O modernismo e a inerrância Bíblica

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O MODERNISMO EE AA INERRÂNCIA BÍBLICA

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O Modernismo e a Inerrância Bíblica Autor: Brian Schwertley Primeiro Edição – Junho de 2000 É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, sem autorização por escrito dos editores, exceto citações em resenhas. Editor Responsável: Manoel Canuto Revisão: Emir e Alaíde Bemerguy Tradução: Denise Meister Projeto Gráfico: Heraldo F. de Almeida

Prefácio A inspiração das Escrituras sempre foi questionada. Os maiores críticos da inspiração bíblica são os liberais. Os liberais têm uma posição tão diferente da posição ortodoxa, do verdadeiro cristianismo, que não é de estranhar que o Dr. Gresham Machen, fundador de Westminster Seminary, o campeão da interpretação histórico-gramatical, e que escreveu o famoso livro “Christianity and Liberalism” (será publicado pela editora Os Puritanos), chamava o liberalismo de uma “nova religião”. Os liberais se opõem fortemente ao pensamento dogmático da inspiração das Escrituras e defendem o uso da crítica histórica e a aplicação das descobertas da ciência que envolvam algo das crenças religiosas. Os liberais, de maneira oposta aos cristãos verdadeiros, não aceitam a revelação escrita das Escrituras e afirmam que, apesar de terem alguma verdade (encontram alguma revelação), não podem ser consideradas a base de toda a verdade. Muitos subestimam o poder da revelação de Deus. Assim, não acreditam que Moisés recebeu uma revelação especial de Deus para escrever e descrever de forma literal a queda do homem no Éden. A maioria desacredita nas profecias bíblicas e acham que os ortodoxos têm uma postura de idolatria para com a Bíblia. Além disso são tão críticos e relativistas que acabam sendo o contrário do que pregam: são intolerantes. A falsa tolerância tem sido uma das marcas dos liberais. John MacArthur diz que os erros doutrinários entram na igreja no lombo da tolerância. Os liberais têm procurado destruir a fé cristã histórica “que uma vez foi dada aos santos”. Têm marginalizado os ortodoxos como Hodge, Warfield, Berkhof, Edwards, Machen e outros, julgando-os como antiquados, bitolados e têm

preferido homens como Barth, Brunner, Bultmann, Tilich, (neo-ortodoxos) cujos ensinos têm “destruído” a igreja. Basta ir à Europa e ver o caos da maioria das igrejas. Nunca se ouviu esta expressão: “Deus usou estes homens para trazer um grande despertamento espiritual, uma grande reforma, um grande avivamento à igreja”. Pelo contrário, com eles a igreja enfraquece e apostata. Por eles os ortodoxos, piedosos e zelosos mestres são chamados de anacrônicos, fechados, dogmáticos e incompetentes para compreender a mentalidade moderna. Os liberais são soberbos. Liberalismo e piedade são antagônicos. Os liberais defendem a posição de que os princípios de interpretação das Escrituras são de que a Bíblia foi escrita para homens, na linguagem dos homens, e que o seu significado deve ser buscado da mesma forma que se faz com qualquer outro livro. Muitos defendem que a Bíblia está cheia de mitos que nos levam à crença no sobrenatural. Por isso muitos não crêem no Gênesis, em um Adão literal, nem em Eva ou numa serpente literal, no fruto proibido, etc, considerando que quando Jesus e Paulo se referem a estas coisas do Gênesis, estavam nada mais do que aceitando a crença nos “mitos fundantes”. Ou seja: o Gênesis e seus mitos estariam para a origem da Queda, assim como a loba amamentando Rômulo e Remo estaria para a origem de Roma. Também não crêem na encarnação de Deus na pessoa de Cristo, na Sua ressurreição literal, nos milagres de Jesus e dos apóstolos, e o racionalismo têm permeado suas mentes. A partir da segunda metade do século XVIII, tendo o seu grande expoente em Emanuel Kant, a pregação caiu sob a influência do racionalismo e, por isso, os ensinos básicos da fé cristã como o pecado original, a expiação substitutiva de Cristo, a justificação pela fé, a trindade, as duas naturezas de Cristo, sumiram

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dos púlpitos. Contra essa postura filosófica e teológica surgiu uma reação sob a liderança de Friedrich D. E. Schleiermacher da Universidade de Berlim. O problema é que Schleiermacher tinha uma concepção errônea das Escrituras: cria na Bíblia não como auto revelação de Deus aos homens, mas como um registro da experiência religiosa subjetiva de santos preeminentes. O resultado foi a defesa de que a pregação deve derivar da consciência do pregador, identificar-se com a consciência religiosa do povo, apesar de nutrir-se da Escritura, principalmente do NT. Para Schleiermacher, pregar não é expor e aplicar a Escritura, mas transmitir uma consciência religiosa, e o alvo da pregação não é doutrinária, mas o viver cristão (a experiência). Dessa forma, ele concordava com o racionalismo em que o conteúdo da pregação deve ser obtido subjetivamente, mas tendo como ponto de partida, não o racional, mas o religioso. Este teólogo de Berlim, Schleiermacher é conhecido como o pai do liberalismo teológico e com ele surgiu a pregação modernista dos nossos dias, onde se substitui a Palavra objetiva de Deus pela experiência religiosa subjetiva tão comum nos cultos de hoje. Neste aspecto, é curioso ver como em alguns pontos os carismáticos se identificam com os liberais. Os liberais são contra todos os credos e confissões. Não se ajustam a qualquer dogma estabelecido. Dão uma ênfase exagerada na bondade inerente do homem e em sua racionalidade. Têm enfatizado os movimentos para o melhoramento econômico-social em lugar da salvação da alma e a esperança do céu. São soberbos, considerando que são detentores de mais verdades do que os ortodoxos aos quais chamam de ultraconservadores. Rejeitam o sobrenatural (não todos). Alguns pensam que o movimento liberal terminou com as publicações das obras de Barth que instituiram

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a neo-ortodoxia, mas o liberalismo continuou, apesar de não ter o mesmo ímpeto. Por outro lado os pensamentos de Rudolf Bultmann e de Paul Tilich deram continuidade ao pensamento liberal. Estes estiveram associados à revolução teológica da Karl Barth, tentando evitar certos excessos do liberalismo. Mas as críticas que podemos fazer contra esses homens são essencialmente as mesmas que são feitas ao liberalismo mais antigo. Os liberais não confiam nos credos e confissões, pois derivam de algo que a igreja inventou sobre Jesus e que não seriam verdadeiras; seriam fruto dos ensinos de Paulo, de especulações helenistas e de um supernaturalismo, geralmente sem sentido. Usualmente não toleram valores fixos embutidos em sistemas dogmáticos. Por isso são tolerantes, pluralistas, pragmáticos e relativistas. Com respeito ao pecado, os liberais são tolerantes e por demais “compreensivos” para com as falhas dos homens, pois que seriam devidas à falta de conhecimento. A salvação é vista como algo que livra apenas o homem de uma condição adversa. A doutrina da expiação de Cristo é vista pelos liberais apenas como um grande exemplo dado por Jesus que visava exercer apenas uma influência moral sobre o homem. Encerro este prefácio citando as palavras de R. B. Kuiper: “Por várias décadas os fundamentalistas e os modernistas andam em rixa discutindo se o Evangelho é mensagem de salvação individual ou social. Muitos pregadores fundamentalistas, embora sabedores de que a sociedade está em chamas, só estão interessados em resgatar indivíduos das chamas, e não em apagar o fogo. O pregador modernista, por outro lado tem a intenção de extinguir o fogo com esperanças de assim beneficiar o indivíduo que, conforme entende, é em

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geral produto do seu ambiente. Essa diferença também é visível na evangelização atual. O fundamentalista está certo em ir até onde vai, pois, que a salvação é primordialmente pessoal, não admite dúvida. Contudo, ele não vai longe o bastante. Ele negligencia os ensinamentos sociais contidos na Palavra de Deus. Para citar uns poucos exemplos, Jesus teve muito que dizer sobre casamento e divórcio (Mt 5:27-32; Lc 16:18) e sobre o dever dos ricos para com os pobres (Lc 16:19-25); e o apóstolo Paulo, em acréscimo àqueles assuntos, tratou da atitude do cidadão cristão para com o magistrado civil (Rm 13:1-7), das relações mútuas entre empregadores e empregados (Ef 6:5-9; Cl 3:22- 4:1), e da escravidão (Filemom). Na evangelização, o cerne do Evangelho tem que vir primeiro, é claro, mas as suas implicações sociais não devem ser ignoradas. A falta cometida pelo evangelho social do modernismo não está em que pretende curar os males sociais, mas em que pensa realizar isso de modo diametralmente oposto ao cristianismo. Deixando de lado a verdade óbvia de que nunca a sociedade pode ser melhor do que os indivíduos que a compõem, pretendem melhorar o indivíduo melhorando a sociedade. Quer resgatar os homens de conseqüências do pecado tais como a pobreza e as doenças, em vez de redimi-los do pecado mesmo, pelo sangue de Cristo. Pretende salvar o indivíduo por aquilo que é denominado ‘regeneração da sociedade’, e não pelo novo nascimento produzido sobrenaturalmente pelo Espírito Santo. Pretende, por esforços humanos, tirar os homens das favelas, em vez de tirar as favelas de dentro dos homens, pela graça de Deus. Negligencia a profunda verdade tão expressa por aquele grande pregador e evangelista, Charles Hadddon Spurgeon: ‘Leve um ladrão para o céu, e a primeira coisa que ele fará é bater as carteiras dos anjos’”.

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Sem dúvida o Pr. Brian Schwertley nos trará neste pequeno livro evidências bíblicas de que as Escrituras são de fato a Palavra de Deus inspirada e não apenas contêm a Palavra de Deus. Isto é neo-ortodoxia. Deus nos livre destes erros. O editor

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O Modernismo e a Inerrância Bíblica Brian M. Schwertley

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m dos maiores inimigos do cristianismo atual é o modernismo ou liberalismo cristão. Na verdade, poderia se dizer que o liberalismo cristão tem causado mais danos às denominações e instituições protestantes no séc. XX do que qualquer outro movimento herético. O que é o liberalismo cristão? O liberalismo cristão é parte de um movimento religioso, político e cultural mais amplo na Europa (em primeiro lugar) e então na América, que tem sua base na visão de mundo humanista secular. A razão pela qual os historiadores e teólogos referem-se ao liberalismo cristão como modernismo é o fato de que os liberais cristãos têm comprado e adotado a visão de mundo secular moderna. Eles têm adaptado seus ensinamentos para refletirem o espírito desta era. O que ocorreu com as denominações que adotaram o modernismo foi uma erosão séria da fé em Cristo e o emparelhamento da Bíblia com a nova fé nos pressupostos do progressivismo e naturalismo. Isto envolveu a fé na humanidade. As “descobertas” do homem na ciência, indústria, ciências sociais e econômicas introduziriam um milênio humanista. Algumas características comuns do modernismo são uma crença na evolução darwiniana, estatismo (comunismo, socialismo, fascismo do bem-estar social), alto criticismo negativo, relativismo histórico e ético e gradualismo subversivo. Porque o modernismo ainda é a força religiosa mais dominante na academia, governo civil e na mídia nos dias de hoje, um estudo e refutação de alguns dos seus ensinamentos mais proeminentes se torna necessário. Além disso, as lições teológicas que deveriam ter sido aprendidas das batalhas teológicas entre modernistas e fundamentalistas (c. 1870-1940)

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não o foram por muitas pessoas, porque novas formas de modernismo ainda estão destruindo as instituições cristãs (e.g., Fuller Seminary)1  e denominações (e.g., A Igreja Reformada Cristã).

A Inspiração e a Autoridade da Bíblia A grande linha divisória entre o modernismo e o cristianismo bíblico está no tema fundamental da inerrância bíblica e autoridade final. A posição cristã ortodoxa histórica tem sido sempre a de que Deus fala ao seu povo através da Bíblia, que é inspirada por Deus e, por essa razão, é infalível (ou inerrante) de capa a capa. Toda a Escritura tem origem divina; conseqüentemente, ela é a Palavra de Deus. “Cada palavra da Bíblia é, por seu próprio testemunho a si mesma, infalivelmente verdadeira [cf. Mt 5.18; Is 45.19; Sl 119.160; Jo 17.17]... [Assim], a Bíblia é ‘absolutamente sem erros’ em qualquer um dos assuntos que menciona em seu ensino - seja declarações sobre história, história natural, etnologia, arqueologia, geografia, ciência natural, fato histórico ou físico, princípio psicológico ou filosófico ou doutrina espiritual e deveres”2 . Porque a Bíblia é a revelação especial de Deus de Si mesmo ao homem e é infalível (i.e., verdade objetiva), é a fonte final e última de autoridade em todos os assuntos de adoração, doutrina e disciplina. A base do liberalismo cristão não é a Bíblia, mas a humanidade ou, mais especificamente, o estudioso modernista, líder cristão ou burocrata. O grande pressuposto do modernismo é uma Bíblia falível. Uma vez que o liberalismo cristão engloba uma grande variedade de pontos de vista heréticos com relação à Escritura, o que se segue são os ensinamentos típicos, gerais dos estudiosos modernistas com relação à Bíblia. Os modernistas argumentam (em acordo com os seus pressupostos anti-sobrenaturais) que a Bíblia é um

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registro humano da evolução religiosa do politeísmo para o monoteísmo das tribos do Oriente Médio. Estas tribos eventualmente se tornaram conhecidas como israelitas. De acordo com os estudiosos liberais cristãos, a Bíblia é cheia de mitos e lendas. Por esta razão, a Bíblia não nos diz a palavra de Deus, antes revela os ensinamentos religiosos de uma comunidade religiosa antiga. Slogans comuns entre os modernistas são: 1.) A Bíblia não é a própria verdade, mas contém a verdade. 2.) A Bíblia não é um livro texto com relação à ciência. Conseqüentemente, não se deve esperar que ela reflita acuradamente o que realmente aconteceu durante a criação, etc. 3.) O Pentateuco, os Evangelhos e outros livros históricos nunca tiveram a intenção de serem considerados relatos históricos. 4.) A Bíblia é cheia de contradições. 5.) A Bíblia reproduz erros científicos, visões éticas e preconceitos sociais do período em que foi escrita. Assim, muitas das leis do Antigo Testamento são injustas, bárbaras e não éticas. 6.) Os milagres registrados na Bíblia não deveriam ser considerados verdadeiros porque violam as leis da natureza. A lista prossegue mas os pontos enumerados acima são suficientes para uma pessoa entender o modernismo. Algumas Considerações Filosóficas Uma pessoa em uma igreja modernista e alguém que lê um artigo na revista Time com relação à Bíblia ou que assiste à “televisão pública” ouvirá que a posição cristã liberal sobre a Bíblia é simplesmente a da evidência relativa aos fatos. A verdade, no entanto, é que os estudiosos modernistas sempre ignoram as evidências bíblicas, históricas e arqueológicas que não se enquadram nos seus pressupostos humanistas seculares. Se os pontos de partida de uma pessoa são: Deus não é soberano; Ele não pode revelar-se de forma infalível à humanidade de uma forma proposicional;

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milagres são impossíveis; a doutrina do inferno não pode ser verdadeira; o domínio da fé é não racional e não histórico; o homem é o determinador autônomo da verdade, da realidade, etc.; então, naturalmente, ele não irá considerar a Bíblia como fundamentalmente digna de confiança e sim meramente como outro livro religioso antigo. As conclusões do alto criticismo com relação à Bíblia são o resultado inevitável de um axioma apóstata incrédulo. A metodologia “científica” secular moderna diz que a Bíblia não pode ser recebida como auto-autenticada porque isto seria dogmatismo. Isto seria submissão cega à autoridade. Assim, a fim de ser realmente científica e objetiva, uma pessoa deve sujeitar a Bíblia aos métodos literários e históricos autorizados dos seminários e universidades liberais. Mas tudo o que este chamado processo científico tem feito tem sido transferir a fé das pessoas da autoridade bíblica para a autoridade dos chamados experts bíblicos. As pessoas não estão mais seguindo o dogmatismo das Escrituras mas o dogmatismo dos teólogos incrédulos. Lembre-se, quando uma pessoa sustenta um ponto de vista particular com relação à Bíblia, seu ponto de vista não ocorre e não pode ocorrer em um vácuo. Ele é necessariamente parte de uma visão de mundo geral. Ele envolve uma visão da ontologia (teoria do ser), epistemologia (teoria do conhecimento), história, Deus (e.g., Deus é soberano? Ele pode se comunicar de uma forma proposicional com a humanidade? etc.), homem, criação e até mesmo salvação. Conseqüentemente, o tema não é um daqueles de mera efetividade, mas a visão de mundo que uma pessoa usa para formular, filtrar e analisar os fatos. O verdadeiro evangélico faz o melhor que pode para derivar seus pressupostos da própria Palavra de Deus. Seu ponto de partida é a trindade ontológica independente que se revela infalivelmente ao homem na Bíblia. Ao derivar sua

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visão de mundo geral e doutrina a partir da Escritura, ele aborda a Bíblia com reverência. Ele sabe que ela é auto-autenticada, inerrante, perspícua (i.e., clara) e suficiente. Ele sabe que a fé salvadora em Jesus Cristo não pode ser separada da fé nas palavras de Cristo. O modernista (por outro lado) aproxima-se da Bíblia com pressupostos que são antitéticos à autoridade bíblica. Ele começa com a hipótese de que a verdade é apenas aquela que o homem determina como verdadeira. Deus é colocado no banco dos réus para ser julgado pelos homens finitos, pecadores e arrogantes. Em segundo lugar, ele assume o relativismo histórico. A mensagem da Bíblia não pode ter significado para a era moderna porque é um livro muito velho. Ela deve ser provada, analisada e reformada pelos estudiosos modernos a fim de ser relevante na era moderna. Se uma doutrina ou estipulação ética parece distante da modernidade, o estudioso modernista simplesmente a reduz a um mito ou a uma redação, ou à opinião de uma pessoa antiga com conhecimento limitado. O que é irônico com relação à posição modernista é que ela não é apenas tão dogmática quanto o cristianismo bíblico, é também irracional. O modernista se apresenta como o campeão da objetividade e da razão. Porém, ele abandona a Bíblia enquanto se proclama o campeão de Jesus e do cristianismo. Mas, como uma pessoa pode racionalmente declarar-se campeã de uma religião que é baseada na verdade divina enquanto nega que tal verdade exista? É neste ponto que o modernista tira a máscara do racionalismo e da objetividade e a substitui pela máscara do misticismo, irracionalidade e subjetivismo. O modernista procura agarrar-se ao título de cristão com uma superficialidade tão bizarra como: “A verdade divina não é encontrada nas proposições escritas mas na consciência autêntica pessoal de Deus”, ou “O poder

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da Escritura não é derivado da inspiração objetiva ou verdade mas do seu efeito espiritual maravilhoso sobre o homem”, ou “Embora a Bíblia não seja inspirada por Deus e não seja uma fonte confiável para as afirmações dogmáticas, ela tem uma autoridade poderosa na experiência religiosa com a qual mexe nos corações dos seus estudantes.” O modernista, ao puxar o tapete de sob a verdade objetiva, é deixado com uma religião antropológica. Ao fazer do homem o ponto de referência final para a verdade, o liberal cristão é deixado com um subjetivismo grosseiro e slogans místicos tolos. Logo que uma pessoa entende a posição modernista geral no seu contexto de visão de mundo, nunca mais deveria deixar-se enganar pelo argumento de que os liberais cristãos são racionais, objetivos e científicos enquanto que os ortodoxos cristãos são seguidores fideístas cegos da autoridade. O cristianismo bíblico que repousa na infalibilidade bíblica é a única posição racional defensível. É a única posição que evita o subjetivismo, relativismo e misticismo.

Algumas Considerações Preliminares Ao investigar a doutrina da inspiração e infalibilidade da Escritura, o lugar mais lógico para se começar é a própria Bíblia. Se a Bíblia não alega ser inspirada por Deus; se não alega ser inerrante ou sem erro em tudo o que ensina, incluindo assuntos de ciência e história; se ela meramente alega ser um registro falível e uma experiência religiosa de um povo antigo, então, obviamente, não há razão para se insistir na sua infalibilidade e total autoridade sobre a igreja e toda a humanidade. No entanto, se a Bíblia ensina a inerrância bíblica, então devemos defender as alegações da Escritura com cada fibra do nosso ser. Um argumento baseado nas Escrituras será considerado por muitos como raciocínio circular não científico

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e inadequado. No entanto, devemos nos lembrar que a Bíblia é única. Porque é a Palavra de Deus, ela deve ser auto-autenticada porque não pode haver autoridade acima do próprio Deus. A Bíblia deve ser crida porque ela é a Palavra de Deus. O autor do livro de Hebreus diz “visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo” (Hb 6.13). Este ponto, contudo, não significa que a crença de um cristão na Bíblia seja irracional ou um salto cego no escuro (fideísmo). A crença nas Escrituras é suportada por abundantes evidências. Como a Confissão de Westminster diz: “a excelência do assunto, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, o consentimento de todas as partes, o alvo do todo (que é dar toda a glória a Deus)...e toda a perfeição disso são argumentos através dos quais há evidência abundantemente como sendo a Palavra de Deus....”3  A isto poderia ser adicionado às surpreendentes descobertas de arqueologia, profecias perfeitamente cumpridas, sinais e maravilhas e assim por diante. Enquanto todas estas evidências testificam a verdade da Escritura, não devemos nunca nos esquecer de que a Bíblia repousa definitivamente na própria autoridade de Deus. “Deus ‘testifica a Si mesmo’ porque não há nada mais epistemologicamente autoritário ou moralmente final que poderia autorizar o que Ele revela.”4  Antes de examinarmos as muitas passagens bíblicas e doutrinas que ensinam claramente que a Bíblia é a Palavra infalível, inspirada de Deus, deveria ser notado que o cristianismo se ergue ou cai na inerrância bíblica. Por que? Porque a Bíblia é a base de cada doutrina da fé cristã. O cristianismo é uma religião baseada no espaço e tempo reais, eventos históricos e na própria interpretação de Deus destes eventos. A fim de se tornar um cristão, uma pessoa deve crer em Cristo como ele é revelado nas Escrituras. A Bíblia é virtualmente a única fonte de informação com relação a estes eventos

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e é a única fonte que nos dá a interpretação de Deus destes fatos. Conseqüentemente, toda a teologia deve ser baseada na Bíblia. Enquanto é verdade que certas coisas sobre Deus são aprendidas a partir da revelação geral (i.e., revelação de Deus de Si mesmo na natureza; cf. Sl 19.1; Rm 1.18ss.), o apóstolo Paulo diz que esta informação é suficiente apenas para condenar o homem natural (cf. Rm 1.20ss.). Se uma pessoa diz ter fé em Jesus Cristo, ela deve ter fé na Bíblia que nos diz quem Jesus é. A fé em Cristo como uma pessoa não pode ser separada da fé nas Escrituras que definem Cristo e sua obra. À parte da revelação especial de Deus, a imagem do homem ou interpretação de Cristo de uma pessoa é tão boa quanto a de outra, porque são todas invenções da imaginação do homem. Todas elas são obras de suposição subjetiva. Sem a Bíblia, os modernistas são homens cegos tateando no escuro. Sua religião nada mais é do que uma forma intelectualmente sofisticada de idolatria. Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é uma mistura de verdade e erro, então nada da Bíblia pode ser confiado em sua própria autoridade. Mas o que é esta autoridade maior? Ela mesma é infalível, objetiva e totalmente confiável? Não. A autoridade maior é meramente a mais recente teoria popular ensinada nas instituições modernistas. O alto criticismo não é uma ciência severa. Um arqueólogo pode descobrir uma pedra de pavimentação ou um monumento antigo e dizer que Pôncio Pilatos realmente existiu e governava quando a Bíblia diz que ele governava. O estudioso modernista, no entanto, diz coisas como: “Baseado em minha análise da gramática hebraica, há dois autores diferentes do livro de Isaías”. O estudioso modernista realmente sabe se dois homens diferentes escreveram o livro de Isaías? Não. Ele tem uma teoria. Ele tem uma opinião instruída, baseada nos seus próprios

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pressupostos modernistas. O cristão professo em uma igreja modernista não pode colocar sua confiança em qualquer porção da Escritura sem primeiro consultar as mais recentes autoridades modernistas para ter certeza de que não está crendo em algum mito tolo ou em uma edição de um poderoso sacerdote faminto, ou em uma lenda de uma comunidade cristã do segundo século inclinada a moldar o Jesus humano à sua própria imagem. Quando uma base segura da Bíblia infalível é substituída por opiniões pervertidas de humanistas seculares disfarçados de mestres cristãos, então (de acordo com o seu próprio ensino) não se pode confiar em um único ponto da Bíblia. Os modernistas não são diferentes dos romanistas porque a base da teologia de ambos não é apenas a Escritura mas, antes, a tradição humana. Os católicos romanos olham para os pais da igreja e para as invenções teológicas da Idade Média (e.g., purgatório, Mariolatria, transubstanciação, celibato para os sacerdotes e freiras, papado, etc.) enquanto os liberais cristãos seguem as tradições dos filósofos seculares (e.g., Hobbes, Spinoza, Hume, Kant, etc.) e dos teólogos apóstatas (e.g., Schleiermacher, Ritschl, Bushnell, Bultmann, etc.). Para romanistas e modernistas, a autoridade final não é a Bíblia, mas a igreja. No catolicismo romano, o Papa e a hierarquia da igreja determinam a doutrina enquanto entre os liberais cristãos ela é determinada pelos professores de seminário e pela burocracia da igreja. Nas denominações modernistas, basicamente, quem quer que tenha o poder, esse determina a doutrina. O único fator limitador nas denominações modernistas é a opinião pública. Aqueles que têm o poder refreiam as visões mais radicais até que as pessoas nos bancos das igrejas, que pagam seus salários, sejam conquistadas quanto a estas novas visões. A repreensão de Jesus aos escribas e fariseus aplica-se igualmente a todos

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os modernistas: “E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição...são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mt 15.6, 14). Paulo nos admoesta quanto a tais homens maus: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Isaías adverte: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Is 8.20).

Argumentos Bíblicos e Teológicos De capa a capa, a Bíblia se apresenta como a Palavra de Deus. Ela é a revelação registrada de Deus de Si mesmo à humanidade. A Bíblia é um registro infalível da história da redenção e nos diz tudo o que Deus quer que saibamos com relação à fé e à vida. Como sabemos que ela é a palavra inspirada infalível de Deus? Porque ela nos diz isso claramente. Há muitos argumentos escriturísticos para a inerrância bíblica. 1. Há centenas de passagens no Antigo Testamento que identificam as palavras dos profetas como vindo diretamente de Jeová. Frases como “Assim diz o SENHOR,” “diz o Deus de Israel,” “diz o SENHOR dos exércitos,” “diz o SENHOR Deus,” “diz o Santo,” “diz o SENHOR,” “diz o Santo de Israel,” “o Deus de Israel diz,” “o SENHOR diz,” “o Altíssimo diz,” “diz o Rei,” etc. ocorrem 864 vezes. Há inúmeros exemplos de frases como “o SENHOR falou,” “Deus falou,” “o SENHOR disse,” “Eu falei,” “Eu, o SENHOR, disse,” “Eu disse,” etc. A Bíblia diz que Deus falou verbalmente com Adão e Eva, Noé, os patriarcas, Moisés e com os profetas e apóstolos. O próprio Cristo é a revelação final de Deus ao homem. “Havendo Deus outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hb 1.1-2).

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2. Há fórmulas introdutórias na Bíblia que afirmam claramente que os profetas falaram as próprias palavras de Deus. Há frases como: “a palavra do SENHOR veio até...”, “palavra do SENHOR ao profeta...”, “palavra que o SENHOR falou a...”, “palavra que o SENHOR me mostrou”, “palavra do SENHOR através de”, (cf. Gn 15.1,4; 1 Re 6.11; 12.22; 13.20; 16.1; 17.2; 18.1; 19.9; 21.17, 18; Is 38.4; Jr 1.2, 4, 11, 13; Os 1.1, 4; Jl 1.1; Am 3.1; Jn 1.1; 3.1; Sf 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1, 7; 4.8; 6.9; 7.8; etc.). Os profetas estavam cientes de que falavam a palavra de Deus ao povo. Eles introduziam a mensagem de Deus com frases como: “ouvi a palavra do SENHOR” e “ouvi esta palavra que o SENHOR falou”. Bromiley escreve: “O profeta é o homem a quem a palavra do SENHOR (Iavé) vem e que, então, a declara ao povo... Não é palavra do próprio profeta...O profeta não produz a palavra de dentro de si mesmo. Ela é uma mera questão de discernimento religioso; a palavra é de Deus. O que o profeta diz é verdade porque é o que Deus diz.”5  Depois de examinar as muitas passagens apontadas acima, uma pessoa não deveria concluir que apenas visões e declarações diretas de Deus são inspiradas. Porque a Bíblia também identifica os registros históricos dos escritores bíblicos, poesia, canções de adoração e assim por diante como divinamente inspirados. O rei Davi, o grande compositor, disse: “O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua” (2 Sm 23.2). Isaías disse: “Buscai no livro do SENHOR e lede” (Is 34.16). Young escreve: “Ele [Isaías] está, em efeito, referindo-se a esta profecia como uma parte do todo. Ela é parte de uma Escritura real, de um livro escrito para que os homens possam voltar-se a ele e encontrar nele a referência a esta profecia. Isaías apela para as palavras escritas de Deus como a autoridade pela qual os homens devem julgar a confiabilidade de sua mensagem. Quando uma

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pessoa encontra a profecia na Escritura, deve ler e, através da leitura, será capaz de verificar a confiabilidade do que Isaías predisse” (Edward J. Young, The Book of Isaiah [Grand Rapids: Eerdmans, 1969], 2:442). Paulo disse, “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16; cf. 2 Pe 1.21). Há muitas outras passagens que confirmam este ensinamento. Aqui estão alguns exemplos. “Respondeu-lhe o SENHOR [a Moisés]: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Ex 4.11-12). “O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua” (2 Sm 23.2). “Depois, estendeu o SENHOR a mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9). 3. A Bíblia declara sua própria pureza, perfeição e verdade. Assim, qualquer idéia que a Escritura contém impurezas, imperfeições ou enganos deve ser rejeitada. “As palavras do SENHOR são palavras puras” (Sl 12.6). “A lei do SENHOR é perfeita... O mandamento do SENHOR é puro” (Sl 19.7, 8). “Puríssima é a tua palavra... As tuas palavras são em tudo verdade” (Sl 119.140, 160). “Toda palavra de Deus é pura” (Pv 30.5). Jesus disse, “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.7). O mundo não cristão e todos os modernistas rejeitam estas passagens. Ao contrário de todos os apóstatas modernistas, declaramos como Paulo: “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem” (Rm 3.4). 4. Os autores inspirados do Novo Testamento consideravam os escritos do Antigo Testamento como a palavra de Deus. Eles repetidamente recorreram ao Antigo Testamento como palavra vinda diretamente de Jeová. Não há dúvida de que todos os apóstolos sustentavam a visão estrita da inspiração plena verbal. Este fato é demonstrado no modo como os autores do Novo

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Testamento referem-se ao Antigo Testamento quando o citam. Há passagens em que se diz que foram faladas por Deus e até mesmo passagens que substituem a palavra Deus por Escritura. Exemplos de autores do Novo Testamento que atribuem passagens do Antigo Testamento a Deus estão a seguir. Mateus refere-se à profecia de Isaías do nascimento virginal de Cristo (Is 7.14) como “o que fora dito pelo Senhor” (Mt 1.22; cf. 2.15). Quando o apóstolo Pedro referiu-se aos Salmos 69.25 e 109.8, ele os introduziu dizendo: “convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi” (At 1.16). Antes de referir-se ao Sl 2.1-2, também disse: “Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nossa pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios...?” (At 4.24-25). “Por isso, também diz [Deus] em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção” (At 13.35). Antes de citar Isaías 55.3 (que os modernistas não acreditam nem mesmo ter sido escrito por Isaías), Paulo disse, “Desta maneira o disse [Deus]: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi” (At 13.34). Quando o autor de Hebreus citou o Sl 2.7; Dt 32.43; Sl 97.7 e Sl 104.4, ele disse: “Pois a qual dos anjos [Deus] disse jamais” (Hb 1.5), “E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, [Deus] diz” (Hb 1.6); “Ainda, quanto aos anjos, [Deus] diz” (Hb 1.7). Quando o mesmo autor introduziu o Salmo 95.7-11, disse, “Assim, pois, como diz o Espírito Santo” (Hb 3.7). B. B. Warfield cita muitos outros exemplos. Ele escreve: “Alinhadas a estas passagens, algumas outras são comumente classificadas nas quais a Escritura parece ser mencionada com sujeito oculto legei ou phasi, o sujeito dominante — seja a Palavra divinamente dada

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ou o próprio Deus — sendo aceito como verdadeiro. Entre estas têm sido contadas passagens, por exemplo, como as se seguem: Rm 9.15, “Respondeu-lhe, terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Ex 33.19); Rm 15.10, “Louvai, ó nações, o seu povo” (Dt 32.43); e novamente, “Louvai ao SENHOR, vós todos os gentios, louvai-o todos os povos” (Sl 117.1); Gl 3.16, “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente (Gn 13.15), que é Cristo”; Ef 4.8, “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens”. (Sl 68.18); Ef 5.14, “Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Is 60.1); 1 Co 6.16, “Porque, como se diz, serão os dois uma só carne” (Gn 2.24); 1 Co 15.27, “E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas” (Sl 8.7); 2 Co 6.2, “porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação” (Is 49.8); Hb 8.5, “pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte” (Ex 25.40); Tg 4.6; “pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Pv 3.34).6  O fato dos apóstolos repetidamente dizerem “ele diz” (o que obviamente refere-se a Deus) quando citam as Escrituras do Antigo Testamento é evidência irrefutável de que o consideravam divinamente inspirado. Os apóstolos não apenas dizem “Deus diz,” “Ele diz,” “O Senhor diz” ou “o Espírito Santo diz” quando se referem ao Antigo Testamento, mas também substituem a palavra Deus por Escritura. Em Gálatas 3.8, Paulo escreveu: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” [cf. Gn 12.1-3]. Em Romanos 9.17, Paulo escreveu: “Porque

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a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei” [cf. Ex 9.16]. Em ambos os exemplos, Deus é quem fala. Deus falou diretamente a Abraão e falou a Faraó através de Moisés. Para o apóstolo Paulo, não havia distinção alguma entre a Escritura falando e Deus falando. A Bíblia tem a mesma infalibilidade, fidelidade e autoridade como o próprio Deus falando. O apóstolo identificava “o texto da Escritura como Deus falando de forma tão habitual que o uso do termo “a Escritura diz” se tornou natural quando o que se pretendia realmente era “Deus disse como registrado na Escritura”7  5. Um exame nos evangelhos revela que Cristo acreditava e ensinava que as Escrituras do Antigo Testamento eram divinamente inspiradas e completamente autoritativas em todas as questões de fé e prática. O que é de interesse particular é o fato de Cristo ter crido e ensinado que todas as narrativas históricas do Antigo Testamento eram verdadeiras, confiáveis e relatos reais do que aconteceu de fato. Jesus até mesmo sustentou a historicidade literal de eventos que todos os modernistas virtualmente negam. Ele apontou para a criação de Adão e Eva por Deus como uma resposta definitiva à questão dos fariseus com relação ao divórcio (Mt 19.4; Mc 10.6-8). Ele referiu-se ao assassinato de Abel, filho de Adão e Eva (Lc 11.51). Nosso Senhor usou Noé e o dilúvio para ilustrar o que irá acontecer na segunda vinda (Mt 24.37-39; Lc 17.26,27). Ele também se referiu a Ló (Lc 17.28-32) e à destruição de Sodoma pelo fogo e enxofre (Mt 10.15l 11.23,24; Lc 10.12). Se estes eventos nunca aconteceram de fato, então não poderiam ter sido usados por Cristo como paradigmas históricos dos eventos que envolvem a segunda vinda (a não ser que se creia que a segunda vinda é um mito e que Cristo é um mentiroso). Jesus usou o relato histórico de Jonas e do grande peixe para ilustrar a sua ressurreição (Mt 12.39-41; Lc 11.29, 30,

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32). Novamente, se Cristo estava errado ao considerar a estada de Jonas no ventre do peixe, então por que deveríamos confiar nele com relação ao dogma central da fé cristã — a ressurreição? Jesus ensinou a historicidade dos patriarcas: Abraão (Jo 8.56), Isaque e Jacó (Mt 8.11; Lc 13.28). Diferente dos modernistas, ele ensinou que Moisés escreveu o Pentateuco. Foi Moisés quem entregou a lei (Mt 8.4; 19.8; Mc 1.44; 7.10; 10.5; 12.26; Lc 5.14; 20.37; Jo 5.46; 7.19). Cristo repetidamente referiu-se à lei moral do Antigo Testamento como o padrão absoluto de ética (e.g., Mt 18.16; 19.4-6, 18-19; 22.37; Mc 10.19; 12.29-31). Ele chamava a lei do Antigo Testamento de mandamento de Deus (Mt 15.3-4). Jesus ensinou que Davi foi um escritor de salmos que escrevia por inspiração divina: “O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo” (Mc 12.36; cf., Mt 22.43-44; Lc 20.42-43). Ele repetidamente citou o livro de Salmos como um guia profético infalível no seu próprio ministério e para resolver questões de doutrina e ética (e.g., Sl 8.2-Mt 21.16; Sl 22.1-Mc 15.34; Sl 31.5-Lc 23.46; Sl 41.9-Jo 13.18; Sl 69.4-Jo 15.25 [note a frase de Jesus, “para que se cumpra a palavra escrita na sua lei”]; Sl 118.22,23Mc 12.10; Lc 20.17; Sl 118.26-Mt 23.39, Lc 13.35; Sl 110.1-Mt 22.43-44, Mc 12.36; Lc 20.42-43). Jesus ensinou que os escritos proféticos do Antigo Testamento foram inspirados por Deus e eram absolutamente verdadeiros. Ele citou Isaías (Is 6.9,10-Mt 13.14, Mc 4.12; Is 29.13-Mt 15.7-9, Mc 7.6-7, Lc 8.10; Is 53.12-Lc 22.37; Is 54.13-Jo 6.45; Is 56.7-Mt 21.23, Lc 19.46, Mc 11.17; Is 61.1,2-Lc 4.19; Is 66.24-Mc 9.48) diferentemente dos modernistas que não crêem ou ensinam que houve 2 ou 3 autores diferentes para o livro. Ele citou Jeremias (Jr 7.11-Mt 21.13, Lc 19.46, Mc 11.17), Daniel (Dn 11.31, 12.11-Mt 24.15, Mc 13.14), Oséias (Os 6.6-Mt 12.7; Os 10.8- Lc 23.30); Miquéias

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(Mq 7.6-Mt 10.36); Zacarias (Za 13.7-Mt 26.31, Mc 14.27), e Malaquias (Ml 3.1-Mt 11.10). Quando Cristo discutiu o elemento profético do Antigo Testamento, Ele ensinou sem equívoco que tudo o que estava escrito a seu respeito deveria acontecer. “São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). Para Cristo, a Escritura tem uma fidelidade absoluta. “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc 24.46). Quando a Bíblia diz que algo irá acontecer, há uma necessidade absoluta de que isto aconteça. Além disso, Jesus não estendeu a autoridade bíblica para apenas uma parte da Bíblia ou só para os pensamentos dos autores, mas para as próprias letras. “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18). Uma passagem onde Cristo ensina a inspiração plena e a autoridade divina de cada palavra nos manuscritos originais das Escrituras do Antigo Testamento é João 10.34-35: “Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar...” Nesta passagem Jesus: 1.Baseia todo o seu argumento em uma palavra do texto hebraico. 2.Diz que o Antigo Testamento (a palavra lei é usada em um sentido mais amplo para incluir os escritos e os profetas) é a Palavra de Deus. 3. Diz que a Escritura não pode falhar. Isto é, não pode ser privada de sua autoridade obrigatória. “A Escritura não pode falhar. Ela é absolutamente indestrutível, não importa como o homem a considere. O Antigo Testamento, na forma escrita em que se en-

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contra! é inspirado, infalível e munido de autoridade”8  escreve Pink: “Note o modo como no v. 35 o Salvador disse, ‘A Escritura não pode falhar.’ Que grande honra ele colocou na Palavra escrita! Ao fazer uso deste versículo do salmista contra os seus inimigos, todo o ponto do seu argumento foi baseado em uma única palavra – ‘deuses’ – e o fato de que ela ocorreu no livro divinamente inspirado. A Escritura foi a corte final de apelação, e aqui o Senhor insiste na sua autoridade absoluta e inerrância verbal”.9  “Que ‘a Escritura não pode falhar’ pressupõe a inspiração da mesma é, para quem quiser ver, perfeitamente claro”10 . J. C. Ryles escreve: “A Escritura não pode falhar. As teorias daqueles que dizem que os escritores da Bíblia foram inspirados, mas não todos os seus escritos, – ou que as idéias da Bíblia foram inspiradas, mas não toda a linguagem em que estas idéias foram transmitidas,– parecem ser totalmente irreconciliáveis com o uso da sentença por nosso Senhor diante de nós. Não há outra posição a ser mantida sobre a inspiração, creio, exceto o princípio de que ela é plena e alcança cada sílaba. Uma vez abandonada esta posição, somos mergulhados em um mar de incertezas. Como uma cuidadosamente composta linguagem de vontades, declarações e comunicações, cada palavra da Bíblia dever ser considerada sagrada, sem a admissão de uma única falha ou deslize da caneta” (Expository Thoughts on the Gospels [Cambridge, Inglaterra: James Clark and Co., 1976] 2:251). Quando Jesus foi confrontado por Satanás no deserto, Ele respondeu a cada tentação com uma citação do Antigo Testamento. Cada citação é introduzida por nosso Senhor com a fórmula autoritária “Está escrito” (Mt 4.4, 7, 10; Lc 4.4, 8). Esta frase, “está escrito” (gegraptai), indica que as passagens da Escritura de Deuteronômio citadas por Cristo foram escritas ou dadas no passado por Deus mas continuam a ter efeito

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duradouro. Elas continuam a ter a autoridade de Deus por trás. Ainda estão em vigor e devem ser obedecidas. Uma boa tradução de gegraptai seria “permanece escrito”. Nosso Senhor poderia ter falado sobre a sua própria autoridade, ou até mesmo ter dado uma nova revelação, mas escolheu dizer, “Está escrito”. Ele colocou-se honestamente sob a autoridade das Escrituras do Antigo Testamento. Ele confiou na espada do Espírito. “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4.12). “Cristo usa a Escritura como seu escudo; porque este é o modo adequado de lutar se quisermos ter certeza da vitória”.11  A fórmula “está escrito” ocorre pelo menos setenta vezes no Novo Testamento. Warfield escreve: “Quando um escritor do NT diz, ‘Está escrito’, não pode surgir dúvida quanto ao lugar onde deve ser encontrado o que ele assim alega como possuindo autoridade absoluta sobre o pensamento e consciência dos homens. A simples adjunção, neste modo solene e decisivo, de uma autoridade escrita, carrega a implicação de que o apelo é feito à autoridade indefectível da Escritura de Deus, a qual, em todas as suas partes e em cada uma das suas declarações, é coberta com a autoridade do próprio Deus”.12  A atitude de Jesus com relação à Escritura também pode ser observada nos seus confrontos com seus principais oponentes, os escribas e fariseus. Cristo constantemente os repreendia por não crerem nas Escrituras e não se submeterem a elas. “Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5.46-47). (Alguns modernistas não crêem em Moisés ou nos seus escritos; então, de acordo com Cristo, como podem crer nele?) Nosso Senhor repreendeu os fariseus por adicionarem as

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tradições humanas à palavra de Deus. “Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?... assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mt 15.3, 6). A declaração de Cristo pressupõe claramente que a Escritura é o padrão final, único da doutrina e da ética. Jesus ensinou que as opiniões dos homens estavam sujeitas ao erro mas que a Escritura guardava uma autoridade incontestável. Diferente dos modernistas, nosso Senhor ensinou que os homens não devem submeter a Escritura às suas opiniões falíveis, mas sim, submeterem-se à autoridade dada por Deus à Escritura inerrante. Os modernistas têm anulado a Escritura, substituindo-a por suas próprias crenças e opiniões iníquas e até blasfemas. A denúncia de Cristo aos saduceus se aplica a todos os modernistas: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). A resposta de Jesus à falsa doutrina foi “não tendes lido o que Deus vos declarou” (Mt 22.31; cf. Mc 12.26; Lc 20.37). Como os modernistas respondem ao fato de que Jesus cria e ensinava a inspiração e inerrância das Escrituras do Antigo Testamento? Os modernistas mais radicais diriam que Cristo era meramente humano e estava simplesmente errado com relação à Bíblia. Em outras palavras, Ele era finito, limitado no conhecimento e sujeito a erros de julgamento, assim como o resto de nós. Esta visão é grosseiramente não cristã e iníqua. Outros modernistas, mais preocupados em parecerem cristãos, argumentam que Ele se acomodou à cultura e sociedade nas quais vivia. Em outras palavras, Ele sabia que a Escritura era cheia de erros, mentiras e mitos, mas Ele simulava que era inerrante porque não queria preocupar seus ouvintes do primeiro século. Eles afirmam que se Jesus tivesse vindo no século XX, seria um modernista e admitiria abertamente que a

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Bíblia é cheia de erros, lendas e estórias mitológicas. É esta a resposta modernista para o ensino de Cristo com relação às Escrituras bíblicas do Antigo Testamento? Ela é racional? A própria idéia de Jesus Cristo (que é Deus [Mt 1.23; Jo 1.1-3, 14; Rm 9.5], que não pode mentir [Tt 1.2; Hb 6.18], que é onisciente [Hb 4.13; Rm 11.2]) apelar para uma mentira, ou mito ou para uma redação de sacerdotes inescrupulosos iníquos para estabelecer uma doutrina ou ensino ético e apresentar este ensino como palavra de Deus, absolutamente verdadeira, é uma negação explícita do cristianismo. Ensinar, como os modernistas fazem, que ainda que Cristo fosse inconsciente da natureza mitológica do relato da criação, de Noé e o dilúvio, de Sodoma e Gomorra e de Jonas e o grande peixe; que Ele propositadamente mentiu ao povo (atendendo aos ensinos judaicos errôneos, populares em seus dias, com relação às Escrituras) é uma negação do Cristo da Bíblia. Um Jesus que não era Deus, que era pecador, não ético, que era um mentiroso podre, não pode ser a expiação pelos pecados dos eleitos. O Cristo modernista não é mais ético do que um líder de seita aproveitador ou o típico político democrata (mentiroso habitual). A doutrina da inerrância bíblica é tão tecida com a doutrina de Cristo que negar o último logicamente conduz à negação do primeiro. A inspiração plena e a inerrância bíblica dos autógrafos é uma questão de céu e inferno. Além disso, a idéia de que Jesus mentiu propositadamente ao povo porque não queria ofender seus equívocos de primeiro século com relação às Escrituras é ridícula quando observamos o modo como Cristo ofendeu o povo judeu por todo o seu ministério. Ele referiu-se aos líderes judeus como guias cegos de cegos (Mt 15.14), hipócritas (Mt 23.13), filhos do diabo (Jo 8.44) e sepulcros caiados (Mt 23.27). Ele referiu-se ao povo judeu como raça de víboras (Mt 3.7; 12.34; 23.33;

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Lc 3.7), e como geração perversa e adúltera (Mt 12.45; 16.4). Ele ensinou uma visão de divórcio muito restritiva e não popular (Mt 19.9). Recusou-se a acomodar sua própria visão de reino à concepção judaica carnal do Messias como um ditador e conquistador militar terreno para transformá-lo em rei (Jo 6.15). Ele parece ter ofendido propositadamente à multidão quando lhes disse sobre a necessidade de comerem a sua carne e beberem o seu sangue (Jo 6.51-56). Quando disse aos judeus que Ele era igual ao Pai, eles se enfureceram de tal modo que apanharam pedras para matá-lo (Jo 10.28-39). Sempre que encontrava um falso ensino entre os judeus, Ele o refutava sem qualquer consideração com a inimizade que isto lhe acarretaria (Mt 5.20ss.; 12.3-8; 15.3-20, etc.). A principal preocupação de Cristo nunca foi com a popularidade mas com o estabelecimento da verdade com relação a Si mesmo e à Escritura. Ele fielmente entregou a mensagem dada a Ele pelo Pai para o povo. “aquele que me enviou é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo... Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai” (Jo 8.26, 38). Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6; cf. Jo 1.14). Ele é “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3.14; cf. Is 65.16). Ele não é o falso profeta, mentiroso e fraudulento que os modernistas apresentam. Você crê no Cristo da Escritura ou no falso Cristo dos modernistas?13  6. Um exame do ofício profético revela que Deus exigiu 100% de exatidão de todos os profetas genuínos. Qualquer índice menor era uma ofensa passível de morte. “Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele

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se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18.20-22). Se Deus requeria 100% de exatidão do profeta para que o profeta fosse um verdadeiro profeta de Jeová, então, de acordo com a visão modernista do Antigo Testamento, as Escrituras são primariamente a obra de falsos profetas. Por que então lemos a Escritura, ou temos a exposição da mesma ou até mesmo vamos à igreja se a Bíblia não é verdade, se a Bíblia nem mesmo satisfaz o teste de Deuteronômio 18.20-22? Uma pessoa estaria numa situação melhor se ficasse na cama do que se estivesse presente em uma igreja modernista apóstata incrédula. Além disso, a Bíblia diz que um profeta que ensina o povo a adorar um deus falso deve ser morto (Dt 13.1-5). Visto que os modernistas ensinam o povo a adorar um falso Cristo e um falso deus, eles se colocam sob uma maldição especial de Deus. Em uma nação verdadeiramente cristã, eles seriam executados e seus seminários fechados ou entregues aos verdadeiros mestres da palavra de Deus. 7. A Bíblia contém muitos mandamentos para não se adicionar nem retirar coisa alguma da palavra de Deus. Estes mandamentos pressupõem que a palavra de Deus é única; que só a palavra de Deus é infalível e munida de autoridade. A palavra de Deus ensina explicitamente a Sola Scriptura. “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4.2). “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás”(Dt 12.32). “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5-6). “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer

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qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19). Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é cheia de mentiras, mitos e lendas, então, por que a Bíblia contém tantas advertências severas contra alterações no texto da palavra de Deus? Se a Bíblia é falível, se ela é uma mistura de verdade e erro, se contém o erro e até as alterações manipulatórias desonestas dos homens (e.g., a teoria J, D, E e P), então as muitas advertências fortes para não misturar a palavra de Deus são palavras de tolos iludidos. Mas se a Bíblia é o que alega ser (a própria palavra de Deus, inerrante e inspirada), então, ai dos modernistas que zombam das alegações da Bíblia. Estes falsos mestres “...nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre” (Jd 12-13). Devemos prestar atenção às palavras do profeta Isaías: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva” (8.20-RC). 8. A Bíblia contém algumas declarações muito específicas de que as Escrituras são inspiradas por Deus. Duas passagens clássicas sobre o assunto da inspiração são 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.21. Em sua segunda epístola a Timóteo (e a última carta que escreveu), Paulo insiste com Timóteo para que este mantenha “o padrão das sãs palavras” (2 Tm 1.13) nas quais havia sido instruído pelo apóstolo. Paulo quer que Timóteo “transmita a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2). Timóteo

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deveria se preocupar em “manejar bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15) e com a sua santificação pessoal (cf. 2 Tm 2.21-22) porque há muitos que se extraviam da verdade; que estão envolvidos em “falatórios inúteis e profanos” (2 Tm 2.16). Timóteo também deveria estar preparado para o futuro de ilegalidade e perseguição. Em contraste aos homens maus e falsos mestres que “irão de mal a pior” (2 Tm 3.13), Timóteo deveria continuar: 1.) nos ensinos inspirados do apóstolo Paulo (cf. 2 Tm 2.2; 3.10; 3.14) e 2.) nas Sagradas Escrituras (i.e., no Antigo Testamento). Por quê? Porque “toda Escritura é inspirada por Deus”. A passagem no contexto imediato diz: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.(2 Tm 3.14-17). Paulo diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). Este versículo levanta duas questões. O que Paulo quer dizer com a frase “toda a Escritura” e com “inspirada por Deus”? O termo Escritura (graphe), que ocorre mais de cinqüenta vezes no Novo Testamento (no singular ou plural), sempre se refere a todo o Antigo Testamento (as sagradas Escrituras) ou a uma passagem do Antigo Testamento (e.g., Mc 12.10). A palavra grega pasa pode ser traduzida por “toda” (KJV, NKJV, NASB, NIV, RSV, JB) ou como “cada” (ASV, NEB). A maioria dos tradutores e comentaristas (pelo menos os conservadores) preferem traduzir pasa como “toda” pelas seguintes razões: primeira, a gramática grega permite (cf. Rm 11.26) e alguns dos maiores estudiosos gregos (e.g., C. F. D. Moule) preferem a tradução

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toda. Segunda, o contexto decididamente favorece a tradução toda. Paulo havia acabado de dizer a Timóteo no versículo 15 que as Sagradas Escrituras (i.e., todo o Antigo Testamento) eram capazes de torna-lo “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”. Paulo então prossegue dizendo a Timóteo a razão pela qual a Escritura era capaz de fazer isto. É porque “toda a Escritura”, ou todo o Antigo Testamento, é inspirado. Terceiro, a tradução “cada Escritura” é facilmente interpretada de uma forma que viola o contexto imediato e a analogia da Escritura. Um modernista poderia dizer que “cada Escritura inspirada” (NEB) é eficaz, mas que as Escrituras não inspiradas não são eficazes. Esta tradução contradiz o versículo 15 (como mencionado acima) onde Paulo diz que todo o Antigo Testamento é capaz de tornar uma pessoa sábia para a salvação e centenas de passagens que ensinam ou indicam a inspiração do Antigo Testamento. Muitos estudiosos conservadores (e.g., William Hendriksen, George W. Knight III, Fairbairn) argumentam que a tradução “cada Escritura” ainda ensina a inspiração de todo o Antigo Testamento porque significaria que cada passagem do Antigo Testamento, ou cada parte componente da sagrada Escritura é inspirada. O que é importante notar é que Paulo ensina explicitamente que todo o Antigo Testamento é inspirado por Deus. Esta única passagem refuta todo o lixo tolo que emana das instituições de ensino superior e seminários modernistas (i.e,. centros de treinamento de Satanás). A segunda questão é: o que “inspirada por Deus” significa? Significa que os autores da Escritura tinham um dom especial de inspiração humana como Shakespeare ou Milton? Significa que a Bíblia tem a habilidade de inspirar seu leitor? Em 2 Timóteo, não significa nenhum destes dois. Ambas as visões erram completamente o alvo. A palavra grega traduzida por

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“inspirada por Deus” (theopneustos) é uma palavra composta que contém a palavra para Deus (theos) e o verbo para respirar (pneo). O verbo tem uma raiz aoristo (pneus) com o adjetivo verbal terminando- tos.14  Assim, ela literalmente significa “respirado por Deus.” A razão pela qual virtualmente todas as traduções em inglês usam a frase “inspirada por Deus” é porque os primeiros tradutores para o inglês seguiram a Vulgata Latina (inspiratus a Deo) e esta tradição ainda permanece. O grande estudioso bíblico B. B. Warfield demonstrou (um tanto conclusivamente) em um artigo de cinqüenta páginas sobre a palavra theopneustos que ela deveria ser considerada como uma forma verbal passiva. Isto significa que a fonte da Escritura é a respiração de Deus. Warfield escreve: “O que é theopneustos é ‘Deus respirou,’ produzido pela respiração criativa do Todo Poderoso. E a Escritura é chamada theopneustos a fim de designá-la como ‘Deus respirou’, o produto da inspiração divina, a criação do Espírito que está em todas as esferas da atividade divina, o executivo da Divindade. A tradução tradicional da palavra pelo latim inspiratus a Deo é, sem dúvida, desacreditada, se formos considerá-la ao pé da letra. Ela não expressa uma respiração por Deus para o interior das Escrituras. Mas a concepção ordinária presa a ela, enquanto entre os pais e dogmáticos, é, em geral, vindicada. O que ela afirma é que a Escritura deve sua origem a uma atividade de Deus, o Espírito Santo, e é no sentido mais elevado e verdadeiro, sua criação. É nesta base da origem divina que todos os altos atributos da Escritura são edificados.”15  A respiração divina refere-se ao Espírito de Deus que guiou os autores humanos da Escritura de tal forma que eles escreveram exatamente o que Deus queria. Paulo escreve: “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos

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homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.10-11). Dizer que toda a Escritura é respiração de Deus é o mesmo que dizer que toda a Escritura é palavra de Deus. O apóstolo Pedro também ensina que a Escritura é o resultado de uma obra especial do Espírito Santo. “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.19-21). A fim de entendermos o versículo 21, devemos primeiramente considerar o contexto da passagem. O versículo 21 chega ao fim e é o ponto culminante de uma seção que lida com o testemunho apostólico com relação a Jesus Cristo e à natureza da sagrada Escritura que confirma aquele testemunho (2 Pe 1.16-21). Esta seção se encontra em uma posição crucial entre: primeiro, uma seção onde Pedro diz aos recebedores da letra que ele está prestes a morrer e quer lembra-los a estarem certos da “da verdade já presente convosco” (2 Pe 1.12); e segundo, uma longa seção na qual os recebedores são advertidos com relação aos falsos profetas e falsos mestre (2 Pe 2.1-22). Pedro então retorna ao tema da terceira seção com uma discussão sobre os escarnecedores (2 Pe 3.3ss.). É interessante que duas passagens clássicas com relação à inspiração e origem divina da Escritura estejam inseridas no contexto da necessidade de se continuar na doutrina correta e na advertência com relação aos falsos mestres. Tanto

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para Paulo quanto para Pedro, a palavra de Deus é o único modo de manter a sã doutrina e eliminar os falsos mestres. Na seção que contém a discussão de Pedro quanto à inspiração, ele apresenta sua apologética para a verdade da fé cristã. Primeiramente, ele apresenta seu testemunho apostólico. Os apóstolos, ao pregarem o Evangelho, não estavam seguindo “fábulas engenhosamente inventadas” (2 Pe 1.16) ou mitos,16  ou mentiras humanas. Eles foram testemunhas oculares dos eventos históricos reais. Pedro destaca a transfiguração onde ele, Tiago e João foram praticamente cegados pela glória de Cristo e onde ouviram a voz de Deus, o Pai, testificando sobre seu Filho amado. Em segundo lugar, ele volta sua atenção para a natureza da sagrada Escritura. A Escritura é absolutamente confiável; conseqüentemente, ela deve ser obedecida. Nos versículos 19 a 21, Pedro identifica três coisas sobre a natureza da Escritura. Primeiramente ele diz, “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética” (2 Pe 1.19). Esta declaração pode ser legitimamente interpretada de duas formas diferentes. Ela pode significar que as predições do Antigo Testamento foram confirmadas e, assim, tornaram-se certas pelo relato testemunhal apostólico do cumprimento perfeito da profecia com relação a Cristo e ao seu reino. Ou pode significar que a palavra escrita de Deus é ainda mais certa do que ser uma testemunha ocular de um evento milagroso. Nisbet escreve: “Ele a chama de uma palavra mais segura, comparando-a à voz do Céu, mas porque é maior ter previsto e profetizado as coisas futuras do que ter visto e relatado as maiores coisas presentes. E porque uma voz transitória é mais facilmente passível de erro ou esquecida do que um registro autêntico permanente, assim a palavra escrita é uma base mais segura para o pecador colocar a sua fé do que uma voz

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do céu poderia ser”.17  Em segundo lugar, Pedro diz: “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação” (2 Pe 1.20). Esta declaração é interpretada de várias formas diferentes. Em nome da brevidade, iremos considerar duas das melhores interpretações. A primeira, que é parcialmente refletida na maioria das traduções inglesas, considera a palavra grega epilyseos como interpretação. A palavra tem o significado básico de desligar, libertar ou desatar algo e, neste contexto, carrega o significado metafórico de explicar ou interpretar a Escritura. Por esta razão, o ponto de Pedro é que ninguém deve impor sua própria imaginação ou fantasias sobre a Escritura mas deve deixar que a Escritura interprete a Escritura “porque o Espírito, que falou através dos profetas, é o único e verdadeiro intérprete de si mesmo”.18  De acordo com esta interpretação, Pedro repreende os falsos mestres que se precipitam na Escritura com todos os tipos de idéias fantásticas. A Escritura é única. Como livro divinamente inspirado, ela deve ser tratada com reverência e cuidado especiais. A segunda interpretação considera a palavra epilyseos como se referindo à origem ou fonte. Assim, o significado é que “nenhuma profecia da Escritura é resultado de revelação privada”,19  ou “origina-se ou surge como o resultado de qualquer determinação privada”.20  Esta interpretação encaixa-se belamente no versículo 21. Pedro está dizendo que a profecia não é algo que os profetas inventaram ou sugeriram. Pelo contrário, estes homens falaram porque foram movidos ou levados pelo Espírito Santo (o versículo 21 explica o versículo 20). Pedro completa sua consideração sobre a Escritura com uma explicação da inspiração divina. “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade

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humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21). O apóstolo refuta explicitamente a visão modernista de inspiração. Pedro diz que a profecia ou revelação divina nunca foi dada, brotou ou originou-se como resultado da vontade do homem. Contrário em muito do pensamento religioso moderno, a Bíblia não é apenas uma coleção de escritos de homens que tiveram experiências religiosas maravilhosas e encontros com Deus. Ela não é um registro da sabedoria, perspicácia e discernimento humano. Não é um registro do que homens sábios pensaram que iria acontecer. Não é uma redação de sacerdotes corruptos, famintos por poder ou oficiais da igreja dos séculos II e III inclinados a moldarem Cristo às suas próprias imagens. A única profecia que surge como resultado da vontade humana é a falsa profecia. “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do SENHOR” (Jr 23.16; cf. 14.14). “Filho do homem, profetiza contra os profetas de Israel que, profetizando, exprimem, como dizes, o que lhes vem do coração. Ouvi a palavra do SENHOR! Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito sem nada ter visto!” (Ez 13.2-3). Pedro diz que a profecia genuína veio porque “homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. O que Pedro quer dizer com homens movidos pelo Espírito Santo? A palavra traduzida por movidos (pheromenoi) significa ser carregado ou dirigido. É a mesma palavra usada para descrever um navio arrastado pelo vento em Atos (cf. 27.15, 17). O Espírito de Deus veio sobre os profetas e apóstolos e os arrastou. O Espírito Santo lhes deu uma revelação especial e os controlou de tal forma para garantir que

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aquilo que iriam dizer ou escrever era a própria palavra de Deus. “Os autores humanos foram poderosamente guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. Como resultado, o que escreveram não é apenas sem erro mas de valor supremo para o homem. É tudo o que Deus queria que fosse. Constitui a regra infalível de fé e prática para a humanidade”21 . Smeaton escreve: “Eles permaneceram silenciosos até receberem a comunicação do Espírito, ou o impulso claro do Espírito (Jr 1.17); em outras palavras, eles não começaram até os portões serem abertos e serem ordenados a correr. O Espírito não lhes deu o dom como um hábito permanente, ou como uma riqueza tão preservada que poderiam sacar de acordo com a própria sabedoria. Ele lhes deu luz e comunicações divinas para o propósito oficial no qual toda inspiração foi útil apenas em determinadas épocas; e Ele assim os moveu para que não pudessem falar ou escrever senão o que o Espírito queria que declarassem”.22  Dr. Martin Lloyd-Jones nos fala do significado da declaração de Pedro. Ele escreve: “Fomos preparados por Pedro nesta forma explícita quanto à grande doutrina do Antigo e do Novo Testamentos, a doutrina da revelação. A alegação feita aqui é a de que Deus se agradou em sua infinita compaixão e condensação em falar aos homens. A alegação feita para este livro é a de que ele é absolutamente único, que não há outro livro no mundo como ele. Todos os outros livros são produções de homem; eles são o resultado da vontade, do entendimento, do discernimento do homem. Mas aqui está um Livro que alega ser o registro de Deus falando. E ele alega isto com relação à mensagem–revelação — e também com relação ao modo como esta mensagem foi registrada — inspiração”.23  Embora a doutrina da inspiração da Escritura seja claramente ensinada na Bíblia, há alguns tópicos que precisam ser discutidos a fim de apurarmos o nosso

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entendimento desta doutrina. Em primeiro lugar, a inspiração se aplica à Bíblia como um todo e não apenas às revelações dadas aos profetas por visões, sonhos ou linguagem. As seções históricas, poesia, provérbios, epístolas, etc. são inspirados. Uma passagem da Escritura não tem que ser ditada por Deus para ser inspirada e munida de autoridade. Conseqüentemente, estas seções da Escritura que não são o resultado de uma visão direta ou voz de Deus, vieram através de uma superintendência especial do Espírito Santo. (Isto nos leva ao nosso próximo ponto). Em segundo lugar, a Bíblia não ensina o que tem sido chamado de teoria ditada da inspiração. Isto é, os escritores da Escritura não foram usados como robôs, nem foram meros amanuenses (escrivãs). As Igrejas Reformadas sempre sustentaram (justamente) o que é chamado de visão orgânica da inspiração bíblica. Isto significa que o Espírito Santo operou sobre os escritores da Bíblia de tal forma a preservar o exercício natural de suas faculdades. Assim, todas as peculiaridades da cada autor são preservadas. Cada autor tem sua própria experiência de vida, personalidade, e estilo de escrita que estão refletidos nas suas obras escritas. A Bíblia é o produto tanto da agência de Deus quanto da do homem; no entanto, o Espírito Santo trabalhou ao mesmo tempo nos autores e através deles para produzir soberanamente um resultado perfeito, infalível. Hendriksen faz uma descrição excelente deste processo: “Ao faze-lo nascer em um determinado tempo e lugar, concedendo-lhe dons específicos, equipando-o com um tipo definido de educação, causando-o a passar por experiências predeterminadas, e fazendo-o lembrar-se de certos fatos e suas implicações, o Espírito preparou sua consciência humana. Depois, o mesmo Espírito o moveu a escrever. Finalmente, durante o processo de escrita, o mesmo Autor Primeiro, em uma conexão orgânica perfeita com

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toda a atividade precedente, sugeriu à mente do autor humano a linguagem (as próprias palavras!) e o estilo, o qual seria o veículo mais apropriado para a interpretação das idéias divinas para as pessoas de cada nível e posição, idade e raça. Daí, embora cada palavra seja verdadeiramente palavra do autor humano, é ainda mais verdadeiramente a Palavra de Deus”.24  Em terceiro lugar, a inspiração de Deus estende-se não apenas aos pensamentos dos autores bíblicos mas também às próprias palavras. Os teólogos referem-se a isto como inspiração verbal. 1.) Os escritores do Novo Testamento e o próprio Jesus fizeram distinções teológicas e argumentos baseados em uma única palavra. Como notado anteriormente, Jesus baseou todo um argumento em uma única palavra “deuses” (Jo 10.34,35). Em Gálatas 3.16, Paulo baseia todo um argumento teológico no fato de uma palavra estar no singular (semente) e não no plural (sementes). Cristo e os apóstolos criam na exatidão da Escritura até nos mínimos detalhes. 2.) A Bíblia diz especificamente que as próprias palavras da Escritura são do Espírito de Deus. “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” (1 Co 2.13; cf. 1 Ts 2.13). Jesus disse, “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). “Assim diz o SENHOR: Põe-te no átrio da Casa do SENHOR e dize a todas as cidades de Judá, que vêm adorar à Casa do SENHOR, todas as palavras que eu te mando lhes digas; não omitas nem uma palavra sequer” (Jr 26.2). 3.) A idéia (comum entre aqueles que sustentam a teoria da inspiração parcial) de que os pensamentos dos escritores bíblicos foram inspirados mas que as próprias palavras não eram inspiradas é ilógica. Como pensamentos infalivelmente verdadeiros podem ser expressos com palavras inexatas, não verdadeiras?

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Pensamentos são compostos de palavras individuais. Pensamentos inerrantes só podem ser assegurados e preservados por palavras inspiradas, infalíveis. 9. O Novo Testamento não apenas prova a inspiração e autoridade do Antigo Testamento mas também testifica quanto à sua própria inspiração. Este ponto precisa ser dito porque zombadores modernistas algumas vezes admitem que a evidência bíblica para a inspiração e infalibilidade do Antigo Testamento é muito forte. (No entanto, ainda não crêem nela ou não se submetem à sua autoridade). Mas eles argumentam que não há evidência para a inspiração e autoridade do Novo Testamento. Há muitas razões pelas quais devemos aceitar a autoridade e inspiração completa do Novo Testamento. Em primeiro lugar, os apóstolos tinham um chamado único, missão e autoridade vindos de Cristo (Mt 10.40-41; At 1.21-22; 1 Co 9.1; 15.7-8), através do qual receberam revelações especiais do Espírito (Ef 3.3-5) e dons especiais de sinais (At 14.3; Hb 2.3-4). Jesus prometeu aos apóstolos que eles seriam guiados de forma sobrenatural pelo Espírito Santo durante os momentos mais difíceis e cruciais de seus ministérios (cf. Mt 10.19; Lc 12.12; Jo 14.16; 15.26; 16.7, 14). Os apóstolos tinham a responsabilidade única de estabelecer as primeiras igrejas e de colocar os fundamentos da instrução para todas as gerações subsequentes (Ef 2.20ss.). Os apóstolos e seus associados próximos (que eram os profetas) receberam inspiração total: para contarem perfeitamente a história do ministério de Cristo; para darem a interpretação de Deus da pessoa e obra de Cristo; para apresentarem novas leis com relação ao governo, disciplina da igreja, etc. Em segundo lugar, há passagens específicas que provam que o Novo Testamento é divinamente inspirado e totalmente dotado de autoridade. Paulo disse aos

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efésios, “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3.1-5). Deus, pelo seu Espírito, comunicou diretamente a Paulo as verdades que antes eram desconhecidas aos homens. Paulo recomendou a igreja de Tessalônica dizendo: “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1 Ts 2.13). Assim como os profetas do Antigo Testamento que falaram as palavras de Jeová, Paulo podia dizer que Cristo estava falando nele (2 Co 13.3). As coisas que Paulo ensinava não eram originárias da sabedoria humana mas eram ensinamentos do Espírito Santo (1 Co 2.14). Uma passagem (escrita aproximadamente 30 anos depois do Pentecostes) que coloca o então (ainda em formação) embrionário cânon do Novo Testamento no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento é 2 Pe 3.15-16: “como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras”. Esta é uma alegação surpreendente. “Pedro

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coloca aqui os escritos do apóstolo Paulo, e conseqüentemente seus próprios escritos, em igualdade com as Escrituras do Antigo Testamento.”25  Anteriormente, Pedro havia ensinado que os apóstolos tinham a mesma autoridade que os escritores do Antigo Testamento. “Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida, para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos” (2 Pe 3.1-2). Por que os escritos apostólicos do Novo Testamento têm a mesma autoridade sobre a igreja dos escritos sagrados do Antigo Testamento? A resposta é que ambos foram inspirados ou respirados por Deus e, assim, são igualmente palavra de Deus. Afirmar algo contrário é argumentar que os mandamentos dos apóstolos foram arbitrários e que o cristianismo é um blefe, uma mera invenção humana. Só a inspiração total pode responsabilizar-se pelas declarações de autoridade absoluta nas epístolas. Paulo disse, “retendes as tradições assim como vo-las entreguei” (1 Co 11.2). Note, a autoridade divina por trás da declaração do apóstolo: “É assim que ordeno em todas as igrejas” (1 Co 7.17). Note também o modo como Paulo apresenta a lei absolutamente munida de autoridade com relação ao divórcio: “Aos mais digo eu, não o Senhor [i.e., Jesus durante seu ministério terreno de ensino, cf. 1 Co 7.10-11]: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone... Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz” (1 Co 7.12, 15). Paulo deu ordens a todas as igrejas: “Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia” (1 Co 16.1). Exemplos

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poderiam ser multiplicados, no entanto o ponto já foi estabelecido. As epístolas têm uma autoridade “Assim diz o Senhor”. Então, a advertência de Paulo à igreja de Tessalônica se aplica a todos os modernistas que rejeitam os ensinos da Bíblia como palavras de homens. “Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito Santo” (1 Ts 4.8). 10. A doutrina da inspiração, inerrância e autoridade da Bíblia repousa na doutrina de Deus. Se Deus é absolutamente soberano (Gn 14.19; Ex 18.11; Dt 10.14, 17; Jr 27.5; Ap 19.6, etc.), conhece todas as coisas (Hb 4.13; Rm 11.33) e não pode mentir (Hb 6.18) ou mudar (Sl 102.27; Tg 1.17), então tudo o que Ele diz deve ser absolutamente verdadeiro. A idéia de que Deus existe mas não pode se revelar à humanidade de forma proposicional; ou que Deus não tem a capacidade para controlar o elemento humano da escrita das Escrituras de tal forma a produzir autógrafos inerrantes, é simplesmente uma negação de que o Deus da Bíblia existe. A posição modernista (logicamente) tem apenas duas visões alternativas de Deus que se encaixam na sua posição de Escritura. Eles podem argumentar que Deus nunca pretendeu soberanamente produzir uma Bíblia inspirada, inerrante. Esta posição retém o ensino bíblico de que Deus é soberano mas não pode manter a veracidade de Deus. Por quê? Porque o Deus modernista não usa o seu poder soberano para parar os profetas e apóstolos quando dizem que a Bíblia é inspirada e inerrante. Esta posição afirma que Deus enganou propositadamente seu próprio povo pactual. Tal Deus é um mentiroso e não pode ser confiado. A outra posição que os modernistas podem defender é a de que Deus não pode mentir, mas não é soberano e, então, não pode ser considerado responsável pelas alegações da Escritura com relação a Si mesmo. Tal

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Deus, no entanto, é finito. O dilema modernista é que sua posição com relação à inerrância bíblica não pode ser divorciada da idolatria. Eles têm que criar falsos deuses para manter sua posição. Querido leitor, você deve rejeitar as especulações idólatras modernistas e seguir a Cristo que disse: “a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).

Conclusão Desta breve consideração do modernismo e da inspiração e autoridade das sagradas Escrituras, aprendemos duas coisas importantes. Primeiramente, o modernismo foi exposto como uma versão falsificada do cristianismo. Os modernistas têm seguido seu pai, o demônio, ao desafiarem a veracidade e autoridade da palavra de Deus. Quando Satanás quis que Adão e Eva pecassem contra Deus, a primeira coisa que ele fez foi atacar a palavra de Deus. Sua semente sutil de dúvida- “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1) levou rapidamente a uma negação direta – “É certo que não morrereis” (Gn 3.4). A principal tática de Satanás ao buscar destruir o cristianismo tem sido atacar a Bíblia. Isto tem sido feito através de um ataque aberto e perseguição onde Bíblias são confiscadas e destruídas. Tem sido feito por hereges e líderes de seitas que adicionam e subtraem da Escritura. Tem sido feito por religiosos importantes que colocam a Bíblia de lado em favor de tradições humanas. O modernismo é a pedra superior, a maior e mais sutil realização de Satanás em seu ataque às sagradas Escrituras, porque o modernismo destrói a Bíblia em nome da ciência, objetividade, sabedoria e verdade. Satanás tem dissimulado o modernismo de forma bem sucedida o qual é subjetivo, irracional, místico, apóstata, incrédulo e condenável como um campeão do cristianismo. Infelizmente, muitas pessoas que

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preferem ser amadas pelo mundo antes de por Deus, que tem prazer na hipocrisia, que estão apaixonadas pelos seus pecados, abraçam este cristianismo falsificado. O liberalismo cristão, no entanto, traz consigo, o seu próprio julgamento, porque sua visão da Escritura deixa os homens sem esperança, nenhuma segurança e nenhuma boa nova. “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18). Os modernistas adoram um Deus desconhecido e incognoscível. A salvação oferecida pelo modernismo é uma especulação vaga baseada no pensamento desejado. Nossa única esperança é Jesus Cristo e o único caminho no qual aprendemos, cremos e confiamos no precioso Salvador é aprender primeiramente e crer nas palavras de Cristo — a Bíblia. Em segundo lugar, aprendemos que a Bíblia é inspirada (respiração de Deus), infalível (i.e., inerrante) e munida de autoridade. A Bíblia é absolutamente verdadeira em tudo o que fala (espiritual, histórica, cientificamente, etc.). “Porque a Bíblia é a Palavra de Deus, ela é a corte final de apelação em todas as coisas pertinentes à doutrina, obrigação e comportamento [conduta]”26 . A Escritura perfeita, infalível, inspirada é o resultado da bondade e misericórdia perfeitas de Deus. Jeová não deu ao seu povo um livro defeituoso, fraudulento. Ele nos deu um livro que merece toda a nossa confiança. “ela é a ‘semente’ na qual nascemos de novo (1 Pe 1.23), a ‘luz’ pela qual somos dirigidos (Sl 119.105), o ‘alimento’ no qual somos alimentados (Hb 5.13,14) e a ‘base’ na qual somos edificados (Ef 2.20)”.27  Porque a Bíblia é o que é, ela é absolutamente necessária para a salvação, porque nela o filho de Deus é infalivelmente revelado à humanidade. Ela é absolutamente necessária para a santificação porque nela estão os preceitos morais de Deus. Porque a Bíblia é o que é, ela tem autoridade absoluta sobre nós. Ignorar a palavra de Deus é ignorar o próprio Deus. A Bíblia

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deveria ser nossa companhia constante. Deveríamos estudá-la diligentemente e prestar atenção em todos os seus preceitos. “A Bíblia é o Livro pelo qual devemos viver e morrer. Assim, leia a Bíblia para ser sábio, creia nela para ser salvo, pratique-a para ser santo”.28  “Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is 40.8).

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NOTAS:  1 “A batalha pela Bíblia neste século XX (juntamente com a década anterior) pode ser esquematizada em três períodos. Primeiro (1893) foi a condenação e suspensão pela Igreja Presbiteriana nos E.U.A. de Charles Augustus Briggs por manter que a Bíblia afirma falsidades. Segundo foi a Afirmação Auburn [a Afirmação Auburn foi escrita em 1923 primeiramente por Henry Sloane Coffin e Robert Hastings Nichols. Ela foi assinada por 149 ministros modernistas na PCUSA. Em 1924 foi publicada e eventualmente assinada por mais de 1200 ministros modernistas. Este documento negava explicitamente a inerrância da Escritura]. O terceiro é a renovação destas posições no livro agora sob consideração [Biblical Authority, 1977]. Este livro foi estimulado pela publicação de Harold Lindsell, The Battle for the Bible (Zondervan, 1976). Mas o presente ataque à Bíblia começou com a reorganização do Fuller Seminary e a reorganização de todos ou da maioria do seu corpo docente ortodoxo” (Gordon H. Clark, The Concept of Biblical Authority [Philipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1980], p.1).  2 Greg L. Bahnsen, “The Inerrancy of the Autographa” em Norman L. Geisler, ed., Inerrancy,(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1980), pp. 152-153.  3 Capítulo I, Seção V.  4 Greg L. Bahnsen, Van Til’s Apologetic: Readings and Analysis (Philipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 1988), pp. 201-202.  5 G. W. Bromiley, “Word, Word of the Lord” em Merrill C. Tenney, ed., The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1975), 5:957.  6 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority Of The Bible (Philipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1948), p. 301. Warfield, em um estudo prolongado so-

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bre a frase do Novo Testamento “os oráculos de Deus”, argumenta decisivamente que tal frase quis dizer que os escritores do N.T. consideravam toda a Escritura do Antigo Testamento como “a própria palavra de Deus.” Ele escreve: “Provavelmente parecerá razoável para a maioria, interpretar Rm 3.2 como certo, Hb v.12 como provável e At 7.38 como provavelmente uma referência às Escrituras escritas; e como testemunho prestado à concepção deles por parte dos escritores do Novo Testamento como “os oráculos de Deus”. Isto é, temos evidência discreta e convincente aqui de que a Escritura do Antigo Testamento, como tal, foi estimada pelos escritores do Novo Testamento como um livro oracular, o qual não meramente contém, mas é a “expressão”, a própria Palavra de Deus, e devemos recorrer a ela como tal, e como tal submetermo-nos a ela, porque nada é além da palavra cristalizada de Deus” (The Inspiration and Authority of the Bible, p. 406).  7 Ibid. pp. 299-300.  8 William Hendriksen, The Gospel of John (Grand Rapids, MI: Baker, 1953), p. 128.  9 A. W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1975 [1954]), 2:149.  10 E. W. Hengstenberg, Commentary on the Gospel of John (Minneapolis, MN: Klock and Klock, 1980 [1865]), 1:542.  11 João Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists (Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 16.214.  12 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p. 240.  13 A posição modernista é também a negação da realeza ou reinado mediador de Cristo. Depois da ressurreição, Jesus, o Messias teantrópico, se tornou o rei exaltado sobre todas as coisas no céu e na terra (Mt 28.18; At 2.24-36; Rm 1.4). Antes da ascensão, ele mandou seus discípulos fazerem discípulos das

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nações “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20). Visto que Jesus é o autor de toda a Escritura através do Espírito Santo, e Ele mesmo ensinou a inspiração e inerrância da Bíblia, então a Bíblia é um livro para ser usado no discipulado das nações. Cristo é o rei que governa pelo Espírito Santo e pela palavra de Deus. A Bíblia é a lei em palavras de nosso rei sobre as nações. No entanto, os modernistas apresentam um rei sem lei real. Se a Bíblia é cheia de mentiras, mitos e lendas e não pode ser confiada, então ela não pode servir como nosso projeto para o domínio religioso. Assim, ninguém deveria se surpreender ao descobrir que os modernistas buscam o domínio através do poder do estado. Eles têm abraçado a religião do homem - o humanismo secular. Como resultado, virtualmente em cada tema maior, sustentam uma posição diametralmente oposta à Bíblia (e.g., apóiam o aborto por exigência, o socialismo, o infanticídio, a eutanásia, os direitos de sodomitas e lésbicas, o feminismo radical, a adoração à terra, o ambientalismo, a oposição à pena de morte, etc.). Não há neutralidade. À parte de Deus falando infalível e autoritariamente à humanidade através da Bíblia, as pessoas são abandonadas no misticismo, no existencialismo e estadismo. North escreve: “a religião poderosa é uma religião da autonomia do homem. Ela procura poder ou riqueza a fim de tornar esta alegação crível. Na hierarquia da autoridade cósmica, não pode haver apelo judicial eficaz, significativo além da humanidade na história” (Crossed Fingers: How the Liberals Captured the Presbyterian Church [Tyler, TX: Institute for Christian Economics, 1996], p. 47). Ao destruir a autoridade bíblica, os modernistas cortaram toda a comunicação com Deus. Eles não podem assassinar os verdadeiros profetas de Deus como seus predecessores apóstatas fizeram em Israel, assim eles matam

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a Bíblia e a sua autoridade.  14 George W. Knight, The Pastoral Epistles (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992), p. 446.  15 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p. 296.  16 “A palavra fábulas (muthoi) carrega um sentido pejorativo na linguagem religiosa de tempo; ela sustenta estórias imaginárias sobre deuses, a criação do mundo, acontecimentos miraculosos, etc.” (J. N. D. Kelly, The Epistles of Peter and of Jude [Peabody, MA: Hendriksen, 1969], p. 316. Pedro, ao refutar os incrédulos, zombadores e céticos de seus dias, também refuta os modernistas de nossos dias. Os modernistas ensinam exatamente o oposto do que Pedro diz. Eles afirmam que a igreja primitiva seguiu dissimuladamente os mitos inventados sobre a criação, dilúvio, Jonas e o peixe, destruição de Sodoma, nascimento virginal de Cristo, milagres de nosso Senhor e ressurreição corporal de Cristo. Todo o ponto de Pedro no versículo 16 é que os apóstolos estavam pregando fatos históricos — eventos reais. A tática modernista comum de argumentar que “se os eventos miraculosos do Evangelho realmente aconteceram não é importante porque o que importa é o efeito existencial religioso destas histórias” é sempre dissipada (desfeita) pelo apelo de Pedro à efetividade histórica de espaço e tempo.  17 Alexander Nisbet, 1 and 2 Peter (Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1982 [1658]), p. 239.  18 João Calvino, Commentary on the Second Epistle of Peter (Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 22:389.  19 A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament (Grand Rapids, MI: Baker, n.d. [1993]), 6:158.  20 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter (Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1983 [19481950]), p. 95. “Consequentemente, 1.20 deveria ser traduzido por, ‘Nenhuma profecia escrita veio a existir

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por qualquer libertação da mesma pelo indivíduo [ou, de forma mais literal], por libertação privada. Porque...,’ etc. Pedro está afirmando a ausência completa de iniciativa humana na revelação. A revelação é iniciada por Deus. Assim, visto que Deus revelou a mensagem a Moisés ou Isaías, ela deve ser verdadeira e, por essa razão, munida de autoridade” (Gordon H. Clark, The Holy Spirit [Jefferson, MD: The Trinity Foundation, 1993], p. 30).  21 William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and Titus (Grand Rapids, MI: Baker, 1979), 2:302.  22 George Smeaton, The Doctrine of the Holy Spirit (Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1974 [1881]), p 149.  23 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter, p. 98.  24 William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and Titus, 2:302.  25 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter, p. 212.  26 A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible (Grand Rapids, MI: Baker, 1996 [1976]), p. 104.  27 Francis Turretin, Institutes of Elentic Theology (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1992 [1696]), 1:55.  28 A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible, p. 108.

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O MODERNISMO EE A A INERRÂNCIA BÍBLICA O Pastor Brian Shwertley analisa o liberalismo teológico e nos adverte quanto à sua gravidade ainda nos nossos dias: “Um dos maiores inimigos do cristianismo atual é o modernismo ou liberalismo cristão. Na verdade, poderia se dizer que o liberalismo cristão tem causado mais danos às denominações e instituições protestantes no séc. XX do que qualquer outro movimento herético. O que é o liberalismo cristão? O liberalismo cristão é parte de um movimento religioso, político e cultural mais amplo na Europa (em primeiro lugar) e então na América, que tem sua base na visão de mundo humanista secular. A razão pela qual os historiadores e teólogos referem-se ao liberalismo cristão como modernismo é o fato de que os liberais cristãos têm comprado e adotado a visão de mundo secular moderna. Eles têm adaptado seus ensinamentos para refletirem o espírito desta era. O que ocorreu com as denominações que adotaram o modernismo foi uma erosão séria da fé em Cristo e o emparelhamento da Bíblia com a nova fé nos pressupostos do progressivismo e naturalismo. Isto envolveu a fé na humanidade... novas formas de modernismo ainda estão destruindo as instituições cristãs... e denominações”.

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O modernismo e a inerrância Bíblica

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