Amanda Mariel - Damas e Vagabundos 04 - Escandalosa (oficial) R&A

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Escandalosa Amanda Mariel Traduzido por Éli Assunção

“Escandalosa” Escrito por Amanda Mariel Copyright © 2017 Amanda Mariel Todos os direitos reservados Distribuído por Babelcube, Inc. www.babelcube.com Traduzido por Éli Assunção Design da capa © 2017 Melody Barber “Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc.

Índice Analítico Página do Título Página dos Direitos Autorais Escandalosa PUBLICAÇÕES DE AMANDA MARIEL Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Epílogo Prólogo

PUBLICAÇÕES DE AMANDA MARIEL Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Epílogo Conexão Escandalosa Prólogo

Escandalosa Livro Quatro, Damas e Vagabundos

Amanda Mariel

DEDICATÓRIA Mãe e Pai, obrigada por sempre torcer por mim e por sempre me apoiar, amo muito vocês!

AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu editor e aos meus leitores beta por me ajudarem a polir a história de Caleb e Jane. Minha família merece um grandessíssimo obrigada. Seu apoio e entusiasmo significam tudo para mim. Mãe, sempre é você quem lê primeiro os meus manuscritos e suas notas e sugestões são inestimáveis. Tammy Andresen, Elizabeth Evans e Nina Mason, muito obrigada por me ajudar a polir esta história. Brian você me impressiona com o seu apoio e por encorajar a minha carreira de escritora. Um enorme obrigada para todos os meus leitores, por continuarem torcendo por mim e lendo os meus livros. Eu amo todos vocês! Abraços enormes para todo mundo!!!

PUBLICAÇÕES DE AMANDA MARIEL Série Damas e Vagabundos: Esquemas Escandalosos Intenções Escandalosas Escandalosa Redenção Escandalosa Em breve: Conexão Escandalosa Fabled Love Series Enchanted by the Earl Captivated by the Captain Enticed by Lady Elianna Lady Archer’s Creed Theodora (Christina McKnight escrevendo com Amanda Mariel) Georgina (Amanda Mariel escrevendo com Christina McKnight) Em breve Adeline (Christina McKnight writing with Amanda Mariel) Em breve Josephine (Christina McKnight writing with Amanda Mariel) Em breve Stand alone titles Love’s Legacy Série Conjunta: Conectados por um Beijo Como Beijar um Canalha (Amanda Mariel) Um Beijo no Natal (Christina McKnight) Desejando um Beijo (Dawn Brower) Coletâneas e antologias multiautores Timeless Kisses Tantalizing Teasers Visite www.amandamariel.com para ver as últimas ofertas

Capítulo 1 Londres, 1843 Lady Jane Shillington nunca tinha sido uma borboleta social. Os cavalheiros não tropeçavam em si mesmos para cortejá-la. Com certeza não desperdiçavam seu tempo visitando-a. Aos vinte e dois anos nunca tinha sido beijada... até ele. Levou a mão aos lábios e olhou para o belo libertino dormindo na sua cama. Quando ele entrou no seu quarto na noite passada, pura loucura dominou o seu bom senso. Ela deitou parada como se estivesse esperando por ele, a excitação correu por suas veias onde o medo e o ultraje deveriam estar. A visão de Lorde Keery, despindo seu casaco, as botas e os calções no seu quarto mal iluminado fez seu corpo se aquecer e doer em lugares onde isso nunca antes tinha acontecido. Enquanto o restante dos seus trajes foram sendo retirados, ela se viu incapaz de desviar o olhar, observou cada centímetro de pele descoberta e musculosa. Quando ele subiu na cama dela e a puxou para os seus braços, ela se derreteu. Como uma pessoa indecente, tinha se rendido aos beijos profundos e proibidos. Não resistiu quando ele escorregou as mãos por baixo do seu chemise e não o afastou quando ele acariciou e beijou os seus seios. Ela queria tudo o que ele oferecia e ansiava por mais. Ele rolou e puxou-a contra ele, sua bochecha descansava contra o peito dele. Momentos mais tarde, seu ronco suave preencheu o quarto. Ela deitou contra sua pele quente, presa em uma tempestade de desejo e raiva enquanto ele descansava pacificamente, com os braços ainda em sua volta. Como ele podia ter caído no sono no meio do que estavam fazendo? Ela só podia pensar que o porto que ele consumiu fosse o culpado. Sem dúvida foi a bebedeira que o levou até o seu quarto em primeiro lugar. Tinha experimentado o rico vinho em seus lábios e cheirado sua doçura em seu fôlego. Deveria acordá-lo e exigir que ele fosse embora. Com certeza ele queria se juntar a outra dama. Uma experiente na arte de fazer amor, não uma encalhada esquecida que estava rapidamente se transformando em uma solteirona. Ainda assim, estava cativada por seu toque, e mais do que disposta a dar a ele a sua virtude. O desapontamento ainda estava pesando em seu peito esta manhã enquanto estava deitada ao lado dele, com a cabeça apoiada na mão, olhava para ele. Ela estudou Lorde Keery desde seu desarrumado cabelo louro escuro e cílios espessos, ao seu nariz aristocrático e lábios carnudos. Olhou mais para baixo, para o peito esculpido e para o cabelo que cobria o seu esterno. Seus dedos se contraíram para tocá-lo, mas não se atrevia a correr o risco de acordá-lo. Com certeza, quando ele despertasse, a deixaria sem nada mais do que um aceno de adeus. Seu estômago afundou.

Libertinos reconhecidos não passavam tempo com damas castas. Os dois eram de mundos diferentes. Poderia apostar que ele nem ao menos sabia o seu nome. Seu olhar parou onde o lençol enrugava na cintura estreita. Talvez se agisse com extremo cuidado, poderia mover o tecido sem fazê-lo mexer. Suas bochechas se aqueceram com a ideia maliciosa. Moveu-se mais para perto, na intenção de dar uma rápida espiada nele. Noite passada a escuridão do quarto tinha distorcido a sua vista. Tinha visto o bastante para aquecer o seu sangue, mas não pôde captar os detalhes. Seu coração acelerou com o pensamento do que poderia encontrar à luz do dia. Ele enrijeceu. Jane congelou, esperando que ele relaxasse. Seu pulso acelerou. Depois de um momento, seu leve ronco voltou a preencher o quarto. Estendeu uma mão tremente e levantou o lençol por uma fração. Quando ele não se moveu, o ergueu um pouco mais, permitindo-se uma vista irrestrita da impressionante anatomia que estava escondida ali embaixo. Santo céu! Seus olhos se arregalaram com a visão da sua masculinidade, a qual, para o seu fascínio e deleite, estava engrossando bem diante dos seus olhos. Ela se inclinou um pouco mais perto para ter um melhor ângulo. O apêndice agora brotava de seu corpo, parecendo suave como o veludo e duro ao mesmo tempo. Seu sangue aqueceu ainda mais enquanto imaginava como funcionava o ato de fazer amor Sem pensar nas consequências de tal ação, escorregou a mão por debaixo do lençol e o tocou. O fascínio a preencheu enquanto passava a ponta dos dedos pela pele dura e sedosa. Seu fôlego ficou preso quando a mão dele subitamente cobriu a sua e envolveu seus dedos em volta da sua masculinidade. —Afague-me, — ele ordenou em um tom baixo e rouco. Afagá-lo? Com certeza ele não quis dizer para afagá-lo da mesma maneira que se fazia com um cavalo ou um cão. —O-o quê? — Confusão e surpresa giraram em sua mente enquanto ele guiava sua mão para cima em por todo o comprimento da sua masculinidade. Ela levantou a cabeça e olhou para ele fascinada. De repente, ele afastou a sua mão e pulou da cama. —Como no maldito inferno...? Seu ar ficou preso, o pânico agarrou-se a ela. Deveria dizer alguma coisa, mas o quê? Ele olhou em volta do quarto, então pegou a camisa, segurando-a em sua frente com súbita modéstia. Então, olhando para ela por entre tempestuosos olhos castanhos, perguntou em tom acusatório, —O que infernos você está fazendo aqui? —Eu? Este é o meu quarto. — Como ele se atrevia a tratá-la de forma tão grosseira. Ela saiu da cama e foi até ele, apontando um dedo acusador para o peito nu. —É você, Lorde Keery, quem se intrometeu aqui, não eu. Ele olhou para a cama bagunçada, e depois desviou o olhar para o seu corpo coberto,

o tecido fino da camisola fazia pouco para esconder os seus atributos. —Parece que você me deu as boas-vindas com as pernas abertas, madame. A frieza em seu tom a cortou. Pensar que estava se lamentando sobre o fato de eles não terem feito amor há apenas uns minutos. A raiva se acendeu, queimando de dentro para fora. Ela afundou o dedo no peito musculoso. —Esse foi um convite que você nunca recebeu de mim! Você é um canalha que não serve para estar em companhia de qualquer dama. —Isso é verdade, e é o inferno de uma boa coisa que não existam damas no quarto. — Ele puxou a camisa por sobre a sua cabeça. —Parece estar em falta de cavalheiros também. — Ela pegou os calções do chão e os jogou para ele. A porta abriu por trás dela, fazendo-a virar. Para seu horror, seu irmão entrou em seu quarto junto com a esposa, pior ainda, a Condessa de Bailey, uma mulher mais velha, conhecida por sua fofoca, estava de olhos arregalados no corredor. O sangue foi drenado do seu rosto de Jane enquanto ela afastava o olhar para as janelas de vidro, desejando que pudesse se jogar de lá. —Explique-se, — seu irmão, Henry, exigiu de Lorde Keery. Claudia permaneceu atrás do marido, com a mão no peito e a boca aberta. O coração de Jane batia com força e a cabeça se encheu com todas as desculpas que podia dar, mas nenhuma palavra saiu. Nada que pudesse dizer faria qualquer diferença. Estava de pé no meio do quarto vestindo nada mais que o chemise com um homem seminu. Pelos sinos do inferno. Estava arruinada. Suas bochechas queimaram com o embaraço. Claudia foi até a porta e a fechou, interrompendo a vista da Condessa assim como a dos outros hóspedes que começaram a se reunir ali. —Abaixe sua voz, Henry. Deseja ver Jane arruinada? —Keery já providenciou isso, se me atrevo a dizer. Maldição, a condessa testemunhou toda essa... essa atrocidade. — Sua atenção permaneceu cravada em Lorde Keery. —Você tirou vantagem da minha irmã. Não tem nada a dizer? Jane encontrou sua força e se apressou. —Não é o que parece. Juro pela minha vida. —Silêncio! — Henry atirou entre dentes cerrados, com os olhos queimando com a raiva reprimida. Jane fechou a boca, mas permaneceu firme. Não podia deixar Lorde Keery levar toda a culpa do seu dilema – não quando ela foi uma cúmplice bem disposta. Henry tirou a luva e bateu com ela na bochecha de Keery. —Eu te desafio para um duelo.

Lorde Keery deu um passo para trás e se inclinou casualmente contra a cômoda que havia ali perto. —Não há necessidade disso, Shillington, pretendo fazer o correto com a sua irmã. O estômago de Jane revirou quando entendeu as palavras. Fazer o certo só poderia significar uma coisa. Lorde Keery queria casar com ela. Uma hora atrás teria ficado empolgada com a perspectiva. Agora a ideia a aterrorizava. Lutou contra a névoa e olhou para Lorde Keery. —Não vou me casar com esse patife nem que ele fosse o último homem da face da terra. Seu irmão se precipitou, o olhar era tão reprovador quanto o dela. —Você perdeu qualquer direito de opinar sobre o assunto, querida irmã, no momento que ele entrou no seu quarto. Keery sacudiu os calções amarrotados. —Providenciarei uma licença especial imediatamente. — Ele os colocou, enfiou sua camisa de linho para dentro dos calções. — Assim que eu encontrar o resto das minhas roupas. Jane fechou as mãos em punhos, querendo gritar. Como ele podia estar tão descontraído? Sua indiferença a enfureceu ainda mais. Ele queria estar casado com ela tanto quanto ela queria estar casada com um libertino com as maneiras de um javali. Fulminando e perturbada, percorreu o quarto juntando seus pertences antes de empurrálos em seu peito. —Não se incomode. Eu me recuso a casar com você, independente do que o meu irmão exija. — Mesmo quando as palavras deixaram a sua boca, ela soube que não eram verdadeiras. Não poderia recusar a sua oferta. Fazer isso lançaria a vergonha sobre toda a sua família. Henry pegou o seu braço e o sacudiu gentilmente. —Isso é o bastante, Jane. Você se casará com Keery. E, você não dirá mais nada a não ser ‘aceito’. Lorde Keery, com as roupas na mão, foi em direção à porta. Antes de sair, deu a volta e lançou um sorriso malicioso. —Parece que você não tem escolha, minha futura noiva. Jane estava perplexa e enfurecida com seu comportamento contraditório. Por que oferecer se casar com ela com a intenção de salvar a sua reputação em um momento, apenas para arruinar o seu bom nome no momento seguinte ao deixar o seu quarto em tal estado de nudez? —Com certeza você não pretende sair daqui assim. Sua boca se contorceu em um sorriso diabólico. —Por que não? Você já foi comprometida. E, com isso, simplesmente saiu.

Capítulo 2 Caleb, o sexto Marquês de Keery, ignorou os olhos curiosos da Condessa de Bailey enquanto marchava pelo corredor em direção aos seus aposentos, seu casaco e seu plastron balançavam em sua mão. Como no maldito inferno se permitiu ser pego bem debaixo do nariz do vigário? E, para adicionar insulto à injúria, foi enredado não por uma coquete sedutora, mas por uma violeta murcha como Jane Shillington. Como a mais tímida de todas as encalhadas tinha ganhado o jogo que tantas damas mais corajosas tinham perdido estava além da sua compreensão. Libertinos do seu calibre não permitiam que essas coisas acontecessem – a menos que quisessem, e ele certamente não queria. Tinha razões – boas razões – para permanecer solteiro. Ela não sabia nada sobre a escandalosa rameira que era a sua mãe? Ou o destino da pequena e doce Maggie? Que maldita idiota Lady Jane tinha sido por se colocar sob a sua proteção. Novamente, era provável que ela não soubesse sobre a perdição de Maggie, pelo qual ele ainda se culpava. Só pensar naquela insensatez de muito tempo atrás, fazia o seu peito se apertar tanto que ele mal podia respirar. E falando sobre insensatez, o que o possuiu para oferecer casamento à Lady Jane? Bem, não importa, o que está feito, está feito. Agora, apenas poderia procurar fazer o melhor de uma situação ruim ao manter uma boa margem de distância entre eles. Dessa forma, poderia tanto protegê-la e guardar seu próprio coração do regresso da dor que sua mãe infligiu. Além do que, um casamento de conveniência seria muito útil nesse caso, pois ele nunca poderia se apaixonar por uma criatura tão dócil e sem graça. Ele amassou seu plastron no punho enquanto virava no corredor que conduzia para seus aposentos de convidado. Iria fazer o que o dever exigia. Se trocar, barbear, conseguir a licença e casar com Lady Jane pela manhã. Tanto quanto doía admitir, não havia outra escolha para qualquer um deles. —Keery, — Seu amigo de longa data, Lorde Luvington, aproximou-se e bateu nas suas costas. —Estive procurando por você. Caleb lançou um olhar de aborrecimento para ele. —Não tenho tempo para entretê-lo agora. Luvington o estudou por um momento com um brilho provocador nos olhos. —Por que está tão ranzinza esta manhã, amigo? Sua ‘amiga’ não pôde satisfazê-lo noite passada? —Dá um tempo, Luvington. — Caleb estreitou os olhos. —Vamos lá, não pode sertão mal assim. —Você não faz ideia. — Caleb apertou o passo, ansioso para chegar à segurança do

seu quarto. Luvington, para a consternação de Caleb, manteve o passo. —Verdade, embora eu esteja muito curioso. A culpada é uma dama? Caleb entrou em seu quarto com Luvington em seus calcanhares. Depois de fechar a porta, ele virou o rosto para o amigo. —Sempre tem uma dama a quem culpar, ao menos em parte. Eu acordei na cama de Lady Jane esta manhã... nu. —Como no maldito inferno...? —Temo que fique muito pior. — Caleb levantou os dedos no ar e lambeu os lábios. —O irmão dela e a cunhada nos pegaram. Quando eles entraram no quarto, eu estava meio vestido. Shillington me desafiou para um duelo para vingar a honra dela, o qual eu respondi com uma oferta de casamento. —Talvez você descubra que o casamento seja bom para você. — Luvington serviu dois copos de whisky e entregou um para Caleb. —Aqui, isso é para aparar as suas arestas. Caleb fez careta para o amigo. —Não há bebida o bastante na Inglaterra para reparar o meu humor. —Eu imagino que não. Mesmo assim, tome um drinque. Caleb virou o conteúdo do copo, desejando que a ardência do licor apagasse as últimas oito horas. Infelizmente, nada podia desfazer a bagunça que tinha feito. Abaixou o copo com um pouco de força demais e resumiu a história. —Eu devo conseguir uma licença especial de uma vez. Shillington nos quer casados antes que toda a festa saiba da desgraça da sua irmã. —Irei com você. —E quanto à sua esposa? — Caleb olhou de lado para o amigo. —Com certeza, Lady Luvington não gostará de ser deixada sozinha na festa. —Não se preocupe com minha esposa. Em breve, você terá uma para lidar. — Luvington riu. —Não perderei um momento disso. No mais, Lady Luvington tem seus próprios planos para hoje. Caleb puxou o sino para chamar o seu criado, então foi para o lavatório. —Muito bem, encontre-me no estábulo em vinte minutos. Com um aceno de cabeça, Luvington saiu do quarto, deixando Caleb cozinhando no caldo da raiva e do arrependimento. Maldito tolo! Olhou para o seu reflexo no espelho, sabendo que apesar de dizer o contrário, ele tinha toda a culpa pelo que acontecera. Apesar de seus sentimentos e desejos, daria o seu melhor para ser um bom marido. Era uma pena não ter a mais vaga ideia do que fazer para conseguir isso.

**** —Por favor, me deixe um pouco sozinha. — Jane olhou para Henry, suplicando. Ela não discutiria mais sobre o acontecido, ou os resultados da situação. Quando Henry não fez sinal de que iria honrar o seu desejo, adicionou, —Eu concordei em casar com Lorde Keery. O que mais você quer? —A cabeça daquele mal nascido em uma bandeja. — Henry declarou. —Ele merece ser punido por arruiná-la, não recompensado. Jane se encolheu por causa da fúria na voz do seu irmão antes de enquadrar os ombros e o prender com o olhar. —Sou tão culpada quanto ele. — Verdade, grande parte da culpa pelo sucedido descansava sobre seus ombros. Foi ela que permitiu que ele entrasse em sua cama. Quem agiu como uma devassa. Lorde Keery ter estado em seu quarto para ser descoberto por Henry foi tudo culpa sua. Ela poderia ter – deveria ter – expulsado-o no momento que ele entrou tropeçando em seus aposentos, em vez de dar-lhe as boas-vindas à sua cama. Ele nem ao menos tinha estado lá por ela – provavelmente não sabia quem ela era. Qual era o nome da dama que ele tinha murmurado antes de desmaiar? Sonya. Jane pensou por um momento, seu pulso se acelerou. Lady Sonya, a viúva do Conde de Gravestone. Um verdadeiro diamante de primeira água com os cabelos claros, brilhantes olhos azuis e figura elegante. Jane engoliu em seco. Como poderia – com seus cabelos escuros, aborrecidos olhos verdes e uma estatura pequena e redonda – esperar competir com tal rival? Seus lábios tremeram enquanto lutava com o choro. Em que bela bagunça tinha se metido. —Você é uma dama, Jane. A culpa é toda dele. — Henry a pegou nos braços. —Sinto muito por isso ter acontecido contigo. Jane apoiou a cabeça no peito confortador. —Por favor, Henry, permita-me um pouco de privacidade. Ele a soltou e deu um passo atrás, estudando-a. —Preferia que você não ficasse sozinha neste momento. Se permitir que Claudia fique, eu vou. Jane olhou para a sua cunhada parada próximo à janela. O calor e a compreensão em seu olhar lhe concederam um pouco de conforto. A dama, tinha conhecido mais do que a sua porção de escândalo, sem dúvida entendia o que Jane estava sentindo. Além do mais, Henry não sairia do seu quarto a menos que ela cedesse quanto a isso. —Muito bem,— Jane concordou, dando um leve aceno para Henry, —Claudia pode ficar. O irmão olhou para a esposa. —Cuide dela. Irei ver a condessa. Seria melhor que o acontecido permanecesse em segredo até depois do casamento. Claudia assentiu. —Não se aflija, amor. Jane está em boas mãos.

Ele deu um beijo na testa de Claudia antes de sair do quarto. Assim que a porta se fechou atrás dele, Jane deixou sair o ar que estava segurando e se afundou no colchão. Queria gritar, chorar, jogar alguma coisa para aliviar a frustração, o dissabor e a raiva. Também queria rir, sorrir, comemorar por ter conseguido algo que nunca pensou que conseguiria – um marido. Apesar de que não teria escolhido Lorde Keery, até mesmo um libertino seria melhor do que a vida de solteirona. Ao menos, teria a própria família. Claudia se sentou ao lado de Jane e colocou uma mão em seu ombro. —Você quer conversar? Jane tirou a cabeça do travesseiro de penas. —Eu não sei o que dizer. Minha mente está perturbada, pulando de uma coisa para outra. —Talvez dizê-las em voz alta te ajude a ordenar os pensamentos. — Claudia deu um aperto gentil no ombro de Jane. —Temo que vá me achar um pouco tola. —Nunca pensaria isso, querida. — Claudia lhe deu um sorriso caloroso. Com um suspiro resignado, Jane se sentou. Que mal faria? —Uma vez eu não quis nada além de me casar e ter a minha própria família. Quando debutei, tinha as mais altas esperanças. Mas, depois de tantas temporadas, me resignei à vida de solteirona. —E agora? — Claudia a encorajou. Jane levantou da cama e começou a andar para lá e para cá. —Agora eu não sei como me sentir. — Ela chegou até a parede, deu meia volta, e foi em direção à cama. —Uma parte de mim está chateada, até mesmo enraivecida, por ser forçada a casar. Mas, a outra parte está excitada. Isso não faz sentido algum. Claudia foi até ela e pegou as suas mãos, detendo-a. —Não há nada de bobo no que você está sentindo. Seu futuro mudou totalmente da noite para o dia e me atrevo a dizer, vai mudar ainda mais nas próximas horas. Além disso, faz sentido você estar tendo essa tempestade de emoções. Jane sentiu uma profunda picada de culpa enquanto estudava Claudia por um momento, se concentrando na expressão calorosa e cuidadosa. Não podia deixar de imaginar se sua cunhada pensaria o mesmo se estivesse ciente da culpa de Jane. Talvez devesse confessar todas as suas preocupações. Talvez Claudia tivesse algum bom conselho sobre como proceder. Mas, pensando novamente, não. Como poderia encarar a ela – e ao seu irmão, diga-se de passagem – se confessasse sua devassidão? Com certeza morreria de vergonha. —O que é, querida? — Claudia a olhou com olhos simpáticos.

Jane desviou sua atenção para as tábuas corridas. —Nada. —A expressão no seu rosto sugere outra coisa. — Claudia estreitou os olhos, avaliando. —Só estava imaginando quanto tempo levará para Lorde Keery voltar com a licença, — Jane mentiu. —Pois eu gostaria que a cerimônia se realizasse com toda a pressa. —Se Henry conseguir o que quer, vocês serão unidos, sob ameaças de violência, assim que o Marquês voltar. **** Como Claudia tinha especulado, Henry exigiu que Lorde Keery casasse com Jane no momento em que ele voltou com a licença especial. Agora, estava de pé sob uma treliça de rosas, usando o melhor vestido que tinha trazido. Estrelas brilhavam no céu noturno e uma brisa quente soprava em volta de si enquanto se atava a Lorde Keery por toda a eternidade. Sua queria amiga Sarah estava de pé com o marido, Lorde Luvington. Claudia e Henry estavam ao lado deles. Henry tinha uma expressão carrancuda enquanto o clérigo conduzia a cerimônia, seu olhar constantemente cintilando dela para o noivo. Quando, por fim, os recém-casados foram declarados marido e mulher, Henry se permitiu um leve sorriso. Lorde Keery deixou cair as mãos. —Partiremos para Londres ao amanhecer. Esteja pronta. —Sim, meu lorde. —Agora que estamos casados, — ele lhe deu um sorriso fraco —Dar-te-ei licença para usar o meu nome de nascimento. —Que é...? —Caleb. Sorriu para ele, embora seu estômago estivesse em nós. —Muito bem, Caleb. Quando se afastou dela para conversar com Lorde Luvington, ela o olhou de esguelha, seu corpo estava em total confusão, os nervos faziam com que sua mão tremesse levemente. Ele iria até ela esta noite? O que faria se ele fosse? E o que faria se não fosse? Seu comportamento frio durante e depois da cerimônia fê-la acreditar que ele estivesse zangado com ela. Não que pudesse culpá-lo. De fato, estava aborrecida consigo mesma. Suspirou e olhou para onde Henry e Claudia estavam. Henry se aproximou, pegando suas mãos. —Embora não seja assim que desejávamos

que o dia do seu casamento fosse, devo dizer que você está linda. Ela olhou para a ponta das suas sapatilhas que espiavam por baixo do seu traje de cor. —Obrigada. —Desejo que você seja feliz, Jane. Afastou as mãos das dele e olhou para o seu novo marido. Se Deus quiser, achariam um jeito de superar o início difícil para ter uma união feliz. A última coisa que desejava era um casamento como o dos seus pais – somente por conveniência e que fez ambas as partes miseráveis. Um nó se formou em sua garganta. Ela já tinha se atado a um arranjo muito pior – um nascido de nada além do escândalo.

Capítulo 3 Caleb sentou em frente à Jane olhando pela janela da carruagem. Ele a tinha recolhido no quarto de manhã cedo e a conduziu para a carruagem antes que o sol tivesse aparecido no horizonte. Quando o sol nasceu, já tinham partido para Londres sem chamar muita atenção, e agora fazia várias horas que estavam viajando. Muito parecido com a noite passada quando ele a deixou do lado de fora do quarto, nenhum falou uma única palavra além dos gracejos monótonos, aumentando a atmosfera desconfortável da carruagem. Ele se deslocou no assento, reajustando suas costas e ombros rígidos. Talvez ele devesse dizer algo, mas o quê? Caleb não tinha ideia do que fazer com uma esposa – na verdade, sabia perfeitamente o que fazer, mas o que discutir – isso era uma coisa completamente diferente. Olhou para ela, imaginando o que ela faria agora. Com um suspiro, relaxou no assento de veludo. Parecia que não precisava se preocupar em entretê-la. A julgar pelo leve subir e descer do seu peito, Jane tinha adormecido. Permitiu que seu olhar a varresse desde os cachos negros presos atrás da cabeça até os seus lábios entreabertos, então baixou o olhar para a curva dos quadris até a sapatilha que espiava por baixo de suas saias. Pela primeira vez, a olhou de verdade, prestando atenção em cada centímetro de pele cremosa visível e as curvas femininas. Sempre tinha pensado nela como uma solteirona inveterada, suas cores eram escuras demais, as curvas pronunciadas demais e a personalidade apagada que não deixava nada para um homem desejar – ou até mesmo notar. Não duvidava que se ela não fosse irmã de Lorde Shillington saberia sequer quem ela era. Mas, Shillington fazia parte do seu círculo. Frequentavam as mesmas festas e tinham vários conhecidos em comum e amigos como o Duque de Goldstone e a Duquesa de Abernathy, quem, ao que parece, era muito afeiçoada à sua nova esposa. Estreitou os olhos focando em seu cabelo. Brilhava como ônix na luz do sol que entrava pela janela da carruagem. Seus dedos coçaram com o súbito desejo de tocar o penteado cuidadosamente estilizado. Será que os cachos seriam macios e sedosos? E quando aos seus lábios? Tinha pensado neles como finos e retesados no passado, mas agora que estudava a agradável curva, desejava senti-los pressionados nos seus. Relaxada como estava, eles pareciam ser exuberantes e flexíveis. Apostava que eram doces e complacentes também. O tipo de lábios feitos para beijar. Afastou o olhar de Jane e se moveu. Como diabos não tinha visto a sua beleza antes? Mais importante, como asseguraria a sua segurança se estava tão distraído pelo charme feminino? Simplesmente teria que manter distância entre eles. A última vez que tinha sido responsável pelo bem estar de uma dama, tinha falhado miseravelmente. Seu coração doeu com a memória do que permitiu que acontecesse com

a irmã. Maggie tinha ido para a floresta com ele quando chegaram ao rio. Havia um longo tronco ali e ele pensou que seria seguro atravessar a água usando o enorme pedaço de madeira. Afastou as emoções crescentes enquanto a memória de muito tempo atrás continuava a assaltar os seus sentidos. Um arbusto de flores selvagens crescia na margem oposta e Maggie queria colhê-las. Até mesmo agora ele podia ouvir os seus gritos, sentir o cheiro da água e dos sedimentos. Fechou os olhos com força tentando afastar a memória dolorosa. Caleb perdeu um pedaço de si – o pedaço mais importante – quanto permitiu que Maggie morresse. Não era mais capaz de amar outra pessoa, teve o coração partido para toda a vida. Nem confiava em si para garantir a segurança de alguém. Era por esta razão que se negava a procurar esposa – a razão pela qual se imaginou um eterno solteirão. Os clubes de Londres, as raparigas e as viúvas solitárias, eram todas seguras. Nenhuma delas exigia que as amasse ou até mesmo que se importasse com alguém que não fosse consigo mesmo. Preferiam a sua devassidão – até mesmo a encorajavam, permitindo-lhe a liberdade de entorpecer a sua dor ou arrefecer o seu tédio, na maior parte das vezes. Ele poderia fazer uso de uma bebida forte e uma amigável partida de cartas neste momento. No entanto, seu curso havia sido definido. Seria bom abraçar a sua nova posição. Seu olhar pousou em Jane uma vez mais. De alguma forma, teria que fazer arranjos para a situação deles. Abster-se de culpá-la por seu próprio mau julgamento e falta de senso de direção. Ela merecia um bom marido, um honrado, mesmo se nunca pudesse amá-la. Mas como diabos realizaria essa façanha? Os olhos de Jane se abriram, o olhar dela encontrou o seu. —Está terrivelmente frio, — ela disse em um tom sonolento enquanto puxava as pernas para o assento, aproximando-as do seu corpo. Caleb pegou um cobertor debaixo do assento, e sentou-se perto dela. —Venha. Apoie-se em mim. Compartilhe o meu calor. — Ergueu um braço esperando que ela se aconchegasse nele. Jane mordeu o lábio, pensando. —Não seja boba. Estamos casados. Não fará nenhum dano mantê-la aquecida. — Ofereceu a mão para ela. —É claro. Temo que leve um tempo para me acostumar a ser uma esposa. — Posicionou-se ao lado dele, a cabeça em seu peito, o corpo pressionado contra o dele e as pernas curvadas sobre o assento. Um arrepio passou por ele enquanto as suaves curvas se assentavam contra seu

corpo. Ignorando o desejo perturbador, ele estendeu o cobertor sobre eles e a envolveu em seus braços, emprestando o calor do seu corpo. Ele inspirou o aroma floral do seu cabelo enquanto afagava o braço dela, aquecendoo. Demoraria um pouco para se acostumar com o novo estado civil, mas poderia rapidamente se acostumar a senti-la em seus braços. —Pronto, como se sente? —Muito melhor. Obrigada. —Bom. — Ele a puxou para mais perto. —Durma mais um pouco. **** Enquanto Jane ouvia os batimentos cardíacos de Caleb, sentia seu calor, seus braços, ela não poderia dormir tanto quanto conseguiria um pensamento coerente. Sua mente vagava de um pensamento a outro. Deveria revelar a ele que não fizeram amor? Falar sobre banalidades? Fingir que dormia para evitar toda essa estranheza a sua volta? Fechou os olhos decidindo que a última opção seria o melhor curso de ação. Ainda assim sua mente continuava a girar. O que ele estava pensando enquanto a segurava? Ele a achava muito cheinha? Estava aterrorizado por ter se casado com uma dama tão pouco atraente? Parte dela acreditava que sim, já que ele foi negligente ao consumar o casamento na noite anterior – não que ela quisesse muito. Ou até queria, mas ao mesmo tempo queria evitar que ele descobrisse o quanto tinha enganado-o. O ato não tinha sido intencional. É só que tudo aconteceu rápido demais. Antes que pudesse dizer que sua virtude ainda estava intacta, eles estavam brigando, então Henry e os outros invadiram o seu quarto. O que ela deveria fazer? Incapaz de resistir, Jane espiou Caleb. Ele a perdoaria por não falar? As ações dele a comprometeriam da mesma forma que teriam se a tivesse deflorado. Ele ainda estava na sua cama sem uma única peça de roupa e foi pego meio vestido em seus aposentos. O olhar dele encontrou o seu e ela afastou o olhar, esperando que ele não fizesse algo por ela ter estado olhando. —O que é, Jane? — ele perguntou. —Nada. — Ela mordeu o lábio. Por favor, não permita que ele prossiga com o interrogatório. Ele deu um leve apertão nela. —Você ainda está com muito frio? Forçando-se a encontrar o olhar dele, disse, —Não, estou muito mais confortável agora. — De fato seus braços combinados com o cobertor tinham afastado completamente o frio dos seus ossos. Ela se sentou, puxando o cobertor apertado em volta dos seus ombros. —Descobri que não preciso mais descansar. Podemos conversar? —Sobre o quê gostaria de conversar?

—Qualquer coisa que não seja considerada educada servirá. Ele riu e ela sorriu com a sua própria resposta espirituosa. —Eu me atrevo a dizer que não posso tolerar mais uma conversa sobre o tempo ou a próxima temporada. Seu sorriso chegou nela, enviado calor por todo seu corpo. —Eu também estou cansado dos gracejos, embora tema que possa chocar suas delicadas sensibilidades se falar de assuntos pouco educados. —Experimente? — Ela lançou seu melhor sorriso atrevido. —Gostaria muito de aprender sobre você, seu passado e como você passa seu tempo atualmente. —Toda Londres conhece a minha reputação. Não revolvamos isso, tudo o que você ouviu provavelmente é verdadeiro. — Ele se recostou no assento. —Acredito que você é um assunto muito mais interessante. O desapontamento invadiu seu coração. Não deveria ter esperado qualquer outra resposta de um patife. Mesmo assim, esperava descobrir que havia muito mais sobre ele do que a sua reputação. —Muito bem. O que deseja saber sobre mim? Ele se aproximou. —O seu sabor. Antes que pudesse compreender as palavras, seus lábios estavam pressionados nos dela. Ela se enrijeceu por causa do beijo inesperado, incerta sobre o que fazer. Caleb envolveu uma mão em volta do seu pescoço, puxando-a para perto, ajeitando a sua cabeça. Ela relaxou sob a sua tutela, permitindo-se aproveitar a leve pressão dos lábios nos dela. Ela se entregou ao beijo quando ele entrou em sua cama e desejou mais. O jeito que ele usou a língua para sondar a sua boca e acariciá-la com suas mãos enormes incendiou o seu sangue. Sim, queria isso – queria a ele. Encorajada, se lançou às lembranças do seu primeiro encontro – seu primeiro beijo – e entreabriu os lábios convidando-o a aprofundar o beijo ainda mais. Ele correspondeu o seu desejo com o próprio, puxou-a para ainda mais perto e aprofundou o beijo. Ele afagou a sua nuca adicionando outra deliciosa sensação naquelas que já passavam por ela. Ela gemeu contra a sua boca, seu corpo enfraquecendo enquanto se entregava completamente. Tão de repente quanto levou os lábios aos dela, os separou. Olhou para ele com os olhos arregalados. —Por que você parou? Ele foi para o outro lado da carruagem. —Se continuarmos, quererei tudo de você. Aposto que você ainda está dolorida por causa da nossa cópula anterior e eu não tenho

intenção de causar ainda mais desconforto a você. Uma pontada de arrependimento a atravessou. Ela engoliu em seco, insegura de como responder. Depois de algumas batidas abriu a boca para confessar. —Nós— —Não vamos falar sobre isso agora. — Ele colocou a mão em um bolsão na carruagem e pegou um livro. —Importa-se se eu ler eu voz alta? Ela concordou, ele abriu na página marcada e começou a ler. Talvez fosse melhor manter sua boca ocupada e a mente distraída.

Capítulo 4 Jane se instalou na casa de Keery, perfeitamente. A mansão jacobina se erguia orgulhosa com seus três andares ao longo da South Audley Street em Mayfair. Para o seu prazer, a residência era próxima da de Henry e Claudia e não ficava longe da Duquesa de Abernathy. Os quartos eram espaçosos e confortáveis, bem equipados como era de se esperar que fosse a casa de uma Marquesa. Adicionando ao seu prazer, a criadagem era agradável e disposta a seguir as ordens dela como se sempre tivesse sido a senhora da casa. Caleb também tinha sido generoso e atencioso. Ao chegar à Londres, apresentou-a aos criados e a levou para conhecer a mansão e a propriedade antes de deixá-la acomodada em seu quarto. Assim que entrou nos seus novos aposentos ela parou, surpreendida pelas cores sombrias. —Oh. — Ela olhou em volta, desde as cortinas carmesins até as colchas de um vermelho profundo e uma cadeira estofada no mesmo tom, a maioria ornada com frisos e borlas douradas. Engoliu a repulsa. —Parece que alguém gosta bastante da cor vermelha. Caleb teve o bom senso de parecer descuidado enquanto Jane se recusava a falar da razão óbvia para o desagradável esquema de cores. Aqueles quartos com certeza foram frequentados por suas amantes. Seu estômago agitou pela percepção e imaginou se ele continuaria mantendo as ditas damas da noite, ou seria fiel a ela. —Se soubesse que voltaria com uma esposa, teria redecorado os quartos. — Ele ficou ao lado dela e colocou uma mão na parte baixa das suas costas. —Você tem permissão para redecorar qualquer cômodo da casa que não lhe agrade. Jane não tinha desejo de revirar a sua linda casa e tinha dito a ele isso, entretanto, sua suíte era uma história diferente. Nunca ficaria confortável em um aposento rodeado por recordações do comportamento libertino dele e as mulheres que vieram antes de si. Ela tinha passado aquela primeira noite em um quarto de hóspedes decorado com bom gosto – sozinha. Na manhã seguinte Caleb fez os arranjos para que ela escolhesse novos papéis de parede, carpetes, mobília e roupa de cama junto com outras peças e decorações para os quartos. No almoço, os trabalhadores estavam deixando o aposento ao seu gosto. Dois dias se passaram e eles conseguiram cair em uma convivência brincalhona. Faziam as refeições juntos e Caleb passava tempo com ela nas tardes. Tinham ido montar no Hyde Park, tomado sorvete no Gunter’s, e passeado pelos jardins particulares. Jantavam juntos à noite, antes de apreciar música ou literatura no salão privado. Ele começou a pensar que ele nunca o faria, uma ideia que lhe afligia tanto quanto desejava evitar o aborrecimento dele ao descobrir seu engano, e que ela também

desejava desesperadamente uma família própria e um casamento de verdade. Jane andou pela sala de visitas onde Caleb estava acomodado em um sofá perto de uma enorme janela de vidro. Uma de suas pernas longas e musculosas estava apoiada sobre o joelho, um livro com a capa de couro descansava em suas mãos. Tomou um momento para apreciar a visão. Alto e esguio, boa constituição com traços cinzelados e cabelo louro ondulado. Ele era uma visão magnífica. Não era de se admirar que tivesse conseguido tal reputação. Ela imaginava cada mulher que tivesse tido contato com ele derretendo-se por causa daquele toque. Ela certamente teria derretido. Como sequer poderia competir com o seu harém de damas da noite? Seu coração se apertou, as lágrimas ameaçaram cair. Toda a sua vida tinha sido ridicularizada e ouvido o quanto era pouco atrativa. Suas cores eram escuras demais, sua figura muito curvilínea para ser aceitável, e sua estatura era muito baixa. Em mais de uma ocasião tinham dito a ela que não poderia ser exigente quando escolhesse um marido e seria melhor manter os padrões baixos. Não haveria nenhum Duque, ou Marquês ou até mesmo um Conde em seu futuro. Seria sortudo caso se casasse com um barão, segundo a sua própria mãe. Bem, ao menos neste ponto, eles tinham estado enganados. Uma pequena vitória, mas apenas uma. Era muito ruim a mãe não ter vivido para vêla casada com um Marquês. Sem dúvidas ela teria grande prazer com o arranjo, apesar de ter que engolir um pequeno sapo. Jane adentrou ao salão. —Meu lorde. —Chame-me pelo meu nome. — Ele disse em um tom rouco enquanto abaixava o livro. —Como quiser, Caleb. — Ela se permitiu um sorriso. Ele deu um tapinha no assento ao lado dele. —Venha, sente-se. Eu tenho novidades. —Oh. — Ela ergueu uma sobrancelha enquanto ia sentar-se ao lado dele. —Você planeja me deixar curiosa? —Nunca ninguém lhe disse que as melhores notícias merecem ser aguardadas? — Seus olhos brilharam em um caleidoscópio por causa das luzes que atravessavam a janela. —Paciência é uma virtude que eu nunca tive. Por favor, não me faça implorar. —Eu prefiro quanto uma mulher implora. — Ele riu, um sorriso completamente dissoluto inclinou os lábios carnudos. Ela franziu o cenho, brincalhona. —Não lhe darei essa satisfação. Não hoje, de qualquer forma.

—Muito bem. — Ele fingiu decepção. —Suponho que porei fim ao seu tormento, mas da próxima vez que você quiser saber alguma coisa eu esperarei que suplique um pouco. Ela riu com o tom provocador em sua voz assim como das palavras ultrajantes. —Você está coberto. É você quem quer me dizer algo. Se não fosse por isso, eu não teria desejo de saber o que é. —Tanto quanto eu adore quando você faz essas cirandas, prefiro não ficar sentado aqui discutindo os méritos do quanto você está enganada. — Ele se levantou, e ofereceu uma mão para ajudá-la a levantar-se. —Permita-me mostrar a resposta que você deseja. Jane aceitou a ajuda, e então permitiu que ele a conduzisse para fora da sala. Ela segurou o braço dele enquanto subiam as escadas. Assim que alcançaram o piso superior, ele a pegou nos braços. —Feche os olhos agora e não os abra até eu dizer que pode abri-los. — Os olhos dele brilharam com travessura. —Sem trapaças. Ela obedeceu, envolveu os braços em seus ombros e fechou os olhos. —Qual é a razão disso? —Paciência, querida. — Sua resposta veio lenta e próxima ao seu ouvido, enviando um agradável arrepio por todo o seu corpo. Jane descansou a cabeça no peito largo enquanto tentava se impedir de fazer mais perguntas. A batida firme do coração dele a acalmou, fazer com que seus olhos pesassem, mas ainda assim a sua mente trabalhava em uma velocidade febril numa tentativa de descobrir qual era a intenção dele. —São os meus aposentos? Eles estão prontos? —Tenho um bocadinho de autocontrole, — ele respondeu. —Temo não ser apta a isso. —Assim parece. Mesmo assim, não tem escolha. Isso era verdade. Entretanto, não era idiota. Havia precisamente duas razões para ele estar levando-a até ali – para o corredor dos quartos privados. Um, seus aposentos estavam prontos. Seu estômago começou a se agitar com a alternativa. Ele poderia estar levando-a para os seus próprios aposentos. —Mantenha-os fechados um pouco mais. — Ele a ajeitou em seus braços antes de dar passadas longas. —Irei colocá-la no chão, mas não espie. —Muito bem. — Ela o soltou. Assim que ficou livre, ele a virou. —Abra. Ela experimentou uma momentânea onda de decepção antes de a animação varrer a emoção para longe. —Rá! — ela disse vitoriosa. —Eu estava certa.

Ele sorriu. —De fato, você é uma senhora esperta. Ela se moveu pela sala de estar recém-decorada e foi em direção ao quarto. Todo o espalhafatoso carmesim e os acessórios dourados tinham sido substituídos. Um tapete de suave cor creme cobria o chão. Ao longo da parede mais afastada, uma escrivaninha de cerejeira tinha sido posicionada perto de uma poltrona creme. Um sofá estofado com um tecido listrado de rosa e cinza com o encosto esculpido estava posicionado na parede oposta, perto da lareira. Os almofadões com detalhes prateados descansavam sobre a cama. O esquema de cores se repetia pelo espaço, fazendo o quarto muito mais alegre e feminino. Suas bochechas aqueceram enquanto se aproximava do quarto. Parou do lado de fora e olhou para Caleb. Ele a seguiria? —Você gostou? — Os olhos dele dançaram, brilhando como estrelas no céu noturno. —Mais do que sequer imaginei. Ficou tudo muito lindo. Ele deu um passo em sua direção, fazendo com que o seu pulso acelerasse. Ele a beijaria agora? Esperava que sim, muito. Enquanto ele se aproximava, ela entreabriu os lábios em expectativa. Caleb pegou seu queixo entre o indicador e o polegar, levou o seu olhar até o dele. —Embora nenhum de nós quisesse casar, quero que você saiba que pretendo ser um bom marido. Em falta do que dizer, Jane assentiu. Poderia acreditar nas palavras dele? Mais importante, o que ele achava que era um bom marido? A sinceridade em seus olhos a fez desejar poder acreditar nele, mas como poderia? Ele ainda era um estranho e eles ainda tinham que consumar seu casamento. Além do mais, seria negligente caso esquecesse a reputação de libertino que ele tinha. Mas, apesar de tudo, ansiava por ele. Ele a soltou e deu um passo atrás. —Deixar-te-ei para que conheça seus novos aposentos. O coração caiu aos seus pés enquanto o observava se afastar.

Capítulo 5 Caleb não pôde evitar ser surpreendido pelo efeito que Jane tinha sobre ele. A mesma dama que uma vez tinha considerado uma solteirona insignificante agora colocava seu sangue em chamas. A maneira como ela nivelava com a sua inteligência, provocava-o e enfrentava o seu assédio brincalhão, o mantinha entretido e o atraia para ela. Deseja tomar aquela boca doce com a dele por nenhuma razão senão sufocar suas réplicas mordazes. Ele achou que ela fosse uma infinita fonte de diversão. Ela não era nada como as senhoritas de mente vazia da ton. Jane possuía cérebro assim como uma boa aparência e gosto impecável. Ao mesmo tempo, seu corpo exuberante e a inocência o tentavam além do entendimento. Deus, a queria. Desejava-a como nunca tinha desejado outra mulher. Toda vez que seus corpos entravam em contato, a paixão o oprimia enviado raios de prazer e arrepios por cada fibra de seu corpo. Tinha passado incontáveis horas desde o seu casamento imaginando como seria levá-la para a cama e lamentando o fato de não se lembrar do contato anterior. Uma punhalada de arrependimento o atingiu com força no estômago. Apostava que não tinha sido gentil aquela noite já que pensava estar se enroscando com uma viúva, não uma maldita virgem. Não obstante, o que está feito está feito e não há como voltar atrás. Mas corrigiria as coisas esta noite. Mostraria a ela o quão maravilhoso o acoplamento poderia ser. Ele seria atencioso e iria devagar, usando todas as suas habilidades para dar prazer a ela. Caleb lutou contra o crescente desejo que ameaçava tomá-lo. Agora não era hora. Deveria romper o seu acordo com Dahlia, primeiro. Não iria desonrar Jane ao ir para a cama com ela enquanto mantinha uma amante. Pegou o seu casaco e o chapéu com o mordomo antes de sair da Keery House. O pôr do sol o aquecia enquanto montava em seu garanhão indo fazer uma visita à Dahlia. Tinha toda a intenção de terminar com ela assim que chegou à Londres, entretanto, agora que tinha uma esposa isso era muito mais urgente. Jane merecia mais – inferno, todas as mulheres mereciam mais – que um marido que não poderia ou não seria fiel à cama matrimonial. Depois do que sua mãe fez a família passar, não teria estômago para sequer pensar em manter uma amante e uma esposa mais do que estaria disposto a ir para a forca de Tyburn. Velhas feridas se abriram, a raiva se infiltrava por seus poros ao pensar em sua mãe e em quanto ela tinha desonrado a eles todos. Ela fugiu com o amante deixando a ele, Maggie e o pai sozinhos. Naquela época

Caleb era pouco mais que um menino, mal tinha deixado de vestir as calças curtas. Seu pai se tornou insuportável depois que a mãe o largou, sempre gritando ou reclamando sobre coisas que não importavam. Maggie foi deixada aos cuidados das babás tendo apenas Caleb para se agarrar, já que o pai não queria mais os filhos. Certamente não a filha que tinha tanta semelhança com a esposa infiel. Caleb tinha sido punido mais de uma vez por algo tão trivial quanto fazer uma pergunta ou usar o garfo errado no jantar. Frequentemente imaginava quem tinha sido tratado pior, ele que era constantemente repreendido e punido, ou Maggie que era completamente ignorada pelo pai. Todos eram miseráveis, o resultado final foi o rompimento do seu relacionamento. Maggie faleceu indo atrás do seu último prêmio e Caleb foi para Oxford, nunca voltando para a propriedade ducal. Caleb estudou muito e trabalhou duro, fazendo investimentos inteligentes com a atribuição que o pai lhe mandava. Também tinha feito do seu marquesado uma propriedade muito lucrativa. Não importava que Caleb eventualmente fosse herdar o ducado e o que vinha com ele. Sua única preocupação era escapar e ser auto-suficiente. Algo que tinha atingido, apesar dos seus maus caminhos – ou talvez por causa deles. A única responsabilidade de Caleb todos esses anos tinha sido administrar sua propriedade e seus fundos. Um fato que permitia que fosse indulgente com as bebidas, o jogo e as mulheres. Alguns dos seus melhores investimentos nasceram em uma noite de bebedeira. Ele ouviria alguém falando sobre negócios de risco ou se gabando dos seus últimos investimentos e usaria a conversa a seu favor. Algo que provavelmente não estaria fazendo se tivesse se casado mais cedo ou ficado sob o julgo do pai. Não que tivesse tolerado a ideia de casamento. Só em pensar em ser responsável por outra pessoa, uma mulher, o gelava até a medula. De fato, não poderia imaginar um cenário mais assustador, não depois do que permitiu que acontecesse à Maggie. Afastando os espantosos pensamentos, Caleb incitou o cavalo pela South Audley em direção à Grosvenor Street. Sua aversão pelo casamento não tinha mais sentido. Caleb tinha uma esposa. Com Jane vinha o dever de proteger e prover, malditos sejam os seus temores. Chegando à discreta casa que tinha comprado para Dahlia, ele apeou e jogou as rédeas para um cavalariço. Parte dele, uma pequena parte, lamentou o que tinha que fazer. Dahlia tinha sido uma amante cômoda e apesar do seu lugar na vida, ela era uma boa mulher. Pelo menos, sempre o tratou bem. Tinha comprado a casa há dois anos como parte do acordo. Ele teria que provê-la com uma casa, uma carruagem e cavalos, assim como um pequeno quadro de funcionários e uma polpuda atribuição mensal. Em retorno, ela nunca deveria pressioná-lo sobre sua vida longe dela ou pressioná-lo por algo. Em vez disso deveria dar as boas vindas a ele

de boa vontade e suprir as suas necessidades mais baixas sempre que ele exigisse – até recentemente. Ultimamente ela estava fazendo comentários sobre querer mais do seu tempo e discutir sobre o tempo que passou longe dela. Independente disso, ele não amava Dahlia. Nunca tinha e nunca iria. Ela não era nada além que uma ave do paraíso e ambos entendiam que o que eles tinham era um acordo entre duas pessoas que atenderiam as necessidades mútuas. Ela precisava de um protetor e um benfeitor, e eles se destacou em todas as funções. Ele precisava de alguém que aquecesse a sua cama e satisfizesse os seus desejos, e ela se provou extremamente boa nisso. Agora tinha chegado a hora de romper o acordo. Quando ele entrou na sala de visitas dela, a encontrou encolhida em uma cadeira perto do fogo. Ela olhou para ele, um sorriso lento e sedutor tomou os seus lábios. —Querido, senti a sua falta. — Ela ficou de pé e foi em direção a ele. —Não vim pra isso esta noite. Alcançando-o, ela envolveu os braços em volta dos seus ombros, entrelaçando os longos dedos pelos cabelos na base da sua nuca. —Permita que o faça mudar de ideia, — Ela disse sedutoramente, com a voz baixa e rouca. —Precisamos conversar. — Ela tirou os braços e então a conduziu para o sofá antes de ir para a poltrona que havia ali perto. —Nem ao menos sentará ao meu lado? — Ela fez beicinho. Ele levantou o olhar para ela. —Não há uma forma delicada de dizer o que eu vim dizer. Ela se inclinou para frente, diminuindo a distância entre eles. —Há algo errado? Pressionando os pulsos na testa, massageou-a por um momento. Não tinha desejo de causar angústia ou feri-la. Ao contrário da crença popular, ele possuía a habilidade de se importar, apenas não tinha a de amar. Duas emoções completamente distintas. —Caleb, o que quer que seja, podemos corrigir. — Ela o observou, a expressão se tornando séria. Não havia nada além para eles, apenas tinha que dizer a razão por ter ido visitá-la. Ele engoliu em seco, preparando-se para a reação dela. —Eu comprometi uma dama enquanto estava fora e fui forçado a casar com ela. Dahlia exalou audivelmente enquanto se recostava no sofá. —Isso é tudo? Você me deixou um pouco preocupada. Pensei que algo grave tinha acontecido. —Isso é sério. Você não entende o que eu digo? Estou casado, com os grilhões, caí

na armadilha do pároco. — A irritação envolvia a sua voz. —Vamos lá, Caleb, isso não é o fim do mundo. Cavalheiros quase sempre se casam com damas. Eles ainda continuam com suas vidas depois do feito. — Dahlia foi até ele. Colocou a mão no seu peito e começou a fazer pequenos círculos. —Não há necessidade de o seu casamento afetar o que temos. Ele colocou a mão sobre a dela, parando as suas atenções. —Há várias razões. Não posso ter uma amante e uma esposa. Considerando que a última é um comprometimento vitalício, eu devo por fim ao nosso acordo. —Você não pode estar falando sério. — Ela se inclinou, pressionando os lábios nos dele. Caleb fechou os olhos por uma batida, seus lábios permaneceram rígidos sob os dela. Ela trilhou beijos por sua bochecha até o seu pescoço. Incapaz de tolerar mais, Caleb ficou de pé. —Não faça com que seja mais difícil que o necessário, Dahlia. Eu não tenho intenção de jogá-la à rua. Meu advogado passará aqui a manhã. Asseguro-lhe, você será recompensada. — Ele se virou, saindo da sala. —Caleb, espera. — Ela correu atrás dele, pegando a manga do seu casaco quando o alcançou. —Vamos falar mais sobre isso. —Não há o que discutir. — Ele se libertou e se apressou para o seu cavalo. A corrida para casa permitiu que Caleb tivesse tempo para clarear a mente. Tinha feito a coisa certa para todo mundo. Dahlia perceberia com o tempo. Não havia falta de cavalheiros que procuravam por uma amante habilidosa e ela era uma beleza. Não demoraria a se estabelecer com outro dos membros da ton. Afastou todos os pensamentos de Dahlia da cabeça enquanto entrava na sala de fumar, indo direto para o aparador. Depois de se servir uma taça de brandy, ele o girou no pequeno recipiente. A deliciosa queimação do licor enquanto bebia afastou qualquer resquício de tensão. Deixando o copo sobre o móvel, saiu da sala. Ele não sabia se Jane estaria ou não estaria esperando por ele, mas não poderia ficar longe dela nem por mais um instante. Chegando ao limiar do quarto dela, ele bateu no painel de madeira antes de empurrar a porta. Ela estava sentada na cama, o cobertor puxado até a cintura, revelando sua camisola branca. Seu corpo reagiu instantaneamente enquanto ele se via incapaz de afastar o olhar – não que ele quisesse. Ela era magnífica com o cabelo negro caindo a sua volta e os olhos sonolentos, sem mencionar as curvas pouco escondidas e a tez rosada. Levou cada grama de controle que possuía para não se atirar sobre ele como um leão atrás de uma gazela.

—O-o quê você está fazendo? — Ela puxou o cobertor até o peito. —Quer dizer... Ele foi em direção à cama. —Achei que já fosse tempo de consumarmos nossa união. Os olhos dela se arregalaram enquanto ele se sentava no colchão ao lado dela. —Minhas desculpas, isso saiu mais grosseiro do que imaginei. Ela desviou o olhar. —Você pensou sobre o que ia dizer antes de entrar no meu quarto? —Eu tenho pensado pouco sobre outra coisa desde que deixamos o campo. O rubor que cobriu suas bochechas e pescoço se aprofundou. —Pensei que você não estivesse interessado em um casamento de verdade. —Ao contrário, amor. Eu quero que nossa união seja longa e de mútua satisfação. — Ele estendeu a mão e acariciou a bochecha dela com o polegar. —É claro, se quiser que eu saia, eu saio. —N-não. Fique. Ele removeu as Hessians e se esticou na cama ao lado dela antes de puxá-la para os seus braços. Ele parou quando ela enrijeceu em seus braços. —Eu sinto muito se nossa primeira vez não foi prazerosa para você. Prometo lhe dar nada mais que deleite desta vez. Os lábios dela se entreabriram e ele aproveitou a oportunidade para capturá-los.

Capítulo 6 Jane relaxou sob as carícias de Caleb. Todo pensamento fugiu da sua mente enquanto ele aprofundava o beijo e massageava as suas costas. Ele era todo força e calor pressionado contra ela, tocando-a, enviando prazer direto para as suas vísceras. As sensações a deixaram totalmente indefesa do jeito mais malicioso possível enquanto a sua língua duelava com a dele a pé de igualdade. Encorajada, passou os dedos pela bochecha e pela mandíbula, trilhando os contornos cinzelados do belo rosto antes de levar os dedos para o peito coberto. O desejo de sentir a pele dele deixou-a descontrolada. Ele soltou os seus lábios, trilhando beijos por seu rosto e por sua garganta. Ele sugou e lambeu a pele macia enquanto soltava os laços da sua camisola. Afastando a musselina branca dos seus ombros, ele descobriu o seu corpo centímetro por centímetro enquanto seus lábios queimavam uma trilha cada vez mais para baixo até que pegasse um dos seus mamilos. Quando ele chupou a protuberância macia, a paixão a engoliu. Enfiou as mãos nos cabelos dele para segurá-lo enquanto se contorcia debaixo dele, um gemido escapando de sua garganta. Caleb moveu a boca para o outro seio, onde ele continuou a chupar e lamber, enviando-a a um turbilhão. Ele foi mais para baixo, passando os dedos por sua barriga, por seus quadris e entre as suas coxas, enviando impulsos deliciosamente sensuais por todo o seu corpo. Enquanto ele acariciava a sua carne mais sensível, ela suspirou o nome dele. Ele levantou a cabeça, olhando para ela por entre os olhos enevoados olhos castanhos. Queria pará-lo, dizer a verdade, mas naquele momento, ele calou a sua boca com a dele mais uma vez. No próximo segundo, sua mão estava entre as suas coxas, acariciando-a, atiçando as chamas que ameaçavam reduzi-la a cinzas. O prazer e a necessidade eram vertiginosos, tão intensos que teria feito qualquer coisa para mantê-lo onde estava. Ela puxou e puxou a sua camisa, desesperada para sentir a pela dele contra a dela. Caleb quebrou o seu contato e puxou sua camisa por sobre a cabeça e tirou os calções. Então, em um instante, sua pele quente e lisa se pressionou na dela. Ela deu beijos em sua garganta, se afundando no gosto salgado dele e querendo mais. Conduzida por uma força arrasadora, permitiu-se explorar o corpo dele, correndo as mãos pelo peito e abdômen. A urgência que sentia era muito mais forte do que sequer podia imaginar. As sensações se intensificaram dez vezes mais que no encontro anterior.

Ela o segurou, envolvendo a sua ereção – querendo dar tudo a ele. Ele cobriu a sua boca em um beijo consumidor antes de posicionar-se entre as suas coxas. Enquanto empurrava dentro dela, ela arqueou, querendo tudo dele. Uma dor cortante a invadiu, substituindo todo o prazer que tinha estado ali um segundo antes. Caleb ficou rígido, seu único movimento era o apertar da sua mandíbula. Jane ficou debaixo dele, o coração acelerado, olhos arregalados. Ele saiu de cima dela, e deixou o quarto sem olhar para trás. Seu coração se afundou como uma pedra. Como ele pôde ter se afastado? Ela significava tão pouco para ele? **** Caleb sentou em uma mesa de canto no White’s com um copo de whisky na mão. Luvington e o Duque de Goldstone estavam com ele, mas não podia tirar a mente de Jane por tempo o bastante para prestar atenção aos seus amigos. Não importava que Jane ainda estivesse intacta. Ele a comprometeu mesmo assim só por estar no mesmo quarto que ela todas aquelas noites atrás. Ainda assim, importava muito porque, se soubesse, teria poupado a dor que causou esta noite – se poupado do tormento que sentiu desde o seu primeiro encontro. Por que diabos tinha escondido algo tão importante dele? Ela o tinha prendido de propósito? Ele não acreditava. Talvez temesse que não se casasse com ela se ele soubesse a verdade. Esvaziou o seu copo em um único gole antes de pedir outro. Não tinha dúvidas de que a machucou ainda mais ao se afastar subitamente, mas o que mais faria? Queria ela demais para ficar. Se tivesse permanecido, o fio de controle que o impedia de investir dentro dela novamente seria partido. Teria se entregado às suas paixões, arrebatando-a completamente. Se soubesse que ainda era donzela, teria ido mais devagar, protegendo-a do excesso de dor e levaria o seu desejo a um estado febril. Teria conduzido-a ao gozo em vez de se enfiar no seu corpo tenro. Não havia mais nada a fazer. Tinha sido um bruto esta noite e, depois da forma que correu para se juntar a ela, teria sido desconfortável demais se tivesse continuado. Ela não teria encontrado nenhum prazer no ato. Caleb levantou o novo copo e o esvaziou de um gole. O whisky queimou enquanto descia por sua garganta e em sua barriga, mas não fez nada para melhorar o seu humor ou acalmar os seus pensamentos.

Luvington prendeu Caleb com o olhar. —O que te deixou tão enfadonho esta noite? —E por que diabos você está aqui quando tem uma esposa novinha em folha em casa? — o Duque de Goldstone adicionou. Caleb, levantando um novo copo, olhou entre os olhares divertidos dos amigos. —Talvez vocês dois devessem explicar por que não estão em casa com suas próprias esposas em vez de estar se preocupando com a minha. Com um sorriso de auto-satisfação, Goldstone falou primeiro. —Amelia e Sarah estão passando um tempo juntos. Como você sabe, a duquesa e eu passamos grande parte do nosso tempo na propriedade ducal na Escócia. Quando vimos a Londres, ela prefere ficar com os amigos em vez de passar tempo comigo, deixando-me grande parte do tempo por conta própria. —Você disse tudo, companheiro, — Luvington disse. —Nossas esposas estão ocupadas. E a sua? Caleb exalou. —Parece que eu fiz uma confusão com o meu casamento. —Como? — Luvington arqueou uma sobrancelha. Caleb bateu os dedos na mesa entre eles. —Prefiro não discutir o assunto. —Hmm. — Luvington tomou um gole da sua bebida antes de colocá-la de lado mais uma vez. —Então nos conte o que você pretende fazer quanto a isso. —É aí que está o problema. — Caleb esfregou a mandíbula. —Não tenho uma maldita ideia para corrigir a situação. —Assumo que Lady Keery está atravessada com você? — Goldstone perguntou. —Estou certo que sim, — Caleb respondeu. —Eu tenho muito o que corrigir e não tenho ideia de como fazer isso. Luvington abaixou o drinque com um tinir. —Você já considerou um presente? —De fato. — O Duque lambeu os lábios. —Esposas gostam de presentes tanto quanto as amantes. Caleb mediu o mérito do conselho e, mesmo que duvidasse que um presente fosse consertar os erros que cometeu – primeiro entrando no quarto dela por engano, pensando ser o da viúva, Lady Sonya, e depois assumindo que tinha ido para a cama com ela – a esse ponto não tinha ideia melhor. —Muito bem. Estou indo. Quando Caleb se levantou para sair, Luvington o seguiu. —O que você pretende fazer? Caleb olhou em volta do White’s, focando sua atenção na janela em arco e na

escuridão que havia lá fora. —A essa hora da noite, eu não tenho ideia. Goldstone deu um tapa em suas costas. —Para a sua sorte, eu tenho algo perfeito em mente. Vamos embora. Depois de uma curta corrida de carruagem, Caleb se encontrou no salão privado de Goldstone, Luvington dividia uma poltrona com a esposa enquanto o duque e a duquesa estavam sentados em um sofá em frente a eles. Uma cesta de filhotes estava no chão entre eles enquanto a mãe estava ali por perto. —Como saberei sequer se Jane gosta de cachorros? —Eu conheço a sua esposa muito bem, — Lady Luvington disse com um sorriso. — Ela é uma amiga querida. Asseguro-lhe que Jane adora Mitsi e ficaria maravilhada em ganhar um de seus filhotes. A Duquesa de Goldstone assentiu concordando. —Entretanto, eu lhe advirto a não simplesmente entregar o filhote. Eu não sei o que você fez para deixá-la aborrecida. — Ela parou, estudando-o. —Mas posso dizer que apenas um presente não é capaz de lhe garantir o perdão. Seja humilde. Explique-se e peça desculpas. —De acordo. — Caleb voltou a atenção para a cesta. Uma pequena bola de pelos brancos olhava para ele enquanto o resto dormia. —Acho que terei que levar esse. —Que escolha maravilhosa. — A duquesa se moveu para pegar o filhote antes de colocá-lo no colo de Caleb. —Esse em particular é o meu favorito. De fato, eu estava determinada a ficar com ele caso nenhum dos meus amigos mais queridos o quisesse. —Por quê? — Caleb perguntou. —Gostaria de vê-lo de tempos em tempos, — ela respondeu. —Eu o tenho chamado de Scamp[1] por causa da sua natureza curiosa, mas é claro, Jane pode chamá-lo do que ela quiser. Caleb sorriu, achando divertida a forma que a Duquesa falava do animal. —Acho que devo ir. —De fato, e boa sorte. — Lady Luvington ofereceu um sorriso compassivo enquanto os outros faziam gestos de adeus. Caleb ficou de pé, segurando o filhotinho perto do peito. Maldição, esperava que eles estivessem certos. De outra forma, ele estaria atado a um animal curioso e uma esposa contrariada.

Capítulo 7 Jane olhava pela janela na sua sala de estar privada. Tinha passado o resto da noite, depois que Caleb saiu do seu quarto, entre um sono agitado e a auto-aversão misturada com aborrecimento. Não havia dúvidas que devia ter dito a verdade a ele há tempos, mesmo assim, ele não deveria tê-la abandonado esta noite. Essa manhã seu coração estava pesado tanto com a dor quanto com a raiva. Por um momento ao acordar, considerou ir procurá-lo. Forçá-lo a discutir sobre o que aconteceu e o que não aconteceu entre eles. Desejava deixar o começo difícil para trás e dar início a uma união verdadeira. Ainda assim, não podia se obrigar a persegui-lo depois que ele tinha sido tão frio com ela. Verdade, tinha estado errada ao permitir que ele acreditasse que eles já tinham compartilhado a cama, mas ele também tinha estado errado – desde o início. Ele tinha sido rude, desagradável e insensível. Foi ele quem colocou todo o seu relacionamento em marcha e agora pensava que podia simplesmente se afastar. Ela não sabia o que fazer, mas uma coisa era certa, não iria até ele. Não iria implorar. Seu orgulho se recusava a permitir que se humilhasse nesse ponto em particular. Toc, toc, toc. Seu coração saltou uma batida enquanto gritava, —Entre. Caleb entrou em seu quarto e ela virou a cabeça para voltar a olhar pela janela, dando a ele uma dose da fria indiferença que ele tinha concedido a ela na noite anterior. —Eu vim fazer as pazes. — O som pesado das suas Hessians atingiu os seus ouvidos enquanto ele se aproximava. —Querida, poderia, por favor, olhar para mim? Ela enrijeceu, levantando o queixo. Como ele se atrevia a chamá-la de querida depois de tratá-la como uma meretriz? Não, não daria a satisfação de olhar para ele. Nem de falar com ele. —Sinto muito pela noite passada. Se eu soubesse, teria providenciado para que a nossa união fosse muito mais prazerosa. Sua voz se aproximou. As lágrimas queimavam em seus olhos, mas se recusava a libertá-las. Não lhe daria a satisfação de testemunhar a sua dor. Caleb colocou uma mão em seu ombro. —Por favor, vamos falar sobre isso. Jane ignorou a vontade de se desculpar por não dizer a ele que ainda era donzela. Mesmo que não pudesse negar o seu papel nos eventos da noite anterior, não admitiria a sua culpa até que ele admitisse a dele, o que, em sua opinião, era muito maior. Não

deixou de reparar que ele ainda tinha que pedir desculpas. —Eu lhe trouxe um presente. Rá. Como se um presente frívolo fosse compensar os seus maus-tratos. —Não quer dar uma olhada? — Caleb disse com a voz suave, envolta em arrependimento. Seu coração se arrastou enquanto ela lutava contra a vontade de olhar para ele. Ele devia a ela mais que uma voz arrependida e um presente. Ela queria desculpas sinceras junto com uma explicação. Aceitar menos que isso não era algo que estivesse disposta a fazer. —Muito bem. — Ele deixou algo no chão ao lado de sua cadeira, mas não se atreveu a olhar onde ele estava. —Eu a deixarei em paz. Quando estiver pronta para me ver, estarei em meu escritório. Ela engoliu o nó que se formava em sua garganta. Enquanto os passos dele se esvaneciam, permitiu que as primeiras lágrimas caíssem. Um choramingo chamou a sua atenção e ela olhou para baixo para descobrir uma cesta com um tecido azul por cima. Mais barulho vinha lá de dentro, um farfalhar e um ganido. O quê, em nome de Deus, ele tinha trazido para ela? Com movimentos calculados ela estendeu a mão e puxou o tecido do cesto, incerta sobre o que encontraria lá dentro. Um filhote branco e fofinho olhava para ela, a ponta da língua rosada se projetava para fora da boca. Jane se inclinou, pegou o filhote, e colocou-o no colo. —Bem, você é uma surpresa agradável. — Ela acariciou o pelo macio do animal. — Eu ainda estou aborrecida com sua senhoria, sabe. O filhote fez um som gutural como se concordando com ela. —É isso mesmo. Não devo descontar minha raiva em você. — Ela acalmou a voz e as mãos. O filhote se acomodou em seu colo, balançando o rabo. —Como deverei chamá-lo? — Ela pensou, levantando o filhote e olhando dentro dos seus olhos cor de chocolate. — Talvez deva esperar para determinar a sua personalidade antes de te dar um nome oficial. A língua áspera e úmida foi de encontro à sua bochecha. Jane riu por um momento antes de abaixar o filhote. Ao menos alguém em Keery House gostava dela de verdade. **** O advogado de Caleb caminhou a passo lento até o seu escritório. —Bom dia, Sua Graça. — O ancião magro o cumprimentou com um brilho no olhar.

—Temo que você esteja enlouquecendo. Sua Graça é o meu pai como você bem sabe. — Caleb olhou de forma suspeita para o homem desde a sua mesa. O advogado sacudiu a cabeça com veemência. —Não há nenhum engano. O sangue congelou nas veias de Caleb. Seria verdade? Seu pai finalmente tinha encontrado o seu fim? Uma vez tinha amado e admirado muito o duque. Até mesmo agora ele culpava mais à mãe do que ao pai pelo que tinha acontecido. Por que então se sentia tão entorpecido? Ele não deveria estar devaneando neste momento. Caleb se arrancou das suas abstrações e sinalizou uma cadeira. —Sente-se e me diga o que aconteceu O Sr. Franklin ocupou o acento oferecido com um fraco sorriso. —Desculpe-me por atirar isso em cima de você. Tive a impressão de que o advogado do seu pai teria entrado em contato. Maldição. O pai tinha realmente partido. O que diabos Caleb iria fazer com uma nova esposa e o ducado? Não se atrevia em esperar achar a propriedade do pai em boa forma. Pelo que tinha sido compartilhado consigo ao longo dos anos, o pai tinha mostrado pouco interesse por seus bens depois que a mãe fugiu, sua negligência com o ducado apenas se multiplicou enquanto os anos se passavam. O administrador lidava com tudo e a fortuna do pai supostamente tinha diminuído a um ritmo acelerado. —Parece que o falecido duque ficou doente. Os médicos tentaram curá-lo, mas depois de uma semana ele caiu em um sono profundo. Dois dias depois, morreu. — O Sr. Franklin fez uma pausa. —Ele foi posto para descansar no cemitério da família no Highlawn Park três dias atrás. Você é o herdeiro, e assim herdou o título, as terras e tudo mais que vem com o ducado. —Eu sou o Duque de Valtry? — Caleb refletiu sobre isso. Sempre soube que algum dia o pai morreria. Em sua juventude tinha sido preparado para assumir o ducado – ansiava por isso – mas tudo mudou quando a mãe fugiu. A morte de Maggie adormeceu ainda mais o seu desejo de se tornar o Duque de Valtry. —De fato, Sua Graça. Caleb sinalizou para um criado que estava ali perto. —Traga dois cálices de brandy. Quando o criado se aproximou com as bebidas em uma bandeja de prata, Caleb pegou um e fez gesto para que o Sr. Franklin pegasse o outro. Depois de tomar um gole generoso do licor tranquilizante, Caleb se recostou na cadeira tão pronto quanto poderia estar para aceitar as suas novas responsabilidades. Ele ouviu com atenção enquanto o Sr. Franklin prosseguia: fornecendo toda informação que Caleb precisava.

—Tenho tudo em ordem, Sua Graça. Tudo o que precisa fazer é assumir as responsabilidade do seu novo título. —Isso é tudo? — Caleb levantou uma sobrancelha. Do jeito que as coisas soavam havia muito mais que isso para ele fazer. Precisaria visitar Highlawn Park imediatamente. Uma reunião com os criados superiores e o administrador era urgente. Haveria livros a serem examinados, inúmeros livros de contabilidade, arrendatários para visitar e Deus sabe o que mais. O Sr. Franklin assentiu, então ficou de pé. —Irei agora. Se precisar de qualquer coisa, sabe onde me encontrar. Caleb devolveu o aceno de cabeça do advogado. —Bom dia. — Relaxou em sua cadeira no momento que o Sr. Franklin deixou o escritório. Girando o brandy no copo, tentou imaginar o seu próximo movimento. Deveria ir à Jane? Pedir que fosse com ele para Highlawn Park? Não que a culpasse, mas depois da recepção fria que tinha dado a ele esta manhã, estava muito certo de que ela não fosse querer acompanhá-lo. Talvez fosse melhor. Tinha começado a se importar demais com ela. A distância concederia a ambos o espaço que precisavam. Talvez quando voltasse eles poderiam estabelecer um convívio tranquilo. Ao menos, Jane estaria mais aberta a falar com ele a essa altura, era o que esperava. Caleb bebeu o restante do conteúdo do copo e então chamou um criado. —Prepare as minhas coisas e a carruagem de uma vez. Desejo partir para Highlawn em duas horas. —Sim, Sua Graça. —O que é toda essa coisa de Sua Graça? — Luvington entrou em seu escritório enquanto o criado partia. —Uma pergunta melhor seria como você passou pelos meus criados para adentrar desfilando em meu escritório sem esforço algum? — Caleb estava meio que provocando. Seu humor azedava a cada vez que alguém o chamava de Sua Graça. —Eu me orgulho por nunca desfilar. — Ele sorriu. —Quanto aos seus criados, eles estão acostumados com a minha presença e não acham que devam se preocupar comigo. — Luvington pediu um copo de brandy. —Terei que mudar a opinião dos meus criados sobre você. Mas primeiro, devo ir à Highlawn Park. Luvington ergueu uma sobrancelha. —Você fez todo o possível para evitar a propriedade por anos.

—Evitar não é mais uma opção. Eu herdei o título do meu pai. — Caleb tomou um gole generoso do brandy. —Estou partindo hoje. —E quanto à sua duquesa? Caleb colocou o copo na mesa. —Ela ficará aqui, em Londres. —Você gostaria que eu o acompanhasse? —Não. — Caleb gostou da oferta. Entretanto, não precisava de uma babá. Os demônios que deixou em Highlawn Park eram somente seus. Ter Luvington lá, olhando por ele, faria ser muito mais difícil lidar com as coisas. Precisava encarar o passado sozinho.

Capítulo 8 Jane leu novamente o bilhete que Caleb tinha deixado para ela pela sétima vez nos últimos dias. Não importa quantas vezes tivesse absorvido as palavras que ele tinha escrito, a descrença permanecia em sua mente e em seu coração. Querida Jane, Meu advogado me visitou esta tarde. Meu pai morreu e me fez o Duque de Valtry e de você uma duquesa. Ao que parece, a propriedade não foi bem cuidada por anos. Tenho que ir à Highlawn Park para ver as minhas novas responsabilidades. Até que nos encontremos novamente, Caleb Como ele pôde tê-la abandonado novamente? Com certeza, a sinceridade que pensou ter ouvido em sua voz quando ele foi a ela na sala de estar tinha sido produto da sua imaginação, pois se ele realmente quisesse resolver o problema entre eles, não teria deixado-a – pela terceira vez. Seu coração estava pesado, fazendo com que fosse difícil respirar. O seu casamento seria assim? Sequer teria a família com a qual tinha passado incontáveis horas sonhando? Jane secou uma lágrima errante e colocou o bilhete na mesa. Pegou o filhote e saiu da sala. Tinha aceitado um convite para tomar chá com a cunhada, Claudia, no dia anterior e não tinha tempo a perder. A ideia de sair tinha pouco apelo atualmente. Entretanto, seria uma pequena reunião com Claudia, Sarah, Lady Luvington, Grace, a Duquesa de Abernathy, Amelia, a Duquesa de Goldstone e ela. O pensamento fez pouco para melhorar o seu humor. Além disso, não podia mais rejeitar um convite de Claudia tanto quanto podia rejeitar o da família real. Seria ir um pouco contra a própria família, algo que ela nunca faria. Carregando seu filhote na cesta em que o recebeu, Jane foi até a porta principal e pegou o seu chapéu, a bolsa e a peliça com o mordomo. Talvez, faria bem a ela estar entre amigos. Ela resolveu ao menos tentar se divertir quando saiu de casa. Depois de uma curta corrida de carruagem, encontrou-se sentada na sala de visitas de Claudia e Henry, tomando chá com suas amigas. —Estou feliz por você ter trazido o Scamp. — Amelia sorriu. —Isso é, eu o chamei de Scamp, mas isso não significa que você tenha que adotar o nome. Diga-me, que nome você deu à pequena besta?

Jane acariciou o pelo macio e branco do filhote. —Eu ainda não me decidi. Pensei se prudente conhecê-lo primeiro então poderia dar um nome que combinasse com ele. — Ela levantou a levada bola de pelos e olhou no seu rosto. —Eu acho que Scamp é o nome perfeito. Ele é um filhote muito curioso e um causador de problemas muito divertido. —Tive a mesma impressão. — Amelia estendeu a mão e deu tapinhas na cabeça de Scamp. O filhote deu uma sequência de latidos e se contorceu nas mãos de Jane. Depois de abaixar Scamp, ela pegou uma fatia de bolo enquanto Grace recontava um pouco da fofoca que tinha lido no The Times aquela manhã. Parecia que um dos Lordes mais requisitados de Londres tinha sido pego. Jane mordiscou o bolo enquanto Grace continuava a história, e bebeu o chá enquanto discutia a união, teorizando o que teria acontecido. Jane tentou demonstrar algum interesse, ter algo a dizer sobre o assunto, entretanto, sua mente sempre voltava para Caleb. Por que a tinha deixado e o que estava fazendo agora. Ficaria louca se continuasse pensando nisso. —Você está muito quieta, Jane. Há algo se passando? — Claudia perguntou. Jane afastou o olhar da xícara de porcelana. Tinha se perdido em pensamentos olhando para o líquido âmbar. —Sim... Não... Não tenho certeza. Grace deu tapinhas na mão de Jane, seu olhar era caloroso e sincero. —Estamos aqui por você, querida. Você só precisa nos dizer o que está acontecendo e te ajudaremos a resolver o problema. —Verdade. — As outras damas concordaram. —Permita-nos ajudar, — Claudia adicionou. Jane respirou fundo e então dividiu os problemas com as amigas. Deixou de fora os detalhes mais íntimos, mas deu a elas o bastante para entenderem o que tinha acontecido. —Sinto muito, Jane. Por que não confidenciou isso para mim ou Henry antes de se casar com Sua Graça? Com a sua virgindade intacta ainda haveria opções. —Eu estava arruinada, independente disso. A condessa viu Caleb meio nu nos meus aposentos. Ninguém acreditaria que eu ainda era casta, e mesmo se acreditassem, nenhum cavalheiro respeitável, nobre ou não, iria me querer com tal escândalo pesando sob a minha reputação. —Acho que você está certa. Ainda assim, desejava que não estivesse. —Não lamente por minhas oportunidades perdidas. Honestamente, estou agradecida por ter Caleb como marido. Meu único arrependimento é que ele não se importa comigo. Eu sempre esperei me casar por amor, como todas vocês. — Ela olhou timidamente para

Grace. —Desculpe-me. —Não é necessário se desculpar. Tive minha união por amor há anos. — Grace tomou o chá com delicadeza. —O que a faz tão certa de que Sua Graça não se importa contigo? — Sarah perguntou, com a expressão afetuosa. —Ele me abandonou. Duas vezes. —Homens são espécimes diferentes. Precisamos aprender as suas nuances e compreender que eles não pensam como nós. Talvez ele se importe muito e simplesmente não sabe como demonstrar. — Amelia limpou os farelos das suas luvas. —Ele nem deve ter percebido ainda. —Eu posso certificar o quanto Amelia está certa sobre isso. — Sarah deu um sorriso gentil. —Você compartilhou seus sentimentos com ele? Disse-lhe o que espera desta união? — Grace colocou a xícara de lado. —Não. —Os homens são os piores leitores de mentes, querida. Eles tentam, mas geralmente falham miseravelmente. Fica ao encargo de nós, as damas, assegurar que nossas necessidades sejam conhecidas. — Grace deu um sorriso simpático. Jane ponderou as palavras de Grace. Faria diferença se dissesse a Caleb o que desejava? **** Caleb tentou o seu melhor para se concentrar nos livros contábeis da propriedade. Ainda assim, os pensamentos sobre Jane continuavam a vir à tona. Não podia se impedir de imaginar se ele também pensava nela. Teria a sua ira resfriado? Daria as boas vindas a ele quando voltasse? Desejava que ele voltasse, ou tinha estabelecido sua própria rotina separada dele? Não era incomum que casais casados morassem em casas diferentes. Geralmente eles garantiam um herdeiro e um sobressalente primeiro, mas mesmo assim, tais arranjos eram aceitos entre a elite. A cautela se assentou dentro dele. Jane desejaria tal arranjo? Ele fechou os livros contábeis, afastando os pensamentos. Uma semana se passou desde que foi para Highlawn Park e ainda havia muito o que fazer. Se desejasse voltar a Londres em breve, precisava parar de divagar sobre coisas sobre as quais não poderia fazer qualquer coisa no momento. Caleb foi até o estábulo e pediu que o seu garanhão fosse selado e que o administrador fosse chamado. Iria inspecionar os celeiros hoje e se o seu rastro de sorte

persistisse, encontraria tudo em boas condições assim como encontrou a casa. O pai pode não ter administrado as coisas de forma apropriada, mas parecia que tinha um administrador capaz. Montado em seu cavalo, Caleb esperou que o administrador, o Sr. Zeal, se juntasse a ele. Estreitou os olhos contra os raios de sol, olhando para a vasta propriedade que pertencia a ele. Pausou quando seu olhar alcançou o salgueiro à distância. —Pegue-me se for capaz. — Maggie riu enquanto corria em direção à árvore. Seus cachos louros batiam em seus ombros, libertando-se dos grampos enquanto ela corria pelo terreno. Caleb a seguia de perto, chamando por ela. —Damas não correm, sua danadinha. —Não tenho desejo de ser uma dama apropriada. — Ela se voltou enquanto entrava entre os longos galhos inclinados do salgueiro. Ele entrou no abrigo da árvore a tempo de vê-la subir os galhos mais robustos e se reclinar no tronco. —O que a faz dizer tal coisa, Mags? Ela sorriu para ele. —Há pouca diversão no decoro. Damas não correm nem sobem em árvores. Esperam que elas obedeçam e se comportem o tempo todo. Pelo amor de Deus, damas não podem sequer ter um cérebro. —Você mudará de ideia quando ficar mais velha. — Ele disse, com confiança. — Eventualmente, quererá se casar. —Nunca. Caleb riu sozinho com a lembrança. Maggie tinha sido uma menina tão espirituosa. Não tinha dúvidas que se tivesse tido a oportunidade ela iria deixar uma grande impressão na sociedade, tanto como uma dama quanto como uma moleca. O pesar o tomou, fazendo formar um nó em sua garganta. Se ao menos ele não tivesse deixado-a atravessar o maldito rio. —Sua Graça. Caleb se virou para o administrador. —Sr. Zeal. — Ele fez um gesto com a cabeça. —Vamos começar pelo caramanchão. Ao longo do caminho você poderá me dizer sobre os reparos que já sabe que têm de ser feitos. O Sr. Zeal incitou o seu cavalo, seguindo Caleb. —O antigo duque me deu total controle para gerir a propriedade, mas o orçamento que ele fornecia para a manutenção era muito pequeno. Eu fiz o meu melhor, preferindo manter as construções mais importantes em detrimento de outras. A casa principal e os estábulos receberam a maior parte do cuidado. —Eu desejo ser ativo na administração da propriedade. Em vez de eu prover um

orçamento para a manutenção, você enviará relatórios para mim. Depois disso avaliarei a necessidade e pagarei as despesas. O Sr. Zeal assentiu. —Você verá que o caramanchão precisa de reparos externos. O interior está muito bem conservado. A casa entrou em seu campo de visão, fazendo com que outra lembrança atingisse Caleb, torcendo as suas vísceras com um desgosto há muito esquecido. Ao som dos gritos da mãe, Caleb se aproximou. O som vinha do caramanchão. Certamente ela precisava de ajuda, ele apertou o passo. —Mamãe .— Ele abriu a porta e congelou. A mãe estava inclinada na chaise, seu corpete estava puxado, revelando os seios e as saias erguidas até a cintura. Um homem estava entre as suas coxas, mas não era o seu pai. O olhar frio dela o encontrou e ela estreitou os olhos. Caleb fugiu da casa, incerto sobre o que fazer. Mais tarde, a mãe o chamou e o acusou de espionagem. —Pensei que você estivesse ferida, não estava espiando, mamãe. Eu fui te salvar. O rosto dela avermelhou e os olhos de estreitaram com fúria. —Detenha as suas mentiras. — Ela pegou as suas orelhas. —O pior erro que cometi foi me casar e dar a luz. — Ela saiu tempestuosamente deixando-o sozinho e confuso. Caleb voltou a atenção para o Sr. Zeal. —Derrube-o. Providenciarei para que outro seja construído. — Caleb olhou as terras. Se certificaria que fosse construído em outro local da propriedade, bem longe das lembranças da perfídia da sua mãe. —Muito bem, Sua Graça. Foram para o prédio seguinte, ouvindo o que precisava ser feito, e então para o outro até que Caleb tivesse visto todos. Pelo que tinha visto, o Sr Zeal era um administrador capaz e podia ficar a cargo dos reparos. Voltando da sua tarefa, Caleb apeou e jogou as rédeas para o cavalariço. —Farei um relatório e o enviarei até a noite, Sua Graça. — O Sr. Zeal disse. Caleb assentiu e começou a se afastar, mas parou pouco depois de ter tido um último pensamento. —Sr. Zeal. —Sim, Sua Graça. —Eu quero que uma ponte seja construída sobre o rio imediatamente. Uma firme o bastante para aguentar as águas quando elas estiverem altas e caudalosas.

—Como quiser, Sua Graça. Com uma necessidade desesperada de uma bebida forte e solidão, Caleb andou depressa para a casa. Não podia mais voltar e salvar Maggie tanto quanto não podia fugir para o mar, mas, maldição, poderia garantir que ninguém mais naquela propriedade tivesse o mesmo destino que ela.

Capítulo 9 Jane diminuiu o passo enquanto se aproximava do limiar da biblioteca de Highlawn Park. Chegou mais perto da parede, parando do lado de fora. Espiando, viu Caleb sentado em uma cadeira de brocado perto da lareira. Ele estava com a cabeça abaixada e segurava algo. Seu coração acelerou. E se ele não ficasse feliz em vê-la? Permitiu que seus olhos fechassem enquanto acalmava a respiração. Essa não era a hora para se acovardar. Seu casamento estava em jogo e estava resolvida a salvá-lo. Que os céus a ajudassem, mas ela amava o marido. Percebeu logo que saiu de Londres. Não tinha desejo de ficar longe dele. Nenhum desejo de brigar com ele. Forçou-se a abrir os olhos e deu o primeiro passo para entrar na sala. Ele não fez muito além de se encolher enquanto ela entrava. —Caleb. Sua cabeça permaneceu abaixada, seu corpo ainda duro como pedra. Seu coração acelerou. Qual era o problema com ele? Esquecendo seus próprios nervos, correu para o lado dele. Ainda assim ele não olhou para ela, nem se moveu. Ela olhou por sobre ele, seu olhar parando na miniatura que ele segurava em suas mãos. Uma mulher. Colocando uma mão em seu ombro, ela disse. —Caleb. A dama na fotografia, quem é ela? Depois de várias batidas, ele a olhou. Ficou surpresa com o sofrimento que testemunhou nas finas linhas do seu rosto bonito. Os olhos dele estavam embotados e sombrios e a boca apertada em uma linha pensativa. —De quem se trata? — Ela perguntou, olhando em seus olhos. —Maggie, minha irmãzinha. — A voz dele pareceu vazia. —Algo aconteceu a ela? Caleb deixou sair o fôlego, voltando a sua atenção para a foto. —Eu a matei. Jane estremeceu, sua respiração acelerou. Com certeza, este não era o caso. —Diga-me o que aconteceu, Caleb. Estou certa que a morte dela não foi causada por ti. Ele afagou a fotografia com o polegar. —Ela só tinha dez anos. Eu tinha dezessete e estava encarregado de vigiá-la. Eu lhe asseguro, foi minha culpa. O coração de Jane batia contra as suas costelas. —Não, Caleb, não pode ser. Por favor, diga-me o que aconteceu.

Seus ombros sacudiam enquanto ele lutava para manter o controle que estava prestes a se romper. Jane fazia pequenos círculos em suas costas. Ele não pode simplesmente ter matado a irmã. —Eu lhe asseguro que não é o culpado. Você não passava de uma criança. —Maggie quis ir caminhar na floresta e eu a incentivei, como sempre. Tinha chovido muito uns dias antes. O solo estava úmido e o rio cheio. — Ele parou, voltando a atenção para a miniatura. —E então? — Jane o incitou a prosseguir, odiando a forma como a sua voz tremia. —Uma árvore enorme tinha caído sobre o rio. Um arbusto de flores selvagens crescia na margem oposta, e Maggie queria colhê-las. Eu testei a árvore, pendurei-me nela algumas vezes. Parecia firme, uma boa substituta para uma ponte, e então eu dei permissão para que ela a atravessasse. — Ele fechou os olhos por um momento antes de continuar. —Ela perdeu o equilíbrio, escorregou e caiu no rio. Ainda posso ouvir os seus gritos enquanto a água a carregava para longe. Ele olhou para Jane. —Eu corri pela margem, perseguindo-a, mas antes que pudesse salvá-la, a água a engoliu. Deveria ter mergulhado e ido atrás dela. Deveria tê-la salvado. O coração de Jane se quebrou em mil pedacinhos. —Você teria morrido junto com ela. Você não vê que não havia nada que pudesse ter feito? —Ela era minha responsabilidade e eu falhei com ela. Foi o mesmo se a tivesse matado com as minhas próprias mãos. —Não, Caleb, você a amava. Independente do que você tivesse feito, ela teria morrido. Não foi culpa sua. — Ela deu um beijo no alto da cabeça dele. —Você deve se perdoar. —Você não acha que eu sou um monstro? —Eu não teria vindo atrás de você se pensasse que fosse. Caleb caiu de joelhos na frente dela e passou os braços em volta da sua cintura, descansando a cabeça na sua barriga. —Você veio até aqui por mim? Incerta sobre o que estava acontecendo, colocou as mãos ternamente em suas costas. —Eu sou sua esposa. É claro que vim por você. Ele estremeceu, respirando irregularmente. —Ninguém nunca veio por mim. Todos foram embora. Eu certamente não lhe dei qualquer razão para que se importasse comigo. Ela se abaixou até que também estivesse ajoelhada no chão e descansou a cabeça sobre a dele. —Eu me importo muito com você.

Caleb ajeitou a cabeça para que o seu olhar pudesse encontrar o dela. Por um longo momento ele olhou dentro dos seus olhos, uma enxurrada de emoções passava em suas profundezas – descrença, pesar, arrependimento, perplexidade, alegria. Ele capturou a sua boca e a beijou suavemente, brincando com os seus lábios. O próprio espanto de Jane sobre o quão estranho ele estava agindo a impediu de resistir. Em um momento eles estavam deitados na frente do fogo, o corpo dele cobrindo o dela. Ele lambeu os lábios entreabertos e ela os abriu para ele, o beijo se aprofundou até sacudir a sua alma. Caleb colocou as mãos em suas bochechas, e a acariciou. —Desculpe-me pelo meu comportamento. Se pudesse voltar no tempo, mudaria tudo. Te trataria como uma deusa desde o princípio. Deus, eu fui tão tolo. —Isso é tudo o que precisava ouvir de você no dia que me levou o Scamp. Eu também estava errada, mas minha teimosia se recusou a permitir que eu admitisse o fato. —Vamos deixa isso para trás. Permita-me ser um marido apropriado, minha linda, espirituosa e inteligente esposa. Ela não pôde lutar com o sorriso. —Não desejo nada além disso. Ele cobriu os lábios dela uma vez mais, e lhe deu todos os beijos consumidores, daqueles que pediam por mais e que ameaçavam incendiar todo o seu corpo. Seu corpo acordou embaixo dele, as terminações nervosas estalavam, o coração descontrolado. A paixão girava pelo seu corpo e se concentrava em seu núcleo. Incapaz de se impedir, Jane levou a mão até os calções de Caleb. —Espera. — O olhar de Caleb queimou no seu, ardendo de desejo. —Desta vez, eu quero fazer do jeito certo. Ele a beijou do pescoço aos ombros, deslizando para baixo, seguiu a trilha de pele descoberta. Quando chegou aos seus seios, ele parou para chupar e lamber cada mamilo rígido antes de continuar correndo a língua por seu umbigo. Cada lugar que os lábios tocavam queimava, deixando um arrepio em seu rastro. Jane se contorcia debaixo dele enquanto a paixão dentro dela se intensificava. —Faça amor comigo. Por favor, Caleb, faça amor comigo. — Ela implorou entre suspiros. Ele escorregou a mão entre as suas coxas e ela permitiu que se abrissem. —Paciência, carinho. O ato é melhor para os dois quando não é apressado. — Ele afundou um dedo no vértice das suas coxas e mergulhou-os no seu núcleo.

Jane se esfregava contra a mão em desespero, a pressão se construindo dentro dela era quase deliciosa demais para suportar. Permitiu que sua cabeça caísse para trás enquanto Caleb depositava beijos pela parte interna da sua coxa, seu dedo ainda se movimentando dentro dela. De alguma forma, ele conseguiu tirar as próprias roupas nesse meio tempo e ela pôde correr os dedos pela pele úmida de suor. Ele foi para cima, o peso do seu corpo pressionando o dela. —Você é linda. As palavras quase a destruíram. Ninguém nunca tinha feito tal elogio a ela. Ela o alcançou, passou as mãos por sua nuca e o puxou para a sua boca. Com movimentos tortuosos, ele investiu para dentro dela, beijando-a com paixão até que sua masculinidade a tivesse preenchido. Ele congelou, olhando para ela. —Você me tira o fôlego, carinho. Com as pernas envolvidas em volta dos quadris dele, seu coração e sua alma se desesperavam por Caleb, levou todo o seu controle para permanecer parada enquanto se ajustava a ele. —Você realmente me acha bonita? —Carinho, nunca encontrei outra mulher tão agradável de olhar. — Ele deu um beijo em sua testa. —Você é deslumbrante. Seu coração se derreteu, e se entregou completamente a ele. Incapaz de se controlar por mais tempo, começou a se mover, enviando ondas de prazer por todo o seu corpo. Ele permitiu que ela determinasse o ritmo, encontrando-a investida após investida até que ela saltasse sobre a borda da razão. O corpo dela ficou tenso e então se partiu, enviando-a a um estado de completa glória. Caleb cobriu os seus lábios enquanto aumentava a velocidade das suas investidas, fazendo com que a pressão se construísse uma vez mais e eles alcançassem o clímax ao mesmo tempo. Saindo de cima dela, puxou o corpo trêmulo para ele. —Eu amo você. — Ele sussurrou em seu cabelo. —Que os céus me ajudem, mas eu amo. Seu coração explodiu, derramando todo o seu amor por ele. —Você me tem, Caleb. Coração, corpo e alma. — Estendeu a mão para afagar a sua mandíbula. —Eu amo você também. Ela se aconchegou em seus braços e dormiu, sentindo pela primeira vez na vida o quanto era especial.

Epílogo Highlawn Park, Inglaterra Dezesseis meses depois Caleb inclinou-se em direção à Jane, dando um beijo primeiro em sua testa e depois na da filha. O bebê, envolvido em um cobertor cor de rosa, arrulhou para ele fazendo com que Scamp latisse. —Shhhhh. — Jane direcionou a voz para o cão. Scamp nunca estava longe de Jane, e embora pequeno, ele era um defensor feroz das damas da casa. Um fato pelo qual Caleb seria eternamente grato, já que as damas em questão eram as mais importantes da sua vida. Ele se afastou para fazer carinho na cabeça de Scamp. —Como está a nossa querida Maggie esta tarde? — Ele perguntou, um sorriso enorme preso em seus lábios. —Encantadora, como sempre. — Jane sorriu de volta. A filha tinha nascido aqui em Highlawn Park há dois meses. Jane insistiu em dar o nome da irmã falecida de Caleb a ela. Outro presente da sua querida esposa no qual se deleitar. Frequentemente imaginava como tinha sido tão sortudo para comprometer um anjo. Ela gostava de dizer que ele a tinha salvo da horrível vida de solteirona, mas na verdade, ele a tinha roubado como um ladrão no meio da noite. Jane era uma pedra preciosa escondida nas sombras da sociedade. Ele apenas tinha sido abençoado o bastante para tropeçar nela. Foi ela quem o salvou. Caleb se endireitou e foi para o sofá que havia ali perto. —Venha, permita que eu segure as minhas meninas. — Seu olhar era suplicante. Em instantes ela estava sentada ao lado dele, o braço envolvido em volta dela. Ele enfiou o nariz nos cachos macios, sentindo o seu cheiro. —Declaro que a pequena Maggie tem os seus olhos. — Ele sorriu. —E também os seus lábios. Jane virou a cabeça para ele. —Eu também vejo muitas características do pai também. Ela será uma beleza. —Com uma mãe tão atraente quanto você, ela tem que ser. — O coração dele acelerou com o rubor que cobria as bochechas de Jane. —Você me lisonjeia, marido. —Estou falando apenas a verdade, carinho. Nos meses desde que Jane o seguiu até Highlawn Park, ela tinha conseguido banir

todos os seus demônios e ajudou-o a fazer da propriedade um enorme sucesso. Mas o melhor presente que tinha dado a ele foi o seu amor. Caleb correu os dedos longos pela bochecha sedosa da filha. —Você está feliz, carinho? Jane ergueu uma sobrancelha. —Você está? —Mais feliz do que eu achava possível. Ela sorriu para ele. —Assim como eu. —Vamos mandar nosso anjo adormecido para a enfermaria. Eu quero muito um tempo sozinho com a mãe dela. — Ele deu um sorriso malicioso. Jane olhou para o bebê e de volta para ele. —Que proposta esplêndida. Ele ficou de pé e tirou Maggie dos seus braços, entregando-a para a babá. —Gostaria de ser informada quando ela acordar. — Jane disse. —Sim, Sua Graça. Antes que a babá tivesse deixado a sala, Caleb pegou Jane nos braços, seus lábios cobrindo os dela. Ela era tudo o que sempre precisou ou desejou. Sua outra metade – sua melhor parte – e ele iria amá-la para sempre.

Vire a página para um trecho do último livro da série Best-seller Damas e Vagabundos CONEXÃO ESCANDALOSA

Prólogo Inglaterra, 1822 Lady Grace Stratton, filha do Visconde e da Viscondessa de Forton entrou no salão de baile com o coração pesado. Esta, sem dúvidas, seria a noite mais difícil de sua vida. Aos dezessete anos, deveria estar aproveitando a temporada e não sofrendo pelo que estava por vir. Independente disso, seu curso já tinha sido traçado. Com o pavor a envolvendo, e com o estômago em nós, Grace foi para a varanda. O Sr. Lewis Duffield estaria esperando por ela debaixo dos galhos da árvore deles. A mesma onde ele tinha gravado as suas iniciais quinze dias atrás. O cenário teria enchido a sua barriga de borboletas há apenas algumas noites, mas agora tudo tinha mudado. Ela pegou as saias e se apressou para dar a volta em uma coluna de mármore, então desceu as escadas e foi em direção ao jardim iluminado. Se demorasse muito, as pessoas notariam. Uma situação que dificilmente poderia suportar quando tanto estava em jogo. O pai e a mãe contavam com ela. Não poderia decepcioná-los mesmo se atender ao desejo deles a destruísse. O orvalho que cobria a grama umedeceu suas sapatilhas enquanto se apressava pelo jardim em direção ao velho limoeiro. O ar frio da noite acariciava a sua pele e centenas de estrelas iluminavam o céu. Mas isso não fez nada para acalmar os seus nervos. Seu coração acelerou enquanto se aproximava do seu destino – mais perto de Lewis. Grace diminuiu o passo e lutou para recuperar a compostura enquanto dava os últimos passos, fechando a distância entre ela e Lewis. Ela o viu iluminado pela luz das tochas, os olhos dele cintilavam e o cabelo negro brilhava enquanto ela deixava o caminho. A leveza familiar que sentia toda vez que o via voltou para a sua barriga, mas nada vez para acalmar o pavor que a preenchia. Um sorriso largo de espalhou pelo rosto dele. —Grace, venha, deixe-me abraçá-la. —Oh, Lewis. — Esquecendo-se de si por um momento, ela se jogou no calor dos seus braços. O que não daria para ficar segura em seus braços por toda a eternidade. Incapaz de controlar suas emoções por nem mais um momento, um tremor passou por seus ombros enquanto as primeiras lágrimas caíam dos seus olhos. —O que é, carinho? — Lewis afagou os seus cabelos com suas mãos reconfortantes. Como diria a ele que não podiam mais ficar juntos? Cada parte dela queria negar o fato. Desejava fugir com ele. Começar uma vida nova com o homem que amava. —Tudo ficará bem. Não há razão para chorar. — Lewis continuou a reconfortá-la. Deu um beijo gentil em sua testa. —Estamos juntos agora. Tinha entregado o coração a Lewis há meses e agora se encontrava incapaz de pegá-

lo de volta. Mesmo assim, tinha uma obrigação para com os pais. Com o título da família e com a ton, ao menos de acordo com a sua mãe. Pessoalmente, Grace não se importava bulhufas com o título ou com a ton, mas não poderia dizer o mesmo quanto aos seus pais. Se isso a matasse e com certeza mataria, deveria fazer o correto por eles. Que outra escolha tinha? Sem ele, eles ficariam desamparados. Seriam jogados nas ruas de Londres para esvanecer no caos da cidade grande. Esquecidos por todos, e deixados para se virarem sozinhos sem os meios ou habilidade necessários para sobreviver em sua nova realidade. Ela simplesmente não poderia condená-los a tal existência. Grace respirou fundo. Resignada ao seu destino, se afastou o suficiente para olhar nos gentis olhos verdes de Lewis. Aqueles olhos a assombrariam por toda a eternidade – o amor e a ternura que via em suas profundezas estariam para sempre com ela. Uma lembrança que sempre teria pelo seu sacrifício. —Grace, carinho — Ele secou as lágrimas das suas bochechas. —Meu amor, o que quer que seja, você pode confiar em mim. Ela juntou cada grama de coragem que possuía e saiu do seu alcance. Não havia escolha. Tinha que dizer a ele o que aconteceu. Ele deu um passo em direção a ela, mas antes que pudesse alcançá-la, lhe deu as costas. As palavras nunca sairiam se ele estivesse olhando para ela. Não poderia ver o coração dele se quebrando. Grace abriu a boca para falar, e então a fechou procurando pelas palavras certas. Aquelas que fariam as coisas ser mais fáceis para os dois, mas não havia nenhuma. Droga, isto era impossível. Ele envolveu os braços na sua cintura, puxando-a contra o peito forte antes de sussurrar em seu ouvido, —Tudo ficará bem. Diga-me o que está errado e me permita ajudá-la. —Você não poderá ajudar. — Novas lágrimas floresceram e caíram por suas bochechas. —Eu me casarei com o Duque de Abernathy. Lewis enrijeceu atrás dela, a respiração ficou presa. —Você não pode. Não quando é mim que ama. —Deus, como gostaria que fosse só isso. — Ela se virou para ele e sua alma se partiu em pedaços. —Meu pai assinou os papéis do noivado ontem. Ele planeja anunciar o compromisso esta noite. O pânico se agarrou à expressão de Lewis. —Fuja comigo. Podemos partir agora. Não há necessidade de casar com um homem que não ama. — Ele implorou com os olhos. —Grace. Não destrua o que nós temos. Ela mordeu o lábio e afastou o olhar. —Maldição, eu amo você.

Ela voltou a olhar para ele, seu coração fragmentado. —Às vezes o amor não é o bastante. Minha vida é na Inglaterra. A sua na América. Estávamos condenados desde o início. — Ela saiu dos seus braços mais uma vez. —Devo voltar para o baile antes que sintam a minha falta. —Você está errada. Sua vida é comigo. Deixe-me cuidar de você. Permita-me mimála, amá-la e sustentá-la. Grace fechou a distância entre eles, colocando um dedo sobre seus lábios. —Não faça isso mais difícil. Você precisa me deixar ir. — Cada momento que passava aqui com ele enfraquecia a sua resolução ainda mais. Se não pusesse um fim em seu tempo juntos, nunca poderia voltar para as suas responsabilidades. —Não há escolha. Devo honrar o acordo que os meus pais fizeram. — Ela se virou e voltou pelo caminho de onde veio. Lewis foi até ela. Segurando seu cotovelo a deteve. —Grace. Ela engoliu em seco. —Por favor. Não. Sem uma palavra, ele a soltou. Grace se apressou em direção ao abrigo da casa e a vida que seus pais tinham planejado para ela, mas seu coração ficou com Lewis.

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Amanda Mariel - Damas e Vagabundos 04 - Escandalosa (oficial) R&A

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