Aula 3 Imperfeições cristalinas

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Materiais de Construção Mecânica

PROFs. Daniele Maria Bruno Falcone Oian Marcos César Ruy IFSP – Campus Piracicaba

Defeitos da rede cristalina • Até agora, nós vimos que, em escala atômica, existe uma ordenação perfeita por todo o material cristalino; • Entretanto, esse tipo de sólido ideal não existe; •Todos os materiais contêm uma variedade de defeitos ou imperfeições; • Na realidade, muitas das propriedades dos materiais são profundamente sensíveis a essas imperfeições;

Defeitos da rede cristalina •A

influência

não

é

sempre

adversa

e,

com

freqüência, características específicas são obtidas 

introdução de quantidades controlados de defeitos específicos; • Conseqüentemente  é importante o conhecimento

sobre os tipos de imperfeições que existem e sobre o papel que elas desempenham no comportamento dos materiais;

• Ex.1: propriedades mecânicas dos metais puros apresentam alterações significativas quando eles são ligados (quando adicionados átomos de impurezas);

O que é um defeito? • É uma imperfeição ou um "erro" no arranjo periódico regular dos átomos em um cristal. Podem envolver uma irregularidade: • na posição dos átomos • no tipo de átomos O tipo e o número de defeitos dependem do material, do meio ambiente, e das circunstâncias sob as quais o cristal é processado.

Imperfeições estruturais • Apenas uma pequena fração dos sítios atômicos são imperfeitos

Menos de 1 em 1 milhão

• Mesmo sendo poucos eles influenciam muito nas propriedades dos materiais e nem sempre de forma negativa;

Imperfeições estruturais – importância

Exemplos de efeitos da presença de

imperfeições O processo de dopagem em semicondutores visa criar imperfeições para mudar o tipo de condutividade em determinadas regiões do material; o A deformação mecânica dos materiais promove a formação de imperfeições que geram um aumento na resistência mecânica (processo conhecido como encruamento) o Wiskers de ferro (sem imperfeições do tipo discordâncias) apresentam resistência maior que 70GPa, enquanto o ferro comum rompe-se a aproximadamente 270MPa. o

Imperfeições estruturais

São classificados de acordo com sua geometria ou dimensões

Defeitos da rede cristalina • Defeitos

pontuais



impurezas

presentes

substituindo posições atômicas;

• Defeitos lineares  uma dimensão;

• Defeitos interfaciais ou contornos  fronteiras ou bidimensionais;

• Defeitos volumétricos  3 dimensões;

1 - Defeitos pontuais • Vacâncias ou vazios; • Átomos Intersticiais; • Schottky; • Frenkel;

Ocorrem em sólidos iônicos

Vacâncias ou vazios

• É o mais simples dos defeitos pontuais e consiste em um sítio vago em uma rede cristalina; • São formados durante a solidificação do cristal ou como resultado das vibrações atômicas (os átomos deslocam-se de suas posições normais);

Vacâncias ou vazios •O número de vacâncias exponencialmente com a temperatura;

aumenta

Nv = N exp(-Qv/KT) Nv= número de vacâncias N= número total de sítios atômicos Qv= energia requerida para formação de 1 lacuna T = temperatura absoluta em kelvin; K= constante de Boltzman = 1,38x1023J/at.K ou 8,62x10-5 eV/ at.K (dependendo das unidades de Qv)

Vacâncias ou vazios • Para a maioria dos metais, a fração de lacunas Nv/N em uma temperatura imediatamente inferior à sua temperatura de fusão é da ordem de 10-4; • Isto é, um sítio em cada 10.000 sítios da rede encontra-se vazio;

Intersticiais

• Envolve um átomo extra no interstício; produz uma distorção no reticulado, já que o átomo geralmente é maior que o espaço do interstício; • Esse defeito ocorre raramente quando comparado às lacunas;

Intersticiais

Átomo intersticial pequeno

Átomo intersticial grande

Frenkel

• Ocorre em sólidos iônicos;

• Ocorre quando um íon sai de sua posição normal e vai para um interstício;

Schottky

• Presentes em compostos que tem que manter o balanço de cargas; • Envolve a falta de um ânion e/ou um cátion

Impureza nos sólidos • Um metal considerado puro sempre tem impurezas (átomos estranhos) presentes;

99,9999% = 1022-1023 impurezas por m3 • A presença de impurezas promove a formação de defeitos pontuais;

Ligas metálicas • Os metais mais familiares não são altamente puros;

Eles são ligas onde átomos de impurezas (chamadas elementos de liga) são adicionadas intencionalmente com a finalidade: • aumentar a resistência mecânica • aumentar a resistência à corrosão • aumentar a condutividade elétrica • Etc.

A adição de impurezas pode formar Soluções sólidas  < limite de solubilidade;

Segunda fase > limite de solubilidade;

A solubilidade depende: • Temperatura

• Tipo de impureza • Concentração da impureza

Termos usados Elemento de liga ou impureza  soluto (< quantidade); Matriz ou quantidade);

hospedeiro



solvente

(>

Soluções sólidas 

Uma solução sólida se forma à medida que os átomos do soluto são adicionados ao material hospedeiro, a estrutura cristalina é mantida e nenhuma nova estrutura é formada;



As soluções sólidas formam-se mais facilmente quando o elemento de liga (impureza) e a matriz apresentam estrutura cristalina e dimensões eletrônicas semelhantes.

Soluções sólidas Nas soluções sólidas as impurezas podem ser: •

Intersticial



Substitucional

• Ordenada • Desordenada

Há dois tipos de soluções sólidas: solvente

soluto

a) Solução sólida substitucional  os átomos dos elementos químicos minoritários (do elemento de liga) ocupam posições regulares da rede cristalina do elemento

b) Solução sólida intersticial  os elementos em solução ocupam os interstícios da rede cristalina do elemento majoritário

Há dois tipos de soluções sólidas: solvente

soluto

a) Solução sólida substitucional  os átomos dos elementos químicos minoritários (do elemento de liga) ocupam posições regulares da rede cristalina do elemento

b) Solução sólida intersticial  os elementos em solução ocupam os interstícios da rede cristalina do elemento majoritário

Distorções causadas por soluções sólidas:

Distorção da rede cristalina por átomos em solução sólida: átomo maior (amarelo) e átomo menor (vermelho)

Soluções sólidas intersticiais 

Os átomos de impurezas ou os elementos de liga ocupam os espaços dos interstícios;



Ocorre quando a impureza apresenta raio atômico bem menor que o hospedeiro;



Como os materiais metálicos tem geralmente fator de empacotamento alto as posições intersticiais são relativamente pequenas;

 Geralmente, no máximo 10% de impurezas são incorporadas nos interstícios;

Exemplo de solução sólida intersticial



Fe + C  solubilidade máxima do C no Fe é de 2,1% a 1145ºC (Fe CFC);



O C tem raio atômico bastante pequeno se comparado com o Fe; rC = 0,071 nm = 0,71 A rFe = 0,124 nm = 1,24 A

Fatores que influenciam na formação de

soluções sólidas substitucionais Regra de Home-Rothery • Raio atômico  deve ter uma diferença de no máximo 15%, caso contrário pode promover distorções na rede e assim formação de nova fase;

• Estrutura cristalina  mesma; • Eletronegatividade  próximas;

• Valência  menor que a do hospedeiro;

Exemplo de solução sólida substitucional • Cu + Ni  são solúveis em todas as proporções;

Cu Raio atômico 0,128 nm = 1,28 A Estrutura CFC Eletronegatividade 1,9 Valência +1 (às vezes +2)

Ni 0,125 nm = 1,25 A CFC 1,8 +2

2 - Defeitos lineares: discordâncias Uma discordância é um defeito linear ou unidimensional em torno do qual alguns átomos estão desalinhados; • As discordâncias estão associadas com a cristalização e a deformação (origem: térmica, mecânica e supersaturação de defeitos pontuais); • A presença deste defeito é a responsável pela deformação, falha e ruptura dos materiais;

2 - Defeitos lineares: discordâncias Podem ser: • Cunha • Hélice • Mista

Discordância aresta • Um tipo de discordância está representado na figura abaixo; • Uma porção extra de um plano de átomos, ou semiplano, cuja aresta termina no interior do cristal  discordância aresta;

Discordância aresta • Em torno da linha da discordância  alguma distorção localizada da rede cristalina; • Os átomos acima da LD  comprimidos, e aqueles abaixo estão afastados;

Discordância aresta • A magnitude dessa distorção diminui com o aumento da distância da linha de discordância; • Em posições afastadas, a rede cristalina é virtualmente perfeita; • Algumas vezes, a discordância aresta é representada pelo símbolo   também indica a posição da linha da discordância; • Uma discordância aresta  também pode ser formada por um semiplano extra de átomos na parte de baixo do cristal (o símbolo será oposto);

Vetor de Burger (b)

• Dá a magnitude e a direção de distorção da rede;

• Corresponde à distância de deslocamento dos átomos ao redor da discordância;

2.1 - Discordância em cunha • Envolve um SEMI-plano extra de átomos; • O vetor de Burger é perpendicular à direção da linha da discordância; • Envolve zonas de tração e compressão.

Discordância em cunha

O circuito e o vetor de Burgers

Fonte: Prof. Sidnei, DCMM, PUCRJ

Discordância espiral • Discordância espiral  conseqüência da tensão cisalhante que é aplicada para produzir a distorção mostrada na Figura abaixo.

Discordância espiral

Discordância espiral • A região superior do cristal é deslocada uma distância atômica para a direita em relação à porção inferior; • A distorção atômica (discordância espiral) também é linear  está localizada ao longo da linha da discordância (linha AB na Figura anterior); • Seu nome  derivado da trajetória em espiral ou helicoidal  traçada ao redor da linha da discordância pelos planos atômicos; • Algumas vezes, o símbolo é empregado para designar uma discordância espiral.

Observação das discordâncias • Diretamente  TEM; • Indiretamente  SEM e microscopia ótica (após ataque químico seletivo).

Discordâncias no TEM

Considerações gerais • A maioria das discordâncias encontradas nos materiais cristalinos provavelmente não são nem puramente aresta nem puramente espiral; • Exibirão componentes de ambos os tipos  discordâncias mistas;

Considerações gerais 

A quantidade e o movimento das discordâncias podem ser controlados pelo grau de deformação (conformação mecânica) e/ou por tratamentos térmicos;



Com o aumento da temperatura há um aumento na velocidade de deslocamento das discordâncias favorecendo o aniquilamento mútuo das mesmas;



Impurezas tendem a difundir-se e concentrarse em torno das discordâncias formando uma atmosfera de impurezas;

Considerações gerais • Virtualmente, todos os materiais cristalinos contêm algumas discordâncias  foram introduzidas durante a solidificação, a deformação plástica e como conseqüência das tensões térmicas resultantes de um resfriamento rápido; • Discordâncias estão envolvidas na deformação plástica dos materiais cristalinos (metálicos e cerâmicos); • Elas também foram observadas em materiais poliméricos.

3 – Defeitos planos ou interfaciais • Envolvem fronteiras (defeitos em duas dimensões) e normalmente separam regiões dos materiais de diferentes estruturas cristalinas ou orientações cristalográficas; • Superfície externa • Contorno de grão • Fronteiras entre fases • Maclas ou Twins • Defeitos de empilhamento

3.1 – Defeitos na superfície externa • É o mais óbvio, ao longo da qual termina a estrutura do cristal; • Na superfície os átomos não estão completamente ligados; • Então o estado de energia dos átomos na superfície é maior que no interior do cristal; • As ligações desses átomos na superfície, que não estão completas, dão origem a uma energia de superfície, que é expressa em unidades de energia por unidade de área (J/m2 ou erg/cm2). • Os materiais tendem a minimizar esta energia; para reduzir essa energia, caso possível, tendem a reduzir a área total de sua superfície. Por exemplo, os líquidos assumem uma forma que minimiza a área onde as gotículas tornam-se esféricas.

3.2 – Contorno de grão

• Corresponde à região que separa dois ou mais cristais de orientação diferente;

um cristal = um grão • No interior de cada grão todos os átomos estão arranjados segundo um único modelo e única orientação, caracterizada pela célula unitária;

Monocristal e policristal Monocristal: Material com apenas uma orientação cristalina, ou seja, que contém apenas um grão;

Policristal: Material com mais de uma orientação cristalina, ou seja, que contém vários grãos;

Grão A forma do grão é controlada: - pela presença dos grãos circunvizinhos O tamanho de grão é controlado: - Composição química Taxa (velocidade) cristalização ou solidificação

de

Formação dos grãos A forma do grão é controlada: - pela presença dos grãos circunvizinhos O tamanho de grão é controlado - Composição - Taxa de cristalização ou solidificação

Contornos de grão O contorno de grão é outro tipo de defeito e ele exibe as diferentes orientações cristalográficas em materiais.

ASM Handbook Vol 9 (2004)

Considerações gerais sobre contorno de

grão • Há um eficiente;

empacotamento

ATÔMICO

menos

• Há uma energia mais elevada; • Favorece a (segregação);

nucleação

de

novas

fases

• Favorece a difusão; • O contorno de grão ancora o movimento das discordâncias

Discordância e contorno de grão A passagem de uma discordância através do contorno de grão requer energia

DISCORDÂNCIA

O contorno de grão ancora o movimento das discordância pois constitui um obstáculo para a passagem da mesma, LOGO QUANTO MENOR O TAMANHO DE GRÃO MAIOR A RESISTÊNCIA DO MATERIAL

Observação dos grãos e contornos de grão • Por microscopia

(ÓTICA OU ELETRÔNICA);

• Utiliza ataque químico específico para cada material;

O contorno geralmente é mais reativo

Grãos vistos no microscópio ótico

Tamanho de grão • O tamanho de grão influi nas propriedades dos materiais; • Para a determinação do tamanho de grão utiliza-se cartas padrões;

ASTM ou ABNT

Crescimento do grão com a temperatura

Em geral, por questões termodinâmicas (energia) os grãos maiores crescem em detrimento dos menores

3.3 – Twins

Maclas ou cristais gêmeos • É um tipo especial de contorno de grão; • Os átomos de um lado do contorno são imagens especulares dos átomos do outro lado do contorno;

Origem dos Twins

Maclas ou cristais gêmeos O seu aparecimento está geralmente associado com A PRESENÇA DE: • tensões térmicas e mecânicas; • impurezas; • Etc.

Origem dos Twins • Macla deslocamentos atômicos produzidos a partir de: • aplicação de forças mecânicas de cisalhamento (maclas de deformação); • tratamentos térmicos de recozimento realizados após deformações (maclas de recozimento); • A maclagem ocorre em um plano cristalográfico definido e em uma direção específica, ambos os quais dependem da estrutura cristalina; • As maclas de recozimento  típicas para metais com estrutura cristalina CFC; • As maclas de deformação  observadas nos metais CCC e HC;

4 – Imperfeições volumétricas São introduzidas no processamento do material e/ou na fabricação do componente. • Inclusões  impurezas estranhas; • Precipitados  são aglomerados de partículas cuja composição difere da matriz; • Fases  forma-se devido à presença de impurezas ou elementos de liga (ocorre quando o limite de solubilidade é ultrapassado); • Porosidade  origina-se devido a presença ou formação de gases.

Inclusões

INCLUSÕES DE ÓXIDO DE COBRE (Cu2O) EM COBRE DE ALTA PUREZA (99,26%) LAMINADO A FRIO E RECOZIDO A 800ºC.

Inclusões

SULFETOS DE MANGANÊS (MnS) EM AÇO RÁPIDO.

Porosidade As figuras abaixo apresentam a superfície de ferro puro durante o seu processamento por metalurgia do pó. Nota-se que, embora a sinterização tenha diminuído a quantidade de poros bem como melhorado sua forma (os poros estão mais arredondados), ainda permanece uma porosidade residual.

COMPACTADO DE PÓ DE FERRO,COMPACTAÇÃO UNIAXIAL EM MATRIZ DE DUPLO EFEITO, A 550 MPa

COMPACTADO DE PÓ DE FERRO APÓS SINTERIZAÇÃO A 1150ºC, POR 120min EM ATMOSFERA DE HIDROGÊNIO

Exemplo de partículas de segunda fase

A MICROESTRUTURA É COMPOSTA POR VEIOS DE GRAFITA SOBRE UMA MATRIZ PERLÍTICA. CADA GRÃO DE PERLITA, POR SUA VEZ, É CONSTITUÍDO POR LAMELAS ALTERNADAS DE DUAS FASES: FERRITA (OU FERRO-A) E CEMENTITA (OU CARBONETO DE FERRO).
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