S K B - Série Guerras das Sentinelas 10 - Laços de Sangue (TWT)

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Laço de Sangue Shannon K. Butcher Guerras das Sentinelas – 10

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Laço de Sangue Shannon K. Butcher Guerras das Sentinelas – 10

Sinopse Justice nunca conheceu a liberdade. Ela acordou há dez anos, nua e sozinha, sem lembrança de quem ou o que ela era. Desde então, ela é uma prisioneira, compelida por poderes que ela não entende. Ela percorreu o país, fazendo o que quer que o destino exigisse dela, bom ou ruim. Completamente sozinha. Até agora. Ronan está morrendo de fome. Como todos os Sanguinar, sua sobrevivência depende de encontrar os menores traços de sangue deixados para trás por uma raça antiga e mágica. Semanas atrás, Justice salvou sua vida e, desde então, é o sangue dela que ele anseia, o rosto que ele sonha. À medida que o mal se aproxima de todos os lados, ameaçando a única fortaleza que os Sentinelas têm para protegê-los, Ronan deve encontrar uma maneira de ganhar a confiança de Justice e libertá-la dos poderes das trevas que a controlam. Porque se ele não puder, a próxima pessoa que ela é obrigada a matar pode ser ele.

Traduzido e Revisado Inglês Envio do arquivo: Cleusa Revisão Inicial e formatação: Cleusa Revisão Final: Cris Reinbold Imagem: Elica Talionis

Comentário Cris Reinbold: Nada como uma Sanguinar da Porra, para te fazer esquecer a Theronai cadela do livro anterior! Justice faz justiça ao sangue que carrega nas veias!!!

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Capítulo 1 Justice havia encontrado uma grande variedade de babacas em sua linha de trabalho, mas esse tipo era o menos favorito, idiotas arrogantes e auto importantes que pensavam que deveriam ter o que queriam, simplesmente porque podiam pagar. Eles não se importavam com quem machucavam, desde que o objeto de seu desejo estivesse em suas mãozinhas gananciosas. Um idiota ambulante furioso em um terno a acompanhou passando pela mesa das enfermeiras, por um corredor bege até a sala de espera bege. Enquanto um consultório médico não era exatamente o ponto de encontro normal das negociações no mercado negro, a organização oferecia alguns benefícios. O lugar era um ninho de ratos com corredores virados e pequenos cômodos. Somente os bandidos que trabalhavam para Chester Gale sabiam em que sala seu chefe estava forçando qualquer possível atacante a procurar de uma porta atrás da outra à procura da pessoa certa. Justice poderia ter se virado e voltado para a sala de exames seis, onde ela o encontrou momentos atrás, mas seu palpite era que o homem encarregado já havia se mudado de um buraco de toupeira para outro, apenas por precaução. Era o que ela teria feito se tivesse uma pilha de pessoas tentando matá-la. Pena que ela não era uma das possíveis assassinas. Pelo menos hoje não. Se ela estivesse aqui para matar o chefe do crime no mercado negro, Deus, carma, o destino, ou quem diabos a controlasse, já a teria forçado a derrubá-lo, armado ou não. Que o imbecil autorizado ainda respirasse era a prova de que ela ainda precisava do link para as trevas que seus modos desprezíveis poderiam proporcionar. O bandido que a acompanhava chegou atrás do gigantesco posto de enfermagem em forma de U e entregou uma caixa de sapatos de plástico transparente. Justice recuperou Reba primeiro e verificou sua Glock para garantir que ainda estivesse carregada e pronta para fornecer força mortal. De jeito nenhum ela

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estava confiando nesses capangas para não foder com sua única maneira de derrubá-los. Depois que ela ficou satisfeita com o fato de Reba não ter sido molestada, ela colocou o calibre .40 na parte de trás da calça jeans. Em seguida, ela pegou a pequena caixa de couro e a abriu. Dentro havia a maior parte de seu pagamento na forma de um anel de prata. A superfície estava gravada com uma confusão caótica de linhas que poderiam ter sido algum tipo de escrita bizarra, mas com a mesma facilidade teria sido cicatrizes de um depósito de lixo que foi destruído. Ela não tinha ideia do que era o anel, mas agora que o tinha, ela esperou que a coceira na parte de trás de seu cérebro desaparecesse, indicando que sua tarefa estava concluída. Não estava. Os poderes que a enviaram para cá ainda não haviam terminado, o que a preocupava. Quem sabia o que o destino queria se não fosse o anel. O saco de papel pardo foi o próximo. Ela olhou para dentro e viu uma pilha de dinheiro em faixas. Não fazia sentido parar para contar agora. Se o restante da taxa que era devida pelos serviços prestados não estava lá, a única maneira de obter o restante era derramando sangue. Nenhuma quantia valia esse tipo de problema, não quando sua tarefa ainda não estava completa. Não há descanso para os ímpios. O bandido segurava a caixa de sapatos vazia de plástico e a encarava com uma expressão em branco que apenas drogas duras ou estupidez incurável podiam criar. — Nós terminamos aqui. Não Era uma pergunta. Era uma demissão. Justice colocou o anel na sacola de dinheiro e enfiou no bolso de trás para deixar as mãos livres. Mais uma vez, apenas por precaução. Então ela se virou e passou por uma mesa de check-out vazia e pelo corredor que levava à sala de espera. Ela teve um vislumbre fugaz de outro guarda perto da porta pela qual ela passara antes. Ele estava posicionado dentro do último cômodo ao longo do corredor, espiando por um espaço não maior que um lápis. O espaço atrás dele estava escuro, e a única razão pela qual ela foi capaz de vê-lo foi porque um brilho de luz fluorescente do corredor chamou sua atenção.

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Ela não olhou. Não havia sentido nisso. Ela sabia que esse cara estava aqui para garantir que ela fosse embora, sob seu próprio vapor ou pela força. O olhar morto em seus olhos dizia que ele realmente não se importaria. Pelo menos ele não era sedento de sangue, como alguns dos idiotas com quem ela lidava. Sua escolta digitou um código na fechadura eletrônica e abriu a porta que dava para a sala de espera. — Próximo, — ele disse, entediado. Justice agarrou seu saco de pilhagem com mais força e continuou andando. A coceira na base do crânio estava começando a zumbir. Fosse qual fosse o destino que a mandara aqui, estava perto. Quando o bandido viu quem esperava, seu tom se animou. — O chefe esteve esperando o dia todo por você. Que sorte você encontra-lo. Justice passou pelo jovem cuja vez era oferecer seu prêmio por dinheiro. Ele ainda tinha espinhas e ainda não conseguia preencher os remendos em sua barba desgrenhada. Um boné de beisebol escondia seus olhos, mas seu sorriso ansioso era inconfundível. — Quando você é tão bom quanto eu, não precisa de sorte. — É melhor que seja a coisa real, ou esse sorriso faltará alguns dentes. — Ela é, — disse o jovem, todo confiante e arrogante. Não foi até Justice passar por ele que ela viu o que ele trouxera para vender o desprezível Chester Gale. Uma garotinha seguia atrás do punk, chupando o dedo. Ela era velha demais para o hábito, talvez quatro ou cinco anos, mas o olhar severo de medo em seu rosto manchado de lágrimas fez a característica infantil completamente perdoável. Seu cabelo loiro estava uma bagunça, e seus grandes olhos azuis encaravam Justice em um pedido silencioso de ajuda. O zumbido na parte de trás do crânio de Justice se transformou em um rugido completo. Motores a jato e concertos de rock gritavam em sua cabeça, quase deixando-a de joelhos. Essa criança era a verdadeira razão pela qual ela estava aqui trocando bugigangas com homens que eram mais uteis para fertilizantes. Justice não era heroína. Ela fez muitas coisas de merda nos dez anos de sua vida que ela conseguia se lembrar. Provavelmente, ela fez ainda mais antes disso.

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Mas nenhuma vez ela olhou para o outro lado enquanto idiotas autorizados trocavam dinheiro por crianças aterrorizadas, gritando Destinos ou não. Ela não suportava o pensamento de acrescentar isso à sua longa lista de pecados. Instintos assumiram antes que um plano coerente pudesse se formar em sua mente. Quando ela passou pelo homem, ela pegou a menina em um braço enquanto puxava Reba da cintura. A criança soltou um chiado assustado e começou a chorar. O punk que estava pronto para vendê-la se virou para ver o que havia acontecido com o prêmio. O guarda armado puxou sua arma e apontou para Justice. Antes que o cano de sua arma se firmasse, Justice disparou uma bala no centro de sua cabeça carnuda. Polpa vermelha espirrou na porta atrás dele com tanta força que bateu contra a parede. O filho da puta que roubou a criança na frente dela tinha sua própria arma na mão agora. Ela agiu sem hesitar. O único pensamento em sua mente agora era como tira-la e a garota daqui vivas. Quem quer que tenha que morrer para que isso aconteça, basta adicioná-los à pilha de corpos em seu caminho. Justice apertou o gatilho de sua Glock novamente no momento em que o punk disparou. Ela sentiu um golpe de força empurrá-la de volta, mas sem dor. Viria. Em breve. Estava lá, faria isso. Ela tinha apenas alguns segundos antes disso. A menina gritou mais alto. Um buraco irregular e aberto apareceu sob o olho esquerdo do punk quando a bala de Justice rasgou carne e osso. Ele caiu onde estava, como um boneco com as cordas cortadas. Ela recuou em direção à saída. Seu carro estava estacionado do lado de fora. Tudo o que ela precisava fazer era chegar tão longe. Ricardo, sua amada Maserati, faria o resto do trabalho pesado. O bandido armado anteriormente escondido havia saído para fazer seu trabalho. Apenas alguns segundos se passaram desde que ela arrebatou a garota, mas foi tempo suficiente para ele ter firmado sua mira. — Pare, — ele disse, seu tom tão frio e imóvel como um lago congelado.

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Ela não perdeu o fôlego. Nada que ela pudesse dizer mudaria o que ele estava prestes a fazer. Justice girou para que ela estivesse entre a arma e a garota, depois correu pela porta, em direção a Ricardo. Outra rodada bateu em seu corpo, batendo logo acima do quadril. Sua perna ficou presa por apenas uma fração de segundo, mas foi longa o suficiente para mandá-la para a calçada. A luz do sol da tarde atingiu seu rosto. O ar frio do inverno girava em torno de sua cabeça. A garotinha se afastou e estava gritando ainda mais alto. O prédio era por si só, separado dos restaurantes e postos de gasolina próximos, provavelmente por design. O tráfego deslizava a algumas centenas de metros, mas se alguém notasse o que estava acontecendo, ela não saberia dizer. Ninguém tocou a buzina ou gritou para alguém chamar a polícia. O sangue molhou suas roupas agora, e a dor de suas feridas começou a deslizar entre as rachaduras em sua adrenalina. Ela já foi baleada antes. Ela sabia o que estava por vir. Mas ainda não. Só mais alguns segundos... A porta se fechou atrás dela, uma única e fina folha de vidro entre ela e a próxima rodada apontada em sua direção. O guarda armado se aproximou o suficiente da porta para que ela pudesse ver sua cabeça e ombros grossos através do vidro colorido. Suas mãos estavam tremendo agora, mas Reba compensaria com força o que Justice não tinha em vista. Seu alvo era grande e próximo. E uma fração de segundo muito lenta. Justice atirou novamente. Vidro quebrado. Ela não parou o tempo suficiente para ver se seu alvo foi atingido. Se não foi, ela estava tão boa quanto morta. Ela ficou de pé, agarrou o braço da menina e correu para o carro com as pernas instáveis. Ricardo a recebeu com um abraço caloroso. Assentos de couro aquecidos pelo sol amorteciam sua queda quando ela caiu ao volante. A menina foi puxada sem cerimônia pelo colo de Justice, jogada sobre o console e no banco do passageiro.

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— Abaixe no assoalho, — Justice latiu, assim que a primeira onda de dor lancinante tomou conta dela. Ela rangeu os dentes e deu um soco na ignição do Maserati. Sangue jorrou de seu abdômen. Mais escorreu no assento por baixo. Já podia sentir sua força desaparecendo. Ela tinha que tirar a garota daqui o mais longe que pudesse. Nada mais importava, nem mesmo a coceira persistente na base de seu crânio a obrigando a fazer o que quer que o destino exigisse a seguir. Para ela, o destino poderia se foder. Com uma mão pressionada contra o abdômen para diminuir o sangramento, ela ligou o motor e partiu para o trânsito na hora do rush. A garotinha se encolheu no assoalho, chupando o polegar entre soluços fungados. Cuspe e ranho escorreram pelo rosto para se misturar com as lágrimas aterrorizadas. — Está tudo bem agora, — mentiu Justice em um tom irregular. — Qual o seu nome? A dor atingiu seu auge e atualmente estava queimando por suas entranhas como fogo. A criança olhou com grandes olhos azuis e murmurou algo em torno do polegar. — Tire seu polegar e tente novamente. — Justice fez o possível para manter a voz suave, mas sabia que a dor dera uma margem crescente. A menina fez como foi dito. Sua mão gorducha agarrou o assento e deixou para trás uma mancha de baba no couro costurado à mão. — Pepper. — Onde estão seus pais? O rosto de Pepper derreteu no tipo de agonia que apenas a morte poderia criar. — Ele feriu a mamãe. — Uma vez que as palavras saíram de sua boca, o polegar voltou e ela começou a balançar enquanto chorava. Justice não se atreveu a perguntar sobre o pai da garota. Ela não teve forças para torturar a pobre garota mais uma vez. A coceira na base do crânio começou a se espalhar e fortalecer. O que quer que tenha feito Justice fazer as coisas que ela fez, teve o pior momento. Os malditos Destinos não sabiam que ela estava sangrando, na

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esperança de superar os assassinos armados e carregando uma criança que provavelmente era órfã recente? Uma criança que tinha algum valor para um homem que valorizava apenas um subconjunto muito estreito de objetos? Objetos antigos e mágicos. Como diabos uma criança sem fraldas se qualificava? Justice não fazia ideia. Outra onda de tontura girou sua cabeça, e ela sabia que estava ficando sem tempo. Ela pensou brevemente em ir a um hospital, mas sabia que o destino não permitiria. Eles nunca permitiram. Ela teria que continuar e torcer para que Ricardo a impedisse de encontrar qualquer um dos carros que a rodeavam. A coceira começou a queimar. Ela estava seguindo o caminho errado. Onde quer que estivesse sendo obrigada a ir, não era o norte. Justice pegou a próxima saída, indo para o leste. Assim que ela fez, a queimação na base de seu crânio desapareceu. Suas tripas ainda pareciam estar sendo arrancadas através do umbigo, mas até isso estava diminuindo para um nível administrável. Foi sua fraqueza crescente que a assustou. Se ela saísse da estrada e matasse a garota ou desmaiasse e a deixasse presa na estrada, as coisas poderiam ir de mal a pior. Quilômetros deslizaram em um nevoeiro enquanto Justice tentava fazer com que seu cérebro abalado apresentasse um plano. Pepper se cansara de chorar e agora estava enrolada no assoalho, dormindo. O pôr do sol estava chegando, e com ele, todo rosnado, presas de Synestryn sairiam para brincar. Ela estava sangrando o suficiente para saber que eles iriam farejar. Ela tinha que se livrar de Pepper antes que isso acontecesse. Mas em quem ela poderia confiar para tirar a garota de suas mãos? O rosto bonito de Ronan entrou em sua mente como se estivesse implorando que ela o alcançasse. Em vez disso, ela empurrou a imagem para longe com um rosnado feroz. Mesmo que ela quisesse entrar em contato com ele, o que ela não queria, não havia como ela poder. Não é como se ela tivesse o número de telefone dele. Ele foi quem a perseguiu, e não o contrário.

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E se ela o encontrasse, então o quê? De jeito nenhum ela estava entregando uma criança a um homem que bebia sangue. Ela desejou ter um amigo, apenas uma pessoa em quem pudesse confiar. Mas amigos não eram algo que Justice podia ter. A única vez que ela tentou aprendeu a lição de uma forma tão dolorosamente, ela nunca tentou novamente. As únicas coisas que ela podia contar eram sua arma e seu carro. Então ela, Reba e Ricardo iriam encontrar alguma ajuda para Pepper antes que ela acabasse em um lugar pior do que o que Chester Gale reservou para ela. Justice procurou em sua mente por uma solução, mas sua cabeça estava enevoada e seu corpo estava desaparecendo. O sangramento diminuiu, mas ela não sabia dizer se era porque seus ferimentos haviam começado a fechar ou se estava quase sem sangue. Pensamentos de Ronan encheram seus cérebro novamente, e desta vez ela estava fraca demais para afastá-los. Ela podia senti-lo em algum lugar a leste daqui. Ela não entendeu como poderia dizer onde ele estava, talvez porque ele tivesse bebido muito do sangue dela há algumas semanas, mas a presença dele era como um brilho contra a pele dela que ela podia sentir, mas não ver. Para ele, ela era presa. Comida. E, no entanto, ela não conseguia tirá-lo da cabeça. Quão ferrado era isso? Finalmente, quando estava tonta demais para dirigir em linha reta, mesmo com a ajuda de Ricardo, ela saiu da estrada em uma parada a quilômetros de qualquer lugar interessante. Dois caminhões estavam no estacionamento superior para caminhoneiros. A área inferior era para veículos menores e completamente vazia. Justice estacionou perto do banheiro e simplesmente respirou enquanto esperava alguém de confiança parar. De jeito nenhum ela estava entregando Pepper a dois caminhoneiros que poderiam ou não estar envolvidos no tráfico de pessoas. Era melhor esperar que uma família com filhos ou um casal de idosos aparecesse e entregasse Pepper a eles. Justice estava quase sem forças para fazer qualquer coisa. Se ela se mexesse, tinha certeza de que começaria a sangrar novamente. Com base na poça a seus pés, ela não achava que poderia perder muito mais.

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Pepper ainda estava dormindo no chão, enrolada em um espaço do tamanho perfeito para seu corpo minúsculo. Agora que ela não estava gritando, ela era adorável, com cachos loiros, macios e bochechas gordinhas. O que quer que aqueles desgraçados estivessem fazendo com ela, Justice estava feliz por ela tê-los parado. Talvez salvar uma garotinha não fosse seu trabalho habitual, mas ela não se importava. Se salvar uma criança inocente fosse seu último ato nessa bola giratória de terra, que assim seja. Esse foi o pensamento que encheu sua mente quando as últimas forças desapareceram e as luzes se apagaram.

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Capítulo 2 Ronan acordou, certo de que algo estava errado. O sol ainda não havia se posto, deixando-o fraco e grogue. Ele procurou no porão pequeno e sem janelas em que se abrigara, procurando sinais do que o havia assustado, mas não encontrou nada. Ele estava sozinho. Não havia sons de intrusos ou cheiros de perigo por perto. Ele estava tão sozinho agora como estava quando se deitou ao nascer do sol para descansar. Ele ficou imóvel em uma cama estreita e concentrou-se na profunda sensação de inquietação que percorreu seus membros. Teria sido apenas um sonho raro? Esse erro persistente era uma invenção estranha de sua mente adormecida? Ele esperou para ver se o sentimento se dissiparia, mas, em vez disso, ficou mais forte, mais profundo. A necessidade de se levantar e se mover esbofeteava contra o lado esquerdo, como se o que quer que tivesse causado sua inquietação estivesse gritando com ele na direção do sol poente. Os minutos passaram em agonizante lentidão. Sua fome quase constante inchou quando o tempo de alimentação habitual se aproximou. Normalmente ele dormia durante o pior da fome do dia, mas estava acordado agora, muito agitado para cair no sono. Só mais alguns minutos. Era tudo o que ele tinha que suportar antes que pudesse sair e ir caçar o sangue que precisava para sustentá-lo. Ele já havia localizado um jovem casal próximo que continha os traços de magia antiga que ele desejava. Seu trabalho no Projeto Lullaby reuniu esses dois apenas alguns meses atrás. Eles estavam loucamente apaixonados e, com um pouco de esforço da parte de Ronan, logo esperariam o primeiro filho, outra vida para impedir que ele e sua espécie sofressem a lenta morte da fome. A ideia de que o casal nunca teria se encontrado sem ele, e que ele estava tirando a liberdade de se reproduzir como bem entendessem, não o incomodava mais. Houve um tempo em que ele teria detestado interferir com o livre arbítrio de Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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humanos sanguinários, mas esse dia se foi há muito tempo, junto com as mortes de muitos de sua espécie. As três raças de Sentinelas estavam em guerra com Synestryn, e Ronan era muito pragmático para se preocupar com o que um punhado de humanos queria ou não. Se ele e sua espécie morressem, os Theronai logo cairiam. Uma vez que suas espadas não estivessem mais protegendo a humanidade do influxo de demônios famintos que usavam humanos como alimento, então preocupações mesquinhas como se um casal se apaixonasse ou não ou tivesse um filho em seu próprio tempo dificilmente importariam. Todos tiveram seu lugar nesta guerra, gostem ou não. O de Ronan era para garantir que as linhagens de sangue que seus irmãos e irmãs Sanguinar precisavam para sobreviver fossem fortalecidas. O trabalho de Cara e Doug era ter o maior número possível de filhos. Em troca, Ronan garantiria que sua família vivesse uma vida longa, saudável e feliz. Se eles concordaram ou não com esse acordo era irrelevante. Pelo menos, foi o que Ronan disse a si mesmo sempre que sua consciência moribunda soltava um dos poucos suspiros restantes de indignação por sua intromissão. Ele desejou que a coisa morresse e o deixasse em paz. Manipular vidas era muito mais fácil sem ela. Outra agitação de urgência atingiu seu lado, e desta vez, ele sabia que não era um sonho. Alguém estava com problemas, alguém cujo vínculo de sangue com ele era forte. Ronan forçou seu corpo fraco a se mover e recuperar o celular do bolso. Ele vestiu seu jeans muito folgado antes que seus dedos frios e desajeitados pudessem abotoá-lo. Ele olhou para a tela. Sem chamadas. Sem textos. Ele tinha e-mail, mas eram todas ofertas de produtos que prometiam ereções mais duras e mais longas e pessoas que queriam dar milhões em troca do número da sua conta bancária. Ele abriu o aplicativo que mostrava a localização de todos os Theronai, Slayers e Sanguinar conhecidos próximos a ele. Nicholas havia criado o programa para ajudar a promover a cooperação entre as raças, mas com tantas pessoas agora

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em Dabyr, havia apenas um punhado de Sentinelas ainda fora dos muros da fortaleza. Ronan viu apenas três pontos no mapa que se estendiam desde o extremo leste de Kansas City até o lado oeste de Columbia. Dois deles estavam se movendo pela I-70, a leste dele, e o outro estava curvando-se pelas estradas rurais, indo para o norte em direção a casa. Todos eles eram Theronai, e nenhum deles havia chamado para pedir ajuda. Não apenas isso, mas nenhum deles estava a Oeste dele. Mas alguém que ele conhecia estava. Justice. Ele se alimentou dela recentemente, embora a maneira selvagem que ele rasgou sua pele e sugou seu sangue fosse um ato violento demais para ser considerado meramente alimentar. Ele a brutalizou. Usou-a. Ela salvou a vida dele e ele quase a matou no processo. Não é de admirar que ela tenha ficado fora do alcance dele desde aquela noite. Ele podia sentir a presença dela brilhando e quente, quando imaginou que o sol proibido sentiria contra sua pele. Ao amanhecer, quando ele se deitava para esperar a fraqueza do dia em algum buraco escuro, ele se posicionava de modo a estar ao lado dela e capaz de absorver o máximo de sua presença calorosa possível. Ela estava sempre em movimento, constantemente correndo em direção a algo ou possivelmente longe dele. Ele a rastreava há semanas e raramente chegava a mais de uma dúzia de quilômetros. Ela não era prejudicada pela luz do dia. Ela raramente ficava em um lugar por mais de algumas horas. Ele nem tinha certeza de que ela dormia. O que ele sabia era que todas as noites em que ele acordava, ela sempre se afastava dele, sua cabeça começava a garantir que ele nunca pudesse alcançá-la antes que ele fosse novamente preso pelo sol, fraco e exausto. Exceto hoje. Aquele fio dela que permaneceu dentro de suas células, conectando-os, estava quieto. Ela não estava se mexendo. Ela não estava fugindo dele. Na verdade, ela estava mais perto do que jamais esteve antes a essa hora do dia, perto o suficiente para que ele pudesse encontrá-la. Tocá-la.

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A mera ideia enviou uma onda de excitação arrebatadora através de seu corpo perdido. Era bom demais para ser verdade, e talvez até outra armadilha que o deixasse sangrando e inconsciente como a última vez que a conheceu. Em uma repentina onda de medo, ele percebeu que a profunda agitação da injustiça que sentira vinha da mesma direção que ela. Era o sangue dela que o acordou. Justice estava com problemas. O pânico tomou conta e roubou o pouco de calor que ele possuía. Seu corpo era lento e rígido, mas ele forçou seus membros finos a se moverem e a se erguerem. Ele não podia ver o sol, mas podia senti-lo sugando seu poder e minando sua força. Quanto tempo até o pôr do sol? Ele não tinha certeza. Apenas alguns minutos, mas muitos. Muitos para caralho. Ele conseguiu ficar de pé, mas o esforço o deixou tremendo. Ele não se alimentava bem desde Garet, alguns dias atrás, e seu trabalho minava suas forças. Sempre havia alguém que precisava de cura, os feridos e doentes, e ele era responsável pela saúde de muitas crianças inocentes. Ele ajudou a criá-los, mas eles ainda eram pequenos demais para recompensá-lo em sangue. Um dia eles seriam totalmente crescidos e se tornariam uma fonte de energia, mas por enquanto eram uma plantação frágil ainda não pronta para a colheita. Até o momento, Ronan e sua espécie tiveram que sofrer na esperança de que o futuro deles fosse melhor que o presente. Ele só esperava que, enquanto isso, sua fraqueza não custasse a vida a alguém. Depressa! Uma sensação de urgência bateu em sua cabeça como asas de corvo e fez seu coração bater mais rápido. Ele não tinha tempo de esperar o pôr do sol. Ele tinha que se mover agora. Suas juntas pareciam velhas e quebradiças, Ronan subiu as escadas do porão para a casa de dois andares acima. Estava vazia, um esconderijo destinado a servir de refúgio para aqueles que travaram a guerra contra Synestryn. O chão de madeira estava cheio de cicatrizes e arranhado, mas limpo. O ar cheirava a desinfetante e os restos de uma refeição cozida dias atrás.

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Ele se certificou de que as cortinas estivessem fechadas antes de dormir, mas mesmo o pôr do sol filtrado contra as janelas ocidentais era demais para ele ficar de pé. Os olhos dele arderam. Lágrimas escorriam por suas bochechas. Sua pele parecia murchar como se procurasse um lugar para se esconder. Se um único raio dessa luz tocasse sua pele nua, um Warden seria convocado e Ronan seria morto. Não havia como ele lutar contra um daqueles gigantescos guerreiros cristalinos, tão fraco quanto estava. Cada respiração era uma luta, como se ele estivesse aspirando ar através de um canudo de uma milha de comprimento. Seus pulmões estavam tensos e doloridos, e seu coração disparou em um esforço para espalhar seu sangue cansado pelo corpo. Ele tropeçou na perna de uma cadeira de cozinha e caiu no chão de vinil rachado. Estava frio e roubou o pouco de calor que restava. Até o calor constante vindo de Justice parecia desaparecer. Esse foi o pensamento que o fez se mover novamente, apesar de sua dor e fraqueza. Ela pode não gostar dele. Inferno, ela pode até odiá-lo. Mas ela era a única esperança que ele tinha em uma vida sem esperança. Ele mal a conhecia, mas se algo acontecesse com ela, ele não tinha certeza de que sobreviveria. Ele precisava de seu sangue, de seu poder. Ele precisava de seu calor. Ele precisava dela. Foram necessárias várias tentativas até Ronan conseguir se levantar. Sua van estava estacionada em uma garagem que foi adicionada à casa centenária algumas décadas atrás. O espaço era pequeno, mas ele conseguiu amontoar a van e entrar correndo assim que os primeiros raios do nascer do sol espiaram acima do horizonte leste. Pequenas janelas na porta da garagem voltada para o leste deixam entrar o brilho dourado do pôr do sol, mas nada mais. Nenhum raio direto do Oeste poderia tocá-lo aqui. Ele estava seguro. Fraco, mas seguro. E assim que ele voltasse ao volante de sua van, as janelas com magias aprimoradas garantiriam que ele estivesse protegido dos Wardens, se não fraqueza.

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Ele apertou o botão para levantar a porta da garagem, mas não teria como abaixá-lo quando ele puxasse a van. Ele ligaria para um gerai para garantir a segurança da casa mais tarde, mas agora seu foco total estava em se arrastar os últimos metros para a entrada. Subir no veículo alto foi cansativo. Suas roupas folgadas caíam em seu corpo como se ele não passasse de ossos cobertos de pele. Uma dor profunda e constante pulsava em seu peito agora, mas ele não podia dizer se era o seu batimento cardíaco ou seus instintos implorando para ele se apressar. O brilho de Justice estava desaparecendo rapidamente. Ele saiu da garagem para os últimos poucos raios ofuscantes da luz do sol. Ele não tinha certeza de como ele conseguiu seguir para a estrada de cascalho através das lágrimas ardentes que embaçavam sua visão, mas ele estava acelerando em direção à estrada mais próxima, uma trilha de poeira ondulando atrás dele enquanto os últimos tentáculos de luz eram engolidos pela colina a oeste. Com os restos da luz solar tóxica desaparecendo, sua força retornou e, com ela, mais medo. Ela não estava morta. Esse foi o pensamento que o manteve são. O que aconteceu com ela a deixou parada e fraca, mas ela não estava morta. Cada milha que passou parecia demorar um ano. Ele quebrou todos os limites de velocidade, indiferente às consequências. Sua van não era sexy, mas foi projetada para ser um cavalo de batalha, carregando o peso de comerciantes e todos os seus ladrilhos, carpetes ou ferramentas pesadas. Com apenas uma pequena quantidade de equipamentos e suprimentos médicos nos fundos, toda essa energia entrou em velocidade. Ele correu para a interestadual e para o final do tráfego da hora do rush entre Kansas City e Columbia. Com um impulso brutal de compulsão, ele forçou motoristas humanos a sair do caminho. Até o patrulheiro da estrada por onde ele passou deu muito espaço quando Ronan empurrou a mente do homem para uma imagem de luzes de ambulância e sirenes onde a van em alta velocidade estava. Mesmo se aproximando de Justice, ele não sentiu o vínculo de sangue que eles compartilhavam ficando mais forte. Era como se ela estivesse ficando mais fraca no mesmo ritmo em que ele se aproximava dela.

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Ele estava indo tão rápido que perdeu a parada. Não foi até ele sentir a presença dela passando por ele que ele percebeu onde ela estava. Retornou rápido, passando pelo o canteiro largo de grama, depois atravessou o tráfego que se aproximava e todas as buzinas estridentes e raivosas para atingir a rampa de saída. Quando ele viu a elegante Maserati vermelho, ele sabia que era dela. Ela tinha uma afinidade pela velocidade, e não havia dúvida de onde ele a encontraria. Ronan estacionou ao lado do carro e pulou da van sem se preocupar em desligar o motor. Demorou apenas alguns segundos para correr até a porta, mas aqueles últimos metros pareciam se esticar como uma eternidade. Sua cabeça estava caída de lado em um ângulo estranho. Seus cachos negros e soltos obscureciam seu rosto. Ainda assim, ele sabia que era ela. Se ele tivesse visto apenas uma única mecha de seu cabelo ou uma polegada de sua pele cor de caramelo, ele a teria reconhecido. Ela era dele. Ela não queria ser, mas isso não mudava nada. Ele não sabia como sabia que ela era para ele, mas todas as células de seu corpo gritavam a verdade. E se ele a perdesse, nunca haveria outra mulher como ela, não importa quantos séculos mais ele vivesse. Sua postura era flácida e errada. Não adormecida, mas inconsciente. Seu motor estava funcionando, mas a porta estava trancada. — Justice, — ele disse, chamando o nome dela com uma forte compulsão para responder. Ela não moveu, embora ele não pudesse dizer se era porque ela não podia, ou porque seu poder de compulsão não funcionava nela. Isso nunca aconteceu. Sem hesitar, ele bateu o cotovelo pontudo no vidro. A janela se partiu em pedaços pegajosos que brilhavam em seus cabelos como flocos de neve. O grito aterrorizado de uma criança o agrediu, e foi só então que ele percebeu que Justice não estava sozinha. Enrolada no chão do lado do passageiro estava uma garotinha loira. Sua boca estava esticada em um lamento de medo, e seus olhos azuis eram igualmente arregalados. O sangue manchou suas roupas, mas não a encharcou da maneira como as roupas de Justice estavam encharcadas.

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— Está tudo bem, — ele disse em voz baixa e gentil. — Eu não vou machucala. Silêncio agora. Desta vez, a compulsão suave em torno de suas palavras funcionou. A garota se acalmou de repente, seus gritos se transformando em soluços estrangulados e pequenos fungos. — Você está machucada? — Ele perguntou, seu poder a instando a responder com sinceridade. A criança balançou a cabeça e chupou o dedo. Ela parecia assustada, mas não ferida. Justice não teve a mesma sorte. O cheiro de sangue subiu do carro esportivo. Muito sangue. Sangue rico e inebriante, cheio de magia e poder. As presas de Ronan se alongaram, e a fome em sua barriga floresceu em uma dor voraz. Um rosnado escapou de sua garganta antes que ele pudesse detê-lo, o que fez os soluços encharcados da criança ficarem mais altos. Ele a ignorou, abriu a porta e agachou-se para inspecionar as feridas de Justice. O sangue encharcou sua blusa e se acumulou no chão embaixo do assento. Ele podia ouvi-la pulsar, fraca e rápida demais, enquanto seu coração lutava para manter o oxigênio fluindo por suas veias vazias. Ela não tinha muito sangue de sobra, mas ele não tinha escolha a não ser tomar mais. Ele estava com muita fome e fraco nesse estado para fazer qualquer coisa, exceto vê-la morrer. Antes que ele pudesse perder segundos que ela não tinha, ele levou o pulso à boca e mordeu fundo. Apenas algumas gotas. Tão poderosa quanto ela era, era tudo o que precisava para impulsionar seu sistema. Pelo menos foi o que ele disse a si mesmo. Mas no segundo em que seu sangue doce e potente atingiu sua língua, ele sabia que algumas gotas nunca seriam suficientes. Ele poderia beber um oceano de seu poder e ainda querer mais. Seu peito engrossou com músculos. Seus braços magros recuperaram sua forma natural, crescendo tão fortes e saudáveis quanto na juventude. Roupas que

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estavam largas esticadas para se ajustarem perfeitamente, e toda a fraqueza e letargia da fome desapareceram. Ele se tornou um animal irracional, consumindo seu doce elixir em goles pesados e altos. Foi só quando ele sentiu o coração dela vibrar que ele percebeu o quão longe foi. Ela estava à beira da morte, pairando na linha fina como uma navalha entre está vida e a próxima. Até mais um gole, e ele temia que o dano fosse irreversível, Justice, se iria deste mundo para sempre. Esse foi o pensamento que prendeu o lado animal faminto dele atrás de barras grossas e resistentes, arranhando e mordendo para se libertar. Ele fechou as feridas no punho, depois enviou parte de sua essência ao corpo dela para encontrar a fonte de seu sangramento. Ela levou dois tiros. As balas ainda estavam alojadas em sua carne. Uma delas lascara um fragmento de osso do quadril. A outra cortou o suprimento de sangue que fluía para o rim. Era de onde vinha a maior parte do sangue. Ronan reuniu seu poder e o enviou para consertar sua carne rasgada. Ele empurrou as balas da pele dela e curou o dano de dentro para fora. Ele fundiu o pedaço de osso de volta no lugar e ficou pairando dentro dela para se certificar de que não havia perdido nada. Assim que o dano foi reparado, ele acelerou o processo de reabastecer o suprimento de sangue. Ela precisaria de fluidos para fazer a mágica funcionar, mas uma vez que ele emitisse sua demanda para suas células, eles obedeciam e continuavam fazendo isso por dias. O calor de sua mente se curvou ao redor dele e o atraiu a ir mais fundo, mas ele não se atreveu. Ela estava muito fraca, e ele se preocupou que, se ele começasse a desvendar o mistério de quem ela era e de onde ela havia vindo, ele nunca pararia. Ele já a violou uma vez. Ele não cometeria o mesmo erro novamente. Quando ele ficou satisfeito que a carne estava emendada, ele se afastou do corpo e entrou no seu. Normalmente, ele sempre se sentia aliviado por retornar à sua própria carne, mas desta vez era diferente. Sua própria pele parecia mais fria, mais fina. Tudo o que ele queria era estar de volta dentro dela, se aquecendo em seu calor. A criança o observava com olhos arregalados e desconfiados.

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— O que aconteceu com ela? — Ele perguntou. — Os homens maus atiraram nela. — Por quê? Sua testa pálida enrugou em confusão, como se Ronan fosse um idiota. — Porque eles são ruins. Essa foi uma explicação tão boa quanto qualquer outra, e provavelmente a mesma quantidade que ele conseguiria até que Justice acordasse. Eles não podiam esperar aqui. O cheiro do sangue dela atraía demônios para eles. E ela precisava de mais atenção médica do que ele poderia oferecer nessa parada de descanso muito pública. Não havia muitas pessoas aqui, mas havia alguns

caminhoneiros

no

segundo

estacionamento

e

muito

tráfego

na

interestadual. Algum motorista intrometido podia ver algo suspeito e vir investigar a qualquer momento. Se isso acontecesse, Ronan teria que usar o poder precioso que ganhara com o sangue de Justice para mandá-los embora sem lembrança do evento. Ele não tinha força suficiente para desperdiçar uma gota, não até ter certeza de que Justice ficaria bem. Ronan pegou o corpo flácido de Justice. Um saco de papel ensanguentado caiu do bolso de trás, mas ele não parou para ver o que havia nele. Ele a colocou na parte de trás de sua van em cima de um colchão estreito e impermeável. Não era a primeira vez que ele tratava de um paciente sangrento, e a limpeza era muito mais fácil quando alguém tomava um pouco de precaução. Seu lindo rosto estava sem vida e frouxo. A vitalidade quente que ela normalmente exalava se foi deixando-a muito jovem e desamparada, muito fraca, o que não convinha. Ele não podia deixá-la morrer. Não importava o que fosse necessário, ele iria cuidar dela de volta à saúde até que ela fosse forte o suficiente para lutar contra monstros sozinha novamente. Talvez desta vez ela não batesse na cabeça dele com uma lanterna só para poder escapar da companhia dele. Ele olhou para a criança aterrorizada e ofereceu um sorriso. — Venha comigo. Tudo vai ficar bem agora. — Ele alimentou as palavras com um traço de segurança e um desejo de confiar nele.

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A última coisa que ele precisava era que a criança fugisse coberta de manchas do sangue de Justice. Ela não apenas chamaria a atenção humana que ele não queria, mas também chamaria a atenção de qualquer demônio faminto na área. A criança saiu do carro e deu a volta para ficar ao lado dele. — Entre e sente-se, — ele disse. Ela fez o que ele pediu. Ronan fechou a porta da van e iniciou uma injeção intravenosa para alimentar Justice os fluidos que ela tanto precisava. Ele prendeu grossas tiras de tecido sobre seu corpo para impedi-la de rolar, e para se certificar de que, se ela acordasse, não se lançaria no trânsito apenas para se afastar dele. Feito isso, ele pegou a bolsa de Justice do carro dela e trouxe para o dele. Ronan ligou para Dabyr enquanto ele limpava as mãos e tirava uma camisa limpa da sacola de roupas que mantinha na van. Nicholas, um Theronai independente e um guru geral da tecnologia, estava administrando os telefones. — Eu preciso que alguém vá buscar uma Maserati, — disse Ronan, tirando o casaco ensanguentado e a camisa. — Por quê? Você matou um demônio em alta velocidade? — A voz profunda de Nicholas vibrou com bom humor. Depois de tudo que o homem passou, ele conseguiu segurar a parte central de si mesmo que ainda podia rir. Ronan não tinha ideia de como ele conseguiu um feito tão mágico. — Encontrei Justice, — ele disse, limpando o sangue de seu longo casaco de couro preto, bem como de algumas manchas no peito, onde estava ensopado em sua camisa. — O conceito, ou a mulher que você persegue há semanas? — A mulher. Ela está ferida. Muito sangue. Lugar público. Preciso tirá-la daqui antes que qualquer demônio apareça. O tom de Nicholas ficou sério. — Eu vejo sua localização. Vou mandar Slade e Vance agora. Deixe as chaves. — Mas eles são humanos. — Eu sei. Mas Joseph ordenou que todos os braços da espada ficassem perto de casa até os bebês nascerem. Ele não está se arriscando com um ataque surpresa.

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O filho de Nika era o primeiro filho de um casal Theronai a nascer em dois séculos. O bebê deveria nascer a qualquer dia. O filho de Iain e Jackie viria logo depois. Ninguém queria correr riscos com a mãe ou os filhos. Quase todos os lutadores disponíveis estavam em Dabyr, prontos para defender os recém-nascidos com suas vidas. — Eu entendo, — disse Ronan. — Mas tem sangue. Eu tive que quebrar a janela para chegar a Justice, e é apenas uma questão de tempo até que os demônios cheiram. Nicholas grunhiu em concordância. — Vou garantir que os meninos saibam que precisam prosseguir com cautela. Os dois treinam muito e não são tão ruins com uma espada. — Eles ainda são humanos. O carro não vale a vida deles. — Como eles são jovens de vinte e poucos anos e disseram que o carro é um Maserati, não tenho certeza se eles concordariam, mas darei a eles um aviso severo. — Obrigado. — Você está vindo para casa? — Nicholas perguntou. — Assim que Justice estiver estável. E eu vou levar uma criança também. — Uma criança? Ronan vestiu a camisa limpa e a abotoou. — Eu não sei quem ela é ou por que Justice a tem, mas até eu saber, vou manter a garota por perto. — Boa sorte. Faça uma viagem segura. Ronan desligou. Ele pegou o olhar desconfiado da menina. Ela se sentou no assoalho junto à cabeça de Justice, acariciando seus cachos como se ela fosse um filhote de cachorro amado. Ronan esticou o braço na direção dela. — Pegue minha mão, — ele ordenou com um leve fio de compulsão. A criança colocou os dedos gordinhos nos dele e, assim que ela o fez, ele enviou uma mecha fina de si mesmo, passando por seu membro e em sua mente. O sangue que cobria suas roupas não era dela. Ela foi aterrorizada, mas não prejudicada fisicamente. Ela viu a mãe morrer, embora não entendesse o que a morte significava. Ela foi levada a força por um homem com feições embaçadas sob um boné de beisebol. Ele gritou com ela e a assustou. Lembrou-se de algo sobre

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ele dizendo que ela tinha que ser boa em sua viagem, que ele a estava levando a algum lugar divertido. Mesmo com a tenra idade de quatro anos, ela ainda não acreditou no assassino. Ronan não conseguia descobrir onde o jovem a levara ou por quê, mas assim que a memória da criança se iluminou no belo rosto de Justice, ela pensou que estava encontrando uma princesa. A menina foi empurrada corporalmente pela princesa. Depois, houve mais tiros e gritos. A criança foi empurrada para dentro de um carro. Depois disso, ela não viu nada até que o som de quebrar vidro a acordou. Quem quer que fosse, Ronan não iria descobrir por que ela estava aqui até Justice acordar. — Você vem comigo agora, — ele disse gentilmente. — Vou garantir que os homens maus não possam encontrá-la novamente. Preparar-se. Nós vamos levar a princesa para um lugar seguro. A criança assentiu e fez o que foi mandado. Ronan deixou a Maserati suja de sangue para trás e entrou na estrada que seguia para o oeste. A menininha se afivelou no banco do passageiro, já que não havia nenhum cinto de segurança na traseira da van. Ele não sabia se ela era grande o suficiente para subir aqui sem um assento auxiliar, mas era o melhor que ele conseguia lidar nessas circunstâncias. Seus pezinhos estavam retos. Um de seus brilhantes sapatos rosa estava faltando, o outro desamarrado. — Eu sou Ronan. Qual o seu nome? — Pepper. — Esse é seu sobrenome ou seu primeiro? — Pepper Louise Sullivan. São todos os meus nomes, mas não os digam. — Por que não? — Porque isso deixará louco. Mamãe sempre fica brava quando dizia todos os meus nomes. Um movimento de sorriso brincou em sua boca. Ele verificou o espelho retrovisor para olhar para Justice. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Sangue manchava seu queixo. Sua pele lisa era cerosa e pálida. Mesmo assim, ela ainda era a mulher mais bonita, humana ou não, que ele já viu. Ele queria encará-la e bebê-la, mas Pepper voltou sua atenção para a estrada. — Quantas vezes mamãe pode morrer? — A garota perguntou. Ronan olhou para ela confuso. — O que você quer dizer? — Eu posso morrer três vezes no meu jogo antes de ter que esperar para acordar. Quanto tempo mamãe terá que esperar para acordar? Seu coração apertou com força, deixando uma dor no peito. Essa pobre menina viu sua mãe morrer, mas não percebeu que era para sempre. Ele teria que explicar isso a ela em breve, mas por enquanto ele a deixara agarrar sua esperança infantil de que sua vida como ela a conhecia, de alguma forma milagrosamente continuaria como estava. Esses eram os últimos momentos de paz que ela teria antes que a realidade esmagasse seu espírito sob seus calcanhares, e ele a deixaria tê-los. — Você sabe por que você está aqui, Pepper? — Porque você me disse para entrar. Sua van é maior que a da mamãe. Para onde foram suas cadeiras? — Eu sou como um médico, — ele disse. — Este é meu consultório médico. Eu tive que tirar os assentos para dar espaço. Ela torceu o nariz com isso. — Você não parece um médico. Onde estão seus óculos? — Nem todos usamos óculos. — Oh. Está bem. — Ela mexeu o sapato brilhante. Ele dirigiu alguns quilômetros pela estrada e estacionou do lado de fora de um shopping center quase abandonado. Agora estava totalmente escuro, com apenas o brilho laranja das luzes de segurança deslizando pelas janelas da frente. A traseira da van estava sem luz por necessidade, para que ele pudesse dormir aqui, se não houvesse outro abrigo. — Depois disso, podemos jantar? — Pepper perguntou. — Você está com fome? Ela assentiu. — O homem mau disse que eu estava falando alto, então não podia almoçar.

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Ronan encontrou uma barra de granola e uma garrafa de água e deu a ela. — Eu preciso ajudar Justice agora. Você fica no seu lugar e come, ok? Ela assentiu e rasgou a embalagem com os dentes. Ao fazê-lo, sua manga moveu e ele viu uma marca de nascença em forma de anel em seu pulso. O choque percorreu-o, mas ele impediu que aparecesse em seu rosto. Anos guardando segredos o ensinaram a controlar sua expressão, assim como os melhores jogadores de pôquer do planeta. Essa criança pequena era uma Theronai, uma criatura rara e preciosa que tinha o poder de salvar inúmeras vidas. Se ela vivesse o suficiente para fazê-lo. Pelo menos agora ele sabia por que homens maus a queriam. Nas mãos erradas, ela poderia ser uma arma formidável. Em piores mãos, ela era simplesmente uma rica fonte de comida e poder. E nas piores mãos... havia coisas indescritíveis que poderiam acontecer a uma garota da idade dela se os demônios colocassem suas garras nela. Ronan já viu isso antes. A pequena Tori fora levada aos oito anos de idade e alimentada com sangue tóxico que alterava seu corpo para que ela fosse capaz de carregar a prole de Synestryn. Ela passou uma década no escuro, envenenada, faminta, torturada e estuprada. Quando o pessoal dele finalmente a encontrou, ela não era mais uma garotinha doce. Ela era violenta, sedenta de sangue. Sua espécie gastou galões de sangue precioso em um esforço para consertála. Limpar seu corpo. Curar sua mente. Todo esforço fracassou porque não restava o suficiente da garota que ela fora salva. Ela estava torcida e escura. Irrevogavelmente quebrada. Ela fora mandada para outro mundo por sua própria segurança e pelos inocentes que moravam em Dabyr. Para Ronan, mesmo essa distância não era suficiente. Ele olhou para Pepper e fez uma promessa silenciosa de evitar que essa criança tivesse o mesmo destino. O que fosse preciso. — Você será minha vigia, — ele disse a ela. — Se você ver alguém vindo em nossa direção, me diga imediatamente. Ela assentiu com a boca cheia de granola.

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Ronan entrou na traseira da van para verificar Justice. Seu pulso estava mais forte e mais lento, graças aos fluidos. Ela precisaria de mais, mas era um começo. Ele colocou a mão na testa e procurou sua mente. A sensação de sua pele sob os dedos dele era seu próprio tipo de magia. Quantas vezes ele sonhava em estar perto o suficiente para tocá-la? Ela era tão suave e macia por fora, que guerreava com seu temperamento espinhoso e completa falta de confiança. Ele ficaria contente em passar a noite passando os dedos sobre a pele dela, mas isso não a curaria. Ele tinha que se concentrar, não importa o quanto doesse se perder na suavidade de seu corpo. Ronan se recompôs e enviou uma gota de água em sua mente para checá-la. Letargia e confusão ainda inundavam seus pensamentos, mas ela estava flutuando rapidamente para cima, para fora do denso pântano da inconsciência. Ele precisava se livrar das roupas ensanguentadas, e de Pepper. Até que ele o fizesse, o cheiro poderia atrair incontáveis maldades para eles. E enquanto ele agora era forte o suficiente para enfrentar um pequeno número de demônios, ele não queria desperdiçar a energia que precisava para curar em batalha. Ele desfez as amarras que a seguravam no colchão, soltou as botas de combate de couro e as puxou de seus pés. Eles entraram em um saco de lixo preto, junto com suas meias ensanguentadas. Ele tentou manter uma distância profissional enquanto desabotoava os jeans e os deslizava por suas longas pernas curvas, mas a tarefa se mostrou impossível. Ela era simplesmente bonita demais. Ele não poderia colocá-la na categoria intocável de paciente, mas ela permaneceu firmemente fixada como sua fantasia mais profunda e sombria. Ele tirou a jaqueta e estendeu uma tesoura e cortou a blusa, em vez de empurrá-la para tirá-la da cabeça. Antes que ele pudesse arrancar o tecido ensanguentado, ela abriu os olhos e agarrou sua mão. Olhos verdes pálidos e prateados o encaravam em choque e raiva. — Não. Sua voz era fraca, mas o olhar de desafio que ela deu a ele não era.

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— Está bem. Estou apenas me livrando do sangue — ele disse, lançando um olhar para o banco da frente, onde Pepper estava mastigando seu lanche. — Os demônios sentirão o cheiro e virão atrás dela. A sonolência de Justice começou a desaparecer de um instante para outro. Ela se sentou e olhou ao redor em um olhar arrebatador. — Onde estamos? — Não muito longe do resto, onde você desmaiou. — Eu preciso ir. Leve-me de volta para o meu carro. Agora. — Você não está em condições de dirigir. Ou fazer exigências. O aperto dela no pulso dele aumentou. Sua voz era baixa, mas cheia até a borda com a promessa de violência. — Escute, sugador de sangue. Ou me leva de volta ao meu carro, ou vou empurrá-lo no escuro e levá-lo. Sua escolha. — Eu salvei sua vida e curei suas feridas, e é assim que você me agradece? — Ele perguntou. Ela fechou os olhos e soltou um longo suspiro. O aperto na camisa afrouxou e ela se encostou na parede da van. — Você deveria ter me deixado morrer. Eu estava tão perto de escapar dessa besteira. A criança olhou para eles com os olhos arregalados. Sua boca ficou frouxa e um pedaço de aveia caiu do canto. Ronan deu um sorriso tranquilizador. — É apenas um jogo que jogamos. Não se preocupe. Ela não está realmente brava. — Essa última parte foi entrelaçada com uma mecha de compulsão destinada a aliviar os nervos de Pepper e acalmar seu medo. Ela assentiu e começou a mastigar novamente. Ele soltou a mão das mãos de Justice e fechou as cortinas de bloqueio de luz. Não faria muito para bloquear o som, mas pelo menos a criança não precisava ver o olhar derrotado no rosto de sua princesa que virou salvadora. — Você não quis dizer isso, — Ronan disse a Justice. — Diz-me o que se passa. Talvez eu possa ajudar. Seus seios incharam sob o sutiã modesto enquanto ela respirava resignada. — Não há nada que alguém possa fazer. — Por que você tem a criança? — Inferno se eu sei. Ainda não me disseram.

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— Quem disseram? Ela fechou os olhos. — Nenhuma ideia. — Aonde você a encontrou? — Algum idiota a estava vendendo para alguns caras que eu conheço. — Vendendo-a? — Sim. Eu sabia que eles eram vagabundos da ralé, mas não sabia o quão baixo. Acho que vou precisar matar Chester Gale agora. De jeito nenhum eu posso deixá-lo viver. — Essa última parte foi entregue com o tipo de suspiro destinado a acompanhar uma tarefa desagradável, como limpar um banheiro depois de um vazamento ou limpar a bagunça deixada em um saco de lixo rasgado. — Quem são eles? O que eles queriam com ela? Ela soltou o pulso dele e acenou com a mão. —Não importa. Eu vou lidar com isso. — Você não está em condições de lidar com nada. E nós realmente precisamos nos livrar dessas roupas ensanguentadas. Você precisa trocar. Ronan limpou as mãos em um lenço umedecido, depois empurrou a bolsa da noite para ela. — Você trouxe minhas roupas? — Seu tom era cético, desconfiado. — Você prefere usar a minha? Em vez de responder à pergunta dele, ela apontou para o braço e o tubo que alimentava fluidos. — Você deveria saber que drogas humanas não funcionarão comigo. A ideia de que ela sabia que esse fato bizarro apresentava mais perguntas do que respostas. — Não há drogas no frasco. Apenas solução salina — ele disse. Ela começou a pegar a fita segurando o IV no lugar. — Então essa dor de cabeça enfurecida que tenho é toda minha, hein? — Desidratação. Passará se você deixar o IV alimentá-la. Um pouco de sua fraqueza. Outro suspiro pesado saiu dela e ela caiu contra a lataria, fechando os olhos. Ronan não pôde deixar de encarar seu corpo. Mesmo com o sutiã e a calcinha ensanguentados, mesmo com manchas de ferrugem manchando sua pele escura e macia, ela era deslumbrante. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Ela era toda comprida e magra, como um gato predador. Linhas suaves e delgadas se curvavam em formas sinuosas que atraíam seus olhos para o inchaço de seus seios e as sombras entre suas coxas. Músculos femininos curvados abraçavam seu corpo, emprestando outra camada de beleza e intriga. Ela foi construída como uma donzela guerreira de antigamente, dura onde ela deveria ser e suave em qualquer outro lugar. Ela tinha algumas cicatrizes para estragar a perfeição de sua pele, incluindo feridas no pescoço que ele infligira, mas nunca tiveram a chance de curar, mas até aquelas ele achava sedutoras. Eles o fizeram querer mergulhar em sua mente e se banhar em seu passado, para ver todas as coisas que ela enfrentou que a tornaram a mulher que ela era agora. Ele não sabia por que ele era tão atraído por ela, mas desde que ela salvou sua vida há algumas semanas e o alimentou com sangue, ele passou todos os momentos acordados trabalhando para encontrá-la novamente, para poder dizer o que precisava ser dito. — Sinto muito por ter machucado você, Justice. Não há desculpa por atacala como eu fiz, mas prometo que nunca mais acontecerá. Quando ele fez seu voto, um peso pesado e reconfortante caiu sobre ele e o vinculou à sua palavra. Ela abriu um olho verde pálido e o estudou. — Essa foi uma promessa estúpida a ser feita. — Não é estúpida. É necessária. Eu levaria de volta o que fiz com você, se pudesse, mas... — Você estava morrendo de fome, — ela disse com naturalidade. — E eu era a comida. — Um suspiro pesado, depois um murmúrio: — Malditos Destinos. Elas são as únicas culpadas. Elas me enviaram a você naquela noite para fazer sua refeição, embora eu ache que seja justo, deixo que isso aconteça. — Destinos? — ele perguntou. Ela acenou com a mão. Nada para ver aqui. Siga em frente. Justice acenou com a cabeça para o IV. — Já posso tirar isso? — Eu não sugiro. Essa é a maneira mais rápida de barrar a magia para ter você de volta à forma de combate. — Bem. Vou deixar até voltarmos para Ricardo. — Quem é ele?

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— Minha Maserati. — Provavelmente já se foi. Ela se sentou, com a expressão tensa de raiva, os punhos mais apertados. — Se foi? — Eu tive que quebrar uma janela para chegar até você. Sangue estava por toda parte. Eu não podia deixá-la sentada lá para esperar pelos demônios, então pedi alguns gerais para buscá-lo. — Eu não sei quem ou o que são os gerais, mas é melhor tomarem cuidado para não machucar meu bebê. Ronan não tinha certeza de quão cuidadosos dois jovens de vinte e poucos anos seriam ao volante de um carro como aquele, mas decidiu manter essa preocupação consigo mesmo. — Tenho certeza de que seu precioso carro ficará bem. Caso contrário, eu o substituirei. — Onde eles estão o levando? — Ele? — Ricardo, — ela disse, como se ele estivesse com lesão cerebral. — Onde eles estão levando meu carro? — Dabyr. — Sua casa? Isso tudo foi algum truque elaborado para me colocar atrás dos muros onde você poderia me prender? Se ao menos Ronan a tivesse conhecido em melhores circunstâncias, se ele não a tivesse machucado, a usado. Mas ele tinha, e agora tinha que pagar o preço por suas ações, não importava o pouco controle que tinha sobre elas na época. Ele reuniu sua paciência e forçou-a em seu tom. — Dabyr não é uma prisão. É um lugar seguro. Uma fortaleza contra os Synestryn. Você estará segura lá. Outra onda de cansaço cruzou suas feições e ela cedeu. — Eu não fico em um só lugar. As Destinos já está me incomodando para me mexer. — Do que você está falando? — Gostaria de saber, — ela disse com um suspiro longínquo. — Tudo o que sei é que sinto vontade de fazer coisas. Se eu não obedecer, a coceira se transforma em queimadura, e isso se transforma em dor lancinante. Aprendi minha lição vezes

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suficientes para saber que a obediência é a única maneira de evitar o sofrimento. Então é isso que eu faço. — O que você faz? Obedecer ou sofrer? Ela deixou escapar um longo suspiro. — Depende do meu humor. — Ronan nunca ouviu falar de algo assim, mas parecia horrível. Nunca estar no controle de suas próprias ações? Nunca ser capaz de simplesmente escolher ficar parada? Sua vida costumava ser péssima, mas isso, ele não podia imaginar. — E essas Destinos? — Ele perguntou. — O que elas querem que você faça agora? Ela encolheu os ombros. — Quem sabe? Tudo o que sei é que preciso voltar para Ricardo para poder ir aonde elas quiserem, quando quiserem. Ronan assentiu. — Está bem então. Eu a levarei para casa, para Ricardo. Então podemos descobrir o que precisa vir em seguida. — Você não pode se envolver, — ela disse. Ele manteve o olhar nos olhos dela, em vez de deixá-lo flutuar até seus seios doces ou as sombras misteriosas na fenda de suas coxas. Fazia muito tempo desde que ele tinha energia para desperdiçar com o desejo de uma mulher, e ele nunca quis uma do jeito que quer Justice. Resistir à necessidade de absorver a visão dela era quase mais do que ele podia suportar. — Eu já estou envolvido. E até que você seja forte o suficiente para ir sozinha, eu a levarei para onde quiser. — Como eu sei que você não vai virar vampiro em mim de novo? Ele se encolheu com o uso do termo depreciativo, mas manteve seu ódio para ele. — Eu dei minha palavra para não machucá-la. Se você sabe alguma coisa sobre nossa espécie, então sabe que isso é obrigatório. Ela o estudou por um longo tempo, como se o avaliando. Finalmente, ela deu um único aceno de cabeça. — Vamos tentar do seu jeito, mas apenas porque estou muito tonta para dirigir. Mas é justo lembrá-lo que, enquanto você me prometeu não me machucar novamente, eu não fiz o mesmo. Um movimento errado, e eu o matarei tão facilmente quanto os dez homens antes de você. Compreendido? Ronan compreendia, e por alguma razão ele não podia citar, o olhar derrotado no rosto dela partiu seu coração.

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Capítulo 3 Justice não conseguia se lembrar da última vez que esteve tão cansada. Todo o seu corpo doía e suas articulações pareciam feitas de açúcar fiado. Um movimento repentino e ela quebraria. Ela quase morreu. Ela teria morrido se não fosse por Ronan. Ela não tinha certeza se deveria agradecê-lo por isso ou amaldiçoá-lo. A lataria de sua van mantinha seu corpo cansado na posição vertical. O estrondo da estrada abaixo dela era uma vibração familiar, mas parecia estranha quando ela não estava atrás do volante. Ela esperava que Ricardo estivesse bem. Ela tinha mais alguns veículos para servir de reserva se algo acontecesse com ele, mas ele era o favorito dela. A maneira como ele segurava seu corpo e a abraçava enquanto ele encurralava tornou possível fingir que se importava, que ele era seu amigo. Depois de alguns minutos reunindo forças, ela fechou as cortinas atrás dos bancos da frente para se dar um pouco de privacidade. Então ela tirou a roupa de baixo suja, limpou o sangue endurecido com um maço de lenços umedecidos com cheiro de bebê e vestiu jeans limpos e uma camisa de botão da bolsa para dormir. O IV teria que sair em breve, mas ela estava agradecida por isso agora. Ela não tinha energia para beber nada e não achava que seu estômago escorregadio a deixaria fazê-lo, mesmo que pudesse. Essa última missão deu errado. Fodidamente errado. E agora ela tinha uma criança pequena para lidar com tudo o mais. Talvez fosse para onde a Destino a estivesse enviando agora, para um lugar seguro para Pepper. Seria bom se esse lugar existisse. Então, novamente, com a sorte de Justice, onde quer que eles estivessem indo, poderia ser o fim pretendido para a vida da menina, algum demônio rosnando ou altar de sacrifício. Simplesmente não havia como saber como isso terminaria até terminar. Justice prometeu a si mesma que, se a Destino colocasse a garota sobre um assassino, ela não assistiria ao resultado. Ela viraria as costas e manteria essa Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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visão longe de seus pesadelos. Ela pode não merecer esse pedaço de luxo depois de toda a merda que ela fez, mas lutaria e garraria a isso da mesma forma. O simples ato de cobrir sua bunda nua e empurrar a bagunça ensanguentada de roupas e usar lenços em um saco de lixo a desgastava. Ela recostou-se no colchão nu de vinil e simplesmente respirou. Do outro lado da cortina, ela podia ouvir o zumbido constante da voz da garotinha enquanto fazia uma série de perguntas. O estrondo profundo de Ronan que era paciente e gentil, apesar do fato de que esse interrogatório durava quase uma hora. Ele não parecia um monstro agora. Ele pareceu, na noite em que o conheceu, todo magro, faminto e louco. Ele estava acorrentado, preso e amarrado como um peru de Ação de Graças. Na escuridão daquele porão onde ele fora preso para seu próprio bem, seus olhos azuis literalmente brilhavam. Os olhos de um assassino, um monstro. Ela não conseguia esquecer aquilo. Só porque ele tinha uma atração estranha por ela, só porque ela sempre parecia saber onde ele estava, não significava que ela deveria baixá-la. Ele pode ter prometido não fazer a ela o que fez antes, mas havia muitas maneiras de machucar alguém além de beber seu sangue. Justice sabia disso muito bem. Ela verificou Reba, que milagrosamente acabou na van, talvez uma oferta de paz de Ronan. Ela estava praticamente vazia, então Justice a alimentou com as rondas perversas Ranger-T até que ela estivesse cheia. Isso a fez se sentir melhor. Mais normal. A van se virou e a coceira na parte de trás do crânio de Justice acordou para dizer a ela que estavam seguindo o caminho errado. Ela afastou as grossas cortinas pretas que separavam a frente e a traseira da van. Quatro olhos azuis atingiram seu rosto, dois grandes, inocentes e redondos, dois estreitos e brilhantes. — Como você está se sentindo? — Ronan perguntou. — Tudo bem, — ela mentiu enquanto se ajoelhava entre os assentos. — Mas estamos indo no caminho errado. Ricardo está ao norte daqui.

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— A estrada para o norte terminou. Vamos correr um pouco para leste, depois pegar a estrada do condado que leva ao norte, para Dabyr. — Eles têm sorvete lá, — acrescentou Pepper. —E livros. Mamãe gosta de livros. O olhar de dor que cruzou o rosto de Ronan refletia sua própria preocupação. A mãe de Pepper estava morta. Se ela não estivesse, ela teria lutado com o homem que a roubou. No mínimo, ela teria entrado em contato com a polícia se tivesse vivido. Alertas de âmbar teriam gritado através de telefones em todos os lugares, alertando o público a estar à procura de uma garota que correspondesse à descrição de Pepper. Nada disso aconteceu. Justice não conseguiu dizer a verdade à garota. Ela não era tão forte. A coceira na parte de trás do crânio se intensificou até Ronan virar à esquerda em uma estrada estreita e asfaltada. Não havia luzes da rua tão longe na paisagem rural ondulante. Alguns cervos olharam em sua direção, seus olhos refletindo brilhantes pontos prateados no escuro. A floresta estava nua no inverno. O céu estava cheio de estrelas. A calçada brilhava sob os brilhantes faróis brancos. Dentro da van estava quente, mas lá fora estava frio o suficiente para espremer alguns flocos de neve perdidos do ar seco. Seu casaco estava ensanguentado demais para vestir. Pepper não tinha, além disso, suas roupas estavam manchadas de sangue. Como diabos Justice iria cuidar de uma criança, até o tempo suficiente para levá-la aonde quer que fosse a Destino exigisse? Ela não sabia uma única coisa sobre crianças. Do nada, uma memória oculta inchou enquanto tentava surgir. Ela ficou quieta, desejando que o pensamento terminasse sua jornada e mostrasse um pedaço perdido de seu passado. Em vez disso, como sempre, as visões e cheiros associados à memória voltaram ao mar negro de sua história desconhecida, deixando-a ansiosa por algo que ela não conseguia tocar. Ronan a estava olhando pelo espelho retrovisor. Sua expressão era de especulação e curiosidade. — Você vai me dizer o que aconteceu? — Ele perguntou. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Do que você está falando? — Eu vi o olhar de antecipação em seu rosto. Senti um cheiro de esperança vindo de você, seguido de decepção. Algo aconteceu, não foi? — Se sim, posso prometer que não era da sua conta. Você é apenas o taxista. Ele levantou uma sobrancelha negra como corvo. — Eu sou mais para você do que isso, e você sabe disso. — Ele é seu namorado? — Pepper perguntou com uma risadinha estranha, como se a ideia fosse ao mesmo tempo hilária e nojenta. — Não, — Justice estalou um pouco alto demais. Então, mais gentilmente: — Ele é.… um amigo. — E um médico, — Pepper acrescentou com um aceno de cabeça. — Mas ele não usa óculos. Ronan deu outra volta para uma estreita faixa de estrada que passava por árvores densas e arbustos. Várias sempre-vivas baixas foram plantadas em fileiras organizadas, obscurecendo o que havia além, mesmo no auge do inverno. Não havia placa de rua ou indicação de que havia algo ali, mas justice podia sentir um zumbido de poder da mesma forma. A cerca de um quilômetro e meio dessa pista, uma clareira se abriu para revelar uma estrutura maciça e bem iluminada, feita inteiramente de pedra e metal. Imponentes árvores antigas pontilhavam a área para lançar o gramado bem cuidado em poças de sombra. — Esta é Dabyr, — disse Ronan. Muros altos de pedra envolviam toda a volta do edifício, que parecia o filho bizarro de um castelo e um hotel em expansão. A seção central tinha vários andares, com duas asas enormes projetando-se para proteger o que estava atrás. As luzes estavam acesas em várias janelas, mas estavam muito longe para que ela visse mais do que um brilho quente e um movimento dentro. Ronan rolou até um portão de metal e se virou para encarar uma câmera. — Tenho duas convidadas. Por favor, peça a Joseph que me encontre na entrada da garagem com uma muda de roupa para uma garotinha, tamanho quatro. Uma luz perto da câmera ficou verde e as grossas barras que bloqueavam a entrada começaram a se abrir. Assim que ficou claro, os portões se fecharam logo atrás deles.

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Justice estudou a área, anotando as medidas que ela teria que tomar para sair daqui, se necessário. Ela não podia ver armas ou armas óbvias nas paredes, mas havia muitas câmeras e muitos homens grandes e sérios circulando pelo local. Ela não duvidou nem por um segundo que cada um deles estivesse armado, embora não pudesse ver nenhuma protuberância sob seus casacos. Como se estivesse lendo sua mente, Ronan disse: — Você é livre para sair quando quiser. Essas paredes são para manter as coisas de fora, não dentro. — Pelo que parece, todos vocês estão esperando uma briga. — Estamos apenas tomando cuidado, — ele disse, embora ela pudesse ouvir a mentira em seu tom. Por um momento, ela quis saber o que estava acontecendo, mas depois lembrou que não se importava. Ela não ficaria aqui o tempo suficiente para se importar. Tudo o que ela ia fazer era pegar Ricardo e talvez encontrar um casaco e sapatos para Pepper, para não congelar os dedos dos pés. Uma criança descalça no inverno era o tipo de coisa que levantava muitas perguntas, perguntas que Justice não podia responder. Eles entraram em uma garagem enorme, o tipo de vários níveis usado em hotéis e shopping centers. Pela sua opinião, havia centenas de carros aqui. Ronan estacionou em uma vaga abaixo de onde Ricardo estava, aparentemente ileso. Dois jovens estavam esfregando o interior. Um estava torcendo espuma ensanguentada em um balde de cinco galões, e o outro estava desenrolando a mangueira de uma loja no lado do motorista. A bolsa de solução salina pingando em sua veia estava vazia, então ela arrancou o IV. Ronan abriu a porta lateral assim que uma gota de sangue brotou de seu braço. Uma leve luz azul atingiu sua pele e, quando ela olhou, viu que vinha dos olhos dele. Ele engoliu em seco, depois levantou o olhar do sangue para seu rosto. — Posso? — Ele perguntou enquanto estendeu a mão. Uma sensação estranha, suave e relaxada tomou conta dela quando ela o encarou. Ele era um homem tão bonito, mas essa palavra era tão insuficiente para descrevê-lo que era risível. Ele não era apenas bonito, ele era lindo, perfeitamente formado, a tentação encarnada. Ele era o material das fantasias, um calafrio de

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prazer e a resposta para todas as perguntas que ela estava com muito medo de fazer. Justice colocou a mão na dele, e mesmo sabendo que o ato era de loucura, ela não pôde deixar de apreciar a sensação de sua pele contra a dele. Ele se inclinou sobre seu braço. Ela não percebeu o que ele ia fazer até sentir o calor úmido da língua dele deslizar suavemente sobre sua pele sensível. Um tremor poderoso a percorreu e a sacudiu até o fundo. Um formigamento de calor varreu seu braço e se alojou logo abaixo de seu coração. A respiração seguinte que ela tomou cheirava a especiarias e doce e deu uma onda de força que ela tanto precisava. Ela não o conhecia, não de verdade, mas ele era tão familiar para ela. Ela sentiu que deveria conhecê-lo, da mesma forma que sabia a textura de seu cabelo deslizando entre os dedos, ou a maneira como sua própria voz soava em seus ouvidos. Para uma mulher sem família, amigos ou laços, esse sentimento de familiaridade era poderoso. Ele se endireitou e segurou seu olhar novamente, só que desta vez, tudo o que ela viu nos olhos dele foi uma estranha combinação de fome e satisfação. — Posso tomar sorvete agora? — Pepper perguntou de perto. Justice esqueceu que a criança estava aqui, o que só serviu para provar o quão fora de jogo ela estava. Ela geralmente estava profundamente ciente de seu entorno e de todos, porque não havia como saber quem poderia querer matá-la. Ou quem ela teria que matar. O toque dele em sua pele permaneceu. A ponta de um dedo deslizou sobre sua pele em uma leve carícia. Os cabelos ao longo do braço levantaram em resposta como se cada mecha estivesse se esforçando para se aproximar dele. Ela afastou o braço lentamente, sofrendo com cada centímetro perdido. Ela desviou os olhos dos de Ronan, mas ainda podia vê-lo ali, sua imagem vívida e fixa em sua mente. Se ela não se distraísse, ela o alcançaria novamente apenas para sentir os dedos dele em sua pele. Justice se ocupou em recuperar suas coisas da van.

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— Obrigada pela carona, — ela disse. — Você vai deixar a pessoa que está no portão saber que vamos sair agora? — Mas seu carro ainda não está limpo — disse Ronan. —O sangue atrairá Synestryn e perguntas desconfortáveis. Por que você não deixa Slade e Vance terminarem de limpar sua Maserati, e nós vamos dar a Pepper algo para vestir e algo para comer. Ela precisa de uma refeição adequada, e não deve demorar mais de uma hora para que Ricardo fique limpo. Vamos até ligar para alguém para substituir a janela que eu quebrei para que você não congele até a morte. Justice abriu a boca para recusar, mas o que saiu estava além de seu controle. As Destinos estava ao volante novamente, guiando sua vida na direção que elas escolheram. — Isso seria legal. Obrigada. — Foi quando Justice percebeu que a coceira se foi. Ela estava fazendo exatamente o que era exigido, e era incrível, quase como se ela estivesse livre dos grilhões que a enlaçaram a vida toda, pelo menos a parte dela que ela conseguia se lembrar. Ronan pegou a mão minúscula de Pepper, deixando Justice atrás. Quando ela passou pelos dois jovens que estavam limpando Ricardo, um sorriu para ela e disse: — Doce passeio. Faremos o serviço de socorro a qualquer hora. Pareciam irmãos, ambos de constituição atarracada, sobrancelhas grossas e nariz achatado. Eles tinham vinte e poucos anos e tinham o ar de jovens trabalhando por uma causa importante em que acreditavam profundamente. Ela não tinha certeza de como limpar um carro era uma tarefa importante, mas eles fizeram isso como se fosse uma questão de segurança nacional. O ensanguentado saco de papel que estava cheio de dinheiro estava em um balde de lixo, junto com várias notas manchadas de vermelho. O restante do dinheiro foi empilhado ordenadamente dentro de uma bolsa com zíper transparente no capô, junto com a caixa do anel. Ela não sabia se eles pegaram seus ganhos ou os devolveram, mas estava curiosa para ver qual era. Essas pessoas eram ladrões? Parecia o tipo de coisa que ela deveria saber, e esse era um teste tão bom quanto qualquer outro. Ela não precisava do dinheiro e não fazia ideia do porquê de as Destinos exigiram que ela pegasse o anel. Talvez trazê-lo aqui fosse parte de sua missão o tempo todo. Ela não fazia ideia.

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— Não se preocupe, — disse o outro garoto, cujo rosto parecia tão liso como se ele estivesse pressionando-o contra uma vidraça. — Vamos lavar as notas ensanguentas e colocá-las de volta. Se não pudermos limpá-las, Joseph disse que as substituiria para você. Ela assentiu ao jovem e seguiu Ronan e Pepper. Eles passaram por um par de portas de vidro, por um longo corredor com cerca de três metros de largura. Esperando do outro lado da porta estava um homem alto, de cabelos escuros, ficando grisalhos nas têmporas. Ele segurava um maço de tecido roxo na mão. Seus olhos castanhos mergulharam em Pepper, depois atiraram de volta para Justice. — Eu sou Joseph Rayd, — ele disse. — Bem-vinda a Dabyr. Ela notou que ele não estendeu a mão em saudação, o que agradou muito bem. Enquanto ele falava, mais dois grandões se aproximaram atrás dele, olhos duros e desconfiados. Ambos usavam colares estranhos e iridescentes que abraçavam suas gargantas grossas. Ela não precisava de apresentações para saber que eles eram o apoio de Joseph e, mesmo que não tivessem o olhar de olhos vazios dos homens que ela havia matado anteriormente, ela apostaria que eles eram igualmente mortais. Provavelmente ainda mais. — Esta é Justice, a mulher de quem eu falei, — disse Ronan. Ele assentiu para a criança. — Esta é Pepper Louise Sullivan, que precisa de um jantar adequado, mas também gosta muito de sorvete. — Ele se agachou ao lado dela e, em voz baixa, perguntou: — Você mostrará a ele sua marca especial? Pepper levantou a manga manchada de sangue de sua blusa para revelar uma marca de nascença vermelha em forma de anel em seu pulso interno. Instantaneamente, o humor dos homens mudou da desconfiança para a descrença chocada. Instintos de proteção que Justice nem sabia que ela tinha se levantou e a pegou na mão de Pepper. Ela puxou a criança para trás e exigiu saber: — O que isso significa? — Ela é uma Theronai, — disse Ronan. — Como esses homens e muitos outros aqui. Ela é uma das nossas.

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— Isso significa que eu posso tomar sorvete? — Pepper perguntou por trás de Justice. Joseph olhou Justice nos olhos, algo que a maioria dos homens nunca conseguiu sem vacilar. — Nós nunca a machucaremos. Todo homem aqui morreria para mantê-la segura. Você não tem ideia de como ela é preciosa e de como somos gratos por encontrá-la. — Ela fica comigo, — disse Justice. — Ok, — Joseph concordou. — Eu imagino que você poderia querer uma refeição também. Por que não conversamos durante o jantar? Ela quase disse a ele que não tinha tempo a perder, mas percebeu que não havia coceira na parte de trás do crânio, nem pressão para seguir em frente para a próxima tarefa. A sensação de estar livre para permanecer era estranha e inebriante. Sem mencionar o fato de que ela estava morrendo de fome. Ela não conseguia se lembrar da última refeição real que tivera, e tinha certeza de que foi uma porcaria de comida de fast-food ao volante, voando pela estrada a noventa quilômetros por hora. — Ok. Jantar. Mas então estamos fora daqui. — Mamãe está vindo? — Pepper perguntou. O coração de Justice balançou em seu peito e sangrou. Ela sabia que havia coisas que um adulto deveria dizer a uma criança cuja mãe acabara de ser morta na frente dela, mas Justice não sabia quais eram essas coisas. Ela não era boa com crianças. Ou adultos. Ou pessoas em geral. Ela estava melhor sozinha. Mas, e Pepper? Justice poderia realmente deixá-la aqui com estranhos? Só porque eles não haviam feito coisas ruins ainda não significava que não fariam. Justice checou as Destinos, procurando a opinião delas, mas elas estavam estranhamente silenciosas, deixando-a descobrir as coisas por conta própria. As desgraçadas. Ronan se agachou ao lado de Pepper e a pegou pelos ombros esbeltos nas mãos grandes. — Sua mãe não vem, querida. Mas tudo bem. Nós vamos cuidar de você. Você não precisa se preocupar com nada. — Mas eu quero a mamãe. — Seu queixo tremia e as lágrimas aumentavam seus grandes olhos azuis.

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Ronan deslizou um dedo sobre a testa para afastar os cabelos emaranhados do rosto. — Claro que você quer. Mas tudo vai ficar bem. Você vai ver. Você gostaria de conhecer outras crianças aqui? As lágrimas secaram quando a tensão sumiu de seu rosto. — Ok. — Vamos ver quem pode estar na sala de jantar. Talvez você possa fazer um novo amigo, — ele disse. — Ela precisa se trocar primeiro, — disse Joseph, segurando o vestido roxo suave. — Ela não deveria estar com as outras crianças com sangue nas roupas. A maioria delas já viu mais do que seu quinhão. — Para mim? — Pepper pegou o vestido e o abraçou como se estivesse apaixonada. Joseph os mostrou um banheiro no final do corredor. Ele olhou para a criança. — Você precisa de ajuda para se trocar? Ela torceu o nariz para ele em resposta, depois correu para o banheiro e fechou a porta atrás dela com um floreio independente. Joseph captou o olhar de Ronan. — Quão ruim? — A mãe dela está morta, mas Pepper ainda não é capaz de entender o que isso significa. Ela acha que é temporário. Tenho aliviado o medo e a preocupação dela, mas não é saudável eu entorpecê-la por muito tempo. — Que tal um pai? Ronan balançou a cabeça. — Não havia lembrança de alguém em sua mente. — Você leu a mente dela? — Justice perguntou, horrorizada. — De que outra forma eu ia descobrir o que aconteceu? Ela é jovem demais para entender o que viu. Ela ainda acha que sua mãe vai acordar, como em um videogame. — Você fica fora da cabeça dela, — alertou Justice. — Eu não quero você fodendo com a mente dela. Um lampejo de dor cintilou em seu olhar azul pálido, depois desapareceu. — Tudo o que estou fazendo é ajuda-la. Ela precisa comer e dormir para poder enfrentar o que aconteceu e começar a se curar. — Esta não é a primeira criança órfã com a qual lidamos, — disse Joseph, seu tom defensivo. — Ronan sabe o que está fazendo.

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Ele sabe? Justice não fazia ideia. Ela sabia, no entanto, que não tinha noção de crianças. Inferno, ela não conseguia nem se lembrar de ser uma. Pepper saiu, satisfeita com o vestido novo e as meias altas e listradas. O tecido era uma malha macia. O vestido que caiu no topo de suas meias e exibia algum personagem de desenho animado que Justice não reconheceu. Para ela, a loira só poderia ser chamada de Princesa Glitter Bomb com base na quantidade de tinta brilhante e joias de plástico cobrindo a frente. Ainda assim, Pepper parecia amá-lo, então quem era o juiz a julgar. Talvez essas pessoas soubessem o que estavam fazendo quando se tratava de cuidar de órfãos. Uma pilha de roupas ensanguentadas jazia no chão de ladrilhos do banheiro, completamente esquecida, junto com um sapato brilhante cheio de meias amarrotadas. Pepper precisava de sapatos e seu cabelo estava emaranhado, mas todos os vestígios de sangue se foram. — Você está linda, — Joseph disse com um sorriso largo. — Vamos encontrar alguns amigos para você. Vamos deixá-la experimentar os sapatos depois de comer. Nós até temos alguns que acendem. Pepper bateu palmas em antecipação e deu um pequeno salto. Joseph liderou o caminho para uma área de jantar aberta, grande o suficiente para alimentar pelo menos duzentos ou trezentos de uma só vez. As mesas estavam cobertas com panos xadrez alegres e velas tremeluzentes à luz do dia em potes coloridos. O teto acima era de vidro, o que refletia os tons quentes e terrosos abaixo. O cheiro de alecrim e alho encheu o espaço, junto com algo doce e cítrico. Dezenas de pessoas estavam sentadas nas mesas, conversando e rindo como se estivessem em um restaurante casual com amigos. Várias mesas estavam cheias de crianças, que segregavam por idade. Os adolescentes pegaram três mesas, com os pratos empilhados alto. As adolescentes se reuniram em outras mesas, observando os adolescentes com fascinação aberta. Os pequenos estavam sentados alinhados em bancos ao longo de uma mesa comprida e baixa, do tamanho deles.

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Alguns deles estavam sorrindo e conversando animadamente, enquanto outros estavam mais quietos e mais sedados. Eles eram todos maiores que Pepper, mas não muito. Assim que ela os viu, seu rosto se iluminou. — Posso comer por lá? — Ela perguntou a Ronan, que olhou para Justice pedindo permissão. Como ela poderia dizer não? A pobre garota havia passado pelo inferno e, embora ela não tivesse sido capaz de entender o que havia acontecido, um dia ela o faria. Talvez uma das crianças por lá tenha passado pela mesma coisa. Talvez um deles pudesse ajudá-la a lidar com a perda de sua mãe de maneiras que Justice nunca poderia. Além disso, não era como se ela pudesse arrastar Pepper junto com ela, para o caos e tiros que eram sua vida. Justice levou um minuto para perceber, mas sua vida não era lugar para uma criança. Ela não podia se apegar, e este lugar, com suas grossas paredes altas e crianças rindo, era tão bom quanto qualquer outro para deixar um órfão. Não era? — Claro, — disse Justice. — Continue. Pepper correu com os pés em meias e se espremeu em um assento ao lado da garota mais jovem de lá, uma ruiva com tranças felpudas e sardas nas bochechas pálidas. Ela ofereceu a Pepper um sorriso e metade do sanduíche. Joseph os levou a uma mesa a alguns metros de distância, mas fora do alcance das crianças. Seus dois guardas silenciosos não se juntaram a eles, mas ela podia senti-los pairando nas proximidades, observando-a por sinais de violência. Mal eles sabiam, ela estava fazendo o mesmo, apenas com muito mais pessoas. O local estava movimentado durante a corrida do jantar, com pelo menos cem corpos presentes. — Eles são todos órfãos? — Justice perguntou enquanto observava Pepper se sentir em casa. — A maioria deles, mas não todos, — disse Ronan. — Muitos, — acrescentou Joseph. Uma mulher de meia-idade com bochechas rosadas e uma sobrancelha suada veio até a mesa. Ela leu a pequena lista de opções para o jantar.

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Joseph pediu café, Ronan pediu uma salada e Justice optou por um lombo com todas as guarnições. Se eles iam matá-la, ela pelo menos queria estar bem alimentada quando acontecesse. A garçonete saiu correndo. Um segundo depois, uma mulher deslumbrante com traços felinos e cabelos loiros-amarelos chegou à mesa deles. Ela era alta como Justice, mas com uma constituição delicada. Ela se sentou perto de Joseph, que ofereceu um sorriso acolhedor cheio de segredos compartilhados. — Esta é minha esposa, Lyka, — ele disse. — Lyka, esta é Justice... qual era seu sobrenome? — Não tenho um, — ela disse. Lyka estendeu a mão esbelta sobre a mesa. — Prazer em conhecê-la. Justice não viu razão para ser rude antes de seu bife chegar, então apertou a mão da mulher. Sua pele formigava, como se carregasse uma fraca carga elétrica. Seus pálidos olhos dourados ficaram distantes por um segundo antes que ela soltasse e se virasse para o marido e assentisse. — Foram bons. — Você tem certeza? — Joseph perguntou. — Positivo. A única coisa que ela quer é liberdade. — Lyka fez uma careta. — Não sei ao certo o que, mas ela não nos faz mal, desde que não a ataquemos primeiro. Irritação passou sob a pele de Justice. — Esse aperto de mão foi algum tipo de teste? Por que não me pergunta se estou aqui para te ferrar? Os olhos castanhos de Joseph seguraram os dela. — Fazemos o que precisamos para proteger os nossos. Lyka tem um dom para saber o que as pessoas querem. Se ela disse que você não quer nos machucar, eu confio nela. — Bem, eu não. O que eu quero ou não quero é da minha conta. Da próxima vez que você decidir fazer alguma coisa mágica, por que você não me pede para sair primeiro? Não preciso mais estar aqui do que você precisa que eu fique. — Eu preciso de você, — disse Ronan. Seu tom era cortante e irritado. Ela virou-se para ele e viu que sua ira estava voltada diretamente para Joseph.

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— Você realmente acha que eu a teria trazido aqui se não tivesse certeza de que era seguro ela estar perto das crianças? — Tudo o que sei é que você a procura há semanas e desobedeceu às ordens de voltar para casa. Após a traição de Connal, e depois do que aconteceu com Rory, você terá que me perdoar por precisar de uma segunda opinião. — Eu não sou Connal, — Ronan rosnou. Justice não sabia quem era Connal, mas estava estranhamente curiosa para descobrir. A garçonete de meia-idade trouxe para Pepper uma tigela de macarrão com queijo. Ela sorriu e depois mergulhou com prazer. A ruivinha sentada ao lado dela pegou uma colher e se juntou ao banquete. As duas garotas conversavam sem parar entre as mordidas, sem se importar com o fato de estarem conversando com a boca cheia. Era tão... normal. Tão inocente. O mundo de Justice estava cheio de sangue e violência, cheio de compulsão e uma série interminável de tarefas que ela não tinha esperança de entender. E, no entanto, aqui, dentro desta fortaleza de pedra cheia de órfãos, vampiros e mulheres que sabiam o que você queria com um único toque, Justice se sentiu em paz pela primeira vez que ela se lembrava. Literalmente. Não havia um verdadeiro momento de silêncio em sua mente até agora. Era um presente que ela apreciaria enquanto durasse. — Há outras pessoas aqui como eu? — Ela se ouviu perguntar antes que pudesse pensar melhor. — Talvez. O que você é? — Lyka perguntou tão casualmente como se estivesse perguntando se Justice gostava de chocolate. — Eu não sei, — ela respondeu honestamente. — Eu acho que ela é como Hope, — Ronan disse com um tipo de reverência em seu tom que ela não entendeu. Os dois pares de olhos do outro lado da mesa se arregalaram em choque. — Quem é Hope? — Justice perguntou. — Você tem certeza? — Joseph perguntou ao mesmo tempo. — Ainda não, — Ronan disse a Joseph, então seu olhar caiu sobre ela e suas próximas palavras foram claramente destinadas apenas a ela. — Mas mesmo um homem como eu pode sonhar.

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*** Ronan havia revelado demais. Ele deixou sua emoção tirar o melhor dele e contou sobre Hope antes que fosse a hora. A comida deles chegou, mas Justice ainda não havia tocado a dela. Em vez disso, ela o observara com aqueles olhos verde-prateados, como se pudesse ver todo o caminho através dele. Talvez ela pudesse. — Eu quero conhecer Hope, — ela disse a ele. — Claro, — disse Ronan. — Não sei se é uma boa ideia, — disse Joseph. Ele tomou um gole de café e deslizou a caneca para sua esposa compartilhar. — Por que não? — Justice exigiu. Lyka pôs a mão no braço do marido. — Eu disse que ela não é uma ameaça. — Não, você me disse que ela quer ser livre. De quem ou o que ainda é uma pergunta. Pelo que sabemos, a liberdade dela tem o preço de vidas aqui. — Não, — disse Justice entre dentes. — Eu posso ter sido forçada a fazer algumas coisas ruins, mas nada disso foi por escolha. — Ela nos trouxe aquele demônio vivo algumas semanas atrás, quando precisávamos de um, — Lyka lembrou. — E ela encontrou Pepper. Nós devemos a ela. A boca de Joseph se apertou. — Devo muitas coisas a muitas pessoas, mas essas crianças estão no topo da minha lista. Todos os outros podem entrar na fila atrás delas. Ronan pousou o garfo enquanto lutava contra uma súbita onda de raiva. Ele ignorou Joseph e virou-se para Justice. — Quem a forçou a fazer coisas ruins? O que eles fizeram você fazer? Sua expressão se fechou com força e rapidez, deixando-o adivinhando suas emoções. — Não importa. — Conte-me. Ela cortou o bife, encheu a boca e murmurou: — Não posso falar. Comendo. — Não vou deixar isso passar, — ele disse. Ela o ignorou.

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Joseph se recuperou dos punhais que sua esposa estava olhando para ele e soltou um longo suspiro. — Bem. Conte-nos sobre você, Justice. Deixe-me conhecê-la um pouco, para depois decidirmos se encontrar com Hope é uma boa ideia ou não. — Nada a dizer, — ela disse. — Por que você não tem um sobrenome? — Lyka perguntou. — Também não tinha um quando acordei. — Quando você acordou? Justice parou de comer e brincou com as entranhas amanteigadas de uma batata assada. — Acordei há dez anos sem memória, sem roupas, sem nada. O tremor em sua voz fez o coração de Ronan apertar. — Isso deve ter sido assustador. — Eu gerenciei. — Como você gerenciou? — Joseph perguntou, embora seu tom fosse mais suave agora do que antes. — Eu tive ajuda. Mais ou menos. — Importa-se de explicar? — Lyka perguntou. — Na verdade não, mas aparentemente esse é o preço da entrada para ver Hope. Então, aqui vai. — Ela respirou fundo e demorou um pouco a soltar o ar, como se estivesse adiando o inevitável o maior tempo possível. — Eu sinto esses sentimentos, como se alguém precisasse que eu fizesse alguma coisa. Eu nunca sei por que e às vezes nem sei o que devo fazer até fazer. Eu tentei lutar contra os impulsos, mas não posso. Quem quer que esteja dando os tiros me faz sofrer se eu não jogar junto. — Quem é esse? — Ronan perguntou. — Nenhuma maldita pista, mas quem quer que sejam, eu gostaria de chutálos no que quer que esteja entre as pernas dele. — Ela parou com um furioso — Destino do caralho. — Você acha que são as Destinos? — Joseph perguntou, cético. — Ou Carma, ou Deus, ou homenzinhos verdes em Marte. Quem diabos sabe? Tudo o que sei é que, se não faço o que eles querem, sofro. — Que tipo de coisas eles querem que você faça? — Ronan perguntou.

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— Nesta última vez, pensei que estava trocando um livro velho e empoeirado por dinheiro e um anel, mas aconteceu que o verdadeiro motivo de eu estar lá era Pepper. — Essas Destinos, ou quaisquer que sejam, sabiam que ela estaria lá? — Eu acho. Não é como se eu pudesse falar com elas. Tudo o que sinto é o desejo de agir e punição por resistir. E as idiotas sempre querem alguma coisa. Não me lembro da última vez que tive um dia sozinha. Ronan não conseguia imaginar uma vida assim. Não era de admirar que ela fosse tão nômade, passando de uma tarefa para outra sem tempo para descansar. Ele manteve sua voz nivelada por pura força de vontade. — Que tipo de punição? — Dor, principalmente. Meu cérebro coça, então, se eu o ignorar, as dores de cabeça surgem, tonturas, náuseas e a necessidade geral de enrolar e morrer. — Ela finalmente olhou para ele e, quando o viu, ele viu desolação lá. — Eu quase me matei tentando fugir de você. Acho que as Destinos também querem que você se envolva nos jogos delas. Ele colocou a mão na dela, em um esforço para confortá-la, mas, em vez disso, foi arrastado pela suavidade da pele dela. Ela se encolheu, deixou-o tocar por um segundo, depois se afastou e endureceu sua espinha. — Está tudo bem, — ela disse. —Eu lido. Mas seria muito bom conhecer alguém que passou pelo que tenho e saiu do outro lado. Se essa garota Hope puder me dizer como fazer as Destinos recuarem, talvez eu possa ter algo que se assemelhe vagamente a uma vida. Isso é tudo o que eu quero. A postura de Joseph suavizou-se, assim como seu tom. — Sinto muito, Justice, mas Hope não enfrentou o que você enfrenta. — Talvez não — disse Ronan, — mas ela acordou sem lembranças de quem ou o que era. Brenya nos disse que havia mais mulheres aqui como ela. Não é demais pensar que Justice é uma delas. — Quem é Brenya? — perguntou Justice, franzindo a testa. — Uma mulher poderosa de outro mundo, — respondeu Ronan. Joseph fez uma careta para ele por falar tão abertamente. — Esqueça Brenya. Que prova você tem de que Justice é como Hope, além da amnésia, quero dizer? Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— O sangue dela, — disse Ronan. — É poderoso além de tudo que eu já experimentei, a maneira como Logan descreve o sangue de Hope. Justice virou-se para ele, franzindo a testa. — Foi por isso que você me perseguiu por todo o país? Pelo meu sangue? Havia mais do que isso, mas Ronan não estava disposto a derramar suas entranhas na frente de Joseph e Lyka. Ele nem tinha certeza de entender por que se sentia tão possessivo por ela. Tudo o que sabia era que precisava dela. Ela era dele. Ele mataria qualquer um que tentasse atrapalhar isso. Ela já pensou que ele era uma sanguessuga sugadora de sangue. Dizer que ele queria reivindicá-la por si só o faria parecer uma sanguessuga bárbaro sugador de sangue. Ele decidiu: — Seu sangue era apenas parte disso. Joseph olhou para Lyka. Eles não falaram palavras, mas ficou claro que algum tipo de conversa silenciosa havia passado. — Tudo bem, — ele disse. — Ela pode conhecer Hope, mas não até que ela e Logan terminem seu trabalho. Nika e Jackie vêm primeiro, depois as crianças que precisam de cura, depois Justice. Ronan assentiu enquanto Joseph se levantava e ajudava a esposa a se levantar. Justice olhou para seu prato. — Obrigada. Faz muito tempo que ninguém se ofereceu para me ajudar. É bom saber que ainda há pessoas nesta rocha que ainda dão a mínima para alguém que não seja eles mesmos. Joseph assentiu uma vez em reconhecimento. — Fique com Ronan. Ele vai aonde você vai, entendeu? Não quero que você vagueie sem escolta. Ela assentiu. Eles saíram. Ronan ficou sentado ao lado dela. Ele gostava de sentir o calor dela contra o seu lado, tê-la perto o suficiente para tocar. Ele gostaria de mais se não estivesse cercado por tantas pessoas, mas ele pegaria o que poderia conseguir. — Joseph é um bom homem, — ele disse. — Mas passamos por muita coisa ultimamente. Ele tem motivos para desconfiar. — Tudo bem que ele não confie em mim, — ela disse. — Eu também não confiaria em mim. — Dê tempo a ele. Ele vai se aquecer.

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— Eu realmente não me importo se ele vai ou não. Não ficarei aqui por tanto tempo. — Você precisa se recuperar. Descansar. — Estou bem. O que quer que você tenha feito para me consertar, fez maravilhas. —Ela levantou a cabeça e seus olhos atingiram os dele com a força de um meteoro. — Obrigada por isso, a propósito. Não estou acostumada a dizer essas palavras, mas parece que vou praticar um pouco com todos vocês. Ela era tão incrivelmente linda que ele quase perdeu a noção da conversa. A curva completa de seus lábios fez seu sangue esquentar. A cor quente de caramelo de sua pele contrastava com seus olhos pálidos até que pareciam brilhar. Seus cachos escuros emolduravam seu rosto, balançando e saltando enquanto ela se movia. Em todos os lugares que ele olhava, ela era suave e sedosa, e tudo em que ele conseguia pensar era em como encontraria uma desculpa para tocá-la novamente. — Você deveria comer, — ele disse, porque não ouviu uma palavra que ela dissera enquanto a olhava, e a comida parecia uma resposta segura. — Você precisa reconstruir sua força. — Eu me sinto bem. — Porque eu coloquei em movimento os mecanismos naturais de cura do seu corpo. Mas se você não alimentar o processo, todo esse esforço será desperdiçado e sua rápida recuperação será interrompida. Ela balançou a cabeça, maravilhada. — Como diabos você faz isso? Isso é mágico? — Suponho. É mais sobre transferência de energia do que qualquer coisa. — Como funciona? Ela realmente queria saber. Ele podia ver a centelha inquisidora iluminando seus olhos, então explicou o melhor que pôde. — Existe poder no sangue, o sangue Atanásio é específico. — O que é Atanásio? — Athanasian é a fonte de toda a magia, outro mundo que está ligado ao nosso através de uma série de portões. Eles vieram aqui, misturaram com humanos, tiveram filhos. Os portões estavam todos fechados há muito tempo, pensamos permanentemente, mas as linhagens permaneceram. Descendentes Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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humanos e Sentinelas mantinham a magia daquele mundo em seu sangue e, como eles tinham filhos, eles a transmitiram. Agora, séculos depois, esse poder se espalhou entre os humanos até restarem apenas alguns traços dele em algumas pessoas. — É por isso que você bebe sangue? — Ela perguntou. — Você pode de alguma forma aproveitar a magia nele? Ronan assentiu. — Sou capaz de extrair energia das células sanguíneas e convertê-la em outras formas de energia. Cura, força, velocidade, discrição, — ele capturou o olhar dela — restaurando memórias perdidas. Talvez até consiga encontrar uma maneira de bloquear essas Destinos, como você as chama de obrigá-la a agir. Ela ficou quieta. — Você acha que pode me consertar? — Eu não sei. Talvez. Logan foi capaz de restaurar o passado perdido de Hope. Ela ficou em silêncio por tanto tempo que seus ouvidos começaram a doer por sua resposta. — Então, esse tempo todo, você esteve me perseguindo porque quer me ajudar? — Algum desespero infantil preencheu seu olhar, como se a resposta dele pudesse desfazer uma vida inteira de erros. — Em parte, — ele disse. — Mas essa não é a história toda. — Então o que é? — Meu povo está morrendo de fome. Quando provei seu sangue, fiquei impressionado com o poder absoluto que você possui. Uma única gota sua é como um galão de outra pessoa. — Ele engoliu em seco, esperando não parecer desesperado, mas sabendo que estava. — Uma bebida sua e eu não estava mais morrendo de fome, não estava mais fraco. Eu era como nasci para ser. Sua voz era baixa, mas determinada. — Você quer me matar? Me prender? — Nunca. Não vou mentir para você e dizer que seu sangue não é uma atração perigosa. Seria fácil ir longe demais, mas se eu matá-la, a fonte de todo esse poder teria desaparecido. Estou muito melhor se você viver uma vida longa, feliz e saudável. Ela esfaqueou um pedaço não consumido de bife. — Leite de uma vaca, em vez de carne.

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— Exatamente. — Você acha que pode usar meu sangue para tirar as Destinos da minha cabeça? — Possivelmente. Eu poderia tentar. Ela levantou os olhos e o que ele viu lá o assustou. Ela estava exausta. Desesperada. — Tudo o que quero é ser livre, fazer minhas próprias escolhas, ir aonde eu quiser, quando eu quiser. Se você pode fazer isso, pode ter tanto do meu sangue quanto quiser. Talvez ela não quisesse que fosse uma promessa, mas era tudo a mesma coisa. Ele sentiu o peso do voto dela envolvê-lo e segurando com força. Isso deu esperança para um futuro livre de fome e fraqueza. Um futuro muito mais brilhante que seu passado, ele não pôde deixar de aceitar sua oferta com um sorriso. — É um acordo.

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Capítulo 4 Joseph beijou a esposa e a deixou trabalhar mais algumas horas antes de encerrar a noite. Dabyr estava cheio de gente, e cada um deles dependia dele para mantê-las seguras, vestidas e alimentadas. Graças a Lyka, ele agora podia se concentrar em seu dever, livre da dor e tão profundamente apaixonado, que sabia que nunca iria aflorar. Ele era o homem mais sortudo do planeta e, apesar dos desafios que enfrentavam, nunca se sentira mais forte, nunca se sentira mais inteiro. Quando ele abriu a porta do escritório, Sibyl estava esperando por ele. Há pouco tempo, ela era uma menina pequena com cachos, vestida com rendas com babados e cetim. Desde a morte de seus pais, há alguns meses, e a destruição da maldição que a mantinha parecendo ter oito anos de idade, Sibyl envelheceu rapidamente. Ela agora parecia estar na casa dos vinte anos. Não importa quantos anos ela tinha, sua aparência sempre foi uma mentira. Com mais de dois séculos de vida, ela era uma formidável aliada com a estranha capacidade de ver o futuro. Ela se sentou em frente à mesa, vestindo jeans e uma camiseta azul clara que combinava perfeitamente com seus olhos. Seus cabelos loiros estavam um pouco mais escuros agora, mas caíam até os quadris em cachos soltos e casuais. Ela era tão bonita quanto sua mãe, mas seria deslumbrante se ela sorrisse. Ela certamente não estava sorrindo agora. Joseph estava sentado atrás de sua mesa cheia de mapas, sugestões e reclamações dos moradores de Dabyr, e uma série interminável de pedidos de comida e suprimentos. — O que posso fazer para você? — Ele perguntou. — Algo está errado, — ela disse com uma voz baixa e rouca, tão diferente da infantil que ela teve apenas na primavera passada. — O que é? Ela balançou a cabeça levemente e lançou um cenho preocupado. — Não tenho certeza. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Você terá que elaborar se você quer que eu ajude. Sibyl inclinou a cabeça para o lado. — Não há nada que você possa fazer. Eu simplesmente pensei que você deveria saber. — Saber o quê? Tudo o que você disse é que algo está errado. Detesto dizer isso, Sibyl, mas sempre há algo errado. — Assim não. A impaciência rondava sob sua pele. Ele sabia que ela não era do tipo que tirava conclusões precipitadas, mas uma vaga preocupação não ajudaria ninguém. — Diz-me o que se passa. Por que você está aqui? Sibyl olhou pela janela atrás dele. Ele ignorava o pátio de treinamento onde Theronai praticava combate, levantava pesos e mantinha suas habilidades afiadas para a próxima batalha. Ele temia que chegasse mais cedo ou mais tarde. — Minha irmã sempre foi impaciente, — disse Sibyl. Maura, irmã gêmea de Sibyl, há muito tempo evitava seu povo e fora lutar ao lado de seu inimigo. Dizia-se que ela era algum tipo de rainha entre os Synestryn agora, mas ninguém sabia ao certo. — Você já ouviu falar dela? — Joseph perguntou. Não faz um tempo. Tentei convencê-la a voltar para casa, mas ela acredita que é onde ela pertence. —A tristeza na voz de Sibyl ajudou Joseph a recuperar a paciência e dar a ela a chance de falar. Papelada, projetos de lei e defesa esperariam mais alguns minutos, mesmo para um homem que estava ansioso por voltar ao lado de sua nova esposa. — Ela fez sua escolha, — ele disse. — Eu sei que isso parte seu coração, mas você não pode insistir nisso. Você tem seu próprio pessoal para pensar. Você teve sorte em encontrar um homem compatível? A raiva brilhou em seus olhos azuis, tornando-os frios. — Eu disse para você não me apressar. Vou levar um companheiro quando estiver pronta e não um momento antes. — Eu sinto muito. Apressar você não era minha intenção. Sei que você está ciente de seu dever e intensificará quando estiver pronta. — Ele só esperava que ela não demorasse muito para fazê-lo. Eles precisavam de todos os pares de

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Theronai que conseguissem. Com sorte, um dos homens sob seu comando seria compatível com ela. — Eu irei, mas ainda não estou acostumada com esse corpo. Certamente não estou pronta para convidar um homem para compartilhar comigo. Essa imagem aqueceu as bochechas de Joseph. Mesmo que ela não fosse realmente criança há muito, muito tempo, ele a via como criança uma a vida inteira. Era difícil fazer esse tipo de mudança repentina. Provavelmente foi muito mais difícil para a pessoa que vivia. — Justo, — ele disse. — Vamos falar sobre por que você está aqui. — Como eu disse, Maura sempre foi impaciente. Nosso dom de visão é compartilhado entre nós. Cada uma de nós se revezam. Normalmente, quando é a minha vez, espero usar o dom até que seja absolutamente necessário, negando o acesso pelo tempo que posso. — Então, ela não pode ver o futuro e usar suas visões contra nós, — ele adivinhou. — Exatamente. Ela é sempre rápida em agir, como se estivesse ansiosa pelo próximo petisco do futuro. Então é a minha vez novamente, e aguento o maior tempo possível para que nosso poder permaneça comigo. — Parece inteligente. — Só que desta vez, ela está esperando. É como se ela estivesse usando minha própria tática contra mim. — Talvez ela tenha aprendido um pouco de paciência quando seu corpo envelheceu. Sibyl balançou a cabeça. — Não. É outra coisa. Eu a conheço, Joseph. Eu compartilhei um útero com ela. Somos parte uma da outra, separadas de um todo. — O que mais poderia ser se ela não estivesse simplesmente fazendo você esperar? Os olhos dela se estreitaram em especulação. — Ela está escondendo algo, ou planejando algo, algo que ela não quer que eu veja. — Você tem alguma ideia do que possa ser? — Estou pensando nisso há dias, mas não estou mais perto de uma resposta agora do que estava antes. — Tenho certeza de que não há com o que se preocupar.

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Sibyl levantou-se rapidamente. — Se você acredita nisso, então você é um tolo. A preocupação e a ação que ela causa são a única coisa que pode nos manter vivos. Sugiro que, sejam quais forem as proteções que você tenha para o nascimento dos bebês, faça mais. Muito, muito mais, Joseph. — Venho chamando todo mundo há meses. Quase todos os homens e mulheres, humanos ou Sentinelas, que podem balançar uma espada ou canalizar magia estão aqui. Temos homens armados patrulhando o local a cada segundo do dia e da noite, e todos estão em alerta máximo. Sei que esses bebês são alvos e tomaram todas as precauções para garantir que entrem neste mundo são e salvos. Ela andou em frente à mesa dele, a agitação clara a cada passo. — Não é o suficiente. — O que mais você gostaria que eu fizesse? — Eu não sei. Esse é o problema. Se Maura usasse nosso dom e devolvesse, eu saberia o que mais devemos fazer. — Talvez ela esteja apenas brincando com você. Se ela te conhece tão bem, ela deve saber que reter sua capacidade de ver o futuro a deixaria louca. Irmãs fazem esse tipo de coisa, certo? O olhar de Sibyl foi quase doloroso de testemunhar. — Minha irmã comanda exércitos de demônios e tem sede de poder. Ela não tem tempo para jogos tolos. — Ela nunca veio atrás de nós aqui. Ela sabe onde estamos. Se ela tem tanto poder e nos odeia tanto, por que não marchou sobre Dabyr e tentou nos destruir? Sibyl balançou a cabeça. Seus longos cabelos balançavam ao redor dos quadris em uma carícia sussurrante. — Quando o futuro é seu domínio, quando você passa a vida vendo as possibilidades que os aguardam, você aprende que há um tempo para tudo. Meu medo é que Maura tenha encontrado tempo para agir. Joseph sabia que Dabyr era um grande e suculento alvo agora. Suas paredes estavam cheias não apenas de humanos ensanguentados que precisavam de proteção, mas também de dezenas de Theronai, Sanguinar e agora vários Slayers cujas casas haviam sido destruídas recentemente. O povo de sua esposa havia chegado aqui para que pudessem se recuperar de um ataque, se reagrupar e planejar se reconstruir. Mas com tantas almas sangrentas sob o mesmo teto, e com o bônus adicional dos nascimentos iminentes, essa fortaleza era um sinal gigante e convidativo a Synestryn em todos os lugares para tentar.

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Eles já estavam lutando contra as escaramuças noturnas nas paredes, enquanto pequenos grupos de demônios tentavam a sorte. Lexi fez o possível para reforçar as paredes com magia, mas ela era apenas uma mulher. Séculos atrás, uma dúzia de mulheres Theronai reunia sua magia para selar até as menores rachaduras dos invasores. Mas eles não tinham uma dúzia de mulheres, muito menos uma dúzia de habilidosas nas artes defensivas. Lexi havia se exaurido cuidando de casas gerai, depois foi para a África, ajudandoos a reconstruir uma fortaleza sentinela caída ali. E mesmo que seu trabalho ainda não estivesse terminado, ela e Zach ainda voltaram para casa assim que souberam que eram necessários. Afinal, Jackie estava prestes a dar à luz a sobrinha de Lexi. Ela não ia esperar o melhor quando podia estar aqui trabalhando para fortalecer as defesas de Dabyr. Joseph não sabia como aliviar a preocupação de Sibyl. Ele nem tinha certeza se deveria. Todos eles precisavam estar em alerta máximo. — Estamos fazendo tudo o que podemos, Sibyl. Se você puder pensar em outra coisa que deveríamos fazer, faremos. Mas até você saber mais, não tenho certeza de que outras medidas podemos tomar. — Maura é astuta. Ela está convencida de que não tem alma e age de acordo. Ela viveu conosco por anos. Ela conhece nossos caminhos, nossos preparativos. Ela procurará um ponto fraco e o explorará. —É isso que estou tentando dizer. Passamos os últimos meses sustentando todos os pontos fracos que podemos encontrar. As paredes são tão fortes quanto antes desde que as erguemos. Nós realocamos todos que moram nas cabanas dentro do edifício principal. A segurança é rigorosa, com um dos meus homens mais fortes sempre monitorando os portões para evitar mexer nas mentes humanas. Temos câmeras assistindo cada centímetro do terreno além das paredes. Existem armadilhas e sensores a cada poucos metros para nos alertar sobre exércitos que se aproximam, o que seria necessário para romper as paredes. Ela não parecia aliviada. — E se nossas paredes caírem, temos homens e mulheres constantemente prontos para lutar. Estamos bem abastecidos, estamos armados e estamos tão prontos para uma luta quanto possível.

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Os ombros de Sibyl caíram e ela soltou um suspiro derrotado. — Sem o dom da visão, sem saber o que está por vir, tudo o que podemos fazer é rezar para que isso seja suficiente.

*** Quanto mais de Dabyr Justice via, mais impressionada ela ficava. Essas pessoas estavam prontas para a guerra. Do lado de fora, bem iluminado e cheio de homens armados, às câmeras internas que vigiavam entradas e áreas públicas, ao baixo zumbido de prontidão que ela sentia no próprio ar, ficou claro que essas pessoas sabiam que a merda estava prestes a atingir o ventilador. Até os adolescentes estavam do lado de fora, empunhando espadas sob o olhar atento de homens grandes e corpulentos que corrigiam sua forma e os empurravam para a perfeição. Com apenas algumas exceções, os adultos que não carregavam espadas carregavam armas. Até uma senhora idosa e enrolada, com uma postura curvada e um coque pontudo erguido com um lápis amarelo, tinha uma pistola semiautomática na mesa ao lado do café e do livro aberto. Ronan levou Justice das mesas de jantar, através de uma área de recreação aberta com vista para o jardim do lado de fora. Eles entraram no que ela pensava ser a ala sul, depois seguiram por um longo corredor que levava a um elevador. Ele teve que deslizar sua ID e pressionar o dedo na tela de toque para abrir as portas. Uma vez dentro da caixa de aço polido, ele teve que passar por mais camadas de segurança antes de o elevador começar a descer, segurança que envolvia ele derramando uma gota de sangue para se identificar. — Onde estamos indo? — Ela perguntou. — Minha suíte. Todos nós, Sanguinar, vivemos abaixo do solo, abaixo de todas as áreas públicas. Não faz sentido arriscar um vidro quebrado durante o dia. — Porque você vai explodir em chamas? — Ela perguntou, apenas brincando. Ele revirou os olhos. — Dificilmente. Apesar do que Hollywood quer que você acredite, nós, sugadores de sangue, não tomamos sol por causa do que isso faz conosco, mas por causa do que isso evoca. — Evoca?

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Ele assentiu. — O Solarc, que governa Athanasia com tanta misericórdia quanto um tubarão faminto, odeia os Sanguinar. Ele é capaz de enxergar através da luz do sol e, mesmo que um raio de luz toque nossa pele, ele pode nos ver e envia um de seus assassinos para nos destruir. — Chocante. Por que ele os odeia? — Porque nosso nascimento não foi pré-aprovado por sua majestade e, portanto, blasfema. Ele não acredita que devamos existir, por isso é sua missão nos destruir. — Parece que esse cara Solarc é um bebê chorão. O sorriso de Ronan era leve, mas ainda tinha o poder de transformar sua aparência

de

deslumbrante

para

tediosamente

lindo.

Digno

de

babar.

Completamente delicioso. Não que ela estivesse nesse tipo de coisa. Ela nunca esteve com um homem que pudesse se lembrar e não estava prestes a começar o mau hábito agora. Ela não tinha tempo para esse tipo de besteira. Ainda assim, isso não significava que ela não poderia apreciar o show. O elevador era grande o suficiente para mover um sofá, mas ainda era pequeno o suficiente para que ela pudesse cheirá-lo. Ela não tinha certeza se ele usava perfume, ou se era seu perfume natural, mas ele cheirava doce e picante, como pão de passas com canela fresco. Um pequeno pedaço irracional de sua mente se perguntou se ele tinha um gosto tão bom. O elevador apitou e as portas se abriram para revelar um corredor que se parecia muito com os três níveis acima. Estava forrado com portas numeradas. As luzes corriam pelo centro, embora fossem muito mais escuras aqui embaixo. Ronan levou-a até a terceira porta à direita, depois passou a identificação na fechadura para abri-la. Ele entrou no espaço escuro. — Entre. Fique à vontade. Ela não conseguia ver nada além da fraca luz que vinha do corredor. Depois de um segundo, ele fez um ruído de realização e acendeu as luzes. — Desculpa. Eu esqueço que os outros não podem ver no escuro. — Isso deve ser útil.

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A suíte dele era maior do que ela esperava. Os tetos eram altos, talvez três metros, e o espaço era aberto. Uma sala de estar, completa com um sofá e uma poltrona reclinável, estava decorada em tons suaves de cinza com detalhes em azul escuro meia-noite. Havia uma cozinha em miniatura em um canto que parecia nunca ter sido usada. Ao lado, havia um espaço para refeições, grande o suficiente para dois, que também pareciam não utilizados. Do outro lado da sala havia uma área entre duas estantes de livros adjacentes que iam até o teto. Uma mesa lateral arranhada e uma cadeira de couro estofada estavam sobre um tapete felpudo, dando ao recanto de leitura um ar aconchegante. Todas as prateleiras estavam cheias de livros, e a maioria parecia velho. Realmente velho. À direita, havia um pequeno corredor que ela imaginou levar a um quarto, já que não havia cama aqui. Alguns itens pessoais pontilhavam o espaço, livros, bugigangas, vários cobertores. Mas o que mais chamou sua atenção foram os desenhos emoldurados e pendurados nas paredes. Arte de giz de cera desleixada e desenhos tortos eram tratados como as melhores obras-primas, iluminadas e rotuladas como se estivessem em um museu. — O que é tudo isso? — Ela perguntou enquanto estudava a obra de arte. Algumas eram imagens doces de gatinhos com nariz rosa e sóis com rostos sorridentes. Outros eram mais escuros, encharcados de sangue e cobertos de rabiscos frenéticos. Um deles era completamente preto, exceto por um par de olhos verdes incompatíveis no meio da página. Cada peça tinha o nome do artista e a data em uma pequena etiqueta de metal. — Presentes, — disse Ronan. — Das crianças que ajudei. — Ajudou como? Ele deu de ombros quando se aproximou. Ela conseguiu sentir a presença dele desde que ele tirou seu sangue, mas quando ele estava tão perto, esse sentimento era mais definido. Quase como um toque, em vez de um brilho de calor. Ela ainda podia sentir sua mão, sentir a língua dele passando por cima do braço, sentir a boca na garganta. Onde quer que ele a tocasse, deixou para trás

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fantasmas. Não importava o quanto tentasse, ela não conseguia encontrar uma maneira de se livrar deles. Ronan apontou para o desenho superior do sol sorridente. — Charlie estava doente. Leucemia. Ele disse que, como eu não podia ver o sol, ele desenharia para mim. — Seu dedo longo deslizou para o próximo. —Sidney se machucou em um ataque na noite em que a encontramos. Eu curei suas feridas e a trouxe aqui para morar com seus pais. — E este? — Ela perguntou, apontando para os olhos verdes. — William desenhou isso várias vezes. Foi o que viu na noite em que seus pais foram mortos e comidos diante de seus olhos. Eu trabalhei com ele por meses, aliviando seu medo e suavizando algumas das bordas mais nítidas de sua memória daquela noite. Nós os substituímos por lembranças de seus pais, antes do ataque. Este foi o último desenho que ele fez daqueles olhos. — Ele apontou para outra parede com mais arte emoldurada. No centro, havia um desenho a lápis muito realista de um filhote, boca aberta, língua pendendo em um sorriso de cachorro. — Ele desenha animais agora e é muito bom. Ela não sabia o que dizer sobre isso. Este homem que ela estava fugindo há semanas era muito mais do que ela esperava. Ele fazia o bem no mundo. Ajudava pessoas. Tudo que Justice podia pensar era o quão incrível isso deve ser. — Você gostaria de algo para beber? Eu tomo café, chá, vinho. — Água, — ela disse, principalmente porque queria algo a ver com as mãos inquietas. Ela se sentiu deslocada aqui, como se não pertencesse. Essas pessoas eram lutadores, heróis. Eles criavam órfãos pelo amor de Deus. Ela era apenas um peão que roubava, mentia e matava quando as Destinos exigiam dela. E às vezes quando não. Ronan tinha uma casa, uma família, pessoas que o amavam e dependiam dele. Tudo o que ela tinha era um acúmulo de coisas que ela nomeava para não se sentir tão sozinha. Reba era um pobre substituto para os desenhos de uma criança que foi quebrada, mas agora era capaz de criar arte. E por mais agradável que fosse o

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abraço do assento de couro de Ricardo, ele não se compara ao toque de outra alma viva. De repente, Justice sentiu a necessidade de sair daqui. Por mais que ela quisesse que Ronan a ajudasse do jeito que ele ajudou aquelas crianças, ela não era doce e inocente. Ela não merecia a ajuda dele. Talvez suas compulsões não fossem as Destinos, mas uma punição por algo que ela havia feito nos anos em que não conseguia se lembrar. Seja qual for o seu crime, deve ter sido hediondo. — Acho que é hora de partir, — ela disse. Ronan parou no meio do caminho, com um copo de água gelada na mão elegante. — Mas eu pensei que você queria que eu a ajudasse. — Eu quero. Queria. Mas acho que foi um erro vir aqui. Suponho que não posso ativar o elevador sem o seu sangue, posso? — Não foi um erro vir aqui, Justice. Quaisquer que sejam seus medos, vamos falar sobre eles. Você não precisa fugir. Ela não queria conversar. Ela não sabia como. Ela estava acostumada a ficar sozinha. A última coisa que ela precisava era de um homem sexy, de fala mansa, que a manobrasse em uma batalha de palavras. Não, a última coisa que ela precisava era de outra missão das Destinos. Se teria alguma chance de liberdade, era isso. Ronan possuía magia. Ele ajudava as pessoas. Ele estava disposto a ajudá-la. Essa não era uma combinação que ela iria encontrar novamente. Ela mal podia acreditar que encontrou agora. Ele largou a água e fechou a distância entre eles. Ela não percebeu o quão perto ele estava até que suas mãos seguraram seus braços em um aperto suave. Outro fantasma de um toque que a assombraria para sempre. — Eu preciso de você, Justice. Você não tem ideia de quanto. Por favor, não vá. Ele precisava dela? Isso não fazia nenhum sentido. Ela estava fodida da cabeça. Ele olhou para ela como se estivesse dizendo a verdade. Ela não sabia como ele poderia estar, mas ser contemplado como se ela fosse mais que um peão, como se fosse importante, era quase mais do que ela poderia suportar. Era bom demais para ser verdade.

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A indecisão guerreava em sua mente, armada de argumentos a favor e contra a permanência. No final, o golpe final foi tão simples quanto triste. Ela não teve escolha. Como sempre. Se ela não encontrasse uma maneira de se libertar de seus atormentadores, ela acabaria morta. Pior ainda, ela poderia acabar matando alguém que não esperava. Como viveria com ela mesma então? Ela sabia a resposta para essa pergunta. Ela não conseguiria. — Tudo bem, — ela disse. — Eu realmente não tenho muito a perder. O alívio se espalhou por seu lindo rosto como uma onda. Ele nem tentou esconder. A postura dele relaxou, assim como o aperto em seus braços. Dedos longos e elegantes deslizaram sobre sua fina camisa de algodão. Seu toque era frio, o que deu a mais estranha necessidade de aquecê-lo. A leve cicatriz em seu pescoço, onde ele se alimentou dela na primeira noite em que o conheceu, formigou. Por mais que suas ações a chocassem e a confundissem, ela frequentemente olhava para trás naquela noite, insistindo na sensação de seu sangue fluindo em seu corpo. Havia uma intimidade no ato de alimentar alguém, uma profunda proximidade. Ela imaginou que era o mesmo para uma mãe que amamentava. A sensação de sua boca se movendo sobre a pele dela nunca a abandonara e, embora houvesse alguma dor, não era nada comparado à pressa inebriante de dar a alguém exatamente o que precisava para sobreviver. Ela tocou a cicatriz por hábito, quase nem percebendo que tinha até o olhar de Ronan rastrear seu movimento. Linhas tristes vincaram seus olhos e o arrependimento brilhava em seu rosto. — Sinto muito por ter tratado você assim, — ele disse. — Se eu estivesse em meu perfeito juízo, teria curado você, para que nenhuma cicatriz permanecesse. — Está bem. Eu tenho cicatrizes piores. Alguns que eu nem me lembro de ter conseguido. Seus pálidos olhos azuis deslizaram sobre suas feições, descendo pela garganta e voltando novamente. Ao fazê-lo, suas pupilas se alargaram. — Gostaria de ver o que podemos fazer sobre isso? Ela assentiu. — Agora, antes que eu perca a coragem.

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— Você não precisa se preocupar com nada. Apenas olhe nos meus olhos e respire. Justice fez o que ele pediu. Era fácil, assim como cair, e um momento depois, ela se sentiu fazendo exatamente isso.

*** Ronan pegou Justice antes que ela pudesse cair e a colocou no sofá. Seu corpo se fundiu contra o dele perfeitamente, seus mergulhos e inchaços alinhados exatamente com o dele. Ele utilizou seu poder para ajudá-la a relaxar, mas não funcionou muito bem. Ela ainda estava se recuperando, ele tinha que se lembrar. Ela parecia saudável e completa, mas seu corpo ainda estava reconstruindo seu sangue perdido. Além disso, ela estava em constante estado de exaustão, sempre se movendo e indo aonde quer que fosse obrigada. Era essa compulsão que mais o preocupava, e a coisa que ele estava determinado a consertar. Ela poderia viver sem suas memórias, mas ela não poderia viver à mercê de um mestre que ela não conhecia e não podia escapar. Ele colocou seu peso lânguido em seu colo e embalou seu corpo como um amante. Talvez ele estivesse ultrapassando os limites, mas ele realmente não se importava. Ela era dele. Era seu direito abraçá-la e sentir o calor de sua carne na dele. Não era? Um suspiro sonolento e contente escapou de seus lábios quando ela aninhou a cabeça na cavidade do ombro. Sua respiração era profunda e regular, e seu pulso era uma batida constante que diminuía para combinar com a dele. Ele poderia simplesmente segurá-la assim a noite toda, aproveitando a sensação dela contra ele e seu calor se tornando dele. Ele teria preferido que ambos estivessem nus, mas isso inevitavelmente levaria a mais do que ele pretendia. Até a ideia de levá-la fez seu pênis inchar e doer. Seus nervos vibraram com antecipação, e sua mente desenhou fotos dos dois juntos, corpos entrelaçados. Ele ia tê-la. Em breve. Mas, por enquanto, seu foco precisava estar em sua tarefa.

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Ronan reuniu um fio de energia de suas células e o enviou à mente de Justice. Ele era bom nessa invasão lenta e delicada. Ele tinha que ser. As crianças traumatizadas eram frequentemente sensíveis até aos menores sinais de interferência em seus pensamentos. Mas muitos deles carregavam lembranças que arruinariam suas vidas ou os matariam. Synestryn era atraído por pensamentos sobre eles, e uma criança que estava aterrorizada não podia deixar de reproduzir a memória do evento repetidamente até que ele usasse um sulco permanente em suas mentes. Um dos trabalhos de Ronan era garantir que essas memórias fossem abafadas, nebulosas. Ele os despia completamente quando podia, mas na maioria das vezes isso era impossível. As crianças de sangue eram fortes, e remover essas cicatrizes mentais era muitas vezes mais prejudicial do que útil. Então, ele aprendeu a arte da sutileza, a necessidade de entrar na mente tão devagar e com cuidado que a pessoa raramente sentia sua presença. Essa era sua intenção com Justice, acalmá-la e ver que tipo de tarefa ele tinha pela frente. Em vez disso, no momento em que ele passou à margem de seus pensamentos, ele foi sugado. Consumido por ela. Ela era linda por dentro, mas de uma maneira tão diferente do que ele já havia experimentado. Ele ficou impressionado com ela. Ela era como uma obra de arte caótica, todas as linhas emaranhadas e cores brilhantes. A força contornou sua insegurança. A confiança em suas habilidades se misturou com sua constante e dolorosa solidão. A necessidade de fazer o bem em um padrão intrincado, com laços de honra em torno de uma veia grossa de dever. Quanto mais ele se deliciava com sua essência, mais ele podia ver a guerra frenética e agitada que ela travava contra si mesma. Era inspirador e comovente ao mesmo tempo. Ele não tinha ideia de como ela conseguiu se segurar por tanto tempo, apesar de seu cansaço e total falta de companhia. Os únicos amigos que ela se permitia eram objetos inanimados. Ela dera nomes e personalidades a algumas posses queridas, como se aço frio e plástico pudessem dar o que ela precisava.

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Ronan não entendeu por que ela se isolou assim, mas ele não a deixaria continuar. Ela estava se machucando, e isso era algo que ele simplesmente não podia permitir. Ele sentiu sua força desaparecer, e só então percebeu que ele estava dentro da mente dela por muito tempo, absorvendo-a. Era hora de se concentrar em sua tarefa e ver se ele conseguia descobrir quem a compelia e o que havia acontecido com as lembranças perdidas. Assim que sua mente tocou em sua missão, uma parede enevoada apareceu à sua frente. Ele a alcançou, mas a névoa espessa simplesmente se afastou dele como se repelisse. A experiência contou a ele duas coisas: uma, atrás desse muro, estava o passado perdido. E dois, alguém fez isso com ela intencionalmente. O trabalho era melhor do que qualquer outro que ele já vira, melhor que o dele mesmo. Quem fez isso era poderoso, o que apenas aumentou sua evidência de que Justice era como Hope. A poderosa Brenya, sobrenatural, protegera as memórias de Hope, e era provável que tivesse feito o mesmo com Justice. Mesmo com o sangue dela fluindo através dele, Ronan não era forte o suficiente para desfazer o trabalho de uma rainha Athanasian. Ele precisaria planejar seu ataque com mais cuidado ou correr o risco de machucar Justice. Isso ele não faria. Ronan se afastou da parede e procurou evidências das Destinos, como Justice as chamara. Uma ampla veia de algo que ele considerava dever percorria toda a essência dela. Ele pulsava com uma luz carmesim profunda que brilhava mais em pontos. Enquanto seguia o caminho, ele viu desaparecer através da parede enevoada bloqueando suas memórias. O que quer que fosse essa corda grossa, ela a usava há muito tempo. A fonte disso estava por trás desse muro, atualmente fora de alcance. Experimentalmente, Ronan ampliou seu poder e apenas roçou a superfície daquela veia espessa de árvore. Posse. Controle. Demanda impiedosa e implacável.

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A dor explodiu em sua cabeça quando uma presença gritou com ele em um berro de puro pensamento. O poder, diferente de tudo que ele já sentiu, tirou Ronan de Justice e voltou à sua mente. Quem ou o que havia plantado aquela coisa em Justice não estava de brincadeira. Ele não suportava nem tocar. Ele não tinha ideia de como ela poderia tolerar carregá-lo dentro dela. Ele abriu os olhos para encontrá-la olhando para ele. Seu olhar verde prateado era sonhador, como se ela tivesse acabado de acordar de uma longa soneca. Não havia sinal de angústia ou dor que o aliviasse. Ficar bisbilhotando em sua mente não a machucara e ele estava agradecido por isso. Como estava, ele estava tremendo e suando com o encontro com a presença que a habitava. E era uma presença. Não havia erro nisso. O que quer que a estivesse controlando não era um feitiço ou uma maldição. Era uma pessoa, embora essa descrição parecesse inadequada para o enorme poder da coisa que ele tocara. — O que há de errado? — Ela perguntou. Ela se levantou do abraço dele e se afastou do colo dele para se sentar ao lado dele. Ele notou que ela colocava mais espaço entre eles do que era necessário. Ele não sabia se era um sinal de desconfiança ou necessidade de distância, mas instantaneamente se ressentiu com o ar frio que o rodeava onde seu corpo acabara de estar. — Eu não sei. — As batidas em sua cabeça fizeram suas palavras mais cortadas do que ele pretendia. Suas tripas torceram com náusea, e suas mãos estavam tremendo. A letargia desapareceu do rosto e foi substituída por uma expressão preocupada. — Parece que você está prestes a vomitar. Eu senti você na minha cabeça. O que você viu? Ele respirou fundo várias vezes para acalmar seu corpo. — Há um véu sobre suas memórias, o que eu esperava. É o tipo de coisa que faço pelas crianças que viram seus pais serem massacrados. — Você acha que foi o que aconteceu comigo? Vi meus pais morrerem e alguém encobriu?

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— Não. Dez anos atrás, onde suas memórias param, você teria idade suficiente para entender o que viu. Ninguém da minha espécie o protegeria do seu passado assim. No máximo, teríamos confundido qualquer trauma que você sofreu para poder lidar com ele em seu próprio tempo. O que vi em você foi muito mais do que isso. — O que foi isso? — Alguém intencionalmente a separou do seu passado, completamente, mas esse não é o problema. — O que é? — Ela perguntou. — Essas compulsões você tem? As Destinos? — E elas? — Alguém fez isso com você. — O que você quer dizer? — Eu senti uma presença. Alguém que você conheceu antes que sua memória fosse apagada está dando os tiros. — Quem? — Eu não faço ideia. E honestamente, quem quer que seja, é poderoso o suficiente para quem possa não ser a pergunta certa. — Então, qual é a pergunta certa? — O que é isso? O olhar dela se afastou do dele e pousou em seu colo. Ele podia praticamente sentir o cheiro da derrota flutuando fora dela. — Se você acha que é o fim Justice, está enganada. Ainda não terminei e não vou parar de tentar ajudá-la até descobrir como tirar essa coisa de você. Ela balançou a cabeça. — Isso foi um erro. Eu posso dizer o quanto isso foi difícil para você, e tudo que você fez foi dar uma olhada dentro do meu crânio. Não vou pedir para você fazer mais. — Ela deu de ombros e se levantou como se o assunto estivesse resolvido. — Estou ferrada. Isso é notícia velha. Obrigada por tentar. Ela não poderia sair sem a ajuda dele. Ela não tinha como ativar os elevadores para a superfície. Havia muitos Sanguinar dormindo indefesos aqui embaixo para eles correrem riscos com segurança. Apenas alguns Theronai

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confiáveis podiam acessar esse nível. Nenhum humano era permitido. Suas mentes eram facilmente controladas pelo inimigo. Ronan esperou que ela percebesse que estava presa. Ela estava a meio caminho da porta quando parou, virou-se e suspirou. — Você vai me fazer implorar? — Nunca. Mas não terminamos aqui. Só porque não fui capaz de libertá-la nos últimos minutos, não significa que não tenha esperança. — Você tem certeza? Porque você parecia muito desesperador há um minuto atrás. — Surpreso, — ele mentiu. A verdade era que ele estava aterrorizado. Ser tocado por algo tão poderoso quanto a presença em sua mente não era o tipo de coisa que um homem considerava sem intercorrências. Ronan sabia que havia coisas neste universo que faziam até os Sentinelas mais fortes parecerem recém-nascidos fracos, mas ele nunca havia sentido um antes. Era tão humilhante quanto intimidador. Ele não tinha ideia de como ele iria infligir sua vontade nessa coisa e forçála a sair dela, mas ele sabia que iria tentar. Ninguém merecia sofrer do jeito que ela sofreu. Ele ainda se maravilhava que ela fosse forte o suficiente para suportar essa presença diariamente sem enlouquecer. Ela sacudiu os cachos escuros. — Eu não deveria ter vindo aqui. O que diabos eu estava pensando? — Você estava pensando em Pepper. — E agora que sei que ela está mais segura aqui do que estaria comigo, acho que meu trabalho está feito. Hora de seguir em frente. — Essa é as Destinos falando? — Não. Elas são estranhamente silenciosas. — Então talvez você esteja fazendo a coisa certa ao ficar. — Está certo, no entanto? Ou apenas o que elas querem que eu faça? Eu realmente não posso mais dizer. — Mais um motivo para ficar e me deixar tentar ajudá-la. Você quer que elas saiam, certo? — Mais do que qualquer coisa no mundo.

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— Então por que desistir agora? — Porque se você falhar, estou sem opções. Pelo menos agora posso fingir que há uma chance de liberdade. — Então, você vai se afastar de uma chance para poder fingir que tem uma? Você percebe que isso é um pouco louco, certo? Ela o encarou por um longo momento. A tensão irradiava através de seu corpo, e tudo o que queria fazer era puxá-la para perto e acalmá-la. Mas se ele a tocasse, ele iria querer mais. Ele se esqueceria e faria algo que poderia afastá-la. Havia pelo menos uma dúzia de maneiras em que ele conseguia fazê-la relaxar, e a maioria delas acabava com ela nua e brilhando de prazer. A ideia fez seu sangue esquentar e sua pele corar de necessidade. Por fim, ela falou. — Se eu deixasse você tentar me ajudar, o que você faria? — Eu precisaria estar no auge da força para enfrentar a coisa dentro de você. Quando estivesse, voltaria à sua mente e tentaria expulsá-la. — Você já fez isso antes? — Com Synestryn, sim. — É isso que está dentro de mim? — Eu não sei, — ele respondeu honestamente. — Eu não senti a mancha de malevolência que eu esperaria de um demônio. Se for um, é o mais forte que eu já encontrei. — Claro que é. Apenas minha sorte. — Ela suspirou. — Quanto tempo você leva para ficar forte o suficiente para tentar? — Isso depende de você, já que o seu sangue é o único poderoso o suficiente para me dar o que eu precisaria para combater a presença. A mão dela voou para a garganta e os furos gêmeos que suas presas haviam deixado para trás algumas semanas atrás. Ele foi até ela e inclinou a cabeça para o lado para inspecioná-los. As marcas eram rosadas contra sua pele caramelo, ainda frescas o suficiente para que ele pudesse curá-las se tentasse. Ele não faria. Ele gostava demais da sua marca nela para removê-la. Se qualquer outro Sanguinar a visse saberia que ela era dele. Bárbaro sugador de sangue, de fato.

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— Você ainda está se recuperando, — ele disse. — Mas com alguns dias de descanso e líquidos, você poderá me dar o que eu preciso. Um pequeno tremor a percorreu, mas ele viu tudo a mesma coisa. Assim como ele viu a maneira como as pupilas dela se arregalaram e as narinas se dilataram como se respirando seu perfume. Ele podia cheirar sua excitação, terrosa e quente. Nunca uma mulher exibiu um perfume tão intoxicante. Ronan inclinou a cabeça para respirar o ar que rodopiava sob a orelha delicada dela. Doce, necessidade feminina. Pura tentação indo direto para sua cabeça. Os lábios dele roçaram sua pele. Ele não tinha a intenção de fazê-lo, mas agora que sabia o quão quente e macia ela era, não podia deixar de pressionar os lábios contra a carne dela e beijá-la. O pulso dela acelerou. A corrente de sangue em suas veias fez com que ele sentisse água na boca e seu pau inchasse. Uma lufada de ar escapou do peito como um gemido, tão fraco que ele quase não conseguiu ouvi-lo através do martelar de seu coração. Seus dedos hesitantes se curvaram contra o ombro, se contorcendo como se não tivesse certeza se deveria agarrar ou empurrar. Ele sabia qual ele iria permitir. Uma mão espalhou-se pelas costas dela e aproximou os quadris dos dele. A outra mão deslizou em seus cachos grossos e elásticos e aninhou-se contra o calor do couro cabeludo. Ele fechou os dedos ao redor dos fios para segurar a cabeça enquanto seus lábios se abriam sobre o pulso. O corpo de Justice se apertou em antecipação, praticamente tremendo em seus braços. Ela queria o que ele estava prestes a fazer, mas nem ele tinha certeza se iria beijá-la ou mordê-la. A necessidade de ambos estava furiosa dentro dele, tão alto que ele não podia ouvir seus próprios pensamentos. Sua cabeça inclinou-se ligeiramente, dando melhor acesso. Era um convite, um bem-vindo e que fez suas presas se alongarem em pontos perversos. A necessidade de possuir essa mulher era diferente de tudo que ele já havia experimentado antes. Ele sentia que ela pertencia a ele, como sempre fora dele, e,

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no entanto, ela também era uma criatura preciosa e intocável, boa demais para um homem que atacava os outros. Ainda assim, ele a desejava por tanto tempo, sabia que não podia deixá-la ir sem um gosto, apenas algumas gotas para aliviar sua fome. Seu coração disparou, tropeçando em uma única batida. Ele poderia não ter notado se não estivesse tão perto, mas estava, e notou. Ela ainda estava se recuperando de seus ferimentos. Tão forte e saudável quanto ela parecia, ele sabia que seu corpo estava trabalhando duro para repor o que ela havia perdido. Tirar mais sangue dela agora era egoísta. Fraco. Ela merecia um homem que não era nenhuma dessas coisas. Para alguém que passou a maior parte de sua vida resistindo ao desejo de se alimentar, a força de vontade veio a ele lentamente, de má vontade, arrastando os pés. Mas quando ele finalmente a agarrou e a forçou a se submeter, ele foi capaz de fazer a coisa certa. Com um beijo fugaz que era pouco mais do que um sopro de ar, ele se afastou da garganta e a soltou. A boca estava aberta. Seus lábios estavam manchados de um vermelho escuro e excitado. Anéis finos de verde cercavam suas pupilas largas, que ela cobriu com uma variedade de cílios grossos e pretos. Ele limpou a garganta duas vezes para soltar a voz o suficiente para falar. — Eu vou leva-la para o alto agora. Encontraremos uma suíte vazia onde você ficará confortável enquanto termina de se recuperar. Quando seu aceno finalmente chegou, era pequeno e apertado. — Isso é provavelmente o melhor. Ele não tinha tanta certeza se melhor fosse a palavra que ele usaria, mas até que ela estivesse saudável, era mais seguro para ela não ficar sozinha com ele. Porque pelas coisas que ele queria fazer com ela, ela precisava estar bem e saudável.

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Capítulo 5 Justice ficou aliviada quando finalmente ficou sozinha em um quarto confortável que parecia muito um hotel de luxo. Não havia cozinha, mas ela tinha um frigobar abastecido e um micro-ondas escondido em um canto, junto com uma cafeteira e uma cesta de lanches. Havia uma pequena área de estar de um lado do espaço e uma cama grande do outro. Um quarto da suíte tinha um banheiro enorme que tinha uma banheira independente, dentro um chuveiro com box de vidro grande o suficiente para receber pequenas festas. Ela não sabia o que alguém precisava com um chuveiro tão grande, mas ela apreciava os azulejos brancos reluzentes com suaves veias cinza correndo por eles. As toalhas eram grossas e macias, assim como a roupa de cama. Alguém até se deu ao trabalho de colocar uma planta real e viva sobre a mesa de café, junto com várias xícaras para garantir que os convidados seguissem a dica de usá-las. Justice ligou a TV para fazer companhia a ela, depois tirou a roupa e fez uso de uma pequena porção do chuveiro. Havia mais jatos e bicos do que ela sabia o que fazer, mas ela experimentou todos eles antes de sair e vestir as roupas mais macias que tinha com ela. Desde que Ronan beijou seu pescoço, sua pele ficou sensibilizada demais, como se suas células estivessem prendendo a respiração e esperando que ele terminasse o que começou. Não era de ela ficar pensando em um homem, suspirando e sonhando como uma adolescente. Ela não olhava para o espaço, ansiando por outro toque, e com certeza não sorria como uma boba quando pensava em como os lábios dele eram bons ao longo de sua pele. Ela folheou os canais atentamente até encontrar uma luta sangrenta de boxe. A rápida violência e os rostos mutilados a fizeram se sentir melhor, mais à vontade em sua própria pele. Era tarde. Ela já passou por muita coisa. Ela deveria estar cansada, mas seu corpo inteiro zumbia como se estivesse à beira de uma adrenalina alta. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Ronan fez algo quando ele tocou sua mente. Ela não tinha certeza do que era, mas se sentia diferente. Alterada. Ela foi capaz de senti-lo desde que ele se alimentou dela semanas atrás, mas agora ela sentia que estava perto, como se fechasse os olhos e esticasse a mão, a pele tensa dele estaria bem sob as pontas dos dedos. O boxeador de short vermelho deu outro golpe brutal nos olhos e se afastou do oponente. Sangue e suor escorriam de sua mandíbula, mas ele voltou para mais. Assim como ela faria com Ronan. Talvez ele pudesse ajudá-la, talvez ele não pudesse. Ela não tinha certeza disso, mas tinha certeza de que, se ele batesse na porta agora, ela o deixaria entrar, e isso não tinha nada a ver com querer que ele a libertasse de suas compulsões. Ela o queria. Ela nunca quis um homem antes, mas não havia dúvida do que ela estava sentindo. Ela queria Ronan. Muito. Depois de dez anos revirando os olhos para mulheres que se jogavam em homens que não eram bons para elas, ela finalmente entendeu o que as tornava tão glutões por punição. Ele sobrevivia com sangue, o sangue dela, e ainda assim ela sabia que se o visse agora, com fome e desesperado, ela daria a ele o que ele precisava. O que ele quisesse. Se isso não a fizesse de boba, ela não sabia o que faria. Houve uma batida suave na porta. Justice saltou com a imagem de Ronan em sua mente, mas era uma mulher parada ali. A primeira impressão de Justice sobre a mulher era que ela era a luz do sol em um rabo de cavalo. Seu cabelo era loiro claro, seus olhos eram cor de âmbar e sua pele estava bronzeada e brilhando de saúde. Ela tinha estatura mediana, alguns centímetros mais baixa que Justice, vestida com jeans desbotado e um suéter amarelo macio. Seu sorriso era amplo e genuíno, e ela cheirava como um dia quente de primavera. — Eu sou Hope, — ela disse. — Joseph disse que você queria me conhecer. Justice não tinha certeza do que fazer. Ela nunca teve uma visita antes. Inferno, ela nunca teve um lar para alguém visitar.

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Ela tentou pensar nos tempos em que fora bem-vinda na casa de alguém, mas isso acontecia tão raramente que ela estava deixando de lado qual era o protocolo. O que alguém faz com um visitante inesperado? Perdida, ela simplesmente deu um passo atrás para dar à outra mulher espaço para entrar. — Eu queria. Obrigada por ter vindo. Hope apareceu, toda a alegria e o rabo de cavalo. — É verdade, não é? Eu posso ver isso na sua aura. — O que é verdade? Que aura? — Justice perguntou. — Joseph disse que você pode ser como eu. Você sabe, Sanguinar, mas sem a maldição. — Que maldição? Justice recuou em choque, mas Hope tomou isso como um convite para entrar e se sentar. — A coisa da luz do sol. Você pode ficar sob a luz do sol, não pode? — Hope se acomodou no sofá com as pernas enroladas debaixo dela, como se fossem amigas se preparando para uma boa e longa conversa. — Sou um pouco adoradora do sol. Justice não tinha ideia do que fazer. Ela sentou também? Ofereceria uma bebida à Hope? Pedir para trançar seu cabelo? Em vez disso, Justice ficou de pé e aproximou-se de Reba, ao lado de uma lâmpada brilhante de cromo. — Por que eu não seria capaz de ficar sob a luz do sol? — Ela perguntou. Hope inclinou a cabeça para o lado e estreitou os olhos. Seu rabo de cavalo balançou como um pêndulo. — Sua aura é familiar. Poucas pessoas têm explosões estelares brilhantes como a sua. Você tem essa guerra maciça entre dever e aceitação. —Ela apertou os olhos. — Não sei dizer quem vencerá. — Uh, — era tudo o que Justice podia pensar em dizer sobre isso. Ela sentiu como se tivesse sido vítima de uma tomografia computadorizada involuntária em exibição pública. Hope acenou com a mão em despedida. — Desculpa. Estou te assustando, não estou? Que tal tentarmos isso novamente. Eu sou Hope, e uma vez, eu era como você.

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Ok, certo. As duas não poderiam ser menos parecidas, a menos que uma delas crescesse um terceiro braço. — Como eu, como? — Eu vim aqui sem lembranças de quem ou o que eu era. Eu tive a sorte de ser atraída por uma mulher que me amava como uma filha, mas sem isso, eu provavelmente teria enlouquecido. Ela provavelmente teria transformado objetos inanimados em amigos ou algo parecido com isso. Hope continuou: — Trabalhei durante anos para recuperar minhas memórias, mas nada funcionou. Até Logan. Ele me ajudou a lembrar quem eu sou. O que eu sou. —Um sorriso furioso aqueceu sua expressão. — Lembro como era solitário não ter passado. Quão frustrante. Eu quero que você saiba que você não está sozinha. Estou aqui por você, não importa quanto tempo leve para você recuperar suas memórias. — Então, você acha que eu posso? — Justice perguntou com muito desespero em sua voz. — Eu recuperei. Talvez eu possa ajudar. Que tal eu contar o que sei e você vê se alguma coisa soa um acorde? — Gostaria disso. Hope sorriu. — Minha mãe é Athanasian. Ela escapou de seu mundo mesmo que fosse proibido e veio à Terra para encontrar um homem para dar um filho. Como ela não demorou muito sem que seu pai idiota percebesse, assim que eu fui concebida, ela foi para um mundo chamado Temprocia, onde o tempo flui muito mais rápido do que aqui ou em Athanasia. Assim que nasci, ela teve que ir para casa, mas eu não poderia ir com ela. Se o pai dela soubesse que eu existia, eu seria amaldiçoada como o resto dos Sanguinar e nunca seria capaz de ficar à luz do sol. — Um arrepio de medo percorreu seu corpo delicado. — Então, ela fez o sacrifício final e me deixou com uma mulher chamada Brenya para me criar. Havia muitas outras garotas lá como eu. — Outras garotas? — Justice sentiu algo em sua mente balançar e mudar, como gelatina sendo sugada por um canudo. Ela tentou entender, mas desapareceu antes que ela tivesse tempo de perceber o que era.

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Hope assentiu. — Pelo menos uma dúzia. Vivíamos numa pequena aldeia na selva. Isso toca uma campainha? Justice esperou que algo mais em seu cérebro se mexesse, mas tudo permaneceu firme. — Não. Desculpa. — Então eu vou continuar, — disse Hope. — Quando eu tinha idade suficiente, fui enviada de volta à Terra para ajudar a combater a guerra contra Synestryn. O único problema era que, se eu soubesse sobre os demônios, eles me procurariam antes que eu pudesse encontrar segurança e aprender a existir neste mundo. Então, para me proteger, minhas memórias foram arrancadas, me deixando protegida até que eu estivesse pronta. — Como você sabia que estava pronta se não conseguia se lembrar de nada? — Eu precisei ter ajuda. Eu nunca teria me lembrado de nada sem Logan. Acho que foi uma salvaguarda intencional que Brenya colocou em nossas memórias, para que ela tivesse certeza de que estávamos com aliados antes que pudéssemos atrair Synestryn para nós. — Nós? Hope assentiu. — Eu acho que você e eu somos iguais. Eu sei que você provavelmente não se lembra de mim. E o fato de eu não me lembrar de você significa que fomos criadas em diferentes aldeias de Temprocia ou que você foi embora antes de eu nascer. Mas quando olho para você, há algo familiar. Reconheço partes de você que nunca vi em alguém que não fosse como eu. Justice sentou-se então. Ela não teve escolha. Depois de uma década se perguntando quem e o que ela era, esse pedacinho de sol estava apenas entregando todas as respostas. Livremente. Era bom demais para ser verdade. Não era? — Eu sei que é muito digerível, — disse Hope. — E até que suas memórias retornem, você provavelmente não sentirá que é real, mas quanto mais eu estou com você, mais certeza eu tenho de que somos iguais. Podemos até ser primas. Justice olhou para sua pele escura, depois o bronzeado beijado pelo sol de Hope. — Acho isso difícil de acreditar. — Nossas mães quase certamente eram irmãs. Quem sabe quem eram nossos pais? Isso explicaria como somos diferentes. — O que faz você dizer que nossas mães eram parentes?

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— Porque as únicas pessoas em Athanaisa que são fortes o suficiente para se rebelar contra o Solarc e viajar através de um portão são seus filhos. Quando seus filhos se acasalam com humanos, nasce um Theronai. Quando suas filhas fazem o mesmo, produz um Sanguinar. Isso foi demais. Não havia apenas outro mundo cheio de pessoas mágicas, aparentemente havia mais de um. Justice estava tendo dificuldades com apenas a Terra e as coisas rastejando em seu rosto. Como diabos ela iria lidar com mais? — Eu sei que é muito, — disse Hope como se estivesse lendo sua mente. — Mas Brenya nos ensinou tudo. Depois de recuperar suas memórias, tenho certeza de que tudo voltará para você. — E como eu faço isso? — Justice perguntou. — Você precisará de ajuda de sua própria espécie. — Você? Hope balançou a cabeça. — Eu não sou habilidosa com esse tipo de coisa. Você precisa de alguém com experiência em alterar memórias. Como Ronan. Ele é ótimo com as crianças. Muito gentil. Assim como seu beijo no pescoço de Justice. O pensamento de Ronan ser gentil com ela fez um delicioso arrepio percorrer sua espinha. Se um roçar dos lábios dele pudesse abalar seu mundo, ela se perguntava o que ele poderia fazer com os dedos ou com a língua. — E há algo mais que pode ajudar. É meio estranho, mas tomar o sangue de Logan parecia ser a chave para mim. — O sangue dele? — Apenas algumas gotas. Eu sei que parece nojento, mas confie em mim. — Um sorriso secreto curvou sua boca. — Não é. Você vai ver. Justice duvidava muito disso. De jeito nenhum ela estava bebendo sangue, mesmo se ela fosse uma Sanguinar da maneira que Hope pensava. Justice nunca precisou disso antes, e ela não precisava agora. O telefone de Hope tocou e, quando ela olhou, seu sorriso se alargou. — Eu preciso ir. O dever me chama. Mas se você tiver alguma dúvida, ligue para mim. Fico feliz em ajudar.

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— Você tem certeza de tudo isso? — Justice perguntou. — Quero dizer, você não usava drogas pesadas quando era jovem ou algo assim? Talvez inventar toda essa merda? Hope riu. — Só vai parecer real. Seja paciente consigo mesma. Não force as memórias. Tudo o que você fará é machucar a cabeça. — Ela se levantou e estendeu a mão. — Foi tão bom conhecer você. Eu estava começando a pensar que era a única de nós que fez isso. —Quantas de nós existem? — Justice perguntou enquanto pegava a mão de Hope para se despedir. O que a outra mulher poderia ter dito se perdeu em uma onda de agonia que gritava pela cabeça de Justice. Ela reconheceu a dor de todos aqueles momentos em que resistiu à compulsão de agir, mas nunca em sua vida havia pulado a coceira de aviso e a queimadura que geralmente vinham primeiro. Foi uma avalanche de agonia, atingindo-a do nada. Ela se dobrou de dor, segurando a cabeça para que não explodisse em uma chuva de ossos e cérebro. Um som áspero e sufocante brotou de sua garganta, quando tudo o que ela queria fazer era implorar que Hope a matasse. Terminasse a dor. Talvez se Justice pudesse alcançar Reba... Havia palavras frenéticas ao longe, muito além de sua capacidade de entender. O rugido da dor lentamente se transformou em um grito, depois um gemido. Quando se foi, Justice estava no chão, se contorcendo e balançando. Ela tentou respirar, mas seu corpo estava muito apertado para deixar entrar ar. Depois do que pareceu uma hora, ela finalmente conseguiu sugar pequenos goles de oxigênio entre os soluços. Ronan entrou pela porta. — O que aconteceu? — Eu não sei, — disse Hope. — Eu mal toquei sua mão e ela apenas se curvou, gritando. Foi isso que aconteceu? Justice não fazia ideia. Ela ainda estava muito abalada para formar um pensamento coerente. Tudo o que sabia era que as Destinos estavam exigindo, e se ela não começasse a se mover, elas a matariam por desobedecer. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Sul. Ela tinha que ir para o sul. Justice tentou puxar seu corpo devastado nessa direção, mas ela não tinha forças. Ela não conseguia nem se sentar. — Eu queria ajudá-la, — disse Hope, — mas tinha medo de tocá-la novamente. Ronan agachou-se ao lado dela e a puxou contra seu corpo. Ele não perguntou se ela estava bem, ele simplesmente deslizou dentro de sua mente para ver por si mesmo. Ela podia senti-lo ali, como um ponto quente de luz pairando logo atrás dos olhos. Em todo lugar que o brilho tocava, a dor dela desaparecia, como se ele a tivesse queimado com sua luz potente. Ela se inclinou para ele e o deixou fazer o que queria. Ela não tinha ar ou energia para protestar. Seu corpo sólido era agradável contra ela. Reconfortante. Ela nunca foi consolada por alguém antes, e era uma sensação estranhamente agradável, com a qual ela poderia se acostumar rapidamente. Ele estava se movendo dentro de seus pensamentos. Ela não tinha certeza de como sabia disso, porque ele parecia parado. Aquele brilho quente nunca pareceu mudar de posição, mas ele viajou para diferentes partes dela da mesma forma. Depois de alguns momentos, ela o sentiu escapar, deixando-a fria e sozinha. Seu corpo ainda estava segurando o dela, mas o resto dele se foi. Ela estava completamente sozinha. — Acho que sei o que aconteceu, — ele disse, ofegante. Estar dentro dela era duro com ele? O pensamento a incomodou mais do que deveria. Deveria ter ficado contente que ele não pudesse simplesmente passar por sua mente, sem querer, sem algum tipo de consequência. Deus sabia que ela não podia infligir nada a ele no estado em que estava. — O quê? — Hope perguntou, o que foi bom, porque Justice ainda não tinha capacidade de falar. — As paredes de Dabry são protegidas contra todos os tipos de magia. Senti a presença dentro dela tentando alcançá-la, mas não consegui passar. — Então o que foi isso?

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— Quando você a tocou, isso de alguma forma fortaleceu a conexão com quem ou o que quer que a esteja usando. Eu acho que eles foram capazes de alcançá-la através de você por uma fração de segundo. — Lembre-me de nunca mais tocar em você novamente, — Justice finalmente conseguiu. Hope colocou as mãos debaixo dos braços e deu um passo para trás. O horror pintou seu lindo rosto. — Eu não fazia ideia. Eu sinto muito. Agora que a tempestade na cabeça de Justice estava diminuindo, ela foi capaz de expressar o eco do que as Destinos queriam dela. — Eu preciso ir para o sul, — ela disse, com certeza que era isso que era exigido dela. — E deixar as paredes que estão impedindo essa presença de controlar você? — Ronan perguntou. — Não posso ficar aqui para sempre. Quanto mais esperar para obedecer, pior será quando eu partir. — Ela engoliu em seco com o pensamento. — Não consigo imaginar que seja muito pior do que isso. Isso quase me matou. Mal posso esperar e arriscar. Ele balançou sua cabeça. — Eu não gosto disso. Não sabemos quem é a presença convincente. Justice acenou para Hope e perguntou a Ronan: — Você confia nela? — Sim, — foi sua resposta imediata. — Se as Destinos puderam usar Hope como um canal para me atingir dentro dessas paredes, então elas devem ser alguém que ela conhece, certo? — Talvez Brenya, — disse Hope. — Ela certamente é poderosa o suficiente para obrigar alguém a se distanciar. Ronan não parecia convencido. — Mesmo que fosse esse o caso, o que não tenho certeza, ela não está em condições de viajar. — Eu dirigi em uma forma muito pior do que isso antes. Ricardo está nas minhas costas. Estou bem. — Ela lutou para ficar de pé, mas o jeito que ela balançava a fez pensar se sua afirmação era verdadeira. — Você não está bem. Eu continuo dizendo que você ainda está se curando. Preciso remover a magia para impedir que você sinta os efeitos do dano que sofreu? — Não, obrigada. Já tenho problemas suficientes.

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Ela precisava reunir seus poucos pertences e jogá-los de volta na bolsa de noite, mas ainda não conseguia se levantar sem se apoiar em Ronan. Quando ele a colocou no sofá, ela não teve escolha a não ser ir até lá. Tanta coisa para poder dirigir. — Precisamos desacelerar e descobrir o que está acontecendo, — disse Ronan. — Estou ferrada, — disse Justice. — É isso que está acontecendo. É o que está sempre acontecendo. Ele balançou sua cabeça. — Você está segura aqui. Você deve ficar até que tenhamos uma ideia melhor do que estamos enfrentando. — Eu posso estar segura, mas e alguém mais? — Ela perguntou. — Eu não entendo. — Se eu não estou fazendo o que é exigido de mim, quem vai sofrer? Haverá outra garotinha como Pepper que será vendida pelo maior lance? Ou outro homem acorrentado e faminto no porão que não comerá o lanche da meia-noite? O rosto bonito de Ronan escureceu. — Você não é responsável por salvar a todos. — Talvez não, mas você não está feliz por eu ter salvado você? Sua boca torceu como se ele provasse algo vil, e ele soltou uma maldição. — Você acha que é essa compulsão? — Eu não tenho ideia, — ela respondeu honestamente. — Eu raramente faço até que esteja bem na minha frente. — Ela tem razão, Ronan, — disse Hope. — Eu sei que é um risco, mas que escolha temos? Não senti nenhum mal quando a toquei. Não há nada ruim em sua aura. Acho que temos que acreditar que quem está enviando essas compulsões está tentando ajudar. — Ajudar todos, menos ela, pelo menos, — disse Ronan. — Não é sua escolha, — disse Justice. — Se eu não sou prisioneira aqui, posso sair quando quiser. Posso não gostar da mão que recebi, mas cheguei a um acordo e aprendi que é sempre melhor obedecer. Hope franziu o cenho em pensamento. — Eu conhecia alguém que costumava dizer isso o tempo todo, alguém na Temprocia. — Ela balançou a cabeça. — Não me lembro de um nome, mas lembro de uma mulher que veio para ter um filho

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quando eu era pequena. Foi a terceira vez que ela esteve lá. Lembro-me porque era muito importante alguém ser forte o suficiente para passar por três rodadas de viagens entre mundos. Todo mundo estava admirado. Ronan virou-se para Hope. — Você tem certeza? O rabo de cavalo brilhante e solto balançou. — Sim. Brenya também era grande em obediência. Todos éramos crianças muito educadas. Se não... Se não o quê? — Justice perguntou. —Se não seríamos comidas por alguma coisa. Era um lugar selvagem em que crescemos. Muitos predadores, sem mencionar um rei louco que nos mataria à vista se soubesse que existíamos. Ronan olhou para Justice. — Eu não quero que você vá embora, mas se você for, eu vou com você. — E o sol? Vai demorar algumas horas. — Vamos pegar minha van. Eu dormirei na traseira. As janelas são protegidas para me proteger da luz. —Eu não tenho ideia do que vou entrar, — ela disse. — Eu sei. Por isso não quero que você vá sozinha. Ela quase recusou a ajuda dele, mas se conteve. Não porque ela estava com medo, ou porque ela odiava a ideia dele se preocupar com ela. Não, ela o deixaria ir porque, quando ele estava por perto, se sentia melhor, como se não estivesse completamente sozinha. Ela quase se perguntou se estar com ele era como ser feliz. Ela nunca foi feliz antes, então não tinha muita certeza. As pessoas falavam muito sobre isso, e ela sempre esperava experimentar a emoção ilusória algum dia. — Tudo bem, — ela disse. — Embale o que você precisa por alguns dias e encontre-me na van. — Alguma ideia para onde estamos indo ou o que vamos fazer? — Ele perguntou. — Nem uma pista, — ela disse, e acrescentou. — Bem-vindo ao meu mundo.

*** O mundo de Justice era um lugar fodido. Eles estavam na estrada por menos de três horas quando ela roubou um caminhão de uma loja de artigos esportivos. Ela deixou o motorista amarrado a

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alguns metros da estrada e ligou para um Uber buscá-lo em uma hora. Então ela deixou uma nota colada em um poste de sinalização, dizendo ao motorista onde encontrá-lo. Ela arrancou todo o equipamento de rastreamento a bordo e depois partiu com Ronan atrás dela em sua van. Pouco antes do amanhecer, ela parou o caminhão em um prédio que parecia ter sido usado como hangar de aeronaves. Não havia outros edifícios por perto. A estrutura de metal era como um cogumelo gigante que surgira aleatoriamente no meio do campo. Ele a seguiu para dentro do prédio e deixou os faróis acesos enquanto ela acendia as luzes industriais. Não havia aeronaves dentro, mas o espaço estava alinhado com fileiras de estantes pesadas de armazém. Paletes de caixas embrulhadas em estiramento estavam empilhadas quase até o teto. A maioria deles mantinha alimentos estáveis nas prateleiras, como biscoitos e enlatados. Uma fila inteira estava cheia de nada além de água engarrafada e bebidas energética. Outra seção que ele reconheceu como suprimentos médicos. O resto das caixas era um mistério. Ela desligou a plataforma e subiu em uma empilhadeira, depois começou a descarregar a parte traseira do caminhão e empilhar os paletes nas últimas prateleiras vazias restantes. Alguns dos paletes descarregados foram recolocados dentro do trailer, seguindo uma lógica que ele não entendeu. Em seguida, rasgou as caixas até encontrar uma bolsa de ginástica e, em seguida, encho-a com uma variedade de objetos aparentemente aleatórios: uma garrafa de água de metal com tampa de rosca, uma pequena faca de bolso, uma luz LED piscante que uma pessoa usaria enquanto faz jogging ou andar de bicicleta à noite e alguns outros itens que ele não reconheceu. Enquanto procurava nas caixas, Ronan passeava pelo prédio, encarando abertamente sua coleção. Ela não tentou detê-lo, então o que quer que estivesse acontecendo aqui não era segredo, pelo menos não dele. Quando ela finalmente terminou de descarregar seus bens roubados, o sol estava acima do horizonte e Ronan foi forçado a se abrigar na traseira de sua van. O armazém não tinha janelas, mas ele não estava arriscando que um rebite ou um buraco de ferrugem deixasse entrar o único raio de sol que atingiria sua pele e

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destruiria tudo o que ela trabalhara para coletar. E os dois. Ela o encontrou na traseira da van, subiu e entregou a ele uma das garrafas de água que ela carregava. — Onde está sua bolsa de pilhagem? — Ele perguntou. — Escondida no caminhão. — Alguma ideia do porquê? — Não. Isso foi o que ele assumiu. — O que é este lugar? — Ele perguntou. — Estoque. — Para quê? Ela encolheu os ombros. — O apocalipse zumbi, eu acho. Eu realmente não tenho ideia. Eu recolho o que me disseram para reunir. — O que há com os artigos esportivos? Mais uma vez, ela deu de ombros. — Talvez eu precise de alguns tapetes de ioga e bolas de tênis para matar os zumbis. Ela era tão casual com a coisa toda, como se fosse completamente normal ter um hangar aleatório cheio de suprimentos. Talvez para ela isso fosse normal. Ele deve ter pensado com o rosto porque ela deu de ombros diante da pergunta sem resposta. — Depois de um tempo, você se acostuma a atos aleatórios de caos e para de perguntar o porquê. É mais fácil seguir o fluxo. Ele não podia nem imaginar. — É aqui que você mora? — Ele perguntou. — Eu não moro em lugar nenhum. Tenho roupas, dinheiro, armas e munição armazenadas aqui, mas guardo essas coisas em todos os meus armazéns. Ele a encarou enquanto ajustava sua estimativa de quão louco o mundo dela era. — Quantos desses lugares você tem? — Apenas três. — Claro. Porque quatro seria ridículo. Ela deu um meio sorriso, mas mesmo aquele sorriso quase o derrubou. Se ela sorrisse para ele, ele não sobreviveria. Ela seria linda demais para olhar. — Você está tirando sarro de mim, não é? — Ela perguntou.

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O cansaço o puxou, mas ele lutou para que ele pudesse ficar com ela assim por mais alguns minutos. Ele teria que dormir logo, mas ainda não. — Talvez um pouco, — ele disse. — Você sabe que sua acumulação não é normal, certo? — Eu sei. Mas também sei que ninguém mais está gritando na minha cabeça. Vou tomar esse silêncio sobre o normal em qualquer dia da semana. — Quando virá a próxima compulsão? — Quem sabe. Geralmente, não leva muito tempo. Alguns minutos. Algumas horas. Não é à toa que ela nunca esteve em um lugar por muito tempo. — O que você fará com o caminhão? — Adicionar à minha coleção. Eu tenho mais dois lá fora. — Você está preocupado com a polícia encontrá-los lá fora? Ela balançou a cabeça. — Esse é o problema de ser alimentado por poderes de outro mundo. Eles sempre parecem saber quando os policiais estão chegando e me obrigam a esconder as mercadorias. — Conveniente. — Pela ocasião. — Ela terminou a água e recostou-se na parede da van. Ela estava perto o suficiente para tocar, mas ele não o fez. Ele estava contente em têla aqui e sabendo que ela estava segura. Se ele a tocasse, ela poderia recuar, e ele não queria isso. — Pensei muito em você quando estava procurando por você, — ele disse. — Imaginei o que você fazia e onde morava. — Você adivinhou certo? — Nem mesmo perto. — Suas pálpebras estavam pesadas, mas ele não estava pronto para parar de olhá-la ainda. — Eu me perguntei por que você continuou fugindo de mim. Ela resmungou. — Porque você me assustou. — Diz a mulher com armas de fogo suficientes para abastecer um pequeno exército. — Se eu quisesse te matar, tudo que eu tinha que fazer era não dar meu sangue naquela noite.

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Ele ainda conseguia se lembrar do gosto dela, quão surpreendentemente doce e potente ela era. Não havia sangue na terra que fosse tão intoxicante quanto o dela, tão viciante. Mesmo pensando nisso, ele ficou com água na boca. Seus dedos percorreram as cicatrizes dobradas, como se lembrassem. Ele nunca poderia esquecer. Eles formaram um vínculo de sangue naquela noite, e ele duvidou que algum dia conhecesse alguém assim. Suas pálpebras caíram. Seu corpo começou a enfraquecer quando o sol nasceu. — Eu preciso descansar agora, — ele disse. — Me prometa que não vai embora. — Não posso prometer nada, mas vou dizer que não tenho intenção de sair até precisar. Estou meio que exausta. Se as Destinos me deixarem, vou dormir algumas horas. Ele se esticou no colchão estreito e bateu no espaço ao lado dele em convite. — Há espaço para nós dois. E se você estiver preocupada comigo tateando enquanto dorme, ficarei muito letárgico. Você está segura comigo. Ela levantou o olhar da mão dele para o rosto e disse: — De alguma forma eu duvido disso. — Prometi que não machucaria você de novo. Você sabe que não posso quebrar meu voto. — Não é você se alimentando de mim que me preocupa. — Então o que é? Ela deitou-se ao lado dele, dando as costas. Com uma voz fraca, ele não teria ouvido se não fosse por seus sentidos aguçados, ela disse: — O que eu posso ter que fazer com você.

*** Maura andava de um lado para o outro na câmara, desejando que o frio nos membros esquentasse, um frio que não tinha nada a ver com a temperatura nas cavernas que ela habitava. O quarto era um buraco úmido e frio no chão, com paredes constantemente molhadas pelas lágrimas da terra. Pequenas poças se formaram na base das paredes, e nenhuma quantidade de tapetes ou cortinas parecia aquecer o espaço.

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Ela sentia falta de estar acima do solo. Ela sentia falta de estar com criaturas que passavam ao sol e comiam algo diferente de carne e sangue crus. Mas acima de tudo, ela sentia falta da irmã, Sibyl. Elas estavam separadas há tanto tempo, um estado que não era natural para as duas. Ela era boa, gentil e doce, onde Maura não era. Sibyl estava ansiosa por agradar e servir a causa das Sentinelas, protegendo os humanos e destruindo Synestryn. Maura estava mais interessada em se rebelar contra a mãe, que a aprisionara no corpo de uma criança por medo e egoísmo. Mas agora Gilda e Angus estavam mortos. Maura os matara. Isso não trouxe satisfação. Isso não trouxe paz. Justo ou não, a morte dos seus pais trouxera outra mancha negra e vazia em sua alma. Ela queria saber o que ia acontecer com sua irmã. Ela ansiava por agarrar o poder que compartilhavam, revezando-se em contar o futuro. Ela podia sentir sua presença como uma bola vibrando no centro de sua mente. Tudo o que ela precisava fazer era alcançá-la e forçá-la a cumprir sua ordem. Maura não se atreveria. Algo sombrio e mortal estava chegando para os Sentinelas, e se sua irmã visse isso acontecer, a criatura que governava esse território saberia que Maura era uma traidora. Vazel era tão poderoso quanto feio. Ele se adiantou para tomar o lugar da bela rainha Synestryn que governara antes dele. Ela estava morta agora, mas seu filho continuava vivo. Quando tivesse idade suficiente, assumiria o trono de sua mãe, um trono que Vazel estava mantendo quente para ele. Ele avisara Maura que sua proteção vinha com cordas. Ela poderia ser uma Theronai com poderes próprios, mas em um mundo cheio de feras que ansiavam nada mais que seu sangue, ela precisava mais do que a capacidade de ver o futuro quando era sua vez de brincar com o dom que ela e Sibyl compartilhavam. Até a capacidade de Maura de matar com um único toque fez pouco bem contra monstros sem capacidade de raciocinar. As coisas que espreitavam aqui em baixo eram muitas vezes pouco mais do que animais com sede de sangue. Eles não entendiam o que ela podia fazer e, uma vez que ela os mostrasse, seria tarde demais para salvá-la de se tornar um banquete mortal. Ela precisava de Vazel e dessa câmara de pedra para mantê-la viva. Pelo menos por enquanto.

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Vazel entrou em seu quarto sem sequer anunciar sua presença. Ele era uma criatura grande, que era apenas vagamente humanoide. Ele tinha uma pele cinza, quase reptiliana, com manchas de pele sarnentas aqui e ali. Sua cabeça era careca e bulbosa, quase grande demais para o seu corpo. Suas articulações estavam inchadas e nodosas com carne extra que cedia quando ele estava cansado. Ele tinha lábios finos que exibiam dentes pontudos onde eles simplesmente não estavam faltando. Toda vez que ele falava, saliva voava, então ela aprendeu a manter distância. E se o espeto voador não a tivesse ensinado isso, a tanga suja e mal existente que ele usava teria. Havia algumas coisas que uma dama nunca podia ver. Os órgãos genitais de Vazel estavam firmemente nessa categoria. Atrás do demônio grotesco, estava um garoto que parecia ter três ou quatro anos, mas havia nascido apenas algumas semanas atrás. Vazel chamava Mordecai de filho, mas a única coisa que eles tinham em comum era a tanga. Mordecai era uma criança bonita, com cabelos pretos e grossos, e olhos pretos translúcidos. Os boatos diziam que ele era filho da rainha morta e de um Slayer, mas Maura não fazia ideia. Ela também não se importava. Ela não se atreveu a fazer apegos aqui embaixo, quando havia tantas criaturas que a queriam morta, e ainda mais ela poderia matar com um toque. Ela realmente não queria que Mordecai fosse sua próxima vítima. Ela ergueu os ombros e canalizou a melhor expressão desapontada de sua mãe. — Onde estão suas maneiras, Vazel? Você não sabe que é rude entrar no quarto de uma mulher sem aviso prévio? — Você pensa que é uma dama? — Vazel perguntou em um spray de saliva. Ela ignorou o insulto e manteve sua postura altiva. — Por que você está aqui? Vazel passou um braço muito longo ao redor dos ombros esbeltos do garoto e o puxou para perto. — Meu filho precisa sair para o sol. Você vai acompanhá-lo. — Por quê? — Porque você pode ir ao sol e eu não. E porque eu exijo. — Não, por que ele precisa se expor ao sol? O demônio compartilhou um olhar com a criança que chamava de filho, mas claramente não era. Nem disse uma palavra, mas algum tipo de comunicação parecia ter ocorrido.

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— Está na hora. Vá agora — disse Vazel. Ela não tinha nada melhor para fazer do que andar e se preocupar e tentar não brincar com o brinquedo zumbindo no meio de sua mente. — Bem. A criança estendeu a mão para ela. Maura estava usando luvas, mas não se arriscou a tocar no garoto. Ela realmente não queria vê-lo morrer, se contorcendo de dor. Vazel, por outro lado... — Você nunca deve tocá-la — ele disse a Mordecai com paciência gentil. — Ela é imunda. Perigosa. Imunda? Pelo menos ela trocava de roupa regularmente. Vazel ainda estava usando a mesma tanga suja que ele usava há dias. Talvez mais. Eles abriram caminho através do labirinto complicado de túneis e aberturas na pedra. O caminho levava gradualmente para cima até chegarem a um pequeno buraco na encosta de uma colina rochosa. A luz do sol entrava de fora. Vazel se afastou da luz e empurrou o garoto para frente. — Se você deixar algum mal acontecer a ele, eu vou comer você, começando com esses olhos bonitos. Maura ignorou sua ameaça, entrou na luz e seguiu o garoto para fora. O ar estava frio, mas fresco e seco. O céu estava limpo, permitindo que a luz do sol caísse em sua pele. Era bom. Limpo. Às vezes, ela esquecia o quanto sentia falta do sol. Ela se afastou alguns metros da abertura úmida no ninho de demônios e sentou-se em uma pedra perto de um terreno gramado. Mardecai ficou parado na clareira, virou o rosto para o sol, abriu bem os braços gordinhos e fechou os olhos. Felicidade pura derramou dele, como se estivesse morrendo de fome e finalmente estivesse sendo alimentado com uma refeição deliciosa. Ele não disse uma palavra, mas não precisava. Havia algo de outro mundo em seu silêncio. — Você pode falar? — Ela perguntou. Ele abriu um olho e olhou para ela antes de voltar a se bronzear. — Eu acho que é um não.

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Por outro lado, ele tinha apenas algumas semanas de idade. Talvez sua voz precisasse de tempo para alcançar seu corpo que envelhecia rapidamente. — Eu não confiaria em Vazel se fosse você, — ela disse. — Eu sei que ele age muito bem com você, mas ele não é um bom... — Homem? Criatura? Demônio? — …pai. Tudo o que ele se importa é ele próprio. Mardecai não usava roupas para impedir o frio de seu corpo minúsculo. A tira de tecido em torno de seus quadris era pouco mais do que uma bandeira suja balançando ao vento. Ele abaixou o queixo e olhou para ela novamente, mas desta vez, seus olhos não eram mais daquele preto translúcido, mas de um marrom dourado rico. Enquanto ela observava, plumas de preto rodopiavam nas profundezas de seu olhar, escondendo à sombra que seus cílios grossos criavam. Ele andou para ela descalço, mais rápido e mais ágil do que ele tinha o direito de ser. Ela meio que esperava que ele a revidasse pelo insulto ao pai, o que é algo que ele poderia ter aprendido com o demônio em mais de uma ocasião. Vazel governava seu pequeno império com a violência e a ameaça de mais. Antes que ela pudesse deslizar para longe, Mordecai tocou sua bochecha. Imagens inundaram sua mente de Vazel. Ele estava sorrindo, seus lábios finos esticados grotescamente sobre dentes pontudos. Ele o embalou em seus braços. Ela olhou para ele, através de olhos que não eram dela, enquanto ele cantava uma canção de ninar desafinada e o embalava para dormir. Essas coisas que ela estava vendo eram as memórias de Mordecai. De alguma forma, ele estava compartilhando com ela. Ele estava tentando provar que ela estava errada, que Vazel não era o monstro que ela sabia que ele era? Ou ele estava tentando fazê-la mudar de ideia? Maura se afastou da pedra e caiu com força no quadril. — Não me toque, — ela o avisou. — Nunca me toque. Mardecai não parecia ter medo. Na verdade, ele não mostrou nenhum sinal de emoção em seu rostinho. Estava tão quieto e calmo como sempre fora. Ocorreu que nunca o vira sorrir. Nunca o ouvi chorar. Que tipo de criança era essa? Então, novamente, que tipo de criança poderia fazer você ver o que eles queriam com um simples toque?

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Maura levantou-se e vestiu uma camada protetora de irritação altiva. — Toque-me novamente e eu vou tirar essas luvas e mostrar por que seu pai o alertou para ficar longe. Mardecai simplesmente se afastou e voltou a absorver a luz do sol. Ela pensou brevemente em sair. Ela poderia sair e encontrar outro lar. Uma caverna era tão boa quanto a outra. Sua reputação entre os Synestryn ganharia seu abrigo quase em qualquer lugar. E se isso não acontecesse, tudo o que ela precisava fazer era exibir um pouco, matar alguns demônios e fazer uma demonstração disso. Mas o que isso a conquistaria? Se ela abandonasse Mordecai, Vazel a caçaria. Eventualmente, ele a encontraria e cumpriria sua promessa de comer seus olhos primeiro. Ela poderia levar Mordecai com ela. Ele seria um bom refém. Não apenas uma ameaça para ele manter Vazel longe, a criança tinha que ser útil para alguém. Talvez ela pudesse ir para casa, para Dabyr. Avisá-los do perigo que está acelerando. Talvez ela pudesse ver Sibyl novamente e abraçá-la mais uma vez antes do fim. Maura não percebeu que estava chorando até sentir o olhar de Mordecai nela. Uma pitada de simpatia brilhou em seus olhos dourados, e foi o primeiro lampejo de emoção que ela já viu nele. Talvez ele fosse mais demônio do que ela suspeitava. — Você gostaria de fazer uma viagem comigo? — Ela perguntou. — Ir a algum lugar quente e ensolarado? Dabyr não estava longe. Eles poderiam chegar lá antes do anoitecer. Ele estaria seguro lá, mesmo que ela não estivesse. Nenhum Sentinela faria mal a um menino pequeno que parecia humano. Foi por isso que os Synestryn começaram a criar filhotes que pareciam humanos. Eles sabiam que seu inimigo teria problemas para cortar as cabeças das criaturas que pareciam aquelas que eles juravam proteger. E enquanto a última geração de demônios tinha rostos humanos, muito poucos deles sobreviveram o tempo suficiente para se reproduzir. O melhor que conseguiram foram as massas de criaturas de pele cinza com muita lealdade, mas não muitos cérebros. Mas o que faltavam em inteligência, mais do que compensavam em números.

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Essas criaturas seriam a queda de Dabyr e de todas as pessoas que protegiam. A menos que ela parasse. Mordecai deu as costas, rejeitando a oferta dela de levá-lo para longe deste lugar, o único lar que ele conhecera em sua breve vida. Maura sabia que o ataque a Dabyr estava chegando em breve. Vazel não contou muito, mas ela ouviu coisas. Coisas conhecidas, coisas que ela viu no futuro, mas nunca compartilhou com seu protetor. Ela saberia muito mais se permitisse vislumbrar o futuro, mas não se permitiu. Se Maura passasse o poder da previsão para sua irmã, Sibyl veria o que estava por vir. Ela veria o quão longe Maura havia caído. Não, era melhor segurar o poder e esconder de Sibyl o que estava por vir. Pelo menos assim, ela morreria sem conhecer o monstro que Maura se tornara.

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Capítulo 6 Justice não dormiu. Ela estava cansada. Seu corpo estava pesado, como se ela tivesse usado a última de suas reservas. Ainda assim, o sono a evitou. Ela conheceu pessoas que sabiam o que ela era, pessoas com respostas. Era possível que eles pudessem ajudar a libertá-la. Tudo o que ela precisava fazer era descansar e ficar forte o suficiente para Ronan tentar. Sua mente não cooperaria. Por mais cansada que estivesse, sua cabeça continuava girando por tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Ela não estava mais sozinha, pelo menos não agora. O corpo de Ronan estava atrás do dela, pressionando contra ela em alguns pontos. Seu sono era profundo, antinatural. Ele mal respirava. Depois de uma hora esperando que o sono a encontrasse, ela finalmente se virou e olhou para ele para se certificar de que ele estava bem. Sua pele estava pálida, quase empoeirada. Com os olhos fechados, ele parecia mais uma estátua de mármore de que um homem de que carne e sangue. Havia uma perfeição artística em seus traços, como se tivessem sido esculpidos por uma mão de mestre. Suas sobrancelhas e cabelos escuros davam mais vida do que se fosse todo de pedra, mas mesmo os fios pareciam estranhamente imóveis. Um braço estava enrolado sob a cabeça para servir de travesseiro. A outra mão estava enfiada sob as costelas, como se quisesse afastar os dedos. Seu peito se expandiu quando ele respirou, mas o ato foi tão lento que era quase difícil de ver. Até o pulso que pulsava em seu pescoço estava espaçado, de modo que ela prendeu a respiração esperando a próxima prova fugaz da vida. Ele era bonito demais para o seu próprio bem. Todos os Sanguinar que ela conheceu eram. Todos eles possuíam uma perfeição sobrenatural que os tornava intocáveis. Justice se perguntou por que, se ela era o que eles pensavam que era, ela não tinha a mesma característica. Ela era bonita o suficiente, mas nem de longe o nível de Ronan ou Hope. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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A necessidade de tocá-lo a atravessou. Ele seria tão suave quanto parecia? Tão duro e frio quanto a estátua de mármore que ele parecia? Com cuidado e delicadeza, ela deslizou a ponta de um dedo ao longo de sua bochecha. Ele era macio, sua carne firme, mas não dura. Sua pele era fria ao toque, mas não gelada. A necessidade de se aconchegar e aquecê-lo mais uma vez encheu seus pensamentos. Como era viver sem o calor do sol? Ela sempre aproveitou seu tempo no conversível, dirigindo com a capota para baixo durante o verão, o vento nos cabelos e o sol tornando a pele mais escura. Aquela bola de fogo era como um olho sem piscar, olhando-a sem julgamento ou culpa. Ele brilhou no céu, fazendo seu trabalho, do jeito que ela rasgava o país, fazendo o dela. Nenhum deles teve escolha, eles foram para onde os poderes que são exigidos vão. Sua trajetória impulsionada pela Destino, a dele pela física. Ela se perguntou se o sol odiava o trabalho dele tanto quanto odiava o dela. Ronan se mexeu um pouco enquanto dormia. Era mais uma respiração profunda do que um movimento, mas a mão dela estava no peito dele agora, sem permissão, e ela sentia tudo a mesma coisa. Ele tinha vários cobertores em seu apartamento, indicando que muitas vezes ficava frio. Ele estava com frio agora? O calor da van havia desaparecido e os aquecedores do armazém estavam funcionando o suficiente para impedir que a água congelasse. Até ela estava um pouco fria. Ela se aproximou e pressionou-se firmemente contra ele. Então ela prendeu a respiração, esperando que ele reagisse. Ele não pareceu notar nas profundezas de seu sono, o que a deixou ainda mais ousada. Ela colocou os braços em volta do corpo magro e aconchegou a cabeça no peito dele. Seu pulso era lento, mas reconfortante. A pressão dura de seus músculos contra os contornos mais suaves era agradável. Ela não tinha certeza do porquê, mas gostava da sensação de toda aquela carne masculina pressionada contra a dela. Uma bobina de necessidade se desenrolou em sua barriga, lenta e lânguida. Esticou-se como se estivesse acordando de um longo sono e respirou fundo.

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O calor começou a sair dela, acariciando todos os nervos. Sua pele parecia zumbir onde quer que tocasse a dele, e a sensação era tão viciante que ela se viu empurrando a camisa dele para que ela pudesse sentir mais dele. Havia coisas que um homem poderia fazer com uma mulher para fazê-la desmaiar. Justice sabia disso, mesmo que nunca tivesse sentido. Ela sabia sobre sexo e até assistira pornô online por pura curiosidade. Aqueles corpos nus posando para a câmera não fizeram muito por ela, mas ela finalmente viu neles o que era querer. Ela sabia por que as pessoas faziam as coisas mais estúpidas na esperança de transar. O sexo era uma compulsão própria, com demandas incoerentes que levavam as pessoas a fazer coisas que não entendiam para um resultado que não podiam prever. Por mais que Justice pudesse querer sentir para onde todo esse calor cintilante a levaria, ela tinha forças suficientes puxando-a para adicionar mais uma. Ela afastou as mãos e as fechou em punhos para não tocá-lo. Agora não era hora de ceder ao seu fascínio por Ronan. E era só isso. Ela não podia permitir nada mais do que isso, tanto por ele quanto por ela. Ela deve ter adormecido, porque quando ela abriu os olhos, ela estava rígida e precisava fazer xixi. Não havia luz natural aqui para dizer a ela há quanto tempo ela dormiu, mas ela ficou agradecida por alguns minutos. Ela deslizou lentamente do colchão para não perturbar Ronan, depois passou pelas cortinas fechadas para sair pela frente. O relógio da van dizia que ela tinha ficado seis horas sólidas, o que era mais do que ela teve uma vez no ano passado. Depois de lavar a louça, ela entrou no pequeno escritório que mantinha aqui, ligou o notebook e verificou os locais habituais. Vários dos negociantes do mercado negro que ela conhecia estavam oferecendo bugigangas interessantes, mas enquanto examinava as listas, apenas um item atraía o interesse das Destinos. Ela fez uma oferta agressiva e depois mudou para um site diferente para verificar quais ofertas de emprego haviam chegado. Havia apenas três, e as Destinos não acharam nenhuma delas interessante. Ela tinha muito dinheiro, os únicos empregos que ela tinha agora eram os exigidos. Quanto menos ela trabalhasse com os babacas, melhor.

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Ela checou seu e-mail, mas como não tinha amigos nem vida além de seu trabalho, isso não demorou muito. Já era hora do almoço, então ela ligou o micro-ondas para uma refeição congelada e se forçou a comer para manter suas forças. Ronan disse que ela estava se curando, mas ela não estava com vontade. Ela se sentia bem desde que dormiu. Bom, na verdade, especialmente considerando que ela tomou duas rodadas apenas ontem. Ele era útil para ter por perto. Não que ela fosse se acostumar com isso. Sem mais nada a fazer para matar as horas até a hora de se mudar novamente, ela decidiu sair e pegar uma rara dose de ar fresco. O vento estava frio no inverno, mas o céu estava limpo e o sol estava quente contra sua pele. Ela virou o rosto para o céu e simplesmente respirou. Enquanto os minutos passavam, ela se aqueceu e sentiu um tipo estranho de plenitude logo abaixo da pele. Era agradável. Quase um tipo de satisfação. Ela lamentou por Ronan porque ele nunca podia sentir o que ela fazia agora. Quando o sol mergulhou por baixo das copas das árvores, ela voltou para dentro e começou sua busca por Chester Gale. Ela geralmente não matava por escolha, mas para ele, ela abriria uma exceção. Comprar e vender meninas simplesmente não podia ficar impune. Ela estava no notebook com os dedos sobre as teclas quando a coceira começou. Ela sabia que esse descanso era bom demais para ser verdade, mas o pouco de esperança que conseguiu reunir foi esmagado sob o calcanhar exigente das Destinos. Estava na hora de obedecer. — Foda-se, — ela sussurrou. Uma lágrima escorreu por sua bochecha, mas ela se convenceu de que era espremida pelo ar seco do inverno, em vez de uma fraca demonstração de frustração. Justice não demonstrava fraqueza. Ela não podia. — Onde agora? — Ela exigiu e esperou que a compulsão se solidificasse. As Destinos a levaram ao armazém. Ela caminhou pelos corredores até encontrar o que estava procurando.

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Empilhados ordenadamente sob a prateleira de paletes na última fila, havia estantes de metal resistentes, o tipo usado para armazenar objetos pesados em uma garagem ou oficina. Cada um tinha cinco prateleiras de um metro e oitenta de largura por dois de profundidade. Algumas semanas atrás, ela fora obrigada a comprar todas as grandes lojas em estoque, embora não tivesse ideia do porquê. Seguindo o forte desejo das Destinos, ela usou sua empilhadeira para mover as prateleiras para a parte de trás do caminhão que roubara. Uma vez lá, ela começou a montar as prateleiras. Teria sido mais fácil ajudar, mas Ronan ainda estava lá fora até o sol se pôr e ela estar sozinha. Depois de lutar com a primeira, ela descobriu como usar a pesada caixa de papelão ondulado para sustentar as peças até poder montá-las. Algumas horas depois, ela tinha todas as prateleiras montadas e presas às paredes do caminhão caixa com parafusos pesados. Ela olhou seu trabalho e esperou que as Destino reclamassem. Duas fileiras de estantes alinhavam-se em cada parede comprida do caminhão caixa. Ela não sabia o que iria acontecer com eles, mas tinha certeza de que as Destinos diriam a ela quando quisessem. Com a sorte, seria forçada a roubar cobras vivas e venenosas ou urânio amarelo. Quando ficou claro que ela havia feito seu trabalho para a satisfação dos poderes que a controlavam, ela decidiu lavar o suor e a sujeira de seu trabalho. Justice tomou banho e vestiu um jeans azul velho e uma camisa de flanela macia em xadrez verde suave que combinava perfeitamente com seus olhos. Ela colocou Reba na parte de trás da calça jeans e saiu do banheiro minúsculo, direto nos braços de Ronan, colidindo com força. Ela ficou chocada ao encontrá-lo acordado antes do pôr do sol, mas ainda mais chocada pela forma como seu corpo se iluminou e se aqueceu em todos os lugares que ele tocou. Os dedos longos dele eram fortes faixas ao redor dos braços dela. Seu peito roçou seus mamilos e os fez enrugar e alongar para se aproximar dele. Sua coxa deslizou perfeitamente entre as dela, enfraquecendo os joelhos de uma maneira que nunca havia sentido antes, pelo menos não sem lesões corporais graves envolvidas.

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Seu cérebro mergulhou dentro de seu crânio, e ela percebeu que devia ser assim que desmaiar, como uma espécie de donzela vitoriana indefesa. Foda-se isso. Ela empurrou contra ele para ganhar alguns centímetros de espaço pessoal. As mãos dele permaneceram trancadas nos braços para segurá-la, mas pelo menos ele não estava mais esfregando os mamilos e o monte dela. Ela não tinha certeza se isso era uma melhoria ou não. — Eu pensei que você estivesse dormindo até o pôr do sol, — ela disse com uma voz trêmula demais para ser sua. — Acordei um pouco mais cedo. — Seu olhar azul pálido deslizou pelo rosto dela, todo lento e sonolento. Ele era bonito demais, sexy demais, para sua paz de espírito. Ela não sabia por que ele a afetava do jeito que ele fazia, fazendo suas entranhas derreterem e estremecerem, mas ela desejou que ele parasse. Seu dedo traçou sua bochecha. — Você parece perturbada. Está tudo bem? — Bem. Você acabou de me surpreender. Eu pensei que você dormisse mais. — Eu estava com fome. — Para comer pessoas? Ele sorriu. — Comer pessoas? Você me faz parecer um cachorro. — Você sabe o que eu quero dizer. — Sim, e me recuso a ter vergonha do que sou. Eu preciso de sangue, Justice. Se você prefere não me ver me alimentar, eu entendo, mas realmente não tenho escolha. — Ele deu um passo para trás, derramando alguns restos lânguidos do sono. — Há uma família gerai não muito longe daqui. Vou vê-los, depois volto para você. A reação visceral instantânea que ela teve a essa afirmação a chocou. — Como o inferno, — ela disse, embora não tivesse certeza se estava mais chateada por ele deixá-la para trás ou pela ideia de que ele tiraria sangue de outra pessoa. Talvez outra mulher. — Você quer vir comigo? — Ele perguntou. E então ela soube a verdade, porque ir junto com ele não consertava a raiva fervendo em seu intestino. — Eu quero que você tome o que você precisa de mim.

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Ele ficou sobrenaturalmente imóvel. Os olhos dele brilharam e lançaram um brilho faminto no rosto dela. — Você ainda está curando. — Você disse que mesmo algumas gotas de mim eram como galões de outra pessoa. Não vejo o quanto isso poderia me machucar. — Não machucaria. Mas com você, é muito fácil me deixar levar. Eu a desejo, Justice. É difícil saber quando parar. Aquele sentimento trêmulo em seus membros ficou mais forte, e ela desejou que uma cadeira afundasse. Nenhum homem jamais olhou para ela como Ronan. Nenhum homem jamais a desejara antes, nem mesmo por seu sangue. Ser procurada assim era algo poderoso. Ele brilhava através dela como mágica, dando força e roubando tudo ao mesmo tempo. Não havia como deixá-lo beber de outra pessoa. O pensamento de seus lábios na pele de outro era repugnante. Empurrou os desejos escuros enterrados profundamente dentro dela para a superfície, o tipo de desejos que deixaram um corpo para trás. Ela desabotoou o botão superior da camisa e abriu a gola. — Você pode ter meu sangue, ou nenhum. Os olhos dele brilharam. Ele se aproximou, todo predador magro agora. Sua preocupação com o bem-estar dela desapareceu no segundo em que ela se exibiu para ele. As cicatrizes gêmeas em seu pulso palpitaram. — Você está jogando um jogo perigoso, Justice. — Eu não estou jogando nada. Nós tínhamos um acordo. Meu sangue por sua ajuda. Pegue o que você precisa e faça o que prometeu. Liberte-me das Destinos. Ele abaixou a cabeça e afastou os cachos úmidos. A respiração dele varreu seu pescoço, fazendo-a tremer. Um braço forte envolveu sua cintura e a puxou contra seu corpo. O outro afastou a cabeça, expondo o pescoço. A antecipação brilhou através dela, ficando mais quente e mais feroz até que ela pensou que ficaria louca. Cada segundo se estendia, longo e vazio. Então seus lábios roçaram sua pele quase, mas não um beijo.

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No instante seguinte, houve uma picada aguda e uma liberação de pressão quando os dentes dele romperam sua pele. Esse segundo fugaz de dor se dissipou, deixando para trás um tipo de prazer que ela nunca havia sentido antes. Suas veias zumbiam e pulsavam com energia. Ela sentiu como se estivesse sendo acariciada por dentro, por fora, como se cada parte dela estivesse banhada pelo sol e acariciada por uma brisa quente. Um calor intoxicante se espalhou por ela até que todo o seu corpo ficou fraco. Ronan pegou seu peso facilmente, segurando-a com seus braços fortes. Seus lábios se moveram sobre a pele e sua língua fez uma dança sinuosa que a fez sonhar em sentir a mesma coisa contra seus mamilos. A sucção desesperada diminuiu até que era uma sucção lenta que estava tão perto de um beijo quanto ela se lembrava de ter vindo. Muito cedo, a coisa toda acabou. Ela sentiu o intenso rubor da cura mágica, depois de mais alguns golpes na língua, ele terminou. Justice não se mexeu. Ela não poderia ter se tivesse tentado. O corpo dela estava relaxado e feliz demais para fazer mais do que ficar flácido nos braços dele enquanto ele a segurava contra seu corpo duro. Ele estava quente agora. Seu sangue estava fluindo através dele, mantendo-o todo quentinho por dentro. A ideia era tão íntima que ela estremeceu com seu poder. Ronan levantou a cabeça e olhou para ela. A fome em seus olhos se foi, mas aquele brilho ainda estava forte. — Eu gosto de você assim, — ele disse, — todo relaxada e flexível. —Seu dedo traçou a testa, a têmpora, a bochecha e depois a boca. Seus lábios se separaram e sua língua disparou para provar a pele. Sal, magia e homem. Ele tinha gosto de seus sonhos, e ela não sabia se alguma vez conseguiria o suficiente. Ele os colocou no chão, de costas contra a parede, e ela se enroscou em seu colo como uma criança. Ele a embalou como se ela fosse tão preciosa quanto uma. Ela nunca foi preciosa para ninguém. Importante, talvez. Uma coisa necessária, como uma ferramenta ou uma arma, mas nunca um tesouro valioso. Se ele não parasse de olhá-la assim, ela começaria a esquecer o jeito que as coisas eram e seguiria junto com essa fantasia. Quando a realidade retornasse, onde isso a deixaria? Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Feche os olhos, querida, — ele disse. — Relaxe e deixe-me dentro de você. Sua boceta apertou com as palavras dele, mas não era o corpo dela que ele estava falando sobre deslizar, era a mente. Justice relaxou completamente e deixou que ele pegasse o que queria. Ela o sentiu lá, logo atrás dos olhos. Sua presença era forte e quente, e completamente inconfundível. Se ela tivesse mil vampiros na cabeça, saberia exatamente qual era ele. Nenhum outro homem podia ser como ele, como se fosse tecido de esperanças e sonhos e vestido com magia secreta. Ele era mais forte do que nunca com ela. Ela não sabia muito sobre o que estava acontecendo, mas podia sentir o poder dele pulsando dentro dela, tão profundo que eles eram um. Ela precisava disso, sua presença. Havia outras coisas que ela também precisava, mas tê-lo dentro dela agora era tão vital para ela quanto o ar. Ela não sabia como sobreviveria quando ele saísse. — Shh — ele disse, sua voz a acalmando junto com o golpe de sua presença. — Não há nada com que se preocupar. Tudo está bem. Apenas relaxe e flutue. Eu tenho você. Relaxar não era seu forte, mas com Ronan, era fácil. Ela o sentiu se mover dentro dela e não tentou detê-lo. Ela o deixou ir aonde queria, vendo seus erros e suas vitórias. Ela o deixou ver as partes dela que traziam orgulho e as que a deixavam envergonhada. Ela o deixou cutucar aquele véu nebuloso que escondia seu passado, mesmo que sua cabeça latejasse toda vez que ele o fazia. Ela sabia que ele estava tentando ajudá-la a libertar-se das Destinos e, como na medicina, às vezes a cura era tão dolorosa quanto a doença. Ele pressionou com mais força, e toda vez que o fazia, ela sofria um pouco mais. Depois de alguns minutos, ela estava suando e tremendo de dor. Se ele não parasse, ela iria vomitar em cima dele. Ela abriu a boca para dizer exatamente isso, mas antes que pudesse, ela o sentiu recuar. Essa presença brilhante e poderosa moveu dela, deixando-a se sentindo sozinha, mesmo que seus corpos estivessem pressionados juntos. Ela olhou para cima para encontrá-lo ofegante. Sua cor estava mais pálida do que o normal, o que dizia alguma coisa. Ele parecia mais magro, quase ossudo.

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As cavidades sob as maçãs do rosto eram mais pronunciadas, e ele tinha círculos sombrios sob os olhos. — Não deu certo, deu? — Ela perguntou. Ele inclinou a cabeça contra a parede em derrota. — Eu sinto muito. Eu tentei algumas coisas, mas nenhuma delas funcionou. Definitivamente existe uma presença dentro de você, mas eu não consegui prendê-la ou puxá-la para dentro de mim. Ela sentou no colo dele. — Puxar para dentro de você? Você ia me libertar assumindo as Destinos por si mesmo? Você é louco? — Eu já fiz isso antes, embora apenas com demônios. Sua mandíbula se abriu em choque. — Você levou demônios de outra pessoa para dentro de si? — Era a única maneira. Outros não são tão mentalmente fortes quanto eu. É melhor que eu lute contra essas criaturas em nome delas. Justice não tinha palavras para responder adequadamente a isso. Que tipo de lunático se deixava possuir, ou qualquer que fosse o termo correto, para salvar outro? — E você pensou que poderia fazer isso com as Destinos? — Ela perguntou, ainda cambaleando. — Valia a pena. — Você tem alguma ideia do que você poderia ter feito para si mesmo? As Destinos não dão a mínima para a hora do dia. Elas exigiriam que você fizesse o que elas quisessem, independentemente de o sol nascer ou não. Você teria se matado. — Eu teria encontrado uma maneira de derrotá-las quando fossem minhas prisioneiras. — Suas prisioneiras? E você fosse delas? Ele sacudiu levemente a cabeça. — Isso não fazia parte do meu plano. Não que isso importe. Eu não fui forte o suficiente para puxar a presença em você. É quase como se fosse parte de você. — Você acha que eu estou fazendo isso comigo mesma? — Ela perguntou.

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— Não. Definitivamente, é alguém ou outra coisa que impõe sua vontade a você, mas seja o que for, está tão profundamente entrelaçado dentro de você que não há como extraí-la. Mesmo que fosse possível, provavelmente o mataria. A derrota caiu pesadamente sobre ela e empurrou o ar de seus pulmões. Ela lutou sob o peso por vários segundos antes de conseguir falar. — Então, eu estou presa. Sem cura. —Eu não disse isso. Eu disse que não posso tirar essa presença de você, mas há outras coisas a tentar. — Como o quê? — Eu poderia prendê-la ou colocá-la para dormir. Talvez até matar. — Mas se estamos tão fortemente ligadas, isso também me mataria? Ele abriu um olho, mas por pouco. — Ainda não sei. Eu fiquei sem força antes que pudesse tentar. Ele realmente parecia torcido, como um pano de prato usado, embora bonito. — Tome mais do meu sangue. — É muito cedo para tentar libertá-la novamente. — Eu não quis dizer isso. Eu quis dizer que você precisa recuperar suas forças. Você usou tudo e mais alguma. — É muito cedo para isso também. — Besteira. Eu me sinto bem. — Ela sentia, mas a verdade mais profunda era que ela queria sentir a boca dele em sua pele novamente, movendo-se enquanto ele se alimentava dela. A emoção era erótica e viciante. O que só provou o quão louca ela era. Quem queria um vampiro sugando seu sangue, independentemente do que ele se chamava? — Eu ficarei bem até encontrarmos outra pessoa. Ela não o compartilharia. Não é assim. Pelo menos ainda não. Ela sabia que não poderia amarrá-lo a ela pelo resto da vida, mas até encontrar uma maneira de superar o feitiço que ele a submetera, ele estava preso a um grupo de alimentos. Dela. Justice puxou um canivete de seu jeans e o segurou contra as cicatrizes que deixou algumas semanas atrás. — Seu caminho é mais fácil, mas podemos fazer o meu, se você preferir.

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Seus olhos azuis se iluminaram e um rosnado cobriu seu rosto. Presas afiadas se alongavam logo atrás dos lábios, brilhando de branco. Um segundo ela estava sentada entre as coxas abertas dele, no seguinte, ela estava deitada no chão de concreto com o corpo dele cobrindo o dela. Ele era mais forte do que ela poderia ter imaginado, prendendo facilmente as mãos pelas orelhas. Reba mordeu as costas de Justice, mas ela mal sentiu. O olhar faminto em seu rosto consumia tudo, tirando todos os outros pensamentos de sua mente. — Eu não sou fraca, — ela rosnou. — Você não sabe o que está pedindo de mim. Você não sabe o quão difícil é resistir a você. Ela inclinou a cabeça em um flagrante desafio. — Então não faça. Ela viu o momento em que venceu a batalha, mas não foi a derrota que viu em sua expressão, mas algo mais. Algo selvagem e indomável. Algo com fome. — Apenas lembre-se, — ele disse enquanto abaixava os dentes afiados na garganta. — Você pediu por isso.

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Capítulo 7 Ronan estava indo longe demais desta vez. Seus esforços para libertar Justice da presença que a assombravam o enfraqueceram, deixando-o tão faminto quanto quando acordara. Sua oferta possessiva, quase beligerante, de deixá-lo alimentar era tentação demais para resistir. Se ele não tivesse visto em sua mente o quanto ela gostava dele bebendo dela, ele poderia ter conseguido reunir sua força de vontade. Mas ele viu o prazer que sua alimentação trouxe, e essa foi sua ruína. Ele só queria fazê-la se sentir bem. Seu corpo prendeu o dela no chão de concreto. Ele desejou que eles estivessem na van com uma almofada nas costas, mas se ela estava desconfortável, ela não estava reclamando. Seu cheiro era intoxicante. Quente e doce, mas com uma pitada de algo herbal e limpo. Além disso, havia o cheiro de sua excitação, tão forte que ele não sabia como resistiria a abrir seu jeans e a dar o que seu corpo tão ansiava desesperadamente. Tão hábil quanto ele em curar tecidos e reparar ossos, ele era ainda mais hábil em fazer com que a carne de uma mulher obedecesse a seus comandos. Ele poderia facilmente deslizar em sua mente e fazê-la gozar com um mero pensamento. O corpo dela iria para onde ele o levasse, principalmente quando ele estivesse enterrado dentro dela. Uma onda furiosa de luxúria tomou conta dele, tão poderosa que o deixou tremendo. Seu pênis estava duro e pressionando contra seu jeans. Sua pele estava extremamente sensível, até que a leve mudança de ar parecia uma carícia. Ele tinha que preencher suas necessidades, comida e sexo. Não havia como negar os dois. Ele já estava esticado demais. Ronan levantou a cabeça e olhou para ela. A blusa dela estava aberta na garganta, revelando uma faixa tentadora de carne que ele queria beijar e provar. O inchaço de seu seio espreitou por cima da flanela verde, tão suave e em volta dos dedos dele, apertando involuntariamente. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Seus cachos pretos e elásticos ainda estavam molhados do banho e se espalhavam pela cabeça como outro deleite tátil para os sentidos. Ela abriu os olhos para revelar finas mechas verde-prateadas por trás dos cílios grossos e ondulados. Havia desejo lá. Desejo. E talvez mais do que uma pitada de desafio. Ele se sentiu sorrir com isso, tão tipicamente Justice. Suas presas ainda estavam fora, e ele sabia que ela seria capaz de vê-las espreitando de seus lábios. — O que você está esperando? — Ela perguntou. A maneira como seus lábios se moveram, parecia um convite. Eles estavam cheios e gordo e ele sabia que não poderia ir mais um minuto sem saber como se sentiam contra o seu próprio. Ela viu a aproximação dele e congelou. Ela estava disposta a compartilhar seu sangue, mas não seu beijo? Ele sabia que ela o queria. Ele podia cheirar o quão excitada ela estava, ouvir seu pulso rápido e ver o alargamento de suas narinas quando ela puxou seu perfume. Com o mais leve dos toques, ele esvoaçou em seus pensamentos, mal roçando a superfície. Talvez fosse uma intrusão na privacidade, mas ele realmente não se importava. Se ele estava prestes a cometer algum erro gigante com ela, ele queria saber. Excitação e medo advertiam pela supremacia em sua mente. Ela tinha medo de se aproximar demais por causa de outro homem que ela conhecera. Ele a machucou? Quebrou seu coração? Ronan sustentou o olhar de Justice e mergulhou mais fundo em suas memórias até encontrar o que estava procurando. Noah. Ele fez amizade com ela logo depois que ela acordou aqui, nua e sozinha. Ele a ajudou a aprender a sobreviver e a encontrar trabalho. Ele a apresentou a seus contatos no mercado negro e foi um bom amigo. Então, um dia, a Destino ordenou que ela o matasse. Ela não sabia o porquê e tentou resistir. Sua desobediência quase a matou, mas no final, ela fez o que foi ordenada a fazer. Até hoje, ela ainda não sabia por que foi forçada a matar o único amigo que teve, mas desde então nunca havia chegado perto de ninguém. Até Ronan.

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Ele entendeu agora por que ele era uma ameaça, por que ela fugira dele. Ele levando seu sangue na noite em que se conheceram foi a coisa mais íntima que ela compartilhou com alguém, e ela estava com medo de ser forçada a matá-lo também. A triste verdade era que ela poderia. Até que eles expulsassem a presença em sua mente, ela estava à mercê daquela força poderosa, e se ele tentasse impedi-la de seguir ordens, isso apenas causaria dor. Ela olhou para ele, compreensivelmente presa entre desejo e medo. Agora ele sabia o porquê e agora podia empurrá-la na direção em que queria que ela seguisse. Não havia dúvida de que ele queria que ela sentisse. Ronan se moveu e a beijou. No instante em que seus lábios encontraram os dela, todo seu comportamento mudou e ela cedeu com abandono. Ela agarrou seus ombros e o puxou mais contra ela. Sua boca se abriu e sua língua varreu sua boca, dando a ele um gosto do céu. Ela flertou com as pontas afiadas de suas presas, mas ele teve o cuidado de não deixá-la tirar sangue. Sanguinar era muito cuidadoso ao misturar sangue e sexo. Era muito fácil se deixar levar quando o frenesi de luxúria e fome colidia. Se ela ingerisse um pouco de seu sangue, seu corpo se tornaria receptivo ao esperma dele e ela poderia engravidar. Não havia sangue suficiente para alimentar os Sanguinar que eles já tinham. Trazer outra pessoa ao mundo seria o auge da irresponsabilidade. Até sonhar em ter um filho era algo que Ronan se proibira de fazer. Ele viu outros de sua espécie darem o primeiro passo e isso os destruiu. Querer um filho que você nunca poderia ter, ou ter um e vê-lo sofrer? Nenhum deles era forte o suficiente para isso. Ainda assim, ele não conseguia ganhar controle suficiente para atrair suas presas, então ter cuidado com elas era a única coisa que ele podia fazer. Suas

mãos

percorreram

suas

costas,

apertando

e

acariciando

alternadamente, como se ela não pudesse decidir o que queria fazer. Sons suaves de fome e prazer saíam dela em um coro musical que ele nunca se cansava de ouvir. Seus beijos eram tão ferozes quanto ela, com momentos surpreendentes de suavidade que sempre o mantinham adivinhando. No momento em que começou a

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desabotoar a blusa, estava tão apertado de desejo que nem conseguia pensar com clareza. Ronan abriu as lapelas da blusa de flanela para revelar os seios mais doces que ele já viu. Mamilos escuros apareciam claramente através do fino sutiã branco que ela usava. As pontas estavam apertadas, apunhalando com força o tecido. O vale sombrio que desapareceu entre os seios dela era um convite para os dedos e a língua dele seguirem. Ele abaixou a cabeça e beijou o inchaço de um seio, logo acima do coração. O órgão vibrou em resposta à sua proximidade e bombeava com mais força. A fome tomou conta de suas células, dominando sua luxúria por um breve momento, mas por tempo suficiente para ele saber que não havia mais tempo para esperar. Se o fizesse, esqueceria a si mesmo como na primeira noite em que se alimentara dela e seria mais animal que homem. Ela merecia melhor. Os lábios dele encontraram a coluna lisa do pescoço. Seu pulso saltou e ela respirou fundo. Sob o peso dele, seus quadris se contorciam e as costas arqueavam em antecipação. Ele não precisava estar em sua mente para saber que era isso que ela queria, quase tanto quanto ele. Ele podia sentir isso na tensão de seus músculos e na respiração. A fome rondava através dele, exigente e impaciente. Houve um tempo em que a alimentação era uma coisa de lazer, em que o sangue Atanásio era muito mais abundante e dado livremente do que era agora. Em sua juventude, homens e mulheres vinham oferecer sangue a ele em troca de boa saúde e vida longa. Às vezes eles ofereciam mais, e às vezes ele aceitava. Ele estava tão profundamente faminto por tantos anos, que quase esqueceu o que era desejar a carne. Mas mesmo agora, seu corpo fraco e desesperado, ele ainda queria Justice. Ela devolvera o desejo, e por isso ele nunca poderia retribuir. Seus dedos deslizaram em seus cabelos e seguraram firme. As pontas de suas presas roçaram sua pele, captando as pequenas marcas enrugadas que ele deixou em seu pescoço. Ela disse algo, mas suas palavras eram muito incoerentes para entender. Em vez disso, tudo o que ouviu foi um gemido de necessidade que correspondia à sua.

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Ele prometeu a si mesmo que pegaria apenas o que precisava para recuperar suas forças. Ele prometeu a si mesmo que iria parar depois de apenas algumas gotas para que seu corpo pudesse terminar de curar. Ele prometeu a si mesmo que, por mais que ele a quisesse depois de se alimentar, ele não a aceitaria. No instante em que seus dentes perfuraram sua pele, ele soube que quebraria todas essas promessas. Ela era quente e doce e cheia de um rugido de poder. Ela tinha gosto de vitória depois de uma batalha feroz e luxúria insaciável. Não importa o quanto ele bebesse, ele nunca iria se encher dela. As mãos se apertaram nos cabelos dele, nas costas. Unhas curtas roçaram sua pele, mas a leve dor apenas aumentou sua excitação. Seu poder fluiu em sua boca, e quando não foi rápido o suficiente, ele chupou sua garganta, exigindo que ela desse mais. Ele começou a despi-la enquanto se alimentava, puxando o botão do jeans. Pare! O comando alienígena cresceu em sua mente, tão alto que ele ficou chocado com a quietude. Justice disse isso? Ela de alguma forma empurrou essa palavra em seus pensamentos? Algo sobre isso não parecia certo. Havia uma vibração estranha fluindo através do comando, um que ele não reconheceu. Ronan desejou que sua carne se fechasse para não desperdiçar uma gota de seu precioso sangue e levantou a cabeça. Ainda havia manchas de sangue em sua pele, mas ele as ignorou e olhou em volta da pequena sala em busca de intrusos. Eles estavam sozinhos. Não havia sons do lado de fora nem cheiro de pessoas, animais ou demônios por perto. — O que há de errado? — Justice perguntou, sua voz lânguida e sonolenta. — Você disse alguma coisa? — Ele perguntou. — Não. — Seus olhos verde-prateados estavam brilhantes, quase radiantes. A visão era tão bonita que ele esqueceu a voz e simplesmente a absorveu. — Você conseguiu o suficiente? — Ela perguntou. — De você? Não sei se isso é possível. Seu sorriso era quente e cheio de desejo feminino.

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Sua sede foi saciada, mas sua fome estava longe de ser saciada. Ele a despojaria e deleitaria. Uma vez que ele a pegasse nua e descobrisse como ela gostava de ser tocada, ele a faria gozar até que ela estivesse cansada demais para levantar a cabeça. O desejo dele por ela havia chegado à frente da fila e agora estava exigindo sua vez. Ele abriu o zíper do jeans, mas antes que ele pudesse deslizá-los para fora daqueles quadris curvilíneos, o alarme cobriu o rosto dela. — O que é isso? — Ele perguntou. Ela se afastou dele e começou a prender suas roupas. Suas mãos tremiam nos botões enquanto ela se vestia. — Eu tenho que ir. — Agora? Ele pensou que poderia ter visto lágrimas brilhando nos olhos, mas não tinha certeza. — Sim. Agora. — Seu tom era curto, seus movimentos afiados de irritação. — Malditas Destinos e seus malditos tempos ruins. Ronan fechou os olhos e respirou fundo. Fazia muito tempo desde que ele teve que lidar com luxúria não satisfeita e não tinha certeza de se lembrar exatamente de como fazê-lo. Sua ereção também não parecia se lembrar. — Você não precisa ir junto, — ela disse. — Eu tenho um carro escondido atrás. A ideia de ela partir sem ele colocou a cabeça de volta no jogo. Ele se levantou e pegou suas mãos trêmulas. — Se você acha que eu vou deixar você escapar de mim agora, você está iludida. —Você teve meu sangue. Você tentou me libertar das Destinos. Não deu certo. Hora de seguir em frente. — Dificilmente. Estou longe de terminar com você, Justice. Eu nem comecei a fazer com você as coisas que quero fazer. As pupilas queimaram e ele sentiu um cheiro de excitação dentro dela. O cheiro inebriante não o ajudou a diminuir sua luxúria, mas ele ainda não conseguia o suficiente.

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Ele inclinou a cabeça para olhá-lo nos olhos. — Nós não terminamos. Se você tentar me deixar, pode não gostar do jeito que eu reajo. Ela considerou a declaração dele como um desafio, e não um aviso. Ele percebeu pelas labaredas de fogo em seus olhos. — Ou eu posso gostar muito. Acho que não saberemos a menos que isso aconteça. Por enquanto, seu convite para ir junto ainda é bom. Ele amava aquele lado nervoso dela, aquele que era destemido e nunca recuava. — Onde estamos indo? — Ele perguntou. Ela inclinou a cabeça para o lado como se estivesse ouvindo. — Ainda não tenho cem por cento de certeza, mas acho que preciso visitar um cadáver.

*** Sibyl não teve boas relações com a mãe desde que era criança, mas agora que Gilda estava morta, era fácil perdoá-la por seus erros. De alguma forma, a morte tinha uma maneira de embaçar o mal e destacar o bem que uma pessoa fazia. A verdade era que Sibyl sempre se perguntava se não teria feito as mesmas escolhas que sua mãe faria se estivesse no seu lugar. Ela poderia ter visto seu povo sofrer sem trabalhar para acabar com isso? Ela poderia ter visto seus filhos morrerem um após o outro e não ter feito algo para impedir isso? Ou ela teria feito qualquer coisa para proteger seus bebês, não importa quão imprudente ou tolo. Sibyl esperava que ela nunca descobrisse. O Salão dos Caídos, que servia como um lugar para lembrar os mortos, estava sempre quieto. Poucas pessoas vinham aqui e nunca havia reuniões. Quando uma pessoa vinha, a etiqueta exigia era que alguém que já estivesse aqui fosse embora para permitir que o recém-chegado sofresse em paz. Era um dos poucos lugares que não sua suíte que Sibyl poderia vir e pensar sem estar lotada de homens que estavam desesperados para ver se ela poderia salvar suas vidas. Ela era uma Theronai não ligada. Ela carregava dentro de si o poder de salvar a vida de um homem. Mas apenas um.

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Depois de séculos presa no corpo de uma criança jovem demais para se unir, uma das partes mais difíceis de sua rápida transição para a feminilidade não eram suas curvas repentinas e bizarras ou sangramento uma vez por mês, mas o ônus de saber que ela poderia salvar apenas um homem quando havia tantos que mereciam viver. Ela ainda não estava pronta para essa responsabilidade. Logo, não haveria escolha e ela teria que começar a testar os homens para ver quem era compatível com ela, mas, por enquanto, eles estavam todos sob ordens de Joseph para dar um amplo espaço. Sibyl tirou a espada do pai do manto e sentou-se em uma cadeira macia de couro em frente ao fogo. A sala era pequena e aconchegante, decorada com cores suaves e cheio do agradável aroma de couro e esmalte de limão. Na sala além desta, dezenas de espadas estavam em exibição para homenagear os homens e mulheres que haviam dado suas vidas à guerra. Mas esse espaço menor era reservado para aqueles que haviam caído recentemente. Como os pais dela. A espada de seu pai foi recuperada da caverna que desabara sobre ele e sua mãe. Seus corpos foram enterrados no cemitério, mas não suas armas. Enrolada no cabo da espada de Angus estava a luceria cinza pálida que sua mãe usava desde que era jovem. Eles se uniram quando eram apenas crianças e permaneceram assim até o dia em que morreram para salvar Maura. Após séculos de ter seus pais por perto, Sibyl ainda não tinha certeza de como seguir em frente sem eles. Até Caim, que a adotou depois que ela evitou a mãe, estava ocupado com a nova vida e a nova esposa. Não havia ninguém em Dabyr com quem Sibyl realmente pudesse conversar, então ela vinha aqui e falava com uma espada e um colar como se eles realmente pudessem responder. Boba. Infantil. Mas reconfortante. — Eu não posso alcançar Maura, — ela sussurrou enquanto acariciava a lâmina amassada que seu pai usava. — Eu continuo tentando, mas ela me deixa completamente de fora. Eu sei que algo ruim está por vir. Eu sei que ela está envolvida. O que não sei é como detê-la.

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Nem a espada nem a luceria responderam, mas Sibyl não esperava que fizessem. — Não posso desistir dela. Ainda não. Eu me preocupo que, se ela encontrar um homem desesperado o suficiente para se relacionar com ela, ela usará seu poder para machucar as pessoas. Eu tenho que fazê-la voltar para nós antes que isso aconteça. A porta de madeira entalhada que levava ao Salão dos Caídos se abriu e Morgan Valens entrou. Ele era um homem grande, com pele marrom clara e olhos combinando. Sua herança egípcia mostrava-se claramente em seus traços, e ele era um dos poucos Theronai que tinham linhas de sorriso entre a boca. Ele já estava na sala antes de vê-la enrolada na cadeira. Ele parou abruptamente e sorriu. — É bom ver você por aí, Sibyl. Ficamos imaginando se você sairia do seu quarto. Ela deu de ombros em um movimento mais casual do que sentia. — As pessoas ainda não estão acostumadas a me ver neste corpo. Não faz sentido assustá-las. Morgan piscou. — Não surte aqui. Eu superei. Ela se levantou da cadeira para sair, mas ele levantou a mão. — Fique. Vou voltar mais tarde. — Eu estava saindo, — ela mentiu. — Fique. Gilda e Angus eram seus pais. Você é a primeira a visitá-los. — Você vem aqui também? — Ela perguntou. — Parecia que eu deveria prestar meus respeitos antes de sair. Outra hora será boa. —Ele se virou para ir embora. Conversar com alguém, qualquer um se sentia bem. E enquanto Morgan era tipicamente paquerador com as mulheres, ele não era com ela. Como a maioria dos homens aqui, ele ainda a via como uma garotinha. Por enquanto, ela estava feliz por isso. — Onde você vai? — ela perguntou para fazê-lo ficar. — Você conheceu Serena? — A noiva de Iain?

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Morgan fez uma careta. — Sim. Ela. Joseph está tentando convencê-la a voltar há meses. Parece que os homens que ele enviou até agora não fizeram a tarefa. — Eles não a encontraram? — Oh, eles a encontraram, tudo bem. Eles só precisavam de um Sanguinar para curá-los quando ela terminar com eles. — Ela os machucou? — Parece que sim. É a minha vez de levar uma surra e tentar trazê-la para casa. Joseph quer que todos que possam ajudar aqui para protejam os bebês. — Mas se um desses bebês é de Iain e sua nova esposa, e Serena já foi prometida

a

ele,

tê-los

todos sob

o

mesmo

teto

não

criaria

algum...

constrangimento? Morgan riu. — Quem precisa de reality shows quando temos tanta coisa acontecendo aqui? Ele não fez nenhum movimento para se aproximar dela ou tocá-la para ver se eram compatíveis. Ela sabia que ele provavelmente estava sofrendo por carregar todo o poder que possuía, e havia uma pequena chance de que ela pudesse aliviar seu fardo, mas sua total falta de interesse em Sibyl deu a ela a coragem de alcançar. Ela precisava desesperadamente de conselhos, e a espada de seu pai nunca iria dar. — Você é bom com mulheres, certo? Sua risada desapareceu e ele estreitou os olhos. — O quê? — Eu ouço as pessoas conversando. Todo mundo diz que você é homem de mulher. Suponho que isso significa que você tem experiência com elas. Sua expressão ficou cética. — Vamos dizer que sim. O que é, Sibyl? — Minha irmã. Não sei como alcançá-la. Seus ombros caíram de alívio e ele soltou um suspiro. — Por um segundo, pensei que você ia me dizer que queria que eu te ensinasse sobre sexo. — Ele balançou sua cabeça. — Sinto muito, querida, mas acho que nunca conseguirei vê-la como algo além de uma criança de oito anos. Sibyl revirou os olhos. — Primeiro eu sei sobre sexo. Eu tenho estado viva por dois séculos. Segundo, eu sei como todos vocês me veem, como uma garotinha

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assustadora que pode ver o futuro e sabe como todo mundo vai morrer. Terceiro, também não estou interessada em nenhum de vocês. Ele estremeceu. — Não deixe os homens ouvirem você dizer isso. Você está dando a eles muita esperança agora para esmagá-la. Depois de tudo o que passamos, todos precisamos de uma boa dose de esperança. — Além de você e Joseph, não falei com nenhum dos homens. Meu segredo está seguro. Ele assentiu. — Então o que você precisa saber? — Como você alcança uma mulher que não tem interesse em falar com você? — Inferno se eu sei. Eu nunca tive esse problema. Fazer as mulheres falarem comigo nunca foi um problema. Como você acha que eu tenho a reputação de ser homem de mulher? — Você percebe que isso não ajuda em nada. Estamos falando da minha irmã. Eu preciso chegar até ela e convencê-la a voltar para casa. Ele soltou um assobio baixo. — Boa sorte com isso. Eu realmente duvido que Joseph a deixasse passar pelos portões, mesmo que ela quisesse entrar. E é provável que ela não viva a noite toda depois de toda a merda que ela fez. — Todo mundo merece perdão. Morgan balançou a cabeça, seu sorriso desapareceu completamente. — Sinto muito por ter contado isso, Sibyl, mas você está errada. Maura escolheu ficar do lado de nosso inimigo. Ela matou muitos homens bons. Ela matou seus próprios pais. A única coisa que ela merece é uma morte rápida e indolor, leve sobre a parte indolor.

*** Depois de dirigir para o norte por mais de uma hora, Justice chegou ao destino que as Destinos tinham em mente. Agora tudo o que ela precisava fazer era descobrir por que estava de pé sobre uma cova recém-escavada no sul de Iowa. O ar frio do inverno a envolveu, chicoteando seus cachos em volta do rosto. Alguns flocos de neve dançavam no ar. Ao longe, ela podia ver o brilho laranja escuro das luzes de uma cidade contra as nuvens baixas. Aqui, tudo estava escuro, além da única luz de segurança montada acima da entrada do cemitério.

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Ronan ficou ao lado dela, silencioso, mas ainda ocupando a maior parte de sua atenção. Ela ainda podia sentir suas mãos e boca em seu corpo, a maneira como ele a tocava como parte dela pertencia. Talvez sim. A lembrança de seus lábios se movendo em sua garganta foi suficiente para enviar um exército de arrepios marchando por suas costas em forte formação. Ela queria mais dele, mas não sabia como consegui-lo. Ela pedia, ou simplesmente pegava o que queria? E se o fizesse, o que exatamente ela levaria? Uma necessidade lenta e dolorosa fervia em sua barriga. Sua pele estava quente e apertada, com um zumbido ansioso logo abaixo da superfície. Cada célula de seu corpo estava sintonizada com ele como se ele fosse algum tipo de mestre de regência e todos aguardavam sua sugestão para começar a tocar. — Alguma ideia de por que estamos aqui? — Ele perguntou com uma voz suave e profunda que caiu em cascata sobre seus sentidos como chuva quente. — Nem uma pista, — ela disse. — Mas meu palpite é que isso envolverá escavações. Você tem uma pá na sua van? Ele balançou a cabeça negra. — Suprimentos médicos e armas, sim. Ferramentas de jardinagem, não. — Ele acenou com a cabeça em direção ao outro lado do cemitério. — Há um pequeno galpão ali. Vou ver o que posso encontrar. Ela não podia ver tão longe no escuro, mas as Destinos sempre forneciam. Se ela precisasse de uma pá, teria sido obrigada a parar e comprar uma, se já não houvesse uma aqui. Além disso, confiava na capacidade de Ronan de encontrar o que eles precisavam. Ele tinha todos os tipos de habilidades estranhas que ela não entendia, como fazê-la tremer por dentro só de olhar para ele. Justice o observou se afastar. Seu longo casaco de couro chicoteava suas panturrilhas. Ele levantou a gola para proteger o pescoço do vento, mas ainda parecia frio. A vontade de aquecê-lo se estendeu através dela, como uma espécie de instinto adormecido acordando depois de um longo sono. Ela deveria estar com frio aqui também, mas tê-lo por perto manteve seus fogos internos agitados e furiosos.

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Quando ele finalmente desapareceu na escuridão, fora da vista, ela foi capaz de voltar sua atenção para o túmulo. Talvez, se ela tivesse sorte, não precisaria cavar nada. Ela se agachou na frente da lápide e leu na penumbra. Martha Marie Oliver, amada esposa, mãe e avó. Amada por todos que a conheciam. Justice pesquisou a mulher no Google e encontrou seu obituário no jornal local. O serviço foi hoje mais cedo. Ela morreu aos 74 anos de doença cardíaca, deixando para trás o marido idoso, três filhos e dez netos. Ela era uma cristã devota, que fazia colchas para todos os bebês nascidos em sua congregação nos últimos quarenta anos. Ela possuía a maior coleção de objetos de costura do estado, alguns dos quais seriam doados a um museu próximo. Justice não sabia que tipo de coisas essa coleção poderia incluir, pois ela nunca costurou um ponto em sua vida, pelo menos não que ela pudesse se lembrar. — Ok, — ela sussurrou para as Destinos. — Vou precisar de um pouco mais para continuar. Não vou profanar o túmulo de alguma velha avó doce por diversão. Ela chutou um torrão de terra recém-virada. Já estava congelado em um caroço duro, ainda esmagável, mas não facilmente. Talvez ela tivesse sorte e não tivesse que cavar nada. Talvez pelo que ela estivesse aqui não estivesse naquele túmulo, mas na lápide ou em algum lugar próximo. Assim que o pensamento entrou em sua mente, ela soube que estava errada. Ela ia ter que cavar. Justice não tinha sorte. Houve uma tosse baixa e mecânica, depois um estrondo quando um motor foi acionado. Um segundo depois, ela viu luzes ao longe e Ronan, no banco de uma retroescavadeira, caminhando em sua direção lentamente. Uma onda de emoção que ela não reconheceu brotou em seu peito e derramou seus olhos. Talvez fosse gratidão por sua ajuda ou alívio por ela não ter que rasgar as mãos e voltar a cavar uma cova congelada. Mas qualquer que fosse a sensação, era quente e feliz.

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Ele a estava ajudando. Ela não estava completamente sozinha. No instante seguinte, todo aquele calor evaporou quando ela percebeu a verdade. A única vez que ela teve um amigo, ela teve que matá-lo. Ela ainda não sabia por que foi forçada a fazê-lo, ou a que propósito a morte dele servira. Pelo que sabia, era um teste para ver se o controle que as Destinos tinham sobre ela era absoluto. Ela desejou saber por que Noah foi seu alvo. Talvez se soubesse, finalmente seria capaz de superar a culpa que carregava. Então, novamente, talvez não. Não era como se ela fosse condenada pelo crime. Noah foi um rato de rua. Ninguém sentiria falta dele. E ela se certificou de que seu corpo nunca seria encontrado. O ácido era bom assim. O único castigo que ela sofreu foi a culpa que ela carregava. Não era o suficiente. Nem mesmo perto. Ronan alinhou a retroescavadeira na borda do túmulo. — Você quer fazer as honras, ou devo? Justice estava tremendo demais para trabalhar nos controles. Pelo que sabia, uma vez que aquele buraco fosse cavado, ela jogaria o corpo de Ronan em cima de Martha Marie Oliver. Justice deu um aceno porque a voz dela não estava funcionando e virou as costas para que ele não visse o brilho das lágrimas em seu rosto. Ela não chorou, pelo menos não onde alguém pudesse ver. Ela não estava prestes a começar o mau hábito agora. — Eu não vou machucá-lo, — ela alertou as Destinos. Talvez essa declaração as tentasse a puni-la, mas ela não se importava. Deixe-as fazer o pior, fizesse a cabeça dela explodir e as tripas vomitarem pela boca. Ronan estava fora dos limites. Uma pequena parte dela se perguntou se ela poderia ser tão forte. A tortura poderia fazer até gente boa fazer coisas ruins, e Justice não era tão boa assim para começar. Ele fez um trabalho rápido da escavação, depois pulou e pegou uma pá que ele enfiou atrás do assento. Algumas pás cheias de terra dos cantos, e a tampa do caixão estava limpa. Suja e arranhada, mas limpa. Ela apontou uma lanterna para dentro do buraco para ajudá-lo a ver, embora duvidasse que ele precisasse tanto da lanterna quanto ela.

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Ele abriu a tampa forrada de cetim. Martha era uma mulher pequena, com pequenos ossos finos e um capacete rígido de cachos azul e branco. Seu rosto estava relaxado e delineado, mas com todos os sinais da beleza que ela era quando era jovem. Sua pele pálida estava enrugada e flácida, mas também havia traços de sorriso, como se ela estivesse pensando em uma piada antiga. Ela estava vestida com uma camisa de babados sob um paletó com um padrão floral rosa claro e cinza. Pérolas pontilhavam seus ouvidos e rodeavam sua garganta. Ronan abriu a metade inferior da tampa para revelar uma saia de terno combinando, um par de saltos cor de rosa e pernas magras vestidas com meias muito escuras. Ele olhou para Justice com um olhar de expectativa no rosto. — Bem? E agora? Havia algo. Podia sentir isso puxando para ela, mas ainda não conseguia dizer o que era. Ela desceu para o túmulo, tomando cuidado para andar na borda de terra ao redor do caixão. Quando ela se aproximou, um zumbido urgente atingiu a parte de trás de seu crânio. Qualquer que fosse a tarefa, ela quase o encontrou. — Eu odeio fazer isso, Sra. Oliver, — ela disse, — mas acredito ter que invadir seu espaço pessoal. Ela entregou a lanterna a Ronan e se ajoelhou, montando nas pernas finas da mulher de ambos os lados. Ela sentiu ao redor do forro escorregadio do caixão. Não havia nada sob o corpo, exceto um calafrio, então ela deu um tapinha nos braços e pernas da mulher, esperando por algum tipo de sinal. Ronan mudou o feixe de luz enquanto trabalhava e, quando chegou ao braço esquerdo da mulher, a luz atingiu um broche que foi camuflado pela estampa floral rodopiante de sua lapela. Era prata, polida em alguns lugares e profundamente manchada nas fendas. Em algum lugar entre uma forma de estrela e uma flor, cada uma das oito saliências era sinuosa e torcida. No centro, havia um cristal facetado que brilhava com as cores do arco-íris à luz.

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Assim que Justice viu, sentiu um reconhecimento no fundo de seu cérebro e soube que esse broche era o motivo de estar aqui. Com os dedos frios, ela soltou o alfinete que o segurava no lugar e disse: — Nunca roubei uma cova antes, mas estou feliz que você tenha sido a minha primeira. Durma bem, Martha. Ela deu um tapinha na bochecha fria da mulher, enfiou a peça de metal no fundo do bolso e saiu do caixão. — O que é isso? — Ronan perguntou. — Quem sabe? Estou feliz que ela estava vestida com o que estávamos procurando. Essa coisa toda poderia ter sido muito pior se tivesse sido algo que ela engoliu. Ele resmungou em concordância. — Nós terminamos, então? Ela assentiu. — Vamos colocá-la de volta do jeito que a encontramos, menos um broche feio. Meu palpite é que ela não sentirá falta. Ronan fez um rápido trabalho de preenchimento do buraco, depois partiu para colocar a retroescavadeira onde quer que pegou. Justice esperou por ele, estudando o broche sob o facho da lanterna. Não havia marca de criador que ela pudesse ver. A parte de trás da peça era áspera, como se algo tivesse sido quebrado. O alfinete que o transformou em broche foi claramente adicionado mais tarde. Era barato, metal banhado a ouro colado no lugar com cola quente por uma mão trêmula. Ela usou o canivete para puxar o alfinete e a cola, esperando que, se chegasse à peça original, seu motivo para roubá-la se tornasse claro. A cola era fria e teimosa e ela temia que danificasse o metal se não tomasse cuidado. Se este era um artefato de valor inestimável, como tantas peças que ela recuperou, então ela não queria ser a única a desvalorizá-lo. Sob o intenso raio da lanterna, a parte da frente do broche era ainda mais complexa do que ela pensara. Havia pequenas pontuações em cada pétala torcida que poderiam ter sido decorações feitas pelo ourives, algumas escrituras estranhas que ela não reconheceu, ou o mesmo depósito de lixo que havia mastigado o anel que ela ganhou de Chester Gale.

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Enquanto ela olhava, torcendo a flor em forma de estrela de um jeito ou de outro, parecia que algumas dessas marcas estavam alinhadas para formar novas formas com as marcas na pétala adjacente. A familiaridade zumbiu ao longo de sua coluna, como se ela pudesse ler essas marcas. Talvez estivesse escrevendo e ela aprendeu a ler nos anos em que não conseguia se lembrar. Justice estava tão envolvida em estudar a peça que não viu os demônios até que fosse tarde demais.

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Capítulo 8 Ronan ouviu os batimentos cardíacos empolgados de Synestryn no instante em que desligou a retroescavadeira, mas estava muito longe de Justice para fazer mais do que gritar um aviso enquanto as criaturas atacavam. Havia três sgath indo para ela, seus olhos verdes brilhando com luz faminta. A saliva amarela pingava de suas mandíbulas muito largas, deixando um rastro fumegante de grama chamuscada atrás deles. Seus corpos pesados estavam cobertos de pelos grossos e oleosos, e seus poderosos músculos ondulavam sob a superfície enquanto corriam em direção a sua presa. Ele correu em direção a ela, mas ele não chegaria há tempo. Os demônios estavam muito perto dela para ele interceptá-los. Justice sacou sua arma tão rápido, que apareceu em sua mão como se por magia. Ela disparou no sgath mais próximo e atingiu seu ombro. Ele uivou e tropeçou antes de se recuperar e se juntar aos outros dois agora na liderança. Ronan correu mais rápido, alimentando a sua velocidade com uma explosão de magia. Ela atirou repetidamente. Cada rodada bateu no alvo pretendido e retardouos, mas pouco. Não importa quantas balas ela disparasse, ela não iria matá-las antes que eles a alcançassem e a destruíssem. Ronan não podia deixar isso acontecer. Ele não podia deixá-la morrer. Ele ainda estava muito longe, então ele convocou seu poder, o poder que o sangue de Justice havia dado, e a levantou do chão. Ela voou para cima, fora do alcance dos demônios da mesma forma que saltaram para atacá-la. Ela perdeu o equilíbrio e se debateu contra os esforços dele. Os movimentos dela dificultaram o trabalho, mas ele a segurou no alto, fora de perigo, e continuou correndo em direção aos demônios.

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Sua espada estava ao seu lado, mas ele estava enferrujado, fora de prática. E mesmo se ele não estivesse, uma luta de três contra um não era o tipo de coisa que ele gostava. Deixe isso para os Slayers que andavam nus no frio e lutavam com as próprias mãos, sorrindo o tempo todo. A van era sua única esperança de ultrapassar o sgath e estava estacionada na entrada do cemitério. Sgath desse tamanho poderia facilmente rasgá-lo em pedaços, mas levaria algum tempo, tempo suficiente para Ronan levar Justice para fora daqui. Dois dos demônios saltaram para Justice, tentando pular alto o suficiente para alcançá-la, mas o terceiro era mais esperto que seus parentes. Maior também. Ele virou a cabeça em direção Ronan, fixando seu olhar verde brilhante sobre ele. O fogo estranho em seus olhos brilhou mais intenso quando ele avistou uma nova presa. Em seguida, ele rosnou, cravou as garras na terra congelada, e lançou-se em direção a ele. Ronan puxou sua espada enquanto corria e usou outra onda de magia para obscurecer sua espada. Normalmente, isso se tornava visível quando retirado da bainha, mas ele precisava de todas as vantagens que pudesse encontrar, e esconder sua arma era o único que sua mente correndo conseguiu encontrar. Normalmente, quando chegava à batalha, ele era muito mais cuidadoso, entrando na luta apenas quando havia Theronai em abundância para defendê-lo. Sua magia era formidável, mas limitada, e ele já podia sentir-se queimando através do precioso poder que o sangue de Justice dera. Quando isso acabasse os dois estavam tão mortos quanto mortos. Com isso em mente, ele calculou o caminho mais rápido através do combate e seguiu seu curso. O sgath se aproximava cada vez mais. O chão congelado entorpeceu seus pés enquanto eles batiam com força contra ele. Sua respiração subia em plumas geladas, e ele podia ver o brilho que seus olhos lançavam na grama morta entre ele e o demônio. Apenas mais alguns metros...

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Um sorriso de vitória estendeu a boca do sgath. Suas mandíbulas se abriram e um rosnado feroz dividiu o ar frio. Pernas poderosas flexionaram quando se lançou para a garganta de Ronan. Ele abaixou e deslizou sob a besta, tomando cuidado para evitar suas garras. Sua espada subiu quando ele passou, rasgando uma ferida profunda ao longo de sua barriga peluda. Sangue

preto

e

oleoso

derramou

sobre

as

mãos

de

Ronan

e,

instantaneamente, ele pôde sentir o formigamento de veneno procurando um caminho em sua corrente sanguínea. O sgath aterrissou com força e derrapou sobre o chão, onde chegou a aterrissar em uma pilha desajeitada. Não estava morto. Nem mesmo perto. De fato, ele enrolara seu corpo para poder absorver o sangue que fluía de sua ferida. Dentro de minutos, seria totalmente restaurado. Antes que isso acontecesse, Ronan precisava tirar Justice e ele daqui. Ele deu as costas à fera e virou-se para a van, arrastando o corpo levitado de Justice junto com ele. Ela disparou a arma enquanto corria, derrubando os demônios alguns metros a cada tiro. O veneno entorpeceu os dedos de Ronan. Ele nem precisou pensar na reação de seu corpo à toxina, era tão involuntária quanto seu batimento cardíaco. Sua pele sugou energia de suas células e empurrou o veneno por todos os poros que tocou. Ele queria limpá-lo, mas não havia tempo para isso agora. Ele não podia sentir sua espada dentro de seu aperto entorpecido, mas de alguma forma conseguiu mantê-la fechada em seu punho. Ao contrário das espadas que os Theronai carregavam, a dele não coletava a essência das coisas que ele matava. E mesmo que fizesse, sua lista de mortes era lamentavelmente curta. Ele preferia evitar a violência. Se não fosse o fato de que os demônios sabiam exatamente onde ele e Justice estavam, ele teria obscurecido a presença deles agora. Mas era tarde demais para isso. Os sgath tinham seu cheiro, e eles não iam parar até que pegassem suas presas.

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Havia alguns metros entre ela e os demônios agora. Ela os desacelerara um pouco com a arma, mas a arma estava vazia e os sgaths estavam rapidamente recuperando o terreno. — Espere! — Ele gritou para ela. Não havia como ele comunicar mais informações. Sem tempo. Ele tinha que agir agora, antes que sua janela de oportunidade se fechasse. Ronan espremeu uma explosão de poder do sangue e usou-a para lançar Justice em direção à van. Ela acertou o lado com força suficiente para abalar um dente, mas qualquer dano que ele fizesse era muito melhor do que o que o sgath reservou para ela. Agora que ela estava muito longe para alcançar, os demônios voltaram sua atenção para ele, o alvo muito mais próximo. Seu corpo ficou fraco por causa do esforço e da luta contra o veneno corroendo sua pele. Ele pôde sentir novamente os dedos, mas isso não era uma bênção. Eles queimaram como se estivessem pegando fogo e alguém tentou apagálo com uma mistura de gasolina e ácido. Ele estava mais lento agora. Não havia mais energia de sobra para acelerar as pernas. Tudo o que tinha era para mantê-lo de pé. Justice se levantou e balançou a cabeça como se estivesse atordoada. Alívio ao ver que ele não a machucara muito e deu esperança de que ela conseguisse sobreviver a isso. Ele, por outro lado, não tinha tanta sorte. Os sgath estavam tão próximos que ele sentiu o hálito fétido e sentiu o calor úmido na parte de trás do pescoço. Ele não podia se virar e lutar. Ele estava fraco demais para isso. Mas ele também não podia fugir deles. Tudo o que ele podia fazer era comprar a Justice algum tempo para correr. — Vá! — Ele gritou para ela. — Deixe-me! — Ele teria colocado uma força de compulsão em suas palavras se tivesse forças. Ela se virou na direção do som da voz dele. Algumas centenas de metros os separavam, mas poderia muito bem ter sido quilômetros. Ela era tão linda. Ele desejou ter conseguido mais tempo com ela. Ele desejou ter passado mais tempo beijando-a e tocando sua pele macia. Ele desejou ter

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rasgado o véu para o passado dela e ter conhecido tudo dela. Ele queria poder libertá-la e devolvê-la à sua vida, sua liberdade. Era disso que ele mais se arrependia. Não havia tempo para arrependimentos agora, apenas ação. Ronan fez uma curva acentuada à esquerda e se afastou da van, atraindo os demônios famintos junto com ele. Justice conseguiu correr agora. Pelo menos ele a deu essa pouca liberdade.

*** Ronan ia morrer e Justice não tinha ideia de como parar com isso. Reba não era páreo para essas criaturas, e havia duas delas logo atrás de Ronan. Outro não estava longe, lambendo seu próprio sangue derramado. Sua cabeça ainda estava girando em seu passeio selvagem e no final muito abrupto em que ela bateu na lataria da van. Não que ela estivesse reclamando. Ela preferia ter uma aula de física a ser devorada por demônios. Como sua arma era de pouca utilidade, a única arma em que ela conseguia pensar era a que havia tão recentemente sacudido seu cérebro. Se você não pode atirar neles, atropele-os. Ela entrou atrás do volante e ligou o motor. As rodas giraram na grama congelada, mas ela conseguiu fazer com que o pesado veículo seguisse na direção certa. Assim que os faróis atingiram Ronan, ela sabia que não seria rápida o suficiente. Nem mesmo seu amado Ricardo conseguiu acelerar rápido o suficiente para tirar aqueles dentes e garras longe das costas de Ronan. Ainda assim, sem outras ideias, ela ligou o motor e carregou. Ela estava quase lá quando uma pata larga passou pelas costas de Ronan. O pânico explodiu através de seu sistema. Ela gritou um som incoerente de negação. Ela acabara de encontrá-lo. Ele era sua única esperança. Ela não podia perdê-lo agora. Assim não. Faíscas azuis voaram de seu casaco, onde as garras afiadas atingiram, mas não romperam o couro. Ele ainda estava vivo. Não lesionado. Ela não entendeu como, mas sabia que a sorte dele não poderia durar muito.

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Ele estava diminuindo a velocidade, ficando sem vapor. Havia tão pouco espaço entre ele e os monstros que ela temia se atingisse um, também o atingia. Era quase tarde demais para mudar de rumo, mas ela inclinou a van levemente para a direita e esperava que não fizesse mais do que prender a parte de trás de seus calcanhares. Um dos demônios bateu forte no para-choque e foi sugado sob o pneu. A van balançou. O volante foi puxado de suas mãos. Ela só bateu em um, e o outro estava levantando sua enorme pata para outro golpe nas costas de Ronan. Um pensamento pousou em sua mente, pesado, sólido e totalmente formado. Não era dela. Ela não sabia de onde veio, mas a sensação frenética em torno dela a fez seguir as ordens. Ela mordeu o pulso e usou a outra mão para abrir a porta da van. O vento frio entrou e pegou o cheiro de seu sangue, fresco em seus lábios e pele. Instantaneamente, o demônio virou a cabeça na direção dela. A luz verde doentia irrompeu de seus olhos e a congelou no lugar com medo. Seu pé ficou mole no acelerador. A van diminuiu drasticamente sobre o terreno irregular. Abaixo dela, ela podia ouvir o uivo enfurecido do demônio que atingira, e suas garras frenéticas na parte inferior do assoalho. Ele estava vivo e queria prová-la. A criatura nos calcanhares de Ronan mudou de rumo e se dirigiu para a fonte do sangue que cheirava. Tão perto quanto ela estava, não achava que teria tempo de fechar a porta antes que ela a atingisse. Havia algo de errado com seu corpo. Quanto mais ela olhava para a coisa, mais lenta se tornava, mais medo afundava em sua pele e sugava seu calor. Ela precisava fechar a porta da van. Ela precisava recarregar Reba. Ela precisava sobreviver. Ainda assim, seu corpo ignorou seus pedidos, mal se movendo como ela ordenou. O demônio ergueu as patas e abriu as mandíbulas enquanto se lançava.

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Sua cabeça tinha o tamanho certo para caber dentro daquelas mandíbulas gigantes. Uma grande mordida e seu pescoço seria cortado. Rápido. Não é indolor, mas rápido. Sem mais Destinos, sem mais compulsões, sem mais preocupações. Sem mais Ronan. Esse foi o pensamento que a tirou de seu estupor. Ela levantou os pés e empurrou com força no momento em que o monstro alcançou o limiar da porta. Antes que pudesse fazer contato, sua cabeça caiu. Apenas caiu de lado. Levou um segundo para perceber que foi cortada. Ronan estava atrás da criatura, com a espada nas duas mãos, o rosto pálido, mas feroz. Ele matou a coisa. Cortou a cabeça. Como diabos ele fez isso? Fluxos grossos de sangue preto saíam do pescoço peludo, a vários metros de altura. Ela empurrou com os pés. — Vá em frente, — Ronan ordenou com uma voz dura e fria. Justice não discutiu. Ainda havia mais duas dessas coisas vivas, e ela não tinha intenção de ver o quanto mais perto da morte ela e Ronan poderiam chegar. Ele entrou atrás do volante. — Eu preciso de lenços. Ele fechou a porta e partiu, tomando o cuidado de dirigir sobre uma pedra baixa para raspar o demônio agarrado ao assoalho da van. Justice voltou e encontrou o recipiente plástico de lenços umedecidos. Ela pegou vários e entregou a ele. Ele limpou as mãos enquanto dirigia, depois esfregou o volante e a porta onde as tocara. A lama negra e oleosa saiu pela janela, e ela nem sentiu a menor pontada sobre o lixo jogado. — Me dê seu pulso, — ele exigiu. Ele estava claramente zangado, mas, para ela, esse era seu problema, não dela. Ela fez o que ele pediu e o deixou lamber o sangue e curar sua ferida irregular. Depois disso, ele pareceu mais calmo, mais firme e muito menos irritado. Ainda chateado, no entanto.

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Ele a olhou rapidamente, um olhar cheio de fogo e fúria. — A próxima vez que eu disser para você correr, é melhor você correr. Ela não deixaria ele ou qualquer outra pessoa empurrasse. Ela tinha o suficiente das Destinos. — Eu não sabia que você tinha o direito de me dizer para fazer qualquer coisa. — Eu estava disposto a morrer para que você pudesse viver. Isso me dá o direito. Era assim que as coisas funcionavam no mundo dele? Ela não sabia. Ela não fazia parte disso há muito tempo. Ainda assim, ela precisava deixar uma coisa perfeitamente clara. — Não recebo ordens de ninguém além das Destinos, e apenas porque não tenho escolha. Eu as odeio por me empurrar. Se você continuar pressionando, também irei te odiar. Sua mandíbula se curvou. Suas maçãs do rosto eram mais pronunciadas. Ele parecia mais magro, embora não tão magro quanto na noite em que o conhecera. Ele estava com fome. Ele havia queimado muita magia salvando sua bunda hoje à noite, mesmo que isso a tivesse deixado um pouco machucada de um lado onde ela voou para dentro da van. Pelo menos ela ainda estava respirando, em vez de ser digerida no intestino de um monstro. Ele girou o volante com força suficiente para jogá-la em seu assento. — Onde estamos indo? — Ela perguntou. — Ver algumas pessoas que eu conheço. — Para qual propósito? Ele lançou um olhar azul brilhante. — Alimentar. Uma onda de ciúme a atingiu, golpeando seu interior até ficarem cruas. — Alimente-se de mim. — Não. — Por que não? E não diga porque estou curando. Eu já disse que estou bem. — Você está ferida. E mesmo se você não estivesse, eu ainda não pegaria seu sangue. — Por que não? — Porque eu prometi a você que não iria machucá-la novamente, e por mais bravo que eu esteja, é exatamente o que eu faria.

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— Eu não acredito em você. Ele agarrou o volante com mais força. Uma luz azul se espalhou pelo painel. — Então você não tem ideia do quão furioso com você eu estou.

*** Nenhum dos Sanguinar pegou o sangue de Nika. Era perigoso demais, por mais simples que fosse tê-la examinado. Logan se ajoelhou ao lado da cadeira onde Nika estava sentada, com a barriga cheia e redonda com o filho. Ela ainda era magra demais para o seu gosto, mas ganhou peso suficiente para que ele não estivesse muito preocupado. Além disso, seu marido Madoc já estava encarregado de importuná-la para comer. Ele não precisava da ajuda de Logan nesse departamento. Graças ao desejo de Nika, a suíte estava tão limpa quanto uma sala de operações. Todos os itens essenciais que um recém-nascido poderia precisar e dezenas de coisas que eles não precisavam estavam aqui, aguardando o nascimento da criança. Uma menina Nika e Madoc teriam uma filha a qualquer hora. Ele colocou a mão na barriga e deixou sua mente deslizar em seu corpo para verificar a saúde de mãe e filha. — Isso vai demorar? — Nika perguntou. — Quero reorganizar o armário do bebê. — Você já fez isso três vezes, — Madoc rosnou em sua voz áspera. — Apenas sente-se e descanse. Logan escondeu seu sorriso. Madoc pairava sobre Nika, dificilmente a deixando fora de vista. Desde o dia em que soube que seria pai, ele andava com uma pilha de nervos superprotetor. Esta menina estava com o pai enrolado no dedo quase tão firmemente quanto a mãe. — Não vai demorar, — disse Logan. Sua esposa, Hope, estava atrás dele e colocou a mão em seu ombro. Tudo o que ele fez era muito mais fácil com ela em sua vida. O sangue dela não apenas o livrou da fome e deu a ele o tipo de poder que ele nunca sonhou que teria

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novamente, ela também era sua pedra. Ele não podia imaginar amar alguém mais do que a amava. Ela era tudo dele. O bebê de Nika estava saudável e crescendo. Ela se virou e agora estava de cabeça baixa, chutando com força as costelas de sua mãe. Sua força vital era tão forte que era quase difícil de tocar. Intensa e brilhante, como uma estrela. Ela não tinha ideia de quanta alegria e esperança estava trazendo para tantos. Se eles não fossem cuidadosos, ela seria estragada além da conta no terceiro aniversário. Logan recuou do corpo de Nika e voltou ao seu. Ela inclinou a cabeça para o lado. Seus cabelos brancos estavam mais compridos agora, passando pelos ombros. Madoc distraidamente deslizou os dedos por ele, acariciando a cabeça de sua esposa como se quisesse acalmá-la. Houve um tempo em que Nika precisou disso, mas estava forte e firme agora, graças a ele. O poder dele havia curado sua mente fragmentada e a restabeleceu. Era uma coisa linda e incrível de se ver. — Ela está quase pronta para nascer, — disse Nika. — Só mais um dia ou dois. O batimento cardíaco de Madoc disparou e sua respiração acelerou. Um fino brilho de suor nervoso cobria sua testa. — Como você sabe? — Logan perguntou. Nika piscou como se sua pergunta fosse estúpida. — Ela me disse. Logan não entendia o vínculo psíquico que ela e a filha compartilhavam, mas isso o intrigou. Ele duvidava que Madoc deixaria sua filha ser estudada, mas talvez quando ela fosse mais velha... — Vamos torcer para que ela decida vir à noite, — disse Logan. — Eu realmente gostaria de ser o único a recebê-la no mundo. — Ela gosta de você, — disse Nika, depois abaixou a voz para um sussurro. — Mas ela gosta mais de Hope. Logan riu. — Eu também. Hope balançou a cabeça enquanto sorria. — Se terminarmos aqui, vamos deixar esses dois em paz. Parece que eles estão ficando sem noites, onde são apenas os dois.

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Madoc empalideceu e um olhar de medo percorreu suas feições. Nika pegou sua mão. — Você vai ficar bem. Melhor pai do mundo. Ele balançou a cabeça. — Eu não estou preparado. Eu preciso de mais tempo para me preparar. — Desculpe, meu amor, — disse Nika, sorrindo, — mas nossa filha discorda.

*** Chester Gale não se importava de trabalhar com demônios. Eles pagavam bem e sempre cumpriam suas promessas. Ele, no entanto, não gostava do estupro visual que precisava tomar sempre que olhava para o que se chamava Vazel. O demônio era grotesco, com muita pele nodosa e pouca roupa suficiente para esconder tudo. Seus braços eram excessivamente longos e faltava alguns dedos em cada mão. Chester não sabia se eles foram removidos ou se ele nunca os teve, mas de qualquer maneira, suas mãos eram igualmente feias. O local de encontro deles convinha à criatura. Era uma caverna industrial escura e escorregadia, a leste de Kansas City, e fedia a carne velha e lixo de galinha. O espaço já foi usado como armazenamento para documentos corporativos, mas desde a revolução digital, ninguém mais veio aqui. Todas as caixas estavam úmidas e flácidas, algumas cobertas por fungos. Chester nem tinha certeza de que a empresa que possuía o espaço de armazenamento lembrava que estava aqui. Luzes fluorescentes pendiam do conduíte elétrico no alto. Alguns estavam acesos, mas a maioria das lâmpadas havia morrido anos atrás, deixando seus sobreviventes zumbindo e tremendo de dor. Havia novos túneis na parte de trás do espaço, onde nenhuma luz chegava. Tudo o que Chester podia ver era uma criatura com duas órbitas queimadas olhando para ele como se o desafiasse a se aproximar. Ele não fez. — Você trouxe? — Perguntou Vazel, cuspindo palavras pela boca cheia de dentes afiados. — Eu tenho o livro. Eu perdi a garota. O rosto do demônio era tão carnudo e alienígena, que Chester não sabia dizer se sua expressão mudava para raiva, ou se ele sempre se parecia assim.

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Vazel estendeu a mão com apenas dois dedos e o dobro de juntas em cada uma, conforme necessário. — Me dê isto. Chester entregou o livro, cuidadosamente embrulhado em papel de seda. Ele preferiria que um de seus homens fizesse o trabalho, mas quando se tratava de demônios, eles gostavam de fazer negócios cara a cara. Ele adivinhou que era para que eles pudessem comer o rosto com mais facilidade, se quisessem. Vazel abriu o papel e jogou-o de lado. O livro ele inspecionou, apertando os olhos bulbosos como se tentasse alcançar as intricadas marcas rodopiantes na superfície encadernada em couro. — Isso é escrita? — Chester perguntou. — Para quem sabe ler. — Você sabe? — Eu posso ler as entranhas também. Gostaria de saber o que a sua diz? Chester tentou evitar que sua expressão desse seu repentino surto de medo. Pelo sorriso assustador no rosto de Vazel, ele falhou. Ele decidiu que era melhor ficar lá e deixar a criatura terminar o que fosse necessário para que pudesse ser pago. Finalmente, Vazel disse: — É o livro que eu preciso. Gostaria de saber o que diz? Instintos, o tipo profundo e animal que alertava para um perigo iminente, diziam o que dizer.

— Não, obrigado. Eu estou bem. Tudo o que quero é o

pagamento e uma lista do que mais posso fazer por você. — Eu queria a garota. — Eu realmente sinto muito por isso. Eu tentei encontrá-la, mas minha rede de olhos e ouvidos não faz ideia de onde ela está. — Está tudo bem, — disse Vazel, acenando com a mão grotesca. — Eu sei onde ela está. Mas não sei onde está quem a roubou. — Justice, ela se chama, — ofereceu Chester. — Ela matou vários dos meus homens. Ela foi baleada, mas rumores dizem que ela apareceu online, então ela não está morta. — Eu quero que você a encontre. Traga-a para mim. Chester assentiu. De jeito nenhum ele negaria a esta criatura o que quisesse, pelo menos não enquanto estivesse ao alcance daqueles braços compridos.

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— E a garotinha que Justice roubou? — Chester perguntou. — Você quer que eu envie meus homens para recuperá-la? Se você me disser onde ela está, eu irei. O demônio sorriu, como se estivesse antecipando uma sobremesa luxuosa. — Não há necessidade. Eu vou buscá-la eu mesmo.

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Capítulo 9 Ronan não costumava ter a raiva como sua principal emoção. Ele geralmente estava mais no controle do que isso, guardando sua raiva pelas criaturas que lutou, em vez de seus aliados. Esta noite, ele ia fazer uma exceção. Ele não podia acreditar que Justice voltou por ele. Que diabos ela estava pensando? Provavelmente ele iria morrer se ela não intervisse. Talvez ele tivesse. Ele desejou ser mais forte. Se ele tivesse se permitido tomar mais sangue dela, ele teria sido, mas não importa o que ela pensasse, ela não estava pronta para isso. Se ele deixasse seu controle e bebesse o suficiente, ele acabaria machucandoa, e isso era algo que ele não podia permitir. Ele prometeu. A necessidade de libertá-la de suas compulsões era uma força poderosa batendo na parte de trás de seu crânio. Ela dera muito e, no entanto, ele nem havia descoberto o que estava causando seu sofrimento. Era uma presença. Isso ele sabia, mas não mais. Ou ele sabia? Algo fez cócegas em sua mente. Ele ouviu uma voz dizendo para ele parar de beber seu sangue. Esse não foi seu próprio sistema de alerta interno, para sua vergonha. E ele não acreditava que tivesse sido dela também. Talvez a presença dentro dela tivesse falado com ele. Se fosse, ele poderia se comunicar com ela e descobrir mais, o que era, o que queria e como poderia bani-la. Ronan foi até a casa do Sr. e da Sra. William Pennyfort e os acordou de um sono profundo. Depois que ele explicou sua presença, o casal de idosos o recebeu e Justice, e ofereceu seu sangue livremente. Enquanto se alimentava de William, ele inverteu o aumento da próstata do homem para ele poder dormir Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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profundamente durante a noite sem levantar quatro vezes para fazer xixi. Sua esposa teve uma dor no ciático, que Ronan também curou. Quando tudo foi dito e feito, o casal estava com uma saúde melhor do que os havia encontrado, e ele não estava mais morrendo de fome. Foi uma troca justa e simples, e ele desejava ser mais comum. Infelizmente, desde que um dos seus se tornou traidor, muitos humanos começaram a guardar seu sangue com ciúmes, como se o mero ato dele se alimentar um deles pudesse fazê-los se voltar contra suas próprias famílias e amigos. Justice assistiu a troca inteira, mas não disse nada. Quando eles estavam de volta na van, ela perguntou: — Você se sente melhor? — Sim. — Tão bom quanto você teria depois de tomar meu sangue? — Nem mesmo perto. Um pequeno sorriso satisfeito brincou em sua boca. — Bom. Ela certamente era uma coisa ciumenta, que ele achou que gostava. Isso significava que ela não estava planejando fugir de novo, não se ela quisesse ser a única de quem ele se alimentasse. Ele usaria isso como vantagem se surgisse a necessidade. Ela pegou o broche de prata do bolso e o girou entre os dedos. — Alguma ideia de por que você teve que desenterrar o túmulo de uma velha para isso? — Ele perguntou. — Ainda não. — Suas Destinos estão exigindo algo de você agora? Precisamos invadir uma loja de cozinha por uma máquina de macarrão? Ou talvez tirar fotos com o maior cão da pradaria do mundo? — Não, mas há uma coisa que eu preciso cuidar. — O quê? — Chester Gale. O homem que pegou Pepper e matou sua mãe. Bem, tecnicamente, eu já matei o desprezível que a matou, mas o homem que mandou, o que tinha algum motivo para comprar uma garotinha, ainda está lá. —As Destinos querem que você o mate?

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— Não, isso é tudo comigo. — Ela se virou para encarar Ronan. Os faróis que se aproximavam brilharam sobre sua pele escura, destacando o quão séria ela estava sobre isso. — Isso faz de mim uma pessoa má? — Que você quer matar um homem que destrói vidas? — Ronan deu de ombros enquanto observava a estrada à frente para sua saída. — Acho que não. — Ele tem riqueza, poder e uma vasta rede de pessoas que trabalham para ele. Incluindo eu. — Ele emprega você? — Encontrei objetos para ele algumas vezes. Eu não sabia que ele gostava de garotinhas até Pepper. — Que tipo de objetos? — Um livro, uma adaga. Bugigangas. Como este broche. Todos eles parecem ter o mesmo tipo de marca neles. Talvez eles tenham sido feitos pelo mesmo ourives e ele seja colecionador. —Ela balançou a cabeça. — Os contracheques sempre foram grandes o suficiente para desencorajar muitas perguntas. — Você foi obrigada a encontrar essas bugigangas do jeito que era? Ela ficou em silêncio por um momento. — Eu pensei que as Destinos estavam simplesmente financiando meus armazéns e meu estilo de vida acelerado. Você sabe, possibilitando que eu tenha carros velozes para me levar aonde elas querem que eu vá e pague por todas as multas por excesso de velocidade que os acompanham. — E agora? Você pensa diferente? — Por que elas querem que eu ajude um idiota? — Então, você acha que as Destinos são inerentemente boas? — Eu acho que elas são inerentemente irritantes. Acho que sempre esperei que as coisas que elas tinham me servissem a algum propósito maior. Como salvar sua vida. — Você já as ouviu falar? — Ele perguntou. — Não, mas eu sempre esperava que elas pudessem me ouvir. Eu tenho muitas coisas para dizer ao longo dos anos. — Eu aposto que você tem, — ele disse.

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Ele saiu da estrada e parou no topo da rampa para observar sua expressão. — Eu acho que as Destinos podem ter falado comigo. Quando eu estava me alimentando de você. Os olhos verdes dela se arregalaram. — O quê? Você tem certeza? — Não, mas se você me deixar, eu posso tentar ouvi-las novamente. Talvez até falar com elas. — Sim, — ela disse sem hesitar. — Faça isso agora. Diga a elas para me deixarem em paz. — Preciso procurar abrigo do sol primeiro. A van está bem em uma emergência, mas eu prefiro ficar embaixo da terra durante o dia. Há uma casa de fazenda a alguns quilômetros ao sul que tem um porão. É rústico, mas seco. E o andar de cima é bastante agradável. Camas confortáveis, isso me disseram. Justice assentiu, mas não disse nada. Ele a aborreceu de alguma forma. Ele podia sentir o cheiro da dor que vinha dela em ondas, mas não tinha ideia do que ele havia feito ou dito para causar isso. Para um homem que passava muito tempo na mente de mulheres de todos os tipos, Ronan ainda não entendia o que as fazia funcionar. — Eu disse algo errado? — Ele perguntou depois de alguns quilômetros de silêncio. — Não. Está tudo bem — ela disse em um tom que significava que definitivamente não estava bem. — Sei que você está chateada. Me diga o que está errado. Depois de mais alguns minutos de silêncio desconfortável, ela disse: — Por que as Destinos não falariam comigo? Quero dizer, passei a vida inteira cumprindo suas ordens, pulando por todos os aromas que elas exigiam, não importa o quão confuso ou desagradável. Eu matei por elas. Por que diabos elas conversariam com você e não comigo? — Eu nem tenho certeza se foi isso que aconteceu, Justice. Ouvi algo, mas em nosso mundo, há muitas coisas que poderiam ter acontecido. — Como o quê? — Estou ligado àqueles de quem me alimentei. Um deles pode ter sido capaz de me alcançar se possuísse magia suficiente. E sempre há a possibilidade de que houvesse um médium por perto que me alcançasse sem pretender fazê-lo. Conheço

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uma mulher, Rory, que foi atormentada ao ver as coisas através dos olhos das pessoas ao seu redor. Ela não conseguia manter essas visões de fora. Talvez haja outra Theronai por perto que seja incapaz de deixar de projetar seus pensamentos para as pessoas ao seu redor. E não vamos esquecer Brenya, que em todos os aspectos é uma fodona mágica de proporções épicas. Provavelmente foi ela quem te enviou aqui. De alguma forma, ela ainda pode estar ligada a você e protegê-la de ser alimentada por homens como eu. — Hope a mencionou. Você acha que é ela quem me faz fazer essas coisas? Ronan balançou a cabeça. — Acho que não, mas posso estar errado. — Por que você não acha que é ela? — Porque se tudo o que ouvi é verdade, ela tem as mãos cheias. Enviamos uma mulher gravemente doente para ela curar. Grace estava além de nossa ajuda, mas Brenya se ofereceu para tentar salvá-la. Ao mesmo tempo, ela também levou a jovem Theronai Tori, que foi criada por demônios e torturada até que ela era pouco mais que uma massa furiosa de impulsos violentos. Além disso, Hope diz que ela está levantando mais Sanguinar para enviar aqui para ajudar na nossa luta. Duvido que ela tenha tempo de me dizer quando tomei muito do seu sangue. — Isso é o que ela disse? — Não sei se era ela, mas a palavra que ouvi foi pare. — Isso é tudo. Uma palavra? — Acredite, uma palavra foi suficiente. Havia poder lá. Muito poder. Justice girou distraidamente o broche em seus dedos. — Isso, pelo menos, me faz sentir melhor. — O quê? — Que a coisa que me controla é poderosa. Não sei dizer quantas vezes tentei combater as compulsões ao longo dos anos. Eu nunca ganho. Eu sempre esperei que não fosse porque eu era fraca. Ele estendeu a mão e cobriu sua mão com a dele. — Eu estive dentro de sua mente, Justice. Vi partes de você que ninguém mais viu, provavelmente incluindo você. A última palavra que eu usaria para descrever você é fraca. Ela virou a mão na vertical e deslizou os dedos entre os dele. O jeito que ela se agarrou a ele foi à sua cabeça e o fez se sentir mais forte do que em muito tempo. Ela estava contando com ele. Dependendo dele para libertá-la de sua tortura.

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Não importava o que fosse necessário, ele não a decepcionaria. Quando ele chegou à antiga fazenda, o nascer do sol ainda estava a algumas horas de distância. Como não havia garagem, ele estacionou sua van no lado leste da casa, encostada aos degraus dos fundos. — Planejando precisar de uma fuga rápida? — Justice perguntou. — Sempre. Vamos torcer para que não chegue a isso. — Eu não sei sobre você, mas estou morrendo de fome. — Deve haver comida na geladeira. Fique à vontade. Vou ligar para Dabyr e verificar as coisas em casa. Ele fez uma rápida varredura na casa para garantir que não houvesse surpresas desagradáveis nos quartos escuros. Quando ele teve certeza de que eles estavam livres de visitantes, tanto animais quanto Synestryn, ele chamou Tynan, o Sanguinar que o resto deles considerava seu líder. — Você ainda está com a mulher? — Tynan perguntou. — Eu estou. — Ela é como Hope? — Eu tenho certeza disso. Tynan soltou um suspiro longo e aliviado. — Essas são boas notícias. Quando você estará em casa? — Eu não sei. A última vez que estivemos em Dabyr, ela parecia estar bloqueada da presença que a controlava. — Então por que não mantê-la aqui? — Porque quando ela finalmente foi conectada àquela presença novamente, foi... desagradável para ela. Ela teme que, se ela for cortada por muito tempo, isso possa até matá-la. Tynan suspirou. — Nós realmente precisamos de você em casa, Ronan. Há tantas pessoas embaladas dentro das paredes agora. Além das brigas entre as pessoas dentro de Dabyr, há escaramuças do lado de fora todas as noites, como se os Synestryn estivessem testando as paredes quanto a uma fraqueza. Nossos combatentes

estão

mantendo-os

afastados,

mas

os

ferimentos

estão

se

acumulando e rachaduras estão se formando nas paredes mais rapidamente do que Lexi pode consertá-las. Estamos muito magros, principalmente quando se trata de crianças que ainda precisam de cuidados diários. Elas sentem sua falta.

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— Me desculpe, eu não posso estar aí, mas Justice e o poder que seu sangue detém tem que ser a minha prioridade. Eu tenho que encontrar uma maneira de libertá-la. — Quando você faz, seu próximo trabalho deve ser convencê-la a se juntar a nós. — Mesmo que eu a convença, ela não vai aceitar bem seguir as ordens. — Ela aprenderá a obedecer. Com o tempo, todos nós aprendemos. Tynan poderia dizer isso apenas porque não conhecia Justice. Se ele conhecesse, ele nunca teria usado a palavra obedecer. — Eu sugiro que você não expresse sua hipótese de onde ela possa ouvi-lo, — disse Ronan. — Quanto mais tempo você precisa? — Eu não sei. Vou tentar alcançar a presença que a controla e me comunicar com ela. — O sol vai nascer em breve. É melhor você trabalhar rápido. — Você também, Tynan. Diga às crianças que sinto falta delas, por favor? — Claro. Esteja seguro. — Tynan desligou. Ronan virou-se para encontrá-la em pé na porta da cozinha da fazenda, com uma tigela nas mãos. Vapor subia da superfície, junto com o cheiro de cebola e especiarias. — Quer um pouco? — Ela perguntou. — Não sei como se chama, mas é incrível. Ele atravessou a pequena sala de estar e espiou dentro da tigela dela. Arroz, feijão, tomate e coentro foram misturados e cobertos com uma camada de queijo dourado. Ele pegou o garfo e deu uma mordida. — Você está certa. É bom. Ela entregou a ele. — Tenha o meu. Vou preparar outra tigela. É legal da parte deles ter tudo exposto em porções individuais. Eu poderia usar elfos assim. Comer na estrada envelhece rapidamente. Como em cerca de oito anos. — Você nunca cozinha para si mesma? — Ele perguntou. — Os jantares de micro-ondas contam? Ele torceu o nariz. — Eu acho que você sabe a resposta para isso sem a minha ajuda.

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Ela puxou a tigela do micro-ondas e se juntou a ele na mesinha redonda. A cozinha era velha, mas limpa. Os armários brancos haviam sido mal pintados algumas vezes. As dobradiças estavam cobertas de camadas de tinta. Galos vermelhos desbotados decoravam o espaço, nas paredes e em pratos apoiados atrás de um trilho acima dos armários. A torneira pingava e ele fez uma anotação mental para entregar um pedido de reparo. — Existem dois quartos — ele disse. — Você pode fazer a sua escolha. — Onde você vai dormir? — No porão. — Existe um quarto lá em baixo? — Não. Apenas uma cama de solteiro. — Por que não uma cama? Você não merece estar confortável também? — Eu não sinto muito quando estou dormindo. Felizmente. — Por que você diz isso? — Ela perguntou. — Porque na maioria das vezes, nossa espécie está morrendo de fome. O sono é a única pausa que temos. É por isso que muitos de nosso tipo dormem por décadas. — O quê? — Quando a fome fica demais para suportar para um de nossa espécie, nós o colocamos em um sono melhorado para que não sofram. Além disso, eles usam muito menos sangue nesse estado, o que nos ajuda a conservar o que temos disponível. Nós os alimentamos quando podemos, mas nunca há o suficiente. — Onde eles estão? — Abaixo de Dabyr. Temos câmaras de dormir atrás de várias camadas de segurança. Apenas alguns de nós têm acesso. — Por que tanta segurança? O que alguém vai fazer com um vampiro adormecido. Ele fez uma careta para o termo. — Não é o que eles fariam com eles, mas a eles. Eles estão completamente vulneráveis. Mesmo que alguém os machuque, eles não acordarão sem ajuda, sem sangue. Ela deu outra mordida e mastigou lentamente, como se estivesse pensando. — Passei os últimos dez anos pensando que minha vida era pior do que a de qualquer pessoa. Mas aqui estão todos, incapazes de ver o sol, famintos,

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desconfiados e ainda estourando a bunda para ajudar todos ao seu redor. — Ela apontou para ele com o garfo. — Eu sei que você fez algo pelo velho casal que o alimentou. E sei que custou o poder que você poderia ter usado de outras maneiras. Ronan deu de ombros. — Ninguém existe sozinho neste mundo. Aprendemos que a regra de ouro é a única maneira de sobreviver. Se eu tivesse que acordar quatro vezes por noite para fazer xixi, gostaria que alguém me consertasse. Ela riu. — O quê? — Foi o que fiz pelo Sr. Pennyfort. Próstata aumentada. E sim, me custou algo para curá-lo, mas eu ainda vim com o que precisava. — Que foi o quê? — Energia suficiente para me levar ao próximo pôr do sol. Ela sacudiu os cachos. — Hope disse que ela e eu somos como vocês, mas não somos. Temos sorte. — Todos nós temos nossos encargos para suportar. — Ele colocou o garfo na tigela vazia. — Se você terminou de comer, vamos ver o que podemos fazer para aliviar a sua antes que o sol nasça. Ele lavou as tigelas e a levou para a sala. Como na cozinha, esse espaço estava limpo, mas não era atualizado há décadas. Os móveis eram em xadrez bege dos anos 80, para acentuar o tapete e as paredes bege a condizer. Havia uma adorável lareira de pedra na parede da frente, mas exibia uma placa dizendo que não estava funcionando corretamente. Este lugar realmente precisava de atenção. — Fique à vontade, — ele disse. — Isso será mais fácil para nós dois se você estiver relaxada. — Você tem certeza de que tem energia para isso? — Tudo o que vou fazer é tentar iniciar uma conversa. Nada extenuante. — Ele esperava. Justice sentou em uma extremidade do sofá e recostou-se. Ronan sentou-se ao lado dela, perto o suficiente para cheirar sua pele e sentir seu calor delicioso. Ele queria tocá-la novamente, beijá-la. Ele queria muito mais do que isso, mas estava acostumado a deixar de lado seus próprios desejos por uma causa maior.

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Libertá-la da presença que a assombrava era a única coisa que ele podia deixar se importar agora. Mais tarde, quando houvesse tempo, ele prometeu a si mesmo que a provaria novamente. Desta vez, ele teria mais do que apenas de seu sangue. Ele provaria cada centímetro dela. A ideia já o estava deixando duro e agitado. Ele precisava encontrar uma maneira de se acalmar e se concentrar para poder se concentrar na tarefa em questão. — Feche os olhos e respire, — ele disse a ela. — Se você ouvir alguém em sua mente ou sentir alguma dor, me avise. Ela assentiu e deitou a cabeça para trás, olhos fechados. Ela era uma mulher deslumbrante. Sobrenaturalmente bonita, com lábios cheios e beijáveis e a pele mais macia que ele já viu. A necessidade de possuí-la de todos os modos se enfureceu através dele, mas ele empurrou tudo isso para baixo e respirou fundo. Traços de seu sangue ainda estavam dentro dele. As células dela haviam se tornado parte dele, fundindo-se em sua própria carne e osso. Ele podia sentir a essência em cada uma delas e usou isso para se sintonizar com sua mente. Cair em seus pensamentos era fácil agora. Ela não resistiu a ele. Um momento ele estava em seu próprio corpo, e no outro, ele estava no dela, coexistindo ao lado de seu espírito, como se ele sempre estivesse aqui. Por mais deslumbrante que fosse do lado de fora, ela era ainda mais bonita por dentro. Seu calor e força irradiavam ao redor dele em boas-vindas, como o abraço de um amigo perdido há muito tempo. Ronan inchou para preenchê-la o máximo que podia, para obter o máximo de contato possível com sua essência. — Mmm, — ela gemeu. — Isso é bom. Distantemente, ele sentiu seu pau endurecer ao som do prazer dela. Ela não queria que suas palavras fossem sexuais, mas sua ereção não podia dizer a diferença. Queria fazê-la se sentir bem. Permanecer aqui com ela assim por horas teria sido fácil, mas a fraqueza do dia o forçaria a se afastar da mente em breve. Antes disso, ele tinha que encontrar a presença a obrigando. Fazê-la falar com ele novamente. Havia algo familiar em seus caminhos mentais, como se ele tivesse caminhado por eles uma dúzia de vezes antes. Frequentemente, esse tipo de

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jornada era difícil e desgastante, mas com Justice era tão fácil quanto andar sobre um terreno macio em um dia quente de primavera. Ele encontrou a veia grossa do dever que passava por todas as partes e a seguiu de volta para aquela cortina nebulosa que escondia suas memórias. Nada aqui havia mudado. A parede era tão espessa e impenetrável quanto antes. As partes principais dela passaram por ela, dever, força, coragem, mas quando ele tentou passar por elas, foi como se a parede se solidificasse para mantê-lo fora. A presença que ele sentiu dentro dela estava ligada a essa barreira. Ele não sabia se foi erguido pela entidade, mas ele podia sentir uma leve sugestão de intelecto aqui. Talvez as Destinos o estivessem observando. — Você pode me ouvir? — Ele perguntou, mais com a mente do que com a boca. As palavras podem ter saído de seus lábios, mas ele não podia ter certeza. Sua voz ecoou do outro lado da neblina e, pela primeira vez, ele teve uma sensação da vastidão deixada escondida atrás da parede. Muito de Justice ficou preso ali, isolado dela. E dele. Ele não queria isso. Ele queria conhecê-la, aproveitar tudo o que ela era e foi. — Tem alguém aí? — Ele perguntou. Novamente, tudo o que voltou foi o eco de sua voz. Uma onda de inquietação varreu os pensamentos de Justice e o atingiu. — Está começando, — ela disse. — O quê? E então ele sentiu, uma coceira na base do crânio. O nascimento de uma nova compulsão. — Concentre-se nisso, — ele disse. — Leve-me a isso. — Eu não sei como... Oh Lá. Uma luz começou a brilhar à distância. Estava nublada no começo, mas quando ele correu através de sua mente em direção a ela, ficou maior e mais brilhante. Ele seguiu a viga até chegar ao fim e viu o que causou a coceira. Um fio fino e prateado, quase fino demais para ver, brilhava no raio de luz. Estava torcido e emaranhado em alguns lugares, em vez de suave e fluindo como o resto dos elementos na mente de Justice. Enquanto ele observava, o fio parecia

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pulsar e tremer, quase como se alguém estivesse puxando uma ponta, tentando soltá-la. Isso era Justice, ou algo mais? — Não lute contra a compulsão, — ele disse a ela. — Aceite isso. Abrace-a. Ela soltou um gemido suave, mas ele podia sentir sua mente se abrir ao seu redor enquanto ela relaxava e fazia o que ele pedia. — Eu tenho que ir, Ronan. Não posso ficar aqui. — Só mais um momento. Ele observou o fio, e enquanto Justice estava aceitando completamente neste momento, o fio de prata ainda resistia e vibrava. Isto não era uma parte natural dela. Alguém colocou aqui, como eles colocaram o muro ao redor de seu passado. Timidamente, Ronan estendeu a mão e passou sua essência pelo fio. Vá! Vá agora! A presença. Ele a encontrou aqui neste fio de prata não mais grosso que fio da teia de uma aranha. Uma sensação de excitação correu através dele. Ele não sabia se podia se comunicar com o ser do outro lado desse segmento, mas mesmo que não pudesse, agora sabia o que cortar para destruir o vínculo que essa presença tinha com Justice. Ele se enrolou no fio e reuniu uma onda de poder para alimentar seus esforços para alcançar a criatura do outro lado. — Você deve parar. Você a está machucando. Um lampejo de choque vibrou através do fio, juntamente com uma mudança aguda na consciência. Quem quer que fosse, agora estava totalmente focado nele. Quem é você? A presença perguntou. —Ronan. Amigo de Justice. O que você está fazendo está machucando-a. Você deve parar. Não posso. Perigo. Houve longas pausas entre as palavras, que não eram realmente palavras. Pareciam mais conceitos momentâneos, instáveis do que linguagem, ou explosões instantâneas de ideias cercadas por estática. — Que perigo? — Ele perguntou. Vá logo... vá! Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Mal posso esperar, Ronan, — Justice disse entre dentes. — Eu tenho que ir. Ela estava sofrendo. Sua pele estava queimando, e uma sensação de desespero circulou por sua mente, repetidamente. Qualquer que fosse essa presença, ela tinha o poder de controlá-la, e Ronan não tinha ideia de como parála. Ele pegou um lampejo de seus pensamentos. Ela tinha certeza de que ele poderia ajudá-la, tão certa de que havia negociado com seu sangue. Mas ele falhou, e agora o desapontamento derrotou sua esperança até que ela se encolheu de volta em sua caixa, derrotada. — Você não tem o direito de controlá-la! — Ele quase gritou com a presença. Necessidade. A fúria explodiu através dele quando a palavra bruxuleante encheu a cabeça de Justice. Ele não dava a mínima para o que essa criatura precisava. Tudo o que importava era Justice, seu conforto, suas necessidades. Ele não estava tão forte quanto quando entrou na mente. A todo momento ele estava aqui gastando energia preciosa. Ainda assim, ele teve que tentar alguma coisa. Ele não podia deixar Justice perder a esperança nele. Ele não poderia encará-la se falhasse. Ele se enrolou ao redor daquele fio espasmódico e atarracado, e derramou toda a magia que ele podia poupar para cortá-lo. O calor o explodiu, tão forte que Justice ofegou. Ele podia sentir a presença se afastando, afastando-se do calor que enfiou no fio de prata. Retirar não era suficiente. Ele precisava cortar o vínculo entre elas. Destruilo completamente. Até onde ele podia ver em qualquer direção, o fio começou a ficar vermelho ardente. Faíscas voaram dele. Os nós emaranhados tremeram e assobiaram. Ao longe, ele sentiu, mais do que ouviu, a presença gritar de dor. Era longo e alto, como o uivo moribundo de um animal. E então parou. O fio de prata se desfez em cinzas. Ele sentiu como se pudesse fazer o mesmo. Ele estava frágil e fraco por causa de seus esforços, com energia suficiente para retornar ao seu próprio corpo.

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A viagem para casa foi longa e cansativa. Quando ele finalmente pousou em sua própria pele, tudo o que ele podia sentir era fome. Ele abriu os olhos para encontrar Justice olhando para ele com lágrimas por trás dos cílios. Ele estava esparramado no sofá com ela no colo. A expressão dela era uma estranha mistura de medo e gratidão que ele estava cansado demais para entender. — Você está bem? — Ela perguntou, sua voz suave e urgente. Ele não conseguiu falar. Ainda não. Ele ainda não estava decidido, muito menos no controle de seu discurso. Tudo o que ele pôde fazer foi deixar escapar o que esperava ser um grunhido afirmativo. Ele estava vivo. Fraco. Morrendo de fome. Fraco. Mas vivo. — Você conseguiu, — ela sussurrou. Lágrimas se acumularam em seus olhos antes de derramar sobre suas bochechas lisas. — A compulsão se foi. Eu estou livre. O sorriso que ela deu a ele era encharcado, mas lindo. Ele nunca viu algo assim antes e sabia que iria passar pelo inferno para vê-lo novamente. A fome tomou conta de suas entranhas. Ele precisava dormir e bloqueá-lo. Não havia tempo antes do amanhecer para caçar, e Justice já havia dado tanto. Sua única opção era dormir com o pior de sua dor e rezar para que o pôr-do-sol chegasse rapidamente. Justice segurou o rosto dele nas mãos dela. — Eu sei o que custou a você. Eu posso ver sua fome ardendo em seus olhos. Deixe-me alimentar você. Ele não queria mais nada e, a cada segundo que passava, esquecia por que não era uma boa ideia. — Não, — ele resmungou. — Vou dormir. Ela desabotoou os dois primeiros botões da camisa e retirou a gola para expor a curva delicada da garganta. — Depois do que você fez por mim, não vou deixar você ir para a cama com fome. Prometo me hidratar enquanto você dorme. O voto dela era leve e frágil, mas, por mais fraco que ele estivesse, ele ainda o sentia pesar sobre os ombros. Ele não seria capaz de resistir a ela. Ele estava com muita fome e exausto. Tudo o que ele podia fazer agora era usar a pouca força de vontade que restava

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para não consumir muito, porque uma vez que o sangue dela começasse a fluir em sua boca, ele sabia que nunca iria querer parar. Justice abaixou-se para que seu pulso estivesse alinhado sobre os lábios dele. Ela puxou os cachos elásticos para fora do caminho e sussurrou: — Beba.

*** Justice sentiu o momento em que Ronan cedeu à sua fome. Havia uma mudança sutil nele que ela podia sentir o cheiro, como se ele tivesse se tornado um pouco menos homem e um pouco mais animal. Menos pensamento, mais emoção. Menos lógica, mais paixão. Ela adorou. Havia uma emoção em empurrá-lo para além do limite, em tentá-lo além de sua capacidade de resistir. Isso a fez se sentir desejada e indestrutível, tudo ao mesmo tempo, como algum tipo de deusa. Ela sabia que ele estava preocupado em tomar muito sangue, mas se ele pudesse sentir o que ela fazia, saberia que sua preocupação era uma perda de tempo. Desde o segundo em que os dentes dele perfuraram sua pele, através da feroz chupada contra seu pescoço, até os momentos finais, quando ele se afastou de má vontade, ela se sentiu poderosa, cheia de um tipo cintilante de mágica. E agora, ela estava livre. Ninguém a estava fazendo fazer nada. Ela era sua própria pessoa, capaz de tomar sua própria decisão e fazer o que quisesse. O que ela realmente queria fazer era Ronan. Ela segurou a cabeça dele contra a garganta, enquanto ele alimentava e enfiava os dedos nesse cabelo grosso e sedoso. Uma onda de prazer correu por suas veias e vibrou por seus ossos. Ela tremia por toda parte, como se o sol estivesse fazendo cócegas em sua pele com dedos quentes. Era o que ele fazia com ela quando bebia seu sangue. Ele a transformou em pura sensação e a fez voar. Ela sentiu o corpo dele mudar embaixo dela enquanto ele se alimentava. Seus músculos se encheram e endureceram. Sua letargia desapareceu e ele a agarrou como se nunca quisesse deixá-la ir.

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Entre suas coxas abertas, seu pênis inchou e empurrou. Ela podia sentir seu comprimento duro esfregando contra ela enquanto se contorcia por um contato mais profundo, o tipo de contato que ela só conseguiria se ambos estivessem vestindo muito menos roupas. Ela colocou as mãos entre eles para abrir a calça jeans. Ele a agarrou com mais força e soltou um grunhido de aviso. — Eu não estou tentando fugir, — ela disse, ofegante. — Só estou tentando conseguir mais. A língua dele rodou em seu pescoço. Um formigamento quente borbulhava sobre as feridas gêmeas, fechando-as. Ele levantou a cabeça e olhou para ela com olhos que brilhavam em um azul feroz. — Eu vou dar mais, — ele disse. — Tudo o que você puder levar. — Ela não tinha certeza do que ele queria dizer, mas estava mais do que pronta para descobrir. Ele chutou à mesa do café com força. As poucas bugigangas sobre ela bateram contra a parede. A madeira lascou-se contra a lareira de pedra. Um segundo depois, ele a jogou no chão onde a mesa estava e a prendeu lá com seu grande corpo. Um calafrio percorreu seus membros, roubando suas forças. Garras afiadas se estenderam de seus dedos. Ele deslizou um pelo centro do corpo, abrindo suas roupas enquanto ele passava. Sua pele não estava tão arranhada, mas o tecido cedeu e se abriu para revelar uma linha de pele nua da garganta, até o monte. Mas ele ainda não havia terminado. Ronan agarrou as bordas cortadas de sua blusa e as arrastou até que seus seios nus e os restos esfarrapados de flanela pendurados em seus braços. Então ele se abaixou e tirou seus jeans e sapatos em um movimento limpo. O brilho azul de seus olhos deslizou sobre seu corpo, e ela tinha certeza de que podia sentir o calor dele beijar sua pele. — Sua vez, — ela disse com a voz trêmula. Um sorriso perverso ergueu um canto de sua linda boca, então ele se levantou e tirou suas roupas tão rapidamente que seus movimentos ficaram borrados. Quando ele terminou, ele ficou parado por um momento, deixando-a beber.

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A pura maravilha masculina dele a deixou sem palavras. Ele era perfeito em todos os lugares, magro e duro, ondulando com músculos. Seu pênis era longo e grosso e sobressaía de seu corpo como um desafio, um que ela estava mais do que disposta a tomar. Ele se abaixou sobre ela, abrindo suas coxas enquanto ele se estabelecia entre elas. O olhar dele estava fixo no rosto dela, alternando entre os olhos e a boca como se ele não pudesse decidir do que gostava mais. A pele dele contra a dela a deixou selvagem. Seu peito nu provocava seus seios a cada respiração que eles tomavam e fazia seus mamilos se levantarem e doerem. O cheiro do corpo dele tão perto do dela a fez girar a cabeça. Sua boceta apertou e doía, e cada vez que ela se mexia para tentar aliviá-la, ela sentia uma umidade lisa se formando ali. Ele deu a ela todo o seu peso, prendendo-a no lugar. O comprimento duro de sua ereção pressionou contra sua barriga, e ela sabia que, se pudesse fazê-lo levantar um pouco, poderia encontrar uma maneira de colocá-lo dentro dela. Normalmente, ele não estava muito quente, mas agora, ele estava adiando ondas de calor tão intensas que ela pensou poder vê-las brilhando na luz. Mas quando a boca dele encontrou a dela, ela não estava pensando em nada. Ele forçou seus lábios a invadir sua boca. O gosto do sangue estava na língua dele, mas ela não se importou. Na verdade, ela achou doce e picante. Suas mãos percorreram suas costas enquanto ela memorizava cada cume duro e profundo. Só a linha de sua coluna era uma obra de arte, embora ela preferisse senti-la sob as pontas dos dedos do que olhar para ela. Ronan levantou a cabeça para falar. Seu rosto estava vermelho e aquela luz feroz ainda estava queimando em seus olhos. — Eu vou fodê-la, — ele disse, suas palavras quase rosnando. — Se não é isso que você quer, é melhor dizer agora, porque, quando eu começar, você não poderá me parar até que eu tenha toda você. O queixo dela se levantou. — Se eu quiser parar você, eu irei. Sou uma menina grande — ela disse. — Você não me assusta.

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Ele sorriu, mas não era uma visão reconfortante. Era o sorriso de um lobo vendo presas. Seus dentes se alongaram em presas e uma labareda de luz derramou de seus olhos. — Bravo. Não inteligente, mas corajoso. Então ele abaixou a cabeça na curva do peito, acima do coração, e deslizou aquelas presas afiadas em sua pele. Dor e prazer rodaram juntos até que ela não conseguiu dizer onde um terminava e o outro começava. Ela não entendeu por que a alimentação dele em seu sangue era tão fodidamente bom, por que iluminava suas células até que elas estavam dançando em êxtase. Tudo o que sabia era que nunca queria que ele parasse. O formigamento familiar de cura cintilou sob sua boca, depois sua língua limpou todos os vestígios de sangue antes de passar para o outro seio. Mais uma vez, seus dentes a morderam, e novamente ela ofegou em uma mistura de prazer e dor. Seus dedos acariciaram seus mamilos, sacudindo e torcendo enquanto ele se alimentava. Ela queria a boca dele lá também, mas então ela queria sua boca em todo lugar. Como se ele lesse sua mente, ele curou sua mordida e sugou o bico do peito em sua boca quente. Luzes dançavam atrás de suas pálpebras fechadas. Por mais que ela apreciasse seus dedos, eles eram um substituto insignificante para os lábios e a língua habilidosa. Logo ela estava ofegando e tremendo, e um fino brilho de suor cobria seu corpo. A luxúria rondava logo abaixo de sua pele, ficando mais faminta e desesperada a cada segundo que passava. Ela queria jogá-lo e montá-lo, montá-lo até domesticar sua necessidade selvagem, mas ele era muito forte. Toda vez que ela tentava mudar o peso, ele a atacava, prendendo-a exatamente onde a queria. Quando ela não pensou que poderia aguentar mais a tortura amorosa, ele desceu pelo corpo, empurrando suas coxas abertas. Suas grandes mãos estavam pálidas em suas coxas escuras enquanto ele as mantinha abertas para seu olhar. — Uma boceta tão bonita, — ele ronronou. — Aposto que você é tão gostosa aqui quanto em qualquer outro lugar.

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Antes que ela pudesse formular qualquer tipo de resposta, coerente ou não, a boca cobriu seu sexo e a língua fez o mundo girar. Ela sabia o que era um clitóris. Ela sabia que tinha um. Ela também sabia que quando a tocava, era agradável. O que ela não sabia era que estava fazendo tudo errado, porque agradável nem sequer começou a descrever o que Ronan estava fazendo com ela agora. Ele era um mágico, um artista. Ele trabalhou sobre ela um tipo de feitiçaria sombria que fez seu mundo inteiro desmoronar no pequeno espaço onde a língua encontrava seu feixe de nervos. Ela não tinha ideia do que ele fazia, mas sabia que se ele continuasse fazendo isso por apenas mais alguns segundos, ela perderia a cabeça de prazer. Antes que ela pudesse, ele parou. As pontas dos dedos acariciaram-na como se acalmassem sua carne quente. — Você quer mais? — Ele perguntou, seu tom convencido dizendo que ele já sabia a resposta para essa pergunta. — Você sabe que eu quero. — Isso é bom. Eu gosto de você assim. Ofegante e desesperada, sua boceta faminta pingando em antecipação. Ela apertou os quadris em um esforço para obter mais pressão, mas ele foi rápido demais para isso. Ele afastou a mão e a privou do que ela mais precisava. — Provocador. — Dificilmente. Vou dar tudo o que você quiser. — Ele beijou a parte interna da coxa, beliscando a pele, mas não a arranhando. O corpo de Justice se apertou com tanta força que empurrou o ar de seus pulmões. — Quando? Ele não respondeu. Em vez disso, ele encontrou o pulso correndo ao longo da parte interna da coxa dela e passou as presas sobre ele. A necessidade agitada dentro de Justice mudou, rodopiou e se misturou. Ela não podia mais dizer se queria que ele se alimentasse ou a fodesse. — Ambos, — ela ofegou. — Eu quero ambos. Ele congelou, e só isso disse que sabia o que ela queria dizer. Claro, ele sabia. Ele estava tão profundamente dentro de sua mente que era praticamente parte dela.

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— Misturar sexo e sangue é perigoso, — ele alertou. — Eu poderia perder o controle. — Eu não estou com medo. Ele olhou para ela entre suas coxas abertas. A luz azul de seus olhos se derramou sobre sua barriga e seios. — Não, você não está. Eu amo isso em você. — Ele girou o corpo até que seu rosto estava nivelado com o dela. — Tenha certeza. — Cale a boca e me foda, — ela disse. O comportamento de Ronan mudou, ficando mais sombrio. Ele agarrou o cabelo e puxou a cabeça para o lado para revelar sua garganta para ele. Seus quadris alinhados com os dela e a cabeça de seu pênis deslizaram por seus lábios, abrindo-a ligeiramente. Tudo dentro dela prendeu a respiração em antecipação. Ela precisava tanto, que doía. Ela estava desesperada para ele preenchê-la, transar com ela, sangrá-la. Havia um lampejo de presença dentro de sua mente, sua presença. Ele estava com ela para testemunhar sua necessidade, e por isso, ela sentiu no momento em que ele decidiu aceitar o que ela oferecia. Ele se moveu e, em um segundo ofuscante, sua ereção deslizou dentro dela enquanto suas presas perfuravam sua pele. Ela estava cheia, completamente, completamente cheia. Ele estava em sua mente, em seu corpo. Seu pênis estava profundamente dentro dela, esticando-a para abrir espaço para mais. Os dentes dele deslizaram da pele enquanto a boca trabalhava contra o pescoço. Cada golpe, cada puxão de sucção a levava mais alto e, em segundos, ela estava sobrecarregada por tudo. Justice detonou. Prazer diferente de tudo o que ela poderia imaginar derramou nela e a inundou. Todo nervo se esforçou para absorver tudo. Cada célula estremeceu com sua força. Ela podia se ouvir gritar, mas não podia fazer nada para detê-lo. O corpo não era mais o seu. Era de Ronan. Talvez sempre tivesse sido. Talvez seja por isso que ela nunca se sentira despedaçada e reunida novamente, tudo ao mesmo tempo. Só ele poderia levá-la a este lugar mágico.

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Quando ela teve certeza de que a pura alegria física que ele daria a mataria, começou a desaparecer. Ela escorregou lentamente em ondas trêmulas de calor, apenas para ser trazida de volta novamente toda vez que seu pau deslizava profundamente. Sua boca cobriu a dela, e só então ela percebeu que ele parou de se alimentar. Seus beijos tinham gosto de especiaria doce e necessidade, sua necessidade. Ela olhou para ele, amando a maneira como os tendões em seu pescoço se destacavam, a maneira como seus ombros largos bloqueavam o mundo e todos os seus problemas. Ela adorava o poder do corpo dele e a maneira como cada impulso de seus quadris fazia algo dentro dela para fazê-la sentir como se estivesse brilhando. Justice se levantou o suficiente para beijar seu peito. Sua pele estava tensa e lisa e cheirava incrível, como couro e meia-noite. Ela abriu a boca para prová-lo, e foi ainda melhor do que ela poderia ter imaginado. O calor da terra encontrou sua língua e fez seus dentes formigarem. Ela queria mordê-lo. Provar o sangue dele como ele fez com ela. Só um pouco. Apenas o suficiente para carregá-lo com ela. Hope estava certa. A ideia não era nojenta. Era atraente, consumindo. Os dentes dela roçaram a pele sobre seu coração. Seus músculos se contraíram e ele soltou um ruído estrangulado de luxúria. Dentro dela, seu pau estremeceu e inchou até que ela se sentiu esticada até o limite. Ele também queria isso, ela percebeu. Ele queria que ela o mordesse. Ela aumentou a pressão dos dentes na pele, mas antes que pudesse tirar sangue, ele circulou o pescoço dela com a mão e a empurrou de volta ao chão. — Você não deve tomar meu sangue. — Por que não? Ele não respondeu. Em vez disso, ele a virou de bruços, puxou-a de joelhos e enterrou seu pênis dentro dela em um golpe suave. Esse novo ângulo iluminou todos os tipos de terminações nervosas que nunca haviam estado acordadas antes. Em segundos, ela esqueceu tudo sobre seu sangue e deixou que o novo aumento de necessidade a consumisse. Ele se moveu mais rápido, cada golpe mais duro que o anterior.

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Justice agarrou o tapete bege e segurou firme. Se não o fizesse, sabia que o que estava por vir a faria girar para longe, longe demais para alcançar. Sua presença queimava em sua mente. Um instante depois, ele a forçou a sentir o que ele sentia, a necessidade feroz consumindo-o, o desejo de dar prazer. Ele alcançou seu corpo e pegou seu clitóris entre os dedos. O que quer que ele tenha feito lá a fez entrar em erupção novamente, só que desta vez ela sabia o que estava chegando. Ela o recebeu de braços abertos e deixou seu orgasmo tomar conta. Ronan soltou um grito áspero. Uma inundação quente de líquido derramou sobre ela e de alguma forma a fez se sentir inteira, conectada. Ela foi varrida demais para entender o porquê, mas isso pouco importava. Ela não estava mais no controle e, pela primeira vez em sua vida, gostou da sensação.

*** O sol nascente forçou Ronan a descer as escadas depois de um banho rápido. Justice teve o luxo de permanecer sob o spray quando os primeiros raios do amanhecer atravessaram as árvores nuas do lado de fora. Ela ainda estava maravilhada com o que ele fez com ela, o que a fez sentir. Não apenas ele a libertou das Destinos, como a fez sentir coisas. Ela nunca soube que esse tipo de prazer existia, mas agora que sabia, iria torcer mais dele. Em breve. Ela mal podia esperar o sol se pôr. Ela queria vê-lo novamente, tocá-lo. Ela estava tão sozinha por tanto tempo, que perdeu toda a esperança de ter algum tipo de relacionamento significativo com alguém. Sua vida se estendia à sua frente, sombria e vazia, com apenas o impulso implacável de obedecer e objetos inanimados para manter sua companhia. Quaisquer outros laços que ela tivesse eram superficiais, na melhor das hipóteses, porque sempre havia esse medo constante de que as Destinos a traísse e a fizesse matar novamente. Até agora. Ronan a libertou, não apenas de suas compulsões, mas também de uma vida de total isolamento. Ela poderia finalmente estar com as pessoas, e o topo da lista daqueles com quem ela queria estar era ele. Ela não se importava que ele bebesse sangue para sobreviver, ou que ele estivesse inconsciente todos os dias. Ela nem

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se importava que sua vida estivesse cheia de perigos. Ele era um bom homem, o único que a ajudou, e com grande risco pessoal para si mesmo. Agora que ela o tinha em sua vida, ela não sabia o que faria sem ele. Ela precisava dizer isso a ele e deixá-lo saber o quanto o presente dele significava para ela. Ela já estava tentando encontrar uma maneira de retribuí-lo, ou pelo menos encontrar as palavras para expressar a sorte que sentia por tê-lo em sua vida. Justice acabava de se secar quando a coceira na base do crânio começou. Toda a sua empolgação feliz e a esperança de um futuro sem solidão se transformaram em pó. Ela não estava livre. O que Ronan fez foi temporário. Ela agarrou a borda da pia para se equilibrar contra o peso de sua decepção. Seus pulmões se recusaram a se abrir e respiraram fundo, como se também estivessem devastados demais para continuar. Ela não estava livre. As Destinos ainda a controlavam, o que significava que ninguém estava seguro perto dela. Especialmente Ronan. A coceira progrediu rapidamente para uma queima lenta, como se sua pequena pausa fosse de alguma forma uma ofensa punível. Talvez fosse. Talvez as Destinos estivessem irritadas por ter encontrado uma maneira de rejeitar o controle delas, mesmo que por apenas alguns minutos. Ela vestiu roupas limpas o mais rápido que pôde. As Destinos não iriam esperar, e ela temia que o que Ronan tivesse feito as deixaram com raiva. O que quer que elas tivessem reservado para ela, não seria agradável, e ela não queria estar perto dele quando isso acontecesse. Era muito melhor ficar sozinha do que carregar a culpa de matar alguém com quem se importava. Justice encontrou um pedaço de papel em uma gaveta da cozinha. A mão dela pairou sobre a página, procurando por palavras que o prendessem à distância sem machucá-lo. Ela realmente não queria machucá-lo. Finalmente, ela decidiu o mínimo de palavras possível e rabiscou uma nota. Então ela roubou a van e partiu para a luz brilhante do dia. Enquanto se afastava, ela disse a si mesma que suas lágrimas eram devidas à luz brilhante, e não ao que ela havia perdido.

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Como ela poderia ter perdido algo que nunca teve verdadeiramente?

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Capítulo 10 Ronan acordou no meio da manhã com a certeza de que algo estava errado. Ele teve esse sentimento muitas vezes antes, e toda vez que ele estava certo. O cansaço veio, mas não tão ruim quanto teria sido sem o sangue de Justice correndo por suas veias. Ele fechou os olhos e se concentrou no que o acordara. Justice foi embora. Ele podia sentir a presença dela, mas estava muito longe, quilômetros de distância. Ela o deixou, mas por quê? Ela estava em perigo? Foi isso que o tirou de um sono profundo? Ele se levantou com as pernas instáveis e subiu as escadas. Assim que ele abriu a porta do porão, a luz do sol o atingiu. Havia persianas nas janelas, mas alguma luz ainda fluía para dentro para formar poças em linhas paralelas. O vidro nesta casa não estava protegido tanto quanto ele sabia. Se aquela luz tocasse sua pele, ele nunca mais a veria. De jeito nenhum ele poderia vencer uma batalha contra Warden com a fraqueza do dia atormentando-o. — Justice? — Ele chamou, mesmo sabendo que ela não estava aqui. Ninguém respondeu. Ela foi levada? Certamente, ela não o teria deixado sem uma palavra. Não depois do que eles haviam compartilhado. A menos que isso não significasse nada para ela. Emoções sombrias agitaram seu peito com o pensamento. Ele não sabia como chamá-las, mas sabia que de repente se tornara muito perigoso. Se alguém a tivesse levado, ele os faria pagar. Com cuidado para não pisar em nenhuma das poças brilhantes de luz solar que pontilham os pisos, Ronan procurou a casa para sinais de luta. Não só estava tudo em ordem, exceto a mesa de café quebrada, sua van havia sumido. Ele estava preso aqui até o pôr do sol.

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Ela saiu e levou seu único meio de transporte com ela? O que a levaria a fazer uma coisa dessas? Ele ficou tão furioso com ela que não viu o bilhete até a segunda varredura da casa. Ele puxou o papel de baixo do ímã na geladeira e leu duas vezes. Me desculpe, eu tive que sair. É melhor assim. Boa sorte. O que diabos isso significa? E para onde ela foi? Ela havia deixado por vontade própria? Alguém a obrigou a sair? Então a verdade o atingiu. Ronan caiu em uma cadeira da cozinha, de repente fraco demais para suportar. Ele a libertou de suas compulsões e ela o deixou. Ela o usou. A raiva o inundou. Ele queria atacar e destruir os punhos nas paredes, quebrar o vidro e rasgar esta casa até o chão com as mãos nuas. Ele queria uivar em traição. Ele deu a ela o que ela mais queria e ela se afastou assim que conseguiu. Ela nem havia anotado seu número de telefone para que ele pudesse ligar e perguntar por que. Outra agitação de erro o varreu, mas desta vez ele o ignorou. Justice não era mais problema dele. Ela deixou claro que não queria ser. Ele chegou ao porão quando percebeu que não podia deixá-la sofrer. Qualquer problema que ela estivesse, ele tinha que ajudar. Aquele era quem ele era, o que ele fazia, não importa o quanto isso sugasse. Ele usou o telefone para encontrar o único aliado dentro de cento e sessenta quilômetros e discou. Morgan Valens respondeu imediatamente. — Você está acordado até tarde. — As janelas do seu carro estão protegidas contra o sol? — Ela é uma picape, e sim, elas estão. Recurso padrão em todos os novos veículos que Joseph compra. Por que você pergunta? — Eu preciso de uma carona. — Estou trabalhando para Joseph. — É uma questão de vida ou morte?

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— Eu com certeza espero que não, porque se for, ela será a única a me matar, e não o contrário. Deus sabe que ela se esforçou o suficiente com os últimos homens que Joseph enviou para buscá-la. — De quem você está falando? — Serena. — Ah. — Peças se juntaram na mente lenta de Ronan. Serena foi prometida a Iain há dois séculos e trancada dentro de uma prisão fora do fluxo normal do tempo. Todo mundo pensou que ela estava morta. Quando ela finalmente foi libertada, Iain estava com outra mulher, seu vínculo permanente. Serena não aceitou bem. Ela fugiu de Dabyr e ficou sozinha por meses, recusando todas as tentativas de Joseph de trazê-la de volta à segurança das paredes do complexo. Logan e Hope haviam curado mais de um homem que tentara forçar Serena a obedecer às ordens de Joseph. Aparentemente, ela ficou bastante violenta, mesmo para sua própria espécie. — Eu vou ajudá-lo, — disse Ronan. — Vou ajudá-lo a encontrar Serena e trazê-la para casa. Mas preciso que você me ajude primeiro. Morgan soltou um suspiro pesado que foi quase um suspiro. — Certo. Ok. Sou uma das poucas pessoas que Joseph permitiu deixar o complexo, então suas opções são muito pequenas. Eu estou indo em sua direção agora. A sensação de pressentimento correndo por Ronan se solidificou em um medo frio e forte. — Por favor, depressa. — Estou indo. — Morgan desligou enquanto Ronan rezava para que os Theronai não chegassem tarde demais.

*** Justice não se importava de roubar idiotas com mais bugigangas do que honra. Ela nem se importava de roubar organizações sem emoção, como museus. Mas sempre que as Destinos a levavam a roubar aqueles que tinham tão pouco, ela sempre sentia uma pontada de culpa. Talvez mais do que apenas uma pontada. Antes de conhecer Ronan, coisas triviais como emoções sempre a deslizavam, deixando-a intocada. Ela não sentia muito, e o que ela sentia era superficial e facilmente ignorado.

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Mas desde a noite em que se conheceram, quando ele tomou seu sangue, ela foi alterada. Irrevogavelmente alterada. Emoções a atormentavam constantemente, até ao ponto de chorar. O que diabos ela deveria fazer com lágrimas? E como a culpa ou a solidão ajudariam alguém? Ela não tinha ideia, mas quando ela entrou na pequena casa de pedra em uma pequena cidade que ela nunca ouviu falar, sabia que o que estava prestes a fazer ia fazer com que seus olhos vazassem novamente. A mulher que morava aqui era quase surda, a julgar pelo volume da TV. Do ponto de vista de Justice dentro da porta dos fundos que dava para a cozinha, ela podia ver a sala de estar onde uma mulher de cabelos brancos estava sentada curvada em uma poltrona reclinável. Ela tinha aparelhos auditivos nos dois ouvidos, e um robe floral desbotado por décadas de lavagens. Suas mãos nodosas descansavam em seu colo, todas as juntas dos dedos, veias azuis salientes e manchas marrons da idade. Uma xícara de chá estava ao lado, ao lado de um jogo de palavras cruzadas pela metade feito com caligrafia trêmula. Meias grossas de lã protegiam os pés do frio. As correntes de ar que fluíam pela casa antiga eram tão fortes que as lâminas das janelas se moviam com toda rajada de vento lá fora. Lá dentro, a temperatura não era muito mais alta, como se a mulher não tivesse condições de manter sua pequena casa quentinha. O tapete aqui foi colocado no início dos anos setenta e ficou aqui desde então. O piso de vinil na pequena cozinha estava desgastado e sem brilho com a idade. Não havia portas nos armários, e as prateleiras abertas revelavam muitos pratos incompatíveis e mantimentos insuficientes. Havia sinais de pobreza em todos os lugares, desde os rótulos genéricos das marcas de suas mercadorias enlatadas até os saquinhos de plástico usados lavados e deixados para secar ao lado de um prato quebrado e vidro lascado. Justice foi até a geladeira e espiou dentro. Havia ainda menos comida aqui do que nas prateleiras nuas, apenas um litro de leite, alguns pacotes de ketchup e mostarda de restaurantes, meia dúzia de ovos e uma jarra de picles com um pepino murcho e solitário flutuando dentro.

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O calendário na geladeira tinha um círculo vermelho por volta do primeiro dia do mês com a etiqueta cheque chega hoje. Depois disso, havia várias datas de vencimento das contas que a mulher tinha que pagar, metade das quais foram listadas como vencidas. As Destinos enviaram Justice aqui para roubar algo de uma mulher que não tinha nada de sobra. Como diabos elas poderiam fazer isso? Ela não tinha muito dinheiro, mas pegou a maior parte e colocou debaixo dos ovos. Ela não sabia se isso chegaria perto de cobrir o custo de tudo o que ela estava aqui para roubar, mas se não, ela tinha o endereço da mulher e a enviaria mais. Infelizmente, pagar a velha não fez nada para aliviar sua culpa, porque tudo o que ela estava prestes a levar, se a mulher quisesse trocar por dinheiro, ela o teria feito há muito tempo. O comercial na TV terminou e um programa de entrevistas voltou. Era um daqueles idiotas com convidados zangados e muitos palavrões soavam. Havia um jovem dizendo que o bebê não poderia ser dele, e uma mulher ainda mais jovem convencida de que ele era o pai. Aparentemente, eles iam descobrir os resultados de um teste de paternidade, mas não antes de mais alguns familiares e amigos com opiniões serem apresentados para expressá-los em punhos erguidos e mais bipes. Justice fez uma anotação mental para comprar uma assinatura de TV a cabo para a velha, para que ela tivesse mais opções de entretenimento. As Destinos estavam irritadas com o desvio dela para a cozinha e fez com que seu descontentamento fosse conhecido por uma pontada de dor na espinha. Ela enviou a elas uma mensagem silenciosa que precisaria de um bipe longo e depois seguiu na direção que ela foi ordenada a seguir. Uma escada estreita levava de uma extremidade da cozinha. Justice seguiu sua compulsão pelas escadas rangentes, estremecendo quando o grito da madeira ficou muito alto. Ela fez uma pausa, esperando que a TV fosse silenciada para que a mulher pudesse ouvir intrusos, mas o programa de entrevistas ronronava em uma combinação de gritos e bipes. Havia dois quartos aqui em cima. Um deles era montado como uma sala de costura, mas, pela espessura do pó, tudo não era usado há algum tempo. O segundo quarto estava decorado com uma explosão de rosas cor de rosa, desbotada

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pelo sol. A cama era meticulosamente arrumada, com os travesseiros perfeitamente cobertos. Um travesseiro bordado em forma de coração estava no centro, um bem precioso à mostra. Uma pequena cômoda estava em frente à cama, encima uma série de fotos de crianças em molduras feitas à mão e várias peças de porcelana. Ao contrário da sala de costura, tudo aqui estava limpo, arrumado e sem poeira. Ela não tinha ideia de por que ela estava aqui. Ela sabia que tinha que encontrar algo, mas não tinha ideia do que. Eventualmente, algo chamaria sua atenção e as Destinos a fariam saber que atingira a marca, mas até então, tudo o que ela podia fazer era procurar. Ela começou com a pequena mesa de cabeceira baixa ao lado da cama. No topo, havia um despertador colocado em um cubo de vidro facetado e um ovo de porcelana que, pelo cheiro dele, tinha um frasco de perfume caro. A única gaveta continha apenas uma Bíblia e um revólver, ambos bem usados. A vovó dormia sozinha por um longo tempo, a julgar pela queda de apenas um lado da cama. Se já houve um avô, ele se foi há tanto tempo que suas roupas foram guardadas. Não havia sinal de um homem pendurado na haste única ou empilhado em uma sapateira sobrecarregada. Estava cheio de sapatos de salto alto que não eram usados há décadas e bolsas tão antigas que o couro rachou. O único outro lugar óbvio para esconder alguma coisa era a cômoda estreita em frente à cama, então Justice foi para lá antes de começar a arrancar as tábuas do chão e cortar o papel de parede floral. Na gaveta de cima, ao lado de uma pilha de volumosas roupas íntimas de nylon e sutiãs esticados, havia uma bandeja cheia de bijuterias, alfinetes de campanha para presidentes mortos, botões de vidro, duas tampas de garrafas aleatórias e algo que se iluminou como Natal logo que Justice pôs os olhos nele. Ela pegou o objeto de metal em um esforço para descobrir o que era, mas se viu perplexa. Um eixo longo e hexagonal estava conectado a um trio de voltas em uma das extremidades. Nela havia uma pequena corrente de contas, como se este objeto tivesse pendurado uma lâmpada. A corrente era banhada a ouro e manchada com o tempo. A peça hexagonal foi feita de um metal prateado fosco e inscrita com as mesmas marcações intrincadas do broche e do anel que ela encontrara. A outra

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extremidade do poço era áspera, como se tivesse sido quebrada. Assim como a parte de trás do broche. Ela pegou o broche do bolso e segurou a nova peça contra ele. Os restos de cola quente na parte de trás obscureciam sua visão, mas parecia que as duas arestas poderiam corresponder. É claro que, se ela juntasse essas peças, tudo pareceria vagamente como um guarda-chuva em miniatura altamente decorativo, que não fazia nenhum sentido. Ainda assim, as Destinos ficaram em silêncio. A queimação em seu crânio se foi dizendo que ela encontrou o que veio aqui para encontrar. Justice desvencilhou o fio que segurava a corrente de contas manchada e a deixou na bandeja. O resto, o cilindro hexagonal de quinze centímetros de comprimento e sua extremidade em laço estavam indo com ela. Ela as colocou no bolso e se virou para sair. De pé na porta do quarto estava a vovó de casaco desbotado e meias de lã. Seu rosto pálido estava calmo, resignado. Na mão retorcida havia outro revólver, muito parecido com o que ela guardava na gaveta da Bíblia. O cano vacilou, mas não por causa de nervos ou indecisão. O olhar duro em seus olhos nublados disse a Justice tudo o que ela precisava saber. Se ela se contorcesse, vovó puxaria o gatilho.

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Capítulo 11 Justice olhou para o cano de uma arma três outras vezes em sua vida, mas nunca esteve tão assustada quanto agora, na mira do revólver da vovó. Por outro lado, nunca sentira as coisas tão profundamente como agora, nem se importava muito com o resultado. Puxe o gatilho. Não puxe o gatilho. Era tudo a mesma coisa para ela. Ela viveria ou morreria pelo destino. Não havia sentido em ficar chateada se era sua hora de partir. Só que agora, ela estava chateada. Ela não queria morrer. Não que ela tenha medo da dor ou do que vinha depois. Não, o que a fez tremer de terror foi a ideia de nunca mais ver Ronan. Ela nunca sentiria seu toque ou veria como seus olhos brilhavam sempre que ela oferecia sangue. Ela nunca daria seu corpo a ele para que ele pudesse fazê-la dançar muito com prazer. Ela nunca o veria sorrir ou ouvir sua risada. Ela pensou que poderia se afastar dele, mas até esse momento, ela não percebeu o quão errada ela estava. Justice nunca significou muito para ninguém, incluindo ela mesma, mas ela significava muito para Ronan. Ele precisava dela, precisava de seu sangue. Por causa disso, ela tinha que encontrar uma maneira de lutar. Ela manteve o olhar fixo na vovó, depois deixou Reba balançar em seu dedo indicador e polegar. — Eu não quero te machucar, — ela disse. A voz da velha era profunda, rouca e muito alta, como se ela mal pudesse se ouvir falar. — Você não acha que roubar de mim dói? — Eu deixei dinheiro. Na sua geladeira. A mulher resmungou. — Claro que você deixou. Deixe-me descer e verificar enquanto você escapa. — Seu olhar reumático endureceu. — Estou dentro do meu direito de matar você onde você está. — Por favor, não. Eu realmente não quero estar aqui mais do que você me quer. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Mostre-me o que você roubou. Justice enfiou a mão no bolso e puxou o eixo de metal com a ponta presa. Linhas de expressão franziram a testa pálida. — Esse pedaço de lixo velho? Está na minha família há gerações, embora o céu saiba o porquê. Nem é prata de verdade. O que diabos você quer com isso? — Ainda não sei. — Então, você invadiu minha casa e vasculhou minhas coisas para roubar um pedaço de lixo para o qual não serve? Não havia como explicar. — Não é para mim. — Para quem é, então? — Eu também não sei. A mulher zombou. — Mentirosa. Você é uma pequena punk mentirosa. O que mais você levou? Justice tinha que sair. A compulsão de se mover estava fazendo cócegas em seu cérebro, e quanto mais ela ficava aqui conversando com essa mulher, pior ficava. — Eu vou agora, — disse Justice. — Não, você vai esperar aqui enquanto eu chamo a polícia. Crianças como você precisam aprender uma lição. Somente alguém tão velho quanto essa mulher veria Justice como uma criança. Ou talvez ela não pudesse ver melhor do que podia ouvir. — Então, você não vai atirar em mim? — Justice perguntou. — Ainda posso. Eu prefiro ver você sofrer na prisão por um tempo, no entanto. — Por roubar um pedaço de lixo, como você chamou? — Você ainda invadiu. Invasão. Com uma arma. Quando eu chorar para o júri, doce pequena, traumatizada, velhinha, você estará enfrentando mais do que um tapa no pulso. Além disso, punk como você provavelmente já fez isso antes. Aposto que não é sua primeira vez. Se eu não parar você, também não será o seu último. Vovó a tinha lá. Justice nunca fora pega, mas ela esteve perto algumas vezes. Ela tinha certeza de que suas impressões estavam registradas nas autoridades por crimes em pelo menos sete estados.

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— O que posso fazer para sair daqui sem nenhum envolvimento da polícia? Você quer dinheiro? — Tudo o que eu quero é justiça. Justice riu. Ela não pôde evitar. Ela passou a vida inteira sendo usada como peão em um jogo que não entendia. Quem pagaria por esses crimes, os crimes contra ela? — Você e eu. — Pneus guincharam do lado de fora. As portas dos carros bateram e passos pesados bateram na calçada. Justice se inclinou e separou as cortinas rosa claro para ver quatro bandidos adequados correndo até a casa da vovó. — Amigos seus? — Justice perguntou. — Meus amigos estão todos mortos. Um dos homens olhou para cima. Seus olhos redondos estavam profundos no crânio e o nariz listado para o lado, como se tivesse sido quebrado mais de uma vez. Ela conhecia aquele homem. Ele era um dos bandidos contratados de Chester Gale. Choque escorreu por ela, deixando uma trilha gelada em sua espinha. Esses homens também estavam atrás do lixo inútil que Justice foi enviada aqui pelas destinas a serem coletados? Isso não parecia certo, mas ela não teve tempo de entender. O homem que olhou para cima a viu. Ele a viu e não se surpreendeu. Ele sabia que ela estava aqui. Como eles poderiam saber? Antes que ela pudesse descobrir esse enigma, ela percebeu o que isso significava. — Você precisa se esconder, — ela disse à velha enquanto colocava Reba de volta na mão onde ela pertencia. — Não deixe esses homens te verem. — Como o inferno, vou me esconder em minha própria casa. Vou mandar todos eles para a cadeia bem ao seu lado. Houve um estrondo profundo quando a porta da frente foi quebrada. — Você não entende. Eles vão te matar. Justice correu em direção à mulher, planejando pegá-la e empurrá-la em um armário. Em vez disso, o revólver da vovó disparou. O fogo correu pelo ombro de Justice quando a bala roçou sua carne.

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Antes que a mulher pudesse disparar novamente, Justice puxou o revólver das mãos dela. O rosto da vovó empalideceu com a cor do leite desnatado. Passos tamborilaram nas escadas quando pelo menos dois homens se aproximaram. — Esconda — Justice sussurrou enquanto empurrava a velha para longe da porta. — Esconda ou morra. Mas era tarde demais. O primeiro dos bandidos de Chester estava aqui. Sua pistola limpou a balaustrada e, antes que ele pudesse ver o que pretendia, começou a disparar. Justice levou um golpe na perna. Atrás dela, vovó ofegou. Reba latiu na mão e arrancou a cabeça do primeiro cara da fila. O segundo hesitou nas escadas, dando tempo a Justice para dar um passo à frente e disparar novamente. Ela não brincava com esses homens. Eles estavam armados e eram mortais, e sob ordens de Chester que não deixariam Justice feliz. O que quer que aquele idiota ladrão de crianças quisesse com ela, não poderia ser bom. O melhor que ela podia esperar era um tiro certeiro. O pior, ele faria a morte dela durar semanas antes de finalmente dar a ela. Assumindo que as Destinos não tomassem conta dela primeiro. Assim que viu os cabelos cor de areia do próximo bandido na fila, ela mirou e atirou. Reba estava mais precisa do que nunca, mas o crânio deste homem era mais grosso que o anterior. A bala cortou seu couro cabeludo, mas não quebrou os ossos. Ele ainda estava vivo. Um som estrangulado de dor veio da escada. Atrás dela, outro grito semelhante surgiu da velha. Justice entrou na porta do quarto antes de arriscar olhar atrás dela. O avental desbotado da vovó estava ensopado de sangue. Seus dedos ossudos apertaram a ferida no peito, mas não adiantaram. Um rio de sangue fluía de seu corpo, rápido demais para ser qualquer coisa, menos fatal. Justice correu para o lado dela e agarrou a borda da roupa de cama floral rosa para estancar o fluxo de sangue. Mesmo antes que ela pudesse pressionar o curativo improvisado contra a ferida, ela sabia que era uma causa perdida.

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Seus olhos reumáticos encontraram os de Justice e neles havia uma profunda bondade e espírito feroz de uma vida bem vivida. — Apenas espere, — disse Justice, mesmo sabendo que não havia sentido. — Eu não tenho medo, — a mulher murmurou. Sangue borbulhou em suas dentaduras, pintando-as de vermelho. Algo em Justice rachou como se estivesse prestes a quebrar. Ela estava furiosa e triste. Que direito ela tinha de arrastar essa pobre mulher para seu mundo fodido? Que direito ela tinha de arrastar seus problemas para a casa dessa mulher? — Sinto muito por ter envolvido você nisso. O olhar da vovó se afastou, ficando distante como se ela estivesse vendo algo além do teto sujo e do teto caído. Algo bom. Algo limpo. — Eu te perdoo. — As palavras eram fracas, mas inconfundíveis. Nesse momento, Justice sentiu um peso levantar de seu corpo e deu espaço para respirar. Ela nunca foi perdoada antes. Ela não tinha ideia de como essas três pequenas palavras poderiam ser boas. Ela estava livre. Salva. Os braços da mulher afrouxaram. As mãos dela caíram ao lado do corpo. Os olhos dela perderam o foco. Um pulso de sangue. Dois. Então não mais. Apenas uma gosma constante, sem força por trás. Seu coração parou de bater. Vovó estava morta. Seu último ato neste planeta foi salvar Justice da culpa que sem dúvida a teria comido viva. A mulher estava morta por causa de Justice, mas ela a perdoou da mesma forma. A raiva ardeu através de Justice até que ela pensou que sua pele iria inflamar. Vermelho inundou sua visão e uma dor abrasadora tomou conta de suas veias. Esta mulher morreu por causa dela. Justice não puxou o gatilho, mas ela veio aqui. Os homens de Chester a seguiram. Ela os levou direto para a senhora velha e frágil que sobreviveu tanto, mas não conseguiu sobreviver a uma visita de Justice. Ainda assim, ela a perdoou. Como isso era possível? Justice ficou de pé e saiu do quarto. Sobraram três homens em sua estimativa, e ela não estava saindo até que todos eles estivessem mortos.

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A escada estava vazia, exceto por uma trilha de sangue que os homens que ela atirou haviam deixado para trás. Havia dois respingos vermelhos no papel de parede floral, um muito mais satisfatório que o outro. Ela enfiou o revólver da vovó na parte de trás do jeans, mal sentindo a picada de carne rasgada ao longo do ombro enquanto se movia. Haveria tempo para dor mais tarde. Agora era apenas por vingança. Justice ouviu alguém respirando. Não longe. Na base da escada. Ela pressionou seu peso no centro de um dos degraus com força suficiente para fazê-lo ranger. O homem se inclinou um pouco para atirar, mas Justice estava esperando por ele. Antes que ele tivesse tempo de apontar a arma, Reba atacou e afundou uma bala no olho do homem. Ele caiu como uma pedra. Houve um sussurro baixo abaixo. Uma voz mais profunda respondeu. Lá fora, os cães latiam e a qualquer momento, as sirenes começariam a uivar. — Estou bem aqui, — ela disse. — Quinto passo. Centro da escada. Venha me pegar. Ela apoiou os pés e segurou firme, a arma levantada e pronta. — Sr. Gale só quer conversar, — disse um dos bandidos. Sua voz estava abafada. Ele estava na sala, em algum lugar perto da TV agora silenciosa. — Se seu chefe me quisesse viva, você não teria vindo disparando. Meu palpite é que ele não se importa se estou viva ou morta. — Isso foi um erro. Ele se importa. Ele só quer conversar. Ela desceu as escadas enquanto o homem falava para limitar sua capacidade de ouvi-la se mover. Uma sombra à direita dizia que um dos agressores estava na cozinha, esperando que ela aparecesse. Ela pegou uma das fotos emolduradas na parede e colocou ao nível dos olhos. Uma bala atravessou a borda da moldura, fazendo a criança sorridente girar. Então, eles só queriam conversar, não é? — Merda, — disse o homem na sala ao perceber que suas mentiras não tinham mais chance de funcionar.

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Gesso explodiu ao lado da cabeça de Justice. Algo cortou sua testa, mas ela não sabia se era uma bala ou parte da parede que a cortara. De qualquer maneira, doía como o inferno. Ela soltou um barulho de dor e se agachou. A sombra moveu quando o homem na cozinha atacou. Ele foi rápido. Ela mal conseguiu levantar a arma para disparar quando ele apareceu. Errou seu alvo. Ele pensou que ela era mais alta do que era, e o segundo que levou para ele ajustar a mira custou sua vida. Justice disparou duas vezes em rápida sucessão, uma no peito e a outra na garganta. Os tiros dela devem ter cortado algo vital, porque ele ficou frouxo e caiu no chão. Ele não estava morto, mas não iria durar muito tempo do jeito que ele estava sangrando. O som de passos em retirada veio da sala de estar. Um motor de carro ligou e os pneus guincharam novamente quando ele partiu. Sirenes distantes começaram a cantar, um coro delas. Polícia, ambulância, talvez até caminhões de bombeiros. Ela não sabia dizer porque havia muitos. Sangue escorreu em seus olhos enquanto ela corria os últimos dois passos para sair da cena do crime antes que as autoridades chegassem. Ela acabou de virar a esquina da sala quando percebeu que sua contagem estava errada. Havia cinco homens, não quatro. E o que foi deixado para trás estava pronto para ela. A primeira bala atingiu seu braço esquerdo e a segunda estava gritando em sua direção. Na sua experiência, quando se tratava de assassinos profissionais, o objetivo do segundo tiro era sempre melhor. Justice caiu no chão e rolou. Tudo doía, mas não tinha tempo para insistir nisso. Ela tinha menos de um segundo para viver se não fizesse valer a pena. O homem que tentava matá-la era um loiro carnudo, sem pescoço e uma porção dupla de ombros. Os músculos extras e o fato de ter o corpo abaulado o fez lento o suficiente para salvar a vida de Justice. Ela rolou em direção a ele rápido. Ele não teve tempo de ajustar sua mira antes que ela estivesse literalmente a seus pés. Ainda tonta e com o sangue ardendo e cegando o olho esquerdo, Justice usou seu corpo como um guia para dizer a ela onde atirar.

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Sua primeira bala atingiu o queixo, mal arranhando-o. Suas mãos voaram instintivamente para proteger seu rosto, e quando ele percebeu seu erro, ela atirou mais duas vezes, entre as pernas dele. As balas perversas que ela usava saíram de suas costas e deixaram dois respingos de sangue no teto branco. Os padrões de spray vermelho estavam tão próximos que pareciam asas de borboleta mórbidas de sua posição no chão. As sirenes ficaram mais altas. Havia vozes lá fora agora. Testemunhas. Justice pegou uma manta de croché do encosto de uma cadeira e jogou-o sobre a cabeça. Ela podia ver facilmente através dos laços de fios coloridos, mas eles obscureciam ela e Reba de serem facilmente descritas pelos espectadores. Pelo menos ela esperava. Meia dúzia de idosos se reuniram do lado de fora, boquiabertos de suas varandas. Uma velha enrugada tinha um binóculo nos olhos, como se ela sempre os mantivesse à mão, apenas no caso de tiroteios na vizinhança. O sangue manchava a visão de Justice de um lado. A perna machucada estava fraca e lenta, mas ela conseguiu mancar rapidamente o caminho até a van estacionada na esquina. Ela entrou antes que quaisquer testemunhas corajosas reunissem coragem para detê-la. Talvez esses espectadores idosos tivessem vivido tanto tempo porque não eram muito corajosos. Ou talvez eles fossem sábios o suficiente para conhecer um assassino quando o viram. Justice disparou com um chiado de pneus maltratados. Quando ela estava a alguns quarteirões de distância, ela arrancou a manta da cabeça e o usou para limpar o sangue que vazava da testa. Um policial passou por ela indo rápido, mas ela era apenas uma mulher dirigindo uma van, não uma velha assassina armada. Mais dois quarteirões e ela viu uma ambulância e um segundo policial. Ela cobriu o fio de sangue com a mão e ficou boquiaberta como qualquer pessoa normal faria enquanto continuava dirigindo. A perna dela foi a pior das lesões, mas mesmo isso não era fatal. Ela já se machucou ainda mais, apenas alguns dias atrás, na verdade. Só que desta vez, Ronan não estava vindo em seu socorro. Não só era luz do dia, ela roubou seu veículo e deixou uma nota que fez certo de que ele sabia que eles terminaram.

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Laço de Sangue Shannon K. Butcher Guerras das Sentinelas – 10

Enquanto a adrenalina baixava e a dor aumentava um pouco com as terminações nervosas, ela quase desejou não ter sido tão apressada em enviá-lo embora. Mas nenhuma de suas dores físicas podia segurar uma vela por sua culpa. A imagem daquela velha senhora, morta em sua própria casa, brilhava na mente de Justice. Violento. Acusatório. Era o que acontecia com as pessoas com quem ela se aproximava demais. Mesmo que ela não tivesse puxado o gatilho, a morte daquela mulher estava em sua cabeça tão fortemente como se ela tivesse atirado. Onde quer que Justice fosse, a morte a seguia. A ideia de encontrar Ronan era demais para ela ficar de pé. Era melhor que ela cortasse as coisas. Ele encontraria outra pessoa com sangue como o dela. Ele não precisava do seu. Ela esteve sozinha por dez anos antes de conhecê-lo. Ela ficaria bem sozinha novamente. Ela sabia como costurar feridas e como tratar tiros. Ela não precisava de cura mágica ou a sucção faminta de sua boca em sua garganta. Ela não precisava do beijo ou do toque dele. Ela não precisava dele. Pelo menos foi o que ela disse a si mesma e continuaria dizendo a si mesma a cada segundo de cada dia até que fosse verdade. Um dia seria, e ela não podia esperar esse dia chegar. Depois de colocar alguns quilômetros entre ela e os corpos que ela havia deixado para trás na casa da vovó, ela estacionou em uma garagem de um shopping antigo e dirigiu até as entranhas mais profundas da estrutura. Havia poucos carros aqui embaixo, e os que estavam estacionados pareciam não ter sido movido há semanas. Talvez mais. A poeira os revestia, dando ao para-brisa uma qualidade nebulosa. Ela foi para a traseira da van e fechou as pesadas cortinas. Ela teve que acender a luz do teto para ver. Seus ferimentos precisavam ser tratados, mas havia algo mais ainda mais importante. Aqueles capangas a haviam encontrado em um lugar que nunca poderiam saber que ela iria. Mesmo ela não sabia onde ela terminaria hoje. Isso significava apenas uma coisa. Eles tinham uma maneira de rastreá-la.

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Justice jogou fora todas as roupas e sapatos ensanguentados que ela usava no dia em que encontrou Chester Gale no consultório vazio. O dinheiro e o anel que ela ganhou estavam em Dabyr. Ela não se incomodou em recolhe-los quando saiu. Não era como se ela precisasse de mais dinheiro. Ela tinha pilhas de coisas em todos os seus armazéns, pagamento por empregos passados. Ela não estava em sua amada Maserati, e não foi tocada quando estava com Chester ou seus bandidos. Tampouco consumiu comida ou bebida. Nenhum deles poderia ter plantado rastreadores em seu corpo. Mas havia uma coisa que ela tinha em seu poder, fora de vista. Uma coisa que ela nunca foi a lugar nenhum sem. Reba. Justice descarregou e desmontou sua Glock, mas não encontrou nada. Ela esvaziou as duas últimas rodadas das balas para procurar rastreadores escondidos lá dentro, mas também estava limpo. O mesmo aconteceu com as balas. Ela estudou a arma que conhecia e suas próprias mãos. Havia apenas um outro lugar que ela conseguia pensar em procurar. Na parte de trás do punho havia uma cavidade oca que arredondava a tira traseira. Ela inseriu um plugue dentro anos atrás, para manter a sujeira e detritos para fora, mas não havia muito espaço ali para algum tipo de dispositivo de rastreamento. Qualquer um que conhecesse a arma saberia que o espaço aberto estava lá. Justice removeu o plugue e olhou dentro. Um pequeno objeto metálico do tamanho de um cubo de açúcar cortado ao meio foi escondido dentro e colado com fita adesiva, para não chocalhar. Ela procurou no estoque de suprimentos médicos de Ronan uma ferramenta para removê-lo. Pequenas gavetas e caixas alinhadas em uma parede da van. Como não havia etiquetas, ela precisou percorrer cada cubículo para encontrar o que procurava. Ela rasgou a embalagem estéril de um par de pinças de travamento e as usou para retirar o pequeno dispositivo. Não havia luzes acesas, nenhum som saindo, mas ela sabia o que era. Ela esmagou o rastreador sob os calcanhares, depois enfiou os restos em uma garrafa de água e jogou para fora da porta. Depois que Reba foi montada e

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recarregada, ela finalmente ficou livre para lidar com seu próximo problema mais premente. Ela encontrou ataduras e desinfetante, e começou a trabalhar se consertando. Sua cabeça estava em primeiro lugar, já que ela continuava sangrando nos olhos. A ferida não foi profunda. A cicatriz que deixaria para trás seria facilmente escondida por seus cachos, o que era bom, porque as cicatrizes eram o tipo de coisa que fazia as pessoas olharem para ela. Ela realmente não queria chamar mais atenção do que o necessário, porque não havia como saber quando sua vida poderia depender de seu anonimato. Depois que ela limpou e enfaixou a cabeça, sua perna foi a próxima. Ela tirou a calça jeans e sentou-se no colchão estreito para inspecionar os danos. A bala não foi limpa. Ainda estava dentro dela e tinha que sair. Pelo menos os bandidos foram gentis o suficiente para atirar nela em um lugar que ela poderia alcançar para desenterrar a bala. Se ela tivesse levado uma na bunda, ela estaria ferrada. Justice sabia o que vinha a seguir. Ela conhecia a dor lancinante que teria que infligir a si mesma. Esteve lá, fez isso. Ela já estava enjoada só de pensar nisso. O telefone dela tocou. O número era privado, mas ela estava mais do que feliz em usar a ligação como uma desculpa para adiar a escavação inevitável que estava prestes a suportar. — Não foi muito legal da sua parte quebrar meus brinquedos, — disse Chester Gale. Uma sensação de nojo deslizou através dela, fria e grossa como lodo. — Ainda não me mudei. Por que você não vem me encontrar? Isso me poupará o trabalho de encontrá-lo mais tarde. — Sente minha falta? — Ele perguntou, seu tom quase cantando. — Eu nunca sinto, — ela disse. — Não quando eu estou mirando em um idiota como você. Dizer idiota fez um som de choque. — Agora, agora, Justice. Você realmente precisa aprender a controlar esse seu temperamento. Não é atraente. Isso só a irritou mais. — Nem matar mulheres para roubar seus filhos.

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— Desde quando você se tornou sentimental? Ninguém sentirá falta de mais uma criança tagarela. — Ninguém vai sentir falta de mais um egoísta, chamado idiota. Havia o som de um motor no fundo de sua ligação. Poder profundo e gutural e mudança suave de marchas. Alemão. Talvez italiano. — Por mais divertido que você seja, minha querida, eu não liguei para conversar. Eu tenho uma proposta a fazer. — Isso me envolve fazendo um buraco no seu crânio, porque se isso acontecer, eu estou dentro. — Nada tão fantasioso. Não, eu simplesmente gostaria de marcar uma reunião entre você e o.… homem mais interessado em minhas compras. Sua hesitação em relação à palavra homem falava alto. — Estamos trabalhando com demônios agora? Chester zombou. — Quem sou eu para excluir um grupo inteiro de seres? Quão mesquinho de sua parte. O dinheiro deles não é tão verde quanto o dos humanos? — Eu diria que espero que um deles coma sua cara, mas isso seria uma mentira. Eu quero ser a única a acabar com sua infecção neste planeta. — Tão melodramático. E honestamente, você não está dando crédito onde é devido. Os demônios sempre cumprem sua palavra e não roubam o que não é deles. — Pepper não era sua para pegar ou guardar. — Tudo está perdoado, — disse Chester. — Água de baixo da ponte. Agora, quanto me custará uma hora do seu tempo? Eu acho que dez mil é justo, não é? — Vou dar os primeiros cinco minutos de graça se você mandar seus capangas embora. — Oh, não sou eu quem quer conhece-la. É aquela criatura deliciosa que eu conheço. O nome dele é Vazel. — Se você não vai estar lá para eu te matar, não estou interessada. Chester riu, o som genuinamente divertido. — Eu sempre amei isso em você, como você é um instrumento contundente. Sem mentiras ou subterfúgios. Apenas honestidade na sua cara. — Eu sinceramente quero te matar.

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— Eu sei, querida, mas é bom querer coisas que não podemos ter. Isso cria caráter. Ele fez uma pausa. — Vinte mil? — Nem mesmo perto. — Vou dar um tempo para pensar sobre isso. Tente dormir um pouco, sim? Você vai querer ficar bonita para a sua reunião com Vazel. Chester desligou, deixando-a furiosa. Condescendente, imbecil arrogante. Mesmo que ele não tivesse matado uma mulher e roubado sua filha, o filho da puta merecia morrer por sua pura capacidade de irritar Justice. Ela não podia ficar aqui por mais tempo. Ela tinha que tirar essa bala e voltar a se mover. Pelo som do veículo de Chester, ele não precisaria de muito tempo para chegar onde ele estava indo, e ela não estava em condições de enfrentar o exército dos escudos de carne que estaria entre Chester e a rodada calibre 40. com seu nome nele. Justice abriu um pacote limpo de pinças e começou a cavar a bala na perna.

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Capítulo 12 Ronan seguiu a energia que Justice tinha sobre ele até o hangar que virou no armazém para onde ela o levara antes. O sol havia se posto recentemente, e a exaustão da luz do dia estava finalmente desaparecendo. Não havia sinal de sua van do lado de fora, mas ele sabia que ela estava lá. Ele podia sentir a presença dela brilhando contra sua pele. Ele queria beijá-la e sacudi-la, tudo ao mesmo tempo. — Você tem certeza que não quer que eu fique? — Morgan perguntou. — Eu o atrasei o suficiente. Obrigado pela carona. E se você precisar de alguma ajuda com Serena... — Eu vou ligar. Vamos torcer para que ela esteja com disposição para conversar, em vez de lutar. — Se não, eu vou consertar você como novo. — Não vamos pedir problemas lá. E Justice? E se ela não quiser ver você? Ronan passou a maior parte do percurso aqui ponderando exatamente isso e decidiu sua resposta. — Eu realmente não ligo para o que ela quer. Estamos todos juntos nessa guerra. Alguns de nós não gostam mais de nossos papéis nela do que outros, mas ainda devemos desempenhá-los. Justice não é diferente. Ela é uma de nós, quer ela goste ou não. — Você me disse que ela carrega uma arma. — Sim então? — Então, eu não diria a ela o que você acabou de me dizer se eu fosse você. Não enquanto ela estiver armada. — Vou levar isso sob orientação. Boa sorte com Serena. Morgan fez uma careta. — Obrigado. Pelo menos ela não carrega uma arma. Ronan desceu da picape e abriu a porta traseira para pegar sua bolsa. — Eu a vi praticar com uma espada uma vez, antes do ataque, antes de sua prisão. — Oh sim? Como ela estava? — Você desejaria que ela carregasse uma arma. Seria muito menos mortal.

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Morgan suspirou enquanto balançava a cabeça escura. — Mulheres. Por que elas têm que ser tão difíceis? — Porque se não fossem, não os amaríamos quase tanto. Ronan fechou a porta e observou Morgan se afastar. O Theronai não tinha ideia do que ele estava prestes a enfrentar, mas Ronan não tinha coragem de avisálo. Tudo o que faria era fazer o homem perder o sono. No final, o resultado seria o mesmo. Serena o afastaria como ela fez com o resto e o enviaria mancando de volta para Dabyr para lamber suas feridas. Uma mulher tão forte e teimosa quanto Serena não voltaria para casa até que estivesse boa e pronta, não importando quantas vezes Joseph ordenasse sua volta. Tão bom quanto ele era com as mulheres, nem Morgan mudaria isso. Ele teria sorte de voltar com todas as suas partes intactas. Ronan virou-se para o hangar e parou na frente da câmera do lado de fora da porta. — Estou entrando, — ele disse. — Nós precisamos conversar. A voz de Justice veio através de um alto-falante que ele não podia ver. — Eu disse tudo o que precisava dizer naquela nota. — Bem, eu não. Ela soltou um longo suspiro. — Bem. Tanto faz. A porta está aberta. No segundo em que ele entrou pela porta, sentiu o cheiro de seu sangue. Doce, intoxicante, poderoso. Ela ficou na frente dele, com os pés abertos e apoiados. Sua postura era dura e fria, como um muro de pedra que ele não podia passar. Havia um curativo na cabeça e protuberâncias sob a roupa, onde mais ferimentos estavam escondidos. Ela parecia cansada, derrotada. Triste. Mesmo assim, ela era tão bonita que ele quase se esqueceu de respirar enquanto a olhava. — O que aconteceu? — Ele perguntou. Ela balançou a cabeça. — Nada importante. Você está aqui por sua van? — Isso e uma explicação. — Eu só devo a você a van. Ele avançou apenas um passo. Ele avançasse dois, seria incapaz de parar de diminuir a distância e puxá-la em seus braços para se assegurar de que ela realmente estava bem. — Isso é mentira e nós dois sabemos disso, — ele disse.

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Ela fechou os olhos e soltou um longo suspiro. — Estou no meio de alguma coisa. Por que você simplesmente não vai. Podemos conversar sobre isso novamente em alguns dias, se você ainda quiser. Se ele ainda quiser? Ela pensou que ele esqueceria seu bilhete tão cedo? Sobre ela terminando com ele? Ou ela pensou que ele a esqueceria completamente? — Sem chance, ele disse. — Eu não vou deixar você assim, machucada e sangrando. — O sangramento parou. O resto vai curar. Por favor, pegue sua van e vá embora. Existem alguns homens muito ruins me procurando. Você não quer estar por perto quando eles me encontrarem. — Quando, não se, eles a encontrarem? Você acha que isso me fará sair, que você me colocará em perigo? E você? Quem estará lá para você quando esses homens muito maus a encontrarem? — Ninguém. Esse é o ponto. Eu não posso ter você por aí, seguindo meu ritmo. Ele olhou ao redor do armazém procurando o que a havia forçado a sair, pela coisa que era mais importante para ele. Ela estacionou o caminhão dentro e colocou caixas nas prateleiras que revestem a lataria. Um grande palete de tapetes de ioga bloqueava sua visão, mas nada que ele viu aqui parecia importante ou urgente. Raiva cresceu em seu intestino como uma tempestade. — Entendo. Seu ritmo. — Claramente você não vê, ou você ainda não estaria aqui. — E eu libertando você de suas compulsões? Isso não significava nada? Você me prometeu sangue em troca de sua liberdade. Não sei como você pensa que vai escapar do seu voto. A menos que... — Não deu certo, deu? — Ele perguntou. Seus olhos verde-prateados se fecharam. Os ombros dela caíram. — Não importa. Você tentou. Obrigado. Tentou e falhou. Não é de admirar que ela tenha saído. A decepção acalmou a tempestade de raiva que crescia dentro dele. Ele queria tanto libertá-la, ser seu herói.

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Que coisa boba para um homem como ele querer. Ele não era o herói de ninguém. — Então você saiu porque está com raiva de mim? — Ele perguntou sem calor em seu tom. — Irritada porque meus esforços falharam? Ela ficou tão surpresa com a pergunta dele que ela realmente empurrou. — O quê? Não, claro que não. Eu saí porque não tinha escolha. As Destinos tinham planos para mim. Escrevi a nota para você porque não queria que você se preocupasse ou me seguisse. — Por que não? — Ele se adiantou um pouco mais, mas resistiu ao desejo de alcançá-la. Os olhos dela se fecharam em derrota. — Eu não quero te matar. — Eu sobrevivi por um longo tempo e estive em mais de uma situação perigosa. Nosso mundo está cheio de pesadelos. Você não traz mais à minha porta do que já está lá. — Você não entende. — Então explique. Me faça entender. Os olhos dela brilhavam, mas ele não sabia dizer se era de lágrimas ou das luzes industriais lá em cima. — Não é com os pesadelos que você deve se preocupar, Ronan. Sou eu. — Você está planejando me matar? — Não, mas não sou exatamente eu que planejo a minha vida. Eu matei aqueles que confiavam em mim antes. Se as Destinos exigirem, eu irei matar novamente. — Os olhos dela brilhavam com lágrimas. — Eu não poderia viver comigo mesma se machucasse você. Desta vez, ele tinha certeza de que viu lágrimas. Ele não podia vê-la sofrer e não fazer algo para aliviar sua dor, então atravessou o espaço e a abraçou. Ela estava rígida no começo, mas rapidamente derreteu dentro de seu abraço. Quão horrível deve ser para ela se manter à distância, porque ela nunca sabia quem seria obrigada a machucar a seguir? Tão isolada. Tão solitária. Ronan levantou o queixo para ela ver os olhos dele e saber que ele estava dizendo a verdade. — Não vou parar de tentar libertar você, Justice. Eu não vou desistir. Só porque eu falhei uma vez, não significa que fomos derrotados.

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Seus olhos eram luminosos e cheios de lágrimas nos cílios grossos. — E se eu não puder ser libertada? Não quero que você gaste energia preciosa em um sonho infantil. — Precisar ser livre não é infantil. E desperdicei muito mais magia em objetivos muito menos importantes. Além disso, — ele disse, oferecendo a ela um pequeno sorriso, — isso me dá uma desculpa para estar perto de você. Ela balançou a cabeça. — Mas esse é o problema. Ninguém deve estar perto de mim. — Besteira. Você é uma mulher incrível. É egoísta de sua parte guardar tudo isso para si mesma. Ela o encarou com admiração, como se ninguém dissesse que ela merecia algo tão simples como companhia. Talvez eles nunca tivessem. — Eu não vou deixa-la, Justice. E se você me deixar de novo, eu seguirei. Até eu encontrar uma maneira de libertar você, você está presa comigo. Havia alívio em sua expressão, mas também medo. Ele podia sentir o cheiro irradiando da pele dela. — Eu não quero te matar, Ronan. Ele deslizou os dedos nos cachos dela. — Você não vai. Acredito nisso. Quaisquer que sejam essas suas Destinos, elas não carregam a mancha de Synestryn. Até que possamos libertá-la delas, teremos que confiar que elas sabem o que estão fazendo. Ela soltou um latido vazio de risada. — É mais fácil dizer quando não é você quem deixa a destruição no seu rastro. Algo em seu tom, em sua expressão, disse a ele que não estava falando do passado. — O que aconteceu? O olhar dela deslizou para o chão. — Uma mulher idosa morreu por minha causa hoje. — Você a matou? — Morte por proximidade. Assim como o que vai acontecer com você, se você não for embora. Ele balançou sua cabeça. — Eu não estou indo a lugar nenhum. — Ainda podemos nos encontrar. Eu ainda darei meu sangue.

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Apenas a menção disso fez sua pele formigar com antecipação. Sua boca ficou com água e suas presas coçaram e começaram a se alongar. Ronan empurrou tudo isso para baixo e concentrou-se apenas em Justice. — Não é sobre o sangue. Eu me preocupo com você. Ela se encolheu como se ele tivesse batido nela. — Por favor, não. — Muito tarde. — Ele mais do que se importava com ela, mas ainda não estava pronto para admitir isso, nem para si mesmo. Ela se afastou dele e deu vários passos para trás. — Eu não consigo lidar com laços emocionais, Ronan. Não com a vida que levo. — Eu não posso lidar com você pelo seu sangue. Eu não sou um monstro. — Você usa os outros dessa maneira. — Nem mesmo perto. O que ofereço é uma troca justa. Sangue pela cura, longevidade, crianças. — Você dá filhos às pessoas? Não deveria ter dito isso. Foi muito perto de revelar a existência do Projeto Lullaby. Ninguém poderia saber sobre isso. Era muito perigoso. Volátil demais. Ele encobriu seu erro. — Às vezes ajudo as pessoas a conceber. Quando elas desejam. E mesmo quando não, mas ele não disse isso a ela. Ele deu um passo em sua direção para diminuir a distância. Ele não gostava de estar muito longe dela para tocá-la. — Você tem filhos? — Ela perguntou. — Não. Sanguinar não se reproduzem. Seria cruel demais trazer uma criança a um mundo sem sangue suficiente para permitir que ela prosperasse. Ela pareceu relaxar um pouco. — Eu também nunca posso ter um bebê. Se eu tivesse, as Destinos poderiam me fazer machucá-la ou abandoná-la. O fato de Justice pensar em seu bebê como uma menina significava que ela havia pensado nisso. Possivelmente até sonhou com isso da maneira como a espécie dele, da mesma forma que as crianças sonhavam com fadas e unicórnios. Ele se aproximou mais um passo. — Se você me deixar tentar libertá-la novamente, talvez um dia você possa se tornar mãe. Ela sacudiu a cabeça com força. — Não vou pensar nisso. Não posso. — Compreendo. — E ele compreendia. Intimamente.

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Ele estava perto o suficiente para tocá-la novamente e ela não fugiu. Isso era um bom sinal. — Você gostaria que eu tentasse libertá-la novamente? — Ele perguntou. Seu olhar verde encontrou o dele. — Duvido que tenha muito tempo antes que as Destinos me enviem a sua próxima missão. — Não precisarei de muito. Eu já aprendi onde encontrar a conexão com as Destinos. Não vai demorar muito para eu tentar cortá-lo novamente. — Isso não funcionou da última vez. — Talvez eu não tenha cortado o suficiente perto da fonte. Ou talvez houvesse mais de uma conexão e eu não as cortei todas. Não saberei até tentar novamente. — Você está desesperado por mais sangue, não é? — De modo nenhum. — Embora o cheiro disso estivesse definitivamente tornando difícil pensar direito. Ela não tinha ideia de que tentação ela era. Suas sobrancelhas escuras se ergueram. — Realmente? Isso significa que você não vai se importar se eu fizer isso? — Ela inclinou a cabeça para o lado e afastou os cabelos para mostrar o pulso na garganta e as cicatrizes gêmeas que ele havia deixado nela. Tudo dentro dele apertou em necessidade. Ele não estava morrendo de fome, mas sua necessidade pelo sangue dela era muito mais profunda do que mera comida ou poder. Com ela, a alimentação era um laço íntimo que os unia, e quando se tratava de Justice, ele queria que ela se ligasse a ele o mais apertado possível. — É isso que você quer, Justice? Meus dentes na sua pele? — Isso faz parte. — E o resto? Seu olhar era direto, quase frio. — Se você vai ficar por aqui, eu quero você forte o suficiente para me parar se eu tentar matá-lo. Ronan não sabia se a preocupação dela era doce ou ofensiva. — Quem disse que não sou forte o suficiente agora? Ela puxou seu Glock e apontou para ele. A mudança foi planejada, deliberada. — Eu digo. — Você acha que, porque você tem uma arma apontada para mim, eu estou desamparado?

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— Você não está? Em vez de responder, ele simplesmente agiu. Ele usou o poder que fluía por suas veias para acelerar seus movimentos e, em uma fração de segundo borrado, ele a enjaulou contra a parede de metal, a mão da pistola presa bem acima da cabeça. — Dificilmente, — ele disse. Um olhar de alívio suavizou suas feições e relaxou a tensão enrolada em seu corpo. Ela soltou um longo suspiro e cedeu onde ele a segurava. Sua pequena exibição terminou, mas o animal dentro de Ronan estava apenas começando. — Me testar não é inteligente, — ele disse em voz baixa, muito perto de um rosnado para sua paz de espírito. — Nem está perto de mim. Ele não teve outra escolha. Ela o compeliu tão completamente quanto as Destinos que a controlavam. Ele não podia mais se afastar dela agora do que ela poderia simplesmente decidir desobedecer a suas compulsões. — Você e eu somos prisioneiros da nossa natureza. Eu preciso de sangue e isso não vai mudar. Já era hora de você aceitar que está presa a mim. — Então, é sobre o meu sangue? — Ela perguntou. — Isso torna mais fácil para você aceitar que eu fique com você? O queixo dela se ergueu, sua expressão se tornou desafiadora. — Não me preocupo com o que é fácil e o que não é. A vida não é fácil. — O que há então? — Ele perguntou. — Dever. — A palavra saiu, automática e sem hesitação. Algo sobre isso fazia cócegas no fundo de sua mente como se fosse uma peça que faltava para um quebra-cabeça em que ele estava trabalhando. Antes que ele pudesse dedicar um tempo para descobrir onde a peça ia, ela disse: — Se você vai ficar perto de mim, é seu dever permanecer forte. Pegue meu sangue, Ronan. Preciso saber que você está forte o suficiente para me derrotar se as Destinos me fizerem machucá-lo. Ele nunca a derrotaria. Subjugá-la? Sim. Mas nunca derrotaria. Ela ainda estava presa contra a parede, seu corpo menor enjaulado pelo dele. Ela não estava lutando contra o aperto dele, mas seu olhar era um desafio de cem

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por cento. Se ele não fizesse o que ela pedia, não tinha dúvida de que ela tentaria abandoná-lo novamente. Esse era o verdadeiro perigo. Não só ela estaria sozinha para enfrentar o que quer que aparecesse, mas ele não achava que seria capaz de conter sua raiva pela segunda vez. Se ela tentasse deixá-lo novamente, ele seria forçado a fazer algo drástico. Possivelmente algo imperdoável. Mesmo agora, com seu corpo ágil preso pela mão, desejos escuros surgiam dentro dele. Ele gostava de tê-la contra ele. Gostava de controlar seu corpo. Adorava saber que ela não iria a lugar nenhum, a menos que ele deixasse. O lado animal dele achou sua cativa excitante, comível. Sua pele fria esquentou e um rubor se espalhou por seus membros. A necessidade rondava por suas veias, entrelaçando-se com a parte dela que ainda permanecia dentro dele. Ele queria mais. Muito mais. Queria tê-la nua e transar com ela bem aqui contra a parede enquanto se alimentava dela. Seu sangue era mais quente entre as coxas, doce e inebriante com o gosto de sua excitação. Era onde mais amava se alimentar, com ela nua e espalhada a seu prazer. Os quadris de Justice subiram contra ele. — Leve-me, Ronan. O que você quiser. Tal tentação sombria estava além dele para resistir. Ele podia cheirar sua necessidade sexual entrelaçada com a dele, combinando-se com um perfume novo e poderoso que o deixava louco de luxúria. Ele tirou a arma da mão e a jogou para o lado. Não havia cama macia aqui, mas ele não se importava. Ele não estava de bom humor na cama. A parede dura era exatamente o que ele tinha em mente. Antes que ele se perdesse na neblina da luxúria, sua essência mergulhou dentro de seu corpo e usou uma repentina explosão de poder para curar suas feridas de uma só vez. Ele não foi gentil com isso, e quando ela gritou de prazer ou dor, ele não sabia dizer, ele cobriu sua boca com a dele e bebeu o som. Ele libertou os braços apenas o tempo suficiente para tirar a calça jeans e abrir a sua. Seu pênis estava latejando e grosso, a cabeça escorregadia com sua necessidade por ela.

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Ele levantou seu corpo, colocou as pernas em volta dos quadris dele e subiu dentro dela em um impulso pesado. Paraíso. Destino. Casa. Ela se sentia como todas essas coisas e muito mais. O aperto quente de seu corpo liso o recebeu por dentro. Seu olhar verde-prateado prometeu coisas impossíveis. Ronan fechou os olhos para bloquear tudo. Não queria pensar no que aconteceria a seguir. Tudo o que queria era sentir esse momento com ela e saber que nenhum deles estava completamente sozinho. Enquanto ele se movia dentro dela, todos os pensamentos foram lavados em uma onda de prazer diferente de tudo que ele já havia sentido antes. A mulher que ele desejava com cada fibra de seu ser o cercava. Ela teceu através dele, parte de suas próprias células. Depois de uma vida inteira vivendo meia vida, ele finalmente ficou inteiro por ela. A pressão de seu orgasmo não seria negada. Ele estava longe demais para se segurar e fazer esse momento durar. Justice era poderosa demais para seu autocontrole. Em vez de mergulhar sozinho no clímax de fogo, ele procurou a mente e a forçou a sentir o que ele sentia. Em segundos, ela estava ali com ele, desesperada, carente e ofegando por mais um suspiro antes que a onda se abatesse sobre eles. Quando o prazer caiu, eles estavam juntos, abraçando-se como a única âncora na tempestade. Sua semente explodiu fora dele, inundando-a. O sentimento era tão requintado que ele ficou cego e surdo. Ele podia sentir seu peito vibrando com seus gritos de liberação, mas não conseguia ouvir a música. Ele podia sentir a maneira como seu corpo se arqueava contra o dele, mas não conseguia ver seu lindo rosto tenso com o clímax. As sensações intensas continuaram até que não havia mais ar para respirar, nem sêmen para derramar. Depois que seu orgasmo liberou seu corpo de volta ao seu controle, ele se sentiu estranhamente renovado, em vez de cansado. A magia de Justice se envolveu em torno dele e deu a ele tudo o que ele poderia precisar. Bem, quase tudo.

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Ele deitou o corpo ofegante no chão, acomodou-se entre as pernas flácidas, abaixou a cabeça e começou a se alimentar.

*** Justice acabara de adormecer quando sentiu uma pressão atrás dos olhos. Ela estava deitada no chão frio de seu armazém, com o corpo de Ronan embalando o dela. Sua respiração era profunda e regular, mas ela podia dizer sem olhar que ele estava acordado. Parte dele estava dentro dela, tecendo em sua mente como se ele pudesse tricotar-se nela permanentemente. Do jeito que ela estava se sentindo agora, com seu corpo zumbindo agradavelmente e seus músculos relaxados e soltos, talvez ele pudesse. Ele certamente possuía magia suficiente para fazer o corpo dela fazer o que ele quisesse. Suas coxas se apertaram quando ela se lembrou da maneira como ele puxou o orgasmo após orgasmo dela enquanto se alimentava. Sua garganta ainda estava dolorida de gritar. — Apenas relaxe, — ele sussurrou em seus cabelos. — Feche os olhos e relaxe. Se ela estivesse mais relaxada, derreteria em uma poça e mergulharia no chão de concreto. — O que você está fazendo? — Brincando com as Destinos. O que quer que ele estivesse fazendo, era agradável. Havia uma leve pressão, quase como se sua mente estivesse se estendendo para segurar mais dele, mas mesmo isso era um tipo estranho de prazer. Muito parecido com o corpo dela se esticando para segurar a espessura de seu pênis. — Eu acho que é uma presença única, ele disse. — Uma Destino? — Ela perguntou. — Não é Destino. Não é carma ou Deus. Algo mais. — A voz dele sumiu quando a pressão atrás dos olhos dela esquentou. Justice flutuou e o deixou fazer o que queria. Ela não tentou empurrá-lo para fora ou impedi-lo de ver seus pensamentos. Havia tão poucos em sua mente agora, pelo menos.

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Ronan fez um trabalho completo de foder seu cérebro. — É uma mulher, — ele disse, sua voz fraca e distante. — Poderosa. Ela… — a banda quente de Ronan fluindo através de sua mente se apertou quando os braços dele se flexionaram ao redor de seu corpo. — Ela sabe que eu estou aqui. Ela sabe que estou tentando impedi-la. Dores agudas correram logo abaixo do crânio de Justice e a fizeram chorar e apertar a cabeça. Sua mente se encheu com um zumbido estridente. Não eram palavras, mas cada vibração estava cheia de significado que ela não conseguia entender. Pânico. Desespero. Medo. Tudo estava confuso demais para entender, mas as emoções que a ricocheteavam eram fortes o suficiente para roubar o fôlego. Ronan recuou instantaneamente e a pegou nos braços. Assim que ele se foi da mente dela, a dor começou a diminuir. Apenas os ecos do desespero permaneceram. — Você está bem? — Ele perguntou. Justice assentiu em vez de confiar em sua voz. — O que você sentiu? — Dor. Pânico. — Seu? — Ele perguntou. Ela não tinha mais certeza. Tudo a bombardeou de uma só vez, e ela não podia mais dizer se o que sentira eram suas próprias emoções ou as de outra pessoa. — Talvez. Talvez não. Ronan soltou um suspiro resignado. — Quem quer que fosse, ela é muito mais forte do que eu, mesmo depois de me alimentar. Nós vamos ter que tentar outra coisa. — O que isso significa? — Ela perguntou com uma voz rouca. — Isso significa que vou precisar de ajuda para despejá-la. — Que tipo de ajuda? — Logan. Talvez Tynan também. — Você não parece feliz com isso. — Ela com certeza não estava ansiosa por outra tentativa de despejar a mulher em sua cabeça. Ele hesitou por um momento. — Eles terão que tomar um pouco do seu sangue. É a única maneira que eles podem se conectar a você profundamente o suficiente para fazer o que deve ser feito. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Então? — Então, a ideia de outro Sanguinar se alimentando de você me faz sentir bastante violento. Amo meus irmãos e não desejo mal a eles, mas tenho medo do que eu poderia fazer se eles tivessem suas presas em qualquer lugar perto de você. Ela se virou e o encarou. Apenas a visão de seu rosto tinha o poder de acalmar seus nervos e aliviar seus medos. Ele realmente era uma criatura mágica. — Possessivo, não é? — Ela perguntou em um esforço para aliviar seu humor. — Profundamente. Mas por você, eu vou superar isso. Precisamos da ajuda de meus irmãos para libertar você. Não havia mais ecos dessa dor agora, apenas um tipo vazio de zumbido onde antes estivera. Ela se sentiu oca de alguma forma, como se parte dela tivesse sido removida e deixada vazia. Um vácuo. — Quem ela poderia ser? — Justice perguntou. — Eu não sei, mas estou começando a ter a sensação de que você a conhece, ou conhecia, antes que suas memórias fossem arrancadas de você. Justice mastigou isso por um momento. — Hope me disse que suas memórias voltaram quando ela pegou um pouco do sangue de Logan. Você acha que isso funcionaria para mim? Que seu sangue poderia restaurar minhas memórias? — Talvez, mas é muito perigoso. — Por causa do que eu me lembro? — Porque minha semente ainda está dentro de você. Se você ingerir meu sangue, será possível engravidar. Não trarei meu filho a uma vida de fome. Ela assentiu. — Certo. Concordo. Eu esqueci por um segundo. — Além disso, o que diabos ela faria com uma criança? Não é como se ela pudesse carregar um bebê em todo o planeta enquanto seguia os caprichos das Destinos. Ou uma única Destino, como foi o caso. Justice precisava de um nome melhor para a mulher que arruinara sua vida. Cadela, talvez.

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Algo sobre isso parecia errado. Errado. Desrespeitoso. Por mais que Justice odiasse ser usada, ela odiava ainda mais ser julgada por aqueles que não entendiam por que ela fazia as coisas que fazia. Ela fez coisas ruins, e isso a fez mal. Só que ela não queria fazê-las, então ela era realmente a culpada? Justice sempre manteve a ideia de que ela não era má. Era a única maneira de viver com ela mesma. E se essa mulher estivesse no mesmo barco, sendo forçada a torturar a Justice contra sua vontade por algum motivo? Talvez ela não fosse pior que Justice. Assim que esse pensamento entrou em sua mente, ele se expandiu e se estabeleceu nas fendas de sua memória, como se as reparasse. Ela viu rostos por uma fração de segundo, mas não o tempo suficiente para nomeá-los. Antes que ela pudesse

capturar

a

imagem,

ela

desapareceu.

Houve

um

lampejo

de

reconhecimento e um pensamento que quase se transformou em uma memória inteira antes de cair em pedaços mais uma vez. Ela fechou os olhos e deixou a cabeça cair no chão de concreto. Assim que se recuperou de uma pontada de decepção, ela disse: — Acho que quem está fazendo isso comigo não gosta mais do que eu. — O que a faz dizer isso? — Eu não sei. Apenas um sentimento, eu acho. — Um sentimento é progresso. Tomaremos isso como uma vitória. — Não parece um, mas acho que em um mar de perdas, é o mais perto que conseguiremos vencer. Ele acariciou sua têmpora com um dedo comprido e afilado. Os olhos azuis dele deslizaram por suas feições, como se estivessem acariciando-os. Ele era tão bonito que ela não pôde deixar de encarar um pouco. Mulheres em todos os lugares matariam por uma noite com um homem como ele, e ela já o tinha duas vezes. Agora isso foi uma vitória. — Você vai voltar para Dabyr comigo? — Ele perguntou. — Eu não acho isso inteligente. Há algo naquele lugar que bloqueou as Destinos, a mulher, de me alcançar. Receio que se eu estiver lá por muito tempo, da próxima vez que for embora, isso pode me matar.

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— Joseph não deixará nenhum Sanguinar partir, não tão perto dos nascimentos. Se quisermos ajuda de Logan e Tynan, teremos que procurá-los. — Talvez eles possam me ajudar quando os bebês nascerem? Ronan balançou a cabeça. — Não quero esperar tanto. Toda vez que essa mulher a envia uma tarefa, você está arriscando sua vida. Você foi baleada várias vezes nesta semana. Precisamos nos livrar dela antes que seja tarde demais. Antes de terminar de falar, o alarme de perímetro que guardava o armazém começou a gritar. Um segundo depois, um buraco explodiu na porta onde costumava estar a fechadura e homens armados inundaram o armazém. Ronan ficou de pé, gloriosamente nu e predatório. Suas presas se alongaram, suas unhas se transformaram em garras afiadas. Seus olhos azuis brilharam com fogo furioso quando ele levantou a mão na direção dos intrusos. Uma leve luz azul começou a se espalhar pelas pontas dos dedos, mas antes que pudesse se transformar em um escudo protetor, um dos homens disparou. Um buraco vermelho e brilhante floresceu no meio do peito de Ronan. Ele voou e caiu com força no chão de concreto. A negação surgiu dentro de Justice como asas gigantes de dragão, enquanto ela corria para o lado de Ronan. Ela não se importava que os homens pudessem atirar nela pelas costas. Tudo o que ela se importava era parar o fluxo de sangue derramado no coração de Ronan. Antes que ela pudesse alcançá-lo, um dos homens agarrou seu pé e a arrastou para longe de Ronan. Algo afiado espetou sua panturrilha, mas ela não se importou. O pânico alimentou sua força, mas roubou toda a capacidade de pensar com clareza. Ela chutou e lutou contra seus agressores e tudo o que ganhou foram alguns grunhidos de dor e várias maldições duras. O corpo dela ficou pesado. Sua visão embaçou e encolheu-se em um túnel distante. No final, Ronan estava com o sangue acumulado no concreto sob o corpo imóvel, os olhos cegos olhando para o céu. Esses homens o mataram e o único conforto que Justice poderia encontrar era saber que ela o seguiria em breve no abraço da morte.

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Capítulo 13 Nika encontrou seu marido andando na frente dos controles deslizantes de vidro que dão para os amplos jardins, abertos de Dabyr. A energia nervosa derramou dele inundou o elo mental que eles compartilhavam. Ela tentou enviar pensamentos suaves para tranquilizá-lo de que tudo ficaria bem com ela e o bebê, mas sua mente estava muito cheia de todas as coisas que poderiam dar errado para ela ter algum efeito. Claramente, ele lera um livro médico demais sobre parto e o que poderia dar errado. — Você está gastando seus sapatos, — ela disse a ele. Ele se afastou da noite vazia como se assustado ao encontrá-la lá. Madoc era um homem grande, com ombros largos e muito músculo. Mas ultimamente, ele havia perdido peso, muito preocupado com o nascimento da filha para comer. Seus olhos verdes brilhantes se estreitaram enquanto ele estudava seu corpo e mente. — O que há de errado? — Ele perguntou. — O bebê está bem? Nika reprimiu um suspiro frustrado e recuperou a paciência. — Estamos bem. Está tudo bem, exceto você. — Estou bem. Você não precisa se preocupar comigo. Ela acenou com a cabeça na espada na mão dele. — Você não está exatamente agindo normalmente. Ele voltou a olhar para fora e rosnou: — Eu não vou deixar esses filhos da puta virem para o meu bebê. — Este deveria ser um momento de alegria e emoção, Madoc. Eu realmente gostaria que você pudesse relaxar e se divertir um pouco. — Eu adoraria matar alguma coisa. — Você está fora de campo há muito tempo. Talvez você deva fazer uma patrulha ou algo assim. — E deixa-la indefesa? Como porra eu vou. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Ela balançou a cabeça. Seus cabelos brancos cresceram como uma erva daninha desde que engravidara, e agora pendia quase até a cintura, atrapalhando toda vez que ela se mexia. Se não fosse por Madoc parecer gostar, ela o teria cortado meses atrás. — Estou quase indefesa, — ela disse. — Eu matei minha parte de demônios desde que tive acesso ao seu poder. — Matar é meu trabalho agora. Você não deveria estar se esforçando em sua condição. — Pelo amor de Deus, Madoc. Estou grávida, não estou morrendo. Ele a perseguiu, sombrio e perigoso. Seu interior derreteu com a necessidade. Fazia muito tempo desde que eles fizeram sexo. Para os dois. Não importava quantas vezes ela dissesse que era perfeitamente seguro para o bebê, ele recusou, algum remanescente de sua educação antiquada, ela adivinhou. Talvez se ela o tivesse fodido, ele se acalmasse um pouco, relaxasse. — Você não tem permissão para dizer a porra da palavra, — ele disse. — Morrendo? — Sim. Essa. Não quero nem pensar nisso. Seu grande marido, mau, guerreiro estava com medo. Não importa quantas vezes a realização a atingisse, ela sempre ficava chocada com isso. O homem lutava contra os demônios venenosos e rosnando, e estava aterrorizado com a ideia de ela dar à luz. Ela foi até ele e passou os braços em volta de seu corpo. O volume da gravidez atrapalhou, mas ela não se importou. Esta era a família dela agora. Toda a sua vida estava aqui, em seus braços. — Tudo ficará bem. Nossa garotinha vai nascer a qualquer momento e, talvez, quando você abraça-la, você finalmente relaxará. — Você está brincando comigo? — Ele disse, embora sem calor em suas palavras. — Como posso relaxar quando essa pequena pessoa precisa de mim para mantê-la segura? Quando todo monstro grosseiro do planeta quer comê-la? — E isso nem conta todos os garotos que vão querer sair com ela, — acrescentou Nika, apenas para distraí-lo.

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— Não me lembre, porra. Não posso lidar com isso agora, Nika. Eu já estou perdendo o que está sem me preocupar com seu namoro. Nika se afastou e pegou o rosto dele em suas mãos. — Nós vamos ser felizes, caramba. Tão delirantemente felizes que você sorrirá o tempo todo, mesmo dormindo. — Não há tempo para sorrir. Nós precisamos nos preparar. Esteja pronta para lutar. — Mas não está noite. — Ela abaixou a cabeça dele para poder beijá-lo. — Hoje à noite, devemos aproveitar as últimas horas que teremos sozinhos. — Ela abriu a mente enquanto o beijava novamente para que ele pudesse sentir o quanto ela precisava dele, o quanto ela doía para tê-lo dentro dela. Madoc gemeu em sua boca. O corpo dele apertou, e ela podia sentir a excitação dele brilhando através do elo. Ela se abaixou e deslizou a mão sobre sua ereção. — É seu trabalho cuidar de mim, não é? — Sim, claro. — Providenciar minhas necessidades? — Sempre. — Todos elas? — Ela perguntou. Suas mãos dele se apertaram levemente nos braços. — Mas o bebê... — Está bem. —Ela deslizou os dedos no topo da calça jeans, pegou o cinto no punho e o puxou para o quarto. — Mas eu não estou. Eu preciso de você, Madoc, e é seu dever fazer isso acontecer. Ela sentiu o momento em que ele cedeu. Sua mente mudou da resistência para a áspera necessidade animalesca que ela achava tão excitante nele. — É isso aí, — ela cantou. — Isso é o que eu tenho sentido falta. Então ele a pegou nos braços fortes e a beijou até que não houvesse mais fôlego para ela falar.

*** Os instintos naturais de Ronan salvaram sua vida.

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Assim que a bala cortou a artéria que levava ao coração, seu corpo se fechou e começou a reparar. Seu coração parou de bater para impedir a perda de sangue, e ele entrou em um estado profundo de suspensão metabólica, semelhante à hibernação. Se não fosse pela nova infusão de poder que o sangue de Justice deu, ele não teria sobrevivido. O dano foi extenso, e levou a maior parte de suas reservas para curá-lo. Assim que recuperou a consciência, ele soube que Justice se fora. Ele podia senti-la se afastando dele rapidamente, mas ele se animava com o fato de ainda poder senti-la. Se ele pudesse sentir a presença dela, ela ainda estava viva. Esse foi o pensamento que permitiu ficar onde estava, nu e tremendo no chão de concreto, enquanto seu corpo terminava de tricotar os tecidos que a bala rasgara. Ele não tinha ideia de quem eram esses homens ou por que a haviam levado. Eles não eram Synestryn, ele podia perceber pelo cheiro deles que eram completamente humanos, mas eles poderiam estar trabalhando para demônios. Ele não sentiu o cheiro de infecção que veio com a exposição a longo prazo ao sangue Synestryn, mas isso não descartou que eles fossem novos fantoches, dorjan. A lista de razões pelas quais eles poderiam querer Justice era longa, e Ronan não se atreveu a se deixar contemplar agora. Tudo o que importava era que ela estava viva. Assim que ele pudesse se levantar, ele a procuraria e destruiria todos os homens que ousaram ameaçá-la. Ele fechou os olhos e desejou que seu corpo se curasse mais rápido. Ele precisava provar o sangue de seus inimigos. Em breve.

*** Justice acordou, certa de que ela foi drogada. Eles a injetaram com algo para desativá-la. Isso foi aquela picada, algum tipo de suco para nocautear sendo jogado em sua corrente sanguínea. Ela manteve os olhos fechados para não alertar seus sequestradores de que havia recuperado a consciência. Sua cabeça ainda estava enevoada, mas como ela queria clarear, ela sentiu seu corpo trabalhando para fazer exatamente isso. Era

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um tipo estranho de sensação borbulhante, como criados minúsculos lavando a droga com mangueiras de incêndio expelindo água oxigenada. Ela fez um balanço de seu corpo. Além das drogas e alguns inchaços e contusões, ela parecia ilesa. Nua, mas ilesa. Ela estava, no entanto, amarrada nos pulsos e tornozelos. Ela não sabia dizer se eles usavam algemas, fitas plásticas ou qualquer outra coisa, mas estava definitivamente disposta a não testar esses laços para ver se podia se libertar. Ainda não. Ela estava se mexendo. O som familiar de pneus rolando sobre o calçamento disse que ela estava em um veículo. Ela não tinha ideia de que tipo, mas não era apertado. Ela estava em um assento com tecido amortecendo sua bunda nua e atrás das costas. Havia calor em ambos os lados do corpo, homens a vigiando. Ela podia sentir o cheiro do suor e o cheiro oleoso de óleo de pistola e pólvora. Um desses homens atirou em Ronan. Matou-o. A raiva queimou a última droga que embaçava seu cérebro. Ela ia matar esses filhos da puta pelo que eles haviam tirado dela. Ela iria roubar a vida deles da maneira que eles roubaram a dele, mas antes que ela o fizesse, ela os faria sofrer. Faria implorar que ela os matasse. Ronan. Apenas o pensamento dele deitado lá, sangrando e cego da morte, foi suficiente para esmagar a respiração de seu corpo. Se ele não estivesse com ela, ainda estaria vivo. Ela era tão culpada por sua morte quanto o homem que puxou o gatilho. Nada do que ela fez mudaria isso. Ela o amava e o matara. Só restavam duas opções para ela agora. Ela podia deixar sua dor tê-la e cair em uma massa de soluços, lágrimas inúteis. Ou ela poderia ceder à raiva que queria consumi-la e deixá-la assumir o controle e transformá-la em uma máquina de matar. No final, não havia escolha. Ela nunca teve muito uso para lágrimas, e havia muitos homens que precisavam morrer. Era muito mais fácil matar do que sofrer.

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O veículo parou. O motor desligou. Um dos homens ao lado dela abriu a porta e saiu. Um segundo depois, mãos ásperas a agarraram por baixo dos braços e a puxaram para o chão frio. Havia pouca luz. O chão estava fresco, mas não frio o suficiente para eles ficarem do lado de fora. Não havia vento, e um eco deu a sensação de um espaço fechado. Ela abriu os cílios apenas o suficiente para ter uma visão filtrada das paredes de pedra e postes de metal pintados segurando um teto de pedra calcária. Eles

estavam

em

algum

tipo

de

caverna,

como as

usadas

para

armazenamento e fabricação em Kansas City. Ela viu as pernas de três homens, dois em trajes de combate e um em calças. — Ela está danificada? — Perguntou um dos homens. Ela conhecia aquela voz. Chester Gale, ladrão de crianças, assassino e imbecil. — Tivemos o cuidado, como você disse, — respondeu um dos homens atrás dela. Justice aumentou sua contagem iminente de assassinatos para quatro. — Por que ela está nua? — Ela estava transando com um cara. — Onde ele está? — Morto. — Onde está o corpo? — Chester perguntou. — Nós o deixamos lá. O armazém está isolado. Ninguém sentira o cheiro dele. — Bem. De qualquer maneira, estamos com pressa. Nosso cliente está impaciente em conhecê-la. Seu cliente? Alguém o contratou para sequestrá-la? Justice destruiu seu cérebro, mas não tinha ideia de quem poderia ser. Se ela não estivesse com Ronan, poderia suspeitar dele, mas... Ronan estava morto. Ele não havia contratado ninguém. Dor e tristeza incharam em seu peito e ameaçaram dominá-la. Ela não podia desmoronar. Agora não. Aqui não. Mais tarde, depois que ela matasse seus assassinos, ela choraria. Mas agora não.

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Houve um som de barulho ao longe, seguido por um cheiro fétido de podridão e fezes. Ela lutou para não amordaçar, assim como os homens que a cercavam. Um deles vomitou e um pouco de vômito atingiu o chão a poucos metros dela. — Vazel, — Chester cumprimentou. — Bom te ver de novo. — Você trouxe a mulher. — Não era uma pergunta, mas o tom guloso e úmido estava ansioso demais pelo conforto de Justice. Vazel. O homem que Chester ofereceu vinte mil dólares para conhecer. Isso não poderia ser bom. — Eu debati em mantê-la, — disse Chester. — Ela me causou muitos problemas. Mas achei que negócios são negócios. Não há lucro em matá-la eu mesmo. Vou deixar você ter o prazer. — Eu não vou matá-la. — Não? Presumi que sim, desde que ela roubou a garota que você queria. Então, esse desgraçado fedido, Vazel era quem queria Pepper. Só isso já bastava para Justice adicioná-lo à sua lista de assassinatos. — Tenho melhores usos para uma mulher de seus talentos. Um dos homens de Chester riu. — Eu aposto. Ela é gostosa. A risada do homem foi cortada repentinamente e substituída por um som chocante. Um segundo depois, houve um baque pesado de um corpo atingindo o chão. Vazel nem se mexeu. — Ninguém insulta minha futura rainha, — disse Vazel. Um novo sentimento de pressentimento se reuniu em torno de Justice e roubou o pouco calor que restava em sua pele. Quem quer que fosse Vazel, ele não era humano. — Ela está acordada, — ele disse. — Não por horas, — assegurou Chester. — As drogas... — São para humanos. Justice está longe disso. —Ele dirigiu sua próxima pergunta para ela. — Você não está? Não faz sentido jogar de gambá agora. Pelo menos se ela pudesse abrir os olhos, seria mais capaz de fazer um balanço de sua situação e descobrir como se libertar e matar esses filhos da puta um por um.

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Pena que Reba estava no armazém, fora de alcance. Ela teria que encontrar uma arma ou recorrer a mãos nuas. Em algum lugar, no fundo da parte primária de seu cérebro, essa ideia a atraía muito mais do que deveria. Justice abriu os olhos e, assim que viu Vazel, desejou não ter visto. Ele era grotesco, todo bulboso e carnudo, com braços muito compridos e mãos deformadas. Ele estava nu, exceto por um pano sujo em volta da cintura. Seu pênis flácido e bolas caídas pendiam abaixo do pequeno pedaço de tecido. Sujeira se agarrava à pele irregular, quase da cor e textura dos lagartos do deserto. Sua boca estava esticada em um sorriso largo, cheio de dentes pontudos. Definitivamente não humano. Atrás dele, escondendo-se nas profundezas sombrias de uma abertura de rocha áspera, havia várias criaturas humanoides altas, com pele cinza pálida. Eles seguravam armas ásperas e enferrujadas nas mãos que mais pareciam pedaços de sucata martelados do que espadas. Ainda assim, por mais musculosos que fossem, ela não duvidava que eles pudessem causar algum dano, mesmo com as lâminas sem brilho. — Eu não tenho ideia do que sou, — ela disse a Vazel, — além de chutar sua bunda. O demônio riu, o som molhado e fleumático. Ela deu uma pausa nos olhos da sua abundância de feiura para olhar suas amarras. Fechos de correr. Áspero na pele, mas quebrável. Tudo que ela precisava era de um pouco de tempo para si mesma. — Gosto de uma mulher mal-humorada, — disse Vazel. — Minha rainha era como você. Você vai me agradar, minha nova rainha. Rainha? De onde diabos era essa criatura? Justice levantou o queixo e zombou. — Desamarre-me e veremos o quanto eu te agradeço. — Assim que eu receber o pagamento, — disse Chester, — ela é toda sua, para coroar, foder ou matar, não há julgamento aqui. Todos nós temos nosso próprio caminho. A pele de Justice começou a se arrepiar como se pudesse fugir de Vazel sem ela.

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Ela lutou para ficar de pé, certa de que estava dando aos homens atrás dela um inferno de um show com a bunda nua pendurada. — Eu não sou uma coisa a ser comprada e vendida. — Todo mundo tem seu preço, — disse Chester. — O seu foi bastante íngreme. Você deveria estar orgulhosa. Justice não deixaria esse imbecil se safar das coisas que ele havia feito, por ela, Ronan, Pepper e Deus sabia quantos outros. Ela se forçou a olhar para Vazel — Você me quer? — Ela disse a ele. — Então prove isso. Mate-o por mim. Mate os homens que tiraram a vida do homem que eu amava. Vazel sorriu. Baba correu pelo canto dos lábios finos. — Sedenta de sangue e mal-humorada? Eu escolhi bem. Nosso filho aprenderá muito com você. Filho? Ela não tinha ideia do que ele estava falando. — Espere um minuto, — disse Chester enquanto se afastava. — Nós tínhamos um acordo. — Nós temos, — Vazel concordou. — Você me traz a mulher. Eu pago você. Ele soltou uma pequena bolsa de couro suja presa à tanga e a jogou para Chester. O homem abriu a sacola e derramou uma pilha de pedras. — Diamantes brutos. Agora você está pago — disse Vazel. — Eu sabia que você era um homem de sua palavra. Vazel levantou o braço muito longo e apontou uma mão disforme para Chester. Durante todo o tempo, ele encarou Justice com o sorriso mais cruel no rosto. — Um presente para você, minha rainha. Os demônios carecas atrás dele começaram a cantarolar em um tom baixo, quase reverente. A expressão de Chester tornou-se confuso, depois terror. Um som chocante saiu de sua garganta. Ele agarrou qualquer força invisível que cortasse seu ar, enviando os diamantes espalhados pelo chão da caverna. Os homens de Chester se mexeram nervosamente. Um deles correu para o lado dele. — Patrão? Você está bem? Um homem deu meia-volta e correu. Outro levantou seu rifle de assalto e apontou para Vazel. — Deixe ele ir.

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O demônio sacudiu o pulso, e o soldado de Chester ficou rígido, depois recuou. A cabeça dele bateu na pedra com um baque vazio, mas ele não se encolheu de dor. Ele estava morto. Justice ficou lá, tremendo. Os tornozelos dela estavam amarrados. Ela não conseguiu correr. Ela mal conseguia se equilibrar contra os restos de quaisquer drogas que eles usassem para nocauteá-la. Quando o último barulho da morte de Chester se acalmou, Vazel avançou. Ele inspecionou cada homem, depois se inclinou e desabotoou uma de suas camisas. Ele a tirou do corpo morto, depois ficou na frente dela, oferecendo-o como se fosse o melhor vestido de seda. Infelizmente, ele cheirava tão mal quanto parecia, como carne podre e carne não lavada. — Para você, minha rainha. Ela levantou os braços atados na esperança de que ele pudesse libertá-la. — Uma ajudinha? Ele tinha apenas dois dedos na mão, ambos com garras afiadas. Ele usou um para cortar o plástico grosso como se fosse papel de seda, depois fez o mesmo com os tornozelos. Sua completa falta de preocupação com o corte de suas amarras dizia o quão confiante ele estava que ela não iria fugir. Ela pegou a camisa do morto e vestiu. Ela passou por sua bunda, mas não o suficiente. Pelo menos, ajudou a afastar o frio da caverna. Justice esfregou os pulsos e procurou um meio de fuga. O SUV estava vazio e todo dela, se ela pudesse encontrar as chaves. Havia um segundo carro, o BMW de Chester não muito longe. Ela não sabia se ele dirigia ou se tinha um motorista que possuía as chaves. De qualquer maneira, ela teria que vasculhar os bolsos de homens mortos para encontrá-los. Ela duvidava que Vazel daria a ela muito tempo antes que ele arrancasse a vida, pois os homens estavam espalhados no chão. Atrás de Vazel estava a abertura áspera na parede da caverna onde os outros demônios esperavam. Ela sabia que a entrada fora esculpida na rocha desde que essa instalação fora construída. Ao seu redor havia pisos planos e pavimentados,

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mas dentro dessa abertura o chão era irregular e desigual. As paredes aqui estavam pintadas, mas nada daquele revestimento branco brilhante passou pelo buraco onde pairavam os demônios. — Para onde isso vai? — Ela perguntou a Vazel enquanto lutava para encontrar uma maneira de sair dessa bagunça. O que ela não teria dado por Reba agora, mas ela no armazém com Ronan. Ronan. A imagem de seu corpo sem vida brilhou em sua mente e roubou seu fôlego. Um peso esmagador de pesar derramou sobre ela até que ela pensou que iria matála. Lágrimas ameaçaram derramar, mas ela lutou contra elas. Ela não podia rachar agora. Ela não podia mostrar fraqueza. Se ela o fizesse, esse demônio a comeria viva, possivelmente literalmente. Vazel olhou para ela e inclinou a cabeça. — Meu amor morreu também. Sua dor vai passar. Nosso filho vai ajudar. Ela agarrou a distração que ele ofereceu. — O que vai passar? Eu não tenho filho. — Quando você o vir, você o amará. Justice imaginou uma versão viscosa e atarracada de Vazel com dentes pontudos e odor corporal. Você sabe que eu não vou com você, certo? — Ela perguntou. Parecia justo dizer a ele como estavam as coisas desde que ele fora decente com ela até agora. Claro, ele pagou a um homem em diamantes para sequestrá-la, mas, demoníaco ou não, ele ainda era muito mais civilizado do que Chester jamais fora. Vazel não pareceu surpreso ou chateado. — Você tentará correr. Eu vou parar você. Quantas vezes for preciso. — For preciso para quê? — Para você aceitar sua nova vida. — A aceitação nunca foi realmente o meu forte. Sou mais um tipo de garota que luta ou morre. Ele deu um passo em sua direção. Ela voltou, só que ele era mais rápido. Sua bunda bateu contra o SUV que barrou seu caminho.

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Ele pressionou seu corpo reptiliano contra o dela, prendendo-a contra a chapa fria. — É isso que faz uma boa rainha. Eu posso ser paciente. Mas caso você seja mais rápida que eu... — Ele agarrou o braço dela em sua mão fria como uma garra e usou uma unha afiada para cortar um corte em seu pulso. O sangue fluía livremente da ferida e escorria de seu cotovelo. Ela tentou se libertar, mas ele era muito forte. Tudo o que ela fez foi ganhar algumas contusões por seus esforços. Vazel curvou-se e lambeu as gotas de sangue do braço. No instante em que a língua dele tocou sua pele, ela começou a formigar e coçar, como se estivesse tendo uma reação alérgica. Por outro lado, ser alérgico à língua de um demônio hediondo parecia bastante razoável para ela. Enquanto bebia, ele fez o som de gozo mais nojento pelo prazer. Ela tinha certeza de que ele iria gostar do que provou o suficiente para rasgar sua garganta com os dentes, mas, em vez disso, ele passou o dedo sobre o corte e fechou a ferida. Sangue cobriu seus dentes enquanto ele falava. — Você é deliciosa. E poderosa. Mas quem está aí com você? Antes que ela pudesse responder, o cheiro de sangue fresco chegou aos demônios pairando, eles começaram a mover e rosnar. Vazel virou a cabeça na direção deles e rosnou de volta. — Minha. Os demônios se encolheram e se arrastaram mais fundo nas sombras. Justice usou seu momento de distração para colocar o joelho dela com força entre as coxas. Por mais que ela odiasse deixar sua pele nua tocar aquele pano nojento e o que estava além, era sua única esperança de se libertar. Mas, em vez de se dobrar de dor como qualquer criatura normal, tudo o que ele fez foi grunhir e apertar seu pulso. Sua mão ficou dormente. Seu hálito quente e fétido varreu seu rosto, amordaçando-a com o cheiro de carne podre. — Não há nada que você possa fazer agora. Você está dentro de mim. Se você lutar, eu vencerei. Se você correr, eu vou te encontrar. Não há escapatória. Exceto na morte.

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Justice nunca teve um desejo de morte. Às vezes, ela não se importava se vivia ou morria, mas não era suicida. Ainda assim, com cada vida que ela tirava, estava ficando mais difícil para ela se lembrar por que ela deveria continuar lutando para sobreviver. Ela não tinha ninguém que sentiria falta dela se ela morresse. Talvez Ronan sentisse, mas ele também se foi agora. Ninguém lamentaria por ela. Qual era o sentido de sobreviver se ela não estivesse livre? Essa criatura poderia ser capaz de mantê-la refém, mas ele não seria capaz de impedir que as Destinos, a mulher, obrigasse-a a fazer as coisas. Se ela estivesse presa e incapaz de obedecer, não havia dúvida de que ela morreria pelo castigo infligido a ela. Se ela ia morrer, era melhor fazê-lo aqui, lutando para ser livre, do que no subterrâneo, presa e cercada por monstros. Ela olhou em volta para o chão cheio de criminosos mortos, depois para a linha de criaturas escondidas nas sombras. Enquanto isso, uma bolha de riso escapou de seus lábios. Justice estava fadada a morrer cercada por monstros, não importa o que ela fizesse. Podia muito bem fazer uma posição aqui. Cair lutando. Levando mais um demônio com ela. Talvez Ronan a encontrasse na morte do jeito que ele encontrou na vida. Uma sensação de paz tomou conta dela deu força para sorrir para o demônio. — Eu vou gostar de mostrar o quão errado você está.

*** Ronan ainda podia sentir a presença de Justice, mas algo estava errado. Terrivelmente errado. Se ele não a conhecesse melhor, ele teria dito que a sensação que estava recebendo dela era de derrota. Ela estava desistindo. Justice nunca desistia. Ela lutava, empurrava, ela arranhava e rasgava até que ela conseguisse tudo o que ela queria. Ou morria tentando. O pânico se espalhou por Ronan, sombrio e insidioso. Ela não podia desistir dele. Ela não podia estar sofrendo tanto que estava disposta a deixar ir. Não sua Justice.

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Ele ligou para Morgan em busca de apoio e depois seguiu pela rodovia, praticamente empurrando carros menores para fora do caminho. Ele acendeu as luzes, tocou a buzina e enviou ondas de medo para que todos saíssem do seu caminho. Ainda não era suficiente. Uma sensação de desgraça o atingiu a cada batida cansada de seu coração. Ele não poderia perdê-la. Ele precisava muito dela para deixá-la ir, e não apenas pelo seu sangue. Ele também precisava disso, mas havia muito mais. Ele precisava de seu fogo, do espírito, ele precisava de sua força e beleza. Ronan havia sofrido muito ao longo de sua longa vida, mas não achava que sobreviveria a uma vida sem Justice. Ela estava mais perto agora. Sua presença intensa brilhou como o sol contra seu rosto, depois deslizou para a direita quando ele se aproximou dela. Ele virou a van, quase tombando na pressa. Um carro atrás dele tocou a buzina, mas ele não diminuiu a velocidade. O telefone dele tocou. Era Morgan, atendendo seu pedido de ajuda. — Eu vejo sua van, — ele disse. — Estou bem atrás de você. Morgan Valens pode ser um paquerador, mas quando as coisas apertam, ele era tão confiável quanto qualquer outro. Graças a Deus, Joseph o permitiu deixar os muros de Dabyr para procurar Serena, ou Ronan entraria em uma briga sem apoio. Baseado nos sentimentos desesperados que vinham de Justice, Ronan precisaria de toda a ajuda que pudesse obter. Séculos de encontrar pessoas através do sangue o ajudaram a identificar a localização dela antes que ele passasse. A estrada levava a uma área industrial cheia de cavernas transformadas em negócios e armazenamento. Ele estava familiarizado com o layout, mas ainda não era capaz de dizer qual entrada deveria tomar. Ele parou a van no primeiro estacionamento que pôde encontrar, saltou e correu de volta para a picape de Morgan. — Por aqui, — ele disse, apontando para a entrada mais à esquerda. — Ela está lá.

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Eles dirigiram pela entrada escancarada da caverna, disfarçada de vigas e postes para torná-la mais agradável ao visitante comum. Assim que eles estavam dentro da área de estacionamento subterrâneo, ele sentiu seu sangue e viu corpos espalhados no chão. A feia luz amarela cintilou sobre os cadáveres e enviou o coração de Ronan para sua garganta. — Eles são todos homens, — disse Morgan, seu tom firme e tranquilizador. — Não ela. — Ela estava aqui. Eu posso sentir o cheiro de seu sangue. — Tudo o que cheiro é merda e carne podre, — disse Morgan. Ronan ignorou tudo isso e destacou o doce aroma de Justice. Isso o levou a uma poça na calçada perto de um SUV abandonado. Ainda estava molhado, fresco. Ela esteve aqui nos últimos minutos. Morgan inclinou-se sobre um dos homens mortos. — Nenhum sinal de lesão neste. — Havia demônios aqui. — Ele inalou profundamente para recolher seus aromas para que ele pudesse memorizá-los. Um se destacou dos outros. Era rançoso, mas havia algo mais: uma inocência, como se a criatura tivesse entrado recentemente em contato com uma criança humana. Ele seguiu o nariz até um túnel esculpido na parede lateral da área industrial. Isso foi aberto recentemente a partir da aparência. Ronan cheirou mais o sangue de Justice e encontrou algumas gotas ao lado de uma briga no chão de terra da caverna. Ela ainda estava lutando. Uma sensação de alívio arredondou as extremidades afiadas de seu medo e abriu espaço para uma fria e dura determinação de criar raízes. Ele iria recuperála. Nenhum demônio estava tirando sua Justice dele. Hoje não. Nunca. — Eles a levaram por aqui, — ele disse enquanto empunhava a espada. O som de metal contra metal respondeu atrás dele, enquanto Morgan fazia o mesmo. Barulhos ecoaram das entranhas da pedra. Vozes profundas e ressonantes e mais alta e mais nítida. Justice. Ronan acelerou o passo. — Devagar, ou eles vão ouvir você chegando, — alertou Morgan.

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— Bom. Eles deveriam saber que a morte está logo atrás, para que possam passar seus últimos momentos nesta terra com medo. O Theronai suspirou. — É onde nós estamos, hein? Toda lógica fora da janela? Ok. Se você insiste. A força bruta funciona para mim. Houve um lampejo de movimento à frente. Embora as cavernas fossem escuras, ele e Morgan tinham a capacidade de ver, graças à magia que fluía por suas veias. Ronan se perguntou se Justice havia aproveitado sua capacidade de fazer o mesmo, ou se ela estava lutando no escuro. Sua voz subiu em um grito agudo de dor, seguida por: — Recue, seu filho da puta fedido! A resposta foi um rugido de raiva e um rosnado profundo de mais de uma criatura. Assim que Ronan completou a curva seguinte, ele pôde ver como as coisas estavam ruins. Justice foi espancada, estava machucada e sangrando. Havia dois arranhões no rosto e um brilho liso de suor doentio. Mesmo daqui, ele podia sentir o cheiro de que ela foi envenenada. Ela usava apenas uma camisa de lona dura. Sem calças ou sapatos para proteger os pés das pedras afiadas e pedaços de osso que cobriam o chão do túnel. Havia pelo menos uma dúzia de demônios altos e cinzentos barrando o caminho até ela. Todos estavam armados com lâminas enferrujadas e muito mais fortes do que pareciam. Enquanto eles não pareciam portar o mesmo veneno que seus parentes mais demoníacos, eles ainda eram mortais. Um demônio alto e deformado, vestindo apenas um pano em volta do quadril, a manteve em cativeiro no final de seu longo braço. Sua mão consistia em apenas dois dedos e um polegar estranhamente articulado, mas seu aperto era firme o suficiente para mantê-la sob controle. Ela deu um soco m sua cabeça, mas o movimento foi desleixado. Ronan não sabia se esses eram os efeitos nocivos do veneno em seu sistema, ou se ela simplesmente não conseguia ver seu alvo. Ele desejou como o inferno que ele fosse um Theronai e ela sua companheira ligada. Ele poderia ter tocado sua mente e dito que ele estava aqui, que ele veio para resgatá-la e ela não tinha que ter medo.

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Mas ele não era um Theronai, e o melhor que podia fazer era agir rápido e salvá-la de mais abusos. — Eu tenho que ir, — ela gritou. — As Destinos... você não entende. Eu tenho que ir! A garganta de Ronan se apertou de medo. Não uma compulsão. Agora não. Eles já estavam lidando com uma situação profundamente perigosa. Se Justice se arriscasse a obedecer à mulher que a obrigava... Ronan abaixou a voz para que apenas Morgan pudesse ouvir. — Agora. Os homens atacaram a parte de trás da horda, espadas desembainhadas, gritos de guerra ecoando nas paredes de pedra. Todos os olhos se viravam, mas os únicos que via eram de Justice. Ela não se concentrou neles. Sua visão estava errada. Ela estava cega aqui na escuridão. Depois de se curar, as reservas de Ronan eram escassas. Todo poder que ele usava agora estava sendo arrancado de suas células, deixando pequenos esqueletos vazios para trás. Ele ficaria fraco, depois magro quando seus tecidos fossem consumidos para alimentar suas demandas. Eventualmente, se ele não parasse, seu corpo se desligaria e se recusaria a se sacrificar mais. Ele ficaria louco de fome e drenaria o sangue de qualquer um que tivesse a sorte de estar por perto. Como ele fez com Justice na primeira noite em que a conheceu. Ele não podia se deixar ir tão longe agora. Ele tinha que manter algo em reserva para desfazer o veneno que corria através de seu sistema. Se não o fizesse, ela estava tão morta quanto morta. Morgan alcançou o primeiro demônio antes de Ronan. Sua espada cortou carne e osso, decapitando a criatura em um golpe. Sangue vermelho escuro respingou nas paredes do túnel, bem como nos demônios atrás do morto. Ronan derrubou o próximo e o próximo. À medida que cada homem abria caminho através da massa de carne cinzenta, mais demônios substituem os que caíram.

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Através do caótico turbilhão de corpos, Ronan podia ver Justice sendo arrastada por um braço, lutando com as mãos nuas a cada passo do caminho. Ela mordeu o braço segurando-a refém e passou as unhas no rosto torcido do demônio. — Justice! — Ronan ligou. — Estamos chegando! Ele cortou outro demônio, mas o próximo na fila superou suas defesas. Uma lâmina enferrujada e maçante cortou seu ombro. Mais de suas reservas minguantes foram trabalhar para fechar a ferida. Quanto mais ele sangrava, mais fraco se tornava. — Ronan? — Ela disse como se não acreditasse. — Espere! — Ele acelerou o ritmo de seus golpes, frenético para alcançá-la. Ela lutou com a mesma força, cutucando cotovelos e joelhos. — Ela é minha! — O demônio que a segurava rugiu. As criaturas lutando pararam por uma fração de segundo, como se tivessem medo de se mover diante daquele tom de raiva. Essa fração do tempo foi tudo o que ele e Morgan precisavam para mudar a maré da batalha. Corpos caíram a seus pés. As fileiras de trás de Synestryn começaram a girar e a correr quando perceberam que a morte estava chegando para eles. — Segure a linha! — O demônio no comando gritou, mas até o medo dele não era suficiente para fazer com que os desertores ficassem e lutassem. — Estamos indo até você, — Ronan advertiu. Sangue quente salpicou seu rosto. Um brilho azul brilhou de seus olhos e caiu sobre suas próximas vítimas. Ele abriu caminho através dos demônios ao lado de Morgan, cortando e cortando como se estivessem limpando o crescimento da selva. — Eu te vejo! — Justice disse. Então ela pulou no demônio feio, apertou as pernas ao redor e começou a enfiar os polegares nos olhos. O Synestryn gritou de dor, agarrou seus cabelos e a jogou no chão. Sangue preto escorria de suas órbitas oculares. Sua voz tremia de raiva. — Você poderia ter sido uma rainha. Justice se afastou como um caranguejo, mas seu rosto era uma mistura feroz de desafio e a promessa de mais dor. Ela se recusou a ser derrotada, o que era uma das coisas que Ronan amava nela.

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— Em vez disso, você vai se arrepender. — O demônio colocou o queixo no peito e começou a cantarolar uma nota baixa enquanto se virava e se afastava. Instantaneamente, os Synestryn de pele cinza lutando se desengataram e começou a cantarolar a mesma nota. Ronan derrubou mais dois enquanto corria em direção a Justice. Morgan o cobriu, a espada levantada enquanto se agachava ao lado dela. — Você está vivo, — ela disse. — Eu pensei que você estava morto. — Me desculpe se a preocupei. — Preocupou? — Ela gritou. — Eu estava com medo de merda. Morgan mudou ao lado deles. — Não há tempo para isso. Precisamos ir antes que eles voltem. Ronan embainhou a espada e a ajudou a se levantar. — Assim que saímos daqui, cuidarei desse veneno. — Veneno? — Ela perguntou, aparentemente inconsciente da toxina deslizando por suas veias. — Você vai ficar bem, — Ronan assegurou. — Nós temos tempo. — Eu não consigo ver. Está muito escuro sem seus olhos brilhando. Ele tirou o celular do bolso, ligou um aplicativo de lanterna e entregou a ela. Então ele a pegou para que ela não cortasse mais os pés e a carregou para fora da caverna. Justice deitou a cabeça no peito dele. Ela estava tremendo, mas ele não sabia dizer se era de alívio, adrenalina ou algo que o veneno fizera. — Eu tenho que ir, — ela disse. — As Destinos... Ele não perguntou se ela tinha certeza ou a repreendeu pelo mau momento. Nada disso era culpa dela ou sob seu controle. Então, em vez disso, ele simplesmente perguntou: — Onde? Seu tom era de cansaço total. — Fora daqui. — Depois de uma pausa. — É assim que o resto da minha vida se configura, não é? — O quê? — Ser empurrada por valentões poderosos de outro mundo e monstros fedorentos. — O aperto dela ao redor do pescoço dele enfraqueceu. Esse era definitivamente o veneno que a atravessava. Não Justice. As coisas parecem piores do que estão agora. Isso é tudo.

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— Eu não posso perdê-lo de novo, — ela sussurrou. — Você não vai. Eu pro... — Ela cobriu a boca com uma mão fraca. — Não. Não faça promessas que não pode cumprir.

*** Morgan seguiu Ronan e a mulher agarrada ao pescoço dele. Ele era gentil com ela, protetor. O que estava acontecendo entre eles era profundo. Morgan podia ver da maneira que ela respirava, e a maneira que Ronan acariciava seu corpo enquanto ele a carregava. Nenhum deles conseguia o suficiente do outro. Morgan sentia falta desse tipo de intimidade. Ele esperava que ele estivesse sem tanto tempo que não desejasse mais, mas toda vez que via um de seus irmãos feliz em sua felicidade ligada a suas companheiras, lembrava-se de Femi e tudo o que havia perdido. Deus, como ele sentia falta dela. Mesmo agora, depois de todo esse tempo, havia um buraco onde ela estivera. Nada preencheu. Nada acalmou a dor daquela ferida vazia. Não importa quantos séculos ele possa viver, sua única verdadeira companheira constante seria uma mágoa. Seus irmãos pensaram que sofreram. Como ele, eles carregavam a dor de ter tanto poder sem ter como liberá-lo. Todos os dias essa agonia crescia até que alguns deles enlouquecer. Mas Morgan sabia a verdade, uma verdade que ele mantinha em segredo para proteger seus irmãos. Não importava a dor física que sentissem, não havia nada que chegasse perto do tormento de perder a mulher que amava. Se ele pudesse continuar respirando após respiração com aquela agonia que o dominava, então ele poderia suportar qualquer coisa. Infelizmente, isso significava que não havia quantidade de dor que o mataria, não importa o quanto ele desejasse escapar. Como sempre, Morgan escondeu sua dor atrás de um sorriso e uma piscadela. — Vocês dois pombinhos entrem na van de Ronan. Vou levá-los aonde vocês precisem. — O caminhão, — ela disse em uma voz frenética. — Precisamos voltar para o armazém. — Por quê? — Morgan perguntou.

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— Ela não sabe, — respondeu Ronan. — Apenas dirija. Eu vou mostrar para onde ir. — Temos que nos apressar, — ela disse. — Estamos quase sem tempo para salvá-los. — Quem? — Morgan perguntou. Então, antes que eles pudessem responder, ele disse: — Deixe-me adivinhar. Ela não sabe. Ronan olhou por cima do ombro quando eles saíram do túnel. — Agora você está entendendo.

*** A van balançou e bateu na estrada quando Morgan acelerou em direção ao armazém. Ronan retirou o veneno antes que ele se espalhasse pelo sistema de Justice. Ele teve que usar energia preciosa para eliminá-lo do sistema, mas não havia outra maneira. Enquanto exigia que seu corpo desse mais poder, ele se sentiu murchar um pouco. Ele estava além da fome agora, além de bloquear a necessidade de se alimentar. Curar a si mesmo, lutar e remover o veneno levou pouco dele até que ele não tinha mais nada para dar. — Você pode pegar o que precisa de mim, — ofereceu Justice. — Eu posso ver o quão magro você ficou. — Estou bem. — Você não está, mas eu aprecio você tentando me proteger. — Até a voz dela parecia cansada. Ele não conseguia se lembrar da última vez que ela comeu, e seu suprimento de sangue ainda estava baixo desde a última vez que ele comeu. Ronan mantinha um suprimento de água engarrafada e lanches em sua van. Ele encontrou uma barra energética e a abriu antes de entregá-la a ela. — Coma isso. Ela torceu o nariz. — Eu preciso limpar primeiro. Aquele idiota de Vazel estava com um mau cheiro. Eu preciso tirá-lo de cima de mim. Ele entregou alguns lenços umedecidos e a deixou esfregar até que ela estivesse satisfeita por ter se livrado do fedor de Vazel e do sangue seco que cobria seu braço.

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Ela não se machucou em nenhum outro lugar. O veneno entrou em seu sistema através da ferida. Um breve vislumbre de suas memórias contou como aconteceu. Ronan duvidava que ela fosse capaz de se livrar dessa memória tão facilmente quanto ele se livrou do veneno. Uma vez que ela estava limpa, ela pegou a barra e comeu. Ele abriu outro e fez o mesmo. Não fez nada por sua fome, mas ele esperava que isso a fizesse se sentir melhor por ele não tomar seu sangue. — Obrigada por vir me ajudar, — ela disse. — Eu acho que não poderia lidar por mais tempo. — Eu sempre vou ajudá-la, Justice. Ela soltou uma risada sem humor. — Nem mesmo a morte pode impedi-lo. — Eu não estava morto. Pareceu assim. Meu corpo se desligou para curar antes que eu perdesse muito sangue. — Você não tinha pulso. Você não estava respirando. Ele piscou para ela. — Detalhes. Ela sorriu, e o movimento quebrou a tensão que percorria sua pele. — Estou feliz que você não é um tipo de cara detalhista, então. — Mais clareza na frente da compulsão? Ela olhou para a garrafa de água. — As Destinos, a mulher, está frenética. Eu posso senti-la batendo no meu crânio para me apressar. — Você já sentiu isso antes? — Sim, mas não com frequência. — Quando? — Na noite em que o encontrei. Eu sabia que estava quase sem tempo. Ele estivera. Ele quase morreu naquela noite. Mais alguns minutos e ele pode ter morrido. — Quanto tempo nós temos? — Ele perguntou. Ela balançou a cabeça. Seus cachos negros eram uma confusão de emaranhados, mas ela ainda era a mulher mais gloriosa que ele já viu. Não é de admirar que o demônio quis reivindicá-la como sua rainha. — Eu não sei, — ela disse. — Não muito. — Alguma ideia para onde precisamos ir quando chegarmos ao caminhão? Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Sim. Mas você não vai gostar. — Por que não? — Porque qualquer coisa que esteja prestes a atingir o ventilador, isso vai acontecer em Dabyr.

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Capítulo 14 Depois de horas em seu escritório, Joseph finalmente terminou todo o trabalho mundano que exigia sua atenção. Ele quase alcançou sua suíte e o conforto de uma mulher sexy esperando pacientemente por ele quando ouviu passos rápidos e respiração pesada vindo pelo corredor. Ele se virou para ver Sibyl, seus longos cabelos loiros voando atrás dela. Suas bochechas estavam coradas e uma expressão de terror gritante cobria seu rosto. — O que há de errado? — Ele perguntou. — Maura usou nosso poder, — ela ofegou. — Ok. Isso é bom né? Significa que é a sua vez de ver o futuro? — Isto é. Isso foi. Eu já olhei para ver o que ela estava escondendo. Agora eu sei por que ela parou de protelar. — Por quê? — Eles planejam isso há muito tempo. Ela não queria que eu visse. — Visse o quê? — Synestryn estão atacando Dabyr. Agora. Esta noite. Hordas deles. — Você tem certeza. — Lágrimas encheram seus olhos. — Eu tenho. O telefone dele tocou. Nicholas. — E aí? — Acabei de receber uma ligação de Ronan. Ele tem motivos para acreditar que seremos atacados em breve. — Quanto tempo? — Ele não sabia, — disse Nicholas. Sibyl agarrou seu braço em um punho frenético. — É tarde demais. Eles estão quase aqui.

*** Madoc acabara de deixar sua esposa adormecida para controlar parte de sua energia nervosa, assim quando as sirenes soavam através de Dabyr. Luzes

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brilhavam em todas as suítes e corredores, a cor vermelha avisando os habitantes de que estavam sob ataque. Ele apagou as luzes do teto e espiou através dos controles deslizantes enquanto sacava a espada. Os muros ainda estavam intactos até onde ele podia ver. Não havia demônios ou sinais de invasão de qualquer tipo. Nika entrou na sala, vestindo apenas um lençol enrolado em seu corpo. Ela esfregou os olhos com uma mão, sua voz sonolenta e confusa. — O que está acontecendo? Madoc balançou a cabeça. — Ainda não sei, mas não é um exercício de merda. Joseph nunca nos assustaria assim com tantas crianças traumatizadas aqui. O celular dele tocou. Ele leu o alerta de texto do grupo em voz alta. — Demônios atacando a parede oeste. Todos os lutadores se reportam à batalha. Os olhos de Nika ficaram distantes. Ele viu aquele olhar vezes suficientes para saber que ela estava procurando as criaturas que tiveram a sorte de ter ingerido seu sangue. Depois de um momento, ela disse: — Eles estão vindo. Com um exército. Centenas. Talvez milhares. — Porra! Ela se virou e voltou rapidamente para o quarto. Madoc a seguiu. Ela já estava puxando os couros de batalha quando ele a alcançou. Dela, não dele. — Que porra você pensa que está fazendo? — Ele demandou. — Estou reportando para a batalha. — Como diabos você está. Você está grávida. — Estou bem ciente da minha condição, obrigada. Meus seios podem ser grandes demais para as jaquetas e duvido que qualquer uma das calças caiba em mim. Talvez se eu os deixar desabotoada... — A voz dela sumiu como se estivesse pensando nas opções do guarda-roupa. — Você não está entrando em uma briga. — Não sei se você está ciente ou não, mas parece que a luta chegou até nós. — Ela puxou uma camiseta por cima da cabeça e se esforçou para fazê-la deslizar pelos seios aumentados. — O que não vou fazer é ficar parada e esperar os demônios entrarem em nossa casa.

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— Você não pode arriscar o bebê. — O bebê está bem. Não sou a primeira Theronai a canalizar magia durante a gravidez. Além disso, nossa garotinha pode muito bem ter uma amostra do que está por vir para ela. Talvez ela aprenda uma coisa ou duas. Madoc agarrou os ombros de Nika e resistiu ao desejo de dar um pouco de sentido. — Nós lutaremos contra o ataque sem você. Fique aqui. Fique segura. — Eu ficarei segura, mas vou para lá. Seja tão superprotetor comigo quanto quiser no campo de batalha, mas não me afaste. Você sabe que nós dois podemos ser a única coisa que derruba a batalha a nosso favor. — Eu irei. Você fica. — Você viu o que eu posso fazer. — Ela segurou o rosto de Madoc, sua voz fervente. — Me deixe fazê-lo. — Ela se virou e começou a lutar com seus couros novamente. — Além do mais, se você me deixar aqui, eu vou me esgueirar assim que você se for. Você não preferiria estar ao meu lado. Frustração e medo o derrubaram até que seu interior fosse uma bagunça cheia de ansiedade. Que escolha ele tinha? Nika sempre foi capaz de conseguir o que queria dele. Essa era a única razão pela qual ele ainda estava respirando, sua maldita obstinação e persistência. Ele com certeza não iria mudá-la agora. — Bem. Mas você fica bem longe do combate. Nika sorriu. — É onde eu faço o meu melhor trabalho de qualquer maneira. — E não derrame seu corpo para entrar na mente dos demônios. — Por que não? — Porque esse corpo está carregando nossa filha. Eu quero saber que você é capaz de tirá-la do perigo, se algo surgir sobre você. Nika beijou sua bochecha. — De acordo. Vou ficar com nossa filha e ensinála a mandar Synestryn para o inferno.

*** Justice nunca se sentiu tão frenética em sua vida. Ela não chegaria a tempo e as pessoas morreriam.

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Ela empurrou o caminhão através de suas engrenagens, indiferente ao dano que poderia estar causando na plataforma. Não havia tempo para desacelerar. Segundos contados. Ronan estava na frente dela para impedir que os policiais vissem o quão rápido eles estavam indo. Morgan havia dado sangue suficiente para mantê-lo. Justice não gostou de compartilhar, mas a situação era terrível. Ronan tinha que ser forte o suficiente para se proteger. Ela não poderia perdê-lo novamente. Morgan estava na retaguarda, caso algum Synestryn tentasse detê-los. Ela estava no meio, dirigindo o caminhão desajeitado com a carroceria fechada de 13 metros cheio de equipamento de treino e os outros fornecimentos que as Destinos exigiam que ela trouxesse. Sua mochila de guloseimas estava no assento ao lado dela. Ela não entendia o que uma garrafa de água e faixas de resistência fariam, mas sabia que não devia questionar o caos. O curto comboio percorreu as estradas do condado, soprando por pequenas cidades. Já era tarde o suficiente para haver pouco tráfego, tão tarde que agora era tecnicamente cedo. As rajadas de neve começaram a cair e, enquanto o ar estava frio, estava denso com a umidade de uma iminente tempestade de neve. Exatamente o que eles precisavam. Ronan ligou para seu celular. Ela colocou no alto-falante para manter as mãos livres para dirigir o equipamento desconhecido. — Alguma notícia de Dabyr? — Ela perguntou. — Todos os Theronai estão ocupados lutando. Um dos humanos respondeu, mas ela não sabia como as coisas estavam indo. Os civis estão todos escondidos no subsolo. — Vamos chegar atrasado demais. — Não vamos. Você precisa acreditar nisso. — E se você? Você está morrendo de fome. O sol nascerá em alguns minutos. Como você está indo? — Eu estive pior. — Essa não é exatamente uma resposta tranquilizadora. — O sangue de Morgan ajudou. — O suficiente para mantê-lo em pé?

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Ele mudou de assunto, o que a fez ter certeza de que ela estava certa. Ele estava mal. — Alguma ideia do que devemos fazer quando chegarmos lá? — Ele perguntou. — Nada concreto. Tudo o que sei é que há algo precioso lá que temos que proteger. — Há muitas coisas preciosas em Dabyr. As crianças estão no topo dessa lista. Por alguma razão, isso não parecia certo, pelo menos não como a coisa que ela estava procurando. — O que mais? — As pedras Sentinela são um grande alvo. Com elas, um poderoso Synestryn pode ser capaz de atravessar o portão para Athanasia. Nós pensamos que Solarc havia fechado o portão, mas Athanasians já havia chegado o suficiente para nos dizer que pelo menos um está aberto. Pedras? Ela passou a ideia pela mulher em sua cabeça e não sentiu nada, nenhuma ressonância, nenhum tremor de desespero. Nada. — Algo mais? —Justice perguntou. — As mulheres grávidas. Ela balançou a cabeça. — Talvez. O que mais? A voz de Ronan estava cheia de pavor. — O Salão dos Caídos. — O que é isso? — É o lugar onde honramos nossos mortos. As espadas dos guerreiros que perdemos estão lá. Se os Synestryn puserem as mãos nelas, poderão encontrar uma maneira de liberar a essência dos demônios mortos por eles. Se isso não era uma conversa maluca, ela não sabia o que era. — O quê? Afinal, o que isso quer dizer? — Isso significa que não podemos deixá-los alcançar as espadas. Se o fizerem, teremos perdido anos, se não séculos, de luta. — Puta merda. Fale sobre um ambiente rico em Destinos. Não é à toa que os demônios querem entrar. Ele fez uma volta na frente dela e, quando o seguiu, ela reconheceu a área. — Estamos perto, — ele disse. — Não sei o que enfrentaremos nos portões, mas Joseph deve abrir caminho para entrarmos. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Vamos torcer para que ele tenha, porque eu odiaria ter que abrir o portão e dar aos demônios uma maneira fácil de entrar.

*** Apesar das temperaturas frias, o suor escorria da testa de Joseph enquanto ele lutava lado a lado com sua companheira Theronai para conter os demônios. Havia tantos Synestryn, um mar sem fim daqueles demônios cinzentos, de aparência humana, com pelo irregular e espadas enferrujadas. Eles haviam violado a parede oeste e escalado o portão de metal, forçando Joseph a dividir suas tropas em dois locais ou correr o risco de baixas humanas. Todas as vidas frágeis daqueles que ele protegia estavam dentro do complexo, escondidas em salas seguras no subsolo. Havia quatro grandes espaços, todos estocados com suprimentos. Mesmo que os demônios chegassem lá, levaria um tempo para localizá-los. A menos que um dos humanos estivesse sangrando. Por mais em pânico que alguns deles estivessem correndo pelos corredores como loucos, as chances de ninguém cair e esfolar um joelho eram muito pequenas. A garagem ainda estava segura, os veículos intactos. Ainda havia um meio de fuga, mas não um caminho. A única estrada que conduzia ao portão estava infestada de demônios, muitos para contar. Ronan, Justice e Morgan estavam indo nessa direção para ajudar, mas eles precisavam de um caminho claro dentro do complexo. Joseph não tinha ideia de como ele faria isso acontecer. Madoc estava à sua esquerda, gritando palavrões enquanto lutava. Paul estava à sua direita, firme e silencioso em sua morte. Atrás deles, as mulheres ligadas a eles canalizavam o poder de seus corpos e o convertiam em mágica. A de Nika era mais difícil de ver, sem luz piscando ou fogo a derramando de seus dedos. Ela poderia rastejar dentro das mentes dos demônios e assumir o controle. Às vezes, seu poder passava em uma ligeira pausa no golpe da lâmina do inimigo, mas outras vezes, ela podia fazer suas cabeças explodirem. Literalmente.

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O poder de Helen, por outro lado, era fácil de ver. Saia dela em torrentes de chamas, queimando todos os demônios que tocava. Ela encontrou um terreno mais alto no galho mais baixo de uma árvore e estava metodicamente queimando faixas de demônios gritando atrás das fileiras da frente. Lyka era a mais nova em seu poder, mas ainda estava fazendo seu quinhão de dano. Raios caíam por baixo, erguendo os cabelos de sua pele enquanto passavam. Cada golpe enviava ondas de choque pelas fileiras de Synestryn e deixava cadáveres e o cheiro de ozônio em seu rastro. Atrás das mulheres vagavam o bando de Slayers que estavam em Dabyr enquanto reconstruíam suas casas. Andreas Phelan e sua matilha eram mortais, matando qualquer demônio que conseguisse passar pela linha de frente de espadas e magia. Eles brigavam com dentes e garras, um pouco mais animais que o homem. Havia uma ferocidade selvagem neles, assim como o que parecia pura alegria. Os Slayers adoravam a luta, qualquer que fosse, e estavam profundamente envolvidos nessa noite. Joseph ficou feliz por eles estarem do lado dele. Ainda assim, não era suficiente. A cada minuto que passava, os Theronai estavam sendo levados de volta, mais perto dos humanos vulneráveis que estavam escondidos lá dentro. Ao lado dele, Madoc hesitou como se algo tivesse acontecido. Uma lâmina enferrujada cortou seu braço e o fez vacilar em seu balanço. — Está na hora! — Ele gritou sobre o rugido de combate. Havia medo agarrado a essas duas palavras. — Para quê? — Joseph gritou. — O bebê. Nika está em trabalho de parto. Enquanto os Synestryn na frente deles não falavam em nenhum idioma que Joseph conhecia, eles com certeza pareciam entender o que Madoc acabara de dizer. Todos sorriram e começaram a lutar mais. É disso que se trata todo esse ataque. Eles queriam seu bebê.

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Capítulo 15 A julgar pelo show de luzes vindo de Dabyr, a luta ainda não havia terminado. Raios e fogo banhavam o céu em uma névoa de laranja e clarões brancos. A fumaça pairava baixa, flutuando preguiçosamente na noite quieta. A queda de neve havia aumentado e um revestimento pálido agora cobria a grama que ladeava a estrada. Ronan virou a esquina e viu como as coisas estavam ruins. Não foi apenas um ataque, uma pequena escaramuça. Era uma batalha total, com mais demônios em um lugar do que ele viu desde a noite em que a maioria das mulheres foi massacrada duzentos anos atrás. Não havia pares de Theronai aqui suficientes para matar todos eles. Nem mesmo perto. A única esperança que os Sentinelas tinham de sobreviver a esse ataque era em aguentar até o sol nascer e levar os demônios de volta aos seus esconderijos escuros. Ronan conhecia o caminho do sol tão intimamente quanto a batida do próprio coração. Levaria menos de uma hora, o horizonte oriental já havia começado a clarear, mas mesmo esse curto espaço de tempo era muito longo para seus aliados conterem o exército invasor. Eles estavam perdendo. Ao redor de Dabyr, demônios batiam nas paredes com aríetes cortados de árvores próximas. Pedras desmoronaram, relutantemente desistindo de se segurar. Onde Synestryn não conseguiu romper, eles formaram escadas com os corpos dos mortos e subiram em cima uns dos outros. Alguns deles foram recebidos imediatamente pelas espadas de Theronai ou pelos dentes e garras de Slayers, mas alguns deles conseguiram escapar. Enquanto Ronan observava, um demônio magro e cinza chegou quase à janela do térreo do prédio principal antes de ser baleado por um humano em um dos andares superiores. Uma bala não manteria a criatura abatida por muito tempo e, uma vez levantada, havia pouco espaço entre ela e os humanos dentro.

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A estrada pavimentada estava coberta de demônios empunhando espadas. Havia muitos para eles interceptar seus veículos, até o caminhão gigante. E mesmo que eles pudessem limpar a estrada com o caminhão, o portão seria a próxima vítima, e se isso falhasse, não havia nada para impedir que uma inundação de Synestryn lavasse o terreno e dominasse completamente o complexo. Ele diminuiu a velocidade e discou para Justice. — Não podemos avançar. — Eu tenho que entrar lá, Ronan. Agora. — Se fizermos isso, mataremos todos lá dentro. Os lutadores mal estão segurando uma linha. Eles também não podem ter demônios atacando suas costas. Sua voz era tensa, como se estivesse com dor. — Eu tenho que ir agora. Mal posso esperar. — Ok. Apenas me dê trinta segundos. — Vou tentar. — De macha ré para que você possa ganhar velocidade suficiente para limpar o portão rapidamente. Então vá. Vou garantir que o portão esteja aberto. De alguma forma. Ronan ligou para o número que foi diretamente para quem estava no portão. Slade respondeu. Ronan deu instruções detalhadas, depois disse. — Não vacile ou todos nós morreremos hoje à noite. — Entendi, — disse Slade. — Você está indo. Ronan puxou sua van da estrada asfaltada para o gramado coberto de neve e parou. Ele usou os dentes para arranhar profundamente as costas da mão e depois saiu da van. Então ele partiu a pé, contra os demônios no portão. Assim que sentiram o cheiro de sangue fresco, suas cabeças se viraram juntas, como se o movimento tivesse sido coreografado. Ronan usou o pouco poder que restava para alimentar sua corrida frenética pela floresta e gritou ao telefone. — Agora!

*** Justice acelerou o caminhão o mais rápido que pôde. Havia tantas engrenagens malditas neste caminhão, e nenhuma alavanca para facilitar o trabalho.

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Ela sentia falta de Ricardo agora mais do que nunca. Ele poderia ter acelerado tão rápido que os poucos flocos de neve remanescentes que rodavam no ar teriam feito parecer que ela alcançara a velocidade de dobra. Ainda assim, o que o caminhão não tinha em velocidade, compensava em massa. Um desfile aterrorizante de demônios empunhando lâminas correu atrás de Ronan, junto com outros monstros que galopavam em quatro patas e alguns que pesavam sobre pernas finas que pareciam ter sido colocadas para trás. Todos pareciam famintos. Eles estavam todos atrás do sangue dele, e se a pessoa que estava no portão não acertasse o tempo certo, haveria muito sangue de boa pessoa para ser coletado. Justice mudou de marcha novamente. Quando chegou a 64 quilômetros por hora, o estratagema de Ronan havia funcionado, e a maioria dos demônios que clamavam nos portões se desviou para se deleitar com seu sangue. Algumas criaturas ficaram para trás, mas assim que os portões começaram a se abrir, eles estavam muito distraídos com a refeição gigantesca dentro para perceber que a morte estava chegando atrás deles. Justice atropelou todos os que ela podia acertar, virando perigosamente a estrada pavimentada até ter certeza de que a carroceria caixa iria rolar e levá-la com ela. O caminhão confiável permaneceu na vertical, como se soubesse que as apostas eram altas. Os pneus escorregaram no sangue. Um deles rolou sobre ossos afiados ou metal e explodiu em um baque alto que soou como um tiro. Justice não parou. Ela não diminuiu a velocidade. O grande edifício de pedra pairava à sua frente. Uma vez que ela atravessou o portão, não havia muito espaço para ela parar antes de bater na estrutura, mas ela não tinha escolha a não ser continuar. A mulher que a estava obrigando estava no banco do motorista agora, forçando o pé de Justice no acelerador. Alguns demônios conseguiram atravessar os portões sem serem esmagados por seu caminhão. Esses retardatários já estavam sendo limpos pelas espadas giratórias empunhadas pelos homens lá dentro. Dois demônios escaparam de seu

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alcance, mas foram rapidamente atingidos por um raio azul-branco que voou da mão estendida de uma mulher. Justice acelerou pela abertura. O portão à direita estava tão perto que ela podia senti-lo arranhando lateral da carroceria enquanto passava. Assim que ela e Morgan saíram dos portões, eles começaram a fechar atrás de sua picape. Finalmente, o poder que a levou a frente diminuiu e a deixou abrandar. Mas ela ainda não terminou. Ela virou o caminhão para a direita, sobre a grama nevada e subiu uma ligeira inclinação. Ela não tinha ideia de para onde estava indo, mas a mulher que a compelia fazia. As baixas nuvens começaram a soprar, levando a tempestade com ela. O céu havia se iluminado o suficiente para que as luzes externas de segurança que cercavam o complexo se apagassem automaticamente. O nascer do sol estava chegando em breve, e Ronan estava lá fora, uma horda de demônios na bunda, sem lugar para se esconder do amanhecer.

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Capítulo 16 Vazel negligenciou a devastação de Dabyr de seu ponto de vista na floresta, de uma cordilheira. As coisas estavam indo conforme o planejado. As grossas paredes haviam sido quebradas em vários pontos onde a magia que mantinha as pedras unidas foi enfraquecida. Suas tropas inundaram as defesas e agora estavam a poucos metros de chegar ao prédio onde os humanos sangrentos eram mantidos. A Theronai fêmea estava ficando sem força. Mesmo daqui, ele podia ver que os golpes letais estavam ocorrendo mais esporadicamente agora, cada um retirando menos de suas tropas. Assim que uma das mulheres caíssem, as outras teriam que assumir a folga, e Vazel duvidava que isso acabasse bem para seus inimigos. Pelo menos três dessas mulheres estavam grávidas. Talvez mais. Ele sempre quis se alimentar do sangue de uma Theronai que carregava a vida de outra dentro dela. Ele imaginou que a corrida, o poder, seria incrível. Tal coisa pode até alimentá-lo por semanas. Mas esse não era o prêmio real, apenas um benefício lateral delicioso para o que ele veio aqui. O nascer do sol estava chegando. Ele podia sentir a luz tóxica do sol golpeando sua pele enquanto supervisionava o ataque a Dabyr. Mais alguns minutos era tudo o que ele podia ficar, mas era tudo o que precisava para ver o final do show. Eles estavam tão perto da vitória agora. Suas tropas invadiriam o prédio e demoravam a procurar presas lá dentro. As janelas de vidro de Dabyr estavam protegidas contra o sol e protegiam seus soldados, assim como os Sanguinar, que vagavam por seus corredores, certos de sua segurança. Seus demônios se alimentariam o dia inteiro e voltariam para ele hoje à noite com quaisquer humanos que não tivessem sido comido, as espadas dos guerreiros Theronai caídos e todas as pedras Sentinelas que mantiveram escondidas.

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Tudo isso era inevitável agora, mas ainda não o golpe mortal que ele sabia que deixaria seu inimigo derrotado, não apenas esta noite, mas para sempre. Sem os curandeiros, os guerreiros estavam condenados. Eles podem viver hoje ou amanhã, mas, eventualmente, cairiam em ferimentos ou envenenamentos sem a proteção dos Sanguinar. Os curandeiros eram a chave para a vitória de Vazel. Tudo o que ele precisava fazer era destruí-los e o restante dos Sentinelas cairiam. Uma vez que eles fizeram, não haveria ninguém para mantê-lo fora de Athanasia e da generosidade que o mundo possuía. Ele se agachou e enfiou os dedos na terra a seus pés. Suas tropas estavam no subsolo, esperando o sinal, no momento em que os aliados de Sanguinar estavam ocupados demais na defesa de suas vidas para salvá-los. Essa era a hora agora. Mesmo os poucos Sanguinar no campo de batalha não eram fortes o suficiente para parar o que estava prestes a acontecer. Toda essa batalha foi projetada para garantir essa fraqueza. Vazel dobrou o queixo e soltou um zumbido tão baixo que era quase inaudível. As pedras sob seus pés tremeram. Flocos de neve foram sacudidos dos galhos nus das árvores. Seu sinal viajou rápido, movendo-se através da terra e da pedra até chegar às tropas enterradas perto do local onde dezenas de Sanguinar indefesos descansavam em seu sono magicamente aprimorado. Não importava o barulho que suas tropas emitissem agora movendo os últimos centímetros no chão. O som da batalha abafaria qualquer som que eles fizessem. E mesmo que os Sentinelas em campo soubessem, estavam ocupados demais para fazer algo a respeito. Ninguém estava lá para parar o que estava prestes a acontecer. Tudo o que seus demônios tinham que fazer era matar os vulneráveis Sanguinar enquanto dormiam e tudo o que Vazel havia trabalhado seria dele.

*** Havia tanto caos no campo de batalha que Maura não teve problemas para entrar em Dabyr. Ela teve cuidado com o cabelo e o vestido, e colocou lentes de contato azuis, para que qualquer pessoa que a visse pensasse que ela era Sibyl. Às vezes, ter uma gêmea idêntica era útil.

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Ela já esteve dentro deste prédio antes, anos atrás, antes de sair para se juntar ao inimigo, antes de seus pais morressem, antes de ela se tornar uma mulher. Maura não sabia por que ela veio aqui. Era perigoso, tolo. Não só ela podia ser morta pelos demônios que não sabiam quem ela era, mas também poderia facilmente morrer pela mão de um Sentinela, derrubada como a traidora que ela era. Tão perto quanto ela estava de Sibyl agora, ela podia senti-la, como se um acorde familiar dentro dela tivesse sido atingido. Sibyl também devia ter sentido. Por que Maura estava aqui? Ela não pertence aqui. Ela não era mais uma das Sentinelas. Nenhum deles a desejaria aqui, mesmo que ela quisesse voltar para casa. Ela matava com um toque. Ninguém poderia estar perto dela. Ninguém podia confiar nela. Então, por que ela estava aqui? Ela não podia deixar sua irmã morrer. Isso tinha que ser. Elas sempre fizeram parte uma da outra. Elas nunca foram criadas para serem gêmeas. A separação delas não foi um milagre biológico natural. A mãe delas as rasgara em duas enquanto ainda estavam no útero. Ela pegou sua menina inocente e a rasgou ao meio para ajudar a guerra. Eles precisavam de mais mulheres, então sua mãe as cortou em duas. Maura havia conseguido a maior parte do poder, mas Sibyl havia recebido toda a bondade e luz. Ela conseguiu a alma. Ela nunca teve problemas para fazer a escolha certa. Ela nunca se esforçou para fazer a coisa certa, mesmo que isso significasse sacrificar seu conforto ou segurança. Maura não tinha ideia de por que ela fez isso. Exceto, talvez ela tivesse. Ela estava aqui, afinal, não estava? Esgueirandose pelos corredores de Dabyr, procurando Sibyl para tirá-la antes que fosse tarde demais? Isso era bondade ou autodefesa? O Sanguinar cairia hoje à noite, assim como as paredes. Este edifício seria invadido por demônios, e todo ser humano ou Sentinela dentro capturado ou morto. Não haveria onde se esconder.

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Nem mesmo para Sibyl. Maura não poderia perder a outra metade assim. Parte dela estava aterrorizada que, se uma delas morresse, a outra não estaria muito atrás. Elas foram, afinal, divididas em duas. Como uma metade poderia viver sem a outra? Ela rastejou pelos corredores, seguindo o zumbido que ela tinha com a irmã. Ele ficou mais forte a cada passo que ela dava. Assim que ela dobrou a esquina seguinte, viu Sibyl parada ali, esperando por ela. Ela se tornou uma mulher bonita, com cabelos loiros esvoaçantes e olhos azuis claros. E enquanto seus rostos eram os mesmos, de alguma forma Sibyl era mais bonita, como se a alma que ela carregava a fizesse brilhar de dentro para fora. Sua irmã não estava feliz em vê-la. O rosto bonito de Sibyl se contorceu de raiva. — Você nos traiu. Você manteve seu ataque em segredo para que eu não pudesse impedi-lo. — Eu mantive. — Você está aqui para me matar? — Sibyl perguntou, queixo erguido em desafio, olhos estreitados com fúria. — Estou aqui para salvá-la. O latido de riso de Sibyl estava duro e frio. — Parece uma coisa estranha para alguém fazer quando ela foi a causa do ataque. — Vazel não ia ser parado. Com ou sem a minha ajuda, isso ia acontecer. — Então por que não ajudar a matar seu povo, hein? Nossa destruição era inevitável, então por que não participar da diversão? Essa é a sua lógica? Maura ignorou a farpa e estendeu a mão enluvada. — Venha comigo. Eu vou mantê-la segura. Sibyl olhou para a luva de couro preta. Sua raiva derreteu e uma carranca triste passou por sua boca. — Seu toque ainda mata? — Você parece surpresa. — Eu pensei que depois do que Gilda fez para nos libertar do nosso voto a ela, sua maldição também poderia ter sido destruída. — Desculpe desapontar. Minha maldição, como você chama, decorre de eu não ter alma. Eu sou uma abominação, então a natureza me trata como uma.

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Sibyl balançou a cabeça. — Eu nunca acreditei que você nasceu sem alma. Isso é simplesmente algo que você diz a si mesma como uma desculpa para se comportar mal. Sua irmã primitiva não tinha ideia do quão errada ela estava. — Eu não vou ter essa velha discussão com você mais uma vez. Estamos ficando sem tempo. Se você quer viver a noite toda, precisa vir comigo. — E o quê? Juntar-me ao Synestryn como você? — Eles são mais fortes que os Sentinelas. Eu acho que você gostaria de estar do lado vencedor. — É aí que você sempre erra em seu pensamento. Não se trata de qual lado é mais forte. É sobre qual lado está certo. E o que está errado. — Os vencedores são os que escolheram o certo e o errado depois que todos os corpos foram enterrados. Ou comidos. Sibyl balançou a cabeça. — Se você acredita nisso, acho que realmente não há como ajudá-la a ver a verdade, há? — A verdade é que você vai morrer hoje à noite se não vier comigo. — Então eu morro. Mas vou morrer lutando pelo que acredito. Maura soltou um suspiro pesado. — O que eu acredito é na sobrevivência. Você deveria também. — Então nos ajude a lutar. Ajude-nos a proteger os fracos e os jovens. — Não é o meu estilo, — disse Maura. — Mas eu vou dizer isso. — O quê? — Tudo acontecendo lá fora... os demônios, derrubando os muros, tentando invadir Dabyr, nada disso é o verdadeiro objetivo de Vazel hoje à noite. — Os bebês? As pedras do Sentinelas? Maura balançou a cabeça. — Então por que ele está aqui? O que ele quer? — Sua destruição total, é claro. — Seja mais específico, Maura. Por mais que ela quisesse ficar aqui e conversar, ela não podia ser pega pelos mocinhos. Ela tinha que sair antes que fosse tarde demais. Se um daqueles grandes e fortes guerreiros a encontrasse, eles seriam obrigados a levá-la em cativeiro, e se o fizessem, ela seria forçada a matá-los.

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Maura suspirou. — Os Sanguinar, — ela disse à irmã. — Sem os curandeiros, vocês estarão mortos eventualmente. Quando isso acontecer, todas as espadas, pedras e seres humanos são escolhas fáceis. Vazel está investindo em seu futuro eliminando seus curadores. Depois disso, tudo o que ele tem a fazer é esperar enquanto o atrito avança em suas fileiras. — Mas os Sanguinar estão seguros, subterrâneos. — Você tem certeza? Maura se virou e foi embora. Ela traiu tantas pessoas. Vazel seria apenas mais um. Além disso, já era tarde demais. Ela podia sentir a vibração sob seus pés. O ataque já havia começado.

*** Nika não podia continuar lutando. As dores do parto eram muito fortes, muito próximas umas das outras. Ela já experimentara esse sentimento antes, mas naquela época, ela pairava na mente de sua irmãzinha enquanto ela entregava seu bebê, um bebê que não havia sobrevivido à sua ascendência Synestryn. Desta vez, não havia como atenuar ou escapar da dor. A única maneira de superar isso era passar por isso. Ela e Madoc estavam em constante comunicação desde o início da batalha. A conexão mágica que eles compartilharam permitiu estar dentro da mente um do outro, conversando em pensamentos e sentimentos mais do que palavras. Mas agora, a última coisa que ela queria era compartilhar essa agonia emocionante com ele. Ela tinha que sair. Encontrar um lugar seguro para tirar esses couros e dar as boas-vindas à menininha no mundo. Hope e Logan estavam planejando estar lá quando ela desse à luz, mas estavam no campo de batalha, curando ferimentos e empurrando Synestryn, que tentava flanquear os lutadores. Mesmo Madoc não podia ser poupado agora. Seu forte braço de espada e sua habilidade implacável eram necessários para manter a linha. Nika estava sozinha, e o único lugar seguro em que ela podia pensar em ir era no subsolo, onde a terra protegeria ela e seu bebê por todos os lados. Assim como os Sanguinar adormecidos.

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Capítulo 17 Ronan usou seu poder minguante para acelerar seu passo sobre o terreno irregular. Ele não sabia quantos demônios estavam atrás dele, mas com base nos uivos famintos, estalando dentes e espadas, havia mais que o suficiente para matálo. Ele usou uma explosão de magia para ganhar alguns metros, mas garantiu que não colocasse muito espaço entre ele e os famintos Synestryn. Ele não podia desistir da ideia de que seria sua próxima refeição. Ele fechou o corte que usou para isca-los e lambeu o sangue restante enquanto corria. Uma vez que ele mudou de direção, ele não queria que o Synestryn atrás dele pudesse cheirar aonde foi, e se houvesse vestígios de sangue em sua pele, eles o farejariam, não importa quão bem ele protegesse sua presença com magia. Supondo que ele tinha tanto poder para gerenciar o feito. Seus músculos queimaram. Seu peito berrou, mas não conseguiu encontrar ar suficiente para encher seus pulmões doloridos. Ele estava ficando mais fraco a cada segundo, mas ainda não conseguia parar. O sol estava logo abaixo do horizonte. Ele já podia sentir isso minando sua força e avisando-o para se esconder profundamente fora de seu alcance. A horda que o seguia parecia não ter tais problemas com fadiga, apesar de estarem ainda mais ameaçados pela luz solar do que ele. Ele poderia convocar um Warden, mas eles pegariam fogo. De qualquer maneira, todos eles morreriam aqui se o sol surgisse antes de chegarem ao abrigo. Ele virou mais fundo na floresta até que os galhos nevados de cedros o bloquearam de vista. Então ele se valeu de suas reservas e formou o mais fino véu de invisibilidade possível. Assim que teve certeza de que estava no lugar, ele inclinou-se bruscamente para a esquerda, voltando para as paredes de Dabyr. Suas células gritavam em agonia quando ele as forçou a se sacrificar por suas exigências. Seus jeans afrouxaram em volta da cintura, e ele teve que apertáEsta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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los com uma mão para evitar que caíssem em torno de suas pernas e tropeçassem nele. Sua espada bateu contra a coxa e parecia mais pesada do que nunca. Ele queria parar e tirá-lo do cinto, mas não podia se dar ao luxo de desacelerar por alguns segundos. Os demônios estavam logo atrás dele. Ele podia ouvi-los atravessando galhos congelados e esmagando folhas mortas. Ronan fez o possível para atenuar o barulho que fez, mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre a trilha que estava deixando para trás no pó da neve. Ele olhou rapidamente para trás para ver se seu plano havia funcionado. Alguns dos Synestryn continuaram em linha reta depois que ele desapareceu, caindo em seu estratagema, mas alguns dos mais inteligentes ainda estavam em seu rastro. Eles pareciam confusos que não podiam mais vê-lo ou cheirá-lo, mas ainda podiam ver exatamente aonde ele havia ido na neve. Ele não podia levá-los de volta a Dabyr, mas não podia combatê-los aqui, tão perto dos outros demônios que sem dúvida ouviriam o combate e procurariam o cheiro de sangue fresco. O cansaço tomou conta de seu corpo e fez seus ossos frágeis. Sua pele estava solta e seca, pendurada nele como os embrulhos de uma múmia. Até o brilho de seus olhos estava começando a escurecer enquanto ele consumia sua própria carne para alimentá-lo. Uma raiz de árvore pegou seu pé e tropeçou nele. Ele caiu no chão frio da floresta, sentindo o gosto de neve e sangue. Os demônios estavam apenas dois, talvez três segundos atrás dele. Ele não tinha tempo de levantar e correr. Nenhuma energia. Ronan ignorou a queimação nas articulações e a picada da pele. Ele saiu do caminho em que esteve e se escondeu na raiz na base de um sicômoro imponente. Protegido de um lado pela árvore, ele se enrolou na bola mais apertada possível e envolveu um escudo ao redor do corpo. Fechou a boca para conter um grunhido de fome. Ele engoliu as gotas de sangue que vazavam do local onde seus dentes haviam cortado o interior do lábio. Não havia energia restante para curar o dano à sua carne. Era preciso tudo o que ele tinha para segurar o fino véu de invisibilidade em torno de seu corpo frágil.

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Um sgath foi o primeiro a encontrar o local onde ele caíra. Parou, cavando garras grossas e venenosas no chão. Seu corpo peludo ondulava com força. Seus olhos verdes brilhantes iluminavam a terra arranhada enquanto cheirava e dava patada onde o corpo de Ronan estava. Outro sgath se juntou ao primeiro. Eles rosnaram e beliscaram um ao outro enquanto circulavam a área, procurando por sua presa perdida. Ronan não seria capaz de segurar a magia ao seu redor por muito mais tempo. Ele já estava morrendo de fome, fraco, ansioso para deixar ir. Ele não queria morrer assim. Ele não queria sair desta terra antes de encontrar uma maneira de libertar Justice. Ninguém mais a ajudaria do jeito que ele faria, até o último suspiro. Ninguém estaria disposto a sacrificar por ela do jeito que ele faria. Ninguém a amaria do jeito que ele amava. Até o pensamento dela tinha a capacidade de fortalecer sua determinação. Ele colocou seu lindo rosto em sua mente e o segurou lá como um talismã. Ele podia senti-la por perto, do outro lado do muro de pedra. Sua presença meio que cintilava dentro e fora, como se a magia que protegia o complexo ainda estivesse lutando para se manter unida. Quanto mais ele a sentia, mais ele sabia que as paredes estavam falhando. E se as paredes falhassem, centenas de inocentes morreriam. Ao longe, em algum lugar próximo a Dabyr, um demônio uivava uma canção estranha de vitória. Mais vozes se juntaram ao coro, chamando sua espécie para se juntar a eles. Os sgath caçando Ronan levantou a cabeça e atenderam ao chamado. Um momento depois, eles dispararam para a floresta densa. Ele estava seguro no momento, mas um uivo sgath assim só podia significar uma coisa. Seus aliados, seus amigos, estavam sendo banqueteados por demônios.

*** Joseph puxou seus lutadores de volta até os degraus da frente de Dabyr. O suor escorria de seus cabelos. Seus músculos queimavam por cortar uma série interminável de Synestryn. O canal mágico que o conectou a Lyka aqueceu quando ela sugou cada vez mais poder dele. Ela estava cansada. Ficando fraca e exausta de canalizar tanta magia.

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Ela havia matado mais demônios com seus perversos raios de luz e estilhaços de fogo do que ele com sua espada, mas até ela tinha seus limites. Todos eles tinham. Seus homens estavam começando a vacilar. Sua vontade, sua determinação, era forte, mas horas de batalha haviam afetado até os mais fortes de seus guerreiros. Os poucos Slayers que estavam em Dabyr no ataque pela retaguarda, matando os demônios que deslizavam pela principal linha ofensiva de espadas e magia. Mas mesmo suas garras afiadas e dentes selvagens não conseguiam parar todos os retardatários. Até eles estavam desacelerando quando a inundação interminável de inimigos novos e fortes deslizou pela linha de frente. Se o sol não surgisse logo e obrigasse os demônios a voltar para suas cavernas, Dabyr cairia. Era apenas uma questão de tempo e números agora. E mesmo que eles sobrevivessem a esta noite, amanhã à noite estava a apenas algumas horas de distância. Os demônios voltariam. Não havia tempo para reconstruir os muros e descansar seu povo para outra luta como esta. Joseph empurrou aquele pensamento derrotista de sua mente e encontrou a presença de Lyka brilhando dentro dele. Ela não estava pronta para desistir. Nem mesmo perto. E ele não estava pronto para decepcioná-la. Por ela, ele lutaria até que não houvesse fôlego em seu corpo. Atrás dele, gritos de terror e dor ecoavam dentro dos corredores. Os humanos deveriam estar escondidos em salas seguras, guardados por alguns de seus melhores homens, mas claramente alguns humanos haviam escolhido não seguir as ordens. Ele rezou para que não fossem os adolescentes, rebeldes demais para serem espertos e muito certos de sua imortalidade para questionar o quão perigoso era lutar contra demônios sem mágica para ajudá-los. A necessidade de entrar e resgatá-los ameaçava a necessidade de ficar aqui para impedir que o prédio fosse invadido. Se ele e seus homens não mantivessem essa linha, todos morreriam. Uma vez que os demônios chegassem a Dabyr, todas as melhorias mágicas que protegiam os Sanguinar do sol fariam o mesmo pelos Synestryn. Eles não precisariam mais se esconder. Eles teriam tudo o que precisavam em um só lugar, proteção contra o sol que os mataria e toda a comida que eles poderiam querer fluindo pelas veias dos humanos ensanguentados.

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Todos Sentinelas daqui daria a vida para impedir que isso acontecesse. Ele rezou para que não chegasse a isso. O próximo golpe de Joseph foi uma fração de segundo lento demais. Um dos demônios cinzentos conseguiu passar por suas defesas e cortou um profundo corte em seu abdômen. A dor brilhou, cegando-o por um segundo. A voz de Lyka latiu em seus pensamentos, facilmente ouvida sobre o rugido do combate. Pato! Joseph seguiu suas instruções mentais, forçando seu corpo a se dobrar exatamente como ela mostrara. Ele não conseguia ver a lâmina que arrancaria a cabeça, mas sentiu que agitava os cabelos ao passar. Joseph olhou para cima e viu Morgan parado ao lado dele, onde Madoc estivera antes. Ele saiu para proteger sua esposa enquanto ela trazia o primogênito para o mundo. Joseph esperava como o inferno que o mundo fosse muito mais pacífico do que o que eles enfrentavam agora. Um pesado som de aço sobre aço tocou logo acima dele. Morgan havia bloqueado outro golpe que teria matado Joseph. Morgan estava fresco na luta, incrivelmente forte e um guerreiro tão feroz quanto qualquer outro Joseph já havia conhecido. Talvez com a ajuda dele, eles pudessem sobreviver aos últimos minutos até o nascer do sol. Logan está chegando atrás de você para curá-lo, Lyka sussurrou em sua mente. Sua voz não era tão forte quanto antes. Então, novamente, nenhum deles era. Joseph manteve a espada na frente do corpo e mudou de posição para que nenhum dos demônios à sua frente pudesse alcançar Logan. Se eles perdessem seus curadores, toda a linha entraria em colapso quando os ferimentos os levassem um a um. Joseph sabia por experiência que em uma situação como essa, Logan não desperdiçaria energia embotando a dor do que estava prestes a fazer. Enquanto ele podia tricotar a pele e os ossos com um toque, Joseph teria que suportar cada segundo da dor de sua recuperação empurrada para um momento muito curto e muito angustiante.

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Mesmo que ele já tivesse experimentado isso antes, mesmo que estivesse preparado para isso, a tortura abrasadora de ser curado o atingiu de surpresa. Era como se sua mente não pudesse enfrentar o quanto era possível machucar, por isso havia bloqueado completamente a memória. A presença refrescante de Lyka o facilitou o pior. O braço forte da espada de Morgan o manteve a salvo dos golpes que vieram voando em seu caminho. Logan levou apenas alguns segundos para fazer o trabalho, mas pareceu mais como horas. Quando finalmente terminou e o Sanguinar se moveu para encontrar o próximo guerreiro ferido, Joseph ficou um pouco mais fraco e mais lento do que antes. Morgan e Lyka assumiram a folga enquanto Joseph encontrava uma maneira de se reunir. Seu povo precisava dele. Ele não poderia parar. Ele não podia cair. Por causa disso, ele iria encontrar uma maneira de fazê-lo até o nascer do sol. — Desculpe, eu estava atrasado para a festa, — Morgan gritou sobre o barulho, sorrindo enquanto lutava. — Que bom que você me salvou um pouco de diversão. A voz de Joseph estava tão cansada quanto seu corpo e tão fina quanto sua esperança. — Tenha toda a diversão que você quiser. Havia mais do que suficiente para dar a volta.

*** Madoc encontrou Nika em um dos níveis mais baixos de Dabyr, em um dos quartos que Sanguinar costumava tratar pacientes. A sala estava preparada para o parto, mas o único equipamento que faltava também era o mais importante. — Onde diabos estão Hope e Logan? O rosto geralmente pálido de Nika estava corado e manchado de suor. Ela se agachou em um canto da sala, uma espada curta cerrada em seu punho. Madoc amava isso em sua esposa, que, mesmo quando ela estava sofrendo com dores de parto, ela ainda era tão protetora com a filha deles quanto feroz. A filha deles. A garotinha deles. Ela estava vindo. Esta noite. Agora.

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Uma onda de pânico atingiu Madoc com tanta força que ele teve que agarrar a borda da moldura da porta para não cair. Ele seria pai. Puta merda. Como isso era possível? Ele não era material para pai. Nem mesmo perto. Nika ofegou através de sua contração antes de responder. — Não vem. A batalhe antes de bebês. — Porra! — Eu já fiz isso antes, — ela disse. — Lembra? — Sua irmã fez isso, não você. Você podia estar na cabeça dela na época, mas não é a mesma coisa. — Eu estou ficando positiva, amor. Você deveria tentar. Madoc fechou e trancou a porta, depois empurrou um armário pesado na frente dele. De maneira alguma os demônios entraram aqui para comer sua família. E ele tinha quase certeza de que suas mãos estavam prestes a ficar cheias. — Quão perto estão as contrações? — ele perguntou. Ela deixou escapar um gemido baixo de dor. — Não tenho um relógio. Madoc lera sete livros diferentes sobre trabalho e parto. Graças à sua memória fotográfica, ele conseguiu se lembrar de cada palavra. Tudo o que ele tinha que fazer agora era executar o que lera e rezar para que nenhuma das complicações que assombravam seus pesadelos acontecesse. Ele olhou para o relógio pendurado na cabeceira da cama, a cama em que sua esposa não estava. Madoc foi até ela, depois parou quando viu o sangue em suas mãos. A merda que os demônios cinzentos sangravam não era venenosa como alguns dos Synestryn, mas ele ainda não o queria nem perto de sua família. Enquanto ele se lavava, ela assobiou quando a próxima contração a atingiu. Ele olhou para o relógio. Menos de um minuto se passou. Isso estava acontecendo. Agora. A calma nunca foi o ponto forte de Madoc, mas, para sua família, ele encontrou forças para manter seu tom calmo e nivelado. — Nika, querida, acho que é hora de tirá-la desses couros de luta e deitar na cama. — Não posso... me mover.

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Ela estava com muita dor para se levantar, muito menos se despir ou subir em uma mesa. Normalmente, Madoc teria encontrado o que estava causando sua dor e matado, mas neste caso, seu pênis foi a coisa que a colocou nessa condição. Ele não tinha ninguém para matar além de si mesmo. Ainda assim, vê-la sofrer o estava despedaçando. Não se podia esperar que nenhum homem suportasse o trabalho da esposa sem fazer tudo o que pudesse para aliviar sua dor. Então foi o que ele fez. Madoc pegou sua esposa, deitou-a na mesa, tirou a calça de couro e depois encontrou o cordão que os unia. Seu canal era geralmente aberto, tanto que eles geralmente compartilhavam o mesmo espaço mental sem nem perceber. Agora, no entanto, Nika a fechou para salvá-lo da dor que ela sofreu. Provavelmente não. Ele ficou entre as pernas dela e a encarou por cima da barriga protuberante, sua expressão dizendo que ele estava prestes a conseguir o que queria, quer ela gostasse ou não. — Estamos fazendo isso juntos, Nika. Você carregou o fardo dessa gravidez a maior parte do caminho. É a minha vez de ajudar. — Eu não quero que você se machuque, — ela disse. — Então abra e deixe-me tomar um pouco da sua dor. — Não. Eu... — suas palavras se interromperam quando a próxima contração ocorreu. Madoc nem se sentiu mal por abrir caminho em seus pensamentos e encontrar o centro de suas dores de parto. Eram coisas intensas e agonizantes que afastaram todo pensamento de sua cabeça. Mas só por um minuto. Ele já carregou dor antes. Nika o salvou disso. Era a vez dele de fazer o mesmo por ela. Madoc recolheu a tortura de sua esposa e a engoliu inteira. Seu corpo tentou convulsionar e rejeitar, mas ele disse para calar a boca e lidar. Isso estava acontecendo.

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Depois de alguns segundos, ele se ajustou à sua nova realidade e verificou o colo do útero de Nika. — Você está totalmente dilatada, amor, — ele disse a ela, sua voz áspera com dor profunda e alegria profunda. — É hora de empurrar.

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Capítulo 18 Justice pegou sua mochila no caminhão e começou a correr. Ela não sabia para onde estava indo ou por quê, mas não estava mais no controle. A mulher que a possuía estava frenética. Desesperada. Se Justice não corresse rápido o suficiente, ela tinha certeza de que seria tarde demais. Ronan ia morrer. Justice correu mais rápido. Ela disparou pela área aberta entre o edifício principal de Dabyr e as paredes de pedra a várias centenas de metros de distância. A maior parte da batalha estava ocorrendo no lado oeste do edifício, mas alguns demônios conseguiram passar pelas espadas cintilantes e a magia brilhante à distância. Homens de aparência selvagem, com presas e garras alongadas, vagavam pela clareira, cobertos de sangue preto. Eles procuraram os demônios solitários que deslizavam pelo terreno, depois os separaram com as próprias mãos. Literalmente. Ela já ouvira falar de Slayers antes, mas não achava que já viu um. Ela com certeza não viu um em batalha, mais animal que homem. Alguns deles até pareciam ter traços animalescos, peles, mandíbulas arreganhadas, a tendência de correr sobre quatro pernas que eram mais lobo do que humano. Justice deixou a limpeza demoníaca para eles e foi direto para o muro. Ela não tinha ideia de como iria superar isso. Pelo que sabia, as Destinos a forçaria a abrir caminho com as unhas. Ela podia sentir Ronan. Ela estava chegando mais perto, mas não rápido o suficiente. Ela chegaria tarde demais. Suas pernas batiam, seu coração martelava. A respiração saiu da boca aberta em uma névoa que passou por ela enquanto corria. Lágrimas esfriaram em suas bochechas e voltaram pelas têmporas até a linha dos cabelos. — Ronan! — Ela gritou, incapaz de segurar o nome dele dentro de seus lábios.

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Não houve resposta, ou se houvesse uma, ela não conseguiu ouvi-la durante o estrondo da batalha. Ela arriscou um rápido olhar por cima do ombro. Dois demônios de quatro patas, com olhos brilhantes e rabos farpados, estava indo direto para ela. Eles ainda estavam a alguns metros de distância, e agora, isso parecia uma eternidade. Tanta coisa poderia acontecer no tempo que eles levariam para atravessar a distância. Ronan pôde respirar seu último suspiro. À sua esquerda, um dos Slayers selvagens interceptou os demônios correndo em sua direção. Justice se esforçou ainda mais, ignorando a ameaça por trás. O que estava à sua frente era um problema grande o suficiente para consumir sua mente completamente. Ronan estava por perto, mas o muro estava entre eles. Ela se segurou contra ele e sentiu a massa fria de sua superfície sugando o calor de sua bochecha. A pedra era lisa demais para ela subir. Era muito grosso para ela romper, mesmo que ela tivesse algum tipo de marreta. Ela ouviu um gemido baixo de dor flutuando por cima do muro. Mesmo atormentada, ela reconheceu a voz de Ronan instantaneamente. — Ronan! Estou aqui! — Ela gritou para cima, esperando que suas palavras o alcançassem. A única resposta que ela ouviu foi um gemido ainda mais fraco. Ele estava morrendo. Depressa! A compulsão em sua cabeça era tão forte que era quase uma linguagem agora. Justice nem se deu ao trabalho de descobrir o que a mulher queria. Ela simplesmente se abriu completamente e deixou que a Destino a usasse como uma ferramenta para salvá-lo. Elas fizeram isso uma vez antes, naquele porão escuro e úmido. Ela foi obrigada a alimentá-lo e salvar sua vida. Esta noite, ela faria isso de novo. A mochila cheia de artigos esportivos que ela roubou caiu de seu ombro e caiu no chão. Ela rasgou o zíper e deixou o conteúdo falar com ela. Os dois objetos de metal que ela roubou estavam lá, junto com um maço de faixas elásticas

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coloridas, um canivete, algumas balas sobressalentes para Reba, uma garrafa de água, uma fita adesiva e uma pequena luz LED para corredores noturnos. O que diabos ela deveria fazer com tudo isso? — Me diga o que você quer! — Ela gritou. — O que eu faço? A mulher que possuía Justice demorou a responder, mas quando o fez, o conhecimento era como um maçarico na superfície do cérebro de Justice. Ela sabia exatamente o que fazer. Justice rasgou a luz LED piscando e usou a fita adesiva para colá-la ao lado da garrafa de água de metal. Ela puxou a aba de plástico que cobria a bateria e a luz começou a piscar em vermelho e azul. Em seguida, ela desapertou a tampa da garrafa, abriu o canivete e cortou um corte profundo ao longo do pulso, do tipo que sangrou rápido o suficiente para matar uma pessoa. Ela segurou a garrafa sob a ferida e sangrou nela durante o tempo que ousou. Então ela usou uma das faixas elásticas de resistência para fazer um torniquete no braço e envolveu o corte em mais fita. Isso não impediria que os demônios cheirassem seu sangue, mas poderia dar mais alguns minutos de fuga antes que ela sangrasse. Apertou a tampa da garrafa, manchada com o sangue. Depois de ter certeza de que era seguro, ela se afastou da parede e jogou a garrafa por cima. — Encontre a garrafa, Ronan! — Ela gritou alto o suficiente para ser ouvida acima do som de um Slayer rasgando o corpo de um demônio ao meio. — Encontre meu sangue! — Ela não sabia se ele a ouvira ou não, mas não havia mais tempo para conversar. O cheiro de seu sangue havia atraído a atenção de vários demônios na beira da briga, e todos aqueles olhos verdes brilhantes estavam agora apontados diretamente para ela. Selvagem ou não, não havia como Slayer conseguir impedir que aquela massa de garras e dentes a alcançasse. Justice poderia ter salvado a vida de Ronan, mas o corte custou a dela.

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Capítulo 19 Ronan caiu contra a parede, fraco demais para respirar fundo. Levou tudo o que tinha para rastejar até aqui, na esperança de que seu corpo fosse encontrado por seus aliados antes que Synestryn pudesse destruí- lo. Um Warden seria convocado se o sol atingisse sua pele depois que ele morresse? Ele não tinha certeza. De qualquer maneira, ele imaginou que nunca saberia. Ele era um saco de ossos dentro da pele solta agora. Ele havia queimado toda a sua gordura e grande parte dos músculos para chegar até aqui. Infelizmente, suas terminações nervosas não foram consumidas, porque, se tivessem, ele não sentiria a dor excruciante de sua fome. Ele pensou que já esteve com fome antes. Ele pensou que estava perto da morte. Ele nunca soube o quão perto da morte alguém poderia chegar antes de sucumbir. Não é de admirar que tantos Sanguinar que dormem embaixo de Dabyr possam aguentar décadas depois de estarem quase loucos de fome. O céu iluminou ainda mais, mas ele não podia sentir a crescente fraqueza do dia. Ele já estava tão fraco quanto podia, mal respirando. Seu coração trepidou. Havia tão pouco sangue para bombear através dele. Pelo menos ele ia morrer perto de Justice. Ele podia senti-la pelas costas, do outro lado da parede. Ela era o único calor que ele tinha agora e, como antes, ele se viu tentando se virar para que pudesse absorver o máximo dela possível. Sua voz carregou o muro. Ele não conseguia entender as palavras, mas podia ouvir a nota frenética que ela cantou. Ela sabia que ele estava morrendo também. Ronan pressionou a mão esquelética contra a pedra e tentou pegar seu calor dentro de suas mãos. Não havia nada para segurar. Ela estava deslizando entre os dedos dele com tanta certeza quanto seus últimos segundos. — Eu te amo, — ele sussurrou, desejando ter dito a ela antes, quando ela pudesse ouvi-lo. Ela era uma mulher tão preciosa que merecia saber todos os dias o quanto era amada. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Ronan era um tolo por esperar. Ele era um tolo por não perceber como se sentia antes. E agora ela nunca saberia como ele se sentia. Algo bateu nas árvores acima de sua cabeça. A princípio, ele pensou que era um demônio, mas quando não houve dor de dentes ou garras, ele sabia que devia estar errado. —... garrafa... — ela gritou. Ele não entendeu o que ela quis dizer, mas um segundo depois, ele cheirou o sangue dela e viu uma luz piscando na proximidade. Essa luz estava presa a um cilindro de metal brilhante manchado com o sangue dela. Foi quando ele percebeu o que ela fez. Ela enviou a ele uma garrafa de seu sangue. O desespero animal tomou conta. Ele não achava que tinha forças para se mover, mas aquele cheiro doce e intoxicante o atraiu para mais perto, como se fosse compelido. Ele se arrastou pelo chão, ignorando o raspar de paus e pedras. Sua pele solta ficou presa em alguns lugares, mas ele a soltou e continuou rastejando. A luz estava mais próxima. O sangue dela estava quase ao alcance. Demônios ainda vagavam pela floresta, e um deles deve ter cheirado seu sangue também. Ronan ouviu uivar e sabia que estava ficando sem tempo. De jeito nenhum ele deixaria algum monstro ter o sangue precioso de Justice. Ele avançou, cada pequena fração parecendo uma milha. Paus rasgaram seu rosto, quebrando sua pele fina. Pequenas gotas de sangue escorreram por suas bochechas e lábios. Ele os lambeu, mas não havia mais energia em suas células. Eles estavam completamente esgotados. Ele teve que parar duas vezes para recuperar o fôlego, mas finalmente estava perto o suficiente para estender a mão e agarrar a alça com um dedo ossudo. A garrafa estava fria e pesada. Ele mal era forte o suficiente para puxá-lo para ele e abrir a tampa. Em um grunhido de determinação, os fios se soltaram e a parte superior se abriu. Uma lavagem de poder docemente perfumado irrompeu da garrafa. Ele colocou na boca e engoliu o sangue, frenético. O poder de Justice deslizou através dele em uma gota a princípio, depois em uma torrente. Sua magia inata inundou suas células e restaurou seu tecido

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perdido. Seus olhos brilhavam azuis através da floresta. Mesmo com a fraqueza do nascer do sol, ele se sentiu mais forte do que nunca. Ele consumiu cada gota que conseguia tirar da garrafa e depois tampou para impedir que o cheiro atraísse demônios para ele. Graças a Justice, ele não ia morrer hoje à noite, pelo menos não por causa da fome. O sol estava quase nascendo. Um Warden poderia matar dezenas, talvez mais, e por mais que a ideia de libertar um daqueles guerreiros cristalinos sobre seu inimigo o atraísse, não havia como impedir que essa criatura matasse aliados também. Ele tinha que procurar abrigo, e o abrigo mais próximo que pôde encontrar estava do outro lado do muro. Justice estava por perto, a apenas alguns metros de distância. Tudo o que ele queria fazer agora era vê-la novamente, tocá-la novamente e saber que ela estava segura. Um demônio caiu nas árvores, procurando pelo sangue de Justice. Ronan reuniu uma explosão de poder e a usou para se erguer sobre o grosso muro de pedra. Assim que alcançou o zênite e teve uma boa visão do campo de batalha, todas as vitórias que sentiu ao escapar de seu destino sofreram uma morte dura e fria. Dabyr estava arruinada. O muro havia caído. Synestryn atravessou as fileiras de guerreiros e conseguiu deslizar para dentro do complexo principal, onde o sol não poderia prejudicá-los. Os humanos estavam dentro. Crianças, idosos, feridos. Mesmo que os Sentinelas que certamente estavam lá dentro para proteger os fracos e indefesos conseguissem matar todos os monstros lá dentro, nunca mais algum humano se sentiria completamente seguro dentro daquelas paredes. Tudo o que Ronan e seu tipo haviam trabalhado para garantir que humanos sanguinários se sentissem seguros o suficiente para ter filhos foi destruído. Décadas de planejamento cuidadoso e galões de sangue poderoso foram desperdiçados. Pais sãos jamais desejariam levar uma criança a um mundo cheio de tanto perigo e terror. Sem essas crianças, os Sanguinar passariam fome.

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Portanto, mesmo que os Sentinelas limpassem o campo de batalha e reparassem o dano causado aqui hoje à noite, isso não importaria. Os demônios já haviam causado danos irreparáveis. Um grunhido de raiva desviou sua atenção da devastação. Eric Phelan estava a algumas dezenas de metros da parede, parcialmente transformado em sua forma de lobo. Ele estava nu, apesar do frio. Seus cabelos escuros eram grossos no peito, braços e pernas. Suas mandíbulas eram alongadas e cheias de dentes afiados. Se não fosse por seu cheiro, Ronan poderia nem ter reconhecido o homem. Suas mãos e pés estavam com garras grossas e afiadas, revestidas de sangue preto. Somente um Slayer poderia suportar o toque daquele veneno mortal. Enquanto Ronan observava, Eric cravou suas garras no corpo de um sgath e jogou-o de costas. O demônio travou suas poderosas mandíbulas ao redor do braço de Eric, mas o Slayer não cedeu. Luz verde doentia derramou em seu rosto distorcido, mas não havia como confundir o puro ódio ardendo na expressão de Eric. Ele rasgou o braço livre, rasgando sua carne em fitas quando ele fez. Então ele empurrou o queixo do demônio para cima e rasgou a garganta peluda com os dentes. Sangue negro pulverizou em um arco sombrio para manchar a poeira da neve. Eric continuou empurrando e mastigando até que a cabeça do sgath finalmente se liberou do corpo. Antes que os olhos do demônio escurecessem, Eric já estava procurando sua próxima morte. Seu braço estava sangrando muito, mas ele não parecia notar ou se importar. Vários outros Synestryn estavam indo em sua direção, ou melhor, em sua direção geral. Ronan olhou para a base do muro embaixo dele para o verdadeiro alvo dos demônios, e a pessoa que ele viu ali de pé era Justice. Os pés estavam apoiados, a arma firme nas mãos. Três demônios haviam passado por Eric e estavam vindo para ela. Não havia como ela ser rápida o suficiente para atirar em todos eles antes que eles a destruíssem. E mesmo que ela

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o fizesse, havia um limite para quanto dano uma única bala poderia causar a uma criatura que só morria de fogo ou decapitação. Tudo o que ela ia fazer era deixá-los com raiva.

*** Justice disparou assim que o primeiro pesadelo peludo estava ao alcance. Mesmo assim, ela sabia que não seria rápida o suficiente. Depois de tudo que ela havia sobrevivido, todas as brigas, bandidos e monstros, depois de incontáveis ferimentos por armas e facas, depois de anos de compulsões e escravidão até um poder que ela não entendia, era assim que ela ia morrer. Ela ia ser devorada por demônios. Se havia algo que ela aprendera sobre si mesma nos últimos dez anos de sua vida, era que ela era patologicamente incapaz de desistir. Não importa o quanto as coisas fiquem ruins ou o quanto ela odiava sua vida, ela nunca cedeu, nunca parou de lutar. Nenhuma dor, física ou emocional, era tão repugnante para ela quanto a ideia de rendição. Então, quando essas criaturas vieram para matá-la e ela sabia que estava ultrapassada, a única coisa que ela conseguia pensar era continuar lutando. Sua primeira rodada atingiu o ombro de um dos demônios. Ele tropeçou na própria perna dianteira e deslizou em um rolo desleixado. Ela sabia que não estava morto, essas coisas não eram fáceis, mas ela já havia voltado sua atenção para a próxima ameaça mais terrível. Ele abriu as mandíbulas quando se lançou do chão. Seu parceiro igualmente aterrorizante e igualmente mortal estava logo atrás. Mesmo se ela pegasse um deles, o segundo iria tê-la. Ela não podia disparar tão rápido. Antes de terminar de puxar o gatilho de Reba, algo veio de cima. Ela instintivamente virou a cabeça para ver qual era a ameaça. Ronan sacou a espada enquanto descia do ar para interceptar os demônios. Ele cortou a cabeça de cada um deles em um único golpe, depois caiu graciosamente no chão como se tivesse sido colocado ali por uma mão gigante. Ele girou em um semicírculo. O demônio que ela matou caiu sob sua lâmina, a coluna cortada logo acima de seus ombros poderosos. Justice piscou, sem saber se o que estava vendo era real.

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Ronan poderia voar? Esse era o único pensamento que ela parecia encontrar dentro do caos confuso em seu cérebro. Ele nunca disse a ela que poderia voar. Ou que ele sabia lutar assim. Ele caminhou em sua direção, magro e escuro, como uma espécie de predador. Os olhos dele brilhavam de um azul tão intenso que ela teve problemas para olhá-los. O rosto dele estava ensanguentado. Seu cabelo estava emaranhado com paus e folhas. Suas roupas estavam rasgadas e sujas. Ainda assim, vê-lo vivo e bem fez seu coração cantar. Ela correu em sua direção. Ele levantou a espada bem a tempo de ela colidir com seu corpo sem ser cortada. Ela o beijou assim que estava dentro do alcance. Sua boca percorreu seus lábios, bochechas e mandíbula. Ela não conseguia se cansar dele, então voltou à boca dele e começou tudo de novo. O familiar zumbido de cura varreu seu braço ferido. Ele rasgou o torniquete e a segurou com mais força. Sua sensação vertiginosa de alívio borbulhou dentro dela em uma risada cheia de lágrimas. Ela podia provar o sal de suas lágrimas escorregando entre os lábios, junto com um doce, picante... algo que ela não podia nomear. Justice se afastou e lambeu os lábios para reunir mais do sabor incrível. Só então ela viu que o rosto dele estava manchado de sangue por uma dúzia de cortes nas bochechas. Ele fluiu em seus lábios e não foi enxugado. Foi o que ela provou, seu sangue. Era incrível, diferente de tudo que ela já experimentou antes. O poder dele absorveu sua boca, varreu sua língua e percorreu sua espinha, onde se espalhou por seus membros. Um formigamento de energia irradiava de seu núcleo e criava um tipo de calor que afastava o frio. Ela podia sentir seu corpo mudando, adaptando-se a essa nova fonte de combustível, como se estivesse desejando isso toda a sua vida. E era combustível. Era poder, puro e não diluído. Os pelos nos braços e pescoço de Justice se afastaram de seu corpo. A parte de trás de seu crânio começou a coçar como se fosse ser obrigada, mas, em vez

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daquele sentimento desesperado e nervoso que a obrigava a obedecer, o que ela sentiu foi uma presença. A mulher. A presença dela era quente e segura. Confortável e familiar. Ela também era implacável e tão determinada quanto Justice jamais esteve em qualquer coisa. Não é de admirar que essa mulher tenha pressionado Justice a obedecê-la com tanta força. Ela não sabia como parar, como desistir. Ela ganhou, ponto final. Uma onda de excitação fez os pulmões de Justice incharem. Um barulho de vitória explodiu de sua boca, mas ela estava muito ocupada se concentrando para se preocupar com o quão estranha ela parecia. Justice alcançou essa presença, mergulhando cada vez mais fundo em si mesma, até encontrar um fio fino de energia conectando-a a outra pessoa. Eles estão morrendo, disse a mulher. Sua urgência ecoou em seu tom, ondulando com poder. Salve-os. Salvar quem? Justice perguntou. Você consegue me ouvir? Havia descrença em seu tom, junto com um tremor de alegria. Depois de todo esse tempo, você pode finalmente me ouvir? Esta mulher estava tentando falar com ela todos esses anos? Ela estava tentando se comunicar, mas suas palavras foram perdidas de alguma forma, deixando para trás apenas a compulsão de obedecer? — Quem é você? — Justice perguntou em voz alta. Não há tempo. Salve-os. Salve seu povo! — Eu não sei o que você quer, — disse Justice. — Eu não tenho ideia de quem é o meu povo. Eles estão dormindo. Subterrâneo. Os demônios estão quase lá! Eles vêm de baixo. Depressa! — Quem está dormindo no subsolo? — Ela perguntou. Distantemente, ela sentiu Ronan dar uma pequena sacudida. — Você está falando sobre os Sanguinar? Justice repetiu a pergunta para a mulher em sua cabeça. Sim, os Sanguinar adormecidos estão sob ataque! Vá! A mulher empurrou Justice com tanta força que foi sacudida de pensamentos e de volta ao aqui e agora com Ronan.

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Ele a encarou com olhos preocupados. — O que diabos está acontecendo? — A mulher falou comigo. Ela diz que os Sanguinar estão sob ataque. Ronan se virou e olhou. — Nenhum demônio violou esse lado do complexo que eu posso ver. — Ela diz que eles estão sob ataque. — Eles são impotentes. Adormecidos. Nós os enterramos no subsolo, para que não pudessem ser alcançados enquanto estavam vulneráveis. Mesmo que os demônios entrassem, eles nunca conseguiriam passar por todas as nossas camadas de segurança. — Ela disse que os demônios estavam vindo de baixo. Toda a cor sumiu do rosto de Ronan. — Não pode ser. — Ela parece ter certeza. Ele balançou a cabeça como se quisesse afastar as tristes notícias. — Se isso é verdade, então tudo está realmente perdido. Sem Sanguinar suficiente para nos revezarmos em nossa fome, todos os Sentinelas cairão. Justice absorveu rapidamente aquela perspectiva sombria. — Então é melhor colocarmos nossas bundas lá e salvá-los. Ela só esperava que não fosse tarde demais.

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Capítulo 20 O chão rugiu sob os pés de Ronan, como se algo enorme estivesse rasgando suas garras na terra e balançando vários metros abaixo. Como se o som fosse algum tipo de sugestão pré-planejada, os Synestryn pressionando as linhas de frente dos Sentinelas começaram a lutar mais. A voz de Joseph subiu por todo o barulho enquanto ele gritava ordens para seus homens para reforçar a formação e manter a linha. Mais Theronai gotejaram de dentro do edifício principal para adicionar mais espadas ao esforço, mas todos os que restaram colocaram os que estavam dentro em risco. Se a linhagem de Theronai segurando a horda caísse, Dabyr seria invadida. Se muitos homens deixassem o complexo para manter a linha, os poucos demônios que conseguiram entrar no prédio seriam deixados a percorrer os corredores, sem controle. O ato de equilibrar era precário. Um movimento errado e tudo estaria perdido. Joseph estava chamando mais homens por reforços, mas não fazia ideia de que havia outra ameaça à espreita abaixo. Eles estavam sendo atacados por dois lados. — Segure meu pescoço, — disse Ronan. Justice pegou a alça da mochila e fez o que ele pediu. Ele os ergueu pelo ar, por cima do furioso combate e no telhado de Dabyr. Uma vez lá, ele encontrou a escotilha de acesso. Estava trancada como precaução contra crianças curiosas com mais coragem do que a educação em física. Tão forte quanto ele era agora, a fechadura não era páreo para ele. Ele a arrancou das dobradiças e depois deslizou pela escada que levava ao andar superior. Justice estava logo atrás dele. Ele desceu o elevador mais próximo e enviou uma mensagem rápida para todos os Sanguinar aqui. Câmara de dormir violada. Resgate os sobreviventes.

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Ele duvidava que, com a batalha acirrada, qualquer um dos Sanguinar que ainda não estivesse dormindo abaixo fosse livre para checar seus telefones, mas pelo menos assim, alguém saberia onde procurar corpos. Um rosnado profundo e rochoso irrompeu da terra novamente, mas desta vez estava muito mais perto. As luzes no elevador piscaram, e o próprio ar parecia vibrar ao seu redor. — Ela diz que estamos quase sem tempo, — disse Justice. — Ela te contou o que está causando isso? Ou como parar isso? Justice fechou os olhos como se estivesse ouvindo. — A chave. Ela diz que precisamos montar a chave. — Qual chave? Ela vasculhou sua mochila e tirou duas peças de metal. Um era o broche, o outro era um eixo de metal hexagonal com alças em uma extremidade. — Isso parece parte de uma chave, — ele disse, apontando para o eixo. — Mas onde fica o outro lado? — Aqui, — disse Justice. Ela arrancou o cristal berrante do centro. Um pouco do adesivo grudada na parte de trás. Estava amarelo com a idade, mas Ronan já podia ver onde o eixo poderia se fixar no local sob a cola. — Eles se encaixam, — ele disse. — Acho que sim, mas não tenho como prendê-los. — Deixe-me tentar. O elevador roncou novamente. Eles estavam quase no subsolo. Ele empurrou uma de suas garras e usou a ponta afiada para raspar o resíduo de cola. Assim que ele fez, as duas peças se encaixam perfeitamente. — É isso aí! — Ela disse. — A mulher diz que é assim que as coisas acontecem. Ronan levou o poder à ponta dos dedos e aqueceu o metal até os dois pedaços da chave brilharem em vermelho quente. Ele as empurrou e as segurou enquanto deixava o calor se dissipar. Assim que isso aconteceu, a chave foi soldada. Justice estendeu a mão. — Ainda está quente demais para você tocar. Ela cobriu a mão com a manga para poder lidar com isso.

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— Para que serve isto? — Ele perguntou. Ela balançou a cabeça. —Ainda não sei. As portas do elevador se abriram no nível mais baixo da ala sul. Agora que eles estavam no subsolo, ele podia sentir o quão violentamente a terra ao seu redor tremia. Havia um longo corredor que levava à câmara de dormir. Nenhuma luz estava acesa, pois as únicas pessoas permitidas aqui embaixo podiam ver no escuro. Atrás dele, Justice tropeçou. — Você pode ver no escuro, Justice. Tudo que você tem a fazer é se concentrar. Seus olhos vão mudar e o espectro de luz que você pode ver se alargará. — Eu não sei como... oh. Uau. — Ela levantou a mão na frente do rosto e olhou com admiração. — Isso é incrível. — Eu disse que você é como eu. Tudo que você precisa é de alguém para ensinar o que isso significa. — Por enquanto, vou resolver fazer essa mulher calar a boca. Eu pensei que poder ouvi-la falar poderia tornar minha vida um pouco menos louca, mas agora não tenho tanta certeza. Ela é tagarela e frenética. Ronan pegou sua identificação e colocou a mão no scanner para que a máquina pudesse picar sua pele e testar seu sangue. Somente um verdadeiro Sanguinar poderia passar por essa porta, e poucos deles tinham permissão para entrar. Desde que Connal traiu os Sentinelas, Tynan foi cuidadoso com quem ele deixava ter acesso aos mais fracos entre eles. Um dia, todos dormiam, e era importante acreditar que estavam seguros. O chão tremeu novamente e, desta vez, fagulhas pulverizaram do alto, onde os fios elétricos passavam. Rachaduras na linha do cabelo se formaram nas paredes e no chão. A porta de aço destrancou, mas Ronan teve que empurrar com força para abrir. Dentro havia uma câmara de pedra, onde um deles geralmente ficava guardando seus parentes adormecidos. Hoje, estava vazio, pois todos os Sanguinar disponíveis eram necessários para curar os feridos em batalha.

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O aroma estagnado de podridão e fome era espesso no ar frio. A cada poucos dias, eles checavam para garantir que nenhum dos fracos morresse e, com muita frequência, esse checape revelava que outro deles havia morrido. Ele acendeu as luzes para preservar seu poder. Restavam poucos de sua espécie. Talvez cinquenta dormindo em câmaras do tamanho de caixões ao longo de um muro de pedra. Suas frentes eram painéis de vidro com dobradiças que se abriam para o acesso. Luzes vermelhas escuras dentro de cada câmara acenderam para revelar os restos encolhidos e encolhidos do que antes era um povo forte e poderoso. A maioria das fêmeas foi morta duzentos anos atrás. As poucas que restaram estavam enrugadas e cinzentas, com as mãos enroladas como ganchos. Os homens se saíram um pouco melhor, embora tivessem mais massa corporal para extrair na reserva. Ainda assim, eles pareciam mais cadáveres mumificados do que pessoas agora. Na parede oposta havia um cofre que continha os tesouros mais preciosos que Sanguinar havia encontrado, artefatos que poderiam curar ou matar, volumes de conhecimento que há muito se perderiam no mundo se sua espécie não os salvasse. Ouro e pedras preciosas para sustentá-los, se as outras raças virarem as costas. Ronan não esteve dentro do cofre há séculos, mas a chave que Justice encontrou o fez pensar no que mais poderia estar escondido lá agora. Não abriu nada que ele soubesse, mas isso não significava que não havia algum baú ou livro trancado dentro do cofre que eles precisavam acessar. Os artefatos teriam que esperar. Agora, ele estava mais preocupado em salvar vidas. Ele empurrou uma parte plana da parede, uma que parecia mais uma pedra cinzelada do que um botão. Dentro havia uma tigela de pedra polida que alimentava uma série de tubos que levavam a cada um dos Sanguinar adormecidos. Eles não precisavam de muito sangue para sobreviver, mas precisavam de um pouco. Ele e seus irmãos se revezavam em alimentá-los e, por causa de sua perseguição com Justice, ele não cumpria seu dever havia muito tempo. Hora de compensar isso. Justice olhou para o Sanguinar, a boca aberta. — Temos que tirá-los daqui.

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— Nós vamos. — Como? — Vou alimentá-los, acordá-los. Eles terão que andar, porque não podemos carregá-los. — Você acha que essas cascas secas podem andar antes que tudo o que está tentando escavar aqui chegue até nós? Para pontuar sua preocupação, o chão estremeceu e o pó começou a cair das juntas entre as pedras. Ela estava certa. Às vezes, levava dias para que um Sanguinar pudesse se mover adequadamente após um sono prolongado. Eles com certeza não tinham tanto tempo. Eles nem tinham horas. — Você tem uma ideia melhor? — Ele perguntou. — Eu não. Ela. — Ela bateu na têmpora. — Ela nos trouxe até aqui. O que ela quer que façamos? — Eu não sei, mas acho que tem a ver com isso. — Ela enfiou a mão na bolsa e tirou um maço do que parecia ser faixa elásticas gigantes. Elas eram de uma variedade de cores e cerca de dois metros de comprimento. — O que são isso? — Ele perguntou. — Faixa elástica. Para exercício. Ronan não tinha ideia de como alguém se exercitaria com isso, mas havia tempo para o treinamento físico mais tarde. — O que vamos fazer com elas? — Aquela coisa flutuante que você fez conosco? Você acha que poderia fazer isso com eles? — Ela perguntou, colocando um polegar na direção dos Sanguinar. Ele fez um cálculo rápido do peso. Mesmo desidratado e murcho, seus parentes ainda teriam um peso considerável se tentasse levantá-los todos juntos. E não havia tempo para fazer menos. Eles tinham alguns minutos no máximo antes de o muro ser quebrado. — Eu poderia tentar. — Você precisa fazer mais do que tentar. Se não conseguirmos tirá-los desta tumba, acabaremos sendo enterrados aqui com eles.

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Capítulo 21 Joseph não conseguia mais sentir seu braço, mas continuava lutando. Lyka estava em sua mente, uma constante garantia de que ela ainda estava segura, nenhum dos demônios que haviam rompido a linha a alcançou. O céu brilhava rosa no Leste. Tudo o que ele e seus homens tinham que fazer era se manter firme por mais alguns minutos. Morgan ainda estava atacando os Synestryn que não foram inteligentes o suficiente para fugir do sol nascente. Era difícil dizer sobre o barulho do combate, mas Joseph pensou que o homem realmente estivesse cantando enquanto lutava. Todos os outros guerreiros estavam exaustos. Eles estavam lutando por horas, constantemente enfrentando fileiras e mais fileiras de novas tropas Synestryn. Quanto mais cansados os Theronai se tornavam, mais erros eles cometiam e mais golpes tomavam. Uma fração de segundo na linha disse a Joseph que seus homens estavam se machucando mais rápido do que os três Sanguinar que restavam no campo poderiam curá-los. Em alguns segundos, os curandeiros precisariam fugir do sol e não restaria mais ninguém para interromper o fluxo de sangue. Lyka estava atrás deles, assumindo uma posição em terreno mais alto. Ele usou o vínculo telepático para dizer a ela que desse a ordem para os Sanguinar entrar. Eles não podiam arriscar muito perto do sol nascente. Sua voz alta e clara se elevou acima do barulho, emitindo sua ordem. Agora os lutadores estavam sozinhos. Por que os Synestryn restantes não estavam fugindo? Certamente, eles tinham que saber que o sol iria fritar suas bundas. Todas as criaturas das trevas não sabiam quando o inimigo, o sol, estava se aproximando? Não foi exatamente uma surpresa. Ainda assim, os demônios continuaram lutando, suas bocas se abriram em um sorriso como se tivessem um segredo. Foi quando Joseph notou. Os demônios restantes no campo de batalha eram diferentes. Não muito, mas um pouco. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Eles tinham a mesma pele cinza com pedaços de pelo. Suas cabeças eram carecas, quase reptilianas em textura. Eles eram altos e fortes, e lutavam com espadas, em vez de dentes ou garras. Mas os olhos deles... eram mais claros. Não preto. Vermelho. E o sangue deles, embora escuro, não era tão escuro quanto aqueles que ele matara no início da noite. Assim como os medos de Joseph sobre o que isso significava entraram em sua cabeça, os primeiros raios de sol surgiram no Leste. Gavinhas douradas de luz deslizaram através das árvores e no horizonte para pousar nos demônios diante dele. Eles não gritaram. A pele deles não fumava nem acendia o fogo. Se alguma coisa, eles apertaram os olhos como se desejassem ter trazido óculos de sol. Mas foi isso. O dia não era mais o único domínio dos Theronai, humanos ou Slayers. Agora pertencia aos demônios também.

*** Mesmo com Madoc sofrendo grande parte de sua dor, Nika estava lutando para entregar a garotinha. Ela pensou que já sentira dores de parto antes, mas agora percebeu que tudo o que havia experimentado na mente de sua irmã foi silenciado. Entediado. Ou isso, ou ela esqueceu completamente o quão doloroso era empurrar uma pessoa pequena do corpo. Ela estava tão cansada. Ela usou a maior parte de sua força em combate, tentando ajudar seus amigos e familiares a sobreviverem à noite. Ela não tinha pensado em economizar mais para si mesma. Ela não percebeu o quão fisicamente desgastante era esse processo. E agora ela estava pagando o preço por sua ignorância. — Você está indo muito bem, — disse Madoc entre as coxas abertas. Ela desejou que ele estivesse lá para uma busca mais prazerosa. Nika não disse nada. Ela não precisava. Ele era uma presença sólida e brilhante em sua mente, pairando sobre seus pensamentos com aquela vibração super protetora com a qual ela se acostumara desde que o conhecera.

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Ele sabia o quão perto ela estava do fim de suas forças. Ela o sentiu puxar faíscas de força do ar e empurrá-las em sua direção, mas estava cansada demais para alcançá-las. — Não, você não está, — ele disse. Ele foi até a cabeceira da cama e passou a mão esquerda pela nuca dela. O anel que ele usava estava conectado ao colar que ela usava, permitindo que o fluxo de poder dele dentro dela se movesse mais facilmente. A luceria zumbia em volta de sua garganta como se estivesse absorvendo-o. Ela encostou a cabeça no braço dele, sem se importar com o suor que deixara na pele dele. — Você está indo muito bem, — ele disse. — Quase lá. Nika sentiu a presença do demônio antes de ouvir. — Temos companhia, — ela disse, mas ele estava em sua mente e já sabia o que ela sentia. Sua espada estava apoiada na porta barricada, pronta para uso. Ambos olharam para ele ao mesmo tempo. Houve um som de farejamento embaixo da porta, depois um arranhão quando algo se mexeu para entrar. — Não pode entrar, — Madoc sussurrou. — É forte. Tem amigos. — Ela estava ofegante, ainda não se recuperou da última contração. — E eu estou cansada demais para explodir. — Não se preocupe com os filhos da puta peludos do lado de fora. Concentrese nisso. Aqui e agora. Ela não quis. Ela preferia matar a trabalhar. Os músculos do corpo dela aumentaram, depois se apertaram quando a contração seguinte ocorreu. A dor a agarrou com força e afastou todo pensamento de sua mente. Ela sabia que deveria empurrar, mas não havia mais empurrão nela. — Porra, não desista, — ele disse. Ele pegou o rosto suado dela em suas mãos e disse: — Estivemos em situações piores que isso. Eu sei que você está cansada. Eu sei que demônios estão na porta. Eu sei que dói como um filho da puta, mas nada disso importa. Nosso bebê precisa que você cavar fundo, seja forte. Então é isso que você vai fazer. Agora, porra!

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Capítulo 22 Justice ficou surpresa que tocar esses vampiros mumificados não a assustou. De fato, em vez de nojo, o que ela sentia por eles era uma espécie de parentesco e uma merda de pena. Quão desesperados eles estavam em escolher esse estado em vez de ficar acordado e ter fome? Quanta dor eles sofreram para tornar esse tipo de vida a melhor opção? Justice nem podia imaginar, e ela rezou para que nunca. Eles encontraram algumas macas em uma das salas usadas para guardar equipamentos

médicos.

Ronan

removeu

os

tubos

de

alimentação

que

serpenteavam pelo nariz de cada Sanguinar e trouxe os corpos para ela. Em cada maca, ela colocou uma pilha precária de pessoas mumificadas. Eles estavam rígidos e secos, presos juntos como galhos. Alguns deles estavam mais hidratados que os outros, e esses corpos foram colocados no fundo das pilhas para que não machucassem o frágil Sanguinar no topo. Nenhum deles se mexeu ou respirou. E eles eram tão leves. — Você tem certeza de que eles ainda estão vivos? — Ela perguntou. — Sim, — disse Ronan. — O sono deles é magicamente aprimorado. Eles apenas parecem mortos. Eu prometo que não estão. — Empilhá-los assim vai machucá-los? — Não como o que quer que esteja tentando romper a parede. Justice usou as faixas de resistência para manter os corpos no lugar, certificando-se de que nenhum braço ou pernas perdidas pudessem se soltar e engastar em uma porta. Eles colocaram o maior número de Sanguinar em cada maca como ousavam, depois amarraram as macas com mais bandas elásticas. O trem mais horrível de todos os tempos. No final da sala comprida, a sujeira começou a escorrer de uma rachadura na parede. O estrondo foi tão alto agora, que eles tiveram que gritar para se ouvir.

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A qualquer segundo, aquele muro iria desabar e uma horda faminta de monstros inundaria aqui. — Hora de ir, — disse Ronan. Ainda não! Use a chave, disse a mulher na mente de Justice, seu tom de medo urgente. Onde? Como? O cofre. — Ainda não podemos ir. — Justice olhou para a porta do cofre de aço dentro de pedra sólida, depois olhou para Ronan. — Diga-me que você pode abri-lo. — Eu não ligo para tesouros. Eu só me importo em salvar vidas. — Ela diz que precisamos abrir. Ela está certa o tempo todo. Ele hesitou. A parede começou a dobrar. Mais rachaduras se formaram. Mais sujeira derramada dentro. — Agora, Ronan! Ele correu para o cofre, digitou uma série de números, pressionou a mão contra um painel e se inclinou para perto da tela. Uma luz passou por seus olhos, depois uma luz ficou verde e houve um assobio de mudança da pressão do ar. Ele abriu a porta o suficiente para ela entrar. As luzes piscaram, lançando o espaço em um brilho intenso. O cofre era uma sala de cerca quatro metro e meio por seis. De um lado, pilhas de tijolos de ouro, tubos cheios de moedas de ouro, frascos de pedras brilhantes e uma montanha de dinheiro. Havia coroas e colares ornamentados que tinham centenas de anos. Do outro lado, havia livros e pergaminhos e caixas com tampa de vidro exibindo joias e adagas feitas de um metal prateado. Muitos deles tinham as mesmas marcações intrincadas do broche e da haste que fundiram em uma chave. Justice achou interessante que os artefatos do lado direito, que pareciam ter muito menos valor do que o ouro e as joias da esquerda, fossem tratados com muito mais respeito e reverência. Cada um tinha sua própria caixa acolchoada e estava marcado com uma placa de prata brilhante. Havia nomes e datas que declaravam quem o possuía, quando e onde esse item foi encontrado. Em alguns casos, o objetivo do item foi listado. Cura a cegueira, prende demônios, remove memórias, mata os mortos.

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A lista de usos bizarros continuou, mas Justice estava sem tempo. — Para que estamos aqui? — Ronan perguntou. Ela levantou a chave. — Isto. Ele olhou ao redor. — Para que serve isto? — Eu não sei. Olhar para baixo. Abaixo de seus pés. Justice fez. No centro da sala havia um pequeno círculo inscrito com mais das mesmas marcas na chave. Dentro desse círculo havia uma depressão, e nessa depressão havia um buraco que parecia o contorno do broche. Ela ajoelhou-se e viu que o buraco era mais profundo do que ela podia ver. Outro estrondo estremeceu as paredes. Um colar de ouro e pedras preciosas deslizou da mesa e atingiu o chão com um barulho. — Precisamos ir, — disse Ronan. Justice deslizou o broche para dentro do buraco até ele não ir mais longe, então ela girou a ponta da chave. O metal girou com facilidade, e ela pôde sentir uma série de cliques vibrando através do eixo. Ela não tinha certeza do que deveria acontecer, mas nada no chão se moveu. Nada se abriu, nenhum painel deslizou para o lado para revelar algum tesouro secreto. — Você sabe o que isso abre? — Ela perguntou. Ele balançou sua cabeça. — Nenhuma ideia. Eu nem percebi que a fechadura estava lá. Ela viu algo pelo canto do olho, um lampejo de movimento no outro lado da sala, atrás de Ronan. Uma seção da parede do cofre abaixou-se sobre uma dobradiça. A abertura era do mesmo tamanho daqueles onde os Sanguinar foram guardados, mas este não tinha frente de vidro. De fato, se não fosse a chave, ela nunca saberia que essa cripta estava aqui. Não é uma cripta, ela lembrou a si mesma. Uma câmara de dormir. A poeira rodopiava como se a porta desta câmara não estivesse aberta há muito tempo. Dentro havia outra múmia Sanguinar, mas está estava envolta em correntes pesadas, trancadas nos pulsos e tornozelos.

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O rosto de Ronan empalideceu. Ele foi até o Sanguinar como se estivesse preocupado com isso. — Quem é este? — Ela perguntou. —Não pode ser. Eu pensei que ele estava morto. Todos nós pensamos que ele estava morto. Tynan disse que o matou séculos atrás. — Matou quem? — Sargon, o Sanguinar louco. Traga-o, disse a mulher. Ao mesmo tempo, Justice sentiu a forte compulsão de fazer exatamente isso. Ela foi impulsionada para frente com os pés que não controlava e enfiou a mão na câmara com os braços não dele. — Não toque nele! — Disse Ronan. — Muito tarde. — Justice puxou o tubo de alimentação do nariz e alcançou a alcova. O Sanguinar louco era leve, como o resto dos corpos que ela carregou. Ele era mais alto que a maioria, e um pouco pesado, mas ela conseguiu tirá-lo do buraco na parede sem derrubá-lo. Ronan o tirou dos braços dela. — Isto é um erro. — Talvez, mas é um que vamos fazer. Eles empilharam o louco Sanguinar no topo da última maca, no momento em que os primeiros pedaços de pedra começaram a desmoronar na sala. Não havia mais tempo. Eles tinham que ir agora. Ronan puxou as duas primeiras macas, enquanto Justice trouxe a última, o trem de múmia. Eles correram pelo corredor em direção ao elevador, que era grande o suficiente para no máximo um terço do comboio. — Temos que subir as escadas, — ela disse. — Você pode flutuar eles, certo? Ele assentiu com força, mas ela podia sentir sua falta de certeza, mesmo sem ver seu rosto. Mesmo murcho e desidratado, ainda havia muito peso para se mover. — Vou pegar o elevador, — ela disse. — Não. Nós ficamos juntos. Não há como dizer que demônios estão vagando nos andares acima. Muitos surgiram para arriscar. — Isso significará mais trabalho para você. Não posso ajudá-lo a fazê-los subir as escadas. — Eu vou conseguir. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Outro estrondo estremeceu a terra ao seu redor. Mais pedras caíram da parede em uma avalanche ensurdecedora. Ela podia ouvir rosnados e uivos agora. Os demônios estavam quase terminando. Ronan abriu a porta que dava para a escada. Justice pegou dele e deu um beijo rápido na bochecha. — Você consegue fazer isso. Se você se cansar, eu estou aqui para você. Meu sangue está aqui para você. — É apenas o sol roubando minha força. Ele correu até o primeiro patamar e depois fechou os olhos. Um segundo depois, a primeira maca começou a se levantar, permanecendo perfeitamente plana e nivelada. Assim que alcançou o fim da sua amarração, a segunda foi levantado e depois a seguinte. Toda a fileira de macas levantou-se e começou a fazer a estranha jornada pelas escadas. Assim que a última maca com Sanguinar foi afastada da porta da escada, Justice passou correndo pelas macas e abriu a porta no andar seguinte. Eles subiram mais um nível antes de Ronan colocar as macas no corredor e afundar contra a parede. Ele estava tremendo. Seu rosto estava sombrio. Sua pele tinha um tom cinza doentio que a preocupava muito. Eles só subiram dois andares. Ela não contou quantos níveis eram, mas sabia que eram profundos. Eles ainda não haviam passado dos pisos seguros para a área onde os Sanguinar tratavam os pacientes e mantinham seus aposentos. As batidas abaixo pararam, mas isso não a fez se sentir melhor. De fato, assim que ouviu um leve arranhar, soube o que aquilo significava. — Eles conseguiram atravessar a parede, — ela sussurrou. Os olhos de Ronan brilharam em um azul intenso. Ele se levantou, usando a parede como apoio. — Você mal consegue suportar. Como você vai continuar? — Apenas pegue a porta. Mais dois andares e encontraremos ajuda. Justice não discutiu. Não havia tempo. Havia uma pilha de monstros em seus rabos, e se não se apressassem, todos esses Sanguinar desamparados se tornariam vampiros espasmódicos para demônios.

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Ela abriu a porta e viu o homem que ela amava encontrar forças para levantar as macas e seguir em frente. Quando estavam no meio do lance seguinte, a porta se abriu e uma massa de pelos e garras inundaram a escada. — Vá! — Justice gritou. Ronan soltou um gemido doloroso e o comboio de macas voou pela porta para o corredor do andar de cima. Eles bateram contra a parede em uma corrida descontrolada, mas não havia tempo para verificar os passageiros agora. Ronan foi o último a passar pela porta. Ele a fechou com força, passou a mão pela alavanca e rugiu com fúria e dor. A maçaneta ficou vermelha e cedeu ao redor de seu punho, fechando-o com força. Ele caiu no chão, ofegando com o esforço. Do outro lado da porta, os demônios uivavam enquanto batiam com as patas no metal quente. O aço resistente sacudiu, mas se manteve firme. Pelo menos por enquanto. Justice correu para o lado de Ronan. Ele estava em má forma, quase tão magro quanto os Sanguinar que eles estavam tentando resgatar. Sua pele pendia no crânio, cinza pálido e tremendo. Um grito de osso em metal vibrou pela porta. Os Synestryn estavam tentando abrir caminho. Ele não pôde continuar. Assim não. Justice afastou os cabelos do pescoço e colocou a garganta nos lábios dele. — Beba. Agora, antes que seja tarde demais. O fato de ele não discutir falou muito sobre o quão faminto e desesperado ele estava. Suas presas um pouco profundas. O lampejo de dor se fundiu em prazer quando seus lábios trabalharam contra a pele dela. Ela lambeu os lábios, provando restos do sangue dele se agarrando lá de onde ela beijou sua bochecha. Dentro desse sangue havia lembranças. Dela, não dele. Em um instante, a cortina que escondia seu passado se abriu. Ela viu um mundo estranho com um céu laranja e dois sóis ardendo no céu. Lembrou-se de ter sido criada com suas irmãs, aprendendo com as mulheres mais velhas que,

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como suas irmãs, sua vida seria forjada do dever, que ela tinha um propósito. Um destino. Nasceu para salvar as vidas dos Sanguinar, que nunca podiam sentir o sol em seus rostos. Ela foi criada para resgatar uma raça de almas altruístas que lutaram, sofreram e morreram para que outros pudessem viver. Ela foi criada para ser mais do que apenas um indivíduo, lutando em direção às suas próprias esperanças e sonhos. Justice e suas irmãs eram armas. Era seu dever lutar da maneira que fosse necessária para vencer a guerra contra os Synestryn. E se isso significasse a morte deles, que assim seja. No aniversário de dezenove anos, Justice se ofereceu para a causa e jurou cumprir seu dever com as irmãs, a mãe e o povo. Ela se comprometera com esse dever, evitando todos os outros propósitos. O passo final para provar sua dedicação foi desistir de boa vontade de suas memórias, seu passado e sua família para que ela pudesse entrar na guerra e lutar. Se o inimigo a levasse em cativeiro, nunca conseguiria arrancar dela o local secreto de seu nascimento. Porque se o fizesse, todas as meninas de Temprocia estariam em risco. Justice concordou sem hesitar. Ela foi a primeira da sua faixa etária a se voluntariar a desistir de tudo para ajudar a combater a guerra na terra. Ela estava ansiosa, animada. Ela não tinha ideia do quanto as mulheres que a criavam estavam pedindo quando tiraram o passado, mas essa era a natureza da juventude. Ela acreditava que era sábia, indestrutível, invulnerável. Ela estava tão errada. E agora que ela tinha seu passado novamente, sabia quem ela era. O que ela era. Justice era o que as pobres almas murchas nessas macas deveriam ter sido se não tivessem sido amaldiçoadas no nascimento. Ela estava livre para caminhar ao sol e sentir seu calor em seu rosto. Ela nunca precisaria beber sangue por sua força. Ela nunca seria chamada de vampiro ou monstro. Ela nunca sentiria tanta fome que preferiria se transformar em uma casca do que ficar acordada e sofrer. Estes corpos secos eram seu povo. Eles foram quem ela nasceu para proteger. Eles foram os que ela foi criada para ajudar, não importa o custo pessoal.

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Ronan não seria capaz de salvar seu povo sem mais sangue. Não havia suficiente nele para ele colocar os Sanguinar longe do perigo. A menos que ele pegue tudo. Ela podia sentir a resistência dele para continuar se alimentando, enquanto sua fome e desespero o instavam a continuar. A qualquer momento, ele iria parar e, se o fizesse, todos eles morreriam aqui embaixo. Os demônios quase conseguiram passar pela porta. O metal estava começando a dobrar. Aqui e ali, uma garra negra apareceu, ajuntando o aço, lutando para rasgá-lo. Todos morreriam aqui se Ronan não fosse forte. Se ele não fosse alimentado. Ela não conseguia levantar as macas. Ela não podia lutar com uma espada e com a cabeça dos monstros caçando-os. Tudo o que ela podia fazer era seu dever. Pôr em prática tudo, como ela foi ensinada a fazer. Como ela prometeu fazer. A voz distante da mulher em sua cabeça disse o que ela precisava saber. A transferência de informações foi tão rápida que era quase como se ela estivesse acordando um instinto que simplesmente estava dormindo. Justice deslizou perfeitamente dentro da mente de Ronan e encontrou a parte de seus pensamentos que ela precisava. Ela sussurrou para ele que ela era saudável e forte. Ela tinha muito sangue de sobra. Ele poderia pegar tudo o que precisava e ela ficaria bem. Não havia com o que se preocupar, exceto beber o suficiente para que ele pudesse levar seu povo para a segurança. O subterfúgio funcionou. Ele continuou se alimentando enquanto ela enfraquecia, enquanto ficava tonta, enquanto seu coração palpitava. Ela estava quase vazia agora, mas estava tudo bem. Parte dela sempre estaria com Ronan. Ele a seguraria dentro dele para sempre e a manteria perto. Justice encontrou seu propósito. Ela cumpriu seu destino. Ela amou. Para ela, isso era tão cheio quanto qualquer vida poderia ter. Seus pensamentos finais quando ela morreu foram sobre o quanto ela amava Ronan e sobre a sorte que ela teve por ter vivido uma vida que importava.

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CAPÍTULO 23 Ronan não percebeu que matara Justice até que fosse tarde demais. Um segundo, ele tinha certeza de que ela estava bem, e no outro, o véu que foi lançado sobre ele desapareceu, e ele estava segurando o corpo dela nos braços. Desespero e culpa diferente de tudo que ele já conheceu caíram sobre ele e estrangularam o ar de seus pulmões. Ela fez isso, ele percebeu. Ela se sacrificou para salvar todos eles. Se ele tivesse parado de se alimentar dela enquanto ela ainda estava segura, ele nunca teria o poder de que precisava para resgatar seu povo. Seu povo. Mas agora, seu poder retumbou através dele como um trovão. Seus músculos incharam com isso. Sua mente ardia com foco claro. Cada centelha de vida que ela tinha era dele agora. Ele tinha tudo o que precisava para salvar os Sanguinar adormecido. A única pessoa que ele queria salvar era Justice. Ele a abraçou enquanto pressionava a mão em seu peito com a intenção de restaurá-la, devolver a força vital que ela havia sacrificado. Ele reuniu o poder dela dentro dele, pronto para empurrá-lo de volta nela pela força, mas quando ele tentou, o sangue dela não cooperou. Não o deixou curála. Ronan soltou um grito de raiva feroz. Ele ecoou pelas paredes do corredor e fez os demônios devoradores abrirem caminho pela porta de volta. Eles gritaram como se tivessem levado um tapa. Como ela poderia ter feito isso com ele? Como ela poderia ter se roubado dele? Ela não sabia que ele a amava? Claro que não. Ele nunca disse a ela. Ronan rugiu de dor novamente, e desta vez, a magia fervendo em seu corpo saiu. Empurrou a porta para dentro e quebrou as lâmpadas acima. Ele não poderia salvar Justice, mas talvez outro de sua espécie pudesse. Ele ficou de pé e pressionou as mãos contra a porta. A escada era a maneira mais rápida de subir e, com a eletricidade e a cintilação, ele não confiava no Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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elevador. Nem conteria todas as almas frágeis que ele estava determinado a salvar, as almas pelas quais Justice havia sacrificado sua vida. Ronan reuniu algumas gotas preciosas do poder de Justice e o usou para bater na pesada porta de aço. Demônios do lado oposto foram esmagados instantaneamente. O sangue negro deles espirrou nas paredes e escorregou os degraus. Aqueles que não foram mortos, foram empurrados para baixo e deixados para rosnar e rastejar sobre as costas dos mortos. Ele não deu a chance de se recuperar. Em vez disso, ele usou o poder de Justice para acender toda a massa peluda, gordurosa e sangrenta de demônios. Eles se inflamaram em um whoosh de luz e calor. Abaixo, mais demônios uivavam quando o pelo pegava fogo. Se eles quisessem alcançá-lo, teriam que queimar para que isso acontecesse. Antes que o bloqueio temporário se esgotasse, Ronan levitou Justice e seus irmãos e os empurrou pelas escadas. A tensão de levantar tanto peso, juntamente com a letargia da luz do dia, enfraqueceu-o mais rapidamente do que ele pensaria ser possível. Formas escuras e escorregadias deslizavam pelas paredes como centopeias gigantes com costas espinhosas. Cavaram longas garras na parede de gesso, subindo-a como se o acabamento liso fosse casca de árvore áspera. Dezenas de olhos em suas cabeças segmentadas brilhavam em um verde brilhante. Seus corpos se curvaram e arquearam enquanto observavam suas presas levitadas. Ronan não tinha tempo ou energia para lutar contra eles, um de cada vez. Sua melhor aposta foi sair dessa escada e trancá-los todos dentro. Ele conseguiu empurrar o corpo de Justice e três das macas pela porta para o próximo nível, o primeiro não seguro e aberto para humanos e Theronai. Este era o nível em que eles tratavam os ferimentos e cuidavam dos doentes. E estava cheio de demônios. Ele mal podia ver através dos ninhos de braços e pernas mumificados, mas o que ele viu foram os brilhantes olhos verdes de demônios e muitos dentes e garras. Antes que eles pudessem se deleitar com sua família, Ronan colocou um escudo ao redor de cada maca e Justice.

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A energia drenada de seu corpo era tão forte que ele se sentiu ceder. Ele empurrou com mais força, cavando mais fundo. Finalmente, ele colocou todas as camas pela porta da escada. Ele a fechou e a fechou como fez antes. O ar quente raspou seus pulmões. Sua visão se estreitou para que ele mal pudesse ver. Ele estava no chão agora, embora não tivesse ideia de como chegou aqui. Ele pegou o celular e discou o número de emergência. Slade respondeu. — Preciso de ajuda. Enfermaria, — ele ofegou. A voz de Slade era calma e uniforme, apesar de jovem. — Eu tenho sua localização, Ronan. Vou enviar ajuda nessa direção. Apenas espere. — Preciso... de sangue. Justice... morrendo. — Lágrimas escorreram por seu rosto quando ele disse as palavras. Ele podia vê-la esparramada no chão a alguns metros de distância, seus lindos olhos verde-prateado olhando de volta para ele, sem vida. Vazios. Ele a matou. Ela o deixou. Ele a amava e a matara. Como ele iria viver com ele agora? O poder que ela se sacrificou para dar a ele estava desaparecendo. O escudo azul ao redor de seus irmãos começou a piscar. Focinhos pretos e oleosos cheios de fileiras de dentes começaram a cheirar as rachaduras, curiosos e famintos. Ronan rastejou pelo chão em direção a Justice. As rodas de uma maca estavam em seu caminho, mas ele a alcançou com uma mão esquelética. Ele tinha que se segurar por mais alguns minutos, deixar a mágica comer sua carne e osso até a ajuda chegar. Ele tocou a ponta de seu dedo frio. Ela se foi. Ele queria ir com ela. Estar com ela. Mas se ele fizesse isso, sua família morreria. Ela não iria querer isso. Ela dera tudo o que tinha para que eles pudessem viver. Os olhos dele se fecharam. O escudo tremulou com eles. Demônios rosnaram e latiram de emoção. Em algum lugar a algumas portas do corredor, um bebê chorava o choro cru e fraco de um recém-nascido.

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Nika. Ela fez isso. Ela trouxe a próxima geração de Theronai para o mundo. Se ela pôde fazer isso no meio da morte e destruição, Ronan poderia aguentar por mais alguns segundos. Então ele iria para Justice e ficaria com a mulher que amava para sempre.

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Capítulo 24 Justice nunca viu a mulher deslumbrante em pé na frente dela, mas ela a conheceu instantaneamente. Ela tinha cabelos longos, pretos, e olhos verdes claros cheios de movimento como folhas de primavera tremendo com uma brisa suave. Seu vestido brilhava com fios de prata, e seu pescoço e pulsos eram adornados com brilhantes faixas de metal. Cada uma delas foi marcada com as mesmas marcas estranhas que estavam na chave. Ela era alta, com braços musculosos nus do ombro para baixo. No topo de seus cachos pretos havia uma coroa fina com pérolas de prata e pedras cortadas cheias de luz. Literalmente cheia de luz, como se alguém tivesse capturado o sol, liquefeito e derramado em conchas de cristal facetadas. Ela era a mulher mais bonita que Justice já viu, e não apenas porque ela era a mãe de Justice. — Eu sou Celentia, — ela disse. Havia poder em sua voz, um poder que Justice conhecia muito bem. A mulher – As Destinos. Sua mãe era a presença em sua cabeça, obrigandoa a agir. — Você, — disse Justice. A palavra pairava em algum lugar entre uma pergunta e uma acusação. Ela lutou para entender o que estava acontecendo. Tudo aqui estava mudo, diluído, como se ela estivesse experimentando à distância, fora de si mesma. Ela olhou em volta, mas não reconheceu nada. Ela estava em um lugar escuro, com a luz da lua escorrendo por trás das nuvens geladas. Havia um leve brilho rosa no ar, mas não tinha fonte. Ela podia cheirar flores por perto, mas não tinha ideia do que eram, além de intoxicante. Quase picante, como a pele de Ronan, como seu sangue. — Onde estou? — Sua mente está comigo em Athanasia. Seu corpo está morrendo na terra. — Morrendo? Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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— Tecnicamente, morto. — O turbilhão de verde em seus olhos turvos, mas Justice não sabia dizer se era por causa de lágrimas ou porque seu ponto de vista parecia tão distante. — Eu não entendo. — Eu sei, — disse a mulher, seu tom caindo em um acorde triste e baixo. — Há muito para contar e não há tempo suficiente. — Então é melhor você se apressar. Celentia sorriu levemente, como se achasse Justice fofa. — Eu a amarrei com muita força ao seu dever. Isso a machucou. Essa nunca foi minha intenção, mas não havia como desfazê-lo. Até agora. — Dever? — Eu criei você para ajudar os Sanguinar. Ordenei que você fosse enviada à Terra quando estivesse pronta, sem suas memórias para protegê-la. — Eu escolhi ir. — Justice lembrou disso agora, claramente. Ela sabia o que aconteceria com ela se deixasse o conforto de sua vila de infância. Ela ficaria sozinha, despojada de seu passado, apenas com seus instintos e seu dever para guiá-la. Ela estava pronta para ir. Ansiosa para servir. Era uma honra que poucas de sua raça eram fortes o suficiente e corajosos o suficiente para fazer. Somente os mais fortes podiam servir. Ela estava tão orgulhosa de receber a honra. — Você escolheu ir porque foi criada para escolher o dever em detrimento de todo o resto, — disse Celentia. — Todas as minhas filhas foram. — Eu não entendo. A mulher se aproximou e pressionou a mão quente contra a bochecha de Justice. — Eu queria desesperadamente ficar com você, minha doce filha. — Ela acariciou sua têmpora. — Aqui, em sua mente, mas vejo a loucura desse desejo agora. Nossos tempos fluem em dois rios diferentes. A comunicação é dolorosa para você. Você sofreu quando eu falei. — Era você? — Justiça perguntou. — Todo esse tempo, as compulsões, as Destinos, era você estava tentando falar comigo? Celentia assentiu. — Eu nunca soube que isso causava dor. Sinto muito, minha filha.

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— Você me fez fazer coisas, — disse Justice, seu tom agudo de acusação. — Coisas horríveis. Você me fez matar. — Sempre há morte na guerra. — E Noah? E ele? Ele não estava atirando em mim ou escondendo uma faca nas costas. Você me forçou a matá-lo sem nenhuma porra de razão! — Havia uma boa razão. Ele não era o que parecia. Ele era um dorjan. Infectado. — Você não sabe disso. — Eu sei. Eu vi o veneno furioso através dele, crescendo dia a dia. O tempo no seu mundo estava passando tão rápido. Eu temia que se eu dormisse, se eu descansasse, ele iria te destruir. — Ela balançou a cabeça e uma lágrima escorreu por sua bochecha perfeita. — Tentei dizer por que ordenei que você obedecesse, mas você não podia me ouvir. Eu não era forte o suficiente para mudar o fluxo do tempo para falar, para que você pudesse entender. Eu sinto muito por sua dor. Sinto muito pela sua solidão. Justice ainda não conseguiu esquecer a ideia de que estava falando com a sua mãe. Mesmo quando estava crescendo em Temprocia, nunca a conhecera. Celentia deu à luz e depois foi para casa, sacrificando sua filha a uma guerra que era a única esperança de sobrevivência para um mundo inteiro. Talvez mais de uma. Justice sabia desde que ela era pequena. — Você me abandonou, — disse Justice. Ela sentiu que deveria estar com mais raiva, mas não conseguia se lembrar de como evocá-lo. — Deixei você no único lugar em que estaria a salvo de Solarc. Eu deixei você com mulheres que a criaram com força e honra. Eu gostaria de poder ter feito isso sozinha e visto você se transformar na poderosa criatura que você é agora, mas esses luxos nunca foram meus. Muitas vidas descansam em minhas mãos. — Você poderia ter ficado. Você poderia ter me trazido de volta com você. — Você sabe que isso não é verdade. Solarc mataria você assim que visse. Mesmo agora, mantendo seu espírito aqui, estamos arriscando um grande perigo para você, suas irmãs e primos. — Então, por que me trazer aqui? Você claramente não tem problemas para justificar seu abandono de mim.

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— Você está morrendo. Trouxe você aqui para dar uma chance pela vida, pela felicidade. — Seus lindos olhos se fecharam como se estivessem exaustos. — Há pouca força em mim depois de tudo que dei à guerra, mas o que tenho é o seu. — Não quero mais nada de você, a não ser ficar sozinha. Se a morte é a única maneira de conseguir isso, que assim seja. Celentia inclinou a cabeça em derrota. As joias brilhantes da coroa aninhadas em seus cachos pareciam mudar precariamente para um lado. — Eu liberto você. Vá. Viva sua vida sem limites para mim. — É tarde demais para isso. Eu estou morta, lembra? — Era estranho como Justice não estava chateada com a ideia de estar morta. Havia um tipo de dormência confusa em torno de suas emoções, como havia antes de conhecer Ronan. Nenhum medo ou tristeza poderia tocá-la. Mas nem a alegria. Ela era toda lógica e pouco sentimento. Oca. Exceto por uma pequena parte, a parte tocada por Ronan. Ela sentia falta dele. Ela queria estar perto dele novamente. Ela não se importava de morrer, mas a ideia de nunca mais vê-lo a rasgava como garras afiadas, rasgando sua sanidade. Ela doía por sua ausência. — É assim que eu sinto por você, — disse Celentia. — A cada momento sinto falta de assistir você se transformar na mulher que você é agora. Cada segundo de tempo perdido. Nunca saberei o prazer de embalar você para dormir ou contar uma história. Eu nunca sentirei seu pequeno corpo rastejar no meu colo para me abraçar em volta do pescoço. Nunca verei seus olhos brilharem de alegria desde o seu primeiro beijo ou a ouvir sussurrar para mim seu amor por um jovem. Sua vida está perdida para mim, perdida para o dever, tanto sua quanto minha. — Eu sou apenas uma ferramenta, então. — Justice disse. — Uma arma destinada a vencer uma guerra. — Você é tão poderosa quanto qualquer arma, mas seu objetivo vai muito além da luta. — O que então? Se você queria desesperadamente ser minha mãe, então por que desistir? Por que todas as mulheres como você desistiram de alguma de nós? — Você quis alguma coisa quando criança? Você alguma vez questionou se era amada, se estava segura, se era importante?

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Ela não fez. Ser criada na vila foi divertido e emocionante. Toda garota sabia que ela era ao mesmo tempo desejada e necessária. Claro, elas foram ensinadas a lutar e disseram que um dia seriam chamadas a fazê-lo, mas não foi uma maneira ruim de crescer. Ela nunca sentiu frio, fome ou negligência. Ela nunca foi abusada e estava cercada pelo amor de sua família. Ela pertencia. Ela prosperou. Teria sido mais fácil para Celentia ficar lá e criar sua filha? Justice não conseguia imaginar deixar uma criança para trás, mas, enquanto olhava por cima do parapeito da varanda, através do campo escuro, ela podia ver os sinais de decadência ao longe. Lembrou-lhe uma antiga configuração medieval, com um castelo imponente cercado por ruas entupidas da cidade, cercado por casas cada vez menos elegantes e modestas enquanto se estendiam em direção à paisagem ondulante. Cabanas rústicas de barro estavam vazias e desmoronando. As terras estavam vazias de lavouras. Não havia sons de riso nas casas abaixo, nem crianças cantando ou chorando enquanto se enfureciam contra a hora de dormir. Não havia cães latindo ou pássaros noturnos cantando. — Este lugar está morrendo, não é? — Justice perguntou. Celentia inclinou a cabeça. — Sim, e está levando todos aqui com isso. Meus irmãos e irmãs, meus amigos. Já reivindicou meu pai loucamente. Minha mãe, Brenya, fugiu para encontrar uma maneira de revidar. Você, Justice, é a única esperança que nos resta. Não é uma arma. Esperança. Esse é o seu verdadeiro objetivo. Foi quando Justice finalmente entendeu o que levaria uma mulher a deixar sua filha em outro mundo por opção. Porque tê-la aqui significaria sua morte. Nada aqui vivia por muito tempo. Nada aqui prosperava. Levar Justice a Temprocia foi um presente, não um abandono. Sua mãe fez o sacrifício definitivo e deixou sua filha para trás, para que seu povo tivesse esperança de sobreviver, para que Justice sobrevivesse. Os ombros régios de Celentia cederam de alívio. — Você entende agora. — Eu entendo. Você queria uma vida melhor para mim, para os presos aqui. — Eu daria qualquer coisa para vê-la crescer na mulher que você se tornou. — Mas fazer isso me colocaria em risco.

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Celentia acariciou os cabelos de Justice. — Não suportaria nunca ter tido você. O mundo precisa de você. Talvez mais de um mundo. Justice considerou isso por um momento. Sim, sua mãe a havia deixado para trás, mas Justice sabia todos os dias antes de suas memórias serem arrancadas que não era porque Celentia não a amava. Foi exatamente o oposto. Ela a amava o suficiente para dar uma chance de sobrevivência, uma chance de prosperar e oferecer esperança para aqueles que não tinham. Ela não foi abandonada ou esquecida. Nesse momento, Justice lembrou-se da velhinha que a perdoou com seu último suspiro. Lembrou-se do pouco que merecia o presente, mas o quanto isso significava. Justice queria dar o mesmo presente à sua mãe. Era a única maneira de honrar verdadeiramente o presente que a velha mulher dera. — Eu a perdoo, — disse Justice. — Por todos esses anos de não saber quem eu era, pelas dores de cabeça, falta de sono e corridas desesperadas em todo o país para fazer coisas que eu não entendia. Eu sei que você nunca me faria passar por isso se houvesse outra maneira. Eu entendo por que você fez isso e eu a perdoo. Por favor, não se culpe. A mãe dela sorriu. Lágrimas escorriam de seus olhos verdejantes. — Você é tão generosa quanto forte. Brenya e as outras fizeram um bom trabalho em criar você. As palavras não ditas entre elas eram que ambos desejavam que pudesse ter sido diferente, que poderiam estar juntas em todos aqueles anos perdidos. Celentia alcançou a coroa e pegou uma das pedras brilhantes. Ela fechou o punho ao redor e sussurrou algumas palavras baixas e estranhas. Então ela estendeu a pedra para Justice. — Você cumpriu bem seu dever, criança. Mas você não terminou. Pegue. Engula. — Por quê? — Por esperança. Pela felicidade. Por Ronan. A menção de seu nome enviou uma pontada de dor através dela, forte dentro de sua dormência nublada. Ela sentia falta dele. Queria estar perto dele. A ideia dele sofrendo a fez querer chorar. — E ele? — Ela perguntou, seu tom severo e desesperado.

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— Ele acredita que matou você. Se você morrer, ele também morre. Se ele morrer, tudo estará perdido. — Ele não pode morrer, — disse Justice, seu tom feroz, quase com raiva. — Eu o enganei para tirar meu sangue. Ele deveria saber disso. —Ele sabe. Isso não muda nada. Sua culpa o consumirá. Agora. Esta noite. — Conserte! — Justice exigiu. A mulher em pé na frente dela era poderosa e resoluta. Provavelmente, ela poderia esmagar Justice como um inseto e nem mesmo deixar o suficiente para trás para se preocupar em raspar seu sapato elegante. — Não posso alcançá-lo. Você deve. Salve Ronan. Salve Sargon. Ambos devem viver. — Sargon? O Sanguinar louco? Celentia sorriu. — Louco? É isso que eles pensam que ele é? — Ela levantou a pedra preciosa mais alto. Na mão dela havia um anel exatamente como o que Justice fora obrigada a encontrar. A superfície estava gravada com as mesmas marcas estranhas. — Vá agora, — disse Celentia. — Meus poderes só podem alcançar a Terra por mais alguns momentos. Você não pode ficar presa aqui com Solarc. Justice pegou a pedra. Estava quente com segredos e pulsando com a vida. — Não vai te machucar. Agora vá e saiba que eu sempre vou te amar. Eu sempre estarei com você, mesmo que você não possa me ouvir. Justice abraçou a mulher real que deu a vida. Ao fazê-lo, um sentimento de amor tão profundo e consumista foi quase impossível suportar afundou nela. O amor de mãe. O amor de sua mãe. — Vamos nos ver de novo? — Ela perguntou. Celentia encolheu os ombros. — Se seu povo mudar a maré da guerra, talvez. — E se não? Ela ignorou a pergunta. — Não há mais tempo. Cumpra seu dever mais uma vez e salve seu povo. Salve-se e seja feliz em sua nova liberdade. Justice fez o que sua mãe mandou e engoliu a pedra. Assim que pigarreou, o mundo, qualquer que fosse esse, desapareceu.

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Capítulo 25 Madoc segurou a filha nos braços, certo de que isso não poderia ser real. Ele não poderia ser pai. Ele não era um homem bom o suficiente para merecer a felicidade que sentia segurando esta pequena vida em mãos destinadas a matar. Engoliu o nó que entupia a garganta e gentilmente entregou sua filha a Nika. Ela estava chorando abertamente, com lágrimas nos cantos do seu largo sorriso. Não importava que o nascimento não tivesse acontecido como planejado, ou que havia demônios arranhando a porta, lutando para entrar. Não importava que eles tivessem sofrido dores de parto ou medo do que poderia acontecer. O que importava era que eles haviam compartilhado essa experiência juntos. Os dois eram agora três. Uma família. Sua filha gritou de indignação com o novo ambiente. Nika a embalou contra o peito nu e murmurou palavras suaves de segurança. — Você está bem agora. Está tudo bem. Papai vai matar aqueles monstros desagradáveis e todos nós vamos ficar bem. O bebê se acalmou e olhou para a mãe com olhos sombrios, ouvindo. Madoc amarrou e cortou o cordão. Nika deu à luz sem problemas. Seu sangramento foi mínimo. Tudo estava normal, de acordo com o livro. Mesmo com os demônios rosnados e uivando na porta, dentro desta pequena sala de parto, tudo era pacífico e perfeito. Nika olhou para ele com olhos tão cheios de amor que quase chorou ao vêlo. Ele podia senti-la se derramando nele através do elo, trazendo consigo uma lasca da mente inocente da filha para ele visse. — Ela é incrível, — ele respirou. — Ela já me conhece. — Claro que sim. Ela ouviu você falar e eu venho falando sobre você há meses. — Ela colocou o dedo dentro do aperto minúsculo do bebê. — Ela precisava saber que estava segura, que papai era forte, corajoso e mortal.

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Ele riu disso. — Você realmente me construiu. Acho que vou ter que provar que você está certa e ir matar alguns demônios fodi... lá fora para que possamos sair daqui.

*** Justice colidiu de volta em seu corpo como se tivesse levado um tiro de canhão. Aterrissando dentro de carne e osso machucou, não apenas por causa da repentina sensação estridente, mas também porque toda dor que ela havia sofrido antes de morrer estava ali, esperando que ela voltasse. Ela gemeu e tentou focar os olhos secos. Ela teve que piscar algumas vezes para clarear o nevoeiro, mas assim que o fez soube que era tarde demais. Ela estava no chão em um dos corredores de Dabyr. As luzes se apagaram, mas havia um leve brilho azul ao redor dela e as macas empilhadas com Sanguinar adormecidos. Do lado de fora desse brilho havia demônios. Dezenas deles, todos olhando para ela com estranhos olhos verdes iluminados por dentro. Eles arranharam e morderam a película de luz azul, e toda vez que o faziam, ela piscava e desbotava um pouco. Ronan estava morto. Ele tinha que estar. Ele estava muito murcho e costumava ser qualquer outra coisa. Ela gritou em negação, e o som só conseguiu irritar mais os famintos Synestryn. Eles dobraram seus esforços para alcançá-la. Ronan abriu os olhos. Eles estavam leitosos e encolhidos em sua cabeça. Não havia luz dentro deles. Sem vida. — Justice. — Sua voz era um fio fraco de som, quase inaudível sobre os rosnados de demônios. Ele estava vivo! Ela não estava atrasada, embora sentisse que poderia perdêlo a qualquer momento. — Estou aqui. Espere. Ela se sentiu encher, inchar. Qualquer fraqueza que ela tivesse dissipou. As dores evaporaram. O que havia naquele cristal que sua mãe dera era um remédio potente. No espaço de alguns segundos, ela passou de morta para se sentir bem.

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Ela engatinhou sob as macas para alcançá-lo. A mão dele estava estendida na direção dela, os dedos tão finos quanto lápis. Sua pele estava enrugada e branca como giz, como os Sanguinar nas camas acima deles. Ele estava fraco demais para se mover. Ela se perguntou como ele ainda estava segurando aquela luz protetora ao redor deles quando ele claramente não tinha mais nada para dar. Justice mordeu a língua quando o alcançou, depois cobriu a boca dele com a dela. Seus lábios estavam secos e frios, mas ela não se importou. O homem que ela amava estava morrendo, e ela se recusou a deixar isso acontecer. O sangue dela escorreu em sua boca quando ela o beijou. Lágrimas escorreram pelo rosto dela encharcando suas bochechas. Ele não se mexeu. Ela nem sabia dizer se ele estava respirando. Algo no estômago começou a esquentar. Ela sentiu que o calor viajar até a garganta e na boca de Ronan. A luz derramou entre seus lábios e espirrou contra os limites do brilhante escudo azul. Toda vez que a barreira tremia, parte daquela luz dourada derramava através das fendas onde garras e dentes demoníacos entravam. Synestryn gritou de dor e se afastou da luz. Sua pele começou a queimar e a chiar em todos os lugares que a luz tocava. Eles rolaram no chão e se agitaram como se tentassem aliviar a dor. Vários deles começaram a correr, rosnando e uivando, como se o próprio diabo estivesse atrás deles. Justice não levantou a cabeça para vê-los partir. Seu único foco era Ronan e o alimentava com o sangue que ele precisava. O corredor estava limpo de Synestryn. Apenas o cheiro de pelo queimado e o eco de gritos de dor foram deixados para trás. Gotas de seu sangue e luz dourada derramaram de seus lábios para enchêlo. Logo, seu corpo começou a inchar e sua pele a esticar. Ele se moveu um pouco, apenas o suficiente para abraçá-la e beijá-la de volta. Suas línguas dançavam. A doce música do prazer surgiu entre eles. Seu corpo esquentou, assim como o dela, e logo ele era forte o suficiente para puxá-los e arrastá-la para seu colo. A luz que brilhava dela diminuiu, depois se dissipou, mas o poder dela permaneceu. Estava em todas as suas células. Em todas as dele também. Qualquer

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que fosse a magia que sua mãe a tivesse presenteado, foi suficiente para salvar a ela e o homem que amava. Uma porta se abriu ao longe. Vozes encheram a escada, vindo de cima. Um momento depois, o corredor se encheu de homens empunhando espadas, frescas da batalha. Ronan levantou a cabeça e olhou nos olhos dela, em vez dos visitantes. — Antes de mais um segundo, você precisa saber o quanto eu te amo. Não quero mais encarar a morte sem você saber como me sinto. O mundo inteiro de Justice mudou e se aqueceu ao seu redor, abraçando-a perto. Lágrimas felizes ardiam em seus olhos, mas ela não se importava. O amor não a fazia fraca. Isso a fez forte, forte o suficiente para viajar para outro mundo e voltar para salvar o homem que amava. Ela olhou nos olhos dele e disse: — Eu também te amo.

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Capítulo 26 Theronai e Slayers vagavam pelos corredores de Dabyr, verificando dentro de cada quarto, em cada armário e debaixo de cada cama por Synestryn. Os seres humanos levaram os frágeis e adormecidos Sanguinar para o caminhão que Justice havia conduzido. As estantes que ela instalara nos fundos eram do tamanho perfeito para os corpos, e os tapetes macios de ioga serviam de almofadas para proteger os corpos frágeis. Faixas elásticas foram usadas para prendê-los no lugar, para que pudessem ser transportados para um local seguro. Onde quer que fosse. Ronan e seu companheiro Sanguinar curaram os feridos enquanto humanos alinhavam-se para alimentá-los, para que tivessem forças para fazê-lo. Janelas quebradas foram tapadas com tábuas e o dano foi avaliado por Joseph e um pequeno grupo de seus guerreiros de confiança. Quarenta e nove pessoas morreram no ataque, a maioria delas Theronai e Slayers. Apenas duas vidas humanas foram perdidas. Surpreendentemente, uma nova vida foi adicionada com segurança às fileiras, a filha de Madoc e Nika. A criança ainda era nova demais para ter um nome, mas tinha idade suficiente para trazer esperança a todos que a viam. A próxima geração de Theronai finalmente nasceu depois de duzentos anos de espera. Ronan trabalhou muito tempo depois que seus irmãos desapareceram. Até Logan estava exausto agora. Hope retornaria a ele e o reabasteceria em breve, mas ela precisava de tempo ao sol antes de poder fazê-lo. Não foi até o meio dia que o trabalho foi finalmente concluído. As piores lesões foram tratadas, embora algumas das menores esperassem até o anoitecer, quando o trabalho era muito mais fácil para ele. Lá fora, os humanos e Theronai estavam trabalhando freneticamente para reparar os danos ao muro externo ao redor do complexo. Ronan caiu em um banquinho na sala de exames agora vazia e soltou um suspiro pesado. Esta tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis

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Justice entrou e fechou a porta. — Recebi o relatório final de Joseph. — Quão ruim? — Ele perguntou. — Muito mal. As pedras da Sentinela e o Salão dos Caídos estão a salvo, mas o muro está completamente comprometido. Mesmo com o trabalho que está sendo feito, não há como manter os demônios afastados hoje à noite. — Presumo que Joseph tenha um plano. — Ele tem. Estamos movendo todos os artefatos valiosos e qualquer pessoa que não possa lutar até suas casas gerai, casas seguras. A maioria deles já foram protegidos. Cada um receberá pelo menos um guerreiro para proteção. Também ofereci meus armazéns, pois eles são abastecidos com comida, água e camas suficientes para sustentar dezenas de pessoas por meses. Eles estão configurados com segurança decente também. Não vai parar os demônios, mas pelo menos saberemos que eles estão vindo. Ronan balançou a cabeça, maravilhado. Sem os preparativos dela, a noite seguinte custaria tantas vidas. Mas agora havia lugares seguros para todos, incluindo seus parentes adormecidos. — Ele vai reconstruir, não é? — Ronan perguntou. — Suas palavras exatas foram: este é o nosso lar, e eles assumirão o controle sobre nossos malditos cadáveres. Acho que ele está planejando lutar contra eles descendo o túnel que cavaram na câmara de dormir. Ronan assentiu. — Parece Joseph. Seu carro amado sobreviveu ao ataque? — Ricardo? — Ela perguntou, como se o pensamento em sua Maserati nem tivesse passado pela sua cabeça. — Tenho certeza que ele está bem. E se não, eu vou viver. Ele é apenas um carro. Ronan não achava que ela se sentiria assim há alguns dias, mas ele adoraria que sim. Isso significava que o vazio que Ricardo preenchera agora estava cheio de outra coisa, algo que ele esperava desesperadamente se parecia muito com ele. — E os Sanguinar adormecidos? — Ele perguntou. — Tynan está levando eles para um dos meus armazéns por enquanto. Você terá que alimentá-los um de cada vez, mas é gerenciável. Joseph atribuiu um detalhe especial para protegê-los. — Parece que vamos ficar esticados, — disse Ronan.

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— Mais Slayers estão a caminho. Joseph entrou em contato com um grupo chamado Defensores e pediu que trouxessem todos os homens e todos os explosivos e poder de fogo que pudessem encontrar. Eles estarão aqui antes do anoitecer para ajudar com o que está por vir. Os Defensores eram dedicados e resistentes, mas ainda eram humanos, não importando quantas armas ou explosivos tivessem à disposição. As baixas resultantes desta noite ainda não haviam terminado. Mais morreriam antes que a ordem fosse restaurada. Felizmente, os Slayers derrubariam as probabilidades a favor deles. Justice se afastou da porta e foi até ele. Ela estava suja e desgrenhada, mas ainda absolutamente deslumbrante. Desde que voltou à vida, ela teve um tipo de brilho sobre ela, quase como uma iridescência. Ela disse a ele que o amava, mas não foi suficiente. Ele queria mais dela. Tudo dela. Ela o alcançou, e ele encontrou forças para segurar sua mão. Tão cansado e exausto como ele estava, ele ainda não estava nem perto de estar cansado demais para tocá-la. — Falei com minha mãe enquanto estava morta, — ela disse, com a voz baixa. — Ela é algum tipo de realeza alienígena, eu acho. Quão estranho é isso? Por alguma razão, as notícias de que ela falara com a realeza alienígena nem estavam entre as cinco coisas mais chocantes que ele vira nas últimas vinte e quatro horas. — Definitivamente estranho, — ele concordou. — O que ela disse? — Ela disse que foi ela quem causou minhas compulsões. Ela não quis me machucar, o que eu acredito. Ela parece bem legal, na verdade. Não é realmente maternal, mas definitivamente alguém com quem eu poderia sair, sabe? Ronan riu. — Da próxima vez que ela estiver na cidade, por que não saímos para um bom jantar? — Sim. Entendi. Não é muito provável que isso aconteça. Ainda assim, foi bom finalmente conhecer a mulher que me deu vida. — Espero encontrá-la algum dia também. Especialmente se eu não tiver que morrer para fazer isso. Quero agradecer a ela por dar ao universo uma mulher tão incrível.

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Justice montou em seu colo e colocou os braços sobre os ombros. Ele adorava tê-la por perto, e se divertia com a facilidade com que ela o tocava agora, como se pertencessem um ao outro. Ele faria tudo ao seu alcance para garantir que eles continuassem assim. Justice sorriu. — Minha mãe disse que você era meu presente por cumprir meu dever. Acho que isso significa que você me pertence agora. Ele sorriu. — É isso que você acha? — Bem, ela é da realeza. Você não gostaria de insultá-la arruinando seu presente para mim, gostaria? — Nunca. Ficarei feliz em pertencer a você pelo tempo que você quiser. As sobrancelhas dela se ergueram. — Sério? Você tem certeza sobre isso? Eu sou meio difícil de se conviver. Ele segurou seu rosto e a beijou e, naquele instante, soube que poderia beijála todos os dias por mil anos e nunca se cansar dela. — Tenho certeza, — ele disse. Todos os sinais de humor fugiram de sua expressão. — Prometa-me, Ronan. Me prometa que não precisarei mais ficar sozinha. Sua Justice forte e confiante era tão frágil e incerta quanto todos os outros, mas ela nunca deixou que isso atrapalhasse. Ele amava isso nela, como fazia centenas de outras coisas que a tornavam um tesouro. — Você e eu devemos ficar juntos, Justice. Eu sei disso desde a noite em que nos conhecemos. E por mais difícil que você for, nunca mais vou deixar você ir. Prometo ser seu pelo tempo que você me quiser. O peso de seu voto caiu sobre ele, quente e reconfortante. Certo. Justice estremeceu, depois assentiu, satisfeito. — Isso é bom, porque pretendo recebê-lo o mais rápido possível. Ele gostou do som disso, por mais cansado que estivesse. Ela o beijou, lenta e lânguida. — Que tal nos limparmos em um daqueles enormes chuveiros que você tem aqui e depois ter algumas horas de inatividade antes que o sol se ponha. Tenho a sensação de que nosso pessoal vai precisar de nós hoje à noite. Precisamos estar prontos. Com ela ao seu lado, ele tinha certeza de que os dois estariam prontos para o que acontecesse. Que venham os demônios, as batalhas e o derramamento de

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Laço de Sangue Shannon K. Butcher Guerras das Sentinelas – 10

sangue. O amor deles era forte o suficiente para suportar tudo isso. O que quer que aparecesse, eles enfrentariam, de mãos dadas, juntos.

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S K B - Série Guerras das Sentinelas 10 - Laços de Sangue (TWT)

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