Chance de amar

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Querida leitora,

Às vezes, a pessoa errada é justamente o que precisamos. Como no caso de Ava Fitzgerald e Vito Barbieri em Fim da inocência, de Lynne Graham. Ele havia jurado nunca perdoá-la pela morte de seu irmão. Anos depois, fica frente a frente com Ava, e toda a sua raiva transforma-se em um incontrolável desejo. E em Para sempre, de Mira Lyn Kelly, o conquistador inveterado Garrett Carter é tudo o que Nichole Daniels não precisa, mas é exatamente o que ela

deseja. Nichole sofreu muito no passado, e já até desistiu de relacionamentos. Mas sua atração por Garrett é incontrolável. Poderia ele remendar seu coração partido? Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books

Sumário

Fim da inocência

Para sempre

Capítulo 1

NATAL.

ER A novamente aquela época

do ano. Não com muito humor para comemorações, Vito Barbieri fez uma careta, suas belas feições rijas de impaciência. Não tinha tempo para todas as bobagens da época de festas, as bebedeiras e as extravagâncias, sem falar na falta de concentração, no aumento das ausências e na produtividade reduzida de milhares de empregados. Janeiro nunca era um bom

mês para as margens de lucro. Também jamais esqueceria o Natal em que perdera o irmão caçula, Olly. Embora quase três anos houvessem se passado, a tragédia da vida terrivelmente desperdiçada de Olly ainda estava gravada nos seus pensamentos. Seu irmão caçula, tão inteligente e tão cheio de vida, morrera porque uma bêbada sentara-se atrás do volante após uma festa, uma festa oferecida por Vito, após ele e o irmão terem discutido, minutos antes da viagem de carro fatal. Culpa ofuscava suas lembranças mais felizes do rapaz, dez anos mais novo do que ele, a quem amara acima de tudo. Contudo, o amor sempre doía. Vito

aprendera tal lição ainda jovem, quando a mãe abandonara o marido e o filho por um homem muito mais rico. Jamais voltara a vê-la. O pai o negligenciara, dedicando-se a uma série de romances passageiros. Olly fora resultado de um desses romances, órfão aos 9 anos de idade quando a mãe inglesa morrera. Vito lhe oferecera um lar. Provavelmente fora o único ato de generosidade de que Vito jamais se arrependera, pois, por mais que sentisse saudades de Olly, ainda era grato por tê-lo conhecido. A visão otimista que o irmão tinha da vida havia brevemente enriquecido a existência totalmente voltada para o trabalho de

Vito. Só que agora, Bolderwood Castle comprado basicamente porque Olly gostava da ideia de morar em uma monstruosidade gótica, completa com torres e tudo mais, não era mais um lar. É claro que poderia arrumar uma esposa e, alguns anos mais tarde, vê-la ir embora levando metade de sua fortuna, seu castelo e seus filhos, uma lição aprendida a alto custo por muitos de seus amigos. Não, nada de esposa. Quando um homem era rico como Vito, mulheres gananciosas e ambiciosas literalmente se atiravam aos seus pés. Contudo, altas ou baixas, curvilíneas ou magras, morenas ou louras, as mulheres que lhe saciavam o intenso desejo

sexual virtualmente se confundiam na sua mente. Na realidade, tinha de admitir, sexo estava se tornando algo pouco digno de empolgação. Aos 31 anos de idade, Vito estava revendo os atributos que usava para definir mulheres atraentes. Sabia do que não gostava. Cabeças de vento o irritavam. Não era um homem paciente e nem tolerante. Intelectuais esnobes, garotas festeiras e alpinistas sociais o entediavam. O tipo coquete o lembrava em demasia da sua juventude desperdiçada, e mulheres de carreira raramente sabiam como relaxar ao final do dia. Ele queria filhos? Sequer sabia se era fértil? Algum dia iria querer se

assentar? Não. Não estava disposto a se abrir para tal nível de decepção, não após a perda de Olly lhe ensinar como a vida podia ser transitória. Em vez disso, seria um velho muito rico, mal-humorado e exigente. Escutou uma batida na porta, e uma mulher adentrou o escritório. Karen Harper, a sua assistente executiva, Vito lembrou-se após uma pausa momentânea. AeroCarlton, que fabricava peças de avião, fora uma aquisição recente do império de Vito, e ele ainda estava se familiarizando com os empregados. – Lamento incomodar, Sr. Barbieri. Gostaria de saber se quer continuar apoiando o plano de realocação para a

reabilitação de prisioneiros a que nos juntamos no ano passado. É administrado pela fundação de caridade New Start, que recomenda candidatos adequados após verificá-los. Temos uma assistente de escritório começando amanhã. Seu nome é...

– Não preciso saber dos detalhes – Vito interrompeu. – Não me oponho a esse tipo de operação, contudo, vou querer que fique de olho na funcionária em questão. – É claro – a morena atraente declarou com um sorriso de aprovação. – É gostoso, nesta época do ano, dar uma nova chance na vida a alguém em dificuldades, não acha? E a realocação

dura apenas três meses. Mais baboseira sentimental, Vito pensou, irritadamente. Supunha que a candidata houvesse pagado o seu débito à sociedade ao servir a sua sentença, contudo, não estava muito enamorado com a ideia de ter uma vilã em potencial no escritório. – O crime dessa pessoa envolveu desonestidade? – indagou, subitamente.

– Não. Deixamos bem claro que não aceitaríamos ninguém com esse tipo de histórico. Duvido que sequer vá vê-la, Sr. Barbieri. Ela será a garota de recados do escritório. Nesta época do ano, sempre há espaço para um par de mãos a mais. Vito já notara que Karen gostava da

sua posição de poder e que podia ser um pouco dura demais com os subordinados, mas supunha que uma ex-presidiária fosse capaz de lidar com isso. AVA VERIFICOUa caixa postal, como costumava fazer pelo menos duas vezes por dia. Nada. Não havia por que tentar evitar o óbvio, não havia por que continuar a ter esperança... a família não queria ter nada a ver com ela, e decidira ignorar-lhe as cartas. Lágrimas fizeram os grandes olhos azuis arderem, e ela piscou rapidamente, erguendo a cabeça ruiva. Aprendera a virar-se sozinha na

prisão, e poderia fazer o mesmo do lado de fora, mesmo estando o mundo aqui fora repleto de uma variedade desnorteante de escolhas, decepções e possibilidades. – Não tente correr antes de andar – a sua agente da condicional havia aconselhado. O rabo de Harvey, um cruzamento de pastor alemão e poodle, bateu no chão.

– Hora de levá-lo para casa, garoto – Ava falou, baixinho, tentando não pensar que o canil onde Harvey estava morando não poderia acolhê-lo por muito mais tempo. Durante os últimos meses de sua sentença, Ava trabalhara nos canis, uma atitude que era encorajada como uma

maneira de reintroduzir os prisioneiros à sociedade, e ela sabia muito bem que o tempo de Harvey estava acabando. Amava Harvey do fundo do coração. Era a única coisa na sua vida que ousava amar agora. Mas Marge, a moça gentil que tocava o canil e que acolhia cães de rua, tinha espaço limitado, e Harvey já passara vários meses sob seus cuidados sem achar um lar. Da mesma forma, Harvey estava acostumado a não se encaixar em lugar algum. Em casa, na escola, praticamente onde quer que fosse, Ava sempre estivera sozinha. Exceto por Olly, pensou, sentindo uma violenta pontada de arrependimento e tristeza. Oliver Barbieri fora o seu

melhor amigo, e ela precisava conviver com a certeza de que ele estava morto por sua causa. Fora para a cadeia por direção perigosa, mas a lembrança do julgamento não passava de um borrão, pois ela já estava vivendo em um inferno mental, e nenhum tribunal poderia tê-la punido mais do que ela mesma se punira. Não importava que, tomado de desgosto, o pai a expulsara de casa, e nem que fora aconselhada a não comparecer ao enterro de Olly para despedir-se. Ava sabia que não merecera piedade e nem perdão. Mesmo não se lembrando do acidente. Sofrera um ferimento sério na cabeça decorrente dele, e acabara com perda parcial de memória, o que significava que não se

recordava da incompreensível decisão fatídica de dirigir sob a influência do álcool, nem do acidente em si. Às vezes, considerava a amnésia uma bênção. Conhecera Olly no internato, uma sofisticada instituição mista, cara e famosa pelo impressionante desempenho acadêmico. Nenhum preço era alto demais parar o seu pai tirar da casa a filha menos amada, reconheceu com tristeza. Sempre se sentindo como a patinha feia dentro da sua própria casa, fora a única de três filhos a ser mandada para estudar longe. Isso só servira para afastar ainda mais Ava das irmãs, Gina e Bella, que, agora, não pareciam muito dispostas a aceitá-la de volta na família.

É claro que, com a mãe morta, não havia ninguém que se importasse o suficiente para fazer as pazes. As irmãs tinham as próprias vidas com maridos, filhos e carreiras e a irmã ex-presidiária era apenas um constrangimento, uma mácula no nome da família Fitzgerald. Censurando-se pela enxurrada de lembranças negativas, Ava preferiu concentrar-se no positivo. Estava fora da prisão e tinha um emprego, um emprego de verdade. Ainda não conseguia acreditar na própria sorte. Quando fora recomendada para o programa New Start, não tivera muita esperança de ser realocada, pois, embora houvesse se formado com as melhores notas, não tinha praticamente

nenhuma experiência de trabalho. Contudo, a AeroCarlton lhe oferecera um salva-vidas, dando-lhe a oportunidade de reconstruir a sua vida, pois com uma firma de respeito no currículo, teria muito mais chances de obter um emprego permanente. O rabo de Harvey abaixou-se assim que passou pelas portas do seu lar adotivo. Seguindo para o jardim, ele deitou-se no chão com o focinho colado às portas de vidro que davam para a sala de estar e ficou a observar cada movimento de Ava. –

Tome...

distribua

isso

quando

começar o seu novo emprego amanhã – Marge insistiu, depositando folhetos nas

mãos de Ava. – Algumas encomendas viriam a calhar muito bem, e devo dizer que o trabalho feito pelas minhas colegas até agora tem sido excepcional. Ava passou os olhos pelo folheto de almofadas bordadas à mão, gorros e cachecóis. Em uma tentativa de arrumar fundos para o canil e para continuar a abrigar cães de rua, Marge montara uma pequena indústria artesanal com a ajuda de vizinhas amantes de animais que bordavam, tricotavam e costuravam. – Sei que andou até aqui por causa de Harvey, mas por acaso tem dinheiro para a passagem de volta para casa? – Marge perguntou, preocupada com o cansaço estampado no rosto de Ava. – Claro que tenho – Ava mentiu, não

querendo que Marge tivesse de lhe dar um dinheiro que não tinha. – E tem uma roupa decente para usar amanhã? Terá de se vestir bem para um escritório grande. – Comprei um terninho no bazar de caridade. Ava jamais admitiria que as calças estavam justas demais e o blazer não abotoava diante dos fartos seios. Se os usasse com uma blusa azul, ficaria elegante o bastante para ninguém notar que seus sapatos pretos e baixos estavam um pouco grandes demais. É claro que gostaria de poder ter comprado sapatos de salto alto, mas não era uma prioridade agora. Precisaria de

vários contracheques para montar um guarda-roupa de trabalho decente. Agora, tinha de se concentrar em sobreviver, o que dava preferência ao aluguel, comida e apenas o essencial em se tratando de roupas. A garota aventureira e desafiadora que já adorara o visual gótico morrera junto com Olly naquele acidente de carro, admitiu, mal reconhecendo a jovem sensata e cautelosa que ela se tornara. A prisão a ensinara a buscar o anonimato. Destacar-se naquela multidão teria sido perigoso. Aprendera a manter a cabeça baixa, seguir as regras, ajudar quando podia e manter a boca fechada quando não podia. Assim como o julgamento dos tribunais, a

prisão a envergonhara. Os jornais locais lhe atribuíram muita culpa, devido à situação confortável da sua família e à sua educação de escola particular. A princípio achara injusto ser penalizada por algo que estivesse além do seu poder impedir. Contudo, na prisão, conhecera mulheres que mal eram capazes de ler, escrever ou contar, e trabalhara com estas, identificando os seus problemas mais básicos. Para elas, envolver-se em atividades criminosas havia sido o único meio de sobrevivência, e Ava sabia que jamais tivera tal desculpa. E daí que seu pai jamais gostara de você? E daí que sua mãe jamais a

defendera e nem a abraçara e ambos os seus pais sempre preferiram as suas irmãs a você? E daí que a houvessem rotulado de encrenqueira no primário, quando estava sendo alvo de intimidações? E daí que sua mãe era alcoólatra e o seu problema fora ignorado por anos a fio? Jamais haveria desculpa pelo que fizera com Olly, a quem amara como a um irmão, pensou miseravelmente, ao caminhar de volta para casa. Tudo sempre parecia retornar aos acontecimentos daquela terrível noite. Contudo, de alguma maneira, ela precisava aprender a conviver com os seus enormes erros e seguir adiante. Jamais esqueceria o melhor amigo, mas

sabia que ele teria sido o primeiro a dizer para ela parar de se atormentar. Olly sempre fora maravilhosamente prático, e excelente em chegar à raiz dos problemas. Caso tivesse sobrevivido, teria dado um excelente médico. – Não é culpa sua a sua mãe beber... não é culpa sua o casamento dos seus pais estar desmoronando, nem as suas irmãs serem molecas mimadas e esnobes! Por que sempre tem de levar a culpa por tudo de errado na sua família?

– Olly costumava impacientemente.

perguntar,

Cheia de expectativa, Ava deixou separada a roupa que usaria na manhã seguinte. Tendo sido assegurada pela

New Start que a sua história permaneceria confidencial, ela não receava ser vista como nada além da nova assistente de escritório. Estar ocupada lhe daria um senso de conquista, em vez do vazio de autodesprezo que a assombrara por meses após a batida, quando tivera tempo ocioso em demasia para ficar pensando nos seus próprios erros. – PODE PREPARARcafé para a reunião. Haverá 20 pessoas nela – Karen Harper declarou com um sorriso frio. – Você sabe fazer café? Ava assentiu vigorosamente, disposta a fazer de tudo para agradar, e

pressentindo que agradar a Srta. Harper seria um tremendo desafio. Mostrada a pequena cozinha, pôs-se a trabalhar. Às 10h45, Ava empurrou o carinho para dentro da sala de conferências, onde um homem formidavelmente alto estava se dirigindo aos funcionários sentados ao redor da mesa comprida. Havia uma tensão colossal no recinto e ninguém mais falava. Ele estava falando que mudanças seriam inevitáveis, porém, que não viriam da noite para o dia. Sua voz tinha um inconfundível sotaque italiano, e era muito familiar para ela. Enquanto a sua plateia se contorcia nos assentos, Ava serviu o café do patrão com as mãos trêmulas.

Preto, dois cubos de açúcar, de acordo com a lista que recebera. Não podia ser Vito, tentou se convencer. O destino não seria cruel a ponto de lhe arrumar um emprego na empresa do homem a quem mais prejudicara. No entanto, conhecia a voz de Vito. Não ousou olhar, não se permitiria olhar, ao cruzar o recinto para servir o patrão primeiro, e tropeçou nos sapatos grandes demais para ela, de tal modo que quando alcançou o tampo da mesa estava descalça. Vito havia lançado um olhar rápido para a moça curvada sobre o carrinho de café, notando-lhe o reluzente cabelo cor de fogo, a delicadeza do perfil, a elegância das esbeltas mãos brancas e o modo como a calça se apertava ao redor

das suas curvas e ao longo das pernas compridas. Algo nela lhe chamou a atenção, algo enlouquecedoramente familiar, mas o que era ele só soube quando ela se endireitou e ele viu um rosto de fada dominado por reluzentes olhos azuis. Vito não conseguiu respirar. Não podia acreditar. Não podia ser ela. Da última vez em que a vira, seu cabelo estava escuro e curto, seu olhar estava vazio do trauma, como se fosse incapaz de ver ou ouvir o que quer que fosse ao seu redor. O bonito rosto masculino contorceu-se com uma fúria quase selvagem. Ah, meu Deus, era Vito Barbieri Sentindo-se enjoada devido à surpresa,

Ava ficou paralisada com a xícara tremendo na mão. – Obrigado – Vito sussurrou, sem qualquer expressão nos olhos dourados ao aceitar a xícara que lhe era oferecida. – Sr. Barbieri, esta é Ava Fitzgerald. Ela juntou-se ao quadro de empregados hoje – Karen Harper tratou de informar.

– Nós já nos conhecemos – Vito anunciou geladamente. – Volte quando a reunião tiver acabado, Ava. Gostaria de falar com você. Ava deu um jeito de elegantemente voltar para os seus sapatos ao retornar até o carrinho de café. Com a autodisciplina rigorosa que aprendera na prisão, serviu o restante dos cafés sem qualquer problema, embora estivesse

suando frio e a com a respiração ligeiramente alterada. Vito Barbieri. Que coincidência terrível que a sua oportunidade de trabalho acabasse sendo no negócio dele. Porém, o que diabos ele estava fazendo na AeroCarlton? Ela lera o website da empresa, e não vira nenhuma menção sobre Vito, no entanto, era óbvio que ele era o patrão. E lá se vai a sua grande chance! Vito a desprezava. Não iria querê-la em qualquer lugar perto dele. Quando Ava voltasse para aquela sala, ele a informaria de que estava despedida. O que mais poderia esperara dele? Era culpa dela que Olly estava morto, de modo que, por que ele

haveria de empregá-la? Ficara surpreso de vê-la. Se tivesse sabido de antemão teria suspendido a sua realocação antes mesmo de Ava chegar a AeroCarlton. Vito, a cruz de sua existência desde os 16 anos de idade. Ela levou a mão hesitante à tatuagem sobre o quadril esquerdo, que parecia arder como se houvesse sido gravada por um ferro em brasa. Fora uma adolescente tão tola e impulsiva. Nenhum dos garotos da escola jamais a atraíra. Fora preciso ela visitar a casa de Olly em um final de semana para encontrar o homem dos seus sonhos. Dez anos mais velho e um homem feito, com os instintos assassinos de um tubarão nos negócios, o homem dos seus sonhos mal notara que ela

sequer estivesse viva, quanto mais ansiando por sua atenção. Verdade que ele parecera se surpreender com a escolha de companhia do irmão, ao ver Ava com o seu visual gótico, de cabelo tingido de preto e expressão rebelde. Ela jamais havia ficado em um castelo antes, e estivera se esforçando muito para não deixar transparecer como a experiência era intimidante. – Ava? – Ava virou-se para se deparar com Karen Harper estudando-a.

– Não mencionou que conhecia o Sr. Barbieri... – Meu pai trabalha para ele, e morávamos perto da casa dele – Ava admitiu, pouco à vontade.

A morena franziu os lábios. – Bem, não espere tratamento preferencial por conta disso – alertou. – O Sr. Barbieri a está aguardando. Enquanto estiver lá, recolha as xícaras de café. – Eu não sabia que ele... hã... trabalhava aqui. – O Sr. Barbieri assumiu a AeroCarlton na semana passada. Ele é o seu patrão. – Certo. Com um sorriso polido que foi desperdiçado na mulher descontente, Ava bateu em retirada. O azar parecia acompanhá-la como a sua própria sombra. Ali estava ela tentando se

acostumar a ter se juntado novamente ao mundo e o único homem que provavelmente desejava que as autoridades houvessem mantido-a trancafiada acabava sendo o seu novo patrão. Vito estava apoiado na beirada da mesa, falando em italiano ao telefone quando ela chegou. Tomada de nervosismo, Ava aproveitou a oportunidade para carregar a louça no carrinho de café, mas não conseguiu tirar da cabeça a imagem daquele corpo esbelto e de ombros largos vestindo o terno preto feito sob medida, a camisa branca contrastando com a pele bronzeada. Ele era dono de uma beleza exótica capaz de tirar o fôlego. E não

mudara nada. Ainda irradiava aquela aura de autoridade. O irmão mais velho de Olly, ela pensou dolorosamente. E, se ao menos ela tivesse dado ouvidos a Olly, o melhor amigo ainda poderia estar vivo. – Pare de tentar flertar com Vito, para de se jogar para cima dele. – Olly a alertara irritadamente na noite da festa fatal. – Você não faz o seu tipo, e, além do mais, é jovem demais para ele. Mesmo que não fosse, Vito a devoraria viva. O homem é um predador em se tratando de mulheres. Na época, o tipo de Vito era as louras esbeltas e sofisticadas. Tudo que Ava não era, e a comparação acabara com

ela, partindo-lhe o coração. Ficara obcecada por Vito Barbieri, como apenas uma adolescente teimosa e apaixonada era capaz de ficar, descobrindo tudo que podia a respeito dele. Que gostava do café com açúcar e adorava chocolate. Que contribuía para várias instituições de caridade que cuidavam de crianças e que dispensavam auxílio médico em países subdesenvolvidos. Que tivera uma infância difícil quando os pais se separaram e o pai começara a beber e a procurar outras mulheres para esquecer a tristeza. Ele adorava carros rápidos e era um colecionador deles. Embora tivesse dentes perfeitos, detestava ir ao dentista. Tais recordações trouxeram

Ava perigosamente perto do passado que havia enterrado. – Conversaremos no meu escritório – Vito declarou ao desligar o telefone, e seguindo para uma porta que levava para a sala ao lado. – Deixe o maldito carrinho! A exclamação inesperada a sobressaltou, enrubescendo-a. Com os estonteantes olhos estreitados, Vito a estudou, Sua atenção descendo do coque multicolorido que era desconhecido para ele até o rosto quase perfeito com aqueles enormes olhos azuis, o narizinho empinado e a boca incrivelmente tentadora. A memória zombava dele com imagens que

há muito havia posto de lado. Ava no minúsculo vestido prateado, com as pernas que não acabavam mais. Ele inspirou fundo. O gosto da boca de Ava, suas mãos deslizando para baixo do paletó, por sobre a camisa, de uma maneira incrivelmente excitante. Sexo personificado e proibido. E ele quebrara as regras, ele que jamais quebrava tais regras, que se orgulhava do seu autocontrole e decência. Verdade, fora apenas um beijo, mas fora um beijo que jamais deveria ter acontecido e a consequência dele fora a destruição da sua família. As recordações deixaram Vito tenso como uma vara de aço. É claro que a despediria. Tê-la no escritório seria

i n a p r o p r i a d o . Completamente inapropriado, assim como os seus pensamentos. Recusava-se a manter a jovem responsável pela morte do irmão em um de seus negócios. Ninguém o condenaria por pensar assim. Contudo, de uma hora para a outra, lembrou-se de alguém que condenaria... Olly, o generoso e compassivo Olly, que outrora agira como a voz da consciência ignorada de Vito. Ava passou cambaleantemente por ele, a cabeça ruiva erguida, recusandose a mostrar fraqueza ou preocupação. Vito era durão, implacável e brutalmente bem-sucedido no ambiente de trabalho, disposto a correr riscos e apostar alto

diante da adversidade, tudo que Olly jamais fora. E, no entanto, essa também não era a história toda, Ava teve de admitir, pois, machão como era, Vito ainda apoiara quando Olly admitira ser gay, algo de que ele já suspeitava. Como Ava, Olly jamais se encaixara na escola. Ela ainda se recordava do alivio de Olly ante a aceitação sincera do irmão.

Lágrimas contidas arderam sob as pálpebras abaixadas de Ava ante a avalanche de tristeza angustiante, pois jamais voltaria a escutar a voz incentivadora do amigo que viera a amar.

Capítulo 2

A

UMIDADE NOSseus olhos lentamente

retrocedendo, Ava sacudiu a cabeça e olhou ao redor. O escritório era enorme, com um oceano de tábua corrida rodeando uma contemporânea escrivaninha de madeira, e um dos cantos preenchido com poltronas e uma mesa de centro. Tudo ordeiro, nada fora do lugar, e condizente com o estilo organizado e prático de Vito.

– Não pude acreditar quando a

reconheci – Vito admitiu. – Para mim também foi um choque. Não sabia que era o dono deste negócio.

– O que está fazendo aqui? Presumi que fosse tentar novamente a medicina depois que fosse libertada. Ava ficou paralisada, os músculos do seu rosto se retesando.

– Não... Vito franziu a testa. – Por que não? Concordo que não poderia esperar que a faculdade segurasse a sua vaga até sair da prisão, mas era uma aluna brilhante, e estou certo de que estariam dispostos a reconsiderar. – Aquele tempo passou. Não posso

voltar para lá... – Ela hesitou,

relutantemente lembrando-se de como ela e Olly ficaram empolgados quando ambos receberam ofertas para estudar medicina na mesma universidade. Era impensável para ela tentar recuperar para si o que Olly perdera para toda a sua vida por conta dela. – Estou aqui porque preciso de trabalho, um modo de me sustentar!

As sobrancelhas dele se ergueram de surpresa. – Sua família? Ava ergueu o queixo. – Ela não se importa comigo agora. Não tenho notícias de ninguém desde que fui sentenciada. Não me perdoam por desapontá-los.

– As pessoas perdoam coisas muito piores. Você não passava de uma adolescente tola. Cerrando as mãos ao lado do corpo, Ava inspirou tremulamente. – Por acaso você me perdoou? Vito ficou imóvel. Ele a fitou intensamente com aqueles olhos dourados, como uma águia à caça da presa. – Não posso. Ava sentiu como se houvesse levado um murro na barriga e não soube dizer de onde viera a ousadia de fazer aquela pergunta insana. Que outra resposta esperaria do irmão de Olly? – Ele era a única família que eu tinha

– Vito sussurrou, prosseguindo, seu rosto bonito contorcido. Ava estava tremendo. – Ele era praticamente insubstituível. E agora? – perguntou ela, forçando-se a mudar de assunto, para não falar sobre Olly, antes que perdesse o controle e fizesse um papelão ainda maior. – Não pode me querer trabalhando aqui, mesmo que temporariamente.

– E não quero – Vito admitiu, pois ele também tinha recordações desconcertantes ligadas a ela e odiava tais lembretes. Com graça surpreendente para um homem tão grande, ele girou para longe dela e colocou-se atrás da escrivaninha. Ela precisava do emprego. Era a chance

de retomar a sua vida. Ele reconhecia isso, apenas não a queria fazendo isso perto dele. Ava roubara a vida de Olly e agora queria a sua própria de volta. Ou será que queria mesmo? Sua família cortara qualquer contato com ela. Ela também abrira mão de se tornar uma médica. Onde estava o senso de justiça dele? Costumava chutar as pessoas quando já estavam por baixo? Dada a oportunidade, sabia que o irmão teria insistido para que não punisse Ava pelo que acontecera. – Então vai querer que eu vá embora imediatamente? – Ava indagou, lutando para manter a voz firme. Vito não queria olhar para ela, pois

ela o estava fazendo sentir-se um valentão, e, independente do que fosse, ele não era isso. Olhou para a sua escrivaninha e foi tomado de inspiração, na forma da lista de Natal que ali se encontrava. Seria perfeito. Tiraria-a do escritório e ela adorava essa bobagem de Natal, de modo que também não poderia ser visto como punição. Pelo que podia ver, Ava já tivera a sua punição. – Não, por ora, você pode ficar – sussurrou, bruscamente, pensando que, após as festas, poderia transferi-la para algum outro lugar, sem dar origem a comentários. – Tenho uma tarefa que quero que realize para mim... Chocada com a súbita reviravolta,

pois tinha certeza de que ele a despediria, Ava se adiantou tão bruscamente que descalçou um dos sapatos um tanto quanto grandes. – O quê? – Qual é o problema com os seus sapatos? – Vito perguntou, impacientemente, quando ela cambaleou, detendo-se para voltar a calçar o sapato.

– Eles não cabem. – Por que não? Ava enrubesceu. – Tudo que estou usando é de segunda mão. A simples ideia de usar as roupas de outra pessoa encheu Vito de desgosto. Reconhecendo-lhe a reação, Ava

empalideceu. – Olhe, da última vez em que estive livre, eu tinha 18 anos de idade e usava roupas góticas. Já passei dessa fase, e não podia aparecer para trabalhar usando um par de jeans.

Vito sacou a carteira e, após retirar algumas notas de lá de dentro, passou-as para ela. – Compre sapatos – ordenou, secamente. Ava ficou horrorizada com o gesto. – Não posso aceitar o seu dinheiro.

– Está planejando recusar o seu salário? – Não. Mas isso é diferente. Não é pessoal. – Isto também não é pessoal. Se

sofrer um acidente, poderá querer nos processar, e não será útil para ninguém por aqui se não puder andar direito. – Ansioso para vê-la logo fora do escritório, Vito pegou o documento sobre a mesa. – E provavelmente terá de andar um bocado.

– Do que está falando? Ele passou-lhe a folha e o dinheiro juntos. Ava estava perto o bastante para sentir o perfume sedutor da água-decolônia, e notar o retesar dos músculos sob a camisa quando ele inclinou-se para frente. Lembrando-se da sensação de têlos sob as palmas das mãos, ela estremeceu defensivamente. Ainda sentia vontade de tocá-lo quando ele

chegava perto. – É minha lista de Natal dos colaboradores para quem damos presentes. Karen Harper emitirá um cartão de crédito corporativo para você e, seguindo as sugestões, quero que saia e compre tudo, está bem? – Vito explicou, seu olhar ardente fixo nos rosados lábios de Ava. O que ela tinha que o enfeitiçava? Vito perguntou-se, tomado de frustração, sentindo sua virilha se retesar em resposta. Apesar de parecer ingenuamente alheia ao seu próprio poder sexual, ele não podia deixar de notar que achava tudo nela ridiculamente tentador. Queria tanto levá-la para a cama que chegava quase a doer pensar

que jamais poderia tê-la. Já fazia tanto tempo desde que uma mulher o afetara de maneira tão visceral. Na realidade, a última vez fora com ela, e isso o incomodava, o incomodava de um jeito que ele não gostava. Não, definitivamente não a queria por perto durante o dia de trabalho. Ava olhou surpresa para ele, e involuntariamente chocou-se com os ardentes olhos dourados de uma beleza tão tempestuosa que ela mal conseguiu respirar. Um arrepio percorreu-lhe o corpo, enrijecendolhe os mamilos, ardor acumulandose na parte inferior da pelve. – Quer que eu faça compras? –

indagou, tomada de incredulidade. – Mas não sou nenhuma garotinha fútil.

– Ainda assim, se quiser continuar trabalhando aqui, fará o que for mandado – Vito secamente contra-argumentou. Corando, Ava mordeu o lábio inferior, sua língua projetando-se para fora da boca para aliviar a secura naquela região, enquanto engolia em seco a fúria. A mensagem foi bem clara, e não era novidade para ela. Era do jeito dele, ou a rua. – Não faça isso com a sua boca... e não me olhe desse jeito – Vito censurou.

Olhar para ele de que jeito? Se ela lhe lançara algum olhar inapropriado, não notara. Erguendo rebeldemente o

queixo, ela afirmou: – Não sei do que você está falando. Ele a fitou pouco impressionado.

– Não venha bancar a sedutora comigo. Sou macaco velho em se tratando disso. No estado de tensão em que ela estava, o alerta insolente fora a gota d’água. Impulsionada pelas lembranças da humilhação pela qual ele a fizera passar, Ava enrubesceu-se de fúria. – Vamos deixar uma coisa bem clara, Vito. Não sou mais aquela garota bobinha apaixonada que você certa vez chamou de provocadora! Sou bem mais esperta do que costumava ser. Você é como muitos outros homens... não

assume responsabilidade pelo seu próprio comportamento. – E o que isso quer dizer? – Que não sou nenhuma Eva fatalmente sedutora, que nenhum pobre homem pode resistir. O que aconteceu naquela noite não foi inteiramente minha culpa. Você deu em cima de mim, você me beijou porque quis, não porque, de algum modo, eu o levei a fazê-lo! – Ava retrucou com furiosa ênfase, os olhos azuis reluzindo de recriminação. – Aceite a sua própria parcela da culpa, e não tente empurrá-la para cima de mim! Vito foi tomado de uma ira que se sobrepôs a qualquer outra reação complexa que ela pudesse ter despertado. Teve vontade de matá-la e

não foi a primeira vez que ela fez isso com ele. Há muito que lidara com a sua culpa, mas isso não alterava o fato de que ela usara o corpo como uma arma letal, deliberadamente despertando o tipo de desejo que nenhum adulto de princípios queria experimentar quando perto de uma adolescente. Fora uma receita para o desastre e, se não houvesse sido pelo acidente de carro que se seguiu, ele teria ficado satisfeito com o resultado do confronto dos dois. Contudo, enquanto tentara cortar o mal pela raiz, o temperamento explosivo de Ava garantiu que a coisa toda detonasse na cara dele. – Não tenho a menor intenção de

discutir o passado com você – Vito declarou. – Vá comprar os sapatos e comece a cuidar da lista de Natal, Ava. Era uma ordem expressa, e ela ficou tentada a desobedecê-la, pois cada fibra do seu ser ainda estava preparada para combate. Queria se defender. Jamais tivera a chance de se defender de suas alegações cruéis porque Olly os interrompera. Contudo, como acabara de lembrá-lo, não era mais a adolescente que outrora achara impossível controlar as próprias emoções. Inspirou fundo, e lançandolhe um olhar que teria intimidado outros homens, girou nos calcanhares e marchou na direção da porta.

– Ah, sim, você cresceu – Vito

comentou sedosamente, tendo de dar a última palavra. Ela rangeu os dentes, as mãos delicadas cerrando-se, mas a coluna continuou empertigada e a boca firmemente fechada. No fundo, queria gritar com ele, sacudi-lo... beijá-lo? O choque de tal pensamento acalmou-lhe a fúria como nada mais fora capaz de fazer. Embora há muito já houvesse superado a paixão por ele, também passara os últimos três anos em um ambiente puramente feminino, forçada a reprimir todo e qualquer instinto sexual. Não era de se surpreender que um homem bonito como Vito e com a sua impressionante sexualidade pudesse

fazê-la sentir-se tão vulnerável. Impacientemente ordenou-se para esfriar a cabeça, pois era apenas humana, e ele era o equivalente a isca venenosa para ratos. Podia vir em uma embalagem espetacular, contudo, também tinha o cérebro de um computador, no qual havia muito pouco espaço para qualquer emoção genuína. Aos 18 anos de idade, dera-se conta de que o amor de Vito pelo irmão caçula era uma brecha na sua resistente armadura emocional impecavelmente mantida. Dinheiro e sucesso sempre importaram muito mais para Vito do que pessoas. Até mesmo seus romances diziam mais respeito a sexo do que a relacionamentos.

Karen Harper estava recolocando o telefone na base quando Ava adentrou a sala. – Cartão de crédito corporativo, não é? – disse friamente. Ava assentiu e mostrou-lhe a lista de Natal. A morena lançou-lhe um olhar rápido. – Você sabe que vou estar verificando bem de perto as suas compras – ela alertou. – De modo que aconselho que não saia do orçamento. Na verdade, seu objetivo principal será economizar dinheiro, e não gastá-lo.

– É claro. – É óbvio que o Sr. Barbieri a considera à altura do desafio, devido ao

fato de conhecer a sua família – Karen comentou, bruscamente, deixando clara a sua própria opinião desfavorável da decisão do patrão. – Contudo, infelizmente, fazer compras não é trabalhar. – Apenas faço o que me mandam – Ava retrucou, girando nos calcanhares e torcendo para que a distância agradável que manteria de Karen pelos próximos dias não acabasse prejudicando-a. Ela retornou para a mesa que fora separada para ela para repassar a lista e fazer planos. Economizar dinheiro? Era especialista no assunto, pois jamais tivera o suficiente para viver confortavelmente. Embora a família tivesse uma boa situação, Ava raramente

recebia dinheiro, e sobrevivera na escola encarando vários serviços temporários e de meio expediente, como servir de garçonete ou de auxiliar de estoque. Estudando a lista, pegou o catálogo de Marge para ver se algum substituto útil poderia ser encontrado em suas páginas. Tirando a sorte grande várias vezes, ela fez as devidas anotações na lista. Ao deixar a AeroCarlton, Ava foi direto comprar um par de sapatos, pois já estava com os músculos da perna doendo devido ao esforço de manter os pés calçados nos de segunda mão. Assim que pudesse, pagaria o dinheiro de volta para Vito. Embora já houvesse

dado início à lista de Natal, imagens infelizes continuavam a lhe bombardear o cérebro em momentos constrangedores, distraindo-a. Não queria pensar na noite da festa, contudo, de uma hora para a outra, nada mais lhe vinha à cabeça. Todos os anos, Vito oferecia uma festa para os seus funcionários mais graduados, colaboradores, inquilinos e vizinhos. Era o equivalente de um nobre do interior abrindo as portas de sua mansão para o público na época vitoriana. Naquele último ano, Ava tornara-se tão obcecada por Vito que sequer saiu com qualquer outro rapaz. – Ser tão intensa não é saudável – Olly a alertara frustradamente naquele

inverno. – Não pode ter Vito. Ele não é nenhum adolescente e nem jamais será. Aos olhos dele, você não passa de pouco mais do que uma criança. – Completarei 19 em abril, e sou madura para a minha idade – ela protestara. – Quem disse? Uma mulher madura jamais teria feito essa tatuagem no quadril. E, é claro, Olly acertara na mosca quanto a isso, Ava teve de admitir, tristemente. Uma decisão induzida pelo álcool em um feriado longe de casa resultara naquela bobagem. Ela se marcara pela vida todo por conta de uma paixão adolescente e uma necessidade

de não permitir que ninguém lhe dissesse como estava sendo tola. Mais cedo ou mais tarde, quando arrumasse a coragem para ficar nua com alguém, sabia que ficaria constrangida caso houvesse a necessidade de oferecer explicações. No presente, seus pensamentos retornaram para aquela festa desastrosa, quando, para variar um pouco, esforçarase para parecer sofisticada, deixando o seu visual gótico de lado para a noite. Não que não estivesse ciente de que suas aparições de saias de couro curtas e pretas e botas de cano alto atraíam a atenção de Vito! Será que isso a tornava uma provocadora? Já vira garotas na cidade usando roupas muito

mais provocantes. Contudo, tinha de admitir que as amedrontadoramente elegantes namoradas de Vito jamais haviam aparecido usando tais trajes. Porém, naquela noite, Vito aparecera desacompanhado, sem nenhuma beldade possessiva pendurada ao braço, rindo e sorrindo de cada palavra que ele falava.

Desde o primeiro instante em que Ava conhecera Vito Barbieri, quando ainda tinha 16 anos de idade, houvera uma descarga elétrica quando seus olhares se encontraram. Ela levara mais de um ano para chegar à conclusão de que ele também sentia a descarga, mas que lutava contra ela com unhas e dentes. Ele jamais dissera uma palavra

imprópria que fosse e tomara o cuidado para manter-se fora do seu alcance, e tratá-la sempre como uma garotinha. Contudo, mais de uma vez, percebera o olhar dele sobre si, e a satisfação ante o triunfo insignificante a encorajara a visitar o castelo quando Vito estava lá. Independente de quantas vezes Olly a alertasse de que estava desperdiçando o seu tempo sonhando com Vito. Enquanto Ava soubesse que a atração era mútua, alimentara a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, Vito sucumbiria. Lembrar-se de sua despreocupada confiança fez Ava estremecer de vergonha. Como pôde algum dia ter acreditado que Vito a namoraria? A filha de um dos seus empregados, cujo

pai morava com a família perto de Bolderwood Castle? A melhor amiga do irmão caçula? Uma jovem de 18 anos de idade ainda estudando para as provas finais sem qualquer experiência ou roupas decentes? Infelizmente, a extensão de sua obsessão a levara a ignorar todo e qualquer bom senso quando ele estava por perto. Toda a sua família comparecera àquela festa. Ava usara um vestido prateado, confeccionado de uma foto de uma revista de moda que a irmã, Gina, jogara fora. De algum modo, jamais houvera dinheiro para roupas novas para Ava. O vestido fora simples, modesto, até, e ela tomara todo o cuidado com a

maquiagem e o cabelo, procurando não chocar e nem espantar. Vira Vito observando-a dançar com as crianças de quem estava ajudando a cuidar, em um salão separado da festa. Precisando alimentar a confiança, estivera bebendo, algo que normalmente tomava o cuidado d e não fazer, sempre receando que a fraqueza da mãe pudesse vir a se tornar a sua própria. Ava não se lembrava de quando se dera conta de que a mãe era diferente das outras mães. Era comum voltar para casa da escola primária e encontrar a mãe apagada na sua cama. Por outro lado, o lar de Ava jamais fora um exemplo de felicidade, pois os pais viviam brigando como cães e gatos.

Além do mais, a mãe sempre fora distante com ela. E com um pai que a chamava de “ferrugem” quando a chamava de alguma coisa, apesar de saber como o odiado apelido a magoava. Jamais tivera ilusões de que fosse uma filha desejada. Dez anos mais nova do que a irmã mais velha, Bella, Ava se perguntava se ela não teria sido um acidente de percurso ressentido pelos pais, pois nenhum dos dois parecia ter tempo para ela. Porém, apesar de tudo isso, amava a mãe. A morte de Gemma Fitzgerald enquanto ela estivera na prisão fora um tremendo choque e uma fonte de grande tristeza, pois tinha esperanças de que, à

medida que fosse ficando mais velha, pudesse finalmente ser mais próxima da mãe. Na adolescência, dera-se conta de que a mãe tinha sérios problemas com álcool, e estava sóbria apenas de manhã, ficando progressivamente bêbada à medida que o dia ia progredindo, devido às garrafas de bebida escondidas por toda a casa. Quando a noite caía, normalmente estava apagada no sofá da sala. O pai de Ava e as irmãs haviam deliberadamente ignorado o alcoolismo de Gemma, e feito o possível para escondê-lo. Divórcio fora mencionado, contudo, jamais a reabilitação, até a noite em que a mãe foi flagrada pela polícia dirigindo embriagada e a fúria do pai não conhecera limites quando o

incidente foi relatado no jornal local. Gemma perdeu a carteira de habilitação e foi para a reabilitação, retornando da experiência pálida, calada e misericordiosamente sóbria. Havendo notado Vito observandoa na noite da festa de Natal, Ava decidira agarrar o touro pelos chifres, uma decisão da qual viria a se arrepender. Conseguira localizar Vito na tranquilidade da biblioteca, onde ele estava postado diante da lareira com um drinque na mão. Alto, lindo e poderoso, tudo nele a fascinara no instante em que ela cruzara a porta. – O que você quer? – Vito tensamente exigira saber.

Ava empoleirara-se na lateral da escrivaninha, de uma maneira que melhor deixava à mostra as compridas pernas benfeitas, e a colocava diretamente diante dele. Sentiu os olhos dele sobre si, tão ardentes quanto às chamas da lareira, e a excitação apossou-se dela como uma droga perigosa que a fez prosseguir. – Quero você – disse, ousadamente, recusando-se a continuar se contentando em usar olhares demorados e sorrisos encorajadores como convite.

Vito respondeu com um pensativo olhar de desdém que acertou o orgulho dela onde mais doía. – Sou areia demais para o seu

caminhãozinho – retrucou, com secura. – Vá procurar um garoto da sua idade com quem possa praticar os seus encantos. – Você também me quer – Ava insistiu, não vendo possibilidade de bater em retirada com a dignidade intacta. Resolveu dar prosseguimento à missão suicida de fazê-lo finalmente admitir o que ela sabia haver entre eles.

– Acha mesmo que eu não notaria? – Está na hora de você voltar para casa e ficar sóbria – Vito retrucou com desprezo. – Esta conversa provavelmente a deixará envergonhada, amanhã de manhã. Ava continuou a fitá-lo com desejo incontido. – Não me envergonho facilmente, e já

sou maior de idade. – Seu corpo pode até ser, mas o seu cérebro ficou para trás – Vito contra-argumentou, adiantando-se. – Vá para casa, Ava. Não quero saber dessa bobagem. – Eu seria muito mais divertida do que qualquer uma daquelas mulheres que já vi você trazer aqui – ela desafiou. – Não sou do tipo pegajosa.

Vito deteve-se bem diante dela. – Não estou à procura de diversão. Você não tem nada que eu queira... e deixe-me dar-lhe um ligeiro aviso. A maioria dos homens prefere ir em busca da própria presa. Sua abordagem direta, na minha cara, não é nada excitante.

Ante a grosseira rejeição, o rosto de Ava ficou vermelho. Tomada de raiva, desceu da mesa, adiantou-se, e envolveu-lhe o pescoço com os braços, impedindo que Vito recuasse. – Não é verdade que eu não o excito – argumentou com veemência, fitando-o nos olhos dourados. – É mentira! Por que não admite logo a verdade?

– Ava... Vito grunhiu de frustração, erguendo os braços para soltar as mãos dela do seu pescoço. Contudo, antes que conseguisse fazêlo, ela esticou-se e o beijou com cada átomo de anseio que possuía. Os músculos no seu corpo esbelto e forte se

retesaram, e, subitamente, ele estava lhe esmagando os lábios sob os seus, a língua vorazmente explorando o interior da sua boca, fazendo-a literalmente estremecer de excitação, e a sensação de que enfim encontrara o seu lugar. O simples beijo foi como dinamite no autocontrole dela. Com um arquejar ansioso, derreteu-se de encontro a ele, os ossos transformando-se em mingau ante a investida da voracidade acumulando-se na sua pelve. A porta abriu-se, mas ela não escutou, reagindo apenas quando ela voltou a se bater.

– Vito... – Pelo amor de Deus, o que você está fazendo? – Olly indagou, tomado de indignação. – Solte-a!

Vito bruscamente empurrou Ava para longe dele, o desgosto no seu rosto inconfundível. – Você é uma pequena provocadora calculista... e não aceita não como resposta. – Não sou uma pro... Olly cerrou a mão ao redor do antebraço dela. – Hora de ir para casa, Ava. Eu dirijo. Sua cabeça girava, seu olhar fixo no rosto de Vito. – Como ousa me chamar de provocadora? – esbravejou, sentindo-se humilhada, pois dera a sua última cartada desesperada e ele ainda a estava

rejeitando, determinadamente recusando-se a admitir a conexão entre eles. Pela primeira vez após o encontro, Ava perguntou-se se seus sentimentos não teriam sido completamente unilaterais. Seria possível um homem sentir-se atraído por uma mulher sem, de fato, querer fazer algo a respeito? Do mesmo modo que as pessoas podiam admirar uma pintura no museu sem precisarem tê-la? A humilhante compreensão abateu-se sobre Ava como uma violenta tempestade. Sua última lembrança daquela noite foi descer correndo as escadas do castelo chorando copiosamente, com Olly vindo atrás dela, insistindo para que ela se

acalmasse. A próxima imagem na sua lembrança foi de acordar no hospital com uma terrível falha na memória, os acontecimentos da noite anterior apenas lentamente retornando aos poucos ao longo dos dias seguintes. Ela jamais fora capaz de voltar a se recordar por completo da viagem de carro, nem da batida. Sua defesa mencionara constantemente as falhas na memória durante o julgamento. Contudo, a ignorância sequer a protegera das suas próprias perguntas dolorosas. Como pudera sentar-se atrás da direção no estado em que estava? Jamais fora capaz de satisfatoriamente responder a essa pergunta. Ainda mais

pertinente, o carro pertencera a Olly, que estivera sóbrio. Então por que diabos permitira que Ava dirigisse, quando o seguro do seu carro não a cobria? Curvando os ombros ante o peso das lembranças da sua própria estupidez egoísta naquela noite, Ava tentou focalizar os olhos embaçados na lista de Natal, e resolveu levar adiante a sua obrigação. Decidiu que revisitar o passado era uma péssima ideia quando seus erros haviam resultado em um comportamento indefensável e consequências trágicas.

Capítulo 3

– PURO

LIXO!



Karen Harper declarou, triunfantemente, depositando uma almofada com a imagem de um cachorro sobre a mesa de Vito. – Ava fez uma tremenda bagunça da lista de Natal e comprou alguns presentes ridículos! Ela terá de devolver essas porcarias e alguma outra pessoa terá de assumir a lista. Uma expressão de irritação cruzou o rosto de Vito, pois ele não apreciava ter

a sua ocupada manhã interrompida por dramas inconsequentes. Apenas dera para Ava a lista para tirá-la de seu escritório, e não estava com humor para lidar com as repercussões de tal decisão. Ele pegou o telefone. – Peça para Ava Fitzgerald se juntar a nós – disse para a secretária. Ava estava abrigada no lavabo, as faces ainda ardendo após a humilhante cena pública com a assistente executiva. Tendo feito o que foi solicitado dela da melhor maneira possível, Ava ficara furiosa quando Karen passara os olhos pelas suas compras cuidadosamente escolhidas e a rotulou de “idiota” diante dos colegas de trabalho. Apesar de ser uma funcionária subalterna, ainda se

achava merecedora de um pouco de respeito e consideração. Após retocar o batom, olhou para o seu rosto pálido e afastou-se do espelho. – O Sr. Barbieri quer lhe falar – informou a secretária de Vito, uma vistosa loura na casa dos 30, quando ela chegou ao corredor. Ava marchou impassivelmente para dentro do escritório de Vito. Vinte e quatro horas haviam se passado desde o último encontro dos dois, e após uma noite insone pensando no que não poderia ser mudado, lamentou que esta não tivesse sido mais longa. Fora um desafio sair da cama para vir trabalhar, sabendo que teria de lidar com um

homem que a desprezava. Vito, devastadoramente elegante no seu terno grafite, olhou calmamente para ela e apontou para a almofada. – Ava... será que pode explicar isto?

– Matt Aiken e a esposa criam labradores. Achei que a almofada seria um presente perfeito. – E quanto ao vaso de cerâmica horroroso? – Karen Harper interrompeu. – Feito por uma instituição de caridade em Mumbai que dá suporte a viúvas desabrigadas – Ava explicou. – Ruhina Dutta não esconde a sua posição no tocante às necessidades de minorias na Índia. Achei que ela apreciaria o vaso e a doação que o acompanha mais do que um vidro de perfume.

– E aquela corrente boba da Tiffany’s? – Karen não parecia disposta a recuar. – Sequer tem um fecho decente... – Porque é uma corrente de óculos. A Sra. Fox recentemente se queixou que está sempre perdendo os óculos.

Vito riu baixinho, sua impaciência com a questão evidente. – E quanto àquelas coisas voltadas para animais que trouxe? – Karen insistiu. – É inaceitável que compre apenas presentes da sua instituição de caridade favorita. – Muitas pessoas naquela lista têm bichos de estimação. Você me mandou economizar dinheiro se eu pudesse.

– Eu certamente não mandei que comprasse lixo! – Karen Harper esbravejou. – Alguns dos presentes propostos na lista eram incrivelmente caros, e, em um momento em que estamos todos focados em cortar custos, tais sugestões me pareceram excessivas. Mas, é claro que tudo que comprei poderá ser trocado caso seja necessário.

– Não será necessário. Termine o seu trabalho... é evidente que fez a sua lição de casa – Vito admitiu, passando a almofada para Ava. – Mas não gosto de perder tempo com banalidades. Por favor, removam essa diferença de opinião do meu escritório.

A assistente executiva estremeceu.

– É claro, Sr. Barbieri. Lamento ter incomodado. A outra mulher insistiu em repassar o restante da lista com Ava antes que esta voltasse a sair para fazer compras. Ava ficou constrangida quando alguns colegas de trabalho escolheram justamente aquele instante para devolver

o catálogo de Marge, com pedidos e dinheiro anexados. – Está aqui para trabalhar, não para vender para a sua instituição de caridade favorita – Karen falou com frieza. – Quando retornar hoje à tarde, tenho várias tarefas para você, sendo assim, seja o mais rápida que puder.

Quando Ava retornou carregada de sacolas de compras, Karen a levou direto para os gabinetes de arquivos no porão, e lhe deu trabalho o bastante para mantê-la ocupada até a metade da semana seguinte, punição por tê-la contrariado, Ava sabia, mas aceitou sem ressentimento. Verdade que o porão era solitário e entediante, contudo, pelo menos, não havia o risco de esbarrar com Vito.

UMA SEMANAmais tarde, Vito estava estudando a companheira durante um almoço em um famoso restaurante. Por qualquer padrão, Laura era linda, com

seus compridos cabelos louros e os olhos amendoados. Contudo, ela não lhe dizia nada. A boca era fina demais, a voz um pouco esganiçada, e adorava se queixar das modelos com quem trabalhava. Estaria ele simplesmente entediado? Tinha de haver um motivo para andar tão distraído, por que subitamente se tornara um desafio tão grande para ele ficar sentado tempo o suficiente para terminar uma simples refeição. Seu dia começara mal com uma ligação do administrador de sua propriedade, Damien Skeel. Damien ansioso por organizar o calendário das festividades, perguntara se haveria uma festa de Natal este ano no castelo.

Ironicamente, era a primeira vez que faziam essa pergunta para Vito desde a morte do irmão, mas Damien era um funcionário novo, e não estava por dentro das coisas. Apesar de haver ignorado a tradição nos últimos anos, subitamente Vito estava se sentindo culpado por fazê-lo. Os empregados mereciam o agrado. Três anos era um período de luto grande o bastante. Era chegada a hora de retornar à normalidade. Olhou para Laura, ainda no meio de uma longa e entediante história envolvendo outra rival no mundo da moda. Sabia que também estaria deixando Laura para trás.

Marchando de

volta

para

a

AeroCarlton, passou os olhos pela recepção. Não viu sinal de Ava. Para uma garota de recados, era difícil encontrá-la. Não que quisesse vê-la. Mas vinha se preparando para aceitarlhe a presença. Contudo, já fazia uma semana desde a última vez em que a vira, e estava ficando curioso.

– Por acaso Ava Fitzgerald ainda trabalha aqui? – perguntou para a secretária. – Não sei informar... – Descubra – ele ordenou. Ava estava no porão, que ela já conhecia como a palma da sua mão. Havia arquivado caixas e mais caixas de documentos, e, quando completara tal tarefa, Karen a apresentara ao seu novo

e complexo sistema de arquivamento, e a pusera para trabalhar nele. Ao longe, escutou a porta se abrindo, e não teve de esperar muito para que o seu visitante chegasse até ela.

– Como você não sai para almoçar, resolvi trazer o almoço até você – uma voz familiar informou. Reprimindo um gemido, Ava virou as costas para o gabinete de arquivos no qual estava trabalhando e alisou as saias para baixo, um movimento que já se tornara automático na presença de Pete Langford. De estatura mediana e magro, Pete olhava para o seu corpo esbelto de uma maneira que a fazia sentir-se ligeiramente suja. Já fazia alguns dias

desde que ele fizera a sua primeira visita ao porão para conversar com ela, e nem mesmo a demonstração de indiferença de Ava o intimidara. – Tire uma folga – ele insistiu, pousando o sanduíche e o refrigerante na mesa. – Não devia ter trazido isso. – Sua barriga roncou, pois almoços não estavam incluídos no seu magro orçamento. – Dê para alguma outra pessoa. Tenho compras para fazer. – Faça após o expediente. Estou aqui agora – ele salientou, como se isso fosse motivo para ela largar tudo e lhe dar um pouco de atenção. Ava não gostava de ser forçada a fazer as coisas e valorizava a sua

liberdade de escolha. Não estava a fim de um almoço improvisado com Pete, na solidão do porão, e não queria ser colocada em uma situação onde tivesse de rechaçá-lo. Era o tipo de sujeito que se achava um presente de Deus para as mulheres, e que achava que a persistência o levaria a qualquer lugar. Uma das colegas já a alertara sobre ele.

– Vou tirar a minha folga lá em cima – falou. Pete suspirou. – Qual é o seu problema? – Não tenho problema algum. Apenas não estou interessada. – Por acaso é gay? – Pete perguntou, abruptamente. – Quero dizer, todo

aquele tempo na prisão, suponho que não tenha tido muita escolha... Ava empalideceu e empertigou-se. – Quem lhe disse que eu estive na prisão? – Era para ser segredo? Todo mundo sabe. – Não é algo sobre o que eu goste de falar – Ava retrucou, tentando não reagir

à notícia de que os colegas de trabalho, alguns que se mostraram um tanto quanto relutantes em falar com ela, estavam a par do seu passado. A humilhação cortou fundo. – Quem contou para você? – Outra voz masculina, mas grave, perguntou da entrada da sala. – Deveria ser informação confidencial.

Ava olhou para Vito. Devia ter usado as escadas, pois ela não escutou o elevador. Seu rosto estava duro como granito enquanto aguardava a resposta de Pete Langford. Tendo escutado o comentário sobre Ava ser gay, Vito estava fervilhando de indignação e fúria. Não sabia por que estava tão zangado de encontrar Ava com outro homem, até se dar conta de que, após a estada na prisão, ela provavelmente era alvo fácil para uma abordagem como aquela, e que, como seu patrão, cabia a ele garantir que ninguém se aproveitasse de sua vulnerabilidade. Não que Ava parecesse particularmente vulnerável naquele instante. Os olhos estavam

faiscando de ressentimento, o corpo benfeito esculpido na saia preta e na justa blusa vermelha que estava usando. Sem aviso, uma outra imagem lhe veio à cabeça, a de Ava usando um corpete de renda preta, uma curta saia de couro preta e botas de cano alto. Surpreso, piscou os olhos, mas o estrago já estava feito, e teve de conter a onda de excitação.

Pete Langford voltou os olhos abalados para o patrão. – Não me lembro quem foi que primeiro mencionou a história de Ava – murmurou, evasivamente. – Acho melhor eu voltar ao trabalho. – Boa ideia – Vito retrucou, o poderoso corpo ameaçadoramente tenso.

– O que foi isso? – Ava perguntou, hesitantemente, assim que Pete fechou a porta. Ignorando a pergunta, Vito quis saber:

– Há quanto tempo está trabalhando aqui em baixo? – Desde que terminei a lista de compras, naquele dia que estive no seu escritório. – Está trabalhando aqui em baixo há uma semana? Todos os dias, o dia todo?

Ava assentiu silenciosamente. – Deve parecer que está de volta na sua cela! – Vito exclamou, passando os olhos pelo aposento com evidente insatisfação. – É trabalho, e fico grata por ter um

emprego. E, se acha que este lugar me lembra a prisão, é óbvio que não faz a menor ideia de como é a vida na prisão.

– Colocá-la aqui em baixo não foi ideia minha – ele informou. – Não achei que tivesse sido. Você não é mesquinho, mas me queria fora do seu caminho, e estou cumprindo essa função aqui em baixo – ela salientou com um sorriso irreverente. Um sorriso que lhe iluminou o rosto. Ela era linda. Como é que ele nunca se dera conta disto? A pele clara contrastando com o cabelo cor de fogo era estonteante. Vito não gostava de ruivas, procurou se lembrar. Pelo menos jamais tivera uma ruiva na sua cama. Não que a quisesse, tentou se convencer,

lutando contra o ardor e a tensão na virilha. Não a queria, e jamais a quisera. Beijara-a uma vez apenas porque Ava não lhe dera escolha. Ou seria mesmo isso uma desculpa? Os olhos azuis de Ava haviam se arregalado e ficado mais sombrios. Faíscas pareciam rodeá-la, cada vez mais rápido. Era como estar no olho do furacão. Ela adiantou-se, reagindo à tensão sexual que não podia suportar. As roupas estavam coladas ao corpo, e ela não pôde ignorar a sensibilidade dos seios, o enrijecer dos mamilos, enquanto o calor entre as coxas fez com que apertasse uma de encontro à outra com maior intensidade.

No silêncio carregado de energia, Vito olhou de volta para ela. Não havia problema olhar agora, ele lembrou-se sardonicamente. Ela não era mais chave de cadeia. A ideia cortou uma corrente no seu íntimo, libertando-o do passado. Ele envolveu-lhe o pulso com a mão e a puxou para os seus braços, os olhos dourados voláteis, energia feroz percorrendo o seu corpo em uma onda selvagem de luxúria. Sua outra mão ergueu-se lentamente, seu indicador traçando o contorno dos lábios fartos, seu toque leve como as asas de uma borboleta. Suspirando audivelmente, Ava quase lhe mordeu o dedo de frustração. Beije-me, beije-me,

beije-me, suplicou nos pensamentos. Seu desejo naquele instante era tão intenso que não havia espaço para qualquer outro pensamento. Encorajado por toda a voracidade acumulada no seu corpo poderoso, ele inclinou a cabeça, entreabrindo-lhe os lábios para um beijo passional. E era exatamente o que ela queria, o que a excitava mais, desejo percorrendo-lhe o corpo como uma luz ofuscante, à medida que a língua de Vito ia explorando mais o interior sensível da sua boca, e o mundo começou a rodopiar em círculos gradativamente mais rápidos. Suas pernas bambearam, e ela retornou o beijo com a mesma paixão, a língua enroscando-se na dele, os seios prensados de encontro ao

peitoral musculoso, toda a sua consciência voltada para sensação e satisfação. Ele lentamente a afastou de si, os dedos compridos subindo pela lateral do corpo até se cerrarem ao redor de um dos seios. Com perícia, ele massageou um dos bicos proeminentes, arrancando um gemido da garganta de Ava. Ele a afastou de si, dando um passo lento para trás, os olhos ardentes fixos nos dela.

– Não é o lugar, belleza mia. Ava inspirou fundo, tentando recuperar o controle sobre o corpo traiçoeiro e superar a decepção cruel da retirada de Vito. Mas ela estava a par do quanto isso o custara, ela o sentira duro

e pronto e incrivelmente másculo de encontro a si, e saber disso aliviou as emoções tempestuosas como nada mais poderia ter sido capaz de fazer. Desta vez, não era a única nas mãos de um desejo selvagem. – Mandarei que a retirem do porão imediatamente – Vito informou, com o rosto impassível. – Não é necessário – Ava declarou. – É sim. Gosto de ser justo com todos os funcionários, e isolá-la no porão, realizando apenas o mesmo trabalho entediante e repetitivo, não é aceitável.

Um diabinho travesso dançou nos olhos dela. – Também beija todo mundo? Vito deteve-se na porta, cerrando os

dentes. – É a primeira – confessou. – Não vai me dizer que jamais voltará

a se repetir? Registrando certa surpresa ante a provocação, Vito lançou-lhe um olhar tempestuoso, e ela corou. Ainda sob os efeitos da agonia de se conter sexualmente, ele seguiu na direção das escadas. Ela era capaz de incendiá-lo com um olhar, um beijo. Poderia felizmente tê-la erguido até a mesa, afastado aquelas coxas torneadas e dado satisfação a ambos, mas Vito sempre desconfiou do novo e sedutor, preferindo conter-se e permanecer no controle. Se pudesse continuar no

controle, estava disposto a admitir que queria Ava Fitzgerald. Na verdade, a queria mais do que já quisera qualquer outra mulher em um longo tempo. Talvez se devesse ao fato de ela já ter sido o fruto proibido. Mas ela era adulta agora. Estavam ambos livres. Era a realidade e não havia nada mais complexo em jogo.

Ela matou Olly. Vito marcou o pensamento indesejado e o enterrou fundo. Sexo era descomplicado. Sexo era algo que ele podia encarar. Não precisava pensar a respeito nem questionar a autenticidade do desejo primordial do homem por companhia. Ela era linda e o excitava. E tal excitação já era algo raro o bastante na sua vida para apagar qualquer outra

consideração. Recentemente, a vida vinha sendo de uma monotonia desesperadora, com a exceção do ocasional negócio revigorador. Era a temporada da boa vontade, e, subitamente estava disposto a se deixar levar pela correnteza. Uma hora mais tarde, Karen Harper pediu para Ava subir para cobrir a recepção. Ela depois preparou café para uma reunião, arrumou a bancada da recepção e cuidou de várias tarefas. O final do dia chegou muito mais rápido do que esperado, e ela seguiu direto para o canil de Marge para pegar Harvey pela noite. Marge, satisfeita com os vários pedidos que recebera de

funcionários da AeroCarlton, lhe ofereceu algo para comer. Depois, Ava levou Harvey para uma longa caminhada e sentou-se em um banco de praça por algum tempo, acariciando a cabeça peluda apoiada na sua coxa, e conversando com o cão. Às vezes, era difícil acreditar que não estava mais vivendo uma existência controlada por regras duras e campainhas estridentes. Quando o celular tocou, ela demorou para se dar conta de que era o dela, e, por fim, tirou-o do bolso, atendendo-o.

– É Vito. Preciso do seu endereço. Tenho de falar com você. Surpresa apossou-se de Ava. Já de pé, relutantemente deu o endereço, tentando se convencer de que era tolice

sentir-se constrangida pelas acomodações humildes. Vito com certeza não estava esperando encontrá-la morando em uma cobertura. Acelerou o passo, voltando para casa com o cachorro, pois não havia tempo para deixá-lo com Marge, seus pensamentos ainda mais acelerados do que os pés. Vito provavelmente queria lhe dizer que o beijo nada significara. Como se ela não soubesse! Como se já não tivesse idade e inteligência o suficiente para saber que bilionários que só pensavam em trabalho como ele não davam em cima de funcionárias subalternas, ainda mais se tratando de uma ex-presidiária considerada culpada

por ter causado o trágico acidente que custara a vida do mais próximo parente de sua vida. Vito, ela supunha, sucumbira a impulsos luxuriosos, como já ouvira falar que acontecia com a maioria dos homens. Seria culpa dela? Será que de algum modo enviara vibrações que o levara àquele beijo? Ela ergueu o queixo. Era melhor ele não vir dizendo que ela o tentara novamente!

Capítulo 4

UMA ELEGANTElimusine prateada

estava

estacionada diante do prédio onde Ava morava. Quando ela veio correndo pela rua ladeada de casas com gastas fachadas de tijolos, Vito emergiu do banco de trás, como sempre com uma aparência imaculada, com o sobretudo escuro e o mesmo terno que estava usando antes. O cabelo de Ava estava em desordem devido ao vento, a maquiagem há muito já fora embora, e o

jeans surrado não valorizava lá muito o seu corpo, mas ela procurou se convencer de que não ligava. Como sequer poderia começar a impressionar um sujeito que tinha de tudo e que saía com modelos e celebridades internacionais? – Ava... – Este é Harvey. Seja bonzinho – ela ordenou quando Harvey começou a rosnar. – Mostre a sua pata. Um pouco surpreso, Vito observou o cachorro peludo sentar-se e erguer a pata, os arredondados olhos desconfiadamente fixos nele. – Você tem um cão de estimação? – Na verdade, não. Harvey é um cão de rua à procura de um lar. Não posso

ter animais aqui. Moro no terceiro andar. – Esta não é uma boa vizinhança para uma mulher morando sozinha – Vito comentou, ao acompanhá-la escadas acima. – Acha que eu não notei? – Ava perguntou, destrancando a porta e adentrando a casa, antes de curvarse para soltar Harvey da coleira. Ele observou o jeans gasto esticando sobre as nádegas benfeitas. Quanto mais via do seu esbelto corpo curvilíneo, mais gostava.

– Não gosto da ideia de você morando por aqui... embora, pelo menos, tenha um cão de guarda.

– Harvey não pode passar a noite aqui. Terei de levá-lo para Marge mais tarde. – Quem é Marge? – Ela administra um pequeno canil que acolhe cães sem dono. Trabalhei lá por alguns meses enquanto estava no programa de trabalho do regime semiaberto da prisão. Ainda ajudo sempre que posso. Ela possui uma grande rede de voluntários, que oferece um lar para cães abandonados e tenta realocá-los. As mesmas pessoas que fazem aquelas almofadas que vendem em troca de fundos – explicou.

Mas Vito já perdera o interesse. Adiantara-se para dentro do pequeno

aposento, olhando pensativamente para a mobília gasta, e a notável falta de itens e confortos pessoais. – Não consigo acreditar que sua família a esteja deixando morar desse jeito. – Morar aqui é muito mais confortável e privado do que uma casa de cômodos seria – Ava retrucou. – Quer um pouco de café? – Acabo de jantar. Estou satisfeito – Vito respondeu com um aceno cordial da cabeça, postandose ao lado da janela suja. Notara que não havia aquecimento no conjugado. Ficara horrorizado de vê-la morando em um lugar daqueles, e não se surpreendia mais com o fato de ela

haver estado usando sapatos de segunda mão. – Pode tirar o seu casaco. Prometo não roubá-lo. – Está frio demais aqui dentro. Ava agachou-se para ligar a lareira a gás. Ela costumava ligá-la uma hora por noite, para aquecer o aposento, antes de ir dormir. Sorriu. Vito podia ser durão, mas adorava o seu calor. Olly costumava zombar dele por conta disso. O sorriso desapareceu tão rápido quanto surgiu. Ela não pôde deixar de imaginar se algum dia poderia estar na companhia de Vito sem pensar na perda terrível que lhe causara. – Disse que queria falar comigo –

lembrou, virando-se para ele. Os olhos dele reluziram como diamantes negros. – Tenho uma sugestão para lhe fazer. Quero voltar a dar a festa de Natal este ano. Bem, na verdade, eu não quero, mas acredito que já seja hora.

– Está me dizendo que não deu nenhuma... desde então? Uma escuridão assombrada apossou-se dos olhos estonteantes de Vito, a dor ali revelada destroçando algo no íntimo de Ava. – Não. Não por três anos – ele respondeu, monotonamente. – Ah, tá. – Reconhecendo que mais perguntas não seriam bem-vindas, Ava procurou imitar-lhe a atitude distante, e

reprimir aqueles sentimentos dolorosos crescendo no seu íntimo. – E daí? – indagou, querendo saber o que isso poderia ter a ver com ela. – Gostaria que você organizasse a festa, a decoração da casa, todos os detalhes festivos. – Eu? Você quer que eu organize tudo? Incredulidade apossou-se de Ava. – Você e Olly sempre cuidaram de tudo para mim antes – Vito lembrou, notando como ela empalidecera. A questão era tão difícil para ela quanto para ele mesmo. – Quero que o faça novamente. Lide com os banqueteiros e cuide de todos os detalhes. Não me

envolverei, mas acho que meus empregados e vizinhos devem poder voltar a curtir o evento. Por fim, Ava aceitou que o pedido era genuíno, mas isso não cancelou a sua surpresa. – Não pode ter pensado nisso a fundo. Eu? Faz alguma ideia do que as pessoas diriam ou pensariam sobre eu voltar a cuidar dos preparativos da festa?

Vito ergueu uma sobrancelhas incrédulas.

das

– Jamais, em toda a vida, parei para me preocupar com o que as outras pessoas possam pensar. Acho que pode ser a solução perfeita. Você recriará o Natal no mesmo espírito que Olly costumava fazê-lo. Vocês dois

adoravam toda essa bobagem de tradição. Ava inspirou fundo, tendo de, literalmente, engolir em seco o lembrete desnecessário de que Olly não estava mais entre eles. Bobagem, Vito sempre achara que as festividades de fim de ano não passassem de bobagem, excetuando de sua censura apenas aqueles de vocação religiosa. Contudo, mesmo assim, aturara os esforços de Ava e Olly para capturar a magia do Natal.

– Sugiro que fique na AeroCarlton pelo restante da semana, e, depois, mude-se para o castelo. – M-mudar para o castelo? – Ava gaguejou, abalada com a sugestão.

– Não dá para trabalhar daqui – Vito salientou. Natal em Bolderwood era um sonho, Ava admitiu, tomada de lembranças. A escolha da árvore e a sua decoração, empadões de carne devorados diante da lareira do grande salão, recordações de tempos mais felizes, trancafiadas em um canto do seu cérebro. O Natal sem Olly no que já fora o lar feliz de Olly parecia impensável. Não era merecedora, sequer podia considerar tal tarefa quando havia destruído o Natal para Vito.

– Eu não poderia fazê-lo. E seria um terrível erro me usar. Ofenderia as pessoas. – Se não me ofende, por que haveria

de ofender mais alguém? Você não pode viver no passado para sempre, Ava. – Você não pode me perdoar! – Ava subitamente gritou em protesto. – Como espera que eu mesma possa me perdoar?

Vito amaldiçoou-lhe a turbulência emocional, mas viu na sua atitude outro sinal de que estava fazendo a coisa certa. – Já faz três anos – salientou bruscamente. – A vida tem de continuar. Faça deste Natal um tributo adequado para a lembrança de Olly. Ava estava se esforçando para conter uma onda de emoção tão gigantesca que suas pernas bambearam, forçando-a a ter de se apoiar no encosto da cadeira, com lágrimas ardendo-lhe nos olhos. A

lembrança de Olly. Sempre doera demais examinar as recordações que tinha dele, pois era ser forçada a aceitar novamente a realidade de sua morte.

– Acha mesmo que meu irmão iria querer vê-la vivendo desse jeito? Empertigando-se, Ava ergueu o queixo. – Não. Sei que ele não iria – admitiu relutantemente, esforçandose para conter as lágrimas. – Mas eu não consigo evitar. – Che cosa hai! Qual é o seu problema? – Vito rosnou. – É uma lutadora. Eu esperava mais de você. As faces dela coraram. Ele olhou para ela, severamente avaliando-lhe a

aparência nas roupas velhas. Cabelo como cobre derretido, preso em um rabo de cavalo, o rosto dominado por aqueles brilhantes olhos azuis e a boca cheia, roupas largas demais para lhe valorizar o corpo esbelto, nada ali para fascinar ou encantar, raciocinou, impacientemente, mas sua atenção insistia em retornar às delicadas feições, onde se demorava. Uma fração de segundos mais tarde, estava duro como pedra, o sangue pulsando através da parte mais sensível do seu corpo, enquanto imaginava a boca suculenta dando-lhe prazer.

– Sim, sou uma lutadora – Ava sussurrou, retornando-lhe o olhar, sentindo a mudança na atmosfera e

achando impossível ignorá-la. Como ele era capaz de fazê-la sentir-se daquele jeito sem sequer tentar? Tudo bem, era muito bonito, mas, decerto ela já deveria ter deixado para trás a atração adolescente que sentia por ele? Determinada a recuperar o controle sobre as suas reações físicas, virou-se de costas, tentando ignorar o pulsar na virilha. Afinal, ele acabara de lhe desafiar o orgulho, não podia deixar isso barato. Podia estar com medo da reação das pessoas a ela, porém, ainda não estava preparada para admitir que a rejeição ainda a magoava mais do que deveria. – Se é o que realmente quer, eu o farei... mas não venha me culpar se as

pessoas começarem a acreditar que enlouqueceu. – Já lhe disse a importância que dou para isso. – É, mas... – Prefiro mulheres que concordem comigo. – Não, não prefere, não! – Ava retrucou. – Apenas fica entediado e pisa nelas. Resolvendo ir com a explicação mais óbvia, Vito não conseguiu se decidir se fora a época do ano ou falar sobre Olly que o perturbara tanto. – Ficar no meu castelo poderá lhe dar

a oportunidade de rever a sua família. – Irá chocá-los e irritá-los, pois já deixaram bem claro que não me querem

de volta nas suas vidas. Mas é o direito deles, e tenho de aceitar isso. Vito não fez comentário, ainda surpreso com o que fizera. E tudo seguindo uma inspiração de momento. Colocar Ava no comando era tanto para o benefício dela quando o dele. Ajudaria a banir a vulnerabilidade que sempre o desestabilizava quando pensava no irmão caçula. Era uma fraqueza que Vito não podia aceitar. Terapia de nada adiantaria. Não fazia o seu estilo. Não era o tipo de pessoa de se abrir com estranhos, e nunca procuraria ajuda profissional para lidar com uma perda que considerava uma experiência de vida perfeitamente

normal, embora um tanto traumática. Tinha capacidade plena de lidar com os próprios problemas, e, até o final da festa, quando Ava Fitzgerald voltasse a deixar a sua vida, teria dado um passo importante no processo de recuperação. Evitá-la, deixando-se levar pelos sentimentos, teria sido a coisa errada a se fazer. Lidaria com ela no presente e seguiria em frente, mais forte devido à experiência. – Posso trazer Harvey comigo para o castelo? – Ava perguntou abruptamente.

Vito franziu a testa, pois não tinha muita simpatia por animais de estimação. – Prometo que ele não causará problemas! – Ava insistiu. – É só que

Harvey terá de ser sacrificado se eu não encontrar um lar para ele, pois Marge não tem mais lugar para ele. Desse modo, ele ganhará um pouco mais de tempo, e, quem sabe?, talvez alguém na sua propriedade acabe se apaixonando por ele. Vito olhou para Harvey, que roncava no chão, sobre o tapete, notavelmente relaxado para um animal que aparentemente estava encarando uma sentença de morte. – Ele pertence a alguma raça em especial? – Não, é vira-lata. Não tem dono, mas

é jovem e saudável. Também adora crianças – Ava completou com um

sorriso. – Acho até que eu poderia fantasiá-lo de rena para a festa de Natal.

Vito gemeu ante mais absurdos festivos. – Pode trazê-lo, se quiser, mas vá tirando da cabeça a ideia de que ficarei com ele. – Ah, eu jamais esperaria isso. – Ava riu, aliviada. – Eu o manterei longe de você. Sei que não leva muito jeito com cães. Olly me contou que foi mordido quando criança. Irritação brilhou nos olhos de Vito. Era um homem extremamente reservado. Perguntou-se que outras revelações o irmão caçula haveria de ter feito. Quanto mais cedo Ava estivesse longe do ambiente de trabalho, melhor.

– Precisarei de permissão da minha agente da condicional para deixar Londres – Ava revelou, com uma expressão ansiosa no rosto. – Eu a vejo todos os meses. – Ficará fora apenas umas duas semanas. Vale a pena mencionar alguma coisa? – Estou em condicional, Vito. Tenho de seguir as regras se não quiser voltar para a prisão. Vito assentiu. – Mandarei um carro vir buscá-la no domingo à tarde. E, então, ele foi embora, e o aposento ficou frio e vazio. Tomada de súbitos tremores de frio, Ava sentou-se diante

do fogo. O que fora fazer? Que loucura a levara a aceitar a proposta? A mesma loucura que levara Vito Barbieri a fazer a sugestão? Ele queria deixar a coisa toda para trás. Ela podia entender isso. Como deve ter sido duro para uma pessoa tão reservada lidar com uma perda tão colossal. Contudo, em uma coisa ele tinha razão. Quer queira, quer não, a vida continuava, e, assim como ele fizera, Ava tinha de aprender a adaptar-se e a sobreviver.

– SOUBE QUEestará aqui apenas até a sexta-feira – Karen Harper comentou docemente na manhã seguinte – Não fazia ideia de que fosse tão amiga do

patrão. – Amiga não seria a palavra certa. – Ava estremeceu, pouco à vontade. – Vito ainda é o meu patrão. Contudo, o ambiente ao seu redor pelo restante da semana foi tenso e ela foi alvo de mais perguntas intrometidas que não queria ter de responder. Foi um alívio ir embora na sexta-feira para manter o seu compromisso regular com Sally, a sua agente da condicional. – Vai ficar em um castelo de verdade? – Sally perguntou, com os olhos arregalados, anotando o endereço.

– Não um castelo medieval... Bolderwood é uma mansão vitoriana – Ava explicou.

– É propriedade do irmão de Oliver Barbieri? – Sally sorriu para Ava. – Deve ser uma pessoa muito clemente. – Não, no tocante ao irmão dele, Vito jamais esquecerá e nem perdoará. E não posso culpá-lo por isso. Mas ele acha que nós dois precisamos retornar à normalidade, e vê nisso a melhor forma de conseguir isso.

– Ainda assim, é um gesto notavelmente generoso – a mulher mais velha afirmou. VIAJANDO PARABolderwood,

dois

dias

mais tarde, em uma luxuosa limusine, com Harvey dormindo aos seus pés, Ava

estava pensando que desconhecia essa veia de generosidade de Vito. Mas ele não dera um lar para Olly quando este se vira sozinho no mundo? Um menininho que encontrara apenas algumas vezes na vida, um meio-irmão do qual outros poderiam ter se ressentido? Contudo, por fora, Vito Barbieri era duro como granito. Nos negócios, era igualmente temido e respeitado pelos competidores, e implacavelmente exigia eficiência dos seus funcionários. À medida que a paisagem familiar foi passando na janela, Ava foi ficando mais tensa. Estava ao mesmo tempo empolgada e apavorada de retornar para o local onde passara tanto da infância. Será que ousaria visitar o pai e as

irmãs? Achava melhor não. Não era uma boa ideia forçar a sua presença onde não era bem-vinda. Procurou conter as lágrimas. Tinha de colocar a vida de volta nos eixos, mas, pelos menos, tinha uma vida para colocar de volta nos eixos. – Você tem uma atitude muito negativa – Olly certa vez a censurara. Contudo, tirando o fato de sua mãe ter morrido, e o pai ter sido ausente, Olly recebera apenas segurança, amor e apoio dos adultos de sua vida, de uma maneira que Ava jamais conhecera. Sabia que era por isso que era desconfiada e sempre esperando o pior de tudo e de todos.

Cruzando os portões automáticos, os faróis do carro iluminaram a mansão vitoriana ao longe. Completa com suas quatro torres e diversas chaminés no estilo elisabetano, Ava sempre achara a casa incrivelmente romântica, construída em uma época onde as pessoas tinham um exército de empregados e constantemente davam festas. Vito tinha um bocado de empregados, mas não era muito chegado a dar festas. Abrir as portas de sua casa para a festa natalina era um desafio para um homem que passava o resto do ano felizmente vivendo rodeado por portões trancados e cercas elétricas. Eleanor Dobbs, a governanta magra

na casa dos 30, recebeu Ava na imponente porta da frente. – Srta. Fitzgerald – cumprimentou sem qualquer constrangimento. – Eu a acompanharei até o seu quarto lá em cima, para que possa desfazer as malas. – Ava, por favor. Como tem passado? – Tem sido tranquilo por aqui desde a sua última visita – a mulher mais velha comentou ao subir as escadas. – Ficamos todos muito felizes em saber que teremos novamente a festa de Natal.

Com um sorriso fixo no rosto, Ava foi levada até a suíte de hóspedes principal, um enorme quarto com móveis de mogno, onde a lareira de mármore estava acessa. – Por que me trouxe até aqui? – Ava

sussurrou. – O Sr. Barbieri me pediu para preparar este aposento para a senhorita.

Ava ficou paralisada. – Onde está o Sr. Barbieri? – perguntou. – Acho que está no quarto dele. A governanta retirou-se, e Ava passou os olhos pela opulência do quarto. Totalmente inapropriado, ela pensou, tomada de incredulidade. Vito não deveria tê-la colocado na suíte reservada para as visitas mais distintas. Harvey já havia se acomodado no tapete diante da lareira. – Nem adianta ficar muito confortável – Ava alertou. – Não vamos ficar nestas

acomodações cinco estrelas. Deixando Harvey, ela apressou-se em cruzar o corredor para bater na porta do quarto de Vito, enquanto aguardava do lado de fora com os braços cruzados. Quando não houve resposta, voltou a bater, aguardando com crescente impaciência. Por fim, abriu a porta e resolveu simplesmente entrar, detendo-se nos trilhos ao ver Vito saindo do banheiro da suíte usando apenas uma cueca preta. Por uma fração de segundos, ficou a fitá-lo, os olhos arregalados, a boca aberta de choque e constrangimento. Tinha um corpo fantástico, pois malhava e nadava com regularidade. Pele cor de mel reluzia sob a luz das lâmpadas,

chamando a sua atenção para os poderosos ombros e o tronco trabalhado. Uma trilha de pelos escuros desaparecia por baixo do elástico da cueca. Com a atenção demorando-se naquela área tão privada, Ava virou-se, rejeitando a visão e oferecendo-lhe as costas. – Sinto muito... não tive a intenção de atrapalhar... – Pelo menos feche a porta – Vito disse com secura. Ela obedeceu, o rosto ardendo tanto que pensou que fosse explodir em chamas. Por que diabos ficara olhando para ele daquele jeito? Como se jamais houvesse visto um homem seminu... não

que houvesse, é claro, à exceção da praia. Sua falta de experiência aos 22 anos de idade era uma afronta ao seu orgulho. Os anos passados atrás das grades haviam lhe atrapalhado o desenvolvimento. Obcecada com Vito antes de sua prisão, havia perdido uma fase inteira de experimentação. – Che cosa a sucesso... o que houve? Ela virou-se e viu o breve sorriso sardônico no seu rosto, que parecia deixar claro que o constrangimento dela

o divertia. – Vim direto para falar com você, porque não pode simplesmente me enfiar no quarto de hóspedes principal! É uma péssima ideia. – Deixe-me decidir o que é

apropriado – ele falou, seus impressionantes músculos se flexionando enquanto lentamente vestia as calças. Estar seminu na presença dela claramente não parecia incomodá-lo. Irritada pela recusa dele em levála a sério, Ava esbravejou: – Pois aí que está o problema. É óbvio que não posso confiar em você para fazer o que é apropriado. – Esta é a minha casa e farei o que melhor julgar. O que eu digo aqui vale.

Sua arrogante falta preocupação enfureceu Ava.

de

– Como pode ignorar por completo como as outras pessoas se sentirão por

eu me hospedar aqui? Uma sobrancelha escura ergueu-se.

– Não é da conta delas. – Você tem um tremendo problema de atitude, Vito. – Concordo – ele falou tranquilamente, pegando a camisa sobre \endash encosto da cadeira. – Nunca suportei que me dissessem o que fazer.

Ava entendeu a indireta. Ela corou, cerrando os lábios cheios. – Não estou tentando lhe dizer o que fazer... Vito a estudou com interesse, notando que ela optara por viajar com sua saia e camisa de trabalho. Imaginou-a usando lingerie de seda e renda, e não foi

preciso muita imaginação para fantasiá-

la deitada na sua cama. Vê-la ali no seu quarto era uma experiência perturbadoramente íntima. – Sì, está sim. Você é meio mandona... sempre foi. Ava jogou os cabelos para trás, erguendo desafiadoramente o queixo.

– Não sou mandona. – Olly sempre fazia o que lhe mandavam – Vito murmurou. – Mas, esteja avisada. Eu não. Está no meu quarto de hóspedes principal simplesmente por que foi minha decisão colocá-la lá. – Nesse caso, coloque-me em um lugar mais humilde. Um

silêncio tenso seguiu-se à

exigência. – Não – Vito respondeu, deslizando o braço para dentro da manga da camisa, sua cabeça ainda trabalhando em imaginá-la na sua cama, sedutoramente usando minúsculas peças íntimas.

O latejar na virilha fez com que ele cerrasse os dentes. – Mas não sou uma convidada de honra. Sou uma empregada – Ava furiosamente salientou. – Eu deveria estar nas acomodações dos empregados... – Não – Vito voltou a dizer baixinho.

– Mantenho a minha decisão. – Mas não vai ficar bem... – Você é uma garota esperta, Ava, Dê um jeito!

– Dar um jeito no quê? – Ava retrucou, tomada de frustração. – É óbvio que não pode me tratar como uma hóspede especial sem dar origem a rumores. Vito adiantou-se, a camisa entreaberta sobre o torso musculoso. – Corrija-me se eu estiver errado, mas não acabou de passar três anos na cadeia como punição pelos seus crimes?

Ava empalideceu, e abaixou o olhar.

– É óbvio que passei. – Então foi julgada, condenada, sentenciada e pagou o preço exigido pela sociedade. Onde é que diz que precisa continuar pagando? – Ele perguntou, impacientemente. – Eu a

coloquei na suíte de hóspedes principal porque, se eu a tratar com o devido respeito, todos seguirão o meu exemplo e farão o mesmo. – Não é tão simples assim – ela protestou, baixinho. – É sim – Vito retrucou, com serena confiança. – Não permita que as suas inseguranças façam tudo parecer mais complicado. Uma tempestade de fúria percorreu as veias de Ava, e ela jogou a cabeça para trás, os cabelos cor de cobre dançando ao redor dos ombros esbeltos.

– Não tenho inseguranças – afirmou, defendendo o orgulho, que era tudo que lhe restava. – Ava, você sempre foi um poço de

inseguranças. – Não é verdade... é uma grande mentira! – Madonna diavolo... conte a verdade

e envergonhe o diabo – Vito suplicou, erguendo a mão e, com o indicador, desenhando uma trilha lenta ao longo do lábio inferior. Sobressaltada, Ava recuou a cabeça, seu toque já incendiando-lhe o corpo.

– Não me toque... – Não está falando sério – Vito sussurrou, inclinando a cabeça, e abaixando a boca até a dela. – Ambos sabemos que não está falando sério.

Capítulo 5

VITO

POUSOUa mão na depressão da

lombar de Ava e a puxou para frente, forçando o contato com o seu corpo esbelto e poderoso. O ardor e a sensação ferozmente física de Vito sabotaram as suas defesas, antes mesmo que a voracidade urgente da sua boca na dela as derrubassem por completo. Presa a ele, cambaleou, sabendo que jamais sonhara que um beijo apenas fosse capaz de tanto. A paixão pura de

Vito a enfeitiçou, despertando um anseio desesperado por mais. Ela retribuiu o beijo de bom grado, excitada demais para sequer se preocupar que o seu beijo pudesse ser considerado da variedade amadora, demasiadamente receosa que ele pudesse dar para trás, como já fizera duas vezes antes. Tal medo subconsciente apossou-se dela quando envolveu-o com os braços, convidando, encorajando, nenhum pensamento racional envolvido no ato. A penetrante invasão da língua de Vito na sua boca fez o seu sangue disparar pelo seu corpo, acelerando o seu batimento cardíaco. Nada jamais lhe parecera tão necessário, nada jamais lhe parecera tão

certo. – Per l’amor di Dio, Ava – Vito rosnou de encontro à sua boca. – Você me enlouquece. – E isso é ruim? – Ava retrucou, esticando-se para plantar um beijo no canto da sua boca bonita. Vito girou a cabeça para poder capturar-lhe novamente os lábios com um profundo gemido que vibrou no íntimo do peitoral poderoso, as mãos grandes segurando-lhe os quadris para puxá-la para si, de modo a deixá-la sensualmente a par do seu estado de excitação. Involuntariamente ela regozijou-se na afirmação de seu poder feminino. O perfume almiscarado de

Vito incendiou-lhe as narinas, e ela estremeceu quando ele lhe sugou o lábio inferior, sua língua úmida enroscando-se na dele, outras sensações ainda mais sedutoras apossando-se dela, enquanto comprimia o volume formigante dos seios de encontro à parede maciça do peitoral de Vito. Ela sequer sentiu o zíper da saia descendo, apenas registrou a queda da peça ao redor dos tornozelos segundos antes de ele a erguer para fora de suas dobras, trazendo-a até a cama. Ava não pôde deixar de ficar um pouco desconsertada diante de uma prova tão contundente da experiência de Vito, além do fato de já estar impotentemente na cama dele, antes mesmo que tivesse

decidido se o deixaria levá-la até lá. Pare isso agora, pare de agir como se não tivesse qualquer controle sobre isto, uma vozinha manifestou-se no interior da sua cabeça confusa. Alguns beijos eram uma coisa, mais do que isso outra completamente diferente. E, embora quando mais jovem houvesse fantasiado ocupar a cama com Vito, a realidade era muito mais assustadora. Não conseguia se esquecer de Olly chamando o irmão mais velho de predador com as mulheres. Quando Vito lhe tirou os sapatos, ela sentou-se na cama, puxando os joelhos até o peito em um gesto de nervosismo. Descartando a camisa, ele ajoelhou-se no pé da cama, e a visão

daquele musculoso torso cor de mel fez com que todo o bom senso a abandonasse. Seus dedos se esticaram sobre a carne quente, mas ele tinha as suas próprias ideias. Alisando-lhe as pernas até esticá-las, começou a trabalhar nos botões da sua camisa, beijando-a, cada vez que abria um. Ofegante, ela apoiou as mãos nos ombros acetinados. Sua camisa desapareceu, seguida do sutiã de algodão. Com apreciação, ele acaricioulhe o volume dos seios, os dedos compridos habilmente estimulando os bicos latejantes, até um ligeiro gemido escapar da garganta dela. Vito tomou isso como um convite para inclinar a cabeça e dar prosseguimento ao

delicioso tormento com a língua. Enquanto a acariciava, a maré de sensações espalhou-se pelo seu corpo, e Ava sentiu um ardor urgente começando a se acumular entre as suas coxas.

– Não pare de me tocar, gioia mia – Vito suplicou, os olhos dourados fumegando com voraz apreciação ao fitá-la. Sentindo as faces corarem, Ava deslizou os dedos sobre os músculos retesados do abdômen de Vito, e sobre o algodão macio das calças e o volume rijo por baixo do tecido. Com uma exclamação áspera, ele soltou o botão das calças e abaixou o zíper, sua pressa excitando-a. Tirando a cueca do

caminho com a mão hesitante, percorreu a ereção com os dedos exploradores. Ele era veludo sobre aço, suave e duro. Apesar de ele levantar os quadris cada vez que ela o tocava, não parecia ser o momento apropriado para considerar o fato de que havia muito mais dele nesse departamento do que ela imaginara. Pronta para aprender com a descoberta, ela colocou de lado a ignorância e curvou a cabeça ruiva para tomá-lo na boca.

– Não, quero você agora – Vito protestou, puxando-a para si, para mais uma vez esmagar-lhe a boca generosa sob a dele com intensidade erótica. – É o que você quer? Ava piscou os olhos azuis

momentaneamente estupefatos. O que ela queria? Sem problemas para responder a essa pergunta, e nenhuma sombra de hesitação, pois não tinha a menor dúvida: ele, absolutamente apenas ela.

– É... Os dedos deslizaram para baixo ao longo da coxa esbelta, e ela estremeceu, querendo, precisando mais do que podia suportar, tentando imaginar se todo mundo sentia cada minúscula carícia tão intensamente e se ansiava por esta tanto quanto ela ansiava. Ou será que os anos passados em isolamento do restante do mundo a haviam deixado ainda mais desesperada? O pensamento a encheu de vergonha, de algum modo forçando-a a

pensar na cautela que estava abandonando. Contudo, por outro lado, apenas uma vez na vida queria se deixar levar pela correnteza, experimentar em vez de planejar com antecedência. Olhou para ele, tranquilo por fora, até Ava colidir com o brilho de desejo nos seus olhos. Ele era lindo. Era tudo que ela queria. Como poderia negar ou lutar contra o que estava sentindo?

– Adoro o seu corpo, cara mia – ele falou com a voz rouca. – Você é linda. Naquele momento, ele verdadeiramente a fazia sentir-se linda, e Ava sorriu sonhadoramente, com incredulidade, contudo, disposta a conceder que, no ardor da paixão, magicamente adquirira um brilho

especial aos olhos dele. Ao vê-lo arrancar a calça, seu coração voltou a bater rapidamente. Não queria pensar, e ignorou os pensamentos ansiosos, contudo, mesmo assim, estes deram um jeito de vir à superfície, insistindo em serem escutados. Para Vito, isto era sexo, nada mais, relutantemente racionalizou. Sabia disso, tinha de aceitar isso. Jamais fora mais para ele, e Ava não era ingênua a ponto de achar que algo mais do que intimidade poderia vir daquilo. A excitante fagulha de atração que sempre existira entre eles estava finalmente encontrando expressão e pareceu inevitável, algo que teria acontecido independente do que ela

tivesse feito. Durante outra rodada de beijos ardentes, sua calcinha pareceu se desintegrar. Adorava o gosto, o ardor e a força de Vito. Ele acariciava-lhe a carne macia e carente, e Ava estremeceu quando um dedo foi deslizado para dentro de si, enquanto o polegar massageava o botãozinho insanamente sensível do clitóris, fazendo-a estremecer de deleite.

– Você está tão molhada... – ele afirmou, selvagemmente. Ava foi tomada de vergonha, mas estremeceu, à medida que a sensação afogou tudo mais em doces ondas que ela mal conseguia suportar em silêncio. Ligeiras lamúrias escaparam de sua

garganta a despeito de sua tentativa de contê-las. Ela se contorcia como se estivesse febril, todo o controle arrancado de si pelo prazer e pela expectativa atormentadora. Vito afastou-se dela, deixando o seu corpo latejando e pulando de desejo e impaciência. Ela escutou o som de plástico se rasgando, soube que ele estava colocando proteção e, depois, voltou para ela, reposicionando-lhe os membros com indiscutível perícia. Com uma única arremetida profunda, ele a adentrou e um abafado grito de dor escapou-lhe dos lábios, a pontada de desconforto inesperada e inoportuna. Vito ficou paralisado de surpresa

acima dela, os olhos dourados fitando-lhe o rosto enrubescido. – Sou o primeiro? – Ele perguntou, tomado de incredulidade. – Não faça muito alvoroço disso – Ava suplicou, tão constrangida que sequer conseguia fitar-lhe os olhos. Jamais lhe ocorrera que a primeira vez pudesse ser dolorosa. Não considerara tal aspecto, apenas relaxara e deixara a natureza seguir o seu curso, mas era possível que Vito fosse passional demais e demasiadamente bem-dotado para esse tipo de abordagem. – E como esperava que eu fosse reagir? – Vito retrucou, ligeiramente desconsertado com o que acabara de

descobrir a respeito dela. Ava, a adolescente que ele outrora considerara uma experiente tentadora sexual, na realidade era virgem? A possibilidade jamais lhe passara pela cabeça, e ele não era um homem que gostava de surpresas. Na realidade, a vida havendo lhe ensinado em demasia a respeito de suas agendas secretas, tinha um profundo desagrado por surpresas que vinham em embalagens femininas. – Bem, está feito agora – Ava falou, ousadamente, recusando a se entregar à vergonha, e reunindo tudo que restava do seu orgulho em defesa própria. Era evidente que não era a veterana

dos lençóis que ele supusera que fosse,

se Vito estivesse desapontado com isso, problema dele. – Mas, por que... eu? – Ele rosnou, desconfiado. Ava mexeu os quadris para distraí-lo, e os ombros dele se retesaram quando tentou se retirar do aconchego quente e apertado do corpo dela. Um segundo movimento igual da parte dela foi a ruína de Vito. Ele voltou a afundar-se no doce ardor com um grunhido de desejo torturado, a fúria queimando como fogo no seu olhar acusatório. Ava evitou o olhar e cerrou os olhos. Estava ali para a experiência completa, não estava? Não iria permitir que ele estragasse tudo. Contudo, será que realmente tinha alguma influência sobre

Vito? Dada a chance, diria que ele teria parado, rejeitado-a. Seria a virgindade tão desestimulante assim? Ou será que ele receava que a inexperiência dela a levaria a exigir mais dele do que Vito estivesse preparado para oferecer? Já escutara o antigo chavão que sugeria que virgens tendiam mais a se apaixonar pelos amantes, buscando laços que iam além do físico. Isso, ela imediatamente pressentiu, era o que ele provavelmente mais receava. Bem logo descobriria que ela não nutria tais ilusões a respeito dele.

– Isto não é o que eu queria – Vito exclamou. – Nem sempre conseguimos o que

queremos – Ava declarou, movendo os quadris, quando um maravilhoso tremor de voracidade devoradora e excitação originou-se na sua pelve, como um alerta de tempestade. – Não estrague isto... Dividido entre a vontade de estrangulá-la e o desejo de mantê-la na sua cama por uma semana inteira, Vito praguejou na sua língua nativa, e as tendências naturais da sua poderosa libido assumiram as rédeas. Jamais quisera uma mulher tanto quanto a queria naquele instante, mas ela voltou a parecer um prazer proibido carregado de culpa. Não transava com virgens, e nem se aproveitava de mulheres inexperientes e vulneráveis.

Ava entregou-se ao prazer, arqueando-se para acolher o fascinante deslizar do seu corpo para dentro do dela. A excitação devoradora foi se intensificando, e ele arremeteu ardor e potência, enquanto o corpo dela se retesava ao redor dele, enviando ondas de sensações maravilhosas que se espalharam por todo o seu ser. O ritmo insistente foi se acelerando, e o coração de Ava martelou no interior do peito, a força do desejo controlando-a até que por fim ela alcançou o apogeu de hipnotizante alegria que se espalhou em seu íntimo como uma injeção de pura felicidade. Espasmos de êxtase ainda a estavam abalando quando ele

estremeceu, atingindo o próprio clímax, e ela o puxou para si, sabendo que jamais iria querer soltá-lo novamente, embora soubesse que tinha de esconder

o fato. – Isso foi... diferente, mia bella – Vito declarou ofegantemente, plantando um beijo lento na sua testa, antes de saltar para fora da cama e marchar até o banheiro. Ava inspirou profunda e lentamente. Não deveria se sentir surpresa por ele instantaneamente dar as costas ao momento de aconchego e intimidade. Fora alertada. Diferente? Não era exatamente um elogio, admitiu tristemente. Quando Vito reapareceu, ela sentou-se na cama, prendendo os lençóis

sob os braços, e, com deliberada cautela, disse: – Diferente? Foi apenas um pouco de diversão. As feições do seu rosto ficaram paralisadas, os olhos de Vito duros e brilhantes como dois diamantes negros.

– Come ha detto?... como disse? – O sexo – Ava murmurou displicentemente. – Foi apenas um pouco de diversão. Nada com que precise se preocupar. – Você era virgem! – Vito esbravejou. – E, semana que vem, completarei 22 anos de idade. Quantas virgens de 22 anos de idade você conhece? Já estava mais do que na hora de eu dar esse

passo. Já em conflito com a turbulência de suas emoções e um selvagem sentimento de culpa, Vito ficou irritado com a atitude indiferente dela. Será que realmente achara que ela fosse vulnerável? Pelo modo como ela falava, Ava parecia ter ao seu redor uma armadura e deliberadamente o escolhera para deflorá-la. Além disso, reduzira o que acontecera entre eles a um simples encontro de corpos, e, embora racionalmente aceitasse que era o que fora, não conseguiu conter o seu ressentimento. Não tivera a intenção de fazer-lhe nenhum mal, mas cometera o erro de permitir que seu intenso desejo sexual falasse mais alto do que a

inteligência. – Não estava atrás da honra de me tornar o seu primeiro amante – Vito afirmou, severamente. – Na verdade, se eu tivesse sabido, jamais a teria tocado. Presumi que fosse experiente.

Ava apoiou o queixo na mão, os brilhantes olhos azuis passando uma falsa sensação de calma. – Eu sou agora – salientou, corando ante tal alegação. – Sexo casual definitivamente não é do que você precisa agora. Ela baixou os olhos, perguntando-se como qualquer coisa que pudesse ter feito com ele poderia ser considerada casual. Não nos termos de Ava.

Contudo, para Vito, sexo com ela poderia apenas ter sido casual. – Não faz ideia do que eu preciso...

como poderia? Olhe, passe-me algo que eu possa usar para que eu possa retornar para o meu quarto... Entrando novamente no banheiro, Vito voltou trazendo um roupão de banho preto que atirou para ela. Ava o vestiu antes de descer da cama, e amarrar a faixa na cintura. Com os últimos vestígios de dignidade, deteve-se para pegar as roupas e sapatos descartados, o coração pesado no interior do peito. Assim que chegou ao seu quarto, Ava tirou o roupão e entrou no chuveiro. Ainda estava em estado de choque devido ao que acontecera entre ela e

Vito Barbieri. De algum modo, o seu eu adolescente havia triunfado sobre o seu eu adulto. Sentindo um aperto no coração, esfregou o corpo como se sua intenção fosse apagar todos os seus pecados com água e sabão. Quando estava seca, vestiu jeans e camiseta, e, após colocar mais lenha na fogueira, sentou-se ao lado de Harvey. Finalmente fizera sexo, e Vito fora fantástico, mas as suas emoções estavam totalmente confusas. Idiota, censurou-se ao alisar o pelo da cabeça de Harvey. Recusava-se a chorar por causa de Vito Barbieri. Cometera um erro, só que o mesmo poderia ser dito dele. Agiria como se nada houvesse

acontecido, decidiu. Era a única maneira de se comportar. Como se houvesse sido um acontecimento inconsequente e insignificante que estivesse ansiosa por esquecer. Jamais deveria ter ido até o quarto dele, desafiá-lo, provocá-lo. A questão do aposento onde ficaria hospedada parecia tão trivial agora. Vito não estava acostumado a ser contrariado. Ela o desafiara e ele reagira.

A batida na porta interrompeu-lhe os pensamentos. Era uma criada trazendo uma bandeja. – O Sr. Barbieri achou que poderia estar com fome – a moça explicou, pousando a bandeja na mesinha perto da janela.

– Eu poderia ter descido para comer

– Ava falou, tomada de culpa, olhando para prato de frango de aparência e aroma deliciosos, ficando com água na boca. – Não há necessidade, com tantos empregados e apenas duas pessoas para servir – a moça falou, rindo. Ava comeu porque estava com fome, e, pegando um bloco de anotações, deu início às coisas que tinha para fazer, banqueteiros, é claro, vieram em primeiro lugar. Lembrandose de que teria de visitar floriculturas, pela primeira vez perguntou-se como faria para ir de um lugar para o outro, pois fora proibida de dirigir pelo futuro

próximo. Achando melhor pensar nisso mais tarde, tratou de desfazer a mochila, o que levou um total de cinco minutos. Resolveu levar Harvey para um passeio lá embaixo, nos jardins de inverno. O lugar estava repleto de lembranças para ela, pois ainda podia se recordar de tomar banho de sol no gramado enquanto ela e Olly estudavam para as provas finais... provas que o amigo jamais viera a fazer. Ava fizera as dela, pois o caso levou alguns meses até ser levado a julgamento. Naquela noite, dormiu na sua cama confortável, exausta demais para ser mantida acordada pelos pensamentos conturbados. Ao levantar-se, ficou chocada de descobrir que já eram quase

9 horas, que ainda se sentia dolorida em certos lugares, e que não estava com humor para comemorar a perda da virgindade. Usando um jeans, com o fiel bloco de anotações no bolso de trás, ela desceu as escadas com Harvey, cuidando das necessidades deste primeiro. Quando voltou para dentro de casa, Eleanor Dobbs a estava aguardando para conduzi-la à sala de jantar, onde estava servido o café da manhã.

– Será que eu poderia lhe falar, depois que houver terminado o desjejum? – É claro. Vito está aqui? – Ava perguntou, supondo que Eleanor

quisesse falar sobre os preparativos para a festa. – O helicóptero o pega às 7 horas, na maioria dos dias. Quer dizer que Vito ainda tinha o hábito de madrugar, Ava constatou, sem surpresa. Trabalho ainda era o seu motivador principal, e não era pelo dinheiro, pois era fabulosamente rico. Ainda assim, trabalhava praticamente sete dias da semana. Pegando o seu bloquinho de anotações antes mesmo de deixar a sala de jantar, após devorar o maravilhoso desjejum, Ava começou a ligar para os banqueteiros da região. Marcou uma reunião para o dia seguinte, e já estava se preparando para subir para o quarto

quando a governanta voltou a aparecer.

– Há algo que quero lhe mostrar – Eleanor informou, pouco à vontade. – Achei que talvez pudesse ajudar. Ava ergueu a sobrancelha fina. – De qualquer maneira que eu puder – respondeu, perguntando-se por que a outra mulher estaria tão tensa.

Contudo, Ava também ficou tensa quando Eleanor a levou até o antigo quarto de Olly lá em cima. Ela destrancou a porta e a abriu, mas Ava não cruzou o batente da porta, pois o quarto estava intocado, como se aguardando que Olly voltasse para ocupá-lo. – Por que não esvaziaram o quarto?

– Eu me ofereci para fazer isso logo após o enterro, mas o Sr. Barbieri disse não. Ele costumava vir até aqui, contudo, até onde eu sei, já faz algum tempo que não faz isso. – A mulher mais velha fez uma careta. – Após tanto tempo, não me parece correto deixar o quarto desse jeito... Ava inspirou fundo e empertigou os ombros. – Eu darei um jeito – anunciou. – Apenas me traga algumas caixas e sacos

e eu separarei tudo, decidindo o que deverá ser guardado. Depois, pode esvaziar o quarto. – Fico muito grata – Eleanor disse, com tristeza. – Não quis abordar a

questão novamente com o Sr. Barbieri. É um assunto delicado. Novamente a sós, Ava tocou em um dos espécimes de fósseis de Olly e lágrimas brotaram nos seus olhos. O tempo havia parado entre aquelas quatro paredes, transformando o quarto na versão de Vito de um santuário. Isso não era saudável, Ava pensou, lembrando-se de seu discurso para ela de que a vida tinha de continuar. A governanta ajudou-a a separar os objetos pessoais de Olly. Ava ensacou suas roupas para doar para a caridade e colocou suas primeiras edições de Harry Potter, suas coleções de fósseis e os álbuns de fotografia em caixas. Folheando o álbum que continha as

recordações dos dois anos de sua amizade com o irmão de Vito, Ava sorriu e riu através das lágrimas. Era a primeira vez que se permitia lembrar os bons tempos que haviam tido juntos. Contudo, depois, sentiu-se esgotada e com o coração curiosamente mais leve. Tendo completado a tarefa, levou novamente Harvey para passear no jardim. Jamais havia se despedido de Olly, contudo, agora, poderia visitar o túmulo dele, e prestar os últimos respeitos sem medo de ofender alguém com a sua presença, como poderia ter acontecido no enterro. Deixando Harvey com Eleanor, abotoou a jaqueta de couro falso e caminhou até a estrada, virando

na direção da pequena capela de pedra, pouco mais de cem metros adiante. Esta já fizera parte da propriedade de Bolderwood, mas, para manter a sua privacidade, Vito providenciou um acesso independente. Uma mulher loura descendo de um carro esporte estacionado ao lado de uma elegante casa do outro lado da rua da capela olhou para Ava com o cenho franzido ao abrir o portão do cemitério, que era cercado por um muro baixo. Ava pousou flores na sepultura de Olly, notando com um tremor dos lábios que um anjo de pedra vigiava o local do descanso final do amigo. Olly sempre tivera grande fé em anjos. – É você, não é? – Uma severa voz

feminina exclamou abruptamente. Ava virou-se e reconheceu a loura que avistara do outro lado da estrada. Era muito atraente e estava elegantemente vestida, usando apenas roupas de grife, o que fez Ava sentir-se em desvantagem, com o rosto sem maquiagem e as roupas velhas.

– Sinto muito, acho que não a reconheço. – E por que haveria de me reconhecer? Sou Katrina Orpinton, e jamais frequentamos os mesmo círculos sociais – a loura informou com desdém. – Mas ainda assim a reconheço... é a garota Fitzgerald, a que matou o irmão caçula de Vito! O que diabos está

fazendo aqui na sepultura de Oliver? Apesar de pálida, Ava não se deixou intimidar. Sua foto circulara nos jornais na época do julgamento, e era evidente que ela fora reconhecida.

– Só quis ver onde ele estava enterrado... sua morte pode ter sido minha culpa, mas ele era o meu melhor amigo. Os lábios da loura se franziram de desprezo. – Bem, acho a sua presença aqui de muito mau gosto. Lágrimas de crocodilo não apagarão o que fez. Jamais esquecerei o rosto de Vito naquela noite... ele ficou arrasado. – É, aposto que ficou mesmo – Ava sussurrou. – Mas não posso mudar o que

aconteceu, e não foi minha intenção ofender ninguém ao vir aqui. – É muita audácia! – A loura declarou, dando meia-volta e marchando para fora do cemitério. Umidade começando a lhe arder nas faces sob o vento frio da tarde, Ava adentrou a igreja e sentou-se em um dos bancos nos fundos, aproveitando o silêncio e a sensação de paz da capela para se recompor. Não havia como escapar do que fizera, mas tinha de conviver com isso, aprender com a experiência, e torcer para que um dia as pessoas parassem de ver nela uma assassina, e lhe dessem a chance de provar que podia ser mais do que a

soma de seus pecados. Sentindo-se profundamente vulnerável, fez uma prece antes de voltar para o castelo. A tarde voou enquanto Ava verificava os aposentos que seriam usados para a festa, vendo quais peças de mobília teriam de ser removidas. Tendo feito mais algumas listas detalhadas e marcado mais algumas reuniões, estava satisfeita com o dia de trabalho. Apreensiva de estar em casa quando Vito chegasse, levou Harvey para outro demorado passeio pela propriedade. Um Land Rover enlameado parou ao seu lado, e um homem alto e louro de 30 e poucos anos de idade desceu para se apresentar como o administrador da propriedade, Damien Skeel. Foi

maravilhoso oferecer o seu nome para alguém que não fizesse a menor ideia do seu passado. Damien continuou sorrindo para ela e disse que os empregados da propriedade estavam muito felizes com a festa, e insistiu para que ela entrasse em contato com ele caso precisasse de ajuda com qualquer coisa. Estava começando a ficar tarde, e Ava apressou o passo para voltar para o castelo. Usou a entrada dos fundos, e tratou logo de dar a comida de Harvey. Estava se preparando para subir quando Eleanor adentrou a cozinha com o rosto vermelho, e muito tensa. – O Sr. Barbieri está furioso que o

quarto do irmão tenha sido esvaziado. A

culpa foi minha... quero dizer, eu pedi a sua ajuda. Eu lhe disse isso, mas acho que ele não me escutou – ela explicou.

Ava estremeceu. – Ah, minha nossa – murmurou, subitamente arrependendo-se de ter se deixado envolver. – O que diabos passou pela sua cabeça? – Vito rugiu, quando ela cruzou o corredor, alguns minutos mais tarde, e olhou para cima para vêlo postado na entrada da biblioteca.

Capítulo 6

VITO

ERAuma visão intimidante. Ainda

usando o terno de trabalho escuro com uma gravata dourada, ele adiantou-se, os ombros largos bloqueando a luz atrás de si. Ava jamais se dera conta do quanto ele era mais alto do que ela até Vito estar postado diante dela, uns 25 centímetros mais alto, o rosto condenatoriamente contorcido. Sua respiração falhou na garganta seca, e ela corou, afinal, era a primeira

vez que o via desde que haviam se separado no quarto dele, na noite anterior, e, naquele instante, ela se viu mais consciente da intimidade anterior do que de sua aparente ofensa. Ao chocar-se com o olhar duro de Vito, um inapropriado arrepio erótico espalhou-se pelo seu corpo como veneno. Agarrando-a pelo pulso, Vito puxou-a para a biblioteca, batendo a porta atrás de si. – Per Meraviglia! O que passou pela sua cabeça? – exigiu saber uma segunda vez, seu sotaque italiano mais carregado. – Voltei para casa, notei que a porta estava aberta e... vi o quarto vazio. Não pude acreditar nos meus olhos! Quem, perguntei, teria a ousadia e

a insensibilidade colossais para contrariar os meus desejos na minha própria casa? Ante a sua ira e indignação, Ava descartou várias respostas possíveis em favor da simples sinceridade. – Pensei que fosse melhor... – Você pensou? – Vito esbravejou incredulamente. – O que diabos isto tem

a ver com você? – Obviamente eu deveria ter lhe perguntado o que queria feito antes de qualquer coisa – Ava admitiu, tremulamente, pois jamais supusera que

a sua intervenção pudesse causado uma reação daquelas. – Não era da sua conta!

ter

Ele estava tão furioso que estava tendo dificuldades para expressar os sentimentos em inglês, no lugar do italiano. – Pensei que soubesse o que estava sentindo. Evidentemente eu estava enganada, mas, com toda sinceridade, achei que esvaziar o quarto o faria sentir-se melhor. – Como um quarto vazio poderia me fazer sentir melhor? É apenas mais um lembrete de que Olly se foi! – Vito esbravejou amargamente, pura ira no seu olhar. Será que tal ira era voltada para a condutora do carro naquela noite? Não podia culpá-lo se fosse verdade.

– Eu não me livrei das coisas pessoais dele. Todos os livros, cartas e fotografias de Olly foram encaixotados e guardados. – Quero tudo de volta... exatamente como era. Ava empertigou os ombros esbeltos, os olhos azuis profundamente preocupados com as instruções que recebera. – Não acho que seja uma boa ideia. – Você não acha? E o que isto tem a ver com você? Por acaso ver aquele quarto sem Olly a fez sentir-se culpada?

É esse o verdadeiro motivo por trás da sua invasão de privacidade? – É, ver aquele quarto novamente me

fez sentir triste e culpada. Por outro lado, o simples estar nesta casa é o suficiente para me fazer sentir culpada. Só que estou acostumada a me sentir assim, e isso em nada influenciou a minha decisão. – A sua decisão? – Vito zombou, a voz carregada de amargura. – Você matou o meu irmão. Não é o suficiente para você? O que lhe deu esta ideia insana de que profanar o quarto dele e a minha lembrança de Olly de algum modo me faria sentir melhor? Ava estremeceu como se houvesse sido esbofeteada. Era a primeira vez que ele falava coisas do gênero para ela. Mas era o direito dele. Sentiu-se nauseada, envergonhada e culpada, pois

sabia que nada do que dissesse faria diferença. – Fui imperdoavelmente arrogante...

percebo isso agora – Ava admitiu. Como pôde ter sido tão insensível? Infelizmente, parte do seu problema sempre fora agir sem pensar nas consequências. – Mas, sinceramente, não estava pensando no que eu sentia quando esvaziei o quarto. Estava pensando em você. – Não quero que pense mais em mim! – Vito rugiu, marchando até uma garrafa de cristal sobre uma bandeja na mesa de centro do sofá e se servindo de um pouco de uísque. – O que penso e sinto a respeito do meu irmão é inteiramente da

minha conta, e não é algo que eu tenha a intenção de discutir. – É, entendi esse recado. Mas aquele quarto trancado e intocado não me pareceu uma abordagem muito saudável para lidar com a perda – Ava ousou argumentar, sua atenção fixa no rosto forte e anguloso e no intenso autocontrole ao qual claramente estava recorrendo para disfarçar os sentimentos. Vito estava tão trancafiado dentro de si mesmo quanto aquele maldito quarto. – E o que você saberia a esse respeito? – Vito retrucou rudemente.

– Já passei por algo semelhante, e simplesmente falar sobre isso, ou até escrever a respeito, já ajuda –

murmurou, tristemente. – Se deixar, a tristeza poderá devorá-lo vivo. – Poupe-me dos chavões! E nunca mais se meta na minha vida. – Não me meterei. Mas não se esqueça de que foi você quem me disse que não posso viver para sempre no passado e que a vida precisa continuar. Lamento se interpretei errado o que quis dizer com isso. Pensei que estivesse ajudando.

– Não preciso e nem quero a sua ajuda! – Vito esbravejou, abrindo bruscamente a porta da biblioteca. – E diga para Eleanor que vou comer fora hoje! Ava foi deixada ali, ao lado da

escrivaninha. Ela cerrou os dentes. Estava sofrendo. Vito também estava sofrendo, mas não queria que ninguém, quanto mais ela, reconhecesse isso. Isso a magoou, mas não tinha o direito de sentir-se magoada, pois fora insensível ao não conversar pessoalmente com ele sobre esvaziar o quarto de Olly.

Escutando uma batida de leve na porta, ela foi abri-la. – Vito disse que... – Não se preocupe. Eu escutei – Eleanor confessou, com uma careta, estremecendo quando escutou um potente carro arrancar cantando pneus. – Espero que tenha contado para o patrão que esvaziar o quarto foi ideia minha. – Também achei que fosse a coisa

certa a se fazer. Esqueça – Ava aconselhou. Eleanor franziu a testa. – Jamais havia visto o Sr. Barbieri perder a calma desse jeito. Devo começar a colocar o quarto do jeito que estava? – Eu aguardaria até amanhã para ver se ele não mudou de ideia... contudo, talvez dar ouvidos às minhas opiniões não seja a melhor das ideias.

Curvando-se, Ava acariciou as orelhas de Harvey quando este tocou no seu joelho. –

Harvey

governanta

é

tão

comentou,



a

rompendo

o

tranquilo

silêncio. – Vou espalhar a notícia de que

ele precisa de um lar, mas, se quer saber, acho que ele já está feliz com você. – Mas o lugar onde moro em Londres não aceita animais – Ava murmurou, tentando se concentrar, porém, tudo que passava por sua cabeça era Vito acusando: Você matou o meu irmão.

E m a t a r a mesmo, não deliberadamente, mas por negligência. Era a verdade com que teria de conviver. Ava não teve muito apetite para encarar a deliciosa refeição que fora servida apenas para ela na solidão do salão de jantar. Depois de encontrar um romance de Jane Austen que ainda não lera na biblioteca de Vito, fora nadar um

pouco na piscina coberta, desesperada para escapar dos pensamentos infelizes. Depois, acomodou-se com Harvey na privacidade aquecida do seu quarto. Por um instante, lembrou-se de como a prisão fora barulhenta e desconfortável, com as prisioneiras morrendo de tédio por passarem tantas horas do dia trancafiadas. Estremeceu. Durante os dois primeiros anos, foi um tremendo esforço para chegar ao fim de cada dia, contudo, com o passar do tempo, estabeleceu uma rotina. Encontrou trabalho ajudando as outras a aprender a ler e escrever, e aprendeu a dar valor às pequenas coisas, como comprar um chocolate ou um salgado com o pouco

que tirava. Também aprendeu rapidinho a não sentir pena de si mesma, pois havia gente lidando com coisas muito piores do que ela. Recordando-se de tal realidade amarga, Ava decidiu tomar um banho de banheira no opulento banheiro. Ficar no castelo era como hospedarse em um hotel de cinco estrelas. Eram umas férias de luxo, e decidiu aproveitar, pois a realidade logo voltaria a bater à sua porta. Sentia-se tão culpada por ter magoado Vito, fazendo com que ele voltasse a encarar a morte do meio-irmão. Ele tinha razão. Quem era ela para lhe dizer se era ou não saudável deixar o quarto como se o tempo houvesse parado?

Ava gastou um bocado de tempo de molho no banho decadente, sempre renovando a água quente quando esta começava a ficar fria, resistindo com todas as suas forças aos pensamentos infelizes. Metera os pés pelas mãos novamente. Cerrou os dentes e esforçou-se ao máximo para limpar a mente de qualquer pensamento. Vestiu o pijama, secou o cabelo e colocou o alarme do celular para despertar bem cedo. Mas não cedo o bastante para dar de cara com Vito, pois estava convencida de que ele não iria querer compartilhar a mesa do café da manhã com ela. Deitou-se na cama confortável para ler até o sono chegar.

Quando a porta do quarto abriu-se um tanto quanto abruptamente, Harvey levantou-se com um latido e Ava sentou-se na cama sobressaltada. A última pessoa que estava esperando ver adentrou o quarto e fechou a porta atrás de si. Harvey voltou a latir, tenso e desconfiado com a interrupção. Ava inclinou-se para fora da cama para tranquilizá-lo, e, acalmando-se, ele voltou a se recolher para o seu ponto preferido, perto da lareira. – Vi a luz pela janela e me dei conta de que ainda estava acordada. – Vito informou quando ela olhou para o relógio, notando que já passava das 23 horas. – Damien me deu uma carona até

em casa, da taverna da aldeia. Completamente atônita ante a sua aparição no quarto dela, usando apenas cueca samba-canção, afinal de contas, o roupão dele ainda estava jogado no chão do quarto dela, com o cabelo ainda em desalinho e molhado da ducha, Ava estava tensa como uma corda de violão, contudo, ainda tentando agir com normalidade. – Ah, sim, conheci Damien quando estava passeando com Harvey hoje. Ele

é muito simpático. O rosto dele ficou tenso, os olhos estreitando-se. – Ele flertou com você? – Possivelmente – Ava respondeu cautelosamente, pois Damien flertara

adoidadamente com ela durante a breve conversa, chegando a confessar que jovens atraentes e solteiras eram mais raras na vizinhança do que dente em galinha, e que ele começara a frequentar a igreja na esperança de conhecer alguém só para descobrir que a congregação era mais velha do que as montanhas da região. – Vou alertá-lo... eu não compartilho

– Vito completou, sombriamente. Ava ficou surpresa. – Não é preciso alertá-lo. – Também não sou partidário de romances de uma noite só – Vito prosseguiu. Ao desviar os olhos do seu físico

magnífico, Ava corou como uma adolescente tímida, e não conseguiu pensar em absolutamente nada para dizer, quando estava claro que, apesar de suas diferenças de opinião daquela tarde, Vito planejava passar a noite com ela. – Contudo, acho que neste exato instante, um pouquinho de diversão cairia muito bem, bella mia – ele confidenciou. – Eu não sei como fazer casual – Ava revelou, constrangidamente, seus nervos levando a melhor sobre as cordas vocais, mas ainda incomodada com a sua reprovação de sexo casual. – Eu também não – Vito murmurou sedosamente, pousando algo na mesinha

de cabeceira, afastando as cobertas e subindo na cama ao lado dela, como se dormisse com ela todas as noites, e como se isso fosse a coisa mais normal a se fazer. – Vito – Ava começou a dizer. Ele acariciou-lhe a extensão do pescoço esbelto com o dedo, repousando-o no local onde havia uma pequena pulsação. Os olhos dourados fitaram os dela. – Não quero dormir sozinho esta noite. – Ah – Ava tontamente retrucou, contudo, no fundo estava atônita ante a confissão. Vito, que não precisava de ninguém e

que jamais admitira ter nenhuma fraqueza humana, estava lhe dizendo algo que ela jamais esperou escutar dele. Ele queria... não, precisava... estar com ela, e nada do que pudesse ter dito poderia ter sido mais calculado para agradá-la. Vito roçou gentilmente os lábios sobre os dela. – Quer que eu vá embora? Ava ficou paralisada ante a oferta. – Hã, não... – Mas também não quer que eu fique só porque me queria aos 18 anos de idade e não podia me ter? – insistiu, evidentemente preocupado que pudesse ser esse o caso. Estava pedindo para que ela

separasse o passado do presente, e Ava não sabia se seria capaz de fazer isso.

– Eu só quero você – Ava falou roucamente. – Mas eu lhe garanto que superei a minha obsessão por você aos 18 anos de idade. – Não gosto da ideia de que esteja me aproveitando de você – Vito admitiu. – Aqui estou eu. Não estou bêbado, porém também não estou sóbrio, e sequer estou pensando no que estou fazendo. – Tudo bem, não tem problema – Ava sussurrou, sem fazer ideia de como era raro para Vito fazer algo sem pensar primeiro. – Não é importante. – Não estou prestes a me apaixonar por você e nem me casar com você, nem

nada do gênero – Vito alertou, desdém pela ideia fazendo com que sua boca se retorcesse sardonicamente. – Isto é um romance, nada mais complexo do que isso. Não complique as coisas pensando demais. – Jamais pensei que fosse dizer isso, mas você fala demais. Não sou a adolescente tonta de quem você se lembra. Eu cresci, mas ainda nem completei 22 anos de idade. Não quero me casar por muitos anos ainda. – Pois eu nunca vou querer me casar!

– Vito retrucou, largando-se sobre os travesseiros, enquanto tentava entender por que ficava tão irritado com a falta de interesse de Ava em se casar com ele.

Evidentemente, isso era uma boa notícia, e de maneira abençoada estava livre das costumeiras magistralmente apresentadas hipocrisias às quais as suas usuais amantes recorriam para tentar tranquilizá-lo. É claro que ela era dez anos mais nova do que ele, o que era uma boa diferença. Na realidade era quase como roubar o berço.

Ava encostou-se nele, o cabelo ruivo roçando nos ombros largos, enquanto se deliciava com a conversa que estavam tendo. – Não quero me casar com você. Primeiro quero explorar as minhas opções e me divertir um pouco. – Se Damien Skeel der em cima de

você, não deixe de me contar – Vito falou, surpreso com a reação que parecia ter vindo de um lugar que ele desconhecia no seu íntimo. – E, até havermos terminado, não ira explorar opção alguma e nem se divertir por aí, estamos entendidos? Uma pontada de dor acertou Ava no coração. Não gostava de ouvi-lo falar sobre o romance ter terminado antes mesmo de haver sequer começado de verdade. Magoava, assim como terminar magoaria, pensou, impacientemente. Não era mais criança. Não tinha a fantasia de que Vito se apaixonaria por ela e a levaria até o altar. Mesmo adolescente, não fora tão ingênua. – Por acaso sempre estabelece as

regras na cama, como faz nos negócios?

– Ava provocou. – Com você, eu preciso fazê-lo. Você é uma caixinha de truques completamente novos e desconhecidos, cara mia – Vito admitiu, empurrando-a de encontro aos travesseiros e roubando-lhe um beijo que fez com que o coração dela disparasse. Ava sentiu-se pequenina sob ele, esmagada pelo peitoral largo e a coxa coberta de pelos que deslizou entre as dela. Não pôde deixar de perceber os mamilos enrijecendo e a pressão da ereção de encontro a si. Por um instante, simplesmente deliciou-se com a sensação maravilhosa, sabendo que ela

o queria e ele a queria. Por fim, era a hora certa. E, então, tomada de aflição, recordou-se da tatuagem infantil no quadril, e resolver comprar enormes emplastros assim que pudesse para esconder a marca reveladora, antes que Vito pudesse vê-la. Se visse aquilo, ele não pensaria nela como adulta por muito tempo. Vito sentou-se e afastou as cobertas.

– O que diabos está usando? – Meu pijama. – Não é muito sexy – Vito declarou com autoridade, e pôs-se a trabalhar nos botões. Ava ficou imóvel de constrangimento, enquanto ele lhe despia o pijama. Procurou se lembrar de que ele já vira

tudo antes e que era tolice sentir-se tão acanhada. – Desligue a luz – ainda assim pediu.

– Não... você é uma obra de arte e quero admirá-la – Vito retrucou sem hesitação, estudando-lhe as curvas do corpo pálido. – Ontem eu estava com demasiada pressa. – Estou com frio – ela falou, voltando

a puxar as cobertas para si. – Não, você é tímida, e eu jamais

havia me dado conta disso. Ava F i tzge r a l d ... tímida. Puxa, ficou vermelha como um pimentão. – Se vai falar de mim e de pimentões na mesma frase, é melhor voltar para o seu próprio quarto! – Ava sibilou, os

olhos azuis reluzindo como safiras no rosto de fada. – Não vai acontecer. – Com uma risada súbita, Vito esmagou-lhe a boca sob a sua, a língua mergulhando fundo em um beijo devorador que enviou arrepios eróticos por todo o seu corpo ansioso.

Quando ele descartava a rígida autodisciplina e reservas, havia tanta paixão acumulada no seu íntimo, Ava deu-se conta, excitada com a abordagem dele. Sua boca cerrou-se sobre o bico intumescido do seio, e ela estremeceu quando ele a provou e provocou com a língua. Em seguida veio o deslizar dos dentes e ela gemeu, surpresa e excitada,

o ardor no seu íntimo começando a intensificar-se. Seus quadris se arquearam, mas ele a aquietou. – Desta vez, vamos fazer isto do jeito certo, bella mia – Vito informou, suas feições exoticamente bonitas tensas de determinação. – Certo? – Ava repetiu com incredulidade. – Guarde a sua necessidade controladora para o escritório. – Não sou controlador! – Vito rosnou. Só era. Ava ladeou-lhe o rosto com as

mãos e fitou aqueles ardentes olhos dourados que faziam o coração dela disparar. Ele era lindo. Adorava olhar para ele. Em seguida, Vito voltou a

beijá-la, com aquela maravilhosa boca sensual, e a capacidade de pensar desapareceu. Quando ele começou a beijar e lamber uma trilha pelo corpo dela abaixo, as mãos de Ava fincaram-se nos seus ombros e, subitamente, o simples ato de respirar já era um desafio. Achou que ele poderia estar prestes a fazer... isso, o que não era algo que ela já se imaginara fazendo com ninguém, nem mesmo ele. Fez menção de voltar a puxá-lo para cima, mas ou ele não se tocou, ou deliberadamente se colocou fora do alcance dela.

– Vito... não acho que eu queira isso – Ava murmurou, com esforço. – Vamos experimentar apenas por um minuto – Vito ronronou, fitando-a com

os olhos ardentes e vorazes. – Enquanto você decide. Já corada, Ava pôde sentir-se ficando completamente vermelha, de modo que apenas fechou os olhos, não querendo dar uma de inibida nem cortar o barato dele. As mãos dele deslizaram pelas coxas dela, afastando-as lentamente. Não vou gostar, mas vou tolerar, ela decidiu, antes de ele encostar a língua na parte mais hipersensível do corpo dela, fazendo com que Ava quase desse um salto no ar ante a sensação. Prazer lentamente ardente transformou-se em puro êxtase com incrível velocidade, e ela perdeu o controle, gemendo e erguendo-se da cama ao ser dominada

por um clímax explosivo. Ainda zonza, sentiu-se sem forças quando ele reposicionou-se sobre ela e afundou-se com uma arremetida dura e rápida. Ava jamais sentira algo tão intenso. Já em um estado de tensão elevada, seu corpo descobriu um novo nível de sensibilidade, os movimentos poderosos e acelerados de Vito prontamente voltando a despertar o ardor latejante e a voracidade do desejo.

– Porca miseria! Você me enlouquece! – Vito ofegou. Todos os sentidos dela estavam hiperalertas e ela foi tomada de uma excitação que jamais havia sentido. Não teve fôlego para responder. Os dedos deslizaram pelas costas dele, por sobre

os músculos flexionados, enquanto ela reagia à sensação tão próxima do prazer quanto do tormento, querendo mais, querendo, seu corpo arqueandose, dominado pelos gloriosos picos de prazer ofuscante, e um grito penetrante foi arrancado de si. – Em uma escala de um a dez, isso foi um 20 – Vito sussurrou no seu ouvido. – Sinto muito se fui brusco...

– Eu gostei – Ava murmurou, sentindo-se clemente, ambos os braços ao redor dele, felicidade dançando e saltitando através do seu corpo saciado, como raios de sol em um tedioso dia de inverno. – Você é miraculosa, gioia mia – Vito

falou com a voz rouca e uma expressão quase estupefata nos estonteantes olhos escuros, enquanto curvava-se para lhe plantar um beijo de leve no nariz. As mãos de Ava literalmente o seguiram quando ele se levantou, e, surpresa, ela meio que se sentou na cama quando ele marchou na direção do banheiro. Ele usara preservativo, ela lembrou-se ainda estonteada. Isso era bom? Seus pensamentos estavam tomados por palavras como “fantástico, magnífico, inacreditável”. Ainda assim, lamentou que ele a houvesse deixado tão subitamente. Assim que o pensamento lhe ocorreu, Vito apareceu, pegou o seu roupão e o vestiu. Ava o fitou com surpresa. Ele não ia voltar para a cama?

Talvez estivesse com fome? – Aonde você vai? – Para a cama. Vito meio que se virou para ela, uma das sobrancelhas ligeiramente levantadas, como se não entendendo por que ela estava lhe fazendo uma pergunta tão óbvia. Ava foi tomada de tanta fúria que sentiu-se zonza. – Ah, por hoje chega, não é? Tendo conseguido o que veio buscar, simplesmente vai embora? Vito virou-se por completo, fitando-a com os olhos escuros. – Sempre durmo na minha cama... não é para ser um insulto, nem transmitir

qualquer tipo de mensagem. – Quer dizer que nunca passa a noite com ninguém? – Ava indagou, completamente desconcertada ante a notícia. – Gosto da minha privacidade – Vito admitiu, sem conseguir entender porque ela estava se queixando quando nenhuma outra mulher já o fizera. – Bem, de minha parte poderá ter toda

a privacidade que quiser – Ava esbravejou com ele. – Contudo, permita-me deixar algo bem claro. Se atravessar essa porta, você não volta a cruzá-la, sob qualquer pretexto! Os olhos dele se estreitaram, o rosto retesando-se de surpresa, como se esperaria de um homem desacostumado

a qualquer tipo de rejeição vinda de uma mulher. – Não pode estar falando sério! – É assim que vai ser, Vito. É pegar ou largar. Não vou permitir que me trate como um lanche tarde da noite. Vito abriu a porta e hesitou, fatalmente, mais tarde ele se deu conta. Pensou em acordar ao lado de Ava, e tirou o roupão ali mesmo onde estava. Quando Ava sentiu o colchão afundar-se sob o peso dele, pensou no poder que sexo “miraculoso” tinha sobre os homens, e, mais do que nunca, teve vontade de socá-lo. Ele fora mimado por dinheiro demais e por mulheres ansiosas demais para agradar.

– Será que também espera que durmamos agarradinhos? – Vito perguntou sardonicamente. – Se dá valor à própria vida, fique do seu lado da cama – Ava aconselhou rudemente. O silêncio apossou-se do recinto, silêncio carregado de tensão. Ava arrependeu-se de não ter ficado calada. Teve de se lembrar de que era possível levar um cavalo até a água, contudo, não dava para forçá-lo a beber. Uma situação ainda mais exacerbada quando ele era teimoso como uma mula. Ava não acreditava ser possível um romance sem ao menos um mínimo de afeição. Contudo, a quem estava tentando

enganar? Assim que a festa houvesse acabado, em duas semanas, ele seria história. Como na prisão, precisava aprender a levar um dia de cada vez, mas recusava-se a viver apenas de acordo com as regras dele.

– Não deveria ter perdido a calma com você por causa do quarto de Olly – Vito murmurou na escuridão. – Eu não deveria ter feito nada sem falar com você primeiro – Ava concedeu, relaxando ligeiramente. – Nos meses após o enterro, eu costumava ir até lá e ficar sentado. Por sorte, consegui me forçar a abandonar tal hábito. De modo que não havia por que deixar o quarto idêntico a como era quando ele estava vivo.

– Por que teve de se forçar a não entrar lá? – Ava por fim não conseguiu resistir, e perguntou. – Se lhe dava consolo, não havia mal nenhum.

– Era uma coisa esquisita para se fazer – ele afirmou em um tom que a alertou que ele não queria ser contrariado no tocante a isso. Por receio de ser rejeitada, Ava lutou contra a vontade de abraçá-lo. – Não era esquisito. Era totalmente natural. Ele estava nos seus pensamentos. Não precisava lutar contra essa vontade como se fosse errada? Você tem um tremendo medo de se sentir qualquer emoção, não tem? Mas tudo que fez foi dificultar as coisas para si

mesmo. – Não tenho medo de sentir emoções!

– Vito afirmou com incredulidade. Ava discordou em silêncio. – Não tenho – Vito insistiu, tentando entender por que tinha conversas com ela que jamais tivera com ninguém, ao mesmo tempo em que, sem sucesso, tentava se recordar de momentos emotivos. Ava sorriu e foi dormir.

Capítulo 7

FLORES

SERIAantiquado,

Vito

racionalizou, cinco dias mais tarde, durante uma reunião de diretoria na sua sede em Londres que ele estava achando inacreditavelmente enfadonha. Ainda tinha mais cinco horas de trabalho pela frente antes que pudesse dar o dia por encerrado. Impacientemente, voltou a olhar para o relógio na parede, enquanto nos seus pensamentos distraídos imaginava Ava usando uma sexy lingerie

e deitada na sua cama. Tratou de desconsiderar a fantasia. Ao contrário da maioria de suas ex-amantes, ela subiria nas tamancas se ele lhe desse um presente desses. Eu sou o quê? Seu brinquedinho sexual? Não, lingerie estava definitivamente fora de questão. O que dar para uma mulher que agia como se os milhões dele não existissem? Chocolate? Maçante. Previsível. Do que ela precisava? Roupas. Mas Ava também não ia gostar de vê-lo comprando roupas para ela. Ele cerrou os dentes. Dio mio.

– Sr. Barbieri...? Vito fitou o interlocutor com um vazio nos pensamentos que jamais experimentara em um ambiente de

trabalho. Será que estava doente? Talvez gripado, ou houvesse se permitido ficar cansado demais? É, essa era a resposta. Sexo demais, pouco descanso, decidiu. Mas não estava disposto a mudar nada... não com Ava morando sob o seu teto. Agilmente ficando de pé, pediu licença e explicou que havia outro lugar onde tinha de estar. NO MESMOdia, Ava tomou a sua decisão durante o café da manhã. Iria ver o pai. Era sábado, e o homem mais velho gostava de passar as manhãs em casa, lendo o jornal.

Admitia tristemente que o medo da rejeição a mantivera longe das portas do antigo lar da família. Seu julgamento, amplamente divulgado nos jornais, envergonharam a família, e o pai, que trabalhava no departamento de contabilidade de Vito, ficara convencido de que o papel dela na morte de Olly garantira que ele sempre fosse esquecido nas promoções. Sendo assim, não estava esperando ser recebida com nenhum tapete vermelho, mas queria se desculpar e descobrir se havia alguma chance de restabelecer algum vínculo, por menor que fosse, com os parentes. A última semana for incrivelmente movimentada, mas todos os preparativos

já estavam encaminhados, de modo que Ava já começara a decorar a casa. Tentava não pensar muito em Vito enquanto trabalhava. Afinal, partiria em menos de uma semana, e o romance teria chegado ao fim. Isso não lhe partiria o coração, procurou se convencer, apesar do tremor das mãos. Se desse vazão aos sentimentos tolos, estaria cavando a própria cova. Nenhum homem podia ter tanto poder sobre Ava, pois, de acordo com a sua experiência, com a exceção de Olly, as pessoas que amava sempre a haviam magoado seriamente. Não, assim como Vito não queria saber de casamentos, Ava não queria saber de amor. Não tinha como negar que havia um

vínculo com ele. Vito insistia em convidá-la para sair para jantar ou coisas do gênero, e ela vinha com desculpas como que não tinha nada para usar que não os constrangeria em público, mas a verdade é que não queria que as pessoas soubessem que estavam envolvidos. Era melhor ficar na moita, pois não tinha desejo de atrair controvérsia nem ver Vito indignado ou zangado com pessoas que ficariam horrorizadas ao descobrir que ele fora para a cama com a mulher responsável pela morte do irmão. A vida era assim, e Ava aprendera a não nadar contra a maré. Vito e ela? Não passava de sexo,

procurava se convencer cada vez que estava com ele. Não conseguiam manter as mãos longes um do outro, e saber que tinham tão pouco tempo juntos levava a intensidade da coisa toda a um novo patamar. Ele passava cada minuto que estava em casa com ela, e, embora, como de costume, estivesse trabalhando em um sábado, gradativamente começara a encerar o expediente cada vez mais cedo. Sendo os dois pessoas de gênio forte, discutiam pelo menos uma vez por dia. Mas ele passava todas as noites com ela, acordando-a para tomar café da manhã com ele ao nascer do sol, e marchava pelo castelo aos berros se Ava não estivesse imediatamente disponível quando ele chegasse em casa.

Sabia que ele gostava dela e que se preocupava com o que acontecia com ela. Contudo, tirando as incontroláveis sessões de sexo que aconteciam sempre que chegavam perto um do outro, Ava estava ciente de que não passava disso. Com seis dias faltando para o fim do romance, ela acreditava estar lidando com a perspectiva da separação com lógica e moderação, em vez da velha obsessão. Afinal de contas, a paixão obsessiva por Vito certa vez já não fizera com que ela saísse dirigindo descontroladamente, com consequências trágicas? A bela casa na qual os pais de Ava a haviam criado ficava nos arredores da

aldeia. Embora ficasse a três quilômetros do castelo, Ava caminhou até lá. Damien Skeel recebera ordens para colocar um carro com motorista a disposição dela, mas Ava não queria testemunhas quando fosse proibida de entrar na casa do próprio pai. Inspirando fundo, tocou a campainha. Ficou surpresa quando uma desconhecida abriu a porta, e ficou triste ao imaginar que o pai deveria ter se mudado da casa após a morte da mãe.

– Estou procurando Thomas Fitzgerald – disse para mulher loura de meia-idade. – Ele se mudou? – Sou esposa dele. A quem devo anunciar? – A mulher respondeu. Os olhos de Ava se arregalaram, e ela

tentou disfarçar a surpresa por ter descoberto que o pai se casara novamente. – Sou a filha caçula dele, Ava. – Ah. – O sorriso cordial desapareceu, e a mulher mais velha apressou-se em virar a cabeça, gritando.

– É... Ava! O pai apareceu no corredor que levava à cozinha, um homem alto e grisalho com frios olhos azuis. – Eu cuidarei disto, Janet. Ava... é melhor você entrar – ele falou sem qualquer vestígio de ternura. Contudo, o convite para adentrar o seu antigo lar fora mais do que Ava estivera esperando, após ter a sua

existência ignorada por três longos anos. O homem mais velho a conduziu até a sala de jantar, onde se posicionou na extremidade oposta da mesa, táticas de distanciamento às quais estava acostumada e que pareciam assustadoramente familiares.

– Suponho que queira saber o que estou fazendo aqui? – Ava falou. – Se está querendo dinheiro, veio ao lugar errado – Thomas Fitzgerald friamente informou. – Não é por isso que eu vim, pai. Cumpri a minha pena. Isso ficou para trás agora, e, embora eu saiba que causei muitos problemas para a família, eu... Ava empalideceu, esforçando-se para

encontrar as palavras certas para exprimir os sentimentos, diante de expressão fria de desgosto do pai. – Suponho que fosse inevitável que, mais cedo ou mais tarde, desse as caras por aqui – ele declarou, com secura. – Para o bem de ambos, vou ser breve. Não sou o seu pai e não tenho qualquer obrigação para com você.

Ava sentiu como se um buraco houvesse se aberto no chão, sob os seus pés. – Não é... meu pai? – repetiu com incredulidade. – Como assim? – Enquanto a sua mãe estava viva, era segredo, mas, agora, graças a Deus, não há mais necessidade disso – ele falou,

com certa satisfação. – Minha esposa e suas meias-irmãs estão sabendo que você não é um membro de verdade desta família. Sua mãe, Gemma, dormiu uma noite com algum sujeito e engravidou dele. E, não, não sei nada a respeito dele e nem a sua mãe sabia, que... como de costume... estava bêbada.

– Dormiu com um sujeito? – Ava repetiu, empalidecendo e sentindose nauseada. – É, é sórdido, mas não tenho nada a ver com isso. Estou lhe contando a verdade como a sua mãe, por fim, me contou – Thomas Fitzgerald prosseguiu com evidente desgosto. – O seu DNA foi testado quando você tinha 7 anos de idade, confirmando as minhas suspeitas.

Você não é minha filha. – Mas ninguém jamais disse nada, sequer sugeriu que... – Ava começou a dizer, hesitantemente, tentando e falhando em colocar os pensamentos em ordem e compreender o pesadelo no qual parecia ter mergulhado. – Por que não se divorciou de minha mãe? – De que teria adiantado um divórcio? – O homem mais velho perguntou, sequer tentando disfarçar a sua amargura. – Ela era um alcoólatra e eu tinha duas filhas, que eu não podia confiar nela para criar sozinha, e eu tinha a minha carreira. Também não queria ninguém fofocando pelas minhas costas. Apesar de você, tentei fazer o

casamento dar certo. Sou um homem decente. Eu coloquei comida na sua mesa e roupas no seu corpo, eu a eduquei, fiz tudo que se espera de um pai... Como se um véu houvesse caído dos olhos de Ava, ela viu a infância e a adolescência de maneira diferente. – Não, não fez. Você nunca gostou de mim. – E como é que eu deveria gostar de você? – Ele gritou, subitamente tomado de ira. – Uma bastarda de um desconhecido qualquer fingindo ser minha filha? Era intolerável que eu tivesse sido forçado a fingir, contudo, eu era responsável pela sua mãe, pois me casei com ela. Não havia mais ninguém

para cuidar dela, e eu tinha de pensar nas necessidades de Gina e Bella. Cumpri o meu dever para com vocês, mas foi muito mais do que a sua mãe infeliz merecia! A porta atrás de Ava abriu-se. – Thomas, acho que você já disse o bastante – uma voz feminina disse baixinho. – Não é culpa da menina que você tenha tido de aturar tanto. Era a mulher dele, Janet, a madrasta de Ava... não, não era sua madrasta. Ela não tinha nenhum parentesco com aquelas duas pessoas.

– É melhor eu ir. – Talvez seja melhor mesmo, meu bem. Você lembra Thomas de uma parte

muito infeliz da vida dele – Janet informou Ava em tom de reprovação. Ava marchou para fora da casa pensando que devia ter sofrido uma concussão, pois não conseguia pensar direito. O segredo fora revelado. Enfim sabia por que o pai jamais gostara dela e a mãe preferira as irmãs dela. Evidentemente era a “bastarda de um desconhecido qualquer”, não a filha legítima do primeiro casamento de Thomas Fitzgerald, sem falar em ser o ofensivo lembrete constante da infidelidade da esposa deste. O desdém do homem não era mais mistério. Ela não fazia parte da família e mal tinha direito ao nome Fitzgerald. Durante toda a sua vida fora a própria patinha feia, e

agora sabia que não havia absolutamente nada que pudesse fazer a respeito. Nada de pazes a serem feitas nem pontes a serem reerguidas. A reunião familiar pela qual rezara não passara de um tolo sonho infantil.

VITO RETORNOUpara o castelo no seu helicóptero, avisou para o piloto que estaria voltando para Londres em uma hora e marchou do heliporto na direção da porta da frente da mansão. Estranhou ao encontrar Damien Skeel apoiando no capô da sua caminhonete, estacionada diante da casa. – Será que sabe onde Ava está? –

Damien perguntou. – Fiquei de buscá-la às 13 horas, mas aparentemente ela saiu e deve ter se esquecido do nosso combinado. – Para onde ia levá-la? – Para escolher a árvore de Natal para o castelo, no bosque da propriedade. E eu estava torcendo para descolar um almoço – o administrador da propriedade informou com um sorriso. Vito notou que Ava ainda estava fazendo segredo do envolvimento deles. Ele inspirou fundo. – Escolherei a árvore com ela amanhã

– escutou-se anunciar. O homem louro franziu a testa de surpresa, mas assentiu.

– Se a vir, diga que lamento termos nos desencontrado. Não lamenta tanto quando poderia têlo feito caso não tivessem se desencontrado, Vito refletiu com os dentes cerrados. Tinha horas em que Ava o enfurecia, e aquela era uma delas. Será que se sentia atraída por Skeel? Era por isso que se recusava a admitir uma relação com Vito? Suas amantes normalmente se gabavam a toda chance de compartilharem a cama com ele. Mas não Ava. Ava não impunha condições e nem estabelecia limites. Pensando bem, ficara surpreso quando ela o convidara para compartilhar a sua cama. Ela jamais lhe perguntara que horas ele

chegaria em casa, e não ligava para ele, nem mandava mensagens de texto. E isso tudo a tornava cem por cento perfeita para um sujeito como ele. Sem exigências, sem uma veia mesquinha, sem agendas ocultas. O que você via em Ava era o que você levava, e Vito sabia como isso era uma qualidade rara. Avistou movimento na estrada de acesso à casa, e viu que era Ava. A pé e vestida como uma mendiga, com o seu jeans velho e jaqueta horrorosa, contudo, mesmo à distância, nada era capaz de esconder a sua graça natural ou a delicada beleza de seus traços contrastando com o cabelo cor de cobre. Por ele, estavam para ter a mãe e o pai de todos os encontros sexuais. Era um

bocado focado e persistente quando queria alguma coisa. Ele derrubaria qualquer reserva que ela pudesse ter.

– Ava... – Vito a cumprimentou da escadaria que levava à entrada do castelo. Perdida em pensamentos, Ava olhou para ele e, surpresa, piscou os olhos. Já estava na hora? Ainda havia luz do dia. Ele nunca estava em casa antes do anoitecer. Como um vampiro, só costumava ser visto à noite. Por um breve instante, o charme de Vito a arrancou de seus pensamentos tristes. No instante em que o via, ela ansiava por tocá-lo, contudo, sempre reprimira a vontade, determinada a não lhe

alimentar o ego. Vito empertigou os ombros largos e ofereceu um daqueles sorrisos ofuscantes que, normalmente, a teria deixado desconfiada. – Vamos fazer compras... Ela o fitou confusa, pois não fazia a menor ideia do que ele estava falando, e não estava com humor para exigir explicações. Tudo parecia tão distante dela, que parecia estar cercada por uma muralha de vidro. – E, já que está aqui, podemos sair agora mesmo – Vito sugeriu, descendo os degraus e tomando-lhe a mão.

– Não... alguém poderá ver... – Não é como se eu fosse traçá-la no gramado em frente à casa! – Vito

retrucou, tomado de fúria. – Não seja rude – Ava censurou. Vito bufou. Pensou em todos os anos que passara com mulheres normais. Mulheres gananciosas, vaidosas e indignas de confiança, que sequer teriam sonhado em rejeitá-lo. E, então, havia Ava. Ele a envolveu com os braços, aprisionando-a. – O que está fazendo? – Ela resmungou, estranhamente distraída. Vito aproveitou-se da situação. Jamais deixava de aproveitar oportunidades quando estas apareciam, pois não era comum para Ava abaixar as defesas. Ele a puxou para si, de tal modo que os seus pés abandonaram o

chão, e, com devorador erotismo, cobriulhe a boca esmagadoramente com a sua própria. A explosão de sensações atravessou as suas barreiras e ela piscou estupefatamente os olhos, subitamente arrancada à força de seu estado de choque. Sua língua enroscou-se na dela, e um arrepio indefeso atravessou-lhe o corpo. Ele era tão incrivelmente sexy, Ava pensou debilmente, deixando-se levar pelo intumescer latejante dos bicos dos seios, e do pulsar ardente entre as coxas. Bastava Vito tocá-la para ela querer acorrentá-lo à cama. Ele esfregouse nela, deixando que Ava soubesse que estava igualmente excitado, e foi então que ela se recordou que ainda estava em campo aberto, e

libertou-se dele. – Não, não quero ser vista fazendo isto com você! Já estavam na metade do caminho até o helicóptero. Vito decidiu não discutir, embora no que isso o ajudara em se tratando de Harvey? Harvey continuava lhe dando a pata e cutucando-o com expectativa. Era insistente, desesperado para ser notado, e agora fora sentenciado a passar as noites dormindo no andar de baixo, e, sempre que Vito estava em casa, seguia-o por todo o castelo. – Ele gosta de você – Ava afirmara, mas não era uma honra que Vito estivesse procurando.

– Aonde vamos? – Ava perguntou, subitamente. – Para Londres... fazer compras – Vito respondeu, casualmente, perguntando-se por que ela não estaria oferecendo mais resistência. – De helicóptero? Sua cabeça chegava a doer de tanta força que ela estava fazendo para manter as emoções sob controle.

– Assim teremos mais tempo. – Não estou com humor para fazer isso. – Amanhã é seu aniversário. É o meu agrado – Vito declarou. Como ele provavelmente havia organizado isto para lhe comprar um

presente, ela achou que indelicadeza bancar a difícil.

seria

– Há algo errado? Você está tão calada? – Vito perguntou ao inclinar-se para afivelar o cinto de segurança dela.

Ava forçou um sorriso, tentando comportar-se com naturalidade. – Não, não há nada de errado. O helicóptero ergueu-se ruidosamente no ar. Nada além de força física teria arrancado a verdade de Ava sobre o que ela descobrira com Thomas Fitzgerald. Além da realidade constrangedora de que o homem mais velho ainda trabalhava para Vito, uma revelação tão particular e dolorosa não tinha lugar em um relacionamento casual. Vito e ela não eram assim, e ela se adaptaria a

sórdida descoberta de que jamais saberia quem era o pai biológico sem a ajuda de ninguém. Contudo, uma viagem de compras...? Estranho, pensou. Sempre presumira que a maioria dos homens não gostavam de fazer compras, mas, pelo menos o passeio seria uma distração útil do fardo dos pensamentos infelizes. Vito pedira para uma compradora pessoal encontrá-los na Harrods. Lançou um olhar indagador para Ava, quando a mulher tentou puxar conversa sobre o que ela gostava e desgostava, mas as respostas de Ava foram vagas, sua falta de interesse evidente. Determinado a tirar o melhor proveito da ocasião, Vito

intrometeu-se, escolhendo as suas cores favoritas, assentindo e sacudindo a cabeça quando roupas eram mostradas, e, livre da ameaça de Ava, anunciou que tudo era necessário. Com a animação de um manequim de vitrine, Ava experimentou várias roupas. As roupas foram se acumulando com tanta velocidade que a profissional da loja teve de chamar duas colegas para ajudar, mas Ava parecia continuar no seu próprio mundo. Vito conteve a irritação e decidiu que, ao contrário da maioria das mulheres, ela não tinha muito interesse no que usava. Bolsas e sapatos foram acrescentados à pilha, junto com um lindíssimo longo de veludo verde, que Vito supôs que seria

perfeito para a festa. No departamento de lingerie, determinado a ver o pijama de algodão pelas costas, olhou para Ava para finalmente participar na escolha das peças, e ficou atônito de ver lágrimas silenciosas rolando pelas faces dela. Ela parecia não ter notado que estava chorando em público...

Capítulo 8

A

PEDIDO DEVito foram levados até uma

sala reservada e a equipe ajudando-os prometeu trazer uma xícara de chá.

Com as mãos nos ombros esbeltos, Vito acomodou Ava em uma poltrona, como se ela fosse sonâmbula. Pegou um punhado de lenços de papel da caixa sobre a mesa e os empurrou para dentro da mão cerrada dela. – Per l’amor di Dio... o que houve? – exigiu saber, olhando para ela.

Ava enxugou os olhos e o rosto com os lenços de papel. – Nada. Eu sinto muito... – Não, sou eu quem sente muito, por tê-la arrastado até aqui quando há algo tão obviamente errado. Deveria ter notado que você estava agindo de modo estranho. Isto era para ser um agrado, não um teste de resistência que a aflija, bella mia... Ava ficou olhando fixo para as mãos. – Eu realmente sinto muito... como deve ter sido constrangedor para você que eu me comportasse dessa maneira em público. Fico surpresa que não tenha me deixado e ido embora. Vito agachou-se diante dela,

erguendo-lhe o queixo de modo a poder fitá-la nos injetados olhos azuis.

– Será que me considera tamanho canalha? Admito uma fração de segundos de um pânico muito masculino, mas é só. Ava olhou para aqueles olhos dourados reluzindo de frustração. Sabia que ele detestava não estar a par das coisas. – Receio que não seja algo sobre o qual eu possa falar. Mas estou bem, agora. A pressão no meu íntimo subiu demais, e nem me dei conta de que estava chorando. – Está grávida? – Vito indagou abruptamente. A pergunta pegou Ava de surpresa, e

uma risada involuntária escapou de sua garganta. Evidentemente, aquele era o maior receio dele. – Claro que não. Só estamos juntos há uma semana. Como eu poderia estar grávida? – Ela sussurrou, escutando uma batida na porta. – Ou mesmo saber que estou? – Acontece – Vito retrucou, pensando em Olly que o pai jurava que fora concebido após apenas uma única noite.

Ele abriu a porta para pegar o chá que fora trazido e o pousou na mesa ao lado dela. – Fomos cautelosos. Não é esse o problema – Ava afirmou, tomando um gole da bebida revigorante.

– Então, qual é o problema? – Nada que tenha a ver com você ou a nossa relação. E já estou bem. – Você está longe de estar bem. Vamos terminar aqui e ir embora, mas não pense que isto acaba aqui. Tenho de saber o que há de errado. O rosto dela contorceu-se. – Não temos esse tipo de relação. – E que tipo de relação nós temos?

– Divertida, casual – ela respondeu, ficando de pé. Seu olhar ficou sombrio. – Eu posso lidar com problemas. – Não com este, e por que haveria de querer fazê-lo? Não é como se isto fosse o romance do século, nem sério, nem

nada! Vito estremeceu. – E agora está ofendido porque eu não deveria ser tão brusca. Talvez queira se despedir de mim agora mesmo! – Ava completou, em tom zangado.

– Che cosa hai? Qual é o problema com você? – Estou lhe oferecendo uma saída. – Cale-se – Vito sussurrou. Ava empertigou-se. – O que foi que disse? – exigiu saber. – Calada! – Vito retrucou com inconfundível selvageria. – Deixe-me lhe dizer o que vamos fazer. Vamos terminar as compras e vamos embora. Ava entreabriu os lábios, pronta para desferir outro voleio de agressões

furiosas, que haviam surgido do nada para lhe alimentar o mau humor. Sem aviso, foi tomada de ansiedade e deu-se conta de que, no fundo estava tentando arrumar um jeito de não ficar com ele pelo que restava da semana. Para o seu horror percebeu que não conseguia aceitar tal perspectiva, encarar a ideia de se despedir dele então. Isso a chocou o bastante para lhe calar a boca, contendo a língua perigosamente provocante. O que diabos havia de errado com ela? Que diferença fazia esta semana ou a semana seguinte? Mas a ameaça de separação de Vito a encheu de tanto medo que ela não conseguiu responder à própria pergunta.

– Quando tivermos terminado, eu a levarei direto para o castelo – Vito declarou. Olhou-se no espelho e viu que parecia mais uma adolescente molambenta do que uma mulher adulta, com o seu jeans velho e a jaqueta. Ele tinha de estar envergonhada de andar por aí com uma mulher tão malvestida. O agrado pelo seu aniversário? Ela havia atirado a generosidade dele de volta na sua cara e estragado o passeio.

Disfarçando a surpresa, Vito observou de uma distância discreta quando Ava selecionou lingerie. O que diabos estava se passando com ela? Duvidou que algum dia seria capaz de

entendê-la. Imaginou se sequer deveria, pois sempre pulara fora de qualquer relação ao menor sinal de complicações. Mas ela nunca agira daquele modo com ele antes. No provador, Ava olhou com incredulidade para as etiquetas das peças que trouxera consigo, perguntando-se se ele não seria insano por gastar tanto dinheiro com ela quando tinham apenas mais uma semana juntos. Contudo, poderia ser uma boa semana, como a primeira fora, se ao menos ela conseguisse parar de pensar no fim que viria com ela. Sorriu ao experimentar um vestido. Ele gostava de vestidos. Cansara de dizer que adorava as pernas dela! E o

traseiro, e os seios... só não gostava dela! Os olhos de Ava arderam. Como poderia culpá-lo? O irmão estava morto por causa dela. O que tinha com Vito agora era o máximo que já poderiam ter, pois ele jamais seria capaz de transpor tal barreira entre eles. Os olhos de Vito não foram os únicos olhos masculinos a se voltarem para ela quando Ava reapareceu com um vestido justo e saltos altos.

– Posso agarrá-la na limusine? – Vito rosnou, com os olhos dourados fixos no rosto dela. Ava riu. Sabia que estava bonita. Na realidade, jamais soubera que poderia ficar tão bonita com uma roupa nova, e

sabia que devia isso a ele e à vendedora solícita. – Não – respondeu, tentando reprimir

a lembrança de Thomas Fitzgerald, de sua mãe e da infância miserável. Ela superaria tudo. Adaptar-se-ia a nova realidade sobre si mesma, assim como se adaptara a tantas outras coisas.

Tendo deixado a loja, a limusine já abarrotada de caixas e sacolas, Vito passou um dos braços ao redor das costas dela. Subitamente, um homem chamou o nome de Vito, que deteve-se, surpreso. Um clarão os cegou e um homem com uma câmera sorriu para eles antes de desaparecer em meio à multidão. – Minha nossa, por que ele queria

tirar uma foto nossa? – Ava perguntou, quando Vito a colocou no carro.

– Deve ser paparazzi. – Mas o incidente deixou Vito intranquilo, pois não estava acostumado a esse tipo de intrusão da imprensa na sua vida. – Não imagino por que ele haveria de querer uma foto nossa. – Ele sabia o seu nome. Você deve receber muita atenção desse tipo – Ava presumiu. – Normalmente, só nos periódicos de negócios, ou quando tenho uma celebridade ao meu lado. Sou uma pessoa muito privada. Não faço ideia de qual possa ser o interesse dele. – Não pode ter sido eu.

– Bem, você está mesmo estonteante. Ela corou, sentindo-se tremendamente

vulnerável com aquelas roupas chiques.

– Aonde vamos agora? – Você está estonteante. Continuarei repetindo isso até que acredite, bella mia. Ava o ignorou. Já recebera outros elogios ema sua vida, contudo, jamais soubera como lidar com eles. No fundo, sempre achara que só falavam essas coisas porque era o que achavam que as mulheres queriam escutar, e sempre detestara insinceridade.

– Eu originalmente havia planejado passar a noite no meu apartamento na cidade.

– Não sabia que tinha um. – É útil quando chego tarde de uma viagem ao exterior ou quando trabalho até tarde. Contudo, você não está com a menor vontade de sair para jantar ou para uma boate, está?

– Estou com a função estragaprazeres ligada a toda – Ava admitiu com uma careta. – Sinto muito. Eu só queria ir para... – Casa – Vito completou. – Quando situações mudam, eu me adapto rapidamente. Ela apertou a jaqueta no colo em protesto silencioso. A casa dele, não a dela. A localidade não tinha mais nada a oferecer agora. Não possuía mais uma

sede. E o que mudara? Ava perguntouse irritadamente, zangada por ainda sentir-se tão magoada e sozinha. As pessoas que, até o início daquele dia, acreditara ser a sua família haviam deixado claro que nada mais queriam ter a ver com ela. Sendo assim, não havia por que se sentir tão arrasada. Estudando a tensão estampada no seu rosto, Vito teve vontade de sacudir Ava como se ela fosse um cofrinho do qual se quisesse extrair a última moedinha. O que havia de errado com a abordagem tradicional de lhe dizer qual era o problema, para que ele pudesse resolvêlo? Isso resolveria as coisas e ela poderia voltar ao normal e parar de ser educada e calada. Talvez devesse ter

permitido que ela desse o fora nele. Jamais fora dispensado. Seria por isso que ainda estava com ela, apesar de ela estar sendo uma dor de cabeça? Ela estava mexendo com ele. Sabia que ela estava fazendo isso, mais ainda não descobrira como. O sol estava se pondo quando Ava começou a subir os degraus que levavam à porta da frente de Bolderwood Castle. Assim que cruzou a porta da frente, viuse envolta por um senso de segurança ridiculamente tranquilizante. A lareira estava acesa lançando sombras convidativas sobre os enfeites e sobre os castiçais de vidro sobre a cornija. Parecia ao mesmo tempo lindo e

dolorosamente familiar. Ela lembrou-se de assar castanhas no fogo ao lado de Olly, rindo enquanto ele desafinadamente cantava canções natalinas. Enquanto estava perdida em pensamentos, Harvey passou por ela e, com entusiasmo, saltou para cumprimentar Vito primeiro. Ava observou a cena sem fazer comentários, já havendo aceitado o fato de que Harvey era, no fundo, um cachorro de homem, pois assim que Vito se tornara uma figura regular na vida de Harvey, o cachorro se apegou fortemente a ele.

– Não venha me encher de pelos – Vito alertou o cão, acariciando-lhe a cabeça e mandando-o embora, mas Harvey era um animal carente e insistia

em receber mais. – Ele não solta pelos... acho que é o poodle nele. – Poodle? – Vito repetiu incredulamente, examinando Harvey, que era um animal grande pelo padrão que fosse, e de aparência infame com as orelhas caídas e o malcuidado pelo encaracolado. – Poodles não costumam ser pequeninos e fofos?

– Também existem grandes, mas Harvey é um vira-lata. Harvey olhou para Vito com os arredondados olhos suplicantes, voltando a cutucar-lhe a coxa. Vito suspirou pesadamente. – Tudo bem. Ele pode ficar.

Pega de surpresa, Ava olhou para ele.

– De vez... aqui? Está falando sério?

– Não teria dito nada se não estivesse. Com um gritinho de alegria, Ava atirouse nos braços de Vito, abraçando-lhe apertadamente o pescoço.

– Não vai se arrepender, Vito. Ele é muito leal e carinhoso e o protegerá de quem quer que o ameace.

Surpreso com a transformação que estava presenciando, Vito fitoulhe o rosto de fada. – Ninguém jamais me ameaçou. – Ele vai querer dormir ao lado da sua cama. –

Essa

é

uma

característica

indesejável, Ava. – Mas ele envolveulhe a cintura com os braços, puxandoa para si, e inclinou-se para roubar um beijo apaixonado, notando que os brilhantes olhos azuis estavam praticamente desconsertados pela investida inesperada. – É claro que você pode dormir ao lado da minha cama sempre que quiser... mas prefiro que esteja nela, gioia mia. Naquele instante, ser querida foi uma sensação inacreditavelmente maravilhosa para as emoções castigadas de Ava, e, em resposta, sua própria voracidade a consumiu em uma enorme enchente gananciosa. Enquanto Vito brincava com o seu generoso e macio lábio inferior, provocando, acariciando

o seu delicado interior, ela inclinou a cabeça para trás, desavergonhadamente convidando-o para mais. Com um rosnado de apreciação, ele curvou as mãos enormes ao redor das nádegas dela e a ergueu de encontro a si, deixando-a a par da totalidade de sua ereção.

– Cama... agora – Vito sussurrou de encontro à sua boca, carregando-a escadas acima. – Não consigo esperar. Segura nos braços dele, Ava não pôde deixar de se perguntar quando a atração entre eles se tornara tão poderosa que o seu corpo simplesmente reagia por conta própria, sem o conhecimento dela, os bicos dos seios latejando de excitação, o lugar secreto no seu âmago tão

intensamente quente. Não conseguia mais controlar a urgência desesperada e o desejo que a consumiam viva de dentro para fora. Ele a depositou na cama, onde ela arrancou a jaqueta, chutou longe os sapatos de saltos altos e despiu o vestido como uma mulher fácil desprovida de qualquer vergonha, ansiosa por ir de encontro ao seu destino. Postado diante dela, Vito despiu-se, interrompendo-se apenas quando estava nu, uma versão bronzeada e musculosa de perfeição masculina, totalmente desinibido com a ereção urgente. Ele curvou-se sobre ela, esmagando e provando a sua boca sedutora, a língua explorando fundo, intensificando o seu anseio. E, enquanto

isso, ele estava terminando de despila, retirando com as mãos hábeis a sua delicada roupa de baixo nova. Dedos compridos brincavam com os botões rosados dos seios, fazendo-a arquejar e apartar as coxas esbeltas. – Você é tão sexy – ele gemeu de encontro à boca sensível, quando a ergueu de encontro a si, a coluna grossa e comprida de sua ereção quente de encontro à barriga dela. – Jamais quis tanto uma mulher... estou em chamas.

Ele a colocou de joelhos na cama, diante de si, inclinando-se para estimular o botãozinho insuportavelmente sensível no seu íntimo, uma lamúria angustiada sendo

arrancada de sua garganta apertada. Sua respiração estava ofegante, o corpo todo tão tenso de expectativa que chegava a doer. Ele a acariciou, e ela estremeceu, hipersensível ao toque dele. – Você está tão pronta para mim, bella mia. Isso realmente me incendeia – Vito rosnou no ouvido dela, afastando-lhe ainda mais as coxas, suas mãos deslizando para cima e para baixo na sua espinha delgada, descendo em seguida para massagear os botões intumescidos dos seios.

– Por favor... – Ela gemeu, enlouquecida de impaciência, girando a cabeça, e vislumbrando os ardentes olhos dourados fixos nela. Com as mãos firmes nos quadris dela,

Vito arremeteu para dentro dela, dura e profundamente, e gemeu com uma satisfação primordial. Os músculos internos dela o agarraram, e uma onda de choque de inacreditáveis sensações se apoderou dela. Ava jogou a cabeça para trás e gemeu. Enquanto ele afundava nela, pura excitação fez o seu coração disparar. Ela estremecia, insanamente receptiva ao seu domínio, para depois choramingar quando as devastadoras ondas de prazer apoderaram-se dela, erguendo-a cada vez mais alto até alcançar o seu apogeu. Quando Vito arremeteu uma última vez para dentro dela, com um último poderoso girar dos quadris, e um

selvagem grito de alívio, Ava foi estilhaçada pela intensidade do próprio clímax. Um grito de êxtase escapou de seus lábios e ela deslizou para frente, repousando sobre a barriga, todas as suas forças esgotadas. – Sua paixão está à altura da minha – Vito sussurrou com satisfação, beijando-lhe com apreciação a nuca, antes de recuar lentamente, libertando-a do peso de seu corpo. De repente, ele ficou imóvel.

Identificando a mudança no ar, Ava virou-se para fitar os atordoados olhos escuros dele. – O que foi? – perguntou, franzindo a testa. Em resposta, Vito usou as poderosas

mãos para voltar a virá-la de barriga para baixo. – Você enfim tirou o emplastro... não fazia ideia de que estivesse escondendo uma tatuagem. Um dedo curioso traçou o contorno da tinta que lhe marcava o quadril esquerdo. Era um coração transpassado por uma flecha, com um nome no centro. O nome dele. Horrorizada ao receber a notícia de que perdera o emplastro, supondo que este devia ter saído no banho daquela manhã sem que ela notasse, Ava virou-se tão rápido que chegou a ficar ofegante. – Você viu? – perguntou, corando de

vergonha. Vito assentiu, lenta e pensativamente. – Como regra, não curto tatuagens, mas acho que posso aceitar a ideia de que você tem o meu nome gravado em um dos quadris – ele falou, com um ligeiro sorriso malicioso repuxando-lhe os lábios. – Quando foi que a fez? O rosto ainda ardendo ante a intensidade do seu constrangimento, Ava sentou-se, abraçando defensivamente os joelhos, e abaixou o olhar. – Eu tinha 18 anos e estava de férias com amigas na Espanha. Foi uma aposta embriagada, e eu topei porque algumas das outras garotas estavam fazendo tatuagens, e, na hora, me pareceu uma boa ideia... mas foi muita, muita tolice.

– Dezoito? – Vito fez uma careta. – Não, não foi uma boa ideia ter um nome marcado no seu corpo a essa idade. – Eu me arrependi muito desde então. Vito abraçou-lhe o corpo tenso, um

sorriso malicioso nos lábios. – Eu gosto. Agrada algo primitivo no meu íntimo, bella mia. – Pretendo economizar para mandar removê-la um dia – Ava murmurou, ignorando o comentário. – Você era muito jovem. – Mas sou crescida agora – Ava retrucou, ansiosa por deixar de lado o assunto, o local no seu quadril ardendo, como se houvesse sido tocado por chama aberta. Ao olhar para o relógio,

exclamou: – Ah, não. Era para eu me encontrar com Damien na hora do almoço, e me esqueci completamente!

– Eu a levarei para escolher a árvore amanhã. Ava ficou boquiaberta. – Você... levará? Ele ergueu a sobrancelha. – Por que não? – Não achei que andar pela relva procurando a melhor árvore fosse muito

a sua cara. Não havendo sido muito fã da natureza, Vito não contestou a avaliação dela. Estendeu-se ao seu lado sobre os lençóis amarrotados e a puxou para si com mãos determinadas. – Não tenho escolha. Damien vem se

esforçando demais para estar com você. Um brilho divertido apareceu nos

olhos azuis dela. – Eu lido com Damien. Você consegue ser muito possessivo. – Não costumo ser do tipo possessivo. Comigo é vem fácil, vai fácil – Vito falou com inabalável confiança, antes de subitamente franzir a testa e olhar aflitamente para baixo. – Não usei preservativo. Ava estremeceu, incapaz de disfarçar o nervosismo, nem a sua surpresa de que ele pudesse ter sido tão descuidado. – Eu também não estava raciocinando direito



suspirou,

relutantemente

admitindo o descontrole da paixão

mútua. Na cabeça, já estava fazendo o cálculo mental do seu período. – Contudo, acho que ficaremos bem. Não

é a época certa. – Qualquer época pode ser a errada em se tratando de concepção – Vito contra-argumentou, o rosto tenso de inquietação. – Accidenti! Fiquei tão excitado que esqueci. Isso jamais havia acontecido comigo. – Sempre há uma primeira vez. Acho que nos safaremos – Ava insistiu Abalado demais pelo deslize, Vito nada disse. Não conseguia acreditar, jamais cometera um erro como esse. Ava tinha alguma coisa que lhe destruía a cautela natural. Contudo, ao contrário dela, não era um eterno otimista, e já

estava pensando: e se ela estivesse grávida? Se acontecesse, lidaria com isso. Afinal, não era nenhum adolescente apavorado. NA MANHÃseguinte, Ava olhou com crescente admiração para a vasta coleção de caixas e sacolas que ocupavam um canto do seu quarto. O que diabos dera em Vito? Ficaria com ele apenas mais uma semana, e ele lhe comparar mais roupas do que poderia fazer uso contínuo em anos! Enquanto guardava as roupas, separou um jeans, um suéter de lã e um casaco bordado, vestiu-se rapidamente e desceu.

– Feliz aniversário! – Vito desejou, de seu lugar diante da lareira, onde o fogo aquecia o aposento. – Tem certeza de que quer ir escolher árvores hoje? Está excepcionalmente frio.

– O cronograma da festa está apertado. Precisa ser hoje para eu poder decorar a árvore amanhã. Ava esforçou-se para não ficar olhando para ele. Afinal, fazia apenas 40 minutos que ele havia deixado o quarto dela para ir tomar uma ducha e trocar de roupas. Agora, que nem ela, Vito estava vestido casualmente, dominando o aposento com a sua poderosa presença máscula. Ele a excitava. Era inegável. Ava precisava

manter a distância, a cabeça fresca e pensar racionalmente. Vito puxou a cadeia para ela. Uma demonstração de cortesia que a deixou tensa. Ele a tratava como se ela precisasse dos seus cuidados e da sua proteção, embora a sua atitude costumasse entrar em choque com o espírito veementemente independente de Ava. Mas ela também reconhecia que, em algum nível, ele estava satisfazendo um anseio secreto no íntimo dela.

– Hoje vamos comer panquecas. Minha governanta me diz que são as suas favoritas. Ava sentiu o arder momentâneo de lágrimas nos seus olhos. Ninguém jamais se importara que fosse o

aniversário dela. Na realidade, não faltaram vezes em que a ocasião fora completamente esquecida. Sabendo o que sabia agora, podia entender por que a mãe às vezes achara mais fácil simplesmente ignorar por completo o aniversário da filha caçula. Receando a onda de emoções instáveis e lembranças desagradáveis, Ava devorou as panquecas com apetite. Ao lado do prato, havia uma pequena caixa de joias quadrada que ela ignorou por medo do que esta poderia conter. Bom Deus, será que ele já não gastara dinheiro o suficiente com ela no passeio de compras? O que mais poderia ter lhe dado?

– Não vai abrir? – Vito por fim insistiu. – Fico constrangida quando gasta dinheiro comigo. – Isso não me custou nada. Intrigada, Ava pegou a caixa e a abriu. Seu coração quase parou quando, no interior da caixa, se deparou com a medalha de ouro de São Cristovão de Olly. – Não pode me dar isto. Em resposta, Vito ficou de pé e, segurando a corrente entre os dedos, afastou-lhe o cabelo do caminho, para colocá-la ao redor do pescoço. – Deveria ter algo para lembrá-la dele, cara mia.

– Obrigada – Ava disse. O presente a comoveu profundamente, pois significava que Vito havia passado do ponto de pensar nela apenas como a assassina do irmão, lembrando-se da amizade profunda e calorosa que já tivera com ele. Seria eternamente grata por isso. – Ela pertencia ao meu pai, e Olly a adorava. Venha – Vito disse, notando que os lábios dela estavam começando a tremer. – Hora de ir escolher a árvore... Ava tratou de engolir as lágrimas que ameaçavam apossar-se dela e, com Harvey, acompanhou Vito até o veículo com tração nas quatro rodas que os aguardava. Vito dirigiu até o bosque nos

fundos da propriedade e desceu para pegar um balde de tinta e um pincel, que seriam usados para marcar a árvore escolhida. O vento gelado cortou as faces ainda úmidas de Ava. Sua mão erguendo-se até a medalhinha de São Cristovão no pescoço. São Cristovão patrono das viagens seguras. Olly não a usara na noite do acidente porque a corrente quebrara. Banindo as lembranças de Natais há muito passados, marchou para dentro do bosque. Deteve-se diante de um pinheiro de cinco metros de altura, com o formato tradicional e fartos galhos densos, que se estendiam até quase o chão.

– Definitivamente é essa. Vito marcou-a com a tinta e, pousando

a lata no chão, mergulhou as mãos geladas nos bolsos do casaco, empertigando-se ante o vento que lhe afastava o cabelo do rosto bonito. – Até que foi rápido. – É clássica... ah, meu Deus, está nevando! Ava correu até uma clareira, erguendo as mãos para o céu enquanto enormes flocos brancos flutuavam lentamente até o chão. Vito ficou observando-a correndo atrás de flocos de neve. Ela não parecia se preocupar em como pareceria fazendo isso, ou quem poderia vir a rir dela. Era tão desinibida ao divertir-se quanto uma criança, sua fascinação

estampada no seu rosto com uma inocência que ela ainda não perdera. Ver tal vulnerabilidade o incomodava, trazia à cabeça o fato de que até mesmo a própria família dela a rejeitara. Foi a lembrança de que a família dela morava pouco adiante na estrada que o levou a dizer: – Acho que está na hora de você visitar a sua família. Ava ficou imóvel. – Já fiz isso – declarou, sem olhar para ele, e deteve-se para pegar o balde de tinta. – Estou congelando... vamos voltar para o carro... – Quando foi que a visitou? – Ontem – ela relutantemente informou.

Vito franziu a testa, fazendo a conexão, seu olhar ficando mais intenso.

– O que diabos houve? – Descobri que não sou filha de Thomas Fitzgerald. Sou bastarda, de pai desconhecido – ela confidenciou, dentes cerrados ao seguir na frente dele para o carro. – Você é... o quê? Vito pousou a mão forte sobre o ombro dela, forçando-a a virar-se para ele. Ava explicou o que descobrira com a maior economia possível de palavras. – De modo que, como pode ver, eu não poderia esperar que nenhum deles me visitasse enquanto estava presa, nem

que se incomodassem comigo agora...

não sou, nem nunca fui parte da família deles, e finalmente acham que não precisam mais esconder isso.

Horrorizado, Vito praguejou baixinho em italiano. – Deveriam ter lhe contado há muito tempo, e jamais de uma maneira tão cruel! – Ninguém foi cruel! – Ava interrompeu, discordando furiosamente.

– Thomas Fitzgerald estava cansado de viver uma mentira, e não há como culpá-lo por isso. – Eu... Os olhos dela brilharam de raiva. – Não é da sua maldita conta! Silenciado pela declaração, Vito

dirigiu em silêncio de volta para o castelo, o ambiente no interior do veículo tenso. Ava inspirava lenta e profundamente, tentando controlar a sua aflição. Não queria lhe contar, mas Vito praticamente a forçara a falar. A última coisa de que precisava ou queria era a piedade dele. Cada fibra do seu ser se revoltava ante a humilhante perspectiva. Eleanor Dobbs os estava aguardando no grande salão. A expressão no rosto da governanta era seria e Ava sentiu-se tomada de ansiedade quando a mulher mais velha estendeu o jornal dobrado para o patrão.

Vito leu a manchete, Barbieri com a assassina do mano, e passou os olhos

pelas fotografias que a acompanhavam. Uma de Ava na época do acidente, outra ao seu lado em Londres no dia anterior. Sua boca bonita afinou-se até tornar-se um risco cerrado, enquanto Ava espiou por sobre o seu ombro para estudar o mesmo artigo e ficou branca como a neve que começava a cair lá fora.

Capítulo 9

EMPURRADA

ATÉa biblioteca, Ava

arrancou o jornal das mãos de Vito para dar uma olhada melhor no artigo. Ela abriu o jornal sobre a escrivaninha e inclinou-se para ler cada palavra enquanto Vito postavase perto da lareira, a expressão do seu rosto tempestuosa. – Isso é terrível – ela murmurou, revoltada. – É o que é – Vito respondeu,

friamente. – A verdade que não podemos mudar. Não posso processar ninguém por dizer a verdade, mas lamento não ter optado por ser mais discreto na sua companhia ontem. O que eu quero saber é de onde conseguiram a dica. Interrogarei os empregados. Ninguém mais sabia que estava aqui. A verdade que não podemos mudar. A declaração ecoou como um anúncio do fim aos ouvidos de Ava, e ela sentiu o coração apertar-se. Era a verdade. Servir uma sentença de prisão não limpara o nome dela, nem reabilitara a sua reputação, nem a tornara menos culpada por ter sido acusada de direção negligente com agravantes. A vida de Olly. Talvez fosse aquela a verdadeira

punição pelo seu crime, jamais ser capaz de esquecer aquele momento. Vito marchou até a porta. – Falarei com os empregados. – Espere... pelo menos uma outra pessoa sabia que eu estava aqui – Ava abruptamente mencionou. – Eu estava visitando a sepultura de Olly e ela me reconheceu. Achei que já a havia visto antes, mas não a conhecia... Katrina Orpington? Vito deteve-se quando já estava a caminho da porta. – Katrina? A enteada do vigário? – É mesmo? Loura? Parece uma modelo? Ela me chamou de assassina e achou ofensivo eu estar no cemitério.

Os olhos dourados de Vito flamejaram. – E você não me avisou? Dio mio, há alguma coisa que esteja disposta a me contar? Ela desviou o olhar, cerrando os lábios macios. – Você não precisa escutar esse tipo de coisa. – Também não preciso ser protegido delas! – Vito rosnou. No silêncio que se seguiu, Ava voltou a passar os olhos pelo jornal. Em uma coisa Vito tinha razão. O artigo não continha mentiras, simplesmente os fatos convidando as pessoas a fazer o próprio julgamento se era apropriado para Vito

estar saindo com a mulher que lhe matou o irmão. Na foto tirada no dia anterior, assustada com o fotógrafo, ela se agarrara a Vito, não deixando margens para dúvidas quanto à intimidade do relacionamento deles. O artigo com certeza despertaria desaprovação. Tomada de culpa, sentiu as faces arderem. Vito fora bom para com ela. Não merecia o constrangimento público por conta dela. Ava jamais deveria ter vindo até Bolderwood. Retornar à cena do crime fora procurar sarna para se coçar. Era doloroso que tivesse cometido o erro, mas era Vito quem teria de pagar o preço.

Tudo que poderia fazer era partir. A solução era simples assim. Línguas

mexeriqueiras se calariam assim que as pessoas se dessem conta de que ela não estava mais por perto. Correu até o quarto lá em cima, pegou a mochila e tratou de guardar nela as roupas que originalmente trouxera para o castelo. Trocou a roupa que ele lhe comprara. Perguntou-se se alguém lhe daria uma carona até a estação de trem local. Verificou a bolsa para ver se tinha o suficiente para a passagem. Não tinha. Não gostava da ideia de pedir a Vito um adiantamento do seu salário, mas não tinha muita escolha. Sem aviso, a porta abriu-se. Vito olhou para a pequena pilha de roupas sobre a cama, para a mochila aberta, e

lançou-lhe um olhar capaz de ter fulminado qualquer mulher mais fraca.

– Madre di Dio! O que diabos está fazendo? Ava esquivou-se da pergunta da pergunta direta. – Jamais deveria ter vindo aqui em primeiro lugar... era pedir problemas! Tentei alertá-lo a respeito disso. Vito fez um gesto brusco com a mão. – Basta de pensamentos derrotistas. Você é mais forte do que isso! – Talvez eu tenha pensado que fosse, mas acabo de me dar conta de que é impossível derrotar as expectativas sociais. Não posso desafiar o sistema e depois me queixar quando fazem de mim um alvo!

– Não quando se é covarde! Os olhos azuis dela se escureceram de fúria. – Não sou covarde! – Está se preparando para dar o fora daqui como um rato abandonando o navio afundando. O que é isso senão covardia? – Não sou covarde! – Ava declarou, irritada com a acusação. – Eu aguento a pressão. – Nesse caso, fique. Ava inspirou fundo. – Não é tão simples. Você não precisa... deste problema agora. Vito empertigou os ombros largos. – Sou perito em superar problemas.

Vito era um sujeito teimoso. A simples ideia de que deveria se curvar aos desejos da sociedade era revoltante para ele. Estava sempre arrogantemente disposto a lutar até a morte para defender o seu direito de fazer o que quisesse. – Olhe – Ava sussurrou. – Todas as providências para a festa já foram tomadas. Deixarei anotações detalhadas

e informação de contato de toda a ajuda externa que contratei. – Eu não dou a mínima para a festa! Sabe o que eu acho do Natal. – Harvey ainda pode ficar? – Ava perguntou, ansiosamente. O animal em questão ganiu e, com o

focinho, cutucou a coxa de Vito, que gemeu ante a pergunta. – Acho que teria de sequestrá-lo para tirá-lo daqui. Ava assentiu mecanicamente, pois sabia que sentiria saudades do companheirismo e da afeição de Harvey. Claro que também sentiria saudades de Vito, mas isso seria para o seu bem. Ajudaria a formar caráter, tentou se convencer. Permitira-se ficar dependente demais de Vito, o que era perigoso. Era melhor dar o fora agora, nos seus próprios termos do que aguardar a inevitável rejeição.

– Tenho de ir. – Não vai a lugar algum – Vito decretou.

– Seja razoável – Ava suplicou. – Não posso ficar depois que aquela história foi publicada nos jornais... como se as pessoas da vizinhança precisassem ser lembradas do que fiz!

– Não me incomoda! – Vito retrucou sem o menor escrúpulo. – Pois a mim, incomoda! – Ava contra-atacou, sua paciência se esgotando, as mão plantadas nos quadris esbeltos para dar ênfase. – E, de qualquer forma, que diferença faz? Então nos despedimos alguns dias mais cedo? De qualquer modo, isto só ia durar duas semanas. Com os olhos cuspindo fogo, Vito agilmente adiantou-se.

– Quem disse? – Eu disse! – Ava bateu no próprio peito com o punho cerrado. – Por acaso acha que sou burra, Vito? Acha que eu não sabia que, assim que a festa estivesse terminada, nós também estaríamos? A expressão do seu rosto ficou ainda mais severa. – Eu nunca disse isso. – É, como se pretendesse vir me visitar regularmente no meu humilde conjugado! – Ava zombou. – Por que não pode, ao menos, ser sincero quanto ao que temos aqui? – Talvez seja por que cada vez que ouso discordar de você, na mesma hora

você me acusa de subterfúgios? – Vito respondeu erguendo sardonicamente a sobrancelha. Ava estava ficando cada vez mais irritada por não conseguir fazê-lo enxergar a verdade. Dançando ao redor das palavras, ele recusava-se a retribuir a sua sinceridade, egoisticamente complicando as coisas quando ela queria tudo acabado e encerrado, com todos os pingos nos is, enquanto ainda tinha forças para lidar com isso. Antes mesmo que houvesse se dado conta do que estava fazendo, ambas as mãos ergueram-se de frustração e bateram no peito largo de Vito.

– Está acabado, Vito. Foi divertido enquanto durou, mas os sinais são

claros. – Não vejo nenhum sinal – Vito respondeu, cerrando as enormes mãos ao redor da cintura dela, erguendo-a no ar, e depositando-a sobre a cama.

– Do que diabos está falando? – Ava esbravejou. – Minha agenda, não a sua... lamento – Vito sussurrou, os olhos dourados reluzindo, quando ajoelhou-se ao pé da enorme cama e começou a aproximar-se novamente dela. – Para mim ainda não acabou. Lamento se isso estraga o seu cronograma rígido. Mas ainda a quero... Sentenciada a imobilidade involuntária ante o seu comportamento extraordinário, Ava ficou a fitá-lo. Ele

estava avançando como um grande felino predador, pronto para atacar. – Pode parar aí mesmo! – Ela avisou, estridentemente. Ela o levava à loucura, Vito teve de admitir. De algum modo, sempre que brigavam, ela trazia emoção para a mesa, a emoção que ele rejeitava e Ava libertava como um maremoto.

– Não vou parar – Vito chegou a quase ronronar. – E você sabe que não sou de desistir... Sua voz sombria e sensual era sedutora, provocando uma resposta profunda que vibrou por toda a extensão tensa de Ava. – Sabe que tenho razão, Vito. – Você sempre acha que tem razão.

Mas, nesta ocasião, está errada. Eu quero você. Uma descarga de desejo percorreu o corpo dela, deixando-a agudamente a par do ardor no seu íntimo feminino. – Só saímos da cama há poucas horas!

– exclamou. – E ainda estou voraz, bella mia – Vito rosnou, emparelhando com ela e abaixando a cabeça. – Isso não refuta a sua teoria de que estou pronto para permitir que vá embora? – Você não me permite fazer nada! E sei muito bem que só estará pronto para me deixar ir quando a decisão for tomada por você. Deslizando os dedos pelo cabelo cor

de cobre, ele curvou-se até o queixo retesado dela. – Você não é fácil, mas ainda assim, ardo por você. Ava desafiadoramente jogou a cabeça para trás. – Pois o meu fogo se apagou. O bom senso cuidou disso. – O que diabos o bem senso tem a ver com isto? – Vito exigiu saber, esmagando a boca de encontro à boca cerrada de Ava, e deliciandose com o modo como os lábios foram se entreabrindo para ele, para a ponta da sua língua. Sua boca devorou a dela e Ava teve vontade de engoli-lo vivo, impelida por um desejo frenético que a apavorou,

quando estava tentando tanto fazê-lo enxergar a razão. Mas não havia sentido naquela devastadora voracidade que se apoderava dela. Suas mãos ergueram-se por vontade própria para ladear-lhe as faces, em seguida mergulhando no seu cabelo sedoso. O perfume inebriante e o gosto de Vito apenas a fizeram querer mais... sempre mais. Quando é que se saciaria? Quando aquela terrível voracidade se aliviaria o suficiente para ela mantê-lo à distância? – Estou de malas prontas, estou indo embora – murmurou obstinadamente quando ele libertou-lhe a boca inchada tempo o suficiente para permitir que ela respirasse novamente.

– Eu a acorrentaria à cabeceira da cama para mantê-la aqui – Vito afirmou sedosamente ao cerrar uma mão possessiva ao redor do seio sob o suéter, o polegar massageando o bico intumescido. – Isso não abre uma gama de interessantes possibilidades?

Ava estremeceu, frissons sexuais percorrendo o seu corpo como relâmpago líquido. – Só se você for um pervertido. – Você gosta quando sou dominador na cama – Vito retrucou com ardente confiança erótica nos olhos estonteantes.

Ava planou as mãos nos ombros dele e empurrou, desequilibrando-o e fazendo com que caísse nos

travesseiros. Um sorriso malicioso iluminou as feições bronzeadas, e ele deu uma gargalhada genuína, puxandoa para cima de si com surpreendente força, para apossar-se novamente da boca de Ava. Ela estremeceu violentamente, não tendo como ignorar a ereção repousando sobre si, e a mão que deslizava sobre a sua barriga trêmula, debaixo do jeans aberto, provocando-a com habilidosa perícia.

– Não se esqueça que sou a favor da igualdade dos sexos – Vito afirmou, despindo-lhe o jeans com mais pressa do que delicadeza. – Eu estou fazendo as malas! – Ava exclamou frustrada, tomada de autodesprezo.

– Mas não vai a lugar algum agora – Vito salientou, livrando-se do jeans com violência e puxando-a de volta para si, duro, ardente e preparado. – Deveríamos ter discutido isto como adultos civilizados... – Você fala demais – Vito afirmou, delicadamente traçando-lhe a abertura com perícia carnal, para, em seguida, tendo testado-lhe a prontidão a julgar pelo gemido angustiado que lhe escapou dos lábios, ele posicionou-se sobre ela e afundou-se com uma primordial exclamação de satisfação, que Ava achou enlouquecedoramente excitante. E rápido assim, o momento de firmar o seu pé passou, e o corpo dela assumiu

o controle, seus quadris se inclinando para aceitar mais dele... e depois mais, e depois, céus, a totalidade pulsante dele levando-a cada vez mais perto do apogeu que jamais pensara em visitar novamente com ele. Depois, o coração de Vito ainda martelando sobre o seu, ela o abraçou com força, adorando o peso e a intimidade de tê-lo tão perto, mal resistindo à vontade de cobri-lo de beijos. Contudo, apesar do corpo estar satisfeito, o cérebro não estava. Quisera fugir por medo de se magoar. Por que haveria de se magoar? Porque tinha sentimentos profundos demais por ele. Estava tão apaixonada por Vito Barbieri quanto uma mulher poderia estar por um

homem. Por tempo demais negara os seus sentimentos, reprimira-os, e, por medo, recusara-se a examiná-los. – E, agora, está pensando demais...

para uma adulta sensata – Vito reprovou, notando o evasivo abaixar dos olhos e cerrar dos lábios. – Isto não é complexo. Estamos em um bom lugar, gioia mia. Não estrague. – Preciso tomar uma ducha – ela falou, teimosamente, voltando a tirar os braços de cima dele. – Você é tão teimosa – Vito queixouse, rolando para o outro lado da cama.

– Não é assim que você gosta? E era mesmo, Vito pensou, observando-a seguir rebolando na

direção do banheiro, e avistando a tatuagem com o nome dele na pele clara, antes que ela desaparecesse de seu campo de visão. Ava lhe ensinara o que era um final de semana, como dar as costas ao trabalho, como sonhar acordado em uma reunião. Era como um trem expresso para um lado da vida que jamais conhecera antes, e que, às vezes, o assustava. Deveria tê-la deixado ir embora, retornar o seu foco para o que importava, para o trabalho, voltar ao...

normal? No entanto, estar com Ava parecia surpreendentemente normal, mesmo quando estavam brigando. O celular ao lado da cama tocou, e ele atendeu. No chuveiro, Ava estava esfregando

as evidências de sua fraqueza libidinosa quando Vito apareceu na porta do banheiro. – Nem aqui eu tenho um pouco de paz? – Ela gritou. – Era Eleanor no telefone. Suas irmãs chegaram para uma visita. Elas estão na sala de estar. Ava ficou paralisada com um misto de surpresa e prazer. – Gina e Bella vieram me ver? – Evidentemente leram o artigo no jornal... ou o seu ex-pai falou com elas. Vista-se bem – Vito aconselhou. – Não vai querer que sintam pena de você.

– Nem que pensem que você se envolveria com uma mulher que não

sabe se vestir direito – Ava retrucou, zombeteiramente. – Eu me envolveria com você independente do que usasse – Vito afirmou com um sorriso sardônico. – Mas provavelmente preferiria que eu não estivesse usando nada – Ava salientou. Especulações cruzando os seus pensamentos, Ava apressadamente examinou a sua extensa coleção de roupas novas. Por que diabos elas haviam vindo vê-la agora? Será que planejavam pedir que ela deixasse a vizinhança para evitar-lhes o constrangimento? Gina casada com um engenheiro e Bella, casada com um advogado, sempre pareceram muito

preocupadas com o que os amigos e vizinhos pudessem pensar da sua mãe e de seus problemas com o álcool. Elegante em um vestido cinza- -claro, Ava prendeu o cabelo ruivo para trás, calçou sapatos de salto alto e desceu as escadas. Estava uma pilha de nervos quando abriu a porta da sala de estar. Vito não estava presente. Gina e Bella, ambas na casa dos 30, eram pequenas, louras e curvilíneas como a falecida mãe, e as duas mulheres ficaram de pé para olhar para ela. Notando a pronunciada falta de semelhança física entre ela e as irmãs, Ava surpreendeu-se de nunca ter lhe passado pela cabeça que pudessem não

ter o mesmo pai. – Espero que não se importe de termos vindo visitá-la – Gina falou, constrangidamente. – Viemos seguindo um impulso após ver aquela foto de você no jornal com Vito Barbieri. Papai não se deu conta de que você estava hospedada aqui no castelo quando o visitou ontem. – Acho que não teria feito diferença para ele se eu tivesse aterrissado em um foguete vindo da lua – Ava declarou, sentando-se na poltrona diante do sofá onde estavam as irmãs. – Estive na casa dele e de Janet por menos de cinco minutos, e, depois de ele falar o que queria, não parecia haver mais nada para ser dito.

– Bem, na verdade, há mais para ser dito – Bella falou, tensamente. – Papai pode ter seus problemas com o fato de que escolheu fingir ser o seu pai todos esses anos, mas, independente do que mamãe possa ter feito, você ainda é nossa irmã, Ava.

– Meia-irmã – Ava retrucou, não conseguindo esquecer as cartas que jamais foram respondidas. – E, vamos ser francas, jamais fomos muito chegadas. – Podemos ter crescido em uma família muito disfuncional – Gina admitiu. – Mas não concordamos com o modo como o papai está se portando agora. Ele tornou tudo mais difícil para

nós três. Exigiu que a mantivéssemos fora de nossas vidas. Prefere agir como se você não existisse. – E, por muito tempo, fizemos a vontade de papai para manter a paz na família – Bella admitiu, tristemente.

– E, às vezes, também usamos a atitude dele para com você como uma desculpa – Gina acrescentou, com uma expressão culpada. – Como, por exemplo, não ir visitá-la quando estava na prisão. Para ser sincera, eu não queria ir a uma prisão e ser avaliada e, depois, revistada como uma criminosa pelo simples privilégio de poder visitá-la. – Certa vez chegamos a ir até os portões da prisão – Bella revelou, com

certo constrangimento. – Visitas na prisão... parecia tão sórdido – Gina confidenciou, com maior franqueza. – E os portões e os guardas eram intimidadores. – Eu entendo – Ava falou, e entendia mesmo. Eleanor Dobbs aliviou um pouco a tensão do ambiente ao chegar trazendo uma bandeja com café e bolo.

– Mamãe escreveu-lhe uma carta, pouco antes de ela morrer – Gina informou, assim que a porta voltara a se fechar atrás da governanta. – Uma... carta? – Foi por isso que reunimos coragem para vir vê-la... para lhe dar a carta –

Bella confessou. – Por que não a enviaram pelo correio? – Ava exigiu saber, tomada de fúria. – Por que ninguém me perguntou se eu queria vê-la antes que ela se fosse? Eu sequer soube que ela estava doente. – Mamãe faleceu um tanto quanto rapidamente – Gina contou para a irmã caçula. – O fígado dela estava um caco. Papai não queria que você fosse informada, e mamãe insistia que não seria capaz de encará-la novamente, sendo assim, não vimos por que informá-la de que ela estava morrendo. Ava assimilou a informação sem comentar. A notícia chocante da morte da mãe viera do nada quando estava na

prisão. Fora totalmente excluída. E, agora, tinha de aceitar uma verdade ainda mais cruel, que, mesmo morrendo, a mãe rejeitara a oportunidade de vê-la uma última vez. – A carta... – sussurrou. Bella fez uma careta. – Nós não a enviamos pelo correio porque sabíamos que nas prisões toda e qualquer correspondência é examinada, e a ideia de isso acontecer com as últimas palavras de mamãe não pareceu certa. Mas nós a trouxemos conosco...

não que ela provavelmente lhe servirá de grande consolo. – Já no final, mamãe não estava muito bem da cabeça. A carta parece mais um

bilhete, e não faz muito sentido. Gina tirou um envelope de dentro da sua linda bolsa de couro e o deslizou por sobre a mesa de centro. – Quer dizer que vocês a leram – Ava concluiu. – Tive de escrevê-la para ela, Ava. Estava fraca demais para segurar a caneta – Bella explicou, pouco à vontade. – É óbvio que ela estava se sentindo muito culpada no tocante a você, e quis que soubesse disso. Com a mão trêmula, Ava pegou o envelope. Ainda achava que as irmãs poderiam ter se esforçado mais para garantir que o envelope chegasse às suas mãos mais cedo, mas nada disse. – Nós a amávamos, mas ela não era

uma mãe normal – Gina comentou. – Nem mesmo uma esposa decente, e todos nós sofremos por isso. Com a atenção fixa no perfil tenso de Ava, Bella fez uma careta e murmurou:

– Deixemos esse assunto para lá por ora. Será que podemos satisfazer a nossa curiosidade e perguntar o que está fazendo morando em Bolderwood Castle? – Estou organizando a festa de Natal para Vito. O resto, meio que simplesmente aconteceu. – O resto? – Gina sondou, delicadamente. – Você costumava ser fissurada por ele. – Eu superei – Ava declarou,

pensando que a proximidade com Vito e uma melhor compreensão dele apenas a haviam alçado a um novo patamar de fissura. – Ora, vamos, Ava. A região toda está falando e você está nos matando aqui – Bela queixou-se. – Pelo amor de Deus entregue o ouro! Quando a porta abriu-se, Ava estava revirando os olhos e, em resposta ao apelo da irmã, dizendo: – Vito não é meu companheiro, nem meu namorado, nem estamos tendo nada sério... ele é apenas meu amante. – Fora do quarto, eu raramente sei em que pé estou com a sua irmã! – Vito brincou, fluidamente cruzando a sala para cumprimentar as irmãs dela, como

se fosse a coisa mais natural do mundo. Registrando que Vito escutara a declaração não planejada, Ava enrubesceu, imensamente constrangida. Contudo, não quisera dar às irmãs nenhuma ideia ambiciosa no tocante a para onde caminhava o seu relacionamento com Vito e uma dose de sinceridade pareceu ser a melhor abordagem. Ava observou as irmãs reagindo com previsibilidade à beleza estonteante e ao ardente apelo sexual de Vito. Gina o fitava, hipnotizada, enquanto Bella ria de tudo que ele dizia. Vito, em comparação, foi suave como seda ao convidá-las para a festa de Natal e perguntar-lhe sobre os filhos.

Distante, como se estivesse em outro planeta, Ava descobriu que Bella tivera um menino no ano passado, um irmão para compensar o seu trio de filhas. Gina, é claro, nunca havendo sido muito ligada em crianças, tinha apenas um filho de 10 anos de idade e uma carreira bemsucedida como fotógrafa jornalística. Ava ficou surpresa ao escutar Vito convidando as suas irmãs para um almoço particular, sempre reservado para os seus amigos mais chegados, antes do início das festividades no final da tarde. – Por que fez isso? – Ela acusadoramente exigiu saber, após as irmãs terem ido embora.

– Parecia a coisa educada a se fazer,

e você quer as suas irmãs de volta na sua vida, não quer? – Mais ou menos... Havia coisas demais acontecendo rápido demais para Ava ter certeza do que queria, além de Vito. Ele era a única constância sobre a qual ela não tinha dúvidas da importância, o que também era doloroso! Como pudera ser tola a ponto de abaixar a sua guarda e apaixonar-se novamente por ele? – O que há de errado? – Vito indagou ao notar-lhe a expressão preocupada.

Ava explicou sobre a carta. – Por que ainda não a abriu? – Estou com medo – ela admitiu. –

Bella sugeriu que seria desapontador. Uma coisa é imaginar, outra é ver as palavras no papel. Se forem desagradáveis, tais palavras me acompanharão para sempre, – Talvez eu devesse abrir a carta para você... – Vito sugeriu. Porém, fazer tal concessão à fraqueza era mais do que Ava estava preparada para suportar, de modo que rasgou o envelope para pegar a pequena folha de papel adornada com a letra de Bella.

Ava, Sinto muito, mais do que você jamais saberá. Fiz uma bagunça da minha vida e, agora, estraguei a sua também. Lamento não ter

conseguido ir visitá-la naquele lugar, ou mesmo tê-la visto aqui neste hospital... caso as autoridades houvessem concordado em deixá-la sair para me visitar. Mas eu não podia encará-la. O estrago já fora feito e é tarde demais para eu fazer qualquer coisa a respeito. Eu quis manter o meu casamento... isso sempre veio em primeiro lugar para mim, e ele não teria sobrevivido ao que eu fiz no final. Amo você, contudo, mesmo agora, tenho medo de lhe contar a verdade. Você me odiaria.

Olhos úmidos com lágrimas de tristeza e desapontamento, pois havia tido tanta esperança no tocante ao que poderia encontrar na carta, Ava passou o bilhete para Vito. – Não faz o menor sentido. Não sei do que ela está falando – declarou, tomada de frustração. – Gina disse que mamãe estava confusa, e deve ter estado mesmo para ditar isso para Bella escrever.

Franzindo a testa ante a carta incompreensível, Vito a devolveu ao envelope. – É óbvio que sua mãe se sentia muito culpada pelo modo como a tratou. – Ela achava mesmo que eu a odiaria quando descobrisse que não era filha do

marido dela? – franzindo a testa, Ava sacudiu a cabeça, admitindo que jamais saberia o que a mãe quis dizer com suas palavras. – O que mais poderia ser?

Vito gentilmente pousou a mão nas costas dela. – Não há por que se martirizar com isso agora, bella mia. Se suas irmãs estão igualmente atônitas, não há como obter respostas para as suas perguntas. Ele era sempre tão malditamente prático e equilibrado, Ava pensou. Não sofria de oscilações emocionais, nem de imaginação fértil. Relutando em revelar que ela era incapaz de ter uma visão tão realista da situação, quando a mulher em questão já estava morta há quase 18 meses, Ava nada disse.

O celular dele tocou, e ele o atendeu com um olhar de desculpas lançado para ela. Já era uma melhora, Ava teve de admitir, para quem, há menos de uma semana, costumava atender ligações constantemente, esquecendo que ela existia. Ele começou a andar de um lado para o outro, e, desta vez, a pessoa do outro lado da linha era quem estava falando mais, enquanto Vito dava respostas breves.

– Receio que eu vá ter de sair – Vito falou ao desligar o celular. – Vou dar uma volta com Harvey – Ava avisou, ansiosa por demonstrar a sua independência e que não tinha necessidade da presença dele.

Era uma mentira, é claro, mas ajudava a sustentar-lhe o orgulho.

Capítulo 10

CAIXAS

DEdecoração

estavam

espalhadas pelo grande salão. Ava estava usando uma escada para decorar a árvore e amaldiçoando o fato de que seus planos cuidadosamente preparados estavam atrasados. Levara a maior parte do dia para derrubar a árvore, transportála até o castelo e erguê-la com segurança no ponto mais adequado. Depois disso, tivera de revirar o sótão por mais de duas horas antes de

encontrar as luzes. Após a tragédia do último Natal celebrado no castelo, três anos antes, todas as decorações foram guardadas sem o costumeiro cuidado e atenção, e alguns itens acabaram se quebrando, enquanto outros se perderam. Ava ficou triste ao lembrar-se que, da última vez em que decorara uma árvore de Natal, Olly estivera ao seu lado, discutindo o tempo todo com ela, sendo o perfeccionista que era. Na realidade, Olly adorara as festas de fim de ano tanto quanto Vito as abominava.

Contudo, para ser sincera, que lembranças felizes Vito poderia ter do Natal? Quando criança, a mãe o abandonara e ao pai pouco antes do

Natal, e, nos anos seguintes, o pai se recusara a celebrar a ocasião. A morte de Olly na mesma época do ano só pôde servir para sedimentar a aversão de Vito pelas festas. Ava não queria ser insensível para com os sentimentos dele. Na noite anterior, Vito deitara-se na cama ao seu lado, tarde da noite e em silêncio. Ava não sabia onde ele estivera e nem o que estivera fazendo, e mesmo após ela deixar claro que estava acordada, ele não ofereceu qualquer explicação. Pela primeira vez, também, ele não a tocara e nem a procurara de qualquer maneira, e ela se sentiu ridiculamente rejeitada. Vito não estava acostumado a relações complexas com

mulheres. Talvez estivesse de saco cheio de todos os problemas que ela trouxera para a sua vida, e que o estava forçando a compartilhar, como o artigo no jornal ou a carta da sua mãe e a reunião sentimental com as irmãs. Talvez até houvesse mesmo chegado à conclusão de que seria melhor se despedir dela após a festa.

O celular dela tocou, e Ava o retirou do bolso. – É Vito. Não vou conseguir voltar por alguns dias, de modo que vou ficar no meu apartamento. Mas acho que eu deveria mencionar que marquei uma reunião para você como algumas pessoas para depois de amanhã. Estará em casa na parte da manhã?

– Que pessoas? Por quê? O que está acontecendo? – Ava indagou, esforçando-se para manter a decepção longe da voz. – Estou trazendo algumas pessoas que eu quero que conheça. Ela franziu a testa, tomada de surpresa e curiosidade. – Preciso me vestir bem? – Não. Não fará diferença o que você usar. Ava evitou fazer mais perguntas. Vito já parecia cansado e tenso, e ela não queria lembrar-lhe de que podia ser trabalho duro em se tratando de relação. Relação, pensou irritadamente, devolvendo o celular para o bolso. Um

romance casual não deixava de ser uma relação, embora não do tipo que durasse, que levasse a compromisso. Estava com um sujeito que não entrava em compromissos e que também não mentia no tocante a isso. Uma legião de mulheres muito mais bonitas do que ela já havia passado por sua vida antes de Ava aparecer, e nenhuma delas durara. Ele tinha 31 anos de idade, e nenhum casamento ou noivado rompido no seu passado, e ela era a primeira mulher a viver com ele no castelo. Saber disso fez com que seus lábios se retorcessem. Mas de que realmente valia tal concessão? Ela não tinha outro lugar para ficar e era mais conveniente para ela organizar a festa morando ali.

Ela verificou os cômodos reservados para a festa. O marceneiro da propriedade fizera um excelente trabalho com a gruta do Papai Noel para as crianças e com o presépio com figuras em tamanho natural. A sala ao lado fora decorada com um tema de danceteria para os adolescentes. No dia haveria um DJ no comando das músicas. Do outro lado do corredor ficava o salão de bailes, onde o evento dos adultos aconteceria, com bar completo e música. Os banqueteiros já haviam armado mesas com cadeiras ao longo de um dos lados do salão, e a florista logo chegaria com os arranjos encomendados por Ava.

Ela teve dificuldade em dormir naquela noite, mesmo com Harvey dormindo ao pé da cama. Não fora fácil convencê-lo a abrir mão de sua vigília na porta da frente, aguardando Vito. Desafio ainda maior fora não se juntar a ele. Desse jeito, não demoraria muito para ela se trair e deixar transparecer que se apaixonara por ele. Vito então se sentiria pouco à vontade com ela por perto e não veria a hora de livrar-se dela. Procurou se convencer com toda a veemência que iria embora depois da festa, com a dignidade intacta e sem fazer uma cena.

UM PAR de noites insones em sequência fez com que Ava dormisse até tarde na manhã em que Vito estava trazendo companhia, e ela teve de apressadamente arrumar-se e tomar café. Quando escutou o helicóptero voando acima da propriedade, já estava andando de um lado para o outro no corredor. Com um latido de empolgação e ansiedade, Harvey voltou a se posicionar diante da entrada, e Ava conteve um suspiro ante a cena. Vito adentrou o castelo acompanhado de três outros homens, mas Ava só tinha olhos para Vito, com o seu rosto bonito, e irradiando intensidade no elegante terno escuro.

– Srta. Fitzgerald? – Um homem encorpado com o rosto cansado, porém familiar, estava sorrindo e estendendo a mão para ela. – Já faz muito tempo.

Ava ficou atordoada. Era Roger Barlow, o advogado que a representara três anos atrás, quando fora a julgamento. – Possivelmente ainda mais tempo para ela – o homem mais velho e louro atrás dele brincou, apertando a sua mão assim que esta ficou livre. – David Lloyd, sócio majoritário da Lloyd & Lloyd Law Associates em Londres. – E este é Gregory James – Vito apresentou o último homem do grupo, um homem corpulento, careca e

barbudo, que fez uma formal mesura. – Gregory e sua empresa foram responsáveis por atualizar a segurança na propriedade após uma invasão que sofremos há cerca de cinco anos. Ava assentiu, tentando imaginar o que todos aqueles homens teriam a ver com ela. Ao olhar mais de perto para Vito, notou as olheiras e as rugas de tensão ao redor da boca. Quarenta e oito horas mal haviam se passado desde a última vez em que o vira, mas ele parecia ter ido ao inferno e retornado. De repente, Ava sentiu-se desesperada para saber o que estava acontecendo. Por que diabos ele trouxera advogados para casa consigo? Vito sugeriu que continuassem a conversa na biblioteca, onde todos, com

a exceção dele, se sentaram. – Pedi que Greg viesse aqui e falasse pessoalmente com você, Ava. Ele explicará do que se trata. – Vi as fotos de vocês no jornal de domingo – Greg James começou a dizer, estudando-a com olhos calmos, porém curiosos. – Li a história e fiquei muito chocado com ela. Eu também estava na festa naquela noite, e só fui saber que houve um acidente quando li a respeito. Deixei a festa uma hora antes da meia-noite para pegar o meu voo para o Brasil, onde seria o meu próximo trabalho. – Greg não fazia ideia de que você fora julgada e mandada para a prisão

por direção perigosa, pois passou vários meses trabalhando no exterior – Vito explicou. – Contudo, após ver o jornal, ele me ligou e sugeriu que nos encontrássemos. – Você não era a motorista naquela noite – Greg James informou com certa veemência. – Vi o que aconteceu naquela noite do lado de fora do castelo. Pensei que estivesse vendo uma discussão idiota entre pessoas que eu não conhecia... exceto pelo irmão de Vito. Não fazia ideia de que estava testemunhando algo que poderia ser relevante em um julgamento, e não pensei mais no assunto até saber que fora mandada para a prisão pelo que acontecera naquela noite.

Ava estava boquiaberta e seus olhos arregalados. O coração estava batendo tão rápido que quase levou a mão a ele, pois estava se sentindo ligeiramente zonza. – Do que está falando? Como eu poderia não ter sido a motorista? E que discussão foi essa que viu? David Lloyd inclinou-se para frente na poltrona. – Ava... sua defesa durante o julgamento foi prejudicada pelo fato de que não tinha qualquer lembrança do acidente. Como poderia se defender se não se recordava de nada? – Como eu disse, deixei a festa mais cedo – Greg prosseguiu. – Agendara um

táxi para me buscar, e, enquanto o estava aguardando nas escadas lá fora, vi uma discussão acontecendo ao redor de um carro. Havia três pessoas... você, o irmão de Vito, Olly, e uma mulher encorpada em um vestido cor-de-rosa.

– Três pessoas – Ava sussurrou. – Uma mulher encorpada? – A última coisa de que se lembrava antes do acidente era descer as escadas na direção do carro de Olly – o seu antigo advogado lembrou-a, solicitamente. – A mulher encorpada os seguiu até lá fora e começou uma tremendo bate-boca entre vocês todos – Greg James revelou.

– Por isso notei o incidente. A mulher do vestido cor-de-rosa evidentemente

bebera um tanto além da conta. Estava muito zangada e gritava tudo quanto era tipo de barbaridade para você e para o garoto. – Lamento, mas acho que a mulher do vestido cor-de-rosa era a sua mãe – Vito falou. – Também a vi deixar o castelo às pressas. Presumi que houvesse tido outra discussão com o seu pai. Para o meu eterno arrependimento, não fui até lá fora para ver como você e Olly estavam. – Minha... mãe? – Ava repetiu, enquanto estudava Vito com incredulidade. – Está tentando sugerir que minha mãe estava dirigindo? – Ah, ela definitivamente estava

dirigindo naquela noite – Greg James declarou com absoluta confiança. – Eu a vi no assento do motorista e a vi sair dirigindo em disparada. Ava sentiu-se nauseada, e debilmente registrou que era resultado de mais do que ela era capaz de lidar. Passou os olhos pelos ocupantes do recinto como que em busca de alguém que pudesse lhe explicar as coisas, pois o seu cérebro se recusava a entender o que estava sendo dito. – Com novas evidências, podemos apelar a sua condenação – David Lloyd informou. – Minha firma é especializada nesse tipo de casos e Vito me consultou ontem, em busca de aconselhamento. Ele não queria lhe dar falsas esperanças.

– Mamãe não poderia ter estado lá...

não é possível – Ava murmurava, abalada. – Não podia ter sido ela. Quero dizer, ela fora proibida de dirigir, e havia parado de beber. – Ela voltou a beber na festa – Vito contra-argumentou. – Posso confirmar isso. Liguei para Thomas Fitzgerald ontem, e o marido da sua mãe confirmou que a flagrou bebendo naquela noite, e que haviam tido uma tremenda discussão da qual ela foi embora dizendo que ia para casa. Ele presumiu que ela fosse pegar um táxi, e ficou aliviado por ela ter ido embora sem fazer uma cena em público. Piscando rapidamente, Ava estudou

as próprias mãos. A mãe de fato usara um vestido cor-de-rosa na noite da festa, mas isso certamente não era evidência aceitável. – Se ela estava no carro, o que houve com ela após a batida? – Evidentemente ela não se machucou. Tudo que podemos presumir é que tenha entrado em pânico e a puxado para o banco do motorista antes de fugir para casa. Deve ter percebido que Olly estava morto. – Uma mulher em um vestido cor-derosa foi vista caminhando pela estrada na direção da aldeia, por volta da hora do acidente – Roger Barlow informou. – A polícia pediu que ela se apresentasse, mas receio que ninguém jamais o tenha

feito. – Olly não teria deixado que ela dirigisse o carro dele. Ela não podia dirigir, não tinha seguro – Ava murmurou, zonza. Estava horrorizada com a sugestão de que sua própria mãe pudesse não só tê-la abandonado no local de um acidente enquanto ela estava inconsciente, mas também movera o corpo da filha para fazer parecer que havia sido ela a motorista embriagada que enfiara o carro em uma árvore. – Você tentou argumentar com a mulher, e o garoto também, mas ela se recusou a escutar. Insistia em dizer que estava cansada de todo mundo lhe

dizendo o que fazer e que estava sóbria. Estava determinada a dirigir e não deu escolha ao irmão de Vito. Ela o empurrou de seu caminho, sentou no lugar do motorista e bateu a porta. Ele abriu a porta de trás e se jogou no banco no último instante, antes de o veículo arrancar como um foguete. – Sacudindo a cabeça, Greg James estudou o pálido rosto chocado de Ava. – Você estava sentada no banco do carona. Não estava dirigindo. Definitivamente não estava dirigindo o carro naquela noite. – Roger chamou a minha atenção para o fato de que havia outras inconsistências no seu caso – David Lloyd explicou. – A polícia encontrou pegadas de outra mulher na lama ao lado

da porta do motorista, embora você estivesse apagada quando a ambulância chegou. Uma de suas pernas também estava jogada para dentro do vão para os pés diante do banco do carona, e o ferimento na sua cabeça era do lado esquerdo, sugerindo que batera a cabeça na janela do lado do passageiro.

– Quando o marido da sua mãe chegou em casa mais tarde naquela mesma noite, sua mãe se trancara no quarto de hóspedes e se recusava a atender o telefone ou a porta – Vito informou. – Quando foi que a sua mãe finalmente foi vê-la no hospital?

– Ela não foi ao hospital. Ficou gripada e recebi alta poucos dias

depois. – E como foi que ela se portou quando a viu novamente? – Agiu como se o acidente não houvesse acontecido. Ficou muito abalada quando... Thomas me deu um sermão sobre como eu matara Olly e arruinara a minha vida. – Não ficou abalada o suficiente para se apresentar como a verdadeira motorista – Vito sussurrou, sem tom de voz condenatório.

– Acho que temos grandes chances de ao menos conseguir que a condenação de Ava seja revista – David Lloyd previu. – Terei prazer em assumir o caso. –

E,

evidentemente,

eu

me

encarregarei de cobrir todos os custos envolvidos – Vito completou, com satisfação. Os outros homens voltariam para Londres no helicóptero. Enquanto o trio conversava entre si, Vito aproximou-se de Ava que ainda estava paralisada na poltrona. – Eu realmente tenho de voltar para o escritório, bella mia – ele sussurrou, fitando-lhe os olhos abalados. – Deixei um bocado de trabalho de lado para cuidar disso ao longo dos últimos dois dias. Não quis lhe dizer nada até ter verificado todas as evidências.

– Eu sei... não quis me dar falsas esperanças – ela retrucou em tom

monótono. – Naturalmente isso tudo foi um grande choque, mas, se quiser, ficarei, se isso a fizer se sentir melhor... – Por que haveria de me fazer sentir melhor? Você já fez mais do que o bastante por mim. Ficarei bem. Vito lembrou-se das lágrimas silenciosamente escorrendo pelo rosto dela naquele dia e praguejou baixinho. Mulheres independentes com certeza não precisavam de ninguém para dar apoio, quanto mais dele. – Se precisar de mim, se tiver qualquer pergunta, me ligue – falou com um brilho zangado nos olhos dourados.

– É claro. Ava olhou para ele como se estivesse

tentando decorar as suas feições. Na verdade, estava em tal estado de choque e sofrimento que o esforço para manter a compostura estava consumindo todas as suas forças. Assim que escutou o helicóptero levantar voo, pegou o casaco e foi levar Harvey para dar uma volta. Para Ava, naquele instante, foi como se Vito houvesse libertado outro pesadelo na sua vida. Na mesma semana, Ava perdera o homem que acreditara ser o seu pai, e fora confrontada com a terrível imagem de uma mãe que sacrificaria a sua caçula para salvar a própria pele. A cabeça de Ava começou a doer

devido à força de suas emoções. Tentou imaginar como se sentiria sem o constante fardo de se sentir responsável pela morte do melhor amigo. Não conseguiu imaginar. A culpa já passara a fazer parte dela. Mas a dor de pensar que a mãe pudesse ter ficado parada enquanto a filha era condenada no seu lugar era mais do que Ava poderia suportar. No entanto, Gregory James parecia certo do que testemunhara naquela noite. A mãe sempre tivera uma personalidade forte, e, sob o efeito do álcool, sua determinação em ver feita a sua vontade poderia mesmo ter sido incontrolável. Olly não teria sabido como lidar com a mãe forçando a entrada no seu carro. Ele

não iria querer fazer uma cena. Não iria querer magoar ou constranger Ava. Também não iria querer deixá-la a sós com uma motorista embriagada e zangada... por isso que deve ter se atirado para dentro do carro, antes de a mãe arrancar com o veículo, e por isso também, que morrera.

Ava permitiu que as lágrimas rolassem e inspirou tremulamente, em um esforço de recuperar o controle das turbulentas emoções. Sentia-se fraca e indefesa. Qual havia sido a motivação de Vito de investir com tanto zelo na perspectiva de limpar o nome de Ava? Teria sido para o bem dela... ou para o seu

próprio? Quisera limpar o nome dela para preservar a própria imagem? Pensou que, se Gregory James não houvesse entrado em contato com Vito, a possibilidade de que ela fora condenada injustamente jamais teria ocorrido a Vito. Assim como todo mundo, ele a acreditara culpada e jamais a perdoara por isso... O celular tocou, e ela atendeu. Era Bella. – Você está bem? – Bella perguntou.

– Na verdade, não – Ava admitiu, chorosamente. – Vou buscá-la – Bella informou, em tom autoritário. – Não deveria estar lidando com isso sozinha. A casa da irmã era uma antiga fazenda

no outro extremo da aldeia, um lar aconchegante repleto de brinquedos de criança, um bebê gorducho, chamado Stuart, com um sorriso encantador, e uma parede repleta de fotos de crianças em uniformes escolares e desenhos em crayon. – Perdoe a bagunça – Bella pediu. – Papai esteve aqui ontem à noite para conversar sobre isso. Está horrorizado com o que Vito teve de lhe contar. Para ser sincera, todos nós ficamos aliviados quando mamãe desapareceu naquela noite sem fazer a maior cena. Sabe como ela era... presumimos que havia pegado um táxi para chegar em casa. Ava tomou um gole do chá que Bella

lhe preparara. – Acha que é verdade? – Bem, sempre tive problemas em acreditar que você pudesse ter sido tão burra. E nunca entendi por que Olly estaria no banco de trás sem cinto de segurança. Contudo, no final das contas, achei que você havia perdido a cabeça por alguns instantes, e alguns instantes foram o bastante para arruinar a sua vida

– Bella completou em tom sentido. – Eu lamento tanto, Ava. – Não precisa lamentar. O que está feito, está feito. Quero dizer, a polícia também achou que eu fosse culpada. Ava abraçou o bebê, ainda tendo problemas para acreditar que a própria mãe tivesse sido capaz de aproveitar-se

dela daquela maneira. – Sei que eu não deveria me meter – a mulher loura comentou, hesitantemente –, mas acho que Vito não gostou de ser chamado de seu amante naquela tom de pouco caso que você usou.

– Ah. – Ava corou. – Eu não sabia do que mais chamá-lo. – Sempre o havia achado frio, contudo, ontem ficou evidente que estava furioso com o que mamãe fez com você. Suponho que se sinta terrivelmente culpado... nós todos nos sentimos.

– Não quero a culpa dele – Ava declarou, assoando o nariz. – Depois da festa, vou voltar para Londres. – Ah, Ava, você precisa mesmo?

Gina e eu estávamos ansiosas para nos reconciliarmos. – Eu teria gostado muito. – Um sorriso trêmulo formou-se nos lábios de Ava quando a sua irmã a abraçou na porta de casa. – Mas não posso ficar mais tempo agarrada à manga de Vito...

está ficando constrangedor. Ava retornou para o castelo. Os banqueteiros ligaram com perguntas, e ficaram de passar no castelo à tarde para repassar os últimos detalhes. Grata por ter algo que a ocupasse, Ava usou a visita como uma distração dos seus pensamentos devastadores. A verdade no seu relacionamento com Vito, quase contara para a irmã, é que ele não a amava. Não tinham futuro juntos. Vito

jamais mencionara nada além da festa natalina, e ela não planejava ficar para bancar a patética, na esperança de que ele pudesse sugerir para ela estender a sua estada. Ela o esqueceria, não seria fácil, mas conseguiria. Contudo, a simples perspectiva de uma vida sem Vito a assustava como a visão da morte por tortura. Vito ligou na hora do jantar e perguntou em tom preocupado como estava. Ava garantiu que estava perfeitamente bem. Ele falou que talvez passasse a noite no seu apartamento, e ela não pôde culpá-lo. Vito estava de saco cheio de todos os problemas e dramas que ela criava ao redor de si,

supôs. Foi para a cama cedo, ansiando pelo alívio do sono. Em que momento começou a sonhar, mais tarde não saberia dizer. No seu sonho estava descendo correndo os degraus do castelo na noite do acidente, e Olly estava atrás dela, dizendo que a levaria para casa, e, em seguida, sem o menor aviso, a cena na sua cabeça mudou e a mãe apareceu no meio do sermão de Olly sobre o comportamento inapropriado de Ava com Vito.

– Eu dirijo! – Gemma declarou, ignorando Olly antes de lhe dizer que era perfeitamente capaz de dirigir até em casa, e se recusando a ser levada por um adolescente. A discussão foi ficando mais

acalorada, vozes foram levantadas. Ava gritou por sobre o capô do carro que Gemma não podia dirigir quando bebia, e a mãe pareceu ver nisso um desafio, empurrando Olly para fora do caminho e sentando-se atrás do volante, acelerando o veículo como uma corredora se preparando para a corrida. Ava esticouse por sobre a mãe para pegar as chaves e o carro cantou pneu na pista de acesso à mansão, enquanto Olly tentou dialogar com a mulher mais velha e convencê-la a parar. O carro arrancou pelos portões seguindo para a estrada, com Ava gritando para a mãe parar enquanto Olly pedia para todo mundo manter a calma e pensar no que estavam fazendo. E, no

que pareceu ser uma fração de segundos mais tarde, Ava avistou o tronco da árvore aproximando-se pelo para-brisa, escutou Olly gritarlhe o nome... e tudo ficou escuro. Ava acordou sobressaltada, o coração batendo forte, angústia envolvendo-a como um casulo sufocante, e se deu conta de que revivera o acidente. Ficou desconcertada ao se dar conta de que as luzes estavam acessas e que Vito estava ajoelhado ao seu lado, usando apenas um par de jeans.

– Você estava sonhando, e deixou escapar um grito que teria acordado os mortos! – Ele exclamou. – Revivi o acidente – ela falou, abraçando os próprios joelhos. – Eu

lembro o que aconteceu. Mas por que agora? Por que eu não podia lembrar antes? – Por que iria querer se lembrar quando achava que era culpada? Sua mãe estava dirigindo? Ava assentiu, e, com a voz trêmula, lhe contou o que lembrara, as imagens tão vívidas e frescas que parecia que estava presa novamente nas engrenagens. Em silêncio, Vito a abraçou com força. – Não queria que revivesse isso – ele confessou. – Não pensei a fundo quando escutei a história de Greg James. Vi o que pensei ser uma chance de consertar as coisas para você, e fui procurar os

advogados e o seu pai para verificar os fatos. Fiquei tão satisfeito comigo mesmo. – É – Ava sussurrou, grata porque as lágrimas haviam parado, relaxando na segurança dos braços dele. – E então vi o seu rosto hoje de manhã e... e eu não fazia ideia de como fazer para tornar as coisas melhores para você – Vito admitiu, relutantemente. – Foi só então que vi que estava arrasada por descobrir que sua mãe fora capaz de magoá-la desse jeito. – Ela me viu receber a punição que era dela, e não disse uma só palavra. Mesmo que tivesse cedido a um impulso ao me deixar levar a culpa pelo acidente, ela poderia ter reconsiderado.

Poderia ter dado um depoimento para a polícia, ao dar-se conta de como estava doente... mas mesmo assim, ela não pensou melhor no que fez.

– Deixe para lá. O acidente já governou a sua vida por tempo demais – Vito murmurou, soltando-a e levantando-se da cama. – Não ia dormir aqui comigo – Ava percebeu, franzindo a testa. – Na verdade, pensei que não fosse voltar para casa hoje. – Pensei melhor, mas cheguei muito tarde, e não quis incomodá-la, cara mia.

– Então, aonde vai agora? – Deixei algumas coisas no meu quarto. Presumi que ainda estaria

acordada quando eu chegasse – Vito admitiu. Um pouco menos tensa, Ava recostouse no travesseiro, afastando as imagens do acidente de seus pensamentos.

Vito voltou e depositou os itens que trouxe sobre a cama, diante dela. – Hã... fez compras? – Ava perguntou, surpresa, erguendo as murchas rosas vermelhas. – Precisa colocá-las na água, para mantê-las bonitas. – Jamais comprei flores pessoalmente. Normalmente encomendo pelo telefone e mando entregar.

– Ninguém jamais me deu flores antes. São lindas. – Se não estivessem quase mortas – Vito brincou, pousando a caixa de

chocolate no seu colo. Ava não perdeu tempo em abri-la, enquanto, discretamente, ficou de olho no terceiro e último embrulho. – Sinto muito não ter pensado em como se sentiria no tocante a tudo que sua mãe fizera para você. Não enxerguei as árvores em meio à floresta.

– Você sempre acha que pode consertar as coisas. – Ava comeu alguns chocolates antes de receber o último embrulho. Era muito leve e, após desembrulhá-lo, deparou-se com uma bugiganga em forma de bola. – Ah, meu Deus, é um enfeite de Natal – exclamou, surpresa que Vito houvesse comprado um item tão festivo.

O ornamento feito à mão reluzia sob a luz e estava marcado com o ano.

– A data é significativa – Ava perguntou. – Dio mio, mas é claro que é. É o ano em que você trouxe o Natal de volta para Bolderwood. O castelo está lindo – Vito informou, deslizando para debaixo das cobertas ao lado dela. – Gostou? – Adorei – ela confessou, notando-lhe

o olhar ardente. Ele tirou o chocolate e o ornamento de suas mãos e os colocou de lado, mas Ava o evitou ao descer da cama com as rosas. – Só vou colocá-las em um vaso – disse, correndo até o banheiro.

– Já estão quase mortas! – Vito rosnou. – Amanhã eu compro mais. Contudo, ainda eram as primeiras flores que ele lhe dera, e, na opinião de Ava, dignas de serem conservadas.

– Obrigada pelos presentes – ela falou, ao voltar para a cama. – Queria ter comprado algo para você. – Você é o meu presente – Vito proclamou, apossando-se de sua boca com um beijo voraz que fez todos os sentidos de Ava fervilharem de alegria.

– Contudo, primeiro, há mais um que eu quero lhe dar. Está lá embaixo, sob a árvore. – Ah... lá embaixo – Ava falou, sem muito entusiasmo, sua atenção fixa nos

ardentes olhos dourados. – Eu quero que você abra. – Agora? São 2 horas e a festa é amanhã. Vito saltou da cama e estendeu o roupão de seda que comprara para ela. – É importante, bella mia – insistiu. Com um suspiro, Ava levantou-se e

vestiu o roupão. Após Vito colocar uma camisa, desceram as escadas, para encontrar o fogo da lareira quase apagado, as últimas chamas lançando sombras sinistras sobre as paredes e as decorações. Ava curvou-se para acionar o interruptor das luzes da árvore, antes de avistar o enorme embrulho debaixo dela.

– O que diabos é? – O seu presente de Natal. – Mas eu não ia estar aqui no Natal! – Ava protestou. – Eu não a teria deixado ir embora – Vito retrucou, teimosamente. – Eu estava planejando ir embora na manhã após a festa. A boca charmosa curvou-se. – As coisas nem sempre saem como planejamos... Ava pegou a caixa e começou a rasgar o reluzente papel de embrulho dourado, só para encontrar outra caixa embrulhada com um papel diferente no seu interior. – O que é isto? Uma brincadeira? Que

nem aquelas bonequinhas russas? A pilha de papéis de embrulho descartados foi aumentando à medida que as caixas foram ficando menores, até finalmente restar apenas uma única pequenina caixa. – O que é? Vito ajoelhou-se diante dela, e, sem hesitar, perguntou: – Quer se casar comigo? Ava inspirou fundo e ficou a fitá-lo, com os olhos azuis repletos de surpresa.

– De onde veio essa ideia? Você enlouqueceu? – Não é assim que costuma se responder a um pedido de casamento! – Vito declarou, voltando a se levantar e fitando-a com o cenho franzido.

Ava abriu a caixa e se deparou com uma estonteante aliança de diamantes em seu interior. – Você não está falando sério... não está pensando no que está fazendo. Sabe que não quer uma esposa. Sabe que acha que, se você se casar, sua mulher o divorciará e ficará com o castelo, seus filhos e, pelo menos, metade do seu dinheiro...

– É um risco que estou disposto a correr para tê-la em minha vida. Ava o fitou com olhos lacrimejando. – Sabe, acho que provavelmente é a coisa mais linda que já disse para mim, mas não posso casar-me com você. Você só está pedindo por que sabe que,

no final das contas, não era eu quem estava dirigindo naquela noite. E não seria certo. – Eu comprei a aliança no dia anterior à ligação de Greg James – Vito retrucou.

– E posso provar. – Antes? – A declaração pegou Ava de surpresa. – Mas pensei que não pudesse me perdoar? – Eu também pensei, até tentar imaginar a minha vida sem você – Vito admitiu, agachando-se para poder fitála nos olhos. – O perdão sempre esteve presente. Apenas não me dei conta de já o ter alcançado. Ambos amávamos Olly. Ele a amava e eu também amo. É um vínculo que jamais perderemos. – Você me ama? – Ava sussurrou,

subitamente sem fôlego e sentindo o coração martelar no interior do peito. – Por que outro motivo haveria de pedi-la em casamento? Eu pensei que jamais me apaixonaria por ninguém, mas comecei a me apaixonar por você no instante em que retornou à minha vida.

– Eu também o amo – Ava falou, desnorteada. – Mas pensei que isto fosse apenas um romance casual. – Isso foi culpa minha. Estou tão acostumado a estabelecer limites, só que, então, você apareceu para derrubar todos eles. Em pouco tempo, eu queria apenas você, amata mia. – Vito tomoulhe a mão, pegou a aliança na caixinha e a deslizou para o dedo anelar. – E,

amanhã, quando estiver bancando a anfitriã na festa, quero esta aliança no seu dedo para que todos saibam que é a mulher com quem pretendo me casar.

Ava olhou para a aliança reluzente no seu dedo, antes de fitar-lhe a ternura no olhar. – Você realmente me ama... mesmo eu sendo trabalho duro? – Você me faz pensar e me faz tentar ser mais do que eu era. Nenhuma mulher já me afetou de tal maneira – Vito confidenciou. – Não é trabalho duro... é

a melhor coisa que já me aconteceu. Só tem uma coisa que me incomoda...

– O quê? – Ava indagou, tomada de preocupação. – Não se abre comigo. Passou três

anos na prisão e nunca fala a respeito. – Não é algo que se queira acidentalmente mencionar na companhia errada. Foi um mundo diferente, com as suas próprias regras. Passei alguns momentos terríveis na prisão. Passei a maior parte do tempo assustada. Tive problemas por causa do meu modo de falar sofisticado. Fui revistada só porque minha colega de cela foi flagrada com drogas. No início, fiquei sobre constante vigilância, pois tinham receio de que eu fosse cometer suicídio... Preocupado, Vito apertou-lhe a mão.

– Você teve tendências suicidas? –

Não,

nunca.

Infelizmente

o

psicólogo achou que havia o risco. Mas

eu estava deprimida por ter pegado uma sentença de seis anos por direção embriagada. Não recebia visitas, nem tinha nada para fazer. Levou um bom tempo para eu me adaptar e aprender a me ocupar. – Como foi que se adaptou? Ela contou sobre o programa de ensino de leitura e escrita do qual participara, e como sentir-se útil lhe melhorara o humor. – Quando soube que iria obter a condicional, decidi deixar a experiência toda para trás – ela admitiu. – Queria apenas esquecer. Pode entender isso?

– Eu entendo – Vito murmurou, cerrando a mão sobre a dela. Ava estremeceu.

– Está frio.Vamos voltar para a cama. Vito a ergueu nos braços. – Não pode me carregar escada acima

– Ava falou. Mas ele o fez, embora parecesse notavelmente aliviado quando a depositou novamente sobre a cama. Ava sorriu provocantemente. – Está um caco. Agora não servirá para mais nada. Vito riu, abaixando o zíper da calça. – Dio mio, amo você! Percebe que eu jamais disse essa palavra para ninguém?

– Nem mesmo adolescente?

quando

era

– Fui um adolescente muito cético. Ver o meu pai meter os pés pelas mãos

após minha mãe abandoná-lo causou uma forte impressão em mim. Até você aparecer e iluminar a minha vida, não achei que fosse capaz de amar alguém.

– Você sabe que casar-se comigo significará ter de celebrar o Natal todos os anos? – Eu o compartilharei com você. Sempre me lembrarei de que foi o Natal que nos aproximou, faremos novas lembranças. Sinto que posso ser eu mesmo com você. – Dominador, arrogante, impaciente, teimoso – Ava enumerou, deslizando os dedos pelo peito musculoso e se perdendo naqueles olhos dourados que faziam o seu coração disparar. – Mas eu amo você, muito. E você também é

generoso, gentil surpreendentemente atencioso.

e

Ele a beijou, e ela sentiu-se zonza. Murmurou algo no tocante a precisar dormir bem, com a festa chegando. Vito ignorou. No final, ela retribuiu o beijo com a paixão que suas profundas emoções haviam gerado. Depois, Ava jamais pôde se lembrar de já ter se sentido mais feliz nem segura, e pôde sentir o passado deslizando de volta para o seu devido lugar. Aprendera as lições do passado, mas queria o seu futuro fresco e livre de arrependimentos. No dia seguinte, a festa foi um grande sucesso. Ava usou o vestido de veludo verde, e a sua aliança foi muito

admirada. Vito estava falando em um casamento de inverno. Lançando-lhe um olhar, Ava falou em um casamento no verão e chamou as irmãs para serem madrinhas. – Você pode estar grávida – Vito sussurrou, ao ficar a sós com ela. – É claro que não estou. É por isso que me pediu em casamento? – Claro que não. Estou me casando com você por que não consigo viver sem você, sua safadinha. – Vito gemeu. – Suponho que eu possa aguardar até a Páscoa. – Não. Serei uma noiva de verão. Temos de ficar noivos ao menos seis meses, para provar que podemos morar juntos.

– É claro que podemos. O verão está longe demais. Eles se casaram na Páscoa, e Ava não estava grávida. Vito admitiu ter ficado desapontado, e a ideia do bebê fincou raízes. A noção de formar uma família agradava Ava. – Não acho que seja possível amar alguém mais do que amo você – Vito falou, na noite de núpcias deles, no Havaí. E Ava soube que sentia o mesmo, e deliciou-se com o fato de que podiam concordar em algumas coisas.

Epílogo

OLIVIA

BARBIERI nasceu dois anos mais tarde, forçando Ava a pedir um adiamento na sua vaga recémconquistada na faculdade de medicina. Tinha os olhos da mãe e os cabelos do pai, e, mesmo bebê, mostrou-se ser um bocado voluntariosa. Vito acostumou-se a ser rodeado pela mulher, filha e cães ao chegar em casa, e, para a sua surpresa, descobriu que adorava. O castelo enfim tornara-se um

lar. Ava tornara-se boa amiga das irmãs, e as três famílias se encontravam com regularidade. Três anos após o casamento, Ava começou a estudar medicina. Pensara um bocado antes de dar o passo, mas chegou à conclusão de que precisava de uma carreira de verdade. Sabia que não seria fácil estudar, fazer residência e cuidar de uma criança pequena, mas Vito estava preparado para reduzir as suas horas de trabalho e trabalhar mais de casa, para poder ajudar mais. Naquele mesmo ano, Ava teve revertida a sua condenação por dirigir embriagada. No quarto aniversário de casamento, Vito surpreendeu Ava com uma segunda

lua de mel na Toscana, embora a filha e a babá os houvessem acompanhado. Dias longos e preguiçosos provaram ser um descanso bem-vindo da agenda mutuamente movimentada dos dois. Mesmo antes de voltar para casa, Ava já sabia que estava grávida novamente.

– Fico muito feliz, mas pensei que teríamos apenas um filho, bella mia. – Mas está satisfeito? Ava envolveu-lhe o pescoço com os braços, pensando que Vito ainda era o homem mais lindo que ela já conhecera. – É claro que estou. Amo você, amo Olivia, e vou amar o novo bebê também.

– Vito sorriu. – Minha vida fica melhorando a cada dia que passa.

– Acha que mais um cachorro também lhe enriqueceria a vida? – Ava perguntou, aproveitando-se do momento.

– Marge tem um lindo... – Eu pensarei a respeito. Não force a barra – Vito alertou a esposa. – Claro que não. – E não fique com essa cara triste. Sabe que não resisto quando fica com essa cara triste – Vito gemeu, tomado de desespero. – Amo tanto você, Vito – Ava admitiu. – Sabia que não diria não!

Prólogo

– QUER

DIZERque gosta das suas

aventuras inconsequentes como gosta do seu café: tépido e aguado? Nichole Daniels fitou os reluzentes olhos azuis da melhor amiga do outro lado da pequena mesa do restaurante chinês. – Hipotéticas aventuras inconsequentes. E, para esclarecer, quero aproveitar o meu café. Não ser machucada por ele. Sendo assim, eu o

bebo quente, porém, não escaldante. Gosto dele preparado forte, contudo, temperado com algo cremoso para evitar azia. Maeve fungou. – Você tempera com leite desnatado! Diabos! A questão toda disto era abarcar o elemento inconsequente de uma fantasia que não estávamos planejando levar a cabo. Quero dizer, falando sério, não tenho a menor intenção de ficar presa em uma ilha deserta. E, se tivesse, torceria para ser com um gênio mecânico adepto de jogos da sobrevivência, do tipo da variedade não canibal. Contudo, para o propósito deste joguinho entre amigas... em um contexto à parte da realidade... por uma

só noite, sem consequências, talvez queira algo robusto... ah, meu Deus...

algo com creme chantilly! – Basta, basta. – Nicole riu, interrompendo a empolgação fora de controle de Maeve, antes que o restaurante todo começasse a olhar para elas. – Entendi o conceito. Sinceramente, apenas não estou interessada. Maeve estreitou os olhos. – É uma fantasia. Como pode não estar interessada? Ecos de conversas distantes passaram pela cabeça de Nicole. Acusações e culpa, tristeza e humilhação, e a fantasia na qual apostara o futuro revelada como

sendo o pesadelo que era. Tudo que perdera. Todos. Já trilhara essa estrada. Duas vezes, na verdade. Não, obrigada, para uma terceira. – Apenas não estou – conseguiu dizer para a melhor amiga, forçando um sorriso. – Daí a sua encomenda de prontaentrega em uma ilha deserta de um homem de aparência indefinida que seja seguro, sincero e capaz de levar adiante uma boa conversa. Caretice. – Não é caretice. Talvez minha realidade seja tudo que eu quero que seja. Tenho uma grande carreira, um lindo lugar para morar em uma boa vizinhança e a melhor amiga do mundo.

O que mais alguém poderia querer? – Por onde quer que eu comece? – Por nenhum lugar! – Estou falando sério, Nikki. Já faz três anos. Será que nunca se sente sozinha? Nichole a fitou com a palavra “não” na ponta da língua. Contudo, à medida que os segundos foram passando, a única palavra, que era a mentira que há muito ela vinha se contando, subitamente recusou-se a formar. Sua vida era tão certa, de todas as maneiras que realmente importavam, que não se permitira pensar muito a respeito de todas aquelas vezes em que o silêncio do seu apartamento deixara uma

sensação de vazio no interior do seu peito. Maeve voltou a afundar na poltrona. – Acho que eu deveria ter deixado você ficar com o último bolinho – ela falou, colocando de lado os pauzinhos.

– Por favor, não é tão ruim assim. Apenas não estou interessada em outro relacionamento. – Mas e quanto...? Maeve foi interrompida pelo toque pessoal de celular do seu irmão, “Hot for Teacher” de Van Halen. Com Maeve de viagem marcada para deixar a cidade a negócios no dia seguinte, Garrett Carter provavelmente a manteria na linha pelos próximos 20 minutos, certificando-se de que ela não

deixaria a cafeteira ligada, nem deixaria ninguém entrar no seu quarto de hotel e nem aceitaria doces de estranhos. Só que o alívio provou ter duração curta quando Maeve apertou uma tecla que enviou a ligação para a caixa postal.

Nichole pegou a sua taça de vinho, e um brilho maldoso iluminou os olhos da amiga. – Eu deveria arrumar-lhe um encontro com Garrett. Ela engasgou. – O quê? Pensei que fosse minha amiga – esforçou-se para dizer. – Estava pensado que, talvez, você pudesse aprender algumas coisas com ele.

– Como o quê? O antibiótico mais eficiente no tratamento de...? – Ei. – Maeve a interrompeu com um olhar sério. – Não há motivo para falar assim. Ele não é tão mau. Nichole a fitou com uma das sobrancelhas erguidas. – Chamam-no de O Encantador de Calcinhas. Já vi o nome dele nas paredes do toalete feminino. E minha mãe me alertou a respeito de homens como ele. Maeve riu, uma mistura de idolatria e irritação tomando conta de seu olhar. – Você poderia estar saindo com Átila, o Huno, e sua mãe estaria satisfeita. Acredite quando digo que ela

aceitaria Garrett de braços abertos. Nichole sacudiu a cabeça, sabendo

que era verdade. – E, aqui entre nós, Mary Newton escreveu na parede para se vingar por Garrett tê-la dispensado quando se ofereceu para ele. Sei que nunca o conheceu, contudo, no fundo, Garrett é um sujeito decente. – Dominador, hipócrita, arrogante, mulherengo, controlador, viciado em trabalho... puxa, onde foi que escutei tudo isso? Maeve sacudiu a cabeça. – Tudo bem, vai com calma. Não estou falando sério em juntá-los. E, mesmo que estivesse, ele não sairia com você. Tem esta regra sobre sair com

amigas das irmãs. Ainda bem. Pois Nichole tinha uma regra semelhante. Ela perdera várias amigas por conta de relacionamentos terminados. Pessoas que ela considerava família... Dedos estalaram diante do seu rosto.

– Calma! Eu disse que estava brincando. Ela relaxou. – Aonde quer chegar, então? – Só que talvez já esteja na hora de se arriscar a sair novamente. Teste a temperatura das águas e veja o que acontece. Sei que, no passado, suas relações foram sempre... sérias. Mas não precisam ser. Olhe, Garrett é o

único sujeito que conheço com tanta fobia de compromisso quanto você. Mas pode apostar que ele não está sozinho. Ele é prova viva de que algumas saídas em prol de um pouco de companhia do tipo não platônica pode ser justamente isso... algumas saídas. Simples. Nada demais. É, só que na última vez em que Nichole se arriscara em “algumas saídas” ela acabara com um vestido branco que jamais usara, uma fortuna em adiantamentos não reembolsáveis, a base de sua vida virada de pontacabeça e uma profunda aversão a fantasias e a para sempre, intensa o bastante para mantê-la longe de romances há três anos consecutivos.

E, no final das contas, aquele derradeiro discurso “não é você, sou eu” acabara sendo a melhor coisa a lhe acontecer. Tivera sorte em escapar de um casamento que, apesar do que acreditara na ocasião, teria sido um desastre. Sorte em escolher Chicago como a cidade onde recomeçaria. E mais sorte ainda em escolher a esteira vazia ao lado da de Maeve, naquela sexta-feira que, para todos os propósitos, fora o primeiro dia do resto da nova vida de Nichole. Desde então, não se sentira tentada nem mesmo pelo mais mero dos flertes. E, sinceramente, não conseguia imaginar isso mudando tão cedo.

Contudo, vendo que Maeve ia retomar a sua investida por outro flanco, Nichole ergueu a mão. – Que tal combinarmos assim. Se eu conhecer alguém difícil de resistir, prometo ligar para Garrett pedindo conselhos. O guia em seis passos fáceis

d o Encantador de Calcinhas para não deixar a coisa ficar séria... – Ha-ha. Muito engraçada – Maeve resmungou, fazendo sinal para a garçonete trazer a conta. – Só que, até então, não vou testar as águas de nada.

Capítulo 1

BOM

DEUS, teria sido isso uma língua? Nichole Daniels desviou a sua atenção do beijo aprofundando-se a níveis exponenciais a menos de 15 metros de distância e a voltou para o horizonte, onde a paisagem de Chicago se encontrava com o céu avermelhado. Tendo chegado cedo para ajudar o amigo, Sam, a arrumar a festa no telhado para dar as boas-vindas ao irmão mais velho chegando da Europa, ela estivera

enchendo baldes com garrafas de cerveja, vinho e uma variedade de outras bebidas, quando o casal apaixonado atravessara a porta, suas risadas ofegantes esmorecendo ao avistá-la. Com a festa marcada para começar a qualquer minuto, ela supôs que o telhado fosse grande o bastante para abrigar os três até a chegada dos convidados. Contudo, a brisa noturna trouxe aos seus ouvidos sussurros que não eram para ela escutar. Palavras particulares, o tipo de promessas eternas com o qual há muito parara de sonhar.

Ela olhou para a porta. qualquer momento agora...

A

As pessoas sempre chegavam cedo para as festas de Sam. A vista do

telhado era uma das melhores da cidade para assistir o pôr do sol. Um gemido abafado. Constrangedor. Tomando um pequeno gole da garrafa de cerveja em sua mão, olhou pela centésima vez para o celular. Viu uma mensagem de texto da mãe, que estava verificando se ela dispunha de qualquer coisa especial planejada para aquela noite, de modo que empurrou o aparelho para longe sobre a mesa, afirmando para si mesma que ligaria para ela no dia seguinte. Não estava com ânimo para voltar a entrar no mérito do cavalo dado não se olha os dentes, do seu relógio biológico

estar correndo e de ter de trabalhar para tornar os seus sonhos realidade. Independente das boas intenções da mãe, um bate-papo carregado de culpa não estava no cardápio para hoje.

Outro gemido, este carregado de inconfundível desejo... e ela arriscou uma olhada de esguelha... Epa! Grande erro! Ela não acabara de ver... e as mãos...

e as pernas... Saltando sobressaltada da mesa, Nichole cambaleou e fez um desvio para o acesso às escadas. Olhos no chão. Olhos. No. Chão. Estava já na metade do lance de escadas, pronta para mandar uma mensagem de texto para Maeve com o

seu primeiro relatório da festa, quando deteve-se, olhando fixo para a palma da mão aberta e vazia. Ela esquecera o celular. Tinha de voltar. Mas não queria. Talvez, se aguardasse um ou dois minutos, eles acabariam e ela poderia buscar o celular sem se sentir como se precisasse ferver os olhos em alvejante ou começar terapia para apagar as imagens da lembrança. Quanto tempo já se passara? Ela sequer sabia. Quem precisava de relógio quando tinha um celular? Tudo bem. Isto era ridículo. Era adulta e o celular era uma parte crítica da sua existência. Mordendo o lábio

inferior, virou-se na direção do telhado

e fez menção de avançar... A porta abaixo abriu-se e ela olhou para trás, torcendo para que fosse Sam, para que pudesse fazê-lo ir buscar o maldito celular no lugar dela. Só que não era o seu amigo louro, magro e baixo vindo socorrer-lhe o telefone, mas sim um desconhecido de mais de um metro e 80 usando jeans desbotados e uma camisa branca com as mangas enroladas, tentando passar pelo vão da porta, pequeno demais para o seu corpanzil. Com a cabeça baixa, ele gritou para alguém no interior do apartamento.

– É, nos vemos lá em cima daqui a pouco.

Talvez devesse alertar o sujeito sobre o que estava rolando lá em cima. Só que não sabia muito bem como colocaria a questão. Antes que pudesse chegar a uma decisão, a cabeça encimada por curtos cabelos escuros inclinou-se para trás, revelando estonteantes olhos azuis que enviaram uma potente descarga elétrica até o seu íntimo. Por um instante, pensou tê-lo reconhecido.

– Parece que tivemos a mesma ideia de ver o pôr do sol – ele comentou com um sorriso tranquilo, ao encontrar-se com ela na metade da escada. – Vai subir? – Acho que terei de fazê-lo – ela respondeu baixinho. – Esqueci meu

celular quando fugi... Seu celular ficaria bem, afinal, não estava chovendo nem nada. Será que já haviam terminado? – Fugiu? Aconteceu alguma coisa lá em cima? – É – ela respondeu com um dar de ombros, tentando esquecer o que vira. Ardor penetrou a neblina do seu choque constrangido, irradiando do local onde a sua pesada mão apertoulhe tranquilizadoramente o ombro. – Desça até o Sam. Fique com ele. De algum modo ele conseguiu passar

aquele impressionante corpanzil por ela, mal roçando em Nichole. Espere! O que aconteceu? Ah... não.

– Ah, não! Espere – suplicou, dando-se conta tarde demais do que ele estivera lhe perguntando. Os olhos que a fitaram do topo das escadas não estavam rindo. – Desça. Eu cuidarei do sujeito. Cuidará...? – Não, é sério – gritou, tratando de subir os degraus atrás dele. – Você... hã... sujeito dos olhos azuis... espere! Ele já alcançara o topo das escadas. Tinha de fazer alguma coisa, e rápido.

– Sexo! Ah, bom Deus, isso também não saíra da forma que ela quisera. Só que o sujeito hesitou, voltando a cabeça na sua direção, toda aquela intensidade azul

substituída por confusão. – Como disse? Ela subiu as escadas atrás dele, o coração batendo forte, embora a subida nada tivesse a ver com isso. Apesar do constrangimento, tinha de impedir que esse sujeito realmente protetor arremessasse alguém para fora do telhado. Engolindo em seco, agitando uma mão no ar, ela aguardou uma salvação que não viria. Por fim, com uma expressão de desculpas no rosto, olhou para ele.

– Meio que estavam fazendo sexo lá em cima. Foi o que aconteceu. Sinto muito e... hã... obrigada também. Eu acho. Ela jamais vira olhos mudarem tanto

em tão pouco tempo. Mas os desse sujeito eram como material de apoio visual para definir “janelas da alma”. Tudo estava contido ali. Surpresa, alívio, humor, e um interesse ligeiramente crescente que provocou um aperto em algum lugar há muito esquecido no seu íntimo. Algo que ela colocou de lado sem mais do que um segundo de consideração. Um grito hesitante da variedade culminante ecoou pelo ar, fazendo com que as faces dela se enrubescessem. – Diabos – foi a única resposta dele, e, apesar do constrangimento do momento, ela achou a expressão atônita

do seu rosto engraçada. – É. – Ela riu. – Acho que deveríamos lhes dar um pouco de privacidade... mas eu realmente preciso do meu celular. Se for pegálo para mim, eu lhe preparo um bolo. Maeve lhe prepararia um bolo. Se ela houvesse estado ali, nada daquilo teria acontecido. – Um bolo? – Por favor. – Sou muito exigente em se tratando de bolo. Minhas irmãs me mimaram. Façamos o seguinte, você pega o celular

e eu me encarrego Romance, ali atrás.

do

Casal

O sujeito não sabia o que estava perdendo. Contudo, se Olhos Azuis não

queria provar dos talentos culinários de Maeve...? Tudo bem. Desse jeito, ela teria o seu pôr do sol, o seu telefone, e o seu bolo também, pois Maeve definitivamente iria lhe preparar um bolo quando voltasse à cidade.

– Fechado. Um momento constrangedor, muitos pedidos de desculpas murmuradas, e um pouco de arrumação apressada mais tarde, e o seu defensor da decência pública apoiou-se no parapeito ao lado de Nichole. Descansando os antebraços sobre a madeira gasta, enquanto fitava o sol poente com os olhos apertados. – Admito que me senti tentado a pegar um lápis e fazer algumas anotações.

Nichole sacudiu a cabeça, incapaz de conter um ligeiro sorriso. – O quê? Eu teria lhe feito uma cópia. Embora, talvez seja cedo demais para esse tipo de esquisitice na nossa relação? Rindo, ela recuou, forçando-se a resistir à tentação de inclinar-se mais para perto. – É, provavelmente tem razão. – A julgar por esse enrubescer bonitinho, eu diria definitivamente. E então, Vermelhinha? O sol está descendo rapidamente. – Vermelhinha? – perguntou. – Sujeito de olhos azuis? – Ele desafiou, apontando o dedo para as

próprias faces e assentindo na direção da dela. – Vermelhinha. Por ela ter corado, e nada tão mundano quanto à cor de seus cabelos. Uma pequena distinção que lhe trouxe um sorriso aos lábios, ao acompanhar o olhar dele na direção da bola amareloavermelhada do sol. Era lindo.

Por um longo instante ficaram assistindo, permanecendo em silêncio até a bola de fogo ardente desaparecer sob o horizonte. Braços musculosos apoiados no parapeito, as costas musculosos curvadas sob a camisa justa, o desconhecido ao seu lado deixou escapar um demorado suspiro de profundo contentamento.

– Puxa. Bom assim, não é? – Ela perguntou, brincando, ansiosa para aliviar a desconcertante intimidade do momento. Pensativamente, ele a fitou de esguelha, antes de endireitar-se e enfiar as mãos nos bolsos. – É, foi sim. – Não tem muito tempo para pores do sol? Os cantos de sua boca se repuxaram,

e ele curvou-se para frente. – Sabe, não é que eu não tenha visto muitos deles. É mais uma questão de estar envolvido demais em tudo que está acontecendo, onde eu tenho de estar em seguida, quanto tem de ser feito, o que

está prestes a me escapar. – Ele sacudiu a cabeça e a fitou. – Já faz muito tempo desde a última vez em que fui capaz de desacelerar e simplesmente... aproveitar o básico. Tempo demais. – Eu entendo. As coisas pequenas têm um jeito de deixar a gente para trás rapidinho, se não prestarmos atenção. E, então, quando finalmente notamos, às vezes, tudo que perdemos não parece tão pequeno assim.

– É exatamente isso. – Ele riu, seus olhos azuis fitando-a com indagadora intensidade. – E então? O que a vem deixando para trás? Talvez justamente isto. Ela deveria ter desviado o olhar. Feito pouco caso dos dois estarem

postados ali. Feito uma piada e colocado um pouco de distância entre os dois. Contudo, pela primeira vez em três anos não queria distância e a proteção de piadinhas sem sentido. Queria estender aquele instante e toda a simplicidade que ele oferecia, fazendo com que durasse para ambos. Era loucura. Não conhecia o sujeito. Tudo que sabia era que ele fizera alguma referência vaga a uma vida ocupada e ao desejo de não perder as coisas simples. E, no entanto, havia algo nele, uma estranha sensação de familiaridade, uma conexão que a fazia se sentir como se o conhecesse. Que a fazia pensar na sua própria vida e nas

coisas simples que evitava por medo das complicações que pudessem trazer. – Tanto assim? – Ele perguntou, fazendo-a dar-se conta de que não respondera. – Parece que mais alguns pores de sol cairiam bem para nós dois.

– Parece mesmo – ela concordou, agradecida pelo simples alívio.

DIABOS, AÍ estava novamente. Aquela vermelhidão ardente apossando-se de sua pele. Ele estava adorando, e estava sendo necessária boa parte da sua resistência para não se aproveitar do adorável rubor. Mas não viera à festa de boas-vindas de Jesse para se envolver com ninguém.

Na realidade, encontrar mulheres era a última coisa a lhe passar pela cabeça. Queria sair. Queria se reconectar com os amigos. Observar o pôr do sol. Após seis anos de cruzar a porta da frente com metade da sua comida pedida para viagem já consumida e seguir direto para o escritório nos fundos, onde costumava trocar um tipo de trabalho por outro, estava cansado. E, agora, com o diploma nas mãos, queria a simplicidade de saber que deixara o dia para trás e que as noites... enfim... eram suas para fazer o que bem entendesse com elas. Contudo, ali estivera ela. Parecendo estar perdida. E ele não soubera o que

pensar. Tendo criado as quatro irmãs através da adolescência, seus pensamentos tinham a tendência de seguir para lugares sombrios quando não entendia o que estava acontecendo. Graças a Deus estivera errado. Só que quando ele, por fim, entendera de onde vinha a vulnerabilidade, aquela enlouquecida sessão de tórrida paixão que ele próprio tinha de admitir que fora bem intensa, ela já aparecera no seu radar. – Ora, ora, vejam só quem apareceu?

– veio o primeiro de vários cumprimentos alegres, interrompendo os seus pensamentos, quando um grupo de seus velhos amigos começou a aparecer no telhado.

– Sam disse que estava aqui, mas eu me recusei a acreditar. – Cara! Inacreditável! Sorridentes olhos castanhos o fitaram.

– Isso é tudo para você? – Aparentemente – ele respondeu, com um sorriso largo, ao ver muitos dos antigos rostos com os quais perdera contato. – Já faz um bocado de tempo. – Tempo demais? – Ela perguntou com um sorriso brincalhão nos lábios. – Definitivamente, tempo demais. Naquele exato instante, o celular dela

tocou, e, atendendo-o, ela acenou, e começou a recuar. – Nesse caso, deixarei que coloquem

o assunto em dia.

Ele estendeu a mão na direção do cotovelo dela. Acompanhou o olhar dela até o ponto de contato entre os dois, demorando-se ali, e, hesitantemente, retornando até o dele.

– Obrigado pelo pôr do sol, Vermelhinha. – Você também, Olhos Azuis – ela retrucou baixinho, recuando quando ele recolheu a mão, antes de pegar as escadas de volta para o apartamento de Sam. Um sonoro tapa no seu ombro o trouxe de volta para a realidade. – Diabos, Garrett. Está aqui há o quê 15 minutos e já alinhou a sua próxima vítima? Curvo-me ante o mestre, cara!

Garrett Carter olhou para os sujeitos com quem frequentara a escola e sacudiu a cabeça. Ah, diabos. Isso de novo não.

Capítulo 2

COM

telefone colado ao ouvido, Nichole deteve-se no patamar silencioso no pé das escadas, seu coração batendo forte no interior do peito. O

– Acho que voltei a mergulhar um dedo na piscina. – Espere... o quê? Você acha... ah, meu Deus. Você não...? Conte-me tudo.

Nichole mal havia conseguido dizer algumas frases quando Maeve a interrompeu.

– Pare, pare, pare. Descreva o cenário, pelo amor de Deus. Detalhes. Como era o sujeito? Do tipo tosco, ou mais refinado? Grande e forte? Você entendeu. Não esconda nada. Droga, por que estou em Denver?

– Calma, Maeve – Nichole falou rindo. – Como estão indo as negociações do acordo? – O sujeito, Nikki. Não me faça implorar. – Tudo bem, tudo bem. Definitivamente é um daqueles homens que chamam atenção. Do tipo magnético. Mais de um metro e 80. Mas charmoso do que bonito. E, os olhos dele... quando esse sujeito olha para você... nem sei

como descrever. – Mmmmm... gostei. Continue. Rindo, Nichole sacudiu a cabeça, encostando-se na parede enquanto expunha todos os detalhes físicos de que conseguia se lembrar antes de relatar os poucos minutos que haviam compartilhado. Quando concluiu, Maeve pigarreou indelicadamente. – Só isso? Que parte do seu dedo sequer chegou perto da piscina? A meu ver, você nem chegou a se molhar.

Sentindo-se ligeiramente irritada, Nichole retrucou: – Não falei que me atirei nos braços do homem! Só foi um momento tranquilo e agradável que pareceu diferente de quando estou com Sam, ou com você, ou

com alguém da turma de costume. Não ia a lugar nenhum, mas definitivamente havia algo no ar. Após um instante de silêncio, Maeve perguntou: – Se havia algo no ar, por que haveria de não ir a lugar algum? – Espere um segundo. – Nichole apertou-se ainda mais de encontro à parede atrás de si, acenando rapidamente para um grupo que passou por ela rumo ao telhado. Quando se viu novamente a sós, respondeu: – Não acho que ele seja daqui. Jamais o vi antes. Mas parece conhecer muitos dos amigos de Jesse. Tenho a sensação que só está aqui de passagem, visitando.

– Recapitulando. Você tem aversão a compromisso. Conheceu um bonitão charmoso com quem rolou algo no ar, e acha que ele só está de passagem. Acho que deveria haver uma solução óbvia aqui. Como talvez dê para você juntar o útil ao agradável... – Entendi o que você quis dizer – Nichole interrompeu a amiga, sentindo novamente as faces ardendo. – Mas, sinceramente, não. Apenas não.

O suspiro de Maeve foi sofredor e demorado, mas Nichole pôde perceber o sorriso por trás dele. – Tudo bem. Desperdice essa excelente oportunidade para o que parece ser simples diversão sem muita

complicação. Nichole franziu a testa ao olhar para o topo das escadas. Não. Foram apenas alguns minutos. Uma conexão do tipo passageira. Mais nada. Outro grupo passou por ela. Decidindo acompanhá-lo, ela encerrou a ligação com Maeve, prometendo mais mexericos e fofocas da festa assim que possível. No telhado, olhou ao redor, percebendo que uma grande multidão se reunira ali. Do jeito que havia gente chegando sem parar à festa, Nichole provavelmente jamais voltaria a vê-lo. O que era bom, pois, no fundo, não estava mesmo interessada.

Contudo, ainda assim, deu-se conta de que estava prestando atenção nos rostos, seu olhar passando distraidamente por amigos e conhecidos sem se deter, na busca por um desconhecido.

E então, ela o encontrou. Quase uma cabeça mais alto do que a maioria ao seu redor. Aquele vívido olhar azul chocou-se com o dela. Gritos de alegria ecoaram pelo telhado, e todas as atenções se voltaram para a porta que levava às escadas, onde Jesse estava postado com um sorriso surpreso no rosto. Ela só o encontrara uma única vez antes que ele fosse embora, cerca de dois anos atrás, mas lembrava-se dele como sendo tão legal

quanto o irmão, que agora o estava puxando para um abraço. Olhou de volta para onde o seu herói de olhos azuis havia estado, contudo, ela o perdera de vista em meio à multidão.

A FESTA ESTAVA correndo solta, o telhado lotado, a atmosfera tão acolhedora quanto a sempre crescente rede social de Jesse e Sam. Garret conseguira arrancar alguns minutos na companhia do seu amigo mais antigo e fizera planos para mais tarde na semana, antes de permitir que o próximo convidado ansioso para cumprimentá-lo chegasse até ele. Mas saíra do meio da multidão antes de encontrá-la

novamente. Nichole. Era o nome dela. Precisara de quase uma hora para pescar isso das conversas ao seu redor, antes de ligá-lo a mulher de reluzentes olhos castanhos claros e cabelos ruivos. Os trechinhos de conversas que pescara e os olhares rápidos que trocaram quando em meio a um grupo de amigos e conhecidos em comum formaram na sua cabeça a imagem de uma mulher de quem ele gostava. Uma mulher que ria com facilidade, que falava com inteligência e que não se levava muito a sério. Uma mulher que gostava de fazer piadas e provocar. E cujo sorriso distraído fazia algo com ele

que Garrett não sabia bem como explicar. Ele a queria. Não do modo como costumava querer as mulheres com quem saía. Não para um pouco de conversa superficial, jantar ou drinques de praxe que não passavam de meios de se atingir um objetivo ao qual vinha se limitando desde que se entendia por gente. Sempre fora tudo para o qual tivera tempo. Pois passara cada minuto disponível tornando a sua construtora a melhor na cidade, tirando o seu diploma e impedindo que as quatro irmãs fizessem tudo aquilo que não queria que fizessem. Nichole o fazia querer mais. Ela o

deixava curioso, o fazia querer ficar por

ali, e sem pressa descobrir se poderiam ter algo... descomplicado. Não muito sério, mas real. Por algum tempo. Garrett também queria o resto. As partes em que descobria até onde poderia levar aquele rubor adorável. As partes onde a tinha sob si, todo aquele seu cabelo cor de fogo esparramado sobre o seu travesseiro, enquanto arremetia para o interior dela. Contudo, quando essas partes terminassem, e antes mesmo que começassem, queria mais. Ao redor deles, a conversa de algum modo se voltara para filmes feitos em Chicago, e quem poderia enumerar mais deles. Em meio a títulos que iam de lá e

de cá, Garrett discretamente assentiu na direção do canto do telhado de onde assistiram o pôr do sol. As sobrancelhas finas de Nichole se aproximaram uma da outra, seus dentes fincando no farto lábio inferior, em uma expressão inconfundível de incerteza que não deveria ter ido direto para a sua virilha, mas foi. Pelo menos até vê-la mexendo no celular que carregava de um lado para o outro. Estava passando uma mensagem de texto?

Na mesma hora pensou na irmã, recorrendo ao seu “salva-vidas” para tomar alguma decisão idiota que não confiava nele para ajudá-la. Seria isso também resultado de indecisão? Espere... que diabos...? Ela não

estava erguendo o celular para tirar uma foto dele, estava? OLHOS FIXOSna tela, mal escutando o acalorado debate sobre os filmes clássicos de John Hughes nos subúrbios da cidade, Nichole estivera tentando enquadrar a foto, quando, subitamente, o seu alvo estava diante dela.

Ah, Deus. Fora flagrada tirando o retrato dele para enviar para Maeve. Seu olhar lentamente subiu pelo corpo alto, arrepiando-se ao avistar o trecho de pele masculina exposta na base do pescoço, acima da camisa, e ela forçouse a continuar até alcançar aqueles duros

olhos azuis. Sentiu um frio na barriga. – O que está fazendo, Vermelhinha? Engolindo em seco, ela sacudiu a

cabeça. O que estava fazendo? Tentando tirar a foto de um desconhecido, porque não conseguia entender a reação que estava tendo a este? Porque não conseguia tirar os olhos dele por mais do que três segundos seguidos, e precisava do julgamento de uma fonte na qual pudesse confiar? Alguém que a conhecesse quase também quanto ela própria se conhecia. Maeve. De modo que, basicamente, estava se portando como uma tremenda maluca. Uma mão firme pousou-se ao redor do seu pulso, empurrando o telefone para

baixo, e eliminando qualquer tentação de pressionar o botão que tirava a foto. A pele sob o seu toque aqueceu-se, como se uma descarga elétrica fraca houvesse passado da mão dele para a dela. Subitamente, tudo em que Nichole conseguia pensar era em quanto tempo fazia desde alguém a tocara por mais do que o mais breve dos instantes. Que prazer simples foi aquele toque quente e prolongado. E como sequer se dera conta de como sentira a sua falta.

Ele estava curvando-se para perto da sua orelha, e o calor da sua respiração a deixou toda arrepiada. – Vermelhinha? – Não sei o que estou fazendo.

Homens não costumam... quero dizer, eu não... – tentando encontrar as palavras certas, ela lambeu os lábios, e viu o olhar dele ficar mais intenso. – Você tem alguma coisa que... Talvez houvesse sido o modo como ele não hesitara em proteger uma mulher que sequer conhecia. Ou como tinha um corpo que passava a impressão de que quebrava pedras para viver, contudo, ainda era capaz de discutir economia internacional tão facilmente quantos os méritos de Léia em vez de Uhura. Ou como saboreava as oportunidades de parar e aproveitar as coisas simples. Ou como as suas piadas infames a faziam rir, como se ela o conhecesse há anos. Ou talvez fosse apenas que quando o

olhar dele passava pelos seus cabelos, Nichole podia sentir os seus dedos mergulhando neles. Poderia ser tão simples? Ele a fazia se sentir como uma mulher e a fazia notá-lo como homem... quando, durante tanto tempo, ninguém o fizera. Uma risada áspera brotou de sua garganta, e ele soltou-lhe o pulso, deslizando lentamente a mão para cima e para baixo no seu antebraço.

– Você também tem alguma coisa. O que me diz de darmos o fora daqui e descobrirmos o que é? Dar o fora dali? O coração dela quase parou. Isso não era molhar nenhum dedinho para testar

as águas. Era um mergulho de cabeça na parte funda da piscina. E o mais apavorante era que, ao fitar aqueles brilhantes olhos azuis, ela se sentiu muito tentada. Onde estava Maeve quando mais precisava dela? Foi então que se deu conta. Não precisava de Maeve. Não só sabia com cem por cento de certeza o que a amiga iria querer que ela fizesse... conhecia a si mesma. Esse sujeito era o prazer simples de que vinha sentindo falta. Era óbvio que tinha alguma ligação com mais da metade das pessoas ali na festa, que pareciam gostar muito dele. De modo que havia boas chances de ele não ser

nenhum assassino em série. Era a primeira vez que o encontrava, e ele não parecia ser dali, o que aumentava as chances de aquilo ser algo breve e passageiro. Algo momentâneo. Algo que ela queria mais com cada segundo que passava. Um sorriso lento alargou-lhe os lábios. – Muito bem, Olhos Azuis. Vamos lá.

Capítulo 3

– VAMOS LÁ. Garrett soubera antes mesmo das palavras lhe abandonarem os lábios. Vira o modo como aqueles olhos castanhos haviam se firmado, pressentira a mudança no ar entre eles. E sentira o próprio corpo reagindo à primeira vitória. – É, vamos. Tomando-lhe a mão, manteve os olhos nela ao seguir na direção das escadas.

Se estivesse olhando para ele, ela não notaria as sobrancelhas erguidas sobre os olhos que os fitavam, nem os cochichos furtivos. Pensaria apenas em encontrar um lugar onde pudessem conversar tranquilamente. Ele ouvira falar de um café na região que era bem popular com a turma da madrugada. Talvez estivesse na hora de descobrir por si próprio. No pé das escadas, Nichole se deteve. – Precisa se despedir de alguém? – Não, tudo bem. – Ligaria para Jesse no dia seguinte. O resto do pessoal não demoraria a ver. – E você?

Com um ligeiro sorriso, ela sacudiu a cabeça e desviou o olhar.

– Não está preocupada que as pessoas nos vejam indo embora juntos?

Torcia muito para que ela não estivesse. Contudo, o estrago já estava feito, e caso ele retornasse sozinho para a festa, tudo que conseguiria seria minimizá-lo. – Tenho 26 anos de idade, não 16. – Ela riu nervosamente. – É só que não estou acostumada a agir assim, e não quero perder a coragem. Diabos, ela era uma graça. Em tom conspiratório, perguntou baixinho:

– Perder a coragem para o quê? Em vez do rubor que Garrett estava esperando, uma espécie de determinação hesitante iluminou-lhe o rosto, deixando-

o curioso no tocante ao que ela estaria lutando contra. Ao afastar um cacho solto para longe de sua testa, ele notou a língua rosada passando rapidamente pelo lábio inferior, e sentiu a virilha se retesando, fazendo com que tivesse vontade de tirar proveito das escadas vazias e mal-iluminadas, daqueles lábios que pareciam atraí-lo de uma maneira irresistível. Precisava tirá-la dali. Levá-la para a sua ca... Não. Ainda não. Esta era diferente. – Minha coragem para isto – ela murmurou, um instante antes de beijá-lo, pressionando a boca à dele e provandolhe os lábios com um ligeiro chicotear

da língua, demolindo o homem que ele quisera ser para ela, e libertando o homem que ela convidara a entrar. Diabos. Levando a mão ainda segurando a dela às suas costas, inspirou lentamente naquele local mais sensível logo abaixo da orelha da mulher, permitindo que o seu tremor ligeiro e o perfume doce se apossassem de seus sentidos, levando o caos ao seu corpo. – É o que você quer? – Ele perguntou, com um rosnado baixinho, sabendo que era, mas, assim mesmo, querendo escutá-la admitir. – Há tanto tempo que me preocupo em evitar complicações, que acho que

também venho perdendo um bocado das coisas simples. – Ela engoliu em seco. – Também não quero perder isto.

Ela não poderia ficar melhor. – Nesse caso, não perderá. Dez minutos mais tarde, em meio a risadas e suspiros de luxúria, Garrett girou a chave na fechadura, e a porta da frente do apartamento de Nichole se abriu ante o peso combinado dos dois. Cambaleando para dentro do apartamento, Garrett endireitou a ambos e fechou a porta com o pé, passando o ferrolho logo em seguida. Ela recuou sobre o piso de madeira, mal se mantendo um passo adiante dele, os olhos brilhando, os lábios curvados e entreabertos, sua respiração ofegante.

Ela passou os olhos por ele, e o agora persistente rubor de suas faces aprofundou-se, concentrando rápida e violentamente o sangue na sua virilha já latejante. Ela estendeu as mãos para ele, os dedos esbeltos se curvando ao redor do cinto, puxando até Garrett se permitir ser rebocado. Perto o suficiente para tomá-la nos braços, cobrindo-lhe as nádegas com as mãos, deslizandoas para baixo até chegar às costas das coxas e erguê-la de encontro a si. Ela inspirou fundo ao cruzar os calcanhares às suas costas, o castanho dos olhos ficando quase preto quando as pupilas se alargaram. – Deus, você é linda – ele gemeu,

lutando contra a vontade de possuíla ali mesmo, de encontro à parede. Assentindo distraidamente, ela se pôs a trabalhar nos botões da camisa dele, afastando o tecido como se estivesse revelando o emblema do Super-Homem ali debaixo. – Você também – ela respondeu, os olhos brilhando ante a visão dele. Subitamente, transpor um edifício com apenas um salto não parecia tão impossível assim. A porta para o quarto dela já estava aberta, e a visão da cama feita, com sua delicada roupa de cama lilás, só fez deixá-lo ainda mais duro do que se recordava de já haver estado. Diabos, estava voraz por sexo. Pelo corpo dela.

Pelo rubor rosado de sua pele e pelos sons que ela faria quando a levasse ao clímax. Queria tudo aquilo. Mas isto... esta expectativa ardendo por suas veias... era o que realmente viera encontrar. A parte que seria diferente. A parte onde aguardaria até ter arrancado de Nichole o último suspiro e gemido que o seu corpo tinha a oferecer.

Ele a depositou de barriga para cima na cama, apoiando-se no colchão com um dos braços. Com as pernas ainda ao redor dos quadris dele, ela o fitou. – Ainda não sei o seu nome. Ele abriu a boca para lhe dizer, quando algo nas profundezas daqueles

olhos escuros o fez hesitar. Algo excitado. Sorrindo, seu tom de voz um rosnado baixinho e sedutor, ele perguntou:

– A questão é, será que você não prefere assim? O gemido que escapou de sua garganta esbelta serviu de resposta, quase o levando ao clímax. Ele realmente achara que ela não poderia ficar melhor? PERFEITO. AQUELEespécime masculino rijo, ardente e de dar água na boca era o por do sol dela. Seu prazer simples e descomplicado. Era a fantasia que ela enfim podia se dar ao luxo de viver. A

aventura inconsequente que sequer ousara sonhar. E, mais ainda, era seguro.

Porque nem mesmo sabia o nome dele. Mulheres não planejavam para sempre com homens que não sabiam o nome. Não tinham a ideia errada. Não interpretavam erroneamente intenções. Nem se deixavam levar por sonhos que não as levariam a lugar algum.

Tinham apenas noites isoladas sem complicações. Esta era uma noite de abandono selvagem para a qual inconscientemente vinha se poupando há três anos. Mais tempo do que isso, se estivesse disposta a pensar bem. Contudo, não estava. Não

naquela noite. Não quando aquele instante, com o desconhecido abaixando a boca até a depressão entre os seus seios, era bom demais para se perder um segundo que fosse.

Aqueles olhos azuis a fitaram e os cantos de sua boca se curvaram em um sorriso travesso. – Este lacinho vem implorando a noite inteira para que eu brinque com ele

– murmurou. Tomando uma das pontas entre os dentes, ele puxou até o nó se libertar, deixando Nichole sem fôlego. Jamais pensara na bata cor de pêssego como sendo particularmente sexy. Na realidade, há anos que não atraíra conscientemente atenção para si

mesma. Contudo, ante o som áspero de apreciação que escapou da garganta dele ao usar as mãos para afastar o tecido macio, ela corou de prazer. A língua do homem mergulhou fundo ali no meio, primeiro umedecendo a pele e, depois, o seu sopro agradável fazendo-a contorcer-se no seu íntimo. Não havia contato o suficiente entre eles. Não para o modo como o seu corpo estava começando a latejar. A aquecer. A ansiar. Ele estava acima dela na cama, o peso do seu corpo apoiado em um dos braços e nos joelhos ladeando-lhe as coxas. Sua língua voltou a se aventurar sobre o volume dos seios, antes de se deter

provocantemente a centímetros do mamilo. Tão perto. Arqueando-se em sua direção, ela ofereceu o botão intumescido para ele beijar, implorando para que afastasse o sutiã e se apossasse dele. Contudo, com a mesma velocidade, ele recuou, desenhando outra trilha úmida até a sua clavícula, seu pescoço e, então, até o ponto decadente atrás de sua orelha, que jamais parecera tão sensível. – Eu a quero nua, Nichole – ele rosnou de encontro ao ponto, fazendo o coração dela bater acelerado.

– Você sabe o meu nome – ela suspirou, quando a palma da sua mão deslizou por sobre a bainha da sua bata, empurrando-a para cima.

Retirando a peça por sobre a sua cabeça, ele a jogou de lado e fitoulhe os seios, ainda cobertos pelo sutiã cor de creme. – E você não sabe o meu. Ela engoliu em seco. Não deveria ser excitante. Nichole apenas quisera considerar isso uma proteção contra este homem capaz de despertar a primeira reação que o seu corpo tivera em três anos, e possivelmente a mais intensa que este já tivera. Contudo, não havia como confundir o seu tom zombeteiro e brincalhão. Era uma provocação sexual. Ou algo muito parecido com isso, considerando como apenas as palavras e

todas as suas implicações sugestivas atiçavam os lugares latejantes no seu íntimo. Lugares que ela jamais pensara existir. Com um girar dos dedos, o fecho na frente abriu. Outro movimento ágil, e ela estava exposta. Os bicos dos seios retesados e ansiando pelo toque que apenas ele poderia lhe dar. E, agora, sob a intensidade daquele elétrico olhar azul, ela não saberia dizer se conseguiria respirar de novo se ele não

a tocasse. – Nua, Nichole.

Capítulo 4

RECUANDO

PARAfora da cama, ele a

ajudou a retirar o jeans e a calcinha. Fitando-lhe o corpo nu estendido diante de si com evidente apreciação, ele arrancou a camisa com movimentos eficientes e pôs-se a trabalhar no cinto. A boca de Nichole ficou seca, os olhos arregalados. Instantes depois, estava ajoelhada na beirada da cama, afastando as mãos dele da tira de couro e deslizando as suas próprias pelo seu

peito. Sentira o poder naqueles ombros quando ele a carregara, notara a definição do peitoral quando lhe abrira a camisa... Contudo, nada a preparara para a superfície trabalhada do seu corpo sem camisa. Ele era uma obra de arte. Um deus grego. Um verdadeiro playground de músculos e homem. E estava apenas seminu. – Nu – ela murmurou, seus dedos deslizando sobre o abdômen ao voltarem até o cinto, puxando a tira de couro até libertar a fivela, dirigindo-se em seguida para o zíper. Ele postou-se pacientemente diante dela enquanto Nichole abria-lhe a braguilha com os dedos trêmulos. Como

se houvesse pressentido que ela quisesse ser uma cúmplice ativa, em vez de uma participante passiva. Contudo, ele ainda a tocou o tempo todo, jamais interrompendo contato, suas mãos sempre se movendo, deslizando por sobre os ombros expostos, o pescoço, e voltando ao início, enquanto ela lhe empurrava o jeans para baixo. Seus polegares roçaram-lhe o queixo, os lábios fartos, a depressão na base do pescoço, enquanto ela passava o elástico da cueca samba canção branca por sobre a ereção, pela primeira vez vislumbrando-o em toda a sua glória.

Grande. Como o restante dele.

Diferente. De tudo que já experimentara antes.

Excitante. De um modo que jamais conhecera. Incapaz de resistir, cerrou a mão ao redor dele, testando a sua extensão rija.

– Nichole. Ante o som áspero do seu nome, ela ergueu o olhar até encontrar aquele azul intenso do dele. Ardente. Malcontido. Um contraste chocante com o seu toque leve. A expressão do seu olhar deixando claro que queria jogá-la de volta na cama e possuí-la duramente. Permitir que o peso de seu corpo a imobilizasse. Puxa. Tudo bem. Tinha quase certeza de que era o que ela também queria.

Ela lhe deu espaço para chutar longe os sapatos e acabar de tirar o jeans, no processo pegando a carteira e o preservativo em seu interior. Ofegante de crescente expectativa, esperou que ele abrisse a embalagem e vestisse a camisinha... franzindo a testa quando, em vez disso, ele descartou a embalagem sobre a cama.

Por favor, não deixe que seja um daqueles sujeitos que só quer usar proteção bem no final. Estava tão excitada, tão envolvida pela magia do que estava acontecendo, que realmente não queria ter uma conversa enfadonha e estraga-prazeres sobre riscos, necessidade e proteção.

Ante o seu olhar indagador, ele ergueu a sobrancelha. Tudo bem. Parece que ia mesmo ter a conversa. – Hã, vai usar isso o tempo todo, não vai? Os olhos acima dela pareceram confusos por um instante, antes de se desanuviarem por completo. – Eu jamais correria esse tipo de risco, Nichole. Não com a sua vida. Não com a minha. A convicção das palavras dele foi inconfundível, e não deixou qualquer dúvida no tocante à sinceridade e à dedicação dele à proteção mútua dos dois. O que foi inacreditavelmente sexy.

Quase tão sexy quanto quando a sua boca curvou-se de um jeito que sugeria que havia um segredo ainda se escondendo por trás do seu sorriso. Um segredo que parecia estar ansioso para compartilhar com ela. – O que, não achou que a diversão e as brincadeiras haviam acabado, achou?

Ela engoliu em seco, sem querer admitir que, na sua experiência, o bruto da diversão e das brincadeiras costumava acontecer no espaço de tempo entre a camisinha ser vestida e retirada. – Eu... eu não sei. Ele inclinou-se para perto, e, depois, ainda mais para perto, até a pressão leve

da sua boca de encontro à orelha e a pressão do seu peito nu nos ombros dela a guiarem de volta para a cama. – Nem estão perto de acabar. Uma risada nervosa escapuliu dela, sentindo-se retesar-se toda no seu íntimo, de tanto desejo. A mão dele deslizou entre as pernas dela, tocando-lhe o sexo, enquanto ele a fitava nos olhos. Um único dedo grosso deslizou por entre as suas dobras úmidas, penetrando-a. Profundamente. Lenta e constantemente. Ele retirou-se para desenhar um leve círculo ao redor daquele feixe de nervos pulsantes, a superfície calejada do dedo acrescentando sensações quando ela já estava além do que achava ser capaz de

suportar, seu toque áspero, porém gentil, provocando um contraste sensual e decadente. Diferente. Como tudo a respeito dele. A respeito desta noite.

Outra arremetida lenta do dedo, e os quadris dela foram ao seu encontro. Suas costas se arquearam, e o desejo ardentemente acumulado no seu íntimo transbordou, deixandoa lubrificada, fazendo-a implorar. – Por favor. Eu preciso... – Precisa de mais? Um segundo dedo juntou-se ao primeiro, este arrancando um suspiro dos seus pulmões, em vez de palavras.

Desejo retesou-se no seu íntimo, fazendo-a pulsar ao redor das suas arremetidas lentas. Fazendo a sua pele arder e o seu íntimo incendiar-se.

– Preciso de você... – Para deixá-la tão ardente e pronta que, quando finalmente alcançar o orgasmo, sentirá como se ele não tivesse fim? – Ah, Deus. – Seu corpo estremeceu, ardor líquido percorrendo-lhe as veias, levando-a na direção do orgasmo. – Eestou tão próxima. Por favor... faz tanto tempo. Por favor.

Ainda tocando-a no íntimo, ele fitou-a nos olhos. – Quanto tempo?

Outra arremetida profunda, esta mais devagar, de modo que pôde sentir os dedos acariciando algum ponto travesso que prometia torná-la sua escrava. – Anos – admitiu, com um suspiro, incapaz de suportar a intensidade do seu olhar por um mais instante que fosse,

A mão dele ficou imóvel, antes de retrair-se. Ela sentiu o colchão oscilar sob o seu peso. Tomada de pânico, ela arregalou os olhos. Ele não podia parar. Não agora.

– Não, espere... Foi só então que se deu conta de que ele não estava deixando a cama, mas sim se posicionando entre as pernas dela. Suas mãos largas as afastaram de um

modo que, com qualquer outro homem, ela teria se sentido vulnerável, exposta. Não com ele. Não quando as enormes mãos dele deslizaram para debaixo dela, e ombros largos apoiaram as suas coxas. Não quando ele olhou nos seus olhos, e disse:

– Chega de esperar. E então, a sua boca estava cobrindoa, sua língua imitando os movimentos dos dedos há apenas alguns instantes... só que era diferente. Tão incrivelmente diferente. Muito mais... intenso. Estimulante. Duro, e úmido, e gentil, e forte. Tudo. Ele estava mergulhando no íntimo dela e abrindo passagem até o seu ponto mais sensível.

Acariciando.

Mordiscando. Circundando com a ponta aveludada de sua língua. Fazendo-a arquejar, e chorar, e implorar, e gritar. E, então, ele arremeteu para dentro dela... chegando àquele latejar ansioso, arrancando sensações de cada extremidade formigante... concentrando tudo em... um... único... ponto.

Ela estava despencando. Demorada e maravilhosamente delicioso. Chegar ao apogeu jamais fora tão incrível. Jamais chegara perto de ser tão incrível. Talvez fosse o anonimato. Ou o

semianonimato, já que ele deixara claro que sabia o nome dela, repetindo-o inúmeras vezes com a sua voz grave e retumbante que acariciava cada uma de suas terminações nervosas com a língua úmida que o proferia.

Em seguida, ele estava sobre ela, dando-lhe um gostinho do que era ter o seu corpo sobre si. Seus lábios lhe roçaram o pescoço. Gentis, demorados. Estendeu a mão na direção do preservativo, contudo, sem qualquer pressa, e Nichole se deu conta de que ele a estava saboreando, como saboreara o por do sol. Ah, não, aquela vontade intensa de envolver-lhe o pescoço com os braços e puxá-los para si não tinha lugar ali. Ou

talvez tivesse. Talvez fosse apenas um efeito colateral normal das endorfinas sendo liberadas, e não o seu coração inconsequente se precipitando. Não sabia dizer. O que ela precisava era de um perito. Alguém com algum ponto de referência em se tratando de algo sem importância.

Não conseguia acreditar no que estava pensando... e enquanto ainda estava na cama com um desconhecido de olhos azuis. Contudo, talvez Maeve tivesse razão, e ela devesse conversar com... – Garrett – escutou a grave voz masculina dizer. Os olhos se arregalaram e um frio

intenso apossou-se da barriga de Nichole. – Posso senti-la ficando tensa. Apoiando-se nos cotovelos ele ergueu-se para fitá-la nos olhos. Com olhos subitamente familiares. Ah, meu Deus. – É divertido brincar, mas não quero que fique imaginando ou se preocupando com quem foi que esteve. Meu nome é Garrett. – Garrett... Carter? Os músculos dele se retesaram. – Você me conhece? Ah, sim, ela o conhecia. E isso deve ter ficado estampado no seu rosto, pois Garrett estremeceu, uma expressão sentida apossando-se de seu rosto antes

de ser substituída por outra de...

resignação. Ficando de pé, ele pegou a colcha leve de sobre a cadeira no canto e a atirou para ela. Vestiu o jeans antes de virar-se para ela. – Não sei o que foi que escutou, mas isto... esta noite, Nichole... não é...

Ele ficou imóvel, seu olhar ardente percorrendo-lhe a pele, o cabelo... passeando pelo quarto antes de pousarse na estante de livros do outro lado do quarto. E seu corpo pareceu congelar. Ela sabia o que ele vira ali. A foto que Maeve lhe dera de Natal ano passado. A foto com os rostos sorridentes das duas. Garrett deu um passo hesitante à

frente, suas feições enrijecendo. Ele fechou os olhos.

– Nichole? Nikki Daniels? Garrett Carter. O irmão de Maeve. O Encantador de Calcinhas. É, ela também não conseguia acreditar. Uma coisa era certa. Não precisava se preocupar no tocante à noite tornarse mais complicada do que... bem, isto.

Maeve riria disto. Nichole tinha certeza de que riria. Teria que rir. Não havia nenhum risco de terem uma relação... não por conta de um pequenino deslize que ela não pudera prever. – O que é isso? – exigiu saber a voz que há poucos instantes estivera

sussurrando o nome dela no seu ouvido. Ela ergueu a cabeça e viu que Garrett parara de andar de um lado para o outro e estava olhando fixo para o pequeno retângulo de tecnologia que ela

inconscientemente pegara. – Meu telefone. Na sua cabeça, o instrumento que a ajudaria a resolver aquela situação, que tranquilizaria Maeve de que a amizade das duas continuava tão forte quanto antes. Desta vez, não haveria constrangimento. Não como com... – Fala sério. Um telefone, Nikki? Trazida de volta da iminência de uma das piores lembranças de sua vida, Nichole concentrou-se no homem que a

fitava intensamente. Quer dizer que agora ela era Nikki? Como se Garrett achasse que a conhecesse, ou coisa parecida? – O que está fazendo com ele? Nada ainda. Contudo, sua intenção era óbvia. Mesmo havendo levado um instante para a sua cabeça entrar em sintonia com os polegares.

– Mandando uma mensagem de texto para Maeve. Com dois passos largos, ele adiantou-se até a cama. – Uma ova que vai. – Ele agarrou-lhe

a mão. – Se tirou uma foto minha com esta coisa, juro por Deus que... – O quê? Você enlouqueceu? Acha que tirei fotos suas quando estávamos...

estávamos... fazendo aquilo? Cruzando os braços diante do peito, Garrett recuou. – Não. Na verdade não pensei... – Outro rosnado mais grave. – Mas você tentou tirar fotos de mim na festa.

– E você disse não, de modo que eu não tirei. Embora, pensando bem, acho que nós dois já nos arrependemos de eu não ter tirado. O que Garrett lhe dera fora além de tudo que poderia ter imaginado. Contudo, independente de como fora bom, do quanto estivera precisando, nada valia à pena colocar em risco a sua relação com Maeve. Franzindo a testa, perguntou:

– Acha que Maeve teria me alertado sobre você? – Você acha que não? Sem dúvida teria sido por motivos diferentes dos de Nichole, contudo, sim, tinha quase certeza de que Maeve iria querer que ela soubesse com quem estava prestes a testar a temperatura das águas. Com uma expressão divertida, ele ergueu uma das sobrancelhas escuras. – Acho que ela estaria rindo demais para conseguir enviar a mensagem, contudo, por você, ela teria tentado.

– Acho que tem razão. Garrett se sentou no pé da cama... longe o bastante para que não pudesse

tocá-lo, contudo, não tão distante assim. Ela esticou a perna para fora da coberta, tentando alcançar com o pé a calcinha no chão, sem ter de deixar a

cama. Havia algo decididamente diferente em estar nua diante de Garrett, agora que sabia quem ele era. Correndo o risco de uma séria câimbra, ela esticou-se ainda mais, até ser capaz de fisgar a peça de algodão rendada com a ponta dos dedos do pé. Naquele instante, Garrett virou-se, apoiando-se no colchão com um dos braços, seus músculos se retesando ante o peso do seu torso e ergueu uma das sobrancelhas.

– O que está fazendo?

– A calcinha. Seu olhar percorreu o corpo semicoberto dela, fazendo com que Nichole puxasse os cantos da coberta, de modo a tentar se esconder melhor debaixo dela. – Realmente não sabia quem eu era? – Ele perguntou, ficando de pé. – Eu teria corrido na direção oposta. Sem querer ofender – completou, como se fosse possível não se deixar ofender

por isso. Contudo, aparentemente, ele não ficara ofendido. – Não, tudo bem. – Por quê? – Não gosto da ideia de o que

aconteceu aqui hoje à noite ser apenas mais uma conquista. Ela empertigou-se. – Isso vindo do famoso Encantador de Calcinhas? Garrett ficou imóvel, o jeans levantado até a cintura, mas a braguilha aberta. Pés descalços, peito nu, os cabelos curtos e escuros em desalinho...

teria dado uma foto digna de calendário feminino, senão pelo maxilar cerrado e os olhos estreitados.

– Você não acabou de me chamar disso. – Bem, quero dizer... Ele cruzou marchando o quarto, detendo-se diante dela. – E então? – exigiu saber, os

polegares enganchados nos bolsos da frente do jeans. – Não está sugerindo que eu a encantei de algum modo? Com um gesto de pouco-caso com a mão, ela tentou deixar a pergunta para lá. Em três anos, jamais sequer se vira tentada por outro homem. E, em menos de uma noite, jogara-se na cama e praticamente implorara para que ele viesse ao seu encontro. Se isso não era algum tipo esquisito de magia sexual, não fazia ideia do que, de fato, era.

Capítulo 5

RESISTINDO

Asucessão

de

obscenidades na ponta de sua língua, Garrett cerrou os dentes e massageou a ponta do nariz. Não poderia ficar pior do que estava. Bem, não era verdade. Poderia ficar muito pior. Já ficara pior. Aos 18 anos de idade, quando as amigas das irmãs mais velhas davam em cima dele, fora

muito pior. Isto, pelo menos, fora um acidente.

Nikki. Diabos, não era à toa que tinha aquela estranha sensação de ligação. Há anos que escutava Maeve falar sobre ela. Sabia que ela crescera em Milwaukee, que trabalhava até altas horas como contadora em alguma empresa grande no centro da cidade, que gostava mais de filmes de ação do que de romance, que lia de tudo, de ficção científica a biografias, e que adorava tortilhas de milho com manteiga de amendoim. Cantava desafinadamente com o rádio, quando achava que não havia ninguém escutando e não se envolvia com ninguém... nunca! Então, o que diabos estava fazendo rolando na cama com ele? Trazendo um

desconhecido para casa? Seus pés detendo-se sobre o carpete, Garrett sentiu um frio na barriga.

Foi todo aquele papo de apreciar as coisas simples da vida. Ah, droga. Talvez a tivesse mesmo “encantado”. Virou-se para ela, encolhida sobre a cama. – Olhe, sinto muito, mas não vou mentir para Maeve a respeito disto. Ela achava que ele estava preocupado que Maeve fosse descobrir? Não chegava nem perto da verdade.

– Se ela zombar de você, terá de ser homem e aturar. Ser homem? Ele explodiu em uma gargalhada. Nikki sem dúvida nenhuma

era uma das amigas da irmã, porque ninguém mais no planeta teria a ousadia de falar com ele daquela maneira.

– Não estou preocupado com um pouco de zombaria. Embora não tivesse dúvidas de que elas viriam, e seriam implacáveis, executadas por profissionais que ele mesmo treinara. Contudo, ele podia lidar com as zombarias. Faziam parte do costumeiro toma lá, dá cá.

– Então, qual é o problema? – Ela perguntou, puxando a colcha ao seu redor até a altura do pescoço. E essa era a primeira coisa. A visão de uma mulher que estivera completamente acessível para ele não

fazia 20 minutos, linda, nua e à vontade, implorando por mais enquanto fincava os calcanhares nas suas costas, suplicando para que ele não parasse. Essa mulher, a melhor amiga da irmãzinha, que não fazia sexo há três anos e que por alguma razão insana o trouxera para a sua cama, estava constrangidamente se escondendo atrás de uma coberta. Esse era o problema. Ele odiava isso.

Pigarreando, respondeu: – Você merece melhor. A segunda coisa, talvez parte de si estivesse se sentindo desapontada. Prejudicada. Por um instante, pensara que pudesse ter alguma coisa. É obvio que não estava

atrás de compromisso profundo, nem de obrigações a longo prazo. Precisava de mais responsabilidades como quem precisa de outro buraco na cabeça. Mas queria algo leve. Divertido. Ela parecia realmente divertida. E inteligente. E, simplesmente... fácil de lidar, de uma maneira que nada tinha a ver com o tipo de mulher com quem ele vinha saciando certas necessidades ao longo dos últimos 15 anos. Do tipo que sabia o que estava sendo oferecido e não estava atrás de nada mais do que ele. Algumas horas. De vez em quando. Nichole o fizera pensar em coisas como cinemas e conversas e passeios e todo o tipo de coisas que sujeitos

normais haviam experimentado na sua época de escola ou faculdade. Não que estivesse disposto a lhe contar nada disso. Ela não precisava saber. Provavelmente não acreditaria mesmo nele, considerando a facilidade com que a questão do Encantador de Calcinhas deslizara de seus lábios. Diabos, só podia imaginar todas as noções preconcebidas que ela devia ter a seu respeito. E a verdade é que permitir que ela se apegasse a elas serviria mais aos seus propósitos do que qualquer esclarecimento que pudesse oferecer. Pois ela era a melhor amiga de Maeve. O que significava que todas as preocupações que jamais tivera com outras mulheres subitamente estavam em

destaque nos seus pensamentos. Não poderia tentar algo sem importância com ela, pois se preocuparia com o efeito que o seu relacionamento com ela exerceria sobre o que ela dispunha com Maeve. Com o q u e ele tinha com Maeve. Embora estivesse pronto para mais do que apenas uma noite, o relacionamento para o qual estava preparado dizia respeito a admirar um pôr do sol ocasional... não cavalgar em direção a um. Dizia respeito a aproveitar uma companhia agradável por algum tempo... não para sempre. Dizia respeito a namorar. Algo sem muita importância, porém, exclusivo,

pensou, olhando para Nichole. – Olhe, Nikki, você é uma garota fantástica, mas não me envolvo com amigas de minhas irmãs. É uma regra que tenho. Sua expressão suavizou-se e ela estava se inclinando na direção dele. Garrett esforçou-se para não permitir que seu olhar se demorasse nas fendas sedutoras da coberta e nem nos vislumbres tentadores da carne a que ele tivera pleno acesso há apenas alguns minutos, mas que eram completamente proibidos agora. Roliça. Macia, Suculenta. O tipo de curvas tentadoras que imploravam parar serem mordiscadas. Lambidas e sugadas. O som de um pigarro o fez erguer o

olhar, despertando-o de seus pensamentos proibidos. Ele massageou os músculos tensos da nuca.

– Tudo bem. Sei que você está um pouco fora de si agora. Sua mão ficou imóvel, e ele arqueou uma das sobrancelhas para a mulher, como se ela houvesse acabado de proferir o impossível. – Como disse? Ela delicadamente deu de ombros, e gesticulou na direção dele. – Contudo, sinceramente, não precisa ficar. Eu não tinha nenhuma ideia errada do que estava acontecendo hoje à noite. O que poderia significar ou ao que poderia levar. É sério.

Pois sim. – Não precisa fingir comigo, Nikki. Acho que ambos sabemos... – Não, Garrett. Não sei o que acha que sabe a meu respeito. Mas... – Sei que já faz três anos. E que, antes desse período de seca, envolveu-se exatamente com dois sujeitos, e acabou noiva dos dois. De modo que eu diria que provavelmente era sério para você.

Sério demais para um sujeito como ele. – Vou fingir que você saber disso não me assusta. E vou esperar que vá embora antes de ter uma conversa com a sua irmã sobre privacidade, confiança e limites...

Ah, caramba. Isto estava indo morro abaixo, e rápido. – Não fique zangada com Maeve por conta disto. Por favor. Ela só estava me tranquilizando no tocante à galera com quem ela anda. Certificando-se de que eu soubesse que você não representava problemas. Que você era... você sabe...

chegada a compromisso... uma “boa garota”. – Algo no erguer das sobrancelhas dela o alertou do perigo, fazendo com que adotasse outra tática. – Não que eu não ache que seja boazinha agora. – Acho melhor parar por aí, Garrett. É, melhor mesmo. Era melhor dar o fora dali e começar a pensar no que

faria para apaziguar a irmãzinha quando esta soubesse que ele se envolvera com a melhor amiga dela. Só que, antes, tinha de se certificar de que ela ficaria bem.

Nikki confiara nele. Deixara Garret subir na sua cama. – Nikki... Nichole sacudiu a cabeça. – Esta noite foi um acidente. Um erro de julgamento de ambas as partes. Sendo assim, que tal deixarmos isso para trás? Quero dizer, não é como se houvéssemos passado os últimos anos esbarrando um com o outro. Acho que podemos apostar que nossos caminhos não voltarão a se cruzar tão cedo. E, acredite quando digo. Não tenho problemas com isso. De qualquer modo,

era para não passar mesmo desta noite. Ele piscou os olhos com incredulidade. Não era possível. Estava apenas bancando a durona para proteger o próprio orgulho. Só que não havia hesitação naqueles olhos castanhos claros. E isso não era uma ironia? A primeira mulher com quem se envolvera com a intenção de ter “algo mais” não o via como mais do que uma relação de uma noite apenas, exatamente o tipo que ele vinha querendo deixar para trás.

Isso não deveria incomodá-lo... mas, caramba. Sabendo ser melhor assim, Garrett assentiu, adiantou-se até a cama e,

levando a mão à face dela, inclinoulhe o rosto para cima, plantando um beijo na sua têmpora. – Lamento tanto por isto, Nikki. Ela olhou para ele, os cantos da boca repuxando-se ligeiramente. – Não precisa. Eu não lamento. DUAS HORASmais tarde, Nichole desistira por completo da ideia de dormir. Se havia uma hora de a melhor amiga mostrar serviço, era aquela, quando acabara de descobrir que esta entregara os detalhes de sua inexistente vida sexual para o Encantador de Calcinhas. Por isso que Nichole estava postada diante do laptop, olhando para a

imagem de vídeo vindo do outro extremo do país, onde Maeve andava de um lado para o outro diante do próprio computador. – Não era como se eu estivesse detalhando as crônicas do seu diário particular no Twitter, pelo amor de Deus. Nichole ficou apenas a fitar a amiga, que, após alguns instantes, cruzou os braços e largou-se no sofá. – Tudo bem. Peço desculpas. Não deveria ter lhe contado sobre a sua vida particular, e nem sei bem por que o fiz. Só que Garrett não é uma pessoa comum. Ele tem este talento para extrair informações dos outros. É paciente.

Incansável. E, quando quer alguma coisa, nada se coloca no seu caminho. Ela já escutara isso antes. Contudo, não mudava um simples fato.

– Minha experiência sexual não é da conta dele. – Eu sei. Eu sei. E realmente sinto muito. Contudo, agora que o conheceu, como pode sequer duvidar de sua capacidade de conseguir o que quer?

Nichole sacudiu a cabeça. – O sujeito mora na cidade. Se está tão preocupado no tocante ao seu estilo de vida, por que não se dá ao trabalho de conhecer os seus amigos?

Maeve olhou para o teto. – Quando se trata de meus namorados, dada a oportunidade, pode acreditar que

ele não lhes dá moleza. Mas não é assim com minhas amigas. As amigas de Bethany, Carla e Erin não o deixavam em paz. As minhas, deram um pouco menos de trabalho. Mas ele evita as nossas amigas como a peste. Além do mais, nos últimos anos tem estado tão ocupado erguendo a construtora e trabalhando para conseguir o seu diploma que não restou muito tempo para qualquer outra coisa. Eu mal o vejo. Nichole se deu conta de que outra peça do quebra-cabeça se encaixara. Ela se esquecera da história da escola. Um outro detalhe que Maeve compartilhara com ela. Garrett trabalhara enquanto

todas as irmãs estudavam, só buscando o seu próprio diploma depois que os estudos de todas as irmãs estivessem completados e pagos.

– Foi isso que ele quis dizer ao falar que estava tentando voltar a viver um pouco. Empertigando-se, Maeve inclinou-se para frente. – É mesmo? E o que mais ele disse? Subitamente, Nichole teve dúvidas no

tocante aos limites da dinâmica familiar na qual se metera. Em vez de tentar entendê-la, optou por retomar a discussão anterior. – Tudo bem. Sei que jamais seria descuidada com a minha privacidade, ou indiferente aos meus sentimentos. Só fui

pega de surpresa. Contudo, de agora em diante, será que podemos concordar em...? – Eu juro. Nunca mais. Nem mais uma palavra sobre a sua experiência sexual para ele. Nichole arqueou uma das sobrancelhas. – Que tal me deixar completamente fora das conversas? Sorrindo, Maeve inclinou a cabeça. – É, isso provavelmente não é uma expectativa muito realista. Estamos falando de Garrett. E, agora que está no radar dele, imagino que ele se sentirá um pouco protetor a seu respeito. O que significa que, de tempos em tempos,

terei de responder algumas perguntas. Nichole abriu a boca, mas Maeve

apenas deu de ombros. – Ele não consegue evitar. Seja bem-vinda ao meu mundo! – Maeve! A amiga levantou-se do sofá e postou-se diante do laptop, apoiando o queixo nas mãos. – Bem, agora que voltamos a ser melhores amigas... em uma escala de leite desnatado a creme chantilly...

GARRETT FORÇOU-SEa abrir um dos

olhos, amarrando a cara quando os sons esganiçados vindos do final do corredor lhe alcançaram os ouvidos.

– Sei que está aí, Garrett Carter. Atenda este telefone agora mesmo, ou, que Deus me ajude, eu... Deus a ajude a fazer o quê? Iria voar para casa e cutucar-lhe o peito com o dedo em riste? Fitá-lo com aquele olhar que dizia que ele a traíra do modo mais fundamental, e que estava desapontada e magoada?

Em questão de segundos o outro olho de Garrett estava aberto e seus pés estavam girando para o chão. Estendeu a mão na direção da mesinha de cabeceira. – Um tanto quanto cedo, não acha, Maeve? – Está sozinho?

Ele suspirou, os limites de sua paciência sendo testados. – Faz apenas... – olhando para o relógio, viu que mal passava das cinco –

...poucas horas desde que deixei o apartamento dela. Acha mesmo que eu daria uma parada pelo caminho e traria alguém para casa comigo? O silêncio em resposta deixava claro que ela não se surpreenderia se isso acontecesse. – Sim, estou sozinho. E, se serve de consolo, eu não fazia ideia de quem ela era. – É, mas, de resto, todo mundo sabia. O que estava fazendo na festa de Sam?

– Era uma festa para o irmão dele.

Conhece Jesse? Meu amigo mais antigo? Artista? Passou os dois últimos anos viajando? Alguma coisa disso lhe parece familiar? Quer dizer que Nikki é amiga de Sam? – Nós saímos com ele pelo menos uma vez por semana. Ele faz parte do grupo. – Espere aí. Ele se dá com a minha antiga turma... – Dá um tempo, Garrett. Vejo Sam e o pessoal o tempo todo. Hoje em dia, são mais meus amigos do que seus.

– O que...? – Não me surpreenda que não saiba. Além do fato de ter estado ausente durante os últimos anos, tem a reputação de ser um tanto quanto lunático em se

tratando de suas irmãs. Eu é que não ia lhe contar, e não me surpreende que ninguém mais tenha tido coragem de fazê-lo. Maeve. Andando com os amigos dele. Uma corja da pior espécie que achou que o apelido Encantador de Calcinhas fosse o máximo, congratulando um ao outro pela esperteza, como se ir para casa com quem quer que fosse na ocasião não houvesse sido uma fuga imatura, mas uma conquista a ser celebrada. E eles estavam andando com a sua irmãzinha. E escondendo isso dele.

– Ah, espere. Antes que tenha uma síncope, não estou falando de Joey e dos outros. No geral, Sam. De vez em quando, Rafe e Mitch aparecem. E, só para deixar claro, jamais namorei com nenhum deles. Um suspiro aliviado escapou por entre os seus dentes. – Alô? Terra para o Encantador de Calcinhas, traidor da confiança de irmãs. Puxa. A pequenina Maeve com uma sequência dupla de socos. A garota sabia como jogar uma bomba e depois, em uma fração de segundos, virar a mesa. Deus ajude o sujeito que ficasse com ela.

– Maeve, apenas me dê um minuto para absorver tudo isso, para acordar, está bem? Praticamente podia ver a postura impaciente e o bico da irmã através do telefone. O mesmo bico que ela usava desde os 6 anos de idade. – Pronto? – É, por que não? Vá em frente e desconte tudo em mim. Supondo que não teria a chance de voltar para dormir, foi em busca de um pouco de café e biscoitos. – Não consigo acreditar que você contou para Nikki que sabia há quanto tempo ela não fazia sexo. Não consigo acreditar que tenha violado a minha

confiança dessa maneira, e depois de saber quem ela era. E não se satisfez em parar por ai... Ligando a cafeteira, respondeu à acusação com um resmungo, sabendo que seria suicídio interromper o discurso em progresso apenas para ter a satisfação de salientar que e l a traíra a confiança de Nichole primeiro. Garrett já estava quase terminando a sua primeira xícara quando o silêncio prolongado do outro lado da linha deixou evidente que Maeve não estava apenas tomando fôlego, mas sim aguardando uma resposta.

Colocando a caneca de lado, Garrett disse: – Bem, além de furiosa por você ter

compartilhado comigo o seu histórico de namoros, ela parecia estar bem? Outro silêncio do outro lado da linha. Garrett não soube interpretar este.

– Ela está ótima. Por que não haveria de estar? – Você sabe. Porque ela é uma garota de compromisso. – Ah, sim, Isso. É, pode parar de se achar o máximo, Garrett. Ela não estava querendo nada sério com você. O que tenho quase certeza de que ela deve ter lhe dito. É, disse, mas talvez ele não houvesse gostado do que escutou. Ou talvez não houvesse querido acreditar que fosse verdade.

– Tudo bem, eu praticamente posso sentir a sua preocupação. Mas terá de aceitar a minha palavra. Nikki está ótima. Isto era exatamente do que ela estava precisando. Exceto pela parte de ser com você, e tudo mais.

Obrigado, Maeve. – Ela queria provar para si mesma que era capaz de se divertir um pouco sem que isto se tornasse um evento de vestido branco. E foi o que fez. Nada de mais. – Maeve riu. – Contudo, suponho que, da próxima vez, ela vá querer obter o nome do sujeito primeiro.

Da próxima vez. Garrett fechou os olhos ante as palavras, o que só fez facilitar o

espetáculo mental... Nichole deitada na cama com aqueles grandes olhos castanhos olhando para... não para ele. Diabos. Caminhando até a bancada, encheu novamente a caneca e tomou metade do conteúdo de uma vez só. Hora de acordar e tocar o dia adiante.

– É, quem dera.

Capítulo 6

NICHOLE

ENCAÇAPOUa bola seis e

observou a bola branca posicionarse atrás da seis. Beleza. Do outro lado da mesa, Maeve bateu impacientemente o pé de encontro à perna do seu banquinho, observando Nichole reposicionar-se e alinhar a sua nova tacada. – Puxa, sua técnica melhorou muito. Hesitando, Nichole olhou para ela.

– Hã?

– Não, é sério. Aparentando desinteresse, Maeve gesticulou na direção do taco, o ligeiro retorcer do canto dos lábios um aviso do que estava por vir. Difícil acreditar que fizesse apenas uma semana, considerando como já tivera de aguentar zombarias. Contudo, ali estava. Uma semana desde que sentira a pressão quente do corpo de Garrett, o peso de seu corpo sobre o dela... – O jeito como segura a extremidade mais grossa... enquanto a vara desliza pelos seus dedos. Não sei... é como se estivesse praticando o seu manuseio recentemente.

Boquiaberta, Nichole lutou contra o rubor lento que se espalhava pela sua face, pelo seu rosto... inutilmente. – É sério? Maeve sorriu.

– Ah, droga. Estragou o seu alinhamento. – É o que você pensa. Inclinando-se por sobre a mesa, ela alinhou a tacada, preparou-se, concentrou-se... – Cuidado com a cabeça. ... e errou. – Maeve! A amiga a fitou com inocência. – O quê? Trata-se de bilhar. Eu estava me familiarizando com os

jargões. O que a sua mente depravada entende é contigo. – Saltando do banquinho, ela piscou o olho. – Além do mais, eu quero vencer! Nichole aguardou até que Maeve tivesse a sua tacada alinhada antes de encontrar o quadril na lateral da mesa.

– Sabe, Maeve, o jogo não se resume apenas ao taco escolhido. Uma expressão horrorizada apossou-se do rosto de Maeve. – Não faria isso. Não, não faria.

Bem, talvez um pouquinho. – Recentemente tive em minhas mãos um taco de excelente qualidade. Bem firme. Talvez eu posso lhe contar a respeito. Em detalhes. Podemos

começar com... – Chega! – O grito de Maeve foi acentuado pelo som da bola oito e da bola branca caindo na caçapa. – Você venceu! Ah, meu Deus, sintome tão suja. Deliciando-se com a vitória, Nichole jogou o cabelo por sobre o ombro.

– E é bem feito, trapaceira. – Tudo bem, tudo bem – Maeve resmungou, competitiva demais para abrir mão de qualquer vitória sem ao menos um pouquinho de mau humor. Contudo, ela logo estava sorrindo. – E então, o que quer do bar? – O que você quiser, Maeve

esticou exageradamente o

pescoço e perguntou: – Garrett? Vai querer alguma coisa também? Nichole ficou paralisada. – Ei, Nikki, quem sabe Garrett não queira escutar sobre o taco que estava usando? Como você gostou da sensação da vara dura nas mãos e tudo mais? Diabos, talvez ele possa até ensiná-la a segurar melhor!

E, tendo dito isso, ela seguiu para o bar. Ele não estava lá. Não podia estar. Contudo, ela soube assim que se virou. Seu olhar começou nas botas plantadas afastadas no chão há poucos metros de distância, subiram pelas

largas calças marrons e seguiu para a camisa de algodão cinza e de manga comprida esticada com perfeição sobre o torso antes de saltar para o sorriso perfeito e a única sobrancelha erguida, exigindo explicações.

– Maeve sendo Maeve? – Ele perguntou. Não havia por que mentir. – Exatamente. Os olhos azuis intensos demais estreitaram-se ligeiramente. – Quer dizer que a vara sobre a qual estavam falando, era realmente... uma vara? Ela

não

acreditara

ser

possível

engasgar-se com palavras que não eram

suas, mas foi o que aconteceu. Minta. É simples. Apenas minta e tudo ficará bem. Só que já podia lhe sentir o olhar percorrendo-lhe a pele ardente das faces, descendo pelo pescoço... mais para baixo. Pigarreando, ela enfiou as mãos nos bolsos da frente do jeans, retirando de lá algumas moedas. – Estávamos falando sobre bilhar. Sobre tacos, bolas e outros termos técnicos. Garrett adiantou-se, descansando a mão na sua cintura enquanto inclinava a cabeça na direção da orelha dela, perto o suficiente para Nichole lhe sentir o perfume másculo. Perto o bastante para

ela lhe sentir o calor do corpo, – É mesmo? Nesse caso, por que você não me mostra? Assim como a sua boca, os olhos de Nichole se arregalaram. – Não... foi nada – conseguiu dizer, dando um passo para trás, apenas para ser detida pela mão forte de Garrett.

– Mentira tem pernas curtas – ele sussurrou, rindo desafiadoramente. Em seguida, com uma piscar de olho conspiratório, acrescentou: – Vermelhinha. E, com essa simples palavra, ela se viu transportada de volta para aquela outra noite. De volta para os flertes, para o desejo

lento e insistente, para a voracidade que se intensificava rapidamente. Corredores mal-iluminados e sombras escuras. Sua boca, suas mãos, seu corpo... seu nome. Garrett. Fechando os olhos, ela colocou os pensamentos em ordem e inspirou fundo.

– O que está fazendo aqui? – Jesse. – Ele assentiu para a mesa do outro lado do bar, onde ela e Maeve estavam sentadas com os rapazes antes de dar início à partida de bilhar. – Não estava esperando encontrá-la. E, embora ele não tivesse tentado evitá-la, ficou bem claro que, se soubesse que ela estaria ali, não teria vindo. Ela entendia. Era assim que

relações de uma noite apenas funcionavam. Uma noite apenas. – Também não fazia ideia de que você viria. Se tivesse sabido, talvez pudesse ter dado um jeito melhor no cabelo antes de sair de casa. Passado um batom cor de cereja. Usado uma saia.

E não com a expectativa de que aquelas mãos enormes pudessem encontrar o caminho para debaixo delas. Não! Ela sacudiu severamente a cabeça em uma tentativa de se recompor. – Foi uma coisa de última hora. A decisão de sair. Mas... se a deixa pouco à vontade, não preciso ficar.

Nichole já estava sacudindo a cabeça quando um copo do que provavelmente e r a Cuba Libre apareceu diante dela, seguida pela voz indignada de Maeve. – Eu não lhe disse para parar de se achar o máximo? Nikki não está nem aí para você ter dado as caras por aqui.

Não era lá bem verdade, mas, pelo menos, fora Maeve a falar, e não ela. E, a julgar pelo brilho do olhar de Garrett, as palavras cáusticas da irmã caçula não o incomodaram. Ele voltou a sua atenção para Maeve.

– Como foi o trabalho em Denver? – O mesmo de sempre. – Maeve deu de ombros, dando um abraço rápido no irmão. – Estou agendada para voltar na

próxima semana. Observando os dois conversando, Nichole não pôde deixar de se perguntar como pudera não ter reconhecido quem Garrett realmente era. Só que, em algum nível, ela reconhecera. Já lhe vira o rosto pelo menos uma centena de vezes em fotos nos álbuns antigos de Maeve. E, embora na maioria daquelas fotos tratava-se de um menino em vez de um homem, algumas haviam sido bem recentes. Daí o motivo por trás da sensação de vínculo. A conexão imediata. Contudo, observando os dois agora, houve uma coisa que não pôde deixar de notar. Ter Garrett por perto não seria problema algum. Seu foco estava todo

voltado para Maeve. Não havia nenhuma tensão residual...

pelo menos não da parte dele. Ele chegara, viera cumprimentá-la ao vê-la, fora amigável e agora seguira com a sua vida como se nada houvesse acontecido entre os dois. Maeve tivera razão ao afirmar que o irmão era um perito em manter relacionamentos simples. E Nichole era sortuda em ter o Encantador de Calcinhas como mentor. GARRETT ESTAVA de costas para o bar, seu olhar concentrado na mesa de bilhar, onde Nichole estava alinhando a sua

tacada, enquanto tentava engolir a própria língua.

não

Ela movia-se de um ponto para o outro, curvando-se na altura da cintura, apoiando o peso em uma das mãos sobre a mesa, afastando as pernas, até...

Até tudo quanto é sujeito no bar estar olhando para ela enquanto dava a sua tacada. Assim como ele. A única coisa que o separava do restante dos lobos babando por ela era que Garrett sabia exatamente o que ele estava perdendo. Sabia o que era ajoelhar-se entre aquelas pernas. Sabia o que era deslizar a mão por aquela barriga lisa. Percorrê-la toda com a língua. O que significava que os invejava, pois pelos menos eles poderiam se

convencer de que provavelmente não seria tão bom quanto estavam imaginando. Com um grito de alegria, Nichole cumprimentou Maeve pela vitória, enquanto dois sujeitos que ele não conhecia aceitavam a derrota com sorrisos bobos e uma oferta de outra rodada de bebidas. Garrett os olhou de alto a baixo. Pareciam inofensivos, mas aparências podiam enganar. Sua irmã parecia estar lidando bem com a situação, recusando as bebidas, e o que mais estivessem oferecendo, como uma boa garota. Nichole também.

– E aí, cara?

Garrett olhou por sobre o ombro para onde Jesse estava, o irmão Sam logo atrás dele. – Estava apenas me perguntando como pude deixá-la escapar – respondeu, assentindo na direção de Nichole. – Não olhe para mim – Jesse respondeu. – Pensei em convidá-la para sair antes de viajar, mas ela me puxou para a zona da amizade tão rápido que nem tive chance de tentar. Jesse era um dos poucos amigos com quem Garrett mantivera contato ao longo dos anos. Desde que Garrett o conhecia que era um sujeito maduro e sincero. E, durante aqueles primeiros anos após a

perda do pai, quando parecia que o mundo iria desmoronar ao redor dos seus ombros e que de modo algum seria capaz de ser tudo que precisava para todo mundo que precisava, Jesse estivera ao seu lado, recusando-se a abandonar Garrett, independente do fato de que a vida que compartilhavam, a de esportes, garotas e festas, houvesse chegado ao fim. Fora o sujeito que conseguira que a irmã de 24 anos servisse de babá uma vez por mês para que Garrett pudesse sair por algumas horas. O que não dera importância às suas conquistas baratas. O que entendera. Talvez houvesse sido a sua sensibilidade de artista. Não importa. Era um bom amigo, um dos poucos com

quem se sentia à vontade em se abrir. Uma hora mais tarde, e Garrett ainda não conseguia tirar os olhos de Nichole. – Ela é assim com todo mundo? – perguntou para Sam, observando-a conversando com outro grupo que, ele poderia apostar, até aquela noite havia sido de completos desconhecidos. Ela parecia ser capaz de conversar com qualquer um sobre qualquer coisa. – Quer dizer... amigável, extrovertida? – Sam pediu outra rodada para o barman. Depois, olhou para Garrett e deu de ombros. – Sim. Mas ela sabe se cuidar. Com uma recente exceção, ninguém consegue passar da “zona da amizade”. Algum idiota a

magoou para valer alguns anos atrás, e ela tem evitado se queimar desde então. De modo que não precisa se preocupar em cuidar dela. Além de ser capaz ela mesma de fazer um bom trabalho, há um bocado de gente que se importa com a forma que ela é tratada.

Algo no tom de Sam fez Garrett voltar a cabeça para ele. – Está falando de mim? Jesse cobriu a boca com a mão, contudo, mesmo assim, uma risadinha escapuliu. O irmão caçula de Jesse o estava alertando para ficar longe de Nichole? – Relaxe, cara. Não pretendo chegar perto dela. – Já esteve perto dela. E, a julgar

pelo modo como passou a noite toda olhando para ela... Garrett estava prestes a dizer para Sam que ele estava imaginando coisas, quando uma espécie de atração magnética o fez virar novamente a cabeça... seu olhar se encontrando com o de Nichole, que o estivera observando.

Os lábios dela se entreabriram, e, de repente, lá estava o conhecido rubor. Os cantos de sua boca se curvaram, e ele levou o dedo à face, sussurrando a palavra vermelhinha para a mulher com quem, subitamente, estava completamente a sós no interior do bar movimentado. O sorriso que ela deu em resposta foi

totalmente diferente dos outros que estivera oferecendo para todos os outros sujeitos a noite toda, e o atingiu como um murro na boca do estômago, deixando-o sem fôlego, e, tomado de espanto, ele virou a cabeça na direção do melhor amigo. Jesse riu baixinho. – Acho que a verdadeira questão não

é como pôde deixá-la escapar, mas sim como ela pôde deixá-lo escapar.

Capítulo 7

– VOCÊ DE novo? Nichole ergueu a sobrancelha quando Garrett deslizou para o assento do outro lado da mesa estreita em um bar-restaurante da moda, no centro da cidade. Não que estivesse surpresa. Há três semanas que vinha esbarrando com o sujeito em tudo quanto era lugar quando saía. Logo se tornou claro que os encontros não eram acidentes, mas resultado de uma justaposição de

amizades. As conversas resultantes passaram a se tornar mais naturais, mais fáceis. Tanto que, ao final de muitas noites, ela e Garrett acabavam notando que estiveram tão imersos na sua própria interação que haviam se separado do restante de seus grupos. Foi ai que as coisas começaram a ficar menos à vontade. As risadas entre eles morriam, os intervalos entre um tópico e outro eram preenchidos com a certeza das coisas que eles não queriam. Procuravam outra conversa para participar, mas estavam a sós. O que levava ao momento em que o olhar de Nicole se fixava na boca de Garrett, na gola aberta de sua camisa, em um ou dois botões mais baixos...

E, então ela se daria conta de como era tarde. Ou ele se lembraria de um compromisso para o qual teria de acordar cedo. Ou ambos avistariam alguém conhecido e rapidamente retornariam ao grupo, chegando à conclusão que isso facilitaria as coisas.

Mais cedo ou mais tarde. Contudo, quando a perna de Garrett roçou na dela sob o balcão, e ela inspirou fundo ante a lembrança de suas pernas ardorosamente entrelaçadas, ela se deu conta de que mais cedo ou mais tarde poderia demorar um bocado.

– Vermelhinha – veio a observação de Garrett do outro lado da mesa, tão baixinha que o restante do grupo,

conversando animadamente, não notou.

– Vai desaparecer – ela murmurou, não conseguindo deixar de notar o ardor nos olhos de Garrett. Abriu o cardápio em uma tentativa de se proteger de alguma forma.

Só que, naquele momento, o contato que, instantes antes, fora inadvertido retornou. Desta vez, descarado e intencional. A pressão da sua perna na dela constante, até Nichole erguer o olhar. – Tenho minhas dúvidas. GARRETT FITOUo espelho no banheiro masculino, após tentar conter o fervilhar lento de seu sangue com um pouco de

água fria. Não estava dando certo. E ele que achara que o concerto no café o manteria longe de problemas devido ao fato de não poderem conversar. Estivera redondamente enganado. Ele a vira. Vira quando seus olhos encontraram os dele. E não precisava de palavras, pois já sabia demais a respeito dela. E, cada vez que saía... independente de Nichole estar presente ou não... descobria mais. E, que Deus o ajude, gostava de tudo. Ela era legal e engraçada e inteligente e profunda e generosa e leal... e, droga,

sabia como era bom o gosto dela na língua. E não podia tê-la. Porque não a

queria. E ela não o queria. Conversaram a esse respeito. Mais de uma vez. Provavelmente mais do que precisavam. Só que, por algum motivo, parecia ser um daqueles tópicos que exigia quantidades excessivas de reforço. Estava começando a achar que o fraco espirrar de água gelada não seria o modo de conseguir alguma coisa. Precisava martelar na própria cabeça a razão.

Ainda bem que tinha a própria construtora. Não seria difícil encontrar alguém que fizesse isso para ele. Com um sacudir brusco da cabeça, marchou para fora do toalete masculino. Ao chegar ao corredor, deteve-se ao avistar Nichole em sua outra

extremidade. Aquele era o problema. A atração magnética. Com ou sem palavras, era como se houvesse alguma espécie de força atraindo-os... e não iria parar até que estivessem tão próximos quanto dois corpos fossem capazes de estar.

É. Ecos da guitarra clássica que vieram ao café escutar preencheram o local normalmente deserto enquanto encurtavam a distância entre si. Observou com o tipo de satisfação que deveria tê-lo envergonhado quando os olhos de Nichole se arregalaram de compreensão, e ela procurou uma rota de fuga. Só que, no fim, ambos sabiam

que ela não queria ir a lugar algum, assim como ele não queria. E, então, ele a encurralou. Engatou o dedo em uma das casas do jeans, congratulando-se por não deslizar tal dedo entre o jeans e a pele exposta da barriga, como queria fazer. Com um puxão gentil, ele a conduziu corredor abaixo, na direção das escadas que levavam ao segundo andar.

– O que tem lá em cima? – Nichole perguntou. – Não faço ideia. Mas precisamos conversar. Ela sacudiu rapidamente a cabeça. – Eu só vim me despedir. Eu... acho que tenho de ir embora mais cedo hoje. Pois a tensão entre os dois estava se

intensificando com cada encontro. Cada conversa, cada contato, acidental ou não. E ela se dera conta disso. Só que tarde demais.

– Não pode simplesmente... me conduzir desse jeito, Garrett. Ela riu nervosamente. É claro que ele podia. E, a não ser que ela usasse a palavra mágica não, era o que faria. – Naquela primeira noite, Nichole... por que me deixou levá-la para casa?

NICHOLE DETEVE-SE,presa na atração sombria de olhos nos quais ela jamais

deveria ter olhado. Já haviam discutido isto. Até certo ponto. Contudo, nenhum dos dois provara ser capaz de ir além. Libertar-se do que havia acontecido e da conexão persistente que insistia em puxá-los de volta para ela. – Por que da primeira vez em que nos encontramos foi a primeira vez em muito tempo em que eu quis mais do que apenas amizade. Um passo para trás fez com que ela tropeçasse e quase rolasse as escadas. Contudo, Garrett estava ali, sua mão segurando-a pelo cotovelo, puxando-a para si. O que ele estava fazendo? Aproximar-se tanto, perguntar-lhe sobre

aquela noite... era um erro. Não podiam continuar daquele jeito. A princípio fora divertido. A prolongada tensão e química entre os dois quase uma piada. Um segredo sujo que compartilhavam. Algo intrigante. Um desafio a ser superado. Contudo, à medida que as semanas foram passando, à medida que a tensão e as tentações foram aumentando, ter de dizer não para algo que ela queria mais cada vez que eles se encontravam, passara a não ser mais tão engraçado. Nichole queria aquele homem. Muito mais do que deveria.

– Eu o trouxe para casa comigo pois pensei que seria seguro. Que não

haveria risco em me envolver, em as coisas se tornarem complicadas demais, em eu... – Ela fechou os olhos, forçando-se a dizer o resto. – Em eu me precipitar. Afinal, eu nem sabia o seu nome. Ela estivera errada. Pois, agora, não só sabia exatamente com quem estivera, e precisamente como encontrá-lo... mas tinha de vê-lo o tempo todo.

– Bem, sobre isso.... Seus dedos se curvaram ao redor da cintura dela, interrompendo-lhe a batida em retirada, equilibrada no terceiro degrau descendo do topo das escadas, em um espaço onde não tinha o direito de ocupar. Garrett deu o próximo passo,

encurtando a distância entre eles, até que seu peito roçou no dela, e suas respirações se fundiram em uma só. Ela piscou rapidamente os olhos, enquanto o seu bom senso entrava em conflito com o querer. – O que está fazendo? – Recordando. Foi muito excitante. Ela não deveria ter gostado tanto de escutar aquilo. Não quando não havia para onde correr. Contudo, a parte dela que jamais fora muito confiante na arena sexual... a parte que, mesmo após tantos anos permanecia ligeiramente magoada por conta do modo como o seu último relacionamento terminara.... precisava saber. Precisa escutar.

– Achou excitante eu não querer saber

o seu nome? – Não, foi apenas excêntrico de uma maneira divertida. Excêntrica... ela? – Excitante mesmo... – seu tom de voz ficou mais baixo quando ele se aproximou da orelha dela – ...foram os gemidos roucos e profundos, e o modo como entregou todo o seu corpo para mim quando a puxei para perto.

Sua boca ficou seca, e até mesmo o seu íntimo se contorcendo pareceu ficar imóvel... aguardando. – Está me encantando novamente. Aqueles olhos. – Talvez eu esteja mesmo.

Sua boca. – Pensei que fôssemos amigos. Pensei que houvéssemos concordado. O ardor. Ele assentiu.

– Concordamos. – Então, por quê? Os jeans estavam apertados ante o cerrar das mãos de Garrett nas suas laterais, estendendo a sensação do seu toque a tudo quanto é lugar onde o jeans tocava nela. – Os limites já foram ultrapassados, Nichole. Se realmente quer saber, eu continuo ultrapassando-os ainda mais cada vez que olho para você. Não consigo parar de pensar em escutá-la

fazendo aqueles sons novamente. Só que, desta vez, quero escutá-los quando disser o meu nome. – Garrett... – Diabos, é. E então, o espaço entre eles tornouse desejo em potencial e insatisfeito e por quê e por que não desapareceram. Substituídos por contato. Ardente e concentrado. A sensação enlouquecedora do peito de Garrett movendo-se de encontro ao dela quando ele deu o passo final. Os músculos rijos e o algodão criando uma fricção provocante de encontro aos mamilos dela que a deixaram sem fôlego, os lábios entreabertos quando ele curvou a cabeça na direção da sua.

– Exatamente assim. Suas palavras e um beijo de encontro aos lábios dela. O roçar suave antes do esmagar intenso. O gosto que alertava que jamais seria o suficiente.

Garrett. Sua boca moveu-se de encontro à dela com exigência silenciosa, esfregando lentamente, lhe dizendo o que queria, o que ela queria lhe dar. Ele entreabriu os lábios dela sob a pressão insistente dos seus próprios, indo e vindo sem lhe dar o “mais” pelo qual ela tanto ansiava, estimulando-lhe o desejo até este superar o seu próprio, e ela estar implorando sem palavras, mas com as mãos, uma delas agarrando e apertando

o tecido da camisa dele, a outra flexionada de encontro a toda aquela força contida, deslizando sobre as elevações e depressões da musculatura que até então ela acreditara existir apenas na terra da ficção. Implorando com o seu corpo, inclinado para frente em um arco carente e desavergonhado, com o mesmo choramingo rouco que os trouxeram até aquele ponto em primeiro lugar. O que, aparentemente, dera conta do recado, porque, no segundo seguinte, ela teve o que queria: a língua de Garrett invadindo-lhe os lábios entreabertos, rolando de encontro à sua, no processo libertando uma versão mais profunda e potente do gemido sobre o qual ele falara, garantindo que estivessem, de

fato, unidos no desespero. E essa era a parte mais inebriante de todas. Estavam unidos. Outra arremetida e as mãos agarrandolhe os quadris se apertaram. E, então, ela estava sugando de leve a língua dele, arquejando ante o seu chicotear de encontro ao lábio inferior dela, perdendo-se em todos os lugares onde apenas aquele homem havia sido capaz de levá-la, as sensações físicas singulares a estar com ele, com os seus braços ao redor dela, de tal modo que uma das mãos acabasse sobre as suas nádegas enquanto a outra se enterrava no seu cabelo, apertando-a de tal modo que ela o sentia de encontro a mil pontos de

contato em sua pele. Ah, e ela sabia o que ele iria fazer em seguida, choramingou ante a expectativa do repeteco do movimento que assombrava tão implacavelmente as suas noites. Os lábios de Garrett se franziram de encontro aos seus próprios. – Diga. – Garrett. A tensão no seu escalpo intensificouse inclementemente quando ele usou o seu cabelo para guiar-lhe a cabeça para trás, estendendo ainda mais o seu pescoço, abrindo a sua boca para ele, de modo que o próximo beijo foi um que ele arrancou. Um que ele controlou. Um que ele deu. Um que a fez gemer, e ante

o qual Nichole se derreteu. Que a fez latejar em todos os pontos de contato. A mão nas nádegas a puxou mais para perto. Segurou-a firme de encontro ao volume da sua ereção. Outro choramingo. Outro arfar inconsequente do seu nome. Outra arremetida da língua na boca que a aguardava. Tudo que importava era isto. Mais. Aliviando a quase insuportável tensão do desejo no seu íntimo. E então, a mão mergulhada nos seus cabelos libertou-se. Erguendo a cabeça, zonzamente deparou-se com a chama azulada do olhar de Garrett, e tentou

diminuir a distância que ele colocara entre eles. Estendeu as mãos para os seus ombros, os seus cabelos. Inclinou-se na direção dos seus beijos, mal sentindo um gostinho antes que ele voltasse a se afastar. Ela se deixara levar novamente. Fora longe demais... Só que ele estava com a mão dela na sua. O músculo no seu maxilar estava saltado quando passou a mão pelo cabelo. – Tem de haver uma porta dos fundos neste lugar. Vamos. Acho que aguento chegar ao meu carro. A névoa da excitação dissipou-se mais um pouco, e Nichole olhou ao redor, atordoada ao se descobrir em um

estado de abandono inconsequente em um corredor nos fundos do café. Ah, Deus. Um erro! – Garrett, não posso. Ele assentiu, e passou novamente a mão pelo cabelo, antes de agarrar-lhe os quadris e erguê-la de encontro a si em um movimento tão rápido e hábil que ela estava com as pernas ao redor da cintura dele antes mesmo que se desse conta do que estava acontecendo. Não, isto tinha de parar, e rápido. Porque Garrett estava carregando-a até o topo das escadas, murmurando que ele também não podia. Logo depois, as costas dela estavam de encontro à parede e os quadris dele indo e vindo de

encontro ao ponto carente entre as suas pernas que a deixava burra de maneiras que jamais teria imaginado antes de conhecê-lo. – Garrett – arquejou, a boca do homem cerrada de encontro ao seu pescoço. Antes que se desse conta do quanto errara com aquela única palavra crítica, a névoa sensual e desconcertante voltou a descer. Ficando mais espessa com cada chicotear de sua língua, cada oscilar de seus quadris e o roçar do seu polegar de encontro ao mamilo teso. Porque, sim, ele era forte o suficiente para segurá-la de encontro à parede com uma das mãos. E, Deus, isso não era tão excitante? Somadas as bilhões de outras

coisas excitantes a seu respeito. Mas isso tinha de parar.

Tinha de colocar sob controle a libido, o ego e... – Garrrrett... De repente, a boca voltou à orelha dela. A respiração quente de encontro à pele sensível. Seu rosnado baixinho uma carícia em todos os lugares onde latejava por ele.

– Está molhada, Nichole? Ela abriu a boca tentando formar as palavras... só que todos os pensamentos coerentes haviam lhe fugido. E, aparentemente, Garrett não precisava mesmo de uma resposta, pois, de algum modo, abrira o zíper do jeans dela,

afrouxando a calça o bastante para deslizar as mãos pelas costas abaixo.

– Ah, meu bem, você é tão... – Pare. Nichole não sabia de onde viera a determinação para dizer a palavra, e nem como Garrett fora capaz de escutá-la, considerando como esta era pequena. Não era o que ela queria. Mas ali estava. E havendo escutado, a mão exploradora dele estava recuando de volta para o quadril, onde ele continuou a segurá-la de encontro a si.

Sendo assim, talvez seu próximo passo devesse ser destravar os tornozelos às suas costas e largarlhe a camisa e o cabelo. Relutantemente, ela o fez. E Garrett a

abaixou até o chão, deixando que a testa repousasse de encontro à dela. Com um gemido sentido, abotoou-lhe novamente o jeans. Pois esse era o tipo de sujeito que ele era. O que só serviu para fazê-la desejá-lo ainda mais. E era aí que estava o problema, pois Nichole não estava pronta para aquilo. Graças dedicação pouco impressionante do seu pai ausente à paternidade, ela sempre hesitara em envolver-se. Os dois sujeitos com quem arriscara o coração no passado haviam sido mais do tipo de construir relacionamento do que de se dar bem. Eram conhecidos de vários anos.

Confiava neles e fizera planos com eles. Com Paul... haviam sido tão jovens. Quando ele terminara as coisas, ela entendera e se recuperara com poucas cicatrizes. Contudo, com Joel, ficara tão magoada. Tão humilhada com o que ocorrera que foram necessários três anos para reunir a coragem para simplesmente voltar a testar as águas.

Tudo bem, fora um mergulho completo e sem roupa de banho. Ainda assim... o que fizera, ela fizera acreditando que seria um único incidente isolado, com um sujeito que não estaria por perto em tempo integral, tentando-a a investir mais do seu coração do que deveria. – Nichole, esta coisa entre nós não irá

embora – Garrett murmurou. Não, não iria.

– Não sei se estamos dando muita chance para que vá embora. – Pode ser que não. – Recuando, Garrett olhou ao redor e, como se percebendo onde estavam, praguejou. – Lamento quanto a isto. Não sei o que me... – É, eu também não. – Rindo baixinho, Nichole acrescentou. – Você realmente vai ter a ideia errada do tipo de garota que eu sou. Com o dedo sob o queixo dela, Garrett trouxe-lhe o olhar até o seu. – Não, não vou. Em seguida, ele a conduziu escada

abaixo, sentando-se com ela ao seu pé. O guitarrista estava agora tocando uma música mais lenta. – Sei que fui eu quem disse que isto não daria certo – Garrett falou, passando a mão pelo rosto. – Que eu não queria. Contudo, parece que, independente de querermos ou não, é uma realidade... Nichole, eu seguro as pontas no tocante

a Maeve. – Mas eu não sei se eu seguro. – Maeve era a melhor amiga. A sua rocha. A pessoa sem a qual não conseguia viver. A pessoa que procuraria caso o seu coração voltasse a ser pisoteado. – Digamos que não é o único com uma veia protetora em se tratando de família. Garrett ergueu a sobrancelha.

– Está preocupada que vá me partir o coração, e que Maeve se ressentirá disso? – Bem, não. – Algo lhe dizia que o coração de Garrett não podia ser partido. – Mas ela não gostou de um comentário inofensivo que fiz a seu respeito no mês passado, antes mesmo de conhecê-lo. – Que tipo de comentário? Por que fora tocar nesse assunto? Não queria correr o risco de magoálo. Mas ele estava aguardando. – Algo sobre antibióticos. Foi estupidez, e eu peço desculpas. Ele assentiu. – A bobagem do Encantador de

Calcinhas. Eu entendo. Fiz por merecer.

– Garrett, eu não sabia nada a seu respeito. Mas eu sei agora... Um sorriso esquisito desenhouse no rosto dele. – É, e aposto que o que houve no topo dessas escadas apenas serviu para confirmar praticamente todos os rumores que possa ter escutado. Poderia até ter confirmado, se a conexão que formara com Garrett não houvesse lhe dado uma ideia melhor de quem ele era. Não queria que suas palavras impensadas o magoassem, nem fizessem pouco caso de tudo que havia para se respeitar. – Tenho de admitir que fiquei impressionada. Sempre presumi que os

rumores fossem um tanto quanto exagerados. Mas, caramba, Garrett. No final das contas, ele era um Carter. E zombaria era a sua principal forma de demonstrar afeição. A gargalhada surpresa era tudo que ela queria escutar. Em seguida, ele inclinou-se para trás e ficou a estudá-la.

– Muito bem, Vermelhinha. Conte-me mais uma vez por que isto não vai dar certo. – Porque nenhum dos dois quer colocar em risco o relacionamento com Maeve por... nada. Nós dois sabemos que não dá para manter a relação um com o outro separada da que temos com ela. Já perdi pessoas após o término de

relacionamentos... pessoas quais realmente gostava.

das

Ela jamais esqueceria o que fora ser considerada a filha que a mãe de Paul jamais tivera, para ver a mesma mulher deixar o supermercado sem levar as suas compras para não ter de falar com ela. Amigos que subitamente passavam por ela sem vê-la.

Quando se mudara para Chicago para começar do zero, fora Maeve que lhe dera isso. Maeve fora o coração aberto do qual ela tanto precisara, quando tantos outros haviam se fechado para ela. Quando Garrett pareceu pronto para discutir, Nichole ergueu o dedo em riste. – E porque considero você um bom

sujeito. Conheço bem a parte sua que nada tem a ver com encantar calcinhas e tudo a ver com o cuidado e a proteção da sua família. Sei a respeito do cara que sai dirigindo por Chicago às 5 horas, após uma nevasca, para tirar a neve dos carros das irmãs, para que estas possam sair para trabalhar. O sujeito de quem as próprias necessidades sempre vêm em último lugar. O sujeito que aprecia o valor de um simples pôr do sol. – Está querendo me encantar agora? Nichole sacudiu a cabeça, quase

lamentando que não estivesse. – Não, estou lhe dizendo por que isto não funcionará. Porque é um sujeito bom

demais para eu não me apaixonar. Não estou pronta para algo sério e não me dou bem com o casual. Acredite ou não, mas foi exatamente assim que o seu nome surgiu com Maeve. Ela estivera brincando sobre ou ter aulas com você sobre como manter as coisas leves. Ela até ameaçou nos juntar. Irônico, não?

– E então. O que vamos fazer no tocante a... isto entre nós? – Exatamente o que planejamos fazer desde o início. Ignorar. – Ela riu baixinho. – Encontrar uma distração até que desapareça. Pois ficarmos juntos seria um erro, e acho que ambos estamos

a par disso. – Tudo bem, Nichole. Eu entendi. Ficando de pé, Garrett estendeu as

mãos para ela e a ajudou a levantar. Fitando as mãos dadas, ela perguntou.

– Nada mais de encantar? Com uma última carícia do polegar sobre as costas da mão dela, Garrett a soltou. – Por hoje chega.

Capítulo 8

GARRETT SEGUROU

com força o volante enquanto a sua adorada irmã caçula tagarelava sem parar, sem se dar conta de como estava próxima de ser largada na beira da estrada, forçando-a a caminhar o restante do caminho até a casa de Carla, no bairro seguinte. – ...o que estou dizendo é que não precisa ser um cretino tão intransigente a respeito de tudo o tempo todo...

desculpe, tia Gloria.

A tia-avó fez um gesto de pouco caso com a mão, seu foco mais voltado para a paisagem do que para a discussão que Maeve começara no instante em que entrara no carro. – Acha que eu gosto disso? Ora, vamos, Maeve, se eu não disse para Erin começar a usar a cabeça para pensar e para ela abrir os olhos com esse sujeito, quem o fará? Você? Beth? Carla? Eu acho que não. Vocês garotas se deixam levar por essa bobagem de amor e sequer registram a impraticabilidade de um sujeito que literalmente fabrica cestos para viver. – Ele é um artista. – Ah, é sim. Todo mundo estava

falando bem do trabalho dele em Acres. O lar para idosos onde o seu trabalho

mais recente estava sendo vendido. Os olhos de Erin se estreitaram, e ela cruzou os braços diante do peito. – Não importa o que ele faz, Garrett. Erin o ama. Ante o escárnio do irmão, ela resmungou do banco de trás: – E pensar que eu estava ansiosa para revê-lo. Afinal de contas, por onde tem estado? Ele respondeu alguma coisa sobre trabalho e amarrou a cara ao fitar a estrada adiante, não querendo entrar em detalhes. Contudo, Maeve sendo Maeve... – Diabos, com você é oito ou 80.

Anos passados com você só erguendo a cabeça dos estudos e do trabalho para se queixar sobre o que estávamos fazendo de errado, e, de repente, você é pior do que a peste. Em tudo quanto é lugar. E, quando eu já estava começando a achar divertido tê-lo por perto, volta a desaparecer da face da terra.

Cerrando os dentes, ele a fitou através do espelho retrovisor. – No passado, você se virou muito bem. – É, mas sempre tive Nichole por perto. E ela tem estado suspeitamente ausente nas últimas semanas. Cansada. Ocupada. Trabalhando até tarde. As mãos de Garrett se cerraram com

mais força ao redor do volante. Droga. – Alguma coisa que você queira admitir? Longe disso. – Não. O silêncio estendeu-se entre eles até que ele por fim lançou um olhar duro pelo retrovisor e perguntou: – O quê? – Pensei que gostasse dela. – E gosto. Mais do que deveria, considerando o que tinha para lhe oferecer. – Sabe, Garrett, eu sempre quis uma irmã. Calma. Respire fundo. – Você tem três.

– Mas não uma irmãzinha caçula. Sabia que Nikki é dois meses mais nova do que eu? – Não é bem assim, Maeve. A mão frágil de Gloria estendeu-se até o rosto dele, apertando-lhe a face.

– Que maravilha, meu querido. Já está na hora de se assentar. Nikki é uma garota adorável. Outro lembrete de que Nichole era querida por todos na sua família, inclusive pela tia-avó. – Não é bem assim – repetiu. – Nesse caso, como é que é, meu irmão? Será que realmente queria ter aquela conversa? Contudo, dizer as coisas em

alto e bom tom poderia ajudar. – Não quero me casar com ela. – Puxa, não sabia que ela havia pedido – Maeve retrucou, indignada. – Ela não pediu, é óbvio. Estou apenas tentando explicar. Não é porque ela não é boa o bastante. Ela é. Quero dizer, nem consigo acreditar que os dois idiotas de quem ela foi noiva a deixaram escapar. Qualquer um seria sortudo em tê-la. Acredite quando digo que quero tê-la. Só que não da maneira que ela merece. – Tudo bem – Maeve falou do banco de trás. – Seu prato esteve bem cheio por um bom tempo. Depois de papai e mamãe, foi difícil para você deixar as pessoas se aproximarem. Ainda não está

pronto para pensar em casamento. Não foi a primeira vez que ele amaldiçoou a aula de psicologia do primeiro ano de faculdade de Maeve. Não se tratava de deixar as pessoas se aproximarem, nem do que acontecera com os pais. Verdade, não tinha muitas pessoas na vida além de Jesse e das irmãs. Contudo, isso tivera muito mais a ver com o modo como fora a sua vida nos últimos anos do que com algum tipo de fuga. E a conexão com Nichole fora imediata. Era a pessoa com quem ele se sentia mais à vontade conversando.

Na verdade, tratava-se de coisas como esta maldita conversa sobre o

namorado de Erin. Ele vinha bancando o “cretino intransigente” e tomando as decisões difíceis por metade da sua vida, e o que queria de uma relação era algo onde tais responsabilidades não se aplicavam. Onde as consequências de suas escolhas e atos não impactavam no resto da vida de outra pessoa. – Não é apenas ainda. Não sei se algum dia vou querer pensar. O que me torna um péssimo negócio para qualquer mulher com “algum dia” em mente. Nichole já esteve noiva duas vezes. É uma mulher esperando ver realizado o sonho da casa com a cerca branca.

– Não sei, Garrett. É, mais cedo ou mais tarde, ela vai querer se casar. Contudo acho que, por ora, Nikki

precisa aprender a se divertir um pouco novamente. E, pelo que me disseram, você costumava ser um sujeito bem divertido. Ele riu secamente, não se sentindo nem um pouco divertido. – Mas não o cara para Nichole. A decisão já havia sido tomada. Eles não levariam a coisa adiante. Não se tratava apenas de objetivos desalinhados. Também havia a mocinha sentada no banco traseiro do seu carro. As complicações. Maeve franziu os lábios ao fitá-lo. – E isso não o incomoda? – Não. Sim, mas ele acabaria aceitando.

– Tudo bem, o que não faltam por aí são caras divertidos. E, de qualquer modo, ela já está sendo bem requisitada.

É... certo... espere... – O quê? Só que Maeve parecia ter perdido o interesse por ele e se virara para Gloria.

– Sabe, ontem, dois sujeitos do escritório onde ela trabalha a convidaram para sair. Quase ao mesmo tempo. Claro que convidaram. Ela era linda. E aquele sorriso... – E você conhece Nikki... sempre distraída, mas daquele jeito meigo dela. Provavelmente porque, na metade do tempo, nem faz ideia do que está

acontecendo. Mas, desta vez... Uma buzina ecoou pelo ar, e Garrett deu um puxão brusco no volante. Diabos. – Puxa, Garrett. Vai com calma. Carga preciosa aqui atrás. – Sinto muito, garotas. Precisava se recompor. Mas, diabos, Maeve precisava deixar de lado os rodeios e ir direto ao assunto. Só que, agora, a tia-avó Gloria estava batendo na janela. – Ah, estão vendo só aquela casa? Maeve assentiu. – Adorei a paisagem. Garrett contou silenciosamente até dez, procurando esfriar um pouco a cabeça. Maeve não os deixaria no

suspense, deixaria? E, mesmo que ela tivesse perdido o raciocínio, como é que a tia-avó não estava exigindo uma resolução? – Minhas rosas jamais florescem daquele jeito. Já acrescentei casca de ovo, grãos de café... – Talvez tenha a ver com a quantidade de sol ou água que estejam recebendo.

– Nichole – Garrett rugiu, sua paciência chegando ao limite. – O que ela fez? Silêncio na parte de trás do carro. Ele olhou para o espelho retrovisor e descobriu que tanto Maeve quanto a tia-avó estavam a fitá-lo. Uma com um ar divertido, e a outra parecendo...

satisfeita. – O que ela fez quando, Garrett? Rangendo os dentes, ele laçou um olhar para a irmã caçula que não era forçado a usar desde que esta tinha 16 anos de idade. Um olhar que parecia ter perdido o seu poder a julgar pelo modo que ela cruzou os braços e ergueu o queixo para ele. – Quer dizer no tocante a todos os sujeitos convidando-a para sair? Agora era todos os sujeitos? O volante chegou a ranger sob a pressão de seus dedos, e ele forçou-os a relaxar.

– É. Maeve verificou as unhas. – Quando falei com ela, Nikki ainda não havia decidido. Mas ela disse que

sair com alguém poderia ser justamente a distração de que precisava.

O carro freou bruscamente, e ele olhou para a entrada da casa da irmã, com a porta da frente aberta e os parentes vindo recebê-los. Garrett virou-se para trás. – Uma distração? Maeve empalideceu, afundando no assento, enquanto Gloria deixava o carro. – Estou certa de que ela não quis dizer... o que quer que você tenha entendido. Só que Garrett tinha quase certeza de que ela quis sim. O que significava que ainda estava tão frustrada quanto ele.

E estava prestes a procurar outro sujeito para usá-lo como distração. – Desça do carro, Maeve.

Capítulo 9

NOC, NOC, noc, noc. Nichole engoliu em seco, seu coração batendo forte como o punho na sua porta. Garrett. A mensagem de texto pouco clara de Maeve fora o seu único aviso. Nenhuma explicação do que ele queria. Nenhuma resposta quando ela escrevera de volta. E, agora, após duas semanas de noites insones, evitando-o, ali estava ele.

Não tinha de atender. Poderia voltar para o seu quarto, desligar as luzes e ficar na cama até o sol nascer no dia seguinte. Não importava que Garrett houvesse visto as luzes do seu quarto e soubesse que ela estava em casa. Não era como se ele não pudesse entender o que estava fazendo. Talvez nem a culpasse. Então, por que não estava se virando, descendo o corredor, apagando as luzes e subindo sozinha na cama? Porque seria grosseria? Porque ele passara os últimos 40 minutos dirigindo, vindo de uma festa de família na qual sequer chegara a entrar, só para vir vêla? Porque precisavam conversar sobre

um assunto que já haviam discutido à exaustão? Não. A resposta estava no latejar insistente no seu íntimo. Ela o queria. Como jamais quisera ninguém. Com os dedos trêmulos, estendeu a mão na direção da porta. Abriu a porta, e ali estava Garrett, com aqueles hipnóticos olhos azuis e um sorriso no rosto. Aquilo era um tremendo erro. Um dos braços grossos apoiados no batente da porta acima da cabeça dela, ele levou a outra mão até a sua nuca, inclinando-se para parar a poucos centímetros dela.

– Soube que está precisando de uma distração. Ah, agora entendia tudo. Maeve repetira algo que apenas Garrett poderia entender por completo. E ele não gostara do que ouvira. Enrubescendo, ela umedeceu os lábios enquanto pensava no que responder. Só que o rosnado de aprovação quando os seus olhos acompanharam o movimento apagaram da mente dela qualquer outra coisa que não fosse como estava feliz em vê-lo... e como isto era errado.

Ela o fitou nos olhos. – Não paro de pensar em você. – Digo o mesmo.

– Pensei que... – Ela engoliu em seco, tentando não pensar no calor do seu corpo, próximo demais para ser ignorado. – Dar uma chance a outro poderia ajudar. Os dedos na sua nuca acariciaram, suaves, gentis. – Vai sair com alguém? Mas não havia como confundir o gesto possessivo. – Não. Mudei de ideia. Não seria justo sair com um homem apenas na esperança de este distrair seus pensamentos de outro. Ainda mais quando havia tão poucas chances de isso dar certo. – Ótimo.

Deus, aqueles olhos. A sensação de tê-lo tão perto. Seu corpo vibrava em resposta. O que fariam a respeito daquilo? – Nesse caso, tenho uma ideia. Nichole assentiu. Também estava começando a ter as suas próprias ideias. Uma noite. A noite que jamais deveria ter sido deixada inacabada, semanas atrás. Finalmente tirariam aquilo da cabeça. E, depois, jamais voltariam a chegar a menos de 15 metros um do outro. Não interferiria com o relacionamento com Maeve. Não ameaçaria nada. – Eu gostei – ela murmurou, alisandolhe o peito tentador demais para ser

ignorado. Garrett riu, antes de inclinar a cabeça dela para trás, trazendo a sua atenção de volta para os olhos dele. – Fico feliz. Contudo, que tal escutar a ideia primeiro, antes de concordar? Uma noite. Era tudo de que ela

precisava. – Conte-me – disse. – Daremos uma chance para o plano de Maeve. Isso chamou a atenção dela. Despertando de seu torpor, concentrou-se no homem diante de si.

– O quê? – Sabe que não sabe tratar as coisas com casualidade. E eu não sei agir de outra forma. De modo que nos

encontramos no meio do caminho. Encontramos um ponto onde ambos possamos nos sentir à vontade. Onde possamos nos divertir, sem ser para sempre. Estou pensando que poderíamos ser amigos e amantes. Confiaríamos um no outro para não deixar a coisa ir longe demais, e simplesmente...

aprenderíamos a namorar. Por algum tempo. Não só uma noite. Ela suspirou pesadamente. – Garrett, não acho que você seja o cara certo com quem se possa praticar a namorar. Tinha razão no tocante às complicações. Elas importam. – Sou o sujeito perfeito, e a única complicação que vejo é a que Maeve

insiste em balançar diante do meu nariz... a que tem você na ponta. Ela não vai mudar quando isto estiver terminado. Já é bem grandinha. E é a sua melhor amiga, então lhe dê um pouco de crédito.

Nichole ficou boquiaberta de surpresa, Garrett estava dizendo para ela dar um pouco de crédito a Maeve?

– Só pode estar brincando. – Nem um pouco. E, para reforçar o argumento, vou lhe dar a primeira lição sobre como manter a coisa casual. – Aqueles fascinantes olhos azuis a estavam puxando ainda mais para perto. A voz rouca era como um canto de sereia, atraindo-a para profundezas para onde não deveria ir. – Não torne as coisas mais complicadas do que elas

têm de ser. Nenhum de nós quer que isso fique sério demais. Então, não ficará. Simples assim. – É fácil para o Encantador de Calcinhas dizer isso. – É fácil para todo mundo na mesma página dizer isso. E você é a mulher perfeita para mim porque eu preciso de mais, Nichole. Mais do que o tipo de trivialidade que vem sido servida para mim há mais tempo do que quero pensar. Contudo, o meu mais tem um limite concreto em se tratando do futuro. E você pode ser a única mulher em quem eu confiaria para não tentar mudar isso. Será que não vê? Neste instante, no atual momento das nossas vidas, somos um

encaixe perfeito. Ela queria acreditar nele. Queria que fosse fácil assim. Contudo, às vezes, as coisas não saíam como planejado. Às vezes, as melhores das intenções provocavam as piores feridas. E Nichole estava com medo. Ele inclinou-se mais para frente, suas palavras deslizando calorosamente para dentro do ouvido dela. – Confie em mim, Nichole. Confiança. Estava pedindo para ela

confiar nele. Para confiar em Maeve. Para confiar em si mesma. Será que conseguiria fazê-lo? Se algum dia quisesse ter uma vida plena, teria de aprender. E este homem que ela queria tão

desesperadamente entendia isso a seu respeito. Deslizando as costas da mão por seu pescoço, Garrett murmurou: – Confie em mim para cuidar de você. Ela prendeu a respiração quando ele recuou para fitá-la, a promessa sombria no seu olhar o bastante para fazer o seu

íntimo se retorcer. Seus lábios se entreabriram como se para alertar a si mesma, mas ele já estava lá. Cruzando os últimos centímetros que os separavam para capturar-lhe a boca com o beijo. Estava perdida. Nada mais de negações. Nada mais de esperar. Braços a envolveram puxando-a para

si, roubando-lhe o autocontrole. Ele a levou para dentro, fechando a porta com um chute. Com os pés no ar, ela se deliciou com a força dos seus braços, o poder do seu desejo. Seus braços envolveram-lhe o pescoço, puxando-o mais para perto, pois após passar tanto tempo dizendo não para si mesma, isto era finalmente sim. Ele seguiu com ela na direção do quarto no final do corredor, aprofundando o beijo pelo caminho, aproveitando o acesso oferecido por ela, e arremetendo lá para dentro. Retraindo e voltando a deslizar por entre os seus lábios, lenta e

constantemente. Comunicando sem palavras o que queria fazer com ela. Preenchendo-lhe a boca com carícias ásperas da língua, com o gosto dele. Decadente e delicioso. Sim! Ele pressionou os quadris de encontro a ela, até o volume grosso e duro de sua ereção lhe cutucar a barriga. Era uma dica. Uma provocação que a deixou choramingando enquanto tentava se contorcer mais para perto, tomando aquilo de que precisava. E então, suas costas estavam de encontro à parede e as mãos dele deslizando por sobre suas nádegas, os dedos fortes alisando as costas das

coxas sob o vestido. Cada ponto de contato exigente enquanto guiava as pernas ao redor da própria cintura, posicionando-a de tal modo que a sua extensão quente encontrasse o centro dela com a pressão exata. – Garrett... ah, Deus, assim – ela gemeu, as palavras insistentes, alertando a perda de controle. Garrett repetiu o movimento até o desejo tomar conta do íntimo dela. – Preciso estar dentro de você, meu bem – ele rosnou baixinho. Suas mãos soltaram os quadris dela, permitindo que as pernas de Nichole deslizassem pelas coxas dele até atingirem o chão. – Sim, por favor.

Seus olhos subiam e desciam pelo corpo dele, planejando o modo mais rápido de livrá-lo das roupas, decidindo quais peças não eram críticas para serem removidas. Pois, no fundo, tudo de que precisava era ele sentado na sua cama, com a braguilha aberta e a calça arriada. Ah, Deus.

Olhando por sobre o ombro, viu que estavam a poucos metros do quarto dela. De sua cama. Da sua fantasia de penetração completa, semidespida, rápida e intensa. Retornando os olhos para ele, ela sussurrou: – Não aguento mais esperar. Com as mãos cobiçadoras e trêmulas,

desafivelou o cinto de Garrett, usando a língua para conduzi-lo pelo restante do caminho. Já na cama, puxou o vestido por sobre a cabeça, jogando-o no chão. Garrett ficou imóvel, a própria camisa já passando por sobre um dos ombros, ao fitá-la, nua, exceto pela calcinha branca. Com os polegares, ela empurrou a peça delicada para baixo. O tecido foi rasgado e botões voaram para o chão, seguidos do que restou da camisa de Garrett. O jeans da calça ofereceu um pouco mais de resistência, contudo, logo também estava jogado sobre a pilha no chão, e os dois se atiraram na cama, Garrett beijando-a

durante todo o trajeto. Após um instante de pele roçando sobre pele, ele recuou para protegê-los. E, então, a cabeça grossa estava cutucando-lhe a abertura, enquanto os olhos azuis fitavam os dela. Toda a urgência desapareceu quando ele lentamente deslizou para dentro dela. Aos poucos entrando e saindo, enquanto o corpo dela se alargava para acomodálo. O custo de tamanho controle estava estampado no rosto dele até que, enfim, ele deslizou profundamente para dentro, preenchendo a fenda apertada do corpo dela. Os lábios dela se entreabriram em um gemido frágil que era ao mesmo tempo

tortura decadente e satisfação absoluta. Sem dúvida valera a pena esperar. Nichole queria ficar assim para sempre, com ele enterrado profundamente no seu íntimo, sentindo cada respiração, cada bater do coração de Garrett, da maneira mais íntima e erótica, algo com que ele parecia estar de acordo, a julgar pelo modo como se mantinha apoiado nos braços esticados, fitando-a de um jeito que a fez sentir se como o pôr do sol que ele aguardara anos para ver. Sem pensar, as mãos dela ergueram-se até o rosto dele, a barba por fazer áspera sob os seus dedos.

– Você é todas as fantasias que eu já ousei sonhar.

O sorriso de Garrett era ao mesmo tempo de satisfação e de desejo. – Acho que você não tem muitas fantasias, minha querida. – Nesse caso, quem sabe você não me dê mais algumas? Os quadris dele começaram a se mover, os olhos adquirindo uma intensidade que ela jamais teria imaginado. – Começando agora, Nichole.

NICHOLE DESABOUna cama. Os membros fracos e inúteis. Os eventos das últimas horas se repassando na sua mente.

Tão. Inacreditavelmente. Bom. Do tipo de bom capaz de deixar uma garota mal-acostumada. Reunindo suas forças, voltou a cabeça na direção de Garrett, que desabara ao seu lado. Estava fitando o teto, tentando retornar a respiração ao seu ritmo normal. Afinal, ele fizera a maior parte do trabalho. Garrett a fitou com aquele sorriso arrogantemente satisfeito nos lábios. – No que está pensando? – No corredor. – No corredor. Ele a puxou para si, tomando-a nos braços fortes, e inclinou-se para, mais

uma vez, provar-lhe os lábios, bem lentamente. Tendo terminado, Garrett a fitou profundamente nos olhos.

– Há algo que eu gostaria de experimentar, caso esteja disposta. Algo que nunca fiz antes. Nichole piscou os olhos. Algo que nem Garrett já fizera? – Hã... não estou dizendo não... ainda. Mas... hã.... Garrett, sobre o que você está falando.... exatamente. Ele a puxou ainda mais para perto, de tal modo que ela acabou deitada em cima dele. – É sério. Só se você realmente curtir, Nichole. Só se realmente achar que aguenta. Ela engoliu em seco.

– Conte logo. Garrett puxou a cabeça na direção da dele, e sussurrou no seu ouvido. – Gostaria de passar a noite. Dormir aqui com você. Nichole jogou o corpo para trás, plantando as mãos no seu peito largo, e ladeando-lhe o corpo com os joelhos. – Ah, seu...! – Ela riu. – Não acredito, seu... você é muito malvado. As mãos dele deslizaram pelas coxas dela, subindo pelas costas e retornando. – Acho que jamais houve dúvidas no tocante a isso. Mas talvez eu não seja tão ruim quanto você havia pensado. – Não. Claro que não. – Todas as brincadeiras desapareceram, e a

realidade assentou-se ao redor de Nichole. Disfarçado por risadas e brincadeiras, ele estava lhe pedindo algo sério. – É sério que jamais dormiu na casa de outra mulher? – É. Desta vez, não foi nervosismo que se apossou dela, mas algo mais. Algo mais caloroso. Inclinando-se para frente de modo que, desta vez, fosse ela a sussurrar no ouvido dele, Nichole disse: – Não se preocupe. Como é a sua primeira vez, prometo ser gentil.

Capítulo 10

GARRETT

RECOSTOU-SEna bancada da

cozinha de Nichole, o som e o aroma do café sendo preparado preenchendo o ar ao seu redor. Acordara às 5 horas, como costumava fazer, apenas para descobrir que não havia nada de normal no tocante àquela manhã.

Não estava no seu apartamento. Mas sim na cama da deliciosa Nichole, ainda abraçado a ela. E, diabos, se não fora uma sensação

boa. Boa demais, baseado no modo como estava colado às costas dela. Diferentes cenários no tocante a acordá-la lhe passaram pela cabeça, como, por exemplo, visitar-lhe o corpo todo com a língua, mas fazia apenas três horas que haviam ido dormir, e, apesar do seu despertador interno não lhe dar folga, queria que Nichole tivesse o seu merecido descanso. Após descer cuidadosamente da cama, estava agora perambulando pela cozinha dela, aguardando que o café ficasse pronto... fazendo uma lista mental dos reparos de que o lugar estava necessitando. A dobradiça na porta do armário. O trilho da gaveta dos talheres.

Estaria disposto a apostar que ela adoraria uma nova bancada. Uma de granito para substituir a de azulejo que havia ali. O que ele estava fazendo? Ela não precisava disso dele. E ele não precisava... – Oi. Garrett virou-se, todos os pensamentos sobre assumir a manutenção da casa de Nichole desaparecendo, ao deparar-se com ela na porta da cozinha, usando, até onde ele podia notar, apenas um roupão fino que não parecia tão quente assim. – Oi. Espero que não se importe de eu já ter começado a preparar o café.

– Está me perguntando se me incomodo de ter feito café, mas não que tenha erguido um pedacinho do meu assoalho? Ele olhou para o ponto onde o seu canivete estava fincado entre a parede e... e o inferno. Olhando para Nichole, ofereceu a única defesa de que dispunha.

– Sou bom em consertar coisas. É apenas o rodapé. O piso debaixo dele parece estar em bom estado. Entrando na cozinha, Nichole assentiu, e sentou-se em uma cadeira, tentando esconder o enorme bocejo com

a mão. – Tudo bem, mas o seu pessoal é notório por desmontar as coisas e,

depois, deixar tudo desse jeito. Indefinidamente. Tudo que tocar aqui em casa tem de estar em ordem em menos de uma semana. – Ela o fitou de esguelha. – Independente desta coisa entre nós ter ou não chegado ao fim. Dando a eles menos de uma semana de existência? Que pessimista. Ela não precisava se preocupar com ele desmontando o seu apartamento. Era um hábito, mas um que ele estava tentando deixar para trás. Com Nichole, não queria ser o cara que tinha de consertar tudo. Tudo bem, consertaria o rodapé... porque agora que vira, a maldita coisa o incomodaria até que soubesse estar resolvida. Mas era só.

Pegando uma xícara, serviu café para ela. – Açúcar? Creme? Um sorriso repuxou-lhe os lábios quando ela o fitou de alto a baixo. – Chantilly. Com um dar de ombros, ele virou-se na direção da geladeira, mas Nichole ficou de pé e adiantou-se a ele.

– Obrigada, Garrett, mas eu preparo. Tenho o meu próprio jeito. – Claro. Melhor assim. Ele recostou-se e ficou obervando a rotina que jamais teria imaginado, naquele ambiente que tão poucos teriam a oportunidade de experimentar.

Satisfação possessiva preencheulhe o íntimo ante o pensamento. Ela lançou-lhe um divertido olhar de esguelha. – E então, foi... bom para você? Passar a noite. Rindo, ele assentiu. – Muito. – É sério, como é que jamais havia passado a noite com uma mulher? Tomando-lhe a mão, Garrett a conduziu até o canto da cozinha, diante da janela, e puxou uma cadeira para ela.

– Sempre me pareceu complicação desnecessária.

uma

Por outro lado, jamais se dera conta do que exatamente estivera perdendo.

– É mesmo? – Ela perguntou, curvando os joelhos e sentando-se sobre os pés. – Eu teria suposto que, em alguns casos, dar uma escapulida teria sido mais complicado. Nichole trouxe a xícara até os lábios e tomou um demorado gole.– Na verdade, não. Quero dizer, a princípio, não havia muita escolha. Não fui para a faculdade aos 18 anos de idade como a maioria dos caras, de modo que não era como se eu pudesse trazer uma caloura para o dormitório. Estava morando com minhas quatro irmãs. Praticamente criando-as. – Alto lá... Bethany é um ano mais velha do que você, e a sua mãe ainda

não estava com vocês? Quero dizer, não houve ocasiões em que poderia ter dado uma escapulida se quisesse? Não houve calouras que tentaram levá-lo para o dormitório delas?

Claro que houve. Na verdade, foi o que não faltou. – É, mas havia muito acontecendo. Nossa situação em casa era um bocado precária por diversos motivos. Meus pais não tinham planos de contingência. Havia um pequeno seguro que nos ajudou a sobreviver durante os primeiros anos, porém, minha mãe não trabalhava, e eu não quis que o futuro das garotas morresse com o meu pai. Bethany era muito inteligente, sempre participando daqueles programas para

alunos dotados na escola. E, com os rendimentos da casa reduzidos à minha contribuição, suas notas se tornaram o ingresso dela para a faculdade. Tornouse o trabalho dele, e ela o cumpriu com perfeição. Bolsa integral o tempo todo. Nichole sorriu para ele, e Garrett soube que ela enxergara o orgulho que ele não conseguia conter quando se tratava da irmã mais velha.

– O que foi ótimo, mas significou que ela já se fora quando completei 17 anos de idade. Ele jamais se tornara veterano na escola porque tivera de abandoná-la para trabalhar em período integral. Todo mundo ajudava no dia a dia, porém, as

contas e manter a casa à tona eram responsabilidades que haviam recaído sobre os ombros de Garrett. – Minha mãe sempre fora meio frágil. Não faço ideia como ele conseguiu ter cinco filhos, mas mesmo antes da morte de papai nós fomos acostumados a cada um fazer a sua parte. Ela jamais se recuperou da perda.

– Garrett, deve ter sido tão duro. Ele assentiu, fechando os olhos. Não pôde deixar de pensar naquele dia, no pai saindo para o trabalho. Despedindose de todos na cozinha. Sempre fora um operário. Trabalhando em construção desde a adolescência. Jamais tivera um diploma de curso superior. Apenas um homem simples que amava a família.

Dando um tapinha no ombro de Garrett, assentiu para a mulher na bancada, tirando a mesa do café da manhã. – É o homem da casa enquanto eu não estiver, filho. Deixe-me orgulhoso. As mesmas palavras todos os dias. E Garrett fizera uma careta, revirando os olhos ante a ideia. Ainda assim, como de praxe, respondeu:

– Sim, senhor. O que lhe rendeu um último: – Bom garoto. E o pai foi trabalhar. Trinta minutos mais tarde, estava morto, e tudo que Garrett tinha para honrar o homem que sempre adorara era

a última promessa que fizera. Pigarreando, olhou para Nichole. – Mamãe bem que tentou. Colocou as refeições na mesa e segurou as pontas o bastante para que, por algum tempo, os parentes não começassem a fazer perguntas. Contudo, mesmo jovens, podíamos instintivamente entender as suas limitações. Ela chorava muito. Passava muito tempo trancada no próprio quarto. Cada vez menos tempo fazendo as coisas que mães capazes faziam. Se houvesse uma crise no meio da noite, as garotas vinham a minha procura. E, no final, quando eu já estava com 18 anos de idade, chegou ao ponto de que ela precisava do tipo de ajuda que não poderia ter em casa, do tipo que

já deveria ter tido, mas nós não sabíamos. A culpa que se apossava dele era evidente. Teria tido a mãe chance, caso tivessem arrumado ajuda para ela mais cedo? – Bom Deus, Garrett, eu sinto muito Não sabia sobre a sua mãe... Maeve não costuma falar muito sobre ela.

Não era de se surpreender. – Maeve foi a que menos usufruiu do que mamãe teve a oferecer. Era apenas uma criança. E não foi fácil perder tanto a uma. Foi duro, mas todos sobrevivemos. E, para encurtar a história, alguém precisava estar presente, e eu não gostava da ideia das

minhas irmãs passando sozinhas a noite, entende? Nichole ergueu a sobrancelha. – Se é esse o caso, como diabos foi que conseguiu a reputação de Encantador de Calcinhas? – Eu era adolescente. – Ele riu. –

C o m necessidades. Nenhuma privacidade em casa. E muito pouco tempo livre para cuidar delas. Graças a Deus tinha amigos com irmãs mais velhas que estava dispostas a dar uma de babás de vez em quando. – Quer dizer que está citando a sua libido como um exemplo de necessidade dando origem a criatividade? – Exato. – Ele estendeu a mão. – Só

que não quero parecer um daqueles

sujeitos que diz qualquer coisa para pegar uma garota. Eu não era. Ela riu, sacudindo a cabeça. – Suponho que, provavelmente, não precisava fazê-lo Garrett. Contudo, o olhar dela encontrou o dele, e ainda estava sério. Aguardando. – Contudo, e quanto a mais tarde? Depois que garantiu que Maeve e o resto passassem pela faculdade? E então? – Àquela altura, eu já havia assumido a construtora e estava correndo atrás do meu próprio diploma. Ainda não tinha muito tempo livre. Contudo, é, obviamente eu poderia ter passado parte desse tempo apagado na cama de alguma mulher, de um dia para o outro. Apenas

achei melhor não fazê-lo. – Com medo de dar a impressão errada? – É. – Podia não soar muito bem, mas a verdade era tudo que ele tinha. – Era importante para mim não passar a impressão errada sobre o que estava acontecendo para mulheres com quem eu saía. Sobre o que poderia acontecer.

Jamais tivera tempo suficiente para conhecê-las, para descobrir se podia confiar nelas para aceitarem os limites que ele impunha ao relacionamento.

Pelo menos, fora conhecer Nichole.

assim

até

Pois, com ela, não só teria tempo, mas ela já sabia o que esperar. Ela já o conhecia melhor do que qualquer outra

mulher com quem ele já saíra. Tinham sinceridade e comunicação ao seu lado.

E a liberdade que isso trazia, a de estar juntos e aproveitando o que estavam fazendo, era inacreditável. Só havia um problema. Ainda não saíra de fato com Nichole. Se havia uma mulher que merecia uma boa saída com ele era Nichole. – Que expressão é essa no seu olhar?

– Ela perguntou. – Estava apenas pensando em aonde poderia levá-la para o nosso primeiro encontro.

Capítulo 11

– NÃO

estar falando sério. Nichole riu enquanto Garrett meio que PODE

a rebocava pelo estacionamento na direção do que parecia ser um castelo encantado, logo adiante. – Por que não? É o nosso primeiro encontro oficial, de modo que me pareceu apropriado. Deus, ela adorava que ele estivesse tão determinado a lhes oferecer um primeiro encontro. Mesmo havendo

passado cinco das últimas seis noites juntos, com Garrett repetidamente provando para ela como fora uma boa ideia dar continuidade ao relacionamento. Apertando-lhe a mão, Garrett acrescentou. – E está na minha lista. – Na sua lista? – É. De coisas que quero fazer antes de morrer. – Fico surpresa que minigolfe esteja na sua. – Por quê? Porque é diversão inocente? – inclinando-se para ela, ele deu um tom conspiratório à voz. –Se me ajudar a viver uma das minhas fantasias da adolescência é salubre demais para

você, podemos sempre tornar a coisa um

pouquinho mais interessante... – Quer fazer uma aposta? – E por que não? Sempre podemos pensar em alguns termos bem criativos.

– Envolvendo-lhe os ombros com os braços poderosos, ele a guiou na direção da entrada principal. – E eu nunca joguei. De modo que suas chances de ganhar são muito boas. Há anos que vinha escutando Maeve falar sobre este cara. Era implacavelmente competitivo. E parecia ter um talento natural para quase tudo que tentava fazer. O que significava que, independente de sua experiência, havia uma boa chance de que ela não ganharia.

– Que tipo de termos? O brilho ardente no olhar de Garrett a deixou com um frio na barriga, e arrepiada de nervosa excitação. Cinco minutos mais tarde, Nichole era conhecedora íntima do lado prático do vigor de Garrett. A qualidade que provavelmente o tornara excelente candidato para deixar de lado o trabalho puramente braçal e o levara a assumir o comando da construtora do seu mentor. Era um sujeito que gostava de negociar, e sabia ser duro nas negociações para conseguir o que queria. Nichole não podia negar que também gostava dessa faceta dele. A quem estava tentando enganar?

Gostava de tudo a respeito de Garrett. Ele provara ser muito mais do que ela esperava. Muito do que estava preparada para encontrar. Confiava nele. Ou, pelo menos, confiara nele. Um massacre no minigolfe mais tarde, e Nichole deu-se conta da verdade.

Ele lhe passara a perna. Tomada de indignação, esbravejou:

– Você falou que jamais havia jogado antes! – E jamais havia mesmo. – Aquelas pernas compridas marchando através do estacionamento quase vazio, enquanto a carregava por sobre o ombro. – Mas eu costumo ser rápido em pegar as coisas. Ainda mais quando há incentivos em

jogo. Em uma maneira típica de Garrett, com uma mão aparandolhe a cabeça para que esta não batesse, ele a enfiou no carro. – E o banco de trás também está na sua lista? Ele pelo menos teve o bom senso de parecer mortificado. – Não, mas ter de dar duro para conseguir acesso à sua calcinha está.

– Acho que sabe muito bem como estou disposta. Como todas estivemos dispostas. Ele sussurrou-lhe ao ouvido. – Ora, vamos. Eu venci. Você tem de bancar a difícil.

Ela recuou por sobre o banco de couro, o ardor pulsando no seu íntimo, como acontecia cada vez que Garrett olhava para ela como estava olhando agora. Ele queria ter de dar duro por ela, não

é? – Não estou certa se deveria deixá-lo chegar perto de mim, depois da presepada que acabou de fazer. A satisfação brilhando naqueles olhos azuis quase foi o suficiente para ela abrir mão de qualquer encenação de resistência e puxá-lo para o assento ao seu lado. Melhor ainda, para cima dela.

Mas ele queria brincar. E brincar era algo em que ela jamais tivera muita

prática. De modo que, aqui, no canto de um estacionamento escuro, Nichole estava pronta para priorizar a diversão. Quando Garrett se encaixou em um espaço apertado demais para acomodá-lo, ela ofereceu o olhar mais cético e resistente de que foi capaz.

– Não tenho certeza quanto a isto, Garrett. Seu gemido profundo em resposta prometeu que a sua relutância fingida estava surtindo efeito. – Ora, vamos, Nichole. Eu prometo que só quero conversar. Mais nada. É, pois sim. Ela também. – Talvez... apenas por um minuto.

NICHOLE ESTIVERApreparada para as perguntas. Estava saindo com Maeve, Bethany e Erin para a sua costumeira noite feminina... e estava oficialmente saindo com o irmão delas há três semanas. Verdade que Maeve a vinha interrogando desde a primeira noite dos dois juntos, contudo, ao que tudo indicava, ela economizara um bocado de munição para aquela noite. – Mas vocês foram presos juntos! Sacudindo a cabeça, ela lançou um

olhar homicida para Maeve. – Já disse... não fomos presos. Maeve deu de ombros.

– E eu disse que não contaria nada.

Só que, aparentemente, você não obteve a mesma promessa do policial Klinsky...

que infelizmente conhece Carla. Histórias sórdidas viajam rápido, meu bem. Bethany sorriu ao levar a taça de vinho à boca. – Contudo, obrigada por ter confirmado a história. Perfeito. A boca de Erin estava se contorcendo, como se estivesse se esforçando para manter uma expressão séria. E falhando redondamente.

Apoiando o cotovelo na mesa, Nichole pousou o guardanapo ao lado do prato. – Vamos lá, desembuche.

Com uma risada maliciosa, ela olhou de uma irmã para a outra, antes de fitar Nichole. – Conseguem imaginar os convites? Com barras em relevo e um par de algemas entre os nomes? Todas as três garotas Carter se puseram a gargalhar, mas, de repente, Nichole não estava com muita vontade de rir. Convites. Convites de casamento. O tipo de lugar para onde não queria que seus pensamentos fossem. E, então, para piorar as coisas, teve a sensação de que não estava sozinha. Segundos depois, uma mão larga lhe aqueceu o ombro, e outra voz dos

Carter, mais grave e rouca, juntouse ao resto. – Pensei ter reconhecido as cacarejadas. Boas-vindas foram dadas e Garrett beijou a face de cada uma das irmãs ao dar a volta na mesa. Será que Garrett escutara? Nichole não pôde deixar de se perguntar. Tudo estava indo tão bem entre eles. A relação estava seguindo as diretrizes previamente estabelecidas. Não queria que nada nem ninguém pusesse isso em risco. Mas bastou um olhar ao redor da mesa para saber que Garrett estava prestes a escutar um bocado sobre o encontro deles com a lei, e o tema especial que isto daria para a festa do

casamento. – O que está fazendo, dando uma de penetra na noite das mulheres? – Bethany perguntou. – Tive um jantar de negócios no restaurante no fim da rua. Estava indo pegar um táxi quando as avistei através da janela. Não se preocupe. Não pretendo ficar. Só vim dar um olá e me certificar de que estão se alimentando direito. Naquele instante, o garçom chegou, trazendo uma bandeja contendo todas as sobremesas do cardápio.

– Com os cumprimentos do cavalheiro – o garçom anunciou. – O jantar é por minha conta, garotas.

Ele sorriu quando as irmãs, após agradecê-lo, animadamente começaram a disputar o que queriam experimentar primeiro. Nichole apertou-lhe a mão e sussurrou o seu próprio agradecimento.

Garrett piscou o olho. – Aproveitem a noite, e não façam nada que os rumores dizem que eu faria.

Mas Bethany ameaçou chorar se ele não se juntasse a elas, de modo que, quando as outras a apoiaram, Garrett cedeu e puxou uma cadeira para sentar-se ao lado de Nichole. – E então... estão se divertindo, garotas? Não havia como alertá-lo.

– Para valer, Garrett – Erin afirmou. – Mas não tanto quanto vocês se divertiram duas semanas atrás. Nichole tinha de lhe dar crédito. O homem nem piscou ante a alfinetada.

– Aparentemente o policial é conhecido de Carla – ela ofereceuse para explicar. E então, Erin jogou a bomba, compartilhando as suas ideias fabulosas para uma festa de casamento com tema de prisão. A reação de Garrett pegou Nichole completamente de surpresa. Jamais esperara a sua gargalhada, nem o modo como ele lhe tomou a mão e sorrindo, fingiu cochichar para ela:

– Pensei que os planos fossem ser uma surpresa! Mais algumas ideias para o casamento foram dadas, inclusive vestidos com listras verticais pretas e brancas para as madrinhas, seguidas de outras alfinetadas por Garrett ficar namorando no banco traseiro do carro em um estacionamento. Depois, o assunto da conversa mudou, e começaram a falar sobre a viagem que Bethany faria para a Disney com a família, e as viagens a trabalho de Maeve. Durante

todo

o

tempo,

Nichole

permaneceu ali sentada, meio atordoada pelo modo como haviam tranquilamente

evitado o que ela sinceramente acreditara que teria sido o fim. Atordoada por ver a mão de Garrett ainda segurando a sua. Atordoada por ter levado mais uma lição no tocante a não levar as coisas por demais a sério.

GARRETT FICOUpelo restante da noite, que se estendeu muito além da última colherada de crème brulée e dos cafezinhos. Ele sabia que falar de casamento, mesmo brincando, era uma questão delicada para Nichole. Um assunto que levava seus pensamentos em direções para onde nenhum dos dois queria ir. Não queria que ela fosse se preocupar

que ele saísse correndo à primeira menção da palavra começada pela letra “C”, e nem queria lhe dar a chance de ela própria fazer isso. E, assim que a conversa seguiu adiante, divertiu-se escutando sobre a vida das garotas. Lembrou-se da época em que moravam todos juntos sob o mesmo teto, e ele estivera a par de cada detalhe de suas existências. E, naquela noite, foi ainda melhor, pois a risada gostosa que passara a noite inteira escutando ao seu lado pertencia a Nichole. Era algo com que definitivamente poderia se acostumar, contudo, se, de fato, queria tal chance, teria de fazer um pouco de controle de danos. E começou

quando estava descendo a rua do restaurante para pegar um táxi. Lançando um olhar de esguelha para a mulher encaixada sob o seu braço, ele tocou no assunto que sabia que jamais havia abandonado por completo os pensamentos dela. – As piadas sobre casamento a fizeram sentir-se pouco à vontade hoje? Ela olhou para ele, o alívio nos seus olhos deixando evidente que Nichole estivera ela mesma procurando uma maneira de abordar a questão. – Foi um pouco constrangedor. Quero dizer, não foi constrangedor para você? Poderia até ter sido, se ele não tivesse certeza de que estava com alguém que se encontrava na mesma

página que ele. – Não é nada demais. Quero dizer, é só papo furado. Das minhas irmãs. Eu estou acostumado. Por outro lado, jamais fui noivo. De modo que a questão não é tão delicada para mim quanto é para você. Ela estremeceu ligeiramente, e Garrett soube que tocara na ferida. – Se não quiser, não precisa me contar, mas eu gostaria de saber o que houve. Continuaram andando em silêncio por outro quarteirão. Apenas alguns carros passavam tão tarde da noite no centro da cidade. – Com Paul, eu era realmente jovem e

muito boba – ela começou a falar. – Éramos amigos desde o primário e começamos a namorar aos 15 anos de idade. Era o menino mais legal que eu conhecia, e, como éramos tão bons amigos, quando levamos a coisa para o nível seguinte... a relação meio que emplacou. Garrett assentiu. Embora não houvesse namorado muito na época de escola, lembrava-se de como havia sido para os amigos. Frequentemente, um pouquinho de atração era tudo que bastava quando se era jovem. Aparentemente não fora o caso com Nichole. Pois, como em tudo na vida, ela fora diferente. Acima da média.

E pagara o preço por isso. – Muitas garotas gostavam de experimentar uma nova paixão a cada semana, de diversificar. Mas eu gostava de ter algo constante na minha vida. Gostava de Paul tanto quanto o amava, e, logo, estávamos nos formando e havíamos estado juntos há três anos, e íamos para a mesma faculdade. Todo mundo achava tão romântico e nos perguntava quando iríamos nos casar. Acho que simplesmente nos acostumamos com a ideia. Por que não? – Ela sacudiu a cabeça e riu baixinho. – É claro que a resposta para por que não deveria ter sido porque somos praticamente crianças. Só que ninguém

parecia notar. Garrett sequer podia imaginar. – E quanto aos seus pais? Eles não tentaram convencê-los do contrário? Quero dizer, vocês tinham o quê? Dezoito anos de idade? – Os pais dele achavam que fazíamos um casal maravilhoso. Segundo a mãe dele, eu era a filha que ela jamais teve. E minha mãe... – Ela abriu a boca, tentando encontrar as palavras, mas não as achou. Em seguida, com uma expressão de culpa no rosto, tentou novamente. – Minha mãe é maravilhosa, mas o seu senso de prioridades... às vezes não é o que deveria ser. Ela engravidou de mim quando tinha 17 anos de idade, e meu pai jamais se casou com

ela. Praticamente se mandou quando soube de mim, e enviou um cheque uma ou duas vezes por anos, durante algum tempo. De modo que, para ela, eu me casar, ainda mais com um rapaz que ela conhecera praticamente a vida toda, com nós dois tão perto em Marquette University, foi a melhor notícia que ela poderia ter tido. As coisas começavam a se encaixar. Nada de pai nem irmãos. Apenas uma mãe querendo compromisso para a filha. Pigarreando, ele sondou mais a fundo: – Mas não deu certo? Ela deu de ombros.

– Paul caiu na real cerca de seis meses antes do casamento. Ele pediu

tantas desculpas. Foi sincero. Olhava ao redor e via todo mundo apenas começando a vida, descobrindo quem era e o que queria. E ali estávamos nós, preparados para dar a busca como encerrada. Ele achava que ambos merecíamos a oportunidade de aprender mais sobre nós mesmos. E, no fundo, eu sabia que ele tinha razão. De modo que cancelamos o casamento, e cada qual seguiu o seu caminho. Ele pediu transferência para uma escola na costa leste e eu segui com a vida.

Ela não parecia amarga. Contudo, pelas suas conversas com Maeve, Garrett sabia que o coração dela sofrera muitos abusos. – E conheceu outra pessoa?

Pelo modo que ela amarrou a cara, Garrett soube que esse cretino era alguém que ele jamais iria quer conhecer. Ao contrário do que se dizia, ele não era um homem violento. Mas o sofrimento no rosto de Nichole o fez querer recorrer à violência antes mesmo de saber a história toda. – Joel era... – Ela suspirou. – Era alguns anos mais velho. Quando o conheci, o achei tão confiante. Como se soubesse exatamente o que queria. O que me agradou por motivos óbvios.

– Achou que estaria segura. – Eu tinha tido alguns anos para lamber as feridas após Paul, e quando Joel me convidou para sair, fiquei

empolgada. Estava pronta para algo novo. – Ela lançou-lhe um olhar de esguelha. – Pronta para ver a minha mãe parar de suspirar cada vez que eu tentava falar com ela, e com as indiretas de que eu deveria pedir desculpas para Paul... – O quê? – Por pressioná-lo, ou por tê-lo deixado escapar, ou pelo que quer que tivesse sido naquele dia. De qualquer modo, ela provavelmente ficou mais animada do que eu quando as coisas ficaram sérias com Joel. E acho que eu não tinha experiência o suficiente para perceber o que era real e o que não era. Ou talvez eu não quisesse enxergar, porque estava tão desesperada para

construir a família que eu sempre quis quando criança. Ou talvez meu coração não tivesse freios. Quem sabe? Contudo, jamais deveria ter ido tão longe quanto foi. Com a sua fúria aumentando, Garrett ficou escutando enquanto Nichole tentava explicar o que dera errado. Os atos e acontecimentos que ela interpretara erroneamente. Os comentários casuais que ela levara a sério. Estava tentando dizer que o que acontecera com aquele boçal fora tanto culpa dela quanto o que acontecera com o antigo namorado, mas tudo que Garrett conseguia enxergar era um cretino covarde que não quisera assumir

responsabilidade pelos seus atos e por suas palavras. – Ele a pediu em casamento. Após dois anos. Como é isso apressar as coisas, ou culpa sua? Ela desviou o olhar envergonhado. – Ele disse que estar comigo era como estar preso em uma corredeira. Ele não se dera conta de como eu era perigosa até ser tarde demais. Perigosa. Garrett cerrou os dentes, tentando reunir paciência. Procurou se convencer a não tentar encontrar esse sujeito para lhe fazer uma visita, Trocar algumas palavras. Mas, caramba, que canalha! Quando ela voltou a falar foi tão

baixinho que ele mal escutou. – Pensei que quiséssemos as mesmas coisas. Que estivéssemos juntos nisso. Mas eu estava enganada.

Embora ela não houvesse dito as palavras, ele sabia que elas estavam lá, na sua cabeça. De novo. Garrett segurou-a pelos ombros, puxando-a para si. Abraçando-a. – Não há nada de errado em se querer essas coisas, Nichole. No passado, você apenas as quis com os caras errados. Mas é uma mulher diferente agora. Com mais experiência de vida. Não cometerá mais os mesmos erros. Não voltará a se magoar. – Ele a fitou nos olhos. – Quando conhecer o cara certo, um que,

de fato, a mereça, não será jovem demais. Não se deixará levar por um bocado de promessas vazias. Estará pronta. E ele também. E, quem sabe, Garrett não fosse convidado para o casamento, pois, embora estivesse com ela agora, não conseguia imaginar não continuar amigo dela quando tudo houvesse acabado. Não podia imaginar não ser capaz de conversar e rir com ela. Tudo bem, naquele instante, não podia imaginar não ser capaz de pousar as mãos nela ou adentrarlhe o corpo, mas essa parte iria embora quando as coisas entre eles houvessem seguido o seu curso. Algum dia, algum sujeito conseguiria

tudo que sempre quisera naquela mulher. Contudo, por ora, Nichole era sua. E ele iria fazer cada minuto que estivessem juntos contar. A começar por agora, tirando o passado da cabeça dela ao distraí-la com o futuro a curto prazo que vinha planejando há algumas semanas.

– Até então... Ele inclinou-se mais para perto da orelha dela e a mão de Nichole apertou-se de encontro ao seu peito. Tão sensível. – Tenho uma ideia espetacular...

Capítulo 12

– NÃO PODEsimplesmente dizer que está na sua lista e presumir que seja o fim da discussão. Nichole estava andando na frente dele agora, rindo por sobre o ombro, quando se aproximaram do cruzamento. – Claro que posso – ele respondeu, observando com satisfação quando ela o fitou com a sobrancelha arqueada, seus pensamentos o mais longe possível dos dois sujeitos que haviam lhe dilacerado

a vida. – Claro que posso? – Ao chegarem à esquina, ele a puxou para si e fez sinal para um táxi. – Sabe que não consegue resistir a este rostinho.

– Garrett – ela rosnou para ele, quase rindo. – Nichole – ele sussurrou no ouvido dela, adorando como o seu corpo praticamente se derreteu de encontro ao dele como resultado. – É Napa Valley. Um único final de semana, daqui a alguns meses. Quero levá-la.

Eles se divertiriam, visitariam alguns estabelecimentos vinícolas. Embebedar-se-iam um com o outro por algumas noites fora da cidade. – Confie em mim, Nichole. Será

fantástico. – Confio em você. Confiar em você não é o problema. É só que... – O quê? É só um final de semana. Como dois adultos compatíveis na mesma página, viajando para um pouco de diversão descontraída. – Ele mordiscou-lhe a orelha por um instante, antes de afastar-se. – Diga sim. Por favor. – Eu pensarei a respeito, Garrett – Nichole sussurrou, quando um táxi parou diante deles. – Que tal assim? – Perfeito. Pois, agora, teria tempo de sobra para convencê-la.

NICHOLE OLHOUpara o relógio na mesinha de cabeceira e suspirou de frustração. Três da madrugada e seus pensamentos ainda não a deixavam dormir, negociando consigo mesma para assegurar que essa corda bamba de envolvimento emocional na qual estava caminhando não a fizesse tropeçar e cair. Garrett afirmara que estavam na mesma página. E, talvez se Paul e Joel não houvessem sido mencionados naquela noite, não teria pensado duas vezes. Mas, ah, ela realmente não queria se apaixonar. Não queria ser aquela a se deixar levar. A que se

importava demais. O que ela queria era que tudo continuasse do jeito que estava com Garrett. Ela permanecendo deste lado de fundo demais. No lugar onde já estava. S e m Garrett querer levá-la em algum final de semana romântico.

Para Napa. Haviam conversado sobre vinho algumas semanas atrás, Garrett surpreendendo-se ao descobrir a sua apreciação e interesse pelo assunto. E agora ele queria levá-la para a terra do vinho norte-americana. Seria incrível. Romântico. Divertido. Poderiam encontrar uma pousada.

Alugar bicicletas. Ficar na cama até tarde. Fazer amor...

Sem dúvida era mais do que algumas horas na companhia dos amigos, seguido de algumas horas criativas debaixo dos lençóis. Mais do que passar a noite rindo e conversando no sofá dela. Mais do que um beijo rápido na porta ao raiar do dia, antes de sair correndo para algum compromisso bem cedo. Era intimidade de maneira estendida. O tipo de romance com o potencial para abalar o status quo... Garrett entendia os seus medos. Sabia o que a fizera hesitar. Sussurrara no seu ouvido que ela não precisava se preocupar em deixar o relacionamento deles ir longe demais. Que mesmo que ela se empolgasse, ele manteria os pés

no chão. Que ela podia contar com ele. Fechando os olhos, inspirou fundo, e deixou o ar escapar. Tentou encontrar um ponto de tranquilidade na sua mente. Só que não conseguia parar de pensar.

Sobre o modo como conversavam. Riam. E brincavam. E sobre como se sentia quando estavam juntos. Sabia que podia confiar em Garrett. Mas estava começando a ter dúvidas se poderia confiar em si mesma.

GARRETT JOGOUo braço sobre os olhos e deixou escapar um rosnado animalesco. Não era como se ele e Nichole

passassem todas as noites juntos. Apenas se viam três ou quatro noites por semana. Tudo bem, às vezes cinco. Mas tornara-se meio que o padrão que, quando estavam juntos, ficavam juntos. E ele gostava assim. Na noite anterior, a deixara em casa, sem sequer tentar entrar. Vira aquele brilho de pânico no seu olhar ante a sugestão de Napa, e reconheceu que ela precisava de um tempo para se acostumar à ideia. Ela precisava aprender a confiar neles dois para que pudesse aproveitar o que tinham ao seu potencial máximo. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela se acostumaria. Mas supunha que um

pouco de espaço ajudaria. Só que agora passara a noite inteira acordado. Às 4h30, sequer fazia sentido continuar tentando dormir. Com um grunhido, ergueu-se na cama, sentou na sua beirada e passou a mão pelo queixo. Como diabos iria conseguir chegar ao final do dia? Tinha reuniões marcadas uma atrás da outra até 18 horas. Jamais conseguiria. Não deste jeito.

Se fosse apenas a falta de sono, ele ficaria bem. Diabos, com a carga de trabalho dos últimos anos, virar noites não era novidade para ele. Contudo, a falta de sono aliada a este outro problema, a voracidade e o latejar que

pareciam tomar conta de cada célula do seu corpo? É, isso iria atrapalhar. Tinha de fazer alguma coisa. Vinte e cinco minutos mais tarde, Garrett estava postado do lado de fora da porta de Nichole, uma bandeja de expressos em uma das mãos e um saco de pães doces na outra. Bateu na porta com um dos pés. Se ela não atendesse, iria embora. Voltaria para o seu apartamento e daria prosseguimento ao dia que teria sido um milhão de vezes melhor caso houvesse envolvido Nichole desde o início.

NICHOLE SENTOU-SEna cama, a testa

franzida enquanto inclinava a cabeça em uma tentativa de escutar melhor. Pois alguém acabara de bater na sua porta. Estendendo a mão na direção do telefone, ela verificou as mensagens. Não encontrando nenhuma, seguiu corredor abaixo, vestindo o roupão pelo caminho. Só havia uma pessoa que apareceria sem avisar às 5 horas. E, naquele instante, Nichole não poderia ter ficado mais satisfeita com a intrusão. Maeve era justamente a pessoa para lhe colocar um pouco de juízo na cabeça. Assegurar-lhe que um convite para viajar por um final de semana não

era motivo para desespero. Ela diria algo tipicamente grosseiro que faria Nichole quase chorar de tanto rir. Abrindo a porta com alívio, ela chegou a dizer: – Eu amo... Contudo, definitivamente não era Maeve à porta. Humor e confusão misturaram-se naqueles profundos olhos azuis, e Garrett inclinou a cabeça para o lado ao perguntar: – Esperando alguma outra pessoa? Levando a mão à boca, ela sacudiu a cabeça, e teve um acesso de tosse antes de enfim conseguir dizer um enfático:

– Sim. Boquiaberto, Garrett a fitou com um

olhar confuso. – Desde que eu a deixei aqui, às 23 horas de ontem? Dando-se conta do que havia dito, Nichole começou a gaguejar enquanto sacudia veementemente a cabeça, antes de perceber que Garrett estava apenas brincando com ela, o brilho travesso no seu olhar deixando claro que não estava nem um pouco preocupado.

Antes ela que tivesse a chance de convidá-lo a entrar, Garrett já estava seguindo na direção da cozinha, intimamente familiarizado com a casa, seu avanço fazendo com que Nichole recuasse. – Pensei que talvez fosse...

– É – ele a interrompeu, seu olhar lentamente percorrendo-a dos ombros até os seios até a cintura, quadris, pernas e pés. – Sei exatamente quem você pensou que fosse. A única pessoa no mundo capaz de aparecer sem avisar antes mesmo do raiar do sol. Minha irmã. Nichole olhou para ele. Garrett irradiava sexy como o sol nascente irradiava luz. Aquecendo tudo que tocava. Um tanto quanto ofegante, como apenas Garrett era capaz de deixála, ela provocou: – Deve ser mal de família então. – Até hoje, eu teria dito não. No

entanto, aqui estou. Suas costas chocaram-se com a bancada, impedindo que Nichole recuasse mais. Garrett pousou a bandeja de café da manhã ao seu lado, depois a deslizou para o lado, deixando espaço livre para pousar as mãos se apoiarem na bancada, ladeando-a.

– O que está fazendo aqui? – O que você acha, meu bem? – inclinando-se mais para perto, de modo

a poder lhe sussurra no ouvido, ele respondeu: – Estou aqui para o café da manhã. GALGANDO DOISdegraus de cada vez, Garrett deixou para trás o som de

marteladas, serras elétricas e os gritos da sua equipe, saindo em busca de um pouco de relativa tranquilidade. Observando o progresso do outro lado da rua, ligou de volta para a irmã e levou o telefone ao ouvido. – Desculpe pelo barulho, Bethany. Estou no trabalho. Tudo bem? – perguntou, como sempre fazia quando uma das irmãs ligava inesperadamente. Depois de tranquilizá-lo de que ela e as crianças estavam bem, Bethany perguntou sobre os seus planos para a noite, o que deu a Garrett uma pista para o motivo por trás do telefonema.

Bethany precisava de uma babá. – Eu tencionava ver Nichole hoje,

mas tenho certeza de que ela não se incomodará com uma ligeira mudança de planos. Bethany suspirou aliviada e agradecidamente. – Tem certeza? Se for inconveniente de alguma forma, posso pensar em alguma outra solução. – Não é problema. – Garrett jamais pudera recusar ajuda às irmãs quando estas realmente precisavam. – Que horas quer que estejamos aí?

Um silêncio prolongado se seguiu, e Garrett teve de verificar o telefone para se certificar de que a linha não havia caído. – Beth? – Hã... então vocês dois virão hoje à

noite? Algo a estava incomodando. Mas Nichole já cansara de dar uma de babá com Maeve. As crianças a adoravam.

Deu-se conta de que poderia não ser Nichole que incomodava a irmã. Mas sim ele... com Nichole. Droga, era essa porcaria de Encantador de Calcinhas novamente. Podia até imaginar os rumores que a irmã escutara a seu respeito ao longo dos anos. O que esses a estavam levando a pensar. Provavelmente um ato totalmente depravado na cozinha, envolvendo os utensílios para cozinhar. Não que não fosse uma ideia interessante... na sua própria cozinha...

com Nichole a única outra pessoa na casa. Mas Bethany não podia acreditar que... – Sabe que nada jamais aconteceria entre nós enquanto fôssemos responsáveis pelas crianças.

– Ah, não, Garrett, não é o que eu estava pensando. De modo algum. Eu juro – ela tratou de responder rapidamente. – Querido, sei que você jamais poderia ser menos do que cem por cento responsável enquanto cuidando dos seus sobrinhos. Ela estava tentando dar uma de irmã mais velha, tranquilizando-o. – Então, se não está preocupada que eu vá torná-la titia na sua escada, qual o motivo da hesitação?

Ela riu, voltando a fazê-lo sentirse como um irmão caçula. Após todos esses anos, era uma experiência no mínimo bizarra. – Bem, acho que estou um pouco surpresa. Quero dizer, sei que estão saindo juntos, contudo, para você trazer alguém aqui desse jeito... tenho de perguntar se a coisa é séria?

– Não é. As palavras dispararam de sua boca, deixando para trás um gostinho de culpa.

– É mesmo? Será que eu perdi todas as outras mulheres que você trouxe para apresentar para a sua família ao longo da última década? Colocado

assim...

relativamente

falando, essa relação com Nichole ia muito além de tudo que já tivera até agora. Mas sério era uma palavra que jurara para Nichole jamais usar. Contudo, não precisava compartilhar com ela as explicações que dava para a irmã. – É, tudo bem, entendo o que quer dizer. Mas não vá pensando besteira. O que Nichole e eu temos é... – Uma amizade colorida? – Não. – Mais do que isso. – Quer dizer, sem dúvidas somos amigos. – Mas não eram colegas usando um ao outro para aliviar as tensões. Nem de perto. Eram mais do que amigos, gostavam da companhia um do outro de uma maneira franca e segura... ambos

entendiam isso, mesmo não sabendo exatamente como definir. – Olhe, não se preocupe, um casamento às pressas e às escondidas não está no horizonte. E, apesar de gostar genuinamente dela, o único motivo para trazê-la é que vocês já se conhecem. Ela já bancou a babá para você. Tínhamos planos para esta noite. Se eu não a trouxesse, seria esquisito.

– É, eu entendo isso. Subitamente, Garrett estava olhando novamente para o telefone. Que tom de voz era aquele? Estava deixando-o nervoso. – Estou falando sério. Olha, foi um acidente termos ficado juntos. Eu não

sabia quem ela era, ou isto jamais teria acontecido. Depois, já era tarde demais. Apenas faz sentido, está bem? Não conseguia se lembrar da última vez em que escutara a irmã rir tanto. E às custas dele. Para o inferno com isso.

– Já chega. Olha, Bethany, estaremos aí hoje à noite. Mandeme os detalhes por mensagem de texto. Tenho um prédio para erguer. Desligando o telefone, Garrett tentou ignorar a sensação de que, apesar de tudo que dissera, a irmã não escutara uma só palavra. Não importava o que ela pensava. O que importava era que, pela primeira vez, sua vida era exatamente como ele queria.

Capítulo 13

NICHOLE

NÃOestava certa do que

esperar ao adentrar a casa de Bethany Slovak, mas com certeza não esperava o que encontrou. AC/DC berrando no último volume e Garrett saltando no ar com uma guitarra virada para o lado, aterrissando diante da TV. Os sobrinhos estavam gritando de alegria e totalmente concentrados no tio maluco. Para Neil e Norman, ele era uma estrela.

Amado. Quando a música terminou, os meninos a avistaram, e cruzaram correndo a sala de estar, saltitando ao redor dela enquanto competiam para ver quem contava sobre o que Garrett vinha aprontando desde que chegara.

Garrett adiantou-se com um brilho profano no olhar e os cabelos em desalinho. – Está pronta para agitar? Antes que ela pudesse sacudir a cabeça, Garrett já a estava puxando na direção do microfone. Ao ver a gravata de Garrett amarrada ao redor da haste, ela riu. – Mais pronta do que isto eu não fico.

Deus, ele era divertido. Várias músicas depois, estava rouca, e sugerindo para Garrett que era chegada a hora de acalmar as coisas com uma história. Enquanto Nichole ia até a cozinha pegar um pouco de água, Garrett acomodou-se no sofá ladeado pelos sobrinhos e começou a ler do livro As Crônicas de Nárnia. Nichole escutou tão fascinada quanto as crianças. Quando o capítulo terminou, Garrett fechou o livro, sorrindo quando os meninos suplicaram por mais. Contudo, ele não era nenhum peso-pena em se tratando dos sobrinhos e, em pouco tempo, os meninos o estavam ajudando a dar um jeito na sala. O tio os lembrou

para serem responsáveis com os brinquedos, a respeitar a mãe e a não esperar que esta lhes catasse as coisas, assegurando-os de que estavam crescendo para se tornar homens de quem ele se orgulhava. Nichole sentiu o coração se apertar e a garganta arder ante o inegável amor da cena que estava testemunhando. E foi então que sentiu o chão sob os pés ceder, o mundo ao seu redor tremer. Uma devastadora onda de emoção a pegou despreparada arrastando-a de volta para o mar com ela.

Teria sido a esta correnteza que Joel a comparara? Tinha de ser, pois em questão de segundos fora de segurança relativa para

demasiadamente fundo. E. apesar de todas as boas intenções de Garrett, tinha medo de que nem mesmo ele seria capaz de arrastá-la de volta das profundezas para as quais fora puxada.

Ela o amava. Quando os dentes estavam escovados, últimos goles de água tomados e as últimas idas ao banheiro feitas, Garrett colocou os meninos na cama, enquanto Nichole aguardava lá embaixo, no sofá.

Estava tentando se controlar, pois aquela não era a hora e nem o lugar para uma discussão sobre o estado do relacionamento deles, nem o que significava para ele esta última revelação emocional. Iriam até o final

da noite, conversando e brincando, e ela aproveitaria até a última gota deste tempo juntos, antes que a decisão dura tivesse de ser tomada e ele chegasse ao fim. Garrett entrou na sala e sentouse ao lado dela. – Acho que apagaram. Ele parecia à beira de fazer o mesmo.

– Você é um tio muito legal – disse, querendo que soubesse a forma como o via. – Aqueles meninos têm muita sorte de tê-lo. – Eu tenho sorte de ter eles. Nem sempre dei a isso o devido valor. – Mas dá agora? Ele assentiu. – Quando soube que Bethany estava

grávida e esperando gêmeos, fiquei um pouco... desnorteado com a notícia. A simples ideia me apavorava.

– Ah, Garrett. Jogando a cabeça para trás, repousando-a nas almofadas do encosto, ele fechou os olhos. – Olho para eles agora e me envergonho daquela época. Eu simplesmente... diabos, Nichole. Já havia tanta coisa. Não é desculpa, mas eu me senti como se estivesse me afogando. O tempo todo. Por anos. Lutando para manter a cabeça à tona. Cada noite pensando que só mais alguns anos até Maeve completar os estudos, ou Erin tirar o diploma de enfermagem, ou

Carla estar casada. Estava riscando responsabilidades da minha lista e, de repente, havia mais duas. Tudo em que eu conseguia pensar era que eu não estava preparado para recomeçar a contar do zero. Nichole repousou a cabeça no ombro dele, sussurrando que compreendia. – Não tenho mais essa sensação. No dia em que os meninos nasceram, fui até o hospital ver como estava Bethany. Bastou uma olhada. Foi amor à primeira vista. Eram milagres. Aqueles rostinhos enrugados eram a coisa mais linda que eu já vira.

Mesmo com o coração se partindo, ela não pôde deixar de sorrir. – Tudo que me passou pela cabeça é

que eles ficariam bem. Ned estava tão orgulhoso. O próprio paizão. Parecia pronto a enfrentar cem de mim, caso eu me colocasse no caminho da família que haviam construído.

– Não se sentiu responsável por eles? Garrett riu. – Eu me senti responsável, sem dúvida. Quero dizer, e se algo acontecesse com Ned? Com Bethany? As possibilidades eram infinitas. Mas não importava, eu os amava. Eu queria fazer o que fosse preciso para protegê-los. Quando Garrett oferecia a sua proteção, o seu amor, era para sempre. Não era de se surpreender que

preservasse ambas as coisas com tanto cuidado. Contudo, ele achara não estar pronto para amar aqueles meninos... mas estava. E se Nichole não fosse a única a ser pega de surpresa? E se agora que Garrett tivera um gostinho de como era estarem juntos, ele pudesse encontrar espaço para mais uma no seu coração? No seu futuro? Era possível. Sim, haviam concordado em não deixar a coisa ficar séria, e ela com certeza fizera o possível para aderir ao plano... mas a química... o modo como conectaram... Ele prometera não deixá-la ir fundo demais, contudo, Nichole já estava a

quilômetros da margem. Talvez fosse porque ele fora pego na mesma correnteza, e estavam realmente juntos nisto. Engolindo em seco, e reprimindo a esperança, tentou manter a calma. Tentou conter-se o bastante para não trair o que estava passando pela sua cabeça. – Sei que está apenas se acostumando com a sua liberdade, agora que terminou os estudos e suas irmãs estão por conta própria, mas, quando olha para frente, por acaso acha que um dia irá querer a sua própria família? Garrett deixou escapar um demorado

suspiro, antes de afundar ainda mais no

sofá, puxando-a consigo. – Não sei, Nichole. Parte de mim sente como se eu já houvesse criado quatro filhas. Já passei noites insones me preocupando com elas. Já fui o herói delas, a cruz de sua existência, e tudo entre um extremo e outro. Orgulhosamente vi cada uma delas se formar. E colocá-las em primeiro lugar foi algo que tive prazer em fazer. Porém, agora que estão mais velhas... sinceramente, a ideia de passar por tudo

isso de novo... de escolher tal c o mp r o mi s s o . . . pedindo mais responsabilidade. Não acho que eu possa passar por isso novamente. Tanta responsabilidade para um único homem.

– Nem consigo imaginar o que deve ter sido. Foi o pai de quatro garotas adolescentes e préadolescentes, enquanto você mesmo ainda era um garoto, Garrett. Mas conseguiu. Manteve a família unida e cada um de vocês é um sucesso. Inclinando-se para ela, Garrett sussurrou. – Sinal de que eu devo parar enquanto ainda estou no lucro, e não abusar da sorte, não acha? Ele estava brincando, mas Nichole não conseguiu sorrir. O desespero brotando no seu íntimo não permitia que ela deixasse o assunto para lá. – Mas e se conhecesse alguém sem o

qual não pudesse viver? Alguém que pudesse ser uma parceira para você? De modo que não estivesse sozinho?

Ela prendeu a respiração enquanto Garrett parecia ponderar. Por fim, ele respondeu: – Não, Nichole. Simplesmente não é o que eu quero.

Capítulo 14

NICHOLE ESTAVAsentada na beirada da namoradeira, os sapatos calçados e pronta para sair pela porta. Tão pronta quanto poderia estar quando tudo no seu íntimo implorava para que reconsiderasse. Para que desse um pouquinho mais de tempo ao tempo. Mas não havia retorno do lugar onde ela estava. E era um lugar onde estava sozinha. Pois, da parte dele, Garrett soube manter

as coisas casuais, cumprindo o acordo deles. Agora, ela precisava dar o fora antes que se magoasse mais do que já estava.

Forçando-se a ficar de pé, seguiu lentamente para a porta. Depois, trancou-a e entrou no táxi. Até, finalmente, chegar ao restaurante. Antes mesmo de pagar o motorista, Garrett já estava ali na calçada, aguardando-a com aquele enorme corpanzil e o seu sorriso tranquilo.

Solícito. Atencioso. Adorável. Ela

sentiu

a

primeira

brecha

se

formando nas suas defesas, e estas quase ruíram de vez quando ele a puxou para

si. Inspirou fundo, procurando forças, mas encontrou apenas o perfume de Garrett. Sabia que deveria se afastar, mas não foi capaz de fazê-lo, pois aquela poderia ser a última vez que sentiria o calor do corpo de Garrett o seu perfume...

– Ei, você está bem? – Garrett sussurrou. Ele não fazia ideia do que estava fazendo com ela. – Estou bem – ela disse, recuando e forçando-se a sorrir. – Que tal entrarmos e pedirmos uma bebida? O braço voltou a envolvê-la, pois, embora ele não a amasse, Garrett amava

a intimidade do contato. – Estão segurando a nossa mesa...

– Se não se importa, prefiro apenas um drinque. Garrett já estava lhe notando a tensão. Seus olhos se estreitaram, mas, mesmo assim, ele a conduziu até o interior do estabelecimento, e instantes depois, estavam sentados em uma extremidade do bar. GARRETT DEVERIAter sabido que havia algo errado. Nichole não passara a noite com ele após deixarem a casa de Bethany, com a desculpa esfarrapada de estar exausta e ter uma reunião cedo no dia seguinte. Mas ele lhe notara a tensão

no rosto. Decidira não insistir. Só que, agora, terminado o dia de trabalho, a tensão permanecia, e Nichole preferia um drinque em vez de jantar. Não precisava ser um gênio para ver que algo não estava certo.

Droga. – Fale comigo, Nichole. No banquinho ao seu lado, ela fechou os olhos e inspirou fundo. Quando virou-se para ele, a expressão no seu rosto foi uma que Garrett jamais havia visto. Se não estivesse sentado ao lado dela, talvez não tivesse reconhecido aquela mulher com o sorriso forçado e o olhar sombrio.

– O que tivemos essas últimas

semanas tem sido incrível. Algo que eu jamais pensara que estivesse faltando na minha vida. Mas, Garrett, nenhum de nós achou que seria para sempre. E, acho que o que estou dizendo é que talvez seja hora de dar um fim a isto.

Ele assentiu, mais para confirmar para si mesmo a suposição de que tratava-se de algo que ele fizera, e, por um instante, os olhos que o fitavam registraram alívio. Mas o alívio de Nichole duraria pouco, pois ele não estava disposto a concordar. – Do que se trata, Nichole? E claro que entendo que não é para sempre, mas por que agora? Aconteceu alguma coisa que eu não saiba? Alguma coisa com a irmã dele? Com

o trabalho de Nichole? Talvez um desentendimento que ele sequer registrara. Afinal de contas, era um homem. – Não. Não é nada em particular. Nenhum incidente. É que... acho que já durou demais, se planejamos acabar as coisas numa boa. Entende?

Garrett massageou a nuca. Isso não fazia o menor sentido. – Nichole, o que está dizendo é que não há nenhum problema. Não está zangada comigo por ter esquecido algum aniversário importante, nem porque não liguei quando disse que ligaria. A atração e o vínculo ainda estão presentes. Tratase apenas de acabar

tudo numa boa? Não é o que dizia a tensão nos ombros dela. – Trata-se disto estar ficando mais sério do que deveria. Gosto de você, Garrett. Talvez até demais. O suficiente para o que temos não parecer mais tão casual nem seguro. Parece ser mais do que concordamos em ter.

Ela parecia aliviada em ter dito as palavras, mas o coração dele estava começando a bater forte. Isto não era o que ele queria. O que nenhum dos dois queria. Ela estava com medo. E, com o seu passado, com aqueles dois sujeitos deixando-a cheia de expectativas para depois frustrá-las, Garrett não podia

culpá-la. Mas não ia fazer isso. Recusava-se a lhe dar falsas esperanças ou fazer promessas que não poderia cumprir. Tudo que precisavam fazer era... diabos, precisavam dar o fora dali.

Assentindo para o copo dela, ele perguntou: – Vai tomar isso? – Não. Garrett retirou algumas notas da carteira e fez sinal para o barman, antes de colocá-las sob o copo. Depois, virouse para Nichole e estendeu a mão.

– Venha. – Obrigada por entender, Garrett – Nichole disse, assim que saíram do restaurante. – Especialmente por conta

de Maeve, é importante que não deixemos as coisas ficarem tensas entre nós. Entender? Na realidade, não. Quanto a ficarem tensas... fala sério! Fora sobre isso que escutara tantos amigos se queixando ao longo dos anos, e lamentou não poder ligar para eles e lhes dizer que sentia muito, pois era uma droga. – Tudo bem, vou pegar esse táxi... Ele pegou-lhe a mão. – Garrett, espere. O que está fazendo? Olhando por cima do ombro, ele

respondeu: – Vou levá-la para casa. Entendo por que quis ter esta conversa em um bar movimentado, mas acho que o mínimo

que pode fazer é me dar a cortesia de uma conversa particular. Justo? Ela empalideceu ante a dureza do seu tom, mas ele queria que ela soubesse que aquilo era importante para ele.

– Justo – foi a resposta relutante. Garrett supunha que tinham dez minutos antes de chegar ao apartamento dela. Dez minutos para descobrir como consertar o que dera inexplicavelmente errado. DOZE MINUTOSe meio mais tarde, Nichole estava chegando à porta antes dele, e Garrett tinha um plano. Ao abrir a porta, ela virou-se, provavelmente

com uma espécie de convite, mas ele não estava interessado em escutar nada. Adiantou-se e deslizou uma das mãos ao redor da cintura dela, enquanto a outra mergulhava no seu cabelo, pegando-lhe os lábios entreabertos. O corpo dela estava sem defesa e uma exclamação de surpresa foi contida pelo beijo de Garrett. O tipo de contato profundo que jamais estivera em dúvida entre eles. Lembrando-a de apenas um dos motivos pelo qual ela não queria terminar o que eles tinham. O que, para ela, os havia unido em primeiro lugar. E Nichole lembrou-se, pois, de repente, seu corpo estava se derretendo de encontro ao dele, a cabeça

inclinando-se para trás para lhe oferecer mais acesso ao beijo, as mãos agarrando-lhe a camisa antes de subir para o rosto dele. Garrett não podia parar. Ainda não. Precisava de Nichole ofegante. Desesperada. Latejando pelo que apenas conseguiria com ele. E então, enquanto a presenteasse com o que ela queria, Garrett lhe diria que ela não precisava se preocupar. Talvez um pouquinho sério não fosse tão ruim assim. O que eles tinham, esse tipo de vínculo divertido e agradável, era algo que deveriam explorar até o fim. Até Nichole estar no ponto onde

estava preparada para a vida idílica que

já deveria estar vivendo há muito tempo. Ou até que parasse de ser tão bom como era. LÁGRIMAS

ARDENTESbrotaram

nos

olhos dela, e sua garganta apertou-se ao redor de todas as coisas que não queria dizer. Tudo que Garrett não conseguia ver, que se recusava a entender.

– Por favor – implorou, seus dedos já se fincando no cabelo dele. – Não quero parar, Nichole. E posso escutar na sua voz que também não quer que eu pare. Era verdade. Ela não queria. Queria que ele possuísse o seu corpo, que o tornasse seu. Queria que ele derrubasse

todas as suas defesas, com as mãos, a boca e principalmente o coração. Queria que Garrett desejasse mais do que um simples romance.

Porque ele a fizera desejar mais. Só que Garrett não estava interessado no tipo de mais que devolveria a esta relação um equilíbrio com o qual poderia conviver. O que significava que, por mais que quisesse sentir-lhe a boca no pescoço, as mãos arrancando as roupas dela... não podia permitir.

– Não. Era uma palavra que sabia que ele respeitaria. Para o seu alívio e a sua decepção, no mesmo instante Garrett recuou, de modo que o único contato

entre eles passou a ser os dedos dele segurando de leve os dela. – Nichole. Não faça isso. – Seu olhar era intenso e carregado de frustração. – O que temos é bom. Não precisa terminar. Ela sacudiu a cabeça, olhando para ele enquanto as primeiras lágrimas escapuliram por entre as pálpebras.

– Como pode olhar para mim e dizer isso? – Porque é verdade! Tudo bem... eu entendo. Sente como se as coisas houvessem ido mais longe do que planejamos e isso a assusta. Nesse caso, iremos um pouco mais devagar e...

– Não funcionou, Garrett. Tentei desacelerar, mas não foi o suficiente.

Está tudo tão bom entre nós que começou a me dar vontade de querer mais do que tenho. Ela pôde notar a mudança nos olhos dele. – Que tipo de mais? – Mais do que a promessa de que não teremos um futuro. De que jamais olhará para mim e pensará, eu quero ela, quero tudo. A expressão de Garrett ficou dura ao fitá-la. – Nós conversamos sobre isto. Desde

o início. Você entendeu. – Sei disso! Assim como conversamos sobre você impedir que eu fosse fundo demais. Contudo, mesmo

com os olhos abertos... – Ela sacudiu a cabeça. – Está na hora de darmos um passo para trás. – Por um instante, ela achou que ele fosse continuar a discordar. Talvez tivesse esperança de que ele continuasse. Mas não houve qualquer argumento. Garrett apenas assentiu lentamente.

– Tudo bem, Nichole. Eu entendo. E.. lamento muito. É. Ele lamentava. Ela também. Beijando-lhe a face, ele murmurou:

– Cuide-se, meu bem.

Capítulo 15

UMA SEMANAteria sido cedo demais,

de

modo que Garrett esperou dez dias antes de se aventurar a sair com Jesse para uma noite de risadas no Second City. Sam organizara o grupo e Nichole adorava comédia de improviso, de modo que era uma aposta garantida que ela estaria lá. Não ficou desapontado. Ao cruzar as portas, avistou-lhe os volumosos cabelos ruivos do outro lado do salão, e deixou escapar um suspiro

que não se dera conta de estar prendendo. Os dias vinham se arrastando desde que ele deixara o apartamento de Nichole. As noites então, nem se falava. E, apesar de entender que o elemento romântico da relação deles teria de chegar ao fim, Garrett estava pronto para retomar a amizade. Porque, diabos, mas como sentia falta dela. Falta das conversas e das risadas e de ter alguém que entendia o que ele estava dizendo. Pessoas iam de amigos para amantes e de volta ao ponto de começo o tempo todo. Sem o sexo para confundir as coisas, eles fariam o mesmo. Acenando do outro lado do salão, ele

tirou o casaco e começou a cruzar a

pista de dança. Jesse o cumprimentou com um aceno de cabeça e alguns outros se voltaram com sorrisos. Mas foi só quando Maeve sussurrou o nome dele que aquela que ele estivera aguardando virou-se, revelando aqueles enormes olhos castanhos repletos de receio. Ela não precisava se preocupar. Aquilo não seria constrangedor e nem tenso. Garrett não permitiria que fosse. Ao alcançar o grupo, trocou alguns

apertos de mão e cumprimentos antes de puxar Nichole para um abraço que durou apenas tempo o suficiente para enfatizar afeição genuína sem forçar as coisas a um nível platônico. – Como tem estado, Nichole? –

perguntou, abaixando os braços e dando um passo para trás. Nem um pouco esquisito. Ela engoliu em seco, o seu olhar hesitante. – Bem, obrigada. Não estava esperando vê-lo. Tudo bem. Um pouquinho esquisito. – Coisa de último minuto. Tenho estado muito ocupado no trabalho, o que é bom, mas estava na hora de uma folguinha. Rir um pouco. Sabe como é.

– Claro. Não estava indo da maneira como ele imaginara. Nichole estava tensa, e, subitamente, Garrett sentia-se como um idiota por ter vindo. Assentindo na direção do bar, levou a mão ao cotovelo

dela, afastando-a um pouco do grupo.

– Tudo bem que eu esteja aqui. As palavras mal haviam passado pelos lábios quando ele se deu conta de que deveria ter sido mais uma pergunta do que uma declaração. Não queria que ele dissesse não, aparentemente tanto que, no fundo, nem lhe deu a opção de fazê-lo. Os olhos de Nichole se arregalaram. – Ah, não, Garrett. Quero dizer, é claro que tudo bem que esteja aqui. Não tive a intenção de... – Ela interrompeu-se, por um instante desviando o olhar, antes de voltar-se para ele com um pedido de desculpas nos olhos. – Você me pegou desprevenida, mais nada.

– Eu deveria ter ligado para avisar que viria. – Somos adultos. Não tem problema. Desta vez, o sorriso foi mais genuíno,

e Garrett sentiu-se relaxar, aceitando a ideia de uma nova fase no relacionamento deles. – Ótimo. Que tal eu pegar algo para bebermos? – COMO ASSIMvocê não vem? – Maeve exigiu saber do outro lado da linha, seu tom de voz baixo, como se não quisesse ser escutada. Daí Nichole ter lhe mandado uma mensagem de texto em primeiro lugar

com a notícia de que não iria ao churrasco de Bethany. Sua esperança havia sido de evitar uma discussão, contudo, 37 segundos após ter enviado a mensagem, Maeve ligou.

– Meu carro não deu a partida hoje de manhã, de modo que vou ter de levá-lo ao mecânico. – Mentirosa. – Não. – Sim. Tremenda mentirosa. Mas não estava disposta a admitir isso para Maeve hoje. – Talvez seja o alternador, ou... – Ou talvez esteja pulando fora por causa de Garrett. De novo! – Não. – Você disse que não ficaria esquisito, Nichole. Que o que aconteceu

entre vocês dois não iria atrapalhar o resto das nossas vidas. Culpa apertou-lhe o íntimo. – E não vai. Eu só... O que ela poderia dizer? Acreditara nisso na época. Simplesmente não fizera ideia. Nichole olhou para o dia ensolarado do lado de fora da janela. Era o dia perfeito para um churrasco, e ela teria adorado ver todo mundo. Exceto talvez por Garrett. Só que isso não era verdade. Queria vê-lo... independente do quanto doesse.

Já fazia quase um mês desde que haviam terminado, e ela o vira cinco vezes. Aquele primeira noite com

certeza fora um choque. Contudo, após isso, estivera preparada para a possibilidade de Garrett aparecer. Pronta para isso. Contudo, não estivera preparada para como seria difícil ser amiga dele quando, quando o seu coração queria muito mais. Garrett tinha apenas de entrar no recinto para a temperatura dela se elevar, tudo no seu íntimo sintonizando na frequência dele, subconscientemente procurando algum sinal de que ele mudara de ideia quanto ao futuro. Porém, nada mudara. Porque ela não era boa o bastante. Não para Paul. Não para Joel. Nem mesmo para o próprio pai. Por que haveria de ser diferente com este homem que a alertara de suas

limitações desde o início? Garrett estava tão à vontade quanto sempre estivera. Casualmente tranquilo. Atencioso, embora de uma maneira platônica. Ele vinha até onde ela estava, e trocava algumas palavras antes de passar a se dirigir ao resto das pessoas. E, se fosse só isso, ela até não teria problemas. Contudo, ao longo da noite, ele de alguma maneira gravitava na sua direção. Inclinando-se para compartilhar alguma piada particular ou um comentário sussurrado. Sentando-se mais próximo do que o coração dela era capaz de suportar, roçando o braço no dela, sem se dar conta da destruição causada por aquela intimidade

inconsciente. – Olha, Maeve, vou ter de faltar hoje. Não tenho carro, de modo que dê minhas lembranças para Bethany e para o resto.

– Tem certeza de que não vai querer mudar a sua história? – Absoluta. – Ótimo. Garrett estará aí em dez minutos para apanhá-la. GARRETT GIROUa chave, escutando o carro dela dar a partida suavemente pela quinta vez seguida. Já olhara sob o capô. Pedira para ela dar a partida enquanto ele olhava. E estava pronto para chamar o seu mecânico para vir buscar o veículo e dar uma olhada para ver se

conseguia identificar o que havia de errado. Um grande exemplo de por que a mentira jamais compensava. – Deve ter sido apenas um infortúnio.

É sério, tenho certeza de que o carro não dará mais problemas. Garrett olhou para ela. – Tem certeza? Tomada de culpa, ela desviou o olhar, pois não podia fitá-lo enquanto mentia descaradamente pela quinquagésima vez no mesmo dia. Agora, teria de pegar carona com ele até a casa de Bethany, já que Garrett estava mesmo ali, e não podiam confiar no carro dela. Estariam a sós, em um

ambiente íntimo e fechado por um mínimo de 20 minutos. – Não há nada de errado com o seu carro, há? Estava na hora de reavaliar a sua estratégia. Nichole sacudiu a cabeça. Ele enfiou as mãos nos bolsos do jeans e ergueu o olhar na direção do céu sem estrelas. – Alguma chance de que isto tenha sido um plano elaborado para ficar a sós comigo? Ela ficou a fitá-lo, e, após um instante, ele olhou de relace para ela antes de levar os dedos à própria face.

– Vermelhinha. – Eu queria evitá-lo. – Talvez esteja na hora de repensar a

sua abordagem. Tenho esta personalidade quase compulsiva em se tratando de damas em apuros. Tomando-lhe a mão, acaricioulhe as costas desta com o polegar. – Que tal me contar o que está acontecendo? Acho que somos amigos o bastante para aceitar a verdade entre nós. Nichole permitiu que o olhar deslizasse pelo rosto dele, notando o enviesar do seu sorriso, o brilho no seu olhar. Todas as suas feições trabalhando em concerto para fasciná-la. Mesmo agora, tudo nele fazia com que ela quisesse se aproximar. Fazia com que ela quisesse mais do que podia ter.

– Não – disse, lentamente retirando a mão da dele, recusando-se a desviar o olhar, quando o dele endureceu. – A questão é justamente essa, Garrett. Não posso ser sua amiga. Sei que achou que, se déssemos um passo para trás, déssemos uma folga de alguns dias, tudo ficaria bem. Mas a sua amizade, o seu sorriso, seu instinto protetor, são as coisas que me fazem querer mais do que posso ter. As conversas e as risadas. Os debates às 2 horas. O modo como tudo que você faz e diz me fazem sentir tão bem, que não tenho defesas contra isso. – De modo que pensou em faltar ao piquenique de Bethany hoje, e depois o quê? Só sair quando tivesse certeza de

que eu não estaria presente? É assim que vai ser? Evitaremos completamente um ao outro? A ideia de jamais voltar a ver Garrett lhe magoava o coração, mas parte de si chegou a desejar que fosse tão simples assim. Só que todas as complicações, os empecilhos, os motivos óbvios pelos quais deveria ter evitado esta coisa desde o início ainda estavam presentes.

– Não acho que seja uma atitude realista, nem justa. Pego de surpresa, os olhos de Garrett brilharam de fúria e choque ao exigir:

– Mas é o que você quer? Nem perto disso. Mas o que ela queria não estava em oferta. – Garrett, nossos círculos sociais se

mesclam com tanta frequência que é inevitável que nossos caminhos continuem se cruzando. Não poderia lhe pedir para manter a distância, assim como eu mesma não iria querer...

– O que então? – Ele passou a mão pelos cabelos, suas próprias faces ardendo como ela jamais vira antes. – O que você quer? – Quero que pare de ser tão bonzinho comigo – ela retrucou, perguntando-se como o homem podia se recusar a enxergar o que estava tão completa e obviamente na sua cara. – Pare de tentar me encantar, insistir em uma amizade que só me faz ansiar por algo mais. Para de me matar com a sua gentileza. Pois eu

não aguento mais essas suas demonstrações de carinho. Os olhos de Garrett estavam flamejando, seu tom de voz ficando baixo. – Não estou encantando ninguém a fazer nada. Ela não deveria ter dito nada. Sabia como isso o irritava. Talvez houvesse sido por isso que o fizera. Talvez a única maneira de fazê-lo parar de ser bonzinho fosse se ela parasse primeiro. Sendo assim, sabendo como ela estava sendo injusta, Nichole prosseguiu: – Você também não tem se esforçado para me dar muito espaço.

– Como diabos pode dizer isso? A primeira coisa que quero fazer quando o vejo é beijá-la. Encurralá-la em algum canto para que possa lhe mostrar como senti a falta de ter as mãos em você. Mas mal toco em você.

Ela sacudiu a cabeça, disparando de volta: – Você não entende! Sexo não é o problema. Lidar com essa parte não é problema para mim. Essa parte eu poderia aguentar todas as noites sem jamais me cansar, e não me preocupar em ter fantasias pouco realistas sobre qualquer futuro que possamos vir a ter baseado apenas na nossa compatibilidade física. Quer me

encostar na parede e erguer a minha saia até além da cintura? Vá em frente. Apenas trate de ir embora quando tiver terminado. Para mim seria mil vezes mais fácil assim do que você sendo perfeito o tempo todo!

Ardor apossou-se do seu olhar, contudo, acompanhado de frustração. De ressentimento. – Qual é o seu problema, Nichole? Quer me ver usando-a e indo embora?

Sua respiração estava acelerada, a pele quente. – Talvez eu queira mesmo. O olhar de Garrett ficou mais sombrio. – Eu me recuso. – Por quê? Tem medo que eu não vá

mais gostar de você? A intenção é essa, Garrett. Mesmo que eu não possa parar de desejá-lo, não quero mais gostar de você. Seu olhar ficou mais sombrio ao aproximar-se ainda mais. Perto o bastante para ela sentir o ardor emanando de seu corpo. – Não quero ser um cretino que a trata como lixo. – E eu não quero ficar suspirando por um príncipe que não para de me tratar como se eu fosse feita de ouro, mas que não acha que sou valiosa o bastante para... – Droga. Não é nada disso. – Garret pousou as mãos nos ombros dela, seu

rosto chegando perto do de Nichole. – Sabe muito bem que não é nada disso!

Com um dar de ombros, Nichole libertou-se. – Perto demais, Garrett.

Capítulo 16

DO

OUTROlado da galeria, Nichole

pousou o copo vazio em uma bandeja que passou por ela, e agilmente pegou outro. Não estava embriagada. Mas havia uma espécie de graça fluída nos seus movimentos que ela não possuíra ao chegar ali, fitara-o nos olhos e dera-lhe as costas, presumidamente para parabenizar Jesse por sua mais recente inauguração. Mas Garrett não

poderia afirmar com certeza, pois permanecera enraizado no lugar no lado oposto da galeria. Não trocara mais do que um ocasional cumprimento passageiro com Nichole desde aquela tarde duas semanas atrás, quando ela basicamente lhe dissera que o melhor que Garrett poderia fazer por ela era ser um canalha.

Ficara tão furioso que fora embora sem dizer uma palavra. Deixando para lá os planos com a família, voltara para casa para ficar fitando a parede enquanto praguejava ante o espaço vazio que o rodeava pelas próximas três horas. A ousadia de Nichole... Diabos, recusava-se a retornar a isso.

– Com licença... Garrett Carter?

Garrett voltou a sua atenção para a mulher postada diante de si, com um sorriso nos lábios e um convite no olhar. Garrett tentou dar um nome ao rosto, mas nada lhe veio à cabeça.

– Sim? – Pensei tê-lo reconhecido. – Ela estendeu a mão. – Sou Fawn Lesley. Filha de Walter Wesley. Provavelmente não se lembra de mim, mas nós nos conhecemos rapidamente cerca de cinco anos atrás quando... – É claro... Fawn. – Seu pai estivera montando alguns condomínios de luxo e Garrett participara da licitação do contrato antes de Walter Lesley acabar dando para trás por causa de problemas

de fluxo de caixa. A filha devia ter estado em uma das reuniões. – Como está o seu pai? Fawn informou que ele estava bem, passando em seguida para um pouco de bate-papo informal, sua mão tocando-lhe o braço de um modo que deveria sugerir uma intimidade inconsciente, mas que, na experiência de Garrett, um gesto que sempre esteve carregado de intenção. Sem dúvida era uma mulher atraente. Corpo bonito, feições atraentes. Porém, não estava interessado. Na realidade, mal conseguia manter os olhos fixos nela, pois estes insistiam em se voltar para o outro extremo do salão... onde algum sujeito estava abraçando Nichole de um modo que fez todos os músculos

do corpo de Garrett se retesarem. Não, não era bem um abraço. Não do modo como aqueles braços a estavam envolvendo, quase a erguendo no ar. Sem falar na demora, segundos extras que indicavam que, fosse quem fosse aquele sujeito, não queria soltá-la.

Quem era ele? Garrett passou os olhos pela galeria, procurando alguém para interrogar, mas Maeve não estava lá, não viu Sam, e Jesse estava conversando com um repórter. Pegou o celular, sabendo que Maeve fazia esse tipo de coisa o tempo todo. Hesitou ante o pensamento, Maeve fazia esse tipo de coisa o tempo todo.

– Bem, Garrett... tenho uma confissão

a fazer. Ele olhou novamente para Fay... não, Fawn... sentindo-se como um cretino por esquecer que ela estava ali.

– Perdão? Como disse? Abaixando os cílios negros impossivelmente espessos, ela prosseguiu: – Eu tinha a maior queda por você quando nos conhecemos. E sei que eu era jovem demais, contudo, agora... Ela deixou a frase inacabada, e Garrett conseguiu se concentrar o suficiente no que ela estava prestes a dizer. Só que, do outro lado do salão, o desconhecido que gostava de abraçar

continuava perto demais de Nichole, que estava com uma mão perto do pescoço, como se houvesse sido pega de surpresa e ainda estivesse se recuperando.

Droga. A filha de Walter Lesley...

certo. Sorrindo para ela, ele sacudiu a cabeça. – Fico lisonjeado, Fawn, mas estou... envolvido com alguém no momento. Estivera prestes a lhe dar o discurso patenteado sobre não misturar negócios com prazer, pronto para usar o pai dela como desculpa quando se deu conta de que tinha uma verdade muito melhor à sua disposição. Nichole podia ter dado um fim ao relacionamento deles, mas o fato de que Garrett estava quase tendo um troço por

conta do sujeito do outro lado do salão deixava claro que ele ainda estava muito envolvido. Podia ter recuado, mas ainda não abrira mão dela. – Lembranças minhas para o seu pai. E, então, a atenção de Garrett retornou para onde ela estivera o tempo todo. Para Nichole, sua cabeça jogada para trás, expondo as delicadas curvas do pescoço enquanto ela ria de algo que o desconhecido dissera, gesticulando animadamente no ar. Outra risada. Espontânea. Genuína.

O olhar de Nichole estava fixo no rosto do homem, como se não fosse capaz de desviá-lo. E Garrett sentiu como se houvesse

levado um muro na barriga. Não podia continuar vendo aquilo...

no entanto, não conseguia desviar o olhar. Só que tinha de fazê-lo. Pois, se continuasse parado ali durante muito mais tempo... se tivesse de ver o momento inevitável em que o sujeito testasse a temperatura das águas com algum toque inofensivo... Diabos, já estava com vontade de arrancar o braço do sujeito, e este ainda não se movera. Mas a sua jogada estava por vir. Garrett reconhecia os sinais. E, que Deus o ajude. Se Nichole aceitasse o toque em vez de recuar, ele não seria capaz de suportar. E então, aconteceu. E o mundo ao seu

redor pareceu sufocá-lo. Imobilizado ante o mero roçar das pontas dos dedos de algum idiota na pele exposta do cotovelo de Nichole, Garrett conseguiu apenas aguardar. Observar. Assistir. Até ver qual seria a resposta do corpo de Nichole à pergunta silenciosa. Será que ela se abriria para o toque, oferecendo-se para mais? Hesitaria contemplativamente, tornando-se um alvo e um desafio muito mais atraente? Ou recuaria, colocandose fora do alcance dele, erguendo as barreiras invisíveis que a deixaram inalcançável para a maior parte dos homens pelos últimos três anos? Seu olhar abaixou-se até o seu braço,

onde o homem a havia tocado. Não houve nada de sutil no gesto. Será que ela não sabia que indecisão era como uma capa vermelha diante do touro? Um desafio. Os dedos do seu cotovelo deslizaram até o queixo dela, ligeiramente lhe inclinando o rosto. O nó no íntimo de Garrett apertou-se. Sabia o que aquele sujeito ia ver naqueles enormes olhos castanhos. Vulnerabilidade. Dúvidas. Ardor e desejo. Tudo que o próprio Garrett via no instante em que fechava os seus próprios. E, agora, esse sujeito... Não ia ver nada disso. Pelo menos, nada dirigido a ele.

Ah, estava lá nos olhos dela, sem dúvida. Só que, agora, o seu olhar se desviara do homem diante dela, e estava lentamente cruzando o salão, seguindo em ritmo constante em uma direção definida, como se soubesse exatamente onde estava o seu alvo... e parou nele.

Perguntando se Garrett realmente podia deixá-la ir. Perguntando se ele se importava. Independente do alívio que Garrett pudesse ter sentido, este foi de curta duração, pois frustração e hostilidade começaram a se acumular na sua garganta. Nichole o estava provocando. E Garrett sequer se dera conta disso.

Sequer se dera conta de que ela era capaz disso. Ela apenas abaixara a guarda tempo o bastante para atrair aquele pobre coitado apenas para lhe testar a reação.

Para ver o que ele faria. Isso era um erro, Nichole. Ela deve ter lido a sua resposta nos seus olhos, pois os dela se arregalaram ligeiramente, enquanto o queixo de ergueu de leve. Nichole deixara claro que ele não podia contar com a certeza de que, enquanto ele não a estivesse tocando, ninguém mais o faria. Só que o plano dela não sairia como planejado.

DO OUTROlado do salão aqueles olhos azuis começaram a arder e Nichole sentiu a pele enrubescer. O dedo no seu queixo afastou-se, levando embora consigo quaisquer dúvidas que Nichole pudesse ter no tocante a ser possível para ela sentir-se atraída por outro homem. Mesmo o homem que outrora já fora tudo para ela. É claro que, pensando bem, não parecia justo ter onerado Paul dessa maneira quando, na ocasião, ele fora tão jovem.

Daí o noivado rompido. Assim como Garrett. Paul precisara da oportunidade de viver. De ser livre. Contudo, embora não pudesse culpá-lo

pela decisão agora, teria sido bom se ele tivesse chegado a ela antes de colocar a aliança no dedo dela. – Quem é aquele? Forçando a sua atenção a retornar para o homem que, caso as coisas tivessem sido diferentes, poderia ter se tornado seu marido, ela respondeu sem rodeios: – Garrett Carter. – O mesmo Carter que acabou de erguer aquele arranha-céu em Wabash?

– Ante a confirmação dele, ele perguntou: – Há algo acontecendo entre vocês dois? Ela sorriu para ele, reconhecendo em Paul o antigo amigo que Garrett queria ser, e não se deu ao trabalho de

esconder a tristeza no seu olhar. – Havia algo. Outro olhar de esguelha, e uma expressão de evidente decepção apossou-se do rosto de Paul. – E ainda não acabou – comentou. Inclinando-se, roçou os dedos sob o queixo de Nichole. – Sei que é durona, Nichole. Contudo se precisar de um ombro amigo, ou de alguém para escutá-la... gostaria de oferecer para que contasse comigo. Ao observar uma parte do seu passado se afastando, sentiu o ardor às suas costas se intensificando como apenas Garrett era capaz de fazer.

– Acabou.

– Isso não tinha nada a ver com você. As palavras escapuliram antes que pudessem ter sido processadas na cabeça dela, e, assim que cruzaram os seus lábios, ela se deu conta de como

eram falsas. Nichole soubera que ele estava ali. Soubera que ele estava observando. Sentia isso com o passar das horas. E, embora encontrar Paul houvesse sido uma completa surpresa, e sua curiosidade no tocante à reação a ele genuína, só saber que o olhar de Garrett estava fixo nela fazia isto ter tudo a ver com ele, Antes que pudesse admiti-lo, a fúria de Garrett chicoteou-lhe o ouvido.

– Uma ova que não. Ela podia sentir a tensão vibrando entre os dois, a hostilidade e a acusação.

– Você vem embora comigo – ele rosnou. – Ou será que vou ter de segui-la até em casa? Ela voltou-se para ele, fitando-o com intensidade. – Não preciso que me siga até em casa, Garrett. Para começar, só havia alguns centímetros separando-os, ele inclinou-se mais para perto. – Você com certeza está agindo como se precisasse de alguma coisa.

Ela inspirou fundo, depois, deliberadamente recuou um passo,

seguido de outro. Virando-se, murmurou.

– Dê boa-noite para Jesse por mim. Ligo para ele amanhã. VOLTANDO PARAcasa, Nichole não se deu ao trabalho de fechar a porta atrás de si, após abri-la com um violento empurrão. Com a respiração acelerada, repassou na sua cabeça os acontecimentos da noite, pensando no que disse e no que poderia ter dito. O que ela tivera vontade de gritar.

Ele não tinha o direito. Você com certeza está agindo como se precisasse de alguma coisa.

Para o inferno com ele. A porta bateu atrás de si. Em seguida

veio o som da fechadura, deixando todos os seus nervos em estado de alerta.

Ela voltou-se para se deparar com Garrett no outro extremo do corredor. – O que achou que fosse acontecer? – Ele perguntou, avançando na direção dela enquanto afrouxava a gravata.

– Eu não achei... Mas suas palavras lhe falharam quando ele levou a mão à gola, afrouxando os botões superiores da camisa. – Achou – ele respondeu, seu tom de voz baixo e controlado apenas servindo para enfatizar a hostilidade fervilhando no seu íntimo. Hostilidade e propósito.

Outro botão e o seu coração quase parou, seus pés começando a se mover em um esforço para recolocar um pouco de espaço entre eles.

Garrett não hesitou em encurtar a distância entre eles, em encurralá-la na sala de jantar raramente usada, continuando a avançar mesmo quando ela não tinha mais para onde recuar, suas mãos apoiandose no tampo da mesa. Nichole não fazia ideia de até onde ele pretendia levar aquilo. O que ele planejava fazer. Tudo que sabia é que não conseguia desviar o olhar. Não conseguia dizer a única palavra que sabia que o faria ir embora. Não

conseguia abrir mão daquela interação que parecia tão contrária ao bom senso.

Por que estava desesperada por ela. Faminta pelo que sabia que não deveria ter. – Achou mesmo que ver outro homem tocando-a, colocando as mãos no seu corpo... – suas mãos tocaram nos quadris dela, o contanto como uma explosão detonando no seu íntimo, antes de deslizarem para baixo e agarrarem o tecido do vestido, erguendo-o – ...me deixaria insano? A bainha do vestido ergueu-se com as mãos dele, expondo centímetro após centímetro das coxas dela e do tecido claro da calcinha ao ar frio do apartamento dela.

– Achou mesmo que me deixaria de joelhos, Nichole? – Ele perguntou, ajoelhando-se no chão sem jamais tirar os olhos dela, fazendo com que Nichole tivesse dúvidas se algum dia ver-se-ia livre dele. Pareceu impossível quando, neste instante, tão desprovido da ternura e da alegria que haviam sido uma constante em todas as suas interações, ela ainda sentisse como se fosse dele.

Soltando o tecido do vestido na cintura dela, ele agarrou-lhe a calcinha e a puxou para baixo. – Por que isto, Garrett? Suas palavras foram débeis e trêmulas. Desesperadas.

Exatamente da forma que ela se sentia. – Trata-se de você conseguindo o que quer – ele desafiou. – Não é? Antes que ela pudesse responder, e lhe dizer que sequer sabia o que queria, ele trouxe a boca até a dela, aquele contato crítico deflagrando sensações por todo o corpo dela. A carícia firme de sua língua estava abalando qualquer controle frágil que tivesse sobre a razão, enchendo o seu âmago de desejo, fazendo-a cegamente latejar por mais. Os dedos cerrando-se ao redor da borda da mesa, em vez de fincarem-se nos cabelos dele, Nichole gananciosamente apossou-se de tudo que

Garrett lhe dava, não importando que este desejo fosse estimulado por partes iguais de raiva e desejo, cada um alimentando-se do outro. Ou que não houvesse qualquer amor nos olhos de Garrett. Isto era ele sendo frio. Insensível. Provando algo para ela ao mesmo tempo em que provava para si mesmo. Tudo que importava é que ela podia tê-lo. Daquele jeito. Agora mesmo.

DIABOS, NICHOLEtinha de dar um fim a isto. Esbofetear-lhe o rosto e dizer para que ele desse o fora dali. Ela precisava detê-lo, porque Garrett com certeza não era capaz de se deter. Só se dera conta

do quanto estava descontrolado quando estava com a pele sedosa dela sob as mãos e o seu gosto doce na boca. O fato de que ela sabia exatamente o que estava acontecendo entre eles, que soubesse que não se tratava de afeição terna, e mesmo assim ainda o quisesse tornava tudo aquilo errado, e o incomodava profundamente. Contudo, se era assim, por que estava duro como aço e permitindo-se excitar por seus suspiros suaves, torcendo para que jamais cessassem? Seus dedos se fincavam nos quadris dela enquanto a provocava com a boca. E, ainda assim, ela não se libertava do olhar dele. Aqueles profundos e vorazes

olhos castanhos estavam fixos nos dele, o desejo neles provando ser mais intenso do que tudo mais. Erguendo-a de modo a descansar sobre a borda da mesa, ele deslizou a mão pelo centro do corpo dela, até ela se inclinar para trás e ele poder descansar-lhe as pernas sobre os ombros, deixandoa exposta e vulnerável. Sua. Pois este era o motivo de tudo aquilo. Provar para si mesmo que as suas seriam as únicas mãos a tocar nela hoje à noite. Nada mais importava além daquele simples fato. Nem provocações.

Nem orgulho. Nada.

NÃO ERAo beijo de Garrett que ela estava recebendo. Nada tão terno nem afetuoso como isto. Era algo completamente diferente. Algo que tinha a ver com poder e controle. Coisas das quais ela já havia aberto mão. Era uma reivindicação. Uma que ela gananciosamente aceitava em troca da sua barba por fazer roçando na parte interna das coxas dela. O paraíso. Sua boca percorreu-lhe o corpo. Lambendo. Provando. Provocando com um roçar dos dentes enquanto ela se contorcia debaixo dele, sua respiração alterada, ofegante. Depois, cobrindo aquele teso botão de desejo, ele o

acoitou com intensa sucção ritmada, na qual o destino era mais importante do que a jornada até lá. Era tão bom. Mas tão rápido. Demasiado, e ao mesmo tempo não o suficiente. Ela já estava chegando ao clímax.

– Garrett. A última onda do orgasmo foi se abrandando, e, puxando-o pelos cabelos, ela ofegantemente o puxou mais para cima. – Por favor. Você todo. Era apenas sexo. Nichole sabia disso. Mas queria o apogeu da união pela qual latejara todas as noites. Queria sentir o corpo dele movendo-se dentro dela. Queria a firmeza dos seus ombros sob as palmas das mãos dela, e o gemido rouco

de satisfação de Garrett no seu pescoço. O martelar do seu coração ecoando através do dela próprio. Queria que ele se colocasse sobre ela e se empurrasse lá para dentro, tomando o que precisasse. O que ela queria que ele tivesse. Só que Garrett virara pedra. Ficara rígido, imóvel. Com a cabeça baixa, não estava mais olhando para ela. Ainda assim, mesmo sem lhe ver os olhos, ela podia sentir a sua tensão. – Garrett? – chamou, subitamente se sentindo mais vulnerável e exposta do que jamais se sentira. Teve vontade de se cobrir, embora

soubesse que Garrett não estava mais olhando para ela, que não queria mais vê-la. – Será que podemos conversar...? – Boa-noite, Nichole. E, embora ele tivesse ido embora sem dizer mais uma só palavra que fosse, a mensagem não poderia ser mais clara. Ele acabara de lhe dar uma lição em sexo sem importância. E, a julgar pelo modo como ela estava se sentindo, jamais iria precisar de outra.

Capítulo 17

PRIMEIRO Ociúme.

Depois a vergonha. E agora, como se os dois últimos dias já não tivessem sido suficientemente ruins, Garrett estava culminando-os com uma dose saudável de culpa.

– O noivo dela? Palavrões escapuliram de sua boca mesmo após se dar conta de que os estava despejando no ouvido da irmã caçula. Não conseguiu contê-lo. Isso explicava a familiaridade que

vira. O sujeito fora o primeiro... o primeiro tudo de Nichole. Primeiro namorado. Primeiro beijo. Primeiro amante. Primeiro noivo... primeiro coração partido. E quando ainda eram garotos. Só que Paul não era mais nenhum garoto. E, pensando bem, Garrett tinha quase certeza de que enxergara saudades e arrependimento nos olhos do sujeito naquela noite na galeria. – Ex-noivo. Mas, é. E, só para você saber, ele estava perguntando para Sam a respeito dela depois que vocês foram embora – Maeve informou. – Se não entendeu a sutileza do meu comentário, ele está interessado em Nikki. O sujeito que ela certa vez me disse que

provavelmente teria sido o homem de sua vida, caso ela o tivesse conhecido dez anos mais tarde. E então, o que você vai fazer a respeito disso? Garrett passou a mão pelos cabelos, olhando para o céu escuro, do lado de fora da janela do seu escritório. O que ele iria fazer? Atolar-se no trabalho por algum tempo, talvez um mês ou dois, o tempo que fosse necessário para superar esta situação com Nichole. Parar de imaginar quando a veria novamente. Precisava chegar àquele ponto onde nem tudo que valesse a pena esperar na sua vida estivesse atrelado a ela. Pois não era justo agarrar-se a ela

quando tudo que podia oferecer era menos do que ela merecia. – Não vou fazer nada, Nichole e eu terminamos. Se ela quer ou não dar uma chance a esse Paul, depende exclusivamente dela. – Você é um idiota, Garrett – ela rosnou. Sem duvida que ele era. Mas estava cansado de ser um canalha. Talvez houvesse facilitado as coisas para Nichole, mas ele mesmo mal fora capaz de se suportar. Devia um pedido de desculpas para Nichole, contudo, cada vez que chegava perto dela, era como se tirasse dela algo que não devesse. De modo que estava decidido a lhe dar aquilo pelo qual ela

vinha implorando há mais de um mês. Iria sair de verdade da vida dela. O fato de haverem terminado tudo de um modo tão negativo... bem, apenas significava que seria mais fácil para ela tirá-lo da cabeça e prosseguir com a vida que era para ela ter tido.

QU A N D OGA R R E TTnão apareceu na porta dela no dia seguinte, e nem no dia após este, Nichole se deu conta de que ele não retornaria. Que, desta vez, estava tudo terminado mesmo entre eles.

Deveria estar aliviada. Talvez estivesse. Só que era difícil alguma coisa por baixo da dor que dominava o

seu coração. Após algumas semanas cuidadosamente evitando o tópico do irmão dela, Maeve deixara escapulir que Garrett também não saía desde a noite na galeria. A informação em nada tranquilizara Nichole. Garrett construíra a sua vida ao redor do sacrifício e de colocar responsabilidades à frente de si mesmo. Ele já deixara de experimentar tanta coisa. Justamente quando encontrara o caminho de volta para os amigos, para o tipo de vida plena que viera lhe faltando todos esses anos, Nichole não queria que ele tivesse de abrir mão de tudo isso por causa dela. Já estava na hora de alguém fazer o

sacrifício para que Garrett não tivesse de fazê-lo. Ela já continuara com a sua vida antes... encontrara uma nova trilha quando precisara. Poderia fazê-lo novamente. O ANIVERSÁRIO DOSgêmeos foi a típica correria insana que Garrett viera a esperar ao longo dos anos. Muito bolo, presentes e leite achocolatado. A sogra de Bethany estava na sala de estar narrando uma sessão de slide digital cobrindo a vida dos meninos desde a fertilização até o jogo de futebol na semana passada. Todo ano, Garrett o assistia, mas este ano foi mais do que

ele conseguiu aguentar. Já fazia um mês desde a noite com Nichole, e, em vez de ficar mais fácil com a passagem do tempo, sua ausência era um buraco no seu peito que ficava maior a cada dia que passava. Esta manhã, acordara com a noção absurda de que poderia esbarrar com ela naquela noite. Na mesma hora, deixou a ideia de lado. Em todos esses anos, ela jamais fora convidada. E, embora ela se tornara mais chegada a todas as suas irmãs ao longo dos últimos meses, mesmo que Bethany a houvesse convidado, pelas poucas informações que ele conseguira obter, ela saíra por completo do circuito. No entanto, de algum modo, ele retinha um fiapo de

esperança, pois, assim que chegou, a primeira coisa que fez fora passar os olhos pelo recinto. Contudo, agora, uma hora após a sua chegada, estava cansado de manter a fachada do tio tranquilo, e resolveu dar uma caminhada para pegar um pouco de ar puro. Resolveu procurar a irmã para se despedir, mas não a viu em lugar algum.

Seguindo para a cozinha, resolveu dar uma espiada no corredor atrás desta. Avistou luz em baixo da porta que dava para a lavanderia. Ao aproximar-se, escutou vozes murmurando vindo lá de dentro. Abrindo a porta bruscamente com a

intenção de zoar com as irmãs por estarem se escondendo em meio a uma reunião familiar, Garrett não chegou nem a entrar no aposento antes que uma única palavra o tivesse deixado imobilizado.

– Grávida... A palavra fora sussurrada por Maeve e ficou pairando no ar quando quatro rostos voltaram-se para ele, olhos arregalados com vários níveis de receio

e horror. Grávida. O tempo pareceu parar, a pontada de dor ardente no seu peito se espalhando por todo o corpo. Inspirando fundo, ele agarrou Maeve pelos ombros. – Ela está grávida? – exigiu saber, um

milhão de coisas passando por sua cabeça ao mesmo tempo. E se algo acontecesse com ela? E se construíssem uma família e... Deus... e se ela fosse levada embora? Se ele a perdesse? E se tivesse de segurar nas mãos desajeitadas essa pequenina vida que era o legado de Nichole, e acabasse sozinho?

Sentiu um frio na barriga, mas, depois, pensou naqueles enormes olhos castanhos fitando-o todas as manhãs do outro lado da cama. E se não tivesse de fazê-lo sozinho? E se, desta vez, Nichole estivesse ao seu lado no melhor e no pior? Rindo com ele. Permitindo que Garrett a abraçasse.

Voltou a inspirar fundo. E se isso fosse a única coisa que realmente importava? – Garrett, acalme-se – Maeve suplicou. Ela não entendia. Ela não precisava ficar agitada por ele ter descoberto, pois de repente estava tudo claro na cabeça dele... – Você precisa escutar. Tudo vai dar certo. Ela vai se casar com ele e...

– O quê? Sua visão subitamente focalizou o rosto da irmã, que estava mudando de receio e confusão para... deleite? Ela estava achando aquilo engraçado?

– Ah, meu Deus, não Garrett. Não é Nichole. – Maeve estava realmente se esforçando para não rir agora. – Eu sinto muito. Mas é... Erin. Mãos femininas agarraram-lhe a camisa, virando-o de modo a poder encarar outra irmã. – Garrett, por favor, não faça nenhuma loucura. Ele me ama... e, olhe!

– Erin mostrou a aliança de diamantes no seu dedo. – Nós vamos nos casar. Recuando até a bancada atrás de si, apoiando-se nela, ele fitou os olhos da irmã, tentando compreender as informações que tinha diante de si, e que pareciam ser demais para ele. – Você o ama? Realmente o ama?

Tem certeza de que quer se casar? Erin piscou os olhos ao fitá-lo, olhou lentamente para as irmãs, e novamente para ele. – Hã... sim. Bethany sussurrou alguma coisa do canto do aposento, e empertigando-se, Erin sorriu. – Sim, Garrett, há meses que nós falamos sobre casamento, antes mesmo de ele descobrir a respeito do bebê. Acho que ele queria aguardar até o Natal, pois achava que seria romântico.

Garrett ergueu a mão. – Nesse caso, meu bem, fico feliz por você. E ficava mesmo. É só que, por um instante, ficara feliz por si mesmo.

Achara que tinha tudo. E ter de se dar conta de que, na realidade, não tinha, meio que o derrubara. Um segundo mais tarde, a porta da lavanderia voltou a se abrir. George enfiou a cabeça para dentro do aposento, olhou para a mão com a aliança ainda estendida diante de Garrett, empalideceu, e rapidamente recuou, batendo a porta. Garrett revirou os olhos, e Maeve fungou indelicadamente. As garotas começaram a rir, e Garrett juntou-se a ela. Olhando de uma irmã para a outra, ele chegou à conclusão que George teria de aprender a ser mais durão se quisesse fazer parte da família. Não era fácil,

mas valia totalmente à pena. Quando Bethany, Erin e Carla deixaram a lavanderia. Maeve ficou para trás com Garrett. – Você está bem? – A irmã caçula perguntou. – Ainda não – ele respondeu. Ela adiantou-se até ele e, ficando na ponta dos pés, beijou-lhe a face. – Você fez um ótimo trabalho conosco, Garrett. Você protegeu a nossa família. E, por mais que eu odeie o quanto você teve de abrir mão para conseguir isso, sou grata que o tenha feito, pois você nos manteve juntos. Só que, agora, é chegada a hora de cuidar de si mesmo. Amo você, meu irmão.

Capítulo 18

NICHOLE

NÃOdeveria

ter vindo. Era estúpido e autodestrutivo. O equivalente a cutucar a ferida no coração que ainda não estava sarada. Mas Sam a convidara para vir jantar, querendo conversar. E não aceitara não como resposta. Ele a queria fora do seu apartamento. Queria que ela conversasse.

De modo que Nichole viera. Contudo, agora, estava sentada no telhado dos seus sonhos e pesadelos. O

vento frio de outubro estava lhe cortando as faces enquanto Sam corria até lá embaixo para lhes pegar um pouco de cidra quente que ele preparara.

O sol estava lentamente se pondo no céu a oeste, colorindo tudo no seu caminho, trazendo os seus pensamentos para o verão quando tudo começara. Para Garrett. Se ela fizesse ideia do que a aguardava, será que teria feito o mesmo? Teria. Várias vezes.

Pois, enquanto durara, fora incrível. E ter tido o coração partido era melhor do que jamais ter sentido nada.

O som de pés cruzando o telhado atrás dela a deixou toda arrepiada.

Não era Sam. Garrett. Suspirando, tentou se forçar a manter a calma. A ser forte. Mas tudo que lhe passou pela cabeça foi que ele orquestrara tudo aquilo. Chegara ao ponto de meter Sam no que quer que fosse o seu plano. Após todo este tempo, talvez ainda quisesse alguma coisa.

Postando-se ao seu lado, Garrett pousou duas canecas de cidra no parapeito e cobriu-lhe os ombros com um cobertor grosso. – Eu jamais deveria ter ido embora do jeito que fui. Não deveria ter me portado como se tivesse algum direito de ficar furioso por vê-la conversando

com outro homem. Não quando você me oferecera tanto mais e eu recusara. Ela sentiu o pouco de esperança a que se apegara durante todo este tempo escapulindo-lhe por entre os dedos. Ele estava ali para se desculpar. Após todo esse tempo. Afinal, Garrett era... Garrett. Em algum ponto do caminho, ela se tornara sua responsabilidade, e ele simplesmente não era capaz de não fazer jus a ela.

– Não estava tentando fazer joguinhos com você, Garrett. Não conscientemente. É só que... quando Paul apareceu... – Você não me deve explicações. Não muda o que eu fiz. Sinto muito, e lamento não ter sido capaz de fazer algo

diferente. – Tudo bem – ela respondeu, inspirando fundo. – E então... tem aproveitado muitos pores de sol recentemente? – Tenho até assistido alguns... mas, não, não tenho aproveitado nenhum.

Ela voltou-se para ele. – Garrett, você precisa parar de se achar responsável por tudo. Se tem estado preocupado comigo... – Eu tenho. Era por isso que ela estava dando uma olhada em firmas de contabilidade do outro lado do país. Por que marcara uma entrevista para a semana que vem. Nichole sacudiu a cabeça, mas ele

apenas prosseguiu. – Pois se você se sente quase tão perdida e vazia como eu me sinto, não sei como está sobrevivendo. Vejo pores de sol que passei anos esperando para ser capaz de aproveitar e tudo em que consigo pensar é em como são vazios sem você. Tento me convencer de que este vínculo não é nada que eu não consiga superar. Mas a verdade é que temos uma ligação, e finalmente estou começando a perceber como ela é importante. Trata-se de amizade, carinho e atração, e do tipo de doce insanidade que eu não conseguia compreender até conhecê-la. Trata-se de querer que você seja parte de tudo que faço, pois tudo que faço é mil vezes melhor quando

você está por perto. Fui um idiota por não lhe dar o devido valor. Por não nos dar o devido valor. Acho que jamais serei capaz de me perdoar por tê-la deixado escapar. As mãos de Nichole estavam pousadas no peito dele, o cobertor havendo escorregado de um de seus ombros. Garrett o segurou antes que deslizasse do outro, voltando a colocá-lo ao redor dos ombros dela e usando-o para puxá-la para si. – Garrett, o que está dizendo? Que quer tentar para valer? Acha que é capaz de...? – Sua voz falhou, e ela teve de piscar para conter uma lágrima. – Acha que pode querer um futuro juntos?

Segurando-lhe as mãos, ele a fitou nos olhos. – Não. Estou dizendo que acho que não posso viver em um futuro onde você não está. Hoje, escutei algo errado, e meti na minha cabeça que você estava grávida. – Ah, meu Deus. Eu não estou... – Eu sei. – Ele sorriu. – Contudo, por 60 segundos, pensei que estivesse... diabos, Nichole, pode ter sido o momento mais apavorante e o melhor de toda a minha vida. Pois, subitamente, pude ver como seria incrível... assim como o quanto havia para ser perdido. Foi uma vida inteira condensada em apenas um minuto. Havia apenas uma

coisa a se fazer. Recuperar Nichole e casar-se com ela, hoje. Garrett inspirou fundo e fechou os olhos. – Porém, logo em seguida, tudo acabou. Pois era Erin quem estava grávida, não você. Ele a queria, Não para um pouco de diversão ocasional. Não para curtir um pouco enquanto durasse. Ela se viu tomada de alegria, processando cada uma de suas palavras até...

– O quê? Erin está grávida? – perguntou, imaginando se George ainda estaria vivo. – Pare de procurar sangue nas minhas roupas. George está bem. Eles vão se casar e estou feliz por eles. Mas isso

não importa agora. – Garrett... – Nichole, tudo em que consegui pensar quando descobri que não era você foi não! Pois significava que eu não tinha nada para prendê-la a mim. E eu fora tamanho cretino que não sabia se algum dia conseguiria convencê-la a me dar outra chance. Juro para você, meu bem, eu posso fazê-la tão feliz quanto você merece ser.

– Garrett... – E, agora, estou feliz que não esteja grávida. Mas só porque quero que saiba que isto não é por causa de nenhum senso de responsabilidade ou obrigação. É que finalmente estou enxergando o que

sempre esteve diante de mim. O que eu não tinha experiência o bastante para reconhecer. Amo você. Palavras que Nichole pensara que jamais fosse escutar. Mais lindas do que poderia ter imaginado. – Nichole, você tem de... Estava cansada de tentar falar com ele. Libertando as mãos, ergueu-as até o rosto lindo e agoniado e o puxou para um beijo. Por um instante, houve apenas o delicioso pressionar de lábios. Contato doce. E então, o braço de Garrett a rodeou, puxando-a para si. Murmurou o nome dela várias vezes de encontro aos seus lábios antes de recuar para fitá-la nos olhos.

– Estar sem você foi o pior tipo de tormento. Pensei que eu tivesse medo de perder a minha liberdade, de acabar aprisionado em algo além do meu alcance. Mas eu só soube o que era medo de verdade quando me dei conta de que perdera a única pessoa que me faz sentir livre. Vivo. Completo. – Você não me perdeu. Estou bem aqui. – Nos braços dele. Com aqueles devastadores olhos azuis fitando-a até os recônditos da alma, aquecendo-a de dentro para fora. – Sou sua, Garrett. – Nesse caso, jamais vou soltá-la. E também jamais lhe darei um motivo para querer ir embora, pois eu não suportaria. Não suportaria a sensação de estar

morto por dentro, após enfim saber o que era viver. Com a voz carregada de emoção, ela respondeu: – Não terá de passar por isso. – Promete? Ela assentiu. Do fundo do coração. – Ótimo, porque eu a amo, Nichole. Depois, como que em câmera lenta, ele ajoelhou-se diante dela. O coração de Nichole disparou, e ela sacudia a cabeça, como se para impedir que algo além de alegria lhe invadisse o coração. Na palma da mão dele estava uma pequena caixa de veludo preta, aberta para revelar em seu interior um diamante solitário de tirar o fôlego.

– Quer se casar comigo?

– Garrett, não. Eu não... Estava morrendo de medo daquela aliança. Embora de longe a mais linda, não era a primeira a lhe ser oferecida. E se Nichole a colocasse e ele voltasse a mudar de ideia? E se planejassem algum casamento elaborado, convidassem todos que conheciam, e depois ele acordasse com a sensação de que haviam ido rápido demais?

Ela não suportaria. Não com ele. Não após acreditar que já o perdera. – Eu não a decepcionarei novamente, Nichole. Se puder confiá-lo a mim, cuidarei de seu coração pelo resto da minha vida. Ela fitou aqueles olhos expressivos e

deu-se conta de que não era nenhum menino fazendo a promessa de um homem, nem algum sujeito se deixando levar pela empolgação do momento. Tratava-se de Garrett, que só fazia promessas quer podia cumprir, e que levava suas responsabilidades mais a sério do que qualquer outra pessoa que ela já conhecera. Garrett, que só sabia amar com todo o seu coração. Garrett, o homem que ela queria mais do que o próprio ar que respirava, pelo qual valia a pena correr qualquer risco. Confiava nele. E ele estava lhe oferecendo tudo com que ela já sonhara. – Sim – sussurrou, jurando jamais esquecer a expressão de alegria e alívio que se apossou do seu rosto. – Eu me

caso com você. Inspirando fundo, ele deslizou a aliança para o dedo dela. Por um instante, nenhum dos dois se moveu, enquanto fitavam o símbolo do compromisso que Garrett acabara de assumir. Não era apenas uma aliança. Ele estava lhe fazendo uma promessa eterna. Uma vida inteira juntos. E o encaixe foi perfeito. – É linda, Garrett. Ficando de pé, ele envolveu-lhe a cintura com o braço e a puxou para si. Quando a sua boca encontrou a dela, foi em um beijo tão sincero e longo quanto a sua promessa de amor eterno.

Ao término do beijo, Garrett pressionou a testa de encontro à dela. Depois, levando a mão ao queixo dela, disse: – Bem, ainda temos algumas horas... eu não sabia se você iria concordar ou se eu teria de encantá-la para convencê-la, de modo que só reservei o voo para Las Vegas para mais tarde.

Ante a expressão chocada dela, ele sorriu. – O quê? Não achou mesmo que eu fosse lhe dar a chance de mudar de ideia, achou? Talvez tenhamos perdido o por do sol hoje à noite, contudo, quero vê-la usando o meu nome antes do raiar do sol de amanhã.

– Amo você – ela sussurrou. O sorriso travesso desapareceu de seu rosto, deixando apenas a sinceridade evidente de sua resposta. A promessa na qual Nichole podia acreditar. O futuro que compartilhariam.

– Eu também amo você.

FOTO INDISCRETA Natalie Anderson

Era mais difícil do que pensava tirar uma foto de si mesma no pequeno espaço fechado usando apenas um biquíni. Mya Campbell segurou o riso e olhou para seu último esforço. Havia um enorme espaço em branco na metade da

tela que obscurecia a maior parte de seu reflexo e o que podia ver era mais patético do que glamoroso. Com um rosnado abafado… uma combinação de frustração e risada… apagou a foto e se virou diante do espelho para tentar outra. Mordeu o lábio inferior enquanto observava o resultado… talvez o modelo escarlate de tiras finas fosse um passo grande demais? – Está tudo bem? – A voz cheia de suspeita da vendedora chamou através da cortina, seu tom era frio. – Tudo ótimo, obrigada. Mya se mexeu e tirou outra foto depressa antes que ela abrisse a cortina. Precisava sair antes de ser… ah…

expulsa. Ela e a vendedora sabiam que não tinha dinheiro para comprar nenhum daqueles biquínis caríssimos de grife. Mas aquele capetinha há tanto tempo reprimido nela gostava de se vestir bem e havia tanto tempo desde que tivera uma coisa como férias de verão, sem falar que realmente adoraria usar uma destas coisas minúsculas…

Riu enquanto tentava enviar a mensagem. Os dedos trêmulos escorregavam. Era tão idiota. Apressou-se ao ouvir os passos da vendedora que voltava. – Tem certeza que não precisa de ajuda? Precisava de ajuda, com certeza.

Ajuda profissional daquelas pessoas que usavam jalecos brancos. Tarde demais, o som no celular confirmava que a mensagem fora enviada. E não podia mesmo pagar por aqueles trapos de luxo.

– Obrigada, mas não. E acho que este estilo não combina comigo. É claro que não combinava. Jogou o celular dentro da bolsa aberta no piso e começou as contorções exigidas para sair do minúsculo biquíni. Então se viu curvada no espelho e ruborizou. O biquíni era indecente. Nunca aprenderia que um corpo como o dela não tinha sido feito para duas peças minúsculas? Ela se debruçaria na praia para tirar os sapatos e imediatamente os seios saltariam para fora. E não era útil para

nadar. Teria que ficar deitada e imóvel e não era assim. Além disso, também não teria férias de verão aquele ano.

E nunca, nem num milhão de anos, enviaria uma foto como aquela para ninguém além da melhor amiga, Lauren Davenport. Mas Lauren compreenderia… e Mya não precisava mais de sua resposta. Seria um redondo “não”. Brad Davenport olhou as horas no relógio de pulso e reprimiu um gemido de frustração. Cuidara de casos no tribunal o dia todo, seguidos por este encontro que já se estendia por mais de uma hora além do esperado. Observou a amargura entre os pais, a postura de

Gage Simmons, o garoto de onze anos que se encolhia cada vez mais enquanto as acusações eram jogadas de um lado para o outro na sala. Os pais do menino estavam mais interessados em destruir um ao outro do que no melhor para seu filho. E finalmente a lendária paciência de Brad se esgotou.

– Acho que podemos adiar esta conversa. Meu cliente precisa de um descanso. Vamos remarcar para outro dia. Olhou em torno da sala e os outros advogados acenaram. Percebeu que o garoto tinha os olhos voltados para o piso com uma expressão vazia. Vira aquela expressão muitas vezes, tivera–a ele mesmo por muito tempo… distante,

escondendo de todos como estava ferido por dentro. Não era apenas seu cliente que precisava de um descanso. Mas a carga de Brad era sua própria culpa. Aceitara casos demais. Vinte minutos depois, carregou a pasta cheia de arquivos para o carro e pensou na noite à frente. Precisava descarregar… precisava de um prazer todo físico para ajudá–lo a relaxar porque, no momento, a discussão continuava em sua mente. Perguntas que precisava fazer e responder; cada item de sua lista do que fazer gritava sem parar. Sim, a cabeça doía. Estendeu a mão

para o celular em busca de um encontro ardente aquela noite… alguém disposta, selvagem e feliz de partir quando a diversão terminasse. Havia algumas mensagens de voz, e-mails, muitas mensagens… inclusive um com um arquivo de um número que não reconheceu. Abriu.

E leia também em A Arte da Sedução, edição 234 de Harlequin Jessica,

Fogo do desejo, de Nicola Marsh.

232 – PORTOS SEGUROS Coração partido – Kim Lawrence A socialite Hannah Latimer queria ajudar aos outros, mas acabou em uma roubada! Presa em um país hostil, sua única chance de sobreviver é envolvendo-se com o belo príncipe Kamel… Guerra das paixões – Aimee Carson

Ao participar de uma competição de namoro, o ex-piloto Cutter Thompson precisa da ajuda da especialista Jessica Wilson. Essa parceria acaba se tornando uma ardente batalha dos sexos.

234 – A ARTE DA SEDUÇÃO Foto indiscreta – Natalie Anderson Sem querer, Mya Campbell enviou uma foto só de biquíni para o irmão de sua melhor amiga, Brad Davenport. Agora, ele está determinado a tê-la. Será que Mya consegue resistir?

Fogo do desejo – Nicola Marsh Para salvar sua empresa, Sapphire é

obrigada a trabalhar com o seu maior inimigo, Patrick Fourde. Mas essa parceria irá mais longe do que eles esperavam…

235 – RUMOS DA PAIXÃO Corpo & Alma – Sarah Morgan Para salvar sua mãe, Selene Antaxos decide pedir ajuda ao maior inimigo de seu pai, Stefan Ziakas. Mas esse encontro despertará desejos adormecidos… Cláusula quebrada – Kelly Hunter Nicholas Cooper precisa de uma esposa

de mentira, e Hallie Bennet é perfeita para o papel. Fingir era fácil, o difícil foi resistir aos anseios do corpo e do coração.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE

LIVROS, RJ G769c Graham, Lynne, 1956Chance de amar [recurso eletrônico] / Lynne Graham, Mira Lyn Kelly; tradução Maurício Araripe. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Harlequin, 2014. recurso digital Tradução de: Unlocking her innocence + Once is never enough Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital

Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1561-6 (recurso eletrônico) 1. Romance irlandês. 2. Livros eletrônicos. I. Kelly, Mira Lyn. II. Araripe, Maurício. III. Título. 14-14721

05/08/2014

CDD: 828.99153 CDU: 821.111(415)-3 08/08/2014

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: Unlocking her Innocence Copyright © 2012 by Lynne Graham Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Título original: Once is Never Enough Copyright © 2013 by Mira Lyn Sperl Originalmente publicado em 2013 por Mills & Boon Modern Heat Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica:

ABREU’S SYSTEM Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: [email protected]

Sumário geral

Capa Querida leitora Rosto Sumário FIM DA INOCÊNCIA Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6

Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Epílogo PARA SEMPRE

Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9

Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Próximos lançamentos Créditos

Sumário geral
Chance de amar

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