Acidente de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem

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Acidente de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem 1 Occupational accident due to negligence of gloves during the nursing care Accidente de trabajo debido a la negligencia de guantes durante la asistencia de enfermería Araújo Bruna França Martins de2, Dias Irly Kleury da Silva3, Brasileiro Marislei Espíndula3. Acidente de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial online] 2012 ago-set 4(4) 1-16. Available from: . Resumo Objetivo: identificar, na literatura, as razões dos acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem. Materiais e Método: estudo do tipo bibliográfico, exploratório e descritivo, da literatura disponível em bibliotecas virtuais. Resultados: identificou-se que a equipe de enfermagem é quem mais se acidenta com material biológico e perfurocortante; que a parte do corpo mais atingida são os dedos e as mãos; e que a não utilização das luvas na assistência de enfermagem é devido à falta de hábito, de conscientização e de supervisão. Conclusão: percebeu-se que o enfermeiro tem um papel importante na conscientização, sensibilização e supervisão do uso das luvas, durante assistência, pelos membros da sua equipe, não somente pela necessidade de proteção, mas para a criação do hábito. Descritores: Enfermagem, acidente de trabalho Abstract Aim: identify, in literature, the reasons for accidents at work by negligencein the use of gloves during nursing care. Method: bibliographical, exploratory and descriptive study of the literature available in conventional and virtual libraries. Results: It was found that the nursing

1

Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho 13, do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 2 Enfermeira, especialista em enfermagem do trabalho, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gestão de Grupos, Serviços e Formação de Recursos Humanos em Enfermagem e Saúde da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, docente do CEPSS – Centro de Educação Profissional Sebastião de Siqueira, e-mail: [email protected] 3 Enfermeira da ESF do município de Vincentinópolis - Go, especialista em enfermagem do trabalho, e-mail: [email protected] 4 Doutora – PUC-Go, Doutora em Ciências da Saúde – UFG, Mestre em Enfermagem, docente do CEEN, e-mail: [email protected]

Profa Marislei Brasileiro/CEEN

2 staff is who else has an accident with biological material and needlestick material, the body part that is most affected are the fingers and hands, and that non-use of gloves in nursing care is due to lack of experience, awareness and supervision. Conclusion: it was perceived that the nurse has an important role in awareness and monitoring the use of gloves during care members of his staff, not only by the need for protection, but to create the habit. Keywords: Nursing, occupational accident Resumen Objetivo: identificar la investigación que habla sobre los accidentes laborales debido a la negligencia de guantes durante la atención de enfermería. Metodología: estudio bibliográfico, exploratorio y descriptivo de la literatura disponible en las bibliotecas convencionales y virtuales. Resultados: Se identificó que el personal de enfermería es quien más sufre un accidente con material biológico y aguja, la parte del cuerpo que es la másafectada son los dedos y las manos, y que no utilización de guantes en los cuidados de enfermería se debe a la falta de experiencia, el conocimiento y la supervisión. Conclusión: se percibió que la enfermera tiene un papel importante en la concienciación y vigilancia del uso de guantes durante la atención de los miembros de su personal, no sólo por la necesidad de protección, sino para crear el hábito. Palabras clave: Enfermería, accidente de trabajo 1 Introdução O interesse em estudar os acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem surgiu ao percebemos durante nossos estágios, na graduação e na pós-graduação, como muitos profissionais da enfermagem negligenciam o uso das luvas ao realizarem sua assistência. A palavra negligência vem do latim negligentia e significa falta de diligência, descuido, desleixo, incúria, desatenção1. E isso é uma atitude que o profissional da saúde não pode ter, pois ele está lindando com vidas, inclusive com a dele. Ao ser negligente o profissional da enfermagem pode sofrer acidente de trabalho. E o acidente de trabalho é definido pela Lei 8.213/91 como aquele que “ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho” 2. Segundo o conceito prevencionista, acidente de trabalho é qualquer fato capaz de interromper o processo normal de trabalho, gerando: perda de tempo útil, danos materiais e

3 lesão corporal3. Também é considerado acidente de trabalho a doença profissional ou doença do trabalho2. Os acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas na assistência de enfermagem vêm crescendo muito nos últimos anos. As luvas fazem parte dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que, de acordo com a Norma Regulamentadora (NR) nº 6, é “todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado a proteção de riscos susceptíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” 4. No caso das luvas sua finalidade como EPI é proteger os profissionais da saúde à exposição ao sangue ou a outros fluidos corporais, como secreções e excretas, etc, os chamados materiais biológicos. Seja pela falta de uso do EPI ou pela negligência ante aos riscos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), ocorrem anualmente 270 milhões de acidentes de trabalho em todo mundo e aproximadamente 2,2 milhões resultam em mortes5. No Brasil, as preocupações com a prevenção e acompanhamento dos trabalhadores de saúde expostos ao risco de acidente de trabalho só ocorreu com a epidemia da infecção do vírus HIV; e isso foi no início dos anos 80 e não foi de maneira eficiente. 6,7 Um relatório da OIT sobre a realidade brasileira indicou que são 1,3 milhão de casos, que têm como principais causas o descumprimento de normas básicas de proteção aos trabalhadores e más condições nos ambientes e processos de trabalho; o Brasil, portanto, ocupa o 4º lugar no ranking mundial em relação ao número de mortes, com 2.503 óbitos.5. O Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006, último publicado pelo INSS, mostra que o número de mortes relacionadas ao trabalho diminuiu 2,5%, em relação ao ano anterior. Entretanto, os acidentes de trabalho aumentaram e ultrapassaram os 500 mil casos 8. De 2007 a 2011, foram registrados no estado de Goiás 2.036 casos de acidentes de trabalho grave, das vítimas, 1.718 são do sexo masculino e a maioria dos casos (1.256) causou uma incapacidade temporária9. Goiás segue a tendência do Brasil e registra diariamente, em média, 45 acidentes de trabalho. Mais de 3 trabalhadores perdem a vida a cada mês nesta situação, segundo dados da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado10. Goiânia, capital do Estado de Goiás, concentra o maior número de acidentes de trabalho notificados no estado de Goiás, com 1.802 registros 9. Apesar do alto número de acidentes registrados, acredita-se que haja subnotificação de casos, e não se encontrou na literatura o índice de acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem.

4 Um estudo realizado por enfermeiras identificou que os acidentes de trabalho ocasionados por material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem são frequentes, devido ao número elevado de manipulação, principalmente de agulhas, e representam prejuízos aos trabalhadores e às instituições11. Portanto o enfermeiro, como gerenciador de risco, possui um papel fundamental como orientador e educador sobre ações preventivas a fim de conscientizar a equipe de enfermagem sobre os riscos biológicos 12. Apesar dos alertas da OIT, do Ministério da Previdência Social, das superintendências regionais de trabalho e emprego e dos estudos que indicam os altos índices de acidentes, o seu número continua subindo e, principalmente relacionados a profissionais que não usam luvas. Diante disso surge o questionamento: Por que os profissionais de enfermagem negligenciam o uso das luvas durante a assistência? Com esse estudo pretendemos mostrar aos profissionais da saúde, principalmente os da enfermagem, os riscos da não utilização das luvas e suas consequências; e com isso conscientizar os profissionais da importância da proteção a si e ao paciente ao realizar seu trabalho. Procuraremos com esse estudo auxiliar na conscientização dos profissionais, quanto à importância da redução dos acidentes de trabalho por negligência do uso das luvas durante a assistência e, com isso, mostrar à ciência que a conscientização dos profissionais é a melhor forma de mudar hábitos. 2 Objetivos Identificar, na literatura, as razões dos acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem. 3 Materiais e Método Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, descritivo-exploratório, da literatura disponível em bibliotecas virtuais e convencionais. O estudo bibliográfico se baseia na procura de referências teóricas publicadas em

documentos, tomando conhecimento e analisando as contribuições científicas ao assunto em questão13. O estudo descritivo-exploratório consiste na análise e descrição de características ou propriedades, ou ainda das relações entre estas propriedades em determinado fenômeno13. Após a definição do tema vai ser feita uma busca em bases de dados virtuais em saúde no período de 2002 a 2012. O passo seguinte será uma leitura exploratória das publicações encontradas.

5 Após realizar a leitura exploratória e a seleção do material, será feita a leitura analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, para possibilitar a organização das idéias por ordem de importância e a sintetização destas que visará à fixação das idéias essenciais para a solução do problema da pesquisa. Após a leitura analítica, será feita a leitura interpretativa que tratará do comentário feito pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da pesquisa e conhecimentos prévios. Na leitura interpretativa haverá uma busca mais ampla de resultados, pois ajustará o problema da pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciará a tomada de apontamentos que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa, ressalvando as idéias principais e dados mais importantes. A partir das anotações da tomada de apontamentos, serão confeccionados fichamentos, em fichas estruturadas em um documento do Microsoft word, que objetivarão a identificação das obras consultadas, o registro do conteúdo das obras, o registro dos comentários acerca das obras e ordenação dos registros. Os fichamentos propiciarão a construção lógica do trabalho, que consistirão na coordenação das idéias que acatarão os objetivos da pesquisa. Todo o processo de leitura e análise possibilitará a criação de categorias. A

seguir,

os

dados

apresentados

serão

submetidos

à

análise

de

conteúdo.

Posteriormente, os resultados serão discutidos com o suporte de outros estudos provenientes de revistas científicas e livros, para a construção do relatório final. 4 Resultados e Discussão A precariedade das informações sobre acidente de trabalho é denunciada por vários estudos e que segundo eles isso ocorre pela inexistência de Sistemas de Informação (SI) que permitam determinar e acompanhar o real impacto do trabalho sobre à saúde da população brasileira14,15. Alguns estudos relevam também a existência de sub-registro dos acidentes de trabalho na população coberta pelo Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) 14,16. O Ministério da Saúde relata que “uma das consequências do desconhecimento do impacto do trabalho sobre a saúde é a inexistência de respostas organizadas por parte do SUS em relação à sua prevenção e ao seu controle” 14. Nos últimos dez anos ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como a LILACS, MEDLINE e SCIELO, (ou outras revistas tais como FEN, REBEn, etc) utilizando-se as palavras-chave: enfermagem e acidente de trabalho encontrou-se 20 artigos publicados entre 2002 e 2012. Foram excluídos 8, sendo, portanto, incluídos neste estudo 12 publicações. Após a leitura exploratória dos mesmos, foi possível identificar a visão de diversos autores a

6 respeito dos acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem. 4.1 A não utilização das luvas na assistência de enfermagem é devido à falta de hábito, de conscientização e de supervisão Dos doze artigos, cinco estão em consenso quanto ao fato de que a equipe de enfermagem negligencia o uso das luvas na assistência por diversos fatores internos e externos, conforme é possível verificar nas falas dos autores abaixo: Estudo revela que a maioria dos profissionais não utiliza as luvas devido a diminuição do tato e da sensibilidade17. Outro estudo revela que a disponibilidade de EPIs foi sempre maior que o uso, ou seja, apesar de disponíveis, muitos EPI não eram utilizados pelos trabalhadores 18. E esse mesmo estudo evidenciou que 46,29% dos trabalhadores de enfermagem acidentados não utilizavam EPI no momento do acidente e afirmam não usar por não gostar; calor; incômodo; falta de hábito;

esquecimento;

acreditar que não

é necessário e

que

o material

não está

contaminado18. Outra pesquisa realizada no Hospital de Brasília, constou que entre as vítimas “de acidentes do trabalho com exposição a material biológico, a maioria não estava utilizando EPI quando da ocorrência do acidente e apresentavam resistência principalmente ao uso de luvas na realização de punções venosas”

19

. Essa mesma pesquisa relata que muitas vezes os

trabalhadores de saúde acreditam que o uso das luvas não diminui a inoculação de sangue19. Com relação ao porquê de não usar as luvas, um estudo sobre acidentes com materiais perfurocortantes mostra que os profissionais não utilizam as luvas na assistência por “falta de sensibilização e conscientização, a inadequada supervisão contínua e sistemática da prática, a não percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada” 20. Como relatam os argumentos dos autores citados acima as razões para o não uso das luvas, durante os procedimentos estão relacionados às queixas dos próprios profissionais, ou seja, diminuição do tato e da sensibilidade, por não gostar, sentir calor, incômodo, falta de hábito, esquecimento. Também as crenças de que não é necessário e que o material não está contaminado, que o uso das luvas não diminui a inoculação de sangue. Além desses fatores, acreditam que haja falta de sensibilização e conscientização, a não percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada, associada à inadequada supervisão contínua e sistemática da prática.

7 Conclui-se que a maioria dos profissionais negligencia o uso das luvas na assistência e na maior parte das vezes isso acontece por falta de conscientização dos profissionais e supervisão de seus chefes, embora existam mitos e tabus que ainda não foram rompidos. Por outro lado, apesar dos mitos, o uso de luvas ainda é considerado um importante instrumento de proteção ao trabalhador. A

literatura

mostra

que

“os

equipamentos

de

proteção

individual

(EPI)

são

fundamentais para o trabalho dos profissionais de saúde garantindo a estes, padrões mínimos de segurança dentro de estabelecimentos de saúde” 21. O uso de luvas é recomendado internacionalmente por meio das Precauções Padrão e é considerada uma medida preventiva à exposição a material biológico. E sua utilização “além de impedir o contato de maior quantidade de sangue e outros fluidos corporais com a pele, é extremamente importante na proteção dos profissionais durante a realização de procedimentos com material perfurocortante”

19

, pois funciona como uma barreira mecânica auxiliar para

diminuir o risco de contato com patógenos transportados pelo sangue 19. Portanto, percebe-se nos estudos e argumentos acima que o enfermeiro tem um papel importante na conscientização, sensibilização e supervisão do uso das luvas, durante assistência, pelos membros da sua equipe, não somente pela necessidade de proteção, mas para a criação do hábito. Nesse sentido, o próprio enfermeiro deve servir de exemplo, usando luvas em todos os procedimentos. 4.2 A equipe de enfermagem é a categoria mais atingida por acidente com material biológico e perfurocortante Dos doze artigos, oito estão em consenso quanto ao fato de que a equipe de enfermagem é a categoria mais atingida por acidente com material biológico e perfurocortante, conforme é possível verificar nas falas dos autores abaixo: Foi constatado por meio de uma pesquisa, que a categoria profissional mais acometida por acidentes com material perfurocortante é a dos auxiliares de enfermagem 20, “que são profissionais que estão em contato direto com o paciente, na maior parte do tempo, administrando medicamentos, realizando curativos e outros procedimentos que os mantêm em constante contato com material perfurante e cortante”20. Outra pesquisa que foi realizada no Hospital Universitário integrante da Rede de Prevenção de Acidentes do Trabalho com material biológico (REPAT) em Brasília, relata que os trabalhadores de enfermagem são a segunda categoria mais atingida por acidente com material biológico, perdendo somente para os estagiários19.

8 O estudo feito nos hospitais públicos do Distrito Federal mostra que as categorias que apresentam

maior porcentual

de acidentes por

contato

cutâneo-mucosa com

fluidos

22

potencialmente contaminados são as de enfermeiro . Percebemos que esses fatos se repetem como em um estudo que mostra que a equipe de enfermagem é a que mais se acidenta com material biológico 21. Também é relatada em outro estudo, que os auxiliares de enfermagem são a categoria profissional mais atingida por acidentes ocupacionais com perfurocortantes23. Ao se analisarem as notificações mensais, do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), dos acidentes ocupacionais com materiais perfurocortantes, observou-se que ocorreram predominantemente entre trabalhadores de enfermagem24. A predominância dos acidentes com material biológico pela categoria da enfermagem pode ser comprovada também pela pesquisa feita no Hospital das Clínicas (HC) de Goiânia, que dos 46 profissionais acidentados acompanhados, metade eram técnicos de enfermagem25. E também pelo estudo feito nas unidades de saúde pública do município de Ribeirão Preto que relata que os trabalhadores da equipe de enfermagem foram quem mais registraram acidente de trabalho com exposição a material biológico26. Percebe-se, com todos os relatos dos autores citados que os trabalhadores da equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem) são os mais atingidos por acidentes com material biológico e perfurocortante. E isso ocorre, conforme a literatura nos mostra, pelo fato da equipe de enfermagem ser a categoria profissional que mais manipula esses materiais, biológico e perfurocortante11,19,20,21,22,23,24,25,26. Conclui-se que a equipe de enfermagem deve prestar mais atenção, ter mais cuidado e responsabilidade com o uso dos EPIs, já que, por meio da literatura, comprova-se que é a categoria profissional mais exposta e que mais se acidenta com material biológico e perfurocortante. 4.3 Os dedos e as mãos são a parte do corpo mais atingida nos acidentes de trabalho Dos doze artigos, quatro estão em consenso quanto ao fato de que os dedos e as mãos são a parte do corpo mais atingida nos acidentes de trabalho, conforme é possível verificar nas falas dos autores abaixo:

9 Estudo afirma que “pela própria natureza do trabalho, as mãos e os quirodáctilos foram as partes do corpo mais atingidas” nos acidentes de trabalho com material biológico ocorridos no Hospital Universitário de Brasília e analisados por meio do formulário eletrônico da REPAT19. De acordo com os dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, “os dedos continuam sendo a parte do corpo mais atingida nas ocorrências de acidentes do trabalho, 20% do total dos registros”, seguidos pelas mãos e cotovelo que registraram o segundo maior índice 8. Esse mesmo anuário também nos mostra que houve um aumento de 6% nos acidentes com os dedos de 2006 para 2007 8. Outra pesquisa nos mostra que a parte do corpo mais atingida nas unidades de saúde pública do município de Ribeirão Preto foram os membros superiores, correspondendo a 93,5% dos acidentes de trabalho; sendo ainda que os dedos das mãos foram atingidos em 80,6% dos episódios26. Esses dados “corroboram com outros estudos realizados e com as estatísticas nacionais mais recentemente divulgadas onde mais de 1/3 dos acidentes de trabalho no Brasil têm como alvo a mão do trabalhador” 26. Um estudo feito no Hospital Universitário de São Paulo sobre acidentes de trabalho com material biológico revela que os dedos das mãos foram a parte do corpo mais atingida nos episódios, correspondendo a 72,34% dos casos28. Percebe-se por meio dos estudos e argumentos dos autores citados que as mãos e principalmente os dedos são as partes do corpo mais atingidas nos acidentes de trabalho por todo território nacional, principalmente no ambiente das unidades de saúde. Conclui-se que além de ter mais cuidado e responsabilidade com o uso de todos os EPIs, a equipe de enfermagem deve ter um olhar mais atento no uso das luvas já que os dedos e as mãos são a parte do corpo mais atingida nos acidentes de trabalho. 5 Considerações finais O objetivo deste estudo foi identificar, na literatura, as razões dos acidentes de trabalho por negligência no uso de luvas durante a assistência de enfermagem. Após a análise dos estudos foi possível identificar que a equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliar de enfermagem) é a categoria profissional que mais acidenta com material biológico e perfurocortante. Além disso, que a parte do corpo mais atingida são dedos e mãos. E o aspecto mais importante que foi identificado após a análise dos estudos foram as razões da não utilização das luvas durante a assistência de enfermagem. E são elas: a

10 diminuição do tato e da sensibilidade, por não gostar, sentir calor, incômodo, falta de hábito, esquecimento. Também as crenças de que não é necessário e que o material não está contaminado e que o uso das luvas não diminui a inoculação de sangue. Além desses fatores, acreditam que haja falta de sensibilização e conscientização, a não percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada, associada à inadequada supervisão contínua e sistemática da prática. Este estudo possibilitou perceber que o enfermeiro, por meio do próprio exemplo, da conscientização, sensibilização e supervisão do uso das luvas, é um profissional essencial para contribuir com a redução dos acidentes de trabalho por negligência no uso das luvas na assistência. Percebe-se, portanto, a necessidade de ações e estratégias preventivas com a equipe de enfermagem. O enfermeiro do trabalho das unidades de saúde deveria fazer orientações individuais durante as consultas de enfermagem por ocasião dos exames periódicos. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) ou o SESMT deveria criar programas preventivos direcionados a cada um dos setores da unidade de saúde considerando as peculiaridades das atividades realizadas, das características dos trabalhadores e das condições do ambiente de trabalho. Os enfermeiros das unidades de saúde deveriam realizar capacitação e educação em saúde com sua equipe para conscientizá–los e sensibilizá-los sobre a importância do uso das luvas durante assistência, não somente pela necessidade de proteção, mas para a criação do hábito. E também supervisionar sua equipe quanto ao uso das luvas durante a assistência. 6 Referências 1- Michaelis. Negligencia. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 10 de dezembro de 2011. 2- Brasil. Previdência Social. Lei 8.213 de 24 de julho de 1991.

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