SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - Biblioteca Nacional de Portugal t

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25/02/2020

Sophia de Mello Breyner Andresen :: Biblioteca Nacional de Portugal

Sophia de Mello Breyner Andresen Início Introdução 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Bibliografia e Prémios voltar Poema escrito depois da morte de Jorge de Sena em Maio de 1978.

Carta(s) a Jorge de Sena I Não és navegador mas emigrante Legítimo português de novecentos Levaste contigo os teus e levaste Sonhos fúrias trabalhos e saudade; Moraste dia por dia a tua ausência No mais profundo fundo das profundas Cavernas altas onde o estar se esconde II E agora chega a notícia que morreste E algo se desloca em nossa vida III Há muito estavas longe Mas vinham cartas poemas e notícias E pensávamos que sempre voltarias Enquanto amigos teus aqui te esperassem — E assim às vezes chegavas da terra estrangeira Não como filho pródigo mas como irmão prudente E ríamos e falávamos em redor da mesa E tiniam talheres loiças e vidros Como se tudo na chegada se alegrasse Trazias contigo um certo ar de capitão de tempestades — Grandioso vencedor e tão amargo vencido — E havia avidez azáfama e pressa No desejo de suprir anos de distância em horas de conversa E havia uma veemente emoção em tua grave amizade E em redor da mesa celebrávamos a festa Do instante que brilhava entre frutos e rostos IV E agora chega a notícia que morreste A morte vem como nenhuma carta in Ilha, 1989 © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal

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Sophia de Mello Breyner Andresen Início Introdução 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Bibliografia e Prémios voltar

Para o Ernesto Veiga de Oliveira no dia da sua morte Áquele que hoje morreu tendo sido Fiel a cada hora do vivido Trago o poema desse tempo antigo: Irisado cintilar dos areais Na breve eternidade desse instante Que não pode jamais ser repetido Foi nesse tempo o tempo: Longas tardes conversas demoradas No extático fervor adolescente Das grandes descobertas deslumbradas Versos dança música pintura Um mundo vivo em canto e em figura Que a vida inteira ficará comigo Agradecendo a graça do ter sido Assim pudesse o tempo regressar Recomeçarmos sempre como o mar 1992 in Musa, 1994 © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal

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Sophia de Mello Breyner Andresen Início Poemas de Sophia a amigos 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 voltar

Carta de Natal a Murilo Mendes Querido Murilo: será mesmo possível Que você este ano não chegue no verão Que seu telefonema não soe na manhã de Julho Que não venha partilhar o vinho e o pão Como eu só o via nessa quadra do ano Não vejo a sua ausência dia-a-dia Mas em tempo mais fundo que o quotidiano Descubro a sua ausência devagar Sem mesmo a ter ainda compreendido Seria bom Murilo conversar Neste dia confuso e dividido Hoje escrevo porém para a Saudade — Nome que diz permanência do perdido Para ligar o eterno ao tempo ido E em Murilo pensar com claridade — E o poema vai em vez desse postal Em que eu nesta quadra respondia — Escrito mesmo na margem do jornal Na Baixa — entre as compras do Natal Para ligar o eterno e este dia

Lisboa, 22 de Dezembro de 1975 in O Nome das Coisas, 1977 © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal

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Sophia de Mello Breyner Andresen Início Poemas de Sophia a amigos 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 voltar

Pascoaes Aqui a bruma a noite o sete-estrelo O sussurrar de brisas e de fonte Aqui o tempo anterior puro horizonte O ser um com a luz a flor o monte A terra se desvenda verso a verso Seu rosto é de pinhais sombras e mágoas Aqui o puro emergir: luas e águas E o antigo tempo irmão do universo in Ilhas, 1989 © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal

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Carta a Ruben A. Que tenhas morrido é ainda uma notícia Desencontrada e longínqua e não a entendo bem Quando — pela última vez — bateste à porta da casa e te sentaste à mesa Trazias contigo como sempre alvoroço e início Tudo se passou em planos e projectos E ninguém poderia pensar em despedida Mas sempre trouxeste contigo o desconexo De um viver que nos funda e nos renega — Poderei procurar o reencontro verso a verso E buscar — como oferta — a infância antiga A casa enorme vermelha e desmedida Com seus átrios de pasmo e ressonância O mundo dos adultos nos cercava E dos jardins subia a transbordância De rododendros délias e camélias De frutos roseirais musgos e tílias

Carta a Ruben A.

As tílias eram como catedrais Percorridas por brisas vagabundas As rosas eram vermelhas e profundas E o mar quebrava ao longe entre os pinhais Morangos e muguet e cerejeiras Enormes ramos batendo nas janelas Havia o vaguear tardes inteiras E a mão roçando pelas folhas de heras Havia o ar brilhante e perfumado Saturado de apelos e de esperas Desgarrada era a voz das primaveras Buscarei como oferta a infância antiga Que mesmo tão distante e tão perdida Guarda em si a semente que renasce Junho de 1976 in O Nome das Coisas, 1977 © 2011 Biblioteca Nacional de Portugal

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