R. N. Champlin - Enciclopedia de Bíblia Teologia e Filosofia - vol. 6

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1. Formas Antigas fenício (semítico), 1000 A.C.

grego ocidental, 800 A.C.

latino. 50 D.C.

5 2. Nos Manuscritos GregoI do Novo Testamento

3. Formas Modernas

s S. s

SSss

SS

as

S3

4.Hlatória S é a décima nona letra do alfabeto português (décima oitava, se deixarmos de lado o K). Historicamente, essa letra deriva-se da letra semítica shin, "dente». Essa palavra hebraica também tem o sentido de «serra», que talvez possa explicar seu formato original. A princípio representava o som ch . O grego adotou a letra, chamando-a de sigma. Nesse idioma acabou adquirindo um formato semelhante ao nosso ,,$», não tendo mais o formato de W (como era nas línguas semíticas). No grego tinha o som de "ss". Foi adotada pelo latim, de onde passou para outras línguas modernas, adquirindo seu formato final.

5. UIOI e 51mbolos S é abreviação portuguesa de -sacerdoteb, tradução da palavra inglesa priestly, que seria uma alegada fonte informativa do Pentateuco, destacando os ritos da casta sacerdotal. Ver o artigo sobre J. E. D. P.(S.) quanto a uma completa descrição. Ver também sobre S quanto a vários símbolos relacionados a essa letra. S também é usada como símbolo do Codex Vaticanu3 354, descrito no artigo separado S.

Caligrafia de Darrell Steven Cham lin

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... .

Reprodução Artística e Darrell Steven Champlin ~ ~ .~.~iiiii:::::~~ Arte céltica, a luta do homem contra a

serpente, evangelho de Mateus, Livro de Kells

s Além de seu trabalho no campo da erudição bíblica, também fez estudos significativos nos terrenos da astronomia, da liturgia, da gramática, da lexicografia e da apologética. Abraham ibn Ezra declarou que Al-Fayyumi era «a autoridade máxima em todos os campos». Escritos. Livro das Crenças e Opiniões; Refutação do Agressor Injusto.

S Um símbolo às vezes usado para o codex Sinaitícus, mais comumente designado A/ele (ver a respeito). S também é um simbolo que foi usado por R. H. Pfeiffer, para um dos alegados membros componentes do livro de Gênesis. Essa sigla deriva-se do sul de Seir, isto é, Edom, que ele acreditava ter sido seu lugar de origem. Esse estudioso também apontava o tempo da composição desta parte do livro como o século X a.C. Supostamente, a narrativa das origens e da história do homem primitivo, a saber, Gênesis I a 11, foi composta naquela região. Entretanto, certas porções daqueles capítulos foram atribuidas a P, por esse mesmo perito. Para ele, a sigla representaria outra composição alegadamente separada, os capítulos 14 a 38, como o relato da origem do povo que habitava no sul da Palestina e na Transjordânia, incluindo um sumário das populações que ocupavam Edom. Ver· o artigo intitulado J. E. D. P. (S.) quanto à teoria das múltiplas fontes do Pentateuco.

SAAFE No hebraico, união, amizade, ou, talvez, a palavra derive do aramaico, significando bálsamo. 1.0 sexto filho de Jadai (I Crô. 2.47) 2.0 terceiro de quatro filhos que Calebe teve com sua concubina, Maaca, Era o "pai" (isto é, o fundador) da região chamada de Madmana, localizada ao sul de Judâ (I c-e, 2.49). Viveu em algum período após 1380 a.C, SAALABIM No hebraico, chacais, raposas ou lugar de raposas ou chacais. Uma vila localizada próximo a Aijalorn, Zora e Ir-Semes, cerca de 24 km ao oeste de Jerusalém, que pertencia à tribo de Dã (Jos. 19.41-45). Sua identificação com Saalbim (Juí. 1.35; I Reis 4.9) pode estar correta. O Se/bit moderno (cerca de 5 km ao noroeste de Aijalom) provavelmente marca o antigo local.

S

Esta é a designação do Codex Vaticanus 354, que não deve ser confundido com o Manuscrito do Vaticano, designado B. S é membro do grupo da Família E. Trabalhei com a família E quanto ao evangelho de Mateus, e meu professor e amigo, o dr. Jacob Geerlings, trabalhou com os outros três evangelhos da mesma família. O titulo de minha obra foi Fami/y E and Its Allies in Matthew (1966), publicada pela University of Utah Press; e, então, foram lançadas as teses sobre os outros evangelhos. Esses e vários outros estudos textuais foram patrocinados e editados pelo dr, Geerlings, sob o título Studies and Documents. S é um dos mais antigos manuscritos gregos datados, pertencentes aos evangelhos. Um cólofon afirma que ele foi escrito por um monge de nome Miguel, no ano do mundo de 6457, que corresponde a 949 d.C. Atualmente, esse manuscrito está na Biblioteca do Vaticano, e que explica o seu nome. Data dos séculos VIII ou IX d.C,; e exibe um tipo de texto antigo, mas bizantino já padronizado. Ver os artigos gerais sobre Manuscritos, Novo Testamento.

SAALBIM No hebraico, chacais, raposas ou lugar de raposas ou chacais, nome alternativo para Saalabim (ver). Essa era uma vila ou uma região da tribo de Dã localizada entre Aijalom e Ir-Semes (Jos, 19.42; ver também Juí. 1.35 e I Reis 4.9). Esta região era controlada pelos amorreus que resistiram com zelo à invasão dos hebreus. Posteriormente, uma vez incorporada a Israel, tomou-se um dos distritos administrativos de Salomão (I Reis 4.9). Sua forma adj etiva, saalbonita, refere-se a Eliaba (11 Sam. 23.32; J Crô, 11.31; Jos. 19.42). O trecho de I Reis 4.9 parece posicionar Saalbim próximo a Estaol, Bete-Sernes e Aijalom, cerca de 24 km ao oeste de Jerusalém, dentro do território da tribo de Dã. O local exato é desconhecido hoje.

S

Ver P (Código Sacerdotal). S é o português para P (inglês,priestly). Está em vista o Código Sacerdotal, uma fonte alegada do Pentateuco.

SAALBONITA Ver Saalbim. SAALIM No hebraico, chacais, raposas ou lugar de raposas ou chacais. Saul passou por esta região quando estava procurando por asnos perdidos de seu pai, Quis (I Sam. 9.4). A região localizava-se ao norte de Micmas e provavelmente pertencia à tribo de Dã, mas alguns acadêmicos afirmam que ficava no território da tribo de Benjamim, à qual pertencia Saul (ver I Sam. 13.17). O local exato não é conhecido hoje. O nome pode ser uma alternativa a Saalbim (ver).

SAADIA BEN JOSEPH AL-FAYYUMI Suas datas foram 882 a 942. Filósofo judeu nascido em Fayyum, no Egito, foi um dos líderes da escola de Sura, na Babilônia. Traduziu o Antigo Testamento para o árabe e compilou o primeiro dicionário hebraico de que se tem notícia. AL-Fayyumi foi um dos mais brilhantes eruditos do começo da Idade Média. E representou o partido rabinita e talmudita em uma disputa contra os caraltas (ver a respeito), que asseveram a regra das «Escrituras somente» quanto à fé e à prática, e, por isso mesmo, rejeitavam os eruditos e rabinos judeus, os quais haviam escrito coisas que assumiam grande autoridade entre os israelitas. AI-Fayyumi também defendia o uso da filosofia, afirmando que não há nenhuma necessidade de essa atividade terminar no ceticismo. Advogava a aplicação da razão ao estudo e utilização das Escrituras, sem preocupações com o suposto conflito entre a razão e a revelação. Também pensava que a doutrina cristã da Trindade era uma interpretação errônea das Escrituras.

SAARAIM (LUGAR) No hebraico, dois portões. 1. Uma cidade localizada a sudeste de Jerusalém em Sefelá (região de planícies e morros). Cf. Jos. 15.33-36. Esta cidade dominava o vale através do qual os filisteus fizeram um rápido recuo (I Sam. 17). A cidade pertencia à tribo de Judá (Jos. 15.36; I Sam. 17.52). Cf. I Crô, 4.31. O local exato não é conhecido hoje, mas sabemos que ficava abaixo de Azeca (I Sam. 17.1). 2. Uma vila da tribo de Simeão (I Crô, 4.31), talvez um

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SAARAIM - SÁBADO regras relacionadas ao sábado era sufocante na época de Jesus. O descanso oferecia a oportunidade de engajamento em louvor, estudo e, especialmente, na leitura das Escrituras. A sinagoga (ver) transformou o sábado em seu dia sagrado mais importante. Ele se inicia na sexta-feira às 18hOO e perdura até o sábado, às 18hOO. Em tempos modernos, a comemoração de modo geral inicia-se mais tarde, para permitir às pessoas que trabalham uma chance para chegar à casa de reuniões. As Escrituras são lidas, são pregados sermões e oferecidas orações. Embora haja teorias diversas quanto às origens (ver a seção 111, a seguir), parece que essa era urna instituição exclusiva aos hebreus antes de a idéia propagar-se a outros povos. IH. Teorias da Origem Afirmações Não-biblicas 1. Teoria planetária. Não há dúvida de que o desenvolvimento do sábado teve relação com a semana, mas foi apenas no início da era cristã que os nomes dos planetas passaram a ser associados com dias específicos. Chamar os sete dias com os nomes dos sete planetas chegou tarde demais para ter alguma relação com o sábado hebreu. Não há evidência de que tal dia tivesse alguma coisa que ver com a veneração de um planeta, algo que seria contrário à teologia hebraica. Nem há evidências de um "empréstimo hebraico" que tivesse sofrido adaptações para ajustar-se à sua cultura. 2. Teoria pambabilânica, Os tabletes cuneiformes babilônicos usam a palavra shabatum para designar o 15" dia do mês, à hora da lua cheia, e tal dia era considerado um dia de pacificação ou apaziguamento do deus (presumivelmente o deus-chefe). Outros dias do mês, especificamente o T, o 14·, o 21" e o 28" (as fases da lua) eram considerados dias do mal ou do azar. Nesses dias até mesmo o rei tinha sua vida limitada: ele não podia andar de carruagem, comer carne assada em fogo, mudar de roupa ou discutir os negócios do Estado. Sacrificios eram oferecidos aos deuses para afastar acidentes e reversões de fortuna. O épico babilônico Enuna elish descreve esses e outros particulares, e lembramos, aqui e ali, o relato bíblico da criação, mas as diferenças são tão grandes que eliminam o possível apoio à teoria do "empréstimo direto". 3. Teoria da festa lunar. O sábado hebraico era originalmente um antigo festival lunar? Alguns estudiosos acham que sim. A própria Bíblia ocasionalmente associa o sábado à lua nova (lI Reis 4.23; Isa. 1.13; Amós 8.5). Um exame cuidadoso de Lev. 23.11,15 parece indicar que a palavra "sábado" pode referir-se ao dia de lua cheia. No paganismo, as fases da lua (lua nova, lua cheia, meia-lua, lua minguante) eram comemoradas com sacrifícios e orações, principalmente para afastar o mal. Os judeus tinham certos sábados fixos, que caiam no dia de lua cheia, a saber, a Páscoa, o banquete dos Tabernáculos e o banquete de Purim, O sábado comum de todas as semanas, contudo, não era vinculado à lua e às fases da lua. Alguns insistem que observações das fases lunares, em um momento posterior, provocaram uma observação semanal que perdeu as conexões lunares originais, mas não há nenhuma evidência que sustente tal opinião. Afirmações Bíblicas 1. O próprio Deus deu origem ao sábado, o dia de descanso, para comemorar seu descanso da atividade de criação (Gên. 2.2). Os conservadores consideram a afirmação de Gênesis como o fim de todos os argumentos sobre a origem do sábado. Os liberais e os críticos, contudo, acreditam que essa é uma afirmação anacrônica que de fato repousava em eventos posteriores ocorridos

nome alternativo de Silim (ver) ou Saruém (ver). São dadas algumas informações sobre o local em Jos. 15.27-32 e 19.2-6. Ambos a identidade e a localização do local são desconhecidas hoje, embora não pudesse ser localizada distante de Gaza e de Berseba. SAARAIM (PESSOA) No hebraico, aurora dupla, nome de um descendente de Benjamim. De acordo com I CrÔ. 8.8, ele teve três mulheres e nove filhos. Na Bíblia em português, seu nome é idêntico a dois locais (discutidos acima), mas o hebreu tem palavras levemente diferentes para designar os locais e a pessoa. O homem assim chamado viveu em Moabe por muitos anos, fazendo dela seu lar adotivo. SAASGAZ Este é um nome persa cujo significado não nos é conhecido hoje. Saasgaz era um eunuco que guardava as concubinas de Assuero, rei da Pérsia. Ester era uma das tais companhias, de acordo com Est. 2.14. Este homem viveu em cerca de 515 a.c. Ver o artigo Eunuco. SAAZIMA Uma vila ou região da tribo de Issacar, localizada entre Tabor e o rio Jordão (Jos. 19.22). Equivale ao nome hebraico para alturas. O local foi identificado como o local que hoje é chamado de Tell el Mekarkash. SABACTANI Ver Eli, Eli, Lama Sabactini. SÁBADO I. Os Termos 11. Caracterização Geral m. Teorias da Origem IV.Observações Bíblicas V. Opiniões sobre a Obrigatoriedade L Os Termos A palavra hebraica sabbat significa descanso ou cessação; provavelmente está relacionada à forma verbal sbt, que significa "trazer a um fim". Alguns estudiosos supõem que a idéia do sábado surgiu na Babilônia, e que o termo hebraico sabbat se relaciona à palavra acadiana (babilônica) sab/pattu, que fala do dia de lua cheia. Esta teoria perdeu aceitação em anos recentes. A palavra grega na Septuaginta é a forma transliterada do hebraico sabbaton, que pode significar especificamente o sábado ou pode referir-se a uma semana inteira. 11. Caracterização Geral O sétimo dia da semana era chamado de sábado e apenas esse dia tinha um nome. Os outros eram designados por números. Não há registro de que o sábado era observado na época patriarcal, embora o início "teológico" esteja relacionado à criação divina de todas as coisas e ao descanso de Deus de seu trabalho (Gên. 2.2). O início histórico na Bíblia é associado ao Pacto Mosaico. Ver o artigo Pactos, onde apresento um resumo dos pactos bíblicos. Observar o sábado tornou-se o próprio sinal do Pacto Mosaico. Ver as anotações introdutórias ao capítulo 19 de Êxodo no Antigo Testamento Interpretado para uma descrição completa. Na teologia hebraica, esse dia sagrado comemorava a criação original e a redenção de Israel do Egito (Gên. 2.2; ~xo. 20.8,11; Deu. 5.15). No início era um dia de descanso, mas gradativamente assumiu outro significado relativo à devoção e piedade. O acúmulo de

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SÁBADO fim de promover a espiritualidade), Rom. 14.1-6. Depois do livro de Atos, a palavra sábado aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (Cal. 2.16; Heb. 4.4). Nesses versículos, o sábado não é apresentado nem promovido como um dia que devesse ser celebrado, mas como um dia típico, como todos os outros que Cristo dá àqueles que nEle acreditam. v.. Opiniões sobre a Obrigatoriedade Batistas do sétimo dia e adventistas do sétimo dia continuam a celebrar o sábado no sétimo dia da semana. Outros cristãos o transformaram no domingo, o primeiro dia da semana, ou seja, um "sábado cristão". Como em todas as polêmicas, devemos lembrar-nos de praticar o amor cristão, que é o maior princípio moral e espiritual de todos. À parte de qualquer obrigação de manter a celebração do sábado que alguém possa emprestar do Antigo Testamento, Paulo informa-nos que é legítimo uma pessoa celebrar dias especiais, se isso for de sua escolha. Por outro lado, a liberdade funciona de outra forma: uma pessoa pode optar por considerar todos os dias iguais (Rom. 14.5,6). Na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, apresento vários artigos que abordam esse tema, portanto minha cobertura aqui é muito breve. Ver o artigo Sabatismo e Observação de Dias Especiais; Sábado Cristão e Sábado Puritano. Ver a exposição sobre certos versículos-chaves do Novo Testamento Interpretado: Rom. 14.5,6; Cal. 2.16; GáI. 4.10. Em Defesa da Observação do Sábado I. Deus santificou o dia (Gên. 2.2). 2. O dia tomou-se um sinal do Pacto Mosaico e o quarto mandamento (Êxo. 19; 20.11). 3. Jesus e a igreja inicial praticavam a celebração, como demonstram várias referências das Escrituras em Atos. Ver Atos 2.46; 5.42; 9.20; 13.14; 14.1; 17.1,2,10; 18.4. 4. A mudança do dia sagrado para o domingo fez parte da apostasia inicial da igreja, particularmente da Igreja Católica Romana. 5. A celebração do dia não é legalista, pois foi estabelecida antes da lei, por ato do próprio Deus, que foi o primeiro a observar o sábado. A Crítica à Celebração do Sábado 1. Gên, 2.2 não estabelece uma regra para os cristãos, ou tal regra certamente teria sido reiterada no Novo Testamento de alguma forma óbvia e definitiva. Os liberais e os crítícos apontam essa referência como uma inserção na história da criação, um fragmento anacrônico que foi emprestado da história de Moisés e inserido no relato da origem das coisas. 2. O simples fato de que o sábado era o sinal do Pacto Mosaico mostra que "ele não pertence ao Novo Pacto. A celebração do sábado é uma forma de legalização que Paulo refutou, pois os crentes não estão sob a lei (Rom. 6.14; Gál. 3.10-23). 3. Naturalmente, a igreja inicial, especialmente na Palestina. celebrava o sábado, pois essa prática descendia das raízes judaicas. Houve um período de transição da antiga à nova ordem das coisas. À medida que a igreja se espalhava aos países gentios, a celebração do sábado perdeu força e praticamente desapareceu. Apo. 1.10 mostra que, mesmo na época dos apóstolos. o domingo, dia do Senhor. substituía o sábado antigo. Ver sob Dia do Senhor,Domingo, na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. 4. Se uma mudança do sábado para o domingo como um dia especial (seja ou não este considerado o "sábado cristão") foi um ato de apostasia, isso ocorreu muito antes da formação da Igreja Católica Romana. O Didache (150 d.C.), uma espécie de manual de ética e doutrina do

na época de Moisés. Nesse caso, a doutrina de que o próprio Deus deu origem ao sábado, imediatamente após a criação, é "idealista" e "teológica", não uma doutrina histórica. Os críticos destacam que o sábado não era observado na época patriarcal. 2. O sábado iniciou como um sinal do Pacto Mosaico (que descrevo na introdução a Êxo. 19, no Antigo

Testamento Interpretado). 3. O sinal foi então transformado no quarto dos Dez Mandamentos (o Decálogo). Ver o artigo Dez Mandamentos. "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar" (Êxo. 20.8). rv Observações Bíblicas Importantes observações bíblicas sobre o sábado são as que seguem. O originador deste dia como o dia de descanso foi Elohim, o Poder, o Deus universal e criador de todas as coisas (Gên. 2.2). A observação do sábado pelos homens, imitando a Deus, transformou-se no sinal do Pacto Mosaico e no quarto dos dez mandamentos (Êxo. capo 19; 20.11). Embora originalmente fosse apenas um dia de descanso, o sábado tornou-se dia sagrado (Êxo. 16.23). Ele passou a ser associado a festas solenes, especialmente aquelas em dia de lua cheia (Amós 8.5; Osé. 2.13; Isa. 1.13). O dia era comemorado, provavelmente, como um dia de louvor, adoração e oração (Lev. 23.1-3). Aqueles que se recusavam a observar o dia arriscavam possível apedrejamento até a morte (Núm. 15.32.36). Muitas vezes a celebração do sábado tornou-se uma formalidade sem que estivesse associada a isso qualquer fé religiosa sentida no coração. Tal degeneração foi denunciada pelos profetas (Isa. 1.12,13). Houve abusos do dia e de suas exigências, abusos que foram combatidos pelos profetas (Jer. 17.21, 22; Eze. 22.8). A assembléia sagrada do sábado exigia que as ofertas diárias fossem dobradas (Núm. 28.9 ss.). A manutenção do dia tomou-se um sinal da lealdade de Israel a Yahweh (o Deus Eterno), como vemos em Isa. 56.2; 58.13; Eze. 20.12,21. O dia deveria ser de deleito e felicidade, não um dia de obrigações infelizes (Núm. 10.10; Isa. 58.13; Osé. 2.11). No período entre o Antigo e o Novo Testamento, ocorreu uma radicalização na celebração do sábado• Na época dos macabeus, muitos preferiam morrer a deixar de celebrar o sábado. Soldados recusavam-se a defender a si mesmos e ao próprio povo naquele dia (I Macabeus 2.32-38; 11 Macabeus 6.11). A tradição judaica posterior permitia que o dia deixasse de ser observado sob circunstâncias de vida ou morte. Perigos que ameaçassem à vida poderiam ser encarados de maneiras que violassem a manutenção da tradição sabática (Yoma 8.6). Mas nem todas as facções do judaísmo seguiram as diretrizes de liberalização. Materiais encontrados no Qumran mostram que os fazendeiros não podiam realizar no sábado atos que preservassem a vida de animais durante parturições complicadas. Se a mãe ou sua cria morresse, o acontecimento era considerado um ato de Deus. Jesus, que vinha de uma região liberal da Galiléia, entrou em conflito direto com as autoridades judaicas por causa de sua aparente falha em cumprir as regras do sábado. De fato, isto aconteceu seis vezes, de acordo com os registros das Escrituras. Ver as referências a seguir: Mal. 12.1-4; 12.5; 12.8; João 5.1-18; 9.1-41; 9.40,41. A regra básica de Jesus era a de que o homem não havia sido feito para o sábado, mas, sim, o sábado havia sido feito para o homem (Mar. 2.27). O ensinamento de Paulo era que, para o cristão, não há dias especiais. Por outro lado, um cristão tem a liberdade de tomar um dia sagrado se fizer isso "para o Senhor" (a

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SÁBADO CRISTÃO - SABATÁ uma observância muíto estrita do domingo, quando nenhum trabalho manual era efetuado, enquanto o dia inteiro era dedicado a atividades religiosas e à adoração. Vários fatores estavam envolvidos: 1. Historicamente, os puritanos seguiam as diretrizes impressas pelos reformadores protestantes, que faziam da lei mosaica uma norma para a conduta cristã, embora negassem que sua observância pudesse justificar ao pecador. 2. Ideologicamente. eles pensavam que a lei continuava em sua função, não podendo perceber que o ministério do Espírito Santo substituiu tal função, e que o chamado «sábado cristão», apesar de nada haver de errado em sua observância, não é um ensino neotestamentário. 3. Praticamente, eles faziam isso a fim de combater a lassidão na conduta cristã que se instalara nos dias anteriores à reforma. 4. Legalmente, o sabatismo dos puritanos adquiriu ímpeto na Inglaterra, entre 1640 e 1660, quando seus pollticos conseguiram eliminar tanto o trabalho manual quanto os jogos em dias de domingo.

cristianismo inicial, fala sobre o domingo como o dia no qual os cristãos se reuniam para o louvor e a oração. O mesmo é real sobre os escritos de Hipólito (160 d.C.) e Clemente de Alexandria (200 d.C.). 5. Embora pareça correto falar sobre a celebração do sábado como anterior à Lei, não sendo ela, portanto, uma prática legal, os versículos de Rom. 14.5,6; Col. 2.16 e Gál. 4.10 parecem colocá-la em tal classe. A celebração do sábado era de extrema importância para os hebreus, um verdadeiro sine qua non da condição de ser hebreu/ judeu; de fato, era o sinal do Pacto Mosaico, e isso diz tudo. Algo tão importante assim dificilmente deixaria de ser reforçado vigorosamente caso se esperasse que os cristãos devessem celebrá-lo. Deixo ao leitor a consulta dos artigos mencionados na seção V para discussões mais detalhadas. Quaisquer discussões desse tipo devem ser deixadas no Altar do Amor, e não representar um teste de espiritualidade ou retidão. Muitos cristãos judeus hoje continuam a observar uma variedade de festas e feriados judeus. Se fizerem isso "para o Senhor", com vistas a ampliar sua espiritualidade, não devem ser criticados por aqueles que consideram todos os dias iguais. Por outro lado, aqueles que não seguem tais celebrações (incluindo aqui o sábado) não devem ser criticados. Certamente não merecem a designação de "hereges" ou apóstatas. A verdadeira espiritualidade não reside em manter nem em ignorar o sábado.

SABAíSMO Esse é o nome dado às crenças de um grupo semicristão da Babilônia. Eles são chamados sabeitas no Alcorão (2:29; 5:73; 22: 17). Outros nomes aplicados a eles são sabianos ou mandeanos. Ver o artigo detalhado intitulado Mandeanos. Eles sobreviveram como uma pequena seita até hoje, afirmando que João Batista é o seu profeta supremo. A doutrina deles é sincretista, uma mescla de idéias.

SÁBADO CRISTÃO Ver sobre Puritanos e Sábado Puritano. Sob esse título, podemos designar duas observâncias: 1. Na Igreja primitiva, nos lugares onde predominava o elemento judaico, naturalmente o sábado judaico continuou a ser observado. E, paralelamente a isso, podemos supor que tenha havido uma consideração especial pelo primeiro dia da semana, visto que esse foi o dia da ressurreição de Jesus. Ver Atos 20:7, I Cor. 16:2, e especialmente, o dia do Senhor, em Apo. 1;10. 2. Gradualmente, o dia do Senhor. como muitos começaram a denominar o domingo, começou a substituir o dia de sábado; e podemos pensar que isso sucedeu, desde tempos bem antigos, nos territórios gentílicos. Legalmente observado, o dia do Senhor ou domingo tornou-se um sábado cristão, conforme ilustro no caso dos puritanos, no respectivo artigo. Constantino, imperador romano (321 d.C.), fez do domingo ou dia do Senhor um feriado oficial, com descanso de todo trabalho manual e com recomendação de que houvesse observâncias religiosas. Os grupos protestantes de tendências legalistas enfatizavam a obrigação de observar o «sábado cristão», utilizando textos de prova, passagens do Antigo Testamento e, especificamente, o decálogo e sua ordem acerca do sábado. O quarto mandamento aparece em Êxo, 20:8-11. O espírito do puritanismo passou para vários ramos da Igreja evangélica. Embora meus pais tenham sido batistas, para eles o dia de domingo era um sábado doméstico, e não podíamos participar de esportes e outras atividades afins. A Igreja era tudo naquele dia, como também praticamente em todos os demais.

SABÃO Do hebraico borith, que pode ser qualquer agente de limpeza. A palavra é encontrada na Bíblia hebraica apenas em Jer. 2.22 e em Mal. 3.2. O termo está relacionado a . bor (Já 9.30; Isa. 1.25), que se refere a aleli (potassa). Esta substância era obtida a partir das cinzas de plantas queimadas. No Oriente, as expressões "cinzas de borite" e "cinzas de quali" referiam-se a agentes de limpeza e podem ser traduzidas como sabão. Muitas plantas produzem substâncias alcalinas quando reduzidas a cinzas, e a Palestina tinha várias dessas espécies, como, por exemplo, a planta que os botânicos chamam de Salsola kali, a qual cresce em abundância próximo ao mar Morto. Outras plantas desse tipo são aAjram, encontrada próximo ao Sinai, e a Saponaria officinalis e a Mesembryanthemum nodiflorum, achadas em várias partes da Palestina. Metaforicamente, agentes de limpeza são usados para falar da purificação dos pecadores. Mar. 9.3 usa o termo lavandeiro para referir-se à gloriosa transfiguração de Jesus, que brilhou com tanta intensidade em seu estado transformado que até mesmo suas roupas assumiram extrema brancura. SABAOTE Ver sob Senhor dos Exércitos e sob Deus. Nomes Bíblicos de. SABATÁ O significado da palavra hebraica é desconhecido. Ela é transliterada como Sabtah. Este era o nome do terceiro filho de Cuxe, cujos descendentes se estabeleceram ao sul da Arábia, norte de Cane, em cerca de 2300 a.C. Ver Gên. 10.7; I Crô. 1.9. Ver sobre Sabtecá, que pode ser uma variação do mesmo nome e faz referência a outro filho de Cuxe.

SÁBADO PURITANO Ver o artigo geral sobre os Puritanos. Essa seita cristã evangélica tinha certos aspectos legalistas com sua demasiada ênfase sobre a Lei de Moisés como orientação para a vida. Tal legalismo incluía a adoção do dia de domingo como se fosse o sábado cristão. Isso envolvia

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SABATARIANISMO - SABATISMO Quanto ao sabatismo, isto é, a idéia de que o sábado é o dia de guarda obrigatório, até mesmo para os crentes do Novo Testamento, existem duas formas diversas, a saber: I. Alguns pensam na observância ininterrupta do sétimo dia como dia de guarda obrigatório, segundo o estilo do judaísmo, conforme fazem algumas seitas evangélicas modernas, tais quais a dos Adventistas do Sétimo Dia e a dos Batistas do Sétimo Dia. 2. Outros pensam que as exigências do antigo sábado judaico devem ser cumpridas pelos cristãos no primeiro dia da semana, ou domingo. Essa idéia se tornou extremamente popular durante a Idade Média, tendo revivido ainda mais fortemente entre os puritanos da Inglaterra, a partir de onde isso se tomou padrão para muitas denominações protestantes. Muitos católicos romanos também mantêm esse ponto de vista, provavelmente como uma herança proveniente da Idade Média. Essa posição se tornou oficial por ocasião da Assembléia de Westminster. Realmente, desde os primeiros séculos da era cristã, a tendência foi nessa direção, pois o imperador Constantino, no ano de 321 d.C., separou o domingo como um dia legal de descanso do trabalho geral. Porém, a idéia de que o domingo deve ser um verdadeiro sábado, isto é, um verdadeiro «descanso», só surgiu muito mais tarde na história do cristianismo. Os pontos fracos da teoria que o sábado é o dia de guarda obrigatório para os cristãos são os seguintes: I. Essa observância jamais é ordenada no Novo Testamento, ao mesmo tempo que os demais nove mandamentos da lei mosaica são constantemente reiterados e salientados. Devemos admitir que não havia necessidade de enfatizar essa prática na igreja de Jerusalém, mas não podemos entender a ausência de tal preceito nos escritos do apóstolo Paulo, que escreveu para igrejas gentílicas, sem tradições sabáticas, pois, se essa observância fosse obrigatória, não podemos duvidar que o apóstolo dos gentios teria ensinado às igrejas a respeito, conforme fez com todas as outras doutrinas verdadeiramente cristãs. Ora, Paulo mesmo declarou: «... jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa» (Atos 20:20). Que o apóstolo dos gentios não ensinou ser necessária a observância do sábado é significativo. Também não há que duvidar que Paulo classificava o sábado dentro da mesma categoria das outras festividades religiosas dos judeus. 2. Deve-se observar, por igual modo, que apesar de haver, em certas mentes modernas, tremenda diferença entre as «leis morais» e as leis cerimoniais, isto é, respectivamente, entre os dez mandamentos e os preceitos rituais dos judeus, contudo, tal distinção jamais fez parte da mentalidade judaica, não sendo encontrada nenhuma declaração bíblica nesse sentido. Muitos judeus consideravam mandamentos importantíssimos, não menos importantes do que os dez mandamentos das tábuas da lei, certas observâncias que consideraríamos triviais, como a lavagem de roupas, mãos, pratos etc. Portanto, a distinção feita por alguns modernos, os quais afirmam que a lei «cerimonial» foi ab-rogada, mas que a «lei moral» não o foi, é uma pretensão inteiramente destituída de provas bíblicas. Pois, nesse caso, é tão fácil eliminar o sábado como é fácil eliminar a lavagem de mãos, pratos etc., com base no ponto de vista da suposta eternidade das leis outorgadas ao antigo povo de Israel. 3. Grande parte da epístola aos Romanos foi especificamente escrita com a finalidade de ensinar-nos que agora não estamos mais debaixo da lei mosaica, e

SABATARIANISMO Este é um título alternativo usado para indicar o sábado cristão. Ver sobre Sábado Cristão. SABATISMO E OBSERVAÇÃO DE DIAS ESPECIAIS Rom. 14:5: Umfaz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Provavelmente esta era uma questão intensamente debatida e talvez mais ainda do que aquela concernente ao regime «vegetariano». A história mostra que não há razão alguma para supormos que a Igreja em Jerusalém tivesse abandonado essas observâncias típicas do judaísmo, senão após a destruição da cidade, que ocorreu no ano 70 d.C. E, mesmo depois desse desastre, é bem provável que muitos convertidos cristãos dentre o judaísmo tivessem dado prosseguimento a tais práticas religiosas, ainda que individualmente, já que não havia mais templo onde levar a efeito tais observâncias. Por todo o livro de Atos encontramos evidências sobre o que aqui dizemos; e até o próprio grande apóstolo Paulo ainda observava pelo menos as grandes festividades religiosas como o Pentecoste, a Páscoa etc. (Ver Atos 2:46 e 3:1 quanto ao caráter judaico da igreja cristã primitiva. Ver Atos 10:9 quanto à questão do legalismo na igreja cristã primitiva. Ver o artigo sobre o tema Domingo. Dia do Senhor, como o dia de adoração.) Não dispomos de meios parajulgar, com base neste texto e com toda a certeza, se Paulo queria incluir ou não o sábado na lista dos vários dias especiais que os irmãos «fracos na fé» insistiam em observar. Não restam dúvidas de que pelo menos alguns elementos da igreja primitiva, embora cristãos, tenham continuado a observar e guardar o sétimo dia da semana. Os costumes antigos só morrem lentamente; e muitos dos cristãos primitivos continuaram honrando o sétimo dia da semana, considerando uma obrigação religiosa observá-lo. Isso se verificou na igreja de Jerusalém, e é provável que tenha ocorrido outro tanto até mesmo entre crentes puramente gentílicos e em centros gentílicos. É interessante a observação de que alguns crentes primitivos observavam tanto o sétimo como o primeiro dia da semana, embora por razões diversas: guardavam o sétimo dia por causa da tradição do Antigo Testamento; e guardavam o domingo por causa da ressurreição de Cristo, que se dera no primeiro dia da semana. Contudo, o domingo era amplamente observado desde os primeiros dias do cristianismo. Clemente de Alexandria (200 d.C.) e Hipólito (160 d.C.) referiam-se a cristãos que observavam o primeiro dia da semana, tendo havido uma prática continuada dessa norma, desde os dias dos apóstolos até os primeiros dos chamados pais da igreja. O famoso Didache (escritos de cristãos primitivos, cujo título significa «Ensinamento») também menciona este fato. Esse documento data de cerca de 150 d.e. O Didache foi uma espécie de manual da vida e dos princípios morais da igreja cristã primitiva, o que prova, além de qualquer sombra de dúvida, que a adoração no primeiro dia da semana ou «domingo» não foi criação de nenhum papa medieval ou de algum concílio da Igreja Católica Romana, conforme alguns religiosos têm proclamado, embora não possam prová-lo. O que algum papa ou concílio fez, foi tão-somente confirmar uma prática que vinha sendo observada entre os cristãos desde longa data. Nem tudo o que a Igreja Católica Romana tem decretado é de criação medieval ou recente, pois às vezes ela apenas tem confirmado práticas religiosas consagradas pelo uso cristão de muitos séculos.

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SABATISMO domingo, como se este houvesse substituído o sábado, dentro da nova economia da graça divina. Por isso mesmo disse Alford (in loc.): «A inferência óbvia, dessa linha de argumentação, é que ele (Paulo) não reconhecia nenhuma obrigação como essa 'da guarda de algum dia especial', mas, antes, cria que, para os crentes, sobretudo os 'fortes na fé', todos os dias são iguais». Essas palavras refletem a verdadeira doutrina paulina, e o «sabatismo» labora em erro como princípio doutrinário, ainda que venha sendo preservado por algumas seitas cristãs. Não obstante, cumpre-nos respeitar a história eclesiástica e suas tradições, mas não tão rígida e rigorosamente como alguns querem fazê-lo. Por isso, seguindo o exemplo da igreja primitiva, reunimo-nos geralmente no domingo, quando então efetuamos nossos principais ritos -- e nossos cultos mais importantes. Fazemos isso não por necessidade, nem por «imposição legal», mas, sim, meramente por ser uma tradição neotestamentária. Porém, a despeito disso, não tentamos fazer do domingo alguma espécie de «sábado». «Visto os homens terem sido erroneamente ensinados ou influenciados, ou pelos cristãos judaizantes, dos primeiros séculos do cristianismo, ou infelizmente, pelos reformadores e puritanos, desde a reforma protestante, a maioria dos evangélicos reputa o primeiro dia da semana como um 'sábado semanal', como um 'dia santo', embora isso derrote totalmente o seu uso apropriado. Substitui a doce palavra 'privilégio', própria do sistema da graça, por um duro vocábulo legal dever» (Newell, in loc.). «O chamado ensinamento puritano, quanto a este particular, tem sido denominado, e com muita razão, de 'teologia adúltera', porquanto tem procurado casar os crentes a dois maridos, à lei e a Cristo» (Scofield). Já desde o ano de 115 d.C., Inácio (martirizado nesse ano) mencionou que os crentes não mais observavam o «sábado», e, sim, o «Dia do Senhor», «... de quem a nossa vida, na qualidade de ressuscitados por meio dele, depende». Justino Mártir, que deu sua vida em cerca de 168 d.C., quando foi repreendido por Trifo, por ter 'desistido do sábado', retrucou: «Como podemos guardar o sábado, se descansamos do pecado todos os dias da semana?». Apesar de o primeiro dia da semana ter sido assim honrado, e apesar de o dia de sábado ter passado para os registros históricos como um dia religioso especial, o primeiro dia da semana de maneira alguma assumiu o caráter do antigo sábado. Pelo contrário, cabe-nos o privilégio de honrar a Cristo e à sua ressurreição, reunindo-nos no primeiro dia da semana. E poderíamos fazer isso em qualquer outro dia, sem com isso desobedecermos a qualquer lei moral, embora com isso criássemos uma tradição de muito menor valor histórico. Cada um Tenha Opinião. É interessante que Paulo não proíbe a ninguém reunir-se em dia de sábado e observar sua guarda, como também não proíbe nenhum outro dia. Aquele que porventura queira guardar o dia de sábado, que o faça, para glória do Senhor; e aqueles que se reunirem em outro dia qualquer, ou todos os dias, sem destacar um dia como especial, que também o façam para a glória do Senhor. Nenhuma dessas coisas será jamais condenada por Deus, embora surjam muitos críticos humanos. Moisésjamais poderia ter dito: «Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente». Mas o apóstolo Paulo, o grande defensor do sistema da graça, pôde fazertal declaração, sendo esse um dos grandes lemas da igreja cristã, o que concorda mui harmoniosamente com a liberdade cristã, porquanto não estamos debaixo da escravidão.

que, de fato, os gentios nunca estiveram. Essa é a lei que os judeus imaginavam lhes servir de instrumento de salvação, e várias referências bíblicas mostram que o apóstolo Paulo incluiu nessa categoria tanto os aspectos morais como os aspectos cerimoniais da lei mosaica. Sendo um bom judeu, Paulo não teria estabelecido diferença entre «leis morais» e «leis cerimoniais», conforme se tornou usual hoje em dia fazer. Pode-se observar, no décimo terceiro capítulo da epístola aos Romanos, que a lei que é cumprida pelo amor é aquela que proíbe o adultério, o furto etc.; e essa não é a chamada «lei cerimonial», mas, sim, aquela que é cumprida dentro do sistema da graça, mediante o amor. A lei discutida por Paulo, no segundo capítulo da epístola aos Romanos, é bem definida em seus aspectos «morais», embora não exclusivamente. Podemos notar que Rom. 2:20-22 é convincente quanto a esse ponto. O exame inteiro da lei e do pecado até o fim do terceiro capítulo desta epístola, onde Paulo começa a mostrar a verdade da justificação pela fé, aborda questões «morais», e não meramente cerimoniais. No entanto, em Rom. 3:28, Paulo diz claramente que um homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei; e isso não elimina a lei, mas antes, confirma-a, ou seja, através de seu uso apropriado, revela o pecado. Com isso se pode comparar o trecho de Rom. 3: 10-12. E os vss. 24 e 25 desse mesmo terceiro capítulo de Romanos mostram-nos que não mais estamos debaixo da lei. Sendo esse o caso, dificilmente pode-se pensar que o dia de sábado continua sendo um preceito obrigatório para os crentes do Novo Testamento. Sumariando: A despeito de todos os preceitos morais da lei serem reiterados no Novo Testamento, como reflexos da moralidade que se espera da parte dos crentes, ainda que essa moralidade só possa ser obtida mediante a graça divina, devido à influência íntima do Espírito de Deus, e não através de observâncias legalistas, contudo o sábado jamais é reiterado no Novo Testamento como algo obrigatório para os crentes. 4. Também não estamos obrigados a observar algum suposto sábado cristão. A exposição feita por Paulo, neste ponto de sua epístola aos Romanos, indica que nenhum dia é mais santo do que qualquer outro dia. Podemos ver, no trecho de Cal. 2: 16, que o «sábado» foi incluído naqueles itens referentes aos quais não devemos permitir que os homens nos julguem. Fazer com que essas palavras do apóstolo se refiram aos «sábados» ou grandes festividades religiosas dos judeus não reflete uma boa exegese, embora a idéia também deva incluir necessariamente esse pensamento. É verdade que a palavra em foco, «sábados», é usada no plural, em Cal. 2: 16; mas o plural era com freqüência utilizado nas Escrituras, como se fosse o singular. (No Antigo Testamento, ver os trechos de Êxo. 20:8 e Deu. 5: 12 e, no Novo Testamento, ver Mat. 12:1,5, 10-12; 28: 1; Mar. 1:21). O plural era geralmente usado a fim de destacar a importância do dia, não necessariamente para indicar pluralidade, o que, de resto, era um truque lingüístico muito próprio e comum da língua hebraica. Outrossim, mesmo que o plural, referido em CoI. 2: 16, fizesse alusão a diversos sábados. nem por isso deixaria de incluir o sábado. O apóstolo Paulo nos ensina, aqui em Rom. 14:5, que nenhum dia é especial por si mesmo. O domingo não é o «sábado cristão», conforme muitos o têm chamado, e não é mais obrigatório nem mais digno de maior atenção do que o sábado (ou mesmo do que qualquer outro dia da semana). Os crentes primitivos se reuniam no primeiro dia da semana, ou domingo, conforme se verifica em várias passagens, desde que o Senhor Jesus se ausentou deles. Mas o próprio Novo Testamento não ensina que devemos guardar o

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SABATISMO - SABEDORIA (também no Dicionário): a força criativa, pessoal ou impessoal, abandonou sua criação às mãos da leis naturais. A sabedoria pode ser destreza mecânica e habilidade nos trabalhos manuais (Êxo. 28.3); a arte dos mágicos (Gên. 41.8; Êxo. 7.11); sagacidade, aprendizado, experiência, aplicação do conhecimento (Já 12.2; 38.37; Sal. 105.22); as filosofias engenhosas dos pagãos (I Cor. 1.20; 2.5; 3.19). A sabedoria é um atributo de Deus (I Tim, 1.17; Jud. 25) e um presente especial de Deus ao homem (Atos 6.10; I Cor. 2.6; 12.8; Efé, 1.17; Tia. 1.5; 3.15-17). Jesus, o Cristo, era a sabedoria personificada (l Cor. 1.30). A sabedoria era tratada como uma Senhora Nobre que é tanto profetisa quanto professora (Pro. 1.20-33; 9.1-6). Esta mulher é mãe e esposa, e pode tomar-se irmã de alguém (Cantares de Salomão; Pro. 7.4; 31.1 O). Como esposa e mulher, é uma boa conselheira e mestra (Pro. 8.6-10, 14). É contrastada com a mulher ignorante e profana (Pro. 9.13-18). A Boa Senhora "seduz" aos bons pensamentos e atos; a senhora ignorante está interessada apenas no corpo, em seus apetites e adornos (Pro. 2.16; 5.3-20; 7.5-27). Este motivo de Sabedoria Feminina repete-se em outros livros judaicos, como Sabedoria de Salomão, Siraque, Baruque e em algumas passagens dos materiais do Qumran. 111. A Maior Fonte de Toda Sabedoria " ... ao Rei eterno, imortal, invisivel, único Deus" (I Tim. 1.17); "... o único Deus, nosso Salvador" (Jud. 25). O teísmo bíblico representa Deus como o dono de qualidades humanas mais nobres em grau infinito. Platão transformou a sabedoria em um de seus "universais", a partir da qual fluem todas as manifestações inferiores da mesma qualidade, e isto está em consonância com o pensamento bíblico. A sabedoria é atribuída à Deidade (I Reis 3.28; Isa. 10.13; 31.2; Jer. 10.12; 51.15; Dan. 5.11). Deus tomou conhecida Sua sabedoria na natureza e na revelação. Ele a abre à intuição humana se um homem for piedoso e estiver em busca de um caminho mais alto (Rom. 11.33; I Cor. 1.24,26; Tia. 1.5; Apo. 7.12; Atos 6.10; Efé. 1.17; Col. 1.9; 3.16). Logicamente, a despeito das revelações, a sabedoria divina não pode ser alcançada pelo homem em nenhum sentido completo, mas é meramente um aspecto da salvação do homem (o ser finito, em constante movimento em direção a Deus, o Infinito). Esse é um processo eterno. Ver as anotações sobre II Cor. 3.18 no Novo Testamento Interpretado. Como há uma infinidade a ser preenchida, deve também haver um preenchimento infinito. IV. A Unidade da Verdade Os patriarcas da igreja primitiva, particularmente aqueles da igreja oriental que foram influenciados pela filosofia grega, descreveram toda a verdade como uma unidade regida divinamente. Deus, a fonte da verdade, é encontrado em todos os ramos do conhecimento e é o objeto real de todo o conhecimento. Isto significa que mesmo o chamado "conhecimento secular" é, de fato, apenas um ramo da teologia. Todas as disciplinas meramente tentam seguir o raciocínio divino e, quanto mais descobrem, mais revelam o intricado trabalho da mente divina. Se estudo biologia, descubro, em um grau pequeno, como Deus operou nas coisas vivas. Se estudo matemática, descubro um pouco sobre o Grande Matemático. Deus é o Grande Intelecto, e eu sou um intelecto pequeno recortado, eu poderia dizer, do mesmo molde, uma pequena fagulha da Faísca Infinita. Um livro de sabedoria como Provérbios não descansa em revelações divinas dogmáticas, mas é um livro da busca humana pela compreensão e pela sabedoria do modo que isso se aplica à vida diária. O livro presume que pode ser

«No que concerne à observância de dias e anos, podemos comparar esta passagem com os trechos de Gál. 4: 10 e Cal. 2: 16. Essas passagens, consideradas conjuntamente, dão-nos a entender claramente que a observância de dias especiais não conta com nenhuma sanção absoluta, mas é puramente uma questão de expediente religioso. Entretanto, isso é base suficiente sobre o que nos escudamos, e a experiência parece favorecer algum sistema como aquele adotado pela nossa própria igreja cristã» (Sanday, in loc.). Paulo não toma decisão a respeito dessa questão, pois, para ele, tratava-se de uma daquelas questões indiferentes. No entanto, objetava contra as pessoas que tentavam forçar suas opiniões a outras, exagerando a importância da observância de certo dia ou dias. Também condenou os crentes da Galácia por agirem desse modo, onde assumiu uma atitude negativa sobre a questão, em vez de uma atitude neutra, devido aos exageros com que aqueles crentes se tinham aferrado às antigas práticas judaicas. Isso era prejudicial para os conceitos da graça gratuita naquela localidade. (Ver Gál. 4:9 e ss.). Tais observâncias ameaçavam destruir o trabalho do apóstolo dos gentios entre os gálatas. No que diz respeito aos crentes de Roma, Paulo fazia objeção mais cerrada acerca da controvérsia provocada pelas observâncias de dias religiosos especiais, controvérsia essa que destruíra o espírito de amor e unidade nas igrejas da Galácia. Podemos notar aqui a ênfase sobre as questões de consciência. Paulo confiava que esse elemento da natureza humana, dado por Deus, mediante consideração cautelosa, e com a orientação do Espírito Santo, era capaz de mostrar o curso de ação que o crente deve tomar. SABEDORIA 1. Termos Relativos aos Tipos de Sabedoria 11. Caracterização Geral m. A Maior Fonte de Toda a Sabedoria IV. A Unidade da Verdade V. Fontes Secundárias de Sabedoria VI. Literatura sobre a Sabedoria VII. Sabedoria de Acordo com a Filosofia I. Termos Relativos aos Tipos de Sabedoria I. Chokmah (também transliterado como hokmah): habilidade ou destreza na arte (Exo. 28.3; 31.6, et ai.); habilidade mais elevada de raciocínio, prudência, inteligência (Deu.4.6; 34:9; Pro. 10.1, et ai.). 2. Sakal, ser prudente, circunspecto (l Sam. 18.30;Jó 22.2, et al)o 3. Tushiyah, retidão, bom conselho e compreensão (Já 11.6; 12.16; Pro. 3.21, etal.). 4. Binah, compreensão, introspeção, inteligência (Pro. 4.7; 5.5; 39.26; Deu. 4.6; I Crô. 12.32; Dan. 1.20; 9.22; 10.1, et ai.). 5. Sophia (no Novo Testamento), palavra geral para todos os tipos de sabedoria, divina e humana (Luc. 1.17; 11.31,49; Atos 6.3,1O;,Rom. 11.31;I Cor. 1.17,19; Efé. 1.8,17;Tia. 1.5; 3.13,15, 17; IIPed. 3.15;Apo. 5.12; 13.18; 17.9,etal.). n. Caracterização Geral Ter sabedoria é pensar bem e agir bem em qualquer empreendimento realizado, seja secular ou espiritual. Deus é a principal fonte de todo o bom pensamento e óe toda a boa realização, pois seu espírito vive no homem, é expresso nele e conduz O caminho. Ver o artigo Teismo: O Criador permanece com Sua criação, orientando, dando recompensas e punindo. Contraste isto com Deísmo

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SABEDORIA apresenta artigos separados sobre os livros mencionados a seguir, e este Dicionário do Antigo Testamento Interpretado repete os artigos relacionados ao Antigo Testamento. Portanto, apresento aqui um breve resumo. Canônica 1. Alguns dos salmos são composições de literatura de sabedoria. Há 18 classificações dos Salmos, uma das quais é "literatura de sabedoria". Ver a introdução àquele livro. Os Salmos 19, 104 e 147 são notáveis salmos de sabedoria. 2. Provérbios é o principal livro de sabedoria do Antigo Testamento e fornece os melhores ditados sábios de rabinos que tocam em cada aspecto da vida humana. Ver a introdução àquele livro para maiores detalhes. 3. O livro de J6 examina o problema do significado do "louvor desinteressado": O louvor de Deus que não promete nenhuma recompensa pessoal ao fiel. O conceito (errôneo) por trás disso é o voluntarismo (ver a respeito na Enciclopédia e no Dicionário). Jó e o único livro bíblico que examina com maior profundidade o Problema do Mal (ver a Enciclopédia e no Dicionário). "Por que os homens sofrem e por que sofrem como sofrem?" Apenas um claro entendimento da sabedoria de Deus poderia informar-nos do "porquê" do sofrimento. Jó tem algumas respostas, mas deixa muitas perguntas em aberto. Ver a Introdução ao livro para maiores detalhes. Jó nega que todo o sofrimento deriva da operação da lei da colheita de acordo com a semeadura. 4. Eclesiastes é um tipo de livro anti-sabedoria, que acaba por informar-nos que a busca da sabedoria é fútil. O summum bonum (bem mais alto) do homem são os pequenos prazeres da vida, mas esses também têm valor falso. O livro é pessimista, niilista e céptico, e, de fato, um tratado negativo, parecido com a visão grega da sabedoria, em vez de mostrar a visão ortodoxa hebraica. Ver a Introdução ao livro para um tratamento mais completo do assunto. 5. No Novo Testamento temos a sabedoria divina propagada em muitos dos dizeres de Jesus e Paulo. Tiago é do mesmo estilo do Antigo Testamento, que se enquadra virtualmente por inteiro nesta categoria. Ver a Introdução do livro para maiores detalhes. Não-canônica 1. Eclesiástico, atribuído a Jesus, filho de Siraque (chamado de Sabedoria de Siraque), é semelhante ao livro canônico de Provérbios. A vida ideal é apresentada em muitos dizeres sábios. Ver o artigo sobre esse livro para maiores detalhes. Tal livro é chamado de apócrifo pelos protestantes e evangélicos e não foi mantido no cânon palestino. A Septuaginta, contudo, contém o livro e os católicos romanos o aceitam como canônico. Portanto, podemos dizer que era (é) um livro autoritário do cânon alexandrino. 2. A Sabedoria de Salomão tem o mesmo status canônico e não-canônico de Eclesiástico, e é considerado o melhor desses livros por muitos estudiosos. Ver os artigos a respeito desse livro na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia e no Dicionário do Antigo Testamento Interpretado. O livro combina conceitos da sabedoria do Antigo Testamento com aqueles dos melhores filósofos gregos. Enquanto a literatura de sabedoria do Antigo Testamento não menciona as grandes histórias dos livros históricos do Antigo Testamento, nem os pactos, nem faz apelos diretos à lei etc., é ir longe demais chamá-la de "corpo estranho de literatura" dentro do cânon do Antigo Testamento. É verdade que esses livros representam a busca humana pela sabedoria sem a intrusão contínua da

feito progresso significativo em direção à sabedoria pelos homens piedosos e diligentes, mesmo sem o auxílio da revelação. Um livro de sabedoria negativa como Eclesiastes presume que a busca é fútil, mas podemos divertir-nos com ela, participando nos pequenos prazeres da vida que são o summum bonum do homem, ainda que fúteis. A religião natural é uma busca legítima e útil, pois Deus está em tudo, deixando pegadas a serem seguidas por aqueles que estão em uma busca honesta. Tudo é a mão de Deus estendendo-se ao homem, mas o homem deve buscar o Divino através do estudo, da oração e da piedade. A verdade mais alta e unificadora. Um grande princípio que rege toda a busca humana é a lei do amor, que inicia no amor a Deus e continua sua manifestação do homem pelo homem. Esta é a base de toda a vida e do viver, de todo o conhecimento e sabedoria. Um homem pode exercítar todos os dons espirituais, mas, se não tiver amor, ele nada é (I Cor. 13).

Amor divino. todos os amores em excelência, Alegria dos céus à terra desceu; Coloque em nós sua habitação humilde; Todas suas misericórdias fiéis coroe. (Charles Wesley) A canção popular expressa o princípio: "A maior coisa que você jamais aprenderá é apenas amar e ser amado em retorno". O homem sábio é aquele que aprendeu esse "segredo" e o pratica. V. Fontes Secundárias de Sabedoria Bíblica 1. Os profetas do Antigo Testamento trouxeram uma revelação preliminar que foi a fonte de alguma sabedoria. Eles não eram sábios a seus próprios olhos, como eram os falsos profetas (Jer. 9.23; Isa, 5.21). Ver a sabedoria de Deus personificada em Pro. 8.22-31. 2. Outras personagens do Antigo Testamento, como os autores dos diversos livros, incluindo a literatura de sabedoria do Antigo Testamento: alguns salmos, Jó, Eclesiastes; Provérbios. 3. O Logos inspirou esses instrumentos de sabedoria, mas apresentou o Messias, Filho Divino, como instrumento especial. Ele era o reveladorde Deus (João 1.1-5, 18). Nele (o Lagos-Messias) estão escondidos em todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cal. 2.3). 4. Os ministros do Evangelho, especificamente os apóstolos, trouxeram novos livros que elucidaram um conhecimento mais alto sobre Deus e propagaram uma sabedoria mais elevada. 5. Tais instrumentos (Antigo e Novo Testamento) falavam através de sabedoria acumulada, aprendida, mas também tinham a vantagem da revelação. Ver o artigo com esse título e ver também Atos 6.10; I Cor. 2.6; Efé. 1.17; Cal. 1.9; 11 Tim. 3.16. Não-bíblicas 1. Filósofos e homens sagrados de tradições religiosas externas à herança hebraico-cristã, mas ainda operando como instrumentos do Logos, de acordo com a unidade do conceito de verdade. Ver a seção IV deste artigo. 2. Cientistas e homens de todos os ramos que trabalham bem e trazem novo conhecimento e diversas aplicações desse conhecimento para o bem do homem. Às vezes os poetas têm sabedoria intuitiva. O Logos emprega muitos instrumentos para o beneficio do homem, e nenhum campo do conhecimento está totalmente destituído de sabedoria. VI. Literatura sobre a Sabedoria A Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia

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SABEDORIA - SABEDORIA DE DEUS E fechar os olhos para a visão interior. Mas é sabedoria acreditar no coração. Colombo achou um mundo. e não tinha mapa; Confiar na empresa invencivel da alma Era toda a sua ciência. toda a sua arte. Nosso conhecimento é uma tocha fumegante Que ilumina o caminho um passo de cada vez. Através de um vazio de mistério e espanto. Ordena. pois. que brilhe a luz terna da fé, A única capaz de dirigir nosso coração mortal Aos pensamentos sobre as coisas divinas. (George Santayana)

revelação para explicar todas as coisas. Ao mesmo tempo, muitos dos dizeres são elaborações dos conceitos básicos da lei de Moisés. Os livros representam quatro categorias: natural, experimental, judicial e teológica, que obviamente vão além da dependência contínua da revelação, que é encontrada em grande parte do Antigo Testamento. Em concordância com o restante do Antigo Testamento, esses livros têm forte fundamentação antropocêntrica e uma interpretação enfaticamente teísta da vida. Problemas humanos, como vida longa, saúde, riqueza, crianças, ambições terrenas, são os principais assuntos, e a busca depende do intelecto e da intuição, em vez de depender da revelação divina. Portanto, esses livros de certo modo representam a filosofia da religião natural. Contudo, dizer que são apenas dessa natureza seria certamente um grande exagero. Ver na Enciclopédia de Biblia, Teologia e Filosofia o artigo Religião, m. Tipos de Religião, 5. Natural. VII. Sabedoria de Acordo com a Filosofia 1. Platão fazia da "sabedoria" uma das quatro principais virtudes, juntamente com a coragem, a temperança e a justiça. A sabedoria é o conhecimento do todo, bem como a capacidade de aplicar esse conhecimento de forma correta e justa, em qualquer situação dada. Segundo ele, o rei-filósofo deveria ser treinado para não somente ser o homem mais sábio, mas também o mais justo, o que o qualificaria a governar. A sabedoria deve proceder do mundo das idéias, porquanto todas as qualidades, das maiores às menores, são apenas imitações ou reflexos deste mundo material e da percepção dos sentidos. Assim sendo, em última análise, a sabedoria é uma qualidade divina inerente que os homens possuem em certo grau e que têm a obrigação moral de cultivar. 2. Aristóteles falava sobre a sabedoria especulativa e sobre a sabedoria prática, refletindo, assim, a diferença entre sophia e phránesis. A sabedoria especulativa (que poderíamos designar aqui como "sabedoria") requer a aplicação de rigorosa filosofia e de um raciocínio bem controlado, a busca das causas primeiras e dos princípios. Essa pesquisa pode ser vista de modo mais proeminente na teologia e então na metajisica, também conhecida como a primeira filosofia. A sabedoria prática corresponde à phrànesis, "prudência", de Aristóteles, e relaciona-se à conduta prudente na vida diária. 3. Os filósofos cirenaicos, epicureus e estóicos enfatizavam a phrônesis, ou seja, a sabedoria prática. 4. Tomás de Aquino cristianizou a idéia de Aristóteles, preservando a distinção entre a sabedoria especulativa e a sabedoria prática. Ele via a principal expressão da sabedoria especulativa na teologia revelada e nas operações iluminadoras do Espírito Santo. 5. Nicolau de Cusa não se impressionava muito diante da sabedoria humana, preferindo chamá-Ia de "ignorância informada". 6. Spinosa tinha sua própria divisão dupla. Ele falava sobre a ratio, "razão", relacionada ao conhecimento e às leis científicas, e sobre ascientia intuitiva, "conhecimento intuitivo", através da qual o indivíduo pode chegar a "ver" o universal em todos os particulares da existência. Esta seria a verdadeira sabedoria, mediante a qual o indivíduo compreenderia as essências e significados da existência e do ser, ou seja, "a vida sob o aspecto da eternidade".

SABEDORIA, LIVRO DE Ver sobre Sabedoria de Salomão. SABEDORIA DE DEUS Esboço: I. Idéias Gerais 11. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria m. Referências e Idéias. A Sabedoria de Deus IV. A Multiforme Sabedoria de Deus se Toma Conhecida (Efé.3:10) I. Idéias Gerais

I. Essa sabedoria é um dos atributos divinos (ver I Sam. 2:3); é insondável (ver Rom. 11 :33); e é a base de toda a bondade humana, sobretudo do bem-estar espiritual, particularizando-se a salvação (ver Efé. 1:8). 2. O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7). 3. Paulo fez contraste entre a sabedoria humana (ensinada na filosofia) e a sabedoria de Deus (que se manifesta na mensagem do evangelho). A sabedoria humana gera o orgulho; a sabedoria divina conduz à salvação da alma. 4. A sabedoria divina se manifesta em Cristo (ver o artigo sobre Sabedoria). 5. O próprio Cristo é a personificação. da sabedoria divina, conforme ensinado em I Cor. 1:30. E Cristo quem proporciona aos homens os beneficios prometidos pela sabedoria divina. Tudo quanto os homens podem conhecer acerca da verdadeira sabedoria. precisam conhecer em Cristo; pois, para os homens, Cristo é a sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é demonstrada no seu plano, relativo à redenção da humanidade, plano esse que concretiza algo que a sabedoria humana sob hipótese nenhuma poderia concretizar. E a palavra ou a mensagem da cruz é o tema central dessa sabedoria (ver I Cor. I: 18). Por igual modo, essa sabedoria é a única que permanecera de pé sob o teste do juízo divino (ver I Cor. I: 19). Através da sabedoria de Deus é que o mundo inteiro pode ser potencialmente salvo (ver I Cor. 1:31). Tudo isso pode parecer um escândalo, uma insensatez e uma pedra de tropeço para os homens (ver I Cor. 1:22-23), mas Jesus Cristo é a própria personificação da sabedoria de Deus (ver I Cor. I :24,30). A grande verdade é que a sabedoria de Deus, que tantos homens reputam como insensatez, é mais sábia que a sabedoria humana, porquanto cumpre aquilo que o engenho humano está impossibilitado de fazer (ver I Cor. I:25). Mas esse cumprimento só se verifica no caso de homens humildes, que reconhecem sua ignorância espiritual; pois Deus dá iluminação espiritual a esses, mas resiste aos soberbos (ver I Cor. I :26-28). Sim, Cristo é a verdadeira sabedoria de Deus, fazendo violento contraste com a falsa sabedoria humana.

Fé Oh. Mundo. não escolhestes a melhor parte! Não é sábio ser apenas sábio.

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SABEDORIA DE DEUS - SABEDORIA DE SALOMÃO 11. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria 1. Mediante os seus decretos, baixados desde a eternidade. 2. Mediante a encarnação do Filho de Deus. 3. Mediante o ministério terreno de Jesus Cristo. 4. Mediante a sua exaltação à mão direita de Deus Pai, onde foi feito Senhor e Cristo, e de onde brande toda a autoridade, nos céus e na terra, segundo também lemos em Mat. 28: 18. Ora, todos esses aspectos estavam designados de antemão com o propósito de produzir a redenção humana. 111. Referências e Idéias. A Sabedoria de Deus 1. A sabedoria de Deus é um de seus atributos (ver I Sam. 2:3 e Jó 9:4). 2. A sabedoria de Deus é descrita como perfeita (ver Jó 36:4 e 37: 16).3. É poderosa (ver Jó 36:5). 4. É universal (ver Jó 28:24; Dan. 2:22 e Atos 15: 18). 5. É infinita (ver Sal 147:5 e Rorn, 11:3).6. É insondável (ver Isa. 40:28 e Rom. 11:33). 7. É maravilhosa (ver Sal. 139:6). 8. Ultrapassa a compreensão humana (ver Sal 139:6).9. É incomparável (ver Isa. 44:7 e Jer. 10:7). 10. Não é derivada (ver Jó 21 :22 e Isa. 40:44). 11. O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7). 12. A sabedoria dos santos é derivada da sabedoria de Deus (ver Esd. 7: 25). 13. Toda a sabedoria humana deriva da sabedoria divina (ver Dan. 2:2). IV. A Multiforme Sabedoria de Deus se Torna Conhecida (Efé. 3: 10) A palavra multiforme deriva do termo grego polupoikilos, em forma adjetivada encontrada somente aqui em todo o Novo Testamento, cujo significado é «variegado», «multilateral», usado para indicar quadros, flores e vestimentas de várias cores. Na versão da Septuaginta (tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã), a capa de «muitas cores» presenteada por Jacó a José é descrita por palavra (ver Gên. 37:3). Esse vocábulo pinta a sabedoria divina como algo que tem muitíssimas facetas com os mais variados modos de manifestação e expressão, por ser algo que é digno de ser contemplado, devido a suas muitas e excelentes variações e realizações. Gregório de Nissa (ver Hom. viii, sobre Cantares de Salomão) nos fornece uma notável interpretação, a que - vários expositores - aludem. Diz ele: «Antes da encarnação de nosso Salvador, os poderes celestiais conheciam a sabedoria de Deus como algo simples e uniforme, que efetuava maravilhas de modo consoante com a natureza de cada coisa. Nada havia de poikilon (multiforme, multicolorido). Mas agora, por meio da oikonomia (dispensação, plano) que diz respeito à igreja e à raça humana, a sabedoria de Deus não é mais conhecida como algo uniforme, e, sim, como algo polupoikilos (multiforme, variegado), produzindo contrários por meio de contrastes, mediante a morte, a vida, a desonra, a glória, o pecado e a retidão; mediante a maldição e a bênção; mediante a fraqueza e o poder. O invisível se manifestou em carne. Veio para remir cativos, sendo ele mesmo o adquiridor, e sendo ele mesmo o preço» (lD lB LAN NTI). SABEDORIA DE JESUS Ver sobre Eclesiástico. SABEDORIA DE SALOMÃO I. Títulos 11. Status Canônico m. Caracterização Geral IV.Autor e Data

V. Conteúdo Vl.Influências I. Títulos Este livro, falsamente atribuído a Salomão, recebeu diversos títulos diferentes: a Septuaginta diz Sophia Salomonos (Sabedoria de Salomão); as traduções Latina e Vulgata apresentam Livro de Sabedoria; a igrej a antiga, em sua maioria, favorecia o título latino; Clemente de Alexandria deu o nome Sabedoria Divina, que Orígenes também favorecia; Agostinho o chamava de Livro de Sabedoria Cristã. Não há um título hebraico, pois o livro foi escrito em grego. Ao contrário da Torá e dos Profetas, os livros de sabedoria (ver Sabedoria, cujo artigo inclui anotações sobre a Literatura de Sabedoria) não eram produtos de guardiães autoritários do cânon do Antigo Testamento, nem seus autores eram considerados profetas (os porta-vozes de Deus), mas perspicazes observadores e comentaristas que empregavam; principalmente, o mashal, ou provérbio. Seus ensinamentos cobriam ampla gama de assuntos de interesse à vida humana, e os estilos literários eram variados. lI. Status Canônico O cânon hebraico (palestino) rejeitou este livro, atitude que foi seguida por evangélicos e protestantes. Seria impensável para os judeus da Palestina aceitar um relato dos judeus da dispersão escrito ~m grego. Mas era natural para os judeus da Dispersão que utilizaram tais relatos aceitar certos livros. Este livro é encontrado na Septuaginta, o mesmo ocorrendo no chamado cânon alexandrino. Esta sugestão foi seguida pela Igreja Católica Romana, que chama o livro de canônico, enquanto os protestantes o denominam apócrifo. O Concílio de Trento (ver) não hesitou em incluir o livro na Biblia Católica Romana. Várias versões antigas, além da grega (Septuaginta), também incluíam o livro, a saber, as versões latina, siríaca e armênia. Várias patriarcas da igreja inicial tanto do Oriente como do Ocidente atribuiam ao livro status canônico, como Clemente de Alexandria, Origenes, Eusébio e Agostinho. O livro também aparece na lista canônica do fragmento Muratoriano, que era, contudo, uma lista de livros canônicos do Novo Testamento! IH. Caracterização Geral Como vimos, um grande segmento da igreja cristã aceitou este livro como canônico, seguindo o chamado cânon alexandrino, que é exemplificado na Septuaginta. Mesmo aqueles que o consideraram apócrifo de modo geral reconheceram o grande valor deste livro e muitas vezes o apontaram como o melhor dos trabalhos apócrifos. Há, indubitavelmente, alusões e empréstimos do livro no Novo Testamento. Ver maiores detalhes a respeito sob a seção VI, Influências. O livro é uma exortação hábil para o homem espiritual sério buscar sabedoria e, assim, ampliar sua espiritualidade. A sabedoria é uma essência divina e está disponível a homens finitos. Embora muito da sabedoria do Antigo Testamento influencie esse livro, os capítulos 6-9 claramente repousam na filosofia grega. A sabedoria trazia prosperidade e bem-estar a Israel, enquanto os pagãos, que não a tinham, pereciam (caps. 10-19). Os capítulos 11-19 são quase certamente de um autor separado, que nenhuma vez emprega o termo sabedoria. Mas as instruções dessa seção dão margem a muita reflexão sobre a natureza da punição de vários tipos de apostasia e idolatria, contrastando Israel às nações pagãs. O autor(es) exibe(m) considerável habilidade literária, empregando a retórica e figuras literárias como equilíbrio,

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SABEDORIA DE SALOMÃO descrições egípcias da deusa Ísis, a patroa da sabedoria. A segunda seção foi apropriadamente chamada de "o Livro de Sabedoria Adequada". 3 a • seção: 11.15 - 12.27. Dois propósitos dominantes inspiraram a redação desta seção: a. uma explicação sobre a justiça de Deus no mundo, incluindo seu modo de governar (I I. I5 - 12.27); b. o apelo do autor aos judeus para que rejeitem os modos pecaminosos dos pagãos que provocaram o julgamento de Deus sobre eles. A adoração à natureza recebe uma denúncia especial (13. I-9) e a idolatria é fortemente criticada (13.10 - 14.8). Nesta seção temos uma repetição da teoria de Euémero (300 a.Ci) sobre a origem da idolatria, isto é, que os primeiros deuses eram mortais deificados (14.9 - 15.6). 4". seção: 16.1 -19.22. Esta seção apresenta sete contrastes entre o sábio e o tolo, o bom e o mau, o sagrado e o não sagrado, com base na experiência de êxodo de Israel. A mensagem geral (desenvolvida de forma elaborada e poética) é a de que Deus se importa com Seu povo enquanto continua sendo severo (em julgamento) com Seus adversários. Deus empregou várias armas para cumprir Seus propósitos: pragas e desastres que incluíram água, animais, morte súbita e utilização divina da luz e do escuro. O escuro é poeticamente chamado de "prisão do medo" que retém os ímpios. VI. Influências Para parte significativa da igreja, este livro forneceu uma boa fonte de lições e sermões, enquanto outra parte, temerosa da palavra apócrifo vinculada ao livro, perdeu seus beneficios. Vários patriarcas iniciais, tanto do oriente como do ocidente, não hesitaram em empregar o livro para o ensino e a edificação. O próprio Novo Testamento tem várias alusões e empréstimos verbais do livro, como segue: Rom. 1. I8-23 parece ter alguns empréstimos dos capítulos 11-14; o trecho de Rom. 1.19 ss. assemelha-se com 13.19; Rom, 9. I9 é um eco de 12. I 2 e 15.7, onde, para ilustrar a soberania de Deus, é empregada a mesma analogia do fabricante de vasos e da argila. A paciente resistência de Deus em Rom. 2 é similar a 11.23 e 12.l0,19~ Rom. 5.12 é parecido com 2.24; através do trabalho do demônio, a morte entrou na esfera terrena. Efé, 6. I I -17 se parece com 5.18-20, mas aqui a real dependência pode ser de Isa. 59.17. A linguagem cristológica, como em Col. I. I5 e Heb. 1.2 ss. e João 1.9, pode refletir 7.25 ss, Cf. ainda João 1.1 com 9.1 ss. Intérpretes cristãos encontraram neste livro profecias messiânicas, tanto da encarnação de Cristo como de Sua crucificação (2. 12-20; 14.7; 18.15). A lição que ganhamos disso tudo é que os bons livros que contêm altos ideais espirituais e elevadas doutrinas são úteis para todos os homens espirituais, sejam eles rotulados como canônicos ou não-canônicos. De acordo com o judaísmo helenístico (que emprestava da filosofia grega), este trabalho afirma enfaticamente a imortalidade da alma. Os autores do Novo Testamento incorporaram este desenvolvimento, que ia muito além de qualquer ensinamento do Antigo Testamento. A imortalidade, não a abundância material, é a principal preocupação do homem bom. O autor deste livro estava atrás de uma perspectiva "de outro mundo", em contraste com o judaísmo antigo. Ele encontrou uma solução para o problema do mal (ver) ao olhar para a eternidade, onde todas as feridas serão curadas. A personificação da Sabedoria por parte do autor era sugestiva do Filho, da mesma forma que a manifestação da Sabedoria de Deus e certas passagens do livro têm sido úteis para a formação do conceito de trindade, embora não seja possível que o autor tenha antecipado tal pensamento.

personificação, ironia, jogo de palavras e piadas sutis. O aprendizado grego definitivamente está por trás da composição, cuja produção provavelmente é da responsabilidade de algum(ns) judeu(s) helenístico (s). Uma característica notável do livro é a identificação de retidão com sabedoria (Parte 11, 6. I2-1 0.21). A Senhora Sabedoria, parceira de Deus, é muito elogiada e até mesmo considerada parceira do autor do livro (6.14; 9.4). Mas a declaração da autoria por parte de Salomão está apenas em uma convenção literária que nada tem que ver com fato histórico. Um tema principal do livro é a presença salvadora de Deus (teísmo), e este poder é estendido a todos os povos, o que teríamos esperado de uma produção helenística. O Deus deste livro é um Deus que intervém nas atividades humanas, quer para salvar, quer para julgar, conforme as escolhas do homem. A Parte III fornece uma explicação da justiça de Deus. Ele não pune os pecadores sem causa e sem sabedoria (ver 11.15- I 2.27). Todos os julgamentos são cuidadosamente pesados com amedrontadora precisão (11.20). A Parte IV, que se inicia em 16.1, contrasta o cuidado de Deus em relação a Israel (os fiéis) com seus julgamentos de pecadores, apóstatas e idólatras. O autor emprega toques literários helenísticos, como, por exemplo, quando descreve a escuridão como criadora de uma prisão de medo para os egípcios (17.2-21). IV. Autor e Data Este livro, de autoria composta (desconhecida), foi escrito em grego, provavelmente na Alexandria e ao final da primeira metade do primeiro século a.c. O livro exibe conhecimento da filosofia helenística e de estilos literários que eram comuns ao período de 100 a.c. a 100 d.C. O autor aparentemente desconhecia os escritos de Filo Judeu (20 a.c. a 50 d.C.). Qualquer livro helenístico judeu escrito durante ou depois da época de Filo muito provavelmente teria emprestado algo dele. A ausência de quaisquer empréstimos óbvios implica que o livro foi produzido antes de sua época. Os antigos deleitavam-se em atribuir livros a pessoas famosas, primeiro para ampliar a importância de seus escritos e, segundo, para honrar ao "mestre" cujo nome havia sido emprestado. Não há nenhuma chance de que Salomão tenha escrito qualquer parte deste trabalho grego helenístico. V. Conteúdo Este livro pode ser dividido conveniente em quatro seções: I a. seção: 1.1 - 6.11. Esta seção serve como um tipo de prólogo que persuade os leitores a buscar a retidão na qual a imortalidade será atingida, o que um homem verdadeiramente sábio faria. Esta seção ilustra os princípios com exemplos de pessoas "sábias" que fizeram aquilo que o autor as persuadiu a fazer, em contraste com seus adversários arrogantes. Os sábios, que fazem a vontade de Deus, reinarão com Deus para sempre. Assim, temos uma afirmação clara e forçosa da imortalidade (ver), em contraste com a maior parte do Antigo Testamento, que tem poucas referências claras a essa realidade importante. 2 a • seção: 6.12 - 10.21. Esta seção é destinada a cantar o louvor da Senhora Sabedoria, caracterizada como parceira de Deus e do autor do livro (6.14; 9.4). Também nessa seção afirma-se a autoria do rei Salomão. Em todo o caso, a Senhora Sabedoria é retratada como uma grande figura, recebendo algumas descrições que fazem lembrar

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SABEDORIA DE SIRAQUE - SÁBIO SABEDORIA DE SIRAQUE Ver Eclesiástico. SABELIANISMO Ver os artigos gerais Cristo/agia e Trindade. Sabélio (ver a respeito), líder eclesiástico do século lU d.C.; ensinava uma única essência divina que operaria mediante três manifestações temporárias sucessivas: Deus Pai (criador e legislador); Deus Filho (redentor); e Deus Espírito Santo (mediador, doador da vida, ator divino). De acordo com essa doutrina, não haveria algo como três pessoas separadas, formando uma Trindade divina. Ver sobre o Modalismo. O interesse dessa doutrina, naturalmente, era a preservação do monoteísmo (ver a respeito), pois, para certos, como Sabélio, o trinitarianismo parecia ser apenas uma forma velada de triteísmo, ou seja, de politeísmo. SABÉLIO Foi um teólogo cristão que viveu no século lU d.e. Nasceu na Líbia, e dali mudou-se para Roma. Tomou-se líder do partido modalista e foi excluído, devido a essa heresia, por Calixto. Não foi ele o criador do modalismo (ver a respeito), embora lhe tenha dado nova expressão, valendo-se do termo grego prósopon, «face», «manifestação». Deus assumiria três «faces» ou «manifestações», mas não se comporia de três pessoas. Sabélio também incorria em erro ao declarar-se igualmente defensor da doutrina do patripassionismo porquanto asseverava que os sofrimentos de Deus Filho necessariamente se refletiam sobre Deus Pai. Ver sobre o Sabelianismo. SABETAI No hebraico, nascido no sábado, ou meu descanso. 1. Um hebreu do século quinto a.C., um importante levita ass\,ciado a Esdras que ajudou a explicar a Lei ao povo depois de Esdras ter lido o texto em reuniões públicas. Ver Esd. 10.15 e I Esdras 9.14. Ver ainda Nee. 8.7 e I Esdras 9.48. 2. Talvez tenha havido outro homem com esse nome mencionado em Nee. 11.16. Juntamente com Jozabade, ele era um administrador do Segundo Templo. Alguns identificam o homem ao qual refiro sob os números I e 2 como o mesmo homem.

relativo os protegia de poderes estrangeiros, mas lhes permitia o comércio com outros países. Seus produtos comerciais incluíam ouro, incenso, pedras preciosas, marfim e uma variedade de outros itens (ver Sal. 72.15; Isa. 60.6; Jer. 6.20; Eze. 27.22; 38.13). Eles comandavam rotas de caravanas que levavam à África e à índia. A perícia nos negócios e na agricultura os tomava essencialmente autosustentados. Descobertas arqueológicas indicam que seu lar original se encontrava no norte da Arábia, de onde paulatinamente se espalharam. Até o século XII a.C., eles haviam estabelecido uma capital fortificada em Maribe. No século X a.e. a princesa deles viajou à Jerusalém para testar a sabedoria de Salomão e sem dúvida para promover o comércio como rico rei hebreu (I Reis 10.1-13; I Crô. 9.112). A longo prazo, o sul da Arábia foi consolidado em um estado forte que continuou como tal até o crescimento do Islã. As regiões gerais desse povo foram exploradas pela Expedição Arabe da American Foundationfor the Study of Man, organizada por Wendell Phillips. Foi criada uma breve história desse povo com base nessas escavações. Antes de 1200 a.C., ocorreu uma migração para o sul de Sheba e a tribos aliadas; essas tribos se expandiram e formaram uma antiga nação no período entre 1000 a.c. e 700 a.c. Entre os séculos IX e V governaram reis sacerdotes. Foi em cerca de 950 a.c. que a Rainha de Sheba (Sabá) fez sua viagem de cerca de 2 mil km pelo deserto para visitar Salomão, levando com ela uma fartura de presentes (I Reis 10.1-13). Ver o artigo Rainha de Sabá, que adiciona detalhes interessantes aos aqui fornecidos. A Etiópia moderna representa uma mistura de vários povos antigos, entre os quais os sabeus semitas e os sabeus camitas. Não faz muito tempo que a Etiópia enviou a Israel um grande grupo de etíopes semitas que, aparentemente, eram verdadeiros judeus em fé religiosa e, supõe-se, pelo menos alguns deles descendiam do próprio Salomão, mas seria possível provar uma teoria como essa? SABI Um nome hebraico de significado incerto, transliterado como Sabele na Septuaginta. O Antigo Testamento canônico não faz nenhuma referência a ele, mas I Esdras atribui a uma família de porteiros esse nome (5.28). Além disso, alguns descendentes de escravos de Salomão também eram chamados assim (I Esdras 5.34). Eles retornaram a Jerusalém da Babilônia sob a liderança de Zorobabel.

SABEUS Este talvez seja um nome alternativo para o Semaías de Esd. 10.31. O nome aparece apenas em I Esdras 9.32. A Septuaginta o translitera como Sebaías.

SÁBIO (PROFICIÊNCIA) Um sábio é tão-somente um homem venerável, de grande sabedoria. A raiz latina desse adjetivo é sapiens, «sábio». Por outro lado, trata-se de alguém que obteve um desenvolvimento espiritual incomum, o que distingue dos demais homens. Toda a fé religiosa dá lugar à proficiência, à sabedoria, que é exaltada como um alvo a ser atingido pelos homens. Mas nem todas as religiões crêem que todos os seres humanos são capazes de atingir essa meta. Doutrinas como a da predestinação e a da depravação dos homens impedem a idéia de a graça iluminadora de Deus ser administrada à todos os homens, sem distinção; os dogmas limitam. Apesar disso, o alvo da vida, segundo o neoconfucionismo, é que todos os homens venham a tomar-se sábios. Chou Tun-I afirmava que um sábio dirige de tal maneira a sua vida que obedece à regra áurea; e que o resultado disso é que ele vem a tomar-se sábio, atingindo aquele elevado alvo. A doutrina do meio-termo requer sinceridade e persistência.· Por outro lado, You Yen

SABEUS (POVOS) O significado desse nome é incerto. A RSV adivinha "bêbados" em Eze. 23.42. A raiz shebha sugere distúrbio, talvez em referência a um povo saqueador e destrutor. Cf. Jó 1.15. A Bíblia em português usa o mesmo nome para dois povos distintos que são chamados por nomes um pouco diferentes em hebraico: I. Os descendentes de Sabá, O filho mais velho de Cuxe é chamado assim, ou pelo menos é assim que alguns supõem. Esse homem era um neto de Cuxe (ver Gên. la. 7). Seu território era o norte da Etiópia, que incluía o Meroe. 2. Os descendentes de Jocsã também eram chamados de sabeus. Jocsã era um filho de Abraão com Quetura, cujos descendentes vieram a ocupar, juntamente com Edom, partes da Síria e da Arábia (Gên. 24.3). Um isolamento

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SÁBIOS-SACERDOTE assumiu tal ocupação por hereditariedade (I Crô. 26.4). Ele era do ramo coraíta de sacerdotes (I Crô. 26.1).

acreditava que o verdadeiro sábio e a sua condição estão acima de nossas categorias, às quais nomeamos. No cristianismo, Jesus Cristo é a nossa sabedoria, é o modelo segundo o qual nossa transformação metafísica e moral terá lugar (ver I Cor. 1:30; 11 Cor. 3:18). E, ainda segundo os ensinos bíblicos, o ministério do Espírito deve ser atuante sobre uma vida humana para que aquela pessoa venha a tornar-se um verdadeiro sábio. Não podemos esquecer, por igual modo, o estudo das Sagradas Escrituras, com a absorção de seus princípios espirituais. Diz Paulo a Timóteo: «... desde a infância sabes as sagradas letras, que podem tomar-te sábio para a salvação, pela fé em Cristo Jesus» (11 Tim. 3: 15). A mensagem universal do evangelho de Cristo abriu as portàs da proficiência espiritual a todos os homens, posto que nem todos valer-se-ão dessa oportunidade, preferindo permanecer no estado de ignorância espiritual, aquilo que a Bíblia chama de «nesciedade», A participação na própria natureza divina, incluindo a sabedoria divina, é o alvo final dos remidos (ver Col. 9, 10; Efé. 3: 19; 11 Ped. 1:4).

SACCAS, AMMONIUS Ver sobre Amônio Saccas.

SACERDOS, SACERDOTAL Sacerdos é o terrno latino correspondente ao termo grego iereús, «sacerdotes» A versão latina começou a usar aquele vocábulo latino para indicar os ministros cristãos, lá pelos fins do século 11 d.C., posto que erroneamente. Em seguida, o termo veio a ser aplicado aos bispos; e foi dito que a plenitude do «sacerdócio» pertencia aos bispos. Em cerca de 250 d.C., os anciãos ou presbíteros também começaram a ser chamados «sacerdotes», iniciado o costume por Cipriano, que viveu por essa altura dos acontecimentos. Mas, na época, eles eram assim designados somente porque podiam substituir a um bispo, na ausência deste, a fim de realizarem seus serviços, incluindo o oferecimento da eucaristia. Durante a Idade Média, aumentou a autoridade dos sacerdotes comuns, quando, em virtude de sua ordenação, eles obtiveram o direito de oferecer a eucaristia, sem que isso tivesse alguma coisa que ver com o bispo e seu oficio. Visto que o sacramentalismo está associado a essa designação, muitos protestantes objetam ao uso da palavra sacerdote para indicar os ministros cristãos; e alguns desses protestantes chegam a imaginar que isso tem algo que ver com as artes mágicas, embora sem nenhuma base racional. Por outra parte, os ministros luteranos retiveram o oficio essencial dos sacerdotes, o que também sucede na comunidade anglicana, onde o sacramentalismo sobrevive. .

SÁBIOS Ver sobre os Magos. SABOROSA COMIDA Do hebraico matammim, que significa, literalmente, "coisas gostosas". Os únicos usos desta expressão ocorrem em Gên. 27.9,14,17,31, onde lemos o relato sobre como Rebeca tentou ajudar Jacó na tentativa de obter o direito de primogenitura que estava em posse de Esaú. O prato foi preparado com leite de cabra misturado a vários legumes. A mistura produzia um bom cheiro, que excitava o apetite, e Isaque foi vítima fácil do plano. Compare a história sobre como Yahweh ficou satisfeito com tais cheiros deliciosos, ocasião que, em hebraico, "sabor" é usado no lugar dessa palavra em Gên. 2 7 (ver Gên. 8.21). A moral da história é que os cheiros têm grande significado para os seres humanos.

SACERDOTAL, CÓDIGO Ver o artigo intitulado J. E. D. P. (S.), onde P. (S.) indica «sacerdotal» (em português) e «priestly» (em inglês), e que faz parte daquele artigo que descreve o código sacerdotal. Ver também P (Código Sacerdotal).

SABTÁ Terceiro filho de Cuxe, cujos descendentes habitavam no terço médio do sul da Arábia, ao norte de Cane (Periplus), por volta de 2300 a.C. (Ver Gên. 10:7 e 1 Crô. 1:9). Era também nome de um lugar na Arábia, provavelmente, na costa oriental ou próxima da mesma. Diversas localidades têm sido sugeridas, mas nenhuma delas tem sido identificada com certeza. Acredita-se que os cuxitas tenham atravessado o mar Vermelho desde a Núbía, na direção nordeste, entrando pela península da Arábia.

SACERDOTALlSMO Ver o artigo Sacerdos, Sacerdotal. O termo sacerdotalismo é usado por alguns para aludir negativamente a certa ordem de sacerdotes, na igreja cristã, que se julgam investidos de poderes especiais, de funções sacrificiais e de forças sobrenaturais, em virtude de sua ordenança. Porém, outros usam o termo positivamente para destacar a validade desses poderes. Na verdade, a cristandade está dividida quanto à natureza dos ministros cristãos. Para alguns, eles são sacerdotes aos moldes levíticos e pagãos; para outros, são homens dotados espiritualmente para desempenhar certas funções, mas sem que isso os tome uma classe especial entre os irmãos com foros de superioridade.

SABTECÁ O significado desta palavra hebraica é desconhecido. Era o nome de um filho de Cuxe (ver Gên. 10.7; I Crô. 1.9) e, segundo alguns, de uma região por ele estabelecida. O local ficava na Arábia, provavelmente na costa oriental, mas há sugestões de outros locais. A conexão entre a pessoa de Cuxe e a região com o mesmo nome era uma migração dos cuxitas pelo mar Vermelho vindos da Núbia, ao nordeste, em direção à península da Arábia.

SACERDOTE (ECLESIÁSTICO) Esboço: I. Os Termos Usados 11. Informes Históricos 111. Um Corolário Lógico

SACAR I. No hebraico, alugado ou recompensa. O pai de Aião, um dos confiados guerreiros ou "heróis" de Davi. Ele era um hararita, um dos "trinta" homens poderosos. É chamado de Sarar em 11 Sam. 23.33. Ver também I Crô, 11.35. 2. O quarto filho de Obede-Edom, porteiro cuja família

I. Os Termos Usados a. Em português, «sacerdote» vem do latim sacer, «sagrado», «consagrado». Vê-se abaixo que há certa ligação com a idéia de salvação. b. Em inglês, o vocábulo priest é uma forma abreviada do grego presbúteros. Esta palavra usualmente é traduzida como elder; o «ancião», embora, como é óbvio,

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SACERDOTE - SACERDOTES, CRENTES COMO historicamente falando, o oficio dos padres se desenvolveu a partir dos presbíteros ou anciãos. O termo grego mais apropriadamente traduzido como sacerdote» é iereús, derivado de ieràs, «sagrado», relativo aos «deuses», e então «relativo a Deus» dentro da teologia hebraica e cristã. O termo grego cognato do latim (ver acima, ponto a) é saos (sos), «seguro», «são», «saudável»; e, por sua vez está ligado a sodzo, «salvam, «preservam, «conservar em vida». Nossa palavra portuguesa «sagrado» está obviamente ligada ao latim sacer. 11. Informes Históricos O vocábulo grego iereús, «sacerdote», não foi aplicado a ministros cristãos senão já perto do século II d.C. Somente na época de Cipriano (cerca de 250 d.C.) é que os presbíteros ou anciãos do cristianismo também começaram a ser intitulados «sacerdotes». Porém, antes mesmo disso, os bispos vinham sendo chamados assim. Esse uso, sem dúvida, tinha analogia com os sacerdotes do Antigo Testamento. E, observando os sacerdotes católicos e ortodoxos de hoje, lembramo-nos da situação veterotestamentária, com suas vestes especiais e ritos elaborados. As Constituições Apostólicas chamam aos bispos cristãos de «vossos sumos sacerdotes», aos presbíteros ou anciãos de «vossos sacerdotes», e aos diáconos apresenta como equivalentes aos levitas (ver 2:25). É provável que desde bem cedo muitos cristãos tenham procurado fazer dos oficios eclesiásticos cristãos paralelos aos do sacerdócio veterotestamentário, em parte como defesa da nova religião, que era atacada como se fosse um substituto da antiga religião, a qual, segundo os judeus, seria uma instituição eterna. Assim sendo, os cristãos podiam dizer que a antiga religião continuava, embora sob nova forma, e que o ministério da antiga religião era glorificado na nova religião. Foi assim que os presbíteros se tomaram os «padres» cristãos, desde bem cedo na história da Igreja, embora se trate de um desenvolvimento estranho ao espírito e à letra do Novo Testamento. É verdade que as Constituições Apostólicas só foram publicadas no século IV d.e., mas as práticas ali descritas vinham de tempos anteriores. Essa analogia foi ainda estimulada pelo fato de que Cristo é chamado de Sumo Sacerdote no Novo Testamento, um Sumo Sacerdote que substituiu o sumo sacerdote do Antigo Testamento. Com base nessa circunstância, foi apenas natural (embora com base em uma interpretação equivocada) que os ministros do evangelho viessem a ser concebidos como quem compartilhava de suas funções sacerdotais, por delegação. O aumento no número dos cristãos, sem um aumento corres-pondente no número dos bispos, fez com que parte da autoridade dos bispos fosse passada aos sacerdotes. Estes, em vista disso, começaram a celebrar a eucaristia e a administrar os sacramentos. Na Idade Média esse oficio já estava confirmado pela antiguidade do costume, e Tomás de Aquino pensava que a essência desse oficio era a administração da eucaristia (ver a respeito). Paralelamente, a eucaristia era cada vez mais encarada como um sacramento dotado de caráter sacrificia1. Vários reformadores protestantes rejeitaram a idéia de que a eucaristia ou Ceia do Senhor é um sacrificio, sobretudo a noção de que Cristo pode ser sacrificado de novo, conforme se vê na missa católica romana. Para eles, a Ceia do Senhor é apenas o memorial de um ato que Cristo realizou na cruz de uma vez para sempre. Além disso, a ênfase neotestamentária sobre o sacerdócio de todos os crentes desmascara claramente o erro que consiste em criar uma classe sacerdotal distinta e acima

dos crentes como um todo, bem como nas funções sacramentais e ritualistas desse suposto sacerdócio especial. IH. Um Corolário Lógico Pode-se conceber que os ministros cristãos (já sacerdotes por direito que cabe a todos os crentes, sem distinção) sejam considerados líderes entre seus irmãos, devido à sua posição de liderança. Mas vê-los a supostamente sacrificar a Cristo todos os dias (o sentido central da missa) certamente é uma perversão de todo ensino neotestamentário relacionado ao assunto. Apesar de a idéia de sacerdócio ocupar posição cêntrica dentro do pensamento católico romano, qualquer crente, de Bíblia aberta na mão, percebe que isso constitui uma distorção. A Biblia só reconhece o sacerdócio de todos os crentes, e não apenas de alguma classe especial de ministros. Nas igrejas protestantes e evangélicas, os ministros não são tidos como sacerdotes (no sentido católico), mas apenas como servos de Deus que atuam entre seus irmãos. Esses servos evangélicos, e protestantes ocupam-se do pastorado, do evangelismo, do ensino, do exercício de vários dons espirituais etc., mas nunca sacrificam novamente a Cristo, por ocasião da eucaristia. Na Igreja Católica Romana, entretanto, esse contínuo sacrificar de Cristo se tomou o «mistério» maior da fé, o que também se verifica nas igrejas ortodoxas orientais e na comunidade anglicana.

SACERDOTE NO NOVO TESTAMENTO Ver sobre Sacerdotes e Levitas, quinta seção, e também Sacerdotes. Crentes como. SACERDOTES, CRENTES COMO Sacerdotes. Apo. 1:6. Considerado coletivamente, o «novo Israel» é um «reino». Considerados individualmente, seus membros são todos «sacerdotes». No antigo povo de Israel havia para cada família um «sacerdote», que era o chefe da casa. Em seguida, apareceu o sacerdócio como ordem separada, pertencente a uma única tribo. Em nenhum momento, porém, todos os homens foram sacerdotes. Em Cristo Jesus, entretanto, todos os crentes se tornam sacerdotes, porquanto lhes foi obtido, através do evangelho, acesso superior a Deus, o qual também lhes é aberto mediante a missão salvadora de Cristo. (O presente versículo pode ser comparado à passagem de I Ped. 2:5.) Coletivamente, o «novo Israel» (a Igreja) é uma «casa espiritual». Individualmente falando, os seus membros são pedras vivas. E todos formam um «sacerdócio régio», em que cada indivíduo é um rei, dotado de autoridade majestática, conforme se aprende em I Ped. 2:9. Consideremos abaixo a questão do «sacerdócio de todos os crentes» nos pontos discriminados: 1. Antes da instauração da lei mosaica, o chefe de família era seu sacerdote (ver Gên. 8:20; 26:25 e 31 :54). 2. Com o advento da lei, a tribo de Levi (Arão e seus filhos e descendentes) assumiu funções sacerdotais. A promessa feita a Moisés, de que todos os membros individuais da nação de Israel se tomariam sacerdotes (ver Êxo. 19:6), evidentemente não pôde ser cumprida, devido à desobediência e à carnalidade deles. A limitação do sacerdócio à tribo de Levi teve por intuito enfrentar essa situação negativa, preservando, posto que de forma inferior, o conceito e a função do sacerdócio no seio do povo de Israel, 3. Dentro da dispensação neotestamentária cumpre-se o ideal, não mediante obras e méritos humanos, mas, sim, pela livre graça divina, que torna cada remido um sacerdote (ver I Ped. 2:9 e Apo. 1:6).

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SACERDOTES, VESTIMENTAS DOS o tenham tentado. Sabe-se somente que esses objetos eram usados para determinar a vontade de Deus entre opções (ver Núm, 27:21), razão pela qual o Urim e o Turim talvez fossem apenas sortes. No artigo sobre esses objetos, apresento várias idéias a respeito. 2. A Estola. Esta peça do vestuário do sumo sacerdote era feita de linho fino, bordada em azul, púrpura e escarlate e com figuras douradas. Consistia em duas peças, uma para cobrir o peito e outra para cobrir as costas. As duas metades eram ligadas uma à outra sobre os ombros, mediante colchetes de ouro. Cada colchete contava com uma pedra de ônix; e sobre cada pedra haviam sido gravados os nomes de seis das tribos de Israel, dando um total de doze. Na estola ficava preso o peitoral, segundo descrito acima. Ver Êxo, 28:6-12; 39:2-7. Na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia, há um artigo separado sobre a Estola, com maiores detalhes. A estola descia, formando uma espécie de robe de cor azul, tecida sem nenhuma emenda. Chegava até ligeiramente abaixo dos joelhos. A túnica aparecia por baixo da estola e descia até a altura do chão. Era azul e sem costuras. Havia fendas nos lados, por onde passavam os braços. Da cintura para baixo, havia um bordado decorativo, representando romãs, nas cores azul, vermelho e carmesim. Havia um sinete de ouro entre cada romã. 3. O cinto (no hebraico, hesheb) era feito do mesmo material que a estola, e se mantinha no lugar esta peça, em torno da cintura do sumo sacerdote. Ver Êxo. 28:8. 4. A mitra (no hebraico, misnepheth, «enrolado»), uma espécie de turbante azul-escuro. Ao que parece, era um tipo de gorro em torno do qual se enrolava um pano, formando então um turbante. Na parte da frente havia um diadema de ouro puro (uma placa de ouro), onde estavam inscritas as palavras «Santo a Yahweh». Era preso ao turbante mediante um fio azul-escuro. Ver Êxo. 28:36-38; 39:30 ss, Alguns Presumíveis Símbolos Dessas Peças: I. As cores tinham seu próprio simbolismo: o branco, a santidade; o ouro, a deidade; o vermelho, o sangue da expiação; o azul, o céu ou a espiritualidade. Ver Dan. 10:5; 12:6, 7; Eze. 9:3; 10:2, 7; Mat. 28:3; Apo. 7:9. 2. As vestes, como cobertura, simbolizavam que a nudez espiritual do ser humano é coberta pelas provisões especiais de Deus, em Cristo. 3. As vestes sem costura falam de integridade moral e espiritual, ou seja, a retidão que Deus confere. 4. O turbante, parecido na forma com o cálice de uma flor, talvez simbolizasse a vida, o crescimento e o vigor. O sumo sacerdote não podia tirar da cabeça o seu turbante; e, se este viesse a cair acidentalmente, isso era considerado simbolicamente negativo. Ver I Ped. I:24; Tia. I: 10; Sal. 103:15; Isa. 40:6-8. 5. O cinto servia, no Oriente, para segurar no lugar as vestes soltas da antiguidade, a fim de que a pessoa pudesse movimentar-se sem empecilho. Desse modo, o cinto simboliza serviço. Podemos lembrar-nos, em conexão, do humilde Cristo que se cingiu ao lavar os pés de seus discipulos. Ver Mar. 10:45. O material do cinto do sumo sacerdote era da mesma cor e do mesmo estilo do véu do santuário, indicando que as vestes do sumo sacerdote mostravam ser ele o administrador do santuário, em suas diversas funções sacerdotais. 6. A parte superior da única era tecida em uma única peça de cor azul. E isso indica a espiritualidade em sua inteireza; a origem celestial do serviço prestado pelo sumo sacerdote e o caráter espiritual de seu ofício também foram destacados. Todo o israelita precisava usar fímbrias azuis na borla de suas vestes, relembrando suas obrigações diante

No tocante ao «sacerdócio dos crentes», devemos considerar os pontos seguintes: a. Esse sacerdócio se verifica por direito de primogenitura; quando nos tornamos «filhos de Deus», naturalmente temos acesso a Deus Pai. b, Esse sacerdócio indica acesso superior a Deus (ver Heb. 9:7). O verdadeiro acesso não pode ser mais obtido por um único homem, o sumo sacerdote; e isso, no tocante à expiação, apenas uma vez por ano. O crente individual tem acesso ao Santo dos Santos (ver Heb. 10:19-22). Ali aprende-se que o verdadeiro Sumo Sacerdote aguarda nossas buscas e petições de toda a sorte, e não meramente aquelas que dizem respeito ao pecado (ver Heb. 9:24 e 10:19-22). c. O crente, na qualidade de sacerdote, oferece um sacrifício superior: (i) seu próprio corpo vivo, meio terreno de seu serviço (ver Rom. 12:1; Fil. 2: 17; II Tim. 4:6; I João 3: 16 e Tia. 1:27). (ji) O louvor de sua vida e de seus lábios (ver Heb. 13:15 e Exo. 25:22). (iii) Suas riquezas financeiras devem ser usadas para benefício do próximo (ver Heb. 13:16; Rom. 12:13; Gál. 6:6; III João 5--8; Heb. 13:2; Gál. 6:10 e Tito 3:14). d. Na qualidade de sacerdote, o crente, tal como Cristo e o Espírito Santo, é um intercessor em favor de outros (ver I Tim. 2: I e Cal. 4: I2). e. O sacerdócio leva-nos à comunhão com Deus, que é nosso Pai, segundo se aprende em Apo. 1:6. Portanto, o sacerdócio é um meio de comunhão e, nessa capacidade, um meio transformador de nossa natureza, segundoa imagem de nosso Irmão mais velho (ver II Cor. 3: 18). f. O alvo, pois, é que tenhamos participação na própria natureza do Pai (ver II Ped. I :4), isto é, a «divindade», em que receberemos toda a plenitude de Deus, em sua natureza e em seus atributos (ver CoI. 2: 10 e Efé. 3: 19), tal como Cristo participa dessa natureza. É nisso que consiste a «perfeição», o que define, para nós, (como» seremos aperfeiçoados (ver Mat. 5:48). SACERDOTES, VESTIMENTAS DOS Ver os artigos gerais intitulados Sacerdotes e Levitas e Sumo Sacerdote. Oferecemos uma descrição sobre as vestes especiais dos sacerdotes comuns de Israel no primeiro desses dois artigos, quarta seção. Portanto, o que se segue é uma descrição das vestes sacerdotais do Sumo Sacerdote. O sumo sacerdote de Israel não precisava de vestes oficiais fora do desempenho de suas funções. E, quando em serviço, não usava calçados, aparentemente por uma questão de respeito, mais ou menos como Moisés, diante da sarça ardente, precisou tirar as sandálias. Ver Êxo. 3:5. O sumo sacerdote compartilhava, de modo geral, as vestes dos sacerdotes comuns. Mas, além daquelas peças, também usava outras: 1. O Peitoral. No hebraico, hoshen; Êxo. 28: 15,30. Uma peça quadrada de tecido dobrada ao meio, era feita do mesmo tecido da estola sacerdotal, descrita a seguir. Uma vez dobrada ao meio, formava uma espécie de bolso. Sobre essa peça de tecido havia doze pedras preciosas engastadas em ouro. Nessas pedras estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel. Além disso, nas quatro pontas do peitoral, havia argolas de ouro. As duas argolas de cima permitiam que duas tiras prendessem o peitoral aos ombros. E as duas argolas de baixo permitiam que o peitoral fosse preso a estola, por meio de tiras ou cordões de cor azul. Ver Êxo. 28: 13-28; 39:8-21. No peitoral é que ficavam guardados os misteriosos objetos chamados Urim e Turim (ver a respeito). Esses dois objetos, provavelmente pedras preciosas, eram usados com propósitos de adivinhação. Ver Êxo. 28:30; Lev. 8:8. Ninguém até hoje, desde tempos antigos, conseguiu fornecer uma explicação apropriada desses objetos, embora muitos

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SACERDOTES E LEVITAS da lei (ver Núm. 15:38 ss.), As romãs ali bordadas falavam sobre a vida, e as sinetas entre as romãs talvez indicassem que ele deveria estar sempre atento à voz de Deus. 7. A estola, com a peça dos ombros e com o peitoral, podia ter vários símbolos, como o trabalho que o sumo sacerdote levava aos ombros. Ali havia a insígnia das doze tribos, que ficavam sob a sua responsabilidade (ver Isa. 22:22). No peitoral também havia os nomes das doze tribos, servindo de lembrete adicional. No bolso formado pelo peitoral, estavam o Urim e o Turim, símbolos da função do sumo sacerdote como recebedor e transmissor de oráculos, orientação espiritual e de sua ação como mediador entre Deus e os homens. O sumo sacerdote não era apenas um juiz. Sua função espiritual visava, essencialmente, à higidez espiritual do povo de Israel. 8. O turbante era emblema de sua autoridade e de suas responsabilidades governamentais. Tinha uma coroa que era símbolo de sua autoridade (ver Êxo. 29:6; 30:30; Lev, 8:8). Ele fora escolhido e coroado para ocupar-se de suas funções. Sobre o turbante havia uma placa de ouro com as palavras «Santo a Yahweh», re1embrando que seu trabalho era inteiramente consagrado a Deus, no tocante aos pecados do povo, procurando guindá-los a um nível espiritual mais elevado. E isso combinava com seu trabalho de expiação anual, a sua função principal. A unção do sumo sacerdote mostrava que ele fora devidamente nomeado e equipado para o seu trabalho. No tocante aos tipos, algumas vezes a Bíblia dá claras indicações sobre seu significado; mas a questão tem sido sujeitada a exageros, havendo muitas idéias que evidentemente não faziam parte do intuito original. Seja como for, o que dissemos mostra um exemplo dos tipos de coisas que podem ser vistas, como símbolos, nas vestes sumos sacerdotais. A Aplicação Maior. Cristo, como o nosso grande Sumo Sacerdote, que substitui a todos os outros, é simbolizado, de modo preeminente, pelas várias peças do vestuário e das funções dos sumos sacerdotes de Israel, algo obviamente apoiado na mensagem geral da epístola aos Hebreus. Ver o artigo separado intitulado Sumo Sacerdote, Cristo como. Ver também sobre Sumo Sacerdote. SACERDOTES E LEVITAS Ver os artigos separados intitulados Levitas; Levi, Tribos (Tribos de Israel); Sacrijicios e Ofertas; Sumo Sacerdote; Sumo Sacerdote, Cristo como; Sacerdotes, Crentes como; Melquisedeque, Sacerdote Eclesiástico. Esboço: I. Desenvolvimento Histórico n. Distinções no Oficio e nas Funções Sacerdotais: Argumentos dos Criticos llI.Caracteristicas e Funções IV,As Vestes Sacerdotais V. O Sacerdócio no Novo Testamento VI.Bibliografia I. Desenvolvimento Histórico Antes do desenvolvimento formalizado do sacerdócio levítico, na família de Arão (que, segundo alguns estudiosos, só teria sido plenamente organi.zada depois do cativeiro babilônico), houve as seguintes fases: I. O homem santo, dotado de poderes psíquicos e espirituais, que era consultado como um oráculo. Esses antigos sacerdotes - fossem eles hebreus ou não usualmente tinham um santuário (embora tosco), ao qual serviam. E também dispunham de ritos, orações,

encantamentos etc., tudo o que fazia parte do seu trabalho. Além disso, com freqüência eram uma figura importante, social e politicamente falando. Esperava-se do sacerdote que servisse de mediador entre algum poder divino e os homens, e também que fosse capaz de pronunciar-se sobre questões éticas e legais, além de prever o futuro. O bramanismo, na India, é um exemplo de como tal oficio se tomou hereditário e veio a fazer parte de um sistema de castas. Os sacerdócios egípcios eram altamente organizados, sob o controle do rei, que era o sumo sacerdote do sistema religioso. Na Babilônia, uma classe especializada ocupava-se dos deveres sacerdotais. Nas culturas grega e romana, porém, a questão era um tanto mais livre. Qualquer indivíduo que demonstrasse possuir habilidades psíquicas e espirituais podia tornar-se sacerdote, embora a história demonstre que havia um número maior de sacerdotes nobres do que plebeus. Com freqüência, nessas culturas todas, o sacerdócio funcionava sob o controle do Estado. Na história posterior de Roma, o imperador tomou-se o equivalente ao sumo sacerdote, considerado um vulto divino. Em seus primórdios, o budismo e o islamismo não contavam com um sacerdócio. Na antiga cultura hebréia, qualquer homem podia ser sacerdote, se mostrasse possuir a capacidade para tanto; mas, durante o período patriarcal, o sacerdócio era desempenhado pelo cabeça de cada família (ver Gên. 8:20; 22: 13; 26:25; 33:20). Os sacerdotes por muitas vezes tomavam-se líderes nacionais, conforme se vê no caso de Melquisedeque. Embora seja muito duvidoso que ele fosse um hebreu, é certo que era semita. E também podemos pensar no caso de Moisés, que foi líder nacional e sacerdote. 2. O Estágio Deuteronômico. Nos tempos de Moisés, os sacerdotes pertenciam todos à família de Arão. Todavia, isso não sucedeu de modo absoluto, pelo que, se é geralmente correto dizer que todos os sacerdotes pertenciam à tribo de Levi (através de Arão), isso não ocorria no caso de todos eles. Pode-se dizer que, se um levita pudesse ser achado, ele era a preferência natural; mas houve exceções a essa regra. Assim, Samuel exercia poderes sacerdotais, mas ele mesmo não era da tribo de Levi. Talvez seja correto dizer que Salomão foi um rei-sumo sacerdote; e, no entanto, era da tribo de Judá. Os profetas também desempenhavam certa função sacerdotal, posto que não formal, no tabernáculo ou no templo. Em face de sua ocupação, os sacerdotes também eram juízes. O filho de Mica, que era efraimita, atuou como sacerdote (Juí. 17:5). Outro tanto fizeram alguns dos filhos de Davi (lI Sam. 8: 18), Gideão (Juí. 6:26) e Manoá, este da tribo de Dã (Juí. 13: 19). 3. O Estágio de Transição. Nos capítulos 40 a 48 do livro de Ezequiel, foram favorecidos os sacerdotes zadoquitas (de Jerusalém), o que estreitou a opção de onde podiam proceder os sacerdotes, em Israel. 4. O Estágio Pôs-exilico. O sacerdócio foi monopolizado pelos descendentes reais ou supostos de Arão, enquanto outros levitas ocuparam posições subordinadas, e, algumas vezes, manuais. Foi durante esse último estágio de desenvolvimento que emergiu o verdadeiro sumo sacerdote de Israel, embora Arão tivesse sido um protótipo do oficio. Os sacerdotes tinham o direito de receber dízimos e porções determinadas das oferendas. Cuidavam do santuário e das formas externas do culto, e envolviam-se no sistema sacrificial. Eram os guardiãos das tradições e protegiam a pureza da adoração. No judaísmo posterior, o sacerdote (no hebraico, cohen) retinha o privilégio de pronunciar a bênção sacerdotal, e de ser o primeiro a ler o livro da lei.

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SACERDOTES E LEVITAS Quando o sacerdócio formal caiu e desapareceu da história, os rabinos retiveram o trabalho dos sacerdotes, em forma simbólica, embora também literal em outros sentidos, tomando-se então os líderes espirituais do povo de Israel. 5. Divisões dos Sacerdotes Levitlcos. Três famílias deram prosseguimento ao sacerdócio, em Israel: os descendentes de Gérson, Coate e Merari. Outros levitas ajudavam nos cultos: até que ponto, é disputado pelos historiadores bíblicos (ver Núm, 3:5 ss.), Sabemos que levitas que não pertenciam a essas famílias contavam com seus santuários em certos lugares. Mas isso terminou por ocasião das reformas instituídas por Ezequias (ver 11 Reis 18:4~ 23:8 ss.). Outrossim, conforme já vimos, alguns não-levitas envolviam-se nos deveres sacerdotais.

3. Os sacerdotes descendentes de Zadoque seriam isentados dessa drástica alteração no sacerdócio, porquanto tinham servido no santuário em Jerusalém e não envolveram nas corrupções dos lugares altos, os lugares de adoração não-autorizada e quase pagã. 4. Supondo que a distinção feita por Ezequiel, entre sacerdotes e levitas, parecia ser apenas uma inovação. não o retomo a um anterior modus operandi, ele chegou à conclusão de que o livro de Números não existia ainda nos dias de Ezequiel. 5. O código sacerdotal P. (S.) da teoria J. E. D. P. (S.), alegadamente frisa somente o sacerdócio aarônico. Em seguida. a esse documento foi negada autenticidade histórica, e seu conteúdo seria considerado mera «ficção». O mesmo argumento avança dizendo que tudo foi uma invenção, para dar autoridade a uma casta sacerdotal que, na realidade, só teria vindo à existência muito mais tarde. 6. Violento contraste foi feito entre a elaborada natureza do culto no deserto e a descentralização que houve no período dos juízes de Israel. Presumivelmente, a adoração teria desempenhado papel secundário nessa versão posterior, o que talvez esteja indicado em Juízes 3--16. E Wellhausen acreditava que esse período posterior havia sido a verdadeira fonte das formas de adoração que ali se desenvolveram. Teria tudo começado com chefes de família que dirigiam os próprios santuários particulares (como o de Eli, em Silo). 7. Uma ilustração foram as radicais diferenças das duas formas de adoração. Assim, Samuel (que era efraimita, e não levita) servia a cada noite ao lado da arca (I Sam. 3:3), enquanto o décimo sexto capítulo de Levítico mostra que somente um sumo sacerdote podia aproximar-se da arca, e isso apenas uma vez por ano. 8. Quando a monarquia centralizou o governo, o mesmo se deu com o sacerdócio, e então a família dos zadoquitas adquiriu grandes poderes. Davi nomeou os zadoquitas, juntamente com Abiatar, para que substituíssem os familiares de Eli. Não demorou muito e, nos dias de Salomão, foi estabelecido um santuário permanente no templo, ficando assegurada a proeminência especial de uma casta sacerdotal. Jeroboão teve santuários reais, e os sacerdotes eram responsáveis diante dele, como se ele fosse cabeça do culto religioso (o que também sucedera nos dias de Salomão), seguindo a filosofia egípcia da religião, o conceito do rei-sacerdote. 9. A centralização do culto foi fortalecida ainda mais, quando Josias aboliu os lugares altos. 10. Presumivelmente, além da composição do código sacerdotal como uma espécie de base documentar da nova situação (dando-lhe uma falsa antiguidade), veio à tona o oficio sumo sacerdotal (ver a respeito), mas isso somente já nos tempos pós-exílicos, visto que, no tempo da monarquia, o próprio rei era uma espécie de sacerdote. Esse desenvolvimento, de acordo com Wellhausen, representa um tempo em que governos estrangeiros tinham perturbado a monarquia, pelo que o poder religioso foi transferido para o sumo sacerdote, que se tomou então uma espécie de rei-sacerdote. O código sacerdotal deu ao sistema da época uma espécie de autoridade, com base (mediante invenção) na história antiga. 11. Foi sentido que a posição atribuída aos levitas, no código sacerdotal (ou seja, uma posição humilde, em contraste com os fatos históricos), é O tendão de Aquiles daquele documento, revelando que se trata apenas uma invenção, e não um verdadeiro documento histórico no tocante ao culto religioso de Moisés e do tempo de Arão. De acordo com o pensamento de Wellhausen, esse código,

11. Distinções no Oficio e nas Função Sacerdotais. Argumentos dos Críticos Na primeira seção deste artigo, mostro algumas dessas divisões. Quando a família de Amo obteve o monopólio do sacerdócio em Israel, houve uma tríplice divisão. Mas alguns não-levitas receberam funções e autoridade sacerdotais. A relação entre os sacerdotes que eram descendentes de Arão e os levitas (da linhagem geral, mas não especificamente de Arão) é algo disputado entre os eruditos. E o problema vê-se complicado ante o fato de que as próprias referências bíblicas a respeito nem sempre são claras, sem mencionar o fato de que a própria prática seguida nem sempre foi coerente. Assim, enquanto os levitas normalmente assumiam uma posição subordinada aos sacerdotes, em alguns casos chegaram a exercer plenos poderes. E por que não, visto que até não-levitas algumas vezes assim o fizeram? A Tríplice Divisão. O oficio e as funções sacerdotais estavam divididos entre o sumo sacerdote, os sacerdotes e os levitas. Todos descendiam de Levi. Assim sendo, todos os sacerdotes eram levitas. Porém, nem todos os levitas eram sacerdotes. As obrigações menores, algumas vezes até manuais, como de limpeza, arranjo e arrumação no templo, cabiam aos levitas não-sacerdotais. Seus deveres são descritos em Êxo. 13:2, 12, 13; 22:29; 34:19, 20; Lev, 27:27; Núm. 3:12, 13,41,45; 8:14-17; 18:15; Deu. 15:19. Eram os descendentes diretos de Arão que, normalmente, desempenhavam o oficio superior do sacerdócio. Essa questão é mais bem desenvolvida no artigo intitulado Levitas, que deve ser lido juntamente com o presente artigo. Julius Wellhausen fez um extenso estudo sobre a questão das ordens, da hierarquia e dos serviços prestados pelos sacerdotes, e então sobre a relação entre os levitas e os sacerdotes. E grande parte do estudo crítico sobre estas questões gira em tomo de suas observações, bem como das confirmações e negações de tais observações. Sua obra encontra-se em seus Prolegômenos à História de Israel, em dois capítulos, intitulados «Os Sacerdotes e os Levitas» e «Os Dotes do Clero». Elementos Básicos das Idéias de Wellhausen: I. Ele enfatizava o desenvolvimento do código sacerdotal (ver sobre P. (S), em J. E. D. P. (S.), o qual, presumivelmente, reflete uma fruição posterior do oficio sacerdotal. 2. Ezequiel mencionou como os levitas seriam impedidos de entrar no ofício sacerdotal (ver Eze. 44: 6-16). E daí Wellhausen deduziu o alegado fato de que, antes disso, os levitas desempenhavam funções sacerdotais, embora nos dias de Ezequiel fossem pouco mais que escravos do templo.

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SACERDOTES E LEVITAS que divide o ministério religioso em sumo sacerdote, sacerdotes e levitas, seria uma contradição com o verdadeiro quadro, onde só haveria sacerdotes leviticos. Objetos Argumentos contra Essa Teoria Crítica. Enquanto alguns aumentavam e outros reduziam as teorias de Wellhausen, o ponto de vista crítico lhes dava muito valor, pelo que uma resposta a essas teorias serve de uma espécie de resposta geral aos críticos como um todo. I. A teoria de Wellhausen depende pesadamente da idéia de J. E. D. P. (S.). acerca da qual escrevi um artigo, e onde há alguns comentários contrários a essa Idéia. A reconstituição do material do Antigo Testamento, em supostos blocos, cada um dos quais com seu conteúdo e suas ênfases especiais, parece ser uma atividade muito artificial, e quase sempre exagerada. 2. As teorias de Wellhausen dependem demais do pressuposto de que os levitas, que tinham sido convidados (segundo Deu. 18:6, 7) para servir no santuário central, foram justamente aqueles desligados de sua função quando da abolição dos lugares altos, durante os dias de Josias. Mas as evidências em favor dessa idéia não são convincentes, e o trecho de 11 Reis 23:9 parece dizer precisamente o oposto. 3. A teoria supõe que não havia, nos dias de Arão, clara distinção entre os sacerdotes e os levitas; mas isso parece ser contradito pelo fato de que foi feita uma distinção entre as responsabilidades do povo para com as duas classes. Ver Deu. 18:3-5 e 18:6-8. A própria expressão «sacerdotes e levitas» mostra alguma forma de distinção. Ver Deu. 17:9, 18: 1; 24:8; 27:9. 4. As passagens que parecem contradizer as teorias dos críticos são tachadas por eles de interpolações, e assim eles se fazem surdos às evidências que desdizem suas idéias, pois nenhum argumento veterotestamentário contrário a essas teorias é levado em conta, nem é considerado autoritativo. 5. Contradição acerca dos Dízimos. Os trechos de Núm. 18:21 ss. e Lev. 27:30 falam sobre os dízimos dados aos levitas. «Porém, a passagem de Deu. 14:22 ss. permite que os israelitas comessem os dízimos em uma refeição sacrificial, o que, presumivelmente, refletiria duas situações contraditórias, talvez originárias de duas diferentes fontes informativas do Pentateuco. Isso, como é óbvio, reforçaria a noção básica da teoria J.E.D.P.(S.). Os intérpretes do Antigo Testamento tradicionalmente conciliam a questão supondo que havia um segundo dízimo, conforme também é explicado no Talmude, que o chama de Ma 'aser Sheni. E alguns estudiosos pensam que havia variações nos dízimos, por razões desconhecidas, ou que a ausência de imposição de leis específicas fazia parte de situações aparentemente contraditórias. Nesse caso, o livro de Números exporia o ideal quanto aos dízimos, ao passo que o livro de Deuteronômio refletiria o que sucedia na prática, durante o tempo da conquista da terra de Canal e da fixação de Israel naquele território. Mas o ponto de vista da alta crítica é que o livro de Números contém a ordem original das coisas, enquanto Deuteronômio mostra aquilo que foi determinado, depois que os levitas foram depostos, nos tempos do rei Josias. 6. Wellhausen acreditava que a denúncia feita por Ezequiel (44:4 ss.) foi o desmantelamento da ordem original e a redução dos levitas a virtuais escravos do templo, de modo contrário à prática antiga. Mas os eruditos conservadores supõem que essa denúncia, na verdade, reduziu os levitas idólatras à posição mais limitada que lhes cabia, ou seja, uma posição de subserviência. E, nesse

caso, Ezequiel não estabeleceu nenhum novo costume, apenas reverteu a situação ao que havia sido em seu estado original. 7. Apesar de o titulo sumo sacerdote ser de origem posterior, não significa que o próprio oficio não tivesse sido inaugurado na pessoa de Arão. E, assim, aquele oficio não veio à existência somente em tempos pós-exílicos. É apenas lógico que qualquer sistema sacerdotal devesse um cabeça. Também é apenas natural que tivessem havido desenvolvimentos no oficio; mas a essência do sumo sacerdócio, em Israel, começou com Arão. O próprio título aparece somente em 11 Reis 12: 10; 22:4, 8 e 23:4. Porém, em I Sam. 21 :2, encontramos a expressão «ao sacerdote», (aplicada a Aimeleque), o que também sucede em II Reis 11:9,10,15 (em alusão a Joiada), e em 11 Reis 16:10 ss. (em alusão a Urias), Nesses casos, o artigo definido «o» (dentro de «ao») poderia ter o significado de «sumo». 8. Não parece que o sumo sacerdote tivesse autoridade de um monarca. 9. A suposição de Wellhausen, de que o sumo sacerdote foi ofício originário de tempos posteriores, é uma contradição histórica com aquilo que sabemos acerca das práticas semíticas de uma remota antiguidade, onde havia, sem dúvida, um sumo sacerdote, e não meramente um tipo democrático de sacerdócio sem uma forte autoridade central. Além disso, é provável que a minimização do oficio sacerdotal tão-somente indique que, no tempo da monarquia, esse oficio se tivesse degenerado. e não reflita alguma condição existente antes de seu desenvolvimento. 10. Albright opinava que levitas, distintos em sua ordem e função, algumas vezes eram promovidos àquele oficio sacerdotal, pelo que não havia linhas de diferenciação muito rígidas, mesmo que tal distinção fosse mantida de forma geral. Argumentos e contra-argumentos abundam quanto à questão, mas não parece haver razão sólida para aceitarmos os pontos de vista radicais dos críticos ou para duvidarmos da historicidade básica do Pentateuco, no que diz respeito ao assunto do sacerdócio em Israel. 111. Características e Funções No que tange especificamente aos levitas, tenho fornecido amplas informações sobre eles, no artigo a respeito. Mas aqui podemos considerar os seguintes pontos: 1. Os sacerdotes eram ordenados a seu oficio e às suas funções mediante um elaborado ritual (Êxo. 29; Lev. 8). 2. Usavam vestimentas especiais, em sinal de seu oficio, e cada peça de seu vestuário ao que se presume, tinha significados simbólicos (Êxo. 29; Lev. 8). 3. O sumo sacerdote estava encarregado de certos deveres especiais, que só ele podia cumprir, como oficiar no dia da expiação, entrando no Santo dos Santos com esse propósito, e servir de principal oráculo do sacerdócio. Também tinha o dever de oferecer a refeição diária (ver Lev. 6: 19 ss.). Ver o artigo separado intitulado Sumo Sacerdote. 4. Os sacerdotes comuns realizavam todos os sacrifícios (Lev. 1--6), cuidavam de questões sobre alimentos próprios e impróprios (Lev, 13--14), e estavam encarregados de diversos outros deveres secundários (Núm. 10:10; Lev. 23:24; 25:9). 5. Eram sustentados mediante dízimos, primícias do campo, primícias dos animais e porções de vários sacrifícios (Núm. 18). 6. A função original de um sacerdote (no hebraico, cohen) era ser o intermediário de um oráculo, alguém que dava instruções por inspiração divina, segundo dele se

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SACERDOTES E LEVITAS - SACO funções do sacerdócio veterotestamentário. Essa é mesmo a mensagem central da epístola aos Hebreus, parecendo muito radical quando exposta pela primeira vez. pois anulava uma porção extensa e importante do Antigo Testamento, substituindo-a por um único sacrificio, o de Cristo, no Calvário. Finalmente, a história fez essa substituição tornar-se um fato, posto que o judaísmo moderno retém símbolos que levam avante o espírito da casta sacerdotal do Antigo Testamento. Ler a epístola aos Hebreus, monnentetrechos como 2: 14-18; 4:14-16; 5: 1-10 e seu sétimo capítulo. 2. Jesus Cristo também foi o cumprimento cabal do sacerdócio de Melquisedeque (ver Heb. 7). Ver o artigo sobre Melquisedeque. 3. Os deveres sacerdotais de Cristo cumpriram-se após o sacerdócio aarônico ter cumprido seu papel, sendo um cumprimento desse sacerdócio; o seu oficio como sacerdote seguinte a ordem ou categoria de Melquisedeque. Ver o artigo intitulado Sumo Sacerdote, Cristo como. 4. Todos os Crentes São Sacerdotes. Ver sobre Sacerdotes. Crentes como. As passagens neotestamentárias centrais que ensinam essa doutrina são I Ped. 2:5,9; Efé, 1:5ss. Os sacerdotes do Novo Testamento (todos os crentes) têm acesso ao trono celeste por meio de seu Sumo Sacerdote, Jesus Cristo (Heb. 10:19-22). O sacerdócio dos crentes é vinculado à filiação deles, o que, por sua vez,.é uma maneira de definir a salvação da alma. Visto haver acesso pessoal a Deus, por meio de Cristo, não há necessidade da intermediação de nenhuma casta sacerdotal. Princípios do Sacerdócio Bíblico: 1 Deus Pai ordena sacerdotes; esse é um privilégio e um ato divino. Ver Heb. 5:4-6. 2. Os sacerdotes eram nomeados mediadores entre Deus e os homens, sobretudo no tocante ao pecado, à expiação e à reconciliação dos homens, com Deus. Ver Heb. 5: 1. 3. A expiação pelo sangue de animais sacrificados ocupava o centro das funções sacerdotais. Ver Heb. 8:3. 4. O trabalho intercessório dos sacerdotes do Novo Testamento (os crentes) repousa sobre a natureza eficaz da expiação de Cristo. E é aí que os crentes alcançam a Deus. Ver Heb. 8: Iss. 5. O novo pacto, com base no sacerdócio superior de Cristo. envolve melhores promessas que aquelas do antigo pacto (Heb. 8:6). De fato, o novo pacto anulou totalmente o antigo (a totalidade da epístola aos Hebreus). VI. Bibliografia L ALB M B BRIN E ND ORR PF UN WEL Z

esperava. E isso continuou a ser uma importante parcela do oficio sacerdotal, mormente no caso do sumo sacerdote. Os sacerdotes também eram os guardiões e mestres dos documentos e das tradições sagradas. Finalmente essa função foi transferida para os rabinos, com o desaparecimento do sacerdócio em Israel. Como é óbvio, os profetas compar-tilhavam essas atividades; e, de fato, atuavam quase como se fossem sacerdotes, embora sem fazer parte do sacerdócio, de maneira formal, 7. Os sacerdotes eram guardiãos dos ritos sagrados, os quais promoviam o conhecimento sobre a santidade de Deus e a necessidade de os homens se aproximarem dele sem a polução do pecado. mediante os holocaustos apropriados e a mudança de vida correspondente. Eles queimavam o incenso sobre o altar de ouro, no lugar santo, o que era mesmo um símbolo das funções sacerdotais. Também cuidavam das lâmpadas, acendendo-as a cada novo começo de noite; e arrumavam os pães da proposição sobre a mesa própria. a cada sábado (ver Êxo. 27:21; 30:7,8; Lev. 24:5-8). Eles mantinham a chama sempre acesa no altar dos holocaustos (Lev. 6:9,12); limpavam as cinzas desse altar (vss. 10,11); ofereciam sacrifícios matinais e vespertinos (Êxo. 29:38-44); abençoavam o povo após os sacrificios diários (Lev. 9:22; Núm, 6:23-27); aspergiam o sangue e depositavam sobre o altar as várias porções da vítima sacrificial; sopravam as trombetas de prata e o chifre do jubileu, por ocasião de festividades especiais; inspecionavam os imundos quanto à lepra (Núm. 6:22 ss. e capítulos 13 e 14); administravam O juramento que uma mulher deveria fazer quando acusada de adultério (Núm. 5:15); eram os mestres da lei e agiam como juízes quanto às queixas do povo, tomando decisões válidas quanto aos casos apresentados (Deu. 17:8 ss.; 19:17; 21:5). IV. As Vestes Sacerdotaís Nem os sacerdotes comuns nem o sumo sacerdote usavam vestes especiais quando não estavam servindo em suas funções. A mais antiga vestimenta dos sacerdotes parece ter sido o 'epod bad, espécie de pano passado à cintura, e que nossa versão portuguesa chama de «estola sacerdotal» (ver 11 Sam. 6: 14,20). Somos informados, nessa passagem e em 1Sam. 22: 18, que essa peça era feita de linho. Já o sumo sacerdote usava uma estola sacerdotal de material mais caro, o ses (linho finíssimo), trabalhado em ouro, púrpura e escarlate. Parte dessa peça descia da altura do peito até os quadris, e era mantida no lugar por duas tiras que passavam por cima dos ombros e por outras duas que davam um laço à altura da cintura (ver Exo. 39: 126). Além disso, uma estola era usada para dar oráculos, a qual ficava pendurada em um lugar especial, no templo (ver I Sam. 21 :9). Os sacerdotes comuns, por sua vez, usavam uma peça que cobria seus quadris e coxas (ver Êxo. 28:42,43; Lev. 16:4); dispunham de uma longa túnica bordada, com mangas (ver Êxo. 28:40; 39:27), e também de um elaborado cinto feito de linho torcido, azul, púrpura e escarlate (ver Êxo. 28:40~ 39:27). Uma espécie de turbante lhes cobria a cabeça (ver Exo. 28:37,39; 29:6; 39:28). Não podiam usar nenhuma peça feita de lã, uma regra que também era mantida no Egito e na Babilônia no tocante aos sacerdotes (ver Eze. 44: 17). Além disso, no templo, não podiam calçar sandálias (ver Êxo. 3:5; 19:20). Ali, precisavam andar descalços (ver Êxo. 3:5; Jos. 5: 15), sem dúvida em sinal de respeito. Quanto às vestes distintivas do sumo sacerdote. ver o artigo intitulado Sacerdotes, Vestimentas dos. V. O Sacerdócio no Novo Testamento 1. O sacerdócio do Antigo Testamento tinha Cristo como seu antitipo. Ele incorpora em si mesmo todos os tipos e

SACO (PANO DE SACO) No hebraico, saq; no grego, sakkos, uma mecha, um pano áspero normalmente feito de pêlo de cabra (Isa, 50.3; Apo. 6.12). Este tecido parecia com o cilicium dos romanos. Usos do material: 1. Para fazer sacos (Gên. 42.25; Lev. 11.32). 2. Para fazer roupas humildes. mas duráveis. às vezes usadas próximo à pele, mas às vezes usadas como peças de vestuário externas (I Reis 21.27; Jó 16.15; Isa. 32.1 I; Jon.3.6). 3. Empregado como roupas na época de luto como um tipo de humilhação e pano apropriado para expressar a "dureza" de uma situação (Gên, 37.34; Est, 4.1-4); usado por homens e por mulheres com vários propósitos (11 Reis 6.30; Já 16.15; Joel 1.8; 11 Macabeus 3.19). 4. Para marcar ocasiões solenes (Gên. 37.34; n Sam, 3.31 ). 5. Para expressar uma penitência (ler. 6.26) 6. Meio de autopunição (lsa. 58.5; Dan. 9.3).

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SACRAMENTAL REFEIÇÃO - SACRAMENTOS 7. Usado em épocas de calamidades nacionais (Isa. 37.1;1 Reis 20.32).

Usos figurados: 1. De punições pesadas (Sal. 35.13). 2. Retirar o tecido de saco significava a liberação da tristeza (Sal. 30.11). 3. Severos julgamentos pelo Divino (Isa. 50.3; Apo. 6.12). 4. Os profetas usavam o material como roupa de baixo em sinal de sinceridade e seriedade de seu chamado e de sua missão (Isa. 20.2; Mat. 3.4). SACRAMENTAL, REFEIÇÃO Essa era uma característica comum das religiões antigas. Vários aspectos de interesse podem ser mencionados no tocante a essa questão. Em primeiro lugar; Deus ou os deuses estavam interessados em manter comunhão com os homens, e se deliciavam nas festas e banquetes que os homens ofereciam em sua honra. Em segundo lugar; acreditava-se que os alimentos ingeridos nessas ocasiões estavam impregnados dos poderes e da essência das divindades. Vários intérpretes crêem que a páscoa (ver a respeito) se revestia de tal significação para os hebreus e, naturalmente, é óbvia a conexão entre essa atitude e certas perspectivas sacramentais da eucaristia cristã. De fato, a visão sacramental da eucaristia é uma espécie de adaptação moderna da antiga refeição sacramental. Em terceiro lugar, os sacrifícios efetuados nessas oportunidades, ou a carne nelas sacrificada, segundo se pensava, eram poderosos para aplacar os deuses, desviando assim a ira das divindades e permitindo aos homens escapar. Em quarto lugar, tais refeições incorporavam, potencialmente, a idéia de pacto. Os homens sentam-se para conversar e comer e, em momentos de tal comunhão, estabelecem pactos ou acordos. Novamente, pois, encontramos certo paralelo com a Ceia do Senhor e com a visão eucarística relacionada. A refeição festiva comemora um pacto. Ver 1 Cor. II :23-26. A significação sacramental, de acordo com determinados intérpretes, é confirmada em João 6:40-52. Mas outros intérpretes vêem na Ceia do Senhor apenas uma comunhão mística, não uma refeição sacramental. Os católicos romanos, os altos anglicanos o os luteranos aderem à natureza sacramental da eucaristia, ao passo que a grande maioria dos grupos protestantes e evangélicos entende que a Ceia do Senhor se reveste de um sentido memorial e dedicatórío. SACRAMENTALISMO Esta é a posição, existente na cristandade, que pensa que as ordenanças da Igreja são sacramentos (ver a respeito). Para tais intérpretes, os sacramentos são veículos da graça divina, do ministério do Espírito Santo, e, por conseguinte, necessários à salvação espiritual, ao bem-estar e ao desenvolvimento do homem. O sacramentalismo chega ao extremo de afirmar que os sacramentos (mediante uma virtude conferida por Deus) podem transmitir graça mesmo quando, por necessidade, não se fazem acompanhar pela fé dos recipientes, como nos casos do batismo infantil e da extrema-unção.

exprimia a idéia exatamente oposta. Ao que parece, tal adjetivo foi cunhado por Lutero para referir-se àqueles que, como Zuínglio, tomavam um ponto de vista não-sacramental das ordenanças do batismo e da eucaristia.

SACRAMENTÁRIO GREGORIANO É um livro de assuntos litúrgicos, atribuído ao papa Gregório 1 (pontificou entre 590 e 604). Entretanto, sua autoria foi posta em dúvida a partir de 1729. Estudos completos têm demonstrado que, apesar da obra, como um todo, não poder ser atribuída a ele, contém escritos genuínos seus. Todavia, não se trata de obra de um único autor. O papa Gregório II (reinou entre 715 e 731) também participou de sua compilação. Contém orações para os domingos e dias santos, prefácios, o cânon da missa (conhecido como cânon romano desde 1968), formulários de ordenação e de dedicação de templos e várias bênçãos, como uma espécie de compêndio de teologia prática para os ministros da Igreja Ocidental. SACRAMENTARISTAS Este termo refere-se àqueles que supõem haver grande valor nos sacramentos, em oposição àqueles que os consideram meros símbolos, ou mesmo rejeitam de vez os sacramentos religiosos. No tempo da Reforma Protestante, a palavra fazia referência àqueles que se recusavam a concordar com a noção de Lutero da real presença do sangue e do corpo de Cristo nos elementos da eucaristia. O partido sacramentarista foi o autor da Confissão Tetrapolitana, assim chamada porque quatro cidades deram apoio aos sacramentaristas, a saber: Estrasburgo, Constança, Lindau e Menningen. Zuínglio concordava com as idéias desse grupo, e um artigo com seus argumentos foi incorporado na igreja helvética. A Helvécia vinha do nome latino da região da Europa central que agora é parte da Suíça, em sua porção ocidental. Essa era a designação romana dos habitantes celtas daquela área. Até hoje, Helvécia é um nome alternativo para Suíça. A Confissão Tetrapolitana era o mais antigo símbolo teológico da Igreja reformada (ver a respeito) da Alemanha. Foi preparada por Bucer (idem) em 1530, durante as sessões da Dieta de Augsburgo. Procurou encontrar uma posição de transigência entre as teorias sacramentais luterana e reformada, mas terminou sendo apenas uma das primeiras e fúteis tentativas de obter a união entre protestantes e evangélicos. Ver os artigos separados sobre as Confissões da Igreja Htstôrtca e sobre as Confissões Helvéticas. (AM E) SACRAMENTOS Esboço: I. Considerações de Pano de Fundo: a Metafísica da Questão 11. Definições Básicas UI. A Teologia Sacramental IV.Os Sete Sacramentos da Igreja Católica Romana V. O Protestantismo e os Sacramentos

SACRAMENTÁRIO Este adjetivo foi originalmente usado para aludir àqueles protestantes que negavam a doutrina luterana da consubstanciação (ver a respeito) ou à doutrina católica romana da transubstan-ciação (ver também a respeito). Curiosamente, em certos círculos, este adjetivo tem sido utilizado como sinônimo de sacramentalismo, que antes

I. Considerações de Pano de Fundo: a Metafísica da Questão O homem é considerado um ser que consiste em dois níveis, correspondentes aos dois níveis naturais da realidade, que podem ser divididos em material e não-material (ou espiritual). Na maioria das religiões, esses dois níveis não são distinguidos de modo absoluto, porquanto são

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SACRAMENTOS e os sacramentos, preferimos ver os pontos de distinção entre a Palavra e as ordenanças. Podemos indicar quatro pontos de distinção: 1. Quanto à necessidade. A Palavra é indispensável à salvação; as ordenanças são dispensáveis, e nem mesmo fazem parte do processo salvatício, Ilustração disso é o caso do ladrão penitente, na cruz, que morreu sem ter recebido nenhum rito, embora Jesus lhe tivesse garantido: «Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso» (Luc. 23:43). Uma ordenança é apenas um sinal visível da Palavra. A fé é a única causa instrumental da salvação (ver João 5:24; 6:29; Atos 16:31 etc.). 2. Quanto à aplicação. A Palavra deve ser pregada a todos; as ordenanças visam ser dadas somente aos que já fazem parte da família da fé. João Batista recusou batizar certos judeus impenitentes: «Raça de víboras, quem nos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, fruto digno do arrependimento... » (Mal. 3:7,8). 3. Quanto a seu objetivo. A Palavra visa fazer brotar e fortalecer a fé; as ordenanças são meros memoriais dos feitos remi dores de Deus. «Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazer isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim» (I Cor. 11 :25). 4. Quanto àforma de expressão. A Palavra visa ser pregada; as ordenanças impressionam a imaginação mais através da vista. Por assim dizer, as ordenanças são uma Palavra visível. As ordenanças são «formas visíveis da graça invisível». Quando certos cristãos passaram a crer que Deus manifesta a sua graça através de meios fisicos (erneios de graça», segundo o nome técnico), esses meios receberam o nome de sacramentos. O conceito não se coaduna com o ensino bíblico, que fala das operações diretas da graça divina sobre a alma, independentemente de qualquer meio externo, do mérito humano e da intervenção humana, porquanto é operação direta do Espírito Santo com base exclusiva na obra remidora de Cristo. Se o efeito da graça diSábadocristão- SAbAtávina é instantâneo e eficaz, o uso dos sacramentos redunda em uma monotonia repetitiva e eficaz que, no dizer da epístola aos Hebreus, é «impossível» que «remova pecados» (ver Heb. 10:3). Verdade é que o autor sagrado não se referia aos sacramentos modernos, e, sim, às ofertas simbólicas da legislação mosaica, mas a aplicação não é imprópria. A idéia de sacramento acompanha o cristianismo de longa data. Sem dúvida, faz parte do judaísmo. O escritor da epístola aos Hebreus encontrou-a entrincheirada na mente de muitos de seus leitores. Hamack indica que Tertuliano «já usava essa palavra a fim de denotar fatos sagrados, misteriosos, sinais salutares e veículos ou atos santos. Tudo quanto estivesse ligado à deidade e sua revelação e, portanto, até mesmo doutrinas, era chamado sacramento; e o termo também se aplicava ao que era simbólico, ao que era sempre algo misterioso e santo» (History ofDogma. IlI, págs. 138 e 139). Com o tempo, o uso do termo foi sendo afunilado, passando a indicar apenas aquelas cerimônias, litúrgicas que, supostamente, são transmissoras da graça divina. Atualmente, a Igreja Católica Romana fala em sete sacramentos: batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordens e matrimônio. As igrejas evangélicas, em sua maioria, evitam o uso do termo «sacramentos», tanto por causa de suas conotações históricas, como por não concordarem com a idéia de a graça divina ser veiculada por meio de cerimônias. Quase sempre os evangélicos preferem falar em ordenanças, definidas como símbolos externos da graça interna, limitando o seu número a dois: o batísmo e a Ceia do Senhor (ver os artigos a respeito). Destarte, fica eliminada

concebidos como capazes de entrar em contato mútuo, conforme se vê no cristianismo. É precisamente isso o que empresta à religião a sua vitalidade, pois, sob esse ângulo, a religião é mais do que uma visão mundial ou uma filosofia. A fé religiosa pode ser vital, porque a experiência humana pode ser espiritual, não meramente material. Ora, o sacramentalismo tenta argumentar com base nessa circunstância dos dois níveis, afirmando que os sacramentos, embora envolvam a materialidade, também têm uma função espiritual, mediante determinação de Deus. Deus toca os homens através da matéria e de sinais visíveis ou meios visíveis; e esses veículos é que transmitiriam a administração da graça divina. A encarnação é usada para exemplo de como a materialidade e a espiritualidade podemter uma união vital; mediante tal união a presença e a graça de Deus são comunicadas aos homens. 11. Definições Básicas A palavra portuguesa «sacramento» vem do latim sacramentum, algo «santo», «sagrado», «consagrado». Entretanto, a Vulgata Latina usou esta palavra para traduzir o termo grego mustérion, «mistério». Ver no Novo Testamento Efé. 1:9; 3:2 ss.; Cal. 1:26 ss.; I Tim. 3:16; Apo. 1:20; 17:7. Dentro dessa associação de idéias, um sacramento passa também a ser um santo mistério, uma verdade profunda e sagrada revelada pela divindade, embora continue contendo elementos ocultos ou dificeis de entender. Tertuliano usou o termo para denotar fatos sagrados, sinais misteriosos e salutares, atos santos que servem de veículo. Num sentido tão amplo, até mesmo alguma doutrina das Escrituras pode ser chamada de sacramento. Na opinião católica romana, um sacramento é algum rito instituído por Cristo ou pela Igreja, como sinal externo e visível de uma graça interna e espiritual. Na Igreja Ortodoxa Oriental, os sacramentos também são chamados mistérios. A tradição medieval fixou o número dos sacramentos em sete. O protestantismo tipo sacramental reduziu os sacramentos a dois: o batismo e a Ceia do Senhor. O catecismo anglicano brinda-nos com a seguinte definição: «Um sinal externo e visível de uma graça interior e espiritual que nos é dada, ordenado pelo próprio Cristo para servir de meio pelo qual recebemos essa graça, e pelo que nos é feita uma segura promessa». De acordo com a teologia católica romana, os sacramentos têm sua eficácia com base na vontade divina. Os sacramentos, de acordo com Roma, operariam ex opere operato, e não por alguma operação mecânica, mas, antes, pela graça e pelo poder divino, sem importar quão indigno seja o ministrante que realiza o rito, e, em alguns casos, independentemente da fé pessoal dos recipientes, conforme é o caso dos infantes, ao serem batizados, no aguardo da regeneração e de uma fé que se espera manifestar-se futuramente.

Relações entre a Palavra e os Sacramentos. Se tivesse dado sempre prioridade às Escrituras, nem teriam surgido os sacramentos. A Palavra subsiste sem nenhum sacramento, mas os sacramentos não podem existir, em nenhum sentido significativo, sem a Palavra. Melhor diríamos, não pode haver ordenanças sem a base da Palavra. Quando os evangélicos falam em «meios da graça», referem-se a exercícios espirituais, ao cultivo da piedade, não a cerimônias externas. Para nós, os meios da graça são coisas como a leitura da Bíblia, a meditação, a oração, a freqüência aos cultos, a piedade doméstica, as experiências místicas etc. Se alguns vêem pontos de semelhança entre a Palavra

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SACRAMENTOS encaradas como ineficazes para a salvação humana. Isso posto, dentro das fileiras católicas romanas, «sacramentalismr» é a posição que diz que somente aquela Igreja pode ser um agente salvaticio, sendo, de fato, um agente salvatício, através do uso dos sacramentos. Naturalmente, fica aqui compreendido que à Igreja Ortodoxa Oriental também são admitidos tais poderes, a despeito do que mais possa ser dito acerca de suas deficiências, por não reconhecer a autoridade universal do papa. Os protestantes não-sacramentalistas objetam a esse exclusivismo, e muitos pensam que os sacramentalistas usam os sacramentos como se fossem passes de mágica ou, então, como atos presunçosos de uma teologia desvirtuada. 6. Os sacramentos são vinculados ao pacto de Deus com os homens, servindo de meios para cumprir os propósitos desse pacto. Assim sendo, o novo pacto é concebido como uma aliança sacramentalmente administrada. 7. O próprio Cristo aparece como o verdadeiro celebrante dos sacramentos, visto que ministraria a fim de realizar os ritos que atuariam por sua delegação. I~ Os Sete Sacramentos da Igreja Católica Romana 1. Batismo. Seu agente fisico é a água; o labor espiritual é do Espírito. Um sacerdote deve oficiar o rito, exceto quando há urgência ou circunstâncias extraordinárias, quando então até um leigo pode administrar a cerimônia. O rito do batismo é administrado no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os teólogos católicos romanos ensinam que o batismo efetua a regeneração. Ver os dois artigos sobre Batismo e Regeneração Batismal. 2. Confirmação. Esse sacramento completa o intuito do batismo, e leva o indivíduo à plena responsabilidade. O agente fisíco é a imposição de mãos; o labor espiritual também é realizado pelo Espírito. A crisma (unção com azeite) pode acompanhar o ato. Normalmente, o ministrante é um bispo. Na Igreja Ortodoxa Oriental, um padre pode realizar a cerimônia como delegado de um bispo. Presume-se que o Espírito, mediante esse rito, capacita a pessoa para o cumprimento de sua vida e serviço cristãos. 3. Penitência. Esse é o ato físico da confissão de pecados na presença de um sacerdote e da absolvição concedida por ele. O padre atua em nome de Cristo e da Igreja. A pessoa expressa o desejo de reconciliar-se por meio de atos de contrição e fé. O ministrante é sempre um padre. O beneficio conferido é o perdão dos pecados, cometidos após o batismo, e o recebimento dentro da comunhão da Igreja, que fora rompida por causa do pecado. 4. Santa Eucaristia. Os agentes fisicos são o pão e o vinho. O elemento espiritual é o corpo e o sangue de Cristo, que se tornam na substância do pão e do vinho, sem modificação dos acidentes. Ver o artigo sobre a Transubstanciação. Alguns luteranos trocaram essa posição pela consubstanciação (ver a respeito). O rito é realizado no espírito e com palavras de agradecimento pelo sacrificio de Cristo. O beneficio é o fortalecimento e o refrigério do espírito, em união com Deus e assimilação de Cristo, presente nos elementos físicos. A Igreja Católica Romana preceitua que se acham presentes o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Cristo nos elementos do pão e do vinho. O ministrante é um sacerdote; o recipiente é uma pessoa batizada e membro da Igreja organizada. O res sacramenti é o verdadeiro, mas espiritual corpo e sangue de Cristo. Ver o artigo detalhado chamado Eucaristia. 5. Santas Ordens. O agente físico é a imposição de mãos, com o pronunciamento da fórmula de ordenação,

a necessidade de criar uma liturgia em tomo de tudo quanto não simboliza diretamente a obra salvatícia de Cristo. As ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor representam aspectos variados da operação interna do Espírito e da obra remidora de Cristo. A eficácia da graça divina e a ineficácia dos sacramentos podem ser ilustradas como segue: Nasceu uma menina de pais católicas, que a levaram à pia batismal no tempo hábil; mocinha, ela fez sua primeira confissão, tomou a hóstia e foi crismada. De fortes tendências religiosas, a jovem não perdia a missa, nem se descuidava de se confessar e participar da comunhão freqüentemente. Após alguns anos, tomou-se freira, tendo passado uma longa vida de religiosidade e serviço fiel à sua Igreja. Agora,jazia moribunda no convento. Veio um padre e lhe deu a extrema-unção, último recurso litúrgico católico. Se, então, alguém perguntasse da velhinha se ela tinha a certeza da salvação, ela responderia com uma dúvida atroz no espírito: «Quem sabe, meu filho, quem sabe?». Todos os supostos meios da graça, por ela recebidos, haviam sido em vão. 111. A Teologia Sacramental 1. Essa teologia está estribada sobre o ponto de vista dos dois níveis da existência, conforme foi descrito na seção primeira, acima. 2. Um sacramento operaria através da vontade divina, mediante a administração do Espírito, pelo que seria mais que mero sinal. Antes, seria um poder atuante que altera tanto o estado do homem como lhe administra as graças do Espírito. 3. Espera-se da parte de quem recebe um sacramento a reação e a cooperação de sua vontade, e também que o sacramento seja recebido no estado espiritual apropriado e com uma santa atitude acolhedora; mas a eficácia de um sacramento dispensa esse aspecto, visto que o ato, em si mesmo, é um poder transformador, uma vez que carrega o ministério do Espírito. Outrossim, como nos casos do batismo e da extrema-unção, esse poder pode operar sem a vontade e a fé do recipiente, sendo assim uma pura medida da graça. Além disso, o ministro que administra um sacramento de forma devida, pode ser uma pessoa indigna; mas, se tal ministrante acha-se dentro da linha da sucessão apostólica, então permanece o seu poder de administrar os sacramentos, a despeito de suas falhas pessoais. 4. «Os sacramentos envolvem ou subentendem uma promessa ou compromisso, e são mistérios, no sentido de que não desvendam o seu sentido diante de olhos incrédulos. Conforme concordaram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, são sinais de uma santa realidade ou graça que santifica aos homens» (C). 5. O batismo e a eucaristia, desde a antiguidade, têm sido considerados como ordenanças que ocupam urna classe toda especial, por serem essenciais à salvação dos homens, sem os quais tal salvação se toma impossível. Os católicos romanos liberais acreditam que os sacramentos podem existir à parte de qualquer sinal visível e externo, como no ministério do Espírito; mas os católicos romanos conservadores crêem que a presença e utilização dos sinais externos são necessárias para que a graça do Espírito possa atuar. Nisso cria-se uma exclusividade, porquanto é evidente que somente certos ministros cristãos são reputados qualificados para administrar os sacramentos. A Igreja Católica Romana aceita a validade dos administrados pela Igreja Ortodoxa Oriental (embora esta seja considerada cismática). Porém, o catolicismo romano não aceita os «dois» sacramentos dos protestantes sacramentalistas. Como é óbvio, as religiões não-cristãs também são

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SACRAMENTOS Igrejas reformadas assumiram uma posição diferente. O Breve Catecismo de Westminster declara a questão como segue: «Os sacramentos tornam-se meios eficazes de salvação, não devido a alguma virtude inerente a eles, ou devido à sua administração, mas devido à bênção de Cristo e às operações do Espírito Santo nas pessoas que, mediante a fé, os recebem», Nesse segmento do cristianismo. os sacramentos são analisados em três partes: a. eles representam os beneficios do novo pacto; b. eles são selos ou garantias do novo pacto; c. eles devem ser aplicados. Naturalmente, do ponto de vista católico romano, não resta sacramento se esta posição reformada for aceita. Além disso, para os grupos reformados, a aplicação da graça dos sacramentos só se realiza quando o indivíduo foi regenerado mediante fé pessoal. Naturalmente, os presbiterianos levam a sério a identificação do recipiente com o pacto, o qual, não sendo eficaz sem a fé individual, ainda assim é uma espécie de vínculo que ajuda os homens a prosseguir até Deus. 3. As Ordenanças. Quase todas as denominações evangélicas são radicalmente anti-sacramentais, razão pela qual chamam o batismo e a Ceia do Senhor de ordenanças. Esses grupos não pensam que as ordenanças envolvem eficácia inerente que vá além de qualquer outra forma externa de adoração, vida e serviço cristãos. O Espírito Santo observa aqueles que empregam os meios da Igreja tendo em vista seu próprio desenvolvimento espiritual, e então abençoa aos tais. A fé pessoal e a justificação pela fé são as operações eficazes por meio das quais o indivíduo é espiritualmente beneficiado. A obra regeneradora é ali aceita como uma operação do Espírito, desvinculada de qualquer mérito pessoal do recipiente, e desvinculada de quaisquer ritos que este venha a realizar. Não obstante, alguns evangélicos acreditam que os momentos do batismo e da Ceia do Senhor são especiais, quando a presença do Espírito se faz mais pronunciada, como se o crente pudesse desfrutar de uma comunhão mais intima com o Senhor nessas oportunidades. Mas, mesmo nesses casos, não se pensa que as ordenanças sejam meios de salvação. Há tão-somente um aproveitamento espiritual quando a pessoa age por sua própria vontade e exercita a sua fé. Entre os evangélicos, espera-se que tanto o batísmo quanto a Ceia do Senhor sejam aplicados a pessoas regeneradas. Quanto ao batismo em água, em alguns grupos esse é administrado a infantes, embora não se julgue ter os mesmos efeitos regeneradores. Mas, em outros grupos, o batismo em água é reservado exclusivamente aos adultos regenerados. Para esses grupos, o batismo é um ato de obediência, com vistas a um intencional discipulado cristão, e não a um ato regenerador. Os grupos protestantes e evangélicos dessa persuasão pensam que os pontos de vista católicos romanos envolvem idéias primitivas, que incluem noções como passes de mágica. Esses grupos objetam à interpretação sacramentalista de certos versículos neotestamentários, utilizados em apoio às opiniões romanistas. Abordo essas questões nos artigos intitulados Transubstanciação e Jesus como o Pão da Vida. Este último oferece a interpretação mística da passagem do sexto capítulo de João, que é muito debatida. 4. Argumentos Contrários ao Sacramentalismo, com Base na Experiência. Quantos milhões de pessoas são batizados na infância, em nosso Brasil, nunca demonstram sinal de conversão e regeneração? Quantas dessas mesmas pessoas continuam a tomar a santa comunhão, mas nem por isso dão alguma mostra de autêntica regeneração? Se supostamente os sacramentos são eficazes, garantindo as operações do Espírito de Deus, mesmo à parte da vontade

que define a intenção do rito. Quem realiza a cerimônia usualmente é um bispo, e os recipientes são pessoas batizadas, que assumem, mediante o ato, deveres e serviços especiais. A graça transmitida é o poder e as qualificações para o ministério sacerdotal. 6. Matrimônio. O agente fisico é a cerimônia de matrimônio e o contrato legal do matrimônio. Um padre realiza o rito, e os recipientes da graça conferida são o homem e a mulher que se casam. A graça é o poder e a bênção necessários para o cumprimento apropriado dos ideais do matrimônio, como a ajuda mútua, as legítimas funções sexuais, a procriação e a manutenção de uma relação monógama. Os recipientes devem ser batizados, membros da Igreja organizada, sem nada que as desabone. Não deve haver impedimento legal ou moral ao casamento. Os casamentos mistos (de pessoas católicas romanas com pessoas não-católicas romanas) não podem receber esse sacramento. 7. Extrema-unção. Trata-se de uma unção com azeite, com a diferença de que o recipiente é alguma pessoa enferma, tendo em vista a sua possível cura. Chama-se «extrema» porque geralmente é ministrada em casos desesperadores. O agente fisico é o azeite usado na unção, paralelamente à prece apropriada pedindo graça e ajuda. O ministrante é um sacerdote, exceto em casos de grande emergência, quando então um leigo pode administrar esse sacramento, em nome de Cristo e da Igreja. O beneficio esperado é a graça que ajude na enfermidade física e na remissão dos pecados. Recebida a extrema-unção, a alma estaria preparada para ser admitida aos mundos de luz. Matéria e Forma. Cada um dos sete sacramentos tem matéria e forma. A matéria é a substância material usada, como a água, no batismo, o azeite, na unção, a imposição de mãos etc. A forma é o conteúdo do rito pronunciado. A matéria e a forma, consideradas conjuntamente, formam o sacramentum. A graça é o beneficio procurado através do rito. A graça também é chamada de beneficio. A fé por parte dos recipientes é chamada virtus. O ministro age como delegado da Igreja, a qual, por sua vez, é considerada delegada de Cristo. Em adição a esses elementos, na eucaristia também há o res sacramenti, o corpo e o sangue de Cristo, presentes nos elementos físicos do pão e do vinho. As informações dadas acima refletem, essencialmente, a doutrina da Igreja Católica Romana, onde a questão dos sacramentos foi mais amplamente desenvolvida. Os ritos da Igreja Ortodoxa Oriental diferem quanto a detalhes relativamente pequenos. V. O Protestantismo e os Sacramentos 1. Os luteranos e alguns baixo-anglicanos reduziram os seus sacramentos a dois: batismo e a Ceia do Senhor. Mas ali esses dois ritos retêm um caráter verdadeiramente sacramental. Asseveram a idéia de alguma virtude objetiva nos sacramentos, mas salientam a necessidade de fé por parte dos recipientes. Naturalmente, no caso do batismo de infantes, isso não pode ser mantido logicamente (embora Lutero assim se tivesse pronunciado, fosse como fosse). Nesse caso, a intenção dos pais substitui a fé da criança, aguardando o tempo em que a criança venha a poder ter sua própria fé. Os alto-anglicanos (ou Anglo-Católicos, ver a respeito) retêm os pontos de vista essenciais do catolicismo romano. 2. Nas Igrejas Reformadas. Os teólogos católicos romanos ensinam que os sacramentos operam ex opere operato, pois o objetivo deles não depende dos recipientes, embora, como é óbvio, seja desejável a apropriada condição espiritual para recebimento desses ritos. Já as

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SACRIFÍCIOS - SACRIFÍCIOS E OFERTAS que saem com Cristo, até fora da porta, podem ser beneficiados.

no fogo do senhorio divino, visando seu serviço e sua glória» (Lange, in loc.).

SACRIFÍCIOS DE ANIMAIS Ver o artigo sobre Sacrificios.

Vivo. Em que sentido? De conformidade com os três pontos listados a seguir: 1. Em oposição aos "sacrifícios abatidos", que prestavam seu serviço mediante a morte. 2. Pois o crente presta seu serviço a Deus através de sua vida consagrada. Isso nos faz lembrar de Sócrates, cuja ética dizia que a vida santa consiste em morrer diariamente. Primeiramente, enfatizamos o nosso lado "espiritual", negando os apetites do corpo. Em segundo lugar, devemos ser como homens que estão prestes a morrer, por estarem as nossas mentes voltadas totalmente para valores mais elevados, mediante os quais também nós vivemos, não nos deixando guiar pelos valores da carne. 3. Também devemos libertar de tal maneira nossos espíritos para que prestemos ao Senhor o serviço apropriado, sem os empecilhos das limitações mortais e pecaminosas. Os sacrifícios judaicos subentendiam em matança; os sacrifícios cristãos subentendem em sua atividade em uma vida contínua; porém, assim como nos ritos judaicos todas as cerimônias precisavam ser cumpridas, a fim de que os sacrificios fossem aceitáveis aos olhos de Deus, nos sacrifícios cristãos, nosso corpo deve ser santo, sem mancha ou mácula.

SACRIFÍCIOS E OFERTAS 1. Caracterização Geral 11. Classificação dos Sacrificios 111. Materiais Empregados IV. Modos de Apresentação V. Sacrifícios do Mundo Antigo VI. Sacrifícios no Antigo Testamento VII.Sacrificios no Novo Testamento I. Caracterização Geral Na maioria das fés antigas do período antes de Cristo, o sacrificio era o principal instrumento de louvor, o modo mais favorecido de tentar aproximar-se do Divino. No tangente à fé hebraica, os livros de Levítico, Números e Deuteronômio eram as principais compilações das regras que regiam a prática. Originalmente, os materiais comestíveis utilizados para sacrificios eram considerados o "alimento" dos deuses ou de Deus. Os sacrifícios dos israelitas eram, essencialmente, de duas classificações amplas: I. O sacriflcio do pacto, com sua refeição sacramental. A Deidade era considerada o anfitrião da refeição, e os participantes, seus amigos e membros companheiros no acordo que estava sendo feito. Os membros companheiros eram os "convidados" da refeição sacrificial. Achava-se que o ritual tinha por propósito estabelecer um laço de amizade e obrigação mútua entre o "anfitrião" e os "convidados". 2. O sacrifício tabu transformava todos os materiais usados em produtos da criação da Deidade. Os materiais eram de origem tanto vegetal como animal. O tabu proibia o uso por humanos dos materiais designados, sendo esses propriedade exclusiva do Divino. Quando os sacrifícios eram realizados, a redenção e a expiação eram alcançadas, bem como eram obtidas bênçãos para os participantes que apaziguavam a(s) Deidade(s) através de seus atos. Os primeiros frutos da doação de materiais eram do tipo tabu. Os materiais para sacrificios poderiam apenas ser de propriedade doméstica e agrícola do homem. Animais silvestres não poderiam ser usados, nem materiais vegetais que crescessem de forma silvestre, distante do cultivo humano. O sacrifício precisava ter um "toque pessoal". Originalmente, todos os animais domésticos mortos para alimentação eram considerados sacrifícios, mas posteriormente cerimônias específicas passaram a limitar o sacrifício a rituais especiais e regulados. Muitos oráculos locais estavam envolvidos em sacrificios, mas, a longo prazo, houve um esforço para limitar os sacrifícios ao templo e seu lar, Jerusalém. A Reforma Deuteronômica ocorreu por volta de 621 a.C., segundo as avaliações dos críticos, mas muito antes, segundo o pensamento de conservadores, que associavam a limitação com regulamentações mosaicas instituídas por Davi e Salomão. Ver Deu. 12. No período pós-exílico (depois de 539 a.C.), o sistema de sacrificios judeu foi sistematizado. O antigo sacrificio do pacto passou a ser chamado de oferta de paz, enquanto o tipo tabu foi dividido em várias classificações, como a oferta queimada, a oferta de refeição, a oferta por pecados, com sua subdivisão de oferta por culpa. Todos os sacrifícios estavam envolvidos em algum tipo de propósito de acordo ou expiação. A destruição de Jerusalém em 70

SACRIFÍCIOS Sacrifícios que podiam ser comidos, ou, de alguma outra maneira, conferiam certo beneficio pessoal aos sacerdotes: 1. A oferta queimada dos governantes (um cabrito), bem como a oferta pelo pecado oferecido pelo povo comum (uma cabrita ou um cordeiro). (Ver Lev. 4:22 ss. e 27 e ss. Comparar com as regras que aparecem no sexto capítulo do livro de Levítico, acerca de comer ou não os sacrificios.) 2. A pomba oferecida por um homem pobre (ver Lev. 5:9). 3. A oferta pela transgressão (ver Lev. 7:7). 4. A pele da oferta queimada, inteira (ver Lev, 7:8. O sacerdote podia ficar com o couro). 5. A oferta movida do peito e do ombro das ofertas pacíficas. 6. As ofertas movidas da festa das Semanas, em sua inteireza. E as ofertas dasquais os sacerdotes não podiam participar eram as seguintes: 1. A oferta pelo pecado do sumo sacerdote, por si mesmo (ver Lev. 4:5-7, 12). 2. A oferta pelos pecados de ignorância do povo (ver Lev. 14:16-21 eNúm. 15:24). 3. A oferta pelo pecado do sumo sacerdote e do povo combinados, no grande Dia da Expiação, cujo sangue era levado ao Santo dos Santos, e não somente ao Lugar Santo (ver Lev. 16:27). Além disso, há uma regra geral, à qual o autor sagrado sem dúvida faz alusão, e que se acha em Lev. 6:30. (Nenhuma oferta pelo pecado, da qual o sangue era levado ao interior do tabernáculo da congregação, para reconciliar, no lugar santo, seria comida; seria queimada no fogo» (Alford, citando Delitzch). O sacrifício de Cristo não pode ser pessoalmente apropriado por aqueles que insistem em aferrar-se aos antigos caminhos, porque foi um sacrifício efetuado fora do portão, e nada de seu benefício foi deixado no interior do tabernáculo.para uso dos sacerdotes. Somente aqueles

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SACERDOTES,VESTIMENTOS

Cinto do sacerdote

Roupa do sumo sacerdote com ramAs e sinos de ouro

o sumo sacerdote com suas roupas do dia da Expiaçio

Ver descrições das roupas do sumo sacerdote apresentadas

em

Casaco dos sacerdotes

~xo. capo 34.

SACERDOTES.VESTIMENTOS

Roupas dos sacerdotes egipcios

Sacerdotes -

Usos :lvfetafóricos

Vós taJnbéDl. COUlO pedras vivas. sois edificados casa esf!iritual e sacerdócio santo. para oferecer sacrificios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. (I Ped. 2:5) Tendo pois. innAos. ousadia Rat"a entrar no santuário. pelo sangue de Jesus. pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou. pelo véu. isto é. oe1a sua carne. E tendo UJD grande . sacerdote sobre a casa de Deus... (Heb. 10:19-21)

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SACRIFÍCIOS E OFERTAS tendo sido completamente queimada), seguiam refeições comunais, nas quais os sacerdotes tinham direito de escolher os cortes de carne e ao povo era destinado o restante. As peles ficavam com os sacerdotes para servir de vestimenta e abrigo. O sangue das vítimas era coletado pelo sacerdote em um vaso usado para esse propósito, e então era respingado em qualquer dos lados do altar, em seus chifres, ou nos chifres do altar de incenso, ou, às vezes, "nele", isto é "na direção" do altar. O que restava do sangue era então esvaziado no pé do Grande Altar (Êxo. 29.12; Lev. 4.17,18). O sangue e a gordura pertenciam a Yahweh. Se a vítima era uma ave, o sacerdote arrancava-lhe a cabeça e permitia que o sangue fluísse no lado do altar. As vísceras eram jogadas nas cinzas ao lado do altar, e a cabeça e o corpo eram queimados no altar (Lev. 1.15). Ofertas de origem vegetal. Às vezes ofertas de grãos eram associadas às ofertas animais. Nesses casos, parte da farinha e do óleo, algumas das espigas dos grãos e os bolos (com incenso) eram queimados no altar. Parte era destinada ao consumo dos sacerdotes. Não era permitida levedura em nenhum dos preparos (Lev. 2.2 ss.; 6.9-11; 7.9 ss.; 10.12 ss.), No caso da oferta de graças, um bolo era oferecido a Yahweh, o Recebedor, e então se tomava o alimento do sacerdote que respingava o sangue (Lev. 7.14). Os outros bolos tornavam-se o alimento dos sacerdotes que os apresentavam. Ver outros detalhes na seção VI, onde apresento um sumário dos tipos de ofertas. V. Sacrifícios do Mundo Antigo É inútil isolar os sacriflcios hebraicos e suas formas de outros sistemas do mundo antigo, pois havia um tipo de semelhança e mesmice, sugerindo que ocorreram empréstimos e adaptações no sistema hebraico. Em outras palavras, nem toda a legislação do Antigo Testamento era exclusiva. No mundo mesopotâmico, as idéias dominantes eram a expiação e a provisão de alimentos para os deuses. O deus, feliz com os sacrifícios oferecidos, consideraria "seus adoradores" com maior gentileza e acumularia beneficios para eles. Diziam-se que Marduque, o deuschefe dos babilônicos, criou os homens (chamados de "aqueles de cabeças negras") com o propósito específico de que o servissem com seus sacrifícios e rituais religiosos. Seus templos o agradariam, pois ele estaria recebendo bastante atenção daqueles que os haviam construído. Os deuses ficavam felizes com a provisão de alimentos, que, de alguma forma misteriosa os agradava, especialmente os cheiros deliciosos produzidos que se propagavam pelo ar, chegando às narinas dos deuses. Cf. Gên, 8.21; Exo. 29.25; Lev, 1.9, 13, 17; Núm. 15.3. Os deuses do antigo Sumer tinham seus próprios santuários e cidades dedicadas a seus cultos. Orações e ritos eram realizados e incenso era queimado. O sacrifício era sempre central. Como na cultura hebréia, ofertas de animais e vegetais faziam parte do sistema. Gêneros alimentícios eram colocados diante dos deuses e então retirados para serem comidos pelo rei e pela família real. De alguma forma misteriosa, os deuses conseguiam saciarse com esses rituais e então retribuíam aos homens, ajudando-os e livrando-os de perigos. Os vizinhos de Israel não tinham regras sobre o uso apenas de certos animais domésticos "aprovados" para sacrifício. Sabemos que, no norte da Síria e na Anatólia, burros eram usados em ritos sacrificiais, Um livro hitita de rituais fala do sacrificios de cães. Soldados no campo de batalha, na esperança de apaziguar os deuses e conseguir sua ajuda, não hesitavam em sacrificar animais silvestres, algo que um hebreujamais faria.

d.C, provocou o fim do sistema sacrificial judeu. Os rabinos supunham que a oração, os símbolos rituais e o serviço humanitário tivessem tomado o lugar do antigo sistema de sacrifício. Tal atitude prevaleceu em tempos modernos. 11. Classificação dos Sacrifícios Já vimos algo sobre isso nas descrições anteriores relativas aos sacrificios do "pacto" e do "tabu". Sob a lei mosaica, temos ainda outras divisões: 1. Sacrificios efetuados para estabelecer e ampliar a comunhão do homem com o Divino. Os meios de estabelecer a comunhão eram a expiação, as ofertas por pecados e as ofertas por violações. 2. Uma vez estabelecida a comunhão, pensava-se que sua preservação e ampliação fossem alcançadas através de ofertas queimadas, ofertas de paz, que incluíam ofertas de agradecimento, de votos, de desejo livre, e de carne e bebida. O adorador perdoado avançava em comunhão com o Divino e cria-se que tal avanço era mediado pelo intricado sistema de sacrificios. 111. Materiais Empregados Esses materiais eram de duas classes principais: em primeiro lugar, o sangrento (sacrificios de animais). Originalmente incluíam o sacriflcio humano, mas a lei mosaica denunciou essa prática (um lembrete do que vemos na intenção de Abraão de sacrificar seu filho, Isaque). Em segundo plano, havia os sacrificios nãosangrentos, isto é, de produtos vegetais e agrícolas. 1. Os sacrificios animais eram realizados com os cinco animais nobres: o boi, a ovelha, a cabra, a rola e a pomba. Esses animais tinham de cumprir as quatro exigências: a. nenhuma mancha ou defeito: animais limpos, isto é, apenas aqueles designados para propósitos sacrificiais e considerados limpos de acordo com as regulamentações levíticas; b. animais adequados para alimentação; c. parte da propriedade do adorador; d. de idade adequada, entre uma semana e três anos de vida. O boi castrado de sete anos de idade que figura em Jud. 6.25 é excepcional. Animais machos e fêmeas podiam ser usados, mas certos tipos de sacriflcios permitiam apenas o uso de machos. Para referências bíblicas que falam de tais regulamentações, ver Lev, 3.1.6; 5.7; 7.16; 12.8; 22.2024 (e os contextos nos quais essas referências são situadas); Êxo. 22.30; 28.38 (e contextos); Núm. 15.5 ss.; 28.11 ss. 2. Materiais de origem vegetal. Vários grãos, azeite de oliva, vinho e materiais adequados para incenso. O sal também era usado em ambos os ritos, animais e vegetais. De fato, todas as ofertas vegetais tinham de ser salgadas (Lev. 2.13; Eze. 43.24; Mar. 9.49). Leveduras e mel não eram permitidos (Lev. 2.13). Preparações: os grãos eram assados na espiga (Lev. 2.14); transformados em farinha fina (Lev. 2.1); às vezes eram preparados em misturas com incenso e óleo (Lev, 2.1,15 ss.); farinha sem levedura era usada para fazer certos tipos de bolos ou biscoitos. Cozimento: as ofertas em grãos eram assadas em uma panela ou em um fomo, ou fritos em uma panela. IV. Modos de Apresentação Rituais específlcos deviam ser seguidos. O homem que trouxesse o animal sacrificial era o que deveria realizar a matança. Ele abatia o animal no lado norte do altar (Lev. 1.4,5,11; 3,2,8; 6.25; 7.2). No caso dos cultos regulares do santuário e das ofertas para ocasiões festivas, os sacerdotes faziam as ofertas em nome do povo. As vítimas eram mortas, suas peles eram retiradas e as carcaças eram cortadas em pedaços. Exceto pelo holocausto (a oferta

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SACRIFÍCIOS E OFERTAS 7.12, 22,29); b. uma oferta que correspondia a uma promessa específica (ver Núm. 6.14; 15.3; 17.16);c. uma oferta de boa vontade (ver Lev. 17.16; 22.18, 21). Gado (bois e vacas) podia ser usado para esses tipos de ofertas; até mesmo um animal defeituoso podia ser usado no caso de ofertas voluntárias (Lev. 22.23), pois esses sacrificios iam além das exigências da Lei e, assim, poderiam representar um gasto menor para o adorador. Os sacrifícios eram sempre acompanhados por ofertas de cereais e derramamento de líq~lidClV 7_11) Aparentemente não eram utilizadas aves nesses rituais. 5. Ofertas de cereais e de líquidos derramados. Do hebraico minhah, ou "oferta". Essas ofertas eram feitas em conjunção com os rituais de ofertas queimadas e de paz. Os bolos de cereais eram assados, num total de dez, exceto no caso em que os bolos preparados representavam todo o Israel, e então eram usados doze. Os bolos significavam alimento para Yahweh e para os sacerdotes e pessoas. Aplicações especiais das ofertas de cereais: a. a oferta diária do Sumo Sacerdote (Lcv. 6.14 ss.); b. parte do ritual da consagração dos sacerdotes (Lev. 6.20); C. substituição para uma oferta de pecado no caso de pobreza (Lev. 5.11, 12). O derramamento de vinho sempre acompanhava as ofertas de paz. 6. As ofertas de levantamento e de acenos: levantamento (do hebraico terumah, "levantar"), referentes a como os sacerdotes levantavam e abaixavam o material das ofertas, isto é, as porções dos animais sacrificiais ou material vegetal (Êxo. 25.2 ss.; 35.24; 36.3; Lev. 7.14; Núm. 15.19 ss.; 18.19). Nessas ofertas, acenavam-se os materiais, do hebraico tenuphah, "ondear" (Lev. 2.2,9; 7.32; 10.15). Elas indicavam: "Veja, Yahweh, levanto ou aceno ante o Senhor tudo o que tenho c sou, entregando tudo ao Ti". Presentes eram oferecidos ao templo e ao seu ministério. Essas eram ofertas verdadeiras, em contraste com os sacrificios. Ofertas de graças envolviam este tipo de ritual (Lev. 14.12; Núm. 6.20). Os sacerdotes eram consagrados por tais tipos de ofertas, numa demonstração de entrega completa a Yahweh. 7. A oferta de cinzas da novilha vermelha. Este animal era reduzido a cinzas, que depois eram usadas em purificações (Núm. 19.1) e ofertas de pecados (Núm. 19.9, 17). O pecado causa a morte; as cinzas removem a causa e limpam o adorador. As pessoas purificavam-se de qualquer tipo de impureza através deste ritual. Os "impuros" ficavam, assim, "limpos", de acordo com a lei de Moisés. Ver Limpo e Imundo para detalhes sobre as coisas que deixavam o homem impuro. Ocasiões (Momentos) para Ofertas I. Diariamente (Núm. 28.3-8), pela manhã e à tarde: dois cordeiros sacrificados em uma oferta queimada, acompanhados de uma oferta de cereal e do derramamento de líquidos. 2. Aos sábados (Núm. 28.9, 10; Lev. 24.8): as ofertas diárias regulares mais dois cordeiros para uma oferta queimada; uma oferta de cereal com derramamento de líquidos e doze pães novos da proposição colocados nos lugares apropriados. 3. Na lua nova (Núm. 28. 11-15): a oferta diária mais dois bois jovens, um carneiro, sete ovelhas para ofertas queimadas; uma oferta de cercai e o derramamento de líquidos. 4. Na Festa das Trombetas (Núm. 29.1-6): os sacrifícios diários mais as ofertas de lua nova; sacrifícios de um boi jovem, um carneiro e sete cordeiros para uma oferta queimada; ofertas de cereais, mais derramamentos de líquidos.

Tabuletas ugaríticas e fenícias informam sobre sacrificios que nos fazem lembrar do Antigo Testamento, no tocante tanto a sacrificios animais como vegetais, e EI (o poder), um nome semita comum (também usado pelos hebreus) para representar Deus, figura com destaque no ritual. Os sacerdotes de Baal tinham terminologia e práticas similares às dos israelitas (ver I Reis capo 18; II Reis 10.18-27). Os gregos eram um povo muito religioso desde os dias de Homero, até a época do Novo Testamento. Sacrifícios aparecem com destaque em toda a sua história (ver llíada, 1.11.446-476). Os sacrifícios envolviam animais, vegetais e a refeição sagrada da qual compartilhavam homens e deuses. Os sacrificios eram oferecidos tanto às deidades do submundo como àquelas do augusto Olimpo. Além do uso do boi e do cordeiro, os gregos empregavam cães e outros animais "sujos", da perspectiva hebraica. VI. Sacrificios no Antigo Testamento Os sacrifícios específicos do sistema hebraico eram os que seguem: 1. Oferta por pecados (Lev. capo 4). Do hebraico hattath , "ofensa". Os pecados de ignorância eram reparados através de sacrificio animal (Lev. 4.2). Pecados premeditados não tinham reparação (Lev. 15.30). O reparo adequado resultava no perdão do pecado cometido (Lev. 4.20,26, 31, 35; 5.10). O sangue e a gordura eram a porção de Yahweh. Os sacerdotes ficavam com os cortes de escolha, e o povo, com o que sobrava. Uma refeição sagrada, comunal, encerrava o rito. A gordura era queimada no altar e o sangue era espalhado pelos lados, na direção do altar, ou derramado na sua base. Pensavase que a "vida" do animal estava em seu sangue (Lev. 17.11, 14). Portanto, Yahweh recebia a "vida" do animal, o que Lhe agradava, e por isso Ele perdoava o "dono" que havia trazido o animal para sacrifício: em outras palavras, era realizado um rito vicário. Os materiais usados para este tipo de sacrifício eram bois jovens, cabritos e cabras, ovelhas, rolas e pombas (para os pobres que não possuíam animais grandes, e para os ritos de purificação de mulheres). Ver Lev. capsA, 5, 6, 14,15 para descrições. Ver ainda Núm. caps. 6, 8, 28. 2. Ofertas por transgressões, para infrações específícas da Lei, do hebraico asham (falha). A reparação era o objeto desta oferta. Fornecia-se uma recompensa para um tipo específico de erro. A oferta pelo pecado era geral, enquanto a oferta por transgressões era específica, mas os objetivos eram os mesmos. Um cordeiro era o animal comum neste ritual (Lev. 4.14, 15; 6.6; 19.21). O animal usado para os leprosos e para os nazireus era o cordeiro. 3. Ofertas queimadas, do hebraico olah, que se refere a "fumaça ascendente". Neste holocausto (ver), o animal inteiro era queimado até sobrar quase nada. Apenas a pele era guardada e dada ao sacerdote que estava realizando o ritual. A oferta era tanto reparatória como restauradora dc uma comunhão e simbolizava o compromisso de um homem com Deus. Foi uma oferta de pacto especial que vinculou Israel a Yahweh, e essa era realizada todas as manhãs e nos finais de tarde, em todos os sábados e em certos dias festivos. Ofertas queimadas especiais também estavam na ordem para a purificação de mulheres, para a limpeza de leprosos, para a promessa dos nazireus e para ofertas voluntárias. Os animais usados para este tipo de oferta eram bois jovens, cordeiros, cabritos, carneiros e, no caso dos pobres, rolas ou pombas, indepen-dentemente do sexo (Lev. 1.3, lO, 14). 4. A oferta de paz, do hebraico skelamim, "sacrifício de paz". Havia três classificações para este tipo de oferta: a. a oferta de graças por alguma bênção recebida (ver Lev,

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SACRIFÍCIOS E OFERTAS - SACRILÉGIO Em Rom. 12.1 o sacrifício ideal é o próprio homem espiritual, que se toma um "sacrifício vivo", ao cumprir o desejo de Deus para sua vida. Ver também Rom. 15.16; Fi1. 2.17; 4.18; I Ped. 2.5.

5. Na Páscoa (Êxo. 12.1 ss.): as oferta diárias, mais outra oferta de um cordeiro jovem cujo sangue era esparramado nos batentes e nos arcos das portas. 6. Na Festa dos Pães Asmas (Núm. 28.17-24): as ofertas diárias mais o sacrificio de um cabrito (oferta por pecados); dois bois jovens, um carneiro e sete ovelhas jovens (oferta queimada), acompanhados por ofertas de cereal e de líquidos derramados. O programa todo era repetido por sete dias, com variações a cada dia. 7. No Pentecoste (Núm. 28.27-31; Lev. 23.16-20): os sacrificios diários mais a oferta de um cabrito para uma oferta de pecado; dois bois jovens, um carneiro, sete cordeiros para uma oferta queimada, acompanhados com ofertas de cereais e líquidos derramados, além de ofertas de aceno e de paz, com diversas variações durante o dia. 8. No Dia da Expiação (Lev, 16.3; Núm. 29.7-11): as ofertas diárias mais um boi jovem para uma oferta de pecado; um cordeiro para uma oferta queimada, especialmente para os sacerdotes, dois cabritos para uma oferta de pecado, um carneiro para uma oferta queimada, especialmente para o povo, um boi jovem, um carneiro, sete cordeiros para uma oferta queimada, acompanhados por ofertas de cereais e líquidos derramados. 9. Na Festa dos Tabernáculos (Núm. 29. 13 ss.): ocasião campeã da complexidade, durava oito dias. Além dos sacri fícios diários regulares, incluía: primeiro dia - 13 bois jovens, dois carneiros, 14 cordeiros e 1 cabrito sacrificados; segundo dia - 12 bois, dois carneiros, 14 cordeiros e I cabrito; terceiro dia - Ii bois, 2 carneiros, 14 cordeiros e 1 cabrito; quarto dia - 10 bois, 2 carneiros, 14 carneiros e I cabrito; quinto dia - 9 bois, 2 carneiros, 14 cordeiros e I cabrito; sexto dia - 8 bois, 2 carneiros, 14 cordeiros e I cabrito; sétimo dia - 7 bois, dois cordeiros, 14 carneiros e I cabrito; oitavo dia - I boi, 1 carneiro, 7 cordeiros e I cabrito. Esse emaranhado de sacrificios ainda era acompanhado por ofertas de cereais e derramamento de líquidos. O sistema sacrificial dominou toda a história da fé religiosa hebraica, mas alguns dos profetas posteriores começaram a sentir que o sistema não satisfazia as necessidades mais profundas da espiritualidade humana. A "rejeição" do sistema estava no ar. Ver Amós 5.21-27; Isa. 1.10-20; Sal. 51.16-17. Uma mudança total veio com o Messias, Jesus Cristo. VII. Sacrifícios no Novo Testamento Obviamente, Jesus, Seus discípulos e os primeiros cristãos, ainda vivendo no contexto judeu, observavam as exigências do sistema sacrificia1. Cristo não exigiu sua abolição (Mal. 5.24). Ele ordenou aos leprosos que haviam sido limpos que cumprissem as leis sacrificiais (Mal. 8.4, Luc, 17.14). Ele previu que Sua própria morte seria um sacrifício vicário (Mar. 10.45; Mal. 20.28). O Evangelho de João refere-se a Ele como "o Cordeiro de Deus" que remove os pecados do mundo (1.29, 36, um sentimento repetido em Apo. 13.8). Os romanos destruíram Jerusalém em 70 a.c. e, com a cidade, também o sistema sacrificial dos judeus. Esse sistema não foi restaurado, e os cristãos passaram a considerar o "sacrifício sangrento" de Jesus, o Messias, o cumprimento de todos os tipos e sobras do antigo sistema. O livro de Hebreus é uma grande elaboração sobre este tema. Ver Heb. 8.7 e 10.1, para declarações específicas de sumário. O Espírito Eterno tomou Seu sacrifício totalmente eficaz (Heb. 9.13, 14). A redenção era vista no sangue de Cristo (I Ped. 1.18, 19). r João fala sobre a expiação e a limpeza do pecado em Cristo (1.7; 2.2; 5.6, 8; ver ainda Apo.I.5).

SACRILÉGIO O termo latino de onde deriva esse vocábulo português é sacrilegus, «ladrão de templos». Na raiz desse vocábulo, temos sacer, «santo», elegere, «reunir», Um sacrilégio consiste no ato de violar ou profanar qualquer coisa considerada santa ou consagrada. Ademais, a violação de votos religiosos ou morais é também vista como um sacrilégio. Os antigos pensavam que os sacrilégios envolviam algum perigo de ordem mística. O Antígo Testamento contêm muitos exemplos de ofensas que eram severamente punidas (mediante provisões da lei mosaica), por serem tidas como sacrílegas. Ver Jos, 7:7-26 quanto ao relato sobre Acã, que ilustra graficamente a questão. Dentro da literatura clássica greco-romana, a pilhagem de templos era considerada a ofensa sacrílega, e foi com base nessa circunstância que o vocábulo se desenvolveu. A maioria dos países do mundo civilizado, sem importar qual seja a sua religião, olha com desdém para qualquer ato que profane um templo ou cause dano às suas instalações materiais. Em muitas nações há legislação especifica a esse respeito. No grego, ierosuléo, «roubo de templos». O verbo grego figura apenas em Rom. 2:22, onde Paulo indaga retoricamente dos judeus incrédulos, aos quais ele acusava de incoerência: «... abominas os ídolos, e lhes roubas os templos?». A palavra grega também ocorre em 11 Macabeus 4:39, na Septuaginta, onde é descrito o saque dos tesouros do templo pelo sacerdote renegado, Lisímaco. Em nossa versão portuguesa, o termo português aparece também em Atos 19:37, dentro das palavras do escrivão da cidade de Éfeso, quando procurava pacificar a multidão, açulada pelos ourives que defendiam sua indústria de fabricação de nichos de Diana: «... estes homens que aqui trouxestes não são sacrílegos, nem blasfemam contra a nossa deusa». Aí aparece o adjetivo cognato, no grego, ierôsulos, «roubador de templos». De acordo com as leis romanas, o termo indicava a remoção de algum objeto sagrado de seu devido lugar, o que envolvia severas penas. Cícero escreveu: «Seja tratado como parricida aquele que rouba ou retira qualquer coisa sagrada ou o que é confiado a uma pessoa sagrada» (De Legibus, 2:9). «Segundo a lei germânica, o sentido da palavra também cobria a remoção de qualquer objeto sagrado de seu lugar determinado. Na Idade Média, o sacrilégio era considerado um crime contra a Igreja e contra o Estado, punível com muitas penas ou mesmo com a execução capital. Em sentido mais estreito, o termo denotava o furto de qualquer objeto sagrado; e, no sentido mais lato, qualquer injúria ou desonra infligida-a um objeto ou pessoa sagrada. Talvez nenhum povo se tenha mostrado tão zeloso na defesa de seus objetos de culto sagrado como os judeus. «Transpassar certos limites do espaço do templo de Jerusalém, por exemplo, era convite à morte. Isso é refletido em Atos 21:27 ss., onde se lê que os judeus, só por pensarem que Paulo introduzira Trófimo, um efésio, no recinto do templo, estiveram a pique de linchá-lo, e o apóstolo só escapou da morte pela intervenção dos soldados romanos, que o arrancaram das mãos do povo, quando já estava sendo espancado.

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SADAI-SADUCEUS debatidos. A idéia mais provável é a de que o nome se referia a qualquer um que simpatizasse com os zadoquitas, descendentes sacerdotes de Zadoque, o sumo sacerdote nos dias de Davi e Salomão. Para maiores detalhes, ver Zadoque. 11. Caracterização Geral Os saduceus compunham uma das mais importantes c influentes seitas judaicas, muitas vezes em oposição tanto política quanto teológica com os fariseus. Esta seita era amplamente constituída pelos elementos mais ricos da população, em contraste com os mais pobres e mais populares fariseus. Entre seus componentes se encontravam os sacerdotes mais poderosos, mercadores prósperos e a classe aristocrática da sociedade. Eles aderiam apenas à lei mosaica (fundamentalistas originais), rejeitando os profetas e a lei oral como espúrios. Seu partido manteve o controle político por muito tempo, enquanto um ramo da casta de sacerdotes controlou O oficio de sumo sacerdote por vários séculos. Disputas entre eles e os fariseus são mencionadas com relativa freqüência nos escritos do judaísmo posterior (m. Yad. 4.6-7; 'Erub. 6.2; m. Para 3.7; m. Nid, 4.2; Yoma 2a, 19b, 53a; b. Suk, 48). Então, no Novo Testamento, encontramos várias referências às disputas deles com Jesus (Mar. 12.18; Mat. 16.1, 6) e até mesmo a estranha com os fariseus para livrar-se de Jesus. Eles também se opuseram fortemente à igreja primitiva (Atos 4.1; 5.17). 111. Fontes de Informação Além dos vários itens de informação dados pelos escritores judeus posteriores, que acabo de revisar no parágrafo anterior, Josefo informa-nos sobre seus ensinamentos e poder político (Ant. 13.5.9; 18.1, 16, 17; 20.9.1; Guerras 2.8.165). Na obra farisaica Salmos de Salomão, os saduceus eram os "pecadores" de destaque que resistiam. O Novo Testamento apresenta várias referências a eles, que serão listadas na seção V. IV. Ensinamentos Seu cânon era a lei escrita de Moisés, o Pentateuco, de modo que doutrinas não mencionadas claramente ali eram rejeitadas. Eles não criam em uma alma imortal nem acreditavam em nenhum tipo vida após a morte; rejeitavam a doutrina dos anjos e espíritos de qualquer tipo e não viam sentido no ensinamento da ressurreição do corpo. Repudiavam a tradição oral como uma invenção do homem (Josefo, Ant. 13.10.6). Sua negação dos "princípios de pósvida" os tomava materialistas que buscavam tirar o máximo proveito desta vida através de poder político e material. Josefo (Ant. 18.1,4) informa-nos explicitamente que eles não criam na alma nem em recompensas ou punições após a vida. Atos 23.8 declara: "Os saduceus declaram não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito; ao passo que os fariseus admitem todas essas cousas". Em alguns pontos no Antigo Testamento, como em Dan. 12.2, tais crenças são declaradas e, logicamente, os anjos são uma constante naquela coleção de livros, mas a Torá (o cânon dos saduceus) não é uma boa fonte de crenças espiritualistas. Os saduceus não acreditavam em demônios nem no destino. Um homem é livre para fazer seu próprio destino, mas apenas dentro do contexto de "uma vida presente". Eles criam no arrependimento pelos pecados de tal forma que isso garantia uma vida presente razoável abençoada pela prosperidade e pelo poder. V. No Novo Testamento Apenas os evangelhos sinópticos e o livro de Atos fazem referências aos saduceus: Mal. 3.7; 16.1,6, lI, 12; 22.23; Mar. 12.18; Luc. 20.27; Atos4.1; 5.17; 23.6-8. São sempre relatórios negativos sobre esta seita, seja por sua oposição e perseguição a Jesus, seja por sua cosmovisão materialista. Eles também se opunham aos apóstolos, efetuando

SADAI

o significado deste

nome de Deus é controverso, mas provavelmente deriva da raiz shadad, "ser forte ou poderoso", de modo que é um tipo de sinônimo de El, nome semita muito comum para representar deus ou Deus. Ver Gên. 17.1. Para uma pesquisa geral sobre nomes divinos na Bíblia, ver o artigo chamado Deus, Nomes Bíblicos de. SADRAQUE, MESAQUE E ABEDE-NEGO 1. Os nomes. Esses nomes foram dados aos "três jovens

hebreus" pelo chefe eunuco do rei babilônico. Os nomes em hebraico eram Hananias, Misael e Azarias. O significado desses nomes não é conhecido, mas eles contêm sílabas que refletem EI (o Poder), nome semita comumente atribuído a Deus, como Yah (Yahweh, o Deus Eterno). Os significados desses nomes babilônicos são desconhecidos, mas talvez Aspenaz (o chefe eunuco) tenha imitado os significados hebraicos. De toda a forma, os nomes dados pelo eunuco certamente honravam deidades pagãs. No caso de Sadraque, argumenta-se que seu nome reflete o nome acádico Shudur (comando de) e o sumério Aku (o deus lua), ou poderia ainda ser uma corrupção de Marduque, líder do panteão babilônico. Os nomes são sempre encontrados juntos e na mesma ordem (Dan. 1.4; 2.49; 3.1220). Há alusões à história (sem citar os nomes) em I Macabeus 2.59,60; III Macabeus 6.6; IV Macabeus 13.9; 16.3,21; 18.12. 2. A história. Esses três jovens hebreus estavam entre os cativos judeus na Babilônia por volta de 605 a.C. Aparentavam ter características e liderança incomuns, portanto foram selecionados para servir ao rei. Entre os que estavam sendo treinados com esse propósito, os três demonstraram ser superiores e assim obtiveram favores especiais. Através deles, o sonho misterioso de Nabucodonosor foi interpretado por Daniel (Dan. 1.7,8), o que ampliou suas já ascendentes posições. Oponentes babilônicos nativos, enciumados dos "estrangeiros", convenceram o rei a fazer uma imagem de ouro à qual todos do reino deveriam adorar. Naturalmente, os três jovens hebreus recusaram-se. Uma fornalha foi preparada para cremar os dissidentes, e os três jovens foram lançados dentro dela. Nada aconteceu a eles, pois o anjo de Yahweh protegeu os inocentes que se recusaram a tomar parte de qualquer forma de idolatria. Os jovens foram então promovidos (Dan. 3.130). Não há mais referências a eles no livro de Daniel, nem no restante do Antigo Testamento. Há algumas menções a eles em Macabeus. Talvez Heb. 11.34seja uma alusão quando fala sobre aqueles que foram salvos do fogo com sua fé. 3. As lições morais e espirituais. Qualquer forma de idolatria deve ser condenada pelo homem espirituaL Os perigos decorrentes da lealdade podem ser anulados pelo poder de Deus, que trabalha através de Seus anjos. A lealdade sempre é a melhor opção, em qualquer caso; aderir ao princípio espiritual é a postura correta, independentemente de qual seja a situação. A lealdade espiritual obterá a recompensa apropriada, mesmo que tenham de ocorrer milagres para tal propósito. SADUCEUS

I. Nome 11. Caracterização Geral m. Fontes de Informação IV. Ensinamentos V. No Novo Testamento VI. Sumário de Sua História I. Nome A derivação e o possívelsignificado do nome são muito

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SAFÃ-SAFIR 34.9). Foi em tal ocasião que Hilquias, o sumo sacerdote, informou ao rei que ele havia encontrado uma cópia da lei ao preparar as reformas do Templo. A Safá foi confiado o livro, e ele o entregou ao rei para leitura. O rei então ordenou uma consulta com Hulda, a profetisa, sobre a questão. Ver 11 Reis 22.14,15. Como resultado disso, ressurgiu o interesse pelas coisas espirituais. A família de Safá exerceu subseqüentemente uma influência para o bem. Seu filho, Aicão, não permitiu que o profeta Jeremias fosse linchado quando enfrentou a oposição de falsos profetas e líderes políticos corruptos. Outro filho, Gemarias (ler. 36.10,25), era o dono da casa onde o escriba de Jeremias, Baruque, leu as profecias condenatórias do profeta contra a corrupta Jerusalém e seus horrendos habitantes. O malvado rei Joiaquim destruiu as profecias escritas que foram lidas para ele e que circulavam entre seus súditos. Gedalias, indicado governador de Judá pelo rei da Babilônia ap6s o cativeiro babilônico, era neto de Safá (Jer. 39.14). 3. Outro homem chamado por este nome era o pai de Jaazanias, um dos setenta id61atras que "ministravam" no templo na época de Ezequiel (Eze. 8.11), em cerca de 590 a.C.

perseguições (Atos 4.1 ss.), A referência final aos saduceus ocorre em Atos 23.6 ss., por ocasião do julgamento de Paulo pelo Sinédrio. Nesse julgamento Paulo conseguiu que os fariseus e saduceus entrassem em choque e debate, pondo fim à reunião.

VI. Sumário de Sua História Não há motivo para duvidar de que o inicio desta seita remonta à influência da linhagem sacerdotal de Zadoque. Alguns, contudo, apontam um Zadoque posterior, aluno de um dos sábios, Antígono de Soco, do início do segundo século a.c. como o verdadeiro pai desta seita. No entanto, descendentes do sumo sacerdote original, o Zadoque do Antigo Testamento, serviram sob Davi e Salomão. Esta linhagem veio a controlar tanto o templo como as coisas públicas, herdando o poderreligioso e político. Josefo indica o inicio da história dos saduceus no segundo século a.c., quando este emergiu de uma crise ocasionada pela usurpação do sumo sacerdócio por Jônatas em 152 a.C. Provavelmente nessa época, os essêníos se separaram do judaísmo principal, fugiram para o deserto e iniciando seu estilo de vida monástico. Nesta época, os fariseus e saduceus começaram sua duradoura briga de "cão e gato". Buscando agora as coisas boas, os saduceus não estavam interessados em derrubar o governo romano. A primeira menção desta seita por Josefo (Ant. 13.5.9) diz respeito ao período de Jônatas Macabeu, sucessor de seu irmão, Judas. Somos informados de três seitas judaicas existentes naquela época (saduceus, fariseus e essênios). O controle se alternava freqüentemente na luta pelo poder, ora estando por cima os saduceus, ora os fariseus. Os saduceus conseguiram controlar o Sinédrio, o corpo regente mais poderoso entre os judeus por um longo tempo. Os fariseus tiveram um surto temporário de influência com o governo de Salomé Alexandra, que sucedeu seu marido Janeu (76 a.C.). Quando de sua morte (67 a.C.), seus dois filhos lutaram pela sucessão, e Aristóbulo 11, apoiado pelos saduceus, finalmente derrotou Hircano 11, apoiado pelos fariseus. Ele assumiu O sumo sacerdócio, e a sorte dos saduceus floresceu por algum tempo. Mas com o surgimento de Herodes, o Grande, os saduceus foram deixados de lado. Josefo informa-nos que vinte e oito sumo sacerdotes governaram de Herodes até a queda de Jerusalém (Ant. 20.10.5), o que mostra que o caos geral era o poder real daquela época. Com a queda de Jerusalém em 70 d.C., quando os exércitos romanos destruiram aquela e muitas outras cidades em Judá, os saduceus desapareceram como partido político e religioso.

SAFATE No hebraico,juiz, provavelmente querendo dizer "Ele, que é, Deus, juízes". I. Um filho de Hori, da tribo de Simeão (Núm. 13.5), o qual representou sua tribo como espião enviado à Terra Prometida por Moisés. Isto foi feito em preparação para a invasão da terra, mas o relatório negativo produzido na volta adiou por quarenta anos a tentativa de invasão. Isso ocorreu em cerca de 1440 a.c. 2. Um filho de Gade era chamado assim. Ele estabeleceu seu lar em Basã (I CrÔ. 5.12), em cerca de 1070 a.C. Alguns acreditam que ele teria vivido em tomo de 738 a.c. 3. Um filho de Adiai, reprodutor e criador do gado de Davi (l Crô. 27.29), que viveu em cerca de 1015 a.C. 4. O pai do profeta Eliseu (I Reis 19.16, 19,20; 11 Reis 3.11; 6.31), natural da cidade de Abel-Meola, situada a leste do rio Jordão, Seu lar havia sido identificado com TeU el-Maqlub, no curso de água eI-Yabis. Este homem viveu o suficiente para ver seu filho substituir Elias como o principal profeta de Yahweh, em cerca de 930 a.C. No entanto. alguns acreditam que ele teria vivido por volta de 865 a.C. 5. O filho mais jovem dos seis filhos de Semaías (I Crô. 3.22, que lista, contudo, apenas cinco nomes). Ele era da linhagem real de Judá e viveu após o cativeiro babilônico, em cerca de 350 a.C; embora alguns aproximem sua data em tomo de 450 a.c.

SAFÁ A Bíblia portuguesa fornece esta mesma transliteração para dois nomes hebraicos diferentes, mas certa semelhança. Três personagens do Antigo Testamento são assim chamadas: 1. Um chefe da tribo de Dã que viveu em Basã, De fato, ele era o segundo na hierarquia de comando em sua tribo (f Crô. 5.12). A palavra hebraica significa "jovem", "vigoroso". Ele viveu em cerca de 750 a.C. 2. De uma palavra hebraica um pouco diferente, que significa "cônico" ou "texugo de pedra", temos o nome de um homem que era o filho de Azalias e secretário do rei Josias. Ver observações sobre sua família pessoal em II Reis 22.3; II Crô. 34.8; 34.20; 36.10-12; 39.14; 40.5, 9, 11; 41.2; 43.6. Como escriba, ele parecia ter autoridade quase igual à do governador da cidade e do escrivão real. Ele foi enviado com esses dois homens para relatar sobre o dinheiro que havia sido coletado pelos levitas para o reparo dos templos e para os salários dos trabalhadores (11 Reis 22.4; II Crô.

SAFE Hebraico para limite ou prato, mas alguns dizem preservador. Era o nome de um gigante filisteu, membro da etnia de Rafa, A Bíblia informa-nos de várias etnias de gigantes que os israelitas acabaram por exterminar da Palestina. Este homem foi abatido por Sibecai, o husita, um dos trinta poderosos guerreiros de Davi (lI Sam. 21.18). Esse gigante também era chamado de Sipaí, como vemos em f Crô, 20.4. Talvez ele tenha sido filho do famoso gigante Golias, como supõem alguns. Ele viveu por volta de 1048 a.C. SAFIR No hebraico, bela, agradável. O nome de uma das cidades que o profeta Miquéias denunciou (Miq. 1.1). Ela foi identificada com es-Suafir, situada um pouco a sudeste de Asdode. Alguns a chamam de es-Suafir Tell es-Sawafir.

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SAFIRA - SAINT-SIMON, CLAUDE-HENRI SAINT-SIMON, CLAUDE-HENRI Suas datas foram 1760-1825. Filósofo e conde francês nascido em Paris, recebeu educação privada, e um de seus mestres foi o enciclopedista d' Alembert. Ativista na Revolução Francesa e na Revolução Americana, na ligação com o movimento na França, renunciou a seu título de nobreza. Foi o fundador do socialismo francês. Exerceu influência sobre Auguste Comte (ver a respeito), que se tornou seu discípulo e colaborador. Aos 19 anos de idade, era oficial da força expedicionária francesa enviada para ajudar a América do Norte em sua luta na independência da Inglaterra. Percebendo que precisava de muito dinheiro para realizar os planos na sua terra de origem, em reformas políticas, após a revolução, conseguiu reunir apreciável fortuna. No entanto, gastou o dinheiro em aventuras ambiciosas, estudando e viajando. Quando deu início à sua carreira de escritor, já era um homem pobre. A isso, ele fez acompanhar por uma linha de desenvolvimento e expressão científica; e daí transferiu os seus interesses para a política, pois entendia que a política deveria ser deixada aos cuidados de uma elite científica, a única capaz de compreender as necessidades humanas e dotada da inteligência e do poder necessários para efetuar as modificações necessárias. 1. Foi Saint-Simon quem introduziu o termo positivismo na filosofia, tendo influenciado seu aluno, Comte, a um maior "desenvolvimento" ainda de seu pensamento e sistema. Ver o artigo Positivismo. Assumia a abordagem científica, quanto a todos os campos do empreendimento humano, como a ética, a religião e a política. Porém, sua fé na ciência era exagerada, ao pensar que essa abordagem do conhecimento e ação poderia ser o instrumento do progresso e da harmonia entre os homens. 2. Pretendia varrer para longe as "fossilizações sociais" com os seus esforços positivistas. 3. Para Saint-Simon, uma época crítica qualquer é aquela em que idéias estão sendo formuladas. E uma época orgânica é aquela em que essas novas idéias são colocadas em prática. Saint-Simon acreditava que seu período fora uma época crítica, e que se poderia antecipar uma época orgânica para breve. 4. A desejada época orgânica consistiria em três níveis de poder operante: a. os artistas e os engenheiros seriam uma espécie de manancial de idéias, que apresentariam suas propostas bem pensadas; b. cientistas seletos avaliariam as idéias e planos, abrindo caminho para a sua execução; c. industriais poriam em prática estas idéias. 5. Na Religião. Saint-Simon opinava que aquilo que ele via no cristianismo estava degenerado e por demais preocupado com os dogmas, com o exclusivismo e com a metafísica. Um novo cristianismo haveria de interessar-se por questões de ética e de fraternidade, pondo em prática a lei do amor entre todos os homens. Saint-Simon não apresentou as observações seguintes, mas sua filosofia concordou com elas em essência. Evolução da Vereda Espiritual 1. O mais baixo nível de espiritualidade é o materialismo. Nesse estado, os homens estão imersos na materialidade e no egoísmo. 2. Daí, os homens podem avançar para a superstição, quando já receberam alguma iluminação acerca das realidades espirituais, posto que de maneira distorcida, ainda em mistura com muita ignorância. 3. Em seguida, aparece o nível fundamentalista, quando a letra das Escrituras é tudo. Nesse nível, predomina uma

Estudiosos recentes preferem uma identificação em Judá como Khirbet el-Kom, a oeste de Hebrom, onde há um curso d'água chamado Es-Safar. Robinson indicou que várias vilas eram chamadas por este mesmo nome, o que aumenta a confusão da identificação. SAFIRA A palavra hebraica é sappir; a grega isappheiros. emprestada do aramaico) diz safira, significando "lindo". Essa pedra preciosa, dura e brilhante, é uma das variedades de corindon (óxido de alumínio) e manifesta-se na cor azulescuro. Algumas vezes, a palavra aparentemellte se refere ao lápis-Iazúli. As referências bíblicas são Exo. 24.10; 28.18; 39.11; Jó 28.6.16; Cano 5.14; Isa. 54.11; Lam. 4.7; Eze. 1.26; 10.1; 28.13. O equivalente grego aparece em Apo. 21.19. Essa é a pedra mais dura mencionada na Bíblia, depois do diamante. Algumas safiras radiavam com pontos de ouro e nunca eram transparentes, embora o sejam algumas pedras modernas assim chamadas. Certas variedades de topázio de cor amarela são chamadas de safiras. A ametista de cor roxa também tem sido assim denominada. O Ceilão tem sido a principal fonte desta pedra há 2,5 mil anos, além de produzir também rubis. SAGE Do hebraico, "vagueação". O nome do pai de Jônatas que foi um dos trinta "heróis" de Davi, ou guerreiros especialmente habilidosos que o acompanhavam, na função de guarda-costas, e se tomaram o núcleo de sua ordem quando ela se forme. -. TI Crô. 11.34. Ele viveu em tomo de 1048 a.C. SAGRADO Este adjetivo aponta para a qualidade sacra de algo (pessoas, coisas, cerimônias etc.), De acordo com o paganismo, algo se tornava sagrado por haver sido consagrado às divindades. No cristianismo, algo é sagrado quando consagrado a Deus, mediante a pessoa de Jesus Cristo, com a chancela do Espírito Santo. É o aspecto divino no aspecto humano; que torna uma pessoa ou coisa sagrada, distinguindo essa pessoa ou coisa do que é profano ou secular. Algumas pessoas assumem um ponto de vista pragmático ou mesmo cético, e dizem que tudo quanto a sociedade ou algum grupo religioso diz torna-se sagrado para eles. Essa interpretação dá a entender que a idéia envolve apenas uma convenção da linguagem. Por outra parte, há os que levam muito a sério essa noção de «sagrado», supondo existirem, realmente, pessoas, coisas e condições sagradas. R. Duo (ver a respeito) dizia que a santidade ou o sagrado é parte integrante da natureza única e distintiva da deidade e que esse é o mais elevado alvo de realização por parte dos homens. Ver sobre o Misticismo. Ele também acreditava que o sagrado é a raiz irredutível da religião, tanto em sua teoria quanto em sua prática. SAI BABA Ver o artigo sobre Sathya Sai Baba. SAÍDICA, VERSÃO Ver o artigo geral intitulado Bíblia. Versões da. sob Copta. Outras informações são dadas no artigo geral sobre Manuscritos. Novo Testamento. na divisão chamada Versões.

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SAIVISMO - SALA 8. Item de comércio (Josefo, Ant. 13.4.9)

alegada verdade absoluta e promove-se a hostilidade contra todas as pessoas ou organizações que diferem. A arrogância manifesta-se fortemente. Contudo, admitamos que esse nível representa considerável progresso espiritual. 4. Vem então o estágio filosófico, onde os credos já não ficam sem exame crítico. Doutrinas antigas são vistas por outro prisma, e se acrescentam novos conceitos e novas posturas, que antes não faziam parte do quadro mental e espiritual. 5. Em um nível subseqüente. os homens chegam a ter fome e sede de conhecimento em primeira mão e de um desenvolvimento espiritual mais vital. Isso pode atingir uma intensidade de agonia, uma paixão devoradora que agita o espírito. 6. Finalmente, vem a vereda mística, a busca e a obtenção da iluminação. Ver sobre Misticismo.

Usos figurativos: 1. Nas cerimônias do pacto, para falar sobre sinceridade e durabilidade (Núm. 18.19; 11 Crô. 13.5; Esd, 4.14). 2. Para simbolizar os ministérios sinceros dos homens bons em contraste com o serviço falso e frívolo de alguns (Mal. 5.13). 3. Para simbolizar a graça e a sinceridade do coração (Mar. 9.50). 4. Para falar da sabedoria e da fala sensível, livre de hipocrisia (Cal. 4.6) 5. Promotores falsos de fé religiosa têm falta de sal (isto é, de sinceridade e genuinidade; ver Mal. 5.13; Mar. 9.50). 6. Uma cova de sal representava a desolação (Sof. 2.9). 7. Salgar com fogo significa julgamento severo (Mar. 9.49); também poderia significar a purificação dos pecadores através de julgamentos. 8. O valor de um homem espiritual sincero o transforma no "sal da terra" (Mal. 5.13). Como genuíno homem de fé, ele dá valor à terra. 9. Para falar de coisas infrutíferas (Deu. 29.23; Sof. 2.9; Ju1. 9.45; Sal. 107.34) 10. Para simbolizar cura ou poderes de transformação (11 Reis 2.20,21). lI. Para significar esterilidade e improdutividade (Deu. 29.23; Sof. 2.9).

SAIVISMO Esse é o nome de uma das duas principais seitas teístas do hinduísmo. Deriva-se do nome da adoração ao grande deus pessoal, Siva, e também incorpora a adoração às suas esposas, de tal modo que esse culto tinha ares nitidamente politeístas. Tal como o vishnuismo (ver a respeito), o saivismo atrai pessoas de todas as classes e camadas da vida, e de muitas localizações geográficas. Apesar de o sistema ter absorvido algumas idéias e crenças aviltantes, também conseguiu impor algumas crenças sofisticadas e algumas práticas nobres. Várias subseitas têm enfatizado os poderes de um ou de outro aspecto de Siva. Na opinião de algumas, ele é o supremo asceta; para outras, a suprema destruição; para outras, o supremo criador etc. Assim sendo, tem provocado tanto raciocínios filosóficos quanto a contemplação mística, sendo objeto de intensa e sincera devoção. Dependendo da localidade de seus adeptos, essa fé assume muitas faces, algumas crassamente politeístas, outras mais refinadas. Uma dessas formas é a adoração às forças dessa divindade, personalizadas como deusas; essas forças são chamadas shakti. Ver o artigo geral sobre o Hinduísmo.

SAL, CIDADE DO O nome de uma cidade no deserto de Judá (Jos. 15.62), provavelmente na extremidade sudoeste do mar Morto, onde algumas formações montanhosas são de sal puro. Foi uma de seis cidades dadas aJudá como posse naquela área geral. Talvez Khirbet Qurnran marque o antigo local. A área vem sendo povoada desde pelo menos a Idade do Ferro 11. SAL. VALE DO O que aconteceu nesta região é claro em referências biblicas, mas o local é disputado. Alguns sugeriram o wadi el-Milh (sal), por causa da similaridade de nomes. Esse wadi se localizava um tanto a leste de Berseba. Um local mais provável é es-Sebkah, região estéril e salina ao sul do mar Morto. De qualquer modo, este local foi o palco de várias batalhas importantes de Israel, como se pode observar nas seguintes referências: 11 Sam. 8.13; 11 Reis 14.7; I c-e. 18.12 e 11 Crô. 25.11.

SAL No hebraico, melach (cerca de trinta ocorrências no Antigo Testamento); no grego, alas ou ais. com doze ocorrências no Novo Testamento em diversas categorias gramaticais. Cloreto de sódio, composto cristalino que tinha (e tem) diversos usos, quer naturais, quer espirituais. Há ainda os usos simbólicos, morais e espirituais. O sal era um item comercial no Oriente, obtido de lagos de sal, especificamente do mar Morto, e da mineração. Usos: I. Condimento para temperar alimentos, tanto para os homens como para animais (Jó 6.6; Isa. 30.24). 2. Elemento necessário para ofertas e sacrificios, seja em cereais, seja nos animais (Lev. 2.13). 3. Preservativo para alimentos (vegetais e animais), Êxo.30.35. 4. Auxílio à fertilização do solo para apressar a decomposição de excrementos (Mal. 5.13; Luc. 14.35). 5. Elemento medicinal usado para lavar bebês recémnascidos e para outros tipos de limpeza (Eze. 16.4). 6. Dado como recompensa por serviços, juntamente com o óleo e o vinho, e, entre os romanos (e posteriormente), usado como pagamento, derivando daí a palavra "salário". 7. Elemento destrutivo misturado ao solo dos inimigos para garantir a infertilidade por longos períodos (Juí. 9.45).

SALA (QUARTO) DE HÓSPEDE Ver os artigos separados sobre Convidado; Câmara, Aposento e Hospitalidade. Algumas traduções dizem "quarto de hóspede" para a palavra grega katáluma, que aparece por três vezes no Novo Testamento: Mar. 14:14; Luc. 2:7 e 22: li. Na verdade, essa palavra significa apenas "aposento". Vem do verbo katalúo, que indica, entre outras coisas, "alojar-se". Portanto, a palavra grega pode apontar para um lugar de alojamento temporário, ou onde se efetua um banquete. Assim, na tradução Septuaginta, o termo é usado em I Sam. 9:22 para indicar o lugar onde Samuel e Saul tiveram juntos uma refeição. A palavra hebraica correspondente, lishkah, significa apenas "aposento", "sala". Em nossa versão portuguesa, no Novo Testamento, o vocábulo grego em foco é traduzido por "aposento" em Mar. 14:14 e Luc. 22:11. Mas, em Luc. 2:7, é traduzido por lugar, no trecho que diz que na hospedaria não havia vaga para José e Maria. Esta estava grávida em seus últimos dias de gestação. Destarte, Jesus nasceu e foi deitado em uma

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SALA SUPERIOR - SALÁRIOS manjedoura, onde eram guardados os animais. Para o Rei do universo, não havia abrigo melhor do que esse!

cremos em lugares sagrados, no sentido da Igreja Católica Romana e de outras religiões.

SALA SUPERIOR (CENÁCULO) O termo cenáculo também é usado. O termo hebraico correspondente é 'aliyah, "alto". Ver II Reis 1:2; 23:12; I Crô. 28:11; 11 CrÔ. 3:9; Juí. 3:23. No Novo Testamento grego, o termo grego correspondente é anageon, usado em Mar. 14: 15, Luc. 22: 12; e também temos uperoon, em Atos 1:13; 9:37, 39 e 20:8. Os cenáculos eram usados como salas de meditação e oração, para escapar à confusão do dia, e também como sala de visitas. Nas casas hebréias, os cenáculos eram cobertos com um telhado plano. Nas estruturas gregas e romanas, o cenáculo fazia parte do andar superior de uma casa. O cenáculo era usado durante o verão; e o andar térreo, durante o inverno. Os judeus associavam o inverno ao interior da casa, e o verão, ao ar lívre. No grego, anagaion, "quarto superior", isto é, um quarto do primeiro andar. O termo grego ocorre somente em dois trechos que descrevem a cena da Última Ceia do Senhor Jesus com seus discípulos (Mar. 14:15 e Luc. 22:12). É possível que o vocábulo seja uma contração do grego anà tên g?n. "acima do chão". Tal termo é raro, confinado ao período helenista. Grandes salões, em um patamar superior, com escadas internas ou externas, um pouco acima do ruído e da agitação das ruas das cidades antigas, são mencionados como uma característica da arquitetura palestina. No Antigo Testamento, havia o que se chamava de "quarto alto", correspondente aos cenáculos, no Novo Testamento (ver 11 Reis 1:2 etc.). Na narrativa do livro de Atos, outro tipo de aposento é mencionado, a saber, o uperõon, que é o substantivo neutro do termo grego comum, uperõos, "sob o telhado", escada acima. Esse é o termo usado na Septuaginta para traduzir o termo hebraico a que já nos referimos. Mas, visto que Lucas não usou esse vocábulo para indicar o aposento usado na Última Ceia, é extremamente duvidoso que seja o mesmo quarto onde os discípulos costumavam orar e onde Pedro discursou, após o que os apóstolos escolheram Matias, para tomar o lugar de Judas Iscariotes (Atos 1:13). Nesse texto, não há evidências em apoio nem à noção que esse foi o mesmo aposento onde os discípulos "receberam" o Espírito Santo, no dia de Pentecoste, nem de que foi o aposento onde Jesus celebrou a sua última Páscoa, em companhia dos discípulos. De fato, há várias provas em contrário. O atual cenáculo, no latim, coenaculum, adjacente ao mosteiro beneditino, na antiga cidade de Jerusalém (no latim, Dormition Sanctae Mariaey, data do período medieval, pelo está inteiramente fora de cogitação. E, embora o túmulo por baixo dele, tradicionalmente chamado de Túmulo do rei Davi, tenha sido identificado há muito tempo (desde a época do rabino Benjamin de Tudela, c. de 1173 d.C.), nada foi dito que essa seria a locação do cenáculo, senão muito depois do século XII. E embora Epifânio (359-403 d.C.) tenha mencionado que o imperador romano, Adriano, visitou o "cenáculo", em 135 d.C., não há confirmação a isso senão já durante a Idade Média, o que empresta à questão uma aura de muitas dúvidas. O templo cristão, depois transformado em mesquita islâmica, e, mais tarde, novamente em templo cristão, construído onde o cenáculo estaria localizado, data somente do século XIV d.C. Em vista do exposto, é melhor pensar que não se sabe onde ficava esse cenáculo. E nem a questão é importante para nós, evangélicos, que não

SALAI A palavra hebraica para pesado, ou para quem rejeita, o nome de duas famílias no Antigo Testamento, ou de dois indivíduos: 1. Uma família de Benjamim, e um membro líder daquela família. Esta pessoa e sua família (928 pessoas) radicaram-se em Jerusalém após o retomo do cativeiro babilônico, por volta de 455 a.C. (Nee. 11.8). 2. Um chefe de família de sacerdotes que retomaram do cativeiro babilônico na companhia de Zorobabel, por volta de 536 a.c. (Nee. 12.20). SALAMIEL Nome hebraico semelhante a Selumiel, de Núm. 1.6, que significa "paz de Deus". A variante Salmiel é dada na Septuaginta. Em Judite 8.1, o homem é mencionado como ancestral de Judite, SALAMINA 1. Termo. Este nome provavelmente se origina do gre,go salos, que significa um "vagalhão" ou "onda" do mar. E o nome de uma cidade no extremo leste da ilha de Chipre, um ancoradouro movimentado naquela parte da ilha. O porto antigo foi quase completamente sedimentado pelo rio Pedias, e assim o que o povo vê hoje é totalmente diferente do visual do ancoradouro antigo. 2. Referências Históricas. O local antigo é marcado pela Famgusta moderna. A tradição nos conta que uma cidade foi construída ali por Teucer depois da guerra troiana, porém a arqueologia demonstrou que o lugar era habitado antes daquele período. Sabemos que ela mantinha extenso comércio com Fenícia, Egito e o Oriente, especialmente de produtos como grãos, vinho, azeite de oliva e sal. Esta cidade-estado pagou tributo à Assíria em 668 a.C; e a arqueologia confirmou a influência daquele impérío ali. A cidade figurou na revolta grega contra a Pérsia no quinto e quarto século a.C. Os ptolomeus tomaram a área no terceiro século a.c. Ela ficou sob o controle romano aproximadamente em 58 a.c. Então se tomou parte da província da Cilícia, porém em 31 a.C. conquistou a independência como uma província imperial. Desde a época dos ptolomeus, grandes colônias judaicas têm existido ali. 3. Época Neotestamentária, Atos 13:5 é a única referência neotestamentária específica ao lugar. Sérgio Paulo (vs. 7) foi o procônsul nos dias dos apóstolos. Ver o detalhado artigo sobre ele, o qual dá informação suplementares ao presente artigo. Ver também sobre Chipre. Paulo e Barnabé visitaram este lugar depois de deixar a Selêucida. Havia sinagogas (plural) ali, o que indica uma grande população judaica. E possível que os conversos daquela população estivessem entre os cristãos de Chipre mencionados em Atos 11:19, 20. Barnabé era natural de Chipre, e seu alegado túmulo está localizado próximo ao moderno mosteiro de Ail Barnaba. O bispo Epifânio de Salamina (367-402 d.C.) é lembrado por seu apoio radical ao movimento monástico e sua oposição aos seguidores de Orígenes. SALÁRIOS I. Os Termos 11. Primeiros Usos m. Informações Bíblicas IV. Usos Figurativos

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SALÁRIOS - SALGUEIRO (Isa. 40.10; 62.11; Sal. 109,20; 11 Ped. 2.15). 2. O julgamento é um tipo de salário de retribuição negativa para aqueles que ignoraram as leis espirituais (Sal. 109.20). 3. A vida eterna é um presente de Deus, mas os proventos do pecado são a morte (Rom. 6.23). O salário justo, literal ou figurativo, é uma subcategoria do princípio dejustiça, que, presume-se, rege este mundo e por fim triunfará.

I. Os Termos Palavras hebraicas: 1. sakar, "contratar", "recompensar" (Gên. 31.8; Êxo. 2.9; Eze. 29.18,19). 2. maskereth, "recompensa", "aluguel", "recompensa" (Gên. 29.15; 31.41; Rute 2.12). 3. peulah, "recompensa", "trabalho", "salário" (Lev. 19.13; Sal. 109.20) 4. chinnam, "gratuito", "vão", "sem salário" (Jer. 22.13) Palavras gregas: Nossa palavra salário é uma transliteração da palavra latina para sal. Soldados romanos recebiam parte de seus proventos em sal. O cloreto de sódio (sal) tomou-se um importante item comercial. Ver o artigo geral sobre Sal. 11. Primeiros Usos A forma mais antiga do "salário" era o item de troca ou de comércio através do qual uma pessoa adquiria outros itens. O trabalho era vendido por objetos de valor, sejam agrícolas ou outros. O preço pago pelo trabalho era um salário. O trabalho é uma propriedade a ser vendida, seja em pares (para ganhar muitos itens), seja de uma só vez, para ser usado ao longo de um período específico de tempo. Trocas de uma coisa por outra constituíam a forma mais primitiva de salário. Produtos específicos pagavam por serviços: Ver Gên. 29.15,20; 31.7,8,41. "Salários" para soldados ou trabalhadores são mencionados em Ageu 1.6; Eze. 29.18,19; João 4.36, e tais pagamentos eram feitos em produtos, não em moedas, uma invenção posterior. Metais preciosos em peso, contudo, constituíam uma forma muito antiga de pagar salários. Embora já existissem moedas na Ásia Menor (entre os Jidianos), em períodos tão remotos quanto 700 a.C., o Oriente Próximo não adotou tal prática até cerca de 300 a.c. 111. Informações Bíblicas A legislação mosaica era muito rígida em favor ao pagamento justo pelo trabalho e pela honestidade na troca de itens. Isso era controlado pela casta dos sacerdotes, que eram os guardiões da lei (Lev. 19.13; Deu. 25.14,15). Censura grave era invocada contra aqueles que abusavam da lei (Jó 24.11); a retenção de salários justos era considerada um crime sério (Jer. 22.13; Mal. 3.5). Tia. 5.4 informa-nos sobre os maus patrões de seus dias. A barganha era uma forma de determinar a quantidade do salário, e um empregador poderia ser mais ou menos generoso, conforme suas qualidades espirituais e morais (Gên. 30.28; Mal. 20.116). A lei reduzia a exploração: os salários eram pagos diariamente, antes do pôr-do-sol (Lev. 19.13; Deu. 24.14,15). Mas, como nos tempos modernos, na história remota passada, era comum a exploração de trabalhadores. O homem que tivesse dinheiro não tinha dificuldade em explorar aquele que não tivesse. O "escravo do salário" tem sempre sido uma constante na história humana. Ver ler. 22.13; Mal. 3.5. A medida de um homem é sua generosidade, outro nome que se pode dar à lei do amor, mas não são muitos os que seguem essa lei nas sociedades em que o dinheiro é deus e a maioria dos homens é escrava desse deus. Um antigo padrão bíblico para trabalhadores diaristas era o denário, Mal. 20.2; ou o dracma, Tobias 5.14, que alguns calculam tivesse o valor de uns 16 centavos de dólar americano, mas todos as suposições dessa natureza são inúteis. Podemos assegurar-nos que o salário padrão, onde existisse, era suficiente apenas para sustentar a vida. IV. Usos Figurativos 1. Deus paga seus "salários" (recompensas) aos fiéis que obedecem à Sua vontade e trilham pelo caminho espiritual. O mesmo se aplica aos infiéis, de forma negativa

SALATIEL Esta é uma forma alternativa de Sealtiel (ver). SALCÃ Do hebraico, "caminhar", cidade ou região de Basã (Deu. 3.10; 13. I 1), aparentemente uma das capitais do reino de Ogue. I Crô. 5.11 parece indicar que ela se localizava na fronteira leste de Manassés e Gade. Este assentamento controlava o acesso ao sudeste do vale fértil de Haurã (isto é, a Basã bíblica). Ainda pode ser vista hoje uma antiga estrada romana na área. A cidade foi identificada com a moderna Salkhade, situada no topo de um vulcão extinto. A arqueologia descobriu algumas ruínas significativas do local, incluindo uma cidadela cuja forma presente tem o nome de Ayyubid. Algumas ruinas são dos tempos romanos. Entre as descobertas estão moedas de Areta, rei dos nabateus (9 a.C, - 40 a.C.).

SALEFE Do hebraico "retirado", palavra usada para designar um filho de Joctã e uma tribo árabe (Gên. 10.26; I Crô. 1.20). É provável que os descendentes do homem em questão tomaram-se a tribo com o mesmo nome. Os nomes Salaf e Sulaf sobreviveram como designações de locais na área envolvida. Salefe parece ter vivido em cerca de 2200 a.c. O nome talvez derive de salafa, que significa "cultivar" e "trazer para frente". O significado pretendido pode fazer referência a uma colheita. SALÉM Do hebraico, "paz", uma forma abreviada para Jerusalém. Estritamente falando, esta era a forma original do nome da cidade. A palavra ocorre apenas quatro vezes na Bíblia (Gên. 14.18; 33.18, Sal. 76.2; Heb. 7.1). Melquisedeque foi um antigo rei do local, como nos informa a referência em Hebreus. Ele foi o "rei da paz", definido melhor no verso seguinte, implicando "segurança, prosperidade e bem-estar". Os jebuseus originais provavelmente adoravam a divindade cananéia Salém. Se isso for real, esta era a verdadeira origem do nome da cidade. Nas Cartas Amaranas, a forma do nome é Urusalim (cidade da paz). SALEQUETE Do hebraico, "expulsão" ou "rebaixamento". Este era o nome de um dos portões do templo de Salomão, através do qual era jogado refugo (daí o motivo da designação). Na saída deste portão uma calçada levava ao vale chamado Tiropeon. Ver I Crô. 26.16. Alguns estudiosos supõem que as cinzas e entranhas dos animais sacrificados no templo fossem jogadas por este portão. Mas sabemos que tais materiais eram depositados no vale do Cedrom, que ficava a leste do templo. SALGUEIRO As palavras hebraicas para esta espécie de árvore são saph e saphah, equivalentes dos termos árabes sifsaf e

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SALIM - SALMANASER SALMA, SALMOM Do hebraico, "firmeza" ou "fortaleza". I. Um filho de Calebe era chamado com esse nome. Ele obteve a reputação de fundador (pai) de Belém (I Crô, 2.11,51,54). O nome ali é Salmom. 2. O pai de Boaz (Rute 4.20, 21). A ortografia Salamah aparece no vs. 20, mas no versículo seguinte temos Salmon. O mesmo homem foi o "pai" (ancestral) dos netofatitas (vs. 54). Ele viveu em tomo de 1400 a.c.

'arab. Esta é uma árvore que tem folhas finas e galhos flexíveis que são usados para a feitura de cestas. Ver Eze. 17.5; Lev. 23.40; Jó 40.22; Sal. 137.2; Isa. 15.7; 44.4. A canção folclórica do Salmo 137 faz referência a uma das espécies de salgueiro, possivelmente a Salix babylonica, que crescia na Babilônia. Há outras opiniões sobre a questão e nada pôde ser demonstrado.

SALIM I. Termo. Esta palavra parece ser oriunda da raiz grega saleuo, que significa "agitar", "tremer". Era a localização do Enon (o termo hebraico para "nascentes"), e a agitação daquelas águas poderia ter emprestado seu nome ao lugar. 2. Localização. Ninguém sabe hoje, com certeza, onde este lugar estava situado. a. Talvez pertencesse a Decápolis, visto que Jerônimo e Eusébio dizem que Salumias, cerca de 13 km ao sul de Citópolis, era o local. Nesse caso, Tel Radgah (também chamada TeU Shekh esSalim) identifica a região. 2. É possível que um lugar próximo às nascentes de wadi Farah, localizado ao leste de Nablo, estivesse em vista, e essa foi a conjectura de Albright, 3. Outros endossam o wadi Saleim, situado a aproximadamente 10 km ao nordeste de Jerusalém, como a identificação moderna mais provável. 3. Menção Neotestamentária. Este era o lugar onde João batizava seus conversos, "porque havia ali muita água" (João 3:22-26). Isso provavelmente significa que ele batizava por imersão, o modo pelo qual os judeus batizavam seus prosélitos.

SALMÃ Um rei com esse nome é mencionado em Osé. 10.14. Esta é uma forma abreviada de Salmaneser (ver, a seguir, sob o ponto 5). Alguns estudiosos, contudo, pensam que o monarca rnoabita, Salamanu, é quem está em vista. Seu nome ocorre em uma inscrição de Tiglate-Pileser III (745727) que ainda estava vivo na época de Oséias. A primeira idéia é a mais aceita. SALMAI No hebraico, Yahweh é o recompensador. Seu nome aparece em duas passagens diferentes: Esd. 2:46 e Nee. 7:48. Contudo, na primeira destas passagens, seu nome aparece, em nossa versão portuguesa, com a forma de "Salmai", o que também ocorre no livro apócrifo de I Esdras (5:30). Ele representava uma família de servidores do templo, que retomou do exílio babilônico (Nee. 7:48). Cerca de 536 a.c. SALMANESER Do assírio, "o deus Sulma e o chefe". A transliteração grega é Salannesar ou Salamnasar. Apenas SalamaneserV é mencionado na Bíblia, mas para apresentar um material completo, forneço breves descrições dos cinco reis assim denominados. As inscrições assírias nos dão detalhes sobre esses soberanos. Ver o artigo separado sobre a Assíria. 1. Salmaneser 1 (1345-1274 a.C.). Era um homem destemido, uma das luzes mais brilhantes na história assíria. Filho de Adade-Nirade I e distinto guerreiro, derrotou vários inimigos, dentre eles os povos de Uratu, Guti, os hurrianos, os hititas e os arameus. Ao capturar Carquêmis, foi o primeiro rei assírio a entrar em choque com os egípcios (e com o oeste da Ásia). 2. Salmaneser 11 (1030-1020 a.C). Sua principal tarefa foi a fortificação da Assíria, uma vez que o povo repeliu a dominação aramaica. 3. Salmaneser III (858-824), filho de Assumasirpal 11. Brilhante estadista e guerreiro, foi o primeiro assírio a ter contato direto com Israel. Nele viveu novamente o espírito do poderoso Tiglate-Pileser I (que viveu em cerca de 1110 a.C,}, Como a maioria dos antigos reis de notoriedade, suas realizações se resumiram em principalmente matar, conquistar e expandir fronteiras. Sua história é marcada por uma longa lista de povos conquistados e, com este trabalho, ele expandiu o império assírio em todas as direções. Para maiores detalhes, ver o artigo geral sobre Assíria, ponto 10. História, d. Novo Império (900-612 a.Ci). Temos vários artefatos arqueológicos importantes de sua época, sendo o mais famoso deles o Obelisco Negro, que agora se encontra no Museu Britânico. É um bloco sólido de basalto de mais de dois metros de altura, cujas inscrições contam a história das conquistas de Salmaneser e dos subseqüentes tributos de vários povos que ele extorquiu. Outro grande pedaço escavado retrata o rei, em tamanho real, e também possui duas colunas de escrita. Vários grandes bois, completos com inscrições, foram desenterrados e fomecem informações vitais sobre o período da história assíria no qual Salmaneser IH esteve envolvido.

SALISA, TERRA DE Do hebraico, "triangular", mas chamada por alguns de "terra do terceiro terreno". Este era o nome de um distrito junto ao monte Efraim (I Sam, 9.4), localizado ao norte de Lida. Aparentemente, a Khirbet Keir Thilth moderna identifica o antigo local, estando a palavra thiltb etimologicamente relacionada a shalishah, Está em vista a terra ao redor de Baal-Salisa (lI Reis 4.42). A Bíblia menciona esta área em conexão com a busca de Saul pelos asnos de seu pai, Quis. SALITRE Do hebraico nether, traduzido como "vinagre" em Pro. 25.25, mas como "salitre" em Jer. 2.22. É uma substância alcalina usada para propósitos de limpeza. O nitro moderno é salitre, composto de nitrato de potássio, mas não é o mesmo que o nitron dos antigos. A substância ocorre naturalmente em certos solos. SALIVA (CUSPE) Quatro palavras hebraicas e duas gregas estão envolvidas nos textos que falam de cuspe e cuspir: Hebraico: rir, "saliva", "clarade ovo" (11 Sam. 21.13); roq, "saliva". "cuspir"; raqaq, "cuspir" (Lev. 15.8); yaraq, "cuspir" (Núm. 12.14); Grego: ptusma, "saliva" (João 9.6); emptuo, "cuspir" (Mal. 7.33; João 9.6). A saliva poderia ser a fonte da mancha da cusparada (Lev. 15.8). Cuspir no rosto de outra pessoa era um insulto grosseiro (Núm, 12.14; Mal. 26.27; 27.30). Mas Jesus usou o próprio cuspe para curar um homem cego (João 9.6). Os rabinos consideravam o cuspe um agente de cura. Cães lambem suas feridas, e isso parece auxiliar no processo de cura, embora possa ser realizado apenas como uma limpeza, em vez de como um elemento de poder antibacteriano, Ver os artigos Curas e Milagres.

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SALMERON, ALFONSO - SALMOS

o

rei passou a última parte de seu reinado em casa, embelezando o local, construindo moradias governamentais e privadas. A maior parte do trabalho posterior foi feita em Cala, uma cidade reconstruída por seu pai. 4. Salmaneser IV (782-722 a.Ci), filho de Adade-Nirari m. Extorquiu tributos da Samaria, a capital do norte de Israel, fato registrado na estela de Rima, e também no Antigo Testamento, mas sem constar o nome dele como o recebedor. Este rei não foi conhecido por muito, exceto por seu controle das rebeliões contra a Assíria e dentro de seu próprio país. 5. Salmaneser V (725-722 a.c.) deu continuidade às políticas da Assíria para manter o fluxo de entrada do dinheiro proveniente de tributos. Quando Tiglate-Pileser Ill, rei da Assíria, morreu em 727 a.C., seu trono foi tomado por Ululai, governador da Babilônia, que então passou a ser conhecido como Salmaneser V. A Assíria manteve sob tributo a maioria dos reis da Palestina, incluindo Oséias, rei de Israel, como vemos em 11 Reis 17.3. Israel cansou de pagar todo aquele dinheiro e então revoltou-se, com resultados desastrosos. Uma invasão da Samaria resultou primeiro na captura de Oséias, que foi levado à Babilônia. Antes deste evento, Salmaneser V morreu, e Sargão 11 tomou seu lugar (723-722). Ele pode ser o homem mencionado em Osé. 10.14. Quase 800 mil israelitas do norte foram exilados, e colonos vindos de vários lugares do Oriente ocuparam o reino do norte. Em mistura com o restante da população local, eles se tomaram os samaritanos. Foi cometido um genocídio eficaz, uma especialidade da antiga Assíria. Para maiores detalhes, ver os artigos: Assíria; Samaritanos e Israel, Reino de.

SALMERON, ALFONSO Suas datas foram 1515-1585. Jesuíta espanhol, teólogo e exegeta católico romano, exerceu influência sobre decisões tomadas quando do Concílio de Trento (ver sobre os Concílios Ecumênicos). Publicou comentários sobre os evangelhos, o livro de Atos e as epístolas de Paulo. SALMODIA Esta palavra combina "salmo" com oide, "cântico", dando a entender o uso litúrgico dos Salmos; ou, mais frouxamente, "o cântico dos salmos". Os Salmos são usados no oficio divino (Horas); no Breviário (sobre o que apresento artigos separados). No Livro de Orações da Igreja Anglicana, o Saltério aparece dividido em sessenta porções para serem usadas durante um mês, a cada manhã e a cada tarde. Os historiadores têm mostrado que os Salmos eram entoados pela Igreja primitiva. Naturalmente, isso ocorria em imitação ao que se fazia no judaísmo. Tal prática foi a precursora dos corais e dos hinos evangélicos. O trecho de Cal. I: 16 faz distinção entre um salmo cantado e um hino. Ver o artigo intitulado Música. Desenvolveram-se vários padrões litúrgicos. A salmodia antifonal é uma forma que alterna dois coros. A salmodia responsiva é a alternância entre um coro e um solista. A salmodia direta usa os salmos sem alternância. SALMONA No grego, Salmoné. Um promontório na porção leste da ilha de Creta, atualmente chamado cabo Sídero. Quando Paulo e outros viajantes tomaram um navio em Mira, na Lícia, tiveram de enfrentar fortes ventos que sopravam do nordeste. Mantendo-se próximos da costa, eles chegaram a Cnido com alguma dificuldade. Mas ali cessou a proteção dada pela costa. Teria sido possível lançar âncora naquele porto, à espera de ventos mais brandos; mas, por causa de seus urgentes desejos de chegar a Roma,

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o único curso que lhes restou foi navegar a "sotavento de Creta, na altura de Salmona". E Lucas acrescenta em seu relato: "Costeando-a penosamente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséia" (Atos 27:7,8).

SALMOS Esboço: I. O Título e Vários Nomes 11. Caracterização Geral 111. Idéias dos Críticos e Refutações IV. Autoria e Datas V. Várias Compilações e Fontes Informativas VI. Conteúdo e Tipos VII. A Esperança Messiânica VIII. Usos dos Salmos IX. A Poesia dos Hebreus X. Pontos de Vista e Idéias Religiosas XI. Canonicidade XII. Os Salmos no Novo Testamento XIII. Bibliografia I. O Título e Vários Nomes

1. O moderno título desse livro do Antigo Testamento vem do grego psalmôs, que indica um cântico para ser cantado com o acompanhamento de algum instrumento de cordas, como a harpa. O verbo grego psallein significa «tanger». A Septuaginta diz Psalmoi como o título do livro. E é da Septuaginta que se deriva nosso título moderno do livro. A Vulgata Latina diz, como título, Liber Psalmorum. 2. O título hebraico antigo do livro era Tehillim, «cânticos de louvor». Esse título refletia o principal conteúdo dessa coletânea em geral. Mas vários outros vocábulos hebraicos introduzem salmos específicos, a saber: Shir, «cântico» (29 salmos). Mizmor, «melodia», «salmo» (57 salmos); essa palavra subentende o tanger de algum instrumento de cordas, pelo que é similar ao termo grego psalmós. Sir Hammolot, «cânticos dos degraus» (Sal. 120 a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas. Miktam, cujo sentido exato se perdeu, embora haja nas composições envolvidas a idéia de lamentações e expiação (Sal. 16, 56-40). Maskil, «instrução», que são salmos didáticos (Sal. 74, 78 e 79). Siggayon, também de significado duvidoso, mas talvez uma palavra relacionada ao termo hebraico saga, «dar uma guinada», «giram, referindo-se a um tipo de música agitada (Sal. 7). Tepilla, «oração», referindo-se a alguma composição poética entoada como uma oração ou petição (Sal. 142). Toda, «agradecimento», Le annot, «aflição». Hazkir, «comemoram ou «lembrança», como no caso de um pecado cometido (Sal. 38 e 70). Yedutum, «confissão» (Sal. 39, 62 e 77). Lammed, «ensinam (Sal. 60). Menasseah, «diretor musical» (55 salmos). Yonat e/em rehoqim, que diz respeito a alguma «pomba» (deve estar em foco algum tipo de sacrificio). Ayyelet hassahar, «corça do alvorecem (estando em foco algum sacrificio). Sosannim, «lírios» (Sal. 60, 65 e 69), talvez uma referência ao uso de flores em cortejos nos quais eram entoados salmos. Neginot, uma referência a instrumentos musicais que sem dúvida acompanhavam o cântico de salmos (Sal. 6, 54, 55 e 67). Sela, «elevam, talvez uma direção para que se elevasse a voz, em algum tipo de bênção ou vozes responsivas (39 salmos). Nehilot, «flautas», uma referência ao acompanhamento do cântico de salmos por meio desse instrumento de sopro. A complexidade desses títulos reflete tanto a própria complexidade da coletânea quanto o seu variegado uso em

SALMOS beleza e percepção espiritual, o que tem feito do livro uma parte imortal da literatura religiosa. 111. Idéias dos Críticos e Refutações Apesar de todos os homens louvarem os salmos, nem todos pensam que eles foram autenticamente compostos por Davi e produzidos naquele antigo período da história. Talvez a maioria dos eruditos modernos veja os salmos como uma série de coletâneas que terminou unida em uma única grande coletânea, embora a totalidade tivesse sido composta e desenvolvida no processo de um longo tempo. Alistamos os principais pontos de vista dos criticas, juntamente com as refutações às suas críticas: 1. O uso do termo hebraico le levanta uma questão de interpretação. Essa palavra pode significar «P0f)), envolvendo assim a idéia de autoria. Porém, também pode ter o sentido de «pertencente a», não requerendo assim a idéia de que determinados salmos foram compostos pelo indivíduo que aparece no título. Onze salmos presumivelmente são atribuídos aos filhos de Coré, mas essa palavra hebraica aparece nos títulos introdutórios. No entanto, o trecho de 11 Crô. 20.19 mostra-nos que esses homens formavam uma guilda de cantores do templo, após o exílio. Não é provável que eles tenham, verdadeiramente, composto os salmos que lhes são atribuídos; antes, esse grupo de salmos foi selecionado por eles (provavelmente procedentes de diferentes autores), e os cantores os usavam em seu trabalho. Resposta. Apesar de ser verdade que o vocábulo hebraico em questão pode envolver o sentido de «pertencente a), e que, de fato, em certos casos assim deve ser entendido, também é verdade que tal termo pode significar «POD), indicando a autoria. E se havia uma guilda musical dos filhos de Coré, que existiu depois do exílio babilônico, é também provável que essa guilda já existisse desde tempos mais antigos, e que os seus descendentes é que foram mencionados em II Crônicas. Ver na Enciclopédia sobre Coré; Coate e Coatitas. A passagem de I Crô. 6.31 ss. fornece-nos os nomes daqueles que Davi nomeou para ocuparem-se da música sacra, e os filhos de Coré estavam entre eles. Ver o vs, 38. «Quando da reorganização instituída por Davi, os coatitas ocuparam certa variedade de oficios, incluindo um papel na música executada no templo» (NO). 2. Os títulos dos salmos não eram originais, e sem dúvida contêm muitos desejos piedosos, não informações históricas autênticas. Resposta. É verdade que as tradições tendem por adicionar toda espécie de material não histórico, mas também podemos estar tratando com anotações e observações verdadeiramente antigas dotadas de valor histórico, pelo menos no que se aplica à maioria dos salmos. A baixa crítica (estudo do texto dos manuscritos antigos) arma-nos de um constante testemunho em favor desses títulos. Todavia, este último argumento não é muito definitivo, visto que todos os manuscritos que temos dos Salmos são tão posteriores que se toma impossível fazer qualquer afirmação quanto ao valor histórico dos titulos, meramente por se encontrarem em todos os manuscritos conhecidos. Todos os manuscritos conhecidos do livro de Salmos são de data relativamente recente. 3. Setenta e quatro dos salmos são atribuídos a Davi. mas entre eles manifesta-se uma grande variedade de estilo, expressão e sintaxe, mostrando que dificilmente eles foram compostos por um único autor. Resposta. Esse tipo de argumento só pode ter peso se também for exatamente detalhado quais problemas estão envolvidos. Argumenta-se que são achados aramaísmos

conexão com a devoção privada e com a adoração pública, especialmente aquele tipo que era acompanhado por música. 11. Caracterização Geral «O livro de Salmos, tradicionalmente atribuído a Davi, é uma antologia de cânticos e poemas sagrados dos hebreus. Aparece na terceira seção do Antigo Testamento, chamada os Escritos (no hebraico, Ketubim). A palavra salmos é de origem grega e denota o som de algum instrumento de cordas. Seu nome, em hebraico, é tehillim, 'louvores'. Os temas dos salmos envolvem não somente louvores ao Senhor, mas também alegria e tristeza pessoais, redenção nacional, festividades e eventos históricos. O seu fervor religioso e poder literário têm conferido a essa coletânea uma profunda influência através dos séculos, e não menos no mundo cristão». «Tem havido intensa disputa entre os eruditos acerca da antigüidade e autoria desses salmos, e acerca de sua conexão com o rei Davi. Provavelmente foram compostos durante um período bíblico de mil anos ou mesmo mais. Dentre os cento e cinqüenta salmos, setenta e três têm, no seu título, as palavras «de Davi»; e muitos deles foram compostos na primeira pessoa do singular. Alguns desses, ou porções dos mesmos, parecem ser de data posterior à do reinado de Davi. Entretanto, o cotejo com outras peças poéticas religiosas do Oriente Próximo e Médio da mesma época geral sugere que alguns dos poemas atribuídos a Davi datam, realmente, do tempo dele. Sem importar o que os especialistas digam, é apenas natural que a crença popular tenha atribuído a obra inteira ao maior dos reis de Israel, um poeta e músico que se sentia em íntima comunhão com Deus» (WW). Os salmos reverberam as mais profundas experiências e necessidades do coração humano, e assim exercem uma atração permanente sobre as pessoas de todas as religiões. Incorporaram o que havia de melhor nas formas poéticas dos hebreus, tendo-as desenvolvido, e eram acompanhados por um surpreendente desenvolvimento musical, com freqüência usado para acompanhar a recitação dos salmos na adoração formal de Israel. Tem-se tomado comum aos eruditos liberais aludirem aos salmos como «o hinário do segundo templo», o que serve de uma boa descrição. Contudo, não há nenhuma razão constrangedora que nos force a duvidar de que pelo menos muitos dos salmos, bem como a música que os acompanhava, já faziam parte da liturgia do primeiro templo de Jerusalém. Ver a terceira seção, intitulada Idéias dos Críticos e Refutações. quanto aos argumentos pró e contra acerca da data e da compilação dessa coletânea de hinos e poemas. Esse hinário do segundo templo contém muitos elementos antigos que correspondem ao que se conhece sobre a poesia antiga de outras culturas, e não somente da cultura hebréia; e isso favorece a antigüidade pelos menos de uma parcela razoável da coletânea. Seja como for, a fé religiosa viva resplandece através desses hinos e poemas. O Saltério é o hinário do antigo povo de Israel; e, posteriormente, veio a ser o livro veterotestamentário mais constantemente citado no Novo Testamento. Os primeiros hinários cristãos, em vários idiomas, incorporaram muitos dos salmos, que então foram musicados. Sob o primeiro ponto, temos dado indicações sobre os muitos tipos de salmos que compõem a coletânea, e, nas seções quinta e sexta, ilustramos essa questão um pouco mais. Os principais tipos de salmos são os de louvor, lamentação, confissão, júbilo, triunfo, agradecimento, salmos reais, imprecações contra os inimigos, história sagrada, sabedoria, liturgias, cânticos festivos. O livro de Salmos reflete muitos aspectos da vida religiosa e das aspirações do antigo povo de Israel, e é dotado de profunda

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SALMOS

Caligrafia de Darrell Steven Champlin

SALMOS

Caligrafia de Darrell Steven Champlín

SALMOS todos os setenta e quatro salmos a ele atribuídos. 6. Apesar de poder ser demonstrado que alguns dos salmos contêm elementos antiquíssimos, que mostram afinidade com a poesia norte-cananéia (como aquela que foi encontrada em Ras Sharnra; ver na Enciclopédia a respeito) ou com os antigos textos babilônicos, pode-se interpretar melhor esse ponto supondo-se que antigos elementos tivessem sido incorporados, e não que todos os salmos fossem verdadeiramente antigos. Por outra parte, pode-se mostrar que material literário semelhante aos salmos era bastante comum em tempos pré-exílicos, segundo se vê em Osé. 6.1-3; Isa. 2.2-4; 38.10-20; ler. 14.7-9; Hab. 3.1 ss.; I Crô. 16.8-36. O mesmo sucedeu em tempos pós-exílicos, conforme se vê em Esd. 9.5-15 e Nee. 9.6-39. Com base nas evidências, podemos afirmar que essa forma de composição escrita era encontrada em várias colunas antigas, e isso cobrindo um período de tempo muito longo. 7. O guerreiro Davi poderia ter sido o autor desses monumentos de espiritualidade? Infelizmente é verdade que, em muitas ocasiões, Davi agiu como um puro selvagem. Mas ele viveu em tempos extremamente violentos, e precisou usar da violência a fim de sobreviver. Ficamos desconsolados ao ler os relatos de matanças insensatas que ocorreram em seus dias. Davi desejou construir o templo de Jerusalém; e o profeta Natã encorajou-o a fazê-lo. Mas, pouco depois, o Espírito de Deus mostrou a Natã que Davi não era a pessoa indicada para a obra, devido à sua trajetória sangüinária. E assim a tarefa foi transferida para Salomão. um dos filhos de Davi. O relato acha-se no sétimo capítulo de 11 Samuel. O trecho de I Sam. 27.8 ss registra o incrível incidente no qual Davi e seus homens executaram todos os homens, mulheres, crianças e até animais, meramente a fim de engodarem a Aquis, fazendo-o pensar que era contra Judá que Davi tinha agido. Isso Davi fez a fim de fortalecer a sua posição diante daquele monarca pagão, quando exilado no território dele. Davi queria que Aquis pensasse que a sua inimizade contra seu próprio povo israelita era tão grande que ele nunca mais seria uma ameaça para os vizinhos de Israel. Ora, um homem assim tão brutal poderia ter composto uma poesia tão sublime? Diante dessa indagação, relembramos o leitor de que os poemas homéricos, uma literatura de insuperável beleza e técnica, foram escritos dentro do contexto de matanças e ameaças de morte. Tem havido grandes poemas de fundo belicoso. com também soberba prosa. De fato, as guerras têm inspirado muitas grandiosas peças de literatura, além de notáveis produções teatrais. Também devemos considerar que Davi, embora tivesse vivido em tempos selvagens, também tinha outro lado em sua personalidade, o lado de uma profunda devoção ao Senhor. Isso fica claro nos livros de I e 11 Samuel, I e 11 Reis, além de várias outras referências a Davi, espalhadas pela Bíblia. Outrossim, a habilidade de Davi como poeta e músico já era proverbial em seus próprios dias. Os trechos de I Crô. 6.31 ss. e 16.8-36 fornecem-nos indicações a esse respeito. Finalmente, cumpre-nos considerar a natureza do próprio ser humano, um misto de nobreza e vileza, em uma mesma criatura. O sétimo capítulo da epístola aos Romanos elabora esse ponto. Até Adolfo Hitler gostava de cães! A passagem de Amós 6.5 mostra quão grande era a reputação de Davi como músico e poeta (ver também 11 Sam. 1.17 ss.; 3.33 ss.), a qual continuou a ser notória mesmo séculos depois de sua morte. A Bíblia chega a revelar que Davi inventou instrumentos musicais. O Cântico de Moisés (Êxo. 15) e o Cântico de Débora (Juí. 5) mostram que a poesia dos hebreus era muito antiga e muito bem desenvolvida. Não há

nos salmos de Davi. Os eruditos conservadores dizem que isso poderia ter ocorrido durante o processo de transmissão dos textos. Questões assim só podem ser tentativamente resolvidas por eruditos no hebraico. Entretanto, todos os autores são, parcialmente, compiladores, pelo que é possível que Davi, embora poeta de alto gabarito, algumas vezes tenha incorporado composições não de sua autoria, em seus poemas. Além disso, é possível que vários dos chamados salmos de Davi não fossem de sua autoria, embora esse reparo não caiba à grande massa deles. Salmos anônimos provavelmente também foram atribuídos a Davi, visto que ele foi o principal para a coletânea. No Novo Testamento, certos salmos são atribuídos a Davi, embora os títulos do Antigo Testamento não digam tais coisas. Isso pode ter sido instância do que acabamos de asseverar. Não há necessidade de nos empenharmos pela autoria davídica desses salmos. Mas precisamos defender o conjunto dos salmos de Davi. Quanto a observações neotestamentárias, ver Atos 4.25 e Heb. 4.7. O trecho de I Crô. 16.8-36 contém porções dos Salmos 96, 105 e 106, e parece atribuí-los a Davi. ao passo que, no próprio livro de Salmos, eles figuram como anônimos. E no tocante a Heb. 4.7, alguns estudiosos argumentam que esse versículo não precisa ser interpretado com o sentido de que a autoria davídica está em pauta, pois estariam em foco apenas as questões do uso de idéias e o cuidado na prestação de ações de graças. 4. Muitas coletâneas. incorporadas naquilo que finalmente veio a ser o Saltério, provavelmente indicam um processo muito prolongado. Assim, apesar de alguns dos salmos terem sido de autoria davídica, a maior parte não o é, e a compilação final ocorreu após o exílio babilônico. Resposta. Na primeira seção, acima. ficou demonstrado que, de fato. muitos dos títulos dos salmos sugerem fontes múltiplas, muito mais complexas do que se dizer que Davi e alguns outros, como Asafe, Salomão. os filhos de Coré etc., nos legaram os salmos. Todos os bons hinários são como antologias de hinos adicionados através dos séculos. Porém, o reconhecimento desse fato não anula a idéia de que Davi foi o principal e mais volumoso contribuinte, e que outros salmos, como os de Asafe, também pertencem, autenticamente, à época de Davi. Ver a quinta seção, abaixo, quanto à complexidade de fontes que aparentemente estão por trás do livro de Salmos. Parece que precisamos admitir que o livro de Salmos recebeu contribuições da parte de muitos, ao longo de um prolongado tempo. Contudo, isso não anula o antigo âmago do livro, especialmente aquela porção que pertence autenticamente a Davi. 5. Os títulos davidicos relacionam os salmos a certos eventos da vida de Davi, mas a leitura desses salmos envolvidos revela-nos que o seu conteúdo nada tem que ver com o que aqueles títulos dizem. Resposta. É admirável que as mesmas evidências possam ser interpretadas de modos diferentes, tudo dependendo de como os intérpretes aparentemente queiram distorcer a questão. Alguns eruditos liberais admitem nada menos de dezoito salmos como de autoria autenticamente davídica; mas outros desses mesmos eruditos não podem achar um único salmo que seja tão antigo que possa ser atribuído a Davi. Na quarta seção, Autoria e Datas, apresentamos um estudo sobre esses salmos que parecem refletir circunstâncias verdadeiras da vida de Davi. E consideramos isso adequado para demonstrar a presença de genuínos salmos davídicos no livro de Salmos, mesmo que isso não possa ser aplicado a

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SALMOS nenhuma razão em supormos que o templo original de Jerusalém não contasse com música e poesia dessa qualidade altamente desenvolvida. Não há nenhum~ dúvida razoável acerca do papel desempenhado por Davi em tudo isso, a despeito de sua natureza belicosa, e, com freqüência, violenta. 8. Pode-se explicar melhor os salmos como composições que giraram em torno de te~pos pós-exíli~os e isso por várias razões, algumas das quais foram descntas acima. A música e a liturgia elaborada servem de outro fator de uma data posterior. Porém, contra isso, além dos argumentos que já foram expostos, deveríamos observar que os Manuscritos do M.ar Morto (ver a respeito na Enciclopédia) já continham murto material proveniente dos Salmos, e isso evidencia que os Salmos já haviam sido escritos em um período histórico anterior ao daquele em que foram produzidos os rolos do mar Morto. Todavia, essa resposta não nos faria retroceder até os dias de Davi, mas somente até um tempo anterior ao tempo dos Macabeus. No entanto, o argumento é . sugestivo, mesmo que não conclusivo.. 9. A esperança messiânica é por demais pronunciada no livro de Salmos para que essas composições sejam consideradas saídas da pena de Davi. Historicamente, essa esperança ajusta-se melhor ao período dos Macabeus, sendo similar ao material dos livros pseudepígrafos, no tocante aos anseios dos judeus pelo aparecimento de um Libertador. Uma posição mais radical é aquela que diz que nada semelhante ao Messias cristão está em foco, mas tão-somente a figura de um Rei-Salvador, como aquela que foi concebida no tempo dos Macabeus. Resposta. Contra essa idéia, deve-se observar que desde tempos bem antigos na história de Israel esperava-se um Messias (ver Deu. 18.15). Isaías (750 a.C.) também reflete essa forte ênfase messiânica, conforme é claro para todos os que estudam a Bíblia, e isso certamente é anterior, e em muito, ao período pós-exílico. Ademais, afirmar que os antigos hebreus não poderiam ter tido a esperança messiânica é apenas uma opinião subjetiva. Podemos opinar subjetivamente que os hebreus poderiam ter tido tal esperança. Além disso, há indicações, extraídas da própria história da literatura bíblica, que mostram que o tipo de esperança messiânica davídica é mais antigo que a esperança refletida nos livros pseudepígrafos. O .~at? é que o livro de I Enoque contém uma esperança messraruca muito mais refinada e muito mais parecida com a do Novo Testamento do que aquela que transparece no li~ro de Salmos, refletindo um estágio posterior desse ensmo. O artigo sobre I Enoque na Enciclopédia certamente demonstra que, quanto a esse aspecto, I Enoque está mais próximo do Novo Testamento do que o livro d~AS~lmos. Quanto a pormenores sobre a esperança messraruca no livro de Salmos, ver a seção VII abaixo, que se dedica a esse assunto. Finalmente, no tocante a essa questão, precisamos relembrar dois itens incomuns e místic?s que sempre acompanham as culturas humanas, antlga.s e modernas; o poder de curar e o de prever o futuro. VIsto que o Messias brotou dentre o povo de Israel, não há nenhuma razão em supormos que a sua vinda não pudesse ter sido percebida com muita antecedência. Mas o contraargumento mais definitivo aqui é que o próprio Jesus Cristo ensinou a natureza messiânica dos Salmos; «...importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos» (Luc. 24.44). lO. A música e a liturgia elaborada, refletida no livro de Salmos falam sobre uma época posterior à de Davi, ou seja, a época do segundo templo, terminado o exílio

babilônico. Resposta. Não há razão para crer qu.e uma ela?ora.da situação músico-litúrgica não se caracterizava no primeiro templo. O trecho de I Crô. 6.31 ss. certamente ensina que, desde bem cedo, o aspecto musical de fé religiosa ocupava um largo espaço na religião dos hebreus. As observações musicais, existentes nos títulos dos salmos, referem-se a três elementos: instrumentos musicais, melodias utilizadas, vozes e efeitos musicais. Nada há nesses elementos que necessariamente pertença a tempos posteriores aos de Davi, embora, como é óbvio e como ninguém prete~de negar, tudo isso tenha sido sujeitado a um p~ogre.s~lvo desenvolvimento e elaboração. Nos tempos pós-exílicos havia guildas de músicos, como a dos filhos de Coré (ver 11 Crô. 20.19); mas esse trecho mostra que essa família formava uma antiga guilda musical, desde os tempos do primeiro templo de Jerusalém.

Observações Gerais sobre o Conflito: Críticos Versus Conservadores. Temos dado um sumário bastante detalhado do debate que ruge entre estas duas facções de estudiosos. Opino que não há como solucionar todos os problemas envolvidos, visto que cada teoria tem sua contrateoria. Parece-me que a solução desses problemas só poderia partir de especialistas no idioma e na. cultura dos hebreus, os quais, além disso, fossem téCnICOS no estudo dos próprios Salmos. E isso, como é óbvio, está acima da maioria dos eruditos do Antigo Testamento, para nada dizer sobre os leitores comuns. Controvérsias dessa natureza têm alguns elementos positivos, especialmente se forçam pessoas interessadas a estudar os livros da Bíblia em profundidade. Quanto ao seu lado negativo, essas controvérsias podem ser prejudiciais ao espírito da fé religiosa, dando maior ênfase à contenda do qu~ à espiritualidade. A fim de ilustrar essa declara~ão, o leItor pode meditar sobre o fato de que uma de minhas fontes informativas (uma respeitável enciclopédia) desperdiça espaço desproporcionalmente grande sob~e estas.questões controvertidas, ao mesmo tempo que dedica muito pouco espaço à mensagem e ao valor dos salmos; como .u~a colêtanea sagrada. Certas pessoas (em sentido P?Slt!VO ou em sentido negativo) gostam de debate, e acrma de todas as coisas, elas debatem. É óbvio que isso é um exagero, que só pode ser prejudicial para a espiritualidade. Assim sendo, que debatamos, mas que o façamos sem hostilidade e exageros. Quando o amor transforma-se em ódio teológico, então eu me despeço e vou-me embora. IV. Autoria e Datas Quanto a esta particularidade, precisamos depender essen-cialmente dos informes dados nos títulos de introdução aos Salmos. Se dependermos somente desses títulos, obteremos o seguinte quadro: Setenta e quatro salmos são atribuídos a Davi; dois a Salomão (Sal. 72 e 127); um a um sábio de nome Hemã (Sal. 88); um a um sábio chamado Etã (Sal. 89; quanto a esse, ver I Reis 4.31); um a Moisés (Sal. 90); vinte e três aos cantores levíticos de Asafe (Sal. 50; 73-83); vários aos filhos de Coré (Sal. 42, 43, 44-49, 84, 85, 87). Os quarenta e nove salmos restantes são anônimos. Os informes existentes nos salmos subentendem que várias guildas musicais ou escreveram ou utilizaram. os salmos. Quanto a uma exposição mais completa a respeito, ver a quinta seção da Introdução. Várias Compilações e Fontes Informativas. Os eruditos conservadores contentam-se em confiar no valor histórico desses informes. Os eruditos liberais, por outra parte, têm

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SALMOS militar contra os idumeus (ver 11 Sam 3.13,14; I Crô, 18.12), também referida em I Reis 11.15. O Salmo 51 elabora o pecado de Davi com Bate-Seba e contra Urias (ver 11 Sam. 12.13,14). O Salmo 3 retrata (cf. o vs. 5) a fé que Davi demonstrou ter, ao tempo da revolta de Absalão (cf. 11 Sam. 15.16). O Salmo 63 lança luz sobre a fuga de Davi para o Oriente nessa ocasião (cf. 11 Sam. 16.2), pois, em suas fugas anteriores, ele ainda não subira ao trono de Israel (ver Sal. 63.11). O Salmo 30 alude ao pecado de orgulho de Davi, devido ao poder do seu exército (ver os vss. 5, 6; cf. 11 Sam, 24.2), antes da perturbação que perdurou pouco tempo (cf. 11 Sam. 24.13-17; I Crô. 21.11-17). A isso seguiu-se o seu arrependimento e a dedicação do altar e da casa (a área sagrada do templo; I Crô. 22:1) de Yahweh. Entre os salmos restantes cujos títulos determinam a sua autoria, os vinte e três salmos compostos pelos cantores de Israel exibem panos de fundo inteiramente diferentes uns dos outros, visto que aqueles clãs leviticos continuaram em atividade durante e após os tempos do exílio babilônico (ver Esd. 2.41). A maior parte desses vinte e três salmos pertence aos dias de Davi ou de Salomão. Todavia, o Salmo 83 ajusta-se dentro do ministério do asafita Jaaziel, ou seja, em tomo do 852 a.C. (cf. os vss, 5-8 com 11 CrÔ. 20.1,2,14), ao passo que os Salmos 74, 79 e as estrofes finais dos Salmos 88 e 89 foram compostos por descendentes de Asafe e de Coré que, ao que tudo indica, sobreviveram à destruição de Jerusalém, em 586 a.C. (ver Sal. 74.3,8,9; 79.1; 89.44). Entre os salmos sem títulos ou anônimos, alguns poucos são oriundos do tempo do exílio babilônico (Sal. 137), do tempo do retomo dos judeus a Judá, em 537 a.C. (Sal. 107.2,3 e 126.1), ou da reconstrução das muralhas, sob a liderança de Neemias, em 444 a.C. (Sal. 147.13). Outros salmos, que refletem momentos trágicos, facilmente poderiam estar vinculados às desordens provocadas pela revolta de Absalão, ou então a certas calamidades que se abateram sobre Davi (cf. Sal. 102.13,22, 106.41.47). R Laird Harris recomenda que se use de grande cautela na crítica a respeito das datas de determinados salmos, escrevendo: «É de regular interesse que as alusões históricas dos salmos não ultrapassam os tempos de Davi, excetuando o Salmo 137, um salmo anônimo que versa sobre o cativeiro. Vários salmos dizem respeito, em termos gerais, aos tempos do cativeiro e às dificuldades enfrentadas em períodos de desolação do templo (por exemplo, Sal. 80; 85 e 129). Entretanto, essas são descrições poéticas bastante gerais, e não deveríamos esquecer que Jerusalém foi saqueada por mais de uma vez. O próprio Davi enfrentou duas conspirações em seu palácio. Nenhum dos salmos acima referidos é atribuído a Davi, embora alguns deles pudessem ter sido compostos em seus dias, ou pouco mais tarde» (Cf. F. H. Henry, editor, The Biblical Expositor, 11, pág. 49). Após termos suprido tais informações, nem por isso temos demonstrado que todos os setenta e quatro salmos atribuídos a Davi foram, na realidade, escritos por ele. Porém, temos dado motivos para crer que a contribuição de Davi foi real e vital. A posição radical que diz que os Salmos, como uma coletânea, foram compostos em tempos pós-exílicos, pelo menos em sua maioria, não resiste à investigação. Podemos concluir, portanto, que a maior parte dos salmos foi composta mais ou menos na época do primeiro templo de Jerusalém, ou seja, 1000 a.C., ou ligeiramente mais tarde.

achado pouco ou nenhum valor nessas informações. R. H. Pfeiffer considera-os «totalmente irrelevantes». Mas, se os estudiosos conservadores estão com a razão, então a maior parte dos salmos foi composta nos dias do Davi. E, se os liberais estão certos, podemos pensar em um desenvolvimento gradual da coletânea, a começar por Davi, com uma compilação final nos tempos pós-exílicos. Na terceira seção, ventilamos os argumentos e os contra-argumentos que circundam a questão. Não se pode duvidar que desde antes de Davi havia uma literatura similar à dos salmos, que tem paralelo em várias culturas da época. Penso que nada de fatal pode ser dito acerca do possível valor dos pontos dos salmos, mesmo que não cheguemos a ponto de canonizar esses títulos juntamente com o texto, dependendo estupidamente de qualquer coisa que esses títulos digam. Os argumentos que cercam a palavra hebraica le (cpon ou «pertencente a»?) não podem anular a antiga autoria davídica, mas, em alguns casos, podem apontar para os processos de seleção e compilação, e não exatamente autoria. Ver m.1. A baixa crítica (que trata do texto dos manuscritos) favorece uma data definitiva, pois todos os manuscritos que chegaram até nós são de origem relativamente recente, e não se sabe quando foram acrescentadas as composições poéticas. Podemos conjecturar com segurança, porém, que esses títulos são posteriores à época de Davi, embora possam estar alicerçados sobre sólidas tradições históricas. Em caso negativo, precisamos depender do conteúdo dos salmos que refletem situações diversas na vida de Davi, e não dos títulos propriamente ditos. Muitos eruditos conservadores têm preferido esse argumento, apresentando assim um caso que merece respeito.

Salmos que Parecem Redefinir Situações Genuínas na Vida de Davi: Catorze dos salmos refletem motivos especificos de sua composição. Dependo aqui das informações supridas por Z. A ordem de apresentação é cronológica, e não numérica. O Salmo 59 foi ocasionado pelo incidente registrado em I Sam. 19.11, e projeta luz sobre o caráter de certos associados invejosos de Davi (59.12). O Salmo 56 mostra como o temor que Davi sentiu em Gate (ver I Sam: 21.10), acabou transmutando-se em fé (56.12). O Salmo 38 ilumina as demonstrações de bondade subseqüentes, da parte do Senhor Deus (38.6-8, cf. I Sam. 21.13). O Salmo 142, à luz da perseguição descrita em seu sexto versículo, sugere as experiências de Davi na caverna de Adulão (cf. I Sam. 22.1), e não em En-Gedi (ver sobre o Salmo 57, mais abaixo). O Salmo 52 (cf. o vs. 3) enfatiza a iniqüidade de Saul, como superior de Doegue, que foi o carrasco executor dos sacerdotes (cf. I Sam. 22.9). O Salmo 54 (cf o vs. 3) impreca julgamento contra os zifeus (cf. I Sam. 23.13). O Salmo 57 envolve a caverna de En-Gedi, quando Saul foi apanhado na própria armadilha que havia armado (57.6; cf. I Sam. 24.1). O Salmo 7 apresenta-nos Cuxe, o caluniador benjamita (7.3), ao mesmo tempo em que o oitavo versículo desse mesmo salmo corresponde a I Sam. 24.11,12. O Salmo 18 é repetido na íntegra em 11 Sam. 22; cronologicamente, deveria ter sido posto em li Sam. 7.1. O Salmo 60 (cf. o vs. 10) ilumina a perigosa campanha

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SALMOS V. Várias Compilações e Fontes Informativas Já apresentamos o essencial desta questão, conforme aparecem diversos informes nos títulos dos salmos, no segundo parágrafo da quarta seção da Introdução. Se esses títulos estão essen-cialmente corretos historicamente falando, então outras fontes informativas devem ser rebuscadas entre os quarenta e nove salmos anônimos. Sempre que um título não for de caráter histórico, teremos o aumento no número de salmos anônimos. Diversas coletâneas secundárias (envolvendo assim autores e datas diferentes) podem estar indicadas nos títulos hebraicos shir; miktam, maskil etc. Uma de minhas fontes informativas conjectura que pode ter havido um mínimo de dez coletâneas menores de salmos, antes da compilação final do Saltério. Temos o Saltério Eloista como exemplo de uma coletânea distinta. Esses são salmos onde o nome divino predominante é Elohim. Trata-se dos Salmos 42 a 83. Curiosamente, o Sal. 53 é uma recensão eloísta do Sal. 14; e o Sal. 70, de Sal. 40. I3-17. Além disso, temos os Cânticos dos Degraus, um grupo distinto de salmos (120 a 134) que, provavelmente, eram usados pelos peregrinos, quando subiam para celebrar festividades religiosas em Jerusalém. O trecho de Sal. 135.21 tem uma doxologia que pode ter assinalado o fim de uma dessas coletâneas secundárias. As doxologias finais do quarto livro podem ter encerrado originalmente uma pequena coletânea, que acabou fazendo parte do todo. Ver Sal. 106.48. As coletâneas secundárias refletem crescimento e a idéia de crescimento implica diferentes datas para diferentes segmentos do livro de Salmos. VI. Conteúdo e Tipos A.Quatro Tipos Principais: 1. Os Salmos de Davi. O livro I (Sal. I - 41) é essencialmente atribuído a Davi, exceto o Salmo 1, que é a introdução a esse livro I, e o Sal. 33, que não tem título. Parece que foi Davi quem primeiro coligiu o primeiro grande bloco de material que, finalmente, veio a fazer parte da coletânea total, no livro de Salmos. Um total de setenta e quatro salmos lhe são atribuídos; e, como é óbvio, eles não ficam todos no livro I. 2. Os Salmos de Salomão. Os livros II e III exibem um maior interesse nacional que o livro I. Esses livros incluem os Sal. 42 a 89. O rei Salomão foi o responsável pela doxologia de 72.18-20, e pode ter sido o compilador (embora não o autor) do livro 11. Porém, os Sal. 42 a 49 são produção do clã cantante dos filhos de Coré. O Salmo 50 é de autoria de Asafe. 3. Os Salmos Exllicos. O livro III contém os Salmos 32, 52, 74, 79, e 89, que aludem à história posterior de Israel, já distante do período de Davi, mencionando a destruição de Jerusalém, em 586 a.C., e certas condições próprias do exílio. Porém, esse livro mostra certa variedade de composições, da parte de vários autores. De Davi (como o Sal. 86), de Asafe (Sal. 73 -83), dos filhos de Coré (Sal. 84,85 e 87). 4. Os Salmos da Restauração, Pôs-Exilicos e Macabeus. Nestes salmos predomina o interesse litúrgico. Os Salmos 107 e 127 devem ter provindo do tempo após o retomo dos exilados, em 537 a.c., e talvez existissem em uma coletânea separada, que foi então adicionada. Um inspirado escriba pode ter trazido o livro V (Sal. 107 150) à existência, unindo-o aos livros I - IV, ao adicionar a sua própria composição (Sal. 146-150) como uma espécie de grande aleluia! relativo ao Saltério inteiro. E isso pode ter ocorrido em cerca de 444 a.C, (Sal. 147.13), quando Esdras proclamou a renovação da adoração de Israel no segundo templo de Jerusalém. Alguns estudiosos

pensam que o próprio Esdras pode ter sido o responsável pela compilação final (Esd. 7.10). Outros eruditos têm pensado que o período dos Macabeus foi o tempo da produção de muitos salmos, a começar por 168 a.C. Porém, naquele período, o aramaico já havia sobrepujado quase inteiramente o hebraico, e os salmos não foram compostos em aramaico. Ademais, o material dos Manuscritos do Mar Morto contém os salmos, fazendo a data de sua composição retroceder para antes do período dos Macabeus. Por conseguinte, é improvável que um grande número de salmos se tenha originado no tempo dos Macabeus. B. Os Cinco Livros: O livro de Salmos divide-se em cinco livros, cada um dos quais termina com uma doxologia. São os seguintes: Livro I (Sal. 1-41); Livro II (Sal. 42-72); Livro III (Sal. 73-89); Livro IV (Sal. 90-106); Livro V (Sal. 107-150). C. Temas Principais: 1. O tema messiânico. Preservei este assunto para ser ventilado na seção oitava, onde ele é descrito pormenorizadamente. 2. Louvor. Alguns exemplos são Sal. 47; 63; 104; 145150. 3. Pedidos de bênção e proteção. Sal. 86; 91 e 102. 4. Pedidos de intervenção divina. Sal. 38 e 137. 5. Confissão de fé. especialmente no tocante aos poderes e oficios do Senhor. Sal. 33; 94; 97; 136 e 145. 6. Penitência pelo pecado. Sal. 6; 32; 38; 51; 102; 130 e 143. Em algum destes salmos, o perdão recebido é o assunto principal. 7. Intercessão em favor do rei, da nação, do povo etc. Sal. 21; 67; 89 e 122. 8. Imprecações. Queixas contra os adversários e o pedido para que Deus proteja, faça justiça e vingue. Sal. 35; 59; 109. 9. Sabedoria, homilias espirituais. com o oferecimento de instruções (salmos pedagógicos). Sal. 37; 45; 49; 78; 104; 105-107; 122. 10. O governo e a providência divina. Como Deus trata com todas as classes de homens, incluindo os ímpios. Sal. 16; 17; 49; 73 e 94. 11. Exaltação à lei de Deus. Sal. 19 e 119. 12. O reino milenar do Messias. Sal. 72. 13. Apreciação pela natureza. Temos aqui um reflexo da bondade, da glória e da beleza de Deus. Sal. 19; 29; 33; 50; 65; 74; 75; 104; 147 e 148. 14. Salmos históricos e nacionais, onde é elogiada a condição de Israel. Sal. 14; 44; 46-48; 53; 66; 68; 74; 76; 78-81; 83; 85; 87; 105; 108; 122; 124-129. São passados em revista muitos incidentes da história de Israel, e a providência divina é celebrada. O futuro de Israel é projetado de forma esperançosa. 15. A humilde natureza humana e sua grandeza. Sal. 8; 31;41; 78; 100; 103 e lO4. 16. A existência da alma e sua sobrevivência. Sal. 16.10,11; 17.15; 31.5; 41.12; 49.9.14,15. Historicamente, essa crença entrou no judaísmo mediante os Salmos e os livros dos profetas, e mostra-se ausente no Pentateuco. 17. Liturgia. Sal. 4; 5; 15; 24; 26; 30; 66; 92; 113-118; 120-134. VII. A Esperança Messiânica Vera décima segunda seção quanto a uma lista completa de citações extraídas do livro de Salmos e contidas no Novo Testamento. Muitas dessas citações são de natureza messiânica. O próprio Senhor Jesus referiu-se aos Salmos, que prediziam a seu respeito (ver Luc. 24.44). BiIIy Graham chegou a asseverar que todos os Salmos são

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SALMOS em geral sobre o Messias, com referências cruzadas com o Novo Testamento, no artigo chamado Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus. VIII. Usos dos Salmos 1. Todos os estudiosos concordam que os Salmos eram o hinário do segundo templo de Israel. No entanto, essa restrição não é imperiosa. O trecho de I Cor. 6.31 ss. demonstra o uso de música elaborada no culto divino, nos próprios dias de Davi. Portanto, o uso litúrgico dos salmos foi importante desde o começo. E isso teve prosseguimento na Igreja cristã, onde muitos salmos foram musicados e usados no culto de adoração. Além disso, muitos versículos, porções de salmos ou idéias ali contidas foram incorporados nos hinos cristãos. 2. Os salmos prestam-se muito bem a devoções particulares. sendo extremamente ricos em conceitos espirituais, além de excelentes como consolo e inspiração para o louvor ao Senhor. Muitos salmos são obras-primas literárias em miniatura, conforme se vê nos Salmos 1; 2; 8; 19; 22; 23 e 91. Qualquer seleção será forçosamente defeituosa, mas essa seleção ilustra o ponto. 3. Os Salmos são uma Bíblia em miniatura dentro da Bíblia, conforme Lutero afirmou, repletos de idéias religiosas e de fervor. Não foi por acidente que os autores do Novo Testamento citaram mais dos Salmos do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento. Ver a décima segunda seção quanto a uma demonstração desse fato. O próprio Senhor Jesus muito se utilizou dos salmos. Ele e os seus discípulos entoaram o Hallel (Sal. 113 -118), por ocasião da Última Ceia. 4. Textos de prova acerca do messiado de Jesus são abundantes nos Salmos, conforme é demonstrado na sétima seção da Introdução. 5. Uso dos Salmos em Ocasiões Especiais. Os títulos dos salmos dizem-nos que muitos deles eram usados em certas ocasiões, como o sábado, as festividades religiosas etc. Para exemplificar, o Sal. 92 era usado no sábado, e talvez igualmente o Sal. 136. Os SaL 120 - 134 são conhecidos como «Salmos dos Degraus», porquanto eram entoados pelos peregrinos quando subiam a Jerusalém, para celebrar as principais festas dos judeus. Alguns eruditos pensam que vários salmos eram usados na festa anual da entronização de Yahweh, como Rei de Israel, um costume que tinha paralelos no paganismo. Os Sal. 47; 93; 95 - 99 são designados como tais. E alguns estudiosos supõem que essa prática se alicerçasse sobre a festa do Ano Novo na Babilônia, o akitu, quando o deus Marduque era carregado pelas ruas da cidade de Babilônia. Depois de um elaborado ritual, era-lhe conferido mais um ano de autoridade no país, como um rei divino. Presumivelmente, as palavras de Sal. 24.7,8: «Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória... o Senhor poderoso nas batalhas», refletem aquele costume, que teria sido copiado pelos israelitas. Mas a maior parte dos eruditos conservadores assevera que salmos que supostamente aludem a essa festa podem ser explicados melhor de outras maneiras. Talvez aquelas assertivas do Sal. 24 reverberem o transporte da arca da aliança para Jerusalém. Além disso, os salmos que exaltam ao Rei, de modo geral, fazem-no Rei sobre todas as coisas e sobre todos os povos, e não meramente sobre Israel. E isso pode ser um argumento contra a interpretação que fala em uma entronização específica do Rei divino sobre a nação de Israel. Essa universalidade pode ser vista em Sal. 93; 95-100. Com base em raciocínios subjetivos, alguns eruditos opinam que Israel jamais haveria de emular uma festividade pagã,

messiânicos. Certamente isso é um exagero, mas o fato de que esse livro do Antigo Testamento foi o mais constantemente citado pelos autores do Novo Testamento mostra que ali o elemento messiânico certamente é fortissimo. Por esse motivo, destaquei essa questão do restante do conteúdo deste verbete, para efeito de ênfase. I. Sal. 2.1-1/. O poderoso Filho de Deus, exaltado pelo Pai contra os seus adversários, triunfa sobre tudo e todos. Este trecho é citado em Atos 4.25-28; 13.33; Heb. 1.I3 e 5.5; onde recebe uma interpretação messiânica. 2. Sal. 8.4-8. A exaltação do Filho de Deus. Todas as coisas foram postas debaixo de seus pés, o que sob hipótese nenhuma pode aplicar-se a um mero ser humano. Esta passagem é citada em Heb. 2.50-10 e I Cor. 15.27, dentro de contextos messiânicos. 3. Sal. 16.10. A incorrupção do Filho de Deus em sua morte; sua divina e miraculosa preservação; sua segurança no Pai. Este salmo é citado em Atos 2.24-31 e 13.35-37, sendo aplicado à ressurreição de Cristo, bem como à sua autoridade e exaltação gerais. Há seis salmos da paixão: Sal. 16; 22; 40; 69; 102 e 109. 4. Sal. 22. Um dos salmos da paixão que fornecem detalhes sobre a crucificação e descrevem os sofrimentos do Messias. Este salmo é citado em Mal. 26.35-46; João 19.23-25 e Heb. 2.12. O Sal. 22.24 prediz a glorificação de Cristo; o vs. 26 fala sobre a festa escatológica e o futuro trabalho de ensino do Messias (vss. 22, 23,25; Heb. 2.12). 5. Sal. 40.6-8. A encarnação. A citação acha-se em Heb. 10.5-10. 6. Sal. 46.6,7. O trono eterno do Messias. Sua natureza divina (vs. 6), embora distinta do Pai (vs. 7). O trecho de Heb. 1.8,9 cita esta passagem. 7. Sal. 79.25. A maldição sobre Judas Iscariotes, citada em Atos 1.16-20. 8. Sal. 72.6-17. O governo do Messias. Seu reino será eterno (vs. 7); seu território será vastíssimo (vs. 8); todos virão para adorá-lo (vss. 9-11). 9. Sal. 89.3,4,28.29,34-36. O Messias como o Filho de Davi; sua descêndencia será eterna (vss. 4, 29, 36, 37). Este salmo é citado em Atos 2.30. 10. Sal. 102.25-27. A eternidade do Filho-Messias. Uma invocação a Yahweh (vss, 1-22) e a EI (vs. 24) é aplicada a Jesus Cristo. 11. Sal 109.6-19. Judas Iscariotes é amaldiçoado. O Messias teria muitos adversários, mas havia um maior de todos. O plural aparece nos vss. 4,5 e muda para o singular no vs. 6, sendo reiniciado no vs. 20. Este salmo é citado em Atos 1.16-20. 12. Sal. 110.1-7. A ascensão e o sacerdócio do Messias. Ele é o Senhor de Davi (vs. 1), e é sacerdote eternamente (vs. 4). Este salmo é citado em Mal. 22.43-45; Atos 2.3335; Heb. 1.11; 5.6-10; 6.20; 7.24. 13. Sal. 132.11.12. Ele, o Filho de Davi, é a semente real e eterna. Este salmo é citado em Atos 2.30. 14. Oficio de Profeta, Sacerdote e Rei. Que o Messias pudesse ocupar esses três oficios, foi profetizado antes mesmo do tempo de Davi. O Messias é visto como profeta (Deu. 18.15), como sacerdote (Lev. 16.32) e como rei (Núm. 24.17). Ora, nos Salmos há indicações acerca de todos esses três oficios. Ele é profeta em Sal. 22.22, 23, 25; Sal. 23. Ele é sacerdote, divino e humano em Sal. 110.2. Ele é rei em Sal. 2; 6; 12; 24 e 72. Essas três idéias são combinadas em Sal. 22.12 e 110.2. Quanto a completos detalhes sobre a questão dos oficios de Cristo como profeta, sacerdote e rei, ver na Enciclopédia o artigo intitulado Oficios de Cristo. Ver a tradição profética

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SALMOS e pseudepígrafos, porém, que esse assunto encontrou seu maior desenvolvimento, antes do começo do Novo Testamento. O relato sobre Saul e a feiticeira de En-Dor demonstra a crença na existência da alma ao tempo de Davi. Ver I Sam. 28.3 ss, quanto à interessante narração do encontro de Saul com o espírito de Samuel. Indicações existentes no livro de Salmos, acerca da crença na existência da alma são: 16.10,11; 17.15; 31.5; 41.12; 49.9,14,15. 3. Os salmos imprecatórios, de fervorosa invocação a Deus para que mate os inimigos, podem ser facilmente entendidos dentro do contexto histórico, quando o povo de Israel quase sempre via-se sob a ameaça de um punhado de inimigos mortais; e o próprio Davi, como indivíduo, sempre teve de enfrentar tais dificuldades. Naturalmente, a atitude desses salmos não é a mesma que a de Jesus, o qual exortou os homens para que amassem seus inimigos. As imprecações fazem parte da natureza humana, e não nos deveríamos surpreender em encontrá-las nas páginas da Bíblia. Porém, é ridículo defender a espiritualidade das imprecações propriamente ditas. Muitos estudiosos conservadores têm tentado fazer precisamente isso. Talvez o comentário de C. I. Scofield, em sua introdução ao livro de Salmos, seja o mais sugestivo que podermos achar: «Os salmos imprecatórios são um grito dos oprimidos, em Israel, pedindo justiça, um clamor apropriado e correto da parte do povo terreno de Deus. e alicerçado sobre promessas distintas do pacto abraâmico (ver Gên. 15.18); porém, um clamor impróprio para a Igreja, um povo celeste que já tomou seu lugarjunto com um rejeitado e crucificado Cristo (ver Luc. 9.52-55)>>. Exemplos de salmos imprecatórios são os de números 35, 59 e 109. 4. O ensino sobre o Messias, apesar de não tão avançado quanto no livro de I Enoque (se comparados aos conceitos que figuram no Novo Testamento), é surpreendentemente extenso. Dediquei a sétima seção da Introdução ao assunto. 5. Apesar de que muitos dos salmos foram designados para um uso litúrgico, neles aparecem muitas indicações de uma apropriada atitude individual espiritual, bem como da correta espiritualidade pessoal. Quanto a esse aspecto, os salmos concordam, grosso modo, com os livros dos profetas, Ver Sal. 15.1 ss.; 19.14; 50.14,23; 51.16 ss. 6. Há uma exaltada doutrina de Deus nos salmos tão generalizada que aparece praticamente em todos os salmos. 7. A importância da experiência reIigiosa pessoal é uma ênfase constante no livro de Salmos. Deus é retratado como quem está à disposição dos seres humanos, refletindo assim o ensino do teismo, e não do deísmo (ver a respeito no Dicionário). O teísmo ensina que Deus não somente criou, mas também permanece interessado na sua criação, intervindo, recompensando e castigando. Mas o deísmo alega que Deus, ou alguma força divina criadora, após ter criado tudo, abandonou o mundo, deixando-o à mercê de forças naturais. 8. São ressaltados os deveres do homem para com Deus, como o arrependimento, a vida santificada, a adoração, o louvor, a obediência através do serviço e o amor ao próximo. 9. A adoração públ ica é uma questão obviamente frisada no livro de Salmos, visto que muitas dessas composições eram usadas exatamente nesse contexto. Precisamos pesquisar pessoalmente as questões religiosas; mas também precisamos fazê-lo coletivamente. A participação na adoração pública é encarecida em trechos como Sal. 6.5,20.3,51.19; 66.13-5. 10. A adoração não-ritual não é desprezada, devendo fazer parte integrante da busca espiritual dos homens. Ver Sal. 40.6 e 50.9.

e argumentam que não há nenhuma evidência convincente e direta de que havia tal festividade em Israel. Outrossim, de que adiantaria ao homem entronizar a Deus? Em sociedades idólatras, idéias assim podem parecer razoáveis; mas não nas comunidades onde Deus aparece como todo-poderoso e transcendental. 6. Crítica de Forma: Formas Literárias. Hermann Gunkel, em sua obra Awrewah/te Psalmen, 1905, procurou demonstrar, no livro de Salmos, cinco distintas formas literárias que, por sua vez, implicariam usos específicos dos Salmos. Essas formas literárias seriam: a. hinos para cultos de adoração pública; b. lamentações e intercessões coletivas, em tempos de desastre nacional; c. salmos reais, cuja função prática era a de confirmar a autoridade do rei, como cabeça da teocracia em Israel; d. salmos de ação de graças; e. lamentações, intercessões e confissões individuais, além de pedidos para que fossem supridas necessidades pessoais. Não parece haver nenhuma razão para duvidarmos da exatidão geral dessas observações. Pois podemos estar certos de que havia um uso coletivo e comunal dos salmos, embora também houvesse um uso individual e privado. 7. Magia e Contra-Encantamentos. Alguns estudiosos têm sugerido que trechos do livro de Salmos, como 6.6-8; 64.2-4; 69; 91; 93.3-7 e 109 talvez fossem usados como fórmulas mágicas, para neutralizar as forças demoníacas. Isso poderia envolver uma prática coletiva e cúltica, ou então uma prática individual. Argumentos em favor e contra essas práticas (mormente no caso do uso dos salmos) estão baseados em sentimentos e raciocínios subjetivos, porquanto é extremamente dificil determinar quanta verdade possa haver nesse parecer. Seja como for, sabemos que tais práticas eram e continuam sendo comuns em muitas culturas. Sempre haverá muitas forças malignas ao nosso redor, que precisarão ser exorcizadas. IX. A Poesia dos Hebreus Como é evidente, os Salmos são a grande coletânea de composições poéticas da Bíblia. Quedamo-nos admirados diante da qualidade de muitas dessas antigas peças literárias, algumas das quais são obras-primas em miniatura. A poesia teve uma antiga e longa tradição na literatura dos hebreus. Ver na Enciclopédia sobre Pentateuco, primeira seção, décimo ponto, quanto a ilustrações a respeito, extraídas da porção mais antiga do Antigo Testamento. Ver também sobre Poeta, Poesia, especialmente em sua segunda seção, Poesia no Antigo Testamento. X. Pontos de Vista e Idéias Religiosas 1. Apesar de os Salmos serem composições líricas, expressões emocionais e de fervor religioso, também transmitem muitos pensamentos, e, indiretamente, apresentam muitas doutrinas. A teologia hebréia geral faz-se presente, com algumas adições, como a crença na existência da alma e sua sobrevivência diante da morte biológica, e um fortíssimo tema messiânico. O estudo sobre os temas, na sexta seção, onde os principais temas são alistados, dá uma idéia sobre a multiplicidade de idéias apresentadas nesse livro da Bíblia. 2. A existência da alma e sua sobrevivência diante da morte fisica foi uma doutrina que só passou a ser expressa mais tarde, no judaísmo. No Pentateuco não há nenhuma referência clara e indisputável a esse fato. Muitas leis nunca são associadas a alguma recompensa ou punição apóstúmulo. Não faltamos com a verdade ao afirmar que a maior parte dos ensinamentos do judaísmo sobre essa questão foi tomada por empréstimo. Tendo começado a ser expressa nos Salmos e nos livros dos profetas, foi nos livros apócrifos

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SALMOS XI. Canonicidade Ver na Enciclopédia o artigo sobre Cânon, no que se aplica ao Antigo Testamento. Para os saduceus, somente o Pentateuco era considerado digno de ser chamado de Escrituras santas e autoritárias. Para os judeus palestinos, como era o caso dos fariseus, as três grandes seções de livros sagrados aceitos eram: o Pentateuco, os Escritos (que incluíam os Salmos) e os Profetas. Na ordem da arrumação judaica, os Escritos formavam a terceira seção. Entre osjudeus da dispersão, vários livros apócrifos eram aceitos. E não é inexato falar sobre o Cânon Alexandrino. Além disso, havia as obras pseudepígrafas, revestidas de prestígio suficiente para que muitas idéias ali contidas fossem aproveitadas pelos escritores do Novo Testamento, embora, como uma coletânea, os livros pseudepígrafos nunca tivessem obtido condição canônica. E que a canonicidade origina-se, essencialmente, do valor interno de uma obra escrita, que se toma óbvio para todos quantos a lêem, além de originar-se da consagração da antigüidade, o que é uma espécie de processo histórico religioso, e, finalmente, de originar-se de pronun-ciamentos oficiais da parte de líderes religiosos, pronunciamentos esses que formam a base tradicional acerca dos livros sacros. Os estudiosos conservadores, ademais disso, pensam que o poder e a presença do Espírito Santo estão envolvidos nesses vários aspectos da questão. Mas os eruditos liberais mais radicais são da opinião de que o processo inteiro depende da mera seleção natural (uma espécie de seleção do leitor, aplicada às questões religiosas); mas, assim pensando, esses eruditos olvidam-se totalmente do elemento sobrenatural e dos poderes divinos por trás desse processo. Ver na Enciclopédia sobre Inspiração. Se a coletânea dos Salmos foi-se formando através de um longo período de tempo, chegando a ser compilada somente após o cativeiro, então nenhuma canonização final poderia ter ocorrido até estar completa a coletânea. Porém, coletâneas preliminares (como aquelas de Davi, de outras antigas personagens e de clãs de músicos) tiveram suas próprias canonizações preliminares, o que explica a sua preocupação no decorrer de muitos séculos. «No caso dos livros I, II e IV do Saltério, a canonização deve ter ocorrido com considerável presteza. O Sal. 18 foi incluído dentro do livro canônico de Samuel, dentro de meio século após a morte de Davi... Os Salmos 96 105 e 106 foram designados por Davi como um padrão para a adoração pública, bem no início de seu governo sobre todo o Israel (ver I Crô. 16.7-36). A designação de muitos outros salmos, para que os músicos os preparassem para a adoração prestada por Israel, serve de evidência de uma similar canonização consciente dos poemas de Davi. E o fato de que Davi e Salomão compilaram intencionalmente os livros I, II e IV, quando ainda viviam, fornece-nos testemunho extra do reconhecimento da autoridade espiritual pelo menos daqueles oitenta e nove salmos pelos contemporâneos desses dois monarcas». (2) O livro Ill, portanto, que contém as porções pós-exílicas do livro de Salmos, foi acrescentado. Talvez muitos dos salmos ali envolvidos fossem pré-exílicos e já fizessem parte da coletânea. Há pouco ou mesmo nenhum testemunho externo quanto à aceitação canônica do livro de Salmos, até o período intertestamentário. Somente então obtemos algumas declarações acerca do uso desses poemas. Por exemplo, o trecho de II Macabeus 2.13 refere-se aos livros de Davi, juntamente com os escritos de outros reis e de profetas. A passagem de Sal. 79.2 é citada como Escritura. Os Salmos já faziam parte da versão da Septuaginta do século lU a.c., o que significa que o

recolhimento e a autoridade desses poemas devem ter sido cristalizados antes do preparo daquela versão. O material das cavernas de Qumran, do século II a.c., também exibe os Salmos, o que serve de outro índice da aceitação da coletânea desde tempos mais remotos do que alguns estudiosos têm pensado. O rolo principal dos Salmos, encontrado na caverna 11 (além de cinco outros fragmentos), apresenta amplo material extraido dos livros IV e V dos Salmos. Esse material, porém, apresenta alguma variação na ordem sucessiva dos salmos, sugerindo que houvesse certa fluidez no arranjo dos salmos, e que o livro de Salmos ainda não havia chegado à sua forma final, conforme o conhecemos atualmente. Entretanto, alguns especialistas pensam que os salmos achados na caverna 11 formavam uma espécie de lecionário, e não uma completa coletânea dos salmos, em sua ordem normal. Porém, é impossível determinar a verdade por trás dessa questão. Seja como for, de acordo com o arranjo final dos escritos do Antigo Testamento, encontramos a Lei, os Profetas e os Escritos. E o livro de Salmos fazia parte dessa terceira porção, os Escritos. Josefo referiu-se ao Antigo Testamento como uma coletânea de vinte e dois livros: Pentateuco, cinco; Profetas, treze, e os Hinos de Deus e Conselhos dos Homens (Apion, 1.8), que incluíam os Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Outrossim, temos as próprias declarações canônicas do Senhor Jesus, em Mal. 23.35 e Luc. 24.44. Os Salmos são o segundo livro mais volumoso da Bíblia, perdendo somente para as profecias de Jeremias, mas o livro de Salmos é o mais constantemente citado no Novo Testamento. É dificílimo pôr em dúvida sua posição no cânon da Bíblia e sua autoridade espiritual. XII. Os Salmos no Novo Testamento Os Salmos são citados no Novo Testamento por cerca de oitenta vezes, o que significa que, dentre todos os livros do Antigo Testamento, esse foi o mais constantemente utilizado pelos autores neotestamentários. A muitas dessas citações foi dada uma interpretação messiânica, sobre o que comentei com pormenores na sétima seção e o artigo separado intitulado Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus. Salmos 2.1,2 2.7 4.4 5.9 8.3 LXX 8.4-6 LXX 8.6 10.7 14.1-3 16.8-11 16.10 16.10 LXX 18.49 19.4 22.1 22.18 22.22 24.1 31.5 32.1,2 34.12-16 35.19 36.1

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Novo Testamento Atos 4.25,26 Alas1333;Heb.15e55 Efé.4.26 Rom.3.13 Mal. 21.16 Heb.2.6-8 r Cor. 15.27 Rom.3.14 Rom.3.1O-12 Atos 2.25-28 Atos 2.31 Atos 13.35 Rom.15.9 Rom.IO.18 Mat 27.46; Mar. 15.34 João 19.24 Heb.2.12 I Cor. 10.26 Luc.23.46 Rom.4.7,8 I Ped. 3.10-12 João 15.25 Rom.3.18

SALMOS-SALMOS DE SALOMÃO 40.6-8 41.9 44.22 45.6,7 51.4 53.1-3 68.18 69.4 69.9 69.22,23 69.25 78.2 78.24 82.6 89.20 91.11,12 94.11 95.7,8 95.7-11 95.11 102.25-27 104.4 109.8 110.1

110.4 112.9 116.10 117.1 118.6 118.22 118.22,23 118.25,26 118.26 132.11 140.3

m.

Heb. 10.5-7 João 13.18 Rom. 8.36 Heb. 1.8,9 Rom.3.4 Rom.3.10-12 Efé.4.8 João 15.25 João 2.17; Rom. 15.3 Rom. 11.9,10 Atos 1.20 Mal. 13.35 João 6.31 João 10.34 Atos 13.22 Mal. 4.6; Luc. 4.10,11 I Cor. 3.20 Heb. 3.15; 4.7 Heb.3.7-11 Heb. 4.3; 5 Heb. 1.10-12 Heb.l.7 Atos 1.20 Mal. 22.44; 26.64 Mar. 12.36; 14.62 Luc. 20.42,43 e 22.69 Atos 2.34,35 Heb.1.13 Heb. 5.6,10 e 7.17,21 n Cor. 9.9 II Cor. 4.13 Rom.15.11 Heb. 13.6 Luc.20.17 Atos 4.11 I Ped. 2.7 Mal. 21.42 Mar. 12.10,11 Mal. 21.9 Mar. 11.9,10 João 12.13 Mat.23.39 Luc. 13.35; 19.38 Atos 2.30 Rom.3.13

Data, Autoria, Título, Autoria Múltipla IV. Conteúdo V. Messianismo VI. Bibliografia I. Caracterização Geral Denomina-se Salmos de Salomão uma obra judaica pseude-pígrafa que consiste em dezoito composições poéticas que seguem de perto o estilo e algo do conteúdo dos Salmos da Bíblia. Essas composições foram escritas em hebraico, aí pelos meados do século I a.C., evidentemente na Palestina. Naquilo em que não imitam a Bíblia, refletem o pensamento e a doutrina dos fariseus. Visto que foram erroneamente atribuídas a Salomão, essas composições são tidas como "pseudas" ou seja, não foram escritas pelo alegado autor. Ver o artigo geral sobre as obras pseude-pígrafas. Esse material, embora essencialmente ignorado por muitos cristãos (especialmente os evangélicos), é importante como originador indireto do Novo Testamento, quanto às suas idéias e expressão literária. A tradição profética deve muito especialmente a certos livros pseudepígrafos, principalmente I e II Enoque e Jubileus, a respeito dos quais dou artigos detalhados separadamente. Os Salmos de Salomão têm sobrevivido em manuscritos gregos e siríacos que, mui provavelmente, são traduções de um original hebraico. 11. Informes Históricos e o Cânon do Antigo Testamento Os livros apócrifos e pseudepígrafos foram bem representados nos Manuscritos do Mar Morto. Ver Manuscritos (Rolos) do Mar Morto. Isso significa que muitos daqueles livros eram respeitados e reputados como inspirados, mesmo em tomo da área de Jerusalém, para nada dizermos quanto às arcas distantes da Dispersão. Podemos afirmar que havia certa di ferença entre o cânon Palestino e o cânon Alexandrino. O primeiro assemelha-se essencialmente ao das Bíblias de edição protestante; e o segundo, ao das Bíblias de edição católica romana. E os livros pseudepígrafos formavam uma espécie de terceira fase nessa questão do cânon do Antigo Testamento: a. o Antigo Testamento (39 livros); b. o Antigo Testamento + os livros apócrifos (ver a respeito); c. o Antigo Testamento + os livros apócrifos + os livros pseudepígrafos. E o Novo Testamento tomou algo por empréstimo do cânon do Antigo Testamento, bem como de livros extracanônicos, o que demonstro a sobejo no artigo chamado I Enoque. O livro Salmos de Salomão foi uma das obras pseudepígrafas, que às vezes pertence à coletânea chamada de deuterocanônica. Foi incluído na Esticometria de Nicéforo e na Sinopse do pseudo-Atanásio. A tabela do conteúdo do Codex Alexandrinus mostra que essa obra foi inclusa naquele manuscrito, o qual é um dos mais importantes tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Há evidências não-conclusivas de que o Codex Aleph também continha essa obra. O começo e o final daquele manuscrito se perderam, pelo que essa afirmação precisa permanecer conjecturaI. Embora se saiba de sua existência, mesmo porque foi citado por certos pais da Igreja, não existem manuscritos conhecidos dessa obra durante a Idade Média. Mas reapareceu em uma biblioteca de Augsburgo, no começo do século XVII, embora tal manuscrito não tenha demorado muito a perder-se. Atualmente, porém, temos um total de seis manuscritos completos, em grego, e dois, em siríaco. IH. Data, Autoria, Título, Autoria Múltipla Os eruditos concordam que essa obra teve origem nos

XIII. Bibliografia AM NET BA E I IH IOT ND WBC WES YO Z SALMOS DE ROMAGENS Este termo aplica-se aos Salmos 120-134, em nossa Bíblia portuguesa. São os mesmos salmos chamados, em outras versões, de Salmos dos Degraus. Também são intitulados Salmos dos Peregrinos. Alguns eruditos pensam que os peregrinos entoavam esses salmos, enquanto subiam em direção ao templo de Jerusalém. Foi com base nessa alegada circunstância histórica que tais salmos passaram a ser assim intitulados. Em nossa Bíblia portuguesa, o subtítulo exato é "Cântico de Romagem", em cada um desses referidos salmos. SALMOS DE SALOMÃO Esboço: I. Caracterização Geral lI. Informes Históricos e o Cânon do Antigo Testamento

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SALMOS DE SALOMÃO - SALOMÃO (2: 16; 8:7). Os judeus geralmente têm sido mais corruptos que os próprios pagãos (l :8; 8:12,14). Os líderes judeus têm sido hipócritas, conduzindo muitos à prática de coisas vergonhosas (4:2). O julgamento divino aguarda os pecadores, mas a bem-aventurança espera pelos justos (Salmos 13 a 15). Os vícios dos ímpios, principalmente dos líderes, são descritos como suas injustiças pecaminosas, sua perseguição contra os pobres, sua sensualidade etc. (4:4-6,13). c. É enfatizada a fidelidade de Deus para com os justos (11 :2; 18: 1). d. Os pecadores -- hasmoneanos -- tiveram o privilégio de receber suas terras mediante o poder de Deus; mas seus abusos levaram-nos a cair no cativeiro e no opróbrio (nos dias de Aristóbulo; 8:23,24). e. O conquistador dos judeus, Pompeu, que servira de instrumento da ira de Deus, por sua vez sofreu mediante a instrumentalidade dos egípcios (2:30,31). Pompeu, que, foi apunhalado pelas costas quando desembarcava de um pequeno bote, serve de ilustração de como Deus trata com os pecadores traiçoeiros. Estes, quando muito, são apenas instrumentos nas mãos do Senhor (2:32-35). f. Em contraste com isso, os justos jamais serão esquecidos (11:8). g. Finalmente, todas as nações contemplarão a glória de Deus e verão a concretização da esperança messiânica, e haverão de apressar-se por submeter-se ao povo de Israel e ao seu Deus (17:34, 35). O Messias triunfará (17:36). O Messias será descendente de Davi (17:23). Então, haverá um governo de paz e justiça (17:25-31). V. Messianismo Quiçá seja este o segundo mais importante tema dos Salmos de Salomão, um item que tenho enfatizado a ponto de abrir um ponto separado para ele. A melhor peça literária dessa coletânea, que exprime essa esperança, é o Salmo 17. Naturalmente, o material oriundo de Qumran tem paralelos com os Salmos de Salomão, e a obra, no seu conjunto, mostra quão importante se tomou essa doutrina, pouco antes do primeiro advento de Cristo. A vinda de Messias aproximava-se, e os corações e as mentes sentiam-se impulsionados a falar a respeito. Nessa obra, o Messias é retratado como o 'Filho de Davi; como o cumprimento das promessas de Deus a Israel. Ali não é destacada a sua deidade, embora tenha ele recebido o exaltado título de "o Messias do Senhor". O Messias também estabelecerá um reino sobrenatural, que cumprirá e ultrapassará todas as expectações, corrigirá todas as injustiças e, finalmente, entronizará a retidão. Jerusalém será purificada. O povo de Israel herdará a terra inteira. O Messias atuará como um Pastor especial. É perpetuada a ambigüidade entre o Conquistador e o Redentor, o que teve prosseguimento na vida de Jesus Cristo e naquilo que foi escrito acerca Dele. Uma vez depuradas, as nações haverão de ocupar uma posição subordinada, em relação a Israel, embora nem por isso deixem de compartilhar do reino de Deus. VI. BibIíografia Ver aquela do artigo chamado Pseudepigrafos.

séculos II ou I a.c., o que pode ser confirmado pelas idéias refletidas e pelas referências históricas que são ocultadas apenas ligeiramente. Um item histórico importante foi o conflito entre tendências conservadoras e liberais, que prosseguia no ambiente judaico da época. É mencionada uma profanação do templo, o que poderíamos entender como aquela promovida por Antíoco IV Epifânio, mas a maioria dos estudiosos prefere pensar na profanação ocorrida nos dias de Pompeu, ou seja, em 64-46 a.C. O segundo salmo especialmente instrutivo quanto a esse particular. Em nossos dias, quando alguém vale-se do nome de algum autor famoso, como se este fosse autor de uma obra que não escreveu, a fim de aumentar a importância dessa obra, achamos que isso é pura desonestidade, é um golpe baixo literário. Os antigos, porém, não compartilhavam dessa opinião. Coisa alguma é mais comum, nos séculos antigos, do que a utilização de algum nome famoso (secular ou religioso), a fim de dar maior prestígio a um livro. Ademais, em muitos casos, esse artificio visava honrar o alegado autor, ou então promover suas idéias. Visto que Davi e Salomão foram autores notáveis, era apenas natural alguém lançar mão do nome de Salomão, atribuindo-lhe alguns salmos que não foram compostos por ele. Apesar de Salomão ter sido conhecido como autor dos provérbios, e não do livro de Salmos, também é verdade que escreveu alguns dos Salmos. E alguns autores antigos, nessa dúvida, acabaram compondo salmos e atribuindo-os a Salomão. Também podemos ter como certo que a maioria dos antigos leitores não levava a sério essas reivindicações de autoria, e também não fazia objeção a essa prática de pseudo-autoria. Alguns estudiosos modernos percebem mais de um autor por trás dos Salmos de Salomão, pelo que duvidam de sua integridade. Porém, um único autor-editor pode ter compilado a obra. Seja como for, eles conheciam bem os salmos canônicos, e não hesitaram em copiar seu estilo e conteúdo. Todavia, também contribuíram com sua própria parte, mormente aquela relacionada à propaganda em favor da posição conservadora judaica. Wellhausen acreditava que o autor (ou talvez mais de um) teria sido algum fariseu. Esse autor arrogantemente contrasta a si mesmo com os "pecadores", e por trás da cena principal podemos notar um conflito entro os fariseus e os saduceus. Ênfases importantes da obra são a justiça e a retribuição divina, o determinismo divino e o livre-arbítrio humano - problemas que os fariseus gostavam de debater. Entretanto, alguns eruditos modernos têm argumentado que qualquer judeu religioso, não-saduceu, poderia ter escrito tais coisas. E a forte ênfase messiânica poderia apontar para um terceiro grupo de judeus, talvez indivíduos associados à comunidade de Qumran, ou a alguma comunidade similar. Por outro lado, alguns fariseus eram fortemente messiânicos quanto às suas idéias. Seja como for, parece que o idioma original da obra foi o hebraico, o que é demonstrado por muitas expressões gregas peculiares e desnaturais, mostrando que o manuscrito grego deve ter sido uma tradução. Contudo, nenhum manuscrito hebraico da obra sobreviveu até os nossos dias. IV. Conteúdo a. A imitação dos salmos canônicos, como seus louvores, lamentações, ações de graças e ameaças contra os inimigos, formam um aspecto importante do livro. b. Doutrinas como a do juízo divino, da retribuição e da providência de Deus etc. inspiraram grande parte dos salmos dessa coletânea. Deus é o justo Juiz dos homens pecaminosos

SALOMÃO I. Nomes n. Família Ill, Pano de Fundo Histórico IV: Chegada ao Poder V. Construção do Império VI. Época Áurea de Israel VILVida Espiritual

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SALOMÃO implorava por misericórdia, asi lando-se nos chifres do alto altar do Tabernáculo. Como prêmio de consolação, ele solicitou que a bela Abisague lhe fosse dada por esposa. Mas ela fazia parte do harém de Davi, embora continuasse virgem porque o velho rei se tornara impotente antes de incluí-Ia em sua coleção. Ela acabou sendo apenas um aquece-cama para ele. Em qualquer caso, Salomão, furioso com o fato de que seu meio-irmão tentara ascender à cama de seu pai, ordenou sua execução. Isso significou o fim da rivalidade e a consolidação do poder de Salomão. Ver I Reis 2.24,25. Abiatar não foi executado, mas a linhagem de Zadoque tomou o oficio de sumo sacerdote, em recompensa por ter apoiado a facção Davi-Salomão. O único xeque ao poder de Salomão foi a opinião do povo em geral. Os impostos ridiculamente altos, o trabalho escravo e a posterior apostasia e idolatria mancharam os anos finais de seu reinado e montaram o palco para a divisão do reino nas partes norte e sul. V. Construção do Império O Pacto Abraâmico (ver o artigo Pactos) havia estabelecido a fronteira nordeste no rio Eufrates e sudeste no rio Nilo. Salomão foi o rei que mais se aproximou da realização desse extenso território. Mas muito provavelmente ele tivesse apenas postos militares avançados no Eufrates, enquanto sua fronteira sudeste parava no Ribeiro do Egito (ver), que era um wadi às vezes chamado de rio do Egito, levando a uma confusão com as referências bíblicas ao Nilo. O wadi el-hesa é o nome moderno desse

I. Nomes A palavra Salomão deriva do hebraico Shelomah, que significa "pessoa pacífica". Sob as ordens do profeta Natã, ele também recebeu o nome de Jedldias, que significa "amado por Yahweh" (lI Sam. 12.24,25). Mas Salomão foi o nome que prevaleceu, e o homem é chamado assim 300 vezes no Antigo Testamento. 11. Família O rei Davi teve muitas mulheres e muitos filhos. Salomão foi aparentemente o décimo filho do rei Davi. Sua mãe era a bela Bate-Seba, que já havia tido um filho de Davi, resultado de seu adultério. Este filho morreu logo após o nascimento, mas sua mãe foi colhida ao harém de Davi depois do assassinato de Urias, marido de Bate-Seba, Ver o artigo sobre ele para maiores detalhes de sua história vergonhosa. Salomão teve seis meio-irmãos que nasceram em Hebrom, cada um de uma mãe diferente (11 Sam. 3.25). A linhagem messiânica, é claro, passou por Salomão (Mal. 1.6). 111. Pano de Fundo Histórico Saul e Davi tiveram origem humilde, em contraste com Salomão, que nasceu em um palácio. Saul foi capaz de enfraquecer alguns dos inimigos de Israel, mas foi Davi quem realizou a árdua tarefa de unificar o país ao derrotar seus muitos inimigos. Aqueles que ele não aniquilou, conseguiu confinar. De fato, ele derrotou sete pequenos impérios para obter seu poder total. Ver li Sam. 5.17-25; 7.10; 12.26-31; 21.15-22 e I Crô. 18.1. Davi foi o Guerreiro Rei perfeito, enquanto Salomão foi o Construtor Sábio perfeito, capaz de alcançar a época áurea de Israel e tornar-se o maior rei israelita. Mas ele não poderia ter feito isso sem o trabalho preparatório de seu pai que, digamos, lhe ofereceu o império numa bandeja de prata. Davi unificou o império e assim Salomão recebeu poder sobre tanto o norte como sobre o sul. Esta situação logo desintegrou no reino de seu filho, Reoboão, que, sem sabedoria, criou condições que dividiram o país em duas partes: o sul (Judá e Benjamim) e o norte (as Dez Tribos de Israel). O Egito, inimigo perene, havia sofrido sérias derrotas que o mantiveram no fundo do cenário por dois séculos. Isto permitiu que Salomão se engajasse em suas extensas atividades. O império hitita da Anatólia (o território da moderna Turquia) também sofreu um período de derrota nas mãos dos frigianos e dos filisteus. A Assíria era ainda um poder nascente e, assim, não interferiu nos avanços de Salomão, e o dia da Babilônia ainda não havia chego. Salomão tinha vizinhos encrenqueiros, mas nenhum rival verdadeiro. IV. Chegada ao Poder Salomão teve rivais ao trono e, na verdade, não era o candidato mais óbvio. Davi havia recebido uma revelação de que "Salomão era o homem certo" para o cargo (I Crô. 22), e isso teve grande influência na escolha daquele filho em particular, entre várias possibilidades. Muitos de seus filhos mais velhos foram eliminados violentamente. Adonias era mais velho que Salomão e, portanto, a escolha óbvia para o reinado. Ele contava com homens poderosos e tentou forçar a questão. O sumo sacerdote, Abiatar, o apoiou e deu às suas ambições um tipo de aval espiritual. Um suposto festival religioso em En-Rogel (I Reis 1.9) acabou sendo uma operação política secreta para tomar Adonias o rei. O profeta Natã e Bete-Seba imediatamente planejaram colocar seu homem "Salomão" no poder. Davi ordenou que Zadoque ungisse Salomão como rei. As forças se acumularam em apoio a Salomão, e logo Adonias

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Aspectos específicos da construção do império de Salomão: 1. Sua sabedoria extrema aplicava-se a coisas tanto espirituais como materiais. Ele se tornou o maior rei da monarquia hebraica, expandindo o território, introduzindo cavalos, carruagens e várias inovações militares que o tornaram invencível. No início, Salomão era um modelo de rei, chegando até a pedir que recebesse sabedoria em vez de riqueza material e poder (Ver I Reis 4.29 ss.). 2. Já vimos sua expansão de território no primeiro parágrafo desta seção. Seu território tocava o Eufrates no nordeste, o ribeiro do Egito no sudeste, o mar Mediterrâneo no oeste e o deserto arábico no leste. A fronteira leste de Israel sempre foi indefinida, mas era marcada pelo deserto e por alguns "lugares por lá". Sua expansão logo foi manchada, contudo, pela tomada de Edom de suas mãos por I-1adade (I Reis 11.14-22), e pela perda de Gezer para os egípcios. Para fortificar seus ganhos territoriais, Salomão fez várias alianças com poderes estrangeiros. Ainda assim, com toda a sua glória, o império inteiro de Salomão ocupou menos espaço que o atual Estado de São Paulo. 3. Israel era um país ao lado do mar, mas não do mar. Todavia, com a ajuda dos fenícios, Salomão desenvolveu um próspero comércio marítimo que trouxe ouro ao tesouro de Jerusalém. I I-1irão de Tiro tornou-se seu amigo e ajudante em seu programa de enriquecimento rápido. Ver I Reis 5.1-12; 9.10-14. 4. Tratados. Salomão selou tratados com os grandes e com os humildes, mediante casamentos (I Reis 10.24,25; 11 Crô, 9.23, 24). Seu filho Reoboão, o sucessor ao trono, era filho de uma arnonita, Essas alianças ampliaram sua grandeza e garantiram um período de paz. 5. Programa de construção. Os projetos de construção mais ambiciosos de Salomão foram o Templo (ver) e seu próprio estupendo palácio, a "Casa da Floresta", no Líbano, mas houve muitos outros projetos menos

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Planta do Templo de Salomão

o templo de Salomão - reconstrução por Stevens - Cortesia. Zondervan Pub. House

Arca da Aliança Cortesia. Matson Photo Service

SALOMÃO - SALOMÃO, CANTARES DE VII. Vida Espiritual O início da carreira de Salomão foi manchado por três execu-ções políticas (isto é, assassinatos políticos cometidos por alegados moti vos nobres). As vítimas foram Adonias (um meio-irmãol), Joabe e Simei (ver os artigos). A consolidação pessoal do poder e a "proteção do estado" sempre recebem o crédito por tais crimes, que, de fato, escondem a ganância pessoal, a ambição e os egos inflamados. Ainda assim, as Escrituras elogiam o início do reinado de Salomão, afirmando que ele buscava a Yahweh e obedecia à legislação mosaica. Sua sabedoria (I Reis 4.29 ss.) resultava de boas escolhas, quando ele enfatizava a parte espiritual da vida em detrimento do lado material. Sua construção do templo foi uma grande realização espiritual, mas, no início, influenciado por seu bando de mulheres e concubinas, ele caiu em idolatria (I Reis 11.5, 33). Seus abusos morais (elevados impostos e trabalho escravo) definiram o palco para o colapso de seu império e a conseqüente divísão nas partes norte (Israel) e sul (Judá-Benjamim). O homem que inicialmente teve um "coração que ouvia" (I Reis 3.0) logo passou a ter uma mente poluída. Um típico julgamento deuteronômico é passado ao homem em I Reis 11. Este capítulo fala de vários adversários que se levantaram contra o rei e o puniram por suas infrações.

significativos. Para levá-los a cabo, ele extorquiu com altos impostos e empregou trabalho escravo, mantendo assim um costume Oriental e uma atividade copiada por políticos desde então. Os israelitas não eram cientistas, e seu conhecimento de matemática era primitivo. Consequentemente, eles tinham de apelar para trabalho e material estrangeiro nas empreitadas de construção. Ver I Reis 9.10-14. Os gastos extravagantes de Salomão e o trabalho escravo provocaram muitas reclamações de seus súditos e, assim, foram plantadas as sementes da rebelião e divisão (ver] Reis 5.13-14; 12.18). 6. Mineração e refinamento de cobre. As famosas "minas de cobre do rei Salomão" de fato existiram e não eram meramente uma história antiga que prendeu a imaginação dos diretores de cinema. A arqueologia demonstrou que foi realizada extensa mineração de cobre em Eziom-Geber. Novamente, os cientificamente ignorantes israelitas tiveram de apelar aos fenícios para realizar esta operação. Minerações semelhantes de cobre foram encontradas na Sardenha e na Espanha. Navios fenícios transportavam o cobre aos mercados de todo o mundo conhecido na época. Ver os artigos sobre EziomGeber para maiores detalhes. A cidade ficava na extremidade norte do golfo de Ácaba (ver). O local é assinalado pelo moderno Tell el kheleifeh, Ver I Reis 9.26. Unger chamou Salomão de "rei do cobre", comparando Eziom-Geber à americana Pittsburgh, a "cidade do aço". Mas não esqueçamos a mina de cobre Kennicott, próxima a Salt Lake City, Utah, a maior operação de cobre de todos os tempos. De qualquer forma, foi esta extração de cobre o principal fator na transformação de um pequeno país em um império. Ver o artigo separado sobre Salomão.

SALOMÃO, AÇUDES DE Ver Açude. SALOMÃO, CANTARES DE No hebraico, shir hashirim. Na Septuaginta, Ásma ou Ásma asmáton. Na Vulgata Latina, Canticum Canticorum. Dentro da Bíblia hebraica, este livro é o primeiro dos cinco rolos (no hebraico, Megi/loth), que eram lidos quando das festas religiosas judaicas. Geralmente tem o nome de Cântico dos Cânticos nas diversas versões, mas a nossa versão portuguesa prefere «Cantares de Salomão». A forma hebraica, shir hashlrim, é a forma superlativa (Can. 1.1), que significa «o mais excelente dos cânticos». Dentro das tradições judaicas, os Cantares eram lidos por ocasião da páscoa, para osjudeus, a mais importante das festas religiosas. Esboço: I. Pano de Fundo Ir. Autoria III. Data IV. Unidade do Livro V. Lugar de Origem VI. Destino VII. Motivo de sua Escrita VIII. Propósito do Livro IX. Canonicidade X. Estado Atual do Texto Xl. Conteúdo e Esboço XII. Interpretação da sua Mensagem XIII. Teologia do Livro XlV. Bibliografia

Minas de. 7. Realizações culturais. I Reis 4.29-34 afirma que Salomão foi o mais erudito dos estudiosos de sua época, superando os grandes sábios de Edom. São atribuídos a ele 3.000 provérbios e 1.005 canções. É provável que alguns dos provérbios canônicos tenham sido escritos por ele, talvez alguns salmos, mas não há quase nenhuma chance de que haja algo entre ele e os Cantares ou o Eclesiastes. E, claro, ele não foi o autor dos livros nãocanônicos Sabedoria de Salomão e Salmos de Salomão (ver os artigos). Alguns estudiosos também supõem que ele tenha auxiliado na organização de vários livros históricos do Antigo Testamento como Josué, Juízes, Rute e os dois livros de Samuel, mas tais declarações, impossíveis de provar, são muito provavelmente falsas. Outras referências a essas realizações literárias podem ser encontradas em I Reis 11.4 I e II Crônicas 9.29. Não se pode duvidar que Salomão foi um "homem das letras", embora não seja possível determinar exatamente quanto do Antigo Testamento tenha passado por suas mãos. VI. Epoca Aurca de Israel Se se considerar a grandeza, a prosperidade, a sabedoria e as realizações em construções de modo geral, nenhum rei de Israel ou de Judá poderia ser comparado a Salomão. É dito corretamente que ele trouxe a Idade de Ouro de Israel. Ainda assim Jesus, referindo-se a si mesmo, disse que "alguém maior que Salomão está aqui"! (Mat. 12.42). Isto nos ensina que a verdadeira grandeza deve ser medida por padrões espirituais, não materiais. Salomão era um homem sábio, mas Jesus, o Cristo, o Logos manifesto, era a Sabedoria Personificada (I Cor. 1.30). Jamais devemos esquecer de nos afastar da busca do dinheiro e nunca devemos esquecer os verdadeiros tesouros que residem no espírito.

L Pano de Fundo Os que pensam que Cantares de Salomão é obra de autoria de Salomão, rei de Israel, vêem o princípio da monarquia israelita como o pano de fundo da obra. O tom pastoril de seu quadro poético sugere um longo período de paz em Israel, naquele período que os historiadores têm chamado de «época áurea» da cultura dos hebreus, as monarquias de Davi e Salomão.

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SALOMÃO, CANTARES DE palavras técnicas que se referem à zoologia e à botânica nesse livro, que não se acham em outros livros do Antigo Testamento. Quanto a outros vocábulos, também não é difici l justificá-Ios. Assim, no caso do nome da especiaria que era importada do Oriente, «cinamorno» (Can, 4.14), temos um termo importado. O comércio entre a India e a Mesopotâmia já estava bem firmado desde o terceiro milênio A.C., como também o comércio com o Egito. Isso quer dizer que, na época de Salomão, havia uma longa tradição de contatos comerciais com o Extremo Oriente. Por essa razão é que os nomes de certos produtos e substâncias, mencionados no livro, têm paralelos obviamente sânscritos. Poderíamos citar os casos do «nardo» (no sânscrito, naladu - Cano 1.12; 4.13,14) e a «púrpura» (no sânscrito, regaman - Cano 3.10 e 7.5). E alguns eruditos pensam que a palavra hebraica para «palanquirn» (ver Cano 3.9) não veio através do grego, conforme muitos acreditam, mas derivou-se diretamente do termo sânscrito paryanka. Quanto à presença de alguns termos aramaicos no livro, isso nada significa, porquanto há vários outros livros do Antigo, e até do Novo Testamento, que contêm termos aramaicos, sem que isso altere em coisa alguma as questões da data ou da autoria desses livros. Ademais, o aramaico era lingua gêmea do hebraico, mas que, desde o segundo milênio a.c., pelo menos, vinha sendo falada na Assíria e em outros lugares a leste da Palestina. Portanto, nada existe na linguagem em que foi escrito o livro de Cantares que requeira uma data posterior para a sua composição. Concluímos, pois, que devemos aceitar a autoria salornônica que, tradicionalmente, tem sido dada a esse livro. 111. Data Os críticos que atribuem um dos dois poemas do livro de Cantares a Salomão naturalmente datam-nos dentro de seu reinado, admitindo que o restante do livro foi coligido por ele (970-930 a.C,}, E a menção a Tirza (Can, 6.4), como se fosse a contraparte nortista de Jerusalém, aponta para uma data comparativamente antiga da composição, ou, pelo menos, daquela porção do livro. Antes do governo de Onri (885/884-874/873 a.C,), Tirza fora a principal cidade do reino do norte; mas, quando Onri subiu ao trono de Israel, então, estabeleceu Samaria como a sua capital, tendo construído ali um esplêndido palácio real, além de numerosos outros edificios e de ter fortalecido muito a cidade. Portanto, se Tirza aparece em Cantares como a principal cidade da porção norte do país, assim como Jerusalém era a principal cidade da porção sul, então a seção poética envolvida bem pode ser datada no século X a.Ci, a época de Salomão. IV. Unidade do Livro Talvez o livro seja a coletânea de vários poemas que cantam o amor rústico, interiorano, de origem incerta. Nesse caso, Salomão teria sido o compilador e editor, que deu um burilado geral ao livro. Mas te-lo de tal modo que o livro estampa sinais bem claros de unidade de estilo e de tema geral. Em face do que parece ser a unidade mais central da obra, a saber, o tema da riqueza do amor humano, parece que as tentativas de fragmentação do livro, que alguns críticos têm sugerido, são forçadas e artificiais, Portanto, devemos pensar que, da pena de Salomão, o livro de Cantares saiu como uma única obra literária. V. Lugar de Origem Se o livro foi, realmente, composto por Salomão, então, o lugar de origem da obra deve ter sido a corte real, em Jerusalém. O trecho de I Reis 4.32 fala sobre as habilidades literárias de Salomão. Todavia, os críticos

Acresça-se a isso que o livro de Cantares contém numerosas referências a animais e plantas exóticas, tudo o que nos faz lembrar da fama de Salomão nos campos da biologia e da botânica. Isso nos leva de novo ao período inicial da monarquia hebréia. As diversas alusões geográficas existentes no livro parecem indicar uma fase da história dos hebreus em que o reino ainda não havia sido dividido em dois: o reino do norte, Israel, e o reino do sul, Judá. Assim, o livro fala sobre lugares nortistas como o Líbano (Can. 3.9; 4.8, 11,15), o monte Hermom (4.8), Tirza (6.4), Damasco (7.4) e o Carmelo (7.5), como se formassem um único reino, juntamente com Jerusalém e as terras em redor. Todavia, isso poderia significar apenas que os arroubos poéticos do autor não eram considerações puramente locais, conforme alguns estudiosos têm salientado. Seja como for, o livro mostra claramente que o autor estava familiarizado com a geografia de toda a região da Síria-Palestina, desde as montanhas do Líbano até En-Gedi, perto do mar Morto (Can. 1.14). Mas, apesar de o livro mencionar produtos exóticos do Extremo Oriente, não há nenhuma indicação de que o material tenha sido escrito fora da Palestina, ou com um pano de fundo estritamente palestino. 11. Autoria Quase todos os eruditos modernos rejeitam a autoria de Cantares por parte de Salomão. Esses preferem ver no livro uma coletânea de cânticos que celebrariam o amor pré-marital e marital. Seja-nos permitido observar que dificilmente esse tema teria tornado o livro aceitável aos judeus, para ser incluído no cânon sagrado, pelo que se trata de uma opinião muito duvidosa. Além disso, dizem alguns que a única prova de que o livro teria sido escrito por Salomão é o título, ou introdução editorial, conforme alguns eruditos o têm descrito, porquanto a forma mais completa do pronome relativo só é usada em Cano 1.1: «Cântico dos cânticos de Salomão». Um ponto técnico gramatical é que no hebraico há nisso uma construção ambígua, pois a partícula atributiva poderia significar «para», «acerca» ou «segundo», ou então poderia aludir à autoria direta de Salomão. No entanto, o nome do famoso monarca hebreu, Salomão, aparece por seis vezes no texto do livro (Can. 1.5; 3.7,9, II e 8.11,12). E o último trecho, Cano 8: 11,12, refere-se de passagem às riquezas materiais desse rei. No terceiro capítulo, Salomão é mencionado em três ocasiões diversas, em conexão com um elaborado cortejo, onde devemos ver a personagem histórica chamada Salomão. As alusões ao «rei» também são, geralmente, associadas a Salomão (Can. 1.4,12 e 7.5). Todavia, embora o grande rei hebreu seja a figura central de certos poemas (entre os quais se destaca o de Cano 3.6-11), na verdade ele nunca aparece como aquele que fala, e por esse motivo, certos estudiosos pensam que pelo menos alguns dos poemas foram escritos sobre Salomão, e não diretamente por ele. Os argumentos em favor de uma autoria que não a de Salomão, geralmente, também faJam em uma data posterior para o livro, e isso sobre bases lingüísticas. Para exemplificar isso, há quarenta e nove vocábulos hebraicos que só ocorrem no livro de Cantares, em todo o Antigo Testamento; e alguns desses termos são de natureza botânica. Também há palavras e frases que parecem refletir o aramaico usado em certas composições pós-exílicas, sem falarmos em palavras que parecem ter sido tomadas por empréstimo do persa e do grego. Tudo isso pode ser naturalmente explicado pelo fato de que o vocabulário de um livro qualquer depende muito do assunto que estiver sendo tratado ali. Não admira, pois, que haja tantas

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SALOMÃO, CANTARES DE escolhe um curso que é um meio-termo entre a perversão, ou, pelo menos, o excesso sexual, por um lado, e a negação rígida e emocional das necessidades físicas, por outro lado, descendo até momentos da maior intimidade fisica entre um homem e uma mulher que se amam. No dizer de E. J. Young, talvez tudo isso reflita um amor mais puro que o nosso; ou, então, comentamos nós, uma atitude não tão vitoriana quanto a nossa. IX. Canonicidade A julgar pelas fontes rabínicas, é claro que o livro de Cantares de Salomão não obteve inclusão imediata no cânon das Escrituras hebraicas. O Talmude chega a atribuir essa composição escrita a Ezequias e seu grupo de escribas, uma opinião que pode estar alicerçada sobre as atividades do grupo que, aparentemente, editou outros materiais escritos de Salomão (cf Baba Bathra 15a e Pro. 25.1). A Mishnah (Yadaim 3.5) indica que o livro de Cantares não foi aceito no cânon senão com alguma disputa no tempo do suposto concílio de Jarnnia (cerca de 95 d.C.). Após pareceres favoráveis e desfavoráveis quanto à inclusão do livro no cânon sagrado do Antigo Testamento, foi o rabino Aqiba quem comentou: «...todos os Escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o santo dos santos». Porém, bastaria isso para mostrar-nos que havia muitas dúvidas se o livro deveria ser incluído ou não no cânon, E toda a oposição à sua inclusão devia-se à natureza erótica do conteúdo da obra. De fato, quando da inclusão do livro no cânon, houve também a cautela de ser proibido o uso de qualquer porção sua em banquetes e reuniões semelhantes, a fim de que não houvesse abusos que envolvessem um livro considerado canônico. A solução para esse aspecto erótico do livro consistiu em interpretá-lo não em sentido literal, mas como uma alegoria. Essa interpretação tem prevalecido tanto entre os judeus como no cristianismo em geral. X. Estado Atual do Texto As obscuridades do livro de Cantares parecem mais devidas à presença de um número incomum de palavras raras, devido à natureza do assunto tratado, do que a algum manuseio por parte de escribas. Visto que a Septuaginta e o Siríaco Peshitta seguem bem de perto o texto massorético, essas versões não nos ajudam em coisa alguma a determinarmos melhor o sentido exato de certas palavras existentes no texto de Cantares. Além de consideráveis dificuldades de tradução em trechos como Cant. 6.12 e 7.9, também não se sabe o sentido de quatro palavras hebraicas diferentes, ali existentes, em Cano 1.17; 4.4; 5.14 e 7.6. E o complicado simbolismo empregado no livro aumenta mais ainda as dificuldades de tradução. XI. Conteúdo e Esboço Não é fácil apresentar uma análise do livro de Cantares à maneira convencional, por causa do fato de que todos os diálogos são muito entretecidos e difíceis de deslindar. Há ali diálogos (por exemplo, Cano 1:9 ss.) e solilóquios (por exemplo, 2.8-3.5), e as palavras passam de uma personagem para outra com tanta freqüência que é impossível identificar precisamente essas personagens. As «filhas de Jerusalém» são mencionadas durante a exposição (Can, 1.5; 2.7; 3.5 etc.), e a elas são atribuídas certas respostas, no diálogo (por exemplo, Cano 1.8, 5.9; 6.1 etc.). Uma situação similar ocorre no caso dos habitantes de Sulém (Can. 8.5) e os de Jerusalém (Can. 3.6-11). Entretanto, em termos gerais, poderíamos esboçar o conteúdo do livro de Cantares como segue: 1. A noiva exprime seu anelo pelo noivo, e canta seus louvores (1.1-2.7). 2. Aprofundando-se a afeição mútua entre eles, a noiva

que não aceitam a autoria salomônica têm pensado que pelo menos alguns dos poemas constantes no livro de Cantares foram escritos no reino do norte, quando da monarquia dividida. Porém, todos os argumentos nesse sentido já foram respondidos. No entanto, se estão certos os estudiosos que pensam que o livro de Cantares nada tem que ver com Salomão como seu autor, então, a passagem do livro que gira em torno de Cano 6.4 pode ter sido escrita em Samaria ou nas proximidades. É mister, contudo, deixar claro que toda a opinião acerca do lugar de origem do livro precisa alicerçar-se sobre pura especulação, posto que não há indicações no livro que nos permitam precisar o local exato, dentro da Palestina, onde a obra poderia ter sido preparada. Por exemplo, não há provincialismos perceptiveis. VI. Destino A maneira como interpretamos o material do livro de Cantares também determina os possíveis destinatários da obra. Não parece que o autor sagrado tenha visado outra gente além dos próprios israelitas. Se os poemas foram compostos apenas para exaltar o amor humano, em suas várias facetas, então, não é provável que os destinatários tenham sido pessoas fora do povo em pacto com Deus, o povo de Israel. Um costume surgiu posteriormente entre os árabes, de recitar poemas eróticos, conhecidos entre os árabes por wasfs, diante de um noivo e sua noiva, pouco antes da cerimônia do casamento. Por essa razão, alguns eruditos têm pensado que o livro de Cantares serviria a um propósito similar, em Israel. Contudo, não podemos depender de um costume árabe para explicar a finalidade de uma composição escrita em Israel, cuja mentalidade sobre questões morais era tão diferente. Dificilmente um wasfseria aceito entre os livros canônicos de Israel. VII. Motivo de Sua Escrita Não se sabe dizer o que teria motivado um autor sagrado a compor o livro de Cantares. Se o livro é apenas uma antologia de poemas líricos, que exaltam o amor físico, de proveniência salomônica em geral, então poderia ter sido motivado por um ou mais dos numerosos casamentos desse monarca hebreu. Mas, se o livro consiste em uma coletânea de cânticos nupciais de várias regiões do reino hebreu, então algum editor desconhecido apenas quis preservar para a posteridade esses poemas líricos. A própria subjetividade do processo de produção do livro, visto que no livro nada se lê que nos esclareça a respeito, inevitavelmente, faz com que a questão seja nebulosa para nós. VIII. Propósito do Livro Muitos expositores têm sentido grandes dificuldades para justificar a inclusão do livro de Cantares de Salomão no cânon das Escrituras Sagradas. Parte dessa dificuldade se deve ao seu flagrante erotismo. Por outro lado, o livro é um longo mashal ou provérbio, ilustrando a riqueza e a beleza do amor físico humano; e, como tal, faz parte firme da tradição gnômica da Iiteratura de sabedoria dos hebreus. Devemo-nos lembrar de que esse material originou-se no Oriente Próximo, onde imperavam diferentes atitudes quanto a certos pontos de moral. Deve-se observar que somente pessoas de classes abastadas poderiam dar-se ao luxo de empregar as substâncias exóticas e caríssimas, mencionadas nesses poemas. Tais pessoas, em contradição com as classes populares, estavam acostumadas a considerar o sexo em termos não tanto ascéticos, como uma questão não embaraçosa. Todavia, talvez essas pessoas e esses poemas se excedam um tanto, em relação com aquilo que nós estamos acostumados. Porém, o livro

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SALOMÃO, CANTARES DE religiosas dos judeus, não há nenhum indício de que Israel jamais tivesse qualquer cerimônia que se assemelhasse a isso. A abordagem dramática de Cantares de Salomão surgiu quando começou a declinar o interesse pela interpretação alegórica, no começo do século XIX. Todavia, também podemos atribuir a Orígenes a idéia inicial, que foi reiterada nos escritos de Milton. A partir de 1800 desenvolveram-se duas formas dessa interpretação. A primeira delas, exposta por F. Delitzsch, que pensava que o livro cantava duas personagens principais, Salomão e uma donzela interiorana descrita como a sulamita (Can. 6.13). O livro contaria como Salomão a encontrou em suas rústicas cercanias e a trouxe para Jerusalém, onde, desposando-se com ela, aprendeu a amá-la com mais do que um puro amor carnal. A outra forma dessa interpretação dramática foi proposta por Ewald, que, além de Salomão e da jovem sulamíta, introduziu na narrativa uma suposta terceira personagem, um pastor que seria o amante da jovem. E ela, levada para a capital pelo rei, lembrava-se apaixonadamente do rapaz, elogiando as suas qualidades, até que Salomão permitiu a volta dela para o rapaz. Essa teoria, conhecida como «a hipótese do pastor», tornou-se, geralmente, aceita entre os estudiosos liberais. A principal dificuldade da posição de Ewald, contudo, é que não há nenhuma evidência textual em favor da existência de um suposto pastor, que seria uma das personagens centrais do livro. Além disso, ele supõe que tenha havido grande resistência da parte da jovem à conquista amorosa, ao passo que a narrativa bíblica mostra, precisamente, o contrário. Acresça-se a isso que Ewald dá a impressão de que o rei que queria seduzi-la à força, transformando Salomão em um vilão, e não no herói da história. Por esses e outros motivos, tal interpretação está inteiramente desacreditada. A quarta interpretação principal do livro de Cantares é a da abordagem lírica. Esta pensa somente que o livro consiste em uma coletânea de poemas líricos, sem nenhuma conexão com a festa de casamento ou ocasiões festivas especiais. Se essa interpretação tão simples tem alguma vantagem a seu favor, essa vantagem é somente que evita as dificuldades inerentes às três outras principais interpretações. Também poderíamos falar sobre a interpretação chamada típica, favorecida por certos eruditos conservadores. Ela tem a vantagem de preservar o sentido óbvio dos poemas, ao mesmo tempo em que percebe um sentido espiritual e, portanto, mais elevado do que uma mensagem puramente sensual ou erótica. De conformidade com essa interpretação, o livro de Cantares refletia o puro amor espiritual que se verifica entre Cristo e os seus seguidores. Também haveria idéias paralelas na Bíblia, conforme se vê em trechos como Oséias 1-3; Ezequiel 16.6 ss. e Efésios 5.22 ss. E o uso que Cristo fez da narrativa sobre Jonas (Mal. 12.40), bem como a alusão à serpente de metal, levantada no deserto (João 3.14), são aduzidas como compatíveis com esse método geral de interpretação. O conteúdo do livro de Cantares revela uma atitude para com a natureza que raramente se encontra em outros trechos do Antigo Testamento. Os hebreus, geralmente, concebiam a natureza como algo que revelava o esplendor e a majestade de Deus, pois ele controlaria totalmente essas forças naturais, segundo o seu querer. Mas, no livro de Cantares, os ciclos da natureza correspondem aos sentimentos dos amantes. Talvez isso se deva ao fato de que esse livro tenha incluído noções poéticas puramente folclóricas. O fato é que o amado chega ao campo no instante em que os poderes

continua a elogiar seu amado, usando sim bolos da natureza (2.8 - 3.5). 3. Louvores ao rei Salomão, à noiva e aos desposóríos (3.6-5.1 ). 4. O noivo ausenta-se por algum tempo, durante o qual a noiva anela pela volta do noivo e continua a elogiálo (5.2 - 6.9). 5. Uma série de passagens descritivas sobre a beleza física da noiva (6.10-8.4). 6. Conclusão, que aborda a permanência do verdadeiro amor (8.5-14). XII. Interpretação da Sua Mensagem Nenhum livro do Antigo Testamento tem sido interpretado de tantas maneiras diferentes como o livro Cantares de Salomão. Isso se deve ao fato de que não há no livro nenhum tema especificamente religioso e central. Quatro abordagens principais devemos destacar aqui: a interpretação alegórica, a interpretação cúltica, a interpretação dramática e a interpretação lírica. A interpretação alegórica foi adotada pelos rabinos e pelos pais da Igreja como a única maneira de resolver os problemas associados à aceitação do livro no cânon das Escrituras; essa é a interpretação até hoje favorecida pela Igreja Católica Romana e pelos comentadores judeus ortodoxos. Para estes últimos, Deus seria o grande amante dos poemas, e Israel seria a noiva, que receberia as demonstrações das misericórdias divinas. Às mãos dos cristãos, porém, houve alguma modificação, pois a noiva passou a ser a Igreja cristã. De fato, isso transparece em certos trechos do Novo Testamento, como, por exemplo, João 3.29, Efésios 5.22,23, Apocalipse 18.23 e 22. I 7. Foi Orígenes quem desenvolveu a interpretação alegórica clássica, sendo seguido por Jerônimo, Atanásio, Agostinho e muitos outros. No entanto, a maioria dos expositores cristãos tem evitado os problemas que surgem quando se expande o livro de Cantares em termos da história da Igreja cristã. Uma variante dessa interpretação, postulada por alguns escritores patrísticos, é a que diz que o livro reflete a relação entre Deus e a alma individual. Essa variante também foi iniciada por Orígenes, tendo sido adotada por alguns dos pais da Igreja e por certos escritores medievais. Ambrósio e alguns comentadores católicos romanos, mui caracteristicamente, têm identificado a noiva com a Virgem Maria, ao passo que Martinho Lutero opinava que a noiva nada mais seria do que o reino salomônico personificado. E alguns intérpretes identificam variegadamente a noiva, como se ela representasse, em um trecho ou em outro, Israel, a Igreja cristã, a Virgem Maria e o crente individual. Porém, a própria subjetividade da interpretação alegó-rica contribui para desacreditá-la. Apesar disso, a interpretação alegórica do livro de Cantares é a que tem predominado no pensamento protestante, pelo menos até recentemente. A interpretação cúltica tem sido favorecida por alguns estudiosos à luz das liturgias do Oriente Próximo que comemoravam a morte e a ressurreição de alguma divindade. Segundo esse ponto de vista, o amante do livro de Cantares seria um deus que morrera e ressuscitara, ao passo que sua noiva seria sua irmã ou sua mãe, que se lamentava por sua morte e saíra freneticamente atrás de seus restos mortais. Algo similar teria acontecido a Baal e Anate, dos cananeus, a Tamuz e a Israel, dos babilônios, e a Osíris e Ísis, dos egípcios. E os idealizadores dessa idéia dizem que o que servia para comprovar isso era que o livro era usado por ocasião de uma festividade religiosa dos judeus. Mas, além de quatro outras composições canônicas serem usualmente empregadas em festividades

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SALOMÃO, CANTARES DE - SALUM Ver o artigo Salmos de Salomão.

vitais da terra estavam novamente se manifestando (Can, 2.8-17; 7.11-13). Se esses poemas realmente tinham alguma conexão com cerimônias nupciais, então a habilidade das personagens das festas poderia ser comparada à capacidade profissional das lamentadoras, que, em Jer. 9.17, são descritas como «mulheres hábeis». E visto que o livro de Cantares esteve associado à autoria salomônica desde o começo, a relação entre essa composição e a epítome de sabedoria de Israel parecia confirmar sua posição entre as obras de literatura de sabedoria de Israel. Todavia, quando a autoria salomônica foi posta em dúvida, então essa coleção de poemas foi relegada a outros gêneros literários. Visto que o material de Cantares é essencialmente poético, por isso mesmo há nele características próprias de outras composições poéticas do Antigo Testamento. Ver no Dicionário sobre Poesia dos Hebreus . Essas características incluem itens como sinônimos, paralelismos, sintéticos e antitéticos, e acentos rítmicos que salientam pontos importantes. XIII. Teologia do Livro. O livro de Cantares ocupa uma posição sui generis no cânon do Antigo Testamento, devido ao fato de não conter nenhuma teologia explícita. Os estudiosos que crêem que temos ali somente uma coleção de cânticos líricos ou folclóricos vêem nisso uma confirmação para a sua opinião. Portanto, somente através de interferências podemos determinar a posição teológica do livro; e, quando é encarado por esse ângulo, o livro de Cantares ajusta-se às mil maravilhas à tradição hebréia do monoteísmo. Porquanto não há ali nenhum traço das influências mágicas ou das crenças politeístas que se acham, por exemplo, em cânticos de amor similares, provenientes do Egito. O amado só suspirava pela sua amada, exaltando assim o ideal da monogamia. Incidentalmente, isso parece contradizer a autoria salomônica, visto que o terceiro rei de Israel foí homem com muitíssimas mulheres e concubinas. Ver I Reís 11.3-8. Embora as imagens poéticas sejam quase totalmente estranhas para o gosto moderno, a composição nunca se torna obscena, mesmo de acordo com os padrões da civilização ocidental. De fato, o livro reflete os cânones tradicionais da moralidade sexual que fazem parte da legislação mosaica, e jamais tolera qualquer coisa que poderia ser descrita como baixa ou imoral. O livro também reflete as tradições expressas em Gênesis 2.24, que mantêm que, no casamento, institui-se uma unidade psicofisica entre o marido e sua mulher. E toda a discussão sobre as emoções dos dois amantes é mantida em um elevado nivel de sensibilidade e moralidade. Portanto, a pureza e a beleza do amor humano físico, como um Dom divino, é o amor dominante do livro. O relacio-namento natural entre um homem e sua esposa, que se amam, aponta no livro para a riqueza do amor humano, um pequeno exemplo do muito mais amplo, profundo e puro amor de Deus que lhe pertencem. XIV. Bibliografia. AM E I lB IOT NO WES YO Z

SALOMÃO, SERVOS DE Ver o artigo Servos de Salomão. SALOMÃO BEM ELlSHA Ver o artigo Cabala. SALOMÉ O termo é uma adaptação grega da raiz hebraica de Salomão. Seu significado é "pacífico". Duas mulheres da época neotestamentária foram assim chamadas: 1. A filha de Herodias com seu primeiro esposo, Herodes Filipe (Josefo, Ant. xviii.5.4). Ela é a mulher que Mal. 14:6 chama de "filha de Herodias", porém não nomeia especificamente. Foi ela quem efetuou a dança obscena que tanto deleitou a Herodes Antipas e seus amigos ébrios, custando a cabeça de João Batista. Esse tipo de dança fazia parte do entretenimento dos ricos daquela época, e provavelmente se assemelhava ao nosso balé moderno. As dançarinas representavam uma história, às vezes usando máscaras, mas com freqüência deixando o resto do corpo praticamente nu. Esta Salomé foi primeiramente casada com Filipe, tetrarca de Traconites, que era seu tio. Então se casou com Aristóbulo, filho de Herodes, rei de Caleis, com quem teve três filhos. Para a história completa, segundo o relata do Novo Testamento, ver Mal. 14:3-11 e Mar. 6: 16-18. 2. A esposa de Zebedeu tinha este nome (compare Mal. 27:56 com Mar. I 5:40). Alguns estudiosos presumem que ela fosse irmã de Maria, mãe de Jesus, o que faria de seus filhos, Tiago e João, primos de Jesus. Outros a tomam como esposa de Cléopas (João 19:25). Ela é lembrada por ter sido mencionada no Novo Testamento: aparece entre as primeiras mulheres que foram discípulas de Jesus (Mar. 15:40, 41); estava ansiosa que seus filhos ocupassem elevadas posições no futuro reino de Jesus (Mal. 20:20-24; Mar. 10:35-41); foi testemunha da crucificação (Mar. 15:40); e uma daquelas que se prontificaram a cuidar do corpo de Jesus e por isso testemunharam a Ressurreição (Mar. 16: 1).

SALPICADOS Ver sobre Cor, Cores.

SALTÉRIO Ver sobre Salmos. SALU No hebraico, rejeição, desprezo. A forma do termo hebraico varia. Duas pessoas aparecem com esse nome, no Antigo Testamento: I. Epônirno, de uma família benjarnita que se estabeleceu em Jerusalém, terminado o cativeiro babilônico (I CrÔ. 9:7; Nee. II :7). 2. Uma família sacerdotal que figurava entre os exilados da Babilônia (Nee. 12:7), cujo chefe é chamado Saiai, em Nee. 12:20.

SALOMÃO, MINAS DE Ver o artigo Minas do Rei Salomão.

SALUM Do hebraico, "recompensa". A Bíblia hebraica menciona 15 pessoas assim chamadas, embora variações desse mesmo nome tenham sido padronizadas na versão portuguesa. Sigo a ordem cronológica dessas personagens. I. Um homem também chamado de Silem (ou Shilem), filho de Naftali, avô de Josafá (rei de Israel, I Reis 22.42; II CrÔ. 20.31). Viveu no século XVI a.c. 2. Neto de Sirneão, um líder daquela tribo, pai de

SALOMÃO, PÓRTICO DE Ver o artigo Pórtico de Salomão. SALOMÃO, SABEDORIA DE Ver o artigo Sabedoria de Salomão. SALOMÃO, SALMOS DE

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SALUM - SALVAÇÃO e. 3. 4. 5.

Nos Escritos de Pedro O Meio da Salvação A Salvação é um Processo Eterno e Infinito O Conceito da Filiação 6. Elementos da Salvação 7. A Realização da Salvação: Pontos de Vista Teológicos 8. Salvação em Várias Religiões 9. Bibliografia

Mibsão (I Crô. 4.25). Viveu no século XVI a.C. 3. Um filho de Sisamai da tribo de Judá, pai de Jecamias (I Crô. 2.40, 4 I), de data incerta. 4. Filho de Coré, um levita, descendente de Corá. Era o chefe dos porteiros que vigiavam o tabernáculo na época de Davi. Seus descendentes continuaram naquele tipo de ocupação na época de Esdras e Neemias. Ele também era chamado de Meselemaias e Selemias (I Crô. 9.17, 19,31; 26.1,2,9, 14; Esd. 2.42; Nee. 7.45). Viveu no século X a.c. '). Décimo quinto rei de Israel, viveu no século VIII a.C. após a divisão do império entre o norte (as Dez Tribos) e o sul (Judá e Benjamim). Era filho de Jabes. Para conseguir o poder, assassinou Zacarías (lI Reis 14.29), filho de Jeroboão 11. Dentro de um mês, o próprio Salum foi assassinado por Menaém (lI Reis 15.8-15). Viveu em cerca de 745 a.c. 6. Pai de Jeizquias, líder da tribo de Efraim. Quando Israel tomou prisioneiros de Judá em uma batalha entre o norte e o sul, ele insistiu que os prisioneiros fossem enviados de volta à Judá. Isto ocorreu na época do rei Peca (II Crô. 28.12), no século VIII a.C. e foi um pequeno toque de humanidade no meio da brutalidade. 7. Marido da profetisa Hul da, filho de Ticva (II Reis 22.14; 11 Crô. 34.22), no século VII a.c. Talvez ele fosse tio do profeta Jeremias (Jer. 32.7), mas alguns duvidam desta identificação. Era o mantenedor do guardaroupa do rei Josias. 8. Filho de Zadoque e pai de Hilquias. Era sumo sacerdote na época do rei Josias e ancestral de Esdras (I Crô. 6.12; Esd. 7.2). Viveu no século VII a.C. 9. Pai de Hanamel e tio de Jeremias. Jeremias redimiu seu campo em Anatote, embora soubesse que a invasão de Israel pelos babilônicos estava próxima. Por este ato, ele estava dizendo: "As coisas se normalizarão, uma vez que o julgamento de Deus tenha cumprido Seu propósito" (Jer. 32.7). Viveu no século VII a.c. 10. Décimo sétimo rei de Judá, também chamado de Jeoacaz. Ver sob esse título, ponto 2. 11. Pai de Maaséias, um porteiro do templo de Jerusalém na época do profeta Jeremias (Jer. 35.4). Viveu no século VI a.C. 12. Levita, porteiro nos portões do templo, foi forçado a divorciar-se de sua esposa pagã após o cativeiro babilônico, na época de Esdras (Esd. 10.24). Viveu no século V a.c. 13. Descendente de Binui, que foi forçado a divorciarse de sua esposa pagã após o cativeiro babilônico, na época de Esdras (Esd. 10.42). Viveu no século V a.c. 14. Filho de Haloés, que governou parte de Jerusalém como um tipo de prefeito. Ele e suas filhas foram designados à tarefa de reparar parte do muro da cidade na época de Neernias (Nee. 3.12). Viveu no século V a.c. 15. Filho de Col-Hoze, governador de um distrito de Mispá. Foi designado à tarefa de reparar o Portão da Fonte de Jerusalém e o muro próximo ao Poço de Selá (Nee. 3.15). Viveu no século V a.c.

Nossa palavra "salvação" vem do latim salvare, que significa "salvar", e de salus, que significa "saúde" ou "ajuda". A palavra hebraica traduzida em português por "salvação" indica segurança. O termo grego soteria, e suas formas cognatas, tem a idéia de cura, recuperação, redenção, remédio, bem-estar e resgate. Essa palavra pode ser usada em conexões totalmente fisicas e temporais, ou no que diz respeito ao bem-estar da alma, presente e eterna. A idéia de "salvar", quando usada para indicar a salvação espiritual, fala do livramento do pecado, da degradação moral e das penas que devem seguir-se, como ojulgamento divino. Mas o livramento também nos confere algo, a saber: o perdão, a justificação, a transformação moral e a vida eterna, que consiste na participação na própria vida de Deus, no seu "tipo" de vida. A discussão a seguir explica mais amplamente a natureza desse "livramento para alguma coisa", bem como desse "livramento de alguma coisa". 1. Salvação Segundo o Antigo Testamento Embora a salvação com freqüência apareça ali apenas como algo no tempo, como da ira de algum inimigo ("o justo viverá por sua fé", em Hab. 2:4; fala da preservação física), há passagens, como Isa. 45: 17, Dan. 7: 13 ss. e Isa. 53, que entram no nível espiritual da salvação. Os rabinos, após o período patriarcal, criam na alma, no pós-vida, nos lugares celestiais. Mas, a salvação, nas páginas do Antigo Testamento, jamais tomou alguns aspectos revelados no Novo Testamento, especialmente no tocante à plenitude da filiação, em que os homens assumem a natureza do próprio Cristo, a fim de terem sua mesma glória e herança. Esse é um conceito que escapou a teologia dos judeus, e continua a ser ignorado e desconhecido na maioria das igrejas de hoje, onde a salvação é reduzida ao perdão dos pecados e à mudança de endereço para os céus, após a morte física. 2. Salvação no Novo Testamento. Até mesmo uma leitura superficial revelará que nem todos os autores do Novo Testamento têm o mesmo ponto de vista acerca da salvação. Não obstante, seus pontos de vista são suplementares, e não contraditórios. A visão da plenitude da salvação é mais clara em alguns escritores sagrados do que em outros. a. Nos Evangelhos Sinôpticos. A salvação vem por meio de Jesus (ver Luc. 19:9). Ele veio para salvar (ver Mar. 3:4; Luc. 4: 18; Mar. 18: 11; Luc. 9:56 e MaL 20:28). Sua missão impõe certa obrigação moral sobre os homens (Mar. 8:35; Luc. 7:50; 8:12; 13:24 e Mat. 10:22). A salvação requer um coração contrito, a receptividade como a de uma criança, a renúncia de tudo por causa de Cristo. Ela nos conduz à vida eterna, à salvação da alma (ver Mat. 7:13,14 e Mar. 8:34 e ss.). Isso envolve a associação com Jesus em seu reino (ver Mat. 13; Mar. 8:38), que é visto como algo ao mesmo tempo celestial e terreno. Ver Mat. 3 2 e o artigo sobre a doutrina do Reino. Envolve a inquirição e a final possessão das perfeições morais (ver Mat. 5:48). Nos evangelhos sinópticos, entretanto, nunca temos a descrição dos níveis mais altos da transformação

SALVAÇÃO Esboço: 1. Salvação Segundo o Antigo Testamento 2. Salvação no Novo Testamento a. Nos Evangelhos Sinópticos b. No Evangelho de João c. No Livro de Atos d. Nas Epístolas Paulinas

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SALVAÇÃO da salvação. O Livro de Atos é essencialmente uma narrativa sobre como o evangelho de arrependimento se propagou entre todas as nações. (Ver Atos 2:38, 4:12 e 16:30 e ss.) d. Nas Epístolas Paulinas. Neste ponto encontramos os conceitos mais elevados, os quais são enumerados neste parágrafo. i. Rom. 8:29: a salvação envolve nossa transformação segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, em que compartilharemos de sua natureza essencial; ti. Efé, I :23: ser "salvo" significa vir a possuir, finalmente, a "plenitude de Cristo", que é tudo para todos; ih Efé. 3: 19: ser "salvo" significa compartilhar finalmente de "toda a plenitude de Deus", em sua natureza, atributos e perfeições; iv. Col. 2:9, 10: ser "salvo" significa participar da plenitude da divindade, tal como o Filho dela participa; v. II Cor. 3: 18: tudo isso é produzido pelas operações do Espírito, que nos amolda segundo a natureza moral de Cristo, e então segundo a sua natureza metafísica; vi. a filiação sumaria a obra: aquilo que o Filho é, isso seremos; aquilo que ele possui, nós possuiremos. Cristo é tanto o Caminho como é o Pioneiro do Caminho. Ele assumiu a natureza humana e, na qualidade de homem, foi espiritualizado para compartilhar da divindade, na qualidade de Deus-homem, um novo modo de tal participação. É essa participação na divindade que foi aberta a todos os homens que nele confiam (ver Rorn. 8: 17,29,30), tornando-os capacitados a receber sua herança, sua natureza, sua imagem e sua glorificação. Para Paulo, pois, ser salvo é tornar-se aquilo que é o Filho de Deus, é compartilhar do que ele possuí. Esse é o mais elevado conceito que o homem conhece. Exige arrependimento e perdão de pecados, mas esses são apenas meios para atingirmos a glorificação. e. Nos Escritos de Pedro. A passagem de II Ped. 1:4 encerra a declaração mais significativa. Mostra-nos que chegamos a participar da divindade, da natureza divina, escapando da corrupção que há no mundo, para que as promessas de Deus se cumpram em nós. 3. O Meio da Salvação Isso nos vem através do arrependimento, da fé, da conversão, enfim (ver Atos 2:38; Rom. 8:29,30 e João 3: 15). O novo nascimento é parcialmente realizado agora, mas o total novo nascimento consiste em nascermos dentro do reino de Deus, já como seres celestiais. Portanto, ter por término a glorificação, quando nos tornarmos cidadãos do novo mundo. A salvação nos vem pela graça divina (ver Efé. 2:8), mas é mediada pela "santificação" (ver II Tes. 2: 13). Ninguém jamais verá a Deus se não for totalmente santo, como Deus é santo (ver Heb. 12:14 e Rom. 3:21). A imputação envolve muito mais do que a declaração forense de que somos perfeitos em Cristo. Significa que, através da santificação do Espírito. chegaremos realmente a possuir a natureza de Deus, em sua santidade e perfeições -- em outras palavras, chegaremos realmente a possuir a verdadeira natureza de Deus, aquilo que a declaração forense meramente nos atribui. A justificação nos dá a santidade de Cristo por decreto forense; mas também garante e opera em nós a possessão real dela. (Ver o artigo sobre a Justificação. ) A salvação não vem através de obras legais, pois ninguém pode tornar-se um ser semelhante a Cristo, que é o alvo da salvação. Contudo, envolve certas obras, pois o Espírito Santo opera em nós e nos faz expressar os frutos da piedade, os seus próprios frutos, dos quais Cristo é o supremo possuidor (ver Gál. 5:22,23). Essa é

segundo a imagem de Cristo, em que passamos a ser o que ele é e a possuir o que ele tem. O evangelho normalmente pregado nas igrejas evangélicas se eleva somente até o nível dos evangelhos sinópticos, o que deixa de lado especiais e maiores revelações, como aquelas dadas a Pedro e. mormente, a Paulo. b. No Evangelho de João. Nesse evangelho temos um ponto de vista mais similar ao de Paulo do que aos dos evangelhos sinópticos. O princípio de filiação é associado à salvação, e isso é um discernimento penetrante. Fica subentendido que aquilo que é o Filho, nisso nos transformamos, pois também seremos autênticos filhos do Pai celeste. Somente no evangelho de João, de maneira mais clara e como descrição direta, é que temos o conceito da participação do homem na vida "necessária" e "independente" de Deus, o Pai. Há muitas "modalidades" de vida, a começar pelos animais unicelulares, passando por animais mais completos, do mar, da terra e dos ares. Finalmente. chegamos ao homem, o qual incorpora em si mesmo os aspectos físico e espiritual da vida, de maneira especial. As evidências mostram que toda a vida é dual, e talvez imortal; pelo menos toda e qualquer vida tem uma porção psíquica, que talvez seja o controle real do desenvolvimento físico. A fotografia Kirliana tem demonstrado o fato. Trata-se de um processo fotográfico, similar à radiologia. que fotografa a aura existente ao redor de todas as coisas vivas, mostrando que todas as coisas possuem dualidade. Existem formas de vida que cobrem e possuem a parte física, e essas, evidentemente, são as inteligências que dirigem o desenvolvimento físico desde a concepção, mantendo a vida física. Não obstante, o homem, em alto grau, é uma incorporação da vida espiritual com a vida física. Além disso, há a vida puramente espiritual, dos seres celestiais. Mas a vida inteira, incluindo a desses últimos, é vida dependente, isto é, depende de Deus para ser sustentada. Toda a vida, abaixo da vida de Deus, é vida "não-necessária". isto é, pode existir ou pode ser reduzída a nada, por ser vida potencialmente perecível. Mas Deus é o pináculo de toda a vida, sua fonte e sustentáculo. Já o "tipo" de vida de Deus é diferente. Ele é independente, dependendo somente dele mesmo para continuar a viver; e também é vida necessária. isto é, não pode deixar de existir. Sim, Deus tem vida "independente", porque depende somente de si mesmo para existir; e tem vida "necessária" porque essa forma de vida não pode deixar de existir. Foi esse o tipo de vida que o Filho recebeu por ocasião de sua encarnação, na posição de Cabeça federal da raça remida. E, através dele, os remidos também recebem essa forma de vida. (Assim nos ensinam os trechos de João 5:25,26 e 6:57, um dos mais elevados conceitos de todo o NT). Os homens chegam a compartilhar dessa forma de vida. tornando-se muito mais elevados que os anjos e membros autênticos da família divina, possuidores da natureza divina (ver 11 Ped.1 :4). Notemos que o elevadíssimo tipo de vida exposto no Evangelho de João fez parte integral da salvação, sendo mediado através da ressurreição. c. No Livro de Atos. Neste ponto retornamos ao terreno dos evangelhos sinópticos, conforme se poderia antecipar do fato de que Lucas, seu autor, também é o autor do evangelho de Atos, um dos evangelhos sinópticos. O perdão dos pecados, o arrependimento, a conversão, a entrada no reino celestial, são elementos da salvação, mas não cobrem a revelação inteira, embora destaquem os conceitos primários da salvação, que são indispensáveis. Não pode haver glorificação sem o perdão dos pecados e o arrependimento. mas esses são apenas os passos iniciais

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SALVAÇÃO a razão pela qual os homens são exortados a "levar a bom termo a sua própria salvação", conforme se lê em Fil. 2: 12. Nesse sentido, "graça" e "obras" se tornam sinônimas, pois a graça vem do Espírito, como também as obras. No entanto, as obras devem ser reais e eficazes na vida, devendo ser cultivadas pela vontade humana; de outro modo, não haverá "operação da graça" no homem. A salvação, pois, consiste em trazer o infinito ao finito, o divino ao humano; e o homem precisa cooperar com o Senhor, embora o próprio resultado seja divino em sua natureza. A salvação, pois, é uma cadeia de ouro. Consiste em arrependimento, fé, conversão, santificação, glorificação, que levam um homem à plena filiação. Se qualquer desses elos for quebrado, não haverá salvação. A salvação, pois, é "inicial", quando nos convertemos, pelo que também um homem pode dizer: "Estou salvo". Mas também tem um aspecto progressivo: estamos sendo salvos, porquanto estamos sendo preparados para o reino celestial. E a salvação também tem um aspecto final: a glorificação, quando obtivermos a natureza divina. 4. A Salvação é um Processo Eterno e Infinito Posto que nela chegamos a possuir "toda a plenitude de Deus" (ver Efé. 3: 19), isso significa que não pode haver fim na obra de salvação, pois Deus é infinito. A existência inteira nos mundos eternos, tal como aqui, terá o propósito de participarmos daquilo que Deus é. através do modelo de Cristo. Jamais poderemos participar completamente de tudo quanto Deus é, embora filhos autênticos junto com o Filho, dotados de sua natureza metafísica, pois não haverá como chegarmos ao fim da infinitude. Portanto, a diferença entre a natureza remida do homem e a natureza do Pai não consiste em "espécie", e, sim, em "extensão" da glória. A salvação consiste em trazer o infinito ao que é finito, em trazer o que é divino ao que é humano. Quanto a isso, não pode haver fim, e toda a eternidade nos ensinará o que esse preceito significa. 5. O Conceito de Filiação O conceito de filiação sumaria a idéia da salvação, conforme aparece no Novo Testamento. Somos "filhos que estão sendo conduzidos à glória" (ver Heb. 2: 10); compartilhamos da natureza do Filho (ver Rom, 8:29; II Cor. 3: 18 e I João 3: I ,2). O indivíduo salvo é alguém que se tornou filho de Deus, de modo a compartilhar de tudo quanto o Filho possui, de ter a sua natureza essencial. O Cabeça e o corpo místíco devem possuir a mesma natureza, embora tenham diferentes oficios e funções. A glorificação do corpo deve ser a mesma glorificação desfrutada pelo Cabeça. Pode-se perceber facilmente, mediante essa descrição, por que a salvação, em sua natureza essencial, é chamada de "grande" em Heb. 2:3. Fala da "imensidão" do bem-estar espiritual que é conferido aos remidos, da imensidão em que o homem é transformado, pois se torna mais elevado que os mais altos anjos, tal como o próprio Cristo é infinitamente superior a eles. Ver o artigo sobre o problema da Segurança do Crente.

6. Elementos da Salvação A salvação consiste no processo, no estado resultante e no progresso contínuo da alma, em sua inquirição para obter toda a plenitude de Deus (ver Efé. 3: 19), experimentando a transformação segundo a natureza e a imagem do Filho (ver Rorn. 8:29), que avança de um estágio a outro de glória, interminavelmente (ver II Cor. 3: 18). A teologia tem dado nomes aos vários estágios desse processo, e oferecemos artigos separados sobre eles. Ver Expiação; Arrependimento; Conversão; Justificação; Regeneração; Santificação e Glorificação. Ver também o artigo intitulado Divindade. Participação na, Pelos Homens. 7. A Realização da Salvação: Pontos de Vida Teológicos No artigo Salvação em Várias Religiões, demonstro que há grande variedade de pontos de vista no tocante ao que a salvação se propõe a realizar. Também demonstro que em qualquer sistema religioso, incluindo o judaísmo e o cristianismo, a salvação é um conceito crescente. De fato, nem a Bíblia (no Antigo e no Novo Testamento) nos oferece somente um ponto de vista a respeito, visto tratar-se de um conceito complexo, que implica muitas facetas. Para exemplificar, a visão paulina da salvação é muito mais extensa e exaltada que a dos evangelhos sinópticos, Mas a mensagem de salvação, pregada nas igrejas cristãs de nossos dias, reflete a mensagem dos evangelhos sinópticos. Apresentamos os vários níveis de pensamento a respeito sob o segundo ponto. Não é de surpreender, pois, que a teologia também encare a salvação de modos diversos. É possível alguém ler um dicionário bíblico, no verbete "Salvação", sem nada encontrar acerca da transformação do crente à imagem de Cristo ou acerca da participação na plenitude de Deus. O que ali é abordado são temas como a fé, o arrependimento, a justiflcação e a glorificação, os quais, embora verdadeiros, estão longe de explorar toda a gama de facetas que Paulo expôs. Em outras palavras, alguns intérpretes não têm conseguido ver além da visão dos evangelhos sinópticos, As teologias cristãs tendem por apresentar um ou outro dos ângulos do Novo Testamento acerca da salvação, ao mesmo tempo que negligenciam aspectos desse mesmo documento sagrado que expõem outras idéias, as quais não somente acrescentam algo, mas também modificam pontos de vista muito drásticos. Por isso mesmo, as teologias via de regra são provinciais, e não representam, universalmente, os ensinamentos do Novo Testamento. O que dizemos a seguir ilustra essa declaração: a. A Questão da Expiação. Ver o artigo geral intitulado Expiação. O calvinismo limita a expiação somente aos eleitos, apesar do claro pronunciamento de I João 3:2, que foi escrito contra o exclusivismo gnóstico. Estes acreditavam que a grande maioria dos homens não pode ser remida, tal como o fazem os calvinistas, embora por outros motivos. Assim, o intuito de Deus é limitado desde o começo, e seu amor universal (ver João 3:16) é reduzido a uma farsa. O ponto de vista arminiano, por sua parte, crê que o potencial para a salvação é universal, mas não tem fé na concretização desse potencial, para todos os propósitos práticos, pelo que não se mostra mais generoso acerca da missão de Cristo e de suas propostas realizações do que o calvinismo. O universalismo irrestrito (ver a respeito) é extremamente generoso, fazendo a aplicação da missão de Cristo incidir sobre todos, sem supressão, de modo absoluto e final. Muitos cristãos têm assumido esse ponto de vista, e, nos tempos modernos, especialmente os estudiosos liberais. Meu ponto de vista

Gloriosa, mais gloriosa é a coroa Daquele que nos trouxe a salvação, Por humildade chamado de o Filho. Tu, que creste naquela estupenda verdade E agora o feito sem-igual foi realizado, DETERMINADO; OUSADO E FEITO. (Christopher Smart)

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EIS QUE ESTOU A PORTA E BATO

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Foi grande revelar Deus a seres angelicais; Foi D1&.Íor -estji'Dla r o hOD1e:n::a humilde. Foi gra.nde habitar no exaltado ~avor divino; Foi WDaior ser Salvador do hO:ID.eD1 quebrantado.

(Russel1 Nonna n Cba."plln)

••• Cristo, Salvador de 7bdos 0 6 1lIundos Cristo. Salvador de todos os ::ID.undos. eDJ. todoe 0 8 1'D.u..ndos. at.é a beira da condenaçAo; AD'lsndo. pesquisando. buscando. salvando para além. do sepulcro ou tú.Inulo. Decretos divinos. dogmas hUD'1&.Dos. séculos presentes ou :futuros -

nada pode liJ:nitar o

seu poder i:Jnutável. esperança fixa e sublh:ne. O Cristo. bnutável. H.ed.enC;or eterno. na. tranaiçAo dos s6cu.loe sempre c> :n:aes.rno. const;a.n.te é «> poder rec:u.perador do teu NO:a:n8. Ponto de texnpo ch-......ado tea: .... e tu Jesus. nAo e&o tudo. nAo pocleD1 ser tudo; Es:ferae al~. :znundos vindouros o I....og08 I>i~o deve dOD')inar. Ponto de te:rnpo findo pela :znorte. significa para algun.s O' fi.D1 da. própria 'Vida. para. outro1!!ll. o C'u:n. da esperança B.D1bas visões n:llopee. BeD1 dúvida.

Pois Tu. és o Cristo eterno. no teIDpo e :fora dele susten.tas segu.ra.D'1ente. ATUando. pesquisando. buscando. salvando para aléxn. do sepulcro ou tÚJ:nulo. rru és o Cristo. Salvador de t;oclos os D1UD.dos. eJ:D. todos 0 8 EDundos • .. beira da condenaçAo; na condenaçAo? - N a Condena.çãol(Russell Norn::aBD. Cban1plin)

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SALVAÇÃO EM VÁRIAS RELIGIÕES é grandioso; o labor de Cristo é inigualável; a aplicação da tridimensional missão de Cristo é absoluta. Coisa alguma permanece fora do poder do Lagos de Deus; a sua vontade terá cumprimento cabal; a sua missão será realizada em termos absolutos. Qualquer afirmação menor do que isso faz injustiça à verdade da salvação. 8. Salvação em Várias Religiões Ver o artigo separado com esse título, quanto a um pouco de teologia comparada, no que conceme à salvação. 9. Bibliografia AM B C E EP NTI P R RP Z

pessoal é o da redenção-restauração, que significa que os eleitos serão remidos, e que os não-eleitos serão restaurados. Destarte, a expiação de Cristo terá aplicação absoluta. O poder de Cristo alcança todos os homens, eficazmente, embora não da mesma maneira. O artigo sobre a Restauração apresenta completos detalhes sobre esse ponto de vista. b. A Missão Tridimensional de Cristo. Se limitarmos a missão de Cristo, naturalmente limitaremos o potencial de suas realizações. Cristo tem exercido três ministérios que contribuem para o mesmo grandioso propósito: a missão terrena, a missão no hades e a missão celestial. E todas essas missões têm algo que ver com a oportunidade de salvação, e o que essa oportunidade espera realizar. Os evangelhos falam sobre a missão terrestre de Cristo; os trechos de I Ped. 3: 18 - 4:6 e Fé. 4:8 ss. falam sobre o seu ministério no hades. Sabemos que o evangelho foi anunciado até mesmo àquele lugar de julgamento, oferecendo a oportunidade de salvação para os que ali estão encerrados. I Ped. 4:6 deixa isso claro. E que o julgamento é remedial, e não meramente retributivo. A idéia, ali, é que os homens "vivam no espírito segundo Deus", depois que o juízo divino tiver surtido o seu efeito. Ver sobre Descida de Cristo ao Hades quanto a completos detalhes sobre a missão de Cristo àquele lugar. Sua descida teve o mesmo propósito que sua subida dali, ou seja, que ele fosse Aquele que encheu "todas as causas", conforme Efé. 4: 10 afirma. Mas também precisamos considerar o seu ministério celestial, que dá prosseguimento à sua grandiosa obra. O propósito dessa missão celeste é que os remidos venham a participar de toda a plenitude de Deus (a sua pléroma), porquanto isso só poderá tornar-se realidade se Cristo realizar sua poderosa obra celeste, transformando os filhos de Deus à imagem do Filho. Dessa maneira é que chegaremos a participar da natureza divina (ver Cal. 2:9, IO; 11 Ped. 1:4). A missão tridimensional de Cristo garante uma oportunidade universal, absoluta, o que contempla a aplicação universal dos beneficios da missão de Cristo. Ora, isso é precisamente o que devemos esperar do grande amor de Deus, que alcança desde o mais fundo inferno até os píncaros do céu. Ver o artigo intitulado Missão Universal de Cristo. c. O Mistério da Vontade de Deus. O trecho de Efé. I :9, 10 alude a esse profundo mistério. O seu propósito é unificar, finalmente, todas as coisas, em redor de Cristo. Isso será realizado na redenção-restauração que envolve as três missões de Cristo. Quanto a completos detalhes, ver o verbete Mistério da Vontade de Deus. d. O que a missão de Cristo propõe-se a realizar pode ser sumariado em duas palavras: redenção e restauração. Os artigos sobre esses dois temas oferecem detalhes.

SALVAÇÃO, AUTOR DA A expressão aparece em Heb. 2: 1O, e sob a forma de Autor e Consumador da fé. em Heb. 12:2. A palavra ali usada é archegás. que tem o sentido de "líder", "pioneiro". Nossa versão portuguesa prefere a tradução "autor", em ambas essas passagens da epístola aos Hebreus, embora não faça o mesmo nas demais referências em que o termo aparece: Atos 3: 15 e 5:31. Todas essas idéias, entretanto, dizem verdades sobre a pessoa de Cristo. Cristo é o grande Autor de nossa salvação, embora também seja Aquele que nos mostra o caminho, como Pioneiro do caminho que ele é, conduzindo os filhos de Deus para que compartilhem de sua natureza e filiação divina. O termo grego por trás dessa palavra, archegôs, combina dois vocábulos: arche, "começo" ou "primeiro", e ago, "liderar", ou seja, o primeiro que encabeça a outros, que o seguem. Tal palavra pode significar, igualmente, fundador ou originador: Cristo tanto é o autor da salvação, como também, por ser homem, é o primeiro de uma série, ou seja, as primícias de uma grande colheita espiritual, o primeiro dos homens a atravessar a barreira da mortalidade para a imortalidade. Nessa capacidade, ele é o Píoneiro do caminho. Tendo passado para a imortalidade, agora conduz muitos outros filhos à glória (ver Heb, 2: I O). Ele é o Pioneiro, por intermédio da fé (Heb. 12:2), por meio de seu exemplo moral e de sua dedicação espiritual, qualidades que os remidos precisam ter. SALVAÇÃO DE INFANTES Ver Infantes, Morte e Salvação dos. SALVAÇÃO EM VÁRIAS RELIGiÕES Ver o artigo separado sobre Salvação, no qual é pormenorizada a exposição neotestamentária cristã. Esboço: I. O Termo 11. Pano de Fundo Ill, Em Várias Religiões IV. Na Filosofia V. No Cristianismo VI. Bibliografia

Derrota das Teologias Pessimistas. Todas as teologias limitadoras como o calvinismo e o arminianismo são pessimistas. Todas elas dependem da utilização de determinados textos de prova, e da correspondente distorção ou supressão de outros textos, que não se ajustam àqueles esquemas. O calvinismo limita o intuito de Deus, suprimindo o magnificente mistério da vontade de Deus. E o arminianismo limita a aplicação da boa vontade do Senhor. O universalismo, por sua vez, não compreende que o Deus Todo-poderoso, operando através de seu Filho absolutamente eficiente, pode aplicar seu poder de diferentes modos, garantindo o sucesso, embora não da mesma maneira, no tocante a todos os homens. Podemos ter a certeza, contudo, que o plano de salvação

I. O Termo A palavra latina da qual se deriva o termo português "salvar" é salvare, que pode referir-se a qualquer tipo de salvamento, livramento etc. Salvus significa seguro, a salvo, não prejudicado, ileso, livre. No seu sentido teológico, salvar é livrar de algum perigo ou mal (incluindo o juízo final), juntamente com a provisão de bem-estar espiritual, definido de muitos modos nos vários sistemas religiosos. Usualmente, a salvação é associada a algum estado futuro, a uma existência pós-túmulo de algum tipo bem-aventurado; e, em muitos sistemas religiosos, isso é contrastado com algum estado de julgamento e miséria.

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SALVAÇÃO EM VÁRIAS RELIGIÕES geralmente há falta de todo o tipo de descrição exata quanto ao estado dos mortos, além de incluírem a noção que os mortos podem ajudar ou prejudicar aos vivos. Entretanto, certo bem-estar é vinculado às vidas dos mortos bons, e isso serve como uma espécie de visão primitiva da salvação. 2. No Judaísmo. Pode-se buscar em vão, no Pentateuco, alguma explicação a respeito da vida pós-túmulo. Não há ali nenhum apelo à mesma, nem como advertência aos que não observassem à lei, nem como promessa de bem-estar no além para os que agissem corretamente. Quando o trecho de Deu. 5:33 promete vida abençoada e longa àqueles que observarem aos mandamentos, não há nisso nenhum indício de que estava em vista a vida no além. Aquele que pusesse em prática as ordenanças do Senhor, viveria por esse motivo (ver Lev. 18:5). Esse texto é citado em Rom. 10:5, no contexto da salvação, embora negando que a observância dos mandamentos envolva a promessa da vida eterna. É evidente que Moisés não estava pensando na vida pós-túmulo. Não obstante, no judaísmo posterior (na época em que foram escritos os Salmos e os Profetas), esses trechos do Pentateuco foram aplicados à vida no além. A despeito do que digam em contrário certos cristãos, o judaísmo sempre foi um caminho de obras humanas, e a obediência à lei era o padrão absoluto dessas obras. E até mesmo nos Salmos e nos Profetas não há nenhuma descrição clara acerca do que está envolvido na vida pós-túmulo, exceto que são prometidas a miséria para os pecadores e a felicidade para os justos. O Sheol (ver a respeito) torna-se ali uma ameaça aos pecadores; e algum tipo de vida bem-aventurada, não bem definida, torna-se uma promessa feita aos justos. No Antigo Testamento, o trecho de Dan. 12:2,3 é a mais clara passagem acerca do julgamento e da salvação: "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas sempre e eternamente". Alguns eruditos atribuem uma data posterior ao livro de Daniel; e se este foi produzido durante o período helenista, então podemos compreender melhor uma declaração como essa. Seja como for, os livros apócrifos e pseudepígrafos do período intertestamentário apresentam uma visão bastante complexa da vida no além, com gradações de céus e um agonizante sheol. A idéia dos sete céus surgiu durante esse período; e a mais exaltada glória consistia em assumir a natureza dos anjos e habitar em um lugar elevado e abençoado. Até aí evoluíram as idéias dos judeus quanto à salvação, antes do começo do Novo Testamento. Naturalmente. os saduceus preferiram permanecer com a visão do Pentateuco, não aceitando como autoritativa a doutrina que surgiu mais tarde. Ver o artigo sobre I e 11 Enoque, quanto à elaborada concepção da vida pós-túmulo que, finalmente, veio a ser defendida pelo judaísmo. A falta de homogeneidade da fé dos hebreus, acerca da salvação, fica assim demonstrada. A crença na vida no além e no que isso envolve foi uma doutrina que se paulatinamente se desdobrou entre eles. Toda teologia cresce, e não necessariamente na mesma direção quanto a diferentes grupos dentro de um mesmo sistema religioso. 3. No Budismo (ver a respeito). A escola hinayana do budismo não ensinava a existência de uma verdadeira alma no homern., e, como é óbvio, a reencarnação da alma. Antes, estados mentais passariam de uma entidade a outra, mas cada entidade deixaria de existir por ocasião da morte

A palavra hebraica é yesua, que indica "largueza", "facilidade", "segurança", e que podia ser usada em toda forma de contexto e aplicação. O vocábulo grego correspondente é soteria, que envolve as idéias de "cura", "recu peração", "reméd io", "sal varnento", "reden ção", "bem-estar". No Novo Testamento, esse vocábulo grego é usado para indicar o livramento da condenação, estando em vista um aspecto escatológico, mas com primórdios desde a vida presente, tudo considerado de diferentes ângulos e com diferentes significações. 11. Pano de Fundo Dois fatores principais devem ser considerados: I. A crença quase universal dos homens em uma existência após a morte biológica, estando envolvida alguma forma de imortalidade. 2. Os homens reconhecem que a justiça precisa ser servida, podendo isso manifestar ou um aspecto positivo ou um aspecto negativo. Quanto ao aspecto negativo, é postulado algum tipo de julgamento, que deve conter alguma forma de retribuição em face dos males praticados. Quanto ao aspecto positivo, é postulada alguma forma de bem-aventurança, que caracterizará a existência na vida pós-túmulo. Esse aspecto é associado ao livramento do estado não-desejado, bem como a outorga de bênçãos positivas, usualmente concebidas como a vida em um lindo e favorável lugar, isento dos males que são tão corriqueiros na vida terrena. Aqueles que acreditam nas idéias inatas supõem que os homens naturalmente saibam dessas coisas, visto que a alma é dotada de um conhecimento básico que pode ser perscrutado mediante a intuição (ver a respeito). Também há aqueles que pensam que o ministério do Espírito garante aos homens o conhecimento básico acerca da existência pós-túmulo, tanto em seu aspecto negativo quanto em seu aspecto positivo. Ou, quiçá, a razão seja suficiente para sondar essas questões. Essas idéias emergiriam indistintas em nosso consciente, mas emergiriam. E todos as culturas participariam desse conhecimento básico dos fatos. Básica a qualquer forma de crença na salvação é a fé na espiritual idade fundamental do ser humano, e, paralelamente, a sua responsabilidade. Daí porque muitos sistemas éticos estão alicerçados sobre o pressuposto de que aquilo que aqui praticamos nos segue para além da morte biológica, levando-nos a alguma forma de existência no além. Outro motivo universal é a crença de que os lugares de julgamento, chamados hades na cultura greco-romana, como também na moderna cultura cristã (por empréstimo e influência do Novo Testamento), envolvem alguma espécie de missão remidora. Essa crença era muito forte nojudaísmo do período intertestamentário e chegou a fazer parte da tradição cristã. Ver sobre Descida de Cristo ao Hades quanto a completas explanações sobre a questão. Falta de Homogeneidade. Não podemos esquecer que os grandes sistemas religiosos não são homogêneos quanto a certas doutrinas principais, incluindo essa questão da salvação. O próprio Novo Testamento não expõe uma idéia única sobre isso, e cada uma das grandes religiões também não tem uma explicação singela para aquilo que a existência no além reserva para os homens. 111. Em Várias Religiões 1. Nas Religiões Animistas. É provável que amais antiga forma de religião seja a animista, a crença na continuidade do espírito humano, que pode voltar ao mundo e abençoar ou amaldiçoar, com grande variedade de outros espíritos que podem fazer a mesma coisa. Nessas religiões,

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SALVAÇÃO EM VÁRIAS RELIGIÕES sobre as principais veredas que o indivíduo pode seguir, em busca do desenvolvimento espiritual e da realização. O hinduísmo devocional (teísta) fala sobre a vida eterna no céu, na presença de Deus. Nessa forma de hinduísmo aparecem muitos céus e infernos. O indivíduo pode ir subindo de céu em céu até chegar a habitar na presença de Deus, a visão mais exaltada da salvação, segundo esse segmento do hinduísmo. Mas. aos olhos do hinduísmo filosófico (ver anteriormente), esse não é o alvo mais alto, visto que nada diz sobre a participação do homem na própria natureza divina. No hinduísmo devocional, a vereda para a glória consiste, essencialmente, em fé, devoção, amor e prestação de serviço ao próximo. Essa fé tem ramificações politeístas, e a divindade cuja presença é buscada é variegadamente escolhida. As principais divindades são Vishnu, Krishma, Rama, Siva e Kali, que são objetos de adoração por parte de diferentes seitas. 7. Os sikhs (ver a respeito) defendem essencialmente as mesmas idéias que as advogadas pelo hinduísmo devocional (teísta). 8. O jainismo (ver a respeito) foi uma espécie de movimento protestante dentro do hinduísmo. Ensinava a escapar dos ciclos de reencarnação, bem como a passagem por muitos céus e infernos, nenhum deles permanente. Essa religião não é muito teísta. Se ali existem deuses, eles em nada ajudam aos homens. A salvação é obtida por meio do esforço humano, e O carma governa tudo. As três "jóias" da fé religiosa são: a fé correta, o conhecimento correto e a conduta correta. Importantes doutrinas são o ascetismo e o pacifismo. 9. O zoroastrismo (ver a respeito) sempre se afastou do secularismo, como religião; e isso foi acentuando-se com a passagem do tempo. Deus é visto ali como alguém que é reto e exige retribuição e recompensa. Os homens maus serão punidos; e os homens bons serão recompensados. A salvação seria obtida por meio das boas obras. A ênfase recai sobre pensamentos bons, boas obras, boas ações - até que o indivíduo venha a colher aquilo que semeou de bom ou de mau. No zoroastrismo posterior, foi concebida uma personagem, Soashyant, o Salvador, a fim de ajudar os homens a atingir a salvação. Ia. O islamismo (ver a respeito) fez fartos empréstimos tanto do judaísmo quanto do cristianismo, e surgiu em cena numa época em que outros aspectos próprios do outro mundo dominavam os pensamentos dos homens. Uma das prinei pais idéias dessa fé é escapar do julgamento por parte de Allah, um juízo que consiste em chamas eternas. O caminho da salvação consiste em boas obras e conformidade com a fé rei igiosa islâmica, com a realização de suas provisões, ritos especiais etc. A crença também é importante para a salvação: a crença em um monoteísmo absoluto, tendo Maomé como o profeta de Allah, o autor do livro santo, o Alcorão, onde se fala sobre o juízo divino etc. Contudo, a salvação depende da eleição por parte de Allah, de acordo com o que os eleitos agirão como bons muçulmanos. Na seita Shira do islamismo, é enfatizada a salvação por meio da fé. O pós-vida (na salvação) é um lugar agradável, com prazeres, lazer e bem-estar. IV. Na Filosofia Os filósofos têm abraçado todas as principais manífestações de fé religiosa, pelo que os sistemas por eles criados refletem, até certo ponto, seus panos de fundo formativos e suas associações religiosas. Além dessas circunstâncias, alguns filósofos criaram filosofias distintamente religíosas, com conceitos de salvação. Dou apenas alguns exemplos: 1. Platão falou sobre o drama sagrado da alma, a qual

biológica. Apesar disso, seus pensadores postulavam uma espécie de salvação. Seria desejável que esses estados mentais desaparecessem totalmente, ou seja, se apagassem como se fossem chamas, e que o Nirvana (extinção total) viesse a dominar sobre tudo. Para eles, o vazio absoluto seria a salvação. A paz total, com a cessação da existência, seria obtida mediante as obras, em que o indivíduo seguiria as nobres verdades daquela fé. Em primeiro lugar, seria obtido um estado budista (semelhança com Buda), e então um vácuo, o Nirvana. O budismo mahayana, em contraste com isso, prometia aos seus seguidores uma genuína imortalidade e bem-aventurança, tudo a ser obtido pelos mesmos meios propostos pela escola hinayana, e que seria conseguido em um céu verdadeiro, chamado Nirvana, mas ali definido de maneira diversa. A participação na natureza divina e a existência aos moldes divinos seria a salvação, atingida uma vez que cessasse o ciclo de renascimentos ou reencarnações, mediante uma vida moral e reta. Ver sobre o Budismo quanto a maiores detalhes. Posteriormente, o budismo chegou a desenvolver uma doutrina de muitos céus e infernos, que a alma humana poderia habitar, embora dali pudesse retornar, para ter outra reencarnação. Mas, finalmente, uma vez obviada a necessidade de reencarnação, esferas de glória estariam à espera da alma. 4. O confucionismo (ver a respeito) é, essencialmente, uma religião deste mundo, tal como o judaísmo mais antigo. A crença na existência da alma fazia-se presente, embora com idéias vagas acerca da existência no além. 5. O taoísmo (ver a respeito) envolve uma noção distinta sobre o mundo do além, tendo emprestado a idéia de muitos céus e infernos do budismo. O indivíduo venceria por meio do quietismo, geralmente atrelado às experiências místicas. Na terra, vida longa e riquezas materiais são procuradas; boas obras são recomendadas; confissão de pecado e absolvição são ali doutrinas básicas. A devida retribuição pelo bem e pelo mal praticado é uma doutrina corrente. 6. O hinduísmo (ver a respeito) é uma religião na qual as idéias acerca da salvação têm variado de um período histórico para outro. Assim, no hinduísmo védico havia noções nitidamente próprias a uma vida neste mundo, ainda que, sob forma preliminar, também houvesse crenças na existência da alma, e que ela poderia esperar o bem ou o mal, após a morte fisica. Obter-se-ia o bem mediante sacrificios. Ver o artigo intitulado Religião. terceira seção, Tipos de Religião. O hinduísmo brâmane veio a tornar-se bastante espiritualizado em seu caráter, prometendo a esperança de uma existência bem-aventurada no além para aqueles que pudessem desvencilhar-se dos ciclos da reencarnação, mediante atos morais e boas obras positivas. O carma e a reencarnação são aspectos centrais nessa religião. O hinduísmo filosófico ressalta a necessidade de o indivíduo livrar-se dos ciclos da reencarnação, buscando o descanso e a alegria na outra vida. A participação na natureza divina é a maior realização possível, embora o homem só possa obter essa participação em grau finito. Há ali vários caminhos importantes para o homem obter libertação e glória: conhecimento, boas obras, experiências místicas e, finalmente, o amor. Essas seriam as veredas básicas para o empreendimento humano. Mediante várias reencarnações, a alma humana haverá de experimentar todas elas. Consideradas conjuntamente, essas veredas levam a alma a subir aos mundos de luz: O artigo sobre o hinduísmo descreve com maiores detalhes as suas idéias

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SALVAÇÃO EM VÁRIAS RELIGIÕES - SALVADOR do pecado, em converter-se e passar a viver uma vida muito melhor no espírito. A mais elevada meta, ali, parece ser a participação na natureza angelical (ver Luc. 20:36). Diz esse texto: " ... são iguais aos anjos ...". Ora, até esse ponto é que o judaísmo helenista tinha avançado, conforme se vê refletido nos livros de I e II Enoque; e Lucas parece ter empregado e aprovado essa idéia. No Evangelho de João encontramos um conceito mais elevado. Ali já aparece a filiação dada ao crente, embora isso não seja definido em termos precisos. Porém, João 5:24 e seu contexto parecem ensinar a doutrina que a alma chegará a participar da vida necessária e independente de Deus, por meio do poder e das operações do Filho de Deus. Se essa interpretação está com a razão, então, no Evangelho de João, a salvação final é a real participação na natureza divina, o que concederá à alma a vida que não pode deixar de existir (vida necessária), bem como a vida em si mesma (vida independente, dada por Deus, o único Ser independente, e que ele haverá de comunicar aos filhos de Deus por meio do Filho). A salvação final, de acordo com os escritos paulinos, ultrapassa em muito àquilo que se lê nos evangelhos sinópticos. Ali temos a participação na filiação (ver Rom. 8: 14-29); a participação em toda a plenitude de Deus (Efé. 3: 19); a participação na plenitude do Filho (CoL 2:9, 10). Para Paulo, a salvação jamais estagnar-se-á, visto que prosseguirá de um grau de glória para o próximo, interminavelmente (ver II Cor. 3: 18). Isso significa que, em vista de haver uma infinitude com a qual seremos cheios, também deverá haver um enchimento infinito. E isso só pode significar que haverá uma participação real, mas finita (porém sempre crescente), na natureza divina. Quando o trecho de II Ped. 1:4 afirma que os remidos virão a participar da natureza divina, considero essa declaração de modo literal, e não apenas figurado. Portanto, o perdão dos pecados e a transferência da alma para o céu, por mais importantes que sejam esses aspectos, revelam-se apenas estágios preliminares de nossa salvação. Isso pode ser comparado com o que Platão disse, que a alma deixará de ser perene para ser imortal. E ele definiu essa imortalidade em termos da real natureza de Deus, comunicada aos homens, como um Pai a seus filhos, os quais assim terão sido conduzidos à glória eterna (ver Heb. 2: 1O). Tudo mais que tenho para dizer acerca desse assunto pode ser acompanhado no artigo separado, intitulado Salvação. VI. Bibliografia. B C E EP P R RPZ

procura libertar-se dos ciclos de reencarnação mediante atos morais corretos e uma vida reta. Todas as almas são perenes, pois, oriundas da eternidade, voltam à eternidade. Mas, na salvação, a alma, agora participante da natureza divina, torna-se eterna. E isso produz o fim dos cicios de reencarnação, quando a alma entra em um período (cuja duração é impossível de determinar) em que vai subindo pela escadaria ontológica, até chegar a Deus e à sua natureza. Alguns interpretam isso como a perda da individualidade e a total absorção por parte do Ser divino. Outros supõem que o indivíduo tornar-se-á universal, cônscio de sua grande glória. 2. O neoplatonismo tomou por empréstimo certas idéias de Platão, fazendo alguns acréscimos a elas, principalmente a idéia das emanações. As emanações retornariam a Deus e seriam finalmente reabsorvidas por ele; e nisso consistiria a salvação. Novamente, debateu-se ali se isso significará ou não o fim da individualidade. Minha opinião é que essa questão não foi adequadamente respondida pelos pensadores neoplatônicos. O indivíduo tornar-se-ia o universo, e, nesse sentido, chegaria ao fim; mas isso não significa que haverá fim da consciência individual, com alguma forma de auto-identidade. 3. Doutrinas da Alma. Todas as filosofias que ensinam a imortalidade da alma automaticamente também ensinam alguma forma de salvação da alma, em alguma outra esfera da existência, alguma outra esfera não-material. O próprio gnosticismo, que não cria na pecaminosidade da alma imaterial, ainda assim afirmava que há uma salvação à espera da alma, quando ela puder livrar-se da matéria, o princípio do mal, segundo os gnósticos. E então haveria uma reabsorção no Ser divino, com a aparente perda da individualidade. Ainda segundo o gnosticismo, as almas inferiores, embora não condenadas (como os profetas do Antigo Testamento), podem atingir um mundo de bem-aventurança, mas não a participação na natureza divina. As almas inferiores, aquelas que não puderam libertar-se da matéria, seriam totalmente aniquiladas. 4. Várias Filosofias. Nos escritos de Hegel, tudo retornaria ao Absoluto, na grande e final síntese. No pensamento de Kant, a alma deverá ser condenada ou recompensada, mas ele não especulou para além dessas expectações básicas. No existencialismo ateu, não há nem alma nem salvação, apenas desespero. No existencialismo teísta, o finito ir-se-á aproximando sempre do Infinito, nunca deixando de progredir naquilo que é chamado de salvação. Nas filosofias científicas, como é o caso do positivismo, ensina-se que qualquer especulação metafisica é destituída de sentido, visto não possuirmos os meios para saber se são verdadeiras ou não. Portanto, segundo essa posição, a salvação é algo que não podemos discutir com inteligência, pelo que é um assunto que deveria ser evitado. No humanismo, a salvação é algo temporal e terreno, consistindo naquilo que é melhor para o homem, aqui e agora. No transcendentalismo, vê-se forte ênfase espiritualizada. O homem é uma alma, e deve buscar a vida permanente do espírito. Emerson acreditava no Sobre-ser, de onde o homem se originou e dentro do qual vive. V. No Cristianismo Apresento um artigo separado sobre a Salvação, o qual mostra a visão bíblica e teológica própria da fé cristã. Precisamos estar atentos ao fato de que o Novo Testamento (conforme exposto por seus vários livros e autores) não aponta somente um conceito da salvação. Os evangelhos sinópticos oferecem-nos a visão popular, que veio a predominar na Igreja. Ali a salvação consiste em ficar livre

SALVADOR Ver sobre Salvação. No grego, sotér; "libertador", "preservador", um vocábulo aplicado a homens poderosos, governantes e divindades antigas. Na Bíblia, supremamente, a Deus Pai e a Jesus Cristo. " ... a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador, a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum. Graça e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador" (Tito 1:3,4). Ver também João 4:42 e Efé. 5:23. Um conceito básico e subjacente a todo o Antigo Testamento é o de que Deus é o libertador de seu povo. Ali se ensina que ninguém pode salvar a si mesmo, e que só Deus é o Salvador. (Ver Sal. 44:3; Isa. 43:11; 45:21; 60:16; Jer. 14:8; Osé. 13:4.) No hebraico, salvador é um particípio, não um substantivo, o que parece indicar que, no Antigo. Testamento, a palavra não é tanto um título e, sim, uma descrição das atividades de Deus em prol de seu povo. Embora "salvador" não seja um dos títulos messiânicos do Antigo Testamento, o Messias

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SALVADOR - SALVOS PELA VIDA DE CRISTO também dos pastores e de vultos desprezados, como Zaqueu.

é ali descrito como alguém que viria para oferecer salvação a todas as nações (Isa. 49:6,8; Zac. 9:9). Homens poderosos, que Deus usava como instrumentos de libertação de seu povo, no Antigo Testamento, por igual modo, foram intitulados "salvadores" (ver Juí. 3:9,15; 11 Reis 13:5; Nee. 9 :27 e Oba. 21). A LXX emprega a palavra grega sotér em lugar do substantivo "salvação", pelo que o vocábulo se tornou comum aos ouvidos daqueles que se utilizavam do Antigo Testamento traduzido para o grego. A Igumas vezes, os gregos usavam a pai avra sotér como uma apelação divina. Como O faziam os hebreus, os gregos também usavam esse termo para indicar homens poderosos, como filósofos como Epicuro, ou governantes como Ptolomeu 1.E os romanos, a partir da época de Nero, usavam o vocábulo para referir-se a seus imperadores. No Novo Testamento, porém, o vocábulo jamais é aplicado para indicar um mero ser humano, mas exclusivamente a Deus Pai e a seu Filho, Jesus Cristo. Deus é descrito como salvador, no Novo Testamento, por ser ele o autor da salvação que Jesus Cristo veio trazer aos homens (Luc. 1:47; I Tim. I: 1; 2:3; 4: 10; Tito 1:3; 2:10; 3:4; Jud. 25). E esse é o título aplicado especialmente ao Senhor Jesus, no Novo Testamento. Desde o princípio ele foi anunciado como o Salvador do mundo (Luc. 2: 11). Embora o termo não seja usado no evangelho de Mateus, a missão de Jesus é descrita nesse evangelho como a missão Daquele que viera salvar o seu povo de seus pecados (Mal. 1:21). A distribuição das vinte e quatro ocorrências do vocábulo "Salvador", nas páginas do Novo Testamento, indica que, embora o termo já fosse empregado para referir-se à pessoa de Jesus, desde o começo do cristianismo, tornou-se um vocábulo especialmente importante já no final do período neotestamentário. Dois terços dessas ocorrências aparecem nos livros posteriores do Novo Testamento, a saber: dez vezes nas epístolas pastorais; cinco vezes em II Pedro; e uma vez em João, I João e Judas. O evangelho de Marcos e as primeiras epístolas paulinas não incluem o termo Salvador. Nas páginas do Novo Testamento, a palavra grega sotér aparece em Luc. 1:47; 2: 11; João 4:42; Atos 5:31; 15:23; Efé. 5:23; Fi!. 3:20; I Tim. 1:1; 2:3; 4:10; 11 Tim. 1:10; Tito 1:3,4; 2:10,13; 3:4,6; II Ped. 1:1,11; 2:20; 3:2,18; I João 4: 14 e Jud. 25. Palavras associadas ao termo "Salvador", no Novo Testamento, fornecem-nos maior discernimento sobre o seu significado no cristianismo primitivo. Jesus foi descrito no quarto evangelho como "o Salvador do mundo" no seu encontro com a mulher samaritana. Isso indica que a significação de Cristo é universal, não podendo ser limitada a um povo ou raça. Nas epístolas pastorais, é usada a expressão "aparecimento de nosso Salvador, Cristo Jesus" (lI Tim. 1: 10; cf. Tito 2: 13), que testifica de sua origem e glória sobrenaturais. Esse termo também é vinculado ao seu amor para com os homens (Tito 3:4; no grego, philanthropia). As associações da idéia sotér também apareciam comumente nos escritos dos gregos. O próprio Senhor Jesus interpretou sua missão como uma missão salvadora quando declarou: "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido" (Luc. 19: I O). O termo pressupõe a existência de algum perigo, de algum desastre, do qual o libertador arrebata àquele que é salvo. Tanto no Antigo (Isa. 53) quanto no Novo Testamento, sugere-se o livramento da pior aflição e tribulação que a humanidade conhece - a condenação do pecado. E, conforme se depreende da declaração de Isaías, também é enfatizado o ministério de Jesus em favor dos beneficiários de sua libertação. Ele não era Salvador apenas dos poderosos, dos ricos e dos eruditos, mas

SALVADOR, DEUS COMO Deus, Nosso Salvador (I Tim. 1: I). Normalmente, é Cristo quem é chamado de "Salvador", e não Deus Pai. Por vinte e quatro vezes é empregado o termo "Salvador", nas páginas do Novo Testamento; dessas vezes, oito vezes são atribuídas a Deus Pai, e dessas oito vezes, seis ocorrências aparecem nas "epístolas pastorais" (ver I Tim. 1:2; 2:3; 4:10; Tito 1:3; 2:10 e 3:4). A passagem de II Tim. I: 1O aplica esse título a Jesus Cristo. A epístola a Tito usa Salvador por seis vezes, e parece alternar deliberadamente para que diga respeito a Jesus e a Deus Pai. Nas demais epístolas paulinas, o termo "Salvador" ocorre somente em Fil. 3:20 e Efé. 5:23, e em ambas as ocasiões se refere a Jesus. Isso significa que a expressão "Deus, nosso Salvador", naquelas epístolas atribuídas a Paulo, é isolada nas "epístolas pastorais". Os trechos de Luc. I :47 e Jud. 25 atribuem essa expressão a Deus. O restante do Novo Testamento aplica o epíteto a Cristo, conforme se vê em Luc. 2: 11; Atos 5:31; 13:23; João 4:42; I João 4:14; II Ped. 1:1,11; 2:20; 3:2,18. Não obstante, trata-se de termo comum no Antigo Testamento. (Ver Sal. 106:21; lsa. 43:3,11; 45:15,21; 49:26; 53:8; 60:16 e Osé. 13:4.) É realmente estranho que, nos evangelhos, essas palavras jamais aflorem dos lábios de Jesus. É Deus quem se coloca em relação de Salvador para com os homens e, nas páginas do NT, isso é feito através da missão e do oficio intermediário de Jesus Cristo. Deus salva os homens de seus pecados e da alienação espiritual em que se acham, atraindo-os para si mesmo, para a sua glória, para a transformação segundo a imagem e a natureza de Cristo, a fim de que se tornem o que ele é e compartilhem de tudo quanto ele tem, em sua herança e glorificação (ver Rom. 8:29; II Cor. 3:18; Rom. 8:17,30; II Ped. 1:4). Quando alguém é salvo em Cristo Jesus, isso significa compartilhar finalmente de toda a plenitude de Deus (Efé. 3: 19), e não meramente ter os pecados perdoados ou mesmo tornar-se impecável. Até mesmo depois de um homem tornar-se impecável - o que só ocorrerá nos lugares celestiais ainda terá de percorrer o extenso caminho durante o qual se tornará o que Cristo é, para que alcance a plenitude daquele que é tudo para todos. Ora, é nisso que consiste realmente a salvação. (Ver o artigo sobre a Salvação.) Nas epístolas pastorais, este título evidentemente é usado como reprimenda contra o "gnosticismo", que julgava ser possível a salvação apenas de alguns poucos homens. Os gnósticos dividiam os homens em três classes, a saber: os "pneumáticos" (que seriam os passíveis de "salvação", constituída pela reabsorção na pessoa de Deus); os "psíquicos" (que poderiam receber menor grau de glória, em sua salvação); e os "hílicos" (que seriam a vasta maioria dos homens). Esta última classe deriva seu nome de um termo grego que significa "material". Portanto, tais homens se voltariam para a matéria, seriam "materialistas" e estariam destinados a perecer quando da destruição final da matéria - tais índivíduos eram reputados inteiramente fora do alcance da salvação. Mas Paulo rebate conclusivamente tal conceito: Deus é o Salvador e pode salvar a todos os homens. (Ver esse tema novamente enfatizado em I Tim. 2:3,4, onde o título de Deus, como Salvador, é reiterado.) SALVOS PELA VIDA DE CRISTO Como Somos Salvos Pela Vida de Cristo? (Rom. 5: 1O)

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SAMA - SAMARIA 5. Herodita, isto é, de Harode (Juí. 7.1). AinJsludmarca o antigo local, o que significa "fonte de Herodes", O homem chamado com esse nome era um dos trinta heróis guerreiros de Davi, que acabaram formando O núcleo de seu exército quando ele obteve o poder (11 Sam. 23.23,25). Samã é chamado de "Samute, o izraíta" em J Crô. 27.8, e Samote em I Crô. 1127. Viveu em torno de 1050 a.c.

I. Não porque imitamos a sua vida, mediante boas obras, nem por mérito humano. 2. Por causa da vida que ele viveu, como o Pioneiro do caminho de nossa salvação (ver Heb. 2: I O), porquanto nos mostrou o modo de viver em santidade e vitória espiritual. Cada um serájulgado de acordo com suas obras (ver Rom. 16). As notas existentes no NTI nessa referência oferecem importantes detalhes sobre quais diferenças estabelecem nossa vida, no tocante à entrada no estado eterno e no tocante à posição que ali ocuparemos. 3. Este versículo alude primariamente à sua "vida ressurreta". Cristo saiu do sepulcro dotado de nova forma de vida. Participaremos dessa nova forma de vida por ocasião de sua "parousia" (ou segunda vinda; ver I João 3:2). A ressurreição subentende, naturalmente, tanto a ascensão quanto a glorificação de Cristo, da qual também participamos, espiritualmente falando (ver Rom. 8:30). A ressurreição de Cristo possibilitou tudo isso, pelo que somos salvos pela sua vida. 4. Provavelmente este versículo também significa que somos salvos por sua vida, conforme ela agora é vivida, isto é, em seu ministério nos céus, por causa de sua intercessão (ver a respeito). 5. De modo geral, o versículo pode querer dar a entender que: "Sois salvos pela vida de Cristo, a qual ele agora está vivendo em vós". Isso estaria em consonância com o que o apóstolo dissera: " ... já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gál. 2:20).

SAMADHI Esta é uma palavra sânscrita que significa "concentração". É o oitavo e final passo na vereda da ioga, que procura obter a liberação. Ver o artigo geral sobre Ioga. SAMAI Do hebraico, "célebre". 1. Filho mais velho de Onã e pai de Nadabe e Abisur, viveu em torno de 1450 a.C. 2. Filho de Requem e pai de Maom, descendente de Calebe, da tribo de Judá, viveu em torno de 1450 a.c. 3. Há duas idéias sobre este homem: filho de Esdras da tribo de Judá (I Crô. 4.17), que viveu em torno de 1190 a.c. Ou, se a última cláusula do vs. 18 for inserida no vs. 17, após o nome Jotão, então compreendemos que se está falando do filho de Merede com sua mulher egípcia Bitia, filha do faraó. SAMARIA, CIDADE DE No hebraico, vigia. O nome desta cidade provavelmente originou-se do fato de ela estar situada em um morro alto, cerca de 65 km ao norte de Jerusalém. Samaria era uma importante cidade de Israel e tornou-se a capital do reino do norte após a cisão com o sul. A cidade deu seu nome à região ao redor dela e também a uma seita resultante de divisão posterior na fé judaica. 1. Geografia n. História 111. Descobertas Arqueológicas

SAMA Do hebraico, "ouvinte" , um dos trinta "heróis" ou guerreiros que atuavam como uma espécie de guardacostas de Davi, e depois tornaram-se o núcleo de seu exército. Era filho de Hotão, que nasceu em Aroer, cerca de 1048 a.c. Ver 1 Crô. 11.44. SAMÃ Do hebraico, "fama", "renome". Um homem do Antigo Testamento era assim chamado por esse significado. O mesmo nome em português, representando quatro outras pessoas, tem uma forma levemente diferente no hebraico. Esta forma significa desolação. 1. O homem cujo nome significava "fama" era um aserita. Foi o oitavo filho de Zofá, de acordo com I Crô. 7.37, e viveu em cerca de 1500 a.C. As quatro pessoas a seguir eram chamadas com aproximadamente o mesmo nome, no hebraico; o significado é desolação. 2. Filho de Reuel (filho de Esaú e Basamate, filha de Israel). Era líder de uma tribo (Gên. 36.13; I Crô. 1.37) e viveu em torno de 1700 a.c. 3. Irmão do rei Davi, terceiro filho de Jessé. Nos dias de Saul, engajou-se em batalhas contra os filisteus, Estava presente quando Davi derrotou Golias e também quando Samuel fez ungiu Davi como rei (lI Sarn. 13.3; I Crô. 2.13). É o Simei de 11 Sam. 21.20,21. Seu filho, Jônatas, matou outro gigante notável. Viveu em torno de 1050 a.c. 4. Filho de Age, o hararita (lI Sam. 23.11). Foi um dos três guerreiros mais poderosos de Davi, distinção que não era fácil de obter, considerando-se a farna de seus 30 "heróis". Alguns o identificam com o número 5, a seguir. Seu heroísmo em II Sam. 23.11, 12 é atribuído a Eleazar em I Crô. 11.10-14. Talvez ele tenha sido um dos três que trouxe ao rei Davi água da fonte de Belém (11 Sam. 23.1317). Viveu em torno de 1050 a.c.

I. Geografia O morro no qual a cidade foi construída ficava tinha cerca de 100 m de altura. Descansava em uma bacia hidrográfica formada pelo vale que vai de Siquém à costa, atualmente chamado de wadí es-Sair (o quase vale). Na primavera, o local brilhava com água e flores, mas as coisas secavam consideravelmente no verão. Samaria era cercada de morros por três lados. A oeste havia uma vista espetacu lar do vale abaixo, sobre os morros e ao mar, que ficava a cerca de 37 km. [I. História I. O sexto rei do rei do norte (Israel), Onri (que reinou entre 885 e 873), foi o fundador de Samaria (no hebraico, somron). Ele comprou a terra de Semer por dois talentos de prata (11 Sam, 24.24). Arqueólogos encontraram vários traços de propriedades rurais que datam entre os séculos XI e IX no morro de Samaria. O nome Samaria logo tornou-se sinônimo do reino do norte (I Reis 21.1; II Reis 1.3). 2. O norte logo tornou-se um leito quente de idolatria, com os principais santuários localizados em Dã e Betel (I Reis 12.29). Uma inscrição (de cerca de 800 a.C,}, encontrada em Kuntillet 'Ajrud (no norte do Sinai) implica que havia um santuário para Yahweh em Samaria, e podemos supor com certeza que tal santuário representasse um centro sincrético no qual Yahweh partilhava Sua glória com divindades inferiores (ou mesmo iguais). Acabe, filho de Onri, construiu um templo para Baal ali, como informa

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Samaria - Cortesia, Matson Photo Service

A Desolação de J erusalém

A Desolação de Jerusalém

SAMARIA I Reis 16.32. Jeú, ao realizar suas reformas, demoliu o santuário de Acabe e transformou-o em uma latrina (lI Reis 10.27), mas um santuário para a deusa Aserá persistiu (I Reis 16.33; II Reis 13.6; Amós 8.14). 3. A cidade teve seus dias de prosperidade e glória, especialmente na época dos reis Onri, Acabe e Jeroboão II (até meados do século VIII a.C.). O Samaria Ostraca (63 fragmentos de cerâmica inscritos) dá algumas informações gerais, especialmente sobre a riqueza acumulada pela cidade. 4. A história de Samaria foi, na prática, recheada de guerras e rumores de guerra. O país lutou contra Damasco (I Reis 20.24); Judá (I Reis 22.2; 11 Reis 8.26) e outros vizinhos. 5. Samaria mantinha bom relacionamento comercial e diplomático com os fenícios. Tecnologia e talentos artísticos foram emprestados desse povo para a construção e adorno da casa de marfim de Acabe (I Reis 22.39). A arqueologia descobriu centenas de móveis de marfim no local. Paredes de pedra calcária decoradas também foram descobertas e, novamente, havia marcas do trabalho fenício. Além disso, foram encontrados muitos itens de cerâmica, artefatos de bronze, impressões de selos e moedas representando períodos posteriores. 6. Em 722 a.c., os assírios invadiram o local, e os poucos sobreviventes ao ataque foram levados à Babilônia, além, é claro, dos poucos que ficaram e se misturaram a povos importados ao local pelos estrangeiros. O resultado da mistura foram os Samaritanos (ver). 7. Após o exílio babilônico do sul, o governador dos samaritanos foi o infamo Sambalate, que se opunha às tentativas de Neemias de reconstruir Jerusalém (Nee. 4 e 5). Havia oposição tanto religiosa como política. 8. Após a época de Alexandre, os samaritanos construíram seu famoso santuário no monte Gerizim, próximo a Siquém, mas alguns estudiosos insistem que isso não ocorreu até o período hasmoneano (século II a.C}, De qualquer modo, os samaritanos tornaram-se rivais rei igiosos do judaísmo principal, o que é refletido em João 4, que narra a história do encontro de Jesus com uma mulher samaritana. 9. Destruições. Alexandre destruiu a cidade em 331 a.c. e João Hircano repetiu a dose em 108 a.c. Roma a reviveu, e Herodes, o Grande, a embelezou em 63 a.c. Os romanos deram à cidade um nome novo, Sebaste. Naquela época Samaria tornou-se uma cidade maravilhosa, com ruas colunadas, um estádio, um teatro e vários templos. Mais uma vez foi nivelada durante a primeira revolta dos judeus contra Roma (66 - 70 d.C.). 10. Para referências do Novo Testamento, ver Luc. 9.5253; 10.29-37; João 4 e Atos 8, que dão informações boas e ruins sobre o povo chamado samaritano. Esse era um povo transnacional entre os judeus e os gentios. Na época do Novo Testamento, a cidade tinha uma população de cerca de 40 mil pessoas. A área do morro na qual ela foi construída, estimada em 20 acres, limitou seu crescimento. 111. Descobertas Arqueológicas I. Propriedades rurais ilustradas: ver 11.1. 2. Um santuário para honrar Yahweh: ver 1I.2. 3. O Samaria Ostraca: II.3. 4. Casa de marfim de Acabe e a prosperidade: n.5 5. Muitos outros itens de épocas posteriores: ver 11.5. 6. Vários prédios descobertos dos períodos de Onri, Acabe, Jeú e do século VIIl a.C. 7. Fortificações do mesmo período. 8. Muitas cisternas que mantinham a cidade abastecida durante o verão.

9. Contas de receita real e dos negócios do estado. 10. Menção a muitos nomes bíblicos em inscrições, algumas das quais continham também Yahu (Yahweh). 11.Figuras em marfim, papiro e outros materiais de escrita, leões, touros, esfinges, deuses egípcios e desenhos florais. 12. Os trabalhos de Herodes, o Grande, um construtor maior do que Salomão! (Ver 11.9.) Evidências da grandeza de Sebaste são abundantes, incluindo restos do templo de Herodes e outras construções. Expedições específicas foram realizadas nos períodos de 1908-10; 1931-33; 1935; 1952. A Samaria tem sido um dos principais sítios para escavações arqueológicas. A Samaria era uma cidade cosmopolita, sendo o lar de muitas etnias: judeus, samaritanos, gregos, romanos, macedônios, além de refúgio para muitos mercenários estrangeiros. Ver os artigos separados: Samaria, Território de; Samaritanos; Samaritano, o Pentateuco. SAMARIA, TERRITÓRIO DE Agora não estamos lidando com a Samaria, o sinônimo do reino do norte. A província de Samaria apareceu pela primeira vez na história dos macabeus quando o selêucida Demétrio recompensou Jônatas por levantar o embargo de Acra em Jerusalém, dando-lhe os três distritos de Samaria: Efraim, Lida e Ramataim. 1. Limites. É impossível determinar com precisão quais eram os limites, ou fronteiras, deste território (província), mas grande parte era composta de terras ocupadas em tempos remotos pelas tribos de Efraim e Manassés ao oeste. A fronteira do sul era marcada por uma estrada que ia de Jericó a Betel, A do norte cobria desde o monte Carmelo até o monte Gilboa e os morros que conectavam esses dois pontos altos. 2. Fertilidade. A área gerava abundantemente produtos agrícolas como uvas, azeitonas e várias frutas. Grandes bandos de aves e manadas eram suportados pela riqueza da terra. O território era servido por boas estradas, ao longo das quais ocorria considerável comércio. De fato, a maior parte do comércio entre o Egito e a Síria passava pelo distrito da Samaria. 3. História. Os samaritanos vieram a existir como resultado da mistura do pouco da população judia deixada na terra pelos assírios na época do cativeiro, com povos do norte que o conquistador enviou para ocupar a terra. Ver detalhes completos no artigo sobre Samaria, Cidade de e Samaritanos. Depois do cativeiro (722 a.C,}, Sargão 11 transformou o local em uma província e deu a ela o nome de Samerena. A única passagem do Antigo Testamento que fala do "território da Samaria" é 11 Reis 17.29. Os judeus remanescentes conseguiram preservar muito de seus antigos costumes, mas os do sul (Judá) e os de períodos posteriores os consideravam pagãos. O poder dos assírios enfraqueceu, e o domínio egípcio se estendeu. Josias tentou reconquistar o território, mas seu rival, o faraó Neco, controlava o local. Não muito tempo depois, o rei babilônico, Nabucodonosor, tornouse o novo dono (em cerca de 612). O mesmo aconteceu ao império assírio, que perdeu para a Babilônia. Jerusalém foi destruída em 587 a.C., como outro resultado da hegemonia babilônica. Os persas então dominaram os territórios babilônicos e a Samaria continuou sendo uma província sob um poder estrangeiro. Alexandre a livrou dos persas, e seguiram-se muitos incidentes sangrentos. Siquém tornou-se a única cidade de destaque do antigo território. O paganismo e o tipo samaritano de judaísmo misturaram os costumes e idéias judaicas, no sul, e o

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SAMARIA - SAMARITANO, PARÁBOLA DO Testamento. Ver mais descrições sob o ponto 3, a seguir. 3. O Pentateuco Samaritano e os Manuscritos do Mar Morto. As quatro cavernas em Qumran renderam muitos fragmentos sobre uma cópia mais antiga do Êxodo (catalogada como 4QExa), que aparentemente é um representante remoto do Pentateuco Samaritano. Este texto exibe as seguintes características: a. Em alguns lugares, fica próximo ao texto protomassorético do Antigo Testamento, portanto apresenta ocasionalmente uma leitura que representa o manuscrito original, contra o texto massorético padronizado. b. Tem grande número de passagens que concordam com a Septuaginta(versão grega), algumas das quais podem ser originais, enquanto outras não. c. O texto foi escrito com muito mais liberdade que os textos judeus padrões que produziram grande número de leituras inferiores: expansões, transposições, paralelos inseridos de outros trechos da Bíblia. Tais variantes reduziram o valor deste documento para crítica textual. d. Os fragmentos evidentemente datam do período macabeu, portanto são realmente antigos, mas ainda assim estão longe da data dos escritos originais.

paganismo, no norte. Ptolomeu levou prisioneiros da Samaria à Alexandria, e seu poder e prestígio caíram. Antíoco Epifânio (o rei selêucida, 175-163 a.Ci) aparentemente deixou o lugar em paz, de modo que a região passou por um período de renovação. A fé samaritanajá estava estabelecida havia muito, mas o templo do monte Gerizim foi dedicado a Zeus por Antíoco. Ele provavelmente também enviou seu próprio governador para reinar ali. Na época dos macabeus, o selêucida Demétrio recompensou Jônatas com três distritos da Samaria, sendo eles Efraim, Lida e Ramataim, para auxiliá-lo contra Acra, que estava impondo um embargo a Jerusalém. João Hircano conseguiu dominar grande parte do território da Samaria. Ele capturou Siquemand e destruiu o templo no monte Gerizim. Depois passou a controlar todo o território ao capturar Scitópolis. A época do controle judeu, contudo, não durou muito. Pompeu capturou toda a Palestina e anexou a Samaria à província da Síria. A história da Samaria é muito parecida com a da própria Israel. Ela passou de poder a poder, à medida que a maré de impérios humanos subia c descia.

SAMARITANO, PARÁBOLA DO Lucas 10:30-42. Esta seção das Escrituras foi registrada tão-somente por Lucas. Assim sendo, esbarramos novamente com algum material que Lucas descobriu no processo de suas investigações, o qual não esteve disponível ou, pelo menos, não foi utilizado pelos demais evangelistas. Esse material é chamado de fonte informativa L. (Quanto às fontes informativas dos evangelhos, ver o artigo intitulado Problema Sináptico, bem como os artigos separados sobre cada evangelho.) A parábola do bom samaritano foi dada a fim de ilustrar o importantíssimo mandamento da lei: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". Podem-se fazer as seguintes observações a respeito: I. Jesus ensina aqui um importante princípio da ética humanitária. O próximo pode ser uma pessoa inteiramente desconhecida. 2. O "próximo" pode ser de uma raça diferente, e até mesmo desprezada. 3. O "próximo" pode ser pessoa de outra religião, até mesmo conhecida como herética. 4. Contudo, os cuidados de Deus por toda a humanidade devem manifestar-se na vida de todos quantos são chamados pelo nome. É muito instrutivo que Jesus tenha escolhido um samaritano para a sua ilustração. Samaria, capital do reino israelita do norte, caiu ante o império assírio em 722 a.c. Embora o remanescente, que ficou na terra de Israel, tenha envidado o esforço de dar continuidade à adoração ordinária, a mistura gradual com povos colonizadores enviados de várias partes do império assírio, alterou paulatinamente a atitude e a adoração do povo, além de ter criado uma raça mista. As conquistas efetuadas pelos gregos, séculos mais tarde, aumentaram ainda mais essa fusão de raças. A oposição que se instaurou entre osjudeus de Jerusalém e os samaritanos parece ter sido de natureza quase inteiramente política, até o século V A.C. E o advento de Esdras e Neemias, com a nova ênfase sobre a pureza racial, fez crescer ainda mais a brecha entre essas comunidades. Os samaritanos haviam erigido um templo no monte Gerizirn e aceitavam a lei de Moisés, mas não os escritos dos profetas, como porções integrantes das Escrituras. Assim sendo, foram-se alargando cada vez mais as diferenciações religiosas. Lemos que, durante o tempo dos Macabeus, debaixo da pressão de elementos pagãos,

SAMARITANO, PENTATEUCO I. Origem. Os samaritanos originais eram uma mistura de hebreus que deixaram sua terra na época do cativeiro assírio (ver) com pessoas do norte que a Assíria havia enviado para ocupar a terra. Exatamente quanto era hebreu e quanto era pagão é discutido, mas uma paganização gradual fez com que o sul (Judá) considerasse a população do norte pagã e apóstata. De fato, uma fé rival surgiu com o santuário sagrado do norte estabelecido no monte Gerizim, enquanto Jerusalém era a cidade sagrada para aqueles do sul. Não há motivo para duvidar que cópias do Pentateuco (Torá) sobreviveram no norte, apesar da invasão assíria. Isto significa que essas Escrituras estiveram presentes todo o tempo. Um tipo de escrita que tinha cópias da Torá, vindas da Samaria, com letras hebraicas arredondadas, chamaram a atenção dos escribas, e logo essa se tornou a forma padronizada de escrever aquela língua. Mas, com o passar do tempo, as letras quadradas do estilo aramaico prevaleceram. 2. Variantes. O Pentateuco Samaritano aderiu ao antigo estilo hebraico de escrita e com o passar do tempo surgiram muitas variantes no texto. Ele difere do Pentateuco Judaico em cerca de 6.000 passagens, embora grande parte das diferenças não seja muito significativa. Às vezes, é o Pentateuco Samaritano que retém as leituras originais, c essa tem sido uma ferramenta importante para crítica textual da Torá, Alguns estudiosos supõem que a linhagem textual do Pentateuco Samaritano represente um texto anterior ao texto massorético padronizado (ver sobre Massora (Massorah); Texto Massorético). É seguro supor que ambos, o texto padronizado e o Pentateuco Samaritano, tenham perdido muitas de suas leituras originais, o que, contudo, não afeta a precisão geral do texto. Há grande semelhança entre as duas recessões da Torá, apesar do longo período de desenvolvimento independente. Às vezes o documento samaritano concorda com a Septuaginta, contra o Pentateuco hebraico. Devemos lembrar que a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (manuscritos hebraicos) demonstrou que as versões, particularmente da Septuaginta, às vezes preservam as leituras originais que foram perdidas no texto massorético padronizado. Talvez esse percentual possa chegar a 5%. Ver o artigo Manuscritos do Antigo

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SAMARITANO, PARÁBOLA DO - SAMARITANOS SAMARITANOS 1. Nome 11. Origem m. História IV. Teologia V. Pentateuco Samaritano VI. Samaritanos da Atualidade

o templo de Samaria foi dedicado ao deus Xênios. Os hasmoneanos(nomede tàmíliadosmacabeus) adquiriramgrande autoridade e popularidade em Israel,como também a ascendência sobre a comunidade religiosapassou paraas mãos dosjudeus que proclamavam Jerusalém como o centro da adoração a Jeová Em 63 a.c. Pompeu separou Samaria e a anexou à nova província da Síria. Subseqüentemente, a cidade se tornou lugar favorito nos domínios de Herodes, o Grande, que lhe deu o novo nome de Sebaste, em honra a Augusto. Os samaritanos também sofreram sob a repressão romana e em 66 d.C., Sebaste foi incendiada até os alicerces. As divergências religiosas entre os judeus de Jerusalém e os samaritanos giravam, essencialmente, em tomo do lugar de adoração, ao mesmo tempo que os samaritanos não aceitavam como Escrituras os escritos dos profetas e esperavam que Moisés voltasse como uma espécie de Messias (o que nos mostra que o conceito messiânico também diferia entre os dois povos). O templo samaritano de Gerizim era o principal fulcro do antagonismo, mas a mistura racial dos samaritanos era menosprezada pelos judeus de Jerusalém. (Ver outros comentários no NTI em Luc. 9:52 e Atos 8:5.) Jesus escolheu de propósito os desprezados samaritanos para ilustrar o correto tratamento que se deve dar ao próximo. Nem mesmo o altamente reverenciado levita (ver o vs, 32) demonstrou possuir o desenvolvimento espiritual e a graça para acudir a um semelhante em necessidade. Isso, juntamente com a mesma atitude exibida por um sacerdote (ver o vs. 3 I), deve ter sido especialmente contundente para os judeus que ouviam a Jesus. O vocábulo grego traduzido em português por parábola foi usado pelos tradutores da LXX para traduzir um substantivo hebraico, mashal, derivado de um verbo que significa "assemelhar-se". "Na literatura hebraica, um mashal poderia ser qualquer tipo de imagem verbal: um enigma, um provérbio, uma zombaria, uma símile, uma metáfora, um oráculo profético, uma símile detalhada, uma narrativa ilustrativa, uma história exemplar ou até mesmo uma alegoria. Por outro lado, o termo' parábola' , conforme utilizado nos evangelhos sinópticos, descreve um alcance similar de declarações figuradas, embora, no uso comum, se restrinja a três tipos: 'símile', 'parábola narrativa' e 'histórias exemplificadoras'. No primeiro e no segundo caso, a parábola ensina por analogia; e no terceiro caso, por um exemplo direto, que deve ser imitado ou evitado. 'Histórias exemplificadoras' só podem ser encontradas na tradição especial de Lucas e, além daquela ora em discussão (a parábola do bom samaritano), temos também a parábola do rico insensato, do rico e Lázaro e do fariseu e o publicano" (S. MacLean Gilmour, in loc.). Parece que Lucas tinha especial interesse nos samaritanos, fazendo Jesus demonstrar uma atitude favorável para com eles. Alguns têm imaginado, à base disso, que Lucas pode ter usado aqui um samaritano, no lugar de algum simples judeu leigo, que poderia figurar na história original, e que poderia ter sido usado para mostrar a falta de compaixão de um sacerdote, em contraste com um "leigo". Mas acerca disso não temos prova, e devemos depender de simples conjecturas. O conceito do bom samaritano jamais deve ser esquecido pelo mundo em geral, porquanto se trata de uma das mais nobres parábolas dos evangelhos, exibindo uma ética de gentileza fraternal de que o mundo inteiro necessita desesperadamente. Aquele a quem posso ajudar a qualquer momento, um ser humano como eu, é o meu próximo, sem importar as diferenças raciais, religiosas ou de posição social.

l. Nome Do hebraico shomeronee, habitantes de shomerone (um posto de vigia), derivado do fato de que a cidade capital, Samaria, era construída em um morro. Ver o artigo Samaria, Cidade de. Os samaritanos eram os habitantes do distrito (da cidade e de suas áreas adjacentes) chamado shomerone, que de modo geral é transliterado sem o e no final, como Shomeron. A única referência do Antigo Testamento com este nome é a de II Reis 17.29.

lI. Origem O reino do norte (chamado de Israel em contraste com o reino do sul, chamado de Judá) foi invadido pelo império assírio e, em 722 a.C; a Samaria e as outras cidades importantes foram dominadas. Seguiu-se então o cativeiro da maioria dos sobreviventes. Ver o artigo Cativeiro Assírio. Os hebreus que foram deixados misturaram-se então com os povos que os assírios enviaram para ocupar a terra. A população mista resultante foi chamada de "samaritana". Salmaneser V (726-722 a.C.) foi o captor. Seu sucessor foi Sargão lI. Ver o artigo sobre Salmaneser, que descreve cinco reis assim batizados. Quantos hebreus permaneceram na terra é um número disputado, portanto é diflcil determinar o percentual de hebreus em relação a outros povos importados, mas sabemos que o local era considerado pagão pelos judeus do sul e que o número de estrangeiros cresceu com o passar do tempo. Algumas raízes judaicas, contudo, nunca foram perdidas, nem mesmo com os samaritanos da atualidade. Hl. História A história subseqüente naturalmente apresenta um paralelo à da cidade de Samaria, portanto peço que o leitor leia o artigo correspondente para maiores detalhes. Ezra 4.2 indica que os samaritanos representavam uma etnia mista com um centro pagão, mas, mesmo na época do rei Ezequias (11 Crô. 30.11), do rei Josias (11 Crô. 34.9) e do profeta Jeremias (Jer, 41.5), "israelitas" do norte continuaram louvando a Yahweh; não havia, contudo, uma fé religiosa que fizesse um paralelo, em todos os aspectos, com à fé do sul. Os historiadores judeus registram sua história como descendentes dos colonos que os assírios plantaram no norte, revelando certo preconceito, talvez, mas não reconhecendo a todos da população hebraica que permaneceu na terra. lI Crô. 30.10, 1I informa-nos que, na época de Ezequias, as pessoas ainda vinham do norte para passar a Páscoa em Jerusalém. Os samaritanos também preservavam seu próprio pentateuco (ver sobre Samaritano. o Pentateuco). Manassés e Efraim continuaram sendo tribos frouxamente vinculadas e contribuíram com os reparos do Templo de Jerusalém (lI Crô. 34.9). Quando Zorobabel construiu o Segundo Templo, algumas pessoas do norte, afirmando-se adeptas do louvor a Yahweh, queriam participar da construção, mas foram rejeitadas (Esd. 4.2). É provável que os judeus não quisessem complicar sua renovação histórica do judaísmo com elementos dúbios do norte. Tal julgamento provavelmente estava correto, o que é demonstrado pelo fato de que Samba/ate, governador da província persa de Samaria, se opunha à reconstrução de Jerusalém (Nee. 2.106.14; 13.28). Ver o artigo separado sobre ele.

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SAMARITANOS - SAMKHYHA V. Pentateuco Samaritano Forneço um artigo separado sobre este assunto que o leitor pode consultar. VI. Samaritanos da Atualidade Ainda hoje um pequeno grupo de samaritanos vive em Nablo e em Jafa, hoje subúrbio de Tel Aviv. De acordo com um senso de 1960, havia 214 pessoas no grupo em Nablo e 132 em Jafa. O monte Gerizim continua sendo o local sagrado para eles, que ainda seguem os antigos festivais hebraicos como a Páscoa e o Dia da Expiação (seu dia mais sagrado). Além disso, o sábado é observado rigidamente. Seu sumo sacerdote é o líder político-religioso, com quem os "forasteiros" (como o governo) devem tratar no tocante a qualquer questão relacionada ao grupo. Embora pequena, eles ainda representam uma forte seita religiosa.

Josefo (Ant. XI. ViiLI-4) informa-nos sobre o templo que os samaritanos construíram no monte Gerizim, o qual, finalmente, acabou sendo um tipo de culto de cisma ao qual João 4 se refere no Novo Testamento. É impossível determinar exatamente quando os samaritanos construíram seu templo. A rejeição aos samaritanos continuou a crescer e tornouse intensa no período intertestamentário. Eclesiástico os chama de uma "não-nação" (50.25,26). O Testamento de Levi chama Siquém de "a cidade dos tolos". As referências do Novo Testamento fornecem observações tanto negativas como positivas. Ver Luc. 9.52-53; 10.29-37; João 4; Atos 8. IV. Teologia Informações do Antigo Testamento são escassas, mas podemos presumir que os samaritanos do norte, que estavam envolvidos com o culto a Yahweh, não eram muito diferentes de suas contrapartes do sul. Os samaritanos acreditavam que Josué havia construído um santuário no monte Gerizim, que foi o primeiro local centralizado para o louvor de Israel, vários séculos antes da construção do templo. Presumivelmente, então, o santuário em Silo era uma divisão. O mesmo era verdade (segundo a estimativa deles) sobre o templo em Jerusalém. "Nossos pais adoraram neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (João 4.20). A afirmação da mulher samaritana é apoiada em Juí, 9.7; DeU. 12.5; 11; I Reis 9.3; 11 Crô. 7.12. É claro, tais textos de prova nada têm que ver com uma situação "permanente", Muitas coisas aconteceram na cultura hebraica posterior que foram teologicamente tão importantes quanto acontecimentos anteriores. Nunca podemos colocar uma cerca ao redor de Deus e da espiritualidade e dizer "as coisas acabam aqui", ainda que denominações e até sistemas religiosos inteiros insistam em agir dessa forma. Além do mais, muitos textos bíblicos são informativos, não dogmáticos. Então, considere: a revelação move-se juntamente com o processo histórico, portanto nunca chegará uma época em que poderemos escrever "finis" sobre o avanço da revelação, do conhecimento e da espiritualidade. A maioria das informações que temos sobre a teologia dessas pessoas vem do século IV d. c., tarde demais para lançar alguma luz sobre o início do movimento. Baba Rabba foi o principal colaborador ao nosso conhecimento sobre este assunto. Em cerca de 300 d. c., os judeus começaram a excomungar e colocar os samaritanos em ostracismo e, dali por diante, as coisas azedaram de vez. A Iguns escritores judeus comparam os samaritanos com os saduceus, declarando que eles negaram a ressurreição do corpo e os trabalhos judeus "posteriores", mantendo exclusivamente o Pentateuco como suas escrituras canônicas. Logicamente, a principal objeção era a insistência deles em usar o monte Gerizim como local de louvor, e sua forte rejeição a Jerusalém como cidade sagrada. O samaritanismo posterior exaltava Moisés a tal ponto que os samaritanos lembram os cristãos em seu louvor a Jesus, o Cristo. Como osjudeus, eles esperavam (esperam) por um Messias, em cujas mãos ocorrerá o julgamento final. O gnosticismo teve sua parte na teologia samaritana posterior, e também houve certo relacionamento com os essênios. Muitas coisas eram (são) mantidas em comum com o judaísmo principal: o Pentateuco como a principal linha de doutrinas e práticas; a exigência absoluta da circuncisão; a manutenção do sábado sagrado; adesão às leis de dieta; a esperança messiânica; o julgamento futuro dos homens bons e maus, tendo o Messias como Juiz.

SAMBALATE I. O nome. Este nome é babilônico, significando "que Sin (o deus-lua) lhe dá vida" (sin-uballit), Ele deu aos seus filhos nomes que incluíam a referência a Yahweh (lI Reis 18.23), mas provavelmente apenas refletiam uma cultura sincretista, não uma devoção exaltada a Yahweh. 2. Ele era chamado de horohita, provavelmente uma referência a Bete-Horom, ao sul de Efraim (Jos, 10.10; 11 CrÔ. 8.5), considerada sua cidade natal. 3. Fundador do templo no Monte Gerizim. A única coisa que sabemos com certeza é que ele tinha algum tipo de poder civil ou militar na Samaria, no serviço ao rei Artaxerxes (Nee. 4.2), e tentou usar sua influência para deter a reconstrução de Jerusalém por Neemias. Ele contou com a ajuda de Tobias, o amonita, e de Gesém, o árabe (Nee. 2.19; 4.7). Seus planos falharam porque era o dia de Judá para a restauração, acabada que era a época para reversões. 4. Confirmação histórica. Entre os documentos dos Papiros Elefantinos há uma carta escrita por Sambalate e enviada a Bagoas, governador de Judá, Naquela época ele devia ser um homem velho. A época de sua força e influência foi 445 a. C. SAMEQUE A forma hebraica é Samek, o nome da 15" letra do alfabeto hebraico. Em algumas versões, esta letra é colocada no início da seção 15 do Salmo 119. Cada frase dessa seção dos salmos começa com essa letra, sendo este um instrumento literário ocasionalmente empregado por autores do Antigo Testamento. Ver o artigo sobre Alfabeto. SAMIR Palavra hebraica traduzida de várias formas: pedregulho, espinho, diamante. Uma pessoa e duas cidades eram assim chamadas: I. Filho de Mica, da tribo de Levi, e descendente de Izar (I Crô. 24.24). 2. Vila nas montanhas de Judá (Jos, 15.48), localizada cerca de 20 km a sudoeste de Hebrom. Talvez a moderna el-Birch, ou Somerah, marque o antigo local. 3. Uma cidade nas montanhas de Efraim também era chamada assim. Era a cidade natal e também foi o local do enterro do juiz Tola (Juí. 10. I, 2). Ninguém sabe como identificar sua localização geográfica hoje, mas talvez ela estivesse próxima à Samaria. A Septuaginta, seguindo esta idéia, chama a vila de Samaria em vez de Samir. SAMKHYHA Esta é a designação dos sistemas mais arcaicos de filosofia indiana, cujas raízes podem ser encontradas em meados do primeiro milênio a.c. Idéias dessa filosofia aparecem como elementos importantes no Mahabharata

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SAMLÁ - SAMUA com algumas das obras de arte mais finas já conhecidas no mundo antigo.

(incluindo o Bhagavadgita), nas Puranas e em algumas das Upanishadas. Samkhya foi uma escola líder de pensamento até cerca do século VI d.e., e a sua influência permeou a filosofia indiana. As Samkhvakarikas, escritas por Isvarakrishna, antes de 500 d.e., são as principais fontes de noções dessa escola. Mas também devemos pensar no comentário anônimo de nome Yuktidipika, escrito em cerca de 550 d.e., que atuou como outra fonte informativa.

SAMOTRÁCIA Este nome é um composto de Samos + Trácia e é de derivação incerta. 1. Localização. É uma ilha localizada na parte nordeste do mar Egeu. Diretamente ao norte ficava (e fica) o rio Hebro da Macedônia. Região montanhosa, um de seus picos atinge aproximadamente 1.800 m. Homero denominava o lugar "a ilha de Poseidon" (Iliada 13.12), devido à idéia de que, a partir de um pico elevado daquele lugar, Poseidon podia ter examinado Tróia em terra firme. 2. População. O lugar era bastante inóspito para a habitação humana, fato que justifica apenas no sétimo século a.e. termos alguma notícia de colonizações ali. Eventualmente, veio a ser uma região na qual os navios se detinham ao percorrer o norte do Egeu. Esse foi O caso de Paulo quando partiu em sua primeira viagem missionária, como se acha registrado em Atos 16: l l , que é a única referência neotestamentária da região. 3. A religião era uma grande atração no lugar. O culto a Cibele florescia, bem como aquele a Cabeiri. Nos tempos helenistas, o último rivalizava com os cultos a Dêmetra e Perséfones em Elêusis. Cabeiri eram deuses gêmeos, cujo culto atualmente é de origem desconhecida. 4. Arqueologia. As escavações começaram ali no século 19 e continuaram até o século 20. Vários artefatos de cultos religiosos antigos foram desenterrados, dos quais o mais famoso é a "Vitória Alada de Samotrácia", que agora pode ser encontrado no Museu de Louvre, em Paris. Originariamente, celebrava uma vitória naval dos ródios de aproximadamente 190 a.C.

Idéias: I. Foram rejeitadas todas as formas de monismo. 2. Uma eterna essência primária, a pradhana, composta de três constituintes qualitativamente diferentes (chamados gunas) distribui-se por todo o mundo dos fenômenos. 3. Em primeiro lugar, vem a manifestação da buddhis (mente, percepção, consciência), que evolui na ahankarq, "consciência individual". 4. Em seguida, teríamos as manas, os órgãos dos sentidos e os cinco elementos ou percepções distintas. Elas constituem a condição psicossomática humana. 5. Há um número infinito de purusa, "eus, ou almas", que seriam passivas ou impotentes, mas os prakrti, que evoluem a partir das purusa, seriam ativos. Todas as formas de percepção ou consciência são consideradas materialmente condicionadas. 6. Os prakrti seriam compostos de três elementos: sattava (consciência potencial); rqias (fonte de atividade); tamas (fonte de resistência à atividade). Esses elementos seriam responsáveis, respectivamente, pelo prazer, pela dor e pela indiferença. 7. Esses complexos elementos produzem o mundo dos fenômenos, conforme o conhecemos, e a dissolução do mundo presente ocorrerá quando todas as coisas retomarem ao prakrti original, que ainda não se manifestou. 8. Esse sistema é quase científico, no sentido que reduz a vasta variedade de fenômenos a tipos básicos, incluindo a mensagem de como os homens podem libertar-se do mundo dos fenômenos, obtendo assim a libertação, que reverte a evolução cósmica dos prakrti.

SAMPSAMES No grego, Sampsámes. Um dos lugares para onde o cônsul romano, Lúcio, escreveu uma carta, defendendo os judeus (ver I Macabeus 15:23). Talvez seja a mesma cidade moderna de Samsun, um porto de mar do mar Negro.

SAMLÁ Da palavra hebraica que significa veste, ou tecido, o quinto rei de Edom, com datas incertas. Ele sucedeu a Hadade (Gên. 36.36, 37; I Crô. 1.47,48). Um monarca muito antigo, reinou antes de a monarquia chegar a Israel.

SAMSARA Vocábulo sânscrito cujo sentido é "ciclo", referente aos ciclos da reencarnação. A morte fisica seria apenas uma pausa, antes que o indivíduo reinicie a sua existência, em outra vida terrena. O carma (ver a respeito) estará assim tendo cumprimento, e a liberação está sendo buscada na samsara. Ver o artigo geral sobre a Reencarnação. A cessação da samsara é chamada moksha, ou seja, "salvação". Ver o artigo intitulado Salvação em Várias Religiões.

SAMOS O significado desta palavra grega é desconhecido. Refere-se a uma importante ilha do mar Egeu, próxima ao litoral de Lídia, na Ásia Menor. Entre a costa e o continente há um canal estreito. A água se reduz a menos de 2 km em seu ponto mais estreito. A ilha em si é bem pequena, tendo aproximadamente uma extensão de 43 km e uma largura de 22 km. O terreno é montanhoso, mas seu solo é fértil e próprio para o cultivo de videiras e oliveiras, o que tem atraído os navios comerciais desde tempos muito antigos. Além desses produtos, a ilha era conhecida pela produção de uma cerâmica feita de um fino barro vermelho, um item comercial que também durou bastante tempo. Imigrantesjônios se estabeleceram ali e se tornaram particularmente prósperos no século quinto a.C. A área caiu então sob vários domínios, tais como a Pérsia, Egito, Pérgamo e Roma. Aliás, ela foi legada a Roma em 133 a.C., passando a fazer parte da província romana da Ásia. No primeiro século a.C., porém, tornou-se um estado independente. No tempo em que Paulo esteve rapidamente ali, em seu caminho da Grécia à Síria (Atos 20: 15), a ilha era a sede do culto a Juno, a quem estava dedicado famoso templo chamado Haraeon. Possuía um santuário sublimemente decorado

SAMUA Do hebraico "reconhecido", "falado", "rumor". Quatro pessoas eram chamadas assim, listadas a seguir em ordem cronológica: 1. Filho de Zacur, representante da tribo de Rúben, que ajudou o espião a sair da terra de Canaã na época de Josué, Ele fez um relatório mau, juntamente com a maioria, que desencorajava Israel a fazer a invasão naquela época. Viveu até cerca de 1490 a.c. Ver Núm. 13.4. 2. Filho de Davi, talvez com sua mulher Bate Seba (I Crô. 3.5), nascido em Jerusalém em 989 a.C, Até essa época, Davi havia mudado para Jerusalém, e seu harém era de tamanho considerável. Ver no artigo Davi uma ilustração da prática da poligamia. Ver também o artigo sobre Poligamia. O texto não é claro sobre quem foi a mãe. 3. Representante da família dos sacerdotes de Bilganos

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SAMUEL Aqueles a quem o Senhor não perdoara, e resolvera matar (cf. I Sam. 2:25). Não admira que os israelitas tenham sido novamente derrotados, que Hofni e Finéias tivessem sucumbido e, pior ainda, que a arca da aliança tivesse sido arrebatada pelos filisteus, a qual só foi devolvida por eles anos mais tarde, que alguns estudiosos pensam ter chegado a vinte. Ao receber a notícia da morte dos dois filhos e da tomada da arca da aliança, Eli, que estava sentado ao receber as más novas, caiu para trás, quebrou o pescoço e morreu, após ter julgado a Israel por quarenta anos. Obviamente, a fase dos juízes estava no fim, e uma nova ordem de coisas precisava começar. As palavras finais da viúva de Finéias, que estava grávida de últimos dias, e que teve um parto prematuro, mostram-nos uma opinião, provavelmente calcada sobre noções supersticiosas acerca da arca da aliança: Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus (I Sam. 4:22). Como se a glória do povo de Deus dependesse de um objeto, e não de sua aprovação por parte do Senhor! Embora a narrativa bíblica não mencione, nos livros históricos, a destruição de Silo, local do santuário do Senhor, há referências (Jer. 7:12,14; 26:6,9; Sal. 78:60) que dão a entender que isso sucedeu. Silo deixa de ser mencionada como centro religioso após o quarto capítulo de I Samuel. 4. Juiz de Israel Por muitos anos, Samuel julgou a Israel. Porém, tornou-se muito melhor conhecido como profeta, fazendo o povo abandonar a idolatria (l Sam. 7:1-4). Um dos episódios marcantes da vida de Samuel foi o que envolveu a ereção da pedra que ele erigiu entre Mispa e Sem, à qual chamou de "Ebenézer", dizendo: "Até aqui nos ajudou o Senhor" (I Sam. 7: 12). Como juiz, embora residente em Ramá, onde edificara um altar dedicado a Deus (I Sam. 7: 17), Samuel dirigia tribunais anualmente em Betel, Gilgal e Mispa (I Sam. 7:15,16), além de outras cidades não mencionadas nos registros bíblicos. Infelizmente, à semelhança do caso anterior de EIi e seus filhos, os filhos de Samuel, Joel e Abias, não se mostraram dignos de servir como juízes. Quando os israelitas requereram de Samuel um rei, a petição estava escudada em duas razões: negativamente, estavam desapontados com a delegação de autoridade, por parte de Samuel, e seus filhos; positivamente, eles queriam ter um rei e serem como as outras nações. Samuel ficou grandemente perturbado ante o pedido, mas o Senhor assegurou-lhe de que essa era sua vontade permissiva, e que Samuel deveria esboçar as responsabi lidades que os israelitas teriam de assumir, comandados por um rei (l Sam. 8: 1-22). 5. Unção do Rei Saul A comissão de Samuel para ungir Saul como rei deixava bem claro que um rei, em Israel, era "príncipe sobre o meu povo de Israel" (I Sam. 9: 16) e príncipe sobre a herança do Senhor, "o povo de Israel" (I Sarn. 10: I). Isso equivale a dizer que o rei daria contas a Deus pela autoridade que exerceria sobre os israelitas. As instruções que Samuel escreveu em um livro, chamadas o direito do reino, concordam com as instruções dadas no sétimo capitulo de Deuteronômio. (Ver I Sam. 10:25). Apesar de algumas boas vitórias iniciais, Saul, o primeiro rei de Israel, não demorou muito a incorrer no desagrado do Senhor. Samuel ainda intercedeu por Saul, mas este simplesmente não reagia espiritualmente, mas antes, mostrava-se voluntarioso e atrevido. As coisas chegaram a um extremo em que Samuel foi usado para avisar a Saul (e, incidentalmente, a todos nós): Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se

dias de Joiaquim. Neemias dá o nome alternativo de Bilgai (10.8). Ele estava na companhia que retornou a Jerusalém com Zorobabel. Ele e seu filho serviram como sacerdotes em torno de 445 a.C. 4. Levita, pai de Abda (Nee. 11.17), que viveu em 450 a.C., filho de Galal. E chamado de Semaías em I Crô. 9.16. Era um líder dos cultos do templo após o cativeiro babilônico. SAMUEL l. Nome e família No hebraico, "nome de Deus", ou então, "seu nome é El (Deus)". Samuel viveu durante o tempo de transição dos juizes para a monarquia hebréia. Com freqüência ele é alistado como o último dos juízes, cuja fase histórica foi substituída pela fase dos reis, dos quais o primeiro foi Saul. Em seu ministério, Samuel atuou como juiz, como sacerdote e como profeta. Portanto, é difícil classificá-lo apenas como juiz ou apenas como profeta. O primeiro livro de Samuel fornece-nos os dados básicos de sua vida. Os pais de Samuel foram Elcana e Ana. Elcana era levita, descendente de Coate, mas não da linhagem aarônica (I Crô, 6:26,33). Ele vivia no território de Efraim, visto que Ramá, onde residia, ficava no distrito montanhoso da tribo de Efraim. Ramá tem sido mais especificamente identificada com Ramataim ou com Ramatairn-Zofim (vide). Os pais de Samuel eram israelitas tementes a Deus, que iam anualmente a Silo, para adorar no tabernáculo. Ana, que não tinha filhos, fez uma petição fervorosa nesse sentido. No devido tempo, Deus concedeu-lhe o pedido. Ela chamou o menino de Samuel, cumprindo seu voto, ao dedicá-lo a uma vida de serviço ao Senhor. E assim, em vez de iniciar seus serviços com a idade de vinte e cinco anos, como era costume entre os levitas, Samuel passou a servir ao Senhor, no tabernáculo, quando ainda era menino. Elcana e Ana voltavam anualmente, suprindo o menino de roupas, enquanto ele era criado em Silo, sob a supervisão do sacerdote EIi. 2. Enfrentando condições adversas O ambiente que havia no tabernáculo não era bom, pois os filhos de EIi, Hofni e Finéias, não reverenciavam a Deus e nem respeitavam a seu pai, embora continuassem agindo como sacerdotes. Eli repreendia seus filhos brandamente, embora as suas imoralidades já fossem notórias diante de todo o povo de Israel. Deus advertiu EIi sobre o que sucederia a seus filhos e a sua família, mediante um profeta cujo nome não é dado (ver I Sam. 2:22-36). Foi nessas circunstâncias que a chamada divina foi dada ao menino Samuel (I Sam. 3:1-14). A Eli restava percepção espiritual suficiente para aconselhar Samuel corretamente. Quando Samuel respondeu, em atitude de obediência, "Fala, porque o teu servo ouve", recebeu uma mensagem de condenação referente a Eli e sua descendência. Eli respondeu, resignadamente: "É o Senhor; faça o que bem lhe aprouver" (I Sam. 3: 15-18). Após isso, Samuel foi-se tornando reconhecido nacionalmente como profeta do Senhor. A admirável graça de Deus transparece nas palavras: " ... 0 Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra" (I Sam. 3: 19). 3. Problemas com os filisteus Os filisteus estavam apertando muito aos israelitas. Em urna batalha, Israel foi derrotado, tendo perdido quatro mil homens. O povo exigiu a presença da arca da aliança no arraial. Mas, quem cuidava da arca? Hofni e Finéias!

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A Apresentação de Samuel

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••• As Cria.n.ça.s são suas, O, Senhor.

Por este zn.enino orava. eu,. e o Senhor D1e concedeu a yninba petição,. que eu lhe ti:nh.a pedido. (I S&..D1. 1: 27) Ao Senhor eu o entreguei por todos os dias que viver. (I Sa.D1. 1:28) Deixai os ID.enjnos,. e nã.o os estorveis de vir a 'D].j'D].; Porque dos tais é o reino dos céus. (M:a't. 19:14) ED1 verdade vos digo que, se não converterdes e n.ão vos :fizerd.es coxn.o:D1eninos,. de D1odo aIguxn en.tta.rei.s no rein.o de Deus. (M:at. 18:3)

DeSejai af'e~osarne:nte, CO:ID.O ID.eninos nova.I'DeDlt.e n.a.scid.os,. leite racional, não Ealsificado. ~ que por ele vades CIescendo. (I Ped. 2:2) Iuet;rue ao ID.enino no C8D'J!inho eDl. que deve andar e até quaDCio eu:velhecer não se

c:Iesvie:rá dele.(Prov. 22:6)

Cozno ftechas na DÚiodo valente, assb:n. s:Ao os ·fiDMMI daaDOCicl.ade. Beu::a.-aveDt;ura.do

o ·h.cM:neznqu-eenche deles a suaaIja:va. ~SaI_

127:4.5)

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SAMUEL - SAMUEL (LIVROS) obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti ..." (I Sam. 15:22,23). 6. Unção do Rei Davi Tempos depois, Samuel recebeu ordens para ir a Belém de Judá, ungir a outro escolhido do Senhor para reinar em lugar de Saul. Foi assim que Davi, filho de Jessé, foi ungido rei, embora ainda se passassem bem mais de dez anos, até ele receber o trono. Orelato sagrado, a partir da narração da unção de Davi, ocupa-se principalmente em retratar os episódios entre Davi e Saul. Mas, em I Sam. 25:1, lemos: "Faleceu Samuel; todo o Israel se ajuntou, e o prantearam, e o sepultaram na sua casa, em Ramá", Isso sucedeu quando Saul vivia caçando a Davi por toda a parte. 7. Última mensagem a SauI A última mensagem de Samuel a Saul ocorreu depois da morte do profeta, na presença da médium de En-Dor, Sem que a mulher pudesse controlar os acontecimentos, sem dúvida por permissão divina, Samuel falou diretamente com o rei, informando-o sobre a morte próxima dele e de seus filhos. De fato, isso ocorreu no dia seguinte (I Sam. 28:4-19). Ver sobre a Médium de En-Dor e sobre Consulta aos Mortos. O aparecimento de Samuel a Saul, após a morte do primeiro, constitui um dos capítulos mais estranhos da Bíblia. Por um lado, prova que há vida após a morte (pelo menos para quem aceita o testemunho da Bíblia); e, por outro lado, prova que pode haver o contato de espíritos de mortos com os vivos. Não queremos aqui abordar as conseqüências teológicas desse fato. Tratamos sobre isso algures, nesta enciclopédia. Aqui queremos somente frisar a possibilidade desse contato, que a Bíblia proíbe como algo intencionalmente buscado. (Ver Necromancia). 8. Caráter de Samuel Samuel é conhecido como grande homem de oração e intercessão (I Sam. 15:11; Sal. 99:6), por meio de quem Deus abençoou muito a Israel, fazendo seu antigo povo entrar em uma nova fase de sua história, a era do reino, que prefigurava o futuro reino messiânico. Samuel ocupa lugar proern inente entre os lideres e profetas do Senhor, por meio dos quais se evidencia que o favor do Senhor Deus continua com seu povo (Atos 3:24; 13:20; Heb. I I :32).

E, mesmo depois que a história passa a gravitar em torno, primeiramente, de Saul, então, de Saul e Davi, e, finalmente, de Davi apenas, Samuel continua aparecendo como uma das três personagens principais do relato, até a sua morte (ver I Sam. 25.1), inter-relacionando-se com Saul e Davi. De fato, Samuel continua a desempenhar importante papel no livro de I Samuel. O trecho de I Sam. 28.20 é a última menção a esse grande profeta de Deus. Interessante é observar que o nome de Samuel nunca aparece no livro de II Samuel. Isso se repete em ambos os livros de Reis. Mas o seu nome reaparece em I CrÔ. 6.28; 9.22; 11.3; 26.28; 29.29; I1 Crô. 35.18; Sal. 99.6 e Jer. 15.1 (no restante do Antigo Testamento); e também em Atos 3.24; 13.20 e Heb. 11.32 (no Novo Testamento). Seu nome, figura por um total de 136 vezes em toda a Bíblia, das quais 125 vezes em I Samuel. Esse nome significa "ouvido por Deus". Sarnuel era levita, filho de Elcana e Ana (ver a respeito desses nomes no Dicionário). Nasceu em Ramataim-Zofim, no território montanhoso de Efraim. Foi o último dos juízes e o primeiro dos profetas (depois de Moisés), uma categoria de servos de Deus que, quanto ao Antigo Testamento, prosseguiu até Malaquias, e, na verdade, até João Batista, o precursor do Senhor Jesus. Quanto a maiores detalhes sobre sua pessoa, ver na Enciclopédia o artigo sobre Samuel. 11. Caracterização Geral Como já dissemos, o cânon hebreu tinha um único livro de Samuel, que nós conhecemos como I e 11 Samuel. Foi na Septuaginta que, pela primeira vez, apareceu a divisão em dois livros, quando eles foram chamados "Livros dos Reinos" (no grego, blbloi bastleiõn a e b). Foi na mesma ocasião que os livros que chamamos de I e Il Reis apareceram como "Livros dos Reinos 111 e IV", visto que o conteúdo desses dois últimos continha o relato iniciado em I e 11 Samuel. Jerônimo, por sua vez, afixou o título "Livros dos Reis" (no latim, Libri Regum) a esses novos quatro livros. Foi também ele quem modificou o título "Reinos" para "Reis". E, finalmente, com o tempo, a Vulgata Latina conferiu o nome "Sarnuel", aos dois primeiros desses quatro livros. Os livros de Samuel, pois, historiam a transição do povo de Israel da teocracia para a monarquia. A teocracia (ver a respeito no Dicionário), que indica o governo de Deus sobre o povo de Israel, mediante homens divinamente esco Ihidos, como Moisés. Josué e os juízes (ver sobre esses termos também no Dicionário), foi iniciada no livro de Êxodo; instaurada na Terra Prometida, quando da conquista sob a liderança de Josué, e teve continuidade até os dias do próprio Samuel, que atuava como o agente escolhido por Deus para representar a teocracia. Isto posto, há um vinculo inegável entre os livros de Moisés, Josué, Juízes, Rute e I e II Samuel, como se fossem elos de uma corrente. Na verdade, a corrente prossegue nos livros de Reis e de Crônicas, dentro dos quais também devemos incluir os livros proféticos pró-exílicos, os livros dos profetas pós-exílicos e, finalmente, livros como Esdras, Neemias e Ester. Os livros poéticos (Jó a Cantares de Salomão), embora também nos propiciem alguns informes históricos, têm o seu material englobado nos primeiros livros bíblicos que mencionamos, que constituem o Pentateuco, os Livros Históricos e os Livros Proféticos (ver a respeito no Dicionário). Todavia, os livros de Samuel assinalam um período histórico todo especial na vida da nação de Israel: o período do surgimento da monarquia, com Saul e Davi. Organizacionalmente, a nação galgou um degrau na evolução de sua história;

SAMUEL (LIVROS) Esboço: L Nome 11. Caracterização Geral in. Autoria IV. Data V. Propósito VI. Estado do Texto VII. Problemas Especiais VIII. Teologia do Livro IX. Conteúdo e Cronologia X. Bibliografia I. Nome Nossos livros de I e 11 Samuel, no cânon hebraico, aparecem como um único volume. Isso é provado pela nota marginal, ao lado de I Sarn. 28.24, que diz que ali se encontra "a metade do livro". Naturalmente essa nota posta à margem não aparece em nossa versão portuguesa. O nome do livro deriva-se de uma das três personagens principais da obra, o profeta SamueL Ele aparece, com proeminência, nos primeiros quinze capítulos de I Samuel.

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SAMUEL (LIVROS) de duas narrativas independentes acerca de Davi. A primeira delas seria uma boa biografia; e a segunda era mais lendária quanto à sua natureza. A isso teriam sido acrescentados relatos independentes sobre a arca, sobre Saul e sobre o profeta Samuel. e. A escola tradicional histórica enfatiza que teria havido ciclos de sagas em torno das vicissitudes sofridas pela arca da aliança, a respeito dos quais se criaram crônicas históricas um tanto desconexas entre si. Alguns membros dessa escola adiam a fase escrita dos livros de Samuel até os tempos pós-exilicos. f. A maioria dos criticos pensa que os livros de Samuel refletem tanto fontes informativas exatas quanto meras tradições orais, pelo que seu valor histórico flutuaria muito. Muitos deles crêem que os relatos fragmentares sobre Davi, de ] Sam. 16 a II Sam. 8, não passam de uma novela histórica, com o propósito de glorificar Davi. Essas narrativas teriam sólida base histórica, mas com muitos adornos fantasiosos. Por outra parte, o material de II Sam. 8-20 consistiria, juntamente com os livros de I e II Reis, em "narrativas de sucessão ao trono". Muitos críticos dão mais valor histórico a essa porção de Samuel (11 Sam. 920) do que a todo o restante do livro. O quadro formado pelos críticos torna-se extremamente complicado quando eles supõem ter havido um propósito "político" nos livros J e 11 Samuel e de I e II Reis. Quanto às complexas idéias desse grupo, queremos destacar apenas que eles pensam que os trechos de I Sam. 15 a Il Sam, 8 representam uma "apologia" da dinastia davidica, em tudo superior à dinastia de Saul. Preferimos ficar com a idéia de que o âmago dos livros de I e II Samuel consiste nas crônicas históricas de Samuel, Natã e Gade. E, então, algum autor-compilador-editor, para nós desconhecido, formou a obra com base nos escritos daqueles três, utilizando-se também do "Livro dos Justos" (ver II Sam. 1.18), uma fonte informativa histórica que ele sem dúvida, usou, pois isso ele próprio mencionou. O trabalho desse compilador talvez explique como pode ter havido uma transição suave de episódio para episódio e de seção para seção nos livros de Samuel, conferindolhes assim a inequívoca unidade. Por trás desses livros há um propósito único (ver a seção V, Propósito), e eles foram escritos em uma linguagem uniforme. IV. Data A questão da data dos livros de 1e II Samuel depende, em muito, da questão de sua autoria. Assim, se Samuel, Natã e Gade foram os autores essenciais, então esses dois livros foram escritos durante os dias do reinado de Davi, ou imediatamente depois. Todavia, os estudiosos pensam que certas porções da obra, particularizando I[ Sam. 9-20, teriam sido escritas no século X a.c., ao passo que outras porções são atribuídas por eles a períodos posteriores, que se estenderiam até depois do exílio babilônico. Mas, se a idéia de "apologia" davídica tiver de ser aceita (ver anteriormente), então, pode-se argumentar em favor de uma data anterior para aqueles capítulos. E isso porque a necessidade de tal defesa da dinastia davídica seria uma imposição nos dias do próprio Davi e nos dias de Salomão, mas especialmente durante os primeiros anos do governo de Davi, quando seu trono estava seriamente ameaçado, de sorte que apenas a tribo de J udá o aceitava como rei, ao passo que as demais tribos permaneciam em compasso de espera. Ver II Sam. 2.14.12. Em I Sam. 27.6 lemos que "Ziclague pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje". Isso pode indicar ou que o livro de Samuel foi escrito durante os dias da monarquia

espiritualmente, porém, houve algum retrocesso, que só será anulado por ocasião da segunda vinda do Senhor Jesus. Todavia, como o Senhor nunca é frustrado em Seus planos eternos, a monarquia, afinal, acabou contribuindo para que o palco fosse armado para a primeira e a segunda vinda do Senhor Jesus; porquanto Cristo, quanto à carne, é descendente de Davi, o segundo e mais importante dos monarcas da nação de Israel. 111. Autoria Os próprios livros históricos da Bíblia nos fornecem algumas indicações sobre a autoria de I e 11 Samuel. Lê-se em I Sam. 10.25: "Declarou Samuel ao povo o direito do reino, escreveu-o num livro, e o pôs perante o Senhor". E também somos informados em I Crô. 29.29: "Os atos, pois, do rei Davi, assim os primeiros como os últimos, eis que estão escritos nas crônicas, registrados por Samuel, o vidente, nas crônicas do profeta Natã e nas crônicas de Gade, o vidente". Esses trechos bíblicos dão-nos a entender que, pelo menos em parte, Samuel é um dos autores do âmago da narrativa de I Samuel e também que Natã e Gade, que viveram na geração seguinte à de Samuel, tiveram participação nessa obra. Que outros autores dos livros de Samuel (I e li) possam ter participado já não passa de especulação, pois a Bíblia faz total silêncio a respeito. A autoria dos livros de Samuel, pelo menos em parte, é confirmada pelo Talmude (ver Baba Bathra 14), que diz que esse profeta escreveu os livros de Samuel. É claro que Samuel não pode ter sido o autor da obra inteira (J e II Samuel, segundo o nosso cânon), porque ele morreu quando Saul ainda era rei; assim Samuel não pode ter acompanhado nem mesmo o começo do reinado de Davi, com cujo governo se ocupa o livro de 11 Samuel, embora possa ter sido autor do âmago inicial de I Samuel. A composição dos livros de I e II Samuel, por isso mesmo, tem dado margem a diversas teorias: . a. A alta crítica oferece mais de uma opinião acerca da origem dos livros de Samuel. Eles falam em contradições "óbvias", relatos duplicados e outras evidências de múltipla autoria. Para eles, essa múltipla autoria explicaria tais problemas, criados no decorrer de muito tempo, em que os autores envolvidos tanto teriam apelado para informes históricos dignos de confiança quanto para informes meramente orais e tradicionais. Outros estudiosos da alta crítica acham que grande parte de Deuteronômio a Reis foi reescrita entre 621 e 550 a.c., e que esses compiladores foram os responsáveis pela composição final de I e 11 Samuel. b. A maioria dos estudiosos acredita que I e 11 Samuel se formaram pela mistura de várias fontes informativas, que seriam duas ou três. Eissfeldt vincula os livros de I e 11 Samuel às fontes informativas 1.E e L. as duas primeiras da teoria 1.E. D. P. (S.) (ver a respeito no Dicionário), e L sendo uma criação dele, para denominar informantes "leigos". Todos os estudiosos que apelam para essa teoria pensam que os livros bíblicos, de Gênesis até Reis, tiveram por base essas supostas fontes informativas. A suposta fonte informativa L representaria opiniões populares, sem interesses teológicos, mas com a atenção concentrada na arca da aliança. c. Bentzen expressa dúvidas se as fontes J e E realmente prosseguem nos livros de I e li Samuel. Albright nega explicitamente a validade das fontes informativas J e E quanto aos livros de Samuel. De fato, ele pensava que nenhuma teoria baseada em supostas fontes informativas poderia ser formada no tocante aos livros de Samuel. d. Segal, que também rejeitava a hipótese de tais fontes informativas documentárias, prefere pensar na combinação

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SAMUEL (LIVROS) portuguesa, juntamente com outras, atrapalha ainda mais a passagem. A tradução emendada diz. conforme a NIV: "Saul tinha trinta anos de idade quando se tomou rei; e reinou em Israel por quarenta e dois anos". Entretanto, a nossa versão portuguesa diz: "Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano do seu reinado sobre o povo.:", Permanecem desconhecidas as razões pelas quais o texto massorético sobre os livros de Samuel apresenta maior número de dificuldades do que o texto de qualquer outro livro do Antigo Testamento. Há estudiosos, como Archer, que sugerem que o texto oficial, formulado durante o período intertestamental, dependeu de uma antiga cópia, desgastada pelo uso ou mesmo atacada por insetos. E os massoretas teriam reproduzido fielmente o texto "oficial", Outros, como Segal, crêem que os livros de Samuel foram negligenciados em face da competição feita pelos livros mais populares de Crônicas. Por ser menos lido, o texto de Samuel, de alguma maneira, veio a sofrer de corrupções várias. Interessante é que fragmentos do manuscrito dos livros de Samuel, entre os chamados Manuscritos do Mar Morto, sobre os quais se baseou a tradução da Septuaginta (ver a respeito ambos os termos no Dicionário), mostram-se superiores à tradição massorética. Cross tem estudado várias passagens nas quais o material das cavernas de Qumran se assemelha muito com a Septuaginta, sobretudo o códex B. Isso indica que os tradutores dessa versão do Antigo Testamento para o grego manusearam o texto hebraico com extrema fidelidade, pelo que seriam mais dignos de confiança do que o foram até bem pouco tempo, entre os estudiosos. Pelo menos nos dois livros de Samuel, a versão da Septuaginta reveste-se de grande valor na determinação do verdadeiro texto de muitas passagens problemáticas. Albright opinou que as cópias mais antigas de Samuel, entre o material encontrado nas cavernas de Qurnran, exibem superioridade tanto em relação ao texto hebraico massorético quanto em relação ao texto da Sept~\'1ta. Os estudiosos estão preparando uma edição melhorada do texto de I e 11 Samuel, com base nesses achados de Qumran (ver a respeito na Enciclopédia). Esperemos, pois, por essa edição! VII. Problemas Especiais Os críticos geralmente apontam para três problemas especiais existentes nos livros de Samuel: a. relatos duplicados; b. a identidade de quem matou Golias; e c. dificuldades em tomo da feiticeira de En-Dor. No tocante ao primeiro desses problemas, os estudiosos encontram discrepâncias e contradições no texto dos livros de Samuel. De acordo com eles, as descrições dos mesmos eventos, de duas maneiras diversas, deixam-nos "entrever" o uso de diferentes fontes informativas, ou então a existência de relatos paralelos, o que revelaria, no mínimo, a mão de mais de um autor do livro. Ver a terceira seção, sobre Autoria, anteriormente. Exemplos de duplicação seriam os seguintes: Por duas vezes Saul é feito rei, por duas vezes, igualmente, Davi foi apresentado a Saul; e por duas vezes os habitantes de Zife informaram a Saul acerca do local onde Davi se ocultava. Além desses casos, eles falam em várias outras duplicações. Mas, em cada um dos casos apresentados, sempre se pode encontrar uma explicação satisfatória. o que reduz a nada essesproblemas especiais, criados pelos críticos. Assim, os eventos que cercam as duas "coroações" de Saul foram acontecimentos diferentes um do outro. Na primeira ocasião, Saul foi escolhido mediante o lançamento de sortes e, então, foi apresentado ao povo.

dividida, isto é, após Salomão, ou então que essas palavras foram inseridas posteriormente. Os eruditos conservadores fazem variar a data dos livros de Samuel desde 970 a.C. (pouco depois da época de Davi) até 722 a.C. (época em que a cidade de Samaria foi destruída pelos assírios e começou o exílio de Israel, nação do norte). Todavia, a ausência de qualquer referência à queda de Samaria provê um extremo temporal seguro. Os livros de Samuel não podem ter sido escritos após a queda de Samaria. Doutra sorte, haveria alguma alusão a esse acontecimento, por demais importante para ter sido esquecido por um autorcompilador, caso, porventura, já tivesse ocorrido. V. Propósito Os livros de Samuel, como já dissemos, foram escritos para apresentar uma narrativa conexa dos eventos que cercaram a instauração da monarquia em Israel. Esses livros historiam tanto a carreira do último dos juízes, que também foi o primeiro (depois de Moisés) da longa série de profetas, Samuel, quanto os acontecimentos que circundaram a vida de Saul e Davi, os dois primeiros reis de Israel. Portanto, os livros de Samuel assinalam um período crítico de transição. É com toda a razão que os livros se chamam I e 11 Samuel, porque o papel desempenhado por esse profeta de Deus é crucial para a correta compreensão tanto da instauração da monarquia quanto do desenvolvimento do oficio profético no Antigo Testamento, que terminou com a figura fulgurante de João Batista, precursor do Senhor Jesus. Foi Samuel, o agente da teocracia, quem deu legitimidade à dinastia davídica, diante dos olhos um tanto duvidosos de toda a nação de Israel. As lições morais e espirituais que derivamos das experiências pessoais de Samuel, de Saul e de Davi também se revestem de importância capital. Um ponto a destacar, nessas lições, é a atitude de desobediência a Yahweh, por parte de Saul. Isso o condenou aos olhos do Senhor, que o rejeitou como rei. Esse é um dos pontos altos da narrativa. "... visto que rejeitaste a palavra do Senhor, já ele te rejeitou a ti, para que não sejais rei sobre Israel" (I Sam. 15.26). Outra dessas lições foi a queda de Davi, no caso de Bate-Seba, que quase lhe custou a coroa e a vida (ver II Sam. 11.1-12.25). Contudo, a despeito de seus graves defeitos, Davi era o escolhido e ungido do Senhor, pelo que a sua dinastia foi firmada. O Senhor estabeleceu com Davi o chamado pacto davídico (ver 11 Sam. 7.1-29). De acordo com os termos desse pacto, o Messias procederia da casa de Davi consoante as palavras do Senhor, através do profeta Natã: "Quando teus dias se cumprirem, e descansares com teus pais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino" (lI Sam. 7.12,13). Acrescente-se a isso que os livros de Samuel fornecem um excelente pano de fundo para alguns dos salmos. E, finalmente, vários fatos importantes acerca da cidade de Jerusalém são esclarecidos no livro. O propósito dos livros de Samuel é, pois, multifacetado. VI. Estado do Texto O texto hebraico tradicional, representado pelo texto massorético (ver a respeito na Enciclopédia), mostra-se estranhamente defeituoso no que conceme a I e 11 Samuel. Há mesmo casos nos quais as emendas são imperiosas, por motivo de textos muito mal preservados. Para exemplificar, temos I Sam. 13.1, que omite o número de "anos", ao descrever a idade de Saul. Nossa versão

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SAMUEL (LIVROS) Porém, alguns "filhos de Belial" (I Sam. 10.27) mostraram dúvidas quanto à sua capacidade de governar a nação, e recusaram-se a reconhecê-lo. No capítulo 11 de I Samuel, Saul liderou o exército de Israel a obter uma vitória decisiva sobre os amonitas, e Samuel reuniu o povo em Gilgal, a fim de que renovassem o "reino" (I Sam. 11.14). Então todo o povo proclamou Saul como seu rei (vs. 15), em meio a grandes demonstrações de regozijo e unidade. As palavras "proclamaram a Saul seu rei" não aparecem no capítulo 10; e a referência à renovação ou confirmação do reino deixa entendido que Saul havia sido previamente designado como rei. Davi foi inicialmente apresentado a Saul (ver I Sam, 16.21). Na oportunidade, Saul recebeu-o como músico e armeiro, e o jovem Davi foi contratado para acalmar, com sua música, o perturbado monarca. Mas, depois que Davi retornou do campo de batalha, onde matara o gigante Golias, Saul indagou: "De quem é filho este jovem, Abner?" (I Sam. 17.55). Mas Abner não sabia dizê-lo. Há aqueles que interpretam isso como se Saul houvesse esquecido o nome de Davi. Notemos, porém, que a dúvida não estava sobre a identidade de Davi e, sim, de seu pai. O rei repetiu a pergunta diretamente a Davi: "De quem és filho, jovem?". E Davi, havendo entendido que Saul não perguntava por seu próprio nome (de Davi) e, sim, pelo nome de seu pai, respondeu: "Filho de teu servo Jessé, belemita" (I Sam. 17.56-58). Como vemos, novamente, a falta de atenção levou alguns eruditos a imaginar que Davi precisou ser apresentado por duas vezes a Saul, o que teria sido realmente estranho, para dizer o mínimo. A indagação de Saul acerca do pai de Davi fica ainda bem compreendida em face de I Sam. 17.25-27, onde o rei prometera que o homem que matasse o gigante Golias não pagaria os impostos da casa de seu pai. Para que Saul cumprisse a promessa, era mister saber o nome do pai de Davi, que abatera ao atrevido gigante. A promessa dizia: "A quem o (ao gigante) matar, o rei cumulará de grande riqueza, e lhe dará por mulher a filha, e à casa de seu pai isentará de impostos em Israel" (vs. 25). Lembremo-nos de que, naquele periodo de sua vida, Davi ainda não era o famoso rei Davi e, sim, apenas umjovem cortesão, músico, proveniente de uma família que até então não havia alcançado notoriedade em Israel. Também poderíamos argumentar que a mente do rei estava tremendamente perturbada, por permissão de Deus, o que também pode ter contribuído para o seu esquecimento quanto ao nome do pai de Davi. Além disso, I Sam. 18.2 afirma que Saul, depois que Davi matou a Golias, não lhe permitiu retornar à casa paterna, sugerindo uma diferença em sua maneira de tratar o jovem, o que deve ser entendido em confronto com I Sam. 17.15. Os dois episódios que envolveram os zifitas são também superficialmente semelhantes. Nos capítulos 23 e 26 de I Samuel, os habitantes de Zife levaram ao conhecimento de Saul informações sobre o paradeiro de Davi. Os dois eventos, porém, envolvem circunstâncias muito diferentes, em períodos diferentes, embora o local envolvido, como esconderijo de Davi, fosse o mesmo: o outeiro de Haquilá. Um caso similar a esse foi o de Abraão, que apresentou Sara como sua irmã, por duas vezes, nos capítulos 12e 20 do livro de Gênesis. Mas os críticos não argumentam que ali houve duplicação de narrativas, em face de fontes informativas diferentes! A impressão que se tem é de que os críticos, querendo fazer prevalecer sua opinião sobre as origens de diversos livros antigos da Bíblia, criam hipóteses que depois não são capazes de consubstanciar. Conforme dissemos anteriormente, outro problema

especial criado pelos intérpretes gira em torno da pergunta: "Quem, realmente, matou Golias?", Certos críticos pensam que houve uma versão mais popular do feito, segundo a qual O matador do gigante teria sido E/anã. Entretanto, na verdade, Elanã(de acordo com 11 Sam. 21.19) é quem teria abatido o gigante. Mas, posteriormente, o feito teria sido transferido para Davi, a fim de tomá-lo uma figura heróica, capaz de ocupar o trono de Israel. Essa suposição, contudo, esbarra com dificuldades intransponíveis. Se Davi não tivesse matado Golias, como explicar o intenso ciúme de Saul? E como explicar o cântico triunfal, que atribuiu, imediatamente em seguida, o triunfo a Davi (ver I Sam. 18.7)? Essa suposta dificuldade teria sido prontamente dirimida mediante a atenção ao trecho de I Crô. 20:5, onde se lê: "... e Elanã, filho de Jair, feriu a Lami, irmão de Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de tecelão". Isto posto, Davi matou Golias, e Elanã matou Lami, irmão de Golias. Não há nenhuma duplicação de relatos. Evidentemente, houve um erro primitivo de transcrição em 11 Sam. 21.19, onde se lê: " ... e Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo do tecelão". Mas essa passagem, quando comparada com aquela outra, de I Crônicas, fica esclarecida O que houve não foi a repetição de relatos, na qual em um deles Davi teria sido o matador de Golias, e, em outro, o matador teria sido Elanã. O que, realmente, houve, foi um erio primitivo de transcrição. E acerca da feiticeira de En-Dor? Sobre o que objetam os críticos? Alguns declaram que, em face de certas proibições bíblicas, o contato de vivos com os mortos não pode ter acontecido. Tudo teria sido apenas um fenômeno psicológico, talvez fruto da condição perturbada de Saul. Um ponto de vista mais conservador admite que Deus permitiu que Saul visse uma forma semelhante a Samuel, embora tudo não passasse de uma visão, e não do corpo ou do espírito real daquele profeta. Entretanto, a explicação mais certa e óbvia é aquela que reconhece que Samuel realmente apareceu a Saul em forma visível, e que o profetajá morto realmente comunicou-se com Saul. O relato está no capítulo 28 de I Samuel. A médium de En-Dor, diante da pergunta de Saul: "Não temas; que vês?", replicou: "Vejo um deus que sobe da terra" (vs. 13). Sabemos que os médiuns espíritas e outros realmente se comunicam com espíritos dos lugares tenebrosos. Isso é ensinado desde o livro de Gênesis, no caso dos magos do Egito. Esses médiuns, porém, não têm normalmente contato com espíritos remidos. Portanto, Deus deve ter intervindo, permitindo o aparecimento de Samuel à vidente de En-Dor. Isso surpreendeu à mulher, que gritou. Que os mortos podem aparecer aos vivos, vê-se no caso de Moisés e Elias, que apareceram juntamente com o Senhor Jesus, quando de sua transfiguração, diante de três 'de seus discípulos: Pedro, Tiago e João (ver Mal. 17.1-8; Mar. 9.14-29 e Luc. 9.37-43). Esse episódio, juntamente com o do aparecimento de Samuel após a sua morte, por intermediação da médium de En-Dor, incidentalmente prova a existência consciente dos espíritos humanos que daqui partiram, por força da morte biológica; além de ser um fortíssimo apoio à doutrina da imortalidade da alma! Por conseguinte, toda essa objeção à aparição de Samuel à feiticeira de En-Dor, e ao recado que ele deu a Saul, baseia-se naquela razão que foi dada pelo Senhor Jesus aos saduceus: "Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" (Mal. 22.29). VIII. Teologia do Livro Embora a ênfase principal dos dois livros de Samuel seja histórica, e não-teológica, vários capítulos contêm

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SAMUEL (LIVROS) importantes doutrinas, que nos são ensinadas de maneira inequívoca. Três são as lições teológicas destacadas nos livros de Samuel: A. A Vontade Soberana de Deus. Muitos estudiosos ficaram perplexos diante da atitude de Deus em relação ao estabelecimento da monarquia em Israel. Indícios suficientes indicam que Deus não ficou satisfeito com o fato de que os israelitas rejeitaram o governo teocrático. Ver I Sam. 8.7, onde se lê: "Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles". Mesmo assim, o homem de Deus tentou dissuadir o povo de desejar um rei; mas a maioria esmagadora do povo mostrou-se inflexível na exigência de ter um monarca que os conduzisse às batalhas conforme sucedia aos povos em derredor. Por outro lado, antes mesmo de Saul haver sido ungido rei, Deus prometeu abençoá-lo e usá-lo para livrar seu povo dos inimigos, segundo se aprende em I Sam. 9.16: "Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos fiI isteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim". É evidente que devemos traçar uma distinção entre a vontade diretiva e a vontade permissiva de Deus. Assim, o desejo que os israelitas tiveram de um rei foi um desejo pecaminoso, mas o Senhor Deus contornou isso, permitindo que, ainda assim, o povo fosse abençoado. Outro aspecto da vontade de Deus diz respeito à questão da predestinação em relação à responsabilidade humana. Depois que Saul já era rei de Israel fazia algum tempo, ele desobedeceu a Deus, oferecendo um sacrifício, privilégio reservado exclusivamente ao sacerdócio. Samuel repreendeu-o severamente por isso, anunciando que Saul havia perdido o direito de ser cabeça de uma dinastia reinante duradoura. No dizer de Samuel: "Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; pois teria agora o Senhor confirmado o teu reino sobre Israel para sempre" (I Sam. 13.13). Mas, em vez disso, por causa desse ato de precipitação e rebeldia de Saul, o Senhor transferiu a liderança do reino a outro, a saber, Davi. É evidente que o pecado de Saul pode ser apontado como a causa da perda de seus direitos dinásticos. No entanto, desde os dias do patriarca Jacó, estava profetizado que o "cetro não se arredará de Judá" (Gên. 49.10). A tribo governante sobre o povo de Israel seria a tribo de Judá, à qual pertencia Davi, e não a tribo de Benjamim, à qual pertencia Saul. Isto posto, o cumprimento dessa predição do Espírito de Deus, por intermédio de Jacó, não exigia a desqualificação de Saul? Por outra parte, vemos que Samuel não consolou Saul, dizendo-lhe: "O pecado que cometeste não foi uma falta tua, e tinha mesmo que acontecer". Pelo contrário, Saul não foi desculpado por sua desobediência, mas foi severamente julgado. Isto posto, naturalmente, Deus tanto previu esse acontecimento quanto cuidou para que ele realmente se efetuasse; mas a responsabilidade humana permaneceu sendo um fato, e Saul foi julgado culpado, apesar de seu ato ter sido previsto desde há muito. B. A Doutrina do Pecado. Os livros de I e 11 Samuel ilustram, em vivas cores, a pecaminosidade do coração humano e os inevitáveis maus resultados do pecado. Líderes piedosos de Israel, como Eli, Davi e Samuel, não acertaram sempre, pois suas falhas também são salientadas no relato bíblico. O que é de admirar, entretanto, é que esses três homens tiveram filhos que foram rebeldes contra

o Senhor. Na qualidade de pais, os três enfrentaram tremendas dificuldades para encaminhar seus filhos na senda da retidão. Assim, os filhos de Eli furtavam os sacrifícios trazidos pelo povo, blasfemavam contra Deus e cometiam fornicação, e isso no papel de sacerdotes do Senhor. Ver I Sam. 2.13-17,22; 3.13. Não admira que eles tenham sido mortos pelos filisteus. O trágico, na história de Samuel, é que foi justamente por causa dos delitos de seus filhos que o povo de Israel chegou a exigir que lhes fosse dado um monarca (I Sam. 8.5). Saul começou seu governo como homem humilde, que recebia orientação do Espírito de Deus. No entanto, à medida que seu governo avançava no tempo, ele passou a rebelar-se contra o Senhor, até que terminou sob a influência de espíritos malignos e foi atacado por acessos de inveja e fúria que nos fazem pensar em demência precoce, ou coisa pior. Sua queda moral e espiritual foi tão vertiginosa que ele acabou apelando para a médium de En-Dorl Para quem chegara a receber instruções diretas da parte de Deus, isso foi como ser precipitado do céu ao inferno! Deus não mais lhe respondia. Lemos em I Sam. 28.6: "Consultou Saulo Senhor, porém este não lhe respondeu,' nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas". Por isso, em seu desvario, desesperado, Saul perguntou onde poderia encontrar uma médium que consultasse aos mortos. Quando aconteceu a batalha dos israelitas com os filisteus, estes conseguiram cercar Saul e seus três filhos, seu escudeiro e todos os homens de guerra que estavam em sua companhia! A experiência pecaminosa de Davi provê-nos uma triste instrução, que tem aspectos positivos e negativos. O grande rei Davi era homem segundo o coração de Deus. Mas, em um momento de falta de vigilância, deixou-se arrastar pela tentação, tendo-se envolvido em adultério secreto e homicídio cometido sob as circunstâncias mais covardes e agravantes. E isso depois de ter exibido por anos a fio grande fé e devoção ao Senhor. Todavia, tendo Davi finalmente reconhecido seus graves pecados. foi espiritualmente restaurado (ver 11 Sam, 12.13). O Senhor o perdoou e deu continuidade à benção a ele prometida, demonstrando-lhe, assim. grande graça e misericórdia. Entretanto, um aspecto que não podemos esquecer da lição que esses incidentes nos ensinam é que, apesar da confissão sincera de Davi - e de haver sido ele perdoado - , ele precisou sofrer as inevitáveis conseqüências penais do pecado. O filhinho dele e de Bate-Seba acabou morrendo ainda tenro infante. Amon, primogênito de Davi, imitou-o e cometeu incesto com suameio-irmã, Tamar. Isso precipitou a vingança de Absalão, que terminou, traiçoeiramente, tirando a vida de Amam. E houve várias outras tragédias na família, como a da revolta de Absalão, que violentou as mulheres de seu pai e acabou sendo morto com três dardos que lhe transpassaram o coração, estando ele preso pelos longos cabelos, enroscados em um galho de árvore pendurado cerca de um metro acima do solo. Apesar desses pontos extremamente negativos na vida de Davi e de seus familiares mais diretos, ainda assim o Senhor muito o abençoou, assim como o seu reinado. em Sua incalculável misericórdia. Deus também recuperou Bate-Seba, culpada com Davi de adultério. E o Senhor até abençoou a Salomão, outro filho que, mais tarde, Davi e . Bate-Seba tiveram, escolhendo-o para ser o sucessor de seu pai no trono de Israel. . C. O Pacto Davidico, Este é um dos mais importantes pactos estabelecidos por Deus, em todo o Antigo Testamento. Deus firmou esse pacto com Davi (ver 11 Sam. 7.1-29), ampliando ainda mais as provisões do pacto

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SAMUEL (LIVROS) abraâmico, que encontramos no livro de Gênesis. A Davi foi prometida uma linhagem permanente, um trono firme e um reino perpétuo. O direito de governar Israel sempre caberia a um de seus descendentes, promessa que antecipa e garante o reinado eterno do Senhor Jesus Cristo, o Filho maior de Davi. A fidelidade e o amor constante de Deus por Seu servo Davi podem ser vistos no fato de que Ele o perdoou graciosamente de seu grave pecado duplo: adultério e homicídio. Não admira, pois, que Davi se tenha regozijado diante da promessa divina feita à sua casa. As "últimas . palavras" de Davi, que encontramos em 11 Sam. 23.1 ss., referem-se a essa aliança eterna. Ver no Dicionário O artigo sobre os Pactos. Um ponto deveras tocante nos livros de I e 11 Samuel foi a profunda e fiel amizade que se estabeleceu entre Davi e Jônatas (ver a respeito no Dicionário), filho de Saul. A amizade entre eles ilustra a responsabilidade daqueles que se compactuam de alguma maneira. Jônatas não traiu a seu amigo, Davi, em momento algum, até o último dia de sua vida, embora tivesse todas as razões para compartilhar da inveja e hostilidade que seu pai, Saul, nutria por Davi. E Davi também não se mostrou menos leal a seu amigo Jônatas. Depois que se tomou rei, Davi cuidou zelosamente do bem-estar de um filho aleijado de seu amigo Jônatas, Mefibosete (ver 11 Sam. 9.1-13). Em uma época sangrenta e violenta como foi a de Davi, é grato encontrarmos uma amizade como essa entre Davi e Jônatas, que redime muito daquilo que nos provoca repulsa, quando consideramos a selvageria própria do período. Os homens são fruto do meio em que vivem. Davi era um bom filho de sua época histórica, mas ele mostrou ser um homem sensível, amigo fiel, artista, poeta, músico, embora também um gênio militar, muitas vezes sangüinário e cruel. A personalidade de Davi era tão cativante que todos os israelitas, até hoje, têm como um de seus mais caros ídolos um governante como Davi. IX. Conteúdo e Cronologia Conforme dissemos na segunda seção, Caracterização Geral, a Bíblia dos hebreus tinha um único livro de Samuel, que englobava o que conhecemos como I e 11 Samuel. A divisão apareceu, inicialmente, na Septuaginta (a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego, terminada cerca de 200 anos antes da eclosão do cristianismo). Mas, que há uma unidade e continuação ininterrupta na narrativa, pode-se ver claramente nas passagens sumariadoras: I Sam. 14 e 11 Sam. 8, que destacaremos a seguir, no decurso dos comentários sobre cada ponto importante do esboço do conteúdo. Essas passagens dão-nos as chaves para uma boa compreensão sobre a estrutura de I e 11 Samue\. Isto posto, nosso esboço de conteúdo não observará essa divisão literária em I e 11 Samuel, mas exibirá as vinculações óbvias entre um livro e outro, como se não houvesse dois livros de Samuel. A. Samuel(I.1-7.17) 1. Seu nascimento (1.1-28) 2. O Cântico de Ana, mãe de Samuel (2.1-10) 3. O sacerdote E1ie seus filhos (2.11-36) 4. Chamada de Samuel (3.1-21) 5. A arcada aliança é tomada (4.1-22) 6. A arca na Filístia (5.1-12) 7. Devolução da arca (6. 1-7. I) 8. Exortação ao arrependimento (7.2-17) B. Samuel e Saul (8.1-15.3 5) L O fim da teocracia (8.1-22) 2. Saul e Samuel encontram-se (9.1-24) 3. Saul ungido rei (9.25-10.27) 4. Primeiras vitórias de Saul (11.1-11) 5. Saul é proclamado rei (11.12-15)

6. Samuel resigna o cargo de juiz (12.1-25) 7. Temeridade de Saul e sua reprovação (13. 1-15 8 ) 8. Vitória sobre os filisteus (13.15b-14.52) 9. Saul é rejeitado (15.1-35) C. Samuel Unge a Davi (16.1-13) D. Davi e Saul (16.14-11 Sarn, 1.27) 1. Davi, o músico (16.14-23) 2. Davi e Golias (17.1-58) 3. Davi e Jônatas (18.1-5) 4. A inveja de Saul (18.6-19.24) 5. Aliança entre Davi e Jônatas (20.1-43) 6. Fuga de Davi (21.1-27.12) 7. Saul e a médium de En-Dor (28.1-25) 8. Davi e os filisteus (29.1-30.31) 9. Morte de Saul (31.1-13) 10. Davi lamenta por Saul e Jônatas (11 Sam.I.I-27) E. Davi Torna-se Rei (11 Sam. 2.1 - 24.25) 1. Sobre Judá (2.1-7) 2. Oposição a Davi (2.8--4.12) 3. Sobre todo o Israel (5.1-12) 4. Feitos vários de Davi (5.13-10.19) 5. O pecado de Davi (11.1-12.31) 6. Conseqüências temporais do pecado (13.1-19.10) 7. Davi novamente em Jerusalém (19.11-20.22) 8. Oficiais de Davi (20.23-21.22) 9. Ação de graças de Davi (22.1-51) 10. Ultimas palavras de Davi (23.1-7) 11. Feitos dos maiores guerreiros de Davi (23.8-39) 12. O recenseamento (24.1-25) Comentários sobre o item A) Samuel (1.1-7.17) I. Samuel nasceu como resposta graciosa de Deus às instantes orações de sua mãe, Ana. Até então, Ana tinha profunda tristeza por ser estéril. Fiel à sua promessa, Ana dedicou o filho, Samuel,já desmamado, ao Senhor. 2. O cântico de gratidão de Ana. Seu salmo é chamado de "oração". Em Sal. 72.20, os salmos de Davi também são chamados de "orações". 3. Os filhos de Eli eram pecaminosos. Lembremo-nos de João 1.12,13, que ensina que os "filhos de Deus não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem". A responsabilidade diante de Deus é pessoal. Ver Eze. 18: I ss., onde é estabelecido um principio básico: "a alma que pecar, essa morrerá". 4. O Espírito de Deus entra em contato real com o espírito humano. A experiência dos grandes homens de Deus confirma isso. O título posto acima do capitulo 3 de I Samuel, em nossa versão portuguesa, diz "Deus fala com Samuel em sonhos". Isso é um erro. Deus apareceu a Samuel; houve uma teofania (ver a respeito no Dicionário). 5. Não somente a arca foi tomada, mas seu santuário, Silo, foi destruido. Isso foi um castigo divino, conforme se aprende em Jer. 6.9 e 7.12,26. O quanto isso representou para o povo de Israel, pode-se depreender das palavras da nora de Eli: "Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus" (vs. 22). 6. Os filisteus não puderam saborear o gosto da tomada da arca. A mão do Senhor veio contra eles sob a forma de graves enfermidades. "Os homens que não morriam eram atingidos com os tumores; e o clamor da cidade (Asdode) subiu até o céu" (5.12). 7. Não há que duvidar que houve o impulso de forças divinas ou angelicais sobre as vacas que puxavam o carro em que era devolvida a arca da aliança. A arca era apenas um objeto, mas um objeto sagrado que representava muito. Setenta israelitas morreram, por terem olhado o interior

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SAMUEL (LIVROS) da arca. A pergunta dos habitantes de Bete-Semes faznos pensar: "Quem poderia estar perante o Senhor, este Deus santo?" (6.20). 8. Os israelitas seriam livrados da opressão filistéia caso se arrependessem. Essa era e sempre será a condição do livramento divino. Samuel entendia isso e exortou o povo ao arrependimento. E o povo se arrependeu: "Então os filhos de Israeltiraram dentre si os baalins e os astarotes, e serviram só ao Senhor» (7.4). Comentários sobre o item D) Samuel e Saul (8.115.35): 1. Findou-se um período importante no trato de Deus com o povo de Israel. O aviso de Samuel foi profético: "... naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia" (8.18). Só haverá novamente a teocracia por ocasião da Segunda Vinda do Senhor Jesus, mas dessa vez sobre bases muito superiores, no milênio e no estado eterno. Os israelitas queriam ser iguais aos povos vizinhos. Eles não queriam um governo justo, mas um governo militarista: "... o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós, e fazer as nossas guerras" (S.20). Mas, no milênio, não haverá mais guerra, e as nações desaprenderão a arte bíblica. (Ver Isa. 2.4). 2. O primeiro rei de Israel tinha muitas qualidades humanas, entre as quais é destacada sua beleza física; "... Saul, moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo" (9.2). Era, porém, defeituoso quanto às qualidades morais e espirituais, conforme deixa claro toda a narrativa bíblica sobre ele. 3. "... O Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles" (10.10). Alguma coisa tinha sucedido a Saul, mas não fora o novo nascimento. Isso deve ser entendido à luz de Heb. 6.4·8. A unção divina, pois, é uma realidade espiritual transformadora, mas não necessariamente salvadora. 4. Um dos resultados da unção divina sobre Saul foi a sua nova habilidade militar. "E o Espírito de Deus se apossou de Saul, quando ouviu estas palavras, e acendeuse sobremodo a sua ira" (11.6). 5. Não temos aqui a repetição do relato sobre sua unção (ver 9.25-10.27), mas sua aclamação como monarca, sua aceitação como rei por parte do povo. Ver a seção VII, Problemas Especiais, segundo parágrafo. 6. Samuel terminou seu juizado de maneira vitoriosa e digna, embora triste por ter-se encerrado a teocracia. Notemos, porém, que ele não renunciou às suas funções proféticas; e nem mesmo poderia tê-lo feito, porquanto era caso escolhido por Deus para tanto, e os dons de Deus são sem arrependimento. Ver Rom, 11.29. 7. A guerra de Saul foi gradativa. Primeiro ele foi reprovado por ter-se imiscuído em funções que não lhe cabiam, usurpando uma função sacerdotal. Contudo, Deus continuou dando vitórias a Israel, por meio de Saul e de Jônatas, seu príncipe herdeiro, que se mostrou um digno e honrado candidato à sucessão ao trono, quando seu pai fechasse os olhos. Mas a queda moral e espirtual de Saul prosseguiria, anulando todas as possibilidades futuras de Jônatas, S. O voto de Saul, muito precipitado, demonstra que ele já estava perdendo o contato com o Espírito de Deus. E a decisão popular, mais sábia que o voto impetuoso de Saul, salvou a vida de Jônatas (I 4.45). 9. Repreendido por Samuel, Saul não deu o braço a torcer, e tentou justificar-se. As palavras de Samuel são uma lição para todas as questões: "Tem porventura o

Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrificios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como a idolatria e culto a ídolos do lar..." (15.22,23). Quando Saul buscou lugar de arrependimento, já era tarde. E Samuel sentenciou: "Visto que rejeitasse a palavra do Senhor, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel" (vs. 26). Um dos pontos cruciais do livro de Samuel acha-se no VS. 28: "O Senhor rasgou hoje de ti o reino de Israel, e deu ateu próximo, que é melhor do que tu". O reino estava passando de Saul para Davi! Comentários sobre o item C) Samuel Unge a Davi (16.1-13) Saul era belo como nenhum outro jovem em Israel. Quando ia ungir a Davi, Samuel deve ter pensado que ungiria a um lindo moço. Mas Deus lhe ensinou uma grande lição, à qual todos devemos prestar atenção: "Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei (a Eliebe, irmão mais velho de Davi), porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (16.7). Ver também 11 Cor. 5.16. Por que primeiro Saul teve de ser rei, e somente então Davi? Porque um dos princípios básicos espirituais é o que se aprende em I Cor. 15.46: "Mas não é primeiro o espiritual, e sim, o natural; depois o espiritual". Comentários sobre D) Davi e Saul (I Sam, 16.4-11 Sam.1.27) 1. Agora, um espírito maligno perturbava Saul. Mas ele se aliviava ouvindo a harpa do jovem Davi. Os psicólogos reconhecem atualmente os efeitos benéficos ou maléficos da música. Lemos que houve profetas que profetizavam impelidos pela música. Ver I Sam. 10.5,6 e II Reis 3.15. Mas também há música sensual e degradante. Há música que, embora não seja sacra, nem por isso é errada para um crente. Mas há música que, definitivamente, deveríamos evitar. A música mexe muito conosco, para melhor ou para pior! 2. Golias confiava em seu gigantismo e em sua armadura. Davi confiava no seu Deus. Por isso, Davi replicou ao filisteu: "Tu vens contra mim com espada e com lança e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado" (17.45). Como é que o resultado daquela batalha singular poderia ter sido diferente? Os antigos, " ... por meio da fé... puseram em fuga exércitos de estrangeiros..." (Heb. 11.33,34)! 3. Jônatas amava a Davi "... como sua própria alma" (18.3). Sem dúvida, existem almas gêmeas. A sincera e duradoura amizade de Jônatas deve ter sido um grande consolo para Davi, ao mesmo tempo que as perseguições de Saul eram-lhe extremamente molestas. 4. A inveja rói a alma do invejoso e é extremamente desagra-dável para o invejado. Nada demovia Saul de suas suspeitas ciumentas, nem a intervenção de seus próprios filhos, Jônatas e Mical. Um momento crítico foi quando Saul intentou cravar Davi na parede com sua lança enquanto este dedilhava seu instrumento de música (19.10). 5. Jônatas reconheceu que Davi era o escolhido do Senhor para ocupar o trono em lugar de seu pai, Saul, Jônatas, pois, mostrou grande abnegação. Por essa sua defesa em favor de Davi, quase Jônatas paga com a própria vida (20.33). A aliança entre Davi e Jônatas envolvia até mesmo os seus descendentes: "O Senhor seja para sempre entre mim e ti, e entre a minha descendência ea tua" (vs. 42). à

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SAMUEL (LIVROS) 6. Um longo período muito perigoso para Davi. Há muitos episódios, e não podemos comentá-los separadamente. Para piorar a situação de Davi, foi durante esse tempo que Samuel morreu (25.1). Davi respeitava Saul, seu rei e seu sogro. Sua atitude para com Saul pode ser vista na observação que fez em certa ocasião: "O Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o seu ungido..." (26.11). Saul estava fora de si. Reconhecia momentaneamente sua tola perseguição contra Davi, seu genro, mas o espírito maligno apossava-se dele, e ele voltava à carga contra Davi. Era uma fixação doentia! 7. Deus abandonara a Saul, e Saul abandonara o Senhor. Não sabendo para onde se voltar em busca de socorro, com medo dos filisteus, Saul resolveu consultar uma médium espírita. Foi o ponto mais baixo de toda a sua carreira. Foi a gota que fez entornar o balde. Samuel mostrou a Saul que era o ponto terminal para o primeiro rei de Israel: " ... amanhã tu e teus filhos estareis comigo... " (28.19). 8. O rei dos filisteus confiava em Davi. Mas os nobres filisteus, não, porque se lembravam: "Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam, nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém, Davi os seus dez milhares?" (29.5). Para eles, Davi era dez vezes mais perigoso que Saul. No caso de divisão da presa, Davi mostrou sua sensibilidade social. Ele era homem justo e equânime: " ...qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais" (30.24). 9. Gravemente ferido, Saul acabou suicidando-se, atirando-se contra a própria espada (31.4). A batalha foi uma grande derrota para Israel. O rei, que começara seu governo com vitórias sobre os inimigos em derredor, quarenta anos mais tarde amargou sua maior derrota, pagando com a própria vida! Tudo isso lhe sucedeu porque ele se afastou do Senhor, a ponto de ficar perturbado por espíritos malignos. Uma lição horrível, para todas as gerações! 10. Só três dias depois Davi soube da morte de Saul e de seus três filhos. Não há certeza quanto às circunstâncias em que o amalequita deu o golpe de misericórdia em Saul. Mas, como todo o ungido do Senhor era "intocável", o amalequita pagou com a própria vida por seu ato sacrflego (11 Sam. 1.11 ss.). O lamento de Davi por Saul e Jônatas é comovente. Na lamentação de Davi há um estribilho, reiterado por três vezes: "Como caíram os valentes!", Vêm-nos as lágrimas quando lemos acerca das palavras de Davi sobre Jônatas: "Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres" (11 Sam. 1.26). Comentários sobre o item E) Davi Torna-se Rei (11 Sam.2.1-24.25) I. Os judaítas foram os primeiros a reconhecer Davi como seu rei. As demais tribos ainda ficaram esperando por mais algum tempo. Ver 11 Sam. 2.1-7. . 2. Abner, capitão do exército do falecido Saul, encabeçava a oposição a Davi, e fez de Is-Bosete, filho de Saul, um rei rival, de tal modo que "somente a casa de Judá seguia a Davi" (2.10). Seguiu-se sangrenta batalha, em que os homens de Davi levaram a melhor (2.12-32). "Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi ..." (3.1). Contudo, a casa de Davi fortalecia-se cada vez mais, até que Abner, comandante do exército partidário da casa de Saul, bandeou-se para o lado de Davi. O assassínio de Is-Bosete, por ex-

partidários seus, foi um ato covarde e traiçoeiro (4.1-12). 3. "Então todas as tribos de Israel vieram a Davi ..." (5.1) e "ungiram a Davi, rei sobre Israel" (vs. 3). Quando Hirão, rei de Tiro, enviou mensageiros a Davi, este reconheceu que"... o Senhor o confirmara rei sobre Israel e exaltara o seu reino por amor do seu povo" (vs. 12). 4. A primeira coisa que Davi fez foi tomar concubinas e mulheres, além de Ainoã e Abigail (ver 2.2; 3.2-5), Maaca, Hagite,Abital e Eglá. Em 11 Sam. 15.16 e 20.3, lemos que ele tinha "dez concubinas". Davi obteve grandes vitórias militares contra os inimigos tradicionais de Israel, transportou a arca da aliança para Jerusalém e projetou a construção do templo. Um ponto importante no relato fica em 11 Sam. 8: 15: "Reinou, pois, Davi sobre todo o Israel; julgava e fazia justiça a todo o seu povo". Para isso é que ele fora levantado como rei, embora o povo pensasse mais em um heróico guerreiro como ideal da realeza. Um detalhe que mostra algo do caráter de Davi foi a sua bondade para com Mefibosete, filho de Jônatas e neto de Saul (9.1-13). 5. Seu caso com Bate-Seba foi a maior mancha no caráter de Davi, que o transformou em um adúltero e assassino. Quando parecia que tudo conseguira ficar encoberto, eis que Natã é enviado por Deus para desmascarar Davi (11 Sam. 11.1-12.15). Deus perdoou o pecado de Davi, mas a primeira conseqüência adversa foi a morte de seu filho com Bate-Seba (12.15 ss.). Todavia, Davi já se casara legalmente com a viúva Bate-Seba; e um segundo filho do casal foi Salomão, destinado por Deus a ser o próximo rei de Israel (24.25). 6. Uma série de funestos acontecimentos atingiu Davi e seus familiares, como conseqüências temporais de seu pecado. Os capítulos 13 a 19 de 11 Samuel devem ser lidos com muita atenção. Mediante essas ocorrências, Deus deixou todo o Seu povo saber do pecado de Davi. O Senhor nunca se toma cúmplice dos pecados de ninguém. Uma das coisas que mais doeu a Davi foi a revolta e a morte de seu querido filho, Absalão. Quase podemos ouvir os soluços do rei, enquanto ele clamava, desconsolado: "Meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" (11 Sam. 18.33). 7. Davi voltou a Jerusalém, convidado pelos homens de Judá......mandaram dizer-lhe: Volta, ó rei, tu e todos os teus servos" (11 Sam. 19.14). Houve reconciliações e protestos de fidelidade. O caso da sedição de Seba foi gravíssimo, fazendo a nação dividir-se em duas. Lemos em 11 Sam. 20.2: "Então todos os homens de Israel se separaram de Davi, e seguiram Seba, filho de Bicri; porém, os homens de Judá se apegaram ao seu rei..;". 8. Davi organizou melhor o reino, com oficiais civis e militares. Entrando em batalha, Davi ficou "muito fatigado" (21.15). Que idade teria ele? Efeitos prematuros de muitas privações? Seja como for, não mais deixaram Davi sair em batalha: ..... para que não apagues a lâmpada de Israel" (vs. 17). Ainda restavam gigantes, quando o reinado de Davi já se aproximava do fim. Os homens de Davi mataram quatro deles. Ver 11 Sam. 21.19, sobre o qual já tecemos comentários na seção sétima, Problemas Especiais, sexto parágrafo. 9. Cronologicamente esta seção deveria estar no começo de 11 Samuel, porque o cântico celebra o livramento de Davi das perseguições de Saul (11 Sam, 22.1). 10. Davi compõe um poema, agradecendo pela "aliança eterna" estabelecida pelo Senhor Deus com ele. Ver a oitava seção, Teologia do Livro, no trecho O Pacto Davidico. 11. Davi foi um grande homem que foi assessorado

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SAMUEL (LIVROS) - SANDÁLIA por grandes homens, sobretudo no campo militar. A lista que aqui se encontra dos "valentes" de Davi inclui 37 nomes. Um trecho paralelo I Crô. 11.11-41 acrescenta mais 16 nomes, totalizando 53 heróis de guerra. 12. O incidente do recenseamento mostra que o orgulho começara a tomar conta do coração do idoso rei Davi. O livro de 11 Samuel termina com estas palavras positivas: " ... o Senhor se tomou favorável para com a terra, e a praga cessou de sobre Israel" (11 Sam. 24.25). O livro termina em uma nota de reconciliação e restauração. O governo justo de Davi, apesar de falhas, dentre delas algumas graves, no seu todo era aprovado pelo Senhor.

Cronologia: Nos livros de I e II Samuel, há narrativas que nos permitem formular certa cronologia quanto aos episódios cobertos. Para exemplificar, ver I Sam. 6.1; 7.2; 8.1,5; 13.1; 25.1; II Sam. 2.10,11; 5.4,5; 14.28; 15.7. No entanto, os informes são insuficientes para que se possa formar uma cronologia precisa quanto à maioria dos eventos desse período da história de Israel. Com exceção das datas do nascimento de Davi e da duração de seu reinado, que são dados firmes (ver 11 Sam, 5.4,5), quase todas as demais datas têm de ser meras aproximações. O problema textual que envolve a passagem de I Sam. 13.1, acerca da idade de Saul, quando ele se tomou monarca de Israel (ver a seção VI, Estado do Texto), contribui ainda mais "para essa falta de precisão cronológica, pelo menos quanto ao tempo de seu nascimento e ao começo de seu governo. Nenhuma informação nos é dada acerca do tempo do nascimento ou da morte de Samuel (I Sam. 1.1 e 25.1). Porém, calcula-se que Samuel deve ter vivido desde os tempos de Sansão e de Obede, filho de Rute e Boaz, e avô de Davi. Todavia, é-nos indicado que ele já era homem bem avançado em anos quando os anciãos de Israel lhe pediram que ungisse um rei a Israel (ver I Sam. 8.1,5). Um forte fator de incerteza cronológica é que o(s) autor(es) sagrado(s) nem sempre arranjou(aram) o material em estrita seqüência cronológica. Ao que tudo indica, por exemplo, 11 Sam. 7 deveria aparecer após as conquistas militares de Davi descritas em 11 Sam. 8.1-14. A narrativa sobre a escassez que houve em Israel, por castigo divino, devido ao fato de que Saul violou um tratado estabelecido com os gibeonitas, o qual se acha em Il Sam. 21.1-4, deveria aparecer antes do relato sobre a rebelião de Absalão, registrada em 11 Sam. 15-18. Em face dessa série de dificuldades, pois, oferecemos a seguir um quadro cronológico com datas aproximadas, alicerçado muito mais em deduções do que em informes bíblicos seguros: Nascimento de Samuel (I Sam. 1.20) Nascimento de Saul Unção de Saul como rei (I Sam. 10.1) Nascimento de Davi Unção de Davi para ser o próximo rei (I Sam. 16.1-13) Davi começa a reinar sobre Judá (IISam.1.1;2.1,4,11) Davi começa a reinar sobre todo o Israel (11 Sam. 5) As guerras de Davi (11 Sam. 8.1-14) Nascimento de Salomão (lI Sam. 12.23; I Reis 3.7; 11.42) O recenseamento (lI Sam. 24.1) Fim do governo de Davi (lI Sam. 5.4,5; I Reis 2.10,11)

1105 a.e. 1080 1050 1040 1025 1010 1003 997-992 991 980 970

X. Bibliografia ALB AM ANET E I 1B WBC VO Z SAMUTE Do hebraico, fama, renome, mas alguns dizem desolações, ruínas, um guarda de Davi (11 Crô. 11.27), considerado por alguns Samá, o harodita de 11 Sam. 23.25, e o Samute de I Crô. 27.8. SANCTUS Palavra latina que significa"santo". É a designação da última parte do prefácio, que aparece imediatamente antes do cânon da missa. A passagem começa com as palavras "Sanctus, sanctus, sanctus" extraídas de Isa. 6:3. Essa fórmula litúrgica esteve em uso desde tão cedo quanto Clemente de Roma, que faleceu em 104 d.e. SANDÁLIA (SAPATO) A arqueologia tem conseguido mostrar o antiqüíssimo uso de diferentes tipos de calçados, dos quais o mais comum eram as sandálias. Tal como hoje em dia, era essencialmente uma sola presa aos pés por meio de correias. Têm sido encontradas na Babilônia, no Egito, em Israel, na Grécia e em Roma. O termo hebraico é naal, com freqüência traduzido por "sandálias", no Antigo Testamento. Ver Êxo. 3:5; 12:11; Deu. 25:9,10; 29:5; Jos. 5:15; I Reis 2:5; Rute 4:7,8. As palavras gregas usadas são upódema e sandâlion (ver Mar. 6:9; Atos 12:8). Sapato é a tradução comum para upódema. Essa palavra ocorre por dez vezes no Novo Testarnento: Mal. 3:11; 10:10; Mar. 1:7; Luc. 3:16; 10:4; 15:22; 22:35; João 1:27; Atos 7:33 (citando Êxo. 3 :5); 13:25. Sua forma verbal é upodéo, que significa "amarrar", estando provavelmente em foco a sandália, na maioria das ocorrências. Os calçados variavam, segundo a necessidade da ocasião, e havia muitos tipos de calçados para as diversas profissões. Ver o artigo geral intitulado Vestuário. Os formatos dos calçados antigos têm sido amplamente demonstrados em monumentos, desenhos etc., principalmente os de origem assíria, babilônica, egípcia e persa. Algum tipo de proteção para os pés pode ser visto nas gravuras desde o quarto milênio a.C. O painel de Beni-Hassan, de cerca de 1900 a.C; mostra um grupo de asiáticos, que vinham do Egito, usando uma espécie de sandália que revestia o calcanhar e o peito do pé. As mulheres usavam botas que chegavam acima dos tornozelos, com uma faixa branca no alto. O obelisco negro de Salmaneser III (século IX a.C.) mostra Jeú e os israelitas com calçados de ponta virada para cima, sem dúvida com propósitos decorativos e nenhuma utilidade prática. Os calçados eram tirados quando se entrava em alguma casa, e o lava-pés representava um ato comum de cortesia e hospitalidade (ver Luc. 7:44). Nas famílias mais abastadas, eram os escravos que realizavam esse humilde serviço. Usos Figurados: 1. O sumo sacerdote de Israel não usava calçados quando cumpria seus deveres; seus pés descalços simbolizavam respeito, porque ninguém podia usar calçados na presença de Yahweh. Talvez isso proviesse da idéia de andar descalço na terra santa (ver Exo. 3:5), quiçá envolvendo a idéia de que os calçados, que pisam o chão, estão geralmente sujos. Ver o sexto ponto, a seguir. 2. A sandália com correias era um calçado barato, feito de material que até mesmo os pobres podiam comprar. Assim, Abraão não concordou em ficar nem com a mais

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SANDÁLIA - SANGUE insignificante possessão do rei de Sodoma (ver Gên. 14:23). Em Amós2:6 e 8:6, comprar "os necessitados por um par de sandálias" era vendê-los por preço irrisório. 3. O calçado, tão ao nível do chão, representa a parte ou porção mais humilde de uma pessoa. João Batista disse que não era digno nem mesmo de tocar nas sandálias de Jesus (ver Mat. 3:11; Miq. 1:7; Atos 13:25). 4. Os calçados falam sobre a preparação para alguma viagem (Êxo. 12:11). 5. Não precisar de dois pares de sandálias aponta para as provisões adequadas, conferidas por Jesus aos seus discípulos (ver Mat. 10: 10; Luc. 10:4; 22:35). 6. As sandálias e os pés ficam sujos devido às imundícies com as quais entram em contato. Isso simboliza como a vida diária contamina espiritualmente o indivíduo, e como o crente precisa de purificação diária. Provavelmente, essa foi a razão pela qual Deus ordenou que Moisés tirasse as sandálias, quando estivesse em terreno santo (ver Êxo. 3:5). Essa é também a lição espiritual por trás da cerimônia do lava-pés, descrita com detalhes no sexto capítulo do Evangelho de João. 7. A remoção dos calçados poderia simbolizar transferência de propriedades ou direitos, ou a desistência de um direito, como no caso da responsabilidade pelo casamento levirato. Um homem que se recusasse casar com a viúva de um seu irmão, para gerar filhos em nome dele, tinha de remover os calçados como sinal da recusa de assumir tal responsabilidade. Ver Deu. 25:9, 10 e comparar com Rute 4:7,8. Talvez por trás desse costume houvesse a idéia de que pisar sobre uma propriedade conferia ao que assim fizesse direitos sobre ela. Tirar os calçados e entregá-los a outrem indicava transferir os direitos acerca de alguma propriedade. Israel precisou pisar sobre a Terra Prometida, como símbolo de que tomava possessão dela. Ver Deu. li :24,25. 8. Fazer algo calçado indicava fazê-lo com vigor, força e de modo completo, visto que a maioria das pessoas tem pés por demais delicados para fazer muita coisa descalça. 9. Lançar fora os calçados simbolizava rejeitar alguém ou alguma coisa, depois de ter tirado proveito desse alguém ou coisa. Usualmente, a expressão exprime certa injustiça no ato de rejeição. 10. Em sonhos e visões, amarrar um calçado é símbolo de morte, provavelmente devido ao fato de que, quando as pessoas amarram os sapatos, preparam-se para viajar. A morte é uma viagem para o além.

SÂNDALO Uma árvore que dava excelente madeira de construção, que Hirão trazia de Ofir, para ser usada na construção do templo (ver I Reis 1O:11; 11 Crô. 2:8 e 9:10,11). Alguns pensam estar em vista a Pterocarups santalinus, madeira da Índia que pode ser intensamente pol ida. É uma madeira avermelhada, macia e cara, para ser usada em móveis. Contudo, não se tem podido localizar esse tipo de árvore entre os cedros e ciprestes do Líbano. Por isso, alguns estudiosos conjecturam estar em vista algum tipo de pinheiro, ou o cipreste. Outros conjecturam tratar-se de uma madeira da variedade cítrica, con. me diz a Vulgata Latina, thyinum, que os antigos muito e~ navam por sua beleza e seu odor agradável. Porém, nau, se sabe com certeza a respeito. (FA S UN Z)

SANGAR A palavra hebraica aparentemente significa fui:, 'ttvo ; copeiro, ou espada, talvez associada lingüisticarnem, ao hurriano Simigari, dos textos de Nuzi, filho de Anate (Ji.'

3.31). Talvez ele tenha sido de Bete-Anote, que lhe teria dado esse nome. Foi o terceiro juiz de Israel, cuja bravura livrou Israel dos filisteus, em cerca de 1350 a.C. Recebeu o crédito de ter matado 600 filisteus com um cajado de boi, o que pode significar que ele realizou um feito extraordinário em uma única ocasião, ou talvez o número seja uma contagem de corpos de toda a sua carreira assassina. SANGAR-NEBO General babilônico que ajudou no ataque contra Jerusalém (ler. 39.3). O texto em questão pode listar três ou possivelmente quatro oficiais militares babilônicos. Se foram somente três, teremos: Nergal-Sareser, o Sangar; Nebo-Sarsequim, o Rabe-Saris, e Nergal-Sarezer, o RabeMague. Nesse caso, Sangar, Rabe-Saris e Rabe-Mague seriam títulos honoríficos, ao passo que Nergal-Sareser, Nebo-Sarsequim e Nergal-Sarezer seriam nomes próprios. SANGUE Aquele fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue é freqüentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên. 37:31 ~ Êxo. 23: 18 ss.; 11 Sam. 20: 12; I Reis 18:28~ Luc. 13: 1), onde a alusão é o sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais. 1. Idéias das Culturas Antigas. Nos estágios iniciais de quase todas as culturas, o sangue é encarado com certo ar de respeito, o que tem provocado as noções mais estranhas. Alguns atribuem ao sangue um poder misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue de suas vítimas, a fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos. Alguns pensavam que era perigoso tocar no sangue. Outros supunham que o sangue derramado nas batalhas, o sangue da menstruação das mulheres, ou o sangue perdido por ocasião do parto, pudesse transmitir um contágio qualquer, pelo que deveria ser lavado. Os antigos semitas (ver o artigo) identificavam o sangue com o princípio ativo da própria vida biológica. Por essa razão, proibiam a ingestão de sangue, derramavam sangue sobre altares consagrados, cobriam o sangue com terra, nos lugares sagrados, ou aplicavam o sangue a pedras que representavam deuses. Segundo eles imaginavam, os perigos e maravilhas do sangue podiam ser desse modo controlados e utilizados. O sangue podia ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo era aspergido sobre os batentes das portas, .para que a casa fosse protegida. Ou então os idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E o sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação. Alguns povos antigos chegavam a usar sangue, em vez de água, em ritos batismais. As pessoas que se consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da outra, como ato de união e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia de selo confirmatório de algum pacto ou acordo, feito entre duas pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os estrangeiros eram admitidos como cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela ingestão mútua de sangue. 2. O Sangue Usado como Alimento. Muitas culturas, antigas e modernas, têm usado o sangue como alimento. Uma das mais vigorosas tribos africanas, os zulus, bebem o sangue de seu gado. Algumas vezes, a prática é ou era vinculada às idéias expostas no primeiro ponto,

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SANGUE anteriormente. Além de servir de alimento, esperava-se que o sangue provesse ao seu consumidor alguma espécie de virtude. Dentro da cultura dos hebreus, era estritamente proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8; 7:26), especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Em outras palavras, o sangue revestir-se-ia de virtudes misteriosas, tomando-se sagrado. Portanto, não servia como artigo próprio para a alimentação. 3. O Sangue e os Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, "sangue", aparece 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes em alusão sacriflcios cruentos. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev. 17:11). Tambérnjá verificamos que os povos semitas se apegavam a essa idéia. O texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a idéia da expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de alguma vítima, o sangue também estava associado à morte, na antiga cultura dos hebreus. De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida oferecida a Deus, envolvendo o supremo sacrificio da vítima, a saber, a sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio radicaL A expiação é obtida através da morte da vítima, mas, igualmente, por sua vida, oferecida no sangue. 4. O Sangue no Novo Testamento. O vocábulo grego aima, "sangue", além de referir-se à morte sacrificial de Cristo, indica as idéias de reinado (João 1:13); da natureza humana (Mal. 16:17; 1 Cor. 15:50); de morte violenta (vinte e cinco trechos diferentes); e de animais sacrificados (doze referências, como se vê em Heb. 9:7,12 etc.), onde se enfatiza a perda da vida das vítimas, conceito destacado no Antigo Testamento. Quanto ao sangue de Cristo e o seu valor expiatório, há referências como CaL 1:20. Ver o artigo separado sobre esse assunto, que provê certa variedade de referências e idéias. Os intérpretes têm debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação. Penso que se trata de ambas as coisas. Pois, afinal de contas, é a vida de Cristo que nos salva (Rom. 5:7), dando a entender a sua ressurreição e ascensão, em virtude do que ele se tornou o Salvador medianeiro permanente. Aquele mesmo contexto, no vs. 9, afirma que o seu sangue nos justifica, o que nos faz pensar tanto em sua vida como em sua morte e ressurreição. A vida que Jesus viveu também faz parte de nossa inquirição espiritual, com vistas à salvação final; porque, quando procuramos imitar a vida de Cristo, passamos a compartilhar de sua natureza metafísica, mediante operações do Espírito Santo (11 Cor. 3: 18). Como alguns teólogos separam idéias inseparáveis, como se fossem categorias distintas e valores isolados? Dentro do plano de salvação, a vida e a morte de Jesus são fatores inseparáveis, embora em sentidos diferentes. 5. Sentidos Metafóricos. a. Temos visto como os sacrificios cruentos simbolizavam tanto a vida quanto a morte; e como é óbvio, os sacrificios do Antigo Testamento simbolizavam a morte expiatória de Cristo. A epístola aos Hebreus tem este como um de seus temas principais. Ver Heb. 7:27, quanto a uma declaração geral. b. Estar no próprio sangue indica um estado imundo e destituído, uma condição de perdição (Eze. 16:6). c. Beber sangue indica ter a perversa satisfação de haver assassinado a alguém (Eze. 39:8; Isa. 49:26; Núm. 23:24). d. Ter de beber sangue significa ser morto como retribuição por ter-se deleitado em derramar sangue (Apo. 17:7; Eze. 16:38). e. A vingança

a:

divina é retratada pelo ato de mergulhar os próprios pés no sangue (Sal. 58: 10; 68:23). f. Um homem de sangue é uma pessoa cruel (11 Sam. 16:7). g. O plural, "sangues", aponta para homicídios repetidos (Gên. 4: 10; 11 Sam. 3:28). h. Tirar o sangue da boca e das abominações significa libertar alguém do poder dessas coisas e de sua inclinação para o homicídio. (AM 10 S Z) SANGUE, CAMPO DE Em Atos 1:19 encontramos a interpretação do termo hebraico Aceldama como "campo de sangue". Há nisso alusão ao campo adquirido por Judas com o dinheiro por ele recebido por haver traído a Jesus. O trecho de Mal. 27:9,10 faz esse ato de Judas tomar-se o cumprimento de uma profecia, referida em Jer 32:6-9 e Zac. 11:12,13. O mais provável é que esse campo ficasse no vale de Hinom, adquirido pelos sacerdotes do templo (em lugar de Judas) com o dinheiro que ele devolvera (Mat. 27:7-10). (10 NTI) SANGUE, FLUXO DE Há duas questões em foco, nas narrativas do Novo Testamento: 1. Em Mal. 9:20 temos um incomum e prolongado fluxo de sangue uterino, de que sofria certa mulher que foi curada por Jesus. Ela vinha padecendo de tal condição há doze anos, o que demonstra o poder de Jesus. Pois aquilo que a natureza e os médicos não puderam fazer em doze anos, Jesus fez cessar em um único instante. Ver plenos comentários sobre esse versículo, no NTI. 2. A enfermidade do pai de Públio, relatada em Atos 28 :8, que algumas traduções dão como "disenteria" (como é o caso de nossa versão portuguesa). A enfermidade caracterizava-se por uma ulceração, que produzia abundante hemorragia. A causa é uma bactéria ou um protozoário, e tal enfermidade pode ser fatal, dependendo da quantidade da perda de sangue e de complicações secundárias. Paulo curou o homem mediante oração e imposição de mãos. Para maiores detalhes, ver a exposição em Atos 28: 8, no NTl. Ver o artigo geral sobre Enfermidades. (NTI Z) SANGUE, NÃO NASCERAM DE SANGUE E CARNE João 1:13: "os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus". Visto que essas expressões podem revestir-se de diferentes implicações históricas, especialmente no que diz respeito às várias crenças do homem antigo, no que tange ao processo da reprodução, existem muitas e variegadas interpretações acerca do sentido possível. Não Nasceram do Sangue. Muitos eruditos aceitam que estas palavras simplesmente são uma alusão à geração natural, e pensam referir-se à noção judaica de que o mero fato físico de alguém ser judeu era suficiente para outorgar a um indivíduo, automaticamente, o mérito da salvação. Podemos encontrar essa mesma idéia mais adiante, no mesmo evangelho de João (capítulo 8), onde Jesus procura mostrar aos judeus que Deus poderia suscitar filhos até mesmo das pedras; e que a descendência humana, apesar de isso conceder certos privilégios, até mesmo de ordem religiosa, não é capaz, entretanto, de propiciar nenhum direito espiritual a quem quer que seja, posto que a salvação é uma questão exclusivamente pessoal. Por extensão, podemos ensinar que pais crentes não

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SANGUE - SANGUE E ÁGUA reproduzem, necessariamente, filhos crentes; nem um passado de constante freqüência aos cultos de uma igreja produz tais resultados. Essa idéia pode estender-se a ponto de incluir qualquer instituição humana ou mérito tomado de empréstimo, institucional, religioso ou ancestral, isto é, qualquer vantagem que se origine de tais conexões, as quais, de forma alguma, podem adquirir mérito diante de Deus, nem podem produzir aquele renascimento celestial que é necessário para que o pecador participe da salvação de Deus. A palavra sangue, nesta passagem, literalmente traduzida seria o plural, "sangues", "não nasceram dos sangues". Diversos intérpretes tentaram esclarecer a questão de variegadas formas. Adam Clarke escreveu: "A união de pai e mãe, ou de uma Iinhagem ilustre e distinguida de ancestrais; porquanto a linguagem hebraica faz uso do plural para salientar a dignidade ou excelência de alguma coisa, e é muito provável que, ao usar aqui o plural, o evangelista tencionasse mostrar, aos seus compatriotas, que o fato de terem Abraão e Sara por seus primeiros progenitores não os capacitava, por si só, a receberem as bênçãos do novo pacto ..." (in loc.]. Apesar de estarem de conformidade com o argumento geral, aqui exposto, alguns intérpretes põem em dúvida se isso expressa a verdade, em fato do plural ter sido usado aqui. SANGUE, VINGADOR DO Ver Vingador do Sangue. SANGUE E ÁGUA

Existem dois trechos bíblicos que combinam estas duas palavras e que são teologicamente significativos, a saber: 1. João 19:34, que diz respeito ao fluxo que jorrou do lado de Jesus ao ter sido seu corpo perfurado pela lança do soldado, quando ele j á estava morto na cruz. 2. I João 5:6,8, que nos diz que Cristo veio pela água e pelo sangue, e que esses elementos, juntamente com o Espírito, prestam testemunho de Cristo e de sua missão na esfera terrena. 1. João 19:34. Somente o quarto evangelho menciona o incidente do fluxo de água e sangue, quejorrou do ferimento produzido pela lança do soldado no corpo morto de Jesus. Através dos séculos, comentadores e teólogos têm debatido a questão, e grande número de interpretações tem sido oferecidas. Ao que a água e o sangue prestam testemunho'? Vejamos: a. Talvez a questão seja bem simples. O autor do quarto evangelho testificou sobre o que sucedeu, uma ocorrência que ele considerou incomum, mas que os outros escritores sagrados não relataram. Ele teria mencionado o fato para mostrar que sua narrativa se baseava em seu testemunho pessoal. Aqueles que viram a morte de Cristo contemplaram a ocorrência incomum, tendo-a relatado para mostrar que haviam estado ali. b. Esse item seria uma prova de que Cristo morrera, e por conseguinte, que sua ressurreição fora uma autêntica ressurreição. O ferimento teve por intuito assegurar que o homem da cruz do meio realmente estava morto. Seria um testemunho contra as idéias dos docetistas e gnósticos dos dias do autor sagrado, que punham em dúvida a morte de Cristo e a conseqüente expiação por meio de seu sangue. c. O fenômeno mostra que Jesus morrera pelo rompimento da pleura, que envolve o coração, o que poderia ter causado aquela mistura de líquidos orgânicos. Nesse caso, seria outra prova da morte de Cristo. Contudo, há evidências de que o ferimento foi feito no lado direito do corpo de Jesus, tanto em antigos manuscritos como na mortalha de Turim (ver o artigo).

d. Há interpretações eclesiásticas. Uma delas pensa que a água simboliza o batismo, e que o sangue simboliza a morte expiatória de Cristo. e. Outra interpretação diz que a água corresponde à verdade natural, ao passo que o sangue corresponde à verdade divina. f. Ainda mais remota é a interpretação que diz que, assim como Eva foi criada com base na costela extraída do lado de Adão, assim também a água simboliza a Igreja, extraída do lado de Cristo. g. Outra interpretação equiparaa água ao batismo, e o sangue à eucaristia. h. Alguns vinculam o texto do evangelho de João com I João 5:6, onde a água seria o batismo de Cristo, ao passo que o sangue representaria a expiação mediante o seu sangue. Nesse caso, o autor sagrado teria afirmado que a missão e a autoridade de Jesus repousavam sobre ambas essas coisas, e não meramente sobre o batismo, que era o ponto de vista dos gnósticos. Ver os comentários a seguir, sobre esse versículo, i. A água representaria a santificação; o sangue representaria a expiação do pecado.

o lado ferido de meu Salvador Deixou escapar um duplo rio: Pela água somos purificados, Pelo sangue, somos perdoados. (Isaac Watts) j. A interpretação totalmente miraculosa. Não há como explicar o acontecimento. Tudo foi miraculoso e, após seu selo sobre a vida miraculosa que resultou em expiação, uma prova de quão diferente era nosso Senhor e Salvador. Quanto a mais detalhes, ver a exposição sobre esse versículo no NTI. 2. I João 5:6,8. Cristo veio mediante água e sangue. Há muitas interpretações a respeito. Acerca da água: a. Seria o batismo de João, que assinalou a unção de Jesus para ele dar início a seu ministério. b. Seria o batismo recebido por Jesus, que assinalou o momento em que o homem Jesus recebeu o Espírito de Cristo, o aeon celestial que usou seu corpo por algum tempo, a fim de cumprir sua missão. Assim pensavam os gnósticos. c. Seria o batismo cristão. Acerca do sangue: a. Seria a simples morte do homem Jesus, sem nenhum valor expiatório, conforme pensavam os gnósticos. b. Seria a eucaristia. c. Seria a combinação da vida e da missão completa de Cristo, sumariada nos dois importantes elementos do batismo e da expiação pelo sangue. d. Ou seria a combinação já antes referida em João 19:34, sem nenhuma interpretação, na primeira epístola de João. Isso daria margem às mesmas tentativas de interpolação que já vimos anteriormente. A Verdadeira Interpretação. A água representa o batismo de Jesus e a unção do Espírito que lhe foi dada. O sangue representa sua morte expiatória. Os gnósticos aceitavam a autoridade do batismo, mas não a idéia da unção de Jesus, como se ele fosse divino, e sim, como demarcação do tempo em que o aeon celeste, o Espírito de Cristo - que não era a mesma entidade que o homem Jesus - veio tomar posse do corpo de Jesus, a fim de realizar sua missão. Porém, o que o Novo Testamento nos informa é que o batismo de Jesus foi o de Cristo em forma encarnada, e que a sua morte foi a do Filho de Deus. Os gnósticos negavam totalmente tanto a encarnação como a expiação. Isso posto, esses versículos (do evangelho de João e da primeira epístola de João) combatem essas

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SANGUE PRECIOSO - SANSÃO negativas heréticas. O Cristo encarnado, que é a mesma entidade que o homem Jesus (por haver assumido forma humana) também fez expiação pelos nossos pecados. Os gnósticos, entretanto, negavam que Cristo viera em carne (1 João 4:2). Em lugar da encarnação, eles concebiam uma possessão, supondo erroneamente que Jesus e o Cristo não eram uma mesma pessoa. Quanto a mais detalhes, ver a exposição desses versículos no NTI. ([B NTI) SANGUE PRECIOSO Esta expressão chegou a designar o sangue de Cristo derramado pela redenção da humanidade. Ver sobre Expiação e sobre Expiação pelo Sangue de Cristo. A Igreja Católica Romana tem honrado essa realidade ao celebrar anualmente, a 10 de julho, uma festa especial, intitulada Sangue Precioso. Essa festividade foi instituída em 1849. SANGUESSUGA A palavra hebraica assim traduzida, aluqah, que figura exclusivamente em Pro. 30: 15. é de sentido duvidoso, embora muitos estudiosos pensem estar em foco, realmente, a sanguessuga. A raiz da palavra hebraica parece significar "chupadora", Há um número fantástico desses animais, ou seja, animais tipo verme, que sugam o sangue dos animais vertebrados. Esses animais formam parte de uma classe especializada, de nome científico Hirudinea ou Annelida, distinguidos por terem exatamente 34 segmentos nos corpos, dos quais os primeiros 5 ou 6 formam a cabeça que chupa, enquanto os últimos sete formam a cauda que chupa. As sanguessugas são bastante espalhadas pelo mundo, podendo habitar dentro da água ou em terra úmida. Alimentam-se principalmente de sangue, e chupam tão prodigiosas quantidades que seus corpos se distendem quais balões. Embora usualmente se agarrem à pele da pessoa, há espécies que invadem a garganta ou as passagens nasais. Nesses casos, obtêm acesso quando a pessoa está nadando ou bebendo água. Tanto os homens quanto os animais são atacados pelas sanguessugas. No século XIX. julgava-se que as sangrias tinham valor medicinal, sendo usadas sanguessugas com essa finalidade, especialmente quando se tratava de remover o sangue de pisaduras e inchaços. Alguns intérpretes pensar estar em destaque alguma espécie de vampiro, no trecho do livro de Provérbios; porém o mais provável é que não seja, visto que esses morcegos se confinam à América Central e América do Sul. Mas, naturalmente, é possível que uma espécie desconhecida e atualmente extinta de morcegos esteja em vista, ou que o morcego vampiro simplesmente tenha desaparecido da Palestina. O mais provável, contudo, é que o texto realmente faça alusão a alguma espécie de sanguessuga. Metaforicamente, a sanguessuga refere-se a uma pessoa, coisa ou circunstância debilitadora, gananciosa e extremamente egoísta em suas exigências. A referência bíblica em apreço ilustra como os homens anelam por mais e mais; a natureza destrutiva de indivíduos sangüinários que nunca matam ou aleijam o suficiente; a cobiça humana que jamais se satisfaz; a concupiscência de certas pessoas que sempre desejam mais. Diz aquele versículo: "A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá...". Isso cri a uma situação cada vez mais premente. Outros estudiosos pensam que esse versículo deve ser entendido juntamente com O seguinte, em uma interpretação de que as sanguessugas representam a "sepultura", consumidora de vidas. Também há os que acreditam que essas sanguessugas seriam demônios, ou a

sorte, ou qualquer outra espécie de força destruidora. SANSANA No hebraico instrução. Mas há estudiosos que preferem o sentido "ramo de tâmara". Aparece exclusivamente em Jos. 15:31. Era uma cidade localizada no Neguebe de Judá, cujo sítio é por nós desconhecido. A comparação com outras listas de nomes de localidades tem levado alguns estudiosos a identificá-la com a Hazar-Susa, de Jos. 19:5, e com a Hazar-Susim de 1Crô. 4:31, embora não se possa ter certeza quanto a esse particular. Uma possível localização moderna é a Khirbet esh-Shamsaniyat, 24 km ao norte de Berseba. SANSÃO 1. Nome. No hebraico. homem do sol (shimshon, literalmente, "pequeno sol"), mas alguns dão o significado de "distinto" ou "forte". 2. Família. Foi o filho de Manoá, membro da tribo de Dã. Seu nascimento foi previsto por um anjo do Senhor. pois, de forma violenta, ele devia cumprir a missão de aliviar a opressão de Israel pelos filisteus. 3. Observações pessoais. Em Timna, ele se interessou pela filha de um filisteu e com ela casou apesar dos protestos de seus parentes. Quando de sua primeira visita para ver a jovem mulher. um leão o interceptou, mas isso não foi problema, pois aquele gigante não teve nenhum problema para matar o animal. Na festa de casamento, ele propôs uma charada, que fazia parte do entretenimento na ocasião. Prometeu roupas àqueles que conseguissem resolver o quebra-cabeças. Ninguém conseguiu, mas. pressionando a esposa de Sansão, a resposta apareceu. Em uma fúria para conseguir as roupas, ele foi a Asquelom, matou 30 filisteus e levou suas roupas para dar aos falsos solucionadores de charadas. O casamento logo fracassou: sua mulher foi dada a outro e ele voltou à casa de seu pai (Juí. 14.1-20). O homem era uma máquina de matar. Para se vingar de sua mulher, seu sogro e os filisteus de modo geral, ele prendeu 300 chacais, amarrou seus rabos, pôs fogo nos rabos e os enviou aos campos, o que destruiu as colheitas. Os filisteus ficaram furiosos e mataram a mulher de Sansão e seu sogro. A máquina de matar respondeu com outro grande massacre de filisteus (1uí. 15.1-80). 4. A promessa do nazireado, que exigia cabelos longos. sem cortes, existia desde o nascimento de Sansão, mas, ao longo de sua vida, encontramos muitas infrações dessa condição. Ver NÚm. 6.2-21, para detalhes sobre esta promessa. Ver ainda Nazireado, Votodo, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. O homem que não cumprisse suas promessas religiosas tinha uma vida cheia de reversões e violência, e acabava morrendo prematuramente, algo muito temido pelos hebreus. 5. Outras vicissitudes. Ou Sansão estava atrás dos filisteus, ou os filisteus estavam atrás dele. Vingança é o nome do jogo. Após o incidente dos chacais, seu próprio povo o prendeu (por considerá-lo um encrenqueiro) e o entregou ao seu inimigo. Sansão foi amarrado com duas cordas e imobilizado. Eles concordaram em não matá-lo com as próprias mãos e levaram-no a Leí (Lehi, que significa queixo). Ali os filisteus o receberam e pretendiam divertir-se ao torturá-lo e matá-lo. Mas quando Sansão ouviu os gritos de triunfo. sua força repentinamente anormal reapareceu. Ele rompeu as cordas, agarrou o queixo de um asno e imediatamente matou mil filisteus. Acabou-se a história de amarrar o homem com cordas! (Ju!. 15.9-20). 6. Sentindo-se razoavelmente bem, ele foi a Gaza e ali

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SANSÃO - SANTAYANA viu uma lindajovem, uma prostituta, e manteve relações com ela. Os habitantes da cidade fecharam os portões e o confinaram na cidade, planejando matá-lo no dia seguinte. Pela manhã, a máquina de matar deixou a casa onde passara a noite com a mulher e viu os portões trancados. Imediatamente quebrou as travas e levou consigo toda a estrutura do portão até o topo de uns morros das redondezas. Acabou-se a história de confinar o homem com portões! (Juí. 16.1.3.). Isso ocorreu por volta de 1070 a.c. Meus amigos, estou relatando apenas parte da história, pois contá-la toda seria assustador. O homem andava por aí como Zeus encarnado e fazia o que queria com homens, o que, de modo geral, significava matá-los exatamente como fazia Zeus. 7. A perversa Dalila. O homem que nenhum homem pôde conquistar foi derrubado por uma mulher, uma história tão antiga quanto o próprio mundo. Após várias tentativas, aquela temível mulher foi capaz de arrancar de Sansão o "segredo" de sua força. Nenhum homem poderia ser tão forte quanto ele sem algum tipo de segredo. A promessa havia sido feita a Yahweh, e seus longos cabelos eram o sinal do pacto. Se seus cabelos fossem cortados, Sansão seria reduzido à normalidade. Os filisteus conseguiram cortar-lhe os cabelos e prendê-lo, depois o cegaram e o forçaram a moer grãos (como um animal) no moinho giratório de uma prisão. Mas seu cabelo voltou a crescer e nenhum filisteu percebeu o perigo que se aproximava. Em uma ocasião especial, para honrar o deuschefe Dagom, os filisteus trouxeram Sansão para fazer parte da diversão no festival. A festa estava sendo realizada entre dois pilares que sustentavam a casa Após uma rápida oração a Yahweh, Sansão agarrou os pilares, derrubou-os e, com eles, a casa toda, matando a si mesmo e a três mil filisteus. Assim, com sua morte, Sansão matou mais inimigos do que havia matado durante toda a sua vida, o que foi uma realização e tanto (Juí. 16). 8. Historieidade. Os críticos consideram essa história um folclore romântico e dramático, um tipo de romance antigo. Outros acham que tudo isso foi verdade, pondo e tirando alguns detalhes. Outros ainda estão certos de que apenas metade da temível história foi contada, pois ela é assustadora demais para ser exposta. De qualquer forma, dizem que o homem "julgou Israel" por vinte anos (Juí. 16.28-31), embora a história sobre Sansão nada aponte nessa direção, mais interessada em discursar sobre a incrível máquina de matar. Suponho que Sansão nada tenha feito parajulgar. Ele estava ocupado demais entrando e saindo de encrencas. 9. Caráter. Não há muito que falar sobre o "caráter" de um homem como Sansão. Ele era um homem de ação, não de pensamento, exceto quando usou sua inteligência para ajudá-lo a realizar seus planos destrutivos. Por outro lado, Sansão teve vários encontros próximos com Yahweh, e o Deus de Israel nunca o desapontou. O segredo de sua força foi a associação com Yahweh, não seus cabelos, que eram apenas um símbolo. Sansão foi o nazireado, o homem de extraordinária força sobrenatural, a qual ele recebeu como uma dádiva de Deus para cumprir ..u ma missão específica. Ele cometeu muitos erros e tomou más decisões, mas ainda assim conseguiu realizar o trabalho, e talvez essa seja uma boa descrição da maioria de nós. Sua história é contada em Juí. 13-16. Ele foi o Hércules dos hebreus. Verdadeiramente, como disse Hércules, se pudesse ter encontrado um lugar para se posicionar, ele teria sido capaz de mover o mundo todo.

SANSERAI No hebraico, a palavra significa heróico. Foi o nome do primeiro dos seis filhos de Jeroão, que residiu em Jerusalém em torno de 1100 a.c. (1 Crô. 8.26). SANTA FÉ Este título é dado à sede do bispado de Roma. No uso corrente, canônico e diplomático, a Santa Sé (no latim, Saneta Sedes) refere-se não somente ao bispado de Roma, mas também à cúria romana, por meio da qual costumeiramente o papa administra os negócios da Igreja Católica Romana. Segundo o uso eclesiástico, o termo latim sedes, que literalmente significa cadeira, refere-se à residência de qualquer bispo católico romano. Seu oficio é a sua cadeira ou trono, de onde ele cumpre a sua missão. A expressão Santa Sé já teve significado mais geral, referindo-se a certo número de bispados que, segundo se cria, teriam sido fundados pelos apóstolos; mas, com o tempo, tal uso foi limitado somente ao bispado de Roma. SANTAYANA, GEORGE Suas datas foram 1863-1952. Filósofo europeu-norte-americano nascido em Madri, Espanha, educou-se em Harvard. Ensinava ali quando William Jantes e Royce também ali ensinavam. Por ocasião da morte de seu pai, recebeu uma herança grande bastante para conferir-lhe independência financeira, e dessa maneira voltou à Europa, escolhendo Roma como local de moradia. A partir de então levou uma vida tranqüila, caracterizada pela erudição, parte da qual consistiu na composição de excelente material poético.

Idéias: 1. Ele combinou elementos tão heterogêneos quanto o materialismo, o ceticismo e o platonismo, mas não procurou construir nenhum sistema. Antes, buscava discernimentos onde quer que pudessem ser achados. À semelhança de Descartes, tentou levar à frente o método da dúvida, o máximo possível, para então ver o que emergiria além da dúvida. 2. Descobrindo que coisa alguma está para além da dúvida, voltou-se para a fé, buscando sentimentos e crenças fundamentais. Consideremos um de seus belos poemas: Oh, mundo, não escolheste a melhor parte; Não é sábio ser apenas sábio, E fechar os olhos para a visão interior, Mas é sabedoria acreditar no coração. Colombo achou um mundo, e não tinha mapa, Salvo o da fé, decifrado nas estrelas! Confiar na empresa invencível da alma Era toda a sua ciência, toda a sua arte. Nosso conhecimento é uma tocha fumegante Que ilumina o caminho um passo de cada vez, Através de um vazio de mistério e espanto. Ordena, pois, que brilhe a luz terna da fé, A única capaz de dirigir nosso coração mortal Aos pensamentos sobre as coisas divinas. 3. Suspendendo a crença, o indivíduo seria capaz de sentir grande qualidade estética na natureza, embora ache impossível encontrar provas das coisas. 4. Entretanto, os impulsos internos levam a pessoa a crer em qualquer coisa que lhe seja necessária à sobrevivência. Conforme dizia Hume: "A fé animal toma conta das coisas".

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SANTAYANA - SANTIDADE 5. Se tivermos de agir. então a substância deve ser admitida como real, e nisso cremos em nossa própria realidade, e também na dos outros, bem como na ordem da natureza. Aí entra o desígnio. 6. Essas admissões implicam a existência de dimensões do ser onde a matéria é o elemento básico. Sua aceitação e descrição do "eu" seguia as linhas do epifenomenalismo (ver a respeito). 7. Acima da matéria. sentimos a nobreza da verdade, embora ela fale, essencialmente, a respeito da matéria. 8. Os homens, em face de suas necessidades biológicas e psicológicas básicas, formam sociedades e instituições. A sociedade ideal compõe-se das mais elevadas realizações humanas nos campos da religião, da arte, da ciência e da ética. 9. Podem ser distinguidos três níveis de ética: a. Uma moralidade pré-racional, inspirada em declarações sucintas, aforismos, injunções. Essa ética é, ao mesmo tempo, rica e incoerente. b. A moralidade pré-racional, uma vez purificada, confere-nos a ética racional. com suas regras e raciocínios filosóficos. É daí que emerge a vitalidade da sociedade. c. O otimismo, na ética racional, cede lugar ao pessimismo em uma moralidade pós-natural. Aqui encontraríamos esquemas religiosos acerca da salvação para além deste mundo: a felicidade deve ser encontrada algures, onde o homem não se encontra. A bondade nesse mundo fracassa, pelo que só pode ser achada nas esferas fora deste mundo. 10. A beleza é encontrada no senso de prazer, derivada de objetos que nos ferem os sentidos, como os das artes. A experiência estética difere de outras experiências agradáveis por sentirmos que a estética é uma qualidade pertencente aos objetos. Isso posto. obtemos um "prazer objetivado", que nos confere o senso do belo. A criação de objetos de arte é um impulso humano básico, tão básico quanto a religião. A arte, como a religião, deriva-se da preocupação do homem com a sua situação e posição na vida. li. A religião é uma espécie de ponte entre a ciência e a mágica. Suas origens são primitivas e mágicas. Conduz os homens à ciência e à filosofia. A religião, para Santayana.ié uma construtiva obra da imaginação. "As religiões são as grandes histórias da carochinha da consciência", dizia ele. E, como tais, animam os espíritos desmoralizados. Emocionalmente. Santayana parecia gostar mais da exibição de essência, presente nas formas religiosas, que dos resultados da filosofia ou da ciência. 12. Sua filosofia leva os homens a um meio de vida que salienta a gentileza, o desprendimento. a contemplação e a gentil ironia acerca dos defeitos da própria personalidade e da personalidade das outras pessoas no mundo. Ele foi uma espécie de cético feliz, que não precisava de crenças e certezas específicas a fim de apreciar a condição humana. Ele suspendia a crença; e, no entanto, cria.

Escritos; Sense of Beaury; Life of Reason (cinco volumes); Skepticism andAnimal Faith; Realms ofBeing; The /dea of Christ in lhe Gospels; Domtnations and Pawers. SANTIDADE Esboço: I. Os Termos Envolvidos 11. Características da Santidade de Deus Ill. A Santidade do Povo de Deus. Cuja Base é a Salvação IV. Santidade de Coisas e de Lugares

v.

O Filho de Deus é Santo VI. O Espírito de Deus é Santo VII.A Suprema Manifestação do Amor é a Santidade

I. Os Termos Envolvidos O vocábulo hebraico qodesh envolve a idéia de separação ou frescor. O termo grego agiosúne significa "separação", "santidade". A palavra-raiz, agos, indica qualquer objeto que merece respeito religioso, que pode ser um sacrifício expiatório, uma maldição, uma polução, algo que transmite culpa, algo separado para uso e adoração aos deuses. A raiz verbal é adzomai, que significa "ter medo", "ter respeito profundo". Agiôtes é a condição da santidade. Esses são os sentidos básicos. Ver o sumário a seguir. No hebraico: Qodesh, o substantivo, "separação", "santidade". O verbo, qadash. "separar". O adjetivo qadosh, "santo", "sagrado". O verbo qidash, "santificar", "separar". As raízes consonantais do substantivo qdsh (vocalizadas como qadesh) continuam sendo estudadas pelos especialistas. É palavra cognata de termos que significam "glória", "honra", "abundância" e "peso". No emprego dessa raiz temos a idéia de "separação" para uso santo ou reconhecimento como sagrado. Em suas várias formas e derivações, a palavra é usada mais de 830 vezes no Antigo Testamento, das quais 350 só no Pentateuco. o que ilustra a importância desse conceito para os hebreus. Qodesh é palavra usada acerca de Deus, lugares e coisas. Deus é santo; um rito levítico é santo; um santuário é um lugar santo. Essas coisas e lugares eram separados para uso divino. Ver os exemplos bíblicos a seguir: Êxo. 3:5 (terra santa); Êxo. 12:16 (convocação santa); Êxo. 15:13 (habitação santa); Êxo, 16:23 (descanso santo); Lev. 2:3,10 (oferendas santas); Núm. 4:4 (coisas santas); I Sam. 2:2 e 6:20 (Deus é santo); Sal. 99:9 (o monte santo de Sião). No grego: Ãgos é palavra que indica qualquer objeto ou condição que desperta respeito e solenidade religiosos, mas também temor, maldição, sacrifício etc. Agias era um dos cinco sinônimos para "santo", no grego clássico. Os deuses eram santos; os seus santuários também eram santos. O sentido original está relacionado ao que desperta respeito ou temor; mas, no uso diário, a palavra algumas vezes indica coisas que são puras, castas, dedicadas ao serviço divino, coisas dignas de estar ligadas com Deus. O próprio Deus é santo (João 17:11; I Ped. I: 15), tal como os profetas (Luc. 1:70; Atos 3:21; 11 Ped. 12). João Batista figura como um homem santo (Mar. 6:20); os apóstolos são santos (Efé, 3:6); os crentes são santos (Col. 3: 12; 11 Tim. I :9). Assim como Deus é santo, também devem ser considerados santos a adoração e o serviço que prestamos a ele (I Ped. 1:15, 16). O termo grego ágios equivale mais ou menos, no Novo Testamento, ao vocábulo hebraico qodesh, conforme também se vê na tradução da Septuaginta.

11.Características da Santidade de Deus A santidade, em seu sentido mais sublime, é aplicada a Deus. Ela denota os pontos seguintes: I. O fato de que Deus está separado da criação. até mesmo daquela porção da criação que não está maculada com a maldade inerente, como os seres angelicais que não caíram no pecado. Isso porque a santidade consiste também na bondade positiva, e não meramente na ausência do mal. 2. Yahweh, pois, é transcendental, fazendo contraste com os falsos deuses (ver Êxo, 15: 1) e com a criação inteira (ver Isa. 40:25). 3. Deus é a essência absolutada santidade, da bondade e da retidão sendo ele o alvo de toda a inquirição por santidade, pureza e bem-estar. baseados na retidão.

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SANTIDADE 4. A santidade de Deus é perfeita e inspiradora (ver Sal. 99:3). 5. A santidade de Deus fala acerca de sua "excelência moral", bem como do fato de que ele está livre de todas as limitações acerca da "excelência moral" (ver Hab. 1: 13). 6. A santidade incorpora em si mesma todas as excelências morais de Deus, como a sua bondade, o seu amor, a sua longanimidade, sendo a luz solar que abarca todas as cores do espectro, mesclando-se com uma força de poderosa 1uz. 7. A santidade de Deus é incomparável (ver Êxo. 15: 11 e I Sam. 2:2). 8. A santidade de Deus é exibida em seu caráter (ver Sal. 22:3e João 17:11), em seu nome (ver Isa. 57:15), em suas palavras (ver Sal. 60:6), em suas obras (ver Sal. 145:17) e em seu reino (ver Sal. 47:8 e Mat. 13:41). Há pureza, justiça e bondade perfeita em todas essas coisas, tendendo à retidão e ao bem-estar de todos, pois Deus é a fonte de tudo isso. 9. A santidade de Deus deve ser magnificada (ver lsa. 6:3 e Apo. 4:8). 10. A santidade de Deus deve ser imitada (ver Lev. 11:44; I Ped. 1:15,16). 11. A santidade de Deus será duplicada nos remidos (ver I Tes. 4:3; Mat. 5:48 e Gál. 5:22,23). 12. A santidade de Deus requer um serviço santo (ver Jos. 24: 19 e Sal. 93:5). IH. A Santidade do Povo de Deus, Cuja Base é a Salvação 1. A Mensagem Bíblica Fala sobre a Redenção. O pecado é o obstáculo básico à redenção. Deve haver liberação do princípio do pecado, se o homem tiver de ser salvo. Ademais, deve haver a santificação ao Ser divino. Não basta alguém ser impecável. Também deve haver a participação positiva nos atributos divinos e nas qualidades morais. Ver os artigos separados sobre Santificação e Fruto do Espírito. 2. A transformação moral processa-se somente mediante a santificação. A transformação moral é necessária à transformação metaflstca. Esses são estágios da própria salvação. São elos de ouro da cadeia da redenção que, finalmente, levam a alma salva à glorificação. Essa glorificação consiste em um processo eterno, não sendo um único acontecimento, que ocorre de uma vez por todas. Ver o artigo sobre a Glorificação. A glorificação leva-nos a partici par da imagem e da natureza de Cristo (Rom. 18:29), através do poder do Espírito, o qual nos conduz através de muitos estágios de transformação (11 Cor. 3:18), para que participemos de toda a plenitude de Deus (Efé. 3:19), ou seja, da própria natureza divina (Cal. 2: 10; 11 Ped. 1:4). Essa participação será real, mas finita. Ver o artigo intitulado Divindade, Participação dos Homens na. 3. A Base Necessária. Toma-se patente, de imediato, que a santidade é algo supremamente necessário à salvação, não algo opcional. O trecho de Heb. 12:14 garante-nos que ninguém verá a Deus sem a santificação. Jamais devemos conceber a santidade como a mera ausência de pecado. Esse é um começo necessário, mas não a própria substância da santidade. Deve haver a participação nas qualidades morais positivas e metafísicas do Ser Divino, para que a verdadeira santidade seja atingida. 4. O Pano de Fundo Veterotestamentário, O povo de Israel deve santificar-se para o Senhor (Deu. 7:6; 14:2,21), tomando-se uma nação santa (Êxo. 19:6); um povo santo (Isa. 62: 12; 63: 18; Dan. 12:7); uma raça santa (Esd. 9:2;

Isa, 6: 13); uma comunidade de santos (Sal. 16:3; 34:9); um reino de sacerdotes (Êxo. 19:6) e uma congregação santa (Núm, 16:3). O livro de Levítico servia de uma espécie de código de santidade, com inúmeras leis pessoais, rituais e cerimoniais, cuja finalidade é promover e tipificar a santidade. Ver Núm. 17--26. Ali são tratadas todas as questões de moralidade prática e pessoal, e não apenas questões cerimoniais. Espera-se que o povo de Deus seja honesto (Núrn, 19:11,36), veraz (19:11), respeitoso aos seus pais (19: 3), respeitoso aos idosas (19:32), tratando os servos comjustiça e eqOidade( 19:13), amando ao próximo (19:33,34), mostrando-se generoso para com os pobres (19: 10,15), ajudando aos fisicamente incapacitados (19: 14,32), mostrando-se sexualmente puro (18: 1-30; 20: 1-21) e evitando as superstições (19:26,31; 20:6,27). Adzomai, "ter medo", "sentir profundo respeito", embora não apareça no Novo Testamento, ilustra o sentido original básico. Agiádzo, um verbo, significa ~separar coisas para propósitos religiosos apropriados (Exo. 29:27,37,44) (na Septuaginta). Tem o sentido de santificar, consagrar (conforme é comum na Septuaginta e nos escritos de Filo, como em Leg. All. 1:18; Spec. Leg. 1,67). A idéia de separação para uso divino encontra-se em Mat. 23:18; I Tim. 4:5. A consagração, dedicação e santificação de sacrificios, em Heb. 2: 11; 9: 13, e a santificação do cônjuge incrédulo pelo cônjuge crente (I Cor. 7: 14), são idéias ilustrativas. Deus consagrou ou santificou o seu Cristo (João 10:36) e também os crentes (João 17: 17; I Tes. 5: 13). O nome de Deus precisa ser tratado como santo, reconhecido como tal, segundo se vê em Isa. 29:23 e Eze. 36:23, na Septuaginta. A idéia de purificação também faz parte do significado dessa palavra (ver Núm. 6: 11, na Septuaginta; Rom. 15:16; I Cor. 1:2; I Tes. 5:23). Agiasma aponta para o "santuário" (I Macabeus 1:23 e Testamento de Daniel 5 :9). Agiasmás significa "santidade", "consagração", "santificação". Ver Rom. 6:18,22; II Tes. 2: 13; I Ped. 1:2; I Cor. 1:30. Agiosúne também é traduzida por "santidade", e "retidão". É a santificação, em contraste com o ato de santificar (agiasmós). Essa palavra acha-se apenas por três vezes no Novo Testamento: em Rom. 1:4 (o espírito de santidade); em 11 Cor. 7: 1 (a santidade que os santos devem possuir, no temor de Deus); e em I Tes, 3: 13 (a santidade que os crentes precisam ter diante de Deus, tomando-se inculpáveis, a fim de poderem enfrentar a segunda vinda de Cristo). Agiotes indica a santificação como um estado, e não como o processo santificadoro Ver Heb. 12: 10. Osiôtes, "santidade", encontra-se somente por duas vezes, em Luc. 1:75 e Efé, 4:24. O significado básico dessa palavra é a observância das leis divinas, da rltidão e da piedade. Õsios indicava algo sancionado ou aprovado pelas leis da natureza, ao passo que dikaios indicava algo estabelecido pelas leis humanas. Originalmente, no grego clássico, o seu sentido cúltico apontava para aquelas coisas que pertenciam aos deuses, ao "sagrado", em contraste com o que é profano. A raiz verbal, osloo (que nunca aparece no Novo Testamento), significa "tomar santo", "purificar", "fazer expiação", e corresponde ao termo latino expiare. O vocábulo ôsios encontra-se por oito vezes no Novo Testamento, sendo usado acerca de Deus, o Santo (Atos 2:27; 13:35), dos atos de misericórdia (Atos 13:34), das mãos santas, erguidas em oração (I Tim. 2:8); e também é usado acerca de Cristo corno o nosso Sumo Sacerdote

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SANTIDADE (Heb. 7:26). Cristo era separado dos pecadores, conforme aquele versículo esclarece. Ver também o artigo separado sobre a Piedade. 5. A Santa Igreja do Novo Testamento. A santidade é salientada por Cristo, que nos trouxe um código moral superior, como também os meios espirituais, através do poder do Espírito, permitindo-nos cumprir as exigências da lei. Ele nos trouxe a nova lei, que opera mediante o poder do Espírito (Rom. 8:2). A comunidade cristã é o Novo Israel (Oál. 6: 16; Efé. 2: 12). O trecho de I Ped. 2:9 destaca a idéia do reino de sacerdotes (Êxo. 19:6), trazendo-a para o Novo Testamento e aplicando a questão à Igreja. Os crentes devem separar-se de todo o mal, como sucedia a Israel, não entrando em alianças comprometedoras (lI Cor. 6: 14 ss.). Eles devem participar das virtudes morais positivas do próprio Deus (Gál, 5:22 ss.). À Igreja cumpre sero veículo das atividades divinas neste mundo (I Cor. 12:27; Cal. 1:18). A Igreja é o templo do Espírito Santo (Efé. 2:22; 3:5,6; I Cor. 3: 16 ss.). O próprio templo é a edificação do Espírito, sendo equivalente, segundo os termos neotestamentários, à Igreja (Efé. 2:19-22). A expiação realizada por Cristo, em favor de sua Igreja (a Noiva), deve resultar na santidade, e não apenas no perdão dos pecados (Efé. 5:25~27; II Cor. li :2). Ver também Apo. 19:7,8; 21 :9. Os próprios "santos" são freqüentemente intitulados "santos", o que significa que formam um povo distinto e separado para Deus. Ver Rom. 1:7; I Cor. 1:2; Efé. 1:15; Cal. 1:12,26; Heb. 6:10; Jud. 3; Apo. 8:3; 16:6 e 19:8. A associação com Cristo separa os crentes do pecado (I Cor. 6: 19), conferindo-lhes pureza e piedade (Efé. 1:4; 5:27), dando-lhes uma chamada santa (Col. 3:12; II Tim. I :9). Na vida do crente, a santidade toma-se realidade mediante a vontade de Deus (I Tes. 4:3), estando centrada em Cristo (I Cor. 1:30), além de ser produzida pelo Espírito (lI Tes. 2: 13), em parceria com a fé (Atos 26: 18; Efé. 1: I; II Tes. I: 11; Apo. 13: 1O). O seu objetivo é a glória de Deus, agora e sempre (lI Tes. 1:10, 12). Resulta de estar alguém em Cristo, expressão usada por Paulo por mais de 160 vezes. Ver sobre Cristo - Misticismo. A união com Cristo deve produzir a santidade, sob pena de nem ter havido tal união (Rom.8:9).

IV. Santidade de Coisas e de Lugares Momentos específicos de adoração e observância rei igiosa são santos, como o sábado (Gên, 2:3; Êxo. 16:23). Há também dias santos (Nee. 8: 11), santas convocações religiosas (No. 12:1-6), nas quais Deus se mostra santo (Deu. 26: 15; II Crô. 30:27; Sal. 11:4). A Terra Prometida é santa (Êxo. 15: 13), como também o são o acampamento de Israel (Lev. 10:4), a cidade de Jerusalém (Nee. 11:1), Sião (Isa. 11:9), o tabernáculo e o templo (Exo. 38:24; Lev. la: 17,18; 1 Crô. 29:3; Sal. 5:6). Além disso, coisas contidas no tabernáculo e no templo eram consideradas santas (Exo. 29:38;30:27; 40:10; II CrÔ. 29:33; Núm. 5:9; Sal. 89:20; I Sam. 21:4; 1Reis 7:51). V. O Filho de Deus é Santo Cristo é pioneiro no caminho que conduz à salvação (Heb. 2: 10). Aquele que é santo conduz o seu povo à santidade. Em doze trechos do Novo Testamento, Jesus Cristo é descrito como santo. Em nove dessas vezes, é empregado o termo grego agios (Mar. 1:24; Luc. 1:35; 4:34; João 6:69; Atos 3: 14; 4:27,30; I João 2:20; Apo. 17). Por três vezes é empregado o termo grego ôsios (Atos 2:27; 13:5 e Heb. 7:26). Cristo foi prometido como o santo filho de Maria, seria o santo Filho de Deus, irmão mais velho dos outros filhos de Deus (Luc. 1:35). Um demônio, em Cafarnaum, reconheceu que Cristo é o Santo de Deus (Mar. 1:24; Luc. 4:24). Ele é o Santo por meio de quem

e

os crentes são ungidos (I João 2:20). Ele é o Senhor das igrejas, e também aquele que é santo e verdadeiro (Apo. 3 :7). Foi escolhido para a sua missão messiânica pelo Pai, por causa de sua santidade superior (Heb. 1:9). Foi tentado, mas não revelou nenhuma falha moral (Heb. 4: 15). Ver o artigo separado sobre a Impecabilidade de Jesus. Em nossa própria transformação segundo a sua imagem, a sua santidade vai sendo produzida em nós, mediante o poder do Espírito Santo (lI Cor. 3:18).

VI. O Espírito de Deus é Santo Um adjetivo muito comum, para indicar o Espírito de Deus, é "santo". No Antigo Testamento, este título ocorre apenas três vezes (ver Sal. 51: 11; Isa. 63: 10,11). Porém, no Novo Testamento, a expressão "Espírito Santo" ocorre por mais de 90 vezes. Ver o artigo separado sobre Espírito de Deus. Para algumas referências neotestamentárias sobre o Espírito Santo, ver Mal. 3: 11 (é ele quem batiza); Atos 2:4 (é ele quem enche e santifica a Igreja); Rom. 5:5 (é ele quem derrama o amor de Deus em nosso coração); I Cor. 2: 13 (ele é o nosso Mestre); I Cor. 3: 17 (somos o templo que ele santifica); 11 Ped. 2:21 (ele é o inspirador das Santas Escrituras); Jud. 20 (ele nos ajuda em oração). VII. A Suprema Manifestaçiio do Amor é a Santidade A única virtude ou atributo de Deus que pode tomar o lugar do nome divino é o amor. Ver I João 4:8. O amor é a prova mesma da espiritualidade de alguém (1 João 4:7). Essa é a grande prova de que alguém nasceu de Deus. "A suprema manifestação da santidade é o amor. Vemos, ao mesmo tempo, um elogio ao agape cristão e ao delineamento da santidade cristã, no décimo terceiro capítulo de 1 Corintios. Isso teve pleno cumprimento somente no homem Jesus Cristo. No entanto, permanece como critério pelo qual é medido o desenvolvimento do crente na graça. A essência da natureza divina é o amor santo. É nisso, acima de tudo, que assim como ele é, também o somos no, mundo (I João 4:17)". (Z) Deus ama, e, por conseguinte, deseja santificar-nos, porquanto, sem a santificação, as aspirações do amor de Deus, no tocante à salvação do homem, jamais se concretizam. O pecado e a imperfeição destroem o plano piloto da salvação do homem. Isso posto, o amor busca e atinge a verdadeira santidade no homem. O amor cultiva a santidade nos crentes. SANTIDADE, CÓDIGO DA Ver sobre J.E.D.P. (S.) Ver o artigo geral sobre o Pentateuco. O Código da Santidade é a alegada fonte literária do Pentateuco, parte do material que foi incluído nos cinco primeiros livros da Bíblia, por algum compilador e editor. Refere-se a certa porção do livro de Levítico (capítulos 17 a 26), além de incluir outras passagens, como Exo. 21 :13,14; Lev. 11:43,45 e Núm. 15:37-41. Conforme afirma essa teoria, tornou-se uma coletânea de leis, e mais tarde foi incorporada no que se denomina Código Sacerdotal. Os eruditos aludem a esse código como S, de "sacerdotal". Quanto às várias presumíveis fontes de informação do Pentateuco, ver sobre a teoria JEDS, em que cada letra representa um dos quatro supostos documentos originais. Comentamos sobre cada um desses documentos, nesta enciclopédia. O Código da Santidade teria sido inspirado pela escola de Ezequiel, advertindo contra as transgressões morais, as corrupções rituais e as influências pagãs, fazendo valer as apropriadas advertências de juizo divino, se o povo de Israel não obedecesse às normas desse código.

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SANTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO Ver também Santificar. Esboço: I. Idéias Gerais 11. Elementos da Santificação I1I.Inteira Santificação IV.O Alvo da Santificação I. Idéias Gerais O termo grego aqui empregado é agiasmos, que significa "consagração", "separação", "santificação". Refere-se ao processo que leva o crente a tomar-se uma pessoa dedicada, santa, baseada em um início implantado quando da conversão, forensemente reconhecido diante de Deus, mas também concretizado nele, através de sua transformação moral. O alvo final é a perfeita concretização dessa santidade no indivíduo, de modo que a própria santidade de Deus Pai seja plenamente absorvida (ver Mal. 5:48 e Rom. 3:21). Somente essa forma de santidade é aceitável por Deus; todos os seres que habitam nos lugares celestiais e, portanto, todos os seres que estão próximos de Deus, devem ser santos como Deus é santo. A conversão e ajustificação são as sementes da santificação. No artigo sobre Justificação, pode-se perceber que a justificação, conforme os termos paulinos, realmente inclui aquele processo que se chama santificação, ainda que os reformadores protestantes, sobretudo Lutero, tenham feito clara distinção entre uma e outra doutrina, provavelmente no zelo de procurar preservar a justificação isenta de qualquer pensamento de esforço humano. Todavia, essa distinção não é paulina, pois ajustificação é para a vida, e nelahácomunicação de vida santa, e não apenas um "decreto forense" de Deus, que declara que o crente está "posicionalmente" perfeito em Cristo. E verdade que essa declaração forense está envolvida, mas há mais ainda envolvido. Consiste em realmente aperfeiçoar o crente, mediante a influência do Espírito Santo; e isso pode ser chamado de santificação "progressiva" ou "presente". A linha divisória entre ajustificação e a santificação é muito tênue, se é que realmente existe. Ajustificação, em seu sentido pleno, toma-se real e vital na santificação, que é a operação do Espírito Santo que toma o indivíduo dedicado e santo, e que assim, finalmente, vem a tomar-se tão santo quanto o próprio Deus. (Vero artigo sobre a Justificação. ) A "santificação" tem um aspecto passado, obtido quando da conversão; há também a santidade presente (ver GáI. 5:22,23), que vai sendo paulatinamente implantada pela ação e poder do Espírito; e há também um aspecto futuro da santificação, quando todo o resquício de pecado será tirado, quando o indivíduo se tomar finalmente participante das qualidades morais positivas de Deus, e não meramente livre da presença do pecado. E isso significa que o homem tomar-se-á tão santo como Deus, perfeito na bondade, najustiça e no amor, e esse é o alvo na direção do qual estamos sendo levados pela santificação. Ora, é a transformação de nossa natureza moral que produz uma transformação correspondente da natureza metafísica, a qual nos tornará participantes da própria natureza e divindade de Cristo (ver Rom. 8:29; 11 Cor. 3: 18 e 11 Ped. I :4), a saber, da "total plenitude de Deus" (ver Efé. 3: 19). Esse é o alvo culminante da santificação. 11. Elementos da Santificação 1. Separação do crente para Deus e para o seu serviço (ver Sal. 4:3). 2. É uma realização divina (ver Eze. 37:28; I Tes. 2:23 e Jud. I), por meio de Cristo (ver Heb. 2: 11 e 13: 12), e através do Espírito Santo (ver Rom. 15: 16; I Cor. 6: 11 e I Tes. 4:8). 3. Consiste na comunhão mística com Cristo (ver I Cor. 1:2).

4. Depende do valor da expiação pelo sangue de Cristo (ver Heb. 10:10 e 13:12). 5. Realiza-se mediante a energia da palavra de Deus (ver João 17: 17,19 e Efé. 5:26). 6. Cristo é o nosso mais elevado exemplo de santidade, porquanto é a nossa santificação (ver I Cor. 1:30). 7. A eleição leva a efeito esse alto objetivo, por meio da santificação, não podendo esse alvo deixar de ser concretizado na vida do crente regenerado, visto que é um dos elos da cadeia de ouro que nos leva à glorificação (ver 11 Tes. 2: 13 e I Ped. 1:2). 8. A igreja se tomará gloriosa por meio da santificação (ver Efé. 5:26,27). 9. Conduz o crente à presente mortificação da natureza pecaminosa (ver I Tes. 4:3,4). 10. Conduz o crente àquela santidade no Intimo sem o que ninguém verá a Deus (ver Rom. 6:22; Efé. 5:7-9 e Heb. 12: 14). 11. Toma aceitável para Deus a "oferta" dos santos (ver Rom.15:16). 12. A vontade de Deus é que os crentes sejam santos (ver I Tes. 4:3). 13. Também é mediante a santificação que os ministros de Deus são separados para o serviço divino (ver Jer, 1:5). 14. Devemos orar insistentemente para que os crentes participem plenamente da santificação (ver I Tes. 5:23). 15. Sem a santificação ninguém poderá herdar o reino de Deus (ver I Cor. 6:9-11). Hl, Inteira Santificação 1. Biblicamente falando, isto é declarado impossivel para a vida atual. Ver I João 1:8. 2. A experiência mostra que declarações de inteira santificação são falsas. 3. As pessoas que declaram Ter alcançado a "perfeição" sempre reduzem a definição do pecador para ter a capacidade de viver (em algum grau) suas declarações. 4. A santificação inclui a participação positiva nas virtudes morais de Deus (Gál. 5:22,23). Deste ponto de vista, a santificação deve ser um processo infinito, eterno. Ver Efé. 3: 19 sobre a nossa participação na plenitude de Deus. A perfeição atualmente é o alvo. A perfeição de Deus sempre será o alvo de nosso viver. Em termos gerais, tudo isso está envolvido no processo de separação ou dedicação a um ser santo, para seu uso, para seu serviço, tanto nesta terra como nos céus, tanto no tempo como na eternidade. Deus santifica. Cristo santifica e o Espírito Santo santifica (conforme declaramos anteriormente), mas o próprio crente também se santifica, cedendo à influência divina e aplicando os meios normais de adoração e purificação, como a oração, o estudo da Palavra e a meditação, além da inquirição pelo Espírito Santo. Esses são "meios" que compete ao crente aplicar a si mesmo, a fim de que o Espírito Santo, por sua vez, opere sua obra santificadora. (Ver os trechos de Lev. 11:44; Jos. 7:13 e 11 Cor. 6:14-18, onde a responsabilidade da santificação é imposta ao homem.) A santificação consiste na transformação moral do crente segundo a imagem de Cristo. Por isso mesmo torna-se necessária a comunhão com ele, para que haja essa realização (ver I Cor. 1:4 e 11 Cor. 3: 18). As experiências espirituais específicas podem intensificar a busca e 'fornecer vitórias especiais no terreno da santificação; mas nenhuma experiência poderá entregar tudo para nós. De fato, na qualidade de seres mortais, não somos ainda o tipo de seres que possa ter a santidade em seu sentido mais completo, conforme explanado acima. É mister que o indivíduo receba a natureza divina e esteja

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SANTIFICAÇÃO - SANTO DOS SANTOS habitando nos lugares celestiais, antes de poder dar os passos gigantescos na direção da perfeição moral que podemos intitular de "inteira santificação". Trata-se de uma inquirição eterna, e não meramente da terra ou dos céus, como se, por ocasião da partida do crente deste mundo e de sua entrada nos lugares celestiais, tudo pudesse ser atingido automática e repentinamente. Pelo contrário, esse exaltado alvo está sendo atingido; e nisso consiste a própria existência do crente, nisso consiste a própria natureza da vida terrena - tornarmo-nos cada vez mais semelhantes a Deus. A santificação tem sido reduzida a um "sacramento", porquanto muitos estudiosos supõem que, na Igreja Católica Romana, a santificação é conferida através da graça supostamente inerente nos sacramentos. Pelo contrário, a santificação é e sempre será "mística", ou seja, vem através da comunhão mística com o Espírito de Deus, mediante sua presença habitadora contínua. Certamente que isso não envolve um processo legalista. Não pode a santificação ser atingida mediante a observância consciente de algum código legal. IV. O Alvo da Santificação I. A santificação tem seus primórdios originários na eleição; e uma vez que se desenvolve em realidade, ela se torna um meio da eleição. 2. O Espírito Santo é o agente da santificação, pois afinal de contas, trata-se de uma realização divina. Requer a cooperação humana e se concretiza mediante o uso dos meios de desen-volvimento espiritual, como o amor, bem como o emprego dos dons espirituais, no cumprimento de nossas respectivas missões e na santificação. 3. O alvo é elevadíssimo: antes de mais nada, a própria natureza santa de Deus está sendo implantada em nós (ver Dan.3:21). 4. A perfeição de Deus é o alvo da santificação (ver Mal. 5:48). Chegaremos a participar da natureza do Pai, porquanto somos filhos de Deus e estamos sendo conduzidos à glória (ver Heb. 2: 10). 5. A participação na natureza metafísica de Deus é o resultado da inquirição após a perfeição (ver 11 Ped. 1:4). Isso nos conferirá a plenitude divina (a natureza e os atributos de Deus), conforme se aprende em Efé. 3:19. Essa transformação é levada a efeito em conformidade com a imagem do Filho, o qual é o arquétipo da nossa salvação (ver Cal. 2: I O e Rom, 8:29).

SANTIFICAR Ver também Santificação. O termo hebraico kadash envolve as idéias de separar, consagrar, tornar santo, mostrar que algo é santo. O vocábulo grego agiázo significa "separar" (para algum uso sagrado), "santificar", "dedicar", "reverenciar", "purificar", "tratar como santo". Ver o artigo separado sobre a Santificação. Os sinônimos encontrados na Bíblia, que se referem ao ato de santificar e à santificação, são: consagrar, devotar, dedicar, reverenciar. A idéia de separação sagrada com freqüência faz parte inerente do termo. Coisas Santificadas: 1. Oferendas. Ofertas especiais de vários tipos eram apresentadas pelos sacerdotes, as quais eram consideradas santas (Êxo. 28:38). Os dízimos eram santificados para uso dos sacerdotes (Núm. 18:29). Os indivíduos ritual mente imundos eram separados dos adoradores, visto que não haviam cumprido os requisitos da santificação cerimonial (Lev. 22:3).

2. Edtflcios. Lugares dedicados à adoração e ao serviço a Yahweh eram reputados lugares santos (Lev, 16:19). Isso era aplicado até aos lugares que eram temporariamente estabelecidos com essa finalidade (I Reis 8:64). O tabernáculo e o templo, com todos os seus imóveis e utensílios, também eram considerados santos (Exo. 20:8-11; Eze. 20:20). 3. Ocasiões Especiais. Festas e festivais eram períodos separados para a adoração a Yahweh e para a celebração de eventos especiais. Isso incluía o ano do jubileu (ver a respeito), celebrado a cada 50 anos (Lev. 25: 1O). Ver o artigo separado sobre as Festas (Festividades) Judaicas. O sétimo dia de cada semana era santificado, dedicado à adoração ao Senhor (Gên, 2:3; Eze. 20:20). 4. Os Sacerdotes. Arão e seus filhos foram originalmente consagrados às funções sacerdotais. E então os seus descendentes continuaram a tradição. Ver Êxo. 29. Cristo põs fim ao antigo tipo de oficio sacerdotal, quando se tomou o nosso grande Sumo Sacerdote (Heb. 9: 11). Deus se consagrava por amor ao seu povo (João 17: 19). Agora, todos os crentes formam uma raça eleita, um sacerdócio real. Deles é requerido que se santifiquem, não menos que os sacerdotes originais (I Ped. 2:9). 5. Deus. O nome do Senhor deve ser considerado santo por todo o seu Povo (Lev. 22:32). Ele não é santificado somente em relação à doutrina, mas, acima de tudo, através dos atos e formas de adoração de seu povo. Jesus declarou, na oração do Pai Nosso: " ... santificado seja o teu nome.;" (Mal. 6:9). 6. Os Crentes do Novo Testamento. Já vimos no quarto ponto, que todos os crentes são sacerdotes, dentro da dispensação do Novo Testamento. O trecho de Rom. 12:1,2 refere-se especificamente à necessidade de o crente viver separado da maneira de viver do mundo, inteiramente dedicado ao Senhor, mediante a renovação de seus hábitos mentais. Vero artigo geral sobre a Santificação. Vertambém sobre Hábito. SANTO DE ISRAEL Ver sobre Deus, Nomes Bibltcos de. SANTO DOS SANTOS Ver Lugar Mais Santo. Ver os artigos gerais sobre o Tabernáculo e o Templo. O Santo dos Santos (em hebraico, Kodesh ha Kodashim) era a porção mais sagrada do tabernáculo e do templo. No tabernáculo, simplesmente fazia parte dele, como uma repartição separada por cortinas. No templo de Jerusalém, porém, era uma construção mais substancial. Era ali que o sumo sacerdote realizava os ritos do dia da Expiação (ver a respeito). Só se podia chegar ao Santo dos Santos passando-se primeiro pelo Lugar Santo, atravessando a divisória de cortinas. Contudo, só o sumo sacerdote tinha o direito de fazê-lo, e isso somente uma vez por ano. Isso representava o fato de que o acesso até Deus se fazia somente por fases. De acordo com a economia do Novo Testamento, o próprio crente toma-se o templo e o Santo dos Santos onde reside continuamente o Espírito (I Cor. 3:16 e ss.). A visita do sumo sacerdote ao Santo dos Santos fazia-se apenas uma vez por ano, um violento contraste com a contínua presença habitadora do Espírito no crente. Aparentemente, o Santo dos Santos era mantido completamente às escuras (I Reis 8:12), o que servia para envolver o lugar em um mistério ainda maior, onde se esperava sentir a assombrosa presença de Deus. Seus móveis consistiam na arca da aliança, sombreada pelos querubins por cima do propiciatório, que, na verdade, era uma espécie de tampa sólida da arca da aliança. O trecho de Heb. 9:4 diz que o Santo dos Santos tinha,

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SANTO DOS SANTOS - SANTOS como um dos seus itens, o incensário de ouro, o que não é historicamente verdadeiro, até onde sabemos, no tocante a nenhuma das épocas da história de Israel. Alguns intérpretes supõem que o autor sagrado se tenha equivocado; mas outros acreditam que a palavra "tinha" significa "pertencente a", embora sem deixar entendido que esse objeto ficava dentro do ambiente fechado do Santo dos Santos. Na verdade, não há nenhuma boa maneira de solucionar o problema, nem é importante resolvê-lo. No tabemáculo original, o Santo dos Santos se localizava no fim do ambiente fechado, penetrando na área do Lugar Santo. Cinco colunas formavam a entrada e, perante elas, ficava o véu. O santuário mais interno, o Santo dos Santos, tinha cerca de 18 m de lado; era quadrado. Continha somente a arca da aliança, a tampa (que era chamada de propiciatório) sobre a qual eram feitas as ofertas do dia da Expiação. A própria arca continha os itens mencionados e descritos em Heb. 9:4. Esse lugar simbolizava o acesso final a Deus. No Novo Testamento, Cristo substituiu esse lugar. Afinal, o acesso é espiritual, e não local. Quando feitos filhos de Deus, moldados segundo a imagem do Filho, nós mesmos somos transformados e adquirimos acesso a Deus, na qualidade de filhos. As passagens de Heb. 4: 14; 6:20; 9:8 e 10:9 descrevem o acesso espiritual de que desfrutamos. Ver o artigo sobre Acesso. O Santo dos Santos representava a salvação final que nos é oferecida, vinculada à idéia de acesso a Deus. As dimensões exatas do Santo dos Santos, no templo de Salomão, aparecem em I Reis 6. SANTOGRAAL Trata-se de uma lenda da em medieval com origens cristãs e pagãs, e narrada com grandes variações. Graal é um cálice grande. Com freqüência, o termo é usado para indicar o cálice que o Senhor Jesus usou por ocasião da última ceia. Conforme diz a lenda, ao que se presume, esse cálice foi preservado por José de Arirnatéia, o qual colheu um pouco do sangue de Cristo vertido durante a crucificação e levou-o até as ilhas britânicas. Mas, por causa da impureza dos que o guardavam, acabou desaparecendo. Outra parte da mesma lenda diz respeito à busca do graal desaparecido. Os mais célebres investigadores foram Perceval e Galaade, cavaleiros da Mesa Redonda, do rei Artur. As mais famosas narrativas que tratam dessa questão foram escritas no último quartel do século XII e em meados do século XIII. A mais notável foi a de Chrétien de Troyes, chamado Perceval le Gallois ou Le Conte dei Graal. Notável também foi a narrativa intitulada Parzifal, de Wolfram von Eshenbach. Perceval não conseguiu achar o graal por causa de sua ignorância sobre o significado do objeto. No relato feito por Wolfram, essa falha também é atribuída à ignorância; mas o graal é finalmente encontrado quando Perceval se toma um sábio. A sabedoria, pois, conquistou o prêmio. Essa obra literária particular é muito comovente, sendo um profundo escrito espiritual, rico em sua simbologia religiosa. SANTO SEPULCRO Ver Sepulcro Santo. SANTOS I. Termos 11. Comentários sobre Termos Específicos Ill.No Novo Testamento IV.Usos pelas Igrejas Católica, Ortodoxa e Mónnon V. Negligência Protestante VI.Lição Moral

I. Termos Hebraico I. chasid (hasid), piedoso, justo. Alguns exemplos: I Sam. 2.9; IICrõ. 5.41; Sal. 30.4; 31.23; Pro. 2.8. 2. qadosh, pessoa santa, consagrada ao serviço de Deus: os sacerdotes (Sal. 106.16); o primogênito (Êxo. 12.2; 7.1); anjos (Deu. 33.2,3). 3. qaddish, separado (Dan. 4.8, 9; 7.18-27). 4. agios (no Novo Testamento), separado, santificado, piedoso (mais de 200 vezes). Exemplos: Mal. 1.18; Apo. 22.21. 11. Comentários sobre Termos Específicos Acima de tudo, Yahweh é sagrado (do hebraico, Qadosh, Lev. 11.44), por conseqüência Seu povo também é sagrado, pois, seguindo Seu exemplo, é transformado moral e espiritualmente e assume um grau de santidade divina. O mesmo termo é usado para os anjos e para os lugares sagrados onde eram praticados cultos a Yahweh. O ugaritico usa uma palavra cognata para referir-se à santidade dos deuses e santuários nos diversos cultos dos cananeus. Cf. Deu. 23.18. Qaddish deriva da mesma raiz que qadosh e tem as mesmas aplicações. Chasid tem um forte tom moral e lembra-nos das expectativas divinas em relação aos homens. Este termo se relaciona a questões de misericórdia e bondade, não meramente à retidão moral. A palavra é muito usada nos salmos e na época dos macabeus, em referência à seita de pessoas alegadamente piedosas que foram os antecessores da posterior seita dos fariseus. 111.No Novo Testamento A palavra grega ágios significa separado, piedoso, moral e eticamente correto, uma pessoa favorecida por Deus por causa de sua participação na santidade divina, através da missão de Cristo e no ministério do Espírito Santo, cujo objetivo é transformar os homens na imagem do Filho (Rom. 8.29; 11 Cor. 3.18). Sem tal transformação, a salvação é impossível. Ver Heb. 12.14. O nome mais comum no Novo Testamento para o crente é "santo", Alguns exemplos são: Atos 9.13; 32; 26.10; Rom. 8.27; 12.13; 15,25,26; Fil. 4.21; Efé. 4.12; 5.3. Não há evidências no Novo Testamento de que apenas os "bons crentes", ou só aqueles que demonstraram dádivas ou realizações, podem ser chamados assim. IV. Usos pelas Igrejas Católica, Ortodoxa e Mórmon Na Igreja Católica Romana, bem como nas Igrejas Ortodoxas, pessoas incomuns, que demonstraram santidade de vida e poder para fazer milagres, são canonizadas e transformadas em um grupo de almas especiais vistas como dotadas poderes e qualidades virtualmente semelhantes às de deuses. A canonização é o nome dado ao decreto que inclui uma pessoa no catálogo ou cânon dos santos, os quais são recomendados à veneração dos fiéis. Para tanto, a pessoa precisa ser beatificada e ter pelo menos dois de seus milagres confirmados através de investigação. Nenhuma pessoa viva pode ser canonizada. A doutrina desses tipos de "santos" é muito complexa e levou muitos séculos para ser desenvolvida. Ver na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia o artigo Santos (Eclesiásticos). Ver também o artigo Beatificação, na mesma obra. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias retornou aos ensinamentos do Novo Testamento ao empregar com força o termo "santos" aos seus fiéis. Alguns fanáticos chegam a chamar outros cristãos de "gentios", para fazer a distinção radical entre os seus santos e as outras pessoas que se autodenominam cristãos.

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SANTOS - SANTOS (ECLESIÁSTICOS) Além disso, esses "santos" são dos últimos dias, pois essa igreja acredita ainda que o Milênio não está longe e que vivemos no fechamento da época final antes de ocorrer a grande intervenção divina. V. Negligência Protestante Os protestantes e os evangélicos estão muito cientes de sua característica "não muito sagrada" e envergonhamse de chamar a si mesmos de "santos". Além disso, não crêem na doutrina que toma de alguns fiéis "superiores", assumindo grandes poderes acima dos outros. Embora isso sem dúvida seja verdadeiro, eles não acreditam em nenhuma classe oficial dessa natureza, em contraste com outros. VI. Lição Moral "Segui... a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Heb. 12.14). Um elemento necessário da própria salvação é a santificação. O título "santo" mantém esse fato diante do crente. Além disso, na vida diária de santidade opera a lei do amor, e essa é a principal lei da espiritualidade (I João 4.7). Ver os artigos Santificação; Salvação e Amor. SANTOS (ECLESIÁSTICOS) Esboço: I. A Palavra e Suas Definições II. Usos Bíblicos do Termo 111. Canonização; Posição e Serviço IV. Comunhão dos Santos V. Veneração aos Santos VI. Avaliação I. A Palavra e Suas Definições No artigo separado Santos, as palavras bíblicas e seus usos são considerados. No presente artigo, está em vista a noção de santos eclesiástícos, aqueles canonizados pela Igreja Católica Romana e pela Igreja Ortodoxa Oriental. A palavra latina da qual esse termo moderno deriva é sanctus, "santo", "consagrado". Nos idiomas clássicos, a idéia que se pode inferir do uso dessa palavra é "separação para o serviço prestado às divindades", indicando alguma pessoa especialmente devotada que se distingue das massas populares. Mas, nas páginas do Novo Testamento, um "santo" é qualquer crente. Este, por haver sido regenerado, foi separado do mundo, tomando-se diferente de seus vizinhos pagãos, porque Deus o separou para si mesmo e porque tal crente agora consagra-se ao serviço do Senhor. De fato, a santificação tem esse duplo aspecto: Deus separa o santo para si mesmo; e o crente se separa para Deus. Além disso, devemos considerar os santos nas dimensões celestes, os quais já atingiram os estágios iniciais da glorificação. Todos nós, crentes, desfrutamos de certa comunhão espiritual com os irmãos que ainda militam na terra e com os irmãos triunfantes no céu. Essa comunhão, naturalmente, envolve o Pai, o Filho, o Espírito Santo e até os anjos bons, formando uma união espiritual real e vital. Ocasionalmente, os anjos são chamados "santos". No uso eclesiástico, os santos comuns também são reconhecidos; mas ali os "santos" são, especialmente, as figuras canonizadas, almas que, em face de sua santidade superior, continuariam atuando sobre a face da terra, incluindo a atividade miraculosa. Atualmente, é de presumir-se, encontram-se em elevado estado de exaltação, ocupando uma classe distinta. Esses santos são os canonizados pela Igreja, conforme se verá na terceira seção. 11. Usos Bíblicos do Termo

O artigo separado intitulado Santos apresenta os vocábulos bíblicos e as idéias acerca dos santos. O povo de Deus, separado pelo Senhor, que se acha no processo de santificação pessoal e está sendo transformado (segundo deve acontecer a todos os crentes), é composto de pessoas que muitas traduções chamam de santos. Ver Lev. 19:2; Sal. 31:23; Atos 9:13; Col. 1:2; I Tes. 3:13. Nas páginas do Novo Testamento, todos os crentes são santos, visto que ali se espera que todos eles tenham sido regenerados, e estejam sendo santificados por Deus, distinguindo-se assim das massas pagãs e incrédulas. Destarte, o crente torna-se um santo em virtude de seu relacionamento especial com Jesus Cristo e dos resultados que esse relacionamento produz. No último dia, quando Cristo retornar, os santos do Senhor participarão de sua santidade especial, o que será manifesto para todos, conforme vemos em I Tes. 3: 13. O mais que tenho a dizer sobre a questão, está contido no artigo referido acima. 111. Canonização; Posição e Serviço . Dentro do catolicismo romano e na Igreja Ortodoxa Oriental, a canonização é o nome dado ao decreto que inclui uma pessoa no catálogo ou cânon dos santos, os quais são recomendados à veneração dos fiéis. Para tanto, a pessoa precisa ter sido beatificada (ver a respeito), e pelo menos dois de seus milagres devem ter sido confirmados. A pessoa a ser canonizada já deve ter falecido. E então o papa proclama, oficialmente, a sua canonização. Um santo assim canonizado toma-se objeto de um tipo inferior de adoração ou veneração, chamado dulia, fazendo contraste com latria, tipo de adoração reservado somente a Deus. Maria, a bendita Virgem, naturalmente, é considerada o maior de todos os santos. Ver os artigos chamados Mariologia e Mariolatria. No conceito católico e ortodoxo, os santos teriam atingido certa posição, dentro da comunhão dos santos, que os qualifica para serem mediadores de seus irmãos menores, que continuam agrilhoados à militância e humildade da vida terrena, e que teriam uma estatura espiritual muito menor que a daqueles. A partir desse ponto, houve grande expansão da doutrina da mediação, de acordo com o que certos santos se tornaram especialistas em tipos específicos de problemas, servindo de mediadores eficazes em suas respectivas especializações. Do ponto de vista teológico, não seria muito dificil defender a tese que essa noção católica romana e ortodoxa oriental deriva-se de conceitos politeístas do paganismo. Ali, cada divindade era classificada segundo seus diferentes poderes. Tudo isso foi transferido para a hierarquia dos "santos" do catolicismo romano e oriental. Dessa maneira, valendo-se das vantagens da familiaridade politeísta (os deuses estariam sempre próximos dos homens, prontos para ajudá-los), os romanistas e outros têm pensado fazer a augusta Triunidade tornar-se menos distante e mais disponível. A deidade estaria por trás da atuação dos santos glorificados, garantindo que eles tomam consciência dos pedidos que os terrenos lhes enviam, sendo dotados para cumprir os desejos emitidos pelos homens, em consonância com a vontade de Deus, à qual todas as almas humanas, elevadas e humildes, estão sujeitas. Desse modo, os "santos" não atuariam independentemente de Deus; antes, seriam seus delegados quanto a inúmeras tarefas. É mister observar que aquilo que essa doutrina diz acerca dos "santos" há muito vinha sendo a doutrina normal referente aos anjos. O ministério angelical certamente inclui o tipo de ajuda que certos homens buscam da parte dos "santos"; e muitas pessoas costumam orar aos anjos, embora isso nunca transpareça como doutrina bíblica

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SANTOS (ECLESIÁSTICOS) Não obstante, a mediação (que não envolve a salvação) é uma realidade em muitos níveis, de acordo com certos ensinos bíblicos, o que nem por isso elimina a mediação de Cristo para o encontro da alma com Deus. Ver I Tim. 2:5. Deus conta com seus agentes e delegados, e, se buscarmos esse auxílio, ele nos será conferido. Entretanto, isso não ratifica nemjustifica a doutrina geral dos "santos", muito mesmo aprova a prática das preces dirigidas a eles. Porém, se orarmos a Deus, pedindo ajuda, ele poderá escolher enviar um anjo para realizar o trabalho a ser feito. Não obstante, Deus poderia preferir enviar alguma outra alma para fazer tal trabalho de ajuda; ou poderia modificar as circunstâncias. Naturalmente, isso não significa que devamos venerar esses delegados de Deus; mas também não devemos desprezar seu potencial para serviço e ajuda. De fato, precisamos de toda a ajuda que pudermos obter. Outro serviço prestado pelos santos é o grande exemplo no tocante a como se deve viver a vida espiritual. Mas, de todos esses exemplos, o maior é mesmo o do Senhor Jesus Cristo. "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (I Cor. 11:1). Paulo convidou os crentes a imitá-lo, tal como ele mesmo procurava imitar a Cristo. A memória de homens dotados de espiritual idade e santidade incomuns, bíblicos e extrabíblicos, pode inspirar-nos a uma maior realização espiritual. A literatura em muito contribui para apresentar-nos esse tipo de ajuda. IV. Comunhão dos Santos Minha opinião pessoal é que nós, os evangélicos, temos dado pouca importância a essa doutrina. Não há que duvidar que a Igreja de Cristo é uma só, e a comunhão dos santos e seus poderes e possíveis efeitos não cessa meramente porque há santos na terra e santos no céu. Ver o artigo Comunhão dos Santos, quanto a completas explanações a respeito. V. Veneração aos Santos Os homens inclinam-se por venerar outros seres humanos, especialmente aqueles que são os grandes astros do mundo dos entretenimentos. Até alguns poucos políticos são venerados. Infelizmente, grandes matadores (como certas figuras militares) são especialmente venerados na História. Visto que a mente humana está condicionada a esse tipo de atitude, não é de admirar que pessoas de elevadas realizações espirituais (conforme é o caso de muitos dos "santos") recebam a veneração de seres humanos que ainda estão na terra. A história da veneração aos santos é bastante antiga na Igreja. A seguir oferecemos um esboço dessa históri a. Nos primeiros dias da antiga Igreja, o termo "santo" era aplicado aos mártires ou mesmo aos mártires potenciais, aqueles cujas vidas santas e serviços os tomavam prováveis candidatos ao martírio. Mas um mártir também era alguém de elevada estatura espiritual, que vivia como mártir e não precisava sofrer o martírio para ser chamado de mártir. Participar desse tipo de vida era suficiente para merecer esse título. Seja como for, os mártires eram objetos de atenção especial, e aqueles que eram executados por causa de sua fé logo se tomavam objetos de veneração. Quando a Igreja tentou definir a questão, criou a distinção entre dulia (a forma inferior de adoração, ou seja, a veneração) e latria (a adoração reservada exclusivamente a Deus). Essa distinção é facilmente entendida, sendo observada pelos católicos romanos (se pudermos acreditar nas afirmações deles); mas serve somente para repelir aos protestantes e evangélicos, os quais, pela Bíblia, entendem que só Deus deve ser adorado, ficando excluídos anjos, seres humanos e o que mais possa ser nomeado. Os sepulcros dos mártires não tardaram a ser objetos de peregrinação, e não foi preciso muito tempo para que ali

surgissem santuários religiosos. Seguiram-se alegadas curas, e isso contribuiu para reforçar o culto aos "santos". A prática de ter relíquias sobre os altares, como parte do culto, paralelamente às peregrinações, aumentou mais ainda a veneração. Assim, lá pelo século IV d.C., vários padres e Cirilo de Jerusalém encorajavam aos fiéis a pedir que os "santos" intercedessem por eles, diante de Deus. Pelos fins do século IV e começos do século V d.C., foram adicionados os chamados confessores à lista das personagens veneradas. Esses confessores eram pessoas extremamente religiosas que, embora não tivessem morrido como mártires, eram considerados como tais, conforme expliquei anteriormente. Durante a Idade Média, publicações sobre a vida dos santos, ou descrições verbais acerca deles, aumentaram ainda mais o seu prestígio entre as massas católicas. Foi então que a doutrina geral dos "santos" veio a ter grande desenvolvimento e elaboração. Infelizmente, tanto relatos sobre verdadeiros santos quanto relatos sobre figuras fictícias vieram a fazer parte desse culto crescente, que sempre rendeu gordos dividendos, sob a forma de doações em dinheiro e outros bens. Relatos apócrifos tomaram-se uma praxe. Até os nossos próprios dias, a Igreja Catól ica Romana tem tido de cancelar os nomes de alguns falsos santos, para horror dos veneradores locais, os quais as mais diversas "graças" tinham recebido da parte de "santos" que, agora, passam a ser declarados como quem nunca chegou ao céu. A Reforma Protestante, entre outras coisas, protestou contra esse culto aos "santos". Os seguidores de Calvino e de Zuíngl io fizeram cessar completamente a prática em seu meio, tachando-a de antibíblica e prejudicial à adoração a Deus, e de provocação contra a mediação de Cristo. E os reformadores também mostraram até que ponto o engodo e a superstição haviam entrado em toda essa questão. Os Trinta e Nove Artigos da comunidade anglicana condenaram a invocação aos santos (artigo 22). Mas, desde então, alguns anglicanos têm reinterpretado o artigo, supondo que ele tenha sido escrito em uma época de excessos, e que agora precisa ser afrouxado. Sem Cristo no coração, todo o homem toma-se um idólatra. Em 1563, o Concílio de Trento reteve a veneração aos santos, embora fizesse a distinção entre a dulia e a latria, conclamando os católicos romanos a usar de cautela e evitar excessos nessa adoração. Esse concílio salientou a mediação única de Cristo, da qual toda e qualquer outra mediação é parte integrante, por meio de delegação. Na realidade, esse arranjo antibíblico oficializa toda e qualquer mediação que os homens queiram inventar. Porém, segundo as recomendações católicas romanas, quando seus fiéis orarem aos "santos", deverão fazê-lo com o propósito de mediarem junto a Cristo por eles, pois em Cristo todo o poder está investido. A origem das bênçãos procederia do alto, mas os homens poderiam valer-se da mediação de poderes secundários, para chegar ao cume. O movimento de Oxford da comunidade anglicana (século XIX) fomentou a veneração aos "santos" por parte dos anglo-católicos. Mas os baixo-anglicanos permanecem protestantes quanto a seu ponto de vista sobre a questão. Os grupos protestantes não veneram os "santos", ainda que, ocasionalmente, apareça um templo com o nome de algum deles, em sua honra, posto que não exista tendência alguma para a veneração. A Igreja Católica Romana, contudo, prossegue promovendo a veneração aos santos. Seu calendário litúrgico especifica os dias de festa de seus muitos "santos". VI. Avaliação

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SANTOS ECLESIÁSTICOS - SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS Não é errado relembrar os heróis da fé; e também não é mister fazer cuidadosas distinções entre os santos, quanto às denominações cristãs a que eles pertenceram. E apesar de não ser correto usar o termo "santo" para distinguir uma alma humana altamente desenvolvida, que se eleva acima de seus irmãos (tanto nesta vida quanto na outra), é indiscutível que há almas que estão acima das demais. Mas todas as pessoas remidas são santas, ou seja, foram separadas para o Senhor Deus, por estarem em Cristo; e todas essas pessoas merecem o epíteto. Porém, tal como sucede nesta vida terrena, assim sucederá na existência pós-túmulo - algumas almas remidas terão um grau mais elevado de transformação segundo a imagem de Cristo. É correto termos tais pessoas como objetos de admiração e emulação, pois nos servem de bons exemplos. Mas é um erro transformá-Ias em objetos de culto. A Bíblia condena em termos bem claros essa forma de culto, dirigido à criatura. Consideremos, para exemplificar, uma declaração paulina: " ... eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém" (Rom. 1:25). Assim afirmando, não nego que tais almas possam ajudar a outras, com base na comunhão dos santos. De fato, espero que assim suceda, porquanto precisamos de toda a ajuda que pudermos obter, para a promoção tanto de nossa suficiência material quanto para de nosso progresso espiritual. Se anjos ministram àqueles que são os herdeiros da salvação (ver Heb. l :14), não vejo por que duvidar que os santos de Deus, já do outro lado da existência, tanto os maiores (assim reconhecidos) quanto os menores (nossos parentes e amigos crentes etc.), possam prestar-nos sua ajuda, sem que para tanto sejam por nós solicitados em nossas orações, e sem que para tanto tenhamos de prestar-lhes culto. Tais orações já seriam orações dirigidas aos mortos, prática condenada por Deus desde o Antigo Testamento. No entanto, se um espírito remido chegar a mostrar interesse por minha vida, e eu for capaz de detectá-lo, então poderei dizer-lhe: "Alegro-me em vê-lo! Faça o que puder!". Em outras palavras, creio que tais espíritos podem ministrar, da mesma maneira que fazem os anjos. Ocasionalmente, ouve-se o relato de alguma cura especial, operada por um espírito, dentro dos limites de uma família. Nesse caso, Deus pode ter enviado tal espírito como seu delegado e todos os delegados de Deus são bem-vindos. Nem por isso, entretanto, devo prostrar-me a venerar aos delegados de Deus. Acredito que o amor entre os membros de uma família continua para além da morte biológica; e que o amor pode cruzar as barreiras entre o céu e a terra, realizando muitos feitos notáveis. Assim, que o amor possa fluir, sem que isso se transforme em um culto à criatura. SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS (MÓRMONS) Esboço: I. O Nome Mórmon lI. Informes Históricos III. Seitas Mórmons IY.A1gumas Características e Doutrinas Distintivas dos Mórmons V. Livros Sagrados dos Mórmons e Avaliações do Mormonismo Sob o título Santos dos Últimos Dias, comentamos sobre a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos Dias, numericamente a maior organização eclesiástica entre aqueles vários grupos que se chamam Santos dos Últimos Dias. Esse grupo mais numeroso dispõe de um fantástico

programa missionário, que tem mais missionários do que os de todas as denominações evangélicas somadas. Temos algo a aprender quanto a seus métodos e atitudes missionárias. I. O Nome Mórmon Seis grupos religiosos diferentes desenvolveram-se a partir do movimento original, que veio à existência através das alegadas visões de Joseph Smith. Todos esses grupos chamam-se mórmons por causa do suposto mensageiro celeste, Mórmon, que teria sido o agente provedor da nova revelação do Livro de Mórmon. Seu filho, Moroni, também teria sido intermediário nessa revelação. Os mórmons acreditam que Mórmon e seu filho, Moroni, viveram na terra no passado e foram profetas. Em sua forma glorificada, teriam dado as revelações que os mórmons valorizam. 11. Informes Históricos 1. A Origem do Mormonismo. A primeira visão de Joseph Smith, que finalmente levou à produção do Livro de Mórmon e à organização da Igreja Mórmon, ocorreu a 21 de setembro de 1823. Os historiadores mórmons afiançam que ele já testemunhara outras manifestações divinas, e que muito estivera ocupado em oração, solicitando maior iluminação. E a visão decisiva lhe foi dada naquela data, que ficou registrada, com detalhes na introdução ao Livro de Mórmon. A visão de Joseph Smith assemelha-se às típicas experiências místicas, com pesada mistura de imagens do Antigo Testamento. O anjo Moroni (que antes teria sido apenas um homem) apareceu a Joseph Smith, dando-lhe as orientações iniciais. Esse anjo anunciou a existência do livro de placas de ouro, que seria a principal fonte informativa do Livro de Mórmon. Além dessas placas de ouro, haveria outros itens como as pedras do Urim e do Turim, em um peitoral, as quais seriam usadas para ajudar na tradução das placas para o inglês. O anjo, de aspecto muito magnificente, anunciou a Joseph Smith que o seu nome tornar-se-ia "para o bem e para o mal entre todas as nações, raças e línguas", E o poderoso movimento missionário dos mórmons tem garantido o cumprimento dessa predição, muito mais do que no caso de outras seitas com igual número de membros. O número total dos mórmons não é tão gigantesco. Eles contavam apenas com 2 milhões de membros em 1970. Pode-se imaginar que atualmente eles sejam cerca de 3 milhões. Muitas seitas têm esse número de seguidores, mas poucas têm tido a representação universal dos mórmons, através de sua atividade missionária febril. Seja como for, a visão de Joseph Smith revelou-lhe o local, no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América do Norte, onde as placas de ouro haviam sido enterradas. Mas Smith foi avisado que, uma vez desenterradas essas placas, não poderia mostrá-Ias a nenhum outro ser humano, sob pena de ser destruído. Cópias desses escritos, mostradas posteriormente a lingüistas, em nada os impressionaram. Esses escritos teriam sido registrados em egípcio reformado; porém, aqueles que viram os caracteres não puderam perceber nenhuma conexão com alguma forma escrita egípcia. Então, Moroni subiu para o céu em forma visível, e a visão terminou. Não muito tempo depois, esse mensageiro retornou dando exatamente o mesmo recado, ao que adicionou uma mensagem apocalíptica sobre tempos agitados que viriam, com guerras, pestes, fomes, grandes desolações ejulgamentos divinos sobre a terra. Então, desapareceu novamente. Joseph Smith sentiu-se atônito e perturbado

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SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS diante de tudo isso; e, quando estava querendo absorver o que lhe fora revelado, eis que o mesmo mensageiro lhe apareceu pela terceira vez. A mesma mensagem foi reiterada; mas, dessa vez, com o acréscimo de que ele deveria ter cuidado com as placas de ouro, uma vez desenterradas, porquanto alguns membros de sua família poderiam querer ganhar dinheiro com elas (porquanto eram pessoas pobres). A Smith, pois, foi dito que ele deveria resistir a qualquer tentativa nesse sentido, porquanto de tudo aquilo só poderia redundar uma coisa, a glória de Deus; c, se Smith se desviasse desse propósito central, não obteria as placas de ouro de maneira alguma. O mensageiro angelical subiu ao céu pela terceira vez, quando já estava amanhecendo. De acordo com seu próprio testemunho, Joseph Smith sentiu-se muito debilitado por esses encontros dramáticos, e não conseguia trabalhar na lavoura, no dia seguinte. Seu pai dispensou-o do trabalho, e ele se dirigiu de volta para casa. Mas, no caminho, faltaram-lhe as forças, e ele, inerte, caiu ao chão em um estado de estupor. Então, o mensageiro angelical voltou a aparecer-lhe, pela quarta vez, de pé, ao seu lado. A mesma mensagem foi repetida, e foi-lhe recomendado que a revelasse a seu pai. Isso Joseph Smith fez, tendo encontrado, em seu pai, uma mente receptiva. Seu pai assegurou-lhe que tudo aquilo vinha de Deus. Devemos lembrar que alguns metodistas estiveram envolvidos neste drama. Joseph Smith era, originalmente, metodista. 2. A Descoberta das Placas de Ouro. Joseph Smith recebeu descrições exatas do local onde estariam as placas de ouro. Essas placas teriam sido encontradas dentro de uma caixa de pedra em uma colina perto da vila de Manchester, condado de Ontário, estado de Nova Iorque (a localidade atualmente chama-se Palmyra). Na época do descobrimento original, o mensageiro celeste proibiu Smith de remover o conteúdo da caixa. Foi-lhe ordenado que voltasse anualmente ao mesmo local; mas somente após quatro anos ele entraria na posse das placas. Entrementes, ele receberia instruções e seria preparado, de modo geral, para a tarefa que teria à sua frente. Finalmente, as placas de ouro lhe foram entregues, a 22 de setembro de 1827. Uma vez que a tradução delas se completou, Moroni tomou de volta as placas. É de presumir que o processo de tradução se tenha ampliado por quase um ano. Essa tradução resultou no Livro de Mórmon, de volume, em tamanho, equivalente ao Novo Testamento. 3. As Testemunhas. As testemunhas originais que disseram ter visto as placas de ouro eram três. Mais tarde, houve outras oito testemunhas, entre elas o pai de Joseph Smith, que também se chamava Joseph. Suas declarações, confirmando a veracidade da história, aparecem na introdução ao Livro de Mórmon, e são as mais enfáticas possíveis, invocando Deus como testemunha. Na introdução ao livro não se explica por que testemunhas puderam ver as placas, quando originalmente isso fora proibido. Porém, fica subentendido que deve haver alguma explicação para isso. As declarações são de natureza tal que convencem, a quase qualquer leitor, que eles viram algo que lhes deu tanto poder de expressão. Aqueles que não são mórmons naturalmente acreditam que tudo envolve uma imensa fraude; mas os mórmons confiam naqueles testemunhos e no poder de Deus, que se teria manifestado daquele modo. Se houve fraude, então Joseph Smith deve ter enganado as testemunhas com a exibição convincente de placas de ouro, que de algum modo ele conseguiu. Mas o que parece é que as testemunhas não

mentiram propositadamente. Estavam convencidas da realidade da existência das placas de ouro. 4. Imediatamente começaram a aparecer os convertidos, e colônias de mórmons foram estabelecidas nos estados norte-americanos de Ohio, Illinois e Missouri Esses convertidos segregaram-se das comunidades nas quais até então tinham vivido, e passaram a viver isolados. 5. Oposição e Perseguição. As reivindicações dos mórmons, no sentido de haverem recebido revelações da parte de Deus, de Cristo, dos apóstolos, dos anjos, de João Batista etc., que deram origem às suas crenças tão diferentes, levaram-nos a ser perseguidos. Os mórmons deram início à sua bem conhecida prática da poligamia desde o começo de sua história; e isso em nada os ajudou a ser aceitos por pessoas de fora. 6. De 1831 a 1845, os mórmons, por quatro vezes, tentaram edificar a sua própria Sião, a saber, em Kirkland, Ohio; em Independence, Missouri; em Far West, Missouri; e em Nauvoo, Illinois. Em Kirkland foi construído um templo, excelente exemplo da arquitetura norte-americana antiga. 7. Intolerância é o nome do jogo religioso, e a perseguição e a matança não andam muito longe quando a intolerância se instala. Os mórmons foram expulsos do Missouri, e cerca de 40 pessoas foram mortas. Joseph Smith calculou que as propriedades mórmons que foram destruídas no estado de Missouri atingiram uma perda de cerca de 4 milhões de dólares, o que representava uma prodigiosa soma na época. Essas perdas e assassinatos ocorreram nos anos de 1838 e 1839. 8. Os mórmons mudaram-se para o estado norte-americano de IIIinois, e estabeleceram suas comunidades em Nauvoo. Ali levantaram uma cidade com cerca de 15.000 habitantes. Porém, novas perseguições provocaram matanças e perdas de propriedades. 9. A Igreja Organizada. Joseph Smith foi O primeiro presidente, tendo desenvolvido uma elaborada organização eclesiástica. Foi formada uma milícia mórmon, que efetuou um contra-ataque contra os perseguidores, destruindo a publicação o Expositor, de Nauvoo, que estava lançando histórias antimórmons. Mas isso agitou a oposição, e novas violências resultaram. 10. Encarceramento e Morte de Joseph Smith. A onda de violências foi a causa da detenção e encarceramento de Joseph Smith,juntamente com seu irmão, Hyrum, em Cartago, estado de llIinois. Os guardas da prisão cooperaram com uma multidão, e Joseph Smith e seu irmão foram linchados na prisão. Eles se defenderam e conseguiram matar a alguns poucos dos atacantes, mas acabaram mortos. Seguiram-se ainda mais perseguições, e os mórmons foram forçados a abandonar Nauvoo. Um dos Iideres do movimento recebeu uma experiência mística em conexão com a morte de Joseph Smith. Foi dada, então, a seguinte mensagem: "Tudo está bem com Joseph!". 11. Brigham Young Salva a Igreja Mórmon. Os mórmons retiraram-se de Nauvoo a uma temperatura abaixo de zero, em fevereiro de 1846. Foi um momento de grande crise. Muitas pessoas já haviam sofrido o suficiente, e abandonaram a causa. Então, surgiu em cena Brigharn Young, homem dotado de grande determinação e hábil organizador. Os mórmons estabeleceram uma colônia no que é hoje Omaha em Nebraska. Partindo dali, Brigham Young liderou uma expedição até o vale do grande Salt Lake (Lago Salgado). O grupo partiu a 7 de abril de 1847 e chegou a 22 de julho do mesmo ano. Contemplando o belo vale de Salt Lake, ele exclamou: "Este é o lugar certo!", o que agora é repetido pelos

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SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS mórmons em forma mais simples: "Este é o lugar!". Qualquer um quejá tenha visitado o lugar deve concordar. Inteiramente à parte de suas vinculações com os mórmons, Brigham Young é relembrado como um dos grandes pioneiros norte-americanos. Foi o primeiro governador do estado de Utah. 12. Milhares Aderem aos Mórmons. Seguiu-se uma grande companhia e foi estabelecida em Salt Lake City, Brigham Young, temendo a corrupção que se instala nas grandes cidades, ordenou aos seus seguidores que estabelecessem colônias por todo o território de Utah e nas regiões entre as serras montanhosas. Na época de sua morte, em 1877, já haviam sido estabelecidos 357 povoados, e o total da população mórmon chegava aos 140 mil. Os mórmons sempre salientaram a importância da educação, e apenas três anos após sua chegada ao vale de Salt Lake, tinham fundado a Universidade de Utah, onde atualmente se acha a West High School. O autor deste artigo formou-se em ambas as instituições e também foi criado em uma casa mórmon original, feita de adobe, embora tivesse sido educado como filho de uma família evangélica. Se alguém está indagando por que razão devotei tanto espaço a uma fé cristã não evangélica, aí está a resposta! 13. Normas de Imigração dos Mórmons. A Igreja Mórmon, sobre bases doutrinárias que dizem que os últimos dias verão imensas destruições, e visto que a mensagem do grupo tenciona ser universal, unificando a todos os povos, tem promovido ativíssima política de imigração, em face da qual que muitas pessoas, das mais diversas nacionalidades, têm sido levadas ao estado de Utah. Essas pessoas são prontamente absorvidas pela comunidade mórmon. Tal prática prossegue até hoje, de modo que, embora a cidade de Salt Lake seja um local onde impera a língua inglesa, há ali também grande número de pessoas bilíngües, o que inclui seus inúmeros missionários e imigrantes, vindos de todas as regiões do mundo. 111. Seitas Mórmons 1. O Grupo Mais Numeroso. Esse grupo é atualmente chamado de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos Dias, resultante da divisão de mórmons que Brigham Young conduziu ao estado de Utah. Esse grupo conta com mais da metade das igrejas mórmons, e 85 por cento do total de membros. 2. A Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos últimos Dias. Esse grupo tem menos de mil igrejas e algo em torno de 100 mil membros, e é o segundo maior agrupamento dos mórmons. Afirma ser a verdadeira Igreja Mórmon. Seu fundador foi um dos filhos de Joseph Smith. Uma das viúvas de Joseph Smith também aderiu ao grupo, bem como outros membros da família imediata de Joseph Smith. Sua sede fica em Independence, estado de Missouri. O grupo foi organizado por mórmons que se opunham à poligamia da corrente principal do movimento. Obteve possessão do templo de Kirkland e do terreno do templo de Independence. Seus presidentes são descendentes diretos de Joseph Smith. Além de não aceitar a poligamia, esse grupo ensina a imutabilidade de Deus (em contraste com a divisão do grupo do estado de Utah). Também é um grupo trinitariano (e não triteísta, como o é o grupo de Utah); também aceita os dons espirituais (pondo mais ênfase sobre o misticismo do que o grupo de Utah); são enfatizados o batismo por imersão e o dom de curas. 3. Igreja de Cristo (Terreno do Templo). É um pequeno grupo, com apenas cerca de 20 igrejas e 1.000 membros.

Esse ramo permaneceu no estado de IlIinois quando a maioria dos mórmons partiu para o Missour i. Presumivelmente, ali permaneceram por causa de uma revelação divina. Compraram o terreno do templo, uma área de cerca de 11.000 m-, que eles pensavam ter sido designada como o local do templo do período milenar futuro. Essa se tornou a Sião dos mórmons. Foi necessária uma açãojudicial para obtenção desse terreno, que o grupo supõe que será muito importante, após o retorno de Cristo. 4. Igreja de Jesus Cristo (Bickertonitas). O grupo conta com cerca de 50 igrejas e 2.000 membros. O grupo foi fundado por Guilherme Bickerton, em Greenrock, estado da Pensilvânia, em 1862. Ele afirmou ter recebido revelações divinas e foi capaz de congregar um pequeno grupo de rnórmons, que permaneceu na porção oriental dos Estados Unidos. Opunham-se a Brigham Young, à poligamia, ao batismo pelos mortos e a outras práticas mórmons típicas de Utah. 5. Igreja de Jesus Cristo (Cutleritas). O grupo afirma ser a verdadeira Igreja Mórmon, opondo-se a todos os outros ramos, aos quais considera apóstatas. Tem bem poucas igrejas e um número reduzido de membros. Suas igrejas se localizam em Independence, Missouri, e em Cliteral, Minnesota. Essa seita foi fundada por Aipliens Cutler, um dos anciãos originais de Joseph Smith. A igreja prega a comunidade de bens, uma das práticas mórmons originais, e que aos poucos foi morrendo nos outros segmentos mórmons. Cutler sentiu-se inspirado a separar-se dos demais mórmons por causa de alegadas revelações divinas. 6. Igreja de Jesus Cristo (Strangitas). Esse grupo tem menos de 10 igrejas e menos de 200 membros, mas afirma ser a original Igreja Mórmon, a única verdadeira. James J. Strang foi seu profeta e primeiro presidente. Afirmava que Joseph Smith o designara pessoalmente como seu sucessor. Afirmou ter sido ordenado ao ministério por anjos, após a morte de Joseph Smith. Estabeleceu a sua igreja em Voree,perto de Burlington, Wisconsin. O grupo principal dos mórmons opinava que estavam surgindo profetas em excesso, e não reconhecia a validade das revelações de Strang. Mas isso não refreou Strang, que foi capaz de exibir certas placas de ouro que Joseph Smith não havia encontrado e, assim, produziu mais alguns escritos sagrados. Esse material foi denominado Livro de Lei do Senhor. Strang foi assassinado em 1856. IV; Algumas Características e Doutrinas Distintivas dos Mórmons Retorno agora à corrente principal dos mórmons, em Utah. 1. Tolerância. Os mórmons têm um profundo respeito pela individualidade e por aquilo que chamam de "livre agência". Por essa razão, e pelo fato de eles mesmos foram severamente perseguidos, mostram-se muito tolerantes em relação aos grupos religiosos minoritários que vivem em suas comunidades. Cresci na cidade de Salt Lake, e posso afirmar isso. Embora minha família fosse evangélica, sob hipótese alguma sofremos perseguição ou discriminação. Os anciãos mórmons vez por outra visitavam nossa casa, e tínhamos vívidas discussões. Eles nos evangelizavam, e nós os evangelizávamos; mas sempre houve respeito mútuo. Alguns evangélicos têm-se mostrado amargos contra os mórmons, dizendo coisas cortantes contra eles e espalhando boatos acerca dos líderes primitivos e atuais dos mórmons. Porém, quanto de verdade há nesses boatos, é difícil determinar. E verdade que, nos seus primeiros anos, houve grande massacre de pioneiros que chegaram ao estado de Utah. Mas isso foi ordenado por um bispo da

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SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS porção sul de Utah, e não por causa de algum crime "da Igreja Mórrnon". Minha avó afirmava ter tido conhecimento pessoal de certos assassinatos cometidos pelos anjos vingadores de Brigham Young, embora eu não possa julgar a exatidão dessa informação. Mas basta-nos dizer que, se houve abusos (e a história mostra que houve alguns), de modo geral e em tempos mais recentes, os mórmons têm exibido admirável tolerância para com outros grupos, o que distingue esse sistema dos fundamentalistas da extrema direita, que parecem deleitar-se em cortar e prejudicar a outros, por motivos doutrinários, mesmo quando estão em pauta questões secundárias. Certamente os mórmons podem ensinar uma preciosa lição a muitos protestantes e evangélicos: a da tolerância religiosa! 2. Conservantismo Politico e Patriotismo. Como comunidade, geralmente os mórmons votam em favor de candidatos conservadores, e a maioria deles são americanos patriotas. Defendem a democracia e abominam o comunismo. Joseph Smith declarou: "As ditaduras nunca florescerão na América do Norte". Certamente ele tinha razão, ao assim afirmar. E, embora os mórmons praticassem a poligamia em seus primeiros dias, desafiando assim ao governo americano, tal atitude foi abandonada. 3. Um Poderoso Programa Missionário. Os jovens rnórmons, em massa, ou são convocados ou se apresentam como missionários voluntários. Seus familiares e amigos pagam as despesas, aliviando assim a organização desse financiamento. Eles saem a campo ao terminar o colégio (cerca de 20 anos de idade) e cumprem termos missionários de 2 ou 3 anos. O número total de missionários que eles lançam assim ao campo é mais do que o número total de todas as denominações evangélicas juntas. No Brasil, a Igreja Mórmon tem cerca de 300 mil membros. Edificações de excelente qualidade são construídas com fundos doados pela igreja mãe, um dinheiro então pago de volta pelas igrejas locais. Temos muito de aprender sobre como realizar o trabalho missionário através do exemplo dado pelos mórmons. Os jovens missionários chegam em países estrangeiros já falando razoavelmente o idioma, em face de bons programas de treinamento da Universidade de Brigham Young, localizada em Provo, Utah. 4. Enfase sobre a Livre Agência. O mormonismo rejeitou totalmente as estritas idéias calvinistas da eleição e da predestinação. Eles consideram muito o que o homem é e pode fazer naturalmente, como "filho" de Deus. Os mórmons também respeitam profundamente a individualidade e o livre-arbítrio humanos (ao que, normalmente, chamam de "livre agência"). 5. Algumas Doutrinas Distintivas do Mormonismo: a. Materialismo. Talvez o mormonismo seja o único grupo que se chama cristão e acredita que aquilo que denominamos espírito (incluindo o próprio Deus, os anjos e o espírito humano) consiste em uma forma rarefeita de matéria, com base final nos átomos. Eles acreditam que a matéria se manifesta de um modo que cria a ilusão de uma categoria aparentemente distinta, que chamamos de espírito. b. Um Deus Finito. Conforme diziam meus professores de filosofia, na Universidade de Utah, "o Deus dos mórmons tem problemas todos seus". Os mórmons ensinam que Deus evoluiu a partir de um autêntico espírito humano, mediante a obediência superior à lei. Os homens, por sua vez, podem seguir esse exemplo, e assim se tornar divinos. O Deus dos mórmons é muito poderoso, mas limitado. Os mórmons

nunca usam o termo latino omnis para descrever Deus. Assim, para exemplificar, para eles Deus não é onipresente. Quanto a esse ponto, Joseph Smith asseverou: "Aquilo que está em toda a parte, mas em parte nenhuma, nada é". c. Politeísmo. Em teoria, os mórmons acreditam na existência de muitos deuses. Todavia, crêem que nossa parte da criação está sujeita a três deuses: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Assim sendo, na prática, eles são triteístas. Opõem-se à fórmula trinitariana como absurda. O Deus dos mórmons é uma divindade regional. A teoria deles sobre a deidade, quanto a vários particulares, assemelha-se mais às idéias gregas e pagãs do que às idéias dos hebreus. d. Salvação. Os mórmons crêem que a salvação é obtida mediante a fé, as boas obras, e o batismo. Mas esse batismo, obviamente, é sempre aquele aplicado por sua igreja. Nesse sentido, eles são exclusivistas, como a maioria das denominações cristãs e religiões, em um sentido ou outro. Também acreditam que a oportunidade de salvação vai além da morte biológica, mas, segundo a opinião deles, sempre dependente da cerimônia do "batismo pelos mortos". Os membros são batizados em lugar de outras pessoas, já falecidas, razão pela qual eles dispõem dos mais extensos registros genealógicos do mundo. Esse imenso tesouro de registros genealógicos é guardado em câmaras subterrâneas nas Montanhas Rochosas, perto de SaIt Lake. Somente o impacto direto de uma bomba atômica poderia estragar tais registros. Eles também crêem que Cristo teve uma missão no hades, a fim de espalhar o evangelho naquele lugar. E ainda que, durante o intervalo entre sua morte e sua ressurreição, ele teve uma missão na América do Norte, entre as tribos indígenas. Assim, ampliam enormemente o conceito da missão de Cristo, embora façam com que tudo seja mediado pelo batismo aplicado pela igreja deles; dessa forma, limitam a generosa missão que atribuem a Cristo. Para eles, a essência da salvação consiste em tornar-se o indivíduo um deus, com sua própria província ou planeta para povoar e governar, tal como faz o Pai. e. A Paternidade Literal de Deus Pai. Muitos (embora nem todos) dentre os mórmons acreditam que Deus Pai tem muitas esposas, e que as almas humanas são produtos de uma procriação espiritual literal. Um filho desses casamentos divinos, por sua vez, pode tornar-se pai de outros e, finalmente, tornar-se um grande deus, com o seu próprio domínio. Isso glorificaria a Deus, o Pai, visto ser óbvio que qualquer filho que age bem, redunda em honra e glória a seu pai. f. A Necessidade das Boas Obras. Os mórmons frisam as obras de caridade, e as agências mórmons mostram-se muito ativas nesse mister. Não há necessidade de agências de caridade governamentais no estado de Utah, exceto para aqueles que não são mórmons. g. Revelações Constantes. Os mórmons crêem na necessidade de constante revelação. O presidente da Igreja Mórmon também é o seu Profeta, e é capaz (segundo se acredita) de receber tanto iluminação (inspiração) sobre atos particulares quanto novas revelações, que podem transformar-se em novos livros sagrados. Até o momento (desde Joseph Smith) nenhum dos presidentes m6rmons produziu um livro sagrado; mas acredita-se que eles são capazes do feito. V. Livros Sagrados dos Mórmons e Avaliações do Mormonismo Os mórmons aceitam a Bíblia como uma coletânea de livros sagrados; mas acreditam, igualmente, que ela foi corrompida na transmissão e nas traduções, pelo que não

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SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS se poderia confiar nela inteiramente. Além disso, acreditam que seus outros livros sagrados ultrapassaram essa revelação mais antiga, e que aqueles novos livros é que devem ser respeitados e seguidos. Esses outros livros sagrados dos mórmons são três: o Livro de Mórmon, Doutrina e Pactos e Pérola de Grande Preço. Esses são os livros alicerçados sobre as placas de ouro. Há artigos separados sobre o Livro de Môrmon e também sobre Livros Apócrifos Modernos, primeiro ponto, O Livro de Môrmon. Sei que o fato de ter colocado esse livro entre os livros apócrifos ofende a muitos. Mas assim fiz porque essa classificação nos aproxima mais da verdade dos fatos. Como é óbvio, milhões de outras pessoas discordam dessa classificação, e devem ter suas razões para tanto, que espero não haver omitido no estudo a respeito. Alguns pensam que Joseph Smith escreveu o "material mórmon" mediante psicografia (ver a respeito), isto é, por meios psíquicos, mais ou menos como Chico Xavier faz com seus livros, no Brasil. Contudo, o fato é que trechos até extensos do Livro de Mórmon copiam o Antigo e o Novo Testamento palavra por palavra, e segundo a King James Version (em inglês). Mas quanta psicografia pode estar envolvida no resto, é muito dificil dizer. Pelo menos sabe-se que Joseph Smith possuía poderes psíquicos, fez algumas predições proféticas genuínas, realizou algumas curas e conseguiu exorcismos legítimos. Os críticos também salientam certas fraudes, que andaram misturadas com tudo isso. Outros pensam que Joseph Srnith teria sido um médium espírita. Mas, apesar de poderem ser frisadas muitas fontes informativas, que transparecem no Livro de Mórmon, também há algumas coisas ali que não podem ser facilmente explicadas. Por isso mesmo, outros simplesmente opinam que Joseph Srnith foi inspirado por demônios. Mas também há aqueles que crêem que Deus realizou uma obra provincial (que ainda prossegue) na Igreja Mórmon. Para tanto, Joseph Smith teria autoridade a despeito das deficiências doutrinárias de seu sistema. Para esses, o erro consiste em pensarem os mórmons que a sua religião é mundial, quando ela teria sido apenas uma revelação provincial, dirigida somente a eles. O que não se pode negar é que os mórmons têm feito grande contribuição educacional e social nos Estados Unidos; mas poder-se-ia questionar até que ponto eles têm contribuído religiosamente de forma hígida e válida. Também não há que duvidar quanto à contribuição moral deles, como fé religiosa. Os mórmons, como um grupo, são pessoas melhores do que a média da sociedade; mas isso por si só não comprova a veracidade de suas doutrinas religiosas. Opinião Pessoal. O autor desta Enciclopédia oferece aqui uma humilde opinião pessoal sobre a questão. Joseph Smith, sem dúvida, foi um indivíduo extraordinário. Era dotado de poderes psíquicos, embora não tão grandes quanto os de outros místicos que não iniciaram novas religiões. Há boas razões para crer que houve fraudes de mistura com as suas atividades religiosas. As testemunhas do Livro de Mórmon muito definidamente viram algo. Joseph Smith apresentou-lhes uma espécie de placas de metal, que continham escrita curiosa. Alguns estudiosos crêem que ele mesmo fez as placas e conseguiu enganar aos próprios familiares e a outros. Conta-se que os caracteres copiados por Joseph Smith, das supostas placas de ouro, cópias essas que ele teria entregue a discípulos seus, foram levados a um professor de certa universidade do estado de Nova Iorque. Esse professor opinou que os caracteres poderiam ter sido copiados de qualquer

dicionário que listasse vários alfabetos; mas que, certamente, não havia Iigação com nenhuma forma escrita do Egito. Presumivelmente, seriam caracteres em "egípcio reformado". Não posso afirmar nem negar a historicidade desse relato. Seja como for, alguns supõem que os poderes psíquicos de Joseph Smith fossem tão notáveis que ele podia fazer pessoas ver coisas, mediante transmissão telepática, embora não houvesse, por trás delas, realidade física. Sabemos que certos gurus orientais têm demonstrado possuir tal capacidade. Apesar de estar pessoalmente inclinado a crer que a históri a das placas de ouro não passa de fraude, dizer isso não resolve totalmente o problema de como Joseph Smith foi capaz de produzir aquele material (sendo ele, essencialmente, um homem destituído de boa educação acadêmica), que faz parte das revelações mórmons, Há também aqueles que afiançam que Joseph Smith não escreveu tais coisas, tendo sido elas criação de seus primeiros associados. Porém, é dificil apresentar evidências convincentes a esse respeito. Apesar de grande parte do Livro de Mórmon ser de qualidade claramente inferior à Bíblia Sagrada, aqui e acolá há excelentes passagens não-bíblicas e, ocasionalmente, aparece alguma idéia que é dificil imaginar que um simples rapazola de fazenda possa ter concebido. Foi preparada uma tese, na Universidade do Sul da Califórnia, que, ao que se presume, descobriu material autêntico sobre as fontes informativas do Livro de Mórmon. E um de meus professores de filosofia da Universidade de Utah conhecia pessoalmente um professor da Universidade de Brigham Young (a universidade oficial da Igreja Mórmon), que fez pesquisas sobre as fontes informativas do Livro de Mórmon, Esse professor disse que aquele homem não se sentia feliz diante do que descobrira, preferindo silenciar sobre suas descobertas, embora nem por isso tivesse abandonado a Igreja Mórmon. Histórias como essa, naturalmente, não são documentadas e revestem-se de pouco valor, exceto para as pessoas diretamente envolvidas. Talvez a maior debilidade do Livro de Mórmon seja o fato de que, embora a obra se proponha narrar a história de várias tribos indígenas da América do Norte, a arqueologia não tem descoberto absolutamente nada que dê apoio a essa contenção. Isso pode ser contrastado com a história de Israel. Mais de 50 dos reis de Israeltiveram a sua existência confirmada pelas descobertas arqueológicas. Talvez as tribos indígenas específicas referidas no Livro de Mórmon, sendo elas apenas algumas poucas dentro de um território tão vasto, ainda não tenham produzido indícios arqueológicos que comprovassem sua existência. No entanto, o silêncio nunca é um bom argumento. Quando leioo Livro de Mórmon, para ver se há sabedoria espiritual aí, sempre me sinto desapontado. Isso ocorre principalmente porque, mesmo nos livros representados como de origem a.C., encontro pequenas porções do Novo Testamento, parte de um versículo aqui, parte de outro ali; óbvios empréstimos de expressões e idéias. Às vezes. diversos versículos do Novo Testamento são copiados diretamente. Para mim, fica claro que o escritor conhecia bem o Novo Testamento, e no caminho todo jogava pequenas porções dele no próprio texto. Isto representa anacronismo e o trabalho de uma pessoa claramente d.C., não a.c. Também é fraudulento representar alguma coisa como uma revelação a.C., quando o texto depende, parcial e obviamente, de um documento d.C. Poucos mórmons são estudantes do Novo Testamento, portanto é possível para eles ler o Livro de Mórmon sem notar o tipo de coisa que

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SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS - SANTUÁRIO SANTUÁRIO estou descrevendo. Se fossem, primeiramente, estudantes do Novo Testamento, e depois, leitores do Livro de Mórmon, quase certamente este fator perturbaria os alicerces de sua Igreja. O autor desta enciclopédia, após de pesar todas no evidências que têm chegado à sua atenção, através de vários anos de contato com os mórmons e mediante os seus estudos pessoais, declara-se desapontado diante dos resultados. Talvez sej a verdade que Deus fez uma obra provincial em Utah, entre os rnórmons. Nisso eu ainda posso acreditar. Os caminhos de Deus são misteriosos e as sementes do Logos são plantadas por toda a parte. Deus não se Iimita às nossas regras e fronteiras denominacionais. Por que motivo ele obedeceria às nossas regras e limites? Porém, não vejo no mormonismo o poder e o apelo que as religiões universais devem ter. Outrossim, não parece claro para mim quanta revelação nova e genuína Joseph Smith conseguiu obter. Algumas doutrinas mórmons (listadas anteriormente) não são boas doutrinas (até onde posso ver as coisas), fornecendo-nos más alternativas para as coisas em que já cremos. Finalmente, devo dizer que, para eu me tomar mórmon e seguidor de Joseph Smith, seria necessário que Moroni, ou algum outro elevado oficial espiritual, me fizesse uma visita pessoal, informando-me do erro de minhas avaliações sobre o mormonismo. Irmãos e irmãs, este autor respeita os movimentos e ensinos do Espírito de Deus e não requer harmonia com dogmas padronizados. Algumas vezes, os dogmas mostram ser mais nossos inimigos que amigos, porquanto fazem estagnar o aprendizado espiritual. Precisamos de progresso e evolução espiritual, tanto em nossas idéias quanto em nossas expressões religiosas. Estou aberto, muito aberto, a tudo isso. Lamento, porém, que o mormonismo não me possa impressionar favoravelmente. Apesar disso, não devemos olvidar uma grande lição que os mórmons podem ensinar: a tolerância. Quando meu irmão, missionário evangélico no Congo Belga (atual Zaire), esteve a ponto de perder a vida, quando aquele país obteve sua independência, os mórmons, na cidade de Salt Lake, tiveram reuniões de oração em seu favor. Os mórmons tratam com respeito outras religiões, e faríamos muito bem em aprender com eles essa valiosa lição de solidariedade.

SANTOSPATRONOS O latim por trás dessa expressão é patronus, "protetor", que vem da raizpater, "pai". Um santo patrono é um santo que é escolhido como guardião, guia, intercessor diante de Deus e protetor de algum lugar, pessoa ou grupo. Essa doutrina é ensinada pela Igreja Católica Romana e pelas Igrejas Ortodoxas Orientais. Trata-se de uma extensão da doutrina dos anjos guardiães, com base no pressuposto de que a alma humana, no estado glorificado, possui vastos poderes e pode exercer tais poderes em favor da comunidade terrena dos santos. De fato, esse ensino é uma aplicação da idéia de que a comunidade dos santos (os militantes e os glorificados) não pode ser separada, e que a graça divina flui através da comunidade inteira dos remidos mediante agentes especiais,jáglorificados. Outra fonte dessa doutrina é a veneração aos santos. Muitos desses santos são tradicionalmente associados a pessoas e lugares. Há toda uma hierarquia de santos patronos. Assim, São José é o santo patrono da Igreja universal. Alguns santos patronos são concebidos como protetores de lugares específicos, por causa das experiências místicas particulares (incluindo aparições de santos) ocorridas em tais lugares, ou para indivíduos específicos, que eram devotos daqueles santos em apreço.

Ver Lugar Santo (Santuário). I. Santuário Terrestre (Heb. 9: 1) O termo grego kosmikos pode ter vários significados, a saber: 1. Poderia significar "universal"; mas isso seria estranho ao contexto. O tabernáculo terreno não tinha nenhuma aplicação universal, pois estava limitado à nação de Israel. 2. Poderia significar "ordeiro"; e assim se pensaria na "ordem divina" inerente àquela instituição; mas isso também é estranho ao contexto. 3. Alguns pensam que significa "ornamentado", isto é, "divinamente decorado", como se o versículo exaltasse o valor do primeiro tabernáculo; mas dificilmente isso é o que o autor sagrado queria dar a entender. 4. A tradução terrestre é boa, contanto que não pensemos, como freqüentemente se faz, que significa pecaminoso ou carnal. O que está em pauta é que esse primeiro tabernáculo era "deste mundo", "terreno". Era apenas uma imitação ou cópia do tabernáculo celestial. Essa interpretação concorda com a ênfase do autor sagrado, em Heb. 8:2 e 10:1. Ele volta ao seu conceito de um mundo em "dois andares", em que este mundo é visto apenas como cópia do tabernáculo celestial. Esse é o ponto de vista metafisico filoplatônico. Essa idéia é amplamente expl icada no artigo sobre Hebreus, seção VI, intitulada "Idéias Religiosas e Filosóficas"; e essa idéia influenciou o conteúdo da epístola e as expressões usadas pelo autor sagrado. (Ver também as notas de introdução ao oitavo capítulo e aos trechos de Heb. 8: 1 e 10:1 no NTI.) Ao chamar o primeiro tabernáculo de "terrestre", o autor sagrado deprecia o seu culto, em vez de exaltá-lo; e isso está de acordo com seu propósito de mostrar a superioridade do ministério sumo sacerdotal de Cristo. 11.Descrições O que está em foco é o "Lugar Santo", pelo que fica literalmente implícito no vocábulo usado. Assim também, a expressão "santuário interior" ind ica o Santa dos Santos. A raiz dessa palavra é agos, que indica "respeito religioso". Tal termo veio a designar os sacriflcios "dedicados a algum deus", ou então algo "amaldiçoado" por uma divindade. Da idéia de sacrifício, adoração e respeito a algum deus é que veio a idéia de que os adoradores tinham de ser puros, limpos, santos. Portanto, normalmente o termo agios significa algo "puro" ou "santo", no sentido moderno de "moralmente incontaminado", embora essa palavra com freqüência retenha sua idéia de "separado" do mundo e para Deus. Assim, na adoração do AT, havia um "Lugar Santo" onde a adoração a Deus era efetuada e onde "sacerdotes dedicados" exerciam suas funções. Mas o "Lugar Santo" da primeira aliança não se elevava acima do que é "terreno", pois era apenas uma instituição deste mundo. Finalmente teve de ser substituído pelo lugar celestial. E esse santuário celestial é o modelo segundo o qual foi copiado o santuário terrestre. Mas nem por isso devemos imaginar algum templo «literal", existente nos céus, que teria um compartimento chamado "Santo Lugar". Antes, nos "lugares celestiais" há vários graus de acesso a Deus - o que também estava simbolicamente representado no santuário terreno. Portanto, estão representados no tabernáculo terreno "condições espirituais", estágios de desenvolvimento da alma, não objetos literais. No "Lugar Santo" ministravam os sacerdotes levíticos. As mulheres e os gentios não podiam entrar ali, havendo lugares separados para sua adoração, embora isso representasse um acesso inferior às coisas

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SANTUÁRIO - SARAI, SARA santas. Além disso, havia o Santo dos Santos, onde somente o sumo sacerdote podia entrar, e apenas uma vez por ano (ver Heb. 9:3). Notemos aqui o artigo, "... 0 lugar santo... "- que era "terreno", ficando assim distinguido do "Lugar Santo celestial" (ver Heb. 9: 11).

o Àtrto Exterior. O átrio fechado media, no tabernáculo original cerca de 50 m x 25 m de lado. Antes de entrar no "Santo Lugar", era necessário passar pelo átrio exterior, onde estava o altar dos holocaustos e a pia de bronze. No tempo em que estava armada a tenda da congregação ou tabernáculo, esse altar era comparativamente pequeno e portátil, com cerca de 3 X 3 m de lado. Era feito de madeira de acácia recoberta de bronze, com o seu interior oco (ver Êxo. 28:8). Ali é que os holocaustos eram feitos. Nos vários templos construídos depois disso, esse altar foi se tomando maior. No templo de Herodes tinha 10m de altura por 30 m de largura e outro tanto de comprimento. A pia existia para várias lavagens, especialmente das mãos e dos pés dos sacerdotes, antes de oferecerem os sacrifícios. Esse item ficava no átrio exterior, entre o altar e a porta da tenda, um pouco desviado do centro, para o sul (ver Êxo. 39: 19,21; Ant. Heb. (Reland), pt. I, capo iv.9). O autor sagrado não inclui esses itens na descrição que apresenta neste ponto. SÃO VÍTOR, ESCOLA DE Pode-se dizer que essa escola ocupou o período que vai de 1108 a 1789. Era uma escola agostiniana localizada nos subúrbios de Paris. A escola foi fundada por Guilherme de Champeaux (ver a respeito) e conseguiu atravessar incólume a Revolução Francesa. Membros importantes foram o próprio Champeaux e os dois autores filósofos-místicos Hugo e Ricardo de São Vitor. Embora não fossem membros, ilustres visitantes influenciados por essa escola foram Pedro Lombardo e Roberto de Melun. A expressão mística de São Vítor é algumas vezes usada para aludir aos participantes dessa escola. Essa escola produziu certo número de bispos, abades e vários cardeai s. Tornou-se um centro de erudição e piedade, e os eruditos que para ali concorriam eram enriquecidos e enriqueciam o saber. Com o tempo, a abadia de São Vítor tomou-se conhecida como o cálice da flor do misticismo (ver a respeito), um poder que se irradiou por toda a Europa e exerceu suas graças sobre muitas mentes. No entanto, ai pelo século Xv, a credibilidade da escola havia caido. O iansenismo (ver a respeito) obteve aIi poderosa cabeça de ponte. O final da escola ocorreu em 1800. A igreja e outros edifícios foram vendidos; a famosa biblioteca foi desmembrada, e, em pouco tempo, tudo havia desaparecido. A glória fora-se para sempre! SÃO VÍTOR, MÍSTICOS DE Este é o nome que designa a escola de filósofos místicos que tinha por centro a abadia de São Vítor, nas proximidades de Paris. A abadia e a escola real de São Vítor foram fundadas em 1108 pelo notável líder espiritual Guilherme de Champeaux (ver a respeito). Posteriormente, ele se tomou bispo de Châlons, na França. A Escola de São Vítor proveu o ambiente para o desenvolvimento de notáveis lideres eclesiásticos, entre os quais muitos cardeais, bispos e abades. Os eruditos procuravam esse lugar, visto ter-se tomado um grande centro de estudos eruditos. A Universidade de Paris teve ori-gem, essencialmente, através da agência dessa escola.juntamente com Notre Dame e Santa Gênova. A abadia de São Vítor

tomou-se um centro de vários místicos bem conhecidos, e a ela se associou e um misticismo de alto gabarito, razão para o titulo do presente artigo. Como é óbvio, essa abadia exerceu considerável influência por toda a Europa, nos campos da erudição e do misticismo. E isso tanto quanto às idéias que dali emanavam como quanto aos vultos que dali saíam para exercer atividades em diversos lugares, ou que passavam sua vida na abadia. Alguns de seus maiores mestres foram Hugo de Blankenburgo (também conhecido como Hugo de São Vítor), considerado o Agostinho de seu tempo (1096 -1141); Pedro Lombardo (cerca de 1100-1162), que foi o grande Mestre das Sentenças (comentários e explicações), e Ricardo, o doutor escocês da teologia mística. Pelos fins do século Xv, entretanto, a escola caiu em decadência e desrespeito, e seus cânones foram-se amalgamando com o movimento jansenista. Ver sobre o Jansenismo. O fim da escola e da abadia de São Vítor ocorreu durante a Revolução Francesa. Em 1800 foram vendidos a abadia e outros edifícios. A famosa biblioteca foi desmanchada, e, no espaço de poucos anos, tudo desapareceu. Por assim dizer, a glória do Senhor afastara-se dali.

SAPATOS Ver Sandálias (Sapatos). SAQUIAS Nome de um homem que foi o sexto filho de Saaraim e de sua terceira mulher, Hodes. Era descendente de Benjamim (ver I Crô. 8: 1O). SARA Ver Sarai, Sara. SARAFE No hebraico, "queimadura". Seu nome figura exclusivamente em I Crô. 4:22. Descendente de Judá, por meio de Selá, por algum tempo, governou em Moabe. Depois, porém, retomou a Leém. Sobre este lugar coisa alguma se sabe. O texto hebraico que cerca essa crônica é extremamente difícil de acompanhar. SARAI No hebraico, "Yahweh é libertador". Um israelita que se casou com uma mulher estrangeira, na época de Esdras (Esd. 10:40). Seu nome não aparece no trecho paralelo de I Esdras 9:34. SARAI,SARA 1. Nome. A palavra hebraica quer dizer "princesa" ou mandatária. Seu nome original era Sarai, que significa "Yahweh é príncipe". O nome foi alterado na mesma época em que o de Abrão foi mudado para Abraão (ver), quando do estabelecimento da circuncisão como sinal do Pacto Abraãmico (ver sobre Pactos). Ver os comentários de Gên. 15.18 no Antigo Testamento Interpretado. 2. Família. Não temos muitas informações sobre esse tópico, exceto em Gên. 20.12, onde Abraão fala de Sara como sua "irmã, a filha de meu pai, mas não a filha de minha mãe". Alguns interpretam este termo de forma liberal, querendo dizer sobrinha, sendo que Hara era presumivelmente seu pai, meio-irmão de Abraão. Não há como testar esta teoria. Sabemos que os antigos no Oriente casavam até mesmo com irmãs, prática que mais tarde a legislação mosaica proibiu, considerando-a incestuosa (ver Lev.18.9). 3. História pessoal. A história de Sara, logicamente, é

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SARAI, SARA - SARÇA ARDENTE um paralelo rígido à história de Abraão, seu marido. Para maiores detalhes, ver o artigo sobre ele. Sara o acompanhou de Ur a Canaã (Gen. 11.31), e então a H ara e Canaã (Gên. 12.5). O faraó (aparentemente da iz- dinastia do Reino Médio, cerca de 2000-1775 a.c.) ficou maravilhado com sua beleza e a tomou por mulher. Ela tinha cerca de 65 anos naquela época, portanto podemos dizer apenas que era uma mulher de uma espécie diferente, ou que algum tipo de poder divino a conservou jovem. Mas o faraó nada conseguiu com essa medida, além de problemas, e logo devolveu a mulher a Abraão, reprovando-o por sua inverdade, que a havia a representado como sua "irmã" (apenas uma meiaverdade) (Gên. 12.10-20). Como Sara não tinha filhos, empregou uma antiga forma de tê-los ao dar a Abraão Hagar para que ela tivesse filhos com ele. Ismael resultou desse relacionamento e tornou-se objeto de ciúme insano, uma vez que nasceu Isaque, filho de Sara (Gên. 16.1-16). Sara forçou Abraão a exilar Hagar e seu filho, e aí começou o problemajudaico com os árabes. Maomé declarava ser descendente direto de Ismael e ele pode até ter estado certo sobre isso. Após a destruição de Sodoma e Gomorra, Abraão foi ao sul e radicou-se em Gerar. O rei filisteu, Abimeleque, repetiu a façanha do faraó e levou Sara a seu harém. Abraão manteve o ato de "ela é minha irmã", provavelmente temendo por sua vida caso contrariasse ao rei. O "nobre filisteu", contudo, avisado em um sonho atribuído a Yahweh, devolveu-lhe a mulher (Gên. 20.1-18). Veio então o milagroso nascimento de Isaque, aquele que iria continuar a linhagem de Abraão. Ver o livro de Gênesis. O Messias, é claro, estava nesta linhagem (Mal. 1.2). Embora com idades muito adiantadas, Abraão e Sara foram capazes de reproduzir como diz Paulo em Rom. 4.19. Sara morreu cerca de 37 anos após o nascimento de Isaque, aos 127 anos de idade. Isto ocorreu em Hebrom. Ela foi enterrada na caverna em Macpela, que hoje está nas mão dos árabes! Portanto, de uma forma limitada, Ismael acabou vencendo no final. Sara foi, de muitas formas, uma mulher típica, uma grande ajudadora ao marido, mas seus exagerados ciúmes que fizeram com que ela cometesse sérios erros humanitários. Além disso, embora em posição secundária, obedecendo (de modo geral) aseu marido (o que I Ped. 3.6 elogia), ela encontrou maneiras (nem sempre adequadas) de ver cumpridos seus próprios desejos. A lei do amor às vezes era ignorada, o que é verdadeiro para ela e todos nós que continuamos a deixar de cumprir as leis espirituais. SARAIVA No hebraico, barad, vocábulo que figura no Antigo Testamento por 28 vezes (uma vez como verbo), a saber: Exo. 9: 18,19,22-26,28,29,33, 34; 10:5,12,15; Jó38:22; Sal. 18:12,13; 78:47,48; 105:32; 148:8; Isa. 28:2,17; Ageu 2: 17 e Isa, 32: 19 (esta última ocorrência como verbo). A saraiva consiste em chuva congelada ou vapor congelado, que cai em forma de pedrinhas durante as tempestades. Ocasionalmente, esses pedaços de gelo atingem considerável peso e tamanho, quando então ocorrem grandes destruições. Se as partículas são pequenas, o nome dado é granizo. A saraiva começa como pequenas partículas de gelo duro ou fofo. Fortes correntes ascendentes de ar, com velocidades de até 160 km por hora, sustentam o gelo a flutuar. Essas partículas sobem e descem, formando camadas mais pesadas, ao mesmo tempo que as partículas crescem de volume, até que o vento não mais é capaz de sustentá-Ias flutuando, e elas caem. Usualmente essas partículas são arredondadas, embora, outras vezes, tenham

formato irregular. A saraiva geralmente acompanha tempestades com fortes vendavais, o que aumenta a sua força de destruição. Outras vezes, as saraivas acompanham os tomados. Os relatos sobre o tamanho das pedras de gelo das saraivadas com freqüência são exagerados, mas têm sido encontradas pedras de gelo até do tamanho da mão fechada de um homem. A Saraiva e a Bíblia. A saraiva é uma das armas naturais de Deus. Israel obteve uma de suas vitórias sobre um exército cananeu mediante a ajuda de uma saraivada (Jos. 10: li), e os israelitas deram o crédito da vitória à intervenção divina, de que tanto precisavam. Uma das pragas do Egito foi uma saraivada com grandes pedras de gelo (Êxo. 9:24). Na Palestina, a saraiva é comum e, usualmente, ocorre de mistura com grandes chuvas. Ver Sal. 18: 12, 13; 78:48; 105:32. Os trechos de Isa. 28:2,17; Eze. 38:22; Hab. 2:17; Apo. 8:7,11; 11:19; 16:21 mencionam a saraiva como uma das maneiras de Deus punir os ímpios. Portanto, pode-se dizer que a saraiva é um símbolo da vingança divina. As passagens no Novo Testamento em que ocorre a palavra "saraiva" (no grego, chálaza) são: Apo. 8:7; 11:19; 16:21. No Antigo Testamento também encontramos a palavra hebraica ebenbarad, "pedra de saraiva", em Jos. 10:11; Isa. 30:30. SARÇA ARDENTE "Chama de uma sarça que ardia", Êxo 3:2; Atos 7:30. Tratar-se-ia da acácia espinhenta, vegetal característico daquela região. As chamas, neste caso, provavelmente faziam parte visual da visão, sendo alguma forma de energia que se tornara visível, para dar a aparência de fogo, atraindo assim a atenção de Moisés, a fim de que apreciasse melhor o fenômeno. Esse tipo de acontecimento é comum nas experiências místicas, porquanto os homens exigem alguma espécie de manifestação visual para que obtenham entendimento; mas isso não significa que o objeto contemplado seja realmente o que parece ser, pois usualmente não é assim. Não obstante, trata-se de um fenômeno real, sem importar a natureza exata da energia que se manifesta nessas oportunidades. Qual o significado da sarça ardente? Muitos sentidos alegóricos têm sido vinculados à sarça ardente, nos escritos judaicos de natureza religiosa, a saber: I. Seria a representação das nações do mundo. A chama seria Israel. A sarça e a chama existiamjuntas. A chama não podia ser extinta pela sarça, mas também não podia consumi-la. Assim sendo, a chama representaria a nação de Israel, possuidora da lei, a Palavra de Deus. 2. A sarça ardente talvez representasse a angústia de Israel, escravizada em terra estrangeira. 3. Filo, filósofojudeu neoplatônico, dizia que asarça simbolizava a oprimida nação de Israel, ao passo que a chama seria o opressor. (Ver De Vila Mosis, 1: 1.) Com isso concordam diversos outros escritores judeus. A chama não podia consumir a sarça. Brown em Atos 7:20, juntamente com outros intérpretes bíblicos, aplica a mesma idéia às perseguições movidas contra a igreja cristã, porquanto, embora moribunda, ela continua sobrevivendo (ver 11 Cor. 4:9 e 6:9). 4. Posto que não nos informam as Escrituras qual é o simbolismo dessa sarça ardente, todas as idéias anteriormente descritas não passam de tentativas. As idéias expressas ali são verídicas, sem importar se a sarça ardente tem ou não tal representação simbólica. É bem possível, todavia, que a sarça ardente tivesse apenas a

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Sepulcro de Sara em Macpela Cortesia, Matson Photo Service

Reprodução Artística de

DarreU Steven Champlin

Arte egipcia - 4000 A.C., antllopes

SARDES-SARGÃO finalidade de chamar a atenção de Moisés, preparando-o para receber a mensagem doAnjo do Senhor. 5. Referências bíblicas: Exo. 3:2~ Deu. 33:16; Isa. 55:13; Mar. 12:36; Luc. 20:37~ Atos 7:30.

SARDES 1. Termo. Do ~rego Sardeis, cujo significado se desconhece hoje. A primeira vista, é uma antiga cidade da Ásia Menor ocidental, a cerca de 24 km de Esmirna. Foi a capital da antiga Lídia e situava-se numa estrada que unia Efeso, Esmirna e Pérgamo ao interior da Asia Menor. 2. Alguns Fatos Históricos. Foi provavelmente fundada em tempos que remontam à Era do Ferro; tornou-se importante centro comercial, estando localizada nas rotas comerciais que ligavam o leste e o oeste através do rico reino de Lídia; passou à capital desse país que é descrito em artigo separado. Obtinha a maior parte de sua riqueza da manufatura têxtil e indústriadejóias. Provavelmente é genuína a tradição que afirma que as moedas foram pela primeira vez cunhadas neste lugar por Croeso, homem muito rico. Sob esse rei, a cidade e o país chegaram à sua época áurea, dando origem ao provérbio: "Tão rico como Croeso", o qual sobreviveu até nosso tempo e cuja descrição não é infundada. Ciro, o Grande, tomou a região de Croeso em 546 a.C. Depois disso Alexandre, o Grande, assumiu controle sobre ela, o que perdurou até çerca de 218 a.c. Os romanos chegaram em 133 a.c. Atalo III estava ciente de que não poderia lutar sucessivamente contra aqueles novos vencedores e assim simplesmente entregou seu reino ao povo romano. Isso evitou o derramamento de muito sangue, e Sardes logo se transformou em um dos centros administrativos dos romanos na Ásia Menor. 3. Religião. Os cidadãos ricos de Sardes eram ardorosos adeptos do culto a Cibele, mas não eram exclusivamente patrimônio dela. Adoravam um vasto conjunto de deuses e deusas, entre elas Ártemis, Tal culto e tal dedicação os inspiraram a erigir templos, os quais acabaram descobertos pelas escavações arqueológicas. Para informação sobre isso, ver o artigo sobre Lldia (Pais) ponto 4. O templo de Ártemis estava entre as descobertas mais importantes. 4. Referências Neotestamentárias, Esta cidade é mencionada juntamente com seis outras (Éfeso, Esmima, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia) como recipientes originais do Apocalipse. Ver Apo. 2 a 3, e 3: 1-6, especialmente, que faz referências específicas a Sardes. Para uma informação completa, ver no Novo Testamento Interpretado, a introdução e a exposição aos capítulos 2 e 3. Ver também Apo. 1: 11, onde essas cidades são mencionadas pela primeira vez no livro. SÁRDIO No hebraico, odem; no grego, sárlion, No Antigo Testamento figura em Êxo. 28:17; 39: 10 e Eze. 28: 13. No Novo Testamento, em Apo. 4:3 e 21 :20. Trata-se de uma variedade translúcida de sílica (dióxido de sílica), muito fina. Torna-se marrom ou marrom laranja mediante luz refletida, mas vermelho profundo mediante luz transmitida. É uma subvariedade da calcedônia. É uma pedra semipreciosa (Êxo. 28: 17). Na visão de João sobre a Nova Jerusalém, essa pedra decorava o sexto fundamento de suas muralhas (Apo. 21 :20). SARDÔNIO No grego, sardónuks. Só figura em Apo. 21 :20. Era uma variedade de calcedônia (ver a respeito), isto é, dióxido de

sílica, de grão muito fino. Tal como a ágata, consiste em camadas de diferentes cores, mas, nesse caso, brancas ou brancas azuladas e vermelhas, ou, então, marrons avermelhadas, embora as camadas sejam bem regulares e as faixas retas. Na visão de João sobre a Nova Jerusalém, essa pedra decorava o quinto fundamento de suas muralhas (Apo. 21 :20).

SAREA Sentido desconhecido. Foi um dos cinco escribas que escreviam rapidamente, postos a serviço de Esdras (ver II Esd. 14:24). O nome Sareaaparece na Vulgata Latina, pois o texto grego envolve um hiato, nesse ponto. SAREÁ Um dos cinco escribas que escreviam rapidamente a serviço de Esdras (Il Esdras 14:24). Entretanto, o nome aparece na Vulgata Latina, mas não aparece no texto grego desse livro apócrifo. SAREPTA Em algumas traduções, esse nome também aparece grafado como Zarepta. Houve uma cidade com esse nome, onde Elias residiu durante a última porção da famosa seca de três anos e meio (ver I Reis 17:9, 10). A própria Bíblia, porém, não dá informações suficientes sobre o lugar, permitindo-nos determinar melhor a sua localização. Mas parece ter sido perto de Sidom (e talvez dependente dela). De fato, Josefo (ver Anti. 8: 13,2) afiança-nos que Sarepta não ficava distante de Tiro e Sidom, entre as duas cidades. Ao que parece, ficava localizada à beira-mar, ao norte de Tiro. Em sua obra, Onom , Jerônimo acrescenta a informação de que ela ficava na principal estrada da região. Com base nesses poucos detalhes, alguns a identificam modernamente com Sarafend. Várias antigas ruínas têm sido localizadas ali, como alicerces de edifícios, colunas, lajes etc. Lucas (4:26) apresenta a forma grega do nome, Sarepta. Sarepta, cidade originalmente fenícia, a princípio pertencia a Sidorn; mas, após 722 a.c., passou para a órbita de Tiro, quando as duas cidades entraram em conflito, e esta última se saiu vitoriosa. Senaqueribe, da Assíria, incluiu a cidade na relação de lugares que ele capturara, ao invadir a Fenícia, em 701 a.C. Obadias (vs. 20) profetizou que, no dia do Senhor, os habitantes de Israel, que haviam sido deportados pelo rei Sargão, da Assíria, após a queda de Samaria, possuiriam a Fenícia até Sarepta. SAREZER No hebraico, "príncipe", ou, como muitos dizem, no acádico "proteger o rei". 1. Um dos dois filhos de Senaqueribe, da Assíria, que assassinou seu pai enquanto ele adorava no templo de Nisroque, em Nínive, no século VII a.C. (11 Reis 19.37; Isa. 37.38). Após o assassinato, o homem foi forçado a entrar no exílio em Ararate. O outro participante no assassinato foi Adrameleque. 2. Um dos dois líderes de uma delegação de Judá que foi perguntar ao profeta Zacarias se o povo ainda estava sob a obrigação de celebrar o aniversário da destruição do Templo de Salomão, embora o Segundo Templo já o tivesse substituído, em cerca de 500 a.C. Ver Zac. 7.2. SARGÃO I . Nome e família. Está em pauta aqu i Sargão 11, que se envolveu na destruição de Samaria, a capital do reino do norte, e no subseqüente cativeiro. Seu nome em

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SARGÃO - SAROTIE acádico significa "o rei é legítimo". Ele foi sucessor de Salmaneser V (ver) e pai de Senaqueribe. Filho de Tiglate-Pileser Ill, ele começou a reinar no mesmo ano da morte de Salmaneser (722 a.C.) e governou a Assíria até 705 a.C. Seu nome aparece na Bíblia apenas em Isa. 20.1. 2. O fim do reino do norte. Isto ocorreu em 722 a.C., com a queda da Samaria (ver). A destruição da cidade foi seguida pelo Cativeiro Assírio (ver), no qual grande parte dos habitantes da cidade (bem como do resto do país) foi levada a várias regiões do império assírio. Eles nunca voltaram, embora a Samaria tivesse continuado nos períodos persa, grego e romano como uma província dos respectivos poderes. As pessoas que ficaram na terra misturaram-se com as que foram enviadas para ocupá-la, e da combinação hebraico-pagã nasceram os samaritanos (ver). 3. Estados Subordinados. Judá e outros reinos vizinhos continuaram como estados subordinados e pagavam tributos à Assíria. Em 711 a.C; Sargão enviou um exército para eliminar uma revolta em Asdode da qual participou Judá. 4. Rebelião na Babilônia. O príncipe do local, chamado de marduk-apal-idina, o Merdaque-Baladã da Bíblia, liderou uma rebelião bem-sucedida que permitiu à Babilônia ser independente durante doze anos. Após esse período, Sargão conseguiu reconquistar o domínio, que veio em 711 a.c. A Babilônia, é claro, substituiu a Assíria como o próximo poder mundial, quando a maré do curso da história reverteu a cena. 5. Sargão, um dos maiores soldados que já viveu, continuou com suas campanhas militares que mantiveram a Assíria no topo dos poderes mundiais. Midas, o rei dos musqui frígios, na Ásia Menor, era um inimigo louvável que finalmente foi eliminado. O estado subordinado da Carquêmia da Síria também se havia rebelado contra o poder Assírio, o que forçou Sargão a destruir o local, que era um antigo centro da cultura hitita. Urartu foi outra de suas vítimas. Os bárbaros poderes indoarianos também sentiram o ardor de seu chicote. Essas pessoas eram chamadas de cimérios. 6. Calmaria. Depois de 720 a.C., Sargão deixou a Palestina em paz, provavelmente por causa de sua temível reputação ter-se espalhado e de as pessoas temerem promover rebeliões. Mas até 713 a.c. Asdode rebelou-se e Judá, Edom e Moabe estavam envolvidos na disputa. O auxílio egípcio foi prometido, mas não se materializou de forma satisfatória. Ver Isa. 18 e 20. A revolta terminou em desastre, e Sargão pôde dedicar seu tempo à preparação da reconquista da Babilônia. 7. Os registros assírios dos últimos anos de Sargão são escassos. Aparentemente, ele foi assassinado em 704 a.C. e sucedido por seu filho Senaqueribe (11 Reis 17; Isa 20.1). Sargão 11 também foi um construtor, como demonstra abundantemente a arqueologia. Sua capital militar era Cala (Kalhu ou Nimrude). Além de outros trabalhos públicos, ele renovou e embelezou o palácio de Assurbanipal. Depois ergueu seu próprio palácio magnificente em uma nova cidade que ele mesmo construi. Essa cidade recebeu seu nome, Dur-Sharrukin, que significa "Sargonsburg", O local foi escavado pela primeira vez em 1845 e então depois mais uma vez pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago. Sargão construiu uma grande biblioteca para abrigar milhares de tabletes cuneiformes localizada em Nínive. Essa biblioteca foi amplamente escavada pelos arqueólogos. Parece que a linda cidade de Sargão não foi muito usada

após sua morte,já que seus sucessores deram preferência a Nínive e a Corsaeade como capitais. Talvez fosse correto dizer que, por causa de sua breve vida, Dur-Sharrukin foi uma falha magnificente. SARGOM Ver sobre Sargão, SARIDE No hebraico, refúgio, embora alguns traduzam como "sobrevivente", uma importante cidade do território de Zebulom, aparentemente localizada na fronteira sul (Jos. 19.10). TeUShaddua marca o local antigo. A cidade ficava ao sudoeste de Nazaré e ao norte da planície de Esdrelom, entre duas montanhas íngremes de onde emergia um wadi. SAROM No hebraico, planície (l Crô. 5.16; Isa. 33.9; 35.2; 65.10; Cano 2.1). 1. Um rico pedaço de terra entre as montanhas centrais e o Mediterrâneo era assim chamado. Essa terra estendiase de Jopa (Jafa) em direção ao monte Carmelo, no norte. A terra era proverbialmente fértil e um local no qual havia uma exibição maravilhosa e variada de flores (Isa. 35.2; Cano 2.1). Tinha 9 a 18 km de largura e cerca de 80 km de comprimento, e bom abastecimento de água com riachos e lençóis subterrâneos. Em tempos antigos, a cidade mais importante era Dor (Jos. 11.2; 12.23; I Reis 4.11), que por muito tempo resistiu à dominação de Israel na região. Jope era outra cidade importante deste território, que havia sido fortificado no passado pelo faraó Tutmes m (1490-1435 a.C.). A planície foi tentativamente dada a Dã, mas não foi de fato plenamente ocupada e controlada até a época de Davi, que consolidou e unificou Israel, derrotando as sete pequenas nações para realizar tal propósito: 11 Sam. 5.17-25; 8.10; 21.15-22; I CrÔ. 18.1. Quando os romanos dominaram, toda a província da Judéia foi construída por Augustus, e a Cesaréia, no meio do caminho ao longo da costa de Sharon, foi transformada em um importante porto, de fato, um dos mais importantes da época, juntamente com a costa do Mediterrâneo. A província também era um importante centro da igreja cristã primitiva (Atos 10.1,24; 11.11; 18.22;21.8;23.23,35; 25.13). Em todos os tempos antigos, representava uma rota favorita das caravanas. Na Palestina moderna, esta planície, que continua fértil e florida, transformou-se em importante centro para as fazendas de frutas cítricas e o endereço de várias cidades prósperas. 2. Outro local que tem este nome é mencionado em Jos. 12.18. Aparentemente Jerônimo e Eusébio fizeram referência ao local quando falavam de uma cidade localizada entre o monte Tabor e Tiberíades. 3. Também se associa o nome a um distrito de terras de pastoreio a leste da Jordânia (I Crõ. 5.16, Transjordânia). Ele pertencia à tribo de Gade, juntamente com Gileade e Basã, mas o local exato da cidade continua em dúvida, e o uso do nome Sarom aqui pode ser uma corrupção de Siriom, que era a terra de pastoreio de Herrnom, SARÜNITA O Sitrai de] Crõ. 27.29 era assim chamado por ser desse locai. Ele foi o principal pastor de Davi que realizou sua profissão na planície de Saram. SAROTIE O chefe de uma família de descendentes de escravos

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SARQUEDONO-SARUÉM do templo na época de Salomão. Após terminar o cativeiro, ele e sua pequena família, sobreviventes do ataque babilônico, retomaram para ajudar a reconstruir Jerusalém (Esd. 2.57; Nee. 7.59; I Esdras 5.34). O nome não é listado em Esdras e Neemias, embora outros nomes associados ali apareçam.

SARQUEDONO Sarchedános é a forma grega do nome de Esar-Hadom, rei da Assíria, em um dos manuscritos gregos de Tobias 1.21.

SARSEQUIM No hebraico, "chefe dos eunucos". Nome ou titulo de um príncipe babilônico presente quando da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor (ler. 39:3). As versões grafam a palavra de vários modos - "Nabousachar", "Nabousaraque" e "Sarsacheim" - mostrando que o texto está corrompido. Também pode ser uma corrupção de Nebuzaradã (no vs. 13). Se o trecho de Jer. 39:3 indica três nomes, e não quatro, então devemos compreendê-lo como "Nebo-Sarsequim, o Rabe-Saris". Neste caso, "Nebo-Sarsequim" seria o nome desse príncipe, ao passo que "Rabe-Saris" seria o seu título honorífico. Ver Sangar Nebo.

SARTRE, JEAN-PAUL Suas datas foram 1905-1980. Nascido em Paris, França, estudou na Êcole Normale Supérieure e na Universidade de Freiburgo, Foi prisioneiro de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. Tornou-se membro da resistência subterrânea francesa. Filosoficamente, sofreu as influências de Husserl e Heidegger, Foi o principal existencialista (ateu) da França, orador influente e autor de obras de filosofia, novelas, peças teatrais e ensaios didáticos. No fim da Segunda Guerra Mundial, emergiu como líder dos intelectuais esquerdistas da França. Continuou a declarar-se marxista mesmo depois de haver rompido com o partido comunista. Afirmava que o marxismo e o existencialismo se complementam mutuamente em sua crítica à sociedade, bem como em seu alvo de expressar, nas atividades políticas, a liberdade inerente à natureza humana. Acreditava na adaptação materialista de Hegel, que faz do comunismo a última das tríadas políticas. Contudo, não haveria pontos finais, pois teses e antíteses sempre produzem novas sínteses. Idéias: 1. Sartre anal isou fenomenologicamente a situação do homem e descobriu um grande potencial humano para a liberdade. O potencial humano para a escolha é óbvio e sempre esteve demonstrado em seus atos. Nenhuma limitação pode ser imposta à sua liberdade. Aqueles que argumentam em favor do determinismo são inspirados, saibam-no ou não, pelo desejo de escapar à responsabilidade de escolha. 2. O axioma de Sartre e do existencialismo (ver a respeito) em geral é: "A existência antecede à essência". Em outras palavras, a existência, cuja principal característica é a liberdade, forma a essência da natureza humana. O homem e o seu mundo existem, e o homem inventa uma natureza para si mesmo e para o seu mundo. O homem nega a nulidade do mundo com a sua vontade e então forma algo. 3. Sartre lançou mão da asserção de Nietzsche, "Deus está morto", para as suas próprias finalidades. Assim, dizia ele: O homem é livre; Deus não existe; a vontade de Deus nada significa; a capacidade criativa do homem é tudo; não

há valores imperiosos vindos de um mundo superior; os valores são de criação humana. Invente o tipo de pessoa que você quer ser, e você será essa pessoa. 4. A escolha boa e certa é a escolha autêntica. Não podemos fazer esse tipo de escolha com base nos sistemas tradicionais. Precisamos formar decisões com boas intenções, não somente em nosso próprio favor, mas também em favor de todos os homens. 5. Assim, ele chegou perto do imperativo categórico de Kant (ver a respeito) e deve ter demonstrado fé na capacidade inerente do homem para tomar decisões certas, como parte de sua natureza. 6. As coisas inanimadas existem en-soi, "em si mesmas". Elas são o que são. Mas o homem existe pour-soi, "para si mesmo", pelo que exerce controle sobre a sua essência, o que j á não acontece às coisas inanimadas. 7. O homem projeta-se para alvos distantes; é incansável; toma decisões motivado pela Angst, "angústia"; é responsável pelas decisões que toma, não diante de Deus, mas diante de si mesmo e da sociedade; ele cria a sua própria moralidade, mas essa moralidade deve ser comunal e não apenas individual. Quando se atinge um alvo, um novo projeto é iniciado; não há fim nesse impulso para a frente; a vontade impele o homem para a frente; a liberdade nunca desiste. 8. A ansiedade é o acompanhamento natural da liberdade e da escolha, e o homem é condenado a ambas as coisas, visto jáestar condenado a ser livre. A ansiedade e a liberdade são essências permanentes da existência. 9. O homem necessariamente projeta a idéia de Deus, pois há um ideal em operação. Contudo, Deus é uma contradição de termos. O homem busca a estabilidade do en-soi (existência ou essência em si mesma). Ele busca permanência; e as projeções que ele faz acerca da alma e de Deus estão alicerçadas sobre essa circunstância. 10. Para Sartre, as categorias básicas eram o Nada e o Ser. Nossos muitos desapontamentos ilustram a nulidade que a vida freqüentemente nos oferece. Porém, em sua filosofia não fica claro se o nada deve ser entendido como um estado psicológico, como um estado ontológico, ou como ambas as coisas. 11. Embora afirmando-se um marxista em sua filosofia social, é difícil conciliar com isso sua grande ênfase sobre a liberdade humana. Ademais, suas idéias não seguiam a forma convencional do marxismo. A base dialética inteira do comunismo é o determinismo. Contudo, Sartre tinha uma dialética que tomava seu impulso a parti r da escassez que há no mundo, e a qual ele desenvolvia em termos de reações conseqüentes a esse estado, o que inevitavelmente coloca os homens em posição antagônica uns aos outros. Escritos. Novelas: The Roads to Freedom; Nausea; The Files. Livros: The Transcendence ofthe Ego; Sketch of'a Theory of Emotions; The Psychology of Imagination; Being and Nothingness; Existentialism is a Humanism; Critique ofDialectical Reason; Between Existentialism and Marxism; Life-Sttuattons.

SARUÉM No hebraico, habitação de graça. Este local foi dado pela primeira vez à tribo de Judá e depois passado a Simeão (Jos. 19.6). Localizava-se no Neguebe, isto é, "país do sul". Em Jos. 15.32 é chamado de Silim, e em I Crô. 4.31, de Saaraim. E, sem dúvida, é o Srhon dos textos egípcios. TeU el-Far'ah aparentemente marca o antigo local, que fica a pequena distância de Laquis (Tell ed-Duweir). Uma das principais rotas de caravanas passava por ali, estendendo-se do Egito à Palestina. A arqueologia

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SARVASTIVADA - SATANÁS descobriu ruínas e artefatos do período hicsco do Egito, além de fortificações posteriores dos egípcios e dos romanos. Muito material vem da época dos hicscos, o que fez arqueólogos e historiadores supor que Saruem represente TeU el-Farah em vez de possibilidades alternativas. O local é um pequeno morro que surge acima do deserto circundante e descansa a noroeste de Berseba. SARVASTIVADA A mais antiga forma de budismo (ver a respeito) era a escola hinayana. E a Sarvastivada era uma das três principais escolas dentro dessa escola. O artigo geral sobre o budismo presta-nos informações sobre essas divisões. SASAI No hebraico, "nobre". Era filho de Bani, que se casou com uma mulher estrangeira, durante o período do exílio babilônico (Esd. 10:40 e I Esdras 9:34). Viveu por volta de 445 a.c. SASAQUE No hebraico, "assaltante" ou "corredor". Foi um benjamita, filho de Elpaal, homem que teve onze filhos. Ver] Crô. 8: 14,25. Viveu por volta de 1400 a.C. SAT. CUIT, ANANDA Brahman estaria acima da intelecção humana. Mas aquilo que podemos dizer a respeito da consciência divina, pode ser dito mediante o uso dessas três palavras, que significam, respectivamente, "ser", "inteligência", "bem-aventurança". Desse modo, a fé hindu pode proporcionar-nos alguma idéia do Ser divino, embora sem pretender oferecer nenhuma descrição racional. SATANÁS Esboço: 1. Nome 11. Um Ser Vivo Ill. Sua Queda IV. História do Universo V. O Problema do Mal VI. O Plano Redentor VII. Satanás Limitado e Julgado VIII. A Queda Gradual de Satanás IX. Restauração de Satanás?

I. o Nome Satanás. Palavra hebraica que significa adversário. Também é chamado pelo nome diabo, que significa "acusador" ou "caluniador ", e também Belzebu ou Baalzebu, que significa "senhor das moscas", uma referência ao deus de Ecrom (ver II Reis 1:1-6, 16). Alguns acreditam que o nome Belzebu pode ser uma alteração hebraica do nome cananeu Baalzebu, "senhor dos lugares altos". O Novo Testamento aplica o termo ao príncipe ou chefe dos demônios (Ver Mat. 12:24-29). A passagem de Isa. 14:12 intitula Satanás como Lúcifer, isto é, "estrela do dia", o filho da manhã, e a alusão especial é ao domínio que ele exerce neste mundo, especialmente através de intermediários. Em Apo. 12:3 ele é chamado de dragão, uma menção à sua astúcia, malignidade e veneno. Apo, 12:9 é passagem que fala do dragão como a antiga serpente, também referindo-se à sua astúcia, misturada com a sua natureza destruidora. 11. Um Ser Vivo Sem importar o termo empregado acerca desse ser, em todas as descrições bíb licas está em vista um ser real, vivo,

e não meramente um símbolo do mal. Evidentemente foi um dos espíritos criados por Deus (ver Eze. 1:5 e 28: 12-14). Ocupava posição extremamente exaltada e muitos acreditam que poder maior que o seu só se encontra no próprio Deus. (Ver Eze. 28: 11-15.) A mesma passagem indica que, originalmente, Satanás não era um ser pervertido, mas perfeito em sua personalidade e obras. 11. Sua Queda É notável e tocante a observação de que Satanás, obviamente inchado de orgulho por causa das perfeições e belezas de seu ser, além de sua vastíssima inteligência, deve ter realmente crido ser possível exaltar-se acima do próprio Deus, estabelecendo a si mesmo como a autoridade suprema do universo. (Ver Isa. 14: 13, 14). O seu plano era ousado, astucioso, incrível. Em tudo isso transparece que o mundo dos anjos, incluindo o próprio Lúcifer, fora dotado de livre-arbítrio perfeito quanto às suas ações, e que nenhum anjo estava forçado a servir e a adorar a Deus, a não ser pelos laços da razão, do amor e do senso de correção moral. A elevada posição de Satanás nos céus é ilustrada pelo fato de que ele deve ter crido possuir bons motivos para esperar obter sucesso no mais ousado de todos os feitos jamais tentados - a derrubada do próprio Deus. Sua revolta começou onde ele se encontrava, na presença de anjos, que também são aceitos como seres dotados de grande poder e inteligência. O trecho de Apo. 12:4 parece indicar o grau do seu êxito, e esse êxito foi realmente retumbante: mediante seu poder e astúcia, ele trouxe para debaixo de sua influência uma terça parte do reino celeste. Nada poderia indicar com maior clareza o poder de Satanás do que essa declaração simples. Quais promessas devem ter sido feitas aos outros anjos, e quais pensamentos devem ter atravessado a mente deles, só podemos conjecturar; mas eles certamente também devem ter compartilhado da idéia de Satanás de que o reino celeste poderia ser derrubado. A rebeldia e o plano audaz do diabo não se limitaram ao reino celestial, porquanto nem bem Deus realizou a criação terrena, e eis que Satanás foi capaz de propagar sua rebeldia à face da terra, mediante a sua astúcia. E embora nossos progenitores originais tivessem sido alvos da redenção divina, Satanás tem conseguido alcançar muito maior porcentagem de sucesso entre os homens do que entre os anjos. Não obstante, nem mesmo à superficie da terra o diabo tem conseguido provar que o governo de Deus não é justo, e nem que um ser dotado de vontade livre não pode preferir o bem, ao invés do mal. Um de seus argumentos desde o princípio deve ter sido que o governo de Deus não é inteiramente justo e bom. Também deve ter sido um de seus argumentos, desde o princípio, que uma criatura dotada de vontade livre não prefere os caminhos de Deus, ainda que tais caminhos sejam comprovadamente verídicos. Também deve ser verdade que o próprio Satanás estava convicto da verdade de suas próprias opiniões, e que disso continua convicto. Também é possível que no momento, embora tenha sofrido algumas derrotas, em face de alguns notáveis sucessos por ele obtidos, ainda acredite que uma vitória final lhe será possível. Dessa forma, fica sal ientada outra particularidade ou realidade que é importante observar. Aqueles que resolvem crer na mentira sofrem ilusão, e isso é igualmente verdadeiro tanto entre os anjos como entre os homens. Assim sendo, para uns e outros a verdade deve parecer absurda, e o papel feito à inteligência deles tão-somente aprofunda a ilusão em que estão mergulhados. IV. História do Universo A história de como Deus tem tratado dessa rebelião é,

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SATANÁS - SATANÁS, QUEDA DE essencialmente, a história do universo. Deus não tem utilizado de seus poderes infinitamente superiores para subjugar repentinamente essa rebeldia. Isso apenas demonstraria que Deus é mais poderoso, e não necessariamente que ele é mais justo, melhor e mais inteligente. Deus não se assemelha ao mitológico Zeus dos gregos, que empregava o seu raio para abafar qualquer rebelião. Com freqüência se pergunta por que Deus não esmagou instantaneamente a rebeldia de Satanás; e indagação semelhante se ouve com insistência: por que Deus não põe fim ao mal, mas permite a sua continuação? Por que prossegue o sofrimento, até mesmo de pessoas supostamente inocentes? V. O Problema do Mal Pelo menos uma resposta pode ser dada a isso. O mal é permitido continuar - seja esse mal natural (como o sofrimento causado pelos terremotos, incêndios etc., que são coisas fora do controle da vontade humana), seja moral (males provocados pela vontade maligna do homem) - a fim de que Deus possa demonstrar, em um longo período de tempo, à criação inteira, que o caminho proposto por Satanás é mau, conduzindo a resultados maus, incluindo o sofrimento. A criação em geral jamais poderia ter plena certeza sobre isso a menos que Deus tivesse demonstrado, no decurso da história, que a sua vontade, o seu caminho, tudo é efetuado em total bondade, inteligência e misericórdia. Ele precisa demonstrar que a rebeldia de Satanás tem produzido resultados desastrosos, tanto nos céus como sobre a terra. E também precisa demonstrar que as criaturas, celestiais ou terrenas, que são agentes livres e completos, podem escolher e realmente preferem o bem, fazendo-o pela escolha inteligente, e não por coação. VI. O Plano Redentor O eterno plano de salvação, traçado por Deus, por intermédio de Cristo, era um propósito divino que antecedia à queda de Satanás, não tendo sido arruinado por essa queda, porquanto a expiação, feita por intermédio de Cristo, era outra provisão para levar adiante os seus propósitos, e também um meio de cuidar dos péssimos resultados da rebeldia satânica. Deus queria, através dessa rebelião, produzir uma nova ordem de seres, filhos de Deus, transformados à imagem de Cristo, seu Filho amado. Essa ordem de seres, no princípio, foi feita um pouco menor do que a dos anjos (o Sal. 8:5 se aplica aos homens em geral; Heb. 2:6-9 aplica essas palavras tanto aos homens como a Cristo). Não obstante, em vários trechos bíblicos descobrimos que o destino do homem crente é muito mais exaltado do que o dos anjos. (Ver Efé. I: 18-23; Rom. 8:28-39; I João 11,2). Os homens serão transformados à imagem de Cristo, e isso j amais foi dito com respeito aos anjos. Assim sendo, o homem é a obra-prima da criação de Deus. Para tanto, tornou-se necessária a redenção por intermédio da cruz de Jesus Cristo. A total identificação de Cristo com os homens, na encarnação, e a nossa futura total identificação com Cristo, em sua ressurreição e glorificação, são lados da mesma moeda que se completam. Ora, a realização desse plano envolve o julgamento gradual de Satanás. Ele já perdeu sua glória e sua posição anteriores no céu, mas continua tendo acesso ao trono de Deus. (Em Apo. 12:10 ele aparece como o acusador de nossos irmãos.) A expiação limitou mais ainda o seu poder, conforme fica claro na passagem de Col. 2:14, 15; por isso mesmo, a citação de Luc. la: 18, eu via a Satanás caindo do céu, pode dizer respeito à autoridade dada aos homens sobre a terra, bem como à obra da

expiação, efetuada na cruz, que provocará a futura queda final de Satanás, quando for expulso do céu e for lançado nageena. Mas por enquanto Satanás continua exercendo grande poder, embora limitado. A sua astúcia continua sendo a responsável pela destruição das vidas e do testemunho dos cristãos. Porém, no início da grande tribulação, será interrompido o acesso de Satanás ao trono de Deus (ver Apo. 12:7-12). Somente a partir desse ponto équeo diabo começará realmente a compreender que a sua rebeldia está condenada ao fracasso, pelo que se atirará contra os homens da terra, com grande ira e sentimento de vingança. Mas isso servirá, mais ainda, para salientar, perante a criação inteira, a malignidade dos caminhos de Satanás, a insensatez de segui-lo, a loucura de negligenciar a verdade de Deus, ajustiça de todas as obras de Deus, e o acerto de todas as suas relações com os homens, realizadas de conformidade com a mais perfeita razão. Será quando de sua expulsão do céu que Satanás começará a revelar-se conforme ele realmente é, embora os homens, cegados por uma ilusão generalizada, não se arrependerão. VII. Satanás Limitado e Julgado Quando da segunda vinda de Cristo, Satanás será aprisionado pelo espaço de mil anos, durante o período inteiro do milênio (ver Apo. 20:2). Depois disso, será mister que seja novamente solto, a fim de demonstrar a sua insensatez e maldade (ver Apo. 20:3,7,8), e isso será a demonstração final e conclusiva de sua estultícia e rebelião. Todos os olhos verão, tanto nos céus como na terra, essa grande e milenar verdade. Finalmente o diabo será lançado no lago do fogo, sua moradia eterna (ver Apo. 20: 1O). Somente então retomará o estado de paz, anterior à rebelião de Satanás; a criação terminada dos "filhos de Deus" se completará, e todos os que adoram e servem a Deus atingirão esse alvo por meio de seu livrearbítrio e sua escolha inteligente, e isso demonstrara quão retos são os caminhos de Deus, bem como quão inteligente é a sua previsão e sua justiça perfeitas. VIII. A Queda Gradual de Satanás Ver o artigo sobre Satanás, Queda de. IX. Restauração de Satanás? Os universalistas acreditam na restauração de todas as coisas e de todos os seres como o resultado final da missão redentora, universal de Cristo. Efé. I: 10 promete uma restauração cósmica que poderia incluir esta idéia. Ver o artigo sobre Restauração, que apresenta os argumentos pró e contra. SATANÁS, QUEDA DE I. Estágios Desta Queda 1. Em algum tempo no passado distante, totalmente além da capacidade humana de cálculo, Lúcifer, poder angelical dos mais exaltados, por motivo de seu orgulho, veio a cair na transgressão; e assim, por causa de sua revolta contra o Senhor, por motivo de sua própria vontade, que até aquele momento aparentemente só visava o bem, arrastou nessa queda cerca de um terço de todos os poderes angelicais, que passaram a segui-lo, caindo assim, por semelhante modo, no pecado e na rebelião. (Ver os trechos de Isa. 14 e Apo. 12:4.) No entanto, essa queda limitou o poder de Satanás nos lugares celestiais, embora ele tivesse continuado a reter acesso aos lugares mais elevados. 2. As Escrituras também aludem à expulsão de Satanás do céu, outra parte integrante de seu julgamento gradual. (Ver Luc. 10: 18.) Contudo, esse julgamento é ainda meramente parcial, pois, embora não tenha mais acesso

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SATANÁS, QUEDA DE - SATHYA SAI BABA ao próprio trono de Deus, aos lugares celestiais mais elevados, tem acesso a planos espirituais ainda bastante superiores. O julgamento original contra Satanás provavelmente foi-se tomando mais completo. Toda essa demora é explicada pelo fato de que, mediante sua maneira de tratar Satanás, Deus está gradualmente mostrando, aos homens e aos seres espirituais elevados, que o caminho de Satanás é mau, embora ele possa revestir-se da semelhança de bondade, e que o caminho de Deus é que deve ser deliberadamente preferido por todos os seres dotados de verdadeira bondade, porquanto a suposta bondade de Satanás é uma imitação barata, já que ele não passa da personificação mesma da iniqüidade maligna. Todavia, será preciso um longo tempo para convencer a criação inteira sobre a malignidade dos caminhos satânicos (e assim, realmente, tem acontecido). 3. Quando da vida terrena do Senhor Jesus, houve também certo aspecto do julgamento de Satanás e seu reino, mediante o poder demonstrado por Jesus em expulsar os demônios, e, dessa maneira, limitar o poder de Satanás entre os homens. Ora, esse poder Deus também delegou aos homens. A missão terrena inteira do Senhor Jesus limitou o poder de Satanás, porquanto o Senhor exerce uma força contrária, sendo grandiosa para com os que se aproveitam dela. 4. A morte e a ressurreição de Jesus fornecem-nos a garantia da vitória final, se porventura essa vitória esteve em dúvida, não somente sobre Satanás, mas igualmente sobre todo e qualquer outro poder maligno; e esse fato é especificamente mencionado no trecho de Cal. 2: 15. Essa é a alusão particular que temos em João 17:31, embora outros aspectos do julgamento gradual de Satanás talvez também tenham sido referidos indiretamente. 5. Quase no tempo da segunda vinda de Cristo, o poder de Satanás estará ainda mais limitado, e ele será expulso das regiões celestes para a terra, quando então perderá todo o direito sobre os altos lugares celestiais. (Ver Apo. 12:9). 6. Tendo produzido sobre a terra toda a confusão que lhe for possível, já no fim da atual dispensação, Satanás será sujeitado a um julgamento ainda mais severo, e acabará expulso da terra para o abismo, região sobre a qual nada sabemos dizer, embora esteja fora de qualquer dúvida que essas palavras sejam figuradas e simbólicas. Isso removerá inteiramente a influência de Satanás da face da terra; e condições de ambiente boas e até mesmo perfeitas serão devolvidas aos homens (durante o período do milênio), quando Deus estará testando os homens para verificar se, cercados de uma boa influência e de condições favoráveis, o livre-arbítrio dos homens (livre na natureza) haverá de escolher o bem ou o mal. Alguns escolherão o mal, e Satanás será libertado por algum tempo, a fim de que se manifestem de maneira final, os seus pervertidos desígnios, para que todas as criaturas inteligentes os contemplem. 7. Descendo ainda mais, em sua derrota final, Satanás terminará finalmente lançado no lago de fogo, que será sua habitação eterna; e dessa forma a sua influência maléfica será total e permanentemente removida dentre os homens e dos seres angelicais. (Ver Apo. 20:10.) Tudo isso contribuirá para comprovar, universalmente, tanto a maldade inerente de Satanás como a insensatez de segui-lo, a loucura do pecado, a loucura da revolta espiritual contra Deus e a loucura de ter alguém qualquer outro alvo na vida que não seja Deus. No que diz respeito à declaração específica de João 12:31, está em foco a quarta possibilidade dada acima; mas, ao

mesmo tempo, o Senhor Jesus provavelmente via as coisas numa espécie de visão panorâmica, incluindo a queda total e final de Satanás, do que a sua própria morte e ressurreição serviram de garantia, porquanto foi nesses grandes feitos de sua vida terrena que Jesus arrebatou de Satanás o poder da morte eterna sobre os homens. 11.Em João 12:31 Aqui figuram dois julgamentos, a saber, um do mundo, e outro do príncipe deste mundo, Satanás. Os dois julgamentos estão vinculados, pelo que também o autor sagrado os mencionou juntamente nesta passagem. No que diz respeito ao sentido em que o julgamento deste mundo ocorreria, podemos asseverar o seguinte: No que consiste esse julgamento? I. Não foi a destruição de Jerusalém, em 70 D. C. (ver o artigo). Essa destruição, porém, pode ter prefigurado o julgamento referido neste versículo 2. Por certo está em foco o próprio juízo que foi imposto pela missão de Cristo, o qual separa as trevas da luz, a palha do trigo, os corruptos dos puros, os incrédulos dos crentes, segundo se vê em João 3: 17,18. Quanto a isso, o juízo divino é discriminador e separador, aguardando um julgamento que ainda jaz no futuro. 3. Também temos aqui o juízo antecipado da cruz, em que os homens, uma vez crendo, seriam salvos, mas, caso a rejeitassem, seriam condenados. A cruz acentuaria a divisão entre os homens, antecipando a divisão final, diante do trono de Deus. 4. Há alusão ao juízo final. (Ver o artigo a respeito.) 5. O julgamento do mal, de Satanás e de suas hastes é aqui indicado. (Ver acerca do "poder de Satanás", em Efé. 6:12 no NTI.) Esse poder foi debilitado na cruz, sua condenação está selada, embora ainda não se tenha consumado. O trecho de Col. 2: 15 se refere especificamente a esse juízo. Não obstante, tal julgamento será parcial, pois o julgamento final deste mundo não ocorrerá senão após o milênio. Nesses sentidos, pois, o julgamento virá contra esse "mundo". (Ver diversos artigos detalhados: Possessão Demoníaca; Demônio (Demonologia); Mal e Mal Cósmico. Ver Efé. 6:12. Agora o Seu Príncipe Será Expulso. O julgamento de Satanás, que aqui recebe o título de "príncipe deste mundo", será gradual. (Quanto a esse título de Satanás, "príncipe deste mundo", ver também os trechos de João 14:30 e 16;11.) Somente este quarto evangelho inclui o título, com essas palavras exatas, mas a passagem de Efé. 2:2 diz "príncipe das potestades do ar", o que significa que ele é o governante de poderes espirituais que se agitam em regiões superiores à terra, mas mantém algum contato com este mundo (tal como a camada de "ar" físico tem contato com a "terra" fisica), especialmente como poderes que influenciam os homens para a maldade. Por semelhante modo, as passagens de Mal. 9:34 e 12:24 chamam-no de "príncipe dos demônios". (Outro tanto se lê no trecho de Mar. 3:22.)

SATHYA SAI BABA Em vários lugares desta enciclopédia, tenho aludido a Sathya Sai Baba como demonstração de como uma religião vital, e milagres continuam operando entre os homens. A vida desse homem mostra que os evangelhos não estão exagerando ou inventando coisas quando se referem aos grandes poderes miraculosos de Jesus. De fato, é seguro dizer que os evangelhos apresentam um mero esboço da questão, dizendo o mínimo acerca do aspecto miraculoso

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SATHYA SAI BABA da vida de Cristo. É isso, essencialmente, que João 20:30,31 afirma: "Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". O ceticismo existe no tocante às reivindicações religiosas por várias razões. Algumas pessoas têm a vontade de não crer, da mesma maneira que outras têm a vontade de crer. O problema do mal (por que os homens sofrem?) produz um efeito poderoso sobre algumas mentes, levando-as ao ceticismo. Além disso, alguma mentes profundas têm criado admiráveis sistemas filosóficos que parecem obviar a fé religiosa, enquanto que há quem examine as crenças e práticas religiosas, dotado de um conhecimento "provincial", não tendo consciência do que realmente ocorre nas religiões. Um professor universitário, em sua torre de marfim, facilmente pode falar sobre os mitos que a Igreja tem inventado sobre Jesus. E, além disso, ele nunca viu um homem miraculoso em operação, razão pela qual não crê em tais "superstições". Mas muitos daqueles que têm visto Sathya Sai Baba em ação não demoram a aprender sobre a natureza provincial do conhecimento de muitos intelectuais. Quando lemos acerca desse homem (como no material que apresento a seguir), percebemos como Jesus pode ter convertido homens instantaneamente, e por qual motivo se puseram a segui-lo de pronto, quando a isso foram convidados. O poder da pessoa de Cristo e de sua vida foram tão estonteantes que esse acontecimento tomou-se lugar comum. Por outra parte, Cristo despertava uma imediata e amarga oposição da parte de outros, e isso é sempre o que acontece com qualquer gênio criativo. As pessoas jamais poderão ficar indiferentes de homens assim, em quem reside o sol do intelecto e do poder místico. Tenho seguido, com profundo interesse, a carreira desse santo homem da Índia Visto ser ele uma demonstração viva da realidade e contemporaneidade dos milagres, incluo um artigo sobre ele. Meu propósito aqui é combater o ceticismo que nega as realidades fundamentais da fé religiosa. Esse artigo não é polêmico no sentido de que busca fazer uma avaliação do próprio Sai Baba, nem é meu propósito analisar criticamente todas as suas reivindicações. Eu mesmo não aceito várias dessas reivindicações. Contudo, não creio que a maioria dos teólogos ocidentais tenha o conhecimento necessário das religiões orientais para poder fazer um juízo apropriado dos admiráveis feitos produzidos por esse homem. De resto, faltam-lhes até mesmo as experiências místicas para tanto. Uma análise crítica de como Sai Baba realiza seus feitos, bem como a crítica que aborda sua pessoa e suas reivindicações, deixo a outros, na esperança de que haja pessoas qualificadas para essa tarefa. Meu propósito é apenas mostrar que as grandes reivindicações da fé religiosa, incluindo as daqueles que afirmam a realidade dos milagres e de elevados poderes espirituais, são reivindicações verdadeiras. Ver o artigo intitulado Milagres, onde procuro apresentar provas dessa assertiva Contudo, não podemos olvidar que os "sinais" não são as coisas que realmente importam nas experiências religiosas. Neste mundo há muito misticismo barato que as pessoas tomam como se fosse a essência mesma da fé. O budismo certamente está correto em sua ênfase sobre a transformação espiritual e moral, encarando, com certa suspeita, os sinais miraculosos e a disposição de alguns que vivem à cata deles. Sai Baba tem minimizado os milagres que realiza. e tem afirmado vigorosamente que o significado de sua carreira não está nesses prodígios, e, sim,

nos ensinos que transformam vidas e nas obras de caridade com que procura servir ao próximo. Conforme alguém já disse: "A medida de um homem, afinal de contas, é a sua generosidade". E nisso oculta-se uma verdade freqüentemente ignorada pelas pessoas, que deveriam ser mais sensíveis para com esse fato. Mas, se os sinais e os prodígios não são o âmago da fé religiosa, têm por função mostrar-nos que existe um grande poder para o qual podemos apelar, o qual nos revigora a fé e nos assegura não estarmos sozinhos neste mundo. O poder de Deus é uma realidade. Esse poder está esperando por nós. Podemos descobri-lo. Porém, mais importante ainda, é que a vida transformada, a obtenção da natureza, da imagem e dos atributos de Cristo, é o maior e o mais desejável de todos os milagres. Convoco o leitor para que, neste ponto, consulte o artigo intitulado Rationes Seminales, equivalente à expressão grega logoi spermatikoi, o qual, segundo acredito, tem algo importante a dizer sobre as diversas e universais manifestações do Lagos, cuja obra não está limitada a nenhuma esfera, a nenhuma filosofia, a nenhuma religião, nem a algum método que os homens queiram usar. SAI BABA, HOMEM MIRACULOSO Pode ele, realmente, fazer objetos desaparecer, produzir alimentos do ar rarefeito e teletransportar seu corpo para lugares distantes? por Erlendur Haraldsson Reimpresso com a gentil permissão de Fate Magazine, agosto de 1988 Se você, porventura, estivesse viajando pela índia, e chegasse a ventilar a questão dos fenômenos, psíquicos - ou «milagres», conforme os indianos tendem por chamar esses fenômenos - então os seus companheiros indianos de viagem provavelmente mencionariam, em primeiro lugar, o nome de Sathya Sai Baba, no caso de você perguntar-lhes se conheciam alguém que realizasse feitos paranormais. Sai Baba é o «homem miraculoso» da Índia. Sai Baba, atualmente com sessenta e um anos de idade, continua residindo na remota aldeia de Puttaparti, onde nasceu. Puttaparti fica a três ou quatro horas de viagem de automóvel, para quem parte de Bangalores, a maior cidade do interior, no sul da índia. O cortejo cada vez mais numeroso de peregrinos, devotos e curiosos forçou as autoridades a construir uma estrada decente para veículos, até àquele distrito de população bem pouco densa, onde as minúsculas aldeias estão a «apenas segundos de distância da era da Pedra», conforme alguém as descreveu. No entanto, naquela área, Sai Baba pôde edificar o maior e mais vital dos movimentos religiosos da índia moderna. Talvez seja correto afirmar que esse movimento cresceu em tomo da pessoa dele. Suas instalações em Puttaparti, chamadas Prashinti Nilama (Habitação da Paz), atualmente formam uma municipalidade independente, com um gigantesco salão de reuniões, muitos complexos de apartamentos para abrigar visitantes, vários edifícios de escolas, um hospital e, mais recentemente, até uma universidade que funciona oficialmente. Sai Baba nasceu em uma família não-brâmane. Aos catorze anos, declarou-se a reencarnação de Sai Baba, a fim de cuidar do bem-estar dos seus devotos. (Sai Baba anterior foi um santo que viveu em uma cidade cerca de 190 km a leste de Bombaim, e foi homem pouco conhecido no sul da India, que viveu mais ou menos na passagem do século XX). O fato de Sathya Sai Baba não ter nascido

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SATHYA SAI BABA circunstâncias diferiam. M. L. Leelamrna, que atualmente é professora de botânica em um colégio na cidade de Madras, passou muito tempo com Sai Baba. quando ele estava na casa dos vinte anos de idade. Ela contou que, algumas vezes, eles faziam uma brincadeira. Os que estavam ao redor tentavam tocar nele; mas, exatamente quando alguém estava prestes a fazê-lo, ele desaparecia, e então aparecia em algum outro lugar, próximo. As notícias são que fenômenos miraculosos ocorrem não apenas na presença de Sai Baba. mas também longe dele. Mencionemos, primeiro, casos de seus aparecimentos. Os casos ocidentais de aparições usualmente são breves, sem que a pessoa que apareça diga alguma coisa. Não sucede assim com Sai Baba. Segundo se noticiou a 13 e a 24 de dezembro de 1964, Baba teria aparecido na residência do diretor de uma escola de treinamento de férias, em Janjeri, Karala, na parte sudoeste da India. Teria sido avistado por quarenta pessoas. Fomos capazes de localizar dez testemunhas desse evento. Embora as memórias de algumas delas não fossem mais muito claras quanto a detalhes, elas concordaram quanto a aspectos centrais. A aparição teria ocorrido em resposta a uma menina fisicamente enferma. com oito anos de idade, Sailaja, que havia orado desesperadamente pedindo ajuda, na noite anterior. A aparição - se é que foi uma aparição supostamente curou Sailaja, realizou um culto religioso (bhajan), apresentou presentes valiosos, «com um gesto da mão», conforme o costume de Sai Baba. e chegou mesmo ajantar com os circunstantes. Visto que a aparição mais se assemelhou a uma pessoa de carne e sangue do que a mera aparição, exploramos a possibilidade de Sai Baba ter feito uma visita pessoal, a fim de criar uma aura de publicidade. Após uma longa busca acerca de onde ele teria estado naquele dia. encontramos alguma evidência - registros em um livro de hóspedes e um anúncio impresso acerca de seu discurso - indicando que, naquele 13 de dezembro, ele havia permanecido no palácio de Venkatagiri, que fica no outro extremo da península indiana Também descobrimos certo número de detalhes que seriam dificeis de explicar se supusesse que o visitante foi um impostor, que estivesse fingindo ser Sai Baba. Em um outro caso de aparecimento de Sai Baba, alegadamente ele teria ajudado a um negociante enfermo, segurando-o acima da água, depois que caminhara sonâmbulo e havia caído dentro de um poço. Outro homem e sua esposa relataram o caso em que a aparição de Sai Baba assustou a um gatuno que tentava roubar coisas da residência deles, quando visitavam as instalações em Puttaparti, a cerca de 320 km dali. Mais tarde, o gatuno foi apanhado e contou o seu lado da história aos policiais. Vibuti em Lugares Distantes. O vibuti - cinza sacramental - é, na Índia, símbolo da criação e também da destruição, e talvez um lembrete da natureza efêmera da vida individual. O vibuti é largamente usado na Índia, mas nenhum Iider religioso faz uso tão freqüente dele quanto Sai Baba. Ele distribui vibuti com muito mais freqüência do que qualquer outra coisa. Segundo notícias, essas cinzas têm caído de sua testa, em procissões, ou têm jorrado de sua boca e de seus pés como uma marca registrada dele. Particularmente na Índia, mas também na Europa e na América do Norte, há grande número de salas-santuário nos lares dos devotos de Sai Baba. Esses santuários com freqüência contêm quadros representando Sai Baba. mais ou menos recobertos com vibuti, que supostamente apareceu ali espontaneamente. Isso continua a acontecer dentro do movimento de Sai Baba por quase trinta anos,

mas aparentemente tornou-se uma epidemia no começo da década de 1979 e continua a suceder assim. Em Bangalores, Bombaim, Calcutá, Madras e praticamente todas as cidades da Índia por onde andei investigando, descobri e visitei santuários em salas com fotografias recobertas com vibuti (e algumas delas com kum-kum, espécie de pó, ou com o fluido chamado amrith). O mero exame não mostra indícios se essas fotografias produziram vibuti, de maneira paranormal, ou se foi posto ali por outros meios. Em alguns casos nos quais as fotografias tinham sido emolduradas, as cinzas podiam ser vistas dentro e fora do vidro. Começou a dizer-se que essas substâncias passaram a aparecer inesperada e miraculosamente nas fotografias de Sai Baba, com freqüência nas casas de pessoas nas periferias ou mesmo fora do movimento formal de Sai Baba. Isso aconteceu com um guarda-livros de Calcutá. Na época, ele não era seguidor de Sai Baba; mas comprou uma fotografia dele, que fora pendurada em um canto da alcova onde ele e sua esposa também colocaram certo número de fotografias de homens santos e divindades hindus. Pouco depois, pequenas porções de vibuti começaram a aparecer sobre aquela fotografia. E as manchas foram crescendo até que algumas fotografias se cobriram parcialmente pela substãncia. Em outro caso, dois cientistas altamente qualificados do prestigioso AlI India Institute of Science, em Bangalores, os drs. P.K. Battacharya e K. Venkatessan, disseram ter visto, independentemente um do outro, o vibuti começar a aparecer sobre as fotografias. É fato sabido que basta alguém jogar vibuti sobre uma fotografia para que um pouco dessa cinza grude sobre ela, pelo que o fenômeno é fácil de falsificar. Contudo, a prodigiosa quantidade dessas reivindicações, muitas delas agora vindas também da América do Norte e da Europa, impõe-se diante dos investigadores como um fenômeno digno de exame. De certo modo, o fenômeno do vibuti assemelha-se às «madonas que choram» ou aos «crucifixos que sangram», que supostamente têm acontecido nos meios católicos romanos. Também parecida com os fenômenos associados ao catolicismo é a fragrância perfumada - odor sanctique subitamente emana da presença de Sai Baba. e também de lugares distantes de onde ele se acha. Um industrial de Madras, em viagem de negócios pela Finlândia, relatou-nos um desses incidentes. Ele estava hospedado em um quarto pertencente a uma firma finlandesa quando, subitamente, sentíu aquele agradável aroma típico de Sai Baba. É simplesmente impossível, em um breve artigo como este, exaurir todos os tipos de fenômenos lançados a crédito de Sai Baba. Para exemplificar, nem discuti aqui sobre os casos de cura. Há até mesmo notícias de duas ressurreições semelhantes à de Lázaro. Muitos dos fenômenos próprios do culto a Sai Baba parecem terem saído diretamente do Novo Testamento, ou dos maravilhosos contos das Mil e Uma Noites. Dentro da história escrita, provavelmente não há caso similar quanto à variedade de fenômenos e abundância de testemunhos, embora o próprio Sai Baba costume minimizar os fenômenos, geralmente referindo-se a eles como «pequenos itens». A tarefa difícil e importante, disse ele uma vez ao dr. Osis e a mim, é mudar o coração e os hábitos. A Questão da Genuinidade. Esses fenômenos são reais? São paranormais? Antes de passarmos a responder a essas indagações, não

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SATHYA SAI BABA - SÁTIROS devemos olvidar que estamos lidando com uma variedade de fenômenos tão grande que não podem ser classificados todos juntos. Nem mesmo um artigo muito longo seria suficiente para tratar separadamente com cada um deles. Neste artigo, posso expressar somente a minha impressão geral. Convido os leitores interessados a ler o meu livro intitulado Modem Miracles. Quisemos submeter Sai Baba a experiências controladas, mas ele não consentiu. Por conseguinte, não temos evidências experimentais quanto à genuinidade da produção e transformação de objetos. A questão da prestidigitação, portanto, não pode ser diretamente averiguada. Somente um mágico perito, Fanibunda, de Bombaim, teve ampla oportunidade de observar Sai Baba durante um período de vários anos. Conforme ele mesmo disse: «Ansioso para descobrir se Baba estava realmente materializando os vários objetos do ar rarefeito, conforme é afirmado pelos seus devotos, ou se ele os produz mediante prestidigitação», ele abordou Sai Baba como um cético, mas acabou convencido da paranormalidade dos fenômenos. «Fui capaz de detectar fraude no caso de dois outros swamis indianos, que afirmavam ser capazes de produzir fenômenos físicos mediante a paranormal idade; porém, fui incapaz de descobrir qualquer fraude em Sai Baba, embora tenha podido observá-lo com muito maior freqüência do que no caso daqueles outros.» Da década de 1940 até o presente, Sai Baba tem tido certo número de assessores e associados íntimos; na verdade, toda uma sucessão deles. Eles cuidavam de seu aposento, do qual tinham até a chave. Lavavam suas roupas e ocupavam-se de outras tarefas parecidas. Permaneciam em companhia dele dia após dia, e com freqüência até dormiam no mesmo aposento; e alguns permaneceram com ele durante anos. Muito me esforcei para descobrir o paradeiro desses ajudantes, e consegui entrevistar por longo tempo a maioria deles. Dois deles haviam abandonado o movimento Sai, e alguns o criticaram como indivíduo, e à sua reivindicação de ser um avatar. Porém, quando chegamos à questão de como Sai Baba tem conseguido produzir um interminável jorro de objetos, que têm saído de sua mão por mais de quarenta anos, ninguém é capaz de oferecer indício ou evidência de fraude. Os seus auxiliares sentiam-se tão perplexos quanto as pessoas que só o viram realizar aquele prodígio uma ou duas vezes. Eles o viram produzir frutos fora da estação própria, ou cujas árvores não estavam presentes, bem como vários tipos de objetos, a pedido das pessoas. Na Índia, acompanhei muitos rumores e estive empenhado em longas conversas com os críticos de Sai Baba, como o ex-reitor da Universidade de Bangalores. O dr. Narasimhajah encabeçou uma comissão de investigação que, a despeito de seus mais decididos esforços, foi incapaz de encontrar alguma prova tangível de engodo. Em 1976, desenvolveu-se uma controvérsia nacional na Índia: Sal Baba é genuíno, ou não? Até mesmo o prestigioso Times ofIndia publicou um editorial sobre a questão. Em resultado, os jornais e os semanários, bem como a Comissão sobre os Milagres, encabeçada pelo dr, Narasimhajah, receberam prodigiosa quantidade de correspondência. Mas, em todas as cartas enviadas, não apareceu indício capaz de lançar luz sobre a incessante produção de objetos da parte de -Sai Baba. Tudo isso, além de outros particulares que não abordei aqui, sugere fortemente que alguns dos fenômenos de Sai Baba podem ser realmente genuínos; e essa é a razão

pela qual são dignos de ser estudados. Informação sobre o Autor Erlendur Haraldsson. Ele é médico e professor associado de psicologia na Universidade da Islândia. Largamente respeitado como parapsieólogo, dirige pesquisas sobre assuntos como poderes psíquicos extra-sensoriais espontâneos, testes de personalidade vinculados aos poderes psíquicos extra-sensoriais e visões à beira do leito de morte. Haraldsson interessou-se pelos milagres de Sathya Sai Baba quando dirigia pesquisas sobre experiências perto da morte, no norte da índia. Em diversas ocasiões subseqüentes encontrou-se com Sai Baba e foi testemunha de seus ostensivos poderes paranormais. Famoso na Índia como operador de prodígios, Sathya Sai Baba, com sessenta e um anos, vive na aldeia de Puttaparti, onde encabeça um numeroso movimento religioso. Em Puttaparti, Sai Baba quase sempre vê-se cercado por centenas ou mesmo milhares de visitantes, que ali se concentram para buscar sua ajuda ou inspiração espiritual. SATI Este vocábulo vem diretamente do sânscrito sati, "fiel", dando a entender a esposa fiel. A palavra sânscrita sal, que vem da mesma raiz, significa "boa", "sábia". Está em foco a prática hindu de a viúva ser morta na pira funerária de seu marido, um dever e um privilégio da mulher, a qual, presumivelmente (pelo menos na maioria dos casos), se submetia voluntariamente a esse terror. Naturalmente, era uma forma de suicídio (Vera respeito). Essa prática foi descontinuada no começo do século XIX pelas autoridades britânicas. Ram Mohan Roy opôs-se vigorosamente a ela, até que seus esforços produziram frutos. O governador geral Lord William Bentinck, em 1830, tomou a prática uma ofensa criminal. Na Índia, a prática era extremamente antiga. Alexandre, o Grande, já a encontrou ao invadir aquele país (século IV a.c.). Aí pelo século VI d.C., a prática tinha assumido ares cúlticos. Pedras memoriais sati foram erigidas em muitos lugares. Mediante essa auto-imolação, a mulher supostamente adquiria felicidade para si mesma e para seus familiares em uma existência futura, da qual todos os familiares compartilhariam. Esse ato, incrível é dizê-lo, também tomava famosa a família que sobrevivia! SATIA SAI BABA Ver Sathya Sai Baba. SÁTIROS No hebraico, sair, que a Septuaginta chama de malaia. A referência é obscura e muito debatida. Ao tentar definir a palavra, os estudiosos deixam-nos uma série de dúvidas: peludo, bodes selvagens, tipos de deuses ou demônios. Talvez estranhos animais que andavam soltos se tomaram os nomes de deuses mais assustadores que perturbavam a vida dos homens. Ver Isa. 13.21; 34.14eLev. 17.7. Talvez estejam em vista os espíritos (semideuses) que assombravam locais desertos. Em Mendes, no Baixo Egito, o bode era louvado com rituais sujos que podem ser associados ao Sátiro. Cf Jos. 24.14, 15 e Eze. 23.8,9,21. Na mitologia grega e romana, Sátiro era um deus repugnante, meio homem, meio animal, que originalmente pode ter sido inspirado por deuses pagãos de Canaã alegadamente controlados por demônios, ou pelas imagens através das quais se manifestavam as entidades demoníacas. De qualquer forma, rituais especialmente repugnantes acompanhavam os cultos a tais deuses.

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SATISFAÇÃO - SAUDAÇÃO SATISFAÇÃO Ver sobre Expiação. A teoria da satisfação é uma das principais dentre as teorias, tendo sido habilidosamente articulada (embora, algumas vezes, de modo duvidoso) por Anselmo. A teoria da satisfação é discutida na segunda seção daquele artigo, ponto quinto. O subponto a brinda-nos com uma visão possível da questão; e o subponto b apresenta-nos outro ângulo possível. O sétimo ponto explica a visão de Anselmo sobre a questão, que ele deu a conhecer em seu escrito Cur Deus Homo. Antes de Anselmo, havia a crua teoria de que a satisfação paga na morte e na expiação de Cristo fora paga ao diabo. Presumia-se então que a alma de Cristo servira de substituta por todas as almas humanas que seriam libertadas, e essa seria a satisfação do diabo. Porém, conforme as coisas sucederam, todos os homens foram libertados, mas a alma de Jesus não era do tipo que o diabo fosse capaz de reter, pelo que Cristo ficou livre, e o diabo saiu-se perdedor em todos os sentidos. Pura tolice! Para alguns teólogos, a teoria da satisfação também inclui a obediência de Cristo à lei (à qual ele obedeceu por todos os homens, sendo que eles, obviamente, não podiam realizar o feito). A morte sobre a cruz pagou o preço de uma lei violada, pelo que esse seria outro elemento da satisfação. Esses dois tipos de obediência foram então intitulados "obediência ativa" (cumprimento da lei) e "obediência passiva" (satisfação da maldição da lei contra o pecado, na morte de Cristo na cruz). Surgiu em cena a discussão que debatia se a morte de Cristo e a satisfação que isso faz é ou não uma expiação ou uma propiciação. Se fosse uma expiação, faltar-lhe-ia a idéia de aplacamento. Se fosse uma propiciação, estaria em foco a idéia de como aplacar a um Deus irado. Os eruditos liberais se opõem à idéia de aplacamento como um crasso antropomorfismo. Porém, muitos pensadores conservadores ignoram isso, crendo que Deus é um tipo de personalidade que pode irar-se (tal como no caso dos homens, feitos à sua imagem e semelhança), e requer aplacamento. Dou uma explicação a respeito nos artigos Expiação e Propiciação. Ver especialmente o primeiro desses dois, na quarta seção, Expiação ou Proptciação.

de seu corpo na cruz. "Os sacrificios de animais eram apenas cerimoniais ou tipicos; e esse ritual é justamente o que foi transferido, no Novo Testamento, para a obra de Cristo na cruz. Essa é a base do ensino teológico de que a culpa pelo pecado foi removida mediante a satisfação prestada por Cristo a Deus, contra quem o pecado havia sido cometido. Por essa razão é que Cristo é chamado de Cordeiro de Deus. Quando Deus é propiciado pelo sangue de Cristo, somos remidos da maldição da lei e nos reconciliamos com Deus. O conceito de satisfação, pois, é um conceito teológico que abarca, em sua conotação, todas as principais categorias usadas nas Escrituras para descrever o significado da obra expiatória de Cristo, no que diz respeito a Deus e no que diz respeito aos pecados. A mais crucial passagem, em tudo isso, é Rom. 3:21-26" (B).

Base no Antigo Testamento. É perfeitamente claro, no Antigo Testamento, que os sacrificios tinham por intuito ser uma satisfação pelo pecado. O sistema sacrificial dos hebreus tinha por finalidade reconhecer o pecado e aplacar a Deus com respeito a ele. Pensava-se que Deus se agradava ao ver os homens realizar esses ritos, razão pela qual os perdoaria. Por conseguinte, se ficarmos somente com o Antigo Testamento, então, como é evidente, a expiação de Cristo tem de ser vista como um aplacamento, e estaria em foco apenas uma propiciação. Muitos eruditos cristãos, entretanto, pensam que é ridiculo transferir para o Novo Testamento, com sua mensagem muito mais exaltada, os conceitos mais primitivos do Antigo Testamento, tão entremeados de antropomorfismos. Mas os eruditos conservadores continuam convencidos da propriedade dessa transferência de idéias, pelo que o debate prossegue. Todavia, a satisfação dada por Cristo envolve tanto propic iação quanto expiação: é um aplacamento e é uma substituição. " ... ele (Jesus Cristo, o justo) é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro" (1João 2:2). "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (II Cor. 5:21). Assim, Cristo vindicou a lei, quebrada por nossas transgressões, mediante o sacrificio

SAUDAÇÃO 1. No grego, aspasmós (a forma verbal é aspadzomai), palavra usada nas cartas antigas como uma saudação, equivalente ao termo latino salutare. Seus sentidos básicos são "saudar", "desejar o bem", "abraçar", "beijar", "alegrar-se". Esta palavra era usada nos encontros e nas despedidas, não apenas em comunicações escritas. A forma verbal é usada sessenta vezes no Novo Testamento, com os significados de "saudar" ou "cumprimentar". Por exemplo: Mat. 5:47; Mar. 15:18~ Atos 18:22; 1 Cor. 16:5,7,8,10; Cal. 4:10~ I Ped. 5:13. Mas a forma verbal também significa "abraçar", conforme se vê em Atos 20: I e Heb. 11:13; e "despedir-se", segundo se vê em Atos 21:6. A forma nominal aparece por dez vezes no Novo Testamento, com a idéia de saudação, conforme se pode ver em Mal. 23 :7~ Mar. 12:38; Luc. 1:28,41,44; Cal. 4: 18 elITes. 3:17. 2. Uma saudação com o desejo pela vida eterna de um monarca, expressa por um súdito seu, era um típico exagero oriental. Em Nee. 2:3 vê-se um uso hebraico; e em Dan. 2:3, um uso aramaico. 3. O termo grego chaire (no plural, chairete) (ver Mal. 10: 12 e Mar. 13:38) significa, literalmente, "alegra-te". A forma infinitiva do verbo, chairein, também era usada (ver 11 João 11 e I Macabeus 10: 18,25). A raiz desse verbo

SATORI No budismo zen, este vocábulo significa "iluminação". Usualmente está em foco uma iluminação súbita, que é o grande alvo da inquirição religiosa, promovida por essa forma de budismo, sendo ela uma escola mística. Ver sobre Misticismo e sobre Iluminação. SÁTRAPAS No hebraico (derivado de uma palavra persa), a palavra significa "príncipe", "tenente", mas no persa significa "protetor do reino". No sistema persa de governo internacional, o sátrapa era um oficial em serviço no exterior. Heródoto forneceu uma lista de 20 sátrapas persas. Em Est. 3.12 a palavra tem o significado de "tenente", e em Dan. 6.2 e 6.1 quer dizer "príncipe". Num sentido secundário, a comissão de Esdras relacionada ao seu ministério em Jerusalém era chamada com este termo (Esd. 8.36). SATYA SAI BABA Ver sobre Sathya Sai Baba. SATYASIDDHI, ESCOLA Uma das escolas do budismo. Ver sobre Sunya.

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SAUDAÇÃO - SAÚDE é chaira, palavra comum para "alegrar-se", "regozijar"; dessa forma que se deriva a palavra grega para "graça", charis. Chairo é palavra usada por setenta e quatro vezes no Novo Testamento, sendo traduzida como "saudações", em Atos 15:23 e 23:26, e como "adeus", em 11 Cor. 13:11. Em nossa versão portuguesa, essa palavra é traduzida como "saúde", em Atos 23:26. Nos trechos de Mal. 26:49 e 27 :29, a palavra é usada como uma saudação verbal, em um encontro entre duas ou mais pessoas; e isso constituía um uso comum. 4. O ósculo de saudação é indicado pelo termo grego philema (usado na Septuaginta) em I Sam. 10: 1; e, no Novo Testamento, em Rom. 16: 16; 1 Cor. 16:20; II Cor. 13:12; Luc. 7:45; 22:48 e 1 Ped. 5: 14, ou seja, por um total de sete vezes. Usualmente esse ósculo se fazia mediante dois beijos, um em cada face, conforme continua sendo usual nas saudações orientais. Naturalmente, philema também pode indicar um beijo afetuoso na boca. Tal beijo pode ser eliminado, ou por falta de tempo (11 Reis 4:29; Luc. 10:4), ou por querer o indivíduo evitar qualquer associação com o erro (lI João 11). A palavra hebraica correspondente é nashaq, que se vê, por exemplo, em Gên. 29:11; Rute 1:14; I Sam. 20:41; I Reis 19:20; Pro. 7: 13; Cano 1:2; Osé. 112. Mas no grego há mais dois termos envolvidos com esse tipo de saudação: philéo, "mostrar-se amigo" (ver, por exemplo, Mal. 26:48; Mar. 14:44 e Luc. 22:47); e kataphiléo, "mostrar-se muito amigo", usado por seis vezes: Mal. 26:49; Mar. 14:45; Luc. 7:38,45; 15:20; Atos 20:37. 5. O termo hebraico shalom (no árabe, salaam) significa, literalmente "paz", mas era usado como uma saudação (ver I Sam. 1: 17). O equivalente neotestamentário é eirene, "paz", "tranqüilidade" (ver Mar. 5:34; Luc. 10:5,6; Atos 16:36 e Tia. 2:15,16). 6. Nas Epístolas Paulinas. Nessas epístolas encontramos saudações mais elaboradas, embora muito similares umas às outras. Na epístola aos Romanos (l :7), temos: "Graça a vós outros e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo". Encontramos saudações parecidas a isso em I e II Coríntios; Gálatas; Efésios; Filipenses; Colossenses; I e 11 Tessalonicenses. Porém, quanto à questão da autoria paulina, nas epístolas pastorais, aparece outra fórmula: "Graça, misericórdia e paz"... 7. A primeiraepístola de Pedro contém a seguintesaudação: "Graça e paz vos sejam multiplicadas" (IPed. 1:2b).A segunda epístola de Pedro (11 Ped. 1:2) repete essa saudação. 8. A primeira epístola de João não encerra saudação formal. Mas fi João (vs. 3), diz: "A graça, a misericórdia e a paz, da partede DeusPai e de JesusCristo,o Filhodo Pai,serão conosco em verdade e amor". Em mJoão o amado Gaio é saudado com as palavras: "Gaio, a quem eu amo na verdade" (vs. I). Era costume oriental exprimir interesse pessoal por outrem em várias ocasiões - em algum encontro fortuito no caminho, na volta de alguma viagem, nas despedidas, quando do nascimento de alguma criança etc. Quando alguém se encontrava com outrem, era costume a saudação "Salve!" (Mal. 26:49); e, em ocasiões de despedida: "Vai-te em paz" (I Sam. 1:17). Essas saudações orais muitas vezes eram acompanhadas pelos atos de ajoelhar, abraçar e oscular. Os setenta discípulos de Jesus, quando enviados a pregar e curar, foram proibidos de fazê-lo, porque o costume consumia tempo demais (Luc. 10:4). Os fariseus gostavam muito de ser saudados, porquanto isso lhes fomentava o orgulho e o senso de importância pessoal (Mat. 23:7). No fim das epístolas paulinas, as saudações são expressas sob a forma escrita, com freqüência, incluindo alguma oração, pedindo a

misericórdia especial do Senhor sobre as pessoas endereçadas (I Cor. 16:21; Cal. 4: 18; II Tes. 3: 17). SAUDAÇÃO ANGELICAL A saudação feita à Virgem Maria, pelo anjo, quando ele anunciou que ela se tornaria mãe de Jesus (Luc. 1:28). Ver o artigo sobre a Ave-Maria. (S) SAÚDE Ver o artigo geral sobre as Enfermidades da Bíblia, especialmente a quarta seção, Teologia da Doença. I. Palavras Usadas na Bíblia acerca da Saúde No hebraico, aruka, "carne nova", referindo-se a como o organismo repara seus tecidos atingidos, como que por uma nova carne. Ver Isa. 58:8; Jer. 8:22; 30:17; 23:6. No hebraico, marpe, riput, que vem da raiz rapa, "costurar junto com". Ver Pro. 12:18; 13:17; 16:24; Jer. 8:15. No hebraico, yesua, que significa "saúde de meu rosto", representa as idéias de "meu socorro" ou "meu libertador". No hebraico, saiam, "paz", "algo completo" (ver 11 Sam. 20:9). E esse vocábulo também era usado na pergunta de cortesia acerca da saúde ou do bem-estar de alguém, como em: "Está tudo bem com você?". No grego, no Novo Testamento, temos o substantivo soteria (Atos 27:34), palavra comumente usada nos papiros do período neotestamentârio para indicar as idéias de "saúde" e "segurança", embora o próprio Novo Testamento a utilize com o sentido de "salvação". No grego, hugiaino. verbo que significa "estar saudável" (III João 2). Lucas também usou essa palavra para indicar a saúde literal, flsica(ver Luc. 5:31; 7:10; 15:27), embora Paulo a tivesse usado com o sentido de sã doutrina (ver 11 Tim. 1:13;4:3; Tito 1:ge2:1). 2. Usos Metafóricos Esses usos são comuns nos casos de todas as palavras acima alistadas. Aruka é usada no caso da restauração de Israel (ver Isa. 58:8; Jer. 8:22). Marpe e riput, acerca do uso sábio da língua (ver Pro. 12:8) e da linguagem empregada por um fiel embaixador (ver Pro. 13: 17). Yesua (ver Sal. 42:6 e 43:5) a respeito do livramento ou ajuda espiritual. Salém (ver II Saro. 20:9), para indicar a noção de paz. Quanto ao grego, soteria (Luc. 2:30; 3:6; Atos 28:28; Efé. 6: 17) é usada para indicar a eterna salvação da alma. A palavra grega comum que significa "Salvador" provém dessa raiz, ou seja, sotér (ver Luc. 1:47; Atos 5:31; Efé. 5:23; Fil, 3:20 etc.), em um total de vinte e quatro vezes no Novo Testamento. E hugiaino é usada por Paulo para referir-se à sã doutrina, ou seja, a doutrina correta, conforme se viu no primeiro ponto, acima. 3. Importância da Saúde Parece ser verdade que a maioria das pessoas é capaz de sacrificar qualquer coisa, incluindo todo o seu dinheiro, para gozar de boa saúde. Mas a ignorância espiritual impede-as de fazer um sacrificio similar quanto à saúde da alma. Alguns estudiosos têm observado que Jó tolerou bem suas aflições até que seu corpo fisico foi atacado, quando então caiu no desespero, emitindo queixumes amargos. Pelo menos para algumas pessoas, a má saúde física é a mais severa de todas as aflições. Por outra parte, pessoas que estão espiritualmente enfermas podem sentir-se felizes em meio à sua miséria espiritual. Grandes indústrias e instituições existem empenhadas na melhoria da saúde fisica, e grandes filas formam-se quando essa ajuda custa pouco ou nada. Em comparação, as igrejas vivem quase vazias. 4. Saúde, Enfermidade e Pecado Para ampla discussão sobre a questão, ver o artigo

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SAÚDE-SAUL Enfermidades da Bíblia, quarta seção, Teologia da Doença. 5. Medicamentos e Outros Meios de Cura Muitos medicamentos têm sido criados para curar o corpo enfermo. Alguns deles surgem devido a experiências feitas por pessoas que, através do método do teste e erro, têm permitido a descoberta de remédios úteis. Outros medicamentos devem-se a esforços resolutos dos cientistas. No ramo da saúde espiritual, também há medicamentos, a começar pela provisão de Cristo, que veio ao mundo para redimir os homens de suas misérias espirituais. E também há os meios de crescimento espiritual diários, que transmitem saúde à alma. Ver sobre o Desenvolvimento Espiritual, Meios do. SAUL

I. Nome 11. Família m. Início de Vida IV.Vida como Rei de Israel V. Declínio VI. Morte I. Nome

Saul é uma palavra hebraica que significa "solicitado" ou "esmolar". Ele foi o primeiro rei de Israel quando esse país deixou de ser governado por juízes e tomou-se mais semelhante aos países vizinhos. Seu período de reinado foi de 1020 a 1000 a. c., num desempenho trágico de quem dava um passo para frente e dois para trás. D. H. Lawrence, em sua peça Davi, colocou as seguintes palavras na boca de Saul: "Sou um homem dado aos problemas e jogado entre dois ventos". Ele foi um gigante, cabeça e ombros acima das do homem comum (I Sam. 9.2), mas como pessoa espiritual nunca pareceu ser capaz de tomar conta de si. I Sam.8 inicia sua história, que se encerra no capítulo 31, onde também acaba I Samuel. A época dos juízes terminou em corrupção e desorganização. O país estava fragmentado, e os inimigos estrangeiros nunca deram a Israel descanso das matanças praticamente diárias. Esperava-se que a monarquia unisse o país e fornecesse proteção aos cidadãos. Esse sonho tomou-se apenas parcialmente real com Davi e então um pouco mais com Salomão, porém após o reinado deste último declínio tomou-se a palavra do dia. Saul iniciou humilde, mas à medida que o tempo passou ele perdeu controle, tomando-se arrogante e irracional. Era um poderoso matador, como tinham de ser os antigos reis orientais: os governantes eram guerreiros-matadoresreis, e os homens fracos, que evitavam o derramamento de sangue, não chegavam ao topo. A fama de Davi excedeu a de Saul, especificamente porque Saul matou apenas milhares, enquanto Davi matou dezenas de milhares (I Sam.8.7). 11. Familia _ Saul era o filho de Quis, da tribo de Benjamim (I Sam. 9.1). Sua genealogia é fornecida em I Crô. 8.33, embora provavelmente contenha lacunas, como ocorre à maioria das genealogias hebraicas. E provável que Saul tivesse irmãos e irmãs, mas não há registro disso. Pelo menos sabemos que ele teve quatro filhos com sua primeira mulher, cujos nomes são fornecidos em I Crô, 8.33 e 9.39. Uma concubina deu a ele outros dois filhos (lI Sam. 21.8, 11). E havia também duas filhas, incluindo Mical, que foi mulher de Davi. 111. Inicio de Vida Não temos muitos registros sobre ajuventude de Saul.

O que está disponível vem de I Sam. 9. Sua família parece ter sido influente. Seu pai criava animais, inclusive os asnos que se perderam e fizeram com que Saul saísse à sua procura. Esse incidente uniu Samuel (o profeta) e Saul, o potencial rei, e o profeta o reconheceu como o homem que Yahweh queria para ocupar pela primeira vez o trono de Israel. Ele era um bom espécime fisicamente - bonito, forte e alto - e isso pode ter influenciado a escolha de Samuel. IV. Vida como Rei de Israel Saul foi ungido por Samuel como rei numa cerimônia em Gilgal. Embora tenha iniciado humilde, sob pressão tomou-se arrogante e irracional. Ele não tinha o caráter necessário para um oficio real de longo termo, e isso logo se tomou evidente. A necessidade imediata de Saul era enfrentar o assédio de seu povo por parte dos filisteus. Outro desafio foi unificar o país e equipá-lo com as armas adequadas de defesa. Saul começou com um pequeno exército, de cerca de 3 mil homens. Embora os filisteus fossem bem equipados, foram derrotados em Micmas; Jônatas, filho de Saul, foi o herói daquela ocasião (I Sam. 14.1-15). O rei estava obtendo grande sucesso contra os filisteus e adicionou os amonitas e amalequitas à sua lista de vítimas. I Samuel passa de guerra em guerra, de matar a ser morto, à mais matança, o jogo essencial no qual se envolveu Saul. ~DecHnio

No inicio de sua carreira como rei, de fato, no segundo ano, Saul cometeu a primeira transgressão. Os filisteus haviam reunido um grande exército para guerrear em Micmas. Samuel trabalhava para Saul como um tipo de conselheiro espiritual e, nesse oficio, oferecia os sacrificios necessários para obter o favor de Yahweh nas batalhas. Em Gilgal, Saul esperou que Samuel chegasse para realizar seus ritos, mas após sete dias ele não apareceu. O tempo estava acabando, portanto Saul decidiu ir adiante com o esforço de guerra, incluindo a questão dos sacrificios. Logo depois, Samuel chegou. Saul argumentou que a condição era muito séria, mas Samuel o condenou por sua intrusão no oficio sacerdotal, e profetizou que ele não teria longa carreira como rei e que a realeza não continuaria em suafamilia(I Sam. 13.1-14). Talvez o principal motivo para isso tenha sido que Samuel se cansara da monarquia que era rejeitada pelos profetas e por Yahweh como contrária a toda a filosofia teocrática. Dispensar Saul poderia ter sido uma tentativa de cancelar o erro. Guerra Santa. Isto exigia que o inimigo fosse oferecido a Yahweh como uma oferta queimada completa, um holocausto (ver). Para tanto, todos os homens, mulheres e crianças, e até mesmo os animais domésticos, deveriam ser massacrados. Muitas vezes, até prédios e colheitas eram destruídos pela fúria do exército da guerra santa. Samuel ordenou que Saul realizasse esse tipo de destruição total contra os inimigos de Israel, não deixando nenhum sobrevivente que pudesse reverter a vitória. Saul não cumpriu as ordens para esse tipo de guerra quando lutou contra os amalequitas. Ele destruiu todas as pessoas, menos o rei, Agague. E também salvou algumas cabeças de gado, alegando que ele os sacrificaria para Yahweh. Samuel, enfurecido por sua desobediência, imediatamente matou o rei dos amalequitas e reiterou a profecia de que Saul não permaneceria muito tempo mais como rei de Israel. Ver I Sam.15. Abuso de Davi. Tomou-se público que Davi substituiria Saul como rei. Saul reagiu violentamente e começou a perseguir o pobre homem em toda a região, tentando pôr fim a seus problemas com um assassinato. No processo, Saul matou o sacerdote Aimeleque, que presumivelmente

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SAUL-SAULO apoiava a causa de Davi. Tendo perdido a racionalidade, Saul se transformara em um simples assassino e um assassino potencial. Ver I Sam. 22-25. A Bruxa (médium) em En-Dor. As coisas foram de mal a pior, e por isso Saul decidiu consultar com uma bruxa psíquica que também era médium. Diante da vitória dos filisteus, Saul, praticamente no desespero, lançou mão do sobrenatural, abandonando Yahweh, já que se sentia rejeitado por Ele. Samuel havia morrido e, portanto, o principal oráculo não podia ser consultado. O rei pediu que a mulher invocasse Samuel, o que ela fez, mas a mensagem entregue foi de condenação. Os filisteus venceriam a batalha, e Saul e seus filhos seriam mortos. Quanto à discussão se o espírito de Samuel foi ou não foi invocado e compareceu, temos estas respostas: 1. Os criticas dizem que toda a história era apenas folclore popular, e nunca aconteceu. 2. Fundamentalistas rígidos acreditam que a médium teve uma experiência psicológica, mas não espiritual. Isto é, ela achava que Samuel havia ascendido do hades para falar com ela, mas isso foi apenas uma alucinação privada. Ou, segundo alguns, um espírito demoníaco imitou Samuel. 3. E melhor, contudo, reconhecer que a história simplesmente afirma que Samuel se comunicou. Chegaremos a essa conclusão se não insistirmos em alguma proposta teológica de que isso não poderiaacontecer. Isso, contudo, não significa um encorajamento à prática de invocar os espíritos, nem nos diz que o envolvimento nessas tentativas é aconselhável. De qualquer forma, Saul havia violado a legislação mosaica sobre espíritos familiares (Lev. 19.31; 20.6,27; Deu. 18.11). Ver a história em I Sam. 28.7-25. No lado positivo, a história tornase um texto de prova para a crença na existência e sobrevivência da alma humana. Ver o artigo Alma e Imortalidade . VI. Morte Filisteus e israelitas lançaram-se uns contra os outros na planicie de Jezreel (I Sam. 29.1), eos filisteus imediatamente levaram vantagem. Isto forçou os israelitas a fugir para as montanhas de Gilboa, onde ocorreu o grande massacre. Os três filhos de Saul, Jônatas, Abinadabe e Malquisua foram mortos, e Saul terminou mortalmente ferido. Ele implorou que um escudeiro acabasse com sua vida para que o rei não caísse nas mãos do inimigo e por eles fosse torturado e morto, mas o homem negou-se a assassiná-lo. Assim, Saul caiu sobre sua espada, cometendo suicídio, algo raro para uma pessoa de sua etnia. Cumpriu-se a terrível profecia do espírito de Samuel (dada na ocasião da consulta com a médium em En-Dor), Isso encerrou a carreira do promissor mas patético Saul. SAUL Para a definição deste nome, ver o artigo acima sobre Saul, o primeiro rei de Israel. Três outras pessoas eram chamadas assim no Antigo Testamento. Havia ainda o apóstolo Paulo, cujo nome original era Saulo. Sigo em ordem cronológica: I. Um filho de Simeão com uma mulher cananéia mencionada em Gên. 46.10; Êxo. 6.15 e I CrÔ. 4.24. Em Núm. 26.13, temos o adjetivo na forma "saulitas", que designa seus descendentes. Viveu em cerca de 1690 a C. 2. O profeta Samuel teve um ancestral que era chamado assim, como lemos em I Crô. 6.24. O vs. 26 o chama de Joel, portanto temos dois nomes, o que era comum entre os hebreus. Sua época foi cerca de 1650 a. C. 3. Um dos primeiros reis de Edom, o sucessor de Samlá, Ele era de Reobote. Seu nome é dado como Saul, em Gên. 36.37,38, mas Shaul em I Crõ. 1.48.

SAULO, MUDANÇA DE NOME PARA PAULO Atos 13:9: "Todavia Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos nele". Quase incidentalmente chegamos a saber, pela primeira vez, que Saulo também era chamado Paulo. 1. Origenes favorecia a interpretação de que Saulo adotou um novo nome nessa altura de sua vida, tomando-o por empréstimo de seu notável convertido, Sérgio Paulo, tal como um conquistador poderia assumir um nome qualquer como seu título, como o nome de um adversário ou de uma cidade vencida Tal razão para a mudança do apelativo Saulo para Paulo não é muito provável nesta altura da narrativa, embora Jerônimo tivesse igualmente adotado essa idéia. O mais provável é que a menção da modificação do nome de Saulo para Paulo, aqui, se tenha feito devido ao fato de que outro Paulo fica fazendo parte das circunstâncias, tendo sido ele descrito na história; isso teria levado Lucas a lembrar-se de que Saulo também tinha outro nome. 2. Alguns intérpretes pensam que, nesta seção, o autor sagrado extrai informações de uma nova fonte informativa, e, nessa outra fonte, Saulo é chamado Paulo; deste ponto particular por diante, assim aparece o seu nome no livro de Atos. (Ver a introdução do livro de Atos, acerca de suas fontes informativas.) Embora provavelmente esteja correta a teoria sobre uma nova fonte informativa, contudo não parece ser a melhor solução para o problema. Mas, se essa teoria estiver correta, então não passaria de coincidência o fato de o convertido Sérgio e o conversor Saulo serem ambos chamados Paulo. 3. A modificação do nome do apóstolo pode ter-se devido meramente ao instinto do autor sagrado. Exatamente neste ponto de sua vida, pelo menos conforme ele é encarado nesta narrativa, o Saulo do farisaísmo se transformava no grande apóstolo Paulo dos gentios; por conseguinte, parece mais próprio chamá-lo, doravante, por Paulo, um nome romano. É bem possível que, na qualidade de cidadão romano, o apóstolo sempre tivesse tido tal nome; e o mais certo é que esse apelativo tenha sido escolhido por ser de som similar ao seu nome hebraico, Saulo. O fato de que Lucas mencionou essa designação somente aqui, quando elejá a possuía a todo o tempo, provaria que tal modificação, na narrativa, se deu porque seu notável convertido, Sérgio, também possuía o mesmo nome próprio. 4. Mais provável ainda é aquela interpretação de Agostinho e outros, que afirma que Paulo era o nome romano da familia do apóstolo, e que tal nome teria sido tomado por empréstimo de qualquer família da qual os progenitores ou antepassados do apóstolo houvessem sido vassalos, antes de a cidadania romana haver sido obtida por sua família. Isso significaria que Saulo sempre teve também o nome próprio de Paulo; mas, enquanto esteve vinculado à Palestina, onde se instruiu, jamais empregou tal apelativo. Mas agora que se atirava à evangelização do mundo gentílico, Paulo se tomava um nome próprio mais conveniente para ele. 5. Menos provável é a idéia do nome "Paulo" significar "pequeno" porque esse era seu apelido, por ser um homem de baixa estatura. 6. Também menos provável é a idéia de que ele tomou esse nome como seu nome cristão, como sinal de ter deixado para trás todas as suas ligações com o judaísmo e tudo quanto isso significava. Alguns esticam essa interpretação para que inclua a idéia de que ele tomou o nome "Paulo", que significa "pequeno", como sinal de humildade. Porém, no texto sagrado não há indicação alguma sobre qualquer modificação de nome, e não há nada de especial na própria designação pessoal. Lucas simplesmente mencionou, de

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SAULO - SAVONAROLA passagem, que Saulo também tinha outro nome próprio; e desse ponto em diante começa a usá-lo em lugar de "Saulo", posto que "Paulo" era mais apropriado em contextos gentílicos. (Pode-se observar o costume que tinham os judeus de ser conhecidos por dois nomes, um judaico e outro gentílico, em trechos como Atos 1:23; 12:25; 13:1; CoL4:11 elosefo,Anttq. xii.9,7). SAUSA No hebraico, nobreza, esplendor, domínio (I Crô. 18.16), chamado de Seva em 11 Sam. 20.25, e de Seralas em 11 Sam. 8.17. Em I Reis 4.13 aparece ainda outra variação, a de Sisa. Ele é chamado de "secretário" de Davi, isto é, um escriba ou escrivão. Os hebreus eram bons historiadores e mantinham bons registros. I Reis 4.3 mostra-nos que os filhos do homem continuaram naquela profissão. O nome do homem pode ser derivado do babilônico Shamshu (sol) e talvez indique uma origem estrangeira do homem. Ele teria sido valioso para registrar assuntos externos. Não conhecemos o nome do pai de Sausa, possivelmente porque ele era um estrangeiro, e os hebreus não teriam demonstrado interesse em sua genealogia. SAUTRANTIKA Uma das três principais escolas do budismo hinayana. O artigo geral sobre essa religião fornece idéias acerca de suas várias divisões. O grupo sautranka, considerado filosoficamente, mantinha uma espécie de realismo indireto, similar àquele ensinado por John Locke. Os objetos externos' são ali inferidos com base em cópias mentais, derivadas da percepção dos sentidos. Nessa escola também era ressaltado o conhecimento a priori. O pensamento impõe sua forma à realidade (à moda de Kant), ou o pensamento e a realidade mantêm uma espécie de correspondência natural, como as duas metades de um único ovo cozido. Essa escola também contava com uma versão da teoria atômica da realidade. SAVÉ-QUIRIATAIM No hebraico, "planície das cidades gêmeas". Esta planície se situava próximo à cidade moabita chamada de Quiriataim, daí seu nome (Gên. 14.5). A tribo de Rúben a possuiu pela primeira vez quando ela foi incorporada a Israel (Núm. 32.37; los. 13.19). Neste plano, o pequeno rei Quedoriaomer derrotou os emins, uma raça de gigantes. Ele repetiu o feito no caso de outro povo anormalmente alto, incluindo os zuzins (Gên, 14.5). Naquele local, Absalão, muito depois, erigiu um pilar memorial (ver a história em 11 Sam. 18.18 e seu contexto). Josefo localizou o pilar a cerca de 400 m de 1erusalém. Tal vez se possa identificar local nas ruínas de el Teym, cerca 2 km ao oeste de Medeba. SAVIAS Na Septuaginta, Saouia. Antepassado de Esdras, de acordo com I Esdras 8:2, mas cujo nome não figura no trecho paralelo canônico de Esdras 7:4. SAVÓIA, DECLARAÇÃO DE Vultos congregacionistas, reunidos no Palácio Longo, de Savóia, em outubro de 1658, propuseram uma série de revisões e adições à Confissão de Westminster. Essas revisões e adições foram oficializadas pelo congregacionalismo norte-americano. Cerca de cento e vinte representantes se fizeram presentes à convenção que formulou tais declarações. O poder dos magistrados não

foi reconhecido, segundo se via no documento anterior, nem esses magistrados são ali autorizados a intervir nas divergências religiosas entre pessoas em conflito. A visível Igreja Católica não tem ali oficiais administrativos para o corpo inteiro. Seguem-se então trinta artigos "Sobre a Instituição das Igrejas e a Ordem Determinada para Elas". Segundo é dito ali, Cristo teria dado às igrejas particulares (congregações locais) "todo o poder e autoridade que, afinal, se faz mister", e não dotou de poder nenhuma igreja mais extensiva ou universal do que a igreja local. Pastores, mestres, anciãos e diáconos são nomeados por voto de cada congregação local, separados por meio de oração e com a imposição de mãos dos anciãos. Essa declaração também omitiu as afirmações da Confissão de Westrninster sobre os sínodos e concílios. A despeito de suas crenças. conflitantes, a Declaração de Savóia não é reputada como um documento oficial para a maioria das igrejas congregacionais, mas ocupa um lugar de respeito e tem exercido certa influência histórica. SAVONAROLA, JERÔNIMO Suas datas foram 1452-1498. Monge dominicano e maior pregador da Itália, foi um psíquico que predisse o futuro com sucesso. Seus sermões eram populares e incendiados. Foi reformador moral. Sua predição da invasão da Itália, por parte de Carlos VlII impressionou de tal modo o povo que ele foi capaz de estabelecer em Florença um virtual tipo de governo teocrático, que exerceu enorme impacto sobre a conduta moral das pessoas. Algumas pessoas têm pensado que Savonarola foi um tipo de quase reformador protestante; mas a verdade é que ele não negava as doutrinas romanistas, excetuando aquela da infalibilidade papal. Ele foi mais um reformador . da própria Igreja Católica Romana, cujos ideais eram os do misticismo monástico. Seja como for, sua imensa popularidade e influência excitou a inveja de seus superiores eclesiásticos. Assim, levantou-se forte oposição a ele. Foi excomungado pelo papa, capturado por uma multidão e executado na fogueira. Destarte ele tomou-se um mártir, não de uma denominação cristã oposta a outra, mas em favor da reforma religiosa. Algo que aparentemente o prejudicou foram os seus três anos de ditadura em Florença, onde ele foi um homem que não era fácil de agradar. Seus sermões ascéticos, pregados com grande zelo e poder, transformaram a buliçosa Florença em uma virtual cidade puritana. Apesar de ele não ser hostil à erudição, sua hostilidade contra outras coisas não contribuiu para que sua popularidade continuasse. Contava com seguidores fanáticos que rebuscavam a cidade atrás de livros frívolos e imorais, jogos de cartas e obras de arte que mostrassem qualquer degeneração - e todas essas coisas eram sistematicamente destruídas. Também proibiu que se entoassem canções profanas. Por assim dizer, queria reformar a Igreja mediante a soda cáustica. E então ele caiu no "equívoco" de atacar vigorosamente o papa Alexandre VII. A princípio, o papa procurou reconciliação, mas isso não abalou em nada a Savonarola. Seus ataques continuaram, mais cáusticos do que nunca. O papa retaliou com a exclusão, e várias ordens religiosas declararam-se contrárias ao quase-reformador. A cidade de Florença foi ameaçada de interdito, caso continuasse abrigando Savonarola. O seu sol estava definitivamente no ocaso. Durante um.ano ele desafiou a exclusão e exigiu que um concilio geral fosse convocado para depor o papa. Mas o seu poder diante da população em geral se havia perdido.

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SAVONAROLA - SCHILLER Outrossim, muitos estavam simplesmente cansados de todo aquele puritanismo e anelavam pelas antigas diversões. O homem que tão facilmente despertara as paixões das massas não demorou a ser consumido por essas mesmas paixões. Savonarola foi torturado durante seis dias, antes de ser enforcado e consumido nas chamas. A desumanidade do homem contra o homem havia escrito outra escandalosa e estúpida crônica na "história da Igreja". Escritos. Savonarola escreveu muitos volumes sobre vários assuntos, sermões, ensaios, poemas, tratados, obras de cunho religioso, político e místico. Ele vinculava grande importância aos sonhos e visões, e suas próprias experiências místicas, sem dúvida alguma, foram uma das razões de sua grandeza, por fugidia que ela tenha sido. Talvez sua obra principal seja O Triunfo da Cruz.

SCALA SANCTA No latim, "escada santa". Assim são chamados os vinte e oito degraus de mármore perto da colina Laterana, em Roma, que foram trazidos de Jerusalém para Roma por Helena, mãe do imperador Constantino. Foi dito no tocante a esses degraus que perfaziam a escadaria que antes levava ao pretório de Pilatos, em Jerusalém e que por sobre eles Jesus passou, ao ser levado para o julgamento. Porém, quase tudo quanto Helena "descobriu" tem bem pouco valor histórico. SCHAFF, PHILIP Suas datas foram 1819-1893. Nascido na Suíça, formou-se em teologia e fez preleções na Universidade de Berlim. Mudou-se para os Estados Unidos da América para ensinar história eclesiástica no Seminário Teológico da Igreja Reformada Alemã em Mercersburg, estado da Pensilvãnia. Schaff interessava-se pela união das igrejas e trabalhou em favor desse ideal com grande vigor. Cria que a Igreja ideal mesclaria os melhores pontos do catolicismo romano e do protestantismo, formando urna espécie de catolicismo evangélico. Naturalmente, foi acusado de heresias, mas isso resultou em nada. Juntamente com John W. Nevin, ele foi responsável pelo desenvolvimento da teologia de Mercersburg. Ele criticava o revivalismo norte-americano, e desejava urna igreja mais emocionalmente controlada e solene. Em 1870, tomou-se um dos membros do corpo docente do Union Theological Seminary, Schaff foi escritor prolífico, tendo publicado oitenta obras que o tomaram internacionalmente respeitado. Suas obras principais foram: Creeds of'Christendom (três volumes); History of the Christian Church (sete volumes). Contribuiu com muitas notas valiosas para o Langes Commentary of the Bible, as quais com freqüência tenho achado melhores do que os comentários originais. Foi contribuidor e editor de The Schaff-Herzog EncycIopedia of Religious Knowledge (três volumes). Participou na preparação da versão revisada da Bíblia em inglês.

SCHELLING, FRIEDRICH WILHELM Ver Shelling (Schelling) Friedrich Wilhelm. Por descuido, erramos a soletração; assim inserimos este artigo fora de ordem alfabética. SCHENKEL, DANIEL Suas datas foram 1813 - 1885. Ensinou na Universidade de Heidelberg. Foi um teólogo sistemático de nota, dotado de forte orientação ética. Escreveu apologias e obras polêmicas: três volumes sobre o pensamento protestante; dois sobre dogmática, livros sobre Jesus e sobre o pensamento cristão. enfoque central de sua teologia era a ressurreição. Em seus últimos anos de vida, aproximou-se mais de um cristianismo positivo. SCHILLER, FRIEDRICH Suas datas foram 1759 - 1805. Ele foi poeta, dramaturgo e filósofo alemão. Nasceu em Marbach. Educou-se em Stuttgart. Inclinava-se para a medicina, mas terminou escrevendo dramas. Foi amigo e colaborador de Goethe. Ensinou em Jena. Escreveu obras de filosofia e poesia. Idéias: 1. O pensamento e a atividade estéticos servem de meios para conferir uma harmonia básica à vida humana. Ali combinam-se os fatores basilares da forma de vida e dos sentimentos. A estética possibilita a conciliação entre a moralidade e os sentimentos, e conduz a um ser mais perfeito. 2. A educação na sociedade humana deve incluir a estética, se é que esperamos conseguir desenvolvimento e harmonia morais e sociais. 3. A estética ensina-nos acerca da liberdade moral básica do homem, através da qual ele consegue obter resistência contra o sofrimento. Desse modo, o problema do mal tem uma resposta estética. George Santayana sentiu isso quando se deixou arrebatar pelo senso da beleza em meio ao ceticismo e à incerteza. Resistir à sorte por meio da força de vontade embota o fio de seus golpes. 4. O universo não pode ser conhecido, e isso permite toda espécie de conjetura no que conceme à sua natureza. A liberdade humana está alicerçada sobre essa incerteza. Os poetas conferem aos filósofos os seus princípios básicos. Escritos. The Aesthetic Education ofMan in a Series ofLetters; Conceming Grace and Dtgnity; On the Moral Value ofEsthetic Customs; On the Sublime. SCHILLER, F.C.S. Suas datas foram 1864 - 1937. Nasceu em Schleswig-Holstein, na Alemanha. Estudou em Oxford. Ensinou em Cornell, Oxford e na Universidade da Califórnia, esta nos Estados Unidos da América. Foi humanista e pragmático. Idéias: 1. Verdade, realidade, beleza e bondade resultam das intenções humanas. Toda verdade é útil; mas nem todas as coisas úteis são verdadeiras. A verdade seria relativa tanto às evidências quanto aos propósitos do investigador.

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SCHILLER - SHIWY Se houver algo de constante na verdade, então estará ligado a esses propósitos. 2. Schiller declarava-se seguidor de Protágoras, conforme fez em sua obra intitulada Humanismo. Ele afirmava que a verdade e a realidade são criadas pelo homem, e negava que existia algum mundo objetivo que nos constrangesse a qualquer coisa. 3. Ele foi um humanista, aplicando os princípios do humanismo a todos os campos da atividade humana, incluindo a ética, a estética, a metafísica e a teologia. 4. A lógica teria valor quando vinculado ao que é útil e tem valor. As leis da lógica só teriam valor quando resultam no que é prático. 5. O princípio fundamental de sua filosofia era a pessoa humana, uma vez que enriquece seus pontos de vista sobre o humanismo (vide). E isso fez com que Schiller fosse considerado um personalista. Ele frisava a liberdade e a criatividade do homem. 6. Ele acreditava em um Deus finito, O qual, paralelamente ao homem, esforça-se em favor da bondade, em um universo recalcitrante. Escritos. The Riddles of'the Sphinx; Humaniam; Studies in Humanism, Formai Logic; Logic for Use; Must Philosophers Disagree?, Our Human Truths. SCHIWY, GUNTHER (ESTRUTURALISMO) Um importante filósofo que defendia certa versão da teoria do estruturalismo, foi Lévi-Strauss, acerca de quem apresento um artigo separado, que adiciona detalhes sobre dessa teoria Schiwy, por sua vez, aplicou o es1ruturalismoao cristianismo. Além de oferecer várias idéias sobre o conceito, demoro-me um pouco a considerar essa aplicação particular do mesmo, por parte de Schiwy. O estruturalismo é um ponto de vista interdisciplinar, um movimento filosófico cuja idéia central é que todas as sociedades e culturas possuem uma cultura comum, na qual não se vê variantes. "Trata-se mais de um método de abordagem do que mesmo de uma filosofia distinta, com aplicações tanto na lingüística quanto nas ciências sociais. 1. Na lingüistica. Indica a teoria de que a linguagem pode ser melhor descrita em termos de suas unidades estruturais irredutíveis, como a morfologia, a fonologia, etc. 2. Nas ciências sociais. O ponto de vista de que a chave para a compreensão dos fenômenos ali observáveisjaznas estruturas subjacentes, e nos sistemas de organização social" (F). No âmbito das ciências sociais, essa teoria emergiu a princípio na França, em resultado dos escritos antropológicos de Claude Lévi-Strauss. A ênfase desse conceito afasta-se das origens e aproxima-se da especificação de estruturas imutáveis das relações, as quais, alegadamente, todos os homens manteriam inconscientemente, antes mesmo de refletirem. Estruturas comuns manifestam-se em todas as áreas da sociedade e do pensamento humano; e assim, aqueles que se ativam em muitos campos de atividade, como as ciências sociais, a lingüística, a psicanálise, a filosofia e a religião, são capazes de descobrir tais estruturas. Muitos nomes, em um grau ou outro, têm estado vinculados ao conceito básico incluindo Vico, Marx, Freud, Jung, De Saussure,

Merleau-Pont e Piaget, indivíduos esses considerados pioneiros do estruturalismo, por aqueles que aderem aessa metodología. Abaixo destacamos, com alguns sucintos comentários, os nomes mais importantes que têm estado envolvidos no movimento. i. Ferdinand De Saussure. Ele é considerado o fundador da lingüística estruturada. Ele falava sobre a linguagem como o principal modeio de interpretação da humanidade, e procurou desenvolver a ciência da semiologia, a qual aborda a natureza dos sinais da linguagem e suas leis determinantes. Ele chegou mesmo a declarar que as leis da lingüística desenvolveram-se de forma sincrônica nas diferentes sociedades humanas. 2. Lévi-Strauss. Ver o artigo separado e mais detalhado sobre ele. Ele aplicou a sua teoria às ciências da lingüística e da antropologia. Descobriu similaridades básicas nas mitologias de várias culturas, bem como em seus costumes. O homem emerge, em sua filosofia, como parte da grande estrutura da existência. Ele reputava as estruturas sociais como entidades objetivas, que existem independentes da consciência humana. Várias sociedades, contudo, produzem representações parciais, incompletas das mesmas estruturas. As diversas culturas, em suas religiões, mitos e costumes, procuram ocultar ou mistificar discrepâncias entre cada sociedade em particular e a sua imagem ideal. 3. Jacques Lacan fundou uma escola freudiana estruturalista, em Paris. Ele relacionou a preocupação dos estruturalistas com a linguagem à mente inconsciente das sociedades. A linguagem foi vista por ele como um instrumento que ajuda os homens a muitas estruturas básicas misturadas. O indivíduo é apenas como a voz passiva na gramática. Ele não fala, é falado. Ele não pensa, é pensado. De acordo com seu pensamento, a individualidade humana não tem grande importância. 4. Louis Aithusser fez as teorias do estruturalismo extrapolarem para o marxismo, com o intuito de mostrar que a história humana simplesmente está envolvida, de modo inevitável, com certas estruturas, dentre as quais se destaca a estrutura econômica. Dessa maneira, ele justificou o determinismo histórico. 5. Rolan Barthes aplicou essa teoria à crítica literária, tendo descoberto que diferentes estilos de expressão alicerçam-se sobre diferentes expressões e estruturas lingüísticas. A crítica literária aceita, como sua tarefa, decifrar essas estruturas específicas. O pesquisador fica à cata de semelhanças estruturais, a despeito das diferenças lingüísticas. 6. Michel Foucaut aplicou o estruturalismo à filosofia. Ele descobriu que a ordem das palavras é importante, servindo mesmo de chave da compreensão. Asseverava que "todas as disciplinas teóricas estão encarregadas da tarefa de eliminar o humanismo, trazendo à luz o sistema anônimo de pensamento, sem um sujeito, que se faz presente na linguagem de qualquer dada época" (P). 7. Gunther Schiwy aplicou o estruturalismo ao cristianismo. Ele partiu do pressuposto de que a ênfase atemparai desse sistema é naturalmente compatível com a ênfase do cristianismo sobre a eternidade; e nisso encontraríamos uma verdade básica e permanente acerca da realidade.

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SCHALATTER - SCHLEIERMACHER

o estruturalismo minimiza a importância da história, preferindo encontrar significado nos sistemas. Também minimiza o indivíduo e o humanismo, e salienta as estruturas humanas gerais, os poderes que se fazem sentir por trás das massas humanas e suas culturas. As diferenças entre as sociedades humanas são apenas aparentes e superficiais. Seus pontos de semelhança são marcantes e importantes. A passagem linear do tempo é desprezada, e a sincronia ("ocorrências paralelas") é enfatizada. Para os estruturalistas, a história pode ser melhor entendida como uma sucessão de formas. A versão cristianizada dessa teoria supõe que as estruturas percebidas fossem divinamente ordenadas, havendo, por trás delas, um propósito divino. 8. A Psicologia. Antes de começar a ser usado conforme se vê acima, o termo "estruturalismo" era aplicado, pelos psicólogos, para indicar certo tipo de psicologia. Há alguma similaridade de idéias, embora não de maneira formal. A importância recai sobre as estruturas dos fenômenos psíquicos, passíveis de introspecção. (EP F P) SCHLATTER,ADOLFO Suas datas foram 1852 - 1938. Foi um teólogo protestante. Nasceu em São Galena, na Suíça. Ensinou o Novo Testamento em Greifswald, Berlim e Tubingen. Foi destacado erudito hebraísta, que escreveu comentários sobre todos os livros do Novo Testamento, com base nesse pano de fundo, tendo assim elucidado a muitos textos. Ele salientou energicamente como o pano de fundo hebreu-aramaico de Jesus e da Igreja primitiva está por trás de muitas das idéias neotestamentárias. Pesquisava despreocu-padamente, e não exibiu preconceitos, salientando a verdade onde quer que pudesse achá-Ia. Ele estabeleceu uma moderna teologia da fé, em oposição à apologética, e a todas as transigências antigas e modernas da teologia com a filosofia. Ansiava por preservar o caráter ímpar da mensagem do evangelho; e, no entanto, não conseguiu perceber como o próprio Novo Testamento emergiu (quanto a muitos pontos de vista) do judaísmo helenista, onde estavam em operação várias fontes de pensamento teológico e filosófico. Schlatter foi uma poderosa fonte informativa dos imortais estudos de vocábulos de Kittle. SCHLEGEL, FRIEDRICH VON Suas datas foram 1772 - 1829. Ele foi autor e filósofo alemão. Foi um dos líderes do movimento romântico na Alemanha. Nasceu em Hanover. Estudou em Gottingen. e Leipzig, Ensinou em Jena, Foi influenciado pelas idéias de Schleiermacher, Spinoza, Leibnitz e Friedrich Schiller. Idéias. 1. Schlegel falou sobre o espírito de objetividade segundo o qual a personalidade de um indivíduo é dominada pelo que é material; e também sobre o espírito subjetivo que é a principal característica da livre expressão da personalidade. O primeiro espírito ele identificava com O Iluminismo, pois esse seria a sua essência básica; e o segundo ele vinculava ao romantismo. É no romantismo que rebrilha o gênio humano. ': 2. Ele adotou o conceito da dialética de Friedrich Schiller, que envolve o finito e o infinito, e que leva à síntese das duas coisas. Ver sobre Schiller, Friedrich. Idéias, primeiro ponto. A ciência, como uma disciplina abstrata, produz a decadência. É mister pô-la a operar em conjunção com a vida diária. A cultura só permanece vital quando a vida e a ciência são soldadas uma à outra. 3. A transfiguração espiritual é o alvo das belas-artes. A arte também representa idéias e isso é uma função

importante dela. Até na tragédia, o mais vexatório dos problemas humanos, pode-se ver o eterno surgir dentre a catástrofe temporal, quando o herói é transfigurado por seus sofrimentos. 4. Sobre a Tragédia. Haveria três tipos de tragédia: a. representação, que é mera descrição; b. caracterização do quadro total; e c. transfiguração espiritual. O terceiro tipo é a tragédia mais profunda, o objetivo mesmo da adversidade. Escritos: History of the Old and New Literature; Philosophy ofLife; Lectures on the History ofPhilosophy; Philosophy of'Language.

SCHLEIERMACHER, FRIEDRICH Nascido em 1768 e falecido em 1834, ele foi um filósofo e teólogo alemão que exerceu grande influência. Nasceu em Breslau. Educou-se em Halle. Foi pregador em Berlim. Foi professor de teologia e filosofia em Halle. Foi ministro da Igreja da Trindade, em Berlim. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi autor de muitos livros, além de ter sido renomado conferencista. Fez progredir a teoria do conhecimento, o raciocínio teológico, a erudição platônica e a teologia sistemática. Sofreu a influência de Kant e Fichte, mas sem se tornar um idealista subjetivo. Idéias: 1. Para ele, os sentimentos são um aspecto muito importante da religião, e o sentimento principal ai é o de absoluta dependência. O finito depende do infinito. Ele evitava definir a religião em termos de razão e de moralidade, e preferia apresentar suas idéias sobre os sentimentos. 2. O finito faz parte do infinito e depende dele de modo absoluto. O infinito é a totalidade de todas as coisas, aos moldes de Spinoza. Schleiermacher identificava Deus com o mundo, considerado como um todo. Apesar desse panteísmo, em seus escritos teológicos posteriores, ele se identificou com Agostinho e com Calvino. 3. Proprium. Cada indivíduo deve encontrar e desenvolver sua diferenciação interior, seu lugar particular na natureza e na história, ou seja, a sua finitude especial dentro do infinito. A isso ele chamava de proprium, algo similar à (unção, nos escritos de Aristóteles, ou seja, o ideal que cada indivíduo, mediante a educação e a evolução, tome-se uma pessoa sem igual, com uma função ímpar, para bem da coletividade. O desenvolvimento do proprium provê ao indivíduo a sua identidade e a sua unidade de vida. Os indivíduos assim evoluídos e cultivados seriam aqueles que desenvolvem a ética, a sociedade e a religião. 4. Sobre os milagres, ele asseverava que todas as causas são naturais, mas que Deus pode trazer à tona conjuntos incomuns de causas, produzindo os eventos extraordinários que chamamos de milagres. . 5. A religião seria uma espécie de atividade natural do homem, o qual, por meio da intuição, apreende algo da essência da existência. O lado prático da religião incluiria uma reação emocional (dos sentimentos) a seus discernimentos. Ele dava grande valor a essa reação emocional. Seus sentimentos incluíam o princípio do amor. Nos sentimentos tomamos conhecimento da realidade de Deus; nos sentimentos simpatizamos com nossos semelhantes. 6. As doutrinas sempre dependem da experiência religiosa, e nunca a experiência da crença. Isso posto, a teologia toma-se, em um importante sentido, uma aventura

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SCHLEIERMACHER - SCHOPENHAUER empírica e uma ciência especialíssima. Apesar de as declarações bíblicas e filosóficas terem o seu devido lugar, a religião, como uma ciência experimental, dispõe de seus próprios informes para efeito de elaboração, não podendo assim ser restringida aos raciocínios filosóficos, e nem ao emprego de textos de prova extraídos das Escrituras como ponto de partida, mas tão-somente como confirmação e orientação. Dessa maneira, não precisamos limitar-nos a rígidas ortodoxias, com suas formulações exatas e suas limitações, que só servem para aprisionar os homens. 7. A experiência religiosa é uma atividade mental impar e autônoma, que mana desde o fundo de nosso ser. 8. Sobre a Autoridade. A autoridade final, na religião, não são as Escrituras (conforme diz o protestantismo ortodoxo); também não é a razão, natural (segundo preceituam algumas filosofias); e nem é alguma combinação das duas coisas, paralelamente às tradições (conforme diz o catolicismo romano). Antes, é o sentimento religioso intuitivo, combinado com a experiência religiosa dali derivada. "As doutrinas cristãs são exposições dos afetos religiosos cristãos, transmitidas em forma de declarações" (The Christian Faith, pág. 76). Naturalmente, os estudiosos liberais protestantes tiraram proveito desse tipo de pensamento. Por essa razão, Schleiermacher veio a ser conhecido como "pai da teologia moderna". 9. Sobre a Ética. A maneira como um cristão tem comunhão com Deus, através de Cristo, influencia as suas ações. O alvo da ética é a obtenção da unidade e da paz entre motivos e ideais aparentemente conflitantes. Ele depreciava a aplicação da mera lei, e antecipou os situacionalistas modernos. Antes, exaltava o amor como o maior de todos os princípios éticos. A lei, asseverava ele, não consegue varar para além dos atos, até os motivos. Porém, o amor atinge o âmago de todas as coisas, capacitando-nos a agir de modo digno, com base em corretos motivos. Sua ênfase sobre o amor era tal que ele recusava-se a chamar de leis aos dois grandes mandamentos sobre o amor (ver Mal. 22:36-40). Escritos. On Revelation and Mythology; On Religion; Speeches to the Cultured Despisers; Soltloquies; Out/ine ofCritique ofPrevious Ethical Theory; BriefOut/ine of the Study ofTheology; The Christian Faith.

SCHOPENHAUER,ARTHUR Suas datas foram 1788 - 1860. Ele foi um filósofo alemão cujo nome tornou-se um sinônimo virtual de pessimismo, sobre cuja atitude apresentei um artigo detalhado. Ele nasceu em Danzig. Estudou nas Universidades de Gottingen e Berlim. Teve mestres famosos, como Wolff, Fichte e Schleiermacher. Foi influenciado pelas idéias de Goethe. Ensinou na Universidade de Berlim. Schopenhauer era homem de estranha personalidade. A fim de exibir sua animosidade contra Hegel (a quem ele chamava de "fanfarrão da filosofia"), marcou suas aulas para o mesmo horário que as dele; mas com isso ele apenas prejudicou a si mesmo. Foi despedido de seu posto; mas uma herança, deixada por seu pai, tomou-se seu sustento adequado. E tirou proveito de seu lazer para viajar, tendo vivido em vários lugares da Europa. O pai de Schopenhauer era um rico negociante que amava muito a liberdade. Quando sua cidade nativa, Danzig, perdeu a independência, tomando-se parte do império da Prússia, ele mudou-se para Hamburgo. Sua mãe foi uma novelista popular de alguma notabilidade. Seu pai tentou forçá-lo a abraçar o mundo dos negócios, mas isso só funcionou

durante breve período. Sua inspiração era a filosofia e o estudo. E obteve o grau de doutor em filosofia, na Universidade de Jena. Após muitas mudanças e percalços, ele voltou a Berlim; mas a cidade foi atingida por uma epidemia de cólera. Hegel morreu de cólera, e Schopenhauer mudou-se para Frankfurt. Ali obteve sucesso e popularidade, tendo permanecido naquela cidade até que a morte o colheu. Assim, sua idade avançada foi o período mais satisfatório de sua vida, embora ele nunca tivesse ficado satisfeito com as suas realizações. Para ele, Platão e Emanuel Kant foram os maiores filósofos. Também deixou-se influenciar pelo budismo, tendo sido o primeiro filósofo ocidental a dar suficiente atenção àquela filosofia oriental. Sua personal idade era marcada por estranhos subterfúgios, alimentando o profundo pessimismo que o caracterizava em sua visão da vida. Ao que parece, sua mãe foi envolvida em costumes sexuais duvidosos, encorajada pelo círculo literário em que ela se movimentava. Schopenhauer nunca conseguiu manter relacionamento duradouro com qualquer mulher, e sua obra, Ensaio sobre as Mulheres, reflete a sua inimizade por todo o sexo feminino. Ele rompeu relações com sua mãe, e não teve contato algum com ela, durante quarenta e seis anos. Mostrava-se extremamente sensível diante de todas as formas de sofrimento, incluindo o dos animais, que o deixava revoltado. Ele chegou a acreditar que a própria existência é um mal (essa é a definição primária do "pessimismo"), não podendo aceitar qualquer teoria que afirmasse a existência de um Deus justo e benévolo. Idéias: I. A filosofia não é uma ciência, mas é alicerçada sobre processos lógicos. As culminâncias da filosofia formam uma arte, uma revelação que opera mediante o discernimento intuitivo. Através da razão obtém-se apenas uma filosofia elementar. Em seu livro, The Fourfold Root ofthe Principie ofSufficient Reason, ele lançou dúvidas sobre a eficácia da razão. A experiência imediata, não-racionalizada, que envolve a vontade, tomou-se a sua principal maneira de tomar conhecimento das coisas. 2. A introspecção (discernimento intuitivo) nos ensina que a vontade é primária, sendo a base real de todas as coisas. O próprio corpo do indivíduo é a concretização da vontade. 3. Há uma Vontade Absoluta, à qual denominamos Deus. Todas as demais vontades são derivadas desse poder. Todas as demais coisas são concretizações da Vontade suprema. As vontades, pois, são mi crocosmos da Vontade macrocósmica. 4. O mundo é uma idéia ou representação da Vontade cósmica. As ações humanas, por um lado, são ideacionais e fenomenais; mas, por outro lado, são volicionais e reais. Daí segue-se que a vontade do homem é cega, quando considerada isoladamente. A vontade expressa na natureza também é cega, um esforço inconsciente. Esse esforço é a vontade de viver, mas, na realidade, é destituído de propósito. 5. O mundo é a representação de coisas individuais, que são feitas como elas são pela Vontade irracional. As grandes características dessa Vontade e das coisas que ela impõe em sua extensão, que é o mundo, são a dor e o sofrimento. Não há nenhum desígnio que se esforce em prol do bem; há somente uma precipitação enlouquecida para continuar a existir a qualquer custo e sob qualquer condição. 6. O espaço e o tempo são individualizações da Vontade

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SCHOPENHAUER - SCHWEITZER cósmica. Assim sendo, nos escritos de Schopenhauer topamos com um total idealismo (vide). Porém, para ele, a razão não é a essência da Idéia divina. Essa essência é uma Vontade insana. Deus seria insano, se quiséssemos chamar a Vontade cósmica ou Vontade Absoluta de Deus. 7. A vontade é a atividade primária, fora do tempo, fora do espaço, sem causa, que se exprime no homem como impulso, instinto, esforço, anelo, desejo, desapontamento e tragédia. A vontade é o verdadeiro "eu" do homem; o seu corpo é apenas uma auto-representação. 8. O mundo consiste em vontade e idéia. A vontade expressa-se por toda parte. Guia a tudo, arruína tudo, azeda tudo. 9. A vontade de existir, de viver, de lutar, de prosseguir, somente produz a tristeza e fomenta todos os males que vemos no mundo, com seus imensos e insensatos sofrimentos. 10. A vida é má por ser egoísta e vil. A vontade toma os homens cobiçosos, intrigantes e ruins, e, no entanto essa vontade é que é a essência de todas as coisas. Portanto, a própria existência é um mal. 11. Livramento. Podemos obter um livramento parcial da loucura que caracteriza a nossa vida em uma desprendida contemplação das Idéias, concebidas em termos platônicos. Além disso, na estética podemos obter certa espécie de resignação budista ou passividade, que tende por amortecer as nossas tristezas. Assim como uma pessoa contempla uma obra de arte, assim também ela pode desligar-se de sua individualidade, onde a Vontade operou sua obra nefanda. E assim podemos tomar-nos um puro sujeito cognoscente. Há uma hierarquia de formas de arte. Em seu ponto mais baixo, a arte toma a forma de arquitetura, subindo daí para a escultura, para a pintura, para a poesia lírica e trágica, e atingindo o seu ponto mais alto na música. Esse passo final é o supra-sumo da arte, aquele passo no qual a Vontade expressa-se de modo mais belo. A dor e a alegria são representadas nas artes em uma forma abstrata. Mas, embora obtenhamos assim um livramento temporário, vemo-nos envolvidos na estética, pelo que essa vitória é temporária. Não demora muito para a Vontade apossar-se novamente de nós, fazendo-nos sentir uns miseráveis. 12. A Ética da Compaixão. Essa é a única coisa valiosa na face da terra. Uma nova tentativa. Em nossa busca pela liberação, obtemos outra vitória parcial ao aceitarmos a ética do pessimismo. Temos de reconhecer que todas as coisas são inúteis, com exceção de uma coisa: a simpatia, ou seja, a compaixão. Ter compaixão pelo próximo pode quebrar as cadeias do "ego". Podemos ter compaixão (isto é, amor) pelo próximo quando compreendemos a unidade de todas as coisas. Todos os seres vivem na mesma miséria que nós. Somos um. Quando alguém sente a dor de outrem, com a mesma intensidade com que sente a sua própria dor, então tal pessoa conquistou a dor, mediante a própria dor; mas temos aí uma dor altruísta, pelo que isso é algo de valor. 13. As maneiras certas de agir são a renúncia (esperar pouco da vida e negar seus valores); a resignação (aceitar os truques sujos da Vontade suprema); e ascetismo (reduzir os próprios desejos, e juntamente com os mesmos, os desapontamentos). 14. Neste vasto mundo não há atos bondosos senão aqueles inspirados pela simpatia. Somente ao exercer a compaixão é que um homem se vê livre de seu ego insano. 15. Salvação. Apesar de as religiões falarem sobre a vida eterna, o que deveríamos desejar é a morte eterna. Aí encontraremos o sossego. Já vimos como a Vontade

cósmica (o deus de Schopenhauer) é insana; portanto, dessa Vontade só podemos esperar mais loucura ainda. Porém, algum dia, talvez Deus resolva cessar em sua louca luta pela vida, preferindo a morte. E então todas as coisas deixariam subitamente de existir, visto que tudo é apenas a projeção da vontade divina. E, nesse caso, finalmente obteríamos a paz que tanto almejamos. 16. Reencarnação e Futilidade. Se as coisas fossem, de fato, tão ruins como Schopenhauer dizia, então a solução final não seria cometermos suicídio? Ele, porém, respondia com um enfático "não"! O suicídio é inútil, visto que a alma realmente existe e prossegue em seu insano desejo de viver. Não somente isso, mas a alma sempre volta, em outra reencarnação. Assim, a vida nada resolve; e a morte também nada resolve; e a reencarnação somente aumenta a insanidade. Isso posto, resta-nos esperar pela decisão da Vontade cósmica para deixar de querer viver. Nisso consistiria a salvação. Todavia, não há sinais de que Deus chegue, algum dia, a tomar tão bela decisão! Ah! o pessimismo de Schopenhauer! Escritos. On the Fourfo/d Root of the Principie of Sufficient Reason; On Sight and Colors; The World as Will andIdea; On the Will in Nature; The Two Basie Prob/ems ofEthies; Parega and Paralipomena.

SCHWEITZER, ALBERTO Suas datas foram 1875 - 1965. Ele foi um filósofo, teólogo, médico, missionário e humanitarista alemão. Educou-se em Strasbourg. Foi missionário-médico de fama internacional. Construiu e trabalhou em um hospital, em Lambarene, África Equatorial Francesa. Os historiadores consideram-no um renascentista que obteve grandeza espiritual. No artigo intitulado Liberalismo, esbocei várias de suas idéias, que exerceram poderosa influência sobre a teologia de seus dias. Áreas de Influência e Atividades. Schweitzer foi uma figura universal, que brilhou em várias áreas. 1. Como crítico de música e autor sobre o padrão de vida de Bach, como editor das obras de Bach para órgão (o que ele fez em parceria com C.M. Widor), e como organista concertista, cujas interpretações de Bach foram gravadas, ele exerceu influência sobre a música sacra. 2. Ele foi um teólogo e erudito neotestamentário de nota, cujas interpretações sobre Jesus tiveram alguma influência sobre os círculos teológicos. 3. Como filósofo, ele salientou a reverência à vida e à vontade de amar, em lugar do poder da vontade, que é labor de almas espiritualmente pobres. 4. Como missionário-médico, ele punha em prática a sua filosofia e teologia, de uma maneira evidente. Seus esforços nesse campo têm levado os historiadores a classificá-lo como um dos mais notáveis humanitários da primeira metade do século Xx. I. Idéias Filosóficas a. A cultura é uma entidade frágil, que depende da vontade dos homens. O homem é moralmente obrigado a levar avante essa entidade, tendo em vista seu melhor desenvolvimento. b. O homem pode ter experiências com Deus através da vontade ética que opera nele. Isso pode transformá-lo para melhor, tomando-o um instrumento benfazejo ao próximo, se ele cultivar essas coisas, em vez de alvos e ambições egoístas. A vontade ética é uma força na natureza inteira, e também reside no homem. Essa vontade é à grande característica que define Deus. c. Jesus foi o maior revelador da vontade ética entre os homens, apesar do fato de que, na opinião de Schweitzer, Jesus tenha sido um sonhador apocaliptico que tentou

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SCHWEITZER - SEALTIEL grandes reformas, mas que estava equivocado em sua fé na iminência do reino de Deus. d. A base de toda ética, como também o fator mais importante, é a reverência à vida. Esse princípio, que já havia governado a sua vida, subiu-lhe à mente, de maneira verbal, quando viajava pela África e observava as muitas maravilhas da natureza, tão plena de vida e movimento. Para ele, a reverência à vida tomou-se uma espécie de padrão definitivo da bondade. Ao que parece, ele formava uma visão panteísta da natureza, o que o inspirou em seu modo de pensar. 2. Algumas Idéias Teológicas: a. O que foi dito acima tem aplicações à teologia de Schweitzer. Restam alguns pontos a serem destacados, segundo se vê abaixo. b. Em sua obra, Quest ofthe Htstorical Jesus, ele tomou a posição de que os autores do Novo Testamento não nos deram um guia seguro para compreendermos a Jesus. Antes, eles criaram uma espécie de Jesus teológico, que obscureceu sua historicidade. Ele via em Jesus um reformador e ativista que acabou desiludido em suas tentativas para estabelecer na terra o reino messiânico de Deus. Ele concedia a Jesus uma visão muito estreita, em suas tentativas para fazer todas as coisas ajustarem-se às suas interpretações apocalípticas. c. O amor é inspirado pela reverência que o indivíduo tem pela vida. Encontramos aí uma autêntica espiritual idade, que anula o insano desejo dos homens pelo poder. d. A ênfase sobre o misticismo. Schweitzer escreveu um livro cujo título é The Mysticisn ofPaul the Apostle, e que demonstrou certo discernimento quanto ao fato de que a verdadeira base da inspiração e do pensamento religioso são as experiências místicas. Um outro livro seu que exerceu grande influência foi Paul and His Interpreters. Escritos. Paul and His Interpreters; Philosophy of Culture; Ctvilization and Ethics; Chrtstianity and the Religions ofthe World, Quest ofthe Historical Jesus; The Mysticism of Paul, Out of My Life and Thought; Indian Thought. SCHWENKFELD VON OSSIG, CASPER Suas datas foram 1490 - 1562. Ele foi um reformador protestante que deu o seu apoio à Reforma Protestante, embora defendendo certas posições doutrinárias que o puseram em dificuldades. Ele não aceitava a máxima dos reformadores de "as Escrituras somente", afirmando que a Palavra viva de Deus é mais ampla do que as Escrituras Sagradas, pois estas, na verdade, são apenas uma representação parcial daquela realidade maior. Ele também negava a teologia sacramental. Essas duas posições impeliram Lutero a referir-se a ele como um perigoso herege. SCIENTIA MEDIA No latim, "conhecimento médio". Os homens têm-se sentido perplexos diante da idéia de como Deus pode prever todas as coisas, sem que esse conhecimento prévio force, automaticamente, todas as coisas acontecerem. Filosoficamente, Agostinho deu solução ao problema, asseverando que "Deus prevê que os homens agirão livremente", pondo assim o pré-conhecimento divino por trás da liberdade humana. Luís de Molina (1535 - 1600) criou uma idéia similar à de Agostinho, chamando-a de scientia media. De acordo com essa teoria, Deus prevê acontecimentos hipotéticos contingentes futuros, ao que ele chamou de futuribilia. Essas contingências podem ocorrer ou não, pelo que não se tomariam absolutas só pelo fato de Deus tê-Ias previsto. Contudo, isso não eliminaria a

predestinação de certos eventos, embora alivie o conhecimento prévio de Deus de uma presumível predestinação necessária. Os teólogos católicos romanos têm-se utilizado da teoria de Molina. SCINTILLA CONSCIENTIAE Ver sobre Synderesis, SCOTISMO Esse é o nome da filosofia que emergiu do sistema e das atividades de Duns Scotus (que vide). A sua filosofia era uma variedade ou reformulação de idéias agostinianas, em parte modificadas com a ajuda de Aristóteles. Os franciscanos (que vide) têm feito muito para preservar e interpretar a obra de Duns Scotus. A maioria dos scotistas tem sido frades franciscanos, visto que Duns Scotus, o Doutor Sutil, pertencia a essa ordem monástica. De modo geral, eles são devotados aos conceitos do I ivre-arbítrio, de princípio de distinções formais e do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Eles têm criticado acerbadamente a outros sistemas, incluindo o de Tomás de Aquino. Alguns dos primeiros scotistas foram Francisco Mayron (1327) e o papa Alexandre V (falecido em 1410). SCOTUS ERIGENA, JOÃO Ver sobre Erigena, João Escoto. SCOTUS, JOÃO DUNS Ver sobre Duns Scotus. SCRIPTORIUM Essa palavra latina tem raiz em scribere, "escrever", e significa "lugar de escrever". O termo é usado para aludir a algum edificio ou aposento especial, usualmente parte de um mosteiro, onde se preparam cópias e outras coisas, em forma escrita. Isso ocorria especialmente nos dias antigos, quando havia manuscritos bíblicos.

SÉ Essa palavra vem do latim, sedes, "sede". É aplicada pela Igreja Católica Romana a uma sede local ou lugar de autoridade onde um bispo, um arcebispo ou mesmo o papa exercem suas respectivas jurisdições. O vocábulo também pode aludir à própria jurisdição papal ou episcopal, ou à hierarquia clerical deles. Assim, a Santa Sé é a sede do papa, que também é chamada Sé de Roma. SEA Ver Pesos e Medidas. SEAL No hebraico, requisição. Esse é o nome de um dos filhos de Bani, que se casara com uma mulher estrangeira, no tempo de Esdras (Esd. 10:29; I Esdras 9:30). Viveu por volta de 445 a.C. SEALTIEL No hebraico, "Deus é um escudo". Seu nome aparece nos livros de I Crônicas, Esdras, Neemias, Ageu. E, no Novo Testamento, com a forma de Salatiel, em Mateus e Lucas, na genealogia do Senhor Jesus. Viveu em cerca de 536 a.C. VerostrechosdeEsd.3:2,8;Nee.12:1;Ageu I: I, 12,14; 2:2,23; 1 Crô. 3: 17. Do ponto de vista legal, foi o pai de Zorobabel (ver Luc. 3:27; Mal. 1:12). Pedalas foi o pai biológico de Zorobabel (ver 1CrÔ.3: 18, 19). Sealtiel morreu sem deixar filho homem, e Pedalas, mediante o casamento levirato (vide), casou-se com a viúva de seu irmão (ver Deu.

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SEARIAS - SEDA 25:5-10; Mal. 22:24-28). Ele era filho de Jeconias, não por nascimento natural, mas por direito de herança somente pelo lado matemo. O trecho de Luc. 3:27,31 diz que Sealtiel, filho de Neri, era descendente de Davi, através de Natã, e não de Salomão. Jeconias teve outro filho, Assir (que nossa versão portuguesa traduz por "o cativo"), que deixou somente uma filha, a qual, de acordo com a lei das herdeiras (ver Núm. 27:8; 36:8,9) casou-se com um homem de sua tribo paterna, a saber, Neri, da família de Natã, que era da linhagem de Natã, Desse casamento foi que nasceram Sealtiel, Malquirão e vários outros filhos, ou seja, mais provavelmente "netos" de Jeconias, conforme se lê em I CrÔ. 3: 17,18. As várias passagens bíblicas que falam sobre Sealtiel parecem criar uma contradição, e o que escrevi acima forma uma possível explicação da questão. Mas outros tentam resolver o problema fazendo o Zorobabel de I Crô. 3: 19 ser uma pessoa diferente daquela envolvida nas atividades pós-exílicas, referidas nos livros de Esdras e Neemias. Ele pode ter sido um sobrinho do filho do mesmo nome, que aparece em Mal. 1: 12.

SEARIAS No hebraico, "Yahweh decide". Ele era filho de Azei, de Benjamim, e descendente de Saul (1 Crô. 8:38; 9:44). Viveu em cerca de 860 a.C. SEARIAS No hebraico, "Yahweh é a aurora". Foi um chefe tribal benjamita, filho de Jeroão (I Crô. 8:26). Viveu em cerca de 1360 a.C. SEDA Na Bíblia portuguesa, essa palavra é transliteração de três palavras hebraicas de grafia levemente diferente: A. Um nome que aparece pela primeira vez, em Gên. 10:7, com a forma de "Sebá", em nossa versão portuguesa. Ali, Sebá e Dedã eram dois filhos de Raamá, filho de Cuxe. No entanto, em Gênesis 25:3, segundo nossa versão portuguesa, "Sabá e Dedã" aparecem como dois filhos de Jacsã, filho de Abraão e Quetura. Em Gênesis 10:28, "Sabá" aparece como filho de Joctã, filho de Éber, que era descendente de Sem. Com base nesses informes bíblicos, parece que Sabá era o nome de uma tribo árabe e, conseqUentemente, descendente de Sem. Mas, o fato de que SeM e Dedã aparecem como tribos cuxitas, em Gênesis 10:7, parece apontar para uma migração por parte dessas tribos, para a Etiópia. E assim, sua derivação de Abraão (Gên. 25:3), indicaria que algumas famílias localizaram-se na Síria. Na realidade, Sabá era uma tribo joctanita, ou árabe do sul (Gên, 10: 28), e o seu próprio nome, como os nomes de alguns de seus irmãos (para exemplificar, Hazarmavé = Hadramaute) são nomes próprios de lugares no sul da Arábia Os sabeus, ou povo de Sabá, apareceram como comerciantes em ouro e especiarias, que habitavam em uma terra distante da Palestina (I Reis 10: 1,2; lsa. 60:6; Jer. 6:20; Eze. 27:22; Sal. 72: 15; Mal. 12:42), ou, então, como escravos (Joel 18), - ou mesmo como tribos que vagueavam pelo deserto (Jó 1: 15; 6: 19). De acordo com as genealogias árabes, Sabá aparece como bisneto de Katan (Joctã), antepassado de todas as tribos do sul da Arábia. Os árabes dizem que ele foi chamado Sabá por ter sido o primeiro homem a fazer prisioneiros de guerra (shabbah). Ele fundou a capital, Sabá, juntamente com sua cidadela, Maribe, famosa por sua poderosa barragem. Ver o artigo sobre os Sabeus, onde apresentamos pontos sobre a história, a religião e a

civilização desse povo semita. Sob essa primeira forma da palavra hebraica, temos a considerar três nomes pessoais e um locativo, a saber: 1. Um filho de Raarná, que era descendente de Cuxe, filho de Cão (Gên. 10:7; 1 Crô. 1:9). Seu irmão chamavase Dedã. Cerca de 2240 a.C. 2. Um filho de Joctã, que era descendente de Sem (Gên, 10:28; 1 Crô, 1:22). Cerca de 2200 a.c. 3. Um filho de Jocsã, que descendia de Abraão e Quetura (Gên, 25:3; 1 Crô. 1:32). Também era irmão de Dedã, Cerca de 1800 a.C. Não há certeza se essas três personagens eram, realmente, três, ou se eram uma só. A possibilidade de que seja apenas uma pessoa é fortalecida pelo fato de que todos esses nomes estão associados à Arábia, que o primeiro e o segundo têm Dedã como irmão, e que o segundo e o terceiro fazem parte da linhagem de Sem. Que o primeiro deles aparece como pertencente à linhagem de Cuxe e Cão pode indicar a íntima relação entre os africanos (camitas) e os árabes do sul. 4. Um país no sudoeste da Arábia, atualmente chamado lêmen, a região mais montanhosa e fértil da Arábia. As genealogias da Bíblia consideram a pessoa acima referida (Sabá) como a origem do nome desse país, bem como progenitor de seus habitantes, os sabeus (vide). Esse país obteve riquezas mediante o controle do comércio de perfumes e incenso, que eram artigos importantes na vida comum e na religião do mundo antigo. Caravanas de camelos partiam de Sabá (Jó 6: 19) para o norte e para os países da margem oriental do Mediterrâneo, levando mercadorias como ouro, pedras preciosas e incenso, que exploravam no sul da Arábia (Isa. 60:6; Jer. 6:20; Eze. 27:22). Sabá teve duas capitais, Sirwah, e, então Maribe. Em Maribe estão os restos de uma grande represa e as ruínas do templo do deus lua, Ilumquh. Nas milhares de inscrições dos sabeus aparecem os nomes de muitos de seus governadores sacerdotes. No século X a.C., a rainha de Sabá (vide) visitou Salomão (I Reis 10:1-13; II Crô. 9:1-12). Sua caravana de camelos trouxe à Palestina produtos típicos do comércio de Sabá: ouro, pedras preciosas e especiarias, que ela trocou por presentes que lhe foram dados por Salomão. Sabá também tem um lugar reservado nas expectações de Israel quanto ao futuro. Espera-se que Sabá envie presentes ao rei de Israel (Sal. 72: 10,15) louvando ao Deus de Israel (Isa. 60:6). B. Uma outra palavra hebraica, que significa 'juramento" ou "acordo", aparece como nome de uma localidade e como nome de duas pessoas, a saber: 1. Uma cidade no território de Sirneão, perto de Berseba e Moladá, talvez a mesma Berseba, e que figura somente em Josué 19:2. 2. Um filho de Bicri, um benjamita que se rebelou contra Davi, após a morte de Absalão, e cuja cabeça foi decepada pelos habitantes de Abel. Ele viveu por volta de 1020 a.C. As menções a esse homem aparecem em II Sarn, 20: 1-22. 3. Um chefe gadita, cujo nome é mencionado somente em I Crô. 5: 13. Viveu por volta de 1700 a.c. De acordo com o vs. 17, sua família foi arrolada nas genealogias oficiais do tempo de Jeroboão 11, de Israel, ou reino do norte. C. Ainda Com outra forma, no hebraico, mas também com o sentido de "juramento", precisamos considerar um poço que foi cavado pelos servos de Isaque, perto de Berseba, em Judá, em cerca de 1818 a.C. O nome desse poço aparece somente no trecho de Gên. 26:33. Nesse versículo, lemos: "Ao poço chamou-lhe Seba; por isso Berseba é o nome daquela cidade até o dia de hoje".

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SEBÃ-SECA SEBÃ No hebraico, bálsamo. Uma cidade do território de Rúben, antes pertencente aos amorreus, e antes disso ainda, aos moabitas, Jerônimo dizia que ficava cerca de quinhentos passos de Hesborn, embora vários estudiosos modernos não concordem com isso. Ver sobre Sibma. O confronto entre as listas geográficas de Números 32:3, 32:34-48 e Josué 13: 16-20 indica que Sebã e Sibma eram nomes diferentes de uma mesma cidade. Embora o local tivesse sido outorgado à tribo de Rúben, com o tempo refluiu às mãos dos moabitas. As referências proféticas chamam atenção para suas vinhas (Isa. 16:8,9; Jer. 48:32). A forma Sebã, em nossa versão portuguesa, aparece somente em Números 32:3. SEBATE Décimo primeiro mês do calendário dos hebreus, correspondente aos nossos meses de janeiro e fevereiro. Ocorre somente em Zac. 1:7. Mas também ocorre nos livros apócrifos, em I Macabeus 16: 14. SEBE,CERCA Para proteger as vinhas dos ladrões, eram feitos cercados (Sal. 80:12,13; Isa. 5:5; Mat. 21 :33; Mar. 12:1). Vários materiais eram empregados nesses cercados, como pedras empilhadas sem qualquer argamassa de ligação, ramos espinhentos e arbustos. Ou então eram plantados arbustos espinhentos em redor da área desejada, fechando-a. O trecho de Miq. 7:4 menciona a "sebe de espinhos". São usadas três palavras hebraicas principais e uma palavra grega, a saber: 1. Gader; "sebe", "cerca", "aprisco". Essa palavra hebraica ocorre por doze vezes, conforme se vê, por exemplo, em Sal. 80:12; Ecl. 10:8; Eze. 13.5; 22:30; Osé. 2:6; Miq. 7: 11. 2. Gederah, "sebe", "cerca", "aprisco". Palavra hebraica que aparece por nove vezes no Antigo Testamento, segundo se vê, para exemplificar, em 1 Crô. 4:23; Sal. 89:40; ler. 49:3; Naum 3: 17. 3. Mesukah, "cerca", "sebe", vocábulo hebraico que é utilizado por três vezes: Pro. 15:19; Is. 5:5 e Miq. 7:4. 4. Phagmás, "cerca". Essa palavra grega ocorre por quatro vezes: Mal. 21:33; Mar. 12: 1; Luc. 14:23; Efé. 2:14. Usos Metafóricos 1. A proteção divina, a sua providência e o seu governo atuam quais cercas de proteção, que impedem seus filhos de serem espiritualmente prejudicados (Jó 1: 10; Isa. 5:2 e Eze. 116). 2. As tribulações, os obstáculos e os empecilhos são comparados com cercas (Lam. 17; Jó 18:8; Osé. 2:6). 3. O caminho seguido por uma pessoa preguiçosa é assemelhado a uma sebe de espinhos. Ela sempre vê quão difícil é fazer qualquer coisa, e tem medo de começar. Atrapalha-se em dificuldades imaginárias. e. finalmente, acaba enroscando-se em dificuldades reais (Pro. 15: 19).

SEBER No hebraico. brecha. Um filho de Calebe e de sua concubina, Maaca (I Crô. 2:48). Viveu em cerca de 1430 a.C, SEBNA No hebraico, "que Deus possa sentar", ou como pensam alguns, 'juventude" ou "retomo". Talvez o nome seja uma forma abreviada de Seganias ou Sebaniahú, que parece significar "Retoma agora, Senhor!" (I Crô. 15.25 e Nee. 9.4,5). ó

1. O tesoureiro do templo. que viveu em cerca de 700 a.C. Ele foi substituído por Eliaquim, filho de Hilquias, Ver Isa. 22: 15, a única referência a esse homem. 2. O escribaoficial do rei Ezequias era chamado por este nome. Ele participou nas negociações entre Judáe os assírios agressores no tangente à rendição de Jerusalém àquele poder estrangeiro. Não foi feito nenhum acordo. Então o rei o enviou como numa delegação para consultar o profeta Isaías, instruindo-os a não negociar com a Assíria, pois seu exército poderia simplesmente se retirar, o que de fato aconteceu. A maioria dos estudiosos modernos identifica 1 e 2 como uma única personagem, negando que duas pessoas estejam sendo consideradas. O último Sebna esculpiu para si uma complexa tumba de pedra, algo que de modo geral apenas a realeza fazia. Isaías opôs-se a esse ato vão e previu que ele j amais usaria a tumba, mas morreria no exílio, na Assíria. Além disso, o profeta fez objeção a suas diretrizes pró-Egito e contrárias à Assíria. Isaías sabia que a devastação que a Assíria traria aJudá seria um julgamento de Yahweh (11 Reis 18.29), mas a hora ainda não havia chegado. O Senhor operava de acordo com um cronograma divino. De qualquer forma, a Babilônia era o inimigo devastador, de longo período, a ser enfrentado. II Reis 19.18-37 mostra que o motivo pelo qual os assírios simplesmente se retiraram foi que o anjo do Senhor bateu neles com tanta força, que em uma única noite 185 mil assírios morreram. Críticos alegam que há algum tipo de praga envolvido aqui (o que poderia ser verdade), mas outros acham que Senaqueribe simplesmente mudou de idéia sobre a invasão e se retirou. Em qualquer caso, o rei foi morto por seus próprios filhos pouco tempo depois (Il Reis 19.37). É interessante observar que o oráculo contra Sebna, em Isa. 22: 15-25, é o único daquele profeta contra um indivíduo chamado por este nome. Para detalhes sobre a história, ver II Reis 18-19; Isa. 22:15-25.

SEBUEL No hebraico, Deus é renomado. Na Septuaginta Soubaél, o que talvez explique a forma "Subael", em 1 Crônicas 24:20. O nosso conhecimento acerca de Sebuellímita-se a referências no livro de 1 Crônicas (ver I Crô. 23: 16; 25 :4; 26:24). Ele é identificado como um levita cuja linhagem é traçada até Anrão (I Crõ. 24 :20) e a Gérson, filho de Moisés (I Crô. 23: 16 e 26:24). O Sebuel mencionado em I Crô. 25:4, como filho de Harnã, pode ter sido um outro homem do mesmo nome. Sebuel serviu como levita, na organização governamental de Davi, ocupando funções religiosas. Ele foi escolhido para ser um dos principais oficiais. encarregado da tesouraria (1 Crô.26:24). SECA Esse é um dos piores distúrbios ecológicos da natureza. A despeito de todo o seu avanço científico, o homem continua muito dependente das condições atmosféricas, porquanto a água é a origem de toda a vida biológica. O mundo tem aprendido o quanto depende da chuva. As culturas antigas dispunham de um elaborado sistema de cerimônias e sacrifícios a fim de induzir os deuses, bem como poderes espirituais de todos os tipos. para garantir chuva suficiente para que houvesse boas colheitas. O meu artigo sobre o Calendário, na porção que aborda a questão do calendário judaico (ver o gráfico) ilustra como Israel implorava ao Senhor para que viessem chuvas. e como celebrações e orações especiais estavam envolvidas na questão. Quando a seca persiste por tempo suficiente,

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SECACÁ - SECULAR seguem-se a escassez e a fome (I Reis 17: 1). A Bíblia refere-se à seca como uma das maneiras pelas quais Deus castiga os homens por seus pecados. Usos Figurados. O homem que está sofrendo de má consciência acerca do pecado, ou que é julgado por causa do pecado, é como um homem cuja força se ressecou por causa da seca, no calor do verão (Sal. 3: 14). Algo similar é implícito no ensino de Cristo como a água da vida, pois, sem a sua provisão, a alma resseca-se e definha (João 4: 14 ss), O Espírito Santo é também a água da vida espiritual (João 7:37-39). Ver o artigo sobre a Água, quanto a seus usos metafóricos. SECACÁ No hebraico, a palavra significa "matagal" ou "local fechado", uma cidade do deserto de Judá próxima ao mar Morto, mencionada apenas em Jos. 15:61. Era conhecida por ter uma cisterna gigante para o suprimento de água naquele local seco. Ficava perto de Khirbet Qumran, e talvez a Khirbet es-Samrah moderna marque o local antigo. Os arqueólogos escavaram nesse local algumas ruinas significativas que datam da era do Ferro 11. SECANIAS No hebraico, Yahweh é vizinho. Os estudiosos geralmente dividem esse nome em duas formas, de acordo com a grafia exata no hebraico. De acordo com isso, há dois Secanias com o nome grafado com uma forma e há outros sete homens, cujo nome é grafado com uma outra forma em hebraico, a saber: A. Primeiraforma:

I. Um sacerdote do tempo de Davi (I Crô. 24: 11). 2. Um sacerdote do tempo de Ezequias (11 Crô, 31: 15). B. Segundaforma: I. Um descendente de Zorobabel (1 Crô. 3:21,22) e portanto, membro da família real de Judá. Quase certamente ele deve ser identificado com o Secanias de Esdras 8:3, e talvez com o pai de Semaias, em Neemias 3:29. Viveu em cerca de 470 a.C. 2. O filho de Jaaziel, que retomou juntamente com Esdras da Babilônia para Jerusalém, durante o reinado de Artaxerxes (Esd. 8:5). Viveu em torno de 530 a.c. 3. Um outro homem do mesmo nome, cujos descendentes também voltaram do exílio babilônico (Esd. 8:3). Viveu em tomo de 530 a.c. 4. Um filho de Jeiel, que foi um dos primeiros a confessar a transgressão de haver tomado esposa estrangeira, e não dentre as filhas de Israel. (Esdras 10:2). Viveu por volta de 44.5 a.C. S. O pai de Semaías, que ajudou a reparar as muralhas de Jerusalém (Nee. 3:29). Viveu em cerca de 445 a.c. 6. O sogro de Tobias, o amonita, que fez oposição a Neemias (Nee. 6: 18). Viveu em cerca de 445 a.C, 7. Um sacerdote que retomou da Babilônia a Judá, em companhia de Zorobabel (Nee. 12:3). Viveu por volta de 530 a.C. Uma substituição de palavras hebraicas, em seu nome, duas letras que podem ser facilmente confundidas, tem produzido a forma Sebanias, em Neemias 10:4 e 12:14. Porém, trata-se do mesmo indivíduo.

SECU No hebraico, "lugar de observação", o local de um grande poço entre Gibeá e Ramá, que Saul visitou quando tentava encontrar Davi, que estava em fuga (I Sam. 19.22). Talvez a moderna Khirbet Shuweikeh marque o local. As versões dão nomes que refletem incerteza sobre a localização. O manuscrito B da Septuaginta tem en

tozephei (na colina nua), mas este é um erro de escriba. A Siríaca Peshitta (a última revisão) dá a última palavra sobre isso. Mas outras versões dão apoio ao texto massorético com este "local de observação". ':ler o artigo Massora (Massorah); Texto Massorético. As vezes as versões (especialmente a Septuaginta) estão corretas contra o texto massorético padronizado, como os Manuscritos do Mar Morto (hebraicos) demonstraram. SECULAR, SECULARISMO Esboço: I. Definições e Caracterização Geral 2. A Secularização da Igreja Cristã 3. União Entre o Secular e o Sagrado

1. Definições e Caracterizaçllo Geral Essa palavra vem do latim, saeculum, "pertencente a uma era". Nos círculos religiosos recebe o sentido de "aquilo que pertence ao mundo de nosso tempo", e que não faz parte do que é sagrado ou espiritual. Definindo melhor, secular é aquilo pertencente à maneira de viver deste mundo, e não à maneira de viver do mundo vindouro; é algo que não comunga com os interesses e as entidades espirituais. Por essa razão, com freqüência essa palavra é contrastada com os adjetivos "religioso" ou "espiritual". As palavras "secular", "secularismo" e "secularização" adquirem seus significados da distinção medieval entre aquilo que ficava sob jurisdição eclesiástica ou monástica e aquilo que não ficava, por serem de competência exclusivamente do Estado. Até o século XIX, o termo "secularismo" normalmente referia-se à teoria que propugnava a separação entre a autoridade civil e a autoridade eclesiástica. Foi G.H. Holyoake (1818-1906) quem primeiro usou essa palavra ao referir-se ao tipo de atitude anti-religiosa; e daí a palavra veio a tornar-se um sinônimo da negação das realidades sobrenaturais, ou da recusa de reconhecer a autoridade da Igreja. Nesse caso, "secular" tornou-se o oposto de "sagrado". O secularismo veio a ser uma espécie de movimento tipo humanista. O secularismo procurava aprimorar as condições humanas, sem fazer qualquer alusão à religião ou às reivindicações da igreja. Antes, utilizava-se da pura razão, da ciência e das organizações sociais (não-religiosas) humanas. Destarte, se a caridade era apanágio exclusivo da Igreja, passou a tomar-se também um dos deveres do Estado. A Renascença (vide) deu grande impulso e idealismo a esse movimento. 2. A Secularização da Igreja Cristã Uma das aplicações do termo que ora estudamos é a referência ao confisco de propriedades da Igreja por parte do Estado, geralmente com propósitos egoístas e indignos. Após o século IV d.C., alguns segmentos da Igreja conseguiram amealhar consideráveis riquezas sob a forma de propriedades. E isso tomou-se uma tentação para alguns governantes civis, como Carlos Martelo, rei da França, no século VIII d.C. Ele apoderou-se de propriedades eclesiásticas em proveito próprio. Outra forma de secularização foi efetuada pelos reformadores protestantes, os quais suprimiram o monasticismo, fecharam mosteiros e passaram a usar seus edificios com outros propósitos. Nos tempos modernos, a secularização tem ocorrido dentro e fora da Igreja, como resultado da separação entre Igreja e Estado, devido a que todos os departamentos de atividade humana-ciências, artes, filosofia, educação e economia-foram livres do controle eclesiástico, embora

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SECULAR - SÉCULOS VINDOUROS não necessariamente da cooperação da Igreja. Muitas dessas funções, antes empreendimentos quase exclusivos da classe religiosa, como obras de caridade e escolas, foram largamente secularizadas. A secularização de idéias também faz parte desse processo. A visão sobrenaturalista, do mundo foi substituída por idéias seculares e mesmo profanas, e até as próprias escolas religiosas têm encontrado dificuldades em impor cursos de religião aos seus alunos. Outro fenômeno dessa área tem sido o uso de idéias bíblicas, mas de maneiras abertamente seculares, divorciadas da metafísica envolvida. Um notável exemplo disso é como o movimento comunista usa textos de prova da Bíblia em defesa de suas teorias econômicas e sociais, sem envolver qualquer coisa de espiritual, na aplicação de trechos escriturísticos. Mas a aplicação mais ridícula de todas é aquela que reduz Jesus a um líder político e militar, ignorando totalmente seus declarados propósitos espirituais. O brilhante autor Bonhoeffer, embora homem impelido por fortes propósitos espirituais, em seu livro, Letters and Papersfrom Prison, apresentou uma interpretação não-religiosa de conceitos bíblicos que, segundo ele sentia, a nossa época precisa levar em conta; porém, em nenhum sentido ele promoveu a idéia de uma Igreja secularizada, embora alguns tenham procurado fazê-lo encaixar-se nesse molde. Paulo van Buren publicou um volume intitulado The Secular Meaning of the Gospel, que proveu munição para a versão secularizada de conceitos bíblicos e ideais cristãos. O que ele asseverou é que o cristão moderno deve ser um homem também voltado para atividades seculares, dedicado a causas humanistas, dotado de uma visão secular da existência. Arend van Leeuwen (Christianity in World History) e Harvey Cox (The Secular City) chegaram ao extremo de sugerir que o processo de secularização é resultado direto e correto da fé bíblica, como se o amadurecimento espiritual levasse o indivíduo de uma base espiritual para uma base profana. Na mente de muitas pessoas, foi o que bastou para que idéias acerca de um cristianismo secular, de um Cristo secular, de uma conversão secular, de uma salvação secular e de missões evangélicas seculares substituíssem as antigas noções espirituais ensinadas nas Escrituras Sagradas. Naturalmente, esse tipo de pensamento mescla-se admiravelmente bem com a filosofia do Deus Morto (vide). Entrementes, não há nenhum sinal do esmaecimento da fé religiosa, que faz parte das idéias visionárias desse movimento. O que tem acontecido é que os indivíduos profanos têm-se tornado ainda mais profanos, fazendo de suas profanações a sua religião. Porém, isso não quer dizer que eles não sejam humanitários, de modo positivo, e pelo que podem ser elogiados; mas nem por isso escapam à condenação em face dos absurdos que têm promovido. 3. União Entre o Secular e o Sagrado Fazendo contraste com essa secularização indevida da Igreja, temos a atitude correta de alguns cristãos, que afirmam que não se deve estabelecer distinção entre o que é secular e o que é sagrado. O homem espiritual não compartimentaliza a sua vida segundo esse critério. Qualquer atividade ou trabalho, se for honroso, embora possa ser chamado de secular, não será tal, se isso fizer parte da vontade de Deus para aquela vida. Nesse sentido, todas as coisas são sagradas. Jesus aceitou tomar uma refeição na casa do fariseu, mas não deixou do lado de fora a sua influência espiritual. Ele trabalhou durante

muitos anos como carpinteiro, mas essa foi a vontade do Pai quanto àquele período de sua vida. Sim, todas as ocupações dignas podem ser meios de servirmos ao próximo, permitindo-nos assim cumprir a lei do amor. E não deveríamos ser tentados a chamar isso de secular. Os crentes devem interessar-se por obras de caridade, por serviços sociais, por todas as formas de atividades humanitárias. Esse interesse injeta o sagrado no que é profano. SECULARIZAÇÃO DA IGREJA Ver o artigo Secular, Secularísmo, em seu segundo ponto. SÉCULOS VINDOUROS; EXPRESSÃO DA ETERNIDADE Efé. 2:7: Para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza de sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Nos séculos vindouros. Este versículo mostra-nos claramente o grande "desdobramento da graça", nos lugares celestiais, nas futuras eras eternas. E um erro pensarmos que nos céus impera a estagnação. O ser divino não pode experimentar estagnação. A graça que opera aqui também operará ali; e por toda a eternidade os remidos continuarão a avançar e a prosperar na santidade de Deus, até que cheguemos a compartilhar da própria santidade de Deus Pai, para não sermos menos santos do que ele (ver Mal. 5:48). Ora, isso significa participarmos da natureza perfeita de Cristo (ver Rom, 8:29); e também significa ser divino como Cristo é divino, em sua glorificação (ver II Ped. 1:4); e, finalmente, significa que seremos instrumentos supremos da glória de Deus, de suas obras eternas, seres capazes de tal utilidade (ver Efé. 1 :23). Ora, isso tudo ocorrerá nas "eras que se aproximam", conforme essa expressão poderia ser traduzida, aludindo às eras futuras da eternidade. Consideremos, portanto, os seguintes pontos: 1. Isso ocorrerá não agora, mas somente quando da "parousia" ou segundo advento de Cristo. Não estão em foco as "eras vindouras da Igreja terrestre". 2. Estão em foco as várias eras sucessivas, que começarão quando da "parousia", 3. Contudo, essas eras são vistas tão próximas de nós que são descritas como algo que "se aproxima". 4. Alguns intérpretes incluem tanto a era até à parousia como as eras que virão depois. Mas os cristãos primitivos não antecipavam nenhum grande período de tempo até o segundo advento de Cristo (ver 1 Cor. 15:51 e I Tes.4: 17); pelo contrário, esperavam isso para breve, até mesmo para seu próprio período de vida terrena. Por conseguinte, a eternidade podia ser facilmente vista como uma sucessão de eras, e tão próximas que estão "se aproximando" agora mesmo. Nesse caso, a terceira possibilidade é a que expressa a realidade dos fatos, a interpretação correta. "A eternidade é apresentada em analogia como o modo como o tempo é concebido (ver sobre Efé. I: 10), e não como um infinito não-diferenciado, mas como uma sucessão de eras. A expressão 'para todo o sempre', literalmente traduzida do grego seria 'pelas eras das eras' (ver Fil. 4:20), freqüentemente, ou 'até todas as eras' (ver Jud. 25). Da mesma maneira que o propósito abençoador de Deus foi formado 'antes da fundação do mundo' (Efé. 1:4), assim também os seus efeitos se manifestarão por toda a eternidade. (Comparar com Sal. 103: 17: 'Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade,

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SECUNDO - SEDUÇÃO sobre os que o temem ...'). E é reiterado o fato de que até o fim, tal como no princípio, a longanimidade de Deus para conosco será demonstrada em 'Cristo Jesus". (Beare, in loc.). SECUNDO

No latim, "segundo". Esse era o nome de um crente de Tessalônica, que fez parte do grupo de auxiliares de Paulo, na sua viagem de Corinto à Ásia Menor (Trôade ou Mileto?), quando esse apóstolo retornava de sua terceira viagem missionária. Ver Atos 20.4. A função de Secundo provavelmente foi a de ser um delegado (juntamente com Aristarco) de sua igreja, com a tarefa de trazer a parte que cabia àqueles irmãos na coleta para os santos pobres de Jerusalém (ver I Cor. 16: I ss). Alguns eruditos entendem que o trecho de Atos 20:5 dá a entender que Secundo esteve entre aqueles que serviram a Paulo em Trôade. E outros têm identificado esse homem com o macedônio Gaio, mencionado juntamente com Aristarco, em Atos 19:29, não devendo ser confundido com o Gaio de Derbe. O nome desse homem, em latim, provavelmente indica que ele foi o "segundo" filho de seus pais. Esse nome tem sido confirmado em inscrições achadas em Tessalônica, pelo que esse deve ter sido, ali, um nome bem conhecido. SEDA, BICHO DA No hebraico, meshi, que ocorre somente por duas vezes (Eze. 16:10,13). No grego, serikôs, vocábulo que aparece

exclusivamente em Apo. 18:12. É muito duvidoso que o fio retorcido do bicho da seda da China (Bombyx mori) fosse conhecido no Oriente Próximo, nos dias do Antigo Testamento. Por esse motivo, muitos eruditos têm preferido pensar em um tipo de tecido de algodão ou de linho, de grande preço, proveniente do Egito. Quanto ao trecho de Provérbios 31:22, onde aparece o termo hebraico Shesh, há traduções que também dizem ali "seda". Nossa versão portuguesa diz "linho fino". Vários estudiosos pensam ~ue se trata de uma substância parecida com o alabastro. E diflcil entender como uma mulher poderia vestir-se com uma substância parecida com o alabastro. Parece que essa palavra hebraica tinha mais de um sentido, pois as traduções têm sido forçadas a vertê-la para várias palavras diferentes, como, por exemplo, mármore, linho fino e seda. Ver Ester 1: 6. Quanto ao termo grego, esse deriva-se de um vocábulo grego que significa "China", Seres, serikôs. Entretanto, os gregos, no dizer de Pausanius VI.26,6 ss., não tinham certeza sobre a origem da seda. Contudo, sabe-se que a seda chinesa já era conhecida desde o século I a.c. na Ásia Menor. SEDEUR

No hebraico, fonte de luz. Foi pai de Elizur, que foi o chefe dos rubenitas, quando Israel vagueava pelo deserto do Sinai (Núm. 1:5; 2:1; 7:30,35 e 10:18). Viveu em cerca de 1500 A.C. Foi um dos ajudantes de Moisés, na enumeração do povo. SEDUÇÃO

Essa palavra vem do latim, seducere, "desviar", "levar para um lado". Os sentidos gerais são "induzir ao erro", "engodar para o mal", "encorajar a prática de atos imorais". A sedução pode envolver qualquer departamento da conduta humana, mas a palavra, na maioria das vezes, é

empregada dentro de um contexto sexual. Usualmente envolve a exploração da sexualidade feminina com propósitos egoístas. Há vezes em que a sedução equivale moralmente ao estupro, como quando uma mulher realmente é seduzida a fazer coisas que não faria de outra maneira. Mas há casos de sedução aparente, em que a mulher coopera e até encoraja o homem, embora, segundo todas as aparências, ela esteja agindo como se estivesse fazendo algo contra sua vontade. Tudo não passa do jogo sexual. Ocasionalmente, até ouve-se falar de uma mulher que acabou seduzindo a um homem. Mas é bastante dificil encontrar casos autênticos dessa ordem, pois, conforme alguém já disse: Os homens gostam de ser seduzidos. Malandragem e Pressões Extraordinárias Talvez seja verdade, o que alguém falou: "Todas as mulheres podem ser seduzidas. E questão de método e preço". Por outro lado, devemos nos lembrar que todos os seres humanos são fracos e estão sujeitos às pressões do mundo e de outras pessoas. O homem forte pode ser abalado por receio e chorar sob ameaças contra a vida. Até os criminosos mais violentos e virulentos imploram misericórdia quando suas próprias vidas estão em jogo. Não é nada de surpreender, então, se uma mulher cede a pressões extraordinárias, sejam financeiras, profissionais, amorosas, etc. O ceder pode ser, meramente, o resultado da fraqueza gerada por circunstâncias incomuns. Algumas Ilustrações Bertrand Russel1 nos conta de uma experiência de um filósofo. Esse filósofo-malandro decidiu testar uma mulher da alta classe e de reputação inquestionável. Ele começou a oferecer dinheiro para a mulher ter uma experiência íntima com ele. Ela resistia. Enquanto ela resistia, ele aumentava a quantidade de dinheiro que oferecia. Ele aumentou, aumentou e aumentou. Daí, ela cedeu, só para aprender que todo aquele drama não passava de uma experiência na ética. Então, ele teve a coragem de dizer: "Agora, ficou comprovado o que você é. Uma prostituta de classe que recebe altas quantidades de dinheiro. E só questão de preço". Esta conclusão era absurda. O que o filósofo demonstrou foi meramente que qualquer pessoa, inclusive aquela pobre mulher, sob circunstâncias extraordinárias, pode fazer alguma coisa que é contra a disposição normal dela. Não é preciso fazer uma experiência para comprovar a fraqueza humana. Outra História Marilyn Monroe aceitou $10.000 para ter relações com alguém. Quando o marido descobriu, ele se divorciou. Ele não foi o primeiro marido dela, e nem o último. Ficamos surpreendidos diante do fato de que o preço dela era tão baixo, e julgamos que esta sedução não foi por meios extraordinários. Mais Histórias Um homem que vendia seguros tinha certo êxito seduzindo mulheres casadas. O método dele era de oferecer um prêmio de seguro falsificado para pagar as despesas do parto. Ele simplesmente manipulava datas, dando às mulheres o seguro, a despeito do fato de que já estavam grávidas antes do inicio do seguro. Outro conseguiu seduzir mulheres, oferecendo empregos. Sexo significou uma colocação; sem sexo, não havia colocação. Seduções Intelectuais Todos os sistemas filosóficos e teológicos são, de certa maneira, sedutores. Nós entregamos as nossas vontades e sacrificamos nossa individualidade para ganhar conforto mental e para "pertencer" a um grupo: isto é,

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SEERÁ - SEFARDIM para ganhar aceitação. O pioneiro é perseguido, seja na ciência. na filosofia ou na teologia. O sistema nos deduz e nos sacrifica. Ver o artigo intitulado, Unidade, Afinal, de Tudo no Logos para uma ilustração do poder sedutor dos sistemas. Os autores da Bíblia (mormente aqueles do Antigo Testamento) nunca se mostraram puritanos. Na Bíblia há relatos detalhados de sedução e violação. Ver Gên. 34:2 (Diná); 11 Sam. 13:14 (Tamar); ver também Gên. 19:30-35; 35:22; Deu. 22:23-29; Pro. 6:23-35; 7:4-27; 9:13-18. Todo pecado envolve seu próprio preço e julgamento, e a verdadeira sedução será severamente punida por Deus. É difícil alguém pecar "em particular", de modo a nunca afetar outras pessoas. O pecado, por muitas vezes, é uma questão coletiva, e quando ofendemos ao próximo, dificilmente escapamos à devida retribuição nesta vida, e certamente não escaparemos à retribuição no outro lado da existência.Ver Crimes e Punições. SEERÁ No hebraico, parente, a filha de Efraim (I Crô. 7.24) e fundadora de duas cidades com o nome Bete-Horom e outra chamada Uzem-Seera. Os antigos locais das primeiras cidades são conhecidos, mas ninguém tem certeza sobre o terceiro. Talvez Bet Sira, 2 km ao sudoeste de Bete-Horom, seja o local. O Efraim do texto provavelmente era um descendente do patriarca que tinha esse mesmo nome. A mulher, Seerá, provavelmente viveu em cerca de 1170 a.C., mas alguns a posicionam em um período tão distante quanto 1700 a. C. SEFÁ No hebraico, frutífera. Um lugarejo, provavelmente erigido em alguma colina, na fronteira oriental ideal de Israel (NÚm. 34: 10, 11). Ainda de acordo com outros estudiosos, esse lugar tinha um nome que significava "lugar desnudo", pelo que eles têm pensado em alguma localidade nas serras do Antilíbano. Provavelmente era o lugar do nascimento de Zabdi, o sifmita, que cuidava das vides usadas no fabrico do vinho guardado nas adegas reais de Davi (I Crô. 27:27). SEFAR No hebraico, numeração; mas no hebraico pós-bíblico, "país fronteiriço". Muitos estudiosos pensam que, mais provavelmente, trata-se de um nome próprio, de origem não-hebraica, de sentido desconhecido. As terras dos descendentes de Jactã, descendente de Sem, iam desde Messa, "indo para Selar, montanha do Oriente" (Gên. 10:30). Se as palavras "indo para Sefar" meramente definem a direção na qual as terras dos joctanitas se estendiam ("indo para Gerar", em Gên. 10: 19), então a identificação com o monte Séfer (Núm. 33 :23) é possível, embora não seja provável. Visto que os dois locais relacionados com identificações plausíveis (isto é, Hazarmavete e Seba, vide), estão no sul da Arábia, então localidades árabes têm sido usualmente sugeridas, como, por exemplo, Zafar, no sul da Arábia, ou Safari, em Hadramaute. Mas, aIternativarnente, conforme j á vimos acima, tem sido sugerida a tradução "país fronteiriço". Ainda outros estudiosos, destacando o fato de que Gên. 10:30 diz que Sefar era uma montanha no Oriente, e que essa montanha assinalava o extremo oriental das terras dos joctanitas, não aceitam nenhuma identificação no sul da Arábia, porquanto isso seria uma extensão para o sul, e não para o leste ou oriente. A verdade é que ninguém sabe com certeza onde ficava esse monte.

SEFARADE o sentido dessa palavra é desconhecido, e a localização da região também está cercada de muitas dúvidas. Tem-se pensado na antiga Ibéria ou Geórgia, atualmente no sul da União Soviética, entre a Cólquida e a Albânia; outros têm pensado em Sardes, capital da Lidia, que atualmente faz parte do território turco; ou. então, segundo os Targuns, a versão Peshita, Ben Gannach e Kimchi, a Espanha. O local é mencionado na Bíblia somente em Obadias 20, como lugar do exílio de certos cativos de Jerusalém. Alguns eruditos pensam que se trata de Saparda, uma região que aparece nos canais assírios de Sargão 11. como um distrito a sudoeste da Média. Outros acham que devemos pensar em Sardis, capital da Lídia. A diferença de soletração é lingüisticamente justificável, visto que em uma inscrição bilíngüe em aramaico e l ídio, encontrada em Sardis, o nome dessa cidade tem as mesmas três consoantes que se acham em Sefarade. Nas inscrições em persa antigo, Sardis aparece com a forma desparda. À luz dessa possível identificação. a citação de Sefar ade, em Obadias 20. reveste-se de grande importância histórica. porquanto ela indica a existência de uma colônia judaica em Sardis, já desde a época da escrita do livro de Obadias. A importância de Sardis, como centro comercial entre as rotas marítimas do mar Egeu e as rotas continentais, não nos deixa surpreender que ali podiam ser encontrados judeus exilados. Se essa identificação é autêntica, então os Targuns identificam, equivocadamente. Sefarade com a Espanha. Os judeus da dispersão são divididos pelos próprios estudiosos judeus em asquenazint (judeus que foram para países germânicos e eslavos; para eles, Asquenaz são os germânicos e escandinavos); sefardim (judeus que foram para países em tomo do mar Mediterrâneo, do sul da Europa, do norte da África e do Oriente Próximo; para eles, Sefarade é a Espanha); e orientais (judeus que foram para o Iraque, Índia, China, etc). De onde voltarão os exilados de Jerusalém, à sua terra, por ocasião da restauração futura de Israel à Terra Santa? Isso ocorrerá quando da volta do Senhor, conforme se vê em Isa. 49:22; Eze. 20:40; etc. Se a opinião dos Targuns está com a razão, então devemos pensar no extremo ocidental da Europa, e na extensão da mesma. as Américas do Norte, Central e do Sul. A maior colônia judaica que há no mundo é a dos Estados Unidos da América; a segunda maior, a da União Soviética; na América do Sul, a da Argentina e a do Brasil. Ver sobre a Restauração de Israel. SEFARDIM Ver sobre Sefarade (Oba. 20). Existem várias identificações quanto a esse lugar, conforme aquele artigo o demonstra. Uma dessas identificações é a Espanha. Nesse caso, há uma referência aos judeus que viveram em grande número na península Ibérica até, aproximadamente, o fim do século XV, embora até hoje haja judeus espanhóis e portugueses. Porém, alguns eruditos afirmam que os Targuns erroneamente fizeram essa identificação entre Sefarade e a Espanha; mas é mais provável que esses eruditos é que tenham laborado em erro. Em face dessa identificação é que os judeus dispersos pelas terras em redor do mar Mediterrâneo (sul da Europa, norte da África e Oriente Próximo) são chamados sefaraditas, fazendo contraste com osjudeus

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SEFARVAIM - SEGA asquenazitas (aqueles que se estabeleceram no centro e norte da Europa; Asquenaz, para os judeus, é Alemanha) e com os judeus orientais (aqueles que se estabeleceram no Oriente Médio e Distante).

SEFARVAIM Uma cidade ao sul da Mesopotâmia (também chamada Sipara e Sifris), e que Salmaneser teria conquistado, juntamente com outros, em 710 a.C. O termo é de sentido desconhecido, aparecendo no Antigo Testamento por seis vezes: II Reis 17:24,31; 18:34; 19:13; Isa. 36:19 e 37:13. Os naturais da cidade chamados de "sefarvitas", figuram em 11 Reis 17:31. No hebraico, o nome encontra-se em forma dual (um tipo de plural), mas, como dissemos, os estudiosos nunca conseguiram descobrir-lhe o significado. Foi dessa localidade que foram trazidos colonos para repovoar o território de Israel, depois que o reino do norte foi deportado pelos assírios (lI Reis 17:24). Suas divindades incluíam Adrameleque e Anameleque (vide). O enviado de Senaqueribe mencionou Sefarvaim como um lugar cujos deuses se tinham mostrado impotentes contra os assírios (lI Reis 18:34, etc.). Há duas identificações possíveis: 1. a menos provável é Sipar, na Mesopotâmia, conhecida como Sipar de Samás ou Sipar de Anuntum, o que explicaria a forma dual. 2. Saranaim, na Síria, que foi capturada por Salmaneser. A Sibraim referida na Bíblia (Eze.47:16)taIvez aluda a essa localidade. Dessas duas possibilidades, a segunda é a mais provável, visto que se ajusta ao contexto sírio de Sefarvaim (mencionada, como ela é, juntamente com Hamate, que ficava na Síria), bem como ao caráter possivelmente sírio de Adrameleque. Há estudiosos que apontam para a impossibilidade de se identificar Sefarvaim com Sipar, pois se o rei de Sefarvaim é mencionado em II Reis 19:13, sabe-se que a Sipar bíblica (vide), nunca teve seu próprio rei, como também foi o caso de Acade, com a qual tem sido identificada por alguns durante, pelo menos, mil e duzentos anos antes de Senaqueribe. Outros destacam o fato de que Babilônia e Cuta encabeçam a lista de cidades conquistadas pelo monarca assírio (ver 11 Reis 17:24), contudo, não indica que Sefarvaim fosse uma cidade babilônica. Antes, como foi dito acima, a composição da lista aponta noutra

um novo harém, como demonstra o artigo com seu nome. 3. Príncipe da tribo de Simeão, filho de Maaca, que viveu por volta de 960 a.c. Ver I Crô. 21 a 2:3. Davi o indicou como regente de sua tribo nativa. 4. Sexto filho do rei Josafá, de Judá Foi o irmão de Jeorão, que ascendeu ao poder matando os irmãos (Il Crô. 21:2). A "matança de irmãos" era prática comum entre os reis orientais. Viveu em tomo de 875 a. C. 5. Filho de Matã, contemporâneo do profeta Jeremias. Foi um dos homens maus que sugeriu ao rei Zedequias I ançar Jeremias em uma masmorra por sua alegada atitude pró-babilônica e por ser um encrenqueiro que nunca desistia. Ver Jer. 38 a 1:4. Viveu em tomo de 600 a.C. 6. Filho de Reuel (filho de Ibnijas), da tribo de Benjamin. Foi pai de Mesulão, uma das primeiras pessoas a estabelecer-se em Jerusalém após o retomo dos cativos da Babilônia. Ver I Crô. 9:8. 7. Pai de uma família que retomou a Jerusalém para reconstruir a capital após o cativeiro babilônico. Foram contados 370 membros, um número grande de sobreviventes para uma só família. Eles acompanharam Zorobabel (Esd. 2:4; Nee. 7:9). 8. Ancestral de Zebadias que voltou com Esdras do cativeiro babilônico (ver), liderando 80 pessoas no retomo (Esd. 8:8), por volta de 536 a.C. 9. Outro Sefatias, líder da família que descendeu dos escravos do templo de Salomão. Membros de sua familia retornaram a Jerusalém após o cativeiro babilônico, acompanhando Zorobabel (Esd. 2:57; Nee. 7:59). Isto ocorreu em torno de 536 a. C. 10. Descendente de Perez (Farez) (filho de Judá), cujo descendente distante Ataias, de Judá, viveu em Jerusalém na época de Neemias (Nee. 11:4), por volta de 550-536 a C.

SÊFER No hebraico, beleza. Esse é o nome de um monte defronte do qual os israelitas acamparam, durante o período de suas vagueações pelo deserto (Núm, 33:23,24). Ficava localizado entre Queelata e Harada. Mas, além desse informe bíblico, nada se sabe quanto à sua localização exata.

cnreç ao, pois u num.. apar.. ..,.. após Av .. '" H .......lc, u sta. d.e1D1itiV'a.. positiV'a ou. nega.tã.v-a. será. obtida. No 010D14Bn:b>. o que é certA> é que o pano apresenta ynistérios para. os qlJais nAo exis't:eYn. 1UD.d.&. respostas.

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SUDÁRIO DE CRISTO enquanto que as tiras de outros tecidos também foram datadas corretamente. O teste do carbono-14 revela, na verdade, a data aproximada da morte do organismo ao qual estava fixado. No caso, data, com margem de erro não superior a cinco por cento, a época em que foi colhido o linho que serviu para tecer o sudário. O carbono-14 é um isótopo radioativo do carbono normal que está presente no ar que se respira. Assim que a planta ou animal morre, pára de absorver esse isótopo radioativo. Portanto, esse isótopo pode ser usado como um relógio, devido a certa propriedade dos materiais radioativos. Um átomo desse tipo é instável e tende a decair, ou seja, transformar-se em um átomo normal, no caso, o carbono comum. Os cientistas conhecem, com precisão, o tempo que uma amostra radioativa leva para decair até o normal. Sabe-se que em 5.770 anos, a metade dos átomos de carbono-H presentes numa atmosfera decai em carbono estável. E com base na proporção entre o carbono normal e o carbono radioativo, presentes no material analisado, que os cientistas determinam a sua idade. Falsificação? O sudário de Turim não é uma falsificação, se é que seu fabricante não tencionava enganar o mundo com sua engenhosa arte. Mas isso é algo que só o tal fabricante sabia. Se ele não tinha o intuito de enganar, então a sua produção é apenas uma notável peça de arte cristã medieval, produzida mediante técnicas que atualmente não entendemos. A imagem ali impressa não foi pintada, e sua data não explica a qualidade dessa imagem. Alguns afirmam que é dificil imaginar como alguém, na Idade Média, poderia ter produzido tal imagem. Quando o sudário começou a circular, um bispo da área onde foi descoberto advertiu o Vaticano de que era obra de algum engenhoso artista, mas que nada tinha a ver com o sudário de Cristo. Segundo temos visto, aquele bispo estava com a razão. Mas esse conhecimento não dissipa o mistério do seu modo de produção. Talvez a ciência agora volte a sua atenção para essa questão de produção. Argumentos em favor da autenticidade do Sudário continuam. Frank C. Tribbe, membro da Academy ofReligion and Psychical Research, é um perito na história e natureza do sudário. Ele rejeita o resultado dos testes de Carbono 14. Em um artigo escrito por ele, publicado no Journal of Religion and Psychical Research, de abril de 1989 (pp. 65.73), 25 argumentos são apresentados. Ofereço uma amostra: 1. A imagem no sudário não foi superposta sobre o pano, como por pintura. Está dentro das fibras do linho, como em fotografia. 2. Os testes de Carbono 14, mesmo se acurados, podem representar um período da história do pano, produzido por poluentes. 3. O linho se originou do Oriente, não da Europa, o que é demonstrado pelo tipo de material e pelo modo de tecer utilizado. O pólen no pano é de origem oriental. 4. O barro encontrado no sudário é de um tipo raro (travertine argonite), conhecido somente em cavernas perto de Jerusalém e Damasco. 5. A imagem do sudário (um negativo fotográfico) pode ser vista somente a uma distância de mais do que dois metros, e não mais do que cinco. Um artista não poderia ter visto seu próprio trabalho, se não tinha braços mais longos do que dois metros t 6. Provas feitas pela N.A.S.A., COtI'. equipamento eletrônico, revelam uma imagem de três dimensões que não seria possível com uma pintura ou qualquer outra imagem superposta.

Estes e outros argumentos que Tribbe apresenta me convencem de que a solução deste problema ainda não foi encontrada. O Sudário de Turim apresenta muitos mistérios. Certamente, os debates continuarão. Esboço: I. Informações Preliminares 11. Um Corpo Embaixo Daquele Pano I1I.Uma 'Semelhança Verdadeira' IV.Energia Radiante V. A Iluminação da Fé I. Informações Preliminares Do lado de fora da catedral de estilo florentino em Turim, Itália, a fila se estende por mais de dois quarteirões. Dentro, peregrinos em grupos de 100 se alinham silenciosamente em frente de uma vitrina à prova de bala, dramaticamente iluminada, montada sobre o altar. O objeto de sua curiosidade sossegada é um linho de 14 pés de comprimento contendo uma imagem vaziamente discernível de um homem aparentemente crucificado. Conhecido como o Santo Sudário de Turim, e acreditado por muitos como sendo a real veste funerária de Jesus Cristo, a relíquia é a mais famosa da cristandade e o desafio mais irritante para a ciência moderna. Para marcar o 400 0 aniversário da chegada do sudário em Turim, a relíquia foi colocada em uma rara mostra pública, a primeira em 50 anos. Quando a exibição se encerrar a 7 de outubro, mais de 3 milhões de pessoas deverão ter passado em testemunho. As reações delas são, pode-se dizer, variadas. "Eu era capaz de ver a face de Cristo", proclamou uma freira espanhola na semana passada. "Tudo é loucura", encolheu os ombros um estudante francês de 18 anos de idade. "Para mim é somente outra peça de roupa". Os veredictos mais cruciais, entretanto, não serão dados até o final da exibição. Se o arcebispo de Turim, Anastásio Ballestero, consentir, grupos de cientistas convidados para ir à cidade pelo Centro Internacional de Sindonologia (estudos de sudário) começarão a conduzir experiências altamente delicadas sobre a antiga, mas durável da roupa. Armados com equipamentos sofisticados da era espacial, os cientistas colherão dados que, eles esperam, finalmente desvendarão os segredos do sudário. Testes anteriores já foram desgastados pelo ceticismo natural de alguns cientistas. Diz Kenneth Stevenson, o coordenador da unidade americana de sindonologistas: "Baseados na evidência científica da data, a maioria de nós concordaria que ele é a autêntica roupa funerária de Jesus Cristo". Para o observador normal ver não é necessariamente acreditar. Para o olho nu, o sudário revela duas linhas paralelas de marcas chispadas, os resultados de um fogo quase desastroso no século XVI, compondo o contorno assombreado de um corpo humano em direção ao centro do linho. Mas como o seu primeiro fotógrafo - um advogado italiano - descobriu há 80 anos, o sudário age como um filme fotográfico. Quando o pano é fotografado, o negativo fornece uma imagem positiva de detalhe fino. Grandes aplicações de negativos em exibição em um anexo da catedral mostram umafiguramasculinade aproximadamente 5 pés e 11 polegadas de altura, deitada em repouso com suas mãos cruzadas sobre seu pélvis e seus pés cruzados nos tornozelos. Ele é barbado e seu longo cabelo está enrolado em trança-uma moda entre os homens judeus nos tempos bíblicos. Os detalhes anatômicos acentuadamente precisos têm impressionado os físicos. A face e o corpo são marcados por ferimentos e lesõesem misteriosa correspondência com os relatos evangélicos do flagelo e crucificação de Jesus.

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SUDÁRIO DE CRISTO A parte posterior está coberta com sinais de marcas em forma de halteres sugerindo açoitamento por um flagelador romano. Ambos os ombros estão machucados pelo peso de um objeto pesado, como uma cruz. Os punhos e os pés estão furados e, entre a quinta e a sexta costela no lado direito do corpo há urna ferida inclinada que poderia ter sido feita por uma lança. Um grupo final de detalhes distingue o homem do sudário de um criminoso romano comum crucificado. Existem aparentes manchas de sangue na linha do cabelo e fronte, como se fossem causadas por urna coroa de espinhos. 11. Um Corpo Embaixo Daquele Pano Pesquisadores já dissolveram a explicação mais óbvia para a imagem do sudário-de que seja uma fraude perpetrada por algum astuto pintor medieval. Análise química falhou em descobrir mesmo uma única partícula de tinta Além disso, tal artista deveria ter sido não somente exímio estudante de anatomia e patologia, como também teria que entender os princípios de fotografia cinco séculos antes da invenção da câmera. Em adição, estudos recentes usando um analisador de imagem da agência espacial dos EUA, demonstraram que as marcas contêm informação tridimensional sobre o homem do sudário, um efeito que nem pinturas nem, técnicas fotográficas convencionais poderiam atingir. E tecnicamente impossível, de acordo com a nossa pesquisa, para um falsário fornecer uma perfeita tridimensional imagem em um pedaço de pano", diz Stevenson. "Além disso, nós podemos concluir que havia um corpo embaixo daquele pano". As questões-ehaves levantadas pelo sudário são: Quantos anos ele tem? De onde ele veio? E o mais intrigante de tudo, como a imagem nele foi formada? Dados históricos confiáveis mostram que o sudário foi pela primeira vez colocado em exibição no século XIV, na França, pela viúva, necessitada, de um homem chamado Geoffrey de Charny. Foi uma rápida retirada, entretanto, depois que um bispo reclamou que um sudário com tal imagem poderia não ser autêntico porque não está mencionado no Evangelho. Nos anos recentes, exames cuidadosos do material do sudário colocaram sua manufatura no Oriente Médio do tempo de Cristo. Em um estudo de nove anos do pó tirado do sudário, o criminologista suíço Max Frei descobriu concentrações de pólen semelhantes àquelas encontradas quase que exclusivamente no Mar Morto na área da Palestina. "Se o sudário for genuíno, o que eu acredito que seja, teria 2000 anos de idade" conclui Frei. 111. Uma 'Semelhança Verdadeira' A pesquisa do Frei dá crédito à teoria das origens do sudário proposta por Ian Wilson da Grã-Bretanha, um jornalista histórico largamente respeitado. Em seu livro recentemente publicado, "O Sudário de Turim", Wilson argumenta que a relíquia bem que poderia ser o legendário Mandylion, um pano misterioso que os cristãos orientais ortodoxos há muito consideraram como portador de "semelhança verdadeira" com Cristo. Wilson acredita que o sudário foi levado por um discípulo de Cristo para Edessa (agora Urja na região Anatoliana de Turquia) algum tempo antes de 50 d.C., como um brinde para o rei cristão da cidade. Depois que a cidade cai u no paganismo, o sudário desapareceu até o sexto século, quando foi descoberto em uma cavidade de uma parede da cidade e recebeu o nome de MANDYLION. Em 944, o Mandylion foi levado para Constantinopla onde se tornou parte da coleção do imperador bizantino. Wilson sugere que os bizantinos possam não ter entendido que eles reverenciavam a imagem facial que

era um sudário em toda extensão porque ele estava dobrado para que somente a face ficasse visível e então esticado em uma estrutura e circundado com uma moldura decorativa. Ele também sugere que a razão pela qual muitos retratos de Jesus depois do sexto século se assemelhassem entre si é por todos terem sido inspirados pelo Mandylion, que desapareceu no século XIII. Como Wilson reconstrói sua história subseqüente, o Mandylion pode ter sido transportado por um Cavaleiro Templário e ancestral de Geoffrey de Charny, cuja viúva o colocou brevemente em exibição. Finalmente, em 1453, o sudário foi levado para a Casa de Savóia, que o manteve desde então. IV. Energia Radiante Para os cientistas, o único método seguro de determinar a data do sudário é através de um teste carbono 14, que os oficiais da igreja têm há longo tempo rejeitado porque poderia danificar uma grande parte do pano. Cientistas americanos, entretanto, estão aperfeiçoando uma forma de teste de carbono 14, que exigiria somente 5 milímetros de amostra. Enquanto isto, outros cientistas deram ao arcebispo de Turim uma longa lista de solicitações. Alguma esperança de expor o sudário a uma microexperiência de íon, que pode achar vestigios de uns 30 elementos em um único fio de cabelo humano, para provar sem dúvida a ausência de tinta. Um teste envolvendo análise de ativação de nêutron poderia determinar se há sangue humano no pano. Em complementação, os cientistas esperam conduzir experiências no sudário usando raios X fluorescentes e fotomicrografia, assim como examinar o avesso do pano com instrumentos óticos flexíveis. O último enigma, é claro, é justamente que processo imprimiu a imagem humana no sudário. Confrontado com nenhuma outra explicação, alguns cientistas concluíram que pode ter sido causado por um flash de energia radiante. O químico-térmico Ray Rogers do Latoratório Científico Los Alamos - um dos 30 sindonologistas que examinou o sudário ~ sugere que a imagem tenha sido impressa por uma intensa queima de luz ou "fotólise flash" - um conceito que enreda confortavelmente a pintura tradicional de um brilhante Cristo ressuscitado saindo do túmulo. V. A Iluminação da Fé Ironicamente, tais conclusões vêm de cientistas precisamente quando muitos teólogos se tornam relutantes em afirmar a ressurreição fisica de Jesus. O Evangelho testemunha que a crença de um discipulo duvidoso foi reavivada somente depois de ele ter colocado sua mão no ferimento da lança de Cristo ressuscitado. Se o sudário de Turim aparecesse como a roupa funerária de Jesus, sem dúvida ajudaria a escorar o compromisso cristão dos "Tomés" duvidosos de hoje. Mas ainda tal dúvida não provaria conclusivamente que a Ressurreição ocorreu. Este é um mistério que sempre exigirá a iluminação da fé. Artigo usado pela gentil permissão de Newsweek Magazine, 18 de set., 1978. Outras Informações A mortalha de Turim: Há algumas evidências científicas convincentes de que esse pano de certa feita envolvera o corpo de um homem crucificado; e muitos o têm aceito como a mortalha autêntica de Cristo, embora nenhum grupo eclesiástico lhe tenha dado sanção oficial. Atualmente se encontra encerrada em um cofre-forte, por trás do altar da catedral de S. João Batista, em Turim, na Itália. Tem estado ali por mais de duzentos e cinqüenta anos. Tem 4,20 m de comprimento e 9,90 m de largura, feito de linho, onde se estampam os contornos frontal e

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SUDÁRIO DE CRISTO - SUFE dorsal de um homem crucificado. São Nino, do século IV d.C., diz-nos que Pedro guardara a mortalha de Cristo; mas em seus próprios dias, não sabia se esta havia sido descoberta ou não. A tradição revela que trezentos anos mais tarde, apareceu em Jerusalém, onde foi vista pelo bispo Arculfus. Ficou ali guardada por quatrocentos anos. No fim do século XI encontrava-se em Constantinopla; e após o saque da cidade, pelos cruzados, desapareceu para reaparecer na França. A partir desse ponto, há uma história razoavelmente curada e historicamente digna de confiança a respeito dessa mortalha. Era propriedade dos duques de Savóia, ancestrais do rei Vítor Emanuel, da Itália. No século XIV, houve a primeira controvérsia eclesiástica sobre ela. Em 1898, o cavaleiro Pia, um rico fotógrafo amador recebeu autorização para fotografá-Ia, e, para seu espanto, quando a imagem estampada na mortalha ficou revertida na chapa negativa, pareceu o retrato de um homem crucificado. A mortalha se transformara em uma chapa fotográfica negativa, através dos elementos químicos pelo corpo que antes envolvera. Subseqüentemente se comprovou, mediante testes feitos em panos de linho, que essa imagem negativa poderia ser produzida usando-se os elementos químicos emitidos por uma pessoa em grande padecimento. Os ferimentos nas mãos (realmente nos pulsos), as marcas dos espinhos, os ferimentos nos pés, a ferida no lado, tudo é claramente visível. As reações químicas gravadas no pano de linho indicam que a pessoa ali contida estava realmente morta, mas que pouco depois a pessoa deve ter deixado os panos (ou deve ter sido tirada dos mesmos), pois do contrário o processo fotográfico negativo teria sido borrado pela continuação das reações químicas. O corpo que ali esteve contido tinha aproximadamente 1,73 m de altura Jamais poderemos saber se essa mortalha foi aquela em que o corpo de Jesus foi enrolado; mas é possível que se trate de uma das poucas relíquias que possuímos da vida de Cristo. (Extraído de Between Two Worlds, de Nandor Fadar, págs. 265-268).

SUDÁRIO DE TURIM Ver sobre Sudário de Cristo.

SUDIAS Forma alternativa para Hodavias (I Crô, 5:24), nos livros apócrifos.

SUDRA Esse é o nome da mais inferior das quatro castas tradicionais da sociedade indiana Seus membros ocupam-se em trabalhos braçais humildes, que ninguém mais haveria de querer fazer. Porém, ainda baixo deles, na escala social, acha-se a casta dos intocáveis, embora os sudrasjá sejam tão humildes que é dificil estabelecer qualquer distinção entre essas duas castas. A crença hindu na reencarnação (vide) encoraja as pessoas a aceitarem sua baixa posição social como algo merecido. Mas, nos tempos modernos, alguns filósofos hindus têm posto em dúvida todo esse sistema de castas, exigindo uma maior dignidade humana do que aquela refletida no sistema de castas. Ver o artigo geral intitulado Castas.

SUETÔNIO Seu nome latino era Gaius Suetonius Tranquillus, que se tomou um dos famosos escritores romanos. Nasceu no trágico "ano dos quatro imperadores" (69 d.C.), e faleceu em cerca de 140 d.C. Foi um dos poucos escritores romanos que nasceu na cidade de Roma Pertencia à classe eqüestre, era praticante de direito e, por algum tempo, foi secretário particular do imperador Adriano, que reinou entre 117 e 138 d.C.

Suetônio deixou muitas obras, dentre as quais a mais famosa, Vida dos Césares, que sobrevive até nós quase intacta, no tocante aos imperadores romanos Júlio César a Domiciano. Essa obra exerce imensa influência desde a antigüidade. A historiografia romana, precisamente por causa dela, tomou-se muito mais biográfica. Embora não tivesse sido nenhum grande historiador, Suetônio se esforçava por escrever com objetividade. O material por ele coligido reveste-se de imenso valor histórico, embora um tanto tendencioso e injusto em certos lances. Para os estudiosos do Novo Testamento, Suetônio é uma figura muito interessante por haver feito referências a Cristo (ao qual, erroneamente, chamou de Crestos), além do fato de que ele confirma a expulsão dos judeus, da cidade de Roma, por ordem do imperador Cláudio (ver Atos 18:2 e C/áudio 25:4).

SUFÁ No hebraico, "serpente". Era um dos filhos de Benjamim, filho mais novo de Jacó. Seus descendentes eram chamados sufamitas (Núm. 26:39). Supim e Hupim, em lugar dos sufamitas, aparecem em I Crônicas 7: 12 como filho de Ir, da tribo de Benjamim. Sesufá ("serpente"), filho de Bela, é o nome desse descendente de Benjamim, em uma outra lista genealógica (I Crô, 8:5). De acordo com as diversas listas genealógicas sobre a tribo de Benjamim, parece haver uma tendência para o emprego de pares de nomes de sons similares, com a ocorrência de algumas variações. Para exemplificar, na lista do livro de Números, encontramos Sujã e os sufanitas (Núm, 26:39), como também Hufã e sufamitas. No sétimo capitulo de I Crônicas, encontramos as formas mais abreviadas de Supim e Hupim, como também Husim (I Crô. 7:12). Mupim e Hupim aparecem entre os filhos de Benjamim (Gên. 46:21). Parece ter havido a tendência para a simplificação e estilização dos nomes próprios. Isso explica, talvez, como Sesufá veio a assumir a forma de "Sufã", uma forma estilizada posterior do mesmo nome. Sujã viveu em cerca de 1630 a.C. De acordo com o trecho de 1 Crônicas 8: 1·5, Sesufá aparece não como filho de Benjamim, e, sim, como seu neto, filho de Bela. Isso não é para admirar nas listas genealógicas antigas, onde alguém podia aparecer como filho quando, na realidade, era seu descendente. Assim, teríamos Benjamim, Bela e Sufã, nessa ordem, cada um filho do anterior.

SUFÃ No hebraico, "tempestade" Assim diz a nossa versão portuguesa em Núm. 21:14. De acordo com esse trecho bíblico, era uma região dos moabitas, citada no livro das Guerras do Senhor. Nossa versão portuguesa diz ali: "Vaebe em Sufã...", o que tem causado confusão para muitos leitores da Bíblia em português. Os estudiosos vêm em nosso socorro esclarecendo que Vaebe seria uma cidade localizada na região de Sufã, A sua associação com o ribeiro do Amon sugere que a região ficasse a oriente do mar Morto, na área onde corriam o Amon e seus tributários. A versão portuguesa sem dúvida segue a Revised Standard Version, que diz "Waheb in Suphah", As versões mais antigas pensavam que se tratava de uma alusão ao mar Vermelho (yam Suph).

SUFE Essa palavra ocorre somente em Deuteronômio 1: 1, dentro da expressão hebraica yam suph, "mar de canas". Esse mar é de localização incerta, sabendo-se apenas que

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SUFICIÊNCIA DA RAZÃO - SUICÍDIO foi ali que Moisés expôs a lei de Deus diante do povo de Israel. A associação desse mar com Parã, com Hazarote, com Arabá, com o vale do Jordão e com o mar Morto, que se prolonga para o sul na direção do golfo de Ácaba, sugere que sua identificação com o mar Morto deva estar certa. Essa tem sido a interpretação de algumas versões, como é o caso da King James Version, em inglês. SUFICIÊNCIA DA RAZÃO Leibnitz afirmava que coisa alguma pode ocorrer sem uma razão suficiente que lhe dê impulso. Ademais, coisa alguma existiria sem alguma razão suficiente. Esse princípio tem sido usado como aliado ou elemento do argumento de causa, a fim de defender a idéia da existência de Deus, como também para ajudar na defesa da idéia de desígnio na criação, em contraste com a idéia do caos. Naturalmente, todas as formas de determinismo (vide) aceitam esse conceito. Ver o artigo separado sobre o Argumento Cosmológico. SUFISMO Essa designação parece derivar-se do termo árabe suf, "lã". A referência diz respeito às vestes de lã usadas pelos ascetas que criaram o sistema religioso. Pode-se fazer retroceder essa palavra até o século 11 d.C; quando surgiu, ainda de maneira informal, aquele sistema religioso. Suas ênfases recaem sobre o ascetismo e o misticismo. Após o surgimento do islamismo, os sufistas identificaram-se à divisão xiita desse movimento. O sufismo busca AlIah através do amor, da renúncia pessoal e das experiências místicas. Oferece orientações que pretendem permitir a seus adeptos a união com Deus. Como medidas preliminares, há uma lista de arrependimento, abstinência, pobreza, paciência, confiança, e, como é óbvio, a prática da lei do amor, sem a qual bem pouco pode ser realizado no campo espiritual. O amor é a chave da ética sufista. Tal como acontece com outras formas de misticismo, o sufismo tomou-se panteísta em sua expressão. A partir desse movimento (o que sucede com outros movimentos místicos) surgiu uma poesia grandiosa, que alguns consideram a mais elevada realização da literatura persa. A peça poética mais brilhante chama-se Sufi. A começar no século XII} o sufismo misturou-se com o hinduísmo, no norte da India, sendo assim produzida uma outra versão do hinduísmo místico. SUGESTÃO Essa palavra é usada em vários contextos com implicações morais e espirituais. A lavagem cerebral, por exemplo, usa sugestões de tipo violento, reforçada por procedimentos incomumente cruéis. O hipnotismo (vide) usa sugestões que podem resultar em atos úteis ou prejudiciais. Esse ponto tem sido muito debatido, mas parece que se sugestões forem apresentadas como não deve ser, atos errados podem daí resultar. Assim, um médico que convença a uma mulher sob hipnose de que ele é o marido dela, não terá dificuldades em obter favores sexuais da parte dela. Ou um homem, sob sugestão hipnótica, se for solicitado a matar a alguém que é caracterizado (falsamente) de ser um perigoso espião, a serviço de alguma potência estrangeira, não hesitará em fazê-lo, por razões patrióticas. Por outra parte, a auto-sugestão, com ou sem a ajuda da hipnose, pode melhorar o quadro mental que uma pessoa faz de si mesma, ajudando-a a agir melhor e com maior determinação, podendo interromper algum hábito que há muito a vinha vexando. Sugestões são usadas em conexão com os estados

alterados de consciência, que já não são a mesma coisa que os estados hipnóticos. Elas fazem parte da meditação de alguns, e coisas úteis têm sido obtidas por esse intermédio. Uma sugestão pode provocar sonhos instrutivos, que dêem orientações necessárias. Os propagandistas usam de sugestões, abertas ou sutis, no alardeamento de seus produtos, e as evidências comprovam a eficácia da prática. A eficácia da sugestão depende da autoridade asseverada pela pessoa que a faz, ou pela determinação do próprio individuo, quando se trata de auto-sugestão. A idéia de autoridade chega à mente subconsciente, onde exerce um poder que pode ser transmitido à mente consciente. A maioria das pessoas está sujeita ao poder da sugestão; e as crianças em grau extremo. Não é fácil mantê-la "convertida" mais tarde na vida, quando ela começa a tomar suas próprias decisões. Drogas são usadas para intensificar a sugestibilidade. Drogas como a escopolamina e o tiopental de sódio podem produzir estados hipnóticos quando as sugestões exercem considerável poder. Em algumas formas de neurose, de psicose, ou de simples exaustão, aumenta o poder da sugestão. Até a má nutrição (que debilita o sistema) favorece a eficácia das sugestões. Sugestibilidade Negativa. É curioso como, com freqüência, as crianças e certos tipos esquizofrênicos sentem sugestões, com um forte desejo de fazer o contrário do que é sugerido. No caso das crianças, suponho que essa reação deva-se ao desejo de liberdade e independência, condições essas de que as crianças não desfrutam muito, tentando obtê-Ias o máximo possível. SUICÍDIO Esboço: I. Definições e Causas 11. Idéias dos Filósofos a Respeito m. Idéias dos Teólogos a Respeito IV. Relações com a Eutanásia I. Definições e Causa O suicídio é "a autodestruição, mediante a supressão intencional da própria vida" (E). Essa autodestruição usualmente se faz mediante meios súbitos e violentos; mas também deve ser reputado suicídio genuíno o debilitamento proposital do próprio corpo, a exposição proposital a enfermidades fatais, embora esses métodos sejam mais demorados. Uma outra definição é a de "auto-assassínio", e a maior parte das religiões aceita essa noção. Podemos classificar o suicídio em dois tipos bem distintos: o convencional e o pessoal. O convencional ocorre como resultado da tradição e da opinião grupal ou pública. Um exemplo bem conhecido desse tipo de suicídio é o hara-kiri dos japoneses, o qual, sob certas circunstâncias, é chamado de "honroso", tomando ares de nobreza. Um nobre japonês, ao enfrentar a desgraça, ao tirar a própria vida é tido como alguém que praticou um ato louvável. A história mundial encerra muitos exemplos de mulheres suicidas, quando os costumes requerem que as mulheres sigam seus maridos na morte provocada. Entre os esquimós, o suicídio dos indivíduos idosos e incapacitados era e continua sendo algo sábio e esperado. Isso alivia a tribo de cargas desnecessárias, em uma sociedade onde a simples sobrevivênciajá um problema grave. Entre muitos povos há suicídios convencionais. A coisa chegou a um extremo que, na Índia, por exemplo, tal prática foi proibida pelos britânicos, em 1828, no tocante ao sati, ou seja, o sacrificio de uma viúva hindu, sobre a

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é

SUIcíDIO pira fúnebre de seu marido. Esse vocábulo, sati, significa "esposa fiel", pois fazia parte da noção de fidelidade à disposição de morrer ante a morte do esposo. Suicídios convencionais têm feito parte das práticas de muitas culturas antigas no Japão, na China, na India, e na porção noroeste da Europa. Os suicídios pessoais, por sua vez, são atos de iniciativa individual. Não resultam de qualquer costume, mas usualmente são provocados por algum senso de desespero. Além disso, atualmente várias drogas usadas pelas pessoas produzem impulsos suicidas. Alguns dados estatísticos, nos Estados Unidos da América do Norte, apontam uma taxa de suicídio de 10,6 pessoas para cada cem mil habitantes, anualmente. Essa porcentagem varia de ano para ano, embora não muito. Naquele país, a faixa de idade com maior incidência de suicídios é aquela entre os 45 ~ 54 anos. Esse país aparece no décimo quinto lugar entre os de maior taxa de suicídio do mundo. Mas os alucinógenos têm aumentado muito a taxa de suicídios entre os jovens, na maioria dos países do mundo. Entre 1950 e 1960, a taxa de suicídios entre crianças até os catorze anos de idade aumentou nada menos de trezentos por cento. Desde então, esse aumento tem sido alarmante. Organizações têm sido formadas exatamente com o propósito de ajudar às vitimas em potencial do suicídio. Uma pesquisa recente em uma grande (mas não identificada) cidade do estado de Massachussetts demonstrou que vinte por cento dos jovens daquela cidade já havia infligido contra si mesmos alguma forma de castigo corporal, embora sem chegar ao nível de gravidade do suicídio. Sem dúvida, não se deve pensar em causas econômicas naquele caso. Antes, por trás de tudo isso está o abuso com drogas de todas as variedades. Causas. Com freqüência, as causas do suicídio são bastante óbvias; mas, algumas vezes, não há causas aparentes. Talvez os sociólogos estejam com a razão ao afirmarem que o suicídio é uma espécie de auto-recolhimento, tendo as mesmas causas de qualquer outra fuga, exceto que se trata de algo radical e permanente. Assim, o suicídio é uma fuga de qualquer situação intolerável, como problemas financeiros, problemas amorosos, problemas sociais, desgraça pessoal, sentimentos de temor e de inadequação. Certamente é verdade que há pessoas que simplesmente não têm a fortaleza nervosa para tolerar as modernas condições de vida, incluindo a situação criada por uma sociedade impessoal, mecanicista, onde parece que ninguém se importa se alguém vive ou morre. As neuroses e os desequilíbrios mentais entram com sua parcela nos casos de suicídio. Alguns suicídios, mui provavelmente, são assassinatos simbólicos. O suicida queria que outrem morresse ou sofresse, mas voltou-se contra si mesmo. Ou, então, mesmo sem qualquer idéia de sofrimento infligido a outrem, o indivíduo de mente desequilibrada pode imaginar que feriu a outra pessoa com a sua própria destruição. Talvez esse tipo de suicídio pareça um caminho mais fácil, diante da própria consciência, em vez de matar a pessoa odiada. Também devemos pensar na causa das "grandes reversões" quando as esperanças e ambições de alguém são destruídas, quando aquilo pelo que alguém tanto lutou é subitamente perdido, ou fica fora de alcance, de forma aparentemente permanente. As pessoas que vivem somente para o dinheiro podem sentir que a continuação da vida torna-se insuportável quando desaparecem as riquezas materiais, ou quando o dinheiro esperado não é ganho. Em alguns poucos casos, que aqui destacamos, o

suicídio é uma forma de auto-expiação, Um indivíduo pode ter cometido algum grave erro, ou pode ter acumulado muitos erros, e está levando consigo uma pesada sensação de culpa, e acaba se matando. Uma pessoa que não mais se respeite pode se matar, em atitude de desespero. Também há casos de suicídio resultantes de um senso distorcido de altruísmo. "Minha esposa ficaria melhor sem mim", pensa um homem. Talvez esse homem faça um seguro de vida em favor de sua esposa, em vez de tirar a própria vida; mas outros fazem exatamente o oposto. Também há pessoas que não se dispõem ou talvez mesmo não possam enfrentar a idade avançada e seu declínio fisico, mental e financeiro. Entretanto, é significativo que as taxas de suicídio não têm declinado, em muitos países, à medida que a prosperidade bafeja suas respectivas populações. De fato, os próprios meios que as pessoas empregam para produzir a prosperidade material também servem para desequilibrar seus sistemas nervosos, do que resultam suicídios. A quantidade de dinheiro que uma pessoa tem ou deixa de ter não parece ser uma causa principal de suicídios, embora exerça sua influência quanto a isso. Há casos reais de nobre suicídio, Ocasionalmente, lemos sobre alguém que sacrificou a própria vida a fim de salvar a outra pessoa. Talvez a outra pessoa se estivesse afogando ou prestes a sucumbir em um incêndio. Mas eis que alguém se dispôs a perder a própria vida a fim de salvá-la. Nenhuma idéia de culpa pode ser vinculada a essa forma de perda da própria vida. Talvez, generalizando, possamos asseverar que o suicídio é uma espécie de pervertida solução para os problemas da vida. O suicídio pode ser uma maneira das pessoas exprimirem ódio, anularem o senso de culpa, fugirem de seus problemas, escaparem da solidão, cancelarem o temor ou a dor física, expiarem por sentimentos de culpa ou proverem meios de subsistência a outrem. 11. Idéias dos Filósofos a Respeito 1. Sócrates negava que o homem tenha o direito de cometer suicídio. Segundo ele raciocinava, o homem é propriedade dos deuses, e a vida e a morte dependem deles, e não da vontade humana. Ele pensava que sempre será melhor sofrer do que cometer um mal, e o suicídio é um mal, pelo menos na maioria dos casos. 2. Os estóicos, em contraste com Sócrates, glorificavam o suicídio como demonstração suprema da independência do homem, ou como mostra de apatia acerca de seus temores comuns (o maior dos quais é o temor da morte). Mediante o suicídio, o homem também dá uma demonstração prática do controle que exerce sobre a vida, através da razão. Esse sistema sentia que há razões adequadas para o suicídio, afirmando que os homens bons saberão quando chegam tais circunstâncias. Entre essas razões estaria o desejo de escapar dos anos de declínio, ao mesmo tempo em que se provaria a imortalidade da alma, em parceria com a apatia acerca do corpo e suas exigências. 3. Schopenhauer, embora pregasse uma doutrina de futilidade e desespero, opunha-se ao suicídio sob a alegação de que esse ato representa os desejos do indivíduo, e não um verdadeiro ato de renúncia. O suicídio, pois, refletiria uma falta de disciplina. Outrossim, ele acreditava em uma fútil forma de reencarnação. Assim, o indivíduo que se suicida é forçado a voltar, encontrando situações tão ruins ou mesmo piores do que aquelas de que esperara escapar. 4. Alberto Camus, embora reconhecendo o absurdo envolvido, muitas vezes, na própria vida, argumentava que o suicídio é uma reação inadequada para esse absurdo. A

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SUICÍDIO verdadeira reação humana seria "viver" em plena consciência aquele absurdo. 111. Idéias dos Teólogos a Respeito Na teologia, a vida é dom de Deus, e devemos ter cuidado acerca de como tratamos esse dom. Os primeiros pais da Igreja permitiam o suicidio somente em circunstâncias muito específicas e limitadas; mas a maioria dos teólogos cristãos tem classificado o suicídio como uma forma de homicídio. Agostinho negava que o suicidio seja legítimo, sob qualquer circunstância, e Tomás de Aquino o secundou. Ele expunha estes três princípios gerais contra tal ato: 1. O suicídio é desnatural e contrário ao amor, que o indivíduo deveria ter para consigo mesmo e para com o próximo. 2. É também uma ofensa contra a sociedade, pois ninguém vive para si mesmo, como também ninguém morre para si mesmo. 3. O suicídio usurpa o poder de Deus, o único que pode tomar as decisões acerca de quando o homem deve viver ou morrer. Os teólogos católicos romanos, naturalmente, têm tomado a posição de Tomás de Aquino, como também os teólogos protestantes conservadores. Alguns estudiosos protestantes têm promovido a eutanásia, uma questão crítica em nossos próprios dias. Ver sobre a Eutanásia. Razões Morais contra o Suicídios: I. O sexto mandamento, Êxo. 20: 13 (comparar com Gên. 9:6), é um texto de prova geral contra o suicidio, porquanto todos sentem que o suicídio é uma forma de homicídio, envolvendo os mesmos fatores que aqueles acerca do homicídio em geral. 2. O argumento baseado no desígnio. Há um tempo de nascer e um tempo de morrer. Oindivíduo não tem o direito de perturbar esse cronograma, nem quanto ao próximo e nem quanto a si mesmo. 3. O argumento baseado no altruísmo. A maioria dos suicidas poderia ter revertido suas tendências autodestrutivas se tivessem começado a importar-se com outras pessoas e servi-Ias. Nisso encontrariam muita razão para continuar vivendo. O suicídio interrompe a oportunidade de o indivíduo viver a lei do amor, em beneficio do próximo. 4. O argumento baseado na tristeza e no opróbrio. Poucos suicídios deixam de entristecer as pessoas associados aos suicidas; e quase todos os casos de suicídio envolvem vergonha. Portanto, usualmente o suicídio é um ato egoísta, próprio de quem não se importa com outras pessoas. 5. Uma distorção de valores. A pessoa que acaba suicidando-se cultivou uma vida caracterizada por valores distorcidos. O fracasso do indivíduo em obter certas coisas, ou a perda de coisas já obtidas, ou a angústia mental resultante de falsos padrões j amais poderá justificar aquilo que é moralmente equivalente ao homicídio. 6. A preciosidade da vida humana é tal que o suicídio alinha-se entre as grandes imoralidades da experiência humana. A vida é um dom de Deus e não pode ser tratada com negligência. Ninguém tem o direito de cortar a vida de outrem, e nem mesmo a sua própria vida, a qual é dom de Deus tanto quanto a vida de outrem. 7. O cumprimento da missão de cada um requer que a vida seja usada em toda a extensão possível. Há lições a serem aprendidas e coisas específicas a serem realizadas. O senso de missão sempre deveria incluir um serviço altruísta em favor do próximo, ou seja, o viver segundo a lei do amor. O suicídio, pois, destrói a missão e o amor. Quando o Suicídio é Permissível? Alguns filósofos e teólogos têm argumentado que o suicídio é permissível, em algumas circunstâncias: 1. Um espião que esteja servindo a seu país, contra algum poder mau, se chegar a cair em mãos do inimigo, fará um

nobre serviço se vier a sacrificar a sua vida, de modo a não ser forçado a dar informações que prejudicariam a muitas pessoas. Nesse caso, o suicídio é um ato de amor e compaixão, não pelo próprio indivíduo, mas por outras pessoas. 2. Aqueles que tentam salvar a vida alheia, como nos casos de acidentes e emergências, ou como quando alguém se apresenta voluntariamente para experimentar drogas perigosas que põem a vida em risco, estão cumprindo um nobre serviço. Ninguém acha falta no indivíduo que se afoga na fútil tentativa de salvar a outrem, mesmo que, desde o começo, fossem mínimas as possibilidades de sobrevivência, o que envolve certa forma de suicídio. 3. Alguns líderes espirituais pensam que se uma pessoa está com uma enfermidade terminal, sofrendo muitas dores, não é errado cortar a própria existência, mediante um ato de suicídio. Naturalmente, isso envolve a eutanásia, que é questão muito debatida pelos filósofos morais e pelos teólogos. Usualmente, em tais casos, a dor é o grande fator decisório. Se uma enfermidade terminal não produz grande sofrimentos, e o que a vítima passa é apenas uma forma inútil de vida (de acordo com a avaliação da própria vítima), então quase todos os envolvidos mas não todos deixam de apoiar a eutanásia. Uma pessoa paralisada, para exemplificar, mas que não sofra dores, poderá pensar que sua vida é apenas uma carga para outras pessoas, uma carga inútil. E então poderá ansiar por fim a tal futilidade. Poderá faze-lo com razão? Essa pergunta é muito debatida, e eu mesmo não tenho uma resposta insofismável para a mesma. IV. Relações com a Eutanásia A palavra "eutanásia" significa, literalmente, "boa morte", ou seja, relativamente destituída de dor, uma morte infligida por motivo de misericórdia. A própria pessoa pode pedir para ser morta, mediante alguma droga que faça um trabalho rápido e fácil. Ou os parentes de uma pessoa podem solicitar que isso seja feito. A eutanásia pode ser de dois tipos: ativa e passiva. Na eutanásia passiva não se tomam medidas heróicas para salvar a vida de uma pessoa; não são empregados equipamentos médicas para salvar a vida. Na eutanásia ativa aplica-se algum medicamento ou droga que provoque uma morte rápida. Alguns estudiosos são contra ambas as variedades de eutanásia, por acreditarem que a vida, quaisquer que fossem as condições, deveria ser prolongada a todo custo. Porém, nem todos compartilham dessa atitude. Alguns filósofos morais e teólogos favorecem a eutanásia ativa. Há médicos que a põem em prática, mesmo sem qualquer autorização, e, ocasionalmente, ouvimos falar de enfermeiras que tomam a questão na própria mão e, secretamente, põem fim a uma vida de sofrimentos intensos. Não é fácil julgar a moralidade de alguns casos, quando dor excruciante está envolvida. Tomei conhecimento de um caso assim, nas circunvizinhanças de onde eu e minha família morávamos, em Salt Lake City, Utah. Certa família tinha uma filha adolescente que estava sujeita a ataques de coração que provocavam dores horríveis. A vida dajovem era um reinado de terror. Certo dia, o médico estava assistindo a garota, em uma daquelas crises. Ele disse aos pais dela: Posso fazer parar essa dor; mas, se eu fize-lo, ela não voltará! (ou seja, ela morreria). Os pais da menina nada disseram; mas só se entreolharam. Após alguns instantes, assentiram ambos com a cabeça, um para o outro. E então o pai, sem dizer uma palavra, deu seu consentimento com um gesto de cabeça. O médico aplicou uma injeção fatal. A dor passou, e a alma da garota foi libertada. Assim, três pessoas tomaram uma vida nas mãos, a fim de fazer cessar a dor.

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SUICÍDIO - SUJEIÇÃO Agiram erradamente? Algumas pessoas dizem que "sim"; e outras dizem que "não". Estou inclinado a dizer que "não", embora não tenha certeza. Ver o artigo geral chamado Eutanásia. Naturalmente, a garota foi morta por um ato de misericórdia; mas, se a própria menina tivesse sido consultada e tivesse dado seu consentimento, então aquilo já teria sido suicídio. Talvez a moralidade, em qualquer desses casos, tivesse sido uma e a mesma coisa. (AM B E EPHP) SUIGENERIS Essas palavras latinas significam "de sua própria espécie" dando a entender algo que não pode ser posto dentro de alguma classe de coisas ou de idéias. A natureza de Deus é algo que pode ser chamado de sui gene ris . Em certo sentido, todas as almas são sui generis, visto que todas elas têm um propósito e uma missão ímpares, se isso for devidamente cultivado. Ver o artigo sobre Novo Nome e a Pedra Branca, o, quanto a esse ensinamento sobre as almas. SUJEIÇÃO ÀS AUTORIDADES HUMANAS I. Instruções de Paulo -Rom. 13: 1-10 Rom. 13: 1: Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. A teologiajudaica concordava de modo perfeito com essa forma de declaração, pelo menos em termos gerais e quanto à sua filosofia básica. Segundo o sistema teológico judaico, Deus era tão fortemente salientado como a grande e única causa que, virtualmente, não havia lugar para quaisquer causas secundárias. Deus, pois, era considerado não somente a causa primaria, mas também o princípio total de causa, como causa primária, formal, eficiente e final. Nele é que todas as coisas teriam origem e nele todas as coisas encontrariam o seu alvo. (Ver Rom. 11:36). Nele todas as coisas encontram o seu plano (causa formal), e através dele todas as coisas são produzidas ou realizadas (causa eficiente). Naturalmente, de acordo com tal ponto de vista, o poder civil nacional, estadual ou citadino, só podia ser encarado como um poder delegado por Deus. Se assim não fosse, então é que haveria causas estranhas à pessoa de Deus, e isso a teologia judaica não podia aceitar. Observemos esta passagem, abaixo citada, extraída do livro Sabedoria de Salomão, escrita em cerca de 50 a.C. a 40 d.C. que reflete o pensamento judaico sobre os governantes terrenos: "Pois vosso domínio vos foi dado da parte do Senhor. E vosso senhorio do Altíssimo. Ele examinará vossas obras e sondará vossos planos. Pois sendo servos de seu reino, não julgastes retamente, e nem observaste a lei, e nem seguistes à vontade de Deus. Ele virá contra vós terrível, e repentinamente, pois um juízo severo atingirá os que estão em lugares altos". lI. Detalhes e Implicações da Doutrina I. Limites. A obediência aos governantes humanos, em tempos quando a igreja não está sendo diretamente atacada, pode ser exagerada. Durante a Alemanha nazista, quando os judeus estavam sendo destruídos aos milhões, sabemos, através do testemunho de muitos que os cristãos da Alemanha, embora tivessem plena consciência dos horrores praticados por seu próprio governo contra seus cidadãos de origem judaica, não levantaram protesto algum, por medo e por não quererem envolver-se. E quando, finalmente, surgiram os primeiros protestos por parte de líderes cristãos alemães, contra a conduta desumana e brutal dos governantes nazistas contra os

judeus, esses protestos foram tardios demais, além de muito debéis. Para crédito dos cristãos alemães, devemos dizer que alguns poucos eclesiásticos alemães sofreram por causa da oposição que fizeram contra as perseguições contra os judeus. Assim, embora o quadro então dominante fosse tão negro, aqui e ali estamparam alguns lampejos de luz. As explanações do apóstolo dos gentios, pois, têm aqui um alcance limitado, embora isso de forma alguma dê razão àqueles que procuram proteger-se de todo o envolvimento najustiça social, ocultando-se por detrás de suas palavras tão gerais, que nos recomendam a obediência ao Estado. Tal obediência, de conformidade com os princípios éticos cristãos, não pode ser absoluta, a menos que as circunstâncias sejam relativamente favoráveis a essa espécie de obediência. O que Paulo queria era resguardar os crentes de seus dias contra a rebeldia insensata e contra a falta de respeito para com os governantes, com o propósito de preservar a paz entre a Igreja e o Estado, a fim de que o evangelho pudesse prosperar. 2. Comparações. Com este décimo-terceiro capitulo da epístola aos Romanos podemos comparar o trecho de I Ped. 2: 13-17, que reflete os pontos de vista petrinos sobre essa mesma questão. Surpreende-nos deveras que, mesmo após as severas perseguições contra o cristianismo terem começado, quando o governo imperial romano se transformara em um horrível monstro, e não mais protetor da nova religião de Cristo, os cristãos, de modo geral, continuavam mantendo o senso de dever e de respeito no que tange ao governo. Essa passagem da primeira epístola de Pedro foi escrita praticamente uma geração mais tarde que este décimo terceiro capitulo da epístola aos Romanos, o que nos permite entender que nem mesmo tão contrárias circunstâncias não haviam podido abalar a boa conduta geral dos crentes primitivos, no que diz respeito à obediência devida ao governo. 3. O crente, pois, que está se tomando cidadão do pais celestial, nem por isso cessa de ser cidadão do pais de seu nascimento ou do país que tenha adotado como seu. Está na obrigação, por conseguinte, de prestar às suas autoridades o devido respeito e obediência. E, se porventura não agir assim, estará labutando contra o senhorio de Deus, e não meramente contra a autoridade delegada aos homens, e isso servirá tão-somente para lançar opróbrio contra o governo de Deus e o nome de Jesus Cristo. 4. A Lei do Amor. Ora, tudo isso é apenas a expansão do ensinamento que aparece no décimo segundo capitulo desta epístola, acerca do amor cristão. O crente, portanto, tem a obrigação de cuidar do bem-estar de todos, incluindo a obrigação de amar a seus próprios inimigos, tudo com base no princípio do amor cristão. Assim sendo, não pode ignorar as leis do Estado, visto terem sido baixadas com o fim de preservar a ordem e o bem-estar da população em geral. Aquele que desconsidera essas leis, desrespeitando concomitantemente os líderes de sua nação, estado ou cidade, desconsidera igualmente o bem - estar da população. Ora, tal atitude sem dúvida não é ditada pelo amor cristão, amor esse que deve governar todas as ações do crente. Acima de todos, o crente deve ser uma pessoa patriota, visto ter mais razões e motivos para sê-lo que qualquer outra pessoa. 5. O exemplo de Jesus. Nada disso é contrário às alterações. Mas essas alterações devem ocorrer de forma ordeira, de conformidade com a lei, e não mediante a violência. O Senhor Jesus foi um pacifista, no que tange ao governo de seus próprios dias terrenos. Queria produzir

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SUJEIÇÃO - SULAMITA grandes transformações sociais, mas somente através de meios espirituais. Isso porque corações humanos transformados produziriam uma sociedade mais justa. Afinal de contas, a única transformação social permanente é aquela produzida através de homens transformados em seu coração. Todas as outras modificações sociais são artificiais e temporárias, exigindo supressão e violência para que sejam mantidas, conforme também a história mundial testifica abundantemente. A moralidade cristã, entretanto, pode produzir transformações sociais mediante a sua influência benéfica, mesmo quando os homens não são conduzidos aos pés de Jesus Cristo em grande número. Ora, é na direção dessa forma de transformação social que os crentes devem esforçar-se. Não obstante, a salvação das almas se reveste de muitíssima maior importância que qualquer alteração social, por mais importante que seja essa forma de alteração dentro de sua respectiva categoria. 6. Comentários. Sanday e Headlam oferecem-nos os seguintes pensamentos adicionais, no tocante aos propósitos desta seção do decimo terceiro capítulo da epístola aos Romanos: "O apóstolo agora passa dos deveres do crente individual para com a humanidade em geral para os deveres do crente para com certa esfera definida, a saber, para com os governantes civis. Apesar de nos aferrarmos ao que foi dito, acerca da ausência de um sistema claramente definido ou de um propósito bem definido nestes capítulos, podemos observar uma linha mestra de pensamento, através desses capítulos, que é a promoção de relações pacíficas em todas as relações da vida. A idéia do poder civil bem pode ter sido sugerida pelo versículo dezenove do capitulo anterior, que diz que esse poder civil é um dos ministros da ira e da retribuição divinas (ver Rom. 12:4). Seja como for, ajusta posição dessas duas passagens serve para nos lembrar que a condenação à vingança e retaliação individuais não se aplica à ação do estado, ao pôr as leis em vigor, porquanto o estado, nesse sentido, é ministro de Deus, sendo a justa justiça de Deus que opera através do mesmo". 7. O chamado direito divino dos reis é apoiado nesta seção, embora não em sentido absoluto, como imaginam tolamente alguns que têm pervertido e distorcido as palavras do apóstolo dos gentios neste particular. Alguns intérpretes têm pensado que essas instruções paulinas têm uma aplicação muito mais extensa e especializada (ao mesmo tempo) do que elas podem ter, conforme já tivemos ocasião de ilustrar nos comentários mais acima. Porém, quando o anticristo subir ao poder, obrigando os homens a aceitarem o seu ímpio domínio, começando sua tentativa de destruir a Igreja de Deus e a verdadeira fé revelada, será necessário que os homens piedosos lhe façam oposição. Paulo não poderia mesmo ter pensado de outra maneira, ainda que, excluindo a idéia absoluta ele teria confirmado o "direito divino dos reis". 8. Um caso do futuro. Esperamos ver o anticristo ainda em nossa geração. Seja como for, qua.ndo o anticristo aparecer, teremos a obrigação moral de nos opormos a ele, cada um à sua maneira, cada um em sua posição social, conforme as suas oportunidades individuais e conforme ditarem as necessidades, Em tempos normais, entretanto, devemos tomar a sério os mandamentos paulinos aqui exarados, acerca de nossas obrigações para com o governo civil. (18 ID LAl\í NTI) SUJEIÇÃO DA CRIAÇÃO Uma Sujeição Misericordiosa: Romanos 8:20 1. O pecado foi que provocou o caos. Há apoio rabínico para ambas as idéias de que o pecado de Adão e os pecados

dos homens, coletivamente considerados, produziram o julgamento divino contra o cosmos. (Ver Rom. 5: 12 quanto ao "caos" provocado pelo pecado, ver Gên, 3: 17, 18 e 11 Esdras 7:11,12,25). 2. Entretanto, foi o próprio Deus quem sujeitou a criação inteira à inutilidade e ao caos. Isso foi certa medida de juízo, mas não destituída de misericórdia, conforme fica demonstrado pelo texto à nossa frente. O trecho de Rom. 11:32 afirma o princípio do bem através do julgamento., e de maneira enfática. Deus sujeitou a criação à vaidade, à inutilidade, como um juízo remedial. Que os juízos divinos não são meramente retributivos, torna-se claro por essa circunstância, o que é reiterado em I Ped. 4:6 onde se acha esse tema 3. A passagem de 11 Esdras 13:26 contém o princípio da liberação da criação através do Messias; e o trecho de Isa. 65: 17 também o contém. (Ver Apo. 21: 1 e Isa. 55: 12,13, nessa conexão). Por outro lado, não há qualquer motivo para limitarmos o sentido da palavra criação que aqui aparece, apenas ao mundo dos homens e ao seu meio ambiente material. Também é doutrina bíblica comum que a queda dos anjos provocou gigantescas perturbações nas dimensões celestiais, tendo sido enganado um terço do total dos seres angelicais, tendo seguido a Satanás. (Ver Apo. 114). Outrossim, na pessoa de Cristo, conforme lemos no primeiro capítulo da epístola aos Efésios, haverá a restauração da dignidade perdida nos céus, verdade essa que, por igual modo, fica entendida em Heb. 9:23, onde a "purificação" da contaminação causada pelo mal, nos lugares celestiais, é especificamente aludida. SUL Definir as direções, em uma época que desconhecia a bússola, constituía um problema difícil. As direções leste e oeste podiam ser vinculadas ao nascer do sol e ao pôr-do-soI. A direção norte, quando uma pessoa se postava com o rosto voltado para o nascer do sol como era comum fazer, era chamado de direção "esquerda". E a direção sul, logicamente, era a direção "direita". Entretanto, mais comum ainda era chamá-lo de Negeb, "ressecado", porquanto descrevia a região semidesértica, que ficava na região sul de Israel. Na atualidade, no moderno estado israelense, o nome Negeb indica toda aquela região. No Novo Testamento, o termo grego nó/os indica tanto o ponto cardeal "sul" quanto o "vento sul" (cf. Luc. 12:55). Esse vocábulo grego aparece por sete vezes: Mat. 12:42; Luc. 11:31; 12:55; 13:29; Atos 27: 13; 28:13 e Apo. 21: 13. A fronteira sul do reino de Israel (ou de J udá, mais tarde), era um tanto indefinida, porquanto consistia em uma região desértica e erma, não havendo qualquer característica topográfica precisa. Logo adiante vagueavam tribos aguerridas, como a dos amalequitas. O antigo povo de Israel aprendeu a esperar daquele lado um estado permanente de conflito armado. E também era dali que vinham efeitos climáticos desfavoráveis à agricultura. Ver sobre Tempestade. Eliú referiu-se ao "pé de vento", que soprava da direção sul (Jó 37:9). E o trecho de I Samuel 30: 1 reflete as condições de fronteira perturbada que havia no sul de Israel. SULAMITA No hebraico, "mulher de Sulérn". Há uma variante Sunamita, que significa "mulher de Suném", Nossa versão portuguesa prefere a primeira forma (Can. 6: 13). Os estudiosos variam de opinião se Sulamita é o nome ou o título de uma donzela. O intercâmbio entre o "I" e o "n" é

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SULAMITA - SUMÉRIA comum nos idiomas semíticos. Portanto, não devemos estranhar a variante. À luz desse fato, tem sido sugerido que visto que Abisague (em I Reis 1:14,15; 2:17-22) é chamada de "sunamita", talvez ela tenha sido a mesma que é chamada "sulamita" em Cantares 6:13. Era comum os reis da antigüidade herdarem o harém do monarca anterior, tendo sido esse o motivo pelo qual Absalão cometeu incesto com as concubinas de seu pai, estando este ainda vivo (11 Sam. 16:22), quando tentou eleger-se rei de Israel. Mas Salomão, na qualidade de sucessor de Davi, deve ter ficado com Abisague, juntamente com outras mulheres do harém de Davi. Uma outra mulher "sunamita", isto é, natural ou habitante de Suném, foi a mãe do menino que o profeta Eliseu ressuscitou (11 Reis 4:8 ss). Era uma mulher rica que preparou para o profeta um aposento sobre o eirado. O menino, provavelmente vítima de insolação, foi ressuscitado pelo profeta. Alguns estudiosos também têm proposto que sulamita seria um título feminino correspondente ao nome masculino Salomão. Um outro caso seria "Judite", a forma feminina de Judá. Nesse caso, sem qualquer emenda gramatical, o nome "sulamita" poderia ser grafado como "Selomita", Ora, o nome hebraico "Shelornith" aparece no grego como "Salomé", o que significaria "Solomonesa", "rainha" ou "princesa". Porém, temos de admitir que nisso tudo há um inequívoco elemento de especulação. SULCO O sulco é a pequena valeta feita no chão pela ponta de um arado. A palavra hebraica telem indicava "campo arado". Na antigüidade, o arado algumas vezes era feito de madeira. Após os dias de Davi, começaram a ser feitos arados de metal, embora continuassem sendo feitos arados de madeira. Ver Sal. 129:3; 1 Sam.14:14;J631:38;39:1O; Osé. 10:4 e 12: 11. Quando os sulcos ficavam cheios de água, isso servia de sinal das bênçãos divinas (Sal. 65: 10). O ato de fazer sulcos no chão simboliza a preparação para o próprio trabalho, o cultivo dos próprios ideais. A idéia de cultivo pode representar a reprodução das espécies, visto que um sulco pode representar, nos sonhos e nas visões, os órgãos sexuais femininos externos. O ato de tornar a arar pode indicar a tentativa de refazer alguma coisa, de melhor maneira, tornando-a mais proveitosa e útil.

SUMATEUS Juntamente com os itritas, os puteus e os misraeus, dos quais descenderam os zoratitas e os estaoleus, os sumateus eram uma das familias calebitas que habitaram em Quiriate-jearim (I CrÔ. 2:53). SUMÉRIA I. Nome 11. Localidade Ill.Observações Históricas IV.A História da Inundação Suméria V. Religião I. Nome O nome sumério é kengir; o acádico é sumeru. O significado é incerto. Estudiosos mais antigos identificaram essa palavra com o termo bíblico Sinar, de Gên. 10.10, mas estudiosos modernos rejeitam essa idéia. Há, contudo, algumas palavras emprestadas no hebreu da linguagem da Suméria: henkal (local, templo); tipsar (escriba); ma//ah (marinheiro); mais vários nomes de especiarias, plantas,

minerais e outros produtos. Alguns estudiosos também insistem que várias idéias do Antigo Testamento se originaram desse povo, que foram recompensados pelos hebreus. 11. Localidade A Suméria é o nome dado para identificar as planícies inferiores da Mesopotâmia. Juntas, a Suméria e a Acádia ocuparam toda a terra entre os rios Tigre e Eufrates, abaixo de sua convergência mais próxima perto de Bagdá. A Suméria ocupava uma área entre a cidade de Nipur (Niffer) ao nordeste e a linha costeira do Golfo Pérsico ao sudeste. Rio acima de Nipur localizava-se a terra dos acadianos. Nessa área relativamente restrita surgiu a Babilônia posterior e maior. Centros culturais da Suméria eram Quis (Tell elOhemir); Quide Nun (Jembet Nasr); Nipur (Niffer); Lagase (Telloh); Uruque (Warka); Ur (Tell Muqayyir); Eridu (Abu Shahrain); Surupaque (Fara); Larsa (Senkere) e Uma (Jocha). Apenas dois desses nove centros (cidades) são mencionados no Antigo Testamento: Ereque (Uruque) e Ur. Este último local era o lar de Abraão antes de sua visita histórica à Palestina. Foi na Suméria que surgiu a primeira civilização conhecida do mundo. Sua cultura estava destinada a influenciar os povos de nações e impérios posteriores, inclusive os hebreus. O moderno Iraque essencialmente ocupa o antigo território denominado Suméria. 111.Observações Históricas 1. A origem dos sumérios é incerta, mas esse povo afirmava ter vindo de Dilmum, isto é, das ilhas e da costa arábica do Golfo Pérsico. Eles falavam de Eridu como sua primeira cidade, localízada à beira norte do Golfo. Parece que alguns traços dessa tradição em Gên. 4.17b podem ser traduzidos como segue: "E ele (Enoque) tornou-se o (primeiro) construtor de uma cidade e ele a chamou com o nome de seu filho (Irad)". 2. Escavações arqueológicas demonstraram que o Iraque foi habitado por povos razoavelmente sofisticados no período de 3300 a 3000 a. C. Habitações desses povos antigos foram encontradas em Eridu, Ur, Nipur, Quis, Adabe, Culabe, Larsa e Isin. O povo (ou melhor, a mistura de povos) que constituiu os sumérios presumivelmente chegou à região em torno de 3300 a 2800 a. C. 3. Estátuas que representam os sumérios mostram um povo de nariz curto e reto, além de cabeça longa. Outras características, como nariz grande, olhos saltados e pescoço grosso, são bastante comuns em todas as estátuas da época para identificar os sumérios tão especificamente. Os antropólogos supõem que este povo fosse, de fato, uma mistura de povos, possivelmente de origem armênia e mediterrânea predominantemente. 4. A linguagem suméria desafia a classificação. Linguagens conhecidas da área não parecem ser refletidas (convincentemente) no sumério. Os babilônicos, é claro, eram obviamente semitas em origem, o que não pode ser dito definitivamente a respeito dos sumérios. Se houve migração de um povo chamado assim distintamente, ela provavelmente OCOrreu do norte e do oeste do mar Cáspio. Mas talvez esse povo simplesmente tenha sempre estado ali, e fosse formado por uma mistura de povos que chegaram e deixaram a área. S. Os principais ingredientes da civilização que emergiu na Suméria incluem a escrita e a fundação de cidades com construções significativas. Assim, uma civilização urbanizada se misturou a uma agrícola. Reinados eram uma instituição importante, e foi desenvolvido o artesanato,

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SUMÉRIA - SUMMUM BONUM além da metalurgia e de outras habilidades industriais. Uma documentação rica foi registrada em tabletes cuneiformes que ainda hoje estão sendo estudados. 6. A peça mais conspícua de historiografia suméria é a famosa Lista de Reis da Suméria, que lista onze cidade e seus respectivos regentes. São fornecidos os nomes dos reis, a duração de seus reinados e algumas anotações biográficas. As histórias começam em épocas legendárias e terminam com comentários sobre a cidade de Isin, que existiu em tomo de 1790 a.c., um ano antes de Hammurabi, da Babilônia. Os regentes anti diluvianos (oito ao todo) e seus sábios conselheiros assemelham-se às histórias das linhagens de Sete e Caim em Gên. caps. 5 e 6, respectivamente. 7. Aparece então uma história de dilúvio, depois da qual se continuou o reinado em muitas cidades. Ver mais sobre isso sob a seção IV deste artigo. 8. De cerca de 2300 a.C. a 2150 a.C., os sumérios foram sujeitos aos acadianos (babilônicos). Sua cidade, Acade, deu a eles seu nome diferenciador. Alguns supõem que Sargom e seu neto Naram-Sin possam ter fornecido o modelo bíblico de Ninrode, o construtor de cidades e caçador, e de Acade de Gên. 10.8-12. 9. Os sumérios reafirmaram-se sob regentes locais como Gudea de Lagache, que deixou consideráveis heranças literárias e esculturais. Naquela época, Ur era a capital da confederação de cidades (cerca de 2100 a2000 a.C.). lO. Ur caiu por volta de 2000 a.C. e ficou a cargo de Isin continuar com as tradições e realizações da Suméria, 11. Dali os babilônios assumiram, herdando a civilização da Suméria e construindo sobre ela. IV. A História da Inundação Suméria É uma pena que essa história esteja preservada em um único fragmento, mas esse fragmento contém detalhes suficientes para convencer os estudiosos de que há paralelos entre esse relato e o de Gên. caps. 6-8. A maioria dos estudiosos de hoje acredita que ambas as histórias (suméria e bíblica) têm base em relatos ainda mais antigos, e que o relato sumério é o mais antigo dos dois. Depois da inundação, o reinado continuou na Suméria, primeiro na cidade de Quis, então em Uruque (o Ereque da Bíblia, Gên. 10.10). O épico de Enmerakar e o Senhor de Aratta tem partes que nos lembram da história bíblica da confusão de idiomas (Gên. 11). A construção de Zigurate (ver) era uma característica comum de cidades sumérias. Ver sob Torre de Babel. Definitivamente parece ter havido um intercâmbio de histórias entre os sumérios e os hebreus, bem como entre eles e outras culturas. \': Religião Os sumérios eram um povo irremediavelmente politeísta, cuja característica especial era o deus padroeiro protetor de cidades. Cada cidade tinha seu próprio deuschefe. Esse deus era alojado em seu próprio templo, vestido com roupas finas e alimentado com ofertas diárias, além de entretido com o canto de hinos e louvores. Em épocas de guerra, o objetivo dos inimigos era roubar a imagem especial do deus da cidade, o que, presumivelmente, debilitava o povo daquela cidade. Havia festivais especiais, dentre os quais a celebração do Ano Novo e os banquetes eram os mais proeminentes. Parte das atividades do dia era a cerimônia sagrada do casamento, na qual o rei era unido em casamento com Inana, a deusa do amor e da reprodução. O papel dessa deusa era realizado pelos sumos sacerdotes. A união terrena-celeste tinha como objetivo garantir o favor dos poderes das alturas e resultar na fertilidade da terra e dos animais domesticados. Havia uma doutrina de deuses que morriam e surgiam para lidar com

a aparente morte da natureza durante o inverno e o seu ressurgimento durante a primavera. O mais conhecido desses deuses era Dumizide (o verdadeiro filho), chamado pelos povos semitas de Tamuz. Teólogos dos sumérios envolveram-se em uma cosmologia e uma teologia complexa e especulativa, mas os leigos não davam nenhuma atenção a essa parte da religião da Suméria,

SUMMA THEOLOGICA Esse título, em latim, significa, "compêndio teológico". É um sumário e exposição de idéias teológicas. Dentro do contexto cristão, são ali esboçadas e explicadas as principais verdades da fé cristã. Ver os artigos Summae e Aquino, Tomás de. SUMMAE No latim, sumna (forma plural), "sumário", "compêndio". A Idade Média viu a produção de vários tipos de summae, a começar pelo século XII. Foram compiladas coletâneas das opiniões dos pais da Igreja. Hugo de São Vítor compilou uma summae de sentenças e comentários (Summa Sententiarum) que continha seus ensinamentos filosóficos e místicos. Além disso, houve as summae de Pedro Lornbardo, Alexandre de Hales e Roberto de Melum. A Roberto Grosseteste credita-se uma obra chamada Summa Philosophae; e a Lambert de Auxerre, uma outra, de nome Summa Cogicae. Tomás de Aquino, por sua vez, produziu as significativas obras intituladas Summa Contra Gentiles e Summa Theológica. Esta última exerceu tremenda influência sobre a história dos dogmas eclesiásticos. Está dividida em três partes. De modo geral, a primeira parte trata de Deus; a segunda parte aborda o homem em seu relacionamento com Deus; e a terceira parte é cristológica. Tomás de Aquino não conseguiu terminar, em vida, a terceira parte, de modo completo. SUMMUM BONUM No latim, "supremo bem". Usualmente é expressão usada no contexto do "alvo da vida humana, indicando o mais alto nível de existência e expressão que ele pode atingir. No contexto da redenção, o summum bonum é aquilo que os salvos haverão de atingir, ou seja, a questão central, a coisa mais desejada. A expressão pode ser um sinônimo de "valor máximo". Porém, os valores máximos não são, necessariamente, algo ligado à redenção. Há valores finais menores e preliminares, como, por exemplo, a busca pela felicidade, pelo prazer, pela utilidade, etc., que não estão ligados aos valores absolutos da existência humana, tendo em vista o após-túmulo. Ver o artigo chamado Valores Finais, que aborda tais questões. Alisto ali dezenove idéias dos filósofos e teólogos a esse respeito. Os filósofos que têm usado a expressão summum bonum têm identificado variadamente o que a mesma significa: Sir Thomas More fazia do "prazer" o summum bonum humano. Peirce assevera que a direção da vida humana deveria ter essa qualidade, e acreditava que a ética e a estética são nossos melhores instrumentos de sua realização. C,I. Lewis pensava que podia encontrar seu summum bonum nas "experiências de valor" produzidas nas atividades morais, cognitivas e estéticas. Outras idéias aparecem no artigo intitulado Valores Finais. O Summum BODum Teológico: Os hindus buscam participar da natureza divina; os budistas procuram o Nirvana; os judeus procuravam alcançar o sexto (ou sétimo) céu, tendo recebido a natureza

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SUMMUM BONUM - SUMO SACERDOTE angelical. Nos evangelhos sinópticos, o summum bonum não é visto como a mesma coisa que era vista por Paulo. Naqueles livros neotestamentários, o summum bonum é visto como estar livre do pecado e seus efeitos, a participação no estado imortal, livre de dores e caracterizado pela glória celeste. Talvez fosse obtida a igualdade com os anjos (segundo se vê em Luc. 20:36). Essa noção também aparece em I Enoque, e provavelmente era comum entre os primitivos cristãos da era anterior a Paulo. Para Paulo, o summum bonum transcendia a essa noção, apesar do fato de ser esse o alvo que se ouve pregado na maioria das igrejas cristãs evangélicas de nossos dias. Paulo concebia uma salvação na qual a alma humana chega a participar da imagem e natureza de Cristo, nosso Irmão mais velho (ver Rom. 8:29), mediante a transformação operada pelo Espírito, levando-nos de um estágio de glória para outro (11 Cor. 3: 18). Isso faz a alma participar de toda a plenitude de Deus (Efé. 3: 19), o que envolve a participação em sua natureza e em seus atributos, posto que em sentido finito, pois somente Deus é infinito. Ver Col. 2:9,IOe 11 Ped. 1:4. Assim, osummumbonumpaulino é a participação da alma humana na natureza divina (não na mera natureza angelical). Ofereço dois artigos detalhados sobre o assunto. Ver Transformação Segundo a Imagem de Cristo e Divindade, Participação na, Pelos Homens. A Visão Beatífica. Os teólogos cristãos têm falado sobre o summum bonum como a visão beatifica. Nessa visão beatifica, o homem atinge a união com Deus. Essa visão, porém, não consiste meramente em ver a Deus. Consiste na união com Deus, em sua natureza e essência. Isso requer aquela total transformação mística sobre a qual comentei no parágrafo anterior. Ver o artigo separado intitulado Visão Beatíjica.

SUMO SACERDOTE Esboço: I. História 11. Vestes dos Sumos Sacerdotes Ill. Natureza dos Deveres do Oficio Sumo Sacerdotal IV. Lições e Tipos Espirituais do Oficio I. História O sumo sacerdote ocupava o oficio eclesiástico mais elevado do sistema religioso dos judeus. As tradições bíblicas apresentam-no como alguém que descendia de Aarão; mas que isso sempre aconteceu não pode ser historicamente demonstrado. Os eruditos de inclinações liberais supõem que o oficio sumo sacerdotal só começou em 411 a.C.; mas há passagens bíblicas que certamente indicam que o oficio era muito mais antigo do que isso. Para admitirmos essa data tão posterior, teremos de supor duas coisas: Primeira, que as porções da Bíblia que abordam a questão foram escritas posteriormente; Segunda que o próprio oficio não antecedeu, por muito tempo, as narrativas escritas. O que podemos dizer é que a formalização do oficio resultou de um desenvolvimento de responsabilidades, embora a essência do ofício retroceda, verdadeiramente, até Aarão. Uma vez estabelecida a adoração no templo de Jerusalém, o sumo sacerdote tornou-se o principal ministro eclesiástico do judaísmo, oficiando durante as grandes festividades e observações religiosas, como no dia da Expiação. Além disso, ele presidia o Sinédrio (vide), o que lhe emprestava grandes poderes não somente eclesiásticos, mas também políticos. Todavia, o ofício sumo sácerdotal chegou ao fim quando os romanos destruíram a cidade de Jerusalém

e seu templo, quando o Sinédrio também foi dissolvido. O ofício sumo sacerdotal teve suas origens mais primitivas nos dias em que qualquer homem podia edificar um altar, onde quer que Deus se tivesse dado a conhecer. Aquele que se tornasse associado aos ritos do altar levantado tornava-se conhecido como um levita, isto é, alguém vinculado a um lugar, ou então como um kohen, ou "sacerdote". De um sacerdote esperava-se que ele fosse um revelador da vontade divina, como um mediador entre Deus e os homens. Além disso, encontramos a primitivíssima instituição em que O chefe de uma casa também era o sacerdote de sua família. Quando as formas religiosas passaram a ser institucionalizadas, um grande sacerdote ou sumo sacerdote, tornou-se necessário, afim de organizar as funções religiosas do povo, preservando, promovendo e protegendo as instituições religiosas. No século VIII a.C; os levitas surgiram como uma classe distinta, ocupando-se, essencialmente, da direção da adoração religiosa em Israel. E no código sacerdotal, chamado S pelos eruditos, que encontramos a kohen hagadol, ou "sumo sacerdote". Os eruditos liberais datam essa fonte do Pentateuco no século V a.c., quando, para eles, conseqüentemente, teria surgido o ofício sumo sacerdotal. Ver o artigo sobre o Código Sacerdotal, quanto a comentários sobre essa presumível fonte independente dos livros de Moisés. Porém, mesmo se admitirmos que esse material é de data comparativamente tardia, isso não provaria que as coisas ali referidas, no tocante a instituições religiosas, só tivessem começado naquele tempo. A tradição do próprio sumo sacerdote parece ser antiqüíssima, e o próprio Aarão ocupou o oficio, sob sua forma mais primitiva. A posição do sumo sacerdote de Israel atingiu seu ponto de maior influência em 105 a.C., quando o sumo sacerdote, Aristóbulo I, também assumiu o título de rei. Em 63 a.c., Roma tomou sobre si mesma a tarefa de nomear os sumos sacerdotes; e, desse ponto em diante da história, houve mudanças freqüentes no oficio, o qual começou como uma posição hereditária e vitalícia. Alguns informes Históricos Cronológicos: 1. Aarão foi o primeiro sumo sacerdote de Israel. Depois tabernáculo foi erigido, de acordo com os planos ~ivinos, e sacerdote de Israel que os ritos tiveram início (Exo. I8~ 24: 12-31; 35: I - 40:38), Aarão e seus filhos foram solenemente consagrados a seus ofícios sacerdotais respectivos, por Moisés (ver Lev. 8:6). Isso teve. lugar por volta de 1440 a.C. As elaboradas descrições das vestes do sumo sacerdote, que aparecem em Êxo. 28:3 ss, certamente indicam um oficio distintivo, superior ao dos sacerdotes. 2. Por ocasião da morte de Aarão, o oficio passou para seu filho mais velho, Eleazar (Núm. 20:28). Então os descendentes de Finéias passaram a ocupar a linhagem de onde o oficio era herdado (Juí. 20-28), 3. Por razões desconhecidas, o oficio sacerdotal foi entregue a EIi, que pertencia à linhagem de Itamar. Isso continuou até que Salomão mudou o sistema e nomeou Sadoque, na pessoa de quem o encargo passou novamente para os descendentes de Eleazar (I Reis 2:26 ss). 4. Os sumos sacerdotes antes de Davi, sete em número, foram os seguintes: Aarão, Eleazar, Finéias. EIi, Aitúbe (l CrÔ.9: li ~ Nee, 11: II ~ 1 Sam. 14:3), Alas e José. Josefo assevera que o pai de Buqui a quem ele chamou de José (mas que na Bíblia é chamado de Abiezer, equivalente a Abísua), foi o último sumo sacerdote da linhagem de Finéias, antes de Sadoque.

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SUMO SACERDOTE 5. Nos dias de Davi havia dois sumos sacerdotes, a saber, Sadoque e Abiatar, que parecem ter brandido igual autoridade (I Crô. 15: 11; 11 Sam. 8:17; 15:24,25). Alguns estudiosos têm conjeturado que Sadoque era um aliado importante de Davi, embora tendo sido nomeado por Saul. Davi não perturbou a situação, mas a sucessão coube, por direito, a seu amigo, Ab iatar. Diplomaticamente, Davi deixou ambos no cargo; mas o Urim e o Tumim, com a estola sacerdotal, permaneceram com Abiatar, o qual, por isso mesmo, ficou encarregado dos serviços especiais que circundavam a arca da aliança. 6. Nos tempos de Salomão há certas dificuldades históricas, pois é difícil reconciliar os dados históricos existentes. Josefo (Anti. 10:8,6) diz que quem ocupava o ofício sumo sacerdotal, nesse tempo, era Sadoque; mas o trecho de 1 Reis 4:2 diz que era Azarias, que era neto de Sadoque. Temos de supor, assim sendo, que há algum defeito nos registros históricos, que não nos permitem precisar a situação que envolvia o oficio sumo sacerdotal nos dias de Salomão. Mas, considerando-se todos os fatores, parece ter havido quinze sumos sacerdotes que foram contemporâneos dos reis de Judá, Seja como for, os sumos sacerdotes dessa série terminaram com Seraías, que foi aprisionado por Nabucodonosor e executado em Ribla, por ordem daquele monarca caldeu (lI Reis 25:18), ao tempo do cativeiro babilônico. 7. Por causa do cativeiro, passaram-se cerca de cinqüenta e dois anos sem alguém para ocupar o oficio sumo sacerdotal em Israel. Jeozadaque (ver Ageu 1:1,14) deveria ter herdado o oficio de seu pai, Seraías; mas Jeozadaque viveu e morreu durante o período do cativeiro babilônico. Então o oficio foi ocupado por seu filho, Josué (vidé), depois que um remanescente do povo de Israel regressou a Jerusalém, em companhia de ZorobabeI. A Bíblia alista os sucessores dele, chamados Joiaquim, Eliasibe, Jeoiada, Joanã e Jadua. Jadua foi sumo sacerdote de Israel na época de Alexandre, o Grande, tendo sido sucedido por seu filho, Onias I, e este por seu filho, Simão. Quando Simão faleceu, quem veio a ocupar o oficio foi seu irmão, Eleazar, visto que seu filho, na época, ainda era um jovem menor de idade. Foi durante o reinado de Eleazar que teve lugar a famosa tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada Septuaginta ou LXX. 8. Menelau, o último dos Onias, trouxe desgraça ao oficio sumo sacerdotal. E o oficio ficou vago por sete anos. E então Alcimo ocupou o cargo, embora também tivesse sido uma infame personagem. 9. Em seguida veio o período dos hasmoneanos (vide). Essa família era do turno sacerdotal de Joiaribe (I Crô. 24 :7), que havia retomado do cativeiro babilônico com Zorobabel (I CrÔ. 9: 1O~ Nee. 11:1O). Eles ocuparam esse oficio até 153 a.c., quando a família foi destruída por Herodes, o Grande. Aristóbulo, o último sumo sacerdote dessa linhagem, foi assassinado por ordem de Herodes, embora eles fossem cunhados. Isso ocorreu em 35 a.C. 10. Roma começou a nomear os sumos sacerdotes de Israel, de acordo com os ventos do poder e do favor político. Houve nada menos de vinte e oito sumos sacerdotes desde o reinado de Herodes, o Grande, até à destruição do templo de Jerusalém, pelo general Tito, em 70 d.C. Esse período foi de cerca de cento e sete anos; assim, na média, houve um novo sumo sacerdote a cada três ou quatro anos! O Novo Testamento, por sua vez, fornece-nos alguns dos nomes de pessoas envolvidas nesse oficio, como Anãs, Caifás e Ananias, sobre quem damos artigos separados. O sumo sacerdote que deu a Paulo cartas que lhe permitiam perseguir e encarcerar ajudeus cristãos chamava-se Teófilo, filho de Anano. Ver Atos 9:1,14.

Panias foi o último dos sumos sacerdotes. Ele fora nomeado pelo lançamento de sortes, pelos zelotes, dentre o turno de sacerdotes que Josefo chamou de Eniaquim, provavelmente, uma forma corrupta de Jaquim. 11. Vestes dos Sumos Sacerdotes Ver o artigo separado, intitulado Sacerdotes, Vestimentas dos. 111. Natureza dos Deveres do Oficio Sumo Sacerdotal Qual é a natureza e quais são os deveres do oficio sumo sacerdotal? 1. O sumo sacerdote precisava descender diretamente de Arão, o primeiro sumo sacerdote levítico. 2. Não podia ter defeitos fisicos (ver Lev. 21: 16-23). 3. Não podia contrair matrimônio com viúva, estrangeira ou ex-meretriz, mas somente com uma virgem israelita (ver Lev. 21: 14). Mais tarde isso foi modificado, permitindo-lhe casar-se com a viúva de outro sacerdote. (Ver Eze. 44:22). 4. Ele tinha de dedicar-se a seu trabalho, não podendo abandoná-lo nem mesmo ante a morte de um membro de sua família, como pai ou mãe. (VerLev. 21 :10-12). Parece que as calamidades públicas eram uma exceção (ver Judite 4:14, 15eJoell: 13). 5. Estava obrigado a observar regras de dieta, acima dos ~ israelitas comuns (ver Lev. 22:8). 6. Precisava lavar mãos e pés antes de servir (ver Exo. 30:19-21). 7. Originalmente, ele queimava o incenso sobre o altar de ouro, como um de seus deveres; posteriormente, porém, isso ficou ao encargo de outro sacerdote. (Ver Luc. 1:8,9). 8. Repetia, a cada manhã e a cada tarde, a oferta de manjares que ele oferecera no dia de sua consagração (ver o décimo nono capitulo do livro de Êxodo). 9. Cumpria-lhe efetuar as cerimônias do grande Dia da Expiação, entrando no Santo dos Santos uma vez por ano, a fim de fazer expiação pelos pecados do povo (ver o vigésimo primeiro capítulo do livro de Levítico). 10. Cumpria-lhe arrumar os pães da apresentação a cada sábado, consumindo-os no Santo Lugar (ver Lev, 24:9). 11. Precisava abster-se das coisas santas se ficasse impuro por qualquer razão, ou se contraísse lepra (ver Lev, 22:14). 12. Qualquer pecado que ele cometesse teria de ser expiado por sacrificio oferecido por ele mesmo (ver Lev. 4:3-13). 13. Por igual modo, oferecia sacrificio pelos pecados de ignorância do povo (ver Lev. 22: 12-16). 14. Cumpria-lho proferir a validade da lepra curada (ver, Lev. 13:2.59). 15. Cabia-lhe certo direito legal de julgar casos (ver Deut. 17:12), especialmente quando não houvesse juíz disponível. 16. Deveria estar presente quando da nomeação de algum novo governante, intercedendo subseqüentemente em seu favor (ver Núm. 27: 19~20). Havia ainda outros deveres secundários que ele compartilhava com os sacerdotes inferiores. Várias desses itens prestam-se para a aplicação espiritual a Cristo, ao passo que outros não têm essa serventia. D ponto central, frisado no livro de Hebreus, se relaciona ao fato de que o sacerdote fazia sacrificio pelos pecados do povo. Esse é o começo da abertura do acesso a Deus, até à sua presença imediata, no Santo dos Santos (ver Heb. 10: 19 e ss). IV. Lições e Tipos Espirituais do Oficio Sumo Sacerdotal Ver dois .artigos separados, intitulados Sacerdotes, Crentes Como e Sumo Sacerdote. Cristo Como. Aarão, como sumo sacerdote de Israel, era um tipo de

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SUMO SACERDOTE, CRISTO COMO Cristo. Os tipologistas vêem muitos símbolos do oficio messiânico e salvatício de Cristo nas funções, vestes e ritos efetuados pelo sumo sacerdote aarõnico. O Novo Testamento refere-se a Cristo como sacerdote segundo a ordem ou categoria de Melquisedeque (Heb. 5:6; 6:20; e 7:21); mas Ele também executou o seu oficio segundo o padrão e a autoridade do sacerdócio aarõnico. Cristo é o Mediador Único das bênçãos divinas, e nomeia todos os crentes como sacerdotes, a fim de participarem plenamente de sua espiritualidade é posição. SUMO SACERDOTE, CRISTO COMO Esboço: 1. Detalhes de Heb. 8: 1-10: 18 11. Sumário de Idéias III. Sumo Sacerdote no Lugar de Arão e Melquisedeque IVA Superioridade de Jesus

I. Detalhes de Heb. 8:1-10:18 Estendendo-se até o vigésimo - oitavo versículo deste capitulo, encontramos uma analogia (entre os sacrifícios no santuário terrestre e aqueles efetuados no santuário celestial) que reenfatiza diversos pontos já discutidos, mas agora mencionados novamente, como sumário. A esses pontos foi adicionada a afirmação de crença, por parte do autor sagrado, na "parousia" ou segunda vinda de Cristo, no vigésimo oitavo versículo. 1. Há dois santuários, o terreno e o celestial. O terreno era apenas uma cópia ou imitação do celestial. Nisso se vê, uma vez mais, a metaflsica em "dois andares" do autor, em que as idéias de Filo e de Platão foram cristianizadas. Na terra, tudo apenas cópia dos elementos existentes nos céus. Essa idéia era comum no judaísmo helenista. E os judeus tinham idéias literais a esse respeito; imaginavam um templo celeste literal, com todas as peças de mobiliário e alguma forma de sistema de sacrificios, segundo os moldes do templo terreno. O autor sagrado, porém, não vê nada tão cru e materialista como isso, mas apenas que o templo terreno, seus ritos, etc., simbolizavam alguma realidade superior. Assim, o próprio templo (ou a tenda, antes dele) indicaria os céus, uma pluralidade de esferas celestes, cada uma com seu nível mais elevado de acesso. (Ver Heb. 7:26). O Santo dos Santos fala sobre a presença de Deus, sobre como os homens podem obtê-Ia,juntamente com a transformação de vida e de ser, necessária para a admissão àquele lugar (Ver-as, notas expositivas no NTI em Heb. 8:5, e toda a seção IV no artigo sobre o tratado, intitulado Idéias Religiosas e Filosóficas, as descrições sobre o conceito metafisico do autor sagrado). 2. Cristo é O Sumo Sacerdote do santuário celeste, e não do terrestre, como se dava com os sacerdotes arônicos, Este capítulo inteiro foi calculado para ensinar isso. O ministério de Cristo não só é melhor, mas também ultrapassou e abrogou todo outro sacerdócio terreno. Dentro da antiga dispensação havia uma lei, seu sacerdócio e seu pacto. Em Cristo entretanto, tudo isso foi eliminado. Agora há uma nova lei, um novo sacerdócio e um novo pacto (ver os capítulos sétimo a nono deste tratado). Sendo essa a verdade da questão, pode-se supor corretamente que o ministério de Cristo é superior àquele que era realizado no antigo tabernáculo. Sim, é tão superior que o antigo tabernáculo perdeu toda a razão para sua existência. E, na realidade, só existia para funcionar como tipo simbólico do novo. 3. O acesso provido no ministério de Cristo é real, e não simbólico e dá-nos o direito de penetrar no mais alto céu, o Santo dos Santos celeste. Já o antigo acesso era apenas simbólico, em que o sumo sacerdote nunca foi reputado

como precursor de ninguém até à presença de Deus. Seu serviço se reduzia a um ato simbólico de expiação de pecados. (Ver Heb. 6:20 e 10:19). 4. Cristo ofereceu um único sacrifício, mas foi um sacrifício muitíssimo melhor do que a soma total de todos os milhares e milhares de sacrificios levíticos. Pois todos eles tão-somente simbolizavam o sacrificio de Cristo. (Ver os versiculos 25 e 26 deste capítulo). 5. O sacrifício de Cristo foi eficaz - eliminou o pecado; foi o sacrifício da sua própria pessoa. Ver Heb. 7:27. 6. O ministério de Cristo jamais terminou: ele voltará. E mesmo agora está empenhado em uma eterna intercessão. Mas, finalmente, tudo quanto ele fizer estará completamente divorciado do problema do pecado. Esse problema será solucionado completa e absolutamente, de tal modo a não permanecer uma questão espiritual, sem qualquer vinculação com a inquirição espiritual. (Ver o 28° versículo deste capitulo). 7. É declarada aqui a necessidade de purificar o santuário celestial. O sacrifício de Cristo mostrou-se eficiente e final quanto a esse mister. (Ver o versículo 23° deste capítulo). "Após a breve digressão do 22° versículo, o escritor sagrado focaliza agora o aparecimento de Cristo, no santuário perfeito dos céus, munido do perfeito sacrifício (ver os versículos 25° em diante), o qual, por ser perfeito e absoluto, não precisa de repetição". (Mofatt, in loc.). 11. Sumário de Idéias 1. Ele entrou nos verdadeiros céus, no real Santo dos Santos; os sacerdotes terrenos manuseavam apenas com sombras e símbolos (ver Heb. 4: 14). 2. Ele ofereceu o verdadeiro sacrifício, ao passo que os demais ofereciam apenas sacrifícios simbólicos (ver Heb. 9:23 e ss). 3. O sacrifício de Cristo foi final; os deles eram simbólicos (ver Heb. 9:25 e ss). 4. Sua expiação foi eficaz, a expiação oferecida por eles era apenas uma representação simbólica (ver Heb. 9:28). 5. Ele foi Sumo Sacerdote maior e mais elevado que Arão, por ser o Filho de Deus (ver Heb. SA-7:28). 6. Ele administrou um melhor pacto (ver Heb.8: 1-13). 7. Ele ministra em um melhor santuário (ver Heb. 9: 142). 8. Seu sacrifico é melhor que o de todos, por ser o fim de todos os sacrifícios (ver Heb. 9: 13-10: 18). 9. Seu ministério se alicerça sobre melhores e mais permanentes promessas (ver Heb. 10: 19-113). Cristo, pois, é visto como nosso caminho de acesso a Deus Pai. Os crentes judeus são aqui avisados a não perderem sua obra intercessória em favor deles, afastando-se de Cristo, retornando às suas anteriores formas religiosas, que serviam somente para apontar para Cristo simbólica e profeticamente. lU. Sumo Sacerdote no Lugar de Arão e Segundo a Ordem de Melquisedeque. O ofício sumo sacerdotal, no tocante a Cristo, envolve tanto Arão quanto Melquisedeque. Posto que nossas informações sobre Melquisedeque são tão escassas, quase todos os tipos simbólicos sobre o ofício de Cristo se acham no sacerdócio arônico. Quais são as idéias envolvidas no sacerdócio de Cristo, que é conforme a ordem de Melquisedeque? Ei -las: 1. Cristo é o rei- sacerdote, tal como Melquisedeque (ver Gên. 14: 18 e Zac. 6: 12,13). 2. Cristo é o reijusto de Salém, ou Jerusalém (ver Isa. 11:5 e 6:9).

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SUMO SACERDOTE, CRISTO COMO - SUNDAY SCHOOL 3. Ele é eterno, não havendo registro de seu início no tempo (ver João 1: I), nunca tendo sido nomeado por homem algum para seu ministério (ver Sal. 110:4; ver também Heb. 7:23-25 e Rom, 6:9). Vê-se. pois. que a obra de Cristo seguiu o padrão do sacerdócio arônico, mas que a alusão a Melquisedeque fala sobre sua autoridade real, sobre sua eternidade. sobre a natureza perene de sua obra. idéias essas que não estavam vinculadas ao sacerdócio arônico. Desse modo. certos aspectos de superioridade são atribuídos ao sacerdócio de Cristo. que é segundo a ordem de Melquisedeque. IV. A superioridade de Jesus Eis cinco particulares que mostram que Jesus é superior como Sumo Sacerdote: I. Nele mesmo. ele é melhor sacerdote que os sacerdotes arônicos (ver Heb. 8:1-6, como uma unidade; o sétimo capítulo contém muitos argumentos a respeito; ver também Heb. 4:15-7:28, como uma unidade). 2. Sua esfera de atividades é no santuário celeste, e não na cópia terrena, onde labutavam os sacerdotes arônicos. Portanto. seu ministério é "melhor" que o deles, e não apenas a sua própria pessoa. (Ver Heb. 8:2-5). 3. Ele ofereceu melhor sacrificio (ver Heb. 8:3 e ss), a saber, a si mesmo (ver Heb. 7:27). 4. Ele é o Mediador de um pacto melhor, o "novo pacto" (ver Heb. 8:6). 5. Seus labores sacerdotais se baseiam sobre promessas superiores (ver Heb. 8:6). Todos esses aspectos mostram a superioridade do ministério de Cristo, que agora é introduzido, ao passo que, antes disso, até este ponto no tratado, a ênfase recaíra sobre a superioridade da pessoa de Cristo. SUNAMITA Variante de Sulamita (vide). SUNDAY, WILLIAM ASHLEY Popularmente, ele era conhecido como Bil1y Sunday. Suas datas foram 1862 - 1935. Foi o maior evangelista norte-americano, depois de Dwight L. Moody e antes de Billy Graham. Os Estados Unidos da América produzem, a grosso modo, um poderoso evangelista, de significação internacional, a cada geração. Bí11y Sunday ficou órfão em tenra idade. Trabalhando, estudou em Nevada, estado de lowa, tendo passado algum tempo estudando na Universidade Northwestern, perto de Chicago. Foi jogador profissional de baseball de times de Chicago, Pittsburgo e Filadélfia. Abandonou o baseball e tomou-se secretárío - assistente da YMCA. em Chicago, e então, no ano de 1896, começou sua carreira de evangelista. Foi consagrado como ministro presbiteriano. Durante duas décadas demonstrou considerável poder. Algumas de suas campanhas foram bastante elaboradas. utilizando grandes coros e até orquestras. Bi1lySunday foí um pregador de fogo. que denunciava o pecado, especialmente o alcoolismo, e, devido a seus esforços evangelísticos, segundo cálculos. houve centenas de milhares de convertidos. Contudo, a canção popular "Chicago", tem um verso que se jacta de que "Chicago was the town Bi11y Sunday could not shak:e down" o que, traduzido para o português significa que Bil1ySunday teve pouca influência em Chicago. Mas em outras grandes cidades, como Filadélfia, a sua influência sobre o mundo do crime tomou-se tão grande que foi possível diminuir as forças policiais da mesma Seu poder esteve no auge durante a Primeira Grande Guerra; mas, depois disso. começou a

declinar, embora tivesse continuado a pregar até a sua morte. por muitos anos depois da guerra. SUNDAY SCHOOL (ESCOLA DOMINICAL) Amigos, confesso que me esqueci de escrever sobre a Escola Dominical, ao compilar os artigos para a letra E. Por isso, estou tomando a liberdade de usar o título inglês, Sunday School. E há uma justificativa para isso, pois a Escola Dominical foi, de fato, uma invenção inglesa.

Esboço: I. Origens 2. Evolução no Currículo e nos Métodos 3. A Filosofia da Escola Dominical I. Origens A Igreja Católica Romana e as Igrejas Ortodoxas Orientais comumente mantêm escolas paroquiais, e parte da educação ali oferecida é. naturalmente, de cunho religioso. Muitos grupos protestantes, em contraste com isso, tradicionalmente têm dependido do sistema de escolas públicas no que concerne à educação secular. Assim, foi apenas natural que. como meio de ensinar a Bíblia às crianças, a Escola Dominical tenha sido de criação protestante. Ademais, tem sido sempre típico da ênfase protestante salientar os estudos bíblicos, o cerne mesmo da Escola Dominical. Os historiadores afiançam que foi Robert Raikes (cerca de (1785 - 18B) quem originou o movimento da Escola Dominical. Foi dono de jornal, em Glaucester, na Inglaterra, que se interessou especialmente por prover educação bíblica para crianças. Ele procurava atingir, especialmente, as crianças dos cortiços ingleses muitas delas já empregadas e trabalhando tempo integral. Antes que a educação bíblica pudesse ser eficaz, foi mister ensinar aquelas crianças a ler e escrever; e assim alfabetização faria parte da tarefa. Destarte, a Escola Dominical começou como uma espécie de instituto bíblico infantil, que operava em separado das atividades normais da Igrej a. Mas, finalmente, veio a tomar-se parte integrante das funções das igrejas locais, aos domingos. A experiência de Raikes foi saudada com entusiasmo. e em breve havia escolas dominicais em muitos lugares da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Mas a sua idéiajá era cópia de outro movimento. mais antigo. Carla Barromeu em cerca de 1550, estabelecera, durante sua vida, nada menos de setecentas e quarenta e três escolas para crianças, visando à instrução religiosa. Ele foi arcebispo católico romano de Milão, na Itália. Quando aquele arcebispo faleceu, essas escolas tinham mais de quarenta mil alunos. E assim, em um sentido inegável. Carla Barromeu. foi o antecipador do movimento da Escola Dominical. Porém, foi Raikes quem deu ao conceito um impulso e uma aplicação mundiais. e isso entre os grupos protestantes e evangélicos. Quando Raikes faleceu, calculou-se que as Escolas Dominicais, por todo o mundo, estavam provendo instrução biblica para nada menos de quatrocentas mil crianças. Outras importantes figuras do movimento também devem ser mencionadas. Guilherme Fox (1736 -1826) muito fez para aplicar a filosofia da Escola Dominical. Foi ajudado na empreitada por vários filantropos, que supriram o dinheiro necessário, Finalmente. ele abriu cerca de trezentas escolas, suprindo-as com livros, material de ensino e professores. Os eclesiásticos, a princípio, opuseram-se ao movimento, pois, no começo. não fazia parte da Igreja organizada, e também porque eram principalmente leigos que se envolviam no ensino. Porém,

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SUNDAY SCHOOL as boas idéias têm uma maneira de impor-se. Ainda recentemente, visitei uma igreja anglicana de Salt Lak:e City, em Utah, nos Estados Unidos da América; e, o domingo em que ali estive, assinalou o término de uma Escola Dominical especial e da Escola Bíblica de Férias, e os lideres da igreja estavam satisfeitos com seu extenso trabalho entre as crianças. João Wesley foi uma grande força por detrás da propagação do conceito da Escola Dominical. Suas datas foram 1703 - 1791. A Igreja Metodista deveu muito de seu fenomenal crescimento inicial às suas Escolas Dominicais, estabelecidas primeiramente na Inglaterra, e então nos Estados Unidos da América, e em seguida, pelo mundo inteiro. Nos Estados Unidos da América, a primeira Escola Dominical reconhecida foi a escola bíblica fundada por William EUiot. Ela funcionava aos domingos à tarde, e não pela manhã, e estava localizada em sua fazenda Porém, após algum tempo, o trabalho foi transferido para a Igreja Oak Grove, no condado de Accomac, estado de Virgínia. Essa foi a mais antiga Escola Dominical nos Estados Unidos da América. No começo do século XIX, foram fundadas muitas Escolas Dominicais nos mais diversos lugares dos Estados Unidos da América, e o crescimento delas foi nada menos que fenomenal. Várias uniões formais de Escolas Dominicais foram organizadas, para ensino tanto de crianças quanto de adultos. Não demorou para que as igrejas protestantes e evangélicas tivessem adquirido uma nova função, a saber, ensinar a Bíblia aos seus membros, em regime semanal. Em 1824, a União Americana da Escola Dominical contava com escolas em dezessete dos vinte e quatro estados norte-americanos então existentes, pelo que o movimento já era praticamente universal naquela nação norte-americana. E não demorou muito para que várias denominações evangélicas fundassem suas próprias Escolas Dominicais, que se tomaram uma extenção doutrinadora das igrejas. Mesmo assim, a Escola Dominical continuou sendo dirigida principalmente por leigos, embora não sem alguma ajuda mais profissional. As Missões Estrangeiras. Foi apenas natural que as atividades missionárias, evangélicas, em todas as porções do mundo, levassem o conceito da Escola Dominical a muitos lugares. Infelizmente, no Brasil, muitas igrejas agora têm somente a Escola Dominical, aos domingos pela manhã, tendo anulado o culto regular da manhã. Isso foi algo que os fundadores do movimento da Escola Dominical nunca haviam antecipado; e podemos ter a certeza de que não concordariam com essa prática. A Escola Dominical não tem por propósito substituir o culto do domingo pela manhã, e não deveríamos permitir que houvesse tal substituição. Muitas igrejas não adoram peIa manha, e à noite somente evangelizam. Disso tem resultado uma igreja local enferma. É óbvio que há outras causas dessa debilidade espiritual, mas essa é uma das causas que precisamos denunciar. Os fundadores do movimento da Escola Dominical não tencionavam que ela servisse de causa de fraqueza espiritual. Este co-autor e tradutor tem traduzido séries inteiras de revistas de Escola Dominical, pelo que deseja dar aqui sua contribuição construtiva. Segundo tenho observado, outra deficiência não antecipada pelos fundadores do movimento da Escola Dominical é que essas revistas tomam-se, para todos os efeitos práticos, os únicos estudos bíblicos que as igrejas fazem. Ora, em face da riqueza da doutrina cristã, é forçoso admitir que nem mesmo um ciclo inteiro de revistas de Escola Dominical consegue cobrir

toda a vasta gama dos ensinamentos bíblicos. Mas, que se vê nas igrejas? Terminado um ciclo, geralmente de três anos, o ciclo é reiniciado, repassando todas as lições antes dadas, ad infinitum. Resultado: os membros das igrejas aprendem um limitado número de idéias, levando para casa a impressão falsa de que a doutrina cristã resume-se naquilo que sua denominação particular lhes oferece, através de suas revistas de Escola Dominical. Não admira que haja tantos crentes bitolados! O ideal seria que os pastores, ou alguma comissão de crentes bem preparados, fosse preparando de antemão novas séries de lições, ampliando os horizontes, escavando novos tesouros da Palavra de Deus. Todavia, poucos têm o treinamento teológico para tanto. Segundo vejo as coisas, em face dessa situação, as revistas de Escola Dominical tornaram-se um mal necessário. Mas, melhor com elas e pior sem elas! 2. Evolução no Currículo e nos Métodos No começo do movimento, ensinava às crianças a ler e escrever, e então a Bíblia lhes era ensinada com proveito. Essa função foi sendo abandonada, à medida que as escolas públicas se foram ocupando da alfabetização. Assim, a Bíblia tomou-se, virtualmente, o único material exposto na Escola Dominical, ainda que algumas igrejas sejam capazes de desperdiçar muito tempo com anúncios e relatórios, contando o dinheiro recolhido e quantos alunos freqüentam, divididos por classes, a Escola Dominical. Entrementes, a educação religiosa tem assumido um escopo mais amplo, e escolas regulares têm-se tomado uma das funções de muitas igrejas. Isso tem feito a Escola Dominical tornar-se mais especializada. Várias denominações têm uma literatura especial (revistas), bem como alguma forma de apresentação sistemática de estudos bíblicos (ver os ciclos referidos no último parágrafo do primeiro ponto, origens). Naturalmente, a literatura de Escola Dominical tem assumido ares propagandísticos, visto que, além de estudos bíblicos, aparecem ensinos preferidos por esta ou aquela denominação. Em alguns grupos mais liberais, muito material extrabiblico é acrescentado a essa literatura, algumas vezes expondo pontos de vista radicais, do interesse especial desta ou daquela facção ideológica. O ensino da Escola Dominical também tem ficado mais sofisticado, com auxílios audiovisuais, "slides", filmes, apresentações teatrais e até marionetes e outros chamarizes, para atrair a atenção das crianças. Muitas igrejas têm ônibus para transportar as crianças de suas áreas para a igreja. Outras, oferecem às crianças chocolate, sorvetes e guloseimas, coisas essas que fatalmente atraem as crianças. Pessoalmente, não tenho nada a objetar ao oferecimento dessas coisas às crianças. No entanto, conheci uma igreja cuja Escola Dominical usava um "Golias" moderno, um homem com cerca de 2,45 m de altura, para atrair as crianças. Ele era crente, um lutador profissional, e as crianças vinham aos montes, para vê-lo representando Golias. As crianças são crianças, dentro ou fora da Escola Dominical, e deixam-se atrair por coisas que nada têm a ver com a Bíblia. Nos lugares mais humildes, até mesmo balas e confeitos servem para atrair as crianças. Há pessoas que objetam a esses métodos como se fossem "suborno", mas algo inocente assim é legitimo, se a questão é atrair crianças para que venham ouvir um pouco sobre a Bíblia. 3. A Filosofia da Escola Dominical A qualquer preço e de qualquer modo, devemos levar a Bíblia às crianças. O mundo lhes está oferecendo tantas coisas inúteis, ou mesmo prejudiciais, como certos programas infantis pela televisão. As instituições sociais e os meios de comunicação em massa mostram-se

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SUNÉM - SUOR DE SANGUE corruptos com seu extremo mundanismo, invertendo valores diante das mentes impressionáveis das crianças. Os lares muito raramente provêem um estudo sistemático da Bíblia e de princípios religiosos. A Escola Dominical, pois, serve de extensão ensinadora para muitas igrejas. O mundo é destrutivo, e poucos lares, e estamos falando sobre lares evangélicos, fazem muito para contrabalançar essa influência. A Escola Dominical, pois, é uma força contrabalançadora.(AM BENS E) Ver o artigo separado sobre Educação Cristã. SUNÉM Em hebraico, "desnivelada", identificada com Sulam (Solem), localizada no sopé do Pequeno Hermom, uma cidade no território da tribo de Issacar (Jos. 19.18). Era a cidade natal de Abisague (I Reis 1.3) e o lar de uma mulher cujo filho foi trazido de volta à vida por Eliseu (11 Reis 4.8-37). O nome dessa cidade aparece também em uma lista compilada por Tutmes 11 (1490-1436 a. C.), sendo um dos locais conquistados por suas campanhas militares. Nas cartas de TeU el-Amarna, ela aparece com o nome de Shunama, que nos conta que ela caiu ante as forças de Labaya, uma personagem desconhecida. SUNI No hebraico "afortunado"; Ele foi um dos sete filhos de Gade, filho de Jacó (Gên. 46:16; Núm. 26: 15). Ele se tomou o antepassado dos sunitas. Viveu por volta de 1700 a.c. SUNITAS O mundo Islâmico está dividido em dois grandes agrupamentos, os sunitas; e os xiitas. O primeiro é o grupo maior, de tendências ortodoxas, defensor da Sunna (vide). Eles aceitam os quatro califas (vide) como os legítimos sucessores do Profeta (Maomé). A maioria dos muçulmanos da Turquia, da Arábia e do Norte da África pertence a esse partido. Os xiitas são, essencialmente, o ramo persa do islâmismo, Eles consideram Ali e seus seguidores como os ministros divinamente ordenados por Deus (os califas), e continuam aguardando por uma figura messiânica, um grande e verdadeiro líder futuro, o imam ou mahdi. Têm uma multidão de santos e de festas religiosas. O sufismo e o bahalsmo (vide) surgiram dentre essa seita. SUNNA Essa palavra vem do árabe e significa "uso"," tradição", termo usado para aludir às tradições religiosas do islâmismo, onde aparecem como divinamente inspiradas. O vocábulo foi a princípio usado sobre as declarações e escritos do próprio Maomé. Mas depois também foi aplicado àquelas tradições que vieram a suplementar o Alcorão (vide). SUOR O ato de suar ou transpirar é mencionado tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, envolvendo duas palavras hebraicas e uma grega, a saber: 1. Zeah, "suor". Palavra hebraica que figura apenas por uma vez, em Gên. 3:19. 2. Yeza, "suor", "transpiração". Termo hebraico usado por somente uma vez, em Eze. 44:18. 3. Hidrôs, "suor", vocábulo grego usado, igualmente, apenas por uma vez, em Luc. 22:44. O "suor", é apresentado na referência do livro de Gênesis como uma das calamidades impostas ao homem como castigo por seu pecado e queda. Se o trabalho no

jardim do Êden era ameno, após a expulsão o homem teria que lutar contra a própria natureza, porquanto a terra produziria, naturalmente, apenas cardos e abrolhos. Esse fato não pode ser negado. A agricultura, desde então, sempre foi um dos mais cansativos labores humanos. Mesmo em nossa era mecanizada, o homem tem que lutar contra as intempéries, como a seca, as inundações, a geada, etc., e também contra as pragas das mais variadas formas. Em Ezequiel, lemos que os sacerdotes tinham de sç vestir de modo a não lhes escorrer o suor pelo corpo. E que as vestes sacerdotais eram consideradas sagradas, só podendo ser usadas enquanto ministravam, após o que tinham de mudá-las; por roupas comuns. Essas instruções foram minuciosamente impostas no tocante aos sacerdotes zadoquitas (ver Eze. 44:15 ss). No Novo Testamento, a única menção ao suor é aquela da cena da agonia do Senhor Jesus no horto, às vésperas de sua crucificação. Lemos ali: "E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tomou como gotas de sangue, caindo sobre a terra" (Luc. 22:44). O fenômeno não é desconhecido para a ciência, que pode ser observado até mesmo corriqueiramente, em certas ocasiões de grande dor ou aflição. Note-se que Jesus não suou sangue. Lucas diz que o seu suor o se tomou como gotas de sangue. Um cunhado deste tradutor, quando rapazinho, quebrou um braço. Um vizinho prestativo, mas sem conhecimento médicos, ofereceu-se para pôr o osso no lugar, visto que não houvera fratura exposta, e nem havia alguém responsável na casa que o enviasse a um hospital devidamente aparelhado. No dia seguinte, o braço estava horrivelmente inchado. Quando, finalmente, meu cunhado foi levado a um médico, este teve que põr o osso no lugar. A operação foi extremamente dolorosa. Meu cunhado dava urros de dor, e seu corpo ficou ensopado de suor, que brotava de todos os poros, como grandes gotas que pingavam. A palavra grega hídrós é comum no grego clássico, de Homero em diante, indicando grande tensão ou dor, dando a entender intenso sofrimento físico ou mental. A luta do Senhor Jesus contra Satanás, diante de Deus, no Getsêrnani, em tudo cumpriu a maldição do suor, imposta sobre o homem caído. No entanto, há casos de suor sangüinolento, que a ciência médica chama de hematidrose, SUOR DE SANGUE Lemos em Lucas 22:44. "E aconteceu que o seu suor se tomou como gotas de sangue caindo sobre a terra". Antes de mais nada, devemos observar que o versículo anterior a esse, que alude ao anjo que veio confortar o Senhor Jesus, no horto do Getâniani, bem como esse versículo quarenta e quatro, não figuram nos melhores manuscritos do Novo Testamento. Todavia, há alguma evidência textual de peso" sem falarmos em forte apoio dos escritos patrísticos. E possível que a informação ali inserida fizesse parte da tradição oral, como um informe flutuante que, finalmente, encontrou lugar no texto de Lucas. Nesse caso, poderia representar um incidente genuíno na vida de Jesus, embora não originalmente incluído no evangelho de Lucas. Todavia, outros eruditos vêem a questão como um acréscimo apócrifo. E há aqueles que vêem o relato como parte integrante do evangelho original de Lucas, omitido por escribas posteriores, talvez por motivos doutrinários, pois faria Jesus parecer por demais humano, ou por motivo de respeito. Seus sofrimentos não precisariam ser descritos mediante tão vívidos detalhes 1Quanto a notas expositivas completas sobre essa variante textual, ver o NTI naquela referência de Lucas.

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SUOR DE SANGUE - SUPERSTIÇÃO Se as palavras em foco são autênticas, sem importar se faziam parte ou não do evangelho original de Lucas, mesmo assim permanece de pé a indagação a respeito do que esteve envolvido no incidente. Há diversas opiniões a esse respeito: a. A expressão poderia indicar a abundância do suor, sem indicar que houvesse a mistura com qualquer sangue. O texto diz que o suor de Jesus se tomou como gotas de sangue.. b. Por outro lado, um suor misturado com sangue em momentos de grande aflição fisica e mental, é um evento cientificamente provado. O sangue, violentamente agitado pela aflição, pode atravessar as paredes das veias, sem rompê-Ias.Esse fenômeno chama-se diapedese ou hematidrose. c. Em qualquer dessas possibilidades, não devemos perder de vista o ponto ressaltado na narrativa: a agonia de Jesus foi extremamente violenta. Ele era um homem que se defrontava com uma imensa angústia, e reagiu como outros homens teriam reagido em seu lugar. Dizer que sua angústia não era nem mental e nem física, somente porque ele estava diante da possibilidade de ter de levar sobre si os pecados do mundo, é docetizar o acontecimento, é ignorar a autêntica humanidade de Cristo (ver o artigo). A combinação dos fatores divino e humano em Jesus constitui um grande mistério; mas não solucionamos tais mistérios ignorando um dos lados da questão. Conseguimos eliminar o mistério dos mistérios encontrando razões racionais e teológicas que esclareçam as misteriosas questões. (GT NTI S UN) SUPEREGO Ver o artigo geral sobre Freud, que explica os principais termos, incluindo "superego". Ver,especialmente, I. Idéias, quarto ponto. Algumas vezes, o termo superego é sinônimo de Sobre-Ser, sobre o que oferecemos um artigo em separado. SUPEREROGAÇÃO Essa palavra vem do latim, supererogare, "pagar além do necessário"_Na teologia moral, significa fazer mais do que aquilo que Deus requer. O termo teve sua origem no texto de Luc. 10:35, segundo a Vulgata Latina, "quodcumque supererogaveris"; porém, somente durante a Idade Média tornou-se um termo técnico para indicar obras que, voluntariamente, ultrapassam os requisitos morais básicos. Entre essas obras estão os votos de pobreza, celibato e obediência, através das quais homens sérios em sua religiosidade procuram ir além dos deveres morais daquilo que se espera deles em sua vida espiritual. A teologia católica romana supõe que nos casos de indivíduos especialmente santos, tais obras em excesso são postas à disposição de outros, formando assim um mérito excedente que pode beneficiar a outros. Daí temos o alegado "tesouro de méritos", bem como a possibilidade das indulgências (vide), que os grupos protestantes e evangélicos repelem, por serem idéias extrabíblicas. Pode-se indagar, com toda a razão, se a lei do amor conhece qualquer excesso de boas obras, se existe tal coisa como "pagar além do necessário". A idéia da transferência de boas obras de uma pessoa para outra é contrária ao ensino bíblico da responsabilidade do indivíduo. A única transferência da qual todos os homens podem beneficiar-se é aquela que Cristo proveu para nós, em sua vida, expiação e ressurreição (e isso por ser ele o único de sua espécie, o Deus-homem), incluindo seus ministérios no Hades e nos céus. SUPERPESSOAL Quando é aplicado a Deus, esse adjetivo indica que Deus está tão acima dos homens, e é tão misterioso, que é errado

aplicar a ele características de personalidade, que sempre indicam apenas os atributos humanos expandidos a um grau superior. Essa atividade é considerada um crasso antropomorfismo (vide), ou seja, a atribuição, a Deus, de qualidades pertencentes aos homens, em um grau mais elevado. Os teólogos acreditam que essa maneira de descrever Deus limita-o de modo ridículo, e dificilmente pode representar a verdade acerca dele. A maioria dos livros sagrados é de natureza antropomórfica. Mas isso deve-se aos Iimites do conhecimento e da linguagem humanos. Porém, quando os homens descrevem a Deus como um super-homem, podemos ter a certeza de que tais descrições são apenas conveniências e condescendências, e não verdadeiras descrições da deidade. Nos diversos idiomas, temos os pronomes "ele" e "ela". Deus é chamado de "ele", o que começa a demonstrar nossa ignorância e limitações, porquanto o ele de Deus dificilmente pode parecer-se com o ele de um homem. Quando falamos acerca de Deus, vemo-nos reduzidos ao uso de termos simbólicos. As evidências dão-nos razão para crer em seu imenso poder e inteligência, mas, quando muito, falamos em parábolas quando falamos acerca de Deus. Alguns têm usado o termo "impessoal" quando falam sobre Deus, mas esse adjetivo também é inadequado. Talvez o melhor vocábulo, afinal, seja superpessoal. Assim, Deus não é uma pessoa, no sentido em que um ser humano o é; mas ele também não é impessoal, como se fosse apenas alguma força cósmica. Antes, ele é superpessoal. Esse é um vocábulo melhor que os dois outros; mas nem assim teremos dito muita coisa a respeito da natureza ou essência de Deus. Mas isso não nos deveria surpreender, visto que o nosso conhecimento, no tocante à pessoa de Deus, é extremamente limitado. Fazemos melhor papel quando tentamos descrever as obras de Deus. Ver o artigo geral sobre Deus, e também Pessoa, Deus Como Uma. SUPERSTIÇÃO Esse termo deriva-se do latim, supersta, "pairar por cima", "ameaçar", dando a entender algum tipo de temor ou receio religioso, em face do desconhecido, ou de forças naturais potencialmente negativas, como os deuses, a sorte, o destino, etc. "Uma superstição é... uma crença, prática ou atitude que é julgada como algo que 'paira por cima', ou que vai além das normas aceitáveis", sendo assim considerada indigna de aceitação", (B, que dá uma pequena torção à palavra, em relação ao seu sentido normal). Um certo léxico define a palavra como segue: "Uma crença fundada sobre sentimentos irracionais, especialmente um temor assinalado pela credulidade; e também qualquer rito ou prática que sejam inspirados por tal crença" (WA). O exclusivismo entra no quadro. Um grupo religioso pode considerar supersticioso a outro grupo, sem deixar de ser supersticioso ele mesmo. O não-adepto de algum sistema especifico rotula da "superstição" as crenças de outrem, sem importar se suas próprias crenças repousem sobre a credulidade. Todos os sistemas religiosos incorporam algum tipo de superstição, embora isso não consubstancie a crença de alguns antropólogos que, para todos os efeitos práticos, equiparam a fé religiosa à superstição, tomando sinônimos os vocábulos "religião, e superstição". As crenças supersticiosas com freqüência são assinaladas por crenças em presságios, encantamentos, sinais, ritos específicos e outros elementos que repousam sobre a fé em coisas irracionais. Apesar de que o termo usualmente é aplicado às religiões, Spencer escreveu a respeito de superstições

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SUPERSTIÇÃO - SUPOSIÇÃO políticas, sendo seguro afirmar que todos os campos do conhecimento têm suas próprias superstições, ou seja, crendices, alicerçadas sobre a irracionalidade. A palavra também pode ser largamente definida como "preconceito destituído de reflexão prévia". Os teólogos liberais, ao se defrontarem com as crenças e tradições da fé fundamentalista, aí mais vezes referem-se a essas coisas como se fossem superstições. E, naturalmente, algum ramo do cristianismo com freqüência apoda de "superstição", aquilo que é crido e seguido como tradições por outros ramos, se tais noções são consideradas destituídas de base bíblica. Os eruditos liberais, além disso, consideram supersticiosas certas porções da Bíblia, o que nos mostra que o vocábulo tem uma aplicação deveras ampla. Poderiamos definir uma superstição como uma crença no sobrenatural, mas motivada pela ignorância, pelo temor, refletindo uma visão irracional da realidade. Esse vocábulo também pode indicar as práticas que resultam dessas crenças. A magia negra, a bruxaria, os ruídos supostamente produzidos por espíritos, e coisas semelhantes, podem ser consideradas manifestações da atitude supersticiosa. Uma das provas de que os antigos israelitas, como qualquer outro povo, não eram infensos às superstições mais tolas, é que o Antigo Testamento proíbe a adivinhação mediante a consulta aos mortos, por meio de um necromante (no dizer de Lev. 19:31, alguém que possuía um "espírito familiar" segundo certas versões portuguesas), além de proibir a bruxaria, os augúrios, a feitiçaria, etc. (11 Reis 21 :6). Nos tempos do Novo Testamento, a palavra latina superstitio, e seu paralelo grego deisidaimonia (usada exclusivamente em Atos 25: 19), eram empregadas de maneira um tanto imprecisa, dificultando a determinação de seu significado exato. Naquela referência do livro de Atos, lemos que Festo disse a Agripa que Paulo estivera envolvido em disputas com os judeus acerca de algumas questões referentes à sua própria religião. Nessa passagem, a palavra que em nossa versão portuguesa aparece como "religião" é exatamente a palavra grega em foco. Naturalmente, isso representa uma interpretação da palavra, e não uma tradução. Essa interpretação está baseada sobre a idéia de que parece improvável que o governador recém-chegado, tenha designado a religião judaica como uma superstição, no sentido moderno do termo, porquanto isso constituiria uma ofensa. O mesmo comentário pode ser aplicado ao trecho de Atos 17:22; onde Paulo disse aos atenienses: "Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos", e onde "religiosos" é interpretação do substantivo grego deisidaimon. Superstição, no sentido moderno, é uma praga para o cristianismo. Os missionários e pastores da Igreja Evangélica têm feito bastante oposição às práticas supersticiosas. Em nosso Brasil, onde há um forte sincretismo entre o catolicismo romano e o fetichismo africano, muito temos que combater as tendências supersticiosas de nossa gente. Essas inclinações, entretanto, têm-se mostrado tão renitentes que até mesmo entre certos grupos evangélicos, sobretudo de origem pentecostal, transparecem. crendices de fundo supersticioso, de mistura com muitos outros elementos negativos, que exigem urgente reforma. Deve-se observar, contudo, que não podemos generalizar. Há pentecostais que são crentes autênticos, lavados no sangue de Cristo, que nada têm de supersticiosos. Quanto à Igreja Católica Romana, herdeira de muitas

superstições da Idade Média, ou até mais antigas, os protestantes e evangélicos têm-nas combatido sem sucesso. Mudanças reais vêm mediante a conversão, que é capaz de vencer essa tendência tão humana, própria do homem em seu estado de perdição. Uma ilustração: Quando Paulo e Barnabé, mediante o poder de Cristo, curaram a um coxo, em Listra, os habitantes do país queriam adorá-los como se fossem Júpiter e Mercúrio. Porém, Paulo e Barnabé protestaram imediatamente e com veemência contra o ato supersticioso, dizendo: "Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho, para que destas causas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles ..." E, versículos mais adiante, acrescentou o autor sagrado: "Dizendo isto, foi ainda com dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecer sacrifícios" (Atos 14:8-18). Sim, as tendências supersticiosas são quase invencíveis, resistindo à razão com a sua falta de lógica e com sua subserviência às forças malignas. SUPIM No hebraico "serpente". Há dois homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento: 1. Um benjamita que, com seu irmão Hupim, eram filhos de Ir (I Crô: 7: 12, 15). Viveu por volta de 1700 a.C. 2. Um porteiro que cuidava do lado ocidental das muralhas de Jerusalém (1 Crô. 26: 16). Viveu em cerca de 1010 a.C. SUPORTE Palavra portuguesa que é tradução de um termo hebraico usado por dezessete vezes no Antigo Testamento. Nos livros de Êxodo e Levítico é usado para indicar o pedestal da bacia de bronze e do altar dos holocaustos (ver Exo. 30:18,28; 31:9; 35:16; 38:8; 39:39; 40:11 e Lev. 8:11). Bezaleel dissolveu os espelhos das mulheres de cobre, bronze polidos, e com o material, fez o suporte da bacia de bronze. O suporte da bacia e a própria bacia foram ungidos, quando foram instalados, segundo se vê na penúltima dessas referências. Nossa versão portuguesa omite uma frase inteira em I Reis 7:29, onde no original hebraico, aparece o mesmo termo hebraico de que falamos, ken. Essa frase é: "e sobre as molduras havia um suporte acima", a qual deveria ser inserida entre "querubins" e "nas molduras". E dois versículos adiante (I Reis 7:31), a mesma palavra hebraica é traduzida em nossa versão portuguesa como "pedestal". Esse trecho do sétimo capítulo de I Reis fala sobre as dez bacias do templo de Salomão, em Jerusalém. Nos cantos das bacias havia eixos, o que significa que elas eram móveis. Podemos ler sobre suportes com rodas, em Chipre, dando a entender uma disposição similar naqueles objetos. (FOR) SUPOSIÇÃO Vem do latim da, "para" e sugere "tomar". Indica o ato de aceitar pacificamente a verdade de uma proposição, por amor a um argumento alicerçado sobre essa proposição. Usos: 1. Boetio e mais tarde os lógicos latinos, usavam a palavra para indicar a premissa menor de um silogismo. 2. Em sua Lógica, MilI usou o termo em um duplo sentido: a. para designar as verdades matemáticas que servem de ponto de partida em uma prova; e b. para des ignar o ponto inicial de qualquer dedução, sem Importar a veracidade ou falsidade da declaração. Nesse último sentido é que o termo é mais comumente empregado. Portanto, a

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SUPRALAPSARIANISMO suposição usualmente é aceita como o termo de significação menos específica dentro da família de termos que inclui: axioma, hipótese e postulado. (P) SUPRALAPSARIANISMO

Essa palavra vem do latim, supra, "antes", "acima", e lapsus, "lapso", "queda". De acordo com essa posição, o decreto divino da eleição teria ocorrido antes da queda, independente da mesma. Acredita-se que o decreto elegedor precede até à própria criação. Ver o artigo detalhado sobre Infralapsarianismo (Subla-psarianismo), que inclui informações sobre o supralapsarianismo, a doutrina oposta. Ver também sobre Lapsarianismo e Infralapsarianismo. Ver também sobre Predestinação, Eleição e Reprovação. Por igual modo, ver o artigo acerca do Livre-Arbítrio, que provê um contraste aos conceitos do calvinismo radical (vide) .. O sínodo de Dort manifestou-se em favor do supralapsarianismo. Seu conceito básico é que os decretos de Deus, no tocante à eleição e à reprovação não teriam sido provocados pela queda do homem no pecado, mas antecedeu a esse evento, independente do mesmo. Deus teria elegido eternamente a alguns, inteiramente - à parte da queda eventual - da humanidade no pecado. Quando essa queda ocorreu, Deus simplesmente deu prosseguimento ao seu plano original. A queda no pecado requereu a expiação em prol dos eleitos, pelo que o plano eleitor não foi perturbado, mas tão-somente foi adicionada a idéia de expiação (ver Gên. 15~ mas, em contraposição, ver Apo. 13:8). Ver sobre o Determinismo. A posição supralapsariana radical inclui a reprovação ativa, e até mesmo o decreto da queda no pecado, de tal modo que tudo quanto acontece deve-se à vontade ativa de Deus, como causa única. Ora, isso faz Deus a causa do mal. Mas certos teólogos não vêem isso. Por causa dessa dificuldade, alguns teólogos supralapsarianos supõem que a reprovação é passiva. Para eles, Deus não teria decretado a perdição dos homens, mas tão-somente permitiu que processos perversos se encarregassem disso. O absurdo da posição radical é que o amor de Deus, o maior poder na criação, fica inativo, nada significando para as massas, contra muitos versículos do Novo Testamento, incluindo famosas passagens como João 3:16 e I João 3:2. Essa idéia radical também é contrária à missão tridimensional de Cristo, mediante a qual ele alcança todos os homens, embora nem sempre da mesma maneira. Cristo teve uma missão sobre a terra; outra no Hades; e ainda outra nos céus. ver sobre Descida de Cristo ao Hades e Missão Universal de Cristo. Ver também sobre Restauração. Ao examinarmos qualquer questão teológica, cumpre-nos o dever de ansiar por ver as coisas pelo prisma otimista. Em primeiro lugar, porque esse é o prisma das Escrituras (ainda que, em alguns lugares, e em alguns autores, transpareça também o ponto de vista pessimista). Deveríamos escolher o melhor das duas posições. Em segundo lugar, sempre devemos nos pôr ao lado do amor de Deus em favor de todos os homens. Os calvinistas radicais rejeitam a idéia de que Deus realmente amou ao "mundo" ou seja, à humanidade inteira, real e verdadeiramente. Polaridade. Ver o artigo sobre esse título. A soberania de Deus e o livre-arbítrio humano são ambos ensinos das Escrituras. Portanto, respeitemos ambos. São pólos de algum único conceito maior, embora não possamos entender como isso pode ser. Nossa falta de compreensão não deveria resultar no anulamento do amor de Deus a todos os homens e das missões (ver o plural) de Cristo em

favor de todos. Anular esse amor divino é anular o próprio evangelho. Meu artigo sobre a Eleição mostra que essa doutrina é genuína, fazendo parte das Escrituras mas isso é apenas um dos lados da questão. Algumas passagens bíblicas ensinam a genuinidade da convocação ao arrependimento, lançada a todos os homens, O artigo sobre a Restauração demonstra a universalidade real (não apenas como teoria) das missões de Cristo, embora nem todos esses aspectos se apliquem a todos os homens da mesma maneira. Quem não foi eleito, será restaurado; e essas são facetas da mesma obra de Cristo. Acima e além de todas as doutrinas, brilha o amor de Deus, que só pode praticar o bem, beneficiando a todos. O próprio julgamento é um dedo da mão amorosa de Deus, porque o julgamento operará uma obra restauradora, que não visa somente à vindicação dajustiça Ver sobre Julgamento de Deus dos Homens Perdidos. Faríamos bem em rejeitar as posições doutrinárias radicais e unilaterais, que anulam a eficácia das operações do amor de Deus. O evangelho depende do amor de Deus; doutra sorte, terá fracassado, não tendo poder suficiente para dominar os obstáculos enfrentados. Esse tipo de evangelho é um fiasco. A doutrina da eleição é uma doutrina moral somente se o amor de Deus beneficia a todos os não - eleitos. O amor de Deus pode realizar duas obras para diferentes grupos de homens. O amor de Deus redime um dos grupos; e restaura o outro grupo. É verdade que o que aqui digo pode ser apenas uma forma de reconciliação; mas apresento essa idéia como tentativa, porque algumas Escrituras indicam o poder da redenção no tocante a todos os homens. Portanto, permanece de pé o paradoxo (vide), como também a necessidade de polaridade (ver acima). Tenho sido acusado de ser um "humanista cristão", E aceito alegremente esse título. Minha convicção é que grande foi a obra de Cristo em prol de todos os homens, tendo efetuado uma tríplice missão, a fim de garantir resultados espetaculares. Espero esse tipo de resultado da parte do amor de Deus. O evangelho, conforme é descrito em muitas igrejas ocidentais (o catolicismo romano e suas filhas separadas, as igrejas protestantes), é bastante pessimista, sem realizar grande coisa, finalmente. Em contraste, nas igrejas ortodoxas orientais e na comunidade anglicana, há um ponto de vista mais otimista, onde a obra de Cristo continua a beneficiar àqueles que morreram biologicamente, embora ainda em seus pecados. É impossível não esperar que o evangelho haveria de obter resultados espetaculares, ou que acabaria fracassando quanto a isso. Se o evangelho vier e, falhar, então não temos muito sobre o que pregar. Em nada me ajuda lançar a culpa sobre as falhas humanas. Se o evangelho vier a falhar, então é que não tem o poder de predominar sobre os obstáculos encontrados, incluindo aqueles impostos por homens ímpios. Um evangelho fracassado é uma cena lamentável, e podemos indagar por qual motivo Deus com todo o seu amor e com todo o seu poder, e atuando por intermédio de seu Todo-Poderoso Filho, atuou de modo tão insuficiente. Um Deus que traçou um grandioso plano, mas que então o concretizou de modo tão pobre é um estranho tipo de Deus, a menos que, conforme dizem os próprios calvinistas radicais, ele tencionou fracassar, se pensarmos em termos de todos os homens, que são objetos e beneficiários dessa realização. Porém, o fato é que há vários trechos bíblicos que mostram que Deus não tencionou falhar. Afirmo, pois, que Deus não pode ter fracassado. Entendo que o poder de Deus está por detrás de seu

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SUPRALAPSARIANISMO - SUSÃ amor, e apenas secundariamente por detrás do castigo que ele impõe aos impenitentes. Em segundo lugar, afirmo, porque até essa punição é expressão do amor divino, devendo produzir resultados bons e benéficos, não podendo meramente causar sofrimentos. O trecho de I Ped. 4:6 ensina a natureza remedial do julgamento final. Ele julgará aos homens a fim de que, finalmente, eles possam viver. Esse é o âmago próprio da mensagem do evangelho. Se isso não é uma verdade, então Schopenhauer estava com a razão, ao dizer que "a própria existência é um mal". Ver sobre o Pessimismo. Ver sobre o Mistério da Vontade de Deus, aquilo que Deus tenciona fazer, finalmente, no tocante à sua criação. A doutrina do julgamento é uma doutrina intermediária. Deus tem outros planos que prosseguem pelos corredores do futuro. SUQUITAS Uma tribo, evidentemente africana, embora não possamos identificá-la com qualquer povo moderno. Sabemos apenas que Plínio falou sobre os Suchoe em 29 a.C., e que talvez seja o mesmo povo. Eles ajudaram Sisaque, rei do Egito, quando este invadiu a Palestina. Ver II Crô. 12:3. SUR No hebraico, "fortificação de muro", provavelmente referindo-se ao local como um tipo de barreira geográfica natural que se estendia pelas grandes estradas do nordeste do Egito próximo à fronteira leste. Mas alguns estudiosos pensam que havia um muro literal ali, batizado com o mesmo nome do território próximo a ele. ". __ um Grande Muro, existente ali através da entrada do Egito Inferior como uma barreira e como um marco entre o delta e o deserto... assim, era natural que a região em ambos os lados do muro tivesse o nome do muro. No lado oeste ficava a terra de Jazor, isto é, a Terra muro adentro. No lado leste ficava o deserto de Sur, com o sertão muro afora. Assim foi criada a circunstância pela qual a terra do deserto a leste do Egito Inferior é conhecida na Bíblia como o 'deserto de Sur " (Trumbull, Cades-Barnéia). Gên, 16.7 menciona o córrego que ficava no caminho para Sur, onde o anjo do Senhor encontrou Hagar quando ela fugiu da raivosa Sara. Provavelmente ela passou pela antiga rota de caravanas, o último segmento do famoso Caminho do Rei que saia de Edom e passava pelo deserto de Zim (Exo. 15.22). Para referências a Sur, ver Gên. 16.7; 20.1; 25.18; Êxo. 15.22; I Sam.15.7; 27.8. Com o uso da palavra "muro" devemos entender fortificações, não apenas um único muro. SURAS No árabe, essa palavra significa "grau" ou "degrau", termo usado para especificar os capitulas ou seções do Alcorão (vide). Há cento e catorze suras, arranjadas das seções mais longas para as mais breves, sem qualquer lógica ou cronologia evidente. Foi Zaid, o secretário de Maomé, que, depois da morte de Mafoma, criou o arranjo. SURDO, SURDEZ No '.!ebraico, chemb, palavra que aparece por nove vezes: Exo. 4:11; Lev. 19:14; Sal. 38:13; 58:4; Isa. 29:18; 35:5; 42:18,19. No grego, kophôs, vocábulo que figura por quinze vezes: Mat. 9:32,33; 11:5; 12:22; 15:30,31; Mar. 7:32,37; 9:25; Luc. 1:22; 7:22; 11: 14. A Bíblia usa essa palavra, como adjetivo ou substantivo, em sentido literal e em sentido figurado. Em Lev. 19: 14, a

lei mosaica requeria um tratamento humano para os surdos, porquanto nos homens há um impulso estranho para zombar dos débeis e defeituosos. O trecho de lsaias 29: 18,35 mostra que até os surdos ouvirão a Palavra de Deus, dando a entender que a mensagem de Deus será conhecida por toda parte, por todos os homens, sem o menor obstáculo. Uso Figurado. A condição da surdez simboliza a ausência de capacidade espiritual, o que não deixa a individuo compreender espiritualmente a verdade (Isa. 42: 18, 19; 29: 18). Contudo, os santos também podem ser comparados com os surdos, quando exercem a paciência e resignam-se sob as tribulações (Sal. 38: 13; 39:9). Espiritualmente, um homem se faz voluntariamente surdo quando se recusa a ouvir e a entender a instrução espiritual. Surdos, ouvi, e vós, cegos olhai, para que possais ver, (Isa, 42:18). Jesus realizou milagres de cura da surdez (Mat. 7:32-37), que também representavam o seu poder de fazer os homens abrirem os ouvidos espirituais para a verdade. Esse tipo de milagre, entre outros, serviu de sinal de seu oficio e autoridade messiânicos (Luc. 7:22). Cria-se que a possessão demoniaca pode causar a surdez (Mar. 9:25); e isso significa que a expulsão de um espirito maligno pode livrar a pessoa dessa condição. Isso envolve uma óbvia lição espiritual.

SUSÃ (SUSA) No hebraico, Lírio. Uma cidade, também charnadaSusa, que ficava às margens do rio Ulai, no Ulai, Ali era a sede do governo persa. Seu nome moderno é Sus, na provincia do Cusistão. No grego tem a forma de Sousa ou Sousís. Essa cidade é mencionada nas Escrituras por vinte e uma vezes, em Nee. 1:1; Est. 1:2,5; 2:3,5,8; 3:15~ 4:8,16; 8:14,15; 9:6,11-15,18 e Dan. 8:2. De acordo com as explorações arqueológicas, o local vinha sendo ocupado desde a era neolítica, com um desenvolvimento cultural todo próprio, que os arqueólogos denominam. Nas ruínas de Susa tem sido descobertos documentos fitos em uma forma hieroglifica ainda não decifrada, que os estudiosos têm designado de "protoelamítica" um estágio inferior da produção da escrita (vide). Quando essa cidade surge na história, elajá aparece como o centro da civilização elamítica. Nações contemporâneas citam Susa, como é o caso da lista de reis sumérios, onde há alusões a dinastias até do terceiro milênio a. C. Portanto, a cidade já tem cerca de cinco mil anos de existência. Parece que ela era o centro de um culto antiquissimo, que girava em tomo da divindade elamita In-Shushinak Houve dominações sumérias e semitas, quando a cidade foi ampliada segundo os moldes mesopotâmios, com um templo de astrologia e um zigurate. Era a rota quase obrigatória de negociantes e viajantes entre a Suméria e o Elão. Posteriormente, quando do enfraquecimento da Surnéria, os elamitas vingaram-se, destruindo Ur dos caldeus, mas seu período de vitórias foi breve, pois, em 1924 a.C. Gungunum, de Larsa, derrubou Susa, e, durante quatro séculos em seguida, pouco se falou sobre Susa, nos registros em escrita cuneiforme. Finalmente, ela aparece como aliada dos assirios, como uma ameaça contra a cidade de Babilônia, que lhe ficava mais ao sul. Essas rivalidades entre grandes cidades da região continuaram, com a maré da sorte bafejando este ou aquele lado, até que, por ocasião do ressurgimento do império babilônico levou total destruição de Susa, por Assurbanipal, em 639 a.C., o que pôs fim às hostilidades milenares. Isso permitiu o predomínio dos indo-europeus, recém-chegados na região do que é hoje o Irá. Com o

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SUSÃ - SUSANA surgimento do poder, primeiramente dos medos, e, em seguida, dos persas, Susa tomou-se a capital regional dos arianos. Dario escolheu Susa como sua residência real, em 521 a.C. Susa é, frequentemente mencionada no livro de Ester, como cena das atividades da corte de Xerxes (vide), filho e sucessor de Dario. Nesse livro bíblico tem-se uma idéia da opulência do palácio real. Já na época de Alexandre, a cidade e seu palácio foram um dos alvos mais cobiçados das conquistas daquele macedônio. No palácio houve casamentos em massa entre os oficiais militares gregos e as princesas persas, no ano de 324 a.C. A partir dessa época, porém, a cidade foi declinando em importância, tendo sido saqueada por algumas vezes durante a época medieval. Expedições francesas têm escavado cuidadosamente o local, desde os meados do século XIX. Até hoje, Susa é quase que o único lugar onde são encontradas antiguidades da época dos elamitas. A descoberta mais importante que houve ali, em 1902, foi a do código de Hamurabi (vide). Houve uma época em que o nome da cidade foi mudado. Sabe-se que Antíoco I Soter (cerca de 293-261 a.C.) alterou-lhe o nome para Seléucia, um toque do orgulho de familia porque ele era descendente de Seleuco, um dos quatro generais de Alexandre que herdaram o seu imenso império, quando de sua morte prematura.

SUSANA, HISTÓRIA DE I. Nome 11. Caracterização Geral; Conteúdo I1I.Canonicidade IV.Propósito e Historicidade V. Autor e Data I. Nome Do hebraico, "lírio ", dado como Sousanna na Septuaginta. Possivelmente o original foi escrito em hebreu e em aramaico, mas a história chegou a nós em grego. Alguns dizem que houve um original grego, indicando um jogo de palavras em conexão com o nome das árvores e as iminentes punições previstas (13.54 ss.) schinoi - shcisei; (vss. 54 ss.); prinon - kataprise tprtsaiy (vss. 58 ss.). É possível que os gregos tenham tentado imitar tal jogo de palavras no hebraico. De modo geral, as transliterações são bem óbvias e deve-se admitir que essa "evidência" é fraca. Por outro lado, se o grego for grego natural, provavelmente não é uma transliteração. 11.Caracterização Geral; Conteúdo Este livro é chamado de apócrifo pelos protestantes e evangélicos que seguem o Cãnon Palestino (os 39 livros do Antigo Testamento), mas canônico pelos católicos romanos que seguem o Cânon Alexandrino exibido na Septuaginta. Essa versão contém o livro e reflete o uso dele pelos judeus da Diáspora (ver). Tanto a Septuaginta quanto a Vulgata colocam esse livro no final do livro de Daniel, ao qual ele serve como um tipo de adição. Mas Teodotio o colocou no início de Daniel. O livro conta a história de Susana, uma devota mãe judia, esposa de Joaquim. A época teria sido o cativeiro babilônico de Judá. Dois anciãos fazem fortes avanços em Susana, que ela rejeita firmemente. Eles a ameaçam com falsas acusações de adultério com um jovem homem, se ela não se entregar às suas exigências. A ameaça não funciona, portanto os juízes vão adiante com a vingança. Ela é condenada e preparada para a execução. Mas, no momento em que está sendo levada para a morte, Daniel aparece para ajudá-Ia. Ele, através

de uma acareação cuidadosa das testemunhas falsas, é capaz de provar sua inocência. Assim, os próprios acusadores são executados de acordo com as provisões de Deu. 19.19. A história provavelmente foi escrita por um judeu palestino durante o início do primeiro século a. C. Ela ilustra a insistência dos fariseus de que houvesse um rígido exame das testemunhas e forte punição de falsas (Makkot, 5b). O incidente serviu para exaltar a sabedoria e o poder de Daniel, o profeta 111. Canonicidade O livro pertence à Septuaginta, portanto era canônico pelos padrões dosjudeus da Diáspora. isto é, de acordo com o Cânon Alexandrino. Mas ele não está contido no Cânon Palestino (os 39 livros), aceito pelos protestantes e evangélicos. Por este motivo é chamado de "apócrifo". A Vulgata.seguindo a liderança da Septuaginta (o que de modo geral faz), retém o livro. O livro ganhou o respeito de alguns antigos. Como Jerônimo, Orígenes argumentou que ele é canônico. Alguns dos primeiros cristãos consideravam o livro uma alegoria da igreja cristã, que deu a ela certo prestígio. Ver o artigo geral sobre o Cânon do Antigo Testamento IV. Propósito e Historicidade 1. Historicidade't Se o livro reconta uma história verdadeira, seu propósito era ilustrar certas verdades morais e espirituais através de um acontecimento significativo que ocorreu durante o cativeiro babilônico. Mas poucos estudiosos levam a história a sério como algum acontecimento real. Parece um romance religioso, um trabalho de ficção moralista. Joaquim, o marido de Susana, é retratado como se vivesse em circunstâncias opulentas, cheio com servos. E juízes "eleitos" tinham o poder da punição capital. Tais circunstâncias dificilmente podiam caracterizar os judeus na época do cativeiro babilônico. 2. Ou o livro é um tipo de tratado enganoso dos fariseus contra os saduceus, que haviam cometido erros judiciais, permitindo que testemunhas falsas obtivessem êxito e não exigindo justiça rígida, sem investigação adequada Houve o caso notório da execução de um filho de Simão ben Shetaque, fariseu de renome na época de Alexandre Janeu, por causa de acusações falsas. Falando rigidamente, devemos incluir que seu falso acusador foi desmascarado, e o acusado poderia ter sido liberado. Mas pela interpretação dos saduceus do Lex Talionis (pagamento de acordo com o crime cometido), o acusador não poderia ser executado a menos que o acusado tivesse morrido. Portanto, o acusado optou por morrer para garantir a execução do acusador! A que preço essa vingança! 3. Ou a história era simplesmente ficção que tinha por objetivo ilustrar várias virtudes morais, especialmente a pureza de vida diante da adversidade e o poder de oração e retidão. E, claro, significava aumentar a estatura de Daniel como profeta. Possivelmente a resposta correta seja uma mistura das idéias 2 e 3. Alguns dos livros mais poderosos já escritos são romances, portanto isso nada diz contra a canonicidade desse trabalho caso ele seja, de fato, um romance religioso. V. Autor e Data Estudiosos não têm certeza se esse livro foi escrito na Palestina ou na Alexandria, nem se foi escrito em grego ou em hebraico, daí certamente não terem como identificar um autor.O próprio livro não faz declarações sobre isso, portanto ele é verdadeiramente anônimo. Embora a data do livro também seja incerta. estudiosos datam-no no primeiro ou segundo século a. C. Nada no conteúdo do livro permite que possamos definir uma data mais precisa.

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SUSANQUITAS - SUSTENTADOR SUSANQUITAS

Trata-se de um adjetivo gentílico, que aponta para os habitantes da cidade de Susa (vide). Esse adjetivo aparece, paralelamente a outros, como dinaítas, afarsaquitas, tarpelitas, afarsitas, arquevitas, babilônios, deavitas, e1amitas, e outros, não designados nominalmente, que Reum e Sinsai usaram na carta endereçada ao rei Artaxerxes, solicitando a proibição da continuação da ereção do novo templo de Jerusalém, por parte dos judeus que estavam voltando do exílio babilônico. Mais precisamente, os susanquitas eram ex-habitantes da cidade persa de Susã, que haviam sido trazidos para a Palestina central a fim dê substituírem as dez tribos de Israel que haviam sido levadas quando do cativeiro assírio. Ver Esdras 4:9, o único trecho bíblico onde esse adjetivo gentílico é usado. SUSI

No hebraico, "Yahweh é veloz" ou "Yahweh está se regozijando". Seu nome aparece exclusivamente em Núm. 13: 11. Ele pertencia à tribo de Manassés, foi o pai de Gadi, um dos doze espias enviados para explorar a Terra Prometida. Viveu em tomo de 1490 a.c. SUSTENTADOR. CRISTO (LOGOS) COMO I. Nele tudo subsiste 1:17. Grego, sunesteken ( de sunistemi), contituir, compor.

A idéia que temos aqui é que o universo é mantido como um sistema ordeiro (a palavra sistema deriva-se do vocábulo grego aqui empregado), por seu poder. A unidade e a ordem, no universo, são, vistas como algo que não se alicerça sobre forças mecânicas impessoais, mas sobre a inteligência do Lagos eterno. Portanto, apesar de que as leis naturais governam o sistema dos universos, contudo, tais leis são apenas expressões de sua inteligência e poder, como realizações de seu próprio ser sustentador e organizador. Por conseguinte, todas as coisas têm, uma relação vital com ele, sobretudo os homens, os quais, por isso mesmo, não podem adorar a meros anjos (ver Cal. 2: 18). Cristo, portanto, deve ser reputado o Cabeça (ver Co12: 19), pois somente ele pode ser tal coisa. Nele "vivemos, nós movemos e temos o nosso ser", esse é o pensamento deste versículo, aplicado aos homens. Podemo-nos aproximar do "Deus invisível", mas não através das incontáveis esferas de "aeons", e, sim, através do próprio Cristo, o qual se conserva próximo de nós, sendo o poder doador de vida que sustenta a existência de nossos próprios seres. No dizer de Robertson (in loc.), Cristo é a força controladora e unificadora da natureza. A filosofia gnóstica, que diz que a matéria é má e foi criada por algum 'aeon' remoto, fica assim eliminada. O Filho do amor de Deus é o criador e o sustentador do universo, que não é mau". No Logos todas as coisas mantêm a sua coerência, e, através disso, chegam à função, na realização de seus propósitos na existência, sejam elas animadas ou inanimadas. Em Cal. I: 18 e ss, vemos o relacionamento entre o Filho de Deus e a sua Igreja, pondo em foco o plano rem idor. Nos versículos quinze a dezessete é especialmente salientado o poder do "Cristo preexistente", bem como sua relação para com todos os seres e universos; mas até mesmo nessa ênfase também precisamos perceber que esse relacionamento é visto como algo que continua e é elevado no Cristo glorificado, porque o presente relacionamento de Cristo com tudo é incluído no tema do discurso. Já que a presente relação de Cristo com tudo está sob discussão, o Cristo glorificado também deve estar em foco. E já que

sua glorificação depende do término bem-sucedido de sua missão remidora (ver Fil. 2:9, 10), então o Cristo encarnado também deve estar em foco em Cal. I: 17. Torna-se evidente, portanto, que as distinções minuciosas de certos intérpretes, que pretendem limitar os versículos quinze a dezessete ao Cristo "reencarnado", além de outras interpretações tais, não podem ser sustentadas sob exame cuidadoso. Cristo, em sua glória, desde a eternidade passada à eternidade futura, é a idéia dominante. Nenhum mero "aeon pode postar-se ao lado de Cristo, e nem deve ser colocado artificialmente nessa posição, na adoração por parte da igreja cristã. O fato de que Cristo é o poder sustentador e organizador de tudo nos é dito de modo um pouco diferente, em Heb. 1:3, onde se lê: "sustentando todas as cousas pela palavra de seu poder ..." No dizer de Bengel (in loc.): "Nele (em Cristo) todas as coisas estão unidas e prosseguem, formando um só 'sistema': o universo encontrou e retém nele o seu bom termo". "Ele, o Todo-Poderoso, o Lagos todo-santo do Pai, espalha seu poder sobre todas as coisas em todos os lugares, iluminando coisas visíveis e invisíveis, mantendo e unificando a tudo, em torno de si mesmo. Nada é deixado vazio de sua presença, mas para todas as coisas e através de tudo, individual e coletivamente, ele é o doador e o sustentador da vida... Ele, a sabedoria de Deus, mantém o universo em sintonia. Ele é aquele que, ligando todas as coisas umas com as outras, e pondo em ordem a tudo, segundo sua vontade e beneplácito, produz a unidade perfeita de natureza e o reino harmonioso da lei. Enquanto ele permanece inabalável para sempre, junto ao Pai, ao mesmo tempo move as coisas por sua própria determinação, de acordo com a vontade do Pai" (Atanásio, referindo-se a Cal. I: 17). Estáfeito, a grande transação foi consumada! Eu sou do Senhor, e ele é meu; Ele me atraiu, e eu o segui, Encantado, confessando a voz divina. (Philip Doddridge)

Ele vincula todas as criaturas e forças formando um todo cooperante, reconciliando seus antagonismos, arrastando todas as suas correntes para formarem uma única grande onda de maré, mesclando todas as suas notas em uma música que Deus pode ouvir, por mais discordantes que, às vezes, elas nos soem. Ele é o 'vínculo da perfeição' a pedra principal do arco, o centro da roda... Que doçura e que respeito reverente tais pensamentos lançam em redor do mundo exterior e das eficiências da vida! Quão perto isso nos deveria levar de Jesus Cristo! Que poderoso pensamento é aquele que o curso inteiro dos negócios humanos e dos processos naturais é dirigido por aquele que morreu sobre a cruz!! O teme do universo é seguro pelas mãos que foram. transpassadas por nós. 2. Seu poder sustentador-Heb. 1:3 O Logos (Cristo) é antes do mundo, por ser o Criador do mundo, a glória de Deus para o mundo; e agora é o sustentador de toda a criação. Isso está de acordo com o conceito do Lagos concebido por Filo. O "Lagos" entra no mundo; e a sua presença todo-permeadora, em toda a criação, é aquele poder da razão divina que controla e sustenta tudo. Não se pode imaginar que isso limite em qualquer sentido o poder do "Lagos". Serve ainda de outra demonstração sobre o seu poder de sustentação, o que significa: 1. o controle de toda a ordem da natureza; 2. a sustentação de toda a vida; 3. o permear da natureza com

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SUSTENTADOR - SWEDENBORG os propósitos graciosos de Deus, o que nos infunde a esperança de restauração de tudo, tirando a criação do erro e do mal; 4. provavelmente a menção de seu poder sustentador visa ensinar, por semelhante modo, que em toda a história, todo o ser e a exigência inteira, quando são corretamente interpretados, servirão de espelho para o Filho, o qual, por sua vez, é o espelho de Deus Pai. Isso assevera, pois, a idéia de "uma única verdade". Toda a verdade é apenas uma fragmentação daquela única grande Verdade, que é Deus; e Cristo, por sua vez, é a "verdade" divina apresentada aos homens. (Ver João 14:6).

Era, mas, em I Crô. 7.20,21, ele é chamado de o pai de Berede. Possivelmente, uma condensação (salto de alguns vínculos) provocou essa diferença. A confusão aumenta com a inserção, na Septuaginta, de "Sutela e seu filho Eden" em Gên. 46.20. 1. Filho mais velho de Efraim (Núm. 26.35, 36) que viveu em tomo de 1850 a. C. Seus descendentes, através de outro homem que tinha o mesmo nome, são dados em I Crô. 7.20, 21. 2. Filho de Zaba, também da linhagem de Efraim (I Crô. 7.21). Viveu em tomo de 1500 a. C.

A voz que faz rolar as estrelas ao longe, Profere todas as promessas. (Isaac Watts) "Aquele que cura o coração partido é também aquele que conta o número das estrelas e que as chama pelo nome. (Ver Sal. 147:3,4)" . (Cotton, in loc.). Heb. 1:3 deixa nas mãos de Cristo as "leis naturais". Ele foi o seu Criador e é o seu aplicador; mas isso envolve até mesmo as dimensões espirituais, como também as questões do bem-estar e da restauração espirituais. Nessa esfera, Cristo é igualmente o sustentáculo de tudo. O grego original diz aqui, literalmente, suportando tudo pela palavra de seu poder. É usado o particípio presente, o que indica uma ação contínua. O poder de Cristo é o poder sustentador e controlador contínuo. Isso pode ser confrontado com o trecho de Col. 1:17, que diz, "Nele tudo subsiste", que expressa algo da mesma coisa que diz o presente versículo. Filo (de Cheub § xi) descreve o Logos divino como o "timoneiro e piloto de tudo"; e essa idéia certamente é incluída aqui. Assim, na criação, ele se faz presente-com todos, em todas as suas modificações e transformações, através dos aeons" (Weiss, in loc.). Filo também chamava o "Lagos" de o "amarra" do universo. Essa idéia pode ser comparada com Heb. 2:10; Rom. 8:32; 11:36; I Cor. 8:6; Efé. 1: 10 e Cal. 1: 16. 3. O poder da palavra de Cristo Essa "palavra" é a do poder de Cristo, e não a "Palavra", conforme é usada por Deus em suas obras. Não é usado aqui o termo grego lagos, e, sim, a palavra que comumente tem o sentido de "palavra". Deus falou e a criação veio à existência. Certamente há uma alusão a isso aqui. (Ver também Heb. 11:3). Foi a palavra de Deus que trouxe à existência; e é a sua palavra que sustenta a tudo. Assim também, Cristo e o Pai são feitos iguais, nesse particular; e o que é dito acerca do Pai, ali, é dito acerca do Filho, neste ponto. O poder de Deus é facilmente utilizado por ele, como que pela direção de uma mera palavra. Notemos os muitos paralelos entre o primeiro capítulo da epístola aos Hebreus e o primeiro capítulo da epístola aos Colossenses. Cristo é a revelação de Deus, o poder criador, o poder sustentador (ver Cal. I: I 5- I 7), e em Heb. I: 1,2, ele aparece exatamente como esse poder. Os escritores rabínicos falavam de Deus como quem sustenta todas as coisas, tanto no alto como neste nível terreno; o qual transporta suas criaturas pelo mundo; o qual sustenta todos os mundos através do seu poder. Esse tipo de linguagem é aqui transferido para Deus Filho. (Ver Targum sobre II Crô. 2:6).

SUTRAS

SUTELA Do hebraico, "estabelecimento de Tela". Duas pessoas das genealogias da tribo de Efraim são chamadas por este nome. Há alguma confusão nas genealogias. Em Núm. 26.3 5-37, um homem chamado por este nome era o pai de

Essa palavra vem do sânscrito, sutra, "aforismo". O termo designa um imenso corpo de literatura religiosa indiana, essencialmente composta entre os séculos VI e IH a.C. O surgimento desse material deveu-se à necessidade de comentar a literatura védica. As sutras, pois, são esse material adicional que não demorou a ser considerado autoritário para a fé e a prática religiosas. No entanto, são comentários caracteristicamente breves, que convidavam à formação de uma literatura adicionaI de explicações. Quase todos os comentários que então se seguiram foram estruturados sob a forma de diálogos. Ver o artigo chamado Vedas. As sutras, pois, podem ser classificadas como uma porção posterior da literatura védica. O propósito delas era sumariar os escritos originais. Tipos de Sutras:

1. Srauta, sutras sacerdotais; 2. grihya, comentários acerca de ritos domésticos; 3. dkarma, comentários sobre os deveres sociais; 4. sutras miscelâneas, que tratam de todos os tipos de assunto, como gramática, astronomia, mágica, etc. As leis de Manu consistem uma forma mais tardia das mais importantes Sutras Dharma.

SWEDENBORG,EMANUEL Suas datas foram 1688-1772. Era filho de Jesper Swedenborg, que era professor em Upsala e bispo de Skara, homem que simpatizava com o pietismo, influenciado pelo misticismo e compositor de muitos hinos sacros. Emanuel Swedenborg foi um proeminente cientista e líder religioso sueco. Educou-se em Upsala e ocupou um cargo público. Ativo nas ciências físicas desenvolveu teorias sobre a luz, o atomismo, a cristalografia. E, no campo da biologia, investigou as atividades do cérebro humano. Um ponto crucial de sua vida ocorreu em 1745, quando passou por poderosa experiência mística, quando "os céus se lhe foram abertos". Recebeu muitas revelações e informações espirituais que se tornaram a base de sua Nova Igreja. a qual ele mesmo não promovia como uma nova denominação, mas que foi feito por seus seguidores. Eles chamavam essa nova fé de "Igreja da Nova Jerusalém". Swedenborg tornou-se um místico de considerável experiência. Suas visões originais não marcaram o fim das revelações que recebeu. A teologia de suas crenças foi compilada na obra chamada Vera Christiana Religio (1771). Idéias: 1. Em seu pensamento anterior, sua Filosofia natural já antecipava algo de sua teologia posterior. Pontos de matemática foram revistos, conectando o finito com o infinito. A realidade foi encarada como uma hierarquia orgânica, a série começando com o ponto da matemática e elevando-se até o próprio Deus. Sua obra mais antiga, Principia (1734), assumia uma visão mecanista da realidade; mas em 1736, em seu livro Deconomia Regni Animalis. elejá estava injetando

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SWEDENBORG - SYLLABUS pontos de vista místicos na questão. Dai por diante, o mundo tomou-se para ele cada vez mais parecido com um organismo do que com uma máquina. 2. Quanto ao Problema Corpo-Mente (vide), ele, falava sobre uma harmonia co-estabelecida entre o corpo e a alma. Ele dividia a alma, à maneira platônica, ou seja, nos graus vegetativo, racional e espiritual. 3. A queda do homem tê-lo-ia privado totalmente de conhecimento. Isso seria revertido separando-se a parte esprruuai lia alma ua razao, uu st:Ja, a anima ua mens rationalis. Todo conhecimento estaria armazenado dentro da alma (platonismo novamente), mas só seria sondado através de um esforço. remidor. 4. Interpretação. A chave de Swedenborg para a interpretação era a suposição de que todos os termos têm significados naturais, espirituais e divinos, e esses alegados princípios ele aplicava às Escrituras e a outras fontes de informação espiritual, 5. Graus de Ser em Deus. Amor.- O nível divino ou dimensão das finalidades. Sabedoria. - o nível espiritual ou dimensão das causas. Uso: o nível natural, ou dimensão dos efeitos. Existiria no homem uma espécie de trindade do ser, formada por amor, sabedoria e vida útil ou criativa, pelo que o homem corresponderia a Deus, como o microcosmo corresponde ao macrocosmo. 6. Interação de Forças. Os níveis natural e espiritual do ser têm correspondência e interação. O natural reflete o espiritual. Os seres humanos vivem em ambas as dimensões ao mesmo tempo, mas cultivam alguma delas mais do que a outra. Embora seja um ser decaído, o homem goza de liberdade, mediante a qual exerce a sua vontade e a sua razão, e assim pode retomar à dimensão espiritual. 7. Repúdio. Ele rejeitava as doutrinas ortodoxas da Trindade e da expiação, e também dizia que o julgamento já tivera lugar, (em 1757), quando Cristo retornara (espiritualmente), tendo triunfado sobre espíritos rebeldes. 8. Sobre a morte, de acordo com Swedenborg, a alma entra na dimensão dos espíritos. A alma pode subir a uma dimensão celeste ou descer a uma dimensão infernal (Hades). Se a alma subir, toma-se um anjo de luz; se descer, torna-se um espírito maligno.

9. Casamentos Celestes. As almas boas podem encontrar contrapartes, participando assim de um casamento celeste. 10. Artigos de Fé. Os principais artigos para a Nova Igreja são os seguintes: um único Deus e uma espécie de doutrina trinitária (não-ortodoxa); o Senhor Jesus Cristo é identificado com essa trindade. A fé que salva é a confiança nele. Todo mal deve ser evitado, porquanto pertence ao diabo; o bem deve ser praticado, porquanto vem de Deus, nelo oue teríamos aoui a sianificacâo cósmica tanto do bem quanto do mal. Um homem pode praticar boas obras por sua própria decisão, estando nesse dever; mas o Senhor posta-se perto, ajudando-o e aprovando-o. 11. Esperança Quanto ao Futuro. A verdade, finalmente, haverá de obter a vitória, e as miríades de igrejas finalmente serão absorvidas pela Nova Igreja, no que consistirá a verdadeira união cristã. Escritos: The Principies of Natural Things; The Economy ofthe Animal Kingdom; The Hieroglyphic Key; On the Love and Wisdom of God; The True Christian Religion. Bibliografia. AM E EP P

SYLLABUS ERRORUM, PAPAL A palavra latina syllabus deriva-se de syllabos, um erro de grafia em lugar de sillybas, acusativo plural de sillyba, "rótulo" de um livro. Seja como for, o termo veio a indicar uma "declaração concisa" acerca de qualquer coisa. O Syllabus Errorum (Sumário de Erros) é uma coletânea de erros contra os quais combateram os papas Pio IX (1864) e Pio X (1907). O primeiro condenou oitenta supostos erros; e o segundo, sessenta e cinco, incluindo os erros próprios do Modernismo (vide). Essas publicações papais exerceram dois principais efeitos. Antes de tudo, houve intensa oposição à sé de Roma, até mesmo da parte de católicos romanos liberais. Em segundo lugar, os eruditos católicos romanos foram forçados a concentrar seus esforços exegéticos, para responder às criticas e apresentar as razões dos pontos de vista dos papas.

••• ••• • ••

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1. Formas Andpa fenieio (semítico), 1000 A.C.

grego ocidental, 800 A.C.

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T

latino, 50 D.C.

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TT9 3. Form.. MocIeJu.

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4. HIstória T é a vigésima letra do alfabeto português (ou décima nona, se deixarmos de lado o K). Historicamente, deriva-se dá letra semitica consonantal taw. Era uma variante ortogrAfica de X, e ambas as formas significavam «marca.., sem dúvida porque, desde tempos imemoriais, o «T.. e o eX.. foram usados para marcar as coisas. A forma mais antiga parecia com o sinal de adição, «+". Os fenícios fizeram a barra horizontal subir para acima do meio; depois a barra ficou no alto, assumindo a forma tipica de "T,.. O som sempre foi de «t.., desde o começo, embora, em certas linguas modernas, seja pronunciada essa letra como d, sh, ou ch, Os gregos chamaram essa letra de tauta. E foram eles que primeiro desenharam a barra horizontal no alto da letra. Nos alfabetos semíticos, o taw era a última letra, mas não reteve essa posição final ao passar para outras línguas. Do grego, a letra passou para o latim, e dai para muitos outros idiomas modernos.

S. UIOI e Sbnbolos Coisas com o formato de T são chamadas por esse nome, como a «junta T,., de encanamentos. T também é abreviação de Testamento, em A.T. e N.T. (Antigo Testamento e Novo Testamento, respectivamente). T é usado como simbolo do Cada Borgianus, descrito no artigo separado T.

Caligrafia de Darrell Steven Champlin

Arte céltica - a Letra T decorativa, evangelho de Mateus, Livro de KeIls

T T Essa é a abreviação do Codex Borgianus. Esse manuscrito atualmente está localizado no Collegium de Propaganda Fide, em Roma. Trata-se de um valioso manuscrito greco-saídico, que data do século V d.C. O texto é bem parecido com o do Codex Vaticanus (B) mas, infelizmente, faltam-lhe largas porções, como a maior parte do evangelho de Lucas (do qual tem apenas os caps. 22 e 23), e quase todo o evangelho de João (do qual tem somente os capítulos sexto e oitavo).

Reuma (Gên. 22:24). Não se sabe o sentido de seu nome, no hebraico.

TAATE

TAÃ No hebraico, "graciosidade". Há duas pessoas com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em tomo de 1600 a.c. 2. Um efraimita, filho de Telá e pai de Ladã (I Crô. 7:25). Era descendente do primeiro, quatro gerações mais tarde. Viveu por volta de 1500 a.C.

No hebraico, "depressão", "humildade". Nome de três personagens e de uma localidade, que aparecem nas páginas do Antigo Testamento: 1. Um levita coatita (I Crô. 6:24,37). Era filho de Assir e pai de Uriel. Viveu por volta de 1480 a.C. 2. Um efraimita, filho de Berede (1 Crô, 7:20). Era neto de Sutela, filho de Efraim. Viveu em cerca de 1600 a.C. 3. Um efraimita, filho de Eleadá (I Crô. 7:20). Era neto do Taate de número anterior. 4. Um local não identificado, onde os israelitas fizeram uma de s!Jas paradas no deserto. Ficava entre Maquelote e Tara. E localidade mencionada somente em Núm. 33:26,27. Foi a vigésima sétima dessas paradas, desde que o povo de Israel saiu do Egito.

TAANAQUE

TABAOTE

No hebraico, ameia parapeito. Referências no Antigo Testamento: Jos. 12.21; 17.11; 21.25; Juí. 1.27; 5.19; I Reis 4.12 e I Crô. 7.29. Uma cidade real de Canaã. Esta cidade foi regida por um rei de pouca relevância dos cananeus, um dos trinta "reis" assim conquistados por Josué (Jos. 12.21; I Reis 4.12; I Crô. 7.29). Designada à tribo de Manassés, essa foi a meia tribo com esse nome que se estabeleceu no lado oeste do rio Jordão (Jos. 17.11; 21.25; I Crô. 7.29). Posteriormente tomou-se uma cidade dos levitas coatitas (Jos. 21.25), que não tinham herança como tribo, mas possuíam algumas cidades (e suas áreas imediatas), o que lhes permitiu ser auto-suficientes. Local. Esta cidade é geralmente mencionada juntamente com Megido, sendo ambas importantes cidades das planícies ricas de Escrelom. O antigo sitio é marcado por um monte identificado com um antigo forte da planície de Armagedom. Cântico de Débora. Esse cântico mencionao local junto com outras cidades cananéias (Jui. 5.19). Ela tinha 900 carros de ferro para fazer guerra (Juí. 4.3). Baraque obteve grande vitória militar sobre os cananeus naquela área, vitória que livrou Israel, por um tempo, do assédio que deles sofria. Em um momento posterior, o faraó Sisaque do Egito dominou a área, e suas crônicas mencionam a cidade por nome. À medida que a história progrediu, os babilônicos assumiram o controle da área. Arqueologia. Os alemães e os austríacos (1901-1904) realizaram escavações na área e descobriram uma dezena de tabletes cuneiformes que datavam por volta do século 1450 a.C. O final da Era do Bronze era ilustrada de uma forma geral e vaga. Foi na Idade do Ferro que ela se tornou uma espécie de quartel para os carros de combate dos cananeus.

No hebraico, "manchas". Uma família de servos do templo que retomou do exilio babilônico em companhia de ZorobabeI(Esd. 2:43 e Nee. 7:46). Também são mencionados em I Esdras 5:29. Corria a época de 536 a.C.

TAANATE-SILÓ

TABERÁ

No hebraico, aproximação a Silo, local mencionado como situado na fronteira norte de Efraim (Jos. 16.6), especificamente em sua extremidade leste entre o Jordão e Janoa. Khirbet Tana marca o antigo local. Há um monte de ruínas a sudeste de Nablo. Várias grandes cisternas foram desenterradas no local.

No hebraico, "lugar de refeição", ou "lugar de fogo". Aparece em Núm. 11:1-3, que conta o incidente da murmuração dos israelitas, diante do Senhor, que, em castigo, fez ofogo do Senhor arder entre eles, consumindo as extremidades do acampamento. A palavra hebraica, é de sentido obscuro. E o próprio incidente não deixa claro se houve fogo literal ou se o mesmo representava algum outro tipo de julgamento divino consumidor. Taberá é mencionada novamente em Deu. 9:22, embora não seja

TAÃS Um filho de Naor, irmão de Abraão, e de sua concubina,

TABATE No hebraico, "extensão". Na Septuaginta, Tabáth. Uma cidade que ficava no território de Issacar ou no de Efraim. Aparece somente em Juí. 7:22. Tem sido tentativamente localizada a leste do rio Jordão, Foi até ali que Gideão perseguiu os midianitas, na planície de Jezreel. O trecho de Juí. 8: 10-13 parece indicar que essa cidade ficava nas proximidades de Carcor. Isso nos ajudaria muito se a própria Carcor tivesse sido identificada com precisão, o que não tem sucedido. A região montanhosa de Gileade pode ter sido o lugar onde as forças derrotadas tomaram a unificar-se. Portanto, pode-se pensarem Ras Abu Tabat, nas vertentes do monte Ajlun, como o local da antiga Tabate.

TABEEL No hebraico, Deus é bom. Nas páginas do Antigo Testamento, esse é o nome de duas personagens: 1. O pai do homem a quem Rezim, de Damasco, e Peca, de Israel, planejavam colocar no trono de Judá como um rei títere, em lugar do rei Acaz (lsa. 7:6). O profeta Isaías, porém, deu o recado do Senhor: "Isto não subsistirá, nem tão pouco acontecerá" (lsa. 7:7). 2. Um oficial persa que estava em Samaria e que se uniu a outras pessoas no envio de uma carta ao rei Artaxerxes I, solicitando-lhe que ordenasse a paralisação da reconstrução das muralhas de Jerusalém (Esd. 4:7; ver também 1 Esdras 2: I 6). O resultado foi que os judeus foram forçados, sob ameaça de armas, a interromperem o trabalho de reconstrução (Esd. 4:23,24).

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TABERNÁCULO alistada entre as caminhadas de Israel no deserto, no capítulo trinta e três do livro de Números. TABERNÁCULO I. Termos 11. Caracterização Geral 111. Fontes de Informação IV. História V. Estrutura dos Móveis VI. Tipos e Usos Figurados VII.Visão Crítica I. Termos No latim. A palavra tabernáculo deriva da palavra latina tabernaculum, que é diminutivo de taberna. um barraco, e refere-se a uma moradia transitória, como uma barraca. No hebraico. 1. Ohel (dez), cerca de 200 vezes no Antigo Testamento, desde Êxo. 26 a Mal. 2.12. 2. Mishkan (uma residência, local de moradia), usado cerca de 140 vezes no Antigo Testamento. Exemplos: Êxo. 25.9; 27.19; 40.38; Lev. 8.10; los. 22.19, 29. 3. Sok (cobertura, tenda): Sal. 10.9; 27.5; 76.2; Lam. 2.6; ler. 25.38. 4. Sukkah (enrolar, cobertura, tenda, cabana): usado cerca de 30 vezes. Exemplos: Lev. 23.34, 43.43; Deu. 16.13, 16; 31.1 O;II Crô. 8.13; I Reis 20.12, 16; Sal. 18.11; 31.20. 5. Bayith (uma casa), aplicado ao tabernáculo em Êxo. 23.19; 34.26; los. 6.24; 9.23; luf. 18.31; 20.18. 6. Miqdash (um local sagrado). O tabernáculo era um local consagrado para o culto a Yahweh ("yahwismo"), isto é, um santuário: Lev. 12.4; Núm. 3.38;4.12. Às vezes a palavra é usada para a parte mais interna do santuário chamado de Lugar Mais Santo (Santo dos Santos): Lev. 16.2. 7. Hekal (templo), palavra que às vezes se refere ao tabernáculo antes de ser usada para o Templo de Salomão: I Crô. 29.1, 19: 11 Reis 24.13, respectivamente. A palavra também se aplica ao tabernáculo em Silo: I Sam. 1.9; 3.3. 8. Ohel moed (a forma composta significa tenda de reunião): Exo. 29.42, 44. 9. Ohel haeduth (a tenda de testemunho): Núm. 9.15; 17.7; 18.2. No grego. 1. Skene (tenda), usado 27 vezes no Novo Testamento. Exemplos: Mal. 17.4; Mar. 9.5; Luc. 9.33; Heb. 8.2, 5; 9.2,3,6,8,11,21; 11.9; 13.10; Apo. 13.6; 15.5;21.3. 2. Kenos (tenda): 11 Cor. 5.1, 4. 3. Skeenoma (tenda. local de habitação): Atos 7.46; 11 Ped. 1.13, 14. 4. Skenopegia (festa dos tabernáculos): João 7.2. 11. Caracterização Geral O tabernáculo (no hebraico, Mishkan), "local de moradia", é local onde Yahweh torna conhecida Sua presença, por assim dizer, seu "lar longe de seu lar", onde ele trata com Seu povo e faz conhecido Seu desejo. Ver Exo. 25.8. O tabernáculo era uma tenda portátil que os israelitas carregaram nos 40 anos de vagueações no deserto e durante seus anos na Terra Prometida até que Salomão construiu o Primeiro Templo. A época era por volta de 1450 a 950 a.C., o que significa que o tabernáculo teve uma "carreira" de cerca de 500 anos! O livro de Êxodo representa Yahweh como dando a Moisés todas as ordens necessárias para a construção e os cultos do Tabernáculo, incluindo suas medições e especificações (Êxo. caps. 2527) e um diminuto relato de sua execução (Êxo. 36.8-

38.1). Os criticos atribuem todo esse material à fonte P (de sacerdote) do Pentateuco e pensam que sua composição ocorreu muito depois da época em que Moisés esteve vivo. Ver sobre J.E.D.P.(S.) na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. Ver os comentários sobre as visão dos críticos na seção VIII deste artigo. O relato no Êxodo informa-nos que, após a entrega da Lei no Sinai, Yahweh ordenou que artesãos especiais construísse!" a tenda e seus móveis de materiais doados pelo povo (Exo, 31.11; 35.36.7). O local onde Yahweh manifestou Sua presença também era chamado de "Tenda da Reunião" (Êxo, 29.42-45). Propósitos do Tabernáculo. O principal propósito desta estrutura é explicado em Êxo, 25.8, 21,22: " ... para que eu (Yahweh) possa habitar no meio deles"; "... dentro dela porás o Testemunho..."; " ... ali virei a ti ... falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel". O tabernáculo, como o templo posterior, tinha o objetivo de centralizar o louvor de Israel, evitando que muitos "oráculos" lá fora, que poderiam corromper os cultos a Yahweh ou permitir alguma espécie de sincretismo, se misturassem com influências pagãs. Altares isolados (ver Gên. 12.7, 8) onde render sua autoridade àquela investida no tabernáculo. Isto não aconteceu de uma forma absoluta. Os oráculos persistiram.

111. Fontes de Informação Quatro passagens principais no livro de Êxodo nos dão informações especiais sobre o tabernáculo; a. caps. 2529; b. caps, 30-31; c. caps. 35-40 junto com Núm. 3.25 ss.; d. 4.4 ss. e 7.1 ss. As narrativas afirmam a inspiração divina, de modo que dizem que Yahweh é a verdadeira fonte da informação e Moisés é o mediador. Um modelo do tabernáculo foi mostrado a Moisés de acordo com Êxo. 25.9 e 26.30. IV. História Estritamente falando, houve três tabernáculos históricos, cada qual tomando o lugar de seu predecessor, na maioria dos aspectos. 1. Um tabernáculo provisional foi erigido após o incidente do louvor ao bezerro de ouro. Essa "barraca de reunião" não tinha nenhum ritual e nenhum sacerdócio, mas era tratada como um oráculo (Êxo. 33.7). Moisés, é claro, estava encarregado de todos os procedimentos. 2. O tabernáculo sinaítico, cuja construção e equipamento foram instruídos por Yahweh. 3. O tabernáculo provisional de Davi, erigido em Jerusalém como o predecessor do Templo de Salomão (11 Sam. 6.12). O antigo tabernáculo (sinaítico) permaneceu em Gibeão com o altar insolente, e sacrifícios continuaram sendo feitos ali (I Crõ. 16.39; 11 Crõ. 1.3). O tabernáculo de Moisés passou os seguintes processos históricos: 1. Depois do incidente do bezerro de ouro, devido à intercessão de Moisés, outra cópia da lei foi fornecida. o pacto foi renovado e foram coletados materiais para a construção do tabernáculo (Êxo. 36. 5,6). O povo colaborou com grande generosidade, até o ponto de excesso. 2. O tabernáculo foi terminado em um curto período ~e tempo, no primeiro dia de nisã, do segundo ano após o Exodo. O ritual complexo foi iniciado (Exo. 40.2). 3. O tabernáculo provisional estava fora do campo, mas se tomou o centro com as várias tribos estacionadas em uma ordem específica estendendo-se para fora (Núm. capo 2). Uma observação histórica curiosa, em tempos modernos, é o fato de que Salt Lake City, em Utah, EUA,

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o Tabernáculo no deserto

TAB ERN ÁCULO DESCOBERTO

ALTAR DO HOLOCAUSTO E ALTAR DE INCENSO

TABERNÁCULO o Sião norte-americano, quartel-general da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tem todas suas ruas chamadas por nomes e numeradas em relação à posição da Praça do Templo, onde estão localizados o tabernáculo e o templo. Assim, a cidade toda está centralizada ao redor dessa praça, a partir da qual qualquer endereço pode ser determinado, e qualquer distância pode ser calculada usando essa referência. Um exemplo: 668 Oeste Segundo Norte significa cerca de sete quadras ao oeste e duas quadras ao norte da Praça do Templo. 4. O tabernáculo continuou em Silo durante o periodo dos juizes. Na época de Eli, o sumo sacerdote (I Sam. 4.4), a arca foi removida desse local e o próprio tabernáculo foi destruido pelos filisteus. A época era cerca de 1050 a.c. 5. Quando Samuel era um juiz, os cultos de louvor central foram movidos a Mispa (I Sam. 7.6) e então a outros lugares (l Sam. 9.12; 10.3; 20.6). 6. Nos primeiros anos de Davi, o pão da proposição era mantido em Nobe, o que implica que pelo menos parte dos móveis do tabernáculo de Moisés era mantida ali (I Sam. 21.1-6). O lugar alto em Gibeão reteve o altar de ofertas queimadas e talvez alguns outros remanescentes do tabernáculo de Moisés (I Crô. 16.39; 21.39). 7. Depois de capturar Jerusalém e tomar essa cidade sua capital, Davi levou a arca da aliança àquele lugar e montou um tabernáculo provisional, no aguardo da construção do templo por seu filho Salomão. Isto foi feito no monte Sião (l Crõ. 15.1; 61.1; II Sam. 6.17). Ver o verbete Sião. Esse local também era chamado de "Cidade de Davi", pois esse rei a tomou sua capital. A época era em tomo de 1000 a C. 8. Quando o templo foi construido, os móveis do antigo tabernáculo que restavam foram ali colocados, e o local sagrado e o local mais sagrado foram incorporados na estrutura do prédio novo. Assim, o tabernáculo tomou-se o centro do templo. Ver o verbete Templo de Jerusalém. V. Estrutura dos Móveis 1. O tabernáculo foi dividido em três seções distintas que representavam três estágios de santidade crescente: a. o pátio que cercava a tenda. Esse pátio estava dividido em dois quadrados de 50 cúbitos (o cúbito medindo cerca de 45 em). O quadrado ao leste continha o altar das ofertas queimadas (5 x 5 x 3 cúbitos). O Altar ficava no centro do quadrado. A oeste do altar estava a bacias para as lavagens rituais das mãos e dos pés. O quadrado ao oeste do próprio do tabernáculo era dividido no local sagrado (ou santuário), que media 20 x 10 x 10 cúbitos, e no local mais sagrado, que media 10 x 10 x 10 cúbitos. Assim, toda a estrutura era de 30 x 10 x 10 cúbitos. 2. A leste do pátio ficava o portão; no lado oeste estava o Santo dos Santos. A estrutura, portanto, como um todo, ficava de frente para o sol nascente, a leste, o que não era por acaso. 3. No local sagrado ficava a mesa na qual o pão da proposição era colocado. Isso ficava no lado norte e media 2 x 1 x 1,5 cúbitos. O pão era renovado todo sábado. No lado sul ficava o candeeiro de ouro (ver a respeito). Ainda no local sagrado, mas próximo à cortina que o dividia do Santo dos Santos, no centro da estrutura, havia o altar de incenso (ver a respeito). Quando digo ver a respeito, quero dizer o Dicionário do Antigo Testamento Interpretado ou a Enciclopédia de Biblia, Teologia e Filosofia. Ver sobre Mesa. 11. Mesas Rituais, 1. Mesa dos Pães da Proposição. 4. O Santo dos Santos, que era separado do local sagrado por uma cortina bordada (Êxo. 26.31-33). Nele estava a arca da aliança (ver a respeito) que era uma caixa

que media 2,5 x 2,5 x 1,6 cúbitos. Dentro da caixa ficava o testemunho, isto é, as tábuas da lei (Êxo. 25.21; 40.20). A tampa da caixa era chamada de assento de misericórdia ou propiciatório (ver a respeito). Ela era ornamentada pelas imagens de dois querubins (ver a respeito) com asas esticadas que se estendiam por toda a tampa e se tocavam umas às outras (Êxo. 25.17-20; 26.34; 37.6-9). ,Ali Yahweh se manifestava e se comunicava com o povo (Exo. 25.22). Apenas o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos e ainda assim apenas uma vez por ano (Exo. 30.10; Lev. 16.29-34). Ver a respeito de Lugar Mais Santo, na Enciclopédia. Ver também o Lugar Santo (Santuário). Materiais e Posições. Gradações de materiais e de posição falam de santidade maior. No local menos sagrado, o pátio externo onde os leigos podiam circular, era usado o bronze. Passando a ficar mais sagrado, os sacerdotes e os levitas podiam circular no lugar sagrado; o ouro era usado como um material ali junto com madeiras nobres. Então, nesse local onde Yahweh podia manifestar-se, talvez, ocasionalmente, na teofania (ver o verbete). Forneço detalhes sobre os móveis em outros artigos, o que me permite apresentar uma descrição um tanto breve neste artigo. O leitor diligente não ficará contente em ler apenas o esboço. O livro de Hebreus simplifica a complexidade do tabernáculo e do templo ao fazer com que os próprios prédios, seus conteúdos e suas funções tipificassem a Cristo, Sua pessoa e Suas funções. Ver a seção VII, a seguir. VI. Tipos e Usos Figurados As coisas que os intérpretes dizem aqui são experimentais e não dogmáticas e, sem dúvida, imaginamse muitos tipos que não eram pretendidos por nenhum escritor sagrado. Mas, seguindo a liderança do livro de Hebreus, muitas coisas válidas podem ser ditas. 1. De modo geral, o tabernáculo falava da Presença de Yahweh com seu povo e fornecia um local físico onde as manifestações divinas podiam ocorrer. Ver Propósitos do Tabernáculo, o último parágrafo da seção lI, Caracterização Geral. A pessoa humana, nos tempos do Novo Testamento, tomou-se o tabernáculo ou o templo do Espírito, substituindo a edificação (ou prédio) material (I Cor. 3.16; Efé, 2.21). A igreja, o corpo dos crentes, é uma habitação de Deus e o meio através do qual ele se manifesta a outros. 2. O tabernáculo, com suas muitas partes e funções, fala de uma realidade celeste (Heb. 9.23, 24). Essa idéia era exagerada pelos rabinos que explicaram que existe o "verdadeiro tabernáculo" que foi "duplicado" no tabernáculo terrestre. 3. Tipos e Figuras de Cristo. Sem dúvida, os intérpretes exagerar~m aqui, mas ofereço o que é dito: o altar de bronze (Exo. 27.1-8) tipifica a cruz de Cristo. O próprio Senhor tornou-se uma oferta queimada, sem marcas, por parte de seu povo. O lavatório ou bacia para lavagem ritual fala sobre como Cristo santifica seu povo (Efé. 5.25-27). O candeeiro de ouro tipifica Cristo como a Luz do mundo (João 1.9). Como o tabernáculo não tinha fonte externa de luz, o crente também não tem luz exceto por Cristo. O pão da proposição tipifica Cristo como o Pão da Vida, sustento espiritual (João 6.33-58). O altar de incenso tipifica Cristo como o Intercessor por todos os pecadores, em todos os lugares (João 17.1-26; Heb. 7.25). A cortina ou véu que dividia o local sagrado do lugar mais sagrado foi aberta a todos os crentes, não meramente à elite, como o sumo sacerdote (Mal. 27.51). A arca da aliança, feita de madeira e ouro, tipifica o corpo material de Cristo unido com sua divindade. O testemunho (tábuas da lei) na arca

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TABERNÁCULO-TABU tipificavam Cristo como tendo a lei em seu coração de modo especial para que pudesse ser o Mestre de outros. A vara de Arão, que floresceu, tipifica os poderes de dar vida que Cristo tem em relação ao Seu povo. A tampa da arca, feita de ouro puro, o propiciatório, que recebeu o sangue da oferta do Dia do Arrebatamento, tipifica Cristo como o sacrificio para toda a humanidade, idéia que a lei condena. Ao mesmo tempo, esse item era o trono de Deus, o local de sua manifestação. Portanto, a manifestação de Deus é tanto de julgamento como de misericórdia, tanto de perseguição como de provisão de vida. O trono do julgamento foi transformado no trono da misericórdia pela missão de Cristo. Os querubins que estendiam suas asas sobre a área simbolizam como Deus usa seus agentes para guardar, proteger e glorificar o ministério de Cristo por parte da humanidade. A orientação e a proteção divina estão disponíveis àqueles que as buscam. VII. Visão Crítica Os críticos acreditam que Israel, ao fugir do Egito, e não sendo povo sofisticado em nenhum empreendimento científico, não teria tido o conhecimento nem os materiais necessários para construir uma estrutura religiosa como o tabernáculo mencionado em Êxodo. Até mesmo Salomão, na era dourada de Israel, dependeu de habilidades e materiais estrangeiros para construir seu templo (I Reis 5.16). As estatisticas enfatizam os argumentos. Ao avaliar aquilo que é dito no relato, estima-se que Israel precisaria ter disposto de 1.000 quilos de ouro; 3.000 quilos de prata e 2.500 quilos de bronze. O problema de transporte teria sido enorme. Ao responder a tais argumentos, os conservadores supõem que o desagrupamento dos egípcios poderia ter fornecido tal riqueza de materiais (ver Gên. 15.13-14; Êxo. 11.2; 12.35-36). Oráculos móveis impressionantes também foram relatados no tangente a certas tribos arábicas que vagueavam pelo deserto. Acreditase que o tabernáculo "idealista" dos críticos é o "histórico" dos conservadores. Quanto à mão de obra, é lógico supor que poucos israelitas que haviam passado toda a vida no Egito tivessem sido treinados naquele local como artesãos, portanto haveria conhecimento suficiente para fazer o trabalho do tabernáculo.

TABERNÁCULOS, FESTA DOS Ver a artigo geral Festas (Festividades) Judaicas, 11 . 4 c. Aquelas notas, pois, acrescento. as presentes informações. A palavra hebraica traduzida dessa maneira é sukkot, e a festa em vista era uma festividade da colheita, no outono. Observava-se essa festa entre 15 e 22 do mês de Tisri. Essa festa passou por uma evolução, tendo começado como uma festa agrícola; mas depois recebeu sentidos especiais em relação ao êxodo e às precárias condições durante as quais o povo de Israel viveu em tendas. A legislação sacerdotal conferiu-lhe uma especial significação e autoridade. No primeiro dia havia uma "santa convocação", e nenhum trabalho manual podia ser feito no mesmo. Eram feitas tendas com ramos de palmeiras, ramos de salgueiros, etc., como memorial da maneira que Israel fora forçado a viver, após o êxodo. Ver Lev. 23:33-43; Núm, 29: 12-38; Nee. 8: 15 ss. Em tempos pós-veterotestamentários, o sétimo dia adquiriu um caráter especial, passando a ser designado Hoshana Rabbah. Assim, o oitavo dia também era tratado como dia especial, de descanso solene. Na Babilônia, nos tempos pós-talmúdicos, ainda um outro dia de observância foi acrescentado, o Simhat Torah ("regozijo na lei"). Era

nesse dia que terminava o ciclo anual, da leitura do Pentateuco, e um novo ciclo tinha começo.

TABITA Ver sobre Dorcas. TABLETES DE ARGILA Ver o artigo separado sobre a Argila. Os tabletes de argila constituíram o mais antigo material de escrita que os homens conheceram. Quando a argila estava úmida, servia de excelente material para receber a escrita, sob a forma de impressões; e, uma vez seca, essas impressões tomavam-se razoavelmente permanentes. Esses tabletes usualmente tinham a forma de biscoitos chatos. Entretanto, havia outros com o formato de prismas ou de cilindros. Os caracteres impressos sobre os tabletes de argila eram chamados cuneiformes, o que se fazia com a ajuda de um instrumento preparado para o serviço. Os tabletes mais importantes eram levados ao fomo, para se tomarem mais duráveis. Quando o alfabeto foi desenvolvido, em cerca de 1500 a.C; a técnica da escrita tomou-se melhor, e começaram a ser usados outros materiais, como o papiro e o pergaminho, para receber a escrita em sua superficie. Entretanto, o uso dos tabletes de argila foi muito extenso durante todos os impérios assírio e babilônico: Uma das maiores descobertas arqueológicas que envolvem tabletes de argila foram aquelas em TeU el-Amarna (que vide), nome moderno da antiga cidade de Aquetatom, capital de Anenhotepe IV, o qual reinou no Egito entre 1466 e 1387 a.C. Ali foram descobertas as famosas cartas de Tell el-Amarna, em mais de trezentos tabletes de argila. Um número bem maior desses tabletes foi desenterrado na Babilônia (que vide), o que contribuiu apreciavelmente para o conhecimento dos eruditos sobre aquela antiga sociedade. TABOR, CARVALHO DE No hebraico, carvalho do penhasco.. Um lugar que havia na área geral de Betel, mencionado somente em I Samuel 10:3. O contexto da passagem nos informa que Saul, filho de Quis, teve dúvidas se Deus queria ou não que ele fosse o rei de Israel. O profeta Sarnuel, em vista disso, deu-lhe certos sinais confirmatórios da natureza divina da sua unção. O segundo desses sinais cumpriu-se quando ele estava voltando para sua casa. Quando se aproximava do carvalho de Tabor, encontrou-se com três homens que subiam a Betel. O local exato desse carvalho é desconhecido. TABOR, MONTE Ver sobre o Monte Tabor. TABRIMOM No hebraico, "Rimam é bom". Esse homem era filho de Heziom e pai de Ben-Hadade I, rei da Síria (l Reis 15:18). Viveu por volta de 950 a.C. TABU Essa palavra deriva-se dos idiomas das ilhas do Pacífico, onde o tabu (proibição) expandiu-se para tornar-se uma técnica de controle social, ou seja, um elaborado sistema de interditos e proibições. Entre os povos primitivos, mormente os polinésios, os tabus afetam todas as áreas de vida, envolvendo pessoas, lugares e coisas. Estão envolvidas idéias como coisas sagradas, misteriosas, a necessidade de proteção, coisas imundas a ser evitadas, poderes misteriosos

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TABU - T ÁBULA RASA a ser invocados. Talvez a noção dominante, nos tabus, seja que há coisas inerentemente perigosas, que devem ser evitadas a todo custo. A violação do código de conduta do grupo, ou o contacto com qualquer coisa proibida, significa que uma espécie de "infecção" é adquirida pelo culpado, ameaçando a ele mesmo e ao grupo inteiro. O castigo sobrevém automaticamente, a partir da própria situação perigosa. Podemos estar certos de que atua com muito poder psicossomático, talvez alguma forma de demonismo. É verdade que o grupo mostra mais interesse na purificação do que na punição do culpado, mas os poderes invisíveis garantem alguma espécie de vingança contra o ofensor. Os tabus comuns incluem contacto com o sangue e com a morte. Um cadáver é considerado corruptor, e todo objeto que entre em contacto com o mesmo deve ser abandonado. O sangue da menstruação da mulher ou do parto também é considerado perigoso, requerendo ritos de purificação. Os guerreiros que voltam de uma batalha são reputados contaminados pela morte, e, portanto, são tabus. Aqueles que violam o código de comportamento sexual ou que cometem grandes crimes, como o homicídio, são tabus. Além disso, certos governantes, sacerdotes, homens santos e mágicos são considerados como quem têm uma aura divina, pelo que são intocáveis da parte de pessoas comuns. Até mesmo as vestes e os objetos usados por tais pessoas são considerados perigosos. Os objetos e instrumentos religiosos obtêm tal poder. Certos alimentos são proibidos convenientemente. Assim, as mulheres não podem consumir certos alimentos, que ficam reservados somente para os homens. Em alguns países africanos, para exemplificar, as mulheres não podem comer carne de galinha, a qual só pertence aos homens. Em algumas tribos não se pode comer came de serpente; mas, no caso de outras, as cobras são um acepipe. Ofensores graves devem morrer; mas outros ofensores são banidos. Algumas vezes, basta a confissão pública e o arrependimento. A palavra tabu passou a fazer parte de muitos idiomas, com o sentido de qualquer coisa proibida, a qual toma-se tanto mais atrativa, justamente por haver sido proibida. TÁBUA DE PEDRA O trecho de Êxo. 24: 12 contém essa expressão, referindo-se às tábuas onde os dez mandamentos haviam sido inscritos. Temos oferecido artigos detalhados sobre a lei mosaica. Ver, especialmente, Lei, Características da; Lei-Códigos da Bíblia (especialmente o ponto 1. A Lei Mosaica do Antigo Testamento); Lei Cerimonial; Lei Moral; Lei e o Evangelho, A; Lei e Graça; Lei, Função da. A tradição informa-nos que Moisés recebeu a lei da parte de Deus, cujos mandamentos foram escritos na pedra com o próprio dedo de Deus (ver Êxo. 31:18;32-15,16). Descendo do monte, quando Moisés contemplou o povo a dançar, ocupado em atividades idólatras que envolviam o bezerro de ouro ele deixou cair as pedras da lei, espatifando-as (ver Exo. 32: 19). Então foi-lhe ordenado preparar cópias exatas das tábuas de pedra, e passou quarenta dias e noites, no monte, preparando esse material (ver Exo. 34:1-4,27, 28). Foi então, quando desceu do monte, que o seu rosto refletia a glória do Senhor.Os tabletes foram postos dentro da arca da aliança. Algumas tradições rabínicas afirmam que cinco dos mandamentos foram gravados em uma das tábuas, e cinco em outra (Cânticos Rabba 5:4); mas há aqueles que pensam que todos Os mandamentos foram registrados em cada tábua. A primeira das opiniões tomou-se mais aceitável, sendo seguida nas sinagogas, na apresentação das tábuas da lei.

TÁBUAS DE CIPRESTE No hebraico, gopher. Essa madeira é mencionada somente uma vez em toda a Bíblia, isto é, em Gên. 6: 14. Ali é dito que Noé fez a arca com essa madeira. Os estudiosos têm tentado identificar a espécie de madeira em vista, mas em vão. O cipreste, contudo parece encabeçar a lista das possibilidades. Isso, explica a expressão, "tábuas de cipreste", em nossa versão portuguesa. O cipreste era uma madeira própria para as construções navais, mostrando-se abundante na Babilônia e em Adiabene, a região onde Noé deve ter estado engajado na construção de sua gigantesca arca. A história também informa-nos que Alexandre, o Grande, usou essa madeira para a construção de sua flotilha de guerra. O cipreste tem sido favorecido como a madeira referida naquele trecho de Gênesis devido à similaridade da palavra hebraica com o termo grego correspondente (no hebraico, gopher; no grego, kyparissos; e, no português, cipreste). Todavia, a palavra hebraica que significa "betume", koper; tem feito alguns intérpretes suporem que gopher significa apenas "madeira betuminosa", não indicando qualquer espécie de madeira em particular. Ou então a palavra pode indicar alguma madeira resinosa. Ver os artigos separados sobre o Dilúvio, a Arca e Noé. TABUINHA No grego, pinakidion, " tabuinha". Essa é a forma diminutiva de pinaks, "tábua", "prato". Aparece, exclusivamente, em Luc. 1:63. Era, ordinariamente, um pequeno bloco chato de madeira, recoberto com cera, para ali ser gravada alguma coisa escrita, por meio de um estilete. TABULA NUDA Ver o artigo geral sobre Dum Scotus. Ele pensava que todo conhecimento origina-se nas percepções dos sentidos, e que o intelecto humano começa como uma tabula nuda, expressão latina que significa "tábua nua", até que impressões começam a ser ali inscritas, através das experiências colhidas pelos sentidos. Ointelecto pode organizar coisas particulares e obter assim um conceito do universal. Uma vez que a mente tenha formado os seus conceitos universais, a contemplação dos mesmos pode conferir discernimentos intuitivos quanto à natureza dos particulares derivados dos universais. Porém, à base de tudo, aparecem sempre as percepções dos sentidos. TAlJULA RASA Expressão latina que quer dizer "tábua em branco". A expressão tem sido usada na filosofia para falar sobre como a mente humana começa supostamente em branco, até que aparecem impressões derivadas da percepção dos sentidos. A idéia de tabula rasa é contrária a qualquer forma de conhecimento intuitivo; e, quando é pressionada, também nega a possibilidade de conhecimento através das experiências místicas. Esse conceito ensina-nos que a fonte todo-poderosa de todo conhecimento é a percepção dos sentidos. Não obstante, nas chamadas Experiências Perto da Morte (vide) é fácil demonstrar claramente um conhecimento extracerebral, e outro tanto se dá com o Misticismo (vide). 1. Boaventura supunha que os tipos comuns de conhecimento estão limitados à percepção dos sentidos, e ele usava o termo em questão, nesse contexto. Entretanto,

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TAÇA - TADMOR ele opinava que algumas idéias, como aquela acerca do Ser divino, são inatas ao ser humano. 2. Duns Scotus empregou a expressão latina tabula nuda (vide), a fim de exprimir a mesma idéia, mas deixou de fora as exceções feitas por Boaventura. 3. John Locke empregou a expressão, e, com freqüência, é considerado seu criador. Ele atacava vigorosamente a noção de idéias inatas, e tabula rasa tomou-se um virtual símbolo de sua abordagem empírica ao conhecimento. TAÇA

Diversas palavras hebraicas e uma palavra grega estão envolvidas. Os objetos em foco eram feitos de madeira, conchas, cuias, pedra calcária, alabastro, ferro, bronze, prata, ouro, etc. Eram empregadas em grande variedade de usos. Abaixo apresentamos sugestões dos tipos de taças: 1. Gabia, "cálice". Palavra usada por catorze vezes. Por exemplo: Êxo. 25:31,33,34; Gên. 44:2,12,16,17. 2. Sephel, "taça". Palavra usada por duas vezes: Juí. 6:38 e 5:25. 3. Menaqqiyyoth, "taças sacrificiais", Palavra usada por cinco vezes. Por exemplo: Exo. 25:29; NÚm. 4:7. 4. Fiále, "taça". Palavra grega que ocorre por doze vezes, todas elas no livro de Apocalipse (5:8; 15:7; 16:14,8,10,12,17; 17:1 e,21:9). A variedade de palavras podia ser usada de modo intercambiável. O que sabemos é que havia muitos tipos de taças, com muitos propósitos, feitas dos mais diferentes materiais. Uso Metafórico. Em Apo. 16: I ss, encontramos as sete taças da ira de Deus, uma série de julgamentos divinos com que se encerra a sétima trombeta. O simbolismo é de taças repletas de poder destrutivo, cujo conteúdo é derramado sobre a superfície da terra, deixando-a totalmente destruída quanto' a todas as obras humanas nela existentes: -...e ocorre grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações... Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados; também desabou do céu, sobre os homens, grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto seu flagelo era sobremodo grande" (Apo.16:18-21). (KEL PRI) TACIANO

Um apologista cristão dos fins do século 11 D.C. Nasceu na Assíria e educou-se na Grécia. Viveu em Roma. Tomou-se seguidor de Justino Mártir. Tomou-se crítico severo da ciência e da filosofia dos gregos. Escreveu uma harmonia dos evangelhos, a primeira obra dessa natureza. Provavelmente, também foi a primeira obra a exercer influencia sobre a crítica textual do Novo Testamento.. Essa composição é conhecida como o Diatessaron (ou seja, "através dos quatro levangelhos",). Finalmente, tomou-se gnóstico do tipo valentiniano. Sua obra apologética que restou chama-se Um Discurso aos Gregos. TADEU

No grego, Tkaddaios. Há estudiosos que dizem que o nome é de origem siríaca, e que significa "seio" "bico de seio". Mas, se vem do aramaico, então significa coração. Conhecendo as tendências dos nomes israelitas, parece melhor acreditar nesta última possibilidade. Ele é mencionado com o nome de Tadeu somente em Mar. 3: 18.

No trecho paralelo de Mat. 10:3, seu nome é "Labeu", Foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Seu nome é omitido nas listas de Luc. 6:14-16 e Atos 1: 13, onde é inserido, em seu lugar, o nome Judas, "irmão" ou "filho" de Tiago. Por conseguinte, é , possível que seu verdadeiro nome fosse Judas, ao passo que Tadeu ou Labeu fossem sobrenomes ou apelidos, dados para evitar o odiado nome de Judas Iscariotes, ou então, meramente para evitar confusão com o nome deste. Em João 14:22, lemos: "Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós, e não ao mundo?" O mais provável é que aí tenhamos outra menção desse mesmo discípulo. Ver sobre Judas, sexto ponto. TADEU, ATOS DE

No grego, Prakiseis tou Thaddaiou. Essa obra é uma versão grega do século VI d.e., que desenvolve a lenda síria de Abgar. Ali teria havido uma suposta correspondência entre Abgar V, rei de Edessa (9:46 d.Ci) e Jesus, cujo resultado teria sido uma missão a Edessa, por parte de Adai (Tadeu), que teria operado numerosos milagres, incluindo a cura de Abgar, o monarca Nessa elaboração literária da lenda original (similar, quanto a muitos aspectos, à obra em siríaco, do século V d.e., Doctrina Addai), o rei Abgar teria sido curado quando do retomo do mensageiro que enviara, Ananias, antes mesmo da chegada de Tadeu a Edessa E também há urna atenção bem maior à obra de Tadeu, que teria estabelecido a Igreja cristã naquela cidade. Eusébio (ver Hist. I: 13; cf 2:1,6ss) é quem nos provê o mais antigo registro da alegada correspondência e seu resultado, onde também afirma que extraiu esses informes dos arquivos existentes em Edessa, e os traduziu do siríaco. TADMOR

I. Nome 11. Referências Bíblicas 111. Observações Históricas I. Nome No hebraico, um "local das palmas", derivando de tamar, uma palmeira. O local foi chamado de Palmira pelos gregos e romanos. O nome significa a mesma coisa no hebraico, com suas referências às palmas do local. 11. Referências Bíblicas Na Bíblia o local é mencionado apenas duas vezes: I Reis 9.18 e II Crô. 8.4 111. Observações Históricas 1. Salomão construiu uma cidade com esse nome na fronteira sul da Palestina (Eze. 47.19; 48.28. I Reis 9.18, indicando sua localidade diz "naquela terra"). Ficava a aproximadamente 270 km de Damasco, cerca de metade do caminho entre essa cidade e o Eufrates superior, ao norte. Era um lugar de terra fértil, fontes minerais, jardins, pequenas florestas de palmeiras e uma grande estação de suprimentos para comerciantes que viajavam do e para o Eufrates. 2. Há algumas antigas informações extrabíblicas sobre o local em inscrições cuneiformes que datam até o século 19 a.e. O local também é mencionado nos anais do TiglatePileser I, da Assíria. Salomão provavelmente reconstruiu, em vez de construir a cidade, que passou a ser um "armazém" ou uma das "cidades da armazém" da área geral. Ele também fortificou tais lugares para controlar e proteger as rotas comerciais naquela parte do país. Na época áurea, as fronteiras de Israel estendiam-se até o Eufrates, mas temos de pensar em termos de postos avançados militares e em centros de controle, em vez de em verdadeiras fronteiras do império de Salomão.

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TADMOR - TAGORE 3. Por volta de 64 a.e., Marco Antônio assumiu a responsa-bilidade de atacar comerciantes e postos avançados na área, incluindo Tadmor, numa tentativa de conquistar a supremacia na área. 4. O local era próspero no inicio dos tempos romanos. Além de rotas comerciais, prédios eram construídos em e por volta de Tadmor, especificamente por Adriano, que governou entre 117 d.C. e 138 d.C. 5. Seu ponto máximo de esplendor veio com Odenato, em por volta de 267 d.e. O local passou a ser conhecido como Palmira. Odenato tentou unificar as culturas da área ao desposar Zenóbia, filha de um poderoso xeque árabe. Em cooperação com os chefes beduínos, ele conseguiu superar os inimigos de Roma na área. Odenato foi o governador de Palmira até ser assassinado por um sobrinho. 6. Sua mulher, Zenóbia, assumiu o controle e lutou pela independência e, por um período, teve sucesso com seu "autogo-verno", mas o imperador Aurélio (273 d.Ci) deu cabo ao sonho. Zenóbia tentou escapar, mas foi dominada e levada a Roma, onde recebeu uma vila e tomou-se a típica matriarca romana. Aurélio praticamente destruiu Palmira, e o local nunca mais voltou a terimportância. 7. No século 7, o local foi dominado pelos islãos. 8. Hoje há uma cidade chamada Tudmur, a cerca de I km do local antigo. Um número considerável de ruínas foi descoberto na localidade original. De fato, essa é uma das ruínas mais impressionantes do mundo moderno.

TAETETO Suas datas aproximadas foram 414 - 369 a.C. Ele fazia parte do círculo platônico de filósofos e cientistas que floresceu na Academia de Atenas. Euclides empregou algumas das idéias de Taeteto. Platão usou o nome dele como título de um de seus diálogos sobre a epistemologia, ou seja, o estudo do conhecimento e como tomamos conhecimento das coisas. Ver sobre Platão, especialmente sua segunda Teoria do Conhecimento. TAFATE No hebraico, "ornamento". Esse era o nome de uma das filhas de Salomão, que veio a tomar-se esposa de Ben-Abinadabe, um dos oficiais de Salomão, encarregado do distrito da "cordilheira de Dor", criado pelo monarca hebreu (I Reis 4: 11). Tafate viveu por volta do ano 1000 a.C. Nada mais se sabe a respeito dela, além do que nos informa esse versículo. TAFNES Esse é o nome pelo qual, na Bíblia, é chamada uma rainha egípcia e uma localidade. Em português, a forma do nome é o mesmo, mas, tanto no hebraico quanto no grego da Septuaginta há diferenças, a saber: 1. A rainha egípcia. No grego da Septuaginta seu nome aparece como Thekemimas ou Thecheminas. Na Bíblia, ela é mencionada no décimo primeiro capitulo do primeiro livro dos Reis. Se seguirmos a indicação dos fonemas gregos, como representação dos fonemas egípcios, de acordo com os especialistas, o seu nome egípcio significaria "a esposa do rei". Ela era esposa de algum Faraó da XXI Dinastia, talvez Siamon (976-958 a.C.). O rei egípcio também deu em casamento a irmã dela, a Hadade, o prfncipe edomita que fugiu de Davi para o Egito (I Reis 11:17), e que veio a se tomar um dos grandes inimigos de Salomão, filho de Davi. Tafnes cuidou do filho de sua irmã, Genubath, no palácio do Fara6. Tafnes viveu por volta de 1000 a.C. 2. A cidade egípcia. No grego da Septuaginta, Taphnós. Essa cidade é mencionada somente no livro de Jeremias (ler. 2: 16, onde nossa versão portuguesa diz "Taínes", certamente

um erro tipogrâfico; 43:7-9; 44:1 e46:14).Essacidadeficava no Baixo Egito, perto do rio Nilo, nas proximidades de Pelusium, já perto da extremidade sul da Palestina. Os escritores clássicos chamaram-naDajhe. Atualmente éo TeU, Defenneh. Foi para ali que muitos judeus fugiram dos caldeus, levando consigo, à força, o profeta Jeremias e seu amanuense, Baruque. Ver Jer. 43:1-7. Tafnes é nomeada juntamente com Mênfis (Jer. 2:16), como cidade adversária de Israel e,juntamente com Migdol, como lugar para onde exilados judeus fugiram, depois de haverem assassinado a Gedalias, governador dos judeus, designado pelos babilônios (ler. 44: 1). E possível que o nome dessa cidade seja a transliteração hebraica do nome Thphns, que figura em fontes fenícias, em uma carta mencionada em um papiro do século VI a.C., encontrada no Egito. Esse texto alude a "Baal-Zefom dos deuses de Tafues". Com base nisso, alguns estudiosos têm imaginado que, mais antigamente, a cidade chamava-se BaalZefom, o que corresponde a uma das paradas dos israelitas, no deserto, após o êxodo (Êx. 14:2). Outros eruditos pensam que esse nome pode representar o egípcio que significa "palácio do núbil", o que talvez seja uma indicação de que foi fundada durante o reinado de Tiraca (11 Reis 19:9). Mas, a forma grega do nome apóia a identificação com a Dafues dos escritores clássicos, no braço pelúsico do rio Nilo. Heródoto informa-nos que Dafnes contava com uma guarnição de mercenários gregos, ali postada por Psamético, Fara6 da XXVI Dinastia (664-610 a.C.), a fim de repelir as incursões dos árabes e de outros asiáticos. A arqueologia tem encontrado ali, entre outras coisas, uma plataforma de tijolos, fora de uma fortaleza da época de Psarnético I, que talvez seja o mesmo "pavimento" que havia na "entrada da casa de Faraó, em Tafnes", de que nos fala Jeremias. Foi ali que Jeremias ocultou as pedras, assinalando o lugar onde, segundo ele predisse, o rei babilônio, Nabucodonosor 11, haveria de erigir o seu trono, após haver conquistado o Egito (ler. 43:9).

TAGORE. SIR RABINDRANATH Suas datas foram 1861-1941. Nasceu em Calcutá, na Índia. Foi um notável mestre indiano, capaz de transmitir a essência de sua fé aos ocidentais. Foi-lhe conferido o Prêmio Nobel de literatura, em 1913. Por causa disso, foi alvo das atenções de pessoas educadas no mundo inteiro. Foi um dos mais importantes intérpretes do pensamento oriental no Ocidente. Estudou na Inglaterra e foi feito cavaleiro pelo rei George V, do Império Britânico; e, assim sendo, encontrava-se em posição de ser uma espécie de intermediário das idéias orientais para o Ocidente. Também foi poeta, educador e importante figura religiosa, que se comunicava pela palavra oral e pela literatura. Seus poemas místicos têm recebido uma atenção especial. Tagore estava convencido da verdade universal contida na declaração paulina: " ... somos membros uns dos outros" (Efé, 4:25), tendo passado boa parte de sua vida procurando demonstrar esse fato. Ele procurava exprimir unidade em tomo de um único Deus. Estabeleceu uma universidade que desejava ser uma universidade mundial, em lugar onde todas as raças e todas as fés pudessem buscar a vantagem de todos, do que emergiria a unidade. Ele denunciava o nacionalismo tanto oriental como ocidental, e fez conferências contra a violência de todas as modalidades. Estava comprometido com os ideais da paz e do amor, e era mais constante em sua campanha do que o próprio Mahatma Gandhi (se é possível acreditar nisso). Discursava em favor do total abandono do sistema

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T' AI CHI - TALES DE MILETO de castas, e não somente em favor de uma modificação substancial do sistema (conforme fazia Gandhi). É significativo que sua família, coletivamente, desistiu de sua elevada posição brâmane. Suas crenças foram eloqüentemente expressas em seus escritos: Giranjala (poemas); The Crescent Moon; The HungrySouls; Home and the World, Natlonalism; Letters from A broad; The Religion of'Man (uma série de preleções coligidas). Ele acreditava que nossas crenças estão mais próximas umas das outras do que reconhecemos, embora isso seja obscurecido por um vocabulário diversificado. Também cria na existência do Grande Todo (nome que ele dava a Deus), no interior de todos os homens, o que daria uma força natural e impulsionadora em prol da unidade. Oseu grande alvo era que os homens aprendessem a perceber Deus-coma-Amor na vida diária. Ver o artigo geral sobre o Hinduísmo.

T'AICHI , Essa é uma expressão chinesa que significa Grande Ultimo (vide), o princípio básico e divino do universo, segundo o pensamento chinês. TAINE, HIPÓLITO Suas datas foram 1828·1893. Nasceu em Vouziers, na França Educou-se em Paris. Tomou-se erudito nos campos da filosofia e das letras. Aplicava o positivismo e o determinismo à arte, à história e à sociedade. Opunha-se ao romantismo. E,juntamente com Renan (vide), foi um notável porta-voz do positivismo (vide), na segunda metade do século XIX

TALENTO Ver sobre Moedas; e também sobre Pesos e Medidas. Mat. 25: 14: Porque é assim como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: O vocábulo talento, nos idiomas modernos, usado para indicar a capacidade e os dotes de alguém, era realidade que se derivava dessa parábola. Originalmente o talento era uma unidade de peso; depois passou a ser uma unidade monetária, ou seja, seis mil denários. O denário valia o trabalho de um dia. Um talento, portanto, valia o trabalho de um homem por mais ou menos 18 anos. O uso posterior dessa palavra, para indicar as habilidades ou dotes naturais, se desenvolveu do uso simbólico com que o termo é usado nesta parábola. A interpretação da parábola parece girar em tomo do sentido simbólico da palavra "talento". Abaixo estão algumas das principais idéias apresentadas pelos intérpretes: 1. Alguns acreditam que a referência é ás habilidades com que servimos a Deus, quer naturais quer espirituais. 2. Outros crêem que se trata da oportunidade espiritual, isto é, a outorga do conhecimento e da verdade que Deus dá de si mesmo e de seu caminho de salvação. Essas oportunidades espirituais teriam a intenção de orientar a vida. No caso de Israel, significou a chegada do reino e a necessidade de sujeição ao governo de Deus, o que, realmente, teria conduzido essa nação a um tipo superior de vida espiritual. No caso da "parousia" ou segunda vinda de Cristo, significa a prontidão, mediante o serviço, que os homens terão ou não. No caso da morte, haverá uma prestação de contas. Cada um será considerado responsável pelo que praticou, tanto com as suas oportunidades como com seus dotes naturais. 3. Portanto, a verdadeira interpretação parece ser uma interpretação ampla, o que incluiria ambas as idéias acima,

isto é, as habilidades concedidas por Deus, tanto naturais como espirituais, com as quais podemos servir aos homens e glorificar a Deus, e também as oportunidades espirituais ou "luzes" que recebemos, para serem empregadas em nossa inquirição espiritual. Dessa maneira, teremos de prestar contas tanto do que sabemos como do que fazemos. Aquele que sabe mais, isto é, que tem uma com-preensão - mais clara - do caminho da vida, tem a obrigação de viver unia vida mais frutífera. Alguns detalhes dessa parábola são de difícil interpretação, se nos apegarmos apenas a algum sentido limitado. Por exemplo, se considerarmos que essa parábola se aplica somente aos crentes verdadeiros, que terão de prestar contas de seu serviço, então o vs. 24 será dificil de ser interpretado, porquanto nenhum crente autêntico teria essa atitude para com Deus. O vs. 30 também dificilmente pode indicar o julgamento de um crente autêntico. Pois tal julgamento é o mesmo que foi imposto ao conviva que entrou no banquete nupcial sem a veste apropriada (ver Mat. 22: 12-14). Por esses motivos, devemos buscar uma interpretação mais lata. Os judeus, por exemplo, são como os que receberam muitos talentos, muita oportunidade para conhecerem os segredos espirituais, e isso deveria tê-los conduzido à vida. Contudo, abusaram de seus privilégios, ocultaram os seus talentos e terão de sofrer as conseqüências eternas desse ato. Existem outros, porém, que fazem pleno uso de suas oportunidades espirituais, ainda que recebam menos que outros; e, ao agirem assim, tanto encontram a vida como vivem uma vida frutífera. O mais provável é que ambas as idéias estejam contidas na entrega dos talentos. Esses talentos envolvem tanto o conhecimento como a capacidade para o serviço. Os talentos, pois, parecem ser dons e oportunidades espirituais que conduzem à vida, contanto que sejam recebidos da maneira certa e sejam usados com toda a propriedade; e isso resulta na manifestação das evidências do Espírito Santo na vida do crente. Assim se vão multiplicando os talentos na experiência prática, o que certamente também é algo agradável ao Pai. Segundo a interpretaçãomais ampla desta parábola, também devemos incluir aqui a idéia do julgamento do crente, porquanto é perfeitamente claro nas Escrituras que somos responsáveis pelo uso que fazemos tanto de nosso conhecimento espiritual como das oportunidades que nos são concedidas. (Quanto a uma explicação pormenorizada destas idéias, ver 11 Cor. 5:10 no NTI). Ao aplicar essa parábola às responsabilidades dos crentes, não precisamos forçar o sentido de alguns versículos que não se aplicam diretamente a eles, exceto em princípio, de que os crentes também serão julgados e que esse julgamento será determinado pelo uso que fizerem do conhecimento recebido e da frutificação espiritual de suas vidas. Ver o artigo sobre Julgamentos das Escrituras. Ver também Julgamento dos Crentes.

TALES DE MILETO Suas datas aproximadas foram 640-546 a.C. Tem sido considerado um dos sete antigos sábios da Grécia e pai da filosofia ocidental. Foi um notável cientista, tendo sido capaz de prever o eclipse solar de 585 a.C. Desviou as águas de um rio, permitindo que o rei Croeso o vadeasse em certo ponto, sem empecilho. Ele promoveu a unidade das cidades - estados da Grécia, tendo aludido à necessidade de uma capital grega central. Cientista teórico como era, labutou para determinar o elemento mais básico de todos, tendo optado pela água, com base em várias razões. Tem sido considerado o primeiro filósofo a inquirir sobre a natureza subjacente

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TALES DE MILETO - TALMAI de todas as coisas. Alguns acreditam que suas especulações a respeito da água, como a base de tudo, foram tomadas por empréstimo, pelo menos em parte, dos mitos cosmogônicos do Egito ou da Babilônia. Outros seguiram-no quanto a essa atividade, tendo sugerido outros elementos como o fogo, o ar e a terra, e um elemento subjacente não - determinado como base de tudo. Ver o artigo intitulado Hilozoismo; quanto a uma descrição dessa entidade indeterminada. Quando Tales de Mileto declarou que "todas as coisas estão repletas de deuses", talvez tenha expressado a crença de que a base real da natureza é psíquica, e não material. Ver sobre o Pampsiquismo. No entanto, muitos assumem um ponto de vista materialista de suas teorias, supondo que ele usava uma linguagem poética ao falar sobre as divindades em tudo presentes. Idéias: I. Tales figura como o criador e expositor do conceito que diz "conhece-te a ti mesmo", tão proeminente nos idéias de Sócrates. Nesse caso, podemos supor que ele quis dizer a mesma coisa que Sócrates disse, com grandes impl icações morais. Para que pratique o bem, o individuo deve ter consciência da natureza de seu próprio ser, de suas potencialidades e de seu destino. 2. Tales também ensinou o princípio do "nada em excesso" a famosa moderação (vide) dos gregos, que se tomou um importante principio normativo de grande parte da ética grega, 3. Entretanto, ele tomou-se melhor conhecido por causa de suas especulações acerca da natureza básica das coisas. Ele acreditava (talvez sob a influência das cosmogonias [vide] egípcia e babilônica) que a água é a base de todas as coisas. Destarte, ele pensava que um único elemento pode explicar o universo inteiro. Aristóteles dava a Tales de Mileto o crédito de haver originado a busca por princípios de explicação. 4. Sua declaração de que "todas as coisas estão repletas de deuses" talvez indique que ele pensava que a água é dotada de uma natureza pampsíquica juntamente com todas as suas manifestações. Nesse caso, uma doutrina espiritual governava as especulações de Tales. Por outra parte, há muitos que supõem que ele meramente usava de uma linguagem poética, e que se tivesse tido conhecimento da formação atômica da água, teria explicado todas as coisas por meio da teoria atômica. Seja como for, ele conferia à água um potencial vitalizador, potencializando todas as muitíssimas coisas diferentes que conhecemos. 5. A alma humana teria um poder de automotivação, sendo ela capaz de iniciar movimentos em outras coisas. 6. Tales pensava que a Terra é um disco que flutua em um vasto oceano, como um pedaço de madeira; mas nunca apresentou qualquer explicação sobre o que contém esse oceano.

TALHAS No grego, udria (ver João 2:6,7, onde nossa versão portuguesa traduz essa palavra por "talhas"; e João 4:28, onde nossa versão portuguesa a traduz por "cântaro"), Estão em foco jarras de barro ou de pedra, para conter água. Esses receptáculos variavam muito em suas dimensões, alguns deles eram pequenos o bastante para que uma mulher pudesse carregar sobre a cabeça ou no ombro (ver João 4:28), ao passo que outros continham uma média de 70 litros (ver João 16,7). A palavra hebraica correspondente é kad, que nossa versão portuguesa traduz por "cântaro" (ver Gên. 24: 14-18, etc.; Juí. 7:16,19; Ecl. 12:6). Ver os artigos intitulados Cerâmica e Jarra.

TALISMÃ Essa palavra portuguesa vem do árabe, onde tem o sentido de "amuleto", ou, mais literalmente, uma, "figura mágica", Parece que a base dessa palavra é o vocábulo grego talesma, "rito sagrado", derivado de teleein, iniciar'. O termo refere-se a algum objeto supostamente capaz de produzir algum efeito extraordinário. Todo tipo de objeto tem servido a esse propósito, desde os mais primitivos, como um dente, uma garra ou chifre de algum animal, até pedras preciosas e materiais elabora-damente esculpidos. Pressupõe-se que o possuidor de um talismã pode afastar os males e atrair bens, mediante o uso do mesmo, TALITACUMI Essa expressão, que aparece somente em Mar. 5 :41, aflorou dos lábios do Senhor Jesus, quando da ressurreição da filha de Jairo. Essas palavras são aramaicas, transliteradas para o grego e dai para o português. Significam, conforme Marcos mesmo interpreta, "Menina, eu te mando, levanta-te". Há outras palavras proferidas por Jesus em aramaico, conforme se vê em Mar. 7:34 e 15:34. E o apóstolo Pedro também proferiu uma palavra em aramaico, "Tabita", em Atos 9:40. Paulo tem o seu famoso "Maranata"(l Cor. 16:22). Os eruditos têm dito que essa expressão aramaica, usada por Paulo, significa "Senhor, vem!" Tais palavras e expressões eram perfeitamente naturais para os gali1eus, que falavam o aramaico como sua língua nativa, sem prejuízo de outros idiomas que também soubessem falar. Não há nelas qualquer coisa de fórmula mágica, como alguns, ignorantemente, têm pensado. Os estudos feitos acerca de quanto se falava o aramaico e o hebraico, na Palestina, nos dias de Jesus e de seus apóstolos, têm produzido alguns resultados interessantes. É bastante cansativo e detalhado mostrar todos os passos que os estudiosos têm tido de dar. Mas a conclusão geral pode ser posta na boca de um rabino do passado, que disse: "O aramaico usava-se na linguagem sacra; o hebraico, na fala comum, do povo". Isso discorda da opinião dos estudiosos em geral, que pensavam que o hebraico estava totalmente esquecido. Mas, de fato, testemunhos antigos, como o próprio Novo Testamento, a recém-descoberta literatura da comunidade de Qurnran, e os escritos de Josefo, todos testificam de que o hebraico era o idioma comum da Palestina, usado até mesmo na literatura da época. Quanto ao Novo Testamento, lemos em Atos 21:40 e 22:2,- que Paulo dirigiu-se aos judeus em "hebraico", e não em aramaico. Não obstante a isso, o aramaico era alimentado pela corrente continua de judeus orientais que chegavam em Jerusalém, para as festividades religiosas danação, e muitos deles acabavam ficando na Terra Santa. Portanto, o aramaico prevalecia nos cultos efetuados no templo, desde o período persa em diante. Devemos concluir que, assim como o hebraico está sendo revivido atualmente, no Estado de Israel, assim também deve ter acontecido no perlodo intermediário, entre o Antigo e o Novo Testamento, embora, sobre isso, nada nos tenha chegado quanto a informações concretas. TALMAI No hebraico, "ousado", "vivaz". Há duas personagens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento: 1. Um dos três filhos do gigante Anaque. Seu grupo tribal residia em Hebrom quando os espias enviados por Josué penetraram na Terra Prometida (Núm. 13:22; Jos. 15:14 e Juf. I: 10). Ele viveu por volta de 1450 a.C.

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TALMOM - TALMUDE 2. O rei de Gesur, pai de Maaca, uma das esposas de Davi. Ele é mencionado em 11 Sam. 13; 13:37 e I Crô. 12. Viveu por volta de 1040 a.e. Gesur era um principado arameu na região a nordeste da Galiléia. Desobedecendo à lei mosaica, Davi casou-se com a princesa Maaca. - Mas isto se resultou na sua grande tristeza. A princesa tornou-se a mãe do apaixonado e violento Absalão (11 Sam. 13). Depois de haver assassinado a seu irmão, Amom, Absalão fugiu para Gesur, onde ficou por três anos (11 Sam. 13:37,38). TALMOM No hebraico, "opressor" "violento". Seu nome é mencionado por cinco vezes: I Crô. 9: 17; Esd, 2:42; Nee. 7:45; 11: 19 e 12:25. Ele era um levita que residia em Jerusalém, nos dias de Esdras (536-445 a.C.). Pertencia a uma família de porteiros do templo, que existiu depois do exílio babilônico. TALMUDE I. Nome 11. Caracterização Geral 111.O Desenvolvimento em Duas Camadas 1. O Misna 2. OGemara IV. A Tora Oral V. A Importância do Talmude I. Nome No hebraico, lomed, ou "estudar", "aprender". O substantivo tem o sentido de "discípulo". Os mestres estudam e transmitem o que sabem, e os estudantes tomam-se seus discípulos. O Grande Mestre foi Moisés, sendo que o Talmude é baseado principalmente no Pentateuco. 11. Caracterização Geral O Talmude é um tipo de enciclopédia da tradição judaica, que age como um suplemento à Bíblia. A obra resume mais de sete séculos de crescimento cultural e idéias. Suas origens orais remontam à época do cânon bíblico, e a obra não chegou à sua fase final até o final do século 5. Embora lide principalmente com a lei, particularmente interpretando e suplementando o Criador da Lei (Moisés), também trata de religião geral, ética, instituições sociais, história, folclore e ciência. Foram desenvolvidos dois Talmudes, um em Israel, por volta de 400 d.C., e o outro na Babilônia, entre 500 d.C. e 600 d.e. O Talmude compilado na Palestina comenta as divisões do Misna (ver a seção Ill.L), que se relaciona a uma variedade de assuntos como agricultura, épocas de apontamento, mulheres e família, lei e assuntos pessoais. O Talmude da Babilônia cobre as épocas de apontamento, mulheres e família, coisas sagradas e lei, mas omite a agricultura. Cerca de 90% do Talmude da Palestina enfatizam a exegese do Misna (Mishnah). O Talmude da Babilônia compartilha muito desse material, mas auxilia de uma forma considerável comentários da Bíblia. Ambos incluem comentários especiais sobre palavras e frases, os históricos bíblicos do Misna e contradições nos casos das questões bíblicas que exigem explicação e harmonia. O palestino trata quase por inteiro de questões do Misna, enquanto o babilônico adiciona muitas passagens da Escritura com comentários. Ambos os Talmudes aceitam, sem questionamento, a autoridade da Tora como a palavra revelada de Deus através de Moisés, mas, à medida que as idéias e a cultura avançam, novas interpretações são necessárias para tomar vivo a Tora para cada geração. Por exemplo: Deu. 24.1 fala da possibilidade de dissolver os laços do casamento,

mas não entra em detalhes. Os Talmudes entram em detalhes com suas interpretações e comentários. À medida que a sociedade judaica se desenvolvia, havia necessidade de fornecer regulamentações para o comércio, trabalho e indústria, coisas com as quais a Tora não lidara o suficiente para estabelecer regras adequadas. Os Talmudes tentam compensar tais deficiências, sempre, presumivelmente, aplicando a sabedoria de Moisés ao máximo possível. Historicamente, a literatura do Talmude foi desenvolvida em duas camadas, a mais antiga do Misna, e a segunda do Gemara, das quais se trata na seção m. Havia visitas freqüentes dos rabinos que representavam ambos os Talmudes, de forma que há grande nível de harmonia entre as duas tradições. O Talmude, juntamente com outras criações literárias da época, freqüentemente tem sido chamado de Tora Oral, pois houve um período de tempo considerável em que os materiais que existiam eram contidos apenas em tradição oral. Até o final do século quinto d.Ci, as sociedades judaicas estavam em declínio tanto na Palestina como na Babilônia, e como resultado que a atividade de redação criativa do Talmude cessou. 111. O Desenvolvimento em Duas Camadas 1. O Mlsna (Mishnah) O Talmude teve um desenvolvimento histórico que envolveu duas camadas ou estágios distintos. O estágio mais antigo foi o Misna (Mishnah), que significa "repetir" ou "estudar". Forneço um artigo separado detalhado sobre o Mishnah, o que me permite fazer apenas uma apresentação breve neste artigo. Primariamente, o Misna foi produto da edição acadêmica do rabino de Judá e de seus discípulos que estavam ativos no terceiro século d.C. na Palestina. O hebraico do texto era claro e lúcido, e o próprio texto era organizado em seis seções principais que depois foram subdivididas em 63 tratados. Os tratados (ensaios) eram então divididos em capítulos e parágrafos. As Seis Seções. As seções são chamadas de Sedarim, isto é, "ordens", pelo fato de que cada uma representa uma organização ordenada de opiniões, leis e comentários sobre um assunto especifico: I. Zeraim, isto é, "sementes", que trata de agricultura. Anexado a ela está um importante tratado (ensaio) sobre a oração. chamado de Beracote. 2. Moed, isto é, "festivais", que trata de muitos festivais e dias sagrados judaicos, dos sábados e das celebrações e banquetes do calendário judeu. 3. Nashim, isto é, "mulheres", que trata do casamento, do divórcio e da vida familiar. 4. Neziquim, isto é, "ferimentos", que trata da lei civil e criminal. 5. Kodashim, ou "coisas sagradas", que discute os sacrificios e os cultos do templo. 6. Taharote, isto é, "limpeza", que trata de questões de pureza ritual. Os tratamentos são um tanto breves, o que exigiu, por fim, revisões e adições. Assim, foi criado um suplemento, ou segunda camada, chamado de Gemara. 2. O Gemara Esta palavra deriva do termo aramaico gemar, que significa "estudar", "ensinar". O Gemara existe em duas versões, ambas escritas nos vernáculos correntes, respectivamente. entre os judeus da Palestina e da Babilônia, resultando, assim, nas designações de Talmude Palestino e Talmude Babilônico. A comunidade de estudiosos judeus da Palestina, a longo prazo, foi desafiada, mas não ultrapassada pela sua contraparte da Babilônia, e ambas se tomaram importantes centros do

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TALMUDE - TAMAR aprendizado e produção literária dos judeus. A Babilônia, finalmente, ultrapassou a sua "mãe" (Palestina). De qualquer modo, houve contato contínuo entre os dois lados para harmonizar o trabalho que estava sendo realizado. Nem todos os 63 tratados (ensaios) têm tratamento com suplementos no Gemara. O Gemara palestino, também chamado de Yerushalmi (Jerusalém) suplementa 39 dos tratados. O Gemara da Babilônia, embora lidando apenas com 36,5 dos tratados, é o trabalho mais volumoso, sendo cerca de três vezes maior do que o palestino. Unindo-se o Misna e o Gemara originais, obtém-se o Talmude. IV. A Tora Oral Forneço um artigo detalhado sobre a Tora, que significa "lançar a sorte sagrada", que fala da prática de adivinhação oracular. Esse trabalho passou a designar o Pentateuco, os livros atribuídos a Moisés que os judeus piedosos supunham conter, em forma de semente, todas as leis divinas. Às vezes a palavra refere-se a todos os livros revelatórios dos judeus, ou à coleção do próprio Antigo Testamento, ou à"Tora Divina, isto é, ao depósito de todo o conhecimento da Mente Divina. O Talmude, juntamente com diversas outras literaturas relacionadas dos rabinos mais famosos do mesmo período de produção, passou a ser chamado de Tom Oral. Por séculos muito do material circulou oralmente antes de ter sido reduzido a documentos escritos. Havia formas escritas de parte dele, derivadas de épocas muito antigas. Além disso, sua redação também levou muito tempo antes de poder ser considerada "produto final". O Talmude palestino foi concluído em alguma época no século 5. O babilônico foi concluído em um período mais próximo ao final daquele mesmo século. Ambas as comunidades entraram em declínio naquele século, em parte por causa das perseguições promovidas pelas autoridades civis. Com o declínio das comunidades houve uma cessação de produtos literários significativos, de modo que os Talmudes congelaram em formas finais que não foram, em períodos posteriores, desenvolvidas. V. A Importância do Talmude Não é errado falar de uma canonização envolvida no Talmude, o mesmo que ocorreu com as Escrituras do Antigo Testamento. Os judeus de períodos posteriores (depois do século 5 d. C.) reconheceram que o aprendizado e o domínio do Talmude era o chamado mais alto e maior privilégio que uma pessoa poderia experimentar. Para muitos, o conhecimento do Talmude era mantido com maior estima do que o conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento, e o conhecimento e domínio de ambos produziam judeus fanáticos e piedosos que eram, e ainda são, os lideres do zelo religioso. O liberalismo e a constante crítica do Antigo Testamento abalaram a fé na historicidade daquela coleção de documentos, e não é errado dizer que o judeu piedoso se refugiava no Talmude como sendo, de alguma forma, mais preciso e mais puro do que o próprio Antigo Testamento. Com o passar do tempo, a maioria dos judeus deu pouco interesse à complexidade do Talmude e muitos converteram-se a uma forma "kantiana" de filosofia, como a desenvolvida pelos filósofos judeus. Mas, com O surgimento do estado judeu moderno, o interesse fanático foi reavivado tanto pelo Antigo Testamento como pelo Talmude. O estudioso cristão busca introspecção de primeira mão no pensame nto judeu produzido pelos próprios judeus, que muitas vezes é mais i1uminador do que os tratamentos comuns e de segunda mão dados pelos estudiosos cristãos, destituídos de conhecimento cultural para compreender

muito do judaísmo. Muito daquilo que lemos nas Escrituras sobre os judeus pode ser encontrado e muitas vezes explicado em maior profundidade do que a apresentação das mesmas questões nos evangelhos. A canonização final do Talmude trouxe cabo a uma das épocas mais criativas da história da tradição e atividade literária judaicas. Mas o Talmude agora vive de forma real no estado judeu moderno e na mente dos estudiosos cristãos que buscam conhecimento mais perfeito. TAMA No hebraico, "combate". Seu nome ocorre apenas em Esd. 2:53 e Nee. 7:55. Ele foi o fundador de uma família de servos do templo, que retornaram do cativeiro babilônico em companhia de Zorobabel. No trecho paralelo de I Esdras 5:32, esse nome aparece sob a forma de Tamá. Viveu por volta de 536 a.c. TAMAR No hebraico, "palmeira" ou "tâmara (palmeira)". 1. Esse era o nome da mulher de Er (filho de Judá), que depois passou a ser a mulher de seu irmão Onã, Era costume que um segundo irmão assumisse a viúva do primeiro que havia morrido, para criar uma descendência ou família que daria continuidade à linhagem daquele irmão. Isso sempre era possível por causa da poligamia. A mulher de um irmão simplesmente seria adicionada ao círculo familiar do segundo irmão que já fosse casado. Onã nada queria com este outro casamento e evitou a concepção através de coitus interruptus, derrubando, assim, o sêmen no chão. Com base nessa circunstância, surgiu o termo onanismo, que significa coitus interruptus ou masturbação. Ver a história em Gên. 28.1-11. Ver também o verbete Matrimônio Levirato. Por causa de seu "pecado" em não cumprir seu papel, diz-se que Yahweh o executou, presumivelmente através de um acidente ou por doença. Assim, Tamar ficou sem marido pela segunda vez e exigiu que Judá lhe desse ainda um terceiro filho, mas ele relutou arriscar ter ainda outro filho com aquela mulher, por motivos óbvios. Ela então aplicou um truque radical para conseguir o terceiro filho. Disfarçou-se de prostituta e seduziu o próprio Judál Ficou grávida e, quando foi acusada de falta de castidade, o que poderia ter ocasionado sua execução, revelou a terrível verdade de que Judá era o pai da criança. Nesse momento, tornou-se abundantemente claro de que poderia ter sido melhor para Judá e para seus filhos nunca ter chegado perto da mulher. Mas o que poderia fazer Judá? Primeiro, ele teve de confessar seu pecado e não promover acusações (Gên. 25,26). A mulher ficou livre e presumivelmente conseguiu um terceiro filho de Judá, vencendo, assim, o conflito. A propósito, a mulher deu à luz a gêmeos, o pai sendo Judá, claro. Seus nomes foram Perez e Zerá, ambos ancestrais distantes de Jesus, o Cristo (ver Mal. 1.3). Ver Gên. 39.29, 30. Quando surgiu O ditado "A verdade é mais forte do que a ficção", o criador elo ditado deve ter tido em mente essa história bíblica. A época foi em. tomo de 1900 a.c. 2. Uma filha de Davi com Maaca, irmã de Absalão e meia-irmã do depravado Amnom, o filho mais velho de Davi. Sua mãe era Ainoa, uma jezreelita (lI Sam. 3.2). Depois de elaborado planejamento, ele conseguiu estuprar Tamar, cometendo fornicação, incesto e estupro ao mesmo tempo! Depois foi a vez de Absalão fazer o planejamento de assassinato. Ele acabou matando Amnom, para constrangimento de Davi que, contudo, não tomou nenhuma atitude, o que combinou com sua inação no caso

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TÂMARA-TAMUZ do estupro de Tamar. Ver a história toda contada em II Sam. capo 13. A época foi em tomo de 980 a.C. 3. Absalão linha uma filha naquela época que, presumivelmente, foi chamada pelo mesmo nome da irmã, Tamar, e possivelmente recebeu esse nome para honrar sua linda irmã, que havia sido tratada tão mal por Amnom, um meio-irmão. A única informação que temos sobre essa Tamar é que ela era uma "mulher formosa à vista" (11 Sam. 14.27). O vs. 25 do mesmo capítulo conta-nos que o próprio Absalão era extremamente atraente, de forma que Tamar obteve sua beleza diretamente de seus genes. 4. Uma cidade próxima fronteira de Judá e Edom, no extremo sul do mar Morto também recebe esse nome. Talvez o sítio moderno seja Thamara, que fica na estrada que leva de Hebrom a Elate. O profeta Ezequiel menciona Tamar como um local na fronteira da Israel restaurada (Eze. 47.9; 48.28). Talvez uma alusão seja feita a esse local em I Reis 9.18, ou talvez ele seja identificado com Hazom-Tamar, de 11 Crô. 20.2 (ver a respeito). Outro nome para é En-Gedi (ver o artigo com esse nome). à

TÂMARA Não há referências diretas às tâmaras nas páginas da Bíblia, mas a alusão à "bebida forte", em Provérbios 20: 1, pode apontar para o vinho feito de tâmaras. Além disso, em II Crônicas 31 :5, há referência ao "mel", que muitos pensam tratar-se de mel feito de tâmaras. Com base em outras fontes informativas, ficamos sabendo como as tâmaras eram usadas na antiguidade. Tâmaras secas eram muito duradouras, utilíssimas para o consumo durante as viagens em lombo de camelo, pelos desertos. A tâmara, cujo nome científico é Phoenix dactylifera, cresce em enormes cachos, que ficam pendurados entre as folhas da planta. Durante longos séculos têm sido um dos principais itens da alimentação de várias tribos árabes. Ver também sobre a Palmeira. TAMARGUEIRA, ARBUSTO No hebraico, eshel, "tamargueira", que aparece por três vezes no Antigo Testamento: Gên. 21 :33; I Sam. 22:6 e 31:13. No entanto, em nossa versão portuguesa, "tamargueira" só aparece em Gên. 21:33. Nas duas outras passagens, nossa versão portuguesa diz "arvoredo". Em inglês, as traduções de Moffatt e de Goodspeed dizem "tamarisk" (palavra inglesa que significa tamargueira), em I Sam. 22:6 e em Gên. 21:15, mas não em Gên. 21:33 e em I Sam. 31:13. Portanto, a confusão criada em tomo do assunto, nas traduções, não é pequena. A palavra hebraica por trás de Gên. 21: 15 é siach, que significa "arbusto". Após essas observações introdutórias necessárias, falemos sobre a própria tamargueira. Essa é uma árvore arbustiva, que medra bem em regiões secas. Eis a provável razão pela qual Abraão "plantou ... tamargueiras em Berseba" (Gên, 21 :33), pois ali era uma região semi-árida. As tamargueiras são dotadas de folhas minúsculas, tipo escamas, que quase não transpiram, isto é, não perdem muita umidade. A tamargueira é uma espécie vegetal com boa resistência à seca. Dão-se bem em terreno arenoso, sendo possível que os arbustos sob os quais Hagar deixou o menino Ismael, no deserto de Sur, quando fugia de Sara, tenham sido tamargueiras,embora o hebraico não diga exatamente isso, pois não determina a espécie exata de arbusto que está em pauta. O nome científico da tamargueira é Tamarisk aphylla.

TAMBOR Ver sobre Música e Instrumentos Musicais. TAMBORIL Versobre Música, e também sobre Instrumentos Musicais. TAMBORIM Ver sobre Música e Instrumentos Musicais. TAMUNETE No hebraico, "consolação". Ele é mencionado somente em 11 Reis25.23 eem Jer. 49:8. Ele chamado de netofatita. Era o pai de Seraías, um capitão judeu que permaneceu em Judá, juntamente com Gedalias (vide), após o exílio babilônico. Viveu por volta de 620 a.C. é

TAMUZ Uma divindade e ídolo sírio e fenício, correspondente ao Adônis dos gregos. Na Bíblia, esse deus pagão é mencionado somente em Eze. 8: 14. A origem de seu nome perde-se na obscuridade da antigüidade. Mas muitos pensam que se derivou da história lendária suméria sobre Dumuzi ("verdadeiro filho"), um pastor pré-diluviano e suposto marido de Istar (vide). Embora nunca tenha obtido mui grande popularidade na Babilônia e na Assíria, tomou-se famosíssimo na Síria e na Fenícia, bem como, mais tarde, entre os gregos, onde o casal aparecia com os nomes de Adônis e Afrodite. No Egito, Adônis chegou a ser identificado com Osíris (vide), que teria sua própria história lendária. Na Síria, o principal centro desse culto ficava em Gebal, onde havia o templo dedicado a Afrodite, a deusa do amor carnal. Provavelmente, foi devido à contigüidade entre a Síria e Israel que o culto a Tamuz penetrou entre o antigo povo de Deus. Ezequiel, em uma visão, viu mulheres sentadas na porta norte do templo de Jerusalém, a chorarem por Tamuz, o que consistia em um tremendo desvio religioso, condenado pelo Senhor, como uma das "abominações" que faziam Deus tapar seus ouvidos aos apelos dos judeus incrédulos. Na Suméria, essa divindade apareceu como deus da vegetação da primavera. Ali ele era considerado irmão e marido de Istar, a deusa da fertilidade. Primeiramente ela o teria seduzido, cometendo incesto com ele, para depois traí-lo. Uma bela história, sem dúvida! Ali, Tamuz era representado em selos como protetor dos rebanhos, que defendia das feras. Esse culto foi mais elaborado na Babilônia, onde já se falava em sua morte, visita ao mundo dos mortos e ressurreição. Essa morte e ressurreição corresponderiam, anualmente ao início do verão e ao refiorescimento primaveril da vegetação. Os ritos em que se chorava pela imaginária morte de Tamuz ocorriam no 4° mês (correspondente aos nossos meses de junho e julho). Isso deu azo a que os judeus de tempos pós - bíblicos chamassem o seu quarto mês de Tamuz. Ver sobre o Calendário. Havia muitas afinidades entre o culto a Tamuz e o culto a Os íris, este último no Egito. Até hoje, em regiões remotas do Curdistão, há variações desse antigo culto. Segundo a opinião de alguns estudiosos, Tamuz representaria o monarca reinante. E este, por sua vez, representaria todos os homens, dentro do potencial de que eles teriam de participar da natureza divina de Istar, o princípio da vida e da fertilidade. Muitos cultos pagãos antigos giravam em tomo de questões sexuais e do mistério da reprodução. Como essa é uma questão muito atrativa para os seres humanos, não admira que muitos judeus se tenham deixado

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TANATOLOGIA - TAOÍSMO envolver por cultos dessa natureza, ao longo de sua história. Mas, como é claro, todos os cultos dessa ordem indicam e levam a uma grande degradação. As sugestões deixadas pelos imaginários deuses pagãos nunca eram puras, mas sempre envolviam as piores perversões morais. Não admira que os profetas do Senhor sempre tivessem sentido que tais cultos eram infames, representando um grave perigo para o povo de Deus! TANATOLOGIA Temos ai um termo que vem do grego, thánatos, "morte", e logia, "estudo", "raciocínio", ou seja, estudo sobre a morte". A tanatotogia tomou-se uma especialidade dentro da Psicologia. O estudo sobre a morte é efetuado na esperança de ajudar às pessoas prestes a morrer, além de orientar seus familiares sobre como devem ajudar seus moribundos, aceitando a morte com normalidade e prosseguir a vida. Elizabeth Kubler-Ross é uma das principais figuras desse ramo do conhecimento. Devido à sua constante associação com a morte, ela ficou absolutamente convencida acerca da vida após a morte física, Ela tem escrito vários livros que tratam da psicologia da morte e da experiência de quase-morte. No artigo intitulado Experiências Perto da Morte, discuto sobre os labores dela e de outros, nesse campo, além de mostrar o que a ciência está descobrindo sobre a morte e a vida que vem em seguida. O quadro traçado é bastante otimista, e o leitor deveria familiarizar-se com tais idéias. A aproximação da morte parece primeiramente irar as pessoas por causa de sua drástica ameaça. Segue-se uma grande luta mental, buscando maneiras de evitar o que parece inevitável. Então segue-se a depressão, antes da pessoa aceitar a morte. E encorajadora a observação de que muitas pessoas atingem um significativo crescimento espiritual, para que possam enfrentar melhor a crise. Orientações quanto ao que esperar, os vários estágios psicológicos pelos quais as pessoas normalmente passam, e explicações sobre o que está envolvido no próprio processo da morte e sobre o que jaz mais adiante, têm sido muito valiosas. O melhor aspecto que a ciência está conseguindo salientar é a esperança da existência eterna, juntamente com a ajuda tradicional, prestada pela fé -religiosa e até pela filosofia. Grosso modo, tanatologia pode significar qualquer estudo sistemático acerca da morte. Porém, esse termo é usado especificamente como um ramo da Psicologia, conforme foi dito anteriormente. TÂNIS Forma grega de Zoã. TANNA Essa palavra vem do árabe, onde significa "mestre". Mas estão em foco especialmente os eruditos judeus que recebiam esse nome, e que viveram nos dois primeiros séculos da era cristã, cujos escritos foram incorporados na Mishna (vide) e na Baraita, que são outros escritos de natureza religiosa, além da Mishna. Ver sobre Akiba. TANTRAS Ver sobre Shastras. As Tantras são as quatro classes de Escrituras hindus, escritos místicos pertencentes principalmente, aos séculos Vil e XVIII d.C. Contêm certo material místico e mágico. Discutem sobre muitos assuntos, incluindo temas como religião, medicina e ciências. Exortam os adoradores a usarem as mantras (vide) e a praticarem ritos que são repelentes para os hindus modernos mais sofisticados. Nesses escritos há instruções acerca de como

se pode adquirir poderes psíquicos, incluindo a técnica da projeção da psique (vide). TAO No chinês, "o caminho". Pode referir-se ao santo e bendito caminho que pessoas religiosas sérias deveriam seguir agora, e que promete a prosperidade e a saúde; ou, então, está em foco o caminho último da fé religiosa, que dá acesso à glorificação. Essa palavra também é usada para indicar a essência da espiritualidade e da transformação interior máximas, quando o indivíduo atinge o alvo final da existência e do esforço humanos. O Tao também é reputado à Fonte Divina de onde todas as coisas teriam procedido, ou seja, o princípio básico do cosmos. A esse princípio básico que, segundo os taoistas, todas as coisas retornarão. Versobre o Taoismo, Certos apologistas cristãos orientais têm ligado o termo Tao ao Lagos do cristianismo, pensando que a mesma coisa está em mente, embora expressas por diferentes termos, em diferentes idiomas. c.s. Lewis definiu o Tao como aqueles princípios elementares da ética geral, de que compartilham todos os pontos de vista representativos de uma sociedade pluralista. TAOÍSMO A China tem sido a matriz histórica do sincretismo ímpar daSan Chiao, as "Três Religiões", a saber: 1. confucionismo; 2. taoísmo; 3. budismo. Durante pelo menos dois mil anos, o taoísmo (pronunciado douismo) tem feito parte integral da cultura e do pensamento chineses, desde seu estágio formativo de antigo misticismo, através de sua fase mágica, até que chegou ao seu estágio religioso recente. Mao Tsé-Tung tentou, com algum sucesso, substituir as Três Religiões pelo marxismo. "O Tao resiste a qualquer tentativa de definição. 'O Tao que pode ser expresso por meio de palavras não é o Tao eterno; o nome que pode ser nomeado não é o nome permanente' (Tao Te Ching, 1). Para propósitos práticos, o Tao indica uma vereda, um caminho, um modo de expressão da natureza, o Caminho da Realidade Última" (H). Alguns pensadores têm vinculado o Tao ao Lagos do cristianismo, em seus estudos de religiões comparadas. Ver sobre Tao. "O taoísmo é uma das principais religiões ou filosofias da China. Foi fundada em cerca de 500 a.C. por Lao-Tsé, o qual ensinava que a felicidade pode ser adquirida mediante a obediência aos requisitos da natureza humana e a simplificação das relações sociais e políticas, de acordo com o Tao ou Caminho, o princípio básico do cosmos, de onde procede a natureza inteira" (WA). As escrituras básicas dessa fé chamam-se Tao Te Ching (vide). Alguns eruditos pensam que Lao-Tsé ou Lao Tzu (vide) não foi uma personagem histórica, pois tratar-se-ia de um termo que significa "velho filósofo", o alegado fundador do taoísmo e autor do Tao Te Ching. Idéias: 1. O ensino místico dessa fé era que o caminho da vida transcende à razão e não pode ser expresso por meio de palavras humanas. Contudo, embora nunca vocalizado, não é um ensino inoperante e insensível. O homem que caminha pela vereda mística sabe o que está acontecendo ao seu ser, e tem consciência da transformação que ocorre quando ele sonda o poder divino, embora talvez não encontre meios de expressar sua experiência 2. O indivíduo venceria através do quietismo deixando as coisas continuarem, mantendo-se na tranqüilidade, deixando de lutar, procurando encontrar a harmonia da natureza. Haveria dois conjuntos de qualidades opostas, denominados o yin e o yang (vide), que ajudariam a

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TAOÍSMO - TAQUEMONI estruturar o universo e governariam todas as coisas. No indivíduo, essas forças encontrariam seu devido equilíbrio. 3. Os requisitos divinos podem ser achados no homem interior, pois o homem é produto do Tao e está destinado a chegar ao Tao Final. Um homem pode sentir-se feliz mediante a obediência às exigências de sua própria natureza, mantendo uma atitude de moderação. 4. Ver sobre Tao, quanto a uma idéia acerca da maneira ampla como essa palavra é usada. Tao pode ser entendido como felicidade e harmonia materiais. Porém, também é o alvo a longo prazo de toda existência humana, porquanto aquilo que procede do Tao ao mesmo deve retornar, conforme também se vê acerca do ensino sobre o Logos, no neoplatonismo e no cristianismo. 5. Pessoas comuns adicionaram muitos elementos ao taoísmo: as crenças em espíritos, a sobrevivência da alma, encantamentos mágicos em busca de boa sorte e de cura, confissão de pecados para obtenção de harmonia interior e libertação do mal, a necessidade de boas obras. Os intelectuais estudaram a alquimia, procurando algum meio de tornar o homem imortal; também acrescentaram conhecimentos acerca de boa variedade de questões: química, anatomia, metalurgia, pólvora, anestésicos e farmácia. 6. Lá pelo século III d.C., o taoísmo e o confucionismo rivalizavam fortemente, mas o budismo era mais popular que ambos, entre o povo comum. O taoísmo apela mais para os literatos, para as classes governantes. Os dois mais importantes nomes ligados a essa fé são Chuang Tzu (o alegado fundador do taoísmo) e Hual-nan Tzu. Temos oferecido artigos separados sobre ambos. TAO-TE CHING Ver sobre o Taoísmo. O Tao-Te Ching é o nome da Escritura Sagrada dessa religião. Essa designação significa "Clássico do Caminho e sua Virtude". Esse material foi composto e compilado entre os séculos VI e IV a.C. Consiste em 5.250 caracteres, divididos em oitenta e um capítulos. Alo Tu (vide), contem-porâneo mais velho de Confúcio teria sido o autor desses escritos. Se ele foi mesmo uma personagem histórica, é possível que tenha sido autor de parte da obra. Seja como for, esses escritos provavelmente contêm a essência de seus ensinamentos. Várias formas literárias foram incluídas, como hinos, provérbios, polêmicas e discursos didáticos. O material propõe-se, acima de tudo, a ensinar aos homens "o Caminho" '(Tao, no chinês). Idéias: 1. A Realidade Última está acima da intelecção humana, mas os homens têm criado nomes e descrições que dão alguma idéia sobre a mesma. A Realidade Ultima e Sem Nome é Tao (ver o artigo separado sobre esse assunto). Aquilo que pode ser chamado por algum nome é chamado ser, conforme o conhecemos; aquilo que não pode ser nomeado é chamado não-ser, em termos humanos, mas é chamado superares, em termos teológicos, embora o taoísmo não use essa descrição. O que se quer dizer é que a verdadeira realidade é inteiramente outra, não estando sujeita a exame por parte da intelecção humana. Apesar do taoísmo ser acusado de ser uma religião impessoal e panteísta, o próprio uso desses termos não pode ser levado muito a sério; depois de já termos sido informados de que a Realidade Ultima está acima de nossa compreensão. 2. A tarefa do verdadeiro homem sábio consiste em ensinar a seus semelhantes para que atinjam o Tao, sem a ajuda de palavras e de nomes relativos ao ser. O indivíduo

é iluminado e sente que foi transformado pela realidade. Obtém assim um espírito constante, tranqüilo e iluminado. É encorajado a rejeitar as vidas frenéticas das pessoas comuns. Através de uma espécie de inatividade mística e pacífica, sua alma aprende acerca do super-ser. 3. As descrições conferidas ao Tao são: invisível, inaudível, sutil, sem forma, infinito, sem limites, vago, fugidio e não-ser (o contrário do que entendemos com o termo "ser"). No entanto, através de experiências místicas e intuitivas, é que os homens obteriam a eternidade em suas vidas presentes, porquanto a eternidade manifesta-se através dessas experiências. 4. O yin precisa tomar-se objeto de nossa atenção. Esse é o aspecto passivo, feminino da realidade. O yang é o lado masculino e agressivo da realidade; e no mesmo estão envolvidas quase todas as pessoas. O yin é harmonioso, dócil, maleável, tranqüilo, submisso, espontâneo e fraco. Quando alguém adquire essas qualidades, toma-se um mestre. Os mestres não são aquelas pessoas agressivas que pisam sobre seus semelhantes para se levantarem, e muito menos os poderosos que abusam de outras pessoas e as matam. Mediante as experiências intuitivas e místicas, o indivíduo aprende a acompanhar a Natureza, a qual é harmônica e pacífica. 5. O líder do povo deveria ser o maior seguidor do Caminho entre os homens, mas é raro encontrar um líder dessa qualidade. Quando um rei é cego para o Caminho então há contendas, desarmonia e guerras. Mas, se um rei segue o Caminho, o povo também acabará seguindo o mesmo, e todos tomam-se prósperos por seus próprios esforços, sem a interferência do Estado. Se o confucionismo dispunha de um elaborado código, um caminho dificil, controlado pela sabedoria, o taoísmo prefere o método do quietismo e das experiências místicas. 6. Tao é o equivalente chinês do Lagos. A ele todos chegarão; nele tudo consiste; a ele todos retomarão. TAPUA No hebraico, "maçã". Esse foi o nome de um homem e de duas cidades, nas páginas do Antigo Testamento: 1. Um descendente de Hebrom (I Cor. 2:43), que, provavelmente, deu seu nome a uma cidade próxima de Hebrom. Havia uma Bete-Tapua naquela área em geral, conforme se vê em Jos. 15:53. Ele viveu por volta de 1500 a.C. . 2. Uma cidade na fronteira norte do território de Efraim, a oeste de Siquérn (Jos. 15:32; 16:8; 17:8). Provavelmente é a mesma que, modernamente, se chama Sheikh Abu Zarad. 3. Uma das cidades a oeste do rio Jordão, cujos reis foram derrotados pelos israelitas, sob as ordens de Josué (Jos. 12:17). Talvez seja a mesma cidade acima, sob o número "dois". Aparece, na lista de Jos. 12:7-24, entre Betel e Hefer. TAQUEMONI O sentido desse nome é desconhecido no hebraico. Era o nome do primeiro dos heróis de guerra de Davi. Ele é mencionado com esse nome somente em II Saro. 23:8. No entanto, nossa versão portuguesa diz que Taquemoni foi o pai de Josebe-Bassebete, que teria sido o primeiro dos heróis de Davi, e não seu pai. Estranho é que há versões que dizem "Taquemoni... o mesmo era Adino...", em II Sam. 23 :8. Em I Crô. 11:11, O trecho paralelo diz: ..Jasobeão, hacmonita, o principal dos trinta .." Portanto, há considerável indecisão no texto, conforme o encontramos em nossa Bíblia portuguesa e em outras versões. Por isso mesmo, alguns estudiosos pensam que está envolvido um erro de copista, onde uma letra hebraica teria sido confundida com outra,

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TARALA - TARGUM especialmente no caso de I Crô, 11:11. Viveu em cerca de 1048 a.C.

TARALA No hebraico, "poder de Deus". Uma cidade que ficava no território de Benjamim (Jos. 18:27). Ela aparece, em uma lista, entre Ispreel e Zela. Provavelmente ficava localizada na região montanhosa, a noroeste de Jerusalém. Atualmente, seu local exato é desconhecido.

TARDE Vem do hebraico, com o sentido de fim do dia (Juí. 19:8). Incluía a quinta e a sexta divisões do dia. Os hebreus computavam o dia das 18:00 horas às 18:00 horas, dividindo-o em seis períodos de igual duração: romper do dia; manhã; calor do dia, começando cerca das 9:00 horas; meio-dia; frescor do dia, tarde. O frescor do dia correspondia ao final de nossa atual tarde. Tinha esse nome porque, no oriente, o vento começava a soprar poucas horas antes do pôr-da-sol, continuando até descer à noite. Grande parte dos negócios do dia eram realizados durante esse período. (Ver Gên. 3:8 e Juí, 19:8 - no primeiro trecho temos "viração do dia"; e no segundo, "declinar do dia", em nossa Bíblia portuguesa).

TAREIA No hebraico vôo. Bisneto de Jônatas, filho do rei Saul. O pai de Taréia foi Meribe-Baal mencionado em I Crô. 8:35 e 9:41. Viveu por volta de 1000 a.C.

TARGUM I. Nome 11. Caracterização Geral 111. Targuns de Várias Porções das Escrituras IV. Usos dos Targuns

I. Nome Targum é a palavra hebraica que significa "tradução", mas na prática traduções, paráfrases e comentários do Antigo Testamento têm sido assim chamados. Aplicando o sentido amplo do termo, o mais importante dos Targuns foi a Septuaginta ou a versão grega da Bíblia hebraica. 11. Caracterizaçlo Geral Os Targuns tinham o objetivo de beneficiar no exílio os judeus que haviam esquecido o hebraico ou que tinham pouca habilidade com ele. Este foi certamente o caso da Septuaginta que serviu aos judeus da Diáspora. Mas essas traduções também eram muitas vezes paráfrases e comentários daquele texto iluminado, não meramente traduções. Os primeiros Targuns estavam em aramaico. Então veio a poderosa Septuaginta, (tradução dos Setenta que era assim chamada, pois, presumivelmente, era o trabalho de setenta estudiosos judeus da Alexandria). Outro Targum grego foi o de Aquila do segundo século a.C, Ele foi um prosélito da fé hebraica que nutria grande interesse na Bíblia hebraica e queria compartilhar dela com o povo que falava grego. Em um momento posterior, sua tradução foi vertida para o aramaico e tomou-se, por um período, o texto oficial na Babilônia. Mais tarde o trabalho dele também foi empregado na Palestina para ajudar aqueles que conheciam pouco hebraico clássico para compreender sua própria Bíblia. Essa tradução foi o Targum Onkelos. O uso mais restrito deste termo se refere a um grupo de traduções aramaicas do Antigo Testamento. Na prática, essa definição mais restrita passou a dominar os estudos da Bíblia e é aquela que é empregada no restante deste artigo.

O fenômeno do Targum ilustra uma verdade óbvia a qualquer um que lida com literatura: trabalhos importantes apenas podem cumprir com seu potencial quando são traduzidos e disponibilizados a outros povos. 111. Targuns e Várias Porções das Escríturas Antes da época de Cristo, o aramaico passou a ser a língua comum da comunidade judaica e assim tomou-se necessário primeiro ler o hebraico (pois teria sido impossível para o povo abandonar sua Bíblia histórica) e então fazer com que uma segunda pessoa lesse o aramaico da mesma passagem que havia sido lida Também eram fornecidas explicações, que incluíam paráfrases e comentários, e parte disso começou a integrar o Targum e a tradição. Até o final do segundo século d.C., ou no início do terceiro, em muitas sinagogas, foi abandonado o serviço duplo, que consumia muito tempo, usava-se apenas a versão em aramaico, sendo esse o idioma que o povo compreendia. Esse foi o equivalente ao abandono, por parte da Igreja Católica Romana, da missa em latim. Em locais fora da Palestina, onde outros idiomas eram falados, os Targuns deixaram de ser usados nos cultos, e outros idiomas eram usados para explicar as Escrituras por homens que, em particular, continuavam a usar os Targuns. Esse "modernismo" horrorizou muitos rabinos que continuavam a estudar o Antigo Testamento em seu idioma original e as traduções e paráfrases em aramaico. I. Do Pentateuco. O Targum de Onkelos era o mais conhecido dos Targuns daquela parte das Escrituras. Originário da Palestina, cópias dele foram levadas à Babilônia. É mais literal (mais próximo ao hebraico) do que os Targuns que o seguiram. O trabalho contém, contudo, algumas idéias distintas e comentários que promovem a interpretação messiânica de Gên. 49.10 e Núm. 24.17 e existe em número relativamente grande de cópias. 2. Dos Profetas. O melhor desses é aquele atribuído a Jônatas Ben Uziel, estudante do famoso rabino Hilel. Depois houve aquele chamado de Pseudo-Jônatas, que também continha o Pentateuco. Esse trabalho posterior fornece uma interpretação messiânica das passagens do Servo do Senhor de Isa. 52.13 ·53.12, mas declarações que se referem a seu sofrimento são excluídas, ou se faz com que elas se relacionem a Israel, não a seu Messias (o próprio Servo). 3. Da Hagiografia. O termo Hagiografia (do grego, para escritos sagrados) aplica-se à terceira seção do Antigo Testamento, sendo a primeira a lei, e a segunda os profetas. A terceira seção inclui o seguinte: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e I e II Crônicas, totalizando 13 livros. Os Targuns que tratam desses livros são um tanto recentes, mas alguns deles, ou partes deles, podem remeter a outros mais antigos que agora estão perdidos. O Ta/mude referese a um Targum sobre Jó que não existe hoje. Parece ter surgido durante o primeiro século a.C, Um fragmento de tal Targum (não ne-cessariamente aquele mencionado pelo Talmude) estava entre os manuscritos descobertos em Qumran. Ver os artigos Mar Morto, Manuscritos (Rolos) na Enciclopédia de Bíblia, Teologia de Filosofia.

IV. Usos dos Targuns 1. Os textos dos Targuns muitas vezes são livres demais para ser de uso para crítica textual. Isto é, eles não podem ser usados com muita freqüência para ajudar a determinar as leituras originais da Bíblia hebraica. 2. São úteis, contudo, para compreender a interpretação da ~íblia h~braica pelos rabinos que, através do século, ensinavam ISSO. 3. Embora contenham alguns erros históricos e

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TARPELITAS - TARSO anacronismos, às vezes os Targuns dão informações valiosas sobre os significados de antigas palavras hebraicas que de outra forma poderiam ter continuado desconhecidas a nós. 4. O maior serviço dos Targuns foi o de trazer o significado da Bíbliahebraica a povos que não mais falavam ou conseguiam ler o hebraico clássico (bíblico). 5. Os Targuns abriram ainda outra janela ao estudo do Antigo Testamento. TARPELITAS Esse grupo de gente é mencionado exclusivamente em Esd. 4:9. Há pelo menos duas opiniões acerca da identificação deles. Uma delas é que esse pode ter sido o título de certos oficiais persas. Essa opinião é difícil de ser sustentada, pois todos os outros nomes que aparecem nesse versículo - dinaítas, afarsaquitas, afarsitas, arquevitas, babilônios, susanquitas, deavitas e elamitas -representam grupos étnicos. A outra opinião é que seria esse o nome de algum povo ou população que os babilônios haviam transportado para ocupar a cidade de Samaria Mas, quando esse ponto é admitido, novamente surgem dificuldades de identificação. Há quem se confesse ignorante quanto à procedência deles, embora haja outros estudiosos que arriscam dizer que seria alguma tribo assíria, de Tapur; a leste do Elão, ou de Tarpete, nos alagadiços maeóticos. Seja como for, essa gente toda foi transportada para Samaria em 678 a.C. TÁRSIS No hebraico, "duro" segundo a opinião de alguns estudiosos. No Antigo Testamento, esse é o nome de três personagens, de uma cidade ou região e de um tipo de embarcação, conforme se vê abaixo: 1. Um filho de Javã, e bisneto de Noé, através de Jafé (Gên. 10:4 ss). E talvez, também uma nação fundada por ele ou seus descendentes (Isa. 66: 19). O seu nome também é mencionado em I Crô. 1:7. Os estudiosos pensam que a maioria dos nomes que aparece na tabela das nações, no décimo capítulo de Gênesis, refere-se tanto a indivíduos como a grupos que se formaram em tomo desses indivíduos, dos quais descendiam, direta ou indiretamente. Társis, pois, é considerado genitor de um dos povos mediterrâneos. Alguns eruditos pensam que os seus descendentes seriam os tirsenoi, que habitaram na porção ocidental da península itálica. Mas outros identificam-nos com habitantes da península ibérica, podendo ser identificados com os tartessianos. Ver sobre Tartesso, no quarto ponto, abaixo, e no artigo com esse título. 2. Um bisneto de Benjamim, filho de Bilã (I CrÔ. 7: IO), que se tomou um epõnimo de uma família benjamita. Viveu em torno de 1600 a.C. 3. Um dos sete príncipes da Média e da Pérsia, ao serviço de Xerxes (Est. I: 14). Tinha o direito de acesso ao monarca a qualquer momento em que o quisesse fazê-lo. Viveu por volta de 520 a .c. 4. Uma cidade do extremo ocidental do mar Mediterrâneo, nas proximidades do penhasco de Gibraltar, na Espanha. Era um grande entreposto de comércio com metais (ler. 10:9~ Eze. 27: 12). Tem sido considerada idêntica a Tartesso (vide), acerca da qual Heródoto escreveu (4.152), e que foi a cidade para onde Jonas pretendia fugir (Jon. 1:3~ 4:2). Uma inscrição fenícia, do século IX a.C., encontrada em 1773, na ilha de Sardenha, diz que havia uma cidade de Társis nessa ilha. Navios de Társis (ver o quinto ponto, abaixo) chegavam até ali, partindo de Eziom-Geber (vide). 5. Certas embarcações, grandes e bem construídas,

chamadas na Bíblia de "navios de Társ is ", são mencionadas por dez vezes no Antigo Testamento: I Reis 10:22; 22:48; II Crô. 9:21; Sal. 48:7~ Isa. 2:16; 23:1,14; 60:9 e Eze. 27:25. Esses navios têm deixado os estudiosos perplexos. Essas passagens envolvem navios e portos. Assim foi que Hirão, rei de Tiro, mantinha em Eziom-Geber (atual TeU el Kheleifeh), no alto do golfo de Ácaba, uma refinaria de metais e um estaleiro de navios. Dali, ele e Salomão, seu sócio no empreendimento, operavam navios de Társis. Talvez houvesse outros portos que operavam com navios de Társis, mantidos pelos fenícios na ilha de Sardenha, no sudoeste da Espanha (Tartesso), e, talvez no Oriente Próximo, de onde podiam ser reembarcadas mercadorias trazidas até ali da India (11 Crô. 9:21), para outras regiões. Nessa conexão, a expressão "navios de Társis" nada diz no tocante a algum destino, e nem significa , "pertencente a Társis" ou que "negocia com Társis", Antes, o que está em foco é a natureza das embarcações, o seu tamanho e a sua capacidade de enfrentar mar alto, idéias essas que transparecem em passagens como Sal. 48:7; Isa. 2:16~ 23: 1~ Eze. 27:25. Outras referências bíblicas, como, por exemplo, Eze. 38: 13 e Sal. 72: 10, embora envolvam a idéia de alguma cidade, sugerem que os navios de Társis fossem uma espécie de símbolo do comércio e dos negociantes da área do mar Mediterrâneo, que eram bem conhecidos nas águas desse mar e do mar Vermelho, e que transportavam mercadorias de grande valor. A lista genealógica do décimo capítulo do livro de Gênesis, em conexão com I Crônicas 1:7, dá a entender que esses navios especiais de Társis negociavam com as ilhas gregas. Esse comércio, que foi efetuado nos séculos VII e VI a.C., foi comentado por Heródoto (1. 163 e 4.152). TARSO I. Nome e Situação Geográfica No grego, Tarsós. A cidade de Tarso (moderna Tersous) ficava situada na planície ciliciana, às margens do rio Cidno, cerca de dezesseis quilômetros da beira-mar. Ali ficava um dos centros da civilização, ao longo daquelas costas marítimas, antigamente sal-picada de instalações piratas. Um cálculo feito com base na grande extensão de suas antigas ruínas, sugere que Tarso já tenha contado com cerca de meio milhão de habitantes. Para a época, isso representava uma considerável população. O curso inferior do rio Cidno era plenamente navegável, o que significa que Tarso operava como um porto de mar. Esse porto fora habilidosamente construído, em um lago entre a cidade e o mar. Diom Crisóstomo, ao falar em Tarso, em 110 d.C., referiu-se ao orgulho dos cidadãos daquela cidade, com um toque de ironia, porquanto criticava todas as disposições ambientais do lugar. Na verdade, entretanto, os habitantes de Tarso muito se ufanavam dessas condições de sua cidade. Eles tinham criado aquele meio ambiente, utilizando-se do rio para atendimento de suas necessidades, e tendo construído uma "cidade não insignificante", no dizer de Paulo (ver Atos 21 :39), apropriando-se de uma expressão usada por Eurípedes, o grande dramaturgo, ao referir-se à sua própria cidade de Atenas (Eurípedes, Ion 8). As comunicações terrestres da cidade envolviam uma engenharia igualmente notável. Cerca de quarenta e oito quilometros terra adentro, de Tarso, ficava a grande barreira das montanhas de Tarso, cortada por um profundo passo, conhecido como Portões Cilicianos. Os habitantes de Tarso haviam feito passar por essa estreita passagem

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Os Portões de Tarso , Montanhas Tauros Cortesia, Levant Photo Service

Estrada de Mármore. Bfeso. Cortesia. Matson Photo Service

TARSO - TART Ã uma de suas principais estradas. Virtualmente, portanto, a cidade ficava às margens do Mediterrâneo, numa de suas regiões onde a civilização se mostrava das mais brilhantes, devido à mescla de culturas diversas. Ali encontravam-se o Ocidente e o Oriente, ao mesmo tempo que os interiores estavam abertos aos negociantes de Tarso. Por seus próprios esforços, os habitantes de Tarso tinham feito de sua cidade um ponto pivô de comunicações. 2. Origem da Cidade Tarso foi fundada já perto do segundo milênio a.C., mas seus primórdios estão envoltos em obscuridades. Um certo Mopsus é considerado um de seus fundadores. Esse nome parece ser de origem grega. É uma sugestão tão boa quanto qualquer outra que gregos jônicos, famosos por seu dinamismo, cujas colônias pontilhavam as margens ocidentais da Asia Menor, também tenham chegado à Cilícia, unindo-se a alguma população primitiva, às margens do rio Cidno. 3. Na Tabela das Nações Na tabela das nações (Gênesis 10), Javã certamente corresponde aos gregos jônicos; e Társis, que aparece vinculado a ele, nesse contexto pode referir-se a Tarso. Não há certeza quanto a isso, mas tal possibilidade de forma alguma elimina outras interpretações sobre a palavra "Társis", em outros contextos do Antigo Testamento. Todos aqueles que têm procurado lançar luz sobre os primórdios de Tarso têm-se referido a essa possibilidade. 4. História a.c. No entanto, não é possível oferecer uma história contínua dessa cidade, até mesmo quando chegamos na época em que se começou a fazer a história do Mediterrâneo oriental. Só há informes esparsos, um pouco aqui e um pouco ali. Para exemplificar isso, o conquistador assírio, Salmaneser Ill, cujo reinado sangüinário pode ser datado entre 859 e 824 a.C., o mesmo monarca que escreveu as palavras "Jeú, filho de Onri", em seu obelisco Negro, atualmente no Museu Britânico, fez uma rápida e superficial alusão a Tarso, no registro de suas agressões e conquistas militares. Depois disso, há quatro séculos destituídos de qualquer informação a respeito de Tarso. Só se obtém alguma informação já referente ao ano 401. a.C. Nesse tempo, a Assíria e a Babilônia tinham deixado de ser impérios, e a Pérsia governava uma imensa área de terras, desde o rio Indo até às margens do mar Egeu. Nessa época, Tarso era governada por um rei títere de nome Sienesis, Esse fato é noticiado em um livro famoso e de grande significação, o Anábasis, de autoria de Xenofonte, aquele soldado, aventureiro e escritor ateniense. Meio século mais tarde, o relato deixado por Xenofonte, que partira como parte de um exército desde o coração do império persa, até Tarso, revelou, ao jovem Alexandre da Macedônia, um ponto de fraqueza inerente dentro do vasto sistema dos persas. Alexandre aplicou a lição ali aprendida e atacou a Pérsia. E, ao atravessar a Cilícia, com o seu exército, encontrou ali um governador persa (334 a.C.). Moedas cunhadas nesse período também lançam alguma luz sobre essa época. Nessas moedas, antes da época de Alexandre, os motivos orientais eram os dominantes, sugerindo que a influência grega ali fosse débil. Mais tarde, porém, a forte presença grega, evidenciada nessas moedas, revela que Tarso fora firmemente integrada no regime selêucida da Síria, após a divisão em quatro do ex-império de Alexandre. Por essa altura dos acontecimentos, a Tarso onde Paulo nasceu e se educou, estava tomando forma.

5. Tempos Romanos e Depois A região foi governada a princípio, pelos governantes selêucidas, como uma província, segundo o padrão das satrapias persas (vide), com o intuito de desencorajar a tendência habitual dos gregos para formarem cidades-estados independentes. Mas isso foi rudemente interrompido com o inevitável choque com os romanos, que vinham avançando, cada vez mais, naquela direção, ao mesmo tempo em que os sírios procuravam reconquistar, para o Ocidente, regiões que antes tinham estado sob a sua hegemonia. Quando Antíoco foi derrotado pelos romanos, a cidade de Tarso tomou-se parte de uma província romana tampão, de fronteira. Isso posto, ela pôde absorver as influências orientais e ocidentais, ao mesmo tempo, dali por diante. a. Paulo e Tarso Paulo, em sua juventude, embora de etnia judaica, foi um produto natural dessa cidade cosmopolita. Em sua epístola aos Gálatas, Paulo deixa entendido que não foi por acaso que Tarso fora o lugar do nascimento de um homem dotado de um chamamento missionário como o dele. Seu meio ambiente talhou-o para esse propósito. Um missionário cristão enviado aos gentios teria de ser um judeu, imbuído do Antigo Testamento e seus grandes ideais; mas também precisava ser um grego quanto à cultura, capaz de interpretar uma teologia nascente segundo as formas do pensamento helênico, e também capaz de exprimir o que tinha a dizer no riquíssimo idioma grego, a segunda língua de todos os homens que viviam desde a Itália até o golfo Pérsico. Mas, em terceiro lugar, era mister que ele fosse um cidadão romano, no sentido mais autêntico, que compreendesse o gigantesco sistema daquele império e as oportunidades que o mesmo oferecia. Nenhum outro homem, daquela época histórica, combinava essas características de maneira tão harmoniosa quanto Paulo de Tarso. Paulo era um judeu, treinado pelo notável mestre da lei, Gamaliel. Sabia pensar e falar como um grego, citando poetas nativos da Cilícia, diante dos intelectuais de Atenas e escrevendo documentos sagrados (suas epístolas) em um grego vigoroso. E, por nascimento, era um cidadão romano, o que o punha a salvo de maiores abusos da parte de governantes locais, que quisessem persegui-lo por motivos religiosos, em face de sua pregação sobre o Cristo. b. Atenas do Mediterrâneo Pouco antes da época de Paulo, Tarso tinha atravessado um brilhante período de sua história, quando ela se tomou a Atenas do Mediterrâneo oriental, uma cidade universitária, para onde convergiam homens de erudição. Também era a cidade natal de Atenodoro (74 a.C.-7 d.C.), o respeitado mestre do próprio César Augusto. Ali também era a sede de uma escola de filósofos estóicos, o que estimulava e desafiava qualquer mente brilhante para desenvolver-se, aprender a pensar e aprender a debater. A fundação da Igreja cristã de Tarso, provavelmente, foi obra de Paulo. Muitas das dificuldades por ele experimentadas, alistadas por ele na passagem autobiográfica de II Coríntios 11:24-27 - os perigos e as aventuras - ocorreram na Cilícia - na sua própria cidade de Tarso, nos interiores e nas áreas marítimas das cercanias. TARTÃ

Vem do acádico, um idioma semita, tartanu, de significação desconhecida. Nas listas assírias, um "tartã" aparece como um elevado oficial, inferior somente ao próprio monarca. Esses oficiais figuram desde os tempos de Adade-Nirari lI, Salmaneser Ill, Tiglate-Pileser Ill, Sargão II e Senaqueribe. Eram generais de exército.

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TARTAQUE-TATUAGEM Nas páginas do Antigo Testamento dois desses "tartãs" são mencionados. O primeiro deles foi enviado pelo rei assírio Sargão lI, a fim de capturar a cidade de Asdode (Isa. 20:1); e o segundo deles foi enviado por Senaqueribe, juntamente com outros oficiais, Rabe-Saris e Rabsaqué (vide), exigindo a rendição de Jerusalém (11 Reis 18:17). Nas traduções em geral (incluindo a nossa versão portuguesa) há considerável confusão quanto a esses títulos, onde aparecem como se fossem nomes próprios de indivíduos, e não títulos nobiliárquicos. Ver também os artigos sobre Rabe-Saris e Rabsaqué. TARTAQUE No hebraico, "herói das trevas". Uma divindade e um ídolo adorado pelos aveus, aos quais Salmaneser removeu para Samaria. Esse deus pagão só é mencionado em 11 Reis 17:31. Interessante é observar que, nos anais assírios, nenhuma divindade com esse nome éjamais mencionada. Porém, é possível que o nome "Tartaque" seja uma corruptela de Atargatis, uma divindade adorada na Mesopotâmia. Os aveus também trouxeram consigo outro ídolo, chamado Nibaz, que os estudiosos dizem que tinha a forma de um asno. Esses e outros ídolos, que os pagãos transportados para Samaria trouxeram consigo do Oriente, faziam parte do culto místo dos samaritanos, que temiam ao Senhor Deus, mas também tinham suas divindades pagãs particulares. Por causa disso mesmo é que os samaritanos sempre foram vistos com maus olhos pelos judeus, pois o culto samaritano era um misto de noções religiosas certas e erradas, constituindo um perigoso rival do culto judeu monoteísta. TÁRTARO De acordo com a mitologia grega, o tártaro era o abismo, existente por debaixo do hades, onde Zeus confinara os titãs. Ver o artigo geral sobre o Hades. O Tártaro personificado é um deus, filho de Aether (o ar) e de Gê (a terra). E seria o pai do gigante Tifeu. Aether gerou o gigante com sua própria mãe, Gê, Mas, quando está em foco um lugar, o conceito é de um abismo negro, que existiria muito abaixo da superficie da terra (no centro da terra), achando-se tão distante da superficie quanto a terra é distante do céu. Acima do tártaro estariam os fundamentos da terra e do mar. Estaria circundada por uma muralha de ferro, com portões de ferro levantados por Poseidon, e por uma tríplice espessa camada de noite. Servia de prisão ao destronado Crono e aos vencidos titãs, todos guardados pelos hecatonquires, os filhos de Urano, dotados de cem braços. Com a passagem do tempo o tártaro passou a ser considerado como um lugar que fica por baixo do hades, pior ainda que aquele lugar, uma miserável cena da condenação dos ímpios. Originalmente, o submundo, abrigaria fantasmas destituídos de mentalidade; mas, gradualmente, esses fantasmas tomaram-se verdadeiros espíritos, dotados de memória e consciência. Assim foi progredindo a doutrina do hades, tanto na cultura grega quanto na cultura hebréia. Ver também os artigos intitulados Sheol e Geena. A forma nominal, Tártaro, não se acha no Novo Testamento; mas sua forma verbal, tartaráo, encontra-se em 11 Ped. 2:4, que nossa versão portuguesa traduz como "precipitando-os no inferno" mas outras versões dizem: "precipitando-os no tártaro". O judaísmo helenista tomou a palavra emprestada dos gregos, concebendo o tártaro como um lugar parecido com a geena, como um segmento extremamente ruim do hades. No trecho de Enoque 20:2, o tártaro aparece como lugar de punição dos anjos caídos,

com paralelo em Apo. 12:4, embora a palavra "tártaro" não seja empregada nessa passagem bíblica. Mas, se nos mitos gregos, o tártaro era pior que o hades, não parece que 11 Pedro faz tal distinção. Está em foco o mesmo hades, posto que com o uso de um outro vocábulo. Mas o termo "tártaro" faz-nos ali lembrar da natureza horrenda do lugar do julgamento. Na literatura apocalípticajudaica, o tártaro sempre aparece como lugar de punição e desespero. Ver Filo, Êxo. 15:2; Josefo, C. Ap. 2,240; Orác. Síb. 2.302; 4,186 e Enoque 20:2. Esperança no Tártaro? O trecho de I Ped. 3:18--4:6 descreve uma missão de misericórdia e amor no hades, por parte de Cristo. Cristo tem tido três missões: a terrena; aquela no hades; aquela no céu. Todas as três são remidoras, e todas visam cumprir poderosamente o Mistério da Vontade de Deus (vide). Ver também os artigos Descida de Cristo ao Hades e Restauração. A leitura dos três artigos aqui mencionados confere ao leitor razões para crer que o amor de Deus atingiu, realmente, o mais baixo inferno, tal como também entoa certo hino. TASSI No grego, Thassi. Esse era o sobrenome de Simão Macabeu, um dos cinco filhos de Matatias (I Macabeus 2:3). Após conseguir a independência dos judeus, ele tornou-se o fundador da dinastia dos Macabeus. Não há certeza quanto ao sentido desse sobrenome, embora alguns opinem que talvez signifique zeloso. TATENAI Seu nome, em grego, era Sisinnes que aparece em I Esdras 6:3 e 7: I. Com esse nome, Tatenai, aparece na Bíblia somente no livro de Esdras (5:3,6; 6:6,13). Ele era um governador persa, sucessor de Reum, durante o reinado de Dario Histaspes, da Pérsia, no tempo de Zorobabel. Tatenai governava o distrito de Samaria, ao passo que Zorobabel era o governador da Judéia. Tatenai investigou e apresentou relatório encorajador à questão da reconstrução da casa de Deus, em Jerusalém, ao rei Dario. Em uma inscrição cuneiforme, proveniente da Babilônia, datada de 5 junho de 502 a.c., Tatenai é chamado de "Tatenai do distrito daquém do rio", o que pode ser confrontado com o que se lê em Esd. 5:6: (Tatenai, o governador daquém do Eufrates). T ÁTIM-HODSI, Parece ter sido nome de um distrito localizado entre Gileade e Dã-Jaã, Esse distrito foi visitado por aqueles que faziam o recenseamento em nome de Davi, rei de Israel (11 Sam. 24:6). O texto é incerto, e o local não é mencionado em qualquer outra passagem bíblica. Algumas traduções especulam sobre o que esse nome significaria. Assim, a RS V e a nossa versão portuguesa dizem "até Cades na terra dos heteus", isto é, Cades sobre o Orontes, até onde se estendia o reino de Davi, no máximo de seu poder. TATUAGEM Essa palavra portuguesa vem do taitiano tatau, a reduplicação da palavra ta, que significa "marca", "sinal". Está em foco uma marca indelével, feita mediante técnicas próprias, picando a pele e inserindo algum pigmento sob a mesma. Embora, provavelmente, não haja nenhuma alusão direta à técnica da tatuagem, nas páginas da Bíblia, essa tem sido considerada uma interpretação possível em cinco situações aludidas na Bíblia, a saber:

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TATUAGEM - TAXAÇÃO 1. Oth, "sinal". Palavra usada por setenta e nove vezes no Antigo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Gên. 1:14; 4:15; Exo. 4:8,9,17,28,30; Núm. 14:11; Deu. 4:34; 6:8,22; los. 4:6; luí. 6: 17; I Sam. 2:34; II Reis 19:29; Nee. 9:10; Sal. 74:4,9; Isa. 7:11,14; 8:18; Jer. 10:2; Eze. 4:3; 20: 12,20. O termo grego correspondente é semeion, "sinal", usado por quarenta e oito vezes, conforme se vê, por exemplo, em Mat. 12:38; Luc. 2: 12; João 2: 18; Atos 2:19,22,43; Rom. 4:11; I Cor. 1:22; 11 Cor. 12:12; II Tes. 2:9; Heb. 2:4; Apo. 15:1. 2. Chaqaq, "gravação". Com esse sentido, é usada por duas vezes: Isa. 22: 16 e 49: 16. Na última dessas referências, a idéia é que, gravando os nomes de Seu povo em Sua mão, jamais se esqueceria deles. 3. Seret, "incisão", "corte". Essa palavra só aparece em Lev. 19:28, onde se lê; "Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós: Eu sou o Senhor". O termo seret é traduzido ali como "ferireis", Isso parece ser uma clara proibição do uso de tatuagens, entre os judeus. Uma das mais horrendas tatuagens eram aqueles números que os nazistas tatuavam no braço dejudeus que estavam condenados a morrer nos campos de concentração, onde foram mortos seis milhões de israelitas, a mando de Hitler e sua infame camarilha. 4. Charagma, "impressão", "marca impressa". Esse termo grego aparece por oito vezes: Atos 17:29; Apo, 13:16,17; 14:9,11; 16:2; 19:20; 20:4. Na primeira dessas referências temos a palavra "trabalhados", o que é uma tradução lícita. Em todas as referências do livro de Apocalipse está em foco algum tipo de marca que o futuro anticristo exigirá da parte de seus seguidores. Diz Apocalipse 13: 17: " ...para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta, ou o número do seu nome". Uma incrível sanção financeira, uma ditadura como nunca terá havido igual no mundo. Ninguém sabe, entretanto, no que consistirá a tal "marca", a menos que pensemos em uma sigla formada pelas letras gregas correspondem ao número "666". 5. Stigma, "ponto", "marca". Palavra grega usada somente em Gál. 6: 17, onde o apóstolo Paulo diz: "Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus". Alguns têm pensado que estariam em foco o que, na Igreja Católica Romana, é chamado de "estigma", marcas semelhantes a marcas deixadas pelos cravos, nas mãos de Jesus, e que teriam aparecido em alguns "santos" católicos romanos. Mas Paulo não estava falando sobre coisas assim. Antes, ele havia ficado marcado pelos sofrimentos, sofridos pela causa de Cristo, que tinham deixado sinais indeléveis em seu corpo quebrantado pelas asperezas da caminhada de um apóstolo de Cristo. Alguns têm pensado que o trecho de Lev.19:28 (ver o ponto terceiro, acima,), sem dúvida, alude à prática da tatuagem. Mas, embora algumas versões estrangeiras tenham traduzido o vocábulo hebraico seret, ali usado, por "tatuar", os estudos feitos quanto aos costumes de lamentação e luto pelos mortos indicam freqüentes associações de cortes feitos no corpo ou pinturas com o raspar dos cabelos, mas nunca com tatuagens, que se revestem de outro sentido. Por semelhante modo, qualquer situação retratada nas Escrituras que possa ser interpretada como indício da prática das tatuagens tem base meramente conjecturai, e não se escuda sobre qualquer inferência etimológica ou etnológica.

TAU A vigésima segunda letra do alfabeto hebraico. Na

Bíblia em hebraico, a vigésima segunda seção do Salmo 119 começa com essa letra. Visto que os hebreus não tinham algarismos para representar os números, representando-os por meio de letras, como também faziam os gregos e os romanos, embora usassem sistemas diferentes, essa letra representava o número quatrocentos. TAULER, JOÃO Suas datas foram 1300-1361. Foi um místico alemão, influenciado por Eckhart. Foi frade dominicano educado nas escolas da ordem, em Estrasburgo e Colônia. Tomou-se orador e escritor eloqüente, cujos sermões são considerados entre as mais nobres expressões do idioma alemão. De modo geral, ele seguia o neoplatonismo, mas acreditava que a retorno a Deus requer o dom da graça vinculado à automortificação. TAUTOLOGIA Uma definição léxica dessa palavra é "uma repetição desnecessária de uma mesma idéia, com o uso de diferentes palavras; pleonasmo" (WA). Algumas tautologias são sutis e atraem a atenção somente dos gramáticos, como: "Ele está escrevendo a sua própria autografia". O grego por trás dessa palavra é tauto, o mesmo. Portanto, uma tautologia repete um pensamento. Na lógica, uma tautologia é uma proposição que é verdadeira em virtude de sua própria forma. A matemática é uma forma de tautologia. E alguns pensadores supõem que toda definição seja uma tautologia. Uma tautologia é necessariamente veraz, mas a verdade envolvida pode ser trivial. Tillichconsiderava tautológicos todos os produtos da razão autônoma. E Wittgenstein dividia as proposições significativas em duas classes: aquelas que exprimem fatos e aquelas que exprimem tautologias. Uma tautologia é veraz por causa de sua forma lingüística e lógica, e não porque corresponde a algo que existe no mundo real. TAV (TAU, ASSINATURA) No hebraico, tav, usualmente considerada como uma forma sintética de "tau", nome da última letra do alfabeto hebraico, mais um sufixo possessivo pessoal... Tem o sentido de "minha marca" ou "minhas iniciais". Aparece sem esse sufixo, no trecho de Ezequiel 9:4,6, onde nossa versão portuguesa, seguindo muitas outras, a traduz por "marca". Alguns estudiosos pensam que seria apenas uma espécie de "X", a forma de tau semita, de acordo com a primitiva escrita redonda. Em Jó 31:35, a única ocorrência do vocábulo sem o sufixo, refere-se a um documento legal, provavelmente um tablete de argila, sobre o qual a pessoa que se defendia ou contratava deixava impressa a sua marca. Nossa versão portuguesa diz ali "defesa assinada". TAXAÇÃO Há uma palavra hebraica e uma palavra grega envolvidas: 1. Arak. No "hifil", essa palavra tem o sentido de "taxar", por uma única vez: 11 Reis 23:35. O substantivo correspondente, erek, "avaliação", "taxação", também só ocorre por uma vez com esse sentido, nesse mesmo versículo. 2. Apographé, "registro". Essa palavra grega ocorre somente por duas vezes: Luc. 2:2; Atos 5:37. Em ambas as passagens, observa-se claramente que esse registro ou recenseamento era feito com o objetivo precípuo de cobrar certa taxa por cabeça. Não há que duvidar que os antigos governantes sabiam cobrar taxas e impostos. Chegavam a abusar quanto a isso, sobretudo no caso de nações

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TAYLOR - TEATRO militarmente conquistadas, a um ponto que chegou a ser vergonhoso. Nesta enciclopédia, reservamos os comentários mais completos a respeito no artigo intitulado Tributo (vide). TAYLOR, JEREMY Suas datas foram 1613 - 1667. Foi um teólogo inglês. Nasceu em Carnbridge, onde também educou-se e ensinou. Também foi professor, por algum tempo, em Oxford. Foi um notável eclesiástico, Foi aprisionado por diversas vezes. Passou alguns anos no País de Gales e na Irlanda. E acabou falecendo nesta última: Waldo Emerson chamou-o de "Shakespeare das divindades". Foi poderoso porta-voz em defesa da tolerância (vide) política e religiosa, embora poucos tenham sido tolerantes com ele. Taylor não acreditava que pudéssemos demonstrar logicamente as verdades divinas, e também ensinava que a teologia é uma vida divina a ser vivida, e não tanto um conhecimento a ser obtido. Por conseguinte, seria impossível acharmos harmonia e concórdia na teologia. E aqueles cuja teologia é diferente deveriam poder crer e viver sem temor à perseguição. Principais Escritos. A Discourse on the Liberty of Prophesying; The Rule and Exercises ofHoly Living; The Rule and Exercises ofHoly Dying; Twenty-Seven Sermons; Twenty-Five Sermons; The Real Presence, Unum Necessarium. TAYLOR, NATHANIEL Suas datas foram 1786 - 1858. Ele foi um teólogo norte-americano. Nasceu em New Milford, Estado de Connecticut. Educou-se em Yale. Foi ministro da primeira igreja de New Haven. Ensinou em Yale. Sua teologia, chamada taylorismo ou teologia de New Haven, tinha por intuito oferecer uma espécie de defesa do calvinismo, em oposição ao arminianismo e ao pelagianismo. Mas, sob exame, vê-se que ele defendia princípios arminianistas. Ele dizia que o homem "não somente pode se quiser, mas até pode se não quiser", enfatizando assim o poder do livre-arbítrio. Negava que qualquer decreto divino pudesse ter trazido o pecado ao mundo, e lançava toda a culpa disso ao exercício da livre agência humana. Também ensinava um Deus finito, como quando asseverava que Deus não foi capaz de impedir que entrasse no mundo a perversão resultante do pecado. Desse modo, ele procurava salvar Deus da responsabilidade pelo aparecimento do pecado, embora rebaixando até a finitude a divina onipotência. Seus antagonistas encaravam tal idéia como uma fatal concessão ao arminianismo, e com toda a razão. TAYLORISMO Ver sobre Taylor, Nathaniel. TEAR Ver o artigo sobre Fiação. A palavra tear acha-se somente por duas vezes no Antigo Testamento: Juí. 15: 14 e Isa. 38: 12. A arqueologia e as referências literárias têm demonstrado a existência de três tipos básicos desse instrumento. Um dos tipos jazia no chão, e a pessoa tecia laboriosamente, agachada. Os outros dois tipos eram armados verticalmente. O operador podia ficar de pé ou sentado, quando trabalhava com esses dois últimos tipos. Um dos tipos empregava um sistema de pesos para manter esticado o trabalho que estava tecendo, mediante a força da gravidade. O outro tipo dispunha de uma barra onde ficavam presos os fios, os quais podiam ser

mantidos esticados através de um giro periódico dessa barra. TEATRO I. Termo e Caracterizações Gerais 11. Teatros e a Cultura Hebraica 111. Teatros Grego e Romano IV. Herodes, o Grande V. Construções

I. Termo e Caracterizações Gerais A palavra teatro deriva-se de uma raiz grega que significa "visualizar", "olhar em". O theatron grego era um "local para olhar" o desempenho ou a representação de dramas. O teatro é uma das artes dramáticas, mas o local também era usado para jogos e contextos atléticos, não meramente para representações dramáticas. Ali também se realizavam reuniões públicas ou fóruns (Atos 19.29,31). Heb. 12.1 e sua metáfora da grande nuvem de testemunhas baseiam-se no tipo greco-romano de teatros, construídos para dar assento a milhares de pessoas. A vida espiritual é como uma corrida contínua no teatro de Deus, com antigos atletas e espectadores avaliando como "corredores de dias atuais" estão saindose. Regras regem a corrida e há prêmios a serem obtidos. Cf. Fi!. 3.12 ss. 11. Teatros e a Cultura Hebraica Jeremias desempenhou diversas peças dramáticas ante o povo, tais como o incidente da botija quebrada, para ilustrar a destruição de Jerusalém (Jer. 19.1 ss.); e a atuação de Yahweh com as duas cestas de figos (ler. 24.1 ss.). Ezequiel teve de comer um rolo no qual estava escrita a mensagem dejulgamento contra Judá (Eze. 2.83.3). Mas tais atos dramáticos eram representações individuais feitas sem um teatro ou elenco. Jó e Cantares são diálogos dramáticos, não peças de teatro, embora provavelmente algumas das partes de Cantares fossem lidas em festivais de casamento. Então, os hebreus eram um povo de canção e dança (Êxo. 15.20; II Sam. 6.16), mas isso não se transformava em shows, e os hebreus não construíram teatros. A dança religiosa pode ter sido, como dizem alguns, a origem das artes dramáticas. Sabemos que uma cerimônia religiosa e o drama eram realizados no Egito em honra a Osíris, deus do submundo e juiz dos mortos. 111. Teatros Grego e Romano Alguns teatros gregos eram tão-somente para entretenimento, mas muito estava envolvido em temas religiosos e morais. A tragédia grega era uma maneira de ver como os deuses são capazes de tentar os homens, e muitas vezes finalmente conseguem destruí-los com toques inexplicáveis de terror. Alguns teatros gregos lidavam diretamente com os deuses e seus atos, bons ou maus. Os festivais e dramas de Dionísio celebravam a sexualidade humana e muitas vezes acabavam em orgias de bebedeira e indulgência excessiva de prazeres sensuais. Menandro (342 a.C.) era um dramaturgo famoso que desenvolveu a arte a um grau impressionante. Os romanos eram, em sua maioria, grandes copiadores, não tendo nenhuma originalidade, exceto na questão da lei e da inovação militar. Eles perpetuaram a essência do drama e do teatro gregos nos locais distantes de seu império ao espalhar seu poder através de conquista militar. IV. Herodes, o Grande Este homem, de acordo com seu passado greco-

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TEATRO - TECER romano e posicionamento histórico, construiu muitos teatros. Entre eles estavam os de Jerusalém, Cesaréia, Damasco, Gadara, Filadélfia. Presumivelmente os judeus da Diáspora participavam desse aspecto das sociedades em que se haviam estabelecido. Locais onde Paulo fazia visitas tinham seus teatros: Atenas, Corinto, Efeso, Filipos e, claro, Roma. V. Construções Os primeiros teatros eram pouco mais do que círculos de dança com um altar localizado no centro. Tais teatros primitivos tinham de localizar-se nos pés dos montes, que forneciam uma arquibancada natural. Com o passar do tempo, as coisas se tornaram mais sofisticadas. Muitos teatros posteriores, contudo, apenas formavam semicírculos com assentos nas fileíras ao redor do "palco". O palco, que assumiu o local do altar anterior, era colocado no nível da fileira mais baixa. Os teatros então passaram a ser circulares e cada vez mais sofisticados. À medida que ficavam mais organizados, também aumentaram em tamanho. No segundo século a.c., aqueles que iam aos teatros romanos deviam trazer suas próprias cadeiras ou assentos de algum tipo. O senado romano fez uma lei contratai prática, que criava grande confusão. Em 154 a.c., um teatro era feito com assentos fixos, mas o senado ordenou que estes fossem destruídos por motivos de segurança. O primeiro teatro de pedra foi construído por Pompeu em 55 a.C. Outros teatros de pedra seguiram-se em diversos locais no Império Romano. Teatros romanos mais sofisticados tinham uma série de colunas ao redor do andar mais alto. Os assentos mais próximos aos palcos eram reservados para oficiais do governo ou outros líderes do povo, e diversas fileiras de "bons" assentos eram destinadas às camadas sociais mais altas. Depois desses indivíduos vinha o povo geral. As classes mais baixas eram colocadas nos níveis mais altos, de onde era inevitável uma visão ruim em um teatro grande. As entradas eram gratuitas, distribuídas apenas com fins de organização dos assentos. Depois apareceram os anfiteatros para competições de gladiadores e de atletismo, dando uma nova dimensão popular aos teatros (ver I Cor. 9.24-27; II Tim. 4.7).

TEBÁ No hebraico "grande", "forte". Esse foi o nome de um filho de Naor, irmão de Abraão, sua mãe era Reuma, concubina de Naor (Gên, 22:24). Uma tribo do mesmo nome descendia dele. Em I Crônicas 18:8, seu nome aparece com a forma de Tibate; e, no trecho paralelo de II Sam. 8:8, ele é chamado Betá, que também seria o nome de um lugar, mas de localização desconhecida. Tebá viveu por volta de 1860 a.c.

TEBAICA, VERSÃO Ver sobre Versões Antigas; Texto e Manuscritos do Novo Testamento.

palavra Dios polis. As versões dão No-Arnon, Moamom ou simplesmente No (ler. 46.25). A Versão Padrão Revisada em inglês dá "Amam de No" (Eze. 30.14-16). Os autores clássicos dizem-nos que a cidade era muito antiga, espalhando-se por duas encostas do Nilo. 2. Local. O local era (é) localizado no Egito Superior, onde hoje existe o Luxor moderno, ficando cerca de 600 km rio acima, isto é, ao sul do Cairo. 3. Detalhes. Na encosta direíta (leste) do rio, localizavamse os templos de Carnaque e Luxor. Na encosta esquerda (oeste) do rio, localizavam-se os templos do Goorna, Deirel-Bari, o Rameseum, os Colossos e o templo de Deir-elMedina, mais o de Medinet-Abou. Esses templos constituíam uma fileira de prédios funerários. Os templos em ambos os lados do rio continham (contêm) uma riqueza de afrescos e pinturas de valor incalculável para arqueólogos e historiadores. As obras ilustram o histórico de certos períodos do Antigo Testamento. O mais magnífico dos templos era o do deus Amum em Camaque, cujas ruínas figuram entre as mais significativas do Egito. Em outubro de 1899, nove colunas daquele grande templo ruíram, queda essa causada pela infiltração das águas do Nilo nas rochas. A cidade atingiu a proeminência durante a l P e 12" dinastias, uma época de unidade e prosperidade no Egito. Mas os grandes monumentos datam das 18" a 20" dinastias, que existiram por volta de 1550-1085 a.C, Após isso, a importância da cidade e da área diminuiu, tendo havido uma transferência de poder para o norte. Ainda assim, o local reteve sua importância religiosa até ser saqueado pelos assírios em 663 a.c. O profeta Naum (3.8) usou a imagem desse acontecimento para falar da própria queda da Assíria. Tanto Jeremias quanto Ezequiel ameaçaram o local com julgamento divino (ver Jer. 46.25 e Eze. 30.14-16). A cidade foi atacada pela Assíria no século 7 a.C. e finalmente esmagada por Roma em 30-29 a.C.

TEBES No hebraico, "avistada de longe", nome de uma cidade situada nas encostas e no cume de um morro, cercada por muitas cisternas, algumas das quais que ainda estão em uso. Na área, ainda em tempos modernos, pessoas vívem em cavernas subterrâneas nas rochas. As duas referências bíblicas ao lugar são JuL 9.50 e 11 Sam. 11.21. Era um local fortificado no território de Manassés, cerca de 15 km ao nordeste de Nablo. A cidade é lembrada pela história de Abimeleque, filho de Gideão, que, avançando contra o local (após muitas vitórias sangrentas em outros lugares), foi ferido mortalmente por uma mulher que jogou nele uma pedra de moenda do alto de uma torre. Ele próprio ordenou que seu portador de armas o matasse com a espada para que o povo não dissesse que ele havia sido morto por uma mulher. O incidente tornou-se proverbial, e Joabe referiuse a ele em seu relatório a Davi quando Urias, marido de Bate-Seba, morreu em batalha devido a um pré-acordo de Davi, que queria livrar-se dele (11 Sam. 11.21).

TEBETE TEBALIAS No hebraico, "Yahweh mergulhou". Esse foi o nome do terceiro filho de Hosa, que era um dos porteiros do templo de Jerusalém (ICrô. 26:11). Viveu em cerca de 1015 a.C.

TEBAS I. Nome. A palavra hebraica é uma transliteração do vocábulo egípcio Niwt-Imn, que significa "cidade de Amam". A Septuaginta traduz o egípcio fornecendo a

Nome do décimo mês do calendário judaico. Ver sobre Calendário.

TECER 1. Uma Arte Antiga. A arte de tecer é uma das ocupações e profissões mais antigas e conhecidas. Famílias (exceto dos ricos) teciam suas próprias roupas, coberturas e tendas. Os cananeus já eram habilidosos com este trabalho muito antes de os hebreus invadirem sua terra. A arte do tingir acompanhava a do tecer. Há evidências arqueológicas

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TECER - TECNOLOGIA de ambos os tipos de trabalho manual em Tel Beit Mirsim, Ugarite e Biblos em épocas muito remotas. Considere os trinta roupões de linho e as trinta mudas de roupas que Sansão foi obrigado a dar aos filisteus por ter perdido uma aposta (Juí. 13.14). Também era conhecido e praticado o tecer de carpetes. 2. O Modus Operandi do Tecer Antigo. O processo exigia o entrelaçamento de fios, um fio chamado de urdidura, e o outro, o urdume. Os fios do urdidura são esticados em um tear e então os fios do urdume são passados por cima e por baixo deles, resultando no entrelaçamento que produz um tecido. 3. O Antigo Ancestral do Tecer era a Elaboração de Cestas no Período Paleolítico, há Cerca de 20 mil a 40 mil anos. Esse processo sugeriu a fabricação de tecidos para roupas, numa época em que as roupas eram feitas de peles de animais. Os arqueólogos descobriram pinturas de antigos teares que datam a cerca de 32 mil anos no Egito. A tumba em Beni-Hassan é um dos primeiros lugares onde pinturas de parede foram descobertas representando a arte. As roupas eram tingidas com cores brilhantes, e os tecelões eram homens, provavelmente profissionais que trabalhavam para pessoas importantes. 4. Materiais Empregados. Linho, lã, seda, algodão e pêlo de cabra eram materiais comumente empregados. Tecidos de tendas eram feitos de pêlo de cabra para as tendas, mas peles de animais continuavam sendo usadas para roupas e tendas. Por volta de 2320, havia uma fábrica de tecidos na Babilônia. Esse tipo de trabalho já era profissional naquela época. 5. Processos de Aprendizado. Os hebraicos, sem dúvida, aprenderam essa profissão no Egito, e entre aqueles que dali fugiram no Êxodo. havia homens habilidosos na arte de tecer, como demonstra a habilidade de tecer cortinas para o tabernáculo (Êxo. 26.1 ss.) A má Dalila tinha um tear. comovemos ao ler Juí. 16.13,14. Exceto pelos modelos profissionais de hoje, a estrutura básica do tear não foi muito alterada em 5 mil anos. Os idumeus participavam da arte, como demonstra Eze, 27.16. 6. Tipos de Teares nos Tempos Bíblicos. a. O tear vertical de duas vigas que empregava um par de vigas eretas presas no chão e unidas no topo com uma viga cruzada. Fios longos eram guiados frouxamente da parte de cima até o chão sobre a viga cruzada. Pequenos punhados de lã eram amarrados em pedras para manter-se esticados. b, Então havia um tipo vertical de tear que exigia que dois tecelões operassem o equipamento. Um passador era passado de um lado para outro pelos fios. unindo-os. c. Um tear horizontal fixado no chão ainda é empregado por nômades hoje em dia O dispositivo tinha (tem) duas vigas mantidas em seus lugares por quatro pinos inseridos no chão. O tecelão senta à frente do aparelho e, de modo geral, trabalha sozinho. 7. Referências Bíblicas. Há 13 referências ao tecer: Êxo. 28.32; 35.35; 39.22. 27; Juí. 16.13; I Sarn. 17.7; II Sam. 2 I.I9; II Reis 23.7; I Crô. 11.23; 20.5; Isa. 19.9; 38.12; 59.5. Há também duas menções da máquina usada para fazer o trabalho: Jó 7.6 e Juí. 16.14. TÉCHNE Ver sobre Tecnologia e Tecnocracia. O vocábulo grego téchne refere-se ao tipo de conhecimento que resulta na produção de objetos e na realização de propósitos específicos. como habilidades, artes. oficios. artesanatos, técnicas. enfim. A forma verbal da palavra, technaomai, significa "fazer". "executar.....fabricar". É a raiz de nossas palavras "técnica", e "tecnologia".

Em contraste com téchne, epistéme dá a entender um conhecimento geral. sendo esse vocábulo a base de nossa palavra epistemologia, "teoria do conhecimento". TECLA, ATOS DE PAULO E Ver sobre Paulo, Atos de. TECNOLOGIA E TECNOCRACIA I. Definições e Observações Ver sobre Téchne quanto a uma explicação da palavra grega por trás de nosso vocábulo tecnologia. A Tecnologia é aquele ramo do conhecimento que trata das artes industriais, a aplicação da ciência ao fabrico de máquinas e aparelhos. A tecnologia é "a modificação sistemática do meio ambiente físico, tendo em vista as finalidades do homem". E é patente que essa manipulação tem produzido resultados e condições, umas boas. outras más. A tecnologia é tarefa que cabe à ciência. Quando refletimos sobre a tecnologia, logo nos lembramos de todos os confortos e das invenções de prolongamento da vida (como medicamentos e aparelhos médicos) que a ciência nos tem provido. Por outro lado. também lembramo-nos da guerra química, dos artefatos nucleares, dos foguetes intercontinentais, etc. Além disso. embora o materialismo não seja produto direto da tecnologia, tem recebido desta última um tremendo impulso. E logo fica evidente que a tecnologia é como tantas outras coisas: neutra em si mesma, mas capaz de ser usada para propósitos úteis ou para propósitos prejudiciais aos seres humanos. 2. Um Novo Sacerdócio Talvez o aspecto mais desagradável da ciência seja a sua tecnologia, a qual, manipulada por alguns. é usada como substituta dos antigos sacerdócios religiosos. Essa tecnologia tornou-se um novo sacerdócio, que promove o materialismo. E usual os filósofos e teólogos morais observarem que a ética dos homens não tem avançado no mesmo ritmo de sua tecnologia, de tal modo que, se a ciência promete à humanidade a utopia, tem criado um tremendo pesadelo que ameaça com destruição mundial e indescritiveis sofrimentos. Os políticos tateiam, desesperadamente. por alguma resposta para esse dilema, mas a humanidade permanece assustada. para dizermos o mínimo. Os profetas continuam predizendo a condenação, e o homem comum continua esperando que tudo não passe de uma fantasia. Por outra parte, não nos deveríamos esquecer que há muitos cientistas que diariamente envidam esforços para aprimorar a qualidade da vida humana, por meio de suas pesquisas. quer mediante a produção de máquinas que poupam aos homens um trabalho duro. provendo empregos para muitos milhares de pessoas, quer mediante a descoberta de medicamentos que curam as enfermidades dos homens. 3. O Consumismo Pessoas impelidas por falsos valores têm transformado a tecnologia em uma corrida para o conforto material, entretenimentos tolos e uma ambição insaciável por um número cada vez maior de coisas. É óbvio que isso tem pervertido as escalas de valor. transformando-se em meios de cobiça e exploração, Mudanças sociais muito rápidas estão perturbando muitas pessoas, e os psicólogos salientam que daí, por muitas vezes, podem resultar desequilíbrios mentais e emocionais, e que neuroses de vários tipos resultam da celeridade das mudanças sociais no mundo de hoje. 4. Perguntas Um asiático observou diante de um cientista norte-americano: "Há uma coisa que vocês, do Ocidente,

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TECOA - TEÍ8MO podem ensinar a nós, do Oriente. Trata-se de algo de grande importância: Mostrem-nos que é bom viver em uma comunidade industrializada". E agora temos o espetáculo do Japão (um pais do Extremo Oriente), que é nação Iider em muitas áreas da tecnologia. Não será que a palavra-chave de ética grega - moderação - também nos poderia ajudar quanto a essa questão? 5. A Tecnocracia Esse é o nome de uma teoria e de um movimento que se originou em cerca de 1932 nos Estados Unidos da América, e que propunha o controle dos recursos industriais, asseverando que esse controle não deveria ser deixado nas mãos dos pol íticos, e, sim, entregue aos cientistas. Esse ideal vem-se concretizando aos poucos, mas os políticos continuam controlando grande parte da tecnologia, do que resultam bens e males. Por outra parte, é claro que os cientistas também têm produzido resultados mistos em todas as áreas onde têm obtido o controle.

TECOA No hebraico, "firmeza", "estabelecimento", mas alguns pensam que a palavra significa "barulho de trombeta". Um deserto de Tecoa é mencionado, além de uma cidade. É provável que a área de deserto tenha sido adjacente à cidade com esse nome. A cidade ficava no território de Judá, cerca de 9 km ao sul de Belém. O nome moderno é Takua e escavações arqueológicas feitas na área revelaram várias evidências da existência de habitações hebraicas ali. A primeira referência bíblica ao local está em II Sam. 14.2 ss., onde encontramos Joabe empregando os serviços de uma "mulher sábia" dali para tentar gerar uma reconciliação entre Davi e seu filho, Absalão. Foi também ali que Davi fugiu ante a ira de Saul (I Sam. 23.26). Um de seus poderosos 30 guerreiros era daquela região, que ele usava como um lar longe de seu lar. Em um período muito posterior, as pessoas dali participaram da construção dos muros de Jerusalém depois do Cativeiro Babilônico (por volta de 450 A. C.). Ver Nee. 3, 5, 27. Esse foi o local do nascimento de Amós (Amós 1.1). A cidade daquela área é mencionada em II Sam, 14.2, 4,9; ICrÔ. 2.24;4.5; IICrô. 11.6;Jer. 6.1;Amós 1.1. Alguns acreditam que um homem com esse nome é apresentado em I CrÔ. 2.24 e 4.5. Presumivelmente, o nome de seu pai era Asur. TEDEUM Esse é o nome de um hino que se pensa haver sido composto pelo bispo de Niceta de Remesiana, no século IV d.C. Mais tarde, foram-lhe acrescentados versículos. Esse hino é usado em ocasiões especiais de regozijo e por ocasião das Matinas (vide). TEFON No grego, Tephón. O nome dessa cidade não figura na Bíblia, mas aparece em um dos livros apócrifos do Antigo Testamento, 1 Macabeus 9:50. Ali, aprendemos que era uma cidade de Judá, fortificada por Baquides. Alguns estudiosos, contudo, pensam que Tefon pode ter sido uma forma variante de En-Tapua (Jos. 17:7), um nome que se repete, como designação de várias outras cidades, geralmente com a forma de Tapua. TEICHMULLER, GUSTAVO Suas datas foram 1832 - 1888. Ele foi um filósofo alemão. Nasceu em Braunschweig. Ensinou em Gottingen,

Basiléia e Dorpat. Especializou-se em filosofia clássica e em metafísica. Encarava cada sistema do conhecimento humano como um sistema parcial, representando uma única perspectiva dentro de uma realidade complexa. Cada uma dessas perspectivas, embora parcial, seria válida. Ver sobre Polaridade. Teichmuller também percebia que nosso conhecimento é simbólico apenas, não podendo ser preciso, exato. A religião usa símbolos que representam as funções do intelecto, dos sentimentos e das ações. Ele defendia com vigor a idéia da imortalidade pessoal, e argumentava contra o positivismo e contra o darwinismo.

TEILHARD DE CHARDIN, PIERRE Suas datas foram 1881 - 1955. Ele foi um filósofo e paleoantropólogo francês. Nasceu em Sarcenat. Era jesuíta. Tornou-se um cientista que desenvolveu uma elaborada doutrina da evolução que abarca todo o reino inorgânico, passando pelo reino dos organismos vivos e chegando à noosfera, ou seja, a esfera da mente. Na opinião dele, esse ponto mais elevado da evolução abria ante seus olhos a esperança do ponto ômega da evolução, do que resultaria uma cultura mundial vastamente superior à nossa, e, finalmente, a uma consciência hiperpessoal, que significaria a entrada vital de Deus na história humana, de urna maneira nova e viva Apesar dele ter sido umjesuíta, a Igreja Católica Romana opôs-se a muitas de suas idéias. E o resultado disso foi que suas obras básicas só foram publicadas post-mortem. Seus principais escritos levam os títulos, em inglês, de: The Phenomenon of Man; Letters from a Traveller; The Realm of lhe Divine; The Future of Man; Hymn of lhe Universe. TEÍNA No hebraico, "súplica". Um judeu descendente de Quelube. Teína foi o pai de Ir-Naás. Alguns estudiosos pensam que ele não era exatamente genitor de lr-Naás, mas fundador de uma cidade com esse nome (I Crô, 4: 12). Viveu em cerca de 1400 a.C. TEÍ8MO Tem sido provida uma descrição geral das muitas idéias sobre a pessoa de Deus e sobre como os homens chegam a saber algo acerca dEle. Ver o artigo intitulado Deus, em sua terceira seção, Conceitos de Deus, onde apresento as dezessete idéias principais. Entre elas, aparece o telsmo. Esboço: I. A Palavra e Suas Definições 11. Contrastes com Outras Idéias m. Idéias dos Filósofos IV. Argumentos Teístas e a Existência de Deus V. O Teísmo Cristão I. A Palavra e suas Definições Esse vocábulo vem da palavra grega theõs, "deus". Assim sendo, teismo é a "crença em Deus, em algum deus, ou em deuses", fazendo contraste com o ateísmo. Visto que essa não é uma palavra técnica, pode ser usada de várias maneiras. Porém, quase sempre entende a existência de algum poder supremo, ou poderes supremos. usualmente concebido(s) como uma(s) pessoa(s) que se revela(m) a Si mesma(s). O teísmo pode defender o monoteísmo (um só Deus), o politeísmo (muitos deuses). ou pode ser bastante vago, indicando "um deus ou deuses em algum lugar". Quase sempre a idéia envolve a crença de que os poderes divinos interessam-se pela vida humana, com o intuito de recompensar ou punir, exercendo certas

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TEÍSMO influências sobre o mundo dos homens. A idéia de uma divindade criadora, com freqüência, faz parte do teísmo, mas não necessariamente. Muitos dos conceitos teístas arrastam após si a idéia de obrigação moral diante do Poder Divino ou de poderes divinos. Esse termo juntamente com o adjetivo "teísta", surgiu na Inglaterra, no século XVII, quando foi usado em contraste com "ateísmo" e "ateu". O referido conceito é tão antigo quanto as religiões humanas, as quais, por sua vez, são tão antigas quanto o próprio homem. 11. Contrastes com Outras Idéias Podemos aquilatar melhor a força do teísmo, contrastando-o com outros conceitos: 1. O teísmo indica a crença em poderes divinos; o ateísmo, por sua vez, nega a realidade desses poderes. 2. O teísmo ensina que os poderes divinos nutrem interesse pelos homens, intervindo na história humana, responsabilizando os homens por seus atos, recompensando-os ou castigando-os; mas o deísmo ensina que Deus divorciou-se de sua criação, deixando-a ao encargo das forças naturais, pelo que não se interessaria pelos homens e nem entraria em contato com eles, não os recompensando e nem os punindo, exceto indiretamente, através de leis naturais que continuam atuantes. 3. O teísmo pode incorporar o henoteismo; pelo que poderia haver muitos deuses, embora somente um deles entre em contato conosco, ao passo que os demais manter-se-iam indiferentes. O henoteísmo, pois, é uma forma de teísmo. 4. O politeísmo, que assevera a existência de muitos deuses, também é uma forma de teísmo.. 5. O teísmo usualmente ensina que existem evidências adequadas, de natureza prática, mística e racional, para provar a existência de Deus ou de deuses. Fazendo contraste com isso, o agnosticismo crê que, apesar da existência dessas evidências, elas são inconclusivas, havendo contra-evidências (principalmente o Problema do Mal, vide), que deixam em dúvida qualquer pessoa que pensa. 6. O teísmo assevera que podemos e devemos falar sobre Deus e investigar a sua pessoa, pois tal investigação pode ser frutífera e é legítima. O positivismo, por sua vez, afirma que toda investigação metafísica é fútil e sem sentido, porquanto não disporíamos de meios ou de evidências para fazer tal investigação, já que dispomos somente de sentidos físicos que podem sondar coisas materiais, mesmo com a ajuda de máquinas e aparelhos. 7. O teísmo promove o dualismo, de acordo com o qual Deus e sua criação são diferentes: Deus pertenceria a uma classe toda sua, e a criação não pertenceria a essa classe. Em contraste, o panteísmo promove um monismo; de acordo com o qual Deus e o mundo seriam de uma mesma substância: Deus seria o cabeça de toda existência, e a existência seria o corpo de Deus. 111. Idéias dos Filósofos 1. Os termos "teísmo" e "teísta" apareceram no século XVII, o que também se deu com os vocábulos "deísmo" e "deísta". Por algum tempo, o telsmo e o deísmo foram usados como sinônimos, o que continua sendo verdade no vocabulário de algumas pessoas. Porém, nesse mesmo século ou no século XVIII, foi estabelecida a distinção mencionada entre teismo e deísmo. Ver também o artigo separado sobre o Deísmo. 2. O teísmo promove a idéia de um Deus ou de deuses; e essa divindade aparece, ao mesmo tempo, como imanente no mundo e transcendental ao mundo. Deus atua entre os homens. Usualmente, embora não

necessariamente, o teísmo aparece associado a um Deus ou a deuses dotados de poderes criativos; e a criação aparece como distinta de Deus, quanto à sua natureza. 3. No teísmo clássico, Deus aparece como Ser absoluto, possuidor de diversos aminis, como onipotência, onipresença, etc. No teismo dipo/ar, Deus aparece como Ser absoluto ao mesmo tempo, imanente e transcendental. No teísmo relativo, Deus não figura como um Ser absoluto, apesar de ser possuidor de grande poder. Segundo esse ponto de vista, Deus é finito, e não infinito. Poucos teólogos cristãos têm aceitado esse ponto de vista. 4. No teísmo evolucionário (John Fiske), o poder divino aparece por trás do processo de evolução no mundo, por ser a sua causa. 5. No teísmo especulativo (Christian Weisse), faz-se a tentativa de ver a Deus como um Ser absoluto, identificado como o Absoluto dos filósofos. Deus, de acordo com essa concepção, é uma Pessoa infinita; e o homem aparece como uma pessoa finita e livre, que encontra o centro e a razão de sua existência na Pessoa infinita. 6. No teismo ético (Sorley), um Deus finito é a origem de todos os valores humanos. 7. No teísmo moral (AE. Taylor), acha-se uma prova da existência de Deus nas experiências morais. Ali, esse tipo de experiência faz parte essencial da existência humana. IV. Argumentos TeIstas e a Existência de Deus Os teístas - embora não todos - escudam-se nos argumentos tradicionais em prol da existência de Deus. A idéia que Deus está interessado no homem e manifesta-se na natureza e nas experiências místicas (algo comum ao teísmo) promove o meio ambiente intelectual, de acordo com o que os homens pensam ser capazes de dizer coisas significativas a respeito de Deus e asseverar a sua existência. No artigo intitulado Deus, apresentei grande número de argumentos em favor da existência de Deus. Ver sua quinta seção, onde apresentei vinte desses argumentos. A bem da verdade, o telsmo só aceita a idéia da existência de Deus mediante a fé , usualmente com base nos Livros Sagrados e suas afirmações. Nem por isso o teísmo condena os argumentos teológicos, místicos, racionais, naturais e sobrenaturais em favor da existência de Deus. V. O Teismo Cristão A fé cristã, em seu aspecto tradicional e conservador, oferece uma versão especial do teísmo, segundo se vê nos pontos abaixo: I. Rejeita o politeísmo e o henoteísmo como variedades legítimas do verdadeiro teísmo. 2. Rejeita o panteísmo, o agnosticismo, o ateísmo e o positivismo. 3. Aceita a mensagem essencial dos Livros Sagrados cristãos, o Antigo e o Novo Testamento. 4. Aceita a natureza (teologia natural) como uma abordagem válida, embora parcial, da teologia. 5. Ensina estar devidamente fundamentado sobre a ciência, a filosofia, a revelação (os Livros Sagrados), a natureza e, por que não, sobre a consciência e a intuição humanas, sempre sob a orientação da revelação divina. 6. Assevera que a existência de Deus pode ser aceita com base na revelação, ainda que também respeite os argumentos filosóficos tradicionais, bem como as evidências colhidas na natureza criada. 7. Sua ética alicerça-se sobre a idéia de que Deus revelou a sua vontade aos homens, e que eles são responsáveis diante dEle por sua conduta. A aprovação ou desaprovação divina aquilatarão todas as prestações

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TEKHELET - TELEPATIA de contas morais. Deus é o autor da ética, e não o homem. 8. O cristianismo ortodoxo aceita a visão trinitariana da deidade. Porém, é mister reconhecer que as explicações trinitarianas populares equivalem ao triteísmo, o que é apenas uma forma de politeísmo. Ver os artigos Trindade; Tríades e Triteísmo. 9. Ao rejeitar o deísmo (vide), o teísmo cristão promove o conceito de um Deus imanente, interessado nos homens, que intervém na história humana, que garante a imortalidade das almas e que julga ou recompensa às almas, após a morte biológica. 10. O teísmo cristão assevera a validade da missão salvatícia de Cristo, como realização especial de Deus entre os homens. l l , O conceito de um Deus pessoal é importante para essa forma de teísmo, onde figuram os atributos tradicionais de Deus como um Ser onipotente, onipresente, onisciente, que tudo sabe, que é completamente santo, etc. Oamor de Deus é enfatizado; e o termo "amor" é o único dos atributos divinos que pode servir como um dos nomes de Deus. Foi o amor de Deus que inspirou e orientou a missão terrena do Filho.

TEKHELET Esse é o nome de uma cor, no hebraico (Eze. 23:6; Ecl, 40:4 e Jer. 10:9). Essa cor tem sido variegadamente identificada com a púrpura, com o verde, com o índigo e com o amarelo. Atualmente, porém, sabe-se que alude ao azul-purpurina. Na antigüidade, a grande fonte desse corante era o molusco chamado Murex. Irving Zinderman, do Instituto de Fibras de Israel, na revista Science News, assevera que os especialistas israelenses confiam que o quebra-cabeça envolvido nesse corante foi resolvido. O Talmude diz-nos que esse corante era feito do extrato puro desse molusco, embora não existam identificações mais precisas na literatura antiga. Esse corante era usado nas vestimentas dos príncipes e dos nobres, que tinham dinheiro para comprar roupas tingidas com essa cor. Tal corante requeria o emprego de milhares desses moluscos para a produção de qualquer quantidade mais apreciável do corante. As vestimentas dos ídolos da Babilônia também eram tingidas com essa cor (Jer. 10:9). Ver o artigo geral sobre as Cores. TELEOLOGIA Esse é o nome do conceito que diz que todas as coisas são originadas, controladas e desenvolvidas, tendo uma finalidade, mediante o desígnio, da parte de um Ser divino ou da parte de forças cósmicas. Naturalmente, se tivermos de admitir um desígnio para as coisas, teremos de pensar em um Ser pessoal, e não em forças cósmicas impessoais. Ver sobre o Argumento Teleolágtco. Esse conceito provê um de nossos melhores argumentos racionais quanto à existência de Deus. As palavras gregas envolvidas nessa designação são télos, "fim", e lágos, "razão", "discurso", "doutrina", "estudo". Essa doutrina favorece a idéia de causas finais que se mostram ativas no universo. Christian Wolff(vide) introduziu o termo na filosofia, no século XVIII. Idéias dos Filósofos e Teólogos 1. Quase todas as religiões favorecem a idéia da teleologia. Em Anaxágoras temos uma aplicação da idéia à filosofia pré-socrática. Platão, em sua doutrina das Idéias e Formas, incluiu a idéia do desígnio divino na concepção da criação fisica inteira. 2. Aristóteles, com sua doutrina das quatro causas, fez da teleologia um dos principais conceitos normativos de sua filosofia. Ele via o desígnio atuante em todas as coisas,

orgânicas ou inorgânicas. Uma causa finalestaria envolvida em todas as coisas. 3. Os argumentos em prol da existência de Deus, extraídos da razão e da observação, incluem os argumentos cosmológico e ontológico. Juntamente com esses dois argumentos, o argumento teleológico se alinha. E há muitos outros argumentos, que sumariei no artigo geral sobre Deus. Os argumentos mais importantes e tradicionais foram manuseados sob o título de "Argumento ...". Dentre todos os argumentos tradicionais, o argumento teleológico era o que mais impressionava a Kant, que havia decidido que não se deixaria impressionar por tais raciocínios. Mas ele declarou, ao examinar o mesmo, que, a partir desse argumento, podemos postular um Arquiteto, e não necessariamente um Criador que criou tudo do nada. 4. Certa forma de ética está escudada sobre o conceito de teleologia. Ver o artigo Teleologia, Ética da. 5. A ciência materialista tem procurado eliminar a idéia de qualquer tipo de causa final, o que atingiu seu ponto mais baixo nos fins do século XIX e nos primórdios do século xx. Mas a teleologia voltou triunfalmente, e a bioquímica tem aprendido, no ácido deoxiribosenuc1eico (DNA). que ali a teleologia predomina de ponta a ponta. E verdade que o behaviorismo (vide) tem desafiado a aplicação da teleologia às ciências sociais. Porém, quanto mais profundamente vai sendo reconhecida a natureza essencialmente espiritual do homem, menor toma-se o impacto desse desafio. Quanto a bons exemplos de como a ciência vem negando o materialismo, ver os artigos chamados Parapsicologia e Experiência Perto da Morte.

TELEOLOGIA, ÉTICA DA O caráter benévolo de um ato depende de suas conseqüências, e os efeitos deveriam ser manipulados de forma a produzirem o máximo de benevolência para o maior número possível de pessoas. As decisões são tomadas em face das boas conseqüências que são desejadas. A ética é abordada do ponto de vista daquilo que produz algum beneficio, uma vez que se possa concordar sobre o que consiste no que é beneficente. O exemplo clássico da ética teleológica é o utilitarismo, a respeito do qual temos apresentado um detalhado artigo. Entretanto, muitos sistemas éticos estão envolvidos na busca por finalidades desejáveis, embora essas finalidades sejam definidas de modos diversos, dependendo do sistema em foco. A ética teísta sem dúvida alguma é teleológica em sua natureza. TELEPATIA Essa palavra portuguesa nos vem diretamente do grego tele, "longe", e pathos, "sentimento", "sensação". Talvez o uso dessa palavra, para indicar a noção de "transferência de pensamento", de um pessoa para outra, derivou-se do fenômeno facilmente observável que os "sentimentos" ou "emoções". parecem facilitar tal transferência. Seja como for, a telepatia é a capacidade de uma mente comunicar-se com outra sem quaisquer meios fisicos conhecidos, razão pela qual muitos estudiosos pensam que a telepatia é não-atômica em sua natureza. Naturalmente, é possível que uma vez que esse fenômeno venha a ser bem entendido, que venha a poder ser definido como atuante dentro do terreno das partículas subatômicas. E isso poderia demonstrar que se trata de uma função material, e não imaterial. Por enquanto, a maioria dos pesquisadores a respeito não larga a explicação não-materialista, embora o átomo possa ser capaz de mais prodígios do que admitimos hoje em dia. Seja como for, as provas em favor da telepatia

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TELEVISÃO são avas sal adoras, de tal modo que aqueles que têm consciência das intensas e largas pesquisas que se têm feito quanto a essa questão, e que sabem algo acerca da natureza das experiências que estão sendo feitas, estão convencidos da realidade da telepatia. Tenho preparado um detalhado artigo sobre a Parapsicologia, que fornece informações sobre a telepatia. Convido o leitor a examinar aquele artigo. A telepatia é contrastada com a clarividência (vide). Está última não envolve duas mentes. Antes, uma única mente obtém informações da parte de coisas não-mentais. Para exemplificar, mediante a clarividência, uma pessoa pode localizar um cadáver sepultado em um campo, ou um relógio perdido. Apenas uma mente atua nesses casos. Talvez se trate de uma espécie de radar mental, que pode envolver ou não o átomo. TELEVISÃO

Essa palavra vem do grego e do latim, com o sentido de "ver à distância". Quando eu estava no ginásio, uma professora declarou que, "algum dia", poderíamos ver programas, e não apenas ouvi-los. Quando ela perguntou quantos alunos acreditavam que isso tomar-se-ia possível, apenas algumas mãos foram levantadas. Uma dessas mãos era a minha, porque sempre me dispus a crer em coisas fantásticas. E quando, finalmente, apareceram os televisores, a invenção foi amargamente combatida em muitos segmentos protestantes e evangélicos, incluindo eu mesmo. Eu e outros não podíamos ver qualquer diferença entre a televisão e o cinema. De fato, tornou-se comum dizer-se: "A televisão é aquela invenção que permite que os evangélicos assistam aos filmes que não puderam ver nos últimos cinqüenta anos". E isso é a pura verdade. Antigos filmes continuam sendo projetados pela televisão. Mais e mais evangélicos compravam aparelhos de televisão "e eu, resistindo". Meus três filhos liam livros, em vez de assistirem a programas de televisão. Pelo menos, minha atitude para com a televisão rendeu um bom efeito: - eles geralmente tiravam melhores notas escolares que seus colegas que perdiam muito tempo assistindo televisão! Quando eu estava no seminário teológico, um de meus colegas causou um escândalo no campus da universidade. Ele instalara um aparelho de televisão. Gostava de assistir a lutas de boxe, televisionadas em Chicago. Protestei diante do diretor da universidade, mas não foi tomada qualquer medida punitiva. Foi somente depois de já estar trabalhando no Brasil por mais de cinco anos, como missionário evangélico, que, finalmente, cedi, e adquiri um aparelho de televisão. Em minha casa (já com os filhos adultos e formados), eu e minha esposa pouca atenção damos à televisão; mas o aparelho está ali. Tenho até assistido a algumas lutas de boxe, televisionadas em Chicago! As coisas mudam, e as pessoas mudam! Talvez os gregos estivessem com a razão, quando recomendavam a moderação em todas as coisas, um tema que Paulo frisou em Filipenses 4:5. É claro que nada há de errado com o próprio aparelho de televisão. Quando há algo de errado, isso se dá com os programas enviados pelas diversas emissoras. A mesma coisa sucedeu com o rádio, quando a invenção apareceu. Muitos crentes declararam que o rádio é um aparelho diabólico. Então começaram os programas evangélicos pela radiofonia, e, hoje em dia, nenhuma igreja declara-se contrária à presença desse aparelho nos lares. De uns tempos para cá também começaram os programas evangélicos televisionados. Nas igrejas pentecostais a

televisão já foi tabu. Mas alguns pregadores pentecostais têm usado esse meio de comunicação mais do que os de qualquer outra denominação. Não demorará muito para o tabu dar seu último suspiro. Os meros costumes, nas igrejas, às vezes mudam mais depressa que as estações do ano. Será Pecado Ter um Televisor em Casa? Essa pergunta já foi devidamente respondida para quem entende o que ouve e lê. É verdade que a televisão, como muitos outros inventos, pode servir de influência corruptora. Mas também ninguém pode negar que ela pode servir de tremenda influência em favor do bem. Conforme j á dissemos, tudo depende do uso que os homens façam desses aparelhos. Mas, com base no princípio da liberdade cristã. é impossível as igrejas proibirem seu uso. Tendo evitado o ascetismo (vide), devemos passar a recomendar a moderação, ou seja, a escolha correta dos programas. Que poucos crentes conseguem fazer essa seleção é claro para todos, mas talvez alguns sejam capazes para isso. Há coisas que vieram para ficar, e cada crente deve usar de seu livre-arbítrio a fim de determinar se assistirá ou não a programas de televisão; e, se lhes assistir, quais... A responsabilidade é do indivíduo. Que os pastores ensinem suas comunidades a como fazer uso desses aparelhos para que o maleficio seja reduzido ao mínimo. Os valores sociais da televisão são indiscutíveis. Provê notícias instantâneas, um entretenimento barato, de que as massas precisam, e educação (quando os telespectadores têm a disciplina pessoal para sintonizarem os programas educativos). As universidades modernas usam programas de circuito fechado, pela televisão, alcançando assim centenas de pessoas ao mesmo tempo. Há estações de televisão que projetam programas educativos para certas classes, como para os analfabetos, etc., atingindo regiões onde poucas escolas e poucos professores são capazes de atingir. Em São José dos Campos, no Brasil, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) esteve envolvido nessa atividade durante anos, mas os resultados ali não foram muito brilhantes. A televisão revolucionou a política, para melhor ou para pior. Um bom ator atrai as massas; um ator inferior as repele; e fica dificil saber onde jaz a verdade. Uma das queixas contra a televisão é que o seu poder é grande demais, deixando nas mãos dos jornalistas mais poder do que eles merecem ter ou sabem usar. A opinião pública forma-se rapidamente mais através da televisão do que através de qualquer outro meio de comunicação, e quando os jornalistas erram ou abusam, as massas populares são prejudicadas. Isso mostra a necessidade de cada telespectador ser um crítico do que ouve e vê. Mas é sabido que nem todos têm a formação e a maturidade necessárias para tanto. A televisão também é um meio usado para imposição de grande exploração econômica, propaganda falsa e para a solução barata de problemas complexos, com a sugestão de medidas que não são eficazes ou mesmo demagógicas. E talvez o aspecto mais triste do uso que se tem feito da televisão seja aquele dos teleevangelistas, que têm reduzido a arca da salvação do evangelho a um mero barco de espetáculos. Programas religiosos que envolvem muitos milhões de dólares têm-se organizado, e pastores têm ficado ricos como atores do cinema, imitando-os em muitos pontos negativos - incluindo aquele de tirar fotografias de mulheres em posições sensuais! Também é óbvio que a televisão tem despertado inquirição quanto a muitas e variegadas questões morais, porque os programas de televisão promovem a violência e

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TEL-HARSA - TELASSAR a imoralidade. É verdade que vez por outra alguém levanta sua voz em protesto; mas nunca se faz grande coisa para sanar os abusos. Crentes antes sérios em suas vidas espirituais, gradualmente sucumbem ante as fantasias da televisão, e assim sofrem detrimento. E também não podemos olvidar do fato de que muitas igrejas têm imitado os métodos espetaculares da televisão, como se a adoração ao Senhor fosse um entretenimento qualquer. Não nos adverte a Bíblia de que essas seriam as condições vigentes nos últimos dias? Uma apreciação moderada acerca da televisão talvez seja aquela que reconhece que se há algum beneficio na televisão, visto essa invenção estar sendo manipulada, na maioria das vezes, por pessoas sem temor de Deus no coração, há malefícios muitos maiores, mormente no caso de crianças e jovens, que ainda não têm bem formado o seu senso de discernimento e de crítica.

TEL-HAR8A No hebraico, "colina do mago". Essa cidade é mencionada por duas vezes no Antigo Testamento, em Esdras 2: 59 e em Nee. 7:61. Era uma localidade babilônica de onde voltaram exilados judeus, nas migrações de volta à Palestina, terminado o exílio babilônico. A peculiaridade dos contingentes judeus que dali chegaram é que eles, durante o tempo em que estiveram no estrangeiro, perderam os documentos que evidenciavam sua linhagem judaica. Em um grupo proletário, que não contasse com a ajuda de sacerdotes ou levitas, não seria muito dificil perder os registros ou a memória de sua genealogia. Esse retomo de judeus ocorreu em tomo de 536 a.C. TEL-MELÁ No hebraico, "colina de sal". O nome dessa cidade aparece somente em duas passagens do Antigo Testamento, Esd. 2:59 e Nee. 7:61. É possível que a primeira porção desse nome, "Tel", que indica uma colina ou côrnoro, indique uma antiga habitação humana, que tenha sido semeada "com sal", conforme também se vê no relato de Juízes 9:45, acerca de um outro incidente, ocorrido muito tempo depois. Tel-Melá era urna outra localidade, juntamente com Tel-Harsa, para onde tinham voltado exilados judeus que foram incapazes de provar sua linhagem judaica, mediante provas genealógicas. O local de Tel-Melá é desconhecido. Talvez seja a mesma Teima mencionada por Ptolomeu, situada perto do terreno salgado às margens do golfo Pérsico. Contudo, esse parecer não passa de urna conjectura. TELA No hebraico "vigor". Foi pai de Taã, cujo nome aparece em uma genealogia pós-exílica de Josué (I Crô. 7:25). Descendia de Efraim, através de Berias. Viveu em cerca de 1640 a.C. TELÃ No hebraico, me-olam; desde a "antigüidade remota". Essa expressão hebraica ocorre por cinco vezes: Gên. 6:4; I Sam. 27:8; Sal. 119:52; Isa. 46:9; Jer. 2:20. Mas, no trecho de I Sam. 27:8, tem-se suscitado algum debate entre os estudiosos. A passagem deveria ser traduzida por "desde a antigüidade", conforme fazem algumas versões, ou como um nome próprio, como se fosse uma localidadev Telã (conforme se vê em nossa versão portuguesa). E difícil resolver a questão, que parece haver chegado a um impasse. A variante que diz "desde Telaim" (ou "desde Telã", conforme diz nossa versão portuguesa), apareceu

pela primeira vez na Septuaginta. Aqueles que são favoráveis à tradução tradicional, "desde a antigüidade" parecem ter argumentos mais definitivos. Em primeiro lugar, nas outras ocorrências da expressão hebraica, "me-olam", ela não figura como um locativo, e, sim, como expressão adverbial de tempo. Em segundo lugar, sobretudo no que diz respeito à forma que aparece em nossa versão portuguesa, Telã, não existe qualquer localidade com esse nome, nas Escrituras. Quanto à possibilidade de ser "Telaim", ver o artigo sobre esse nome. Das seis traduções diversas que este tradutor examinou, três em português e três em inglês, somente uma (a Tradução do Novo Mundo, da Watchtower Bible and Tract Society, das Testemunhas de Jeová) concorda com a nossa versão portuguesa, dizendo: "desde Telão até Sur" isto é, dando a impressão de que se trata de uma localidade. Todas as outras versões dizem algo como desde a antigüidade". Em terceiro lugar, essa variante, que parece indicar uma posição geográfica, aparece somente em alguns manuscritos da Septuaginta, e nunca em qualquer manuscrito hebraico. Por conseguinte, parece que os tradutores da Septuaginta interpretam o trecho, no tocante a essa expressão hebraica, em vez de simplesmente traduzi-la. E, desde então, alguns estudiosos têm procurado aproveitar a interpretação de alguma maneira, em vez de ficarem somente com o original hebraico.

TELAIM No hebraico, "cordeiros". Na Septuaginta, en galgálios. Era uma cidade do território de Judá, perto de Edom e da pouco definida fronteira com a terra dos amalequitas. Foi ali que Saul concentrou suas tropas, em seu contraataque sobre os amalequitas que estavam assediando vez por outra as terras de Judá. Esse nome ocorre somente em I Sam. 15:4, em toda a Bíblia. A Septuaginta, seguindo as mesmas fontes informativas que Josefo (Anti. v.7,2), diz Gigal (galgálois) nessa passagem. Alguns estudiosos têm sugerido que Telaim pode ter sido uma forma corrompida de Telém (ver Jos. 15:24), que ficava na região do Neguebe, e que, estrategicamente, era um ponto mais provável para uma concentração de forças militares, com vistas a atuar no deserto. Ver sobre Telém. Outros eruditos, seguindo a Septuaginta, pensam que essa palavra ocorre novamente em I Sam. 27:8, onde a nossa versão portuguesa diz Telã (vide). Se eles estão com a razão, então isso restauraria alguma precisão geográfica a uma passagem com nomes corrompidos, e onde algumas versões estrangeiras dizem "desde a antigüidade'. TELASSAR Esse nome ocorre na Bíblia somente por duas vezes: 11 Reis 19:12 e Isaías 37:12, dentro da frase: " ...e os filhos de Éden, que estavam em Telassar". Na Septuaginta, Thálassar: No original hebraico, há leve diferença na forma escrita, entre 11 Reis e Isaías. Essa cidade é citada, pelos mensageiros de Senaqueribe a Ezequiais, como uma das comunidades destruídas por suas tropas assírias. Parece que Telassar representa T~II Assur, ou seja, "cõmoro de Assur". Os filhos de Eden, em assírio, Bit-Adtni (Bete~Éden), "casa de Éden", provavelmente, habitavam na área entre os rios Eufrates e Abli; mas nenhuma cidade assíria, chamada em assírio Til-Assur, jamais foi encontrada ou mencionada naquela região. Todavia, há uma Til-Assur mencionada nos anais de Tiglate-Pileser 111 e de Esar-Hadorn, embora apareça próxima da fronteira entre a Assíria e o Elão,

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TELÉM - TELL EL-AMARNA A primeira porção do nome, "Til" parece indicar um lugar onde havia uma antiquíssima comunidade residente, mesmo para os assírios. Todavia, parece impossível uma identificação precisa do lugar, tanto devido à sua extrema antiguidade como devido ao fato de que, em áreas tão devastadas pelo homem ou pelas causas naturais, qualquer precisão geográfica toma-se praticamente impossível. Por isso mesmo, as sugestões de identificação tentativa têm sido as mais variadas, incluindo Theleda ou Thelesa, a sudeste de Raca, perto de Palmira; Artemita, no sul da Assíria ou norte da Babilônia; e Resérn, atualmente chamada Kalah Shergat.

TELÉM No hebraico, "cordeiro". Há uma personagem e uma localidade com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento: I. Um porteiro do templo de Jerusalém, que retomou do exílio babilônico, e que se casara no estrangeiro com uma mulher da qual teve de separar-se, quando do pacto estabelecido por Esdras. Ver Esd. 10:24. Telém viveu por volta de 445 a.C. 2. Uma cidade de Judá, próxima de Zife e de Bealote. É mencionada somente em Jos. 15:24. Ver sobre Telaim, segundo parágrafo. Telérn ficava na região do Neguebe, trecho semidesértico, na porção sul do território de Judá. TELHA No hebraico, lebenah, "branco", "tijolo". Essas peças de cerâmica chamavam-se de "branco" porque eram feitas de pedra calcária muito branca. A telha era um tipo de lajota. Antes de 3000 a.c., esses tabletes eram usados para sobre eles, quando a argila que os formava ainda estava mole, se fazerem os sinais cuneiformes, por meio de um estilete. Em seguida, o tablete era deixado ao sol, a fim de secar e endurecer, ou então, era posto para cozer no fomo, perpetuando a escrita que ai i tivesse sido gravada. As telhas, fabricadas com o mesmo material, foram usadas, em grande parte do mundo antigo, como uma maneira comum de cobrir casas e outros edifícios. Não obstante, na Palestina, usualmente, as casas eram cobertas com um tipo de teto feito de um forro inferior de madeira, por cima do qual se prensava uma camada de argila, bem compactada, misturada com palha. Ver sobre Teto. Telhas de cerâmica são mencionadas em Lucas 5: 19 e Marcos 2:4. No caso de alguma casa palestina, provavelmente, a referência é à argila usada no teto chato e compactado de que acabamos de falar. Os estrangeiros gregos e romanos que possuíam casas na Palestina, geralmente, preferiam cobri-las com telhas, e não com esse teto chato e compactado. TELL EL-AMARNA I. O Nome e o Local 11. Caracterização Geral Ill. Observações Culturais IV.Atonismo V. As Cartas de Tel1 EI-Amama I. O Nome e o Local

A palavra tell, encontrada em combinação com nomes próprios, deriva da palavra árabe que significa um monte artificial construído através de camadas sucessivas de antigas civilizações. De modo geral, os montes representam períodos progressivos na história, mas, às vezes, apenas um é contido dentro do monte. Os tells são numerosos na Palestina. Alguns dos mais comuns

são Tell en Nasbeh; Tell el Fui (Gibeá); Tell Jezer (Gezer); TeU ed-Duwir (Laquis). O famoso TeU El-Amarna é localizado no Egito, cerca de 250 km acima do Delta, no Cairo. Primeiro, o estudante deve entender que o Tell dessa cidade não está relacionado ao tell dos arqueólogos, pois não reflete um "monte" que foi escavado. O nome TeU EI-Amarna surgiu pela combinação de um nome de vila "El-Till" com "El-Amarna", o nome de uma tribo árabe que habitou a área em determinada época. O nome da cidade antiga era Akeht Aton, que significa Horizonte de Aton. 11. Caracterização Geral A palavra tell, designação dos arqueólogos para um monte onde civilizações passadas foram enterradas, nada tem que ver com o TeU de TeU El-Amarna, como vimos acima. Rigorosamente falando, o nome do local é uma designação errônea que confundiu tanto estudiosos como estudantes. As cartas encontradas ali (ver a seção V) tiveram imensa importância para a compreensão da cultura egipcia daquela época e suas associações com os países vizinhos. Se confiarmos na cronologia da Bíblia hebraica massorética, podemos datar essas cartas à época da conquista da Palestina sob Josué, o que seria em tomo de 1450 a.c. Mas alguns estudiosos pensam que elas são anteriores à conquista da Terra por Israel em cerca de um século e meio. Alguns também colocam a conquista em um período posterior e, nesse caso, a data de 1450 a.C. poderia ser preservada para as cartas, mas não para o êxodo e para a conquista. Em todo caso, as Cartas de Amarna são indispensáveis para a compreensão da Canaã imediatamente anterior à conquista da terra pelo povo hebraico. O faraó Aquenaton provocou revoluções religiosas e culturais no Egito, e extraímos informações sobre isso de cartas e escavações arqueológicas, mais de algum material derivado de antigas inscrições no Egito. Aquele faraó (não o do Êxodo) desenvolveu uma forma de monoteísmo, que de fato era um henoteísmo, ao suprimir os sacerdócios politeístas usuais. Além de ter absoluta autoridade religiosa, ele governava com mãos de ferro a política do estado a ponto de ter sido um ditador real. 111. Observações Culturais 1. A cidade era chamada de Akhet Aton, e o regente, de Ack-en-Atom, na versão portuguesa apresentado como Aquenatom. Ver a seção I para maiores detalhes sobre o local. A cidade era uma das três consagradas ao deus Aton, supremo naquele lugar, não tendo muita concorrência de outras divindades. Esse era um local, desde tempos muito antigos, de templos que honravam a um deus ou outro. O templo dedicado a Aton era uma estrutura complexa e notável e tinha um sistema sacrificial como principal característica de seus cultos. Havia outras estruturas notáveis, como um local rico, gigante em tamanho, medindo cerca de 450 m por 140 m. Suas decorações exageradas incluíam ornamentação em ouro das partes superiores das colunas, e pisos altamente decorados. Era um local de riqueza extravagante. O Maru-Aton, possivelmente uma residência para a realeza, tinha uma piscina artificial, jardins fechados e ricas decorações. A cidade teve um período de glória um tanto curto e foi finalmente desfigurada por Horemabe, que desejava apagar a memória do rei herege Aquenaton. 2. Aquenaton, Para uma compreensão completa do presente artigo, o leitor deve ver o artigo separado sobre o faraó Aquenaton. Ver a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Esse homem tentou promover uma revolução religiosa e cultural, estimulando um tipo de monoteísmo que, de fato, era um henoteísrno, Ver a seção IV deste

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Tablete de barro, Carta de Tel1 El·Amarna em cuneüorme, c. 1380 A.D. Cortesia, British Museum.

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Codex Pi, 9° sée., Mat. 5:1455 COrtesia, Public Library, Leningrad

TELL EL-AMARNA -TEMÃ artigo. Sua reforma falhou, por fim, pois os sacerdotes que honravam aos diversos deuses importantes à história e à cultura egípcias recusaram converter-se à nova fé de Aquenaton. O homem foi considerado um herege, e a história diz que seu corpo foi mutilado após sua morte, tamanho o ódio dos "conservadores" contra ele. Alguns místicos modernos acreditam que esse homem foi um antigo ancestral do futuro anti cristo, ou, por reencarnação, o anticristo será o antigo faraó retornado. Não há como testar tais especulações. 3. Arte Amarna. A inovação e a revolução eram palavras-chaves de Aquenaton. Embora as formas de arte antiga tenham continuado, havia um tipo de radicalismo com a arte da época desse faraó. Talvez a principal característica dessa arte fosse o exagero grotesco do fisico humano. Representações do rei eram o principal assunto dos desenhos, pinturas e esculturas. Trabalhos representando o rei dão a ele um pescoço bastante comprido, um queixo protuberante em forma de V, grandes quadris e pernas em forma de bulbo, mas canelas bastante finas. Outras características humanas eram distorcidas dessa mesma forma. Os trabalhos parecem uma versão antiga de Picasso. Com o passar do tempo, contudo, tais características radicais foram reduzidas a ponto de os arqueólogos chegarem até mesmo a considerar representações um tanto afeminadas produzidas naquele mesmo período geral. 4. Linguagem. Até mesmo a linguagem não escapou ao machado de modernização do faraó. Elementos obsoletos foram removidos do idioma e a linguagem escrita foi alterada para que correspondesse àquilo que o povo falava. Estudiosos referem ao produto dessa reforma como "Egípcio Posterior". IV. Atonísmo O sol sempre foi uma grande atração teológica no Egito. Até mesmo Amon, o "escondido" de Teba, a longo prazo passou a ser identificado com o louvor ao sol. Ver o artigo separado sobre Sol, Adoração ao na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Aquenaton era um devoto radical de Aton, o deus sol, e forçou aos outros a seguir seu exemplo. O atonismo, contudo, não era um sincretismo real. Isto é, Aton não foi transformado na divindade principal de um panteão. Nem era esse um monoteísmo real, pois outros deuses continuavam existindo, mas eram chamados de usurpadores. Vários hinos e peças literárias cantavam seus louvores. O famoso longo hino a Aton das cartas de TeU EI-Amarna é um notável exemplo. Ela eloqüentemente louvava o poder universal, quase onipotente, criativo e providencial que sustenta o universo. Apenas o devoto faraó, Aquenaton, podia de fato conhecer seu alto deus, sendo assim, ele era o sumo sacerdote, tomando em suas mãos todo o poder religioso. O faraó também torna-se um mediador entre o alto deus e a humanidade. Além disso, o faraó é o filho do deus sol, participando, dessa forma, em sua divindade. O deus que brilha tão forte sobre toda a humanidade, brilha com especial intensidade no rei. O deus é, dá e sustenta toda a vida. A mágica perdeu terreno nessa fé, provavelmente devido ao fato de o rei deter todo o poder como um mediador e não precisar de passes de mágica para ter eficácia. Esta fé eliminou a idolatria do Egito (tanto quanto possível no período de vida de um homem), pois não fazia sentido ter imagens quando o rei vivo operava como sumo sacerdote e mediador de seu deus a outras pessoas. Esta série de exclusividades indicava o monoteísmo, mas não era uma declaração final a respeito.

O fanatismo do faraó não contaminou as massas, e entre a casta de sacerdotes havia muitos inimigos que continuavam a favorecer outras divindades. Os cultos populares a Osíres, Ísis e Horus retinham o imaginário das massas. Com a morte do rei, seus cultos foram simplesmente reabsorvidos nas crenças principais, permanecendo Aton como um deus entre muitos, legítimo de ser louvado, mas não um poder exclusivo totalmente abrangente. v.. As Cartas de TeU EI-Amarna No início, cerca de 350 tabletes de barro úteis foram encontrados, depois outros 50, totalizando cerca de 400 deles. Os tabletes eram assados ao sol e escritos no virtualmente internacional acadiano, com alguns "lustres" em amorítico. A maioria deles é um tipo de carta diplomática escrito em acadiano e enviado aos reis egípcios Amonefis III (1411-1375) e Amenofis IV, também chamado de Iknaton (1375-1358 a.C.) por seus governadores vassalos e príncipes na Síria - Palestina. Os tabletes fornecem muitas informações sobre a civilização do Oriente Próximo no segundo milênio a.C, Claro, os materiais dão uma introspecção especial à era de Amarna no Egito, e referem-se a Hapiru, que é importante para a compreensão das origens hebraicas. Ver o artigo sobre Habiru, Hapiru, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Muitas informações são dadas sobre a situação sociopolítica interna de Canaã pouco antes da invasão e conquista daquela terra. Os detalhes fornecidos demonstram que essas condições eram muito semelhantes àquelas descritas em J osué. A terra era dividida em muitos pequenos estados ou reinados, cada qual com seu próprio pequeno rei. A história desses tabletes, como relacionada à Canaã, é de agitação social, assassinatos e morte, e a tomada e perda de cidades como o subir e descer da maré da história. TEMA No hebraico, país do sul, ou deserto. I. O nono filho de Ismael (Gên. 25.15; I Crô. 1.30), que era um líder de seu clã. Viveu por volta de 1840 a.C. O nome também pode indicar "queimado pelo sol", provavelmente uma referência à sua compleição escura. 2. A tribo que descendeu dele também era chamada assim (Jó 6.19; ler. 25.23). Esse era um povo nômade que participava do comércio por caravanas. 3. Assim era chamada uma cidade localizada entre Damasco e Meca. A Teima moderna marca o antigo local. Este é um oásis bem conhecido da Arábia. Nabonido, o último rei do império neobabilônico (em tomo de 556539 a.C.) marchou contra Tema (Teima) e contra a área, deixando o Belsazar biblico encarregado em casa, de acordo com certa inscrição acádica. Ele conquistou o povo, arruinou a cidade e então transformou uma forma reconstruída dela na capital de seu império ocidental. O louvor ao deus sol foi estabelecido ali, de acordo com um Estela Teima aramaico. Por algum tempo o local teve grande prestígio, mas por volta de 450 a.C. o persa Ciro conquistou todas as áreas ao redor de Tema, e, ao contrário do costume, não matou Nabonido, mas de fato deu a ele poder, como subordinado, sobre Carmania, um local ao sul da Pérsia. TEMÃ No hebraico "sul" ou "quarto sul", ou "direita". I. O nome de um neto de Esaú, por sua esposa hetéia, Ada (Gên, 36.11; I Crô. 1.36). Era um príncipe dos edomitas (Gên. 36.15, 42; I Crô. 1.36, 53) que deu seu

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TEMENI - TEMOR nome à localidade que habitava. Ele viveu em tomo de 1900 a.c. 2. Esse era o nome do território (cidade e tribo) de Edom (ler. 49.20; Eze. 24.13), que pode ser identificado com a Tawilan moderna, uma cidade cerca de 5 km ao leste da antiga Petra. Os temanitas ocupavam, de modo geral, a parte sul da Iduméia. Eram conhecidos por sua coragem e sabedoria (Jer. 49.7). Vários profetas do Antigo Testamento incluem o local e seu povo quando denunciam os edomitas (Jer. 49.50; Eze. 25.13; Amós 1.12; Oba. 9). Em Hab. 3.3, Temã é usado como um nome para toda a Iduméia. TEMENI No hebraico, "afortunado". Era um homem pertencente à tribo de Judá. Era filho de Asur, filho de Calebe. Ele é mencionado exclusivamente em I Crô. 4:6. TÊMIS No grego, thêmis, derivado do verbo tithemi, "pôr". Há duas coisas a considerar: 1. A idéia foi personificada como deusa da lei e da boa ordem. 2. Essa palavra também designa o tipo de lei estabelecido pelos costumes, e não por alguma determinação judicial. A personificação desse termo tem recebido diversas interpretações. Assim, Ésquilo a representava como Gaia (terra), mãe de Prometeu (deliberação prévia). TEMÍSTIO Suas datas aproximadas fora 317 - 387 d.e. Ele nasceu na Paflagônia; trabalhou como filósofo em Roma e Constantinopla. Ensinava que Platão e Aristóteles estavam de pleno acordo um como outro. Asseverava que o cristianismo e o helenismo são duas formas de uma única religião universal. Escreveu comentários, além das obras Paráfrases de Aristóteles; Sobre a Virtude; Orações e Discursos. TEMOR O medo é uma das principais emoções humanas. Ver o artigo geral sobre as Emoções. O trecho de Hebreus 2: 15 reconhece quão importante é essa emoção, dentro da experiência humana, declarando que, por causa do temor da morte, os homens passam a vida inteira na escravidão ao diabo. Existem temores benéficos e temores prejudiciais. O melhor temor de todos é o temor a Deus e das coisas que devemos evitar. Os temores prejudiciais são desnecessários, além de demonstrarem imaturidade e falta de fé. I. Temores Benéficos 1. O Temor de Deus. Deus é o mais apropriado objeto do nosso temor (1sa. 8:13). Deus é o autor do nosso temor (ler. 32:39); o temor a Deus consiste no ódio ao mal (pro. 8:13), na sabedoria (Jó 28 :28; Sal. 111: 10). O temor a Deus é um tesouro para os santos (Pro. 15: 16); serve-lhes de força santificadora (Sal. 19:7-9). O temor a Deus nos é ordenado (Deu. 13 A; Sal. 22:23). É inspirado pela santidade de Deus (Apo. 15:4). A grandeza de Deus nos inspira a temê-lo (Deu. 10:12). A bondade de Deus leva-nos também a temê-lo (1 Sam. 12:24). O temor a Deus conquista o perdão divino (Sal. BOA). As admiráveis obras de Deus inspiram-nos ao temor a Deus (Jos. 4:23,24). Os juízos de Deus levam os homens a temê-lo (Apo. 14:17). O temor a Deus é algo necessário como parte da adoração ao Senhor (Sal. 5:7). Faz parte do serviço que prestarnos aDeus (Sal. 2:11; Heb. 12:28). O temor a Deus inspira os homens a um governo justo (ll

Sam. 23 :3). O temor a Deus é uma influência aperfeiçoadora (lI Cor. 7: 11).As Escrituras ajuda-nos a compreender o temor a Deus (pro. 2: 15). 2. OTemor de Deus Residente no Homem. Aqueles em quem há o temor a Deus agradam o Senhor Deus (Sal. 147:11). Deus compadece-se dos tais (Sal. 103:13). Eles são aceitos por Deus (Atos 10:35). Eles recebem de sua misericórdia (Sal. 103: 11,17; Luc. 1:50); eles confiam em Deus (Sal. 115:11; Pro. 14:26). Eles afastam-se do mal (Pro. 16:6); eles têm comunhão com pessoas dotadas das mesmas atitudes santificadas (Mal. 3: 16). Deus cumpre os desejos daqueles que o temem (Sal. 145:19); e a vida deles é prolongada na terra (Pro. 10:27). 3. O Temor de Deus como uma Virtude. Os homens deveriam orar a fim de receberem o temor a Deus (Sal. 86:11). O temor a Deus é exibido na vida cristã autêntica (Co\. 3:22). Também demonstramos nosso temor a Deus quando damos aos nossos semelhantes uma razão para a nossa expectação espiritual (I Ped. 3: 15). O temor a Deus é uma atitude que deveríamos manter com constância (Deu. 14:23; Pro. 23: 17). Deveríamos ensinar aos outros o temor a Deus (Sal. 34: 11). Quem teme a Deus tem vários pontos de vantagem (Pro. 15: 16; 19:23; Ecl. 8:12,13). Os ímpios, por sua vez, não sabem o que é temer a Deus (Sal. 36: 1; Pro. 1:29; Rom. 3: 18). 11. Temores Prejudiciais 1. O principal temor prejudicial é o medo da morte, que escraviza os homens que não têm confiança no Senhor (Heb. 2: 15). 2. Há quem tema aos homens, que passam a governar-lhes a vida desnecessariamente (Rom. 13:6). O remédio para isso é a fé em Deus, a qual não permite que homens irracionais e malignos nos prejudiquem. O temor ao homem assemelha-se a uma armadilha (Pro. 29:25). 3. Qualquer temor prejudicial serve somente para encher a mente de ansiedade (Mal. 6:25 ss). A cura para esse tipo de temor é o reconhecimento de que Deus é o nosso Pai, e de que ele cuida de nós. As pessoas temem não obter as provisões básicas para as necessidades ftsicas; e esse temor chega a atormentá-las diariamente. Porém, se buscarmos em primeiro lugar ao Reino de Deus, e à sua justiça, então obteremos a vitória sobre o medo - porque veremos que tal receio não tem qualquer fundamento na realidade. 4. Há temores que resultam de nossa participação no pecado (Gên. 3:10; Pro. 28:1). Os ímpios fogem mesmo quando ninguém os está perseguindo. O senso de culpa de Caim te-lo ficar fugindo (Gên. 4: 14). O senso de culpa de Herodes fê-lo sentir-se um miserável e temeroso, depois que mandara decapitar João Batista (Mal. 14: 1 ss). Os ímpios são assaltados por todas as formas de temores e de pressentimentos, de coisas que lhes podem acontecer(Jó 5:21; Isa. 7:25; 8:6; Apo, 18:10,15). IH. O Temor de Deus no Tocante à Salvação É-nos ordenado que ponhamos em prática (em nossa versão portuguesa, desenvolver) a nossa salvação, com temor e tremor, reconhecendo que poderemos fracassar, a menos que apliquemos os meios da graça, cuidando também para que o poder do Espírito opere em nós (Fi!. 2: 12). Ver o comentário sobre esse importante versículo, para a vida cristã, no NTI. Nesse e em outros sentidos igualmente, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pro. 9: 1O; Sal. 111: 1). IV. O Banimento do Temor As Escrituras ensinam-nos como podemos banir o temor negativo ou prejudicial de nossas vidas, conforme se vê nos pontos abaixo discriminados:

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TEMPERANÇA - TEMPESTADE 1. Experimentando a presença de Deus em nossas vidas. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo... (Sal. 23:4). 2. Mediante o poder protetor de Deus, através da fé. Deus servia de escudo para Abraão (Gên. 15: 1). 3. Através da confiança no poder remidor de Deus. "Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu" (Isa. 43: I ,5). 4. A manifestação de Deus dissipa todo o temor (Êxo. 3 :6; Luc. 1:30; 2: I; Mal. 14:26; 17:6 ss). 5. Há ajudantes espirituais que nos auxiliam para banirmos o temor (Mat. 26:53). 6. O amor cristão, uma vez aperfeiçoado, o que inclui a confiança no amor que Deus tem por nós, expulsa o temor de nossos corações. Isso envolve a liberdade do temor da morte, que é, precisamente, o castigo que sobrevém aos iníquos. Ver I João 4:18. 7. A confiança na benevolência de Deus nos alivia de nossos temores no tocante à fome, aos sofrimentos e a qualquer forma de carência. Luc. 12:32; Mal. 6:25ss. V. Exemplos de Temor Piedoso 1. Abraão (Gên. 22: 12); 2. José (Gên. 39:9); 3. Obadias (l Reis 18: 12); 4. Neemias (Nee. 5: 15); 5. Jó (Jó 1:1,8); 6. Os crentes primitivos (Atos 9:31); 7. Cornélio (Atos 10:2); 8. Noé (Heb. 11:7). TEMPERANÇA Uma definição de dicionário acerca dessa palavra é "o estado ou qualidade de ser controlado; a moderação habitual". O indivíduo temperado é aquele que "observa a moderação ou o autocontrole, procurando evitar extremos", em qualquer atitude ou ação. Um uso especializado é o uso moderado de bebidas alcoólicas, ou mesmo a abstenção total das mesmas. A temperança aparece como uma das quatro virtudes cardeais da filosofia moral de Platão: sabedoria, coragem, temperança e justiça. Outros filósofos gregos adotaram a idéia, e, então os teólogos cristãos acrescentaram-lhes a triada paulina da fé, do amor e da esperança, perfazendo assim as chamadas "sete virtudes cardeais". Ver sobre as Sete Virtudes Cardeais. "Moderação" tornou-se uma espécie de "lema" ético entre os gregos, e essa idéia foi transportada para o Novo Testamento. Ver o artigo chamado Moderação.

A Temperança no Novo Testamento: Paulo pregou sobre a temperança a Félix (em nossa versão portuguesa, "domínio próprio"), paralelamente à justiça e ao juízo vindouro (Atos 24:25). O "domínio próprio" (temperança) é um dos aspectos do fruto (ou cultivo) do Espírito Santo (Gál. 5:23). Ainda como "domínio próprio", a temperança é a terceira das grandes virtudes que Pedro ensinou que deveríamos adicionar à nossa fé (11 Ped. 1:5,7). A temperança é uma das qualidades essenciais do ministro da Igreja (ver Tito 1:7,8, "sóbrio"). Também é uma qualidade necessária para o sucesso no serviço cristão (ver I Cor. 9-25-27, "se domina"). Naturalmente, a temperança só é aplicável àquelas coisas que podemos praticar, ou por serem moralmente indiferentes. Não devemos errar com moderação. No combate contra o mal, a palavra-chave é "abstinência", e não temperança ou moderação. Ver 11 Cor. 6: 17. Ver sobre Autocontrole . TEMPESTADE Precisamos considerar cinco palavras hebraicas e quatro palavras gregas, a saber:

I. Suphah, "tufão", "furacão". Esse vocábulo hebraico é empregado por quinze vezes, nas páginas do Antigo Testamento: Jó 21 :28; 27:20; Sal. 83: 15; 37:9; Pro. 1:27; 10:25; Isa. 5:28; 17: 13; 2U; 29:6; 66: 15; Jer. 4: 13; Osé, 8:7; Amós 1:14 e Naum 13. 2. Searah, "vendaval". Palavra hebraica que aparece por catorze vezes, como em 11 Reis 2: 1,11; Jó 38.1; 40:6; Isa. 40:24; 41 :16; Jer. 23:19; 30:23; Zac. 9:14; Sal. 107:25,29; 148:8; Eze. 13:11,13;Naum 1:3. 3. Saar, "tempestade". Palavra hebraica que é usada por apenas uma vez, em Isa. 28:2. 4. Zerem, "tempestade", "inundação". Palavra hebraica que é utilizada por nove vezes: Isa 4:6; 25:4; 28:2; 30:30; 32:2; Hab. 3:10; Já 24:8. 5. Saah, "agitação", "arremetida". Termo hebraico usado somente por uma vez, no particípio, em Sal. 55:8. 6. La.ffaps, "tufão", "furacão", "vendaval". Termo grego usado por três vezes: Mar. 4:37; Luc. 8:23 e II Ped. 2:17. 7. Thúella, "vendaval". Palavra grega que é utilizada apenas por uma vez, em Heb. 12: 18. 8. Cheimán, "tempestade de inverno". Vocábulo grego que ocorre por seis vezes: Mal. 16:3; 24:20; Mar. 13:18; João 10:22; Atos 27:20; 11 Tim. 4:21. Em Atos 27: 18 temos o verbo correspondente a esse substantivo, cheimázomat. que a nossa versão portuguesa traduz por "açoitados... pela tormenta". 9. Seismôs, "abalo", "terremoto". Embora essa palavra grega ocorra por catorze vezes, com o sentido comum de "terremoto", logo em sua primeira ocorrência, em Mat. 8:24, o autor sagrado a usa em relação à tempestade que ocorreu no lago de Tiberíades, e que ele acalmou com uma palavra de ordem. Trata-se, portanto, de um uso sui generis do termo grego. Na região da Palestina, as tempestades eram um fenômeno bastante comum, figurando de forma proeminente na consciência de alguns dos escritores biblicos, como o salmista e o profeta Isaias. Esses viam as tempestades como uma ameaça à segurança dos homens ou como um castigo divino infligido contra os malfeitores. Ver Sal. 55:8; 83:15; Isa. 4:6; 25:4; 28:2. Por causa de sua freqüência, e dos vários tipos de tempestades, havia tão grande número de palavras hebraicas envolvidas. Os tipos de tempestade mais comuns que se verificavam na Palestina eram os seguintes: I. Os temporais, que ocorriam, principalmente, no começo da estação chuvosa, no outono, quando a terra ainda estava quente devido aos dias de verão. Eram particularmente comuns em torno do mar da Galiléia, quando o vento que soprava em direção à terra passava sobre a bacia quente do lago. 2. Os remoinhos de ventos, ou vórtices locais, como aquele que arrebatou Elias para o céu (11 Reis 2). 3. As tempestades no deserto. Esses eram os mais importantes e temidos, por causa dos seus efeitos. Ocorriam quando o vento soprava do deserto, trazendo um ar quente e ressecante, que crestava as plantações às margens do deserto. Na Palestina, esse vento se chama siroco, soprando das direções sul ou leste, isto é, do deserto da Arábia. Geralmente acontece no começo e no fim do verão, e quase sempre é acompanhado por uma poeira sufocante e por elevadas temperaturas. Atravessando a Palestina do Oriente para Ocidente, esses vendavais chegavam até às margens do mar Mediterrâneo (cf. Sal. 48 :7). Jesus referiu-se às características do vento que sopra do deserto, em Lucas 12:55. -...e quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e assim acontece".

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TEMPLÁRIOS - TEMPLO TEMPLÁRIOS Foi a primeira e mais notável das ordens religiosas militares da Igreja Católica Romana, durante a Idade Média. Na época das cruzadas (que vide), o fervor religioso mesclou-se com as atividades militares. Essa ordem religiosa foi fundada em 1118 por Hugue de Payens e Godeffroi de St. Omer, na época do rei Balduíno 11, rei de Jerusalém. Mas a ordem foi fundada na França, inicialmente com o propósito de proteger os peregrinos que quisessem visitar a Terra Santa. O nome dessa ordem deriva-se da circunstância de que sua primeira sede fazia parte do palácio de Balduíno, que ficava perto de uma antiga mesquita em Al-Akra, chamada Templo de Salomão. Essa ordem adotou a regra de Benedito, porque ela chegou a ser reformada pela ordem dos cistercianos (que vide). O concílio de Troyes (1128 d.C.) deu sua aprovação à ordem. Bernardo de Clairvaux (que vide) era um de seus mais ardentes apoiadores. A ordem consistia em cavaleiros da cavalaria pesada, sargentos, ou cavalaria ligeira, agricultores que administravam as necessidades temporais, e capelães que cumpriam os deveres sacerdotais. Obedeciam somente ao papa e ao seu próprio Grão-Mestre, o que produziu muitas fricções com os bispos e com o clero inferior. Os templários exploravam as operações bancárias, o que lhes conferiu grande poder econômico. O poder militar deles protegia-lhes as finanças, e sua posição como clérigos. Sua participação nas cruzadas ganhou para eles a reputação de serem soldados corajosos, embora isso lhes tivesse custado muitas vidas. As riquezas materiais que conseguiram amealhar atraíram a atenção de Filipe, o Belo, rei da França, o qual resolveu obter todo aquele dinheiro para si mesmo. Exercendo pressão sobre o papa Clemente V, acusando a ordem de heresia e sacrilégio (como condições para que alguém se unisse à ordem), Filipe, o Belo, conseguiu suprimir a ordem. A maioria dos templários, em vista disso, ingressou nas fileiras de seus anteriores rivais, os Hospitaleiros (que vide). Foram estes que acabaram apossando-se das riquezas materiais dos templários, os quais, gradualmente, foram desaparecendo de cena. Vários escritores seculares, principalmente franceses, têm escrito sobre os desmandos dessa ordem, acusando seus membros de grosseiras imoralidades. TEMPLO Ver Templo de Jerusalém. TEMPLO (ÁTRIOS) Ver Templo de Jerusalém. Quatro átrios faziam parte do templo de Jerusalém: 1. O átrio dos gentios. Era assim chamado porque os gentios podiam entrar no mesmo, mas não mais adiante, sob pena de morte. Simbólico e espiritualmente, esse átrio mostrava que os gentios tinham um acesso apenas limitado à adoração e ao serviço de Deus. Eles não podiam adentrar o santuário, e, muito menos ainda, o Santo dos Santos. Porém, em Cristo todas essas barreiras foram derrubadas. Agora há acesso a todos os crentes, até o trono de Deus (Heb. 10: 19,20), por intermédio do Caminho, que é Cristo. Temos acesso mediante o sangue de Cristo, o novo e vivo caminho que nos foi aberto. Agora Cristo é o nosso Sumo Sacerdote, e nós somos um reino de sacerdotes (Apo. I: 6; 5: 10). Mais do que isso, o crente tomou-se um templo do Espírito de Deus (I Cor. 3: 16), e a Igreja, coletivamente falando, é o templo para habitação de Deus, em Espírito (Efé. 2: 19,20). 2. O átrio de Israel. Os homens de Israel tinham o direito

de admissão a esse átrio. Esse átrio representava um outro nível de acesso. Embora participassem da adoração no templo, os israelitas comuns não tinham acesso ao Santo dos Santos. Somente o sumo sacerdote, e isso mesmo apenas uma vez por ano, podia entrar ali, a fim ~e cumprir a expiação simbólica sobre o propiciatório. Ver Exo. 30: 1O. 3. O átrio dos sacerdotes. Era nesse átrio que ficava o altar dos holocaustos, e onde os sacerdotes e levitas exerciam o seu ministério. Esse átrio representava ainda um outro nível de acesso a Deus, embora ainda não o mais elevado. Até mesmo o Santo dos Santos era mero símbolo e acesso preliminar. Portanto, o templo de Jerusalém, com suas muitas divisões e níveis de acesso, servia de tipo de um acesso gradual a Deus. O evangelho de Cristo elimina todas as divisões. Ver Efé. 2: 17 ss. O Espírito Santo confere aos crentes o mais pleno acesso. 4. O átrio das mulheres. Esse átrio ficava um pouco mais próximo do santuário do que o átrio dos gentios. O átrio das mulheres era posto à disposição das mulheres israelitas. No entanto, em Cristo não há qualquer distinção entre homem e mulher, no que concerne a privilégios espirituais (Gál, 3:28). Essa é uma doutrina revolucionária, exposta pelo cristianismo. Ver o artigo geral sobre Templo de Jerusalém o que provê uma ótima ilustração onde o leitor pode notar os vários átrios, sua configuração, etc. TEMPLO DE DEUS, IGREJA COMO Efé. 2:22: no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito. Habitação. Esta palavra corresponde ao Templo que é a habitação do Senhor. E usada, nas páginas de N.T., somente aqui e em Apo. 18:2. Subentende um lugar permanente de residência. E é utilizada aqui para fazer contraste com a idéia dos "peregrinos", que aparece no décimo nono versículo deste mesmo capítulo. Assim, pois, os crentes não são mais estrangeiros e nem peregrinos, que habitam em uma terra que não é a sua, onde não gozam dos direitos da cidadania. Antes, eles mesmos se tornam a habitação do Espírito Santo, o lugar de sua manifestação. Também são co-cidadões e até mesmo filhos da família divina, segundo a ênfase dada nos versículos dezoito e dezenove deste capítulo. 1. No Espírito. Essas palavras podem indicar: 1, Por meio do Espírito Santo, em que ele age como agente; ou 2. melhor ainda, no Espírito, ou seja, em comunhão que é conferida pelo fato de que em nós habita, em sua esfera, dentro de sua realidade. Nessa "comunhão" é que nos tomamos habitação do próprio Deus. No dizer de Abbott (in loc.): "O Espírito não é apenas o meio ou instrumento, mas é igualmente o medianeiro por cuja virtude Deus habita na igreja". Deus, mediante ou em seu Santo Espírito, habita no templo (mistico). Devemos observar que a habitação é de Deus, porque isso assinala o fato de que Ele é o grande Senhor dessa casa, que essa casa pertence a Ele, e que Ele habita nela como possessão sua. "Assim, pois, temos o verdadeiro templo de Deus Pai, edificado por Deus Filho e habitado por Deus Espírito Santo - os oficios das três pessoas benditas são distintamente frisadas: Deus Pai, em toda a sua plenitude, habita na igreja e a enche; essa igreja é constituída como templo santo e dedicado a Deus no Filho; e é ocupada pela presença permanente do Espírito Santo.. (A lford, in loc.). Por conseguinte as palavras no Espírito significam mais do que "espiritualmente" (embora isso também expresse uma verdade). Pelo contrário, está em pauta a presença real de Deus, por intermédio do seu Santo Espírito, ou

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TEMPLO - TEMPLO DE JERUSALÉM seja, toma-se possível e é concretizada uma comunhão mística, através do fato de que esse templo é santificado.. Cabe aqui uma extensa citação extraída de Adam Clarke (in loe.), que reputamos excelente e expressiva: - A igreja de Deus, com toda a razão, é declarada uma obra nobre e maravilhosa, verdadeiramente digna do próprio Deus. Diz alguém: Nada existe de tão augusto como a igreja, visto que ela é o templo de Deus. Diz outro: Nada é tão digno de reverência, posto que o próprio Deus nela habita. Nada é tão antigo, já que os patriarcas e profetas labutaram para edificá-Ia. Nada é tão sólido, pois Jesus Cristo é o seu fundamento. Nada é mais intimamente unido e indivisível, porquanto Cristo é a sua pedra angular. Nada é mais belo ou melhor adornado, com maior variedade, visto que consiste de judeus e gentios de todos os séculos, países, sexo e condições; os maiores potentados, os mais renomados legisladores, os mais profundos filósofos, os mais eminentes eruditos, além daqueles de quem o mundo não era digno, têm feito parte e são parte desse ediflcio. Nada é mais espaçoso, porquanto se propaga pela terra inteira, incluindo todos os que têm lavado suas vestiduras e as têm embran-quecido no sangue do Cordeiro; Nada é tão inviolável, porquanto foi consagrada a Jeová. Nada é tão divino, visto que se trata de um edificio vivo, animado e ocupado pelo próprio Espírito Santo. Nada é tão beneficente, visto que abriga os pobres, os miseráveis, os aflitos de todas as nações, raças e línguas. Ela é o lugar onde Deus opera seus feitos admiráveis; o teatro da sua justiça, da sua misericórdia, da sua bondade e da sua veracidade; onde ele é buscado, onde ele pode ser achado, e onde ele pode ser retido, com exclusividade. Assim como existe um único Deus, bem como um único Salvador mediador entre Deus e o homem, e assim como há um só Espírito inspirador, assim também só há uma igreja, onde esse inefável Jeová realiza sua obra de salvação. A igreja, a despeito de está espalhada e dividida por todo o mundo é apenas um edificio, alicerçada sobre o Antigo e o Novo Testamentos; dotada de um único sacriflcio, o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dessa gloriosa Igreja, cada alma crente é um epítome; pois assim como Deus habita na Igreja, de modo geral, assim também habita em cada crente; em particular; cada um é habitação de Deus por meio do Espírito. Vãs são todas as pretensõesdas seitas e dos partidos, como se fossem grupos privilegiados da Igreja de Cristo, se não possuem a doutrina e a vida de Cristo . Tradições e lendas não são doutrinas. apostólicas, e as cerimônias espetaculosas não perfazem a vida de Deus nas almas dos homens. A religião cristã não precisa dos ornamentos e das pompas humanos; ela rebrilha com a sua própria luz e refulge com a sua própria glória. Mas onde não houver vida e poder, os homens haverão de esforçar-se por produzir uma imagem fictícia, vestida e ornamentada com as suas próprias mãos. Nessa imagem fictícia, entretanto, Deus nunca bafejou; e isso quer dizer que jamais fará qualquer bem aos homens, impressionando os ignorantes e crédulos com uma espetaculosidade vã de pompa e de esplendor sem vida. Esse fantasma, epitetado de "religião verdadeira" e de "igreja", pelos seus seguidores, lá nos céus é denominado de 'vã superstição', o símbolo mudo da piedade desaparecida.

TEMPLO DE JERUSALÉM I. Nome e Terminologia 11. Histórico do Templo de Salomão Ill, Local e Descrição IV. O Segundo Templo V. O Templo Ideal de Ezequiel VI. O Templo de Herodes VII. Significados e Propósitos dos Templos Para informações adicionais, ver o artigo separado sobre Templos. Este artigo é limitado aos templos que foram construídos no mesmo local em Jerusalém. I. Nome e Terminologia A palavra hebraica é hekal, termo derivado de um vocábulo sumério que significa "casa grande", que em uso de modo geral significa "a casa de uma deidade". Havia também o termo bayith, que significa "casa"; godesh, que significa, estritamente, "santuário", talvez em referência a templo que se tomou local sagrado de louvor e culto a Deus ou a um deus. Em conexão com o yahwismo, temos beth YHWH, "a casa de Yahweh", A palavra grega naos é usada comumente no Novo Testamento para "templo". O termo oikos (casa) é empregado uma vez (Luc.ll.51). Ieron, "o local sagrado", é ainda outro termo empregado para um templo como local sagrado. Essa palavra é usada com muita freqüência no Novo Testamento. VerMal. 4.5 e I Cor. 9.13, a primeira e última das ocorrências. O monte do templo era chamado de "a montanha da casa do Senhor" (Isa. 2.2) ou "a montanha da casa" (Jer. 26.18; Miq. 3.12). Ver o artigo geral sobre Sião. 11. Histórico do Templo de Salomão Ver o artigo geral sobre o Tabernáculo, que por séculos serviu aos israelitas como um local sagrado portátil. A idéia de que ele deveria ser substituído por uma estrutura permanente, mais magnífica, foi de Davi, sem dúvida seguindo a sugestão do Espírito, que moveu seu coração e sua mente para ser generoso com os cultos de Yahweh, não meramente consigo mesmo. Ele havia construído para si mesmo um local rico e tinha vergonha de sua negligência para com o prédio da casa de Yahweh. Davi havia destruído ou confinado todos os inimigos de Israel, algo que Josué e as gerações a seguir não haviam sido capazes de fazer. Ele havia inaugurado um período de paz e prosperidade, que era uma época ideal de desenvolver os cultos religiosos sem interferência e invasões estrangeiras. VerI CrÔ. 28.12, 19; I Crô. 17.1-14; 28.1 ss. Mas Davi era um rei guerreiro sangrento que havia participado de vários assassinatos, muitos dos quais totalmente desnecessários. Portanto não era a pessoa certa para construir o templo. A tarefa foi deixada para o filho de Davi, o "homem de paz", significado do nome Salomão. Davi contribuiu muito para o projeto com materiais de construção e objetos valiosos (I Crô. 21.9 ss.). Salomão iniciou a época áurea de Israel e parte disso foi a construção de um magnífico templo. Os israelitas eram um povo de grandes produções literárias, como o Antigo Testamento dos hebreusisraelitas-judeus da Palestina e os livros pseudepfgrafos e apócrifos dos judeus da Diáspora. Mas eles nunca foram um povo de ciência e não tinham conhecimento nem mãode-obra especializada para construir um templo. Salomão teve de contratar os fenícios para essa tarefa. Eles forneceram o conhecimento e muitos materiais, além de, provavelmente, quase toda a mão-de-obra especializada. Ver I Reis 5.1-6. O que Salomão tinha era o dinheiro e à mão-de-obra escrava para fazer o "trabalho sujo". Além disso, dispunha da visão emprestada de seu pai e da

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TEMPLO DE JERUSALÉM determinação de ver o trabalho terminado, o que ocorreu no l l o ano de seu reino. O trabalho levou sete anos e meio para ser concluído (c. 949 a.C.). 111. Local e Descrição O templo foi construído no Monte Moriá (ver a respeito). Aquelejáera um local sagrado por causados acontecimentos importantes que ali ocorreram na história passada de Israel. O monte era (é) localizado a leste de Sião (ver a respeito), um morro que o próprio Davi havia selecionado para o propósito quando construiu um altar ali depois de determinada praga destrutora ter acabado (I Crô, 21. 18 ss.; 22.1). O templo exigia uma área de pelo menos 400 cúbitos por 200 cúbitos (sendo que um cúbito mede cerca de 45 em). O cume do morro precisava ser nivelado para fornecer uma fundação plana. A antiga eira de Aruna, também chamada de Orna, era a área em questão (11 Crõ. 3.1). Presumivelmente, aquele foi o local onde ocorreu o sacrifício (pretendido) de Abraão de Isaque (Gên. 22.2). Ver 11 Sam. 24.24, 25; I Crõ. 22.1; 21.18, 26 para outras Escrituras que tratam da área onde o templo foi construído. "O templo se situava no morro leste, ao norte da cidade de Davi, onde é localizado hoje a Abóbada da Rocha. Naquela época, o monte do templo era consideravelmente menor. Salomão precisou aumentá-lo um tanto (Josefo, Guerras, 5.5. 185). Herodes precisou ampliá-lo ainda mais para seu templo. Essa era a eira de Arauna (11 Sam. 24.18), o Monte Moriá (11 Crô. 3.1) e provavelmente o Sião dos salmos e profetas (Sal. 110.2; 128.5; 134.3~ Isa. 2.3; Joel 3.16; Amós 1.2~ Zac. 8.3), embora o termo tenha pertencido especificamente à cidade de Davi (I Reis 8.1)". (William Sanford LaSor). Descrição. O templo foi construído com pedras cortadas; media cerca de 60 cúbitos de comprimento, 20 cúbitos de largura e 30 cúbitos de altura. Tinha um telhado plano e coberto, composto de toras e tábuas de cedro, sobrepostas com mármore. Josefo insiste em que houve outro andar construído em cima dessa estrutura de fundação que dava à estrutura dimensões duplas em altura, pois esse segundo andar, em dimensões, era uma duplicata do andar de baixo (Ant. viii. 3,2). Se ele estiver certo, então a altura da estrutura do templo era de 60 cúbitos de altura, 60 de comprimento e 20 de profundidade. E difícil harmonizar essas dimensões fantásticas com o relato do Antigo Testamento. O plano geral era semelhante ao do tabernáculo substituído pelo templo, mas as dimensões foram duplicadas. As partes que constituíam o prédio eram: uma estrutura retangular que tinha uma varanda ou vestíbulo (Heb. Ulam, I Reis 6.3); depois havia a nave (no hebraico Hekal), que ficava virada para o leste (o local sagrado); além disso ficava o debir, ou o local mais sagrado (I Reis 8.6). A varanda media 10 cúbitos de profundidade e 120 cúbitos de altura (11 Crõ. 3.4), mas esse número, de tão gigantesco, pode ter sofrido alguma corrupção textual no início. Duas colunas, chamadas Jaquim e Boaz, feitas de bronze oco e 35 ou 40 cúbitos de altura, ficavam em cada lado da entrada (11 Crõ. 3.15-17). As paredes internas eram revestidas com cedro trazido do Líbano (I Reis 5.6-10; 6.15-16), e sobre esse revestimento havia outro de ouro (vs, 22). O local mais sagrado era revestido com ouro puro (vs. 20). Os hebreus tinham de depender de trabalhadores habilidosos que o rei, Hirão da Fenícia, forneceu. O supervisor do prédio era chamado de Hirão (7.13) ou, alternativamente, Hurão-Abi (11 Crô. 2.13). O lugar mais santo continha a arca da aliança (ver a respeito), 1 Reis 6.19, e o querubim, cujas asas cobriam a arca (vs. 23). Esses anjos eram muito grandes, e suas asas iam de uma parede à outra. Uma porta de madeira de

oliveira, revestida de ouro, separava o lugar mais sagrado da nave (o santuário externo também chamado de local sagrado), vs. 31. Uma porta semelhante separava a nave da varanda (vs. 33). A nave continha um altar dourado (7.48) que era distinto do de bronze que ficava no pátio. Esse era feito de cedro (revestido de bronze), 6.20. O altar de incenso (ver a respeito) ficava na frente do lugar mais sagrado, centralizado entre as paredes. E havia a mesa de ouro do pão da proposição no muro do sul, além de lamparinas no muro norte. O próprio templo era cercado por dois pátios, um interno para os sacerdotes (11 Crô. 4.9), e um externo, chamado de o Grande Pátio, onde os israelitas podiam circular e que provavelmente continha diversos prédios reais. As dimensões do pátio interno não são fornecidas, mas, se dobrarmos as do tabernáculo, a área deve ter medido 200. cúbitos por 100 cúbitos. O pátio interno continha o altar de bronze (11 Crô. 4.1), onde eram oferecidos sacrifícios; as dez bacias de bronze em dez suportes especiais, cinco de cada lado da casa; e o grande derretido, ou mar de bronze, um local de lavagens rituais localizado no canto sudeste da casa. Esse "mar" tinha um diâmetro de 10 cúbitos e 5 cúbitos de altura, podendo conter cerca de 40 mil litros de água. Essa era a fonte de água para as lavagens rituais dos sacerdotes para limpar partes dos animais sacrificiais (11 Crô. 4.6). Minhas descrições excluíram as ornamentações elaboradas que o templo todo recebeu, nos quais metais preciosos, tapeçarias complexas e trabalhos de escultura foram empregados. Para uma descrição completa, algo verdadeiramente impressionante, ver I Reis 5.6-7.51. Arqueologia. O templo de Salomão foi estilizado de acordo com os templos fenícios, como demonstram claramente as descobertas arqueológicas. Isso poderíamos ter suposto sem o trabalho dos arqueólogos, já que foram os fenícios que forneceram as habilidades para sua construção (I Reis 7.13-15). Templos semelhantes do mesmo período geral foram escavados no norte da Síria, como o templo de TeU Tainat. Esse é menor, mas de projeto semelhante. Tanto esse quanto o templo de Salomão eram de construção pré-grega, um item que autentica sua antigüidade. Outras descobertas autenticaram vários itens de construção como a capital proto-aeólia nos pilares, que era um projeto usado extensivamente no templo de Salomão. Exemplos desse tipo foram desenterrados em Megido, Samaria e Siquém. As decorações de lírios gravados e palmas, além dos querubins, também foram encontradas em outras estruturas. As duas colunas na extremidade da varanda foram ilustradas por escavações feitas em TeU Tainat. Pilares, para guardar a entrada dos templos, eram um item comum nas antigas construções de templos. O tabernáculo e o templo claramente ilustram acesso limitado, cada divisão admitindo apenas certas pessoas: Israel na corte externa; a corte externa para os sacerdotes; o local sagrado; o lugar mais sagrado, onde finalmente, podemos encontrar a Presença, a teofania de Yahweh. Em Cristo, temos acesso direto ao trono de Deus, como demonstra o livro de Hebreus (Heb. 4.6, por exemplo). Ver o artigo sobre o Acesso para mais ilustrações. O Primeiro Templo (o de Salomão) foi atacado diversas vezes e então destruído porNabucodonosor, rei da Babilônia, em 587-586 aC. Ver 11 Reis 25.8-17; Jer. 52.12-23. O estudante que deseja detalhes sobre o templo de Salomão deve ver o Antigo Testamento Interpretado, que fornece uma exposição versículo a versículo sobre todos os capítulos e versículos que nos falam dessa estrutura.

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o Templo de Salomio - Reconstrução por Stevens - Cortesia. Zondervan. Pub. House

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Equipamento do templo de Salomão

TEMPLO DE JERUSALÉM IV. O Segundo Templo Esse templo é chamado de segundo por ter sido o que substituiu o de Salomão, que havia sido destruído. E também chamado de Templo de ZorobabeI. Quando os judeus retornaram do Cativeiro Babilônico, encontraram uma cidade arruinada e não muito mais do que a fundação do templo de Salomão ainda existia. Foi feito um esforço para reconstruir o templo, em termos muito humildes, é claro, pois aquelas poucas pobres pessoas não tinham o dinheiro de Salomão nem os trabalhadores especializados que ele havia importado da Fenícia. O trabalho foi iniciado, como registrado em Esdras 3, mas não foi levado adiante. Como resultado do encorajamento dos profetas Ageu e Zacarias, o trabalho foi reiniciado em 520 a.C. O templo foi finalmente terminado no sexto ano de Dario, o rei persa, isto é, no dia 12 de março de 515 a.c. Ver Esd. 6.15. O resultado foi uma pobre substituição do primeiro templo, mas respeitava o mesmo plano geral (Esd. 6.3), mesmo não tendo as ricas decorações do primeiro. Josefo, fornecendo informações dadas por Hecato, declara que a corte externa tinha aproximadamente 150 m por 45 m e continha um altar de rochas não polidas que media 20 cúbitos por 10 cúbitos de altura (Ag. Ap. 1.198). O Talmude (Yoma, 21 b) fala-nos de cinco omissões tristes, isto é, coisas que o segundo templo não tinha: a arca da aliança, o fogo sagrado, o Skekinah (a Presença de Yahweh, manifestando-se em formas especiais como na teofania); o Espírito Santo, e o Urim e Tumim (ver a respeito).

V. O Templo Ideal de Ezequiel Ezequiel, nos capítulos 40 a 48, descreve em grande detalhe esse templo "ideal". Alguns supõe que esse templo deva tomar-se uma realidade no Milênio, portanto chamamno de Templo do Milênio. Os dispensacionalistas favorecem essa idéia, mas a maioria dos intérpretes supõe que Ezequiel apresenta um templo ideal, do qual podemos extrair lições morais e espirituais sem tentar construir uma estrutura flsica de fato. Aqueles que retomaram do Cativeiro Babilônico e construíram o Segundo Templo, não utilizaram o plano de Ezequiel. Em primeiro lugar, eles não tinham dinheiro, materiais nem conhecimento para uma realização tão gigantesca. O templo ideal foi dado a Ezequiel em uma visão, e talvez seja melhor considerá-lo um auxílio visionário à fé e não um plano arquitetônico que deveria ser seguido "algum dia". De modo geral, o plano segue o de Salomão, mas há diferenças significativas. Alguns de seus arranjos foram incorporados no plano do templo de Herodes.

VI. O Templo de Herodes Informações sobre esse templo derivam principalmente dos escritos de Josefo. Há algumas informações no Talmude. A arqueologia adiciona um pouco mais, porém não temos descrições detalhadas, como acontece no caso do templo de Salomão. Rigorosamente falando, o templo de Herodes foi o Terceiro Templo, tendo essencialmente substituído o segundo sem derrubá-lo (obviamente). Um templo de Deus não poderia ser derrubado, mas poderia ser substituído, se tal substituição fosse feita por meio de adição ou alteração. Herodes, o Grande, tinha um ego enorme e não havia como deixar o Segundo Templo humilde como era. De fato, ele ultrapassou a glória até mesmo do Templo de Salomão. O trabalho começou no 18" ano do reino de Herodes (em tomo de 20 ou 21 a.C.). Levou apenas cerca de um ano e meio para terminar o próprio templo, mas para terminar as cortes foram necessários outros oito anos. Prédios subsidiários foram

então adicionados e o trabalho estendeu-se pelos reinos dos sucessores de Herodes. A tarefa toda foi completada na época de Agripa 11, quando Albino era o procurador (64 d.C.), totalizando 46 anos de trabalho. Josefo contanos que as cortes do templo de Herodes ocupava 500 cúbitos. A área do templo era construída em terraços, uma corte sobre a outra, com o templo localizado no nível superior. Isso deixava o templo facilmente visível de Jerusalém e suas redondezas. A aparência era, assim, bastante impressionante, como podemos inferir também em Mar. 13.2, 3. Esse templo ocupava mais espaço do que os outros, assim era necessário fazer mais plataformas para a fundação. Para realizar isso, o Vale de Cedrom teve de ser parcialmente aterrado, o que também ocorreu em parte com o vale central (chamado de Tiropaeon). O monte do templo foi estendido, assim, a uma largura de 280 m. Enormes rochas foram empregadas para fazer os muros do leste e do oeste, muitas delas com 1,5 m de altura e de I a 3 m de comprimento. Uma delas media 12 m por 4 m! No canto sudeste foi construído um muro gigante que subiu 48 m acima do Vale de Cedrom. Um pórtico ou varanda foi construído ao redor de todos os quatro lados. Ele tinha colunas de mármore de 25 cúbitos de altura. O pórtico real, na extremidade sul, possuía quatro fileiras de colunas. Josefo (Ant. 20.9.221) contanos que o pórtico ao longo do lado leste foi construido por Salomão. Cf. João 10.23 e Atos 3.11 e 5.12. O próprio templo era cercado por um muro de 3 cúbitos de altura que separava o local sagrado da corte dos gentios. Era nesse muro que havia advertências que proibiam a entrada dos gentios em qualquer área além de sua corte, tendo como penalidade a morte. A corte dos gentios ficava, por assim dizer, na extremidade do templo; depois havia a corte das mulheres e então a corte de Israel (aberta a homens judeus apenas), a corte dos sacerdotes e finalmente o naos, o próprio templo com o lugar sagrado e com o santo dos santos. Esse naos ficava em uma plataforma ainda mais alta. Apenas os sacerdotes podiam entrar no local sagrado e no santo dos santos e, ainda assim apenas no Dia da Expiação. Oito portões levavam ao monte do templo (Josefo, Ant. 15.11.38). O Misna estabelece o número de portões em cinco (Mid. 1.3) O magnífico templo de Herodes foi destruído em 70 d.C. como resultado da contínua agressão aosjudeus por Roma, tendo por principal objetivo a independência. Tito comissionou Josefo para convencer os judeus a render-se para que o templo fosse preservado, mas ninguém deu ouvidos. Ampla agressão e massacre daí resultaram e tudo dentro do templo e ao redor dele que pudesse ser queimado, o foi. Curiosamente, isso ocorreu no décimo dia do 15" mês (AB), o mesmo dia no qual O rei da Babilônia destruiu o templo de Salomão. Jesus, o Cristo, havia sido crucificado, e a glória do Senhor havia partido de Jerusalém e de seu templo. Ajustiça foi feita em 70 d.C. O sistema sacrificial nunca foi reativado, sendo que o Grande Sacrificio, o Cordeiro do Senhor, havia cumprido Sua missão de sofrimento e trazido o perdão para os pecados do povo.

VII. Significados e Propósitos dos Templos I. Uma das principais lições dos templos judeus foi essas estruturas tinham O propósito de ser os locais dos cultos de Yahweh e onde sua Presença poderia ser revelada. De fato, os templos incluíam em sua própria estrutura o acesso ilimitado. Em Jesus, o Cristo, os limites foram removidos, e o homem tomou-se o templo de Deus (I Cor. 3.16). O mesmo é dito sobre a igreja (Efé. 2.20). Ver Acesso e Templo (Airios), artigos que ilustram esse primeiro ponto.

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TEMPLO DE JERUSALÉM - TEMPLOS 2. Louvor era a palavra-chave para todos os templos, judeus ou pagãos, embora algumas formas de louvor fossem idólatras e até imorais. 3. Sacrificio era outro fator comum dos antigos templos, que demonstraram a consciência dos homens de que precisavam fazer algo com relação aos seus pecados para satisfazer ou apaziguar seus deuses ou Deus. Ver o artigo Expiação. 4. Liderança espiritual. Certas pessoas levam sua fé religiosa mais seriamente e tomam-se os líderes do povo, sacerdotes dos templos. 5. Santuários. Alguns locais são mais significatívos do que outros como locais de louvor e busca espiritual. 6. A necessidade de louvor corporativo é claramente retratada pelo templo. Algumas pessoas ainda chamam suas igrejas de templos. A fé religiosa progride melhor quando há um esforço grupal na espiritualidade. 7. Os templos hebraicos demonstraram que o louvor deveria ficar livre de idolatria por causa de um conceito mais alto de Deus que estava sendo desenvolvido. Algo do mistério e da transcendência de Deus transformaram seus templos em locais distintos em contraste com os templos pagãos. 8. Os templos hebraicos (o naos, santuários internos, local sagrado e santo dos santos) não tinham fonte de luz externa. A luz vinha de lamparinas por dentro. O conceito de iluminação e da luz que vem de Deus em si era enfatizado. Ver o artigo Luz, a Metáfora da. 9. Misticismo. É possivel para os homens terem contato direto com o divino. Esse contato ilumina e espiritualiza o povo que o alcança. Há mais na vida do que o mundo físico, mundano, que nos aflige. Ver sobre Misticismo nesta Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 10. Teísmo. O Criador não abandonou Sua criação, mas continua presente nela. Deus emana, não apenas transcende. O Poder Divino interfere na vida humana, seja individual seja corporativa, recompensando os bons, punindo os maus, orientando e liderando, fazendo uma diferença. Contraste essa idéia com o deismo, que ensina que o Poder Criativo (pessoal ou impessoal) abandonou Sua criação, deixando à lei natural o governo das coisas. O teísmo bíblico vê Deus como uma Pessoa, não meramente como um grande poder. A observação ilustra o poder e a inteligência dessa Pessoa. Ver os artigos Teísmo e Deísmo na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 11. A confirmação dos pactos era um conceito importante que os templos enfatizaram e ilustraram. Yahweh era o Deus dos Pactos (ver o artigo com esse nome). 12. Os templos são forças unificadoras que ligam as pessoas que os utilizam, o que é bom para a comunidade espiritual. As pessoas compartilham de uma identidade espiritual comum. 13. Os templos são um auxílio para limitar facções e heresias. Um dos principais propósitos do templo em Jerusalém foi o de unificar o yahwismo, possivelmente ao anular os muitos oráculos que existiam na região. Esse propósito nunca foi realizado por completo. Os antígos oráculos persistiram apesar dos esforços unificadores. 14. A glória Shekinah recebeu a oportunidade de transformar a vida dos homens, pois era possível para tal glória manifestar-se no local mais santo e ser um fator iluminador. Ver o artigo Shekinah, 15. A necessidade de salvação e um meio para conseguir isso eram motivos importantes para a existência dos templos. A expiação era a doutrina central do templosalvação. 16. Embora a Deidade tivesse um lugar especial para

fazer contato com os homens, e embora houvesse um valor prático no louvor corporativo, não devemos pensar que os templos antigos limitavam o contato com o divino a apenas um lugar. Um templo era um local conveniente e abençoado de contato do divino com o homem, mas não um local exclusivo. A iminência não anulava a transcendência, nem a possibilidade de que a Presença pudesse ter muitos encontros com o homem fora de um local específico. O Novo Testamento, claro, traz tal contato com a alma humana, pois um homem toma-se o templo do espírito (I Cor. 3.16). Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei!(I Reis 8.27) 17. Milagres e fortalecimento da fé. As pessoas entram em situações nas quais apenas milagres podem solucionar seus problemas ou ocasionar as coisas necessárias para a continuação de sua vida e trabalho. Elas vão a santuários e locais sagrados para buscar tais eventos transformadores, e alguns desses locais tomam-se centros de intervenções incomuns e miraculosas. Eles fortalecem a fé das pessoas e confirmam o valor da atividade espiritual. Ver o artigo sobre Milagres.

TEMPLO, Símbolo de Graus de Acesso Espiritual 1.O antigo templo de Jerusalém era, por si mesmo, uma ilustração dos vários graus de acesso a Deus. Havia o átrio dos gentios, o átrio das mulheres, o átrio dos homens, o santuário dos sacerdotes e o Santo dos Santos, onde somente o sumo sacerdote podia entrar, e mesmo assim, somente uma vez a cada ano. 2. O autor da epístola aos Hebreus acreditava que aquele antigo templo refletia certa realidade celestial, a saber, o acesso ao Pai, nos próprios céus. As divisões do templo são paralelas às muitas moradas. (ver João 14:2), referidas pelo Senhor Jesus. A casa do Pai tem muitas salas. (tradução inglesa RSV, aqui vertida para o português). Esse conceito é similar aos lugares celestiais do vocabulário paulino. Na verdade, no "céu" há muitos céus e estes representam variegados degraus de glória. Jesus foi capaz de penetrar no mais elevado Céu, assentando-se à direita de Deus. Dessa maneira é que ele preparou o caminho para todos os crentes conquistarem a mais elevada glória. 3. Entretanto, estar salvo significa penetrar nos céus, embora não atingir a mais elevada glória de imediato. Isso terá de esperar por uma conquista eterna, embora seja um alvo adredemente garantido, porquanto, nosso Sumo Sacerdote espera por nós, dentro do Santo dos Santos. O que aqui expressamos é equivalente a graus de glória.. Sem embargo, o estado dos remidos jamais sofrerá estagnação. Haveremos de passar de um estágio de glória para outro, para todo o sempre (ver 11 Cor. 3: 18). E posto que haverá uma infinitude com que seremos cheios, também deverá haver um enchimento infinito. TEMPLOS I. Caracterização Geral 11. Terminologia Ill, Tipos de Santuários IV. Templos de Várias Culturas V. Significados e Propósitos dos Templos I. Caracterização Geral Ver o artigo separado sobre o Templo de Jerusalém, que traz consideráveis informações paralelas ao assunto deste artigo. A idéia de criar templos não foi inventada pelo povo

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TEMPLOS hebreu e, de fato, havia outros tabernáculos portáteis criados por povos que não da cultura hebraica. Vero artigo detalhado sobre o Tabernáculo, uma construção anterior à do templo de Salomão. Os hebreus sem dúvida injetaram na idéia do templo alguns aspectos diferentes e importantes. Em primeiro lugar, pode existir um templo que não promova a idolatria; ele pode existir sem promover o politeísmo; pode ser um local moralmente decente que não promova ritual sensual, que rejeite por completo coisas como a prostituição sagrada, parte integrante de culturas que louvavam a deuses e deusas de fertilidade. Em outras palavras, os templos hebreus estavam envolvidos na promoção de um conceito mais elevado de espiritualidade do que encontramos em outras culturas, embora haja muitos paralelos entre seus templos e os templos dos pagãos. Templo é um termo empregado para falar de qualquer lugar ou edificio dedicado ao louvor a uma deidade. A arqueologia demonstrou que mesmo cavernas, em épocas muito antigas, eram usadas como sítios sagrados, essas cavernas foram encontradas em locais separados un,s dos outros por grandes distâncias, como Malta, Egito e India. Começando como estruturas simples com rituais simples, foram desenvolvidos e transformados em estruturas elaboradas e decoradas contando com cultos complexos. Templos elaborados requeriam o trabalho de homens habilidosos em vários oficios, como os que trabalhavam com metais, tecelões e tinturas, escultura, pintura e construção. Alguns templos eram representações materiais peritas da melhor arte que os trabalhadores conseguiam produzir e muitos eram grandes realizações arquitetônicas. Os templos diferiam de cultura para cultura, cada qual expressando algo do gênio de seu povo. Considere as diferenças entre os grandes templos de Camaque, do Egito, o Panteão da Grécia, o templo de Jerusalém e as catedrais da Europa medieval, os santuários complexos dos hindus e os imponentes templos budistas. Comum a todos é (era) o desejo de aproximação com o Divino, o louvor, a busca de um caminho superior, o enriquecimento da vida material e a afirmação de que há algo além deste tipo de vida. Enquanto os templos eram (são) tipos de declarações teológicas, isto é, promoviam (promovem) linhas específicas de crença e prática, também exemplificavam (exemplificam) a crença do homem no mistério e no misticismo, qualidades inefáveis da espiritualidade. 11. Terminologia Para isso, ver o artigo sobre Templo de Jerusalém, seção I, Nome e Terminologia. 111. Tipos de Santuários Nem todos os santuários podem ser chamados de templos, mas o santuário muitas vezes antecedeu a um templo formalizado. 1. Santuários Naturais. Lugares sagrados onde algum tipo de acontecimento incomum ocorreu; grutas, cavernas, picos de montanhas etc. onde os profetas encontravam comunhão com o divino e onde pessoas comuns esperavam obter um pouco dos segredos dos profetas. Os cananitas consideravam os montes, tipos específicos de rochas, árvores e cavernas como locais onde os deuses ou espíritos se manifestavam e onde tais coisas poderiam ser repetidas. Os hebreus tinham santuários ao ar livre como os de Betel, na, Gilgal e Berseba. 2. Santuários Domésticos. A imagem de um deus era colocada em um manto ou em uma sala especial dedicada ao divino e o lar transformava-se em um santuário. O terafim de Labão era imagem desse tipo (Gên. 31.19). Essa prática era comum em tempos antigos e continua hoje, mesmo em segmentos do cristianismo atual.

3. Santuários Comemorativos. Em certos locais, ocorriam eventos especiais que lembravam aos homens que eles não estavam sós, que havia poderes que não eram vistos e podiam intervir nas atividades humanas e de fato o faziam. Uma gruta, um monte, uma rocha, uma tumba etc. tomavam-se santuários e alguns deles acabavam sendo transformados em templos. Considere o santuário de Betel, onde Jacó viu a escada e os anjos subindo e descendo, e originando-se da glória de Yahweh no local. 4. Forças de Santuários da Natureza. A mãe terra pode ser procurada em uma caverna ou em um monte. Havia em Creta cavernas dedicadas a Zeus; os minoanos louvavam em grutas subterrâneas escuras. Câmaras subterrâneas eram sagradas para alguns. Supunha-se que o totem da cobra curava. Os kivas, câmaras cerimoniais, alguns dos quais construídos embaixo da terra, eram parte importante do louvor dos índios americanos no sudoeste daquilo que hoje faz parte dos EUA. Fontes de água eram locais naturais para os homens buscarem o divino, como eram os picos das montanhas. 5. Santuários Portáteis. O mais conspícuo desses foi o tabernáculo hebreu que foi transportado durante 40 anos de vagueações no deserto, mas a arqueologia mostrou que havia santuários portáteis desse tipo entre nômades árabes e no Egito, objetos sagrados relacionados a rituais fúnebres. Uma antiga tradição semita era a de levar à batalha a tenda, santuários e objetos sagrados que supostamente ofereceriam proteção e sucesso em batalha. A arca da aliança dos hebreus era empregada dessa forma (Núm. 10.33; Deu. 1.33). Quando os santuários eram honrados pela construção de prédios especiais para a realização de cultos de uma deidade, o santuário transformava-se em um templo. IV. Templos de Várias Culturas I. Hebraicos e Judeus. Ver o artigo detalhado sobre Templo de Jerusalém, onde são descritos os três templos daquela cultura: o templo de Salomão, o templo de Zorobabel (o Segundo Templo) e o templo de Herodes, o Grande. 2. No Egito haviam templos monumentais e estatais, grandes estruturas que promoviam a religião do estado, como o de Carnaque, que honrava o deus sol, AmonRe. Havia outros nos montes em Mênfis, Tabas, Heliópolis, Hermópolis e Filae. Presumivelmente, os deuses davam atenção especial àqueles montes e ali podiam ser contatados. Era natural que os templos fossem erigidos para facilitar o contato. Um conceito comum era o "Deus no céu" que colocava o descanso de seus pés na terra. Os templos muitas vezes eram posicionais em locais próximos aos lugares dos reis, que eram considerados filhos dos deuses ou mediadores apropriados com eles, ou ambos, 3. Templos de Fronteiras. Pensava-se, em diversas culturas do Oriente Próximo, que a construção de templos nas fronteiras forneceria proteção à terra contra os inimigos, que estavam sempre à espreita "lá fora". Talvez os santuários de Jeroboão em Betel e Dã tivessem esse propósito (entre outros). O mesmo é verdade, presumivelmente, dos santuários em Laquis e Afeque, locais de resistência dos cananeus. 4. Templos Funerários. A morte, esse grande inimigo, é invocada por um santuário ou templo sagrado construído em áreas de enterro. Vários templos funerários foram descobertos no Egito. O povo tinha interesse em vencer o medo da morte ao fazer dela o centro de cultos religiosos e injetar "a vida além do túmulo" na questão

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TEMPLOS através de rituais especiais. As pirâmides da terceira, quarta, quinta e sexta dinastias egípcias exigiram dois templos funerários cada. No início pequenos santuários e capelas eram construídas perto dos locais de enterro e pirâmides. Seria natural que a capela, a longo prazo, se transformasse em um templo. 5. Templos Mesopotâmicos. Eram as "casas dos deuses", cada qual de modo geral especializada em alguma divindade particular. O deus vivia e trabalhava no templo e era o supervisor de todas as atividades. De modo geral, os prédios eram retângulos longos, padronizados de acordo com os mais primitivos da época de Uruque e AI Ubaide. Uma porta levava ao retângulo, mas, em épocas posteriores, a porta ficava ao lado. Uma lareira era colocada no centro do retângulo para aquecimento em épocas frias. Havia então um altar posicionado em um local de comando. Em geral, podemos dizer que tais templos pareciam as áreas de convívio de um lar primitivo, mas sua dedicação ao deus transformavam tais "habitações" em templos. Salas subsidiárias eram construídas junto às paredes, provavelmente para armazenamento. O material principal de construção eram rochas não polidas nativas da região. O Zigurate (ver a respeito) era um tipo de torre de templo erigido em estágios ou camadas. No topo era construído um santuário ou templo em honra ao mesmo deus. Em outras palavras, Zigurates eram montanhas artificiais. A arqueologia descobriu diversos desses em Ur, Asur e Chaga. Talvez a torre de Babel tenha sido uma construção desse tipo. Templos mesopotâmicos posteriores adicionavam um pátio e um prédio secundário ou salas junto às paredes e muros. 6. Templos Gregos (do grego Ternno, "cortar"). Esses locais originalmente nada mais eram do que uma área demarcada onde um sacerdote fazia sacrifícios ao seu deus, praticava sua divinação e, de modo geral, realizava os negócios do deus. Santuários eram construídos em tais locais sagrados, ao ar livre, então, finalmente, vieram prédios que poderiam de fato ser chamados de "templos". Quando prédios eram construídos para propósitos sagrados, a estrutura era um naos, um local para o deus morar ou manifestar-se. Uma única sala era o projeto mais antigo, que depois se dividia em corredores por fileiras de colunas de cada lado. Depois eram adicionadas colunas na frente ou atrás, ou em ambos os lados, e ainda mais para frente, em épocas sofisticadas, ao redor do naos. O próprio templo era construído em uma plataforma (pódio), que tinha escadarias pelas quais se atingia o templo. A maioria dos templos gregos ficava direcionada para o leste, onde nasce o sol para dar vida à terra. Dois tipos principais foram desenvolvidos simultaneamente: o dórico, com colunas maciças, simples, sem adornos. O estilo jônico era mais leve, caracterizado pela restrição artística e de bom gosto. A Acrópolis de Atenas combinava os dois estilos. O estilo coríntio era um terceiro tipo, de fato um embelezamento adicional do jônico. O exemplo melhor conhecido desse tipo foi o templo colossal do Zeus de Olímpia em Atenas, completado em 135 d.C. 7. Templos Romanos. Os mais antigos templos romanos imitavam os dos etruscos, tendo um naos dividido em três seções, honrando a triade sagrada, Júpiter, Minerva e Runo. Eles tinham um pódio ou uma plataforma onde o prédio descansava. Os templos romanos possuíam entradas (de modo geral) apenas por um lado, enquanto os templos gregos poderiam ser acessados por todos os quatro lados. Templos romanos posteriores copiaram as idéias das colunas gregas, isto é, o prédio de uma fileira de colunas. Um modelo posterior apresentava uma forma circular, como

o templo de Vesta em Tivoli. Alguns dos templos eram um tanto pequenos, mas uma exceção foi o panteão maciço que Adriano construiu em Roma em 80 d.e. Templos gregos e romanos não eram lugares de assembléia pública para louvor. As pessoas vinham e iam, servindo ao deus, mas multidões não se juntavam. As primeiras igrejas cristãs não copiaram a disposição geral dos templos, mas imitaram a das basílicas de Roma ou da sinagoga dos judeus. A basílica era um corredor público alongado, a princípio utilizado para o comércio ou para assembléias. A Igreja Católica Romana chama de basílicas certas igrejas que são honradas por motivos especialmente piedosos. 8. O templo também era uma instituição constante das culturas do Oriente Distante, como na China, na Índia e no Japão. "O Oriente Distante era adornado profusamente com templos" (Fem). Os templos dessa parte do mundo estão entre as maiores das realizações arquitetônicas. A "maravilha" da arquitetura Oriental é o Templo do Céu, da China. Ele tem nove grandes altares, como o altar da terra, da lua, do céu etc. O "do céu" é um local fechado de 737 acres cercado por uma grande parede vermelha com mais de 5 km de extensão. Dentro do local fechado há muitas áreas de florestas de árvores coníferas, largas avenidas, portões majestosos, um enorme altar, altares menores, o próprio templo, uma casa de tesouro, um corredor de festividades, salas de armazenagem, torres de sinos, poços etc. Grandioso é a palavra correta para este complexo de construção. O altar é uma série erguida de plataformas em três terraços de mármore. Não há imagens dentro do próprio templo, mas há um altar no centro com uma representação de dragão. O local foi construído em 1420 d.C. e depois ampliado e embelezado em 1752. A República Chinesa (quando chegou o comunismo) empregou a estrutura para escolas, hospitais e como estação agrícola e de experimentação. 9. Os templos de Confúcio foram liderados por oficiais do governo considerados intermediários de deuses. A estrutura principal desse tipo de templo é a encontrada na província de Chufu, em Shantung, construída em 442 d.C. O templo foi construído para honrar Sage, isto é, Confúcio, o mestre espiritual. Fora do complexo principal, há casas e templos familiares que dão homa aos descendentes diretos do Mestre. Há um poço ali, ainda preservado, de onde essas pessoas tiravam sua água Cercade 3 km ao norte dali fica uma pequena área florestada na qual se situa o túmulo de Confúcio, O Japão e a Coréia também têm templos de Confúcio. 10. Templos budistas são numerosos na China, no Japão e na Coréia. Eles têm o que é chamado de "estilo palaciano". Templos budistas de modo geral consistem em um complexo de prédios, templos, corredores ancestrais etc., todos virados para o sul. Os prédios agrupam-se ao redor de pátios sagrados, muitas vezes pavimentados e decorados com representações de lótus e outros desenhos artísticos. De modo geral há Corredores de Meditação, de Sabedoria, do Patriarca, além de monastérios que também formam a cena. A maioria dos templos têm jardins artísticos que decoram as áreas circundantes. Todos possuem uma torre de sino e um pagode, montes para guardar o stupa, isto é, os restos do humano morto. Além dos ossos e cinzas, esses locais abrigam escrituras e relíquias sagradas. v. Significados e Propósitos dos Templos Forneço informações detalhadas sobre isso, listando 17 itens, na seção VII do artigo sobre Templo de Jerusalém, acrma.

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TEMPO - TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO TEMPO Ver sobre Tempo e Espaço, Filosofa do. Quanto às divisões bíblicas do tempo, ver o artigo intitulado Tempo, Divisões Bíblicas do Tempo. TEMPO, DIVISÕES BIBLICAS DO A palavra portuguesa tempo vem do latim, tempus, derivado do termo grego temno, "decepar", "cortar fora". A idéia é que o tempo é algo dividido em partes, como porção de alguma duração maior de tempo. Esboço: l. Terminologia lI. Divisões Específicas do Tempo m. Gráfico das Divisões e dos Nomes IV.Conceitos Bíblicos do Tempo I. Terminologia No hebraico: I. Yom, "dia". Ou um dia natural, de 24 horas, ou algum tempo específico, com acontecimentos especiais, como "o dia do Senhor", o qualjá indica um uso metafórico. Corresponde aemera, no grego (ver abaixo). E muito comum. 2. Zeman, "tempo determinado". VerEcl. 11; ver também Dan. 2: 16, quanto à idéia de -período determinado.. 3. Mahar, "tempo vindouro" ou "amanhã", Ver Êxo. 13:14; Jos. 4:6,21. 4. Eth, "tempo geral", "tempo da tarde" (los. 8:29), "tempo cumprido" (lá 39:1,2), "à hora do sacrificio", em Dan. 9:21. Pode estar em foco qualquer "período" específico (Eze. 16:8). 5. Paam, "um tempo", ou, mais literalmente, "um golpe". Ver Sal. 119:126; Gên. 18:32; Êxo. 9:27; Pro. 7:12. Algumas vezes é traduzido como "agora". 6. Olam, "tempo oculto", tempo obscuro quanto à duração, cujo começo e fim estão na dúvida, ocultos do conhecimento humano. Ver Jos. 24:2; Deu. 32:7; Pro. 8:23. 7. No aramaico, iddan, "tempo estabelecido". Ver Dan. 4: 16,23,25,32. No plural, iddanim, essa palavra pode significar "anos", segundo parece ser o seu sentido nos versículos mencionados. Ver também Dan. 7:25; 12:7. Mas em Dan. 4:29 parece estar em pauta a idéia de "duração de tempo", e não exatamente de um ano. Keil comenta sobre aquele versículo onde o vocábulo em pauta é usado de maneira flexível. 8. Moed, "tempo fixado". Ver Êxo. 34:18; I Sam. 9:24; Dan.I2:7. 9. Monim, "tempos", "números". Ver Gên. 31:7, 41. 10. Regel, "tempos", "pés". Ver Êxo. 23:14; Núm. 22:27,32,33. 11. Mtsp ar-hay-yamtm, "número de dias". Ver I Sam. 27:7; II Sam. 2: 11.

No grego: 1. Eméra, "dia". Palavra extremamente comum no Novo Testamento, começando por Mat. 2: 1 e terminando em Apo. 21:25. 2. Geneá, "geração". Ver Atos 14:16; 15:21. 3. Kairôs, "período fixo". Outra palavra grega muito usada, começando em Mat. 8:29 e terminando em Apo. 22:10. 4. Chrónos, "tempo". Palavra usada por trinta e três vezes no Novo Testamento, desde Mal. 2:7 até Apo. 10:6. 5. Nun, "agora". Ver Mat. 24:21; Mar. 13:19; I Cor. 16:12. 6. Ora, "hora". VerMat. 14:15; 18:1; Mar. 6:35; Luc. LIO; 14:17; João 16:2,4,25; I João 2:18; Apo. 14:15. 7. Poté, "outra vez". I Cor. 9:7; I Tes. 2:5; Heb. 1:5,13; 11. 8. Prothesnita, "tempo designado de antemão", Gál. 4:2.

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9. Pópote, "qualquer tempo". Ver João I: 18; 5: 37; I João 4:12. 10. Apalai, "tempo antigo". Ver II Ped. 2:1 11. Etikairos, "tempo oportuno", Heb. 4: 16. lI. Divisões Especificas do Tempo I. Shanah, "ano". A idéia básica da palavra é "revolução", ou seja, algo que se repete, uma unidade onde há uma mudança das estações. Para os hebreus, nos tempos pré-exílicos, o ano era lunar, e consistia em 354 dias, oito horas e 38 segundos, havendo doze meses lunares. Naturalmente, os antigos hebreus não sabiam da duração exata do ano lunar, conforme acabamos de mostrar. Como esse ano lunar tem cerca de seis dias a menos que o ano solar, os hebreus precisavam acrescentar, ocasionalmente, um mês, a fim de preservar a regularidade das festas da colheita e da vindima. Esse acréscimo mantinha o mês lunar mais ou menos igual ao mês solar. Todavia, não se sabe qual método era usado pelos hebreus para fazerem esse acréscimo, nos dias antigos. Entre os judeus posteriores, depois do mês de Adar, havia o Vê-Adar, ou segundo Adar, como adição. O Sinédrio decretava essa adição, quando isso era sentido como necessário. Mas nunca se fazia qualquer acréscimo a um ano sabático. O mês de Abibe, ou Nisã (março-abril) dava início ao ano, entre os hebreus (Est. 17). O ano civil, porém, começava com o mês de Tisri (outubro). Tenho fornecido detalhes sobre os meses e anos no artigo Calendário Judaico (Bíblico),'juntamente com as festividades e os dias de celebração nacional, constantes nesse calendário. 2. Hodesh, "mês". Literalmente, -lua nova.. Os hebreus tinham um mês lunar de cerca de 29-1/2 dias. A regra geral aplicada era que em um ano não podia ocorrer menos do que quatro meses completos e nem mais do que oito meses completos. Para fazer os meses lunares corresponderem ao ano solar, ocasionalmente era adicionado um mês extra, conforme dissemos acima. Antes do exílio, ocasionalmente os meses são numerados, e não chamados por nomes (ver II Reis 25:27; Jer. 52:31; Eze. 29: 1), embora também pudessem ser chamados por nomes diversos, como: mês de abibe (Êxo. 13:4; 23:15). mês de zive (l Reis 6:1,37), mês de bul (I Reis 6:38) nomes esses que dizem respeito a atividades agrícolas. Após o exílio, foram dados nomes específicos aos meses, conforme mostro no artigo sobre o Calendário Judaico, mormente em seu terceiro ponto. 3. Shabua, "semana", no grego, sabbaton, "descanso". O intervalo entre os sábados, ou dias de descanso. O texto de Gên. 2; 2,3 já menciona a semana. Ver também 7:4; 8: 10,12. Instituições de semanas tomaram- se importantes J2ara a sociedade dos hebreus. Ver Núm. 19:11; 28:17; Exo. 13:6,7; 34:18; Lev. 14:38; Deu. 16:8,13. Após o exílio, semanas específicas receberam designações especificas. Ver Miq. 16:2,9; Luc. 24:1; Atos 20:7. A derivação astronômicada semana repousa sobre o fato de que a lua muda, aproximadamente, a cada sete dias (na verdade são 7-118 dias), de tal modo que o mês lunar consiste em quatro semanas, ou quatro quartos. Os nomes dos dias da semana derivaram-se, em vários idiomas, de diversas origens. Os planetas deram aos dias os seus nomes, dentro da cultura egípcia; dai, o costume passou para a cultura romana, e dai, para muitas outras. 4. Yom, "dia". Literalmente, "quente", no grego, emera, "período de tempo". Em ambos esses idiomas, está em pauta o dia natural, assinalado por luz e trevas; ou, metaforicamente, um período de tempo que tem propósitos ou características específicas. A palavra hebraica ocorre pela primeira vez em Gên. 1:5. "Dia" é a mais antiga

TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO designação de tempo, e também a mais comum. Os antigos marcavam o dia ou do pôr-da-sol ao pôr-da-sol, ou da alvorada à alvorada. Ver Lev. 23 :32; Êxo. 12: 18 quanto à primeira maneira. Os fenícios, os númidas e várias outras nações antigas também usavam esse método; mas as nações modernas preferem seguir o método romano. Quanto a usos figurados da palavra "dia", ver Gên. 2:4; Isa. 22:5; Joel 2:2. E esta enciclopédia apresenta vários artigos sob o título Dia. Ver também Calendário Judaico, em seu primeiro ponto. Vários artigos foram escritos sobre diferentes calendários. 5. Shaah, "hora". Literalmente, "olhar". No grego, ora, "período específico". A palavra é usada de várias maneiras, mas, principalmente, indicando uma vigésima quarta parte de cada dia completo (noite e dia). Lemos acerca das "horas", pela primeira vez na Bíblia, já ao tempo do cativeiro babilônico ver Dan. 3:6; 5:5); e parece que os babilônios foram um dos primeiros povos a dividir o dia em horas. Deles os gregos derivaram a idéia (ver, Heródoto 2.109). No Novo Testamento, encontramos as "vigílias", cada uma das quais consistia em várias horas fixas: três ou quatro. Ver o artigo detalhado, sobre Hora. Esse termo era e contin ua sendo usado em sentido metafórico, conforme é ilustrado pelo artigo acima referido. Ver também sobre Vigília. IV. Conceitos Bíblicos do Tempo Apesar da Bíblia não conter qualquer filosofia formal do tempo e do espaço, há conceitos relativos aos mesmos que se revestem de importância filosófica. Ver o artigo Tempo e Espaço, Filosofia do, que inclui as principais idéias sobre a questão. Ofereço aqui algumas idéias: 1. Somente Deus sempre existiu, sendo ele a força por detrás de toda outra existência. 2. Deus revelou-se ao homem, bem como o seu plano de redenção, por meio da história humana, de forma linear. A criação do homem foi seguida pela queda; o juízo divino

sobreveio ao homem caído. Foi formada uma nação com propósitos remidores; essa nação está destinada a uma elevada glória e posição entre as nações. Dessa nação veio o Messias ou Cristo, o qual tem implicações universais, que envolvem cada indivíduo. Os remidos chegarão a participar de sua natureza. Os não-remidos finalmente serão restaurados, em uma obra secundária do Lagos. A eternidade provê um progresso interminável, aos remidos, no tocante às qualidades divinas que os remidos participarão de sua natureza. Restauração pode encerrar muitas surpresas para os não-remidos. Ver os artigos intitulados Redenção; Salvação e Restauração, que detalham esses conceitos. 3. A Bíblia contém uma filosofia da história na qual Aquele que vive fora do tempo (Deus em seus atos) entra no tempo. O tempo será absorvido pela eternidade, onde não haverá mais tempo. O tempo é real, e não uma ilusão, conforme erroneamente supõem algumas fés orientais. 4. O Ser que vive fora do tempo representa a vida dos mundos não-materiais. A vida temporal representa a vida física. O homem, como ser dual (material e imaterial), é capaz de experimentar tanto o tempo quanto a eternidade. O homem tem um propósito e um destino a cumprir dentro do tempo; mas, a longo prazo também tem um destino, já na eternidade. S. A expressão "séculos dos séculos" refere-se à eternidade. Uma era (no grego, aeon ou aion) dá a entender ciclos futuros, que formarão a eternidade, cada um desses ciclos com seu próprio propósito. Esse assunto permanece essencialmente misterioso para nós. Alguns acreditam que o tempo, conforme o conhecemos, na verdade é circular, constituído por uma série de círculos, e que o tempo linear,: sobre o qual agora falamos, consiste meramente nas séries de eventos que constituem o ciclo presente. Talvez isso esteja certo. É razoável supormos que os tratos de Deus com o mundo têm ocorrido em muitos grandes ciclos do tempo,

111. Gráfico das Divisões e Nomes Os hebreus antigos mareavam o tempo com a ajuda da lua, dos fenômenos naturais e das observâncias religiosas: Hora Modema 18:00 horas 18:20 horas 22:00 horas 24:00 horas 2:00 horas 3:00 horas 4:30 horas 5:40 horas 6:00 horas

9:00 horas 12:00 horas 13:00 horas

Judaico Pôr-do-sol Gên 28: 1; Êxo. 17:12;Jos. 8:29 Estrelas aparecem Fim da primeira vigília Lam. 2:19 Meia-noite Êxo. 11:4; Rute 18; Sal. 119:62; Mal. 25:6; Luc. 1l:5 Fim da segunda vigília JlÚ 7:19 Canto do galo Mar. 13:35; Mar. 26:75 Segundo canto do galo Mal. 26:75; Mar. 14:30 Início do alvorecer Nascer do sol (Fim da terceira vigília) Êxo. 14:24; Núm. 21:11; Deu. 4:41; los. 1:15; I Sam. 11:11

Talmude Crepúsculo (no árabe, ahra) Noitinha, shema ou oração Jumento omeja

o cão ladra Alvorada (no árabe, subah) Três toques de trombeta (no árabe, doher) Sacrifício matinal

Primeira hora da oração Atos 2:15 Meio-dia Gên, 43:16; 1 Reis 18:26;Jó 5:14 Grande Vesperal

15:30 horas 17:40 horas

Pequena Vesperal

18:00 horas

Pôr-da-sol Gên, 15:12; Êxo. 17:12; Luc. 4:40

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Primeira mincha (oração); (no árabe aser) Segunda mincha (oração); (no árabe, aser) Sacrificio da tarde no altar noroeste. Nove toques de trombeta. Seis toques de trombeta na véspera do sábado

TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO - TEMPO E ESPAÇO relacionados a seres e criações acerca dos quais nada sabemos, e que o presente ciclo, dentro do qual vivemos, parecendo ser o único tempo existente, é apenas uma ilusão. Orígenes especulava que os ciclos nunca cessarão, e que um novo ciclo, urna vez iniciado, repetirá a necessidade de redenção, por ter havido outra queda. E talvez isso tenha ocorrido por muitas vezes. Talvez essas especulações envolvam alguma verdade; mas não temos meios de investigá-las, 6. Evidências geológicas e arqueológicas definidamente indicam a existência de uma raça humana pré-adimica, Ver sobre Antediluvianos; Criação e Adão. 7. A Igreja Ocidental (católicos romanos, protestantes e evangélicos) tem uma versão linear de como Deus opera na história e na redenção humanas. O homem foi criado e caiu; Cristo proveu a redenção; o homem precisa encontrar a salvação em um único período de vida terrena, quando é salvo ou condenado, pois a morte fisica determina uma estagnação sem remédio. Já a Igreja Oriental tem uma visão circular da questão. Para ela, a alma humana foi criada em algum passado distante (pois é Preexistente), cujo pontorão podemos demarcar em um círculo. Ademais, a morte física também não assinala um ponto absoluto nesse círculo. A vida pós-túmulo caracteriza-se por uma contínua oportunidade; não podemos assinalar um ponto no círculo em que Deus interromperá essa oportunidade. Todavia, no cristianismo oriental alguns assinalam como marca do fim dessa oportunidade a segunda vinda de Cristo, e não por ocasião da morte biológica. Mas há outros que não tentam assinalar marca alguma, deixando a questão inteiramente nas mãos de Deus, acreditando que ali penetramos em mistérios divinos insondáveis, De acordo com esse ponto de vista circular, não há tal coisa como estagnação, visto que os remidos haverão de progredir para sempre na natureza divina e seus atributos, enquanto que os não-remidos participarão de uma obra secundária do Lagos, cuja atuação não pode ser estagnada. Além disso, as almas humanas diversificar-se-ão em muitas espécies espirituais, nessa evolução espiritual. Os remidos participarão da natureza divina, o que representao mais elevado potencial oferecido aos seres humanos. 8. O Logos, conhecido como Cristo em sua encarnação, está relacionado a todos os períodos de tempo, estando envolvido na criação, corno também em uma missão tridimensional, que inclui todos os lugares, a terra, o céu e o inferno. Nenhum desses três aspectos chegarão jamais ao término; e todos eles continuarão atuantes em favor dos homens. De acordo com esse ponto de vista, fica garantido aos homens, dentro do tempo, que a dimensão {ora do tempo de seus seres será transformada por alguma eficaz operação de Deus. Esse conceito mostra-nos que Deus não se apressa na consecução de seus propósitos. Apesar dos homens limitarem o tempo de que dispõem, essa limitação é falsa e ilusória. A redenção da alma humana eterna requer muito tempo. 9. A visão humana daquilo que Deus está realizando, no tocante ao tempo e à eternidade, sempre será algo fragmentar, geralmente confinada aos ensinos de alguma denominação religiosa específica. Mas a verdade sempre é mais extensa do que a avaliação humana acerca da mesma.

TEMPO E ESPAÇO, FILOSOFIA DO Ver meu artigo sobre o Espaço, que expõe os vários pontos de vista filosóficos sobre a questão. Aqui apenas acrescentamos alguns pormenores, além de algumas

especulações sobre a natureza do tempo. O espaço e o tempo são grandes categorias filosóficas, e têm provido muitos debates. Continuamos ignorando muita coisa acerca desses fatos, mas pelo menos sabemos ser ridículo falar nas cinco horas em ponto no sol. O tempo é algo relativo a lugares e condições, e não urna entidade absoluta. Platão especulou acerca do mundo das Idéias e das Formas, onde não haveria tal coisa corno o tempo, conforme o conhecemos, e onde impera a condição de um eterno agora. Talvez essa idéia tenha servido de trampolim para a teoria da relatividade. Agostinho, em seus estudos sobre o tempo, escreveu a única filosofia original, em latim, sobre a questão tempo. E, mesmo assim, suas idéias estão alicerçadas sobre idéias de Platão. Esboço: I. A Filosofia do Espaço 11. A Filosofia do Tempo Ill, A Filosofia do Tempo e do Espaço I. A Filosofia do Espaço Ver o artigo sobre o Espaço, quanto a isso. 11. Filosofia do Tempo A palavra portuguesa "tempo" vem do latim, tem pus, derivado do termo grego temno, "cortar", "decepar". O tempo é aquilo que divide o dia em frações. E também podemos conceber períodos de tempo os mais diversos, como dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios, eras, etc. Os termos gregos usados especificamente para indicar o tempo são chronos e aion. O primeiro indica o tempo em geral, e o segundo, longos períodos de tempo, como eras. O advérbio aiônios, no grego, significa eterno, sendo usado por várias vezes no Novo Testamento. Idéias dos Filósofos 1. Heráclito. Tudo se acha em estado de fluxo, e o tempo é o meio ambiente desse fluxo. O próprio mundo passa por grandes cicios, chamados "anos", durante os quais sucedem muitas coisas. Finalmente, cada ano chega a seu fim. Começa um novo ano, e também um novo cicio da existência. 2. Outras pensadores têm contemplado grandes cicios mundiais, como os estóicos, que falavam de maneira parecida com Heráclito, O Hinduísmo postula grandes cicios, controlados e utilizados por Deus. Shao Yung (vide) falava sobre ciclos consecutivos de 129.800 anos. 3. Platão definia o tempo como a imagem móvel da eternidade. O tempo, para ele, teria aparecido através da agência do demiurgo (vide), que seria o criador dos mundos materiais, embora não seja isso uma caracteristica do mundo eterno das Idéias ou Formas. O próprio tempo é temporârio, porquanto é apenas uma medida temporária na dimensão fisica, fazendo parte de uma realidade inferior. 4. Aristóteles definia o tempo como a enumeração de movimentos no tocante a eventos anteriores e posteriores. A palavra "agora" subentende tanto um "antes" como um "depois". Aristóteles acreditava que o tempo não teve principio. 5. Plotino asseverava que o tempo é uma energia incansável da alma do mundo, cujo intuito seria imprimir, nas formas materiais, a plenitude infinita do ser. Isso expressa a idéia de Platina de uma maneira poética. 6. Agostinho confessou a sua ignorância quanto à natureza real do tempo. Mas antecipou a teoria da relatividade ao dizer que o tempo está limitado à nossa esfera, e que existem esferas onde não prevalece o tempo, conforme o conhecemos. Ele também dizia que o tempo está presente em nós, sendo medido pela mente e pela alma do homem. 7. Os escolásticos, embora ansiosos por empregarem

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TEMPO E ESPAÇO, FILOSOFIA DO tudo às idéias de Aristóteles, quanto à questão tempo, contradisseram sua idéia da eterna existência do tempo. Eles acreditavam em uma começo do tempo, através da agência divina. O tempo caracterizaria a existência na Terra. Para eles, a eternidade seria a res tota simul, "a totalidade das coisas que existem ao mesmo tempo, em um eterno agora". Entre o tempo e a eternidade, eles postulavam o aevum, ou seja, o estado perene dos corpos celestes e dos anjos. 8. Thomas Hobbes falava sobre a realidade do tempo

o

destituído de eventos? Nossa mente impõe ao mundo empírico as noções de espaço e tempo? Nesse caso, a coisa em si mesma tem algo a ver com tais imposições, exceto de maneira pragmática? O tempo é algo que, realmente, foi fixado, ou será possível participar alguém do passado e do futuro? O espaço recebeu uma dimensão Infinita, dentro da geometria euclidiana, e muitos estudiosos têm-se aterrado a esse conceito de infinitude do espaço. Outros, porém, crêem em um espaço limitado, que pode assumir específicas

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na memória, e o futuro ainda não existe. 9. Spinoza dizia que o tempo, conforme o conhecemos, é uma percepção inadequada ou limitação da realidade, que é eterna. Se pudéssemos perceber a realidade conforme ela de fato é, então perceberíamos aquilo que é eterno, e não aquilo que é meramente temporal. Isso posto, a dimensão temporal, na verdade, é ilusória, por faltar-nos uma correta perspectiva. 10. Newton falava sobre o tempo relativo e o tempo absoluto. O tempo absoluto é de eterna duração. 11. Leibniz ensinava que as mônadas tomam-se realidade dentro do tempo, e que sua ordem são os sucessivos acontecimentos da existência. O tempo faria parte da programação traçada pela Grande Mônada. 12. Emanuel Kant afirmava que o tempo era uma categoria a prior; da mente, algo que a mente impõe sobre o mundo material. Seria algo empiricamente real, e também uma forma transcen-dentalmente ideal da intuição. 13. Willtam James dizia que o ilusório presente contém tanto o passado quanto o futuro. 14. Bergson referia-se ao tempo como uma mudança qualitativa que inevitavelmente envolve alterações - o "irse tomando". A razão empresta a idéia de espaço ao tempo, dividindo-o em unidades; mas a intuição é que melhor apreende a sua verdadeira natureza. 15. Whitehead insistia que o tempo é uma categoria do ir-se tornando, uma aventura que explora novidades; movimento que passa da potencialidade para a concretização, o que produz uma imortalidade objetiva. 16. Einstetn fazia do tempo a quarta dimensão do contínuo espaço-tempo; uma totalidade que se manifesta mediante linhas mundiais, com ocorrências futuras tão fixas quanto as do passado. Ele também falava sobre a relatividade do tempo associada à velocidade; e, à velocidade da luz, o tempo não mais fluiria. 17. F. H Bradley, J.E. McTaggart e outros filósofos têm encontrado motivos para negar a realidade do tempo, dizendo ser o mesmo uma ilusão. 18. As religiões orientais aludem à natureza ilusória do tempo, visto fazer parte da materialidade, que também é ilusória. O tempo seria uma conveniente invenção da mente, embora seja característica do Absoluto, o único dotado de existência real. 19. A fé cristã geralmente fala sobre o tempo como algo relativo à materialidade; e Deus, um Ser eterno, estaria fora do tempo. No mundo material, o tempo é uma seqüência de eventos, dotado de realidade e historicidade, embora de essência secundária. IH. A Filosofia do Tempo e do Espaço Algumas repetições de idéias são, aqui, inevitáveis. As indagações filosóficas que dizem respeito ao tempo e ao espaço, são: Será próprio tratar o tempo e o espaço como realidades, ou são meras imaginações arquitetadas pela mente? Haverá tal coisa como espaço vazio e tempo

mesmo uma linha. Uma outra indagação é aquela sobre a relação entre a teoria da relatividade e a questão do espaço e do tempo. A teologia e a ciência têm especulado sobre as realidades que não têm nem espaço e nem tempo, conforme conhecemos essas duas categorias. Os místicos falam sobre estados mentais que não têm nem espaço e nem tempo, mas que podem usar tais coisas como conveniências artificiais e pragmáticas. Para certas religiões orientais, o tempo e o espaço são artifícios mentais que fazem parte do grande sonho no qual todos estamos envolvidos. A realidade é alguma outra coisa. Newton reputava o espaço e o tempo como coisas reais que contêm extensão ou duração infinita, dentro de uma sucessão de eventos naturais. Se esse processo tivesse começado em um tempo diferente, ou em um lugar diferente, a sucessão de eventos poderia ser diferente. Leibnitz, entretanto, desafiou esse ponto de vista, preferindo pensar que o espaço e o tempo fazem parte da programação interna das mônadas. Na verdade, a realidade compor-se-ia de itens mentais não - extensíveis (não - espaciais), pelo que tanto o espaço como o tempo seriam meras conveniências mentais, e não realidades. Kant fazia do espaço e do tempo um aspecto de seu idealismo subjetivo. A mente já traz em si mesma as categorias do espaço e do tempo, impondo-as sobre o nosso mundo empírico, mas a realidade propriamente dita (a coisa em si mesma) não contém essas categorias. Foi revolucionária a rejeição à idéia geomética euclidiana do espaço como uma caixa infinita. Einstein complicou o mundo da especulação filosófica ao falar em um tempo recurvo e em um tempo que varia no tocante à velocidade. Coisas que antes pareciam ser entidades fixas, subitamente tomaram-se parte de um nebuloso mundo de relatividades. As implicações exatas das teorias de Einstein continuam controvertidas, particularmente quando, dentro da teoria geométrica geral do espaço-tempo, parecem desempenhar o papel de um fato real, com propriedades que podem ser explicadas. Na fé cristã, a questão tempo vê-se complicada por especulações acerca da vontade de Deus e sua ordenação dos eventos. Estudiosos cristãos afirmam que a mente divina contém, simultaneamente, o tempo inteiro, apagando assim as distinções de passado, presente e futuro. O poder do conhecimento prévio pode subentender o determinismo; mas filósofos, como Agostinho, têm divisado maneiras de evitar o determinismo. Para exemplificar, Agostinho disse que Deus prevê que os homens agirão livremente, pondo assim a presciência divina por detrás do livre-arbítrio divino, e não por detrás do determinismo. Se todos os eventos futuros estão, realmente, fixados, então será possível "relembrar o futuro". Poder-nos-íamos imaginar a pairar por sobre uma longa estrada. Assim, poderíamos olhar para a frente e para trás. E então veríamos todas as coisas ao longo dessa estrada, ao mesmo tempo. Ora, se essa estrada simboliza o tempo, então também podemos afirmar que o passado, o presente e o futuro podem ser vistos ou

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TEMPO E ESPAÇO - TENDA conhecidos por um observador postado no lugar certo. O futuro só parece obscuro para. aquele que não dispõe de um correto ponto de observação das coisas. Outro mistério teológico que se relaciona ao tempo é a questão da vontade de Deus concernente a suas obras finais e a oportunidade que os homens têm para ser redimidos e restaurados. Alguns teólogos, especialmente da Igreja Ocidental, estagnam a oportunidade dos homens, tanto dos remidos para progredir sempre na participação na natureza divina(II Ped. P:4), como dos não-remidos numjulgamento pós-túmulo. A Igreja Oriental tem uma visão circular sobre o tempo e a oportunidade. Não há no círculo qualquer lugar onde se possa marcar o fim da oportunidade e dizer: "Aqui Deus parou suas obras em favor dos homens redimidos ou não-redimidos". O Mistério da Vontade de Deus (vide) garante um final que opera através de um plano dinâmico, e este plano continua operando através de eras futuras (Efé. 1:9,10). Alguns especulam que uma vez completo o presente ciclo, tudo vai começar de novo, mas esta idéia está fora da esfera da nossa investigação, e, portanto, continua sendo curiosidade teológica. Espaço, Tempo e a Idade do Universo. No meu artigo sobre Astronomia, tenho demonstrado que a criação é de imensa idade. Até o uso de triângulos, segundo os métodos de simples agrimensura, demonstra que a criação deve ter pelo menos alguns milhões de anos de idade. Mas os telescópios de luz infravermelha mostram que o Universo tem pelo menos 16 bilhões de anos de idade. E perfeitamente possível que este cálculo seja mero início no nosso entendimento da imensa idade da criação. Alguns acham que é errado falar em qualquer início. A criação ~ um processo contínuo, não uma coisa uma vez feita. E claro que o espaço e o tempo estão envolvidos em grandes mistérios. Talvez a criação seja um ato eterno de Deus, como Orígenes especulou. Um dos grandes mistérios é origens. Até agora, não temos descoberto algo que resolva esse mistério em qualquer grau significante.

TEMPORALIDADE DE DEUS Esse é o nome que se dá à idéia de que o tempo é uma experiência inerente, intrínseca e irredutível de Deus. Esse ponto de vista representa uma reação contra a noção de que a mudança (um produto do tempo) não pode ser atribuída a Deus. Os gregos cultivavam a idéia de que qualquer mudança necessariamente envolve decadência e inferioridade, se não mesmo a cessação do ser. Por isso, os teólogos gostam de dizer que Deus vive "fora do tempo", noção essa que sempre fez parte de sua transcendência. Porém, um Deus imanente precisa envolver-se no tempo e nas mudanças. O não-ternporalismo sempre foi aplicado, pelos pensadores, à. natureza do mundo, o que parecia estar em total antagonismo com aquilo que observamos na vida diária. Leibnitz, porém, asseverou que o tempo não pode existir de maneira independente dos eventos, o que o levou a tomar a sério o tempo, quando aplicado à experiência divina. Mas, se a temporalidade de Deus combina mais com explicações finitas de seu ser, mesmo assim é possível imaginarmos um Deus transcendental que vive fora do tempo (conforme se vê nas Idéias ou Formas de Platão), mas cujas manifestações ocorrem dentro do tempo (como nos Particulares de Platão). E ao chegarmos nesse ponto, topamos com a antiga e difícil questão de como podemos falar de modo inteligível acerca de Deus, o mais augusto de todos os assuntos. Não admira, pois, que nos defrontemos com paradoxos e problemas.

TÊMPORAS Essa palavra dá a idéia de ciclos, que é precisamente a noção que há por detrás do vocábulo, conforme se vê em outras línguas, como no inglês. No inglês temos Ember Weeks and Days. "Ember" vem do inglês antigo ymbrene, que significa ciclo. Essa festividade diz respeito a um periodo de três dias, com orações, efetuada quatro vezes por ano, na quarta-feira, na sexta-feira e no sábado, após o primeiro domingo da quaresma, após o Pentecoste, após 14 de setembro e após 13 de dezembro. Esse costume é de origem romana. Esses períodos são costumeiramente aproveitados para ordenação de sacerdotes e têm sido especialmente assinalados no Livro de Oração dos anglicanos, desde 1662. TENAZ, ESPEVITADElRA No hebraico, temos duas palavras, uma das quais é apenas uma variante da outra, a saber, malqqchayim e melqachayim. A primeira ocorre por duas veze~ (Exo. 25:38 e Núm. 4:9); e a segunda por quatro vezes (Exo, 37:23; I Reis 7:29; 11 Crô. 4:21 e Isa 6:6). Um detalhe interessante, referente a essa palavra, em nossa versão portuguesa, é que em 11 Crônicas 4:21 e Isaías 6:6, encontramos a tradução "tenaz", ao passo que em todas as outras quatro ocorrências, aparece a tradução "espevitadeiras". As espevitadeiras eram pequenos instrumentos feitos de ouro, usados para tirar o carvão que se forma no pavio das lâmpadas alimentadas a azeite, como no caso do candeeiro de ouro, usado no tabernáculo, armado no deserto, e no templo de Jerusalém. Essas pontas queimadas eram depositadas em receptáculos que, para aumentar a confusão, em nossa versão portuguesa, também são chamados "espevitadeiras" (embora aí tenhamos uma outra palavra hebraica, mezammeroth; por exemplo, em 11 Reis 12:13; 25:14; Jer. 52:18). Na verdade, os nomes desses pequenos instrumentos e utensilios são de difícil tradução, o que talvez explique a falta de homogeneidade na tradução de vários desses termos hebraicos. Por outra parte, torna-se mais evidente que, em Isaias 6:6, na visão desse profeta ali relatada, um serafim tirou do altar uma brasa acesa, com uma "tenaz". E bem possível, pois, que as espevitadeiras tivessem o formato de uma pequena tenaz. TENDA 1. Termos. A palavra hebraica que significa tenda é obel, que ocorre cerca de 150 vezes no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 4.20; 9.21, 27; 12.8; 35.1; Êxo. 16.16; 18.7; 26.11-14, 36; Deu. 1.27; I c-e. 4.41. A palavra grega é skene, usada cerca de 20 vezes no Novo Testamento. Exemplos: Mal. 17.4; Mar. 9.5; Luc. 9.33; 16.9; Atos 7.43; Heb. 8.2,5; Apo. 13,6; 15.5; 21.3. 2. Natureza. A tenda é uma habitação portátil, feita de materiais duráveis coma o pêlo de cabra (Cantares 1.5), embora algumas fossem tecidas de outros materiais mais finos. O tecido de pêlo de cabra é (era) ideal, pois pode resistir até mesmo às chuvas mais fortes. A tenda oriental era mantida em pé por postes de tendas chamados amud, de modo geral em número de nove, embora algumas tivessem apenas um. As cordas que mantinham a tenda em pé não passavam pelo material da tenda, mas sim por laços costurados nele. A extremidade das cortas era amarrada em pinos de tenda chamados wed ou aoutad, que eram inseridos no chão. A maioria das tendas era dividida em duas partes, separadas por uma cortina pesada. Os móveis que compunham a tenda eram um carpete, almofadas e uma mesa baixa. Havia também

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TENDA - TENTAÇÃO A província nativa da Cilícia tomou-se conhecida por seus utensílios para preparar e consumir alimentos e uma excelentes tecidos de pêlo de cabra, a ponto de que o lamparina. tecido, usado para a fabricação de tendas grandes, era 3. Vida na Tenda. Os povos das tendas eram aqueles chamado de pano de Cilícia. A habilidade de Paulo nesse que iam de lugar a lugar para buscar alimentos ou para mister, provavelmente, consistia em saber cortar e costurar fazer comércio de caravana. Levavam com eles animais o pano nas dimensões certas, para fabrico das peças domesticados que tinham de pastorear, mas o povo das tendas não criava sua própria alimentação. Eles caçavam constitutivas de uma tenda, com as cordas, varas e outras porções que faziam parte necessária de uma tenda. quando em áreas que forneciam alimentos para isso. 4. A Tenda e os Patriarcas. Abraão e seu povo, que vieram de Ur, tinham casas permanentes, não sendo TENDÕES No hebraico, gid, "tendão", "nervo". É vocábulo usado nômades. Assumiram esse tipo de vida de romeiros na por sete vezes: Gên. 32:32; Jó 10: 11; 40: 17; Isa. 48:4; futura Terra Prometida. Canaã foi uma terra onde vaguearam até serem cumpridas as promessas de Deus • Eze. 37:6,8. Um tendão é uma forte ligadura fibrosa, ligando um músculo a um osso qualquer. No corpo humano, talvez de uma nação fixa. Os israelitas tinham casas em Gósen, o tendão mais bem conhecido seja o tendão de Aquiles., Egito, mas retomaram uma vida nômade nos 40 anos de vagueação, Uma vez que a terra havia sido conquistada, que liga o calcâneo à batata da perna. No caso de Ezequiel voltaram a viver em casas permanentes. 37:6,8, os tendões foram as primeiras partes dos corpos a recobrirem os ossos nus, na grandiosa visão daquele profeta. 5. As pessoas mais pobres tinham apenas uma tenda A experiência de Jacó, em Penuel (Gên. 32); pode ter que podia facilmente ser dobrada e carregada por um envolvido a contratura do músculo e do tendão, animal de carga, como um burro. Mas um xeque, um chefe ou um homem mais afluente teria várias tendas, " ...deslocou-se ajunta da coxa de Jacó..." (vs. 25). Parece que se rasgaram fibras musculares, deixando Jacó especialmente se fosse polígamo, isso é, se tivesse mais manquejando de uma das pernas. O deslocamento dajunta de uma família Patriarcas como Abraão, Isaque e Jacó, e parece referir-se a alguma injúria na junção entre a coxa seu irmão gêmeo Esaú, eram ricos habitantes de tendas (Gên. 13.2 ss.). Isaque assumiu a agricultura, mas sua e o osso ilíaco. Se tomássemos literalmente a expressão, principal ocupação era a criação de gado (Gên. 24.67; ela indicaria uma injúria grave nas cadeiras, 26.12 ss.). Jacó era um nômade rico (Gên. 31.33; 33.19; impossibilitando o ato de andar. 35.21). 6. Usos Figurativos. a. Os céus, que estão sempre em TENDÕES FRESCOS movimento, são como uma tenda (Isa. 40.22). b. A No hebraico, yetherim lachim, "cordões frescos" ou prosperidade, quando aumenta, é como ampliar uma tenda "cordões úmidos". Uma expressão hebraica que aparece (Isa. 54.2). c. A vida do nômade, de constantemente ter somente por duas vezes, em Juí. 16:7,8. E, no nono versículo, desse mesmo capítulo, reaparece a palavra que de montar e desmontar sua tenda, exigia a ajuda de outros. Um homem que não tem amigos é como o nômade que nossa versão portuguesa traduz por tendões. Dalila queria descobrir o segredo da extraordinária força não tem quem o ajude a montar sua tenda (ler. 10.20). d. de Sansão, a qual, naturalmente, residia no Espírito de Uma tenda que pode ser desmontada tão rápida e facilmente é como a vida fisica humana, que termina num Deus, enquanto ele fosse fiel à sua condição de homem piscar de olhos e é tão frágil (lsa. 38.12; 11 Cor. 5.1). Mas consagrado a Deus, ou voto de nazireado: Sansão, de certa esse não é um fator crítico, sendo que temos um lar feita, enganou Dalila dizendo que perderia as forças se permanente no céu. e. A futura desolação de Judá seria fosse amarrado com sete tendões de boi, ainda frescos. E tão grande, disse Isaías, o profeta, que nem mesmo um Dalila, que fazia o jogo de seus compatriotas filisteus, árabe se incomodaria em montar sua tenda em tal lugar acreditou e o amarrou desse modo-sem proveito nenhum. Sabemos que Sansão acabou revelando-lhe o seu segredo, (lsa. 13.20). f. Idealmente, Jerusalém seria como uma tenda impossível de mover (Jer. 33.20). g. Mas a queda e assim ele acabou sendo preso pelos filisteus, foi cego e da Judéia foi como uma tenda que teve suas cordas perdeu a vida quando derrubou, com a renovada ajuda de cortadas (Jer. 10.20). h. Jesus, o Cristo, é o sumo sacerdote Deus, os pilares onde se apoiava o templo do deus Dagom. da "verdadeira tenda" que o poder divino montou e não Morreram tantos filisteus que o domínio deles sobre Israel podemos derrubar, em contraste com o tabernáculo móvel se debilitou. das vagueações de Israel (Heb. 8.2). TENTAÇÃO TENDAS, FABRICAÇÃO DE Esboço: No grego, skenopoiás, "fazedor de tendas". Essa I. Definição profissão é mencionada apenas por uma vez na Bíblia lI. O Dilema Humano Ill, Deus é Fiel inteira, onde ap~ecem três fabricantes de tendas, o apóstolo Paulo, Aquila, um judeu crente, e Priscila, sua IV. A Vitória é Possivel mulher. Lemos em Atos 18:2,3: "Lá encontrou certo judeu V. Por que é Importante Resistir à Tentação? chamado Aquila, natural do Ponto, recentemente chegado VI. Meios para Escapar da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio 1 Cor. 10: 13: Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que decretado que todos os judeus se retirassem de Roma. Paulo aproximou-se deles. E, posto que eram do mesmo sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a oficio, passou a morar com eles, e trabalhavam; pois a tentação dará também o meio de saída, para que a possais profissão deles era fazer tendas". suportar. Os pais israelitas ensinavam as mais diversas profissões I. Definição a seus filhos, usualmente aquelas que eram seguidas com sucesso, por sucessivas gerações, pelas famílias. Por esse Há uma palavra hebraica e duas palavras gregas, motivo é que a Jesus foi ensinada a profissão de envolvidas neste verbete, a saber: carpinteiro, e a Paulo a profissão de fabricante de tendas. 1. Massah, "teste". "provação". Palavra hebraica usada

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LeBrun,

João Batista reprova Herodes

~,:helken.

Ary Scheffer,

A tentação de Jesus

As dez virgens

o DINHEIRO DO TRIBUTO

TENTAÇÃO por cinco vezes. Deu. 4:34; 7:19; 29:3;, SaL 95:8; Jó 9:23. 2. Peirasmôs, "teste", "prova". Palavra grega usada por vinte vezes: Mal. 6:13; 26:41; Mar. 14:38; Luc. 4:13; 8:13; 11:4; 22:28,40,46; Atos 20:19; 1 Cor. 10:13; Gál. 4:14; 1 Tim. 6:9; Heb. 18; Tia. 1:2,12; 1 Ped. 1:6; 11 Ped. 2:9 e Apo.3:1O. 3. Peirázo, ''testar'', "submeter à prova". Vocábulo grego que ocorre por trinta e seis vezes: Mal. 4:1,3; 16:1; 19:3; 22:18,35; Mar. 1:13; 8:11; 10:2; 12:15; Luc. 4:2; 11:16; João 6:6; 8:6; Atos 5:9; 9:26; 15:10; 16:7; 24:6; 1 Cor. 7:5; 10:9,13; 11 Cor. 115; GáI. 6:1; 1 Tes. 3:5; Heb. 2:18; 3:9 (citando Sal. 95:9); 4:15; 11:17,37; Tia. 1:13,14; Apo. 12,10; 3:10. No original grego, tentação é "peirasmos", que significa "teste", "provação", "tentação para a prática do mal". Esse vocabulário pode incluir ou não a idéia de alguma questão moral envolvida. Pode simplesmente indicar um teste difícil, uma prova, e não alguma tentação tendente à prática do mal, uma incitação ao pecado. Por outro lado, essa palavra pode envolver a idéia de incitação ao pecado. Essa foi exatamente a palavra utilizada pelo Senhor Jesus, em sua oração, no trecho de Mat. 6:13, onde ele diz: " ... e não nos deixeis cair em tentação...". É também o mesmo termo usado para indicar as tentações que Satanás lançou contra o Senhor Jesus, no deserto (ver Luc. 4: 13). Na passagem de Tia. 1:12 essa mesma palavra é empregada para indicar, bem definidamente, a tentação à prática do mal. É lógico acreditarmos, por conseguinte, que a tentação referida neste versículo tem por intuito incluir questões tanto "morais" como "amorais", isto é, tentações para a prática do pecado (o que é evidente no próprio contexto), mas igualmente, certos períodos de dificuldades, o que também se evidencia quando consideramos, no contexto, o que Paulo mesmo esperava para o fim desta era, refletindo uma doutrinajudaica comum, de que haveria um período geral de tribulações, em todos os sentidos, quando se aproximasse o fim da presente dispensação (ver 1 Ped. 4: 12 e Apo. 3: 10 quanto a essa mesma idéia, nas páginas do N.T.). Deus não tenta a homem algum para a prática do mal (ver Tia. 1:12), embora ele permita que as tribulações nos sobrevenham (ver Mal. 6: 13), e destas últimas o Senhor Jesus orou pedindo livramento. Satanás foi capaz de tentar ao Senhor Jesus com o mal; nada disso o diabo jamais teria podido fazer, sem a permissão divina. 11. O Dilema Humano Condição humana. As tentações (induções) à prática do mal ou "tribulações" são "humanas". Isso significa apenas que pertencem aos homens, comuns a seu nível, comuns à sua experiência terrena, pelo que também não podem ser algo extraordinário e avassalador para nós. Desde o princípio da história humana, os homens têm sofrido das mesmas formas de testes; não existem tribulações novas, que nos surpreendam devido à sua novidade. Os homens da antigüidade foram atingidos por toda a sorte de desastres. Outro tanto sucede conosco. Os homens antigos foram vitimados por todas essas calamidades; e outro tanto pode suceder conosco. As tentações vitimaram os homens antigos; e podem vitimar-nos se não exercermos a autodisciplina. Contudo, as tentações que nos assediam são adaptadas para as forças humanas, para as condições humanas. Temos sido armados com os meios que nos capacitem a derrotar tais tentações; e assim poderemos fazê-lo, se nos valermos dos meios postos à nossa disposição. Podemos ser vitoriosos ou totalmente derrotados pelas tentações; podemos ser até mesmo destruídos, espiritualmente falando, ou podemos usá-las como degraus que nos elevam a um desenvolvimento espiritual mais

elevado. Podemos encontrar homens pertencentes a ambas categorias, na Igreja cristã. Não parece que Paulo estivesse contrastando duas formas de tentação, a humana e a demoníaca, porquanto até mesmo as tentações demoníacas assaltam os crentes, conforme aprendemos em Efé, 6: 12 e ss. Não obstante, sem importar a fonte de onde elas provêm, continuam sendo humanas, no sentido que são comuns à experiência humana, não transcendendo ao poder da vontade humana, contanto que o homem seja ajudado pelo Espirito Santo. O apóstolo dos gentios, portanto, dizia que podemos triunfar; mas que esse triunfo não é necessariamente inevitável ou fácil. A experiência humana mostra-nos que tal vitória não é fácil. 111. Deus é Fiel Ele é fiel pelas razões expostas; em seguida Ele exerce controle sobre todas as tentações que sobrevêm ao crente em sua vida, Ele permite somente aquelas tentações que podem ser toleradas, sem importar se essas assumem a forma de testes, de sofrimentos, de perseguições ou de incitações para a prática do mal. Além disso, Deus provê sempre um meio de escape, quando somos assediados pelas tentações, desviando aquelas outras que, de modo algum, poderíamos suportar. Sim, Deus é fiel no sentido de "digno de confiança", como alguém em quem se pode confiar, no que diz respeito a essa questão das tentações. IV. A Vitória é Posstvel Não sejais tentados além das vossasforças. Um crente conta com reservas de forças até mesmo para enfrentar os poderes espirituais malignos. Não obstante, compete-lhe utilizar-se de certos meios para desenvolver esses recursos, a fim de que possa usá-los prontamente quando isso se tomar necessário. Precisa ter certo nível de espiritualidade, desenvolvido mediante a oração, a meditação, a comunhão com o Espírito Santo, a transformação segundo a imagem moral de Cristo. O próprio Cristo é o exemplo supremo das reservas de forças espirituais que resguardam o homem de Deus contra qualquer modalidade de tentação. As passagens de Heb. 2: 18 e 4: 15 mostram-nos que Jesus foi tentado em todos os pontos em que também o somos, emborajamais tivesse cedido ao pecado. Cristo Jesus não pecou, não porque não pudesse fazê-lo; pois, nesse caso, não serviria de exemplo e de consolo para nós. Mas não pecou porque o seu desenvolvimento espiritual, através da presença do Espírito Santo, era tão grande que foi capaz de resistir às formas mais variegadas e dificeis de tentação, incluindo a "incitação ao pecado", as "tribulações", as "perseguições", e os "momentos dífíceís''. V. Por que é Importante Resistir à Tentação I. A tentação, se não for dominada, destrói a fibra moral. Mas, uma vez que lhe oferecemos resistência, isso melhora a qualidade moral do nosso ser. Aquele hino que diz: "Cada vitória te ajudará a outra vitória conquistar", encerra grande verdade. 2. Há uma bem-aventurança especial pronunciada em prol daqueles que resistirem às tentações, a saber, a "coroa da vida", e isso por promessa de Deus (ver Tia. 1: 12). 3. Isso significa que a santificação conduz à glória, o que é um tema ensinado em vários lugares do N.T. (Ver Mal. 5:48 eliTes. 2:13). Por conseguinte, a transformação moral é que nos leva à transformação metafisica, dentro da qual chegamos a compartilhar da própria natureza do Filho (ver li Cor. 3:18). 4. Os testes, por si mesmos, podem ser forças que nos ajudam em nosso desenvolvimento espiritual. Ver o artigo separado intitulado, Tribulações Como Beneficios. Tiago expressou essa mesma idéia de maneira um tanto

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TENTAÇÃO - TENTAÇÃO DE CRISTO mais poética, ao dizer: Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam (Tia. I: 12). Sim, a verdadeira bem-aventurança espiritual é conferida ao homem digno de receber a coroa da vida, isto é, o dom da vida eterna, com a conseqüente participação em tudo quanto Cristo é e tem, a glorificação em Cristo. Ver os artigos sobre Glorificação; Galardão; Coroa; e Julgamento do Crente. A resistência às tentações, em suas variegadas formas, aumenta o poder do crente. Mas a cessão ante as mesmas destrói as defesas espirituais dos remidos. VI. Meios para Escapar No original grego temos "o livramento", com o artigo definido, o que certamente indica o meio de escape. Mui provavelmente isso quer dizer que no caso de cada tentação, manifestar-se-á alguma maneira pela qual podemos escapar ao mal, algum meio que nos capacite a suportar a dor e a tristeza. O "meio de escape" é sempre adaptado a cada circunstância. O pecado se faz presente e é poderoso; nenhum indivíduo escapa à tentação à prática do mal. Mas esse não é o "escape" prometido. Testes de ordem física e espiritual, grandes tragédias, são acontecimentos poderosos, debilitadores, desencorajadores, algumas vezes avassaladores; mas Deus sempre se mantém próximo do crente. Paulo promete aqui alguma ajuda divina em cada caso, embora não especifique exatamente o que devemos esperar. E essa ajuda será tão variegada como as tribulações. "Ele (Deus) conhece os poderes que nos conferiu, bem como quanta pressão somos capazes de resistir. Não permitirá que sejamos vítimas das circunstâncias que Ele mesmo determinou para nós e 'impossibilia non jubet' ... Tentação é provação, e Deus ordena as provações de tal modo que 'sejamos capazes de suportá-las'. O 'poder' é conferido paralelamente com a tentação, embora a resistência não nos seja proporcionada; essa resistência depende de nós mesmos", (Robertson e Plummer, in loc). É única demonstração de covardia cedermos à tentação, bem como um voto de desconfiança a Deus (Robemson, ín loc.). A parte seguinte do presente versículo deixa entendido que o 'escape' só aparece através da 'resistência' e da persistência do crente. " ... de sorte que a possais suportar....". Notemos que não nos é dado o "escape" por meio da ausência de toda a tentação; nem nos é outorgado o "escape" porque estamos livres da tribulação. Antes, esse "escape" nos é proporcionado 'porque' temos podido resistir e chegar ao triunfo. Somente essa forma de escape e de disciplina é que pode produzir qualquer crescimento cristão substancial. "Com freqüência, o único 'escape' se verifica através da 'resistência'. Ver Tia. I: 12". (Vincent, in loc.). Fechem-se em um 'cul de sac' os desesperos de um homem; mas que ele veja uma porta aberta para sua saída; e ele continuará lutando, levando a sua carga. A palavra grega ekbasis (escape) significa saída, escape para longe da luta. Logo em seguida aparece upengkein (sustentar debaixo de algo), em que esta última ação é possibilitada pela esperança relativa àquela primeira. TENTAÇÃO DE CRISTO Imediatamente após o seu batismo no rio Jordão, por João Batista, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, pelo espaço de quarenta dias, a fim de jejuar e ser exposto às tentações de Satanás (Mar. 1:12,13). Visto que o batismo foi a inauguração de seu ministério público, não

é de surpreender que o ponto culminante, nos dias da tentação de Cristo, tenha envolvido de modo tão profundo o significado e o método de seu ministério. O lugar tradicional da tentação de Jesus, o monte Quarantania, é uma região desolada, cerca de onze quilômetros a noroeste de Jericó. No entanto, se Jesus foi batizado em Betânia, do outro lado do rio Jordão (ver João 1:28), então é possível que o local de sua tentação tenha sido as praias estéreis e rochosas do Mar Morto, não muito distantes das cavernas de Qumran. Somente quando se concluíram os dias de teste pelos quais Ele passou é que adquirimos a impressão de que todo o período de quarenta dias de jejum deve ter envolvido uma batalha constante contra o tentador. Sem importar se Satanás Lhe apareceu em forma visível ou não (a Bíblia faz silêncio quanto a esse detalhe), o que os evangelhos nos mostram é que houve um autêntico conflito espiritual. A natureza espiritual desse combate em coisa alguma detrata de sua realidade, dos paroxismos de ataque e resistência que houve durante o choque entre o Filho de Deus e o grande inimigo das nossas almas. A julgar pelos relatos evangélicos, houve três ataques principais de Satanás. A cada um desses ataques, Jesus revi dou e anulou a força das tentações, mediante o uso das Escrituras Sagradas. Porém, antes de examinarmos a natureza de tais ataques, sentimos o dever de observar que essas tentações eram apelos para que Jesus satisfizesse necessidades e desejos perfeitamente legítimos. O erro envolvido nessas tentações é que elas sugeriam que tais necessidades fossem satisfeitas à revelia da vontade do Pai, e até mesmo contrariamente a essa vontade. De fato, no dizer de Tiago (1:14,15), é quando os homens preferem cumprir a sua própria vontade, em vez de cumprirem a vontade de Deus, que eles cedem diante da tentação e acabam caindo em transgressão. Portanto, a vontade humana é o campo de batalha onde as tentações nos atacam. Jesus, porém, recusou-se terminantemente a ceder, em sua vontade, diante da vontade distorcida de Satanás. Sob hipótese alguma Jesus deixou de atender à soberana vontade do Pai, que o enviara em sua missão terrena. Porém, muitas pessoas, não compreendendo a diferença entre a tentação e o pecado, sentem-se perturbadas diante da idéia de que Jesus, o Filho de Deus, possa ter sido tentado. Se Jesus não se tivesse humilhado e apequenado, em sua encarnação, é evidente que jamais seria possível qualquer tipo de tentação. Porém, uma vez homem, isso tornou-se possível. Além do mais, era mister que ele nos ensinasse como vencer a tentação. E, para isso, era preciso que ele se submetesse à tentação e saísse vitorioso. Mas, que ser tentado não é a mesma coisa que pecar, temos o comentário do autor da epístola aos Hebreus, que escreveu: "Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Heb. 4: 15). Se seguirmos a ordem de apresentação das tentações, de acordo com Mateus, a primeira tentação foi um apelo no nível da natureza física de Jesus. Quando seu corpo físico mais anelava por nutrientes, debilitado após quarenta dias e quarenta noites de jejum, Satanás sugeriu que ele transformasse as pedras, abundantes no lugar, em pães, a fim de satisfazer a própria fome. Ainda de acordo com o diabo, Jesus não somente aplacaria a fome, mas também provaria que era o Filho de Deus. "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães" (Mal. 4:21). A essa dupla sugestão, Jesus respondeu com uma única resposta: "Está escrito: Não só de pão viverá o

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TENTAÇÃO DE CRISTO - TEOCRACIA homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mat. 4:4). Devemos dar atenção aos elementos básicos dessa resposta, mais ainda do que às sugestões satânicas. Antes de tudo, o que importa, em todas as facetas e circunstâncias da vida, é aquilo que "está escrito". Isso empresta às Escrituras um valor supremo. Diante de qualquer escala de valores, que o homem tenha de enfrentar, o que está escrito? Para o Filho e para os filhos de Deus, isso é o que importa, Em segundo lugar, Jesus mostrou, em sua primeira resposta, que em sua escala de valores, orientada pelas Escrituras, as necessidades espirituais têm a preeminência, diante de qualquer necessidade fisica. A vida espiritual é mais importante que a vida biológica. O pão satisfaz à fome física; mas só o pão espiritual (a Palavra de Deus) satisfaz às necessidades muito mais imperiosas do espírito. Satanás, entretanto, não desistiu, e voltou à carga. Dessa vez, porém, não mais alvejou a concupiscência da carne, mas resolveu sondar a profundidade de sua confiança no Pai. Portanto, se o primeiro ataque visou à natureza humana de Cristo, o segundo visou à sua natureza divina. Todavia, a segunda tentativa não somente foi desfechada noutra direção, mas foi muito mais capciosa. Em sua segunda tentação, Satanás usou as Escrituras. Se fora derrotado, na primeira tentação, mediante um apelo ás Escrituras, talvez obtivesse êxito, na segunda tentação, usando as Escrituras, mesmo que distorcidamente. E o diabo sugeriu: "Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito; que te guardem ...." (Mat. 43,6). Em sua segunda resposta, Jesus não abandonou o seu método de apelo às Escrituras. Agora seria Escritura contra Escritura. O convite era que Jesus contasse com proteção angelical, a fim de demonstrar sua divina filiação. Mas Jesus redarguiu com um princípio bíblico ainda mais importante: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus" (Mat. 4:7). Ceder diante da segunda tentação seria tentar ao Pai. E isso Jesus jamais faria. Satanás teve de reconhecer que Jesus estava alicerçado sobre um princípio fundamental, inabalável, e teve de retroceder inomentaneamente, pela segunda vez. A loucura do díabo, porém, não conhece limites. Quem teve o displante e a insensatez de rebelar-se contra o Todo-poderoso, só pode mesmo ter ficado louco, para ousar enveredar por um erro de cálculo tão desvairado. E Satanás experimentou um terceiro e, (segundo ele deve ter pensado) definitivo ataque. Jesus não viera para reconquistar o mundo para Deus? Que tal reconquistá-lo em troca de um pequeno gesto. E, mostrando a Cristo os reinos do mundo e a glória dos mesmos, o diabo jogou o anzol: 'Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares" (Mal. 4:9). Foi o cúmulo da desfaçatez. O próprio Deus adorar uma reles criatural. Se o Senhor Jesus cedesse, adorando o diabo, não teria de passar por tanto sofrimento e nem teria de enfrentar os horrores da crucificação. Além disso, poderia ficar com o mundo. Satanás estava mesmo disposto a desistir de seu império sobre a humanidade, em troca de uma breve homenagem. Naquela solidão do deserto, quem veria o Filho de Deus prostrado, a adorar o diabo? Só mesmo o mundo espiritual. Mas, nenhum homem teria conhecimento do ocorrido. A última tentação, pois, foi terrível, cruel e excruciante em suas implicações e conseqüências. Por outro lado, se Jesus não cedesse, Satanás estaria total e definitivamente derrotado em suas tentações. Não há que duvidar que Jesus compreendeu isso perfeitamente. Por essa razão, em sua terceira réplica, Jesus começou com uma ordem que não podia deixar de ser obedecida. O Filho de Deus, mesmo humanizado,

adquirira autoridade espiritual para tanto. O Senhor de todos os mundos ordenou: "Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto" (Mal. 4: 10). A terceira resposta de Jesus pode ser analisada em três fases: 1. a ordem dada por Jesus para Satanás se retirar. Jesus submetera-se voluntariamente à tentação. Não a fim de que se verificasse se Ele cederia ou não diante das sugestões do diabo, mas para mostrar, ao diabo, aos seus discípulos, aos anjos e a toda a criação inteligente, que não cederia às mesmas. Ele é o Senhor. Chegara o momento de mandar embora aquela criatura atrevida e louca. 2. Só Deus pode ser adorado. Resolvido a não ferir qualquer principio bíblico, Jesus era imbatível. Que restava a Satanás, senão obedecer? Com isto o deixou o diabo; e eis que vieram anjos, e o serviam (Mat. 4: 11). cc Satanás é quem deveria adorar a Jesus. O Filho, o Logos, é Deus no mais pleno sentido do termo. João nos diz que Ele "... é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (I João 5:20b). A Bíblia não informa se Satanás adorou a Jesus, ali no deserto. Mas, se não o fez, haverá de fazê-lo, certamente, no tempo certo. É conforme explica o apóstolo Paulo: "Pelo que também Deus o (a Jesus) exaltou sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra ....(Fil. 2:9,10). As tentações a que Jesus se sujeitou no deserto encerram para nós uma tremenda lição objetiva. Cumpre-nos meditar no incidente e aprender. O diabo esgotou com Jesus o seu repertório de tentações e nada conseguiu. Quem até então parecera um adversário temível, mantendo a humanidade em sujeição, agora fora posto no seu devido lugar pelo Filho de Deus. Satanás é um anjo desvairado e rebelde, cuja causa está perdida, e q~e será, finalmente, encerrado na Geena. Ver Apo. 20: 10. E como se o Senhor Jesus nos estivesse dizendo: "Não tendes qualquer necessidade de ceder diante das tentações do diabo. Eu vos acabo de ensinar como anular todo o poder de suas tentações!" Sim, na qualidade de nosso Sumo Sacerdote, Jesus nos conferíu o supremo exemplo de como se deve anular e vencer as tentações: "...ele foi tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Heb. 4: 15). Somente a Ti adoramos, Senhor Deus, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo! TEOCRACIA

Palavra que vem de dois termos gregos, theós, "Deus" e kratéo, "governar". Isso chega ao sentido de "governo de Deus". Devemos fazer distinção com outro vocábulo, democracia, cuja primeira porção, demos, significa "povo", e que indica o governo entregue às mãos do povo. E também devemos distinguir teocracia de hierocracia, o governo dos sacerdotes. E, finalmente, de monarquia, o governo de um único homem ou rei. Embora a idéia de teocracia apareça nas Escrituras, com bastante freqüência, o próprio vocábulo, teocracia, nunca figura ali. Essa palavra parece ter sido cunhada por Josefo (vide), que se utilizou do termo a fim de referir-se ao caráter ímpar do governo dos hebreus, revelado a Moisés, em contraste com o tipo de governo de outras nações ao derredor. Escreveu Josefo: "Nosso legislador... ordenou aquilo que, forçando a linguagem, poderia ser chamado de teocracia,_ao atribuir a autoridade e o poder a Deus". (Contra Apion.lI, 165). Não obstante, a idéia de teocracia é muito mais antiga do que a palavra que corresponde a ela, conforme o próprio Josefo sugeriu em sua declaração, citada acima. Essa idéia

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TEOCRACIA retrocede ao Antigo Testamento, desde a época de Moisés e, portanto, à iniciação mesma das Sagradas Escrituras (ver Êxo. 19:4-9; Deu. 33:4,5). No âmago dessa idéia fica a relação ímpar entre Deus e Israel, como seu povo peculiar. Essa relação é constituída pela aliança que vinculou o povo de Israel a Deus (ver Êxo. 19 e 20), e que constituiu aquele povo em " ... reino de sacerdotes e nação santa..." (Êxo. 19:6). Deus reclamou o povo de Israel como sua propriedade, por havê-lo remido da servidão aos egípcios. Os grandes atos libertadores, da época da saída de Israel do Egito, e durante os quarenta anos de vagueação pelo deserto, declararam o Senhor como o eterno Governante de Israel (ver Êxo. 15: 18). Moisés foi, tão-somente, o homem por intermédio de quem Deus transmitiu a sua vontade ao seu povo terreno. Gideão, várias gerações depois de Moisés, não aceitou a coroa porquanto acreditava que somente Deus poderia governar sobre Israel (Juí. 8:22,23). No período que antecedeu ao surgimento da monarquia em Israel, profetas, sacerdotes e juízes foram os intermediários na expressão da teocracia. Vale dizer, Deus governava o seu povo através daqueles representantes. Assim, na guerra de Israel contra Sísera, a profetisa e juíza Débora e o general Baraque aparecem como os agentes do livramento de Deus (Juí. 4:4-7). Os sacerdotes levitas também aparecem, com freqüência, como os mensageiros da vontade divina (Juí. 20:28; 1 Sam. 14:41). Mas, por ocasião da teocracia institucionalizada, quando surgiu a monarquia em Israel, a teocracia passou a se manifestar de forma muito menos direta, e o governo de Israel passou a assemelhar-se mais ao governo das nações gentílicas. "Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles ... Porém, o povo não atendeu à voz de Samuel, e disseram: Não, mas teremos um rei sobre nós. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós, e fazer as nossas guerras" (I Sam. 8:7,19,20). Apesar disso, depois que a monarquia se estabeleceu em Israel, principalmente de Davi em diante, o rei passou a ser considerado símbolo do reinado teocrático. Os reis de Israel não eram apenas reis, no sentido comum do termo, mas também eram ungidos do Senhor, em sentido puramente teológico (Sal. 2:2; 20:6): um príncipe do Senhor (I Sam. 10: 1; 11 Sam. 5:2). Mesmo durante o período monárquico, concebia-se que o Senhor Deus seguia adiante do rei (11 Sam. 5:24). O rei estaria sentado no trono de Deus (I Crô. 29:23; cf. 28:5). O Governante real era Deus, e a autoridade do trono de Davi derivava-se do Senhor. A natureza teocrática da monarquia de Israel é conformada, por exemplo, pela prerrogativa dos profetas de destronarem os reis, além do fato de que foi o profeta Samuel quem estabeleceu o reinado em Israel, a mandado do Senhor (I Sam. 15:26; 16:1,2; cf. I Reis 11:29-31; 14: 10; 16:1,2,21:21). Nesse contexto, nota-se que não havia critérios estereotipados para reconhecimento ou confirmação de um profeta, em Israel. Somente a presença do indefinível Espírito de Deus revelava a diferença entre um profeta verdadeiro e um profeta falso. A monarquia, em Israel, foi a organização do reino teocrático sob um governante humano. A teocracia talvez encontre sua mais excelente expressão nas predições dos profetas (ver ler. 1: 1,2; cf. Isa. 7:7). As visões messiânicas dadas aos profetas foram organicamente entretecidas no curso da história dos reis de Judá, bem como na restauração final da dinastia davídica. Em sua essência e

em seu intuito, o reino é um instrumento de redenção, inseparavelmente vinculado às expectações messiânicas. De fato, em seu sentido messiânico, o trono de Davi aparece no centro da teologia bíblica, com seu reconhecimento de Deus como o Governante final sobre a Terra inteira. Dentro da revelação progressiva da escatologia bíblica, o conceito teocrático do reino davídico suprimiu o padrão das idéias concernentes à vinda palpável do reino de Deus, quando da era milenar. Através da restauração do trono de Davi, Deus haverá de realizar a redenção final de Israel. Mas, esse futuro acontecimento, que fará parte da História, haverá de introduzir a era da justiça e da paz eternas, sob o reinado universal do Filho maior de Davi, Jesus Cristo. Não há espaço para o secularismo, dentro da teocracia de Israel. Descendo até aos mais minúsculos detalhes, todos os regulamentos políticos, legais e sociais são essencialmente teológicos. Esses regulamentos eram a expressão suprema e direta da vontade de Deus. Até mesmo a detenção de criminosos e a punição dos mesmos fazem parte do interesse imediato de Deus (ver Lev. 20,3,5,6,20; 24:12; Núm.5:12,13; Jos. 4:16). Várias religiões, " desde os tempos mais remotos" (hebreus, babilônios e egípcios), têm tomado a posição de que seus estados eram teocratas, visto que Deus ou os deuses, mediante revelações e profetas, lhes teriam dado suas leis e instituições. A teocracia é um estado no qual os princípios religiosos (usualmente com apoio de um monarca e de um sacerdócio alegadamente nomeados por Deus) são as principais leis e o poder controlador. Já nos tempos modernos, as cidades de Florença, na Itália, sob Savonarola (vide), e Genebra, na Suíça, sob Calvino (vide), durante algum tempo tornaram-se, alegadamente, teocracias. Além disso, as colônias da Nova Inglaterra, na América do Norte, sob o puritanismo, tornaram-se teocracias. O aparecimento de governos democráticos tem tendido a separar Igreja e Estado, de tal modo que as teocracias são evitadas. Naturalmente, o Irã atual é um exemplo de teocracia; mas, como tantas outras teocracias distorcidas, entristecemo-nos diante das perseguições e matanças, praticadas em nome de Deus. Ver Governo Eclesiástico. Este co-autor e tradutor quer dar aqui sua contribuição. No Novo Testamento não parece haver definição quanto ao tipo de "governo eclesiástico". Porém, com base nas condições vigentes em Israel, até Samuel (ver 1 Sam. 8:7), bem como durante o governo milenar de Cristo, o que aindajaz no futuro, o governo eclesiástico ideal seria o teocrático. Segundo penso, esse tipo de governo existiu na Igreja, durante todo o período apostólico. Deus (na pessoa de Cristo), dirigia sua Igreja mediante ministros por Ele escolhidos (ver Efé, 4: 11 ss). Pode-se dizer que "a Igreja entrou em decadência espiritual quando o ministério passou a ser tido como oficios burocráticos, a partir do século li d.C., não mais ocupado por indivíduos misticamente designados e preparados. Parece-me evidente que o Espírito do Senhor restaurará esse tipo de governo eclesiástico, antes do segundo advento de Cristo. Doutra sorte, no dizer do quarto capítulo de Efésios, os crentes não atingirão a maturidade que deverá caracterizar a Igreja nos dias finais do cristianismo. Seja como for, o Milênio (vide) será a mais pura teocracia, sem os abusos que têm havido no passado, e que têm feito muitos proscreverem-naaté mesmo de suas cogitações. E o estado eterno, passado o Milênio, dará continuidade à teocracia, para sempre. A teocracia é a essência do reino de Deus.

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TEODICÉIA - TEOFANIA TEODICÉIA Esse termo vem do grego, theõs, 'deus", e dike, 'justiça". Em seu uso comum, esse vocábulo usualmente designa aquela atividade que buscajustificar as maneiras de Deus com os homens. Como pode haver um Deusjusto, Todo-poderoso, onisciente, ao mesmo tempo em que há tantos males no mundo? Ver o artigo geral intitulado Problema do Mal. Aqueles que procuram explicar o problema do mal preservando ainda assim a idéia de um Deus ortodoxo, expõem teodicéias. Foi Leibnitz quem cunhou esse termo, introduzindo-o na filosofia. Sua teodicéia fazia parte do seu sistema de mõnadas, onde Deus, a Grande Mônada, aparece como o programador das demais mônadas. A teodicéia de Leibnitz era determinista, no sentido de que vivemos no melhor de todos os mundos possiveis, e onde Deus não incorre em equívocos, a despeito de aparentes erros que nos cercam, no mundo em que vivemos, salpicado de males. Naturalmente, Leibnitz teve que fazer toda espécie de ginástica para defender sua tese, e mostro como ele fez isso, no artigo sobre o mesmo, nesta enciclopédia. A palavra teodicéia tem um sentido mais amplo do que aquele que demos acima, no tocante ao problema do mal. Se aplicado ao judaísmo, ou a qualquer outra religião que veja o governo de Deus como o princípio que governa a todas as coisas, então essa palavra pode significar, simplesmente, governo de Deus sobre o mundo, e como esse governo está relacionado aos homens. Um outro sentido amplo da palavra é "aquele ramo da filosofia que estuda o ser, as perfeições e o governo de Deus, bem como a imortalidade da alma" (WA). Infelizmente, na teologia cristã ocidental, a teodicéia inclui a doutrina cruel e impensada (tomada por empréstimo das obras pseudepígrafas; vide) da condenação e dos sofrimentos eternos da vasta maioria dos homens. Isso ignora como Deus, finalmente, haverá de fazer o mal redundar em bem, usando o própriojulgamento como um dos meios dessa realização. Ver os artigos Mistério da Vontade de Deus e Restauração. TEODÓCIO Ver o artigo sobre a Septuaginta. TEODORO DE ESTUDION Suas datas foram 759 - 826. Foi ele uma importante figura do movimento monástico em Constantinopla e do cristianismo oriental em geral. Ele adaptou as Regras de São Basílio, para servirem à ortodoxia oriental. Infelizmente, deu o seu decisivo apoio à retenção de ídolos ou ícones nos templos cristãos. Esse ponto de vista, que já havia infectado o cristianismo ocidental organizado de modo irremediável, finalmente conseguiu atingir também o cristianismo oriental, adoecendo mortalmente a cristandade. As vozes dissidentes foram abafadas. É verdade que o imperador Leão V,que se opunha à idolatria, exilou Teodoro de Estudion; porém, prosseguindo a controvérsia iconoclasta (vide), Teodoro voltou do desterro. De volta, continuou sua campanha em favor da idolatria, embora a questão não se tivesse resolvido de todo em seus dias. Apesar desse gravíssimo erro, não podemos esquecer que, quanto a outros aspectos, Teodoro de Estudion exibia notável piedade, tendo labutado em prol da causa espiritual. TEODORO DE MOPSUÉSTIA Suas datas aproximadas foram 350 - 428. Provavelmente nasceu em Antioquia da Síria. Educou-se ali, onde também

veio a tomar-se presbítero cristão. Finalmente, veio a ser o bispo de Mopsuéstia, na Cilícia, razão de sua alcunha. Foi membro bastante ortodoxo da escola antioquiana de teologia. Ver sobre Escola Teológica de Antioquia. TEODORO DE TARSO Suas datas foram 602 - 690. Foi importante personagem na história da Igreja na Inglaterra. Foi arcebispo de Canterbury. E seus labores naquele lugar tomaram-no o centro da autoridade religiosa na Grã-Bretanha. De fato, a plena submissão àquela autoridade foi exigida e obtida. Teodoro foi autor de um Pênitenctal, que exerceu grande influência sobre as questões teológicas e de filosofia moral. TEODORO, O ATEU Ele foi um filósofo grego do século III a.C. Foi líder da escola cirenaica (ver sobre Cirenaicos, Cirenaísmo). Foi discípulo de Aniqueis. Para Teodoro, o prazer era encarado como o propósito e a finalidade da vida humana. Contudo, impõe-se-nos a tarefa de esclarecer que ele pensava nos prazeres mentais, e não apenas nos prazeres tísicos, como outros fizeram. Teodoro ensinava que os homens devem usar sua inteligência e sabedoria na busca pelas variedades válidas de prazer. Para ele, a sabedoria produz a felicidade, e a felicidade consiste no tipo certo de prazer. A felicidade é o maior de todos os bens, ainda segundo Teodoro. Ele promovia uma variedade ainda primitiva de humanismo, negando a existência de qualquer Deus ou deuses, atacando assim o politeísmo e a idolatria que predominavam em Atenas. Naturalmente, acabou exilado. Sua obra escrita, Sobre os Deuses, valeu-se muito das idéias de Epicuro. TEODOTO Há dois personagens com esse nome, nas páginas dos livros apócrifos do Antigo Testamento. No grego, o nome era Theódotos. I. Um dos três embaixadores enviados por Nicanor a Judas Macabeu, para estabelecer a paz (II Macabeus 14:19). 2. Um homem que planejou assassinar Ptolomeu Filopater, mas cujos intuitos foram frustrados por Dositeu (III Macabeus 1:2). TEOFAGIA Palavra que vem do grego, theõs, "Deus", e phágo, "comer", ou seja, "comer o deus". O vocábulo surgiu com base no ato de comer o animal sagrado, dedicado a alguma divindade especifica. Desse modo, sacramental e simbolicamente, o deus era "ingerido", de acordo com várias religiões misteriosas. A eucaristia, interpretada sacramentalmente, como na missa catól ica romana, é uma forma de teofagia, embora seja uma manifestação mais sofisticada da idéia do que aquela das antigas aplicações pagãs. TEOFANIA I. O Termo. A palavra grega é theophania, que deriva de theos (Deus) phanein (aparecer). Pelo simples entendimento das palavras envolvidas, qualquer aparição ou manifestação de Deus, presumivelmente, mesmo de sua verdadeira essência, poderia ser uma "teofania", Mas a teologia que cerca a palavra a limitou para a maioria dos pensadores cristãos, como explico no ponto 2. 2. Como João 1.18 parece eliminar qualquer aparição ou manifestação de Deus em essência verdadeira, e como a experiência humana parece ensinar que manifestações divinas são "aparições", não a "essência", a palavra teofania é comumente usada para significar algum tipo de manifestação divina que não comunica ao homem a

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TEOFANIA - TEOFRASTO real essência de Deus. Logicamente, é impossível para um homem ter contato direto com a verdadeira essência divina, pois ele não conseguiria lidar com tal situação e provavelmente não haveria caminho metafisico para que isso ocorresse: Ninguémjamais viu a Deus. O Deus (Filho) unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou (João 1.18). 3. Antropomorfismo e a Teofania. As teologias que reduzem Deus a algum tipo de super-homem e não distinguem radicalmente a essência do Divino e a essência humana transformam a teofania em essência real, não meramente um tipo de manifestação visível da glória de Deus. A teologia mórmon, por exemplo, a qual ensina que a base de toda a vida "espiritual" é de fato um material "refinado", acredita que João 1.18 pertence a uma revelação antiga e ultrapassada. Joseph Smith, presumivelmente de fato viu tanto o Pai como o Filho, várias vezes, não meramente algum tipo de manifestação deles. Mas o Pai e o Filho são compreendidos em termos daquilo que o homem é, não em termos de transcendência. O Deus mórmon é limitado, embora muito mais poderoso do que o homem. O Deus mórmon é muito poderoso, mas não onipotente, muito versátil em seus movimentos e manifestações, mas não onipresente. Esse tipo de Deus pode de fato manifestar sua essência ao homem. Ver o artigo Antropomorfismo. 4. A Teofania Suprema. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus ... e o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos sua glória, glória como do unigênito do Pai... Quem me vê a mim vê o Pai ..." (João 1.1, 14~ 14.9). Aqui temos o mistério da encarnação, e mistério ele continua sendo, pois quem pode logicamente explicar como uma pessoa pode ser divina e humana ao mesmo tempo? Não há motivo para se pensar que Jesus, o Cristo, não pode ser visto em tempos modernos, embora, sem dúvida, a maioria de tais afirmações seja patológica, exagerada ou mesmo fraudulenta. A ordem normal é que o Espírito revela o Filho, da mesma forma que o Filho revela o Pai: "O Espírito da verdade, que dele (do Pai) procede, esse dará testemunho de mim" (João 15.26). Ver a experiência de Paulo (Atos 9.3 ss.) e a de Estevão (Atos 7.55, 56). 5. O anjo do Senhor é a teofania mais comum. Ver Êxo. 23.20-23; 32.34; 33.14 ss.; Isa. 63.9. O anjo de Gên. 48.15 ss. é semelhante a ver a Deus, embora não a sua essência. Abraão recebeu visitantes angelicais, como descrito em Gên. 18. Ver o anjo do Senhor, na mentalidade judaica, era o mesmo que ver o Senhor que o enviou:"... vi o Anjo do Senhor face a face" (Juí. 6.22); " ... Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva" (Gên. 32.30), disse Jacó depois de ter lutado com "um homem" (vs. 24), onde obviamente um anjo está em vista. Ver também a visita do anjo do Senhor a Manoá, o pai de Sansão (Juí. 13). 6. A Shekinah (a habitação divina), ou Presença, especialmente no lugar mais sagrado. Ver o artigo separado sobre o assunto. 7. A Teofania, Prova de Teismo. Essa doutrina ensina que o Criador não abandonou a criação, mas está presente para intervir nas atividades humanas, recompensando e punindo, orientando e cuidando. Ver o artigo sobre Teísmo na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Contraste esse ensinamento com o deísmo (também na Enciclopédia), o qual ensina que o Criador, ou Força Criativa (pessoal ou impessoal), abandonou a criação aos cuidados da lei natural. "Teofania, manifestação íntima de Deus a um ser humano em um momento e local definido; muitas vezes fisica como na I1íada e no livro de Gênesis, mas mais

espiritual na forma clássica posterior como para Moisés no arbusto em chamas, Moisés no Sinai, Elias em Horebe, e Jesus, em sua transfiguração. A teofania é mais espetacular e pessoal do que a mera revelação" (Fern, Enciclopédia de Religião). TEOFASCITAS Essa termo vem do grego, theôs, "Deus", e páscho, "sofrer". Esse foi um dos nomes dados aos monofisistas (vide), por ensinarem que em Cristo existe uma só natureza. Em sua fórmula litúrgica eles incluíam a declaração: "Deus foi crucificado", destacando assim a idéia do sofrimento de Deus, ao referirem-se à natureza divina de Cristo. Essa escola surgiu em oposição à decisão cristológica do concílio de Calcedônia, de 451 d.C. TEÓFILO 1. Nome. Esta é uma palavra grega que significa "amigo de Deus"; ou, possivelmente, "amante de Deus", quer dizer, alguém totalmente dedicado ao Divino. Este nome havia sido usado antes do terceiro século a.C., tendo sido encontrado nos manuscritos de papiro e pergaminho, bem como nas inscrições. foi usado, durante séculos, tanto por pagãos quanto por cristãos. 2. Identificação. Lucas dedicou seus dois volumes de história (Lucas e Atos) a este homem, mas não temos informação sobre ele, nem podemos afirmar que fosse cristão ou governador romano. Houve um Teófilo que foi alto oficial em Antioquia, e Eusébio e Jerônimo contam que Lucas era um sírio de Antioquia. As Memórias de Clemente fazem menção a esse Teófilo, mas isso não significa que ele fosse o homem a quem Lucas se dirige na introdução de seus livros. A razão para a obra ser dedicada a um oficial romano pagão (se esse foi o caso) era que Lucas estava ansioso para dar ao cristianismo o status de uma religião oficialmente reconhecida (como o judaísmo há muito exigira). Dessa forma, ser cristão não mais significaria traição contra o Estado e seus deuses e religiões oficiais. Isso interromperia a perseguição contra os cristãos. Caso essa fosse a intenção de Lucas (ou uma intenção ou razão para escrever sua história em dois volumes), então ele fracassou, porque as coisas apenas pioraram para os cristãos, e as perseguições prosseguiram por mais de 200 anos. A mensagem de Lucas, de que o cristianismo era uma fé divinamente inspirada, cheia de milagres e de natureza pacifica, de forma alguma é subversiva, nem foi crida nem entendida por Roma. Os livros dos antigos às vezes eram dedicados a altos oficiais por razões de distribuição e reconhecimento. Teófilo é chamado "excelentíssimo" em Luc. I :3, título dado a Félix, governador da Judéia (Atos 23:36; 4:3), e seu sucessor, Festo (Atos 26:25), e essa pequena evidência pesa em favor da suposição de que Teófilo era igualmente um oficial romano de certa posição. Tudo indica também que ele não era cristão, porque o propósito específico de Lucas (evidentemente) era convencer Roma a aceitar o cristianismo como uma religião legítima. Ele não estava tentando impressionar um colega cristão, pelo menos é essa a minha impressão. De qualquer forma, podemos estar certos de que Teófilo foi uma pessoa real, não um nome simbólico para o amor cristão, que era a interpretação popular nos tempos patrísticos. TEOFRA8TO Suas datas foram 360 - 287. Foi discípulo e sucessor de Aristóteles, como cabeça do Liceu. Ajulgar pelos padrões da época, ele foi homem dotado de um vasto conhecimento.

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TEOLOGIA Escreveu acerca da lógica, bem como a respeito de várias ciências e filosofias. Foi uma figura central na transição da lógica aristotélica para a forma estóica de lógica. Escritos. Caracteres Éticos e Causas e Descrições das Plantas. Além desses livros há fragmentos de seus escritos sobre assuntos de meteorologia, física, metafísica, sensações e fisiologia animal.

TEOLOGIA Esboço: L A Palavra e Suas Definições lI. Referências a Artigos Relacionados m. Caracterização Geral; Esboço Histórico IV. A Teologia e os Filósofos V. Limitações e Expectações I. A Palavra e Suas Definições O termo teologia vem do grego theôs, "deus", e Iôgos, "estudo", "discurso", "raciocínio". Assim, essa palavra indica o estudo das coisas relativas a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc. Uma definição léxica diz: cc... um corpo de doutrinas acerca de Deus, incluindo seus atributose relaçõescom o homem; especialmente,aquele corpo de doutrinas estabelecido por alguma igreja ou grupo religioso em particular".(WA). Essaé uma definição restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral: "O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da religião; além disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da religião cristã". (WA). Definições e Usos Históricos: 1. No Grego Clássico. Uma explicação acerca dos deuses e seus atos, lendários e filosóficos. 2. No Estoicismo. Relatos míticos sobre os deuses; idéias naturais (racionais) a respeito dos deuses e de questões espirituais; a religião civil no que diz respeito aos deuses, aos ritos e às cerimônias religiosas. 3. No Cristianismo Patristico. Temos aí, essencialmente, uma teologia bíblica, incluindo aquilo que a Bíblia diz sobre Deus e seus atos. Mas vários dos pais da Igreja adicionaram algum material oriundo dos melhores aspectos da filosofia grega, conforme se vê nos escritos de Platão, de tal modo que até termos platônicos foram usados para exprimir noções cristãs e bíblicas. 4. Teologia Bíblica. A teologia depende tanto da Bíblia que essa expressão, em muitos círculos, acabou significando as próprias Escrituras. 5 . Nos Escritos de Abelardo. Ele empregava a palavra para indicar o estudo filosófico das doutrinas cristãs. 6. Após Abelardo. Nesse tempo, a expressão passou a indicar o estudo acadêmico das Escrituras e a respeito de Deus. E a teologia tomou-se a rainha das ciências, investida de suprema importância nas universidades da Europa e do Oriente Próximo e Médio. Homens da envergadura de Tomás de Aquino escreveram grossos volumes de teologia, quejamais perderam sua atração sobre as mentes. Versobre o Tomismo. 7. Como Unificação do Conhecimento. Os chamados pais da Igreja, e então os teólogos da Idade Média, enfatizaram a unidade da verdade e do conhecimento, dando a entender que todos os assuntos de estudo, incluindo as ciências, são ramos da teologia, visto que todas essas disciplinas de algum modo falam sobre os atos e as manifestações de Deus. Em tudo descobriríamos a mente de Deus, tanto na matemática como na biologia, como em qualquer outra matéria de estudo. 8. Teologia como Termo Genérico. No uso moderno, o termo veio a indicar certo número de disciplinas

inter-relacionadas, como a teologia dogmática (sistemática), a teologia bíblica, a teologia moral, etc. 9. Para a Mente Religiosa. A teologia, segundo esse ponto de vista, abrange todo e qualquer outro conhecimento, dirigindo-o para sua verdadeira finalidade. 11. Referências a Artigos Relacionados Esta enciclopédia apresenta ao leitor larga gama de artigos sobre assuntos teológicos. No tocante ao presente artigo, os mais importantes são: Teologia Bíblica; Teologia da Crise; Teologia do Antigo Testamento; Teologia do Novo Testamento (onde também há referência a vários outros artigos); Teologia Dogmática; Teologia Sistemática; Neo-ortodoxia. E, no tocante a nossos tempos de grandes desvios, ver Teologia da Libertação. lU. Caracterização Geral; Esboço Histórico I. Na primeira seção deste artigo, A Palavra e Suas Definições, apresentamos ao leitor um certo aspecto como se pode falar, de modo geral, sobre teologia. 2. Esboço Histórico: a. Quanto à natureza geral da teologia do Antigo Testamento e sua influência sobre o Novo Testamento, ver sobre Teologia do Antigo Testamento. b. O período helenista foi importante para a teologia que veio a repousar no Novo Testamento. Os livros pseudepígrafos, produzidos durante esse período, foram um importante elemento na formação dessa teologia. Ver sobre Livros pseudepígrafos e sobre o Enoque Etíope. Ver também Teologia Bíblica, que presta informações sobre a base bíblica da teologia. c. O Novo Testamento não se desenvolveu em um vácuo. Mas no mesmo há um tremendo avanço nas idéias teológicas, nas revelações, dentro dos escritos apostólicos. Ver sobre Teologia do Novo Testamento, bem como os artigos ali mencionados. Os elementos mais decisivos do Novo Testamento são os evangelhos sinópticos, e os escritos de Paulo e de João. d. A Teologia Patrística. Ver os artigos intitulados Pais Antenicenos e Pais Apostólicos, onde há algumas informações sobre a história da teologia. O quinto ponto do artigo Pais Apostólicos aborda, especificamente, a teologia deles. O período coberto pela teologia patrística começa imediatamente com os discípulos dos apóstolos até os séculos VII e VlII d.C., embora alguns abreviem mais ainda esse período. O período patrístico foi um tempo de definições. Embora esses pais estivessem trabalhando com base na Bíblia, como sua principal fonte informativa, contando com as filosofias estóica e platônica como suas fontes secundárias, eles não se mostraram unânimes em tudo. Nem mesmo certas doutrinas cardeais, como as doutrinas de Cristo e da deidade, foram interpretadas de maneira unânime e uniforme. De fato, foi somente já no século IV d.C. que os credos emitidos pelos concílios puderam produzir uma "ortodoxia" mediante a qual foi possível julgar a boa variedade de pontos de vista então existentes. Havia várias tendências teológicas, como a platonização efetuada por alguns pais gregos, como Justino Mártir, Irineu, e, especialmente, os alexandrinos, como Clemente e Orígenes, e daí ao antiintelectualismo extremo (com a absoluta rejeição conseqüente da filosofia) de Tertuliano. Foi principalmente o gnosticismo que provocou a obra dos apologistas. Versobre Apologetas (Apologistas). Devemos ao Credo Niceno e à Definição calcedônica algumas das melhores produções patrísticas, pertencentes principalmente a Atanásio e aos três capadócios. Ver sobre Capadócios, os Três; e Pais Capadócios da Igreja. Foi então que Pelágio levantou a questão da relação entre o livre-arbítrio humano e o determinismo divino. Seu grande

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TEOLOGIA opositor foi Agostinho. O donatismo (vide) apresentou um outro desafio à unidade da Igreja, tanto à doutrina como à organização. Devemos observar que a ortodoxia (vide) foi sendo definida pelos pais da Igreja, em um processo que ocupou muitos séculos. Quanto a outras informações sobre esse período, ver os artigos sobre os nomes dos pais mencionados acima, a respeito dos quais oferecemos verbetes distintos. e. Teologia "Filosofia do Escolasticismo", Ver o artigo detalhado sobre o Escolasticismo. Não queremos reiterar detalhes aqui. A era patrística foi seguida por certo período de inércia intelectual, vinculada às invasões dos bárbaros e às agitações políticas, tanto no Oriente como no Ocidente. Houve alguns poucos e isolados eruditos, como Bede e Alcuíno; mas foi somente após o período medieval que houve nova explosão de atividades teológicas. Esse reacendimento, foi estimulado, pelo menos até certo ponto, pela redes coberta do pensamento dos filósofos gregos, principalmente Aristóteles e Platão. A educação tomou-se apanágio da Igreja organizada, e os escolásticos, teólogos-filósofos, foram os principais agentes na transmissão de conhecimentos. Com Abelardo encontramos o início de um movimento na direção de uma maior racionalização da teologia; e Anselmo legou-nos uma orientação mais bíblica da teologia. Tomás de Aquino, um dos maiores filósofos-teólogos de todos os tempos, procurou reconciliar a filosofia à fé religiosa. Ele usava Aristóteles, primariamente (mas também Platão), para explicar as doutrinas cristãs. Várias sínteses foram assim produzidas, dependendo dos filósofos envolvidos. Esse período caracterizou-se pela cristalização de várias típicas doutrinas católicas romanas, as quais, embora ensinadas desde bem antes, agora eram confirmadas, formando um rígido sistema. As doutrinas mais importantes que foram assim confirmadas foram aquelas acerca da pessoa e importância de Maria (ver sobre Mariolatrta e Mariologia}; da regeneração batismal; do sacramentalismo, da penitência, do purgatório e da transubstanciação. Temos apresentado artigos separados sobre cada uma dessas questões. f. A Reforma Protestante. O artigo sobre esse assunto fornece amplas informações ao leitor, pelo que aqui traço apenas a noção mais geral possível. A Reforma Protestante foi uma espécie de movimento de volta à Bíblia, dentro da Igreja Ocidental. A Igreja Ortodoxa Oriental já se havia separado do Ocidente no ano de 1054, defendendo certas doutrinas distintivas sobre algumas questões. Aí pelos meados do século XV d.C., o escolasticismo já havia perdido o seu primeiro impulso, e seus pensadores principais tinham ficado no passado. As doutrinas que paulatinamente tinham sido formadas pelos escolásticos se haviam distanciado cada vez mais de Agostinho, o qual pode ser reputado como o pai da teologia-filosofia ocidental. Martinho Lutero, um monge agostiniano, ia-se irritando com as interpretações e excessos que, para ele, contradiziam a Bíblia. Isso posto, o que ele procurou fazer, em sua essência, foi fazer parte da Igreja organizada voltar a Agostinho. Mas Agostinho preservou suas idéias ocidentais quanto a várias questões importantes sobre como o homem nasce, vive por breve tempo, morre e então é julgado. Em outras palavras, o modo linear de viver e de receber oportunidades era parte da sua teologia Nessa linha há instantes marcantes: nascimento, vida, morte e julgamento. A Igreja Oriental, em contraste com isso, preferia uma interpretação circular. De acordo com a mesma, não há pontos de estagnação. Assim, aalma seria preexistente, não havendo algum ponto,

dentro do tempo, que assinale quando ela começou. A alma parte para o mundo intermediário, após a morte, e o após-túmulo provê uma continua oportunidade de salvação, e não somente a vida terrena. Em um círculo não há ponto terminal. Contudo, alguns dizem que a segunda vinda de Cristo é esse ponto. No entanto, Lutero, tal como outros reformadores, de modo geral, deram prosseguimento à interpretação linear. E assim, até onde posso ver as coisas, sacrificaram o discernimento dos cristãos orientais, com seu evangelho mais otimista. Seja como for, a Reforma protestante combateu abusos insuportáveis, e devolveu a Bíblia à Igreja. Somente então foram bem disseminadas as traduções da Bíblia, embora alguns poucos antigos tradutores, como Wycliffe (cerca de 1320 - 1384), tivessem vertido a Bíblia latina para o inglês. Mas, juntamente com o movimento de volta a Bíblia, houve a infestação de certo antiintelectualismo. E a Reforma Protestante, com sua insistência sobre a individualidade e com seus ataques à centralização da autoridade, tomou-se progenitora de uma grande fragmentação, conforme hoje se vê na Igreja Ocidental, cada vez mais ativa. Intermináveis credos foram criados por intermináveis seitas. Na maioria das vezes, não há qualquer motivo para explicar o porquê de alguma outra divisão. g. A Teologia Moderna. O período pós-Reforma produziu todas as divisões desencadeadas pelas agitações do século XVI. E foi já no século XIX que surgiram o Liberalismo (vide) e a teologia crítica. Ver sobre Crítica da Bíblia. O liberalismo extremado provocou a reação da Neo-ortodoxia (acerca de cujo movimento apresentei um pormenorizado artigo). Nos círculos evangélicos, o neo-evangelicalismo promove uma espécie de posição intermediária entre o liberalismo e o fundamentalismo, Ver os artigos chamados Neo-Evangelicalísmo e Fundamentalismo. Dentro da Igreja Católica Romana, por sua vez, tem prevalecido o neo-escolasticismo (vide), embora também exista uma ala liberal católica romana. Ver sobre o Liberalismo Católico. Mais recentemente, e de uma maneira que pareceria incrível, a chamada Teologia da Libertação (vide) tem conseguido muitos adeptos no catolicismo romano e até entre denominações protestantes. Esse último movimento busca uma espécie de síntese com a filosofia marxista. Quanto à natureza das modernas igrejas protestantes e evangélicas, ver o artigo Protestantismo. 3. Tipos de Teologia. Poderíamos dividir os estudos teológicos nos seguintes ramos: a. Teologia Bíblica (vide). Ali a Bíblia é, virtualmente, a única fonte informativa; e mesmo quando há apelo a outras fontes, elas são avaliadas através da Bíblia. As doutrinas bíblicas são sistematicamente classificadas. b. Teologia Dogmática (também conhecida por Teologia Sistemática, vide). As denominações protestantes e evangélicas produzem seus próprios credos sistematizados. Doutrinas que a Bíblia meramente sugere (ali a Bíblia continua sendo a principal, embora não a única fonte informativa, exceto no liberalismo) são promovidas à posição de doutrinas explícitas. Procura-se fazer os mais completos estudos sobre ensinos bíblicos como a Trindade, a encarnação, aexpiação, a Igreja, as ordenanças, as últimas coisas, etc. A teologia sistemática por muitas vezes vai além daquilo que a Bíblia ensina; e meras implicações bíblicas já se tomam ali dogmas rígidos. Acresça-se que a teologia sistemática tem o mau hábito de deixar de fora toda idéia que não se ajusta ao seu sistema particular, ou então distorce essas idéias, mediante dúbias interpretações (mesmo quando a Bíblia ensina claramente de outro modo). Tudo isso para que o sistema criado possa ter continuidade. Todas

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TEOLOGIA as teologias sistemáticas limitam os ensinos bíblicos, forçando-os a entrar em moldes apertados e incompletos. Essas teologias não reconhecem que a Bíblia é mais heterogênea do que estão dispostas a admitir, e que as Escrituras são mais vastas que as teologias sistemáticas são capazes de abarcar. Se é veraz a declaração que diz: "As denominações começam no Novo Testamento", também expressa uma verdade o fato de que todas essas denominações ignoram ou distorcem porções do Novo Testamento, na ânsia de conseguirem algum sistema homogêneo. Apesar dessas fraquezas, porém, as teologias sistemáticas contribuem para o nosso conhecimento, mediante a organização dos pensamentos teológicos e o bom desenvolvimento dos mesmos. Merecem nossa atenção e estudo, mas não devem ser usadas como rígidos padrões de aquilatação. c. Teologia Moral (vide). Os cristãos preferem-na chamar de ética cristã. Está em pauta a conduta cristã ideal. Até bem dentro dos tempos modernos, a Bíblia era o principal, ou mesmo o único manual de conduta. Mas atualmente os filósofos-teólogos preferem apelar para outras fontes, algumas vezes vantajosas, mas outras vezes com prejuízo. d. Teologia Pastoral (vide). A teologia pastoral consiste em instruções aos ministros das igrejas locais, acerca de como deverão tratar com a sua gente. Em certo sentido, é a ciência da cura de almas. No seu sentido prático, a teologia pastoral aborda os ritos, os cultos e as expressões religiosas práticas. Essa teologia ocupa-se da disciplina, do treinamento, da educação e da aplicação do Evangelho às pessoas, e isso de maneira prática. e. Teologia Mística. Ver sobre o Misticismo. Essa é a teologia que estuda acerca de como a alma pode ter acesso direto e comunhão com Deus, mediante experiências místicas. E isso de maneira extemalizada, como nas visões, nas profecias ou na iluminação, ou de maneira subjetiva, como na intuição. f. Teologia Litúrgica. Essaé a teologia que aborda as formas de adoração, e de que modo essas formas devem ser praticadas nas igrejas locais. g, Teologia Filosófica. Aí a filosofia é empregada a fim de examinar, organizar e explicar melhor a teologia. A realidade é examinada filosoficamente. Deus aparece como parte dessa realidade, como também a alma. Ver sobre Filosofia da Religião. Ver também Filosofia e a Fé Religiosa, A. h. Outras teologias possíveis são a lei canônica, a história da teologia, a história do dogma, embora usualmente não sejam consideradas teologias. 4. Alcance e Conteúdo da Teologia. A natureza geral desse alcance e conteúdo pode ser compreendida, se revisarmos os tipos de teologia, conforme demos no terceiro ponto. No artigo chamado Teologia Sistemática, provi informações detalhadas sobre os tipos de coisas que a teologia examina. A teologia é o estudo ou ciência que trata de Deus, de sua natureza e atributos e de suas relações com o homem e com o Universo. Isso posto, a teologia perscruta todos os aspectos da metafisica: a teologia propriamente dita (o estudo de Deus); a antropologia (o estudo do homem); a cosmologia (o estudo do Universo). IV. A Teologia e os filósofos Pano de fundo. A teologia, como estudo dos deuses, estava pesadamente envolvida com as religiões míticas, o que se evidencia claramente nos escritos de Homero e Hesiodo. I. Platão (mestre de Aristóteles) contava com uma elaborada teologia, onde as Idéias ou Formas, as realidades

espirituais básicas, recebiam os atributos que conferimos a Deus; e, em seu diálogo, Leis, essas idéias foram substituídas pela simples palavra grega theos, "deus". 2. Aristóteles fez da teologia uma disciplina filosófica séria, e as idéias divinas, como ser Impulsionador Não-Movido, faziam parte de seus estudos de metafisica, ou seja, a seção de seus escritos que aparece "após a física", Seu estudo sobre as causas lançou a base para o argumento teleológico em favor da existência de Deus. 3. Filo Judeu (vide) empregou o platonismo como sua teologia, provendo-lhe informações adicionais com base em conceitos veterotestamentários, que procurou conjugar com as idéias de Platão. Ele falava de um Deus transcendental que nossa linguagem não é capaz de expressar, a não ser negativamente, ou seja, Deus não é isto. Ele lançou mão na doutrina do Logos, a fim de aproximar Deus dos homens. Em seus escritos, algumas vezes o Lagos é apenas uma força impessoal; mas, outras vezes, é "o anjo do Senhor", a divindade personificada. 4. No cristianismo, a filosofia foi utilizada por alguns dos principais pais da Igreja, como Justino Mártir, Irineu, Clemente, Orígenes de Alexandria e Agostinho. Assim, a filosofia veio a tomar-se serva da teologia. Os apologistas cristãos defendiam o cristianismo utilizando-se de argumentos filosóficos (excetuando Tertuliano), em seus ataques ao paganismo e ao gnosticismo. Argumentos filosóficos foram usados em conexão com as tentativas de definir questões teológicas. Vê-se isso na fórmula do homoousios, na fórmula do credo niceno, como também em sua modificação, as explicações sobre o adjetivo homoiousios. No primeiro caso, argumentava-se que Cristo é "da mesma natureza" que Deus Pai; e, no segundo caso, que Ele é de "natureza semelhante" a Deus Pai. Assim, a filosofia mostrou-se ativa em todos os primeiros concílios eclesiásticos e nos escritos da grande maioria dos pais da Igreja, esforçando-se eles por definir melhor as doutrinas do cristianismo. S. O Pseudo-Dionísio (vide) criou várias abordagens à teologia: a. a abordagem positiva (aquela que repousa sobre as Escrituras); b. a abordagem negativa (só podemos conhecer Deus afirmando aquilo que Ele não é); c. a abordagem superlativa (a visão neoplatônica de que Deus é o superlativo de todas as idéias, estados e virtudes); d. a abordagem mística (a mais elevada e produtiva forma de teologia, que conta com o poder impulsionador do Espírito Santo). 6. Anselmo (vide) outorgou-nos o Argumento Ontológico (vide), além de importantes estudos sobre a expiação; Hugo de São Vítor (vide), Pedro Lombardo (vide) e o quarto concílio laterano (121 5) desenvolveram as doutrinas sacramentalistas. Destarte, a doutrina católica romana típica estava em plena formação. 7. Maimônides (vide) aplicou noções aristotélicas à fé dos hebreus, além de abordar os problemas relativos à teologia positiva e negativa, e, de modo geral, procurou desenvolver os conceitos de Deus, a moralidade e a própria teologia. S. A Summa Theologica (vide) de Tomás de Aquino (vide) foi o ponto culminante do movimento de pensamento que tivera começo com os apologistas. Tomás de Aquino proveu um estudo exaustivo da doutrina cristã, tendo-se utilizado de Aristóteles quanto a muitas de suas definições. Desse modo, a teologia católica romana estava em plena inflorescência, excetuando alguns pontos, que só surgiram mais tarde. A filosofia de Tomás de Aquino tomou-se a posição oficial da Igreja Católica Romana para abordar filosoficamente a fé cristã.

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TEOLOGIA 9. Tomás de Aquino distinguia criteriosamente as duas abordagens à teologia: a natural (teologia natural; vide) e a revelada (aquela que está alicerçada sobre as revelações bíblicas). Na primeira, opera a razão; na segunda, a fé aceita dogmas inalcançáveis para a razão. Ele pensava que ambas as abordagens são necessárias e boas, não necessariamente em conflito. Por outra parte, Guilherme de Ockham (vide) pensava que a fé religiosa deve estribar-se inteiramente sobre a revelação. E também julgava que, necessariamente, a teologia deve ser independente da razão e da ciência. Em seu modo de pensar, pois, a filosofia, apesar de ser uma atividade legítima, não deveria ser mesclada com a teologia. 10. A teologia protestante foi essencialmente escudada na revelação, e não nos raciocínios da filosofia. Um aspecto exagerado dessa atitude foi e continua sendo o anti intelectualismo (vide). O protestantismo também minimizou a influência das tradições e das decisões dos concílios, a fim de nada dizermos sobre a autoridade papal para determinar doutrinas. Ll. Suarez confiava que a filosofia é útil paraexaminarmos as crenças e os dogmas teológicos, dizendo que quando isso é feito de modo correto, alcança-se uma "unidade superior" da fé cristã. Em outras palavras, a teologia requer um exame critico. Nossa fé não dispensa exame. 12. A teologia da crise (vide) e a teologia dialética (vide) tiveram suas origens na noção de Kierkegaard de que se faz mister um salto de fé a fim de atingirmos o nível do cristianismo; e que a filosofia, apesar de útil, fracassa nesse ponto. Essa maneira de encarar a teologia foi desenvolvida por Karl Barth; e o artigo sobre a Neo-Ortodoxia expõe de modo completo essa atitude mental. Emil Brunner (vide) foi importante expositor desses pontos de vista. 13. Paul Tillich (vide) afirmava que a filosofia e a fé religiosa são atividades recíprocas. Mas, ainda segundo ele, as verdades realmente grandes e elevadas estão fora do alcance de ambas. Portanto, sempre houve e sempre haverá uma inquirição pela Verdade última. A própria revelação apenas estenderia a mão na direção da Verdade. 14. A Teologia Radical foi um desenvolvimento da década de 1960, com sua absurda afirmação da "morte de Deus". 15. A Teologia é a mais alta de todas as ciências, e muitas abordagens à mesma fazem-se necessárias. Uma única fonte informativa nunca é suficiente quando estão em pauta questões complexas. Isso posto, todas as portas e janelas deveriam ser abertas. Algumas vezes, somos beneficiados mediante esse método, das maneiras mais inesperadas. A filosofia é uma abordagem auxiliar. Nenhuma única fonte informativa é suficiente por si mesma. V. Limitação e Expectações A filosofia tem-nos ensinado a dificuldade que os homens experimentam quando procuram definir grandes questões como o amor, a amizade, a bondade, a verdade, etc. Até a simples palavra iogo pode dar-nos maiores dificuldades do que geralmente antecipamos, se a quisermos definir de tal modo que todos se satisfaçam com a definição. E muito maior é a dificuldade quando tentamos entender a teologia, o "estudo de Deus", o mais sublime de todos os assuntos. Todas as nossas alegadas teologias são (pelo menos em boa dose), humanologias, porquanto descrevemos Deus conferindo valores absolutos ao homem. Assim, pensamos que Deus é como um grande papa; ou como o maior de todas os bispos; e assim, acabamos injetando nossa ignorância e nossas distorcidas

interpretações nas Escrituras. Temos tão pouco genuíno contacto com o Espírito de Deus que o nosso real conhecimento de Deus sofre tremendamente Muitos homens idolatram os Livros Sagrados (btbltolatria: vide), e fazem Deus estagnar com suas declarações sábio-estúpidas. A comunhão mística com o Senhor é o melhor de todos os mestres acerca de Deus; e, no entanto, alguns homens, em seu antiintelectualismo e em seus preconceitos antimísticos, chegam a condenar qualquer tipo de experiência mística, mesmo aquele tipo ensinado na Bíblia. Ver sobre o Misticismo. O próprio vocábulo teologia deveria despertar-nos a mente, porquanto é perfeitamente óbvio, para qualquer pessoa pensante, que há grandes mistérios ainda a ser investigados, e que muita coisa que dizemos a respeito de Deus erra por omissão. Quando criticamos certos conceitos sobre Deus, como aquele que faz dele o grande Destruidor Cósmico, somos acusados de blasfêmia. Porém, é possível alguém blasfemar de algum conceito de Deus, sem tornar-se culpado de blasfêmia contra o próprio Deus. Nosso conhecimento acerca de como Deus é vem-se desenvolvendo através dos séculos. O Novo Testamento tem um melhor conceito de Deus do que o Antigo Testamento, e não há razão alguma para supormos que nossos conceitos de Deus não possam chegar, algum dia, a ultrapassar o que diz o próprio Novo Testamento, quando for da vontade do Espírito de Deus que isso se torne uma realidade. De fato, isso terá de suceder finalmente, nem que seja do outro lado da existência, porquanto nosso conhecimento de Deus é confessadamente irrisório. Os homens, porém, gostam de estagnar Deus, encerrando-O em uma caixa. Essa atividade limitadora nada tem a ver com a verdade. Tão-somente provê conforto mental aos que assim fazem. O apóstolo Paulo falou sobre grandes mistérios (ver I Cor. 112) que ainda não nos foram revelados; e isso permanece de pé, a despeito de haver-se completado o Novo Testamento. Paulo asseverou que grandes revelações aguardam por nós (ver I Cor. 13: 12). Mas alguns, de forma muito ridícula pensam que o fato do término do cânon das Escrituras solucionou todos os problemas de conhecimento. O apóstolo, na verdade, estava falando acerca daparousia (vide), bem como das novas revelações que aquele evento (ou melhor, que aquela série de eventos) haverá de trazer-nos. Visto que todos os sistemas e todas as denominações são misturas do que é bom e do que é ruim, do verdadeiro e do falso, a to/eráncia (vide) deveria ser a atitude e o procedimento básicos de todos os crentes. E os verdadeiramente espirituais irão até além da tolerância, pois passarão à apreciação e chegarão ao amor. (AM B BENT C EFIB IDMMPR) TEOLOGIA ALÉM DA TEMPESTADE Ilustrada por Meio de uma Parábola - Visão Certa noite, estava eu sentado em casa, lendo umjomal. De súbito, o céu e o interior da casa foram iluminados por um poderoso relâmpago. Por alguns segundos, a noite ficou igual ao dia. Logo em seguida ribombou o trovão, que foi tão potente que a casa estremeceu, como que sacudida por um terremoto. Caiu então uma tempestade violentíssima, que julguei ser um tufão incomparável. E foi somente quando me vi fora de casa, sacudido pela tempestade, que compreendi que eu estava tendo uma visão e não uma experiência real. Eu contemplava, atônito, toda aquela violência; e, então, uma iluminação interior informou-me que tudo aquilo representava o iulgamento.

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TEOLOGIA - TEOLOGIA BÍBLICA

o temporal

desconhecia limites em sua violência, e eu podia ver que sua fúria queimava toda imundícia, e suas águas estavam limpando a terra inteira. Foi-me dado perceber a agonia das pessoas mal preparadas, que a tempestade surpreendera; e, em meio aos acontecimentos, eu mesmo me sentia desesperado, como se a tempestade nunca fosse ter fim. Aos poucos, porém, a tempestade se foi dissipando, pela força de sua própria violência. A chuva foi ficando mais leve, e o céu se aclarou. Olhei para a superfície da terra, e vi que estava limpa. Aos poucos, plantas e flores foram crescendo, e pessoas felizes apareceram na cena. E, então, uma iluminação interior informou-me que, sem aquela tempestade, não teria havido renovação. Minha mente começou a fazer comparações. Entendi a similaridade entre aquela tempestade com a filosofia pessimista do existencialismo ateu. Também percebi que as experiências com os alucinógenos produzem estados mentais que sugerem às pessoas o terror de uma tempestade. E também entendi que há um estado para além daquela condição tenebrosa. Vi que o temporal do julgamento é algo indispensável para que haj a um trabalho de restauração. E, finalmente, também compreendi que uma vez terminada a obra da procela, o produto final será glorioso. Quero falar com toda clareza. O julgamento é uma realidade. Algumas filosofias entendem, intuitivamente, essa realidade, tornando-se reflexos da mesma. Experiências negativas com os entorpecentes também despertam aquela parte da mente que reconhece a realidade do julgamento, e refletem a mesma. Porém, nem essas filosofias e nem essas experiências mostram o capítulo final do destino humano. O julgamento é uma realidade, embora intermediária, e não final. Para além do juízo haverá uma outra condição. Esse outro estado será glorioso, e dependerá, em parte, do trabalho do julgamento, para tornar-se uma realidade. Existe uma Teologia Para Além da Tempestade. Infelizmente, muitas religiões fazem estacar o destino humano dentro da tempestade, incapazes de divisar, para além disso, o dia glorioso que nascerá em seguida. Assim, elas não entendem a própria razão do julgamento. Felizmente, a tradição mística, de modo geral, vê para além do temporal. Certos segmentos da Igreja cristã também participam dessa visão, pelo menos parcialmente, especialmente os pais gregos, a Igreja Oriental e os anglicanos. A Igreja Ocidental (a Igreja Católica Romana e suas "filhas errantes", as igrejas protestantes e evangélicas) ensina uma teologia pessimista sobre o julgamento, deixando os homens em meio ao temporal. Essa teologia, porém, é míope, ignorando o Mistério da Vontade de Deus (vide), que transparece em Efésios 1: 9, 10. Esse é o nosso melhor texto acerca do que Deus tenciona fazer, finalmente. Ver também o artigo intitulado Restauração. Os não-remidos serão "restaurados", e isso envolverá uma gloriosa obra secundária de Cristo. Porém, mister é ajuntar que os restaurados não chegarão a participar da natureza divina, o alvo mesmo da redenção dos eleitos (ver 11 Ped. 1:4; Rom. 8:29; 11 Cor. 3:18). Nesse sentido, o julgamento será eterno, porquanto haverá uma privação. Mas, por outro lado, é errôneo encarar ojulgamento somente como se fosse uma retribuição. O julgamento também será remedial, e fará parte daquilo que Deus faz visando ao beneficio dos não-remidos. Sim, há uma teologia para além da tempestade. Infelizmente, como já dissemos, há uma boa parte da Igreja cristã que deixa os homens na tempestade.

Para eles, essa tempestade será somente destruidora. Sua água e seu fogo, conforme concebem, não purificarão e nem limparão. Mas a verdade é que a tempestade será o limiar da introdução de um Novo Dia. TEOLOGIA ALEXANDRINA Ver sobre Alexandria; Teologia de TEOLOGIA APOFÁTICA É a confissão teológica na qual reconhecemos que Deus está acima de todas as categorias e descrições humanas, e que Sua real substância e descrição são transcendentais. Ele transcende à afirmação e à negação, não podendo ser atingido mediante a força do intelecto. Só pode ser atingido mediante o êxtase de amor, onde a união com Deus e a deificação têm lugar. Dionísio, o pseudo-areopagita (ver o artigo a respeito) (cerca de 500 d.C.),provavelmente foi quem cunhou o termo. É usado em contraste com TEOLOGIA CATAFÃTICA, que afirma o que pode ser afirmativamente predicado a Deus. Isso envolve as descrições normais da natureza e dos atributos de Deus, além das nossas doutrinas dos lugares celestiais, dos anjos e das declarações intelectuais e simbólicas. TEOLOGIA ASCÉTICA A teologia ascética diz respeito à vida cristã, desde seus primórdios até os primeiros estágios da contemplação, para a qual é uma preparação. É uma análise sistemática da vida da graça, sob o Espírito, em termos de disciplina. Procura encorajar os crentes a purificar-se de toda a auto-referéncia Seus três aspectos principais são: 1. O caminho do expurgo: o indivíduo tenta livrar-se do egoísmo e dos desejos pessoais. 2 O caminho da iluminação: o indivíduo, uma vez liberto do "eu", tenta confirmar-se segundo a imagem de Cristo, mediante a contemplação de Sua pessoa e a prática de todas as virtudes. 3.0 caminho da unificação: O indivíduo tenta tomar consciência de sua união com Deus. Nesse ponto, a teologia ascética mescla-se com a teologia mfstica (ver o artigo). (C) TEOLOGIA BIBLICA Esboço I. Sentidos da Expressão lI. Observações e Críticas Sobre Essas Idéias III. Principais Temas da Teologia Bíblica IV. Noções da História da Teologia Bíblica I. Sentidos da Expressão A expressão teologia brblica é usada de várias maneiras, a saber: I. Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as idéias da Bíblia, sem os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a Bíblia realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o estudioso e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça a todas as denominações, cuja própria existência depende da distorção de certos ensinos da Bíblia. 2. A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro homogêneo, conforme as pessoas gostam de acreditar. Não obstante, a tentativa resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso. 3. A tentativa de construir um completo sistema teológico, mediante o uso da Bíblia como única fonte

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TEOLOGIA BÍBLICA informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos fundamentalistas e conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-ortodoxia, ou pelos grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições eclesiásticas, dos pais da Igreja e dos concilias, como autoridade, conforme fez Lutero. 4. O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus pontos de vista fundamentais, e juntamente com exposições de idéias pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles autores sagrados. 11. Observações e Criticas Sobre Essas Idéias I. A primeira dessas atividades é tão nobre como qualquer outra que poderia ser efetuada. Todas as denominações cristãs, sem importar quão biblicas elas se suponham, descobrem ser necessário distorcer e dogmatizar certas porções das Escrituras, a fim de fazerem seus sistemas alicerçarem-se exclusivamente sobre a Bíblia. Mas fazem isso ajustando as Escrituras às suas crenças, e não ajustando suas crenças às Escrituras. 2. Apesar de ser impossível fazer a Bíblia tornar-se uma obra totalmente homogênea, dotada de uma única mensagem central, a tentativa é útil, pois procura determinar a mensagem ou as mensagens comunicadas pelas Sagradas Escrituras. Isso confere-nos uma melhor compreensão sobre a tradição geral hebraico-cristã, bem como sobre o tipo de fé ali ensinada. 3. As Escrituras como única regra de fé. O amigo leitor terá de desculpar-me quanto a esse ponto, pois vejo problemas sérios nessa regra artificial. apesar do fato de haver sido criado como crente batista e de ter sido ensinado a respeitar esta noção. Porém, essa regra pode ser criticada quanto a diversos particulares. enumerados abaixo: a. Trata-se de um dogma, e não de um ensino contido na própria Bíblia. Em parte alguma as Escrituras declaram que elas devem ser a única regra de fé e prática. De fato, não há na Bíblia qualquer declaração baseada no conhecimento do cânon terminado. Nenhum dos autores sagrados sabia quando o cânon sagrado estaria terminado. Não foi se não já no século IV d.e., que o cânon do Novo Testamento ficou fixado, no parecer da maioria dos cristãos; e mesmo depois, oito livros continuaram sendo disputados em vários segmentos da Igreja. Portanto, tomar o que agora se considera ser a coletânea das Escrituras, e afirmar que somente esses livros nos podem servir de regra, necessariamente é um dogma posterior. Esse dogma reveste-se de certa utilidade. porquanto nos infunde um profundo respeito pelas Escrituras. E, de fato, devemos respeitar ao máximo os oráculos de Deus. Porém, o ar de finalidade que está envolvido nesse dogma é uma idéia humana, e não uma verdade divina revelada. b. Na prática, a aplicação dessa regra transmuta-se nisto: Como eu e a minha denominação interpretamos as Escrituras. Lutero tem sido altamente elogiado por defender fortemente a idéia das "Escrituras somente". No entanto, ele ensinava a regeneração batismal, a consubstanciação (ver o artigo), e traçou o plano geral do luteranismo (ver o artigo), que as demais denominações evangélicas insistem não se harmonizar com a regra das Escrituras somente. Poderíamos multiplicar exemplos de como essa regra reduz-se a alguma interpretação particular das Escrituras. Os grupos de restauração e os grupos pentecostais afirmam estar fazendo a Igreja retomar ao seu primitivo estado, mediante a observância cuidadosa de todos os preceitos ou mediante a restauração dos dons espirituais. E, no entanto, conseguem ignorar completamente a unidade espiritual da Igreja, que

congraça todos os verdadeiros regenerados, mostrando-se extremamente sectaristas, ou então certos ensinamentos práticos, como aquele que ordena que as mulheres se mantenham caladas na igreja. Também têm igrejas dirigidas por um único ministro, que os grupos dos irmãos estão certos em não corresponder ao ministério diversificado das igrejas primitivas. Os batistas sentem-se confortados ante a idéia de que eles são os melhores representantes atuais da Igreja primitiva; mas rejeitam os dons espirituais alicerçados sobre o dogma erroneamente derivado de I Coríntios 13: 1-13, que ensina como a "parousia" ou segunda vinda do Senhor obviará os dons espirituais. Mas os batistas interpretam que o término do cânon das Escrituras põs fim ao exercício dos dons espirituais, embora tal interpretação seja inteiramente estranha ao texto sagrado, não podendo suster-se de pé diante do exame mais superficial. Além disso, certos grupos batistas mostram-se radicais quanto à doutrina da predestinação (que é uma doutrina bíblica), mas fazem-no de modo a ignorar certos textos como I Timóteo 2:4, os quais aludem a uma oportunidade universal e ao amor verdadeiramente universal de Deus. Em contraposição, há grupos evangélicos que enfatizam de tal modo a doutrina do livre-arbítrio que precisam torcer textos bíblicos como o nono capitulo de Romanos. que ensina o controle do livre-arbítrio humano pela vontade soberana de Deus. Muitas pessoas não conseguem perceber que certas doutrinas terminam em paradoxos. e que a harmonização entre todas elas é simplesmente impossível, tanto por causa de nossa limitada compreensão como pelo fato de que Deus reservou para si mesmo certos informes que nos foram negados. A doutrina da salvação de crianças que ainda não atingiram a idade da responsabilidade moral não se baseia nas Escrituras, mas na razão. Na verdade, essa é uma doutrina importante, com implicações extensas. Porém. não é uma doutrina ensinada na Bíblia, e nem corresponde à verdade, até onde eu posso ver as coisas. Penso que as noções da pré-existência da alma e a continuação da oportunidade de salvação, além do sepulcro (I Ped. 4:6), nos provêm respostas melhores. dotadas de base bíblica, ao passo que aquela é puramente racional e emotiva. Ainda temos que considerar que a Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa e os anglicanos estão certos da veracidade da doutrina da sucessão apostólica (ver o artigo), a qual está razoavelmente alicerçada sobre textos como João 20:23 e a mensagem geral das epistolas pastorais, que ensinam a transmissão de autoridade através da ordenação de anciãos ou bispos. No entanto, há outros grupos cristãos igualmente certos de que existem outras maneiras de transmissão da autoridade espiritual. Após examinarmos cada denominação cristã, chegamos à conclusão de que há em cada caso. uma mescla particular de conceitos bíblicos e humanos, onde a Bíblia nem sempre é o fator decisivo, e nem mesmo o Novo Testamento. Na prática, pois. a regra de "as Escrituras somente" reduz-se a uma seleção de trechos bíblicos e à interpretação dos mesmos. c. O problema da homogeneidade. A regra das "Escrituras somente" pressupõe. erroneamente, que as próprias Escrituras são homogêneas. Mas é evidente.que o Antigo e o Novo Testamentos não podem ser considerados como uma unidade. para então tornarem-se a base da fé e da prática. Não mais oferecemos animais em sacrificio; não temos mais sacerdotes levitas, etc. O Novo Testamento nos leva além do Antigo. Além disso. é óbvio que o próprio Novo Testamento não é tão

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TEOLOGIA BÍBLICA homogêneo como as denominações evangélicas nos querem fazer acreditar. Assim, podemos encontrar versículos que quase certamente ensinam a regeneração batismal - como Atos 2:38-, embora também possamos descobrir, na epístola aos Romanos, que Paulo não acreditava nisso, pois em suas longas passagens que abordam a justificação pela fé, ele ignora totalmente o papel do batismo em água. Poderíamos especular que algum dos apóstolos cria na necessidade do batismo para a salvação (vinculando o batismo à circuncisão judaica, segundo se vê em Atos 15 e Cal. 2:12,13). Além disso, transparece no Novo Testamento o paradoxal ensino do livre-arbítrio humano e do determinismo divino, e não apenas em interpretações dos séculos posteriores. Uma pessoa pode defender um lado ou outro dessa questão bilateral, oferecendo diferentes textos de prova. Nos evangelhos, a salvação aparece como simples questão do perdão dos pecados e da transferência para o Céu. Porém, nos escritos de Paulo, transparece a idéia da transformação dos remidos segundo a imagem de Cristo, conferindo-lhes a própria natureza divina, conforme a mesma se manifesta no Filho, como a essência mesma da salvação (Rom. 8:29; Il Cor. 3:18; li Ped. 1:4). O Julgamento também não é apresentado como doutrina sem diversas facetas. no Novo Testamento. Há realmente aquela posição, assumida pelos pais latinos da Igreja, pela Igreja de Roma e pelos grupos protestantes que se derivam do cristianismo ocidental, de que a morte física é o fim da oportunidade da salvação, conforme o texto de Hebreus 9:27 é usado como texto de prova. No entanto, Pedro alude à descida de Cristo ao Hades (I Ped. 3: 18-4:6), o que garante a oportunidade renovada além do sepulcro (ll Ped. 4:6). Esse sempre foi o ponto de vista dos pais gregos da Igreja, seguidos por muitas igrejas cristãs orientais, e pelos anglicanos, como uma denominação evangélica ocidental. Ambas as posições aparecem no Novo Testamento, e ambas as posições são representadas por denominações cristãs modernas. Precisamos selecionar aquilo que é melhor, do ponto de vista racional e intuitivo. Meus amigos, precisamos escolher, e não somente em relação a essa doutrina, mas acerca de muitas outras, pois o Novo Testamento não é um documento tão homogêneo como temos sido ensinados a aceitar. Seguir a verdade é muito mais uma aventura do que seguir o roteiro traçado em um mapa. Os mistérios referidos por Paulo levam-nos a regiões não exploradas por outros apóstolos; do contrário, nem seriam mistérios. Portanto, existem níveis diversos de verdade, expressos nas páginas do Novo Testamento, e não apenas quando o Antigo Testamento é comparado com o Novo. O ensino paulino sobre o destino final do homem, a restauração referida em Efésios I: 1O, não é doutrina antecipada pelos outros autores sagrados, e nem é ensino muito popular em muitos segmentos da Igreja. No entanto, é uma preciosa e profunda verdade, que dá maior otimismo à fé cristã. Além disso, aiicerça-se sobre uma interpretação verdadeiramente universal do amor de Deus, um amor escorado na onipotência divina. Há quem concebe um amor de Deus que não se escuda em Seu poder, mas isso não é o verdadeiro amor de Deus. Como é que Deus poderia amar o mundo (João 3: 16), sem que isso fizesse uma diferença universal, em favor do mundo, através da missão de seu Filho, que foi o poder que trouxe o amor de Deus a todos os homens? Não me sinto satisfeito diante de amor meramente teórico, que não consegue cumprir o intento de Deus e faz do Evangelho um fracasso. E impossível que a missão de Cristo tivesse falhado, embora seu sucesso seja

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alcançado em diferentes gradações, no caso de diferentes pessoas. Suspeito do Evangelho que resulta em fiasco, que não beneficia, de alguma maneira, a todos os homens. Sem dúvida há mais verdade do que isso, mais poder, mais ação e mais resultados. Suspeito de um Evangelho que afirma querer atingir todos os homens, mas que, em face de razões humanas, não consegue fazê-lo. Suspeito de um evangelho que tenciona atingir apenas a alguns poucos, quando as próprias Escrituras declaram que o amor divino é universal, e que a intenção do Senhor é salvar a todos. Suspeito de um Evangelho que se mostra apressado, que precisa salvar a todos os homens dentro do estreito limite de suas vidas terrenas, algo claramente impossível. no caso da vasta maioria dos homens. Suspeito de um Evangelho que, desde o começo, está baseado em uma impossibilidade. Suspeito de um Deus (segundo a concepção de alguns) que, embora se declare grande, na verdade é tão limitado que seu Filho não consegue realizar a missão que lhe foi dada a cumprir. Antes, concebo um Deus cujo propósito é universal e cujo poder é suficiente para cumprir todo o seu propósito, através de seu Filho. E, se eu tiver de escolher entre textos de prova, a fim de chegar a esse tipo de Deus, de Filho de amor divino e de Evangelho, isso será exatamente o que farei. d. Seleção de textos de prova. Meus amigos, ninguém pode aclarar toda a verdade examinando alguns textos de prova. Em primeiro lugar, alguma outra pessoa religiosa interpretaráos mesmos textos de prova de maneira diferente. Em segundo lugar, os textos de prova escolhidos podem não ser a única informação disponível, sobre o assunto que se procura explicar.Em terceiro lugar, ouso dizê-lo, os textos de prova podem não ter mais aplicação. Por exemplo, os mandamentos acerca da guarda do sábado, que tinham aplicação a Israel, mas não têm mais aplicação em nossos dias da graça. Ou então Hebreus 9:27, que fala até o juízo, e que é ultrapassado em alcance por I Pedro 4:6, que fala até a restauração de todas as coisas. Idéias de um inferno eterno, sem mitigação, foram ultrapassadas por Efésios I: 10. E assim, na medida em que vamos entendendo a verdade, vamos crescendo no nosso entendimento, pois a verdade jamais é uma entidade fixa Na verdade, a verdade é uma aventura contínua. No presente, somos possuidores de bem pouca verdade, embora alguns itens da mesma, que o Senhor já nos revelou, sejam extremamente importantes para nossa vida e bem-estar espirituais. e. Muitas autoridades. Finalmente, preciso declarar a verdade sobre essa questão, ressaltando a necessidade da existência de muitas fontes de verdade. É impossível que toda a verdade de Deus esteja contida em um único livro ou coletânea de livros. Na verdade, não honramos a Deus quando declaramos que isso tem de ser assim, pois nem mesmo as Escrituras fazem tal afirmação. Com declarações assim, limitamos drasticamente a Palavra de Deus, pois essa Palavra é multifacetada. A Palavra é a totalidade da comunicação divina, sem importar como Ele a tenha comunicado. A comunicação através da Bíblia é apenas uma dessas facetas. A Bíblia nos foi dada como padrão de aferição de nossas idéias religiosas. Mas a Palavra de Deus é maior que a Palavra escrita. O Mensageiro enviado a Daniel revelou a ele: "...eu te declararei o que está expresso na escritura da verdade..." (Dan. 10:21). E diz o salmista: "Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu" (Sal. 119:89). Mas o que chegou até nosso conhecimento, foi aquilo que Deus nos quis revelar. A Palavra de Deus é mais vasta e profunda do que a Palavra escrita, e a Palavra escrita envolve muito mais do que qualquer interpretação pessoal da mesma, sendo essa a base das denominações cristãs.

TEOLOGIA BÍBLICA f. Coisa alguma do que dissemos acima deve ser

interpretada como tentativa de diminuir a importância das Escrituras como autoridade espiritual. Realmente, quando mostramos que a Bíblia é maior que qualquer interpretação denominacional, quando mostramos que ela nos convida a um desenvolvimento espiritual que nos levará a ir redescobrindo a verdade em níveis cada vez mais elevados, quando mostramos que ela infunde em nossos espíritos uma atitude de otimismo, em face do amor de Deus e de seu plano benfazejo para com toda a humanidade, estamos apenas exaltando as Escrituras. Isso honra mais a Bíblia do que se lhe atribuírmos oficios que ela não tem, ou do que se limitarmos o seu escopo. Portanto, podemos encerrar este ponto dizendo que se as Escrituras não são a autoridade exclusiva (ver o artigo sobre a questão da autoridade), elas ocupam posição central e precisam ser ouvidas, porquanto diz o Senhor: "À lei e ao testemunho". Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva (Isa. 8:20). 4. Está equivocado o pressuposto de que todos os autores bíblicos promoveram uma só linha teológica. Tal como no caso dos profetas, cada apóstolo explorou a verdade segundo lhe foi dada pelo Senhor: " ...0 nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada" (Il Ped. 3: 15). Não obstante, o exame dessas diversas linhas é uma nobre atividade, porquanto devemos perscrutar a Bíblia como um todo, a fim de tomarmos consciência das noções fundamentais que ela nos transmite. E, se encontrarmos alguma discrepância entre os autores sagrados, isso não nos deveria assustar. A discrepância talvez se deva somente à nossa limitada compreensão. Os autores sagrados não deixaram escrito tudo quanto sabiam. Seus escritos são apenas representativos. Paulo testifica isso ao escrever: "...sei que o tal homem, se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe, foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir" (II Cor. 12:3,4). Conforme foi surgindo a necessidade, os escritores sagrados abordaram várias questões. Por assim dizer, eles nos forneceram as peças incompletas de um quebra-cabeça; e agora, a tarefa da teologia bíblica é procurar ordená-las em seus devidos lugares. Contudo, cumpre-nos fazer isto cônscios da existência de hiatos, de espaços em branco, não esclarecidos na Bíblia. O sistema de doutrinas ali revelado não é completo, mas é suficiente para guiar a alma no Caminho de volta a Deus! A fé não depende da homogeneidade, e nem de uma revelação que tampe todas as brechas. O anúncio divino, embora incompleto, pode resolver todos os problemas desta vida e da vindoura. Um anúncio completo, que só será recebido do outro lado da existência, haverá de outorgar-nos uma visão ainda mais satisfatória. "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido" (l Cor. 13:12). 11. Principais Temas da Teologia Biblica A despeito de hiatos e ponto obscuros, há um corpo de ensinos que podemos extrair da Bíblia, e que, necessariamente, toma-se a base de qualquer teologia cristã. Isso não quer dizer que a teologia não possa investigar outros frutíferos campos de pensamento; pois a verdade divina, não estando limitada a qualquer livro ou coletânea de livros, dificilmente pode ser inteiramente determinada através do apelo exclusivo às Escrituras. Estas servem de padrão aquilatador, mas não encerram toda a verdade de Deus. Nem por isso pretendemos diminuir a importância do grande tesouro de verdade que nos foi proporcionado

através das Sagradas Escrituras. Não degrado a verdade que posso encontrar em um local, somente porque também posso encontrá-Ia em um outro lugar. a. O conceito teísta. Temos de começar por esse ponto. As Escrituras descrevem um Deus que não somente criou, mas que também se conserva imanente em sua criação, que se interessa por questões morais, que recompensa o direito e castiga o errado, que guia, e que pode ~\.. r buscado e achado. Essa é a posição do teismo (ver o artigo), ao invés do deísmo. Este último (ver o artigo) ensina que Deus, ou alguma espécie de força cósmica, criou as coisas, mas em seguida abandonou a sua criação, permitindo que a mesma ficasse ao sabor das leis naturais. O deísmo divorcia Deus de sua criação. As Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento, são decisivamente teístas. Deus cuida até dos pardais, quanto mais do homem que criou. Deus é um fator que precisa ser levado em conta todos os dias. A cada vez em que lemos nas Escrituras: "Assim diz o Senhor", podemos ver nisso um Deus teístico. A cada vez em que um profeta procura comunicar uma mensagem divina, temos de conceber Deus segundo moldes teistas. Quando o Filho veio para representar o Pai, encontramos nele as atividades do Deus do teísmo. b. Deus como fonte e alvo de toda a vida física e espiritual. Deus criou os mundos (Gên. 1 e 2). E também confere a vida espiritual (João 1: 12, 5:25, 26). Ele é a origem de toda a vida e de todo ser vivo, e também é o alvo de tudo quanto vive e existe (l Cor. 8:6). Nessa conexão, o que é dito acerca do Pai é dito também acerca do Filho (Col. 1: 16 ss.). Os títulos de Jesus, "O Alfa e o Ômega", visam ensinar a mesma verdade. c. Deus tem muitos e exaltados atributos de poder, de conhecimento e de bondade. Ver o artigo separado sobre os Atributos de Deus. Ver também o artigo sobre Deus. Entre esses atributos destacamos a personalidade de Deus. Deus não é alguma força cósmica, um absoluto abstrato. Todos os antropomorfismos ensinam-nos essa verdade (ver Gên. 1, lsa. 55:9; Êxo. 20:7), ainda que de maneira imperfeita. Por igual modo, não nos devemos olvidar da natureza espiritual e moral de Deus (ver Gên, 3:26; João 4:24). Deus dá atenção ao pecado e a seus resultados (Rom.3). d.O homem é um ser decaído. necessitado de redenção. Esse é um constante tema bíblico, a começar no terceiro capítulo de Gênesis, A redenção do homem está no Filho de Deus (Rom. 8:29), através do poder atuante do Espírito Santo (U Cor. 3: 18). O resultado final da redenção será a participação dos remidos na natureza divina, de forma real e metafísica, e não apenas como um conceito moral (U Ped. 1:4). e. Em seu relacionamento com os homens, Deus age através de pactos. Ver o artigo sobre os pactos. f. Nas Escrituras há uma filosofia da história. Ver o artigo sobre Historiografia Bíblica. Deus vem ao encontro do homem, na história, como um ser caído. Mas haverá de tirar os remidos de dentro da história, quando estes atingirem a plena potencialidade de sua vida espiritual; e então terá início o aspecto transcendental da história humana. Deus guia essa história de tal modo que ela não fica entregue aos caprichos do acaso, pois a História é linear, isto é, a sucessão de eventos tem um começo e dirige-se a um fim pré-determinado. Contrariamente às idéias de Toynbee, um grande filósofo da história de nossa época, a História não consiste em ciclos repetitivas, pois, embora certas tendências se reiterem na história da humanidade, esta caminha em uma direção, e seu alvo transcende a mera expressão terrena, física.

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TEOLOGIA BÍBLICA g. As circunstâncias históricas são dirigidas pelas operações de Deus. Há importantes eventos e palcos históricos na Bíblia e em sua teologia. A nossa fé religiosa não está alicerçada sobre meros símbolos e metáforas, desacompanhada de condições históricas. A vida e os milagres de Jesus foram acontecímentos históricos. Houve um túmulo vazio, e também uma ressurreição literal. "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho" (Luc. 24:39). A crucificação reveste-se de grande importância teológica. h. Há uma tradição profética. Isso tanto no sentido dos ensinos ministrados pelos profetas, como no sentido de que eles predisseram o futuro. O labor e a mensagem dos profetas ocupam lugar central na teologia bíblica. O elemento preditivo acerca dos últimos dias nos fornece a base da escatologia (ver o artigo). Esse aspecto da revelação é uma realidade. i. Portanto, na teologia bíblica, o principal meio de conhecimento é a revelação, que é uma forma de misticismo. Ver sobre revelação e sobre misticismo. j. A unidade das Escrituras. Apesar das discrepâncias que talvez existam, e a despeito do fato óbvio de que a exposição bíblica da verdade seja gradual, em que certas fases vão-se tornando obsoletas e outras vão entrando em vigor, toda e qualquer teologia bíblica repousa sobre o conceito da unidade básica e do propósito central das Escrituras. Ver o artigo sobre a Bíblia, em seu quarto ponto, intitulado A Unidade da Coletânea. Os itens doutrinários acima expostos ilustram a unidade essencial das Escrituras, em meio à diversidade. Assim, o Antigo e o Novo Testamentos refletem diferentes (ou mesmo muitos) estágios do desenvolvimento da fé e da cultura dos hebreus. É verdade que no período helenista essa cultura, e por conseguinte, essas idéias, mesclaram-se com a cultura grega. Mas isso serviu somente para enriquecer a teologia dos hebreus, pelo menos em certos aspectos. Com base em nosso pressuposto teísta (primeiro ponto), cremos que o desenvolvimento do Antigo e do Novo Testamentos, bem como os livros que compõem os mesmos, foram divinamente determinados e controlados. Esses livros não resultaram apenas das idéias digeridas por hebreus ou cristãos, nem são meras seleções com base no raciocínio e na preferência dos homens. 1. A inspiração da Bíblia é um ponto fundamental dentro da teologia bíblica. O crente tem fé nessa verdade. "Toda Escritura é inspirada por Deus ..." (lI Tim. 3: 16). Ver o artigo sobre esse assunto. Se a Bíblia não fosse produzida pelo sopro de Deus, não haveríamos de sentir o impulso de edificar um sistema teológico com base nas Escrituras. m. Cristo é o centro da revelação bíblica. Antes de tudo, dentro da esperança messiânica do Antigo Testamento, a qual recebeu concretização quando do primeiro advento, no Novo Testamento, e terá plena fruição quando da segunda vinda de Cristo, para inaugurar o reino milenar do Messias. A essa esperança é então conferido um elevadíssimo aspecto, na glorificação dos remidos, quando estes vierem a participar da mesma natureza de Cristo (Rom. 8:29). Portanto, a salvação é assim definida como uma filiação. IV. Noções da História da Teologia Bíblica I. Os hebreus sempre levaram muito a sério as suas Escrituras, como a Palavra revelada de Deus. Portanto, a teologia deles era uma teologia bíblica. Naturalmente, entre eles havia divergências. Alguém já disse, em tom de brincadeira, que se cinco judeus estiverem em uma sala, eles emitirão cinco opiniões diversas sobre qualquer

assunto. Na verdade, osjudeus gostam de discutire debater! Os saduceus aceitavam somente o Pentateuco como autoritário. Em outro extremo, os judeus da dispersão aceitavam até os livros apócrifos. Por isso, havia vários cânones, e o termo Escrituras podia significar diferentes coisas, para diferentes grupos e indivíduos. Porém, as Escrituras, em uma forma ou outra, sempre eram autoritárias, servindo de base da teologia judaica. Naturalmente, os intérpretes cabalistas (ver sobre a Cabala) sentiam-se em liberdade para interpretar os textos bíblicos de modo simbólico e místico, e nem todas as suas doutrinas eram biblicamente alicerçadas. De modo geral, entretanto, os judeus sempre tiveram uma teologia bíblica. 2. Os cristãos primitivos deram prosseguimento à atitude judaica. Continuavam considerando o Antigo Testamento como autoritário, paralelamente aos livros do Novo Testamento, que eles também reputavam como "Escritura", como porções integrantes da Bíblia autoritária. E, embora certas idéias gregas viessem contribuir para o pensamento neotestamentário, houve a continuação da tendência essencial veterotestamentária. As revelações dadas a Paulo enriqueceram extraordinariamente a teologia, a qual tornou-se a base sobre a qual outras Escrituras foram escritas. Os grupos heréticos, como os gnósticos, que chegaram a penetrar nas fileiras cristãs, estavam muito menos alicerçados sobre as Escrituras Sagradas. Antes de tudo, porque rejeitavam a totalidade do Antigo Testamento e certas porções do Novo; e, em segundo lugar, porque o seu sistema teológico era uma mescla de noções das religiões orientais e de conceitos filosóficos e mitológicos dos gregos. 3. A Igreja cristã foi-se afastando gradualmente da Bíblia à medida que o dogmatismo foi-se desenvolvendo. Noções extrabíblicas, como a regeneração batismal, a veneração a Maria e aos santos. e as decisões de concílios considerados autoritárias, foram diluindo a firmeza cristã em torno das Escrituras. Esses desenvolvimentos permitiram a emergência da Igreja Católica (que posteriormente dividiu-se em Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa Grega) já tão diferente da primitiva Igreja cristã. O bispo de Roma, que antes era apenas um bispo entre outros, foi adquirindo autoridade cada vez maior, porquanto ocupava posição na capital do império, e passou a ser reputado superior aos demais bispos. E disso desenvolveu-se o papado. Paralelamente a isso, os ministros do Evangelho transformaram-se gradualmente em sacerdotes, um clero profissional, que supostamente herdara a autoridade dos apóstolos, ao mesmo tempo em que o papa tomava-se o vicário ou substituto de Cristo. A história do dogma demonstra que à medida que o dogma adquiria mais e mais importância, as Escrituras iam sendo abandonadas como autoritárias. 4. As Igrejas Ortodoxas do Oriente (ver o artigo), uma espécie de confederação frouxa das divisões não-ocidentais da cristandade, tornaram-se uma entidade distinta do Ocidente, quando da divisão do império romano, em 395 d.C. Na segunda metade do século IX d.C., missionários das igrejas ocidental e oriental competiam em diversas regiões do mundo. No século XI houve um rompimento formal entre os segmentos ocidental e oriental do catolicismo, devido a razões doutrinárias e litúrgicas, e a Igreja Católica Romana adquiriu uma feição mais parecida com a que conhecemos atualmente. As Igrejas Ortodoxas também aceitam como sua autoridade um misto da Bíblia, dos escritos dos chamados pais da Igreja e das decisões conciliares. Por causa disso, são menos biblicamente baseadas do que a Igreja cristã do primeiro século de nossa era.

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TEOLOGIA BÍBLICA 5. A Reforma teve lugar em uma época de revolta contra tradições humanas, concílios eclesiásticos, dogmas e intolerância papal. Melancthon, Calvino e Lutero estavam fortemente baseados nas Escrituras, embora não de maneira perfeita. Lutero atacou a autoridade das tradições, dos pais da Igreja, do método escolástico de manusear a fé religiosa, do predomínio dos modos aristotélicos de pensamento que essa atividade incorporava, tendo ficado escandalizado diante da exploração da crendice popular com as indulgências e com o apoio dado ao nefando negócio pela autoridade máxima do catolicismo romano. Isso posto, ele declarou o principio das Escrituras somente, como única fonte autorizada de instruções religiosas para os cristãos. E a maioria dos grupos protestantes e evangélicos preserva essa regra em suas declarações de fé. 6. A crítica da Bíblia surgiu nos séculos XVIII e XIX. Incluía esforços para afastar os grupos protestantes e evangélicos da idéia de que a Bíblia é a única e perfeita autoridade. Ver o artigo sobre a Crítica da Bíblia, que ilustra esse desenvolvimento histórico. 7. Um escolasticísmoprotestante terminou surgindo em cena. Isso produziu credos e confissões que usam a Bíblia como mina de informes que apóiam idéias, embora nem todas essas idéias e confissões estejam realmente fundamentadas nas Escrituras. As denominações desenvolvem suas próprias interpretações, nem sempre baseadas na Bíblia; algumas delas com base nos elementos heterogêneos do Novo Testamento, e outras baseadas em interpretações evidentemente distorcidas. 8. O movimento pietista do século XVIII foi uma tentativa para fazer a teologia retornar à simplicidade bíblica. C. Haymann, em 1708, produziu uma teologia bíblica, que foi a primeira a usar como título esta expressão, até onde temos conhecimento. Em 1758, AF. Busching, seguindo o exemplo dado por Haymann, publicou sua obra, intitulada Advantage of Biblical Theology Over Scholasticism. Nas escolas e seminários, houve esforços para a produção de uma teologia bíblica, em contraste com a teologia sistemática, porquanto esta última, na época, aparecia misturada com idéias e modos de interpretações contrários à Bíblia. Na teologia, elementos literários e históricos foram-se tornando gradativamente mais importantes. O século XIX viu a produção de certo número de obras que ressaltavam a teologia bíblica. G. L. Bauer publicou quatro volumes de teologia bíblica, em 1800-1802. W.M. L. de Wette publicou uma obra similar e bem maior, entre 1813 e 1816. Ali ele identificou vários períodos históricos que influenciaram a natureza e o conteúdo da teologia, como a religião de Moisés e a religião dos judeus, no Antigo Testamento; e no Novo Testamento, os ensinos de Jesus, seguidos pela interpretação e ampliação daqueles ensinos por parte dos apóstolos e discípulos posteriores. 9. A alta crítica, entrementes, nos séculos XIX-XX, afetava o conteúdo da teologia bíblica. Os especialistas na alta crítica não apenas estudavam questões como autoria, proveniência, unidade, integridade, etc., dos livros da Bíblia, mas também impuseram aos estudos bíblicos o que ali queriam ver. Além disso, um certo espírito de ceticismo, que caracterizava a alguns deles, levou-os a pensar que Jesus não pode ter feito aquilo que lhe é atribuído nos evangelhos, nem pode ter sido a pessoa que Paulo diz que ele era. Em conseqüência, esses críticos atiraram-se ao esforço erudito de descobrir o que, realmente, teria sucedido, e quem, na realidade, era Jesus. Tais atividades afastaram-nos muito da teologia bíblica. Quanto a descrições mais detalhadas dessa forma de atividade, ver o artigo sobre a Crítica da Bíblia.

10.0 liberalismo dos séculos XIX e XX rejeita a teologia bíblica como uma disciplina legítima e exclusiva, preferindo substituí-la pela história religiosa de Israel e da Igreja, ou então pela religião dos hebreus e dos primitivos cristãos, ou mesmo pelas idéias religiosas da Bíblia. Trata-se de uma avaliação humana daquilo que a Bíblia diz, sem qualquer tentativa para fazer a teologia ser influenciada pelas Escrituras, como a única e grande autoridade que governa todo o pensamento cristão. Uma idéia básica é que a religião da Bíblia não é única e ímpar, mas representa apenas um movimento entre muitos. Esse movimento merece o nosso respeito. A Bíblia conteria a verdade, mas não seria o próprio padrão da verdade. O estudo bíblico autêntico requer sua comparação e avaliação com outros sistemas religiosos. A religião da Bíblia existe porque muitos fatores a produziram, não sendo uma revelação que caiu do céu em um vácuo. Portanto, entre os liberais, a Bíblia passou a ser vista como um livro que contém algo da Palavra de Deus, não devendo ser confundida com a própria Palavra de Deus. Os pontos de vista liberais variam desde a posição radicalmente cética, que nega totalmente a revelação e qualquer momento miraculoso, até uma posição quase conservadora. 11. A reação da neo-ortodoxia. Karl Barth (1886) preserva alguns aspectos e resultados das atividades da alta crítica e do liberalismo, embora tivesse encabeçado uma espécie de movimento de volta à Bíblia, procurando alicerçar quadradamente a sua teologia sobre a Bíblia. Sua teologia é uma reação ao liberalismo. De fato, seu comentário sobre a epístola aos Romanos é uma espécie de manifesto contra a teologia liberal. Ele percebia que a teologia liberal faz emudecer Paulo, incluindo seus grandes temas da prioridade da graça de Deus, de sua soberania e da natureza escatológica do Novo Testamento. Os liberais falavam de um Jesus meramente humano (com exclusão de sua natureza divina). Apesar dessa exposição fomentar a causa do liberalismo, não se enquadra, em muitas coisas, com o Jesus dos evangelhos, cujo intuito declarado foi o de estabelecer o reino de Deus na Terra em sua própria época, e que fez reivindicações pessoais fantásticas de autoridade e poder. Mas, se Barth representa um retomo à teologia bíblica, ele não chegou ao nível da teologia fundamentalista (que vide). Quanto a detalhes, ver o artigo sobre Karl Barth. 12. Movimento conservador sofisticado do século XX A reação dos evangélicos conservadores contra certos resultados da alta crítica e contra o liberalismo também é um esforço para retomar à Biblia como base da teologia. Essa atividade foi fortalecida por uma qualidade aprimorada da erudição dos mestres conservadores. Antes disso, os eruditos liberais eram, por assim dizer, os únicos que faziam estudos eruditos e respeitáveis. As igrejas de tendências liberais começaram a perder membros, e um número cada vez menor de jovens interessava-se por freqüentar os seminários liberais. Entrementes, aumentou extraordinariamente o número de alunos matriculados nas escolas e seminários conservadores, e movimentos missionários multiplicaram-se. Todo esse movimento alicerçava-se sobre a teologia bíblica. As pessoas estavam cansadas diante de uma série de probabilidades e de intermináveis alternativas na teologia, anelando pelo reavivamento da alma da fé religiosa. Alguns acusaram o liberalismo de ter matado a alma da fé, embora retendo o cadáver. A consternação de Karl Barth, devido ao fracasso do cristianismo no campo social, e o papel ridiculamente pequeno das igrejas evangélicas durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918) era compartilhada por muitos, mesmo quando não o

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TEOLOGIA BÍBLICA - TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO acompanhavam em todos os seus pontos de vista teológicos. A declaração de Stephen Neill: " A Bíblia não é uma coleção de piedosas meditações do homem a respeito de Deus, mas é o tom da trombeta de Deus falando ao homem e exigindo sua reação" (The Interpretations of the NT, 1964), foi considerada perceptiva e exata pelos estudiosos conservadores. . Um movimento missionário intenso, como se tem visto no século XX, e o ministério de evangelistas comoBi1Iy Graham e outros, têm feito a teologia bíblica tomar-se popular. Infelizmente, a tendência dos eruditos conservadores tem sido de arrogância e auto-suficiência, pois rejeitam os avanços positivos, no campo dos estudos bíblicos, que a alta crítica, e até mesmo o liberalismo, tem obtido. A verdade quase sempre é achada bem no meio de dois pontos extremos. No presente caso, em um dos extremos há um ceticismo insuportável; e, no outro extremo, vemos a bibliolatria (ver o artigo). Sumariaríamos a questão afirmando que parece ser fato que o vício do liberalismo é o ceticismo, e que o vicio do conservatismo é o espírito contencioso. (AM I I C BUL BULT FI ID RI RYR Z) TEOLOGIA DA CRISE Ver Dialética, Teologia da. TEOLOGIA DA DOENÇA FÍSICA Ver o artigo sobre Enfermidades seção IV, A Teologia da Doença. TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO Esboço: L O Termo e Suas Definições; Caracterização Geral 11. Uma Crise Generalizada na Igreja Católica Romana Ill. Cristo, Cabeça Revolucionário? IV. Oposição e Críticas V. Boff Critica o Vaticano VI. Defesa de Boff e da Teologia da Libertação VILO Mau Exemplo de Cuba e a Sorte da Igreja Católica Romana Ali Conclusão I. O Termo e Suas Definições; Caracterização Geral

O tipo de Teologia da Libertação, conforme é representado por Leonardo Boff, não passa de um sincretismo do Evangelho, do racionalismo protestante expresso por Bultmann (vide), do modernismo de Loisy (vide), das posições condenadas do teólogo suíço Hans Kung e da análise marxista da sociedade. A majoritária igreja progressista da Holanda, conforme foi afirmado pelo famigerado catecismo holandês, é produto do racionalismo de Bultmann e do modernismo de Loisy, doutrinas essas antigas, que surgiram cem anos atrás, bem como do discutido teólogo batavo, irmão gêmeo de Hans Kung, Edward Schil1erbeck. O catecismo holandês tentou desmitificar a figura de Cristo, questionar a origem evangélica das ordenanças, pôr em dúvida o dogma da Santíssima Trindade, da infalibilidade papal, etc. Porém, os maiores desvios de tal progressismo são de natureza, por essência, moral, relacionados, sobretudo, com o sexo, fora dos laços matrimoniais, com o divórcio, com o aborto, com a abolição do celibato dos padres, com a equiparação do homossexualismo, com o feminismo e com a exigência da ordenação sacerdotal de mulheres, conforme duas freiras, atrevidamente, exigiram na presença do papa, em violação de seus solenes votos. A Teologia da Libertação, conforme tem salientado

o papa João Paulo Il, na verdade é uma sociologia política. Mas isso não a toma uma teologia, meramente porque pessoas religiosas, sacerdotes católicos romanos, etc., a promovem. Conspícua quanto à sua ausência, é a porção metafisica da fé cristã. E verdade que a teologia, em suas aplicações práticas, deve preocupar-se com o bem-estar físico das pessoas, estando disposta a lutar contra as opressões sociais e políticas. Também é verdade que há uma incrível opressão contra a qual luta, nos lugares onde a Teologia da Libertação se vai popularizando. Essa verdade é a força real dessa "teologia", e não os princípios marxistas sobre os quais ela repousa. Nos lugares onde essa opressão não é fator preponderante não se verifica grande interesse pelo movimento, excetuando aqueles poucos que exprimem sua solidariedade com os oprimidos de outros lugares. Quanto à "libertação", que faz parte do título do movimento, é verdade que os oprimidos precisam ser libertados, e que eles estão em uma genuína servidão econômica. Entretanto, o que podemos questionar é o "tipo" de libertação que está sendo oferecido. Não será a libertação de uma modalidade de opressão, somente para que os "libertos" sejam sujeitados a outra forma de totalitarismo, com sua forma específica de opressão? Ver a sétima seção quanto a Cuba como "libertou" as massas, e, especificamente, a Igreja. O próprio Bofftem declarado que não deseja que o comunismo tome conta do Brasil, porque isso significaria o fim da liberdade religiosa. Não obstante, ele crê que podemos tirar vantagem da exatidão da análise marxista quanto às condições políticas e econômicas, empregando então esses discernimentos e evitando os erros típicos cometidos nos países comunistas. Talvez esse "milagre" possa vir a acontecer; mas queríamos, ainda assim, a pensar sobre a alma, sobre o verdadeiro homem, sobre o ser imortal que continua existindo após a morte física. Esse homem interior ficará a morrer de inanição, enquanto o corpo é alimentado? Poderá isso, realmente, satisfazer às massas? Constituirá isso uma autêntica libertação? A despeito desse aspecto negativo, o leitor desses materiais, relativos à Teologia da Libertação, fica impressionado diante da dedicação social de certos líderes do movimento. A fé religiosa não pode envolver.. meramente, "a promessa a respeito do futuro". E significativo que a Teologia da Libertação tem sido, essencialmente, um movimento surgido dentro da Igreja Católica Romana, onde a preocupação social tem sido mais aguda, de modo geraI, do que nas igrejas protestantes e evangélicas. Quiçá não estejamos muito distantes da verdade se afirmarmos que esse movimento é apenas outro protesto católico romano contra a pobreza e a miséria, uma extensão de sua tradicional preocupação com as condições sociais e com atos de caridade, que sempre foi uma das grandes forças do catolicismo romano. Porém, cabe-nos indagar se essa preocupação não tem feito o catolicismo romano apelar demais para o marxismo, tomando por empréstimo as suas idéias, na esperança de poder usá-Ias para o bem, ao mesmo tempo em que vai evitando os maus aspectos do comunismo. A Teologia da Libertação é, predominantemente, um movimento de teólogos e ativistas católicos romanos, os quais acreditam que faz parte dos deveres da Igreja combater em prol dos direitos humanos, dos pobres e dos oprimidos. E alguns dos seus mentores mais extremados endossam o conceito de Cristo como o Libertador, como se a missão dEle pudesse ser compreendida em termos da luta de classes própria do marxismo.

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO Oficiais eclesiásticos que, por vinte anos, têm observado a Teologia da Libertação propagar-se pelo Terceiro Mundo, a partir da América Latina, têm-se sentido cada vez mais inquietos com os alvos e as atividades desse movimento. Assim, em março de 1984, o cardeal Joseph Ratzinger, principal oficial do Vaticano, encarregado das questões doutrinárias, fez um discurso denunciando aqueles que advogam soluções marxistas para os problemas sociais e políticos do mundo. E as declarações dele, ao que parece, foram aprovadas pelo papa João Paulo lI. A despeito dessa tomada de posição, em julho de 1984, um grupo de proeminentes teólogos católicos romanos da Europa, da América Latina e dos Estados Unidos da América, declararam-se abertos defensores das idéias e práticas desse movimento de "libertação". O grupo era encabeçado por alguns proeminentes teólogos liberais denominados, coletivamente, de Concilium. Entre eles estavam os reverendos Hans Kung e Gustavo Gutiérrez. Este último é um dos principais arquitetos da Teologia da Libertação. O grupo emitiu uma declaração que diz: "Visto que esses movimentos são um sinal de esperança para o mundo inteiro, qualquer intervenção prematura, por parte de autoridades superiores, arrisca abafar o Espírito que anima e guia as igrejas locais". O Concilium tem criticado seus oponentes com base na suposta superficialidade de conhecimentos no tocante à verdadeira natureza do movimento e suas idéias. Se, em alguns lugares, tem havido uma conclamação à revolução armada, o Concilium afirma que "não se trata de uma chamada à organização de milícias populares, para que se brandam armas e metralhadoras. Mas também não podemos tolerar a violência silenciosa, onde as massas são mantidas na pobreza e na ignorância". Entrementes, bispos brasileiros encorajaram uma campanha internacional em favor de Boff, o qual fora condenado a um ano de silêncio pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano. A cúpula da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) tem insistido em ser contrária ao Vaticano, em sua postura quanto à questão. O frei Boff continua a ensinar no Instituto Teológico de Petrópolis, e sua produção escrita não tem diminuído. O papa João Paulo II ficou surpreso diante das reações, no Brasil, às censuras impostas a Boff. E assim o conflito tem prosseguimento, e, finalmente, poderá produzir um cisma ainda maior, na Igreja Católica Romana, do que a da Reforma Protestante do século XVI. O escritor romeno e padre da Igreja Ortodoxa, Virgil Gheorghiu, classificou a Teologia da Libertação como "uma das piores heresias que existem atualmente". Ele esteve no Brasil para uma série de conferências, em agosto de 1984, e expressou vigorosamente as suas opiniões. Em contraste com isso, seiscentos teólogos católicos romanos, reunidos na cidade italiana de Assis, analisaram os escritos de Boff e os conceitos da Teologia da Libertação, e terminaram por dar-lhe o seu apoio. Esses teólogos advertiram que a Igreja deve cooperar na luta dos pobres, declarando que a obra de Boff é uma experiência eclesiástica, um símbolo para toda a Igreja Católica Romana. Para eles, a Teologia da Libertação e a Igreja dos Pobres, discutidas em tom de uma inquisição. formam contraste com o caráter conciliatório da Igreja contemporânea. A moção de solidariedade a Leonardo Boffé semelhante a um documento anteriormente publicado pelos frades franciscanos alemães. O padre Giuseppe Pittau, assistente-geral dos jesuítas para a Ásia Oriental e a Itália, em entrevista concedida ao correspondente de O Estado de São Paulo, Brasil, em Roma,

Rocco Morabito, disse esperar que o caso de Leonardo Boff "termine bem". O padre Pittau, que é muito estimado pelo papa João Paulo lI, disse que "a Teologia da Libertação é uma contribuição válida que a Igreja latino-americana deu à Igreja universal, mas que é necessário que se reconheça que ela assume muitas variedades, algumas sérias, e outras menos sérias. É necessário que se avalie caso por caso, para que a autenticidade da inspiração seja reconhecida. Uma inspiração que era do concílio, e que ainda é deste papa, que reconheceu que a evangelização traz consigo o empenho político para a construção de um mundo mais justo e mais humano". Enquanto isso, um documento publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé estabelece a distinção entre a libertação (verdadeira liberdade) e uma alegada espécie de libertação, revestida de ideologias do estilo marxista. Segundo Georges Cottier, pertencente à ordem dos dominicanos, uma autêntica Teologia da Libertação não é digna desse nome, se não abordar o mistério do pecado e as suas conseqüências históricas. 11. Uma Crise Generalizada na Igreja Católica Romana Faz parte da tradição profética contemporânea que a Igreja Católica Romana sofrerá nova fragmentação em nossos dias, talvez de maneira ainda mais séria do que aquela do século XVI por meio da Reforma Protestante. Alguns oficiais eclesiásticos romanistasjustificam o apelo à Teologia da Libertação como a única esperança presente de real mudança. Fala-se em "alternativas" dessa espécie de teologia. Porém, quais são elas, e quais seus pontos positivos? O marxismo tem conseguido enfeitiçar a imaginação das massas dos países do chamado Terceiro Mundo, como se fosse (segundo alguns dizem), a única esperança de verdadeira mudança social para melhor. Não existe nenhum outro movimento para quebrar a espinha das antigas ideologias e seu domínio cruel sobre os povos. As condições econômicas dos países mais pobres têm chegado a um ponto de desespero. Daí, parte da Igreja Católica Romana (atualmente a Igreja Popular, em contraste com a cúpula centralizada e autoritária) volta-se para a única ideologia que oferece alguma esperança de liberar as massas da miséria. As condições de desespero são tão prementes que as pessoas estão dispostas a arriscar seu futuro com alguma chamada "ideologia estranha", cristianizando-a e utilizando-se de seus métodos. Contudo, uma ideologia estranha poderá ser usada de modo benéfico, uma vez incorporada e cristianizada? Os defensores da Teologia da Libertação salientam como as filosofias de Platão e de Aristóteles foram usadas para exprimir doutrinas e ideais cristãos. Todavia, Tertuliano indagava: "O que Atenas tem a ver com Jerusalém?" Assim indagando (e de muitas outras maneiras), ele rejeitava o uso da filosofia para exprimir a fé cristã. Apesar de que não posso endossar pessoalmente essa atitude, bem como o anti intelectualismo que a acompanha, quero salientar que Aristóteles não perseguiu nem os judeus e nem qualquer tipo de fé religiosa. Ele não foi algum destruidor, cuja filosofia foi então adotada pelos cristãos. Mas, em nossos dias, está sendo convenientemente ignorado que o comunismo tem feito mais mártires cristãos do que todas as demais perseguições combinadas da História. O papa João Paulo Il, natural de um país comunista, a Polônia, tem podido observar a real natureza do comunismo. Podemos estar certos de que suas experiências pessoais são um fator em suas objeções ao uso do conceito marxista da luta de classes com o intuito de produzir mudanças sociais. Ao que tudo indica, ele não tem ficado favoravelmente

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO impressionado diante das mudanças produzidas pelo comunismo. Tempodido testemunhar a destruição da Igreja em vários países comunistas. Tem visto, em primeira mão, como os governos totalitários oprimem a Igreja e matam os seus líderes.Sem dúvida" como homem informado acerca da tradição profética" ele está cônscio da seriedade das atuais condições, que podem produzir sério e vasto cisma nas fileiras romanistas, Como homem de grande experiência pessoal e eclesiástica, ele não está subestimando as forças que se agitam, e que, a qualquer momento, poderão produzir esse cisma. Por outro lado, o próprio papa representa um antigo sistema totalitário, e frei Boff está sendo comparado com Lutero, justamente por estar desafiando esse sistema! Muitas pessoas pensantes reconhecem que uma das questões básicas que Boff está desafiando é a autoridade papal. Se ele estivesse levando tão a sério as censuras do papa e do Vaticano, como um ministro católico romano deve fazer, já não teria abandonado há muito tempo a sua distintiva posição doutrinária? Lutero desafiou a autoridade papal, mas sobre questões de fé religiosa, e não, essencialmente, sobre questões de governo, embora estas também formassem um ponto secundário no contl ito protestante. O que é de estranhar em Boff é que está promovendo idéias de um sistema totalitário na tentativa de modificar outro sistema totalitário. Deve-se observar que alguns líderes protestantes, ao atingirem o poder político, tomam-se tão totalitários e autoritários quanto a própria Igreja Católica Romana. Quem pode duvidar que se o comunismo tivesse obtido a vitória nas urnas brasileiras, isso seria um gigantesco passo para a formação de um estado totalitário no Brasil? Por essa razão, frei Boff opõe-se a qualquer tipo de governo totalitário; mas, ao mesmo tempo, emprega as idéias marxistas totalitárias, que têm sido tão destrutivas para a Igreja, onde quer que elas tenham fixado raízes. Os pensadores do catolicismo romano vêem na Teologia da Libertação uma espécie de neoprotestantismo secular, cuja ênfase é político-social, e não metaflsica. Tanto o protestantismo original como esse neoprotestantismo secular, e até o liberalismo católico romano, põem em dúvida a questão da infalibilidade papal e a natureza autoritária da Igreja Católica Romana. Ver o artigo Liberalismo Católico. A crise que ora afeta a Igreja Católica é universal, desdobrando-se em todos os continentes. Atestam-no, de modo eloqüente, dois episódios paralelos: o caso de frei Boff, no Brasil, e a acidentada viagem do papa à Holanda, a mais tumultuada peregrinação espiritual já empreendida por João Paulo 11. A causa mais profunda do fenômeno é comum: o declínio da vitalidade da Igreja Católica Romana e a sua secularização. A reação, tanto do clero como de amplos setores da hierarquia romanista, e, sobretudo, das grandes massas de leigos católicos, é de natureza dupla: mais teológica na Europa e na América do Norte, onde traduz as exigências intelectuais e morais de uma sociedade descristianizada, e mais ideológica na América Latina"com o engajamento das massas desprivilegiadas na emancipação política" econômica e social, primeiro em competição, e, posteriormente, em aliança com os partidos mais radicais (do tipo PT, Partido dos Trabalhadores), e mesmo de nftida orientação marxista. Ambas as reações, como não podia deixar de acontecer, redundaram na ampliação e no aprofundamento da secularização da Igreja, que o papa, conforme exige a sua condição de Doutor Supremo e Universal da Igreja" não pode deixar de tentar sanar e corrigir. Há apenas uma diferença, qual seja a de que a

reação latino-americana produziu um novo tipo de clericalismo, que não age mais em nome da supremacia do que é espiritual e sobrenatural, mas de um moralismo naturalista, politicista e socialista (pelo menos socialistóide e marxistóide), que fica absorvido pela dinâmica da ordem temporal e mesmo pela dialética marxista. Por mais vitorioso que seja esse clericalismo, no desejo de unir-se à força política que se exibe como depositária do futuro e como a próxima detentora do poder, contribuiu, com o seu triunfalismo (neoconstantiniano), que não passa de subserviência, consciente ou inconsciente, o que, no fundo, não faz diferença para a sua absorção pela força à qual adere e para que a Igreja seja dissolvida por dentro. A Igreja Católica Romana, na Holanda, é mais secularizada do que qualquer outra nos diversos continentes da cristandade ocidental. O número de padres que tem abandonado o sacerdócio é três vezes maior do que a média mundial, e a prática de ir à missa caiu de 70%, em 1960, para 20%, atualmente. Apenas 10% dos católicos romanos holandeses mostraram-se favoráveis à presença do papa no território do país. Cartazes exigiram que ele fosse para casa ou para o céu; a televisão ironizou sua vinda e suas intenções, envolvendo a sua figura em grosseiras piadas (satirizando as viagens papais), não faltando nem mesmo anedotas obscenas e multidões em marcha soltando centenas de balões brancos, que, na realidade, eram contraceptivos masculinos. 111. Cristo, Cabeça Revolucionário? A Teologia da Libertação não foi a primeira ideologia política a tentar tirar proveito do prestigioso nome de Jesus Cristo e da mensagem da Bíblia, para propósitos políticos. Essa é apenas uma dentre uma série de tentativas para politizar a figura de Cristo, que não teve jamais qualquer interesse por esse tipo de atividade. Jesus pregou a separação entre Igreja e Estado, bem como o cumprimento de deveres religiosos e civis, independentes um do outro. Ver Mat. 22:17ss e Mar. 12:14-17. Também declarou: "O meu reino não é deste mundo" (João 18:36). Se o fosse, sem dúvida teria encorajado seus discípulos a defenderem-se armados. Por outro lado, o trecho de Mal. 25:35 ss ensina-nos que seremos j ulgados no que concerne aos nossos "interesses sociais", o bem-estar fisico de nossos semelhantes. E o segundo capítulo da epístola de Tiago reverbera esse tema, insistindo acerca da necessidade de praticarmos boas obras (o cumprimento da lei do amor), como expressão indispensável de uma fé viva. O livro de frei Betto, Fidel e a Religião, afirma que desde 1958, quando Castro ainda se achava em Sierra Maestra, em seus dias de guerrilheiro, era discípulo "avant la lettre" da Teologia da Libertação marxista" fazendo um trabalho de interpretação de Cristo e seu Evangelho, onde o emprego da "releitura marxista" e do "reducionismo socialista" seria perfeito. Também somos informados ali acerca da insistência de Castro de que a própria Bíblia é um documento altamente revolucionário, incluindo-se nisso os ensinamentos de Cristo. São dados exemplos tirados do Antigo Testamento. Moisés representaria a atual classe trabalhadora" escravizada, e o Faraó seria o capitalista escravizador. O vigésimo quinto capítulo de Mateus é entendido sob um prisma político e revolucionário. A ordem de "amar" torna-se, nas mãos desse autor, a inspiração revolucionária, mediante o que os males sociais seriam eliminados, beneficiando-se assim o próximo. A própria eucaristia recebe uma torção política" diante da insistência de que ela só se cumprirá, realmente, "quando houver pão

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO para comer na casa de todos os pobres do mundo". Essa é uma bela idéia. Mas que dizer acerca do Pão da Vida, que dá vida e alimenta à alma, e não ao corpo? Por qual motivo a Teologia da Libertação não lembra que Jesus ensinou que o homem não viverá somente de pão, mas também da Palavra de Deus, que vem satisfazer suas mais profundas necessidades? Um indivíduo de estômago forrado de filé não é, necessariamente, um indivíduo regenerado e espiritual. Ademais, os países cujos habitantes alimentamse melhor, dirigindo automóveis novos pelas estradas e assistindo televisão colorida em sua sala de estar confortável, são justamente onde predomina o capitalismo e não o socialismo. O Japão precisou apenas de um capitalismo bem gerenciado para passar por sua espetacular revolução econômica para melhor, e não de uma propaganda que se vale de Cristo como pseudo-inspirador. Os Estados Unidos da América, onde o progresso econômico beneficia praticamente todos os níveis da sociedade, precisaram tão-somente da inspiração protestante do trabalho árduo, E verdade que esses fatos, por si sós, não eliminam os tremendos abusos que gananciosos sistemas capitalistas têm acumulado contra as populações, na América Latina. E nem as pessoas estão dispostas a ouvir os elogios feitos a uma forma de capitalismo a fim de se satisfazerem com sua condição de miséria econômica. Antes, os ouvidos dos oprimidos estão abertos para ouvir falar em novos caminhos, em novas ideologias, em novos sincretismos, sem importar as conseqüências, pensando que a situação não pode ser pior do que já está. Conseqüências a longo prazo, que envolvem até mesmo uma grave fragmentação da Igreja Católica Romana, para breve, pairam sobre as nossas cabeças. Mas, esse noivado entre o marxismo e a religião católica romana não é a solução. Enquanto os países comunistas estão admitindo métodos capitalistas, os países do Terceiro Mundo querem experimentar a inépcia econômica do socialismo! Por que experimentar um modelo econômico que fracassa ainda mais do que o mais ganancioso e opressor dos capitalismos? Essa atitude só pode estar sendo ditada pelo mais puro desespero! IV. Oposição e Critícas Tentamos fazer aqui um modesto sumário das coisas que foram ditas contra a Teologia da Libertação. 1. A Fraqueza e o Fracasso do Marxismo. É fato de fácil observação que, com freqüência, as ideologias passam por um período fundamentalista, acompanhado pela crença cega na mesma, mantida a qualquer custo, contra toda e qualquer evidência que resiste a mudanças. Em seguida, vem um perfodo de liberalização, com a admissão de erros passados e o abandono de muitas posições passadas rígidas. O comunismo (vide) foi instalado na Rússia várias décadas antes de haver sido instalado na China. Isso posto, foi inevitável que o processo de liberalização tivesse começado primeiro na própria União Soviética. Atualmente, estamos testemunhando a admissão de erros passados, por parte de lideres soviéticos, e o abandono de certos principias ou abrandamento de outros. A liberalização encabeçada pelo prernier Gorbatchev tem feito os russos falarem sobre "a verdade" que agora é moda, em contraste com a anterior falsa propaganda sobre os programas daquele governo. Muitas atrocidades e massacres têm sido admitidos através de confissões públicas. Mas os diplomatas ocidentais temem que essa liberalidade e "abertura" não perdurem para além do atual governo. Métodos capitalistas têm sido adotados, com beneficios para a economia do país. E podemos ler notícias

veiculadas pela imprensa, como a seguinte: "China Reconhece: o Marxismo Morreu. Pequim: Depois de lançar suas reformas revolucionárias de estilo capitalista, a China deu ontem novo e decisivo passo ao considerar a filosofia marxista, introduzida no país por Mao Tsétung, em 1949, incompatível com o projeto de modernização do país. Em editorial de primeira página, ao que tudo indica, escrito pelo próprio homem forte do regime, Deng Xiaoping, o jornal porta-voz do PC, Diário do Povo, afirma que a filosofia marxista está sob pena de ser deixada para trás na corrida que travam as nações para sair do subdesenvolvimento. "Não podemos usar as obras marxistas e leninistas para solucionar nossos problemas atuais", diz o editorial, lembrando que "Marx morreu há 1O1 anos". A advertência de Deng parece dirigida aos grupos no Partido e no Exército que ainda se aferram aos principias do coletivismo maoísta . (O Estado de São Paulo, 8 de dezembro de 1984). E um outro artigo, publicado no mesmo jornal, asseverava: "O marxismo-leninismo está morto ou agoniza na China". A declaração foi feita por três renomados intelectuais chineses, membros do Partido Comunista. em uma série de entrevistas à agência France Press. Os escritores Bai Hua e Wang Ruofang e o astrofísico Fang Lizhi foram mais contundentes ao afirmar que, após quarenta anos de vitória da revolução, o balanço do socialismo na China "é um clamoroso fracasso". Declarações dessa ordem seriam inconcebíveis vinte anos atrás; porém, à medida que homens sérios buscam soluções para os imensos problemas que enfrentam, a própria sinceridade deles finalmente impele-os a afastarem-se de soluções inadequadas, a despeito do poder que ainda reste às antigas ideologias. A liberalização de um antigo fundamentalismo requer tempo; e ainda mais tempo se faz necessário para que uma antiga ideologia seja, finalmente, substituída. Todavia, os indícios são claros: tanto a Rússia como a China já ultrapassaram o comunismo fundamentalista. Os políticos da antiga guarda haverão de relutar e contra-atacar, mas a mudança haverá de prosseguir, porque o povo precisa de mudança, em beneficio de seu bem-estar. Entrementes, o aspecto mais ridículo da Teologia da Libertação, em nosso país, é que ela está apelando para o antigo e ultrapassado comunismo fundamentalísta como seu ideal inspirador e como seu método de ação, precisamente quando está sendo declarado o funeral dessa ideologia. "A China vingou-se: no tempo de Mao Tsé-tung adotou o marxismo-leninismo, tido por intelectuais da época como a última palavra da civilização ocidental. Mas, no tempo deste 'guia genial dos povos', sofreu os males da 'doença infantil do esquerdismo'. O 'grande salto para a frente' custou dez milhões de mortos. A Revolução Cultural, cem milhões de vítimas (fuziladas, expurgadas, mutiladas, etc.). Após a decadência do Império, que sofreu primeiro o imperialismo ocidental, e, em seguida, o militarismo nipônico, e após os trinta e cinco anos desperdiçados no cultivo anacrônico de Stalin, o próprio comunismo chinês acorda da letargia, abre-se para o Ocidente (convidando o capital japonês, alemão, norte-americano e enviando milhares dos seus jovens para estudar nas universidades da Europa e dos Estados Unidos) e endossa o capitalismo". "Onde não há ocupação militar soviética, o marxismo-leninismo não pode ser mantido. É uma teoria que se implanta e se mantém graças à força militar, e

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO não mais inspira os intelectuais da esquerda, mas apenas os subdesenvolvidos mentais e as guerrilhas terroristas. As democracias populares do Leste europeu já há muito teriam expulsado o marxismo-Ieninismo, se lá não estivessem as tropas soviéticas, que invadem regularmente os seus satélites. E algo que serve ainda para os sandinistas e/ou os guerrilheiros da Farabundo Marli, frades franciscanos e diretores espirituais das Comunidades Eclesiásticas de Base (e seus cardeais protetores). Mas o marxismo-Ieninismo é como uma estrela que já se tenha apagado no firmamento das idéias. Suspeitamos que mesmo em Moscou se sabe disto, o que ditou à substituição da falida ideologia pelo cesarismo bonapartista. A China de Deng Xiaoping acaba de fazer história" (O Estado de São Paulo, II de dezembro de 1984). Mesmo que alguns não a considerem anti cristã, a Teologia da Libertação não é um esforço anacrônico? 2. O Vaticano. Tenho juntado material sobre a Teologia da Libertação só a partir 1984, pelo que é impossivel mostrar aqui todas as declarações contrárias a essa ideologia, expedidas pelo Vaticano. Assim, dou apenas alguns exemplos representativos. a cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em uma entrevista prestada à revista Jesus, disse: "Éjmpossível dialogar com os teólogos que aceitam esse mito ilusório (a Teologia da Libertação), o qual bloqueia reformas e aprofunda a miséria e as injustiças, com sua luta de classes, como seu instrumento para criar uma sociedade sem classes". Em agosto de 1984, o Vaticano publicou uma extensa exposição da Teologia da Libertação, em combate à mesma. a documento tem trinta e cinco laudas de texto. Foi assinado pelo cardeal Joseph Ratzinger, com a aprovação do papa João Paulo lI. A imprensa italiana, de modo geral, considerou o documento sobre a Teologia da Libertação como um ataque sem precedentes ao marxismo e sua metodologia. Jornais de todo o pais deram destaque à divulgação do texto. Um mês após a publicação desse ataque, estava sendo discutida a possibilidade de frei Boff ser declarado como um nãocatólico. Vemos aí o mesmo processo que ocorreu no caso de Lutero. Após a explosão inicial e as tentativas de reconciliação, ou de ser encontrado algum terreno comum, Lutero foi simplesmente excomungado. O cardeal do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, afirmou que a Teologia da Libertação engloba conceitos inaceitáveis à fé cristã. Ele conclamou os católicos à obediência ao papa e aos princípios do Vaticano como a única vereda que os cristãos sinceros podem escolher. as bispos brasileiros receberam, junto com o documento da Congregação para a Doutrina da fé, distribuído pela Nunciatura Apostólica, em Brasília, um documento em espanhol que analisa alguns pontos da instrução do Vaticano sobre a Teologia da Libertação. Trata-se de um resumo do documento, contendo críticas diretas aos teólogos da libertação, que puseram em circulação um conjunto de idéias nocivas à fé. Esse documento, que circulou entre os bispos que participaram, em Brasília, da reunião do Conselho Permanente da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), assinala que os teólogos da libertação substituíram "o critério da ortodoxia pelo da ortopráxis", isto é, "pelo compromisso na luta pela libertação dos pobres, entendido no sentido marxista, o qual passa a ser a nova regra dafé". a documento, distribuído em Brasília, destaca sua tese de que a Teologia da Libertação contém idéias ruinosas para a fé.

Objeções Especificas. Os principios que jazem à base da Teologia da Libertação, como a luta de classes em termos da análise histórica-marxista, são inaceitáveis à fé cristã. Essa práxis dificilmente pode ser a regra de fé e prática dos cristãos. A história é ali vista em termos de conflito político e econômico, em consonância com a dialética materialista, ao mesmo tempo em que os aspectos divinos da história, como a intervenção de Deus, em Jesus Cristo, a salvação das almas, a vida após-túmulo e outros temas teológicos e espirituais cardeais, são deixados inteiramente de fora. Não obstante, o Evangelho fica reduzido a nada sem esses temas. É ali ridiculamente pressuposto que Deus faz a história da maneira que Marx afirmou que deve ser feita pelo materialismo, através da tríade hegeliana, depois da mesma ter recebido uma interpretação materialista. a tema da luta de classes lança cristãos contra cristãos, destruindo assim a unidade da Igreja. A ortodoxia cristã é ali substituída pela ortopráxis, conforme foi dito acima. Trechos bíblicos são distorcidos para que assumam uma feição nitidamente política. Em outras palavras, as poucas passagens bíblicas usadas recebem uma interpretação política e revolucionária. É simplesmente impossível que esse seja o uso apropriado das Escrituras, a Palavra da Vida A Teologia da Libertaçlo confere AsEscrituras um papel secundaríssimo, e o pouco citado das mesmas é distorcido por interpretações tipo marxista. A espiritualidade do Novo Testamento é cancelada pela luta de classes da concepção marxista. A interpretação liberal do Jesus da História (ver meu artigo sobre o Jesus Histórico) domina a Teologia da Libertação, onde ninguém pode achar o Jesus teológico, o divino Filho de Deus. A própria morte de Cristo é interpretada segundo um modelo político, e não como expiação pelos pecados. Não há menção a qualquer redenção universal e espiritual em sua morte. Jesus é concebido apenas como um mártir que morreu por sua oposição a um vilão polfticoeconômico de sua época. E, se por um lado, espera-se que os pobres possam ser arrancados de sua miséria econômica, nada é ventilado sobre serem eles tirados de sua pobreza espiritual, a pobreza da alma. Desse modo, a salvação reduz-se a ter o estômago recheado de frango e a residir em uma bela casa, em uma sociedade sem classes. E a salvação do espírito, ensinada por Jesus Cristo, passa em total silêncio. A própria eucaristia é reduzida à idéia de alimentar os pobres, sem qualquer coisa oferecida à alma. Coisa alguma é dito acerca da maior libertação de todas, aquela da qual os homens mais necessitam, em todos os lugares, a libertação da servidão ao pecado. No entanto, sem esse aspecto, o Evangelho reduz-se a nada. Os mistérios da fé são ignorados, como também a ética absoluta do Evangelho, alicerçada como está na revelação outorgada na Bíblia, acerca daquilo que Deus espera dos homens, moralmente falando. Boff, que foi convocado para debater essas questões com as autoridades de Roma, asseverou que o debate será útil à Igreja, e que essa será sempre a espécie de atitude que prevalece quando homens inteligentes entram em controvérsia. Finalmente, porém, dai teremos de esperar um tremendo cisma, com a fragmentação da Igreja Católica Romana em nossos próprios dias. A Teologia da Libertação, na verdade, é incompatível com a ortodoxia católica romana, e essa incompatibilidade haverá de escrever o último capítulo sobre a questão. A única questão é saber quanto tempo ainda demorará esse processo. 3. O Papa Joio Paulo 11.Certas declarações feitas pelo papa atual, em favor de algumas idéias expressas pela Teologia da Libertação, apontando a utilidade delas, têm

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO sido largamente divulgadas, ao mesmo tempo em que declarações contrárias (que são muitas) têm passado em silêncio. Em outubro de 1984, o papa João Paulo 11 deixou claro que se a Igreja anela por novas abordagens, iamais aceitará o marxismo, que é a negação de Deus. Falando para cerca de quarenta mil fiéis no Centro Olímpico de São Domingos, o papa prometeu "o generoso apoio da Igreja Católica à obra de libertação social das multidões desfavorecidas, a fim de levar para todos a justiça que corresponde à dignidade dos filhos de Deus". Mas advertiu que a missão da Igreja consiste em evitar a penetração do ateísmo que existe nos movimentos que se intitulam libertadores. Ele declarou abertamente que o marxismo é uma negação de Deus. Reasseverou a autoridade do Vaticano para dirigir o evangelismo e os movimentos sociais, sem importar sua natureza. Também defendeu a unidade da Igreja em um esforço unificado na tentativa de solucionar os problemas que os pobres enfrentam. Em uma reunião efetuada com os bispos do Peru, em outubro de 1984, o papa João Paulo 11 reiterou sua oposição à Teologia da Libertação. Ele aludiu especificamente a "ideologias estranhas à fé", ironizando a atitude de alguns que dizem que tais ideologias possuem o segredo da verdadeira eficiência no combate à pobreza e à opressão. Em uma mensagem enviada aos bispos da Africa do Sul, o papa afirmou que a solidariedade católica para com os pobres não pode ser "baseada na luta de classes". Um comentário do papa, publicado pelo jornal L 'Observatore Romano. órgão oficial do Vaticano, pode representar a condenação formal da contravertida Teologia da Libertação pelo Vaticano. Essa declaração foi publicada em 22 de agosto de 1984. Entrementes, o cardeal Ratzinger referiu-se à mistura de fontes e tendências da Teologia da Libertação como "um abuso da teologia". Em abril de 1984, o papa João Paulo 11 condenou a tirania das ideologias, em um ataque direto desfechado contra a Teologia da Libertação, contradizendo assim o próprio termo, "libertação", dando a entender que a libertação ali prometida na realidade é apenas uma outra forma de tirania Essa declaração foi feita pessoalmente a um grupo de bispos brasileiros, diante do papa, no Vaticano. A isso o papa acrescentou que o interesse em ajudar materialmente os pobres não deve obscurecer o principal propósito do Evangelho, efetuado através do evangelismo de natureza espiritual. 4. O cardeal Agnelo Rossi, no Brasil, afirmou, em abril de 1985, que os métodos da Teologia da Libertação podem ser fatais à Igreja Avisou sobre as técnicas de lavagem cerebral empregadas por seus defensores. Não que haja campos de concentração do tipo nazista, mas essas técnicas são levadas a efeito dentro das próprias agências da Igreja. E preparou um documento de quarenta e três páginas, ressaltando os erros da Teologia da Libertação. 5. O cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Salles, defendeu as advertências feitas pelo papa João Paulo TI acerca da Teologia da Libertação, e conclamou os católicos à obediência ao papa, como dever de todos os católicos. Também expediu um comunicado, encorajando o episcopado brasileiro a condenar os erros que assediam presentemente a Igreja Católica Romana, lamentando o fato de que a punição imposta a Boff(um ano de silêncio) foi recebida com protestos no Brasil, o que é uma clara desobediência à palavra e à iniciativa do Vaticano. 6. O arcebispo de San José (Costa Rica), Dom Roman Arrieta, classificou a Teologia da Libertação e a Igreja Popular como coisas inaceitáveis para os católicos romanos, condenando as "ideologias exóticas" que estão

fascinando alguns cristãos da atualidade. 7. O Jurista Sobral Pinto demonstrou, em um livro escrito em 1984, as "distorções" da Teologia da Libertação, onde asseverou: "É realmente fantástico declarar útil à teologia, cuja base é Deus, a teoria do materialismo histórico, cuja base é justamente a negação de Deus. Isso é algo que ultrapassa todo e qualquer bom senso". O prefácio da obra foi suprido pelo cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Salles, onde o livro dessejurista aparece como "muito oportuno". Sobral Pinto escreveu em seu livro, intitulado Teologia da Libertação, que, realmente, é dificil compreender os católicos que se utilizam de uma ideologia que está alicerçada sobre o pressuposto de que Deus não existe, que não há vida pós-túmulo e nem poderes sobrenaturais, e que chama de "fantasia" a crença nessas realidades espirituais, além de afirmar que a doutrina da alma nada mais é do que a imaginação arbitrária de poetas e místicos. 8. O cardeal Dom Vicente; de Porto Alegre, em abril de 1985, ao falar no programa da Cúria Metropolitana, asseverou que a Teologia da Libertação repete os erros de tempos passados com "perigosa ignorância e desconhecimento acerca dos pontos fundamentais da verdade revelada". Ele lamentou a fraqueza da autoridade do papa e a desobediência que vai aumentando, contra o poder da Igreja. Também objetou à aceitação da teologia liberal de Bultmann acerca de Cristo, que o reduz a um pseudolibertador, de acordo com pontos de vista marxistas, uma total distorção do Cristo retratado no Novo Testamento. 9. O Cardeal Sebastiano Baggio, representante do papa João Paulo TI, durante o XI Congresso Eucarístico Nacional, condenou (17 de julho de 1985) um documento, assinado por onze entidades, que defende a posição assumida pela Teologia da Libertação e o frei Leonardo Boff. Dom Sebastiano disse que Boff tem os seus superiores, e que esse tipo de ação é um desafogo, e não um caminho adequado a ser seguido. O documento em questão está dividido em quarenta e quatro itens. E também deplorou a divisão que toda essa questão está causando no seio da Igrej a Católica Romana, dando a entender que a função do clero consiste em ensinar as doutrinas da Igreja, e não inventar a Igreja. 10. O bispo auxiliar de Salvador, Dom Boaventura KJoppenburg (em setembro de 1984), salientou que a libertação prometida pela Teologia da Libertação é na verdade, inimiga da liberdade pessoal dos indivíduos. Chegou mesmo a dizer que enquanto a libertação está sendo proclamada às massas, ao mesmo tempo estão sendo preparados campos de concentração aos dissidentes. E convocou os homens a desfraldarem de novo a verdadeira bandeira da liberdade, asseverando que a filosofia marxista opõe-se à visão cristã das coisas. 11. O bispo Boaventura Kloppenburg ( 9 de setembro de 1986) advertiu que o Partido dos Trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores e o Partido Democrático Trabalhista estão preparando o Brasil para o socialismo, e que a politica está sendo pregada nas igrejas, como parte do mesmo programa e finalidade. A isso ele chamou de "desvio na Igreja". E esse bispo ironizou as pretensas intenções de religiosos brasileiros de buscar modelos em Cuba: "Quem sabe se eles não descobrem um exemplo maravilhoso de reforma agrária e o dão ao presidente Sarney?" E fez objeção ao uso de textos bíblicos a serviço do marxismo, além de ter reafirmado o oficio de Cristo como o verdadeiro Libertador do povo. E lamentou o uso do tempo do povo na Igreja para fins de propaganda política.

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO 12. O bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Edmundo Kunz, em outubro de 1984, condenou o uso da análise marxista para fins de mudança social: "Admitir a luta de classes como lei fundamental da História significaria introduzi-la na própria Igreja de Cristo. A hierarquia seria opressora, e o laicato oprimido; a Igreja institucional, senhora, e a do povo, escrava. Estaria demolida a Igreja como povo de Deus e como corpo místico de Cristo. Além disso, se vingasse a teoria classista de Marx, somente haveria amigos e inimigos, exploradores e explorados, agressores e oprimidos". Essas palavras foram proferidas no programa radiofônico Vozdo Pastor, da diocese de Porto Alegre, quando Kunz criticou o uso da análise marxista. Também lamentou o fato de que a Teologia da Libertação veja as necessidades do ser humano em um contexto puramente materialista, esquecendo-se das necessidades maiores da alma. Entretanto, admitiu o uso desse tipo de teologia a fim de alertar o povo quanto a abusos, forçando a Igreja a enfrentar as questões envolvidas, mas não demonstrou qualquer fé na eficácia dos remédios propostos pela Teologia da Libertação. V. Boff Critica o Vaticano Os hereges usualmente mostram-se eloqüentes na defesa de seus pontos de vista, embora acabem sendo derrotados. A busca inicial pela harmonia e pela reconciliação com os "antigos caminhos" serve tão-somente para adiar, por algum tempo, o cisma inevitável. As palavras e os escritos dele são muito ousados. Apesar de que algumas de suas declarações públicas têm tido um tom conciliador, ele mesmo não tem cedido muito terreno ante seus adversários. Boff é um herói para milhões, e um vilão para outros milhões. Será crucificado e glorificado ao mesmo tempo. Daí resultará uma Igreja Católica Romana fragmentada, pelo menos nos países do chamado Terceiro Mundo. Em setembro de 1984, Leonardo Boff afirmou que o capitalismo, e não o comunismo, é o principal demônio contra o qual deveríamos lutar, em defesa dos pobres e oprimidos. E suas palavras foram publicadas pelo L .Uni/à, órgão oficial do Partido Comunista italiano. Ele criticou o Vaticano por não levar em conta a evolução de idéias, e que foi Marx que nos teria ajudado a entender a lógica do capital e do processo de exploração. E também indagou: "Que poderia ser mais espiritual do que dar a uma criança algo para comer?" Asseverou, em seguida, a sua crença na espiritualidade, e afiançou que o problema da Igreja consiste em lutar contra as injustiças, inspirada pela fé e sua transcendência. Disse também que "não haverá uma libertação dos oprimidos com base no marxismo como ideologia integrar. E ajuntou que "os cristãos devem redobrar a sua vigilância crítica em relação a essa ideologia, cuja sedução mística é devoradora e totalitária". Portanto, ao que parece, o próprio Boff não está lutando em prol de um estado comunista, mas apenas insistindo que há coisas de valor que podemos pedir emprestado daquela ideologia, úteis na luta contra a pobreza e a opressão. E novamente criticou o Vaticano por não apresentar nenhuma alternativa adequada a essa situação, afirmando que o Vaticano é por demais abstrato em seus pronunciamentos, sem jamais apresentar quaisquer medidas de ordem prática para a solução dos problemas sociais. O Vaticano reagiu, condenando a chamada "Igreja Popular", na terceira sessão do 11 Sínodo Extraordinário, em novembro de 1985. O surgimento de "igrejas populares", como aquela que se está formando na Nicarágua, com apoio do governo sandinista, foi

classificado de práxis marxista, pelo arcebispo de Córdoba, na Colômbia, Dom Raul Francisco Primatesta. Ele classificou tal movimento de neomodernista, afirmando que o mesmo pode levar a uma ação religiosa social e subversiva. E também exprimiu sua preocupação no que conceme à secularização da Igreja Católica Romana. Em setembro de 1984, o frei Leonardo Boff criticou o Vaticano pela maneira como manuseia a Teologia da Libertação, asseverando que o mesmo procede com uma visão tipicamente eurocentrista, paternalista, que não leva em conta a realidade latino-americana. Se a Igreja Católica Romana continuamente afirma que é mister lutar contra a pobreza e a opressão, oferece mera assistência, e não verdadeira libertação. E acusou as criticas emitidas pelo Vaticano por serem ultrapassadas, por não se ajustarem à evolução das idéias do mundo moderno. Mas um teólogo jesuíta, João E. Martins Terra, advertiu que Boff está passando como uma "vítima" do autoritarismo, avisando que as conseqüências de sua filosofia dentro em breve poderão ser muito desastrosas para a Igreja. Em sua opinião, a unidade e a vitalidade da Igreja Católica Romana estão sob ataque. O Neogalicanismo na Igreja Católica Romana do Brasil. Martins Terra afirmou poder divisar uma forma de neogalicanismo que se vai amoldando no Brasil. O galicanismo surgiu no século XV, procurando reduzir o poder do papa, o que marcou profundamente a história do catolicismo romano. Sua tendência é produzir uma igreja nacional, em oposição à Igreja centralizada, governada pelo Vaticano. E Martins Terra também objetou à típica teologia liberal de Boff, que faz parte do seu sistema sincretista. Em 10 de outubro de 1984, Boffcriticou o Vaticano por ter medo do comunismo. Em vista desse temor irracional, não tiraria proveito dos bons aspectos que o marxismo tem para melhorar as condições sociais e econômicas dos povos. Boff proferiu essas palavras em um discurso feito em Campinas (Unicamp), perante professorese estudantes. Ao mesmo tempo, porém, afirmou que devemos combater o marxismo, como um sistema. E advertiu que a mera eliminação do antigo capitalismo não será uma medida produtiva se, em conseqüência, uma outra ideologia perniciosa tomar o seu lugar. E também disse: "Eu não quero o marxismo no Brasil, inclusive porque não permite a liberdade religiosa; mas o problema aqui é o capitalismo selvagem, sem regras, que leva a pessoa, embora faminta, a ser comunista". Também assegurou que a Teologia da Libertação não se inspirou no marxismo, e, sim, em ideais cristãos. Fica patente, diante de declarações assim, que Boff é um dos mais moderados advogados da Teologia da Libertação, porquantomuitos dos que esposamessa teologia pensam que somente por meio de um estado comunista é que os ideais dessa teologia poderão ser implantados. Quanto a nós outros,cabe concluir que tal estado comunista seria um "estado cristianizado", que empregaria seu código humanitário sem limitar a expressão religiosa do povo. Até o momento, porém, ainda não surgiu um estado comunista dessa natureza, ainda que existam brasileiros que pensem que assim poderá vir a suceder. O argumento deles é que o comunismo brasileiro não precisaria imitar os erros de comunistas de outros países, pois a liberdade religiosa poderia ser franqueada em meio a um estado comunista. Isso seria, verdadeiramente, um "milagre brasileiro". Mas, conforme é claro, nem o próprio Boff acredita em tal possibilidade. VI. Defesa de Boff e da Teologia da Libertação Já vimos o que Leonardo Boff pensa e diz. Sabemos

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO que, no movimento da Teologia da Libertação, há vultos mais radicais do que ele. Apresentamos aqui um sumário das coisas que podem ser ditas em favor dessa filosofia-teologia. 1. Vemos que muitos dos defensores da Teologia da Libertação favorecem a idéia da eliminação da pobreza, da exploração e da miséria, e não podemos deixar de admirar a preocupação social deles. Nas denominações protestantes e evangélicas, geralmente por demais preocupados com o aspecto espiritual do cristianismo, pouco se nota desse cuidado; e os grupos mais conservadores parecem ser os menos envolvidos nas questões da caridade e dos atos práticos de amor cristão, ignorando aquilo que Tiago disse acerca da "religião pura" (ver Tia. 1:27~ ver também todo o seu segundo capítulo). Se a Teologia da Libertação porventura tem algo para ensinar-nos, é quão descuidados temos sido quanto a essa questão. 2. O próprio Boffnão é um ativista que procura impor um estado comunista, embora seja verdade que outros possam usar a atuação dele com esse propósito. Seria a repetição do que fizeram com Hegel e com Marx, guardadas as devidas proporções. 3. A Igreja não está provendo os meios apropriados para uma mudança pacífica de certos males sociais, pelo que parece haver certa verdade naquilo que Boff diz: ela assiste, mas não revoluciona, e algo radical se impõe, se tiver de ser revertida a incrível miséria das populações dos países do Terceiro Mundo. 4. Os mentores da Teologia da Libertação afirmam que, no horizonte, não existe qualquer outra força contrabalançadora, senão o marxismo, para pôr fim aos abusos de um capitalismo desenfreado. Portanto, procura valer-se daquele sistema totalitário como uma alavanca, ao mesmo tempo em que idealiza seu abrandamento, reconhecendo que tal ideologia, conforme ela existe em outros países, também é opressora. S. A Teologia da Libertação apela para o progresso das idéias, e seus propaladores acreditam na noção de que o sincretismo da Teologia da Libertação é um avanço útil às necessidades da Igreja. 6. Na mente de muitos brasileiros parece ser possível produzir um governo que se utilize do que é bom no marxismo, mas sem reter seus bem conhecidos abusos. 7. É patente que a Teologia da Libertação é uma espécie de neoprotestantismo secular, que incorpora idéias liberais e ideais marxistas. Como tal, nega a autoridade absoluta do papa e sua apregoada infalibilidade, coisas essas contra as quais os protestantes têm estado a pregar durante alguns séculos. Assim, a Teologia da Libertação é um novo liberalismo (secular), tal como a Reforma Protestante pode ser considerada um movimento de liberalização do século XVI. A grande diferença é que a Reforma Protestante não se valeu do materialismo como seu cavalo de batalha, e nem olhava somente para uma libertação da pobreza econômica e da opressão política. Mas, devido a algumas semelhanças, talvez por esse motivo é que um número crescente de protestantes esteja sendo atraído pela Teologia da Libertação. Mas esses protestantes estão tão enganados quanto o próprio Boff. 8. A chamada Igreja Popular compõe-se de igrejas nacionais; e, novamente, isso se assemelha ao ideal protestante acerca da Igreja, que advoga a autonomia em contraposição ao autoritarismo centralizado. Ao longo deste artigo, temos apresentado argumentos contra tais defesas, pelo que não sentimos necessidade de reiterá-las aqui.

VIII. O Mau Exemplo de Cuba e a Sorte da Igreja Católica Romana Ali. Fidel Castro tem-se declarado adepto da Teologia da Libertação desde que era guerrilheiro nas colinas cubanas. Parece que ele afrouxou um tanto em seu rígido marxismo, a ponto de perceber algum valor em uma Igreja popular que o ajudasse em sua tarefa de oprimir os cubanos. Mas, assim que ele assumiu o poder em Cuba, destruiu ali a Igreja Católica Romana tradicional, não fazendo qualquer esforço por substituí-la por uma Igreja Popular, mais em consonãncia com suas reformas sociais, mas que retivesse a idéia de liberdade religiosa. E muito dificil acreditarmos que, por essa altura dos acontecimentos, Castro j á se tenha liberalizado o bastante para incorporar liberdades religiosas em seu sistema. Muitos temem que o Brasil venha a tomar-se uma outra Cuba. E extremamente dificil determinar até onde vão as probabilidades disso; mas, se isso tiver de acontecer algum dia, podemos estar certos de que a Teologia da Libertação haverá de contribuir com boa parcela para que assim venha a ser. Fidel Castro destruiu a Igreja Católica em Cuba. Em 1958, havia 90% de cubanos batizados. Hoje a porcentagem é de 39%. Em 1958, 24% dos católicos praticavam ali a religião, indo à missa aos domingos. Hoje esta prática tombou a 0,5% e vai descendo sem cessar. Em Cuba havia, em 1958, algumas centenas de colégios católicos. Hoje não resta um só. Havia, em 1958, mais de 700 sacerdotes. Hoje há 211. Em 1958, a Igreja cubana dispunha de jornais, revistas, emissoras de rádio e programas de TV, para difundir a fé. Hoje, tudo isto lhe foi arrebatado violentamente. Desde 1961, Castro ignorou os bispos cubanos e se recusou a recebê-los. O gelo só foi rompido em setembro de ·1985 e uma segunda visita já ocorreu em novembro de 1985, porque agora é o "degelo da simpatia tática". Durante 25 anos, toda a infãncia e juventude cubanas, privadas de ensino religioso (a não ser dentro dos templos, e sob o controle do Partido) foram endoutrinadas, encharcadas de materialismo e de marxismo. Agora Castro quer entender-se com a Igreja com uma Igreja totalmente marginalizada da sociedade. Da qual tudo nos levaria a dizer que está moribunda, se não soubéssemos que, quanto à Igreja de Cristo, "suas portas nunca se fecharão" (Apo. 21 :25). Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 1986. Conclusão: Temos que admirar o zelo daqueles que lutam contra a opressão, em todas as suas formas, e que procuram envidar esforços altruístas genuínos em favor dos pobres e oprimidos. O movimento da Teologia da Libertação faz-nos lembrar a necessidade da Igreja envolver-se na reforma social, posto que segundo moldes bíblicos, e nunca sob moldes de uma filosofia materialista, cuja mola mestre são os fatores econômicos, como se estes fossem o único fator a considerar. Além disso, cabe fazermos aqui um reparo. A julgar pelos resultados obtidos nos países onde o comunismo tem-se tomado uma experimentação bem controlada, vê-se que essa filosofia é ingênua, a despeito de seus bem arquitetados argumentos dialéticos e das esperanças acenadas por parte de seus teóricos e de seus praticantes, já durante mais de sete décadas. Mas, voltando à Teologia da Libertação propriamente dita, a grande debilidade dessa forma de "teologia" é que ela é tão pobre em teologia. Trata-se antes de uma forma de humanismo, com pouco ou nenhum interesse pela alma, que é o verdadeiro homem. Não podemos perceber como qualquer teologia digna do nome pode obter êxito sem

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO - TEOLOGIA DE PROCESSO esse interesse. Jesus Cristo veio para salvar almas. A tarefa da Igreja é anunciar essa salvação, em Cristo. O homem essencial não é o seu corpo físico, e, sim, a sua alma. A teologia precisa ser uma ciência eminentemente espiritual, posto que um seu aspecto, secundário, seja o obtenção da justiça social e da prosperidade entre os povos, o que o Evangelho de Cristo conseguirá fazer, à sua maneira, terminado seu ciclo histórico atual, por ocasião da volta de Cristo, e que nenhum sistema econômico ou político conseguirá fazer, verdadeiramente.

TEOLOGIA DE ANTIOQUIA Ver sobre Escola Teolágica de Antioquia. TEOLOGIA DE ARISTÓTELES Essa obra foi produzida do grego para o árabe no século IX d.C., pela Escola de Bagdá; e daí, foi traduzida para o latim. No começo foi representada como de autoria de Aristóteles. Mas, na realidade, foi os livros IV - VI das Eneadas, de Platina. Visto que essa obra tem um caráter nitidamente neoplatônico, os intérpretes de Aristóteles, por quase cinco séculos, sentiam necessário assumir a postura de filósofos neoplatônicos. TEOLOGIA DE PROCESSO Esboço: 1. Pano de Fundo Filosófico 2. Conceito Básico 3. Conceitos da Teologia de Processo

1. Pano de Fundo Filosófico A chamada teologia de processo tem seus fundamentos históricos nas filosofias de Alfred North Whitehead e Charles Hartshorne, bem como nos pontos de vista evolutivos da vida biológica humana, quando esse princípio é aplicado ao próprio cosmos. 2. Conceito Básico Deus deve ser visto não somente como o Criador, mas também como o Supremo Efetuador, pelo que o poder divino é que estaria por trás das mudanças e do progresso. Esse conceito haverá de ajudar-nos a crescer em nosso conhecimento de como Deus é, além de conferir-nos uma melhor visão sobre a própria vida. Afeta cada escaninho do pensamento teológico. Como isso pode ser, é esboçado no terceiro ponto, abaixo. 3. Conceitos da Teologia de Processo a. Conformejávimos, Deus é bipolar,não sendo meramente Causa, mas também contínua Causa em operação. b. Apesar de Deus ser absoluto, eterno e infinito, Ele também faz-se presente em sua criação, e seu amor é extremamente operante, estabelecendo toda a forma de diferenças. c. Conforme Whitehead sugeriu, Deus é primordial (eterno); mas também é conseqüente (ou seja, eterno). E, além disso, é eminentemente temporal em suas manifestações. d. O Universo é uma entidade viva, mutável, que vai avançando, desconhecendo qualquer estagnação. As potencialidades acham-se sempre em estados que produzem fruição e realização. e. Dentro da criação há uma liberdade radical, necessária para o cumprimento das obras de Deus nos homens e na existência em geral. Os ensinos biblicos atinentes ao Deus ativo e redentor devem ser preferidos ao deus metafisico dos filósofos, onde ele recebe muitos elogios, mas não figura como muito operante, e nem estabelece diferenças em sua criação.

f. A relação que Deus mantém com a sua criação é, essencialmente, uma relação de amor fanático, uma força sempre ativa na direção do bem-estar, da redenção e da mudança, sempre para melhor. Conceitos que obscurecem essa idéia são conceitos inadequados. g. A ontpotência de Deus brilha por trás do seu amor. A ira do homem redunda em seu louvor, mas esse louvor aponta para o bem que se realiza, tanto no tocante a Deus como no tocante à sua criação. Em outras palavras, a ira é apenas um dedo da amorosa mão de Deus. h. A onipresença de Deus pode ser melhor explicada em termos da doutrina do panenteismo, que faz toda a criação localizar-se em Deus; todos os eventos ocorrem em Deus; suas potencialidades e atualidades cumprem-se na Mente divina e por sua determinação, e isso sempre tende na direção do bem, em consonância com o amor de Deus. Deus atua em todas as coisas como o principal agente. O livre-arbítrio humano, que é real, gradualmente vai sendo educado para servir ao bem, e Deus tem paciência no tocante a essa realização. Deus está em todos os lugares e opera em todos os lugares. i. O homem é um processo. Ele se acha em evolução espiritual, em harmonia com os ditames do amor de Deus, o qual está escudado em sua onipotência. Na verdade, o Criador de tudo é o principal operador das boas obras, e o homem nunca fica destituído dessa ajuda dinâmica e necessária de Deus. j. A importância de Jesus. Cristo concentra em si mesmo o que sucedeu antes dele vir ao mundo; apresenta-se com um tremendo poder de amar para aqueles que a Ele correspondem; nunca cessa de buscar aqueles que não correspondem a Ele; conquista aqueles que correspondem a Ele, e então aqueles que não haviam correspondido inicialmente a Ele. O amor de Deus nunca entra em repouso. O seu amor enriquece todos os homens; ele os redime; ele os transforma. Ele é incansável. Cristo é o Filho de Deus, e coisa alguma está fora do alcance do seu poder. Cristo faz dos homens filhos de Deus e seus próprios irmãos. Deus criou os homens como filhos, e isso é o que eles são. Jesus toma isso ainda mais real, em seu ato salvatício, o qual é poderoso, sempre progressista, nunca em repouso, sempre eficaz. I. A liberdade radical, outorgada por vontade de Deus aos homens, significa que eles podem pecar e, de fato, pecam. A maldade é um fato. Os homens falham, não cumprindo os propósitos de Deus, mas eles nunca são abandonados e a batalha nunca se perde. O poder de Deus está sempre disponível mediante a graça divina, a qual é perfeitamente real. A graça divina nunca falha, embora o homem possa falhar. A graça divina sai-se vencedora, a longo prazo. A graça está sempre à nossa disposição. Ela nunca se esgota; ela nunca diminui. A graça é conquistadora, e sair-se-á vencedora. m. A criação nunca foi e nunca será um produto acabado. Antes, é um processo dinâmico. Ela tem alvos, e então mais alvos ainda. Todos os fins acabam sendo novos começos. De fato, um fim é apenas um instrumento para um novo começo. Jamais poderemos olhar para as coisas para então dizer: "Assim é que as coisas vieram a ser, para sempre serem". Não existe tal coisa como a estagnação. n. Desígnio. Nossas vidas e todos os aspectos da criação, sob hipótese alguma estão envolvidos no caos, ou em algum vôo da fantasia. Não há qualquer salto absurdo no escuro. Deus está em tudo e está operando através de tudo. Retrocessos temporários e fracassos não estabelecem o curso das almas eternas. Há desvios, mas todos esses desvios são reparáveis,

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TEOLOGIA - TEOLOGIA DO A.T. o. Critérios Finais. Os evangélicos fundamentalistas encontram sua palavra final na Bíblia, que usam como uma mina de onde extraem as suas verdades. Infelizmente, quando extraem alguma verdade que não gostam, distorcem-na para que se tome alguma coisa que eles gostam, ou então ignoram-na. Daí é que se originaram as muitas denominações protestantes e evangélicas, todas elas reivindicando ser melhores intérpretes das Escrituras do que as demais. Para os eruditos liberais, talvez o critério mais essencial seja a experiência religiosa, geralmente, governada pelo método empírico, por meio da influência exercida pela ciência. Mas o critério final da teologia de processo é: Deus é amor. Deus faz tudo ajustar-se dentro desse conceito, e todos os atributos de Deus estão alicerçados sobre esse grande fato. Em Jesus Cristo encontramos uma magnificente manifestação desse amor divino. Ele é o Sol que faz moverem-se as estrelas do céu espiritual. O poder de Deus está atuando por detrás do seu amor, possibilitando-se fazer um esforço decente para obedecermos à palavra do Senhor: Ama ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, alma e mente; e ama ao próximo como a ti mesmo. O mais significativo de tudo é que Deus é o exemplo supremo desse tipo de completo amor, e podemos ter a certeza de que o Criador de todas as coisas sempre agirá com justiça, e essajustiça significa o bem para todas as almas humanas. (C COB OG PI WT) TEOLOGIA DIALÉTICA Ver Dialética, Teologia da. Ver também, Barth, Karl. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO Ver o artigo geral sobre o Antigo Testamento, o qual, naturalmente, aborda suas idéias essenciais. O presente artigo apenas reenfatiza alguns importantes aspectos da questão. Esboço: I. A Teologia dos Começos 11. Conceitos Primitivos da Natureza Metafísica do Homem Ill. Independência da Teologia Bíblica da Teologia Dogmática IV. Distinção Entre a Religião e a Teologia do Antigo Testamento V. Diferenças Quanto à Metodologia e ao Ponto de Vista VI. O Poder Profético do Antigo Testamento-as Promessas de Deus VILA Ética do Antigo Testamento Observações Preliminares A teologia do Antigo Testamento levanta muitas questões, a começar por definições dessa disciplina. Os teólogos sistemáticos não mostram paciência com qualquer coisa que não se adapte à ordem esperada adredemente. Porém, no caso do Antigo Testamento, é claro que não estamos tratando com um documento unificado. Antes, temos ali uma evolução, um desenvolvimento tal que há muita variedade que não se presta a uma perfeita harmonia entre suas partes constituintes. Assim também, todas as grandes fés da humanidade foram desen-volvimentos, incluindo-se aí o judaísmo e o cristianismo. A vontade de Deus opera em conjunto com o processo histórico, e não à parte do mesmo, ainda que, ocasionalmente, haja intervenções divinas que alteram esse curso. Os teólogos sistemáticos não estão mentalmente treinados quando enfrentam pontos que não se harmonizam facilmente entre si, tão grande é

a necessidade que sentem de não deixar fios soltos sem nó. Assim, a teologia sistemática (apesar de suas óbvias utilidades), obscurece o estudo simples da teologia do Antigo Testamento. Mas, uma vez que os eruditos chegam a reconhecer que a teologia sistemática nem sempre descortina a história inteira, e que ela chega mesmo a obscurecer o quadro, libertam-se de rígidos métodos aprendidos, permitindo-lhes isso encararem o Antigo Testamento naquilo que ele é, e não em termos daquilo que eles gostariam que o mesmo fosse. I. A Teologia dos Começos Nosso primeiro problema consiste em entendermos que os hebreus na verdade tinham uma cosmologia que difere radicalmente daquilo que a ciência tem descoberto quanto à natureza do universo físico. Os teólogos têm "cristianizado" os primeiros capítulos de Gênesis, e assim têm obscurecido o seu verdadeiro sentido tencionado. Eles também têm "modernizado" esses textos, "atualizando-os", segundo poderíamos dizer, a fim de que os leitores modernos da Bíblia vejam neles a exatidão científica. Entretanto, os eruditos ainda não conseguiram tal exatidão científica, embora agora saibamos muito mais que os antigos hebreus, Todavia, não expando aqui essa questão, porque o que tenho a dizer a respeito aparece nos artigos intitulados Criação; Cosmologia e Cosmogonia. 11. Conceitos Primitivos da Natureza Metafisica do Homem Quando um cristão lê o trecho de Gên. 2:7: " ....Deus... soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida, e o homem tomou-se alma vivente ..." naturalmente pensa que, nesse ponto, Deus criou a alma humana, unindo-a ao corpo físico do homem. Porém, os eruditos do hebraico informam-nos que não havia qualquer noção de uma alma humana imaterial, nessa altura da teologia dos hebreus, e nem havia então qualquer conceito de uma existência após-túmulo, com os galardões ou castigos prometidos, o que, naturalmente, acompanha essa idéia. A lei de Moisés, apesar de bastante intrincada, nunca promete uma bem-aventurada vida após-túmulo aos obedientes; e nem ameaçou aos desobedientes com algum tipo de julgamento na vida após-túmulo. A ausência total de tais ensinos certamente mostra-nos que os estudiosos estão com a razão quando afirmam que, no Antigo Testamento, a noção da alma só aparece mais claramente já nos Salmos e nos livros proféticos. Em conseqüência disso, fica ilustrado que até mesmo doutrinas importantes podem resultar de um desenvolvimento teológico. Mas a teologia sistemática gostaria de forçar sobre nós um conceito da alma "desde o começo" da revelação bíblica, ao passo que a teologia bíblica segreda-nos: "Isso só surgiu mais tarde". 111. Independência da Teologia Bíblica da Teologia Dogmática Em 1787, J.P. Gabler iniciou, historicamente, a distinção entre a Teologia Bíblica e a Teologia Dogmática. A Teologia Bíblica (e, portanto, a teologia do Antigo Testamento) limita-se àquilo que "encontramos na própria Bíblia", em vez de sentir a necessidade de nos ajustarmos a algum sistema. Na Teologia Bíblica não há qualquer senso da necessidade de harmonização, e todas as idéias e verdades podem emergir, porquanto a harmonia não é a base de tudo. Naturalmente, muitos daqueles que escrevem teologias bíblicas ainda assim são sistematizadores no coração, e continuamente procuram forçar uma harmonia, nem que seja ao preço da honestidade. Porém, isso é uma corrupção da verdadeira teologia bíblica, e não uma autêntica expressão da mesma. Outro vício dos

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TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO sistematizadores é a tentativa de sempre verem o Novo Testamento oculto, no Antigo Testamento, ou, então, forçarem o Antigo Testamento a concordar com o Novo. Após Gabler, surgiu, com base em seus escritos, um renovado interesse pela história, pela linguagem e pela cultura dos hebreus, as quais desvencilharam-se de conceitos bitolados, próprios da teologia dogmática. Além disso, a ênfase passou a ser posta sobre a experiência religiosa, a antropologia e a psicologia religiosa, como aspectos importantes da antiga experiência dos hebreus. Os profetas de Israel também passaram a ser apreciados como homens dotados de experiência e gênio religioso, e não somente como homens que constituíram sistemas. E isso suavizou o choque que muitas pessoas até então sentiam ao perceberem contradições reais e aparentes no Antigo Testamento. I\Z Distinção Entre a Religião e a Teologia do Antigo Testamento O. Eissfeldt (1926) preocupou-se com essa distinção. Ele salientava que a teologia do Antigo Testamento trouxe à tona verdades imorredouras que prosseguem válidas através de todas as vicissitudes da vida. Por outro lado, grande parte da religião do Antigo Testamento foi ultrapassada e tornou-se obsoleta. Apesar de que os rabinos não se sentiriam felizes ante tal distinção, Paulo a reconhecia, embora sem dar-lhe os títulos dados por Eissfeldt. Se ele tivesse expressado tal distinção, provavelmente teria dito algo como: "A teologia veterotestamentária foi incorporada no Novo Testamento, ao mesmo tempo em que grande parte da religião do Antigo Testamento foi abandonada". Um exagero desse modo de pensar foi a tentativa de mostrar que o Antigo Testamento, do começo ao fim, serve de testemunho direto de Jesus Cristo e sua obra expiatória. Apesar desse testemunho ser forte (ver o artigo Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus), aqueles que se interessam por questões teológicas têm claramente exagerado em suas definições. Assim, L. Kohler, na tentativa de defender a fé hebraico-cristã de um crescente paganismo, publicou sua obra, com título em alemão, Das Christuszeugnis des Alten Testaments (1942), que encerra esse exagero, mas que serviu ao propósito de desfraldar o pendão cristão em um momento crítico. Tais esforços achavam-se também à base de sua Teologia Dialética. Ver o artigo Dialética, Teologia da. Obras importantes no tocante à teologia do Antigo Testamento foram escritas por Eichrodt, Vriezen, von Rad e E. Jacob. O último desses contemplava essa teologia do ponto de vista dos atos de Deus, mais ou menos aos moldes de Kohler. Desnecessário é dizer que aqueles que contribuíram literariamente para esse campo, assumiram vários pontos de vista sobre o quanto o Novo Testamento foi realmente antecipado no Antigo. F. Baumgartel criticou a exagerada cristianização de Jacob em seu livro Verheissung ("Promessa"), publicado em 1952. v. Diferenças Quanto à Metodologia e ao Ponto de Vista W. Eichrodt, em seu livro, com título em alemão Theologie des Alten Testaments, asseverou que o tema dominante e a motivação do Antigo Testamento, que lhe emprestavam unidade, era a aliança entre Yahweh e o povo de Israel, o que se foi desenvolvendo até que Yahweh desejou ter comunhão com todos os homens. Von Rad, por outra parte, acreditava que a chave para a compreensão do Antigo Testamento é a reportagem, ou seja, o relato da história-da-salvação de Israel (Heilsgeschichte). James Barr adicionou uma importante discussão sobre a relação entre a história e a revelação. Von Rad encarava a

revelação do Antigo Testamento como um certo número de atos distintos e heterogêneos, em contraste com a grande e única revelação de Deus, no Antigo Testamento, através de Jesus Cristo. Sem dúvida, temos nisso um certo exagero de sua parte, mas algo que deve ser considerado em relação ao propósito mais amplo do Novo Testamento. Pelo seu lado negativo, ele parece ter subestimado a unidade do Antigo Testamento. Ao que parece, Rad também não apreciou o papel da história na revelação. A revelação e a história, porém, podem cooperar uma com a outra sem qualquer contradição. A ênfase demasiada sobre a reportagem poderia levar-nos a um mito, e não ao registro divino de como Deus interveio na história humana, desvendando o seu propósito remidor. Eichrodt exortava-nos a reconhecer o testemunho da fé da comunidade do Antigo Testamento. A invasão pessoal de Deus no espírito humano teria produzido uma fé viva, onde também podemos encontrar a compreensão da história de Israel do ponto de vista do Antigo Testamento, e por extensão, a compreensão da história da própria humanidade. Também não deveríamos considerar mitológicos os fatos externos da história, onde esse drama se desenrolou. VI. O Poder Profético do Antigo Testamento -As Promessas de Deus Quanto a esse ponto, encontramos extremos. Alguns intérpretes têm pensado que o alegado poder profético do Antigo Testamento existe somente na mente dos intérpretes que vêem ali algo que, realmente, não está lá. Por outro lado, há quem tenha exagerado o elemento profético do Antigo Testamento, encontrando Cristo e o cristianismo em todas as suas páginas, em todo tipo de pronunciamento, em todos os salmos, etc. Von Rad defendeu o autêntico poder profético do Antigo Testamento, como antecipação do Novo Testamento. Mas há intérpretes que negam a idéia de que o judaísmo precisava ter cumprimento no cristianismo, como se fosse um torso que precisasse de uma cabeça. Mas há outros que estão certos de que o judaísmo, sem o cristianismo, é como um torso sem cabeça. Baumgartel e Bultmann mantinham que o Antigo Testamento não é diretamente relevante para o cristão, embora, por analogia, haja relevância para ele. As promessas do Senhor a Israel teriam um papel nas promessas de Deus à Igreja. Judeus e cristãos contam com o mesmo Deus prometedor, pelo que estão unidos de certa forma. De acordo com Baumgartel, as promessas feitas a Israel foram feitas somente a Israel, não podendo ser aplicadas a nós. Contudo, temos a ver com o mesmo Deus que fizera aquelas promessas a Israel. O problema do homem jaz na devida apropriação das promessas; e isso depende de sua espiritualidade interior. Entretanto, isso é muito pouco, ainda que seja útil. Não é preciso grande fé para alguém crer que a principal promessa de Deus a Israel era, afinal de contas, o próprio Cristo, o Filho de Abraão e Filho de Davi. E, naturalmente, Cristo também foi o Segundo Adão, ou seja, o Salvador de toda a humanidade. Teologia é teologia, e não vida. Não obstante, os teólogos têm a tarefa de cuidar para que seus estudos iluminem as questões da vida e da morte; e em Cristo é que achamos a vida. As teologias que se reduzem a meras histórias religiosas e sociológicas talvez tenham contribuições a fazer ao pensamento e à maneira de viver dos homens; mas é como se tivessem perdido a principal corda da vida, ou seja, a alma imortal do homem. De outra sorte tais estudos não merecem o título de teologia. E melhor darmos a esses estudos os nomes que realmente os definem: histórias, mitologias, psicologias, sociologias, teorias políticas.

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TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO - TEOLOGIA EMPÍRICA VII. A Ética do Antigo Testamento Ver o artigo separado sobre esse assunto. Bibliografia. Além das obras mencionadas no corpo deste artigo, ver também AND C 10 VR WC.

e de idéias helênico-gnósticas que, de algum modo coagulou-se em tomo do nome de Jesus de Nazaré, mas acerca de Quem, na verdade, disporíamos de bem pouca informação genuína. Ver o artigo sobre Crítica da Bíblia.

TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO Outros artigos são apresentados nesta enciclopédia, oferecendo a essência dessa teologia. Ver, por exemplo, o artigo chamado Paulo Apóstolo. No começo desse comentário aparece uma longa lista de artigos que examinam, com detalhes, os temas paulinos doutrinários. Em sua segunda seção, quinto ponto, são examinados os principais conceitos paulinos. Ver também os artigos João Apóstolo; Teologia e Novo Testamento. O artigo intitulado Novo Testamento (Pacto) acrescenta outros detalhes, que mostram que o Novo Testamento é uma graduação acima do Antigo Testamento, na economia de Deus. Ver também sobre Pedro (Apóstolo) e Problema Sinôpttco. O artigo chamado Novo Testamento (Coletânea de Livros) contém um sumário de todos os livros do Novo Testamento, com explicações acerca de seus temas principais. Os ensinos dos evangelhos repousam, essencialmente, sobre as palavras de Jesus. Ver sobre Jesus, em sua terceira seção,

TEOLOGIA DOGMÁTICA; A DOGMÁTICA A dogmática é a apresentação formal de dogmas, formando um sistema coerente. Ver o artigo geral sobre o Dogma. A dogmática é uma espécie de tentativa para construir uma ciência da fé cristã, mediante agrupamentos e explicações em ordem. À base da dogmática cristã temos o conceito da verdade revelada, mas essa verdade precisa de definição e sistematização. Cada geração acrescenta alguma coisa à definição; e algumas chegam a supor que verdades externas à revelação cristã devessem ser adicionadas, ao menos para propósitos de comparação. A Bíblia é a principal fonte da teologia dogmática; mas, visto que a Bíblia não sistematiza os seus conceitos, toma-se necessário que os eruditos e autores cristãos façam essa sistematização, com propósitos didáticos. Ver sobre a Teologia Sistemática. Com o surgimento dos processos críticos históricos, após a Iluminação, a dogmática não permaneceu em terreno exclusivamente bíblico. Foram feitas tentativas para evocar evidências culturais, religiosas, históricas e científicas, para a obtenção de uma melhor definição da verdade, ou mesmo para trazer à tona outras verdades. Essas outras verdades podem definir melhor a verdade bíblica, ou podem ser verdades extrabíblicas.ou mesmo verdades antibíblicas, usadas por alguns. Em outras palavras, haveria verdades que realmente são verdades, em contraste com erros que se encontrariam na própria Bíblia. Desse modo, abriu-se um sério abismo entre os simples eruditos bíblicos e os teólogos dogmáticos. Estes últimos acusam os primeiros de falta de interesse pelo avanço da verdade, dependendo em demasia de idéias não examinadas. A Dogmática Eclesiástica de Kar/ Barth. Esse teólogo é o autor do mais impressionante tratado dogmático do século xx. Apesar de ele não se ter mostrado inteiramente indiferente para com os chamados historiadores científicos, ele se mostrou essencialmente indiferente a eles e a muitas de suas conclusões. Para ele, a fé religiosa deve estar alicerçada sobre a fé e os milagres. Entre os teólogos existencialistas de nossos dias, no movimento denominado "nova hermenêutica", acredita-se que a atividade de interpretação é a principal tarefa dos eruditos bíblicos. Contudo, entre outros, há ainda uma forte ênfase sobre outros fatores além da mera interpretação. O estudo crítico é necessário para o descobrimento da verdade, o que pode ir além da mera interpretação da Bíblia. Conforme entendo a verdade, precisamos de todos os métodos e atividades de estudo ao nosso alcance. A simples interpretação de passagens bíblicas tem produzido a fragmentação que testemunhamos atualmente na Igreja cristã. A verdade jamais será simples assim. (C E)

Ensinos. Consideração Introdutória à Teologia do Novo Testamento: A expressão "Teologia do Novo Testamento" tem sido usada de quatro maneiras diferentes: 1. Um Método Descritivo, Histórico e Informático. As doutrinas do Novo Testamento são declaradas e descritas sem qualquer crítica, sem adição de opiniões pessoais, de uma maneira simples, destituída de problemas. Nenhuma tentativa especial é feita para examinar os ensinos do ponto de vista da teologia sistemática ou da dogmática. Muitas questões são deixadas sem exame, e são evitadas as controvérsias teológicas. 2. Uma Teologia Bíblica (vide) pode ser extraída da Bíblia, dando a entender que os hebreus e os cristãos primitivos tinham uma maneira homogênea de pensar, e que uma mensagem teológica específica pode ser extraída das Escrituras. E as porções da Bíblia que não cabem dentro desse sistema são interpretadas de modo tal que o leitor não toma consciência de problemas. 3. Método Pessoal e Existencial. O investigador lê o Novo Testamento com a finalidade de encontrar uma mensagem geral ou mensagens que se revistam de significado para ele. O investigador não está interessado em intermináveis controvérsias sobre várias questões. Antes, está atrás de algum beneficio pessoal. Uma versão modificada desse modo de investigação é aquela que acrescenta evidências de natureza histórico-crítica. E quando isso é feito, a pesquisa não é necessariamente impedida. De fato, ela pode ser enriquecida, contanto que o ceticismo não se manifeste de modo exagerado. 4. Método Cético-Crítico. Os estudiosos de um extremo liberalismo, juntamente com céticos de toda sorte, com freqüência, assumem um ponto de vista destrutivo quando estudam o Novo Testamento, e propositadamente tentam lançar tudo em dúvida, incluindo a própria existência de Jesus como figura histórica. E mesmo que admitam a sua existência, ainda assim não têm certeza se podem encontrar nele qualquer coisa de significativo, pois atribuem o Novo Testamento a pessoas que viveram depois de Jesus, dotadas de mentes preconcebidas, cheias de invenções e fantasias. Assim, para exemplificar, Bultmann fazia da teologia do Novo Testamento um mero conglomerado mitológico de idéias judaico-apocalípticas

TEOLOGIA EMPÍRICA Ver o artigo sobre Religião e Ciência. O liberalismo teológico tem levado os homens a pensar sobre as questões religiosas em termos diferentes do que quando se pensa nelas através de textos de prova bíblicos. Esse modo de pensar já vinha sendo experimentado na teologia, quanto às suas possibilidades. Em outras palavras, foi demonstrado que há certos aspectos da teologia que ultrapassam e até contradizem a teologia bíblica, visto que a busca pela autoridade não cessa com a Bíblia. Dentro desse contexto, a teologia empírica foi

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TEOLOGIA EMPÍRICA capaz de surgir em cena, no começo do século Xx. À base do pensamento teológico liberal e empírico, encontra-se a crença de que a revelação, embora seja uma maneira possível de se tomar conhecimento das coisas, em si mesma é imperfeita, por ser incompleta e que nossas maneiras de tomar conhecimento das coisas precisam ser complexas, porquanto a própria verdade é complexa. Se quisermos extrair a verdade de toda essa complexidade, precisaremos de experimentação, de exame e de um longo processo de separação entre o bem e mal. E, quanto a muitos pontos, chegamos a certas conclusões tentativas e temos de dar prosseguimento às nossas experimentações. Portanto, a teologia transforma-se em uma outra ciência, em vez de ser a rainha dogmática, perfeita, inquestionável das ciências. Os teólogos empíricos estavam ocupados em uma nobre inquirição, apesar dos erros que porventura tenham cometido. Estavam tentando responder às perguntas feitas pelo ateísmo e pelo humanismo. Empregavam métodos histórico-críticos e sistemático-construtivos e mostravam-se essencialmente apologéticos. A tarefa deles consistia em interpretar o cristianismo de tal modo que viesse a tornar-se inteligível e eficaz em uma época científica-industrial. Todas as tentativas nesse sentido, sem importar o bem nelas embutido, terminaram em exageros e pontos débeis. Em primeiro lugar, não há como submeter uma pessoa extraordinária e poderosa como Jesus Cristo a testes de laboratório. Ele está acima da ciência. porque existem poderes espirituais que zombam da infantil idade do nosso conhecimento científico. Vero artigo sobre Satya Sai Baba, quanto a um exemplo moderno do que estamos dizendo. Além disso, alguns desses teólogos empíricos inclinaram-se demasiadamente para a esquerda, em sua teologia, pondo em dúvida muito da tradicional teologia bíblica e. assim, injetaram forte ceticismo em seus sistemas. Tinham-se deixado influenciar indevidamente pelos pragmatistas, como Peirce, James e Dewey (ver os artigos a respeito deles). Um dos principais centros de teologia empírica foi a Divinity School da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos da América do Norte, encabeçada por Shailer Matthews (1861-1941). Ele formou-se no Colby College e no Newton Theological Institute e deu prosseguimento a seus estudos de história e de economia política na Alemanha. Em 1894, ele começou sua carreira na Universidade de Chicago. no campo da história do Novo Testamento. Mas, posteriormente, transferiu-se para a teologia histórica e para a teologia sistemática. Serviu como deão da Divinity School desde 1908 até que se retirou das atividades, em 1933. Ele suspeitava de qualquer autoridade religiosa padronizada e preferia continuar experimentando com idéias, à la Dewey. Para exemplificar, em seu livro, The Atonement anti the Social Process (1930), ele tentou demonstrar que os pontos de vista de uma pessoa qualquer, sobre esse assunto, são influenciados pelas posições culturais e teológicas da época particular em que ela vive. Isso significa que. na realidade, seriam produtos da cultura humana, estando sujeitos a modificações. à proporção que as culturas vão mudando. Por igual modo, em seu livro, The Growth of the Idea of God, ele demonstrou, essencialmente, que o homem cria um Deus de acordo com a sua própria imagem humana, em consonãncia com suas experiências sociais. enquanto esforça-se por integrar as forças da natureza e da vida. Outra importante figura dessa escola foi Henry Nelson Wieman (1884~ ). Ele formou-se no Park College e no San Francisco Theological Seminary, estudou na Alemanha e recebeu seu doutorado na Universidade de

Harvard, E.U.A. Dez anos mais tarde (1927) uniu-se ao corpo docente da Universidade de Chicago. Ele defendia a abordagem teocêntrica, em contraste com a abordagem antropológica. Em seus livros, Religious Experience and Scientific Method (1926) e The Wrestle ofReligion with Truth, ele afirmou que a nossa busca pelo conhecimento de Deus deve ser como qualquer outra, ou seja, através da observação científica e da razão. Ele definia Deus como a origem dos valores destacados na experiência. E. em seu livro, Source ofHuman Good, ele tentou demonstrar que o seu pensamento religioso estava dentro da tradição cristã, tendo procurado desenvolver várias posições cristológicas, escatológicas e eclesiológicas. Quanto à salvação. para exemplificar. ele afinnava que a mesma vem através de Jesus Cristo e consiste na transformação da vida do individuo. o que seria conseguido, não através da inteligência humana, mas por meio de certos acontecimentos históricos que giraram em tomo da vida do homem Jesus de Nazaré. Douglas Clyde Macintosh (1877-1948) foi outro pensador dessa mesma escola. Ele recebeu o doutorado em Chicago, mas ensinava na Yale Divinity School. Macintosh foi um filósofo da religião. Por um lado. ele insistia sobre a abordagem empírica à fé religiosa; mas, por outro lado. pensava que devemos permitir que outras crenças façam parte do nosso sistema, para efeito de melhor estruturação e abrangência. Essas crenças precisam ser razoáveis e úteis, ajudando-nos a viver conforme deveríamos viver. Apesar de serem essas crenças destituídas de prova, não deveriam ser contrárias àquilo que temos podido descobrir empiricamente e tudo deveria ser sujeitado à revisão e à alteração, quando o nosso método empírico nos levar além desse ponto. O seu livro, Theology as ao Empirical Science (1919) é considerado a expressão clássica desse tipo de teologia. Seu ponto de vista de Deus era uma espécie de otimismo moral, no qual ele descrevia Deus como uma personalidade de suprema inteligência e bondade. Ele argumentava em favor da imortalidade pessoal. Procurava provar a existência de Deus de acordo com as linhas de pensamento aceitas pelas religiões históricas e pensava que nisso tudo deve estar envolvida uma nova e regeneradora experiência, mediante a qual a pessoa experimenta a existência de Deus e não a defende apenas com proposições intelectuais. Ele acreditava que se pode demonstrar objetivamente uma base divina para a fé. Eugene W. Lyman educou-se em Amherst e em Vale. com estudos de aperfeiçoamento na Alemanha. Tomou-se professor do Union Theological Seminary, de Nova Yorque. Em seu livro, Theology anti Human Prob/ems (1910), ele argumentava em prol de um pragmatismo de tipo postulado por William James, para definir as verdades e as crenças religiosas. Em sua obra principal, intitulada The Meaning and Truth of Religton (1933), ele declarou-se em favor do principio da intuição (que vide) como o principal modo de conhecermos as coisas, embora uma intuição de uma variedade que possa ser rigorosamente testada por meios científicos e outros. De conformidade com ele, a intuição encontra a verdade e a razão a submete a teste. Ele ocupou-se de obras sociais. acreditando que a fé religiosa deve ser prática e aplicável à sociedade. Nisso ele compartilhava de um terreno comum com aquela escola inteira de pensamento. Esse movimento influenciou a maneira de pensar de muitos estudiosos que não aceitavam plenamente os pontos que ele defendia. Geralmente, esse é o uso que emerge de novos movimentos e maneiras de pensar.

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TEOLOGIA FEDERAL - TEOLOGIA MORAL Alguns pensadores, assim influenciados, penderam para idéias neo-ortodoxas. Reinhol e R. Richard Niebuhr (ver os artigos sobre eles) atacaram as bases da teologia empírica, enfatizando a fé pura como a base do pensamento e da ação religiosos. (C) TEOLOGIA FEDERAL Essa variedade de teologia também se chama Teologia dos Pactos. Ver sobre Pactos. Teologia dos. A palavra "federal" refere-se a Adão como cabeça federal da raça humana perdida, ao mesmo tempo em que Cristo é o cabeça federal da raça humana redimida. Tanto a condição de perdição como a condição de salvação são questões comunitárias e não somente questões individuais, embora, por outra parte, também sejam isso. Essa perspectiva teológica segue as descrições do capítulo quinze de I Coríntios e do capítulo cinco de Romanos: "Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo" (I Cor. 15:22). Adão, como cabeça da raça humana fisica, aparece primeiro. E Jesus Cristo, como cabeça da raça humana espiritual, aparece em último lugar (ver I Cor. 15:45), embora também seja chamado de "segundo homem" (I Cor. 15:47). Ver o artigo separado sobre Dois Homens, Metáfora dos. Algumas Discussões Teológicas Sobre a Questão: 1. Sobre o Pecado Original. O pecado de Adão realmente foi a causa que levou todos os seus descendentes a tomarem-se pecadores? Alguns teólogos, como Pelágio (vide), têm negado isso, além de muitos pensadores arminianos. Alguns arminianos admitem a herança pecaminosa, mas não da culpa, argumentando que os homens devem levar, cada um, a sua própria culpa, por seus próprios atos. E alguns arminianos aceitam ambos os fatos, da herança pecaminosa e da culpa, derivadas de Adão. 2. Assim como há uma real imputação da culpa de Adão sobre os seus descendentes, assim também há uma real imputação da retidão, juntamente com o dom da vida eterna, por meio de Jesus Cristo. Adão não foi apenas um mau exemplo que influencia os seus descendentes para o erro; e nem Cristo foi meramente um bom exemplo da boa conduta, conforme alguns têm argumentado. 3. Extensão da Imputação da Retidão. Os universalistas têm argumentado que visto que a imputação do pecado e da culpa, por meio de Adão, foi universal, assim também deveria ser no caso da imputação da retidão, por meio de Cristo, sob pena da analogia ser quebrada. Outros, porém, afirmam que o potencial disso é universal, mas não a sua aplicação. Mas, esta última posição quebra a analogia, e desagrada aos universalistas. Porém, se admitirmos que a missão de Cristo afetará, afinal, todos os homens, conforme lemos em Efésios 1:9, 10, e que a sua descida ao Hades (ver I Ped. 3: 18 - 4:6) implica nesse fato, o que está vinculado à ascensão de Cristo, com esse mesmo propósito (ver Efé, 4:8 ss), então também teremos de supor que, pelo menos de maneira secundária, os perdidos sejam beneficiados pela missão de Cristo. Isso significaria que os perdidos obterão, por assim dizer, uma glória secundária, embora não a vida divina (a participação na natureza divina), conferida aos eleitos. Mesmo assim, o fato de que a missão de Cristo beneficia a todos os homens, significa que a imputação da retidão é universal, embora aplicada em diferentes graus. De acordo com essa linha de raciocínio, o próprio julgamento divino deve ser visto como remedial, e não apenas como retributivo. É precisamente o que afirma o trecho de I Pedro 4:6. Ver o artigo geral sobre a Restauração.

TEOLOGIA FORMAL E FUNDAMENTAL Ver Formal e Fundamental, Teologia. TEOLOGIA GERMÂNICA Alguém foi autor dessa obra do século XIV d.C., embora desconheçamos o seu nome. Trata-se de uma série de preleções dirigidas ajovens religiosos, por parte de um padre que era professor na Casa da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Frankfurt, Main, na Alemanha. Esses escritos são essencialmente morais e práticos, promovendo o crescimento espiritual, seguindo o exemplo de Jesus e recomendando "o caminho médio", ou seja, aquele entre a vida ativa e a vida religiosa contemplativa. Podemos classificar essa obra como de "misticismo prático", um tanto semelhante à filosofia dos Amigos de Deus (vide). Essa obra foi publicada pela primeira vez em 1516 (uma edição parcial). E então foi publicada em sua forma completa em 1518, por Martinho Lutero, que lhe deu o título pelo qual acabou sendo conhecida. Nada menos de vinte edições foram publicadas em alemão, além de muitas em francês e em latim, no século XVI. TEOLOGIA JOANINA Ver João Apóstolo, Teologia (Ensinos) de. TEOLOGIA LUDENSIANA Ver sobre Lund, Teologia de. TEOLOGIA MíSTICA Ver o artigo geral sobre o Misticismo, que é bastante detalhado. A expressão teologia mística é usada para indicar a atividade de descrever, analisar e sistematizar as experiências misticas. Os informes obtidos pelas experiências místicas formam a substância sujeitada à sua análise. Essa expressão foi usada, pela primeira vez, por Dionísio, o Areopagita, (vide), no século VI d.C., em sua obra, Teologia Mistica. Para ele, o ponto da questão era conhecer a Deus através de experiências místicas. Teresa de Avila usava a expressão por semelhante modo, conforme se vê no décimo capítulo de seu livro, Vida. Ali afirma ela: "Esse senso da presença de Deus possibilitou-me a não duvidar que Ele estava em meu interior. Acredito que a isso se denomina teologia mística". A expressão, pois, é usada em contraste com a teologia ética e com a teologia dogmática. TEOLOGIA MORAL No seu sentido mais lato, essa teologia é o estudo da conduta humana, em relação aos preceitos da crença teológica. A expressão é um sinônimo virtual da ética cristã, visto que, nessa forma, as proposições teológicas são naturalmente importantes como base e norma da conduta ética. Segundo o uso moderno, contudo, a teologia moral é separada da ética cristã. O caráter distinto da teologia moral foi expresso por K.E. Kirk como segue: "A teologia moral preocupa-se não tanto com os mais elevados padrões da conduta cristã (o que talvez seja a província da ética cristã), mas com o padrão minimo a que essa conduta deve atingir, se tiver de ser julgada como digna do nome cristão" (Study of Theology, pág. 363). A lei canônica surgiu a fim de prover os padrões básicos dessa conduta. Elementos da Teologia Moral. Os principais elementos são como a vontade divina relaciona-se ao homem no tocante à conduta ideal; com a chamada lei eterna; com a lei natural e com outras leis que os homens observam;

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TEOLOGIA NATURAL - TEOLOGIA REVELADA prioridade é dada à vida espiritual pessoal do indivíduo que está sendo treinado; ao seu treinamento nas Sagradas Escrituras; ao desenvolvimento da sua sensibilidade às necessidades das pessoas; às habilidades com as quais poderá servir bem ao próximo; ao lado prático do ministério para com os enfermos e outros, em cooperação com agências sociais e governamentais; à efetivação de cultos normais e especiais, como a ministração de ordenanças, casamentos, funerais, etc. Além disso, a arte de pregar (Homilética, vide) é um aspecto importante desse treinamento. Há publicações evangélicas especializadas que servem de manuais quanto a essa questão. Uma delas é o Baker's Dictionary ofPractical Theology. As seções dessa obra, que sugerem coisas importantes para a teologia pastoral, são: Pregação; Homilética; Hermenêutica; Evangelismo-Missões; Aconselhamento; Administração; Trabalhos Pastorais; Mordomia; Adoração; Educação Cristã.

com o destino do homem no tocante às leis e propósitos divinos; com o comportamento humano em relação à lei divina; com o estudo de casos (casuística), com suas várias teorias acerca do que deveria ser abordado.

TEOLOGIA NATURAL Essa expressão é usada para contrastar com aquela outra, teologia revelada (vide). A teologia natural alicerça-se sobre a razão e sobre aquilo que pode ser deduzido da Natureza, sem qualquer intervenção direta do poder divino, quando formula seus pontos de vista. Destarte, a razão e a observação substituem a revelação, sendo esta última a base da teologia revelada. Esse conceito adquiriu proeminência especial nos séculos XVII e XVIII. Isso não significa, todavia, que os seus defensores estivessem rejeitando necessariamente as reivindicações da teologia revelada. Alguns as rejeitavam, mas outros não. William Paley, por exemplo, deu muita importância à teologia natural, como em seu famoso argumento em prol da existência de Deus, com base na analogia do relógio. O artigo intitulado Relógio apresenta seu argumento de forma completa. Contudo, Paley era um clérigo inglês que não rejeitava a fé revelada. Seja como for, sua obra, de nome Teologia Natural, chegou a exercer considerável influência. No primeiro capítulo da epístola aos Romanos, encontramos alguma exposição da teologia natural. O apóstolo Paulo partia do pressuposto de que há uma adequada revelação de Deus, na Natureza, de tal modo que os pagãos ficam sem desculpas quanto às perversões que costumam amontoar para si mesmos, nos terrenos da idolatria e da imoralidade. Fica entendido que a Natureza apresenta uma espécie de lei moral que pode ser entendida pelo homem, intuitiva e racionalmente. Paulo usa um argumento parecido com esse, no segundo capítulo de sua epístola aos Romanos. Agostinho pensava que não há tal coisa como um conhecimento não-revelado de Deus (uma teologia natural insuficiente, abrindo caminho para a teologia revelada); mas Tomás de Aquino estabeleceu certa distinção entre essas duas modalidades de teologia, dando o devido valor à teologia natural. Podemos inferir certas coisas acerca de Deus, de sua existência, de sua natureza, de seus requisitos, tudo com base pura naquilo que podemos observar na Natureza, talvez com alguma ajuda dos nossos poderes intuitivos. Todavia, não há que negar que é a revelação divina que nos fornece conhecimento sobre os mistérios cristãos, a distintiva fé cristã. A palavra natural foi usada por Platão, e pelos filósofos estóicos em alusão às coisas que estão sujeitas aos poderes racionais do homem, e essa foi a idéia aproveitada e desenvolvida pelos teólogos cristãos. A Natureza obedece aos ditames da Razão Divina (o Logos), ou seja, está sujeita aos poderes racionais do homem. A Natureza reflete a Razão, e o ser humano tem afinidade com essa razão. TEOLOGIA NEGATIVA Ver sobre o Pseudo -Dionisto, primeiro ponto, e Via Negationis.

TEOLOGIA PASTORAL A teologia pastoral também é conhecida como pastoralia, o seu nome técnico, derivado do latim. Trata-se de um dos ramos da educação teológica que se preocupa com os labores pastorais teóricos e práticos. Varia consideravelmente, dependendo de cada denominação ou instituição de ensino teológico. A

TEOLOGIA PAULINA Ver o artigo geral sobre Paulo, que oferece uma revisão das mais importantes doutrinas paulinas, com lista detalhada de títulos de artigos que desenvolvem os temas paulinos mais destacados. TEOLOGIA PRÁTICA Esse termo designa formalmente aquela parte da educação teológica que inclui disciplinas como a homilética, a adoração, os cuidados pastorais, a administração eclesiástica, o governo eclesiástico, as boas obras de todas as variedades, das quais a Igreja cristã ocupa-se, e como um ministro pode mostrar-se eficaz na promoção dessas atividades. Informalmente, o termo refere-se ao lado prático da fé e da prática religiosa, em contraste com a dogmática. Ver o artigo chamado Religião Prática. TEOLOGIA RABÍNICA Ver o artigo geral sobre o Judaísmo. TEOLOGIA RADICAL Ver o artigo intitulado Morte de Deus, em sua quarta seção. TEOLOGIA REVELADA Essa expressão deve ser contrastada com aquela outra, teologia natural (vide). Quando um profeta recebe uma visão que serve de veículo de revelação, e cuja visão, subseqüentemente, vem a concretizar-se como parte de um livro sagrado, o que a preserva, então a teologia revelada está em operação. Por outra parte, quando os homens dependem das evidências colhidas da Natureza, mediante a razão ou a intuição, sem qualquer revelação do alto, temos aí a teologia natural. As duas expressões são contrastadas, mas não estão necessariamente em conflito. Os capítulos primeiro e segundo da epístola aos Romanos dão um certo espaço à teologia natural, mas a Bíblia favorece fortemente a teologia revelada, por ser aquela que leva os homens ao conhecimento da salvação, em Jesus Cristo, ao passo que a teologia natural só permite que os homens tomem consciência dos "atributos invisíveis" de Deus, como o seu eterno poder e a sua própria divindade, no dizer de Paulo (ver Rom. 1:20). Só a teologia revelada nos fala sobre o plano gracioso de salvação que Deus traçou em torno dá pessoa do Cristo, o Senhor Jesus. Isso demonstra a necessidade da revelação escrita, a Bíblia Sagrada.

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TEOLOGIA REVELADA - TEOLOGIA SISTEMÁTICA Esses dois aspectos da teologia - o aspecto natural e o aspecto revelado - complementam-se. Porém, há teólogos que distinguem radicalmente um aspecto do outro, chegando mesmo a negar qualquer validade à teologia natural. E que têm pouca confiança no poder revelador da Natureza, ou na capacidade da razão e da intuição humanas. Mas essa é uma posição tão extremada quanto à daqueles que não aceitam a revelação bíblica, pensando que basta a revelação natural. Entretanto, de acordo com o próprio ensinamento bíblico, cada um desses dois aspectos tem sua própria função e utilidade. A revelação natural torna os homens indesculpáveis diante de Deus, quando não admitem a sua existência e nem o glorificam como Deus (ver Rom. I :20,21). E a revelação bíblica conduz os homens daí por diante, conferindo-lhes o conhecimento da eterna salvação em Jesus Cristo. Os limites que os homens impõem ao conhecimento são os limites de suas próprias mentes, não sendo limites autênticos. Na vasta criação de Deus, há pleno espaço tanto para a teologia natural como para a teologia revelada, guardadas as devidas proporções e funções. TEOLOGIA SISTEMÁTICA Temos apresentado um bom número de artigos sobre vários tipos de teologia, nesta Enciclopédia, que o leitor deverá ter interesse em examinar. Alguns desses artigos estão diretamente relacionados à questão da "teologia sistemática": Ver, especialmente, os seguintes: Teologia; Teologia Blbltca; Dogmática; Teologia Dogmática. Esboço: I. Definição 11. Caracterização Geral III. Conteúdo IV.Esboço Histórico I. Definição O termo português teologia procede de duas palavras gregas, theôs, "Deus", e logia, "estudo", "conhecimento". Na filosofia, a teologia é um dos três ramos principais de estudo. Os outros são a antropologia (o estudo do homem) e a cosmologia (o estudo do Universo). A teologia é o estudo de Deus ou das realidades e forças divinas. Um sinônimo comum para "teologia sistemática" é dogmática, porquanto muitas teologias abordam a questão por meio dos dogmas eclesiásticos, que usualmente são aceitos como verdadeiros, sobre a base da autoridade bíblica, e não através de meios experimentais. Ver o artigo Dogma. "Literalmente, a teologia é um 'discurso sobre Deus', conforme o termo é usado, a crença acerca de Deus e outras crenças cognatas. A teologia sistemática diz respeito às crenças em uma apresentação lógica, em sua relação com o pensamento e a vida contemporâneos" (E). 11. Caracterização Geral As fontes informativas da teologia cristã são as Sagradas Escrituras, o testemunho cristão através dos séculos, e até os pronunciamentos dos concílios eclesiásticos. Além disso, devemos levar em conta o labor específico de teólogos que se tornam exímios intérpretes da doutrina cristã. As teologias sistemáticas conservadoras mais antigas pouco mais eram do que a teologia bíblica estruturada. A Strongs Systematic Theology (três volumes) contém vinte e sete páginas de referências bíblicas no seu índice, em quatro colunas, o que demonstra até que ponto a Bíblia influiu nessa obra, e como a interpretação da Bíblia é a essência mesma dessa obra teológica. E o indice de passagens bíblicas da Teologia Sistemática de Charles (autor presbiteriano, enquanto aquele citado antes foi batista)

cobre doze páginas, em quatro colunas, exibindo a mesma

ênfase. Mas alguns teólogos mais liberais, que apelam para as especulações, enfatizam menos a suprema autoridade da Bíblia, incluindo outras autoridades. Apesar disso, qualquer obra de teologia sistemática cristã depende pesadamente do texto biblico. Todavia, pelo menos uma parcela das obras mais liberais reinterpreta ou mesmo nega a autoridade da Bíblia, em certos lugares. As mentes seminais da teologia cristã foram os escritores sagrados do Novo Testamento. Mais especificamente ainda, a autoridade apostólica, ou mediante os próprios apóstolos, ou através de seus discípulos mais chegados. E verdade que os apóstolos não produziram teologias sistemáticas, mas suas produções literárias inspiradas prestam-se facilmente para elaboração de obras dessa natureza. Antes do Iluminismo (vide), os teólogos católicos e protestantes partiam do pressuposto de que as proposições das Escrituras fossem, coletivamente e em sua totalidade, uma revelação divina. A análise crítica, então, era empregada principalmente para arrumar essas proposições em sistemas aceitos, e não tanto para distinguir a verdade do erro, possivelmente existente nas Escrituras. Mas, desde o Iluminismo, tornou-se impossível para alguns teólogos considerar que a tarefa da teologia seja meramente a da sistematização das proposições bíblicas. E isso porque essas proposições, por úteis que sejam, dificilmente representam a totalidade da verdade de Deus. E alguns chegam a pensar que nem todas as proposições da Bíblia sejam expressões da verdade. Tudo isso tem suscitado intensos debates sobre questões como a inerrância ou infalibilidade da Bíblia. A julgar pelos argumentos dos teólogos, o conflito está longe de ficar resolvido. Parece tratar-se muito mais de uma questão de fé do que do alinhamento de argumentos pró e contra. Na exposição do assunto, nesta Enciclopédia, a questão tem sido ventilada a partir dos debates teológicos, sem se manifestar muito em prol desta ou daquela posição. A maciça obra de Karl Barth, Church Dogmatics, constitui a mais impressionante teologia sistemática desde a famosa obra de Calvino, Institutas da Religião Cristã. Embora a maioria dos teólogos atuais prefira o termo dogmática, uma notável exceção a isso é a obra de Paul Tillich (em três volumes), simplesmente intitulada Systematic Theology; em sua versão inglesa. Todavia, essa obra, embora retendo uma terminologia cristã tradicional, em vários casos ultrapassa o sentido normal dos vocábulos-chaves, para que signifiquem outras coisas. E assim uma visão da realidade é apresentada, a qual é bastante diferente da visão do cristianismo tradicional. 111. Conteúdo Alicerçando-nos na Teologia Sistemática de Strong (batista), e tendo em visão a brevidade, podemos dizer o seguinte: Primeiro Volume: Parte I - Itens Introdutórios: como definições iniciais, propósito, autoridade, fontes informativas da teologia; método de ensino da teologia; bibliografia. Parte II - Teologia Propriamente Dita. Existência de Deus: provas teológicas e filosóficas; idéias errôneas acerca de Deus. Parte III - Como as Escrituras revelam Deus; "provas" bíblicas; a inspiração das Escrituras; união de elementos divinos e humanos na revelação. Parte IV - Natureza, decretos e obras de Deus; atributos de Deus; a pessoa de Deus; doutrina da Trindade. Strong fez uma erudita apresentação, incluindo boa parcela de raciocínios filosóficos, o que não se dá com

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TEOLOGIA SISTEMÁTICA autores mais conservadores, que se prendem mais à Bíblia, que pouco exploram além daquilo que chamamos de verdadeira Teologia Bíblica (vide). Segundo Volume: Esse volume dá prosseguimento ao exame das obras de Deus, ou seja, a execução de seus decretos. Um completo estudo é apresentado quanto à definição e a doutrina da criação; teorias opostas e a doutrina bíblica são apresentadas com detalhes. Estão inclusas as doutrinas da preservação e da providência, no tocante à criação. A doutrina dos anjos dá-se bastante atenção, com um tratamento completo. Parte V - Antropologia, ou doutrina do homem. A "teologia" propriamente dita ficara concluída no primeiro volume. Temos aqui estudos sobre a criação do homem; a unidade da espécie humana; natureza essencial do homem; existência, natureza e sobrevivência da alma; a queda no pecado; como a queda relaciona-se à lei de Deus; a natureza do pecado; a universalidade do pecado; uma discussão sobre a relação entre Adão e o problema do pecado; conseqüências da queda; imputação do pecado de Adão; várias teorias de imputação, colhendo opiniões dos chamados pais da Igreja. Parte VI - Soteriologia, ou doutrina da salvação. Preparativos históricos; a missão de Cristo; a pessoa de Cristo; suas duas naturezas; seus estados; seus oficios; teorias de expiação; obra intercessória de Cristo; o oficio de Cristo como Rei. Terceiro Volume: Prosseguem os estudos sobre a relação entre o homem e as missões de Cristo; a reconciliação; a eleição; a chamada; a união com Cristo; a regeneração; a conversão; a justificação; a santificação; a perseverança e a preservação. Parte VII - Eclesiologia, ou doutrina da Igreja; definições; organização; governo eclesiástico; oficios ministeriais; disciplina eclesiástica; relações entre as igrejas locais; ordenanças, cada uma delas explicada por sua vez. Parte VIII- Escatologia, ou doutrina das coisasfinais: a morte física; o estado intermediário; a parousia; a ressurreição; o julgamento final; estado final de justos e injustos. Seguem-se então elaborados índices: de assuntos; de autores; de textos bíblicos; de textos apócrifos; de vocábulos gregos e hebraicos. A orientação é bíblica do começo ao fim da obra, mas há muitas citações que apresentam um amplo leque de idéias e interpretações. Alguns eruditos menores são apenas bíblicos, faltando-lhes a profundidade de erudição e de lastro formativo que Strong exibe. Contudo, este tradutor sente que a teologia de Strong, que reputa muito boa, não tem qualquer tratamento separado sobre o Reino de Deus; um capítulo que deveria ter sido encaixado entre a eclesiologia e a escatologia, porquanto a escatologia trata das predições bíblicas que mostram como o reino de Deus haverá de tomar-se uma realidade palpável. Isso posto, ela precisa ser complementada. Aliás, esse silêncio é típico de muitas teologias sistemáticas. I\-: Esboço Histórico I. A Base. As Escrituras do Antigo e do Novo Testamento são as principais fontes informativas e de autoridade, embora parte do Antigo Testamento tenha sido anulado pelo Novo (sua legislação ritual). 2. A Autoridade Apostólica. Reveste-se de suprema importância para a teologia sistemática. Não obstante, o Novo Testamento inclui alguns escritos não-apostólicos,

como a epístola aos Hebreus (e talvez o evangelho de Marcos, se é que o mesmo não reflete o parecer do apóstolo Pedro), que não se originaram diretamente de algum apóstolo de Cristo. 3. As Declarações de Cristo. Formam o alicerce da autoridade apostólica. A vida de Cristo dá sentido à teologia, e não somente sua morte e ressurreição. Ele foi um exemplo vivo da verdade divina, e sua natureza e vida são oferecidas aos homens (ver II Ped. 1:4; Rom. 8:29; 11 Cor. 3: 18), O que empresta à teologia uma importância vital. Não se trata meramente de um "estudo acerca de" alguma coisa; também é um poder transformador que faz os remidos tomarem-se dignos membros da família divina. 4. Os Pais da Igreja. Não demorou muito para que o cristianismo primitivo tomasse alvo dos ataques dos poderes e religiões pagãos. Vários dos pais da Igreja tiveram de ser defensores da doutrina e tomaram-se cristãos apologistas. Obras como ade Irineu (Adversas Haereses), de Tertuliano (De Praescriptione Haereticorum) e a de Orígenes (Contra Celsum) foram antigas teologias que procuraram defender o cristianismo, embora tais obras não deixassem de ser maculadas por alguns erros. De resto, toda teologia arquitetada pelo homem erra, nem que seja por omissão. Certa obra de Orígenes, De Principiis, é considerada a primeira verdadeira teologia sistemática da Igreja cristã. 5. No Oriente, além de Irineu e Orígenes, outros nomes importantes de homens que escreveram obras teológicas são Atanásio (escola de Antioquia), os dois capadócios e, então, João Damasceno (já no século VIII d.C.). 6. No Ocidente, os grandes nomes da teologia foram Agostinho, Anselmo e Tomás de Aquino. Apesar de que todos esses foram filósofos, tendo atuado como tais, a Bíblia, ainda assim, para eles era a principal fonte da teologia. A filosofia foi usada por eles como criada da teologia, principalmente como modo de expressão, ou então para exame de pontos de vista alternativos. "Os conceitos de Platão (neoplatonismo) e de Aristóteles jazem lado a lado com as crenças e as metáforas escriturísticas, formando uma maciça concórdia da Razão com a Fé" (E). A Summa Theologica, de Tomás de Aquino, é uma obra imortal. 7. A Reforma Protestante. Esta renovou uma teologia mais bibliocêntrica, tendo repelido um uso excessivo do raciocínio filosófico, com todas as suas influências obscurecedoras. Lutero e Calvino foram grandes mentes teológicas. As Institutas, de Calvino, foram a maior teologia sistemática da sua época, apesar de alguns pontos de vista rígidos e exagerados. As igrejas reformadas, pois, desenvolveram-se dentro da atmosfera da teologia bíblica. 8. A Renascença eclipsou para muitos a teologia, provocando vastas mudanças nas idéias, e a razão pura, o materialismo e o ceticismo obtiveram importantes vitórias. Até mesmo nos círculos religiosos, a filosofia e a psicologia da religião recebiam maior atenção do que a própria teologia. O espírito científico destronou a rainha das ciências (a teologia). 9. No século XIX a teologia retomou triunfalmente, através de Schleiennacher e Ritschl, embora não em seu sentido fundarnen-talista. O liberalismo germânico alterou a fisionomia da teologia, excetuando no caso dos eruditos mais conservadores. Karl Barth, já em nosso século XX, reagiu contra os abusos do liberalismo, do que resultou a sua neo-ortodoxia (vide). De acordo com essa última posição, a Bíblia continua desempenhando papel central, mas não deixada sem um exame crítico. Contudo, Karl Barth guindou a fé a uma posição suprema. Bibliografia. AM B BART C CHA E ST

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TEONOMIA - TEOSOFIA TEONOMIA Vocábulo português proveniente do grego, theôs, "Deus", e nomos, "lei". Essa palavra indica que os padrões morais dependem da vontade divina, expressa nas leis por Deus instituídas, e não daquilo que os homens vão experimentando em sua vivência diária. A teonomia fala sobre uma ética absoluta, com padrões absolutos, em contraste com as éticas empírica e pragmática, como se dá nos casos do utilitarismo e do pragmatismo. O termo também faz contraste com o vocábulo "autonomia", que dá a entender, entre outras coisas, que um homem impõe a si mesmo as suas próprias regras; e com o vocábulo "heteronornia", onde leis alheias são impostas a alguém. Qualquer sistema ético pode incluir, legitimamente, essas formas, pelo menos até certo ponto. Nem tudo quanto um homem faz requer o apoio da vontade divina expressa Há muitas coisas que se revestem de natureza meramente pragmática ou convencional. Porém, certas leis nos são transmitidas mediante a vontade de Deus, e essas devem ser consideradas absolutas. Ver o artigo geral Ética. TEORIA CAUSAL DA PERCEPÇÃO Essa é a idéia de que apesar de nunca podermos familiarizar-nos diretamente com mais do que o mero véu das aparências, as coisas materiais, a despeito disso, podem ser conhecidas conforme as concebemos hipoteticamente como causas dos informes dados pelos nossos sentidos. Alguns, ao darem um sentido mais positivo a essa teoria, simplesmente asseveram que as coisas materiais são as causas de nossa percepção, e que, através de nossos sentidos físicos, entramos em contacto direto com as coisas materiais e com os eventos, sem interferências ilusórias. TEORIA DO CONHECIMENTO Em inglês, a teoria do conhecimento chama-se epistemology, "epistemologia"; em português, essa palavra alude à teoria do conhecimento científico e, quanto à teoria do conhecimento em geral, é empregada a palavra gnosiologia. Ver o artigo detalhado intitulado Conhecimento e a Fé Religiosa, O. Ver também sobre Epistemologia (Gnosiologia), que é um dos seis sistemas tradicionais da Filosofia (vide). Outros artigos de interesse em relação à teoria do conhecimento, são Conhecimento e a Ética,O; Conhecimento, Conhecer; Conhecimento Espiritual e Conhecendo a Deus. TEORIA PRAGMÁTICA DA VERDADE Ver o artigo geral chamado Conhecimento e a Fé Religiosa.O, seção 11. Teorias da Verdade: Critérios, ponto décimo primeiro, Pragmatismo. Ver também o artigo geral sobre o Pragmatismo. TEORIA REPRESENTATIVA DAS IDÉIAS (REPRESENTACIONALISMO) Essa é a noção de que a mente só pode conhecer a realidade através da mediação das idéias, e não mediante a direta apreensão por meio dos sentidos. Essa posição tem sido exposta, de diversas maneiras, por Descartes, Malebranche, Hobbes, Locke, Berkeley e os realistas críticos. TEORIAS DA VERDADE Ver o artigo Conhecimento e a Fé Religiosa, O, em sua segunda seção, Teorias da Verdade, onde aparecem treze dessas teorias.

TEOSOFIA Termo que vem do grego, theõn, "Deus" e sóphos, "sabedoria". Quando é aplicado frouxamente, esse termo pode referir-se a qualquer sistema de pensamento que se afirme possuidor da sabedoria divina. Porém, o uso especializado do termo está associado à Sociedade Teosôfica, fundada em 1875 pela madame russa Blavatsky. Tal como no caso de várias seitas, essa sociedade afirma-se possuidora de uma "antiga sabedoria", derivada de dimensões espirituais e dos avatares (vide). Idéias: I. A revelação divina é um fato, e há agentes especiais da mesma. 2. A realidade é uma só. E esse Um é a fonte originária de toda a existência, estando envolvido em processos cíclicos de emanação e de evolução espiritual. 3. A salvação humana pode ser adquirida mediante a disciplina, a resignação, a purgação e a evolução, enquanto o homem vai subindo pelos vários níveis da existência O homem seria ajudado pelo mundo dos espíritos, e pelos mensageiros divinos enviados da parte daquele mundo. Mestres especiais reencarnam-se, porquanto a reencarnação (vide) é um elemento essencial dos ensinamentos da Sociedade Teosófica. 4. A realidade é uma presença viva, embora possa parecer, para nós, como algo material e espiritual. Naturalmente, temos aí uma forma de panteísmo (vide). 5. Há uma forte ênfase sobre a idéia de fraternidade, bem como o desejo de unificar, finalmente, todas as fés religiosas. 6. A tolerância para com todos é encorajada, incluindo os intolerantes. Todas as religiões são ali tidas como expressões da sabedoria divina, embora não, necessariamente, na mesma pureza e intensidade. 7. É preciso remover a ignorância, e não puni-Ia, sendo essa a idéia básica sobre a qual se alicerça o espírito de tolerância. Todas as religiões merecem ser investigadas, porquanto podemos encontrar nelas elementos úteis, que podem ter sido olvidados em nossos próprios sistemas. 8. Paz é a palavra-chave deles, e verdade é o seu alvo. 9. Todas as almas estão identificadas com a Sobre-Alma Universal, que seria um aspecto da Raiz Desconhecida. A alma seria uma fagulha da grande Sobre-Alma, e acha-se em peregrinação. 10. A lei do karma governaria a peregrinação de todas as almas, as quais passariam por muitas reencarnações, em sua inquirição pela verdade. 11. homem é imortal, e o seu futuro não tem limites quanto ao seu resplendor. Experiências alternadas de prazer e de dor são úteis para a evolução espiritual. A sabedoria brilha através das experiências humanas, conduzindo o indivíduo em sua ascensão para novas alturas. A reencarnação e o karma garantiriam a obtenção da sabedoria, ainda que, no caso de alguns, isso possa envolver um tempo muito longo. 12. Os adeptos ou mestres são indivíduos aperfeiçoados que atingiram um elevado grau de sabedoria. Algumas vezes reencamam-se a fim de serem líderes espirituais; e sobre eles pesa a responsabilidade de ensinarem àqueles cujas realizações não são tão altas. Esses mestres deixaram para trás o ciclo das reencarnações, em seu desenvolvimento espiritual; mas reencarnam-se a fim de ajudar a outras pessoas. Em espírito, formam uma grande irmandade; e alguns poucos dentre eles reencarnam-se, mui ocasionalmente, a fim de ajudar a outras pessoas, com missões especiais. Os mestres (não reencarnados) também têm missões celestes, e podem ser contatados mediante

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TEOSOFIA - TERAFINS experiências místicas, por meio das quais podem dar instruções, inteiramente à parte de sua aparição pessoal entre os homens, mediante vidas encarnadas. 13. O Lagos em suas manifestações. Haveria três logoi ou manifestações do Logos: O Primeiro Lagos seria a raiz de todo o ser; o Segundo Lagos manifesta-se mediante a aparente dualidade que conhecemos, formada por espírito e matéria (esses são os dois pólos da existência que governam nossa atual experiência de vida); e o Terceiro Logos é a Mente Universal, a fonte do ser, conforme o conhecemos, e na qual existem todas as coisas, arquetipamente falando. A Sociedade Teosófica tem sido organizada em mais de cinqüenta países. Pessoas de outras religiões com freqüência pertencem a essa sociedade, aumentando ass im o número de seus membros. Casas publicadoras e bibliotecas são importantes aspectos de sua expressão. História Antiga da Palavra "Teosofia Foi Amônia Saccas quem cunhou o termo teosofia, a fim de exprimir certos sistemas de pensamento provenientes do Oriente, e que frisavam os poderes psíquicos. Madame B1avatsky (Helena Petrovna B1avatsky) tomou a palavra por empréstimo. A mais notável líder norte-americana da Sociedade Teosófica tem sido Annie Besant. Madarne Blavatsky. Suas datas foram 1831-1891. Seu nome original era Helena von Hahn. Nasceu em Dnepropetrovsk, na Rússia. Por um tempo, foi espírita. Esteve nos Estados Unidos da América em 1873. Fundou a Sociedade Teosófica em 1875. Naturalizou-se cidadã norte-americana. Foi à India e estudou com mestres do Hinduísmo. Naquele país, em Madras, estabeleceu um centro teosófico, que foi muito influenciado pelas doutrinas esotéricas do budismo e do hinduísmo, combatendo o ceticismo e o materialismo. Tomou-se conhecida por causa dos fenômenos paranormais que ocorriam em sua presença, mas assumia a atitude budista diante dos mesmos, ou seja, que tais fenômenos não devem ser enfatizados. Já há muito misticismo barato neste mundo, e muitas pessoas andam à cata de sinais, que aceitam, equivocadamente, como a substância mesma da fé religiosa. Ela escreveu vários livros: Isís Unve iled.: The Key /0 Theosophy; The Voice ofSilence e The Secret Doctrine. Essas obras sempre tiveram larga distribuição. Madame Blavatsky faleceu em Londres, Inglaterra, a 8 de maio de 1891. li.

TEQUEL Ver sobre Mene, Mene, Tequel, Ufarsim, TERÁ No hebraico, "giro", "duração" ou "vagueação", na Septuaginta, Thárra. Terá era o pai de Abraão (Gên. II :24-32). Em adição à alusão a Terá, no livro de Josué (24:2), ele aparece nas listas genealógicas de I Crônicas I: 26 e de Lucas 3 :34. Além disso, Estêvão refere-se ao pai de Abraão, em Atos 7:2. Terá teve três filhos, que, no livro de Gênesis são chamados de Abrão, Naor e Harã, Isso corresponde à época em que Terá vivia em Ur, uma cidade que a maioria dos eruditos modernos identifica como AI-Muqayyar, no curso inferior do rio Eufrates, já próximo do golfo Pérsico. De Ur, pois, Terá migrou para o norte, cerca de oitocentos quilômetros, ao longo do rio Eufrates, até a cidade de Harã, local izada cerca de quatrocentos e quarenta quilometros a nordeste de Damasco. Embora o nome de Abraão ocorra em primeiro lugar, não se deve concluir daí que, necessariamente, ele fosse o filho mais velho de Terá. E possível que Harã, que morreu

antes da família ter-se mudado mais para o norte, tivesse sido o filho mais velho. Foi o filho de Harã, Ló, quem finalmente, acompanhou Abraão até à Palestina. De acordo com o trecho de Josué 24:2,15, Terá era idólatra. A principal divindade adorada em Ur era Nannar (em semítico, Sin). E isso também acontecia na cidade de Harã, durante os dias de Terá. Talvez por esse motivo, igualmente, foi que o Senhor, quando quis conceder a Abraão experiências espirituais, recomendou-lhe: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação..." (Gên. 12:1,2). Isso precipitou a formação do povo de Israel, cuja finalidade principal foi servir de berço para o Messias. " ...deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém" (Rom. 9:5). A graça de Deus operou toda essa transformação, desde o idólatra Terá até o próprio Filho de Deus humanizado, o Salvador do mundo. TERAFINS Ver também Serafins (Terafins). Há várias opiniões quanto ao significado dessa palavra, desde "nutridores" até "coisas vis". Por esse motivo, alguns estudiosos preferem pensar que o termo é de sentido incerto. O que é certo é que os "terafins" eram ídolos domésticos, que iam desde aqueles de pequenas dimensões (Gên. 31 :34,35), até aqueles de tamanho quase natural (I Sam. 19: 13,16). Recentes descobertas arqueológicas, feitas em Nuzi, no Iraque, têm iluminado a função e a significação desses ídolos. A posse de um terafim indicava quem era o líder da família, com todos os direitos dai provenientes. Quando Raquel furtou os terafins de seu pai (ver Gên. 31: 19), isso foi uma tentativa que ela fez de conseguir tal liderança, para seu marido, Jacó, embora tal direito pertencesse por direito, aos irmãos dela. A irritação de Labão, pois, fica esclarecida por meio desse detalhe. Ao que parece, durante grande parte de sua história os israelitas não pensavam que a possessão de tais ídolos era incoerente com a adoração a Yahweh, cf Juí. 17,18, mas, especialmente, o trecho de I Sam. 19:13,16, onde se aprende que havia terafins até mesmo na casa de Davi. Foi a partir da época de Samuel (ver I Sam. 15:23), e daí até os dias de Zacarias (ver Zac. 10: 2), que os terafins começaram a ser desaprovados. A função dos terafins que os profetas mais combatiam era a função da adivinhação. Nessa qualidade de objetos de adivinhação, os terafins são freqüentemente mencionados juntamente com estolas sacerdotais, também usadas nas adivinhações (Juí. 17 e 18; onde parecem ser objetos separados dos ídolos; e também Osé, 14). Entre as coisas e as atividades que foram expurgadas durante a reforma instituída por Josias, parece que os terafins foram reunidos juntamente com os médiuns e os bruxos. Lemos que o rei da Babilônia costumava consultá-los (Eze. 21 :21), mas o profeta Zacarias declarou que eles eram faladores de "causas vãs". Nessa passagem do livro de Ezequiel, novamente vemos a designação "ídolos do lar". Oséias referiu-se, esperançoso, ao tempo futuro quando Israel, dependendo totalmente de Deus, será capaz de viver sem apelar para os terafins (Osé, 14). Alguns estudiosos têm sugerido que a função de adivinhação dos ídolos do lar talvez explique o uso obscuro da palavra hebraica elohim, que pode ser compreendida como "Deus" ou como "deuses", em Êxodo 21 :6 e 22: 7-10. Ver também sobre a Idolatria.

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TERAPEUTAS - TERCEIRO CÉU TERAPEUTAS Essa palavra portuguesa, diretamente derivada do grego, significa "curadores", mas também "servos" e "adoradores". Refere-se a uma seita monástica que existia quando o cristianismo veio à existência. Todavia, não se conhece a sua origem, e nem há qualquer registro histórico acerca de seu desaparecimento. Nossa fonte informativa sobre os terapeutas são os escritos de Filo. Ele descreve-os em sua obra A Vida Contemplativa. A seita contava com seguidores de ambos os sexos. Eles consagravam-se individualmente à contemplação, às orações, à adoração e a ritos diversos, e só se reuniam aos sábados; mas também tinham uma convocação de noite inteira a cada cinqüenta dias, onde havia um sermão, uma refeição comunal, cânticos e danças corais. Parecem ter sido uma expressão estranha do judaísmo helenista. Não tinham nenhuma conexão com os essênios (vide), outra seita judaica monástica que também já existia quando o cristianismo teve começo. Eusébio classificava-os como antigos convertidos cristãos. Talvez alguns deles o fossem, mas seus argumentos em favor dessa classificação geral não têm conseguido impressionar aos historiadores. E alguns deles têm pensado que a obra intitulada A Vida Contemplativa não foi obra autêntica de Filo, e, sim, de data posterior; mas também tem havido aqueles que defendem vigorosamente a autoria filônica. Seja como for, naquela obra Filo elogia aos terapeutas por suas vidas santas e devotadas. Talvez devamos entender o título grego dessa seita como "adoradores". TERCEIRO CÉU Paulo foi ao terceiro céu, 11 Coríntios 12:2. Intensa discussão se centraliza em torno dessa questão, principalmente porque, no cristianismo moderno, na maior parte das secções da Igreja, a "multiplicidade" de céus foi eliminada pela teologia dogmática, bem como pela versão popular dos lugares celestiais. Por conseguinte, na opinião do cristianismo moderno, em sua quase totalidade, não pode haver qualquer "terceiro céu", como se o céu fosse realmente "céus", isto é, uma série de gradações de esferas ou mansões espirituais. Para um judeu, entretanto, não existia esse problema, porquanto os judeus, tradicionalmente, falavam em sete céus, conforme se pode atestar em muitos trechos da literatura rabínica, num conceito igualmente aceito pelo islamismo (ver o Alcorão, Sura ixvii), Entre os intérpretes cristãos, Grotius sugeria que os três céus subentendidos em II Cor. 12:2 fossem a atmosfera terrestre, as estrelas e a habitação de Deus, na porção mais elevada. Depois dele, sem investigarem se assim realmente diziam as idéias judaicas, vários outros estudiosos têm aceito tal pensamento. Na realidade, porém, nos escritosjudaicos não há nenhuma evidência clara em favor disso. John Gill (em II Cor. 12:2) menciona duas referências que poderiam ser assim interpretadas (Targum sobre II Crô. 6: 18); mas essas referências são bastante obscuras, ao passo que aquelas que se referem a "sete" céus são tão claras quanto numerosas. Isso é admitido e demonstrado por virtualmente todos os intérpretes, sobre a passagem de 11 Cor. 12:2. Assim é que Bernard (in loe.) comenta: " ...tem sido motivo de disputas se as escolas rabínicas reconheciam sete céus ou apenas três. Entretanto, é questão atualmente bem resolvida que, em comum com outros povos antigos (como, por exemplo, os persas, e, talvez, os babilônicos), osjudeus reconheciam a existência de sete céus. Esse ponto de vista não somente aparece na literatura pseudepígrafe, mas igualmente nos escritos de alguns dos pais da Igreja, como, por exemplo, Clemente

de Alexandria. Sua exposição mais detalhada se encontra no Livro dos Segredos de Enoque, um apocalipse judaico escrito em grego, no primeiro século de nossa era (e que atualmente só resta na versão eslavônica), No oitavo capítulo dessa citada obra, descobrimos que o paraíso é explicitamente situado no "terceiro céu', que é o ponto de vista aqui reconhecido pelo apóstolo Paulo" (ver II Cor. 12:4). O terceiro céu, apesar de aparecer como lugar elevadíssimo, não é visto neste texto como o lugar do trono de Deus, embora muitos cristãos modernos gostassem de pensar que o presente texto diz exatamente isso, simplesmente por causa da noção de que céus múltiplos não é familiar a seus ouvidos. Na realidade, porém, aqueles mais familiarizados com os conceitos do N.T. não deveriam estranhar isso, porquanto o próprio Senhor Jesus falou sobre habitações, subentendendo muitas esferas da existência espiritual. (Ver João 14:2). Também se pode notar que Paulo não fala de um céu, no singular, em seus escritos ordinários, e, sim, sobre os "céus", quando descreve a habitação dos crentes. A expressão usualmente empregada por ele é "lugares celestiais". (Ver as notas expositivas a esse respeito, em Efé, 1:3 no NTI). E quando Paulo usava a palavra "céu", no singular, se referia ao reino celestial, como uma unidade. Por semelhante modo, nas páginas do AT encontramos o termo tanto no singular como no plural. O templo terreno seguiu por modelo aquele santuário existente nos céus. (Ver Heb. 9:23,24). Podemos observar, no vigésimo terceiro versículo dessa mencionada passagem, que os céus serão purificados. Cristo ascendeu a Deus Pai. Ele entrou no "templo celestial", tendo atravessado as várias esferas inferiores, e assim Se assentou à mão direita de Deus Pai, no Santo dos Santos celestial. Esse trecho bíblico parece ensinar-nos que existem vários níveis ou esferas de habitações celestes, tal como o templo de Jerusalém estava dividido no átrio dos gentios, no átrio das mulheres, no Santo Lugar e no Santo dos Santos. Todo esse conjunto, entretanto, compunha a casa de Deus, sua habitação terrena, embora nem todas essas porções tivessem a mesma glória ou os mesmos propósitos. Esse ensinamento baseado no "tipo simbólico" subentende um céu dividido em vários níveis. E a objeção a esse conceito é de natureza essencialmente emocional, porquanto sugere que nem todos os crentes ficarão na presença imediata de Deus, em seu Lugar Santo, embora fiquem em sua "casa", em seu "templo". Na simplicidade moderna da doutrina cristã, a possibilidade de que os galardões envolvam esferas de existência tem sido ignorada; todavia, isso era comum na teologia judaica, tendo sido sustentada por diversos intérpretes primitivos, no próprio cristianismo, como Clemente e os pais alexandrinos da Igreja, além de Lange e outros comentadores notáveis de tempos mais recentes. "Estar com Cristo" significa estar nos lugares celestiais, em sua habitação, aos cujos níveis temos acesso; não significa, necessariamente, viver a um quarteirão de distância de Cristo. Paulo gravitou ao "terceiro céu", até onde sua alma pôde subir, de conformidade com seu grau de desenvolvimento e transformação, segundo a imagem de Cristo. E inútil imaginarmos que a maioria dos crentes gravitará até aquele lugar de glória. Aquele é também um lugar onde Cristo se encontra, pois os "céus" inteiros são sua morada. Alguns dos pais da Igreja viam a necessidade de certas diferenças nos corpos ressurrectos dos santos, o que lhes possibilitaria habitar em níveis mais baixos ou mais

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TERCEIRO CÉU - TERESA e cinqüenta Ave-Marias. A prática de repetir orações, expressada pelo verbo "rezar", vem desde o século IV d.C. Sozomem menciona o eremita Paulo, do século IV d.C., que lançava uma pedrinha ao chão, cada vez em que recitava cada uma de suas trezentas rezas diárias. Não se sabe com certeza quando a ajuda mecânica do rosário teve começo. Tomás de Cantimoré, que escreveu em meados do século XllI d.C., foi o primeiro a usar a palavra "rosário", em alusão ao suposto jardim de rosas de Maria. Ficar multiplicando rezas é característico do paganismo. Em certos países do Oriente existe uma roda das rezas que facilita tudo. O fiel nem precisa repetir as orações. Basta girar a roda por muitas vezes! (Yér Roda de Orações). Como é evidente, o espírito do cristianismo primitivo não tolera a prática. Ensinou Jesus: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que, pelo seu muito falar, serão ouvidos" (Mat. 6:7).

elevados das esferas celestiais; e é bem provável que essa seja uma maneira certa de pensar. O certo é que nos céus jamais haverá qualquer estagnação, pois a grande inquirição de sermos transformados na imagem de Cristo é uma busca eterna, que sobe de glória em glória, até que os remidos cheguem à perfeição de Deus Pai, com a participação na natureza divina, conforme vemos claramente ensinado no trecho de 11 Ped. 1:4. As obras de Deus jamais poderão sofrer estagnação. Isso é contrário à própria natureza de Deus. Por conseguinte, estaremos perenemente crescendo na direção de suas perfeições, participando positivamente de sua bondade, de seu amor, de sua justiça, etc., todas elas virtudes positivas. Nosso aperfeiçoamento não consistirá apenas em nos transformarmos em seres impecáveis, porque isso é apenas o passo inicial que nos permitirá entrar nas esferas da glória. Naturalmente, em tudo isso, não devemos imaginar a existência de sete esferas reais. Esse é apenas um número usado para indicar multiplicidade e gradação de glória, mas que deve incluir diferentes esferas. Na realidade, não sabemos quantas esferas celestiais existem, ainda que bem provavelmente sejam muito numerosas. E Cristo Jesus é o Senhor de todas elas, ficando bem sabido que o Senhor vive. Talvez o número "sete" fosse usado pelos rabinos como alusão às perfeições que imperavam no reino celestial. As Escrituras, contudo, apesar de indicarem multiplicidade de esferas, não determinam nenhum número especifico delas. Quanto à "pluralidade de céus", nas páginas do AT, provavelmente levou os rabinos a procurarem determinar certo número, que finalmente ficou firmado em "sete". Ver os trechos de Deut. 10: 14; 1 Reis 8: 27; Nee. 9:6; Sal. 68:33 e 148:4).

TEREBINTO Essa palavra aparece em Isaias 6: 13 e em Oséias 4: 13, como tradução do vocábulo hebraico al/on, o qual, em todas as suas outras ocorrências, é traduzido por "carvalho" (ver Gên. 35:8; Isa. 2:13; 44:14; Eze. 27:6; Amós 2:9 e Zac. 11:2). O nome cientifico da espécie é Pistacia terebinthus palaestina. É espécie bastante comum na Palestina, chegando até uma altura de dez metros. Alguns estudiosos têm pensado que o "vale de Elá" (Sam. 21:9), onde Davi matou o gigante Golias, seria recoberto de carvalhos, razão pela qual o gigante não conseguiu evitar a pedrada projetada pela funda brandida por Davi. Naturalmente, apesar disso ser possível, é apenas uma especulação. Talvez Golias não tivesse conseguido evitar a pedrada nem mesmo em campo aberto, em pleno meio-dia. Nossa versão portuguesa diz "terebinto", em Isaías 6: 13 e em Osé. 4: 13, onde outras versões dizem "carvalho". O mesmo se deveria fazer em Josué 24:26, onde a palavra é um cognato, mas lemos "carvalho", o que é uma discrepância. Uma outra palavra hebraica muito parecida é corretamente traduzida por "carvalho", nos trechos de Gên. 35:8; Isa. 2:13; Amós 2:9 e Zac. 11:2. A palavra hebraica traduzida corretamente como ''terebinto'' indica uma árvore de madeira dura. Presume-se que os israelitas ofereciam sacrifícios aos idolos sob árvores de terebinto porque elas projetavam uma sombra compacta, como se fosse um esconderijo.

TERCEIRO DIA, AO Ver Dia da Crucificação, ponto 9. TERCEIRO DIA, O DIA DA RESSURREiÇÃO Ver sobre Dia da Crucificação, Sexta-Feira, nono ponto. TÉRCIO No grego, Tértios. Essa palavra vem do latim, e significa "terceiro". O homem com esse nome é mencionado exclusivamente em Rom. 16.22. Ele foi o escriba ou amanuense para quem Paulo ditou a sua epístola aos Romanos. Entre as saudações enviadas pelo apóstolo dos gentios aos cristãos de Roma, o amanuense da epístola adicionou algo de seu próprio punho: "Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, vos saúdo no Senhor" (Rom. 16:22). Alguns eruditos identificam-no com Silas, um dos companheiros de Paulo, em suas andanças de evangelismo. Isso porque o termo hebraico correspondente, shalish, é o vocábulo hebraico que significa "terceiro", que corresponde a tértius, no latim. Mas outros pensadores conjeturam que ele teria sido um cristão romano, que residia em Corinto. Parece que Paulo costumava ditar suas cartas a algum amanuense, adicionando uma saudação de próprio punho, como"...sinal em cada epístol a..." (11 Tes. 3: 17). TERÇO Assim chamado em português por ser uma terça parte do rosário. O rosário consiste na recitação de quinze Padre-Nossos e de Glórias e de cento e cinqüenta Ave-Marias, orações bem conhecidas da Igreja Católica Romana. Portanto, o terço consiste em cinco Padre-Nossos e Glórias,

TERES Há quem pense que o nome significa reverência. Outros opinam por "severidade". Seja como for, Teres era um dos dois eunucos que serviam ao rei Assuero, da Pérsia, e que atentaram contra a vida do monarca. O outro eunuco chamava-se Bigtã (vide). Seus nomes aparecem juntos em Ester 2:21 e 6:2. Mordecai, (vide), primo e pai adotivo de Ester, esposa de Assuero, descobriu o plano dos eunucos, e a vida do monarca foi salva, e os dois eunucos foram então enforcados (Est. 2:21-23). TERESA, SANTA Suas datas foram 1515-1582. Era freira carmelita, nascida em Ávila. Tomou-se mística de elevada ordem. Seguia idéias agostinianas. Sua prática da contemplação, sem dúvida em paralelo com poderes psíquicos naturais, resultou em um misticismo de elevada ordem. A princípio, isso foi negado pela Igreja Católica Romana, à qual ela pertencia. Mas, finalmente, ela foi aceita como genuína.

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TERESA - TERRA Em parceria com João da Cruz, ela fundou as Carrnelitas Descalças. Suas experiências lhe permitiram descrever os vários estágios do misticismo e da ascensão da alma, em sua busca por Deus e pela iluminação. A Visão Beatifica (vide) ocupava uma posição intricada em suas considerações. Seus escritos vieram a ser uma importante fonte de informações sobre o misticismo (vide). Finalmente, Teresa veio a estabelecer e supervisionar dezesseis conventos e catorze mosteiros. Seus escritos, A Vida por Si Mesma; O Caminho da Perfeição e O Castelo Interior, além de sua importância como obras sobre o misticismo, estão repletos de instruções éticas, espirituais e práticas. A última porção de sua vida foi passada viajando de uma para outra instuição que ela havia fundado. Nessas viagens ela levava um bordão, uma cruz e um rosário. Foi acometida por sua última enfermidade no lugar pertencente à duquesa de Ávila, mas solicitou ser transportada para seu convento, em San José, uma petição que lhe foi concedida. Ali ela faleceu, cercada por suas amigas e discípulas. O papa Gregório XV a canonizou, em 1622, e a data de 15 de outubro foi designada como seu dia festivo. A obra completa de Teresa foi traduzida para o inglês, com o título de Complete Works of'St. Teresa (três volumes). TERMINISMO

Essa palavra deriva-se de terminus, "término", "fim", "limite". Algumas pessoas, na pressa que mostram para que Deus condene às almas, e a fim de emprestarem à sua mensagem evangelística um maior poder psicológico, têm imaginado que Deus estabeleceu um LIMITE para cada alma, ou seja, o fim da oportunidade de arrependimento e salvação. Essa doutrina é aplicada de modo absurdo por teólogos que a aplicam à vida presente, de tal modo que se alguém rejeitar a mensagem do evangelho, de maneira obstinada, esse imaginário e temido dia de limite poderá vir a surpreendê-lo. A Igreja Ocidental estabelece esse término na morte biológica; mas a Igreja Oriental tem ensinado, tipicamente, que a oportunidade prossegue, mesmo no mundo intermediário, após a morte biológica, dizendo que até no hades as almas podem ser alcançadas pelo amor de Deus. E isso, por sua vez, significa que hades, tal como a terra, é um lugar de atividades missionárias. Se alguns estudiosos assinalam a parousia (vide), ou seja, a segunda vinda de Cristo, como esse ponto terminal, há aqueles que acreditam que tal término não pode ser determinado, acreditando que as obras de Deus não podem sofrer estagnação, sem importar se estão em pauta os remidos ou os não-remidos.

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TÉRMINO DO EVANGELHO DE MARCOS

Ver sobre Marcos, Término do Evangelho de. TERRA

Os povos antigos não tinham idéia segura sobre o formato e sobre as dimensões do globo terrestre. Em nosso artigo intitulado Cosmogonia, temos ilustrado a questão, incluindo antigas idéias dos hebreus, que não são reiteradas neste verbete. 1. Palavras hebraicas. Dois vocábulos estão envolvidos: a. Eretz, que geralmente denota a superficie da terra ou a terra como uma entidade, fazendo contraste com os céus. Para exempIificar, ver Gên. 1:1,2, 1O~ 12; 2: 1; 4:12; Êxo. 8:17; 10:5; Lev. 11:2,21; Núm. 11:31; Deu. 4:18,26; Jos. 2:11; Juí, 3:25; 1 Reis 1:31; Esd. 1:2; Jó

1:7; 2:2; Sal. 12. A leitura desses exemplos demonstra que a palavra tinha grande variedade de aplicações. b. Adamali, que apontava mais diretamente para 1'010, para o barro, etc. Para exemplificar: Gên. 1:25; 4:11; Exo. 10:6; Deu. 4:10; 1 Sam.4:12;Nee.9:1;Sal.I04:30.Estaúltima palavra hebraica é de ocorrência bem menos constante do que aquela, mas também tem grande variedade de aplicações, de tal modo que as duas palavras são intercambiáveis. 2. Outras idéias são indicadas pela tradução "terra" a fim de indicar os habitantes da terra (Gên. 6: 11; 11:1). As nações gentílicas são distinguidas da terra de Israel (II Reis 18:25; 11 Crõ. 13:9). As terras emersas são contrastadas com o mar (Gên. 1:10). A palavra "terra" também indica algum terreno (Gên. 23:15). 3. No Novo Testamento. O termo grego ge é usado de várias maneiras, podendo indicar desde o próprio globo terrestre como também o solo, alguma região, algum país, os habitantes da terra ou de uma região qualquer e também a idéia de terra ou território. Esse vocábulo grego é empregado por duzentas e cinqüenta e duas vezes no Novo Testamento. Ver os seguintes exemplos, com certa variedade de sentidos: Mat. 5:5,13,18; 10:34; 11:25; 17:25; Luc. 2:14; 12:49; 23:44; 24:5; João 17:4; Atos 1:8; Rom. 9:17,28; 10:18; I Cor. 8:5; Efé. 1:10; Cal. 1:16,20; Apo. 1: 5,7,10; 5: 3; 9:1,3,4; 10: 2, 5; 14:3; 21:1,24. A forma grega composta epigeios significa "terreno" (João 3:12; 11 Cor. 5:1), bem como "terrestre" (I Cor. 15:40). Vasos de cerâmica são chamados ostrakinoi; conforme se vê em 11 Cor. 4:7 e II Tim. 2:20. Em certo sentido espiritual, a palavra ge é usada para denotar coisas que são terrenas e carnais, em contraste com as realidades espirituais. Ver João 3:31 e Col. 3:2,5. Nosso dever moral e espiritual é fixar nossos pensamentos nas coisas celestes, e não nas terrenas. 4. A Existência da Terra. Essa realidade, com o resto da criação, é a base de dois argumentos, o cosmológico e o teleológico (ver sobre ambos) em favor da existência de Deus, o qual é o Criador e o Planejador de todas as coisas. Usos Literais: A Bíblia usa a palavra "terra" em vários sentidos: 1. os continentes, em contraste com os mares (Mal. 23:14).2. Um país particular, ou alguma região de um país, ou mesmo os seus habitantes (lsa. 37: 11). As terras aráveis (Mal. 9:26; Gên.26:12). Usos Figurados: 1. Canaã era a terra de Emanuel, isto é, a terra de Yahweh. Era uma terra prometida (Heb. 11:9). Era a terra, a Terra Santa. Conforme muitos dizem até hoje, ela é santa demais, em face dos contínuos conflitos armados que a perturbam. Ver Isa. 26: 1O. 2. A terra da promissão, protegida por Deus, pelo que não precisava ser protegida pelos homens. No tocante ao milênio, será chamada de "a terra de aldeias sem muros" (Eze.38: 11). 3. O Egito aparece como a terra da tribulação e da angústia, porquanto ali o povo de Israel sofreu a servidão (Isa. 30:6). 4. A Babilônia era uma terra de "imagens de escultura", em face de sua generalizada idolatria (ler. 50:38). 5. A terra dos vivos é este mundo físico, onde vivem os homens mortais (Sal. 27: 13 e 117:6). 6. O sepulcro é a terra da escuridão e da sombra da morte (ló 10:21,22). 7. O sepulcro também é a terra do esquecimento. Quão

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TERRA - TERREMOTO prontamente os homens são esquecidos, assim que são sepultados! Quantas pessoas sabem qualquer coisa sobre os seus bisavós? VerSal. 88:12. Mas Deus nunca se esquece, e preserva intactos todos os valores humanos. 8. A terra simboliza a matéria. 9. A Mãe Terra é a origem de toda a vida biológica, 10. Há o arquétipo da Grande Mãe, que inclui o conceito da Mãe Terra. Esse é equivalente feminino do Sábio Idoso ou Profeta, no caso do homem, Representa a inteireza potencial, a completa sabedoria, a espiritualidade consumada. 11. A terra representa firmeza e provisão, em contraste com o mar, que representa a instabilidade e os poderes misteriosos e destrutivos. 12. a subsolo aponta para as profundezas misteriosas da alma ou do oculto, as regiões infernais. No desenvolvimento espiritual, uma pessoa pode atravessar essas camadas inferiores da existência, antes de atingir níveis mais elevados. O subsolo, naturalmente, também alude à morte e à sepultura.

TERRA BAIXA DE HODSI Essas palavras aparecem no texto de 11 Sam. 24:6, segundo a Edição Revista e Corrigida da Sociedade Bíblica do Brasil. Todavia, na Edição Revista e Atualizada no Brasil, da mesma Sociedade Bíblica, que usamos como base para esta enciclopédia, o texto é inteiramente diferente: "na terra dos heteus". O próprio texto bíblico nos informa de que era um distrito entre Gileade e Dã-Jaã (vide), que foi visitado no decurso de um dos recenseamentos efetuados em Israel, no tempo de Davi. Há muitas dúvidas se realmente existiu a "terra baixa de Hodsi", porquanto a mesma não é mencionada em qualquer outra fonte informativa, bíblica ou extrabíblica. Nossa versão portuguesa segue de perto a tentativa de solução dada na Bíblia inglesa da Revised Standard Version, que, por sua vez, segue a sugestão de Wellhausen, Este crítico pensava que o texto pode ser explicado sobre bases paleográficas, como se fosse uma menção a "Cades, na terra dos heteus", precisamente o que encontramos em nossa versão portuguesa. Se Wellhausen estava com a razão, então a alusão é a Cades sobre o Orontes, até onde chegava a fronteira do reino de Davi, no auge de seu poder, na sua porção norte. As modernas traduções e versões em inglês também estão divididas, quanto à questão, entre essas duas opções. TERRA DOS FILHOS DO SEU POVO Uma terra perto do rio Eufrates, onde Balaque, rei de Moabe, mandou buscar Balaão, a fim de amaldiçoar a Israel. O trecho de Núm. 22:5 é a única referência bíblica a respeito. As traduções variam aqui. Algumas lêem Amá, mas a Septuaginta serviu de base para a nossa versão portuguesa. Alguns manuscritos da Vulgata dizem "Terra dos filhos de Amom". Amó incluía Petor, a cidade de Balaão, e Emar, que era sua principal cidade. O nome Amó tem sido encontrado em algumas inscrições que datam dos séculos XVI e XV a.C. TERRA ORIENTAL No hebraico, "terra da fronteira oriental". O trecho de Gên. 25:6 registra que Abraão enviou suas concubinas para aquela terra. Presumivelmente ficava a sudeste da Palestina, e faria parte da Arábia. Ver o artigo sobre Oriente, Filhos do.

TERREMOTO Esboço: I. Definição 11. Magnitudes Ill, Distribuição dos Terremotos IV. Os Lugares Bíblicos e os Terremotos V. Sons e Ondas Sísmicos VI. Referências Bíblicas a Terremotos VILEstamos na Geração do Terremoto? VlIl.Ansiedadee Preparação para os Terremotos I. Definição Um terremoto é o abalo, a mudança, o irrornpimento e a vibração da terra, em áreas rochosas subterrâneas, com reflexos correspondentes à superfície do planeta. Isso pode ocorrer sem que os homens nada sintam. Outras vezes, os abalos sísmicos são sentidos, mas sem que haja qualquer dano material. Às vezes, porém, são destruídas tanto propriedades quanto vidas humanas. A maioria dos terremotos nunca é sentida senão exclusivamente pelos cientistas que se ocupam em registrar a intensidade e efeitos desses abalos. 11. Magnitudes Um sismólogo norte-americano, Charles F. Richter, criou, em 1935, uma escala para medir a intensidade dos terremotos. Ele atribuía a essa intensidade um número que pode ser usado para efeito de comparação. De acordo com essa escala, um terremoto da magnitude 2,5 tem a energia de menos de 1O(17) ergs, mais ou menos a quantidade de energia liberada pela queima de 3.800 litros de gasolina. Esses abalos são considerados miniterremotos e são de ocorrência bastante freqüente. Um terremoto da escala de 4,5 tem 10(20) ergs e pode causar danos de pouca monta à superflcie da terra. Um terremoto da escala Richter 6 é potencialmente perigoso. Cerca de cem abalos sísmicos anuais têm essa potência. Os terremotos que atingem a escala 7 de magnitude (10(25) ergs) representam abalos de grande poder destrutivo, ocorrendo a uma média de vinte e cinco abalos desses, a cada ano. Talvez um ou dois abalos de magnitude 8 ocorram anualmente. O mais poderoso terremoto já registrado, desde a criação dessa escala, atingiu a magnitude 8,6. Ocorreu na China, a 15 de agosto de 1950. a grande terremoto do Alasca, de 27 de março de 1964, atingiu a magnitude 8,5. 111. Distribuição dos Terremotos Na média, a cada ano há um terremoto verdadeiramente grande, dez principais, cem destruidores, mil que produzem algum dano, dez mil abalos de pouca intensidade, que produzem danos desprezíveis, e cem mil choques que só os aparelhos científicos são capazes de registrar. N a verdade, a terra estremece o tempo todo. Por essa razão, se qualquer abalo sísmico, por menor que fosse, pudesse ser considerado um terremoto, então teríamos um total de mais de um milhão de terremotos todos os anos. Existe um cinturão de terremotos no oceano Pacífico, bem como outro que começa na área do mar Mediterrâneo e segue para o Oriente, atravessando o continente asiático. O cinturão do oceano Pacifico concorre com oitenta por cento de todos os terremotos; e o cinturão do mar Mediterrâneo concorre com outros quinze por cento. Portanto, somente cerca de cinco por cento de todos os terremotos ocorrem fora desses dois cinturões. Entretanto, os terremotos sempre deixam os homens perplexos, porquanto áreas que todos pensavam estar isentas dessa atividade sísmica, subitamente, sem a menor explicação, produzem algum grande terremoto. Em qualquer região onde já houve algum terremoto poderá haver outros. Na

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TERREMOTO verdade, não existe região do planeta que possa ser considerada imune a esse fenômeno. IV. Os Lugares Bíblicos e os Terremotos O vale profundo do rio Jordão conta com diversas falhas geológicas importantes, como a falha do vale do Jordão, a falha de Zarqa Ma'in, a falha Hasa, a falha Risha e a falha Quweira. Essas falhas estão vinculadas ao cinturão do mar Mediterrâneo e prolongam-se por diversas centenas de quilômetros. Há evidências geológicas que sugerem que o atual mar Mediterrâneo seja apenas o remanescente de um grande oceano que existia antigamente entre a Eurásia e a África. Grandes terremotos do passado, provavelmente ligados a alguma mudança dos pólos, rearrumaram as áreas de terras emersas e de mares, provavelmente por centenas de vezes. Ver o artigo sobre o Dilúvio, seções segunda e sexta, quanto a uma discussão completa sobre esse fenômeno. Os místicos modernos adiantam que estamos às vésperas de uma outra mudança dos pólos. E, se isso vier a suceder, sem dúvida fará parte da grande Tribulação (que vide). O profundo vale do rio Jordão é apenas parte de uma grande zona de falhas geológicas que se prolongam na direção norte, desde a entrada do golfo de Acaba, por mais de mil e cem quilômetros, até o sopé das montanhas do Taurus. Há evidências geológicas que indicam que, nos últimos poucos milhões de anos, tem havido um movimento de afastamento que já chegou a cento e oito quilômetros, na região do mar Morto, associado à separação entre a península árabe e o continente africano. Os místicos modernos predizem um terremoto realmente forte, na área de Jerusalém, para um futuro não muito distante. Isso ajudaria os árabes em seu conflito contra Israel, precipitando os eventos da grande Tribulação e da batalha do Armagedom, quando a própria existência de Israel estará em jogo. Os trechos de Zac. 14:4,5 e Apo. 16: I 8, 19 predizem um vastíssimo terremoto que acompanhará o segundo advento de Cristo. E isso poderia estar associado à mudança dos pólos predita pelos místicos modernos. Tanto estes quanto os estudiosos da Bíblia concordam que tudo isso não pode estar muito distante de nós. Quem for sábio, que se prepare! V. Sons e Ondas Sísmicos Referimo-nos a um assunto realmente espantoso quando falamos sobre os ruídos e as ondas de choque produzidos pelos terremotos. Essas coisas são realmente assustadoras. Grandes vibrações sacodem a terra quando algum terremoto ocorre. No caso dos grandes terremotos, esses abalos liberam forças maiores que a explosão de muitas bombas atômicas ao mesmo tempo. Tal atividade subterrânea pode ser ouvida como ruídos cavos e profundos. Além disso, podem-se ouvir estalidos poderosos, quando grandes massas de rochas racham e se partem, mediante pressões inacreditáveis. A distância, um terremoto pode ser ouvido como se pesadíssimos veiculos estivessem passando, ou como se estivessem sendo arrastadas imensas caixas pela superficie da terra. Ou então, podem ser ouvidos sons como se grandes trovões ou como se grandes canhões estivessem disparando. Vários tipos de ondas de choque se precipitam do epicentro de um terremoto. Essas ondas são transmitidas pelo deslocamento de partículas, e podem levar consigo um tremendo poder de destruição. Algumas dessas ondas assemelham-se às ondas de choque sobre a superficie da água, quando algum objeto é lançado na mesma. Outras ondas como que se agitam de lado para lado, ou então para frente e para trás. Vários tipos de ondas de choque podem ter lugar simultaneamente. Essas ondas de choque

propagam-se em diferentes velocidades, dependendo da resistência encontrada à sua passagem. Uma onda dessas pode percorrer 160 km em vinte segundos. Um único terremoto pode enviar diferentes tipos de ondas ao mesmo tempo, que se propagam a diferentes velocidades. Essas ondas podem viajar por milhares de quilômetros, dependendo tudo da magnitude de cada terremoto. VI. Referências Bíblicas a Terremotos Há uma palavra hebraica e uma palavra grega que precisam ser consideradas neste verbete, a saber: I. Raash, "tremor", "abalo". Termo hebraico usado por cerca de trinta vezes, conforme se vê em 1 Reis 19:11,12; Isa. 29:6; Amós 1:1; Zac. 14:5. 2. Seismós, "abalo". Essa palavra grega figura por catorze vezes no Novo Testamento: Mal. 8:24; 24:7; 27:54; 28:2; Mar. 13:8; Luc. 21:11; Atos 16:26; Apo. 6:12; 8:5; 11:13,19; 16:18. Durante o reinado de Uzias (Amós 1:1) houve um grande terremoto, que Josefo vinculou à iniqüidade, incluindo sacrilégios, que caracterizaram aquele reinado e aquele período da história de Israel. Ver II Crô. 26: 16 ss. E mencionado um terremoto em conexão com a crucificação de Jesus (Mat. 27:5 l-54), e outro em conexão com a ressurreição (Mal. 28:2). Também houve um terremoto que abriu as portas da prisão onde se encontravam Paulo e Silas (Atos 16:26). Um terremoto acompanhou a morte de Coré (Núm. 16:32) e um outro seguiu-se à visita de Elias ao monte Horebe (1 Reis 19: 11). Josefo refere-se ao terremoto devastador que atingiu a Judéia em 31 A.C. (Anti. 15:52). As predições bíblicas dizem-nos que um terremoto de gigantescas proporções acompanhará a parousia ou segunda vinda de Cristo (Apo. 16:18,19 e Zac. 14:4,5). Os místicos modernos estão predizendo uma nova mudança dos pólos para estes nossos tempos, e essas referências bíblicas bem podem estar fazendo alusão a essa mudança dos pólos. Sentidos figurados e espirituais. Os terremotos são uma das armas que Deus usa para a destruição da iniqüidade. Muitos psíquicos de nossos dias acreditam que a maldade humana, que produz vibrações adversas, pode ser uma causa contribuinte dos terremotos. Isso significaria que uma atividade dessa espécie poderia ser produzida, pelo menos em parte, quando os homens perdem de vista os valores espirituais. Seja como for, os terremotos simbolizam o juízo divino (Isa. 24:20; 29:6; Jer. 4:24; Apo. 8:5). A derrubada violenta de nações é comparada a um terremoto (Ageu 16,22; Apo. 6: 12,13; 16: 18, 19). Porém, essas referências bíblicas parecem incluir aquele terremoto literal que fará parte desses eventos. VII. Estamos na Geração do Terremoto? As predições relativas à nossa época indicam que, à medida que o fim de nossa era for se aproximando, os terremotos ir-se-ão tomando o horror dos homens. Os místicos estão falando sobre terremotos mortiferos, alguns dos quais poderiam atingir até mesmo o grau 12 da escala de Richter. Dizem-nos que esses imensos terremotos ocorrerão como pré-choques da mudança dos pólos que já se avizinha. Jeffrey Goodman escreveu um livro que foi publicado com o título em inglês, We are the Earthquake Generation (Somos a Geração do Terremoto). Goodman é um arqueólogo profissional. Ele tem recolhido evidências que falam sobre um período extremamente atribulado, que se iniciaria dentro de pouco tempo, e que incluirá muitos terremotos. Ele prediz um período de vinte anos de catástrofes dessa natureza. Os cristãos há séculos falam sobre a vinda da grande Tribulação para breve. Ver

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TERREMOTO - TERRORISMO o artigo sobre a Tribulação, a Grande. Não há como duvidar que os terremotos serão uma parte importante dessas tribulações. VIII. Ansiedade e Preparação para os Terremotos Tememos essas coisas. Temos absoluta certeza de que elas já se aproximam. Queremos a paz, mas sabemos que todas as eras anteriores da humanidade encaminharam-se para a sua destruição, sendo substituídas por outras eras. Não há razão para pensarmos que o milênio (que vide) ocorrerá através de uma transição pacifica. Só há uma preparação que está ao nosso alcance e que é eficaz, a saber, a preparação espiritual. Há pessoas que se têm mudado de áreas que, segundo dizem os místicos, serão mais pesadamente atingidas. Porém, os ímpios dificilmente serão protegidos somente por terem mudado de cidade. Além disso, se justos perecerem em algum grande cataclismo (e muitos homens justos padecerão tais coisas, naturalmente), bastar-nos-á pensar novamente sobre o valor da alma e da vida eterna. Sócrates estava certo de que nenhum dano final pode sobrevir a um homem bom, o que representa uma verdade espiritual permanente. Muitos evangélicos crêem que o arrebatamento (que vide) haverá de livrar a Igreja cristã de grande parte dos desastres finais. Também sou um dos que já acreditaram nessa idéia; mas agora penso que a Igreja passará pela tribulação. Todavia, não acredito que os nossos teólogos já tenham resolvido todos os problemas envolvidos. Penso que ninguém sabe, com certeza, quanto da tribulação a Igreja terá de passar, antes de seu arrebatamento. Também acredito que a grande Tribulação prolongar-se-á por um total de quarenta anos, dos quais os famosos sete anos bíblicos seriam a parte principal. Ver o artigo sobre Quarenta. Escrevi um livro que reflete essa crença, intitulado Profecias para o Nosso Tempo: Quarenta Anos Finais da Terra? Esse livro foi publicado pela editora Nova Época, de São Paulo. Nesse livro, procuro demonstrar que o período que nos aguarda com as suas tribulações representa um outro quarenta (o número simbólico para tribulações), porquanto, há muitos períodos atribulados na Bíblia, representados pelo número quarenta. Como já dissemos, os sete anos das predições bíblicas farão parte especial de um período maior de quarenta anos. Esses sete anos diriam respeito à nação de Israel. Seja como for, é fácil os crentes mostrarem-se apreensivos diante de todas essas possibilidades para o mundo futuro. Nós, como crentes individuais, poderemos desfrutar ou não de proteção, em meio às tribulações finais. A conservação da vida física nem sempre é a questão que mais importa. O que importa é que vivamos corretamente, dentro do período de tempo que nos foi dado, cumprindo a nossa missão na terra. E digno de consideração que se fomos postos no mundo, nesta época particular, então é que há alguma razão especial para estarmos aqui, relacionados especificamente às tribulações que haverão de sobrevir ao mundo. Nas experiências perto da morte, quando um homem passa pelos primeiros estágios da morte fisica, quando a sua vida é posta em revista, uma das perguntas feitas pelo Ser de Luz é como ele amou durante a vida, bem como o que aprendeu. As duas grandes colunas da espiritualidade são o amor e o conhecimento. Deveríamos cultivar ambas as coisas, em nossa vida, com todo o afã. Ver o artigo sobre as Experiências Perto da Morte. Se assim fizermos, nada teremos a temer do futuro. Deus é nosso refúgio e fortaleza Socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude,

E ainda que os montes se projetem para o meio dos mares; Ainda que as águas rujam e espumem. Ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Selá. Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, O Lugar Santo das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; Não será abalada. (Salmos 46:1-5). Bibliografia. AM GOOD WHI Z TERRORISMO Podemos classificar esse diabólico fenômeno social em três categorias: I. Criminosos que pretendem estar trabalhando em prol de alguma idéia política, utilizando-se de atos violentos, mas que, na verdade, não são motivados por tal idéia. Esses desculpam seus atos sobre essa base. Eles falam em termos de "restaurar dinheiro ao povo", quando furtam os "bancos capitalistas". Mas eles consideram "povo" somente a eles mesmos. 2. Também existem os verdadeiros terroristas políticos, cujos atos de violência têm por escopo debilitar as instituições governamentais existentes. Esses usam o dinheiro porventura, adquirido com seus atos, para fomentar outras atividades. 3. Finalmente, há terroristas religiosos, que atuam contra governos ou instituições que consideram hostis à sua causa Infelizmente, há livros sagrados que transpiram violência, não sendo difícil achar neles textos de prova que toleram o terrorismo com todos os crimes daí redundantes. Que Israel adquiriu o seu território mediante atos de terror fica claro nos próprios registros bíblicos, embora isso pareça chocante para muitos. Orlgenes entendeu isso, e a1egorizou os trechos envolvidos, a fim de tentar descobrir neles algum sentido espiritual, não desejando admitir que Deus, realmente, tenha enviado homens para matar brutalmente a outros. Muitos cristãos fundamentalistas não sentem dificuldade em adorar a um Deus Guerreiro; mas há muitos, na Igreja cristã de nossos dias, que simplesmente consideram isso um conceito "primitivo" de Deus, que o cristianismo reteve em vários pontos. Não posso deixar de emitir aqui minha opinião, pois é nisso que acredito. Mas, quando falo contra esse conceito de Deus, estou apenas negando a validade desse conceito, e não desejo blasfemar o nome de Deus. É possível alguém rejeitar um conceito de Deus, sem blasfemar-lhe o nome. De fato, há alguns conceitos de Deus que são blasfemos, e não hesito em destacá-los. Por outro lado, esses conceitos não aparecem somente na Bíblia. O Alcorão é notoriamente violento, e Maomé conseguiu impor-se mediante a espada desembainhada, forçando muitas populações a aceitar a nova fé islâmica. Os árabes fundamentalistas ou ortodoxos de nossos dias continuam a contemplar o mundo com seus olhos injetados de sangue, acreditando que o morticinio é correto, contanto que sejam mortas as pessoas certas. A moderna escalada do terrorismo reflete uma maneira doentia e impensada de tentar produzir a mudança social. Insensatos atos de violência, como a destruição de bibliotecas, o terrorismo aéreo e a matança praticada contra pessoas inocentes, como os turistas (que não podem ser confundidos com soldados) têm assinalado as ações terroristas. E assim aquilo que os terroristas imaginam ser atos promotores da justiça, não passam de atos covardes. Muitas pessoas sentiram-se ultrajadas quando terroristas palestinos atacaram e mataram a onze atletasjudeus durante a Olimpiada de 1972, em Munique, na Alemanha; m~ muitos outros ao redor do mundo aplaudiram o ato. E

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TERRORISMO - TÉRTULO evidente que o ódio sem motivos reais e mentes patológicas estão envolvidos nesse tipo de atividade. Agências governamentais que impõem a ordem, com freqüência, são alvos especiais dos terroristas. Em certo manual revolucionârio, Carlos Marighella, antigo membro do Partido Comunista do Brasil, disse: "Toda guerrilha urbana só pode manter a sua existência se estiver disposta a matar policiais". Talvez declarações assim façam sentido para indivíduos de tendências violentas, mas é impossível entender por que igrejas e templos também possam ser objetos do terror. O homicídio continuará sendo homicídio, sem importar se os homens o rotulem de qualquer outra coisa; e podemos estar certos de que tais assassinos haverão de sofrer a pena correspondente aos seus atos. TERTULIANO

Suas datas aproximadas foram 155 - 222 d.C, Nasceu na província romana da "África" na cidade de Cartago. Filho de pais pagãos, tomara-se bem versado em filosofia, direito e literatura, antes de converter-se a Cristo. Retomando a Cartago, serviu como presbítero. Foi o mais vigoroso e intransigente dos primeiros apologistas cristãos. Atacava incansavelmente o paganismo; mas, no fim da vida, tomou-se membro do movimento montanista, que a corrente principal da cristandade considerava uma heresia. Parece que suas pronunciadas tendências ascéticas foram um fator básico em sua ligação àquele movimento. Seja como for, Tertuliano deixou sua marca na história da Igreja e aderiu à teologia ocidental, tendo influenciado outros a fazerem o mesmo. Ele era casado, mas isso não o impediu de ser ordenado sacerdote, pois então ainda não havia o celibato obrigatório para os ministros, conforme mais tarde surgiu em alguns segmentos da cristandade. Ao abraçar o montanisrno, Tertuliano passou a atacar a Igreja estabelecida com o mesmo vigor com que antes tinha atacado o paganismo. Jerônimo menciona várias de suas afrontas ao clero romanista. Ao atacar o paganismo, também atacava a filosofia, e isso por meio de argumentos nitidamente filosóficos. Por essa razão, os filósofos nunca o perdoaram. Tertuliano era homem dotado de natureza arrebatadora, um extremista. Como tantos outros extremistas, deixou uma impressão duradoura, mas agia como um jumento que empaca. Os próprios montanistas não puderam tolerá-lo por muito tempo, pelo que ele criou a sua própria seita, que veio a tornar-se conhecida como os tertulianistas . Temos aí um antigo exemplo de cristão causador de divisões, um homem de forte personalidade, que se mostrou extremista em seus atos. Os cristãos fundamentalistas de hoje especializaram-se nesse tipo de atitude. Lutemos pelos fundamentos da fé, mas não como jumentos teimosos. Quase todas as obras escritas de Tertuliano são de natureza polêmica, e nelas brilha um intelecto de primeira grandeza. Ele era dotado de grandes e vastos conhecimentos e escrevia como homem inspirado. É justo declarar que sua literatura religiosa aparece como um dos mais brilhantes espécimes literários do latim. Foi o exemplo deixado pelos mártires que primeiro atraiu a atenção de Tertuliano para o cristianismo. No entanto, uma vez convertido ao cristianismo, vivia em uma contínua atitude de violência mental e literária. Pode ser considerado o pai inspirador de todos aqueles que usam sua fé cristã como se fosse um acampamento militar hostil, que desfecha ataques contra todos ao redor. A despeito disso, sua contribuição literária foi considerável, se conseguirmos desconsiderar sua língua continuamente

peçonhenta contra outros. - Ver o artigo intitulado Tolerância. Idéias: 1. Apesar de ser um intelectual, Tertuliano assumia uma postura antiintelectual em sua fé religiosa. Ver sobre o Antiintelectualismo. Ele dizia: "Creio, por ser absurdo", porquanto pensava que as doutrinas da fé não fazem sentido diante da razão humana. Quanto a isso, ele diferia do método usado pela maioria dos apologistas cristãos, os quais lançavam mão de bem arquitetados raciocínios e de eficazes argumentos filosóficos em favor da fé cristã. Ver o artigo separado intitulado Apologetas (Apologistas). 2. Como ilustração da aplicação de seu princípio anti intelectual, ele aceitava o ponto de vista de que o Filho de Deus morreu, porquanto nessa própria declaração há uma contradição. E aceitava a doutrina da ressurreição de Cristo, por ser isso impossível para o homem. 3. A contradição, e não a harmonia, deve ser um fator constante de fé religiosa. E isso porque as doutrinas aceitas pela fé ultrapassam as limitadas capacidades da mente humana. Visto que a filosofia repousa sobre a razão humana, as atividades filosóficas são, ao mesmo tempo, sem finalidades e perniciosas, de acordo com Tertuliano. 4. Uma curiosidade da doutrina de Tertuliano era a adoção que fez da idéia estóica da existência da chamada substãncia espiritual. Ele afirmava que Deus e os espíritos são de substância material, ou "matéria espiritualizada". O mormonismo é o único grupo cristão de nossos dias que segue essa noção, embora dificilmente eles a tenham pedido por empréstimo de Tertuliano. De conformidade com a teologia mórmon, a substãncia espiritual é uma forma de matéria refinada, diferente, mas não externa à esfera atômica. É possível que se Tertuliano tivesse tido conhecimento da física moderna, ele também tivesse pensado em tal explicação. 5. Tertuliano foi o primeiro teólogo cristão a usar a fórmula trinitariana para explicar, tentativamente, a relação que há entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. 6. No estoicismo ele foi buscar a sua doutrina do traductonismo (vide). Essa doutrina ensina que o homem e a mulher, no ato procriador, por serem criaturas de natureza dupla - espiritual e material - transmitem aos filhos que geram tanto a parte espiritual quanto a parte material do ser humano. Ele acreditava que a concepção incluía uma "semente que produz a alma", e não meramente o corpo fisico. Essa idéia deve ser confrontada com as noções do criacionismo e da preexistência da alma. Ver o artigo chamado Alma, em sua primeira seção, Origem da Alma, onde são discutidas as principais teorias a esse respeito. Essas questões também são ventiladas em verbetes separados, nesta Enciclopédia. Escritos: To Martyrs; Apologies; Against the Gnostics; Against Marcion; Against Valentinus; Against the Marcionites; Against Praxeas; On the Body of Christ; On the Resurrection ofthe Body; On the Soul. Além dessas obras, ele escreveu mais de duzentas outras, refletindo suas crenças rnontanistas e seu envolvimento no grupo. TÉRTULO

No grego, Tértullos, forma diminutiva do termo latino tertius, "terceiro". Poderíamos, portanto, traduzir seu nome por "terceirinho", que é o sentido exato dessa palavra. Esse foi o orador profissional, contratado pelos judeus para declarar o caso deles contra o apóstolo Paulo, perante Félix, governador romano da Judéia. Ver Atos 24: 1-9. A julgar por seu nome latino, ele poderia ter sido um romano,

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TÉRTULO - TESOURO apesar do fato de que nomes latinos eram comuns entre os gregos e os judeus. Outros opinam que ele seria um judeu, porquanto identificou-se com os seus clientes. Não obstante, era costume os advogados assim agirem, pelo que aquele detalhe não significa muita coisa. Com a tradicional cortesia, ele começou sua astuta retórica lisonjeando ao governo de Félix de uma maneira que não combinava com os fatos. Ele atribuiu o levante havido em Jerusalém à agitação provocada por Paulo, que seria o cabeça de uma seita ilegal. Por isso é que Paulo teria sido detido em custódia pelos judeus, porquanto tentou "profanar o templo". Com essa acusação, Paulo parecia ser inimigo da tranqüilidade pública e da religião judaica, que Félix estava na obrigação de sustentar. Entretanto, o discurso de Tértulo deveria ser comparado com a narrativa real, que se lê em Atos 21 :27-40, com a carta enviada pelo tribuno Lísias (Atos 23:26-30), e com a réplica do apóstolo Paulo (Atos 24: 10-21).

TE8BITA 1. Nome. Este é o nome de uma pessoa que nasceu ou habitou a cidade chamada Tisbe, como Elias (I Reis 17.1). Ver também 21.17, 28 e 11 Reis 1.3,8; 9.36. Parece que o nome significa "recurso". 2. Identificação e Localidade. Estritamente falando, o local é desconhecido e sua localização continua um mistério, mas adivinhações colocam-no no território de Naftali, ou Gileade. Não há confirmação arqueológica da cidade nem sugestão de sua antiga localidade. 3. Alguns estudiosos pensam que a palavra Tisbe ou Tesbita é de fato relacionada à Jabes-Gileade de I Sam. 11.1, 3,5, e 31.12, de forma que Elias poderia ter sido chamado de jabesita em vez de tesbita, Ver o artigo sobre esse local para maiores detalhes. 4. Outras Identificações. Talvez esteja em vista Listibe, do leste de Gileade, conjectura baseada na similaridade da palavra Tisbete com o árabe el-/stibe. O livro apócrifo Tobite (1.2) refere-se a Tisbe, que estava localizada ao sul de Cades, no território de Naftali. Talvez Elias tenha nascido naquela área, mas então se mudou para Gileade. Elias não tem uma associação com Gileade do Norte, no lado leste do rio Jordão, como sabemos com base em 1 Reis 17.2-7. Talvez o ribeiro de Querite tenha sido um pequeno afluente de Jabes, que desemboca no Jordão, Tais especulações podem levar-nos à verdade, mas não temos como fazer uma afirmação com confiança. TESES, NOVENTA E CINCO Ver o artigo geral sobre Lutero, em seu terceiro ponto. O quarto ponto desse mesmo artigo mostra os resultados a longo prazo dessas teses. TESOURARIA DO TEMPLO 1. Antigos santuários e templos muitas vezes eram usados como locais de depósito de objetos valiosos, como se fossem "bancos sagrados". Sabemos que o Panteão, por exemplo, tinha seu opisthodomos, ou tesouraria sagrada, que provavelmente servia como fonte para o pagamento de despesas da atividade do local. Os templos hebraicos tinham seus locais para armazenar presentes de ouro e prata, além de outros objetos valiosos que eram doados ao ministério (I Reis 7.51). Uma fonte de tal riqueza eram as ofertas do povo, mas não temos dúvida de que saques feitos durante as guerras compunham a maior fonte. E o dinheiro não era usado só para os cultos dos templos. Era uma grande fonte de riqueza que os reis usavam para seus projetos de construção e para enriquecimento pessoal, é claro.

2. Localização. Alguns estudiosos acreditam que o templo não era o local para o tesouro, mas isso parece improvável. Logicamente, havia outras tesourarias e depósitos de riqueza além do templo. Estudiosos continuam a disputar exatamente onde estava localizada a tesouraria nos templos. 3. Administração. Pelo menos antes do templo de Herodes, os administradores eram os levitas, depois os sacerdotes, isto é, levitas que descendiam diretamente de Arão, filho mais velho do levita Anrão e de Joquebede (Êxo. 6.20; Núm. 26.29). Ele era irmão de Moisés. Arão estava na terceira geração depois de Levi, pelo que teríamos Levi, Coate, Anrão e Arão. Outros descendentes de Levi tomaram-se levitas, mas não eram levitas sacerdotes. Na época de Jesus, o sumo sacerdote assumiu essa função. Sob ele trabalhavam os principais tesoureiros (katholikoi) e sete curadores (amarkalim), mais três gerentes (gizbarim) que compartilhavam o trabalho e a responsabilidade. 4. Um Objeto de Ganância e Assaltos. O tesouro do templo passou a possuir considerável riqueza, abrigando, como fazia, o maior banco do pais. Naturalmente tomouse objeto de ganância e assaltos. Exércitos invasores não o ignoravam. Ver I Reis 14.26; 11 Reis 24.12 ss.; I Macabeus 1.20-24; 11 Macabeus 3.1-13. Como sempre ocorre na política, os próprios reis de Israel às vezes metiam as mãos no depósito de riqueza do templo para obter vantagens pessoais ou para comprar favores políticos. Ver 1 Reis 15.16 ss.; II Reis 12.17 ss. Às vezes o tributo pago a poderes estrangeiros vinha do tesouro do templo (lI Reis 18. 13 ss.). 5. Referências no Novo Testamento. João 8.20 parece indicar que tesouraria era um lugar popular para reuniões públicas. Ver ainda Mar. 12.14 ss. em conexão com isso. Haviam umas na forma de trombetas para o recebimento das ofertas do povo. Mas Herodes, o Grande, tinha muito dinheiro e muito poder, e podemos ter certeza de que ele mantinha o tesouro e seus bolsos cheios.

TESOURO Esboço I. Os Termos 11. Tipos de Tesouros Ill, Aspecto Monárquico dos Tesouros IV. Tesouros de Davi e Salomão V. Tesouros dos Reis de Israel VI. Tesouros como Tropeços Espirituais VII. Sentido Figurado de Tesouro no Antigo Testamento VIII.Tesouros no Novo Testamento I. Os Termos No hebraico, temos nove vocábulos e, no grego cinco, neste verbete, a saber: I. Otsar, "tesouro", "coisa depositada". Palavra hebraica usada por setenta e uma vezes com esse sentido, conforme se vê, por exemplo, em Deu. 28:12; 32:34; I Reis 7:51; 15:18; 11 Reis 12:18; 14:14; 24:13; I CrÔ. 26:20,22,24,26; 11 Crõ. 5: 1; 8:15; 36:18; Esd. 2:69; Nee. 7:70,71; J6 38:22; Pro. 8:21; 10:2; Isa. 2:7; 30:6; 316; 45:3; Jer. 10:13; 15:13; 17:3; Eze. 28:4; Dan. 1: 2; Osé. 13: 15; Miq. 6: 10. Também há a formaatsar, como em Nee. 13:13 e Isa, 23:18. 2. Ginzin, "tesouros". Palavra hebraica empregada por três vezes: Esd. 5: 17; 6: I; 7:20. 3. Chosen, "riquezas", "força". Palavra hebraica utilizada por três vezes: Pro. 15:6; 27:24; Eze. 22:25. 4. Matmon, "coisa oculta". Palavra hebraica usada por quatro vezes: Gên, 43:23; J6 3:21; Pro. 2:4; ler. 41:8. 5. Mikmannim, "tesouros". Termo aramaico usado por uma vez apenas, em Dan. II :43.

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TESOURO 6. Miskenoth, "tesouros", "armazéns". Vocábulo hebraico usado por uma vez com o sentido de "tesouros": Êxo. 1:11. 7. Athud, "tesouro", "preparado". Palavra hebraica usada por uma vez com o sentido de "tesouro", em Isa. 10:13. 8. Saphan, "coisa coberta", "tesouro". Palavra hebraica que ocorre por uma vez com esse sentido, Deu. 33: 19. 9. Gedaberin, "tesouros". Palavra aramaica usada por uma vez, em Dan. 3:2,3. 10. Thesaurôs, "tesouro". Palavra grega usada por dezessete vezes: Mat. 2: 11; 6:19-21; 12:35; 13:44,52; 19:21; Mar. 10:21; Luc. 6:45; 12:33,34; 18:22; 11 Cor. 4:7; CoL 2:3; Heb. 11:26. lI. Thesaurizo, "entesourar". Verbo grego usado por oito vezes: Mat. 6:19,20; Luc. 12:21; Rom. 2:5; 1 Cor. 16:2; lICor. 12:14; Tia. 5:3; 11 Ped.17. 12. Gáza, "tesouro" (uma palavra derivada do persa), que aparece somente por uma única vez, em Atos 8:27. 13. Gazophulâkion, "tesouro". Palavra grega usada por quatro vezes: Mar. 12:41,43; Luc. 21:1; João 8:20. 14. Korbanãs, "lugar das ofertas". Palavra grega transliterada do hebraico, usada somente por uma vez: Mat. 27:6. 11. Tipos de Tesouros Na Bíblia, um tesouro consiste no dinheiro, nas jóias, no ouro, na prata, nos vasos, nos ungüentos, nas especiarias, nos armamentos, nos cereais, nas moedas ou em quaisquer outras possessões materiais que um governante, um monarca ou um indivíduo rico conservava em lugar seguro, fora do alcance de ladrões e assaltantes. Os vasos sagrados e os móveis do templo de Jerusalém, ou mesmo dos templos de divindades pagãs, eram considerados tesouros (ver I Crô. 32:27-29; Esd. 1:9-11; Nee. 7:70). Visto que, nos tempos antigos, as riquezas estavam concentradas nas mãos dos monarcas ou dos templos, o termo tesouro veio também a significar "armazém" ou "tesouraria", o que se reflete nas traduções em geral. Na antigüidade, quando as forças inimigas invadiam um país, geralmente, dirigiam-se ao palácio real ou ao templo central, em busca dos tesouros ali guardados; e esses tesouros, juntamente com os cativos de guerra, eram os despojos que o adversário vitorioso levava. Visto que os tesouros garantiam o suprimento das necessidades básicas das pessoas que os possuíam, com freqüência, o vocábulo "tesouro" foi empregado, pelos profetas do Antigo Testamento e até pelo Senhor Jesus, para indicar as possessões e riquezas espirituais, apontando para coisas como a sabedoria, o amor, o céu e o evangelho (ver Pro. 10: 2; Isa, 33:6; Mar. 10:21). 111. Aspecto Monárquico dos Tesouros O conceito de tesouro ou de "armazém", nas páginas bíblicas, indica o aspecto monárquico da cultura e da economia dos povos do mundo antigo, no sentido de que todas as grandes riquezas ficavam concentradas nas mãos do rei, do templo sagrado, de sumos sacerdotes ou de pessoas eminentemente ricas. No entanto, o povo comum dispunha pouquíssimo dessas riquezas, e nem ao menos ambicionava possuí-las; mas, essas pessoas reverenciavam o rei ou o templo, por estarem guardando em segurança as riquezas do pais. Isso posto, havia uma abastança incalculável, concentrada nas mãos de alguns poucos, e uma pobreza extrema entre os cidadãos comuns, que formavam as multidões. E por esse motivo que, com freqüência, os profetas do Antigo Testamento identificavam as riquezas com a iniqüidade, e a pobreza com a piedade. Também lemos nas Escrituras que "Aceitai

o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento antes do que o ouro escolhido" (Pro. 8:10). Entretanto, nos palácios reais e nos templos não havia caixas - fortes ou cofres, onde os tesouros fossem trancados em segurança. Ver sobre Bancos. Mas os tesouros guardados nos templos, onde as multidões por muitas vezes se congregavam, eram defendidos por muitos homens armados. E os individuas ricos escondiam suas possessões materiais em suas casas, em cavernas, ou nos campos. Muitas guerras estouraram por causa desses tesouros (ver I Reis 14:26). E um dos métodos das nações se apossarem das riquezas consistia em pilhar as cidades e os templos de outras nações. Assim, quando Jerusalém caiu diante dos exércitos invasores, provenientes do Oriente, todos os tesouros ai i existentes foram transportados para aqueles países estrangeiros. É fato bem conhecido que muitos imperadores, reis e rainhas, como no Egito, eram sepultados juntamente com suas possessões materiais, em túmulos de difícil acesso, como era o caso das pirâmides. De fato, essas pirâmides são o exemplo mais notável desse antigo costume. No templo de Jerusalém, o aposento onde eram guardadas as caixas para recolher as oferendas, era chamado de "gazofilácio", ou "tesouraria", conforme se vê em Marcos 12:41 e Lucas 21: 1. Essas caixas para recolhimento das ofertas tinham o formato de trombetas. Uma das primeiras alusões a um tesouro, nas páginas do Antigo Testamento aparece no episódio em que os irmãos de José foram comprar alimentos no Egito, durante o periodo de escassez, quando José pôs novamente nas sacas deles o dinheiro com que haviam pago o cereal. Foi, então, que José disse aos seus assustados irmãos: "Paz seja convosco, não temais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai vos deu tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim"(Gên. 43:23). IV. Tesouros de Davi e Salomão Os reis Davi e Salomão tomaram-se conhecidos pelas imensas riquezas que conseguiram amealhar em seus palácios, ou então, no templo do Senhor, em Jerusalém. Os tesouros do templo, em Jerusalém, consistiam nos vasos, no altar de ouro, na mesa de ouro para os pães da proposição, no candeeiro de ouro, nas lâmpadas e seus utensílios, nas bacias e prato para incenso, e até mesmo nas portas do edificio. O próprio templo era recoberto com placas de ouro. Lê-se em I Reis 7:48-51: "...fez Salomão todos os utensilios do Santo Lugar do Senhor: o altar de ouro, e a mesa de ouro ... os castiçais de ouro finissimo... as flores, as lâmpadas e as espevitadeiras, também de ouro; também as taças, as espevitadeiras, as bacias, os recipientes para incenso, e os braseiros, de ouro finíssimo; as dobradiças para as portas da casa interior... e as das portas do Santo Lugar do templo, também de ouro. Assim se acabou toda a obra que fez o rei Salomão para a casa do Senhor; então trouxe Salomão as cousas que Davi, seu pai, havia dedicado, a prata, o ouro e os utensíl ios, ele os pôs entre os tesouros da casa do Senhor'. V. Tesouros dos Reis de Israel Algumas vezes, os tesouros dos palácios dos reis de Judá e de Israel correram perigo, quando das guerras locais que atingiram a Palestina. Para exemplificar, quando Baasa, rei de Israel, e Asa, rei de Judá, combateram um contra o outro, este último enviou todos os tesouros da nação a Ben-Hadade, rei da Síria, a fim de estabelecer um acordo com ele. Segundo essa aliança, os sírios atacariam Baasa, de tal modo que J udá seria deixada em paz. " ... Asa tomou toda a prata e ouro restantes nos tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei, e os entregou nas mãos de seus servos; e o rei Asa os enviou

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TESOURO a Ben-Hadade... dizendo: Haja aliança entre mim e ti, como houve entre meu pai e teu pai. Eis que te mando um presente, prata e ouro; vai, e anula a tua aliança com Baasa, rei de Israel, para que se retire de mim" (l Reis 14:18,19). E, por ocasião da reconstrução da nação de Israel, nos dias de Esdras e Neemias, continuava a ser usado o mesmo método de juntar grandes riquezas na casa do governante e no templo, conforme se vê em Esd. 2:69; Nee. 7:70,71; 10:38 e 12:44. Quando os sírios invadiram a nação do norte, Israel, o rei Acaz solicitou de Tiglate-Pileser, rei da Assíria, para vir livrá-lo do poder da Síria. Para animar o rei da Assíria a fazer essa intervenção, Acaz tomou a prata, o ouro e todos os tesouros da casa do Senhor e os enviou como presentes ao rei. E, então, os assírios chegaram, mas em vez de livrarem a Judá, puseram o rei Acaz em aperto. Ver 11 Crô. 28: 16-21. Um incidente similar ocorreu nos dias de Ezequias, quando Senaqueribe, rei da Assíria, invadiu Judá. A compensação requerida pelo rei da Assíria foi a prata e o ouro que estavam guardados na casa do Senhor. E o fato de que o rei da Babilônia, tempos mais tarde, levou Jeoaquim, de Judá, como prisioneiro, tendo transportado para a Babilônia todos os tesouros da casa do Senhor, mostra-nos, mais uma vez, que o templo de Jerusalém era uma espécie de tesouro das riquezas da nação, que vinham sendo amealhadas desde os dias de Salomão. Ver II Crô. 36:6,7. Os tesouros existentes no templo de Jerusalém vinham sendo recolhidos desde os dias de Davi, com as ofertas que ele e muitos outros israelitas haviam dedicado. Quanto a isso, examinar I Crônicas 29: 1-9. Além disso, grupos especiais e famílias ficaram encarregados de guardar os tesouros da casa do Senhor, segundo se aprende em I Crô. 26:22-28. No decorrer dos séculos, houve muitos outros donativos polpudos, recolhidos em certas oportunidades históricas, que aumentaram ou restauraram as riquezas do templo. Devido às guerras e invasões, esses tesouros foram pilhados por mais de uma vez. Mas o povo de Israel não demorava muito a reconstituí-Ios com suas generosas ofertas. Um caso desses é historiado em Esd. 2:68,69, onde está escrito: "Alguns dos cabeças de famílias, vindo à casa do Senhor... deram voluntárias ofertas para a casa de Deus, para a restaurarem no seu lugar. Segundo os seus recursos deram para o tesouro da obra, em ouro sessenta e uma mil dracmas, e em prata cinco mil arráteis, e cem vestes sacerdotais". A isso poderíamos acrescentar os dízimos dados pelo povo, que engordavam ainda mais os tesouros ali armazenados. VI. Tesouros como Tropeço Espiritual Por outro lado, os homens espirituais de Israel nunca deixaram de perceber que as riquezas materiais, devido à debilidade humana, podem servir de tropeço e ameaça ao bem-estar espiritual dos homens. Um exemplo dessa cautela e sabedoria, que é um reflexo do temor ao Senhor, ou piedade, aparece, por exemplo, em Provérbios 15: 16: "Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro, onde há inquietação". O profeta Isaías refere-se a riquezas que eram transportadas em corcovas de camelos, para indicar o rico comércio que se fazia por meio das caravanas. Ver Isaías 30:6. Jeremias, por sua vez, dá testemunho do fato de que as riquezas das nações antigas eram guardadas em suas capitais, onde ficavam as sedes dos respectivos governos. Diz ele: Também entregarei toda a riqueza desta cidade, todo o fruto do seu trabalho, e todas as suas coisas preciosas; sim, todos os tesouros dos reis de Judá entregarei na mão de seus inimigos, os quais hão de saqueá-los, tomá-los e levá-los a Babilônia"(Jer. 20:5). O rei Ezequias, de Judá, dispunha de grandes tesouros

acumulados, no tempo em que reinava em Jerusalém: "Ezequias se agradou dos mensageiros (do rei da Babilônia) e lhes mostrou toda a casa do seu tesouro, a prata" o ouro, as especiarias, os óleos finos, o seu arsenal e tudo quanto se achava nos seus tesouros..."(ll Reis 20:13). O fato de que os reis invasores levavam as riquezas dos países invadidos para suas capitais, depositando-as em seus templos e palácios, indica que esse costume não prevalecia somente em Israel. Daniel 1: I, 2 é trecho que nos mostra isso: "No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de Babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos a Joaquim, rei de Judá, e alguns dos utensílios da casa de Deus; a estes levou-os para a terra de Sinear, para a casa do seu deus, e os pôs na casa do tesouro do seu deus".

VII. Sentido Figurado de Tesouro no Antigo Testamento Com freqüência, o termo "tesouro", ou "casa do tesouro", é usado em sentido figurado no Antigo Testamento. Como exemplo disso, em uma terra com poucas chuvas, como era o caso da Palestina, as chuvas eram consideradas um autêntico tesouro. "O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda obra das tuas mãos; emprestarás a muitas gentes, porém tu não tomarás emprestado"(Deu. 28: 12). As últimas palavras desse citado versículo mostram como essas chuvas, caídas no tempo certo, podiam transformar-se até em tesouros literais. A sabedoria, sobretudo aquela de cunho espiritual, também era considerada um grande tesouro, entre os antigos, quando eram dotados de entendimento espiritual: "Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça" (Pro. 21:20). Um outro quadro simbólico comum, encontrado nas Escrituras, é que o temor ao Senhor constitui-se em autêntico tesouro para aquele que o possui, conforme Isaías predisse acerca do povo de Israel: "Haverá, 6 Sião, estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do Senhor será o teu tesouro" (Isa. 33:6). E o profeta Ezequiel reverbera o mesmo sentimento, quando escreve: "...pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste o teu poder, e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros" (Eze. 28:4), embora ali falasse em relação ao rei de Tiro e, por conseguinte, em um sentido negativo.

VIII. Tesouros no Novo Testamento 1. Quadro Diferente Quando chegamos ao Novo Testamento, o quadro mental é bastante modificado. Pois, se no Antigo Testamento um tesouro dava a idéia de vastas riquezas concentradas nos palácios reais ou nos templos, nas páginas do novo pacto um tesouro (no grego. thesaurôs) é concebido muito mais em termos individuais, como propriedade de algum ricaço. O Novo Testamento, logo no começo, refere-se a tesouros que os magos, vindos do Oriente, trouxeram para presentear ao menino Jesus. "Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra" (Mal. 2: 11). Por que motivo a sagrada família precisava desses tesouros, é que alguns têm indagado. Lembremo-nos, porém, que dentro de poucos dias eles haveriam de descer ao Egito, onde ficariam até que Herodes falecesse (ver Mal. 2: 19·21). Sem dúvida, aqueles recursos os sustentariam naquele país estrangeiro, impedindo que fossem reduzidos à mendicância, por terem fugido praticamente sem levar bens volumosos. 2. Tesouros Espirituais Em Hebreus 11:26 também há menção aos tesouros do

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°

TESOURO - TESSALÔNICA Egito, que Moisés desprezara, por amor ao seu próprio povo. Se meditarmos que Moisés era "filho da filha do Faraó", então poderemos compreender que ele não desistiu de pouca coisa, nem de pequena posição na escala social, e nem de remotas possibilidades de tomar-se um importante vulto no Egito-talvez até mesmo um futuro Faraó. Mas é que Moisés também tinha visão espiritual, pelo que "...considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito ..." No Novo Testamento, porém, a idéia de "tesouro", na maioria das vezes, aparece dentro de um contexto espíruual, pelo que é empregada em sentido metafórico. Para exemplificar, mencionamos uma parábola do reino, que o compara com "...um tesouro oculto no campo..." (Mat. 13:44). Por igual modo, o Senhor Jesus admoestou aos seus discípulos e a todos nós: "...mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mat. 6:20,21). Portanto, o nosso tesouro, no dizer de Jesus, é aquilo a que damos maior valor. Nós, os servos do Senhor, não somos instruídos a empobrecere a mendigar; mas antes, a trabalhar com as próprias mãos, até para podermos contribuir para as necessidades dos que padecem por carência. Ver I Tes. 4: 11,12 e Efé. 4:28. Paralelamente a essa industriosidade e generosidade, porém, o crente é ensinado a valorizar, acima de todas as riquezas terrenas, as riquezas celestiais. " ...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas (as possessões terrenas) vos serão acrescentadas" (Mat. 6:33). 3. Tesouros do Coração Acresça-se a isso que o Senhor Jesus também empregou o vocábulo tesouro. a fim de designar o bem ou o mal que se ocultam no coração de cada indivíduo: "O homem bom tira do tesouro bom cousas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira cousas más" (Mat. 12:35). Isso equivale a dizer que as virtudes cristãs devem ser reputadas como um de nossos tesouros, da mesma maneira que os ímpios entesouram as suas perversidades morais. 4. Tesouros nos Céus O amor cristão e as obras impulsionadas pelo amor são tesouros que acumulamos no céu, conforme Jesus disse ao jovem rico: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me". No entanto, o jovem rico não estava disposto a trocar as riquezas terrenas imediatas, pelas riquezas celestiais, as quais, para ele, pareciam muito remotas. "Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades" (Mat. 19:21,22). Essa é a atitude de muitas pessoas, que se julgam práticas e pragmáticas. Mas, no fim, o seu prejuízo é incalculável. Diferente é a sorte daqueles cujos olhos são abertos para perceberem o valor das riquezas espirituais. Foi acerca desses que Jesus falou, depois que o jovem rico e tresloucado se afastou: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna". (Mat. 19:29). 5. A Palavra do Senhor O Senhor Jesus também se referiu à sabedoria espiritual como um "tesouro", quando declarou: "Por isso todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito causas novas e cousas velhas" (Mat. 13:52). O apóstolo Paulo secundou essa noção, dizendo que o evangelho de Jesus Cristo é um tesouro que transportamos conosco: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus,

e não de nós" (11 Cor. 4:7). Para o crente, o valor maior, o tesouro mais prezado é o Senhor Jesus Cristo: "Por isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será de modo algum envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade..." (I Ped. 16,7). E isso é assim, para nós, porque é em Cristo que encontramos o que mais nos é caro, isto é, a salvação final, a natureza divina. Ver 11 Ped. 1:4. Sim, podemos encerrar esta exposição sobre os tesouros celestiais citando novamente o apóstolo Paulo: " ...para que u::o

:>Io:U5

corações sejam corrfortados, vinculados juntmncntc

em amor, e tenham toda riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos" (Cal. 2:2,3). TESOURO DE MÉRITOS A expressão latina correspondente é Thesaurus Meritorum. Esse é o nome do dogma católico romano de que há um tesouro de méritos espirituais, acumulados a partir da satisfação prestada por Cristo pelos pecados do mundo, um ato infinito em seu valor, mas aumentado com base nos méritos superabundantes dos santos, uma espécie de "méritos excedentes" além daquilo de que precisavam pessoalmente para a sua salvação, e agora postos à disposição de almas de menor porte. Dentre esse tesouro de "méritos excedentes" é que poderiam ser conferidas as indulgências (vide), para remissão dos castigos temporais devidos por pecados cometidos. Um aspecto desse dogma é aquele que afirma que a Igreja Católica Romana é a guardiã desse tesouro, e também a agência que o utiliza. Doutrinas dessa natureza deixam furiosos a protestantes e evangélicos, para dizermos o mínimo. TESSALÔNICA Esta cidade, à qual Paulo escreveu duas cartas (ver I e 2 Tessalonicenses), era capital da Macedônia, essencialmente o território ocupado pela Grécia moderna. De fato, quase todo o ministério de Paulo na Europa estava situado em cidades que pertenciam ao território ora conhecido como Grécia. 1. Geografia. Esta cidade estava localizada no golfo Termaico, a oeste de Calcidice. Uma importante estrada a ligava a todas as cidades da Macedônia, a qual se chamava Via Egnatia. Hoje o golfo se chama Saloniki, o qual é parte do mar Egeu. 2. Nome. O lugar chamava-se originalmente Therma e recebeu depois o nome do golfo no qual se achava situada, atualmente denominado Saloniki. Foi intitulado Tessalônica provavelmente por Cassandro, empregando o nome de sua esposa, filha de Filipe 11. Ou, possivelmente, foi assim chamado para comemorar sua vitória sobre os tessalonicenses (habitantes de Tessália). Esse nome parece estar relacionado a thalassa, palavra grega para mar, a qual provavelmente se baseia em hals, que significa sal. Se essa conjetura for correta, faz Tessalônica significar "situado pelo mar" ou "pertencente ao mar". A tradição diz que o romano Cassandro fundou (reconstruiu) a cidade por volta de 315 a.C. 3. Algumas Notas Históricas. A cidade foi fundada ou reconstruída por Cassandro, o que não marca seu início como uma área povoada, mas lhe deu uma entrada patente nos registros da história. Veio a ser uma das quatro divisões da Macedônia. A cidade recém-fundada incorporou vilas circunvizinhas, como Terma, Anea, Cisso e Chalastra. Tomou-se uma grande base naval macedônica, substituindo Pela como o porto principal (Lívio XLIV 10,45; XLV29).

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TESSALÔNICA - TESSALONICENSES Depois de dominar a área, os romanos dividiram Macedônia em quatro seções e fizeram de Tessalônica a capital de uma delas. Quando a Macedônia se tomou uma província única (em vez de quatro), esta cidade passou a capital de todo o território. No tempo da guerra civil romana, uma das facções guerreiras, encabeçadas por Pompeu, usou a cidade como quartel-general daquela região. A cidade tinha elevado grau de autonomia durante o tempo do Império Romano e floresceu em todos os sentidos possíveis, muito mais que as outras cidades da província. 4. Arqueologia. As inscrições comprovam a exatidão do uso da palavra politarchai (encontrada em Atos 17:6, 8) em referência aos magistrados, e o uso que Lucas faz da palavra é o único existente na literatura. Pouco se tem escavado referente ao período grego, mas o arco romano permanecia ali em 1876. Sobre esse arco, uma inscrição usava a palavra politarchai. Outro uso semelhante foi encontrado nas inscrições na área. São ainda visíveis partes da Via Egnatia, uma estrada que percorre a área de noroeste a sudeste, ligando as cidades da província. Há extensas ruínas dos tempos bizantinos, inclusive igrejas, porém a maioria delas foi destruída pelo fogo que destruiu a cidade em 1917. 5. A Igreja Primitiva e Tessalônica. Paulo visitou o lugar em sua segunda viagem missionária e terminou escrevendo duas cartas à igreja que ali estabelecera. Essas cartas vieram a fazer parte de nosso Novo Testamento. Paulo, segundo seu costume, primeiro visitou a sinagoga do lugar e ganhou alguns conversos (Atos 17:2-4). O lugar, pois, se tomou uma valiosa sede para a missão (grega) européia da igreja primitiva. Uma turba atacou a casa de Jasom, onde Paulo se hospedara, e então ele e Sílas se viram forçados a fugir para a Beréia (Atos 17:5-10). A igreja, porém, prosperou em sua ausência, e provavelmente Paulo regressou ao local onde visitou a área (Macedônia), segundo está registrado em Atos 20: 1-3. Compare I Tim. 1:3; 2 Tim. 4:13; Tito 3:12. Os conversos dali, mencionados nominalmente, são Jasom (Atos 17:5-9), possivelmente Demas (2 Tiro. 4: 10); Gaio (Atos 19:29); Segundo e Aristarco (Atos 20:4). As cartas de Paulo à região são conhecidas por suas classificações escatológicas quanto à Segunda Vinda de Cristo, o arrebatamento da igreja e a atividade do anticristo, TESSALONICENSES, Primeira Epístola de Paulo aos Esboço: L A Igreja em Tessalônica 11. Autoria Ill. Data e Proveniência IV. Motivo e Propósitos V. Temas Centrais VI. Conteúdo VII. Bibliografia Ver comentários sobre o corpus paulinus no artigo sobre Romanos, primeiros parágrafos da seção 11. Normalmente, tem-se pensado ser correto situar I e 11 Tessalonicenses no início da tabela cronológica da coletânea paulina; mas existem bons argumentos para que situemos a epístola aos Gálatas nessa posição, porquanto é quase certo que ela foi escrita antes do concílio de Jerusalém, talvez tão cedo quanto 48 d.e. (Ver o artigo sobre Gálatas). Pelo menos I e 11 Tessalonicenses são anteriores a muitas outras epístolas; e mesmo que não tivessem sido os primeiros Iivros sagrados escritos de Paulo, devem ter sido grafadas depois de Gálatas,

que foi a primeira de todas as epístolas paulinas. Portanto, podemos propor a seguinte ordem das epístolas paulinas, com suas datas respectivas: I. Gálatas, em cerca de 48 d.e. 2. I e li Tessalonicenses, em 50-51 d.C. 3. Então o grupo formado por Colossenses, Efésios e Filernom, em cerca de 54 d.e. 4. Após, I e II Coríntios e Romanos, em 54 - 57 d.C. (embora alguns estudiosos situem esse grupo tão cedo quanto 52 d.e.) 5. Filipenses, pois, caberia dentro do período do primeiro aprisionamento, c. de 61 a 63 d.C. 6. E as epístolas pastorais, isto é, I Timóteo, Tito e 11 Timóteo, nessa ordem, caberiam dentro do período geral do "segundo aprisionamento", em 65-68 d. C. I. A Igreja em Tessalônica A história da fundação da comunidade cristã de Tessalônica se acha em Atos 17: 1-14. Paulo fundou essa igreja durante aquilo que chamamos de sua "segunda viagem missionária", tendo partido precipitadamente de Tessalônica, talvez no verão do ano 50 d.C., após ter conquistado certo número de convertidos. Em Tessalônica, Paulo, Timóteo e Silas sofreram severas perseguições da parte dos judeus incrédulos e, debaixo de pressão, foram forçados a abandonar a cidade. Dali partiram para Beréia; depois, para Atenas. Mas a retirada precipitada dos obreiros do Evangelho deixou os membros da igreja de Tessalônica um tanto menos alicerçados nos ensinamentos cristãos, especialmente no que conceme às questões escatológicas, o que não podia satisfazer ao apóstolo dos gentios. Dessa circunstância, portanto, é que surgiu a necessidade desta epístola, porquanto também os problemas surgiram na comunidade cristã de Tessalônica assim que partiram dali os pregadores cristãos. No trabalho evangelístico ali desenvolvido, Paulo fora acompanhado por Timóteo e SUas, e a epístola escrita aos Tessalonicenses mostra que todos os três apresentam a saudação, como aqueles que a enviavam; portanto, provavelmente"...esta epístola foi escrita não muito depois da partida do grupo evangelizador. O grupo viera de Filipos para Tessalônica, pois em Filipos já haviam sido acossados por várias perseguições. No entanto, chegaram com bom ânimo, dispostos a trabalhar, não demorando muito para que contassem com um pequeno grupo de convertidos, também em Tessalônica". Durante o período de evangelização em Tessalônica, o grupo se sustentou através de um trabalho manual árduo (ver I Tes. 2:9 elITes. 3:7b-8). (No tocante ao trabalho de Paulo como fabricante de tendas, ver as notas expositivas no NTI em Atos 18:3). Aquela área não gozava de economia tranqüila, tendo a sua população passado por um período recente de fome; e a vida ali não era fácil. Mas Paulo não exigiu dos convertidos, como também nunca exigiu de quaisquer outros, o sustento financeiro, embora seja esse o direito dos ministros do Evangelho (verlCor. 9:7-12,14). Todavia, Paulo e seus companheiros foram ajudados, em duas ocasiões, enquanto se encontravam em Tessalônica (ver Fil. 4: 16); e a epístola aos Fil ipenses é, essencialmente, uma carta de agradecimento por isso. Tessalônica ficava cerca de cento e sessenta quilômetros de distância de Filipos, na Via Inácia, que corria diretamente para oeste, de Tessalôníca para Pela, a capital e cidade provincial da terceira divisão daquela província, o que significa que as comunicações entre esses dois centros eram boas. Apesar de que Tessalônica contava com numerosa população judaica, contudo, a igreja primitiva dali se compunha principalmente de pagãos que tinham abandonado os ídolos para abraçarem a fé cristã. Os trechos de I Tes. 1:9; 2:14,16; 4:5,9,10; 11 Tes. 2:13,14

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TESSALONICENSES demonstram isso. As passagens de Atos 17: 1,2,4 e 18:4 mostram-nos que também alguns poucos judeus creram no Senhor, acompanhados por um numeroso grupo de gregos, além de muitas mulheres das melhores classes sociais. Isso despertou o ciúme e a inveja dos judeus incrédulos, que, finalmente, se lançaram em severa perseguição contra Paulo, contra seus colegas de evangelismo e contra a comunidade cristã em geral. A severidade dessa perseguição, pois, forçou o apóstolo a abandonar a cidade muito antes do que tinha planejado. Não sabemos dizer por quanto tempo Paulo ficou em Tessalônica. A narrativa do livro de Atos nos dá a impressão de que o período foi curtíssimo (cerca de três semanas); mas o fato de que houvera tempo de Paulo se ocupar de seu ofício (ver I Tes. 2:9), e também de receber donativos dos crentes filipenses por duas vezes (ver Fi!. 4: 16), mostra-nos que sua permanência ali deve ter coberto pelo menos alguns meses. Pode-se observar em tudo isso, como em muitos incidentes similares, que a cronologia lucana, no livro de Atos, não tem o intuito de ser exata; além do que faltam muitos detalhes, que podem ser supridos mais acuradamente pelas próprias epístolas de Paulo. E que Lucas não fora testemunha ocular de muitos dos acontecimentos das viagens missionárias de Paulo, tendo de depender de fontes informativas que lhe davam informes abreviados, os quais não serviam para registrar dados cronológicos exatos. Outro bom exemplo sobre isso é a viagem feita por Timóteo, de Atenas para Tessalônica, sobre o que ficamos sabendo em I Tes.3: 1-8. Foi em face do relatório um tanto adverso de Timóteo que esta epístola foi escrita para os crentes tessalonicenses, onde Paulo recomenda que permaneçam firmes em Cristo, mas onde, por semelhante modo, procurou solucionar alguns problemas que tinham surgido na igreja local, acerca do que Timóteo informara o apóstolo. No entanto, o livro de Atos omite tudo isso. Com base nesse livro, poderíamos tão-somente supor que Timóteo e Silas foram deixados primeiramente em Beréia, enquanto Paulo partiu para Atenas, e que, mais tarde, ajuntaram-se a ele em Atenas, mas sem qualquer idéia de uma viagem paralela a Tessalônica. (Ver Atos 17: 14-16). (Ver o artigo sobre Tessalônica). 11. Autoria Os quatro grandes livros paulinos clássicos, que todos acolhem como autênticos, são Gálatas, Romanos, I e II Coríntios. Após essas epístolas temos Colossenses, Filipenses, Filemom e I Tessalonicenses, como quase indubitavelmente paulinas. EC. Baur supunha que esta primeira epístola aos Tessalonicenses tenha sido escrita por algum discípulo de Paulo, com o propósito de reviver o interesse pela doutrina da "parousia" ou segundo advento de Cristo; e que esse discípulo atribuiu a autoria da mesma a Paulo, para emprestar-lhe maior autoridade. Mas isso tem sido reputado como uma curiosidade da história da crítica textual, que não é levada a sério pela vasta maioria dos eruditos. A própria epístola tem em seu subtítulo os nomes de Paulo, Silvano (Silas) e Timóteo; porque esses três haviam sido os fundadores daquela igreja, e continuavam juntos quando a epístola foi escrita, embora Paulo fosse o autor real da mesma. Nada existe na própria epístola, como conteúdo, estilo ou vocabulário, que nos sugira autoria não paulina. Por isso mesmo, sua autenticidade tem sido tão geralmente reconhecida, nos tempos antigos e modernos, que se torna supérflua qualquer discussão detalhada a respeito. A segunda epístola aos Tessalonicenses, por outro lado, encerra algumas coisas difíceis de explicar, sobretudo à base de

certas doutrinas escatológicas que não parecem concordar com os pontos de vista gerais do apóstolo dos gentios. (Ver o artigo sobre Tessalonicenses, Segunda Epístola de Paulo aos, sob o título Autoria). O cânon do NT, em seus primeiros passos, mais ou menos pela metade do segundo século da era cristã, já continha esta epístola. O cânon mais primitivo consistia de cerca de dez das epístolas paulinas e dos quatro evangelhos. (Ver o artigo separado sobre Cânon). 111. Data e Proveniência Em contraste com outras epístolas paulinas, não é difícil determinar a data da escrita desta epístola (embora se admita pequena margem de erro). É mister associá-Ia às circunstâncias registradas em I Tes. 11:7, em vinculação com Atos 17: 13-16 e com o começo do décimo oitavo capítulo desse livro. É provável que no começo do verão de 50 d.C., ou mesmo antes, Paulo e seus eompanheiros tenham deixado Tessalônica apressadamente, sob a pressão dos perseguidores. A comunidade cristã dali não fora ainda bem firmada. O grupo evangelizador dirigiu-se a Beréia, e dali partiu para Atenas. Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica (ver I Tes. 3:1-7), enquanto ele mesmo gostaria de tê-lo feito; mas foi impedido de retornar. (Ver I Tes. 2:18). A alusão de Paulo à "Acaia", em I Tes. I :7, indica que ele se encontrava naquela região quando escreveu esta epístola (isto é, achava-se em Corinto, uma das principais cidades do território). Timóteo foi ajuntar-se a Paulo em Corinto, trazendo-lhe o relatório das circunstâncias adversas em Tessalônica, o que motivou a escrita desta epístola. Podemos julgar, pois que esta epístola foi escrita em Corinto, em cerca do fim de 50 d.C. ou começo de 51 d.C. se excetuarmos a epístola aos Gálatas, pois, essa foi a primeira de todas as epístolas do NT. Há boas evidências de que Paulo chegou em Corinto na primavera de 50 d.C; ou um pouco mais tarde, e que esta epístola aos Tessalonicenses foi escrita pouco depois. As evidências arqueológicas dizem-nos quando Gálio apareceu em Corinto. Relacionando a sua chegada à permanência de Paulo na cidade (ver Atos 18:12) podemos obter uma data relativamente segura para essa questão, a única data diretamente firmada pela arqueologia para os acontecimentos do livro de Atos. IV. Motivo e Propósitos O que dizemos acima indica, de maneira regularmente clara, qual o motivo que ocasionou esta epístola. A retirada apressada de Paulo de Tessalônica não lhe permitiu firmar a comunidade cristã dali conforme ele desejava fazê-lo. Paulo havia ensinado àqueles crentes algumas doutrinas, incluindo a doutrina da "parousia" ou segundo advento de Cristo; e isso criara entre os tessalonicenses um vívido interesse. Também lhes ensinara algo sobre a ética cristã; mas não houvera tempo de desviá-los completamente dos vícios pagãos. Portanto, muito ainda havia a ser feito quanto a esse ensino. Não sendo capaz de ir pessoalmente a Tessalônica, Paulo enviou Timóteo para ver como aqueles crentes estariam progredindo. E se sentiu muito animado pelas notícias que Timóteo lhe trouxe na volta; talvez estivessem se conduzindo melhor do que ele esperava, sob tão duras circunstâncias. Mas os tessalonicenses crentes estavam sendo vítimas das perseguições, e isso provocou ansiedade no apóstolo, pois temia que se desviassem de Cristo em meio às dificuldades prementes. Ouvindo, pois, o relatório trazido por Timóteo, tendo tomado conhecimento da situação dos tessalonicenses, de suas vitórias e fraquezas, Paulo escreveu a epístola. Esta epístola procura consolar os crentes de Tessalônica na tribulação; procura, igualmente, modificar seus pontos

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TESSALONICENSES de vista sobre a lassidão nas questões sexuais; procura também instruí-los acerca da realidade e do significado da parousia ou segunda vinda de Cristo, além de procurar fornecer-lhes instruções morais sobre assuntos gerais, para que pudessem viver de uma maneira digna de sua vocação cristã. Entre outras coisas, também parece que, na ausência de Paulo, alguns elementos haviam procurado solapar a influência de Paulo em Tessalônica (ver I Tes. 2: 15-18); e essa atividade pode ser atribuída a adversários judeus do apóstolo. Assim sendo, o próprio Paulo assegurou-lhes que ele desejara retomar a Tessalônica e que não os estava negligenciando, mas que fora impedido por Satanás em seu propósito, através de circunstâncias fora de seu controle. Por conseguinte, enviou-lhes a Timóteo, para substituí-lo. (Ver I Tes. 3:1 e ss). O tom "apologético" desta epístola transparece especialmente em I Tes. 2: 12, onde Paulo se defende de várias acusações, como se ele fosse insincero e usasse de palavras de lisonja a fim de obter suas finalidades, como se ele fosse mercenário e impuro. Essas serão sempre as formas de acusação que os inimigos assacam contra os pregadores do Evangelho, esperando destruí-los.juntamente com sua influência. Paulo nega a verdade de qualquer dessas coisas; e apresentar sua negativa foi um dos propósitos motivadores desta epístola. Paulo apela para a memória dos crentes tessalonicenses acerca de tudo quanto ele e seus companheiros tinham feito entre eles, a fim de refutar tais acusações. V. Temas Centrais Paulo queria se defender de falsas acusações (ver I Tes. 1:9 e 2: 1-13). Também queria encoraj ar aos crentes tessalonicenses sob a perseguição (ver 1 Tes. 2:14 assegurando-lhes que também vinha sendo perseguido. E queria instruí-los acerca de questões morais, mormente aquelas que se relacionam ao sexo e seu uso apropriado. Os pagãos rejeitavam aqueles costumes dotados de mentalidade judaica, devido à sua lassidão sobre todas as questões acima, não sendo tarefa fácil fazer aqueles que vinham do paganismo adotar um ponto de vista sério sobre os pecados de natureza sexual. A maioria dos pagãos nada via de errado nas relações sexuais anteriores ao matrimônio; e apesar de que o adultério era condenado entre eles, mesmo assim era comumente praticado. Além disso, havia perversões comuns entre eles, como o homossexualismo, o que não era condenado em termos bem definidos, nem mesmo pelos melhores filósofos e moralistas pagãos. O trecho de Rom. 1: 18 até o fim, nos fornece um vívido quadro sobre o estado aviltado da moralidade pagã. Paulo, pois, exortou aos crentes tessalonicenses que buscassem uma santificação sincera. Além disso, os crentes de Tessalônica haviam compreendido mal a natureza e a significação da parousia ou segunda vinda de Cristo. Alguns deles pensavam que aqueles que tinham morrido, não tendo podido resistir até o retomo de Cristo, haviam desaparecido para sempre. E Paulo teve de mostrar-lhes que a segunda vinda de Cristo envolverá a ressurreição de todos os remidos, que nenhuma vida crente se perderá, mas antes, que todos os discípulos de Cristo obterão novo significado e nova estatura espiritual naquela oportunidade. (Ver I Tes. 4:13-18). Com base na doutrina da segunda vinda de Cristo, os crentes tessalonicenses são convocados a não "dormir", como os outros, os quais praticam obras próprias das trevas, visto que eram filhos da luz e que estavam aguardando a grande Luz dos Céus, a saber, Cristo Jesus. Desse pensamento, pois, Paulo faz depender todas as suas instruções finais sobre a moralidade. (Ver 1 Tes. 4:4-28).

Esta epistola se reveste de tom altamente pessoal, pois satisfaz as necessidades locais. Por isso mesmo, não inclui grandes e elevadas declarações doutrinárias paulinas, como ajustificação pela fé, por exemplo, com o apoio de textos extraídos das páginas do AT,principalmente porque o antigo problema do legalismo ainda não chegara a perturbar os crentes tessalonicenses. VI. Conteúdo I. Saudação (I: 1) 11. Ação de Graças e Defesa (1 :2-3: 13) 1. Ação de graças pela fé e constância deles 2. Trabalho de Paulo e conduta recente (2:1-12) 3. Ação de graças pelo progresso do evangelho em Tessalônica (2: 13-16) 4. Desejo de revisitar os tessalonicenses (2; 17-20) 5. Timóteo lhes seria enviado (3:1-10) 6. Oração de Paulo quanto a eles (3: 11-13) Ill, Exortações e Instruções (4;1-5:28) 1. Pureza e amor (4:1-12) 2. A parousia e sua significação (4: 13 18) 3. Subitaneidade da vinda do Senhor (5: 1 - lI) 4. Ética prática (5: 12-22) 5. Oração pela igreja (5:23,24) IV. Saudações e Bênção Final (5:25-28) VII. Bibliografia: AM E EN IB 10 LAN MOF NTI TI TIN VIN RO Z M

TESSALONICENSES. Segunda Epístola de Paulo aos Esboço: I. A Igreja em Tessalônica lI. Autoria, Autenticidade e Relação com I Tessalonicenses m. Data e Proveniência IV. Motivos e Propósitos V. Temas Centrais VI. Conteúdo Vll.Bibliografia

MI6),

Posto que as duas epístolas aos Tessalonicenses foram escritas na mesma época, em geral dotadas de muito do mesmo conteúdo, o presente artigo não pode ser reputado completo sem a leitura do artigo sobre a primeira epístola aos Tessalonicenses, devendo ser considerado apenas como um suplemento. O leitor é levado a lembrar-se das afirmações introdutórias que tratam sobre as várias epístolas da coletânea paulina, procurando situar essas duas epístolas entre as mesmas no que concerne tanto à seqüência cronológica como no tocante à sua autenticidade. Deve-se notar que, com a exceção possível da epístola aos Gálatas, essas duas epístolas são os escritos mais antigos do apóstolo Paulo, o que também faz delas os livros mais antigos do próprio NT. I. A Igreja em Tessalônica Este tema é igualmente a primeira questão a ser discutida na introdução à primeira epístola aos Tessalonicenses. O estado geral daquela comunidade cristã continuava estacionado, pois certamente Paúlo escreveu esta segunda carta pouco tempo depois da primeira, quando ainda se achava em Corinto, onde passou dezoito meses. Todavia, a julgar pelo conteúdo desta segunda epístola, pode-se perceber que certos problemas, em vez de tenderem para a solução, se tornaram mais graves. Por exemplo, os "ociosos" e "desregrados", que procuravam viver às custas da igreja local ou de seus parentes, não procurando emprego, desculpando-se de sua indolência em face da proximidade do segundo advento de Cristo, o que tomaria desnecessário o trabalho - se tinham tomado

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TESSALONICENSES ainda mais desordeiros. Por conseguinte, foi mister que Paulo os censurasse ainda mais severamente do que fizera na primeira epístola, tendo chegado a ordenar à igreja local que negasse comunhão com aqueles elementos. Mui provavelmente, aquela gente começara a viver de forma tão desordenada que tinha revertido às suas antigas bebedeiras e boemias pagãs, além de outros pecados de excessos. (Comparar isso com I Tes. 4: II e ss, e com li Tes. 3: 10 e ss, para que se note a diferença nas atitudes, que haviam piorado). Mas aquela comunidade cristã continuava mantendo vívido interesse pelo segundo advento de Cristo para breve. Entretanto, parece que alguns de seus membros tinham pervertido esse ensinamento apostólico, dizendo que tal acontecimento já ocorrera, ou que era de se esperar para dentro de um período excessivamente curto. E isso, evidentemente, provocara alguma agitação na igreja de Tessalônica. Paulo, pois, escreveu esta segunda epístola aos Tessalonicenses a fim de acalmar as águas agitadas. Talvez o ponto mais importante a notar, no tocante à igreja de Tessalônica, em face dessas duas epístolas de Paulo, seja a teoria exposta por Adolph Harnack CDas Problem des zweiten Thessalonicherbriefs" Berling: George Reijer, 1910). Essa teoria estipula que a primeira dessas epístolas foi dirigida, principalmente, ao ramo gentílico da igreja, ao passo que a segunda foi escrita à seção judaica. As narrativas de Atos 17: 1,2,4 e 18:4 mostram-nos que havia, realmente, um grupo judaico. Essa teoria foi proposta a fim de explicar algumas dificuldades atinentes à teoria, sendo abordada com maior amplitude na seção seguinte a esta introdução. Se essa teoria está ao lado da verdade, ficaria provado o fato de que aquela comunidade cristã se compunha de dois elementos bem distintos, e também que o elemento judaico tinha considerável poder, por ser numericamente forte. Por outro lado, a falta total do problema "legalista" (que era uma praga em Corinto, em Roma e na Galácia), e que provocara as longas explicações paulinas sobre a doutrina da justificação pela fé, além de várias reprimendas contra seus oponentes, parece sugerir-nos que o elemento judaico na comunidade cristã de Tessalônica era pequeno e essencialmente destituído de influência, a menos, naturalmente, que aqueles judeus convertidos tivessem ficado inteiramente convencidos sobre a veracidade da doutrina de Paulo. Porém, isso não é muito provável, pois em nenhuma outra localidade Paulo conseguiu conquistar para seus pontos de vista, mui facilmente, os judeus, depois de muitos anos de lealdade às tradições judaicas. 11. Autoria, Autenticidade e Relação com I Tessalonicenses A primeira epístola aos Tessalonicenses tem sido aceita de modo virtualmente universal, e em todos os séculos, como livro de autoria paulina. E essa aceitação também era conferida a esta segunda epístola aos Tessalonicenses, até os tempos modernos, quando várias dificuldades foram levantadas pelos estudiosos, as quais são expostas em forma de esboço, como segue: A. Para começar, temos de considerar o problema mais dificil de todos, a ênfase escatológica dessas duas epístolas. O trecho de I Tes. 4: 13 e ss declara que a Parousia (vide), isto é, a segunda vinda de Cristo (ver I Tessalonicenses 4: 15), era esperada para breve, se não para imediatamente, sem quaisquer sinais precedentes. Mas a passagem de li Tes. 2:1-12 declara, de forma igualmente enfática, que aquele dia não seria cumprido imediatamente, mas antes, que seria precedido por vários sinais e acontecimentos, como, por exemplo, o aparecimento do Anticristo. Pelo

menos superficialmente, esses dois ensinos são claramente contraditórios. E apesar desta segunda epístola aos Tessalonicenses assim mesmo indicar que o segundo advento de Cristo é para breve, pois o "mistério da iniqüidade" é visto como algo que já opera, todavia, essa vinda não pode ser encarada como "iminente". E diversos métodos têm sido empregados para explicar essa diferença sobre pontos de vista escatológicos, conforme a apresentação dessas duas epístolas, a saber: 1. Talvez a explanação mais popular da Igreja evangélica de hoje em dia consista em dizer que a primeira epístola aos Tessalonicenses aborde a questão do "arrebatamento da Igreja", que seria realmente iminente, não requerendo qualquer sinal antecedente, ao passo que na segunda dessas epístolas, o "segundo advento de Cristo, em glória", a fim de julgar, estaria em foco, o qual seria precedido por diversos sinais, incluindo o período da tribulação e a vinda do Anticristo. A dificuldade com esse ponto de vista é que o exame dos termos usados em ambas as epístolas são idênticos, e que a única diferença se dá dentro do elemento do "tempo", isto é, se a segunda vinda de Cristo deve ser reputada como iminente ou não. A passagem de li Tes. 3:2 usa as palavras dia de Cristo, que é uma expressão comum para indicar a "parousia", aplicada por toda a parte para indicar a expectação dos crentes. (Ver Fil. 1:10 e 2: 17, por exemplo). A passagem de I Tes. 5:2 usa a expressão "dia do Senhor". Poderíamos esperar que essa expressão fosse usada para aludir ao dia do juízo, pois, no AT, ela é seguidamente usada com esse significado. No entanto, quando examinamos essas expressões, como o dia de Cristo (ver Fil. 1:1O), "dia de Jesus Cristo" (ver Fil. 1:6) e "dia do Senhor" (ver 11 Tes. 2:2), percebemos que elas foram utilizadas como expressões sinônimas. Além disso, pode-se observar o modo de usar a expressão "dia", nos capitulas quarto e quinto da primeira epístola aos Tessalonicenses, onde não se nota qualquer distinção no que esse dia se aplica aos crentes ou aos incrédulos, quanto ao "período de tempo" em que o mesmo ocorrerá, a despeito das imensas diferenças de seus "efeitos". Um mesmo dia apanhará alguns sonolentos e outros despertos. Na verdade, a distinção quanto ao "tempos" surgiu na mente dos estudiosos nos últimos cento e cinqüenta anos. A questão inteira é discutida com abundância de detalhes, com argumentos favoráveis e contrários, nas notas expositivas em I Tes. 4: 15 no NT!. (Ver o artigo sobre a Parousia). Pode-se asseverar, portanto, que a distinção entre o "arrebatamento da Igreja" e a "segunda vinda de Cristo", como explicação para as diferenças sobre pontos escatológicos, entre a primeira e a segunda epístola aos Tessalonicenses, não é muito adequada. (Ver o artigo sobre Dia do Senhor). 2. Outros eruditos supõem que a primeira epístola aos Tessalonicenses tenha sido escrita para a porção gentílica da Igreja, e que a segunda dessas epístolas tenha sido escrita para a porção judaica. Porém, mesmo admitindo ser isso uma verdade - embora não haja real motivo para aceitar tal idéia - o problema de por que Paulo teria ensinado uma escatologia para os gentios e outra para osjudeus permanece um mistério. Que não havia problemas legalistas na comunidade cristã de Tessalônica é prova suficiente de que a divisão judaica ali existente era pequena e relativamente destituida de poder de influência. 3. Além disso, poderíamos supor que o próprio Paulo tenha mudado de maneira de pensar, ou que talvez tivesse duas opiniões ao mesmo tempo, hesitando entre uma e outra; ou então, poderiam ter-lhe sido dadas algumas

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TESSALONICEN8E8 revelações adicionais sobre o Anticristo, depois que escreveu a primeira epístola aos Tessalonicenses, o que modificou suas opiniões sobre a iminência do retomo de Cristo. Se não admitirmos tal modificação, então, simplesmente, ficamos abraçados com um mistério sobre por que ele expôs dois pontos de vista diferentes para a mesma comunidade cristã. 4. Há intérpretes que simplesmente vêem uma solução na idéia de que algum discípulo de Paulo ou um cristão de séculos posteriores compôs em seu nome a segunda epístola aos Tessalonicenses, em um período da história quando os crentes começaram a perceber que a vinda de Cristo não ocorreria "imediatamente"; e assim esta segunda epístola teve por intuito corrigir o ponto de vista da primeira. Alguns crentes provavelmente começaram a pensar que a outorga do Espírito Santo, o a/ter ego de Cristo, fora, realmente, a vinda prometida. 5. A solução mais satisfatória, porém, para vários estudiosos que se aferram à autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses é que nada há de tão estranho assim em um autor sagrado defender duas opiniões aparentemente contraditórias, expressando uma delas numa oportunidade, para em seguida, oferecendo-se ocasião para tanto, começar a expor a outra opinião, também por razões adequadas. 6. Para mim existe uma explicação ainda mais provável do que qualquer daquelas apresentadas acima. Luz do Velho Testamento: E claro, nas escrituras do "Y.T., que diversos profetas apresentam a primeira e a segunda vindas de Cristo sem qualquer distinção cronológica. Eles não compreenderam que estavam descrevendo dois acontecimentos. O avanço do processo histórico-espiritual e o cristianismo trouxeram o conhecimento de que o plano de Deus incluiria dois adventos. Paulo, estando longe do tempo do Segundo Advento, não tinha uma compreensão muito exata sobre os aspectos cronológicos daquele acontecimento futuro. Pode ser, então, que a vinda de Cristo para a Igreja, e a vinda para julgar o mundo, foram separadas por algum tempo, sem que as escrituras do Novo Testamento fizessem isto muito claro. Paulo, portanto, podia esperar o arrebatamento da Igreja como se fosse sem sinais. Mas esta esperança foi um sentimento, não um dogma. Os cristãos do primeiro século, de modo geral, compartilharam este sentimento. I Tes. descreve o sentimento de iminência. 11 Tes. tem informação mais exata que assume a forma de um dogma. A informação é que a Igreja deve enfrentar o Anticristo. Naturalmente, isto quer dizer que certos sinais devem anteceder a vinda de Cristo para a Igreja (o arrebatamento). 11 Tes. e Apocalipse mostram que a Igreja deve enfrentar o Anticristo e, portanto, passar pelo menos parte da Grande Tribulação. Se a vinda de Cristo para a Igreja acontecer antes daquela para julgar, então a Igreja pode ser arrebatada antes dos sete anos tradicionais da tribulação. Mas a própria tribulação, quase certamente, durará bem mais do que estes sete anos, provavelmente 40 anos, o número místico e simbólico de provação. Os sete anos constituirão uma parte dos quarenta, e terão uma aplicação especial para a nação de Israel. A substância do meu argumento é, então, que em I Tes. Paulo antecipava o arrebatamento da Igreja sem sinais, portanto, potencial e iminentemente. Mas esta esperança foi um sentimento, não um dogma. Em 11 Tes., Paulo demonstra um conhecimento mais avançado. A Igreja deve enfrentar o Anticristo. Este conhecimento toma-se um dogma. O Apocalipse confirma a verdade do dogma.

B. O próprio caráter da segunda epístola aos Tessalonicenses, em seu segundo capítulo, tem deixado os intérpretes perplexos, levando alguns deles a duvidar da autoria paulina. A forma de abordar a questão do Anticristo se destaca como absolutamente sui generis nos escritos de Paulo. Entretanto, a maioria dos eruditos rejeita a idéia de "interpolação", porquanto tal capítulo se encaixa perfeitamente dentro da epístola, fazendo P:rrte integral da mesma, e não sendo uma excrescência. E possível, a despeito disso, que certas doutrinas, até mesmo doutrinas importantes, pudessem encontrar caminho apenas uma vez para o interior de um grupo de epístolas, as quais, afinal de contas, foram apenas algumas dentre muitas. Pelo menos não há razão por que isso não poderia ter acontecido. As passagens de 1 João 2:18 e ss, e 11 João 7 mostram-nos que a tradição sobre o Anticristo já existia na Igreja primitiva. Alguns elementos da Igreja primitiva pensavam que Nero seria o Anticristo; e muitos deles, mesmo depois da morte daquele imperador romano, imaginavam que o Anticristo seria o Nero redivivo, ponto de vista esse defendido por alguns até hoje. Outros explicam a presença dessa seção do segundo capítulo da presente epístola como um pequeno apocalipse cristão, mas não composto por Paulo e, sim, apenas incorporado nesta sua epístola, e que encerrava algum pensamento contraditório com o daquele apóstolo, expresso em sua primeira epístola aos Tessalonicenses. Todavia, isso não passa de conjetura - provavelmente incorreta. C. Para alguns eruditos, a evidência forte, contrária à autoria paulina, não consiste nos problemas escatológicos, mas antes, na extrema semelhança de estilo e de linguagem entre a primeira e a segunda epístolas aos Tessalonicenses. Pois essas cartas são por demais parecidas em seu conteúdo, a ponto de despertar suspeita, excetuando o caso do pequeno apocalipse, constituído pelo segundo capítulo desta segunda epístola. Isso poderia indicar que um autor posterior copiou grandes porções daquela primeira epístola, ficando assim produzida uma epístola que é quase uma duplicata daquela; mas esse autor desconhecido teria acrescentado o que é agora o segundo capítulo desta segunda epístola e que versa sobre a segunda vinda de Cristo, a fim de contrabalançar a idéia da iminência de seu retomo. E aqueles que aceitam esse argumento como veraz salientam que a duplicação é quase sempre verbal, embora lhe falte algo, a saber, o calor normal e a afeição das expressões de Paulo. Assim teria sido criada uma "imitação", com algumas modificações vitais, feitas por razões dogmáticas, e talvez em adaptação aos sentimentos cristãos de um período posterior, no tocante ao elemento do "tempo" da "parousia", ou segundo advento de Cristo. Naturalmente, isso se dá no caso de todas as cartas forjadas, que com freqüência incorporam porções extensas de escritos genuínos conhecidos do autor verdadeiro, para facilitar a imitação. (Ver Laodicenses, Epístola aos. Essa epístola forjada contém muitos elementos da epístola aos Filipenses, tendo sido ainda incorporadas idéias que aparecem em outros escritos paulinos, que nos são bem conhecidos, não passando de uma carta obviamente forjada). Mas a diferença de tom tem sido explicada com base na teoria de que a primeira epístola aos Tessalonicenses foi dirigida à Igreja cristã gentílica, ao passo que a segunda epístola do mesmo nome foi dirigida à seção judaica da Igreja. Mas essa teoria não oferece solução adequada, pois por que razão Paulo seria tão obviamente caloroso para com os crentes gentios, e frio para com os crentes judeus, de urna única comunidade cristã? Além disso, a grande

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TESSALONICENSES semelhança entre uma e outra dessas epístolas pode ser melhor explicada pelo pensamento de que Paulo empregou tipos esterotipados de expressão, visto que escrevia novamente para o mesmo grupo e já que falava sobre o mesmo assunto, com esclarecimentos mais profundos. Não é de admirar, pois, que tivesse usado as mesmas formas de expressão. Se o que dissemos no fim deste parágrafo é verdade, então ficaria demonstrado, pelo menos, que um grande autor ou um grande pregador, pode cair no mau estilo das repetições cansativas. D. Finalmente, tem sido salientado por alguns eruditos que as fortes tentativas de afirmação de genuinidade, conforme se vê em 11 Tes. 2:2,15, onde "epístolas anteriores" do apóstolo Paulo são mencionadas; vinculando esta àquelas, ou como o trecho de 11 Tes. 3: 17, que é uma afirmação direta da autoria paulina, são tentativas artificiais e exageradas; e isso sob a alegação de que Paulo não tinha razão alguma para mostrar-se tão "apologético" acerca dessa questão, ante os crentes de Tessalônica. Portanto, esses críticos consideram essas tentativas de autenticação como esforços feitos, por algum escritor posterior, que teria escrito em nome de Paulo, e que queria que sua epístola fosse aceita mais facilmente com base na reconhecida autoridade daquele apóstolo. No entanto, há eruditos que vêem nessas tentativas exatamente sinais da autoria paulina, pois, se tais tentativas não fossem genuínas, facilmente teriam sido reconhecidas cama artificiais pelos seus primeiros leitores. E. Quando se trata de cartas tão curtas como I Tes. é fácil cair na armadilha de exagero sobre questões de estilo, conteúdo e vocabulário, fazendo mais de tais coisas do que uma quantidade tão pequena de matéria permite. Acreditamos que certos eruditos têm visto demais numa quantidade de matéria tão pequena, e seus argumentos contra a autoria paulina não são convincentes. A despeito das dificuldades, a maioria dos estudiosos modernos continua defendendo a autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses; e esta Enciclopédia trata essa epístola como um dos escritos genuínos de Paulo. 111. Data e Provienência (Quanto a esse particular, ver uma discussão sobre a mesma questão, na seção 1IIdo artigo à primeira epístola aos Tessalonicenses). A maioria dos eruditos acredita que a data não pode ser fixada em muito depois da primeira epístola àquela comunidade, e que ambas foram escritas em Corinto, pelas razões aludidas nas notas referidas. Entretanto, alguns estudiosos têm chegado à estranha conclusão de que a segunda epístola aos Tessalonicenses foi escrita antes da primeira, tendo sido enviada àquela comunidade de Beréia, antes da viagem de Paulo para Atenas, e daí para Corinto, Entretanto, esse ponto de vista tem recebido pouquíssima atenção, sendo algo altamente conjecturaI, com pouca evidência sólida em seu favor. E muito dificil entendermos o trecho de II Tes. 2: 1-12, exceto como tentativa de "corrigir" determinadas idéias que a comunidade cristã de Tessalônica chegou a ter, por causa da primeira epístola aos Tessalonicenses, a qual não foi bem entendida, sobretudo em seu estudo sobre a "parousia" ou segundo advento de Cristo. As referências de 11 Tes. 2:2 e 13 parecem referir-se ao retomo àquela primeira epístola. Além disso, a exposição acerca dos desordenados, em II Tes. 3:10 e ss, parece ser um ponto mais avançado na menção do mesmo problema, feito em I Tes. 4: 11, problema esse que, aparentemente, se tomara ainda mais crítico desde que fora escrita aquela primeira epístola. Estamos aqui manuseando os escritos mais

antigos do apóstolo dos gentios, e também os escritos mais antigos de todo o NT, com a exceção única e possível da epístola aos Gálatas. Provavelmente a primeira e a segunda epístola aos Tessalonicenses podem ser datadas em cerca do ano 50 d.C., isto é, cerca de vinte anos passados da cena da crucificação e da ressurreição do Senhor Jesus Cristo. IV. Motivos e Propósitos (Quanto ao material do pano de fundo sobre este particular, ver a exposição sobre o mesmo tema, na seção IV da primeira epístola aos Tessalonicenses). Após ter sido enviada a primeira epístola aos Tessalonicenses, cujo intuito foi o de corrigir certas idéias errôneas, bem como alguma conduta imprópria da parte de certos crentes tessalonicenses, Paulo continuou a receber, em Corinto, relatórios perturbadores acerca das condições daquela comunidade cristã. A questão da "parousia" ou dia do Senhor (a sua segunda vinda), continuava a ser tema intensamente referido, mas do qual alguns abusavam ou expunham pontos de vista errôneos. É bem provável que alguns daqueles crentes tivessem começado a dizer que o retorno de Cristo já ocorrera, podendo ser talvez identificado com o dom do Espírito; mas outros persistiam em exagerar sobre sua iminência, recusando-se a trabalhar e vivendo às expensas da igreja ou de seus parentes, além de se comportarem de forma desordenada. E verdade que aqueles crentes tessalonicenses tinham sido bem instruídos acerca dessa questão escatológica (ver o trecho de 1 Tes. 5: I ,2; e ver igualmente II Tes. 2: 5); mas as idéias errôneas persistiam. mesmo depois de haver sido recebida a primeira epístola aos Tessalonicenses. Por isso é que Paulo escreveu a presente segunda epístola aos Tessalonicenses, a fim de aclarar certos pontos expressos na primeira, dizendo ele que o dia de Cristo ainda não ocorrera, e que, apesar do retorno de Cristo ser para "breve" (provavelmente Paulo retinha a idéia que isso ocorreria estando ele mesmo ainda vivo na carne), não seria esse advento para "já", pelo que também todos os crentes deveriam continuar a trabalhar normalmente. Foi também em face disso que Paulo incorporou a importante seção acerca do Anticristo, porquanto considerava o aparecimento do iniquo como um acontecimento necessário para antes do aparecimento do "dia de Cristo". (Ver a seção 11 deste artigo, quanto a uma discussão sobre as dificuldades da suposta "contradição", criadas pela primeira epístola aos Tessalonicenses, e por causa do que alguns eruditos têm chegado a duvidar da autoria paulina desta segunda epístola aos Tessalonicenses. Ver também os trechos de 11 Tes. 2: 1-12 e 3: 10 e ss, acerca de evidências em favor desses "motivos" da escrita desta segunda epístola). "Parece (com base em 11 Tes. 3: 11) que todas essas questões haviam sido relatadas ao apóstolo, oralmente, por alguns daqueles que, na época, iam a Tessalônica e voltavam (ver 1 Tes. 1:7,9 e II Tes. 1:4), ou então da parte do portador desconhecido da primeira epístola aos Tessalonicenses (comparar com 1 Tes. 1: 1 e 3:6), ou mesmo mediante uma carta recebida por eles (conforme é sugerido por James E. Frame). Não estamos certos acerca do canal ou canais informativos; mas as condições e as necessidades propriamente ditas são perfeitamente claras". (Bailey, na introdução ao seu comentário sobre esta segunda epístola aos Tessalonicenses). V. Temas Centrais A intensa ênfase escatológica prossegue, destacando-se sobretudo a volta de Cristo para breve, embora agora seja antecedida por certos acontecimentos,

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TESSALONICENSES - TESTAMENTO que servem de sinais, deixando assim de ser absolutamente iminente. A esse quadro profético é acrescentado o "pequeno apocalipse", constante do trecho de 11 Tes. 2:1-12, que na realidade forma o tema central desta segunda epístola inteira. A ênfase sobre a necessidade de "santificação" continua; pois aqueles crentes viviam em meio a uma sociedade pagã, precisando eles ser constantemente relembrados acerca dessa particularidade. (Comparar os trechos de I Tes .4:3 elITes. 2: 13 entre si). Lemos agora que a santificação é o meio de salvação, porquanto a salvação realmente se vai concretizando através da santificação. Sim, pois ninguém verá ao Senhor Deus sem a "santidade" (ver Heb. 12:14); e isso como urna possessão real do indivíduo, e não meramente como questão "forense". A ênfase sobre a ética prática, mediante o amor, tem prosseguimento (ver 11 Tes. 3:1·5); em seguida, a fortíssima reprimenda contra os "ociosos" e "desordeiros" (ver 11 Tes. 3:6 e ss) desenvolve o mesmo tema que é mencionado na passagem de I Tes. 4: 11 e ss. O tema do "consolo debaixo das perseguições" é o tema da introdução, o que também se verifica no caso da primeira epístola aos Tessalonicenses. (Comparar 11 Tes. 1:4 e ss, com 1 Tes. I :6,7 e 3:3 e ss).O fortíssimo tom apologético que transparece na primeira dessas epístolas, onde Paulo se defende de certas críticas que faziam a ele na comunidade cristã de Tessalônica, entretanto, se faz ausente nesta segunda epístola. VI. Conteúdo I. Saudações (l: 1,2) 11. Ação de Graças e Encorajamento (l :3-12) I. Elogio à fé, ao amor e à constância (1:3,4) 2. Juizo de Deus contra os perseguidores e impios (1:5-7a) 3. Aparousia (l:7b.l0) 4. Oração de Paulo por eles (1:11,12) 111. O Anticristo e os Eventos Anteriores à Parousia (2: 1-17) L Repreensão contra os falsos ensinos (2:1-3a) 2. Descrição sobre o Anticristo (2:3b-l0) 3. Castigo dos que amam o erro (2:11,12) 4. Ação de graças pela chamada divina dos tessalonicenses (2:13-15) 5. Oração em prol da constância deles (2: 16,17) IV.Instruções e Oração Final (3: 1-18) L Pedido de orações da parte deles (3: 1,2) 2. Confiança de Paulo neles (3:3-5) 3. Severa advertência aos ociosos e desordenados (3:615) V. Bênção (3: 16-18) VII. Bibliografia. AM E EN I IB 10 LAN MOF NTI TI TIN VIN RO Z

TESTA Há urna palavra hebraica e urna palavra grega envolvidas neste verbete: I. Metsach, "testa", termo hebraico usado por onze vezes: Isa. 48:4; Êxo. 28:38; 1 Sam. 17:49; 11 c-e. 26:19,20; Jer. 3:3; Eze. 3:8,9; 9:4. 2. Métopon, "testa", "lugar entre os olhos". Palavra grega usada por oito vezes, sempre no livro de Apocalipse (7:3; 9:4; 13:16; 14:1,9; 17:5; 20:4; 21:4). Literalmente, a palavra grega envolvida significa "acima do olho". No Antigo Testamento encontramos os seguintes sentidos da palavra: 1. No sentido literal (Êxo. 28 :28), Aarão foi instruido a usar urna placa de ouro puro, sobre a testa, quando estivesse oficiando corno sumo sacerdote. Em I Sam. 17:49 e II Crô, 26: 19,20, a palavra

"testa" é mencionada em conexão com os sinais da lepra, ali deixados. 2. No sentido figurado, em Eze. 3:8,9, que menciona a direção em que a pessoa volta a cabeça, indica determinação ou desafio. Em Eze. 9:4·6 aprendemos que a letra hebraica "T" (que tinha a forma de uma cruz, nos tempos antigos), era marcada sobre a testa daqueles que lamentavam por causa das abominações de Israel. Todas as referências neotestamentârias à testa de alguém dizem respeito às marcas, selos ou nomes que serão postos ali, para identificar quem é servo do Senhor, nos últimos dias. Mediante esses sinais, haverá a distinção espiritual entre os que são e os que não são servos de Deus. Ver Apo. 7:3; 9:4; 13:16; 14:1 e 20:4. Também sabemos que as antigas prostitutas faziam-se conhecer através de alguma espécie de marca posta na testa. Ver Jer. 3:3 e Apo. 17:5. No livro de Ezequiel, as marcas sobre a testa eram feitas com tinta; mas, no livro de Apocalipse, essas marcas são selos. No Êxodo, as marcas na testa eram devidas a pragas. Além disso, os israelitas religiosos, a mando do Senhor, usavam ftlactérias (vide) sobre a testa Usos Figurados: Entre os itens acima mencionados, há sentidos figurados. Poderíamos alistar, especificamente, os seguintes: 1. A atitude de desafio ou de determinação pode ser indicada pela direção em que o rosto ou testa se volta (Eze. 18,9). 2. Ter a testa selada ou assinalada pode indicar identificação, proteção (Eze. 9:3; Apo. 7:3). 3. Ter o nome de Deus inscrito na testa identifica a pessoa com o ser divino e subentende a obediência às leis de Deus, bem como notável serviço prestado ao Senhor (Apo. 14:I ; 22:4). 4. Uma testa ou fronte de prostituta (ler. 13; cf Eze. 3:8) indica obstinação contra Deus e a idolatria, com todos os tipos de pecados pagãos combinados. 5. Aqueles que receberão a marca da besta (ver sobre o Anticristo] estarão irremediavelmente assinalados como seus servos, e serão os instrumentos especiais da rebelião e da corrupção mundiais, encabeçadas por ele (Apo. 13:16; 20:4).

TESTAMENTO No grego, diathéke, um vocábulo que figura por trinta e três vezes no Novo Testamento: Mal. 26:28; Mar. 14:24; Luc. 1:72; 22:20; Atos 3:25~ 7:8; Rom. 9:4~ 11:27 (citando Isa. 59:21); I Cor. 11:25; lICor. 16,14; Gál. 3:15,17; 4:24; Efé. 2:12; Heb. 7:22; 8:6,8 (citando Jer. 31:31); 8:9 (citando ~er. 31 :32); 8:10 (citandoJer. 31:33); 9:4,15-17,20 (citando Exo. 24:8); 10:16,29; 12:24; 13:20 e Apo. 11:19. Na tradução da Septuaginta, do hebraico para o grego, terminada em cerca de 200 a.C., o termo hebraico berith, "acordo", "pacto", foi comumente traduzido pelo termo grego diathéke, "testamento", o que mostra que aqueles tradutoresjudeus compreenderam que o Antigo Testamento era mais do que um simples acordo ou aliança entre duas partes: entre Deus e o povo de Israel; antes, seria a publicação da soberana vontade de Deus, visando à salvação do homem. Nos dias do Novo Testamento, o sentido primário da palavra grega diathéke havia chegado a uma evidência tal que a idéia secundária de "acordo" quase havia desaparecido. De fato, na literatura grega não-bíblica, esse vocábulo grego dava a entender única e tão-somente como "última vontade", "testamento". Paulo usou essa palavra com esse sentido, em Gál, 3:15~17: "Irmãos, falo como homem". Ainda que urna aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga, ou lhe acrescenta

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TESTEMUNHA OCULAR - TESTEMUNHO testificado por Ele no mundo. Testemunha fiel porque tudo quanto ouviu do Pai, tornou-o fielmente conhecido de seus discípulos. Testemunha fiel porque Ele ensinava o caminho de Deus em verdade, não mostrando respeito humano. Testemunha fiel porque Ele anunciou condenação contra os réprobos e salvação para os eleitos. Testemunha fiel porque confirmou, por meio de milagres, a verdade que ensinava com suas palavras. Testemunha fiel porque não negou, nem mesmo diante da morte, o testemunho do Pai a seu respeito. Testemunha fiel porque Ele dará testemunho, no dia do julgamento, a respeito das obras boas e más" (Richard of St. Victor). TESTEMUNHA OCULAR Uma testemunha ocular é muito importante nos casos em que se requer autenticação. Ver o artigo geral sobre a Historicidade dos Evangelhos, onde esse fato é enfatizado. O trecho de Luc. 1:2 frisa o fato de que o relato de Lucas estava alicerçado sobre narrativas de testemunhas oculares. A passagem de Atos I :21 mostra que somente uma testemunha ocular da vida de Jesus podia substituir Judas Iscariotes, para completar o número de doze apóstolos. O trecho de I João 1: 1 ressalta a importância da narrativa do testemunho ocular dos apóstolos. Eles tinham visto e acompanhado ao Senhor. Sabiam sobre o que estavam falando. O trecho de 11 Pedro I :16 é especialmente instrutivo: "Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade". Paulo aludia, principalmente, à transfiguração do Senhor Jesus, diante de três de seus discípulos. Ver Mat, 17: 1 ss, TESTEMUNHAS DE JEOV Á Quanto às idéias distintivas e às informações adicionais sobre essa seita religiosa moderna, ver os artigos separados sobre Russell, Charles Taze; Russelismo; Alvorecer do Milênio e Rutherford, J.F 1. Algumas Idéias. Esse é o nome de um grupo religioso de tendências exclusivistas pronunciadas, que se diz inspirado nas palavras de Isaías 43: 10: "Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor (no hebraico, Yahweh)..." As suas doutrinas distintas incIuem sua ênfase sobre Jeová (vide) como o único verdadeiro Deus. Cristo, para eles, teria sido uma espécie de mera divindade secundária. Eles interpretam e traduzem João 1: I como: " ... e a Palavra era deus" (Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas), embora concedam que Ele será o Rei do prometido novo mundo milenar. Na qualidade de Rei celestial e terreno, Cristo virá destruir todos os ímpios da Terra por ocasião da batalha do Annagedom. E o fiel remanescente que obedece a Jeová haverá de sobreviver a essa batalha, vivendo para sempre sobre a Terra, no novo mundo. Desse modo, a promessa de salvação teria uma natureza essencialmente terrena, e não celestial. Os artigos acima mencionados fornecem outros detalhes. 2. Extensão da Organização e Ênfase sobre a Literatura. Há cerca de um milhão e meio de membros espalhados por cento e noventa e sete diferentes países. Eles têm quase trinta mil salões do reino. Um quinto desse número acha-se nos Estados Unidos da América do Norte. Os membros de cada congregação reúnem-se várias vezes por semana, para estudo bíblico, e para o treinamento de evangelistas e ministros. Há grande ênfase sobre a literatura. A cada ano, são distribuídos cerca de vinte milhões de itens de literatura. A publicação principal é a revista chamada Torre de Vigia, com publicação

quinzenal, em mais de setenta idiomas diferentes. Há uma circulação mensal de cerca de seis milhões de cópias. Despertai é o título de outra publicação, impressa em cerca de trinta idiomas, com uma circulação que também chega perto de seis milhões de cópias mensais. Além dessas revistas, muitos livros têm sido publicados por essa seita, com uma circulação total de mais de um bilhão de cópias, em mais de cento e sessenta idiomas. 3. Assembléias Internacionais. Essa seita é muito ativa na promoção de grandes assembléias, em muitos países, com o propósito de reunir as pessoas de algum país especifico, que trabalham nessa organização. As assembléias em países particulares também são freqüentadas por grupos provenientes de outros países. Quase duzentas mil pessoas têm freqüentado algumas dessas gigantescas reuniões, e os batismos em massa adicionam um colorido pitoresco a essas reuniões. 4. O Apelo à Antigüidade. Os membros fiéis e convictos desse grupo supõem que eles podem traçar suas raízes denominacionais até Abel, filho de Adão! E típico de todos os grupos, até mesmo evangélicos, tentarem encontrar raízes antigas, o que, na mente de tais membros, retira o estigma de seu grupo ser uma seita recente. Mas, poderíamos indagar: Onde Deus estava operando, antes desta ou daquela seita em questão ter vindo à existência? Vários grupos religiosos, portanto, alimentam mitos que têm o propósito de estabelecer raízes pseudo-antigas. Seja como for, a organização das Testemunhas de Jeovâ começou na década de 1870, em resultado das atividades de Charles Taze Russell, Eles vieram a ser conhecidos como russellitas, em face do nome de seu fundador. As obras literárias originais, a Torre de Vigia e a Sociedade de Tratados, foram oficializadas em 1884. A sede principal está localizada em Columbia Heights, Brooklyn, Estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América do Norte. Há mais de cem escritórios filiais, espalhados por muitos países ao redor do mundo. Esses são centros que promovem o ensino e o evangelismo, através da prédica, de conferências e de farta literatura. TESTEMUNHO Há três palavras hebraicas envolvidas e três gregas, a saber: L Edah, "testemunho". Termo hebraico que é usado por vinte e seis vezes, conforme vemos, para exemplo: Deu.4:45;6:17,20; Sal. 25:10; 78:56 93:5; 99:7; 119:2,22,24,46,59,79,95,119,125, 138,146,152,167,168; 132:12; Jos. 24:27; Gên. 21:30; 31:52. 2. Ed, "testemunho". Vocábulo hebraico usado por sessenta e nove vezes. Exemplos: Gên. 31 :44,48,50, 52; Êxo, 20:16; Lev. 5:1; Núm. 5:13; Deu. 5:20; 17:6,7; 31:19,21,26; Jos. 22:27,28,34; Rute 12:5; 1 Sam.12:5;JÓ 10: 17; Sal. 27: 12; Pro. 6: 19; 12: 17; 25: 18; Isa, 8:2; 19:20; Jer. 29:23; Miq. 1:2; Mal. 15. 3. Teudah, "testemunho". Palavra hebraica que ocorre por três vezes: Rute 4:7; Isa, 8:16,20. 4. Martúrion, "testemunho". Substantivo grego usado por vinte vezes, por exemplo: Mat. 8:4; 10: 18; 24:14; Mar. 1:44; 6:11; Luc. 5:14; 9:5; 21:13; Atos 4:33; 7:44; 1 Cor. 1:6; 2: 1; 11 Cor. 1: 12; 11 Tes. I: 10; 1 Tim. 2:6; 11 Tim. 1:8; Heb. 3:5; Tia. 5:3; Apo. 15:5. A forma marturia, "testemunho", aparece por trinta e sete vezes: Mar. 14:55,56,59; Luc. 22:71; João 1:7,19; 3:11,32,33; 5:31,32,34,36; 8:13,14,17 (citando Deu. 19: 15); 19:35; 21 :24; Atos 22: 18; 1 Tim. 17; Tito 1:13; 1 João 5:9,10, li; 11 João 3:6, 12; Apo. 1:2,9;6:9; li: 7; 12:1I,17; 19: 10e

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TESTEMUNHO - TESTEMUNHO DO ESPÍRITO 20:4. O verbo, marturéo, "testificar", aparece por setenta e três vezes; exemplos são: Mal. 23:31; Luc, 4:22; João 1:7, 8; 15,32,34; 4:39,44; 5.37,39; 7:7; 10:25; 12:17; 13:21; 18:23,37; Atos 6:3; 10:22,43; 13:22; 14:3; 15:8;26:5; Rom. 3:21; 10:2; I Cor. 15: 15; 11 Cor. 8:3; GáL 4:15; Cal. 4: 13; I Tim. 5:10; 6:13; Heb. 7:8,17; 10:15; I João 1:2; 4:14; 5:6,7,9,10; 11 João 16,12; Apo, 1:2; 22:16,18,20. 5. Diamartúromai, "testificar amplamente". Verbo grego usado por quinze vezes: Luc. 16:28; Atos 2:40; 8:25; 10:42; 18:5; 20:21,23,24; 23:11; 28:23; I Tes. 4:6; I Tim. 5:21; 11 Tim. 2:14; 4:1; Heb. 16. 6. Epimarturéo, "testificar além", verbo grego usado somente por uma vez, em 1 Ped, 5: 12. Com certa variedade de significados na Bíblia, a palavra testemunho e os seus cognatos verbais, dependendo do contexto, significam: a. testemunho; b. evidências em prol de alguma coisa; c. as tábuas de pedra sobre as quais foram gravados os dez mandamentos; d. a arca da aliança; e. o livro inteiro. da lei; f. a Palavra de Deus dada a algum profeta; g. o Evangelho cristão; h. as Escrituras, em sua inteireza. Vejamos alguns exemplos desses significados: a. O primeiro desses sentidos é visto em 11 Tirn. 1-8, onde Paulo exorta a Timóteo a não se envergonhar do testemunho dele (martúrion), em favor de Cristo. b. Um exemplo do segundo sentido encontra-se em Atos 14:3, onde nossa versão portuguesa diz: " ...0 qual confirmava a palavra da sua graça..." c. Em certo número de casos, no Antigo Testamento, a palavra "testemunho" (na Septuaginta, marturía) refere-se ao decálogo, como clara afirmação da vontade de Deus (por exemplo: Êxo. 25: 16,21), de onde nos chega a expressão "tábuas do testemunho" (Num. 31:18; 32: 15; 34:29). d, Nesse mesmo contexto, le-se acerca da "arca do testemunho" (Êxo. 25 :22; 26:33,34; 30:6; 31:7, etc.), ou, simplesmente, "testemunho", onde a arca da aliança está em pauta (Êxo. 16:34; 27:21; Lev, 16:13). e. A expressão "testemunho" passou então a indicar o livro inteiro da lei dê Deus (Sal. 19:8; 78:5; 81:5; 119:88; 1214). f. Em algumas instâncias, "testemunho" quer dizer a Palavra de Deus dada a algum profeta (Isa, 8:16,20). g, Nos trechos de Apo. 1:2,9; 12:17, etc., a palavra marturía é usada para indicar o Evangelho de Cristo. Em Apo, 12: 17, essa palavra aponta para o Evangelho, no sentido de um testemunho em favor de Cristo. h. A revelação inteira de Deus ao homem algumas vezes está em foco' quando a palavra "testemunhos" é empregada (ver Sal. 119:22). Nesse salmo esse uso reitera-se por várias vezes. Ver também o artigo intitulado Testemunha.

TESTEMUNHO DO ESPÍRITO Todo testemunho pressupõe alguma pessoa, ou objeto, ou conteúdo ou acontecimento acerca do qual é conferido o testemunho. O Novo Testamento deixa claro que o Espírito de Deus dá testemunho, primariamente, sobre Jesus Cristo, e não sobre si mesmo ou sobre qualquer conjunto de doutrinas (ver João 14:26; 15:26; 16:7-15; cf. Mal. 16:16 e I João 2:20-22). Diz João 15:26: Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim.. Embora o Espírito Santo concentre o seu testemunho sobre a pessoa e as realizações de Cristo, ele parte desse ponto cêntrico para outros pontos, também muito importantes para nós, como: a totalidade dos atos salvatfcios de Deus, em favor dos homens; a autoridade intrínseca e instrumental das Sagradas Escrituras; a natureza do homem caído no pecado e suas reações diante de Deus; e,

finalmente, um ministério de instrução e de sustento, no caso daqueles que pertencem ao Senhor Jesus. Mas, como já dissemos, o âmago da revelação neotestamentária, com o testemunho convencedor do Espírito de Deus, envolve a pessoa de Jesus. E isso como Senhor e Cristo. Lemos em Atos 2:36: "Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel, de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo". Esses dois fatos sobre a pessoa de Cristo precisam ser melhor esclarecidos, se quisermos perceber todo o impacto do testemunho do Espírito. "... Deus o fez Senhor e Cristo". O primeiro desses títulos, "Senhor" (no grego, kúrios), fala sobre a deidade plena de Jesus de Nazaré. Kúrios é a tradução, para o grego, de dois nomes hebraicos de Deus, que lhe são dados no Antigo Testamento: Yahweh e Adonai. O primeiro desses nomes indica Deus como Salvador, e o segundo, como Senhor e Rei. Por conseguinte, o Espírito de Deus testifica: Jesus é o próprio Deus; é o verdadeiro e único Deus! Essa primeira parte do testemunho do Espírito já havia sido dada, profeticamente, desde o Antigo Testamento. Lemos, pois, em Isafas 9:6: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte...", Vale dizer que aqueles que ainda não puderam aceitar a plena deidade de Jesus de N azaré, é que ainda não acolheram, em seus corações, o testemunho do Espírito. O outro fato do testemunho do Espírito sobre Jesus de Nazaré é que "Deus o fez ... Cristo". Isso aponta para o fato de Jesus ser o Ungido de Deus - o grande sacerdote, Profeta e Rei, o Herdeiro de todas as coisas, o Representante de Deus entre os homens, a Manifestação visível do Deus invisível. Ver o artigo intitulado Jesus Cristo. Cristo é transliteração do termo grego Christôs, que, por sua vez, é tradução do termo hebraico Messiah, "ungido". Em sua conversa com a mulher samaritana, lemos que Jesus foi interpelado por ela: "Eu sei; respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier nos anunciará todas as cousas". E Jesus lhe respondeu: "Eu o sou, eu que falo contigo" (João :25,26). E sabemos que o Espírito de Deus testificou sobre isso no coração daquela mulher, pois, saindo ela à cidade, disse a certos homens: "Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?" (vs. 29). E o resultado de tudo isso foi: "Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele, me disse tudo quanto tenho feito" (vs, 39). Assim, o testemunho do Espírito resultou em salvação eterna de muitos. Quem recebe o testemunho do Espírito Santo, sobre Jesus Cristo, é salvo. Quem não o recebe, continua perdido. Vocêjá aceitou o testemunho do Espírito, prezado leitor? Entretanto, essa é a verdade central que o Anticristo negará, juntamente com todos aqueles que, em espírito, lhe são os seguidores. Mas os crentes afirmam, juntamente com o apóstolo João: "E vós possuis unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento. Não vos escrevi porque não saibais a verdade, antes, porque a sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade. Quem é mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem, igualmente, o Pai" (I João 2:20-23). Cf. Mal. 16:16,17 e Rom. 10:9, IO. Nessa confissão, houve a atuação poderosa do testemunho do Espírito, no tocante à significação do programa redentivo de Deus, diante do qual,

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TESTEMUNHO DO ESPÍRITO - TEUDAS então, são abertos os olhos do entendimento daqueles que crêem". Ver I Cor. 2:10-16; 11 Cor. 3:12-18. Tendo impulsionado homens escolhidos, para deixarem em registro escrito a verdade revelada de Deus (ver 11 Tim. 2: 16 e 11 Ped. 1:21), o Espírito acompanha isso, agora, pela iluminação interna, que capacita os seres humanos a apreciarem devidamente a revelação objetiva como a verdade de Deus; e apreendem assim o sentido profundo da mesma (ver I Cor. 2: 10-16; II Cor. 3: 12-18). Paralelamente a isso, o Espírito convence os homens do pecado que têm cometido e da retidão, advertindo-os sobre o julgamento vindouro (ver João 16:8-11). O Espírito de Deus dá prosseguimento ao seu testemunho, no caso daqueles que -se deixam salvar por Cristo, assegurando-lhes que agora estão em um eterno relacionamento com Deus, que jamais poderá ser ab-rogado (ver Rom. 8:15,16 e Gá!.4:6), o que se manifesta nos corações deles sob a forma de segurança na salvação; e, finalmente, confere-lhes discernimento espiritual (ver 1Cor. 2:15,16; cf. Rom. 12:2; Fi!. 1:10; Cal. 1:9). Ver o artigo Segurança na Salvação. Quão rico e proveitoso, por conseguinte, é o testemunho do Espírito, a respeito de Jesus de Nazaré. Começa encontrando o homem, em seu estado de justa condenação, diante da lei de Deus, e o conduz seguramente até à glória com base exclusiva nos méritos e realizações de Jesus, Senhor e Cristo!

TESTUDO INIMIGO Essa expressão encontra-se em Naum 2:5. O hebraico diz sakak. Essa palavra é de significado incerto. Os estudiosos têm aventado os mais variegados sentidos. Algumas traduções dizem "defesa". Tradução parecida é a da NIV, "escudo protetor". A Berkeley Version, em inglês, diz "mantlet", que indica um abrigo usado pelos soldados em tempo de guerra. E por aí que devemos interpretar essa palavra hebraica. A raiz da palavra hebraica significa "entretecido". Os baixos-relevos assírios mostram escudos de cipó entretecido. Os arqueiros ficavam por detrás de tais defesas, aguardando sua oportunidade de atacar. Talvez seja isso que os revisores de nossa versão portuguesa queriam dizer com "testudo inimigo". O que não devemos imaginar é que fossem soldados de testa grande! A Edição Revista e Corrigida, em português, diz "amparo". TETE Nona letra do alfabeto hebraico. Aparece, no original grego, no início de cada verso, no nono bloco do Salmo 119. TETRAGRAMA Esse é o nome que se dá às quatro letras que representam o inefável nome de Deus, Yahweh, ou seja, yhwh. Esse nome nunca foi e nunca é pronunciado pelos judeus, embora suas vogais tenham sido emprestadas dos nomes Adonai ou Elohim. Uma corruptela de criação gentílica é Jeová, que nada significa para o povo hebreu. Quando estudei o hebraico, na Universidade de Chicago, os estudantes judeus sempre distorciam o som do nome Yahweh, quando liam o texto bíblico em voz alta, a fim de não se tomarem culpados de pronunciá-lo. Ver o artigo geral sobre Deus, Nomes Biblicos de, que inclui maiores informações sobre esse nome divino. TETRARCA No grego, tetrárches ou tetraárches. Essa palavra é formada por duas outras palavras, tetra, "quatro", e arché,

"chefe". Portanto, significa "líder de uma quarta parte". No Novo Testamento, o título foi dado a Herodes Antipas, governador da Galiléia e da Peréia (ver Mal. 14:1; Luc. 3:19; 9:7 e Atos 111). Originalmente, o título era conferido ao governante da quarta parte de uma região qualquer. Finalmente, porém, esse sentido original dissipou-se, e o título passou a ser empregado para indicar algum príncipe dependente, títere, de autoridade inferior a de um rei. Essa designação foi dada a Herodes Ântipas não somente nas páginas do Novo Testamento, mas também por diversas vezes em inscrições e nos escritos de Josefo (vide). O verbo grego correspondente, tetrarchéo, "ser tetrarca", ocorre por três vezes no trecho de Lucas 3: l: "No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da região da lturéia e Traconites, e Lisãnias tetrarca de Abílene...". Quando Herodes, o Grande, faleceu, em 4 a.C., as terras sob o seu domínio foram divididas em três porções. Arquelau ficou com a Judéia (juntamente com a Iduméia e a Samaria), tendo recebido o título de etnarca (vide). A Ântipas e a Filipe foi dado o título de tetrarca. Mas este último governou sobre diversos territórios na parte nordeste da Palestina. Posteriormente, Lisânias, acerca de quem bem pouco se sabe, foi nomeado tetrarca de um minúsculo distrito, chamado Abilene, a nordeste do monte Hermom. Em Marcos 6: 14,26, Ântipas é designado rei, em vez de tetrarca. Visto que um tetrarca era um rei vassalo, podia ser intitulado "rei" como uma deferência (no grego rei é basiléus). Ântipas possuía uma jurisdição com a qual oficiais até mesmo do império relutavam em interferir (ver Luc. 217). Quanto a isso, dois outros fatores deveriam também ser considerados. Em Roma, era costume chamar todos os governantes orientais pelo titulo popular de "rei"; e Marcos estava escrevendo, principalmente, para os crentes romanos. Além disso, os habitantes da Galiléia também costumavam referir-se a seus governantes com o título de rei.

TETZEL, JOÃO Suas datas foram, aproximadamente, 1450 - 1519. Ele foi um frade dominicano. Era homem ativo e ambicioso, e exagerava em seus métodos de venda das indulgências (vide), o que provocou a indignação de outro frade, agostiniano, Lutero. Portanto, os atos de Tetzel provocaram uma reação que terminou por trazer à tona a Reforma Protestante (vide), embora devamos levar em conta outros fatores, não só de ordem religiosa, como também política. TEUDAS I. Nome. Esta é uma forma abreviada da palavra grega Theodoros, que significa um "presente de Deus". As mães judias, pagãs e cristãs tradicionalmente consideraram seus filhos como dádivas de Deus, o que revelam muitos nomes próprios. 2. Notas Históricas. Teudas foi um rebelde mencionado por Gamaliel em seu discurso diante do Sinédrio, quando os apóstolos foram levados perante aquela augusta corporação governante a fim de responder pelos "crimes" de perturbação do povo com suas novas doutrinas e organização facciosa (a igreja). Ver Atos 5:35-39. Era um tipo de revolucionário político-religioso, o qual arrastou atrás de si cerca de 400 adeptos. Segundo a cronologia, provavelmente ele tentou livrar-se do poder romano e estabele-

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Códex 2, Século XII, Joio 20:29 88, -Cortesia, Umversitaetsbibliothek, BueI (Ms usado como base do Téxtus Receptus, mostrando o manuscrito de

Erasmo nas margens.

I'

Códex 2, Século XII, Lucas 6:21 ss., (fonte do Textus Receptus), mostrando o manuscrito de Erasmo nas margens, - Cortesia Universitaetsbibliothek, Basel

TEUDAS-THÁNATOS cer seu próprio reino. De qualquer maneira, Teudas e seus 400 homens foram massacrados, dos quais apenas alguns escaparam. O relato de Josefo (Ant. xx.5.) nos dá dimensões mais amplas de seu movimento. Ele conseguiu reunir grande multidão de discipulos, e em certa ocasião disse-lhes que o seguissem até o rio Jordão, asseverando que abriria as águas com uma ordem, como ocorreu nos dias de Josué. Ele foi apenas outro profeta louco, enganado por visões e sonhos patológicos, que não foi capaz de cumprir o que prometeu. De qualquer maneira, os romanos enviaram tropas contra ele e encerraram sua carreira antes mesmo que houvesse chance de reação. 3. Lição de Tolerância. Gamaliel arrazoou que o Sinédrio devia ser tolerante com os apóstolos e sua igreja cristã, visto que, se algo não vem de Deus, logo desaparecerá, esmagado por seu próprio peso. Em outros termos, Garnaliel deu seu voto em prol da tolerância para com a pessoa que pensa diferente, a menos que, secretamente, ela seja meio-cristã que não tenha ainda revelado a nova fé. E tradicional que grupos religiosos sejam intolerantes em relação a pessoas, seitas e grupos religiosos que jazem fora de sua esfera, o que resulta em muita perseguição fisica, econômica, social etc. Os fanáticos sempre crêem que estão certos. Ver o artigo detalhado sobre Tolerância, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. TEURGIA Palavra portuguesa que vem diretamente do grego, theós, "Deus", e êrgon, "trabalho", literalmente, "obra de Deus", A alusão é a arte oculta que envolve ritos, encantamentos, a atuação de espíritos, sacerdotes e médiuns, visando à instrução e ao bem dos homens. A teurgia era praticada pelos filósofos neoplatônicos menores. Porfirio praticava essa espécie de expressão reiigiosa, antes de haver-se encontrado com Plotino. Proclo encarava a questão como parte da sabedoria divina, que transcende à razão e às capacidades humanas. Imblico promovia a teurgia. e escreveu a respeito. Mas Plotino opunha-se à prática em geral, juntamente com os "mistérios" inventados pela mesma. Agostinho referiu-se à suposta "curiosidade criminosa" que motivava as pessoas a explorarem esse tipo de coisa. Naturalmente a Igreja crista opunha-se às práticas teúrgicas, e, ai pela Idade Média, pouco restava ainda da teurgia organizada. Mas, durante a Renascença houve um breve reavivamento da teurgia. TEXTO TIPO BIZANTINO Alude ao tipo de texto posterior e combinado de manuscritos do Novo Testamento, também chamado koiné, Recebeu o nome de texto tipo bizantino porque desenvolveu-se na porção bizantina da Igreja cristã. Foi com base em manuscritos desse tipo que foi compilado o Textus Receptus, o primeiro Novo Testamento grego a ser impresso e publicado, por Erasmo, em 1516. Ver o artigo sobre Manuscritos do Novo Testamento. TEXTOS BÍBLICOS, CRÍTICA DOS Ver o artigo Manuscritos Antigos do Antigo e Novo Testamentos, onde certas porções ilustram a crítica textual ou "baixa critica", conforme alguns a denominam. As seções nona e décima desse artigo abordam, especificamente, o Antigo Testamento. E as seções sexta, sétima e oitava examinam detalhadamente a questão, no que conceme ao Novo Testamento, com ilustrações.

TEXTOS E MANUSCRITOS BÍBLICOS Ver Manuscritos Antigos do Antigo e Novo Testamentos. TEXTUS RECEPTUS Esse foi o texto que Erasmo de Roterdão compilou, com base em manuscritos gregos do final da era medieval, de que ele dispunha, e com base nos quais imprimiu o primeiro texto grego do Novo Testamento. Ofereci informações detalhadas acerca do Textus Receptus, no artigo denominado Manuscritos Antigos do Antigo e Novo Testamentos; e a parte que aborda os Manuscritos Antigo do Novo Testamento, seção VIII, acha-se às páginas 96 e 97, do quarto voI. Essa seção apresenta o Esboço Histórico da Crítica Textual do Novo Testamento, enquanto que o seu segundo ponto narra como Erasmo preparou o texto do Textus Receptus, e quais manuscritos ele usou com essa finalidade; TEXUGO; DUGONGO No hebraico tachash, Nossa versão portuguesa diz "animais marinhos" (ver Exo. 25:5; 26:14; 35:7,23; 36:19; 39:34 Núm. 4:6,8,10-12,14,25; Eze. 16:10). Outras versões portuguesas dizem, por exemplo, "golfinho". Porém, "animais marinhos" é muito vago, é o golfinho, de acordo com muitos estudiosos, não é natural do Oriente Próximo e Médio. Mui provavelmente, está em pauta o texugo, de cujas peles foi preparada uma cobertura para o tabernáculo (ver Exo. 25:5 ss), para protegê-lo quando Israel estivesse em marcha. Otrecho de Núm. 4:5,6 indica que uma coberta desse tipo era posta sobre a arca da aliança, nessas ocasiões, E, desse mesmo material, eram feitos vários itens de uso pessoal, como sandálias (ver Eze. 16:10). Essas peles eram bastante grandes (sem dúvida costuradas umas às outras), servindo para o propósito em questão. Em conexão com a arca, parece que bastava uma dessas peles; mas, no tocante ao tabernáculo, sem dúvida era mister a costura, pois o tamanho necessário teria de ser de cerca de 4 m x 13,5 m. Há intérpretes que pensam estar em foco peles de cabras; mas outros opinam peles de foca ou de algum tipo pequeno de baleia. Apesar de haver um tipo de golfinho nas águas do mar Vermelho, sua pele não era apropriada para ser curtida e tomar-se um couro. E possível que o animal em questão fosse o dugongo, a única verdadeira espécie marinha da ordem Serenia, que ainda existe até hoje nos mares da região e que antes era muito abundante no golfo de Acaba. Um dugongo adulto chega a ter 3 m de comprimento, e suas dimensões torná-lo-iam apropriado para o propósito descrito. Mas ninguém pode ter certeza quanto à identificação do animal em questão. THÁNATOS Temos aí a palavra grega que significa "morte". Na mitologia grega, assim era o nome do deus da morte. Os romanos identificavam-no com Marte. Nas idéias de Freud (vide), thânatos é descrito como um dos instintos humanos mais fundamentais. Imaginando Eros, ou prazer, como o instinto de viver, Freud pôs a seu lado, e em competição com o mesmo, o instinto de morrer, thánatos. Freud fez importantes considerações sobre o que tem sucedido, na história da humanidade, em resultado desses dois instintos básicos. É possível que o suicídio (vide) resulte, em muitos casos, simplesmente desse instinto, sem quaisquer condições adversas prementes, sem quaisquer condições psicológicas opressivas.

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THEÓTOKOS - TIAGO (LIVRO) THEÓTOKOS Palavra grega que significa "portadora de Deus". Essa expressão, usada pela Igreja Oriental, é usada em distinção à popular compreensão ocidental a respeito da Mater De i, "mãe de Deus". A Virgem Maria, ao dar à luz ao Cristo divino (o Logos encarnado), por assim dizer trouxe Deus ao mundo, embora ela mesma não seja mãe de Deus (pois Deus não tem mãe e nem principio de existência). Naturalmente, na teologia ocidental séria (não em sua compreensão popular) a expressão Mater Dei não indica que Maria, em qualquer sentido, tenha sido a genitora de Deus, ou que tenha dado à luz a Deus. Mas somente se entende ali que Maria deu à luz a Jesus, o homem no qual o Logos se tornou, mediante o milagre único da encarnação. Assim, Christótokos teria sido uma palavra grega melhor, ou seja, "portadora do Ungido", evitando o popular mal-entendido em tomo daquele vocábulo. Foi Cirilo quem cunhou a expressão theótokos, menos passível de mal-entendido que sua expressão latina correspondente, Mater Dei. Ver também os artigos sobre Cristologia; Mariolatria e Mariologia. THERAVADA Esse termo significa, em sânscrito, "anciãos". Essa palavra é usada para designar ,uma das três principais escolas do budismo hinayana E a mais antiga das três. As outras duas são a Sarvastivada (vide) e a Sautrantika (vide). Ver também o artigo geral sobre o Budismo. THESAURUS MERITORUM Ver Tesouro de Méritos. THOREAU. HENRIQUE DAVID Suas datas foram 1817 - 1862. Ele foi um naturalista e um filósofo norte-americano. É contado entre os transcendentalistas da Nova Inglaterra. Deixava-se influenciar poderosamente pela Natureza, onde ia buscar seus conceitos de integridade e espontaneidade. Talvez ele tenha sido uma espécie de místico da Natureza. Também dava apoio ao conceito da desobediência civil, asseverando que os governos só merecem ser obedecidos quando promovem corretos principios de justiça. Ganhava a vida escrevendo artigos para revistas. Produziu inúmeros artigos, ensaios e discursos. Tornou-se conhecido por seus perceptivos artigos acerca da Natureza, com suas pungentes observações filosóficas. Abominava uma existência na qual os homens só trabalham para ganhar dinheiro. Escreveu dramaticamente: "Quantas pobres almas imortais tenho conhecido, quase esmagadas e queimadas debaixo de sua carga, arrastando-se pela estrada, empurrando um celeiro de 20 x 12 metros, seus estábulos nunca limpos, com cem acres de terra arando, segando, dando pasto, cortando lenha". Qualquer pessoa que tem tido um emprego do qual não gosta, meramente para ganhar algum dinheiro ou para "progredir" um pouco, poderá entender essa declaração. Mas, quantas pessoas têm mais do que isso nesta vida física? Thoreau reconhecia, intuitivamente, a lição de que, a despeito das adequações fisicas, a alma anela por alguma outra coisa. THORN. CONFERÊNCIA DE Inclui este pequeno artigo por descrever o ridículo conflito que se fere entre os cristãos, por motivo de diferenças doutrinárias. A conferência de Thorn foi convocada pelo rei Ladislau IV, da Polônia, em 1645. O propósito era o de impedir conflitos entre católicos romanos, luteranos e calvinistas, no interior das fronteiras

polonesas. Representantes de cada uma dessas divisões fizeram-se presentes a fim de exporem (e imporem, naturalmente) os seus pontos de vista, Ficaram discutindo durante três meses, insultando e soltando exclamações indignadas. Os ataques mais ferinos caracterizaram a cena. E a única mudança que a conferencia produziu foi o agravamento da situação dos protestantes da Polônia. E na Alemanha, a conferência também rendeu um resultado: as igrejas luteranae reformada também ficaram amarguradas uma contra a outra. Na verdade, a conferência de Thorn continua sendo editada até hoje. TIA

Tradução de um vocábulo hebraico que significa carinhoso, dando a entender a irmã do pai ou a esposa do tio. Aparece em três lugares, Êxo. 6:20; Lev. 18: 14 e 20:20, todos abordando problemas incestuosos, o termo carinhoso provavelmente veio a ser usado como palavra de afeto, usada pelas crianças, o que, nesse caso, veio a ser aplicada a um grau especifico de parentesco. (S Z) TIAGO Ver os artigos sobre Tiago (Livro) e Tiago (Pessoas). TIAGO (LIVRO) Ver Tiago (Pessoas), pontos I e 2. Esboço: I. Confirmação Antiga e Autenticidade 11. Autoria rn. Data, Proveniência e Destino IV. Fontes e Integridade V. Tipo Literário e Relações VI. O Cristianismo Judaico VII. Paulo e Tiago VIII.Propósitos e Ensinamentos IX. Linguagem X. Conteúdo Xl. Bibliografia

Tiago é um dos livros problemáticos do NT, em que quase todos os seus principais aspectos têm sido disputados. Não há um consenso geral acerca da natureza da maioria dos itens alistados nesta introdução. A principal dificuldade tem sido a indisposição dos intérpretes de examinar o livro com honestidade, porquanto têm sentido ser necessário harmonizar Tiago com Paulo. Essa tentativa de harmonização tem obscurecido os propósitos e os ensinamentos de Tiago. Quão facilmente os intérpretes cristãos deslizam para a defesa da teologia sistemática a qualquer preço! Certamente deve ter ocorrido à maioria dos intérpretes que Tiago é um documento que representa o "cristianismo legalista"; mas esse "pensamento-chave", que poderia servir para que se compreenda claramente o livro, tem sido negligenciado pela grande maioria dos intérpretes. Eles pensam que o livro, na realidade, não pode contradizer a Paulo; e passam a expressar muitas interpretações dúbias e errôneas de seu conteúdo. Ter-nos-íamos esquecido que, no primeiro século, o problema legalista nunca foi solucionado, e que uma boa porção de igreja cristã, que sofria a influência do judaísmo, nunca abandonou seus antigos caminhos, porém buscou incorporar o novo nos antigos? Ter-nos-íamos esquecido que o décimo quinto capítulo do livro de Atos mostra claramente que muitos crentes, em áreas judaicas, chegavam a crer que a circuncisão era necessária para a salvação, subentendendo que a lei era igualmente necessária? Até mesmo nas áreas gentílicas, os iudaizantes

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Rockefe~er-McÇo~ck.~uscrito ilustrado, primeira págtna de Tiago. Cortesía, Uníversíty of Chicago, the Joseph Regenstein Library

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VERSICULOS-CHAVES DE TIAGO

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:Meus irmãos, que aproveita. se alguéu1 disser q-..:18 tem :fé, e não tiver as obras? Porventura.,

a



pode salvá-lo? (2:14)

Assi.:I::J:::I. 't&TDbéIn. a :fé, se não tiver as obras,

á :J:O.orta

eD1

si D1e&D3.a. (2: 1 7)

Vedes en.tA.o que o hOD1eD1 é justificado pelas obras e não sornent.8 pela :fé. (2:24)

... a l1ngu..a. é UD1 pequeno D1eznbro, e glorie-se de grandes coisas. Vede quão grande bo9Q.ue UD1

pequeno :fogo in.eende1&.. (3:5)

Sede pois, :irIn.Aos, pacientes até à vinda do Senhor. (5:7) A oraçAo da :fécsa1vará O doente, e o Senhor o lev&netará; e se houver coD1etido pecados, ser-lhe-Ao perdoados. (5:15-) Saiba qu.e aquele que fizer converter do erro do seu c a m i n h o '1"~:c;~or, saJ.".arã. da D10rte 'JTD& alTOa e c o b · UID.8. TD;u.ltid.ão de pecados. (5:20)

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TIAGO (LIVRO) obtinham notáveis progressos e chegaram a controlar até mesmo igrejas gentílicas, constituídas, essencialmente, de elementos gentílicos. A epístola de Paulo aos Gálatas é prova disso. Até mesmo a igreja em Roma contava com os seus judaizantes, que exerciam grande autoridade, como o conteúdo da epístola aos Romanos certamente o indica. E outro tanto se dá no caso da primeira e da segunda epístolas aos Coríntios, onde uma das principais facções era aquela que fazia de Pedro o seu herói, e que, não há que duvidar, tinha uma atitude "legalista". A mesma coisa ocorria na igreja dos filipenses, a julgar pelo trecho de Fil. 3: 1-8. Afastados agora tantos séculos daquele agudo conflito (embora ele esteja bem vivo na Igreja, até hoje), esquecemo-nos da sua magnitude. É fato brutal que Paulo nunca foi aceito pela Igreja cristã judaica, mas antes, sempre foi encarado com suspeita, como destruidor da verdadeira religião. Isso ficamos sabendo através de Atos 21 :21 e ss. É verdade que alguns dos líderes principais reconheciam a sua missão e o seu oficio apostólicos (ver Gál. 2:9 e ss), mas é destituída de fundamento a suposição de que a sua aceitação se tornou generalizada. O partido da circuncisão (ver o artigo Circuncisão, Partido da, e Atos 11 :2), tinha um poder grande demais para permitir que sua reputação fosse outra coisa senão algo totalmente negativo ou duvidoso para os membros comuns da Igreja judaica. Os caminhos e costumes antigos fenecem mui lentamente; e sempre será verdade que novas verdades não triunfam por conquistarem a geração contemporânea, mas porque conquistam uma nova geração, até que a antiga, finalmente, pereço. De fato, conforme disse Alfred North Whitehead: "Se voltarmos a atenção para as novidades do pensamento em nosso próprio período de vida, veremos que quase todas as idéias realmente novas se revestem de certo aspecto de insensatez, quando são apresentadas pela primeira vez". Havia muitos cristãos judeus que recebiam sinceramente a Cristo como seu Messias e Salvador, crendo no valor expiatório de sua morte, bem como no poder vivificador de sua ressurreição, mas que tinham plena certeza de que essas crenças podiam ser injetadas no judaísmo antigo, cuja lei (excluindo-se os sacrifícios) e cuja circuncisão, conforme eles, continuavam plenamente em vigor, sem interrupção ou abrandamento. Ver o artigo sobre Legalismo. Assim sendo, muitos pensavam que a idéia paulina de ,Justificação exclusivamente pela fé era uma perversão da verdade, e não um degrau mais alto da verdade. Apesar de reconhecerem a importância e até mesmo a necessidade da fé vital, viam isso como um acompanhamento da fé e, de fato, como uma maneira de cumprir a lei, e não como algo que suplantava a lei, exatamente conforme está expresso no livro de Tiago 2: 14-26, que é uma linguagem plenamente legalista, tão clara como se poderia encontrar em qualquer documento judaico e não cristão. Por que se pensaria ser estranho que vários autores tivessem deixado documentos, expressando as idéias da facção judaica da Igreja primitiva, e que um desses documentos, a epístola de Tiago, por causa de suas qualidades inerentes, finalmente tivesse vindo a fazer parte do NT? É a aceitação desse pensamento que facilita a interpretação da epístola de Tiago, eliminando a necessidade de se buscar uma harmonia desonesta com os escritos de Paulo. A epístola de Tiago não era conhecida e nem foi usada na Igreja cristã durante três séculos; e mesmo depois disso sempre foi um livro disputado, e isso pela razão simples de que muitos reconheciam, sem evitá-lo,

o verdadeiro problema, que consiste em como reconciliar Paulo com Tiago, fazendo com que, no NT, tenhamos um documento legalista que, quanto a certos aspectos, está fora de lugar.Bem entendido, está fora de lugar para vários grupos protestantes, apesar de ser alegremente aceito, exatamente como está, na Igreja Católíca Romana, que retém aspectos legalistas em sua doutrina. Qualquer outra abordagem a esse livro, além daquela que aqui é sugerida, envolve o intérprete em desonestidade, ainda que creia pessoalmente estar exercendo bom juízo e não tenha consciência de que perverte certos versículos. Lutero escreveu: "Em suma, o evangelho de João e a sua primeira epfstola, as epístolas de Paulo, sobretudo aquelas aos Romanos, aos Gálatas, aos Efésios, e a primeira epístola de Pedro - esses são os livros que mostram Cristo e nos ensinam tudo quanto é necessário e bem-aventurado conhecer, embora não vejamos ou não ouçamos qualquer outro livro ou doutrina. Portanto, a epístola de Tiago é uma epístola de palha, em comparação com aqueles, porquanto não exibe o caráter do evangelho". (Lutero, Introdução à Epistola de Tiago). Todavia, embora ele tivesse essa baixa opinião sobre o caráter doutrinário do livro, nem por isso o rejeitou completamente, e nem proibiu o seu uso, dizendo: "Por conseguinte, eu não o terei em minha Bíblia entre seus principais livros, mas nem assim critico as pessoas que querem colocá-lo ali e exaltá-lo como melhor lhes convier, pois contém muitas coisas boas". Assim sendo, em sua Bíblia impressa, Lutero separou a epístola aos Hebreus, juntamente com Tiago, Judas e Apocalipse, atribuindo-lhes um lugar no fim do volume, e não os fazendo figurar na tabela de conteúdo. Dessa maneira, na Bíblia em alemão, impressa através dos séculos, essa ordem acabou sendo conservada, embora, finalmente, recebesse lugar na tabela de conteúdo. O autor desta Enciclopédia acredita que Lutero designou uma posição baixa demais a Tiago e falhou no reconhecimento do lugar vital que ocupa no "Cânon" cristão. Podemos não apreciar certos aspectos da teologia de Tiago, nem tão pouco a maneira com que expressa determinadas coisas, influenciado, como foi, pelo legalismo, mas o que acaba por dizer é uma mensagem de importância tão extrema, que podemos desculparo modo de expressão.Tiago merece lugar no "cânon" porque levanta um importantissimo problema - o da relação entre as obras e a fé, reconhecendo intuitivamente que há um sentido em que as obras fazem parte da salvação, embora o livro não expresse com exatidão como isso pode ser. A fé é um princípio vital, que produz obras, e não um produto, mas uma auto-expressão da graça; porquanto as "obras", espiritualmente compreendidas, na realidade, são produtos ou frutos do Espírito Santo em um homem, a auto-expressão do prineípío dá graça, operante no íntimo. De acordo com definições espirituais, por conseguinte, as obras e a graça são sinônimos, já que ambas as coisas são divinamente inspiradas e infundidas no ser humano. O autor desta Enciclopédia acredita que o judaísmo, tal como Tiago, que foi apenas um porta-voz de idéias mais antigas, reconhecia intuitivamente esse princípio. Mas, faltando-lhe uma melhor revelação, expressava o princípio sem habilidade, isto é, legalisticamente, e não "misticamente" (o Espírito é o autor das verdadeiras obras espirituais, mediante o seu contacto genufno com os homens). A expressão desse princípio é o cerne mesmo do judaísmo. Infelizmente, a Interpretação legalista obscureceu a verdade. Mas nos escritos de Paulo, essa verdade é

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TIAGO (LIVRO) claramente expressa, em Fil. 2: 12~ e o principio da graça divina transparece com clareza em Fi!. 2: 13: "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença... desenvolvei a vossa salvação... porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer, como o realizar, segundo a sua boa vontade". O décimo segundo versículo expressa a verdade das "obras"; e o décimo terceiro expressa a verdade da "graça". Não podemos interpretar o décimo segundo versículo como "desenvolvei aquilo que já foi operado em vós", como se tudo quanto estivesse em foco fosse "expressar com ações externas" a graça que opera no íntimo. Essa é uma interpretação errônea. Antes, é-nos ordenado que "efetuemos" nossa própria salvação, tornando-a real. Isso depende de buscar o Espírito e de permitir-lhe produzir seu fruto em nós, santificando-nos e transformando-nos segundo a imagem de Cristo, que expressa a salvação em sua inteireza. O termo grego envolvido na idéia de "efetuar", é katergadzomai, que significa "obter", realizar, "produzir". Em sentido real, pois, produzimos a nossa própria salvação, isto é, da maneira que acaba de ser sugerida. Não obstante, isso seria impossível a menos que sejamos inspirados pelo Espírito de Deus, que nos capacite a tanto primeiramente, desejando-o, e então, realizando-o. O valor da epístola de Tiago, pois, tem o mesmo valor que havia no judaísmo. Um homem sabe intuitivamente que deve fazer algo, ser algo, produzir alguma coisa, a fim de que tenha uma busca espiritual válida. Esse discernimento é expresso de forma legalista no judaísmo e na epístola de Tiago, o que é um equívoco; porque tal verdade deveria ser expressa misticamente, ou sej a, através da submissão e do cultivo do poder do Espírito Santo em nós, para operarmos, nos esforçarmos e efetuarmos ou pôr em funcionamento a nossa própria salvação. Porém, o próprio fato de que Tiago tenta expressar essa verdade, ainda que desajeitadamente, é razão suficiente para aceitarmos essa epístola no "cânon"; pois a verdade assim ressaltada é vital, e certamente não deve ser olvidada na Igreja evangélica moderna, com a sua crença fácil. Portanto, que soe a mensagem de Tiago; e que, com a ajuda de Paulo, possamos fazer com que seu tom seja alto e claro. Tendo dito isso, atribuímos à epístola um elevado lugar, e muito mais importante que aquele que lhe foi atribuído por Lutero. A intuição. Intuitivamente reconhecemos que a salvação deve incluir o ser e o fazer, e não a mera anuência a um credo. Pela revelação bíblica sabemos que há graus diversos de glorificação, que dependem de nossas obras (ver 11 Cor. 5: 10); e a glorificação é o nível mais elevado da salvação (ver Rom. 8:29,30). Portanto, se forem corretamente entendidas, as "obras" estão plenamente envolvidas na salvação. Mas essas obras não são legalistas; são misticamente produzidas, como a auto - expressão da graça divina, que opera sobre a alma humana. E na direção dessa intuição que Tiago dirige a sua mensagem, embora de uma maneira com a qual não possamos concordar inteiramente. O próprio fato de que a epístola aponta para essa verdade é motivo suficiente para lhe conferir uma parcela importante na nossa literatura e pregação, ao mesmo tempo em que melhoramos alguns de seus pontos, com o auxílio de revelações maiores e melhores, extraídas dos escritos dos apóstolos Paulo e Pedro. O paradoxo. A maioria das principais doutrinas do cristianismo apresenta algum paradoxo. Como é que Cristo pode ser, ao mesmo tempo, Deus e homem, é algo em que cremos, mas que não temos maneira fácil e clara de explicar. Como é que o determinismo e o livre-arbítrio

se encontram nas páginas do NT é algo em que igualmente cremos, mas sem podermos reconciliar esses princípios. Por semelhante modo, a fé e as obras, apesar de parecerem princípios contraditórios, quando nos referimos a "meios" de salvação, são apenas dois lados de uma grande verdade; mas, como harmonizá-los, não sabemos dizê-lo, embora façamos algumas sugestões, como aquelas que aparecem nos parágrafos acima. Os paradoxos resultam de nossa falta de compreensão; e a falta de compreensão resulta de nossa atual baixa posição, como espíritos aprisionados em corpos. Contudo, algum dia os paradoxos serão explicados, e deixarão de ser paradoxos. I. Confirmação Antiga e Autenticidade Apesar de que, normalmente, nesta Enciclopédia, as questões de autoria e data são discutidas em primeiro lugar, no caso da epístola de Tiago, é mais sábio iniciarmos O estudo com o problema da confirmação antiga, que influenciará o que acreditamos sobre outras questões. A discussão abaixo procura mostrar que Tiago é um tratado ou panfleto religioso (na forma de epistola, e não de uma missiva comum), que escapou à atenção de todas as seções da Igreja primitiva por quase dois séculos. Orígenes, na primeira metade do século III d.C., foi o primeiro dos pais da Igreja a identificar expressamente o livro, conferindo-lhe importância. Não é livro citado pelos pais da Igreja anteriores a ele. É incrível (segundo alguns intérpretes) que se Tiago, apóstolo e irmão de Jesus, tivesse escrito alguma coisa, que tal escrito tivesse sido desprezado por tantos decênios, ao ponto de permanecer no olvido até os dias de Orígenes! I. Clemente e os primeiros livros Nos escritos dos mais antigos pais da Igreja, como Clemente de Roma, Inácio, Policarpo e Justino Mártir, bem como nos escritos dos apologistas do segundo século, não há qualquer referência clara ao livro de Tiago. E nem se acha citado ou claramente aludido nos primeiros escritos, isto é, 11 Clemente (escrita em nome de Clemente de Roma, embora não fosse realmente de sua autoria), a Epístola de Barnabé, o Ensino dos Doze Apóstolos e a Epístola a Dioneto. Nos escritos de Clemente de Roma há temas similares que envolvem o estudo sobre Abraão, nos capítulos décimo, décimo sétimo e trigésimo primeiro, e sobre Raaca, no décimo segundo capítulo. Existem coincidências de expressão nos capítulos treze, vinte e três, trinta, trinta e oito e quarenta e seis. Porém, em todos esses casos, as similaridades são do tipo que se encontram na literatura judaica da época, expressões e idéias que foram reproduzidas, e que não eram originais e nem distintivas nesta epístola a Tiago, pelo que não se pode demonstrar qualquer dependência dos escritos de Clemente aos escritos de Tiago, o que certamente Clemente teria feito, se tivesse conhecido e usado esta epístola. Muitos eruditos modernos concordam ser fraco o argumento de que Clemente usou a epístola de Tiago. Tal posição é insustentável. 2. Policarpo, Inácio e Justino Mártir As evidências de que qualquer desses conhecia e usou a epístola de Tiago ainda são mais fracas que no caso de Clemente. Similaridades ocasionais são devidas ao uso de idéias e expressões comuns aojudaísmo helenista. Não há coisa alguma, nos escritos desses pais da igreja, que possa ser claramente derivada da epístola de Tiago. 3. O Pastor de Hermas (cerca de 150 d.C.): Esse foi uni trabalho literário simbólico, cujo intuito era o de despertar uma igreja lassa e chamar ao arrependimento os crentes que houvessem pecado. Alguns segmentos da igreja aceitavam essa obra como canônica, e ela aparece

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TIAGO (LIVRO) no codex Sinaiticas do NT. Essa obra tem vários pontos de semelhança com a epistola de Tiago, muito mais do que os livros e os pais acima mencionados. Porém, quando esses pontos de semelhança são examinados, vê-se que sob hipótese alguma este livro reflete algo exclusivamente pertencente ao livro de Tiago, o que certamente teria ocorrido, se seu autor tivesse usado essa epístola. Por exemplo, nada aparece acerca da famosa passagem sobre a justificação, em Tia. 2: 14-26. E até mesmo quando há certo paralelismo de idéias, a linguagem e a atitude são diferentes. Assim, pois, nenhum empréstimo diretamente feito de Tiago pode ser demonstrado, mesmo ao ser apresentado material semelhante. O paralelo mais notável é em Hermas Mand. ix, onde aparece o tema da "duplicidade de propósitos". AIi somos informados de que devemos orar sem "dúvidas" e sem "hesitações". Também nos é prometido que Deus responderá à oração da fé, porquanto Deus não guarda ressentimentos. Tudo isso é paralelo ao trecho de Tia. 1:5-8; mas o mais provável é que esse tipo de estudo sobre a oração era comum nas exortações do judaísmo, podendo ser ouvido em muitas sinagogas. Um outro notável exemplo pode ser achado se compararmos Mand. VIII, com Tia. I :27. E há outros exemplos de segunda ordem, em grande número, embora sem qualquer instância de qualquer coisa peculiar a Tiago. Apesar de que alguns eruditos têm aceitado o uso da epístola de Tiago pelo autor do Pastor de Hermas, a maioria dos eruditos modernos concorda que o caso está longe de ser demonstrado. 4. Irineu (século 11 d.e.) As únicas passagens que poderiam ser evocadas são as de Contra as Heresias iv. 16 (ver Tia. 2:23); iv. 13 (ver Tia. 2:23) e v.I (ver Tia. 1:18,22). Dentre essas instâncias, somente ade iv.l6 (com Tia. 2:23) é notável; e, além disso, o paralelismo se dá apenas quanto às últimas cinco palavras. As outras semelhanças são por demais superficiais para merecerem exame. Portanto, é evidente que Irineu não conheceu e nem usou a epístola de Tiago. 5. Tertuliano Nenhum trecho dos escritos de Tertuliano demonstra qualquer dependência à espístola de Tiago. O seu De orat. 8, concernente à oração do Pai Nosso, e o fato de não ter citado Tia. 1: 13, quando isso teria sido tão conveniente, mostra-nos que o mais provável é que ele não conhecia essa epístola Os trechos de Adv. Jud., 2 e De Orat. 8 contêm similaridades com algumas das expressões utilizadas por Tiago, mas existem casos, como esses, discutidos nos parágrafos anteriores, que são meras similaridades, mas sem que haja qualquer reflexo realmente distintivo da epístola de Tiago. 6. Clemente de Alexandria Coisa alguma, em seus escritos, parece indicar a familiaridade com a epístola de Tiago. Mas Eusébio, em sua História Eclesiástica vi. 14 parece indicar que Clemente conhecia o livro. Contudo, não sabemos quão exata é essa informação, porquanto entre Clemente e Eusébio havia um espaço de cinquenta anos. Admitindo-se a exatidão de sua declaração, mesmo assim não se obtém qualquer testemunho direto em favor de Tiago, até os primórdios do século 111 d.C. Todavia, um escrito latino, intitulado Adumbrationes Clementis in Epistolas Canônicas aceito como tradução das "Hypôtyposes", feita sob a direção de Cassiodoro, no sexto século de nossa era, das epístolas católicas, incluindo somente 1 Pedro, Judas, 1 e 11 João, dá-nos a entender, pelo menos com base nessa tradição, que Clemente não aceitava a epístola de Tiago como canônica, embora aceitasse tal livro como digno de ser usado nas igrejas. O fato de que Orígenes, seu sucessor,

conhecia e aceitava essa epístola como canônica, mostra-nos, pelo menos, que é provável que Clemente tivesse consciência de sua existência. Quanto valor ele atribuía a essa epístola, entretanto, é algo duvidoso, pelo menos enquanto maiores provas não forem colhidas. 7. Origenes e a Igreja Grega Orígenes faz muitas e indisputáveis citações da epístola de Tiago. A sua data é 181-251 d.C; pelo que ele nos leva bem dentro do século III d.C. Na sua obra, C ommen. Joann. xix., capo 23, ele cita diretamente a passagem de Tia. 2:14, mencionando diretamente tanto a ele como à sua "epístola". Também menciona Tiago diretamente em sua Select in Salmos 30, 65, 117, em sua seção sobre Êxodo 15, em seu fragmento do Comentário de João 6, além dos fragmentos 38 e 126. Clemente chamou esse Tiago de "apóstolo", embora não o tivesse identificado ainda mais exatamente, como "irmão do Senhor", como filho de Zebedeu, de Alfeu, o "menor", ou de qualquer outro. E ainda que tivesse feito qualquer identificação dessa natureza, visto que estava distante dele por mais de duzentos anos, duas declarações expressariam meras opiniões. Ao falar sobre Tiago, o irmão do Senhor, em seu comentário sobre Mal. 10: 17, ele deixa de mencionar que esse é o Tiago que escreveu a epístola com esse nome. Por conseguinte, é bem provável que ele não fizesse tal identificação. Não obstante, isso poderia ser um descuido. As evidências que temos, pois, é que Orígenes foi o primeiro de todos os pais da Igreja a aceitar como canônica à epístola de Tiago não a tendo classificado como inferior aos demais livros do NT. Os pais da Igreja que se seguiram imediatamente a Orígenes, na igreja grega, usaram a epístola de Tiago mui raramente; mas não há qualquer indicação de que a tenham rejeitado. Assim o fizeram Gregório Taumaturgo, Dionísio de Alexandria (ambos em cerca de 270 d.C.), e Metódio de Olimpo (311 d.C.). Eusébio (falecido em 340 d.C.), o famoso historiador eclesiástico, utilizou-se abundantemente da epístola. (Ver História Eclesiástica 11.23:25e 111.25:3). Suas declarações, no entanto, falam sobre as dúvidas dos pais mais antigos da Igreja, e de como a epístola de Tiago era um dos livros disputados, sem jamais ter obtido larga aceitação na Igreja, conforme sucedia aos demais livros do NT, por essa época O Catalogus Claromontanus (século VI d.C.), que alguns estudiosos acreditam ter sido composto em Alexandria, no século IV d.C., incluía a epístola de Tiago, como também o faziam os catálogos preparados por Atanásio (falecido em 373 d.C.), por Cirilo de Jerusalém (falecido em 386 d.C.), por Epifânio (falecido em 403 d.C.), por Gregório de Nazianzeno (falecido em 390 d.C.) e por Crisóstomo (falecido em 407 d.C.). A essas testemunhas poderíamos adicionar Marcário do Egito (391 d.C,), o concílio de Laodicéia (60 cânon, do século IV ou V d.C,), Cirilo de Alexandría (século V d.C.), e todos os pais alexandrinos que se seguiram. 8. A igreja armênia Todos os manuscritos em armênio (com data de cerca de 430 d.C.) contêm essa epístola. 9. A igreja síria A prime ira tradução da epístola de Tiago para o siríaco data de cerca de 412 d.C. Dali veio a ser aceita no Peshitto, o texto sírio oficial. Antes de 412 d.C., entretanto, nenhuma das epístolas universais obtivera total aceitação na igreja síria. O cânon neotestamentário dessa igreja, composto em cerca de 400 d.C.; incluía somente os quatro evangelhos, o livro de Atos, as epístolas paulinas (com hebreus e uma terceira epístola aos Coríntios), mas excluía as epístolas universais e o

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TIAGO (LIVRO) livro de Apocalipse. Assim sendo, os primeiros pais sírios da igreja, como Afraates (345 d.e.) e Efraem (378 d.C.) não mostram qualquer indicio claro da aceitação da epístola de Tiago. A aceitação final dessa epístola parece ter sido devido à influência da igreja grega, mas muitos, ainda assim, duvidavam de sua autenticidade, conforme o fazem Teodoro de Mopsuestia, Tito de Bostra, Severiano de Gabala e o tutor das Constituições Apostólicas. Essa opinião de alguns sírios continuou até mais tarde na história daquela igreja. Os nestorianos rejeitavam as epístolas universais (ou católicas) em sua inteireza, e isso era comum na porção síria da Igreja, até bem dentro da Idade Média. 10. A Igreja Ocidental A história da epístola de Tiago no Ocidente se parece muito com a que se pintou no tocante à igreja síria; e, nesse caso, sua aceitação também se deveu à influência da igreja grega. O cânon muratoriano (Roma, 200 d.C.) a omite. Conforme temos visto, lrineu e Tertuliano não se utilizaram dela, se é que a conheciam. Cipriano, embora tivesse usado inúmeras citações, nunca citou Tiago (falecido em 258 d.Ci). Outro tanto se pode dizer com respeito a Novaciano (252 d.C.). Em 359 d.C., o Católogo Monseniano, de origem africana, omite o livro de Tiago; e Ambrósio (397 d.C.) nunca citou diretamente o mesmo. Nos textos do codex Corbeiensis, o pseudo Agostinho Speculum (350 d.C.), essa epístola é incluída, mas evidentemente como se fora um panfleto patrístico, e não como parte de qualquer NT em latim. De fato, nenhum manuscrito latino contém essa epístola, senão já cerca de uma geração mais tarde. O exemplo mais antigo de citação da epístola de Tiago, em latim, é o de Hilário de Poitiers, de trino iv. 8 (358 d.C.), e mesmo assim apenas como parte de vários textos que os arianos perverteram para suas próprias finalidades, embora não cite o livro de Tiago de modo a autenticá-lo, e nem demonstre qualquer respeito especial pelo mesmo. Ambrosiastro (382 d.C.) demonstra ter conhecimento do livro, como também o fez Prisciliano (386 d.C.). As primeiras traduções da Vulgata Latina que incluíram Tiago datam de 384 d.C. e depois. O fato de que Agostinho (430 d.Ci) e Jerônimo (420 d.C.) finalmente aceitaram o livro como canônico, fez a Igreja Ocidental seguir a prática; e assim, os líderes cristãos subseqüentes dessa parte do mundo passaram a aceitar a epístola, embora certas vezes emitissem dúvidas, aqui e acolá. (Isidoro de Sevilha, em 636 d.C., menciona a existência de tais dúvidas). Não obstante, a autoridade do livro prevalecia de modo geral, diferentemente do que sucedia na igreja síria, onde sempre houve protestos vociferantes contra tal inclusão. 11. Na história posterior Na Reforma. Os comentários acima demonstram a natureza da história da epístola de Tiago desde o século V até à época de Erasmo. Na igreja grega, não havia disputa; na igreja ocidental, menos ainda; na igreja síria continuava havendo forte resistência contra sua inclusão; nos dias imediatamente antes da Reforma, Erasmo novamente levantou a questão da autenticidade do livro, sua canonicidade e seu direito à autoridade, entre os escritos sagrados. Erasmo revisou as antigas razões para a reserva acerca da epistola de Tiago, e acrescentou algumas razões pessoais. Ele argumentou principalmente com base em questões de linguagem e estilo e indagou, com razão, se qualquer dos apóstolos (judeus galileus) poderia tê-Ia escrita. Não obstante, aceitava-a, talvez como filho obediente da Igreja. No tocante à Igreja Católica

Romana, as opiniões de Jerônimo e Agostinho eram seguidas de maneira geral, pelo que nunca foram coerentemente levantadas objeções sérias. Todavia, no Concilio de Trento, alguns falaram acerca da incerteza, de sua autoridade apostólica. A despeito disso, a 8 de abril de 1546, por decreto do citado concilio, a epístola de Tiago foi aceitajuntamente com os outros vinte e seis livros de nosso presente NT. Outrossim, seu autor foi declarado "apóstolo". Esse decreto foi confirmado pelo Concílio do Vaticano, de 24 de abril de 1870. No Concílio de Trento, entretanto, surgiu certa distinção (que continua a ser observada entre os católicos romanos), entre aqueles livros tidos como sempre aceitos e aqueles cuja aceitação foi gradual. Dentro dessa última categoria, naturalmente, foi situado o livro de Tiago, Mas isso é mera distinção histórica, que não visa atribuir valores diferentes aos livros. No Lado Protestante. Posto que o protestantismo não foi forçado a concordar sobre o que dizia a hierarquia de organizações eclesiásticas, e nem de aceitar automaticamente as opiniões dos primeiros pais da Igreja, houve muito maior oposição à inclusão da epístola de Tiago no cânon. As epístolas de Hebreus, Tiago, 11 Pedro, 11 e III João, Judas e Apocalipse sempre foram livros disputados, - e isso continuou sendo até dentro do período da Reforma. Lutero fez o evangelho de João, I Pedro e Romanos o seu "padrão" de julgamento; por essa causa, rejeitava a epístola de Tiago como canônica e autoritária, chamando-a de "epístola de palha" (na sua Introdução à Epístola de Tiago), embora nem por isso tivesse proibido outros a usarem-na ou a pensarem dela o que bem entendessem. Em sua Biblia vertida para o alemão, ele a colocou, juntamente com Hebreus, Judas e o Apocalipse, no fim da coletânea dos livros do NT, não dando a esses livros posição na tabela de conteúdo. A Bíblia alemã preservou essa ordem, mas, finalmente, alistou-os em sua tabela de conteúdo. Carlstadt, o ciumento opositor pessoal de Lutero, admitia que o livro era disputado e de menor dignidade, mas nem por isso o excluiu do "cãnon" de livros autoritários. Melancthon pronunciou-se em favor dele, sem limitações pessoais, embora reconhecesse que outros líderes demonstravam escrúpulos sobre a questão. Após o ano de 1600, porém, a maioria dos luteranos admitia a autoridade da epístola de Tiago. Calvino, Zwinglio e Beza aceitavam a epístola de Tiago como canônica, mas disputavam a sua autoria. Na Inglaterra, os pontos de vista de Lutero exerceram influência. Assim, no NT, de Tyndale (1525 d.C.), foi adotado o arranjo da Bíblia em alemão, até o ponto de não haver número das páginas dos Iívros disputados, na tabela de conteúdo. O próprio Tyndale aceitava a epistola, mas não ignorava a aura de dúvidas que a rodeava. As bíblias de Coverdale (1535), Matthew (1537), Tavemer (1539) também preservaram a ordem de livros da Bíblia alemã. Mas as biblias Grande (1539), "Bispos" e King James preferiram a ordem de livros que apareceria na Vulgata, ignorando a disputa. As bíblias em holandês, em dinamarquês, em sueco (do século XVI) e suíço, seguiram a ordem apresentada por Lutero. A igreja anglicana, nos seus Trinta e Nove Artigos (artigo VI), e a Confissão Westminster (1647), aceitaram a epístola de Tiago sem disputa. Ver artigo sobre Cânon do NT. Pode-se ver, com base nisso, bem como com base na discussão anterior, que, depois do livro de Apocalipse, a epístola de Tiago foi o livro mais disputado do NT, e com grande hesitação é

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TIAGO (LIVRO) que recebeu lugar no "cânon", no período pós-apostólico, nunca lhe tendo sido atribuída autoridade nos dois primeiros séculos da história da Igreja. 11. Autoria Tendo visto claramente as dificuldades que circundam este livro, no tocante à sua autoridade e canonicidade, podemos mais facilmente dizer algo de significativo sobre a questão do próprio autor. O livro identifica algum "Tiago" como seu autor. Mas, qual Tiago está em foco, que nos seja conhecido no NT? Ou tratar-se- ia de um Tiago desconhecido? Ou seria este livro uma pseudepígrafe, isto é, escrito em nome de um famoso Tiago do NT, mas não na realidade? Essa prática era comum nos primeiros séculos da era cristã, havendo mais de cem escritos dessa natureza que chegaram até nós, supostamente de famosos cristãos primitivos, mas certamente sem que isso seja verdade. E esses são os escritos acerca dos quais temos algum conhecimento, pelo menos através de fragmentos, ou títulos mencionados por outros pais da Igreja. Deve ter havido um número muito maior de casos. Tal prática não era reputada desonesta, naqueles dias; era uma prática comum, usada tanto na literatura profana como na sagrada. Os Vários Tiagos do Novo Testamento I. Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, incluído em todas as quatro listas sobre os doze apóstolos. Foi decapitado a mando de Herodes Agripa I, em 44 d.C. ou pouco antes. (Ver Atos 112). 2. Tiago, filho de Alfeu, um dos doze apóstolos. (Ver Mar, 10:3; Mar. 3:18; Luc. 6:15 e Atos 1:13). 3. Tiago, irmão do Senhor. (Ver Gál. 1:19; 2:9,12; I Cor. 15:7; Atos 12: 17; 15: 13 e 21: 18). Ficou convicto do caráter messiânico de Jesus, evidentemente através de aparição pessoal a ele, após a ressurreição de Cristo. Subseqüentemente, tomou-se o líder principal da igreja de Jerusalém, uma figura de estatura sumo sacerdotal, muito respeitado entre judeus e cristãos, igualmente. 4. Tiago, o Menor (uma alusão à sua pequena estatura, a fim de distingui-lo de outros personagens do mesmo nome). (Ver Mar. 15:40; Mal. 27:56; Luc. 24:10). Muitos identificam esse Tiago com o filho de Alfeu. 5. Tiago, pai ou irmão de Judas, um dos doze apóstolos (ver Luc. 6:16 e Atos 1:13). Em vez desse Judas (não o Iscariotes), nas listas dos evangelhos de Marcos (capítulo terceiro) e de Mateus (capítulo décimo), aparece o nome de Tadeu, o Labeu. 6. Tiago, autor da epístola, que possivelmente, pode ser identificado com um ou outro dos Tiagos mencionados acima. 7. Tiago, irmão de Judas (ver lud. 1), por meio de quem a epístola de Judas teria sido escrita. Dentre esse número, os Tiagos de posição primeira, segunda, terceira e sétima têm sido identificados como o autor da epístola. Os argumentos típicos contra a Idéia de que qualquer Tiago do NT escreveu este livro: I. E uma provação de fé, e não um ponto de fé, supormos que qualquer figura importante, e até mesmo apóstolo de Cristo, pudesse ter escrito alguma coisa e isso ficasse inteiramente desconhecido na Igreja cristã, até os tempos de Orígenes, isto é, já nos meados do século III d.C. 2. Seria virtualmente impossível a qualquer dos apóstolos, aldeões e pescadores galileus como eram, ter produzido uma obra em grego dotada de tal linguagem e estilo. Os aldeões galileus simplesmente não poderiam ter conhecido e usado o grego dessa maneira. Poder-se-ia argumentar que escreveram em aramaico, e que alguém,

ato continuo, traduziu a obra. Mas as traduções sempre trazem sinais de serem tradução. Não há mesmo qualquer indicio de que temos aqui uma tradução. Pelo contrário, trata-se de um escrito original, com um grego de tão alto naipe que só perde para a epístola aos Hebreus, em todo o NT . Também se poderia argumentar que o Espírito Santo ajudou esse Tiago a ter um grego impecável. Mas esse mesmo Espírito não ajudou a Marcos ou ao autor do livro de Apocalipse a escrever em grego superior ao "grego de rua", o que explica seus barbarismos. Nas páginas do NT se encontram muitos níveis de grego, alguns se aproximando do clássico (como a epístola aos Hebreus), e outros em bom estilo literário koiné (como os escritos de Paulo), havendo outros de qualidade inferior. É um argumento eivado de preconceitos aquele que afirma que, neste único caso (na epístola de Tiago), um autor foi ajudado pela inspiração para "escrever acima" de sua capacidade no idioma. Acresça a isso o fato de que o autor estava familiarizado com minúcias de estilo helenista, com artificios retóricos, com aliterações, com diatribes e com a terminologia dos filósofos éticos estóicos e cínicos da época, o que dificilmente poderia fazer parte do vocabulário de judeus da Galiléia. O que queremos asseverar é que o autor sagrado exibe os sinais de ter sido homem bem educado na tradição helenista. A farnilia imediata de Jesus e os seus discípulos, dificilmente teriam recebido educação tão formal. 3. Ademais, note-se que Tiago é o "menos cristão" e o mais judaico de todos os livros do NT. Há quase total ausência das doutrinas distintivamente cristãs, e o próprio Jesus é mencionado apenas por duas vezes (em Tiago I:1 e 21). É impossível crermos que qualquer apóstolo que tivesse passado tanto tempo com Cristo, e especialmente um irmão seu, pudesse ter escrito tão pouco sobre a sua pessoa. 4. A data da epístola certamente deve ser assinalada depois do tempo de Tiago, filho de Zebedeu, que foi martirizado em 44 d.C, (Ver as notas expositivas sobre a "Data", desta epístola, na seção I1I). Assim, esse Tiago fica eliminado ao menos devido a essa consideração. 5. Qualquer declaração em prol da autoria de qualquer desses três personagens é pura conjectura. A própria epístola não identifica o Tiago. Qualquer identificação deve residir na tradição; e, nesse caso, a tradição é distintamente contrária à idéia de que qualquer um deles tenha sido o autor, a menos que admitamos aquela tradição iniciada em meados do século III d.C. Todavia, a tradição do próprio século III em diante se contradiz consigo mesma. Aqueles que conjecturavam que Tiago, irmão do Senhor, é quem escreveu essa epístola, meramente conjecturavam, e isso é verdade no tocante às demais identificações específicas. Não há qualquer evidência de que qualquer deles escreveu o livro. A observação de que há algum acordo verbal entre esta epístola e o discurso de Tiago, no décimo quinto capítulo do livro de Atos - Atos 15:23 com Tia. 1:1; Atos 15:17 com Tia. 2:7; Atos 15:14,26 com Tia. 2:7 e 5.10,14; Atos 15:14 com Tia. I :27 e Atos 15:19 com Tia. 5: 19,20não é mais convincente do que dizer que o mesmo autor escreveu a primeira epístola de Pedro, por causa de uma lista similar de semelhanças, que se pode traçar entre esses dois livros, a saber: I Ped. 1: 1 com Tia. I: 1; I Ped. 1:6 com Tia. 1:2; I Ped. 1:23 com Tia. 1: 18; I Ped. 1:24 com Tia 1: 10; I Ped. 2:1 com Tia. 1: 1; 1 Ped. 4:8 com Tia. 5: 20; I Ped. 5:5 com Tia. 4:8 e 1 Ped. 5:9 com Tia. 4:7. A epístola de Tiago exibe semelhanças assim em relação a vários outros escritos, totalmente não cristãos.

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o Tiago desconhecido. É possível que um Tiago inteiramente desconhecido tenha sido o autor da epístola. Contra tal opinião, porém, talvez corretamente se possa dizer que o simples titulo, "Tiago", tinha por intuito ser reconhecido como autoritário. Isso está de acordo com o costume da época, quando alguém poderia escrever um livro, "no nome" de outrem, a fim de garantir tanto o prestigio como a distribuição de sua obra. Pode-se supor, pois, que o autor sagrado queria que seus leitores pensassem em uma figura "apostólica", ao lerem o livro, como se tivesse sido escrito sob a autoridade de tal personagem, promovendo a sua doutrina. Ou Tiago, o apóstolo, filho de Zebedeu, ou então Tiago, irmão do Senhor, poderiam ser assim indicados. Trata-se (alguns dizem) de uma pseudepigrafe, Em outras palavras, foi escrita a epístola sob o nome de Tiago, filho de Zebedeu, ou sob o nome de Tiago, irmão do Senhor (não sabemos dizer qual deles o autor sagrado queria dar a entender). Na realidade, entretanto, o autor não foi nem um e nem outro. Essa era uma prática comum naqueles dias; e isso explicaria por que os primeiros pais da Igreja não lhe deram qualquer atenção. Sem dúvida, por onde quer que a epistola fosse distribuída e conhecida, era reconhecida não como produção de um verdadeiro apóstolo e, portanto, sem autoridade. Somente em época posterior é que gradualmente começou a ser reconhecida" devido a certos elementos de valor próprio, intrínseco. E natural que quando a epístola adquiriu certo prestígio, que tivesse solidificado essa vantagem adquirindo autoridade apostólica. É posição de muitos intérpretes modernos que, embora a epístola certamente não seja de origem apostólica, nem por isso deixa de merecer lugar no cânon neotestamentário, somente por causa dos problemas de critica que ela levanta; antes, merece tal posição devido ao fato de ser uma digna composição literária. Evidentemente foi escrita por um homem altamente espiritual, que tinha discernimento suficiente para merecer nossa atenção, mesmo que possuísse uma revelação inferior àquilo que, de modo geral, fora revelado ao apóstolo Paulo. Mui provavelmente era ele um judeu, embora treinado na cultura helenista, sendo homem de consideráveis habilidades literárias. Os cansativos esforços de alguns intérpretes, por descobrirem quem teria sido o Tiago que escreveu esta epístola, têm sido baldados, porquanto lhes falta qualquer apoio na Igreja apostólica e imediatamente posterior, onde os demais I ivros do NT são abundantemente autenticados.O resultado líquido desses esforços se resume em quem devemos supor que escreveu o livro. Em outras palavras, os autores desses estudos meramente querem que suponhamos que um certo famoso "Tiago" escreveu o livro. E a autoridade do mesmo, pois, que esses autores desejam trazer para detrás do livro, sendo perfeitamente possível que ele houvesse apresentado fielmente os pontos de vista desse Tiago. Argumentos em favor do caráter genuíno de Tiago (com isso se entende que, de fato, foi escrito ou pelo apóstolo Tiago, ou por Tiago, irmão do Senhor, o que significa que tem autoridade apostólica e deve ser considerado como livro canônico): Primeira discussão, extraída do comentário de Lange: A. Informes que pressupõem existência remota e o acolhimento da epístola em Clemente, Romanus, Ep. 1, capo x; no Pastor de Hermas, Stmiltt. VIII. 6; em Irineu, AOV. Haeres, IV. 16; Abraham amicus Dei Vacob 1f.23); em Tertuliano, adv. Judaeus, capo lI; Abraham amicus Dei... (Deve-se admitir que a maioria dos estudiosos vê agora

que as supostas "citações" acima, extraidas de Tiago, não passam de coincidências verbais, pois nada contêm distintamente pertencente a Tiago). B. Testemunhos. A antiga versão siríaco Peshitto contém esta epístola. Clemente de Alexandria a conhecia, conforme Eusébio, História Eclesiástica vi.14. Ele também alude a Tia. 2:8 em Stromat. VI. Orígenes menciona a epistola de Tiago em Rom. 19 sobre João, e ocasionalmente a chama de divina Jacobi Apostoli Epistola. Homl, 13 em Gên, etc. Dionísio de Alexandria apela para ela em vários lugares, e Dídimo de Alexandria escreveu um comentário a seu respeito. Cirilo de Alexandria e Jerônimo, Cal. 3, consideravam-na genuína. (Após, descrever dúvidas, antigas e modernas, sobre Tiago, o citado comentário tenta falar de modo favorável, respondendo, em parte, as dúvidas levantadas). A circunstância da epístola não ser geralmente conhecida pela Igreja antiga em qualquer data remota, pode ser explicada pelas seguintes considerações: 1. Foi dirigida a judeus cristãos, pelo que já figura na versão Peshitto, porque na Síria, em particular, havia muitos judeus cristãos. 2. A epístola, em sua tendência, apresentava apenas poucos pontos dogmáticos, ao passo que a Igreja antiga reverteu especialmente para pontos dogmáticos. 3. A ausência da designação apostólica no titulo e coisas similares. Lange alude a uma discussão feita por outro autor. Usualmente, acerca da suposta "humildade" do autor, que seria o "irmão do Senhor" levou-o a omitir tal declaração e, embora não fosse um "apóstolo" no sentido estrito, ele foi uma figura apostólica. Alford: "No seu todo, sobre quaisquer principios inteligíveis deacolhimento canônico dos escritos antigos, não podemos negar a esta epístola lugar no cânon. Que tal lugar lhe foi dado desde o principio em porções da Igreja; que apesar de muitas circunstâncias adversas, gradualmente obteve aceitação em outros lugares; que, quando devidamente considerada, é coerente e digna de seu caráter e da posição daquele cujo nome ela traz; que ela está assinalada por tão forte linha de distinção de outros escritos e epístolas que nunca tiveram lugar no cânon - todas essas são considerações que, embora não sirvam mais de demonstração do que em outros casos, contudo, fornecem, quando combinadas, uma prova dificil de ser resistida, de que o lugar que ela ocupa agora no cânon do NT é merecido, pois a providência divina guiou a Igreja para atribuir-lhe tal posição". Segunda discussão, extraída do comentário de Jamison, Fausset e Brown: "Canonicidade: Não é de admirar que epístolas não dirigidas a igrejas particulares (particularmente a de Tiago, aos crentes israelitas dispersos) fossem menos conhecidas por algum tempo. A primeira menção à epistola de Tiago, por seu nome, ocorre no começo do século III d.C., em Origenes (Comentário sobre João IS, 4, 306; nasceu cerca de 185 e morreu em 254 d.C.). Clemente Romano (primeira epístola aos Corintios, capo x; comparar com Tia. 2:21,23; capo XI; cf. Heb. 1I:31 e Tia. 2:25) a cita. Assim também o faz o Pastor de Hermas, que cita 4:7. Irineu (Heresias vi. 16:2) parece aludir a Tia. 2:23. Clemente de Alexandria comentou sobre a mesma, de acordo com Cassiodoro. Efraem Siro (Opp. Grac. IlI.51) cita Tia. 5:1. Uma forte prova de sua autenticidade é dada na antiga versão siriaca, que não contém qualquer outro dos 'livros disputados' (Antilegomena, Eusébio I1I.25), exceto a epístola aos Hebreus. Eusébio diz que os livros disputados são 'reconhecidos pela maioria' (gnorima homos tois pollois). Diz ele que a epístola de Tiago era lida

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TIAGO (LIVRO) publicamente na maioria das igrejas como obra genuína. Nenhum pai latino, antes do século IV d.e., a cita; mas logo depois do concílio de Nicéia, ela foi admitida como canônica, pelo Oriente e pelo Ocidente, e foi especificada como tal nos concílios de Hipona e Cartago (397 d.C.). Isso é o que já se poderia esperar, um escrito que a princípio era conhecido apenas em parte, até que subseqüentemente obteve circulação mais lata; e tomou-se melhor conhecida nas igrejas apostólicas, onde havia homens dotados de discernimento de espíritos, que os qualificava para discriminar entre escritos inspirados e disputados, passando a ser universalmente aceita (ver I Cor. 14:37). Embora postos em dúvida por algum tempo, pelo menos os livros disputados (Tiago, II e 1IIJoão, Judas e Apocalipse) foram universalmente aceitos... A objeção de Lutero ... se deveu a idéia equivocada, de que o segundo capítulo se opõe à justificação pela fé, não segundo as obras, ensinada por Paulo. Se a epistola foi escrita por Tiago, irmão do Senhor, sua data deve ser fixada antes de 62 d.C., pois é evidente que, naquele ano, ou perto de seu término, esse Tiago tinha sido martirizado por apredrejamento. Poucos consideram que essa epístola foi escrita pelo apóstolo Tiago, martirizado em 55 d.e. Conclusão I. Já que o livro não identifica o Tíago que é chamado seu autor, e já que não nos é possível descobrir que Tiago está em pauta, para todos os propósitos práticos, o livro é anônimo. Supor que uma figura apostólica é frisada, não passa de sugestão. Nenhuma prova contra ou a favor, em absoluto, pode ser oferecida. 2. De modo nenhum, pois, a aceitação ou rejeição do livro como "apostólico" pode servir de base de ortodoxia ou heterodoxia, e nem pode isso servir de prova de fé cristã. O próprio livro não afirma ser apostólico. Podemos apenas supor que seu autor queria que entendêssemos que o livro se baseia sobre a tradição apostólica. Tiago, o irmão do Senhor, não foi um apóstolo, estritamente falando, embora fosse uma figura apostólica, um poder apostólico. 3. Lutero dizia: " ... para dar minha opinião franca, embora sem preconceitos para com outrem, não suponho que seja o escrito de um apóstolo. E estas são as minhas razões: ... opõe-se diretamente a Paulo e a outras Escrituras, ao atribuir a justificação às obras, ao passo que Paulo ensina que Abraão foi justificado pela fé, independentemente das obras, esse Tiago nada faz além de impor-nos a lei e suas obras, escrevendo de modo tão confuso e desconexo que a mim parece que algum homem piedoso se apossou de certo número de declarações dos seguidores dos apóstolos e as lançou no papel; ou provavelmente foi escrito por alguém, conforme a pregação do apóstolo" (Prefácio a Tiago e João). Não são poucos os intérpretes protestantes que têm seguido essa avaliação de modo geral. Cremos que tende a subestimar o valor de Tiago, embora enfrente com franqueza certos problemas apresentados por este livro, o que alguns comentadores modernos só têm feito com relutância. 4. O problema real.O problema crítico que enfrentamos, quando consideramos esta epístola, não é "qual Tiago a escreveu?" Aceitamo-Ia como canônica e inspirada, pelo que aquele que fez mover-se a pena, afinal, foi a próprio Espírito Santo. Contudo, Ele não movimentou homens deixando de lado as suas idéias e expressões naturais. Portanto, em expressão, o autor contradiz a Paulo. Mas, quanto à "essência do significado", ele dá apoio a uma importantíssima doutrina paulina: é mister que o crente

seja transformado najustificação e na santificação; a mera crença não basta. Se o autor se encontrasse com Paulo, certamente haveria um debate. Ele era bom representante dos crentes judeus. de Jerusalém, isto é, dos "legalistas". Estes jamais concordariam com certas crenças paulinas. Mas, por detrás da controvérsia, destaca-se a grande verdade que a graça deve transformar; que a "crença fácil" é uma mentira. Tiago mostra ser uma coluna contra a mentira e o engodo da crença fácil, mesmo que o autor não se tenha expressado conforme Paulo faria, se falasse sobre o tema. O problema real que enfrentamos aqui, portanto, é: "Temos entendido o absurdo que é a crença fácil!" Tiago, sem importar quem foi ele, compreendeu isso, e faríamos bem em buscar discernir a sua idéia. Sob a seção VII deste artigo, - temos mostrado que Paulo e Tiago discordam do mesmo modo, e acerca das mesmas coisas, como fazem o "sistema da graça" e o "sistema legalista". Tiago representa o ponto de vista legalista da fé religiosa. Lutero viu isso claramente, e muitos bons intérpretes não têm temido destacar o fato. Contudo, de um ponto de vista da compreensão espiritual, não há contradição entre Tiago e Paulo, tal como não há diferença entre as "obras" e a "graça" , quando ambas são entendidas de um ponto de vista realmente espiritual. A graça em ação é esse tipo de obras onde há salvação. Tiago talvez tenha visto isso. E fariamos bem em vê-lo também. 5. Se nossa disposição é aceitar o testemunho da maioria dos antigos pais da Igreja, então cumpre-nos rejeitar a autoridade apostólica deste livro. Se aceitarmos a opinião da Igreja, a começar do século III d.C., afirmaríamos que Tiago, irmão do Senhor, o escreveu, ou então que seu autor foi o apóstolo Tiago; e nesse caso aceitaríamos o livro como canônico. Apesar do que pensamos sobre sua autoria, não há motivo para rejeitar sua autoridade e canonicidade. Ele nos apresenta importantíssima mensagem. O antinomianismo tem como fruto a "crença fácil", e esse sentimento é muito mais generalizado na Igreja moderna do que ousamos admitir. Tiago se opõe a tal desenvolvimento, e sua mensagem deve ser ouvida. 111. Data, Providência e Destino Porquanto a questão de autoria é indefinida; é difícil afirmarmos qualquer coisa, de forma absolutamente certa, sobre essas questões. Pelo menos, podemos eliminar algumas idéias "piores", chegando a uma espécie de aproximação da verdade. Data. O que se acredita sobre esse particular varia desde uma data não fixada, a.e., até 150 d.e. A própria data mais antiga poderia ser correta, se Tiago não fosse um documento cristão, que tivesse sido adotado para uso cristão, com o acréscimo de alguns toques cristãos, como a menção do nome de Cristo, em Tia. I: I e 2: 1. O nome "Tiago" e o nome "Jacó" na realidade procedem de um só nome hebraico, pelo que esse tratado "não cristão" poderia ter sido intitulado "Discurso de Jacó", com base em idéias sugeridas pelo quadragésimo nono capítulo do livro de Gênesis, ou algo similar. (Ver a explicação dessa teoria, com maiores detalhes, na seção IV, que envolve a "integridade" da epístola). Contrariamente a essa idéia temos o fato de que a passagem central do livro, Tia. 2: 14 e ss, é definidamente um ataque contra certas idéias de Paulo, ou contra certa forma corrompida das mesmas, que foram surgindo na Igreja, na era pós-paulina Isso é mais que um toque cristão; é o coração, o âmago mesmo da epístola, e só poderia ter sido escrito depois que os ensinamentos de Paulo tivessem se propagados. No judaísmo, não havia qualquer debate que pusesse em choque a fé e as obras. Não pode haver dúvidas de que os

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TIAGO (LIVRO) pensamentos que Paulo trouxera à fé religiosa estão em pauta, naquele capítulo. Por conseguinte, a epístola tem de ser pós-paulina. Poderíamos supor que a passagem de Tia. 2: 14 e ss é obra de um editor cristão subseqüente; mas, apesar disso ser perfeitamente possível, tal idéia nunca obteve grande aceitação entre os eruditos do NT. Seria o livro mais antigo do N. T. Alguns eruditos raciocinam que a epístola a Tiago é o livro mais antigo do NT, mormente porque lhe faltam as grandes revelações cristãs, o que significaria que "deve" refletir uma data recuada, antes das revelações mais profundas se terem tomado ensinamento comum da Igreja primitiva. Porém, a mesma objeção que é levantada contra a teoria pré-cristã pode ser aplicada aqui. O trecho de Tia. 2: 14 e ss, combate conceitos paulinos; portanto, a epístola deve ser de data pós-paulina. Seria um panfleto religioso pôs-paulino e posterior a Tiago. A epístola foi escrita após ter sido escrita a epístola aos Romanos (porquanto se opõe principalmente a seu quarto capitulo); e também após a morte do apóstolo Tiago, irmão do Senhor, porquanto é improvável que alguém presumisse escrever em seu nome, enquanto ele ainda vivesse. Tiago faleceu em cerca de 60-66 d.C. Portanto, devemos apontar para um data logo posterior a isso. Se a escolha do autor de um nome sob a égide de quem escreveria, foi influenciada pelo livro de Atos, então ele deve ter escrito após o ano 70 d.e. Se a datarmos em 70-90 d.C., provavelmente não estaremos longe do alvo. Os trechos de Tia. 5: 1-6 e 8,9 indicam que as expectações apocalípticas continuavam bem vivas, e o retomo de Cristo ainda era esperado para breve; por conseguinte, poderíamos supor que o período de "esfriamento", no tocante a esses eventos, que ocorreu do segundo século da era cristã em diante, ainda não chegara. Providência. Não há maneira de determinarmos "de onde" essa epístola foi escrita. Alguns defendem Roma, outros, Jerusalém e outros ainda, Alexandria. Cesaréia também tem sido conjecturada, na suposição de que esse ou algum outro lugar fora da corrente principal do cristianismo tenha sido o lugar de sua composição, o que explicaria o fato de que o tratado permaneceu desconhecido até à época de Orígenes, que o redescobriu, e por meio de quem adquiriu prestígio na Igreja grega, que, por sua vez, influenciou, primeiramente, as igrejas ocidentais e, então, a Igreja síria, para que o aceitasse. Um bom alvitre é Jerusalém, especialmente se pensarmos que Tiago, irmão do Senhor, foi seu autor genuíno. Há indícios, na própria epístola, que demonstram que o autor estava familiarizado com a vida à beira mar (ver Tia. 1:6 e 3:4), que ele vivera em uma terra onde abundava o azeite, a vinha e os figos (ver Tiago 3: 12), estando familiarizado com o sal e com as fontes amargosas (ver Tia. 3: 11,12). Além disso, ele vivera em uma região onde a chuva e o estio eram questões de vital importância (ver Tia. 3: 17,18), e ele alude às primeiras e às últimas chuvas do ano (ver Tia. 5:7). Tudo isso parece indicar a região da Palestina. Porém, apesar de que escreveu com as condições daquela região em vista, isso não indica que ele estivesse necessariamente no local quando escreveu, e nem essas condições de vida se reduzem exclusivamente à Palestina. A habilidade do autor, em seus escritos helenistas, cheios de artiflcios próprios daquela cultura, pode indicar um erudito centro do judaísmo, fora da Palestina, como Alexandria. Destino. Alguns estudiosos têm argumentado que não havia destino expresso no caso desta epístola; nenhuma comunidade especial está em vista. Isso, provavelmente, é

correto. Tiago é, verdadeiramente, uma epístola "católica" ou "universal", que visa a Igreja cristã inteira. O endereço, as "doze tribos" (ver Tia. 1:1), pode ser reputado como indicação de "cristãos judeus"; mas há quem pense qu~ isso significa a "Igreja cristã", e não o povo de Israel. E verdade que estão ausentes "problemas gentílicos" distintivos, nas várias repreensões e exortações existentes neste tratado. Não há qualquer alusão à idolatria, a escravos, à lassidão sexual - em suma, os perigos e vícios do paganismo, conforme poderíamos esperar em uma epístola dirigida para cristãos gentílicos, ou mesmo para a igreja em geral, onde havia a mistura de elementos judeus e gentios. Essa observação favorece a idéia que toma a expressão "doze tribos" como suposição de que a epístola foi Iiteraimente escrita a judeus da dispersão. Notemos, em Tia. 2:2, que a palavra "sinagoga" é usada, em vez de "igreja"; e bastaria isso para mostrar-nos a mentalidade 'Judaica" do seu autor e, talvez, a mesma coisa, por parte dos endereçados da epístola. Outrossim, a própria epístola tem numerosas alusõesjudaicas, que um autor não haveria de esperar que gentios compreendessem, mas somente os judeus. A ênfase sobre as esmolas (ver Tia. 2: 14-16) e sobre a visita dos anciãos aos enfermos (ver Tia. 5: 15 e ss), são toques tipicamentejudaicos, talvez visando principalmente os crentes judeus. A despeito dessas coisas, alguns bons intérpretes contendem pela verdadeira catolicidade ou universalidade da epístola, isto é, por toda a parte, onde estivesse a Igreja cristã, composta de judeus ou de gentios, era destinada a epístola. A epístola não indica condições calamitosas, não havendo qualquer alusão à destruição de Jerusalém, o que quase certamente ocorreu antes de sua composição. Isso pode indicar um lugar distante de Jerusalém e, talvez, fora mesmo da Palestina. A escolha parece ficar reduzida a: 1. crentes judeus da dispersão, que seriam seus principais endereçados; 2. a igreja universal, composta de judeus e gentios. Seja como for, nenhuma comunidade local parece estar em foco. Não há saudações e nem informes pessoais. IV. Fontes e Integridade A escolha de idéias parece girar entre duas possibilidades: 1. O livro é um documento cristão, dotado de forma essencialmente como foi originalmente escrito; mas com muitos empréstimos e citações diretas, além do refraseado segundo moldes judaico helenistas, e tudo revestido nas formas retóricas do grego. 2. Ou o livro, em sua maior parte (se falarmos do volume total ali contido), é não cristão, uma composição judaica anterior aos tempos cristãos, mas que foi refraseada por um editor cristão. Neste caso, também teria sofrido a influência da erudição e da retórica gregas. Consideremos, em primeiro lugar, a segunda dessas possibilidades. Ambas as possibilidades dizem respeito à "integridade" da epístola, que é um termo usado pelos eruditos para falar sobre o estado intocável e sobre a "unidade" de uma obra literária qualquer. A epístola se encontra segundo a sua forma original, ou sofreu modificações, desde que foi escrita originalmente? A epístola é produto de um único autor, ou algum editor combinou uma ou mais fontes, juntamente com suas próprias adições? As evidências textuais favorecem o argumento que o livro é conhecido, hoje em dia, tal e qual foi originalmente escrito; mas é possível que incorpore algum documento judaico, e que a isso várias porções foram acrescentadas por algum editor cristão. Nos fins do século XIX, o erudito francês L. Massebieau (UL 'épitre de Jacques est-elle I'oeuvre d'un Chrétien? págs. 249-283) levantou a questão se a epístola de Tiago conta ou não como um documento judaico que a escuda.

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TIAGO (LIVRO) Escrevendo independentemente, o erudito alemão Friedrich Spitta (Der Frief des Jacobus, 1896) levantou idêntica especulação; e ambos supunham que a leve adição, em Tia. 1:1 e 2: 1, que menciona o nome de Cristo, fez desse documento um tratado cristão. De fato, no trecho de Tia. 2: 1 surge uma grande dificuldade gramatical (ver as notas expositivas no NTI, in loc.), "que seria solucionada de pronto se supuséssemos que esse versículo foi uma interpolação feita por algum editor posterior. Sem essas duas interpolações, esses citados escritores encaravam o documento como próprio da literaturajudaica, e nada mais. Porém, tal posição recebe golpe fatal com o trecho de Tia. 2: 14 e ss, que é a porção central do tratado, em torno do qual a questão inteira é edificada, e que foi especificamente escrita para combater ou certas idéias de Paulo ou certa perversão de idéias paulinas, o que significa que a epístola deve ser pós-paulina. A mensagem ou perversão do quarto capitulo da epístola aos Romanos certamente está em foco nessa mencionada passagem, com o que concordam praticamente todos os eruditos modernos. Tal teoria, apesar de manuseada com respeito, não conseguiu obter aderentes. Então, Arnold Meyer (Das Ratsel des Jabusbriefes, 1930) não somente reviveu a idéia geral, mas também a elaborou. Ele observou que os nomes "Tiago" e "Jacó" na realidade, são apenas duas formas diferentes de um só apelativo hebraico, "Jacó". Portanto, a saudação poderia ser lida como Jacó servo de Deus, às doze tribos da dispersão, "saudações". O editor, portanto, teria acrescentado somente as palavras "servo do Senhor Jesus Cristo". Meyer concordou com os dois eruditos acima mencionados, no sentido de que os trechos de Tia. 1:1 e 2: I envolvem interpolações; mas adicionou a idéia de que o trecho de Tia. 5: 12,14 também pertence a essa natureza. Poucos eruditos modernos o têm seguido com exatidão; mas certo número deles tem adotado, pelo menos, a sua idéia de documento judaico como teoria básica. É possível que a principal contribuição de Meyer tenha sido a sua tentativa em explicar o estilo literário da epístola, em sua possível forma original. No capitulo quarenta e nove do livro de Gênesis encontramos o discurso de Jacó acerca das doze tribos e, com base nesse "precedente", o autor sagrado pode ter desenvolvido o seu livro. Naquele citado capítulo cada tribo de Israel é devidamente caracterizada, suas virtudes e seus vícios particulares são descritos. Filo seguiu essa sugestão, equiparando cada tribo com alguma virtude ou vício especial. Meyer cria que, de maneira bem mais sutil, cada tribo também recebe seu louvor ou repreensão, no tratado de Tiago. Abaixo encontramos a descrição de como ele via essa questão: Tia. I :2-4 falaria de Isaque como "Alegria", de Rebeca como "Constância" e de Jacó como "Perfeição" mediante as tribulações; Tia 1:9 falaria de Aser como "Rico", que seria um mundano; Tia. I: 12 falaria de Issacar como homem de Deus, pleno de boas obras; Tia. 1:18 falaria de Rúbem como as "Primícias"; Tia. I: 19,20 falaria de Simeão como "Ira"; Tia. 1:26,27 falaria de Levi como "Religião"; Tia. 3:18 falaria de Naftali como paz; Tia. 4:1,2 falaria de Gade como Homem de Guerra e de Lutas. Tia. 5:7 falaria de Dá como "Aquele que aguarda a salvação" e como "Paciente"; Tia. 5: 14-18 falaria de José como "Oração"; Tia. 5:20 falaria de Benjamim como "Morte e Nascimento". Além disso, haveria algumas alusões mais obscuras, adicionadas em Tia. 1:22-25, em que Levi apareceria como o "Ativo", isto é, homem de ação; em Tia. 2:5-8 teríamos Judá como o "Majestático"; em Tia. 5:12 teríamos Zebulom como um "Juramento".

Por conseguinte, a "epístola de Jacó" (supostamente a porção principal do livro que atualmente denominamos epístola de Tiago), na realidade, era um documento judaico, servindo de meio para louvar ou repreender as doze tribos de Israel. E possível que Meyer tenha obtido essa idéia das comparações ao observar que há muitos paralelos de idéias e expressões entre os Testamentosdos Doze Patriarcas e a epístola de Tiago. Alguns desses paralelismos aparecem no ponto terceiro da seção V deste artigo. Essa teoria, a despeito de atrativa, certamente é por demais elaborada, não podendo ser submetida a teste; mas, por ser tão sutil, torna-se imediatamente suspeita, segundo o conceito da maioria dos eruditos. De modo algum podemos eliminar o elemento "cristão" da epístola com o simples expediente de apagar da mesma os trechos de Tia. 1:1; 2:1; 5:12 e 5:14. Alguns estudiosos modernos, seguindo, em termos gerais, o que foi explanado acima, descobrem ainda outras interpolações feitas pelo suposto "editor" cristão, especialmente na passagem de Tia. 2: 14 e ss. Se a teologia judaica discutia as relações entre a fé e as obras, nunca houve uma polêmica que pusesse em campos opostos a "Fé" e as "obras"; pelo que também a passagem de Tia. 2: 14 e ss, é distintivamente, um produto da era cristã. Eruditos posteriores têm salientado passagens como Tia. 1:1,2; 1:6~8 e 2:7,8,12 como outras possíveis interpolações. Alguns deles frisam que essas adições têm um único objetivo, ao passo que o "resto do livro" que teria "fundo judaico", se comporia de muitas declarações misturadas, mais ou menos ao estilo do livro de Provérbios. O quadro se toma ainda mais confuso devido à suposição de que algumas das porções judaicas foram, na realidade, adicionadas pelo editor cristão, embora se tivesse alicerçado em material pré-cristão, principalmente de fundo judaico. Outrossim, até mesmo as chamadas "porções judaicas" poderiam ter sido elaboradas e reescritas pelo editor, para dar à totalidade da epístola (que mais se parece com uma colcha de retalhos) a aparência de unidade e de solidariedade. Entretanto, esse alvo não foi conseguido com perfeição, pelo que nos grupos diversos de declarações, conforme se vê nos capitulas terceiro, quarto e quinto (mas, especialmente, neste último), não há sequência na apresentação do assunto, de um versículo para outro, mas antes, o livro salta de um tema para outro bruscamente. A própria complexidade das diversas teorias nos deixa inteiramente no terreno das especulações. Quando muito, as teorias dessa natureza poderiam apoiar a asserção que garante que o livro que chamamos de Tiago é formado de diversos blocos de material tomados por empréstimo de uma ou mais fontes judaicas. Entrar em maiores detalhes do que sugerir quais passagens talvez refletissem esses empréstimos, é algo precário, talvez não sendo uma especulação muito frutífera. A maioria dos eruditos defende a idéia de que o livro é, essencialmente, um documento cristão, dotado de forma tal e qual foi originalmente escrito, embora contenha muito material emprestado, como citações diretas e refraseados de material judaico helenista, revestido nas formas retóricas gregas. Nada existe no livro que não possa ser explicado segundo essa teoria geral. Portanto, sendo seu autor um cristão, deixou de lado questões legalistas como preceitos dietéticos, ritos judaicos, circuncisão e os muitos regulamentos sobre a vida diária que os fariseus acrescentaram a um ritual já bastante complicado. Um documento puramente judaico certamente teria alguns desses aspectos. Obviamente, poder-se-ia argumentar que

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TIAGO (LIVRO) o editor cristão apagou tal material, existente na obra original. Portanto, sem importar a teoria proposta, podem ser levantadas várias objeções. Mas, se tivermos de escolher entre "teorias", aquela apresentada neste parágrafo é a mais provável do que as anteriores. Em adição a empréstimos judaicos, o autor sagrado poderia ter tomado emprestado material estóico cínico, acerca dos pecados da língua (ver Tia. I: 11,12), porquanto tal passagem conhece paralelos naqueles escritos éticofilosóficos, e o autor sagrado, evidentemente dotado de educação grega liberal, assegurou-nos que estava familiarizado com as várias escolas éticas filosóficas dos seus dias. O estudo abaixo, sobre Tipo Literário e Relações, dá-nos um quadro ainda mais nítido sobre as fontes possíveis. V. Tipo Literário e Relações I. A diatribe é um desenvolvimento baseado na retórica grega. Esse método de ensino e de discursar se derivou dos sofistas, dos filósofos pragmáticos da época de Sócrates. De fato, o próprio Sócrates, que tendo começado sua carreira com eles, posteriormente os abandonou, preservou algo desse método de discursar, segundo se vê em certas porções dos diálogos de Platão. A diatribe se caracteriza por exortações e repreensões severas, do que, algumas vezes, abusa. Nos escritos dos filósofos helenistas estóicos e cínicos, esse método é muito usado. Sêneca e Epicteto são os mais famosos entre tais filósofos. As sátiras de Horácio, Pérsia, Juvenal, as orações de Dia de Prusa, os ensaios de Plutarco, os (tratados de Filo, todos contêm esse elemento. Paulo, em Atenas ver o décimo sétimo capitulo do livro de Atos), talvez tenha procurado imitar propositadamente as diatribes dos filósofos, para obter a atenção de seus ouvintes. As diatribes incorporavam perguntas retóricas que o próprio autor passava a responder, ou que deixava sem resposta declarada, quando esta era óbvia (Ver Tia. 2: 18 e ss e 5: 13 e ss quanto a esse estilo). Além disso, as di atribes, com freqüência, começavam com expressões como "Não vos enganeis" (verTia. I: 16), "Queres saber ... 7" (verTia. 2:20), "Vedes" (ver Tia. 2:22), "Que proveito ..." 1- (Ver Tia. 2: 14, 15), "Pelo que diz". (ver Tia. 4:6, apresentando citações), "Eis que" (ver Tia. 14,5 e 5:4,7,8, 11). Assim sendo, na epístola de Tiago, as transições são feitas do mesmo modo em que os escritores usavam diatribes, isto é, levantando alguma objeção (ver Tia. 2:8), fazendo alguma pergunta (ver Tia. 2: 14; 4: I e 5: 13), ou por age (termo grego que significa "ir para", em Tia. 4: 13 e ss). Os imperativos são abundantes nas diatribes, pelo que, na epístola de Tiago, em cento e oito versículos, há sessenta imperativos. Os que usavam diatribes lançavam mão das metáforas de negociantes, ricos, pobres, remadores, etc., bem como ilustrações baseadas em vidas de pessoas famosas (como Tiago, Abraão, Raabe, Jó e Elias). As diatribes com freqüência empregam um paradoxo para introduzir uma idéia, conforme se vê em Tia. 1:2, 1O e 15, ou falam com ironia, segundo se vê em Tia. 2: 14-19 e 5:1-6. Todos esses artificios, naturalmente, se encontram em toda e qualquer literatura, mas a reunião de todos, em um único documento, é o que caracteriza a diatribe. Não se pode duvidar que nas sinagogas, nos tempos helenistas, pelo menos alguns se utilizavam dessa maneira de discursar. A literatura judaica dos tempos helenistas se utilizou do método; mas não com a intensidade com que o vemos na epístola de Tiago. O primitivo ensinamento cristão, todavia, abunda do mesmo; e isso era apenas natural, pois a igreja cristã se desenvolveu em lugares onde a maneira

de falar em público era desse caráter. (Ver Crisóstomo, Homilia sobre João 13, como um exemplo). 2. O protréptico ou panfleto perenético. A primeira dessas palavras se deriva do termo grego protrepo , "persuadir", "exortar". A segunda vem do vocábulo grego paraineo "avisar", "recomendar", "aconselhar". Esse estilo literário, portanto, consiste essencialmente de uma fileira de exortações e conselhos. Os primeiros exemplos que temos desse método se encontram nas obras de Sócrates (até 338 a.C.), em suas obras "Ad Niccoclem" e "Nicoles", Esse tipo de literatura tende por preservar muitas declarações sábias e espirituosas, com freqüência em uma serie, sem qualquer conexão especial entre elas, mais ou menos como se vê em porções dos capítulos terceiro, quarto e quinto da epístola de Tiago. Posidônio, Aristóteles, Galene, e vários dos filósofos estóicos produziram obras dessa natureza. Os filósofos morais escreveram "folhetos" que eram, essencialmente, convites a que seus leitores adotassem meios filosóficos sérios na sua vida, que eram formas do estilo literário "protréptico", 3. Tiago e a literatura de sabedoria do AT. Apesar do estilo de Tiago ser diferente do da literatura de sabedoria, contudo, há muitas idéias e afirmações que parecem ser tomadas de empréstimo desta última. Por isso, há coisas que se assemelham com Provérbios, com Eclesiástico e com a Sabedoria de Ben Siraque. Tia. 4:6 cita Pro. 3:34, e outros paralelos podem ser encontrados, como: Tia. 3: 18 (ver Pro. 11: 30); 1: 13 (ver Pro. 19: 3); 4:13 (ver Pro. 27:1); 1:3 (ver Pro. 17:3 e 27 :21); 1:19 (ver Pro. 29:20). Os paralelos com a Sabedoria de Ben Siraque e com Eclesiástico são ainda mais numerosos. É possível que o autor sagrado não conhecesse qualquer dessas obras; mas certamente estava familiarizado com a prédica, nas sinagogas, que empregavam as idéias e as declarações ali achadas. Há tópicos, no livro de Eclesiástico, que são paralelos próximos daqueles selecionados por Tiago. Assim é que Ecl. 19:6 e ss; 28: 13 e ss; 35:7 e ss; falam da sabedoria como um dom de Deus (ver Tia. 1:1-10); Ecl. I :27 alude às orações feitas por um coração dividido (ver Tia. I: 16); ao orgulho, em Ec\. 10: 7-18 (ver Tia. 4:6); à incerteza da vida, em Ecl, 10:10 e 11:16, 17 (ver Tia. 4: 14), ao lançar a culpa em Deus, em Ec\. 15: 11-20 (ver Tia. 1: 13 e ss). Os deveres para com as viúvas, para com os órfãos e as visitas aos enfermos, que figuram em Ec\. 4: 10; 7:34 e 13: 19 e ss, têm paralelos em Tia. 2:14 e ss, e 1:27. O livro Sabedoria de Salomão conta com alguns paralelos menos notáveis na epístola de Tiago, a saber, Sab. 1:11 corresponde a Tia. 4:11 e 5:9; Sab. 2:4 corresponde a Tia. 4: 14; Sab. 2: I 0-20 corresponde a Tia. 5: 1 e ss e 5: 13, repreendendo o orgulho e as riquezas. No entanto, em nenhum desses casos, fica subentendida a dependência, apesar de que o autor sagrado pode ter usado diretamente outras porções do livro de Eclesiástico. Além desses casos, paralelos de idéias e expressões abundam, com base nos escritos de Filo; havendo também algumas similaridades com o quarto livro de Macabeus. Clemente de Roma e Hermas exibem empréstimos similares e métodos de expressão, ainda que também possam ter sofrido a influência indireta, de alguma fonte, como sucedeu no caso do autor da epístola de Tiago. Apesar do autor da epístola de Tiago ser mais educado que o autor dos Testamentos dos Doze Patriarcas (100 a.C.], podem ser observados alguns paralelos de idéias, com algumas coincidências verbais. Por exemplo, sobre Benjamim, o Tes. 6:5 se parece com Tia. 1:9,10; sobre Nafali, o Tes, 8:4 se parece com Tia. 4:7; sobre Daniel, o Tes. 6:2 se parece com Tia. 4:8; sobre Zebulom, o Tes. 8:3 se parece com Tia. 2: 13; sobre José, o Tes. 2:7 se

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TIAGO (LIVRO) parece com Tia. I :2-4 e sobre Benjamim, o Tes. 4: I se parece com Tia. 5: l l . 4. Tiago e outros livros do NT A maior parte dos eruditos concorda sobre o fato de que Tiago não parece ter feito empréstimos diretos de qualquer dos livros do NT. Naturalmente, há material similar. Os trechos de Heb, 11:8,10,17-19 e 1I:31 falam sobre Abraão e Raabe, tal como se vê nas epístolas aos Romanos e de Tiago; mas não há qualquer "dependência" entre uns e outros. A influência mais notável é a exercida pelo quarto capítulo da epístola aos Romanos, sobre a Justificação, e que Tia. 2: 14 e ss reverte enfaticamente, em vez de confirmar. Mas o autor desta epístola poderia estar combatendo certas idéias que tinham surgido na Igreja por influência de Paulo, sem estar combatendo a Paulo diretamente, através de sua epístola aos Romanos. A relação mais próxima entre a epistola de Tiago e qualquer outro livro do NT, é com a primeira epístola de Pedro. Esta última, dentre todos os livros do NT, é a que mais se assemelha com aquela, dentre todos os livros nãopaulinos. A epístola de Tiago e a primeira epístola de Pedro mostram pontos curiosamente idênticos, quanto a frases e idéias, a saber: I Ped. I: I (ver Tia. I: I); I Ped. 1:6 e ss (ver Tia. 1:2 e ss); I Ped. 2: I (ver Tia. 1:21); I Ped. 4:8 (verTia. 5:20); I Ped. 5:5 ess, (verTia. 4:13); 1 Ped. 5:9 (ver Tia. 4:7). Dentre essas passagens, I Ped. 1:24; 4:8 e 5:5 são citações extraídas do AT,a saber, respectivamente, de Isa. 40:6-9; Provo 10:12 e 3:34, pelo que não se pode pensar que Tiago as tomou por empréstimo da primeira epístola de Pedro, ou vice-versa. Seja como for, não se pode provar ter havido qualquer dependência. Tudo quanto se pode demonstrar é que tanto o autor da epístola de Tiago como o autor da primeira epístola de Pedro se basearam em influências religiosas e literárias idênticas. 5. Tiago e o Antigo Testamento. Tal como qualquer livro do NT, Tiago citou diretamente ou fez alusões ao AT. Por exemplo: Tia. 1:5 (ver Pro. 2:16); Tia. I :10(ver Isa. 40:6,7); Tia. I: 12 (ver Dan. 12:12); Tia. I: 19 (verEcl. 7:9); Tia. I: 26 (ver Sal. 34:13); Tia. 2:8 (ver Lev. 19:18); Tia. 2:9 (ver Deut. 1:17); Tia. 2: li (ver Êxo. 20: 13); Tia. 2: 12 (ver Deut. 5: 17,18); Tia. 2:21 (ver Gên. 22: 10,12); Tia. 2:23 (verGên. 15:6 e 11 Crô. 20:7); Tia. 2:25 (ver Jos. 2:4, 15 e 6: 17); Tia. 3:8 (ver Sal. 140:3); Tia. 3:9 (ver Gên. 1:27); Tia. 4:5 (ver Êxo, 20:3,5); Tia. 4:6 (ver J6 22:29); Tia, 4:8 (ver Zac. 1:3 e Isa. 1:16); Tia. 4:13 (ver Pro. 27:1); Tia. 4:14 (ver Sal. 39:5, II)~ Tia. 5:3 (ver Pro. 16:27); Tia. 5:4 (ver Lev. 19:13; Deut. 24: 14; Mal. 3:5; Isa, 5:9 e J6 31 :38-40); Tia. 5:6 (ver Pro. 3:34 e Osé. I :6); Tia. 5:7(ver Deut. 11:14; Joel 2:23; Zac. 10:1 e ler. 5: 24); Tia. 5: II (ver Dan. 12:12; J6 I: 21,22; Sal. 103:8 e IHA); Tia. 5:13 (ver Sal. 50:IS); Tia. 5:16 (ver I Reis 17:1); Tia. 5:18 (ver I Reis 18:42); Tia. 5:20 (ver Sal. 51: 13 e Pro. 10: 12). VI. O Cristianismo Judaico A epistola de Tiago certamente é um documento que representa o cristianismo judaico; e não erramos por dizer, representa o cristianismo legalista. Esse pontojá foi frisado e discutido amplamente, na declaração introdutória, no começo mesmo do presente artigo. Por que se pensaria ser estranho que ao menos um dos documentos legalistas finalmente tivesse vindo fazer parte do cânon do NT? Uma vez que admitamos que isso é exatamente o que sucedeu, a interpretação do trecho de Tia. 2: 14 e ss, se toma clara, não havendo qualquer necessidade de reconciliar essa passagem com os escritos de Paulo, mediante interpretações engenhosas, mas nem por isso menos infrutíferas e até mesmo desonestas. Esse livro, provavelmente, representa fielmente o que a maioria dos membros da igreja de

Jerusalém pensava sobre a Justificação. Paulo jamais foi aceito por esse seguimento da Igreja, e as suas doutrinas da justificação pela fé. e da "graça divina", como instrumentos da salvação, na real idade nunca foram bem compreendidas e nem aceitas. É verdade que alguns dos principais líderes cristãos aceitavam-nas, mas mesmo assim as misturavam com questões legalistas, embotando o seu brilho (segundo se depreende de GáI. 2: 12). No texto de Gál. 2: 12 não temos o direito de pensar que aqueles que vinham da parte de Tiago agiam por sua própria autoridade, e não por autoridade de Tiago. E o décimo quinto capítulo do livro de Atos mostra-nos que muitos cristãos nunca viram bom senso nas doutrinas paulinas distintivas, nunca lhes tendo prestado lealdade. Esses viam Jesus como o Messias, talvez como o maior de todos os profetas; criam na ressurreição como prova da validade de sua missão divina; mas jamais imaginaram que Moisés seria removido, juntamente com sua lei, sua circuncisão e seu cerimonial. Portanto, consideravam Paulo um herege perigoso, porquanto seus ensinamentos da graça e da fé se opunham à lei e seu cerirnonialismo. A passagem de Atos 21 :18 e ss mostra-nos isso claramente, e a história do período apenas confirma tal verdade. Paulo jamais convenceu ao segmento judaico da Igreja sobre o fato de que Cristo ultrapassou e substituiu a Moisés, incorporando em si mesmo tudo quanto realmente se revestia de significado espiritual em Moisés e seu sistema. Pode-se notar que, em Atos 21 :20, os crentes de Jerusalém são descritos como "zelosos da lei". Isso mostra, claramente, sem necessidade de maior elaboração, onde se colocavam aqueles crentes sobre as questões dajustificação, da fé e das obras, etc. O vigésimo primeiro versículo mostra-nos que eles continuavam a circuncidar a seus filhos, sem dúvida crendo que isso era um ato meritório, e que lhes conferia as bênçãos próprias do pacto abraâmico. As novas idéias nunca triunfam porque conquistam as mentes da geração mais idosa; antes, vencem cativando as novas gerações, enquanto a geração mais antiga falece. Assim também sucedeu entre os cristãos primitivos, no tocante às doutrinas paulinas distintivas; no entanto, até mesmo na Igreja cristã moderna, um maior número crê na necessidade de obras para a salvação do que aqueles que não crêem. Mesmo admitindo a plena força do concílio de Jerusalém, isto é, que Lucas não fez o quadro mais risonho do que realmente era, deveríamos observar que as concessões feitas no décimo quinto capítulo do livro de Atos foram para os gentios e não para a comunidade cristã judaica. Não há razão para supormos que foi conseguida qualquer grande diferença senão muitas gerações mais tarde. Não há que duvidar que muitas das comunidades cristãs judaicas encaravam as concessões feitas aos gentios como "heresias pecaminosas", como se fossem transigências a novidades destruidoras. A amargura com que Paulo escreve em Gálatas (ver também FiL 3: I e ss), mostra-nos com que vigor ele era combatido nas igrejas gentílicas que contavam com um forte elemento judaico. Portanto, nem mesmo todas as igrejas gentílicas eram paulinas. Quando o autor da seguida epístola de Pedro (ver 11 Ped. 3:16) falou sobre coisas dificeis de entender, nas epístolas de Paulo, falava em prol de um grande segmento da Igreja. As inovações de Paulo eram encaradas com suspeita, aceitas com cautela e rejeitadas com malícia. Naturalmente, a epístola de Tiago não toma a posição mais extrema contra Paulo, promovendo a circuncisão e a continuação da lei cerimonial. Contudo, postava-se definidamente do lado legalista do campo. Pensar que Paulo somente fala acerca da lei cerimonial de Moisés,

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TIAGO (LIVRO) como algo que foi eliminado em Cristo, é negar ou ignorar os claros ensinamentos das epístolas aos Romanos e aos Gálatas. Aquelas epístolas tratam de questões de "salvação", e não de ritos e observâncias religiosas; portanto, a lei moral. está em primeiro plano; pois era na base da obediência aos mandamentos centrais que os judeus esperavam obter a salvação. Outrossim, a distinção moderna entre as leis morais e cerimoniais seria algo totalmente estranho para os judeus. Para eles, as leis cerimoniais eram perfeitamente morais, e algumas de suas provisões eram consideradas tão importantes quanto o próprio decálogo. A circuncisão aparecia em primeiro lugar, entre essas questões. Mas havia outras questões, como a fimbria das vestes usadas pelos homens (de uma certa tecedura e cor), as lavagens cerimoniais, os batismos, etc., que eram reputadas de extrema importância entre os judeus, como se fossem questões imperativas. (Ver os artigos sobre Circuncisão, Partido da e Legalismo). VII. Paulo e Tiago É apropriado que agora alistemos vamos modos como os escritos e as idéias de Paulo têm sido tentativamente reconciliados com a epístola de Tiago: I. Obviamente as palavras são contraditórias. Comparar Rom. 4:1-5 com Tia. 2:14,21. Pouca dúvida há de que Tiago foi escrito para refutar idéias paulinas específicas, contidas no quarto capítulo da epístola aos Romanos, sem importar se essa epístola era conhecida ou não do autor. Não admira, pois, que as duas epístolas se contradizem entre si. Os intérpretes que se recusam a reconhecer isso, supõem que Paulo e Tiago possuem diferentes definições para as palavras-chaves "Justificação", "obras", "fé" e várias outras. 2. Segundo nos dizem, a "Justificação", na epístola de Tiago, incluiria o processo inteiro da salvação, ao passo que, em Paulo, indica somente a retidão inicial, imputada. (As notas expositivas no NTI em Rom. 3:24-28 mostram que o uso que Paulo fez da palavra Justificação é tão amplo quanto o de Tiago). A justificação é devida (ver Rom. 5: 18), o que certamente inclui mais do que mera declaração forense de retidão. Tanto Tiago como Paulo se preocupam com a "correta posição" diante de Deus, o que resulta em salvação. A justificação é a "declaração" de uma correta posição diante de Deus, em Cristo, mas essa correta posição também outorga ao crente a santidade que ratifica aquela posição e a toma eternamente válida. Seja como for, na epístola de Tiago, ser 'Justificado por obras" não significa que "a fé deve produzir obras, como seu resultado", conforme a questão é popularmente esclarecida. Para ele, segundo se vê claramente afirmado no texto, isso significa que é necessária a combinação de "fé-obras" para a justificação, e que a fé não pode fazer sozinha o seu papel. A fé é aperfeiçoada pelas obras da fé (ver Tia. 2:22); pelo que um homem é justificado por obras e não somente por fé. (verTia. 2:24); e isso significa que afê sem obras é morta (ver Tia. 2:26). 3. Segundo nos dizem, afê é um termo que indica coisas diferentes para Paulo e para Tiago. Para este último seria o mero monoteísmo, conforme se pode subentender de Tia. 2: 19. Mas os intérpretes que assim fazem não observam que o resto do estudo sobre a fé não se limita a isso. A fé é um principio ativo, copulada às obras que produzem a justificação. "Abraão creu em Deus"; e essa fé lhe foi "lançada na conta" como retidão (ver o vigésimo terceiro versículo). Certamente não é fé aquela que não vai além de crer que "só existe um Deus". No judaísmo helenista não havia conflito entre a fé e as obras. Não temos razão de supor que Tiago vai além do contexto judaico-helenista, o

qual via tanto a fé como as obras como algo necessário para a obtenção do favor diante de Deus. Para os judeus, a fé nunca consistia na mera aceitação da crença monoteísta. É verdade, porém, que Tiago não focaliza a fé na expiação feita por Cristo, ou não focaliza a fé como uma dotação divina, mediante o Espírito Santo (ver Rom. 5: li; Gál. 5:22 e Efé. 2:8 no tocante a esses elementos, nos escritos de Paulo). Paulo tinha uma visão mais ampla da "fé" do que Tiago; mas, para Tiago, a fé era uma outorga ativa às mãos de Deus, como um princípio espiritual (conforme se deu no caso de Abraão), e não apenas uma crença de qualquer natureza. Assim sendo, se algumas diferenças podem ser vistas quanto ao prisma como a fé é reputada, nos escritos de Paulo e de Tiago, as considerações acima não solucionam a controvérsia, pois a idéia central de fé transparece nos escritos de ambos. Tiago simplesmente ensina que a fé deve vir ligada às obras; e com isso ele entende a lealdade e a obediência à lei mosaica (ver Tia. 2:8, Lev. 19:19; 2:9, Lev. 19: 15; e 2: li, Êxo. 20:13,14). A posição de Tiago é que o judaísmo ordinário nunca contemplou a doutrina que diz "fé somente". A história da teologia deles é uma prova clara sobre isso. Por que se acharia estranho que Tiago tenha tomado a posiçãojudaica comum sobre essa questão? É óbvio que esse ponto de vista teológico normal do judaísmo não estava de acordo com a teologia paulina, Por que acharia estranho, pois, que Tiago tenha contradito a Paulo? Se o judaísmo contradizia a Paulo (e quem pode duvidar disso?), então, igualmente, Tiago contradizia a Paulo. 4. Alguns dizem que Paulo e Tiago usaram diferentemente a palavra obras. Novamente, Paulo tinha um discernimento mais profundo sobre a natureza das "obras", mas tanto ele como Tiago usam o termo normalmente, indicando obediência à lei mosaica e suas implicações. Tiago insiste em que isso faz parte da salvação; Paulo afirma o contrário. Tiago assume a posição judaica normal do "mérito" adquirido pelas obras; Paulo já havia abandonado tal posição; quando recebera suas revelações superiores da parte de Cristo; mas ambos os escritores usam o vocábulo "obras" da mesma maneira. Em Fil. 2: 12, Paulo usa a definição "espiritual" das "obras", isto é, "aquilo que o Espírito Santo realiza em nós"; e, nesse caso, o termo se torna simples sinônimo da graça ativa. Essa idéia é explicada no NTI em Efé, 2:8, bem como na referência que acabamos de dar. Porém, se Paulo tinha um ponto de vista mais aIto acerca das verdadeiras obras espirituais, por outro lado não é com esse sentido que ele aplica a expressão nas seções polêmicas de Romanos e de Gálatas. Ali ele falava sobre os "méritos" da obediência legalista; e foi exatamente assim que Tiago usou o termo, em sua epístola. Esse era o ponto de vistajudaico normal acerca das obras; eles criam sinceramente que um homem obtém o favor de Deus mediante a obediência à sua lei; Tiago compartilhava dessa crença. Faltavam-lhe as revelações cristãs superiores, que poderiam ter modificado sua maneira de pensar. A definição paulina das "obras", que faz delas um sinônimo da graça, foi um discernimento do qual não participa a epístola de Tiago. Assim sendo, Tiago não ensina que pela operação íntima do poder do Espírito Santo forma-se no crente a natureza moral de Jesus Cristo, que então se expressa na forma de boas obras. Antes, dizia ele que a obediência à lei produz mérito. Suas "obras", pois, que justificam, eram "obras de observância da lei", e não as operações místicas do Espírito no íntimo, chamadas de "fruto do Espírito", em Gál. 5:22,23. 5. A contradição era apenas aparente, segundo

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TIAGO (LIVRO) afirmam alguns, e com base na falta de melhor entendimento dos escritos paulinos por parte de Tiago. Isso faz supor que Paulo aceitava a posição de Tiago, de que a obediência à lei obtém favor diante de Deus, o que é um absurdo. Não tenhamos dúvidas, entretanto, que essa é a posição tomada por Tiago, nesta epístola. Supostamente, incorporado na fé de Paulo, havia o princípio das obras; e isso é verdade mesmo que façamos alusão à atuação mística do Espírito. Porém, será algo totalmente falso se aludirmos a obras como a fé se expressa, levando a pessoa a agradar a Deus mediante obras legalistas, que era a posição de Tiago. 6. Antes, a contradição é real, porque as posições teológicas dos dois são diferentes, tal como Paulo, em contraste com o judaísmo normal, era diferente. Nem pode isso ser explicado com base nos ataques de Tiago contra as "perversões" feitas nos ensinamentos paulinos, uma espécie de liberalismo e antinomianismo exagerados, e não na verdadeira doutrina paulina. E bem possível que muitos pervertessem os ensinamentos de Paulo, como os gnósticos, que pensavam que o que faziam com seus corpos não fazia qualquer diferença, pois o espírito ficava livre de toda a mácula, "por causa da expiação de Cristo". Certamente Tiago ataca esses extremistas, não havendo, porém, provas de que atacasse somente a eles. Antes, atacou a todos quantos supunham que "basta a fé", como se a obediência aos princípios morais da lei de Moisés fosse algo desnecessário e não meritório quanto à salvação. Se ao menos pudermos ver que a epístola de Tiago representa o judaísmo, no que concerne à fé e às obras, sendo também uma expressão do cristianismo legalista, então todos os problemas de reconciliação, os mistérios e as dificuldades de interpretação seriam imediatamente solucionados. Por que suporíamos que quando Tiago escreveu sobre essas questões, dizendo as mesmas coisas que se acham nos documentos judaicos (aqueles citados nas seções IV e V desta introdução), que ele queria dizer algo diferente do que eles diziam? Ora, se ele dizia as mesmas coisas que eles, então discordava de Paulo, que abandonara a teologia judaica quanto a esse particular. O maior problema de todos, e que os intérpretes falham em solucionar, é que tentam harmonizar Tiago e Paulo, quando a verdade é que Tiago discorda de Paulo, pondo-se ao lado da teologia judaica. Portanto, como poderia alguém dizer que Tiago discorda da teologia judaica, se diz as mesmas coisas que disseram vários escritores judeus? Porventura ele poderia dizer as mesmas coisas que eles disseram, sem concordar com eles? Ele disse as mesmas coisas simplesmente porque defendia os mesmos pontos de vista teológicos. E, defendendo a mesma teologia, automaticamente ele contradizia a Paulo. De fato, ele escreveu para deixar bem clara essa contradição. 7. A questão é claramente delineada. Ou Paulo estava com a razão, ou a razão estava com Tiago. A salvação inclui ou não as observâncias e ritos legalistas da lei mosaica. Nisso é que consistia toda a disputa. (Ver Atos 10:9, quanto ao "problema legalista" da primitiva Igreja cristã). 8. O ponto de vista paradoxal. De alguma maneira, tanto Tiago como Paulo estariam com a razão. A salvação é pela fé somente, mediante a graça de Deus, segundo ela é demonstrada em Cristo. Contudo, as obras são essenciais a ela e como esses pensamentos podem ser reconciliados entre si, não sabemos dizer. As grandes tradições religiosas têm representado ambos os lados, e bem fartamos em respeitar a ambos. 9. Não há contradiçãofinal. Podemos afirmar que Tiago levanta uma questão vital: sabemos, intuitiva e

racionalmente, bem como através da revelação, que "devemos ser algo: devemos fazer algo". Sabemos que a fé religiosa deve ser ativa, produtiva e frutífera. Sabemos que a fé deve ser a fonte do caráter justo e das ações, pois, do contrário, não será a verdadeira fé, pois esta consiste na outorga da própria alma aos cuidados de Cristo, para que possamos ser transformados segundo sua imagem moral, em primeiro lugar, e então, em sua imagem metafísica (ver Rom. 8:29 e 11 Cor. 3:18), mediante o que chegaremos a participar de toda a plenitude de Deus (ver Efé. 3: 19) e da própria natureza divina (ver II Ped. I :4). Assim, apesar de que Tiago de fato contradiz a Paulo, porquanto lhe faltavam as revelações recebidas por este último, não tendo ainda sido desvinculado de Moisés e do legalismo judaico comum, sabemos intuitivamente, todos nós, que deve haver "obras" de alguma ordem, uma revolução e uma renovação moral e espiritual, sem a qual não haverá salvação sob hipótese alguma Tiago expressou essa intuição sem grande maestria, já que seguia as expressões legalistas a que estava afeito, através de anos de treinamento. As obras, quando são reputadas como as obras do Espírito, insufladas no intimo, são vários aspectos de seu fruto (ver Gál. 5:22,23), são necessárias à salvação. E desse modo as obras se mesclam com a "graça", porquanto esses tipos de obras são meras expressões da graça ativa. Silo expressões, mas também são a alma mesma do princípio da graça, atuante no íntimo. Portanto, as "obras" de natureza espiritual não são apenas resultados da fé, conforme popularmente se diz; fazem parte da natureza inerente da graça, que tem como seu objetivo a transformação do ser humano na natureza moral de Cristo, de forma que os homens podem vir a participar da mesma santidade e das mesmas perfeições de Deus (ver Rorn. 3:21; Heb. 12:14 e Mal. 5:48). Podemos dizer, pois, que Tiago contradiz a Paulo porque tinha um ponto de vista legalista sobre as obras, e não uma idéia "mística". Faltava-lhe o discernimento que encontramos em Fil. 2:12,13. Contudo, enquanto lhe faltava esse "discernimento", não lhe faltava a intuição que as "obras", segundo determinadas considerações, são necessárias para ajustificação e para a salvação. Podemos desculpá-lo por sua expressão desajeitada dessa intuição, porquanto levantou ele uma questão vital, de que muito se precisa na igreja evangélica moderna, onde domina a "crença fácil". Deveríamos aprender, da epístola de Tiago, ainda que não concordemos com seu modo de expressão, que um homem precisa assumir a imagem de Cristo, duplicando a vida de Cristo em sua própria vida; é mister que Cristo viva por seu intermédio; é preciso que consiga a vitória moral; é necessário que seja transformado, porquanto, de outra maneira, nem ao menos ter-se-á convertido. Não basta alguém aceitar certo credo para imaginar, tolamente, que isso obriga Deus a aceitá-lo, por causa de sua "correta opinião". Precisamos possuir aquela fé que transforma a vida inteira, espiritualizando-a segundo os moldes de Cristo, formando em nós a vida de Cristo (ver João 5:25,26 e 6:57). É como se Tiago houvesse dito em tons sarcásticos: "A correta opinião a ninguém pode salvar" (Comparar com Tia. 2: 19). Somente a vida transformada nos pode conduzir realmente à salvação (ver II Tes. 2: 13). 10. Paulo, Tiago e Jesus. Talvez o problema mais vexatório do NT é o que indaga: -Onde ficava Jesus, nessa controvérsia?- Visto que Ele falou antes do surgimento da mesma, não há qualquer Escritura a respeito. Apesar de que, nas citações que temos de Jesus, em regra geral parece que Ele tomava a posição judaica comum sobre o meio de salvação, devemos supor que não lhe faltava a

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TIAGO (LIVRO) compreensão paulina sobre as obras espirituais. em contraste com as "obras legalistas". Portanto, apesar de que não usou a exata terminologia empregada pelo apóstolo dos gentios, quanto às idéias, podemos ter a certeza de que Cristo concordava com a abordagem paulina. E já que Paulo pôde afirmar que os demais apóstolos concordavam com ele, no tocante à natureza do Evangelho (ver Gal, 2;2 e ss), precisamos crer que Pedro

e os demais apóstolos não viam qualquer contradição básica entre o que Paulo e Jesus ensinavam. Sem dúvida, se Paulo tivesse entrado em qualquer contradição relativa a Jesus, Pedro e os demais ter-se-iam colocado ao lado de Jesus e contra Paulo. Portanto, Paulo deve ter ensinado de acordo com a realidade das obras espirituais, contradizendo o sistema judaico comum de "méritos". Sendo essa a verdade, continua sendo um fato que Paulo trouxe à luz diversos conceitos da verdade espiritual que Jesus nunca explanou para os seus discípulos originais. Esses conceitos aumentam grandemente o nosso entendimento acerca do destino daqueles que se acham em Cristo, acerca da glória ali envolvida, acerca da magnitude do poder e do desenvolvimento espirituais que isso representa. Nas revelações dadas por meio de Paulo, o cristianismo deu um prodigioso salto para a frente, em comparação com o pensamento judaico e com a experiência espiritual. A graça é a livre dádiva de Deus para nós, por intermédio de Cristo. Quando olhamos para a salvação como dom de Deus, estamos falando sobre a graça divina. Porém, à graça em nós operante, ao poder do Espírito no íntimo, chamamos de "obras". Portanto, a graça divina, vista do ponto de vista diferente, pode ser chamada de "graça" ou de "obras"; mas, seja como for, tudo procede da parte de Deus, embora deva haver uma reação humana favorável. O legalismo vê um dos lados da questão com diáfana clareza; sabe que a espiritual idade deve produzir algo. Essa foi a contribuição do legalismo. Confronta a "crença fácil" e a chama de "fingimento". Porém, o legalismo é míope, tendendo para a superficialidade, porquanto normalmente diz que quando obedecemos aos mandamentos da lei, obtemos o favor de Deus. Esse é o grande erro do legalismo, e contra isso é que Paulo se opunha amargamente. O legalismo tem a tendência de se escorar no braço da carne, fazendo da salvação uma questão de conta corrente de méritos e deméritos, em vez de reconhecer a total espiritualidade do processo da salvação, que envolve a transformação de alma, e não meramente a bondade que se poderia acumular através de observâncias minuciosas. VIII. Propósitos e Ensinamentos As notas acima nos indicam a maior parte dos propósitos e ensinamentos desta epístola. Consideremos, entretanto, ospontos seguintes: 1. Um de seus propósitos é puramente polêmico. Ele procura refutar as inovações acrescentadas à teologia paulina; isso ele faz na ignorância, entretanto, por faltar-lhe as revelações mais profundas de Paulo. E o autor da epístola exibe umajusta indignação, pensando que fazia o bem, ao assim combater aquelas idéias. E verdade que tinha certo discernimento, mas se expressou desajeitadamente, mediante uma terminologia e uma mentalidade nitidamente legalistas. Certamente a passagem de Tia. 2: 14 e ss, é uma refutação às idéias do quarto capítulo da epístola aos Romanos, ou é mesmo um assédio direto contra as idéias ali expostas. (Ver a seção VII deste artigo quanto a notas expositivas completas sobre a questão).

2. Porém, a intenção do autor sagrado foi boa. Ele queria que soubéssemos (e nisso estava com a razão), que opiniões corretas sobre as verdades cristãs não são suficientes; deve haver uma vida espiritual vital, pois, do contrário, a fé estará morta. 3. Além disso, ele desejava fornecer instruções éticas concretas, que envolvessem muitos pontos. Este livro constste, essenctalmente, em um tratado qUl: visa ual instruções morais. Assim sendo, ele aborda a questão da tentação. Alguns indivíduos punham a culpa em Deus por seus próprios erros e pecados, supondo, virtualmente, que Deus assim os "fizera" (ver Tia. 1: 12 e ss). Tiago refuta, violentamente, esse conceito. Também exortou à oração e à mentalidade espiritual (ver Tia. 1:5); repreendeu a ira e o mau gênio (ver Tia. 1: 19 e ss); insistiu sobre a prática das boas obras (ver Tia. 1: 22 e ss). Assim nos deu uma das nossas definições centrais acerca da verdadeira religião (ver Tia. 1:27). A verdadeira religião, pois, consiste na pureza pessoal, bem como em atos de bondade para com o próximo. Tiago também repreende a soberba (ver Tia. 2: 1 e ss) e o favoritismo, na mesma passagem; mostra como a atividade moral deve incluir a lei inteira, e não meramente alguns pontos da mesma, e cria ser isso possível para os homens (ver Tia. 2: 10 e ss). Também repreendeu vivamente os pecados da I íngua (ver Tia. 3: 1 e ss); denunciou o mundanismo (ver Tia. 4: 1 e ss); advertiu os ricos acerca da dependência às suas possessões e aos seus excessos (ver Tia. 5: 11 e ss). A leitura da própria epístola realmente serve de observação sobre os muitos mandamentos morais do autor sagrado, e o que expomos aqui é apenas um exemplo. 4. Seus propósitos não eram essencialmente teológicos, com exceção da passagem de Tia. 2:14 e ss. Lutero tinha razão ao reconhecer a "esterilidade" do conteúdo teológico dessa epístola. Nada tem das elevadíssimas doutrinas cristãs que se acham nos escritos de Paulo, exceto que o ensino sobre a "parousia" (a segunda vinda de Cristo) é reputado como algo que poderia acontecer em breve (ver Tia. 5:7). Por essa razão é que Lutero a chamou de "epístola de palha", porquanto, para ele, não podia eq uiparar-se com as epístolas de Paulo, especialmente Romanos, ou com a primeira epístola de Pedro e o evangelho de João. Ele sumariou o seu ponto de vista ao dizer: "Louvo à epístola de Tiago, e a considero boa, porquanto não ensina qualquer doutrina humana, e afirma severamente a lei de Deus" (Introdução à Epístola de Tiago). Talvez esse seja um sumário tão bom quanto qualquer outro que se possa fazer acerca do caráter dessa epístola. "Sempre que a fé não resulta em amor, e o dogma, por mais ortodoxo que seja, aparece desvinculado da vida diária; sempre que os crentes são tentados a aceitar uma religião centralizada no próprio homem, tomando-se eles esquecidos das necessidades sociais e materiais de outros; ou sempre que negam, com a sua maneira de viver, ao credo que professam, e parecem por demais ansiosos por serem amigos do mundo, mais do que de Deus, então a epístola de Tiago tem algo a dizer-lhes, e que só rejeitam com perigo próprio". (fyndale N.T. Commentary, Introdução à Epístola de TIago). Há vários abusos contra os ensinamentos da epístola a Tiago, segundo se vê nos pontos seguintes: 1. Alguns vêem um certo apoio à idéia medieval da "extrema unção, em Tia. 5:14,15; 2. Outros vêem a idéia que a justificação é ajudada mediante obras legalistas, em Tia. 2:14 e ss; 3. e outros são encorajados e levados a permitir extremismos

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TIAGO (LIVRO) - TIAGO (PESSOAS) na prática da confissão pública de pecados, com base em Tia. 5:16. IX. Linguagem Quanto às características literárias, a epístola de Tiago demonstra afinidades com o tratado aos Hebreus, embora nunca se mostre tão eloqüente como O mesmo. Foi escrita em grego excelente, que demonstra conhecimento das delicadezas das habilidades retóricas do grego, como a aliteração, a diatribe, etc., além de demonstrar excelente escolha das palavras. Sua seleção e uso dos modos dos verbos gregos são superiores à de qualquer dos demais livros do N.T. Quanto à sua prática da aliteração, ver as três palavras proeminentes em Tia. 1:21, começando com a letra grega "delta". O autor sagrado exibe a prática de introduzir cada sentença de uma série de cláusulas ou sentenças interrelacionadas com a mesma palavra, o que se denomina "paranomásia" ou "assonância". Com freqüência ele situa duas ou mais palavras em íntima justaposição, com o mesmo som ou sons finais, conforme se vê em Tia. 1:7,14; 2:16,19 e 5:5,6. Suas sentenças são francas e vívidas, dotadas de uma certa concisão epigramática. Alguns estudiosos consideram o grego usado na epístola de Tiago segundo apenas em relação à epístola aos Hebreus, em todo o NT. Não há qualquer indício de que esse trabalho é uma tradução, o que sem dúvida, não poderia ocultar, se assim fosse. Portanto, é duvidoso que qualquer dos discípulos originais de Jesus, ou um irmão seu, um aldeão galileu, tivesse podido escrever essa epístola. Ainda que o seu autor fosse bilíngüe, é extremamente duvidoso que ele pudesse ter adquirido bastante educação formal, da variedade helenista, para poder expressar-se com as delicadezas da retórica grega. E possível, todavia. que Tiago (irmão do Senhor, ou outro do NT), pudesse ter tido seu trabalho cuidadosamente revisado (e modificado em alguns lugares) por um discípulo cuja linguagem nativa foi o grego. O vocabulário da epístola de Tiago se reduz cerca de quinhentas e setenta palavras. Dentre essas, setenta e três não aparecem em qualquer outra porção do NT, mas somente vinte e cinco não se encontram no AT grego (Septuaginta), e somente seis não se acham nem no Antigo e nem no Novo Testamentos. O autor sagrado conhecia e usou a Septuaginta (tradução do original hebraico do AT para o grego, completada bem antes da era apostólica), conforme se vê em Tia. I: 10 e ss, (ver Isa. 40:6 e ss); Tia. 2:21 (ver Gên, 212,9); Tia. 4:6 (ver Pro. 3:34); Tia. 5:6, (ver Pro. 3:34). Os hebraísmos são poucos, entre os quais podemos encontrar os de Tia. 5: 10, 14. Isso não inclui, naturalmente, suas citações extraídas do AT, as quais podem conter hebraísmos, por razão do fato de que a Septuaginta os exibe. X. Conteúdo I. Saudação (1: 1) 11. O Teste da Fé (l :2-4) III. Deus Responde à Oração e dá Sabedoria (l :5-8) IV. A Futilidade das Riquezas (1:9-11) V, Promessa aos Vencedores (1:21) VI. A Tentação ao Mau não Vem de Deus (l: 13-15) VII. Todas as Coisas Boas Procedem de Deus (1:16-18) VIII. Contra a Ira e o Mau Temperamento (1: 19-21) IX. O Fazer Adicionado ao Ouvir (l :22-25) X. O Abuso da Língua (1:26) XI. Definição da Verdadeira Religião (1 :27) XII. Contra o Respeito Humano (2: 1-13) XIII. Fé e Obras, Opostas e Unidas (2: 14-26) XlV. Os Males da Língua (3:1-12)

XV. A Sabedoria Mundana (3: 13-18) XVI. Reprimenda Contra os Desejos Mundanos (4: 1-10) XVII. Mais Males da Língua (4: 11,12) XVIII.Confiança na Providência (4: 13-16) XIX. O Pecado de Omissão (4:17) Xx. Desgraça Espiritual dos Ricos (5: 1-6) XXI. A Parousia e a Paciência Cristã (5:7-11) XXII. Contra os Juramentos (5: 12) XXIII.Conduta na Tristeza e na Alegria (5: 13) XXIV,Sobre a Enfermidade (5:14-18) XXv, Bem-aventurança de Quem Converte ao Errante (5:19,20) XI. Bibliografia AM BK E EN 1IB 10 LAN LAN MIT NTI TI VIN RO OZ TIAGO (PESSOAS) O Nome. No hebraico temos a palavra Yaakov (Jacó). O grego é Iákobos. A Vulgata Latina diz Iacobi. A Bíblia portuguesa, no Novo Testamento, traduz esse nome por Tiago; e a Bíblia inglesa por James. É diflcil entender por que isso sucedeu, pois a forma mais normal e direta de traduzir o nome seria por Jacó. Quanto a uma completa explicação sobre o significado da palavra hebraica, ver sobre Jacó, primeira seção. 1. Apóstolo, filho de Zebedeu, irmão do apóstolo João; pescador galileu; chamado por Cristo para ser apóstolo (ver Mal. 4:21). Parece ter sido um dos três discípulos favoritos de Jesus tendo estado em sua companhia quando da ressurreição da filha de Jairo (ver Mar. S:37) e quando da transfiguração do Senhor (ver Mar. 9:2). Ele e seu irmão, João, receberam a alcunha de "Boanerges", que significa "filhos do trovão", por causa da disposição explosiva e violenta dos dois. Demonstraram essa disposição impetuosa ao sugerirem que Jesus destruísse uma aldeia dos samaritanos, que havia repelido os seus mensageiros (ver Luc, 9:54). Eles, a mãe deles, ou todos os três, pediram a Jesus posições e privilégios especiais no reino que Jesus estava prestes a estabelecer, e, em vez disso, foi-lhes prometido que participariam do seu batismo, o que envolvia morte violenta por amor a Ele. Nesta altura da narrativa do NT o cumprimento dessa predição de Jesus tem lugar, pelo menos no caso de Tiago. A natureza veemente natural a Tiago muito provavelmente se evidenciou em seu zelo evangelistico (embora Lucas nada nos diga sobre o ministério de Tiago, após a ressurreição de Cristo), e isso talvez tenha sido uma das causas de haver sido separado para receber a coroa do martírio. Sem dúvida ele deve ter sido uma figura diflcil para os judeus e para Herodes, o que teria apressado o seu martírio, embora não encontremos qualquer informação exata no NT sobre essa particularidade. Há uma tradição, preservada nos escritos de Eusébio (História 119), que é apresentada como originada por Clemente de Alexandria e nos informa que o acusador de Tiago se converteu, ao observar a sua fé e paciência em sua grande provação, em face do que confessou publicamente a sua fé em Jesus Cristo, tendo sido levado à execução em companhia do apóstolo, que lhe conferiu a bênção de despedida: "Paz seja sobre ti!" Morte por Decapitação. Este Tiago, irmão de João, foi decapitado por Herodes (Atos 12:2). Sua morte foi legalmente executada, de acordo com as leis romanas, pois, com Herodes Agripa, a dinastia herodiana voltou quase com a mesma parcela de autoridade que tivera sob Herodes, o Grande. Cláudio nomeou Herodes Agripa sobre a Judéia

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TIAGO (PESSOAS) - TIAGO, APOCALIPSE DE e a Samaria. Foi esse o "rei Herodes", que dessa maneira teve autoridade para executar Tiago e aprisionar Pedro, sem qualquer consulta com as autoridades romanas, segundo era necessário os judeus fazerem, mediante o representante do governo romano, quando queriam aplicar contra alguém a punição capital. O fato de que foi decapitado mostra-nos que foi executado por sentença de um governante civil, pois, se porventura houvesse sido julgado por blasfêmia ou heresia, por parte do sinédrio, teria morrido por apedrejamento. Naturalmente, por detrás da acusação civil, sem importar qual tenha sido ela, na realidade havia uma acusação religiosa, provavelmente mais no caso de Tiago do que no caso de João Batista, que morreu, da mesma maneira, por ordem de Herodes Ântipas, tio de Herodes Agripa. Os judeus consideravam a morte por decapitação unia maneira vergonhosa de morrer (ver Mal. 14: 10). Essa maneira de executar Tiago, sem dúvida, agradou aos judeus incrédulos. João Batista contava com muitos seguidores, pregava a inauguração de um novo "reino" e, segundo nos revela Josefo, o grande historiadorjudeu, era considerado um rival político por Herodes. Por isso, Herodes Ântipas tinha muitas razões para querer se livrar dele. Herodes Ântipas, entretanto, apesar de ter agido por motivos políticos, não tinha qualquer acusação válida, política ou civil, para justificar a sua ação. Meramente pensou ser boa medida política mostrar-se favorável aos judeus, e o sacrificio da vida de um homem inocente pareceu-lhe preço pequeno a ser pago, contanto que obtivesse as suas finalidades astuciosas. 2. Tiago, filho de Alfeu, outro dos doze apóstolos (ver Mat. 10:3 e Atos 1:13). Ele é usualmente identificado como Tiago, o Menor, filho de Maria (ver Mar. 15:40), a fim de ser distinguido do outro Tiago, irmão de João. O titulo, "o Menor", dizia respeito ou à sua idade (isto é, mais jovem que o outro Tiago), ou à sua estatura (isto é, mais baixo do que Tiago, irmão de João). O mais provável é esta última possibilidade. Diz-se que o Tiago aqui em vista foi morto por ordem de Ananias, o sumo sacerdote dosjudeus, durante o reinado de Nero. E surpreendente quando observamos quão pouca informação temos sobre certos apóstolos de Jesus, ao passo que figuras secundárias, como Estêvão e Filipe (que eram diáconos e evangelistas), recebem um espaço consideravelmente maior, no relato neotestamentário. Tiago, filho de Alfeu, é mencionado somente por quatro vezes em todo o Novo Testamento Mal. 10:3; Mar. 3:18; Luc. 6:15 e Atos 1:13. Embora ele não seja destacado entre os demais, sabemos, contudo, que ele participou da maioria das experiências do Senhor Jesus, descritas nos evangelhos. Tiago, filho de A1feu, encabeça a lista do terceiro grupo de quatro apóstolos cada. Mateus e Marcos vinculam-no a Tadeu, ao passo que Lucas e Atos ligam-no a Simão, o zelote. Visto que Mateus também é chamado filho de A1feu (comparar Mal. 9:9 e Mar. 2:14),é possível que Mateus e Tiago, filho de Alfeu, fossem irmãos. Se isso era verdade, então, é admirável que esses dois homens nunca apareçam associados em qualquer sentido nos relatos dos evangelhos, conforme se vê, para exemplificar, no caso dos filhos de Zebedeu, Tiago e João. Por isso mesmo, alguns estudiosos opinam que Alfeu, pai de Tiago era um, e que A1feu, pai de Mateus, era outro. Antigas tradições dizem que Tiago, filho de Alfeu, era da tribo de Gade, E essas tradições também dão conta de que ele foi apedrejado pelos judeus, por haver pregado o Evangelho cristão, tendo sido sepultado em um santuário, em Jerusalém.

Se esse Tiago era o mesmo que, noutros trechos, é chamado Tiago, o Menor, então sua mãe, Maria, era uma daquelas mulheres que estiveram presentes à crucificação de Jesus (Mal. 27:56 e Mar. 15:40), bem como na ocasião em que se descobriu que o túmulo de Jesus estava vazio (Mar. 16:1 e Luc. 24: 1O). Alguns têm-na identificado com a Maria que era esposa de Clopas (João 19:25). Todavia, as palavras "de Clopas" poderiam indicar "filha de", conforme diz a versão árabe do evangelho de João. Se ela fosse esposa dele, então como reconciliar Clopas e A1feu como o pai de Tiago? Talvez esse homem fosse conhecido por dois nomes diferentes. O que, sem dúvida, era claríssimo para os discípulos de Jesus, para nós tomou-se obscuro, por falta de maiores informações. 3. Tiago, irmão do Senhor Jesus, que é mencionado em companhia dos outros irmãos de Cristo, Joses, Simão e Judas. (Ver o artigo sobre a Família de Jesus). E patente que nenhum dos irmãos de Jesus aceitou a sua autoridade, antes de sua ressurreição (ver Mar. 3:21). Depois de já ressurrecto, quando Jesus lhe apareceu, Tiago se tornou líder da igreja de Jerusalém (ver Gál. I: 19; 2:9 e Atos 12: 17). A tradição faz dele o primeiro bispo ou pastor de Jerusalém, supostamente nomeado pelo próprio Senhor Jesus (ver Eusébio, História Eclesiástica VII. 19). Parece ter presidido o primeiro concílio, em Jerusalém, o qual foi convocado para considerar as condições de admissão dos gentios na Igreja cristã. Tiago, pois, ajudou a formular os decretos de liberdade que foram promulgados em beneficio das igrejas cristãs de Antioquia, Síria e Cilícia (ver Atos 15: 19-23). Continuou, entretanto, a ter fortes simpatias para com O judaísmo, o que se demonstra pela sua solicitação de que Paulo tomasse voto, segundo o costume judaico, a fim de agradar aos irmãos de tendências legalistas de Jerusalém, como igualmente, é quase certo, outros judeus fizeram, conforme vemos no registro de Atos 21: 18 e ss. (Ver também Gál. 2: 12, onde há outra indicação das tendências para o legalismo, desse Tiago, irmão de Jesus). De conformidade com Hegesipo, citado por Eusébio (História Eclesiástica, 11. 23), ele era chamado de "o Justo" por causa de sua estrita aderência à santidade cerimonial judaica e de sua austera maneira de viver. Sofreu martírio por apedrejamento, às mãos do sumo sacerdote judeu Anano, durante um intervalo de falta de autoridade civil, após a morte do procurador Festo, em 61 d.C., de acordo com o que anotou Josefo (ver Antiq. xx.9). O perdido evangelho apócrifo segundo aos Hebreus tinha uma narrativa sobre uma aparição especial de Jesus a Tiago, o que, mui provavelmente, não passa de uma lenda. Sabemos disso nos escritos de Jerônimo. "De viris ilustribus 11". Esse Tiago, irmão de Jesus, é tradicionalmente o autor da epístola de Tiago, onde se refere a si próprio como "...servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão..." (Tia. 1:1). Mas essa autoria é posta em dúvida por muitos (Ver o artigo sobre Tiago, Epístola de, sob o título "Autoria"). 4. Há um Tiago mencionado nos trechos de Luc. 6:16 e Atos 1: 13, que, em algumas traduções, aparece como irmão do apóstolo Judas (não o Iscariotes). Porém, o original grego diz tão-somente "Judas de Tiago", o que, mui provavelmente, poderia ser mais acertadamente traduzido por "filho de". Assim sendo, Tiago seria o genitor do apóstolo Judas. TIAGO, APOCALIPSE DE Ver sobre Apocalipse de Tiago.

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TIAGO, ASCENSÕES DE - TIAGO, PROTO EVANGELHO TIAGO, ASCENSÕES DE Ver Ascensões de Tiago. TIAGO, PROTO EVANGELHO DE Esboço: L Caracterização Geral n. Data m. Autoria IV Integridade V Texto Vl.Conteúdo

I. Caracterização Geral Esse é mais antigo e mais bem conhecido de todos os evangelhos da infância de Jesus, os quais, alegadamente, fornecem-nos informações sobre a vida de Jesus, antes daquilo que é descrito nos evangelhos canônicos. Uma das tendências da literatura apócrifa era tentar preencher os hiatos que aparecem nos livros da Bíblia, sobretudo quanto à vida de Jesus. Além disso, a impressionante vida de Cristo excitava a imaginação de muitos, levando-os a escreverem descrições literárias genuínas, e também cenas inteiramente fictícias. Os evangelhos da infância de Jesus compõem uma parte dos Livros Apócrifos de Novo Testamento (vide). O proto-evangelho de Tiago, juntamente com o evangelho de Tomé, tomaram-se a base da coletânea dos evangelhos da infância de Jesus, que incluíam o evangelhos da infância em árabe e armênio, evangelho do pseudo-Mateus, além de outras obras semelhantes. Todos eles contêm alguma informação extraída dos evangelhos canônicos, juntamente com lendas, algumas das quais talvez tenham alguma base nos fatos, embora distorcidos. Porém, podemos ter plena certeza de que o conteúdo desses livros, em sua maior parte, não passa de fantasia. O proto-evangelho de Tiago, provavelmente, foi composto em algum tempo do século 11 d.C, refletindo a veneração em que Maria era tida entre os cristãos antigos. Exerceu forte influência sobre o desenvolvimento de uma mariolatria (vide) mais elaborada, que foi surgindo no decurso dos séculos. Esse prato-evangelho usa vários motivos veterotestamentários, especialmente extraídos da vida de Samuel. Cita, imita e refraseia os evangelhos canônicos. Mas também há ali suplementos, alguns dos quais podem ser autênticos, embora a maior parte, como já dissemos, seja fantasiosa. Assim, Jesus nasceu em uma caverna, conforme diz esse livro? A criação de Maria também é ali descrita, incluindo muitos pseudomilagres. É evidente que o autor desse livro não era bem instruído quanto aos costumes judaicos. Ele incorre em vários erros básicos no tocante a esses costumes. Ele diz que Maria foi criada no interior do templo de Jerusalém, algo impossível do ponto de vista da mentalidade judaica; e Joaquim foi presumivelmente impedido de fazer oferendas, porquanto não tinha filhos, o que, sem dúvida alguma, é outra tolice. O nascimento virginal é um ponto enfaticamente defendido. Sabemos que Jesus foi gerado pelo poder do Espírito Santo, sendo Maria uma virgem; mas o proto-evangelho de Tiago chega ao artifício de apelar para o testemunho de outras fontes que estão fora dos evangelhos canônicos. 11. Data Visto que esse documento foi escrito algum tempo antes do século IV d.C., conforme é evidenciado pelo fato de que a coletânea de papiros Bodmer, do século III d.C.,

continha essa obra. Ao que tudo indica, Orígenes conhecia esse livro, o que também pode ser dito acerca de Clemente de Alexandria. Justino refere-se à caverna onde, alegadamente, Jesus teria nascido, embora ele não tivesse tomado a idéia, obrigatoriamente, dessa obra. Visto que essa obra faz uso dos evangelhos canônicos (cujo cânon ficou estabelecido no século 11 d.C.), a obra não pode ser datada antes disso. Provavelmente, pois, foi escrita durante o decurso do segundo século da era cristã; mas não poderia ter sido escrita depois do terceiro século cristão, considerando-se as evidentes citações que procedem daquele tempo. IH. Autoria O caráter apócrifo, posterior e não-apostólico desse livro demonstra que não há qualquer chance de que a autêntica tradição apostólica tenha alguma coisa a ver com essa obra. As lendas extraneotestamentárias que ali estão contidas mesmo assim poderiam estar parcialmente baseadas em fatos. Pois era próprio dos livros apócrifos do Novo Testamento procurar alguma autoridade, mediante a utilização do nome de algum crente antigo, do primeiro século cristão, incluindo os apóstolos. Também era prática comum da época fazer-se isso na literatura secular. Por essa razão, naquele período histórico foram produzidos muitos livros pseudepígrafos, tanto de natureza secular como de natureza religiosa. Mas, não há como determinar quem foi o autor do proto-evangelho de Tiago. Sabe-se, entretanto, que seu autor deve ter sido um cristão intensamente religioso, interessado em promover as bases miraculosas de sua fé. Se, porventura, esse autor era judeu, então nem deve ter estudado o sistema do judaísmo, devido aos crassos erros das coisas que ele disse acerca das crenças e dos costumes dos judeus. Ver a primeira seção, acima. O parágrafo final do livro afirma que o mesmo foi escrito por Trago, talvez o irmão do Senhor ou o filho de Zebedeu; mas nenhuma identificação maior é dada. IV. Integridade A palavra integridade, quando aplicada a obras literárias, refere-se à unidade da composição de um livro qualquer. Um livro qualquer foi escrito por um único autor, ou mais de um escritor esteve envolvido, com a cooperação de algum editor ou autor-editor, em sua compilação final? Diversas unidades de um livro podem evidenciar o fato de que suas porções constitutivas foram escritas em ocasiões diferentes, pelo que certas dessas porções podem ser mais antigas do que outras. A unidade envolve, igualmente, o problema de várias edições de uma mesma obra. Um livro pode ter aproveitado algum material ao longo do processo de sua transmissão, em subseqüentes edições. Alguns dos proto-evangelhos de Tiago aparecem com passagens onde fala a primeira pessoa, ao passo que outras passagens não trazem tal pessoa, como é o caso de 18:2 desse livro. Isso poderia indicar uma mudança de autor. Orígenes refere-se à história da morte de Zacarias; mas, na forma em que conhecemos esse livro, ali não consta essa história. Isso poderia sugerir que essa cópia continha coisas que edições subseqüentes perderam, ou então que, desde tempos bem remotos, a obra foi lançada sob duas ou mais formas diferentes. O manuscrito Bodmer do livro contém um texto abreviado, omitindo parte do diálogo, no episódio de Salomé e sua criada A tendência dos escribas antigos era a de embelezar os textos que copiavam, e só mui raramente resumiam-nos. Par isso mesmo, usualmente os textos mais breves, de qualquer documento, são os mais antigos. Isso se aplica tanto aos manuscritos no Novo Testamento como a todos os manuscritos antigos que têm chegado até nós. Acresça-se

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TIAGO, PROTO EVANGELHO - TIATIRA a isso que certas porções de muitas obras são consideradas pelos eruditos como adições posteriores, sem falar no fato de que até mesmo um documento original pode ter. sido feito por compilação. Assim, parece ter havido três documentos principais que foram reunidos para formar a base do livro que estamos estudando: I. a Natividade de Maria (caps. 1-7); 2. um apócrifo de José (caps. 18-20); e 3. um apócrifo de Zacarias (caps. 22-24). E possível que os capítulos vinte e três e vinte e quatro tenham sido interpolações posteriores. Alguns estudiosos dizem que essa abordagem ao livro não é válida, supondo que o texto Bodmer, mais breve, seja um resumo. E possível que isso tenha sucedido, embora dificilmente sucedesse na transmissão dos textos antigos. V. Texto 1. O papiro Bodmer V, do século III ou IV d.C. 2. Alguns poucos manuscritos gregos posteriores. 3. Manuscritos latinos fragmentários, além de porções desse livro que têm sido preservadas mediante citações em obras latinas e outras. Há um número suficiente de cópias latinas para mostrar que, a certo ponto da história, o livro circulou largamente nesse idioma. 4. Manuscritos posteriores em armênio, etiópico, georgiano e outras línguas também existem. Strycker, que muito estudou os manuscritos desse livro, afirma que a tradição do mesmo é notavelmente homogênea e contínua, pelo que a forma que temos do mesmo é, essencialmente, digna de confiança. VI. Conteúdo A história de Jesus começa em seus anos mais verdes, nesse evangelho, do que se vê nos evangelhos do cânon cristão. Aparece a história do nascimento de Maria. Assemelha-se ao relato sobre Abraão e Sara, ou sobre ospais de João Batista. Ana, mãe de Maria, era estéril; Joaquim, seu pai, sentindo o opróbrio de ser um homem sem filhos, saiu ao deserto para meditar e lamentar por quarenta dias (o que os faz lembrar dos dias de Jesus no deserto), além de outros períodos bíblicos de provação que envolveram quarenta dias. Um anjo foi informar Ana de que ela teria uma criança. Assim, nasceu Maria. Com três anos de idade, foi residir no templo de Jerusalém, e passou a ser alimentada como uma pomba, recebendo alimentos das mãos de um anjo. Ao atingir os doze anos (lembremos o incidente da vida de Jesus, com essa idade) foi deixada ao encargo de José, um viúvo, a fim de ser cuidada por ele. Enquanto ele trabalhava como carpinteiro ela ficava tomando conta da casa. E ajudava tecendo véu do templo. Foi então que teve lugar a anunciação quando Maria tomou consciência de seu futuro papel de mãe do Messias. Uma vez grávida, Maria foi visitar Isabel (um paralelo do segundo capitulo do evangelho de Lucas). José acabou descobrindo o fato de que Maria estava grávida, o que representa outro paralelo, dessa vez de Mateus 1:18 ss, completo até mesmo com a informação sobre a virgindade de Maria, dada por um anjo. O sumo sacerdote ouviu falar sobre o caso, e José e Maria foram submetidos à prova, para ver se estavam dizendo a verdade; e, naturalmente, foram ambos aprovados. Diante do edito de Augusto, o casal vai a Belém da Judéia. José localiza uma caverna e ali deixa Maria, enquanto ele sai à procura de uma parteira. Na ausência de José, Jesus nasce no interior da caverna. Em seguida, vários incidentes são descritos, como a chegada tardia da parteira, a incredulidade de Salomé, a visita dos magos, a matança dos inocentes (um evento que leva Maria e José a removerem a criança para uma mangedoura, a fim de que ficasse melhor protegida). Além disso, João e Isabel são

miraculosamente salvos de serem mortos, Zacarias, pai de João, é morto diante do altar (o que faz dele a pessoa mencionada em Mat. 23:35). O parágrafo final identifica o autor com um Tiago não identificado, presumivelmente um dos irmãos de Jesus (o qual, alegadamente, foi o autor da epístola de Tiago, que faz parte do Novo Testamento), ou então o filho de Zebedeu, irmão de João, que tinha esse nome. Nesse livro, José aparece como um viúvo que se tomou guardião e protetor de Maria, mas não seu verdadeiro marido. Essa idéia é incluída para promover a noção da perpétua virgindade de Maria. A Igreja Católica Romana encontrou outra forma de preservar a perpétua virgindade de Maria, fazendo dela noiva perpétua de José, mas nunca esposa autêntica, porquanto continuou sendo virgem antes, durante e depois do parto de Jesus, ao mesmo tempo em que os irmãos de Jesus (ver Mar. 6:3) sê-lo-iam apenas por parte de José, que os teria gerado de sua primeira mulher. Como é claro, nada disso concorda com os ensinamentos do Novo Testamento. Na verdade, o casamento de José e Maria foi verdadeiro. Lemos em Mateus I :24,2S: "Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor, e recebeu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz o filho, a quem pôs o nome de Jesus... As palavras não a conheceu, enquanto ela não deu à luz o filho " deixam entendido que, após o nascimento de Jesus, José e Maria tomaram-se um casal normal; e geraram quatro filhos é varias filhas. Ver o artigo intitulado Irmãos de Jesus. (CH HEN SMID Z) TIAMATE A referência é o mito semítico e babilônico no qual as Águas Primitivas fornecem o material do qual os deuses, homens, os céus e a terra apareceram. Neste mito da criação, a mãe primitiva (Timate) está associada a um pai primitivo (Apsu). Eles são os pais dos deuses. Em um desenvolvimento posterior do mito, Marduque é o deus da vida e a luz, enquanto Timate é a personificação dos poderes da escuridão e do caos. Ela é representada como águas caóticas e como uma serpente enfurecida, um temeroso monstro dragão. Um estágio mais avançado dos mitos que cercam Timate são seus esforços com Marduque e depois Asur. Timate é morta e seu corpo é dividido no cosmo inferior e superior. A história é contada no épico nacional, Enuma elis. Alguns vinculam essa história com as descrições de Gên. 1.2, a versão hebraica do relato da criação, mas alguns estudiosos bíblicos a rejeitam com base lingüística. TIARA No hebraico mígbaoth, "turbantes", palavra que ocorre por quatro vezes no Antigo Testamento: Êxo. 28:40; 29:9; 39:28 e Lev. 8:13. Fazia parte da vestimenta do sumo sacerdote de Israel. Era feita de linho, e, aparentemente, tinha um formato cônico. Porém, não existe qualquer representação artística autêntica dessa peça, pelo que a sua natureza exata permanece duvidosa para nós. TIATIRA No grego, Thuteíra. Tiatira ficava cerca de trinta e dois quilômetros a suleste de Pérgarno, em uma estrada na planície aluvial entre os rios Hermo e Caico. Tanto nos dias da liderança de Pérgamo sobre a Ásia Menor, como posteriormente, quando a política internacional atraiu os romanos para a grande península, essa cidade derivava sua riqueza e influência do fato de que era um ponto central de comunicações. Essa cidade foi fundada

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TIATlRA por Seleuco I, um dos generais de Alexandre, o Grande. Foi Seleuco I quem, de todos os seus herdeiros, herdou o território mais extenso. O reino de Seleuco ia desde além de Antioquia da Síria até o vale do rio Hermo, onde suas fronteiras chegavam bem perto das de Lisímaco, o qual mantinha nas mãos parte do antigo litoral jônico da Asia Menor. Seleuco implantou ali um grupo de veteranos desmobilizados de Alexandre. Esses macedônios deveriam formar uma barreira contra todas as tentativas de perturbar as suas fronteiras. Em 282 a.C., rebelou-se Filetero, e foi fundado o dinâmico Estado de Pérgamo, destinado a perdurar por um século e meio. O novo Estado era uma área tampão entre Seleuco e Lisímaco. Porém, um Estado fundado sob tais circunstâncias não podia ser militarmente alerta; e Tiatira, um posto avançado na estrada para o Oriente, impedia qualquer agressão possível que partisse do Leste. A história do lugar, alinhavada, precariamente, com base em ruínas e moedas, sugere que Tiatira, em suas sempre flutuantes fronteiras, com freqüência, mudava de mãos, ao sabor da sorte nas armas das forças sírias ou de Pérgamo, que faziam avançar ou recuar as fronteiras. Tiatira, tendo de desempenhar permanentemente esse inevitável papel de posto militar avançado, não contava com uma acrópole poderosa, como se dava com Sardes e com Pérgamo. A cidade ficava em uma pequena colina. E só era valiosa, estrategicamente falando, porque uma confiante força de defesa, ali postada, era capaz de quebrar o ímpeto de qualquer assalto hostil, enquanto que uma defesa mais decisiva era organizada mais atrás. Esse dever militar impunha sobre aquela vulnerável cidade um estado de prontidão. Seus habitantes sabiam enfrentar o perigo e lutar, sem dependerem de qualquer defesa natural, mas contando exclusivamente com a sua coragem pessoal. A religiosidade refletia ali essa atitude de dever. Os soldados macedônios que a principio foram ali estabelecidos, adotaram a adoração a um certo herói local, que lhes servia de patrono, e que aparece nas primeiras moedas cunhadas ali, representando um guerreiro montado, armado de machado de guerra. E isso talvez explique o simbolismo do Cristo ressurrecto, na carta apocalíptica de João. As tropas romanas apareceram com toda a sua força na Ásia Menor, após terem derrotado a Síria de Antíoco, em 189 a.c., quando então a região passou, permanentemente, para o controle romano, quando o último dos monarcas de Pérgamo, intuindo os rumos da história futura, doou o seu reino à nascente república, em 133 a.c. Juntamente com a tranqüilidade da "paz romana", houve a aceitação da cidadania romana. Sob o imperador Cláudio, Tiatira começou a cunhar novamente as suas próprias moedas, após um lapso de nada menos de dois séculos. A abundância dessas moedas cunhadas em Tiatira, que continuaram sendo produzidas até o século III d.C., sugere um vigoroso comércio. A primeira pessoa a se converter a Cristo, sob o ministério de Paulo, foi Lídia, uma mulher de Tiatira, que vendia panos de púrpura em Filipos, a centenas de quilômetros longe de sua terra natal. A tinta púrpura ou carmesim, dos tecidos vendidos por Lídia, era uma manufatura local, extraída das raízes da planta chamada garança, um rival mais barato que o corante fenicio, extraído de um molusco, o murex. A prosperidade comercial atraiu uma minoria judaica respeitável para Tiatira, pois os judeus, antes dedicados às atividades agrícolas, começaram a se interessar pelo mundo dos negócios e do comércio, no exílio. De fato, esse tipo de atividade haveria de tomar-se uma das marcas registradas dos filhos de Israel, na dispersão. Famosos artigos de

exportação, de Tiatira, eram tecidos e vestes tingidos, além de armaduras de bronze. Uma moeda de Tiatira exibe Hefesto, o ferreiro divino, amoldar um capacete na bigorna. E a palavra grega chalcolibanos, "bronze polido" em nossa versão portuguesa (ver Apo. I: 15 e 2: 18), pode ter sido um nome comercial próprio de Tiatira, usado para emprestar certo colorido local à carta do Senhor Jesus à igreja cristã ali localizada. Realmente, é possível que as atividades comerciais fossem a questão crucial dos problemas dos cristãos da cidade. Não têm sido encontradas inscrições em grande quantidade, mas as poucas que ali têm sido descobertas falam em trabalhadores em lã, linho, couro e bronze, além de oleiros, padeiros, tintureiros e comerciantes com escravos. Cada um dos grupos profissionais contava com a sua guilda particular, como a dos ourives de Êfeso. As epístolas de Paulo aos crentes de Corinto servem de clara indicação de que as guildas comerciais, com sua exigente vida social, com seus ritos pagãos e com suas festas periódicas, haveriam de ser problemas sérios para os cristãos fiéis que, por motivo de consciência, quisessem repelir a licenciosidade do mundo ao redor deles. Era dificil alguém se abster das festividades das guildas sem perder alguma coisa no mundo dos negócios, em termos de aceitação e prestígio social. Por outro lado, ajustar-se a tais costumes era expor-se à licenciosidade dos ritos pagãos, que assinalavam os banquetes das guildas. Aquela seção da Igreja cristã, com ritos de sua pureza, buscava alguma forma de transigência Estamos falando sobre os nicoláitas (vide). Parecem ter sido liderados por uma habilidosa mulher, a quem João chamou de Jezabel. Esse apelido foi escolhido deliberadamente, com base no casamento de Acabe, rei de Israel, com Jezabel, filha do rei de Tiro. Esse casamento fora um compromisso, com o intuito de fomentar o comércio entre Samaria e os fenicios. Tal matrimônio foi um grande desastre, conforme Elias demonstrou. João, autor do Apocalipse, denunciou essa mulher, proferindo contra ela uma horrível condenação: "Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam dasobras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações e vos darei a cada um, segundo as vossas obras" CApo. 2:22,23). Uma Inscrição encontrada por Ramsay, em Tiatira, mostra que ali, nos festejos públicos, as mulheres eram segregadas dos homens. Portanto, que as vitimas daquela pervertida mulher a abandonassem, deixando-a cair na condenação que inevitavelmente lhe sobreviria. Essa forma de heresia estava destinada a tornar-se generalizada na Igreja antiga, conforme a última carta de João, III João, o demonstra. Talvez esse tipo de heresia tivesse começado em Tiatira. E a exortação da carta do Senhor Jesus aos crentes de Tiatira conclui como segue: "Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as causas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente conservai o que tendes, até que eu venha" CApo. 2:24,25). O simbolismo existente nessa carta a Tiatira é local e muito chama à atenção. Em Apocalipse 2: 18, Cristo aparece como quem tinha os pés semelhantes ao "bronze polido". Ora, o bronze era um dos produtos mais conhecidos de Tiatira. A promessa de Cristo, nos versiculos 26 e 27, também reflete a natureza militar dessa cidade. Jezabel é uma personagem extremamente simbólica, desde o Antigo Testamento, falando em transigência e apostasia, por amor ao comércio, devido à sociedade firmada com um poder pagão.

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TIATIRA (IGREJA E CARTA À) - TIBERÍADES TIATIRA (IGREJA E CARTA À) Ver Apo. 2:18-29 Historicamente, houve uma igreja em Tiatira, com as condições aqui descritas. Em qualquer época, em alguma situação local, existem tais condições, pelo que essa carta também tem uma mensagem "universal", de importância perene. Portanto, ela envolve símbolos e lições espirituais que são aplicáveis a qualquer época. Profeticamente, pensa-se que Tiatira representa a Idade das Trevas, de 500 a 1500 d.C., durante a qual triunfaram as posições de Balaão e dos nicolaitas (ver Apo. 2:6,14,15. Ver os artigos sobre Balaão e os Nicolattas. Ver Apo. 1:4 quanto ao significado" e simbolismo das "sete igrejas" do Apocalipse). O vidente João escolheu um "círculo" de cidades, para as quais escreveu. Começando por Efeso, e seguindo os locais mencionados, até voltar a Efeso, consegue-se um círculo geográfico, embora mal traçado. Portanto, naquelas igrejas está refletida a Igreja cristã de todos os séculos, pelo que tais cartas jamais poderão perder a sua aplicação. A carta à igreja de Tiatira é, ao mesmo tempo a mais longa e a que mais fortemente reflete uma condição de total corrupção. Há um único versículo que "elogia" o que havia de bom ali; mas há cinco versículos que descrevem seus males e trazem advertências necessariamente severas (ver Apo. 2:20-23,27). A carta mostra-nos que a igreja pode decair a um nível baixíssimo, e, apesar disso, ser chamada uma igreja. Mostra o triunfo do paganismo na Igreja, especialmente no tocante aos seus padrões morais, no tocante aos costumes sexuais, que vieram a ser tolerados no cristianismo, e que dominaram até mesmo os líderes da Igreja. Tiatira era uma cidade da província romana da Ásia, área agora ocupada pela parte ocidental da moderna Turquia. Foi fundada como guarnição fronteiriça por Seleuco I, da Siria (século IV a.C. ) Posteriormente, tomou-se uma guarnição da fronteira oriental do reinado de Pérgamo. Juntamente com aquele reino, passou para as mãos dos romanos, em 133 a.C, Era junção importante no sistema rodoviário dos romanos, estando situada na estrada que vinha de Pérgamo, a capital da província, para Laodicéia e, dai, para as províncias orientais. Comercialmente, era próspera (indústria de tintas, fabrico de roupas, cerâmica e objetos de bronze), mas, politicamente, nunca conseguiu grande importância, sendo a menos importante das sete cidades para onde o livro de Apocalipse foi originalmente enviado. Tal como na maioria das cidades daquela região, nos tempos neotestamentários, Tiatira tinha muitos templos dedicados a vários deuses. Havia o templo de Apoio, o de Tirimanios, o de Ârternis e um santuário a Sambate, uma sibila (ou oráculo oriental). A Igreja cristã não medrou ali por longo tempo. Logo tornou-se um dos centros do montanismo (ver Epifânio, Haer. 1i.33), uma seita carismática e apocalíptica cristã. Essa seita era ardorosamente antimundana, pelo que muitos foram atraídos por ela, incluindo o famoso Tertuliano, o grande teólogo africano. Contudo, a corrente principal da Igreja repeliu a essa seita, sobretudo devido aos seus excessos. Pelos fins do segundo século de nossa era, não mais havia ali qualquer Igreja cristã. A primeira convertida européia de Paulo, Lídia, era de Tiatira, sendo bem possível que ela fosse uma agente da indústria fabril de Tiatira. Em Filipos ela vendia suas mercadorias de púrpura., suas lãs tingidas. Mas foi à beira do rio que ela se encontrou com Cristo, e a missão européia estava a caminho, ao passo que o Oriente foi gradualmente rejeitando a fé cristã, o que tem sucedido desde então.

Na carta presente, podemos distinguir várias características de Tiatira. A descrição de Cristo, "olhos de fogo", talvez reflita a adoração a Apolo, o deus-sol; os seus pés, como "bronze polido", podem ser alusão à indústria de bronze da cidade. A linguagem "militar", como "a execução" dos filhos de Jezabel (vigésimo terceiro versículo), e o governo do poder de Cristo sobre as nações, mediante a conquista universal (ver os versículos vinte e seis e vinte e sete), pode ser uma alusão à história militar de Tiatira, e como guarnição de fronteira. Jezabel, embora tenha sido, sem dúvida, uma personagem histórica, uma mulher que causava dificuldades na igreja, "representa" a tendência natural da igreja em terras pagãs, primeiramente tolerando e então "misturando" elementos pagãos dentro da fé cristã. Historicamente falando, certamente o "gnosticismo" é aqui referido, o qual anunciava um falso evangelho, destituído de imperativo moral. Profeticamente, é retratada a Igreja da Idade das Trevas, que de muitas maneiras se tomou inteiramente paganizada. E outros símbolos são explanados, à medida que vão sendo encontrados em cada versículo. Atualmente, uma ampla aldeia, de nome Akhisar, está situada no mesmo local da antiga cidade.

TIBATE No hebraico, "extensão". Essa cidade, capital de Hadadezer, rei de Zobá, só é mencionada na Bíblia por uma vez, em I Crônicas 18:8. A cidade foi despojada por Davi, juntamente com a cidade de Cum. Havia, na antiguidade, duas outras cidades, com nomes semelhantes, como Tebata, na porção noroeste da Mesopotâmia, e Tebeta, ao sul de Nisilbis. Grande parte do bronze usado nos móveis e utensílios usados no templo de Jerusalém veio de Tibate. O trecho paralelo de II Samuel 8:8 diz Betá, mas alguns estudiosos pensam que houve inversão de sílabas, e que deveríamos ler ali "Tebá", O local dessa antiga cidade é desconhecido. TIBERÍADES 1. Nome. Herodes Antipas assim nomeou a cidade em honra de Tibério, imperador reinante. Seu nome era Tibério Cláudio César Augusto, o segundo imperador de Roma e governante nos dias do ministério de Jesus Cristo. Originalmente, o nome significava "pertencente ao rio de Ttberis (Tiber)", e portanto fazia referência aos cidadãos romanos (ou seus ancestrais) que viveram perto daquele rio. A cidade foi fundada entre 18 e 22 a.C. 2. Localidade. Era uma de nove cidades localizadas ao redor do mar da Galiléia, situando-se no litoral ocidental daquele lago. Localizava-se na orla da antiga cidade murada chamada Racate (Jos. 19:35). Foi construída sobre um cemitério, e os judeus, por causa disso, evitavam passar por ali. Tudo indica que Jesus também evitou o local, visto não haver menção de nenhum ministério que porventura tivesse exercido ali. É provável que sua esquivança se baseasse na mesma razão, ou talvez Jesus visitasse o lugar, mas os escritores dos Evangelhos, não querendo ofender os judeus, omitiram de seus livros qualquer menção a tal ministério. 3. Herodes, ignorando o tabu, construiu no local uma de suas residências régias (Josefo, Ant. XVIII.ii.3). Os romanos fizeram dela uma cidade tipicamente romana. Ergueu-se ali uma sinagoga, que evidentemente nunca foi usada. O boicote que os judeus fizeram ao lugar levou Herodes a povoá-lo de gentios. Curiosamente, depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., o lugar veio a ser um centro de culturajudaica, e com isso a história do cemité-

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TIBÉRIO - TIGLATE-PILE8ER TIevÁ No hebraico, "esperança". Esse é o nome de duas personagens do Antigo Testamento, a saber: 1. O sogro da profetisa Hulda (11 Reis 22:14). Em 11 Crônicas 34:22, entretanto, ele é chamado de Tocate. Era pai de Salum (vide). Viveu em tomo de 640 a.C. 2. Pai de Jascias (Esd. 10:15). Seu nome também ocorre no livro apócrifo de I Esdras 9:14. Jaselar, (vide) foi um daqueles que se ocuparam na alistagem dos judeus que se tinham casado com mulheres estrangeiras. Viveu por volta de 445 a.C.

rio aparentemente perdeu seu vigor. Em 150 d.C., o Sinédrio teve ali uma sede e os primórdios do Talmude e do texto massorético ocorreram ali. 4. Referências Neotestamentárias. O mar da Galiléia era também chamado "de Tiberíades" por causa da proximidade daquela cidade ao lago e da importância que ela granjeou segundo o uso que Herodes fez dela. Ver João 6: 1, 23 e 21: 1.

TIBÉRIO A única referência bíblica a este homem, o segundo imperador romano, está em Luc. 3: 1. Seu nome completo era Tibério Cláudio César Augusto, proveniente de seu pai Tibério Cláudio Nero. O nome de sua mãe era Lívia. Sua importância para o estudo da Bíblia reside no fato de ele ter sido o imperador romano durante o tempo do ministério de Jesus. Para o significado do nome Tibérto, ver o artigo sobre Ttberlades, cidade que lhe foi designada e que estava situada no litoral ocidental do mar da Galiléia. A duração de seu governo foi de 14 a 37 d.e. Nasceu em Roma em 16 de novembro de 42 a.C. Antes de tornarse imperador, Tibério se distinguiu como hábil comandante militar. Também demonstrou inusitada habilidade como governante e orador civil. Esses ingredientes o tomaram bom candidato para o mais elevado oficio do Império Romano. Augusto, seu padrasto, entusiasticamente o favoreceu na sucessão, porém não existia uma relação familiar mais estreita. Por isso, forçou Tibério a divorciar-se da esposa a quem amava e a casar-se com Júlia, sua filha. O casamento foi infeliz; logo Júlia e seus dois filhos de um casamento anterior tiveram morte prematura Augusto não teve alternativa real senão reconhecer Tibério como seu herdeiro e sucessor. Augusto também o adotou como filho para tomar a relação mais intima Quando Augusto morreu em agosto de 14 d.e., Tibério foi feito imperador. Uma vez imperador, Tibério não demonstrou seu poder anterior, tomando-se, antes, indolente e de mente flutuante. Despótico, perdeu apoios importantes. Passou a cometer crimes cruéis e vingativos, porém permaneceu no poder vinte e três anos e morreu aos 78 anos de idade. João Batista começou sua carreira em seu quinto ano, sendo esta uma afirmação cronológica importante que nos ajuda a determinar com alguma precisão o tempo do nascimento de Jesus. TIBNI No hebraico, inteligente. O nome desse homem ocorre somente por duas vezes em todo o Antigo Testamento, a saber, I Reis 16:21,22. Nesse trecho aprendemos que ele era filho de Ginate. Alguns dentre o povo queriam que ele fosse, o sucessor de Onri, no trono de Israel. Os dois lutaram entre si durante quatro anos. O conflito só terminou com a morte de Tibni. TIçÃO No hebraico, ud "tição". Palavra usada por três vezes: Isa. 7:4; Amós 4:11; Zac. 12. Essa palavra refere-se a uma extremidade queimada de um pedaço de madeira, que não permaneceu queimando, mas ficou parecendo um pedaço de carvão, embora continue fumegando por algum tempo. Um tição podia ser meramente uma vara para remexer no meio das brasas. Israel foi tirado do fogo como um tição (o que equivale a dizer que estava próximo à destruição). O ato de ter sido tirado do fogo representa a misericordiosa proteção de Deus.

TIDAL No hebraico, "esplendor", "renome". Seu nome aparece somente em Gênesis 14: 1,9. Ele era rei de Goim. Confederou-se com Anrafel, Arioque e Quedorlaomer, em sua guerra contra o rei de Sodoma e seus aliados, nos dias de Abraão. Viveu por volta de 1910 a.c. Parece que "rei de Goim" era mais um titulo honorifico, comum nos anais acadianos. Mas outros identificam Goim com Gutium, na Mesopotâmia Os chamados textos de Mari usam a palavra ga 'um para indicar um grupo ou bando. Isso talvez sugira que Tidal era o chefe de uma tribo nômade, sem fronteiras fixas. O nome Tidal parece corresponder a Dudalias I, um governante hitita que, segundo pensam alguns, foi o sucessor de Anitas. Todavia, a identificação é incerta, pois o nome pode ter sido improvisado por algum escritor hebreu. Uma figura de um passado tão remoto quanto ele os outros nomes ligados a ele, no trecho de Gênesis 14, não pode ser identificada com facilidade. TIFSA No hebraico, "passagem", "vau". Os estudiosos opinam que a identificação provável é a cidade de Tapsaco (Anfipolis, nos tempos dos monarcas selêucidas) e nos tempos modernos, Bibsé, um importante ponto de travessia do rio Eufrates. É asseverado, em I Reis 4:24, que o reino de Salomão, a "era áurea" da nação unida de Israel incluía territórios que chegavam até a essa estratégica cidade de caravanas. Porém, não dispomos de meios para saber por quanto tempo os israelitas conseguiram conservar essa fronteira remota. Uma grande rota comercial entre o leste e o oeste, que seguia o chamado Crescente Fértil (vide), tinha em Tifsa um de seus postos. Xenofonte mencionou a localidade (ver Anabasis 1:4, 11). A Tifsa mencionada em 11 Reis 15:16, e que foi atacada por Menaém, rei de Israel, pode ter sido a mesma localidade. Mas alguns eruditos, sem qualquerjustificação nos princípios da crítica textual, têm emendado o nome, nesse trecho, para Tipuá (por exemplo, a Revised Standard Version, à margem). TIGLATE-PILESER 1. Nome. No assírio, "minha confiança é o filho de Esarra", uma das divindades daquele povo. A forma assíria é Tukulti-apil-esharra. O nome do deus era Ninib. O nome bíblico desse homem é Pul (ver o ponto 2). 2. Pul é o nome no Antigo Testamento para TiglatePileser IIl, que governou a Assíria entre 745-727 a.e. É provável que Pul (que significa forte) tenha sido seu nome pessoal, enquanto Tiglate-Pileser fosse um titulo real. Ver as seguintes referências de Pul: 11 Reis 15.19; I Crô. 5.26; Isa. 66.19. Essa referência posterior menciona um povo e um país africano, mas é provável que Pute tenha sido o nome deles, sendo essa a versão que algumas traduções fornecem. A terra desse povo era a Libia. 3. Importância para o Estudo do Antigo Testamento.

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Fabricação _ Cortes" de t ""íiolos la , Levant Photo Service

Nômades fazendo tijolos, c. 1900 A.C. Cortesia, Biblical Archeologist

TIGLATE-PILESER - TIJOLO Esse foi o rei que assediou Israel antes da queda da Samaria em 722 a.c. Ele não viveu para ver a queda de fato, mas fez muito para prepará-Ia. 4. Seu Reino. Ele sucedeu Asur-nirari Ill, um rei um tanto fraco, mas o mesmo não pode ser dito sobre TiglatePileser. Pul reinou apenas entre 745-727 a.C. A arqueologia ilustrou seu reino, principalmente por meio das inscrições que foram desenterradas. Esse homem foi um dos maiores conquistadores da Assiria, cujas campanhas militares fizeram grandes varreduras e cujo terror atormentou muitos povos, inclusive os israelitas. Na campanha de 733-732, seus exércitos marcharam ao oeste e em uma série de ataques ele conquistou a Filístia, na costa do Mediterrâneo, destruiu Damasco e transformou Gileade e a Galiléia em províncias assírias. Tudo isso aconteceu na época de Peca, rei de Israel, finalmente morto por Oséias. Esse último foi forçado a pagar tributos à Assíria para evitar o pior. 5. A Morte de Pulo Ele morreu em 727 a.C. e o trono passou a Ululai, governador da Babilônia que se tomou Salmaneser V (11 Reis 15.19,29; 16.7, lO; I Crô. 5.6; 11 Crô. 28.20.21). Ele assediou a cidade de Samaria (a capital) por três anos, mas, quando a cidade caiu em 722 a.c., foi Sargão 11 que terminou o trabalho, matando milhares de israelitas e levando a maioria dos sobreviventes à Assíria. Assim ocorreu o cativeiro assírio. Ver o artigo sobre Salmaneser (I, 11, Ill, IV e V). Pul é lembrado como um administrador hábil, mas brutal. Ele conquistava e exilava povos incansavelmente, e aqueles que ele não destruiu em sua prática de genocídio, sujeitou à tributação. Cativos tomam-se escravos, cujo trabalho barato foi responsável por muito de seus programas de construção. Os melhores cativos foram empregados em seu exército, para ajudá-lo a continuar seu programa de devastação.

TIGRE Este rio, juntamente com o Eufrates (ver a respeito) formava a planície aluvial da Mesopotâmia. O rio localizase no leste daquele que hoje é conhecido como o Iraque. Sua extensão total é cerca de 1.900 km. Junto aos seus barrancos situavam-se muitas cidades antigas de destaque. Ele surge nas montanhas de Zagros e nas montanhas do oeste da Armênia e do Curdistão e, finalmente, desemboca no Golfo Pérsico. O rio formou o limite leste de Sumer, Hidequel (ver sobre ambos os termos), Esse foi um dos rios que banhavam o jardim do Eden (Gên. 2.14). E provável que esse fosse o nome hebreu (original) do rio. Críticos, contudo, consideram o trecho de Gên. 2.14 poesia e não acreditam que nada significativo seja dito sobre o Tigre ali. O Tigre ficava ao nordeste do Eufrates. Seu fluxo estende-se na direção sudeste até que finalmente ele se junta com o Eufrates antes de chegar ao Golfo Pérsico. O rio não é gigantesco pelos padrões brasileiros. Sua largura nunca excede os 200 m, exceto em épocas incomuns de pesadas chuvas e neve. Nos últimos 320 km antes de unirse ao Eufrates, o rio foi intersectado por passagens de água artificiais e ocupou leitos de rio, como o Shat-elhie, ou o rio Hie. Nesse distrito há ruínas de várias cidades antigas sobre as quais sabemos praticamente nada hoje. Mas uma delas, Ur, foi bem ilustrada por escavações arqueológicas e por descrições literárias. O rio corria pela Armênia e por Assir e então separava a Babilônia de Susana. Em um período posterior, formou um limite entre os impérios romano e Partiano.

TIJOLO No hebraico, lebenah, "brancura", provavelmente devido à corda argila escolhida para o fabrico de tijolos. O termo hebraico, no sentido de tijolos, aparece por catorze ,::ezes: Gên, 11: 3; Êxo. 1: 14: 5:7,8,16,18,19; Isa 9:10; 65:3; Exo. 5:14. 1. Origens. A primeira menção a tijolos, na Bíblia, diz. resp-eito à construção da torre de Babel (Gên. 11:3). O trecho de Êxodo 5 fornece-nos uma vivida descrição dos labores de Israel, quando fabricava tijolos no Egito. Ao que parece, tijolos de barro apareceram, pela primeira vez, nas regiões da Mesopotâmia, em cerca de 3500-3000 a.c., nas áreas montanhosas do que, mais tarde, veio a ser a Pérsia. Com o tempo, passou a ser um material comum de construção, em todas as civilizações. A principio, os tijolos eram feitos de argila endurecida; depois, passaram a ser fortalecidos com palha. Assim eram feitos os tijolos para a torre de Babei, ou aqueles feitos por israelitas, no trabalho escravo a que foram sujeitados no Egito. O uso de tijolos crus, queimados ao sol, tomou-se universal no Baixo e no Alto Egito. Cativos estrangeiros ficavam encarregados desse duro labor, e os tijolos assim produzidos eram usados em todo o tipo de construção, feitas pelos ricos e pelos pobres. Tijolos queimados vinham sendo usados desde tempos remotos, segundo nos indica o trecho de Gênesis 11:3. 2. Vitrificação. A técnica do fabrico de tijolos vitrificados já era conhecida no século XL a.C., tendo sido criada pelos egípcios. Dali, o método propagou-se para outras culturas. Há evidências desse tipo de tijolo em lugares tão distantes do Egito quanto Creta, Siria e Assíria. No templo de Nabu, em Corsabade, construído por Sargão, temos a técnica de tijolos assentados sobre betume. A Babilônia, conforme foi reconstruída por Nabucodonosor, exibe o uso de tijolos queimados e de tijolos vitrificados. 3. Traves de madeira eram empregadas nas construções de tijolos, tanto para efeito de alinhamento, como para fortalecer a construção. As áreas ocupadas pelos hititas mostram essa técnica. Esse tipo de construção também foi utilizada na construção do templo de Salomão (I Reis 6:36 e 7: 12), bem como em Megido, nessa mesma época. Outro tanto se dava em regiões da Siria, onde também se praticava o acabamento por meio de reboco. 4. Fornos para cozimento de tijolos (no hebraico, malben) eram usados em Israel, nos dias de Davi (11 Sam. 12:31). Naum, com grande sarcasmo, disse aos habitantes de Nínive que pisassem bem a massa (para o fabrico dos, tijolos), mas que, a despeito disso, não conseguiram evitar a queda da cidade (Naum 3:14). Isaías (9: 10) repreendeu o orgulho dos samaritanos, que se jactaram em substituir suas muralhas de tijolos por novas muralhas, de pedra. 5. Sentido Metafórico. Construir com tijolos simbolizava ir adicionando, pouco a pouco, às realizações pessoais, até que se fizesse algo digno de ser mencionado. Também indicava um labor paciente e diligente. Nos escritos de Aristóteles, a construção de uma parede é usada para ilustrar a sua noção de substância. Portanto, quanto às causas envolvidas, temos os seguintes pontos a serem considerados: a. material: a argila, que compõe a substância básica do tijolo; b. o que é formal, isto é, o plano que existe acerca da construção a ser feita; c. o que é efetivo, ou seja, o poder que lança mão dos tijolos, a saber, o construtor ou pedreiro; d. o final, que aponta para o produto, uma vez terminada a obra, o alvo mesmo de todo o labor efetuado. Todas as coisas podem ser concebidas como que produzidas por essas quatro causas, e essas causas são os modos de ação das substâncias. (AM EPFRA UN)

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TIL - TILLICH TIL No grego, keraia, "chifre", "projeção", "extremidade" Traduzida por "til". em dois trechos do Novo Testamento: Mal. 5:18 e Luc. 16:17. Isso ocorre dentro da declaração de Jesus de que nem a mínima porção da lei deixaria de ser cumprida: "Até que O céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra" (Mat. 5:18). Em Lucas 16:17 há menção somente ao "til". A menor letra do alfabeto grego é o iota (em português, "i"), que corresponde, em dimensões, ao yod do alfabeto hebraico, o que, provavelmente, foi a palavra dita por Jesus, naquela declaração, pois então ele não estava falando em grego. Jesus quis dizer que até os menores detalhes e conceitos da lei teriam cumprimento completo, dentro do plano de Deus e nas vidas dos homens, com o que ele ensinou a eternidade da lei e sua aplicação. Até onde diz respeito a graça divina, precisamos afirmar que a lei cumpre-se no crente por atuação do Espírito Santo, pelo que ela é incorporada no sistema da graça. A entrada da graça não significou o êxito da moralidade, mas somente que a moralidade passou a ser aplicada de maneira real e diferente do que vinha sendo aplicada sob a dispensação da lei. A declaração de Jesus reflete antigos sentimentos dos judeus a respeito da lei, visto que temos declarações similares na Tora Ali é dito que nem mesmo um yod poderia ser removido da lei, pois, se isso viesse a suceder, o próprio mundo deixaria de existir, face ao desprezo divino. Ver as notas sobre a Graça e como a graça e a lei podem ser consideradas sinônimas. A lei do Espírito inclui os princípios da lei, que se tornam uma realidade para os crentes, mediante o poder impulsionador do Espírito Santo (Rom. 8:2).

TILLICH, PAUL Suas datas foram 1886-1965. Ele nasceu e foi educado na Alemanha, mas passou a maior parte de sua vida profissional nos Estados Unidos da América, no Seminário Teológico União, em Harvard e na Universidade de Chicago. Foi um dos principais representantes do existencialismo religioso (vide). Nesse artigo, forneci algumas informações a respeito dele. Sendo ele um dos principais teólogos de nosso tempo, ele assume lugar ao lado de Karl Barth e Schleiermacher. Apesar de não ter tentado construir uma teologia sistemática ou racionalmente dedutiva, e apesar de que via o campo teológico através de olhos filosóficos, ele falou de modo compreensível sobre cada questão teológica. Duas coisas caracterizavam continuamente a sua abordagem à filosofia-teologia: 1. Seu método de correlação. Ele procurava unir questões humanas, correlacionando-as com respostas divinas propostas. 2. Ele usava uma linguagem teológica simbólica. Suas correlações também envolviam a economia, as ciências e outros campos do empreendimento humano. Idéias: 1. A teologia conservadora sofre do efeito casulo. Ela correlaciona-se praticamente a nada, exceto Aquilo que ela considera revelação divina. Pressupõe erroneamente que esse método fornece somente a verdade, sem qualquer erro, além de ser completa. Porém, não há nem uma dessas coisas na teologia. A teologia e o empreendimento humano precisam ser unidos como algo multifacetado. Uma teologia unilateral certamente labora em erro. É mister correlacionar a teologia à ciência, à política, A ética, à estética, à sociologia, A antropologia, etc. A teologia sistemática precisa ser contrabalançada pela teologia apologética, que começa com uma análise da situação

humana e então aplica à mesma ao Evangelho. 2. Nosso Idioma Usa Símbolos. Ele não é uma força todo-poderosa em si mesmo. A mensagem divina nos é transmitida por meio de parábolas, tal como Jesus ensinava. O símbolo pode ser mais poderoso do que as declarações diretas. Tais declarações, embora santificadas mediante o título de "inspiradas", podem ser apenas débeis esforços humanos para dizer algo significativo. Os símbolos são palavras ou grupos de palavras que apontam para a realidade; mas esses símbolos nunca são perfeitos, nunca completos, nunca finais. Os símbolos cristãos desvendam algo da realidade; mas, em si mesmos, não são essa realidade, e nem podem solucionar os grandes mistérios que nos circundam. Em uma busca interminável, tentamos resolver os grandes mistérios, mas o nosso conhecimento será sempre fragmentado. 3. No kérugma cristão ou pregação cristã, o Jesus histórico é o símbolo do Cristo divino. Jesus é o símbolo da realidade que é Cristo. Palavras como o "céu" e "inferno" apontam para realidades, mas é tolo depender de descrições literais, como se elas pudessem exprimir as realidades tais como elas são. 4. Em seus estudos filosóficos sobre a Bíblia e os dogmas religiosos, ele afirmava que aquilo que se chama de "vida" e de "morte" pode ser correlacionado ao Ser e ao Nada platônicos. A queda no pecado é interpretado em termos daquilo que os existencialistas chamam de ansiedade e individualização. A fé seria a coragem de existir. A redenção seria um novo ser. 5. Divisões Básicas de sua Filosofia-teologia a O homem, a existência, Deus. A questi'lo do secou do não-ser, ou seja, a questão da vida e da morte. E a resposta é Deus, como Base do Ser. b. Alienação, salvação, Cristo. O pecado consiste na alienação; a ansiedade é alienação; o dilema humano é a alienação. A resposta a isso é o Novo Ser em Cristo. c. Sociedade, ambigüidade, espírito. Nossa sociedade é plena de ambigüidades e coisas sem sentido. Nossas idéias participam dessas mesmas inadequações, e também nossas vidas; e até nossa sociedade está imersa nesses elementos. O juízo de Deus na história trata dessas questões. A resposta a essa situação é a Vida Nova no Espírito. 6. Religião. Essa atividade é objeto de um interesse fundamental, por parte tanto da filosofia como da teologia. Ambas as disciplinas dizem respeito às questões ontológicas, à estrutura e ao significado do ser, bem como à futilidade do nada. 7. A Filosofia e a Religião. Essas duas disciplinas diferem em sua abordagem. A filosofia tende por buscar respostas em termos universais. A teologia procura respostas em termos existenciais. Essa abordagem apela para a revelação como sua principal fonte informativa. Essas disciplinas não estão em conflito, embora alguns pensem que elas são adversárias uma da outra. 8. As Correlações e os Pares. Temos aqui assuntos que têm pólos que podem parecer contraditórios. Ver sobre Polaridade. Alguns desses pólos são individualização e participação, liberdade e destino, dinâmica e forma, ser e não-ser, finito e infinito. 9. Formas de Razão: a. Razão heterónoma. O indivíduo aborda a verdade raciocinando com base em coisas que toma por empréstimo, externas a ele mesmo. b. Razão autônoma. O indivíduo aborda a verdade com base naquilo que acha em si mesmo, em sua própria razão e intuição. Mas essa forma de razão pode terminar em um vácuo e na tautologia.

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TILLICH - TIMNA (PESSOAS) c. Razão teônoma. Essa abordagem alicerça-se sobre o Ser divino, sendo essa a maneíra mais poderosa para conhecermos as coisas. 10. Deus. Ele usava a expressão Ser Por Si Mesmo, quando outros normalmente diriam Deus. Deus é o Grande Ultimo e o Grande Mistério na direção do qual sempre nos devemos esforçar, embora nunca o atinjamos de qualquer maneira definitiva. Deus é a Conquista Eterna. Schelling perguntou o que muitos de nós devem ter perguntado com freqüência: Por qual razão existe qualquer coisa? Por que nada existe? Tillich respondia: "Porque há um conceito autovalidante de existência, o Ser Por Si Mesmo". Ora, o que poderia ser mais misterioso que isso? l l , Símbolos Religiosos do Ser Por Si Mesmo. Ao falarmos acerca de Deus, somos forçados a usar palavras, usando de expressões antropomórficas. Por isso mesmo é que o chamamos de "Senhor", "Pai", "uma Pessoa", etc. Porém, todas as nossas palavras e expressões são meros símbolos daquilo que sentimos no tocante ao Mysterium Tremendum (vide). As religiões antropomórficas fracassam miseravelmente em suas tentativas de conhecer a Deus, criando apenas um divino super-homem. 12. A Morte dos Símbolos. À medida que avança o nosso conhecimento, os símbolos, como todas as demais coisas, acabam morrendo. Nesse processo, novos estados substituem antigos estados, e nossos conceitos de Deus vão sendo continuamente revisados. Aquelas fés religiosas que preferem ficar com os antigos símbolos (especialmente aqueles de natureza antropomórfica) invariavelmente preservam um conceito primitivo de Deus, de mistura com muitas imoralidades que atribuem à idéia de Deus, mas que com freqüência apenas fazem parte de sua tola imaginação. 13. Modos de Buscar o Vítima. Precisamos de coragem "para ser uma parte" para ceder à individualidade e de nos utilizarmos da mesma para avançarmos. Precisamos de coragem para sermos nós mesmos, e não ficarmos sempre olhando ao redor para ver quanta aprovação podemos obter da parte de outros. Precisamos da coragem do desespero, da coragem de enfrentar o nada e todas as suas ansiedades, e nisso encontraremos o ser. 14. O Princípio Protestante. O uso que Tillich fazia desse princípio nada tinha a ver com O protestantismo. Antes, o princípio protestante "protesta" contra o mau hábito dos homens que identificam a divindade com qualquer criação humana, sem importar se tal criação acha-se nos escritos bíblicos ou na teologia da Igreja. Esse princípio faz oposição absoluta ao antropomorfismo, embora igualmente condene e proteste contra as invenções teológicas que dizem "isto é Deus", quando, na verdade, quase tudo quanto é dito ali seja invenção humana Em outras palavras, TiIlich não acreditava que possuímos, tanto no presente como em algum dia futuro, uma definição verdadeiramente adequada de Deus. Isso não significa, porém, que nosso conhecimento não possa expandir-se. Esse crescimento é a inquirição eterna. A sabedoria dessa atitude parece suficientemente clara, embora não seja clara para os teólogos sistemáticos. (AM EPH)

TILOM No hebraico, "escárnio", "zombaria". Esse homem pertencia à tribo de Judá e era filho de Simão. Descendia de Calebe, filho de Jefuné, Viveu em cerca de 1400 a.C. O seu nome é mencionado somente em I CrÔ. 4:20. TIMÃO No grego,Timon. Ele foi um dos sete homens cheios do Espírito e de sabedoria, que foram escolhidos para

aliviar os apóstolos do trabalho de distribuir alimentos aos cristãos pobres de Jerusalém. Ver Atos 6:5. O nome é tipicamente grego, embora seja possível que ele fosse um judeu por nascimento, visto que somente Nicolau, entre os sete, é referido como um prosélito. No grego, seu nome é uma forma plural derivada do adjetivo timi os, "precioso", "honroso".

TIMEU No grego, Timaios. Ele foi o pai de Bartimeu, o esmoler cego de Jericó, que o Senhor Jesus curou (ver Mar. 10:46). Acerca de Timeu nada mais se sabe a seu respeito, senão que era pai de Bartimeu. No hebraico, "bar" é um prefixo que significa "filho de". TIMINATE-HERES, TIMINATE-SERES No Hebraico, "porção do sol". Esse local é mencionado somente em Jui. 19. O lugar foi herdado por Josué, e ali ele foi sepultado. De conformidade com esse texto biblico, ficava "na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás". O texto da Septuaginta diz Thamnathares; e uma antiga tradição dos samaritanos identificava esse local com a moderna Kafr-Haris, cerca de dezenove quilômetros a sudoeste de Nabus, e apenas a onze quilômetros de Siquém. Porém, há bem poucas evidências arqueológicas em confirmação dessa opinião. Dentro das tradições rabínicas, usualmente, era vinculada ao lugar onde Josué ordenou que o sol parasse em seu trajeto (ver JÓs. 10: 13). A diferença entre esse nome e a forma que aparece em Josué 19:50 e 24:30, "Timnate-Heres" (vide), pode ter por base uma simples metátese. Porém, o fato de que a palavra tem sentido em ambas as passagens, bem como testemunho da Septuaginta, indica que o mais provável é que o nome mais antigo dessa cidade era Timinate-Heres, e que o outro nome, Timnate-Seres, só apareceu mais tarde. Timnate-Seres significa "porção restante". TIMNA (CIDADE) No hebraico, "partilha". A forma dessa palavra, no hebraico, é levemente diferente do nome pessoal que, em português, também é escrito como Timna (vide). Nas páginas do Antigo Testamento há duas cidades com esse nome, a saber: 1. Uma cidade de Judá, atualmente conhecida por Tibné, cerca de três quilômetros a oeste de Bete-Semes, e entre esta e Ecrom. É mencionada por seis vezes no Antigo Testamento: Gên. 38:12-14; Jos. 15:10,57 e II c-e. 28:18. Visto que o nome dessa cidade é grafado, no original hebraico, de duas maneiras diferentes, alguns estudiosos têm pensado que seriam duas cidades, e não uma só. Todavia, é muito dificil que houvesse duas cidades diversas dentro de uma área tão pequena como a que havia entre Bete-Semes e Ecrom. 2. Uma cidade do território de Dá, já perto da Filistia. Essa cidade é mencionada por três vezes, no décimo quarto capitulo do livro de Juizes (vs. 1,2 e 5), e por mais uma vez em Jos. 19:43. Ver Minas do Rei Salomão. TIMNA (PESSOAS) No hebraico "restrição". Há dois homens e duas mulheres com esse nome próprio, no Antigo Testamento: 1. Um chefe de Edom, descendente de Esaú, filho de Isaque e irmão de Jacó. O seu nome aparece por duas vezes no Antigo Testamento: Gên. 36:40 e I Crô, 1:51. Viveu em tomo de 1500 a.c.

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TIMNA (PESSOAS) - TIMÓTEO 2. Um filho de Elifaz, filho de Esaú. O seu nome ocorre somente em I CrÔ. 1:36. Viveu em tomo de 1700 a.c. 3. Urna concubina de Elifaz, filho de Esaú. O nome dela só aparece em Gén. 36: 12. Viveu em tomo de 1700 a. C. 4. Uma filha de Seir, o horeu, e irmã de Lotã (vide). O nome dela é mencionado por duas vezes no Antigo Testamento: Gên. 36:22 e 1 Crô. 1:39. Ela viveu por volta de 1700 a.c. TIMNITA Esse adjetivo pátrio indica algum nativo ou habitante da cidade de Timna (vide). O sogro de Sansão é descrito como tal, em Juizes 15:6. Interessante é observar que por todo o relato bíblico do casamento frustrado de Sansão com essa mulher filistéia, o nome dela não é mencionado nem uma vez sequer. Ela é caracterizada, quando muito, como "a mulher de Sansão" (ver Juí. 14: 15). TIMOCRACIA Esse termo vem do grego timé, "honra", e krátos, "governo", "poder", dando a entender o governo dos honoráveis ou dignos, um governo baseado no critério da honra ou do valor pessoal. Esse era um dos cinco tipos de governo concebidos por Platão. Ele salientou que esse tipo de governo usualmente degenera em uma oligarquia (governo de poucos), com base no poder que o dinheiro ou as forças militares podem dar aos homens. E também há outras corrupções dessa forma de governo; e uma delas é que honrarias são prestadas sobre os poderosos e os ricos que buscam receber favores. Ou então membros do governo recebem presentes, propriedades, etc., de tal maneira que sejam influenciados a fazer certas coisas em favor de grupos ou indivíduos interessados. Ou então aqueles que são honrados (e são governantes) provocam ciúmes em outros, que assim passam a trabalhar contra eles. Nesse caso, a honra não é considerada tanto como um mérito deles, mas algo que deve ser invejado. As Formas de Governo Concebidas por Platão: Aristocracia. O governo dos melhores (seu tipo preferido de governo, que concebia um rei-filósofo, que governasse com a ajuda de assessores capazes). Timocracia. Governo daqueles honrados por alguma razão, mas que geralmente é uma forma degenerada de aristocracia. Oligarquia. Essa é uma degeneração a partir da timocracía, indicando o governo de uns poucos que, na realidade, não são os melhores, e em que o dinheiro usualmente é o fator preponderante. Democracia. A revolta contra a oligarquia produz a democracia, um governo daqueles que são populares, que obtém o apoio das massas, mas que somente em casos raríssimos são os melhores. Platão considerava a democracia um caos feliz, durante algum tempo (pois em seguida viria o caos infeliz). TIMOM DE FLIO Suas datas aproximadas foram 320-230 a.C. Ele foi um filósofo grego que estudou com Estilpo, em Megara. Também estudou com Pirro, em Elis. Inclinava-se para o ceticismo; escreveu poemas satíricos, peças cômicas, poesias e tragédias épicas. Seus principais escritos foram Imagens e Sátiras, dos quais restam apenas fragmentos. TIMÓTEO Nome No grego, Timótheos, "honrado por Deus". Seu nome ocorre por vinte e quatro vezes nas páginas do Novo Testamento: Atos 16:1; 17:14,15; 18:5; 19:22;20:4; Rom. 16:21,1 Cor. 4:17; 16:10; 11 Cor, 1:1,19; Fil. 1: 1; 2:19;

Col. I: 1; 1 Tes. 1: 1; 3:2,6; 11 Tes. 1: 1; 1 Tim. 1:2,18; 6:20; 11 Tim. 1:2; File. 1; Heb. 13:23. Atos 16: 1: Chegou também a Derbe e Listra. E eis que estava ali certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; Um discípulo chamado Timóteo. Provavelmente ele era um dos convertidos de Paulo, conquistados durante a primeira viagem missionária naquela área, ocasião em que devia ser umjovenzinho de não mais de treze anos. Paulo deve ter estado afastado da região por nada menos cerca de seis anos. Dessa maneira, Timóteo deveria ser um jovem entre os dezoito e os vinte anos de idade, quando aqui o encontramos. Cerca de doze anos mais tarde (na passagem de I Tim. 4: 12), a sua juventude é ainda referida. Durante o tempo em que Paulo esteve ausente dessa região, Timóteo, sem dúvida, fora crescendo na fé e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. (Ver os artigos separados sobre Derbe e Listra). Eram antigas cidades da Galácia. Quando Paulo ali voltou, Timóteo já havia adquirido maturidade suficiente para ter sido imediatamente reconhecido por Paulo como um ministro potencialmente valoroso. Foi dessa maneira que Timóteo se tornou companheiro do apóstolo no ministério, talvez começando na mesma posição que fora ocupada por João Marcos, quando da primeira viagem missionária, isto é, como assistente do apóstolo. Podemos observar, em 1 Ped. 5: 12, que tanto Marcos como Silas, posteriormente, se tomaram companheiros do apóstolo Pedro, mui provavelmente em Roma. Timóteo era filho de uma mulher judia, e seu pai era gentio. Vinha sendo instruído nas Santas Escrituras desde a sua meninice. Evidentemente.jamais fora um autêntico prosélito do judaísmo, porque, do contrário, não teria sido encontrado incircunciso por Paulo, segundo somos informados neste capítulo. (Ver o trecho de 11 Tim. 1:5 no NTI, onde há informações sobre a sua família, onde se aprende que tanto a sua avó, Loide, como a sua mãe, Eunice, eramjudias devotas). Evidentemente Timóteo era nativo de Lístra, e não de Derbe, o que se depreende pelo simples fato de que, neste versículo, o seu nome aparece em maior proximidade ao nome de Lístra do que ao nome de Derbe. Outros estudiosos, entretanto, têm pensado, com base na passagem de Atos 20:4, que a sua cidade nativa era Derbe. Desde a sua juventude Timóteo se notabilizou por seu exemplo como jovem crente (ver Atos 16:2). Desde o principio de sua vida adulta que Timóteo deve ter demonstrado considerável habílidade como pregador, e era possuidor do dom profético (ver I Tim. 4: 14 e 11 Tim. 1:6). A primeira incumbência de Timóteo foi a responsabilidade de encorajar os crentes perseguidos em Tessalônica. E por essa razão que também o vemos associado a Paulo e Silás nas saudações de ambas as epístolas dirigidas aos crentes dali. Timóteo também esteve presente quando do trabalho de Paulo em Corinto. (Ver11 Cor. 1:Q). Vemo-loem seguida, durante o ministério de Paulo em Efeso, quando foi enviado, com Erasto, em outra missão especial à Macedônia, de onde, posteriormente, foi a Corinto (Ver I Cor. 4: 17). Aparentemente, Timóteo era de disposição tímida, porquanto Paulo achou necessário exortar aos crentes de Corinto a deixá-lo à vontade, não desprezando a sua pessoa (ver I Cor. 16:10 e 4:17 e ss). Também não se há de duvidar que Timóteo foi enviado a Corinto na qualidade de embaixador de Paulo, na tentativa de corrigir algumas

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TIMÓTEO - TINTA das dificuldades que a igreja dali enfrentava, mas a segunda epístola aos Coríntios revela-nos que ele não foi bem-sucedido nessa missão. Por essa razão é que Tito foi enviado, para realizar função similar (Ver 11 Cor. 12: 18). Isso pode indicar que ou Tito tomou o lugar de Timóteo, como representante de Paulo, ou então chegou a fim de ajudar a Timóteo nessa obra em Corinto. Quando Paulo escreveu a epístola aos Romanos, de Corinto, Timóteo continuava ali, ajudando o apóstolo em seu trabalho (Ver Rom. 16:21). Timóteo também seguiu em companhia de Paulo, na viagem a Jerusalém, levando a coleta recolhida para os santos pobres daquela cidade (ver Atos 20:4,5). E óbvio que Timóteo acompanhou Paulo a Roma e, pelo menos durante algum tempo, esteve em sua companhia, quando o apóstolo se encontrava aprisionado. Ver Fil. I: I. A epístola aos Filipenses foi enviada da prisão, em nome de Paulo e Timóteo. As epístolas aos Colossenses e a Filemom também foram escritas em nome de Paulo e Timóteo. Após o primeiro período de aprisionamento de Paulo, parece-nos que esse apóstolo deixou Timóteo em Éfeso, a fim de cuidar da questão dos falsos mestres, e também com a finalidade de supervisionar a adoração pública e providenciar para a escolha de oficiais eclesiásticos. Com base nesses fatos, alguns intérpretes bíblicos supõem que Timóteo se tomou o principal líder da igreja de Éfeso e, finalmente, seu pastor ou bispo. O próprio Timóteo, finalmente, tal como já havia sucedido a Paulo, sofreu aprisionamento, conforme nos indica o trecho de Heb. 13:23. Quando Paulo foi aprisionado pela segunda vez, oportunidade em que, por fim, sofreu o martírio, Timóteo recebeu do apóstolo a solicitação que viesse a seu encontro urgentemente; mas não sabemos se ele chegou a Roma a tempo, antes de Nero ter mandado executar o grande apóstolo dos gentios (Ver 11 Tim. 1:4; 4:11,21). Nenhum outro líder cristão, dentre os companheiros de trabalho do apóstolo Paulo, foi tão recomendado por ele como Timóteo, especialmente em face de sua lealdade (ver I Cor. 16:10; Fil. 2:19 e ss e 11 Tim. 3: 10 e ss), e sem dúvida a última das epístolas escritas por Paulo lhe foi dirigida, isto é, a segunda epístola a Timóteo. Contrariamente à idéia de tantos, nenhum homem é uma ilha, auto-suficiente e completo em si mesmo. Paulo precisava de um assistente. Segundo já vimos, o pai de Timóteo era grego, isto é, gentio, ao passo que sua mãe era judia. Casamentos mistos dessa natureza, embora raros em Jerusalém e cercanias, repelentes para o sistema religioso judaico, e que muitos rabinos nem ao menos reputavam vál idos, eram, a despeito de tudo, muito comuns em regiões distantes de Jerusalém, sobretudo nas áreas gentílicas, onde, apesar de haver alguma populaçãojudaica, as sinagogas não exerciam toda a influência que tinham naquele principal centro do judaísmo. Timóteo é mencionado em todas as epístolas de Paulo, exceto em Gálatas. Foi ele um dos mais constantes e fiéis companheiros de Paulo, até o fim. Juntamente com Silas, Timóteo acompanhou o apóstolo dos gentios em sua segunda viagem missionária, dessa maneira tendo ficado associado a fundação da igreja em Tessalônica. Com freqüência é ele chamado de irmão (ver 11 Cor. I: I; CoI. 1:1; I Tes. 3:2 e File. I). Em Fil. I: 1 é chamado de servo (ou escravo) de Cristo., o que indica a sua elevada dedicação. Paulo encarregou-o de diversas missões especiais.

TÍMOTEO, EPÍSTOLAS A Ver sobre Epistolas Pastorais. TÍMOTEO, I e 11 (LIVROS) Ver o artigo sobre Epístolas Pastorais. TINDAL; MATTHEW Suas datas aproximadas foram 1653 - 1733. Ele foi um jurista britânico, educado em Oxford. Foi um cristão deísta, que exerceu grande influência, em sua época, sobre questões religiosas e políticas. Seus escritos despertavam a controvérsia. Algumas de suas obras escritas foram condenadas pela Câmara dos Comuns e queimadas, em 1710. Porém, seu livro final e mais importante passou por muitas edições, tendo provocado nada menos de cento e cinqüenta réplicas. Se ele apreciava controvérsias, então deve ter-se sentido no Céu, estando ainda na Terra. Sua peça mais bem-sucedida foi o Cristianismo é Tão Antigo Quanto a Criação. Idéias: 1. O Estado deveria governar supremo a Igreja. Contudo, deveria haver liberdade de expressão, tanto verbal como de imprensa. A tolerância deveria ser ampla, não beneficiando somente os ateus. Aos governos falta autoridade para compelir a conformidade. 2. A perseguição contra os não-conformistas, apesar de às vezes gozar do apoio das leis humanas, é algo contrário à lei natural, que protege a dignidade e a liberdade de todos os homens. 3. A verdadeira religião é eterna, universal, simples e perfeita, e, acima de tudo, promove o conceito de dever a Deus e aos homens. Ele fazia da ética o principal aspecto de sua filosofia. 4. Tindal também procurou demonstrar que a religião perfeita é o cristianismo, argumentando que aquilo que é perfeito deve ser eterno, ainda que possamos determinar um tempo em que o perfeito teve começo. Esse conceito, naturalmente, ignora aquilo que realmente costuma acontecer. Todas as idéias evoluem e melhoram, conforme nossa compreensão se aprimora. Por essa razão, quando examinamos a história passada, e comparamos idéias e religiões, vemos crescimento, e não perfeição. Alguns Escritos de Tindal. Essay of Obedience to the Supreme Powers; Essay on the Power ofthe Magistrate and the Rights of Mankind in Matters of Religion; Reasons Against Restraining the Press; A Defence ofthe Rights of the Christian Church; Chrtstianity as Old as the Creation. TINHA Ver Coceira. TINTA Muitas tintas de escrever, fabricadas na antiguidade, eram de excelente qualidade. Não fora isso, não teria havido a preservação de textos antigos, tanto da Bíblia quanto de outros documentos importantes para a humanidade. A palavra hebraica correspondente é deyo, que ocorre por apenas uma vez, em Jer. 36: 18. E o termo grego é mélas, "negro". que aparece por três vezes com o sentido de tinta: 11 Cor. 13; 11 João 12 e I1I João 13. As tintas antigas eram feitas de substâncias como carvão vegetal pulverizado, ou negro de carvão, misturado com goma e água. Esse tipo de tinta perdurava indefinidamente, se o material escrito com o mesmo fosse mantido seco; mas, caso se umedecesse, logo a tinta se

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TINTA - TIPOS, TIPOLOGIA dissipava. O trecho de Núm. 5:23 alude ao fato de que tintas dessa espécie podiam ser apagadas, o que se fazia com o uso de uma esponja e água. As tintas antigas não eram tão fluidas como as nossas. Demóstenes repreendeu a Esquines por trabalhar tanto para pulverizar os ingredientes que entravam no fabrico de suas tintas, mais ou menos como os pintores esforçam-se por produzir as suas tintas. Uma tinta encontrada em um antigo tinteiro, em Herculano (cidade sepultada sob as cinzas do Vesúvio, juntamente com Pompéia, na Itália), mostra ser como um óleo ou tinta grossa. Certas tintas antigas, que continham ácidos, chegavam a corroer o papiro ou mesmo as peles de animais, usados como material de escrita. Exemplos disso podem ser vistos nos manuscritos da biblioteca do Vaticano, das obras de Terêncio e Vergílio. As letras comeram o papel ao ponto de terem penetrado até o outro lado das folhas. Tintas metálicas eram preparadas para uso em papiro; e sabemos que em Israel, desde o século VI a.C., tais tintas já eram usadas. As cartas de Laquis (de cerca de 586 a.C.) foram escritas com esse tipo de tinta. Alguns manuscritos entre os do mar Morto, foram escritos com tintas de carbono. A carta de Aristeas afirma que uma cópia da lei, enviada a Ptolomeu lI, fora escrita com tinta feita de ouro dissolvido. Os egípcios usavam tintas de escrever de muitas cores, conforme os papiros egípcios descobertos bem o demonstram. Corantes vegetais e minerais eram empregados na produção dessas tintas. As cores incluíam o dourado, o prateado, o vermelho, o azul, e o púrpura. Os materiais de escrita eram guardados em vários tipos de sacolas e caixas. Origem da Tinta de Escrever. Até onde o nosso conhecimento nos permite recuar (o que geralmente não retrocede tanto quanto deveria ser), as tintas de escrever foram usadas inicialmente no Egito e na China, onde já são encontradas desde cerca de 2500 a.e. Tintas de carbono eram bastante resistentes, visto que essa substância resiste aos efeitos degenerativos da luz, do ar e da umidade. As tintas modernas usam soluções de água e corantes, ou então água e químicos orgânicos como glicol propileno, álcool propil, tolueno e glicoésteres, que os antigos desconheciam. Quase todas as tintas de escrever modernas contêm também outros elementos como resinas, preservativos e agentes secantes. Algumas tintas são feitas para serem absorvidas pela superficie do papel. Outras formam uma espécie de filme que se forma sobre a superficie do papel, mas não é absorvido pela mesma. TINTEIRO (TINTUREIROS) No hebraico, qeseth. Essa palavra ocorre por três vezes: Eze. 9:2,3,11. Os tinteiros antigos consistiam em um longo tubo onde eram guardadas as penas de escrever. Esse tubo ficava preso ao cinto. Eram feitos de bronze, cobre, prata ou madeira dura. Podia ter cerca de 25 cm de comprimento por 5 cm de espessura. O que chamaríamos hoje de tinteiros (não confundir com o qeseth dos hebreus) eram receptáculos feitos de vários materiais, como argila, metais e pedra. Esses receptáculos para tinta, feitos de terracota ou de bronze, têm sido encontrados nas ruínas dos escritórios da comunidade de Qumran (vide). A arte de tingir era generalizada, e de grande importância no mundo antigo. O povo de Israel aprendeu a arte no Egito, tendo-a usada até mesmo durante as suas vagueações pelo deserto, conforme vemos em Êxo. 26:1 e 28:5-8. Até mesmo as tribos nômades costumavam tecer e tingir seus próprios têxteis. Entretanto, com o tempo

houve a comercialização dos panos tingidos, e assim surgiu a profissão dos tintureiros. A arqueologia tem descoberto' tecidos elaboradamente tingidos, teares de madeira e cubas de tingir. Essas descobertas incluem aquelas realizadas em Laquis (que vide), no sul da antiga Judá, além de muitos outros lugares. Os cammeus, antes mesmo da época de Abraão, sabiam tingir panos com maestria. Materiais e utensílios usados nesse mister foram encontrados em Tell Beit Mirsim (QuiriateSefer). Também houve descobertas similares em Ugarite. Os cananeus extraíam um corante de cor púrpura, das conchas do Murex. A cidade de Biblos (que vide), às margens do mar Mediterrâneo, notabilizou-se em face de suas duas principais indústrias: a manufatura de folhas de papiro e de panos. Na Surnéria eram predominantes as profissões dos tecelões e dos tintureiros. O Egito notabilizava-se pela produção de linhos finos, e exportava tecidos finíssimos, quase transparentes, nas cores azul, amarelo e verde pálido. Eixos usados pelos tecelões (ver I Saro. 17:7) têm sido encontrados em vários locais mencionados na Bíblia. Os corantes eram feitos de animais marinhos e também de insetos, substâncias vegetais, a casca da romãzeira, as folhas da amendoeira, a potassa e as uvas. A lã era o tecido mais comum nos tempos bíblicos, porquanto absorvia os corantes com grande facilidade. A lã natural na verdade já vinha em várias cores, como branco, amarelo, cinza claro e marrom. Cores tipicamente masculinas eram, portanto, obtidas com pouco trabalho para os tintureiros (Sal. 45: 14). Jáo linho era mais diflcil de tingir. Contudo, havia métodos adequados, e o tabernáculo, p-roduzido no deserto, contava com seus linhos tingidos (Êxo. 35:6), o que também ocorreu, naturalmente, no caso do templo de Jerusalém, edificado muitos séculos mais tarde (11 Crô. 2:7). O algodão, por sua vez, era facilmente tingido, havendo vários centros de produção de tecidos de algodão. O algodão é originário da lndia. Na época da rainha Ester, o algodão era tingido na Pérsia (Est. 1:6). A seda era tingida no Extremo Oriente e exportada para o mundo inteiro conhecido. E também havia couros de qualidade, devidamente tingidos. Os melhores exemplares dessa arte, pertencentes às terras bíblicas e aos tempos do Antigo Testamento, são aqueles descobertos em Quiriate-Sefer, identificado com o moderno Tell Beit Mirsim. Seis plantas diferentes, usadas na tinturaria antiga, e cerca de trinta instalações diferentes, ocupadas nessas atividades, foram ali encontradas. O tamanho das cubas ali encontradas indica que os fios é que eram tingidos, e não o tecido já manufaturado. Quanto a outros detalhes sobre a questão, ver o artigo geral sobre Artes e Oficios, 4.b. TINTUREIROS Ver Tinteiro (TINTUREIROS). TIO Ver o artigo sobre FamHia. TIPO Ver sobre Tipos, Tipologia. TIPOLOGIA Ver sobre Tipos, Tipologia. TIPOS, TIPOLOGIA Ver Tipos, Tipologia no Índice onde uma lista extensiva é apresentada.

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TIPOS, TIPOLOGIA Esboço: L Definição e Caracterização Geral

lI. Termos Empregados Ill. Inspiração Dessa Forma de Interpretação IV.Legitimidade da Tipologia e Oposição à Mesma V. Características dos Tipos VI.Como Evitar Exageros I. Definição e Caracterização Geral A tipologia é uma técnica, associada bem de perto à alegoria, mediante a qual pessoas, eventos, instituições ou objetos de qualquer espécie passam a simbolizar ou ilustrar a pessoa de Jesus Cristo, ou então aspectos da fé, da doutrina, das práticas, das instituições cristãs, etc. Paulo e o autor da epístola aos Hebreus muito tiraram proveito do Antigo Testamento, visto que eles acreditavam que o Antigo Testamento prefigurava (por ato de Deus) o Novo Testamento, como também Cristo foi o cumprimento de inúmeros tipos ou símbolos do Antigo Testamento. Um tipo assemelha-se a uma alegoria, mas, visto que tem melhores bases bíblicas, tem ocupado um sucesso maior, retendo um importante papel dentro da interpretação cristã. Ver sobre Alegoria e Interpretação Alegórica. Há algumas alegorias nas páginas da Bíblia, mas o Novo Testamento exibe um número muito maior de tipos do que de alegorias. 11. Termos Empregados São todos vocábulos gregos: Túpos, "tipo" (ver Rom. 5:14; 1 Cor. 10:6,11). Skiâ, "sombra" (verCol. 2:17; Heb. 8:5; 10: 1). Hupôdetgma, "cópia" (ver Heb. 8:5; 9:23). Semeion, "sinal" (ver Mal. 12:28). Parabolé, "figura" (ver Heb. 9:9; 11:19). Antitupos, "antitipo" (ver Heb. 9:24; 1 Ped. 3:21). Todos esses vocábulos envolvem o uso de tipos para efeitos didáticos, e as passagens ilustrativas acima oferecidas provêem exemplos dessa atividade no Novo Testamento. Esses tipos provêem sombras ou vislumbres de verdades que são melhor desenvolvidas e expostas no Novo Testamento, em contraste com o Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento é usado como uma espécie de tesouro de onde são extraidas todas as formas de antecipações de Cristo, de sua Igreja ou de sua doutrina, mediante o uso de pessoas ou coisas que são usadas simbolicamente. Os tipos muito enriquecem o estudo das Escrituras, ainda que possamos questionar a validade de alguns deles, porquanto pode haver exageros de interpretação. Na primeira instituição teológica na qual estudei. houve um curso de um semestre que só tratou do assunto da tipologia, o que mostra como esse assunto é considerado importante em alguns círculos. 111. Inspiração Dessa Forma de Interpretação Os rabinos amavam símbolos, tipos, alegorias e parábolas. A tipologia tem um pano de fundo judaico, e era extremamente popular entre os rabinos. O material escrito dos Manuscritos do Mar Morto (vide) provê ilustrações tanto da interpretação alegórica como da interpretação tipo lógica. Foi apenas natural que os autores do Novo Testamento (quase todos elesjudeus, acostumados com o estudo do Antigo Testamento) tivessem visto tipos claros no Antigo Testamento. Assim, Cristo tomou-se o Segundo (ou último) Adão (Rom. 12); a primeira páscoa ilustrava Cristo como nossa Páscoa e a eucaristia (1 Cor. 5:6-8); o cordeiro pascal antecipava o Cordeiro de Deus (João 1:29); Israel no deserto antecipava certos aspectos da vida cristã (I Cor. 10: 1-11). Acresça-se a isso que a epístola aos Hebreus é, virtualmente, um estudo de tipos bíblicos, do princípio ao fim. Não se pode duvidar que tipos enriqueceram a teologia cristã. Porém, algumas vezes,

um tipo é obtido ignorando-se o contexto, ou então através de uma fértil e exagerada imaginação. Por isso mesmo, tipos podem ser abusados, tornando-se fantasias subjetivas. IV. Legitimidade da Tipologia e Oposição à Mesma. A legitimidade do uso de tipos alicerça-se, essencialmente, sobre o fato de que os autores do Novo Testamento usaram livremente esse método. A inspiração das Escrituras então insiste que esse uso é inspirado pelo Espírito de Deus. Do ponto de vista histórico, salienta-se que o cristianismo nasceu dentro do judaísmo, e que o Novo Testamento foi o desdobramento natural e necessário do Antigo Testamento. As íntimas correlações entre os dois Testamentos exigiam que o Antigo se tornasse tipo do Novo Testamento. Além disso, a tradição profética tem um papel a desempenhar aí, pois há predições sobre Cristo em muitas passagens, pelo que era inevitável que o documento de predições também contivesse tipos da Figura sobre a qual predizia. Ver sobre Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus. Oposição. Esta procede, essencialmente, de três setores: 1. Os rabinos objetavam ao uso tipológico de seus Livros Sagrados, visto que rejeitavam a Pessoa e à Fé religiosa que, alegadamente, estavam sendo tipificadas. Também objetavam à cristianização do Antigo Testamento, o que eles consideravam uma perversão, e não umuso legítimo. 2. Os teólogos liberais objetam aos excessos e abusos a que os tipos são sujeitados; e os mais radicais entre eles objetam à própria prática, como uma cristianização do Antigo Testamento que vai além do que a razão permite. Assim, a crítica da Bíblia (que teve início no século XIX, na Alemanha), nunca deu muito valor aos tipos, e acabou desaparecendo ali. 3. Os céticos concordam com os rabinos e com os estudiosos liberais mais radicais, supondo que a prática da cristianização do Antigo Testamento envolve uma falsidade, repleta de fantasias e exageros piedosos. V. Caracterfstíeas dos Tipos 1. Eles estão alicerçados na história e na revelação sagradas (Mal. 12:40). 2. São proféticos (João 3: 14; Gên. 14, comparado com Heb.7). 3. Fazem parte integral da história sagrada e da doutrina cristã, e não pensamentos posteriores, inventados por rabinos e cabalistas (ver I Cor. 10: 1-11). 4. São cristocêntricos (Luc, 24:24,44; Atos 3:24 ss). 5. São excelentes para instrução e edificação. Cada tipo provê uma espécie de janela que permite a entrada de luz sobre o assunto ventilado. O livro aos Hebreus é o supremo exemplo neotes-tamentário de como funcionam os tipos bíblicos. VI. Como Evitar Exageros Alguns intérpretes cristãos têm pensado ver tantos tipos no Antigo Testamento que perdem de vista o valor histórico e religioso do Livro Sagrado. De maneira geral, encontrarno-nos em terreno firme quando aceitamos aqueles tipos que nos são apresentados no próprio Novo Testamento, ou quando suspeitamos daqueles que não contam com tal confirmação. Entretanto, alguns intérpretes exageram, ao verem muitas coisas nesses tipos. Alguns intérpretes vêem algum simbolismo em cada peça do mobiliário do tabernáculo, e até mesmo nos materiais empregados na confecção dos mesmos, como ilustrações de algo sobre a pessoa e a obra de Cristo. Mas se o relato acerca de Jonas certamente ilustra a ressurreição de Cristo, o retorno de Jonas à sua terra natal não ilustra, necessariamente, a restauração de Israel aos seus territórios, conforme alguns têm dito. Detalhamentos demasiados devem ser evitados,

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TIPOS, TIPOLOGIA - TIRANIA portanto. Alguns tipologistas têm-se atrapalhado com pormenores sem base, encontrando tipos dentro de tipos. Devemos procurar pela verdade essencial, não tentando escrever um livro com base apenas sobre um tipo, que é apenas uma ilustração. (B C E 10)

TIPOS DE RELIGIÃO Ver sobre Religião, seção terceira. TIPOS IDEAIS Ver sobre Weber, Max e sobre Spranger; Edward. TÍQUICO 1. Seu Nome. Esta palavra grega significa "fortuito", "acontecimento casual", possivelmente uma referência ao fenômeno comum de uma criança nascer de forma surpreendente, ou chegando a seus pais, por assim dizer, "por acidente". Porém, o nome poderia significar "afortunado", ou seja, a "fortuna" ou "sorte" lhe sorriu, como quando a sorte vem a uma pessoa por acidente. 2. Sua Pessoa. Segundo se acha registrado em Atos 20 (especialmente no vs. 4), este homem acompanhou pelo menos parte da terceira viagem missionária de Paulo. Somos informados de que ele era natural da Ásia Menor. Trófimo estava na companhia dos dois naquela ocasião. Ele prosseguiu com Paulo rumo a Jerusalém (Atos 21 :29), porém Tíquico ficou para trás em Mileto (Atos 20: 15, 28). Ele atendeu Paulo, visitando-o na prisão em Roma (Cal. 4:7, 8; Efé. 6:21, 22). Mais tarde, quando Paulo estava a caminho para Nicópolis, enviou Ttquico a Chipre para tomar certas providências (Tito 3: 12). Paulo foi preso pela segunda vez (antes de seu martírio), e naquela ocasião enviou Tíquico a Éfeso a fim de dar assistência às igrejas daquela região. Conjetura-se que ele, Trófimo e Tito estiveram envolvidos na arrecadação de uma coleta entre as igrejas em favor dos cristãos pobres da Judéia, o que se acha registrado em 2 Cor. 8: 16-24, mas onde seus nomes não são mencionados. 3. Uma Missão Menor, Porém Importante. Tíquico era um homem que se mantinha constante na obra, sempre ajudando Paulo e sempre apto nos compromissos que recebia. Era um "irmão amado, fiel ministro e conservo no Senhor" (Col. 4:7). Com esse apreço da parte do grande apóstolo dos gentios, qualquer pessoa se sentiria contente. TIQUISMO Essa palavra vem do termo grego tuchê, "fortuna", "acaso", "sorte", um vocábulo cunhado por Charles Peirce, a fim de referir-se a acontecimentos que ocorrem inteiramente ao acaso, em contraposição ao conceito do Determinismo (vide). De acordo com o princípio do tiquismo, os eventos são totalmente imprevisíveis. Isso posto, o livre-arbítrio (vide) seria uma realidade. Ver também o detalhado artigo chamado Chance. TlRACA Nos registros egípcios, o nome desse homem aparece como Taraca. Está em questão um faraó da época em que a dinastia etíope governava o Egito. Alguns identificam a dinastia como a 20", mas outros dizem que era a 25". Em 11 Reis 19.9 esse homem é mencionado como alguém que se revoltou contra Senaqueribe quando esse rei da Assíria invadiu Judá (701 a.Ci), Mas quando a dinastia etíope governava o Egito, o líder do governo era Shabaka, não Tiraca, que não tomou o poder até 691 a.Ci, cerca de 12 anos depois. Talvez Tiraca agisse por parte de Shabaka,

seu tio, e, como general do exército, tenha recebido, erroneamente, o nome de "rei" em 11 Reis 19.9 e em Isa. 37.9. Essa explicação parece uma visão melhor e mais simples do que a de que Senaqueribe executou duas campanhas, uma envolvendo a oposição de Shabaka, e outra envolvendo oposição de Tiraca. Em todo caso, não há muito valor prático em tentar harmonizar os anais do Egito, da Assíria e das poucas referências bíblicas que existem, e apelar para o "silêncio", pois inventar uma campanha de Senaqueribe não parece uma forma lógica de harmonizar os relatos. Tiraca obteve algumas vitórias iniciais, como aquela feita contra Esar-Hadom, filho de Senaqueribe, mas apenas três anos depois (670 a.C,] ele foi expulso de Mênfis e nunca retomou ao Egito, tendo voltado ao seu Sudão nativo, isto é, à cidade de Napata, onde morreu. Suas aventuras deram maus resultados.

TlRADORES DE ÁGUA As pessoas empregadas na tarefa de tirar água dos poços pertenciam às classes humildes, excetuando as donas de casa, que prestavam esse serviço para suas famílias, como parte de suas tarefas diárias. Era uma tarefa manual, geralmente entregue a mulheres (Gên. 24: 13; 1 Sam, 9: 11). Porém, rapazes também realizavam a tarefa (Rute 2:9). Algumas vezes, inimigos subjugados eram reduzidos a "tiradores de água", conforme se vê em Josué 9:21 ss. Essa tarefa era necessária devido à ausência de qualquer sistema de transporte de água, na maioria das cidades, sem falar no fato de que os poços e os mananciais ficavam situados - distantes - das residências o que obrigava as pessoas a andarem um pouco para tirarem água. A água era transportada em boa variedade de vasos, incluindo aqueles feitos de metal, de madeira ou de peles de animais. Quem puxava a água também a transportava aos ombros, ou então a punha sobre o lombo de animais de carga. Os tiradores de água aparecem entre os mais humildes daqueles que entraram em aliança com Deus. (Deu. 29:11). Muitas pessoas estão ocupadas em tarefas desinteressantes e até mesmo humilhantes, completamente destituídas de qualquer desafio. São os modernos "tiradores de água". Mas até mesmo esses podem entrar em aliança com Deus, no que encontram grande valor espiritual. Isso aumenta imensamente o interesse da vida. O apelo dos sistemas políticos ateus, em favor somente do corpo fisico, nunca beneficia em coisa alguma a alma. Ao mesmo tempo, porém, os teólogos não deveriam mostrar-se indiferentes para com a situação de pessoas humildes, cujas vidas, do ponto de vista fisico, têm pouco ou nenhum ponto de interesse. Essa preocupação deveria encontrar avenidas de expressão que não se olvidem de Deus ou da alma, pois, do contrário, a miséria final será pior do que a miséria que se tinha procurado resolver. Isso faz parte do ABC da espiritual idade. TIRANÁ No hebraico, "gentileza". Esse homem era filho de Calebe e de sua concubina, Maaca (I Crô, 2:48). Viveu por volta de 1440 a.c. Tinha um irmão de nome Seber (vide). TIRANIA Essa palavra vem do grego, túrannos, "tirano". Está em foco uma forma de governo absolutista, de um homem só, cujos desejos são traduzidos como lei, sob a égide da violência e da intolerância. Para Platão, a tirania era a mais degenerada de todas as formas de governo. Ele alistava cinco tipos fundamentais de governo: aristocracia,

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TIRANIA - TIRO timocracia, oligarquia, democracia e tirania. Explicamos o significado desses vocábulos no artigo sobre Platão. Por sua vez, Aristóteles pensava que a tirania é uma forma degenerada de monarquia. Para ele, a monarquia é uma das formas aceitáveis de governo, contando que não seja acompanhada por abusos. E as outras duas formas aceitáveis seriam a aristocracia e a democracia. Essas três formas degeneram em formas inaceitáveis: a monarquia, na tirania; a aristocracia, na oligarquia; e a democracia no governo do proletariado. Ele concebia ainda a politia, uma democracia constitucional, uma forma aceitável de governo. A palavra tirania, no seu uso moderno, tem um sentido negativo. Mas não havia, necessariamente, na antiguidade, esse significado, pois o termo podia significar, simplesmente, "governante". Alguns tiranos antigos foram grandes edificadores e patrocinaram as artes; mas podemos ter a certeza de que um de seus defeitos era não permitir qualquer medida de liberdade a seus súditos. Quase sempre os tiranos chegavam ao poder mediante a violência, governando de forma absoluta, sem o abrandamento de qualquer forma de constituição. Na Grécia, muitas tiranias governaram no século VII a.c., uma forma natural de governo no caso de pequenas cidades-estados, onde políticos enérgicos podiam facilmente apossar-se das rédeas do mando. Cipselo de Corinto e Ortágoras de Sicio foram bem conhecidos tiranos da história grega primitiva. Psístrato foi um bom tirano, que demonstrou interesse pelo bem-estar do povo, além de ter realizado muitas obras públicas e edificações. Na República, de Platão, o sábio e benévolo rei aparece no alto da hierarquia de governantes, ao passo que ao tirano se dá o último e miserável lugar. Quando um único homem, ou um governo totalitarista, rouba a liberdade do povo, sempre será apropriado dar a tal forma de governo um miserável último lugar.

TIRANO . No grego, Túrannos, "tirano". Ele era um cidadão de Efeso, em cuja escola Paulo apresentou conferências do Evangelho (ver Atos 1~:9), pelo espaço de dois anos. Quando os judeus de Efeso se opuseram ao ensino de Paulo na sinagoga, onde o apóstolo havia pregado corajosamente por três meses, acerca do reino de Deus, ele e os seus seguidores passaram a fazê-lo na escola de Tirano. Aquele versículo diz: " ... Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano". A isso o chamado texto Ocidental acrescenta as palavras "da hora quinta: à décima", o que corresponde, segundo a nossa maneira moderna de marcar as horas, das onze da manhã às quatro horas da tarde. Se essa adição está com a razão, então Paulo tirava vantagem das horas mais quentes do dia, quando quase todas as pessoas estavam descansando, após a refeição do almoço. O salão da escola, normalmente, estaria vago, e talvez o aluguel fosse mais barato, depois que Tirano, ou quem quer que fosse o professor, tivesse ensinado ali durante as horas matinais, mais frescas. Ver Marcial 9.68; 12.57; Juvenal 7.222-226. Isso também permitiria que Paulo trabalhasse em seu próprio negócio, como fabricante de tendas, durante as horas próprias para negócios (ver Atos 20:34; I Cor. 4: 12). Mas depois, em vez de descansar, Paulo ocupava-se na sua missão evangelistica e apologética, quando então as outras pessoas descansavam um pouco, e estavam dispostas a ouvir ao apóstolo. Em resultado disso, Lucas foi capaz de escrever: " ... dando ensejo a que todos os habitantes da

Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos" (Atos 19: 1O). Não há certeza quem era esse Tirano. Em todas as cidades gregas havia algum salão de conferências, em ginásios, onde filósofos, oradores e poetas expunham seus pontos de vista ou apresentavam peças e recitações, Tirano talvez fosse um retórico grego que vivia em Efeso, nesse tempo, e que ali ele contasse com sua própria escola ou salão de conferências. Meyer, entretanto, pensa que Tirano era algum rabino judeu, em cuja sinagoga particular o apóstolo podia anunciar a sua mensagem cristã em maior segurança do que poderia fazê-lo na sinagoga pública. Ver H.A.W. Meyer; Handbook to the Acts ofThe Apostles, in loco O texto ocidental acrescenta as palavras certo Tirano, indicando algum indivíduo em particular. Também é possível que "a escola de Tirano", conforme diz a nossa versão portuguesa (ao passo que outras versões dizem "o salão de Tirano"), fosse um edifício que Tirano alugasse. Nesse caso, o edifício tinha o nome de seu proprietário. Também poderia ser a residência particular de algum homem que tivesse querido cooperar desse modo com os esforços do apóstolo. Mas, sem importar qual tenha sido o caso, o fato de que Paulo usou regularmente o local, pelo espaço de dois anos, sem ser molestado, e com tantos ouvintes, indica que o lugar era espaçoso e bem situado na cidade.

TIRAS O filho mais novo de Jafé, que também deu nome aos seus descendentes (Gên. 10:2 e I Crô. 1:5). Vários pontos de vista sobre a identidade desses descendentes têm sido conjecturados, mas nenhum deles tem merecido aceitação universal. Alguns escritores têm-nos identificado com os trácios (Josefo, Anti. 1:6, 1); outros com os piratas Turusa, que invadiram a Síria e o Egito no século XIII a.c. Outros têm-nos vinculado a Tarso, na Cilícia, a Társis, na península ibérica, e, finalmente, aos progenitores dos etruscos, da península itálica. Talvez a razão mais forte para esta última hipótese seja o fato de que bem ao lado da península itálica há o mar Tirreno. Além disso, os estudiosos têm averiguado forte ligação entre os etruscos e os mais antigos tursenoi, referidos pelos gregos, embora os gregos também dessem esse nome a certos povos da Asia Menor, além dos etruscos. Mas isso não obstáculo intransponível, pois todos os povos europeus vieram da Ásia, quando os descendentes de Noé, através de seus três filhos, Sem, Cão e Jafé, começaram a se espalhar pela face da terra, partindo das regiões-do monte Ararate, que hoje fica entre a União Soviética, a Turquia e o Irã. é

TIRATITAS Um das famílias de escribas, pertencentes à tribo dos queneus, que viviam em Jabez. As outras famílias são os simeatitas e os sucatitas (vide). Eles são mencionados exclusivamente em I Crô. 2:55. TIRIA No hebraico, "alicerce", "fundação". Era filho de Jealelel, da tribo de Judá (I Crô. 4: 16). Viveu por volta de 1400 a. C. TIRO 1. A Palavra No hebraico, tsur, "rocha". No grego, Túros. Esse foi um famoso porto marítimo da Fenícia, situado cerca de quarenta quilômetros ao sul do porto irmão de Sidom, e a vinte e quatro quilômetros ao norte da fronteira entre o

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TIRO Líbano e Israel. Portanto, ficava perto de uma fronteira geográfica natural. 2. Geografia Por detrás da cidade de Tiro, o espinhaço contínuo da cadeia montanhosa do Líbano já começa a baixar para tomar-se uma região de colinas confusas, e que continua para o sul até formar as terras altas da Galiléia. Só há uma interrupção nessas colinas, a saber, a planície de Esdrelom, antes de se chegar à região montanhosa de Efraim e de Judá. Aproximadamente dezenove quilômetros ao sul de Tiro, certas colinas e promontórios, que avançam na direção do mar, formam uma espécie de muralha natural. Isso assinala a fronteira moderna, no sul do Líbano, e cerca de trinta quilômetros ou pouco mais, para o sul, fica o grande porto israelense de Haifa, Tanto Tiro quanto Sidom continuam funcionando como portos marítimos; mas as ruínas de Tiro são muito mais extensas, tendo sido alvo de grandes investigações e escavações arqueológicas. 3. Fundação O historiador grego, Heródoto (cerca de 490-430 a.C.), datou a fundação de Tiro em uma data tão remota como cerca de 2740 a.c. Mas Josefo falava em uma data como 1217 a.C. Devido a grande discrepância nos dados históricos, quanto à data da fundação dessa cidade, lança em suspeita a ambos esses historiadores. Provavelmente, Heródoto está mais certo do que Josefo quanto aessa data; porém, o informe perdido, em todas essas datas, é o tempo exato da chegada dos fenícios na faixa litorânea entre os montes do Líbano e o mar. Escavações feitas em mais de um ponto de ocupação, nessa faixa litorânea, revelam uma camada do período neolítico, debaixo da massa de ruínas fenícias. E estas, por sua vez, são pesadamente recobertas por ruínas gregas, romanas, e, algumas vezes, da época dos cruzados da era medieval, um fenômeno que pode ser verificado desde Biblos até Tiro. 4. Política Fenícia Os fenícios, tal como os gregos, nunca formaram uma unidade nacional, e jamais conseguiram fundar qualquer coisa parecida com uma unidade política. À semelhança dos gregos, eles também estavam organizados em cidades-estados. E diferentes historiadores podem fixar de modo diverso o começo significante de alguma cidade, o que explica aquela discrepância acerca de datas de fundação, como é o caso de Tiro. 5. Colônia de Sidom O trecho de Isaias 23 :2,13 parece dar a entender que Tiro começou como uma colônia de Sidom. De acordo com esse profeta, Tiro era uma "oprimida filha virgem de Sidom"; e as palavras "bens sidônios", usadas por Homero, talvez dêem. a entender que Sidom era a mais antiga das duas cidades. Interessante é observar que Homero mencionou Sidom por diversas vezes, sem nunca haver mencionado Tiro. Porém, nos autores latinos, o adjetivo "sidônio" com freqüência, é vinculado a Tiro. Para exemplificar, Dido, filha de Belo, de Tiro, é chamada por Vergflio de "a Dido sidônia", E as cartas de TeU el-Amarna, que procedem a época de Josefo, contêm um apelo, feito pelo governador local de Tiro, que deve ser datado em cerca de 1430 a.Ci, onde ele solicita ajuda, pressionado como estava sendo pelos "habiri" (hebreus?) invasores. Mas, sem importar quem tenham sido esses invasores, o apelo, dirigido ao Faraó Amenhotepe IV, demonstra que o poder do Egito, havendo penetrado até tão para o norte, fraquejava nas costas da Fenícia, por estarem distantes demais do Egito. Josué entregou Tiro aos homens da tribo de Aser; porém, não parece provável que a invasão dos hebreus tenha

chegado a uma localidade tão nortista quanto era Tiro (ver Jos. 19:29; 11 Sam. 24:7). 6. No tempo de Hirão Durante os próximos três ou quatro séculos, não encontramos claros registros históricos a respeito de Tiro. A história só nos fornece informações claras a precisas no tempo de Hirão, rei de Tiro, e amigo de Davi. Hirão parece ter desfrutado de um reinado extremamente longo, pois ele foi mencionado pela primeria vez quando enviou madeira de cedro e artífices especializados a Davi (11 Sam. 5: 11). E, de acordo com I Reis 5: 1, ele fez a mesma coisa nos dias de Salomão. Tiro parece ter sido o centro do poder fenício, na época, porquanto os sidônios são descritos, naquele mesmo contexto onde também são alistados os servos de Hirão e pedreiros de Gebal a antiga Biblos. Essa cidade fica cerca de quarenta quilômetros ao norte de Beirute. 7. Relação a Salomão Também é interessante notar que Etbaal, reputado neto de Hirão, um século mais tarde, foi chamado de "rei dos sidônios" (1 Reis 16:31). Portanto, parece que o poder dos fenícios oscilava entre Sidom e Tiro. O fato é que o astuto Hirão tirou grande proveito de sua sociedade com Israel. Conforme mostra o famoso papiro de Wenamom, os principes fenícios eram notáveis negociantes, sendo claro que Salomão muito embaraçou a nação de Israel por ter de fazer pesados pagamentos a Hirão, sob a forma de trigo e azeite (I Reis 5: 11), sob a forma de tantos israelitas que tinham de trabalhar nas florestas tírias, na extração de madeira, e também por haver entregue, tolamente, vinte centros populacionais da Galiléia para os fenícios (ver I Reis 9: 10-13). Não obstante, posteriormente, Hirão queixou-se diante de suas aquisições na Galiléia, servindo isso de possível indicação de que Salomão também tivesse usado de sua astúcia nativa. Juntos, Salomão e Hirão estabeleceram uma sociedade mercantil, alicerçada no golfo de Ãcaba, ao norte do qual Salomão tinha as suas fundições de cobre. Hirão dispôs-se a negociar, empregando as habilidades fenícias na construção de embarcações e com grandes marinheiros, para obter acesso às rotas comerciais com Ofir, provavelmente a India e o Ceilão, através do território de Israel. Em adição à madeira de cedro, que motivou os primeiros contactos comerciais entre Israel e Tiro, esta última também negociava com o seu incomparável corante carmesim, feito de um molusco, abundante em suas praias do mar. Isso posto, a madeira, os corantes, os tecidos tingidos, uma poderosa marinha mercante, o estanho extraído na distante Cornuália (ilhas Britânicas, o ponto mais distante da navegação regular dos fenícios, cerca de 3400 milhas marítimas, ou seja, cerca de 6300 quilômetros), além de prata extraída na Espanha e cobre em Chipre, faziam de Tiro do rei Hirão, uma das maiores cidades comerciais do mundo antigo, e acerca do que as Escrituras Sagradas mesmas prestam testemunho: " ...e te enriqueceste e ficaste mui famosa no coração dos mares" (Eze. 27:25). Até onde os registros históricos fragmentares podem ser alinhavados, parece que depois da época de Hirão, que teve um reinado muito longo, estouraram muitos conflitos entre poderosos, que queriam assenhorar-se do trono tírio, Já notamos sobre a transferência de poder, de Tiro para Sidom, acima. Foi a filha de Etbaal, rei de Sidom, de nome Jezabel, que se casou com Acabe, rei de Israel, na época do profeta Elias. Aquele foi um casamento dinástico, de conveniência apenas. Comercialmente falando, as vantagens comerciais obtidas por Salomão, nos dias do reino unido de Israel, foram assim transferidas para o reino do norte. Tiro, e a Fenícia em geral,

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TIRO geralmente, ressentiam-se de sua baixa produtividade agrícola, ao passo que Israel produzia muito nesse campo. Esses produtos agrícolas de Israel, portanto, eram trocados pelos produtos de luxo produzidos pelos fenícios, muitas vezes trazidos de longas distâncias pelos negociantes tírios. 8. Dominação Assíria Por dois séculos de dominação assíria no Oriente Próximo, Tiro teve de sofrer, juntamente com outras comunidades da região, um longo período de agressão e opressão. No entanto, seu poder marítimo e sua posição quase inexpugnável, em uma ilha, a certa distância do continente, conferiam a essa cidade uma certa proteção. E significativo que Tiro conseguiu libertar-se da dominação exercida por Nínive uma geração antes dessa grande capital, o último fortim do poder imperialista da Assíria, haver caído, o que já ocorreu nos fins do século VII a.c. A data mais precisa, foi 612 ou 606 a.C. Isso assinalou uma outra era áurea da influência e do poder de Tiro. Os capítulos vinte e sete e vinte e oito do livro de Ezequiel, que denunciam fortemente os tírios, fornecem-nos uma descrição muito boa sobre o poder, as riquezas, o comércio variegado e o luxo que pairava em tomo desse porto fenício. 9. Dominação Babilônica Quando a Babilônia substituiu a Nínive, como o maior agressor e dominador das terras do Oriente Médio e Próximo, Tiro ainda ofereceu alguma resistência aos babilônios. Porém, as tensões de um prolongado cerco, a drenagem de suas riquezas e de seu potencial humano, a ruptura de seu comércio durante esse novo período de hostilidades, acabou por prejudicar, definitivamente, aquele grande porto de mar fenício. Deus entregara o mundo às mãos dos babilônios, e Tiro não escapou a esse domínio. Com Nabucodonosor teve início o "tempo dos gentios" (um período em que Israel perdeu o seu direito de autogovemar-se, tomando-se a cauda das nações, e não a cabeça), tempo esse que haverá de prolongar-se até o fim da carreira do anticristo. Pois bem, o declínio de Tiro começou com Nabucodonosor, embora sua queda ainda tivesse de esperar por mais alguns séculos. Poderíamos sumariar os percalços de Tiro, durante seus últimos três séculos de história, antes de sua destruição final por Alexandre, o Grande, como segue: Antes do aparecimento de Nabucodonosor, Tiro conseguira desfrutar de boa medida de independência do poder egípcio, até que os e egípcios vieram a dominar essa cidade. Então, os assírios fustigaram essa cidade. Em seguida, vieram os babilônios, dos dias de Nabucodonosor. Mas, depois destes, vieram os persas. O trecho de Esdras 3:7 cita uma ordem do rei da Pérsia, Ciro 11, para que os tírios suprissem a madeira de cedro necessária para a restauração do templo de Jerusalém, que aquele monarca persa havia aprovado. Nessa época, o cedro do Líbano, sem dúvida alguma, andava crescentemente mais escasso. As florestas existentes na região montanhosa do Líbano já vinham sendo exploradas por nada menos de sete séculos, sem que os fenícios se importassem com o reflorestamento. Contudo, os fenícios continuavam excelentes marinheiros, havendo indícios de que o enlouquecido rei da Pérsia, Cambises 11, tenha recrutado uma flotilha tíria em seu ataque contra o Egito. Além disso, galeras tírias velejaram em companhia da malsucedida empreitada persa contra a Grécia. Os gregos esmagaram a marinha persa em, Salamina, em 480 a.c. 10. Relação com Alexandre Em 332 a.C.; no decurso de sua marcha através do

império persa, que se esboroava, Alexandre e seu exército vitorioso apareceram diante de Tiro. E a cidade, confiando em sua quase inexpugnável posição, fechou os seus portões contra o que lhe parecia um pequeno exército macedônio. O cerco que se seguiu tomou-se um dos grandes épicos da história militar do mundo. Alexandre construiu um molhe para cruzar o pequeno estreito que separava a cidade do continente. Até hoje, esse molhe é o âmago do promontório em forma de cunha que liga o antigo local da cidade de Tiro ao continente. A moderna cidade de Tarabulus ocupa as praias e parte desse istmo artificial. Foi somente através desse gigantesco feito de engenharia, que é considerado uma tremenda obra até mesmo em nossos dias, que Alexandre conseguiu lançar o ataque final, mediante o qual conquistou a cidade de Tiro. E isso mesmo ao custo de muitas vidas, que se perderam. Seja como for, foi desse modo que a profecia de Ezequiel teve cumprimento, quando a grande e famosa cidade de Tiro tomou-se um lugar onde os pescadores vinham enxugar e remendar suas redes (ver Eze. 26:5,14; 47:10). 11. Relação à Roma Não obstante, o local manteve algo de seu antigo prestígio. Tiro chegou mesmo a recuperar-se, parcialmente, desse tremendo golpe. Durante algum tempo, funcionou ali um governo republicano. Esse governo contemplou o aparecimento da estrela romana, no horizonte. Tiro estabeleceu uma aliança com Roma, tendo assim conseguido manter a sua independência até os dias de César Augusto. Mas, quando esse imperador absorveu Tiro no sistema provincial de Roma, em 20 a.C, a cidade de Tiro desapareceu de vez das páginas da história. 12. Arqueologia As ruínas da cidade de Tiro, descobertas com muito cuidado pela arqueologia, mostraram-se muito estratificadas, desvendando uma longa história nas costas marítimas da Fenícia. As ruínas das docas e dos armazéns dos feníciosjazem por debaixo das construções feitas pelos gregos e pelos romanos. Uma estranha edificação dos tempos gregos é um teatro em forma oblonga, sem-par em todas as costas do Mediterrâneo. Há um magnífico pavimento, uma rua recoberta de mosaicos, com muitas lojas e colunatas, que se revestem de interesse especial para nós; porquanto pertencem à época da vida de Jesus Cristo. E possível que ele, tendo partido da Galiléia, e tendo estado até em Sidom, tenha passado também por ali. Ver Mateus; 15:21 ss, onde se lê: "Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom". O que o Senhor foi fazer naquelas regiões? Ele tinha uma de suas escolhidas na pessoa da mulher cananéia. Embora uma mulher gentia, mulher, grande é a tua fé! Faça-se o Senhor lhe disse: contigo como queres" (vs. 28). 13. Referência de Jesus Em outra oportunidade, o Senhor Jesus referiu-se a Tiro, juntamente Com sua cidade irmã, Sidom, quando, repreendendo os habitantes de cidades da Galiléia, expressou: "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. Contudo, no juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros" (Luc. 10:13,14). 14. Referência de Paulo A última menção a cidade de Tiro, nas páginas sagradas, fica no capítulo vinte e um do livro de Atos, onde se narra a viagem do apóstolo Paulo e seus companheiros cristãos de viagem, até Jerusalém. A menção é fortuita, nada havendo acontecido de especial ali. "Quando Chipre já

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TIRO - TISCHENDORF estava à vista, deixando-a à esquerda, navegamos para a Síria e chegamos a Tiro... Quanto a nós, concluindo a viagem de Tiro, chegamos a Ptolemaida..." (Atos 21:3,7). TIRO, a ESCADA DE Ver sobre Escada de Tiro. TIROPEANO, VALE Ver o artigo sobre Jerusalém. TIRSATA No hebraico, "o temor", "a reverência". Esse título foi dado tanto a Zorobabel quanto a Neernias, como governadores de Judá, sob o governo persa, entre 536 e 445 a.C. Entretanto, o título não é transliterado em nossa versão portuguesa, mas interpretado como "governador", nas cinco vezes em que ocorre nas páginas do Antigo Testamento. Ver Esd. 2:63; Nee. 7:65,70; 8:9; 10: 1. Essa interpretação é correta, mas faz a palavra hebraica desaparecer de nosso texto da Bíblia portuguesa. Tirsata vem do persa antigo avestã; tarsta, que significava "respeitado", "reverenciado", mais ou menos equivalente ao nosso moderno "Vossa Excelência". Interessante é que os tradutores da Septuaginta preferiram traduzir o título Tirsata como se fosse um nome próprio, com diversas formas diferentes. Um sátrapa ou governante de província era, na realidade, um oficial subalterno, sem maior autoridade, cuja principal função incluía o cálculo e o recolhimento de impostos (ver Nee. 7:70; cf. Esd. 1:8). TIRZA No hebraico, "deleite", "satisfação". Esse é o nome tanto de uma personagem feminina quanto de uma cidade, nas páginas do Antigo Testamento: 1. A filha caçula de Zelofeade, que tinha cinco filhas (Núm 26:33; 26: 1; 36: 11 e Jos. 17:3). Ela viveu por volta de 1450 a.C. 2. Uma ex-cidade real dos cananeus, que ficou na parte norte do monte Efraim, no alto da descida do wadi Farah, que se precipita para leste, para o vale do rio Jordão, até o vau de Adão. Esse era o melhor trajeto que ligava a Transjordânia com o monte Efraim, e daí para o leste, atravessando Dotã e Bete-Lagã, até à planície de Jezreel. Essa estrada longitudinal ajuda a explicar o surgimento de cidades importantes, como Tirza, Siquém e Samaria, nas junções das principais estradas. Famoso por suas belezas naturais, o vale de Tirza é cantado em Cantares 6:4: "Formosa és, querida minha, como Tirza..." A antiga cidade cananéia de Tirza passou a fazer parte do território de Manassés (Jos. 17:2,3), capturada por Josué (Jos. 12:24). É possível que no relato do cerco de Tebes, com sua poderosa fortaleza, onde Abimeleque encontrou a morte, envolva uma corrupção do nome de Tirza (Juí, 9:51). Jeroboão I mantinha uma residência em Tirza (I Reis 14:17), que se tomou a capital do reino do norte, Israel, desde os dias de Baasa (I Reis 16:8,9), Elá e Zinri (I Reis 16:8,9,15). Tendo ficado ali em uma armadilha, preparada por Onri Zinri destruiu a sua residência, durante os conflitos dinásticos com Onri (I Reis 16:17,18). Seis anos mais tarde, Onri transferiu a capital do reino do norte para Samaria (vide), uma localização mais central e conveniente, que dominava os caminhos para a região montanhosa de Samaria. Isso assemelhou-se à escolha de Jerusalém, por parte de Davi, como capital do seu reino, porquanto Samaria não tinha associações tribais mais

antigas, conforme era o caso de Tirza. Depois que Samaria tomou-se a capital do reino do norte, Tirza afundou para a insignificância de uma cidade provincial, embora ainda importante como tal. Quase no fim da existência da nação de Israel, um cidadão de Tirza, Menaem, usurpou o trono pertencente a Salum (lI Reis 15: 14,16). O grande cômoro de TeU el Far'a, cerca de onze quilômetros a nordeste de Nablus, tem sido escavado pelos padres dominicanos. Essas explorações arqueológicas têm revelado uma contínua ocupação humana desde os tempos calcolíticos, antes de 3000 a.C., até o fim do reino do norte, Israel já florescia como cidade no século IX a.C., porém, um nível incendiado foi encontrado, após a primeira camada da ocupação da idade do Ferro. Isso talvez indique as desordens civis da época em que Onri subiu ao trono. Também há evidências de que a antiga fortaleza de Tirza foi reduzida a uma cidade aberta, mais ou menos na época em que Samaria foi fundada, em um novo local. Tudo isso parece confirmar fortemente o cômoro de TeU el-Farah como O local de Tirza. TISBE No grego, Thisbe. Esse foi o lugar onde os assírios aprisionaram Tobias. O lugar é descrito no livro de Tobias como ao sul de Cades de Naftali, na Galiléia, acima de Aser (Tobias 1:2). A localização de Tisbe, porém, nunca; foi determinada. TISCHENDORF, LOBEGOTT FRIEDRICH CONSTANTIN VON Suas datas foram 1815-1874. Ele foi um dos grandes pesqui-sadores e autores no campo da crítica textual (vide). Ver também Manuscritos do Novo Testamento. Foi Tischendorf quem descobriu o Côdax Sinaiticus (vide). Também foi o autor de uma obra em dois volumes que, durante algum tempo, foi um estudo definitivo sobre todos os manuscritos gregos então conhecidos, com base nos quais reconstituiu um texto grego que ele julgava representar melhor os autógrafos originais (os escritos dos próprios apóstolos). Também editou um texto do Antigo Testamento e dos livros apócrifos do Novo Testamento. E até hoje seus escritos sobre o texto do Novo Testamento são indispensáveis, devido ao seu imenso apparatus criticus de textos variantes. Entretanto, seus esforços foram empregados antes do descobrimento dos papiros de Qunran, pelo que agora são obsoletos, mas continuam retendo seu valor, no tocante a outros manuscritos. Em uma viagem pelo Oriente Próximo, em 1844, ele encontrou o Côdex Sinaittcus (pertencente ao século IV d.C.), em uma cesta de lixo, no mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinal. Imediatamente ele reconheceu ser esse manuscritoo mais antigo representantedo Novo Testamento que elejamais vira E recomendou aos oficiais do mosteiro que esquentassem suas fornalhas com material menos valioso. Naquelanoite,Tischendorfnão dormiu, pois passou a noite inteira examinando o texto, copiando o quanto lhe foi possível. Iniciou-se um longo período de negociações, antes que o manuscrito fosse liberado pelos monges do mosteiro. E esse manuscrito terminou sendo uma das possessões do Museu Britânico, onde se encontra até hoje. Em 1859, foi criada uma cadeira especial de paleografia bíblica, para Tischendorf, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. E assim, Tischendorffoi um dos poucos que fizeram aquilo que realmente queriam fazer, apreciando cada minuto de seu trabalho, ao mesmo tempo em que ganhou dinheiro nesse mister.

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TI8RI-TITO TISRI Sétimo mês do calendário eclesiástico dos hebreus. Também é chamado de Etanim (ver I Reis 8:2). Era também o primeiro mês do calendário civil dos israelitas. O Ano Novo Judaico (Rosh Hashanah) cai no primeiro dia do mês de Tisri. TITO Ver também Epístola Pastorais. Este nome vem do latim e tem um significado incerto. Foi um nome comum entre os Romanos. No grego a forma é Tltos. Seu nome ocorre por 11 vezes nas páginas do Novo Testamento: li Cor. 2: 13; 7:6,13,14; 8:6,16,23; 12:18; Gál. 2:1,3; 11 Tim. 4:10 e Tito 1:4. Carta Pastoral. Uma das três epístolas pastorais foi endereçada a Tito. Ver sobre Epístolas Pastorais. Na ocasião, Tito estava trabalhando na ilha de Creta. Essa epístola contém algumas exortações a Tito, embora nenhuma delas reflita maio seu caráter ou as suas habilidades como líder cristão. É evidente que Tito estava procurando cuidar de uma congregação cristã difícil e um tanto desobediente, em Creta. E o apóstolo Paulo deixou entendido (ver Tito I :5) que as qualificações pastorais de Tito levaram-no a escolher aquele pastor para a tarefa. Que havia afetuosas relações entre Paulo e Tito, da mesma maneira que havia entre Paulo e Timóteo, temos a prova na maneira do apóstolo tratá-lo. Tito é descrito por Paulo como" ... verdadeiro filho, segundo a fé comum..." (Tito I :4). Isso nos faz lembrar de uma descrição semelhante de Timóteo (ver I Tim. 1:2). Em seguida, Tito foi instruído a vir a Nicópolis, na costa ocidental da Grécia (Tito 3: 12), a fim de ali passar o inverno, em companhia de Paulo. E, por ocasião da escrita da primeira epístola a Timóteo, Tito havia partido para a Dalmácia, aparentemente de Roma (11 Tim. 4:10). Essa é mesmo a última referência a Tito, no Novo Testamento. Pastor Ideal. Quanto a muitos aspectos, Tito aparece no Novo Testamento como um pastor ideal. Paulo deixou transparecer, em outros seus escritos, a devoção genuína e a preocupação pastoral de Tito (11 Cor. 8: 16, 17). Sua intensidade de propósitos é mencionada como um desafio aos crentes de Corinto. A alegria cristã e a dedicação de Tito serviam de inspiração para Paulo; em sua reconciliação com os crentes de Corinto, isso fora mesmo um fator preponderante (11 Cor. 7: 13-15). Paulo chegou a consubstanciar sua devoção e amizade aos crentes de Corinto argumentando que ele tinha a mesma atitude mental de Tito (11 Cor. 12:18). Ora, todas essas alusões espalhadas nas epístolas de Paulo, sobre o caráter de Tito, indicam seu íntimo relacionamento com Paulo, e suas excelentes qualidades de pastor.. A epístola de Paulo a Tito, nas páginas do Novo Testamento, entre outras coisas, tem servido de grande inspiração para todos os ministros do Evangelho, por toda a longa história da Igreja, de quase dois mil anos. Embora os informes acerca de Tito, no Novo Testamento, não sejam tão abundantes como gostaríamos que fossem, ainda assim muita coisa pode ser aprendida com base em suas atividades pastorais e com base na epístola que o apóstolo Paulo lhe dirigiu. Essa epístola é mesmo um modelo e um manual do pastor. Ver também sobre as Epístolas Pastorais. II Cor. 2: 13: não tive descanso no meu espírito, porque não achei al i meu irmão TUa; mas, despedindo-me deles, parti para a Macedônia. Nesta epístola há nove referências a Tito, a saber, 11 Cor. 2:13; 7:6,13,14; 8:6,16,23 e 12:18. Na assinatura

destaepistola Tito é mencionado, juntamente com Lucas, como o amanuense e portador da mesma. Tito também é mencionado em Gál. 2: I ,3; 11 Tim. 4: 10 e Tito 1:4; e, na assinatura dessa última epístola, como o bispo de Creta, Embora Tito fosse um dos companheiros de viagem, em quem Paulo depunha considerável confiança, ele nem é mencionado na narrativa do livro de Atos. W.M. Ramsay, em sua obra "St. Paul the Traveller and Roman Citizen", 1920, pág, 390, sugere que a razão disso é que Tito seria irmão de Lucas. Talvez por causa de alguma modéstia própria de família é que Tito não teria sido mencionado. Porém, isso representaria uma modéstia exagerada; e a idéia inteira de Ramsay não passa de pura conjectura. A resposta dessa ausência, bem pelo contrário, pode ser encontrada no fato, facilmente observável mediante a comparação entre as epístolas paulinas, em muitos pontos, com a narrativa de Lucas, que mostra que essa narrativa lucana segue apenas um esboço geral, deixando de lado grande riqueza de material informativo, que poderia ter sido incluído, mas que aumentaria o volume do livro. Não obstante, a utilidade do livro de Atos nem por isso deixa de ser grande, ajudando-nos a compreender aqueles primeiros anos de vida da Igreja cristã primitiva, embora tal compreensão permaneça necessariamente limitada. Tito (dentro da ordem cronológica da escrita das epístolas paulinas) foi mencionado pela primeira vez no trecho de Gál. 2: 1, em conexão com a controvérsia em tomo do legalismo. Na qualidade de crente gentio, Tito não fora compelido a se deixar circuncidar; e bem provavelmente atuou como um caso naquela questão (ver Gál. 2:3). (Quanto a notas expositivas sobre a "controvérsia legalista" na Igreja cristã primitiva, ver Atos 10:9 no NTI. Quanto ao "partido da circuncisão", que provocou toda a dificuldade, ver, Atos 11:2. Quanto à natureza iudaica da Igreja primitiva, ver Atos 2:46 e 3: 1). Acerca das atividades de Tito, antes de ter chegado a Corinto, não temos a mínima informação. No entanto, em Corinto ele se tornou uma figura importante, evidentemente tendo representado a Paulo ali, no período entre a escrita da primeira e da segunda epístola aos Coríntios. E isso porque fora capaz de acalmar as perturbações que havia na comunidade cristã de Corinto, o que Timóteo não pudera fazer (Ver I Cor. 16: 19; 11 Cor. 7: 15; 8: 16 e ss). Evidentemente Tito também superintendeu a coleta em Corinto para os santos pobres, de Jerusalém (Ver 11 Cor. 8:6). Mediante a comparação entre os capítulos segundo e sétimo desta segunda epístola aos Coríntios, parece que Tito foi o portador de uma epístola de Paulo aos crentes coríntios, isto é, a chamada epístola severa (composta dos capítulos décimo a décimo terceiro de nossa atual segunda epístola aos Coríntios, uma porção separada e enviada antes dos atuais capítulos primeiro a nono desta epístola), a qual muito contribuiu para solucionar os problemas dificeis da igreja dali. Depois de sua missão em Corinto, Tito tomou a se unir a Paulo na Macedônia, trazendo-lhe boas novas de seu sucesso (ver 11 Cor. 7:6). E com base na epístola que o apóstolo dos gentios lhe escreveu, pode-se supor que ele acompanhou Paulo até Creta, tendo sido deixado ali a fim de consolidar o trabalho, depois do aprisionamento daquele. Mais tarde, entretanto, Tito foi convocado por Paulo a Nicópolis, quando foi substituído em seu trabalho em Creta por Artemas ou Tíquico (ver Tito 3: 12). E mais tarde parece que Tito ainda trabalhou na Dalmácia (ver 11 Tim. 4: I O). A tradição nos diz que Tito se tornou bispo de Creta ao envelhecer. (Ver Eusébio, Histária Eclesiástica iii.4,6). Quão humano Paulo se mostra aqui. Poderíamos ter,

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TITO (IMPERADOR DE ROMA) - TOBE

o período de governo de Tito foi considerado pelos romanos em geral como um tempo de felicidade ideal. E a sua morte prematura, no ano de 81 d.e., provocou consternação por todo o vasto império romano.

naturalmente, esperado que o apóstolo dos gentios se lançasse ao trabalho com seu usual fervor evangelístico intensíssimo, tendo-se aproveitado da oportunidade que lhe fora dada pela "porta aberta" (ver o décimo segundo versículo) ao máximo de suas possibilidades. Isso teria sido típico de Paulo. Sem dúvida, ele fez alguma coisa, porquanto é provável que alguns dos crentes mencionados no trecho de Atos 20:7-12 se tenham convertido nessa ocasião. Contudo, a sua preocupação por ver a Tito e ouvir dele como estava a situação em Corinto, para saber se ele obtivera ou não êxito em sua missão coríntia, procurando reconciliar aquela congregação cristã com Paulo e procurando solucionar alguns dos seus problemas mais difíceis, parece ter sido tão profunda que seu espírito ficou conturbado. E assim, quando não pôde encontrar a Tito, ficou quase paralisado. Em vez de permanecer na localidade e tirar proveito da oportunidade, Paulo não demorou a partir para Macedônia, sem dúvida deixando instruções com os crentes dali, sobre como poderia ser localizado naquela província, quando Tito finalmente chegasse, se viesse a fazê-lo.

TITO (IMPERADOR DE ROMA) Seu nome completo era Titus Flavius Vespasianus. Foi imperador de Roma entre 78 e 81 d.e. Era filho do imperador imediatamente anterior, Vespasiano (vide). Quando ainda jovem, Tito serviu como tribuno dos soldados romanos aquartelados na Germânia e na Britânia. Mais tarde, acompanhou seu pai, Vespasiano, à Palestina, na época da revolta dos judeus do ano 70 d.C. Quando Vespasiano foi chamado de volta a Roma, e foi coroado imperador, Tito ficou no comando das tropas romanas, tendo conseguido fazer a revolta dos judeus chegar ao fim, mediante a captura e a destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Quando de seu retomo a Roma, celebrou o triunfo em companhia de seu pai. E, desde então, tomou-se um virtual co-regente de seu pai, mostrando ser o mais forte candidato à sucessão no trono. Finalmente, quando Vespasiano faleceu, em 79 d.C., Tito tornou-se imperador. Em muitos sentidos, Tito era precisamente o oposto da figura de seu pai. Era querido pelas multidões, de boa aparência, afável para com todos. Ao contrário de seu pai, que era parcimonioso nos gastos, Tito quase chegava a ser um perdulário; e sempre foi relembrado por isso com afeto, nos anos que se seguiram a ele. Ao desfazer-se dos serviços de informantes impelidos pelo rancor, e pondo fim aos julgamentos e às execuções por traição contra o Estado, Tito obteve o favor dos senadores, os quais, por isso mesmo, não lhe fizeram oposição. O breve reinado de Tito tornou-se notório, principalmente, por causa de dois grandes desastres naturais, que ocorreram nesse período. O primeiro deles foi a erupção do monte Vesúvio, em 70 d.e., que destruiu completamente as duas cidades, Pompéia e Herculano, cobrindo a primeira com uma chuva de cinza e pedra pomes e, em seguida, com um rio de lava incandescente. Plínio, testemunha ocular dos funestos acontecimentos, escreveu uma carta a seu amigo Tácito, o historiador, narrando-lhe o desastre (Plínio, Epistulae 6.16,20). O outro grande desastre foi o incêndio de Roma e uma tremenda praga, que feriram a cidade no ano 80 d.e. Tito ajudou, pessoalmente, a muitas vítimas desses desastres, além de muito ter feito para reparar os danos causados à cidade. Entre outras providências, ele terminou o Coliseu (iniciado por seu pai, Vespasiano) e construiu os banhos que receberam o seu nome.

TITO (LIVRO) Ver o artigo sobre Epístolas Pastorais. TITO, EPÍSTOLA A Ver sobre as Epístolas Pastorais. TITO, EPÍSTOLA DE (Não Canônico) Não se deve confundir essa obra com o livro canônico da Epístola a Tito. A Epístola de Tito é um tratado pseudônimo, uma longa exortação acerca das virtudes da castídade, de origem desconhecida. Entretanto, sua ênfase acentuadamente ascética, e sua citação liberal de vários atos apócrifos, apontam para uma origem no século V d.e., provavelmente como produto da Igreja espanhola, de tendências rigorosamente ascéticas. A chamada "epístola de Tito" existe somente como um manuscrito latino já do século VIII d.e. A gramática deficiente desse texto latino tem levado à especulação de que houve um original grego por detrás do mesmo, embora isso não possa ser considerado uma conclusão definitiva. O autor, desconhecido, apresenta a sua mensagem em um estilo homilético, com freqüência, exclamatório, salientando as vantagens do estado celibatário e os tormentos daqueles que sucumbem diante dos desejos da carne. Esse autor apela para todas as evidências que pode (muitas delas forçadas), tanto do Antigo como do Novo Testamentos, sem falar em certo número de escritos apócrifos, que atualmente conhecemos ou não, em apoio aos seus argumentos. As citações constantes nessa epístola, e não tanto o seu conteúdo, é que têm chamado a atenção dos estudiosos modernos dessa obra apócrifa. TITO JUSTO Ver sobre Justo. TíTULO Ver sobre Inscrições TIZITA Adjetivo patronímico de Joa, irmão de Jediael, que foi um dos "heróis" de Davi (I Crô. 11:45). A origem desse termo é desconhecida, mas, provavelmente, refere-se à localidade de onde ele seria nativo. Joa viveu em torno de 1050 a.C. TOÁ No hebraico, "depressão", "humildade". Foi um levita descendente de Coate (I Crô. 6:34). Em I Crônicas, ele é chamado de Naate. Ele era o trisavô do profeta Samuel. Viveu por volta de 1230 a.e. TOALHA No grego léntion, um vocábulo que vem do latim, linteum, "toalha de linho". O vocábulo grego figura somente em João 13:4,5, que se refere ao pano de linho que o Senhor Jesus usou a fim de enxugar os pés de seus discípulos, no cenáculo, após ter-lhes lavado os pés. TOBE No hebraico, "frutífera", "boa". Esse era o nome de um distrito e de uma cidade da Síria, a nordeste de Gileade. O nome figura em Juí. 11:3,5 e 11 Sam. 10:6.

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TOBE - TOBIAS, O LIVRO DE Esse distrito e essa cidade do sul de Haurã (vide) são mencionados como o lugar onde Jefté refugiou-se, e também em conexão com a guerra entre os israelitas, por um lado, e os amonitas e sírios por outro lado (lI Sam. 10:6). Provavelmente é a mesma Dubu dos documentos achados em Tell EI-Amarna, um estado arameu da região a leste do rio Jordão, mas ao norte da região montanhosa de Gileade. Isso toma razoável a sua identificação com a cidade de Hopos, da região de Decápolis. Os estudiosos também têm sugerido a moderna ai-TabiYa, a dezesseis quilômetros ao sul de Gadara, um nome que parece preservar a idéia de "boa", que faz parte do nome hebraico tob, "boa". Após o exílio babilônico, judeus instalaram-se ali, o que ocasionou uma incursão das tropas de Judas Macabeu ao lugar (ver I Macabeus 5: 13 e 11 Macabeus 12: 17), se é que Toubias e os toubiani devem ser identificados com Tobe e os seus habitantes. TOBE-ADONIAS No hebraico, "bom é o Senhor Yahweh". Um levita enviado por Josafá para ensinar a lei ao povo, nas cidades de Judá, Seu nome figura, exclusivamente, em 11 Crô. 17:8. Viveu por volta de 910 a.C. TOBIAS No hebraico, "bom é Yahweh". Há quatro homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento; e dois nos livros apócrifos: 1. O fundador de uma família que retomou a Israel, depois do exílio babilônico, embora não pudessem provar sua ascendência israelita (Esd. 2:60; Nee. 7:62 e Esdras 5.37). Esses descendentes dele viveram em tomo de 445 a.c. 2. Um "servo" amonita, provavelmente um oficial do governo persa, que se aliou a Sambalate e outros, em sua persistente oposição ao trabalho de reconstrução encabeçado por Neemias (Nee. 2:10,19; 4:3,7; 6: 12,14,17,19; 13:7,8). Tanto ele quanto seu filho, Joanã, casaram-se com mulheresjudias. Era altamente favorecido pelo sumo sacerdote Eliasibe, que lhe concedeu um sala para ocupar, nas dependências do templo de Jerusalém. Tobias procurou assustar a Neemias (Nee. 6: 17-19). Mas este considerava Tobias seu principal adversário, tendo retirado a ele e aos seus bens materiais da sala que ocupava no templo (Nee. 13:4-9). Alguns estudiosos opinam que a casa de Tobias, que, no século III a.c., competiu com a casa de Onias pelo sumo sacerdócio, descendia desse Tobias (cf. 11 Macabeus 3: 11 e Josefo, Anti. 12:4). Viveu em cerca de 445 a.c. 3. Um dos levitas, enviado pelo rei Josafá, para ensinar a lei do Senhor nas cidades da tribo de Judá (lI Crô. 17:8). Viveu por volta de 445 a.c. 4. Um dentre vários outros israelitas que vieram da Babilônia para Jerusalém, trazendo ouro e prata, a fim de fabricar com esses metais uma coroa para o sumo sacerdote Josué. Seu nome aparece somente em Zac. 6: 10,14. Viveu em cerca de 520 a.C. 5. O pai de Hircano (11 Macabeus 3: 11). NaSeptuaginta, seu nome aparece com a forma de Tobias. 6. O filho de Tobias. Portanto, pai e filho tinham o mesmo nome. Ver sobre o Livro de Tobias. TOBIAS, O LIVRO DE I Status Canônico 11 Pseudo-história III Idioma; Data; Conteúdo

IV Fontes de Informação V Ensinamentos e Teologia I. Status Canônico Protestantes e evangélicos consideram esse livro apócrifo, seguindo o cânon palestino. Os judeus da Diáspora (ver a respeito), seguindo o cânon alexandrino (exemplificado na Septuaginta que contém o livro), os católicos romanos e alguns segmentos ortodoxos chamamno de canônico no sentido completo da palavra. Muitos dos patriarcas iniciais o utilizaram, alguns afirmando sua canonicidade, outros a negando. Em todo caso, a maioria dos patriarcas concorda com a avaliação de Jerônimo de que o livro era de valor e devia ser lido, mas não com a estatura de outros livros do Antigo Testamento. Ver os artigos separados sobre Cânon do Antigo Testamento e Livros Apócrifos. 11. Pseudo-história O livro é colocado no período histórico do cativeiro assírio de Israel e menciona diversas personagens históricas: Salmaneser V (1. 13); Senaqueribe (1.15); e locais específicos como palcos para a história: Nínive (1.3); Ecbatana (3.7); Rages (4.1). Mas o livro é um óbvio romance da Diáspora, um tipo de novela. 111. Idioma; Data; Conteúdo 1. Idioma. Durante um século os estudiosos discutiram o problema do idioma deste livro, imaginando se ele teria sido composto originalmente em grego ou em algum idioma semita (hebreu ou aramaico). A descoberta dos Rolos do Mar Morto joga luz no problema. Entre os muitos manuscritos encontrados com aquela descoberta havia um manuscrito em hebraico e quatro em aramaico. Estudiosos hoje supõem que o aramaico tenha sido o idioma original, que foi então traduzido para o hebraico clássico, o grego e o latim. Talvez a versão grega (Septuaginta) tenha sido baseada em uma cópia hebraica. 2. Data. Evidências indicam uma data entre 225 e 175 a.C. A última expressa "o livro da lei de Moisés" ocorrendo em 6.13; 7.11,12,13. Os livros proféticos são chamados de "palavra do Senhor", expressão um tanto posterior (14.4). Mas não há indicação de que os períodos turbulentos das Epifanias IV de Antíoco já tivessem ocorrido. Seu período no poder foi entre 175 e 164 a.c. O fato de os manuscritos desse livro estarem entre os Manuscritos do Mar Morto mostra que ele não pode ter sido escrito em um período tão tardio quanto o primeiro século a.C. 3. Conteúdo. Generalização. O período era o do cativeiro assírio, depois de 722 a.C. Tobias era um tipo de Jó de dias posteriores, que tinha todos os tipos de problemas que atrapalhavam sua piedade. Embora estivesse entre os cativos que se paganizavam, ele e sua família aderiram às antigas rígidas leis judaicas. Ele se tornou evidente (como Daniel antes dele também o havia) e um dos assistentes de Salmaneser. Continuou tendo uma vida de retidão, do tipo judaico, embora assistente de um governo civil, incluindo prover enterros apropriados para os judeus mortos pelos assírios. Por causa de suas "atividades judaicas", ele teve de fugir de Senaqueribe para salvar sua vida. Muitas dificuldades se seguiram e com elas as reclamações de sua mulher (como havia feito a mulher de Jó). O pobre Tobias começou a preferir a morte em vez da vida por causa dos muitos sofrimentos pelos quais teve de passar (3.6), outra reflexão de Jó. Então entrou no quadro a graciosa Sara. Ela era uma parente próxima, a filha de Raquel. Foi assediada por um demônio ciumento chamado Asmodeus, que tinha o

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TOBIAS, O LIVRO DE - TOCHA mau hábito de matar seus maridos, de fato, sete deles, e, naturalmente, antes de o casamento ser consumado. Tobias também teve um problema especial que contraiu de um pedaço de estrume de pardal que caiu nos seus olhos, quando, em um período de sujeira cerimonial (ele havia tocado em um corpo morto), teve de dormir ao ar livre e ficou exposto às aves. Esse improvável bombardeamento das aves havia deixado Tobias cego. Portanto, ai temos potenciais amantes, Sara, assediada por um ciumento demônio matador de maridos, e Tobias, um homem cego. A tensão desaparece da história pela observação de que os dois seriam curados milagrosamente pelo anjo do Senhor (3. 16-17). O resultado é tal que lemos o livro no conforto de saber que a piedade de Tobias a longo prazo resultará em recompensa. O anjo Rafael transforma-se no companheiro de jornada de Tobias durante uma viagem a Ecbatana, na Pérsia. Ao longo do caminho, Azarias (o anjo disfarçado) instrui Tobias a pegar um peixe que praticamente o engoliu. O anjo orienta Tobias a cortar o coração, o figado e a bilis do peixe, pois queimar essas visceras produziria uma fumaça poderosa para realizar um exorcismo. Assim, aprendemos como Sara foi livrada. O anjo também informa Tobias de que ele a longo prazo acabará por casar com Sara, mas não revela que ela está associada a um demônio ciumento e matador de maridos. O casamento ocorre, e Tobias põe fogo nas vísceras do peixe. O pai de Sara prepara um túmulo para seu novo genro, que considerava "perdido". Tobias e Sara não estão ansiosos por consumar o casamento. Dormem pacificamente enquanto o demônio engasga na fumaça do peixe e, assim, é espantado do lado de sua amante. Ao descobrir que o demônio não havia sido capaz de cumprir com a tarefa, Rogel (surpreso) oferece uma grande oração de ação de graças. Assim, inicia-se um a celebração de casamento que duraria 14 dias. Tobias, agora um homem de boa sorte, envia Azarias a Media para buscar uma grande soma de dinheiro que ele havia deixado lá. Assim, o casal está livre para apreciar a boa vida. Em Nínive, a mãe de Tobias, Ana, e seu pai, Tobite, estavam preocupados com a segurança de seu filho. Não havia motivo para preocupação pois, como já vimos, Tobias e sua nova mulher estão divertindo-se muito na celebração de seu casamento. O anjo (disfarçado de Azarias), Tobias, Sara e o cão favorito de Tobias retomam a Ninive e aliviam as ansiedades naquele local ao fazer uma repentina aparição. Resulta disso uma grande e chorosa reunião de família, descrita de forma exuberante no livro. Sentindo-se generoso, no meio da celebração, Tobias e Tobite decidem doar metade de sua fortuna ao bom Azarias. Mas os anjos não têm interesse por dinheiro, portanto o "homem" revela sua verdadeira identidade: Rafael, um dos sete poderosos anjos sagrados do conhecimento judaico (12.15). Tobite então oferece uma oração magnifica de alegria, e por que não? Ele foi capaz de manter suas mãos em todo aquele dinheiro. Após as mortes de Tobite e Ana, Tobias e sua família retomam a Ecbatana, onde vivem uma vida de homens ricos (como Jó antes dele) até sua morte aos 127 anos de idade. Esta é uma história muito imaginativa e divertida, uma linda lenda que estica as coisas com muita freqüência, mas tem muitas lições a ensinar à medida que é narrada. IV. Fontes de Informação O autor é um tipo de pessoa transuniversal que mistura antigas histórias folclóricas, mitos, um pouco de história com fundo bíblico e outros empréstimos. Um livro como

esse nunca poderia ser canonizado na conservadora Palestina, mas os judeus alexandrinos, culturalmente miscigenados, não viam nada de errado nessa salada teológica e cultural. Começamos com uma história um tanto autêntica; misturamos a história universal dos Grandes Mortos, a antiga história dos homens perseguidos que acabam ficando ricos e famosos por causa de sua piedade singular. Dai vem o temeroso tema do Monstro do Quarto, a criatura má apaixonada por uma mulher piedosa, uma matadora de maridos. Então até o fiel cão de Tobias entra no ato. Umjudeu da Palestinajamais teria tido um cão como companheiro,já que os cães são animais sujos (6.2; 11.4). Mas a Bíblia não pode ser deixada de fora, portanto temos alusões à história de José (Gên, caps. 37 e 39-50); a história do casamento relativa a Isaque e Jacó (Gên, caps. 24 e 29); o antigo tema judeu de que a piedade atrai riqueza material; mas o mal sempre resulta em punição e desastre material (Tobias 1.21; 3.3-6; 13.12; 14.4, 10). A principal base bíblica, no entanto, é a história de Jó, o homem que sofreu por motivos desconhecidos, embora tenha sido uma pessoa reta. Os profetas Amós (2.6) e Naum (14.4) são mencionados por nome, mas Jeremias e Ezequias, de quem Tobias faz empréstimos, não são mencionados especificamente. Os capitulos 13 e 14 de Tobias se baseiam nas previsões de Isaías de que Israel retomaria do longo exílio, por fim. V. Ensinamentos e Teologia A maioria dessas questões já foi coberta ao longo do caminho. O livro tem as visões mais liberais dos judeus da Diáspora, que não hesitam em incorporar demônios parecidos com os dos pagãos. Faz muito do sujo cão e também menciona que o filho de Tobias derrama vinho no túmulo dos retos (4.17), um ato contrário ao Pentateuco (Deu. 26.14). Tal costume era pagão, não judaico. Por outro lado, há muitas lições morais e muito material baseado na Bíblia. Tobias era um judeu exemplar que arriscou sua vida ao ser fiel à legislação mosaica, embora em alguns pontos sua prática tenha sido a mesma dos judeus da Diáspora, não a de radicais palestinos. O livro ensina a doutrina de confrontação de intervenção angélica na vida dos homens. O livro, contudo, tem antigos conflitos judeus: não há ensinamento sobre a imortalidade, enquanto a punição e a recompensa são limitadas apenas ao que ocorre ao homem durante sua vida terrena. Ele acreditava na validade e no poder da profecia e considerava os livros dos profetas "a palavra de Deus", ao contrário do cânon dos saduceus, que aceitava apenas o Pentateuco como inspirado. A passagem de 4.15 dá a nós uma forma de "regra sagrada": " ... aquilo que você odeia, não faça a ninguém". O livro enfatiza os três pilares da fé judaica: oração, caridade ejejum (12.8) e asseguranos de que onde há retidão, Deus agirá (a longo prazo) por parte daqueles que o praticam. Um bom resumo de ensinamentos morais é 14.11: ..... meus filhos, considerem o que a caridade realiza e o que a retidão entrega".

TOCHA No hebraico, lappid, uma palavra que aparece por quinze vezes, e que as traduções têm variegadamente traduzido por "tocha", "lâmpada", "tição", etc. Na antiguidade, uma tocha provia uma iluminação mais forte do que uma lâmpada (lamparina de azeite), como em atividades externas à noite. Esse termo hebraico aparece em Gên. 15: 17; Juí, 7:16,20; 15: 45; Jó 12:5; 41:19; Isa. 62:1;Eze.l:13;Dan.l0:6;Naum2:3;Zac.12:6;JÓ41:19; Êxo.20:18. No grego temos o vocábulo lampâs ; vocábulo

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TODO-PODEROSO - TOGARMA empregado por nove vezes no Novo Testamento: Mal. 25:1,3,4,7,8; João 18:3; Atos 20:8; Apo. 4:5 e 8:10. Ver também o.artigo a respeito de Lâmpada. Interessante é que, em Exodo 20: 18, a palavra hebraica lappid é traduzida, e com razão, por "relâmpagos", pois, em face dos "trovões", sem dúvida houve relâmpagos. TODO-PODEROSO Ver Apo. 1:8 Essa é uma descrição comum de Deus, que figura por cerca de cinqüenta vezes nas páginas do AT No Apocalipse figura por oito vezes (ver Apo. 1:8; 4:8; li :17; 15:3; 16:7,14; 19:15 e 21:22). A nota sobre o presente título aparece em Apo. 1:7 A combinação, "Senhor Deus Todo-poderoso", provavelmente teve por intuito, ao menos em parte, quebrar a força do titulo assumido pelo imperador Domiciano, o qual perseguia à Igreja cristã quando o livro de Apocalipse foi escrito. Esse imperador se tinha deificado, chamando-se de "Nosso Senhor e Deus". O autor sagrado indica que o Deus Todo-poderoso, que é o Senhor, e que lhe dera a visão sobre o trono celeste, em breve haveria de exibir seu poder em favor dos perseguidos cristãos. Não existe Deus além do Senhor Deus Todo-poderoso, pelo que a adoração ao imperador tinha de ser repelida pelos cristãos a qualquer custo. Para nós, esse título indica a mesma coisa, pois devemos pôr de lado coisas vãs, incluindo a nós mesmos, se essas coisas se nos têm tomado "deuses". "Eu sou o Deus Todo-poderoso", (Gên. 17: 1), uma expressão encontrada por quarenta e oito vezes no Antigo Testamento, Só no livro de Jó aparece por trinta e uma vezes (por exemplo, J6 5:17). No Novo Testamento, aparece por nove vezes, das quais oito no Apocalipse. (Ver, por exemplo, Apo. 1:8; 4:8, e 11: 17). A expressão alude à onipotência de Deus. Ver o artigo sobre os atributos de Deus. Alguns estudiosos supõem que o nome divino hebraico EI Shaddai (poderoso) tem esse significado, e outros vinculam-no à palavra acadiana que significa monte, que algumas vezes era usada como termo para indicar Deus, naquele antigo idioma. Não se encontrou ainda qualquer interpretação realmente satisfatória sobre a expressão, assim interpretada (ver Gên. 28:3, no original hebraico). (NO Z) TÓFEL Na Septuaginta, Tophol. No hebraico, essa palavra significa "almofariz", "pilão". Esse nome é mencionado somente nas palavras de abertura do livro de Deuteronômio (I: I), mencionado entre outros quatro nomes de cidades, como o local onde Moisés dirigiu um grande discurso aos ouvidos do povo de Israel. Essa localidade tem sido identificada como a moderna Tafile, uma aldeia cerca de vinte e quatro quilômetros a sudeste do mar Morto, em um fértil vale por onde passa a estrada de Queraque a Petra. Porém, nada mais se sabe sobre essa localidade. TOFETE No hebraico, altar. Essa era uma área do vale de Hinom (vide), localizada no wadi er-Rababeh, um vale com lados profundos, que tradicionalmente separava a cidade de Jerusalém do território pertencente a Judá, na vertente oriental do monte Sião (ver Nee. 11 :30). Esse nome aparece por dez vezes nas páginas do Antigo Testamento: Il Reis 23: la; Isa. 30:33; Jer. 7:3 I,32~ 19:6,11-24. Outros

estudiosos encontram uma derivação inteiramente diferente para essa palavra. Esses dizem que, provavelmente, o nome deriva-se de uma palavra que significa "fogão", "forno", devendo ser pronunciado como tepat, mas que, propositalmente, teve a pronúncia alterada para tofete, seguindo um termo ugarítico cognato, e que significa "opróbrio", "abominação". A etimologia rabínica, que fazia a palavra significar "tambor", não tem qualquer razão de ser. Tofete era um bosque sagrado ou jardim, pertencente aos cammeus, e que, posteriormente, veio a tomar-se um dos grandes centros da adoração a Baal, por parte de judeus apostatas; (ver Jer. 32:35). Entre as atividades desse culto, parece que estava envolvido o sacrificio ritual de recém-nascidos. Apesar dos estudiosos terem exposto dúvidas quanto a se um rito tão sangüinário e cruel realmente existiu, o fato é que umas funerárias, encontradas na Palestina, pertencentes a diversos períodos históricos, têm demonstrado quão plausível é a narração que aparece em alguns escritos proféticos do Antigo Testamento. Além disso, em muitos lugares do mundo, a morte por exposição às intempéries, principalmente de meninas recém-nascidas e de crianças gêmeas, tem sido praticada por diversas tribos. O nome dessa localidade aparece por oito vezes, dentre suas dez menções, no livro de Jeremias, em seus capítulos sétimo e décimo nono. Esse horrendo culto se popularizou, sobretudo, durante os reinados de Acaz e de Manassés, os quais teriam sacrificado a seus próprios filhinhos, no vale de Hinom, sem duvida alguma, mais precisamente, em Tofete (ver Il Crô. 28:3 e 33:6). Há uma variante textual em Isaías 30:33, onde se encontra uma alusão à destruição definitiva do monarca assírio. Nessa variante há uma possível. combinação de um vocábulo aramaico, talvez de algum termo acádico por trás daquele, com o sentido de "lareira" ou "escarpa abrasada", e o nome de Tofete. Essa predição deixa clara a destruição da poderosa nação Assíria, de maneira violenta, que viria a transformá-la em abominação. Quando da restauração instituída nos dias de Josias, o santuário de Tofete foi profanado e destruído (ver 11 Reis 23: 10). Mas a memória em tomo daquele horrendo lugar prosseguiu, tendo-se transformado em um símbolo da desolação e do julgamento divino contra o pecado. Aquele vale começou a servir de monturo da cidade de Jerusalém. O lixo era lançado por cima das muralhas. Mas, devido aos muitos e muitos séculos que já se escoaram desde então, e das transformações topográficas a que Jerusalém tem estado sujeita, a localização exata de Tofete se perdeu. TOGARMA Um dos filhos de Gomer e neto de Jafé, filho de Noé. Foi o progenitor da nação jafetita que tem esse nome (ver Gên. 10: 3; 1 Crô. 1: 6; Eze. 27:14 e 38:6). A casa de Togarma, ou seja, a nação que dele descendia, é mencionada por duas vezes no livro de Ezequiel, onde é descrita como um povo que tinha forte comércio com Tiro, no campo de cavalos, mulas e cavaleiros (Eze. 27:14). E, em Eze. 38:6, também é mencionada como uma das nações aliadas de Magogue, juntamente com Gomer, Pérsia, Cuxe e Pute. Ali parece estar em foco um ataque de nações gentílicas; contra Israel, quando o antigo povo de Deus já estiver bem estabelecido em seu território, nos últimos dias de nossa dispensação. Bastante problemática é a identificação desse povo de Togarma. Onde se encontrariam eles, em nosso mundo moderno? Josefo opinava que eles seriam os frígios,

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TOGARMA - TOLERÂNCIA famosos por seus cavalos. Todavia, há inscrições assírias; que mencionam certa cidade, Til-Garimmu. Em língua hitita, esse nome tem a forma de Tegarama, já bem parecida com a nossa forma portuguesa. Essa cidade ficava localizada na porção oriental da Capadócia. Visto que Ezequiel localiza Togarma como uma das nações do norte (ver Eze, 38:6), em associação com Gomer, é perfeitamente provável que Togarma deva ser localizada na região a suleste do mar Negro, e daí para o norte. Til-Gárimmu. foi cidade destruída pelos assírios, em 595 a.c. Mas esta pode ter sido apenas uma de suas cidades principais. Muitos estudiosos pensam que há vestígios da línguas indoeuropéia dessa nação. O tocário foi um idioma falado em grande parte das estepes russas, chegando mesmo à parte oriental-norte do que hoje é a China. Por conseguinte, levando em conta todos os informes, ainda que escassos, de que dispomos, parece uma conjectura aceitável que esse antigo povo deve ter sido um dos formadores dos eslavos orientais que, atualmente, povoam grande parte das estepes da Rússia Européia. Tudo indica, pois, que os descendentes de Togarma foram-se deslocando cada vez mais na direção da Sibéria, mesclando-se, nesse processo, com populações de origem mongol e turcomana. TOI No hebraico, "erro", "vagueação". Era rei de Hamate na época de Davi. Portanto, viveu em torno de 1040 a.C. Seu nome aparece por cinco vezes nas páginas sagradas: 11 Sam. 8:9,10; I Crô. 18:9,10. A cidade de Hamate ficava às margens do rio Orontes. Toi enviou a Davi uma mensagem de congratulação, por haver vencido o inimigo comum deles, Hadadezer de Zobá. Nas referências paralelas de I Crônicas, o nome dele aparece com a forma de Toú. TOLA Os estudos sobre o significado desse nome são complicados. Há duas etimologias possíveis para o mesmo. Uma delas é derivada do uso de um termo idêntico, como nome de um "verme", no acádico tu/tu. A outra vem do termo hebraico que ocorre em Isa. 1:18, com o sentido de "carmesim". Esta última alternativa tem mais peso, pois esse nome se parece com Puva, que tem sido interpretado como um nome que se deriva de "declaração" ou de "verde", ou alguma outra cor. Todavia, ambas as explicações estão baseadas sobre etimologias populares, havendo falta de uma evidência filológica mais séria. Há dois homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento: I. Um dos filhos de Issacar (na Septuaginta., Tho/a) (Gên. 46:13; Núm. 26:23; I Crô. 7:1,2). Ele viveu por volta de 1690 a.c. Como filho de Issacar, esse homem era do partido daqueles que migraram para o Egito, na época de José. Foi o fundador de uma das subtribos de Israel, chamado de "tolaítas", em Núm. 26:23. Essa genealogia repete-se em I Crô.7:1,2. 2. Umjuíz da tribo de Issacar, mencionado somente em Juí. 10: 1. Aqui, como em ambos os casos, aparece também o nome Puva. As Escrituras não nos prestam qualquer informação sobre os dois Tolas, além disso; e a tradição rabínica também faz completo silêncio acerca deles. Esse juíz deve ter vivido em cerca de 1200 a.c. TOLADE No hebraico, "geradora". Esse é o nome de uma cidade da tribo de Simeão, que ficava nas proximidades de Ezem. Com esse nome, ocorre somente em I Crô. 4:29. Em Jos.

15:30, entretanto, seu nome já aparece com a forma de E/tolade. TOLAND, JOHN Suas datas foram 1670 - 1722. Toland exaltava a razão humana. Ele não acreditava poder haver alguma coisa, na religião cristã, que a razão humana não pudesse aceitar, e nem qualquer coisa acima da razão. Ao pensar assim, ele abandonou os ensinos de filósofos e teólogos, como Tomás de Aquino, que reservavam um lugar onde somente a fé pode atingir. E apresentou o interessante argumento que diz que somente a razão convence os homens da inspiração das Escrituras; e, dessa maneira., condenou, absolutamente, o antiintelectualismo (vide). Não via problema algum em crer em milagres e prodígios, somente através da razão. Também foi ele quem cunhou o vocábulo panteísmo, que ele reputava uma religião natural, e na qual via algum valor. TOLDO No hebraico, significa cobertura (ver Eze. 27:7). Provavelmente era usado em navios para proteger os passageiros dos raios solares. Geralmente era tecido por mulheres. (Z) TÜLEDO, CREDO DE Esse foi o credo elaborado como uma das atividades dos concílios de Toledo (400 e 702 D. C), embora um produto especial do décimo primeiro desses concílios, o de 675 D.C. Esse credo foi preparado para fazer oposição ao priscilianismo (vide). TOLERÂNCIA Esboço: I. Terminologia Bíblica e Exemplos li. Caracterização Geral III. Contra-exemplos; Exemplos Inquisitoriais IV A Lei do Amor V A Tolerância Para os Filósofos 1. Terminologia Bíblica e Exemplos No hebraico, temos seis palavras envolvidas e, no grego, seis palavras ou expressões, a saber: 1. Chadal ou chadel, "cessar", "deixar", "tolerar". Essa palavra hebraica aparece por cinqüenta e nove vezes com esse sentido, conforme se vê, por exemplo, em Êxo. 215; Núm, 9:13; Deu. 23:22; I Sam. 23:13; I Reis 22:6,15; 11 Crô. 18:5,14; 25:26; 35:21; Jó 16:6; Jer. 40:4; Eze, 2:5; 3: 11; Zac. 11:12. 2. Chasek, "reter", "poupar", "refrear-se", etc. Palavra hebraica usada ao menos por uma vez, com o claro sentido de "tolerar", em Provo 24: 11, onde o termo não é traduzido em nossa versão portuguesa. Nossa versão diz: "Livra os que", etc., enquanto que o original diria: Se tolerares livrar os que ..." 3. Mashak, "esticar', "tolerar" , "tirar" etc. Essa palavra também aparece por uma só vez com o claro sentido de tolerar, em Nee. 9:30, onde nossa versão portuguesa diz "os aturaste por muitos anos", uma excelente tradução. 4. Damam, "s i1enciar", "parar", "tolerar". Termo hebraico que figura por uma só vez com o claro sentido de "tolerar", ou seja, em Eze. 24: 17, mas onde a nossa versão portuguesa não exprime a idéia, dizendo apenas, geme em silêncio... "quando deveria dizer algo como, procura gemer em silêncio..." ou "condescende em gemer em silêncio". 5. Aph, "tolerância", "Ionganimidade". Essa palavra

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TOLERÂNCIA hebraica também só é usada uma vez com o claro sentido de "tolerância", em Pro. 25:15. 6. Kul, "conter-se", "sustentar". Esse vocábulo hebraico também só aparece uma vez com o claro sentido de "tolerar", em ler. 20:9, onde nossa versão portuguesa traduz por .....já desfaleço de sofrer...", quando deveria dizer algo como " ...já não consigo tolerar..." 7. Anéchomai, "conter-se". Palavra grega usada por quinze vezes: Mal. 17:17; Mar. 9:19; Luc. 9:41; Ato 18:14; I Cor. 4:12; 11 Cor. 11:1,4,19,20; Efé. 4:7; Col, J·n; n Tes. 1:4; 11 Tim. 4:3 e Heb. 13:22. 8. Aniemi, "enviar de volta", "deixar". Palavra grega empregada quatro vezes: Atos 16:26; 27:40; Efé. 6:9; Heb. 13:S (citando Jos.l :5). 9. Pheidomai, "poupar", "tolerar". Vocábulo grego usado nove vezes: Atos 20:29; Rom. 8:32; 11:21; I Cor. 7:28; 11 Cor. 1:23; 12:6; 13:2; 11 Ped. 2:4 10. Stégo, "cobrir", "tolerar". Palavra grega que é utilizada quatro vezes: I Cor. 9:12; 13:7; I Tes. 3:1,5. 11. Anoché, "tolerância". Palavra grega usada duas vezes: Rom. 2:4 e 3:26. 12. Me ergázesthai, "não trabalhar". Expressão grega usada uma vez, em I Cor. 9:6, onde nossa versão portuguesa diz: " ... não temos o direito de deixar de trabalhar?" Conforme se pode ver acima, a idéia de tolerância na Bíblia envolve noções como tolerância, armistício, permissão, paciência, longanimidade, trégua, etc. Consideremos os pontos abaixo: 1. Uma Característica de Deus. Embora os homens sejam maus, Deus espera que eles mudem, retendo a sua ira e o castigo a ser aplicado (Nee. 9:30). Ele se mostra lento em irar-se e constante em seu amor (Sal. 1018). Essa tolerância não indica indiferença, da parte de Deus, para com o pecado e o mal. Antes, é um sinal de paciência, de longanimidade, inspirada pelo amor. Deus se lembra de que não passamos de pó. No trecho de Romanos 9:22, Paulo atribuiu vários motivos à tolerância divina: mostrar, finalmente, a sua ira contra o pecado, em contraste com um período de espera, de tolerância; tomar conhecida a sua riqueza de tolerância para com os eleitos; exibir o seu poder, finalmente. contra os abusadores; conduzir os homens ao arrependimento (Rom. 2:4 e 11 Ped. 19). 2. Cristo é Tolerante. Durante sua vida terrena, Cristo demonstrou a característica da tolerância (Mar. 9: 19). Jesus não exibiu o espírito de ressentimento e retaliação e repreendeu tal atitude em seus discípulos (Luc. 9:54 ss). O próprio Evangelho é prova da tolerância de Deus, exercida por meio de Cristo. Essa tolerância foi que inspirou Cristo a descer ao Hades, a fim de ali anunciar o Evangelho (I Ped. 3: 18-4:6, especialmente 4:6). 3. Nos Discípulos de Cristo. Os crentes que são sérios quanto à inquirição espiritual são exortados a imitarem a seu Senhor, quanto à tolerância, suportando-se uns aos outros em paciência e humildade (Efé. 4:2). Aos crentes não convém retaliarem e ofenderem, e nem devem conservar ressentimentos. Também deveriam ser lentos em julgar e prontos a perdoar (Fil. 4:5; Col. 3: 13; 11 Tim. 2:24). 4. A Trégua Universal. No grego clássico, o termo anoché, traduzido por "tolerância", em nossa versão portuguesa, em um trecho como se fizesse parte de Rom. 2:25, devido a certa transposição de frases, e não como parte do vs. 26. E o termo grego páresis, "suspensão", é traduzido por "deixar impunes". Isso aponta para o fato de que o julgamento contra o pecado fora adiado, durante todo o Antigo Testamento, até à cruz. Comparar isso com

Atos 17:30,31. Assim, Deus estabeleceu um período de trégua com os homens, embora não fosse forçado a fazê-lo; mas, fê-lo por causa de sua tolerância. Os homens, por sua vez, precisam entrar em trégua uns com os outros, esperando uma modificação para melhor, nas circunstâncias. O perdão de Deus é a base do perdão que damos a nossos semelhantes. Estamos endividados para com Deus, e devemos a nossos semelhantes misericórdia e bondade, mesmo quando eles não o mereçam, (ver Col. 1'11)

11. Caracterização Geral

Se alguém quiser ser tolerado, precisa usar de tolerância. Se alguém quiser liberdade religiosa, precisará concedê-Ia a outros. Se alguém quiser ser compreendido, terá de tentar compreender ao próximo. Se alguém quiser desfrutar de paz, precisará promover a paz entre seus semelhantes. Essas são questões fundamentais, mas os preconceitos religiosos, com freqüência, manifestam-se com maior força que a razão. Acima da mera tolerância, brilha a compreensão, e acima de ambas rebrilha a lei do amor. O intolerante desconhece quase inteiramente a compreensão, e menos ainda conhece o amor. De fato, o ódio teológico (ver sobre Odium Theologicum), para algumas pessoas, aparece como se fosse uma virtude. E não há ódio tão intenso e persistente quanto o ódio teológico. Os homens chegam a matar por causa da teologia, e pensam estar prestando a Deus um serviço. Os homens escrevem grossos volumes em favor do ódio teológico, pensando que a arrogância religiosa é sinônimo de espiritual idade. A tolerância, de fato, é uma virtude espiritual, mas é apenas um ponto inicial na estrada do amor com que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Assim, ser tolerante é ser compreensivo ao ponto de permitirmos que outros creiam o que crêem sem procurarmos prejudicá-los ou tratá-los de forma amarga. A tolerância consiste em um estado permanente de boa vontade, dando margem às diferenças que vemos em outros, mesmo que discordemos dessas diferenças. Consiste em permitirmos que outras pessoas promovam as suas idéias, sem tentarmos restringir suas atividades, o que é precisamente a atitude que nós esperamos da parte dos outros. Ser tolerante é não usar de amargura e espírito de censura. Quem é tolerante repele a ira e os preconceitos. O tolerante considera as idéias alheias com o intuito de aprender, e não tendo em vista encontrar motivos para críticas. A tolerância dá margem a diferenças, promovendo uma sociedade pluralista, na sociologia, na política e na religião. A tolerância envolve o respeito pela liberdade de expressão falada e impressa. Recusa-se a perseguir a outros, por causa de suas diferenças. A tolerância também manifesta um espírito de humildade, que parte do pressuposto que outra pessoa pode estar com a razão, naquilo que pensa e faz. Quem é tolerante suspende o julgamento, aguardando maiores luzes, em uma atitude de paciência e humildade. A tolerância promove a liberdade, bem como tudo quanto ela representa. Recusa-se a fazer da denominação religiosa à qual o indivíduo pertence (ou a fazer da própria vida religiosa) um campo armado, de onde podem ser desfechados ataques contra outrem. A tolerância é algo que se mostra conspícuo quanto à sua ausência, no mundo religioso atual. 111. Contra-exemplos; Exemplos Inquisitoriais 1. A Inquisição. Tenho preparado um artigo separado sobre esse assunto, (ver Inquisição), pelo que não repito aqui o material. Basta dizer que um movimento criou, promoveu e executou quarenta mil casos de perseguição,

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TOLERÂNCIA encarceramento, banimento e execução capital. A chamada Santa Inquisição foram quatrocentos e cinqüenta anos de terror. Em termos de torturas, Hitler não passava de um aprendiz, comparado aos padres do Santo Ofício. 2. João Calvino. Quero referir-me agora a um deplorável caso de exemplo ao contrário. Antes que eu termine esta seção, o leitor compreenderá o sentido de minha ilustração. Todos já temos ouvido falar sobre o lado bom da vida e da obra de João Calvino. Quando eu ainda estava na fase do meu treinamento teológico, Calvino era para mim um grande herói. Meu primeiro filho recebeu o nome de Calvino Tiago, em inglês, Calvin James. Parecia-me que esse era um nome difícil, para meu filho viver à altura de sua fama. Porém, lamento dizer que há um lado tremendamente negativo na vida de João Calvino. As fontes informativas do que aqui digo são enciclopédias é histórias eclesiásticas (três volumes do professor Kurtz, um historiador luterano cuja obra, por muitas décadas, foi a obra padrão de história eclesiástica, usada nas universidades alemãs). Preciso informar ao leitor, desde o começo, que tenho lido o comentário de Calvino sobre o Novo Testamento de capa a capa, tendo extraído dali muitas citações úteis, enriquecendo o meu comentário (O Novo Testamento Interpretado). Há na obra de Calvino muita coisa boa. Infelizmente, também há um lado negativo. Todos conhecemos bem a história de como Serveto foi executado na fogueira, em Genebra, na Suiça, porquanto negava a doutrina da Trindade. O que o leitor talvez desconheça é que a captura dele foi planejada e executada por Calvino, com o propósito específico de executá-lo. Calvino não enviou homens que apreendessem a Serveto, mas baixou uma ordem para que fosse detido, se ao menos chegasse perto de Genebra. Calvino pareceu misericordioso. Queria decapitar Serveto. Mas os discípulos dele foram mais entusiastas. E executaram Serveto na fogueira. Triste relato, mas apenas um dentre muitos. Kurtz revela para nós que houve muitas vitimas de Calvino. Entre os anos de 1542 e 1546 (apenas quatro anos), embora Genebra contasse com uma população de apenas vinte mil pessoas, houve nada menos de cinqüenta e sete execuções capitais, sessenta e seis banimentos e um número incalculável de encarceramentos, tudo por motivos religiosos. Tais pessoas não eram criminosos civis. Tão-somente eram indivíduos que discordavam de uma ou de outra das doutrinas ensinadas por Calvino. Ele usava textos de prova do Antigo Testamento, para encontrar autorização para as suas matanças. Convenientemente, ignorava textos neotestamentários, como Lucas 9:54-56, que nos mostra qual o espírito da pessoa que se envolve com tais coisas. Assim, Jacques Gruet foi decapitado. Jerônimo Bolsec foi encarcerado, e então banido. Sebastião Castellio, que era diretor do sistema escolar de Genebra, foi banido por duas razões; primeira, ele objetava às execuções e aos encarceramentos; em segundo lugar, ele objetava à interpretação dada por Calvino sobre a história da descida de Cristo ao Hades. Calvino dizia que Cristo pregara a condenação no Hades, contradizendo a passagem de I Pedro 4:6 Castellio teve de se retirar de Genebra e foi ensinar grego na Bailéia. Kurtz ajuntou que esse período foi "um reinado inquisitorial de terror" (vol. 3, pág. 304). Calvino era conhecido por suas explosões de fúria, que ele chamava de sua "fera". 3. Galileu Galilei. Galileu foi um astrônomo e filósofo italiano (1564-1642). Criou-se em um mosteiro, mas

estudou na Universidade de Pisa. Tendo-se formado, continuou ali, como professor. Aderiu às novas idéias astronômicas que se alicerçavam sobre os ensinos de Copérnico. Por causa disso, Galileu foi atacado por teólogos do Santo Ofício, tendo sofrido uma amarga oposição da parte de cientistas ortodoxos de sua época. Em 1616, foi censurado pelos teólogos do Santo Ofício, tendo sido proibido de ensinar as novas idéias. Galileu concordou; mas as idéias ferviam em seu cérebro. Isso posto, ele publicou um diálogo que confrontava a antiga astronomia aristotélica ptolemaica com a variedade copérnica, mais recente. Embora supostamente uma exposição imparcial, não era difícil perceber qual era a preferência do próprio Galileu. E Galileu recebeu ordens de apresentar-se em Roma, por parte da Inquisição. Foi acusado de haver desobedecido à ordem de abandonar o ensino de suas novas idéias. Há um aspecto cansativo na história dos fanáticos. É que eles permanecem agrilhoados na prisão de seu exclusivismo. Na verdade, merecem compaixão a exemplo de quaisquer outros prisioneiros. As heresias de Galileu: O seu aprimoramento do telescópio permitia-lhe ver a natureza da luz da Lua como um reflexo, além de ver as luas de Júpiter, as fases de Vênus, os anéis de Saturno, a ocorrência de manchas solares e a rotação do Sol sobre o seu próprio eixo. Ele também obteve mais evidências sobre a rotação da Terra e sobre a sua órbita em redor do Sol, como questões óbvias. Porém, a ortodoxia da época negava essas verdades, dizendo que a Terra mantinha-se imóvel no espaço (embora os gregos da época de antes de Cristo já tivessem afirmado que a Terra movia-se no espaço), e dizia que a Terra era o centro do Universo. Naquele tempo, tanto os cientistas como os teólogos consi-deravam o movimento como a causa primária da decadência, e, naturalmente, todos sabiam que a criação de Deus não podia ser decadente, e que Ele criara a Terra como o centro do Universo. Galileu solicitava dos teólogos que olhassem por meio de seu telescópio, como prova em contrário, mas eles se recusavam a isso! Galileu, naturalmente, estava interessado em poupar a própria vida. Por esse motivo, concordou em retratar-se, reconhecendo o seu erro. Teve de retratar-se dejoelhos. E confessou o seu "erro" para satisfação de todos os circunstantes, tendo concordado, uma vez mais, em não ensinar as novas idéias. Porém, diz-se que quando ele se levantou dos joelhos, disse em voz baixa: E pur si si muove, isto é: "Não obstante, ela (a Terra) se move". E, durante o resto de seus dias, foi sujeitado a cárcere a domicílio. É curioso que somente em nossa própria época, mais de qua-trocentos anos depois, a Igreja, por meio do papa João Paulo 11, "perdoou" a Galileu, limpando assim o seu nome. A ignorância de nada vale. Os homens têm o direito de investigar, pesquisar e prestar relatório de suas descobertas. Os detratores nem sempre estão com a razão. Na maioria das vezes, eles são culpados de crimes que as suas vítimas nem pensam em cometer. Prejudicar os laços de união da Igreja de Cristo é um crime muito sério. IV. A Leí do Amor Alguns cristãos congratulam-se quando conseguem demonstrar tolerância. Porém, muito acima da tolerância brilha a lei do amor. Há um vínculo de amor em Cristo que ultrapassa nossos grupos e denominações particulares. Podemos tolerar e até mesmo amar a outros, ao mesmo tempo em que discordamos de certos pontos de doutrina de outras

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TOLERÂNCIA pessoas. A lei da tolerância é uma lei secundária, comparativamente falando; e, no entanto, há muitos evangélicos e outros cristãos que nem são capazes disso. A lei do amor é uma lei superior àquela. Requer que amemos até mesmo aos nossos inimigos, para nada dizer sobre outros cristãos, que jamais poderiam ser tidos como nossos inimigos. Ver os artigos separados sobre a Tolerância e o Amor. Oh, Deus, que carne e sangue fossem tão baratos, Que os homens odiassem e matassem, Que os homens silvassem e cortassem a outros, Com línguas de vileza... por causa da "teologia ". (Russell Champlin).

V. A Tolerância para os Filósofos I. Estágios da Tolerância Histórica. No começo, grupos conflitantes chegaram a reconhecer que cada lado tinha seu território legítimo para possuí-lo e utilizá-lo. Parte dessa tolerância visava permitir dissidentes a emigrarem, e não a lançá-los no cárcere ou a executá-los. Os historiadores dão o título de territorialismo a essa forma crua de tolerância. Depois, houve alguma tentativa por entender os pontos de vista uns dos outros, permitindo liberdade de expressão quanto a esses pontos de vista. Os historiadores chamam essa fase de latitudtnarianismo, Ver sobre Latitudinários. Religiões de idéias contrárias foram reconhecidas oficialmente, e, portanto, protegidas por lei. Nem sempre houve reconhecimento legal, mas muitas vezes houve um reconhecimento na prática. Em terceiro lugar, em alguns lugares foi instituída a pax disstdentium, segundo a qual os dissidentes podiam gozar de completa paz, sem temor à perseguição. Contudo, ainda havia insultos abundantes, e formavam-se grupos religiosos que se digladiavam como campos opostos. A guerra fria substituiu a guerra quente. Mas, pelo menos, foi instituída certa medida de liberdade, de tal modo que cessaram banimentos, aprisionamentos e matanças, excetuando em casos isolados. 2. Jeremy Taylor desenvolveu uma teoria de tolerância com base na experiência pessoal que ele tivera nos dias de Cromwell. Ele argumentava que é impossível alguém demonstrar a verdade religiosa, pelo que a heresia não seria um erro, mas apenas uma diferença de opinião. E dificilmente uma pessoa pode ser perseguida por esse motivo. E também argumentava que, para a verdade avançar, ou para que a mesma seja descoberta, toma-se necessária a pluralidade. O monopólio sempre entrava o espírito humano, sem importar qual o campo dominado por esse monopólio. Por isso, Jeremy Taylor via razões para limitar a tolerância, sobre razões pragmáticas. Precisamos considerar o que é bom para o bem público, e também precisamos respeitar os fundamentos da fé. 3. Spinoza foi um judeu perseguido tanto por judeus como por cristãos. Assim, por força de sua própria experiência, sentiu a necessidade de tolerância. Ele argumentava que a imposição de crenças leva ao conflito civil, não havendo valor tão grande quanto a liberdade. E essa liberdade deve abranger o campo religioso e o campo político. O Estado, dizia Spinoza, deve garantir essa liberdade como um de seus deveres básicos. 4. John Locke acreditava na necessidade de pluralidade religiosa, e também dizia que a tolerância deve ser ampla e irrestrita. Mas rejeitava a tolerância quanto ao ateísmo, argumentando que o próprio Estado está alicerçado sobre certas crenças religiosas. 5. Voltaire tinha uma visão mais ampla, e requeria tolerância para todos, sem importar as convicções religiosas de quem quer que fosse. Ele costumava dizer:

"Desaprovo o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de o dizer". Ele dizia que a Inglaterra era a nação onde toda forma de tolerância e de direitos humanos tinha feito o maior progresso. 6. Rousseau desejou legislar a tolerância, forçando as pessoas a conduzirem-se em paz. Seu ideal era que as pessoas se tornassem tolerantes, dotadas de um credo deísta, que incluísse como um de seus pontos básicos, a absoluta rejeição da intolerância. 7. Basesfilosôficas da tolerância, com freqüência, eram crenças ou ideais éticos, como o utilitarismo (vide) de Jeremy Bentham, cujo ideal era que se pudesse obter a maior felicidade possível para todos. A felicidade dificilmente pode ser obtida em meio à arrogância e à perseguição. 8. Augusto Comte via a tolerância como algo necessário para o progresso da sociedade e sua estabilidade. Historicamente, ele cria que a Reforma Protestante e a Revolução Francesa tinham assinalado o fim de períodos de instabilidade, e que a história subseqüente seria favorável à promoção da tolerância. A medida que a ciência fosse substituindo a religião como a força principal do processo histórico, um acordo compartilhado deveria tornar-se o fator predominante, marcando o fim dos princípios de tolerância e de liberdade de consciência como questões conflitantes. 9. J.s. Mil! defendia a idéia de tolerância generalízada, limitada somente pelo princípio em que os direitos de um indivíduo não infringissem os direitos de outrem. Nesse ponto, deve aparecer a negociação, no espírito de partilha. 10. Francisco Guizot, em seu livro, História da Civilização na Europa, argumentou que a tolerância faz parte essencial do cristianismo, e que quando a tolerância não existe, a fé cristã é pervertida pela intolerância. A anarquia e o despotismo são pólos opostos, e ambos levam à estagnação. Mas, ocupando posição intermediária, a tolerância dá margem ao progresso e ao entendimento. 11. Proudhon argumentava que os estados coercivos devem ser substituídos por aqueles onde o princípio básico é a cooperação voluntária. Ora, isso não pode ser conseguido em uma atmosfera de intolerância, pelo que a tolerância é essencial para o progresso político. 12. Juan Donoso Cortés, em sua obra Ensaio sobre o Catolicismo, o Liberalismo e o Socialismo, atacou a tolerância como um ideal falso. Ele argumentava a partir da idéia (falsa) que a Igreja é infalível, pelo que seus dogmas não podem ser contraditos. Aqueles que negam essa infalibilidade estariam em erro, e o erro não pode ser tolerado. Em sua filosofia, pois, obteve a vitória a atitude preconceituosa, filosofia essa que continua sendo advogada por muitos. 13. James Balmes, em seu escrito, Protestantism Compared to Catholícism (quatro volumes), argumentava em favor de uma tolerância parcial. Ele acreditava que é impossível tolerar o erro, pelo que a tolerância só poderia ser aplicada quando a verdade não é conhecida e ainda está em disputa. Nessa fase, idéias divergentes deveriam ser respeitadas. Porém, é claro que aqueles que são religiosamente preconceituosos acham que suas idéias são "verdadeiras", razão pela qual não há muito espaço para debates, e a intolerância assinala quase todas as disputas. 14. E.A. Westermark acreditava que o princípio da relatividade governa a vida e as idéias humanas, e que a tolerância será sempre necessária em situações relativas, onde não possa ser determinado o absoluto. O relativismo, pois, favorece a tolerância.

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TOLERÂNCIA, ATO DE - TOMÉ TOLERÂNCIA, ATO DE Esse ato foi instituído na Inglaterra, em 1689. Apesar de estar originalmente limitado aos cristãos trinitarianos, assinalou o fim da completa uniformidade religiosa inglesa. TOLO Ver Raca. TOLSTOY, LEÃO Suas datas foram 1828-1910. Foi um escritor e filósofo social russo. Nasceu em Yasnaya Polyana. Estudou na Universidade de Kazan. Trabalhou durante muitos anos como autor e pensador provocante. Uma crise mental forçou-o a confiar em um tipo neotestamentário de cristianismo, com bases éticas. Tolstoy era um tanto ascético, tendo-se tomado vegetariano e tendo rejeitado toda forma de luxo. Escrevia como se tivesse uma missão social a cumprir. Exerceu notável influência sobre Rousseau. Promoveu a anarquia religiosa. Foi excluído da Igreja Ortodoxa Russa em 1901. Idéias: I. Todas as religiões ensinam a realidade de Deus, e como essa realidade deveria ser a base de nossos atos e intercomunicações pessoais. 2. Porém, ele foi um anarquista religioso, tendo declarado que todos os governos são coercivos e são agentes de exploração das massas. E pregava a associação voluntária como substituto para os governos formais, salientando a necessidade da não-violência para que houvesse mudanças. Ele promovia a revolução moral ativa, conjugada com a resistência passiva. 3. Obteve para si mesmo um lugar conspícuo no campo da estética. Sua teoria fundamental era que as artes provêem aos homens um meio de expressão emocional. Com sua arte, o homem transmite seus mais profundos sentimentos. Os sentimentos morais e religiosos são os mais importantes. 4. Uma vida caracterizada pela renúncia é a melhor expressão de um homem. 5. O indivíduo deve esforçar-se por servir à sua natureza superior, e não à sua natureza inferior. Nossa razão e nossa consciência fluem dessa natureza superior. Devemos seguir o bem que conhecemos intuitivamente. 6. Tolstoy achava erros e distorções na Bíblia, mas acreditava que os ensinamentos de Cristo, uma vez corretamente entendidos, provêem-nos o propósito certo para viver. 7. Os mais importantes ensinamentos de Jesus seriam: não te ires; não te deixes arrastar pela concupiscência; não te obrigues por meio de juramentos; resiste ao mal; sê bondoso para com justos e injustos, igualmente. 8. Ele rejeitava a violência, a guerra, o fumo, as bebidas alcoólicas, o homicídio e a ingestão de carne animal, além da cultura artificial das classes sociais mais abastadas. 9. Acima de tudo, ele promovia a lei do amor, sem a qual nenhum indivíduo ou sociedade pode ir muito longe. 10. Esteve empenhado em muitos debates, com sua esposa., sobre questões de propriedade e de luxo. Chegou a envergonhar-se de pregar a moderação e a tolerância, mas vivia em circunstancias de abastança. Por isso, ele afastou-se secretamente dessa posição, deixando de lado o que lhe parecia vergonhoso. Aos oitenta e dois anos de idade, continuava ativo, fazendo-se acompanhar por seu fiel médico. Procurou livrar-se de todas as preocupações mundanas, aproximando-se assim de Deus. Porém, poucos dias depois da tomada dessa decisão, morreu em uma

minúscula estação ferroviária a caminho de sua liberdade. E seu cadáver foi transportado a Yasnaya Polyana, para ser sepultado. TOM DE OITAVA No hebraico, sheminith, Ver Música, Instrumentos Musicais e Salmos, Livro de. TOMÁS, CRISTÃOS DE Os cristãos de Tomás também são conhecidos por a Igreja Síria de Malabar. Localizam-se, principalmente, no Sul da India. As suas tradições afirmam que o apóstolo Tomás foi o iniciador da Igreja deles, e que foi martirizado na India, em 58 d.C. Porém, é difícil precisar quão acurada é essa tradição. Cosmo, um viajante grego do século VI d.C., escreveu sobre esse grupo de cristãos, o que serve para mostrar sua antiguidade, embora o mesmo não seja tão antigo como se afirma. Dividiu-se em 1613. Uma das divisões, a seção uniata, permaneceu fíel a Roma., e a outra divisão, jacobita., inclinou-se em favor do patriarcado de Antioquia. Essa denominação cristã continuou crescendo em ambos os segmentos em que se dividiu. TOMÁS À KEMPIS Ver sobre Imitação de Cristo, o livro que tomou famoso o nome de seu autor. Na verdade, porém, o autor dessa obra foi Gerhard Groote (vide). Tomás à Kempis nasceu em 1380 e faleceu em 1471. Era nativo de Kempen, na Alemanha (o que explica o seu nome). Educou-se na escola de Gerhard Groote, em Deventer. Tomou-se monge agostiniano. Foi enviado ao convento do monte Santa Agenes, em Zwolle. O livro, erroneamente atribuído a ele, tornou-se um dos tesouros devocionais do cristianismo. TOMÁS DE AQUINO Ver sobre Aquino, Tomás de (Tomismo). TOMÉ 1. Nome e Referências Biblicas. Este nome provém da transliteração grega de uma palavra aramaica que significa "gêmeo". Em João, o grego Didimo é usado para indicar a mesma coisa. Ver João 11:16; 20:24; 21:2. O Novo Testamento não identifica sua irmã ou irmão gêmeo. A tradição afirma que ele tinha uma irmã gêmea chamada Lidia. Existe também uma tradição que (nesciamente) o faz irmão gêmeo de Jesus. Tal tradição é preservada no livro apócrifo de Atos de Tomé. Em alguns manuscritos siríacos, ele é chamado Judas Tomé, em distinção a Judas Iscariotes. As referências bíblicas sobre ele são as seguintes: Mat. 10:3; Mar. 3:18; Luc. 6:15; João 11:16; 14:5; 20:24,26,27,28,29; 21:2; Atos 1:13. 2. Informação Neotestamentária, As tradições situam o nascimento de Tomé em Antioquia, mas sua origem é a Galiléia, de onde também vieram os demais discípulos originais (João 21:2). Os Evangelhos Sinóticos nos relatam seu chamado por Jesus, o Cristo (Mal. 10:3; Mar. 3: 18; Luc. 6: 15). O restante da informação que temos dele provém do Evangelho de João. Ele era muito ansioso, céptico, porém não falto de coragem. Temeroso do que pudesse acontecer a Jesus se seguisse a tencionada viagem a Betânia (Lázaro acabara de falecer ali), Tomé animou os outros discípulos a ir com ele para lá, a fim de que todos pudessem morrer com ele, obviamente via execução por parte das autoridades judaicas. Ver João 11:16. A passagem imortal de João 14 o representa como quem não sabia aonde Jesus estava indo, evidentemente desco-

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TOMÉ - TOMÉ, ATOS DE nhecendo a que ele se referia (a viagem da morte), e assim perguntando de que forma os discípulos saberiam como segui-lo (João 14:5). Essa mudança verbal provocou as palavras de Jesus, tão amiúde repetidas ao longo dos séculos: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). Filipe, ansioso por ver o Pai, foi informado de que aquele que vê o Filho, por esse mesmo fato também está vendo o Pai. Logo depois da ressurreição de Jesus, os discípulos se mantiveram juntos, porém Tomé não estava presente. Quando foi informado por eles que "haviam visto o Senhor", seu cepticismo tomou uma vez mais as rédeas, levando-o a afirmar que não creria, a não ser que visse, com seus próprios olhos, a Jesus redivivo, e examinasse pessoalmente as feridas que ele sofrera na cruz. Ver João 20:25. Oito dias depois, todos os discípulos estavam novamente juntos. Eles temiam ser apanhados e mortos pelos judeus; por isso se mantinham escondidos, mantendo trancadas as portas do local onde se achavam. De repente, Jesus apareceu-lhes, não fazendo caso de portas e fechaduras, mas simplesmente surgindo. Depois de saudar a todos com a "paz", dirigiu-se francamente ao céptico e o convidou a tocar-lhe as feridas. O céptico foi exortado a exercer plena fé e a abandonar seu ridículo cepticismo. Atônito e temeroso, Tomé não estendeu seu dedo a examinar as feridas, mas simplesmente pronunciou as palavras imortais que continuam ecoando até hoje: "Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!". Jesus, pois, nos outorgou uma das mais excelentes jóias da história evangélica: "Bem-aventurados os que não viram e creram". Ver João 20:28, 29. Eis aqui os elementos da maior história já contada, e no entanto muito dessa espantosa história foi deixado em silêncio, porque: "Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (João 20:30, 31). 3. Tradições Posteriores. As tradições tipicamente buscam preencher as lacunas e glorificar os objetos de sua descrição, daí com freqüência serem de pouco valor. Orígenes (citado por Eusébio, historiador eclesiástico, Hist, Ill.I) nos conta que, depois da ressurreição, Tomé trabalhou na Pártia. A Pártia era um distrito que ficava a sudeste do mar Cáspio, que fizera parte do império persa, conquistado por Alexandre, o Grande, da Macedônia. Para maiores detalhes, ver o artigo intitulado Partas (Pártia), O livro apócrifo, Atos de Tomé, O caracteriza como missionário na India, onde supostamente sofreu o martírio. Clemente de Alexandria (Stromateis, livro 4) afirma, contudo, que ele sofreu morte natural. Os cristãos atuais da India traçam a descendência espiritual de Tomé, e alguns até mesmo reivindicam ser seus descendentes físicos. Isso adiciona certo dose de mitologia a uma história que provavelmente foi mitológica desde o início. TOMÉ, APOCALIPSE DE Esta obra era conhecida desde a antigüidade apenas por seu título, mencionada e condenada no Decretum Gelasianum, mas posteriormente foi encontrada em dois manuscritos, provavelmente escritos originalmente em grego, dos quais foram feitas cópias latinas. Um desses manuscritos é bem extenso, enquanto o outro é breve e essencialmente baseado na segunda parte do primeiro. A descoberta só aconteceu em 1908, e julga-se que se trate de um texto datado do quinto século d.e. Conteúdo. I. A primeira parte trata dos sinais que, su-

põe-se, precedem o juízo, seguindo o padrão de Daniel e de outras literaturas apocalípticas. Referências históricas nesta parte nos dão a provável data de sua composição. 2. A segunda parte fornece sete sinais do fim dos tempos que se concretizam em sete dias, um aspecto único da literatura apocalíptica. Esses dias, provavelmente, devem ser entendidos como sendo sete anos, e, nesse caso, simplesmente repousam nos livros canônicos, Dan. 8: 14; 9:27; 12:1 e Apo. 11:2,3 e 13:5. A segunda parte contém muitos reflexos do Apocalipse canônico do Novo Testamento. O manuscrito mais breve corresponde, abruptamente, à segunda seção da primeira, descrita anteriormente. Para mais detalhes sobre esse gênero de literatura, ver o artigo intitulado Apocallpticos, Livros (Literatura Apocaliptica) na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. TOMÉ, ATOS DE Este livro é formado por 13 atos supostamente atribuídos de Tomé. A obra solicita que creiamos que Jesus pessoalmente comprou o homem da escravidão egípcia, naturalmente com propósitos evangelísticos. A obra inclui um relato de seu martírio. Ela é apócrifa (ou seja, não canônica), porém uma "obra oculta", misteriosa e cheia de segredos e acontecimentos que se deram longe dos olhos humanos, até ser revelada pelo herói do livro. É também pseudepígrafa, ou seja, atribuída a um autor que realmente não a escreveu, daí exibir um falso nome de seu autor. Esta obra é a última de cinco composições apócrifas maiores. Existem manuscritos dela em grego e siríaco, e os estudiosos debatem qual deles veio primeiro, sem chegar a um resultado positivo. Debate-se também se a obra é de caráter gnóstico; aludindo, como tudo faz crer, ao mito de um redentor gnóstico, porém algumas das idéias são partilhadas também por escritores ortodoxos, tomando-se difícil determinar precisamente qual sistema, se porventura existe algum em particular, inspirou o livro. Historicamente, em qualquer caso, ela se tomou popular nos círculos gnósticos. Ver sobre Gnosticismo na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. O Apóstolo Tomé é o poder por trás dos atos e milagres deste livro, tendo recebido como designação a evangelização da Índia. Tomé se mostrou relutante a desincumbir-se da tarefa, por isso Jesus se viu forçado a vendê-lo como escravo do rei Gundaforo (uma figura real do primeiro século d.C.). Um dos "atos" mais interessantes deste livro é aquele realizado por Tomé quando o rei lhe pediu que construísse um palácio com certa quantia de dinheiro que lhe passaria às mãos. Em vez de erguer o castelo, Tomé deu o dinheiro aos pobres e necessitados. O rei ficou muito furioso; mas, convenientemente, seu irmão morreu de repente e então voltou à vida. Em contrapartida, viu o magnificente palácio do rei que fora ali construído em virtude das boas obras do rei, através de Tomé, o qual contribuíra de forma caridosa, por isso construiu uma mansão espiritual. Seguiram-se outras maravilhas. O homem curou espiritualmente um assassino, então prontamente ressuscitou dos mortos sua vítima. Realizou um exorcismo espetacular numa mulher atormentada. Efetuou várias curas significativas. Então apagou miraculosamente um incêndio. Curou uma mulher chamada Migdonia, esposa de um parente próximo do rei, chamado Charísio. Sua esposa então decidiu não o querer mais, por isso ele matou Tomé. Mas a igreja cristã prosseguiu. Alguns aspectos proeminentes, além dos milagres fantásticos, são a atitude ascética que o livro promove; a ênfa-

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TOMÉ, EVANGELHO DE - TOMISMO se sobre os sacramentos; alguns hinos e sermões muito belos. Os dois hinos especiais são o Hino Nupcial e o Hino da Pérola. O livro, naturalmente, é,a fonte da alegação de que foi Tomé quem evangelizou a India, alegação na qual os cristãos ali, até hoje, baseiam sua herança espiritual. Seus ossos presumivelmente se acham preservados em Edessa. O livro apresenta vários modelos da Igreja Orientai, provavelmente um ramo primitivo dela, mas até onde recua é diflcil dizer. Permanece em dúvida também se realmente Tomé fundou a igreja na Índia, visto ser dificil dizer quanto do livro é histórico e quanto é invenção.

TOMÉ, EVANGELHO DE Há quatro obras que poderiam ser assim chamadas. São todas apócrifas, ou seja, livros secretos, ocultos, duvidosos, os quais não se encaixam no status canônico. São pseudepigrafos, pois não foram escritos pela pessoa a quem são atribuídos, ou seja, têm falsos autores ou falsos nomes vinculados a eles. Ver sobre Livros Apócrifos e Pseudepígrafos na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. Todas essas obras são atribuídas a Tomé, o Apóstolo do Senhor. Poderiam ser chamados "evangelhos", visto que presumivelmente falam de acontecimentos que ocorreram quando Tomé se associou a Jesus em seu ministério terreno. 1. Pistls Sophia, ou expressão grega para Fé-Sabedoria, significando talvez "a fé que provém de ser espiritualmente sábio", é uma obra gnóstica que representa Filipe, Tomé e Mateus como os principais discípulos de Jesus, em lugar de Pedro, Tiago e João dos Evangelhos canônicos. A biblioteca de Nag Hamade também contém um Evangelho de Filipe. Ver sobre Gnosticismo e Nag Hamade, Manuscritos de na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. 2. O Livro de Tomé, o Atleta, também da coleção do Nag Harnade, é igualmente uma obra gnóstica. Contém presumivelmente os ensinos secretos de Jesus entregues a Judas Tomé e compilados por Mateus. O termo Atleta deve ser tomado em sentido espiritual. Este discípulo foi um grande atleta espiritual que realizou grandes festas. 3. O Evangelho da Infância é outra obra gnóstica totalmente docética em sua natureza. Isso vem da palavra grega "parecer", e na aplicação teológica significa que Jesus apenas parecia um ser humano, mas era, na verdade, um ser divino (como um anjo sublime), apresentando-se como se fosse homem, porém desempenhando realmente sua obra como uma pessoa sobre-humana. Para detalhes, ver o artigo intitulado Docetismo na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Alguns exemplos dos alegados prodígios de Jesus, feitos quando criança: Jesus era uma criança prodígio de gigantescas dimensões espirituais. Em várias ocasiões, realizou milagres destrutivos, mas em seguida aplicava a cura. O pai de Jesus, um carpinteiro bastante inapto, quando suas tábuas não tinham um tamanho certo, ele as aumentava ou diminuía para tomá-las úteis a todo e qualquer propósito que tinha em vista. Jesus foi tirar água, porém não tinha cântaro, por isso usou uma cavidade em seu manto a fim de levar água para casa. Ele quebrou o sábado fazendo naquele dia imagens de pássaros de barro. Para proporcionar evidência, ele fazia os pássaros voltar à vida, os quais voavam com graciosa rapidez. Ele não tinha necessidade de sabedoria e aprendizado humanos, visto já possuir a sabedoria divina. Os originais dessas obras provavelmente estavam em grego, porém se tomaram tão populares que foram vertidos para o latim, siríaco e georgiano.

4. O Evangelho Côptico de Tomé. Esta obra também fazia parte da biblioteca gnóstica de Nag Hamade. É essencialmente uma coleção de logoi (ditos) de Jesus, mais do que uma biografia com eventos históricos. A expressão "disse Jesus" introduz os ditos. Estão incluídas muitas parábolas que não fazem parte dos Evangelhos canônicos. A obra recebe eco dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), porém nada que nos lembre do Evangelho de João. Houve um intercâmbio de materiais das obras gnósticas. Os ditos do papiro da Logia Oxyrhynchus estão todos incluídos no Evangelho de Tomé. Aparecem em grego, traduzidos parao cóptico, e isso pode sugerir um original grego do Evangelho, porém permanece em aberto o problema se o Evangelho teve um original grego ou cóptico. Embora pareça que este Evangelho contenha simplesmente histórias e ditos extraídos dos Evangelhos Sinóticos e reescritos, com muita freqüência não são tão estreitos para que o de Tomé dependa diretamente dos Evangelhos canônicos. Talvez alguma outra fonte, ora desconhecida e mais recente, tenha servido para esta obra, a qual tem reflexos dos Evangelhos canônicos. As citações de Clemente de Alexandria extraídas do Evangelho dos Hebreus e do Evangelho dos Egipcios são paralelas a alguns ditos de Tomé, e há outras semelhantes ao Diatessaron de Tácio e o pseudo-Clementinas. Sendo isso procedente, o máximo que podemos dizer é que não houve nenhuma matéria extracanônica sobre Jesus para a inclusão de outros pretensos ditos seus, de modo que obras diferentes sejam melhoradas e incorporadas. Achar, porém, uma fonte, ou uma fonte principal para o Evangelho de Tomé, parece ser uma tarefa desesperançada. Poderia haver, naturalmente, alguns materiais históricos genuínos, não canônicos, para incluir os ditos de Jesus, mas como cavá-los da massa que envolve tantas conjecturas dúbias? O Evangelho de Tomé é um tipo de príncipe dos evangelhos não canônicos, e por isso tem sido chamado "o quinto evangelho", uma avaliação exagerada da obra, porque não podemos estar certos de sua autenticidade em algum grau apreciável. E, se ele não é autêntico, dificilmente merece tal título. Esta obra evidentemente data do segundo século d.C. e sobrevive a vários manuscritos gregos e cópticos.

TOMISMD Esboço: 1. Caracterização Geral 2. O Tomismo de Tomás de Aquino 3. Crescimento Histórico do Tomismo 1. Caracterização Geral Ver o artigo detalhado sobre Aquino; Tomás de (Tomismo), O tomismo também é conhecido como aristotelianismo cristão. Porém, apesar de sugestiva, essa designação é muito estreita. Antes de tudo, houve outras influências sobre as idéias de Tomás de Aquino, principalmente o platonismo, o biblicismo, a teologia cristã ocidental, o pseudo-dionismo e o agostinianismo. Tomás de Aquino e seu sistema são por demais distintivos e universais para serem reduzidos a qualquer designação simples. Parte do caráter distintivo da filosofia-teologia de Aquino é o fato de que ele foi o primeiro a partir, sistematicamente, do reconhecimento da diferença entre o natural e o sobrenatural, entre a razão humana e a revelação, atribuindo a cada aspecto seu devido lugar, dentro de um sistema unificado. Aquino não tentou sujeitar à razão humana certas doutrinas da fé (os mistérios), embora insistindo que, quanto a outras questões, a razão humana

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TOMI8MO - TOQUÉM fica satisfeita com a teologia e suas proposições, servindo de útil instrumento para explicar e organizar as mesmas. Alguns têm interpretado que Aquino ensinava a proposição empírica que "nada existe no intelecto que não tenha estado primeiro nos sentidos". Mas apesar de ser verdade que ele disse tal coisa, não é verdade que ele tenha feito uma aplicação universal dessa proposição. Filósofos anteriores a Aquino (como seu mestre, Alberto Magno) contentavam-se em dividir o campo, dando ao empirismo o seu lugar, e à razão e à revelação o seu. O argumento foi de Tomás de Aquino fazer tudo depender da experiência humana, mas o exame de sua filosofia mostra que tal conceito é falso. Quando ele falava sobre aquelas doutrinas que somente a fé pode aceitar e demonstrar, obviamente tinha abandonado a teoria da percepção somente. Mas, na qualidade de monge dominicano e cristão, ele acreditava na revelação divina quanto a certas verdades, inteiramente à parte da razão e da percepção dos sentidos. A razão era usada por Tomás de Aquino não para suplantar a fé, e, sim, para suplementá-la, ou que se tornou abordagem católica romana comum, enquanto que os protestantes e evangélicos mais facilmente seguem a noção kantiana, que faz todas as doutrinas dependerem da fé, desprezando a função da razão. Ver sobre o Antitntelectualtsmo. Até onde posso ver as coisas, quanto a esse particular os católicos romanos estão mais certos do que os protestantes. E ridículo desprezar a razão, que é um dom de Deus que certamente nos foi dado como guia. 2. O Tomismo de Tomás de Aquino Naturalmente, devemos pensar aqui sobre as idéias e ensinamentos de Tomás de Aquino, em sua própria época. Quase todas as suas idéias ficaram registradas em suas gigantescas obras escritas, Summa Contra Gentiles e Summa Theologica. Contudo, embora essencialmente teológicas em método e objeto, essas obras contêm um aristotelismo cristão implícito, caracterizado pelo realismo e pelo pluralismo moderados, com a ajuda de uma estrutura platônica; todavia, essas obras são plenamente cristãs em sua natureza, concordando, principalmente, com a teologia ocidental, da qual Agostinho foi o maior mestre. Aquino não criou, mas melhorou e organizou as provas tradicionais da existência de Deus. Ver o artigo chamado Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus. 3. Crescimento Histórico do Tomismo a. O tomismo foi atacado por causa de alegados erros, em um julgamento, em Paris, França, em 1277. Porém, sobreviveu facilmente a isso, e cresceu em influência, nos séculos XIV e x». b. Nos séculos XVI e XVII, por meio de figuras como o cardeal Cajetano e João de São Tomás, essa teologia-filosofia passou a exercer influência ainda maior na Igreja ocidental. c. A época mais influente do tomismo começou nos meados do século XIX Em uma encíclica de 1879, o papa Leão XIII exortou que o catolicismo romano voltasse à filosofia tomista tradicional, virtualmente oficializando o tomismo como a maneira como os católicos romanos deveriam filosofar acerca de sua fé cristã. d. O tomismo moderno, também conhecido por neo-esco-Iasticismo, considera vários problemas modernos da filosofia da ciência, da epistemologia, da filosofia social e política, bem como de interpretações de muitas doutrinas da fé cristã, à luz dos princípios elaborados por Tomás de Aquino. Importantes nomes associados a essa atividade são Jacques Maritain, Mortimer Adler, Leon Noel, Etienne Gilson, Peter Hoenen

e Martin D'Arcy. A única explicação para como isso pode ter acontecido é que a filosofia de Tomás de Aquino é, realmente, riquíssima e muito abrangente. (AM BENT C EEPFMM) TONS GREGORIANOS Na Igreja Católica Romana, os salmos eram entoados em uma espécie de cantochão, entre as antífonas. Havia um tom especifico para cada um dos oito modos medievais, e um tom irregular chamado Tonus peregrinus. Ver também sobre o Cântico Gregoriano. TOPARQUIA Essa palavra é formada por duas palavras gregas: tôpos, "lugar", e árchon, "chefe". Esse título era dado aos dirigentes de algum pequeno distrito. Tal vocábulo nunca aparece no Novo Testamento, mas ocorre nos livros apócrifos, em I Macabeus 11:28, indicando três pequenos territórios que foram desmembrados de Samaria e adicionados à Judéia, durante o período dos macabeus. Mais tarde, os pequenos territórios foram deixados sob o governo de Jônatas Macabeu, por determinação de Demétrio 11 Nicator. Plínio (5: 14) afirma que a Judéia foi dividida em dez toparquias. Josefo (Guerras 13,5) declara que havia onze dessas toparquias. Visto que a área da Judéia era bastante exígua, pode-se perceber prontamente que esses distritos administrativos eram realmente minúsculos em área. TOPÁZIO No hebraico, Pitedah, um vocábulo que ocorre por quatro vezes: Êxo. 28:17; 39:10; Jó28:19 e Eze. 28:13. No grego é topázion; termo que ocorre exclusivamente em Apo. 21:20. O topázio era um mineral verde amarelado, usado como pedra preciosa. Segundo disse Plínio, o nome deriva-se de uma das ilhas do mar Vermelho. Porém, visto que esse mineral podia ser riscado com uma lima, era por demais mole para ser a moderna pedra chamada topázio, que é um mineral duro. O topázio moderno é um flúor silicato de alumínio, que com freqüência, ocorre sob a forma de cristais prismáticos. Usualmente é destituído de cor, ou, então, é amarelo bem pálido, com menos freqüência azul ou rosa pálido, aparecendo, principalmente, em granitos e rochas similares. Muitos escritores antigos chamavam o topázio moderno de crisólito (vide). Assim o termo hebraico pitedah é traduzido em Êxo. 28: 17, em algumas versões. Assemelhava-se a certas variedades amareladas de quartzo, que são consideradas um falso topázio. O topázio oriental é uma variedade amarelada do coríndon (óxido de alumínio). Visto que os antigos não classificavam cientificamente os minerais, como nós o fazemos, dando-lhes nomes de acordo com sua aparência externa, e não conforme o grau de dureza, segundo se faz hodiernamente, é dificil equiparar as gemas modernas com os nomes que aparecem nas páginas da Bíblia. No livro de Apocalipse (21 :20), o topázio aparece como a pedra preciosa que adornava o nono fundamento da Nova Jerusalém, na última visão de João. TOQUÉM No hebraico, "estabelecimento". Essa cidade é mencionada por nome somente em I Crô. 4:32. Era uma cidade pertencente ao território de Simeão, mencionada juntamente com Rimom e Asã. Na lista paralela de cidades (Jos. 19:7), o nome de Toquém é substituído pelo de Eter (vide).

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TORA-TORRE TORA Caracterização Geral A palavra hebraica assim transliterada parece ter o sentido básico de "lançar", ou seja, "lançar a sorte sagrada", prática da adivinhação oracular. Evoluindo a fé dos hebreus, a palavra adquiriu uma conotação mais ampla: oráculo, conteúdo da revelação divina, a lei divinamente outorgada, e, finalmente, o conteúdo inteiro da interminada revelação a Israel e através de Israel. Essa última definição é sua significação específica em seu sentido mais amplo, a maneira como o termo passou a ser empregado na literatura judaica. Porém, em seu sentido mais restrito, a Tora designa os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, o Pentateuco, a porção da Bíblia atribuída a Moisés. Os judeus ortodoxos acreditam que essa Tora contém, literalmente, ou em forma seminal, todas as leis divinas. A palavra Tora também é usada para designar o rolo sobre o qual esses cinco livros costumam ser escritos; pelo menos uma cópia disso é depositada na arca de cada sinagoga judaica. Então são feitas leituras regulares e selecionadas, com base na Tora, nos cultos religiosos, acompanhando o calendário religioso judaico. Essa palavra hebraica, aqui transliterada, usualmente é traduzida por "lei", referindo-se ao Pentateuco, isto é, os cinco livros de Moisés. Mas, no Antigo Testamento e nos escritos rabínicos, a Tora é mais do que um código legal. Esse substantivo deriva-se do verbo hebraico yarah, "lançar", "atirar (uma flecha)", "alvejar". Mediante associação de idéias, veio a significar "orientação", "instrução" (cf. 11 Reis 12:2),"lei", "mandamento" (cf Êxo. 12:49; etc.; Lev. 6:9,14,25, etc.; Núm. 5:29,30; 6:13,21, etc; Deu. 1:5 etc.). A palavra Tora não deve ser interpretada somente em sentido legal. Antes, indicava uma maneira de viver, derivada da relação de pacto entre Deus e o povo de Israel. A conotação puramente legal entrou através da tradução da Septuaginta, onde esse termo hebraico é traduzido pela palavra grega nómos, "lei". Mas, que a Tora não aponta somente para a lei pode ser visto através do fato de que também indica uma declaração profética (cf. lsa. 1: 10 e 8: 16) e até os conselhos dos sábios (cf Pro. 13:4). Até mesmo no Pentatouco, a Tora algumas vezes aponta para decisões que dizem respeito à eqüidade (ver Êxo 18:20), às instruções atinentes à conduta (Gên. 26:5; Êxo. 13:9), às regras atinentes ao culto religioso (Lev. 6:9,14,25 etc.). O vocábulo Tora também envolve o princípio dajustiça; haverá uma única Tora para os nativos e para os estrangeiros residentes na terra (Exo. 12:49). Com base no trecho de Êxodo 24: 12, parece que os mandamentos suplementam a Tora, embora não sejam idênticos a ela. Nas páginas do Novo Testamento, a palavra grega nômcs indica o código mosaico (ver Luc. 2:22; 16:17; João 7.23, 18:31; Atos 13:39; etc.). Mas, pelo menos em uma instância, aponta para as Escrituras Sagradas como um todo, conforme se vê em João 10:34. De conformidade com a tradição rabínica, a Tora indica tanto O código escrito quanto a interpretação do mesmo, codificado sob a forma de seiscentos e treze preceitos. Dentro dessa tradição, a palavra Tora jamais aparece como a lei em sentido puramente legal, antes, indica a maneira judaica de viver, que exigia total dedicação, em razão do pacto de Deus com o povo de Israel, Cf o tratado da Mishnah intitulado, Pirke Avot.

TORRE I. As Palavras Essa é a tradução de várias palavras hebraicas e de uma palavra grega, a saber: I. Migdal, ''torre grande". Vocábulo hebraico, que é utilizado por quarenta e sete vezes: Gên. 11:4,5; 35:21; Juí. 8:9,17; 9:46,47,49,51,52; 11 Reis 9: 17; 17:9; 18:8; II Crõ. 14:7; 26:9, 10, 15; 27:4; 32:5; Nee. 11,11,25-27; 12:38,39; Sal. 48:12; 61 :3; Pro. 18:10; Cano4:4; 7:4; 8:10; Isa. 2:15; 5:2; 30:25; 33:18; Eze. 26:4,9; 27:11; Miq. 4:8; Zac. 14:10. A formamigdol ocorre por três vezes: 11 Sam. 22:5 I; Eze. 29: 10; 30:6. 2. Misgab, "torre", "defesa", "refúgio", "fortim". Essa palavra ocorre por dezesseis vezes: 11 Sam. 22:3; Sal. 18:2; 144:2; Sal. 59:9,16;17; 62:2,6; 94:22; Isa, 33:16; 25:12; Sal. 9:9; 46:7,11; 48:3. 3. Ophel, "lugar alto", "torre". Com esse sentido ocorre por três vezes: 11 Reis 5:24; Miq. 4:8; Isa. 32: 14. 4. Matsor, "baluarte", "defesa". Com o sentido de torre, aparece apenas por uma vez, em Hab. l l . 5. Púrgos, "torre". Palavra grega usada por quatro vezes: Mal. 21:33; Mar. 12:1; Luc. 13:4 e 14:28. 11. Descrições A palavra hebraica usual para "torre" é migdal enquanto que os outros vocábulos hebraicos indicam algum tipo de função particular ou raridade. Na antigüidade, as torres eram divididas em classes, de acordo com a função de cada uma: a torre na vinha (lsa. 5:2), para guardar seus conteúdos, ou a torre de defesa. As torres dessa última função eram as mais importantes, pertencendo a três tipos principais: a torre solitária (Juí. 9:51), que servia tanto de defesa quanto de refúgio, e que, neste último caso, podia se transformar em uma autêntica armadilha. Também havia torres desse tipo ao longo das estradas, para proteção dos viajantes (11 Reis 17:9). Um segundo tipo de torre de defesa era erigido como parte integrante das muralhas de uma cidade. E um terceiro tipo era uma grande estrutura oca, que flanqueava os portões das cidades ou posto em alguma esquina das muralhas. As torres também variavam em suas dimensões, dependendo se eram apenas torres de vigias ou se serviam como baluartes de defesa O cômoro de el-Farali (Tirza?) exibe um portão com torres de paredes compactas, em cada lado do mesmo. Essas torres têm salas internas, e uma escada até o topo, a fim de repelir possíveis atacantes. Em Gibeá (TeU el-Ful), a cidadela de Saul tinha torres retangulares, com espaços internos em cada esquina, construída de pedras lavradas mais ou menos quadradas no estilo de casamata. Posteriormente, essa torre foi substituida por outra, em dimensões mais modestas, mas não demorou a ser abandonada, quando Jerusalém tomou-se a capital do reino. A torre mais espetacular de todas é a torre neolítica de Jeric6, que deve ter sido erigida por volta de 7800 a.C., e que até hoje sobrevive com aproximadamente 8,30 m de altura, e com uma escadaria apertada até o nível do chão. Uma torre construída como fortaleza era uma estrutura de construção especial, provavelmente, com avantajadas dimensões, e o mais inacessível possível (I Sam. 23: 14,29). Entretanto, não devemos pensar que, naqueles dias veterotestamentários, as torres já fossem castelos. Os castelos s6 surgiram bem mais tarde, entre os romanos, alcançando dimensões grandiosas somente na Idade Média. Ver sobre Castelo. A torre de marfim, referida em Cantares de Salomão 7:4, é a torre do Líbano, que refletia a grandiosidade e a

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TORRE - TOSQUIADORES beleza do monte Libano, ao passo que a figura da torre faz-nos lembrar das linhas da beleza facial, da sulamita. A torre de Siquém, destruída por Abimeleque (Juf. 9:46,47), não ficava fora das muralhas da cidade, e, sim, era a cidadela interna, que ficava na porção mais elevada da cidade. Ver sobre Cidadela. Ver também sobre a Torre de Babel. 111. Sentidos figurados A estrutura e as funções de uma torre prestam-se admiravelmente para servir na linguagem altamente simbólica de muitas passagens da Bíblia. Vejamos: 1. Deus como protetor de seu povo, é uma torre: 11 Sam. 22:3,51; Sal. 18:2; 61:3. 2. O nome do Senhor é uma torre: Pro. 18: 10. 3. Os ministros do Senhor são comparados com torres: Jer. 6:27. 4. O monte Sião é uma elevada torre: Miq. 4:8. 5. A graça e a dignidade da Igreja de Cristo: Cano 4:4; 7:4; 8:10. 6. Individuas orgulhosos e altivos, também são assemelhados a torres: Isa. 2:15; 30:25. 7. Jerusalém era notável pelo número de suas torres e pela beleza das mesmas: Sal. 48: 12. IV. As Torres na Guerra Naturalmente, visto que elas representavam tão persistente defesa para uma cidade, as torres, com freqüência, eram destruídas durante as guerras, quando uma cidade sucumbia diante do exército inimigo, conforme se vê, por exemplo, em Juí. 8: 17; 9:49 e Eze. 26:4. Além disso, quando elas não mais serviam para os fins a que tinham sido destinadas, eram abandonadas e acabavam em ruínas, conforme se vê, por exemplo, em Isa, 32:14 e Sof. 3:6. TORRE DE BABEL Ver sobre Babel, Torre e Cidade. TORRE DOS CEM (MEAH) A palavra hebraica traduzida por "Cem", em Nee. 3:1 e 12:39, é meah, que quer dizer exatamente isso, "cem". Essa torre ficava na muralha oriental de Jerusalém, provavelmente construída no ângulo da parte cercada do templo de Jerusalém. Ficava entre a Porta das Ovelhas e a Torre de Hananeel. O sumo sacerdote Eliasibe, e seus auxiliares, restauraram essa torre quando as muralhas de Jerusalém foram reconstruídas, terminado o cativeiro babilônico. Ela é mencionada por ocasião da dedicação das muralhas reedificadas (ver Nee. 12:39). Essa torre, e a de Hananeel tinham por finalidade proteger a aproximação noroeste da área do templo. Não se sabe por que razão era chamada de "dos Cem"; embora haja quem sugira que isso se devia às suas dimensões, ou à sua localização. Talvez ficasse a cem côvados da Porta das Ovelhas, e à mesma distância da torre de Hananeel. Ou então, tinha cem côvados de altura. TORRENTES DOS SALGUEIROS No hebraico, nachal arabim. Temos aí um dos wadis de Moabe, atualmente conhecido por Sei Iel-Qurahi (lsa 15:7). Alguns estudiosos pensam que se trata do mesmo lugar chamado vale de Zerede (vide). Ficava nas fronteiras entre Moabe e Edom. No hebraico, isso se parece muito com o nachal arabáh, de Amós 6:14, a única diferença sendo que Isaías usa o plural, arabim, ao passo que Amós usa o singular, arabáh, Ver o artigo intitulado Salgueiro.

TOSQUIA No hebraico, a palavra gez serve para indicar tanto a "tosquia" quanto o "corte da grama". Essa palavra ocorre por quatro vezes, das quais duas com o sentido de "tosquia" das ovelhas: Deu. 18:4 e J6 31 :20. Um outro termo hebraico, cognato, é gizzah, com o mesmo sentido. Esse aparece por sete vezes, no trecho de Juí. 6:37-40. No entanto, nossa versão portuguesa só traz a palavra "tosquia" em Deu. 18:4. Em Jó 31 :20 e em todas as menções, no livro de Juízes, ela fala apenas em lã. Mas, sabendo-se que palavra hebraica há nessas passagens, devemos pensar não em lã tecida e, sim, em um pouco de lã acabada de ser tosquiada, no seu estado bruto. No seu sentido primário, a tosquia é o envoltório de lã natural do carneiro. Em um sentido secundário, trata-se de toda a lã tosquiada de um desses animais. Nas Escrituras, há um notável incidente que envolve um punhado de lã tosquiada e ainda bruta. No livro de Juízes, no seu sexto capítulo, lemos sobre Gideão, que apanhou um punhado de lã tosquiada e, como o mesmo, pediu ao Senhor que lhe desse um sinal miraculoso de sua presença com ele, ao ser encarregado de libertar Israel da opressão dos midianitas. Tendo recebido resposta afirmativa, mas ainda não satisfeito, Gideão pediu outro sinal, com o mesmo punhado de lã tosquiada, na noite seguinte. Na primeira noite, Gideão queria que o orvalho molhasse somente o punhado de lã, sem umedecer o terreno ao redor. No segundo, ele queria que o orvalho molhasse o terreno em redor, deixando enxuto o punhado de lã. E Deus o atendeu por duas vezes, consoante o seu pedido. Desde então, muitos crentes têm submetido Deus à prova de "tosquia" de lã, de várias maneiras. Mas, alguém já observou: "Algumas vezes, funciona; outras, não". Talvez seja um tanto humilhante ser reduzido a buscar a orientação divina dessa maneira; mas, se ela funciona, então o indivíduo não terá motivos para se queixar. A lã tosquiada figurava entre os primeiros artigos que eram entregues como primicias aos sacerdotes levitas (Deu. 18:4). Jó enumerou, entre suas obras de misericórdia a dádiva de lã bruta aos pobres, para se aquecerem no frio (Jó 31 :20). TOSQUIADORES No hebraico, gazaz. Essa palavra aparece por quatro vezes no Antigo Testamento. No grego, keíro, "tosquiar", verbo que figura por quatro vezes no Novo Testamento, a saber: 1. No Antigo Testamento: Gên, 38:12; 1 Sam. 25:7,11; Isa. 517. 2. No Novo Testamento: Atos 7:32 (citando Isa. 517); 18:18~ 1 Cor. 11:6. A tosquia das ovelhas era uma importante operação em Israel, como em outros países do Oriente Médio, nos dias antigos. A ocasião, evidentemente, tomara-se quase uma festa religiosa. Há menção à tosquia das ovelhas em Gên. 31: 19 e 38: 12, por parte de Labão e Judá, respectivamente. Na primeira dessas oportunidades, Labão fugiu com suas esposas, filhos e rebanhos. O caráter da ocasião transparece claramente no episódio em que Davi indignou-se com Nabal, quando este último se recusou a prover suprimentos para os jovens guerreiros que estavam com Davi, estando ele, Nabal, no processo da tosquia das ovelhas. No entanto, os homens de Davi haviam protegido os homens de Nabal, que agora estavam tosquiando as ovelhas (I Sam. 25:2,13). Quanto ao verbo grego, é evidente que ele não indicava somente o ato de tosquiar ovelhas. Pois, se esse é o sentido

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TOSQUIADORES - TOTEMISMO claro da primeira ocorrência do mesmo, em Atos 8:32, já precisamos traduzi-lo por "rapar", em Atos 18:18 e 1 Cor. 11:6. Portanto, cumpre-nos comentar aqui sobre Atos 8:32, onde a única tradução condizente é "tosquiar". Lemos ali: "Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro; e como um cordeiro, mudo perante o seu tosquiador, assim ele não abre a sua boca..." A linguagem desse versículo é metafórica, dando a entender a passividade de Jesus Cristo diante de seus juízes e algozes, quando de sua crucificação. Essa passividade é refletida na atitude d~ resignação de um cordeiro que está sendo tosquiado. E fato sabido que as ovelhas, nessa ocasião, não reclamam. Muitos dizem que a operação é indolor, mas não é esse aspecto que é focalizado nesse versículo, mas antes, como Jesus não lutou contra a vontade do Pai, que o entregara às mãos de homens ímpios e cruéis, a fim de ser sacrificado em nosso lugar. Não havia verdadeira acusação contra Jesus, mas apenas alegadas faltas, apresentadas pelos principais sacerdotes, diante do governador romano, Pilatos. Após diversas indagações, o governador "lhe pergunta: "Tua própria gente e os principais sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste?" A resposta de Jesus foi: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui" (João 18:35,36). Jesus se entregava pacientemente às mãos de homens injustos, que, sem nenhuma causa, queriam vê-Lo morto. Porém, para isso mesmo ele viera e sabia disso. Essa consciência transparece nas palavras de sua oração solitária, no horto: "Meu Pai: Se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero e, sim, como tu queres" (Mat. 26:39) . Essa é a atitude que devemos perceber por detrás da citação de Isaías 53:7, em Atos 8:32. A tosquia era efetuada durante a primavera, a cada ano, ou pelos próprios donos das ovelhas (Gên. 31:19; 38:13), ou por "tosquiadores" profissionais. Havia edifícios especiais, construídos para o propósito de tosquiar as ovelhas, segundo se vê em U Reis 10: 12-14. A tosquia era uma operação cuidadosamente feita, a fim de que não se estragasse a lã (JuL 6:37). Na antigüidade, as ovelhas não eram marcadas a ferro, mas pintadas. Era usado algum tipo de corante, que se passava em um ou mais lugares no pêlo da ovelha, nas costas, como marcas distintivas. Em 11 Reis 14, Mesa, o principal chefe da tribo de Moabe, é chamado "pintador de ovelhas" (em nossa versão portuguesa, "criador de gado", o que não corresponde ao verdadeiro sentido do original hebraico).

TOTAL DEPRAVAÇAo Ver o artigo geral sobre a Depravação, onde se aborda, no seu quinto ponto, a questão particular da depravação total do homem. Essa é uma das doutrinas cardeais do calvinismo. Ver os artigos intitulados Cinco Pontos do Calvinismo e Cinco Pontos do Arminianismo.

TOTALITARISMO Essa palavra designa aquela forma de governo, religioso ou político, ou aquela teoria governamental em que um partido, uma facção, uma filosofia ou uma fé religiosa predomina, com exclusão de qualquer outra força. Para ser bem-sucedido, um governo totalitário, um sistema totalitário ou uma organização totalitária sente ser mister suprimir a oposição, ou por força militar, ou pela ação da polícia, ou pela supressão econômica, ou pelo banimento, ou pelo assassinato político, ou pelo encarceramento. Em contraposição, nenhum sistema

totalitârio consegue medrar onde há livre troca de idéias, com a conseqüente liberdade de expressão, privada ou "pública" paralelamente a outras liberdades, como as de propriedade privada, reunião pública, etc. Por essa razão, no totalitarismo essas liberdades são suprimidas ao máximo possível. Todas as denominações religiosas têm as características do totalitarismo, completas com seus modos especiais de perseguir aos não-confurmistas. Formas de governo centralizado são totalitarismos, sempre controladas por algum déspota ou líder forte, investido de grande poder e autoridade. As vidas das pessoas envolvidas são severamente regulamentadas, e suas crenças e práticas precisam moldar-se aos ideais do sistema. Os termos ''totalitarismo'' e "totalitário" só começaram a ser usados no século XX, embora estados e religiões totalitârios sempre tenham existido no decurso da história da humanidade. Alguns pensadores têm defendido a fé cristã como o único totalitarismo verdadeiro e necessário, Mas pelo menos no presente, isso é impossível, devido ao estado fragmentado da Igreja cristã, o que a impede de apresentar ao mundo uma frente unida. Talvez a única força que podemos considerar legitimamente totalitária seja a da Mente Divina. Mas conhecemos essa Mente apenas em parte. Isso significa que a promoção de qualquer totalitarismo, político ou religioso, tão-somente mostra que os homens são enganados e arrebatados em seu entusiasmo em prol de algum sistema particular, e não que haja, realmente, alguma verdade em tal sistema. Por isso mesmo, é correto continuarmos a entender o adjetivo totalitário em um sentido negativo, eivado de sentimentos preconceituosos e arrogantes.

TOTEMISMO 1. Definições A palavra "totem" vem de uma língua indígena da América do Norte, algonquíana, da tribo dos Ojibwa. Nesse idioma a palavra é ototeman, que, provavelmente, significa "ele é um parente meu". Os primeiros investigadores da questão deram vários nomes aos totens, como dodeme, toden, toodaim, dodaim totam. Mas a forma que afinal prevaleceu foi totem. Um totem era um complexo socio-religioso que, no começo, era tido como uma unidade orgânica, incluindo alguma combinação das relações místicas de um grupo de parentes com alguma espécie de animal, planta, algum fenômeno natural (os ovos de um pato negro, ou uma nuvem iluminada pelo sol), algum artefato (um machado de pedra, um mastro de canoa), etc. Também havia cerimônias para a multiplicação das espécies, havia tabus quanto a comer ou matar certas espécies, exceto ritualmente. Os grupos de parentes envolvidos seguiam uma linhagem matrilinear e também a exogamia (vide).

2. Na América do Norte Embora os missionários jesuítas do século XVII, na América do Norte, tenham sido os primeiros a levar à Europa a idéia do totemismo dos indígenas norteamericanos, credita-se a J.K. Long a publicação do primeiro livro que estampou em suas páginas esse vocábulo em 1791. E o primeiro cidadão norte-americano a publicar algo a respeito dos totens foi um chefe ojibwa de nome Peter Jones. Seu livro foi publicado após a sua morte, que ocorreu em 1856. Depois dele, houve quem ventilasse a questão diante dos eruditos, jâ nos anos de 1869 e 1870. 3. Em Israel? A obra de W. Robertson Smith, The Religton of the Semites (1894), precipitou um intenso debate entre os

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TOTEMI8MO estudiosos da Bíblia, porquanto ali ele afirmava que "claros indícios de totemismo podem ser encontrados na antiga nação de Israel". Encontraram-se provas evidentes de totemismo em muitos lugares do mundo, onde houvesse povos primitivos; mas as manifestações mais dramáticas e ricas ocorriam entre os aborígenes australianos. Essas tribos representavam as culturas mais primitivas que os homens modernos já conheceram. Para muitos enciclopedistas, antropólogos, teólogos e estudantes de religiões comparadas, entre os quais poderíamos incluir nomes como Robertson Smith, Emile Durkheim, J.G. Frazer e até Sigmund Freud, isso continuou até a década de 1920. Para esses pesquisadores, o totemismo australiano apresentava uma espécie de unidade orgânica entre os elementos constitutivos dos padrões culturais ali encontrados, havendo duas conseqüências intimamente relacionadas entre si: 1. a necessidade de encontrar explicações teóricas para as diferenças, porventura, encontradas em outros lugares; e 2. o conceito de um certo "estágio" dentro da evolução religiosa, de onde devem ter-se derivado todos os elementos constitutivos que podem ser encontrados isolados ou em combinação, em qualquer parte do mundo. As premissas básicas das inquirições estiveram alicerçadas na preocupação com as origens. As reconstituições do totemismo primitivo dependiam da crença de que a selvageria contemporânea representava estágios mais primitivos da evolução humana, e de que todos os povos primitivos se assemelhavam muito entre si. Portanto, as teorias relativas aos totens deixavam de levar em consideração a diversidade das culturas, comprovadas pela pesquisa etnológica moderna. Naturalmente, houve quem protestasse contra isso, mostrando que as teorias totêmicas haviam exagerado a realidade dos fatos acima de toda concepção teológica razoável. Finalmente, em uma famosa enciclopédia bíblica norte-americana (lSBE), reconheceu-se que "essa teoria tem sido abandonada no que concerne a Israel". 4. Argumentos em Favor do Totemismo em Israel. Aqueles teóricos haviam agrupado supostas provas bíblicas de totemismo em Israel em cinco grupos distintos, a saber: I. Famílias com nomes de animais (Gên, 36:49; Núm. 26:17,23,26,35,39; Deu. 33; I Sam. 25:3), como também pendões ou sinais de famílias (Núm. I :52 e 12). 2. Tabus quanto a alimentos, leis dietéticas (Lev. 11:44-47; 20:25,26; Deu. 14), e também a desobediência a esses tabus (Isa. 65:4 e 66: 17). 3. A linhagem matrilinear (Gên. 22:20-24; Juí. 8:19; Rute 1:8; 11 Sam. 17:25). 4. A exogamia (Juí. 12:9). 5. A adoração a animais (Eze. 8:7-11). Tudo isso, porém, foi classificado por motivo de interpretação errônea de certos informes e exemplos bíblicos, como se os mesmos estivessem ligados a totens. Pois, além da ausência de atribuição de descendentes humanos dos animais considerados totens, como também os israelitas não comiam essas espécies em meio a rituais, os alimentos proibidos não correspondem aos nomes das famílias, pois esses nomes, entre os israelitas, algumas vezes representavam animais limpos (próprios para o consumo humano) e imundos (impróprios para o consumo humano). Além disso, quanto ao terceiro ponto (ver acima), as evidências apresentadas por aqueles teóricos são totalmente insuficientes para provar que nas Escrituras havia a idéia da descendência matrilinear. E, além disso, existem

sociedades não totêmicas que seguem a idéia da linhagem matrilinear. Além disso, ainda, embora certos elementos tivessem sido identificados corretamente, a interpretação acerca dos mesmos mostrava-se errada. Os nomes baseados em animais são por demais comuns entre os israelitas, antigos e modernos, para que daí se possa inferir qualquer totemismo. A exogamia é uma regra observável em todos os clãs, sem importar se de crenças totêmicas ou não. O oitavo capítulo do livro de Ezequiel indica claramente que a linhagem, em Israel, era patrilinear, e não matrilinear. Finalmente, a adoração a animais é muito rara nas sociedades totêmicas, ocorrendo também em culturas não totêmicas. Dessa maneira, conforme alguns estudiosos têm concluído, a religião de Israel, conforme a mesma transparece no volume do Antigo Testamento, não retinha o menor vislumbre de totemismo. Os antropólogos têm demolido, para todos os efeitos práticos, o totemismo como um complexo cultural. Antes, seria apenas instâncias específicas de relações entre os homens e os objetos existentes em seu meio ambiente natural. No entanto, os antropólogos soviéticos continuam defendendo a tese do totemismo como se correspondesse a uma realidade objetiva. Os antropólogos ocidentais, por sua vez, retrucam que essa posição só é possível com base na metodologia marxista. Ver sobre Religiões Primitivas. O vocábulo totemismo deriva-se da palavra do idioma ameríndio ojibwa, ototeman, "parentesco fraternal". No seu uso comunitário; essa palavra referia-se a objetos como plantas, animais e outros objetos naturais que, segundo aqueles ameríndios acreditavam tinham significação para sua tribo. Todos eles estavam relacionados a laços ancestrais, e eram coisas importantes para o clã, a família e a sociedade em geral, conforme dá a entender o vocábulo básico, literal. Muitas pessoas pensam no poste totêmico quando ouvem essa palavra amerindia. Mas esse poste era apenas uma forma particular de totemismo. Tal poste era usualmente feito de cedro, talvez com quinze metros de altura, esculpido e pintado com figuras de importância espiritual para a tribo em questão. Geralmente era fincado próximo de onde residiam os membros da tribo, e servia de elemento unificador, como uma espécie de memorial dos mortos. Os ameríndios da porção noroeste da América do Norte eram aqueles que cultivavam essa forma de totemismo. De mistura com o totemismo havia o temor e a adoração aos espíritos, a adoração e o profundo respeito pelos animais, e o profundo respeito ou mesmo adoração pelos ancestrais mortos. O sistema incluia códigos que governavam os principais aspectos da vida diária, como casamento, suprimento alimentar, proteção, ideais e práticas religiosas. Talvez devamos incluir nessa categoria totêmica os "muiraquitãs" da região do médio rio Amazonas. Esses pequenos objetos, feitos de jade, em forma de rã, atualmente são um artigo de museu, conforme se vê, por exemplo, no Museu Goeldi, de Belém do Pará. Para os índios da região do rio Nhamundá e adjacências, esses pequenos objetos, de cerca de 5 cm de comprimento por 2 em de largura, representavam ancestrais. Se serviam de objetos de culto ou de simples amuletos, não sabemos dizer. Mas é indiscutível que esses objetos apontam para uma origem asiática dos índios que residiam na região, pois japoneses, tibetanos e outros também representam os espíritos com formas de rã. Incidentalmente, isso serve de comprovação de que pelo menos algumas tribos brasilíndias são asiáticas, procedentes ou do Extremo Oriente ou das

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TOTEMISMO - TOYNBEE ilhas do Pacífico. É fato bem conhecido que os índios brasileiros não sabiam esculpir pedras. Portanto, os muiraquitás vieram de longe, do continente asiático, onde são comuns os objetos de jade.

básicos, sendo largamente usados em sacrifícios e na alimentação humana. Ver Lev. 11:3 ss. Várias das palavras hebraicas, usadas para designar esse animal, dão a idéia de força. Figuras de touros guardavam a entrada de casas, jardins e templos, e, supostamente teriam o poder de assustar espíritos malignos, uma atitude um tanto supersticiosa, semelhante àquela que diz respeito às ferraduras postas pouco acima da ombreira das portas. No templo de Salomão, o "mar de fundição" (bacia grande) era apoiado às costas de doze touros de bronze, três deles de frente para os quatro pontos cardeais. Ver o artigo sobre o "mar de fundição" e as referências em 11 Reis 25: 13 e I Reis 7:23. Os querubins, que guardavam o jardim do Éden, correspondiam a esses touros.O touro era um dos principais animais oferecidos em sacrifício cruento, conforme o registro de Lev.4:9,16; Núm. 28 e29. Os animais oferecidos precisavam ser sem defeito e sem mácula, sem testículos esmigalhados (Lev. 22:24). O sangue das vítimas era posto sobre as pontas do altar, aspergido diante do véu e derramado à base do altar, ao passo que o resto do animal era queimado. Milhares de touros eram sacrificados anualmente (I Crô. 29:21). Ocasionalmente, touros eram adorados em Israel, como reflexo de um antigo costume egípcio (Êxo. 32; ver o artigo sobre o boi Àpis). Alguns intérpretes pensam que o ato de Aarão, quando do episódio do bezerro de ouro que foi adorado por Israel, teve a finalidade de relembrar ao povo como o poder de Deus os tirara do Egito; "mas essa interpretação parece por demais caridosa para com Aarão. O touro também era adorado como símbolo de Baal e Moloque. A importância desse animal como um símbolo, segundo foi visto na visão de Ezequiel, é assim destacada. Ver Eze. I e 10. Nos manuscritos do Novo Testamento, de acordo com um antigo simbolismo cristão, embora não bíblico, o touro representa o evangelho de Lucas. As riquezas e os touros. Na nação agrícola de Israel, as riquezas de um homem eram parcialmente medidas pelo número de cabeças de gado que ele possuía. Abraão era homem muito rico, e lemos que ele tinha grandes rebanhos de gado vacum e ovino (Gên. 24:35). Jó tinha quinhentas juntas de bois. Terminada a sua aflitiva prova, ele ficou ainda mais rico, e passou a possuir mil juntas desses animais. Em sua cobiça, Saul deixou de abater os bois dos amalequitas, e foi considerado culpado do pecado de desobediência (I Saro. 15:21 ss). Os touros e o trabalho pesado. Esses animais também eram empregados nas tarefas com arado e na eira, onde a palha era separada do cereal (I Reis 19: 19 e I Cor. 9:9). Usos Figurados: I. Pessoas impacientes agem como se fossem touros (lsa. 51:20). 2. Indivíduos maldosos, principalmente governantes e guerreiros, assemelham-se a touros, exibindo sua força e brutalidade (Jer. 31: 18; Sal. 22: 12). 3. Os sacrifícios de touros, no Antigo Testamento, eram um quadro do sacrifício expiatório de Cristo (Heb. 10:5 ss). Ver o artigo sobre Ofertas e Sacrificios.

TOTUMSIMUL Essa é uma expressão latina, onde totum significa «o todo", e simul quer dizer "ao mesmo tempo". Essa expressão foi introduzida no jargão filosófico por Boethius (vide), sendo empregada até os nossos próprios tempos. Significa "eternidade", ou pelo menos, serve de definição da noção de "eternidade", quando então serão cumpridas as expectações, e todas as coisas estiverem reunidas de forma harmônica. TOÚ No hebraico, «humildade", "depressão". Ele era levita coatita, antepassado do prófeta Samuel. Com esse nome, ele é mencionado exclusivamente em I Sam. I: 1. Interessante é que em I CrÔ. 6:26, seu nome é dado como Naate; e, em I Crô. 6:34 como Toa. Ele viveu em cerca de 1230 a.c. TOUPEIRAS Ver Isa. 2:20: "Naquele dia os homens lançarão às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos ..." Os estudiosos da Bíblia não estão certos quanto à identificação desse animal, que no hebraico chama-se chapharperah (conforme alguns têm procurado reconstituir a palavra). Tem sido sugerido até mesmo "cisne". A verdadeira toupeira, um animal insetívoro, da famflia Talpidae, não pode ser encontrada na Palestina, embora Isaías também não diga que os homens lançarão seus ídolos às toupeiras e aos morcegos, na Palestina. Contudo, na Palestina são comuns as mucuras, que acumulam detritos extraídos do solo, quando fazem seus ninhos subterrâneos. As toupeiras são roedoras de uma família especializada. Passam a maior parte de suas vidas enfumadas no subsolo, pelo que seus olhos praticamente desapareceram. Mas têm dentes gigantescos, que usam para escavar o chão. As mucuras da Palestina são bem menores que as da América do Sul, atingindo um máximo de 20 em de comprimento; e também são vegetarianas, alimentando-se de raízes, bulbos, etc. Isaías estava ensinando, dessa forma, a futilidade da idolatria. Os ídolos pertencem aos esconderijos das toupeiras e dos morcegos, tão inúteis que são. TOURO No hebraico, temos quatro palavras a ser consideradas, e no grego, uma: I. Abbir, poderoso., palavra que ocorre por seis vezes (por exemplo: Sal. 50:13; Jer, 50:1I). 2. Ben baqar; "filho do rebanho", expressão que aparece por trinta e três vezes, com o sentido de novilho (por exemplo, Jer. 52:20). 3. Par, "touro ". palavra que ocorre por noventa e sete vezes (para exemplificar: Êxo. 29:3,10-14; Lev. 4:4-21; Núm. 7:87,88; Eze. 46:11). 4. Shor; "boi ", palavra que aparece setenta e seis vezes (por exemplo: Jó21: 10; Lev. 4:10; 9:4; Núm. 15: lI; Deu. 15:19; 33:17; Osé. 12:1I). 5. Taúros, "touro", palavra grega que aparece por quatro vezes: Mal. 22:4; Atos 14:13; Heb. 9: 13 e 10:4 De acordo com a lei mosaica, esses animais eram limpos, podendo ser usados na alimentação humana. Eles tinham cascos fendidos e ruminavam, que eram os requisitos

TOYNBEE, ARNOLD Suas datas foram 1889-1975. Foi um historiador e filósofo da história, nascido na Inglaterra, em Londres. Educou-se em Oxford. Ensinou na London School of Economics. E, pelo espaço de quarenta anos, foi diretor do Royal Institute of Intemational Affairs. Idéias: 1. Em vez de estudar nações individuais, Toynbee pensava ser capaz de identificar vinte e uma "sociedades inteiras" na história do mundo. Em seguida, ele aplicava uma análise orgânica a esses agrupamentos sociais.

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TOYNBEE - TRABALHO Grandes ciclos, com um começo (nascimento) e um fim (morte) governariam o modus operandi da história. Esses ciclos formariam círculos concêntricos cada vez maiores, envolvendo um maior número de pessoas e povos. 2. Uma sociedade acha-se em estado de declínio quando deixa de corresponder aos desafios que precisa enfrentar, mas acha justificativas para essa falha e lança a culpa em outros, no tocante a seus problemas. 3. Uma sociedade hígida pode ser reconhecida por sua atitude de desafio a seus problemas, a par de um certo espírito de grandeza, com seu próprio poder e iniciativa. A essa atitude, Toynbee chamava de reação de uma sociedade que enfrenta corajosamente os seus problemas. 4. Essa reação sempre parte de uma minoria criativa, não sendo criada pela atividade das massas populares. Em uma sociedade hígida, pois, a minoria criativa, é respeitada pelas massas, ou, pelo menos, por uma "maioria transmiss iva", e recebe a permissão para continuar agindo. Porém, quando surge em cena o proletariado, e os chamados "governos populares" obtêm as rédeas do mando, são condenadas à extinção toda criatividade e reação diante dos problemas sociais, estabelecendo uma enorme inércia de repouso. É o que está sucedendo, cada vez mais claramente, nas sociedades socialistas, mormente no campo econômico. Escritos. A Study ofHistory (dez volumes); Ctvilizatian on Trial; The World and the West; Historian s Approach to Religion; Mankind and Mother Earth.

TR Abreviatura de Textus Receptus (vide). TRABALHADOR (Empregado, Mercenário) Em Israel havia dois tipos de trabalhadores contratados: I. aqueles que eram contratados em países estrangeiros, para ajudar na agricultura ou para servir no exército, conforme se vê em Isa. 16: 14. Alguns deles, sendo preguiçosos e negligentes, obtiveram a reputação de serem inadequados para seu serviço (ler. 46:21), realizando um serviço que ficava aquém do dinheiro que recebiam (Jó 7: I ss). Em tais casos, eles eram mercenários, pois essa palavra indica alguém que trabalha somente em função do dinheiro, sem qualquer outra motivação. Todavia, pessoas pertencentes a essa classe também eram exploradas, segundo se vê em Mal. 15. Davi valeu-se de mercenários de várias categorias, para fortalecer o seu reino (11 Sam. 8: 18). 2. Também havia os que trabalhavam na agricultura que tinham, geralmente, um nível de vida muito baixo (lsa. 5:8). Muitos deles terminavam escravos a fim de saldarem suas dívidas ( I Reis 4:1). Um isr~elita que precisasse vender-se a um seu compatriota assumia o papel de empregado, e tinha de ser libertado no ano de Jubileu (ver Lev. 25:39-55). Várias leis levíticas protegiam-nos, até certo ponto. Ver Lev. 18:13 e comparar com Deu. 24:14,15. Em certo período de sua vida, Jacó foi um empregado, sujeito aos caprichos de seu futuro e então real sogro. Os dois contratos feitos por ele tipificavam bem os códigos de ética que cercavam esse tipo de serviço (ver Gên. 19). Um mercenário era um trabalhador contratado por tempo limitado (Jó 7: 1; Mar. I :20), contrastando com um trabalhador permanente. Um trabalhador temporário, geralmente, era tentado a servir mal, visto que sabia que não contava com um trabalho permanente. Isso parece refletir-se em João 10, 12,13, na ilustração de Jesus sobre um mercenário, que somente queria dinheiro e um pastor,

que se preocupava com o bem estar das ovelhas. Isso provê uma lição espiritual sobre os tipos de lideres espirituais que existem. Provavelmente, Jesus quis ilustrar o auto interesse dos líderes religiosos que se opunham ao Messias. Só eram religiosos por causa do que assim podiam ganhar. A parábola sobre o reino dos céus (ver Mal. 20:1-16), deixa claro que os trabalhadores eram contratados em base diária, sendo pagos no fim de cada dia, conforme a lei requeria (Deu. 24:14, 15). Até hoje, no Oriente Médio, essa prática continua.

TRABALHO, DIGNIDADE E ÉTICA DE I. A Nobreza do Trabalho 1. Paulo foi o exemplo supremo do fato (ver 1 Cor. 15: lO). 2. As boas obras estão predestinadas e fazem parte da missão de cada crente (ver Efé, 2:10). 3. Elas contribuem para o caráter ímpar do indivíduo e fazem parte integrante de sua missão especial. 4. O próprio Jesus nos deu um exemplo de zelo (ver João 2: 17). Os bons exemplos emulam outros às ações nobres (ver 11 Cor. 9:2 e Rom. 1:59). 11. Definições 11 Tes. 3: 8: nem comemos de graça o pão de ninguém. antes com labor e fadiga trabalhávamos noite e dia para não sermos pesados a nenhum de vós. Este versículo é equivalente virtual ao trecho de I Tes. 2:9. Labor. No grego é kopos, que significa "tribulação", "dificuldade", indicando um "labor" extremado. Essa palavra também significa "golpe" ou "pancada", e a sua forma verbal significa "cansar-se" (em uma forma), e "bater", "espancar" (em outra forma). Por conseguinte, está em foco um labor cansativo, um trabalho diligente e zeloso. Fadiga. No grego é mochthos, que significa labor, esforço. A sua forma verbal é mochtheo, que significa "cansar-se de trabalho". Uma vez mais Paulo enfatiza a natureza extremada de seu labor, o que ele poderia ter evitado se ao menos quisesse explorar seus legítimos direitos que, como apóstolo, tinha de "viver do evangelho". De noite e de dia. Paulo trabalhava no Evangelho tão inten-samente quanto labutava para ganhar o sustento diário, como se tivesse dois empregos de tempo integral. Era forçado a trabalhar tanto de noite como durante o dia, a fim de que pudesse devotar o tempo necessário ao trabalho ministerial. Cria não apenas nos bons resultados da diligência, mas também na "disciplina moral do trabalho". Isso está de conformidade com os melhores pensamentos judaicos sobre o período: "Aquele que possui um oficio é como uma vinha cercada, onde nenhuma cabeça de gado pode entrar" (Gamaliel, 11, Kiddusch, Ui). IH. Uma Citação Notável "Mais bem-aventurado é dar que receber" (Atos 20:35). E deveras notório que essa passagem de Atos 20:35 seja uma das raríssimas vezes em que Paulo citou o Senhor Jesus, sendo significativo que ele o tenha feito nesse contexto. Ora, isso serve para mostrar quão profundos eram os sentimentos de Paulo sobre essa questão. O nono capítulo da primeira epístola aos Coríntios serve de expansão sobre toda essa questão; e o volume do material paulino, devotado a essa questão, mostra-nos quão profundos e radicais eram os sentimentos do apóstolo sobre o tema. IV. A Ética do Trabalho Este versiculo pode ser comparado com a instrutiva

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TRABALHO - TRÁCIA declaração de Maimonides, que descreve as atitudes dos antigos doutores judeus (ver Hilchot Mattanot Anayim, capo 10, seção 18): "Se um homem é sábio, honrado e pobre, que se empregue em algum oficio ou negócio, embora não excelente, para que não angustie aos homens (sendo pesado para eles). É melhor tirar a pele de animais que foram despedaçados do que dizer às pessoas: Sou um sacerdote. Cuidai de mim e me sustentai. Assim têm ordenado os sábios. E alguns dos maiores mestres têm sido lenhadores, carregadores de madeira e carregadores de água para os jardins, têm trabalhado com ferro ou com carvão, e não têm exigido coisa alguma de suas congregações; e nem mesmo aceitaram qualquer coisa de suas congregações, até mesmo quando estas quiseram dar-lhes algo". (Ver 11 Cor. 11:9 no NTI que é um vs. similar a este, em seu conteúdo, e onde são dadas notas expositivas adicionais que ilustram o presente texto). Portanto, Paulo continuou a praticar essa regra em Corinto, que talvez tenha iniciado ou continuado em Tessalônica. Temos mesmo razão para crer que Paulo sempre viveu desse modo. Além de se mostrar ansioso por ganhar seu próprio sustento, em face de sua crença no valor do labor e da independência pessoais, Paulo também queria evitar quaisquer criticas, como se estivesse atrás dos bens alheios, com propósitos egoistas. Acima de tudo, não queria que se dissesse a seu respeito que ~se era o motivo "por que" ele se encontrava no ministério. E fato entristecedor que muitos crentes se enriquecem no ministério, porquanto fazem disso uma profissão. "Sou um trabalhador autêntico: ganho o que como, adquiro o que visto, não devo ódio a ninguém, não invejo a felicidadede nenhum homem, alegro-me diante do bem de outros." (Shakespeare). "Não existem riquezas verdadeiras exceto no labor do homem. Se as montanhas fossem de ouro e os vales de prata, o mundo nem por isso ficaria rico em um único grão de trigo; nenhum conforto seria adicionado à raça humana". (Percy B. Shelley). " ... digno é o trabalhador do seu salário" (Luc. 10:7).

TRAÇA No hebraico, asb. No Antigo Testamento, essa palavra ocorre por sete vezes: Jó 4:19; 13:28; 27:18; Sal. 39:11; Isa. 50:9; 51:8; Osé. 5:12. No grego, sés. Ver Mar. 6:19,20; Luc. 12:33. Em todas essas ocorrências, menos uma, a alusão a esse inseto indica a traça que ataca os tecidos e as vestes das pessoas. Devemo-nos lembrar que, nas antigas culturas, o vestuário fazia parte importante dos bens materiais de uma pessoa, razão pela qual um ataque às vestes, por parte das traças, era uma questão muito séria. A traça ataca as roupas quando ainda se encontra no estado larvar. Há muitas espécies de borboletas e traças, na Palestina, que não são mencionadas nas Escrituras. Mas a espécie de traça cujo nome científico é Tineidae , é a responsável por essa destruição de tecidos, penas, couros, etc., o que vem acontecendo desde tempos imemoriais, Pouco depois de emergir de dentro da pupa, as traças fêmeas depositam seus ovos entre os tecidos e outros materiais. As larvas constroem uma "casa" em formato típico, feito de ciscos, forrada de material sedoso. E, então, só com a parte anterior do corpo para o lado de fora puxam a "casa" atrás. As roupas tornam-se a sua alimentação, até estarem prontas e passarem para o estágio adulto. Uso Figurado A traça é um minúsculo inseto, mas pode causar muito

dano, visto que atua sem ser notada, durante longo tempo. Jesus referiu-se a esse inseto como uma daquelas forças destruidoras que podem aniquilar a riqueza material de um indivíduo; e ele deixou mesmo subendendido que tal destruição é inevitável, afinal de contas. Isso posto, é demonstração de sabedoria, da parte dos homens, buscarem para si riquezas que estão fora do alcance dessas forças fisicas destrutivas, ou seja, as riquezas espirituais. "... ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam..."(Mar. 6:20). Aqueles que condenam os justos estão sujeitos aos poderes dílapidadores de Deus. Esses acusadores sofrerão a vingança divina. Esse ato divino é assemelhado a uma traça que rói uma peça de roupa. Ver Isa. 50:9; 51:8 o estado precário do ser humano, neste mundo, é ilustrado pelo trabalho roedor das traças (ver Jó. 4: 19). Os hipócritas edificam suas casas como se fossem traças; e, aparentemente, isso indica algo extremamente frágil (ver Jó 27:18), embora esse texto seja controvertido quanto ao seu significado. Assim, há traduções que dão a impressão de que está em pauta a teia de uma aranha, e não a "casa" de uma traça.

TRÁCIA 1. Nome. Esta palavra parece estar relacionada ao grego threskos, que tem o significado de "pio", "culto religioso" ou "cerimonioso" (em culto religioso). A palavra não se encontra na Bíblia, mas poderia ter estado entre aquelas regiões européias evangelizadas por Paulo.' 2. Localização. A antiga Trácia ocupava a parte orientaI da península dos Balcãs, com a Ilíria ao ocidente. Esse território é mencionado em Rom. 15: 19 e era uma fronteira ocidental do mundo oriental nos dias de Paulo. A Trácia e a l1íria ocupavam regiões que hoje são as modernas Iugoslávia e Albãnia. Ambas eram limítrofes com o sudoeste pelo mar Negro. Ver separadamente o artigo sobre o Ilirico. 3. Idioma. O antigo idioma daquela área certamente era o indo-europeu, idioma afim do moderno albanês. O termo Trácia-Ilírico designa uma subfamília das línguas indo-européias. 4. Cultura. Embora a arqueologia tenha demonstrado que o povo daquela área cultivasse poesia e música significativa, em sua maior parte, as evidências antigas revelam sua reputação de ser selvagens, participando de sacrificios humanos, mortes bárbaras, tatuagens e mutilações ridículas no corpo, além de atos violentos de bebedeira e embriaguez. Participavam de formas pagãs de culto, inclusive aquele de Dionísio, o deus da orgia. As tribos desse povo eram divididas em monarquias triviais. 5. Algumas Notas Históricas. a. A história muito antiga da área permanece obscura. b. Os gregos estabeleceram colônias naquele território antes de 700 a.C. Desenvolveram ali a mineração como sua indústria principal. c. Os trácios foram ferozes e bravos soldados, e os gregos se deleitavam em empregá-los como mercenários em seus exércitos. d. Os persas (cerca de 400 a.C.) levaram este povo à derrota. A Trácia, para defender-se contra esse novo poder, teve de unir todas suas tribos. Entretanto, tendo sido derrotada, recuou à falta de unidade tribal. e. Em cerca de 342 a.c., os gregos prevaleceram, e subseqüentemente Alexandre empregou os ferozes trácios em seu exército. f Roma prevaleceu mais ou menos em 28 a.C. através dos esforços de M. Crasso. Rebelavam-se constantemente, fazendo com que os romanos enfrentassem tempos dificeis. Entretanto, os romanos persistiram

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TRÁCIA - TRADIÇÃO e, finalmente, transformaram a Trácia numa província romana que manteve certo grau razoável de unidade e paz. TRACONITES I. Nome. Este é o nome grego para "acidentado", "íngreme", à luz do fato de ser a área uma região montanhosa. 2. Localização. Era a região que continha os tracones, ou conjuntos pedregosos (lava) de terra que se assemelhavam a "tempestades de granizo", tão selvagens e pontudos se mostravam. Os árabes os chamavam waar, significando uma área ou porção pedregosa. Havia duas formações chamadas Lejá e Safá, que ficavam ao sudeste de Damasco, a cerca de 40 km de distância. A área situavase diretamente ao oriente de Cesaréia de Filipe. A região constava, naturalmente, dos Tracones e das áreas adjacentes. Strabo (Hist. vi.2, 20) descreveu a área como "os assim chamados dois Tracones, que ficam atrás de Damasco - o Lejá e o Safá". A região de Argobe (Deu. 3:4), dentro dos domínios de Ogue, rei de Basã, incluía uma parte dessa região selvagem. Josefo (Ant. 16: 1, 27 ss.) falou dos habitantes das áreas como "predadores", 3. Referências Bíblicas. Luc. 3:1 é o único lugar na Bíblia em que se menciona Traconites de forma específica. Esse versículo mostra que os Herodes ainda exerciam autoridade fora da Judéia, depois da morte de Herodes, o Grande. Herodes Antipas, filho mais novo de Herodes, o Grande, governou a Galiléia e a Peréia. Filipe (Herodes Filipe lI), geralmente denominado Filipe, o Tetrarca, filho de Herodes, o Grande, e de Cleópatra de Jerusalém, governou as áreas de Gaulonite, Traconites, Batanéia e Panéia, a leste da Galiléia. Como se pode ver, Traconites era apenas uma pequena parte da tetrarquia de Filipe. Para mais informações, ver a exposição de Luc. 3: 1 no Novo Testamento Interpretado. 4. Identificação Moderna. Essa área corresponde aproximadamente a al-Laja, um platô de cerca de 900 km-, área de lava de estratos, solo tênue no topo e desolação geral. Foi sempre esparsamente povoada e propícia à prática da vilania. TRADIÇÃO, TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS I. Definições lI. Sobre os Vizinhos de Israel m. Tradição e o Antigo Testamento IV. Tradição e o Novo Testamento v. Luz dos Rolos do Mar Morto VI. Tradição no Judaísmo Posterior e ho Cristianismo I. Definições O significado das palavras assim traduzidas, como a palavra grega pardosis, é "transmissão", que pode ser de um corpo de ensinamentos ou idéias "apresentadas" a um povo, por escrito ou oralmente. Tradição é um acúmulo de idéias, histórias, ensinamentos, leis etc., que assumem algum tipo de autoridade ou, em alguns casos, contradizem autoridades posteriores consolidadas por escrito. "O que é disseminado" é uma tradição, como os ensinamentos de Paulo (Il Tes. 3.6). Os judeus posteriores acreditavam que a Tora tenha começado com tradições orais que foram escritas por Moisés. As tradições podiam consolidar ou expandir corpo de ensinamentos já existente, adicionando detalhes e avançando em novos campos de pensamento. A expressão, por si mesma, não é necessariamente positiva nem negativa. As tradições são uma coisa ou outra, interpretadas de um jeito ou de outro por causa das crenças de uma pessoa.

1. No latim, traditio, que significa "transmissão", tanto o repasse oral daqueles que vieram antes quanto a disseminação escrita. Uma transmissão oral é de um corpo de crenças, costumes, leis, preservado pelos ancestrais de um povo, sem documentos escritos. 2. Às vezes transferida do passado, uma cultura herdada, com todas as suas ramificações. 3. Entrejudeus, um código não escrito de lei dado por Deus a Moisés para o bem de Israel, o qual passou a ser escrito, por fim, mas nunca foi registrado por completo e tem uma autoridade bastante separada do registro escrito. 4. Entre cristãos, o corpo de doutrinas e disciplina promovido por Cristo e seus apóstolos, parte do qual, em um momento posterior, foi preservado de forma escrita. De acordo com alguns cristãos, adições podem ter sido feitas através dos escritos e das idéias dos pais da igreja, e esse material tomou-se uma autoridade adicional para a crença cristã. 11. Sobre os Vizinhos de Israel Há evidências em descobertas arqueológicas, já no período neolítico, do acúmulo de crenças, leis e costumes, que começaram na forma oral e foram solidificadas na forma escrita. Culturas antigas do Oriente Próximo atribuíram suas tradições aos deuses que eram seus líderes e patriarcas. Assim, foi criada uma obrigação de seguir regras e idéias do passado que presumivelmente eram divinas, exatamente como aconteceu aos hebreus. As tradições acumuladas e registradas por escrito foram encontradas entre os sumérios, os elamitas, os babilônios e os cananeus. 111.Tradição e o Antigo Testamento A redução da Tora (ver o artigo) apenas dos escritos de Moisés foi uma doutrina estranha aos próprios judeus, embora comum aos intérpretes cristãos. Primeiro, presumia-se que a verdadeira fonte é divina e que, no sentido amplo, tudo o que significa o judaísmo é uma tradição que vai além de qualquer corpo de escritos. Na tradição dos rabinos, a Tora conota o código escrito, mais interpretação, registrado em 613 preceitos. Esses conceitos, contudo, tocam apenas na vastidão da Mente Divina, e o modo judeu de viver é um toque mais amplo nessa vastidão. O modo judeu é estabelecido na idéia dos Pactos, de forma que eles também eram trazidos à definição ampla da Tora, derivando daí o significado de tradição para os hebreus judeus. Os críticos claramente presumem que as tradições hebraicas e judaicas tomavam empréstimos de forma um tanto liberal de outras culturas situadas por perto, e é verdade que as antigas histórias de criação, dilúvio etc. têm paralelos significativos. É provável que tanto os hebreus quanto os vizinhos de Israel repousassem suas crenças parcialmente em tradições antigas adaptadas para ajustar-se às idéias teológicas que passaram a ter autoridade em cada cultura. Todas essas culturas presumiam que havia revelação divina por trás de suas tradições e documentos escritos autoritários, como indicado na seção 11. Os conservadores naturalmente negam todo sincretismo com outras culturas, mas essa é uma tese muito difícil de sustentar diante das descobertas arqueológicas. As tradições hebraicas e judaicas foram primeiro retidas oralmente no Mishna, então no Talmude, que uniu esses escritos com o Gemara, naquilo que hoje é conhecido como Talmude. Ver os artigos sobre o Mishna, Gemara e Talmude para maiores detalhes. IV. Tradição e o Novo Testamento Cristãos conservadores que estudam apenas a Bíblia

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TRADIÇÃO - TRADIÇÃO CATÓLICA ROMANA não têm ciência da grande influência dos trabalhos apócrifos e pseudepígrafos (do período entre o Antigo e Novo Testamento) no Novo Testamento. Ver os artigos sobre Livros Apócrifos e Pseudepígrafos. Ver particularmente sobre Enoque Etíope (I Enoque). Há nesses livros material suficiente para ilustrar a tese de que o judaísmo do período teve influência no Novo Testamento, não meramente o judaísmo do Antigo Testamento. Então, não devemos esquecer a tradição rabínica escrita, que naturalmente teria influenciado as idéias dos autores do Novo Testamento. Embora houvesse aquilo que é chamado de "peso morto da ortodoxia" que Jesus e seus apóstolos combatiam, havia muito ainda que era aceito no cristianismo geral. Ver Mat. 15.2 para detalhes sobre a "tradição dos anciãos" que trata da lei que exigia a lavagem das mãos de uma pessoa antes que ela pudesse comer. Essa não era uma lei particularmente dedicada à higiene. Relacionavase a idéias de poluição e pureza ritual. Ver uma explicação completa no Novo Testamento Interpretado na referência dada. A expressão Tradição dos Anciãos refere-se à interpretação oral e escrita da lei de Moisés, mais tarde codificada na Mishna (Misna), então no Talmude, que combina esse trabalho como Gemara. Todas essas tradições foram trazidas à forma escrita até o final do quinto século D. e. As tradições se aplicavam a quase todas as situações que um homem enfrentaria em sua vida diária, portanto havia enorme peso das leis a seguir que agradavam a mente do judeu, mas não eram tão agradáveis à mente cristã posterior, que era universalizada. A lei da lavagem era muito complexa, e os judeus davam grande atenção a coisas tão triviais, enquanto negligenciavam os materiais mais "pesados" da lei. Honrar pai e mãe era uma verdadeira lei que eles haviam transgredido (Mal. 15.4). Era possível "transgredir" a lei de Deus ao insistir em questões secundárias ou supérfluas, e os ensinamentos de Jesus demonstram isso. Para maiores detalhes, ver a exposição da passagem geral no trabalho referido acima. Observe como Jesus chama tais tradições: "tradições dos homens" (Mar. 7.8). Esse versículo refere-se às "lavagens" sem fim dos judeus, de potes, copos etc., que tinham os mesmos propósitos que a cerimônia da lavagem. Observe a forte critica em I Ped. 1.18, onde tais coisas são chamadas de "costumes fúteis" herdados dos pais. Claro, o judaísmo ritual atrofiou-se depois da destruição de Jerusalém, em 70 D. C., e o judaísmo da Diáspora era tanto liberalizado como também muitas vezes paganizado. Não obstante, a elaboração do Talmude naquele período (que naturalmente incorporou as antigas tradições do período A. C.) tinha como objetivo colocar uma cerca ao redor do judaísmo para protegê-lo contra uma paganização exagerada.

v. Luz dos Rolos do Mar Morto

Vários manuscritos desse achado ilustram os mesmos tipos de refinamentos da lei mosaica encontrados no Antigo Testamento: instruções detalhadas sobre ofertas, lavagens rituais e outros costumes que tocavam a experiência humana de modo geral. O propósito de tais instruções era 1. proteger o judaísmo do paganismo; 2. Preservar, se possível, uma linhagem pura do judaísmo em face do crescente sincretismo.

VI. Tradição no Judaísmo Posterior e no Cristianismo Muito do judaísmo foi simplesmente "engolido" por filosofias e teologias posteriores, mas o Talmude era uma força permanente. À medida que o criticismo bíblico ganhava terreno e balançava a fé judaíca nos "documentos

originais", o Talmude e muitas de suas tradições eram considerados um guia para a fé e a prática mais puro e melhor até mesmo do que o próprio Antigo Testamento. Enquanto isso, no cristianismo, uma nova autoridade cresceu, os dizeres e os escritos dos pais da igreja dos primeiros quatro séculos d.e. Portanto, podemos dizer, de forma inexata, que o corpo de interpretação era um tipo de Talmude Cristão. Isso pode ser inexato, mas certamente não sem paralelos ou sem significado. A igreja ocidental (latina) também adotou certos rituais judeus, enquanto a oriental se inclinou mais ao sincretismo do evangelho com o platonismo. Tal generalização fala a verdade, mas não toda a verdade. A Igreja Ortodoxa Russa, por exemplo, ficou bastante judaica em sua metodologia ritual. Na reforma protestante, Lutero assumiu uma posição um tanto moderada, não rejeitando as tradições como um corpo do qual há muito o que ser aprendido, mas colocando a B íblia acima delas a tal ponto que ela fosse sua única verdadeira autoridade. Logicamente, essa posição ignorava o fato de que a própria Bíblia incorporou tradições, pois não nasceu de um vácuo. Calvino foi mais radical em sua rejeição às tradições judaicas, mas através de interpretações rígidas e da predestinação radical, criou sua própria tradição "de denominação". Muito de sua teologia era unipolar, representando uma linha de ensinamentos bíblicos e torcendo outras. Tradições de Denominações. Embora proclamassem muito alto sua doutrina de "Escrituras apenas", as denominações, através de suas interpretações específicas de passagens da Bíblia, criaram sua própria tradição. O leitor deve ver dois artigos na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia se desejar aumentar seu conhecimento sobre a questão das tradições cristãs e das tradições de denominações: Tradição Cristã e Tradição e as Escrituras. Ver também sobre Autoridade, que tem materiais relacionados. Cada denominação, confessando ou não, seu próprio Talmude através de seu corpo de interpretações das Escrituras que contradiz os Talmudes de outras denominações. O artigo sobre Tradições dos Homens examina a situação de gnósticos iniciais e suas tradições que se propagaram na igreja primitiva. TRADIÇÃO CATÓLICA ROMANA Ver também sobre Tradicionalismo e Tradição Cristã. Os grupos protestantes e evangélicos têm promovido a regra das "Escrituras somente", como autoridade em assuntos de doutrina e prática cristãs. Na verdade, porém, todas as denominações cristãs perpetuam tradições sob a forma de "interpretações" das Escrituras; e, ocasionalmente, fazem-no sobre a base da razão somente, conforme se dá no caso da doutrina da idade da responsabilidade das crianças. Não há qualquer doutrina bíblica nesse sentido, mas para muitos trata-se de uma verdade evangélica. Ver o artigo Infantes, Morte e Salvação dos. Acresça-se a isso que os grupos protestantes, que são uma fragmentação da Igreja Ocidental, em sua maior parte preservaram a abordagem teológica (tradícional) da Igreja Católica Romana, como uma tentativa de eliminar vários abusos óbvios. Os católicos romanos simplesmente confessam que parte de sua autoridade (vide) consiste em pontos tradicionais. Essas tradições consistem na súmula de alegadas verdades reveladas, pertinentes à fé e à moral, mas que não são especificamente descritas na Bíblia. A Igreja (em seus primeiros pais, concílios e decretos papais) é considerada a fonte originária desse material tradicional. Desse modo, o catolicismo romano crê que a Igreja não é

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TRADIÇÃO CATÓLICA ROMANA - TRADIÇÃO CRISTÃ apenas a receptora das revelações divinas, mas também uma criadora e transmissora dessas revelações. Isso equivale a dizer que as tradições são ali tidas como outra fonte de revelação e autoridade, lado a lado com as Escrituras. Naturalmente, a autoridade precisa incluir mais elementos que as Escrituras, conforme procura mostrar no artigo sobre esse assunto. Mas o catolicismo romano complica a questão com sua insistência sobre a tnfalibtltdade da tradição. Todavia, se podemos crer na infalibilidade das Escrituras, não se pode dizer o mesmo sobre a infalibilidade das tradições, porquanto há tremendas incongruências nos dados que nos são fornecidos pelos escritos dos pais da Igreja, pelos decretos conciliares e pelas decisões papais. Além disso, sempre que usamos a palavra "infalível" para descrever outra coisa que não seja Deus, já temos algo que cheira idolatria. Não pode ser negado que as tradições são úteis para definir e informar, e que as mesmas contêm verdades de valor que vão além das Escrituras. Porém, atribuir infalibilidade a essa atividade e seus resultados é algo que não corresponde à realidade dos fatos, diante da investigação honesta. Entretanto, os homens, em sua preguiça mental, estão sempre dispostos a buscar conforto mental, e procuram evitar a necessidade de investigação, razão pela qual preferem aceitar as noções que lhes são expostas de forma dogmática. Essa aceitação passiva, porém, é ilusória. Nem por isso está destituída de valor a tradição eclesiástica. Se respeitamos nossaspróprias opiniões e interpretações, também devemos respeitar as opiniões e tradições das autoridades da Igreja, e a sabedoria acumulada que elas representam. TRADIÇÃO CRI8TÃ Este artigo tem por intuito suplementar dois outros, intítulados Tradição Católica Romana e Tradicionalismo. Procuramos aqui exprimir um sumário do conteúdo das tradições cristãs. E indiscutível que todas as denominações cristãs têm suas próprias tradições, que lhes servem de autoridade, em complemento ou acréscimo às Escrituras, embora algumas dessas denominações prefiram não reconhecer esse fato. A tradição faz parte integrante da Autoridade (vide). I. As próprias Escrituras Sagradas preservam várias tradições judaicas, sem falarmos em algumas tradições próprias da filosofia helênica, como é o caso da doutrina do Logos, ou do mundo platônico em dois níveis, conforme se vê na epístola aos Hebreus. Assim sendo, as tradições começam nas próprias Escrituras. E o termo, por si mesmo, não é contrário à verdade bíblica. Uma tradição oral, a respeito de Jesus e seus ensinamentos, antecedeu ao Novo Testamento Escrito. E isso permite-nos entender a declaração do autor sagrado: "Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, sej a por palavra, seja por epístola nossa" (11 Tes. 2: 15). 2. Terminado o período do Novo Testamento, surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem como o desenvolvimento dos mais antigos credos. Ver o artigo Credos. Esses credos serviram para limitar e sistematizar as Escrituras (eliminando outras passagens bíblicas que não pudessem ser integradas nos sistemas então emergentes). Na verdade, esses credos foram teologias sistemáticas incipientes, sobre as quais as denominações cristãs atualmente repousam. 3. Os concílios eclesiásticos manipularam esses credos e lhes fizeram adições, apresentando interpretações das Escrituras, de onde se originaram tradições. 4. Regras de fé, interpretações bíblicas, raciocínios e

regras morais e práticas (nem todas elas de origem cristã) apareceram nos escritos dos pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes e Novaciano referira-se às suas regras de fé, que faziam parte de credos existentes ou não. 5.0 sincretismo. A medida que o cristianismo foi sendo difundido por diferentes áreas geográficas e culturas, foram sendo incorporados elementos de crenças e práticas locais, e isso também veio a constituir um elemento nas tradições emergentes, geralmente de natureza negativa. 6. As tradições católicas romanas são o supremo exemplo do entronizamento das tradições, às vezes prejudicando as Sagradas Escrituras, pois a e~sas tradições também se confere ali a aura de autoridade. E verdade que boa parte dessas tradições catól icas romanas tem um fundo bíblico; mas outra boa parte não passa de sincretismo. A isso devemos acrescentar os credos, os escritos dos pais, as decisões dos concllios e dos papas. Ajustificativa católica romana para as suas tradições, desde a formulação dos decretos do concílio de Trento (1545-1563), tem tomado a forma de afirmações de que as tradições orais formavam uma segunda e independente fonte informativa e doutrinária, que ocupava uma posição legítima, paralela às Escrituras. E alguns teólogos romanistas insistem que o conteúdo de suas tradições e das Escrituras é o mesmo em todos os pontos básicos, mas que as tradições adicionam pormenores necessários. Na verdade, porém, essa questão não é assim tão simples. 7. Para a Igreja Oriental, que aceita as tradições da Igreja ainda não-dividida (antes do cisma de 1054D.C.), as tradições são muito importantes, embora não tenham o mesmo valor que as Escrituras. A Igreja Oriental aceita as interpretações dos pais gregos da Igreja, as quais, quanto a certas questões (ao serem contrastadas com as dos pais da Igreja ocidental), têm-nos conferido algumas doutrinas distintas, como a da preexistência da alma e a oportunidade de salvação para além da morte biológica de cada indivíduo. Tais noções tornaram-se elementos das tradições orientais e repousam na interpretação bem como na influência exercida pelo platonismo, por meio dos escritos dos pais gregos. 8. A comunidade anglicana tem servido de posto intermediário entre o Oriente e o Ocidente. Seus Trinta e Nove Artigos (vide) servem de uma espécie de tradição oficial que define seus pontos distintivos. Ali as tradições são aceitas somente quando concordam com as Escrituras, com o apoio da Igreja não-dividida (concílios anteriores a 1054, quando o Oriente separou-se do Ocidente). 9. A Reforma Protestante (vide) presumivelmente fez a Igreja cristã retornar às "Escrituras somente". Mas, na verdade, grande parte das tradições ocidentais teve continuidade nos vários grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então novas tradições foram criadas, mediante credos rfgidos, que eram interpretações específicas das Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos bíblicos, além de torcerem outros ensinos bíblicos. Dessa atividade é que têm surgido as crenças das várias denominações, todas elas afirmando representar melhor o original cristão, conforme se vê no Novo Testamento. Mas, na realidade, são apenas tradições cristãs. O próprio Novo Testamento é por demais heterogêneo, quanto a alguns particulares, para que receba uma única interpretação ou possa ser sistematizado apenas de uma maneira. 10. Desenvolvimento doutrinário. Muitos teólogos modernos insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de que a verdade possa ser obtida em qualquer sentido

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TRADIÇÃO CRISTÃ - TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS ou grau significativo. Assim, as tradições sempre haveriam de emergir, somente para serem substituídas por outras, mais evoluídas, ad tnfinitum, O mormonismo defende essa doutrina, bem como muitos pensadores liberais; e aqueles que dão início a novas seitas, naturalmente valem-se da idéia. A Igreja Católica Romana defende certa variante dessa idéia, embora restringindo-a às suas próprias tradições, desenvolvidas em suas próprias fileiras. Tudo o mais é considerado espúrio. De acordo com esse ponto de vista, as tradições servem de veículo de evolução, não sendo contrárias à verdade, mesmo quando são claramente contrárias às Escrituras Sagradas, pois estas representariam apenas a fase inicial do cristianismo, que ficou obsoleto diante das tradições mais evoluídas. 11. A revolta contra a ortodoxia: as tradições liberais. Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos XIX e XX, os eruditos liberais e os criticos desenvolveram uma tradição toda própria que atualmente dispõe de uma imensa literatura, com muita teoria e documentação a escudá-Ia. Nessa tradição também avulta a metodologia científica e a insistência sobre as evidências empiricas. Uma larga faixa da Igreja cristã, tanto católica como protestante, tem sido influenciada por essa tradição modificadora. Um dos efeitos tem sido a minimização da fé nas tradições mais antigas, e a total rejeição do autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se das próprias Escrituras, se das mais antigas tradições, se dos concflios ou se dos decretos papais. Para esses estudiosos, o vício das tradições mais antigas é a sua inflexibilidade e o seu autoritarismo. Mas o vicio da tradição liberal é o ceticismo. 12. Os credos modernos. Esses credos funcionam de quatro maneiras diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas Escrituras são meramente declaradas e descritas. É nesse ponto que as várias denominações cristãs encontram o seu terreno comum, e é nesse ponto também que a autoridade das Escrituras se faz mais proeminente. b. Interpretações. Coisas que não são necessariamente claras, e, em certos casos, coisas que são repelentes para certas mentes, recebem interpretações apropriadas de indivíduos ou denominações que as provêem. Neste ponto, as denominações começam a emergir e a diversificar-se. c. Distorções. É patente que todas as denominações cristãs distorcem certos trechos bíblicos, para que se adaptem ao seu esquema das coisas. Assim, para exemplificar, os calvinistas distorcem versiculos sobre o livre-arbítrio, e os arminianos distorcem versículos sobre a predestinação. Nenhum desses dois grupos admite a noção de polaridade (vide). Essa atividade desonesta, que se faz presente em todas as denominações cristãs, aumenta ainda mais o número de tradições específicas. d. Omissões. Certas passagens ou versículos são simplesmente omitidos, conforme fazem os hiperdispensacionalistas que declaram que a maior parte do Novo Testamento não pertence à Igreja cristã, não servindo de autoridade quanto à doutrina cristã. A teologia ocidental omite qualquer explanação sã sobre o relato da descida de Cristo ao Hades ou sobre o mistério da vontade de Deus (ver 1 Ped. 3:18 - 4:6 e Efé. 1:9,10, respectivamente). E isso somente porque essas doutrinas bíblicas não se adaptam às suas noções preconcebidas do julgamento, das quais não querem abdicar, em favor de uma visão mais otimista do destino humano. A omissão é um dos fatores do desenvolvimento de tradições distintas, literárias, doutrinárias e organizacionais. J3. Crer não é provar; duvidar não é desprovar. Portanto, cumpre-nos "investigar". E um erro contar com um credo não-examinado, cegamente aceito, para efeito

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de conforto mental. Não há que duvidar que as tradições têm seu uso. Algumas vezes as tradições ultrapassam, legitimamente, as Escrituras, mas nem por isso deixam de ser menosverdadeiras.Por outro lado,com freqüência,essas tradições laboram em erro, adicionando elementos prejudiciais à fé e à prática Essas são as tradições que devemos repelir. TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS Versobre os artigos separados Escrituras e Autoridade. O alto respeito que algumas pessoas têm pelas Escrituras têm-nas levado a supor que a norma que diz "as Escrituras somente" é suficiente para a fé e a prática cristãs. Mas há outros cristãos que têm a convicção de que por maiores e mais importantes que sejam os escritos bíblicos, somente os dogmas humanos (e não as declarações das próprias Escrituras) podem conferir-nos a "única" autoridade em matéria religiosa. Meu artigo sobre a Autoridade aborda os raciocinios que circundam a questão. 1. O Problema da Autoridade As pessoas que creêm na norma das "Escrituras somente" acabam por ignorar o fato de que as próprias Escrituras podem ser sujeitadas a variegadas interpretações, de tal maneira que a realidade dos fatos seria expressa por algo como: "as Escrituras e como eu e minha denominação interpretam-nas". Dessa maneira, aquela regra toma-se subjetiva, e sua objetividade reside somente na arrogância e no exclusivismo de cada grupo denominacional. Aqueles que defendem essa posição também ignoram o fato de que as próprias Escrituras não são tão homogêneas como alguns esperariam. Posições doutrinárias diversas, até sobre questões importantes, podem derivar-se do apoio de diferentes textos de prova. Naturalmente, isso requer seleção e manuseio. Assim, podemos ensinar o determinismo ou o livre-arbitrio pelas Escrituras (pois ambas as doutrinas são biblicas). Também podemos ensinar uma doutrina do julgamento que concebe um inferno eterno, sem qualquer esperança para além do sepulcro, ou podemos ensinar uma visão de esperança e de restauração, com oportunidade de melhoria no próprio Hades, ou seja, após a morte fisica. No primeiro caso, podemos apelar para Heb. 9:27. No segundo caso, podemos apelar para o relato da descida de Cristo ao Hades, especialmente I Ped. 4:6, o versículo final do relato, como aplicação desse relato. Após escolhermos um lado ou outro, podemos distorcer ou ignorar os textos que parecem ensinar a posição oposta. Continuando a ilustrar,quando falamos sobre a salvação, podemos usar textos de prova como os dos evangelhos, que mostram estar envolvido o perdão dos pecados, com base na expiação pelo sangue de Cristo, e então, por ocasião da morte biológica, a transferência para uma existência melhor, no Céu. Ou então podemos examinar passagens paulinas, onde é ensinado que a salvação é uma evolução espiritual, mediante a qual vamos passando de um estágio de glória para outro. compartilhando cada vez mais da própria natureza de Cristo, em sua imagem e atributos (11 Cor. 3:18; Rom. 8:29), o que nos toma participes da natureza e da plenitude divinas (Efé.3: 19; Col. 2:9,10). E, apesar de podermos chamar os ensinos paulinos de superiores, é inegável que aquela concepção mais limitada da salvação, expressa nos evangelhos, é que predomina na prédica das igrejas protestantes e evangélicas, uma visão estreita em relação à soteriologia de Paulo. Quanto mais nos pomos a examinar essa questão, melhor percebemos que quando falamos em verdade e

TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS autoridade, apesar de precisarmos das Sagradas Escrituras como alicerce, também teremos de depender de outros meios de determinação da verdade. Se temos tão elevada consideração pelas nossas interpretações particulares das Escrituras, por que motivo não respeitamos as interpretações alheias, especialmente aquilo que os chamados "pais da Igreja" disseram e o que os vários concílios definiram. Apesar de ser ridículo esperar infalibilidade ali, é perfeitamente possível que os pais ou os concilios tenham podido interpretar melhor do que nós, nem que seja numa coisa ou em outra. As pessoas geralmente não tomam consciência do fato de que sua teologia é um sumário de noções teológicas, que segue alguma formulação histórica doutrinãria, e não uma representação completa e genuína dos ensinos bíblicos. As pessoas também geralmente ignoram que a teologia, tal como qualquer outro ramo do saber humano, é um empreendimento em desenvolvimento, e não uma realização já terminada. Desde a Reforma Protestante aos nossos dias, tem havido um nítido desenvolvimento doutrinário. Deus levantou Lutero para relembrar a basilar doutrina da "justificação pela fé". Calvino enfatizou a soberania absoluta do Senhor Deus", como também a "predestinação". Wesley encareceu a necessidade de "santidade". Outros grupos, como os batistas, estavam frisando a necessidade da "regeneração como condição ao batismo". Os grupos pentecostais, mais recentemente, têm frisado "o aspecto místico da experiência cristã". E certamente Deus continuará iluminando mentes e corações para que seu povo esteja devidamente preparado para o segundo advento de Cristo. Este co-autor e tradutor sugere a "tomada de consciência da unidade espiritual do povo de Deus", com a conseqüente desvalorização dos vínculos denominacionais. Opino que o Espírito de Deus efetuará esse "milagre" por meio da Grande Tribulação, quando somente os que são de Cristo rejeitarão lealdade ao Anticristo, e então os crentes reconhecerão, forço-samente, a sua unidade em Cristo. Ainda temos muito que aprender e avançar! 2. Manipulações Denominacionais A questão da tradição vem à tona, na presente discussão, porque todas as denominações são, na verdade, resultantes das tradições teológicas. Para exemplificar, as igrejas protestantes e evangélicas, excetuando alguns abusos, juntamente com a Igreja Católica Romana, representam a tradição teológica ocidental, fundamentada sobre as interpretações dos pais da Igreja Ocidental. No entanto, há a tradição da Igreja Oriental; e, em minha estima, quanto a alguns pontos, essa tradição teológica é superior à tradição teológica ocidental. Também podemos pensar na tradição anglicana, que procura combinar elementos do Ocidente e do Oriente, com algum sucesso em seus esforços por obter uma teologia mais completa e satisfatória. A grande verdade é que todos os sistemas teológicos envolvem idéias tradicionais, o que se evidencia mediante o estudo, apesar das negações movidas pela arrogância denominacional. 3. Tradições Usadas nos Evangelhos O prefácio do evangelho de Lucas alerta-nos para o fato de que estamos tratando com uma tradição oral e escrita que Lucas utilizou para compor o terceiro evangelho. Os eruditos liberais não crêem que essa tradição fosse isenta de erros, ou fosse absolutamente correta, historicamente falando. Seja como for, desde o começo temos que levar em conta uma tradição cristã, que se manifesta nos próprios evangelhos. Outrossim, por

detrás dos evangelhos havia as tradições judaicas, não somente aquelas registradas no Antigo Testamento, mas também aquelas dos livros apócrifos e pseudepígrafos. A verdade é que o Novo Testamento inspirou várias idéias desses citados livros, apesar de não citá-los diretamente. Além disso, no próprio Novo Testamento encontramos tradições que continuam sendo transmitidas. Os estudiosos conservadores afirmam que o Espírito Santo preserva essas tradições (até mesmo aquelas que foram incorporadas) de qualquer erro. Mas os liberais julgam poder encontrar provas em contrário, Seja como for, é patente que não podemos estabelecer clara distinção entre Escrituras e tradições, conforme fazem os ingênuos; e isso porque as mesmas Escrituras nos transmitiram tradições. Se essas tradições não envolvem erros já constitui outro problema. E discuti sobre isso no artigo intitulado Escrituras, na parte que trata sobre a questão da inspiração divina. 4. Tradições Pós-Neotestamentárias As vidas de Jesus e seus apóstolos inspiraram a escrita de muitos livros que apareceram, os quais seguiam o tipo de literatura que figura no Novo Testamento, tendo sido publicados evangelhos, atos, epístolas e apocalipses. A maior parte desse material foi produzida por grupos heréticos (especialmente os gnósticos), incorporando muito material imaginãrio e fantástico. Não obstante, ali há algumas coisas de valor. Uma pequena porcentagem das narrativas acerca de Jesus e seus apóstolos pode exprimir a verdade. Algumas das declarações extracanônicas, atribuídas a Jesus, podem ser genuínas. Isso posto, encontramos ali tradições pós-neotestamentãrias que se revestem de algum valor, nem que seja para efeito de comparação. Ver os artigos intitulados Livros Apócrifos e Livros Pseudepígrafos, onde essas questões são ventiladas com maiores pormenores, e que envolvem o Novo Testamento. Naturalmente, aquelas tradições presas ao Antigo Testamento também precisam ser investigadas. 5. As Tradições dos Pais da Igreja Os antigos pais da Igreja interpretaram as Escrituras e criaram um considerável corpo de literatura. Suas interpretações tornaram-se tradições. E assim a Igreja ocidental veio a seguir os primeiros pais latinos da Igreja, sempreque surgiramdiferençasde opinião. Roma tomou-se um centro de autoridade, e as posições dos pais associados àquela capital vieram a ser uma fonte de tradições que se tomaram a herança das igrejas ocidentais. Porém, também houve as tradições criadas pelos pais da Igreja Oriental, sediados nos patriarcados de Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Jerusalém. Essa tradição oriental influenciou a Igreja Ortodoxa Oriental e a comunidade anglicana (esta última longe dali, nas ilhas britânicas). Contudo, é mais exato dizer-se que os anglicanos foram e continuam sendo uma ponte de ligação entre o Oriente e o Ocidente. As duas grandes tradições diferem no que concerne a pontos importantes como o ensino geral sobre a alma (o Ocidente aceitou o oriacionismo; o Oriente a preexistência da alma). Também diferem quanto à oportunidade das almas (o Ocidente limita essa oportunidade a antes da morte biológica; mas o Oriente assegura que a oportunidade de salvação prossegue no após-túmulo, dizendo que o Hades é um campo missionário, tal como sucede no plano terrestre). E assim, as denominações, tendo conhecimento ou não desses fatos, seguem tradições interpretativas, visto que o próprio Novo Testamento não se mostra homogêneo sobre alguns pontos importantes. As tradições dos pais da Igreja, pois, representam esforços de interpretação, e

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TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS - TRADICIONALISMO merecem pelo menos tanto respeito como as interpretações das atuais denominações cristãs, embora seja ridículo falar sobre inerrância interpretativa. 6. Recolhimento das Tradições nos Concílios Os concílios ecumênicos (vide) atuaram quais árbitros de doutrinas e tradições cristãs, e procuraram limitar os pontos de vista a alguma posição. O catolicismo romano caiu no erro de "canonizar" as deliberações desses concílios; e os grupos protestantes caíram no erro de não respeitá-Ias de modo suficiente, no afã de livrarem-se dos abusos ali contidos. Mas, na verdade, os credos de denominações ou igrejas particulares são minúsculas decisões conciliares, e que se mostram arrogantes o bastante para exigir conformidade com certas posições doutrinárias, sob a hipótese de que elas não encerram erros. O que geralmente não se reconhece é que há abusos e erros doutrinários tanto das decisões dos concilios como nesses "minús-culos concílios" denominacionais. Da mesma forma que é impossível separar a pessoa que percebe, mediante os seus sentidos, algum objeto fisico, de sua interpretação dessa percepção (pois vemos as coisas conforme somos, e não conforme as coisas realmente são), assim também é impossível separarmos as Escrituras do ato de interpretação das mesmas. Coletivamente falando, as interpretações tomam-se tradicionais, não havendo tal coisa como interpretação bíblica sem as tradições interpretativas. Uma tradição pode ser verdadeira ou falsa, e algumas vezes não podemos aquilatar isso com precisão. No entanto, a busca pela verdade é uma aventura, pelo que não nos deveríamos sentir perturbados diante da necessidade de continuarmos inquirindo. 7. As Denominações Giram em Torno de Tradições Organizadas Surpreende ver quão arrogantes são as denominações. Cada qual tem a certeza de que possui a melhor interpretação do Novo Testamento. Mas a verdade é que cada denominação é depositária de tradições interpretativas que contêm tanto a verdade como o erro. 8. Definição Católica Romana das Tradições da Igreja Deus dirige tudo quanto sucede na Igreja, que é o seu instrumento de salvação e transmissora da mensagem espiritual. "A palavra de Deus e os seus dons graciosos alcançam o homem através da prédica entregue à Igreja. O mistério de Cristo permanece presente na história porque há uma comunhão dos fiéis que, no processo vital da vida, transmite a doutrina, a adoração e a palavra de Deus" (R). Para os teólogos católicos romanos, isso é feito mediante a' assistência do Espírito Santo, que vai acompanhando as mutações da história, assim transmitindo e desenvolvendo em segurança as tradições, a cada geração por sua vez. Deus determinou que a Igreja fosse uma instituição de revelação continua, e não meramente que servisse de guardiã da revelação inicial, dada nas páginas do Novo Testamento. As tradições subsequentes não são consideradas infalíveis, embora merecedoras de respeito. Porém, as tradições interpretativas, dos concílios ecumênicos e dos pronunciamentos dos papas, são reputadas infalíveis, devido à agência orientadora do Espírito. Apesar das doutrinas básicas da tradição neotestamentária permanecerem as mesmas, o avanço da história requer maior iluminação e novas diretrizes. E essa é a necessidade suprida pelas decisões dos concílios e pelos pronunciamentos papais. Outras tradições podem ser de ajuda, mas não envolvem idêntica autoridade. As contradições porventura existentes nas tradições não

deveriam dividir a Igreja. A verdade precisa ir sendo continuamente definida em muitas áreas, e as definições são sempre limitadas. Opluralismo, na Igreja, não somente precisa ser tolerado, mas até mesmo precisa ser encorajado. TRADIÇÃO PROFÉTICA E A NOSS~ ÉPOCA Ver Profecia: Tradição da e a Nossa Epoca. Este artigo se localiza depois do artigo intitulado, Profecia, Profetas e Dom de Profecia. TRADICIONALISMO Ver os artigos intitulados Tradição Católica Romana

e Tradição (Cristã). 1.0 Tradicionalismo Como um Movimento. No século XVIII, surgiu uma teoria da história desenvolvida por membros da contra-revolução francesa e espanhola. As idéias desse movimento foram inspiradas (negativamente) pelo Iluminismo (vide) e por seu ponto culminante, que foi a Revolução Francesa. Seu grande ideal era a devolução à Igreja Católica Romana de sua absoluta autoridade, com base no raciocínio que o Iluminismo fora um equivoco, prejudicial aos homens. Esse movimento também ficou conhecido como Ultramontanismo (vide). 2. Joseph de Maistre argumentava contra os filósolos franceses, salientando como a Revolução Francesa trouxera a anarquia. Para ele, Deus é a autoridade real; mas, visto que ele não pode ser aquilatado pela razão, a obediência cega deveria ser a atitude dos homens, sob a forma de obediência à Igreja (que seria a única representante de Deus). 3. Roberto de Lamennais argumentava em favor das tradições transmitidas por meio da Igreja. O papado era exaltado por ele de forma extremada, a tal ponto que o papa Gregório XVI precisou condenar algumas idéias daquele pensador. 4. Louis de Bonald declarou que o Iluminismo fora em erro, afirmando que os homens devem sua lealdade ao papa e ao rei. 5. Louis Bautain promoveu uma forma exagerada de fideismo (vide), encontrando poucos motivos sólidos para a razão. 6. Juan Donoso Cortês foi um líder ultramontanista espanhol. Ele dizia que o catolicismo é a própria civilização e condenava a política secular. 7. As características gerais do tradicionalismo eclesiástico, católico romano ou não, são enfatizadas pelo tradicionalismo, acima da razão, como a fé cega, a obediência sem discussão, a incapacidade da razão e da interpretação individuais, a necessidade de uma autoridade central, a fé nas tradições criadas e transmitidas pela Igreja. 8. Os católicos romanos são tradicionalistas restritos, por confiarem somente em sua forma específica de tradições, conforme temos exposto no artigo intitulado Tradição Católica Romana. Os anglicanos, por sua vez, respeitam muito as tradições da Igreja ainda não dividida (antes dos vários cismas, começando por aquele de 1054, quando a Igreja Oriental separou-se da Igreja Ocidental). No entanto, a maioria dos anglicanos mantém uma atitude aberta acerca da inquirição pela verdade, motivo pelo qual rejeitam os aspectos negativos e impensados do tradicionalismo. E a Igreja Oriental, apesar de respeitar muito as tradições mormente as da Igreja não-dividida não as equipara com as Escrituras, como se tivessem o mesmo peso destas. Por sua vez, os protestantesfundamentaltstas usualmente são descritos, por outros grupos, como

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TRADIÇÕES DOS HOMENS - TRADUCIONISMO tradicionalistas. E outro tanto ocorre no caso da ortodoxia judaica, embora as bases das tradições desses dois agrupamentos até certo ponto difiram das bases do catolicismo romano. Assim, os protestantes fundamentalistas atuam mediante credos rígidos que se tomam, na realidade, tradições. Ali opera a seleção de interpretações das Escrituras, que confere às declarações de fé ou credos uma autoridade exagerada caracterizada pelo exclusivismo e pela inflexibilidade. Em muitos casos, essas tradições fundamentalistas pecam por omissão, com exclusão de certas verdades bíblicas. 9. Quanto às tradições cristãs ver Tradição (Cristã). TRADIÇOES DOS HOMENS I. Uma Situação Concreta Ver Col. 2:8. Parece que os mestres gnósticos afirmavam ter antiga autoridade para o seu sistema, tal como várias religiões misteriosas da antiguidade, totalmente, supunham que sua adoração tivesse sido fundada por algum deus. Assim também, até os nossos dias, é extremamente comum que até as mais recentes seitas digam estar alicerçadas sobre "tradições antigas", usando de argumentos fantásticos, que são mais provações da fé, inventadas para consubstanciar suas noções. Parece que os gnósticos tentavam aprimorar a "aceitação" de seu sistema, alicerçando-o sobre tradições supostamente antigas e dignas de confiança. Tudo isso, porém, é feito para evitar o aspecto de "novidade", pois poder-se-ia fazer a seguinte indagação ernbaraçadora: "onde estava Deus durante todo o tempo antes de começar essa seita?" A resposta dada, geralmente é: "Ele vinha edificando gradualmente, até que nos deu as revelações superiores que formam a base de nosso movimento". A "tradição" é que comprovaria isso, segundo dizem. Paulo contrasta tais tradições com a revelação dada por Cristo; as primeiras são humanas, e esta última é divina. As tradições, em Colossos, provavelmente também incluíam a mistura com tradições rabínicas, porque havia forte influência do judaísmo naquela doutrina. 11. Quando as Tradições são mais Poderosas que a Verdade 1. O tempo, a longo prazo, está do lado da verdade, mas, com freqüência, a curto prazo, as tradições parecem vitoriosas. 2. O pragmatismo religioso (o que é melhor para mim, agora mesmo?) retarda o avanço da verdade. 3. Novas idéias se revestem de certo aspecto de insensatez quando expostas pela primeira vez, e quase sempre uma nova idéia entra em conflito com a verdade antiga e supostamente bem firmada. 4. A verdade supostamente bem firmada necessariamente é "parcial", pois não sabemos tudo sobre coisa alguma. É perfeitamente possível, portanto, que uma nova verdade, que transcenda alguma verdade antiga, se assemelhe a uma inverdade. 5. Uma nova idéia surgiu em Jerusalém. Porém, havia tradições por demais firmadas para que os homens dali pudessem avançar. Jerusalém era a fortaleza do dogma. Novas verdades não podiam penetrar em suas muralhas. 6. As tradições perpetraram o ódio e a violência. Quão freqüentemente isso tem sido visto na história das religiões! 7. Sacudimos desolados a cabeça diante disso. Mas, em nosso próprio denominacionalismo, temos criado novas tradições, as quais servem de instrumento para que nos recusemos a investigar novas verdades. Nenhum

indivíduo, e por certo, nenhuma denominação, está isento de estagnar nos dogmas. Da covardia que teme novas verdades, Da preguiça que aceita meias verdades, Da arrogância que pensa conhecer toda a verdade, ó Senhor, livra-nos. (Arthur Ford) "Se alguém voltasse a sua atenção para as novidades de pensamento, durante o período de sua vida terrena, observaria que quase todas as idéias realmente novas se revestem de certo aspecto de insensatez, quando são apresentadas pela primeira vez". (Alfred North Whitehead). "Aquilo que os homens mais humildes asseveram, com base em sua própria experiência, é digno de ser ouvido, mas aquilo que os homens mais astutos negam, em sua ignorância, não é digno de um momento sequer de atenção" (Sir William Barrett). TRADUÇÃO Ver Vérsões. TRADUCIONISMO Essa palavra portuguesa deriva-se do latim trans, "através", e ducere, "conduzir". Esse é o nome dado à doutrina de que o ato de procriação, de um homem e uma mulher, produz não somente o corpo do bebê, mas também a sua alma. Em outras palavras, a alma provém da procriação. Isso difere da idéia oposta, a da criação divina de cada alma em particular, no momento da concepção. Ver sobre Criacionismo. Os estóicos ensinavam o traducionismo como origem da alma, e Tertuliano (vide), influenciado como estava pela filosofia estóica em vários de seus pontos, foi o primeiro pai da Igreja, até onde nos é dado saber, que promoveu esse ponto de vista entre os cristãos antigos. Agostinho advogou a idéia pelo menos durante uma parte de sua carreira, e outro tanto fizeram alguns dos pais da Igreja Oriental. Porém, nesta última tem prevalecido muito mais a idéia da preexistência da alma, em consonância com a opinião dos pais gregos da Igreja. Desde a Reforma Protestante, muitos luteranos têm defendido essa idéia; mas a maioria dos teólogos católicos romanos e protestantes advoga o criacionismo. Os grandes teólogos, Shedd e Strong, defendiam o traducionisrno. Entretanto, forçoso é dizer que não há qualquer evidência bíblica quanto a essa idéia. E certamente nenhum indício científico tem sido descoberto para comprovar o traducionismo. Esse é um daqueles pontos em que as Escrituras fazem silêncio. Assim sendo, qualquer argumento em seu favor só pode alicerçar-se indiretamente sobre as Escrituras. Esses argumentos são os seguintes: 1. Deus soprou no homem o hálito da vida, e não é dito que isso seja repetido a cada nova concepção; com base nisso, pode-se pensar que a alma é transmitida através da procriação natural. 2. Adão gerou um filho à sua própria imagem, o que significa que alma e corpo estavam envolvidos nessa geração. 3. Deus descansou de sua criação, pelo que não deveríamos esperar novos atos criativos, de almas humanas, a cada nova concepção. 4. A doutrina do pecado original milita contra o criacionismo, pois é impossível pensarmos. que Deus crie uma alma pecaminosa desde o berço. Deus está isento dessa responsabilidade se postularmos traducionismo. Também é errônea a suposição de que o meio ambiente é responsável pela natureza pecaminosa do homem. Isso posto, o pecado sem dúvida é transmitido à alma desde o

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TRADUCIONISMO - TRAGÉDIA ato procriador, pois a alma é que é pecaminosa, embora utilizando-se do corpo físico como seu veículo de expressão. 5. Apesar de interpretações em contrário, parece que há passagens bíblicas que ensinam mais diretamente o traducionismo, como aquela de Sal. 51:5: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe". Mas reconhecemos que há outras interpretações possíveis para essa e outras passagens afins. Contra esses argumentos, devemos salientar que a teologia original dos hebreus não incluía a alma como entidade separada, e que essa doutrina s6 aparece claramente nos Salmos e nos Profetas. Todavia, indiretamente, a existência da alma como entidade separada pode ser percebida até mesmo no Pentateuco, como é o caso de Gên. 35:18: "Ao sair-lhe a alma (porque morreu) ...". Mas o Pentateuco não se mostra muito nítido sobre a existência da alma como entidade separada, e a legislação mosaica nunca promete uma vida feliz, para a alma, no pós-túmulo, aos obedientes, e nem uma existência infeliz para a alma, no pós-túmulo, para os desobedientes. Portanto, os pontos um e dois, acima, são inúteis do ponto de vista bíblico, embora tenham algum valor com bases racionais. Também sabemos que, cientificamente, a criação nunca cessou, pois universos inteiros aparecem e desaparecem continuamente. Portanto, o terceiro ponto, acima, também fica anulado. Contudo, o quarto ponto encerra um poderoso argumento, ainda que possa favorecer a posição da preexistência da alma tão facilmente quanto o traducionismo. Na opinião do autor e deste tradutor, entretanto, o traducionismo exprime uma idéia melhor que a do criacionismo. Ver o artigo sobre Alma, em sua primeira seção, Origem da Alma, onde as várias opiniões sobre a questão são ventiladas. Cada um dos pontos de vista principais: cr iacionismo, preexistência da alma, traducionism~ fulguração, etc. tem merecido um artigo em separado. h ridículo falar sobre um feto corrompido a corromper uma alma recém-criada, quando os dois entram em contato. Em parte alguma da Bíblia o corpo flsico é considerado pecaminoso em si mesmo, embora se tome instrumento fácil e dócil do pecado, que procede do coração, isto é, do homem interior. A alma é que é pecaminosa e corrupta, e essa pecarninosidade e corrupção s6 podem proceder dos pais, tal como ensinam as Escrituras. Qualquer teoria da origem da alma (que igualmente insista sobre a sua pecaminosidade) precisa levar essa questão em consideração. Pessoalmente (Russell Champlin), acredito na preexistência da alma.

TRAGtDIA Ver os artigos separados sobre Problema do Mal e Pessimismo. A palavra tragédia, vem do grego, tragoedia, termo esse formado por trâgos, "bode", e aoidôs, "cântico", ou seja, "cântico do bode". Provavelmente, a origem dessa palavra, referindo-se àquilo que atualmente chamamos de "tragédia", originou-se do fato de que os atores vestiam-se com peles de cabra no culto a Dionísio.O cântico deles falava sobre o seu her6i, Dionísio, e esse tipo de apresentação tomou-se parte do teatro antigo. E, visto que tantas produções teatrais tinham por base alguma tragédia, finalmente a palavra "tragédia" veio a significar exatamente isso. Horácio sugeriu que os vencedores, nas competições teatrais, recebiam bodes como prêmio; e, com base nessa circunstância, o nome daquele animal veio a ser vinculado às produções teatrais trágicas. Essa segunda teoria é bem menos provável, porém. Seja como for, aí

pelos dias de Aristóteles as tragédias já haviam sido sujeitadas à análise filosófica. 1.Aristóteles. Na sua obra, Poética, ele apresentou sua análise acerca da estrutura e significação das tragédias. Ele começou pela afirmação de que a imitação dos atos e das vidas dos homens é o artificio central das tragédias. E seu alvo é que elas buscam uma espécie de catarse para as emoções dos espectadores. Usualmente está envolvido um herói, por ser uma figura forte, mas precisa sofrer de modo incrível, antes de poder anular as reversões que esmagam a sua vida. Sendo esse o caso, o pobre espectador percebe o quão impotente ele mesmo é contra o infortúnio, notando que sua vida é atravessada pelo corisco da tragédia, com sua ação purificadora. 2. Em vários escritores, como Shakespeare, muitas tragédias serviram de veiculo para ensinar lições morais. "Isso é o que sucede a pessoas que incorrem em graves equívocos. Tenha cuidado!" E Shakespeare também misturava a comédia com a tragédia, pois, vistas à distância, as tragédias, com freqüência, são cômicas. 3. O neoclassictsmofrancês (como se vê em Corneille e Racine, no século XVII) preserva o fator aristotélico de imitação, embora insistindo sobre três unidades como essenciais a uma boa tragédia: o tempo, o lugar e a ação. Aristóteles havia falado sobre as unidades da ação e do tempo, mas aqueles franceses adicionaram a outra característíca, a do lugar. 4. Samuel Johnson (1709-1784) acusou a doutrina francesa de três unidades de ser uma restrição ao gênio de Shakespeare, que misturara a comédia com a tragédia. 5. Emanuel Kant não discutiu sobre a tragédia, mas sua teoria geral da estética influenciou outros pensadores a fazê-lo. Kant referiu-se ao sublime como uma força avassaladora, como parte do infinito, contra o que ele asseverava ser a nossa liberdade. Com base nessa orientação, vários fil6sofos perceberam como a tragédia envolve o conflito humano, caracterizado por uma liberdade finita, em conflito constante com poderes infinitos, em uma luta na qual o homem usualmente sai-se perdedor. 6. Lessing, ao aplicar as idéias de Aristóteles, chegou a crer que a tragédia purga os homens levando-os aos sentimentos da piedade e do temor, ao mesmo tempo. A figura trágica deve ser semelhante a nós, para que nos possamos identificar com ela. Para tanto, é preciso mesclar a piedade com o temor. Presumivelmente, essa mescla tem a capacidade de transformar os homens, para que deixem de lado suas paixões prejudicais e busquem hábitos virtuosos, a fim de que daí possam resultar bens. Dai podem emergir a fraternidade com base em um senso universal de piedade. Lessing via muita tragédia ao seu derredor! Talvez suas idéias sejam eficazes quando os homens encaram "o palco da vida" com todas as suas tragédias, e não meramente as tragédias encenadas em teatro. Até Schopenhauer encontrava valor na simpatia, considerando inúteis todos os atos e estados dos homens. 7. Goethe não tinha qualquer fé na teoria de catarse de Aristóteles, acreditando que as pessoas que costumam assistir a tragédias teatrais, embora fiquem "admiradas", voltam para casa e em coisa alguma são transformadas por aquilo que assistiram. Ele via a tragédia como uma expressão essencial de expiação e reconciliação, que podem ser lições úteis a aprender, e talvez as peças teatrais tenham algum valor na exposição vívida desses fatores. 8. Schiller; a princípio, seguiu a análise feita por Lessing; mas acabou influenciado pelas idéias kantianas. Ele começou vendo a piedade operando, bem como a

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A TRAIÇAO

TRAGÉDIA - TRAIÇÃO imitação (seguindo as idéias de Aristóteles), mas terminou pensando em termos kantianos, que concebia o homem pobre e finito em oposição a terríveis forças metaflsicas. E passou a falar em termos da "inevitável sorte" humana, em que o Infinito esmaga o finito. 9. Madame de Stael (1766-1817) reduziu as três unidades de pensadores franceses à unidade simples da ação. A emoção e a ilusão seriam os fatores principais em operação. 10. Augusto Wilhelm Schlegel (1767-1845) via na tragédia os principais fatores da natureza transitória do homem, que depende de poderes desconhecidos. O homem, ao contemplar essas coisas, reage e assevera sua transcendência, e assim resolve o conflito e a tragédia, contrapondo-os com a harmonia esperada, para além da tempestade. Essa atitude de transcendência é a grande virtude e o valor das tragédias. lI. Hegel aceitava a análise aristotélica como válida, no seu sentido literário. Mas a isso ele adicionava uma dimensão moral específica. Nas tragédias há dois grandes poderes morais em conflito, ambos justificados - e ambos de origem divina. A tragédia, pois, busca harmonizar essas forças. Ele pensava que as tragédias gregas eram superiores às de Shakespeare, a quem acusava de complicar as coisas mediante a introdução das contingências de caráter. 12. Friedrich von Schlegel seguia a idéia do sublime de Kant. A tragédia assevera a liberdade moral diante da hostilidade de forças sublimes. Ademais, a tragédia envolve a transformação espiritual do herói que vence. 13. Schelling via a tragédia como a luta entre a liberdade e a necessidade. O herói da tragédia vê-se envolvido em algum crime, mas não deliberadamente. Embora pareça culpado, é inocente, mas tem que sofrer sua punição, que aceita voluntariamente, o que, por assim dizer, restaura a ordem moral. 14. K. w: F Solger (1780-1819) encarava a tragédia como uma ilustração de como as imperfeições humanas entram em conflito com seu destino mais alto. E também via a comédia dessa maneira. Em ambos os casos, o conflito é resolvido de forma irônica. 15. Schopenhauer via toda a existência como se, na verdade, ela fosse trágica e pessimista, sem qualquer significado ou remédio, e asseverava que o teatro meramente retrata essa condição da vida. Todos os seres humanos estão destinados ao sofrimento, não havendo qualquer redenção. A maior tragédia de todas ocorre quando a pessoa nasce. E a reencarnação apenas garante que a tragédia continue. E o suicídio não tem utilidade, por não ter qualquer poder retardador. 16. Kierkegaard acreditava que o herói trágico renuncia a si mesmo a fim de exprimir o universal; o homem de fé, por outro lado, renuncia ao universal, e assim obtém uma relação pessoal digna com Deus. 17. Nietzsche considerava que a atitude trágica é uma auto-afirmação, através do sofrimento. O super-homem é capaz de vencer, em seu autocumprimento, o qual unifica os elementos diversos e hostis da vida. Ele rejeitava a idéia de piedade e de temor, substituindo-a pelo superabundante cumprimento do super-homem. 18. Unamuno associava o "trágico sentido da vida" à fé e à razão. Anelamos por um estado que vai além do que é racional. A fé faz-se presente, mas não resolve os nossos confl i tos. Visto que tanto a fé como a razão deixam as coisas não-resolvidas, o "sentido trágico" é aquela condição na qual vivemos e que preserva as tenções e os estados não-resolvidos.

19. No tocante à/é religiosa, é óbvio que a tragédia é da vida, e não meramente a do teatro, desempenhando um importante papel. A teologia ocidental (católica romana e protestante-evangélica) deixa o homem em meio à tempestade, ensinando um fim extremamente trágico para a vasta maioria dos homens. Destarte, a teologia se transforma em um pessimismo trágico. Mas a Igreja oriental e a comunidade anglicana têm exibido alguma luz nesse estado lastimável das coisas, ao afirmarem que a missão do Logos certamente renderá resultados universais. Ver o artigo chamado Restauração quanto a uma exposição desse ponto de vista alternativo sobre o destino humano, que representa uma teologia para além da tempestade. Escrevi um artigo com esse titulo. Em contrário, ver o artigo intitulado Mistério da Vontade de Deus (Interpretação Alternativa), em seu quinto ponto, A Doutrina da Restauração.

TRAIÇÃO No hebraico, ramah, "entregar". Palavra usada por onze vezes (por exemplo, I Crô. 12: 17; com o sentido de "enganar", ver I Sam. 10:17; 28: 12, etc.), No grego, paradidomi, "entregar". E palavra usada por muitas vezes no Novo Testamento, cerca de cento e vinte vezes, desde Mal. 4:2 até Judas 3. Neste artigo, interessa-nos examinar a traição de Judas Iscariotes, mediante a qual o Senhor Jesus foi entregue a seus algozes. O vocábulo grego, de modo geral, envolve as idéias de mostrar-se desleal, de desapontar as expectações de alguém, de desvendar informações secretas, de seduzir, de apresentar evidências falsas contra alguém, de agir traiçoeiramente. Jesus predisse (Mal. 17:22) que seria traido por um de seus discipulos. O caráter do traidor era conhecido por Jesus, antes que aquele entrasse em ação (João 6:46). Os evangelhos salientam a postura digna e a força de espírito do Senhor Jesus, durante todo o episódio (Mal. 26:47-56). O Senhor só reagiu para repreender a seu ex-discípulo, quando foi por ele traiçoeiramente osculado: "Judas, com um beijo trais o Filho do homem?" (Luc. 22:48). O que foi que Judas traiu ? a. De acordo com os incrédulos e céticos, Judas teria traído o segredo messiânico, embora esse segredo não correspondesse à realidade. O segredo messiânico era a consciência de que Jesus tinha de ser o longamente esperado e profetizado Messias de Israel, uma informação que ele manteve em segredo por longo tempo. Alguns incrédulos não crêem que Jesus tenha sido o Messias de Israel, porquanto isso seria uma invencionice dos judeus, sem qualquer fundamentação. De acordo com essa tentativa de explicação, Jesus foi envolvido na ilusão, deixou-se enganar, e identificou-se com a imaginária figura do Messias. Judas Iscariotes, pois, teria revelado essa auto-ilusão às autoridades judaicas. Um dos mais curiosos aspectos dessa teoria é que Judas teria feito isso como um ato de misericórdia, a fim de salvar Jesus de sua ilusão e, talvez, da morte, visto que, declarando ser o Messias, ele entrara em choque com as autoridades j udaicas e com Roma, que jamais toleraria a rivalidade de um rei judeu! Isso faz de Judas o real herói da história! Infelizmente para ele, o traidor não compreendeu seu gesto por esse prisma, pois lemos: "Então Judas, que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado pelo remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente" (Mat. 27:3,4). E foi enforcar-se! b. Ou então o segredo messiânico foi revelado por Judas às autoridades judaicas. E o tal segredo era genuíno - Jesus era O Messias prometido. Contudo, de acordo com essa

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TRAIÇÃO - TRAJANO explicação, apenas gradualmente Jesus foi tomando consciência de sua missão, tendo-a guardado em segredo enquanto não teve a certeza de quem era. c. No entanto, a leitura dos evangelhos indica que, tudo quanto Judas Iscariotes revelou às autoridades judaicas foi o lugar para onde Jesus costumava retirar-se à noite, o que facilitou a sua detenção (ver João 18: 1-3). A Traição e a Teologia. a. Se o segredo messiânico estava envolvido, então, teologicamente falando, a traição teve significação. Assinalou o ponto em que o caráter messiânico de Jesus não podia continuar sendo ocultado, e tinha de tornar-se de conhecimento público. b. O ato da traição mostrou até onde pode chegar a infidelidade humana. A igreja primitiva recuou, horrorizada: um dos doze havia traído ao Senhor. c. O ato de traição, que revelou onde o Senhor se abrigara, foi apenas símbolo do caráter aviltado do traidor. A natureza humana, quando profundamente aviltada, é capaz de qualquer ato traiçoeiro. d. O ato de traição mostra-nos como algumas pessoas tratam a graça do Senhor e a sua generosidade com escárnio. Os homens abusam da graça divina, mas apenas para seu próprio detrimento. (VerJoão 6:70; 15:16; Atos I: 17). Judas lançou fora um tremendo privilégio que lhe tinha sido dado. e. Em todo o episódio havia a questão do destino, embora alguns tenham dificuldade em compreendê-Ia (Mal. 26:24). A coisa tinha de acontecer, mas ai do instrumento usado! Sabemos que o desígnio de Deus coopera com a vontade humana, sem destruí-la, embora não saibamos explicar de que maneira. Ver os artigos sobre o Livre-arbítrio e o Determinismo. f. Alguns supõem que aquele ato traiçoeiro de Judas tenha sido apenas um dentre toda uma carreira de sua alma, e que esse homem haverá de reencarnar-se e será o anticristo. (Ver as notas no NTI, em Atos 1:25, bem como o artigo sobre o anticristo). Naturalmente, o anticristo também terá uma missão divinamente determinada, pois aquilo que tiver de suceder-se, sucederá. Uma vez mais, vê-se que Deus usa o homem sem destruir-lhe a livre-vontade apesar de não sabermos explicar a questão. g. Judas teve remorso (Mal. 27:2,3); "Mas, porventura, isso significará alguma coisa, em última análise? O trecho de Efésios I: 10 mostra-nos que haverá uma restauração geral (ver o artigo), e isso, naturalmente, incluirá Judas. Todavia, isso terá de esperar até o fim da fila, após toda a série de eras produzir aquela era em que o Lagos será o centro de todas as coisas, a razão pela qual tudo existe. Não obstante, coisa alguma deveria servir para detratar da missão do Lagos, o Cristo, em sua encarnação como o Messias prometido. Além disso, por qual motivo haveríamos de limitar e subestimar a graça e o amor de Deus, somente para continuarmos crendo que Judas nunca mais será recuperado pelo favor divino? (8 NTI)

TRAIÇÃO DE JESUS POR JUDAS O que Judas revelou em sua traição? 1. Alguns dizem: revelou o segredo messiânico. Em outras palavras, apesar de Jesus sentir ser o Messias, não o declarava publicamente, talvez por esperar uma boa oportunidade ou circunstâncias favoráveis. (Ver Mal. 7:36; 8:26,30 e 9:9, quanto ao segredo messiânico). Porém, apesar de ser verdade que havia algum segredo, muito antes da semana final Jesus já o tinha revelado. Portanto, não foi a "reivindicação messiânica" de Jesus que Judas revelou às autoridades religiosas. 2. Nem podemos pensar que Jesus realmente tivesse quaisquer intenções revolucionárias, que Judas revelou às autoridades, levando-o a tornar-se um "mártir político". 3. A verdade

simples parece ter sido a de que Jesus se ocultara e que Judas revelou onde poderiam achá-lo e detê-lo. Ele foi o guia dos soldados que detiveram a Jesus (Atos 1: 16). O fato de que Jesus se tornou impopular ante os líderes religiosos (Ele era uma ameaça para o poder deles, e era blasfemo contra suas doutrinas, fazendo extravagantes reivindicações messiânicas e tomando-se politicamente perigoso), levou-o a ocultar-se por algum tempo, a fim de proteger a si mesmo e aos seus discipulos. Judas conhecendo os hábitos de Jesus, revelou onde Ele estava. É dificil saber se Judas meditou antes em sua ação inicial; isto é, se ele previu que isso terminaria na morte de Jesus, ou se pensou que as autoridades o poriam na prisão, ou simplesmente ordenariam que ele cessasse sua atividade. É impossível saber a resposta Mas é significativo que quando ele viu que Jesus seria morto, imediatamente sentiu remorso pelo que fizera. Isso parece sugerir que ele esperava que algo menor seria o resultado. Mas é claro que ele quis sair do movimento iniciado por Jesus e se parte de seu propósito foi o de fazer Jesus desistir também, é outra questão. 4. Naturalmente, a traição era de uma pessoa por outra, era uma doença de coração; uma corrupção de alma.

TRAJANO Seu nome completo, em latim, era Marcus Ulpius Traianus. Nasceu em 53 d.C. Tomou-se imperador de Roma em 98 d.C., até falecer, em 117 d.C. Trajano nasceu na Espanha. Após servir em várias ocupações civis e militares, foi nomeado governador da Germânia, no ano de 97 d.C. Estando ele ali, ficou sabendo que fora adotado como filho pelo então imperador, Nerva. Esse ato, de conformidade com os costumes da época, assegurava-lhe a sucessão ao trono do império. Essa providência de Nerva foi instigada por uma revolta que houve entre os membros da guarda pretoriana (vide), o que levou esse imperador a entender a necessidade de que uma mão mais firme viesse a tomar conta do leme do Estado. Por ocasião do falecimento de Nerva, que ocorreu no ano de 98 d.C., Trajano permaneceu na Germânia algum tempo, em algum negócio nunca terminado, e só chegou a Roma já no ano de 99 d.C. Seu primeiro ato como imperador, entretanto, foi punir os membros da guarda pretoriana que se tinham amotinado; e, então, para demonstrar o seu desprazer com os acontecimentos, doou ao povo apenas metade da doação anual costumeira. Mas, sendo um político astuto, conquistou a admiração do senado, confirmando todos os privilégios dos senadores. Sendo um Iíder natural, pouco tempo lhe bastou para tornar-se querido e popular entre o povo e as forças armadas. A administração geral de Trajano seguia linhas paternalistas, protegendo os interesses do império. Ele assumiu com gosto a pesada carga de governar, havendo manifestado uma extraordinária capacidade para manusear todos os problemas complexos daquele imenso império romano. No entanto, essa atitude política do imperador desencorajava toda a iniciativa por parte das províncias. E estas logo aprenderam a esperar da capital do império a solução para todas as suas dificuldades. No entanto, sabendo escolher bons governadores provinciais e continuando a distribuir cereais e provisões alimentícias gratuitas aos habitantes empobrecidos das municipalidades, ele conseguiu manter a boa ordem nas províncias. Por igual modo, expandiu enormemente o programa de obras públicas, tendo construído novos

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TRAJANO - TRANSCENDENTE banhos na cidade de Roma, um magnificente fórum, novas estradas por todos os rincões dos seus vastos domínios. Um ponto que devemos destacar é a firmeza de seu pulso, como administrador, combinada com o seu senso de humanidade. Este último ponto é ilustrado pela sua atitude para com os cristãos, aos quais chegou a proteger, e acerca do que Plínio testifica (ver Epistulae 10.96 e 97). O reinado de Trajano foi assinalado por duas grandes aventuras militares. Em duas campanhas (10 1 e 102 e também 105 e 106), ele subjugou a Dácia, a região que ficava ao norte das margens do rio Danúbio, transformando-a em uma província romana. Nesse território foram exploradas, com sucesso, minas de ouro e minas de sal. E o segundo desses feitos militares foi a sua campanha contra os partos (vide), entre 113 e 117 d.C. Nesse empreendimento, porém, ele conseguiu apenas uma conquista precária, tendo falecido na Cilícia, quando estava na viagem de volta a Roma. TRANCAR (Cadeado, Fechadura, Pino) Uma fechadura é um artifício mecânico para impedir que portas e outras entradas sejam abertas. Os antigos hebreus tinham trancas feitas de madeira ou de ferro, para trancar as portas de casas, prisões e fortalezas (ver Isa. 45:2). Os portões das muralhas erguidas por Neemias, em torno de Jerusalém, contavam com "ferrolhos e trancas" (Nee. 13). Os ferrolhos e as trancas (sob a forma de barras) eram as formas mais comuns de fechaduras. As chaves consistiam em pinos de ferro ou de bronze, embora, ocasionalmente, também fossem usados pinos de madeira. Esses pinos serviam para manter aquelas barras ou trancas em seus respectivos lugares. Em alguns lugares, uma tradução mais exata para fechadura seria "ferrolho". A chave (vide) era um instrumento de metal ou de madeira, usado para fazer mover-se o ferrolho. TRANQÜILIDADE Esse era o estado mais elevado procurado pelos filósofos epicureus mais intelectuais. Eles pensavam que a tranqüilidade é fruto da rejeição do ciclo do desejo curnprimento descontentamento, etc., ad infinitum. O homem tranqüilo, para eles, seria aquele que não excita esse ciclo vicioso, mas contenta-se com os prazeres intelectuais, repelindo os prazeres carnais. Mostramo-nos tranqüilos quando desejamos desaparecer, em vez de nos declararmos alegadamente satisfeitos. O prazer é o alvo da existência, dentro daquele sistema filosófico; mas estão em foco somente os prazeres que deixam um homem com uma mente satisfeita, distante dos conflitos que excitam os desejos humanos. A ataraxia é o alvo que todos deveriam procurar, ou seja, "o prazer desfrutado em meio à tranqüilidade". Diz o trecho de Provérbios 17: I: "Melhor é um bocado seco, e tranqüilidade do que a casa farta de carnes, e contendas". A tranqüil idade no lar deveria ser um de nossos grandes alvos. O trecho de Isaías 32: 17 fala sobre retidão, paz e repouso, todos juntos, e isso subentende que é a redenção da alma, sem a qual é simplesmente impossível qualquer tranqüilidade permanente. E os trechos de I Tessalonicenses 4: 11 eliTes. 3: 12 exortam os homens à tranqüilidade, para que, nesse estado, seja desenvolvida a piedade cristã. >

TRANSCENDENTAIS Ver sobre Transcendente; Transcendência; Transcendentais, o artigo na íntegra, mas especialmente sua quarta seção, Vários Transcendentais.

TRANSCENDENTE,TRANSCENDÊNCIA, TRANSCENDENTAIS Ver também o artigo chamado Transcendentalismo. Esboço: I. O Termo e Suas Definições 11. Nos Escritos dos Filósofos m. Na Teologia IV Várias Transcendentais I. O Termo e Suas Definições Essa palavra vem do latim, transcendere, "cruzar uma fronteira". Seus elementos formativos são trans, "cruzar", e scandare, "subir". Esse termo tem muitas aplicações na filosofia e na teologia, conforme é ilustrado no resto deste artigo. Uma das idéias básicas é que a deidade que o indivíduo busca está muito acima do inquiridor. A superioridade e independência do Ser divino é contrastada com a humilde posição do inquiridor, confinado a esta esfera terrestre. A transcendência absoluta põe Deus fora do mundo, e se Ele mantém qualquer interesse pelo mesmo, sem dúvida terá de agir através de uma longa linha de mediadores ou intermediários. Diversas teologias procuram resolver esse problema propondo os pólos da transcendência e da imanência, como qualidades divinas, cujo Ser é assim descrito como Alguém que existe, ao mesmo tempo, "além" do mundo e "no" mundo. A crença na transcendência usualmente envolve a aceitação de uma dimensão transcendental do Ser, bem como de seres, Deus e outros seres imateriais que habitam em uma esfera totalmente diferente daquela onde vivem os homens. Usualmente é preciso a revelação para que o Ser transcendental possa ser conhecido, visto que não estamos muito bem equipados para irmos além do "próprio eu", exceto no caso dos místicos, que desenvolvem as técnicas apropriadas e os estados de espírito conducentes a isso. A transcendência também aplica-se ao conhecimento, bem como aos meios que estão para além da experiência, mas que podem ser parcialmente conhecidos nos postulados da razão, da intuição e das experiências místicas. 11. Nos Escritos dos Filósofos 1. Platão postulava a existência das Idéias ou Formas (ver sobre Universais) como uma espécie de realidade metafísica para além dos particulares (esta realidade física), atribuindo-lhes os mesmos tipos de atributos que atribuímos a Deus, criando assim uma forma de transcendência. 2. O Movedor Inabalável de Aristóteles, que impulsiona todas as coisas mediante o amor, é uma transcendente realidade, a saber, "o pensamento puro que pensa sobre si mesmo", por não haver outra coisa digna para nela pensarmos. 3. O neoplatonismo adaptou as idéias de Platão ao contexto religioso, dentro do qual a Realidade última emana-se através de intermináveis níveis do Ser, ainda que, no nível supremo, encon-tremos uma realidade transcendental. 4. O Logos do estoicismo é uma transcendência, se é que podemos vê-lo como a origem de tudo, acima de tudo, e, no entanto, subsistente em tudo (uma forma de panteísmo). 5. Dentro da teologia cristã, o grande Deus transcendental é visto como uma pessoa que não somente existe além da criação, mas que também permanece imanente na criação, tornando-o, ao mesmo tempo, transcendental e imanente. Alguns dos primeiros pais da Igreja incorporaram as idéias platônicas das Formas ou Universais, a fim de explicarem certos aspectos da teologia.

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TRANSCENDENTE,TRANSCENDÊNCIA 6. Osfilósofos-teólogos do escolasticismo empregaram idéias de Platão e de Aristóteles. Tomás de Aquino referiu-se aos quatro princípios transcendentais: ens (ser), unum (unidade), verum (verdade) e bonum (bondade), assim incluindo questões morais no seu tratamento, as quais, naturalmente, já haviam sido antecipadas nas Formas (ou Idéias), na Bondade, na Justiça, etc., de Platão. Algumas vezes, a lista é inchada com Pulchrum (beleza). E Platão, em seu diálogo, Banquete, fazia da beleza o mais elevado de todos os universais. Na teologia, esses universais figuram como atributos de Deus, dos quais os homens participam parcialmente. A filosofia-teologia escolástica chamava essas coisas de "transcendentais", porquanto ultrapassariam das categorias aristotélicas. A teologia bíblica adiciona outros transcendentais no tocante a Deus, especialmente a santidade, no seu mais elevado grau. Talvez seja diante de nossa consciência da santidade divina, que encontramos nossa mais convincente evidência da transcendêndia. 7. Kant aplicava essa palavra de mais de uma maneira. Ele falava sobre "a coisa em si mesma", como algo transcendental, por estar acima da intelecção humana, só podendo ser descoberto ou postulado por meio dos juízos morais, da intuição ou das experiências místicas. Ademais, as categorias a Priori da mente não são passíveis de investigação e recolhimento de provas, pelo que são transcendentais. Não se derivam da experiência dos sentidos. A tentativa de encontrar os valores transcendentais nas experiências e nos argumentos empíricos é uma tentativa negativa e infrutífera. Os postulados conferem-nos uma espécie de conhecimento (não-provado e não-empírico) acerca dos assuntos transcendentais da filosofia e da teologia. Esses postulados nos chegam através da razão, da intuição e das experiências místicas. Precisamos desses postulados se quisermos contar com um completo sistema de teologia. Kant usava argumentos morais na tentativa de "provar" a existência de Deus, em vez de argumentos empíricos, conforme se vê nos Cinco Caminhos de Tomás de Aquino. 8. O transcendentalismo da Nova Inglaterra não aceitava a abordagem "negativa" de Kant, supondo que, mediante a intuição e as experiências místicas, possamos obter um genuíno conhecimento da alma, de Deus e de realidades metafísicas de toda sorte. Notáveis nomes associados a essa escola foram Emerson, Thoreau, Alcott e Margaret Fuller, Além de tomar por empréstimo idéias de Kant, algumas das quais receberam ênfases e significados diferentes, essa escola empregava conceitos extraídos de Platão e das religiões orientais. O unitarianisrno, fazendo oposição ao calvinismo, também exerceu influência sobre a maneira de pensar daquelas pessoas. Elas dependiam da intuição e do misticismo, e eram impelidas por profundo otimismo quanto ao lugar e o destino do homem, dentro do esquema das coisas. Quanto a detalhes, ver o artigo separado sobre Emerson, Ralph Waldo. 9. Husserl falava sobre a transcendência em termos kantianos. 10. Ortega e Gasset supunham que a transcendência apropriada possa ser obtida na autenticidade. Ver o artigo acerca dele, quanto a uma explicação sobre essa idéia. Ele encontrava a transcendência no ser humano, e não no "além". 11. Romero afirmou que "ser é transcender", assim encontrando a transcendência no próprio ser. 111. Na Teologia I. Na metafisica, são transcendentais Deus, os céus, as realidades espirituais e os seres não-materiais. As dimensões

imateriais são uma constante na teologia, aparecendo entre outros valores transcendentais. 2. Deus é transcendental. a. Na natureza, sendo totalmente outro, por ser "espírito", em contraste com a matéria, e por ser a forma mais elevada de ser espiritual, bem como a fonte de todos outros tipos de ser. b. Fora do espaço, habitando Deus em uma dimensão imaterial e não-espacial, Deus tem uma espécie de existência totalmente transcendental. c. Quanto à santidade, bem como quanto a seus outros atributos, que são inteiramente diferentes do homem e suas manifestações. d.Quanto ao intelecto, visto que os pensamentos de Deus não são os nossos. Antes de tudo, Deus manifestou-se através do Lagos (vide), o qual, por sua vez, revelou a Deus, tendo então efetuado uma missão tridimensional em favor do homem: na Terra, no Hades e no Céu. O gnosticismo super-enfatizava a transcendência de Deus, criando a necessidade de uma interminável série de mediadores. A encarnação (vide) do Logos trouxe Deus até o homem e elevou o homem até Deus. Destarte a própria natureza divina é compartilhada por seus filhos, os quais adquirem a imagem do Filho. O deísmo (vide) é uma outra teologia que enfatiza demasiadamente a transcendência de Deus. e. Quanto aos atributos, Deus também é transcendental, pois apesar dos remidos poderem participar de alguns dos atributos divinos, as qualidades de Deus estão acima e além dos seres humanos. 3. A alma humana agorajá participa, até certo ponto, da transcendência de Deus, visto ter sido criada à imagem de Deus. A salvação envolve a promessa de uma imensa participação na natureza divina, porquanto os remidos haverão de participar da imagem de Cristo, o Logos (ver Rom. 8:29), da plenitude de Deus (ver Efé. 3:19), da própria natureza divina (ver 11 Ped. I:4), por serem filhos que estão sendo conduzidos à glória eterna (ver Heb. 2: 10). Ver o artigo geral intitulado Transformação Segundo a Imagem de Cristo. IV. Vários Transcendentais Aqui, à guisa de sumário, queremos falar especificamente sobre alguns pontos transcendentais da filosofia, cada um dos quais poderia merecer um artigo em separado: 1. A Estética Transcendental. Essa é uma idéia de Emanuel Kant. Ele usava a palavra estética em seu sentido grego primitivo de "sentimento" ou "percepção". Coisas que são comuns à nossa percepção e avaliação da natureza da realidade, na verdade não são representantes da "coisa em si mesma", ou seja, a natureza real das coisas; antes, são imposições mentais, ou seja, são categorias da mente. Portanto, essas categorias transcendem aos sentidos fisicos e não procedem das experiências empíricas, mas, antes, são essências da mente, impostas à realidade, embora não representem necessariamente a realidade, conforme ela é. Impomos à realidade os conceitos de tempo e espaço, bem como todas as demais categorias, mas essas coisas não são o "estofo" próprio da realidade. Ver sobre Kant, quanto a uma lista completa de suas categorias. 2. Fenomenologia Transcendental. Husserl propôs a idéia de que as estruturas subjetivas da mente apresentam-nos uma proposta realidade objetiva, mas, na verdade, estão tratando com os fenômenos mentais, e não com a realidade propriamente dita. 3. O Ego Transcendental. Nos escritos de Husserl, isso aponta para a estrutura mental que envolve a auto-identidade, que é uma espécie de subjetiva transcendental, e não, necessariamente, a coisa em si mesma. Nas religiões orientais, o verdadeiro eu, que pode ser chamado de "ego", a "alma" ou o "superego", é a

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TRANSCENDENTE - TRANSE EGOCÊNTRICO pessoa real, e o seu envolvimento na materialidade é um envolvimento na ilusão. A doutrina cristã da alma pode ser chamada de "ego transcendental", visto que o indivíduo está aqui apenas em uma peregrinação, pois pertence a uma dimensão espiritual distinta desta dimensão material, dimensão espiritual essa que é a fonte de toda sorte de seres. 4 . A Lógica Transcendental. Esta também é uma parte da filosofia de Kant, na qual ele mostra os mecanismos e operações do entendimento humano. Ele dividiu esse estudo na lógica analítica transcendental e na dialética transcendental. A primeira é uma busca pela estrutura a priori do entendimento, que se utiliza das categorias mentais; e a segunda aborda a tendência da mente para considerar sua estrutura como a estrutura, não somente do pensamento, mas também do ser real e externo. Para concluir, porém, que não passa de uma ilusão quando imaginamos que as coisas são como são. Mediante essa ilusão, transformamos a lógica em uma metafisica, ou, conforme Kant dizia, em uma dialética. Uma lógica inchada com noções metafisicas resulta nessa dialética ou modo de pensar com o que estamos tão acostumados. "Dialética" é o nome que Kant aplicou aos mal-orientados esforços do homem por aplicar os princípios que governam os fenômenos às "coisas em si mesmas". 5. Falácias ou Paralogismos Transcendentais. Essas são as proposições que os homens criam sob a falsa suposição de que aquilo que pensamos deve corresponder à realidade. Mas o mero ato de pensar não cria a realidade. Esse argumento tem sido usado em contraposição ao Argumento Ontológico (vide) de Anselmo. TRANSE Esboço: I. As Palavras 11. Definições Ill. Usos Bíblicos I. As Palavras Há três palavras hebraicas envolvidas, e uma palavra grega, a saber: I. Naphal. "cair (em transe)", que aparece com esse sentido somente em Núm. 24:4,16. Nas demais vezes significa apenas "cair". 2. Tardemah, "sono profundo", uma palavra hebraica que ocorre por sete vezes: Gên.2:21; 15: 12; 1 Sam.26:12; Jó 4:13; 33:15; Pro. 19:15 e Isa. 29:10. 3. Radam, "transe", um termo hebraico que ocorre por três vezes com esse significado: Sal. 76:6; Dan. 8: 18 e 10:9. 4. Ékstasis, "fora do normal", "deslocamento", "confusão mental". Essa palavra grega é usada por sete vezes: Mar. 5:42; 16:8; Luc. 5:26; Atos 3:10; 10:10; 1l:5 e 22:17. 11. Definições Um transe é um estado alterado da conciência, mediante o qual o indivíduo, por assim dizer, é transportado para fora de si mesmo. Nessa condição de arrebatamento dos sentidos, embora pareça desperto, o indivíduo está desligado de todos os objetos que o circundam, de todos os estímulos. Os estímulos externos evidentes passam inteiramente despercebidos, visto que a pessoa fica total e obcessivamente fixada sobre coisas invisíveis, sejam elas de natureza divina, alucinatórias ou inconscientes. Em tal condição a pessoa pode pensar que está percebendo, com os seus sentidos naturais (principalmente com a visão e com a audição), realidades que lhe estejam sendo mostradas por Deus ou por outras

forças sobrenaturais. Os transes religiosos, ou assinalados como fortemente emocionais são chamados "êxtases". Os êxtases são algum arrebatamento de avassaladora alegria. Em suas formas externas, o transe assemelha-se ao estado de coma. 111. Usos Bíblicos A forma extrema de transe, que poderíamos entender como "coma", aparece naquelas passagens onde ~ empregada a palavra hebraica tardemah (ver acima). E interessante observar que, em todos esses casos, há alguma manifesta intervenção de Deus. Por exemplo: "Então o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu: tomou uma das suas costelas, e fechou o lugar com carne" (Gên. 2:21). Ou, então: "Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então lhe foi dito... (Gên, 15: 12,13). Uma forma mais suave de transe é expressa mediante a palavra hebraica, radam (ver acima, "numero 3"). Isso pode ser visto, por exemplo, em Dan. 8: 18, que diz: "Falava ele comigo quando caí sem sentido, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava; e disse...". A mesma coisa se vê em Dan. 10:9: "Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a caí sem sentido rosto em terra". A mesma palavra ocorre em Sal. 76:6, onde, porém, diz a nossa versão portuguesa: "Ante a tua repreensão, ó Deus de Jacó, paralisaram carros e cavalos". No caso do profeta Balaão, por duas vezes é usada a palavra hebraica naphal. Citamos aqui os versículos envolvidos: " ... palavra daquele que ouve os ditos de Deus, o que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos.... " (Núm. 24:4,16). A idéia transparece nas palavras reiteradas "Prostra-se, porém de olhos abertos". No Novo Testamento, o uso da idéia de transe (que nossa versão portuguesa exprime através da palavra êxtase, correspondente exato ao termo grego original), está sempre vinculado às diretivas conferidas pelo Espírito de Deus. Assim, no caso que envolveu o apóstolo Pedro (Atos 10: 10 e II :5), o contexto, as circunstâncias e as consequências sugerem-nos que tudo foi permitido e usado pelo Espírito de Deus (ver ainda Atos 11:12, 15,18). E o mesmo sucedeu no caso que envolveu o apóstolo Paulo (Atos 22: 17). Ver também os artigos intitulados, Espanto; Sonho; Visão. É evidente que está em foco um conceito psicológico, um fenômeno que não envolve apenas a porção fisica do homem. Naturalmente, os céticos não acreditam que coisas assim possam ocorrer, que possa haver qualquer intervenção divina ou demoniaca que influencie ao ser humano. Porém, se até os hipnotizadores conseguem fazer as pessoas entrarem em transe (ver sobre o Hipnotismo), por que razão não poderiam fazê-lo forças espirituais superiores ao homem? As práticas do espiritismo (vide) envolvem transes com vários fenômenos acompanhantes, como a "escrita automática", ou psicografia, o desenho ou a pintura que reproduz os traços de algum grande mestre do passado, ou a música de algum grande pianista ou virtuoso de algum outro instrumento musical. Indagamos, se espíritos, humanos ou não, podem produzir tais fenômenos, usando-se de seres humanos em estado de transe, por que motivo, com muito maior razão, o Espírito de Deus não poderia utilizar-se dessa mesma potencialidade, para as suas próprias finalidades benfazejas? TRANSE EGOCÊNTRICO Em sentido amplo, essa expressão refere-se ao problema

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TRANSE EGOCÊNTRICO - TRANSFIGURAÇÃO do conhecimento que os homens enfrentam, por causa de suas limitações no recolhimento de informações. Ele está preso a um corpo físico e dentro de um mundo que, obviamente, é apenas uma "minúscula parcela da existência total. Dentro dessa condição, como poderíamos dizer qualquer coisa de muito significativo sobre a realidade como um todo? Qualquer pronunciamento que o homem faça alicerça-se sobre seu muito extremamente limitado prospectivo e sobre um eu fechado dentro de si mesmo. As perspectivas à nossa disposição, quando muito, são provinciais, pelo que também todo o nosso conhecimento é provincial, e não geral. Um extremo transe egocêntrico, porém, nos envolveria no solipslsmo (que vide), o que é o conceito que diz: "Só eu existo". O resto da presumível existência nada mais seria senão as minhas próprias projeções mentais. RB. Perry (que vide) foi quem primeiro usou esse vocábulo. Ele o aplicou aos idealistas que asseveravam que a única coisa que existe é a mente, porque todas as coisas são necessariamente conhecidas através dos processos mentais. A Revelação e o Transe Egocêntrico. Confiamos que a revelação divina quebra, pelo menos em parte, o transe egocêntrico. Todavia, esse transe não pode ser totalmente anulado, por causa de vários fatores, a saber: 1. Nossa mente e nossa maneira de entender as coisas são obviamente limitadas, de tal maneira que a verdade divina só pode ser parcialmente compreendida por nós, apesar da revelação que nos foi outorgada. 2. Ademais, também é verdade que algumas verdades são compreendidas apenas parcialmente, outras são até mesmo distorcidas. 3. Muitos grandes mistérios permanecem para o homem atual, a despeito de nossas revelações parciais. 4. A verdade é uma eterna inquirição, e sempre haverá limitações impostas pela nossa finitude. Portanto, a menos que o homem possa tomar-se tão infinito quanto Deus, sempre haverá de sofrer do transe egocêntrico. Não obstante, haverá uma contínua diminuição dessa condição, conforme formos compartilhando mais e mais da natureza e da mente divinas. Apesar de nossas imensas limitações atuais, possuimos a verdade, pelo menos sob a forma de verdades parciais, embora possamos depender delas, dotadas de grande importância como diretrizes que podemos seguir na vida.

TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS Ver o artigo separado sobre Transformação Segundo a Imagem de Cristo. 1. No grego, metamorphôomai , "transformar", "transfigurar". Esse vocábulo grego é usado por duas vezes acerca da transfiguração do Senhor Jesus (ver Mat 17:2 e Mar. 9:2), e por duas vezes acerca da transformação ocorrida nas vidas dos crentes, por meio das operações divinas (ver Rom. 12:2; 11 Cor. 3:18). 2. A Transfiguração de Jesus no Novo Testamento. Todos os três evangelhos sinópticos relatam o evento da transfiguração de Jesus, no monte (ver Mal. 17:1-8; Mar. 9:2-8; Luc. 9:28-36). Mas Lucas não usa o verbo específico "transfigurar", mas apenas diz que a aparência do Senhor Jesus ficou "diferente". O apóstolo Pedro também se refere ao acontecido (ver 11 Ped. 1: 16-18). E as alusões feitas pelo apóstolo João, à glória de Jesus, talvez reflitam a ocorrência (ver João 1:14; 2: 11 e 17:24). 3. O Lugar da Transfiguração. Há uma tradição que vem desde o século IV d.C., afirmando que o monte da transfiguração é o monte Tabor, da Galiléia. No século VI d.C., nada menos de três templos cristãos haviam sido construídos naquele monte, provavelmente, em face dessa

tradição. Mas, no século XIX, os eruditos mudaram de opinião, diante do fato de que o cume do monte Tabor, segundo descobriu-se, era ocupado por uma cidadela, na época da transfiguração de Jesus. Não há qualquer evidência de que o Senhor Jesus se afastou para longe da região de Cesaréia de Filipe. Apenas aprendemos em Marcos 9:30, que Ele e seus discípulos "passavam pela Galiléia", algum tempo depois da transfiguração. A maioria dos eruditos atualmente acha que devemos pensar no monte Hennom, o único monte cujo pico é perenemente recoberto de gelo, o que poderia corresponder ao "alto monte" referido em Mal. 17:1. No entanto, um estudioso, W. Ewing(verISBE, voI. 5 pág. 3006) objeta que o monte da transfiguração deve ter sido na Judéia, onde havia escribas nas proximidades (ver Mar. 9:14). E ele sugere ali o Jebel Jennuque, a mais elevada montanha da própria Palestina, que dominava o norte da Galiléia. Mas, ainda outros estudiosos têm procurado espiritualizaresse monte "alto", que Pedro chama de "santo". Todavia, esses estudiosos tendem por negar a historicidade do evento, ou então, a exatidão dos relatos dos evangelhos. 4. O Tempo da Transfiguração. Parece que o tempo da transfiguração foi no começo do outono do ano anterior ao da crucificação. Mateus e Marcos afirmam que isso ocorreu seis dias após a confissão de Pedro. Lucas fala em "cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras", o que talvez inclua os dias terminais, ou então, porque ele também incluiu um dia de subida no monte, e outro de descida. Mas outros comentadores, rejeitando as referências cronológicas, imaginam que a narrativa foi transferida de local, porquanto diria respeito, na realidade, a alguma aparência mítica ou real de Jesus, após a sua ressurreição. Na verdade, há certos pontos de semelhança entre o Cristo transfigurado e o Cristo glorificado; mas é uma temeridade pensar que os escritores sagrados inventaram uma transfiguração de Jesus. Não há qualquer necessidade de negar o fato da transfiguração, para aqueles que aceitam a descrição neotestamentária de Jesus como o Cristo divino, sobrenatural. 5. Fontes de Informação Esta seção tem paralelos em Mar. 9:2-36, pelo que a sua fonte foi o protomarcos. Ver informação sobre as fontes informativas dos evangelhos na introdução ao comentário no artigo intitulado o Problema Sinôptioo e no artigo sobre Marcos, Evangelho de. Alguns intérpretes têm procurado lançar dúvidas sobre a historicidade deste acontecimento, por crerem que se deve à imaginação dos membros da Igreja primitiva, especialmente criada para ilustrar a divindade de Cristo, ou que histórias similares do Antigo Testamento, especialmente sobre o resplendor do rosto de Moisés, ao receber a lei, foram reescritas e aplicadas a Jesus, como se Ele fosse um novo Moisés. Não obstante, a verdade é que nada soa tão veraz em face daquilo que sabemos de Jesus e de suas experiências misticas, eas descrições que aqui são dadas são típicas dessas experiências. 6. Natureza do Evento e Significados Uma aura de grande esplendor é freqüentemente associada às experiências místicas, quer historiadas quer não, nas Escrituras. Mas o acontecimento aqui narrado ultrapassa a experiência comum, porquanto não envolveu somente a Jesus, mas também a Pedro, a Tiago e a João, os quais, diferentemente de Jesus, não estavam sujeitos a essas experiências. Foi uma experiência de origem divina, uma revelação dada aos apóstolos, sobre a glória do reino futuro que terá Jesus como seu rei. O Senhor Jesus foi visto em sua glória, o homem imortal exaltado, mas também

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Raphael.

A Transfiguração de Jesus

Transfiguração

•••••• __ . transfigurou-se diant;e deles e·o seu ros'to respla.n.deceu COD10 o sol, e os seus vestidos se 'OOrn.ara.Dl. brancos co:z:no a luz. (~at. 17:2)

......... '

...não vos con1'orJD.eis CO:n1 este :Dl:un.do, D ' ) & S trans:forrnai-vos pela renovação do vosso entendi'IDento, para. que experbn.en.tais qual. seja a boa, agradável e ~eita vontade de Deus. (RoD1. 12:2)

SO'D'J.OS filhos de Deus, e ainda n.Ao é 'lDani:festado o que haVeD10S de ser. Mas saben10s que, quando ele se D')sni"estar" ~ o s seD1elba n tes a ele; porque ass:i:ln COD'l.O é o VereD1OS. (I João 3:2)

A'D'Judos, agora

Porque aqueles que Deus j á havia escolhido" estes taD'lbéD1 ele separou" para se tornareID. COD10 seu Filho. (RoD1. 8:29)

•••preciosas pro'IDe&sas __ •

para que por eJas fiqueis pa.rdcipantes da natureza divina... (II Pede 1:.-4)

•••

TRANSFIGURAÇÃO - TRANSFORMAÇÃO participante na natureza divina (vs.2). Moisés, provavelmente, representou a autoridade judaica da lei. Elias representou certamente os profetas, e juntos foram vistos como representantes da autoridade básica da religião revelada aos judeus. Alguns intérpretes vêem nesse acontecimento a existência de muitos símbolos, como o de Moisés, que representaria os que passaram pela experiência da morte e o de Elias, como a figura dos redimidos que serão arrebatados sem ver a morte; os apóstolos são vistos como representantes de Israel no reino futuro. Mas, devido ao fato de que o NT não indica tais lições, é precário exagerar os possíveis símbolos desse acontecimento. O vs. 5 é muito significativo, porque apresenta outro incidente da aprovação direta e divina à pessoa de Jesus e à sua missão. Outros significados, que apesar de acidentais, também são importantes, têm sido apresentados, como os seguintes: 1. Jesus, vendo claramente que já se aproximava a morte, necessitou de um consolo especial do Pai, da demonstração da aprovação divina em sua vida e obra. 2. Jesus precisou da demonstração do êxito final de sua obra; precisou da prova de que o reino, apesar de rejeitado pelo povo, seria uma realidade futura, de acordo com o elemento de tempo que o Pai determinasse. 3. Os apóstolos também necessitavam desse consolo, não só naquele instante em que estavam ligados a Jesus, mas também mais tarde, após a sua morte, ressurreição e ascensão. O trecho de II Ped. 1:16-18 ilustra o fato de que esse acontecimento insuflou grande segurança e confiança e, realmente, a lembrança da realidade desta experiência fortaleceu e conferiu maior autoridade à mensagem cristã. A experiência demonstrou, como poucas outras, a singularidade e a autoridade de Jesus, confirmando a sua identificação como o Messias prometido e afirmando a sua missão, não somente terrestre, mas também cósmica. "Os investigadores recentes se têm preocupado mais com o significado, propósito e pano de fundo da narrativa do que com suas origens históricas, porquanto muito têm a dizer-nos acerca do primitivo pensamento cristão. Assim, Herald Riesenfeld traça todos os antigos motivos e alusões em sua obra Jesus Transfigured (Copenhagen: Ejnar Munksgaard, 1947), que contém uma bibliografia completa. Conforme Riesenfeld, a história é fundamentalmente "histórica", pois relata uma visão da entronização de Jesus como Messias e Sumo Sacerdote, que Pedro e outros puderam contemplar. G.H. Boobyer, "St. Mark and the Transfiguration Story", Journal of Theological Studies, XLI, 1940, págs. 119-140, nega que isso tenha qualquer vínculo com a ressurreição. A transfiguração, em vez disso, seria a prefiguração da "parousia", da segunda vinda gloriosa de Cristo, tal como se vê em II Ped. 1: 13-18 e no Apocalipse de Pedro (Sherman Johnson, in loc.). O vocábulo grego aqui traduzido por transfiguração, em português é realmente a palavra metamorfose, que significa "mudança de forma". "Morphe" é uma das palavras gregas que significam "forma". Paulo se utilizou do mesmo termo, em Rom. 12:2, ao falar da transformação do homem interior, isto é, a vida interior do crente. A palavra morphe também foi usada para indicar a "forma" do corpo de Jesus após a sua ressurreição (ver Mar. 16: 12). A passagem de II Cor. 3: 18 usa a palavra ao aludir à história do rosto refulgente de Moisés, mas aplica essa transformação a todos os crentes. Em Fil. 2:6, o termo grego morphe se refere ao estado de Jesus antes da encarnação, e também depois, já feito "homem". É evidente que esse

vocábulo fala, usualmente, da natureza essencial de alguma coisa ou pessoa. Aqui, a Bíblia diz que "(Jesus) foi transfigurado". Pode ser que a transfiguração tenha envolvido realmente uma verdadeira alteração de natureza ou substância. De fato, esta fala da transformação do homem imortal, que tem vida em si mesmo, a vida não derivada, igual à vida de Deus, que o Pai conferiu a Jesus (como homem), e que Cristo dará aos seus verdadeiros discípulos. Ver as notas no NTI que tratam das implicações destas declarações, em João 5:26 e Rorn. 8:29. O termo "morphe" é usado em relação à essência da natureza, e às vezes em contraste com a palavra "skerna", que geralmente significa a forma externa, sujeita a alterações bruscas. Skema fala de formas acidentais; morphe pode falar da natureza essencial, ou de forma externa. TRANSFIGURAÇÃO. MONTE DA Ver sobre o Monte Tabor. Ver também o artigo Transfiguração 1.1, "O Lugar da Transfiguração". TRANSFORMAÇÃO SEGUNDO A IMAGEM DE CRISTO Nota de sumário: 1. João 5: 25,26 e 6:57, que dizem: "Em verdade. em verdade vos digo que vem a hora. e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus: e os que a ouvirem, viverão... Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo... Assim como o Pai, que vive, me. enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá". Esses versículos nos ensinam que a vida necessária e independente de Deus Pai, que consiste na verdadeira imortalidade, foi transmitida ao Filho de Deus, quando de sua encarnação como homem; e então, através do Filho, a todos os outros filhos, de tal modo que eles passam a participar da vida divina, a saber, a mesma vida que Deus Pai possui. Todos aqueles que são transformados segundo a imagem de Cristo compartilham desse tipo de vida. 2. II Cor. 3:18: "e todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em gloria, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espirito... " A transformação segundo a imagem de Cristo é um processo gradual, produzido através da dedicação diária de todo o nosso ser, através do contacto continuo com a divindade, mediante o Espírito de Deus, que é a força ativa dessa transformação. Ela passa de glória em glória, porquanto consiste na contemplação da elevada glória do Senhor, que é Cristo Jesus. O objetivo dessa transformação é a implantação, no crente individual, daquela mesma imagem, caráter essencial ou ser essencial que é possuído pelo próprio Filho de Deus. Trata-se de uma operação divina que não pode ser imitada pela reforma moral, porquanto se trata de um processo místico, que afeta a natureza moral, levando à perfeição; e isso é realizado em termos exatos, através da transformação metafisica do ser essencial, partindo daquilo que é comum aos seres humanos mortais, transformando-os em seres pertencentes à família divina, dotados da mesma natureza que o Irmão mais velho, que é Jesus Cristo. 3. Mal. 5:48: Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. Este versículo declara qual o grande alvo moral da humanidade. Esse alvo é a perfeição absoluta de Deus Pai. E um erro crasso reduzir esse versículo como se o mesmo ensinasse a simples maturidade, conforme tantos

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NA CASA DE MEU PAI HÁ MUITAS MORADAS

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..- ..- ..•••n.ã.o vos co~orxn.eis CO:D:I. este ma:u.ndo~ 'J"DSS tra.ns:forrnai-vos· pela. r'lI:D1ovação do vosso en.:~ndimae:n.to, para que ~en.tais qual seja a. boa, agradll:vel e perieita. vontade de Deus. (R.o:n::::a.. 12:2)

Amasdos, agora. SO:D:I.OS filhos de De-us. e ainda. nAo é rnani:festado o q-ue ha.ye:n::::a.os de ser. ~a.s salMD:o.os q'Ue~ quando ele se 'J"Dsni*estar ~ s e r e D 1 0 S SeD:I.eJbantes a ele; porque assin::l. co:n::::a.o é, o vere:n:1Os. (I João 3:2)

Porque a.queles qu.e Deus j á b.a.vi.a escolhido. estes ta'I'D~ elf3j· separou., para. se torna..rexn.. CO:D:l.O seu Filho. (Ro:n::::a.. 8:29)

• __preciosas pro:n::::a.essas ••• para. que por elas fiqu.eis

participa..n:tes da n.s:tu.reza. divina.... (II Ped.. 1 :4)

_.- ---

TRANSFORMAÇÃO intérpretes têm feito, os quais, dessa maneira, propositadamente ignoram a elevada mensagem que tem por intuito ser transmitida aqui. Os verdadeiros discípulos de Cristo estão sendo moralmente aperfeiçoados, e isso não subentende meramente a "impecabilidade", Pois uma pessoa pode estar livre do pecado e, contudo, não participar ainda da "santidade positiva" de Deus, como, por exemplo, do fruto do Espírito Santo, de conformidade com Gál. 5:22,23. Então, os remidos virão a possuir o amor, a longanimidade, a bondade, a justiça, a gentileza de Deus, juntamente com todas as qualidades morais de seu ser. Os remidos serão perfeitos nessa santidade, bem como em seus seres morais, tal como Deus Pai é igualmente santo; e isso porque são verdadeiros filhos de Deus, tal como Jesus é o Filho de Deus. Ora, essa transformação moral, por sua vez, provoca a transformação metafisica, do que fala Rom. 8:29 especificamente. 4. Efé. 1:23 " ... a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas... .. Cristo é aquele que preenche tudo em todos, em tomo do qual, por semelhante modo, gira a criação inteira e encontra o seu significado. Assim também nos ensina o "mistério" aludido em Efé. I: 10. Porém, a plenitude de Cristo é a igreja, a sua "noiva". Isso expressa uma glorificação de grande magnitude, posto que nenhum anjo, por mais exaltado que seja, foi jamais chamado de filho ou de plenitude de Cristo. E claro, portanto, que os crentes, transformados conforme a imagem de Cristo, serão elevados muito acima de todos os outros seres, tomando-se superiores aos grandes principados, poderes e domínios, que são vocábulos que expressam a gradação variada existente entre os seres angelicais. A plenitude de Cristo, entretanto, consiste na personalidade humana transformada. Existem várias formas de vida e, na escala descendente, temos de começar pela vida suprema de Deus Pai. O Filho de Deus participa dessa vida, como os filhos de Deus também dela participam, ainda que, por enquanto, estes últimos não participem dela ainda em sua plenitude; mas, o fato de que participarão, nesta plenitude, coloca-os em nível muito acima de qualquer anjo. 5. Efé. 4:12,13,15: " ... com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo ... seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo... " Os dons espirituais doados aos membros da igreja, e a própria existência da igreja, visam produzir a perfeição dos crentes e essa perfeição está "em Cristo", porquanto a igreja é o corpo de Cristo. A perfeição a ser atingida deve ser aquilatada pela mesma perfeição existente em Cristo, sendo uma "perfeição completa", e não uma perfeição imitada. Esse desenvolvimento em direção à perfeição se verifica de acordo com a verdade e com o amor, pois a vida caracterizada pelo amor cristão, pela dedicação ao próximo, pelo amor inspirado e implantado pelo Espírito Santo (ver Gál. 5:22,23) é o caminho mais rápido em direção à perfeição, porquanto faz de nós aquilo que Cristo é, já que Ele é o mais extraordinário exemplo de altruísmo que o homem já teve ocasião de ver. Ora, o amor consiste em desejarmos para os outros aquilo que desejamos para nós mesmos, bem como de nos importarmos com os outros do mesmo modo que nos preocupamos conosco mesmos. Deus "...amou o mundo de tal maneira que deu oseu Filho ..." (João 3:16), e Cristo

nos amou de tal modo que deu a sua vida por nós, quando ainda éramos seus inimigos (ver Rom. 5:5-8). Esse mesmo princípio, em nós implantado pelo Espírito Santo, atua no crente, produzindo a mesma perfeição moral possuída por Jesus Cristo, até que haja a plena participação em sua natureza e estatura. Esse é o grande alvo de nossa transformação segundo a sua imagem. Assim como a cabeça e o corpo participam de uma única natureza, embora possuidores de funções e posições diversas, por igual modo os crentes, na qualidade de corpo de Cristo, possuem a sua mesma natureza, ainda que ocupem funções e posições diferentes das do Filho, dentro da economia divina. 6. Il Ped. 1:3,4: "Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à vida e, à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo... " Essa é a mais profunda verdade do Evangelho, mas que tem sido virtualmente ignorada pela Igreja, onde a salvação tem sido reduzida ao mero perdão dos pecados e à mudança de endereço para os céus. O Evangelho de Cristo, entretanto, consiste em muito mais do que isso, e envolve até mesmo a nossa co-participação na natureza divina. Nenhum homem ousaria fazer tal pronunciamento por si mesmo, porquanto estaria cometendo o pecado de orgulho de Satanás, que desejou ser "igual ao Altíssimo". Neste versículo, porém, o remido é visto como um ser de tal modo transformado, segundo a imagem de Cristo, que chega até a participar da sua divindade. A palavra grega aq ui traduzida por natureza é O mesmo vocábulo que expressa o ser essencial, e não alguma característica secundária. A natureza humana, assim sendo, no caso dos remidos, será transformada segundo a "natureza divina". Se compararmos isso com outros trechos bíblicos, chegaremos a entender que participaremos da natureza divina conforme ela aparece em Jesus Cristo, tal como o corpo tem a mesma natureza que a cabeça. Isso não infringe o conceito da "Trindade", porquanto sempre haverá na Trindade algo sem-par; e quanto à sua posição, o Filho de Deus não tem outro que se lhe compare. Os homens, porém, podem tornar-se seres dotados da mesma natureza do Filho. A participação da alma transformada na divindade é, e sempre será finita, embora perfeitamente real. Esta

participação sempre será num estado de "aumento", porque a própria glorificação nunca pode entrar num estado estagnado. A participação do Filho da divindade é infinita; portanto, sempre haverá uma diferença entre a Cabeça e o Corpo. Não há base na suposição de que a "morte física" produz a glorificação completa. Nos céus não há estagnação e os crentes não atingirão a elevadíssima glória de Cristo em um único grande salto, como alguns tolamente imaginam. Pelo contrário, o alvo mesmo da existência, tanto nos céus como aqui, consiste no crescimento constante, até atingirmos a plena estatura de Cristo. Todavia, o tempo necessário para tanto sempre depende tão- somente de cada indivíduo. Paulo gravitou até o terceiro céu (ver II Cor. 12:2-4), um lugar de glória magnificente. Contudo, nenhumjudeu instruído chamaria a isso de residência mais elevada de Deus, ainda que faça parte dos "lugares celestiais". Os remidos, por conseguinte, progridem para a mais exaltada glória, e não

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TRANSFORMAÇÃO atingem a mesma meramente porque morrem fisicamente. Não obstante, o lar verdadeiro da Igreja de Cristo são os "lugares celestiais". Mas a epístola aos Efésios, que reitera com freqüência essa expressão, ensina-nos que existem muitos níveis de vida e de seres espirituais. Mas a promessa feita a todos os crentes é que, finalmente, nenhum ficará aquém desse alvo, pois esse sucesso foi garantido pelo próprio Cristo, no oitavo capítulo do evangelho de João, bem como pelo apóstolo Paulo, no oitavo capítulo da epístola aos Romanos. É uma vaidade sem igual a dos homens que pensam saber tudo acerca dos céus de Deus, ou sobre os lugares celestiais, os quais cercam a verdade de Deus com a sebe de seus dogmas, defendendo, dessa maneira, verdades que são meramente parciais. Para esses estão reservadas muitas surpresas. De uma coisa podemos estar certos, porém: Cristo é o grande alvo, tanto da existência nesta esfera terrena, como da vida na esfera celeste. E a vida de que desfrutaremos ali, por igual modo, participará do desenvolvimento em Cristo Jesus, até que, por fim, sejamos nós o que Ele é, nos termos mais literais possíveis. E a isso que nos referimos, quando falamos dos muitos filhos de Deus que estão sendo conduzidos à glória. 7. Heb. 2: 10: "Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as causas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos o Autor da salvação deles... " Em sua encarnação, Cristo assumiu a humanidade, tendo-se limitado a andar pela mesma vereda que palmilhamos, a fim de que pudesse ser o pioneiro do caminho de volta a Deus, e não apenas o próprio caminho de retomo. Por essa razão é que algumas traduções dizem, em Heb. 2: 10, "pioneiro", em vez de "Autor". Porém, ambas essas traduções emitem conceitos que expressam a verdade. A encarnação de Cristo se cerca de grande importância, posto que assim como Cristo se identificou completamente conosco, assim também nos identificaremos completamente com Ele. Cristo tomou sobre si a natureza humana autêntica; mas, por meio do Espírito de Deus, foi transformado como homem, e foi com o poder do Espírito Santo que operou suas extraordinárias maravilhas. Além disso, Jesus prometeu que poderíamos fazer prodígios iguais aos que Ele fez, e maiores ainda (ver João 14:12). Esclareceu que assim poderia ser porque Ele estava indo especificamente para o Pai, o que subentende o dom subseqüente e necessário do Espírito Santo, que Ele outorgaria a seus discípulos, para que fosse o seu representante à face da Terra, o seu alter ego, que viria completar a obra por Cristo iniciada, especialmente no aspecto da transformação dos crentes à imagem do Filho de Deus. Além disso, quando de sua ressurreição e ascensão, Cristo entrou não somente no santuário celeste (os lugares celestiais, a habitação de Deus, a pátria dos cidadãos celestiais), mas entrou na própria habitação de Deus, o Santo dos Santos dos céus. Sim, Cristo foi glorificado, mas ainda aguarda sua posterior e maior glorificação na Igreja, bem como quando se tomar o centro real de toda a criação, tema esse explorado no primeiro capítulo da epístola aos Efésios, Ora, aqueles que confiam em Cristo experimentarão exatamente o mesmo processo. Esses possuem ainda, por enquanto, a vida mortal, na carne, o que, para eles, serve de escola de "aperfeiçoamento", quando lhes é dada a oportunidade de aprenderem os princípios pelos quais a perfeição lhes será conferida. Tais crentes estão sendo transformados segundo Cristo, e pelo mesmo Espírito que o transformou. Além disso, potencialmente, já participam de sua vida ressurrecta e de sua elevada glória. Por

conseguinte, tudo quanto se aplica ao cabeça, que é Cristo, se aplica também ao corpo, que é a igreja, tanto no que conceme à natureza essencial como no que diz respeito à herança, incluindo tudo quanto os remidos receberão, farão e serão. Ora, disso é que consiste a condução dos muitos filhos à glória - a duplicação de Cristo no espírito humano. Esses filhos possuem a mesma natureza do Filho de Deus. Ver o artigo sobre a Humanidade de Cristo e Fil. 2:7 e Heb. 5:9. 8. 1 João 3:2: "Amados, agora somosfilhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é ... " Para os crentes, a parousia ou "segundo advento de Cristo" será um momento em que os seus seres serão extraordinariamente transformados, quando também o problema do pecado será solucionado, quando a alma remida será libertada do empecilho representado pelo corpo mortal. Isso significa, por sua vez, que o progresso no desenvolvimento espiritual será mais fácil e rápido nos lugares celestiais. Porém, até mesmo com respeito aos lugares celestiais, devemos antecipar a reação entre a vontade divina e o livre-arbítrio de todo o espírito glorificado, porque isso é um princípio firmado pelo próprio Deus. Todo e qualquer progresso espiritual só ocorre havendo essa reação entre o elemento divino e o humano. Visto que o conceito da perfeição é infinito, e que a santidade de Deus é infinita, parece-nos razoável dizer que a própria eternidade consistirá em aproximar-se cada vez mais de Deus, em que o crente avançará de glória em glória, sempre crescendo em Cristo e em suas perfeições. Na eternidade, entretanto, os espíritos humanos remidos serão levados à participação na mais elevada forma de vida, isto é, a verdadeira imortalidade de Deus Pai, aquela forma de vida que não pode deixar de existir, aquela independente e necessária; pois a vida de Deus Pai é a própria fonte da vida, e não alguma vida dependente, tomada por empréstimo, conforme toda e qualquer outra vida, observável à face da Terra e nos lugares celestiais. É a essa forma de vida que aplicamos o adjetivo eterna; porém, na linguagem filosófica e teológica, essa palavra não indica meramente existência sem princípio e sem fim, mas, antes, uma modalidade ou tipo de vida. Trata-se da vida divina, da qual já participamos em nossas almas. Existem muitos níveis de vida, a começar pelas primeiras proteínas, que têm a capacidade simples de se reproduzirem. Aparecem então formas de vida de múltiplas células, mas ainda invisíveis, como os micróbios. Aparecem depois formas de vida mais complexas, como a dos insetos e dos outros animais irracionais. No homem, ou talvez um pouco antes, encontramos certa dualidade de vida. a fisica e a espiritual, vivendo essa dualidade em um único ser - a dualidade composta de corpo e alma. Podemos assumir, pois, que à face da Terra o homem representa a forma mais elevada de vida, entre os seres considerados mortais. Acima do homem, entretanto, avulta o reino angelical, dotado de seres destituídos de vida física, mas donos de vida espiritual e imortal, ainda que não participantes da imortalidade de Deus Pai, pois a imortalidade desses seres celestes é tomada de empréstimo de Deus Pai. O alvo dos crentes, entretanto, é a participação na própria vida de Deus, a forma mais elevada de vida, tornando-se seres igualmente dotados de vida necessária e independente. A segunda vinda de Cristo, que nos elevará muito acima desta vida mortal, será um grande salto espiritual para a frente, porquanto os antigos obstáculos serão vencidos, e uma vida de espiritualidade pura terá início.

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TRANSFORMAÇÃO - TRANSGRESSÃO Acima, pois, apresentamos as passagens neotestamentárias centrais que ensinam e ilustram o conceito da transformação dos remidos segundo a imagem moral e metafisica de Cristo. Cada uma das referências (in loc.) dadas, recebe um tratamento especial, onde também as idéias aqui expostas são expandidas com maior abundância de detalhes. A transformação segundo a imagem de Cristo será, portanto, a glorificação dos crentes. 9. Rom. 8:29: Porque os que dantes conheceu, também ospredestinoupara serem conformes à imagem de seu Filho, afim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. É um erro considerarmos essa declaração como se a mesma significasse que Cristo é Filho de Deus por natureza, ao passo que nós somos apenas por adoção. A verdade aqui expressa é muito mais profunda do que essa. A adoção se aplica aos crentes, mas a filiação por natureza também se aplica a eles, e disso é que consiste a participação na divindade, conforme 11 Ped. 1:4 deixa tão claro. Podemos notar, por semelhante modo, o trecho de João 1:12, onde os "filhos" são chamados tekna, vocábulo grego comum para indicar filhos por nascimento, filhos naturais. Nos versículos dezesseis e dezessete desse primeiro capítulo do evangelho de João esse uso do termo é reiterado. Os homens tomam-se filhos de Deus, que estão sendo conduzidos à glória, porque participam da mesma natureza possuída pelo Filho de Deus, o Senhor Jesus. O ser essencial dos crentes está sendo transformado para ser idêntico ao ser essencial de Cristo. De fato, somente assim é que poderia ser dito a nosso respeito que somos a "sua plenitude", a plenitude daquele que enche tudo em todos, conforme se lê em Efé, I :23. As passagens de João 5:25,26 e 6:57 referem-se ao fato da participação na vida necessária e independente, na verdadeira imortalidade de Deus. Até mesmo a imortalidade dos anjos é dependente, e não necessária, ou seja, não pertence àquela forma de vida que não pode cessar de existir, porquanto depende de Deus para sua continuação. No entanto, em Cristo, os remidos serão tão elevados que participarão da autêntica imortalidade do Pai. Ao Senhor Jesus, como homem, foi conferida essa vida; e Ele, por sua vez, a confere àqueles que nele confiam. Por conseguinte, o alvo dos homens remidos os elevará a um nível superior ao dos anjos, não somente quanto à glória, mas também quanto ao seu ser essencial. Assim como Cristo participou da natureza humana verdadeira, assim também participaremos de sua natureza glorificada, de seu corpo ressurrecto, e de tudo quanto Ele é; e, desse modo, estaremos qualificados a ser seus co-herdeiros da glória celeste. "O objetivo do esquema do cristianismo é que Cristo não fique sozinho, na glória isolada de sua preexistência, mas, antes, que seja cercado por uma numerosa fraternidade, amoldado segundo a sua semelhança, tal como ele mesmo é a semelhança de Deus". (Sanday in loc.). "Existe um outro tipo de vida sobre o qual a ciência ainda tomou bem pouco conhecimento. Essa forma de vida obedece às mesmas leis. Edifica um organismo dentro de sua própria forma. É a vida similar à de Cristo. Assim como a vida dos pássaros cria um pássaro, imagem de si mesmo, assim também a vida de Cristo cria um Cristo, a imagem de si mesmo, na natureza íntima do homem... De conformidade com a grande lei da conformidade 90S tipos, essa conformação assume uma forma específica. E a forma do Artista que a modela. E durante toda a vida esse processo glorioso, místico, admirável, e no entanto perfeitamente definido, vai prosseguindo, 'até que Cristo seja formado' no mesmo". (Drummond, "Natural Law in the Spiritual World"),

"Conformados segundo a imagem: o termo grego 'summorphous ' (conformados) e a palavra grega' eikonos' (imagem). Note-se que 'eikon' é usada acerca de Cristo como a própria 'imagem' do Pai. (Ver 11 Cor. 4:4 e Col. 1: 15). Por conseguinte, o crente se torna uma perfeita duplicação do Filho. Aqui temos tanto 'morphe' como 'eikon', a fim de expressar a transformação gradual que se processa em nós, até que sejamos revestidos da semelhança de Cristo, o Filho de Deus, de tal maneira que nós mesmos, em última análise, teremos a semelhança familiar de filhos de Deus. Glorioso destino". (Robertson, in loc.). Eu já disse que a alma é mais que o corpo, E já disse que o corpo não é mais que a alma, E nada, nem Deus, é maior do que o próprio eu é para alguém, E quem anda uma milha sem simpatia, anda para seu próprio funeral, vestido em sua mortalha, E eu e tu, sem tostão, podemos adquirir as riquezas da terra, E dar uma olhada dum fetjão em sua plantinha confunde a erudição de todos os tempos, E não há comércio ou emprego em que os jovens, seguindo, não podem tornar-se heróis, E não há objeto tão suave que se torne o eixo do universo em roda. (Walt Whitman)

Os intérpretes que opinam que os crentes participarão tão somente da corporeidade glorificada de Cristo (ver Fil. 3:21) e da "glória" dos lugares celestiais, são míopes, e nem podem começar a explanar os diversos trechos bíblicos que se referem a esse mesmo tema, conforme temos feito na exposição deste versículo. TRANSGRESSÃO Há três termos hebraicos e uma palavra grega envolvidos neste verbete, isto é: I. Maal, "ultrapassar", palavra hebraica usada por vinte e sete vezes, conforme se vê, por exemplo, em Jos. 22:22; I Crô. 9: 1~ 10: 13; 11 Crô. 29:19; Esd. 9:4; 10:6. 2. Abar; "ir além", "transgredir". Vocábulo hebraico que aparece por muitas vezes, embora apenas por duas vezes com o sentido claro de "transgredir", Deu. 17:2 e Pro. 26:10. 3. Pesha, "rebelar-se", "transgredir", "pisar além". Termo hebraico que aparece por noventa e três vezes, conforme se vê, por exemplo, em Êxo. 23:21~ Lev. 16:16,21; Núm. 14:18; Jos. 24:19; I Sam. 24:11 ~ I Reis 8:50; J6 7:21; 8:4: 35:6; 36:9; Sal. 5:10; 19:13; 103:12; 107:17; Pro. 12:13; 17:9,19; Isa. 24:20~43:25; 44:22; Jer. 5:6; Lam. 1:5,14,22; Eze. 14:11; 18:22,28,30,31; 39:24: Dan. 8:12,13; 9:24; Amós 1:3,6,9,11,13; Miq.l:5,13; 6:7; 7: 18. Também há uma forma variante, pasha, que aparece por quarenta vezes, conforme se vê, para exemplificar, em Sal. 37:38; 51:13; Isa. 1:28; 46:8; 48:8; 53:12; 59:13; Dan. 8:23; Osé, 14:9; Amós 4:4 4. Parábasis, "transgressão", "contravenção" vocábulo grego que é usado no Novo Testamento por sete vezes: Rom. 2:23; 4:15; 5:14; Gál. 3:19~ I Tim. 2:14; Heb. 2:2 e 9:15. O adjetivoparabátes, "transgressor", ocorre por três vezes, Gál. 2:18; Tia. 2:9, 11. Também há uma palavra grega, ânomos, "sem lei", "desregrado", que ocorre por duas vezes e que nossa versão portuguesa também traduz por "transgressor", mas cujo sentido mais profundo e correto é alguém que vive desregrado, sem atender a qualquer lei: ver Mar. 15:28 e Luc. 22:37.

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TRANSGRESSÃO - TRANSIGÊNCIA A transgressão é a quebra da lei, no sentido de ultrapassar de um limite fixado. É preciso que haja algo proibido para que possa haver uma transgressão. Por isso mesmo, há uma sutil mas profunda distinção entre o pecado e a transgressão, porquanto aquele que não está sujeito a qualquer lei pode pecar (ver Rom. 5:13); mas, com a introdução de uma lei, o contraventor comete transgressão, se chegar a violar essa lei (Rom. 4: 15; 5: 14; Gál. 3: 19). Por conseguinte, o "pecado" leva-nos a transgredir (Rom. 7:7,13). O pecado pode consistir em uma desobediência implfcita, mas a transgressão é sempre uma desobediência explícita. Daí, a transgressão é uma forma agravada de pecado. 5. Transgressão (delito). No grego paráptoma, "desvio". Esse vocábulo grego ocorre por dezenove vezes: Mal. 6: 14,15; Mar. 11:25,26; Rom, 4:25; 5: 15-18,20; 11:11,12; li Cor. 5:19; Gál. 6:1; Efé. 2:1,5; Col. 2:13. Nossa versão portuguesa não se mostra nada homogênea na tradução desse vocábulo. São usadas as palavras portuguesas "ofensa", "delito", "transgressão", etc., para traduzir o termo grego em foco. O ato indicado pelo termo grego é o de desviar-se de uma rota, o de cair para um lado, o de desertar, de apostatar. Isso posto, está envolvida a idéia de infidelidade, de ato traiçoeiro. Duas pessoas entraram em um acordo; mas uma delas rompe com o acordo. Incorreu nesse tipo de transgressão. Nas páginas da Bíblia, mais comumente está em pauta a infidelidade do homem diante de Deus, embora também haja menção ali a casos de infidelidade somente entre seres humanos. Várias palavras hebraicas e gregas foram empregadas para indicar a complexa noção de pecado. Ver o artigo sobre Pecado. O ato expiatório de Cristo, entretanto, anula e permite o perdão do pecador, sem importar o aspecto que essas diversas palavras estejam salientando. Citamos aqui, na íntegra, o trecho de Efésios 2:4,5, onde aparece esse vocábulo grego, e onde a nossa versão portuguesa o traduz por "delitos": "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo-pela graça sois salvos..." TRANSIGÊNCIA Como termo ético, essa palavra começou a ser usada nos fins do século XIX. Mas o princípio que ela expressa sempre existiu. A transigência é um ajuste, um acordo obtido mediante concessão mútua, ou simplesmente algo feito mediante concessão, em que a pessoa cede algo a outrem. Consideremos os pontos abaixo: 1. Deveres Conflitantes. Algumas vezes, esses conflitos nos envolvem na necessidade de transigir. Todas as pessoas têm vários deveres a cumprir, mas nem sempre as circunstâncias permitem o pleno cumprimento dos mesmos. Isso posto, pesando prioridades, certos deveres são aceitos e outros são preteridos, ou então cumpridos parcialmente. Essa transigência pode envolver certo elemento de violação de um dever. Ademais, o egoísmo, as vantagens pessoais, o desejo de lucro exagerado ou o expediente podem ser fatores determinantes. Nesses casos, os deveres menos importantes são cumpridos, ao passo que os deveres mais importantes são negligenciados. Para exemplificar, um homem pode apreciar muito a companhia de seus familiares, e seus deveres paternos impulsionam-no a isso. Porém, a pura preguiça é capaz de inspirá-lo a estar em companhia dos seus familiares quando deveria estar trabalhando e provendo o necessário para eles, o que já é um dever mais importante que o primeiro.

2. Transigência Religiosa. Deus ordena que honremos os nossos pais. Certas figuras religiosas, porém, entre os judeus, preferiam dedicar seus meios pecuniários ao templo, em vez de usarem-nos para cuidar de seus pais idosos. Essa era uma prática comum nos dias de Jesus. Também é claro que nem todo esse dinheiro era canalizado para o templo, mas uma parte era usada como desculpa para servir ao próprio eu. Ver Marcos 7: 11 e seu contexto. O problema de trabalhar aos domingos ou de levar uma vida ativa na igreja local, sempre foi um problema dificil de resolver para aqueles que têm empregos que requerem trabalho dominical. Geralmente a pessoa prefere dedicar-se ao seu trabalho. Tomás de Aquino teve de enfrentar uma situação na qual ele obedecia à sua própria consciência, ou obedecia a seus pais. Ele queria ser sacerdote, mas seus pais opunham-se resolutamente à idéia. Chegaram mesmo a tentar envolvê-lo em uma aventura amorosa, para debilitar sua resolução. Porém, ele obedeceu à sua consciência, em vez de atender aos seus pais. E a história comprovou a sabedoria de sua preferência. O pai de João Calvino virtualmente forçou-o a estudar advocacia, e não teologia. E Calvino obedeceu. Porém, quando seu pai faleceu, ele abandonou a carreira de advogado e ingressou em uma escola teológica. Um famoso médico canadense, que se notabilizou no campo da medicina, antes disso havia sido forçado a estudar em um seminário teológico. Ele passou ali um ano horrível, antes que seus pais concordassem em seu ingresso na faculdade de medicina, qU,e era parte de seu desejo e de sua inclinação pessoal. E que a sua missão na vida envolvia a medicina e não a teologia, conforme os eventos subseqüentes de sua vida claramente demonstraram. Aquele jovem bem poderia ter ingressado na faculdade de medicina desde o começo. Nem sempre os pais estão com a razão. 3. Algumas ~zes os Homens se Enganam. O Antigo Testamento narra como Deus ordenou que Abraão realizasse um sacrificio humano, quando ordenou que lhe oferecesse seu filho, Isaque. Porém, todos sabem que os sacrifícios humanos são algo terrivelmente errado. No entanto, Abraão quase levou a efeito a ordem recebida, retrocedendo somente no último instante. Para mim, esse é um claro caso de teologia distorcida. Abraão pensava que Deus requeria isso da parte dele, devido à sua formação cultural, durante toda a sua vida anterior. Mas, desistiu de seu ato, quando sua voz interna e mais sábia disse-lhe que ele estava a pique de praticar um grande crime. A narrativa ilustra o conflito das reações a leis morais contraditórias. Porém, nesse caso, o conflito estava realmente em Abraão, e não nas leis morais, que nunca entram em desacordo. Até onde posso ver as coisas, essa história ilustra como a teologia de uma pessoa, apesar de cultivada e criada com seriedade, pode estar equivocada. Os rnórmons, no começo de sua história, tiveram de enfrentar um conflito similar. O profeta deles promovia a prática da poligamia. Muitas pessoas convertidas ao mormonismo, que antes haviam sido evangélicas, foram encorajadas a praticar a poligamia. Muitas assim fizeram, embora a porcentagem dos polígamos, entre os mórmons, nunca tenha sido muito elevada. Porém, o governo norte-americano acabou proibindo tal prática. O que poderia fazer um mórmon, nessa conjuntura? Para eles, a questão parecia clara. A palavra do profeta deveria ser seguida, e não a proibição governamental. Porém, o governo forçou-os a descontinuarem a poligamia. Então eles mudaram sua prática para um esquema religioso, segundo o qual as mulheres são seladas aos homens, como

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TRANSIGÊNCIA - TRANSPLANTE esposas plurais, aguardando pelo estado da imortalidade. Podemos tomar isso como outro exemplo que ilustra como a teologia de um indivíduo pode acenar a ele com ideais e deveres falsos. Nesses casos, a transigência pode laborar em erro, ainda que inspirada pela fé religiosa. 4. Kant Cria no Poder da Consciência. Outro tanto sucedia ao bispo Butler (que vide). Usualmente. essa crença é justificada. Quase sempre sabemos o que nos compete fazer, quando surgem conflitos de consciência. mesmo quando isso envolve dois deveres conflitantes. Quando falhamos, usualmente há alguma razão egoísta, que inspira tal fracasso. Quase sempre sabemos onde fica. realmente. o nosso dever. A maior parte da nossa transigência diante do mal ocorre quando sabemos perfeitamente bem qual é o nosso dever real. Caímos em tais erros devido à nossa fraqueza pessoal. conforme Paulo descreveu tão vividamente no sétimo capítulo da epístola aos Romanos. 5. Ética Situacionista. Esse é apenas outro nome para a ética relativa. Algumas pessoas insistem que não existem padrões fixos. perfeitos, absolutos. Elas supõem que cada situação deva ser manuseada de forma independente. com base em seus próprios méritos. Usualmente. o que governa os atos daqueles que crêem na ética relativa é a vantagem pessoal ou o prazer. Um ato qualquer não é reputado errado. se a pessoa que o praticou puder escapar à devida punição. Segundo alguns dizem, o desfalque não seria um crime. a menos que a pessoa fosse apanhada e isso é aplicado por eles a muitos casos similares e diferentes. Platão. entretanto, ensinava que a pior coisa que pode acontecer aum homem que está errado é não pagar pelo erro feito. não sofrendo qualquer penalidade. Pois. desse modo, sua alma aprende a corromper-se. A ética relativa repousa sobre o alicerce da transigência quanto aos princípios éticos. Leis são violadas. quando se diz que elas não são leis válidas, porquanto não haveria leis éticas. Em muitas situações que temos de enfrentar, não há o envolvimento de qualquer lei ética. Antes. nesses casos, agimos por buscarmos nossa vantagem pessoal. E podemos fazer isso sem cairmos em qualquer transgressão. De outras vezes. porém. há o envolvimento de certo ou errado. Nesses casos, qualquer transigência será um erro. e não apenas um expediente.

TRANSJORDÂNIA 1. Definições. O termo hebreu envolvido é eber iordan, "além Jordão", Transjordânia é a versão latina do mesmo termo. Cisjordânia significa "nesse lado" do Jordão, apontando para o lado oeste, enquanto trans significa "leste". Gileade era usado para falar da área inteira do leste da Palestina (Deu. 34.1; Jos. 22.9), e o termo grego relativo ao mesmo território era Coele-Síria (Josefo Ant. I.xi.5; XIII.xiii 2 ss.). 2. Loca/. O leste da Palestina inteiro pode ser representado por este termo, de modo geral reconhecido corno aplicado a Israel e à sua terra, na forma de Da, o norte do Egito. e a Arábia Saudita, no sul e sudoeste. O limite leste de Israel era sempre indefinido, estando limitado apenas por certas cidades ou marcos "lá fora". Mas essa fronteira indefinida estende-se do Iraque a Arábia Saudita, sem muita precisão. Os nomes da Bíblia associados a essa área eram Edom(sul do Mar Morto), Moabe, Amam. Gileade e Basã, 3. Observações Bíblicas. A Rodovia do Rei passava por esse território (Gên, 10.10 ss.; 14.12 ss.; 32.10). Era a via dos reis do leste. A Israel. quando caminhava em direção à Terra Prometida, foi negado o direito de passar

por ali (Núm. 20.17), o que criou muita confusão. Deu. 8.9 menciona o local como um ponto de operações mineiras. a incluir as minas de cobre do rei Salomão localizadas em Eziom-Geber. Moisés viu a Terra Prometida. a incluir a parte leste, do monte Nebo, e, em uma época posterior, Davi, fugindo de Saul para preservar sua vida, correu de um lado para outro naquele território (I Sam. 22.3 ss.). As tribos que ocupavam essa parte do território de Israel eram a meia tribo (leste) de Manassés, Rúben e Oade. Para maiores detalhes sobre isso. ver o artigo separado chamado de Tribos, Localização das, cuja seção 11 trata especificamente das tribos da Transjordânia. VerJuL capo 13 para detalhes sobre a divisão tribal. A divisão tribal idealista de Ezequiel deixa a Transjordânia de fora por completo, por motivos desconhecidos. Os intérpretes que supõem que essa profecia deverá ser cumprida no futuro distante (como no Milênio) avaliam que o Desejo Divino simplesmente deixará fora essa parte de Israel quando a Nova Israel surgir. VerEze. 47.13-48.29. Mesmo se essa interpretação for real, ela não nos informa o porquê disso. No Novo Testamento, O termo usado para referir-se à maior parte daquilo que foi chamado "além do Jordão" (eber iordan) é Peréia, que no grego significa "do outro lado". A Septuaginta tem peran tou Iordanou ("do outro lado do Jordão"), Esse nome apenas começou a ser empregado após o cativeiro babilônico. O artigo sobre Peréia é bastante detalhado, o que permite a brevidade aqui.

TRANSLAÇÃO Algumas vezes, esse vocábulo é usado como sinônimo de Arrebatamento. Ver o artigo sobre a Parousia, onde esse evento é discutido. TRASMIGRAÇÃO Essa palavra vem do latim, trans, "cruzar", e migrare, "migrar", um termo aplicado às reencarnações da alma humana. Essa palavra com freqüência é empregada como sinônimo de reencarnação. Algumas vezes, todavia, refere-se a uma espécie especial de renascimento. em que. supostamente, a alma humana pode encarnar-se em um corpo animal, e não meramente humano. Outras vezes, esse vocábulo alude à alegada jornada do homem através de todas as formas de existência, a começar pelo reino mineral, avançando para o reino vegetal, então tomando corpos de animais irracionais. e. finalmente. assumindo forma humana, a partir do que a alma humana experimentaria existências demoníacas e divinas. Ver o artigo detalhado chamado Reencarnação. TRANSPLANTE DE ORGÃOS O transplante de órgãos vitais humanos para outros corpos humanos, tem levantado inúmeras questões éticas. Esses órgãos são retirados de pessoas que têm sofrido morte súbita, cujos órgãos foram doados para essa finalidade, ou então são retirados de pessoas ainda vivas (como no caso de órgãos duplos, como os rins-em cujo caso o doador perde um dos rins e fica com outro). Alguns pensam que o transplante de órgãos serve de empecilho ao espírito que partiu do corpo morto, visto que um espírito pode sentir atração por um órgão de seu corpo, que continue funcionando. Parece que essa é uma conjectura que não tem qualquer base real. exceto nas experiências de alguns místicos, que fazem tais reivindicações. Se tal objeção está ou não com a razão, só

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TRANSPLANTE-TRATADO se saberá com maiores investigações, se possíveis. Outros objetam à mutilação de um corpo, como contrário à dignidade dos entes queridos. Por outro lado, um cadáver sofre dano muito maior que uma mera mutilação, pois se decompõe no sepulcro. O que talvez tenha maior peso nessas objeções todas, seja o problema da dignidade. As pessoas dizem: "Deixai os mortos descansarem em paz"; mas isso nada tem a ver com o que acontece ao corpo físico morto, e, sim, ao homem real, à alma, que precisa então estar em paz com Deus. Parece claro que as objeções ao transplante de órgãos realmente são reações emocionais, sem qualquer base ética. Antes, alicerçam-se sobre sentimentos dos que desejam proteger àqueles que foram amados em vida. Essa proteção volta-se para o corpo, tão intimamente vinculado à pessoa, embora não seja a pessoa propriamente dita. As pessoas olvidam-se que a pessoa tão-somente usara o corpo físico como um veículo; e assim, se partes desse corpo puderem melhorar as vidas de outras pessoas, então o uso dessas partes é até eticamente desejável, e não apenas permissível. A invenção de órgãos artificiais talvez algum dia obvie a necessidade de se usar órgãos vivos de outras pessoas. Essa ciência ainda se encontra nos estágios iniciais; mas a tecnologia haverá de aperfeiçoá-la, talvez até um grau impossível de calcular atualmente, com a manufatura de aparelhos artificiais e mecânicos que tomem o lugar de funções vitais. Não fossem os sentimentos de certas pessoas, que se preocupam somente em prolongar a vida física, ao mesmo tempo em que elas negligenciam frivolamente os interesses da alma, o homem real, nem se pensaria em objeções supostamente éticas ao transplante de órgãos. TRANSUBSTANCIAÇÃO Ver o artigo sobre o Pão da Vida, Jesus Como, em sua segunda seção: Teoria da Transubstanciação, onde apresento uma completa explicação acerca dessa doutrina. "Essa palavra vem do latim, trans, 'cruzar' e substancia, 'substância'. Essa é a doutrina católica romana de que, na Eucaristia, o pão e o vinho transmutam-se no corpo e no sangue de Cristo. Adotada pelo quarto concílio laterano, em 1215, a doutrina foi confirmada pelo concilio de Trento (vide). Wycliffe (vide) afirmava que a transubstanciação é impossível". (P). Essa citação não deixa claro que estamos abordando a misteriosa substância espiritual do corpo e do sangue de Cristo, que substitui a substância do pão e do vinho, e que não estão em vista os acidentes (as qualidades físicas da matéria, que podem ser submetidas a teste científico). O artigo acima referido explica a questão com pormenores. "Palavra oficialmente utilizada desde o concilio de Trento a fim de exprimir a transformação da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e do Sangue de Cristo, enquanto que os acidentes do pão e do vinho permanecem os mesmos" (E). TRASEU No grego, Thrasaios. Ele foi o pai de Apolônio (ver II Macabeus 3.5). Mas, nesse trecho, a Revised Standard Version, no tocante aos livros apócrifos, diz Apolônio de Tarso, tendo traduzido Thrasaios por "de Tarso". TRASÍMACO Esse nome aparece na República de Platão, onde ele argumenta em favor da teoria de que só se faz "justiça" em prol dos mais fortes, os quais impõem a sua vontade e

criam as regras do jogo. Ele argumenta ali que as instituições e os governos tomam-se a vontade coletiva dos mais fortes, os quais também criam as definições de justiça, sempre com base na força. E, então, os indivíduos tendem a preferir a injustiça. Platão, naturalmente, achava a justiça nas Formas ou Idéias Eternas, e não entre os homens, de acordo com suas idéias e criatividade. Houve um homem chamado Trasímaco, nascido na Calcedônia, que foi um filósofo sofista (vide) e mestre de Retórica. TRATADO 1. Termos e Definições. No hebraico, a palavra é bereeth, "tratado" ou "pacto", derivando de um vocábulo que significa "cortar". Está em vista o antigo costume de um sacrifício que atendia a alianças. O sacrifício era cortado em duas partes exatamente iguais, o que era conseguido ao realizar o corte ao longo da coluna vertebral. Daí os que estavam selando o acordo passavam pelas duas partes iguais. Por fim, havia uma refeição comunal para celebrar o pacto. A palavra portuguesa "tratado" deriva do latim tractatus, "manuseio" ou "tratamento", com a idéia básica de "negociar" algo. A palavra grega é diathoke , "contrato", "acordo", "pacto" ou um "testamento". 2. Tratados Humanos. No Antigo Testamento, os tratados humanos eram de três tipos principais: aqueles que tinham como objetivo evitar hostilidades militares; os selados entre um poder que havia conquistado outro, e o perdedor que "dava sua terra" através de acordo; e aqueles feitos no tangente ao pagamento de tributos por um poder (que havia perdido uma guerra ou desejava evitar uma) a um poder superior. Quando os poderes ainda eram iguais e simplesmente desejavam evitar guerras, o tratado era chamado "tratado de iguais". Quando poderes superiores sujeitavam outros, os tratados eram entre conquistadores e vassalos e eram chamados sueranos. 3. Tratados Humanos com o Divino. Aqui podemos simplesmente chamar os tratados de "pactos". Yahweh, em relação a todos os reinos e poderes terrenos, exige um tratado suerano, no qual todos os reinos terrenos são vassalos (Sal. 2). O Grande Rei é o Senhor Universal. O Rei é soberano, mas é também benevolente. No caso de Israel, Ele lhes deu a terra, favorecendo essa nação em vez de outras (Jos. 24.2-13). Antigos tratados sueranos exigiam um documento escrito, que deveria ser consultado periodicamente para lembrar os dois lados participantes das condições sob as quais estavam. A lei era o documento do pacto de Israel com Deus e devia ser revisado continuamente. Uma cópia dessa lei era colocada na arca da aliança (Exo. 25.16,21; I Reis 8.9) para mostrar que esse documento era o poder regente por trás do acordo do divino com o humano. A arca foi colocada no tabernáculo, onde a Presença (Shekinah) se manifestava, portanto o Poder Divino estava sempre em controle e evidência. Periodicamente, a lei era lida ao povo (as pessoas não tinham cópias independentes e a maioria não sabia ler). Um sacerdote, um intermediário entre Deus e o homem, tinha a tarefa de ler e ensinar a lei ao povo (Deu. 31.913). Deus era a Testemunha Divina de Israel, da mesma forma que no Oriente se considerava que os tratados eram testemunhados pelos deuses, que poderiam tomar as ações apropriadas contra os ofensores e violadores do acordo. Então, o próprio povo era testemunha para ou contra si mesmo no caso dos pactos de Israel (Jos. 24.22). O tratado trará bênção ou praga ao povo, dependendo de suas respostas às condições (Deu. caps. 27 e 28).

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TRAVESSEIRO - TRÊS CRIANÇAS TRAVESSEIRO Há três palavras hebraicas e uma palavra grega a considerar: 1. Kebir (I Sam. 19: 13,16). Essa palavra parece referir-se mais a um colchão fino do que mesmo a um travesseiro. Nossa versão portuguesa diz: "tecido de pêlos de cabra". 2. Meraashoth, "apoio (para a cabeça)" (Gên. 28: l l , 18). Na fuga para Arã, Jacó pôs uma pedra sob a cabeça, como "travesseiro". Literalmente, a palavra usada significa à "cabeça" ou "no tocante à cabeça". 3. Kesathoth, "faixas" de algum tipo. Mas a moderna palavra hebraica para "travesseiro" ou "colchão" é essa, pelo que há uma boa possibilidade que a antiga palavra também incluía essa idéia. Ver Eze. 13: 18,20. Nossa versão portuguesa, entretanto, sugere algo inteiramente diferente: " ... invólucros feiticeiros para todas as articulações das mãos..." 4. Proskephálaion, "travesseiro", "colchão". Ver Mar. 4:38 (sua única menção). Talvez, nesse caso, esteja em foco o coxim sobre o qual se assentava algum remador, e que o Senhor Jesus, cansado, usou como seu travesseiro. Usos Figurados. Nos sonhos e nas visões, o travesseiro simboliza conforto, apoio, restauração das forças e proteção. TREINAR, TREINAMENTO Temos duas palavras hebraicas envolvidas nesse verbete, e uma palavra grega, a saber: I. Chanak, "treinar", "dar instrução", que aparece nesse sentido, em todo o Antigo Testamento, apenas por uma vez, em Pro. 22:6: "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele". 2. Chanik, "treinado", "instruído", palavra hebraica que também só figura por uma vez, no Antigo Testamento: Gên, 14:14, onde se lê: "Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã", A palavra capazes é a palavra em pauta. Evidentemente, eles haviam sido treinados para a guerra. 3. Sôphronizo, "dar mente sóbria". Paulo admoestou no sentido de que as mulheres mais jovens fossem treinadas a amar a seus maridos e seus filhos, em Tito 2:4: " ... a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos". Pode-se interpretar que Paulo aconselhava que as mulheres jovens deveriam ter o bomjuízo de se dedicarem a seu lar. TRENTO, CONCÍLIO DE Ver o artigo geral sobre os Concílios Ecumênicos. O Concílio de Trento (1545-1563) foi o décimo nono concílio da Igreja Católica Romana, especialmente convocado para formular uma resposta às perturbações causadas pela Reforma Protestante (vide). A principal finalidade desse concílio foi a de anatematizar as doutrinas protestantes distintas, reafirmando a transubstanciação e outras doutrinas católicas romanas tipicas, e estabelecer uma autoridade firme juntamente com certas reformas de ordens religiosas e das finanças eclesiásticas. Com interrupções de cerca de três e de dez anos, esse concílio prolongou-se de 13 de dezembro de 1545 a 4 de dezembro de 1563. Lutero havia convocado um concílio geral a ser efetuado na parte norte dos Alpes. Os papas temiam que um concílio realizado tão longe de Roma fosse prejudicial para os interesses católicos. Trento, sendo uma cidade germânica imperial, mas localizada ao sul da Garganta-Brenner, foi sugerida como uma opção de

transigência. Os protestantes fizeram-se presentes, mas apenas por breve tempo. Quase todos os delegados procediam da Itália, da Espanha, da França e da Alemanha. O Concílio de Trento propunha-se a eliminar a desunião que minava a Igreja organizada. O concílio não ventilou as questões disputadas entre os próprios católicos romanos, mas abordou somente os problemas levantados pelo protestantismo. Elementos. Foi definido o pecado original. Foram rejeitadas as doutrinas da justificação somente pela fé e da corrupção intrínseca do homem caído. Foram condenadas as doutrinas protestantes que haviam modificado o ponto de vista acerca dos sacramentos. Foram baixados decretos tendentes a reformas e a medidas disciplinares, formuladas pelas ordens religiosas católicas romanas. As finanças católicas romanas foram reformadas. Além disso, os livros apócrifos de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, I e 11 Macabeus foram incluidos no Antigo Testamento como Santas Escrituras, reafirmando, por assim dizer, um importante aspecto do cânon Alexandrino, em contraste com o mais estreito cânon Palestino. Os sete sacramentos foram expostos pormenorizadamente. A versão da Vulgata Latina foi escolhida como a versão oficial da Igreja Católica Romana. E a transubstanciação foi descrita e reafirmada em termos das idéias de Tomás de Aquino. Houve um total de vinte e cinco decretos, aos quais foram adicionados alguns cânones; e foram anatematizados os que se opusessem aos mesmos. Os bispos foram declarados sucessores dos apóstolos. Apesar de não terem sido imediatamente aceitos, de todo coração, nem mesmo por todos os católicos romanos, os decretos desse concilio atingiram o seu propósito de unificar o segmento não-reformado da Igreja, a saber, o catolicismo romano. Ademais, serviu para dar um novo ímpeto ao catolicismo romano, após os severos golpes recebidos pelo mesmo, devido à Reforma Protestante.

TRÊS CRIANÇAS, CANÇÃO DAS Esse é o nome de um fragmento preservado nos Livros Apócrifos (vide). Essa canção é um salmo antifonal de quarenta versos, que supostamente teria sido entoado por Hananias, Misael e Azarias (as três crianças), quando foram livrados da fornalha de fogo, no livro de Daniel. Originalmente era uma interpolação que,juntamente com a Oração de Azarias (vinte e oito versos), que a antecede, formava a primeira adição ao livro canônico de Daniel. Essa inserção aparece após Dan. 3:23, em Teodócio, na Septuaginta e na Vulgata; mas não figura no original hebraico e aramaico do livro de Daniel. A adição foi escrita depois. Vários detalhes apócrifos (além das coisas que foram ditas por Daniel) foram acrescentados, um dos quais o tremendo calor da fornalha, que chegou a matar aqueles que estavam próximos, mas sem exercer qualquer efeito sobre os três jovens, apesar de sua fúria. Em face da proteção que lhes fora conferida, eles teriam cantado, em unfssono, proferindo as mesmas palavras de louvor e júbilo. Esse cântico tem achado um lugar permanente na liturgia da Igreja cristã, tendo sido incluído no Culto Matinal (chamado Benedicite omnia opera), e é usado como alternativa do Te Deum. Alguns têm datado esse cântico como pertencente ao período dos Macabeus; mas a verdade é que não há certeza quanto à data de sua composição. E seu autor também e desconhecido. Talvez a composição original fosse em hebraico, mas não restaram cópias da mesma nesse idioma. A Igreja Católica Romana, uma vez tendo aceito

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TRÊS DIAS - TREVAS a canonicidade dos livros apócrifos, naturalmente passou a considerar esse cântico como parte das Sagradas Escrituras. TRÊS DIAS E TRÊS NOITES Algumas pessoas, por desconhecerem a índole das línguas antigas, como o grego e o hebraico, gostam de insistir que tais palavras devem indicar três dias e três noites completas; porém, grande número de citações, extraídas do hebraico, do grego e do latim, prova que tal expressão era usada, nos dias antigos, para significar parte de três dias e noites, em que uma parte era usada para expressar a totalidade. A seguinte citação de Jerônimo ilustra essa idéia: "Tenho abordado mais completamente o trecho, sobre o profeta Jonas (isto é, o livro do VT), em meu comentário. Direi agora somente que isto (esta passagem) deve ser explicado como modo de falar chamado sinédoque, quando uma porção representa a totalidade. Não significa que nosso Senhor esteve três dias e três noites inteiras no sepulcro, mas sim, parte de sexta-feira, parte do domingo e todo o dia do sábado, o que é apresentado como três dias". Assim também esclareceram os pais da Igreja em geral. Na linguagem popular três dias e três noites significam, figuradamente, não mais do que três dias, o que, na linguagem antiga, podia ser calculado incluindo-se o primeiro dia, aquele em que algo acontecia. Nesse caso, o dia da crucificação teria sido o primeiro dia, e o da ressurreição teria sido o terceiro. O segundo dia teria sido o sábado, ficando assim completos os três dias. O próprio Jesus declarou isso por diversas vezes, e a expressão foi repetida por Paulo, que disse que Jesus declarara que ressuscitaria ao terceiro dia. Ver as referências em Mal. 16:21; 17:23; 29: 19; Mar. 9:31; 10-34; Luc. 9:22; 18:33; 24:7 e 1 Cor. 15:4. Segundo o modo de computar dos antigos, o primeiro dia da semana teria sido o terceiro dia a contar da sexta-feira. Ora, se Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana, ou domingo, então deve ter sido crucificado na sexta-feira. Nota-se que o VT também emprega alguns casos de "sinédoque", quando uma porção simboliza a totalidade. Ver as referências em Gên. 40:13,20; 1 Sam. 30:12,13; 11 Crô. 10:5,12 e Osé. 6:2. Ver o artigo sobre o Dia da Crucificação, Sexta-Feira. TRÊS TAVERNAS No grego, Tréis Tabérnai, "Três Lojas". Esse nome aparece somente em uma passagem daBíblia, Atos 28:15. Era uma localidade cerca de cinqüenta e três quilometros da cidade de Roma, às margens da estrada pela qual Paulo seguiu, depois de haver desembarcado em Potéoli, e onde alguns irmãos na fé vieram ao seu encontro. O nome Três Tavernas é uma tradução equivocada do nome latino da localidade. Uma melhor tradução seria Três Lojas. Porém, também é possível que, de acordo com seu nome grego, a localidade fosse, realmente, conhecida como Três Tavernas. Ficava najunção entre a via Apia e a estrada secundária para Âncio, perto da moderna aldeia de Cisterna. Devia a sua importância ao fato de que ficava a um dia de viagem para Roma, escolhida como rota para os viajantes que tinham pressa, quando vinham do sul para Brundísio, um porto usado para viagens marítimas para a Grécia e lugares intermediários (ver Cícero, Ad Att. 2: 12). TRÊS VENDAS Ver Atos 25:15. Três Vendas era uma estação que ficava cerca de quarenta e oito quilômetros da cidade de Roma, na via Ápia, que

partiada cidade na direção sudeste. Em sua correspondência com Atico, Cícero mencionou esse lugar. Extensas seções da via Ápia (construída em 312 a.c.) ainda existem até os nossos próprios dias. Ao longo do caminho podem-se ver túmulos, sítios de antigas vilas romanas e seculares aquedutos. Os crentes vieram encontrar-se com Paulo na Praça de Ápio, ansiosos por conhecerem o grande pioneiro cristão que lhes escrevera vários anos antes a epístola aos Romanos. Acompanharam Paulo por cerca de dezesseis quilometros até as Três Vendas. Aparentemente, ali uma outra delegação de cristãos aguardava o grande apóstolo. Muitos romanos ilustres haviam percorrido aquela mesma rota, para receberem honrarias em celebrações triunfais na cidade de Roma. O apóstolo Paulo, entretanto, fazia agora aquele mesmo percurso como prisioneiro do império romano; ainda que a história tenha sobejamente demonstrado que Paulo foi o maior dos cidadãos romanos. Ajornada levaria o grupo através de Cumae e Liternum até Sinuessa, numa distância de cerca de cinqüenta e três quilômetros desde Potéoli. Ali chegando, entrariam na famosa via Ápia, que ligava as cidades de Roma e Brundusium, a última das quais modernamente se chama Brindisi. As escalas, partindo de Sinuessa, mui provavelmente foram Minturnac, Formiae, Fundi e Terracina, numa distância possível de cerca de setenta e seis quilômetros. Chegando a esse ponto, teriam de escolher entre duas maneiras de prosseguir viagem, ou tomando a estrada que fazia a volta pelos pântanos Pontinos, ou seguindo pela linha mais direta do canal. Ambas as rotas, finalmente, se encontravam no Apii Forum, a vinte e nove quilômetros de Terracina. Para nós, praticamente quase cada estágio da jornada está vinculado a algum fato histórico ou lendário da antigüidade clássica. Podemos pensar no notável Ápio Cláudio, o censor de quem a via e o fórum tomaram o nome; podemos meditar sobre a passagem no concorridíssimo canal, repleto de barcos, com os seus marinheiros ruidosos e briguentos; ou sobre os estalajadeiros patifes, aos quais Horácio imortalizou na narrativa de sua viagem a Brundusiurn (ver Sal. i.S), Podemos crer, contudo, que para o apóstolo era como se nunca coisa alguma tivesse sucedido. As associações passadas e os incidentes da viagem tinham sido todos devorados pelo pensamento de que agora ele estava prestes a chegar, após longos adiamentos, ao alvo na direção do qual se vinha esforçando por tantos anos (ver Atos 19:21 eRam. 15: 13). A cidade de Praça de Ápio era notória por causa da vileza de sua população, sendo um antro de vícios, de assaltos, de prostituições e de baixezas de toda a sorte. No entanto, foi ali que os crentes se encontraram, separados do mundo, tendo efetuado uma reunião de oração, cujo desígnio era render graças a Deus. E com isso o espírito do apóstolo Paulo, juntamente com o de seus irmãos na fé, se reanimou, porquanto agora ele já estava bem próximo de seu alvo, percebendo claramente como a providência divina o viera acompanhando por todo o caminho. (Quanto a outras menções sobre essas duas localidades, "Praça de Ápio", e "Três Vendas;', ver "Horácio" Sal. LS-3, quanto à primeira, e Cícero, A Atico lI. 10, quanto à segunda). Assim, Paulo se aproximou da cidade de Roma pela Via Apia, tendo entrado na capital pelo lugar que atualmente se chama "Porta Capena", TREVAS(METÁFORA~

As palavras hebraicas e gregas envolvidas dão a entender trevas, obscuridade, nuvens e incluem indicações

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TREVAS-TRÍADES alude a esse aspecto da experiência da morte. É possível metafóricas. Este verbete ocupa-se dessas metáforas. Ver também sobre Trevas. . que assim seja, embora esse particular talvez não seja a coisa primária em foco. O romper do fio de prata (Ecl. 1. Na narrativa do livro de Gênesis, lemos sobre as trevas 12:6), por igual modo, mui provavelmente é um outro primevas do mundo, uma parte da caótica condição em que estava o mundo, antes da criação da luz (Gên. 1:2,3). aspecto dessa mesma experiência. Ver os artigos separados Dentro da cosmogonia dos hebreus, a luz pertencia aos céus sobre Experiência Perto da Morte e sobre o Fio de Prata. acima da abóbada do firmamento, enquanto que os luzeiros 14. O pecado, a depravaçãohumana (João 3: 19,20). 15. O reinado do Anticristo (Apo. 6: 10). secundários, a saber, o Sol, a Lua e as estrelas, teriam sido 16. O lugar do julgamento eterno (Juí, 6: 13). criados para iluminar a Terra, visto que a luz não incidia Quanto a um contraste com essas idéias ver o artigo diretamente sobre a terra flsica. Ver o artigo sobre Cosmogonia, que contém uma seção especificamente Luz, Metáfora da. dedicada à versão hebréia sobre os primórdios. TREZE, TRINTA 2. O dia e a noite trazem a luz e as trevas em alternância, Ver sobre Número. por todo o globo terrestre, porquanto apenas uma metade do globo terrestre pode ser iluminada a cada instante, e a outra metade permanece em trevas. Isso envolve certo TREZE ARTIGOS Esses artigos de fé foram redigidos por teólogos alemães sentido metafórico, visto que a vida de um homem é vivida em períodos alternantes de luz e trevas, do ponto de vista e ingleses, em 1538, essencialmente derivados da Confissão de Augsburgo. Ver sobre Augsburgo, Confissão de. Nunca espiritual. Tal como Deus interveio e prolongou certo dia, para que o povo de Israel obtivesse vitória militar (Jos. foram publicados como um credo, mas tomaram-se parte 10:12), assim também ele pode fazer nas vidas espirituais dos mais completos Quarenta e Dois Artigos (vide). Esses, por sua vez, foram adaptados para tomarem-se os Trinta e daqueles que o buscam. Nove Artigos (vide), a base do credo da Comunhão 3. O Seol é um lugar tenebroso (Jó 10:21,22; Sal. 88: 11-13), embora isso possa ser revertido, em face dos Anglicana (vide). beneficios advindos da missão de Cristo (I Ped. 3:18; 4:6). Não obstante, o julgamento divino é uma temível realidade, TRÍADES (TRINDADES) NA RELIGIÃO A palavra triade vem do grego trias (triados), "grupo de a despeito de seus efeitos remediadores. Ver os artigos três". No campo religioso, a Tríade Divina é um grupo de separados sobre o Hades e sobre a Descida de Cristo ao três deuses, com freqüência representados como se Hades. 4. As trevas podem ocu1tarcoisas aos olhos dos homens; formassem uma familia divina, como pai, mãe e filho; ou mas Deus, que vive em luz eterna, tem consciência de todas simplesmente como os três deuses de um sistema politeísta. as coisas que acontecem, que já aconteceram e que ainda que, através de muitos anos ou mesmo séculos de evolução doutrinária, tomaram-se os (três) deuses principais. Nas jazem no futuro (Sal. 139: 11,12). fés religiosas há uma tendência por desenvolver essas 5. Vários estados emocionais são simbolizados pelas tríades, de tal modo que muitas religiões, dos mais trevas, como a tristeza (Isa. 5:3 O; 9:1), a lamentação (Isa. variegados tipos, exibem esse conceito. 47:5), a perplexidade (1ó 5: 14), a ignorância (1ó 12:24,25; Exemplos: Mal. 4:16) e o cativeiro (Eze. 34:12). I. Na India, atríade compõe-se de Brahma (o Criador), 6. Declarações secretas seriam ditas "às escuras" (Mal. Vishnu (o Salvador ou Preservador) e Shiva (o Destruidor). 10:27). É óbvio que esses três deuses representam o grande ciclo 7. O julgamento e o terror são comparados às trevas da vida, tanto agora quanto na vida após-túmulo, podendo (Amós 5: 18). 8. Os campos da ignorância espiritual, do pecado, da incluir a idéia de reencarnação. impiedade e das forças demoníacas são coletivamente 2. Na Babilônia temos Anu (deus do ar), Enlti (deus da referidos como as trevas ou como o reino das trevas (Isa. água) e Ea (deus da terra), pelo que ali a triade representa os principais elementos da existência, conforme a existência 9: 1; 42:7; João 1:4,5). Os homens maus amam essa esfera que os babilônios haviam deificado. tenebrosa (João 3:19,20). 3. No Egito. Ali havia uma tríade que formava uma 9. Os homens não-regenerados são chamados "trevas" (Efé. 5:8), o que também é aplicado aos espíritos malignos família, a saber, Ísis (a mãe), Osiris (o pai) e Horus (o (Efé. 6: 11,12). filho). Osíris foi morto e desmembrado pelo deus maligno, 10. O lugar do julgamento final também recebe esta Sete, mas Horus reconstituiu os membros de seu pai e o caracterização (Mal. 8: 12 e 22:13). ressuscitou. Em algumas estórias, Isis é quem realiza esse 11. O crente pode estar andando em trevas, mas isso serviço. Portanto, temos aí a distorção que faz o pai ser macula e prejudica enormemente o seu caráter, pondo sua ressuscitado pelo poder do filho (ou da mãe). alma em perigo (l João 1:6). 4. No Budismo. Ali as coisas ficaram complicadas. 12. Deus habita no lugar das espessas nuvens, o que Encontramos Manjusri (a sabedoria), Samantabhadra indica que ele vive oculto do escrutínio humano (Êxo. (excelência) e Avalokitesvara (olhar compassivo). Esses 20:18; 1 Reis 8:12). são chamados de "os três santos". Mas há outra tríade, 13. Há a "sombra da morte" (Sal. 21:4). Porquanto a formada por Bhaishqjavaguru (senhor do paraíso perdido), morte leva os homens a lugares misteriosos, e também Sakayamuni (senhor deste mundo) e Amitabha (senhor do porque há um certo terror que cerca a questão, e que paraíso futuro). Finalmente, os três deuses, Manjusri, obscurece as mentes dos homens. Nas experiências de quase Varúpimi e Avalokitesvara (o mais importante dos três), morte, um dos primeiros estágios ocorre quando a pessoa incorporam o principio e o ideal do poder. penetra em uma condição de trevas, por algum tempo, 5. Na Religião dos Etruscos. Ali, Júpiter, Minerva e passando por uma espécie de corredor ou vale, totalmente- Juno eram os três deuses principais. Não havia qualquer tenebroso. Então aparece uma luz no extremo oposto, na relação de parentesco entre eles, mas apenas representavam direção da qual a pessoa se precipita. As pessoas que têm as três divindades que exerciam maior poder e influência. estudado a questão pensam que o trecho de Salmos 23:4 6. Na Antiga Religião Sueca. Atríadedivinaeraformada

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TRÍADES - TRIBO por Odim, Tor e Freyr. Cada uma dessas divindades foi concebida como dotada de diversas funções, no decorrer de sua história, embora fossem, acima de tudo, deuses da guerra. 7. Nos Escritos de Numênio de Apaméia, um neopitagoreano. Seu sistema exaltava os três deuses: a Unidade Transcendental (o principio do ser, associado às Idéias ou Formas da concepção platônica), o Criador (o princípio do vir a ser, equivalente ao Demiurgo de Platão), e o Governante deste mundo. Essas divindades ou princípios divinos (como seria melhor chamá-los) formam os pontos supremos da hierarquia do ser. No fundo dessa hierarquia estariao infeliz homem, um indivíduo prisioneiro de seu corpo material. 8. No Taoísmo. Encontramos ali as três purezas: Ching (essência), Chi (força vital) e Shen (espírito). Também são chamadas Tien-chun (celestialmente honrado, senhor da jóia do céu), Wiu-shih Tien-chun (celestialmente honrado, sem origem) e Fan-hsing Tien-chun (celestialmente honrado em forma de Brahma). Isso em meio a miríades de divindades menores. Os historiadores da religião dizem-nos que o tatoísmo é uma cópia de idéias budistas, com algumas modificações. 9. No Zoroastrismo. O ser divino é ali concebido como uma tríade: Sraosha, Mithra e Rashnu. Esses vultos seriam deuses pessoais, que ajudariam aos homens de muitas maneiras diferentes. Assim, Sraosha protege os homens e luta contra os demônios. Mithra é um herói divino que realiza muitas façanhas, devotando-se ao serviço da humanidade, com labores de natureza remidora. E Rashnu é o espírito da verdade. Ele é o juiz da humanidade. Ninguém pode enganá-lo, e seus juízos são absolutamente justos. la. No Cristianismo. Ali é claramente ensinada a Triunidade, composta de Pai, Filho e Espírito Santo. Ver o artigo Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo são aspectos diferentes de uma única deidade. Outras explicações de tríades divinas referem-se a três deuses. Naturalmente, as explicações cristãs populares, incluindo as opiniões de muitos pastores e ministros, para nada dizermos sobre os leigos, também são triteístas, As tríades divinas destacam princípios importantes, aspirações e elementos de vida. As melhores concepções são aquelas que falam em uma família divina, da qual os homens podem participar mediante a redenção. TRIBO (TRIBOS DE ISRAEL) I. Termos Empregados 11. Caracterização Geral III. Origem IV. Desenvolvimento Posterior V. No Novo Testamento

I. Termos Empregados No hebraico, matteh (tribo, cajado, vara). Um grupo de ~ssoas sob uma vara comum, ou sob um fator regente: Exo. 31.27, Hab. 3.9 (cerca de 60 usos); Shebet, que também tem o significado de vara ou cetro: Gên. 49.16; Zac. 9.1 (cerca de 35 usos). No grego, fule, uma tribo. O termo geral para qualquer tipo de tribo, que tem o significado básico de "rebento", aplicado a plantas, animais e pessoas. Rebentos têm uma natureza de parentesco com aqueles dos quais derivam, assim o termo pode significar um clã, uma tribo ou pessoas. A forma verbal é ruo, ou "gerar"; Mat. 19.28; Atos 13.21 (cerca de 30 usos). No latim, tribus, relacionado a tributum, divisão ou

porção, assim um povo que tem uma divisão, território ou origem comum. A forma verbal é tribuere, dar, ceder, dividir. A palavra portuguesa, obviamente, deriva dessa raiz latina. 11.Caracterização Geral As tradições primitivas indicam uma descendência tribal de 12 filhos de Jacó, embora as listas da Bíblia das tribos nem sempre estejam em concordância com números e nomes específicos. Ver Gên. caps. 29-35 para os nascimentos dos 12 filhos de Jacó. As listas são organizadas sob suas respectivas mães, portanto temos: Lia (Léia): Rúben, Simeão; Levt; Judá; Issacar e Zebulom. Raquel: José e Benjamim. Bila (concubina de Jacó, serva de Raquel): Dã e Naftali. Zilpa: (concubina de Jacó, serva de Lia): Gade e Aser. O número tradicional 12 toma-se 13 quando José é eliminado como tribo e seus dois filhos, Manassés e Efraim, tomam-se líderes de duas tribos. Então Levi deixa de ser uma tribo e toma-se casta sacerdotal, levando o número de tribos de volta a 12. As tribos foram desenvolvidas, de forma preliminar, enquanto Israel estava no Egito, antes do êxodo (ver Êxo. 1.1-7). A família original de Jacó fugiu para aquele local a fim de escapar da fome e lá permaneceu por desejo próprio a princípio, e então forçosamente pelos egípcios. Moisés foi criado para livrar uma nação já desenvolvida de cerca de 6 milhões de pessoas. O êxodo montou o palco para a posse da Terra Prometida. O povo unido, após 40 anos de vagueação, tomou posse da Terra e, assim, cumpriu com uma grande provisão o Pacto Abraâmico. Ver Gên. 15.18 no Antigo Testamento Interpretado para uma descrição detalhada desse pacto. Ver o artigo Pactos na Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Várias listas diferem no tangente aos nomes e números das tribos. Nas bênçãos paternas e patriarcais de Jacó para seus filhos, o número já sobe a 13 (potencialmente), quando Manassés e Efraim são "adotados" como filhos de Jacó, multiplicando a única tribo de José em duas (Gên. 48.8-20). Na Canção de Débora, Judá e Gade estão ausentes, enquanto Maquir, filho de Manassés, toma seu lugar (Jos. 17.1; Juí. 5). Em Apo. 7, os nomes das tribos são: Judá; Rúben; Gade; Aser; Naftali; Manassés; Simeão; Levi; Issacar; Zebulom; José; Benjamim. Dã e Efraim são deixados de fora da lista, e José entra como se fosse o líder de uma tribo, enquanto seu filho, Manassés, é o Iider de outra. Há várias manipulações das interpretações para tentar explicar esse "novo arranjo", nenhuma delas satisfatória. Ver a exposição sobre a questão no Novo Testamento Interpretado no texto mencionado. Josué e Juízes preservam as tradições relativas ao desenvolvimento inicial das tribos, incluindo suas divisões territoriais e esforços para obter a supremacia na Terra Prometida. Sabemos que a conquista não foi verdadeiramente plena até Davi, que com sua habilidade como rei guerreiro foi capaz de aniquilar ou confinar os inimigos tradicionais de Israel, as sete pequenas nações da Palestina (ver 11 Sam. 5.17-25; 8.10; 12.26,21; 21.1522; I Crô. 18.1). Salomão assumiu o império unido de seu pai, Davi, e levou Israel a época áurea. Mas, para manter isso, teve de empregar trabalho escravo e cobrou impostos muito pesados. Reoboão, seu filho, não tendo a sabedoria do pai, mas continuando com o trabalho escravo e altos impostos (que

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TRIBO ele conseguiu aumentar ainda mais, como os políticos sempre fazem), enfureceu as tribos do norte, que se dividiram sob a liderança de Jeroboão. Em 722 a.c., os assírios conquistaram as tribos do norte e levaram a maioria dos sobreviventes à Assíria naquilo que é chamado de cativeiro assírio (ver o artigo). Os poucos israelitas que permaneceram na terra misturaramse com povos que os assírios enviaram para dominar o território, e seus descendentes foram os samaritanos (ver a respeito). Embora os babilônios tenham destruído a tribo do sul (Judá, que absorveu Benjamim) e levado a maioria dos cidadãos para a Babilônia (o cativeiro babilônico, c. 596 a.C,}, houve então o retomo de alguns a Jerusalém para começar tudo de novo. Foi nesse tempo que Judá se tomou Israel. UI. Origem Sob a seção 11, Caracterização Geral, vimos alguns dos conceitos de origem. Junto com isso, foi fornecida uma descrição do desenvolvimento. Os liberais e críticos logicamente acreditam que as origens das tribos de Israel são obscurecidas pelas nuvens da antigüidade quando havia mais lendas inventadas para explicar as coisas do que história real. Eles acreditavam que os patriarcas eram personificações do início das tribos. O leitor pode ver detalhes sobre o desenvolvimento tribal ao consultar os artigos sobre cada tribo individualmente. Esboço das origens desenvolvimento: 1. Abraão, chamado de Ur(do território do Iraque moderno), assumiu a vida nômade, mas entrou na Terra Prometida e fez conhecida a presença de sua família ali. Naquela época, o pacto de Yahweh com Abraão e seus descendentes montou o palco para o desenvolvimento posterior das tribos e da nação. Ver o artigo Pactos neste Dicionário. No Antigo Testamento Interpretado, ver a descrição detalhada sobre o Pacto Abraâmico em Gên. 15.18. 2. Jacó, neto de Abraão, teve com quatro mulheres diferentes doze filhos, os quais receberam a bênção paternal e patriarcal que os tomou os potenciais líderes das tribos. 3. A fome forçou a família de Jacó ao Egito e foi ali, durante cerca de 400 anos, que Israel se desenvolveu e se transformou em nação, habitando Gósen, uma província do Egito. A Bíblia hebraica estabelece essa época em 430 anos, mas a Septuaginta em apenas 215. Ver Êxo. 12.40; Atos 7.6 e Gál. 3.17. Muitos críticos optam pelo período menor, e a questão continua controversa. 4. A libertação de Israel do Egito (o êxodo, vero artigo) definiu o palco para a eventual divisão tribal na Terra Prometida. A época foi por volta de 1450 a.c. Devemos entender que as tribos já estavam essencialmente desenvolvidas, mesmo em suas vagueações pelo deserto, e que essa organização foi consolidada na distribuição da terra sob Josué, 5. Josué caps, 13-19 descreve as divisões tribais. Foi Josué quem deu ao sistema tribal dos israelitas sua forma fixa, impondo o elemento do acordo para a fixação de terras específicas entre as diversas tribos (Jos. 24.1-28). A época foi em tomo de 1365 a.C. 6. Localizações das tribos. Para isso, ver o artigo chamado Tribos. Localização das. IV. Desenvolvimento Posterior As tribos precisavam de liderança, e essa liderança coube aos anciãos. Eles eram os regentes das clãs individuais, das cidades e das tribos individuais. Algumas tribos dominavam sobre outras, e a maré do poder mudava com o passar dos anos. Efraim e Judá emergiram com

e

particular poder e, quando as tribos se dividiram em duas nações, tomaram-se os líderes de cada parte. Anfictionta. Esta é a palavra grega que passou a ser usada posteriormente para indicar a liga das cidades-estados, algo preliminar a verdadeiras nações. Isso, sem dúvida, caracterizou a organização primitiva das tribos israelitas, pois sabemos que na época dos juízes não havia um governo central firme. De fato, na época dos juízes, as coisas entraram em grande confusão. "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto" (Juí. 21.25). Silo, chefe do santuário nacional onde a arca da aliança ficou estacionada por muito tempo, teve algum efeito unificador, mas havia muitos santuários locais, o que tendia a dividir em vez de unificar o povo. Juízes caps. 19-21, contando-nos sobre o conflito de Benjamim com o resto de Israel e a rigidez da "lealdade tribal", demonstra a marcante desunião das tribos e a falta de uma verdadeira identificação nacional. Ver também Juí. 5.23, onde Naftali se recusa a ajudar uma causa nacional. A falta de união era um tipo de traição da suposta unidade nacional sob Yahweh, o Rei Celeste. Silo foi destruído: o principal santuário nacional acabara; o povo estava sendo forçado a unir-se sob um rei, imitando as outras nações. O último juiz, Samuel, ungiu Saul como rei, mas Israel ainda não estava unida. Foi necessário o poder militar de Davi para ocasionar uma verdadeira união nacional. Assim, o antigo arranjo da Anfictionia havia acabado. A idéia era unir as tribos ao redor de cultos divinos centrais e Davi fez isso ao trazer a arca da aliança a Jerusalém e ao estabelecer seu tabernáculo ali. Mas Israel foi além do arranjo frouxo tribal da Anfictionia e uniu-se ao redor de uma capital, Jerusalém, e de um rei. Salomão, seu filho, levou o reino unido à sua época áurea, em termos econômicos, culturais e militares. Uma grande expansão territorial também estava envolvida na revolução de Davi e de Salomão. Reboão, através de seu louco egoísmo e ganância, fez com que a maré de grandeza fluísse para longe de Israel, acabando como rei apenas das duas tribos do sul, que passaram a ser chamadas de Judá, em contraste com Israel (as dez tribos do norte). Os invasores assírios e o cativeiro deram fim às dez tribos (722 a.C.). A invasão e o cativeiro babilônico reduziram Judá a praticamente nada, mas o retomo de um remanescente do cativeiro e a construção do Segundo Templo fizeram com que Judá se transformasse em toda a Israel. É por isso que os judeus modernos são assim chamados: eles são todos descendentes do povo de Judá, que voltou a Jerusalém por volta de 430 a.C. A Israel idealizada de Ezequiel, presumivelmente profético dos últimos dias após a Grande Restauração, coloca todas as tribos ao oeste do Jordão, eliminando a Transjordânia (ver o artigo) por motivos desconhecidos. Ver Eze. 47.13-48.29. V. No Novo Testamento Os judeus da época de Jesus descendiam, quase completamente, da tribo de Judá. É provável que alguns representantes das dez tribos pudessem ser encontrados. Essas pessoas tinham forte mistura com povos vizinhos, mas haviam conseguido reter sua identidade nacional. Constantemente sob domínio estrangeiro, exceto por períodos relativamente curtos de liberação que os macabeus (ver o artigo) trouxeram, as identidades tribais antigas foram perdidas e Israel tomou-se província dos poderes estrangeiros. Ver Israel, História de para maiores detalhes.

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TRIBO - TRIBOS, LOCALIZAÇÃO DAS No Novo Testamento, com Israel sob refrigeração celestial, no aguardo de outra restauração nos últimos dias (Rom. 11.25,26), surge a Nova Israel (a igreja). O termo doze tribos fala da igreja como o povo de Deus (Tia. 1.1); ou de toda a Israel, coletivamente, embora as distinções tribais tenham deixado de existir (Atos 26.7); ou da escatologia de Israel (Mat. 19.28; Luc. 22.30; Apo. 7.4; 21.12). A lista das tribos no capo 7 de Apocalipse (deixando fora Dã e Efraim, mas tornando José um líder tribal) é interpretada por alguns como referente à Israel restaurada nos dias de tribulação, mas por outros como símbolo da igreja cristã. TRIBOS, LOCALIZAÇÃO DAS I. História e Fontes de Informação 11. Tribos da Transjordânia Ill, Tribos sem Fronteiras Definidas Declaradas IV Judá V. As Tribos Centrais VI. As Tribos do Norte VII. As Cidades Levíticas I. História e Fontes de Informação A existência de outros artigos relacionados a este assunto permite a apresentação de um tratamento breve aqui. Ver os seguintes: Israel, História de; Israel, Constituição de; Transjordânia; Tribo (Tribos de Israel). As fontes de nossas informações sobre a questão das divisões e localizações tribais são Josué caps. 13-21; I Crô. 4.24-5.26; 6.54-81 e caps. 7 e 8. As localizações originais foram modificadas pelos acontecímentos históricos, como a tribo de Dã mudando para o norte e Benjamim sendo absorvido por Judá. Os cativeiros assírio e babilônico também trouxeram mudanças territoriais, como o domínio de poderes estrangeiros posteriores da Terra. 11. Tribos da Transjordânia Para maiores informações sobre as tribos "do outro lado" do Jordão (Rúben, Gade e a meia tribo de Manassés), ver o artigo separado sobre a Transjordânia, Com base em Juí. 12.4, compreendemos que alguns membros da tribo de Efraim infiltraram-se nos territórios do outro lado do Jordão, tirando vantagem das áreas florestais e férteis ao norte do rio Jaboque, não longe de Zafom (ver Juí. 12.1). 111. Tribos sem Fronteiras Definidas Declaradas 1. Simeão (Jos. 19.1-9; I Crô. 4.28-33). Essa tribo estendia-se a uma distância desconhecida ao sul, em direção ao Egito, sendo a tribo mais sulista de Israel. Foi bloqueada ao mar Mediterrâneo por Judá, que formava sua fronteira norte. O mar Morto formava sua fronteira oeste. Após a época de Davi, essa tribo aparentemente se dispersou, de forma que às vezes as cidades de seu território são citadas como pertencentes a Judá (ver Jos. 15.21-62). Ver também I Crô. 4.34-43. 2. Issacar (Jos. 19.17-23). Esta tribo, do norte de Israel, ficava a sudeste de Zebulom e ao sul de Naftali e tinha sua fronteira sul localizada em Manassés, da Cisjordânia. Várias de suas cidades são mencionadas e podem ser localizadas, mas não com fronteiras definidas. Isso é sem dúvida verdade pelo fato de as antigas fronteiras serem demarcadas por algum tipo de marco natural e pelas localizações das cidades, não de acordo com marcos latitudinais e longitudinais existentes hoje. Assim, no sentido limitado, nenhuma das tribos de Israel tinha fronteiras definidas. 3. Dã (Jos. 19.40-48; Juí. 18.27-29). Esta tribo originalmente ficava a noroeste de Efraim, a oeste de

Benjamim, a norte de Judá, confinada pelo mar Mediterrâneo. Em um período posterior, a maioria (mas provavelmente não todos) dos membros dessa tribo foi ao norte para dominar a terra de um povo indefeso (Jos. 19.47). Grande parte de seu antigo território voltou ao domínio de outras tribos de Israel, especialmente Judá. A Dã "do norte" localizava-se no topo da tribo de Naftali, que formava sua fronteira oeste. A meia tribo de Manassés formava suas fronteiras leste e sul, mas não há como desenhar fronteiras exatas. IV. Judá Esta tribo (Josué capo 15) tinha fronteiras mais estabelecidas do que outras, tendo o Mar Mediterrâneo como limite oeste, o mar Morto a leste, e as tribos de Dã e Benjamim ao norte. Simeão ficava na fronteira sul, mas não existiam linhas exatas. A longo prazo, Judá absorveu as terras do sul que haviam pertencido a Simeão. Judá era uma tribo de expansão. Também dominou Benjamim e finalmente, como uma tribo ampliada, tornou-se a Nova Israel após a destruição e o cativeiro do reino do norte. Depois do cativeiro babilônico, de forma muito reduzida, também foi a Nova Israel de outro período. \!. As Tribos Centrais I. Efraim (Jos. capo 16). Esta tribo tinha como fronteira leste o rio Jordão, norte a tribo de Manassés, oeste Dã, e sul Benjamim. Muitas de suas cidades foram localizadas com precisão, mas, exceto por sua fronteira leste (o Jordão), suas fronteiras não podem ser definidas com certeza absoluta. Era uma terra montanhosa, o que a tornava uma área de mais dificíl sobrevivência, mas essa era uma defesa natural para a região em épocas de invasões estrangeiras. Havia florestas densas, o que significava que era pouco habitada (Jos. 17.15). A longo prazo, tornouse o mais poderoso dos reinos do norte, e seu nome poderia significar norte, como uma nação. 2. Manassés (Jos. 17.1-13) daCisjordânia (o lado leste do Jordão), tinha o rio Jordão como fronteira oeste, o mar Mediterrâneo como fronteira leste, Efraim ao sul, e Aser, Zebulom e Issacar ao norte. Muitas das cidades bíblicas mencionadas como associadas a essa tribo foram localizadas. 3. Benjamim (Jos. 18.11-28) também ocupava uma posição central em Israel, tendo o rio Jordão como fronteira leste, o mar Morto como parte de sua extremidade sul, e Judá ocupando o restante da fronteira. Dã estava ao oeste, e Efraim ao norte. Foi uma das duas tribos originais de Judá (o reino do sul), mas a longo prazo acabou sendo absorvida por Judá. VI. As Tribos do Norte 1. Zebulom (Jos. 19.10-16) era uma tribo presa à terra, não chegando a encostar no rio Jordão nem no mar Mediterrâneo. Tinha em sua fronteira leste Naftali e Issacar. Este último também formava sua fronteira norte. Aser ficava a oeste dali, enquanto Issacar ficava a nordeste. Parte de Manassés ocupava sua fronteira sul. A maioria de suas cidades foi identificada, mas é impossível localizar fronteiras absolutas, já que não havia características geográficas que a confinassem, exceto pelo monte Tabor, ao sul, que era, contudo, apenas um ponto "no meio do nada" naquela direção. 2. Aser (Jos. 19.24-29) tinha sua fronteira oeste definida pelo mar Mediterrâneo. Em sua fronteira sudoeste inferior, ficava Manassés; Zebulom era parte de sua fronteira leste, como também Naftali. A Fenícia ficava em sua fronteira norte. Sua delineação exata não pode ser determinada, sendo que muitas de suas cidades não foram identificadas pela arqueologia moderna nem por referências literárias.

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TRIBO - TRIBULAÇÃO, A GRANDE 3. Naftali (Jos. 19.32-34) tinha sua fronteira norte limitada pela Fenícia, a do leste, no topo, com Dã transferida; o rio Jordão formava sua fronteira leste, com um toque da meia tribo de Manassés, na Transjordânia. Muitas de suas cidades foram identificadas pela arqueologia (assim são conhecidas suas fronteiras essenciais). 4. A tribo de transferência, Dã, formava uma parte do norte, em períodos posteriores, e essa tribo é discutida sob o ponto m.3. 5. Issacar era uma tribo do norte. Ela é discutida sob III.2. VII. Cidades Levíticas Levi deixou de ser uma tribo logo no início e tornouse casta de sacerdotes. Ver Jos. 21.1-42 e I Crô. 6.54-81 com diferenças consideráveis que provavelmente refletem as situações de épocas diferentes. Além disso, nomes alternativos podem confundir o assunto. Havia 48 cidades divididas entre as 12 tribos. Ver o artigo separado sobre Levitas, Cidades dos, onde são dadas informações completas.

TRIBULAÇÃO Ver também, Tribulação, A Grande. Ver o artigo separado, Tribulação como Beneficios. Há duas palavras hebraicas e duas palavras gregas que devemos considerar quanto a esse assunto, a saber: I. Tsar, "aflição", "estreiteza". Essa palavra hebraica aparece por vinte e cinco vezes com o sentido de "tribulação", conforme se vê, por exemplo, em Deu. 4:30; II CrÔ. 15:4; J6 15:24; 38:23; Sal. 32:7; 59:16; 60: 11; 66:14; 102:2; 107:6,13,19,28; 119:143; Isa. 26:16. 2. Tsarah, "aflição", "estreiteza". Vocábulo hebraico que é usado por setenta e uma vezes, conforme se vê, por exemplo, em Juí. 10: 14; 1 Sam. 10: 19; 26:24; Deu. 31:17,21; 11 Reis 19:3; Nee. 9:27; Jó 5: 19; 27:9; Sal. 9:9; 10:1; 25:17,22; 34:6,17; 37:39; 46:1; 50:15; 77:2; 78:49; 86:7; 138:7; Pro. 11:8; 12:13; 21 :23; 25:19; Isa. 8:22; 30:6, 33:2; 37:3; 46:7; 65:15; Jer. 14:8; 30:7; Dan. 12:1; Naum 1:7; Hab. 3:16; Sof. 1:15. 3. Thlibo, "pressionar", "oprimir", "atribular". Verbo grego que é utilizado por dez vezes: Mal. 7: 14; Mar. 3:9; lICor. 1:6;4:8; 7:5; 1 Tes.4:5; 11 Tes.l:6,7;ITim. 5:10 e Heb. 11:37. 4. Thílpsis, "pressão", "opressão", "tribulação". Palavra grega que aparece por quarenta e cinco vezes: Mal. 13:21; 24:9,21,29;: Mar. 4:17; 13:19,24; João 16:21,33; Atos 6:10,11; 11:19; 14:22; 20:23; Rom. 2:9; 5:3; 8:35; 12:12; 1 Cor. 7:28; 11 Cor. 1:4,8; 2:4; 4:17; 6:4; 7:4; 8:2,13; Efé. 3: 13; Fi!. 1:17; 4:14; Col. 1: 24; I Tes. 1: 6; 3:3,7; 11 Tes. 1: 4,6; Heb. 10: 33; Tia. 1:27; Apo. 1:9; 2:9,10,22; 7:14. Geralmente falando, nas páginas da Bíblia, a tribulação consiste ,em aflição causada por alguém, que pressiona a outrem.E mister distinguir claramente qual o causador e qual a vítima, nos casos de tribulação. I. Tribulação como Juízo Divino. Além da tribulação causada por um ser humano contra outro, há também o fato de que Deus pode afligir o seu povo, por motivo da infidelidade dele. Caso o povo de Israel viesse a pecar, conforme tinham feito as nações que Deus expulsara dali, ele também seria expulso e disperso entre as nações. No entanto, Deus prometeu que mudaria essa condição, dizendo: "Quando estiveres em angústia, e todas estas cousas te sobrevierem nos últimos dias, e te voltares para o Senhor teu Deus, e lhe atenderes a voz, então o Senhor teu Deus não te desamparará, porquanto é Deus misericordioso, nem te destruirá, nem se esquecerá da aliança que jurou a teus pais". (Deu. 4:30,31). Por

semelhante modo, quando ocorreu o exílio babilônico, o autor do livro de Lamentações observou: "Edificou contra mim, e me cercou de veneno e de dor" (Lam. 3:5). 2. Tribulação como Testemunho. O mundo incrédulo, por outro lado, pode oprimir o povo de Deus, por causa do testemunho infiel destes últimos. No dizer do Senhor Jesus, todo aquele que não tem raiz em si mesmo, não demora a tombar no caminho. Ver Mat. 13:21. E o Senhor Jesus também disse: "No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16:33). Por causa dele, "... somos entregues à morte continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro" (Sal. 44:22). Apesar de tudo, coisa alguma incluindo tribulação, aflição ou perseguição-pode separar o verdadeiro crente do amor de Deus (ver Rom. 8:35-39)., Por essa exata razão, os crentes são "pacientes na tribulação" (Rom. 12:12). O apóstolo João, na ilha de Patmos, compartilhou " ... na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus ..." (Apo. 1:9). Depois que Paulo foi apredrejado e dado como morto em Listra, ele voltou a exortar aos discípulos como segue: " ... através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus". (Atos 14:22). 3. A "Grande Tribulação". Ver o artigo separado, Tribulação, A Grande. Relembrando o trecho de Daniel 12:2, o Senhor Jesus predisse que haverá uma "... grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais" (Mal. 24:21). Isso incluirá os sofrimentos mais intensos para o povo de Deus, causados pelas forças do anticristo. Aos discípulos, no monte das Oliveiras, declarou Jesus: "Então sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome" (Mal. 24:9). Contudo, durante esse período também haverá atos interventores de Deus, que derramará de suajusta indignação contra os ímpios. Logo em seguida à tribulação daqueles dias, "o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados" (Mal. 24:29). Essas manifestações da ira divina são detalhadamente descritas nos capítulos sexto a décimo nono do livro de Apocalipse. Dentre essa "grande tribulação" sairá uma imensa multidão de mártires, que será vista de pé, diante do trono do Cordeiro (ver Apo. 7: 14). No tocante à identidade do povo de Deus, os dias da grande tribulação e do arrebatamento, os teólogos emitem diferentes opiniões. Os pré-tribulacíonistas opinam que a Igreja de Deus será arrebatada antes da Grande Tribulação. Nesse caso, o povo de Deus compor-se-á dos membros da nação judaica restaurada. Os meios tribulacionistas, por sua vez, pensam que a Igreja haverá de ficar neste mundo até à metade da tribulação, quando então os crentes serão arrebatados, escapando assim da Grande Tribulação. Nesse segundo caso, o "povo de Deus" também compor-se-á dos membros da nação judaica restaurada. E os pós-tribulacionistas preferem pensar que a Igreja ficará na terra até o fim da Grande Tribulação, após o que os crentes serão arrebatados. Nesse último caso, o "povo de Deus" consistirá, com sempre, de todos os convertidos, quer de Israel, quer das nações gentílicas. Ver Gálatas 3:28, que diz: "Destarte não pode haver judeu nem grego...porque todos vós sois um em Cristo Jesus". TRIBULAÇÃO, A GRANDE Apo. 7:14: Respondi-lhe: Meus senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.

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TRIBULAÇÃO, A GRANDE É óbvio que neste ponto, a referência à "tribulação" é escatológica, e não histórica, visando falar acerca dos grandes dias de tribulação pelos quais, pouco antes do segundo advento de Cristo, passará o mundo inteiro. (Quanto a outras alusões escatológicas à "tribulação" e à "grande tribulação" ver os trechos de Mar. 13:19 e Mal. 24:21, que são um reflexo da passagem de Dan. 12:1. Isso também pode ser confrontado com II Tes. 1:6 e ss). Esperávamos que esse período começasse antes do fim do século XX, prolongando-se ainda por parte do século XX!. Alguns estudiosos limitam-no a sete anos ; mas certamente se prolongará por mais do que isso. Serão dias de grandes agitações, caos, sofrimento, opressão econômica e perseguição religiosa. Parte disso será provocado por guerras entre os homens. Haverá ocorrências sem precedente na natureza, que talvez incluam até mesmo a mudança dos pólos terrestres; o mar bramirá descontrolado, deixando os homens inteiramente perplexos. As pragas, as enfermidades, a morte levarão a maior parte da população da Terra. Todas essas coisas visarão dizer aos homens que o caminho pecaminoso deles atingiu seu ponto critico; e, tal como nos dias do Dilúvio, essa condição não poderá continuar sem os mais horrendos castigos. Já tivemos ocasião de estudar parte dessas tribulações nos selos de número três a seis. Supõe-se que a parte final da tribulação, que envolverá os juízos das trombetas, das taças e das sete condenações (capítulos oitavo a décimo nono do Apocalipse), será mais critica e envolverá poder destruidor mais potente. É a essa última porção que denominamos "grande tribulação" em contraste com a "tribulação" geral que haverá naquele período. A tribulação, diferentemente de todos os períodos anteriores de agitação, envolverá o mundo inteiro, civilizado e não civilizado (ver Apo. 3: 10). Haverá sofrimentos para toda a humanidade, mas, especificamente, para a nação de Israel, razão por que é chamada de tributação de Jacó (ver Jer. 30:7). Este artigo defende a idéia de que a Igreja cristã passará por toda a tribulação, em todas (ou quase todas) as suas fases. (Ver as razões para isso nas notas de introdução aos capítulos quarto e sétimo do Apocalipse, no NTI. Ver os argumentos acerca da identificação dos "mártires" de 6:9 e ss, e 7:4-9 com a Igreja cristã, nessas referências. Quanto à "questão do arrebatamento", em todos os seus aspectos, ver I Tes. 4: 15). É possível, todavia, que a Igreja escapará (pelo arrebatamento) de um período de sete anos que tem aplicação especial à nação de Israel, enquanto passará a própria tribulação que durará quase 40 anos. Neste caso, os sete anos farão parte de um tempo muito mais prolongado de agonia na Terra. As guerras iniciadas pelos. homens terão como ponto central a cidade de Jerusalém e a Terra Santa. Os místicos contemporâneos falaram de duas grandes guerras, a primeirajá perto do fim do século XX, em que a União Soviética se chocaria contra a federação de dez nações, encabeçada pelo Anticristo. Muitas cidades ao redor do mundo sofreriam destruição por parte de armas atômicas. Mas o Anticristo derrotaria, finalmente, às forças comunistas, fazendo da Palestina outra Estalingrado em reverso. Em seguida erguer-se-ia a China, porquanto ela ficou essencialmente inatingida, provocando a Quarta Guerra Mundial. Os chineses conquistariam a Ásia inteira, e grande parte da União Soviética e da Europa.Antes de tudo isso, no fim da Terceira Guerra Mundial (entre a União Soviética e a confederação do Anticristo), Israel seria salvo por meio de uma intervenção divina. Primeiramente, os israelitas

veriam o sinal da cruz, uma cruz luminosa no firmamento. Então veriam o próprio Jesus Cristo, corporalmente na Palestina. Os israelitas voltar-se-iam para o seu Messias, Jesus Cristo, tomando-se uma nação oficialmente cristã. Depois disso, tomar-se-iam eles uma poderosíssima força missionária no mundo. Contudo, as tribulações do mundo não terminariam em face da conversão de Israel. Pois, conforme eles disseram, a China se levantar-se-ia como poderosíssima potência militar. Após terem as forças chinesas conquistado grande parte das terras habitáveis, UUI iI..IIlc ,;,cn;,a de: dezessete anos, confonnc disseram alguns místicos contemporâneos, resolveriam elas invadir a Palestina. Muitos milhões de chineses seriam mortos nessa arrancada, porquanto o Anticristo defenderia tenazmente aquela região. Aqueles que chegassem à Palestina seriam aniquilados. Finalmente, a humanidade teriam aprendido rigorosa lição, acerca do que o ódio e a luta armada podem fazer. A intervenção divina, que seria o segundo advento de Cristo, traria um novo ciclo neste mundo, tendo início um período de progresso e de bem-estar sem precedentes. A isso chamamos de milênio. A batalha de Armagedom, conforme se supõe, envolveria as nações e a China; e essa batalha antecederia de imediato ao novo ciclo, que seria iniciado pela parousia, ou seja, pelo segundo advento do Senhor Jesus. Ver o artigo sobre Parousia. Elementos da tribulação: 1. São os elementos referidos acima, como o caos geral, a destruição sem-par por meio de guerras, pragas e a loucura da própria natureza. 2.0 reinado do Anticristo, Ele promoveria um culto religioso que faria o comunismo parecer santo, em comparação. (Ver Apo. 13: 1 e ss quanto a essa descrição. Ver 11 Tes. 2:3 e o artigo separado sobre o Anticristo). Os místicos contemporâneos afirmaram que o Anticristo já estava vivo, tendo nascido a 5 de fevereiro de 1962. Há razões convincentes para aceitarmos esse conhecimento "visionário". Haveríamos de vê-lo manifestar-se em cerca de 1990, embora só chegasse ao seu grande poder em cerca de 1993. 3. A principio ele faria seu centro em Jerusalém, embora o seu campo de operações fosse o mundo inteiro (ver Dan. 9:27). Também teria um centro de atividades em Roma. Seria dominado por um elevado poder maligno, pelo próprio Satanás; e embora dotado de grande sabedoria, essa seria uma sabedoria diabólica. Todos os homens ímpios, em comparação com ele, seriam meros infantes. O Anticristo promoveria um culto religioso que seria totalmente pervertido. Mas os povos do mundo, especialmente os jovens, seriam rápida e facilmente arrebanhados por esse culto, seguindo-o com um senso de realização pessoal. E o "João Batista" ou "precursor" do Anticristo seria, conforme dizem alguns místicos contemporâneos um político do estado de Nova Iorque (E.U.A.), que promoveria a sua causa através dos meios de comunicação mundiais, se pudéssemos confiar nas predições dos místicos contemporâneos. 4. Todos os homens poderão escolher se aceitarão ou não o domínio do Anticristo. Mas aqueles que não se curvarem a ele, sofrerão. Muitíssimos serão martirizados (ver Apo. 7:9). Haverá um número incalculável de mártires. 5. A tribulação, com sua perseguição religiosa e sua destruição generalizada, haverá de purificar à Igreja, naquilo que será seu "banho nupcial". A atual Igreja cristã, com suas corrupções, imoralidades e mundanismo, não pode alçar vôo para as alturas celestes. 6. Os homens, durante o periodo da tribulação, atingirão

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TRIBULAÇÃO, A GRANDE - TRIBULAÇÕES. o clímax da apostasia. Através do Anticristo, chegarão a adorar ao próprio Satanás (ver Apo. 12: 12 e 13:4,5). Também haverá uma atividade sem precedentes dos poderes demoníacos, conforme se vê em Apo. 9:1,11 e 16:13 e ss. 7. A despeito de tanta agonia, a tribulação também será uma oportunidade sem precedente de renovação e de conversão religiosa. Israel será envolvido nesses acontecimentos, mas sempre em cooperação com a Igreja cristã, da qual fará parte integral, após a sua conversão como nação. Otrecho de Apo. 7:9 deixa isso entendido. 8. Duração da tribulação. Durará, talvez, 40 anos. Trechos como Dan. 9:24-27 e Apo. 11:1 parecem indicar um período de sete anos de natureza extremamente critica, envolvendo relações entre o Anticristo e a Palestina, mas não que a tribulação inteira perdurará somente sete anos. A Palestina será ocupada por forças estrangeiras. Talvez isso faça parte do que significa que a cidade santa "será pisada" por quarenta e dois meses (que talvez simbolizem três anos e meio). Detalhes como esses tornar-se-ão claros como o cristal quando os próprios acontecimentos estiverem sucedendo; mas para nós que não sabemos quando tudo isso acontecerá, só podem ser parcialmente compreendidos. Entretanto, somos da opinião de que sem importar o que signifique esse período de sete anos, tudo fará parte do período da tribulação que será um tempo crítico para a nação de Israel, embora esses anos não esgotem a própria tribulação. O número "sete" pode ser um número místico, e não um número que indique sete anos exatos. Somente os próprios eventos poderão mostrar, exatamente, o que tudo isso significa. 9. A batalha de Armagedom (vide), seguida pela Parousia (vide) ou segundo advento de Cristo, porá fim a esse horrendo período (ver Apo. 14: 14 e ss; 16: 16 e 19: 11). 10. O número quarenta. O número bíblicosimbólico-místico para provação é constantemente 40. Exemplos: A chuva do Dilúvio caiu 40 dias; Israel foi provada 40 anos no deserto; Moisés esteve no monte 40 dias e noites quando recebeu a lei; a pregação de Jonas durou 40 dias; Jesus foi tentado 40 dias. Seria muito estranho se a maior provação de todas não durasse o tempo tradicional e espiritual, isto é, 40, e, neste caso, tal número de anos.

TRIBULAÇÕES COMO BENEFÍCIOS A perseguição e as tribulações redundam, para nós, em benéficos resultados. Podemos perceber melhor isso, desdobrando a questão nos pontos abaixo discriminados: 1. A tribulação nos toma cônscios do fato de que somos criaturas muito dependentes. Somente Deus é independente e serve de lei para si mesmo. Todas as demais entidades são criaturas que dependem de sua bondade e de seu poder divinos. As enfermidades graves, os choques severos, a tristeza avassaladora, os desânimos no próprio coração, as desilusões, etc., são todas elas coisas que nos ensinam a depender somente de Deus, e não de nós mesmos. 2. A tribulação também nos faz aproximarmo-nos dos outros seres humanos, especialmente daqueles que também estão sendo atribulados conosco, como nenhuma outra experiência humana é capaz de fazer. As tribulações unem as famílias e as igrejas, as comunidades e as nações, e esses grupos tomam propósitos de unidade, em meio à tribulação. 3. A tribulação ajuda-nos tanto a compreender como a ajudar outras pessoas que também sofrem tribulações. A

tribulação nos toma conselheiros e guias mais sábios. 4. A tribulação e a perseguição podem nos servir de excelentes disciplinadoras, ensinando-nos os valores espirituais certos e próprios; porquanto, é em meio a essas coisas que aprendemos a reconhecer o que é importante e vital, e o que não se reveste dessas grandes qualidades. Também podemos aprender a lição preciosa da humildade sob profunda tribulação, e assim podemos ser espiritualmente fortalecidos. 5. A tribulação, e até mesmo a perseguição, podem resultar de uma "semeadura" má e insensata. Nesse caso, tais tribulações nos servem de castigo, embora também sejam meios disciplinadores que nos ajudam a evitar erros similares. Nisso vemos a ampliação da lei divina universal da semeadura e da colheita. Tomemos como exemplo disso o fato da nação de Israel ter sido perseguida por outras nações. Essa perseguição, com freqüência, tem sido dada como castigo e disciplina, da parte de Deus. Alguns estudiosos têm imaginado que as severas perseguições que o apóstolo Paulo foi vítima resultavam, pelo menos em parte, da "colheita" daquilo que havia semeado em seus dias de incredulidade; pois fora amargo perseguidor da Igreja de Cristo e, embora houvesse sido judicialmente perdoado pelo Senhor, ainda lhe competia colher o que semeara. Esse ponto de vista mui provavelmente está correto, embora outros defendam a noção de que o perdão dos pecados impede qualquer mau efeito proveniente desses pecados perdoados na vida posterior do indivíduo. Contudo, a opinião destes últimos certamente é um ponto de vista equivocado. Pessoalmente conheci o diácono de uma igreja evangélica. Quando o conheci, levava uma vida piedosa. Porém, carregava consigo uma enfermidade grave, em um corpo alquebrado, resultante de uma vida anterior de dissipação. Faleceu quando ainda era comparativamente jovem, não tendo podido escapar dos resultados inevitáveis de seus pecados passados. A tribulação e a perseguição podem nos ensinar algo acerca da seriedade e da malignidade do pecado. Homens iníquos perpetuam atos desumanos contra outras pessoas, ações alicerçadas no ódio, no egoísmo e na ambição. Podemos aprender a repelir esses males, observando os seus péssimos resultados, em nossas vidas e nas vidas alheias. Grande parte da perseguição que se verifica na moderna Igreja cristã não é de origem externa e, sim, interna. Às vezes é um suposto crente que se lança contra outro, ou então são diversos membros de uma congregação que se voltam contra o seu pastor. É até mesmo verdade, algumas vezes, que pessoas indefesas são perseguidas pela junta Iiderante da igreja local, por alguma ofensa mínima, ao passo que membros de prestigio e seus familiares não sofrem disciplina alguma. 7. A tribulação pode expurgar de nossas vidas tanto o pecado como outros elementos inconvenientes, os quais podem não ser pecaminosos em si mesmos, mas que, não obstante, servem de obstáculos para nosso bem-estar e progresso espirituais. O bisturi da tristeza e da tribulação é muito mais afiado do que a navalha expansiva da felicidade, e pode arrancar nossas falhas de caráter e de ação muito mais prontamente do que quaisquer sentimentos de euforia 8. A tribulação e a perseguição podem fazer com que nossa entrada futura, em nossa herança celestial, seja algo muito mais jubiloso do que seria de outra maneira, se porventura não experimentássemos também a adversidade. (Ver Rom. 8: 18). 9. A tribulação e a perseguição aprofundam e fortalecem a nossa expressão espiritual íntima de um modo que é quase impossível através de outros meios

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TRIBULAÇÕES - TRIBUTO quaisquer. O sofrimento deixa uma cicatriz boa, e não má, no caso daqueles que o suportam com a correta atitude, e isso lhes ensina a usarem de simpatia para com as outras pessoas e a terem mais confiança para com Deus. Uma "alma profunda" é aquela que tem passado por muito sofrimento. Uma "alma superficial" é aquela que nunca experimentou a aflição. A alma que j á aprendeu a ser mais profunda é melhor, tanto para o seu próprio benefício como para beneficio de seus semelhantes. 10. Não nos devemos olvidar que o próprio Senhor Jesus .... aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu.... (Heb. 5:8). Outrossim, Ele "foi aperfeiçoado" através do padecimento (ver Heb. 2: 1O). Ora, se Ele precisou passar por tais experiências dolorosas, quanto mais os seus discípulos! A vida não é questão de fazermos Cansativa e ininterrupta subida Por intermináveis beiras e pontes Pois vivemos um dia de cada vez. Por que esforçar-se por um armazém de coragem Como os míseros ajuntam dólares e centavos? Nosso Pai no-la dará e no-la enviará Apenas por um dia de cada vez. Não precisamos de forças agora para amanhã, Quando talvez não estejamos mais no ápice da vida. Mesmo que fiquemos fracos, hesitantes, mesmo que falhemos, Deus nos dará coragem um dia de cada vez. (Helen Cook). Ver o artigo sobre Sofrimento, Necessidade do.

TRIBUNAIS DE JUSTIÇA Nos dias do Antigo Testamento, os casos de disputa eram julgados usualmente em espaço aberto, geralmente em alguma praça, perto de um dos portões da cidade. Porém, Salomão construiu o átrio dejulgamento, uma área do templo de Jerusalém. A partir de então, casos importantes de julgamento começaram a ser associados a esse templo. Ali funcionava uma espécie de tribunal superior, onde eram ouvidos os casos mais graves. Sabemos que no Egito e na Mesopotâmia havia tribunais especiais ou salas de audiência. Mas, com freqüência, o mercado do fórum era o lugar onde funcionava o tribunal. Um lugar favorito era o mercado que ficava fronteiro ao portão principal da cidade. Há referência a tal arranjo em Gênesis 19:1, onde se lê: "Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado". Foi ali que lhe vieram ao encontro os dois mensageiros celestes, aos quais ele convidou para irem à sua casa. Essa referência, provavelmente, indica que Ló ocupava funções judiciais em Sodorna, Alusões posteriores aos portões de alguma cidade, como lugares de julgamento, são Deuteronômio 16:18; 21:19 e 25:7. Juizes e oficiais eram nomeados, a fim de exercerem funções judiciais. I Após o êxodo, Moisés recebeu o poder de julgar. Mas também nomeou ajudantes (Exô. 18: 17-26). Esses chefiavam esquadrões de dez soldados; ou então eram capitães ou dirigentes de unidades ainda maiores. Moisés reservou para si mesmo os casos mais difíceis e importantes. Nos períodos dos juízes, encontramosjuízes que também eram líderes militares e governantes. Ver Juí. 4:5. Os reis acabaram ocupando-se dessas funções. Davi encabeçava um tribunal em sua corte, a fim de julgar a nação inteira de Israel (lI Sam. 15:2), no que foi imitado

por Salomão (I Reis 3:9). À medida que foi crescendo a nação de Israel, mais assistentes se foram tornando necessários. Assim, lemos que Davi nomeou seis mil homens, dentre os levitas, para servirem como oficiais e juízes nos tribunais secundários. Ver I Crô. 23:4 e 26:29. Nos tempos do Novo Testamento, tomou-se clara a influência greco-romana sobre a cultura judaica, pelo menos nas cidades maiores. Tribunais tornaram-se comuns. Mas, nas cidades gregas, como em Filipos, os casos que envolviam crimes continuaram sendo julgados ao ar livre, no agorá ou mercado, de acordo com um antiqüíssimo costume dos gregos, onde havia um lugar reservado para os julgamentos. Em Corinto, Paulo foi levado à presença de Gálio, ao bema ou tribunal (Atos 18: 12-17). Os lugares de julgamento vieram a ser conhecidos como agoraioi . Ver Atos 19:38. Nos tempos do Novo Testamento, os advogados representavam uma profissão que se vinha desenvolvendo desde o período grego, anterior. Havia tanto aqueles que eram especialistas na lei judaica (Luc. 2:46, no grego, nomikoi), como aqueles que se ocupavam com as leis civis (Tito 3: 13). Na época da dominação romana, os israelitas receberam permissão para cuidar de suas próprias questões judiciais, incluindo casos criminosos que não envolvessem a punição capital (João 18:31,32), com restrições ocasionalmente relaxadas. Os cidadãos romanos tinham o direito de serem ouvidos diante do próprio César (Atos 25: 11,12). Ver os artigos sobre Apelo e Apelo de Paulo a César. (VA Z)

TRIBUNO, COMANDANTE No grego, chitrarchos, "comandante de mil". Algumas versões preferem a tradução "tribuno". Nossa versão portuguesa diz "comandante", "oficial militar", etc. Esse termo grego aparece por vinte e duas vezes: Mar. 6 :21 ; João 18:12; Atos 21:31-33,37; 22:24,25-29; 23:10,15,17-19,22; 24:7,22; 25:23; Apo. 6:15 e 10:18. Um "tribuno", ou "comandante" comandava uma coorte, composta por setecentos e sessenta infantes e duzentos e quarenta cavaleiros (ver Atos 21 :31,33,37, etc.). De acordo com a nomenclatura militar moderna, seria, mais ou menos, o equivalente a um coronel. O "comandante" dos soldados romanos, que prenderam a Jesus no jardim do Getsêmani, era um tribuno ou chiliarchos (João 18: 12). TRIBUTO I. Palavras Empregadas n. Definições Ill. Observações Bíblicas I. Palavras Empregadas Hebraico: 1. Mas, tributo, carga de impostos, com cerca de vinte ocorrências no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 49.15; Deu. 20.11; Jos. 16.10; Est. 10.1; Pro. 12.24. 2. massa, carga, tributo, com duas ocorrências no Antigo Testamento: 11 Crô. 17.11; Nee. 10.31. 3. missah, carga, tributo, com uma ocorrência no Antigo Testamento: Deu. 16.10. 4. belo, imposto alfandegário, tributo, com três ocorrências: Esd. 4.13, 10; 7.24. 5. mekes, tributo, com seis ocorrências: Núm. 31.28, 37-40. 6. middah, tributo, imposto, coisa medida, com três ocorrências: Esd. 4.20; 6.8; Nee. 5.4. 7. onesh, multa, confisco, punição, com uma ocorrência: II Reis 23.33.

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TRIBUTO - TRIGO Grego: 1. phoros, tributo, taxa, carga, com quatro ocorrências no Novo Testamento: Luc. 20.22; 23.2; Rom. 13.6, 7. 2. kensos, taxa de recenseamento, com quatro ocorrências no Novo Testamento: Mat. 17.25; 22.17, 19; Mar. 12.14. 3. didrachmon, dracma dupla, um imposto, com duas ocorrências no Novo Testamento: Mat. 17.24. Latim: Tribuere, dar; tributum, um pagamento, imposto cobrado, responsabilidade. 11. Definições As palavras acima demonstram a variedade de formas pelas quais o conceito de imposto, tributo, doação etc. pode ser aplicado ou cobrado. A maioria das palavras contém a idéia de algum tipo de contribuição compulsória que um poder mais alto impõe a um mais baixo, ou que um conquistador exige do conquistado, ou uma ameaça para fazer algo pior se uma pessoa ou uma nação não pagar, a incluir os impostos simples mas desagradáveis que os governos exigem que você pague, presumivelmente para seu bem. Ver o artigo separado sobre Taxas, Taxação. 111. Observações Bíblicas 1. Antigo Testamento a. Um dos filhos de Jacó teve de pagar uma taxa para conseguir favores no Egito (Gên. 43.11,12). b. Yahweh cobrou sua parte, forçosamente, para o financiamento do ministério (Núm. 31.28). c. Certos juízes eram forçados a contribuir com as autoridades (Juí. 3.15-18). d. Israel tinha de pagar pesados impostos aos seus próprios governantes (I Sam. 8.10-18). e.Além de impostos, as pessoas tinham de oferecer presentes aos regentes para comprar favores (I Sam. 10.27). f Quando tinha poder de fazê-lo, Israel cobrava pesados tributos dos poderes estrangeiros conquistados (11 Sam, 8.6); muitas nações foram submetidas por Salomão ao pagamento de tributos (I Reis 4.21); Acaz exigiu um tributo de Moabe (11 Reis 3.4, 5); Josafá taxou os filisteus e os árabes (lI Crô. 17.11); Uzias cobrou impostos dos amonitas (11 Crô. 26.8). g. Poderes estrangeiros colocaram Israel e Judá sob tributo: (11 Reis 12.17, 18; 16.5-9; 17.3; 18.13-16; 20.1215; 23.33-35). A Babilônia, por fim, assumiu o que sobrava da riqueza de Judá (11 Reis capo 25). 2. Novo Testamento a.Um imposto individual, tributum capitis (o imposto por cabeça), era exigido de todos os cidadãos judeus pelos romanos (Mal. 22.17, 19; Mar. 12.13-17). Esse imposto incluía impostos sobre propriedade. b. Os cristãos estão sob obrigação de pagar impostos ao governo (Rom. 13.6, 7). c. Um imposto de templo era exigido de todos os homens judeus (Mal. 17.24, 25). Após o templo de Jerusalém ter sido nivelado pelos romanos, eles continuaram a coletar esse imposto para custear o templo de Júpiter Capitolinus, em Roma. O governo romano cobrava um tributum soli sobre as províncias e o tributum capitis, um imposto sobre indivíduos.

TRIFO No grego, Trúphon. Esse era o sobrenome de Diodoto, usurpador do trono da Síria. Era nativo de Apaméia, na Siria. O apodo Trilo foi adotado por ele, depois que chegou ao poder. Ele fora um general de Alexandre [ Balas, rei da Síria (150-145 a.C.), que se afirmava filho de Antíoco V Epifânio, ocupante do trono selêucida por ocasião do falecimento de Demétrio I Soter (162-150 a.C.). Quando Alexandre Balas morreu, Trifo estabeleceu Antíoco VI Dionísio, filho de Alexandre, no trono, além de ter-se declarado regente, contra as reivindicações de Demétrio II Nicator, filho de Demétrio I Soter (I Macabeus 11:38 ss e 54 ss). Motivados por suas querelas com Demétrio II, os judeus, dirigidos pelo governante hasmoneano Jônatas, aceitaram Antíoco IV; e então, Trifo expulsou Demétrio de Antioquia (I Macabeus 11:54-56). Trifo, que planejava apossar-se do trono selêucida para si mesmo, assassinou traiçoeiramente a Jônatas, em Ptolernaida, e, em seguida, assassinou a Antíoco VI (I Macabeus 12:39-13:32). Depois declarou-se governante único da Síria, em 142 a.C. (I Macabeus 13:31,32). Por motivo de sua tirania e capacidade, o irmão de Demétrio Il, chamado Antioco VII Sidetes, invadiu o país e infligiu uma derrota decisiva contra Trifo, em Dor, na Fenícia (I Macabeus 15: 1014,25). Trifo fugiu para Ortósia, nas costas marítimas do Líbano, e, dali, para Apaméia, onde acabou falecendo (Josefo, Anti. 13:7,2; Estrabão 14:5,2).

TRIBUTO, DINHEIRO DO Ver sobre Taxas, Taxação.

TRIFOSA Ver sobre Trifena e Trifosa.

TRICOTOMIA Ver os dois artigos intitulados Dicotomia, Tricotomia e Problema Corpo-Mente; o último desses dois artigos

TRIGO 1. As Palavras Usadas No hebraico, chittah, palavra que é empregada por

apresenta várias formas das duas idéias. TRIDENTINA, PROFISSÃO DE FÉ Foi o papa Pio IV, em 1564, quem promoveu essa profissão de fé, cujo intuito foi o de satisfazer as exigências, desenvolvimentos e declarações dos dogmas católicos romanos, conforme os mesmos foram afirmados e oficializados pelo concílio de Trento. Outro propósito foi o de permitir que os católicos romanos se defendessem dos ataques contra suas doutrinas, desfechados pela Reforma Protestante. TRIFENA E TRIFOSA No grego, Tráphaina, "dengosa"; e Truphôsa, "delicada". Esses eram os nomes de duas mulheres crentes de Roma, a quem Paulo enviou saudações (Rom. 16:12). Ele as chamou de pessoas que "trabalhavam no Senhor", o que faz contraste com o sentido de seus nomes. Visto que os nomes dessas duas mulheres estão tão ligados a uma mesma raiz grega, que significa "viver no luxo", muitos estudiosos têm emitido a opinião de que elas seriam irmãs gêmeas, ou então, parentes muito próximas uma da outra. Ambos os nomes ocorrem entre as listas de escravos da corte imperial de Cláudio, tendo sido encontrados, igualmente, em um cemitério usado, principalmente, para o sepultamento de servos do imperador romano. É possível que elas fizessem parte, "da casa de César" (Fil. 4:22), ou seja, crentes que se haviam convertido dentre aqueles que serviam à corte real. No livro apócrifo de Atos de Paulo e Tecla (27 ss), "Trifena" também aparece como nome de uma rainha, que se mostrou amigável para com Tecla.

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TRIGO - TRINDADE trinta v,ezes nas páginas do Antigo Testamento: Gên, 30: 14; Exo. 9:32; 29:2; 34:22; Deu. 8:8; 32: 14; Juí. 6: 11; 15:1; Rute 2:23; I Sam. 6: 13; 12:17; II Sam. 4:6; 17:28; I Reis 5:11; I Crõ. 21:20,23; II Crõ. 2: 10, 15; 26:5; Jó 31:40; Sal. 81: 16; 147: 14; Cano 7:2; Isa. 28:25; Jer. 12:13; 41:8; Eze. 4:9; 27:17; 45: 13; Joell: 11. E também chitin, que aparece somente por duas vezes, em Esd. 6:9 e 7:22. No grego, sitos, um vocábulo que encontramos por doze vezes no Novo Testamento: Mat. 3:12; 13:25,29,30; Luc. 3:17; 16:7; 22:31; João 12:24; Atos 27:38; I Cor. 15:37; Apo. 6:6 e 18:13. 2. Colheita Importante Uma importantíssima colheita nos tempos bíblicos, conforme já seria fácil de imaginar, o trigo. aparece em várias passagens bíblicas notáveis. Para exemplificar, salientamos aquela instância em que Gideão estava malhando o trigo quando o Senhor o chamou para ser um dos mais notáveis e bem-sucedidos juizes de Israel (ver Juí. 6: li). Rute, a viúva moabita de um israelita, chegou em Belém no tempo exato (ver Rute 2:23), para poder respigar trigo suficiente para as suas necessidades, por bondade de Boás. Omã estava malhando o trigo (ver I Crõ. 21 :20) quando viu um anjo. O Senhor Jesus também nos dá um quadro sobre o arrebatamento dos salvos. quando o "trigo" tiver de ser recolhido (Luc. 3: 17). E o Senhor também usa o trigo para nos ensinar a necessidade de morrermos para o nosso próprio "eu", em João 12:24: "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto". 3. Nomes Cientificos O nome cientifico do trigo é Triticum aestivum, Também existe o Triticum compostium, ou trigo barbado, com várias espigas de trigo no mesmo pedúnculo. Também existe o trigo egípcio, cujo nome científico é Triticum tungidum; o Triticum monoccum, que é o trigo de um grão; e o Triticum dícoccoides, ou trigo selvagem. Certo pesquisador encontrou apenas duas variedades de trigo medrando na Palestina. Cientificamente, essas variedades chamam-se Triticum durum zenati x Bonterli e o Triticum vulgare Florence x aurore. Quando os israelitas se estabeleceram na Palestina, tornaram-se grandes agricultores, e passaram a produzir vastas quantidades de trigo, grande parte do qual exportavam para outros países. Uma boa parte dessas exportações seguia por via marítima para Tiro (ver Amós 8:5), como também para outros portos às margens do mar Mediterrâneo. Entretanto, alguns estudiosos têm opinado que, ao tempo do rei Jotão (ver II CrÕ. 27:5), os agricultores israelitas tinham-se tornado preguiçosos ou desmazelados quanto à triticultura, porquanto aquele monarca cobrou dos amonitas, como taxa. cem mil coros de trigo. Estaria faltando trigo em Israel? 4. Estação do Ano Na Palestina. a colheita do trigo começa na terceira semana do mês de abril, e prossegue até à segunda semana de junho, embora muito dependa do solo, da situação geográfica e do tempo em que fora feita a semeadura. Esse era um período tão importante do ano, para os israelitas, que o povo se referia ao tempo "da ceifa do trigo" (Gên. 30:14), ou aos dias da "sega de cevada e de trigo" (Rute 2:23). 5. Descrições A malhação do trigo, via de regra, era feita com uma vara longa e flexível, conhecida como mangual (ver Isa. 41: 16, onde se lê: "Tu os padejarás e o vento os levará, e redemoinho os espalhará..."). Também podia ser trilhado sob os pés de juntas de bois, que ficavam andando em

círculos sobre otrigojácortado (ver Deu. 25:4). E também havia a prática de trilhar o grão de trigo por meio de uma roda ou de um carro que passava por muitas vezes sobre as espigas de trigo postas sobre uma área limpa de terreno. Esse último método é sugerido em Isaías 28:28, onde lemos: "Acaso é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando, nem sempre está fazendo passar por cima dele a roda do seu carro e os seus cavalos". 6. Usos de Jesus A referência feita por nosso Senhor à produção de trigo a cem por um, no décimo terceiro capítulo de Mateus, tem sido posta em dúvida por alguns céticos. No entanto, variedades do Triticum aestivum podem ter espigas de trigo que contêm cem grãos! Usualmente, o trigo era semeado durante os meses de inverno, na Palestina. Era espalhado levemente e com pouca aragem. Ocasionalmente, a semeadura era feita em fileiras, segundo se depreende de Isaías 28:25: " ...não lança nela o trigo em fileiras ..." Presume-se que essa frase indique que o trigo era semeado de forma que as plantas ficassem arrumadas no solo em fileiras retas, paralelas umas às outras. 7. Usos Figurados Linguagem Figurada da Bíblia sobre o Trigo. Além da aparente morte do grão de trigo representar a morte vicária do Senhor Jesus, em expiação pelos nossos pecados (ver João 12:24), que ocorre a todos os estudiosos das Santas Escrituras, há dois outros simbolismos um tanto mais desconhecidos: I. da misericórdia divina (ver Sal. 81:16 e 147:14). Diz a primeira dessas passagens, referindo-se ao povo de Israel, se este se voltasse para o Senhor de todo o coração: "Eu o sustentaria com o trigo mais fino, e o saciaria com o mel que escorre da rocha". 2. Da justiça aos próprios olhos, isto é, aquilo que o homem pensa haver adquirido com suas próprias obras e com sua própria bondade (J er. 12: 13). Lemos ai i: "Semearam trigo, e segaram espinhos; cansaram-se, mas sem proveito algum. Envergonhados sereis dos vossos frutos, por causa do brasume da ira do Senhor". Isso faz parte de um simbolismo mais amplo e mais antigo. Lemos em Gênesis que Caim era agricultor, e Abel criava ovelhas. Caim ofereceu ao Senhor um sacrificio composto de frutos do seu trabalho, e foi rejeitado pelo Senhor. Abel, por sua vez, ofereceu ao Senhor um sacrificio dentre os animais que criava, e foi aceito por Deus. Ver Gênesis 4:2 ss, Pode-se mesmo dizer que, quanto a seu importantíssimo aspecto salvatício a Bíblia foi dada e escrita para ensinar essa lição aos homens. TRINDADE Esboço: 1. Definação 2. História 3. Base Neotestamentária 4. Significado e Importância da Doutrina da Trindade 5. Opiniões de Importantes Filósofos e Teólogos Ver o artigo geral sobre Deus, especialmente seção Ill, Conceitos de Deus. Ver também sobre Triteismo e Tríades (Trindades) na Religião. O fato de que as palavras de I João 5:8, que encerram uma declaração genuína. não são genuínas, não significa que essa doutrina não seja ensinada no NT. 1. Definição. Os crentes comuns, e até mesmo a maioria dos mestres cristãos, se fossem solicitados a definir a trindade, apresentariam uma definição "triteísta", e não uma definição "trinitária", Diriam haver três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, e que são uma só

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TRINDADE pessoa. Porém, se fossem pressionados a explicar melhor suas idéias, diriam que essas três pessoas são "distintas". A doutrina trinitária, entretanto, não contempla pessoas distintas. Se assim fosse, tudo se reduziria ao "triteismo". Em outras palavras, haveria três pessoas e, por conseguinte, três deuses, pois cada pessoa é vista dotada de existência separada das outras duas. A maioria dos argumentos apresentados em favor do "trinitarianismo", na realidade dá apoio ao "triteismo", No trinitarianismo, fala-se da essência de Deus, como algo que está sujeito à distinção em três pessoas, mas sem qualquer divisão que permita a distinção em três pessoas diversas. Não há "três deuses", e nem meramente três modos de manifestação divina. Antes, todas as pessoas são co-extensivas, co-iguais e co-eternas. Contudo, sem importar que tipo de analogia ou argumento usemos, a fim de demonstrar essa doutrina, em algum ponto não conseguiremos explicar-nos devidamente, pois simplesmente não sabemos como pode haver três, e, ao mesmo tempo, um só, porquanto a mente dos homens terrenos não se presta muito bem para entender a matemática celeste. Por conseguinte, as analogias e explanações invariavelmente se inclinam por apoiar o "triteísrno", e não o "trinitarianisrno". Até mesmo as explicações antigas, que falavam de três "hipóstases" de "uma só substância", chegavam perigosamente perto do triteismo, se é que não eram expressões dessa posição. A palavra trindade significa a "união de três partes ou expressões em uma só". Porém, se postularmos três pessoas separadas, teremos caído no triteísmo, mesmo que digamos que essas três pessoas possuem o mesmo tipo de natureza. Muitos homens existem; compartilham do mesmo "tipo de natureza"; mas não perfazem "um" único individuo. Se dissermos que Deus é um só, em seu ser essencial, mas que a essência divina existe em três formas ou modos de ser, cada forma constituindo uma pessoa, embora participem da mesma essência, ainda assim teremos caido no triteísmo, se porventura estivermos concebendo três pessoas distintas, com existências individuais. Agostinho falava da trindade em termos de "relações internas", ou seja, aspectos de um único ser divino. Em Deus não há qualquer divisão, mas tão-somente simplicidade e unidade perfeitas. Aceitando essa forma de definição, que é verdadeiramente trinitária, encontramos dificuldade em harmonizar essas idéias com as descrições dadas pelo NT, acerca das pessoas e das obras das três pessoas divinas. O que isso significa e que, sem importar qual definição apresentemos sobre a "trindade", nossas mentes permanecem insatisfeitas, porquanto simplesmente não podemos aprender o conceito "trinitário",j á que não temos qualquer experiência sobre algo que seja, ao mesmo tempo, três e um. Portanto, nossas mentes não podem entender o conceito trinitariano, quando é apresentado realmente como tal, e não como forma velada do triteísmo. Não obstante, o NT ensina que só há um Deus, e que há três pessoas divinas. Como isso pode ser, não sabemos dizê-lo. Tomás de Aquino estava com a razão, ao asseverar que algumas doutrinas cristãs transcendem à razão e à percepção dos sentidos estão sujeitas à apreensão exclusiva da fé. O fato de que a mente humana não é capaz de entender uma doutrina não significa que tal doutrina não seja veraz. Por conseguinte, afirmamos a verdade da idéia trinitariana, porquanto certas passagens do NT, quando consideradas em seu conjunto, exigem essa idéia, ainda que as nossas explicações a respeito fiquem muito aquém de nos satisfazer plenamente. Também aceitamos a divindade e a humanidade de Cristo,

mescladas no homem Jesus de N azaré, mas não há maneira de explicar tal coisa, acerca de como ela pode ser verdadeira. Isso envolve uma dimensão do conhecimento e da verdade que as nossas mentes ainda não conseguiram atingir. Por que haveríamos de pensar que não há "mistérios" presentes em qualquer sistema de conhecimento que envolva considerações sobre a realidade última? A verdadeira definição e compreensão sobre a trindade continua sendo um mistério para nós; no entanto, possuímos excelentes indicações, nas páginas do NT, de que isso representa a verdade sobre a natureza e a pessoa de Deus, e que o l';IT, não procura nos ensinar o ''triteismo''. 2. História. E verdade, naturalmente, que o termo "trindade" não se acha no NT, e nem em qualquer documento há uma definição clara de "trindade". Rejeitamos enfaticamente a germinidade do trecho de I João 5:7a, Bb, conforme o mostram as notas expositivas acima, em favor de cuja rejeição há evidências irresistiveis. Contudo, o "conceito" da "trindade" é algo que se faz necessário pelo aspecto "total" da divindade, segundo esta é exposta nas páginas do N. T. O vocábulo "trindade" evidentemente foi pela primeira vez usado por Tertuliano, na última década do século 11 d.C., mas não encontrou lugar na teologia formal da Igreja até o século IV d.C. Essa doutrina recebeu ampla expressão, pela primeira vez, em resultado da obra de pais capadócios da Igreja (meados do século IV d.C. e mais tarde), a saber, Basílio, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno. Eles formularam as idéias de distinção hipostática e de unidade substancial; mas algumas de suas explicações são claramente triteístas, e não trinitárias, o que se verifica sempre quando alguém tenta explanar. o que está em foco. A doutrina da trindade recebeu declaração formal na carta sinodal do concílio realizado em Constantinopla, em 382 d.C. (preservado por Teodoreto, História Eclesiástica, v.9). Ainda antes, tal como no credo de Nicéia, em 325 d.C; e nos escritos dos pais da Igreja Inácio, Irineu, Tertuliano e Orígenes, podem ser encontradas fórmulas trinitárias. O conceito da trindade, pois, é quase tão antigo como o "cânon" do próprio NT, tendo surgido na história eclesiástica quase tão prontamente quanto qualquer teologia formal. Tertuliano falava de "uma substância, três pessoas". Após o século IV d.C., a posição trinitária se tornou o padrão da Igreja, ainda que, periodicamente, tivesse sofrido ataques e negações. Os principais desses ataques foram o monoteísmo hebreu, o arianismo, o sabelianismo, o socinianismo e o unitarismo. A heresia gnóstica, naturalmente, antes disso, já vinha assediando a Igreja por cento e cinqüenta anos, desde os próprios dias apostólicos; essa heresia não tinha o conceito trinitário (ver CoL 2.18 no NTI quanto notas expositivas completas sobre esse sistema). E verdade, naturalmente, que os primitivos cristãos, sem teologia sofisticada, não formularam qualquer "conceito trinitário". Somente muitas decadas de reflexão desenvolveram esse pensamento. Tal "reflexão", porém, foi frutífera, deixando transparecer certas verdades que a Igreja primitiva não possuía e nem descreveu de modo formal. Crentes individuais têm negado, duvidado ou ignorado essa verdade, a qual não deve tornar-se base de nossa comunhão uns com os outros. É crente o indivíduo que reconhece a Jesus Cristo como Salvador (Col. 2: 19). Um homem pode fazer isso sem mostrar-se sofisticado em sua teologia ao ponto de formular um conceito trinitário. 3. Base neotestamentária. Há declarações, nas páginas do NT, relativas a essa doutrina, que, se consideradas

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TRINDADE isoladamente, podem dar a impressão de ensinarem o triteísmo; mas, quando são consideradas em seu conjunto, subentendem a posição trinitária. O conceito da trindade repousa essencialmente sobre duas premissas: I. O monoteísmo é uma verdade; 2. a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo também é uma verdade. Portanto, temos um único Deus, mas três pessoas divinas. Contudo, não podemos interpretar isso em termos de triteísmo, porquanto isso seria uma forma de triteísmo que contradiz o monoteismo das Escrituras. Consideremos os pontos abaixo: a. Monoteismo. "A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele" (Deut. 4:35). "Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus ..." (Isa. 45:5). (Ver igualmente os trechos de Mar. 12:29; I Cor. 8:4; I Tim. 2:5). Deus é eterno (ver Deu. 33:27; lsa. 40:28; Rem. 16:26 e I Tim. 1:17). Deus é um espírito (ver João 4:24; Luc. 24:39); é infinito (ver I Crê. 29:11; Mal. 19:26; Luc. I :37); é dotado de sabedoria infinita (ver Sal. 147:5; Atos 15: 18); é infinito em bondade (ver Gên. 1:31; Sal. 315136: I); é o criador e o preservador de tudo (ver João. 20: 11; Gên. I e Col. 1: 16,17). b. Contudo, o Filho, referido como pessoa diferente do Pai, também é divino: ver Isa. 9:6; Col. 2:9 e Heb. 1:10. O Filho exerce os mesmos atributos de divindade exercidos pelo Pai (ver Col. 2:9); Ele é o Alfa e o Ômega (ver Apo, 1:8, 17; 21 :6; 22: 13); é o criador e o preservador da criação (ver Cal. 1:16,17; João 1:1); tem uma só substância com o Pai (ver João 10:30); é eterno (ver João I: 1 e Miq. 5: 2). c. O Espírito Santo é uma pessoa divina. Ver João 14:16,26; 15:26; 16:733,14; Rom. 8:26, quanto à sua personalidade; comparar com Juí. 15:14 a 16:20 acerca de sua divindade, onde são usados intercambiavelmente as expressões "Espírito do Senhor" e "Senhor". Ver também II Sam. 23 :2, onde o "Senhor" fala, embora seja Ele o Espírito. O Espírito Santo é O "criador" (ver Jó 33:4). Ele é onipresente, um atributo pertencente exclusivamente a Deus (ver Sal. 139:7). O sexto capítulo do livro de Isaías fala sobre o Senhor dos Exércitos; e esse é usado em Atos 28:25,26 para indicar o Espírito Santo, que fala aos homens; ver também Luc. 1:35; I Cor. 3:16; 6:19; 11 Tim. 3:16 e II Ped. 1:21, que indicam a personalidade do Espírito e subentendem a sua divindade. O Espírito Santo é "eterno", descrição essa que cabe exclusivamente a Deus (ver Heb. 9:14). Ele é o Espírito da verdade, e somente Deus é a verdade absoluta (ver João 15 :26 e I João 5:6). Ele é enviado por Deus Pai e por Deus Filho, sendo o alter ego do Filho do que se conclui que deve ser divino (ver João 15:26; Rom. 8:9 e Gál, 4:6). Só existe um Deus (posição do monoteísmo); mas há três pessoas divinas. Somos levados a entender a posição trinitária de Deus, porque o triteísmo, sua única alternativa, é inaceitável tanto para a teologia judaica como para a cristã. O triteísmo é uma forma de politeísmo. Se aceitarmos a verdade de três pessoas divinas e a do monoteísmo, ao mesmo tempo, então teremos duas alternativas: 1. O trinitarianismo, que preserva algum conceito da personalidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, individualmente considerados. 2. Podemos reduzir a idéia da "personalidade", a um conceito sem significado. Devemos dizer que Deus se "manifesta" de vários modos, "como que em pessoas", mas não, na realidade, em três pessoas distintas. Assim fazendo, derrubamos por terra a "personalidade" de Deus Filho e de Deus Espírito Santo. Preservaremos o "monoteísmo", mas com o sacrificio do discernimento acerca da natureza de Deus, que ensina

que deve haver alguma distinção genuína entre o Pai e o Filho, e de ambos para com o Espírito Santo. 4. Significação e importância da doutrina da trindade. Essa doutrina nos é revelada nas Escrituras por uma razão, não por mera curiosidade. Sugerimos os seguintes aspectos importantes dessa doutrina: a. Confere-nos a compreensão acerca da natureza de Deus e, por conseguinte, da nossa própria, pois o homem também é uma espécie de trindade, formada de corpo, alma e espírito. Desse modo aprendemos, uma vez mais, que o homem foi criado segundo a imagem de Deus; e esse é o significado da existência toda, porquanto Deus é o alvo da vida, a saber, Deus Pai (ver Cor. 8:6) e o Filho (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios, sobretudo o vigésimo terceiro versículo, e o trecho de Cal. 1:16). b. Assim como Deus é triúno, mas cada pessoa divina tem sua função e propósito, mas todas concordam em um único propósito, assim também o homem, apesar de ser um ser extremamente complexo, pois combina aspectos espirituais e materiais, tem um grande propósito na existência. c. O conceito da trindade ensina-nos como Deus opera em sua criação: Deus Pai é o planejador de todas as coisas, incluindo a redenção humana; o Filho é o agente em tudo, criador tanto da antiga como da nova criação; e o Espírito Santo é o enviado de ambos, procurando realizar a missão do Filho durante sua ausência, especialmente a transformação dos homens remidos segundo a imagem e a natureza do Filho, que é a redenção mesma da humanidade. Todas as doutrinas cristãs, pois, têm alguma relação com o conceito da trindade. A redenção humana está a ela vinculada. d. O conceito da trindade tira da idéia de estagnação o conceito de Deus agora e por toda a eternidade. Deus é dinâmico, pois nele existe plenitude de vida, sendo Ele a sua própria fonte originaria. e. Esse conceito nega o "de ísmo", que é a doutrina que Deus é tão transcendental que não pode e não tem qualquer coisa a ver com sua criação; bem pelo contrário, o "Filho" subentende que haverá outros filhos de Deus. Ele veio em busca dos homens para concretizar esse ideal; o Espírito Santo, na qualidade de "paracleto" e agente de Cristo, de seu alter ego, mostra que Deus sempre está com os homens, com o propósito de conduzi-los ao seio da família divina, para que sejam irmãos do Filho de Deus (ver 11 Cor. 3:18 e Rom. 8:29). Por conseguinte, o conceito da trindade subentende o "teísmo", ou seja, que Deus está conosco e visa o nosso beneficio. f. O conceito da trindade subentende unidade na diversidade; e essa é uma lição objetiva concernente ao mundo como Deus trata com sua criação. Cristo é o centro de tudo (unidade), mas os homens, uma vez remidos, não perdem a sua individualidade, embora assumam a imagem e natureza de Cristo e venham a compartilhar de toda a plenitude de Deus (Ver Efé. 3: 19 e Col. 2: 10). O dualismo não se acha no coração central do Universo, embora agora se manifeste, por causa da presença do pecado. g. O trinitarianistrio limita os "rivais" ao poder de Deus. Chama de "falsos", a todos os demais supostos deuses. Deus, na qualidade de benevolência suprema, portanto, garante o triunfo do bem em todo o Universo. Nem mesmo os perdidos haverão de conservar-se em hostilidade contra Deus; e isso envolve alguma forma de restauração, até mesmo para esses, apesar de não virem a compartilhar da vida dos eleitos (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios, ver Col. 3:6). Ver o artigo separado sobre a Ira de Deus.

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TRINDADE - TRINTA E NOVE ARTIGOS 5. Opiniões de Importantes Filósofos e Teólogos. Ver artigo separado intitulado, Trindade, Opiniões de Importantes Filósofos e Teólogos. Bibliografia. AM B C E EP 10 P TRINDADE, OPINIÕES DE IMPORTANTES FILOSOFOS E TEÓLOGOS Ver o artigo detalhado sobre a Trindade. Aqui apresentamos as opiniões de figuras historicamente importantes, sobre essa questão. 1. Origenes, no século III d.C. Ele brindou-nos com uma formulação ortodoxa da Trindade, antes dela tornar-se generalizada na Igreja cristã. Em sua opinião, o Filho e o Espírito Santo, embora da mesma essência do Pai, sãolhe subordinados quanto à posição. 2. Plotino advogava uma doutrina trinitariana segundo a qual concebia o Um, o Nous e a Alma do Mundo, como seus três elementos. Emanações seriam a explicação para o problema da manifestação e das relações existentes na criação. Algumas de suas declarações anteciparam fórmulas cristãs posteriores. 3. Sabélio acreditava em uma forma de unitarismo, dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam sucessivas manifestações desse Ser, cumprindo os diferentes papéis de Criador, Redentor e Doador da Vida. 4. Ário rejeitava o conceito que afirma que o Filho é da mesma natureza do Pai (homoousia), mas promovia a idéia de que o Filho era de natureza similar (homoiousia) à do Pai. Ver sobre Arianismo. 5. O concílio de Nicéia declarou-se oficialmente a favor da idéia da "mesma natureza", o que fez o trinitarianismo tornar-se a posição ortodoxa. Isso ocorreu em cerca de 325 d.e. 6. Os capadácios, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno trabalharam em fórmulas ortodoxas da Trindade, e a declaração resultante foi oficializada pelo concílio de Constantinopla, em 381 d.e. Essa declaração asseverava que os membros da Trindade são três hipôstases (vide) de uma só e de uma mesma essência divina. 7. Agostinho ensinava que a Trindade é refletida no ser humano, porque o homem foi criado à imagem de Deus. A contraparte humana de Deus ele via no ser, no conhecimento e no amor, bem como em atributos humanos particulares, que imitam os atributos divinos. 8. Anselmo dizia que a mente racional do homem é a imagem da Trindade no homem. Com base nisso, todas as formas de verdade podem ser conhecidas, sem qualquer investigação empírica. 9. Gilberto dePoitiers falava acerca da Unidade de Deus em um Ser Puro, mas também dizia que Deus é Triúno, em uma espécie diferente de análise. 10. Tomás de Aquino aceitava a noção da trinitarismo ortodoxo, afirmando, porém, que essa noção só pode ser aceita pela fé, visto que não há qualquer explicação racional para a mesma. Abaixo apresentamos várias objeções à doutrina ortodoxa da Trindade: L Jacó Boehme aceitava essa doutrina, mas fazia-a derivar-se do estado primevo, de onde teriam procedido todos os seres. Na verdade, algumas de suas expressões eram claramente panteístas, conforme verifica-se com a maior parte dos místicos que se deixa envolver pela idéia da Unidade de todas as coisas. 2. John Milton cria que o Filho e o Espírito Santo são seres criados pelo Deus único, pelo que não seriam iguais

a Ele, nem quanto à natureza e nem quanto à posição. 3. Swedenborg dava valor ao trinitarismo ortodoxo, mas também levava em conta várias trindades importantes na fé religiosa, como os três graus do ser, na pessoa de Deus. 4. Schelling seguia Boehme na crença que a Trindade teria evoluído a partir de um estado primeiro. 5. Feuerbach pensava que a Trindade é uma projeção do próprio homem, uma tentativa para explicar a infinitude através de suas faculdades da razão, da vontade e do amor. 6. Jung pensava que a quaternidade, e não a trindade, é que é o símbolo religioso básico e apropriado. 7. Outras Trindades e Triades. E deveras surpreendente observar quantas fés religiosas, desde os tempos mais remotos, têm desenvolvido a idéia das tríades divinas. Temos apresentado uma detalhada apresentação sobre esse fato, no artigo intitulado Triades (Trindades) na Religião. Parece estar em foco um conceito primitivo, comum a todos os homens, e que se foi reiterando em diversas culturas, ao longo da história da humanidade. TRINDADE ECONÔMICA Essa é a teoria religiosa que diz que o Filho e o Espírito Santo têm a posição não de hipóstases (que vide) completas, mas apenas dispensações econômicas ou funcionais do único Deus. Essas dispensações funcionais teriam ocorrido a fim de promover a criação e a redenção. Após a sua extrapolação, tornaram-se diferenciações internas e independentes, dentro da deidade. Deus é um só em sua natureza: mas é triplice em suas funções, ou seja, em sua maneira de tratar a sua criação. Essa teoria é monistica em sua ênfase e difere do modalismo (que vide) somente porque atribui uma existência mais permanente à pluralidade envolvida nessas funções diversas. Alguns estudiosos pensam que foi Sabélio (que vide) quem primeiro lançou mão desse termo. As objeções teológicas a essa teoria são as seguintes: 1. Torna Deus dependente, quanto a um elemento do seu Ser, do seu relacionamento para com a sua criação. 2. Confunde a natureza essencial do ser de Deus com a maneira como Ele opera, fazendo as funções substituírem a essência do ser. TRINDADE ESSENCIAL Essa é a doutrina que Deus, em si mesmo (independente de suas relações com qualquer outra coisa), é um único Deus, mas formando uma trindade na unidade e uma unidade na trindade. Deus é, intrinsecamente, uma trindade, e não apenas um ser que age de maneira triúna. Portanto, entramos em contacto com Deus como uma trindade. Nesse sentido, Deus é uma trindade imanente. O desenvolvimento histórico dessa doutrina está envolvido na tentativa de satisfazer os conceitos bíblicos e a adoração de Deus, como uma trindade, por parte da Igreja. Cada pessoa da Trindade divina o Pai, o Filho e o Espírito Santo tem sido adorada como Deus; mas elas, todas juntas, formam um único Deus. Tomás de Aquino e Karl Barth foram notáveis defensores desse conceito que, na ortodoxia cristã, continua a prevalecer sobre outros pontos de vista trinitarianos. Ver o artigo geral sobre a Trindade. TRINDADES (TRiADES) NA RELIGIÃO Ver sobre Tríades (Trindades) na Religião. TRINTA ANOS, GUERRA DOS Ver sobre Guerra dos Trinta Anos. TRINTA E NOVE ARTIGOS Esses artigos formam a fórmula doutrinai básica da

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TRINTA E NOVE ARTIGOS - TRINTA MOEDAS Comunhão Anglicana (vide). Na verdade, foram uma revisão dos Quarenta e Dois Artigos, os quais, por sua vez, incorporaram os Treze Artigos (vide). Thomas Cranmer (vide), que foi arcebispo, foi a principal força por detrás dos Trinta e Nove Artigos. Esses artigos foram aprovados, pela primeira vez, em 1563, mas só obtiveram aceitação universal em 1571. Em meio à hostilidade e ao tumulto, típicos da Reforma Protestante e dos dias que se seguiram, a Igreja da Inglaterra tentou definir sua posição e sua doutrina no espírito da paz. Os Dez Artigos (1536) tinham por intuito assegurar a tranqüilidade e a unidade cristãs, evitando contenções e debates teológicos. Essas declarações fundamentais foram interpretadas no Livro dos Bispos (1537) e no Livro do Rei (1543). No entanto, aumentaram os debates e as contendas teológicas. Faleceu o rei Henrique VIII, da Inglaterra, e esse e outros eventos provocaram o aparecimento dos Quarenta e Dois Artigos (1553). Criticavam vários ensinamentos medievais e um extremo antinomianismo, bem como o rnilenarianismo, idéias essas defendidas por alguns dos reformadores. Foram excluídas doutrinas desviadas do catolicismo romano, como aquelas relativas à Virgem Maria. A rainha Isabel I ordenou que tais artigos fossem revisados. Em sua forma revisada, pois, tornaram-se os Trinta e Nove Artigos. E ainda houve mais algumas alterações, até 1604, quando sua forma e conteúdo ficaram fixos. Até hoje é requerido, como condição para ordenação ao ministério, que os candidatos os subscrevam. Até o século XIX, membros de universidades que se iam formar, também precisavam assentir com os mesmos, mas agora há muito que essa exigência foi descontinuada. Mas os anglicanos conservadores continuam considerando esses artigos como indispensáveis à vida da Igreja; mas os elementos liberais entre eles afirmam que tais artigos pertencem a um período específico da história e da teologia, agora já ultrapassado. Na opinião de alguns, servem de empecilho ao progresso, quando são impostos a membros e a ministros da comunidade anglicana. A verdade é que a esmagadora maioria dos anglicanos não dá a mínima atenção a tais artigos, hoje em dia. Algumas de suas declarações, de fato, são diflceis de associar à moderna compreensão da teologia, conforme Mostram os exemplos abaixo: Artigo I. "Deus...sem corpo, partes ou paixões", declaração que parece ser contra a idéia de um Deus que ama. Artigo XIII. As obras feitas antes da graça de Cristo... têm uma "Natureza pecaminosa", declaração essa que, embora consonante com declarações do Novo Testamento, é tida por muitos como depreciativa quanto à noção do que os pagãos podem fazer para agradar a Deus :Rom. 2, e discordante com o julgamento segundo as obras. Artigo XXI. "Os concilios gerais não podem reunir-se sem a ordem e a vontade dos príncipes", uma declaração claramente anacrônica, se insistirmos sobre quais devem ser os principes cristãos. Artigo XXVIII. "A transubstanciação... é repugnante às claras palavras das Escrituras", declaração essa que discorda do segmento anglo-católico da comunidade anglicana. Ademais, o artigo XXXVII é ofensivo aos pacifistas, enquanto que o artigo XXXIX é um insulto aos quakres, e, desnecessário é dizer, que várias porções desses artigos são ofensivas aos católicos romanos. Em vista do exposto, aqueles que desejam uma declaração da fé pacífica, e que buscam a harmonia evitando os conflitos teológicos, com toda a razão desejam que esses artigos sofressem outra revisão. Mas

há aqueles que, para todos os propósitos práticos, pensam que esses artigos não são importantes para a moderna Igreja anglicana. Outros asseveram que esses artigos são apenas expressões de opiniões piedosas, que não podem ser impostas às pessoas, embora possam ser respeitados como sugestões de crenças cristãs fundamentais. O cardeal Newman (vide) procurou reconciliar esses artigos com os decretos do concilio de Trento, mas pouquíssimas pessoas aceitaram a tentativa. Esses artigos procuraram evitar as posições extremas tanto do catolicismo romano como da Reforma Protestante. Essa posição intermediária, entre as duas facções da cristandade, sempre foi uma das características da comunidade anglicana. Conteúdo Essencial. Os Quarenta e Dois Artigos e os Trinta e Nove Artigos tinham um conteúdo geral muito parecido com o dos credos protestantes e evangélicos normais. Questões distintamente católicas são ali omitidas, como o óleo bento, o exorcismo, a transubstanciação, as orações pelos mortos (embora muitos anglicanos costumem orar pelos mortos), a confissão auricular e a consagração da água do batismo. E idéias especificamente incluídas são a absoluta autoridade das Escrituras, em questões de fé e prática; a justificação pela fé, exclusivamente; e o ponto de vista calvinista (através de Me1anchton) acerca do batismo e da eucaristia. De fato, aquele credo tende mais para o calvinismo do que para o luteranismo, embora evite a expressão mais radical daquela fé. O seu vigésimo artigo declara que a Igreja tem a autoridade de estabelecer cerimônias e resolver controvérsias referentes à fé, embora não possa instituir qualquer coisa que seja contrária à Palavra de Deus escrita. TRINTA MOEDAS Mat. 26: 15: e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata. E pagaram-lhe trinta moedas de prata. O codex D e algumas versões latinas (isto é, a b I q e r) dizem estáteres em lugar de "moedas de prata". Os manuscritos gregos da Fam 1 e a versão latina h dizem "estáteres de prata". Apesar dessas palavras não aparecerem no original grego de Mateus, os manuscritos mais antigos, bem como a maioria dos demais manuscritos, dizem "moedas de prata". Contudo, muitos acreditam que o estáter de prata deve ter sido a moeda usada para pagar o preço da traição. O estáter tinha o valor de quatro denários. O denário era considerado um bom pagamento para um dia inteiro de trabalho. Por conseguinte, a Judas foi pago o equivalente ao salário de cento e vinte dias de trabalho. Ter-lhe-iam sido necessários mais de quatro meses de trabalho para ganhar esse dinheiro. Porém, de qualquer ponto de vista, em que consideremos o caso, a quantia foi miseravelmente irrisória, para que ele cometesse feito tão miserável e cruel. Compraram Judas Iscariotes praticamente em troca de nada, o que basta para nos dar uma idéia de seu caráter mesquinho. Com essa ação, Judas comprou para si mesmo uma posição eterna na história, mas uma posição que ninguém cobiça porquanto o próprio Jesus declarou: " ... ai daquele por intermédio de quem o Filho do homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!" (Mat. 26:24). Shakespeare escreveu sobre essa ação nos termos seguintes: "Como o vil judeu que jogou fora uma pérola mais rica que toda a sua tribo" (Othello, ato V, seco 2,1.347). Onze dos discípulos são chamados hoje pelo nome de santos, mas não existe o São Judas Iscariotes.

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TRINTA MOEDAS - TRIPOLIS

o preço pelo qual Judas vendeu Jesus era a importância pela qual comumente se comprava um escravo. Essa informação acrescenta à narrativa uma pitada de ironia, de horror e de lamentação. O que o teria impulsionado a tão horrendo ato? Certamente a cobiça mais pura não seria suficiente para tanto. Talvez tivesse ficado ressentido ante o fato de que Jesus não aceitara o papel de rei, nem livrara o povo da dominação romana. Talvez ele temesse muito pela própria vida, por ser um dos íntimos de Jesus. Não é impossível que ele tivesse compreendido, melhor do que os outros, o perigo em que Jesus estava, ou que tivesse levado mais a sério do que os demais as repetidas advertências de Jesus sobre sua própria morte. Nesse caso, que estranho que Judas tivesse sido mais receptivo do que os outros! Essa percepção tê-lo-ia feito romper relações com Jesus, antes que fosse tarde demais. O dinheiro talvez só tivesse surgido em segundo lugar. quando ele talvez tivesse resolvido tirar algum proveito de toda aquela situação. Alguns acreditam que ele traiu a Jesus a fim de forçá-lo a declarar-se rei, esperando ainda que o reino fosse estabelecido e, naturalmente, desejando alguma alta posição para si mesmo nesse reino. Porém. essa opinião parece muito menos provável do que as motivações do temor, da ganância e da frustração, que foram mencionadas acima. A quantia de dinheiro cumpriu a profecia de Zac. 11: 12. Uma das especialidades do autor do evangelho de Mateus é que ele anotava como Jesus ia cumprindo as profecias bíblicas, tanto em sua vida como em sua morte. (Êxo. 21 menciona que essa quantia era o preço da compra de um escravo). José foi vendido como escravo por vinte moedas de prata, tornando-se assim um tipo de Jesus, na traição de que foi vitima. Trinta moedas de prata, entretanto, eram o preço regular. De fato, Jesus morreu do tipo de morte que somente os escravos e os piores tipos de criminosos poderiam sofrer, porque nenhum cidadão romano podia ser crucificado. Vários pais da Igreja têm encontrado um simbolismo alegórico no número das moedas de prata. Origenes compara isso com a idade de Jesus, que era mais ou menos de trinta anos. Essas interpretações são interessantes, mas não têm significação. Se o boi de um homem chifrasse um servo, seu proprietário teria de pagar essa quantia ao dono do servo (ver Êxo. 21 :32). Pelo menos parece certo que o preço oferecido a Judas Iscariotes refletia a atitude de desprezo do sinédrio para com o Senhor Jesus. A interpretação dada por Lucas não deve ser olvidada. Ele explica que " ... Satanás entrou em judas, chamado Iscariotes..." (Luc. 22:3). A natureza humana é sujeita a súbitas erupções vulcânicas, que podem sair inteiramente da norma e do comum. Mas a possessão demoníaca é uma grande realidade, e existem entidades espirituais maldosas. Ninguém poderia ficar indiferente para com Cristo. Judas resistira a essa graça e se lançara à mercê da possessão demoníaca. Judas poderia ter sido fiel e poderia ter sido o escritor de um evangelho! Mas não, porquanto cedeu ante os poderes infernais. A desintegração de sua personalidade foi gradual; nem tudo aconteceu naquele dia inesquecível. Pelo menos de certo modo Judas foi mais honroso do que Pilatos. Pois. ao perceber o horror de sua ação, não tolerou mais viver com sua consciência perturbada. Pilatos e outros, que também foram culpados da crucificação de Jesus, não se abalaram por terem de continuar a agir como juizes. Lemos, entretanto, que posteriormente o sumo sacerdote Caifás foi deposto de seu oficio, e também cometeu suicídio.

Trinta Moedas Oh, que compraram trinta moedas? Compraram o grito de "crucifica!" O lucro de um ósculo. Compraram um julgamento que zombou de seu nome. Compraram a cada um reivindicações. covardes e temerosas, E também a covardia de Pilatos. Aquelas peças de prata compraram os cravos, a cruz, a coroa, os lamentos humanos, O vinagre e ofel. Compraram a liberdade para quem matara Para que sangue imaculado pudesse ser derramado... Compraram tudo isso. Aqueles moedinhas compraram morte para dois Para nosso Senhor e para aquele que foi inflei. Foram o preço de um principe. Compraram um ladrão arrependido, Cujo último suspiro foi de fé, E uma vida no paraíso. Compraram o véu que entenebreceu aquele dia. Compraram a perplexidade do túmulo vazio, e o cristianismo. Oh, qual é o valor de trinta moedas? A vergonha e a glória da Terra, por toda a eternidade. (Margaret Rorke) TRípOLlS No grego. Trtpolís, "cidade tripla". Essa cidade não é mencionada nos livros canônicos da Bíblia, embora apareça em livros apócrifos do Antigo Testamento. Trípolis já foi um importante porto de mar da Fenícia, ao norte de Biblos, Seu nome derivava-se do fato de que foi ocupada pelos cidadãos de outras três cidade, ou seja, Tiro, Sidom e Arvade. É possível que tenha sido durante o período posterior de dominação persa (no século IV a.C.), que Trípoli veio a tomar-se o centro de conclaves provenientes de localidades circunvizinhas. Ela fazia parte da liga fenícia, para efeitos de autodefesa. Parece ter sido um lugar de considerável importância comercial, voltada para as aventuras marítimas, mesmo porque estava cercada pelo mar por três de seus lados, encontrando-se em um pequeno istmo. Também era a sede do conselho federal dos estados fenícios representados. Demétrio Soter (162 a.C,}, filho de Selêuco, rei da Síria, tendo fugido de Roma, onde estivera retido por razões políticas, conseguiu reunir uma poderosa força armada. Atacando Trípolis, conquistou-a, j untamente com a região em redor. E executou a seu próprio primo, Antioco V (11 Macabeus 14: 1~ Josefo, Anti. 10:1). Tanto os monarcas selêucidas como mais tarde os romanos, muito adicionaram à cidade, em termos de obras de engenharia. Herodes, o Grande, construiu ali um ginásio (Josefo, Guerras I, 21: 11). Tripolis foi conquistada pelos maometanos, em 638 d.C. Mais tarde, foi retomada pelos cruzados (1109 d.C.). E, novamente, foi tomada pelos islamitas, sob as ordens do sultão Kalaum, do Egito (1299 d.C.), que causou grandes destruições à cidade. Os ataques constantes, desfechados por vários inimigos, e a sensação de insegurança que ali predominava, foi o motivo da remoção da cidade para três quilômetros mais para longe do mar, onde foi fundada, em 1366, a presente

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TRIPOLIS - TRISÁGIO cidade de Tarabulus, às margens do riacho Kadisha. A antiga cidade de Trípolis, que posteriormente recebeu o nome de el-Mina, tornou-se o porto de mar da moderna Tarabulus. Os ingleses ocuparam a cidade em 1918. E em 1920 foi incorporada ao Estado do Grande Líbano. Em 1941, tornou-se parte da república independente do Líbano. Ela especializa-se na produção de sabão, tabaco, esponjas e frutas, além de exportar ovos e algodão. TRIRREME No grego triéres. Esse era o nome de uma antiga galera grega ou romana, dotada de três fileiras de remos em cada costado. Quando Jasorn, sumo sacerdote dos judeus, enviou embaixadores a Tiro, com trezentas dracmas de prata, para assistirem ao sacrificio oferecido a Hércules, eles pensaram que era um erro empregar aquele dinheiro em tal finalidade, e, em vez disso, usaram-no para mandar construir trirremes (11 Macabeus 4: 18-20). Isso sucedeu cerca de duzentos anos antes do começo da era cristã. TRISÁGIO Proclamando, Santo, Santo, Santo é o Senhor, Apo. 4:8. (Ver Isa. 6:3, que é a fonte informativa desse "triságio", ou seja, o "três santo", em que Deus é exaltado como Senhor e Todo-poderoso. A literaturajudaica, com freqüência, repete essa fórmula (Ver 11 Enoque 21: 1). Em nosso presente texto, o louvor não incorpora toda a criação, conforme se vê na passagem original. Isaías declara: " ... toda a terra está cheia da sua glória". O presente texto concentra-se exclusivamente sobre a cena celeste. O cristianismo adotou o tr iságio nas Constituições Apostólicas. O triságio também foi musicado na igreja antiga, na forma "Santo Deus, santo Todo-poderoso, santo Imortal, tem misericórdia de nós". Na liturgia alexandrina (chamada de São Marcos) o triságio foi incorporado em um cântico responsivo. (Sacerdote: "A Ti atribuímos glória e damos graças, e o hino do triságio, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e para sempre e pelos séculos dos séculos". Povo: Amém! Santo Deus, Santo, Todo-poderoso, Santo Imortal, tem misericórdia de nós"). Na liturgia usada por Crisóstomo, o coro entoava o triságio por cinco vezes e, nesse ínterim, o sacerdote dizia secretamente a oração do triságio "Deus, que és santo e descansas nos santos, que és saudado em hinos com a voz do triságio pelos serafins, e glorificado pelos querubins, e adorado por todos os poderes celestes! Tu, que do nada chamaste à existência todas as coisas; que fizeste o homem segundo Tua imagem e semelhança, que o adornaste com todas as Tuas graças, que lhe conferiste buscar sabedoria e entendimento, e não passas pelo pecador, mas lhe dás arrependimento para a salvação; que propiciaste que nós, teus humildes e indignos servos, ficássemos de pé, neste tempo, perante a glória de teu santo altar, e que te deveríamos atribuir a adoração e o louvor que te é devido; recebe, Senhor, da boca de pecadores, o hino do triságio, e visita-nos com a tua bondade. Perdoa-nos cada ofensa, voluntária e involuntária. Santifica nossas almas e nossos corpos e concede-nos que te sirvamos em santidade todos os dias da nossa vida; pela intercessão da Santa Mãe de Deus, e de todos os santos que te têm agradado desde o começo do mundo". E então, em voz alta: Pois Santo és tu, um único, Deus és tu". O testemunho da história mostra que essa liturgia pertence, pelo menos, ao começo do século V d.C., e as tradições apócrifas lhe conferem uma origem celestial. Em tempos, posteriores, entretanto, sofreu

várias modificações. E hinos modernos também se têm alicerçado sobre o triságio:

Santo! Santo! Santo Deus onipotente! Cedo de manhã Contaremos teu louvor. Santo! Santo! Santo! Deus Jeová trtnitárto És um só Deus Excelso Criador. A santidade de Deus. Não se trata de algo destituído de inteligência e preferência, mas, antes, é garantido pela escolha divina, de tal modo que nele não há maldade, nem tendência para o mal, e nem cegueira ou ignorãncia do mal. Na santificação, os crentes deverão duplicar a santidade divina, vindo a participar, finalmente, da própria natureza moral de Deus (ver Mal. 5:48 e Gál. 5:22). Essa santidade de Deus não é apenas passiva (ausência de pecado ou qualquer defeito), mas também é ativa, caracterizando-se por bondade positiva, por ações de santidade inerente (Ver as notas expositivas no NTI em Rom. 1:7 e Cal. 1:2 quanto ao fato de que os crentes são "santos" devendo compartilhar da santidade de Deus). É mediante a santidade que tem lugar a transformação moral do ser humano, para que venha a partilhar da própria natureza moral de Deus, man ifestada em Cristo; e daí é que se deriva a transformação metafisica, que leva o remido a participar da própria essência ou natureza divina, conforme ela se acha em Cristo (ver 11 Ped. 1:4). Essa é a importância da santificação (vide). Quanto à santificação como algo "absolutamente necessário à salvação", ver 11 Tes. 2:13. A santidade, em seu sentido mais sublime, é aplicada a Deus. Ela denota os pontos seguintes: 1. O fato de que Deus está separado da criação, até mesmo daquela porção da mesma que não está maculada com a maldade inerente, como os seres angelicais que não caíram no pecado. Isso é assim porque a santidade consiste também na bondade positiva, e não meramente na ausência do mal. 2. Yahweh, pois, é transcendental, fazendo contraste com os falsos deuses (ver Exo. 15: 11) e com a criação inteira (ver Isa. 40:25). 3. Deus é a essência absoluta da santidade, da bondade e da retidão, sendo Ele o alvo de toda a inquirição por santidade, pureza e bem-estar, baseados na retidão. 4. A santidade de Deus é perfeita e inspiradora (ver Sal. 99:3). 5. A santidade de Deus fala acerca de sua "excelência moral" bem como do fato de que Ele está livre de todas as limitações acerca da excelência moral (ver Hab. 1: 13). 6. A santidade incorpora em si mesmo todas as excelências morais de Deus, como a sua bondade, o seu amor, a sua longanirnidade, sendo a luz solar que abarca todas as cores do espectro, mesclando-se com uma força de poderosa luz. 7. A santidade de Deus é incomparável (ver Êxo. 15: 11 e 1 Sam. 12). 8. A santidade de Deus é exibida em seu caráter (ver Sal. 22:3 e João 17: II), em seu nome (ver Isa. 57: 15), em suas palavras (ver Sal. 60:6), em suas obras (ver Sal. 145:17) e em seu reino (ver Sal. 47:8 e Mat. 13:41). Há pureza.justiça e bondade perfeitas em todas essas coisas, tendendo à retidão e ao bem-estar de todos, pois Deus é a fonte de tudo isso. 9. A santidade de Deus deve ser magnificada (ver Isa, 6:3 e Apo. 4:8).

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TRISÁGIO - TRIUNFO 10. A santidade de Deus deve ser imitada (ver Lev. 11:44; I Ped. 1.15,16). 11. A santidade de Deus será duplicada nos remidos (ver I Tes. 4:3; Mal. 5:48 e Gál. 5:22,23). 12. A santidade de Deus requer um serviço santo (ver Jos. 24:19 e Sal. 915).

TRISTEZA No hebraico, etseb. Essa palavra ocorre por seis vezes no Antigo Testamento. Por duas vezes tem o sentido de "labor". Ver Gên, 3:16; Sal. 127:2; Pro. 5:10; 10:22; 15:1; Eze.29:20. No grego podemos considerar duas palavras: 1. Lupéo, "entristecer-se". Esse vocábulo é usado por vinte e cinco vezes: Mal. 14:9; 17:23; 18:31; 19:22; 26:22,37; Mar. 10:22; 14:19; João 16:20; 21:17; Rom. 14:15; II Cor. 2:2,4,5; 6:10; 7:8,9,11; Efé. 4:30; I Tes. 4:13; I Ped. 1:6. O substantivo, lúpe, "tristeza", aparece por quinze vezes: Luc. 22:45; João 16:6,20,21,22; Rom. 9:2; I Cor. 2:1,3,7; 7:10; II Cor. 9:7; Fil. 2:27; Heb. 12:11 e I Ped. 2:19. 2. Penthéo, "lamentar-se". Termo que aparece por dez vezes: Mal. 5:4; 9:15; Mar. 16:10; Luc. 6:25; I Cor. 5:2; II Cor. 12:21; Tia. 4:9; Apo. 18:11,15,19. O substantivo, pénthos, "lamento", aparece por cinco vezes: Tia. 4:9; Apo. 18:7,8; 21:4. 1. Por Causa do Pecado. Se a salvação em Cristo nos enche de alegria, o pecado deveria encher-nos de tristeza e lamentação. Aqueles que agora riem, deveriam lamentar-se (Luc. 6:25). Os pecadores deveriam sentir-se miseráveis e lamentar-se (Tia. 4:9). Não somente nos deveríamos entristecer diante de nossos próprios pecados, mas também por causa dos pecados de outros membros da Igreja (I Cor. 5:2~0 contrário dessa tristeza é a arrogância; cf. II Cor. 12:21). A tristeza de Paulo, diante da teimosa incredulidade de Israel, chegou a fazê-lo desejar estar separado de Cristo e ser maldito (Rorn. 9:2; cf Rom. 11:26). Se o povo judeu se convertesse, isso haveria de anular a sua tristeza. Em contraste com isso, a tristeza dos aproveitadores do comércio da pecaminosa Babilônia (futura), não se devia aos pecados da cidade, mas porque a mesma foi destruída (Apo. 18:8,11,15,19). Os que se entristecem, dentro das bem aventuranças, fazem isso somente por si mesmos, ou por causa dos pecados do mundo também? Seja como for, os tais serão consolados (Mal. 5:4). 2. Como Repreensão. A segunda epístola aos Corintios é, praticamente, um tratado sobre a tristeza necessária que os cristãos precisam infligir uns aos outros, quando admoestam e corrigem o pecado que observam uns nos outros. Paulo não desejava fazer outra visita dolorosa (lI Cor. 2: 1); e nem o seu propósito fora jamais motivo de tristeza para os crentes (lI Cor. 2:4). Pelo contrário, ele queria despertar nos crentes que errassem aquela tristeza piedosa que produz o arrependimento, a salvação, o zelo, e que terminaria por redundar em satisfação e alegria para o próprio Paulo (lI Cor. 7:8-13). A epístola aos Hebreus nos instrui que a disciplina dada pelo nosso Pai celeste a seus próprios filhos produz o fruto do arrependimento, que nos é vantajoso, embora nos pareça doloroso por algum tempo (Heb. 12:11). Pedro deixou uma declaração similar (I Ped. 1:6), ao escrever que nos regozijamos, por causa de nossa imperecível herança, embora a genuinidade de nossa fé seja agora testada por várias provações, por breve tempo o tempo em que dura esta vida terrena. Se sofrermos injustiças por amor a Cristo, sairemos aprovados (11 Ped. 2: 19,20).

Portanto, a herança do consolo capacita-nos a ter esperança, mesmo em meio à tristeza. 3. Tristeza Ante a Partida de Cristo. Conforme o próprio Senhor Jesus previu (João 16:6; cf Mal. 9: 15, onde ele disse que é apropriado lamentar pela partida do Noivo), os corações de seus discípulos muito se entristeceriam diante de seus sofrimentos e de sua partida deste mundo. No entanto, conforme o mesmo Senhor Jesus ajuntou logo mais adiante, convinha aos discípulos que ele se fosse, de volta para o Pai celeste, porquanto assim ele lhes enviaria o Consolador, o Espírito Santo. O Consolador haveria de consolá-los de suas tristezas! Assim como uma mulher grávida, chegado o momento do parto, aflige-se e se entristece, mas, diante do nascimento da criança, alegra-se com profunda alegria, assim também os discípulos veriam sua tristeza transformar-se em alegria, por ocasião da volta do Senhor Jesus (João 16:21,22). Portanto, o Senhor não estava falando apenas a respeito de seus discípulos originais, mas de todos quantos se têm tornado seus discípulos, ao longo dos séculos.

TRITEÍSMO Ver o artigo geral sobre Deus, especialmente sua terceira seção, Conceitos de Deus. O triteísmo é uma forma de teismo, fazendo contraste com o deísmo. De acordo com o triteísmo, existem três deuses, todos eles interessados no homem, intervindo na história humana, recompensando e punindo. Naturalmente, a posição é uma forma do politeismo (vide). Em contraste, o deísmo concebe um Deus totalmente transcendental, divorciado do Universo que criou, que deixou as leis naturais encarregadas do governo do Universo. Ocasionalmente, o triteísmo tem aparecido no contexto cristão, como nos escritos de Joyon Filopono (século VI d.C.) e de Roscelino (século XI d.C.). O mormonismo é abertamente triteísta, Em outras palavras, o mormonismo concebe três deuses distintos, chamados Pai, Filho e Espírito Santo. Isso é um triteísmo prático. Contudo, o mormonismo também defende um politeísmo teórico, pois concebe muitos deuses, embora nada tenham a ver com a humanidade. Mas as explicações populares sobre a Trindade, no seio da Igreja, mesmo da parte de muitos ministros, quase sempre são triteístas. TRIUNFO Assim chamava-se o cortejo em honra a algum general romano vitorioso, que se dirigia à colina Capitolina, a fim de oferecer sacrifícios a Júpiter, por causa da vitória obtida. A honra de um triunfo só podia ser concedida pelo senado romano; e isso de conformidade com certas regras estritas, entre as quais havia uma que estipulava que a vitória precisava ter sido obtida contra forças estrangeiras, e não em alguma guerra civil. Nos tempos da república romana, os procônsules e propretores celebravam triunfos; mas, durante o período imperial, essa honra tornou-se uma prerrogativa exclusiva dos imperadores. O cortejo era elaborado: os magistrados encabeçavam a formação, seguidos pelos senadores, pelos trombeteiros, pelos despojos capturados do inimigo, pelos touros brancos a serem sacrificados, pelos principais prisioneiros acorrentados pelos lictores, pelo próprio general vitorioso, em uma carruagem puxada por quatro cavalos e, finalmente, pelos homens de seu exército. O general vitorioso ostentava trajes reais, incluindo um cetro e uma coroa. E, ao chegar ao local, o general depunha uma coroa de louros no colo da estátua de Júpiter. Muitos desses cortejos triunfais

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TRIUNFO - TRÓFIMO duravam por mais de um dia. Ao general vitorioso dava-se o privilégio de aparecer vestido em trajes especiais nas reuniões públicas, e o seu nome era inscrito na lista das personagens honradas dessa forma.

TRIVIUM Essa palavra latina vem de Ires, "três", e viae , "caminhos". Esse é o nome usado para designar as três disciplinas da gramática, da retórica e da dialética das chamadas Sete Artes Liberais. O quadrivium, por sua parte, consistia em quatro disciplinas, a saber: aritmética, geometria, astronomia e música. TRÔADE No grego, Troás. O nome dessa cidade, que era um porto das costas do mar Egeu, na parte ocidental da Ásia Menor, diante da ilha de Tenedos, na entrada do estreito de Dardanelos, aparece por seis vezes no Novo Testamento: Atos 16:8,11; 20:5,6; 11 Cor. 2:12 e II Tim. 4:13. Essa cidade não deve ser confundida com a Tróia dos escritos homéricos, cujas fortalezas jazem em ruínas em uma escarpa montanhosa que domina a planície costeira, que fica a dezesseis quilômetros de distância. Trôade foi fundada em 300 a. C., durante a febre de construção de cidades que se seguiu à divisão do império de Alexandre, o Grande, que perdurou por tão pouco tempo. Pertencia à dinastia selêucida, da Síria; mas dificilmente a porção ocidental da Asia Menor esteve realmente atrelada à distante cidade de Antioquia da Síria. Não demorou muito para que Trôade obtivesse a sua independência, tendo-a mantido, sob alguma forma, até mesmo quando o reino de Pérgamo dominava a porção ocidental daquela península, ou mesmo quando o poder romano chegou à Asia Menor. Essa cidade portuária era importante, por ser o ponto mais próximo da Europa. E tanto Pérgamo quanto Roma devem ter sentido que era de bom alvitre manter aquele importante porto de mar satisfeito e consciente de sua própria importância. Há insistentes indícios, na literatura da época de Augusto, com o apoio de uma declaração feita por Suetônio, que Júlio César considerava a idéia de transferir a sede central do governo de Roma para Trôade (Suet. Div. Iul. 79; Hor. Odes 3:3). Trôade figurou com proeminência na narrativa bíblica sobre o apóstolo Paulo (ver, por exemplo, Atos 16:8-11). Lucas registrou, em relato direto, como o apóstolo dos gentios e Sitas tinham chegado às costas do mar Egeu, sob um estranho senso de compulsão. A Trôade Alexandria, para dar antigo nome, quando isso sucedeu, fazia muito tempo que era uma colônia romana; mas Paulo não podia aceitar que a cidade fosse o alvo final de sua jornada evangelística. Parece que foi em Trôade que Paulo se encontrou com Lucas, que parece ter sido o "varão macedônio", da visão de Paulo, o que compeliu esse apóstolo a levar o evangelho de Cristo até à Europa. O grupo de pregadores viajou por via marítima, tendo partido de Trôade, passando então, sucessivamente, por Imbros e Sarnotrácia, pelo norte de Tasos, até Neópolis,já na Trácia e, dali, seguindo a pé pela estrada, até Filipos. Dez anos mais tarde, após o levante dos ourives em Efeso, Paulo retomou e estabeleceu em Trôade uma igreja cristã local (ver 11 Cor. 2: 12). Após um período durante o qual ministrou na Grécia, e acerca do que os informes bíblicos são aligeirados (ver Atos 20: 1-3), Paulo chegou novamente a Trôade. Porém, Lucas confina a sua narrativa a uma questão que interessava à sua mente de médico (ver Atos 20:4-12). É possível que Paulo estivesse A

novamente em Trôade, por ocasião de seu aprisionamento, em 66 ou 67 d.C., porquanto ele deixara possessões muito necessárias, em Trôade, conforme se aprende em 11 Timóteo 4: 13, "Quando vieres, trazer a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos". A cidade de Trôade é mencionada nos trechos de Atos 16:8-11; 20:5-12 e 11 Cor. 2:12. Foi fundada próxima ao antigo local da quase lendária Tróia, pelos sucessores de Alexandre, o Grande, e, por honra ao seu nome, foi chamada de Trôade Alexandrina. Tornou-se colônia romana por determinação de Augusto, conforme ficamos sabendo nos escritos do historiador Suetônio. A idéia de que Júlio César tinha de transformá-Ia em capital do império romano se derivou da crença de que o troiano Enéias é que fundara a cidade de Roma, e o seu filho, lulus, era o ancestral da família "Júlia", Portanto, a mudança da capital do império para Trôade equivaleria a uma forma do retomo de Enéias ao seu lar, realizado por intermédio de um de seus supostos descendentes. Trôade era um dos principais portos da PW1e noroeste da Asia, usado por aqueles que viajavam da Asia para a Macedônia. A igreja cristã de Trôade é mencionada por duas vezes nos escritos de Inácio, o que nos mostra que o evangelho prosperou ali por algum tempo. É interessante, que a designação "Trôade" pode se referir tanto à cidade desse nome como à área imediatamente em derredor. " ... por que, poder-se-ia perguntar, foi que o Espírito não permitiu que eles, 'Paulo e seus companheiros' pregassem o evangelho naqueles territórios? Provavelmente, em primeiro lugar, porque a Europa estava madura para receber os labores do grupo missionário; e, em segundo lugar, porque outros instrumentos humanos haveriam de ter a honra de implantar o evangelho nas regiões orientais da Ásia Menor, sobretudo o apóstolo Pedro, conforme se pode depreender, até certo ponto, de I Ped.I:I". (Brown, in loc.). "Essa foi a primeira vez em que o Espírito Santo foi expressamente referido como quem determinava o curso que os missionários deveriam seguir, em seus esforços evangelizadores entre as nações; e evidentemente teve por finalidade mostrar que ao passo que até então a difusão do evangelho tivera lugar na forma de sucessão inquebrável, ligando pontos naturais, dali por diante teria de dar saltos, no que não poderia ser impulsionada senão pela operação imediata e independente do Espírito..." (Baumgarten, in loc.). "O nome Trôade (Tróia) faz-nos lembrar o primeiro famoso conflito entre a Europa e a Ásia, na antiguidade quase lendária. Nos lugares de onde os heróis da antiga Grécia partiam para lutar, agora os soldados de Cristo iam levando para aí uma guerra santa, cujo objetivo era a conquista tanto da Grécia como do mundo inteiro. (Bresser, in loc.). As palavras " ... defrontando Mísia..." não significam, necessariamente, que os missionários cristãos não tivessem penetrado nesse território, mas antes, que eles deixaram de trabalhar ali, como um dos campos de seus esforços missionários. Tinham de passar por Mísia, a fim de chegarem a Trôade.

TRÓFIMO 1. Nome. Esta palavra grega significa "substancial". É mencionado nos seguintes lugares no Novo Testamento: Atos 20:4; 21:29; 2 Tim. 4:20. 2. Informação sobre Sua Vida e Carreira. Era um cris-

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TRÓFIMO - TROMBETA, ÚLTIMA tão de Éfeso, o qual, juntamente com Tiqutco (ver o artigo), acompanhou o apóstolo Paulo em sua terceira viagem missionária, quando ele regressava da Macedônia para a Síria (Atos 20:4). Foi a Jerusalém, onde inocentemente provocou um tumulto que culminou na prisão e encarceramento de Paulo. Infelizmente, ele era visto por alguns judeus como um não-judeu, e suscitou um súbito estardalhaço ao ser introduzido por Paulo no templo, o que era proibido aos gentios (Atos 21:27-29). Naturalmente Paulo, na qualidade de judeu, não teria feito algo que viesse a culminar na execução de Trófimo, Ele podia legalmente adentrar o Átrio dos Gentios, mas não avançar até o próximo nível de acesso, ou seja, o Átrio de Israel. De qualquer forma, Paulo foi acusado de profanar o templo. A notícia de que Paulo o deixou em Mileto doente (2 Tim. 4:20) não se ajusta à terceira viagem missionária. Paulo não o deixaria naquela ocasião (Atos 20: 15). Provavelmente esse incidente ocorreu depois da prisão de Paulo em Roma, num período de liberdade que antecedeu sua prisão final e execução, antes de 2 Timóteo ser escrita. TROGÍLIO No grego, Trogúlllon. Aproximadamente trinta e dois quilômetros ao sul de Efeso, um elevado promontório, ao norte da desembocadura do rio Meandro, forma um cabo que se projeta mar adentro, na direção do ocidente, formando um estreito canal entre o continente e a ilha de Samos. Esse canal forma uma passagem protegida, e onde uma embarcação costeira passaria a noite, antes de avançar e atravessar o golfo aberto até Mileto. Esse promontório, pois, chama-se Trogtlio, O estreito deve ter pouco mais de um quilômetro e meio de largura. Essa parada, no ancoradouro protegido, é mencionado em Atos 20: 15. Em nossa versão portuguesa, esse versículo diz: " ... dali, navegando, no dia seguinte, passamos defronte de Quios, e de imediato tocamos em Samos e um dia depois, chegamos a Mileto". Isso concorda com a versão inglesa RSV (Revised Standard Version). Mas a Edição Revista e Corrigida, da mesma Sociedade Biblica do Brasil, acrescenta as palavras " ...e, ficando em Trogilio ...", entre "Samos" e as palavras "e, um dia depois". Nisso, a Edição Revista e Corrigida segue a várias outras versões estrangeiras. Esse acréscimo deve ser deixado ao julgamento da critica textual; mas a frase disputada não ocasiona qualquer dificuldade geográfica ou histórica. Há evidências de ruínas de uma cidade sobre o promontório, bem como um ancoradouro que, tradicionalmente, é conhecido por Porto de Paulo, tudo o que se reveste de muito interesse para os estudiosos. TROMBETA Ver sobre Música e Instrumentos Musicais. TROMBETA, ÚLTIMA I Cor. 15:52: Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. A palavra momento, no original grego, é atomos, que significa "sem divisão". É a única ocorrência desse vocábulo em todo o NT. Originalmente esse termo era usado para denotar uma partícula indivisível, devido à sua pequenez. Literalmente, essa palavra significa "impossível de ser cortado", ou seja, incapaz de sofrer qualquer divisão. Daí essa palavra veio a indicar qualquer

coisa minúscula.; e, em referência ao tempo, um "instante". Essa idéia o apóstolo procurou esclarecer ainda mais citando um "piscar" de olhos. Nossas traduções falam em "abrir e fechar d' olhos", mas não tem esse significado a palavra empregada pelo apóstolo. A forma verbal dessa palavra pode significar "lançar", e a sua forma nominal pode significar "lançamento". Já em outros trechos bíblicos, esse vocábulo significa "bater" de asas, o "zumbido" de um inseto, o "piscar" das estrelas, o salto repentino de um peixe. Está em foco qualquer movimento súbito. 1. Última Trombeta a. Mui dificilmente há qualquer possibilidade de que essa trombeta diga respeito às várias trombetas alistadas no livro de Apocalipse, embora a última trombeta daquelas que ali são aludidas introduza o estado eterno (ver Apo. 11:15). A primeira epístola aos Coríntios foi escrita muito antes do Apocalipse, não sendo provável que Paulo tenha tomado por empréstimo essa idéia de alguma tradição oral que antecipasse as descrições do Apocalipse. E vão, pois, tentar construir argumentos, relativos ao tempo do arrebatamento dos crentes ou à sua natureza, através da comparação da trombeta aqui referida com o livro de Apocalipse (Vero artigo sobre a Parousia que dá detalhes sobre o problema do elemento tempo). b. As escrituras do AT já aludiam à trombeta escatológica e Paulo aludia exatamente àquele conceito; mas não podemos dizer qualquer coisa com certeza, sobre por que motivo o apóstolo a chama de "última", exceto que, segundo supomos. e isso de maneira vaga, as trombetas anunciam (figuradamente) os atos e os decretos de Deus. Por conseguinte, quando terminar o presente ciclo de coisas e o reino de Deus tiver início (por ocasião da "parousia" de Cristo), haverá uma "última trombeta", porquanto dar-se-ia no final deste ciclo, ou seja. após haverem soado outras trombetas semelhantes, anunciadoras de outros eventos e decretos. O que está aqui em foco é a trombeta escatológica do trecho de Isa, 27:13 (se porventura tivermos de procurar um paralelo bíblico), que convocará de volta os dispersos, a fim de adorarem em Jerusalém. Essa trombeta também faz parte do quadro apocalíptico que aparece nos trechos de Mal. 24:31 e I Tes. 4:16. (Comparar também com Esdras 6:23). Essa trombeta será "última" porque indica a última vez em que Deus tratará com o homem, antes do juízo final. Deus já terá advertido antes aos homens, tal como a trombeta avisa um exército que se prepara para as manobras; mas então soará o "último" desses avisos. "A trombeta era usada para convocar a assembléia (ver Êxo. 20:18, Sal. 81:3 e 27:13) ou para soar o alarme. A última trombeta será aquela que concluirá uma série de advertências às nações (ver Sal. 47:5; Isa. 27: 13 e Jer, 51:27)". (Shore, in loc .). Não obstante, existem eruditos que pensam que o termo "último" se refere a uma série de três toques de trombeta, conforme era costumeiro fazer nas ordens dadas, ao exército romano, em que o toque final era a ordem de marcha, ao passo que os dois primeiros eram apenas preparatórios. Ainda outros intérpretes se referem às trombetas como se fossem as tradições rabínicas. A primeira representaria uma advertência, sendo sacudida a terra; a segunda representaria o pó sendo separado; a terceira representaria a junção de ossos; a quarta representaria o calor infundido aos membros do corpo: a quinta, a cabeça coberta de pele; a sexta, a alma reunificada ao corpo; e a sétima, todos redivivos e já de pé, vestidos com suas roupas. Tudo isso, porém, não passa

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TROMBETA, ÚLTIMA - TROMBETAS, AS SETE de tolice. É muito melhor considerarmos essa palavra como uma referência geral a uma série de advertências; essas trombetas seriam simplesmente sinais dos pontos que marcam o clímax (da história humana, após diversas outras espécies de trombetas divinas, que dariam início a importantíssimos acontecimentos; assim sendo, aquela trombeta seria a "última" no sentido de ser "final", e não porque completaria uma série. Por isso mesmo, as investigações acerca de alguma série que Paulo esperava (e também qualquer estudo sobre qualquer "série"), são fúteis, e só podem levar os estudiosos a várias conclusões errôneas. Resta dizer que essa trombeta (como todas as demais) representa a ocorrência súbita de algum acontecimento, como feito de Deus, não estando em foco qualquer trombeta literal, feita de metal, que deva soar algures. 2. Resultados Gloriosos Os mortos ressuscitarão incorruptíveis. Está aqui em vista o corpo glorificado e espiritual, igual ao corpo ressuscitado de outros crentes, mas que será dado sem a intervenção da morte física. Ora, tudo isso ocorrerá num ápice de tempo. Não será algum longo processo para todos quantos sobreviverem até à segunda vinda de Cristo. Nesse exato instante todos os remidos se tornarão seres "imortais", e os que estiverem vivos até aquele instante não experimentarão a morte física. É interessante, como já frisamos, que Paulo esperava esse grandioso evento para os seus próprios dias de vida, como algo que pudesse ocorrer a qualquer instante (isto é, seria "iminente"). Por isso mesmo ele se considerava estrangeiro e peregrino na Terra, visto que a sua verdadeira cidadania estava no reino eterno. Que é, pois, este mundo para ti, meu coração? Seus dons nem te alimentam e nem te abençoam. Não és dono de Piada, neste mundo tão fugidio. (J.H. Newman) São mortos os que nunca acreditaram Que esta vida é somente uma passagem, Um atalho sombrio, uma paisagem Onde os nossos sentidos se pousarem. (Florbela Espanca, Via Viçosa, Portugal 1894- 1930) 3. A Identificação da Última Trombeta de Apo. 11:15 com Aquela de Paulo Alguns estudiosos fazem esta ligação, e assim situam o arrebatamento no meio ou no fim da tribulação (vide). Quase certamente, não há qualquer ligação entre as duas, senão na imaginação dos interpretes. É altamente improvável que o escritor do Apo. tenha emprestado uma trombeta de Paulo para fazer sua sétima e última. TROMBETAS, AS SETE Visão dos Sete Selos, Apo, 6: 1-8:6. Sétimo seio: Aparecimento das Sete Trombetas (Apo. 8: 1-6). Nas notas de introdução no NTI ao sexto capitulo do Apocalipse, há comentários gerais sobre os selos. Ver também o artigo separado sobre Selos. Do sétimo selo em diante, um novo panorama abre diante de nós, porquanto o sétimo selo consiste no juizo das sete trombetas. No presente artigo, supomos que uma nova série de juízos sucessivos é revelada. E cremos que esses julgamentos também farão parte da Grande Tribulação dos últimos dias. Alguns intérpretes supõem que as

trombetas são paralelas às taças, pelo que haveria o seguinte quadro comparativo: 8:7 8:8,9 8: 10,11 8:12,13 9:1-12 9:13-21 10:7 (11:15-19)

16:2 16:3 16:4-7 16:8,9 16:10,11 16:12-14 17:17-21

Quanto a informações sobre o raciocínio por detrás desse arranjo dos acontecimentos preditos no Apocalipse, ver a seção introdutória X, intitulada Conceitos de Arranjo no artigo sobre o Apocalipse. Parece melhor, entretanto, pensar que os eventos aqui descritos são continuamente sucessivos. Quando esses acontecimentos estiverem ocorrendo, contudo, é que realmente haveremos de compreendê-los. Até então, não poderemos entender plenamente os mistérios deste livro. O oitavo capítulo segue-se imediatamente ao "parênteses" que descreve o estado e o destino dos mártires, algo que exigia urgente definição nos tempos do vidente João, quando o imperador Domiciano perseguia a Igreja e fazia muitos mártires entre os cristãos, provocando caos e destruição. Essa explicação necessária interrompera a descrição sobre os sete selos. Este oitavo capítulo, pois, nos apresenta o sétimo selo, que consiste no julgamento das sete trombetas. O sétimo selo não nos levará imediatamente ao fim do caos, e nem à derrota de Satanás, com a conseqüente vitória de Deus e o estabelecimento do reino ou estado eterno, conforme se lê no Apocalipse do Pseudo-João 19:23. Antes, esse sétimo selo apresenta-nos uma série nova de catástrofes, produzidas por juízos divinos. A tribulação e a grande tribulação, Ver sobre Tribulação, a Grande. Talvez seja correto dizer que a palavra "tribulação" apresenta o período inteiro das agonias finais da Terra. Mas pode representar, igualmente, a primeira porção daquelas tremendas agitações finais, a porção menos severa, embora já por si agonizante. Supomos que essa tribulação inclui os primeiros seis selos, e também as seis primeiras trombetas. Continuando a expor esse raciocínio, a "grande tribulação" seria a sétima trombeta, que traria os juízos das sete taças (Apo. 15-19). Alguns estudiosos dividem a tribulação em dois períodos iguais cada um de três anos e meio, com base nas informações dadas por Dan. 9:27 e Apo. li :2,3. Mas é quase certo de que a tribulação, a tremenda agonia da Terra, bem como a carreira do Anticristo envolverá um tempo muito mais longo do que esse, embora esse período contenha uma expansão de sete anos que seriam singularmente importantes para os judeus, especialmente em seu relacionamento com o Anticristo, Sem importar, porém, qual o período exato coberto pelo período de tribulação, cremos que nós e nossos filhos veremos diante de nossos olhos todos esses eventos preditos. Se esses acontecimentos são para os nossos tempos, quão importante para nós é o livro de Apocalipse. Ver o artigo sobre, Profecia Tradição da, e a Nossa Época. "O sétimo selo. Quando foi aberto o selo sétimo, cessaram os louvores e as ações de graças nos céus (ver Apo. 8: 1), a fim de que as orações de todos os santos que sofriam na Terra pudessem ser ouvidas diante do trono de Deus (ver Apo. 8: 15).

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TROMBETAS, AS SETE - TRONO Em Apocalipse 7: 1-3 lê-se que os juízos contra a Terra cessaram momentaneamente, até que os fiéis fossem selados, protegendo-os das pragas demoníacas que sobreviriam; aqui temos uma garantia nova e concreta de que a causa dos fiéis é também a causa de Deus e dos exércitos celestiais (Charles, in loc.). As trombetas representam uma intensificação dos juízos divinos, em comparação com os juízos dos selos, incluindo a invasão da terra por parte de seres satânicos dotados de poder sobrenatural, os quais levarão a humanidade quase à auto-extinção. As Trombetas são interpretadas como o resto do livro do Apocalipse, isto é: simbólica, histórica, preteristicamente ou como eventos que ainda esperamos num futuro próximo. Apresento aqui a interpretação da Prime ira Trombeta para ilustrar: Apo. 8:7: Oprimeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva efogo misturado com sangue, que foram lançados na terra; efoi queimada a terçaparte da terra, a terça parte das árvores, e toda a erva verde. Julgamento da primeira trombeta. Interpretações: I. Os eruditos que pensam que as trombetas são paralelas aos juízos das taças, fazem o trecho de Apo. 8:2 ser paralelo ao de Apo. 16:2. É verdade que o julgamento das taças, em Apo. 16:2, cai sobre "a terra", mas fala de ferimentos graves sobre os homens que têm a marca da besta. É dificil ver como isso poderia ser paralelo, em qualquer forma exata como a única exceção possível do elemento tempo com a saraiva e o fogo, misturados com sangue, que figuram no presente versículo. 2. Interpretação simbólica. Alguns estudiosos pensam que essas trombetas simbolizam tendências de tipos de acontecimentos, e não eventos históricos isolados. Essas "ocorrências" podem significar ataques contra a Igreja, por parte de incrédulos e hereges, ou então desastres históricos de certos tipos. De modo geral, seriam os resultados destrutivos do pecado. Mediante essa interpretação aprendemos o que sucede aos pecadores que se recusam a arrepender-se, e quão grande caos o pecado traz ao mundo e à Igreja, mas nada diz sobre a "localização histórica". 3. Interpretação histórica. têm havido muitas tentativas para situar o versículo à nossa frente em algum contexto histórico passado. Eis alguns exemplos: a. A perseguição dos judeus, na Judéia, com a destruição de Jerusalém. b. O açoite do paganismo no mundo, especialmente por ser elemento destrutivo da Igreja Muitas ocorrências individuais poderiam ser salientadas para ilustrar o ponto. c. As heresias que invadiram e ameaçaram destruir a Igreja, e, novamente, várias circunstâncias históricas têm sido frisadas. d. Invasões do império romano por parte dos góticos, hurios e outros povos hostis, que ameaçaram destruir certa porcentagem daquele império. Muitos desses eventos históricos, de índole destrutiva, são salientados pelos intérpretes da escola "histórica". É óbvio que tal interpretação faz do Apocalipse um livro fechado, pois é impossível afirmar quais eventos estariam realmente em foco. Outrossim, a temível natureza dos juízos faz impossível localizar os acontecimentos supostos na história passada. São tão prodigiosos que não se coadunam com qualquer circunstância da história passada, pois são universais e vastos, pelo que temos de reservá-los para o futuro. 4. O ponto de vista preterista. É a suposição dos que pensam que, em vista do Apocalipse ter sido escrito a uma igreja perseguida, o vidente João antecipou alguns terríveis acontecimentos que deveriam julgar o império romano, tal como as pragas sobrevieram ao antigo Egito, similares aquelas que lemos neste livro. Como exemplo

disso, veja-se que o sétimo versículo deste capítulo se assemelha ao trecho de Êxo. 9: 13-26. Sem dúvida, João tomava esses acontecimentos como "literais", tal como literais foram aquelas ocorrências do AT. 5. Em vez disso tudo, porém, pensamos que esses acontecimentos são "literais", mas também são futuros, devendo ter lugar durante o período da tribulação, conforme se vê nas notas expositivas em Apo. 7: 14 no NTI. A chuva sangrenta, entretanto, não precisa ser de sangue quimicamente correto, mas algo que tem a aparência de sangue. Chuva vermelha como sangue é um fenômeno bem conhecido da ciencia. Swete chama nossa atenção para uma ocorrência parecida na Itália e no sul da Europa, em 190 I, resultante, conforme se diz, do ar que estava repleto de partículas de areia fina vinda do deserto do Saara. As erupções vulcânicas poderiam explicar parte desse fenômeno. Em Or. Sibyll. v.377 há uma alusão a certos fenômenos assim (Charles, in loc.). O sexto céu é pintado, por alguns intérpretes rabinos, como um depósito de saraiva, tempestades, vapores venenosos, fechados dentro de portões de fogo (Ver Chago 12:b quanto a essa informação). É possivel que João se tenha referido a alguma tradição parecida, pois o j uizo do presente versículo vem do céu, mesmo que ele não tenha especificado que veio do sexto céu. A referência principal, entretanto, é ao trecho de Êxo. 9:14, sendo paralelo indubitável daquela passagem, tencionando dizer-nos que os julgamentos aqui descritos são literais, como tempestades, incêndios, acontecimentos naturais prodigiosos, que se revestirão de tremendo poder destrutivo. . O juizo que ora consideramos diz respeito à terra toda. E óbvio que jamais uma terça parte da terra, das ervas e das árvores foi consumida, em toda a história. Se a interpretação tiver de ser a "histórica", segue-se que João exagerou sua descrição. Seja como for, os juizos descritos serão sinais e preparativos para a parousia (vide), ou seja, devem estar no futuro.

TROMBETAS DE CHIFRES No hebraico, uma palavra que só aparece no sexto capítulo de Josué, yobel. Ver Música e Instrumentos Musicais. TROMBETAS, FESTA DAS Ver sobre Festas (Festividades) dos Judeus. TRONCO Temos a considerar uma palavra hebraica e uma palavra grega, a saber: 1. Sad, "algemas". Esse termo hebraico aparece somente por duas vezes, no livro de Jó (13:27 e 33:11). Em ambas as passagens, nossa versão portuguesa a traduz por "tronco", 2. Ksúlon, "madeira". Essa palavra grega ocorre por vinte vezes no Novo Testamento, de Mal. 26:47 a Apo. 22:19; traduzida em português, na maioria das vezes por "cruz", o que é uma tradução legítima, visto que as cruzes antigas eram feitas de madeira. Todavia, em Atos 16:24, na narrativa do aprisionamento de Paulo e Silas, em Filipos, a palavra é traduzida por "tronco". Essa também é uma tradução legítima, indicando um costume antigo mediante o qual os prisioneiros perigosos eram mantidos em segurança. Heródoto cita como um adivinho decepou um de seus pés, depois que os espartanos haviam prendido o mesmo em um "tronco guarnecido de ferro", no grego, ksulo siderodeto. TRONO I. Terminologia

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TRONO - TRONO BRANCO 11. Caracterização Geral Ill. Simbologia IV. Observações Bíblicas V. Descrições I. Terminologia Hebraico: kisse (kisseh), as duas formas alternativas nas traduções portuguesas, com cerca de' 135 ocorrências no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 41.40; Êxo. 11.5; Deu. 17.18; I Sam. 2.8; 11 Sam. 3.10; Nee. 3.7; Est, 1.2; Sal. 9.4, 7; Pro. 16.12; Zac. 6.13. Aramaico: Korse: Dan. 5.20; 7.9. Grego: I.thronos, com 59 ocorrências no Novo Testamento. Exemplos: Mat. 5.24; 19.28; Luc. 1.32, 52; 22.30; Atos 2.30; Heb. 1.8; 4.16; Apo. 1.4; 2.13; 21; 4.2.2~6, 9, 10; 5.1,6,7, 11, 13; 6.16; 20.4, 11, 12; 21.3,5; 22.1, 3. 2.bema, com os significados de trono e tribunal, com 12 ocorrências no Novo Testamento. Exemplos: Mat. 27.19; João 19.13; Atos 7.5; 12.21; Rom, 14.10; 11 Cor. 5.10. Latim: thronus, a cadeira do estado, a cadeira real, o local de exaltação de um rei, uma autoridade do estado ou umjuiz ou magistrado local e, metaforicamente, o poder de tal autoridade. 11. Caracterização Geral Os termos usados podem significar qualquer assento elevado, ou cadeira especial para uma pessoa de autoridade, incluindo reis, magistrados civis ou o sumo sacerdote (I Sam. 1.8); umjuiz (Sal. 122.5); um chefe militar (ler. 1.15); um rei (I Reis 10.19); ou o trono de Deus (lsa. 6.1), que na visão de Isaías era "alto e elevado". A maioria dos tronos dos reis era elevada em algum tipo de plataforma e muitas vezes chegava-se a elas usando escadas. No caso de Salomão, seis degraus levavam ao trono. Os degraus eram "guardados" por um par de leões. A autoridade que sentava no trono de modo geral vestia roupas especiais para as ocasiões de julgamento, para promulgar decretos ou para reunir-se com outras autoridades para deliberações. 111. Simbologia 1. Em termos gerais, o trono pode simbolizar a pessoa que senta nele, sua autoridade, a autoridade de seu reino ou de seu oficio, ou um grupo de poderes, terrestres ou celestiais. 2. Símbolo de poder supremo e dignidade (Gên. 41.40). 3. Sentar no trono é o exercício de autoridade (Deu. 17.18; IReis 16.11). 4. Tronos podem significar a sucessão de poderes terrestres ou, falando coletivamente, de poderes celestiais, como arcanjos (Col, 1.16). 5. O trono de Deus é o poder absoluto sobre os céus e a terra (lsa. 6.1). nr. Observações Bíblicas 1. Tronos dos faraás (Gên. 41.40; Êxo. 11.5) 2. Trono do rei de Nínive (Jon, 3.6) 3. Trono dos poderes babilônicos (Dan. 5.20; Est. 5.1, 2) 4. Trono dos governos (Nee. 3.7) 5. Trono das dinastias (11 Sarn, 3.10; I Reis 1.13) 6. Trono do trono eterno de Davi (sua linhagem real), I Reis 2.45; ler. 33.17). 7. Trono de Deus, o poder supremo (I Reis 22.19; Sal. 11.4; Apo. 5.11) 8. Trono do Messias (Zac. 6.13) 9. Trono do Ancião de Dias (Dan. 7.9)

10. Trono dos usurpadores que serão derrubados de seus lugares altos ao sheol (lsa. 14.13-15). V. Descrições Alguns tronos eram pouco mais do que cadeiras elevadas, mas a arqueologia demonstrou a natureza opulenta desses reinados. Um trono de rocha de cristal foi descoberto nas ruínas do palácio de Senaqueribe. O trono de Salomão era feito de marfim revestido de ouro, com uma complexa escadaria levando até ele, guardada em cada lado pelas estátuas de leões. A parte de trás do trono tinha a figura esculpida de um touro, símbolo de força (I Reis 10.18~20). Presumimos que esse trono tenha sido típico daqueles elaborados no Oriente. Ver o artigo separado sobre Trono Branco, o Grande, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Ver também Trono da Graça e Trono de Satanás.

TRONO BRANCO, O GRANDE Sete Visões de como Satanás é Derrubado e seu Governo Termina. Apo. 19: 11-21 :8 Desaparecimento dos céus e da terra: o juizo final (20:11-15) O trono branco. Na cena à nossa frente, pode-se ver a onipotência de Deus. Esta surge aliada com a justiça. E a justiça, finalmente, será feita. Mas a justiça não poderá ser realizada sem haver vingança contra o pecado. Cada indivíduo terá de pagar sua divida, e isso totalmente. O egoísmo humano terá de findar, e o homem terá de sujeitar-se a Cristo como Senhor (ver Fi\. 29 e ss). A seção à nossa frente nos dá a certeza, nos termos mais simples, mais vívidos, de que o salário do pecado é a morte (ver Rom. 6:23); que o homem terá de colher o que houver semeado (ver Gál, 6:7,8); que não há como escapar das conseqüências do pecado; que a vida é intensa e que há muita coisa em jogo. De modo geral, os eventos do Apocalipse seguem a ordem de acontecimentos dos apocalipses judaicos. (Ver Apocalipse de Baruque 29-30; IV Esdras 7:29-30). O Messias retomará; o juizo será instaurado; prevalecerá a era áurea; os homens se revoltarão de novo; o juizo final dá a solução para tudo. Sim, o juizo final desimpedirá o caminho para o estado eterno. (Ver também Oráculos Sibilinos 3.666 e ss). A antiga cidade de Jerusalém, entretanto, será exaltada durante a idade áurea, mas mesmo assim não poderá usurpar a posição da Nova Jerusalém do estado eterno. Antes do aparecimento da Nova Jerusalém, todavia, novos céus e uma nova terra virão à existência, trazendo, para todos os seres a imensidade da eternidade. E isso será inaugurado pelo julgamento. A seção à nossa frente descreve de modo bem abreviado, mas em tons dignos e solenes, evitando os excessos dos apocalipses judaicos, aqueles prodigiosos acontecimentos. Quais são os três grandes obstáculos ao bem eterno? São o Anticristo e o Falso Profeta, que procurarão estorvar o plano de Deus (esses serão lançados no lago do fogo, ver Apo. 19:20); Satanás, o enganador universal, cujas atividades se prolongarão por mais algum tempo, até sofrer a mesma sorte daqueles dois primeiros; ver Apo, 20: 10; e os homens ímpios, que se recusarem a arrepender-se, repelindo a espiritualidade que a humanidade está destinada a ter, sofrendo, finalmente, a mesma sorte dos três anteriores (ver Apo. 20: 15). Oh! a terrível realidade do juizo! "Deus será exaltado, e os impios serão subjugados. Sabe-se o que um grande egoísta do século XIX teria dito:

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TRONO BRANCO 'Não creio em Deus. Pois, se houvesse Deus, eu teria de ser Deus'. Aí se tem uma expressão bem clara daquele egoísmo presunçoso que é incapaz de olhar para címa. É incapaz de reconhecer qualquer autoridade acima de si mesmo. Nunca vê, em sua imaginação, um grande trono branco. Perdeu todo o senso de reverência; perdeu o senso de respeito religioso; tomou-se incapaz de toda a nobre obediência. O homem que, em seus pensamentos, não tem lugar para o trono exaltado já começou a perder o senso do significado da existência. E um dia terá de defrontar-se com o trono, embora agora este seja completamente varrido dos seus pensamentos" (Hough, in loc.). Apo. 20: 11: E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiram a terra e a céu; e não foi achado lugar para eles. 1. Grande trono branco. (Quanto ao simbolismo do "trono", ver Apo. 4:2). Supomos que o trono de Deus nos céus está aqui em pauta, embora o mesmo seja agora visto de modo diferente. Não antecipamos, naturalmente, qualquer trono literal. O vidente João tomara por empréstimo a cena de um tribunal, para ensinar uma grande verdade espiritual no tocante ao juizo. O Rei de todos é agora o Juiz de todos. Supomos que isso será mediado por meio do Cristo (ver Atos 17:31). Observemos que ele compartilha do trono de Deus Pai (ver Apo. 3:21). (Comparar isso com Luc. 1:32,33; Mal. 19:28; Atos 2:30,34,35; 15: 14-16). Deus está sentado, e os culpados, os acusados, acham-se de pé ou assentados diante dele. a. O trono aparece isolado. Essa cena celestial não mencíona qualquer hoste de anjos ou de quaisquer outros seres celestiais. Todos os olhos se fixarão diretamente sobre o trono, vasto e intenso e rebrilhantemente branco ocupa todo o campo da visão. Os próprios céus e a terra não mais podem ser vistos, ou porque deixaram realmente de existir, em antecipação à nova criação, ou porque, por causa da visão do grande Trono Branco, não chegam ao campo de nossa visão. b. O trono é grande. É de vastíssimas dimensões, enchendo o campo inteiro de nossa visão; expulsa da vista todos os outros elementos. Ameaça; deixa a mente atônita. Trata-se de um infinito julgamento, diante do qual está o que é finito. c. O trono é branco. Resplandece de pureza e de santidade divina, o que exige justiça, castigo, julgamento, purificação e retribuição. O trono de Deus é visto nesse novo aspecto, algo inteiramente diverso de tudo quanto antes fora dito, tanto no Antigo como no Novo Testamentos (Ver o primeiro capitulo do Êxodo; I Reis 22: 19; Êxo. 24:94 1; Dan. 7 e Apo. 4). d. Ojuizo será inflexivel em sua justiça. O que temos agora à frente não é todo um processo de julgamento, mas a declaração da sentença divina contra aqueles que já foram declarados culpados. O grau da punição de cada um, entretanto, será determinado pelas suas obras (ver o décimo terceiro versículo). Fugiram a terra e o céu. Provavelmente isso deve ser entendido literalmente como o fim da antiga criação, conforme se vê em Apo. 21:1 e II Ped. 3:12,13, onde o leitor deve consultar as notas expositivas no NTL Não se pode pensar em mera renovação por meio do fogo.. Antes, o que é antigo desaparecerá de vez, e uma criação inteiramente nova virá à existência. Não se achou lugar para eles. Em outras palavras, nenhum espaço será achado para a antiga criação, nem mesmo os antigos lugares celestiais. A nova criação será exatamente isso, algo total e radicalmento novo. E isso será precedido pelo colapso da criação antiga, inchando

o julgamento final. O vidente João não se preocupou com argumentos razoáveis, que expliquem a dificuldade do trono existir em um vácuo, não havendo mais nem céus e nem terra, ou onde se assentarão os que estiverem sendo julgados, porque parece que isso seria em um tribunal celeste. Tudo isso, porém, está fora de lugar, pois João alude à renovação de tudo nos termos mais absolutos. 2. O Julgamento Deste Trono. O Lago de Fogo Lançados para dentro do lago do fogo. Isso quer dizer que o hades e a morte serão consumidos, mas não aqueles que tinham estado neles. O intuito específico desta seção é mostrar que os mortos ímpios serão finalmente julgados, e que o juízo será a "segunda morte". O que é "intermediário" agora cederá lugar ao que é "eterno" até "onde" isso envolve os perdidos. Não haverá mais morte e nem "hades" intermediário, conforme eram conhecidos até ali. Naturalmente, é provável que este versículo também vise ensinar aquilo que se vê em Isa. 25:8 e 1 Cor. 15:26: "o último inimigo é a morte". Esta seria agora aniquilada. Para os crentes, isso é grande vitória, conforme a expressão de 1 Cor. 15:55: "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, morte, o teu aguilhão!" Sim, a morte será tragada pela vitória. Os capítulos vmte e um e vinte e dois do Apocalipse mostram exatamente o que isso significa para o crente. Por igual modo, 11 Esdras 8:53 diz como a morte "...se escondeu, e a corrupção e o hades, fugiram ..." Lançados. Não podemos deixar de sentira dor envolvida na escolha desse vocábulo. Eles não irão para ali voluntariamente. Serão ali arrojados. Lago do fogo. Ver o artigo separado sobre este assunto. O circulo temível do juizo agora está completo. O Anticristo e seu Falso Profetajá haviam sido lançados no lago do fogo. Então Satanás sofreu essa sorte (ver Apo. 20: 10). E agora chegara a vez dos perdidos. A segunda morte. Somente neste livro temos a expressão "segunda morte". Supomos que o vidente João indica aqui a "ira de Deus", o Julgamento dos incrédulos ... (Ver o artigo sobre Ira. um termo técnico para o "juizo", e não mera emoção. Ver também o artigo sobre Julgamento). A "segunda morte" é a cólera de Deus exercida no "Juizo final", o que é aqui definido mais especificamente como ser lançado no "lago do fogo". Isso, naturalmente. simboliza o fato de não se ter atingido a verdadeira vida em Cristo, a participação em sua vida divina, o tipo de vida que Deus possui (ver João 5:25,26 e 6:57). Trata-se de uma perda irreparável e infinita para o homem, cujo destino é ser um filho de Deus, participando de sua plenitude (ver Efé. 3:19) e de sua própria natureza (ver II Ped. 1:41). Os perdidos perderão tudo isso. Um indivíduo que não atinge essa "modalidade de vida", conforme é descrito aqui, está "morto", segundo a terminologia bíblica. Isso sucede porque a vida verdadeira não é a mera sobrevivência da alma ante a morte fisica, mas é uma forma de vida extremamente elevada, a participação na própria forma de vida de Cristo. Aqueles que não entrarem nos lugares celestiais e nem participarem das glórias e do bem-estar daqueles lugares, estão espiritualmente mortos; e a morte espiritual, uma vez que sejam traçadas as fronteiras da eternidade, é a "segunda morte". A "primeira" fora a morte fisica. A expressão segunda morte, embora encontrada somente no Apocalipse, em todo o NT, é de origem rabínica. "Que Rúben viva nesta era e não morra a segunda morte, com a qual morrem os ímpios no mundo vindouro" (Targum sobre Deut. 316). O Targum sobre Jer, 61:39,57 diz: "Que eles morram a segunda morte e

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ó

TRONO BRANCO - TRONO DE SATANÁS não vivam no mundo vindouro. Curiosamente, o trecho do Targum sobre Isa. 22:14 diz: "Esse pecado não te será perdoado, até que morras a segunda morte", subentende que haverá o perdão do pecado, por intermédio da segunda morte. Em Enoque 99: 11 e 108:3, os espíritos dos ímpios são declarados "mortos no Seol". Isso, é claro, não é o aniquilamento, mas uma morte espiritual, a perda espiritual, a falta de participação na verdadeira vida, segundo ela é definida na Bíblia. Ela é "segunda" por ser da almae por seguir-se à primeira, que é a morte do corpo. Isso arruina o destino da alma quanto ao seu propósito original. 3. O Trono Branco, Segunda Morte e Esperança Existem evidências no Novo Testamento que indicam que o Trono Branco e o lago de fogo que segue, não falam a última palavra sobre o julgamento. Por exemplo, Cristo tinha uma missão no Hades para levar o Evangelho até o lugar do julgamento (ver I Ped. 3: 18-4:6 e o artigo Descida de Cristo ao Hades). Também, Efé. 1:9,10 indicam que, afinal, uma unidade será formada ao redor do Logos, e isto implica numa restauração que a doutrina do lago de fogo (vide) não antecipa. Ver sobre Restauração para explicações detalhadas sobre a esperança além do lago de fogo. Estes conceitos salvam o Evangelho de um profundo pessimismo que, afinal, dificilmente, pode caracterizar a missão de Cristo. Ver o artigo sobre Julgamento de Deus dos Homens Ímpios. TRONO DE GRAÇA Ver Heb, 4:16. O trono de Deus está em foco, o centro de sua glória, poder, majestade e julgamento. Mas agora o trono é visto envolvido na graça e na misericórdia. A obra do Filho é que fez as coisas desse modo, e agora ele está ao lado do trono, assegurando essas bênçãos para nós. Essa expressão se encontra somente aqui, em todo o NT, embora a menção do "trono" seja freqüente (Ver acerca do "trono da glória" em Mal. 18:28 e 25 :31, e acerca do "trono da majestade", em Heb. 8: 1). No livro de Apocalipse, o trono é mencionado por mais de quarenta vezes, em diferentes contextos; mas, normalmente, expressa as idéias de poder e majestade. O trono de Deus, aninhado na graça, mostra-nos que a graça nos é dada como dom do poder divino. Ele é "poderoso para salvar", "poderoso para ajudar", "poderoso para dar-nos vitória espiritual". Mas, é preciso que o busquemos para receber essas bênçãos. Somos ordenados a vir "ousadarnente" a esse trono e rogar por aquilo que precisamos. Isso nos é exigido, e é nisso que fracassamos, usualmente através de indiferença espiritual e preguiça, pois andamos tolhidos pela carne e suas obras. Recebermos misericórdia. O perdão dos pecados, a ajuda em nossas enfermidades, a renovação divina, a bondosa consideração divina, além daquilo que merecemos, de tal modo a inspirar-nos à renovação de nosso compromisso com Cristo, nossa outorga de alma a seus cuidados, são bênçãos que estão aqui era foco. Segundo se lê em Rorn. 2:4 " ... a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento". E é Ele, igualmente, que nos conduz à dedicação renovada. Graça. Graça que pode ser recebida agora mesmo, sua operação e suas provisões graciosas em nosso favor; mas essa graça presente se alicerça sobre sua graça salvadora (Ver Efé. 2:8 e o artigo geral sobre Graça). Certamente, a graça de Deus, que nos é conferida, -provê ajuda para escaparmos da frieza, da indiferença, do desvio espiritual e da apostasia.

Em ocasião oportuna. A expressão é indefinida, pelo que também ela pode envolver vários significados. l. qualquer período de necessidade; ou 2. especificamente, o momento de necessidade, que é representado pela palavra "hoje" (ver Heb. 3: 7,15), quando Deus nos ordena obedecer e evitar o exemplo desastroso dado pela geração do deserto, que não pôde entrar no descanso de Deus. No tempo oportuno receberemos ajuda em qualquer tribulação. TRONO DE SATANÁS Apo. 2: 13: Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Conheço o lugar em que habitas. Essas palavras foram ditas porque o lugar mesmo em que habitavam era notável lugar de maldade e de provação, o que poderia impulsionar aqueles crentes à apostasia ou, ao menos, à transigência com o paganismo. O lugar onde habitavam muito teve a ver com o caráter da Igreja, pelo que isso é especificamente mencionado aqui como um dos elementos importantes da carta. E algo quase equivalente a "conheço as tuas obras", que é frase comum à maioria dessas sete cartas. O saber sobre o "lugar" onde eles habitavam era equivalente a saber qual o "caráter" que disso resultava neles. Notemos aqui a influência do meio ambiente. E mais fácil a um crente ser santo em certos locais geográficos do que em outros. É mais fácil a um crente ser santo, se tiver certas associações humanas, e não outras. Sêneca queixava-se que algumas vilas romanas, especialmente lugares de retiro, exigiam uma moralidade mais relaxada do quê outros lugares. Contudo, a exigência do Evangelho é que, sem importar associações e localizações geográficas, os discípulos precisam de fidelidade. Ver Apo. 2: I S. Isto é, o lugar onde Satanás exerce autoridade, como se fora rei. A palavra "trono" (no grego, thronos) é usada no NT com o sentido de "trono real" (ver Luc. 1:32,52), ou com o sentido de "tribunal judicial" (ver Mat. 19:28 e Luc. 22:30). Também há alusão aos "tronos" de elevados poderes angelicais, ou aos próprios governantes humanos (ver Col. 1: 16). As possíveis referências desse "trono" são as seguintes: I. Pode ser a colina que havia por detrás da cidade, com trezentos metros de altura, na qual havia muitos templos e altares. Essa "colina" poderia ser o monte ou trono de Satanás, em contraste com o "monte" de Deus (verIsa. 14:13 e Eze. 28:14,16), o qual, em I Enoque 25:3, é chamado de "trono". 2. Outros estudiosos pensam que a alusão é ao gigantesco altar dedicado a Zeus Soter, erigido sobre uma imensa base, a duzentos e quarenta metros acima do nível da cidade. 3. Também poderia haver alusão a um dentre vários templos, construídos com o propósito de oficializar o "culto ao imperador", em Pérgamo. 4. Também há aqueles que a alusão, neste ponto, é à própria cidade de Pérgamo, por ser o "trono de Satanás", não estando em vista qualquer emblema pagão. Pérgamo era um dos grandes centros do culto ao imperador, pelo que também era um lugar especial da manifestação das falsas religiões de Satanás. S. Alguns eruditos pensam que a adoração a Esculápio, cujo símbolo era a serpente, está aqui em foco. 6. Ou então, a própria cidade, como acme da idolatria, era esse "trono" por si mesma.

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TRONO DE SATANÁS - TUBAL É impossível determinar exatamente a alusão do vidente João, neste particular. Sem dúvida, porém, foi entendido por seus leitores originais. Contudo, não sendo capazes de afirmar a alusão com certeza, sabemos que a mensagem é bem clara. O paganismo fanático que havia em Pérgamo era controlado por Satanás, a ponto da cidade ter-se tomado centro da propagação de religiões iníquas, que eram adversárias da igreja e a prejudicavam. O culto ao imperador era a manifestação central dessa religião ímpia. Sem importar o que seja entendido por esse trono de Satanás, a linguagem atribui a Pérgamo a proeminência má de ser o centro do antagonismo a Cristo e seu Evangelho. Havia uma atmosfera doentia na qual podiam medrar plantas da graça, resultando no desenvolvimento de uma igreja pura de Cristo. Aquela pequena congregação, pois, era como uma barca lançada em mar tempestuoso, como uma rosa isolada, a florir em meio às areias do deserto. TROVÃO No hebraico, há duas palavras envolvidas, e, no grego, uma, a saber: 1. Qo/, "voz". Palavra hebraica que, com esse sentido de "trovão", aparece por doze vezes: Êxo. 9:23,28,29,33,34~ 19:16~ 20:18; 1 Sam. 7: 10; 12:17,18; Jó 28:26; 38:25. 2. Raam, "trovão", "rugido". Um termo hebraico que é utilizado por seis vezes: Jó 26: 14; 39:25; Sal. 77:18; 81:7; 104:7; Isa. 29:6. 3. Bronté, "trovão". Vocábulo grego que aparece por doze vezes: Mar. 3:17~ João 12:29; Apo. 4:5; 6:1; 8:5; 10:3,4; 11:19; 14:2; 16:18e 19:6. O termo hebraico qo/ é cognato do acádico qulu e do ugarítico q/, "voz", "som". Esse vocábulo quase sempre aparece associado a outras palavras que indicam manifestações naturais próprias das tempestades, como, por exemplo, o raio (Jó 28:26), a saraiva (Êxo. 9:23) e a chuva (1 Sam. 12:17). Na narrativa do livro de Êxodo, por ocasião da outorga da lei mosaica, ficou bem claro que o trovão foi uma das demonstrações do poder divino. Porém, divergindo daquilo que se disse no século XIX, não há qualquer ligação entre o trovão e o tetragramaton, YHWH (Yahweh). O trovão nunca aparece como o próprio Senhor, mas apenas como um fenômeno natural que é controlado por Deus (I Sam. 12:18). Um termo hebraico usado por menos vezes é raam, um vocábulo onomatopéico, isto é, que imita o som do fenômeno. Ainda há outros vocábulos hebraicos, que algumas traduções têm traduzido por "trovão", mas cujo sentido verdadeiro é "praga", "pestilência" (vide). Tal como no Antigo Testamento, no Novo Testamento a palavra grega bronté, geralmente, aponta para alguma atividade divina (por exemplo, João 12:29). Mas esse vocábulo grego ocorre, em sua esmagadora maioria, no livro de Apocalipse (ver acima). Em todos esses casos, a alusão é à cena ocorrida no monte Sinai, por ocasião da outorga da Lei. Em Marcos 3: 17 temos a única outra ocorrência do vocábulo no Novo Testamento, usado para descrever os dois discípulos, Tiago e João, ambos filhos de Zebedeu, e que o Senhor Jesus apodou de "Boanerges", ou seja, "filhos do trovão". Tradicionalmente, esse apelido tem sido interpretado como "dotado de temperamento ardente". TROVÃO, FILHOS DO Ver sobre Boanerges.

TSOUYEN Suas datas foram 305 - 240 a. C. Acredita-se que foi ele quem introduziu a filosofia acerca do Yin e do Yang no pensamento chinês. Ver o artigo intitulado Yin e Yang. TUBAL Esse nome, de significado desconhecido, indica tanto um indivíduo, um dos filhos de Jafé (ver Gên, 10:2; 1 Crô. 1:5), quanto os seus descendentes, quando já formavam uma nação (ver Isa. 66: 19; Eze. 27: 13; 32:26; 38:2,3 e 39:1). Os descendentes de Tubal formavam uma confederação localizada no centro das montanhas do Taurus, no sul da Anatólia (moderna Turquia), de onde se espalharam para vários lugares, tanto para o norte quanto para o ocidente. Nos tempos de Heródoto, historiador grego das coisas antigas, eles eram conhecidos pelos gregos como Tibarenot (ver Heródoto 3.94). Visto que eles são mencionados em Gênesis 10:2 como um dos filhos de Jafé.juntamente com Javã, que já são os gregos orientais, então devem ter ocupado regiões contíguas às de seus irmãos, isto é, as "ilhas do mar", ou as costas do Mediterrâneo, posto que isso não exclui a ocupação deles em território continental asiático. De fato, há indícios de que eles se espalharam pela Sicília e até mesmo pelas costas da Espanha, no extremo ocidental do mar Mediterrâneo, como também pelo centro das estepes russas, sem falarmos em outras lugares. Tubal (no acádico, Taba/) tornou-se um povo proeminente durante o primeiro milênio a.C., após o declínio do reino hitita de Hatusas. Na Bíblia, eles aparecem como fornecedores de escravos e de metais (Eze. 27:13 por exemplo). Na maioria das passagens do livro de Ezequiel, eles aparecem em companhia de Meseque (no acádico, Mushki), nome que sobrevive na capital da União Soviética, Moscou. Ora, muitos estudiosos pensam que Meseque é progenitor do povo que, séculos mais tarde, ficou conhecido como frígios, que vivia lado a lado com os gregos e macedônios, embora um pouco mais para o leste. Quando o poder militar da Assíria expandiu-se para o norte e para oeste, entrou em um longo e amargo conflito com as confederações de tribos da Anatólia, desde que Assurbanipal tomou-se rei assírio (cerca de 870 a.Cv), até o assalto feito pelos catas, que já seriam germânicos, em 679 a.C. Tubal é mencionado em numerosos registros de campanhas militares punitivas, enviadas contra a região do Taurus, durante aqueles dois séculos. Heródoto também mencionou (3.94) que os homens de Tubal eram supridores de tropas dos exércitos persas de Dario e de Xerxes. A ferocidade dos exércitos de Tubal fica comprovada pelo fato de que eles só foram derrotados, e sua máquina militar só foi destruída após centenas de anos de constantes conflitos armados. Sargão 11 (ver Isa. 20: I) morreu durante a campanha militar que desencadeou contra eles I em, 705 a.C. De acordo com as profecias bíblicas para o fim, Tubal, Meseque e muitos outros povos, asiáticos, europeus e africanos, haverão de desfechar um tremendo ataque contra Israel, antes da segunda vinda do Senhor Jesus, quando então sofrerão esmagadora derrota (ver Eze. 38 e 39). Muitos intérpretes modernos pensam que isso se refere a algum ataque futuro encabeçado pela Rússia (ver o artigo sobre Gogue), com temíveis conseqüências para muitos outros povos, que serão indiretamente atingidos pela conflagração.

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TUBALCAIM - TUMORES TUBALCAIM O nome Tubal significa "tumulto" e Tubalcaim significa "tumulto, o ferreiro". O Tubal posterior foi um dos sete filhos de Jafé, o neto de Noé. Mas Tubalcaim foi um antediluviano, filho de Lameque e Zila. Ver Gên. 4.22. Ele era um ferreiro habilidoso, que moldava toda a sorte de objetos cortantes, empregando cobre e ferro. Foi, segundo o relato da Bíblia, o inventor dos instrumentos de corte. A RSV fornece o versículo " ... forjador de todos os instrumentos de bronze e de ferro", mas a tradução rabínica o toma um afiador de tais instrumentos. O cobre é um metal macio facilmente trabalhado até mesmo pelos antigos, enquanto o ferro é especialmente útil para instrumentos de corte. A entrada da palavra ferro nesse período muito primitivo é considerada um anacronismo por muitos intérpretes, mas não sabemos até onde se estendeu a idade do ferro. TUBIAS Uma forma do nome Tobias, segundo alguns livros apócrifos do Antigo Testamento.

6. O Apocalipse, ainda segundo Baur, seria um livro hostil a Paulo, pelo que foi por ele considerado como bastante primitivo. No entanto, eruditos mais recentes dão ao livro de Apocalipse uma data bem posterior, e não pensam que o seu autor tenha sido o apóstolo João. 7. Os eruditos têm chamado a crítica da escola de Tubingen de "fracasso frutífero". E isso porque, apesar de ter cometido alguns graves erros, apresentou algumas sugestões úteis para a erudição do Novo Testamento. O décimo quinto capítulo de Atos, o primeiro capítulo de Gálatas e o teor geral da epístola de Tiago mostram claramente que houve um conflito legalístico severo na Igreja primitiva. Ver sobre o Legalismo. Contudo, não se deve fazer disso o grande critério por meio do qual devemos testar a crítica. E tentar ver as questões do cristianismo primitivo através dos olhos de Hegel foi um exagero, não há que duvidar.

TUBINGEN, ESCOLA DE Esse é o título da escola germânica hegeliana que desenvolveu um tipo especial e distintivo de crítica bíblica e histórica, que exerceu profunda influência sobre a teologia subseqüente. Seu fundador foi F.e. Baur, e importantes membros dessa escola foram Schwegler, Zeller, Volkrnar, Hilgenfeld, Lípsius, Hausrath, Weizsacker, Pfleiderer e Schmiedel. Ver o artigo geral chamado Crítica da Bíblia. Idéias Dessa Escola: 1. Christtan Baur; professor de teologia em Tubingen (1826 - 1860), e sobre quem oferecemos um artigo separado nesta Enciclopédia, procurou explicar o evolução do cristianismo em termos da filosofia hegeliana da história. Ver sobre Hegel e sobre as muitas tríades que faziam parte de seu pensamento filosófico. 2. Baur encontrava a tese e a antítese do cristianismo em Pedro e em Tiago, em contraste com Paulo. De acordo com sua teoria, Pedro e Tiago promoveram uma forma primitiva do cristianismo: Jesus foi o Messias dos judeus, e não o fundador de uma nova religião. Paulo, por sua vez, teria ensinado que Jesus foi o Messias do mundo inteiro, bem como fundador de uma nova fé, radicalmente diferente, inteiramente distinta do judaísmo. Assim, Pedro e Tiago teriam exposto uma tese; Paulo teria contraposto isso com uma antítese; e do conflito a buscada síntese. 3. Conflito teria sido o caráter fundamental do século I d.C., e daí teriam resultado os primeiros escritos neotestamentários. Os escritos que refletem isso são mais provavelmente apostólicos, em primeira ou em segunda mão. 4. Seriam certamente paulinas somente as epístolas aos Romanos, I e 11 Coríntios e Gálatas. Nesses escritos conflito transparece claramente. Lucas representaria a oposição paulina; Mateus teria sido produto da posição judaica mais primitiva; Marcos teria sido o epitomista unificador; e João apareceu mais tarde, quando a união já estava sendo conseguida. 5. O segundo século cristão viu uma espécie de síntese, na qual a Igreja conseguiu obter uma espécie de unidade, distante do conflito da tese e da antítese que caracterizaram o século I d.e. Vários dos livros do Novo Testamento refletiriam esse período, estando distantes do conflito, porquanto agorajá entrava em choque com o gnosticismo, que se tomara o grande oponente de um cristianismo unificado.

TUMOR Ver também sobre Tumores. No hebraico, ophel, termo que ocorre por seis vezes no Antigo Testamento: Deu. 28:27; 1 Sam. 5:6,9,12; 6:4,5. Uma enfermidade cutânea dolorosa, enviada contra os filisteus, como umjuizo divino. Os estudiosos pensam que esses tumores eram parecidos com as hemorróidas. A arqueologia tem demonstrado que os ofertantes pagãos ofereceriam a seus deuses representações em cera ou metal das porções de seus corpos que tinham sido curadas ou que eles esperavam que fossem curadas por intervenção dessas divindades. É interessante observar que, em Aparecida do Norte, muitos procuram curas comprando representações de cera das porções de seus corpos que eles querem ver curadas. Desse modo, as pessoas visualizam suas esperanças de cura, de forma concreta. E aqueles que tiverem algum severo caso de hemorróidas talvez tentem tal coisa, mesmo que o esquema tanto se pareça com o paganismo! O trecho de I Samuel 6:5 evidentemente alude a essa prática entre os filisteus. Eles estavam sendo julgados, pelo menos em parte, mediante essa aflição. A referência que ali se faz aos "ratos", provavelmente significa que eles foram punidos com algo relativo a eles, como a peste bubônica, pois esta última propaga-se por meio de moscas que enxameiam sobre os ratos. Aparentemente, imagens feitas dos defeitos e aflições físicas, bem como figuras de ratos, deveriam ser mandadas para Israel, juntamente com a arca da aliança. Sabe-se que uma das manifestações da peste bubônica é certa forma agravada de hemorróidas. Essa enfermidade atinge elevadas taxas de mortalidade, ou seja, cerca de setenta por cento dos casos, depois da primeira semana do aparecimento dos sintomas. Ver o artigo geral sobre as Doenças da Bíblia.

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TUMIM Ver sobre Urim e o Tumim.

TUMORES No hebraico, precisamos levar em conta duas palavras, ligadas a esse verbete, a saber: 1. Techorim, "tumores". Essa palavra ocorre por duas vezes somente, em I Sam. 6: 11,16. 2. Ophel, "tumor" "ferida". Esse vocábulo ocorre por seis vezes: Deu. 28:27; 1 Sam. 5:6,9,12; 5:4,5. Um tumor é um crescimento anormal de alguma parte do corpo; ou, então, pode ser um neoplasma, isto é, o desenvolvimento de tecidos anormais, distintos dos tecidos saudáveis que os cercam. Um neoplasma pode ser tão benigno como uma borbulha, ou tão maligno como um carcmoma.

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TUMORES - TÚMULO No relato sobre a devolução da arca da aliança, por parte dos filisteus (I Sam. 5), os tumores feitos de ouro, provavelmente, serviam de emblemas dos bulbos que caracterizam aquela praga. Esses bulbos entumescem e afetam as glândulas linfáticas das imediações. Quando os organismos infeccionadores, ou seus produtos tóxicos, chegam às glândulas linfáticas, estas últimas desenvolvem um grande esforço para impedir que esses organismos ou seus produtos tóxicos entrem na circulação sistêmica. E assim essas glândulas podem entumescer até cem vezes mais que o seu tamanho normal, na tentativa de impedir o avanço dos elementos indesejáveis, e então destruí-los. Algumas vezes, entretanto, o fluxo de material infeccionado é tão grande, como uma praga, que mesmo muitas glândulas linfáticas em sucessão são avassaladas, e o organismo sucumbe diante, da enfermidade. Ver também o artigo sobre as Pragas. No hebraico, "queimaduras". Eram tumores endurecidos, dolorosos, uma ulceração inflamada com fluxo de pus misturado com sangue, em alguns casos. Nas Escrituras, a palavra envolvida (no "hebraico, bashal) parece referir-se a diversas enfermidades, como a úlcera (Êxo, 9: 10, 11; Lev, 13:18), um tipo de pústula maligna ou o sinal de uma praga (11 Reis 20:7, mas que nossa versão portuguesa também traduz por úlcera), ou então a lepra negra (Jó 2:7), embora essa última referência também possa aludir à úlcera comum. Alguns estudiosos supõem que a enfermidade de Ezequias (II Reis 20:7) foi um caso agravado de ulceração, de origem bacteriológica, e que foge a todo tipo de controle. Ver o artigo geral sobre as Enfermidades. TÚMULO 1 Terminologia e Definições 11 Tipos de Enterro de Corpos Humanos Ill, Locais de Enterro IV Conteúdo das Tumbas V A Esperança no Além Forneço um detalhado artigo sobre Sepultamento, Costumes de, que faz um paralelo com este artigo e me permite ser breve aqui. Ver também Túmulo de Gordon na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, que foi, possivelmente, o local autêntico do enterro de Jesus, o Cristo. Esse artigo adiciona informações sobre tumbas que não estão incluídas aqui. Ver ainda o Sepulcro Santo, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. I. Terminologia e Definições Hebraico: I.Qeber, "sepulcro", aparecendo 65 vezes no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 50.5; Êxo. 14.11; Núm. 19.16, 18; 11 Sam. 3.32; I Reis 13.30; 11 Reis 22.20; Jó 3.22; 5.26; Sal. 88.5, 11; Isa. 14.19. Os enterros mais antigos eram simplesmente debaixo da terra, como nosso costume moderno. No sentido amplo, a tumba pode referir a esse tipo de enterro, não necessariamente se referindo a uma tumba esculpida na pedra. 2. Sheol, o significado mais primitivo do qual se diz simplesmente túmulo. Ver Gên. 37.35; 42.38; 44.29, 31; I Sam. 2.6; I Reis 2.6, 9; Isa. 14.11; 38.10, 18. O termo foi usado para o local dos fantasmas dos mortos, depois dos espíritos que uma vez estiveram encarnados, como desenvolvimento posterior. Ver detalhes completos no artigo sobre Sheol. 3. Qeburah, "sepulcro": Gên. 35.20; Eze. 32.23, 24; Deu. 34.6; Ecl. 6.3. 4.Bei, "montão", isto é, um monte de enterro, Jó 30.24. A versão em português fornece "montão de ruínas", mas o monte de enterro (túmulo) está sob consideração.

5. Schacheth, "corrupção", isto é, o local onde o corpo fisico entra em decomposição. A versão portuguesa dá cova (Jó 33.22). 6. Bor; "poço", o local dos mortos, uma alusão à prática antiga de jogar corpos em tal lugar: Sal. 28.1; 88.6; Isa.

14.15. Grego: 1. mnema, "sepulcro", "memorial": Mar. 53.5; 15.46; Luc. 8.27; Apo. 11.9. 2. mnemeion, "sepulcro", "memorial", Mal. 8.28; 23.29; 27.52,53,60; João 5.28; 12.17; 19.41,42; 20.14,6,8, 11. Latim: tumba, um "monte de enterro". Tumbas construídas em rochas, ao lado dos morros ou em buracos naturais ou cavernas na rocha, eram uma prática das famílias mais afluentes. 11. Tipos de Enterro de Corpos Humanos I. Evidências arqueológicas demonstram que em Jericó, no período neolítico, era usada a exposição em vez do enterro (cerca de 5000 a.C.), mas o costume hebraico-judeu não aceitava tal modo de dispor de corpos humanos. Isso era contrário ao seu sentimento de decência e respeito. 2. A cremação ou a queima de corpos era um antigo costume grego, embora eles também recorressem ao enterro. A cremação era empregada pelos hebreus apenas quando havia massas terríveis deixadas para trás pela guerra, o que tomava impraticável enterrar os corpos dos soldados, particularmente quando estava envolvida grande mutilação. I Sam. 31.12 registra uma cremação desse tipo, quando os corpos de Saul e de seus filhos foram descartados dessa maneira. 3. Enterros simples eram o principal modo de ,livrar-se de corpos no Oriente, inclusive entre os hebreus. As vezes, os enterros eram feitos em cavernas, o que a arqueologia demonstrou ser o costume já nos períodos paleolítico e mesolítico. Enterros em cavernas às vezes eram comunais, com uma caverna particular. servindo para uma família ou para um clã. Sessenta pessoas foram enterradas no wadi el-Mugharah, em Carmelo, c. 8000 a.c. 4. Pedreiras revestidas de pedras serviam como locais de enterro, o ancestral ao costume de ter caixas de cimento tão comuns nos Estados Unidos hoje. Essas caixas, é claro, ficam embaixo da terra e uma pessoa nem imaginaria que embaixo de seus pés existe um tipo de caixa de cimento contendo um caixão. Esse tipo de cova também foi ancestral do caixão, que veio posteriormente. 5. Aberturas naturais em montes na Palestina muitas vezes ofereciam um tipo primitivo de enterro em tumba. Quando havia cavernas formadas pelas aberturas, os locais poderiam tomar-se "cemitérios" para o enterro de famílias. Era desse tipo a caverna de Macpela (ver o artigo), onde Abraão e a maioria dos membros de sua família foram enterrados. Ver Gên. 23.4-6. Tais túmulos foram os ancestrais das tumbas posteriores, esculpidas em pedra. 6. Antes da época de Abraão, havia monumentos de enterro no Egito, as pirâmides (ver o artigo), mas aqui estamos lidando com os locais de enterro dos faraós e de sua aristocracia superior. A mumificação fazia parte desse tipo de enterro. 7. Urnas de enterro. Os corpos eram colocados em posição pré-natal em receptáculos desse tipo, que funcionavam como uma espécie de caixão. Em Bilos, arqueólogos encontraram esqueletos de adultos em umas assim, não apenas corpos de crianças. 8. Cisternas. Cisternas antigas, provavelmente não mais

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TÚMULO - TÚMULO DE ABSALÃO utilizadas, foram usadas como locais convenientes de enterro. Em Gezer foi encontrada uma que continha 15 corpos. A época era em tomo de 1580-1100 a.C. 9. Tumbas de Colméia de Abelha. Eram construídas pequenas casas, geralmente escavadas nos lados de morros, que serviam para enterros. Algumas eram retangulares, redondas, ovais ou quadradas. A maioria era túmulo de famílias. Esse tipo de tumba era comum na Grécia em por volta de 1200 a.C. 10. Sarcófagos, caixões com tampas, eram usados pelos vizinhos de Israel, mas não muito pelos judeus hebraicos. A palavra grega significa "comedor de corpo". A maioria era feita de pedra. Uma vez que os corpos fossem "comidos", o que acontecia em algumas semanas, os ossos eram coletados e postos em ossuários, "caixas de ossos". Às vezes apenas o crânio era mantido, sendo supostamente considerado a única parte do esqueleto que merecia o esforço. li. Tumbas esculpidas em rocha. Tais tumbas foram encontradas em épocas tão remotas quanto a idade do ferro, quando havia instrumentos adequados para fazer o trabalho de escavação. Muitas dessas tumbas eram para enterros de famílias. Elas eram feitas em vários estilos, mas o Talmude informa-nos que de modo geral eram "lares" dos mortos, geralmente com cerca de 2 m de comprimento, 3 m de largura e 3 m de altura. Nichos eram esculpidos e poderiam receber até oito corpos, três de cada lado e dois na parte de trás da escavação. Mas existiam outros maiores que poderiam conter até 13 corpos. A entrada de tais tumbas era, de modo geral, selada por uma grande pedra (Mat. 27.65; Mar. 15.46; João 11.38, 39). Obviamente, apenas as pessoas mais afluentes podiam ter tais tumbas. 12. Sepulcros caiados. Quando Jesus mencionou esse tipo de túmulos (Mat. 23.27, 28), não estava falando sobre as caprichadas tumbas esculpidas em pedra das classes mais altas, mas sim dos túmulos mais comuns nos quais alguém poderia andar e ficar "sujo" do ponto de vista cerimonial. Tais túmulos às vezes eram decorados e pintados de branco para conferir uma aparência melhor e marcá-los de modo que as pessoas pudessem evitá-los. 13. Criptas. Esses eram nichos esculpidos de pedra nos lados dos morros, a maioria preparada para apenas um corpo. Várias criptas poderiam ser feitas e formar uma fileira, ou uma série de fileiras, produzindo um tipo de "apartamento" para os mortos. 14. Foram encontrados túmulos em torre, monumentos construídos sobre túmulos subterrâneos para marcar seus locais, remontando aos tempos de Herodes. A Torre de Absalom e a Torre de Zacarias são representantes desse tipo de túmulo. IH. Locais de Enterro I. Alguns antigos enterravam seus mortos sob andares de suas casas, e esse costume persistiu entre alguns índios brasileiros. Essa prática era popular na Assíria, Síria e em outros lugares do Oriente, mas nunca foi mantida em Israel, pelo menos do que podemos inferir. I Sam. 25.1 é uma exceção. Na Palestina, Jericó foi o sítio desse tipo de enterro, como era também o wadi el-Mugharah e Teileilate. 2. Dentro da cidade. Algumas pessoas importantes eram enterradas dentro dos muros da cidade, como foi o caso do rei Davi (I Reis 2.10). Arqueólogos descobriram o túmulo de uma mulher dentro dos limites da cidade de Gazer. Esqueletos foram encontrados dentro dos muros das cidades e em urnas mantidas dentro dos muros das cidades. 3. Enterros ao longo de estradas eram comuns, como também aqueles feitos próximo a árvores sagradas (ver

Gên. 35.8,19; I Crô. 10.12). 4. O local comum para enterros era fora da cidade para a maioria das pessoas. Os pobres, de modo geral, eram enterrados fora da cidade em pedreiras, cisternas, cavernas ou túmulos simples na terra (II Reis 23.6; Jer. 26.23; Mat. 27.7). 5. Por motivos familiares. sentimentais, às vezes as tumbas eram colocadas em jardins de certas famílias (11 Reis 21.18, 26). Mas o local mais comum ficava em um tipo de necrópole, uma cidade dos mortos localizada fora da vila ou da cidade. 6. As tumbas dos reis situavam-se na cidade de Davi, dentro dos muros. Os reis de descendência real, davídica, eram tratados dessa forma quando morriam. Ver 11 Crô. 28.27; 32.33; I Reis 2.10; Nee. 3.16, et aI. De Davi a Acaz, 13 reis foram enterrados naquele local. IV. Conteúdo das Tumbas Arqueólogos e ladrões têm sido os principais beneficiados das coisas deixadas para trás nas tumba. Há muito tempo as pessoas deixam objetos valiosos em tumbas, e a prática continua, o que encoraja os ladrões de hoje. Coisas de conveniência como itens de roupas, ferramentas, mesas, cadeiras, perfumes, barcos, animais de estimação empalhados, armas, lampiões, jóias, dinheiro e outros objetos de valor figuram entre as descobertas arqueológicas. Algumas dessas coisas pessoais eram, sem dúvida, apenas simbólicas ou sentimentais, como a corrente que foi colocada no pescoço de minha avó pois havia sido um presente especial de sua nora. Algumas coisas, contudo, eram consideradas potencialmente úteis para a alma em sua viagem ao outro lado, embora ninguém explique como a alma da pessoa morta seria capaz de carregar os objetos. Isso me lembra de uma história sobre o homem que transformou toda sua fortuna em cheques de viagem antes de morrer para que pudesse levar consigo toda sua riqueza na viagem ao além. Um homem fez uma observação "Espero que ele tenha colocado seus cheques na denominação certa!". Produtos alimentícios eram deixados em tumbas como ofertas para os deuses, que receberiam a alma da pessoa morta, ou como alimento para a alma. Os egípcios exageravam nessa prática, como demonstram as tombas extraordinariamente ricas de Tutancamom e da rainha Shubade. V. A Esperança no Além Quando um homem deita seu corpo e voa ao mundo da luz, ele fica feliz, sendo que o peso foi deixado para trás, o espírito está livre, e a verdadeira riqueza está à frente. Recentemente, assisti na TV ao final de um funeral que estava sendo realizado por um grupo religioso. A cena repulsiva do caixão sendo baixado ao túmulo para ser colocado na cova foi mostrada. Exatamente quando isso acontecia, a voz do homem que conduzia o ritual, soou forte, dizendo: "Ele não está morto. Nós o veremos novamente". Essa afirmação de fé, vinda como veio, no momento mais escuro da vida de várias das pessoas presentes, tirou o ardor da morte (I Cor. 15.55), pois sabemos que isso é verdade. Ver os artigos a seguir na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia: Imortalidade (vários artigos); Alma; Experiências Perto da Morte.

TÚMULO DE ABSALÃO Há um notável monumento que tem esse nome, no vale de Josafá, fora de Jerusalém. Fica perto da ponte mais baixa sobre o Cédron, um bloco quadrado isolado, escavado na rocha. A base do monumento tem cerca de oito metros de lado, em quadrado, sendo ornamentado

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Túmulo com pedra que sela, encontrado

perto de Quiriate·Jearim

Cortesia, Matson Photo Service

Ossuário judaico

Pinturas nas paredes de sepulcros, c. 1450 A. C. - Cortesia, The Biblical Arc heologist

Nômades fazendo tijolos, c. 1900 A . C. Cortesia, The Biblical Archeologist

TÚMULO DE GORDON - TÚNICA em cada lado por duas colunas e por duas meias-colunas em estilo jônico. Tem cerca de seis metros de altura. Os estudiosos modernos não crêem que o monumento tenha algo a ver com Absalão. (S) TÚMULO DE GORDON Ninguém sabe com certeza onde Jesus foi sepultado. mas um local favorito. para os estudiosos do assunto. é o chamado Túmulo de Gordon. Mal. 27:60: e depositou-o no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha; e, rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro. retirou-se. " ... depositou-o no seu túmulo novo ... " Esse túmulo era para uso próprio de José de Arimatéia e sua família, mas ele o cedeu ao corpo de Jesus. Ver detalhes nas notas no NTI sobre vs. 54. Alguns arqueólogos creditados acreditam que esse túmulo tem sido identificado. E atualmente denominado de Túmulo de Gordon. Os pormenores a seu respeito são os seguintes: Assim cumpriu-se a profecia que predisse que o Messias estaria -com o rico em sua morte* (ver Is. 53:9). O cumprimento dessa profecia seria extremamente improvável até o momento mesmo do aparecimento de José de Arimatéia, o qual sem dúvida não tinha a menor idéia de que estava cumprindo uma profecia. Muitos arqueólogos de renome acreditam que o túmulo de Gordon, localizado perto do muro norte de Jerusalém. próximo da elevação chamada colina do Crânio, é o sepulcro que pertencia a José de Arimatéia. Seu nome se deriva do general Christian Gordon, o qual. em 1881. descobriu o sepulcro. Trata-se de um espaço de 4,20m x 3.00m x 2.00m de altura. Dois sepulcros foram preparados dentro desse recinto. O sepulcro da frente parece jamais ter sido utilizado. mas existem indicações de que o outro o foi. embora não restem quaisquer traços de remanescença mortais. por mais que se fizessem testes. Eusébio revela-nos que o imperador romano Adriano edificou um santuário por cima do túmulo onde Jesus fora sepultado (135 d.C.). Constantino. primeiro imperador cristão. embora nominalmente. destruiu esse templo (330 d.C.). O general Gordon, em meio aos destroços que retirou do sítio. encontrou um santuário de pedra, em honra a Vênus. Também encontrou vestígios de uma construção que fora erigida sobre o sepulcro. Acima da entrada do mesmo, foram encontrados dois nichos. característicos dos templos dedicados a Vênus. Em uma abóbada continua ao túmulo. tocando-o no subsolo foi encontrada a seguinte inscrição: " ... sepultado perto de seu Senhor". Dentro do próprio sepulcro, sobre o lugar de descanso do corpo. foi burilada uma âncora na parede de pedra. A âncora era o símbolo primitivo dos cristãos. Na secção do sepulcro onde presumivelmente Jesus fora deixado. a parede onde ficariam os pés do corpo fora aprofundada um pouco mais do que se fizera originalmente. De conformidade com a tradição. Jesus era alto. ao passo que José de Arimatéia era baixo e por isso tomou-se necessário o alongamento. A localização desse túmulo. em relação a Jerusalém e aos demais fatos. parece confirmar que esse sepulcro realmente foi o lugar onde Jesus foi sepultado. Os túmulos familiares usualmente ficavam fora dos muros das cidades. e tinham a forma geral de câmaras. com nichos em ambos os lados. onde os corpos eram depositados. Poderiam ser cavernas naturais ou escavadas na rocha, como no caso do túmulo de José de Arimatéia. A grande pedra que foi rolada para a porta do túmulo. provavelmente tinha forma de disco. podendo ser rolada para diante e para trás. dando acesso ao túmulo. Bons

exemplos desse tipo de túmulo ainda podem ser vistos em Jerusalém. como o túmulo de Gordon, também chamado de Túmulo do Jardim. ou os "túmulos dos reis". TÚMULO DE RAQUEL Ver Raquel, Túmulo de. TUNG CHUNG-SHU Suas datas foram 179-104 a.C. Foi um dos mais importantes filósofos chineses. Ensinou na Universidade Nacional. Era reconhecido como um erudito de primeira categoria. Era confucionista convicto. Solicitou a ajuda do imperador. ao enfrentar dificuldades financeiras. Foi um confucionista yin yang (ver sobre Yzn e Yang) cujos esforços deram ao confucionismo a supremacia exclusiva na China (o que foi reconhecido pelo imperador Wu. em 136 a.C.) Esse poder do confucionismo na China prolongou-se até 1905 a.C. Suas idéias foram favorecidas por governantes civis quase até os nossos próprios dias. e nunca, realmente. perderam a sua importância.

Idéias: 1. A bondade é. no homem. uma semente inata que só precisa ser cultivada para florescer. Seus sentimentos são potencialmente maus, e precisam ser controlados. Entre esses sentimentos temos vícios como a ganância, Esses vicias pertencem ao yin, ao passo que a boa natureza humana concordaria com o princípio do yang. Por isso, o yang precisa controlar o yin. 2. Pessoas superiores são um governante. um pai. um marido. Aqueles que devem obedecer são súditos. filhos. esposas. Aqueles pertencem ao yang; e estes últimos, ao yin. Um governante precisa receber do céu o seu mandato. pois o céu é a origem do yang e do yin c6smicos. 3. A bondade é superior à natureza humana; e um sábio é maior que a bondade. Um homem precisa receber uma boa educação. se quiser tomar-se bom. Os princípios humanos. bem como uma vida caracterizada pela lei do amor, resultam na bondade. Mas o amor precisa ser exercido em meio à sabedoria, e não meramente em meio aos sentimentos. A sabedoria é a correta manipulação do conhecimento. A sabedoria traduz o conhecimento em ações, com seus resultados práticos conseqüentes. 4. O homem é um microcosmo do macrocosmo da Natureza. Ao analisar os cinco elementos básicos (para ele a madeira. o fogo. a terra, o metal e a água). ele estabeleceu várias comparações que serviram para ilustrar a sua doutrina. Escritos: Gemas Coruscantes da Primavera; Anais da Primavera e do Outono. Ver o artigo geral intitulado Confúcio, Confucionismo. TÚNICA Devemos pensar em uma palavra hebraica. outra aramaica, e outra grega, neste verbete, a saber: 1. Kethoneth, "túnica". Palavra hebraica que ocorre por vinte e nove vezes. conforme,se vê. para exemplificar. em Gên. 3:21; 37:3,23.31-33; Exo. 28:4.39.40; 29:5.8; 39:27; 40:14; Lev. 8:7.13; 10:5; 16:4; 11 Sam. 15:32; 16 30:18; Cano 5:1 2. Petesh, palavra aramaica usada somente por urna vez, em Dan. 3 :21. Essa palavra aramaica significa "veste fina superior". mas a nossa versão portuguesa também a traduz por "túnica". 3. Chitôn, "túnica". Esse vocábulo grego é utilizado por dez vezes: Mat. 5:40; 10: 10; Mar. 6:9; 14:63; Luc, 3:11; 6:29; 93; João 19:23; Atos 9:39 e Jud. 23. Ver também sobre Vestes.

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," \ :~" EXTERIOR DO TÚMULO DO JARDIM - Cortesia. Mataon Photo Service

TURBANTE - TUTOR TURBANTE Três palavras estão envolvidas nesse verbete, a saber: 1. Peer; uma palavra de provável origem egípcia. que apontava para mais do que um simples turbante feito de pano enrolado. Aparece em Isa. 3:20, (onde nossa versão portuguesa diz "coroa"; Isa. 61: 10; Eze. 24: 17,23; 44: 18). E óbvia a falta de coerência nas versões e traduções em geral, quanto à tradução desse termo. No entanto, fica claro que essa peça de vestuário, usada na cabeça. era um sinal de regozijo ou de solenidade, como adorno de sacerdotes e de noivos. Alguns estudiosos pensam que as palavras de Eze. 16: 10 " ...te cobri de seda" se referem a um desses turbantes, feito de seda. 2. Mitsnepheth, uma palavra hebraica. que ocorre por doze vezes: Eze. 21 :26; Exo. 28:4,37,39; 29:6; 39:28,31 ; Lev. 8:9; 16:4. Essa palavra, geralmente, é traduzida por "mitra", em nossa versão portuguesa. Tal palavra, no hebraico, deriva-se lo verbo "enrolar", o que é característico. 3. Tsaniph, uma palavra hebraica empregada por cinco vezes: Isa. 3:23; 62:3; Jó 29:14; Zac. 3:5 (duas vezes). Essa palavra também é derivada do verbo hebraico que significa "enrolar".

2. Tutmés Il, que teve um casamento distinto (sua mulher era uma meia-irmã sual), mas uma carreira como faraó totalmente indistinta, não deixando nenhum grande legado. Não era incomum para um homem casar-se com uma irmã sua no Egito, e alguns reis e altas autoridades o faziam pensando que, sendo divinos, para preservar a pureza deveriam casar com familiares. Famílias reais, alegadamente, tinham origens divinas. 3. Tutmés III. O poder real até sua morte foi a mulher meia-irmã de Tutmés 11, que era chamada de Hatsepsute. Uma vez que ela morreu, Tutmés 11Imostrou-se um hábil líder e comandante militar que se envolveu na Palestina e na Síria com grande sucesso. Ele já foi chamado de o "pai do império egípcio" e, quando não estava matando, para não ser morto, era hábil construtor. 4. Tutmés IV foi o último dos faraós com esse nome e assim acabou a 188 dinastia. Nada especial se sabe sobre esse homem, de forma que a dinastia terminou um tanto sem glória. A Bíblia não menciona nenhum desses reis por nome, mas alguns estudiosos acham que Tutmés 11I foi o faraó da opressão de Israel no Egito, antes de Moisés retirar seu povo de lá.

TURIM, SUDÁRIO DE Ver sobre Sudário de Cristo.

TUTOR No grego, epltropos, uma palavra usada por três vezes no Novo Testamento: Mal. 20:8; Luc. 8:3 e Gál. 4:2. Em nossa versão portuguesa, em cada uma dessas três passagens, o vocábulo grego é traduzido de modo diferente, respectivamente por "administrador" e "tutor". Talvez seja assim porque a palavra grega é muito lata em seu sentido, podendo indicar qualquer pessoa incubida de uma missão ou tarefa. Consideremos estes pontos: 1. Pode estar em foco um "administrador", conforme se vê em Mal. 20:8, e também em Josefo (Anti. 15:406). 2. Josefo (Anti. 15:406), por igual modo, usa o termo grego com o sentido de "governador". 3. Um guardião ou tutor. Esse é o sentido que se vê em Tucidides (2.80,6), em 11 Macabeus 11: 1; 112; 14:2 e Gál. 4:2. Lísias era epitropos sob Antíoco. Paulo usou essa palavra grega em GáI. 4:2, a fim de referir-se a alguém que tinha a responsabilidade de ensinar ou treinar uma criança. Dai a tradução "tutor", que aparece em nossa versão portuguesa. Aparentemente, a palavra é usada como sinônimo de pedagogós que aparece em GáI. 3:24, onde somos ensinados que a lei agiu como guia. professor ou aio, a fim de levá-los, finalmente, aos pés de Cristo. Essa palavra grega, epitropos, era comumente empregada para indicar os tutores, que substituíam os pais dos órfãos. Sob as leis gregas, romanas e judaicas, um menino ficava sob a autoridade de seu tutor enquanto fosse menor de idade; mas o tutor só tinha autoridade sobre uma criança enquanto ela não atingisse a idade adulta. Os mordomos (no grego, oikonomoi) eram responsáveis pelas questões financeiras de alguém, até que esse alguém atingisse os 25 anos de idade. Quando uma criança assim atingisse a maioridade, ficava livre dessa autoridade. Se seu pai tivesse falecido, então, recebia a herança. O Espírito de Deus é o grande tutor ou guardião das almas, conduzindo os homens através de muitas vicissitudes, levando-os a aprender com as suas experiências, dando-lhes oportunidade de ouvirem a mensagem espiritual, aplicando pressões sobre eles, aplicando-lhes os efeitos da missão de Cristo, tanto na terra como após a morte biológica segundo nos mostra 1 Pedro 4:6, devido à grande misericórdia de Deus. A palavra latina tutor era um termo romano legal para

TURNOS DOS SACERDOTES E LEVITAS Por causada grande multiplicação do número de sacerdotes, Davi pensou ser conveniente dividi-los em vinte e quatro turnos, com um presidente para cadaturno. Então os sacerdotes serviam ao altar em turnos. Cada turno recebeu o nome do membro mais distinto da família de onde foi tomado. Ver I Crô, 24:1-19. Esses sacerdotes deveriam servir a partir dos vinte anos de idade (1 Crô, 23:6,27). Dezesseis ordens foram dadas aos descendentes de Eleazar, e oito aos descendentes de Itamar, seu irmão. Nos períodos festivos, todos os turnos ativavam-se no sacerdócio. Em outras ocasiões, cada turno ministrava pelo espaço de uma semana; e havia mudança de turno no sábado antes do sacrificio vespertino (lI Reis 11:5,9). Qual turno deveria servir, em ocasiões específicas, era determinado pelo lançamento de sortes. O oitavo desses turnos coube à família de Abias, à cuja família pertencia Zacarias, pai de João Batista (Luc. 1:5). TURQUESA Um mineral usado najoalheria, de cor azul esverdeado ou cinza esverdeado. Basicamente, trata-se de um fosfato hidratado de alumínio e cobre, bastante quebradiço, e com uma taxa de dureza similar à do ferro. A turquesa é um mineral de origem secundária, que ocorre em veios finos, sob a forma de depósitos interrompidos, ou sob a forma de incrustações em emendas de rochas que passaram por profundas alterações químicas. A turquesa oriental, que tem grande valor, ocorre em rochas muito quebradas, j untamente com óxidos ferrosos secundários, na Pérsia. Também ocorre na península do Sinai, no wady Maghara e ao sul de Samarcanda, no Turquestão. TUTMÉS O nome egípcio é dhwty-ms, que significa "o (deus) Tote nasceu". Quatro faraós egípcios eram chamados assim: 1. Tutmés I (18 8 dinastia), filho de Tmenohotepe I, conhecido por suas campanhas militares de êxito e por algumas construções.

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TYNDALE indicar o guardião de algum menor de idade, que ainda não tinha chegado à idade suficiente para cuidar de sua própria vida. Essa palavra passou para o português exatamente com esse sentido. O termo grego epitropos, entretanto, também aparece em Mal. 20:8 (em nossa versão portuguesa, "administrador", e em Luc. 8:3 em nossa versão portuguesa, "procurador"), porquanto o termo grego tinha um sentido mais lato do que o termo latino tutor. TYNDALE, WILLIAM Suas datas foram 1495-1536. Foi reformador inglês. Traduziu a Bíblia para o idioma inglês. Nasceu perto da fronteira com o País de Gales. Morreu nas proximidades de Bruxelas, na Bélgica. Formou-se como Mestre em Artes, pela Universidade de Oxford, e tornou-se mestre-escola em Cambridge, Seu ideal era colocar O Novo Testamento na Inglaterra em números tais que "todo menino de arado" pudesse lê-lo e se tornasse mais profundo conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Procurou arrastar o bispo de Londres em apoio ao seu projeto; mas esse bispo, embora fosse um humanista, também era habilidoso político, e pôde prever o conflito que tal projeto provocaria. Portanto, não prestou cooperação a Tyndale. Ademais, Tyndale estava sob a influência de Martinho Lutero, pelo que era uma figura que inspirava suspeita. Entrementes, ele deu inicio à sua tradução. Surgiram dificuldades, e ele foi a Hamburgo, e então a Wittemburgue, para fazer estudos mais avançados. A impressão de seu Novo Testamento inglês começou em 1525, mas João Dobemeck, antigo deão da Igreja de Santa Maria, em Frankfurt am Main, conseguiu fazer a impressão estacar. E foi assim que a Igreja impediu a

publicação do Novo Testamento! Além disso, Tyndale foi obrigado a fugir para Worms. Mas foi ali que foram impressas seis mil cópias de sua tradução. Foi lançada uma segunda edição, em 1534, e uma terceira edição, no ano seguinte. Cópias de sua tradução foram contrabandeadas para a Inglaterra. Mas o arcebispo Warham e o bispo Tonstall ordenaram que essas cópias fossem confiscadas e queimadas! E assim a Igreja queimou a Bíblia! Ato contínuo, Tyndale fugiu para Marlburgo, onde recebeu a proteção de oficiais. Tyndale chegou a defender idéias de Zwínglio acerca da eucaristia, e publicou várias obras teológicas. Tyndale viveu em meio a controvérsias, inclusive com Sir Thomas More. Tyndale, algum tempo depois, publicou uma tradução do Pentateuco. Mas, em maio de 1535, foi capturado em Antuérpia por oficiais de Henrique VIII, e foi encarcerado em Vilvorde, na Bélgica. Thomas Cromwell procurou salvar-lhe a vida, mas esses esforços deram em nada Foi julgado sob a acusação de ser herege, foi condenado e sua "consagração foi-lhe suspensa. Foi então estrangulado, e seu corpo foi queimado na fogueira, em Vilvorde. Suas últimas palavras foram uma oração: "Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra". A Igreja havia acabado de fazer outra vítima. Grande foi a influência de Tyndale sobre a literatura inglesa. Suas traduções foram usadas e incorporadas, pelo menos em parte, na Grande Bíblia, de Cranmer, em 1538; e então na King James Version, passando daí para as várias versões revisadas que se seguiram. Calcula-se que cerca de sessenta por cento do Novo Testamento inglês são provenientes do trabalho de Tyndale. Além dessa contribuição decisiva, a Parker Society publicou seus escritos coligidos, em três volumes.

••• • •• •••

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1. Fol'IDM ADtIpa

fenício (semítico), 1000 A.C.

grego ocidental, 800 A.C.

y rvo

2. Na. ManalCdtol

y

latino, 50 D.C.

v

Greao- do Novo Testamento

3. Fol'IDM MocIema

U Uuu

u

Uuu

UUau

Uu

4. HIstória U é a vigésima primeira letra do albabeto português (ou a vigésima, se deixarmos de lado o K). Historicamente, deriva-se da letra semitica waw, «gancho". As letras F, V, Y e W também se derivam dessa consoante semítica. No grego, a letra teve a sua forma modificada, sendo chamada âpsilon, uma vogal com o som de «U". OS romanos alteraram sua forma para «V", mas preservando-Ihe o som de «u". Todavia, a letra consoante W também tinha o som «u" para os latinos. Durante séculos, a letra romana «V" teve ambos os sons, mas no século X D.C., passaram a ser distinguidas as letras maiúsculas U e V. Por volta de 1500, surgiu a letra minúscula u, como letra separada do v. Essas duas .letras, V e U, do latim passaram para muitos idiomas modernos.

.

S. Usos e Sbnbolos Qualquer formato em U pode ser chamado pelo nome dessa letra, como uma curva em U, nas rodovias. U é o simbolo do Codex 030, que data do século IX D.C. Ver o artigo separado a respeito, em U.

Caligrafia de Darrell Steven Champlin

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;ti) Reprodução

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Darrell Steven Champlin

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Essa é uma abreviação quê representa o Códex Nanianus, um manuscrito grego dos séculos IX ou X, que contém os quatro evangelhos. Acha-se atualmente na Biblioteca de São Marcos, em Veneza, na Itália. Contém duzentas e noventa e uma páginas em velino, com letras maiúsculas douradas e outras cores, com propósitos decorativos. Também contém vários desenhos ilustrativos. Munter pôs em ordem esse manuscrito, em 1840; Tischendorf repetiu a tarefa em 1846; e TragelIes o fez em 1846. O manuscrito pertence à Família E. O Dr. Jacob Geerlings, meu professor e amigo, que ensinava na Universidade de Utah, fez um detalhado estudo sobre a Família E, em Marcos, Lucas e João, e eu fiz a mesma coisa quanto ao evangelho de Mateus. Minha publicação saiu em 1966 (Studies and Documents, Sal t Lake City, impresso pela imprensa da Universidade de Utah), e as do Dr. Geerlings foram publicadas no ano seguinte. A Família é um subgrupo de manuscritos relacionados que pertencem à tradição bizantina padrão (antiga). Nosso principal propósito foi o de reconstituir o arquétipo desse pequeno grupo de manuscritos (cerca de doze membros), o que foi feito com elevado grau de precisão.

UCAL No hebraico, "sou forte". - De acordo com certas versões (mas não em nossa versão portuguesa), Ucal e Itiel seriam filhos, discípulos ou contemporâneos de Agur, aos quais este teria dirigido suas declarações oraculares (Pro. 30: 1). O nome Ucal não se encontra em nenhum outro trecho do Antigo Testamento. Já o nome Itiel aparece em Neemias 11:7, como um dos filhos de Jesaías, um benjamita. Nem a Septuaginta, nem a Vulgata Latina traduzem essas palavras-Ucal e Itiel-como nomes próprios. Por causa dessas e de outras considerações, alguns estudiosos eliminam, nesse trecho do livro de Provérbios, Ucal e Itiel como nomes próprios. Antes, rearranjam o texto hebraico, sem alterar nenhuma consoante, resultando naquilo que encontramos em nossa versão portuguesa, que acompanha versões estrangeiras, no tocante às três últimas palavras do texto hebraico: "Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto".

UEL No hebraico, "vontade de Deus". Esse homem era filho (descendente) de Bani, da classe sacerdotal, e que se casara com uma mulher estrangeira na Babilônia. Terminado o exílio, de volta à Terra Santa, precisou separar-se dela (Esd. 10:34). No trecho paralelo de I Esdras 9:34, ele é chamado Joel. Viveu por volta de 445 a.C. UFAZ Uma palavra que, segundo muitos estudiosos, é uma forma corrompida de Ofir (vide). Trata-se de um nome que aparece por duas vezes no Antigo Testamento: Jer. 10:9 e Dan. 10:5. Dali procedia ouro fino, certamente de origem aluvial. Um certo estudioso, D.J. Wiseman, pesquisando a etimologia dessa palavra, sugeriu que o termo nem mesmo indica um local geográfico, mas, antes, seria uma palavra técnica para indicar ouro refinado (ver NDB, pág. 1304). Uma outra sugestão é que essa palavra é uma corruptela de Ofir; e, de fato, a Hexapla

síria diz Ofir, na primeira daquelas duas referências. Com base nisso, pode-se deduzir que a questão está longe de ficar inteiramente resolvida, permanecendo algumas dúvidas sobre o significado da palavra. UGARITE I. Identificação 11. Descobrimento IH. Os Tabletes de Ugarite IV Revelações do Idioma V. Religião I. Identificaçllo

Essa era uma antiga localidade da Fenícia, a moderna Ras Shamra, importante porto do norte da Síria, cerca de 90 km ao leste de Chipre. Essa antiga baía era chamada de Lukos Limen (o porto branco) pelos gregos.' No início, era um centro de comércio na rota do Chipre à Mesopotâmia. Rigorosamente falando, a principal cidade na região localizava-se em Ras Sharnra, mas havia outras habitações na área. Os tabletes encontrados contribuem para nosso conhecimento sobre a cultura da área, seu idioma, política, sistema jurídico, religião etc. 11. Descobrimento Em 1928, um fazendeiro sírio acidentalmente descobriu as tumbas na região costeira do Mediterrâneo, na área diretamente oposta à ponta nordeste de Chipre. Os arqueólogos imediatamente suspeitaram que poderia haver um importante sítio da antigüidade esperando ser descoberto. As primeiras escavações em Ras Shamra ocorreram entre 1929 e 1939, e logo uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século 20 veio à tona. Evidências surgidas indicaram que o local havia sido habitado em períodos tão remotos quanto o quinto e o sexto milênio antes de Cristo. Cinco diferentes níveis de ocupação foram identificados: a. neolítico; b. calcolítico; c. uma cidade cobriu a área do nível 3; o nível 4 foi chamado de Strata II e era pré-ugarítico; o nível 5 foi chamado de Strata I e aquela foi a época do florescimento da cultura ugarítica e o nível do qual se originaram os famosos Tabletes de Ugarite, ou de Ras Shamra. 111. Os Tabletes de Ugarite

Centenas de tabletes de argila foram descobertos em Ras Sharnra durante o período de uma década inteira de escavações, iniciando em 1929. A maioria estava registrada em uma escrita alfabética de aparência cuneiforrne que foi decifrada com sucesso sem a ajuda de um texto bilíngüe, sendo que o idioma era parecido com os idiomas cananeu, fenício e hebraico, do norte de Canaã. Os tabletes cobrem muitas áreas de conhecimento e cultura como épicos, textos litúrgicos, religiosos, mitologia e informações gerais sobre a cultura da época, em torno de 1400 a.c. Os tabletes têm grande valor para o entendimento dos povos ugaríticos da época e seus vizinhos, idioma, cultura, crenças religiosas, leis e ocupações, mitologias etc. Os épicos incluiam os relativos ao rei Niqmade 11, que pagou tributos ao rei hitita Supiluliumas (1375-1430 a.c.); o épico relacionado a Baal descreve suas guerras contra outros deuses como Yam (o mar) e contra Mote (a morte). Ele buscou liderança suprema nos céus e na terra. Nesse épico, são vistas muitas noções religiosas, algumas das quais fazem paralelos às idéias e conceitos religiosos dos hebreus. O épico Querete fornece detalhes sobre um rei que conseguiu ser próspero e divino ao

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UGARII'E mesmo tempo. Em uma época de medo, quando o rei temia por sua vida (ele havia perdido suas mulheres e não tinha herdeiro homem), EI, o deus principal, apareceu e deu-lhe o conforto e as instruções necessárias para continuar sua vida. O homem então liderou campanhas militares de sucesso, conseguiu por mulher uma princesa, a filha de outro rei, e teve um herdeiro, que não foi, a propósito, o mais velho de seus filhos, sendo que o mais velho foi rejeitado, como acontece na história hebraica com Efraim, que recebeu a parte do leão da bênção em vez de seu irmão, Manassés, Gen. 48.24. O épico relacionado ao rei Danei (uma variante do nome Daniel) informanos como o filho daquele homem acidentalmente conseguiu um arco que de fato pertencia à deusa Anate. Ela apareceu e prometeu ao filho de Danei grandes riquezas, imortalidade e fama se ele entregasse o arco a ela. Ele deixou de reconhecê-la como deusa e recusou-se a entregar o arco, considerando suas promessas inúteis. Não desistindo, a deusa empregou um homem rude e violento para ir buscar o arco. Yatpun, o homem mau, bateu tão violentamente no filho de Daniel que, em vez de simplesmente derrubálo, o matou. A história pára aí, pois os tabletes que contavam o restante dela foram perdidos. Isso deixa à nossa imaginação a continuação de como o relato seguiria as veredas da vingança contra o homem mau por sua empregadora, a deusa. De maior interesse para os estudantes da Bíblia são as idéias sobre religião fornecida pelos tabletes, as quais resumo sob a seção V. IV. Revelações do Idioma O idioma dos Tabletes de Ugarite é o semita, desconhecido até o momento dessa descoberta. Ele foi facilmente decifrado por ser próximo à língua cananéia do norte da Palestina, e aos idiomas fenício, hebraico e aramaico. Esse grupo de idiomas pertence à família chamada de Semita do Noroeste. Foi desse ramo do idioma semita que surgiu nosso alfabeto. Ver o artigo separado sobre Alfabeto. Muitos usos e idéias hebraicas têm sido ilustrados a partir dos tabletes. Algumas porções da gramática e certas expressões hebraicas receberam iluminação. O idioma dos tabletes e o hebraico aparentemente compartilhavam as mesmas estruturas poéticas e dispositivos estilísticos. Algumas passagens anteriormente difíceis da Bíblia hebraica foram simplificadas através da comparação com o idioma dos tabletes. Um exemplo notável: a palavra bamot, que de modo geral significa "lugares altos" (valas sagradas nos montes), também podem significar as "costas" de um animal ou pessoa, mas isso não era sabido até a descoberta dos tabletes. Assim, em Deu. 33.29, que fala sobre os inimigos de Israel, "lugares altos" (hamot) provavelmente deve ser compreendido como esses invasores que andam em suas "costas". Há um número razoavelmente grande de outros auxílios no vocabulário que surgiram dessa descoberta. V. Religião Primeiro, temos de reconhecer que a antiga sustentação da religião semita passou por desenvolvimentos em cada cultura, de forma que o que queria se dizer por certo nome de um deus, ou idéia religiosa, com o passar do tempo, veio a significar coisas diferentes. E/ (o Poder) é um nome ugarítico comum para o principal deus dessa literatura, e um dos nomes hebraicos favoritos para Deus, como Elohim

(a forma plural). Então havia muitas combinações de El tanto em nomes divinos quanto humanos. Exemplos: Daniel significa "Deus é meu juiz"; Rafael significa curador divtno; outros nomes de anjos também incorporam o el, como Gabriel, Uriel, Miguel, Izidquiel, Hanael e Quefarel, cada um dizendo algo diferente sobre El. Gabriel, por exemplo, significa "homem de Deus". Claro, o EI dos tabletes e Elo da Bíblia Hebraica são diferentes: o primeiro é o deus-chefe de um panteão; o EI hebraico é o Deus único. Os deuses dos tabletes muitas vezes são personificações das coisas que o povo ugarítico temia ou admirava, como Mote (a morte), Yam (o mar) que assumem status divino nas mitologias desse povo. Baal representa a "vida" e, assim, está em conflito com Mote por supremacia. Na Bíblia, a morte é personificada, mas não ganha a estatura de um deus, apenas de uma circunstância que é comum à vida e com a qual se deve lidar, finalmente, para que a vida possa ser alcançada para o bem e para a vida eterna (I Cor. 15.26, 55; Apo. 20.14). Os deuses dos tabletes são representados em termos humanos, tendo habilidades e profissões parecidas com as dos humanos, mas também poderes sobre-humanos de destruição e bênção. Hadade ou Baal Hadade é o poder que causa as tempestades; Yam causa a fúria do oceano; Ktar-wa-Khasis era um deus artesão que supria os outros com ferramentas úteis para o prazer ou para guerrear com outros poderes divinos. Yahweh, na Bíblia, é o General dos Exércitos, portanto às vezes é retratado como um deus da guerra, o que é verdade no caso das divindades ugarlticas. Yahweh também luta contra as forças caóticas da natureza como as enchentes (Sal. 29.10; 93.4~ 98.8), ou as águas poderosas (Sal. 29.3~ 77.19; Hab. 3.15). Então, o Monstro do Mar, o Levita (ver o artigo) não é concorrência para Yahweh, ou para aqueles favorecidos por ele. O nome ugarítico para ele é LTN. Teofanias (ver a respeito) de tempestades são comuns às duas culturas. Talvez a metáfora de Isaías sobre a Estrela do Dia (lsa. 14.12-15) seja uma reflexão de antigos símbolos semitas ou entidades divinas. Nos mitos ugaríti cos, a estrela cadente é uma personagem demoníaca, a deidade caída Athtar, por exemplo, tentou roubar o trono de Baal mas foi derrubado, algo semelhante à história de Lúcifer, e então Satã do Novo Testamento (Luc. 10.18). Dou ilustrações suficientes para provar o ponto de que havia um histórico semita comum para os tabletes do Ugarite e partes da Bíblia hebraica, mas os tratamentos resultantes são diferentes, pois estamos lidando com culturas diversas que desenvolveram linhas muito diferentes. O monoteísmo hebreu (ver a respeito) transforma as forças de deuses menores em forças naturais, em vez de entidades divinas ou demoníacas. Esses tabletes, contudo, demonstram que as idéias dos hebreus não se desenvolveram em um vácuo. Havia influências culturais que eram tratadas de formas diferentes do que o que era feito por outras culturas. Tudo isso é para não esquecer da inspiração, que é um fato da vida humana e mais amplamente difundido do que nos atrevemos a acreditar. Há "poderes lá em cima" que podem e de fato inspiram a mente dos homens em todos os campos de conhecimento, não meramente o teológico ou religioso. É provável que muitas de nossas melhores artes, composições musicais e idéias científicas e invenções têm sido auxiliadas pela

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ULA-ÚLTIMODIADAFESTA inspiração divina. Um pouco disso opera, naturalmente, através de agentes de Deus, como os anjos, um tipo de palavra geral que significa poderes que não podemos ver com os olhos físicos, mas que são reais e às vezes se manifestam de alguma forma visível. Ver Inspiração e Revelação na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia. ULA No hebraico, "carga". Era um homem aserita, pai de Ara, Haniel e Rizia. Seu nome aparece somente em 1 Crô. 7:39. Ele deve ter vivido por volta de 1452 a.C. ULAI Na Septuaginta, Oúlai. Esse era um rio, ou então, mais provavelmente, um canal artificial de irrigação, perto de Susa, a capital da porção sudoeste da Pérsia, onde Daniel ouviu o som da voz de um homem, em uma visão (Dan. 8:2,16). Atualmente, é muito difícil identificar esse lugar, devido às modificações topográficas, que podem ser muito rápidas e drásticas em terrenos de aluvião. Há estudiosos que sugerem que o atual alto curso do Kherlhah e do baixo curso do Karun, nos tempos antigos, formavam uma única correnteza, que desaguava em um delta, no alto do golfo Pérsico. O Ulai aparece em gravuras em alto relevo representando o ataque desfechado pelas tropas de Assurbanipal contra Susa, em 640 a.C. Com um sentimento sangüinário, próprio dos antigos monarcas sírios, esse rei afirma que avermelhou o rio Ulai com tanto sangue de seus inimigos mortos. O nome desse rio, nos tempos clássicos, era Eulaeus. ULAMA No árabe, "sábio", "erudito ". O plural dessa palavra é afim. A palavra era usada como um substantivo coletivo para indicar os eruditos nas tradições e na lei canônica islâmica. O colégio dos dirigentes compõe-se dos imams, "sacerdotes", muftis; "expositores" e cadis, "juízes". E, coletivamente, são conhecidos como a ulama. ULÃO No hebraico, "primeiro", "líder". Alguns estudiosos também pensam no sentido de "solitário". Há dois homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento, a saber: 1. Um homem manassita, cabeça de um clã dessa tribo (I Crô. 7:16,17). Era filho de Perez e irmão de Requém. Ele viveu em tomo de 1400 a.C. 2. Um dos três filhos de Ezeque, que era cabeça de uma família benjamita, descendente de Saul através de Jônatas (I Crô, 8:39,40). O último versiculo ajunta que Ezeque teve muitos filhos valentes, ótimos arqueiros, os quais também tiveram muitos filhos, em um total de cento e cinqüenta. O trecho de 11 Crô. 14:8 também menciona a existência de benjamitas arqueiros. Esse Ulão viveu por volta de 840 a.e. ULCEROSO No hebraico, yabbal. Esse vocábulo aparece somente por uma vez em todo o Antigo Testamento, em Levitico 22:22, onde lemos: "O cego, ou aleijado, ou mutilado, ou ulceroso" "não os oferecereis ao Senhor e deles não poreis oferta queimada ao Senhor sobre o altar". A úlcera, normalmente, é um tumor cutâneo

benigno, mas O contexto daquela passagem refere-se a algum animal que estivesse com uma úlcera que supurasse, talvez uma forma de antraz. É que os animais oferecidos em sacrifício, ao Senhor Deus, não podiam ser defeituosos em nenhum sentido. ULFILAS Suas datas "aproximadas foram 311 - 383 d.e. Ele foi o apóstolo cristão enviado aos gados (os antigos povos germânicos; na Europa). Ele mesmo era gado, e nasceu próximo ao rio Danúbio. Ainda bem jovem, foi enviado a Constantinopla, onde se tornou um cristão de convicções arianas. Ver sobre o Arianismo. Quando estava com cerca de trinta anos de idade, foi enviado como missionário, com a posição de bispo, e ocupou-se em um ministério de evangelização e ensino por mais de quarenta anos, entre os gados. Ele e seus convertidos foram perseguidos pelas autoridades pagãs, e precisou fugir para o outro lado do rio Danúbio. Então Ulfilas e seus convertidos estabeleceram uma comunidade cristã, que serviu de veiculo para a continuação da fé e dos labores deles. Um importante aspecto do ministério de Ulfilas foi a tradução das Escrituras Sagradas para o gótico, a qual veio a ser uma das importantes versões antigas da Biblia. Essa tradução fez o gótico tomar-se um idioma literário. ÚLTIMA CEIA Ver sobre Ceia do Senhor. ÚLTIMAS SITUAÇÕES Ver o artigo geral sobre Jaspers. Ele designava de "situações últimas" aquelas que determinam o destino, a liberdade e o ser histórico de um homem. Entre as maiores "situações últimas" estariam o nascimento, a morte, os sofrimentos, os conflitos e o senso de culpa. Ver o sétimo ponto do artigo acerca dele, quanto a detalhes sobre esse conceito. ÚLTIMO, O GRANDE Essa expressão era usada pelo filósofo chinês, Chou Tun-I, para indicar o Ser Supremo, ou Deus. Ver o artigo a respeito dele, mormente o seu primeiro ponto. ÚLTIMO DIA DA FESTA João 7:37: Ora, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Ver João 7:37-52 O último Dia da Festa. Quando o festival religioso já se aproximava do fim, Jesus apresentou a mesma reivindicação que já fizera em Samaria, Eu sou a água da vida, ou Eu sou a água viva. Jesus já proferira a advertência de que a graça divina lhes seria retirada (vs. 34) e, em sua asseveração enigmática, deixara subentendido que a salvação da humanidade seria consumada em sua morte, ressurreição e ascensão, e que tal provisão divina poderia ser ignorada e rejeitada por homens dotados de vontade pervertida. Isso implicava a advertência profética do trecho de Isa. 55:6, que diz: "Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto". Porém, essas outras reivindicações apenas provocaram mais divisões entre o povo, o que, de resto, se tomou uma ocorrêncía comum. Os policiais do templo se justificaram à base de que Jesus era verdadeiramente

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úLTIMO DIA - úLTIMOS DIAS uma pessoa incomum, que proferia palavras profundas e convincentes e que uma aura de autoridade circundava a sua pessoa, o que não lhes permitiu aprisionarem-no. Os fariseus, por sua vez, repreenderam ironicamente aos policiais, afirmando que se haviam deixado iludir, juntamente com o povo comum. Mas eis que Nicodemos protestou contra o fato de um homem ser julgado sem que lhe tivesse sido dada a oportunidade de ser ouvido em uma defesa formal. Mas os fariseus voltam à carga e zombam também de Nicodemos, acusando-o de pertencer à mesma classe dos outros galileus, crédulos e desprezíveis como eram (ver João 7:50-52). Esta seção identifica a água viva com as operações do Espírito Santo (ver o vs. 39), e isso serve ainda de outra ilustração do princípio que Jesus anunciara para a mulher samaritana, segundo podemos ler em João 4: I O, 14: A iluminação, a operação que transforma a alma e a regenera, finalmente, conduz o remido à experiência maravilhosa da glorificação, quando todos os redimidos haverão de participar da natureza e da vida divinas, tal como Cristo delas participa, elementos esses que nos chegam da parte de Cristo, por intermédio do Espírito de Deus. No último dia, o grande dia da festa. Essa informação talvez aluda ao sétimo dia da festa, em que tinha lugar um cortejo com ramos de salgueiro, quando orações especiais eram feitas por sete vezes, ao redor do altar das ofertas queimadas; ou, segundo a opinião de outros estudiosos, pode ser uma alusão ao oitavo dia da festa, que era sempre observado em um dia de sábado, como também era o caso do primeiro dia da festa por ser um dia de convocação solene (ver Lev. 23:36 e Núm. 29:35). A maioria dos intérpretes opina preferencialmente em favor do oitavo dia da festa como a interpretação correta dessas palavras, posto lermos que foi o último dia da festa, sem falarmos no fato de que a versão da LXX (Septuaginta) se refere ao oitavo dia da festa como o "final". A única dificuldade que envolve a designação específica desse dia (sétimo ou oitavo) é que, durante os sete dias anteriores, antes do oitavo dia final, um sacerdote trazia água, em um vaso de ouro, tirada do tanque de Siloé, e então, acompanhado por um cortejo jubiloso, seguia até o templo, onde, diante do altar, despejava água sobre ele, juntamente com vinho, ao mesmo tempo que a cerimônia toda era acompanhada pelo cântico do HaleI (Salmos 113 a 118). Essa cerimônia, evidentemente, comemorava a provisão de água, dada por Deus, quando a rocha foi ferida por Moisés; ou, talvez, fosse uma referência às chuvas providenciadas por Deus para que houvesse colheitas fartas no ano seguinte. Por esses motivos, as palavras de Jesus se coadunam melhor com as atividades do sétimo dia da festa. Alguns intérpretes descrevem uma cena altamente emocional - dizendo que Jesus proferiu estas palavras: "Se alguém tem sede, venha a mim, e beba". no momento mesmo em que o sacerdote derramava a água sobre o altar, dessa forma, interrompendo a cerimônia e o cântico do Halel. Porém, Sem importar se isso expressa ou não a verdade (e sem importar qual o dia da festa em foco), o ensinamento continua sendo muito significativo, porque sem dúvida estariam bem cônscios da alusão de Cristo à cerimônia do derramamento de água e poderiam reconhecer a sua declaração, isto é, que de alguma maneira, ele asseverava ser pessoalmente mais importante do que aquela cerimônia da festa dos

Tabernáculos. O autor sagrado, naturalmente, mediante o seu arranjo do material e mediante a interpretação dada (ver o vs. 39), deixou entendido que os elementos dessa festa eram meros símbolos da provisão de vida e bem-estar, que só nos pode vir por intermédio de Jesus Cristo. A festa toda era uma ocasião de intenso regozijo, pelo que também era dizer comum, entre os rabinos, que aquele que ainda não vira essas festividades não sabia o que é júbilo. Assim também, em Cristo, recebemos grande alegria, a saber, a alegria da alma, por causa das operações do Espírito Santo, na regeneração, por meio do que a própria vida de Deus é transmitida aos homens. O último dia da festa dos Tabernáculos era denominado Dia do Grande Hosana, porque se fazia um circuito, por sete vezes, em torno do altar, ao mesmo tempo que todos clamavam Hosana! Mas outros chamavam-no de Dia dos Salgueiros ou Dia do Agitar dos Ramos, porquanto todas as folhas eram tiradas dos ramos dos salgueiros e as palmas das palmeiras eram batidas nos lados do altar, a fim de se despedaçarem. E muito interessante a observação de que alguns escritos rabínicos associam essa cerimônia do derramamento de água, quando da festa dos Tabernáculos, com o derramamento do Espírito Santo.

ÚLTIMO TEMPO (ÚLTIMOS TEMPOS) Ver os artigos intitulados Escatologia e Últimos Dias. ÚLTIMOS DIAS Ver o artigo geral sobre Escatologia. Ver 11 Tim 3: 1. A expressão que aqui se encontra aparece somente nas "epístolas pastorais", em Atos 2:17 e em Tia. 5:1. Porém, expressa de maneira diferente, é de ocorrência comum. (Comparar com "último tempo", em I Ped. 1:5; com "fim dos tempos", em I Ped. 1:20; com "último tempo", em Jud. 18; com "nestes últimos dias", em Heb. 1:2). Quanto a essa expressão, "últimos dias", vários são os usos que as Escrituras fazem dela, a saber. 1. Algumas vezes essa expressão indica "o dia do Senhor", que seriam os últimos dias, " que inscreverão o fim" sobre esta vida, mas que são o portal para o começo da vida vindoura. Contudo, essa expressão é ambígua. Assim é que, em Atos 2: 17, lemos sobre os últimos dias ao passo que a profecia de onde ela é citada, isto é, Joel 2:28 e ss, diz "dia do Senhor". Isso pode indicar qualquer ocasião em que Deus fizer alguma obra especial, não necessariamente alguma obra de julgamento, apesar de que o julgamento com freqüência apareça associado a essa expressão. 2. Nos escritos judaicos, normalmente a expressão "últimos dias" alude aos dias finais desta dispensação terrena, imediatamente antes do primeiro advento do Messias, a fim de inaugurar a era messiânica. 3. Noutras ocasiões, nesses mesmos escritos judaicos, essa expressão indica a própria era messiânica. 4. Assim também, no cristianismo, veío a indicar a "era do evangelho", ou seja, a própria era cristã. Parece que tanto 11 Ped. 3:3,4 como Heb. 1:2 aplicam essa expressão à expansão inteira da era cristã. 5. Mas os cristãos primitivos normalmente viam essa era como necessariamente curta, pois eles esperavam o segundo advento de Cristo para quase imediatamente, ou, pelo menos, para o seu período de

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úLTIMOS DIAS -UM (UNIDADE) existência terrena. Nesse caso, essa expressão assume a idéia dos "dias imediatamente anteriores" à parousia ou segundo advento de Cristo. Em face do exposto, vê-se que essa expressão pode indicar tanto a própria era cristã como os dias imediatamente anteriores ao segundo advento de Cristo, ao mesmo tempo, já que, para os cristãos primitivos, esses dois pensamentos eram virtuais sinônimos. Ver 1 João 2: 18 e as notas expositivas no NTI ali existentes, onde se percebe que os dias em que viviam o autor sagrado e seus leitores eram tomados como os últimos dias no verdadeiro sentido de ocuparem o período imediatamente anterior ao segundo advento, ainda que, de fato fossem apenas o início da era cristã. Em 1 Tim. 12, bem como em I Tim. 4:1 e ss, os últimos dias, são estes dias de era cristã, embora compreendidos como os dias que precedem imediatamente a segunda vinda do Senhor. O fato é que os cristãos primitivos simplesmente não viam nenhuma longa "era da igreja". No tocante às próprias profecias, é possível que os autores sagrados acreditassem que aquilo que diziam estava tendo cumprimento, ou que em breve começaria a cumprir-se. Nas epístolas pastorais, por exemplo, a heresia gnóstica é amplamente referida nas passagens sobre a apostasia, como esta que ora consideramos. Contudo, com base na comparação com outros trechos bíblicos, sabemos que os cristãos primitivos esperavam uma "grande apostasia" naqueles dias que seriam verdadeiramente os "últimos". Não é necessário supormos que os próprios autores sagrados, em sua maioria, antevissem o cumprimento "a longo prazo" de suas predições. 6. Dentro dos escritos judaicos, a expressão "últimos dias" também se aplica ao reino milenar e ao juízo (ver Isa. 2:2-4; Miq. 4: 1-7), um uso que não aparece no N.T. Essa idéia é declarada em 11 Ped. 3:10, pela expressão o "dia do Senhor". Sobrevirão tempos difíceis, 11 Tim. 3: L Notemos aqui o tempo futuro do verbo. O autor sagrado, mesmo que não tivesse sido Paulo, descrevia a sua própria época, mas de acordo com o ponto de vista de Paulo, ou seja, algo que para Paulo ainda era futuro. Além disso, porém, há aqui um genuíno elemento profético. A heresia do gnosticismo (vide) era suave e insignificante quando contrastada com as heresias futuras, que surgirão imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Então haverá uma apostasia de proporções gigantescas. Ver o artigo sobre Apostasia. O décimo terceiro capítulo do livro de Apocalipse descreve-a com detalhes. O próprio Satanás será adorado, por intermédio do anticristo. Portanto, no fim as coisas serão "piores", que é o sabor apocalíptico de várias passagens do N.T. O trecho de Apo. 6:19 nos dá, essencialmente, a descrição das condições que haverá naquele tempo; e o pequeno apocalipse do vigésimo quarto capítulo do evangelho de Mateus (igual, em todos os pontos essenciais, ao décimo terceiro capítulo do evangelho de Marcos), também descreve esse período futuro. Tempos diflceis. No grego temos o adjetivo chapelos, que significa, "difícil", "árduo", dando a entender um período de "tensão", de "maldade" _ Aqueles tempos serão difíceis por causa das condições existentes no seio da igreja, produzidas pela apostasia, mas também por causa da grande tribulação que atingirá em cheio os crentes. Ver o artigo sobre a Parousia. Aqueles dias futuros também serão "difíceis" para os mestres

cristãos. Mas isso é algo apenas implícito. Serão tempos "difíceis" para a igreja em geral. Notemos que este versículo favorece a idéia de que a igreja passará por esse tempo, e não que será livrada dele. Naturalmente, alguém poderia argumentar que a "apostasia" precederá à tribulação, o que daria margem a que a igreja continuasse na terra durante a apostasia, mas que ela seria arrebatada antes da grande tribulação. Respondemos, porém, que a real apostasia não se verificará antes da tribulação (ainda que antes da tribulação também haverá severo desvio), e, sim, "dentro" da tribulação, conforme se vê na sua descrição cronológica, no décimo terceiro capítulo do livro de Apocalipse. No segundo capítulo da segunda epístola aos Tessalonicenses também se verifica que a grande apostasia precederá imediatamente à "parousia" ou segunda vinda de Cristo. ULTRAMONTANISMO Esse termo vem do latim e tem o sentido de "além do monte". É usado para indicar algo que fica para além de alguma localização específica, ou de alguma situação local. A referência específica é aos montes dos Alpes, entre a Itália e a Suíça. Portanto, basicamente, está em foco alguém que vive para lá desses montes (o lado romano), contrastando-o com quem vive do lado de cá (não-romano: clamontano, este lado, não-romano dos Alpes). Essa palavra veio a indicar quem dá seu apoio à supremacia papal em oposição àqueles que queriam a autonomia para as igrejas nacionais. Esse termo deve ser contrastado com galicanismo, que comentamos em um artigo separado. Esse uso desenvolveu-se do fato de que, em relação à maioria dos povos europeus, os papas, viviam além dos montes (ou seja, além dos Alpes). E o oposto do uso principal do termo, descrito acima, mas usado em oposição ao sentido da palavra galicanismo. UM (UNIDADE) Essa palavra portuguesa deriva-se do grego oine e do latim unus. Ver o artigo chamado Número (Numeral, Numerologia). Esse artigo fornece detalhes sobre o pano de fundo da ciência e dos alegados significados dos números, bíblica e extrabiblicamente falando. I. Pitágoras. O um e a díade eram considerados os geradores de todos os demais números. Pitágoras não sabia muito, mas parece que ele conseguiu antecipar a importância que a ciência moderna dá aos números, o que, finalmente, veio a ser comprovado pela teoria atômica. 2. Platão. Empregou e desenvolveu as idéias de Pitágoras. No artigo sobre os números apresentamos um relato sobre esse desenvolvimento. A partir de Platão, o princípio do Um mescla-se com as noções de beleza, verdade e bem, trazendo à superfície um eterno princípio de Unidade. 3. Aristóteles. Para ele, o Um referia-se ou ao que é naturalmente contínuo, ou ao princípio de totalidade, ou ao indivíduo, ou ao universo, como uma unidade. 4. O Neoplatonismo. Aqui o Um é o nome ou símbolo de Deus, que teria gerado o universo inteiro pelas emanações provenientes de sua realidade superessencial. Essa unidade é um conceito panteísta. 5. Na Bíblia. O número "um" na Bíblia é símbolo ocasional de unidade e de caráter ímpar. O Senhor Deus é o único Senhor" (Deu. 6:4). E o número do

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UMA-UNAMUNO monoteísmo (vide). A raça humana veio de um só homem, pelo que forma uma unidade (Atos 17:25). O pecado penetrou no mundo através de um único homem, Adão; mas outro tanto sucedeu no caso pelo que temos o primeiro Adão e o segundo (ou último) Adão (ver Rom. 5:12,15). Cristo ofereceu-se em um único sacrifício expiatório, suficiente para os pecados do mundo inteiro e de todas as épocas (Heb. 7:27). O Pai e o Filho são um só, em natureza e em propósito (João 10:30). Nos laços do matrimônio, o homem e a mulher, misticamente, e não apenas fisicamente, são um só (ver Mat. 19:6). No grande plano restaurador de Deus, finalmente tudo torna-se um em Cristo. Esse é o mistério da vontade de Deus e uma das nossas mais elevadas doutrinas (ver Efé. 1:9,10).

UMÁ No hebraico, "união", "parentela". Esse era o nome de uma cidade do território de Aser, perto de Afeque ou Reobe. Atualmente ela ainda existe, com o nome de Alma, próxima de Ras Nakhura. No entanto, alguns manuscritos gregos e, portanto, da Septuaginta, dizem Aco, cidade que mais tarde mudou o nome para Ptolemaida, uma interpretação que tem sido aceita por muitos eruditos. O nome dessa cidade só figura em um trecho biblico, Josué 19:30. UMBIGO (Cordão umbilical) No hebraico, shor, cujo sentido básico é "torcido". Essa palavra pode referir-se tanto ao umbigo quanto ao cordão umbilical. E também era usada no sentido comum de "cordão", "fio". Em Eze. 16:4, O sentido é o de "cordão umbilical" e, por extensão, indica o abdômen, porquanto o cordão umbilical está ligado ao abdômen (umbigo) do feto (ver I Reis 7:33). No décimo capítulo de Ezequiel temos um uso metafórico dessa palavra. O povo de Israel, em sua miséria, assemelhava-se a uma criança recém-nascida, sujeita à morte, sem que seu cordão umbilical tivesse sido atado. Se o cordão umbilical não for atado, o sangue arterial começa a drenar para fora do corpo da criança, e ela morre. Portanto, Deus tomou Israel como um nascituro abandonado, lavou-o e cuidou dele. Usos metafóricos. O cordão umbilical é por onde os nutrientes chegam ao organismo do feto, podendo simbolizar essa idéia de transmissão de vida. Por outro lado, pode também ser emblema de uma dependência prolongada e exagerada de alguém de outra pessoa, condição ou coisa. UBIQÜIDADE Essa palavra deriva-se do latim, ubique , "por toda parte". Termo usado no século XVI, por Lutero, a fim de explicar seu ponto de vista da consubstanciação. Ver o artigo geral sobre esse assunto, bem como aquele chamado Eucaristia. Lutero defendia a presença real do corpo e do sangue de Cristo na eucaristia. E quando isso, obviamente, pareceu-lhe requerer a onipresença do corpo de Cristo, Lutero criou a monstruosa doutrina da ubiqüidade. E argumentou que o corpo de Cristo, em virtude de sua união com a natureza divina, adquiriu o atributo da onipresença virtual. Em outras palavras, mediante a vontade de Cristo (sempre que ele assim o desejar), seu corpo pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A Fórmula da Concórdia, de origem luterana, incorporou essa fantástica teologia como seu sétimo artigo.

UM-ROSTO-VOLVERÁ Em nossa versão portuguesa, essa palavra aparece exclusivamente em Isaias 7:3, como tradução bastante boa das palavras hebraicas shear iashub , que ali figuram. Esse era o nome simbólico do filho mais velho do profeta Isaías (lsa. 7:3; cf. Isa. 8: 18). Ele estava presente quando Isaías confrontou o rei Acaz, segundo se vê em Isaías 7:3. Seu nome simbolizava a mensagem entregue pelo profeta. O juizo divino, na forma de um exílio do povo, era um aspecto essencial da mensagem de Isaias, embora também houvesse a promessa da restauração de um remanescente purificado. A doutrina de um remanescente, ensinada por esse profeta, aparentemente formou-se durante o período inicial de seu ministério, porquanto aquele filho mais velho nasceu quase no inicio de sua carreira profética, o que é indicado pelo fato de que, por volta de 735 a. c., ele acompanhou seu pai àquele encontro com o rei Acaz. Ver sobre o Remanescente. UNAMUNO, MIGUEL DE 1864 - 1936. Foi um filósofo espanhol, natural de Bilbao. Educou-se em Madri e ensinou em Salamanca, onde, finalmente, tornou-se reitor. Foi extraordinário mestre e escritor, e tornou-se um dos grandes homens de letras contemporâneos. De fato, era o homem mais universalmente lido em seus dias, embora nunca se tivesse afastado da Espanha. Também esteve envolvido na politica, e o seu amor à liberdade e à independência fizeram-no cair em dificuldades com o governo. Nos últimos anos de sua vida, foi condenado a um período de prisão albergue, em sua própria casa. Foi muito influenciado por Kierkegaard, e escreveu acerca dele antes desse filósofo dinamarquês vir a tornar-se conhecido fora de sua própria pátria. Com freqüência, é enumerado entre os existencialistas. Ver sobre o Existencialismo; Unamuno era um cristão devoto, embora não se tivesse identificado nem com os católicos, nem com os protestantes. Idéias: 1. Ele concentrava sua filosofia sobre o homem como um ser concreto, dotado de corpo e sangue, não tanto como um ser pensante. Esse homem fisico busca desesperadamente a imortalidade, e a sua carreira é assinalada pelo conflito. O ser humano enfrenta o grande desconhecido e precisa tomar decisões dependendo de sua própria vontade e de seus recursos. 2. O homem não pode depender somente da razão, a qual chega a decepcioná-lo e, naturalmente, volta-se para a fé. Mas a fé consiste somente na esperança de que a morte não significará aniquilamento. Destarte, o homem vive na tensão que se estabelece entre a razão e a fé. Sua vida é caracterizada pela agonia, pela paixão, pelo conflito e pela tensão. A esse pacto de elementos perturbadores ele chamava de "o trágico sentido da vida". 3. Para ele, o termo lagos revestia-se de grande importância, embora ele não tivesse em mente o lagos da filosofia ou da religião, e, sim, a expressão existencial íntima do homem de carne e sangue. Ele negava a possibilidade da obtenção da verdade objetiva, pelo que a crença verdadeira, por enquanto, deve ser suficiente para os homens. Mentiras são inventadas por homens que levam por demais a sério a si mesmos e a seus sistemas, que assim vão além daquilo que os homens podem realmente conhecer.

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UNÇÃO Escritos: On Purism; Peace in War; Love and Pedagogy; Life of Don Quixote; Against This and That; The Tragic Sense of Life; Abel Sánchez; The Agony of Christianity; Saint Emanuel the Good. Também foi um prolífico escritor de ensaios, sete volumes dos quais foram publicados.

UNÇÃO No grego, chrisma. Esse substantivo aparece somente por três vezes em todo o Novo Testamento, sempre na primeira epístola de João: 2:20,27. O verbo chrio, "ungir", ocorre por cinco vezes: Lue. 4: 18 (citando Isa. 61:1); Atos 4:27; 10:38; 11 Cor. 1:21; Heb. 1:9 (citando Sal. 45 :8). Mas o adjetivo christós, "ungido", é usado por mais de quinhentas e quarenta vezes, desde Mal. 1:1 até Apo. 22:21. Em todas as três ocorrências do substantivo, "unção", está em pauta a presença permanente do Espírito Santo com os crentes. O Senhor Jesus foi "ungido" com a presença do Espírito, que O capacitou para pregar o evangelho e realizar prodígios e milagres (Luc. 4: 18). De acordo com as profecias bíblicas, o Messias (nome que procede do hebraico, correspondente em tudo ao termo grego Cristo, ou "ungido") era Servo de Deus por motivo de sua unção. O pensamento é reiterado em Atos 10:38. Por termos recebido o Espírito, também somos "cristos", ou "ungidos", segundo se vê em II Cor. 1:21,22: "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações". Hebreus 1:9 mostra-nos que a unção de Jesus, entretanto, era de um nível todo especial: " ... por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros". Ver também João 3:34. A idéia de unção vem desde o Antigo Testamento, quando reis e sacerdotes recebiam a unção com óleo, literalmente falando, para ocuparem suas respectivas funções. Ver Exo. 40:13-15; Juí. 9:8; 1 Sam. 9:16. Já a unção dos profetas era dada diretamente por Deus, como uma operação espiritual. Ver 1 Reis 19: 16 e, especialmente, Isa. 61: I. Essa é a base da unção tanto de Cristo quanto dos crentes, com o Espírito Santo, conforme já vimos. No Novo Testamento, a única menção à unção literal é a de Tia. 5: 14, 15, mas onde o autor sagrado já usa uma palavra grega diferente, aleipho, "untar", "besuntar", quando diz, segundo a nossa versão portuguesa: "Está alguém entre vós doente? Chame os presbiterianos da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor". Diversos vocábulos hebraicos são assim traduzidos, com raízes que significam "engordar", "esfregar", "derramar" e "ungir". No Novo Testamento temos chrien, "esfregar", "untar", e ale ife in , "ungir". A idéia básica é a de esfregar com óleo (usualmente azeite de oliveira). Oleos eram especialmente preparados com essa finalidade, sobretudo se algum uso sagrado estivesse em pauta. Pano de fundo: A prática da unção é antiqüíssima, podendo ser acompanhada até de culturas pré-hebréias. A prática pode ter surgido nas práticas nomádicas de sacrificio, como a de untar de gordura os potes totens, como parte de alguma refeição comunitária. Ou pode ter surgido com base em unções para fins medicinais, quando se esperava a cura. Várias formas dessa prática

foram bem averiguadas na Babilônia e no Egito, antes dos tempos bíblicos. A unção de reis, sacerdotes, etc., eram formas comuns. Além disso, tal prática estava associada ao exorcismo e às cerimonias que preparavam os jovens para sua entrada na sociedade dos adultos. Costume hebreu. No período pré-monárquico, temos em Gên. 31: 13 o relato sobre como Jacó ungiu a coluna que erigira em Betel, aparentemente uma forma de dedicação. Durante a época dos juizes, a prática era usada por ocasião da consagração de governantes (Juí. 9:8,15). Típos de unção: 1. De coisas: Ver 11 Sam. 1:21 e lsa. 21:5, a unção de escudos, talvez a fim de consagrá-los para a guerra. O tabernáculo e seus utensílios foram ungidos, incluindo todos os seus móveis (Exo. 30:26-29; 40:94 1). O altar foi ungido (Êxo. 29:36), o que equivaleu à unção das colunas ou pilhas de pedras, que eram usadas como memoriais ou altares (Gên. 28:18; 35:14). 2. De pessoas: a. Reis. O azeite era derramado sobre as cabeças dos reis como sim bolo de sua consagração ao ofício. Sacerdotes ou profetas, como representantes de Deus, usualmente encarregavam-se do ato da unção. (I Sam. 10:1; 1 Reis 1:39,46; 19:16). A unção fazia do rei um servo de Deus. O rito da unção dos reis criou o termo "ungido do Senhor", que se tornou virtual sinônimo de "rei". (I Sam. 12:3,5; 11 Sam. 1:14,16; Sal. 20:6). b. Sacerdotes. A unção de um sacerdote lhe conferia um ofício vitalício (Lev. 7:3 ss.; 10:7; 4:3; 8: 12-30). Os sacerdotes eram consagrados ao Senhor para cumprirem os seus serviços. c. Profetas. Elias comissionou Eliseu como seu sucessor por meio de unção (l Reis 19.16) embora o próprio ato não seja literalmente historiado. A comparação do Sal. 105: 15 e I Crô. 16:22 parece indicar que pelo menos alguns profetas foram ungidos, o que os consagrou como representantes de Deus para a promoção da mensagem espiritual. d. De hóspedes e estranhos. A mulher ungiu os pés de Jesus, como sinal de respeito e hospitalidade (Luc. 7:38). Jesus frisou que Ele poderia ter sido assim honrado pelo Seu hospedeiro (Luc. 7:46), o que mostra que havia o costume de ungir os convidados. Seja como for, o costume era antigo, certamente não circunscrito à cultura dos hebreus. Trechos bíblicos como Sal. 23:5; Pro. 21 :7; 27:9 e Sab. 2:7 podem ser alusões à prática. e. Por razões estéticas e salutares. Os judeus ungiam-se quando saíam a visitar alguém, e também em muitas ocasiões ordinárias, talvez por higiene e para adornar a cútis, uma medida salutar e cosmética. (Deu. 28:40; Rute 13; II Sam. 14:2; Amós 6:6; Sal. 104: 15). Os cabelos e a pele eram ungidos. Parece que a pele lustrosa era considerada bonita, e a crença dos antigos no valor medicinal do azeite indicava que tais unções eram medidas salutares, tal e qual se sucedia no caso da lavagem das mãos. f. Dos mortos. Essa unção era feita após a lavagem do corpo. Talvez para refrear o processo da corrupção, mas o mais provável é que fosse um sinal de consagração do morto a Deus. (Núm. 5:22; Jer. 8:22; Mar. 14:1; Luc. 23:56). Sentidos metafóricos: 1. Da unção do Espírito (Sal. 28:8; Hab. 3:13; II Cor. 1:22; I João 2:20:27). 2. Como termo técnico do Messias, pois Ele é, suprernamente, "o ungido". Esse é o sentido da

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UNÇÃO -UNGüENTO palavra "Cristo". Messias é uma transliteração do vocábulo hebraico que significa "ungido". No plural, "ungidos", a palavra veio a indicar os sucessores da linhagem real de Davi (Sal. 2:2; 18:50; 132: 10). O esperado Messias foi assim designado por ser o mais digno dos sucessores de Davi, em Salmos de Salomão 17:36 e 18:8. A unção separa a pessoa ungida para o seu ofício, falando sobre o caráter sagrado de sua chamada e comissão. Há aquele "óleo de alegria" para aqueles que cumprem bem a sua missão (Heb. 1:9). Assim são separados os homens para servirem a Deus (Rom. 1:1). Mas, em seu lado negativo, a prática da unção pode simbolizar o excesso de luxo (Amos 6:6). Significado sacramental: Alguns intérpretes vêem um uso sacramental na unção, em Tia. 5: 14, nos termos de extrema unção (ver o artigo). As igrejas orientais continuam ungindo os enfermos em um rito formal, costume alicerçado sobre esse versículo. E outros grupos cristãos fazem o mesmo. (B E IP LAS S Z) UNCIAIS Esse termo é usado para contrastar certos manuscritos (escritos com letras maiúsculas) aos manuscritos chamados "minúsculos" (escritos com letras minúsculas). Ambos esses tipos de manuscritos eram escritos à mão (como é óbvio), mas o corpo (dimensões) de suas letras variava. "Uncial" significa "letra em caixa alta". É possível que esse adjetivo se derive do hábito de alguns publicadores romanos usarem doze letras por linha. Eles contavam doze polegadas para cada pé, como também doze onças para cada libra. A palavra latina uncia significava ou "polegada" ou "onça". E assim, os próprios manuscritos escritos com essas letras graúdas passaram a ser conhecidos como "unciais", enquanto os demais receberam o nome de "minúsculos". Quase todos os manuscritos do Novo Testamento até o século X d.C. eram unciais, mas, depois disso, a situação inverteu-se. Portanto, esses dois tipos de letras nos dão uma maneira aproximada de datar os manuscritos. Ver o artigo geral sobre os Manuscritos da Bíblia. UNCIAL Ver Unciais e o artigo geral sobre Manuscritos Antigos do Novo Testamento. UNDERHILL, EVELYN (Sra. Stuart Moore) 1875 - 1941. Ela foi autora de importantes estudos sobre questões místicas. Foi poetisa religiosa de considerável habilidade, grande conhecedora de formas litúrgicas. Foi seguidora do anglicanismo, com simpatias por certos pontos distintos do catolicismo romano. Sua obra mais famosa é intitulada Misticismo, publicada pela primeira vez em 1911. À medida que o tempo se passava, ela ia modificando alguns de seus pontos de vista, embora continuasse interessada por assuntos de ordem mística e tivesse continuado a publicar livros sobre esses assuntos. Seu poema religioso, Imanência, é reconhecido como obra-prima comparável aos escritos de poetas como Crashaw, Herbert e John Donne, grandes mestres da literatura inglesa. Underhill também escreveu estudos sobre místicos, conforme se vê em suas publicações intituladas Concerning the Inner Life e Golden Sequence. Era dotada de grande discernimento quanto ao sentido e às intenções da liturgia, embora não tivesse

entendido a adoração livre dos grupos protestantes e evangélicos. Ver Misticismo. UNGÜENTO Esboço: 1. Termos Envolvidos 2. A Preparação de Ungüentos 3. Armazenamento 4. Valor 5. Usos dos Ungüentos 6. Usos Simbólicos 7. Cristo, o Ungido 1. Termos Envolvidos a. Shemen, um termo hebraico que aparece em II Rei 20:13; Sal. 133:2; Pro. 27:16; Ecl. 7:1; Isa 1:6. Provavelmente, essa palavra indica vários tipos de óleo, embora usualmente esteja em foco o azeite de oliveira. Há outras referências veterotestamentárias, que as traduções têm traduzido de diversas maneiras, em um total de outras centos e oitenta menções. b. Roqach, "composição", "ungüento". Êxo. 30:25, 35. Roqach, uma forma variante, aparece por oito vezes: Exo. 30:25,33,35; 37:20; Ecl. 10:1; II c-o. 16:14; Eze. 24:10; I Crô. 9:30. Tratava-se de uma composição de elementos odoríferos. c. Múron, "mirra". Uma palavra grega com freqüência traduzida corno ungüento. Ver o artigo separado sobre Mirra. Esse termo grego foi usado por catorze vezes no Novo Testamento: Mat.26: 7,12; Mar. 14:15; Luc. 7:37,38,46; 23:56; João 11:2; 12:3,5; Apo. 18:13. 2. A Preparação de Ungüentos A base oleosa de quase todos os ungüentos referidos no Antigo Testamento era o azeite de oliveira. A isso adicionavam-se vários aromáticos, alguns deles importados (I Reis 10: 10; Eze. 27:22). As principais especiarias assim utilizadas eram a mirra e o nardo (vide). Essas especiarias eram importadas da Fenícia em pequenos frascos de alabastro. A preparação de ungüentos era feita por profissionais que exerciam a atividade de farmacêuticos. Algumas pessoas envolvidas nessa atividade dirigiam ativos e extensos negócios. Às vezes, mulheres é que se mostravam muito habilidosas nessas misturas químicas. A arqueologia tem demonstrado que certos aromas são capazes de reter o seu poder odorífero durante muitos séculos, quando guardados em frascos bem fechados. Vasos de alabastro, encontrados no castelo de Alnwick, além de outros achados no antigo Egito, quando abertos, mostraram que seu conteúdo havia retido seus perfumes por mais de dois mil anos. Plínio informa-nos que a fórmula dos ungüentos requeria dois ingredientes principais: uma parte líquida e uma parte sólida. A parte líquida quase sempre era o azeite de oliveira, embora os egípcios também usassem óleos como o de rabanete, de colocíntidas, de sêsame, de amêndoas, e até mesmo gorduras animais. As pessoas mais pobres usavam o óleo de mamona. A esses óleos e produtos graxos eram adicionados os ingredientes sólidos, como amêndoas amargas, anis, cedro, cinamomo, gengibre, mentol, rosa, sândalo, etc. Os trecho de Cano I: 3 e 4: 10 trazem referências a certas substâncias odoríferas. Não temos conhecimento completo sobre o modo de proceder exato para tais preparos. O azeite de oliveira era útil porque não se evapora facilmente. Eram usados vários processos de esmagamento. O pó

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UNGÜENIO era aquecido e então recebia a forma de bolas ou cones. No Egito havia uma guilda dos cozedores de ungüentos que se associavam aos barbeiros, farmacêuticos, médicos e sacerdotes. Nos dias de Neemias, eles tinham sua própria guilda. Na época de Jesus, essa profissão, com freqüência, tornava-se hereditária e era mantida como segredo de família. Visto que os produtos usados nessa indústria com freqüência eram importados, o preço dos ungl1entos era elevado. Plínio revela-nos que os ingredientes eram fervidos juntos (112), e podemos supor que essa fosse uma prática universal. 3. Armazenamento A fim de impedir a perda do odor, devido à exposição ao ar, e do volume, por causa da evaporação, os ungüentos mais caros eram armazenados em frascos de alabastro e caixas de chumbo estanques, que eram então guardados em lugares frescos. A arqueologia tem descoberto muitos desses vasos decorativos. Algumas vezes, eram usadas jarras de vidro, um tanto mais baratas. As tampas dessas jarras eram hermeticamente fechadas. Assim, quando alguém queria usar o ungüento, o gargalo fino dessas jarras tinha de ser partido. Ver Mar. 14:3. 4. Valor Se alguém quiser saber algo sobre o valor dos perfumes, que indague a uma mulher. É admirável o quanto as mulheres estão dispostas a pagar por um bom perfume. Na antiguidade, os ungüentos chegavam a fazer parte de tesouros. Ezequias exibiu ungl1entos em sua casa de tesouros, aos embaixadores babilônicos (ver 11 Reis 20: 13). Esses ungüentos eram usados em lugar de dinheiro, e assim podiam ser usados para pagar dívidas de tributos (Osé. 12:1). Eram contados entre os artigos de luxo que foram denunciados pelo profeta Amós (6:6). Esse texto pode ser comparado com o trecho de Ecl. 7: 1. Grande comércio cresceu em torno dos ungüentos. Judas Iscariotes queixou-se que o ungüento -desperdiçado na unção de Jesus poderia ter sido vendido por uma grande soma em dinheiro, que poderia ser distribuída entre os pobres (ver Mat. 26:9), circunstância essa que nos ajuda a entender o valor desse produto. 5. Usos dos Ungüentos a. Nas artes mágicas. Os homens sempre se deixaram impressionar pelos ungüentos e seu grande valor, sendo apenas natural que os mesmos estivessem associados a práticas mágicas. Os médicos egípcios usavam ungüentos em conexão com seus ritos de cura, declarações mágicas e encantamentos. Um paralelo a esse costume era aquele de pintar o corpo dos pacientes. E nós, os cristãos, ungimos os enfermos com azeite, em consonância com o trecho de Tia. 5: 14, embora sem imaginarmos que o azeite tenha qualquer propriedade mágica. Todavia, mesmo no mundo moderno, os ungüentos continuam sendo substâncias mágicas, pelo menos para certos povos mais primitivos. E na cristandade, o uso sacramentalista de líquidos retém um certo caráter mágico, de acordo com aqueles que rejeitam o sacramentalismo. b. Nos ritos religiosos. Tal uso tanto era privado quanto formal (empregado pelos sacerdotes) entre os hebreus, até onde a história nos faz retroceder. Jacó consagrou uma pedra, em Betel, derramando azeite sobre ela (ver Gên. 28:18; 35:14). Era usado um azeite sagrado na consagração de sacerdotes, e do tabernáculo e seus móveis e utensílios (ver Êxo, 30:22-33). Certas regras foram ditadas a esse respeito (Êxo ,

30:23-25,33). Profetas eram ungidos em reconhecimento de seu oficio divino, como se vê no caso de Eliseu (I Reis 19:16). Os reis de Israel também eram ungidos (I Sam. 10:1; II Reis 9: 1-3). Portanto, o ato de ungir envolvia profetas, sacerdotes e reis. Cristo, o Ungido, está investido em todos esses três ofícios. Escudos e paveses também eram ungidos, em um ato de consagração, para proteção de seus usuários (ver 11 Sam. 1:21; Isa. 21:5). Algumas vezes, o processo da unção era acompanhado por alguma manifestação do Espírito Santo (I Sam. 16: 13). O método de separação do óleo da santa unção é descrito em Êxo, 30:22-25. c. Propósitos cosméticos. Os fortes raios solares do Oriente Próximo e Médio inspiraram o uso de óleos para tratamento e proteção da pele humana. Os egípcios tinham práticas elaboradas quanto a isso, empregando cremes, pomadas, ruges, talcos, pintura de olhos, esmalte de unhas, além de vários tipos de óleo, os quais, sem qualquer mistura, eram aplicados à pele. As pessoas mais idosas queriam ficar mais jovens, e as pessoas jovens queriam preservar sua aparência juvenil, principalmente no caso de mulheres, naturalmente. O papiro cirúrgico Edwin Srnith, que data de cerca de 1500 a.c., fornece-nos uma fórmula que seria garantida para rejuvenescer pessoas idosas. Essa inverdade continua sendo pespegada às pessoas até hoje, mas as mulheres continuam acreditando nela. Plínio e Teofrasto escreveram ensaios referentes à manufatura de cosméticos. Ver o artigo separado intitulado Cosméticos. d. Propósitos medicinais. A medicina antiga sempre esteve às voltas com itens mágicos e supersticiosos. Para muitos antigos, a unção com azeite não era apenas um ato simbólico. Assim, o azeite era usado para tratar ferimentos (ver Isa. 1:6 e Eze. 10:34), e, nos tempos modernos, óleos os mais variados têm sido usados à larga na medicina. Gileade era lugar conhecido por sua produção de um bálsamo com grande valor medicinal (ler. 8:22). Também havia colírios (Apo. 3:18), e os enfermos eram ungidos com azeite (Tia. 5: 14). Por conseguinte, parte de uma prática judaica foi transferida para a Igreja cristã, e assim nunca desapareceu. e. Preparação para o sepultamento. Os cadáveres eram ungidos, embalsamados e envoltos em tiras empapadas em óleos (Gên. 50:2,3,26; Mar. 16: 1). Pessoas ricas gastavam muito dinheiro com esses ritos, enquanto que os pobres tinham de contentar-se com a mera unção com azeite de oliveira. f. Ritos de hospitalidade. Os servos tinham por tarefa ungir os convivas de um banquete, no Egito, na Assíria e na Babilônia. Além de óleos, também era usada água perfumada para salpicar nas vestes dos convidados. Jesus repreendeu a Simão, o fariseu, por ter deixado de prestar-lhe essa cortesia tipicamente oriental (ver Luc. 7:46). g. Pagamento de dívidas ou de tributo. Visto que os ungüentos eram geralmente tão valorizados, algumas vezes eram usados com essas finalidades (ver Osé. 12: I). 6. Usos Simbólicos a. Um sinal de alegria e satisfação (Sal. 45:7; Pro. 27 :9; Isa. 61 :3). b. Um sinal de hospitalidade (Sal. 23:5). c. Um sinal de prosperidade (Eze. 16:19). d. Um sinal de luxo e fausto (Pro. 21:17; Eze. 16:13). e. Um sinal de abundância (Deu. 32: 13; 33 :24). f. A ausência de unção simboliza tristeza e lamentação (11 Sam. 12:20,21; Dan. 10:3), ou, então, de jejum (Mat. 6: 16, 17). g. Nos sonhos e nas visões, o ato de ungir

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UNGÜENTO - UNIÃO COM DEUS pode simbolizar a doação ou recebimento de autoridade espiritual, reconhecimento, o estado de alegria, vitória, ou a necessidade de curar ou ser curado. 7. Cristo, o Ungido A palavra hebraica messiah, bem como a palavra grega christôs significam, ambas, "ungido". Na qualidade de profeta, sacerdote e rei, Cristo é o maior de todos os ungidos, o Ungido por excelência. Ver os artigos Cristo e Messias. UNI No hebraico, "respondendo com Yahweh". Há dois homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento, a saber: l. Um levita que dirigia os cânticos dos cultos do tabernáculo, nos dias de Davi. Ele é mencionado em I Crô. 15: 18,20. Viveu por volta de 10 15 a.c. 2. Um levita que retomou do cativeiro babilônico para Jerusalém, em companhia de Zorobabel. Mencionado somente em Nee. 12:9. Viveu em tomo de 536 a.c. UNIÃO COM CRISTO Ver o verbete União com Deus, que trata essencialmente do mesmo assunto que a União com Cristo. Além disso, apresentamos um minucioso artigo intitulado Transformação Segundo a Imagem de Cristo, que aborda detalhes de como o homem pode participar da natureza e dos atributos do Filho de Deus. A união espiritual é realizada através da transformação. A vida presente pode ver estágios preliminares dessa união, conforme foi sugerido no artigo sobre a União com Deus; mas somente na glorificação (vide) é que essa união será aperfeiçoada, e a glorificação será um processo eterno. É claro que a salvação não consiste apenas em ficar alguém livre do pecado e ir viver algum dia, eternamente, no céu. A salvação também não consiste na participação da natureza dos anjos, o ponto máximo que atinge o ensino dos evangelhos sinópticos (ver Luc. 20:36). Em vários dos livros pseudepígrafos do Antigo Testamento, o recebimento da natureza angelical é o máximo de glória a que o homem pode aspirar, o que seria obtido no sexto céu. Mas o Novo Testamento, com a sua doutrina da transformação segundo a imagem do Filho, faz desse fato e desse evento o ponto culminante a que a alma humana remida pode atingir. Isso envolve a participação da natureza divina (e não da angelical; ver 11 Ped. 1:4), bem como da plenitude de Deus (ver Efé. 3: 19), ou seja, de sua natureza e dos atributos resultantes. Além dos verbetes mencionados, ver também Visão Beatifica, bem como os artigos gerais sobre o Misticismo e sobre o Cristo-Misticismo. Este último fornece informações sobre aspectos presentes da busca mística que redunda na união com Deus e com Cristo. UNIÃO COM DEUS O objetivo da busca mística, dentro da fé cristã, é a união com Deus. Há muitos objetivos secundários, como a iluminação da alma. A Visão Beatífica (vide) é uma expressão tradicional da união ideal com Deus. Muitas religiões incorporam esse ideal, tanto no Oriente quanto no Ocidente. "O neoplatonismo enfatizava a possibilidade, fazendo-a mediada através do Lagos. De acordo com a fé cristã --e também com outras fés, a queda no pecado separou o homem de

Deus. E a união é uma restauração, embora seja mais do que isso, visto que envolve o ideal de participação da natureza e dos atributos de Deus, sendo esse o nosso mais elevado conceito religioso. Deus é auto-existente e tem uma vida que não pode deixar de existir. Deus é independente, porquanto não depende de nenhum outro ser nem força para existir. Mas a alma humana é dependente, não tendo capacidade de existir por si mesma e tendo de depender de Deus para continuar existindo. A vida do homem não é necessária, pois pode deixar de existir. Mas Deus tem uma vida que é necessária. Deus não pode deixar de existir. Ora, a união com Deus confere ao homem a vida independente e necessária de Deus. O homem remido vem a participar dessa vida de Deus, porquanto recebe a natureza divina (ver 11 Ped. 1:4) e a plenitude de Deus (ver Efé, 3: 19), a natureza divina em todos os seus atributos e em todas as suas manifestações. Isso ocorre através da transformação do homem interior segundo a imagem de Cristo, o Filho de Deus, o Lagos encarnado (ver Rom. 8:29). E é o Espírito Santo quem transforma os remidos, mediante uma interminável série de estágios (ver 11 Cor. 3: 18). Temos ai a glorificação (vide), que nunca chegará a estagnar e nunca chegará ao fim, pois seu escopo é ir aumentando cada vez mais. Passagens bíblicas como Gên. 1:26,27; Jó 3:14; Sal. 8:4 e Isa. 64:8 enfatizam a dependência do homem. A imagem de Deus, embutida no homem, está destinada a expandir-se, e essa expansão é a concretização da salvação, que haverá de prolongar-se por toda a eternidade futura, nunca deixando de operar. De acordo com a fé cristã, essa união é mediada pelo Logos, o princípio do Filho, dentro da deidade. Os remidos são identificados com Cristo, o Lagos encarnado, processo pelo qual os filhos estão sendo conduzidos à glória do Filho de Deus (ver Heb. 2: 10). A salvação tem por escopo a união com Deus, e não meramente o perdão dos pecados e a vida em um lugar melhor (celestial), isento de problemas e repleto de felicidade. Ver o artigo geral sobre a Salvação. Não é verdade, conforme afirmam equivocadamente alguns, que os homens podem ser unidos a Deus eticamente, mas não metafisicamente. Os versículos acima sugeridos referem-se claramente à união metafísica com Deus, mostrando que os remidos participarão da mesma essência de tipo de vida que Deus tem, posto que sempre em uma maneira finita. Contudo, essa finitude vai-se aproximando mais e mais da infinitude, a alma remida vai-se tornando cada vez mais parecida com Cristo, porquanto está em foco uma glorificação eterna e interminável. Desde o presente há certa participação do crente da natureza divina, devido à união mística com ele; mas isso representa apenas os passos preliminares, aquele estágio que promete uma plena participação da natureza divina. Essa participação, posto que parcial, vai-nos transformando moral e espiritualmente. O artigo sobre o misticismo (vide) aborda toda essa questão. Paulo teve experiência com o "terceiro céu", posto que não tenha estado na presença mesma de Deus; mas isso resultou para ele em efeitos admiráveis, e podemos ter a certeza de que nunca mais Paulo foi o mesmo homem. Escritores cristãos como Agostinho, Bernardo de Clairvaux, Boaventura, Meister Eckhardt, São João da Cruz, Santa Teresa, Ramon Lull e Jacó Boehrne experimentaram todos, em um grau ou outro (embora em essência a mesma coisa), uma profunda

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~ODOSEGO~TAS-UffiIDADE união com Deus, algumas vezes com resultados simplesmente espetaculares. A Igreja Oriental busca a iluminação através da meditação o que, algumas vezes, produz a união preliminar com Deus. As religiões não-cristãs, naturalmente, também têm pensado que essa questão se reveste de fundamental importância. Várias pessoas têm sugerido diretrizes quanto à união com Deus, e essa é a mensagem central do misticismo, sobre o que esta enciclopédia oferece um detalhado artigo. A tentativa quase sempre incorpora alguma forma de meditação e alguma busca por estados alterados de consciência. Sempre requer a pureza moral como condição fundamental, sem a qual qualquer busca espiritual séria é inútil, sem nenhum avanço. O êxtase místico é procurado como veículo da transformação mística. Mas todos esses estados, quando conseguidos pelo homem mortal, são limitados. A alma precisa libertar-se do corpo físico para que uma autêntica união com Deus possa tornar-se realidade. Isso não acontece automaticamente, ante a morte biológica do crente. De fato, faz parte da glorificação humana, que precisa atravessar muitas fases, durante um longo período de tempo (ver I Cor. 3:18). Na verdade, é mais correto dizermos que a glorificação é um processo eterno, e que a união com Deus é uma conseqüência desse processo. UNIÃO DOS EGoíSTAS Esse assunto tem alguma importância no campo da ética. Alguns estudiosos têm proposto que o verdadeiro problema ético consiste em como todos os egoístas conseguem relacionar-se, em uma espécie de programa benéfico de dar e tomar. Fazer de um ser humano um ser altruísta é façanha impossível, e a liberdade e a expressão individuais precisam ser respeitadas. Por conseguinte, o ideal ético é uma união dos egoístas, não a eliminação do egoísmo. UNIÃO HIPOSTÁTICA Ver sobre Unidade (União) Hipostática. UNIÃO PROSÓPICA Ver sobre o Nestoríanísmo. UNICÓRNIO No hebraico, reemo A nossa versão portuguesa prefere pensar no "boi selvagem", e com toda razão, conforme veremos. Essa palavra ocorre por dez vezes: Núm. 23:22; 24:8; Deu. 33:17; ló 39:9, lO; Sal 22:21; 29:6; 92: I O e Isa. 34:7. Sem dúvida, está em pauta aquela espécie de animal selvagem que, nas esculturas assírias, aparece com o nome de Rimu. Provavelmente, corresponde ao auroque, também conhecido como bisão europeu, uma espécie extinta. Naquelas referências bíblicas, esse animal é descrito como forte, corpulento e feroz. Não era possível amansá-lo, para que ajudasse ao homem em seus labores agrícolas. Em vista de sua ferocidade, até mesmo caçá-lo era uma empreitada perigosa. O unicórnio, por sua vez, nunca existiu, senão nas lendas antigas. Ele era concebido como um animal bem menor que o touro, dotado de um único chifre, no meio da testa. Portanto, a nossa versão portuguesa mostra-se correta ao preferir "boi selvagem", e não "unicórnio". Ver também o artigo sobre o Boi Selvagem.

UNIDADE (UNIÃO) Nesta enciclopédia, oferecemos vários verbetes que tratam de vários aspectos da unidade. Ver Unidade da Fé; Unidade da Raça Humana; Unidade de Tudo em Cristo; Unidade em Cristo; Unidades; As Sete Unidades Espirituais; e Restauração, verbetes esses que aludem à unidade final que será formada em torno do lagos. Ver também União com Deus e União com Cristo. UNIDADE, AFINAL, DE TUDO NO LOGOS Ver os verbetes Unidade em Cristo; Unidade de Tudo em Cristo; Universalismo e Restauração. Uma Visão da Afirmação Uma experiência visionária que ilustrou o Mistério da Vontade de Deus (vide). Comecei a sentir aquela sensação de antecipação, agora familiar. Minha alma estava em paz com Deus, consigo mesma, e com o mundo. Estava na minha sala de visita, esperando o que me seria revelado e soube que não ia demorar muito. De súbito, um vale preto foi aberto diante de mim, e antes de poder registrar qualquer coisa mentalmente, eu fui nele absorvido. Uma iluminação mental informou-me imediatamente que o vale simbolizava a essência da rebelião, do pecado e da morte. O lugar não tinha, absolutamente, cor alguma, mas foi encoberto por cinzas, pretos e sombras sinistras. Montanhas altas e abruptas fecharam o vale e elas foram cobertas por nevoeiros tristes, porque suas formas não foram distintas. Eu fui obrigado a andar através do vale, e quando comecei, seu terror cobriu minha alma. Seus elementos sombrios se estenderam como coisas vivas e me agarraram. Eu senti as minhas forças vitais serem estranguladas dentro de mim. As essências melancólicas do vale foram me sufocando como se fossem tantas criaturas nojentas, cujos tentáculos me seguraram e oprimiram. Eu comecei a visionar a morte e a destruição das eras. Vi agressões intermináveis, a marcha de imensas multidões de tropas e ouvi o trovão blasfemo de armas e bombas. Corpos apodrecendo, massas de lixo e milhares de coisas imundas emanavam odores repugnantes que assaltaram os meus sentidos. Testemunhei inumeráveis mortes e ouvi os soluços dos desolados. Um desespero me engolfou. De súbito, da extremidade do vale, vi uma bola gigante de fogo emergir. Sua radiação de luz, até daquela distância, era uma visão assustadora. Mas eu sabia que não tinha nada a temer daquele fogo. Em alegria, observei a bola de fogo consumindo cada coisa miserável do vale. Então o fogo se difundiu em luz e calor radiantes que engolfaram toda a minha visão. O próprio vale foi consumido e eu com ele, porque senti a desintegração de cada célula do meu ser. A fúria de um vento ardente levou-me para cima e além, e eu cheguei a descansar num lugar de paz. Uma luz dourada abraçava tudo que é ou pode ser, formando uma unidade harmoniosa. Eu sabia que o fogo que tinha consumido o vale e a luz áurea de paz foram aspectos da mesma força. Além do desespero, da contenda, da complexidade e da dispersão, existe um só Deus, misterioso nas suas operações. Eu sabia que todas as coisas e todos os seres devem chegar afinal a descansar Nele, porque não podem existir fragmentos isolados do Total. Objetos de beleza estupefaciente passaram diante dos meus olhos, cristais intricados, diamantes que captaram todos os arco-íris, cálices ornados, todos brilhando com um resplendor sobrenatural.

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UNIDADE -UNIDADE DA FÉ Para a minha surpresa, o brilho áureo se formou num circulo giratório furioso. Eu observava pasmado, porque sabia que alguma grande mensagem ia ser comunicada por essa roda de luz. Eu vi todas as nações, raças e povos de todos os tempos, varridos para dentro do giratório, enquanto ganhava assustadoramente em velocidade. A roda radiante parecia esticar-se até a infinidade. Ao longo de suas bordas, eu vi os símbolos de todas as religiões e filosofias do mundo. Cada símbolo mantinha sua independência, a despeito da velocidade da rotação da roda. Cada um convidou-me com uma força cornpelativa. Precisamente no momento que ia ceder-me as suas chamadas, eu vi as deficiências de cada um e retirei-me. Então, a roda radiante ganhava mais e mais velocidade. Os símbolos não foram capazes de manter sua independência e assim todos eles foram absorvidos no giratório do brilho áureo. Tudo foi inundado com o calor de bondade e amor, e uma unidade abençoada reinava, afinal Naquele instante, eu sabia: Foi aquela Unidade que eu tinha almejado e procurado toda a minha vida. Esta foi a essência da minha busca, embora não soubesse o que era que eu procurava. Um amor todo-acolhedor, Deus como fogo no vale, Deus na roda áurea e brilhante, e descanso em um Deus, afinal. A iluminação que se seguiu A visão falou da morte e de um renascimento final para todos. Foi-me mostrado que todos os nossos sistemas são incompletos e devem ser absorvidos, afinal, numa Grande Unidade. A visão não tinha a intenção de ensinar que não devemos ser parte de um sistema, mas mostrou, meramente, a natureza fragmentária e transitória das nossas teologias e filosofias. De fato, a maior força na terra hoje é a cristoconsciência, e foi lá que o Lagos implantou suas sementes mais vigorosas. Esta força dirige-nos na direção da Unidade, embora, no estado atual das coisas, ela possa habitar em diversos sistemas distintos. Paulo, inspirado, ensinou a substância daquilo que agora declaro: "Considere o mistério da vontade de Deus, isto é, o que Ele pretende realizar, afinal. Ele tinha um propósito na missão de Cristo, e aquele propósito estava envolvido neste mistério. Ele tinha um plano, e a realização daquele plano é a substância do mistério. Quando todas as eras do tempo tiverem contribuído com sua parte, uma nova ordem de existência resultará. Esta Nova Ordem será uma Unidade todo acolhedora, uma Unidade de todos os seres e de todas as coisas em Deus". (cf. Efé, 1:9,10). Quanto à minha avaliação sobre o Universalismo (vide), o leitor deveria consultar o verbete, que é bastante pormenorizado, nas seções IV e V. UNIDADE DA FÉ I. Uma Declaração de Importância Efé. 4:13: até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus. ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; Essa é uma das grandes declarações do N.T. no que concerne ao alvo vital e ao sentido do evangelho, o que sem dúvida ultrapassa os meros aspectos iniciais do perdão dos pecados e da futura transferência para os céus, ao que o evangelho geralmente vem sendo muitas vezes reduzido. Essa é uma declaração similar a outras fortes afirmativas, a saber:

1. A conformação à imagem de Cristo, mediante o propósito da predestinação (ver Rom. 8:29). Ver o artigo sobre a Transformação Segundo a Imagem de Cristo. 2. A participação da vida necessária e independente de Deus, ou seja, haveremos de compartilhar do mesmo "tipo" de vida que Deus tem, do que os anjos não participam por terem uma vida dependente (ver João 5:25,26 e 6:57). 3. A transformação do crente segundo a imagem de Cristo, de um estágio de glória para outro, através do Espírito Santo (ver II Cor. 3: 18). 4. A condução dos filhos de Deus à glória, para que se tornem membros da divina família, sejam filhos tal como o Filho é e compartilhem com ele de sua natureza e herança (ver Rom. 8:14-17 e Heb. 2:10). 5. A participação na plenitude da divindade, tal como o próprio Cristo, o Deus homem, está completa nessa plenitude (ver Col. 2: 19,10). 6. A participação de "toda a plenitude do próprio Deus Pai", (ver Efé. 3:19). 7. A participação da natureza divina (ver 11 Ped. 1:4).

Até. Provavelmente essa palavra não foi usada para distinguir a vida presente, na igreja, da vida futura nos lugares celestiais e, sim, para incluir ambas as idéias. Todos os aspectos da edificação, do processo de aperfeiçoamento fomentado no presente pela administração dos dons na igreja, visam à unidade final da fé, o pleno conhecimento do Filho de Deus, a ampla participação de tudo quanto ele é e possui, isto é, a sua "plenitude". Esse processo de aperfeiçoamento é aquilo que continuamente nos preenche mais e mais com a plenitude de Deus; mas, posto que Deus é infinito, a eternidade futura inteira se caracterizar! por um preenchimento contínuo, pois no céu não há estagnação. A própria vida, em sua essência e caráter, consiste na inquirição eterna para que sejamos cheios de Deus a fim de que tenhamos sua natureza, sua santidade e sua plenitude. Todos. Esse termo aponta para os crentes e remidos de todas as eras. No original grego temos a expressão "o todo", o que torna essa expressão coletiva e universal. Não diz, "todos nós", e, sim, "o todo". Devemos observar que crentes individuais isolados não poderão obter o elevadíssimo alvo aqui apresentado. A igreja inteira é que atingirá tal alvo. Somente a edificação e o desenvolvimento mútuos nos levarão a esse clímax espiritual. Meu progresso depende do progresso da comunidade cristã inteira, e o progresso da igreja depende de mim, por sua vez. Todos nós perfazemos o corpo único, o único organismo, e o crescimento se dá por igual. Não poderei atingir a perfeição e a completa glorificação até que todos os membros do corpo participem disso comigo. E esse é um poderosíssimo argumento em favor da necessidade de edificação mútua. 11 Unidade da Fé: Definições 1. Não está em foco "a total harmonia em torno de proposições de fé", o acordo sobre em que deve consistir o "corpo de doutrinas". Deus cuidará das nossas "crenças"; mas não é isso que se destaca aqui, porquanto a palavra fé raramente tem a idéia de um conjunto de doutrinas, nas páginas do N.T. (ver I Tim. 1:2). 2. Pelo contrário, conforme é usual nos escritos de Paulo, devemos entender aqui a "fé salvadora". Assim

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UNIDADE DA FÉ - UNIDADE DE TUDO sendo, essa expressão significa " ... até que todos nós cheguemos 'àquela unidade para onde nos conduz a entrega de alma' (ou fé) a Cristo". A fé é o instrumento da salvação, e vivemos de fé em fé. Na fé é que entregamos a alma eternamente às mãos de Cristo, pois a fé é essa entrega. Porém, tal entrega se manifesta em diversos graus. Na experiência da igreja cristã, coletivamente, essa entrega será enfim absoluta, todos os remidos se entregarão de modo total e igual a Cristo, chegando àquela grande unidade que é o objeto de tudo quanto ocorre na igreja. Dentro dessa unidade, pois, os homens chegam à perfeita harmonia com Deus e seu Cristo, ficando removidos então todos os elementos separadores e alinhadores, o que significa que uma completa comunhão com o Senhor e com os irmãos será atingida, além de recebermos total benefício espiritual da parte do Senhor. Essa unidade é a finalidade mesma do mistério da vontade de Deus (ver Efé. I: 1O). Isso se concretizará, primeiramente, no seio da igreja (ver Efé 3:3), quando ela se tornará o modelo de como Deus haverá de restaurar todas as coisas em Cristo, fazendo tudo entrar em harmonia com ele, por ser ele o cabeça de todos os mundos e de toda a criação. Já existe no momento uma certa unidade criada pelo Espírito, a qual deve ser preservada por nós e aplicada no âmbito da igreja local (e essa é a mensagem clara desta seção inteira, "a começar pelo primeiro versículo, até o versículo décimo sétimo de Efé. 4). Porém, haverá aquela completa realização da unidade, a total restauração em Cristo, a perfeita harmonia com ele, como se fosse um corpo com sua cabeça; e esse é o aspecto final da unidade (o cumprimento da vontade de Deus), para o que o presente versículo aponta. "Essa frase com freqüência tem sido mal-entendida na prédica e no ensino cristãos. Muitos eruditos acham que está em foco o exclusivismo da ortodoxia, uma unidade de um grupo fracionário de cristãos que aceitam uma formulação comum de confissão teológica". (Wedel, in loc.). E prossegue o mesmo autor: "Não precisamos subestimar a ortodoxia. Essa palavra significa "crença correta". A fé cristã requer a crença correta, bem como formulações intelectuais corretas, e não errôneas, sobre o evangelho. A heresia foi e é , conforme esta epístola (aos Efésios) não tardara a demonstrá-lo (ver o décimo quarto versículo), um perigo constante para a igreja". A unidade da fé aqui, entretanto, significa claramente aquela unidade exigida 'pela fé' em Cristo. 3. Fé em Cristo leva o homem a participar de tudo que o Cristo é, conforme o esboço oferecido nos pontos I a 7. Nestas realizações, participamos da estatura da plenitude de Cristo. UNIDADE DA RAÇA HUMANA Atos 17:26: e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação. Ora, a unidade da natureza humana era uma doutrina fundamental do estoicismo, como também era aceita pelos cínicos. Estes últimos rejeitavam as identificações nacionais como algo válido, afirmando que todos os homens são cidadãos do mundo. Já a mitologia, representada por diversas culturas, fazendo contraste com essa posição, apresentava várias e

distintas origens para as diversas raças humanas. Os atenienses, por exemplo, tinham um mito de que haviam "nascido por si mesmos", como se tivessem se originado da terra espontaneamente, como se fossem um feixe ou alguns rabanetes. Não é muito provável, entretanto, que a maioria da população ateniense nos tempos de Paulo levasse a sério esse mito. Não obstante, havia uma aguda distinção que os atenienses comuns faziam entre eles mesmos e os bárbaros. A declaração do apóstolo Paulo, pois, atacava na raiz o exclusivismo grego, em qualquer expressão em que esse sentimento porventura se manifestasse; e também não perdoava o orgulho racial dos judeus, que sempre reputou as demais nações como pagãs e inferiores, isso para expressar de maneira suave os pensamentos dos judeus a respeito. (Para uma nota expositiva sobre a profundidade do exclusivismo judaico e seu ódio contra os gentios, ver o trecho de Atos 10:28 no NTI). Alguns intérpretes têm considerado que a menção da identidade de sangue antecipou o conceito científico. Esses imaginam que Paulo tivesse querido dizer que a composição química do sangue é exatamente igual em todos os homens. Mas essa suposição é impossível. Pois, em primeiro lugar, conforme esclarecemos abaixo, a palavra "sangue não faz parte do texto original; e, em segundo lugar, ainda que assim fosse, não poderia ter esse sentido científico, porque, para os antigos, o vocábulo "sangue" era usado como sinônimo de raça, de origem, nada tendo a ver com as propriedades químicas do sangue. (Para uma ilustração sobre esse significado, ver as citações abaixo). Na I1íada de Homero (ver Aen. vi. verso 211), lemos: "Glorio-me de pertencer àquela mesma raça e sangue". Por igual modo, Virgílio (ver Aen. viii. ver. 142) declarou: "Sic genus amborum scindit se sanguine ab uno", que quer dizer: "Assim sendo, ambos os nossos ramos de nascimento, origem, se dividem de um só sangue". Essas citações capacitam-nos a ver que, desde os tempos mais remotos, a palavra sangue era empregada com o sentido de "raça" ou "origem". Do ponto de vista teológico dos judeus, esse argumento equivale a dizer que todos os homens descendem de um único genitor, conforme também declara o livro de Gênesis, o que significa que todos os homens têm uma origem comum. Ora, isso é um fator que une os homens, pondo-os em posição de igualdade aos olhos de Deus, declarando que a providência divina está igualmente interessada em todas as raças. Isso, por sua vez, concorda com o tema lucano da universalidade do evangelho, tema esse tão insistentemente enfatizado na narrativa da obra dupla: Lucas-Atos. O evangelho destina-se a todos os homens, sem nenhuma distinção de raça. UNIDADE DE TUDO EM CRISTO I. A Restauração Geral Ver o artigo sobre Restauração; nisto temos a unidade de todas as coisas, afinal, segundo o Mistério da Vontade de Deus, Efé. 1:9,10,23. 11. A Unidade Espiritual de Todos os Remidos em Cristo, Efé. 2:11.23 Paulo descreve, por toda a seção doutrinária, dos capítulos primeiro a terceiro de Efésios, algo sobre o grande desígnio do mistério da vontade de Deus, que aparece em Efé. I: 10, e que consiste na total unidade e

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UNIDADE DE TUDO - UNIDADE EM CRISTO na restauração de tudo em Cristo Jesus. Já no princípio desta epístola (ver Efé. I :23), Paulo demonstrara o fato admirável de que todos os seres inteligentes e criados são encabeçados pelo homem que ocupa a posição mais elevada nessa unidade e restauração, como a "plenitude de Cristo, aquele que preenche tudo em todas as coisas", ou seja, que é "tudo para todos". Ora, isso não pode ser dito com respeito aos anjos, e eles jamais são chamados de "filhos" (pelo menos no N.T.). Por conseguinte, os remidos participam da família divina, sendo filhos de Deus que estão sendo conduzidos à glória (ver Heb. 2: 10), a fim de participarem da natureza e da herança do próprio Filho de Deus, o Senhor Jesus. No segundo capítulo desta epístola, Paulo ainda não chega a discutir com clareza a questão da igreja cristã como uma entidade separada da antiga Israel espiritual; antes, mostra ali haver indiscutível unidade entre judeus e gentios, o que serve de exemplo e ilustração de tudo quanto Deus fará universalmente, afinal, quando o mistério de sua vontade estiver completamente cumprido. Portanto, esta seção de Efé. 2: 11-22 salienta a unidade espiritual da humanidade, conforme ela se manifesta no seio da igreja. Ao terceiro capítulo desta epistola cabe exibir o "mistério da igreja". Revelações mais profundas sobre essa comunidade espiritual sem-par são dadas aí. O grande desígnio de Deus, de juntar todo o universo criado em uma unidade total, é prefigurado por aquilo que está acontecendo no seio da igreja; de fato, tal desígnio já teve início nessa comunidade dos remidos. Ora, essa unidade espiritual da igreja é produzida, tal como todos os avanços e bênçãos de natureza espiritual, pela operação do Espírito Santo. No presente capitulo, vemos o Espírito do Senhor como o poder divino que habita em um templo; e esse templo é a congregação viva dos remidos em Cristo. O Espírito Santo, que em nós habita, leva a comunidade espiritual inteira a reconhecer ao Senhor Jesus como seu Cabeça, unindo-se a ele, exatamente aquilo que enfim ocorrerá no caso da criação inteira, porquanto todos os seres criados lhe prestarão obediência (ver Fil. 2:9-11). Ora, dentro dessa unidade da humanidade já temos começado a perceber que a posição e os privilégios da igreja ultrapassam aquilo que foi conferido à nação de Israel; e essa verdade se toma ainda mais evidente no terceiro capítulo desta epístola, em que o tema da "igreja" é desenvolvido ainda mais. Não era nenhum mistério o fato de que os povos gentílicos também seriam salvos, porquanto isso foi predito desde o A. T. Mas o fato de que Deus traria os gentios para o seio de sua igreja, elevando-os à natureza do próprio Filho de Deus, é que era uma doutrina desconhecida nos tempos do A.T., e nem ao menos podia ser imaginada. Os versículos décimo primeiro a décimo terceiro deste capítulo dão prosseguimento aos conceitos emitidos nos versículos primeiro a sétimo; contudo, mostram-nos tanto que a alienação chegou ao fim quanto o fato de que essa reconciliação produziu uma unidade da comunidade espiritual que transforma em um só os povos gentílicos e os judeus. Devemos observar que Paulo não considera aqui os crentes como situados nos lugares celestiais, segundo se vê nos versículos sexto e sétimo deste capítulo; antes, dá a entender que a presente unidade já é uma realidade espiritual. Uma vez mais o apóstolo Paulo lembra os crentes

efésios da posição anterior deles, no paganismo, em que paixões e concupiscências tinham reduzido esta terra a um quadro do inferno. Era conveniente que aqueles crentes não se olvidassem disso, à medida que ele desdobrasse perante eles as glórias da redenção no sangue de Cristo. Naquele duro mundo pagão caíram Desgosto e nojo secreto; Profundo cansaço e paixão arraigada Fizeram da vida humana um inferno. (Matthew Arnold) Antes de sua conversão, aqueles crentes tinham estado mortos (ver Efé. 2: 1-5), e aquela morte espiritual em vida significava que estavam "alienados" de Deus (ver Efé. 2:11-13). Ora, a natureza da restauração, que nos tira dessa alienação, é justamente o tema da seção que temos à nossa frente. 111. O Novo Homem, Efé. 2:15 " ... dos dois criasse em si mesmo novo homem, fazendo a paz". A palavra dois, neste caso, indica judeus e gentios, os quais, em Cristo, se tomam um só corpo, uma única comunidade religiosa, a nova comunidade que retém todas as bênçãos da antiga comunidade, e mais ainda, ultrapassa tudo quanto se conhecia no A. T. Em Cristo, sem importar procedência, raça ou privilégios religiosos anteriores, todos os crentes são um, conforme lemos em GáI. 3:28, onde o conceito da unidade em Cristo é apresentado. Neste ponto, entretanto, os crentes aparecem como novo homem e, no décimo sexto versículo, como um só corpo. Tudo isso, entretanto, se verifica em Cristo, a ênfase constante desta epístola aos Efésios, que fala sobre a nossa comunhão mística com Cristo, possibilitando a unidade e conferindo vida a essa unidade, a saber, a própria vida de Cristo. Ver o artigo Cristo-Misticismo. O novo Homem não pode ser nacionalmente identificado com "judeus" ou com "gentios". Na realidade, não indica nem um, nem outro. Bem pelo contrário, o "novo homem" é "'cidadão dos céus", apenas um "peregrino" nesta terra (ver Pil, 3:20 sobre a "cidadania celestial". Ver também Heb. lI: 13 sobre o fato de que somos "estrangeiros e peregrinos na terra"). Ora, um "novo homem" é a "feitura" referida no décimo versículo deste capítulo, e é denominado "nova criatura", em 11 Cor. 5: 17 Ver os vebetes: Restauraçílo; Universalismo; e Mistério da Vontade de Deus. UNIDADE ECLESIÁSTICA Ver sobre Movimento Ecumênico; Unidade de Tudo em Cristo e Unidade em Cristo. UNIDADE EM CRISTO Esboço: I. Raças Unidas 11. Sexos Unidos m.As Sete Grandes Unidades Espirituais IV.O Destino Comum dos Remidos V. A Unidade da Restauração Final I. Raças Unidas ..... onde não pode haver grego nem judeu, circuncísão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém, Cristo é tudo e em todos (Colossenses 3: 11). O evangelho foi derrubando as barreiras raciais e, juntamente com isso, as distinções religiosas e culturais

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UNIDADE EM CRISTO que essas barreiras impõem. Em Cristo, o judaísmo deixou de ser ímpar, e até os pagãos, as tribos barbáricas, como os citas (aparentados aos modernos povos germânicos, conforme muitos estudiosos pensam), tornaram-se sujeitos a essa transformadora mensagem cristã. a. Os judeus. Os judeus tinham privilégios religiosos e uma longa tradição de revelações divinas, cristalizadas na forma de livros sagrados, o Antigo Testamento. Paulo referiu-se às muitas vantagens do povo de Israel (Rorn. 3:1 ss). Antes de tudo, eles dispunham dos oráculos de Deus (ver Rom. 9:4 ss, onde há uma longa lista das vantagens religiosas de Israel). Mas, em Cristo, os pagãos e os selvagens tomam-se donos de todas essas vantagens e mais ainda. As vantagens dos judeus foram incorporadas na economia do evangelho, tornando-se parte dessa unidade em Cristo. b. Os gregos e os bárbaros. Aos olhos dos judeus, os gregos eram bárbaros. Para os gregos, quem não falasse o grego, mas tivesse um idioma de fonemas àsperos e guturais, como "bar, bar", que não podiam ser bem compreendidos, era considerado um "bárbaro", pois essa é a origem da palavra. Antigamente, essa palavra, diferente do que se verifica hoje, não indicava algo cru ou selvagem. Mas, lentamente, o termo foi adquirindo tal sentido, pois os povos que não falavam o grego tinham, com freqüência, uma cultura inferior, mais crua. Platão dividia a humanidade em duas classes: os helênicos e os bárbaros. A partir da época de Augusto, o termo começou a ser aplicado pelos romanos a todas as outras nações, excetuando somente eles mesmos e os gregos. No entanto, os gregos continuaram chamando os romanos de "bárbaros". Os judeus também chamavam de bárbaros a todos os não judeus. O orgulho racial sempre se faz presente. Einstein chamava o nacionalismo de "sarampo da humanidade", por ser um sentimento de pessoas culturalmente infantis, que nunca chegaram a perceber a unidade da raça humana. Os estóicos tinham como uma de suas principais doutrinas essa unidade dos homens, declarando que todos nós somos cidadãos do mundo. A fé cristã unificou todas as raças da humanidade, mediante a unidade dos crentes em torno de Cristo, por terem uma só natureza e um único destino. c. Citas. Essa palavra transmite a idéia de um barbarismo cru, pois os citas eram selvagens nômades que assaltavam a área do mar Mediterrâneo oriental, deixando atrás uma trilha de terror. Originalmente, eram uma tribo de nômades cavaleiros, guerreiros constantes, vindos da Sibéria ocidental para habitarem a área entre os mares Negro e Cáspio, desde épocas tão remotas quanto 2000 a.C. No fim do século VII a.C., mudaram-se para o norte da Pérsia e para Urartu, empurrando os cimérios na direção do Ocidente. Sargão li, da Assíria (727-705 a.c.), conseguiu fazê-los parar nesse avanço. Heródoto diz-nos que os citas vieram a dominar a parte ocidental da Pérsia por vinte e oito anos, através de várias aventuras militares. Ajudaram os assírios contra os medos. Mais tarde, assediaram a Palestina, e Psamético só conseguiu salvar deles o Egito, entregando-lhes dinheiro e tesouros. Heródoto fornece-nos uma chocante descrição acerca dos citas. Viviam em caravanas, ofereciam sacrifícios humanos, escalpavam os seus adversários e, algumas vezes, arrancavam a pele de suas vítimas, bebendo-lhes o sangue e usavam os crânios delas como vasos para beberem. Quando falecia um de seus reis, uma de suas

ccncubinas era estrangulada e sepultada juntamente cem ele, e, no fim daquele ano, cinqüenta de seus auxiliares também eram estrangulados, eram-lhes tiradas as entranhas, eram montados em cavalos mortos, e então deixados em círculo, ao redor do sepulcro. Isso indica a crença no após vida. Tais pessoas, segundo eles pensavam, acompanhavam os seus senhores até o mundo dos espíritos. Alguns estudiosos acreditam que os capítulos trinta e oito e trinta e nove do livro de Ezequiel, que falam scbre Gogue, referem-se aos citas. Sob o governo de C luro, os citas estabeleceram sua capital em Neápolis, nt. Criméia, no ano 110 a.C. Eles acabaram controlando as estepes do sul da atual Rússia, tornando-se os intermediários no comércio proveniente da Rússia, especialmente dos produtos produzidos no campo e nu comércio escravagista. E a esse povo, pois, que o apóstolo Paulo se refere, ao chamá-los de citas. O uso que ele fez do vocábulo mostra o poder do evangelho para unificar todos os povos em torno de Cristo, incluindo os povos mais selvagens. As missões modernas têm demonstrado, a sobejo, esse mesmo poder. 11. Sexos Unidos "Destarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3-28). Paulo repete aqui vários elementos que já vimos em relação ao trecho de Colossenses 3: l l . Porém, neste trecho da epístola aos Gálatas ele vai um pouco adiante. Agora ele nos revela o ponto surpreendente que, na di spensação do evangelho, em contraste com o que ocorria no judaísmo, a mulher torna-se igual ao homem. Às mulheres israelitas a lei não era ensinada. Nas sinagogas, enquanto um escravo podia ler publicamente, uma mulher judia, embora livre, não podia fazê-lo. Um famoso rabino chegou a dizer: "Antes de ensinar a lei a uma mulher, é melhor queimar a lei". A grandiosa declaração paulina, que tanto dignifica a mulher, não foi devidamente implementada na Igreja primitiva. Nas páginas do Novo Testamento muitas regras ainda pesavam sobre elas, em consonância com os costumes sociais (ver I Coríntios II e 14), embora esses costumes, nos dias atuais, não sejam mais obrigatórios. Porém, no p óprio seio da Igreja, às mulheres ainda não são dadas as v.mtagens que são dadas aos homens, refletindo o que ocorre na sociedade em geral. Não obstante, o princípio ensinado }Jl>r Paulo, como um ideal e uma força ativa, permaneça de pé. Finalmente, é óbvio que o homem e a mulher têm dlestínos idênticos em Cristo, isto é, a transformação segundo a sua imagem e a participação da natureza divina (Rom. 8 29; 11 Ped. 1:4; Col. 2: IO). 111. As Sete Grandes Unidades Espirituais Começando no trecho de Efésios 4:4, encontramos as sete unidades espirituais, a saber: um só corpo, um só Espírito, uma só esperança de nosso chamamento, UTI só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus. Cferecemos um detalhado artigo sobre esse assunto, CI)m o título: Unidades: As Sete Unidades Espirituais. IV. O Destino Comum dos Remidos O vocábulo "filiação" é sinônimo do termo Salvação (vide). Dentro desse termo encontramos a idéia da unidade da familia de Deus, em que há um Irmão mais velho e os outros irmãos, os quais chegarão a c ompartilhar da imagem e da natureza do Pai, por meio da missão universal do Irmão mais velho. Ver Col. 2: lO; II Ped. 1:4; Rom. 8:28 e II Cor. 3:18. As

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UNIDADE EM CRISTO - UNIDADES operações do Espírito Santo realizam essa comunhão de natureza, que é a base de toda a unidade espiritual que os remidos desfrutam. V. A Unidade da Restauração Final Visto que a missão de Cristo é universal, também faz amplas provisões no caso dos não-eleitos. Os nãoeleitos serão julgados, mas o julgamento será remedial, não apenas punitivo. Ver os artigos sobre a Missão Universal do Logos (Cristo) e sobre a Restauração. O propósito da missão de Cristo é reunir todas as coisas em uma só. Isso constitui o mistério da vontade de Deus, aquilo que o Senhor planeja fazer, em última análise, o que terá cumprimento quando da dispensação da plenitude dos tempos (Efé. 1:9, 10). O trecho de Colossenses 1: 16 mostra-nos que a criação inteira procede de Deus. Esse mesmo versículo afirma que toda a criação terá de retornar, finalmente, a Deus. Deus não é apenas o Alfa, porque também é o Ômega. No final, a criação inteira será unificada em tomo de Cristo. Cristo, tornar-se-ia, afinal, tudo para todos (Efé. I :23). Esse é um aspecto otimista do evangelho que ultrapassa, por meio de revelações cristãs mais avançadas, igualmente incluídas no Novo Testamento, aquele evangelho mais pessimista, que fala sobre um interminável sofrimento reservado para a grande maioria dos homens. O poder predestinador de Deus, por conseguinte, resplandece por detrás do seu amor, e não por detrás de sua ira. Outrossim, a ira divina é um dedo de sua mão amorosa, realizando o bem, finalmente, uma vez que a devida retribuição contra os impenitentes seja sofrida. UNIDADE (UNIÃO) HIPOST Á TICA Dentro do contexto da cristologia (vide), esse termo indica que embora o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam pessoas distintas em suas manifestações, são todas de uma só essência ou hipôstase. Esse vocábulo indica um "postar-se sob" que sustenta os seus acidentes ou qualidades. Cada substância divina está separada em uma das pessoas, mas todas elas estão unidas em uma única essência divina subjacente. Nas controvérsias trinitariana e cristológica, os vocábulos hupôstasts e ousia (ser, essência) com freqüência são usados como sinônimos. Porém, hipóstase pode referir-se à substância de cada uma das três Pessoas da Trindade, as quais são distintas uma da outra, embora pertençam à mesma essência. Ver o artigo geral sobre Hipôstasis. Cristo é chamado de uma das hipóstases da natureza divina; mas, quando esse termo é aplicado a ele, compreendemos que inclui tanto a sua natureza divina quanto a sua natureza humana. A expressão unidade hipostática denota a união das naturezas divina e humana na única pessoa (hipóstasis) de Cristo. O Concílio de Calcedônia (451 d.Ci) produziu esse conceito a fim de conciliar a alegada contradição entre a humanidade e a divindade de Cristo, o que parece dividir sua pessoa. O conceito assevera que as duas naturezas, embora distintas, estão inseparavelmente ligadas em Jesus Cristo. Ver o artigo geral sobre Cristologia. UNIDADES: AS SETE UNIDADES ESPIRITUAIS Ver Efésios 4:4-6 I. Idéias Sobre o Conceito de Unidade Efésios 4:4: Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da

vossa vocação. 1. A unidade tem sete facetas. (Efésios 4:6). Essas facetas é que servem de alicerce para a unidade cristã. A unidade exigida já é um fato inconteste no Espírito Santo, no seio da igreja mística e universal. E o apelo do apóstolo dos gentios, na presente seção, é que essa unidade fosse aplicada a todas as condições no seio da igreja local, a fim de que cada igreja local servisse de modelo e exemplo da unidade mística que prevalece na igreja universal. 2. A fórmula trirütária ressurge. Precisamos observar que, nestes versículos, a ênfase sobre Deus Pai, sobre Deus Filho e sobre Deus Espírito Santo se mostra bem clara. E cada uma das três pessoas da trindade tem seu papel a desempenhar no seio da igreja. Essa ênfase trinitária pode ser vista em várias porções da epístola aos Efésios, conforme se vê nas notas expositivas sobre Efé. 2: 18 no NTI. Alguns acreditam que essa unidade de sete facetas se resume em três aspectos, cada um centralizado numa das pessoas da trindade. Assim, teríamos: I. O Espírito Santo estaria ligado ao único corpo e à única esperança de nosso chamamento; 2. O Senhor (o Filho de Deus) apareceria vinculado à única fé e ao único batismo; 3. Deus Pai figuraria isoladamente; mas, sendo ele o Pai, apareceria como o alicerce de todas as unidades, sendo ele mesmo um tríplice poder unificador, a saber: a. devido ao seu poder soberano (ele está 'sobre todos'); b. devido à sua ação permeadora (ele se manifesta 'através de todos'); c. devido à sua presença universal e imanente (ele está 'em todos '). Contudo, essa formulação, apesar de interessante, parece dividir artificialmente as funções dos membros da trindade. Por exemplo, por que a esperança do nosso chamamento haveria de ser identificada mais com o Espírito Santo do que com o Filho de Deus? Ou por que o 'único corpo' haveria de ser mais particularmente identificado com o Espírito Santo, já que se trata do 'corpo de Cristo'? Portanto, parece-nos melhor compreender que essas facetas de unidade são uma categoria à parte, mas todas igualmente alicerçadas no Deus trinitário. 3. Pano de fundo de todas as formulações de unidade. O judaísmo helenista vinculava, de maneira similar ao que encontramos aqui, pessoas, o templo de Jerusalém e a lei, com a unidade da pessoa de Deus, onde Deus aparecia como 'o Grande'. A fórmula da Shema (palavra hebraica que significa ouve, o lema do monoteísmo judaico), e que deriva seu nome da primeira palavra do trecho de Deut. 6:4, e que diz: "Ouve. Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor", consistia em três seções, a saber: 1. Deut. 6:4-9; 2. Deut. 11:13-21 e 3. Núm. 15:37-41, cujo uso era precedido e seguido por bênçãos. Essa era uma fórmula que exortava o povo hebreu a unificar-se em tomo do único Deus. O trecho de Zac. 14:9 dá a entender que haverá a unidade final de toda a fé religiosa, porquanto na realidade só existe um Deus, o verdadeiro objeto de toda a adoração e fé dos homens. Josefo, o grande general e historiador judeu do fim da era apostólica, salientava a fé universal dos judeus, supondo que esta, finalmente, houvesse de absorver e unir todas as demais religiões, porquanto, dizia ele, "só existe um templo do Deus único, o qual é sempre caro para todos, comum a todos, assim como Deus é comum a todos". (Ver Josefo, Contra Âpoim, 11.193, a apologia de Josefo em favor do judaísmo). Por semelhante modo, Filo, um filósofo judeu da mesma época afirmava que visto

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UNIDADIS que Deus é um só, deveria haver apenas um único templo. (Sobre Leis Especiais, 1.67). Posteriormente reafirmando as reivindicações judaicas contra a nova religião, "o cristianismo", o livro apócrifo Apocalipse de Baruque orgulhosamente assevera: "Todos nós somos um povo famoso, que temos recebido a lei, da parte do Deus único". 4. A fórmula neotestamentária da unidade. Essa fórmula vai bem além do que se conhece no judaísmo, porquanto acrescenta os pontos distintos da fé cristã, a saber, que há um Senhor distinto de Deus Pai, a saber, Deus Filho. (Ver I Cor. 8:6 " ... para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as cousas e por quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas..."). Além disso há o único Espírito, o qual é visto como alguém distinto de Deus Pai e de Deus Filho. É o Espírito Santo quem produz a unidade mística do corpo de Cristo, conforme aprendemos em I Cor. 12:12,13. Por conseguinte, a base da unidade, de conformidade com o N.T., e em contraste com o A.T., é de natureza "trinitária", Já a base da unidade no AT. é o "monoteísmo" puro. Tendo dito isso, temos declarado a diferença básica entre o Antigo e o Novo Testamentos, bem como entre o judaísmo e o cristianismo. Todas as demais verdades distintas da fé cristã estão de alguma maneira baseadas sobre a distinção que há entre as três pessoas divinas. Até mesmo aquela maior e mais exaltada de todas as verdades distintas da fé cristã, a saber, a transformação do crente segundo a imagem de Cristo, a participação do crente da própria divindade, depende da atuação dessas pessoas distintas, em que são destacados os feitos de Deus Filho e de Deus Espírito Santo. A transformação do crente é "o propósito do Pai" "segundo o Filho" (ver Rom. 8:29), e isso é uma "operação do Espírito Santo" (ver II Cor. 3: 18). Tão elevadas revelações, por conseguinte, se originaram de uma mais elevada compreensão acerca do próprio Deus, em sua natureza, em seus desígnios e em sua obra. 11. As Sete Unidades 1. Um Corpo. Isto é, a Igreja mística e universal, composta de todos quantos realmente têm depositado a sua confiança em Cristo, entregando-lhe a alma, tendo tido um contacto com o Espírito Santo, por meio da conversão, o passo inicial da regeneração. Isso não pode ser limitado a alguma igreja local, a alguma denominação, a algum grupo de igrejas, a algum credo, a alguma organização eclesiástica, a alguma raça humana, a algum país e nem mesmo pode ser circunscrito a este mundo, porquanto a maior parte da igreja universal já se encontra nos lugares celestiais, sua habitação legítima. Aqueles que têm a Cristo como seu Cabeça (ver Col. 2: 19) pertencem à sua igreja. Idealmente, as igrejas locais não deveriam ter membros senão aqueles que também pertencem à igreja mística; nesse caso, todas as igrejas locais, consideradas em seu conjunto, representariam a igreja universal militante, isto é, a face da terra. Porém, não é assim que as coisas são. Pertencemos a Cristo por meio da fé, o que leva à conversão, e não por estarmos associados a uma congregação local. Se assim não fora, a igreja é que seria a salvadora, em vez do Salvador ser o Senhor Jesus Cristo. Além disso, é impossível alguém pertencer a Cristo e não pertencer ao seu "corpo", pois não pode haver mais do que um corpo de Cristo. Todos os crentes são "membros" desse corpo, tendo a

Cristo como o Cabeça, pois do contrário não são crentes de maneira alguma. Ninguém pertence a Cristo se não mantiver união vital com o Cabeça; portanto, é facilmente possível alguém pertencer a uma igreja loc 11 qualquer, de qualquer nome ou denominação, e nãc pertencer a Cristo. No outro extremo, é possível alguém pertencer a Cristo, tendo-o como seu Cabeça, e não pertencer a igreja local nenhuma, ou então pertencer a uma igreja local "errada". Tais condições nãc são ideais, mas certamente existem. ~;omente o Espírito Santo sabe perfeitamente quem são aqueles que realmente pertencem a Cristo, quem são aqueles que têm uma união vital e mística com ele, por meio do Espírito Santo. Assim é que na parábola do trigo e do joio, somente os poderes angelicais, por ocasião da ceifa, serão capazes de separar o joio do trigo (ver Mal. 13:30). Essa tarefa, pois, não pode ser rea izada por homem algum, e tal como essa separação precisa ser efetuada no mundo, assim também se dá na igreja e nas igrejas. Aqueles que crêem que só existe a igreja local, mas não a igreja universal ou mística, fazem "com que a igreja seja" salvadora das almas, pois estas têm de pertencer à igreja local, o que equivale a pertencer ao Cabeça, Cristo. Porém, apesar de que sera ideal para todos quantos realmente conhecem a Cristo pertencerem a uma assembléia local digna do ser nome, infelizmente essa condição não existe. Mas finalmente existirá nos céus, onde prevalecerá uma situação de homogeneidade. I) corpo místico e universal está unido a Cristo, e o poder residente do Espírito Santo o faz um corpo uno, conforme lemos em 1 Cor. 12: 13, onde também esse conceito é comentado no NTI. Ver o décimo segundo vers ículo daquele capítulo acerca do ensinamento bíblico sobre o "corpo único". Ver também Efé 1:23 sot re esse mesmo tema. Ver ainda Rom. 12:4-8 acerca de corno o corpo de Cristo, sendo um só, possui muitos membros, cada qual com uma função diferente, mediante os dons do Espírito Santo. O exame destas escrituras confere uma boa idéia sobre o "corpo único de Cristo", com seus vários sentidos possíveis, conforme o ensino neotestamentário. "O 'corpo' se compõe da comunidade inteira dos crentes, do corpo místico de Cristo. (Comparar com ER. 2:15; Rom. 12:5; [Cor. 10:17; 12:13 e Col. 1:24)". (Se lmond, in loc.). "Um só corpo místico de Cristo, a igreja ou reino espiritual. (Comparar com Efé. 1:23 e 2: 16)". (Rnbertson, in loc.). "'Um corpo' designa a totalidade dos crentes, como um 'corpo místico'; não é a mesma coisa que a igreja quando vista como um fenômeno 'externo', pois o corpo de Cristo está oculto. Mas trata-se de uma realidade, tal como o grupo de nervos é uma realidade oculta, que pode ser acompanhada, tornando-se perceptível. Assim é a igreja invisível, cuja unidade é enfatizada pelo apóstolo, para que se mantenha unida. (Braurie, in loc.). :t Um Espírito. Alguns pensam que temos aqui a menção ao "espírito humano", ou então à disposição ou atitude humana, unidas em seu desígnio e propósito. Ms s isso está completamente fora de lugar em relação ao contexto. Mas é o "Espírito Santo" quem está em palita aqui. Só existe uma pessoa divina, o Espírito Santo, que é a influência unificadora entre todos os homens que têm a Cristo como seu Cabeça, ele nos batiza dentro do "corpo único", segundo aprendemos

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UNIDADES em I Cor. 12: 13. Ele também regenera a todos (ver João 3:3-5) e transforma a todos os remidos segundo a imagem de Cristo (ver 11 Cor. 3: 18). Sim, só há um que faz essas coisas, a pessoa divina do Espírito Santo. A formação do corpo místico e a conversão das almas, para que componham esse corpo, é uma operação que não pode ser realizada por qualquer ser ou organização humana. Trata-se de uma obra divina (ver Efé. 2: 10), motivo por que é pela "graça divina" (ver Efé, 2:8). A atitude de facção e desunião não se harmoniza com o Espírito Santo, o qual é o grande unificador dos crentes. Que tantas facções existem, entre crentes individuais e denominações inteiras, é algo que mostra até que ponto os homens ignoram a atuação do Espírito de Deus no seio da igreja. "Como deveríamos temer toda forma de animosidade, se refletíssemos devidamente que tudo quanto nos separa dos irmãos também nos aliena do reino de Deus! No entanto, mui estranhamente, ao mesmo tempo que nos esquecemos dos deveres que os irmãos na fé devem ter uns para com os outros, jactamo-nos de ser filhos de Deus. Aprendamos de Paulo que ninguém está apto para aquela herança se não fizer parte do corpo único e não tiver o único espírito". (Calvino, in loc.). Calvino, pois, considera a presente passagem como trecho que ensina a união vital da igreja, formando "um corpo e um Espírito", ou seja, uma união total, perfeita e completa, tal como a personalidade humana tem um corpo e um espírito unidos entre si. A despeito de que "espírito", na citação de Calvino, significa "o Espírito" (o que Calvino não percebeu), contudo essa idéia e suas observações são valiosas para ilustrar a necessidade da aplicação prática da unidade espiritual que já está formada, Na realidade, igreja é "um corpo e um espírito", mas esse espírito é o Espírito Santo, e não apenas alguma disposição vital de unidade existente na igreja, ainda que esse seja um dos resultados tencionados na unidade que já foi formada. O "homem inteiro" consiste na união entre corpo e alma. E o "homem inteiro", em Cristo, o "homem perfeito", é a união dos crentes na comunhão mística com o Espírito Santo, união que é uma entidade viva feita por Deus. Ver os artigos sobre o Espírito Santo e a Trindade. Fostes chamados para a vocação cristã (ver Rom. 8:30 e o primeiro versículo de Efé, 4). 3. Uma só esperança da vossa vocação. (Quanto à "esperança do nosso chamamento", ver Efé. 1: 18, no NTI, onde são apresentadas notas expositivas completas a respeito. Ver igualmente o primeiro versículo do capítulo 4 de Efé, Ver o artigo sobre a Vocação Cristã. Essa vocação indica a inteireza daquilo para que Deus nos chama em Jesus Cristo, a "completa salvação", pela qual atualmente embalamos "esperança", segundo se vê em Rom. 8:24,25). Efé. 4:5: um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 4. Um só Senhor. O emprego da palavra "Senhor" para indicar o Senhor Jesus Cristo é freqüente nas páginas do N.T. (Isso é comentado em Rom. 1:4 no NTI, como também o é o "senhorio" de Cristo). Ninguém pode ter mais de um senhor (ver Mal. 6:24), e nem a comunidade de remidos, que é a igreja, pode ter mais de um senhor. É por confiarmos nesse "Senhor" que temos vida, já que ninguém pode ter a vida eterna se não entregar a sua alma ao Senhor Jesus, como seu Senhor e Cabeça; e somente Cristo ocupa essa posição (ver Rom. 10: 13 e Cal. 2: 19).

Este versículo salienta aquilo que também é frisado no primeiro capítulo do evangelho de João, há somente um criador, um único Deus, e não muitos criadores e muitos universos, nem muitos deuses que exercem autoridade sobre esses universos. Antes, todas as coisas pertencem ao poder e à autoridade criadora de Jesus Cristo, o Senhor, ele é o Senhor universal. Talvez o Senhor Jesus delegue atos de criação, pois quiçá os elevados poderes angelicais possuam poderes criativos; e talvez o Senhor delegue governos (Efé. 1:21 mostra-nos que ele assim faz). Mas todos precisam prestar-lhe contas, sujeitando-se a ele. Portanto, no sentido absoluto, e especialmente no que concerne à igreja, há apenas um Senhor, Jesus Cristo. E o propósito do "mistério da vontade de Deus" (ver Efé. 1: 1O) consiste em unificarmos todas as coisas, universalmente, em toda a criação sob o seu poder. E a igreja não forma exceção a isso, mas, bem pelo contrário, é o ponto culminante dessa unidade que honra a Cristo. Pois na igreja está sendo demonstrado como essa honra lhe deve ser atribuída. Possuidores os crentes de um só Senhor, e mostrando-se ele ativo em seu senhorio, é mister que se forme entre eles a unidade prática, no seio da igreja local. Em contraposição a isso, onde houver facções, dissensões e confusões, não se estará honrando a Cristo como Senhor e Cabeça, mas antes, estará honrando a si mesmo ou a outros homens, como se fosse o senhor e o cabeça. Os ditadores que surgem nas igrejas evangélicas, aqueles que impõem os caprichos de sua vontade aos outros, os quais normalmente consideram os outros como pessoas sem importância, na realidade fazem oposição ao senhorio de Cristo, pois se arrogam uma posição de mando sobre os homens como somente Cristo pode ter. As divisões eclesiásticas, que inevitavelmente têm seus líderes de facções, servem apenas para negar o senhorio de Cristo. Cristo é real e verdadeiramente o Senhor. Isso é um fato, embora a função de seu senhorio possa ser entravada por atitudes contrárias no seio das igrejas. A igreja de Cristo só pode ter um Cabeça. Uma igreja de várias cabeças é uma monstruosidade, tal como uma criatura de várias cabeças é uma aberração, sem importar se apenas nos mitos ou nos fenômenos teratológicos. Aqueles que usurpam o senhorio de Cristo fazem a igreja local transformar-se em uma monstruosidade. A delegação de autoridade no seio da igreja não vai de encontro ao senhorio de Cristo. Deve haver autoridade na igreja. Mas essa deve ser aquela delegada por Cristo; portanto, essa autoridade deve ter raízes espirituais, como algo derivado realmente do Senhor. "E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo" (I Cor. 12:5). Por isso mesmo, as diferenças de opinião sobre questões secundárias ou implícitas, ao contrário das questões primárias ou explícitas, sobre as quais temos preceitos neotestamentários ou bíblicos claros, ou as maneiras diferentes de fazer as coisas, não deveriam destruir nossa lealdade ao nosso único Senhor, nem a unidade da igreja que é própria dessa lealdade. A regra a ser seguida, quanto a essas diferenças deveria ser: "Quanto aos pontos essenciais, unidade; quanto às questões duvidosas, liberdade; em todas as coisas, amor", (Faucett, in Joc.). Mas quando um indivíduo qualquer começa a dominar os outros, - a exagerar em certas idéias ou métodos, que produzem divisões no seio da igreja local, gerando a desunião, estará apenas abusando de seu poder delegado, servindo de força contrária ao

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UNIDADES senhorio de Cristo, porquanto não mais estará servindo de construtor, e, sim, de destruidor. "Da idéia da 'vocação' (ver Efé. 4:4), o apóstolo passa, mui naturalmente, para aquele que nos chama, o 'único Senhor', bem como ao seu método de chamar-nos a si, a saber, primeiramente através da única fé, e então pelo único batismo, quando se faz profissão daquela fé única". (Barray, in loc.). "O Senhor Jesus Cristo, que por direito de criação é Senhor de tudo, e por direito de redenção e matrimônio é o único Senhor de sua igreja e seu povo... ele é o cabeça do corpo, da igrej a, o Rei dos santos, o Pai e Senhor da família que lhe toma o nome; pelo que também, devem os crentes concordar entre si, não sendo eles outros tantos senhores, cada qual querendo exercer domínio sobre os demais". (John GiII, in loc.). Também somos chamados para ser aquilo que Cristo é, e também para compartilhar de tudo quanto ele possui, afim de que assim venhamos a possuir a "plenitude de Deus" (ver Efé. 3: 19). O presente versículo, portanto, enfatiza que há apenas uma esperança vinculada ao corpo único de Cristo, bem como uma só chamada, um único destino. Não existem muitos corpos de Cristo, como também não muitos e variegados destinos. A única grande esperança é a esperança de todos. Além disso, devemos considerar que a palavra esperança, dentro do contexto cristão, não subentende nenhuma idéia de incerteza, mas tãosomente de expectativa de algo que finalmente possuiremos na realidade. Da vossa vocação. Só há uma esperança que "pertence" à nossa chamada (no original grego temos o genetivo de posse). Esse é o "elemento" dentro do qual estamos unidos em comunhão mútua, e é dessa vocação que se "origina" esse sentimento de esperança; mas a primeira idéia, mui provavelmente, é a que é enfatizada neste ponto. S. Uma só fé. Quanto a estas palavras, precisamos considerar os pontos seguintes: a. Não se trata da "fé" como um corpo de doutrinas, o N.T., o que talvez apenas raramente apareça nas páginas do novo pacto. As epístolas católicas têm alguns exemplos deste uso. b. Também não se trata da igreja cristã unida em um corpo de doutrinas. c. Não é a força viva da fé cristã atuante no mundo (o que talvez seja o sentido do trecho de Gál. 1:23). d. Não é também a fé como um "princípio abstrato". e. Pelo contrário, é a fé evangélica que está aqui em foco, a saber, a "entrega de alma", feita pelo crente às mãos de Cristo. Temos aqui aquela "fé no Senhor Jesus Cristo", pela qual somos salvos. Essa é a fé mediante a qual recebemos a justificação; essa é a entrega subjetiva de alma que cada crente faz a Cristo Jesus. Ver o artigo sobre a Fé. "Um único ato de confiança em Cristo, o mesmo para todos, judeus ou gentios, uma única maneira de salvação". (Robertson, in loc.). Aqueles que realmente têm essa fé têm em si o vínculo da unidade, posto que confiam no mesmo Senhor, tendo todos entregue a alma a ele. Os crentes talvez difiram em suas opiniões sobre várias coisas, como também há corpos diferentes de doutrinas, mas os verdadeiros crentes entregaram todos a alma, confiantemente, nas mãos do mesmo Senhor. 6. Um só batismo. Uma vez mais precisamos desdobrar o comentário em vários pontos:

a. Apesar de haver aqui uma óbvia alusão ao batismo em água, não se trata de uma referência a esse rito em si mesmo como se tal cerimônia fosse uma das causas básicas de nossa unidade em Cristo. Pois nenhum mero rito pode servir de unidade fundamental da igreja cristã. b. Também não está em foco o "batismo" do Espírito Santo, nem segundo a descrição de I Cor. 12:13, mediante o que somos unidos formando um só corpo, nem conforme a descrição de Atos 2:4, mediante o que recebemos poder e unção para o serviço cristão. c. Antes, está aqui em foco a "realidade espiritual" da qual o batismo em água serve de sinal simbólico. Essa realidade espiritual é a nossa união com Cristo, em sua morte e em sua vida ressurrecta. O "sinal" dessa realidade, pois, é o batismo em água. A verdade simbolizada é a nossa identificação mística com Cristo, o nosso batismo espiritual dentro dele, para que desfrutemos total união com ele. Essa verdade simbolizada é a grande unidade espiritual que, juntamente com os demais seis elementos, formam as sete facetas da unidade fundamental da fé cristã. E o sinal dessa verdade espiritual, repetimos, é o batismo em água. Ver o artigo sobre Batismo Espiritual. O significado inteiro do batismo é incluído nesse artigo. Esse "batismo" que é uma das grandes causas da unidade da igreja, precisa ser interpretado "misticamente", não sacramentalmente. Desafortunadamente, muitos excelentes intérpretes têm caído no "fosso sacramenta", Aqueles que pensam que um só modo de batizar é o que está implícito nesse texto, naufragam totalmente em sua interpretação. Também é vão perguntar por que a "eucaristia" ou Ceia do Senhor não é incluída na lista de fatores tendentes à unidade. Pois o próprio batismo, se estivermos falando apenas sobre o "rito" do batismo em água, também não está incluído. Nenhum rito ou sacramento pode ser motivo de uma unidade espiritual e mística, nem pode ser citado paralelamente ao corpo místico à vocação cristã, ao "Espírito Santo", ao "Senhor Jesus", a "Deus Pai", nem à "fé", porquanto nenhuma mera cerimônia pode ocupar tão augusta posição. O batismo espiritual (a nossa identificação com Cristo) é que nos outorga uma autêntica unidade mística com ele e uns com os outros. O batismo em água pode simbolizar isso, como de fato simboliza, mas não é a sua substância. Esse "batismo espiritual" é experiência comum a todos quantos têm entregue a alma ao Senhor Jesus, tendo-se convertido a ele e a uma realidade espiritual, sem importar se segue ou não o batismo em água, o qual simboliza e declara abertamente ao mundo essa nossa identificação com Cristo. Isso em nada diminui a importância do batismo, mas o dizemos tãosomente a fim de situar o batismo em água dentro de sua perspectiva correta. dentro de seu lugar conveniente. O batismo espiritual consiste na nossa identificação com Cristo, em sua morte e em sua vida ressurrecta, na forma de comunhão e identificação místicas. Esse é o verdadeiro "único batismo", um dos motivos fundamentais da unidade da igreja. O batismo em água é tão-somente o símbolo externo daquele fato místico. Ver o artigo sobre Batismo Espiritual. Efé. 4:6: Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos. 7. O Deus único, que é o Pai de todos, é o alicerce de todas as unidades, por ser também a fonte originária de todos os seus motivos. Ver o artigo sobre a Natureza de Deus, ver também sobre Monoteísmo. O pai único

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UNIDADES é a base de toda a unidade cristã, tal como o "nosso Deus, o Senhor", era considerado o unificador na fórmula judaica do Shema. Porém, no cristianismo, esse único Deus é apresentado segundo a fórmula trinitária inerente aos versículos quarto a sexto deste capítulo. Nenhuma doutrina formal da trindade divina é exposta nas páginas do N.T., porém, há idéias trinitárias que posteriormente à formação do cânon neotestamentário vieram a ser formalizadas nos concilios eclesiásticos, quando a doutrina da trindade, como um dogma, foi formulada. E Pai. Deus como Pai é a força unificadora da igreja, pois somos seus filhos, pertencentes à família divina. Toda a epístola aos Efésios enfatiza isso (ver Efé, 1:2,3,5,14,17; 2: 18, 19 e 3: 14). Ver o artigo sobre a Paternidade de Deus. Há apenas "um Pai", e "uma família", o que explica a unidade mística. O Pai também é Deus, a força divina mais elevada, capaz de produzir a total unidade da igreja em Cristo, bem como a total unidade de todas as coisas, universalmente, em tomo do Senhor Jesus (ver Efé. 1: 10). Foi o poder divino, portanto, que criou essa unidade e que a garante. Mas os filhos do Pai celeste estão na obrigação de preservar a unidade da familia divina dentro de suas igrejas locais. Podemos observar aqui que as idéias se encaminham ao seu clímax: igreja, Cristo, Deus; e depois Espírito Santo, Senhor, Pai - em ambos os casos há uma subida para o clímax do poder, que causa a unidade. Todos. Essa palavra, por três vezes reiterada no original grego, está nos gêneros masculino e neutro, o que significa que pode estar em foco algo pessoal ou impessoal. Mas o neutro é preferível, pois estão em foco "todas as coisas", coletivamente consideradas, tanto as pessoais (os seres humanos e todos os seres inteligentes) como as impessoais (todas as coisas, a criação inteira). A paternidade de Deus, segundo já se leu, estende-se a todos os seres, e não apenas aos seres humanos (ver Efé. 3: 15), e a sua deidade se estende por toda a criação, tanto a física como a espiritual, tanto a animada como a inanimada. Variante Textual. As palavras "em todos vós", em vez do simples "em todos", aparecem nos mss. DFKL, em algumas versões e nos escritos de alguns dos pais da igreja. Porém, em favor do simples "em todos", conforme encontramos também nesta versão portuguesa, há os rnss. P(46), Álefe, ABCP e os escritos de Inácio e Orígenes, pais da igreja, o que forma uma evidência irresistível e quase indiscutível em favor da forma mais breve. A adição da palavra "vós" foi uma glosa escribal, que procurou tomar mais pessoal a declaração deste versículo. Entretanto, o neutro "tudo", segundo deveria ser traduzido, já inclui todos os crentes e seres inteligentes. A maneira pela qual Deus age como força unificadora de tudo no universo é enfatizada mediante três grandes aspectos específicos de sua atuação. É verdade que o jogo de preposições era um dos artifícios retóricos favoritos dos tempos do grego helenista, mas essas três expressões, a despeito disso, se revestem de sentidos todos próprios, a saber: Sobre todos. Isso fala: 1. da transcendência; e 2. da onipotência de Deus. Ele é o governante soberano de tudo, cujo poder transcende tudo. Ele é o "Governante, o Guardião e o Guia, que manda em tudo (Braunc, in loc.). Ele é o "Rei dos reis" e o "Senhor dos senhores". Essa supremacia como Deus e Pai é salientada aqui. Age por meio de todos. Essas palavras

representam uma interpretação de "através de tudo" (dia no original grego). E isso fala do seguinte: 1. Da onipotência dos feitos de Deus em todos os lugares. 2. Mas, segundo outros estudiosos, falaria da "providência de Deus", no caso presente. 3. Ainda qutros pensam que fala da influência permeadora e da presença universal do seu Santo Espírito. 4. Uma extensão dessa idéia é que ela fala da presença animadora e controladora sobre tudo. S. De seu controle sobre tudo, mediante os muitos instrumentos usados pelo seu poder, como homens, seres angelicais e coisas fisicas e inanimadas. Esta quinta posição parece expressar a idéia central, embora não haja acordo geral sobre como a palavra grega dia deva ser interpretada aqui. Também poderíamos combinar as idéias da terceira e da quinta posições, dizendo que se "trata da presença sustentadora e operante de Deus (Abbott, in loc.), que se manifesta através de instrumentos apropriados". Em todos. Certamente isso fala da "imanência" de Deus. Ele se faz presente com os homens de Deus de toda a parte, em toda a criação, com todos os seres, mas sobretudo na igreja, por intermédio de seu Espírito residente, conforme tem sido salientado em Efé. 2:21,22. O fato de que Deus "habita em todos" naturalmente significa que essa é a maneira pela qual Deus aperfeiçoa os homens, essa é a maneira pela qual ele opera entre eles; e, no caso da igreja, isso significa o modo pelo qual ele mantém comunhão com eles. A energia do Espírito vivifica, ilumina, purifica e transforma os crentes segundo a imagem de Cristo. É através desses meios, portanto, a saber, seu poder e governo onipotentes, sua atuação por intermédio de todos, e sua presença com todos, mediante o que ele influencia a todos, que Deus produz a unidade de todas as coisas, a começar pela igreja, no presente, que serve de modelo de como ele restaurará e unificará o universo inteiro, conforme Efé, 1: 10 j á nos informou. Essa unidade universal requererá a operação de Deus Pai. Nenhuma força inferior a essa pode realizar tal feito. No que concerne aos homens, portanto, a salvação vem pela graça, mediante a fé, pois nenhum poder humano pode fazer o que aqui nos é exposto, ainda que essa operação requeira a cooperação da vontade humana, sendo exatamente nesse ponto que o divino se encontra com o humano. Não há nenhuma alusão trinitária neste sexto versículo, considerado isoladamente, conforme se vê nos versículos quatro a seis, considerados conjuntamente. Todas essas três descrições, com as preposições "sobre", "por meio" e "em", não se referem respectivamente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, conforme alguns intérpretes supõem. Se isso fosse verdade, então "sobre" se referiria à total soberania de Deus, "por meio" se referiria ao trabalho do Filho como Cabeça e "em" se referiria à presença habitadora do Espírito. Porém, isso é um refinamento exagerado deste texto. Por outro lado, não devemos reduzir a expressão a alguma maneira simples e indefinida de dizer algo como: "E a Deus que devemos tudo". Isso é verdade, porém o apóstolo Paulo parece ter querido designar mais exatamente como e por que devemos todas as coisas a ' 1, ele. Centro efusão de todas as distâncias;

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UNIFORMIDADE-UNIGÊNITO Velhice mãe de todas as infâncias; E futuro de quanto há de morrer. .. Possa a minha alma ver-te, um só segundo, Presente e em ti, pretérito do mundo, Infinito imortal do Verbo Ser! (Antônio Correia, Lisboa, Portugal). UNIFORMIDADE NA NATUREZA Outros termos e expressões usados para indicar essa idéia de uniformidade são invariabilidade, constância e desígnio intrínseco. Está em pauta a maravilhosa maneira pela qual a natureza é governada por leis que podem ser descobertas pela experimentação. Daí obtemos os mesmos resultados, quando as experimentações são realizadas da mesma maneira e em idênticas circunstâncias. Sem esse princípio da invariabilidade, a ciência seria simplesmente impossível. De fato, se existe alguma idéia que exerce o controle máximo sobre o pensamento científico moderno, que integra os interesses da vida diária com os interesses da ciência, da arte e da filosofia, essa idéia é o princípio da invariabilidade. Aquilo que consideramos real e contínuo no mundo é aquilo que não sofre variação, é aquilo que tendemos a chamar de essência. Os acidentes podem variar, mas a essência das coisas permanece a mesma. Somente dessa maneira a ciência pode fazer experiências e considerar válidos os resultados. Se as mesmas experiências são realizadas novamente, resultam os mesmos resultados. Isso é assim porque alguma lei natural misteriosa governa todas as coisas. Os filósofos e os teólogos mui naturalmente tiram proveito dessa situação, usando-a como evidência do Legislador e Doador invisível e divino, a saber, o Ser Supremo. E assim o principio da invariabilidade torna-se parte do Argumento Teleolôgico (vide). Se não interpretarmos as coisas por esse ângulo, terminaremos no ceticismo e no caos. Leibnitz argumentava que deve haver uma razão suficiente para todas as coisas, ao desejar exprimir sua crença de que a mente racional está por detrás de todas as coisas. O ponto culminante da mente racional é a Mente Divina, fonte originária de toda inteligência e desígno. Tudo quanto é estudado pela ciência aponta para um vasto e incrível desígno em todas as coisas. A indução repousa sobre a certeza de que os itens de um processo qualquer têm validade, e têm validade porque há alguma verdade real a ser descoberta pelo método. Quanto aos argumentos tradicionais a respeito da existência de Deus, ver o artigo Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus; e para um estudo ainda mais completo, ver Deus, em sua quinta seção, Provas da Existência de Deus. Ali são apresentadas cerca de vinte dessas provas. UNIGÊNITO, CRISTO COMO O Esboço: I. O Unigênito: nas Escrituras 11. Diversas Interpretações III.Declaração Antropomórifica IY.Sumário de Usos da Palavra na Bíblia e em Outra Literatura l. O Unigênito: Escrituras O termo Unigênito, quando aplicado a Cristo, nos evangelhos se encontra exclusivamente em João. Ver João 1: 18 e 3:16,18. Ver também I João 4:9. Além dessas ocorrências do termo, encontramo-lo por quatro

outras vezes nas páginas do N.T. e sempre para indicar um filho único (ver Luc. 7: 12: 8:42; 9:38 e Heb. 11: 17). Esse vocábulo não dá a entender nem posterioridade, e nem inferioridade, mas sim, uma modalidade toda especial de relação. O trecho de Cal. 1:15 diz, "primogênito de toda a criação". Para Deus, Cristo é o "unigênito" (o único que participa, desde toda a eternidade passada, da natureza divina). Para a criação, entretanto, Cristo é o "primogênito", porquanto nele reside o princípio do novo nascimento, a regeneração da criação inteira, especialmente no que diz respeito aos homens, os quais haverão de, uma vez redimidos, ser transformados segundo a sua imagem (Quanto a primogênito, ver também Rom. 8:29; Apo. 1:5, Heb. 1:6; 11:28 e 12:23). O uso feito por Paulo desse termo assinala a relação eterna existente entre Cristo e o universo, ou criação. João destaca a relação sem-par existente entre Deus Filho e Deus Pai. O Filho "era", não "tomou-se". Ele é alguém eternamente gerado, porquanto não teve começo no tempo. Essa relação não é retratada como algo que teria ocorrido mediante alguma reforma moral, adoção ou geração moral, porquanto já existia ou "era" desde o princípio. 11. Diversas Interpretações 1. Alguns atribuem o vocábulo ao nascimento fisico de Cristo, ensinando que significa que Jesus, em seu nascimento, foi o "unigênito" de Deus. Portanto, a referência diria respeito, principalmente, ao nascimento virginal de Jesus, a partir da ocasião em que ele teria passado a ser chamado de unigênito de Deus. Assim escreveu Adam Clarke (in loc.): "Isto é, o único filho nascido de uma mulher, cuja natureza humana não se derivava do modo comum de geração; porque era mais uma criação, operada no ventre da virgem, mediante a energia do Espírito Santo". Não obstante, a maioria dos intérpretes rejeita essa interpretação como explicação adequada para o termo "unigên ito". 2. Outros vinculam o vocábulo "unigênito" à ressurreição de Cristo, dizendo que se refere à ocasião em que ele foi gerado por Deus para uma existência mais elevada. Isso expressa certa verdade, mas o termo "unigênito" não faz alusão alguma a essa ocorrência, e aparece em diversos trechos bíblicos de forma completamente desvinculada de qualquer ensino sobre a ressurreição. John GiII (in loc.) observa que muitos milhões de criaturas humanas compartilharão dessa ressurreição, e que, por isso mesmo, dificilmente Cristo poderia ser chamado de "filho unigênito", se a ressurreição estivesse em vista aqui. 3. Outros estudiosos são da opinião de que Cristo se tomou o filho "unigênito" de Deus por meio de uma adoção especial como filho, por parte de Deus Pai. Assim também pensavam os gnósticos. Porém, tornar-se "filho unigênito" não é a mesma coisa que ser adotado. Essas são duas idéias distintas entre si. Acresça-se a isso o fato de que ninguém pode demonstrar a idéia da adoção, aplicada a Cristo, por meio das Escrituras. Aqui temos a perversão gnóstica da cristologia. 4. Os socianistas e os unitários ficam muito aquém do verdadeiro significado do termo quando asseveram que ele simplesmente quer dizer bem-amado, expressando algum favor especial que Jesus desfrutava (acima de qualquer outro homem), por motivo de sua pureza de vida especial.

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UNIGÊNITO - UNITARISMO 5. Bem ao contrário dessa idéia, o credo niceno, acompanhado por muitíssimos intérpretes, esclarece o termo da seguinte maneira: "O Filho unigênito de Deus, gerado por seu Pai antes de todos os mundos. Assim sendo, tal designação alude ao estado de existência pré-encarnada de Cristo, salientando alguma espécie de relação que havia entre Deus Pai e Deus Filho". Esse ensino equivale àquilo que os teólogos têm chamado de geração eterna do Filho. 111. Declaração Antropomórfica "A declaração é de natureza antropomórfica (atribui forma humana e maneiras humanas de atividade a Deus, como quando falamos de 'mãos', 'face', 'olho' de Deus, etc., ou como quando lemos 'geração', como vemos aqui) e por isso mesmo não pode expressar plenamente a relação metafísica". (Vincent, in IDe.). Posto que a expressão é antropomórfica, não podemos pressioná-la demasiadamente, exigindo-lhe uma explicação capaz de descrever apropriadamente a relação que há entre Deus Pai e Deus Filho. O que se depreende de tudo isso é que Cristo é o princípio de todos os demais nascimentos e regenerações. "O vocábulo se refere ao tekna de Deus, que aparece no v.12 e determina a diferença entre Cristo e os crentes: 1. Ele é Filho unigênito no sentido de que não há outro que se lhe compare, mas eles são muitos. 2. Ele é o Filho de Deus desde a eternidade; eles se tomam filhos dentro do tempo. 3. Ele é o Filho de Deus por natureza; eles são feitos filhos, mediante a graça e a adoção. 4. Ele tem a mesma essência do Pai; eles são de substância diferente. (Apesar de isso demonstrar a verdade pelo momento, o desígnio do evangelho é que, finalmente, os filhos adotados venham a compartilhar da natureza essencial do Logos)." (Philip Schaff, in loc, no Lange's Commentary). Lutero disse (in loc.): "Deus tem muitos filhos, mas apenas um Filho unigênito, por meio de quem são feitas todas as coisas e todos os outros filhos". Descrição Cheio de graça e de verdade. Encontramos aqui uma combinação de virtudes bastante comum nas páginas do A. T. (ver Gên. 24:27,49; 32: 10; Êxo. 34:61 Sal. 40: 10, 11 e 61:7). Nessas palavras está resumido o caráter da revelação divina. Westcott, segundo citado (in l or: ) por Vincenr, diz: "A graça corresponde à idéia da revelação de Deus na qualidade de amor (1 João 4:8,16), por meio daquele que é a vida; e a verdade corresponde à revelação de Deus como luz (I João 1:4), por meio daquele que é a luz. Não somente ele viu toda graça e verdade, mas graça e verdade parecem estar concentradas em Cristo. E justamente nisso consiste a sua glória, porquanto a graça e a verdade são os principais atributos de Jeová no Antigo Testamento, posto que o espírito messiânico reconhecia-o, preeminentemente, como o Deus da redenção ... Cristo, como redenção absoluta, era pura graça; e, como revelação absoluta, era pura verdade". (Lange, in loc.). IV. Sumário dos Usos da Palavra na Biblia e em Outra Literatura I. Em Relação a Cristo As três seções acima demonstram esse uso até com detalhes. 2. Outros Usos a. Na literatura clássica. O termo monogenés, com suas formas variantes, mounogénea e mounágonos,

encontra-se em uma grande variedade de escritores clássicos, incluindo Hesíodo, os hinos órficos, Parrnênides, Platão, Heródoto, Apolônio, Ródio e outros. Essa palavra também tem sido encontrada em inscrições gregas. Nessa literatura, o sentido fundamental dela, em seu aspecto literal, é "filho único", "único filho gerado", "descendente único". Todavia esse vocábulo também tem os sentidos de "inigualável", "sem-par", "filho de qualidade especial", "filho semigual". b. Na Septuaginta e em outros escritos judaicos em grego. Com o sentido de "o único" (Jul. 11 :34; Pseudo-Filo 39: 11; Tobias 3: 15; 6:14). Com o sentido de "desolado", "solitário", "sozinho" (Sal. 25: 16; 68:6). Com o sentido de "preciosíssimo", "insubstituível", "o maior tesouro" (SaL 22:20; 35: 17). Com o sentido de "favorecido", "escolhido", "ímpar" (Gên. 22:2 "Isaque, filho de Abraão"; Jubileus 18:2,11; Josefo, Anti. 1.222; 20.20). Em alusão à Sabedoria, no livro apócrifo Sabedoria de Salomão 7:22; Baruque 4:16. E, finalmente, com o sentido de "amado" (Zac. 12:10). c. Clemente de Roma. Referindo-se ao pássaro misterioso, a Fênix, ele empregou essa palavra no sentido de "único de sua classe". Esses diversos usos sugerem os sentidos possíveis que a palavra "unigênito" pode adquirir em relação a Cristo. No Novo Testamento, Cristo aparece como "o Filho único", "ímpar", "sem-par", etc. UNIO MYSTICA Essa é a expressão latina que significa "união mística". Refere-se à união com Deus como o ideal da busca mística. Ver também União com Deus e União com Cristo. UNIPERSONALIDADE DE DEUS Assim se chama o ponto de vista que diz que a deidade consiste em somente uma pessoa, conforme é ensinado pelo Unitarismo (vide). UNITARISMO J. Definições O unitarismo consiste na afirmação de que Deus é um e que o Filho pode ser considerado divino, mas não no mesmo sentido em que Deus Pai é assim.

chamado, visto que os dois não compartilhariam da mesma essência. Nas formas modernas do unitarismo, devemos pensar em qualquer conceito em que a divindade plena de Cristo é negada ou mesmo omitida. A liberdade de religião, a liberdade de pensamento e de expressão, a utilidade dos ensinamentos religiosos e éticos de Cristo, o liberalismo e a noção de independência ou autonomia das congregações locais são crenças e práticas unitárias tradicionais. 2. Origens Históricas Todas as religiões monoteístas, como o judaísmo e o islamismo, favorecem a idéia unitária do Ser divino. Os arianos (ver sobre o Arianismo) não podiam ver como qualquer tipo de visão triteísta ou trinitariana pode, de fato, preservar o monoteísmo (vide). Assim sendo, historicamente falando, podemos dizer que, dentro do cristianismo, o unitarismo começou com o arianismo. Ário, presbítero da igreja de Alexandria, negava as fórmulas trinitarianas e asseverava que houve tempo em que Deus Pai existia, mas não Deus Filho, o qual, por isso mesmo, teria sido criado por

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UNITARISMO - UNIVERSAIS Deus Pai. Assim, a Cristo era conferida uma espécie de divindade secundária, mas ele não seria da mesma substância do Pai. Cristo seria digno de adoração, mas não deveria ser adorado no mesmo sentido em que Deus Pai é adorado. Essa antiga forma de unitarismo foi condenada tanto pelo concílio de Nicéia (32.5 d.e.) como pelo concilio de Constantinopla (381 d.C.). 3. Outros Incidentes Históricos da Doutrina O adocionismo (vide) e o monarquianismo (vide) defendiam variedades do unitarismo. Miguel Serveto (vide) também foi unitário, da mesma maneira que o foram muitos anabatistas. O unitarismo foi um dos alicerces teológicos do socianismo (vide), das noções de Laélio e Fausto Cocinus e do catecismo Rocoviano, de 1605. No socianismo, Cristo aparece como uma figura divina digna de adoração, mas não no mesmo sentido e grau em que o é Deus Pai. 4. O Unitarismo Moderno Como movimento moderno, o unitarismo começou nos séculos XVI e XVII. O termo latino "unitarius" foi usado pela primeira vez em 1569, na Transilvânia, e então foi adotado pelas igrejas, em 1633. Na Inglaterra, o vocábulo apareceu pela primeira vez em 1682. A Reforma Protestante, afrouxando um tanto os laços dogmáticos, deu margem a fórmulas não-trinitarianas. A Igreja Unitária Húngara separouse da Igreja Reformada em 1568. Ela tornou-se uma das quatro religiões reconhecidas, e continuou a desenvolver-se isolada. Grupos ingleses e norte-americanos desenvolveram-se independentemente desse grupo, e somente esses tinham algum tipo de contacto com a união, aí por 1821. O unitarismo inglês desenvolveu-se entre 1548 e 1612. Muitos defensores do antitrinitarismo foram condenados, presos, executados na fogueira ou banidos. A Igreja oficial reagiu com sua usual violência, em nome de Deus. Alguns poucos unitários (que, afinal de contas, estavam apenas defendendo o monoteísmo à sua maneira) tiveram de retratar-se, para salvarem sua vida. Em 1705, foi estabelecida uma congregação londrina de unitários, apesar de feroz oposição. Em 1825, foi fundada a Associação Unitária Britânica e Estrangeira. Nos Estados Unidos da América do Norte, pelos meados do século XVIII, o Harvard College tornou-se o centro de grandes debates, e o movimento unitário foi firmemente estabelecido ali. A Capela do Rei, em Boston, tornou-se depressa uma igreja unitária, pois uma grande porcentagem dos pregadores de Boston havia tomado a postura unitária. Em 1825, foi organizada a Associação Unitária Americana. Os unitários conquistaram, essencialmente, o congregacionalismo da Nova Inglaterra, e essa influência tornou-se preponderante na Universidade de Harvard. 5. O Unitarismo Atual O transcendentalismo assumiu a posição unitária. Gradualmente foi-se firmando uma espécie de secularismo, e as posições se radicalizaram. O unitarismo original era essencialmente protestante, e a grande diferença estava na questão da Trindade. Mas essa posição original modificou-se totalmente, de tal modo que os unitários de nossos dias com freqüência são agnósticos ou mesmo ateus. Dentro do movimento não há nenhuma pressão para ninguém subscrever algum credo específico. Mas o liberalismo é uuase um requisito para alguém pertencer às modernas igrejas unttartas e sentir-se a

vontade. Tal como acontece com grande número de liberais, muitos unitários inclinam-se para a posição universalista Em 1961, nos Estados Unidos da América do Norte, a Associação Unitária Americana fundiu-se com o movimento universalista. UNIVERSAIS Como sinônimos, também podemos usar os termos Idéias e Formas. A discussão sobre os universais sempre foi um dos principais problemas enfrentados pela filosofia. Esboço: I. Terminologia e Caracterização Geral 11. Teorias Principais a Respeito I1I.Filósofos Falam sobre os Universais IV. Importância dos Universais para a Teologia

I. Terminologia e Caracterização Geral Nossa palavra portuguesa, "universais", vem do latim, universalis, "pertinente a tudo". Se Platão usava a palavra grega eidos, "idéia", Aristóteles preferia katholikás, "o todo", termo correspondente ao latim universalis. O universal faz oposição ao particular. Ver sobre Particulares. De acordo com a linguagem platônica, o universal é aquilo que pertence ao "mundo transcendental", o mundo das idéias, formas ou realidades metafisicas, enquanto os particulares são os objetos deste mundo material. De acordo com seu ponto de vista, os particulares foram criados pelo "demiurgo", imitando os Universais, ou então usando-os como padrões de sua criação material. Em oposição a essa visão metafisica das coisas, os nominalistas enxergam o universal como meramente uma palavra de conotação geral, na linguagem, como "vermelho" descreve objetos dessa cor, mas não passa de um nome ou termo conveniente, e não é uma realidade metafísica de alguma espécie. Ver o artigo sobre Idéia, que dá dezessete definições filosóficas sobre esse termo. Há quatro conceitos básicos do universal: o realismo radical; o realismo moderado; o conceptualismo; e o nominalismo, sem falar em variações que distorcem a idéia central. Essas formas principais são discutidas na segunda seção deste artigo. Damos atenção a idéias secundárias, na terceira seção deste artigo. O grande problema filosófico no tocante aos universais é a sua condição ontológica. "Universais e particulares. As coisas são particulares, e as suas qualidades são universais. Assim sendo, um universal é a propriedade predicada a todos os indivíduos de uma determinada classe ou categoria. Vermelho é um predicado universal de todos os objetos dessa cor. Alguns filósofos dizem que os universais têm existência distinta das coisas particulares que exemplificam aquela propriedade. Para Platão e os filósofos platônicos, "o mundo observável é apenas um reflexo do mundo real", que para Platão consistia nas Formas, as quais, para esse filósofo se assemelham algumas vezes aos universais" (F). 11. Teorias Principais a Respeito 1. Platão: Realismo Radical a. O universal é real, de onde vem o uso do termo realismo, dentro desse contexto. Em outros contextos, essa palavra indica "o mundo exterior" como uma realidade, inteiramente à parte de minha percepção dele; em outras palavras, a idéia não é a única realidade. O reatísrno radícel, dentro dessa questão UO:> unrversars, md.ç..

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UNIVERSAIS que o universal é real e distinto do particular, além de ser uma categoria de ser superior ao particular. A ilustração acima demonstra o conceito. O U é maior que o P, e uma linha separa os dois. b. No realismo platônico, o universal é a fonte do ser e determina a natureza dos particulares, os quais são cópias imperfeitas ou imitações do Mundo Real (das Idéias, Formas ou Universais). c. A bondade, por exemplo, é um universal que se encontra em muitos particulares, mas há uma bondade suprema, um tipo de entidade metafisica que é imitada por outras pessoas ou coisas, dotadas de certa bondade (imperfeita). d. Os particulares são objetos, conceitos, etc., fisicos e mundanos. Ver o artigo sobre esse assunto, para explicações completas. Descrições mais detalhadas das idéias de Platão aparecem na terceira seção, ponto primeiro, deste artigo. Platão apoiava a idéia de dualismo (vide), em sua teoria dos universais. 2. Aristóteles: Realismo Moderado a. O universal é real, mas não distinto do particular. Ademais, agora o particular aparece como mais importante que o universal, pelo menos até onde nossa vida diária está envolvida. Isso deixa transparecer as atitudes científicas de Aristóteles. Encontra-se exatamente aqui na terra, podendo ser observado nos objetos físicos nas pessoas, em seus conceitos, etc. A bondade, para Aristóteles, não é uma entidade metafísica de uma dimensão superior da existência. Antes, é uma qualidade que pode ser achada em objetos terrenos, nas pessoas e nas suas idéias. Porém, é algo real, e não um mero termo da linguagem, que se refira a coletivos. b. Outros detalhes aparecem na terceira seção, segundo ponto, deste artigo. 3. Sócrates: Conceptualismo O universal é um conceito da mente divina, cósmica, ou, então, da mente humana, e não uma entidade real (distinta) e superior da dimensão do ser. Para ele, a bondade é uma idéia ou um ideal da Mente Divina, também chamada Mente Universal ou Mente Cósmica (vide). Para mais detalhes, ver a terceira seção, terceiro ponto, deste artigo. 4. Nominalismo "Universal" é apenas um termo coletivo da linguagem, uma palavra que exprime generalidades. Não tem existência em nenhum mundo separado, nem é nenhum conceito da Mente Divina ou Mente Cósmica. É apenas uma palavra. Bondade é um termo de nossa linguagem, que pode aplicar-se a vários objetos, pessoas e idéias. É apenas um nome, conforme subentende o nominalismo. É provável que a maioria dos cientistas defenda o nominalismo; e, naturalmente, a maioria esmagadora dos céticos. 111. Filósofos Falam Sobre os Universais 1. Platão. Apresentei outro diagrama que ilustra os universais, conforme eram concebidos por Platão, no artigo sobre a Etica, em sua quinta seção, A Etica de Platão. Essa ilustração mostra uma hierarquia dos universais ou idéias. A Bondade é a maior dessas idéias, de onde todas as demais seriam oriundas. Mas em seguida haveria os importantes universais da Justiça, da Verdade, da Beleza (esta última é a mais importante das idéias, no diálogo Banquete, de Platão). Os universais têm importantes atributos e características, como absolutos, perfeitos, eternos, fora do espaço,

imutáveis, eternos, racionais e imateriais. Pode-se perceber facilmente que encontramos aí os atributos comuns que atribuímos a Deus. De fato, no diálogo Leis, de Platão, o termo theôs, "Deus", substitui o vocábulo Idéias (ou Universais). E aqueles atributos aparecem como atributos divinos, e não como entidades separadas. Entre os universais e os particulares haveria uma barreira de moralidade que separa os homens do mundo eterno ou dos universais. Os particulares são limitados, imperfeitos, temporais, espaciais, sujeitos ao tempo, mutáveis; (em estado de fluxo) e materiais. Os universais podem ser conhecidos pela razão, pela intuição e pelas experiências místicas. Mas os particulares são conhecidos por meio da percepção dos sentidos, a menos fidedigna das maneiras pelas quais tomamos conhecimento das coisas. O demiurgo é que teria criado os particulares, em imitação aos universais, de tal modo que tudo aquilo que vemos e conhecemos nesta terra são meras cópias inexatas da realidade. A inquirição da alma visa a retomar ao Mundo das Idéias, de onde ela veio, façanha realizada pela transformação moral e espiritual. Assim sendo, a ética reveste-se de suprema importância neste mundo, mesmo que indivíduos degenerados sempre queiram negar esse fato. A alma é uma espécie de universal, visto ser eterna, uma individualização da eterna essência divina. Seu destino é ser reabsorvida pelo Ser Divino. O ponto de vista de Platão tem sido chamado de radicalismo extremo ou de radicalismo absoluto, porquanto o real (ou universal) pertence a uma essência diferente e superior de ser, muito mais importante que os particulares. 2. Aristóteles advogava um realismo moderado, que dava margem à realidade do universal, mas localizava-o somente neste mundo, encontrado nos particulares. Ele afirmava que as Idéias (ou universais) não existem por si mesmas, mas tão-somente são elementos ou formas dos objetos sensíveis (terrenos), ou de pessoas e idéias, que complementam a matéria. Aristóteles era cientista, e essa teoria ajustava-se melhor à sua busca do conhecimento, que ele pensava poder encontrar-se aqui mesmo, e não em algum mundo metafisico das idéias. De conformidade com Aristóteles, matéria e forma constituem a substância individual sensivel. 3. Sócrates (refletido nos primeiros diálogos de Platão) assumia o ponto de vista conceptual dos universais. Ele buscava definições universais e pensava poder achá-los nos conceitos mentais. Esses conceitos gerais é que seriam os universais. Sócrates acreditava na Mente Universal e esforçava-se por encontrar os conceitos morais através da razão (mediante os diálogos) e da intuição. Foi Sócrates quem armou o palco para a secular batalha em torno da condição metaflsica dos universais. Ele pressionava seus alunos para que dessem definições universais acerca de qualquer conjunto de coisas. Ele confiava que a Mente Universal (da qual participa a mente humana) já contém todos esses conceitos. Não precisamos inventá-los, precisamos somente descobrilos. 4. Plotino e os filósofos neoplatônicos (vide) chamavam o mundo das Idéias, de concepção platônica, de Naus (no grego, "mente"), a Inteligência Suprema, de onde emanam todas as coisas e que gera toda outra existência. Isso era outra forma de realismo radical (absoluto).

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UNIVERSAIS 5. Porfírio tomava uma posição agnóstica sobre a condição metafísica dos universais, declarando que essas entidades estão além da capacidade de discernimento do ser humano. De maneira prática, ele tomava a abordagem aristotélica do problema. 6. Agostinho cristianizou o ponto de vista de Platão, a serviço da teologia cristã. Para ele, Deus é o grande Universal, e o Logos é o demiurgo. A salvação é o retorno do particular ao universal. Parece que ele subscrevia uma visão conceptualista da multiplicidade dos universais. Seriam conceitos da Mente Divina, embora também possamos considerá-los atributos divinos. 7. Boethius concordava com a abordagem agnóstica de Porfirio, mas a sua análise seguia o moderno realismo de Aristóteles. Foi a sua atividade filosófica que acendeu a grande controvérsia sobre esse problema, na Idade Média. 8. Erigena foi um realista radical (absoluto). 9. Anselmo seguia Platão e atacava o nominalismo de Roscelino. la. Atribui-se a Roscelino a fundação do nominalismo, na filosofia, posto que as idéias que deram margem a tal formulação já existiam desde os filósofos . sofistas. li. Guilherme de Champeaux, embora tenha estudado com Roscelino, retomou ao realismo radical. 12. Abelardo estudou com Roscelino e Guilherme de Champeaux, e procurou encontrar uma posição intermediária entre os dois. Talvez ele tenha sido um conceptualista, ou então um realista moderado. 13. Gilberto de Porrée asseverava que a forma (universal) é individual e real em cada objeto, embora possamos compará-los, através de suas semelhanças, a membros de qualquer espécie ou gênero. Ele também defendia o conceptualismo. Os Universais, para ele, acham-se na Mente divina. 14. Tomás de Aquino defendia o realismo moderado (seguindo Aristóteles) sob a forma de explicação dada por Abelardo e João de Salisbury. Agostinho também influenciou o seu pensamento. Aquino ofereceu uma complexa explicação: Pode-se falar sobre o universal em três conexões: a. Universale ante rem: existem na mente de Deus, antes de existirem nas coisas: conceptualismo, b. Universale in rem: existem, realmente, nas coisas, sendo essências individuais concretas, numericamente distintos, mas similares em todos os membros de uma dada espécie; uma forma de realismo moderado. c. Universale post rem: existem após a coisa, no conceito universal abstrato na mente; uma forma de conceptual ismo. 15. Duns Scotus acrescentou a essa já complicada discussão a noção de "distinção formal". Ele ensinava que existe uma distinção formal entre a haecceitas ("esta coisisse"), a essência individual (de Sócrates, por exemplo), e a natureza humana universal. 16. Guilherme de Ockham era contrário à multiplicação de entidades metafisicas com o intuito de explicar nossos problemas; e assim, com sua famosa "navalha", descontinuava o Mundo Universal de Idéias. Ele atacava todas as formas de realismo, asseverando que tudo quanto temos são termos universais (nominalismo), e não coisas universais. 17. Madhva, um filósofo indiano do século XIII, falava sobre uma "semelhança universal" entre as coisas, em substituição à idéia dos universais.

18. Thomas Hobbes ensinava uma teoria nominalista alicerçada sobre a ontologia materialista. 19. John Locke parecia hesitar entre o conceptualismo e o nominalismo. 20. Berkeley também hesitava entre o conceptualismo e o nominalismo. 21. Hume ensinava o nominalismo. 22. Emanuel Kant advogava certa forma de conceptualismo, mas afirmando que não podemos fazer juízos firmes sobre as "coisas em si mesmas", exceto através dos postulados da razão, da intuição e das experiências místicas. 23. Hegel era um realista. Ele identificava o racional com o real. 24. Whitehead defendia o realismo platônico. 25. RusselI lançou mão das semelhanças universais a fim de dar apoio à sua teoria das classes, o que significa que não haveria uma semelhança universal única. Pois, tendo admitido a existência de um universal, podemos admitir a existência de outros universais, conforme, realmente, precisamos fazer em apoio às nossas explicações filosóficas. 26. Quase todos os realistas críticos e neo-realistas têm aderido a alguma forma de realismo. 27. Wittgenstein levou à maturidade a teoria da semelhança. Em lugar da idéia dos universais, ele preferia a idéia de "famílias de semelhanças". IV. Importância dos Universais para a Teologia 1. Utilizando-nos de Platão como inspiração, podemos dizer que Deus Triuno (Pai, Filho e Espírito Santo) é o Universal, e que Cristo é o Demiurgo. A criação foi feita por meio das idéias da Mente divina (conceptualismo). E a alma humana, uma espécie de universal, busca sua Pátria Universal através da transformação espiritual e moral. 2. O nominalismo pode influenciar a teologia asseverando três pessoas distintas na deidade, ou seja, o triteísmo. Além disso, a igreja universal (uma espécie de universal) é a Igreja mística, mantida espiritualmente unida; mas o nominalismo a nega, reduzindo-a a igrejas locais, mediante a influência da maneira de pensar do nominalismo. 3. O realismo pode ser usado em apoio à doutrina romanista da transubstanciação. A essência real (universal) do corpo e do sangue de Cristo poderiam fazer-se presentes nos elementos físicos do pão e do vinho, mas sem se identificar com esses elementos, no tocante a seus acidentes. A consubstanciação também pode tirar vantagem desse raciocínio filosófico. Por outra parte, o pensamento nominalista dá apoio à visão simbólica da eucaristia. Dizemos (usando palavras) que, simbolicamente, Cristo está presente nos elementos, mas não asseveramos a sua presença real no pão e no vinho. 4. O realismo, de modo geral, dá apoio ao dualismo: há uma esfera transcendental e há uma esfera física, mundana. Ambas as esferas são reais, mas o Real é transcendental. A maior parte das pessoas religiosas tende para uma forma ou outra do realismo. 5. O nominalismo, grosso modo, dá apoio ao monismo (vide), ou, pelo menos, o sugere. Haveria apenas uma realidade: a material. Quase todos os agnósticos, ateus e céticos são nominalistas; e, visto que a ciência exibe a tendência de alinhar-se com esse pensamento filosófico, quase todos os cientistas são nominalistas. Todavia, tem havido muitas exceções.

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UNIVERSAL-UNIVERSALISMO 6. O conceptualismo enfatiza a importância e o poder da mente. Ademais, confere alguma base à crença na Mente Universal ou Mente Cósmica (vide). 7. O realismo e o conceptualismo tendem a favorecer a ética absolutista: existiriam padrões absolutos de conduta, procedentes da Mente divina, ou então esses padrões seriam atributos divinos que precisam ser imitados pelos homens. O nominalismo, por sua vez, tende a dar apoio à ética relativista por causa de sua ênfase sobre o um, a realidade física, negligenciando a realidade transcendental. 8. O realismo radical, conforme é refletido na explicação original de Platão, pode ser usado como apoio ao politeísmo, incluindo o triteísmo. Mas aquela forma da posição, encontrada no diálogo Leis, também pode ser usada em apoio ao monoteísmo, em que os seres universais são vistos como atributos divinos, e não como entidades divinas distintas. 9. A doutrina do Lagos aparece inerente na idéia da mediação do Demiurgo criador, empregando o padrão dos universais para guiar o tipo de criação por ele produzido. Bibliografia: AM BENT C E EP MM P R

UNIVERSAL, MENTE Ver sobre Mente Universal, Mente Cósmica (um artigo); Cristo-Consciência e Consciência Cósmica. UNIVERSALIDADE DA MISSÃO DE CRISTO Ver Missão Universal de Cristo. UNIVERSALISMO Esboço: I. Definições e Caracterização Geral I!. Apoio Histórico na Igreja Cristã I1I.Base Bíblica do Universalismo IV Alternativas Não-Viáveis e Viáveis do Universalismo V Avaliação do Universalismo I. Definições e CaracterizaçAo Geral O universalismo é a crença do bem-estar final de

todos os homens, ou mesmo de todos os seres inteligentes, incluindo seres superiores aos homens. Esse bem-estar é definido de modo diferente, tal como a 'salvação é diferente. Os universalistas que se deixam orientar pela Bíblia falam em termos de salvação cristã (bíblica), mas os não-cristãos, como os neoplatônicos (com suas emanações e retornos de emanações) ou como os seguidores do bahaísrno (vide), definem o bem-estar de todas as criaturas em termos diferentes. O universalismo judaico não abordava questões como a salvação da alma, mas previa que os propósitos de Deus incluiriam todos os povos (ver Gên. 12:3; 26:4; 28:14; Amós 3:2; 9:7). Nos capítulos nono a décimo primeiro da epístola aos Romanos, essa forma de universalismo aborda a questão da salvação, e não apenas os privilégios materiais e espirituais das nações. Paulo concebia a reintegração universal da humanidade, em Cristo. Mais apropriadamente falando, a doutrina envolve a restauração (vide) em seu sentido mais alto: finalmente, todas as almas humanas serão salvas. A palavra grega correspondente a "restauração" é apokatástasis . Há duas formas principais de universalismo no meio cristão. Alguns têm pensado que a graça de Deus será tão grande e abundante que a

morte física do indivíduo assinalará o começo da restauração, e que o julgamento foi totalmente anulado pela missão de Cristo, incluindo a obra de sua expiação, que liberta a todos os homens, sem nenhuma necessidade de julgamento. A maior parte dos universalistas, porém, tem pensado que o julgamento é um agente necessário da salvação, porquanto a justiça precisa ser servida. Outrossim, a própria manifestação da justiça é uma manifestação do amor de Deus. Isso posto, o julgamento é um aspecto do amor de Deus, um de seus agentes, e precisa realizar a sua obra. Porém, uma vez que tenha terminado sua atuação purificadora, todas as almas serão remidas e participarão dos mais elevados beneficios da missão de Cristo. Alguns universalistas-calvinístas asseguram-nos de que a predestinação é, na verdade, nossa amiga, não nossa inimiga. Deus predestinou todos os homens à salvação, e isso, meus amigos, é tudo quanto está envolvido no amor de Deus. A única diferença é quando cada alma individual será remida, porque algumas delas resistem mais tempo do que outras. Talvez as eras da eternidade futura sejam necessárias para a redenção de todos os homens. Ninguém pode prever quanto tempo será necessário para derrotar a Satanás e obter a vitória absoluta. Mas a graça predestinadora garantirá, de modo absoluto, a vitória final. Os universalistas místicos acreditam que entender essa imensa verdade é algo que requer uma iluminação especial do Espírito de Deus, porquanto o sectarismo e os preconceitos controlam quase todas as mentes. Os preconceitos é que promovem as antigas idéias de destruição. Mas o poder do amor liberta a todos os cativos. Os universalistas acreditam que a salvação final e completa, para todos, é o único conceito digno de uma avaliação apropriada do poder da missão de Cristo, e também o único que faz justiça ao amor de Deus. Admite-se que podemos achar trechos bíblicos que dão apoio à idéia de condenação eterna para a vasta maioria dos homens. Mas os trechos bíblicos que assim ensinam pertencem a uma religião e uma revelação primitivas, a posição contrária também é ensinada na Bíblia, preferível à revelação anterior. Ver a terceira seção, intitulada Base Bíblica do Universalismo. Os universalistas mais modernos, menos limitados às Escrituras, não estão interessados na batalha em tomo de textos de prova, visto que põem em dúvida a idéia inteira de provar verdades grandiosas meramente examinando referências bíblicas. Antes, a verdade precisa proceder de toda espécie de investigação, com a ajuda da razão, da intuição e das experiências místicas. Nunca será suficiente meramente apresentar capítulos e versículos acerca de algum tópico. Todas as denominações cristãs estão envolvidas nessa futilidade, e todas elas têm seus textos de prova preferidos. Isso posto, apesar de a Bíblia ser uma das fontes do conhecimento espiritual, não é a única fonte. Além disso, uma grande variedade de teologias tem apoio desse método de textos de prova. Por conseguinte, devemos buscar um método diferente de procurar a verdade, se quisermos ser sérios acerca da questão. A maior parte dos universalistas não hesita em explicar suas crenças a todas as formas de vida inteligente, de tal modo que, segundo eles, não somente o homem caído, mas também os anjos caídos, serão devolvidos ao rei dos remidos. Se alguém sentir necessidade de algum texto de prova, bastar-lhe-á examinar o trecho de Efé. 1:9,10, que alude a todas as

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UNIVERSALISMO

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"r TellEl-Amarna; IV. Cartesianismo I, 661 Cartusianos 1, 661 Carvalho I, 661 Carvalho de Moré, Ver Maré, Carvalho de. Carvalho de Tabor, Ver 'labor; Carvalho de. Carvalho dos Adivinhadores I, 661 VertambémMecmerim, Carvalhode (Carvalho dos Adivinhadores). Cãs 1,661 Casa I, 662 Esboço I. Antes de Israel e no Começo de Israel 11. As Casas no Oriente 111. Desenvolvimentos Arquiteturais IV. Usos Metafóricos Casa das Armas I, 663 Casa de César I, 663 Casa de Deus, Ver Betel. Casa de Inverno I, 664 Casa do Bosque do Líbano 1,664 Ver também sobre Palácios. Casa do Pai, Ver Pai, Casa do. Casa do Tesouro 1, 664 Casa dos Depósitos I, 664 Casamento I, 664 Ver o artigo sobre Matrimônio. Casamento como veículo espiritual, Ver Matrimõmo, IX. Casamento Comunal I, 664 Casamento cristão, Ver Matrimônio, XII. Casamento da Lei Comum I, 664 Vantagens Desvantagens Casamento entre Pessoas de Raças

Diferentes I, 665 1, Do ponto de vista cristão 2. A Bíblia 3. As considerações meramente humanas a. Ética b. Condições sociais c. Atitudes culturais diferentes d. A saída da terra nativa para um dos elementos ao casal Casamento, Impedimentos ao I, 665 Ver Impedimentos ao Casamento. Casamento Infantil I, 665 Casamento, infonnação histórica. Ver Matrimônio, 11. Casamento Levirato Ver Matrimônio Levirato e Matrimõmo, IV. Casamento Misto I, 666 Os ensinos de Paulo Sete conceitos são examinados Casamento no Novo Testamento, Ver Matrimônio, li, 6. Casamento novo, Ver Novo Casamento. Casamento plural Ver Concubina e Poligamia. Casamento, santidade do, Ver Matrimônio, X. Casamento, simbolos do, Ver Matrimônio, XIII. Casamentos mistos, Ver Matrimônio, IX. Casfor I, 666 Casífia I, 666 Casluim I, 666 Caspis (Caspim) I, 667 Cássia I, 667 Cassiano, João I, 667 Cassiodorus, Magnus Aurelius I, 667 Cassirer, Emst I, 667 Castanhas, Ver Pistácia, Castanhas. Castanholas I, 667 Ver Instrumentos Musicais. Castas 1,667 Castas no hinduísmo, Ver Hinduismo, VI.9. Castelo I, 668 Castidade I, 668 Castigar, Ver Castigo, Castigar e Julgamento. Castigo, Castigar I, 669 Ver diversos artigos sobre Jlllgamelllo. Palavras relacionadas ao castigo Principios que governam o castigo Sete idéias são apresentadas Castigo como remédio, Ver Castigo,

Castigar; 2 e Restauração. Castigo Eterno I, 670 Ver sobre o Julgamento de Deus dos Homens Perdidas. Castigo Futuro I, 670 Castor e Pôlux I, 671 Ver sobre os Diôscuros. Castro, Fidel, destruidor da Igreja, Ver Comunismo, 8.Ver também Teologia da Libertação m, VII Casualismo I, 671 Casuísmos I, 671 Catacumbas I, 671 Catadupas I, 671 A ocorrência da palavra Catão, Marcus Porcius I, 672 Um filósofo estóico romano Catarina de Alexandria I, 672 Catarina de Médici I, 672 Cátaros I, 672 Ver Albigenses 1,672 Catarse I, 672 Catate I, 672 Catecismo I, 672 1. O termo 2. Antigos catecismos 3. O catecismo medieval

4, O período da Reforma

5. A catequese moderna Catecismo de Heidelberg I, 673 Ver Heidelberg, Catecismo de. Catecismo de Westminster 1,673 Ver Weslmins/er, Catecismo de. Catecumenado I, 673 Catecúmeno I, 673 Cátedra I, 673 Catedral I, 673 Categoria I, 673 1. O termo 2. Na filosofia Categorias da ética, Ver Ética, I. 7. Categorias da mente, Ver Idéia, 12, m,203. Categorias de Kant, Ver KUIlt, 2.g. Categorias místicas, Ver Misticismo, IX. Categórico, imperativo, Ver Imperativo Categórico. Catena I, 674 Catequese I, 674 Catequética I, 674 Cativeiro (Cativeiros) I, 674 Cativeiro Assírio I, 675 Ver O artigo geral sobre Cativeiro, Cativeiros. O cativeiro das dez tribos de Israel Cativeiro Babilônico I, 675 O período histórico A comparação do cativeiro Assírio e Babilônico Cativeiro Babilônico do Papado I, 676 Ver sobre Avignon. Cativeiro de Israel, Ver Cativeiro Assirio e Cativeiro Babilônico Cativeiro e hades, Ver Cativeiro Levado Cativo. Cativeiro Levado Cativo I, 676 Levou cativo o cativeiro Efé. 4:8 Cativeiros de Israel, Ver Cativeiro Assírio o Caitvetro Babilônico. Católica Romana, Igreja, Ver Igreja Católica Romana, Catolicismo. Católicas, Epístolas, Ver Epistolas Católicas. Catolicismo I, 676 Ver os artigos sobre Católiw, Igreja Catôlicae Igreja Causitca Romana, Catolicismo. Ver também o artigo sobre Aquina; Tomás de Catolicismo, ética doVer Ética

Catôtica: Catolicismo anglicano. Ver Anglo-Catolicismo; Catolicismo o ecumenismo, Ver Movimento Ecumênico, V Catolicismo e fé, Ver Fé (Posições Católica Romana e Protestantes) Catolicismo liberal, Ver Liberalismo Catolico. Católico I, 676 Definição do termo I. No ambiente cristão 2. Pelos fins do século 11 D.C. 3. Durante a Reforma protestente 4. Usos modernos Católico I, 677 Um titulo dos patriarcas nestorianos e armênios Católicos Antigos I, 677 Catua I, 677 Cauda I, 677 Cauda Gorda 1, 678 Causa 1,678 Treze filósofos falam sobre o assunto Causa e teologia O Lagos e as causas de Deus Causa (em frases latinas) I, 679 I. Causa cognoscendi

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2. Causa essendi 3. Causa immanens 4. Causa transiens 5. Causasui 6. Vera causa Causa, diversasconsideraçães, Veros artigos sobre Causa (diversos). Causa Eficiente I, 679 Causa Final I, 679 Causa Formal I, 680 Causa Material I, 680 Causa na filosofia, Ver diversos artigos sobre Causa. Causa Primeira I, 680 Ver também Primeira Causa. Causa Secundária I, 680 Causa Sui I, 680 Causalidade e identidade, Locke, sobre, Ver Locke, John, 12. Causas, Ver diversos artigos sobre Causa. Causas da poluição ambiental, Ver Potuição Ambiental, I. Cavalaria 1,680 Cavaleiros de Colombo I, 680 Cavaleiros do Apocalipse, Ver Cavalos, os Quatro do Apocalipse Cavalherismo I, 680 Cavalo I, 680 Ver sobre Cavalaria; Cavalos, Os Quatro do Apocalipse. A domesticação do cavalo I.Origens Il.Domesticação Ill, Referências Bíblicas Usos do cavalo IV. Referências Figuradas Cavalo amarelo, Ver Cavalos, os QI.Iatro do Apocalipse, IV. Cavalo branco, Ver Cavalos, os Quatro do Apocalipse Ill Cavalo preto, Ver Cava/os, os Quatro do Apocalipse, m. Cavalo vermelho, Ver Cavalos, Os Quatro do Apocalipse, 11. Cavalos do Apocalipse, Ver Cava/os, os Quatro do Apocalipse Cavalos do Sol I, 682 Ver sobre o Sol. Cavalos, freios dos, Ver Freios dos Cavalos. Cavalos, os Quatro do Apocalipse I, 682 O livro de Apocalipse é representado como selado com sete selos Os quatro cavalos dão os primeiros quatro selos Cavalos, Porta dos I, 687 Ver sobre Por/a dos Cavalos. Cavalsilas, Nickaloas I, 687 Caveira, Lugar da I, 687 Ver Gólgota. Caverna I, 687 Caverna (Metáfora de Platão) I, 688 VerMeláforo da Cavema dePlatão. Cébero I, 688 Cebola I, 688 Cecília I, 688 Cedro 1,688 Cedrom I. 689 Cefas I, 689 Cegonha 1,689 Cegueira I, 690 A incidência de cegueira A causa da cegueira de nascência A lei do AT Usos metafóricos Ver também EJif~rmidadesna Biblia, 1.6. Cegueira, mistério da, Ver Mistério da Cegueira e Endurecimemo de Israel. Cegueira Judicial I, 690 Ver jlllgamellto C[Ile JI/lgamento que Cega (Cegueira Judicial), Ceia do Senhor I, 690

CELEIRO - CINCO Ver também sobre Eucaristia. Celeiro I, 691 Celestial I, 691 No grego Ocorrências bíblicas I. Em I Cor. 15:40,41 2. O termo celestial 3. Outro importante uso 4. Os teólogos judaicos Celestiais, lugares. Ver Lugares Celetiais, Celibato I, 692 Nove itens são discutidos terminando com uma conclusão e avaliação Celibato e Jesus, Ver Jesus, 1I1.3.d.7. Celso I, 695 Cem, Torre dos I, 695 Cemitério I, 695 Ver também o artigo sobre Sepultamento, Costumes de. Cenáculo Ver Sala Superior, I, 695 Cencréia I, 696 Cendebeu I, 696 Cenobita I, 696 Censor, Censura I, 696 Censura de uma pessoa contra outra, Ver Julgamellto (Censura) de uma Pessoa Contra Outra. Cento e Quarenta e Quatro Mil I, 697 Apo.7:4 As três posições extremas das interpretações Outros pontos de vista sobre o simbolismo desse número Centurião I, 698 Cera 1,698 Cerâmica I, 699 Ver Oleiro (Olaria; Cerâmica). Cerca 1,699 Cerro I, 699 Ver Guerra. Cerebral, lavagem, Ver Lavagem Cerebral. Cérebro I, 699 Ver 6rgãos VItais, I. Cerimonial, lei, Ver Lei Cerimonial. Ceríntios I, 699 Cerinto I, 699 Certeza e Dúvida I, 699 Certeza Segundo a Crença Religiosa 1,700 As quatro maneiras básicas de chegar ao conhecimento 1. O empirismo 2. O racionalismo 3. A intuição 4. O misticismo As evidências em favor da validade de algumas experiências místicas O conhecimento da pessoa religiosa A obtenção da verdade Certeza Segundo a Filosofia I 701 Cerulário, Miguel I, 701 Cerviz dura, Ver Dura Cerviz. César 1,701 Cesareano, tipo de texto do Novo Testamento, Ver Manuscritos Antigos do nt: VI, Vol. IV. Cesaréia 1,701 Cesaréia, Eusébio de, Ver Eusébio de Cesaréia. Cesaréia de Filipe I, 703 Cesário de Arles I, 703 Cesário de Heisterbach I, 703 Cesaropapismo I, 703 Cesto de Junco I 704 Cesto de Junco, de Moisés I, 704 O vocábulo hebraico A recompensapela fé damãe de Moisés Ceteris Paribus I, 704 Ceticismo I, 704 Introdução I. Ceticismo na Filosofia 11. Ceticismo e Desobediência 11I.O Ceticismo Leva a Rebelião Espiritual

IV. O Provincialismo do Ceticismo V. Ceticismo Honesto e Ceticismo Desonesto VI. A Utilidade do Ceticismo Ceticismo e o conceito de Deus, Ver Deus, 111. 15. Cetro 1,706 Céu 1,707 Esboço 1. A palavra hebraica e a palavra grega a. Shamayin ou shemayin b.Ouranós 2. Os céus materiais 3. Os céus não-materiais 4. A pluralidade dos céus 5. Os céus em dois níveis 6. Relação entre Cristo o os céus 7. Os lugares celestiais de Paulo 8. O destino final do homem nos céus Céu (Firmamento) I, 709 Céu (Terceiro) 1,709 Ver o artigo sobre o Terceiro Céu. Céus, Ver Céu. Céus, exército dos, Ver Exército dos Céus. Céus e os lugares celestiais, Ver cs«, 7. Céus Novos, Terra Nova I, 709 Ver Nova Criação. Ceva 1,709 Cevada I, 709 Châlon Sur-Saone, Concílios de I, 710 Os anos dos concilios Chamada 1,710 Chamados Muitos, Escolhidos Poucos 1,710 Chaminé 1,711 Champeaux, Guilherme de I, 711 Champlin, Russell Norman I, 711 Chance I, 711 Dez conceitos são examinados Chang Tsai I, 713 Chang Tsai sobre o materialismo, Ver Materialismo, III.5. Chang Tung-Sun I, 713 Channing, Willlam Ellery 1,714 Chapéu I, 714 Ver o artigo sobre Ve.•timenta:•. Characteristica Universalis I, 714 Charis, Ver G~ especialmente, VIU. Charismata 1,714 Ver os artigos: Dons Es.pirituais; Dom e Movimento Carismático. Chartismo 1, 714 Chartres I, 714 Uma escola francesa Charvaka I, 714 Um sistema filosófico Idéias Ver também Ceticismo. Chasidismo 1,714 Ver sobre Assidismo. Chave I, 714 Ver também sobre Chaves. No hebraico As chaves da antiguidade A associação da chave com o conhecimento O simbolismo Chaves I, 715 I. Declaração Geral A metáfora No NT As chaves que abrem o reino 11. As Chaves e Pedro, Mat. 16:19 Tenho as chaves da morte e do inferno Morte A chave do hades m. Chaves de Davi Que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abre Chaves de Pedro, Ver Pedro (Apóstolo), VIII.4.

Chefe 1,716 Treze palavras hebraicas e gregas são discutidas Chefe da Sinagoga 1,717 Cheiro I, 717 Ver Odor. Chemnitz, Martim I, 717 Ch'eng, Ver Li, I. Ch'eng 1,717 Ch'eng I Lu Hsian-shan, Ver Li, I. Chenobsokion I, 717 Ver Nag Hamade, Manuscritos de. Checter Beatty, Papiros de 1, 717 Ver Papiros de Chester Beatty. Chesterton, Gilbert Keith I, 717 Suas datas Um autor e jornalista inglês Ch'i, Ver Li, I. Chibolete, Sibolete I, 717 Chifres I, 718 Usos biblicos Usos metafóricos Chifres do Altar 1,718 Ver também o artigo sobre Cidades de Refúgio. Chifres, sete, Ver Sele Cabeças e Sete Chifre s. Chih Tao-Lin I, 718 Chi 11,718 Suas datas Um filósofo chinês Sua vida Chile, embalsamamento em, Ver Embalsamar (Embalsamamemo), 5. . China, Religião e Filosofia da I, 718 7Ver Religião e Filosofia Chinesas. Chipre I, 718 Chisholm, Roderic I, 719 Chi- Tsang I, 719 Choba I, 719 ' Chola I, 719 Chomsky,A. Noam 1,719 Choro I, 720 A idéia do choro humano A expressão de diversas emoções humanas Chou Tun-I I, 720 Ver também Li, 1. Chuang Tzu I, 720 Chubb, Thornas I, 721 Chu Hsi I, 721 Ver também Li, 1. Chumbo I, 721 Ver também sobre Minas, Mineração. Chuva 1,721 Chuvas Anteriores e Posteriores I, 722 Ver o artigo sobre Chuva. Chuvas da Primavera I, 722 Ver sobre Chuvas. Ciamom I, 722 . Cibele-Átis I, 722 Ver sob Religiões Misteriosas, 2. Cibernética I, 722 Cicero, Marcus Tullius I, 723 Cicilio I, 723 Ver Saco. Ciclo do Tempo I, 723 Filosofia da história Ciclos do destino Ciclos do tempo, Ver Ciclo do Tempo. Ciclos O precognição, Ver Precognição {Conhecimento Prévio) I .7.. Cidadania I, 724 Cidadania espiritual, Ver Cidadallia, 4. Cidade I, 725 Esboço I. As palavras 2. Primeiras referências biblicas 3. A cidade: revolução social 4. Antigas cidades hebréias 5. Cidades não-israelitas 6. Nos dias do NT Cidade Baixa I. 728 Cidade Celestial,

768

Ver Nova Jerusalém. Cidade Cercada I, 729 Cidade da Destruição I, 729 Ver Heliápolis. Cidade das Palmeiras I, 729 Cidade de Adão, Ver Adão, Cidade de. Cidade de Davi I, 729 Ver Sião. Cidade de Deus I, 729 Obra literária de Agostinho Ver também sobre Igreja e Estado. Cidade de Enoque I, 729 Ver Enoque, Cidade de, Cidade de Moabe I, 729 Cidade do Sal I, 729 Ver também Sal, Cidade do. Cidade do Sol I, 729 Ver também sobre Sol, Cidade do e

Baalbeque e Heliôpotis: Cidade santa, Ver Jerusalém e Nova Jerusalém. Cidadela I, 730 Cidades-Armazéns I, 730 Cidades da Babilônia, Ver Babilônia, 6. Cidades da Campina I, 730 O sentido básico Aarea Cidades de Refúgio I, 731 Ver o artigo separado sobre Cidade. Cades Tipologia Contrapartes modernas Cidades do vale do Rio Jordão, Ver Jordão (Rio), IX. Cidades dos levitas, Ver Levitas, Cidades dos. Cidades e Colônias Romanas I, 73 I Cidades Leviticas I, 732 Ver Levitas, Cidades do s. Ciência I, 732 Ver Religião e a Ciêncta. Ciência Cristã I, 732 Ciência e a alma, Ver Abordagem Científica à Crença na Alma e em Sua Sobrevivência Ante Mor/e Flsica entre os artigos Imortalidade. Ciência e a filosofia, Ver Filosofia da Ciência Ciência e a religião Ver Religião, e a Ciêncta. Ciência e ética, Ver Ética e a Ciência. Ciência e liberalismo, Ver Liberalismo, 11.6; m.s.c. Ciência e milagres, Ver Milagres, VI. Ciência e o espirito, Ver Espirito, IV. Ciência e religião, Ver Religião, VII e Religião e a Ciência. Ciência, filosofia da, Ver Filosofia da Ciência.

Ciência na Biblia 1,732 I. A Bíblia e o Método Cientifico 11. Ciência Natural 111. Toda a Realidade que Pode Ser Experimentada IV. A Ciência e a Teologia Cilícia 1,735 Címbalo 1, 735 Ver sobre Música e Instrumentos MII.•icais. Cimento (Argamassa) I, 735 Cimérios I, 736 Cinamomo 1, 736 Cinco Argumentos de Tomás de Aquino em Favor da Existência de Deus I, 736 Comentário de F.C. Copleston Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus I, 741 Cinco Pilares do Deísmo I ,742 Ver também o artigo geral sobre Dei.s.mo. Cinco Pontos do Arminianismo I, 742

CINCO - COGITO

o protesto dos annimanos Os cinco pontos discutidos Cinco Pontos do Calvinismo I, 742 Ver também os artigos sobre Calvi110, João e sobre o Calvinismo. Avaliação dos pontos do arminianismo e os cinco pontos do calvinismo I. Os sistemas 2.0 princípio do paradoxo 3, O princípio da polaridade 4. O problema da perseverança dos santos S. O orgulho o a arrogância dos sistemas teológicos Cingir o Navio I, 744 Ver sobre Navios e Embarcações Cínicos, Cinismo I, 744 Uma poderosa corrente filosófica que perdurou do séc, Va.C. ao séc, V d.C. VertatrMnEsrolasFilW'ÓjicmdoNT. Cinismo, ética do, Ver Ética, IV 1. Cintas I, 744 Cinto I, 744 Cinturão como símbolo da verdade, Ver Armadura, Armas, V. I. Cinzas I, 745 Cipreste I, 745 Ciprano de Cartago I, 745 Círculo I, 745 Círculo de Viena I, 746 Ver Viena, Circulo de. Círculo Mágico I, 746 Ver Magia, Círculo da. Circum-Ambulação I, 746 Usos do rito Circuncisão I, 746 Esboço LA Palavra 11. Antiguidade e Uso Largamente Espalhado m. Origem o Propósitos IV No Judaísmo V. Considerações no NT Circuncisão, Partido da I, 746 Ver também sobre Circuncisão. Qual é a argumentação em prol da circuncisão? As falhas dos argumentos Substituições modernas Circuncisão, substituições modernas da, Ver Circuncisão, Partido da, Vol. I, últimos parágrafos Circuncisão de Timóteo I, 750 Circuncisão e o cristianismo, Ver Circuncisão, V. Circuncisão Falsa I, 750 Circuncisão no NT, Ver Circuncisão, V. Circunstâncias I, 751 A ética relativa; Ver também Ética. Cirenaícos, Cirenaísmo I, 751 Três escolas filosóficas que se desenvolveram com base nas idéias de Sócrates Cirene I, 751 Ver também Libia, último parágrafo. Cirilo de Alexandria I, 75 I Um patriarca de Alexandria Cirilo de Jerusalém I, 752 Cirilo e cristologia, Ver Cristologia, 4.1. Ciro 1,752 Chamado Ciro Il, o Grande Cirurgia I, 753 Ver sobre Medicina. Cisco e Refugo I, 753 Cisma I, 753 Ver também sobre Grandes Cismas. Cismas, os grandes, Ver Grandes Cismas. Cistercienses I, 753 Uma ordem religiosa católica

romana Cisterna I, 753 Cita (Povo) 1,754 Ver União em Cristo, I. c, Cita. Citações do AT pelos cristãos primitivos, Ver Uso do Antigo Testamento pelos Cristãos PrimiJivos. Citações dos livros pseudepígrafos no NT, Ver Livros Apócrifos, IV.C. Citações dos pais do NT, Ver Manuscritos Artigos do NT I, IV Citações no NT 1,754 I. Números e tipos 2. Afinidades textuais 3. Estilo das citações do AT 4. Propósitos das citações do AI 5. Citações de fontes externas ao AT. Citações sobre o amor, Ver Amor, VIII. Citópolis I, 756 Ciúme, Água de I, 756 Ver Agi/a Amarga. Ciúmes I, 756 Civilização I, 756 Oito pontos discutidos Civilização Cristã I, 757 Clã I, 758 Clairvaux, Bernardo de, Ver Bernardo de Clairvaux. Clapham, Seita 1,758 Clarividência I, 758 Clark, Gordon Haddon I, 758 Clarke, Adam I, 759 Clarke, James Freeman I, 759 Clarke, Samuel I, 759 Claro, Clareza I, 759 Class, Gustav I, 760 Classe (na Filosofia) I, 760 1. Na opinião de Aristóteles 2, Indivíduos em sua multiplicidade 3, Desenvolvimentos posteriores Classes, luta de, Ver Luta de Classes. Classes de deuses, Ver Deuses Falsos, I. Classes de literatura sagrada, Ver Literaturas Sagradas, 4. Classes de nomes, Ver Nomes, m. Classes Sociais I, 760 I. Elementos de distinção 2. Classes principais 3. As denominações religiosas e as classes sociais 4. A classe média como meio equilibrador 5. O NT e as classes sociais Clássico Argumento do Relógio, em Favor da ExistênciadeDeus I, 761 Classificação das raças, Ver Raça, I.B. Classificação dos escritos neotestamentários, Ver Epístola, IV Clauberg, Johannes I, 761 Claudal,761 Clauda 1,761 Forma alternativa de Cauda Cláudia I, 761 Cláudio I, 761 O nome do quarto imperador romano era TibérioNero Druso Germânico Cláudio e o cristianismo. Ver também sobre Império Romano, VI. Cláudio de Turim I, 762 Cláudio Galeno, Ver Galeno, Cláudio. Cláudio Lísias I, 762 Claustro I, 762 Claver, Pedro I, 762 Cleantes I, 762 Clearco I, 763 Clemente I, 763 Personagem do NT Seria esse o mesmo Clemente de Roma?

Clemente I de Roma, Papa? I, 763 Clemente 11 I, 763 Clemente III I, 763 Clemente 111 (Antipapa) I, 763 Clemente IV I, 763 Clemente V I, 764 Clemente VI I, 764 Clemente VII I, 764 Clemente VIII I, 764 Clemente VIII (Antipapa) I, 764 Clemente IX I, 765 Clemente X I, 765 Clemente XI I, 765 Clemente XII I, 765 Clemente XIII I, 765 Clemente XIV I, 765 Clemente, Epístolas de I, 765 I. Primeira Epístola de Clemente Esboço I. Autor 2. Data 3. Propósito e conteúdo 4. Fatos importantes sobre a carta 5. Sua relação com o cânon do NT 6. Texto 11.11 Clemente I1I.Outra Literatura Clementina. Não Autêntica Clemente de Alexandria I, 767 1. Vida 2. Obras principais 3. Idéias Quinze conceitos principais são discutidos 4. A teologia alexandrina e as denominações cristãs Clemente de Roma (Clemente I, Papa?) I, 769 Um dos primeiros bispos de Roma Cléopas I. 769 Cleópatra I, 770 Várias princesas egípcias Clérigos Regulares I, 771 Clérigos Seculares I, 771 Clero I, 771 Clero, Clerical I, 771 Clitômaco I, 771 Cloe I, 771 Clopas I, 771 Clóvis I, 772 Cluniacense I, 772 Cluny 1,772 Cluny, Bernardo de, Ver Bernardo de CluI')'. CnidoI,772 CoaI, 772 Coabitação I, 772 Coate, Coatitas I, 773 Coberta I, 773 Coberta para a Cabeça, Véu I, 773 Cobertura dos olhos, Ver Olhos, Cobertura dos. Cobiça I, 774 As palavras gregas e hebraicas Definição; condenação no AT e no NT, exemplos na Bíblia Pecado mortal Cobra, Ver Serpentes(Serpentes

Venenosas). Cobra (arquétipo), Ver Jung, Idéias, 7.b. Cobre 1,774 Definições científicas As demonstrações arqueológicas Os produtores desse metal As instruções de Moisés Coceira I, 774 Ver Doenças. Cocheiro I, 775 Ver também sobre Carruagenstio AT Codex 1,775 Origens da palavra Definição da palavra Usos nas Escrituras Codex A1exandrinus, Ver Manuscritos Antigos da Novo

769

Testamento, m.5.A. Codex Bezae, Ver Manuscritos Antigos da NT. Codex Borgianus, Ver T. Codex Campianus, Ver M (Mamlscritos). Codex Cyprius, Ver K. Codex Dublinenses, Ver Z. Codex Ephraemi Rescriptus, Ver Manuscritos AnJigos da Novo TestamenJo, IU.5.C. Codex Koridethianua, Ver Manuscritos AnJigos do Novo Testamento, m.5.Theta. Codex Mosquesis, Ver V. Codex Nanianus, Ver U. Codex Nitriensis, Ver R. Codex Petropolitanus, Ver Manuscritos Antigos da N'I', I1I.5.Pi. e Pi {Codex Petropolitanus). Codex Purpurus Petropolitanus, VerN. Codex Regius, Ver L. Codex Sinaiticus, Ver Mallllscritos Antigos do Nl, Ill.S. Aleph e S. Codex Sinopensis, Ver O. Codex Vaticanus, Ver Manuscritos Antigos do Nl, 1II.5.B. Codex Vaticanus354, VerS(segundo artigo). Codex Washingtonianus, Ver W. Codex Washingtonianus I, Ver Manuscritos Antigos do Novo Tesiamemo; I1I.5.w. Codex Washingtonianus Il, Ver Manuscritos Ant, do Novo Testamento; m.5.I. Códice Wolfii B, Ver H (Códice Wo{fiiB). Código de Hamurabi I, 775 Ver sobre Hamurobi, Código de. Código de Manu I, 775 Um poema métrico do hinduismo O seu conteúdo essencial Código de Santidade I, 775 Ver Santidade, Código da e 1. E. D. P. (S.). Código moral do comunismo, Ver Marxismo, Etica da, 6. Código Sacerdotal I, 775 A mais recente e mais ampla das quatro camadas literárias e legislativas principais do Pentateuco. Ver P (Código Sacerdotal) e 1. E. D. P. (S.). Códigos da Bíblia, Ver Lei da Código Hihlia Códigos éticos da medicina, Ver Medicina, Ética da, m. Códigos legais do Pentateuco, Ver Pentateuco, 1.9. Codorniz I, 775 Uma ave limpa Coele-Síria I, 776 Coelestius I, 776 Coelho I. 776 Ver sobre Lebre. Coelho (Arganaz) I, 776 Coentro 1,776 Coerção I, 776 Coerência, Teoria da Verdade I, 777 Ver também sobre Conhecimento e a Fé Religiosa, e Racionalismo. A coerência como um critério da verdade CofeI,777 Cogitabilitas, Princípio da I, 777 Cogitalio I, 777 Cogito, Ergo Sum I, 777 As palavras gregas para 'penso portanto existo'. A famosa declaração de Descartes, , Ver sobre Racionalismo e também sobre Descartes;

COGNIÇÃO - CONCÍLIO Idéias, 3. Cognição I, 778 Cognitivo I, 778 Cognoscendum, I, 778 Cohen, Hermann I, 778 Ver também Judaísmo, 11.20. Cohen, Monis Raphael I, 778 Coincidência, Ver Coincidência Signtficauva: Coincidência Significativa I, 778 As coincidências que nos surpreendem e admiram As histórias do autor A história de Richard Bach O que é uma coincidência? Idéias: 1. Carl Jung 2. As piadas da natureza 3. O tiquismo 4. Sinais de desígnio

Coinerência I, 779 Coisa, Ver Res. Coisa em Si I, 780 Coisas Consagradas I, 780 Coisas indiferentes, Ver Indiferença Espiritual.

Cola 1,780 Colaias I, 780 Duas Personagens do AT Colar, Ver Pendente (Colar), e Pendentes. Colchas I, 780 Colchetes I, 780 Coleções de Cânones Apostólicos I, 780 Colégio Apostólico I, 780 Colégio de Cardeais I, 780 Colégio de Propagação, Ver Propagação, Colégio de. Colégio Pontificial I, 781 Coleridge, Samuel Taylor I, 781 Colet, John I, 781 Ver o artigo sobre os Platônicos de Cambridge. Coleta I, 781 Coleta I, 782 Coletânea de livros do NT, descrita, Ver Novo Testamento, lI. Coletiva personalidade, Ver Personalidade Coletiva. Coletivismo I, 782 Coletivo I, 783 Coletivo inconsciente, Ver Inconsciente Coletivo. Coletores de Impostos I, 783 Coletaria I, 783 Ver também sobre Impostos, Taxação.

Colheita I, 784 Ato de cortar e recolher o produto dos campos Os usos ilustrativos O Pentecoste Ver o artigo sobre o Calendário. Usos metafóricos Colheita segundo a semeadura, VerLei Moral da Colheita Segundo a Semeadura.

Colheitas e festas, Ver Festas (Festividades) Judaicas. Col-Hoze I, 784 Coligação I, 784 Colírio I, 784 Collingwood, Robin George I, 784 Colocintidas I, 784 Colônia (Colonialismo) I, 785 Colonialismo, Ver Colônia (Colontaltsmo). Colóquio de Marburgo, Ver Marburgo, Colóquio de. Colossenses I, 785 Esboço

I. Autoria 11. Data e Proveniência

UI. Motivo e Propósitos IV. Integridade da Epístola V. Temas Principais VI. Confirmação Antigae Aceitação VII. Estado do Texto Grego VIII. Conteúdo IX. Bibliografia Colossos I, 795 Urnacidade da Frígiaàs margens do rio Lico A chegada do evangelho a essa localidade As indústrias locais A prosperidade de Colossos Colportagem I, 795 Ver o artigo sobre o Movimento de

Tratados e Folhetos. Columbano I, 796 Coluna I, 796 Oito palavras discutidas Definições e usos Usos Figurados Coluna de Apocalipse 3: 12 I, 797 I. A Promessa lI. Significados da Coluna Dez significados são discutidos Coluna de fogo e nuvem, Ver Colunas de Fogo e Nuvem. Colunas da Terra I, 797 Colunas de Fogo e Nuvem I, 797 Combustível I, 798 Comenius, João Arnós I, 798 Comentários sobre a Bíblia I, 798

Esboço Introdução a. Observações preliminares b. Utilidade c. O impulso para escrever d. O número grande e. Um testemunho I. Os Pais daÁria lIA Idade Média III. A Reforma Protestante IV.O Século XVII V.O Século XVIII VI. O Século XIX VII. O Século XX VIII.Comentários na Língua Portuguesa 1.Série Cultura Bíblica 2. Comentário Biblico Moody 3. O Novo Comentário da Biblia 4. Comentários individuais 5. O Novo Testamento Interpretado Bibliografia Comer I, 805 Ver o artigo geral sobre Alimentos. Ver também o artigo geral sobre Comer a Carne e Beber o Sangue de Jesus.

Comer a Carne e Beber o Sangue de Jesus 1,805 Em João 6:53 As muitas interpretações são discutidas União com Cristo e participação na sua forma de vida Comércio, Negócios e Intercâmbio I, 806 Definição dos termos I. Intercâmbio local 2. Intercâmbio no periodo interteslamentai 3. Comércio internacional 4. Negócios Dinheiro; metais preciosos; moedas; banqueiros; no tempo do NT Comida I, 813 Ver Alimentos. Comida Saborosa 1,813 As referências no capítulo 27 de Gênesis

A glutonaria Ver sobre a Glutonaria. Cominho I, 813 Comissão, a Grande I, 814 I. Ocasião histórica 2. Versões biblicas A versão de Marcos A versão de Lucas No evangelho de João No livro de Atos Comissões Bíblicas,as I, 815 Comissões Eclesiásticas I, 8I 5 Na Igreja Católica Romana 1. Comissões pontificiais 2. Comissões prelaciais 3. Comissões diocesanas Communicatio Essentiae, I, 815 Cornrnunicatio Idiomatum I, 815 Communicatío Operationum I, 816 Compactatas I, 816 Compaixão I, 8 I 6 O amor em ação No que consiste a compaixão? Companheiro 1,816 Companheiro de Jugo I, 817 A ocorrência em Fil, 4:3 A quem Paulo se dirigia? Comparação das religiões, Ver Religiões Comparadas. Compensação, Principio de I, 817 Competência I, 8 17 Competição L 818 Complexo de caráter I, 8 I 8 Complexo de Édipo I, 818 A$ lendas gregas. O nome Étipo, I, 8 I8 Ver sobre Freud. Complexo de Electra I, 818 Comprar I, 818 Ver sobre Comércio e Viagem. Compreensão I, 818 Compulsão I, 820 Comte Augusto I, 820 Um Filósofo francês Comum I, 82 I As ocorrências bíblicas Pertencente a todos Ver sobre Puro e Impuro. Comum, graça, Ver Graça Comum. Comum, lei, Ver Lei Comum. Comunhão I, 821 Comunhão Aberta ou Fechada I, 822 Ver sobre a Comunhão Fechada. Comunhão Anglicana I, 822 Ver também sobre Anglo. Catoliclsmo e Eptscopalismo. Comunhão com as trevas, Ver Separação do Crente, VII.

Comunhão do Altar 1, 823 Comunhão dos santos I, 823 Ver também Santos (Eclesiásticos), IV. Comunhão Fechada I, 823 Comunhão Santa I, 824 Ver o artigo sobre a Eucaristia. Comunhão universal,Ver Comunhão dos Santos.

Comunicação de almas-em grupo, Ver Nova Era, 3,4. Comunicaçãode seresextra-terrenos, Ver Nova Era, 3,4. Comunicação horizontal, Ver Escrita, LA Comunicação Indireta I, 824 Comicação vertical, Ver Escrita, I.B. Comunidade I, 824 ComunidadeAnglicanae os concílios, Ver Concílios Ecumênicos, VII. Comunidade Anglicanasobre purgatório, Ver Purgatório, III Comunidade de Bens I, 824 Comunidade de Inquirição I, 825 Comunidade de Interpretação I, 825 Comunidade de Qumran, Ver Mar

770

Morto, Manuscritos (Rolos) do, 5.

Comunidade do Espírito, Ver Fundamento da Igreja, Cristo Como, IV. Comunídade Ilimitada I, 825 Ver Peirce, Charles S., 13 e 14. Comunidades Essênias, Ver Essêntos, V. Comunismo I, 825 Esboço 1. Definição

2. Origens 3. Platão 4. Incidentes históricos 5. Marx e Engels 6. O comunismo e a Igreja a. A experiência de Jerusalém b. Estabelecimentos religiosos comunistas O comunismo Mórmon c. A Teologia da Libertação 7. O comunismo e a ética O que dizer sobre a luta de classes? O lema de Karl Marx 8. O comunismo e os mártires A Igreja cubana e o comunismo uma ilustração 9. Os serviços do comunismo lO.O comunismo e a tradição profética Ver também Marx, Karl (Marxismo).

Comunismo da Igreja primitiva, Ver Comunismo, 6. Comunismo e a ética, Ver Comunismo, 7. Comunismo e Platão, Ver Comunismo, 3. Comunismo na Igreja, Ver Comunismo, 6 e a Teologia da Libertação.

Comunismo, seitas cristãs que praticaram, Ver Comunismo. 6.h. Comunismo, serviços de, Ver Comunismo, 9. Comutação da Penitência I. 829 Cona 1,829 Conanias I, 829 No hebraico O nome de duas personagens do AT Conato I, 830 Conceição da Bendita VirgemMaria, Ver Mariokuria, 5. Conceição Imaculada I, 830 Ver Imaculada Conceição. Conceito I, 830 Conceito básico de autoridade, Ver Autoridade, 5. Conceito biblico de Deus, Ver Deus, IV. Conceito hebraico do universo, Ver Astronomia, 2. Conceitos de Deus, Ver Deus, Ill. Conceitos importantes do hinduísmo. Ver Hinduísmo, VI. Conceitualismo I, 830 Esse é o termo que expressa posição particular no tocante aos universais (Ver o artigo sobre Justiça). Conceitualismo, Ver Universais, 11.3. Concíliarismo, Ver Movimento Conciliai' (Conciliarismo),

Concilio I, 830 Concilio Americano de Igrejas Cristãs, Ver Conciltos Ecumênicos, VIII. Concílio de Ferrara-Florência, Ver Eerrara-Florêncta, Concilio de. Concílio de Jerusalém I, 831 O primeíro concílio da Igreja cristã Concílio de Trento, Ver Trento, Concílio de. Concílio Internacional de Igrejas Cristãs I, 832 Ver o artigo sobre

CONciLIO - CONSTÂNCIA Concilias Ecumênicos.

Concílio Mundial de Igrejas, I 832 Ver o artigo sobre Concílios Ecumênicos,

Concilios Budistas I, 832 Concilios da Igreja, Ver Concilios Ecumênicos. Concílios de Éfeso Ver Éfeso. Concílios de.

Concílios de Lyons, Ver Lyons, Concílios de. Concilio de Nicéia, Ver Nicéia, Concílio de.

Concíliose autoridade, Ver Conclltos Ecumênicos, IX, e o artigo geral sobre Autoridade.

Concílios e cristologia, Ver Cristologta, 3 Concílios Eucumênicos I, 832 Esboço

L Importância dos Concilios 11. Participantes lI!. Pontos de Vista Protestantes IV. Concílios Reconhecidos pela Igreja Católica V. Concificio Plenários e Outros VI. A Ortodoxia Oriental VIL A Comunidade Anglicana VIII. Os Grupos Protestantes O Concílio Mundial de Igrejas O Concilio Americano de Igrejas Cristãs A Associação Nacional de Evangélicos IX. O Antigo Problema da Autoridade; Concílios Lateranos I, 835 Os concílios Iateranos de números 9, 10, li, 12 e 18 entre os 21 concílios eclesiásticos da Igreja Católica Romana Concílios Vaticanos, Ver Vancano, Concílios de.

Conclave I, 835 Concomitância 1,835 Companheirismo, Concordância (Concordâncias da Bíblia) I, 835 Concordâncias da Bíblia, Ver Concordância. Concordâncias da Bíblia portuguesa, Ver Concordância, último.r cinco parágrafos.

Concordata de Worms, Ver Worms, Concordata de,

Concórdia, Fórmula de I, 836 Ver também sobre Formula de Concórdia.

Concórdia, Livro da, Ver Livro da Concórdia. Concórdia de Wittenberg, Ver Wittenberg, Concórdia de. Concreto Universal I, 837 Concubina, I, 837 Concupiscência1,838 Concurso I, 838 Condenação I, 839 Condenar I, 839 Condicional, imortalidade, Ver Imortalidade Condicional. Condições Atmosféricas I, 840 Ver Palestina. Condillace, Êtienne Bonnot de I, 840 Condimento, Ver Condimemos. Condimentos I, 840 Conduta I, 841 Conduta Ideal I, 841 Cônegos, Ver Cônegos (Cônegos), Conferência de Thorn I, 842 Ver Thorn, Conferência de. Confessar, Confissão I, 842 Esboço I. Palavras Envolvidas

I, Yada 2, Homologéo 3. Eksomologéo NoNT 11. Usos Bíblicos Ill. Usos Eclesiásticos I. A confissão públicade Cristo Os abusos Na antiga Igreja cristã 2. Com base na confissão oral e pública surgiu o credo formal escrito 3. A confissão da Igreja Católica Romana A confissão nas Igrejas Ortodoxa e Anglicana Requisitos da confissão 4. Substituições protestantes Confessor 1,844 Confessor máximo, Ver Máximo, o Confessor, Confiar 1,844 Confins, quatro da terra, Ver Quatro Seres Vivenfes. Confirmar, Confirmação I, 845 Confisco I, 846 Confissão,Ver Confessar, Cotifiss/jo. Confissão a um leigo, Ver Leigo, Confissão a Um. Confissão Auricular I, 846 Confissão Belga I, 846 Confissão da alma, Ver Livro da Vida, IV. Confissão de Cristo I, 846 Ver também o artigo geral sobre a Confissão I. Seriedade do ato 2. Idéias doutrinárias Confissão de Fé I, 847 Veros artigos sobre Confissão; Con{is.fão de Cristo e Confissões da Igreja Historica.

Confissão de Fé de Dordrecht I, 847 Confissão de Pecados I, 847 Confissão de Pôncio Pilatos, a, Ver Livros Apôcrlfos (Modernos), 6. Confissão de Westininster, I, 847 Ver Westminster. C(J/ifi~'são de. Confissão Escocesa I, 847 Ver Escoceses, Conftssão. Confissão Galicana 1,847 Confissão pública, Ver Livro da Vida, IV. Confissão Tetrapolitana1,847 Ver Socramemarianos. Confissões da Igreja Histórica I, 847 Confissões de Agostinho I, 849 Confissões HelYéticas I, 849 Conflito de Deveres I, 849 Ver o artigo sobre Transigência. Conflito de investidura, Ver Investtdura; Conflito de Investidl/ra. Conflito entre a religiãoe a ciência, Ver Religião e a Ciência, Il. Conformidade I, 849 Definição do termo I. Quanto às idéias 2. Quanto às práticas éticas 3, O modelo arquétipo 4, Conformidade ao exemplo 5. Conformidade eclesiástica 6. A independênciamental e espiritual Conformidade na natureza, Ver Uniformidade na Namreza,

Confúcio, Confucionisrno I, 850 Ver também o artigo geral sobre a Religião e a Filosofia Chinesas.

Confusão das Línguas I, 85I Ver os artigos sobre Babel, a Cidade e a Torre e Llnguas, CO/1ft/são das. Congregação I, 851 Congregação como Termo Bíblico

I, 851

I. A assembléiaou assembléia solene.Termos que se aplicamao povo de Israel 2. A assembléiados chamados 3. A assembléia solene 4.NoNT 5. Usos não-religiosos 6. O conceito de congregação Congregação, Monte da I, 852 Vertambém Momeda Cotrgregação, Congregacional, governo, Ver Gover110 Eclesiástico, 11.3. Ver Congregactonalismo I, 852 I. O termo 2. Situação histórica Períodos históricos distintos do congregacioralismo 1. O congrecionalismocomo forma de governo Congressos I, 853 Congruência, Incongruência 1,853 Congruidade I, 853 Congruísmo I, 853 Conhecendo a Deus I, 854 Conhecendo o Amorde Cristo I, 855 Conhecimento, árvore do, VerÁrvore do Conhecimento.

Conhecimento, Conhecer I, 856 I. A palavra conhecimento 2, Principaisusos da palavra conhecimento 3. Distinções e declarações filosóficas 4. O conhecimentoda fé religiosa S. Odom da fé Conhecimento, dom de, Ver Dons Espirituais, IV,n. Conhecimento, modos do, valores relativos, Ver Revelação (InopiraçikJ), V Conhecimento, natureza simbólica do, VerSímboloseoCotmecimemo. Conhecimentode Deus, Ver Deus, VII. Conhecimentoe a Ética I, 857 I. O empirismo 2. No racionalismo 3, A intuição 4, No misticismo 5. Na razão 6. No positivismo 7. No pragmatismo 8. Dentro do pensamento cristão Conhecimentoe a Fé Religiosa1,858 Esboço

Introdução Conhecimento linear Talesde Mileto(ver também seu artigo separado) Filosofia e a ciência I. Pontos de VistaFilosóficossobre

a Natureza e as Fontes do Conhecimento I. Empirismo 2. Racionalismo 1. Intuição 4. Misticismo 5. Ceticismo 6. Positivismo lógico 7. Psiquismo 11. Teorias da Verdade- Critérios I. Realismo (diversos tipos) 2. Sentimentos 3. Costumes e tradições 4. Tempo 5. Intuição (diversos tipos) 6, Revelação (misticismo) 7, Instinto 8. Maioria 9. Autoridade 10.Correspondência lI. Pragmatismo Sumário

771

Bibliografia Conhecimento e fé, Ver Fé para os Filósofos e Teôlogos e Conhecimento e a Fé Religiosa. Conhecimento e profecia, Ver Profecia, Profetas e o Dom da Profecia, VIII, Ver também Misticismo e Conhecimento e a Fé Religiosa.

Conhecimento Espiritual I, 866 I. Natureza de 11. Seu Poder e Efeitos m.Os Ignorantes: Heb. 5: I I Exemplos ruins Conhecimento intuitivo, demonstrativo e sensitivo, Ver Locke, John, 8,9, lO. Conhecimento, natureza parabólica do, VerSímbolos e o Conhecimemo. Conhecimento Prévio 1,867 Ver Precogniçõo (Conhecimento Prévio). Conheço as tuas Obras I, 867 Apo. 2:2 Conotação I, 868 Vertambém Denotação. Conrado de Gelnhausen I, 868 Consagração, Ver Consagrar, Consagração, Consagração da Eucaristia I, 868 Consagração de mulheres, Ver Mulher, Consagração da Mulher. Consagradas, coisas, Ver Coisas Consagradas.

Consagrar, Consagração I, 868 Consalvi, Ercole I, 870 Consangüinidade, Impedimento Marital 1,870 Consciência I, 870 Onze itens discutidos Consciência(como Percepção)1,871 Dez itens discutidos Consciência Cósmica I, 872 Consciênciade Cristo I, 872 Seis itens discutidos Conselheiro(Aconselhamento)I, 874 Os ministros evangélicos O nosso moderno e complexo mundo VertambémCOI/.'I4!lho, Conselheiro, Conselho, Conselheiro I, 875 As ocorrências bíblicas O Messias como Conselheiro NoNT Conselho Plenário I, 875 Conselhos Evangélicos I 875 Consenso Comum, Argumentos de I, 875 Os argumentos a1icerçados sobre a aceitação quase universal de cenas crenças Consensus Gentium, I, 876 Consensos gentium, prova da existênciade Deus, Ver Deus, IV,13. Consensus Patrurn I, 876 Consentimento I, 877 Conseqüêncialismo I, 877 Conservação de Valor I, 877 Conservador, judaísmo, Ver Judaismo Conservador. ConservantismoÉtico I, 877 Consistório I, 878 Uma assembléia de oficiais eclesiásticos Origem do termo Consolação I, 878 Ver Consolo, Consolação. Consolação e propósito, Ver Propósito, 4. Consolador I, 878 Consolamentum I, 878 Consolo, Consolação I, 878 Consolo mental e paradoxos, Ver Paradoxo, lIU. Constância I, 879 Ver Perseverança.

CONSTÂNCIA - CORPUS CHRISTI Ver Filosofia da Ciência, IV. Constância, Concílio de I, 879 VertambémConalliosEcumênicos, Contribuiçõesdos mártires, Ver Mártir IV. IY.16. Contrição I, 888 Constância na Natureza I, 879 Controle de Natalidade I, 888 Ver Uniformidade na Natureza. Constantino, doação de, Ver tambémo artigos relacionados: Ver Doação de Constantino. Aborto; Anticoncepcionais, Esterilização,Controle de População. Constantino, o Grande I, 879 Imperador romano (280-337 D.C) Controle de população, Sua vida Ver Controle de Natalidade. Vertambém Império Romano, XII. Controle do Próprio Ser I, 889 Constantinopla, Concílios de 1,879 Ver também Autocomrole. 1. Concíliode 381 D.C. Controles sociaissobre a população, 2. Concilio de 553 IH':. Ver Raça, 11. B. J. Controvérsia I, 890 3. Concíliode 680 D.C. VertambémConciltosEcumênicos, Controvérsia de Gorham, IV,2,S,6,8. Ver Gorham, Controvérsia de. Controvérsia lapsária, Constelações I, 880 Ver Lapsarianismo (A Controvérsia Ver também Plêiades (e Outras Lapsária). Consteksções): Sele-Estrelo. Controvérsia Lapsariana I, 891 Consternaçãoda morte,VerMorle,V. Constitucionalismo I, 880 Controvérsia legalista, Constituição de Israel, Ver Legalismo. Controvérsia sobre o nascimento VerIsrael, COl/stituiçõo de. Constituiçõese CânonesApostólicos . virginal de Jesus, Ver Nascimento Virginal de Jesus, V. 1,880 ControvérsiasentreLutero e Erasmo, As constituições apostólicas O concíliode Trullan Ver Lutero; 12. Títulos e conteúdo Controvérsias lconoclásticas I, 891 ConstituiçõesPapais I, 880 Ver também Iconoclasmo (COI/Iravérsias lconoclásücas). Construção, Ver Construir; Construção. Convenção e a moralidade, VerMoralidade Convencional. Construir, Construção I, 880 Consubstanciação I, 881 Convencer, Convicção I, 892 Cônsul I, 881 Convencionalísmo I, 892 Consulta,Ver Consultar, Conventículo I, 892 Consultar I, 881 Conventos I, 892 Conventuais I, 892 Consumidor, fraude contra, Conversão I, 892 VerFraude contra o Consumidor I. As Palavras Envolvidas ConsumoConspícuo I, 881 U. Usos Biblicos Contaminação, Ver Contaminar: ContaminarI, 881 UI. Tipos de Conversão As várias referênciasbíblicas I . Não-religiosa,política Contaminaçãoentre os judeus 2. Gonversão biológica Contar, Conto I, 882 3. O nascimentode um novo ser Contemplação I, 882 4. Uma resolução de conflito Onze itens discutidos 5, Uma revolução copernicana Contenda, Ver Comendas, 6. A conversão da mente sã 7. A conversão bíblica Contendas I, 883 IV. Elementos da Conversão Bíblica Contender, Contendas I, 884 Y. Bases Espirituais Contentamento I, 884 Conteúdo dos ensinos de Jesus, Conversão de Paulo I, 893 Ver Ensinos de Jesus, V. Ver também Paulo (APÓStolo). 1.2. ContextualismoI, 885 Convicção Como Certeza Espiritual ContinênciaI, 885 1,895 A temperança e a restrição em Convidado I, 895 Vertambémartigo sobre Hospitalidade tIO NT relação a qualquer tipo de apetite sexual Convidados para o CasamentoI, 895 O sentido maisgeral Convocação Militar I, 89S Convocação Santa I, 896 Contingência I, 88S Cooperação, a Grande I, 896 O uso na filosofiae na teologia Sete itens discutidos Em U Cor. 5:1 A grande cooperação Contínuaoportunidade,Ver Infantes: Morte e Salvaçõo dos, 5. Cooperadores Deus I, 896 Continuum I, 886 Coorte I, 897 Coorte Imperial I, 897 Um conceito da realidade Copeiro I, 897 O grande Continuum Copérnica, astronomia, Contrabando I, 886 Contraceptivos I, 887 Ver Astronomia Copérnica, Ver os artigos sobre Aborto e Copérnico, Nicolau I, 897 Controle de Natalidade. Copo 1. 898 Cóptica, Igreja, VerIgreja Côptica. Contraconversão I, 887 Cor I, 899 Ver sobre Cores. Contradição I, 887 Cor I, 899 Ver Pesos e Medidas. Contradições bíblicas Contradições teológicas Cor, barreirade, VerBorreirade Cor. Contradições morais Coração I, 899 Contra-Exemplo I, 887 I. Uso Geral Contra-ReformaI, 888 11. A Perversão de Coração Ver sobre a Reforma Catàltca. m. A Variedade de Usos da Palavra Coração, razões do, Contratos I, 888 Ver Razões do Coração. A leitura de contratos Referênciasbíblicas Coração, singelezade, Contribuiçõesda filosofiada ciência, VerSingeleza de Coração.

Coragem I, 899 Coral I, 900 Coral (Hino) I, 900 Corantes I, 900 Ver Tintureiros. Corasã I, 900 Corazim I, 900 Corbã I, 901 Corça 1,901 Corça da Manhã I, 90 I Corça I, 901 Córcova, Ver Enfermidades lia Biblia, I.11. Corda 1,901 CUJ
R. N. Champlin - Enciclopedia de Bíblia Teologia e Filosofia - vol. 6

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