim. Antes de se virar para voltar ao local onde deixara a mochila, Olívia surpreendeu um olhar estranho por parte de Zack. Não dava para adivinhar se era de satisfação pela sorte inesperada ou de zombaria por ela ter se precavido. Antes que Zack decidisse acusá-la por sua dependência das facilidades modernas, Olívia se afastou. Mas o ataque foi apenas adiado. Bastou digitar alguns números para ela descobrir que não havia sinal. — Acho que não adiantou eu trazer o celular — Olívia confessou. — Não consigo ligar para ninguém. — Erá o que eu temia — Zack lamentou. — Acho que não tenho alternativa a não ser tentar consertar o maldito motor. Enquanto Zack descia para verificar a parte inferior do barco, Olívia espreguiçou-se na poltrona e riu alto. Deveria estar aborrecida, mas não. A noite estava caindo e a lua já despontava, cheia e linda. E Zack estava com ela. Como um problema tão sério podia ter acontecido? Com tantos seguranças e pessoas especializadas em mecânica na ilha Merritt, como lhe entregaram um barco sem pon-dições de cobrir um trecho tão pequeno? Sem saber o que fazer, Zack deitou-se no beliche e cruzou as mãos sob a nuca. Não deveria ter deixado aquele recado a Mimi sobre não ter certeza se iria ao clube encontrar Mary Louise e um grupo de amigos. Dera a desculpa de sempre sobre querer evitar o assédio da imprensa e agora, nem Mimi nem ninguém se preocuparia caso ele não aparecesse tanto em casa quanto no clube. Era um tolo. Sair um pouco para beber e conversar com os amigos teria sido o princípio de sua cura com relação à adorável e brilhante primeira filha. O destino deveria estar tramando algo. Só podia ser isso. Lá estava ele, de novo, completamente a sós cora Olívia Nordstrom! Qual a razão dessa prova? Seria um castigo por sua auto-indulgência durante anos, pelo tipo de vida que levara? Ao pensar em Liv, Zack a imaginou deitada na areia, encolhida de medo cada vez que ouvia o ruído das folhas balançando à brisa ou o piado de alguma ave noturna. Fechou os olhos com força para espantar a visão, mas ela se recusou a ir embora. Conhecia Olívia o suficiente para saber que ela não daria o braço a torcer. Ela não gritaria por socorro nem sequer se o fantasma da ilha resolvesse aparecer para assombrá-la. Ele e os irmãos haviam acampado em Haun-ted Rock quando eram crianças e não viram o fantasma que vivia ali, segundo a lenda local. Mas e se Olívia entrasse em pânico e se atirasse ao mar? Um arrepio de medo o fez sentar. — Quem 4

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será o culpado se algo de ruim acontecer a Liv? — Zack falou consigo mesmo. Um minuto depois, estava caminhando pela praia. Tinha certeza de que encontraria Olívia adormecida, mas não teria sossego enquanto não verificasse. Jamais se perdoaria se em seu afã de lhe dar uma lição, acabasse lhe causando algum mal. Um som alto e agudo o fez parar. Instintivamente escondeu-se atrás de um arbusto e aguardou. Aquele grito não era de um pássaro. E ele se repetiu, deixando-o tenso e ainda mais alerta. A noite estava clara e ele não demorou para localizar o saco de dormir. Mas não havia ninguém dentro. O grito seguinte o fez olhar em direção ao mar. Havia algo ali se movimentando. Algo muito branco e... — Nua... — Zack murmurou. — Liv está nadando nua!

Zack engoliu em seco e se deixou cair na areia. Ela estava morna ainda, mas seu calor não se comparava com o fogo de volúpia que o abrasava. Não podia estar apaixonado por Liv. Não queria pensar nisso. Para ela, ele não passava de um feixe de músculos sem cérebro. O fiasco com o barco deveria ter agravado sua situação. Por outro lado, o que ele podia fazer? Uma mágica que tirasse baterias novas do ar? Escondeu o rosto com as mãos para não cair em tentação ao ouvi-la rir alto. Rolou em seguida para se colocar de bruços. Mas, nessa posição, ele abriu os olhos e percebeu que havia se afastado da proteção do arbusto. Olívia mais adivinhou do que viu o movimento. O instinto a fez se ajoelhar e se proteger sob a água. Espreitou na noite e teve certeza de que havia utna sombra correndo e desaparecendo atrás de uma pedra. Uma onda silenciosa a derrubou. Esfregou os olhos e procurou se acalmar. Não havia razão para pânico. Zack também estava na ilha. O problema era que ela conhecia o modo de andar de Zack e aquela sombra não tinha nada a ver com ele. Seria o fantasma da ilha? Um estremecimento a fez abraçar-se. A água estava fria demais para abrigá-la por muito tempo. Além disso, ela não acreditava em fantasmas. Correu em direção ao saco de dormir que estava mais perto do que suas roupas e enrolou-se nele. Precisava alcançar o barco, agora, a qualquer preço. Zack estava lá. Se a entidade era um animal ou um ser de o;itro mundo, ela queria estar junto com alguém alto e forte. Mesmo que Zack não pudesse fazer nada, ao menos não estaria sozinha. Subiu com dificuldade no barco por causa da indumentária. Teria sido mais 4

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prático largar tudo, mas o pudor a obrigara a escolher o caminho mais penoso. Uma vez a bordo, Olívia desceu para o porão e se atirou nos braços de Zack. — Oh, Zack — murmurou, quase sem fôlego. — Havia algo ou alguém na praia me espionando. Ele estava sentado no beliche e a atraiu de encontro ao peito. Ela notou sua hesitação mas não se importou. Estava assustada demais e precisava do refúgio de um abraço para se acalmar. Ele pigarreou, mas Olívia não o deixou falar. — Por favor, não diga nada. Sei que não deveria estar aqui. Tenho certeza de que foi apenas minha imaginação. Mas não suportarei se caçoar de mim. — Fique quieta, Liv — Zack ordenou. Perplexa com a veemência, Olívia afastou-se e encarou-o. Antes não o tivesse feito. Ao luar, as feições de Zack estavam ainda mais bonitas e a preocupação o fazia parecer mais suave e gentil. Ela não saberia explicar o porquê mas naquele instante soube que era Zack o homem de sua vida. O homem a quem ela queria se entregar de corpo e alma. Sem resistir ao impulso que a dominou, Olívia enlaçou-o pelo pescoço e beijou-o. O que só agora se dera permissão a admitir, já era uma realidade desde o dia que Zack a salvara. Amava-o. As diferenças que existiam entre eles e que causaram vários transtornos durante todo aquele tempo não haviam conseguido mantê-los separados. Zack era o único homem capaz de tirá-la de sua concha e de transformá-la em uma mulher feliz. Zack lutou com todas suas forças para resistir à doçura do beijo de Olívia. O colchonete deslizou por suas costas e ele não conseguiu manter suas mãos afastadas por muito tempo daquela pele de veludo. Os lábios macios de Olívia o provocavam sem trégua. Ele começou a suar frio. Vinha lutando contra seu desejo por Olívia desde a troca do primeiro beijo. As carícias que Olívia lhe fazia na boca foram aumentando de intensidade. Seu corpo foi pressionando o dele e, de repente, ele sentiu os seios pressionando seu peito. O colchonete havia escorregado por inteiro. Nada mais se interpunha entre eles exceto a roupa que ele estava usando. O bom senso ordenou que parasse antes que perdesse de vez o controle. Seus lábios, porém, se recusaram a obedecer e ele correspondeu com toda força de seu desejo. Embora seus olhos estivessem fechados, Zack via fogos de artifício celebrando um mundo de promessas e esperanças. 4

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A linguagem do beijo e do corpo de Olívia era clara. Era uma mensagem ardente de que ela estava pronta para o amor. Ele conhecia os sinais. Assim como era capaz de enxergar o futuro e o momento que Olívia voltaria aos salões da nata da sociedade que se reuniam em Park Avenue, Beacon Hill e na Casa Branca. Naquela noite, Olívia não estava em condições de enxergar além daquele barco e daquele ilha perdida. A responsabilidade era dele. Olívia era uma mulher diferente das outras. Nenhuma outra lhe despertara um desejo tão intenso e ao mesmo tempo o fizera sentir tão inferior é indefeso. Ele não tinha capacidade para lidar com as emoções conflitantes que o assaltavam cada vez que estava perto de Olívia. Acima de tudo, não podia se deixar levar por uma fantasia. O que, afinal, tinha a oferecer à filha do senador a não ser uma lista de todos os meios de transporte que sabia conduzir com velocidade? Olívia deitou a cabeça em seu pescoço e passou a lhe beijar os ombros. Depois ergueu o rosto e sussurrou em seu ouvido: — Faça amor comigo, Zachary. Um pedido como aquele derreteria um iceberg. Zack, contudo, estava quente e alerta como nunca estivera antes. Com um profundo suspiro, segurou-a pelos braços e afastou-a. — A sombra que te assustou era eu — confessou, incapaz de continuar enganando-a. — Era eu o degenerado que a estava espionando atrás de um arbusto. A paixão naqueles olhos se transformou em choque. — O quê? Incapaz de sustentar aquele olhar de decepção, Zack baixou a cabeça. Os seios alvos e perfeitos encheram sua visão. Imediatamente ele tornou a erguer o rosto. Os olhos de Olívia estavam muito abertos. Um instante depois ela deixou escapar um gemido. Zack fechou os olhos e se preparou para levar um tapa que nunca aconteceu. Os passos de Olívia a levaram para o deque e depois para fora do barco. No silêncio que se seguiu, Zack sentou-se e escondeu o rosto com as mãos. Não estava se sentindo bem. Até aquela noite, ele nunca havia conhecido a frustração sexual. Era uma experiência que não desejava a ninguém. CAPITULO VIII Olívia nunca havia se sentido tão humilhada em sua vida. Quantas vezes era preciso se sujeitar à rejeição de um homem antes de entender que ele não queria nada com ela? No caso de Zack, obviamente, uma vez não fora o suficiente. Sentou-se na areia, abraçou as pernas e ficou olhando para o mar. Não sabia identificar as horas pela posição do soL Talvez fossem oito horas, mas também 4

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poderiam ser nove- ou dez. A vida atribulada não lhe permitia olhar muito para o céu. Ainda não havia amanhecido quando ela tomou seu desjejum. Uma refeição leve e frugal de sanduíche de manteiga de amendoim e uma maçã. O quarto de copo d'ãgua que sobrara estava morno e intragável. O único lance de sorte naquela situação era justamente a raiva insana que a invadira pelo insulto de Zack. Caso contrário, estaria faminta pois mal conseguira engolir um grão de ervilha na noite anterior. Furiosa consigo mesma por ter agido como uma tola, Olívia se pôs a andar pela praia e a falar sozinha. — Ele não perde por esperar. Não teve coragem para aparecer a minha frente até agora, mas quando nos encontrarmos, eu... — Você... Zack era a última pessoa na galáxia que Olívia queria ver naquele momento. De calça jeans molhada e torso despido e coberto de gotas d'água douradas pelo sol, ele estava irresistível. Principalmente com aquele sorriso nos lábios... — Está com fome? — ele perguntou. — Não — ela respondeu, cabisbaixa, — Lembra-se do que aconteceu quando chegou à ilha? — Zack insistiu. — Precisa se alimentar bem. — Eu sei disso. Mas você está vendo algo ao nosso redor exceto areia e árvores? Ou há provisões em seu barco, talvez? — Encontrei dois pepinos em conserva na geladeira. Foi meu café da manhã. — Você comeu os dois? Que esganado! — Olívia tentou brincar, mas não conseguiu sorrir. Zack fitou-a em silêncio por um momento. Depois continuou com a provocação. — Tentou pedir uma pizza? — Adoro boas piadas. Por que não continua tentando? De repente, pode me fazer rir. — Quando estamos à mercê da natureza, sem os confortos da vida moderna, srta. Nordstrom — Zack a segurou pelo braço —, precisamos lutar por nossa sobrevivência. — Aonde você está me levando? — Olívia tentou se desvencilhar em vão. Ele indicou alguns galhos secos. — Em primeiro lugar, é preciso fazer uma fogueira. Depois tentaremos pegar alguns mariscos. — Eu não comeria mariscos crus e sem tempero por dinheiro algum! — Olívia 4

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exclamou, enojada. — Se não formos resgatados dentro de algumas horasf você comerá qualquer coisa que aparecer — Zack retrucou. — Algas também. Aliás, você pode procurar algumas enquanto eu saio atrás dos peixes. — Você está brincando! Com que pretende pegar os peixes? Com as mãos? — Exatamente. Seria mais fácil se eu contasse com uma vara, um anzol e iscas, é claro. Enquanto falava, Zack quebrava galhos de árvores e juntava gravetos. — Você também pode procurar lapas, ou escargots dos pobres, como são conhecidas. Como alimento de sobrevivência, esses moluscos até que são bons. — Prefiro comer areia — Olívia resmungou. — Eu não recomendaria isso — Zack respondeu, divertido. — A propósito, você ainda tem água? — Um pouco. — Otimo. Precisaremos de água quando formos lavar os peixes. rosto.

— O que está querendo dizer com formos lavar os peixes? — Olívia franziu o

— Que você está escalada para me ajudar a limpá-los — Zack explicou e deu uma piscada. — Estou certo, srta. Nordstrom, ao dizer que estou detectando um súbito desânimo de sua parte? Antes que Olívia pudesse responder, Zack endireitou as costas e apoiou as mãos na cintura. — Estou em perfeitas condições para fazer tudo sozinho, se você não se sentir com capacidade para executar essas pequenas tarefas. Depois, contudo, quando sairmos daqui, não se recuse a admitir que nunca foi e que nunca será uma mulher de coragem. Combinado? Olívia ficou muda diante do discurso frio e impiedoso. Era o que Zack ansiava por fazer, sem dúvida, desde o instante em que ela pusera os pés em Merritt Island. Ou seria uma espécie de vingança por causa da noite anterior? A humilhação e o ressentimento tornaram a invadi-la. — Não farei nenhum acordo com o senhor, sr. Merritt. Dê-me este maldito canivete e me mostre onde encontrar os tais bichos. Olívia teve o prazer de notar que Zack não contava com esse tipo de reação. Ele hesitou antes de entregar o canivete. — Não vá se machucar. 4

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— Apenas me indique o lugar, está bem? Zack apontou para os pés de Olívia. — É melhor tirar os ténis. Os moluscos vivem na água. Aliás, seria recomendável que você também tirasse o jeans. — Esqueça. Durante longos trinta minutos, Zack mostrou como caminhar pela água sem fazer nenhum ruído que pudesse afugentar os habitantes do mar, e como desgrudá-los das rochas com o auxílio do canivete. Olívia podia ser formada em Yale, mas sentiu-se uma criança de jardim-de-infân-cia ao receber as instruções. Jamais sonhara que um dia pudesse se encontrar em uma situação como aquela. Tampouco imaginara que um homem pudesse antipatizar tanto com ela a ponto de evitar tocá-la e até mesmo esbarrar em seu corpo. Zack queria distância dela. A maior possível. Se colocasse uma faixa no peito com os dizeres "Afaste-se", ele não seria mais claro. E justamente para não piorar ainda mais sua imagem, Olívia estava determinada a enfrentar todos os desafios que lhe fossem propostos. Se Zack a mandasse capturar e matar uma cobra, ela o faria! Estava envergonhada das peripécias fracassadas quando tivera de ser salva por ele. Naquele momento, estava jurando a si mesma que não continuaria a ser um fardo para Zack enquanto durasse seu cativeiro em Haunted Rock e.em Merritt Island. Entrou no mar munida de sua bolsa de brim. De acordo com Zack, os moluscos precisavam ser conservados em água no mínimo trinta minutos antes de serem cozidos. Com a alça apoiada no ombro, metade da bolsa ficava submersa. Era a embalagem ideal para a tarefa que tinha pela frente. Mal vislumbrou a primeira lapa, Olívia abaixou-se para retirá-la com o canivete. Antes que terminasse a operação, algo tocou sua perna e a fez dar um pulo de susto juntamente com um grito. — O que foi? — Zack quis saber. Ela não podia dizer que era uma simples alga. Precisava pensar rápido. Zack estava com os braços carregados de gravetos. Não queria que ele largasse tudo por acredtar que tinha de salvá-la novamente. — Nada. Apenas uma serpente venenosa do mar. Eu a afugentei com meu grito quando a vi se preparando para dar o bote. Deu para ver a expressão desconfiada de Zack. E um sorriso em seguida. Antes que ela se perdesse em contemplação daqueles músculos rijos brilhando ao sol, voltou a se concentrar no molusco. Olívia flagrou-se olhando para Zack diversas vezes durante a manhã. Ele estava sempre ocupado com alguma coisa. Uma hora estava apanhando algas, outras 4

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procurando ouriços do mar. Mas não olhou para ela nem sequer uma vez durante todo esse tempo. — Conseguiu apanhar alguma alga?—Zack perguntou após algum tempo. A aproximação foi tão inesperada que Olívia deu um passo para trás e quase perdeu o equilíbrio. — Sim, senhor. Conforme suas instruções, coloquei-as no saco plástico onde meu sanduíche estava embrulhado. — Muito bem. Agora pode sair da água e acender a fogueira. Vou pescar lá adiante. Não ouse fazer barulho ou me seguir. Oíívia suspirou para não praguejar. — Duvido que consiga pegar algum peixe só com as mãos. Ele se limitou a erguê-las para provar que não estava levando nenhum equipamento e já estava a alguns metros de distância quando Olívia se lembrou de perguntar se ela também teria de acender a fogueira com as mãos vazias. — Deixei uma caixa de fósforos ao lado dos gravetos. Só terá o trabalho de encontrá-la e de riscar o palito. Olívia se afastou pela areia resmungando consigo mesma. Talvez não conseguisse ganhar uma medalha ao final daquele curso tardio de escotismo, mas tinha certeza de que merecia um prémio por sua paciência. Por mais que se obrigasse a não olhar na direção que Zack tomara, Olívia surpreendeu-se observando-o uma porção de vezes. Zack estava deitado de bruços sobre uma pedra com um braço mergulhado no mar. Estava tão imóvel que nem parecia respirar. Quinze minutos depois o fogo estava crepitando e Zack continuava imóvel como uma estátua. Seu autodomínio era invejável. Ela não conseguia permanecer na mesma posição mais do que três ou quatro minutos sem se sentir desconfortável. Cansada de ficar sentada sem fazer nada, vigiando um fogo que não precisava de vigilância, Olívia se levantou para dar uma caminhada. A areia estava morna sob seus pés. O sol a aquecia sem queimar ou provocar calor. Se não fosse o estômago roncar de fome, estaria se sentindo ótima. Ela percebeu que seus passos estavam levando-a em direção a Zack, mas não fez nada para impedi-los de prosseguirem. — Sabe, Zack — falou baixinho para não espantar os peixes —, eu não chamaria esta permanência na ilha de uma grande e ousada experiência. — Eu disse para você não vir aqui — Zack esbravejou, tão baixinho quanto ela. — Foi preciso. Quero tentar pescar também. — Procure outro lugar. 5

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— Não adianta. Não sei o que fazer. — Em primeiro lugar, fale mais baixo! Olívia mordeu o lábio e se deitou a exemplo de Zack. Depois esperou em vão pelas instruções. Obrigada a desistir da pesca, pois ele nem sequer se dignou a virar de frente para fitá-la, Olívia apoiou o cotovelo sobre a rocha e aproveitou para admirar o corpo másculo e bronzeado. Contra sua vontade, sentia-se cada dia mais atraída por Zack. Suas mãos clamavam por tocar aqueles cabelos, aquelas costas... Antes que se desse conta do que estava fazendo, Olívia havia rastejado para perto dele. — O que está fazendo? — Zack perguntou. Foi o bastante para ela voltar a si. — Eu? Nada! Zack respirou fundo. — Por favor, Liv, já está sendo muito difícil sem você... — Sem eu o quê? — Por favor, fique quieta. Ela voltou para seu lugar, corada de vergonha. Em seguida, pensou que sua única saída era tentar iniciar uma conversa sobre o tema que estavam tratando. — Como aprendeu essa técnica de pescar? — Um velho havaiano me ensinou. Aia a kau ka Fai ka wa'a, mana'o ke ola. — O quê? — Olívia perguntou, atónita. Tanto tempo de imobilidade teria afetado o juízo de Zack? — É um provérbio havaiano que diz que só podemos pensar na vida depois que o peixe estiver na canoa. — O que significa? — Em poucas palavras, que é preciso calar a boca até pegarmos o peixe. A ordem não foi obedecida por mais do que alguns minutos. — Olhe, Zack — Olívia sussurrou. — Desista do peixe. Temos o suficiente para comer. Um movimento brusco e inesperado a deixou momentaneamente paralisada. Alguns segundos depois, Zack se sentou com um sorriso nos lábios e um peixe na mão. Surpresa, Olívia sentou-se em seguida. — Você conseguiu! Você realmente apanhou um peixe com as próprias mãos! — Ela se projetou para a frente e enlaçou Zack pelo pescoço. — Incrível! A euforia de Olívia não era por causa da comida em si, mas pela proeza de Zack.

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__Não esquecerei o que vi enquanto viver — ela garantiu e beijou-o impetuosamente na face. O arrependimento chegou tarde. Quando deu por si, Olívia se afastou. Zack estava olhando, sério, para ela. — Por que você tinha de vir até aqui? — ele indagou entre os dentes e antes que ela pudesse responder, apossou-se de seus lábios em um beijo brusco e apaixonado. CAPITULO IX O beijo lhe roubou o fôlego. Fogo líquido se espalhou por suas veias. Incapaz de resistir ao desejo que a inundou, Olívia abandonou-se ao aconchego daqueles braços que a estreitavam. Suaves ou voluptuosos, os beijos de Zack eram diferentes de todos que ela já experimentara. Aquele era o momento. Queria fazer amor com Zack sob o sol, em plena luz do dia, em total abandono e êxtase. Seria maravilhoso. Seria o ponto máximo de sua transformação. Um gemido, contudo, a fez se afastar. — Não, Liv. Isso não pode acontecer. Você precisa de alimento, não de sexo. Atordoada, Olívia retirou lentamente seus braços do pescoço de Zack. Uma dor profunda apertava seu peito. Mas em vez de chorar ou de calar sua mágoa, protestou: — Por que fez isso? — Efeito do sol, eu acho — ele resmungou. — Pegue a água e vamos continuar com os preparativos. Preciso limpar o peixe. Ele estendeu a mão para que ela lhe entregasse o canivete. Olívia não saberia dizer quanto tempo levou para se recuperar do choque. Suas mãos estavam tremendo. O raciocínio estava confuso. Ao dar por si, eles já estavam comendo as lapas e as algas preparadas sobre as pedras que Zack colocara sobre a fogueira. E a comida, ela teve de reconhecer, estava muito melhor do que esperava. O peixe ainda não estava pronto. Continuava sobre o fogo, protegido por um galho verde. O aroma estava muito bom. Ela que nunca fora uma grande fa de pescados, teve de reconhecer que estava com vontade de prová-lo. — Gostou? — Zack quis saber quando Olívia deu a primeira mordida. — Não está mau. — O que Zack esperava depois do que acontecera? Que ela fosse elogiar seus dotes culinários? Se fosse honesta, porém, diria que a refeição estava saborosa e que estaria perfeita se não faltassem os temperos. Uma brisa soprou sobre seus cabelos e ela ergueu o rosto para o céu. Estava tranquila e feliz. A ilha era bonita, o sol estava brilhando, o cheiro do fogo e do peixe 5

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eram reconfortantes. O dia seria magnífico se não fosse Zack... Olhou para ele no instante que a chamou para servir mais algumas lapas. Zack parecia ter nascido para ajudá-la nos momentos difíceis. Ele salvara sua vida. Agora estava alimentando-a quando ela não teria encontrado recursos, se estivesse sozinha. Obrigou-se a parar de pensar nas qualidades de Zack. Era em seus defeitos que precisava se concentrar. Uma gaivota sobrevoou a ilha e atraiu a atenção de Olívia. Quando tornou a olhar para baixo, surpreendeu Zack entregando-lhe o peixe. — Não leve em consideração a pele queimada. A carne está tenra e úmida. Ela agradeceu, mas em vez de provar, ficou olhando para Zack, distraído com as ondas. Ou seria o caso de ele estar evitando encará-la? O beijo voltou à memória de Olívia. Por que Zack a beijara? Para lhe ensinar mais uma lição? Sobre tomar cuidado com o que pedir porque seu desejo pode ser atendido? Para que ela soubesse que estava brincando com fogo e que ele estava se queimando? O modo como Zack a abraçara lhe dava a impressão de que ele também havia perdido o controle sobre si mesmo. Mas não tanto! O beijo, afinal, não havia durado mais do que alguns segundos. Se havia provocado danos, Olívia pensou naquele instante, como ela se sentiria se a rejeição acontecesse depois de um ato pleno de amor? Um soluço tentou escapar de sua garganta, mas ela o sufocou. A lição, talvez, tivesse sido uma bênção. Talvez ela precisasse dessa última demonstração de desinteresse para perder de vez a ilusão. Longos minutos passaram com Olívia sentada em silêncio, tentando fingir que estava sozinha. Apesar de estar a seu lado, Zack não se movia nem afastava seus olhos do mar. — Não está com fome? — Olívia acabou perguntando quando não suportou mais a tensão. Elevirou-se lentamente para ela e encolheu os ombros. — É você quem está doente e precisando se alimentar bem. Zack.

Olívia dobrou as pernas e abraçou-as como se isso a protegesse da frieza de — Não seja bobo. Há comida de sobra.

— Peguei o peixe para você. Trate de comê-lo. Olívia apoiou o queixo sobre os joelhos e franziu o rosto. 5

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— Não seja teimoso. Não comerei enquanto você não pegar ao menos uma porção do nosso almoço. Experimente as algas. Ao contrário do que eu pensava, o gosto é bom. Lembra aspargo. — Eu sei, mas não estou com fome. Olívia não saberia explicar o porquê de tanta determinação. De repente, era imprescindível que Zack se alimentasse. — Não seja criança. Você também precisa comer. — Não ouviu o que eu disse? — Zack protestou. Olívia pegou uma lapa e a colocou junto à boca de Zack. — Ou você come, ou jogarei o peixe, que você teve tanto trabalho para pegar, de volta ao mar. — A primeira regra de sobrevivência é não desperdiçar comida. — Exatamente — Olívia concordou. Zack apertou os lábios quando Olívia insistiu em lhe dar o molusco. — Não estou com disposição para brincadeiras — Zack respondeu malhumorado, e virou a cabeça. Olívia hesitou. Um instante depois, decidiu o que fazer. — Zack... Ele fitou-a. Quando abriu a boca para perguntar o que ela queria, Olívia empurrou a comida, — Trate de engolir! Zack tentou escapar. Quando inclinou-se para trás, Olívia empurrou-o pelo peito e ficou por cima. — Você fez de minha vida um inferno nos últimos dias com a desculpa de que estava me ajudando a sair da concha. Seu método deve ter funcionado. Decidi que você tem de comer e não te darei descanso enquanto não alcançar meu propósito. Zack tentou falar, mas não pôde com Olívia segurando sua boca. Ela se pôs a rir, sem saber por quê. Talvez por causa da cócega na palma de sua mão. Talvez pela sensação de poder por estar sentada na barriga dele, impedindo-o de se mover. Talvez por estar se sentindo livre como nunca se sentira antes, naquela praia deserta, ao sabor do sol e do vento. Ou, talvez, tivesse a ver com o beijo. Não importava. — Ou o caso é outro e você não tem coragem para engolir esse negócio? — Olívia o desafiou. Naquele instante, Zack conseguiu prender os pulsos de Olívia e ela percebeu que seu controle sobre ele estava por terminar. — Zack, espere! — gritou ao detectar o brilho de rebeldia nos olhos dele. 5

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Deveria ter adivinhado que a natureza humana não aceita um ataque com passividade. Zack afastou suas mãos. Sem o apoio, ela caiu sobre ele e as posições inverteram. Quando deu por si, estava deitada sobre a areia, com os olhos voltados para o céu e para Zack. — Então, srta. Nordstrom? Ainda quer me obrigar a comer? Olívia demorou alguns instantes para responder. Estava fascinada pela posição sexual que se encontravam, com Zack por cima dela. O problema era que Zack a considerava sua prisioneira, não sua amante. — Você comeu o molusco? — perguntou, por fim. — Sim. Depois que consegui superar a falta de ar, é claro, porque o tal molusco ficou entalado em minha garganta. Envergonhada do que fizera, Olívia não conseguiu sustentar o olhar de Zack. — E isso que acontece com quem é teimoso... — balbuciou. Em vez de responder, Zack se limitou a encará-la. Perturbada com o silêncio e incomodada com a areia grossa que espetava seu pescoço e seus braços, Olívia deixou escapar um gemido. — O que foi? — Zack quis saber. — Nada. Zack se recusava a soltá-la. Ela tentou olhar para o mar e não para ele, mas não conseguiu fazer isso por muito tempo. — Deixe-me sair daqui, por favor. Antes de descobrir se Zack atenderia seu pedido, eles foram interrompidos por uma voz masculina. — Ora, vejam! Cheguei em má hora? Zack praguejou ao reconhecer a voz do irmão, Jake. — Por que demorou tanto? — indagou, zangado. — Todos os encarregados da segurança da ilha estão mortos? — Em seguida, ele se levantou e estendeu a mão para ajudar Olívia. Até que Jake se aproximasse, eles já haviam limpado quase toda areia de seus corpos. — Já deu para perceber que o acidente não mudou o clima entre vocês — Jake observou com ar de malícia. Com o cenho franzido, Zack se limitou a declarar que Olívia estava precisando ser retirada logo dali. Sentia-se um crápula por ter evitado olhar para ela. Olívia estava queimada. Sua pele deveria estar ardendo muito. Jake examinou-a e estreitou os olhos. 5

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— Céus, Zack, com queimaduras como essas nas partes expostas do corpo, como pôde obrigá-la a ficar deitada na areia? — Eu... — A culpa foi minha — Olívia explicou. — Eu o ataquei. — Você? Olívia apontou para os alimentos perto da fogueira. — Eu quis forçá-lo a comer. Com um movimento que sugeria compreensão, Jake a acompanhou de volta ao barco. Zack os seguiu, furioso consigo mesmo. Como pudera beijá-la e quase se entregar ao desejo de lhe fazer amor quando sabia que estava fraca e precisando de tratamento? Mas a lição fora aprendida. Até que Liv fosse embora da ilha, ele se recusaria a seguir com aquele jogo de transformá-la em uma mulher ousada e destemida. Por mais que quisesse mentir a si mesmo, gostava de Olívia e se preocupava com ela. — Você não viu nem ouviu? Jake estava olhando para ele. — Se eu não vi nem ouvi o quê? — Os aviões. — Que aviões? Eles se aproximaram do local onde haviam deixado o barco e viram a embarcação que era usada pela vigilância da ilha. Dois homens estavam consertando, aparentemente, o motor quebrado. — Jornalistas... Por um instante, Zack se distraiu e não entendeu a conversa. — Que jornalistas? — Eles descobriram o paradeiro de Olívia. Estão sobrevoando a ilha desde o início da manhã. É de admirar que você não tenha escutado nada. — Jake piscou e Zack recebeu a mensagem. Era como se o irmão estivesse dizendo que entendia que ele e Olívia tinham se mantido ocupados demais para perceberem alguma coisa. — Como será que eles descobriram? — Olívia perguntou a Jake. — E verdade — Zack concordou, sarcástico. — De quem será a culpa? Olívia quis se defender, mas antes que pudesse dizer algo, Zack a ergueu nos braços. — Ei, o que está fazendo? Coloque-me no chão! — A água salgada fará sua pele arder ainda mais. E ao menos disso, a culpa é minha. 5

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— Você está realmente me culpando pela presença dos jornalistas? — Olívia indagou, perplexa. Um helicóptero surgiu de trás de uma colina como se fosse uma fera se preparando para dar o bote. — Eu não disse que a culpa era sua — ele respondeu. — A culpa pode ser de seu encontro de ontem à noite — Olívia insinuou. — Talvez ela não tenha gostado de ter ficado plantada. — O interesse deles está centrado em você, não em mim — Zack se justificou. — Está querendo dizer que a informação vazou dos escritórios de meu pai? A possibilidade havia passado pela mente de Zack, Como ele não negasse, Olívia ficou ainda mais zangada. — Nenhum assistente de confiança de meu pai o trairia em troca de publicidade barata. — Talvez não seja publicidade que desejam, mas um segredo. Políticos muitas vezes jogam sujo para derrubarem seus adversários. — Aonde está querendo chegar? — Olívia perguntou com o rosto franzido. — Seu pai é conhecido como o guardião da família e da moral. Alguém pode estar espionando você para atingi-lo. Como não conseguiram denegrir sua imagem, estão tentando ligá-la a mim, um playboy inveterado segundo minha fama. Olívia pestanejou. Zack calou-se, sem entender o porquê de sua preocupação com a mulher que ainda conservava em seus braços. — Você acha? — Olívia murmurou. — Nesse caso, não é uma pena que eles não tenham tirado fotos de nós ontem à noite? — Ou esta manhã? — Zack falou consigo próprio depois que Olívia se afastou e desapareceu em direção à cabine. Uma pequena risada fez Zack virar abruptamente. — Por que não me diz, maninho, o que aconteceu ontem à noite... e hoje de manhã? Zack fechou os olhos, apertou os punhos e contou até dez. CAPÍTULO X Olívia mirou-se ao espelho. A exposição ao _ sol no dia anterior emprestou-lhe uma cor saudável. Bem, talvez o nariz estivesse um pouco mais saudável do que o resto do rosto, mas não tanto que a fizesse parecer uma rena de Papai Noel. O que quer que fosse que Marc lhe dera para refrescar a pele, o resultado fora milagroso. Seu bronzeado, contudo, deveria ser o único fator positivo nó episódio chamado Haunted Rock. O telefonema de Jerry Skelton, naquela manhã, fora o primeiro dos 5

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muitos inconvenientes. Para ele, a foto de Zack carregando-a nos braços, fora ofensiva. E ele estava certo. A publicação em caráter nacional o fizera parecer um mentiroso depois da declaração que dera aos jornais de que ela e Zachary Merritt não estavam noivos. A manchete, afinal, não poderia ser mais desafiadora: Eles Estão Ou Não Estão Noivos? E a indignação cie seu pai não poderia ter mais fundamento! "O que minha filha estava fazendo em companhia daquele inútil quando deveria estar sob cuidados médicos?" Olívia não tinha desculpas para dar nem a seu pai nem a Jerry, embora não devesse explicações ao gerente da campanha. Ninguém podia responsabilizá-la pela declaração que ele dera! O fato de Jerry pensar que um dia ela poderia aceitá-lo como noivo não lhe dava o direito de se intrometer em sua vida. Por quê, então, você não disse isso a ele?, perguntou seu reflexo ao espelho. Porque eu nunca tive certeza de que seria ou não noiva de Jerry um dia, Olívia respondeu consigo mesma. Ele era um homem dinâmico e brilhante e tem tudo para se tornar um dos políticos mais influentes dos Estados Unidos. Juntos formariam um par perfeito diante da elite de Washington. E havia uma grande chance de ela vir a se tornar a primeira-dama. Distraída em pensamentos, Olívia pôs-se a escovar os cabelos. Não saberia dizer quantas vezes passou a escova por eles. Quando deu por si, estava pensando em Zack e tentando conter as lágrimas. Largou a escova quase com raiva. O melhor que tinha a fazer era sair do quarto e ir à procura de Susan, de Mimi e das crianças. Elas sempre levantavam seu ânimo. As duas costumavam se sentar à sombra após o almoço e brincar com os bebés até a hora de eles dormirem. Marc deveria estar consultando seus clientes. Jake supervisionando o trabalho na mina ou no escritório e George certamente estava tirando um cochilo. O único que não dava para adivinhar o que fazia era Zack. Só Deus podia saber onde ele se encontrava. De sua parte, ela gostaria que estivesse longe o suficiente para que não cedesse à tentação de se atirar nos braços que a estreitavam como nenhum outro homem fizera. Por mais zangada que Zack a deixasse, a verdade era que metade da raiva se originava da capacidade que ele tinha de se controlar quando ela ficava praticamente em chamas só em vê-lo. Ainda perturbada com os acontecimentos do dia anterior em Haunted Rock, Olívia examinou-se mais uma vez ao espelho. Estava usando short e uma blusa de algodão que deixava parte da barriga à mostra. Fora isso, não estava se sentindo nada ousada ou extravagante. Mesmo que Zack não tivesse encerrado sua participação nas aulas de busca à coragem e espírito de aventura, a noite na ilha havia esfriado seu 5

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entusiasmo. Se tivesse aprendido a ser diferente, ela estaria se portando de outro modo. E Zack estaria perdido de paixão... Um suspiro escapou dos lábios de Olívia. Mas Zack não se interessava por ela. Apesar de ser inteligente e esperta com os números, não sabia ser uma mulher sedutora. Saiu para o terraço e pôs um sorriso no rosto. Mas o sorriso congelou ao ver Zack com um dos bebés no colo, andando de um lado para o outro na tentativa de fazêlo parar de chorar. Tentou se esconder, mas Zack a viu. Ele hesitou por um instante, depois cumprimentou-a com um gesto de cabeça e continuou a embalar o sobrinho. — O que está acontecendo? — Olívia indagou ao notar que não havia mais ninguém por perto. — Mimi não estava se sentindo bem e foi se deitar. Kyle dormiu e Susan foi colocá-lo no berço. Era a-primeira vez que Olívia via Zack com um dos bebes no colo. — Quer que eu chame uma das empregadas? — Para quê? — Zack indagou sem parar de acariciar as costas de Ben. — Acha que ele se acalmaria se uma delas viesse aspirar o pó do quintal? Olívia não conteve um sorriso. Não exatamente por causa do humor contundente de Zack, mas porque ele estava irresistível com Benjamin no colo. — Quer que eu o segure um pouco? — Você? — Zack se mostrou cético. — Desde quando sabe algo sobre bebes? — Não sei muito, mas aposto que sei tanto ou mais do que você. — Olívia estendeu os braços. — Já verificou se ele está molhado? — Já. A fralda está seca. Ele só precisa arrotar. Conforme o diagnóstico, o bebé deixou escapar um ruído característico e parou de chorar em seguida. Zack e Olívia se entreolharam e ela tornou a oferecer ajuda. — Quer dá-lo para mim? — perguntou, furiosa consigo mesma por não aproveitar a deixa e se afastar. Por outro lado, livre de sua tarefa, Zack poderia sair e fazer aquilo que bem entendesse. Mas, em vez de lhe entregar Benjamin, Zack recusou seu oferecimento. — Não, obrigado. Perplexa, Olívia ficou olhando enquanto ele se afastava com o bebé em direção ao jardim. O lugar era esplêndido com canteiros de rosas de todas as cores, estátuas e chafarizes. Alguns minutos depois, caminhou até o fim do pátio. — Aonde está levando Ben? 5

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— Assunto de homens. — Assunto de homens? — Olívia estranhou. Zack estava se revelando uma caixa de surpresas. Primeiro o apanhou com um bebé no colo. Agora o via levando o bebé aos fundos da mansão. Para não mencionar o fato de que ele era capaz de pegar um peixe apenas com as mãos... Naquele momento, Zack estava desaparecendo em direção ao bosque que ficava atrás da casa. Olívia se levantou na ponta dos pés para tentar enxergar melhor, mas não conseguiu. Zack havia sumido e segui-lo seria o pior erro que poderia cometer. Assim, pôs-se a andar em direção contrária até chegar a um banco de mármore onde se sentou. A vista da ilha era esplêndida. O perfume das rosas a inebriava. Colheu uma e aspirou profundamente sua fragrância doce e suave. Mas nada conseguia acalmar . seus nervos. Consultou seu relógio de pulso e descobriu que vinte minutos já haviam passado desde que Zack desaparecera com Benjamin. Saltou do banco. Sabia que se arrependeria mais tarde, mas estava acima de suas forças. — A curiosidade matou o gato — resmungou consigo mesma e tornou a pensar que ainda estava em tempo de desistir. Mas seus passos a levaram floresta adentro e quando menos esperava, Zack estava a sua frente. Com o coração quase saltando do peito, foi difícil manter a respiração normal. Ainda mais quando Zack quase passou por ela sem vê-la, cabisbaixo e com as mãos nos bolsos. Com as mãos nos bolsos? — Onde está Benjamin? — gritou. Zack pestanejou, obviamente perplexo ao vê-la ali. — Zack, o que você fez? — Olívia insistiu. Ele apertou os lábios e uma expressão estranha passou por seu rosto. —Vejo que sua opinião a meu respeito continua intacta — Zack murmurou com amarga ironia. — Obrigado. Em resposta a sua questão — Zack fez um gesto para trás com a cabeça —, deixei Ben com seu pai, atendendo a um pedido dele. Agora, diga-me, o que mais posso fazer para tranqúilizá-la? Gostaria de saber quantas jovens eu já poupei de minha lascívia? Olívia gostaria que o tempo voltasse atrás para não ter dito aquelas palavras. — Oh, eu... — Não precisa dizer nada! — ele exclamou, brusco, e se afastou, deixando-a imóvel como uma estátua de pedra. Zack estava sem apetite para jantar. O encontro no bosque não lhe saía do 6

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pensamento. Precisaria ser um ignorante para não perceber que Olívia o desprezava a ponto de imaginar que fosse capaz de esquecer um bebe que estava sob seus cuidados no meio de uma floresta. Não estava para conversas. Olívia, entretanto, ria e conversava com seus irmãos e cunhadas, completamente à vontade. Ela parecia admirar Jake, em particular. Lógico. Jake era um executivo respeitado, diretor de um império multimilionário. Jake seria recebido com orgulho no círculo social de Olívia. Marc estava à direita de Olívia. Médico e bom samaritano. Dr. Merritt. Em comparação a seus irmãos responsáveis e bem-sucedidos, ele não era ninguém. As desavenças de anos antes com o pai por causa de sua natureza independente haviam lhe custado mais do que o afastamento da família. Elas o haviam transformado em uma espécie de pária. Antes que pusesse seus pés em Merritt Island, duas semanas antes, ele já havia decidido abandonar a fama de ovelha negra e mudar seu estilo de vida. Apenas naquela tarde, porém, ao deparar com a expressão chocada de Olívia, ele conseguiu reconhecer plenamente a enormidade das faltas que cometera. Um toque em sua mão o arrancou de seus devaneios. Era Susan. Ela estava sorrindo para ele e indicando a figura de George, à cabeceira da mesa. — Seu pai lhe fez uma pergunta, mas você estava a milhares de quilómetros de distância. Seu pai mal lhe havia dirigido meia dúzia de palavras desde sua chegada. Ele se preparou para ouvir um sermão. — Desculpe, pai. O que foi que você disse? — Eu simplesmente comentei que você comeu o refogado de berinjela. Zack não esperava que o tema fosse tão trivial. Olhou para o prato vazio e novamente para o pai. — Estava bom. O pai olhou para ele como se estivesse pasmo. — Você sempre odiou berinjela. Zack sorriu. — Sim, quando era criança. Mas eu cresci. O pai pigarreou e olhou para Minai, sentada a sua esquerda. — E você, minha cara, está se sentindo melhor esta noite? Mimi estava falando, mas a atenção de Zack permaneceu voltada para o pai. Podia ter esperança? Seria aquele o início de uma convivência amorosa e tranquila? Estaria sonhando alto demais? Olhou para Olívia e seus olhares travaram como se estivessem atraídos por um imã poderoso. Mas apesar do impacto, Olívia virou-se um instante depois para Marc. 6

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Uma das empregadas entrou na sala e se dirigiu a Jake. Ele ouviu-a, fez um sinal afirmativo com a cabeça e se levantou. Após pedir licença, retirou-se e voltou dez minutos depois. — Temos visita. Antes que alguém pudesse indagar sobre a identidade do visitante, um homem alto e elegante, de cabelos e bigode pretos, terno e gravata, surgiu atrás de Jake. Zack examinou-o rápida mas completamente. Não o conhecia e não saberia dizer o porquê, mas sua antipatia por ele foi instantânea. E só fez aumentar quando, sem cumprimentar as pessoas, ele se dirigiu a Olívia e a beijou no rosto. — E mais difícil entrar aqui do que em Fort Knox — ele reclamou e pestanejou. — Liv, o que houve com seu rosto? Olívia demorou alguns segundos para se lembrar. — Oh, eu me queimei com o sol. Não foi nada. O recém-chegado balançou a cabeça. — Pobrezinha. Ainda bem que eu insisti em vir. — Ele colocou a mão no ombro de Olívia, deslizou-a pelas costas e não parou mais. — Você é o amigo pára-quedista, não? — dirigiu-se a Zack. O silêncio foi quebrado por George que se levantou, corado de raiva. — Com que direito você entra aqui e... — Está tudo bem, pai — Zack explicou. — Eu acho que sei a resposta. — Em seguida, Zack virou-se para o outro. — Sim, sou o pára-quedista. E você? É o massagista de Olívia? O visitante se deteve entre surpreso e ultrajado. — Sou Jerry Skelton, o gerente de campanha do senador Nordstrom. Zack tinha certeza disso, mas jamais daria demonstração. — Muito bem, Jerry. Caso esteja curioso, somos os Merritt. George, meu pai, está sentado à cabeceira da mesa. Estas adoráveis senhoras, sentadas a minha esquerda e a minha direita, são Susan e Mimi, minhas cunhadas. Os cavalheiros que se encontram a sua direita e a sua esquerda são meus irmãos, Jake e Marc. Gostaria de jantar conosco? — Sim, Jerry — Olívia concordou com os olhos voltados para a mão pousada novamente em seu ombro. — Por que não se senta? Daria para soltar meu ombro, por favor? Está doendo. — O quê? Ela tocou a mão que ainda apertava seu ombro. — Estou queimada. — Oh, desculpe. — Ele largou o ombro, mas segurou o braço, o que deixou Zack 6

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ainda mais furioso. — O que está fazendo aqui? — Olívia quis saber. — Já faz uma semana que você está longe — ele disse com ar de indulgência. — Precisamos de você nos escritórios e resolver de vez essa história ridícula sobre seu noivado. Também há aquela participação no programa da CNN. Será quarta-feira à noite. Você não pode faltar a uma entrevista na televisão, Liv. — Quarta-feira é depois de amanhã. — Olívia lembrou-se com pesar e olhou para Zack. — Precisamos realmnte pensar no que devemos dizer à imprensa. — Não se incomode com isso. — Jerry interrompeu a conversa. — Trouxe uma declaração por escrito. Zack só precisa assinar. Zack cruzou os braços e estreitou os olhos. — Obrigado, mas terei de ler antes. Não posso declarar nada que venha a dar uma falsa ideia de meu relacionamento com a filha do senador. Ao perceber que Jerry e Zack estavam às vias de se atracarem em uma briga, Olívia resolveu intervir. — Não se preocupe, Jerry. Zack e eu resolveremos esse assunto hoje mesmo... juntos. Afinal, eu já dei bastante trabalho aos Merritt e não quero ser motivo de mais problemas para eles. É o mínimo que posso fazer por Zack. noite.

— Mas, Liv... — Jerry protestou —, eu pretendia levá-la para casa ainda esta

— Fique conosco também, sr. Skelton — disse Susan com um sorriso. — Amanhã poderá partir com tudo resolvido. — Será um prazer para nós tê-lo conosco. Raramente recebemos visitas tão importantes e estamos interessados em saber quais são os planos do senador Nordstrom para governar o país. Talvez pudéssemos contribuir com sua campanha... — Susan fez uma pausa deliberada naquele ponto. Zack chegou a ver cifrões aparecerem nos olhos do sujeito. Jake reforçou o convite de Susan para desagrado de Zack. Ele não entendia o porquê de sua família estar se empenhando tanto em agradar Olívia e prolongar sua estadia na ilha. De sua parte, mal podia esperar para vê-la fora de sua vida. Antes que Jerry tivesse chance de responder, Jake fez um sinal para a empregada que estava a postos para servir a família durante o jantar. — Josephine, arrume mais um lugar à mesa, por favor. Minutos depois, Jerry estava sentado ao lado de Marc expondo as razões económicas, sociais e morais para que o senador Nordstrom fosse eleito o próximo presidente dos Estados Unidos. Zack não foi capaz de prestar atenção ao discurso. Sua mente e seus olhos estavam totalmente voltados para Olívia. Ela parecia estar bebendo cada palavra que o namorado proferia. Estaria assim por causa da visita surpresa? E ele, por que estava perdendo seu tempo com esse tipo de preocupação? 6

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Queria se ver livre de Olívia, não queria? CAPÍTULO XI Olívia pegou o travesseiro e colocou-o sobre a cabeça. Seria seu último dia em Merritt Island e ela não queria ver o sol nascer. Não queria dizer adeus aos amigos que fizera. Não queria dizer adeus ao homem por quem esperara toda sua vida. Por mais que se obrigasse a não pensar em Zack, ele não se afastava de sua mente nem sequer por um minuto. Naquele exato momento, envolvida pela maciez e pelo perfume dos lençóis, estava vendo suas feições másculas, seus lábios carnudos, as covinhas sensuais e os olhos de esmeralda. Apertou o travesseiro com força. Sabia que não adiantava. Por mais que conseguisse se afastar da luz do sol, isso não impediria que o dia nascesse e a levasse embora. Da mesma maneira, por mais que se empenhasse, jamais conseguiria varrer a imagem de Zack de sua memória. Mesmo que deixasse a ilha naquele dia, na semana ou no mês seguinte, isso não faria nenhuma diferença. Onde quer que fosse, levaria Zack consigo em sua mente e em seu coração. Não conseguia parar de pensar na atitude de Zack na noite anterior. Terminado o jantar, ela, Jerry e Zack se reuniram no escritório para resolverem o problema da declaração que dariam à imprensa. Isto é, não fora exatamente uma reunião. Zack nem sequer se sentou. Quando Jerry lhe entregou a carta, ele se limitou a ler e a jogá-la na mesa depois de alguns segundos dizendo que estava perfeita. Após isso, saiu da sala e não mais foi visto. O resto da noite foi uma troca de gentilezas por parte dos demais membros da família Merritt e de Jerry. Geor-ge foi o único a não tentar disfarçar sua antipatia pelo hóspede. Na primeira oportunidade, pediu licença para brincar com os netos no quarto. Zack simplesmente desapareceu. Olívia disse a si mesma, uma infinidade de vezes, que não tinha o direito de ficar aborrecida com ele. Zack também era um hóspede na ilha e seu temperamento era completamente diferente do dos irmãos. Ele não era uma pessoa previsível e não tolerava regras e amarras. Zack era como um raio, forte e bonito, mas arrasador. — Deus, não posso ir embora sem falar com ele! — Olívia decidiu subitamente. Zâck havia salvado sua vida e o que ela lhe dera em troca? Problemas sobre problemas. Prejudicara sua imagem com aquele filme que, provavelmente, jamais teria sido feito não fosse ela à filha de um senador. Depois, com raiva dos jornalistas, mentira sobre ela e Zack estarem comprometidos e o obrigara a procurar refúgio na ilha. Como se não bastasse, o intimara a ajudá-la em seu projeto de se tornar mais solta e livre. Para encerrar, ela o ofendera de uma maneira odiosa ao acusá-lo de 6

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esquecer o sobrinho no meio de um bosque. A verdade era que Zack tinha toneladas de motivos para desprezá-la e querer vê-la a quilómetros de distância. Em seu caso, também seria mais fácil ir embora sem olhar para trás. Mas isso seria uma covardia. Uma grande covardia. Antes de eles retornarem a seus mundos opostos, ela devia a Zack uma palavra de agradecimento. — Basta de sentir pena de si mesma! — Olívia falou em voz alta ao mesmo tempo que atirava o travesseiro para o lado e olhava pela janela. O céu estava clareando e as nuvens brilhavam em tons de rosa e dourado. Em dois minutos, Olívia havia trocado a camisola por jeans, ténis e uma blusa de linha que combinava com o céu da manhã. No minuto seguinte, estava batendo à porta do quarto de Zack, sem se dar tempo para refletir caso a voz da razão lhe dissesse que aquilo não era uma boa ideia. — Zack? Você está acordado? Ele não respondeu. O silêncio era absoluto. O primeiro pensamento que ocorreu a Olívia foi que Zack, talvez, tivesse procurado a tal mulher que ele não pudera en contrar por causa do problema em Haunted Rock. Ou o caso era ainda pior e ele havia simplesmente deixado a ilha antes do que ela? Olívia fechou os olhos. Nunca se sentira mais só e abandonada em sua vida. Não devia a Zack sua hospedagem na ilha. Estava ali, aliás e muito provavelmente, a sua revelia. — Zack? — Ela tornou a bater. — Preciso falar com você. Posso entrar? Com a respiração suspensa, Olívia esperou que Zack respondesse, mas não ouviu nem sequer um ranger de molas ou um passo abafado. Decepcionada, apoiou a testa contra a madeira e suspirou. Um instante depois, começou a empreender o caminho de volta a seu quarto. Estava quase alcançando a porta quando ouviu um clique. Virou-se e viu Zack. Ele deveria estar dormindo profundamente quando ela o acordou. Seus cabelos estavam despenteados e ele mal conseguia abrir os olhos. — O que deseja? — Zack perguntou. —Veio se despedir? Olívia engoliu em seco. Zack não parecia ter se dado conta de que estava usando apenas uma cueca preta. O que ela desejava? Não podia dizer. De repente, uma ideia lhe ocorreu. — Vim lhe pedir um último favor — Olívia resolveu dizer. — Eu lhe seria eternamente grata se me levasse dar uma volta de barco antes de eu ir embora. Em velocidade máxima. Queria sentir o vento e o salpicar das gotas do oceano em meu rosto. Eles ficariam juntos, a sós, e Zack estaria em seu mundo. Nenhum outro lugar seria tão perfeito para ela tornar a lhe agradecer por ter salvado sua vida. E por ter sido seu amigo naqueles dias que passara em Merritt Island. 6

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Zack franziu o rosto. — Você quer dar uma volta de barco, agora? — Se não for muito trabalho — ela murmurou. — Jerry e eu partiremos às nove. — E quanto aos paparazzí? A possibilidade de serem vistos e fotografados não havia ocorrido a Olívia. Ela pensou rápido. — Eles não recomeçarão as investidas tão cedo. Nós estaremos de volta em uma hora, se tanto. O silêncio que se seguiu era um sinal de que Zack estava considerando o pedido, mas a seriedade de sua expressão era um outro sinal de que a ideia não lhe era bemvinda. Olívia fitou-o, súplice. — E o último favor que lhe peço, Zack. Juro. Olívia soube que havia vencido quando percebeu um brilho de hesitação nos olhos verdes. — Como poderia recusar uma oferta tão generosa? — ele caçoou. — Dê-me um minuto. Ele entrou no quarto e fechou a porta. Olívia ficou parada enquanto esperava as batidas de seu coração acalmarem. Zack abriu a porta antes que ela tivesse tempo para se mover. Quando deu por si, ele estava colocando um chapéu em sua cabeça e lhe atirando uma camisa de flanela. — Vista isto e esconda os cabelos sob o chapéu. Depois coloque estes óculos escuros. Quando nos virem, os paparazzi nos confundirão com dois pescadores. Zack era esperto. Ele estava usando uma calça jeans surrada, uma camisa azulmarinho de mangas compridas e um boné vermelho com a aba puxada sobre os olhos. Ela vestiu a camisa sem discutir. Ainda não havia terminado de abotoá-la quando Zack a puxou pelo braço. — Por que a pressa? — Olívia quis saber. — Estou atrapalhando algum encontro? No topo da escada, Zack diminuiu o passo. — Pensei que você quisesse evitar o assédio dos jornalistas. — Eu quero — Olívia respondeu enquanto prendia os cabelos e tentava equilibrar os óculos que Zack colocara de qualquer jeito. — Mas não acho que conseguiremos enganá-los se você me levar ao barco arrastada. Zack parou e encarou-a. De repente, ela adivinhou um sorriso em seus lábios e ficou em dúvida se aquilo significava humor ou zombaria. 6

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— Não está caçoando de mim, eu espero? A ideia do disfarce foi sua, afinal! No ancoradouro, Zack indicou um barco. — Pegaremos aquele emprestado. Nós não temos nenhum barco que alcance grande velocidade. Olívia olhou para Zack e tentou falar. Não podia mais adiar o momento. Se queria agradecer por tê-la salvado e ajudado, tinha de aproveitar a chance e ser sincera. Quando deu por si, já estavam a bordo. Sem ao menos um olhar em sua direção, Zack assumiu o controle e os levou para longe da ilha. Uma sensação de poder e liberdade a inundou conforme se agarrava ao gradii de latão e sentia o sal do oceano em seus lábios. Não conseguiu dominar a vontade de rir que a assaltou. Era incrível que nunca tivesse experimentado antes o sabor do sal vindo diretamente das gotas que umedeciam seu rosto e deslizavam até a boca. Não era de admirar que Zack adorasse correr de barco. Surpreendeu-o observando-a. Apesar de o boné fazer sombra a seus olhos, ela teve a impressão de que ele estava gostando de lhe proporcionar prazer. Agora, Olívia pensou. Diga a ele agoral — Zack, eu... — Prepare-se — ele a interrompeu. — Este trecho é raso. Estou vendo pedras acima da superfície. Ele fez uma curva fechada. No instante seguinte,. Olívia percebeu uma súbita mudança na textura da navegação. O barco parecia estar saltando e batendo contra algo duro em vez de água. Ao mesmo tempo, o vento passou a atingir suas pernas e seu estômago de uma maneira que a impedia de se manter ereta. Não demorou para que ela perdesse a vontade de continuar o passeio. — Podemos ir em outra direção agora? — Olívia pediu assim que conseguiram desviar das pedras. Ou melhor, gritou. O barulho do motor e do vento abafava completamente suas palavras. Como se não bastasse, ela estava começando a enjoar. O que faria? Como dizer a Zack que estava grata se mal conseguia parar de pé? — Você está passando mal? — Zack perguntou. Ela deveria estar pálida. Não adiantaria negar. — Sinto muito — ele disse e se apressou a diminuir a velocidade. — Melhorou? Olívia conseguiu fazer que sim com a cabeça, mas não ousou afastar a mão da boca. — Olhe para o horizonte — Zack aconselhou. — Às vezes, ajuda. Ela aceitou a sugestão. Além do horizonte, viu vários barcos navegando em 6

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direção a eles. Cheios de jornalistas, com certeza. — Eu notei — Zack afirmou ao perceber que Olívia lhe fazia um gesto. — Quer voltar? Olívia hesitou. Não era isso que queria. Mas estava se sentindo péssima e a abordagem iminente não deixava opção. — Ok, mas, infelizmente, será tão difícil voltar quanto foi chegar até aqui. Olívia amaldiçoou-se por ser tão fraca. Não era de admirar que não tivesse conseguido o respeito de Zack. Enquanto dividia sua atenção entre os pensamentos, o estômago e a boca, Olívia viu uma forma começar a crescer no horizonte, vindo da popa. Procurou se concentrar no objeto e esquecer o mal-estar. Era um avião. Um monomotor. Antes que pudesse avisar Zack, o piloto fez um vôo rasante sobre eles. — Zack! Movido peío instinto, mais do que pelo grito de Olívia, Zack desviou-se do impacto. Olívia não teve forças para se segurar. Seu corpo foi projetado para o lado e seu único pensamento foi que iria cair no mar ou se chocar contra o painel. Mas não. Ela não se machucou. Estava se sentindo até mesmo confortável. Um gemido as suas costas a deixou paralisada. Virou-se e viu Zack caído. Ajoelhou-se ao lado dele e só então conseguiu entender que Zack a protegera com seu próprio corpo. — Oh, meu Deus! Zack! — Ela lhe tocou a face e ele não se moveu. Naquele instante, um fio de sangue escorreu sob sua cabeça. Desesperada, Olívia procurou se erguer agarrando-se ao gradil. Estava sem os óculos que Zack lhe dera. Eles deveriam ter ido para o fundo do mar, onde ela também estaria se Zack não a salvasse. Não se importou em ser reconhecida. Precisava fazer alguma coisa. Se continuassem navegando naquela velocidade, acabariam mortos. Não havia mais tempo! Quando olhou para a frente, Olívia viu uma parede imensa de granito. — Não entre em pânico! — ordenou-se. — Você já viu Zack pilotar esta coisa. Ao mesmo tempo que fazia uma prece, Olívia agarrou o controle. Não saberia dizer como, mas conseguiu desviar o barco no último instante. Zack estava voltando a si quando ela finalmente conseguiu respirar. — Não se mova — Olívia gritou. — Fique onde está. Ele tentou abrir os olhos e gemeu de dor. Olívia procurava a ilha Merritt em 6

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todas as direções. Lembrou-se, então, de que o sol estava à direita quando partiram. Manobrou para a esquerda e tornou a rezar. A náusea teimava em vencê-la, mas sua determinação era maior. Primeiro precisava ajudar Zack. Depois poderia desmaiar quanto quisesse. O mesmo avião tornou a assaltá-los. Furiosa pelo acidente que eles haviam provocado, Olívia ergueu o punho fechado no ar. Não se importava que tirassem outra foto sua e a publicassem em todos os jornais. A única coisa que queria era se ver livre de perseguições. Apesar de sua ordem, Zack estava tentando se levantar apoiado em um cotovelo. Assustada, ela largou o controle e correu a apanhar um colete salva-vidas. Colocou-o sob a nuca de Zack e tornou, a pedir para que não se mexesse. Em seguida, tirou a camisa de flanela e pressionou-a contra o corte acima da orelha. — Mantenha a pressão — ela disse e correu de volta para o controle. A distância, Olívia viu uma forma nebulosa que não notara antes. — Oh, por favor, que seja a ilha! — implorou. Era a ilha! Olívia teve a confirmação alguns segundos depois quando um dos barcos que faziam a segurança mudou de rota e começou a rumar para eles. Agora faltava pouco. Ela respirou fundo e se agarrou com mais força ainda ao controle. Zack gemeu. — Só mais alguns minutos e estaremos em casa — avisou-o. Ele estreitou os olhos por causa do sol, ou, talvez, por causa da dor. Ou seria surpresa? — Em casa? Ela viu mais do que ouviu a palavra nos lábios de Zack. — Sim, em casa — Olívia repetiu com lágrimas nos olhos. Entendia o porquê da confusão de Zack. Merritt Island não era sua casa. Nem dela. Eram simples visitantes naquele lugar e no dia seguinte estariam longe, em mundos separados. — Eu não sabia que você pilotava barcos. Nem eu, Olívia pensou. — Procure não falar. — Eu estou bem — Zack afirmou. — Sofreu um corte na cabeça. Zack olhou para a camisa de flanela. — Cortes na cabeça sempre sangram. Não foi nada. — Espero que não, mas desde que você se machucou por minha causa, passou a 6

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ser minha responsabilidade. Portanto, trate de ficar quieto até Marc examiná-lo. Zack encarou-a com desafio por um instante. — Ok. Você manda. Olívia fez uma careta, mas estava aliviada. Zack estava se portando de maneira normal. Agora só faltava o pior: ela ancorar o barco em segurança. Por sorte, só dois barcos se encontravam atracados e havia bastante espaço livre. Com a respiração suspensa, Olívia diminuiu a velocidade. Um minuto depois, por milagre, conseguiu parar. — Zack está ferido! — gritou assim que viu um segurança. — Chame Marc! O homem não se moveu. Dava a impressão de que não havia ouvido direito. Ou de que não havia acreditado no que ouvira. — Corra! — Olívia ordenou. — Zack está sangrando! O homem falou algo ao rádio que trazia pendurado ao ombro e desapareceu. Estavam se aproximando das docas. A colisão era iminente. Ciente de que pouco poderia fazer para evitá-la, Olívia desligou o motor e se preparou para o choque. Os protetores de borracha que cobriam o píer amorteceram o impacto. Olívia foi impelida para trás, mas não se machucou. Era preciso cuidar de Zack. Avisados pelo rádio, os funcionários dos Merritt subiram a bordo. Mas antes que carregassem Zack para fora, Marc se reuniu a eles. Olívia explicou rapidamente o acontecido e se calou enquanto Zack era examinado. Quando Marc fez sinal para dois homens colocarem o irmão em uma maca, Olívia se aproximou. Zack olhou para ela e lhe segurou a mão. Emocionada, quis lhe dizer palavras de conforto, mas não conseguiu. George chegou naquele momento e se ajoelhou ao lado do filho. — Tenho sido um tolo teimoso, filho. Tenho tentado, mas só agora consegui encontrar uma forma de lhe dizer que sinto muito... Terminado o curativo de emergência, Marc se levantou e avisou que levaria Zack a seu consultório. — Ele ficará bem, pai. Eu prometo. Um alarme soou nos ouvidos de Olívia naquele momento. Tinha certeza de que Marc havia hesitado ao consolar o pai. Zack estava muito pálido. Oh, Deus, ele precisava ficar bem! Zack foi levado e ela precisou se afastar. Não significava nada para ele. Não era da família. Em uma hora estaria deixando a ilha provavelmente para sempre. Tinha de prosseguir com sua vida e com seu trabalho. Sozinha, a caminho da casa, Olívia não conteve as lágrimas. 7

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— Parabéns. Seu herói foi vencido. Sabe por,quê? Porque mais uma vez ele desafiou o destino para salvá-la. CAPÍTULO XII Olívia e Jerry deixaram a mansão dos Merritt acompanhados pelo mordomo. Olívia não esperava um adeus tão frio após a acolhida que tivera, mas compreendia que os irmãos, pai e cunhadas estivessem preocupados com o estado de saúde de Zack. Ela também estava. A última coisa que queria era ir embora. Jerry segurava sua mala com uma das mãos e seu braço com a outra como se ela lhe pertencesse. O gesto irritou-a. Ele parecia seu pai querendo dirigir sua vida, sem se importar com sua vontade. Jerry, também como seu pai, acreditava tacitamente que ela era partidária de todas suas opiniões. A despedida fora rápida e deprimente. Mal dera tempo para abraçar Susan e Jake que estavam a caminho do consultório de Marc. Não chegou a ver Mimi. Não sabia nem sequer se Zack ficaria bem... Jerry não parava de falar, mas ela não estava em condições de ouvi-lo. Precisava ver Zack. Não iria embora sem se despedir dele. Era o mínimo que podia fazer. Deteve-se tão bruscamente que Jerry quase perdeu o equilíbrio. — O que foi? — Vou ao consultório de Marc ver como está Zack. — Por quê? Ele está sendo atendido. O irmão cuidará de tudo que for necessário. Olívia não estava com paciência para discutir. — Vá em frente. Estarei com você em cinco minutos. — Mas, Liv... — Cinco minutos — ela insistiu. Jerry concordou com um gesto de cabeça, mas sua contrariedade era evidente. — Ok, mas não demore. — Dez minutos, não mais. Sem dizer mais nada, Olívia se pôs a correr. Mas o salto de seus sapatos afundou na grama e ela precisou parar para tirá-los. — O que está fazendo? Ela se virou, surpresa. Jerry continuava no mesmo lugar. Sem pensar duas vezes, ela lhe atirou os sapatos, quase atingindo-o. 7

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— Guarde para mim! Chegou ao consultório com a respiração ofegante. Seu coração batia descompassado de esperança por encontrar Zack bem, e de apreensão caso ele não estivesse. — Por fayor, que eu encontre Zack sentado, brincando com os irmãos. Não me importo que esteja zangado comigo. Não bateu antes de entrar. A sala de espera estava repleta. Todos pareciam preocupados com o estado de Zack. Até mesmo os estranhos à família. George estava rígido. Susan estava com os braços cruzados no peito. Jake abraçava a esposa pelo ombro. Mimi, com um bule de café na mão, foi a primeira a falar. — Pensávamos que você tivesse partido. — Eu não poderia partir sem saber como Zack está passando. George depositou sua xícara na mesa e se levantou. — Foi muito gentil em vir aqui, querida. — Ele segurou ambas as mãos de Olívia. — Zack já recuperou a consciência. Marc está acabando de suturar o corte. Tenho certeza de que ele não se importará que você entre. Afinal, está de partida e foi quem trouxe o barco até nós. Era a primeira vez que Olívia presenciava uma cena como aquela. George não costumava falar com ninguém por tanto tempo. Com exceção dos netos. O acidente com Zack deveria tê-lo acordado para a necessidade de entendimento com as pessoas queridas antes que elas se afastassem definitivamente. O membro mais velho da família girou a maçaneta e abriu uma fresta. — Marc, Zack pode receber uma visita? Liv está de partida e gostaria... — Entre. Olívia não esperava ouvir a resposta do próprio Zack. Ele estava um pouco rouco, mas o fato de estar consciente e falando a inundou de alívio. George apertou-a ligeiramente no ombro. — Entre, querida. E obrigado por... tudo. Olívia e George trocaram um olhar carregado de emoção. Incapaz de responder, ela lhe apertou a mão e entrou na sala. A sala era branca e tudo parecia ser feito em aço inxidável. Como nos hospitais. O único elemento discordante ali era Zack. Zack estava apoiado sobre o cotovelo. Algumas mechas de cabelos caíam sobre o curativo grande e branco. Seu olho estava escuro e a face inchada. Mas para Olívia, 7

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ele continuava lindo e atraente, — Você está bem? — ele perguntou com voz preocupada. Marc e o enfermeiro se afastaram discretamente. — Se eu estou bem? — ela murmurou. — Você está parecendo um figurante do filme A Múmia e quer saber se eu estou bem? Zack pestanejou. — Por favor, não fale em filmes. — Desculpe — Olívia disse, corada de vergonha, e tocou-o como se quisesse consolá-lo. — Relaxe. Não se preocupe mais comigo. — A prudência lhe recomendou que se afastasse de Zack e ela o fez. — Como está se sentindo? Apesar de continuar lindo, Zack parecia imensamente vulnerável. Era difícil conter o ímpeto de torná-lo nos braços. — Bem. Costumo recorrer a esta artimanha para conquistar as mulheres. Ela sorriu, mas sua vontade era chorar. — Não irá funcionar — mentiu. — Você está horrível. Ele piscou. — As mulheres adoram homens indefesos. — Você? Indefeso? Conte outra. Os minutos estavam passando. Olívia sentia o tempo passar como se fosse feito de gotas que pingavam em suas veias. — Estou contente que você esteja bem. — Ela estendeu a mão para acariciar os cabelos de Zack. No último instante conseguiu se controlar e apenas indicou o curativo. — Isso foi culpa minha. Quero lhe pedir desculpas por todos os problemas que lhe causei. — Olívia engoliu em seco. — Quando saímos de barco, eu pretendia lhe dizer... Eu queria lhe pedir... — O quê? — Pela expressão de Zack, ele havia deduzido que ela queria lhe pedir outro favor. Não o culpava por estar prevenido contra ela. — Eu queria lhe pedir que se despedisse de mim... que pudéssemos nos separar como amigos. — Ela queria muito mais, mas sabia que viviam em mundos distintos. Não havia conseguido acesso ao mundo de Zack e Zack não se interessava pelo mundo dela. real.

Zack era o homem de seus sonhos. Uma fantasia. Não podia ser seu no mundo — Eu não queria partir pensando que você me detesta — concluiu. A seu lado, Zack fechou os olhos 7

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— Meu Deus! O que foi? Ele apertou os lábios, mas um instante depois tornou a abrir os olhos. — Não se assuste. Sou conhecido como o cabeça-dura da família. — Ele olhou para o relógio na parede. — E melhor você ir ou perderá seu vôo. — Zack ergueu a mão. — Amigos. Ele estava ali, nocauteado. Sua cabeça deveria estar doendo e tudo por causa dela. No entanto, não lhe recusou um aperto de mão. O coração de Olívia se encheu de ternura. Zack era mais generoso do que poderia imaginar. Um simples aperto de mão era pouco para ela expressar sua gratidão. Segurou a dele com as suas, inclinou a cabeça e beijou-o nos lábios. — Obrigada. Zack ficou tão surpreso com o beijo que Olívia lhe deu antes de sair correndo do consultório que precisou de alguns segundos para seu cérebro registrar o acontecimento. Aliás, devia haver algo errado com ele! De repente, não queria mais que Olívia partisse! Seu beijo, suave como o toque de uma pena, foi mais intenso e sensual do que qualquer outro que havia recebido. Era um absurdo, ele não tinha dúvida disso, mas estava apaixonado por Olívia Nordstrom e não queria perdê-la. Levantou-se da mesa de um salto e se dirigiu à porta. Dois passos depois, seus joelhos dobraram e ele foi para o chão. CAPITULO XIII Seu maluco! —Marc censurou Zack em tom carinhoso. — Eu avisei que você precisava fazer repouso depois do sangue que perdeu. O que pretendia, se levantando da mesa e saindo por aí? Zack percebeu que estava no sofá da sala do irmão e que a família estava reunida ali e preocupada com ele. Marc estava certo ao chamá-lo de maluco. Ele havia perdido a cabeça desde o momento que conheceu Olívia. Céus! Estava esquecido de quem ela era? De quem ele era? A Princesa e o Plebeu. — Como está se sentindo? — Mimi perguntou. Ele tentou brincar, mas quando piscou, deixou escapar um gemido. O sorriso de Mimi desapareceu. — Marc disse que você terá de permanecer deitado por alguns dias para recuperar as forças. Não saia daí. Eu o colocarei em forma antes do que imagina com minha sopa miraculosa. Zack olhou para cada um dos membros da família. O pai estava pálido e 7

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acabrunhado. Jake e Susan pareciam ter perdido a capacidade de falar. — Ei, pessoal, eu estou bem — Zack mentiu. Sua cabeça nunca pesara e doera tanto. Mas preferia enfrentar qualquer mal-estar a ser objeto de piedade. — Soube que você doou seu sangue para mim, Jake. Obrigado. Espero que me deixe ao menos lhe oferecer um almoço em retribuição. Meu estômago insiste em dizer que estou faminto. Por que não vamos para a cozinha? Apesar da tontura, Zack se obrigou a levantar do sofá. Antes que desse um passo, contudo, braços fortes o sustentaram. — Deixe-me ajudá-lo, filho. Apesar da expressão séria, Zack percebeu que o pai finalmente o havia perdoado. Essa certeza despertou uma nova força em seu peito. Naquele momento, tanto o ferimento novo quanto o antigo começaram a sarar. Zack sentia vontade de esmurrar as paredes. Depois de catorze dias da partida de Liv, o filme que havia causado tanto transtorno em suas vidas já havia sido substituído por uma nova manchete e caído no esquecimento do público. E, em breve, na memória da filha do senador. Zack conhecia a ordem dos eventos. A nobreza muitas vezes se entregava ao prazer de uma aventura, mas ao findar de uma ou duas semanas de desvario recuperavam o controle e se acomodavam à estabilidade de suas vidas. E ele, pobre plebeu, queria prolongar a relação por muitos e muitos anos. A vida de playboy não o interessava mais. Aquela página de sua vida fora virada. Desde a primeira vez que Liv sorrira para ele, soubera que não se contentaria com um breve interlúdio romântico. Irritado consigo mesmo por se entregar a sentimentalismos, Zack abriu o jornal e tentou ler as manchetes. Nas últimas duas semanas, pela quantidade de fotos que vira de Liv, sempre junto de Jerry Skelton, parecia claro que os dois acabariam se casando. O que importava se ele considerava aquele sujeito um insolente que não merecia Olívia? Não era de sua conta com quem Liv escolheria se casar. Quem ela amava ou deixava de amar. O que ele tinha de fazer era aceitar o fato de que Liv era uma parte de seu passado. Com um suspiro de impaciência, Zack largou o jornal aberto sobre a mesa da cozinha. Aquele era o dia marcado para Marc retirar os pontos. Mimi havia saído para participar de uma conferência sobre ecologia em" Portland. Fora o poodle, deitado a seus pés, ele estava sozinho na casa. — Droga! Não posso continuar parado vendo o tempo passar. Preciso fazer algumas mudanças em minha vida. Mas o quê? — Zack falou consigo mesmo. Ele não tinha qualificações outras que não fosse dirigir algum tipo de transporte 7

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com velocidade. O que faria com isso? Perdido o gosto pelas competições, Zack já havia comunicado seu afastamento definitivo das pistas. Aliás, se fosse sincero consigo mesmo, reconheceria que havia perdido o gosto por tudo que fizera nós últimos vinte anos. Agora, ele queria fazer algo que realmente valesse a pena. Algo de que pudesse se orgulhar. — Para que eu sirvo? — Você tem feito isso muito ultimamente. Zack se virou ao som da voz de Marc, — Isso o quê? — Falar sozinho. O que está acontecendo? — Marc foi até a pia e lavou as mãos. — Pode confiar em mim. Sou seu médico, não sou? Um sorriso de surpresa e ironia surgiu nos iábios de Zack. — Obrigado. Fica para outra vez. — Você é quem sabe, mas garanto que sou um homem sábio. — Marc pôs-se a enxugar as mãos. — Está perdendo uma grande oportunidade de resolver seus problemas. Zack riu da brincadeira do irmão e descobriu que se sentiu melhor depois disso. — Se eu soubesse tomar boas decisões, estaria no Senado neste momento. No Senado? Zack pestanejou. O que lhe dera para mencionar essa palavra? — Nunca imaginei que você tivesse alguma inclinação para a política — Marc murmurou ao mesmo tempo que examinava o corte na cabeça de Zack. — Ou é na filha do senador que você está interessado? — Não é engraçado — Zack resmungou. — Vai ou não vai tirar os pontos? — Calma! Não tenho o direito de admirar meu trabalho por um minuto? Posso garantir que você não ficará nem sequer com uma cicatriz de lembrança. Zack arrependeu-se no mesmo instante por seus maus modos. Marc estava sendo amigo, mais do que médico e irmão. E, de repente, pareceu-lhe triste. — Mimi está bem? E o bebé? — Sim, eles estão bem — Marc respondeu após uma ligeira hesitação —, mas... Zack sentiu um arrepio de apreensão lhe percorrer a coluna. Se Mimi e o bebé de Marc estavam bem, haveria algo de errado com algum outro membro da família? Seu pai? Jake ou Susan? — Mas? — Zack perguntou, preocupado. Marc respirou fundo. — Recebi uma carta esta manhã de um amigo da faculdade que também se formou médico. Ele está desolado porque perdeu uma paciente de apenas sete anos de idade só porque morava em um sítio em Wyoming e não tinha recursos para pagar um avião UTI que a transportasse para Los Angeles. 7

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Fez-se silêncio após o desabafo de Marc. — Quer dizer que ela não teria morrido se contasse com um avião com equipamento médico? — Zack indagou. — Provavelmente não. Mas quantas pessoas têm condições de alugar um avião particular? — Eu ouvi dizer que... — Oh, sim. Alguns convénios colocam esses equipamentos à disposição dos segurados, mas quantas pessoas conseguem pagar uma assistência médica de alto nível? Zack esfregou o queixo. Uma ideia estava começando a tomar forma em sua mente. — Marc? Eu piloto aviões. — Sim, e daí? — Trabalhei em linhas comerciais por alguns anos e desisti porque me cansei da rotina. — Por que está me contando isso agora? — Marc estranhou. — Salvar vidas jamais me cansaria. — Claro que não. Zack sentiu um entusiasmo que nunca sentira antes. — Tudo de que preciso, Marc, é de um avião! — Seria um começo. — Mas o dinheiro que tenho não dá para comprar um do tamanho necessário. — Daria, se você empregasse a parte que lhe cabe das minas de esmeraldas. Zack pestanejou. — De que está falando? Você sabe que fui deserdado. — Eu também. Por três vezes. — Marc deu um largo sorriso. — A contagem de Jake é maior do que a nossa. O velho George afirma isso toda vez que briga conosco. Zack franziu o rosto. — Não importa. Não estou interessado naquele dinheiro. — Bem, nesse caso, por que não procura um patrocinador? Zack refletiu sobre o conselho por alguns minutos. Em seguida se levantou de um salto. Não se sentia tão disposto havia anos. Era exatamente o tipo de trabalho que almejava. Um trabalho que adoraria e que seria útil. — Vou sair e procurar um patrocinador agora mesmo. 7

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— Já encontrou — Marc afirmou. — Posso lhe garantir seu primeiro avião. Zack parou diante da porta. — Como? — O que você pensa que o negócio da família significa para mim? Um passatempo?

CAPITULO XIV Início de Fevereiro Olívia estava tão cansada que não conseguia focalizar a visão. Respirou fundo, afastou os cabelos do rosto e procurou se concentrar no que estava sendo discutido na sala de reuniões do escritório que cuidava da campanha de seu pai. As paredes estavam forradas de cartazes e pósteres. Folhetos de propaganda e papéis de toda sorte estavam espalhados pela mesa. Alguns dos partidários estavam sentados, outros andavam pela sala. A energia borbulhava. Menos no caso de Olívia. Ela olhou para o pai em conversa com Jerry. Suspirou. O senador Nordstrom tinha o dobro de sua idade e também de sua disposição. Ninguém diria que ele estava trabalhando havia trinta e seis horas ininterruptas. Sua roupa estava impecável e não havia nem sequer um fío de cabeio fora do lugar. Ela, em contrapartida, estava à beira de um colapso. — Papai? Ele parou de falar e fitou-a, curioso. — Sim, querida? Ela indicou seu relógio de pulso. — São duas horas da manhã. Nós, mortais, podemos ir para casa? O olhar que ele lhe endereçou foi de reprovação. — Já conseguiu aqueles números que lhe pedi? — Estão em sua mesa. — E o último registro de contribuições? — Estará disponível amanhã. — Olívia se levantou. — Desculpe, mas se você e Jerry estão em condições de continuar, o resto de nós precisa de descanso. O pai não pareceu gostar da observação. Após um instante, porém, concedeu a dispensa. — Use o sofá de minha sala. Jerry a acordará às cinco horas. Olívia apanhou o casaco no encosto da cadeira. 7

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— Obrigada. Seu sofá será de grande valia. Afinal, o telefone de sua sala nunca toca, não é? O pai, é claro, não a ouviu. Olívia dirigiu-se, em seguida, aos outros e incentivouos a irem para suas casas. — Aproveitem. Vocês têm o direito de dormir até as cinco! No escritório, Olívia deixou-se cair no sofá e tirou os sapatos sem o auxílio das mãos. Só havia um abajur aceso. Por sorte estava perto do sofá e ela não precisou se levantar para apagar a luz. Estava segurando o soquete quando algo lhe chamou a atenção. Era o jornal do dia anterior. Ela reconheceria aquele homem em qualquer lugar. Lágrimas inundaram seus olhos. Zack Merritt estava sorrindo e acenando. Um avião aparecia ao fundo. Pessoas de branco conduziam uma maca em direção a uma ambulância. Olívia enxugou os olhos e leu a notícia: "O novo avião da Fundação Merritt tornou a pousar em Los Angeles no dia de hoje. O mais recente herói da família, Zack Merritt, e sua dedicada tripulação, ajudaram a salvar a vida do menino José Galan, trazendo-o da Argentina para tratamento médico". Os olhos de Olívia se encheram novamente de lágrimas. Não era a primeira vez que lia notícias sobre Zack e seu magnífico trabalho. Mas era a primeira que diziam que ele havia voado para Los Angeles. Fazia meses que o esperava, que sonhava que ele iria procurá-la... — Mas você não quis me ver, não é, Zack? Você nem sequer tentou ligar para mim para saber como estou passando... CAPITULO XV Março Zack fugia de Los Angeles como de uma praga. A última vez que não tivera como evitar a cidade fora no mês anterior quando levara o pequeno José para uma cirurgia. Toda a força de vontade do mundo quase não fora suficiente para impedi-lo de procurar Olívia e afastá-la da vida que vivia. Seria egoísmo de sua parte. Não tinha o direito. Para sua sorte, surgira uma emergência em Anchorage e ele teve seu orgulho salvo. Mas a sorte parecia tê-lo abandonado naquele momento e seria impossível evitar a viagem. Os outros três aviões estavam cuidando de outros casos importantes. Além disso, seria apenas por uma noite. Zack alongou as pernas e os braços. Embora atribulada, adorava a vida que 7

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estava levando. Sentia-se satisfeito. Apenas um pouco solitário. Tomou uma ducha. A água quente sempre operava milagres em seus músculos cansados. Os voos costumavam, ser longos e tensos. Era como estar conduzindo uma bomba prestes a explodir. Sentia-se feliz por nenhuma delas ter explodido. Até aquele dia todas as pessoas que transportara haviam sido salvas. Seu trabalho era dinâmico e útil. Se de vez em quando a tristeza o abatia, não era motivada pelo estilo de vida que abraçara, mas pela única mulher que não conseguia afastar de seu pensamento nem de seu coração. Terminado o banho, Zack decidiu ligar para sua casa. O bebé de Mimi estava por nascer e algo lhe dizia que aquele seria o grande dia. Era incrível, mas estava tão ansioso com o nascimento de seu sobrinho que parecia o pai. O tempo passado com a família o fez aprender a estimá-la e a valorizá-la. Quem poderia imaginar que ele e o pai acabariam se entendendo? Um ano antes qualquer um diria que isso seria impossível. Mas sua vida havia mudado desde que um pára-quedas se recusara a abrir e ele conhecera uma mulher que nunca poderia ter. Com a toalha enrolada ao redor da cintura, Zack sentou-se na cama e teclou o número da casa de Marc. Enquanto esperava que a ligação fosse completada, deitou-se e olhou para o céu de Los Angeles. — Marc? Nosso bebé já chegou? Zack ouviu risadas do outro lado. — Sim, Zack. Ele já chegou, meu velho. Só que não é ele, mas ela. Você ganhou uma sobrinha. Kelly nasceu duas horas atrás. É linda e loira. — Puxou da mãe, então? Marc tornou a rir. — Como foi de viagem? — Tudo bem. A pequena Jenny já foi operada e está fora de perigo. — Precisamos comemorar. — Sim, — Zack ouviu baterem à porta. Como havia pedido um sanduíche, deu ordem para que entrassem, — Por favor, deixe na mesa. —Você ainda não jantou?—Marc perguntou, desconfiado. — Não. Vou desligar. Dê um beijo em Mimi e em Kelly por mim. — Darei. Venha nos ver quando puder. Zack ouviu um pigarro as suas costas. — Desculpe, Marc. Preciso assinar a conta. Vou desligar. Quando se virou, Zack quase deixou o telefone cair. — Liv? — Olívia estava realmente diante de seus olhos ou era fruto de sua imaginação? Era ela quem estava sentada a sua mesa, de saia preta e suéter branco? De pernas cruzadas? Linda e elegante? Ele se levantou devagar e se encaminhou para ela. A miragem logo 8

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desapareceria. Deveria estar mais cansado do que supunha. — Gostei desse seu traje — Olívia brincou quando o silêncio demorou a ser quebrado. Zack olhou para baixo e só então se lembrou de que estava usando apenas uma toalha. Mas isso importava se Olívia não estava realmente ali? Por outro lado, estaria sentindo tanto desejo por ela se não a estivesse vendo, de pernas cruzadas, em seu quarto? As faces de Olívia coraram diante do olhar ardente. — Sabia, Zack, que você acabou confundindo meu pai depois que se empenhou em seu novo trabalho? Ele está impressionado com você. O perfume de Olívia o inebriou. Não era sua imaginação. Olívia estava em seu quarto. — Meu Deus, é mesmo você, Liv? O que está fazendo aqui? — Eu moro aqui — Olívia respondeu, trémula. — Quando soube que você estava de volta, eu pensei... Recebeu uma ligação de Leo na semana passada? — Leo? — Ele não dormia havia vinte e oito horas. Primeiro atribuíra a presença de Olívia a uma alucinação. Quem poderia ser Leo? — Leo Baskum, diretor da International Plastics. Ele quer doar mais dois aviões a Fundação Merritt. — Ah, sim. Como soube? — Estudei com Julie Baskum, filha dele. — Olívia sorriu, tímida. — Você está fazendo um grande trabalho, Zack. Gostaria de ajudá-lo. Zack pestanejou. — Não sei o que dizer. — Que tal, Você está contratada"? Ele tornou a piscar. O que Olívia estava dizendo? — Agradeço seu interesse — respondeu. Ela estava ali a negócios. Realizado seu propósito, Olívia iria embora. Ele não queria que fosse. — Seu pai está à frente das pesquisas. As chances são grandes, não? Olívia deu de ombros. — Acho que papai irá longe mesmo que tenha perdido seu administrador financeiro hoje. — confuso.

Pensei que o administrador financeiro dele fosse você — Zack disse,

— Pedi demissão — Olívia respondeu. — Para me casar. A sensação de Zack foi a 8

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de ter levado um soco no estômago. — Com Skelton, não? — Não. — Olívia se levantou e colocou as mãos no peito de Zack. Elas estavam frias, mas Zack adorou o gesto. — Se estou sendo ousada, me desculpe. Afinal, não nos víamos há meses. As palavras de Olívia não estavam fazendo sentido. A menos que... A menos que ela estivesse dizendo que queria se casar com elel Zack queria acreditar nessa possibilidade, mas não se atrevia. — Zack? — Olívia o enlaçou pelo pescoço. — Eu te amo e estou te pedindo em casamento. Acha que aprendi a ser ousada? Zack sentiu vontade de rir, de tomar Olívia nos braços e girar. Não conseguia acreditar em sua sorte. Ou deveria chamar de milagre? — E Skelton? — Não o amo. Jerry não tem mais nada a ver comigo. Olívia estava séria. Talvez tivesse cometido um erro ao procurar Zack; mas estava decidida a dizer a ele tudo que estava sentindo. Foi mais forte do que ela. Ergueu-se na ponta dos pés e beijou-o. O toque dos lábios de Olívia foi a certeza que faltava. vezes.

Zack sentiu que explodia por dentro. Abraçou-a com força e beijou-a muitas — O que me diz de minha proposta? — Olívia perguntou algum tempo depois.

— Que te amo desde que consegui nos livrar daquele pára-quedas e vi teu sorriso. — Zack tornou a beijá-la. — Ainda não consigo acreditar... — Acredite, meu amor Olívia declarou, exultante. — Diga uma coisa. Acha que finalmente aprendi a ser ousada? Zack ergueu Olívia nos braços e carregou-a até a cama com os olhos brilhantes de emoção e desejo. — Bem-vinda à sua cerimonia de formatura.

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