Mari Sales 2 - O Executivo Tatuado - Série Flores

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Mari Sales 1ª. Edição 2020

Copyright © Mari Sales Todos os direitos reservados. Criado no Brasil. Edição Digital: Criativa TI Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Sumário Dedicatória Sinopse Leia Antes Prólogo Daisy Capítulo 1 Diogo de San Marino Capítulo 2 Diogo de San Marino Capítulo 3 Daisy Capítulo 4 Daisy Capítulo 5 Diogo de San Marino Capítulo 6 Diogo de San Marino Capítulo 7 Daisy Capítulo 8 Daisy

Capítulo 9 Daisy Capítulo 10 Diogo de San Marino Capítulo 11 Diogo de San Marino Capítulo 12 Daisy Capítulo 13 Daisy Capítulo 14 Daisy Capítulo 15 Daisy Capítulo 16 Daisy Capítulo 17 Diogo de San Marino Capítulo 18 Diogo de San Marino Capítulo 19 Daisy Capítulo 20

Daisy Capítulo 21 Daisy Capítulo 22 Daisy Capítulo 23 Diogo de San Marino Capítulo 24 Diogo de San Marino Capítulo 25 Daisy Capítulo 26 Daisy Capítulo 27 Daisy Epílogo Diogo de San Marino Agradecimentos Agradecimentos Sobre a Autora Outras Obras

Dedicatória Em honra aos meus pais e a minha família atual. Aos que se afundam em dívidas, seja financeira ou emocional, é possível negociar antes de se retirar.

Sinopse Dono de um restaurante de luxo, Diogo de San Marino não conseguia dormir à noite. Consumido pela culpa e a perda de amigos importantes, ele estava disposto confrontar sua própria família para reverter a situação. Na sua busca em agir corretamente, Daisy Levy cruzou o seu caminho no estúdio de tatuagem do seu amigo Oton. Ao invés de retomar a amizade perdida, encontrou alguém que poderia ser a paz em meio aos seus conflitos. Daisy poderia ser a estrela que iluminaria a escuridão de San Marino. Em um relacionamento abusivo com um homem perverso, Daisy buscava fazer o seu melhor para não afundar no poço por conta de suas dívidas. Mesmo sabendo que só teria liberdade quando resolvesse esse impasse, ela acabou se envolvendo com o executivo cheio de tatuagens. Diogo poderia ser uma distração em meio as complicações de sua vida, mas Daisy não imaginava que ele estava disposto a fazer muito mais do que ela esperava.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada de personagens.

Leia Antes

O CEO Tatuado (Série Flores e Tatuagens – Livro 01): https://amzn.to/2XZQSB6 Sinopse: Era para ser apenas uma sessão de tatuagem para Erik Bortolini, mas foi o início do seu interesse pela misteriosa Orquídea. O homem à frente da produção e distribuição dos Vinhos Bortolini era um CEO fora do padrão. Enquanto o seu terno e gravata indicavam o quanto ele parecia um homem responsável, as muitas tatuagens pelo corpo e espírito rebelde mostravam que havia um contraste na sua personalidade. ⠀ Fugindo do passado que lhe marcou o corpo, Orquídea Safreid abandonou sua vida sob a sombra do ex-namorado para estar segura com seu irmão, o renomado tatuador Oton. Queria recomeçar, mas vivia o dilema entre querer sumir e estar próxima da sua família. Orquídea tinha muito para esconder, Erik não se intimidava com suas armaduras. Movido pela curiosidade, aproximou-se de Orquídea e lidou com a fúria protetora do amigo. Erik tinha todos os motivos para não se envolver nessa

confusão, mas quando mais tentava se afastar, mais se via enredados nos temores dela, afinal, ele também tinha seus próprios medos. ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada de personagens. ⠀

Prólogo Daisy Dois anos antes...

Os risos atrás de mim incomodavam. Na fila do fastfood, em plena madrugada, não adiantava me convencer de que poderia ser pessoas embriagadas falando sobre qualquer outro assunto que não fosse minha aparência. Eu tinha sérios problemas com o meu peso. — E ainda por cima, está usando fio dental — uma mulher falou alto o suficiente para que eu colocasse minha mão na bunda, preocupada demais que a minha calça legging roxa estava transparente. Os risos aumentaram, meu rosto esquentou e tudo o que queria era não ter tanta fome, para fugir de tanta zombaria. O atendente estava rindo, olhando para as pessoas atrás de mim. Teve a decência de se constranger quando me aproximei, encarando-o irritada. — Olá, boa noite. O que deseja pedir? — perguntou, abafando o último comentário das mulheres atrás de mim, menos os risos depois. Tentei não chorar. Sabia que estava obesa, que não cuidava da minha aparência, principalmente não usava roupa adequada para o meu corpo. Amava lingerie sexy e usar roupas que estavam na moda, por mais que não combinasse nem um pouco com minha silhueta.

Poderia ter todas as motivações necessárias para ser uma pessoa saudável, já que trabalhava ao lado de uma clínica de estética, uma quadra da academia e o restaurante fitness do outro lado da rua. Ao invés disso, ficava o dia inteiro dentro de casa trabalhando com designer gráfico, comendo besteiras e dormindo nos piores horários. Minha rotina estava uma bagunça desde que fiquei desempregada há um ano. Sempre sozinha e orgulhosa demais para pedir ajuda ao meu pai, exagerei nos gastos com cartões de crédito, cheque especial e dizimei minha poupança até que os freelances – que eram apenas complemento de renda – tornaram-se o meu objetivo principal. Quem disse que ser autônoma trabalharia menos? Sem disciplina com horário, comida ou cuidar da minha própria saúde, tudo virou uma bola de neve e meu corpo acompanhou os moldes do formato oval. Afastei-me de amigos, conhecido e nem ia visitar os meus pais, porque tinha vergonha do que havia me tornado. Os risos deveriam me motivar a fazer diferente, mas não, eles aumentavam minha fome e vontade de autodepreciar, além de querer comprar mais roupas sexy, para tentar me sentir atraente. Fiz meu pedido, peguei o cartão de crédito e orei para que não tivesse mais nenhum outro comentário. Não foi o que aconteceu. — Fico com dó, porque o rosto dela é tão bonito — outra mulher comentou, uma das piores frases para se dizer a alguém como eu, no estado mental de amor e ódio comigo mesma em níveis críticos. Peguei o ticket impresso sem agradecer ao balconista. Afastei-me para o lado e esperei o meu pedido. Cogitava pegar tudo e ir para casa, por mais que necessitava espairecer a cabeça. Minha criatividade para fazer uma logomarca empresarial estava desaparecida e só depois de barriga cheia e

procrastinação, minha intuição surgiria com uma nova ideia. Olhei ao redor sem encarar ninguém nos olhos. O grupo de mulheres ainda me analisava atentamente, como se eu fosse um rato de laboratório. Um homem, mais ao fundo, olhava para tudo entediado. Com o cabelo moicano e muitas tatuagens pelo corpo, principalmente no rosto, indicava que poderia ser um tatuador. Meu sonho era marcar minha pele com algo que tivesse mais sentido na minha vida do que a comida. Não conseguira tirar o foco do alimento, era como se faltasse vida em mim e a comida, fonte de vitalidade, fosse a única forma de me manter sã. A questão era que, como tudo na vida, poderia ser levado para o bem e para o mal. Eu comia independente das consequências. Nada poderia substituir a saciedade que meu estômago cheio dava. Atenta aos desenhos do corpo do homem, não percebi que me encarava divertido. O coração acelerou, voltei meu foco para as bandejas que estavam sendo preenchidas com o lanche, até que o meu pedido foi entregue. Escolhi uma mesa mais ao fundo. Coloquei três batatas fritas na boca, abri o lanche e tentei apreciar o sal, a gordura e os carboidratos. Claro que o universo não tinha concluído o momento humilhação. O grupo de mulheres se sentou próximo de mim e seus olhares, agora mais próximos, conseguiam identificar todos os meus defeitos. — Será que tem sutiã tão grande assim? Está saltando do peito, apesar de parecer bonito, de renda — uma comentou e olhei para o meu colo, identificando que parte dele estava exposto por conta da blusa decotada que usava. Se fosse alguma garota magra, iriam achar sensual. Comigo, era como se a peça estivesse no lugar errado. Enquanto mordia o lanche, vi o homem tatuado escolher uma mesa

longe de mim e comer mais rápido do que eu. Como poderia ser tão magro enquanto eu parecia explodir a cada segundo? Como era lenta, apesar da imensa fome, escutei mais comentários sobre mim até que meus pensamentos foram para o trabalho que deixei inacabado. Observei a postura do rapaz que prendia a atenção, as tintas na pele e a ideia foi surgindo, aquela que tanto buscava. Perdi muito tempo admirando-o, que só reparei que veio em minha direção, quando foi tarde demais. Deu um olhar repreendedor para as mulheres na mesa ao lado e se sentou à minha frente, com um sorriso acolhedor. — Oi. Sou Oton. — Estendeu a mão e o cumprimentei, lembrando que os dedos estavam sujos de sal da batata frita depois que ele fez uma careta. — Droga, desculpa. — Entreguei-lhe um guardanapo e limpei a mão na roupa. — Sou Daisy. — Um nome de flor. Caralho, vocês me perseguem — brincou analisando-me enquanto esperava entender o que dizia. — Minha irmã se chama Orquídea. Faz tempo que não a vejo e passei o dia inteiro pensando nela. — Ok — comentei assustada, a ideia para a logomarca vindo e eu necessitando de uma caneta para, pelo menos, esboçar o que queria. Mordi o sanduiche e mastiguei com pressa enquanto ele virou para trás bufando irritado. — Dá para parar de falarem merda? — soltou irritado para as mulheres, que olharam assustadas. — Isso vocês fazem no banheiro e não do lado de alguém que está quieta. Ela é gorda, sou um gibi ambulante e você é irritante. Apresentações feitas, pode guardar sua opinião para você?

Meu coração gelou, tanto pela reação delas quanto por Oton ter se virado para mim e sorrido, como se nata tivesse acontecido. Quem era aquele homem? Por que estava fazendo isso? — Como ia dizendo, estou puto com minha irmã, que não manda notícias. — Pegou uma batata frita, comeu e acenou adeus para aquelas que me depreciaram, mesmo sem ter intenção. Elas nem olharam para trás e Oton parecia satisfeito. — Quer fazer uma tatuagem? — Como disse? — Sua pele é branca e deve ser virgem. — Meu rosto esquentou e queria colocar minha cabeça em algum buraco, porque nunca pensei que alguém saberia da minha condição sexual só de olhar. — Sou tatuador e estou com um desenho filé para fazer no braço, uma manga. — Como sabe que sou virgem? — questionei baixo, envergonhada. Ele franziu a testa e me analisou. — Tem tatuagem escondida? Desculpe, julguei errado. — Minha testa franziu confusa, ele me encarou tentando compreender que não falávamos da mesma coisa e soltou um riso, alto, chamando atenção de todos. — Esqueça, essa conversa vai dar merda e Samira vai me matar por estar conversando com outra mulher. Tirou a carteira do bolso lateral do short cargo que usava, entregou um cartão preto com neon verde desenhado e a logomarca do meu cliente criou vida na minha mente. Perfeita a cor! Depois de muito tempo olhando, que li e percebi que meu julgamento estava certo, Oton era tatuador e seu estúdio ficava afastado de onde eu morava. — Você faz tatuagens. — Sorri feliz por ter um sonho próximo de

mim ao mesmo tempo que a solução do meu problema com o trabalho. — Nunca fiz tatuagem. — Ou seja, pele virgem. — Piscou um olho e se levantou, me deixando admirada. — No dia que quiser, aparece no meu estúdio e me lembre desse episódio. Vou te fazer um job por minha conta, de graça. Não esperou que respondesse, saiu do fastfood sem perceber que entregou, em minhas mãos, a oportunidade para fazer diferente. Como poderia tatuar um corpo que não amava? Terminei de comer o lanche, joguei tudo no lixo e admirei o cartão do tatuador mais uma vez. Sim, eu iria até seu estúdio e cobraria esse presente. Algum dia. Poderia ser pouco, mas foi o suficiente para tudo mudar na minha vida.

Capítulo 1 Diogo de San Marino O vinho merlot desceu pela garganta como se fosse ácido. A lembrança do que presenciei dias atrás veio como um filme de terror na minha mente e não consegui impedir que minha cabeça doesse. Raiva, culpa e frustação, um amontoado de sentimentos negativos me dominavam todas as noites quando iniciava o trabalho no restaurante. A melhor localização da cidade, os pratos mais refinados e atendimento inigualável, o Restaurante San Marino era motivo de orgulho, ao mesmo tempo que se tornava, a cada dia, parte do meu fracasso. Os Azevedo estavam destruindo cada parte sã que existia em mim, começando pela minha amizade com Erik. Ver sua mulher se submeter ao jeito desrespeitoso do meu primo mostrou o quanto não servia para formar uma família. Nada era permanente na minha vida, minha mãe deixou claro o quanto compartilhar era apenas um motivo para te destruir para seu interesse egoísta. Tomei mais um gole da bebida, observando a movimentação do restaurante no meu canto privado, escondido por uma parede espelhada. Eu tinha visibilidade de todos do outro lado, mas ninguém sabia que estava por aqui. Meu celular tocou em cima da mesa. Conferi a tela e o descartei ao perceber que Laerte requisitava meu espaço para uma reunião. Por não ter convivido em seu mundo e, até algum tempo atrás, estar blindado por esse lado da família, estava exausto. Eles eram homens lidando com negócios

ilegais, para benefício próprio. Servi-me mais um pouco do vinho, fechei os olhos e tentei lembrar do momento em que minha mãe mostrou sua verdadeira face. Quando mais novo, acreditava que ela era uma mulher dominada pelos deslumbramentos da sociedade. Sempre fomos ricos, tive boas escolas e muitas posses, meu caráter foi moldado pelas amizades que me associei desde a infância. Era sério, correto e amava a cozinha, bem como administração. Deveria estar no meu melhor momento, mas cada toque de celular, passo que eu dava, olhos que abria quando acordava, percebi que me aproximava de um túnel sem fim, sem luz... sem esperança. Estavam me costurando junto com os retalhos daqueles que matavam e tomavam sem pedir licença. Laerte Azevedo era o herdeiro do legado familiar, acatou o pedido da minha mãe de punir o marido e a segunda família que formou e agora, estava destruindo minha alegria de viver. Sem amigos, irritado, nada mais me bastaria e o vinho não seria o suficiente para preencher o vazio que tinha dentro de mim. Terminei minha bebida, observei os garçons atendendo as mesas com perfeição e soltei o ar com força. Todos faziam sua parte nessa vida, eu precisava executar a minha também. Peguei o celular, respondi meu primo confirmando sua visita amanhã e busquei o contato de Erik. Poderia ir até ele, se não fosse o tanto de escutas e riscos que eles correriam por ter a minha amizade. Busquei outros registros, meu dedo parou em cima do nome de Oton e sem querer, o celular chamou. Coloquei o aparelho no ouvido, assustado pela ação rápida não planejada. Deixei de ser um cliente assíduo do estúdio, gostava de tatuar, mas apenas o que fazia sentido na minha vida. Tinha planos para fazer uma

tatuagem, Oton estava com o projeto em andamento, mas nosso último encontro poderia ter jogado tudo no ralo. No momento, apenas destruição acalmava meu coração. — O que foi, filho da puta? — o tatuador atendeu depois de vários toques. — Como está? Precisamos começar a fazer a tatuagem. — Ainda tem a cara de pau de me ligar? Não vou fazer nada para você. Arranje outro trouxa para destruir a vida. — Porra! Não foi culpa minha. — Fechei a mão firme e tentei não soar agressivo, por mais que estava prestes a bater na mesa com força. Poderia fazer a tatuagem com qualquer outro que não estivesse envolvido com a minha vida, mas era algo permanente, não dava para ser um qualquer que não fosse o melhor, o homem que trabalhava com perfeição. — Sacrifiquei muito mais do que posso para tirar vocês da mira. O mínimo que poderia fazer, era a porra da tatuagem, Oton. — Fez o que tinha que fazer e não te quero mais envolvido com minha família. Sua dor não é maior do que a da minha irmã. — Idiota. Encerrei a ligação, largando o aparelho e esfregando as mãos no meu rosto. Abdiquei dos lucros do restaurante, da administração e contabilidade. Tirei o meu melhor amigo da jogada, mesmo que parte de mim ainda estava irritado com seu afastamento por conta do medo de altura. Tentei proteger todos, para ficar sem nada. Abri o notebook fechado em cima da mesa no automático. Conferi os e-mails e fui deletando todas as propagandas do caralho que enchiam minha caixa de entrada.

Parei de apertar no botão de deletar quando meu celular tocou e Oton apareceu no visor. Deveria ignorar a chamada, mas a ilusão de poder conversar mais uma vez e tentar convencer o homem turrão a fazer a arte no meu corpo me fez esquecer tudo e atender. — O que foi? — atendi irritado. — O cliente da noite acabou de cancelar. Venha, ou não terá outra chance. Desligou a ligação, sem uma justificativa real pela mudança de opinião. Virei para o notebook, o e-mail exibido era a propaganda de uma academia próximo de casa. Não me importava o valor, apenas a imagem do homem erguendo peso e demonstrando cansaço com a ação. Era disso que eu precisava. Levantei-me da cadeira, recolhi celular, carteira e saí da sala, recebendo o barulho e cheiro típico do restaurante. Deveria me alegrar e satisfazer, hoje, era apenas um meio para um fim. Caminhei próximo ao balcão das bebidas, cumprimentei pessoas de rostos conhecidos e cheguei no elevador, acenando em despedida para a hostess do andar. No elevador, coloquei as mãos na minha calça social e observei os números passando pelo visor enquanto chegava no meu destino. Sentia a tensão nervosa me dominar, mas a racionalidade estava mais forte do que o momento da satisfação iminente. No térreo, pedi para a recepcionista chamar o motorista e esperei-o do lado de fora. Se não fosse o vinho que tomei, eu mesmo iria dirigindo. Logo, Vicente apareceu com meu carro, entrei no banco de trás e anunciei meu destino. Enquanto guiava, observei a movimentação noturna da

cidade para acalmar a ansiedade. Será que Oton entenderia, algum dia, o quanto não intervir no que Laerte fazia era parte de tentar encontrar minha irmã? Só sabia que ela existia, tinha uma foto, mas não a certeza que estava bem nas mãos do meu primo. O que queriam com alguém que nunca soube sobre a vida deles? Como eu, eles me envolveram facilmente em seus rolos, com certeza faria igual com ela. Era uma merda ter o sangue da família mais perigosa da cidade. Cheguei no estúdio de tatuagem de Oton e pedi que o motorista me aguardasse. Ajeitei o terno, respirei fundo e vesti minha máscara de indiferença para lidar com algumas horas de sessão com um velho amigo. Abri a porta e a esposa do tatuador estava me encarando com desconfiança. Com o cabelo preto pintado, tatuagens aparentes e uma beleza exótica admirável, ela era perfeita para seu companheiro. — Boa noite, San Marino. — Olá, Samira. — Aproximei-me do balcão e tirei a carteira. — Podemos acertar agora? — Já sabe o desenho que vai fazer? — Pegou a máquina de crédito e olhou na tela do computador. — Vou ver se Oton anotou alguma coisa na sua ficha. — Ele já tem tudo em mãos. Se quiser, posso ir lá... — Fiz um movimento para ir até o corredor, Samira estendeu a mão me impedindo. — Chegou alguém sem marcar hora e você vai esperar. Não tem nada no sistema, quando terminar a sessão, você passa o cartão. — Indicou com a cabeça para o sofá e dei passos para trás me acomodando nele. Sorriu por eu ter obedecido sem pestanejar e, quanto percebeu que estava sendo

simpática, voltou a ficar séria. — Eu continuo o mesmo. Não sou o inimigo — falei abrindo o paletó e cruzando as pernas. — Fez mal a minha cunhada — sibilou franzindo a testa. — Acredite, queria eu ter dado um tiro na testa do meu primo, se não tivesse outra coisa na jogada. — Ocultei minha irmã, sabendo que, de alguma maneira, Laerte ouvia e sabia tudo o que fazia. O ódio que alimentava por ele era de conhecimento geral, então, continuaria destilando meu veneno, porque as consequências não viriam dessas palavras. Samira pareceu lembrar, fez bico, seu olhar suavizou e soltou o ar com força, rendida aos seus pensamentos. Inclinei o corpo para o lado do corredor quando escutei uma voz feminina. Uma mulher apareceu, depois Oton e me vi preso no sorriso que aquela visitante exibia. — Então, semana que vem estarei com o desenho pronto e você terá seu presente. — O tatuador me ignorou como a mulher, viraram para Samira e continuaram a conversar. — Lembra daquela história do fastfood? Das matracas falando merda por causa da aparência da garota? — Qual dessas histórias? — Da Daisy, nome de flor, igual da Orquídea, dois anos atrás. — Oton fez movimento com o braço para o corpo da mulher, ela mostrou o quanto isso a deixava envergonhada ao se abraçar e Samira colocou as mãos na boca. — Eu prometi uma tatuagem, ela veio fazer. Marque o horário, é por minha conta. — A que era gordinha, quero dizer... uau! — A esposa do tatuador ficou sem graça e a tal Daisy colocou as mãos nas costas, torcendo os dedos.

Minha atenção voltou para a sua bunda, o seu corpo e o quanto ela não parecia ter sido obesa algum dia. — Faz parte do passado, agora cuido da minha saúde, do corpo e com a tatuagem, vou ajudar a cuidar da alma. — O tom era suave, demonstrava confiança, mas destoava com o nervosismo que escondia. — Eu queria pagar. — Ele deveria receber — Samira falou disfarçando a irritação com o marido. — Prometi, querida. O que valeria mais do que a palavra de um homem? Está tudo certo, a tatuagem do próximo cliente vai cobrir as despesas. — Os dois se viraram para mim, levantei-me e vi meu olhar se prender ao dela. Assustados e feroz ao mesmo tempo, deu um passo para o lado e Oton se colocou a minha frente. — Vamos resolver essa merda. Acompanhei-o até a sala, surpreendi-me com a música no som e o refrão que soava. — Que banda é essa? — questionei tirando o paletó enquanto ele ia para o outro lado da sala preparar o material. — A que você não terá o direito de opinar. Vamos logo, San Marino, estou pronto para descontar um pouco da raiva em você. — Tentou demonstrar irritação, mas percebi que estava maleável. Será que foi aquela mulher? Daisy. — É Manafest cantando Impossible.

“Pegue tudo que você precisa, pegue cada parte de mim Me dê um espaço para respirar, antes que eu perca o controle”

Capítulo 2 Diogo de San Marino Conferi no reflexo do espelho parte da tatuagem feita no outro dia por Oton e não sorri, muito menos senti satisfação. Era destruição, fogo e caos, tudo o que sentia e queria deixar para trás, um dos motivos de estar nas minhas costas. Não poderia mudar o passado, mas tentaria deixar onde não conseguiria enxergar com frequência. Peguei a bisnaga com a pomada para passar na região afetada e lembrei do dia que minha vida se transformou. Minha única preocupação era o conflito com Erik, por não fazer parte do meu sonho. Planejamos o restaurante juntos e desde que encontrei o melhor local para estar, ele recuou. Medo de altura. Até agora não compreendia o quanto essa situação poderia impedir que viesse até o restaurante por livre e espontânea vontade. Por sua mulher, ele fez e mostrou que era mais forte do que eu mesmo poderia acreditar. Por um lado, vi que nosso distanciamento teve um lado positivo. Se não estivesse disposto a encerrar a sociedade, talvez ele se envolvesse com Laerte e toda a família Azevedo. Sócios ocultos de várias empresas, para ter o poder de mandar e desmandar na cidade, fui vítima da vingança de quem tinha meu sangue. Meu pai faleceu, uma amante e sua filha surgiram no testamento e minha mãe se transformou. Com raiva por ter sido traída por muito tempo, já que minha irmã tinha cinco anos a menos que eu, ela queria vingança, as duas

teriam que desaparecer. Não achei que Laerte Azevedo fazia esse tipo de trabalho, matar ou sequestrar, mas tudo indicava que foi isso que aconteceu. Com a mão em parte da minha tatuagem, conferi se a pomada tinha secado antes de colocar a camisa social preta, a gravata e o terno. Relembrar como tudo aconteceu estava se tornando um hábito, talvez eu buscasse uma brecha para me livrar de ter que servir de palco para as falcatruas do meu primo. Laerte é filho de Azus Azevedo, herdeiro do império da família e tão cruel quanto o pai. Minha mãe exigiu que a relação extraconjugal do meu pai fosse aniquilada, em troca, ela deixaria que minha vida fosse tocada por eles. Meu avô tinha conseguido que minha mãe, depois de casada, fosse viver sem se envolver nos negócios imorais da família. Pelo visto, nunca foi o que ela queria, já que estava muito bem adaptada a essa realidade. Mafiosos, bandidos, corruptos, qualquer um desses adjetivos serviam para descrever os Azevedo. Meu pai foi esperto o suficiente para não colocar o sobrenome da minha mãe em mim, mas nada disso impediu que meu restaurante se tornasse em um lugar neutro para reuniões de negócios de Laerte. Poderia protestar, entregá-los para a polícia ou aceitar a morte. Estava pronto para aceitar qualquer que fosse o meu destino, até que minha irmã foi posta na jogada. Se eu não colaborasse, ela sofreria as consequências. Apenas uma foto, dela presa e com os olhos tortuosos tão parecidos com os do meu pai me fizeram recuar. Nem precisava ter meu sangue, apesar dessa questão ter grande peso na minha escolha de ceder aos caprichos do meu primo. Sem meu amigo Erik, quase perdendo meu outro amigo Oton, com

uma mãe intragável e meu pai morto, só me restava aquela mulher, minha irmã. Não sei por que a visão da garota que vi no estúdio de tatuagem de Oton também me veio à mente. Daisy parecia assustada, demonstrava ingenuidade em um corpo esbelto, beirando ao magro. O tatuador não quis contar a história como eles se conheceram, optei por deixar minha curiosidade do jeito que estava. Apreciei demais conversar sem brigas sobre assuntos aleatórios para insistir em algo que não era da minha conta. Talvez, nunca mais cruzaria com o caminho dela. Fiz uma pequena mala com roupas informais e de academia, iria visitar aquele lugar que vi por e-mail em algum horário no período da tarde. Voltar a fazer atividade física me ajudaria a cansar o corpo. Escolhi um relógio, conferi minha aparência no espelho uma última vez e desci as escadas da minha cobertura duplex. As duas mulheres que me ajudavam na organização do lar eram discretas, estavam na cozinha conversando e se dispersaram quando entrei. Murmurei um cumprimento, tomei um café forte com pouco açúcar, mesmo a mesa estando posta para uma refeição matinal de rei e saí para descer em meu elevador particular até o estacionamento no subsolo. Era quase horário do almoço, teria que orientar meu cozinheiro para fazer algo, pois Laerte estaria vindo com quem quer que fosse no San Marino. Dirigindo pela cidade, nem percebi que o som do carro estava ligado quando o refrão da música soou. Conferi no painel o título, Warrior Inside, de Leader, preenchia o ambiente fechado.

“Eu estou vivo

Esse ódio não se dividirá mais (e eu ficarei) Eu vou lutar, apenas para sobreviver Eu não vou ser negado Eu sou um guerreiro por dentro”

Gostava quando me sentia forte em meio as complicações e adversidades. No momento, a única luta era para não surtar em meio a tantas coisas que estavam fora do meu controle. Minha irmã era algo surreal de ser tocado. Pelo menos, Erik estava afastado o suficiente para proteger sua mulher. Laerte aceitou o pagamento do encerramento da sociedade com o restaurante, como se estivesse negociando a compra de um imóvel qualquer. Meticuloso e cruel, fez questão de frisar que ele deveria conter Orquídea, porque se ela voltasse para ele, não teria volta. Idiota do caralho. Deixei o carro no estacionamento do subsolo do prédio comercial que o restaurante se localizava e fui até o último andar. Enquanto meu amigo odiava a altura, era onde mais gostava de estar. A sensação de ser intocável não era mais a mesma, mas não importava, era onde me sentia bem. Cumprimentei os funcionários da limpeza quando cheguei no andar, fui para a cozinha e dei ordem para o chef sobre a visita extra que aconteceria, ele deveria se preparar. Voltei para o salão, fiquei no canto em que Laerte gostava de se sentar e esperei. A parede de vidro desse lugar era minha parte favorita do Restaurante San Marino. Meu olhar se perdia em meio as nuvens e a visão de outros prédios próximos. Éramos o mais alto e luxuoso edifício, as reservas

do restaurante tinham fila de espera, era próspero. — San Marino — escutei a voz de Laerte e me levantei, sem esboçar nenhuma alegria. Ele sorria com cinismo, estendeu a mão e o cumprimentei. — Meu convidado está chegando. — Quanto tempo vai demorar? — Olhei o meu relógio e percebi que eu mesmo tinha esquecido de me alimentar. Conferi os dois seguranças gigantescos que sempre acompanhavam meu primo, eles não reagiram a minha pergunta. — Sirva um uísque para mim. — Vi-o se sentar na poltrona como de praxe, os seguranças o ladear e seu olhar indiferente me mostrar o quanto eu era apenas um peão em suas mãos. Poderia chamar um dos funcionários, mas eu mesmo fiz, porque preferia estar distante a perto de tanta sujeira. O homem morto no meu restaurante ainda me trazia péssimas lembranças, principalmente porque vi Orquídea em seu pior. Ainda bem que Erik estava com ela e não havia ninguém melhor para protegê-la do que ele. Deveria ter demorado demais, porque voltei com o copo de bebida para Laerte e um outro homem havia aparecido e se sentado onde eu estava. Elegante e com trajes formais como todos, poderia ser confundido com um empresário de sucesso, se não soubesse que todos que cruzavam o caminho da família Azevedo eram podres. Os fios brancos na cabeça indicavam que ele tinha mais idade do que todos os outros nessa reunião. — Maravilha, pode me servir um desses também — o recém chegado falou animado, o que destoava de como meu primo estava. — Não vai tomar nada enquanto não me falar o que fará para me pagar, Fábio. O dinheiro que você empresta é meu e receber uma trepada como pagamento não encherá meu bolso.

— Até parece que devo tanto assim — Fábio falou mais sério, tentando se desculpar. Merda, que tipo de mulher se sujeitava a pagar dívidas com sexo além das prostitutas? — Fique, San Marino — Laerte exigiu e hesitei antes de me sentar em uma poltrona mais afastada. Seu olhar estava afiado em mim e retribuí com igual irritação. Ele sempre me colocava como testemunha de suas merdas, mais uma forma de me amarrar além do restaurante. — O restante do pagamento desse mês eu te entrego amanhã. Sabe que cumpro com minha palavra. — O homem cruzou e descruzou as pernas nervoso. — Atrasado, Fábio. Esse é o terceiro mês que você me paga picado e não estou disposto a tolerar atrasos. — Laerte estralou o dedo e seu segurança apontou uma arma para frente. Minha respiração ficou presa na garganta por segundos, precisava aprender a me defender, academia não seria o suficiente para voltar a me sentir bem comigo mesmo. — Calma, Laerte. Tenho tudo sob controle, tudo bem? — Ergueu as mãos e soou divertido. Olhou em minha direção e não conseguiu nada, eu era tão impotente quanto ele. — Terá seu dinheiro, mês que vem vou tentar fazer um pagamento apenas. — Faça, Fábio. Tente novamente, haverá sangue derramado nessa merda de tapete. — Um dos seguranças cochichou no seu ouvido, ele tomou todo o uísque e se levantou, deixando o copo na mesa central. Laerte estava irritado e continuava intimidando o convidado. — Seu último aviso. — Entendi — o homem respondeu e os três saíram, deixando parte da escória no meu restaurante. Levantei-me pronto para expulsar o babaca, mas sua risada baixa, logo que meu primo e seus seguranças foram embora,

me assustou. — Frouxo do caralho. — O que disse? — questionei sério e foi a vez de ele vir para cima de mim, tirou uma arma das costas e apontou para o meu peito. Ergui as mãos em rendição e não desviei o olhar. Se fosse para morrer, que encarasse a alma do meu algoz. — Diga sobre essa conversa a alguém e mato você e sua família. Não me importo se é primo de Laerte ou não, minha reputação não será manchada. — Faça um favor a nós dois e execute. — De onde tinha vindo essa veia suicida? Pelo jeito, meu enfrentamento o fez guardar a arma e se afastar, mas sem tirar o sorriso irônico do rosto. — Os piores homens são aqueles que não tem nada a perder. Pelo visto, você é igual o seu primo. — Olhou ao redor e zombou. — Parece ser um bom restaurante, depois venho com minha garota. Deixe meu nome na prioridade das reservas. Seguiu até o elevador, esperou-o chegar e foi embora. Consegui respirar aliviado apenas naquele momento, peguei o copo descartado por Laerte, fui para a cozinha e me servi do que tinha para almoçar. Uma cobrança de dívida, sem mortes. Tudo bem, eu superaria mais uma reunião dessas.

Capítulo 3 Daisy Fiz agachamento com o peso nos ombros e esqueci os olhares ao redor. Essa academia tem sido a minha casa por vários meses, já conhecia muitos deles, principalmente pelas chacotas dos primeiros dias, quando vim com quase o dobro do peso que estava hoje. Ainda me sentia gorda, mantinha parte das dívidas com banco e fugia dos amigos e da família. Estava quase impossível manter distância do meu irmão, ainda mais que estava disposto a abrir um negócio na cidade. Merda, mil vezes droga. Terminei minha sequência e fui tirar os pesos da barra para guardar. — Precisa de ajuda? — O homem que me abordou era lindo, tinha porte atlético, os músculos definidos me fascinava, mas ao mesmo tempo me recordava do quanto zombou de mim com quilos a mais. — Resolvo sozinha, obrigada — respondi seca, forçando um sorriso para o seu ego machucado. Todos os homens dessa academia pareciam querer ter algo de mim, mas nem simpatia conseguiria. Havia me tornado amarga com relacionamentos, ainda mais quando existia uma amizade colorida que nunca evoluiu para nada que não fosse ajudar com minhas dívidas. Sentia que tinha piorado ao invés de melhorado e, diferente de todos os homens que conheci, ele demonstrava me amar mesmo estando acima do peso. Só confiava nele.

Fui para o aparelho de abrir e fechar a perna, regulei o peso e quase perdi a concentração quando encarei o novo visitante da academia. Era aquele homem do estúdio de tatuagem, com olhar sofrido, mas sorriso acolhedor. Conhecia esse tipo de disfarce, aquele que tinha muitos conflitos para esconder e poucas alegrias para comemorar. Será que sua vida era tão pior quanto a minha? O funcionário da recepção da academia o levou até os fundos, para as aulas de artes marciais. Droga, será que faria boxe no mesmo horário que eu? Busquei o relógio no alto da parede da academia e percebi que tinha mais alguns minutos antes de me juntar aquele lado. Não entendia o motivo do coração acelerado e o frio na barriga. Já tinha alguém na minha vida, deveria estar bloqueada para novas conquistas. Com certeza era a atração visual, como todos os idiotas da academia sentiam por mim. Esqueceram a gordinha e só viam a Daisy que rejeitava todas as investidas, mesmo as mais indiretas. Já escutei conversas sobre mim, que me fazia de difícil, nem para amizades me abria. A questão era que, quando estava disposta a ter pessoas ao meu lado, todos só viam meu peso, minha aparência, as roupas ousadas em um corpo fora do padrão. Terminei a sequência, fui para os fundos da academia e lá estava o homem, sem o terno e a pose elegante. Enxergava insegurança de longe, porque ela me acompanhava há muito tempo. Suas tatuagens expostas pela regata e short me distraíram enquanto ele falava com o professor da modalidade. Fiquei próxima aos armários, onde meu material estava, para me camuflar. Percebi que encarei demais quando o vi se aproximar com o

mesmo olhar e sorriso, uma contradição ambulante. — Olá, Daisy. Que coincidência. — Colocou as mãos para trás e conferiu-me da cabeça aos pés. O meu sorriso forçado se tornou seriedade, para seu assombro. — Oi — respondi contida. Uma coisa era estar com Oton, que não mudou o tratamento comigo mesmo tendo se passado dois anos. Outra coisa era esse desconhecido querer se aproximar, ninguém teria o direito, essa posição já estava ocupada. Percebendo minha introspecção, deu de ombros e conversou com outros rapazes. Ele era sociável, todos os receberam bem e de costas para mim, percebi sua tatuagem recém feita. O que era? Não deveria passar um tempo antes de fazer atividade física? O professor juntou a turma e pediu para correr em volta da sala. Tentei ficar o mais para trás possível, mas isso me fez acompanhar o ritmo de corrida do tal homem. Ele me olhava de relance e não dizia nada. Por que estava tão curiosa para saber que tipo de papo puxaria comigo? Fizemos alguns alongamentos, separamo-nos em duplas e começamos com atividade específicas do esporte. Logo estávamos com luvas, alguns optaram por ficar no saco de areia, outros treinando em dupla. Eu sempre me mantinha sozinha. Esmurrei o saco e sorri ao sentir a adrenalina correr em minhas veias. Foi por causa do boxe que consegui seguir uma dieta e frequentar a academia. Tudo o que odiava fazer, só executava, por causa desse momento em específico. Bater nas dívidas, no meu peso, na insegurança. Eu era mais forte

que minhas fraquezas. O ritmo da música me fez intensificar os acertos no saco, o fazendo se mexer. Painkiller, de Three Days Grace chegou no refrão e dei tudo de mim.

“Eu, eu posso ser seu analgésico Você irá me amar até tudo estar acabado, acabado Porque eu sou o ombro em que você chora A dose em que você morre”

A figura de um homem apareceu atrás do saco e o segurou. Não parei até que me senti exausta, encerrei a sequência e o rosto conhecido ficou mais nítido. A tristeza em seu olhar foi substituída por admiração. Não queria bajulação, a mulher que eu fui precisava de apoio, a daquele momento, tinha convicção da sua capacidade. Tirei as luvas bate saco pretas ofegante, ergui as sobrancelhas quando se aproximou e não disse nada. — O que foi? — exigi mal-humorada e ele deu de ombros. — O professor pediu para que te acompanhasse, se não se importar. O exercício será em dupla agora. — Olhei ao redor e estavam preticando a sequência para aproximação. — Ok. Você começa — ordenei pegando as manoplas de soco. Parei na sua frente e ele me encarou sem graça, olhando para as mãos. Ah, claro, ele não tinha luvas. — Pode pegar as minhas, se não se importar com o suor, além de não ser higiênico. — Está bom para mim — comentou se agachando, colocando bem a

primeira luva, mas tendo dificuldade com a segunda. Eu usava a boca com o velcro, ele não tinha ciência. Tirei a manopla, firmei as luvas em seus pulsos e voltei a minha posição com as mãos cobertas. — Vou erguer a mão, você tenta acertar com um soco de direita. — Ele parecia concentrado demais na minha instrução, até achei fofo. Sorri e ele demonstrou confusão. — Fiz algo errado? — Aqui. — Indiquei minha mão, ele socou com força, me surpreendendo. Os novatos, normalmente, tinham leveza comigo, por ser mulher. Dei um passo para trás e ele arregalou os olhos. — Merda. Foi demais? — Está ótimo. Continue assim — rebati série e ele fez, conforme fui erguendo minha mão, até que acertei seu braço. — Cuidado com a guarda, desvie. — Repetimos a sequência e ele afastou para trás quando tentei o acertar. Ele já tinha feito algo parecido ou era um bom observador. — Certo. Tente com a mão esquerda agora. Enquanto os outros seguiam para exercícios diferentes, fiquei com o novato. Ele não aliviava, o que me confundia, já que me tratava como uma igual ao invés da donzela em perigo. Trocamos de posição, ele tentou me fazer pegadinhas, mas desviava e acertava socos leves em seu ombro ou barriga, por deixar a guarda baixa. No final da aula, estávamos rindo por conta de um golpe que quase o fez cair no chão por conta da habilidade. Nunca fui forte, mas tinha técnica e conseguia perder peso com isso. O homem tirou as luvas, se jogou no chão e abriu os braços respirando ofegante. Cruzei os braços e o observei de cima enquanto tentava

recuperar o fôlego na posição de derrota. — E então, Diogo, gostou? — o professor se aproximou, ajudou-o a se levantar e meu olhar foi para a tatuagem, por ter ficado de costas para mim. — Demais. É esse tipo de atividade que estava procurando. — O homem se virou para mim e estendeu a mão. — Obrigado. — Obrigado. — O professor também me encarou e sorri, ele sempre foi respeitoso comigo e sua esposa trabalhava na academia também. — Daisy é nossa aluna mais assídua e me ajuda com a adaptação dos novatos. Se passar por ela, conseguirá tudo. Seu olhar de admiração me desconsertou, por isso neguei com a cabeça e dei um passo para trás. — De nada. Vou indo. — Peguei as luvas no chão, afastei-me dos dois e tentei não olhar para trás. O tal Diogo estava mexendo demais comigo e não poderia permitir.

Capítulo 4 Daisy Pior do que me submeter a sexo sem sentimento ou disposição, era estar no ato pensando em outro. De bruços, olhos fechados e de rosto virado enquanto o homem se satisfazia encarando minhas costas, ele arqueou metendo fundo e gemeu anunciando o término do ato. Poderia ser estranho sentir alívio, mas não pensava a fundo sobre o assunto. Era sempre a mesma coisa, do mesmo jeito e sem romantismo. Bem, no início achei que existia algo mais forte que nos unia, até porque, quando uma mulher como eu conseguiria um homem? Acima do peso, reclusa e séria demais para deixar qualquer pessoa se aproximar, Neves era o amigo que nunca tive, aquele que gostava de mim pelo o que eu era, desde a minha decisão de mudar de hábito. Senti um tapa ardido na minha bunda, virei de lado para o encarar se deitar e ele sorriu satisfeito. — Andou comendo demais, gordinha? — ele sempre me chamou dessa forma e odiava. Depois de tanto pedir e ele não mudar, apenas aceitei. Ele sempre foi sincero demais. — Não — respondi ofendida. Sabia que ainda não estava no meu peso ideal, precisava fazer outro procedimento de eliminação de gordura localizada na clínica de estética. — Está um pouco cheinha, mas tudo bem, eu gosto. — Segurou meu rosto e beijou minha boca rapidamente. Mesmo que nunca se importou com o meu peso, sonhava em ver o dia que diria que eu estaria perfeita. — Como

estão os trabalhos? — Consegui mais um. Até o final de semana entrego o restante do dinheiro que você precisa. — Fiz uma careta quando tirou a camisinha e a jogou no chão, porque seria eu quem limparia tudo no final. — Hoje, Daisy — soltou irritado e não me encarou. Dinheiro sempre foi um problema na nossa relação de amizade e amorosa. Desde quando me ajudou a pagar uma grande dívida, hoje era eu quem lhe emprestava dinheiro. — Se eu mexer na reserva, ficarei sem nada. Ele virou o rosto lentamente, demonstrando uma face que já conhecia e odiava. Parte do que descarregava no saco de areia na academia era quando Neves se transformava. — Quem foi o único que te ajudou? — Segurou meu queixo com força e implorei com o olhar para me soltar. — Quem pagou suas contas, te deu esse apartamento e o mobiliou? Era para você ter ficado na rua, suja e gorda. Você não é nada sem mim. — Tudo bem, tudo bem. — Afastei-me, quase caí da cama e me levantei com os olhos cheios de lágrimas. Ele não se comovia e sabia, exatamente, as palavras certas para me fazer agir. — Vou dar um jeito. Eu devia tanto para ele... parecia que nunca seria o suficiente. Peguei o celular, fiz a transferência e joguei o aparelho no seu corpo enquanto ia para o banheiro disfarçar meu sofrimento. Por mais errado que parecia, era a única forma que sabia de lidar com essa relação. Neves surgia poucas vezes no mês, ele tinha o seu dinheiro, o prazer e me deixava os outros dias lidando com minha solidão. Ele me conheceu em todos os momentos e, como deixou claro, deume tudo o que eu tinha, era momento de retribuir. Se hoje tinha o mínimo de

satisfação comigo mesma, devia a Neves. Respirei fundo e lembrei da tatuagem que queria fazer. Meu primeiro presente para mim, depois de dois anos pensando na imagem ideal que eu registraria no meu corpo. O que mais amava? Foi difícil responder essa pergunta e depois de um trabalho feito no mês passado, descobri um padrão em meus designs, quase uma obsessão. Percebi que teria companhia para o banho e logo saí, deixando meu acompanhante sozinho. Ele não parecia irritado ou bravo, sorria e cantarolava enquanto se limpava. Vesti-me com uma camisola branca cheia de margaridas, fui para a cozinha e preparei meu shake. Se estava exibindo mais gordura do que deveria, a dieta retornaria. — Vamos pedir uma pizza? — Neves se aproximou vestindo apenas a toalha envolta da sua cintura. — Preciso cuidar do meu peso. Quer que prepare para você? — questionei divertida, sabendo sua resposta. — Fique com essa merda. — Franzi a testa, foi cruel da parte dele dizer isso. — Vamos sair para comer, então. Tem um restaurante que conheci e quero te levar. — Você levou todo o meu dinheiro, preciso trabalhar e arranjar outro trabalho para recuperar. Não tive intenção de ofender, ainda mais percebendo seu humor instável. Quando seu olhar encontrou o meu, ele veio para cima de mim, colocou a mão na minha garganta e apertou, empurrando meu corpo até a próxima parede.

Daqui eu conseguiria revidar e me livrar, mas tinha lembranças da vez que fiz, o raio x da costela trincada e mais de um mês parada me fizeram recuar e apenas sofrer com a falta de ar. — Ingrata filha da puta! Quem você pensa que é para falar assim comigo? Estou endividado por sua causa. Para te deixar bem, precisei ficar mal. É sua vez de me ajudar, porra! Eu sou o único na sua vida. Sem mim, você não é NADA! — berrou cuspindo no meu rosto. Fechei os olhos e abri a boca em busca de ar. Jogou-me no chão, saiu da cozinha e por onde passou no apartamento, chutou e quebrou. Mantive-me onde estava, até porque, Neves iria embora, eu teria alguns dias de paz e, quem sabe, ele voltaria menos agressivo. Era minha vez de pagar a dívida que fiz com ele. Entendia, minha mente e coração estavam alinhados, apenas minha boca que se esquecia desse detalhe. Foi embora batendo a porta e suspirei ainda no chão da cozinha. Contei até dez, levantei-me e tranquei a porta da frente, deixando a chave atravessada, para que, se ele voltasse, eu teria que abrir a porta. Meu celular tocou e corri para o quarto atender. Jogado no chão e com a tela quebrada, gemi ao ver o nome do meu irmão. — Sim? — Coloquei no ouvido apressada, era melhor dispensá-lo agora do que ter mais dez chamadas não atendidas pelos próximos minutos. — Está tudo bem, Daisy? — questionou e me sentei no chão apoiando as costas na cama. — Estava na cozinha e corri para o quarto te atender. E você? — Boas notícias, consegui dois lugares para visitar.

— Ah! — Tentei soar animada, mas fracassei. — Sabe que vou descobrir tudo o que está escondendo de mim. — Neguei com a cabeça, Neves era o pior dos meus segredos. — Os nossos pais podem estar confortáveis com sua independência e vida corrida, não eu. — Falando nisso, preciso trabalhar. Tenho um projeto para entregar amanhã. — Levantei-me sentindo uma leve dor nas costas. — Ótimo. Termine tudo o que precisar, porque você fará todo o material de publicidade do bar. — Quando vem? — Em alguns dias. Já prepara o sofá para mim. — Dário... — reclamei, porque o apartamento era meu, mas não poderia ser usado como se fosse. Céus, nem imagino o que Neves e meu irmão fariam quando se conhecessem. Não dava para arriscar o encontro dos dois. — Desculpe, é muito pequeno para você. — Conversaremos quando eu chegar. Se cuida, Daisy. — Até mais, irmão. Encerrei a ligação e fui para a cozinha, terminar o meu shake e seguir para meu computador. Minha vida estava prestes a se tornar uma grande bagunça com a vinda dele para a minha cidade. Quanto mais eu conseguisse pagar Neves, mais ele não me incomodaria, ou seja, teria que buscar outros trabalhos. A academia teria que ficar em segundo plano. Só de pensar que faltaria a aula de boxe, meu peito apertava. Ao lembrar de Diogo, o estômago embrulhava de um jeito bom e percebi que sorri, apenas por isso.

Deixei tudo de lado e foquei em trabalhar. Apenas Neves me conhecia por completo, era a ele que devia tudo, não dava para pensar em criar asas enquanto essa dívida não fosse paga. A tatuagem seria a minha forma de mostrar a mim mesma que havia sonhos que não davam para realizar se não fosse através de desenhos.

Capítulo 5 Diogo de San Marino Lá se foram sete aulas de boxe e Daisy não apareceu. O treinador me passou que ela estava com muito serviço, que voltaria quando completasse a missão. Fiquei curioso com sua profissão, em saber mais dela, mas me contive em aprender mais do esporte. Enquanto estava na aula, esquecia de Laerte, imaginava que conseguiria achar uma forma de encontrar minha irmã e, quem sabe, poderia me livrar do emaranhado que estavam me colocando. Nem que o Restaurante San Marino fosse sacrificado, para ter uma vida sem dívidas, estava disposto a tudo. Minha próxima sessão com Oton estava marcada, talvez ele concluísse minha tatuagem acompanhando de uma boa conversa. Lidar com os negócios estava me deixando saturado, era necessário ter um momento de lazer. A academia era legal, mas nada substituía um amigo, como Erik e o tatuador. Iniciamos o treino correndo em volta da sala e a figura feminina que tanto almejava apareceu apressada. Cumprimentou o instrutor, entrou na fila de corrida e tentei não reduzir meus passos para ficar ao seu lado. Fizemos alongamento, alguns exercícios sem o equipamento e quando foi o momento de nos dividir em dupla, não perdi a oportunidade e me aproximei. — Posso fazer com você? Prometo que melhorei desde a última vez que esteve aqui. — Peguei a manopla e ela ergueu a sobrancelha desafiando.

— Ok — respondeu ficando na posição e colocando as luvas com destreza. Havia algo nela, além da aparência, que me fazia ver como igual. Não era uma comparação entre homem e mulher, mas como se estivéssemos vivendo em um mesmo universo paralelo. Como sempre, socou com força e descarregou a raiva que sentia. Ou seria frustração? Medo? Tentei fazer alguns desvios, ela me acertou sem muita força e riu da minha chateação por perder para ela. Bem, era um treino e havia a diferença de experiência. A posição foi trocada, tentei mostrar o quanto aprendi e em um descuido, acabei acertando seu rosto. — Merda! — falei alto quando deu um passo para trás rindo. O instrutor tentou se aproximar preocupado, mas ela estendeu os braços para mim e ele, impedindo a aproximação. — Desculpa, Daisy. — Está tudo bem. Falha minha. — Percebi a vermelhidão na maçã do rosto e tirei as lutar, indignado comigo. — Hei, você não terminou. — Te machuquei. — Ignorei sua tentativa de me impedir de se aproximar, segurei sua cabeça com as mãos e observei com atenção o que aconteceu. Logo, meus olhos encontraram os seus e o vermelho que surgiu em suas bochechas não tinha nada a ver com a agressão que causei. — Desculpe. — Já fizeram pior — respondeu hipnotizada. Franzi a testa e ela segurou em meus pulsos antes de nos afastar. — Enfim, é um esporte de contato. Não foi a primeira vez e você não será o último. Não se sinta especial, Diogo. — Nunca fui — rebati com um sorriso cínico. Não era para ter soado

tão autodepreciativo. — Vamos para o saco. Pelo visto, você precisa descarregar o estresse em algo e o melhor é nele. Certo? — Sim. — Peguei as luvas do chão e ela foi atrás das suas. — Venha, vamos revezar. Dez sequencias para cada. Ficamos perpendicular ao outro para usar o saco. Observei-a atentamente tanto quanto ela fez comigo. Havia momentos que sorria, outros balançava a cabeça em negação. Percebi o momento que se atentou a tatuagem nas costas, que dava para ver pela regata e me virei quando terminamos a atividade. — Oton que fez. Quer conferir o trabalho dele? — Observei-a analisar por cima do meu ombro. Hesitou em tocar meu corpo, mas depois que o fez, deslizou os dedos pelo caos e destruição, proporcionando sensações que atingiram em cheio meu pau. Porra, desde quando algo tão simples me excitava de súbido? Segurei as luvas na minha frente e deixei que puxasse a camiseta para ver tudo o que queria. Havia outras tatuagens menores que não exibia para ninguém e, por algum motivo, não queria esconder nada dela. — Uau. Está ficando lindo. Ele é um ótimo artista — falou se afastando e cruzando os braços. — O melhor. Depois que o conheci, só fiz com ele. — Coloquei as mãos na cintura quando ficamos de frente. — E o que você vai fazer? — Ainda não decidi, mas passei alguns elementos para Oton. Semana que vem vou lá. — Estou indo amanhã terminar a minha. Não quer ir lá ver?

Seus olhos se arregalaram e percebi que esse convite tinha sido íntimo demais. Porra, éramos apenas conhecidos da academia. Mas, caralho, poderíamos tentar algo, não? — Sou comprometida. Sinto muito — respondeu desviando o olhar e passando por mim. — Foi inocente. Não estou indo por esse lado — ainda, complementei na minha mente. Ela voltou a me encarar, duvidosa. — Fará algo permanente na sua pele, nada mais justo que conferir o trabalho daquele que irá te torturar por algumas horas, dependendo do tamanho do desenho. Somos colegas de boxe. — Obrigada pelo convite, mas não. Preciso terminar alguns trabalhos e... — Deu de ombros, mostrando no olhar uma sensibilidade que ainda não tinha visto. — Esse será um momento único para mim. Prefiro me surpreender. Boa sessão amanhã. Ela terminou os exercícios com outra pessoa, como eu fiz. Ninguém conversava com ela e pelo visto, eu era o único que insistia em algo que não tinha retorno. Por que estava tão interessada em conhecer mais de Daisy? Vi-a ir embora pensando em todas as mulheres marcantes que passaram na minha vida. Minha mãe e a irmã que não conhecia, ou seja, nenhum parâmetro para saber se era interesse real ou tesão. Foder, era disso que eu precisava para concluir a minha noite sem pensar no que fracassei. Voltei para o restaurante, gostava de acompanhar de perto o encerramento da noite, o movimento, a comida servida. Ajudei a fechar o caixa, desci sozinho pelo elevador, despedi-me do vigilante noturno e fui

caminhando para um bar próximo. Vicente estava no carro me esperando, poderia beber e curtir com alguém interessante que conhecesse ao acaso. Sentei-me no banco alto do balcão, fiz amizade com o atendente e nada parecia interessante enquanto a madrugada ia embora, dando lugar para o dia. Observei um homem sério atento a tudo ao redor e me aproximei, vendo algo familiar nele. Um pouco alto pela bebida, estendi a mão e o surpreendi. — Sou Diogo. E você? — Dário. — Franziu a testa. — Já nos conhecemos? — Tenho a mesma sensação, cara. É da cidade? — Não. Vim para montar meu próprio estabelecimento e estou colhendo informações para ver o que os concorrentes têm de bom e de ruim. — Voltou sua atenção ao redor e fiz a mesma análise. — O que acha que falta? — Alguém para me acompanhar — brinquei e ele riu. — Isso faz parte da sua incompetência, não do bar — zombou e não me ofendi, havia me identificado com o idiota espertão. — Pois é, está foda me aproximar da mulher que eu quero. Além do mais, ela não parece frequentar esse tipo de local. Aqui é muito... — Casal. — Apontou para mim, como se eu tivesse respondido alguma pergunta interna dele. — Sim, não vejo muitos solteiros. Esse não é o tipo de lugar que vai encontrar uma companhia para a noite, mas trazer sua companheira para celebrar o namoro. — Como no meu restaurante. — Bati no seu ombro em cumprimento. — San Marino. Apareça lá. — Vou sim, ouvi falar muito bem dele. — Mudou o olhar. Se

conhecia o local, então sabia a posição social que estava. — Tenho alguém especial para levar, com certeza seria nele. — Ofertarei o melhor vinho para vocês. Vou nessa. — Terminei de tomar minha bebida, reparei que o homem estava com uma garrafa de água com gás na mão e sorri. — Dono de bar que não bebe? — O que posso fazer? Sou único. — Dei um passo para longe e ele continuou: — Tente algo simples. — O que disse? — Com a sua mulher, que não frequenta lugares como esse. Acho que algo simples, mas com grande significado, pode conquistá-la. Não um buquê de flores, mas uma rosa com um bilhete de próprio punho. — Você consegue transar assim? — zombei e ele riu alto. — Mais do que você, pelo visto. Saí do bar rindo com o pensamento no que aquele homem falou. Porra de coisa simples, será que uma joia entraria nessa lista? Tão magra como era, aplicada no esporte, deveria comprar uma barra de proteína ao invés de bombom. Não parei de pensar na solução para atrair Daisy, pelo menos deixei de lado outros problemas que tiravam o meu sono.

Capítulo 6 Diogo de San Marino Optei por ir mais cedo no estúdio de tatuagem, para conversar com Samira. A ideia era tentar uma reaproximação, por mais que entendia que os laços de amizade nunca seriam o mesmo. Observei os carros a frente do estúdio antes de estacionar. Era o carro de Erik, nossa última conversa, junto com Laerte, foi o mais impessoal possível. Tentei demonstrar frieza, para que meu primo não achasse que teria o direito de invadir a vida do meu amigo também. Pelo visto, ele não tinha rancor quanto a ficarem com sua ex-namorada. Saí do carro sem pressa, senti o nervosismo me tomar e quando abri a porta do estúdio, tentei acalmar o olhar assustado de Samira na recepção. Logo olhou para o lado e acompanhei, Orquídea e Sâmia brincavam em um canto. O olhar da mulher refletiu o da cunhada, fazia com que me sentisse um merda, nunca fui o inimigo. Um pouco intolerante e incompreensivo, mas malvado? Essa parte eu deixava para a família Azevedo. — Desculpe, acabei vindo mais cedo. — Sentei-me no sofá, para mostrar que não me aproximaria de ninguém. — Tudo bem, Oton já vai te atender. — Eu não sou o inimigo — falei baixo, apenas o suficiente para que entendessem. Demonstrei seriedade, eles tinham que compreender que faria de tudo para que nada acontecesse, estava limitado, apenas, ao ponto que minha irmã não fosse prejudicada. — Mas tem o sangue dele e você não tem forças para pará-lo. —

Olhei de Samira a Orquídea, a segunda havia ficado de costas para mim. Entendia o sentimento, era o mesmo que me preenchia de raiva e me induzia a continuar fazendo boxe. Não me tornaria nenhum lutador profissional, era uma tentativa, mesmo que pífia, de lutar com meus punhos. — Oi, tio San — a criança cortou o silêncio, mudando o clima de tensão para contentamento. — Olá, Sâmia. O que está fazendo? — Estrelinhas! — Tentei enxergar o que a garotinha tinha levantado em sua mão. Era um pequeno pedaço de papel e havia vários pontos em cima da mesa. — Quer aprender? Eu te ensino. — Ainda falta um monte para você fazer, meu anjo. Foque aqui. — Orquídea orientou e não respondi, ainda mais por ter ficado curioso sobre como elas estavam fazendo. Que eu me lembrava, Erik era viciado nessas dobraduras. Um barulho no corredor me chamou atenção, levantei-me quando vi os amigos vindo em minha direção. Surpreendi-me quando Erik puxou minha mão e abraçou-me, dando um tapa das costas. Ele sorria contido, como se não gostasse de assumir que gostou de me ver. — Chegou cedo demais, idiota — Oton resmungou antes de me cumprimentar, minha atenção era toda de Erik. — Estava na rua, vim direto para cá, não queria me atrasar. — Conferi as meninas e depois meu amigo. — Tudo bem? — Sim, estamos muito bem — respondeu sorridente demais. — O quarto do meu priminho ficará cheio de estrelinhas. — Sâmia chamou minha atenção, Orquídea se levantou e Erik foi abraçá-la. — Olha quantas eu já fiz, tio.

— Vamos logo — Oton me puxou para a sala e eu fui, tentando processar a informação. — No final das contas, você é apenas humano, certo? — Não entendi. — Entramos no seu ambiente, ele fechou a porta atrás de mim e nos envolveu com música agitada. — Sempre foi nosso amigo, mas está envolvido com merda. — Sabe que posso estar grampeado. O único local seguro é no meu restaurante. — Lembrei-o para que não falasse nada de importante que fosse usado contra mim ou eles. — Que se foda os babacas que você chama de parente. Quero saber de você, San Marino. O que você quer? Tirei o paletó, depois a camisa e me deitei de bruços na maca mesmo que ele não tinha autorizado. Observei-o arrumar seu material, a música explodia minha mente e não me deixava pensar com clareza. Fechei os olhos e apenas o rosto de Daisy vinha a mente. Empurrei meus pensamentos para minha irmã, cogitei que tudo poderia ser uma ilusão para me submeter as vontades de uma família que nunca quis fazer parte, mas meu corpo, combinado com minha mente, dominavam a direção do que queriam focar. Algo palpável, atraente e inteligente. Por mais que Daisy tinha habilidade incomparáveis como a minha, não me sentia menor ao seu lado, pelo contrário, era a primeira vez que conseguia enxergar alguém igual a mim. Deveria ser a falta de sexo, ainda mais terminando minha noite conversando com um homem e não por cima de uma mulher, na horizontal. Senti algo gelado sendo colocado nas minhas costas e abri os olhos, Oton ia começar os trabalhos, mesmo que eu não tivesse respondido sua

pergunta. Olhou para mim, pegou o celular e aumentou a música. — Você está doido para falar algo. Ninguém vai nos escutar. — Entendi o que o tatuador queria dizer mais pela leitura labial do que por som. — Estou cansado de estar sozinho. Odeio saber que esse será o meu fim, vinculado a Laerte. Ergueu as sobrancelhas, estava tão surpreendido como ele, a revelação doía minha alma. Vi-o pegar a pistola, alisar minha pele novamente com algo gelado e xingar. — Você não passou a pomada do caralho? — Como recomendou, mas comecei a fazer academia no outro dia. Revirou os olhos e não precisou dar bronca, eu sabia o que tinha feito e não me arrependeria. Foi aquele dia que me aproximou de Daisy, valeu à pena. Senti a agulha furar minha pele, fechei os olhos e apreciei o som. Nine Lashes cantava Never Back Down, parecia feito para mim. Será que abriria mão do que estava vivendo agora para anular o mal feito a Erik e Orquídea?

“Nós nunca vamos desistir Não vamos ceder Agora ou nunca, até o dia em que sonhou”

— Vou ser tio, Orquídea está grávida. — Oton falou próximo do meu ouvido e atentei-me a ele, que sorria. Senti algo estranho em mim, um pânico movido a satisfação. — Eles estão bem, confio em Erik. — Encarou

meus olhos. — Também em você, apesar do tanto de ódio que me fez passar naquele dia. — Seria o primeiro a entrar na fila para que nada de mal aconteça com vocês, se não fosse minha irmã. — Por isso mesmo que não consigo te odiar, filho da puta. — Empurrou a cadeira, mexeu no armário atrás de si e voltou para minhas costas. — É família, deve estar acima de tudo. Eu coloco a minha como prioridade. — Está sendo empático? — zombei, porque o clima estava ficando sério demais para o meu gosto. — Pensarei nisso quando tatuar sua bunda, porra louca. — Sorriu enquanto fazia o desenho nas minhas costas com tranquilidade. — Você deve estar uma bagunça de merda, já que está tatuando tanto caos. — Sim. — Olhei para o nada. — Só tatuamos o que temos em excesso ou em falta. — Mas esse, quero deixar para trás. Só vou me lembrar quando olhar no espelho. Não posso mudar. — Faça diferente hoje. — Encarei o tatuador, que me olhava atento e deixei que suas palavras fizessem sentido para mim, ou que, pelo menos, iluminasse o túnel sem fim que me encontrava. Era tempo de me adaptar a situação que estava, antes que me deixasse ser engolido pelos pesadelos da vida real.

Capítulo 7 Daisy — Estou me arrumando para ir até um cliente. Posso te ligar amanhã? — Atendi a chamada do meu irmão com pressa para dispensá-lo. — Reunião com cliente de noite? — Dário perguntou indignado. — É um evento social, sim, mas do meu cliente. Depois nos falamos. — Encerrei a ligação e sentei-me na cama, imaginando o que ele poderia fazer contra mim. Céus, meu irmão não era o inimigo. Além do peso, nada me intimidava mais do que Dário saber que eu estava com Neves. Tinha vergonha de como me deixava ser tratada, mais ainda de não ter forças para impedir, por mais hábil que eu fosse no boxe. Se eu repelisse o único amigo que ficou desde minha vida passada, quem sobraria? Ele sempre voltava e a segurança que me dava, nem mesmo eu conseguia proporcionar. Respirei fundo e voltei a me arrumar. Acreditei que ficaria mais tempo sem a visita de Neves, mas ele me ligou, exigindo que me produzisse para participar de uma reunião com seu sócio. Precisava entender o quanto ele se arriscou em me dar uma nova vida e eu tinha que retribuir o esforço. Até quando, meu Deus? Será que deveria minha vida inteira? Coloquei a calcinha minúscula para não marcar o vestido preto drapeado colado ao corpo. Ele disfarçaria qualquer gordura extra que Neves apontou da última vez que nos encontramos. Olhei para minhas pernas, passei

um pouco de hidratante nelas, para ficarem sedosas ao passar a mão e, por fim, perfume. Sandálias de salto alto no pé, minha pequena bolsa para caber celular e identidade, então, estava pronta. A maquiagem e cabelo já tinha feito antes do meu irmão ligar e me colocar em saia justa. Cliente à noite, o que será que passava na cabeça dele? Prostituição? Odiava pensar que parte do acordo que eu tinha, envolvia sexo. O único que poderia me amar como eu era, viciada em trabalho, reclusa e antissocial. Esse evento seria mais um dos que eu tomaria um bom vinho e observaria tudo ao meu redor em busca de inspiração para meus designes gráficos. Sem conversar ou interagir com ninguém. Recebi uma mensagem de Neves e saí do meu aparamento apressada, ele estava do lado de fora me esperando. Admirei-me no espelho do elevador e sorri, sentia-me bonita como há muito não fazia. Toquei a maçã do rosto, onde precisei colocar um pouco mais de base e sorri. Diogo havia ficado apavorado com seu acerto, enquanto eu me surpreendi com sua evolução. Nem parecia um principiante, isso demonstrava sua aplicação e eu admirava isso nas pessoas. Saí do elevador, passei pela portaria e entrei no carro de Neves animada. Inclinei-me para o beijar, mas se afastou virando o rosto. — Vai me sujar com esse batom vermelho puta, Daisy. Não sei por que usa tanta maquiagem. — Acelerou demonstrando todo o seu mau-humor. — Oi — cumprimentei colocando o cinto e me ajeitando no banco. Quando diminuía a maquiagem, ele reclamava. Nunca era o suficiente, toda a alegria que estava sentindo se foi. — Estarei com pessoas importante, precisava que se parecesse com

uma esposa e não alguém que achei na rua. — Não estou vestida como uma prostituta! — rebati indignada. Isso me fez lembrar a conversa com meu irmão e que, talvez, estivesse me comportando como tal. — Deveria ter posto um vestido longo, Daisy. Falei que era uma festa chique. — Continuou com suas insinuações depreciativas. — Podemos voltar para casa, eu troco de roupa. — Estamos atrasados, vai do jeito que está e mantenha a boca fechada. Cruzei os braços e soltei o ar com força. Pelo menos, toda essa conversa ajudaria minha mente a continuar na introspecção. Mesmo se quisesse, não conversaria com ninguém, por medo de ser julgada como Neves fez. Ele parou o carro na frente de um prédio elegante, o manobrista abriu minha porta e sorriu com simpatia, enquanto optei por ficar séria. Quanto menos pessoas ficassem próximas a mim, melhor para meu ego e evitaria brigas. Segurei na curva do braço de Neves, entramos na recepção elegante e esperamos o elevador. Observei a grande marca com o nome do restaurante no alto da parede e analisei todas as curvas e retas. Restaurante San Marino era clássico, tradicional e remetia a uma certa ousadia, por conta de um risco fora de traçado. Quando as portas se abriram, encarei nosso reflexo no espelho e vi uma jovem mulher com alguém mais velho ao seu lado. Tínhamos mais de dez anos de diferença, as rugas de expressão começaram a se destacar em seu rosto, enquanto eu mantinha a pele bem tratada com tantos procedimentos

que fiz e ainda fazia para reduzir as gorduras do meu corpo. Às vezes me perguntava o que uma mulher de vinte e sete anos queria com um de quarenta e um? Ele nos virou quando chegamos no último andar. O salão elegante e com casais ao redor encheu meus olhos. Eu não era a única com vestido curto e sensual, para meu contentamento. Andamos até nos aproximar de um homem ladeado por dois seguranças, que mais pareciam dois armários. — Laerte Azevedo, boa noite. — Neves interrompeu a conversa do homem, que o encarou com impaciência e me analisou da cabeça aos pés. Uma sobrancelha ergueu e fiquei constrangida com seu escrutínio. — Fábio. Estou ocupado, depois conversamos — dispensou-o sem antes pegar minha mão e beijar o dorso. — Muito prazer. — Daisy Levy. Ela poderá fazer negócios também. Franzi a testa confusa com sua fala, Neves me puxou para uma mesa e se sentou, apontando a frente para me acomodar. — Por que disse aquilo? — questionei baixo, meu coração estava acelerando. Ele trabalhava com empréstimos de dinheiro, sabia que parte não era regulado ou oficial. — Eu não tenho mais dinheiro. — Fica tranquila, querida. — Sorriu com cinismo e ergueu a mão para chamar o garçom. — É apenas uma tentativa de atrair o chefe. Ele parecia interessado, olhando demais para seu decote e pernas. — Mas... eu estou com você. — Senti o pânico me tomar, ainda mais por direcionar meus pensamentos para um lado que não estava gostando. Eram muitos sinais indicando prostituição para minha sanidade. — O melhor vinho da casa, por favor — Neves não me respondeu, aproveitou a chegada do garçom, escolheu a nossa bebida e logo se levantou

ao lado da mesa, para conversar com um homem que havia se aproximado. Coloquei a bolsa em cima da mesa e tentei não surtar. A bebida chegou logo, tomei grandes goles para me relaxar. A cada minuto que passava, Neves ia me deixando de lado, o tal Laerte Azevedo estava falando com outras pessoas, mulheres interagiam longe dos maridos e eu... estava sozinha. Tomei a garrafa inteira de vinho enquanto analisava as formas geométricas que formavam um dos quadros ornamentados em uma parede. Levantei-me quando vi uma parede de vidro do chão ao teto, avisei meu querido acompanhante, que me dispensou com um movimento de mão e fui até o lugar. Que vista maravilhosa, a sensação de poder voar e alcançar as estrelas era surreal. Toquei o vidro e sorri, o que aconteceria se caíssemos desse andar? Droga, tinha bebido demais, estava imaginando coisas. — Daisy? — Virei em direção a voz e me surpreendi ao ver Diogo. Ele estava como o vi no estúdio de tatuagem, de terno, elegante e com o olhar mais triste de todos. — Por que está aqui? Dei um passo em sua direção e sorri, apenas porque sabia que quando o fazia, ele retribuía. Engoliu em seco e repuxou um dos lábios para o lado, recebendo minha aproximação sem resistência. — Não tenho escolha. Venho, porque preciso. — Coloquei as mãos para trás e o admirei. Por que percebi sua beleza só agora? — Você não foi na aula de boxe o resto da semana. — Resolvi obedecer às recomendações do tatuador. Semana que vem estarei lá. — Esticou o braço e tocou meu rosto. Senti-me acanhada, ainda mais por estar me admirando tanto. — Me desculpe, mais uma vez.

— Está tudo bem. Acontece. — Peguei sua mão, senti um arrepio emanar dela até a ponta dos meus pés e suspirei, dando um passo para trás. — Desculpe. Você disse que era comprometida, certo? Quem é o sortudo? — Não sou tudo isso. — Dei de ombros e voltei minha atenção para o salão. Envolvida com uma mulher em cada braço, com roupas bem mais chamativas do que a minha, Neves conversava com outros homens longe da nossa mesa. Ignorada, como sempre. Não seria a primeira vez que o veria com outras na minha frente, nosso relacionamento era estranho, quase um acordo comercial. Sempre fui coadjuvante, estava com medo de ser protagonista, como Diogo queria me por.

Capítulo 8 Daisy Voltei a atenção para a parede de vidro e tentei ignorar meu novo acompanhante. Teria que aguentar a solidão para o resto da noite. Diogo se aproximou do meu lado, com as mãos no bolso e observando a mesma paisagem que eu. Ficamos em um silêncio agradável, conectei-me a ele enquanto as estrelas brilhavam cada vez mais para os meus pensamentos. Por que nunca dei uma chance para um outro homem? Ninguém te ama como você é além de mim. Só eu te conheci ante, apenas eu te amarei por inteira. As palavras de Neves enchiam a minha cabeça de insegurança, desfazendo a frágil conexão com um homem interessado. Não conseguiria me relacionar com outra pessoa, devia mais do que poderia pagar. — Prefiro quando sorri — Diogo comentou. — O quê? — Virei meu rosto para ele e lá estava a tristeza em seu olhar. Tentou sorrir e encarei seus lábios, vendo-os muito mais atrativos que os de Neves. — Se te ver lutar já me deixava ligado, me olhando dessa forma... — Mordi o lábio e gostei da reação a minha provocação. Olhou por cima do meu ombro e suspirou. — Acho melhor te deixar em paz, você pertence a outra pessoa. Certo?

— Preferia ser de mim mesma. — Ficamos um de frente para o outro, a intensidade daquele momento estava me sufocando, de uma maneira boa, se isso fosse possível. — Por que não é? — Tem dias que penso em fugir. — Posso te proporcionar alguns minutos longe. — Apontou para uma parede espelhada e virei para encontrar Neves. — Quem é ele? — Eu vou com você. — O homem que me relacionava tinha uma mulher em seu pescoço. Por que se importaria se eu tinha saído do seu caminho? Peguei na mão de Diogo e ele me puxou para uma sala, atrás do espelho. Era um escritório elegante e tão solitário como eu me sentia. A parede de vidro continuava desse lado e a temperatura, tendo-o ao meu lado, subiu muitos graus. Será que ele queria me beijar? Teria coragem de transar com um estranho? Só de pensar, sentia meu corpo inteiro reagir necessitada. Não era a mesma coisa com Neves, que além da dor inicial da relação, as palavras de que apenas ele poderia gostar de mim fazia recuar. Fui para a parede de vidro, bem próxima aquela que me dava visão do salão, sem ser vista e suspirei excitada. De onde tudo isso vinha? — Você é linda, Daisy. — Diogo colocou a mão no meu ombro e desceu pelo braço, o corpo aprovou a ação e meu coração entrou em guerra com a mente. — Queria saber se falaria isso há dois anos — comentei amarga, mas ainda receptiva ao seu toque. Minha atenção se dividia entre o céu estrelado e as pessoas no salão.

A mão de Neves pousou na bunda da mulher ao seu lado e os dois trocaram um olhar. Isso era amor? Peguei no pulso de Diogo e direcionei sua mão para a minha própria bunda. Senti sua respiração mudar atrás de mim e induzida pela raiva, coloquei-a debaixo do meu vestido, para ficarmos pele com pele. Ergueu meu vestido, deslizou a mão pelo quadril e não reclamou das ondulações causadas pelas estrias que existia na superfície. Seu corpo pressionou o meu e a mão, que estava próxima entre as minhas pernas, subiu até o umbigo, na frente. Sua ereção se encaixava na minha bunda com perfeição, mesmo estando vestido. — Mulher, estou ficando louco aqui. — Me toque, Diogo. Apertou minha barriga, esfregou o rosto entre o meu pescoço e cabelo e arfou ao cobrir meu sexo com seus dedos. Era um toque tão íntimo e libertador, como se dessa forma, eu conseguia ser apenas minha. Não era por obrigação, não havia dívida entre nós, era eu pedindo o que queria. Virei o rosto e seus lábios capturaram os meus. A posição era complicada para nos entregar ao beijo necessitado e cheio de luxúria. Seus dedos massagearam meu monte, proporcionando uma sensação maravilhosa. Rebolei para sentir mais, ele intensificou o toque e gemi entre seus lábios. Ele tinha gosto de vinho, minha língua queria degustar mais, tudo o que poderia oferecer. Fizemos movimentos circulares com o quadril, seus dedos acompanhavam e arqueei o corpo quando estava próximo de algo. O que era isso?

Virei-me para ficar de frente e implorei com o olhar. Suas mãos foram para minha bunda, massagearam e sorriu quando abri a boca em busca de ar. — Sou um idiota filho da puta ao pensar que faço melhor que seu namorado. Surpreendeu-me ajoelhando na minha frente, colocando uma perna no seu ombro e me sugando, primeiro por cima da calcinha e depois, colocando-a para o lado. Ele não precisava se sentir mal, ainda mais por ser o primeiro a me fazer sexo oral. Era maravilhosa a sensação de molhado que sua língua dava, o quanto meu clitóris apreciava suas sugadas e o dedo dentro de mim, massageando o ponto certo, que eu nem sabia que existia, me levaram ao ápice. Um tremor tomou conta do meu corpo, o gemido escapou da minha boca e minhas pernas bambearam. Diogo me segurou, ajeitou minha calcinha e vestido antes de se levantar e deixar um beijo casto nos meus lábios. Esse era o meu sabor? Segurei seu rosto, abri a boca e tomei tudo dele, maravilhada que eu tive uma experiência única com um desconhecido. Bem, ele era meu colega de aula no boxe, certo? Quão estranho seria fazer aula com alguém que já transei? Ou, pior, que fui rejeitada? As palavras de Neves, minha dívida eterna e minhas inseguranças ganharam força. Interrompi o beijo e me afastei, buscando fôlego e razão. — Eu... nós... — tentei pôr em palavras o que sentia, mas não consegui. Diogo permaneceu onde estava e, no final da minha andança,

estava de frente a ele. — Foi bom. — Demais, Daisy. Você... — Tocou meu rosto, soltou e suspirou. Por que não falou? Precisava saber o que eu era, o que ele sentia por mim. — Fui imprudente. Se está nessa festa, tem envolvimento com Laerte Azevedo. Quem é seu acompanhante? — Isso serve para nós. — Dei um passo para trás e busquei minha bolsa, não percebi que tinha caído. — Fábio Neves é a única pessoa que tenho contato. Não conheço ninguém além dele, nem tenho pretensão no futuro. — Deve dinheiro a Laerte — comentou franzindo a testa preocupado. Era aquele homem do início que cobrava Neves? O chefão que o deixava irritado, descontando em mim? — Daisy, você precisa se afastar desse homem. Posso tentar te ajudar. — Mais um para comprar minha alma. — Olhei para o seu quadril. — Você me deu um bom momento, preciso retribuir. — O quê? Não! — Afastou-se de mim assustado. O que estava fazendo de errado? Será que pretendia me cobrar na aula de boxe? — Se não resolvermos agora, esqueça. Você perde o direito de cobrar. Analisou-me com cuidado, olhou para o chão por um bom tempo e voltou a se aproximar de mim, com mais determinação do que antes. Ergui o olhar para o acompanhar, não começaria outra situação difícil de lidar. — Considere o pagamento pelo soco que te dei. — Já pediu desculpa. — Achei que não foi suficiente, por isso lhe dei um orgasmo. — Sim. — Sorri ao processar sua fala. Céus, isso era um verdadeiro

clímax, não o que sempre tive e achava que era. — Vamos encerrar por aqui. — Eu não quero, Daisy. — Apontou para a minhas costas e olhei por cima do meu ombro as pessoas no salão. — Neves deve estar maculando um dos banheiros do restaurante com aquela prostituta. Isso mostra que a posição de homem, ao seu lado, está vago e tenho interesse em preencher. — No dia que me livrar de Neves, eu serei apenas minha e de mais ninguém. — É suficiente para mim. — Tocou minha mão e soltei-me dele. — Posso te ajudar, tentar. O único que me ajudou foi Neves, eu devia a ele e não o contrário. Neguei com a cabeça e saí da sala, sem dizer nada em despedida. Busquei a direção do banheiro, escutei gemidos e entrei no feminino, onde o barulho era mais alto. Usei uma das cabines, depois ajeitei o batom que tinha saído dos meus lábios em frente ao espelho e não me surpreendi ao ver Neves e uma das suas recém-acompanhantes aparecendo atrás de mim. Quando me viu, não teve a decência de parecer constrangido. Se possível, estava com raiva por tê-lo pegado em flagrante. — Me espere na recepção, você estragou a noite. — Comentou antes de puxar a mulher e a beijar enquanto me encarava. Suspirei, não sentindo nada além de asco do homem que um dia foi a minha referência de relacionamento. Saí do banheiro e fiz como ordenado, pensando que Diogo era um conhecido e demonstrou mais sentimentos para mim do que Neves em todo o tempo que esteve comigo. Cheguei no térreo e esperei vários minutos até que ele chegou e, apertando o meu braço, tirou-me de lá para esperar o manobrista do lado de fora.

— Vai dormir sozinha hoje. Estou decepcionado com você, por sumir e me obrigar a aliviar com outra pessoa. Pela primeira vez, senti-me agradecida por essa ofensa. Não saberia dizer se conseguiria deixar que outro homem me tocasse depois de ter gozado na boca de Diogo.

Capítulo 9 Daisy Fui para a academia em cima da hora para a aula de boxe, porque não queria ter tempo livre com Diogo. Tive sonhos eróticos com ele, toqueime como nunca tive vontade antes, pensando naquele homem elegante, carinhoso e intenso. Faria os aparelhos da academia depois da aula, precisava controlar minha vontade de pular em seu pescoço e o beijar como fez naquele restaurante. Por que conseguiu chegar tão próxima de mim? Como permiti ser tocada? Culpei a bebida, mas também aquele céu estrelado. Amava as estrelas e tudo o que envolvia o céu. Naquela semana, Oton faria minha tatuagem e gravaria na pele essa adoração. Cheguei no momento que eles estavam correndo ao redor da sala. Mesmo que tentei esperar a distância, Diogo ficou próximo a mim e me cumprimentou com um sorriso de lado. Acanhada, sorri e desviei o olhar, pensando no que me fez. Precisava me concentrar. Fizemos alongamentos, escolhi outro parceiro para fazer um exercício em dupla, mas o instrutor estava interessado em nos unir, passando um trabalho diferente para ensinar o novato. — Como está? — perguntou quando coloquei o colete almofadado

no corpo. Ele vestiu as luvas prontamente e ergueu as sobrancelhas quando percebeu que não respondi. Estava atenta demais nos seus lábios e o quão habilidosos sabia que eram. — Esse exercício vai te ajudar a se livrar de ser encurralado. — Segurei no seu pescoço com as mãos e, se não fosse a gritaria e socos ao redor, tinha beijado a sua boca. — Porra. — Eu sei — sussurrou. Olhou para o lado e socou minhas costelas com suavidade. Respirou fundo várias vezes antes de tentar novamente e fazer com força. — Bom. Mais rápido, mais forte! — exigi e ele fez, esquecendo a posição dos pés. Chutei sua canela, ele percebeu e voltou para a posição. — Isso! Tirei o colete e ele o vestiu, largando as luvas no chão. Peguei-as, porque as minhas estavam longe, desafiei-o com o olhar e apliquei os golpes, escutando-o arfar para se equilibrar. Cada um dos sons que ele emitia forçava minha mente a ir mais longe do que deveria. O treino estava me deixando molhada, muito mais entre as pernas do que o corpo. Apesar da atração sexual aumentar a cada olhar e contato, a luta se sobressaiu. Fizemos outras sequências, falamos sobre as técnicas, o esporte e encerramos a aula entrosados. — Vem, vou te mostrar como faz esse exercício. — Puxei-o pela luva para próximo de um saco de areia. Fiz os movimentos no ar e ele os replicou no saco. — Bom! Quero dez sequencias, cinco vezes. — A aula já acabou, viu? — ironizou apontando para o pessoal saindo do lugar.

— Já cansou, executivo tatuado? — o apelido saiu natural, uma provocação que ele aceitou com um amplo sorriso. Começou a sequência e eu gritei animada, batendo palma e o vendo se esforçar. Estava cansado pela aula, mesmo assim, cumpriu com meu desafio e gritou nos últimos socos. — Isso aí! — Pulei animada, ele se jogou no chão e abriu os braços. Tirei as luvas e fiquei em cima dele, um pé de cada lado da sua cintura. Dei um gritinho quando segurou na minha perna, puxou-me para o chão e foi para cima de mim, com seu quadril bem encaixado entre minhas pernas. — Só para conhecimento, eu já fiz um pouco de jiu-jitsu. Ergui a cabeça para unir nossos lábios e ele aprofundou o beijo, movimentando seu corpo junto ao meu. Algo estava errado, porque rapidamente se afastou e levantou estendendo a mão para mim. — O que foi? — Senti o golpe da rejeição, ele me colocou contra o saco de areia, escondida da porta e sorriu olhando meu corpo antes de pressionar o seu em mim. — Diogo! — Quer ser sua novamente enquanto goza na minha boca? — Fingiu me beijar, busquei seus lábios, mas se afastou. — Ainda poderemos usar esse lugar para foder, mas na nossa primeira vez, preciso de tempo. — Como assim? — Peguei na sua nuca e o forcei a me beijar. Ele fez, rindo contra os meus lábios, eu estava faminta dele. — Quero você, Diogo. — Então, vamos. — Encarou-me determinado. — Meu apartamento é longe, mas posso te levar até lá. Onde fica o seu? Não dava para levar um desconhecido onde Neves tinha fácil acesso.

Meu Deus, teria que pensar nele, porque depois de Diogo, eu nunca mais iria querer ser tocada por aquele homem. — Vamos no seu. Me leva para casa depois? — Amanhã, sim, lutadora. — Sorriu de lado e deu-me o que queria, mais um beijo seu. Apressamo-nos em guardar nossas coisas, fomos para seu carro e, com a mão na minha em cima do painel central, seguimos para seu lar. Os pensamentos de que ele não sabia qual era o meu pior, que gostar de mim agora seria fácil, mas eu poderia voltar a engordar e a magia acabar, tentaram me dissuadir. Não pensava em me casar. Como ele mesmo deixou claro, queria ser dona de mim, sem dívidas, a não ser comigo e minha felicidade. Precisava exigir um preço para Neves, faria o necessário para pagar. Céus, meu irmão queria me ver e eu fugia. Sem aquele homem, não precisaria recuar como fazia. Poderia ajudá-lo no bar, ganhar um dinheiro extra e aproveitar a vida sem medo. Ou será que criaria mais uma dívida para me afundar? Pelo menos, tinha conseguido pagar sem precisar dever. Nunca mais deixaria em aberto um favor, o equilíbrio seria minha prioridade. Esse pensamento era sinônimo de liberdade. Sentia-me como uma criança fugindo na noite em busca de uma aventura. Sabia que era errado, que no final quebraria a cara, mas os minutos de prazer e os bons momentos prometidos por Diogo valeria à pena. Olhei para o motorista, dono dos meus pensamentos. Encarou-me alguns segundos e beijou meus dedos com carinho. Nunca tive isso, era bom e não deixaria escapar, mesmo que meu passado atormentasse minhas

escolhas.

Capítulo 10 Diogo de San Marino Qualquer irritação que passei durante a semana e o final dele, por conta de Laerte, foi substituído pela euforia em ter Daisy tão receptiva. Não me descia saber que ela estava com Fábio Neves, um dos associados do meu primo. Pelo o que consegui saber, sem demonstrar muito interesse, era que o homem estava por um fio. Por que ela se envolveu com alguém tão perigoso? No momento, o que precisava, era me saciar dos seus beijos, seu sabor e seu corpo. Parei o carro na minha vaga subterrânea, dei a volta para pegá-la contra o carro e saboreei sua saliva, seu suor, o cheiro da luxúria. — As mochilas — falou quando a puxei para o elevador. — Droga. — Abri a porta, peguei apenas a dela e curvei o corpo para carregá-la no meu ombro. Estava eufórico e a queria sorrindo para mim. — Diogo! — Meu nome ecoou pelo estacionamento, para minha satisfação. Ela poderia não querer ser de ninguém, mas estaria satisfeito de ser dela por essa noite. Entramos no elevador, deixei que seu corpo escorregasse contra o meu enquanto seus pés buscavam o chão. Sorrindo maravilhada, mordi seu lábio inferior antes de chegarmos no meu andar. — Você é linda — comentei admirando o que enxergava além do seu olhar. Ela pareceu murchar, franzi a testa e passou por mim, abrindo a

porta do apartamento e entrando como se fosse a dona. — Preciso de um banho. — Vamos. — Larguei sua mochila na sala, fechei a porta e apontei para as escadas. — Em cima. — Gosta de altura? — A vista das estrelas é melhor daqui. — Seu olhar iluminou e percebi que tínhamos algo em comum. Aproximei-me dela e subimos juntos, caminhando até meu quarto. Levantei sua blusa e a tirei pela cabeça antes de voltar a beijar sua boca. Tinha fome, necessitava sugar tudo o que queria me dar, porque sabia que nunca seria o suficiente para uma vida. Ela foi para o meu short, tirou-o junto com a cueca e sorriu quando parei de beijá-la para gemer, já que apertou meu pau de um jeito maravilhoso. Massageou minhas bolas, depois subiu e desceu a mão fechada no meu membro. — Gosto do que vejo — falou dominadora. — Meu pau é bonito, eu sei. — Puxei minha regata e ela sorriu fascinada. — Não. Você perdendo o controle. Eu no comando. — Tirou os tênis e fiz o mesmo, concentrada em seu olhar. — Faça o que quiser comigo, Daisy. Eu sou seu. — Não posso retribuir tanta coisa — disse em tom aflito. Coloquei os polegares na sua legging, encontrei a calcinha e as tirei lentamente, perdendo o contato da sua mão no meu pau. Ergueu uma perna, depois a outra e inspirei seu cheiro antes de tocá-la entre as pernas.

Encharcada. — Banho, Diogo — implorou gemendo, não resisti e massageei seu clitóris. — Não antes de te fazer gozar. Esfreguei com uma mão enquanto a outra introduzi um dedo em seu canal. Com o polegar, esfreguei o clitóris e a vi se desmanchar, mais uma vez. — Tão maravilhosa quanto um céu estrelado — comentei me levantando. — Só não me chame de estrela — brincou quando a abracei e caminhamos juntos até o banheiro. — Você é uma constelação inteira. Ergui-a apenas o suficiente para carregá-la dentro da banheira. Abri o chuveiro que tinha em cima dela, molhei nossos corpos e fechei o ralo para enchê-la. — Interessante — comentou se sentando em um canto e olhando ao redor maravilhada. Fiz o mesmo, mas a puxei para meu colo. Alisei suas costas e trouxe sua boca para mim. Minhas mãos foram para suas nádegas, estava apenas começando a conhecer seu corpo. Tentei trazê-la para mais próximo de mim, ela riu e se levantou, ficando debaixo da ducha. — Camisinha, Diogo. — Está na gaveta da cabeceira. — Segurei no meu pau e me masturbei enquanto a via tocar seu corpo. — Vamos brincar apenas. — Que seria? — Estimulou-me a falar. Pelo visto, o tal do Neves

não sabia como tratar uma mulher. — Vou te chupar. Sua boca, seus seios, a boceta. — Vi seu corpo se arrepiar. — Sentirei seu gosto e você também poderá me ter. — Sexo oral — comentou ficando de joelhos e olhando para meu membro ereto. Soltei-o e forcei o movimento, surpreendendo-a. — Ele mexe. — Está te chamando, quer conhecer o seu céu. Pisquei um olho provocador, ela lambeu os lábios e engatinhou na minha direção. A água tinha chegado no meu quadril, logo cobriria a minha cintura e seria mais complicado fazer um boquete nessa posição. Segurou na base do meu pau, olhou-me insegura e alisei seu rosto, puxando sua boca para a minha. — Sou seu, linda. Abriu a boca e mergulhou meu pau em meio a saliva e desejo. Subiu e desceu, saboreando, testando os lábios e formas de sucção. Ergui meu quadril quando vi a água subir de nível, fechei os olhos e tentei não chegar ao clímax enquanto experimentava uma nova sensação. — Oh, caralho, vou gozar. — Tentei abaixar, ela ergueu o olhar e implorou para que a deixasse continuar. Enrolei meus dedos em seu cabelo, forcei o movimento e deixei que minha porra enchesse sua boca. Sugou, lambeu e empurrou meu quadril para baixo quando terminou limpando o canto da boca. Estava inebriado pela luxúria e o quanto que essa mulher estava me dando, mesmo que por acaso. — Acabou a brincadeira? — perguntou vindo para o meu colo e abraçando meu pescoço. Tentei beijar sua boca, ela virou o rosto e suspirou. — Tem seu gosto em mim. — E daí? — Abracei sua cintura, senti-a suspirar antes de relaxar

contra mim. — Daisy? — Está tão bom aqui. — Fugiu do meu questionamento e não me surpreendeu, o idiota deveria fazê-la se sentir um lixo ao invés de elogiar o quanto sabia dar prazer. Aproveitei que estava entregue para alisar suas costas, apertar os pontos que ela mais reagia com o toque e explorar outras partes. Explorei o buraco de trás e ela remexeu gemendo. Parecia sonolenta, mas o corpo estava muito bem ativo. — Isso é bom. Como é possível? — Somos bons juntos. — Virei o rosto e segurei sua nuca para encaixar meus lábios no dela. Relutou apenas alguns segundos antes de me deixar continuar. Enquanto a beijava, ela virava o corpo. Toquei um seio, depois o outro e desci minha mão para sua boceta. A banheira estava quase cheia, por isso interrompi nosso momento para fechar o registro próximo. Ergui seu corpo para chupar um seio, depois o outro. Mantive uma mão entre suas pernas, dois dedos entravam e saiam de dentro dela enquanto a estimulava com minha boca. Jogou a cabeça para trás, gemeu e me permitiu lhe proporcionais mais um orgasmo enquanto meu pau voltava a vida. Para ter um segundo momento, em tão pouco tempo, eu tinha que estar muito conectado com a parceira. Era aquela que me desafiava no boxe, sorria de forma inocente quando achava que ninguém via e tinha a tristeza no olhar camuflada pelo tesão. Descobriria os seus medos, o que lhe afligia e buscaria uma solução. Minha irmã estava longe de ser alcançada, mas Daisy não. Faria por

uma, o que deveria fazer pelas duas. Forcei meus dedos a entrarem e saírem da sua boceta, esfregando seu ponto G e a fazendo gozar com força. De olhos fechados, desfalecida em meus braços demonstrando satisfação com o acontecido, peguei-a no colo e nos levantei, sem me importar com a água que espalhava. O edredom que cobria minha cama impediria que fizesse um estrago maior com o nosso corpo molhado, por isso a coloquei nele com cuidado, abri suas pernas e desci para chupá-la. — Está sensível — comentou puxando meu cabelo para parar. Assoprei, fazendo-a gemer e me soltar. — Porra, como você consegue? Era o que precisava, já quero mais. — Sim, linda. Assoprei outras vezes, depois lambi com cuidado e a preparei para ser preenchida por mim. Estava protelando esse momento, porque algo grande estava prestes a acontecer quando o sexo terminasse. Saí da cama, coloquei a camisinha e voltei, ficando por cima dela e a envolvendo em uma jaula de prazer. Seu peito subia e descia de forma saliente, mostrando o quanto eu a afetava. Tocou meu rosto e me admirou antes de erguer o quadril para que a penetrasse. — Nunca deixe de me olhar assim. — De que forma? — Entrei de pouco em pouco nela. — Como se eu fosse importante. Beijei sua boca antes que falasse demais, com o coração. Era apenas o momento de sexo, conhecermos nossos corpos e desejar ter mais prazer. Entrei e saí dela devagar, degustando seus lábios com os meus, era o nosso sabor e algo apenas dela.

Não demorou muito para perdemos o controle, minha pélvis bater contra a sua com entusiasmo e duelarmos entre ficar por cima e por baixo. Ela me empurrava, montava meu pau e rebolava. Eu a domava e metia fundo, apertando sua cintura, até a ver se cansar tomada por outro orgasmo, sob mim. Gemi olhando-a da forma que pediu e percebi que, não era apenas o momento e encenação, talvez, ela fosse realmente importante para mim.

Capítulo 11 Diogo de San Marino Meu relógio de cabeceira despertou e xinguei baixo por ter que largar Daisy para desligar o aparelho. Vi-a se remexer na cama, voltei para onde estava e seus braços e pernas se esticaram para me receber. — Bom dia — cumprimentei dando-lhe beijos nos ombros. Nossa noite tinha sido maravilhosa, há muito tempo que não me sentia tão bem. — Oi. Que horas são? — Virou na minha direção e uniu nossos lábios fechados. Forcei a passagem da minha língua e ela retraiu rindo. — Preciso me acostumar com você, nada o intimida, nem o hálito matinal. — Em você, só me preocupo quando vai fugir — brinquei cheirando seu pescoço e enroscando nossas pernas. Senti-a suspirar e se rendeu ao beijo digno de café da manhã. — São seis e meia, temos bastante tempo para acordar com dignidade. — Temos sorte que trabalho em casa, faço meus horários. — Abraçou meu pescoço e forçou meu corpo virar, para ficar por cima. Sentouse na minha barriga, tirou a coberta de nós e se exibiu. — Linda — falei deslizando minhas mãos nas suas coxas, depois para a cintura, os seios e quando cheguei no pescoço, meu olhar foi para o dela, que voltou a ficar séria. — Percebi que não gostou quando te elogio. — Nem sempre fui assim, Diogo. — Segurou minhas mãos e deslizou pelo seu corpo, da forma que queria ser tocada. Parou nos seus quadris e passou meus dedos em cima das suas estrias. — Será que me veria como linda se me conhecesse no passado?

— Você se via dessa forma? — desafiei-a. Escorregou para chegar perto do meu pau, que estava ereto pela manhã e rebolou, provocando. Apertei suas coxas e levei meu polegar até seu clitóris. Apoiou as mãos nas minhas pernas e se deixou levar enquanto a tocava. — Por que sempre diz as coisas certas? — gemeu olhando para o teto. — Eu digo, é? — Apoiei-me em um cotovelo enquanto apreciava seus momentos. — Quando acho que encontrarei um motivo para não me envolver mais que o necessário, você rebate com a realidade que não enxergava. — Seu céu está sem estrelas? — Pressionei seu clitóris e a vi curvar para frente, entre a dor e o prazer. — Me deixe tirar as nuvens que te impedem de enxergar o quanto você é linda. Enganchei meus braços nas suas pernas, puxei-a para por sua boceta na minha boca e ela apoiou as mãos na cabeceira enquanto me deixava lhe dar prazer. Apertei sua bunda com força e minha língua brincou com sua entrada enquanto meus lábios esfregavam em toda a sua região pubiana. Rebolou e gozou na minha boca, abrindo um sorriso satisfeito assim que seu olhar encontrou o meu. Ela foi se esfregando no meu corpo, recuando, até que nossas cabeças se alinharam. Apenas uma investida e meu pau entraria na sua boceta, conseguia sentir seu calor e umidade emanando do seu sexo para o meu. — Sua boca é perfeita. — Lambeu meus lábios ousada. — Será que consigo retribuir à altura? — Há outras formas de fazer que não seja eu gozando na sua boca.

— Impedi-a de descer e passei a mão no seu corpo, a relaxando. Sua cabeça repousou no meu peito e minhas mão apreciaram tanto quanto deram. — Gosto de você relaxada assim. — U-hum — respondeu encaixando sua cabeça no meu pescoço. — Trabalha com o quê? — Designer gráfico. — Levantou a cabeça e deixou seus olhos brilharem na minha direção. — Estou apaixonada na logomarca daquele restaurante que nos encontramos. Ela se parece com você. — Olhou para o meu peito e braços, onde tinha tatuagens e voltou para meu rosto. — Clássico e ousado, o melhor de dois mundos. — Me lembre de dar um bônus para a agência que paguei para fazer. Eu queria exatamente isso. — Franziu a testa confusa e beijei seus lábios. — Diogo de San Marino, o restaurante é meu. — Oh. — Voltou a deitar a cabeça. — Você, realmente, está envolvido com o tal Laerte, então? Conhece Neves? — Não sou como eles, se é isso que quer saber. — Deixei a ponta dos meus dedos subirem e descerem pela sua coluna. Queria falar mais sobre minha situação, mas contive meus impulsos, poderíamos estar grampeados. — Por que está com Fábio? — Ele nunca me deixou o chamar pelo nome. — Sua mão pousou em meu coração. — Conheci-o no meu pior momento. Ele me salvou. — Como assim? — Podemos mudar de assunto? — Soltou o ar com força. — Prefiro estar com você, sem pensar na culpa que vou sentir quando me encontrar com ele. — Por que voltaria a falar com aquele idiota? — Sentei-me na cama

indignado e ela fez o mesmo. — Pensei que estávamos tendo um bom momento. — Vai querer se casar comigo agora? — questionou chateada, trazendo o lençol para cobrir seu corpo enquanto desviava o olhar. — Foi sexo, Diogo. — E não podemos começar com sexo? Eu gostaria de, pelo menos, exclusividade enquanto estamos nisso. — Mais? — Havia uma fragilidade na sua voz, em seu olhar e em toda a sua postura, que me irritou. Não por ela ser dessa forma, mas ter a certeza de que alguém alimentou esses sentimentos ruins nela. Lembrando de Orquídea e o que passou na minha frente, sabia muito bem do poder que Neves poderia exercer sobre essa mulher tão linda. Saí da cama e fui para o banheiro, precisava tirar minha mente das suposições e focar no momento. Forçar alguém a um relacionamento, por mais que estava claro nossa química, era pisar na merda de forma consciente. Enquanto aliviava a bexiga, percebi-a entrar no banheiro e se sentar na pia. Limpei-me e virei para a encarar, estava atenta a todos os meus movimentos. — Para quem parece não querer mais do que sexo, você está invadindo meu espaço pessoal. — Fui até ela, que abriu as pernas e me enlaçou nelas. Segurei um seio e brinquei com a língua no bico, encarando-a desafiador. Percebi que exigia muito de si, obrigava seu corpo ser confiante quando, dentro dela, havia fragilidade e dúvidas. — Vai fugir de mim? — Se quiser mais, então aceito. Quero ter outro momento com você. — Suspirou quando brinquei com o outro seio. — Preciso saber se está satisfeito, gozei mais vezes que você desde ontem.

— Não é uma competição, linda. — Segurou meu cabelo com foça e tentou não gemer quando suguei seu seio com a boca cheia. — A balança dos relacionamentos pode ser diferente para cada um. — E como está a nossa? — Arfou quando deixei um rastro de mordidas até chegar em seu pescoço. — Precisando de dar mais dois orgasmos antes que eu faça o mesmo. Abri o armário debaixo da pia, peguei um pacote de camisinha e coloquei antes penetrá-la. Puxei-a pelo quadril, ela se apoiou na pia e me deixou conduzir enquanto observava nossa conexão. — Se toque para mim — pedi enquanto continuava com o vai e vem. Seus dentes morderam o lábio inferior em receio, trouxe sua mão para seu clitóris e movimentei os dedos, como eu faria. — Isso, linda, se dê prazer, seja sua enquanto eu observo de camarote. Lembrar de suas palavras a levaram ao limite. Esfregando com força, gozou rapidamente sob o meu olhar. Ela precisava se descobrir antes de se entregar a mim, não tinha medo dessa competição, desde que eu fosse o único homem em sua vida. Saí de dentro dela, coloquei-a de costas para mim, trocamos um olhar no espelho e flexionei os joelhos para me encaixar com um impulso. Percebi uma tristeza, depois confusão e quando beijei seu pescoço, apertando seu seio com suavidade, ela voltou a luxúria do momento. — Quero te ver gozar dessa forma novamente — sugeri com um rosnado. — Sim. — Quero ser o único a te dar prazer, depois de você mesma. —

Peguei novamente sua mão para ficar entre suas pernas e a senti estremecer. Tirei meu pau, a camisinha e pressionei nossos corpos enquanto a acompanhava se masturbar. — Está sensível? — Sim — gemeu baixo. — Quer parar? — Por favor, não. — Inclinou para frente e começou a rebolar para esfregar meu pau entre suas nádegas. — Goza comigo. — Eu vou, linda. Primeiro você. — Coloca o dedo em mim. — Precisei inclinar para frente também, para seu deleite. — Dois dedos. — É uma honra te obedecer. — Entrei com dois e acelerei o entra e saí, despertando-a para mais uma onda de prazer enquanto meu pau jorrava gozo em suas costas. Ela se debruçou na pia, peguei a porra e esfreguei no seu corpo. Ergueu-se com a respiração acelerada, esparramei pela sua barriga, seios e pescoço. Sua mão apertou meu pulso e trouxe um dedo para boca, sorrindo ao me ver entregue a sua ousadia. Um movimento arcaico de demarcação, com um toque ousado ao degustar-me sem receio. Virou-se para mim, abraçou meu pescoço e a ergui nos levando para debaixo do chuveiro. — Você vai trabalhar agora? — ela perguntou se banhando na ducha. — Hoje é dia de ficar no escritório, vendo a papelada administrativa. E você?

— Tenho dois projetos para entregar, um finalizo hoje, se não tiver desvios. — Jogou água na minha direção e trocamos de lugar. — Podemos nos ver fora da aula de boxe? — questionei pensando em levá-la para um passeio no shopping. — Podemos marcar no Oton? Farei minha tatuagem essa semana. — Virou-me e conferiu o resultado da minha tatuagem. — Ele é foda, estou empolgada. — Sim, mas quero te ver antes. Um sorvete? — Mudou-me de posição para ficar de frente e sorriu. — Esqueça comida quando está comigo. Que tal uma caminhada na quadra da academia, antes do boxe? — Você vai comer no meu restaurante. — Negou com a cabeça olhando para o corpo. — Preciso me afastar de Neves. — Hei. — Ergui seu queixo quando olhou para baixo. — Faça por você, por mais que te quero exclusiva, Daisy — pontuei, porque não compartilhava a minha mulher. — Se precisar de ajuda com ele, qualquer que seja o acordo entre vocês... — Eu dou conta de resolver, tudo bem? Só preciso de tempo, ele some de vez em quando. Peguei seu rosto com as mãos, dei-lhe um beijo demorado e interrompi depois de deixar vários selinhos em seus lábios. Não precisava de palavras quando minhas ações estavam claras, estava disposto a iniciar um relacionamento, ela poderia contar comigo e ficaria honrado de também tê-la para mim. Qualquer parte que quisesse me dar. Era um início.

Capítulo 12 Daisy Olhei para a décima mensagem que Diogo me enviou e sorri como a adolescente que fui. Privada de romance e paquera, tendo Neves como única referência, ter aquele executivo tatuado como admirador estava fazendo muito bem para o meu ego recém descoberto. Trocamos números de telefone, não questionou pelo meu apartamento ser próximo da academia e eu ter escolhido o dele para o sexo e nos falamos pelo dia e pela noite. Meu corpo me lembrava da noite e da manhã maravilhosa que tive com Diogo. Ele me ajudou a ganhar confiança, fazia com que me sentisse bem ao querer dominar a situação. Enquanto um lado da minha vida estava estrelado como o céu que amava admirar, o outro parecia trevas, bem semelhante a tatuagem de Diogo. Tinha o número de Neves, mas não arranjava coragem de chamá-lo para encerrar nosso acordo. Estava estressado, brigou comigo da última vez que nos vimos e não queria que um mar de lama fosse posto em cima dos meus sentimentos. Ele tinha poder sobre mim, precisava de tempo antes de expulsá-lo da minha vida. Claro que perguntaria o seu preço, queria quitar qualquer sacrifício que tenha feito para mim. Deixei as ligações do meu irmão sem atender. Estava fugindo, era mais um assunto que não conseguia resolver sem antes afastar Neves da minha vida.

Olhei o horário, troquei de roupa e fui caminhando para a academia esperar meu companheiro de corrida, a mochila ficou no guarda volume da sala de boxe. A antecipação da sua chegada gerou um rebuliço no meu peito. Vi seu carro, acompanhei-o até estacionar e, para minha surpresa, saiu e me cumprimentou com um beijo na boca com gosto de uva. — Tomou vinho? — questionei assombrada e ele riu fechando o carro. — Suco de uva Bortolini. Estou com algumas garrafas comigo, para tomarmos em casa. — Pegou na minha mão e saiu me puxando pela calçada. Estava atônita demais com essa ação padrão de casal. Estava acontecendo comigo mesma? — Como foi seu dia? — Entreguei o projeto pendente e fechei mais um job hoje. — Peguei o ritmo e começamos uma corrida leve. — Parabéns. Você consegue se manter só com o trabalho em casa? — Sim, mais do que ganharia sendo empregada. Tem meses muito bons, outros nem tanto. Estava guardando dinheiro para fazer uma viagem, mas... — Neguei com a cabeça. — Enfim. É bom. — Neves tem a ver com isso? — questionou ficando sério, o nosso clima animado havia dissipado. Semelhante ao meu homem que me conheceu com mais quilos e mais dívidas, Diogo diferia de Neves em algumas coisas, mas em outras, quem precisava fazer diferente era eu. — Pode falar comigo. — Eu resolvo, pode deixar. — Dei passos mais apressados e ele teve que acelerar para me acompanhar. — Se está conversando, não está correndo o suficiente. — Vou te pegar então — provocou e dei um gritinho fugindo da sua perseguição.

Rápido demais me alcançou, colocou-me em seu ombro e voltou a me pôr no chão alguns passos depois. Estávamos rindo novamente, algo que estimava muito mais do que suas tentativas de me salvar. Era momento para que fizesse por mim mesma. — Pedi para o meu chef de cozinha preparar um prato saudável, digno de atleta — comentou divertido. — Não vou comer com você. Meus hábitos são diferentes, eu ganho peso muito fácil. — Mesmo com dez quilos a mais, vou continuar te chamando de linda — provocou, mas ele não sabia o quanto me afetava esse assunto. Não era dez, nem vinte quilos, mas cinquenta. Foram dores, fome, procedimentos de estática doloridos e, mesmo assim, ainda olhava no espelho e continuava me sentindo gorda. O ideal estava longe de ser alcançado. — Se não for tão difícil para você, gostaria de te ver no meu restaurante — falou com seriedade, virou para correr de costas enquanto me encarava e voltou ao meu lado. — Acho que estou indo longe demais. Um passo de cada vez, vamos fazer sua tatuagem primeiro. — Eu vou. — Trombei nele enquanto corria e forcei um sorriso. — Não perderia por nada de ver o céu estrelado daquela sala. — Lembrei-me do nosso primeiro momento e o quanto não sabia como agora. — É sua. — Vamos criar outras lembranças lá, o que acha? — provocou e sorri em concordância, também queria fazer isso, ainda mais que alimentava o lado ousado que havia em mim. — Você pode comer em mim enquanto observo o luar. Puxou-me pela cintura, parou nossa corrida e me beijou, inclinando

meu corpo para trás, como em um filme de cinema. Dei um tapa leve no seu ombro, rimos e seguimos caminhando, de mãos dadas. — Podemos matar a aula de boxe? — questionou sonhador. — Não. E você, se controle, senão vou te acertar sem dó. — Quando aliviou para mim? Viramos a quadra, caminhamos até chegar na academia e entramos direto para a sala dos fundos. Estar com Diogo transformou esse momento de bom para muito melhor. Estava nas nuvens. Treinamos separados, para a minha sanidade. O homem que estava comigo tentou se aproximar, conversar e me elogiar, mas diferente de Diogo, não me sentia confortável de ser tão aberta. Percebi o quanto era diferente, a confiança que tinha estando com aquele homem e temi que seu poder sobre mim poderia ser o mesmo que Neves possuía. Ou tinha. Será que ele não vai me procurar tão cedo? Conversei com o instrutor no final da aula, para fugir de Diogo. Era infantil da minha parte, mas falar sobre boxe acalmava meu coração e com isso, pensaria racionalmente ao invés de perder o controle. Fui até minha mochila conferir meu celular, gemi ao ver as ligações de Dário e tentei não me sentir culpada. Será que conseguiu o lugar para montar seu bar? Precisava conversar sobre o material digital que ele iria precisar, mas isso implicaria em ter que responder as perguntas que não queria enfrentar. Odiava a sensação de estar em dívida, ainda mais aquela que não conseguia pagar.

Senti mãos firmes e conhecidas na minha cintura, olhei por cima do ombro e fui surpreendida com um beijo. Diogo não pareceu perceber meu distanciamento, apesar da curiosidade ao me ver olhar a tela com chateação. — Celular de super herói? Cheio de teias? — Revirei os olhos pela brincadeira, a tela estava quebrada por conta de Neve. Ele acenou com a cabeça. — Vamos? — Onde? — Tentei puxar da memória o próximo compromisso firmado com Diogo. A tatuagem seria daqui dois dias e o jantar, no seu restaurante, ainda não tinha combinado o dia. — Para o meu carro ou seu apartamento. — Inspirou meu cheiro, que mais era suor do que outra coisa agradável. O pior de tudo era, por que me sentia excitada com essa peculiaridade dele? — Se estiver exagerando, só me mandar embora, linda. A gente se vê no Oton, para a sua tatuagem. — Para o seu carro, nunca fiz dentro de um. — Virei-me para ele e seu olhar se iluminou. Mal sabia que nunca coube direito em um banco e depois que passei a estar confortável, Neves não pensava em nada além do básico, discreto e sem graça. Por que nunca pedi que me fizesse gozar? Se ele era o único que gostava de mim como eu fui, por que não manteve o sentimento nos nossos momentos? Esquecendo o passado, guardei tudo na bolsa e fomos para o estacionamento. Aproveitando o escuro, entramos no banco de trás e me joguei montada de frente, aos beijos. Rebolei no seu colo enquanto ele gemia contra meus lábios, a roupa de academia era ótima para que nosso corpo se conectasse como se estivéssemos sem nada entre nós.

Tirei seu pau de dentro do short e o manuseei, imaginando-o dentro de mim e proporcionando todos os momentos de prazer que sonhei. Tentei tirar a calça ainda em seu colo, suas mãos apertaram meus seios e rosnei frustrada por não conseguir liberar passagem para o meu sexo. — Calma, linda. Você pode se sentar de costas para mim. — Quero de frente — exigi séria demais. De costas me lembrava Neves, confundia minha mente e mesmo sabendo que Diogo conseguiria me dar novas lembranças, como em seu banheiro, eu queria do meu jeito. Beijei-o com fome, senti uma pegada na calça legging que usava e congelei quando percebi que rasgou próximo da costura. Arregalei meus olhos para ele, que esticou o braço, mostrou-me uma camisinha e a colocou, despreocupado. — Seu desejo é uma ordem. — Você rasgou minha calça — atestei o óbvio, atônita. — Compensarei com outra e um orgasmo. Venha, monte em mim. Deixei para processar as consequências depois, coloquei a calcinha de lado, coloquei-o na minha entrada e gememos quando nos conectamos por completo. Pessoas passaram por nós para entrar no carro no lado, abracei forte o pescoço de Diogo, escondi meu rosto e rebolei enquanto não poderia dar tudo de mim. Sua mão alisou minha bunda, foi até meu buraco mais escondido e o massageou. Deveria retesar ou sentir medo, mas era tão confortável estar com esse homem. O carro saiu, voltei a ficar ereta e subi e desci, fazendo questão de me esfregar na sua frente e rebolar no final. Ele mordia o lábio, continuou a me tocar mais no fundo e sorriu quando abri a boca surpresa, um dedo entrou

em mim. — Gostou assim? — Continua — ordenei acelerando os movimentos. — Sou seu, linda. — Acredito em você. — Confia em mim, porque sabe que te dou o controle. — Movimentou o dedo para dentro e fora enquanto eu subia e descia no seu pau. — Eu sou dona de mim — falei estrangulada, porque estava prestes a gozar de uma forma diferente. — Diogo! — Você me faz perder o controle, linda. Ergueu o quadril para confrontar com meu ritmo, gozamos juntos e seus braços me estrangularam, de um jeito bom. Retribuí com o aperto em seu pescoço e o beijei com um duelo firme de línguas e lábios. Que loucura. Ajudou-me a levantar, ele tirou seu pau de dentro de mim e suspirou aliviado. Mesmo na penumbra, vi o sorriso satisfeito combinar com o meu cheio de luxúria. — Podemos dormir juntos hoje? — pediu. — Tenho trabalho. Nos encontramos no dia da tatuagem. — Beijei sua boca, saí do seu colo e olhei para o rasgo entre minhas pernas. — Aqui. — Diogo entregou uma camiseta de manga comprida. — Amarre na cintura, vai estar tudo bem para entrar no seu apartamento. — Fui abrir a porta, ele impediu. — Eu te levo até a porta, me dê mais alguns minutos com você. — Quem vê, pensa que está apaixonado.

— Talvez seja. Esperando confirmação da outra parte. Pulou para o banco da frente, sem perceber que tinha colocado no meu céu mais estrelas brilhantes.

Capítulo 13 Daisy — Dário, me desculpa. Estou enrolada com alguns serviços e os treinos de boxe. Larguei o celular e esqueci da vida. — Atendi a ligação do meu irmão sem querer e antes de cumprimentá-lo, desatei a falar. — Daisy. — Então, eu sempre pensava em te ligar, mas... — O que está acontecendo? — Peguei muito serviço — respondi aflita. — Não, minha irmã. Há mais de anos você se afastou, com a ilusão de que poderia fugir de conversar comigo. Estou aqui para te ajudar e não julgar. Se está trabalhando com algo ilegal ou fez... — Para, Dário. Não virei prostituta. Eu precisava de um tempo. — Para quê? Tempo a gente dá de coisas ruins, pessoas chatas e problemas. Se está me enquadrando em um desses três itens, é sério, vou aí colocar juízo na sua cabeça, menina. Me passa o seu endereço. — Nem sempre é preto no branco. Eu te encontro, vamos conversar pessoalmente. — Puta que pariu, Daisy! Encerrou a ligação e joguei o aparelho contra a parede, contribuindo para quebrar um pouco mais da tela. Lutei contra o choro, ainda mais porque precisava terminar uma apresentação antes de pegar um táxi e ir para Oton fazer a tatuagem.

Sem reserva financeira, o dinheiro que recebi esses dias foi para pagar as contas. Não tinha percebido o tanto de cartão de crédito que gastei, odiava perder o controle, ainda mais quando já tinha acontecido uma vez. Os quilos a mais, o desespero e uma dívida era a combinação perfeita para me enfiar em outro buraco. Andei pela casa nervosa, dei socos no ar e perdi tempo acalmando meus nervos. Pedi um dia a mais para meu cliente, tomei um banho e fui mais cedo até o tatuador, pegando um táxi próximo do ponto de ônibus da avenida, esquecendo o bendito aparelho celular jogado no chão do meu escritório. Cheguei no estúdio dando de cara com Diogo. Em pé, com um papel na mão, ele largou tudo e veio me recepcionar com um beijo carinhoso nos lábios. — Tentei te ligar a tarde inteira, linda. Vim para cá e estava prestes a ir para a sua casa. — Alisou meus braços e pisquei os olhos em busca de controle. — Tudo bem? — Sim. Esqueci o celular em cima da minha mesa de trabalho. — Desviei dele e fui cumprimentar Samira, que tinha um olhar curioso para mim e ele. — Olá, tudo bem? Vim fazer a tatuagem. — Oton está terminando e vai te chamar. — Os pequenos pedaços de papel me chamaram atenção. Eram estrelas, miúdas e gordinhas amontoadas em um canto. — Ele estava fazendo tentando não surtar enquanto você não chegava. Olhei para trás, não vi Diogo e meu coração acelerou. Estava no piloto automático, estressada e encurralada. Odiava me sentir assim, ainda mais que não conseguia sair com facilidade desse estado. A porta da frente se abriu, o homem que aquecia meu coração entrou e mostrou o celular, indicando que tinha recebido uma ligação. Seu semblante

tinha mudado e esperava que não tivesse sido algo que eu tinha feito. — Descobriu meu presente para você? — Apontou com o queixo para o balcão e se aproximou. — Como assim? — Peguei as estrelas e as admirei. — Você que fez? — Sim, mas aprendi com Sâmia, filha de Samira. — Pegou um pedaço fino e comprido de papel, dobrou habilmente, até que se formou uma estrela gorduchinha. Colocou na palma da minha mão e sussurrou: — Você é uma constelação inteira. — Vou começar a cobrar ou transformar em um reality show. — Oton e o cliente apareceram na recepção, os dois se despediram e ele veio nos cumprimentar com um abraço. — Dois casais já se formaram nesse lugar. Próximo passo, fazer bebês. — Não fale merdas, vai assustar Daisy. — Diogo puxou meu corpo abraçando meu ombro e beijou minha testa. Estava anestesiada, o presente que havia me dado queimava minha mão. — E então, margarida? — Percebi que foi apenas uma provocação amistosa. — Pronta para tatuar o desenho mais foda que já fiz? — Minha tatuagem é a melhor — Diogo brincou e Oton nos convocou para entrar com um aceno de mão. — Espera. — Tentei pegar todas as estrelas, os papéis e caiu metade no chão. Todos riram, inclusive eu mesma quando agachei e mais ainda foi ao chão. — Aqui. Guarde todas elas. — Samira entregou-me um saquinho e consegui pegar aquelas preciosidades. Levantei-me e Diogo entregou-me mais uma, com o olhar brilhando de admiração.

Sentia-me importante ao seu lado, não poderia descartar um ato tão singelo quanto esse. Entrei na sala, Diogo sorria quando tirou a sacola e minha bolsa das mãos. — Relaxa, estou com você. — Quer escolher as músicas? — Oton questionou e virei em confusão na sua direção. — Você não me deixa escolher as músicas — Diogo resmungou se sentando no sofá próximo da maca. — Chato pra caralho, se reclamar mais um pouco, te expulso no chute — o tatuador soltou bravo, bateu na maca e sorriu para mim. — Pode se sentar, vou preparar seu braço. Como estava de regata e top esportivo, não me preocupei como faria. Virei o rosto para Diogo, ele se aproximou e alisou meu cabelo antes de demonstrar preocupação. — Aumente o som, Oton — ele pediu. Fui surpreendida com um beijo na boca ao som de rock pesado antes dos seus lábios grudarem no meu ouvido. — Você está preocupada, percebi. — Queria fugir — comentei quando se levantou para me encarar de cima. — Esse discurso é da minha irmã. Pode mudar a playlist. — Oton piscou um olho e passou algo no meu braço. — Vou posicionar o desenho primeiro. — Tudo bem. — Respirei fundo, como se a agulha fosse me

machucar naquele momento. — O que foi, linda? — Diogo perguntou baixo, fiz leitura labial por conta da música. — Sinto que estou patinando. Quero fazer algo, mas estou presa. É frustrante. — Mete o dedo no cu dele e pronto. O tipo dele adora um fio terra. — O tatuador riu, Diogo xingou e tentei me concentrar na brincadeira, mas estava fascinada pelo rascunho posto no meu braço. — E então, gostou do seu céu cheio de estrelas? — É perfeito, Oton. — Teria ficado maior se você fizesse antes — ergueu as sobrancelhas mostrando diversão. Aquela mulher não era metade do que tinha me tornado hoje, mas também, era mais livre, sem amarras, apesar das dívidas. — Vamos comemorar comendo um fastfood? — Desde aquele dia não coloco esse tipo de comida na boca. Não posso. — Apertei os lábios e virei para Diogo, que observava nossa interação atento. — Tenho problema com peso, Oton me conheceu no meu pior. — Depois das mulheres da minha vida, a mais bonita de todas. — Oton empurrou a cadeira e foi preparar o material. — Não era antes, estou tentando ser agora. — Minha tatuagem tem poderes. Você vai ver. — Piscou um olho e encarou Diogo, que arregalou os olhos. Os dois começaram a cantar, prestei atenção na música e senti meu peito apertar com a letra de Gone Way, de Five Finger Death Punch.

“E parece que O céu está tão longe E isso dói”

Não queria estar tão longe assim do céu, por isso o tatuaria no meu braço, para sempre tê-lo próximo a mim. Olhei para Diogo, que cantou a última estrofe da música olhando em meus olhos.

“O mundo está tão frio Agora que você foi embora”

— Não vá embora, linda. — Chega de serenata, essa melação toda já subiu minha glicemia para 150! Vá para suas estrelas do caralho, me deixe fazer o meu trabalho. — Oton expulsou-o de perto de mim, observei-o ir se acomodar no sofá, mexer com o papel e encher meu saco de estrelas de papel enquanto eu estava sendo tatuada. No final da noite, quando Oton terminou seu projeto em mim, percebi que teria um céu estrelado no meu braço e uma constelação de papel feita por Diogo. Acho que estava me apaixonando.

Capítulo 14 Daisy Tão concentrada na tela do computador, empolgada com o trabalho que tinha em mãos, não escutei a porta do apartamento abrir, muito menos que existia alguém me observando da porta do escritório. Fui perceber quando me levantei para ir ao banheiro e gritei ao ver Neves me encarando, quase fiz xixi nas calças. — Meu Deus! — Coloquei a mão no coração e tentei passar por ele, mas não saiu da porta. — Preciso ir ao banheiro. — Está fugindo de mim, Daisy? — questionou irritado, conferiu-me da cabeça aos pés, vestia uma legging surrada e top esportivo, minha roupa habitual de trabalhar em casa. Seu olhar fixou no meu braço, a tatuagem de céu estrelado. Segurou-o com força e chacoalhou. — O que é isso? — Vou fazer xixi nas calças, me solta! — Apertou um pouco mais o meu braço antes de soltar. Apressei em direção ao lavabo, que estava mais perto e ele me acompanhou, impedindo que fechasse a porta. Merda, o que será dessa vez? Puta que pariu, esse era o momento ideal para terminar tudo com ele. Fechei os olhos e esfreguei o rosto com as mãos para acalmar a ansiedade. A saliva desceu pela minha garganta como se fosse tijolo, não dava mais para protelar. Desde meu último encontro com Diogo, a tatuagem e minha constatação que estava gostando demais dele, mergulhei no meu trabalho e

não comprei outro celular. Não foi apenas a tela que quebrou no meu surto irritado, mas ele como um todo. Quando fui atrás do meu cartão de crédito para escolher outro aparelho, descobri que estava me envolvendo em uma nova bola de neve de dívidas. Como eu estava gastando tanto? Por que havia tantos parcelamentos? Deveria trabalhar e suspender as atividades que não me traziam retorno financeiro, incluindo a aula de boxe, Diogo e meu irmão. Neves, como demorava para aparecer, não me preocupei. Talvez fosse uma tentativa do meu inconsciente de não me fazer sofrer ao pensar em como seria essa conversa de encerramento. Eu devia muito a ele, sabia o quanto foi bom para mim, o único que gostou do meu antigo eu. Mas... eu queria me libertar. A tatuagem de céu estrelado me dava forças, estava próximo do lugar que mais me inspirava. As estrelas, elas eram parte de mim. Saí do banheiro cabisbaixa, sabendo que tinha feito algo errado. A culpa estava me correndo, a insegurança queria tirar meu chão e afastar Neves era dar um ponto final aquela mulher com problemas de autoaceitação, endividada, que não se amava. — Vai continuar com essa cara de merda para mim? — rosnou se aproximando e eu desviando para a sala. — Está tudo bem? Quer algo para beber? — perguntei suave, precisava aliviar antes de soltar a bomba. Encarei-o preocupada e seu semblante foi mudando para mais calmo. Para meu alívio, ele sorriu e se aproximou, abraçando meu corpo e puxando meu rosto para beijar minha boca. Tentei virar o rosto e manter os lábios unidos, ele não gostou. — É assim que me recepciona? Estou com saudades, gordinha! —

Beliscou com força meu queixo, abri a boca para reclamar e sua língua me invadiu. Antigamente, não sentia nada, não era bom nem ruim. O seu toque, o sabor e tudo o que fazia me consumia com o pior dos sentimentos. Não era ele que aquecia meu coração, muito menos dava esperança de que eu teria um companheiro que amava as mesmas coisas que eu. Odiava abandonar a única pessoa que me deu a mão no passado. Porém, a culpa de estar traindo Diogo pesava muito mais. A bile subiu pela minha garganta e, percebendo o reflexo de vômito, empurrou-me para longe, caí sentada no sofá. — Que merda está acontecendo com você? Fale, porra! Por que não me atende? — Colocou as mãos na cintura e me olhou por cima, ele parecia meu pai dando bronca. — Meu celular caiu e quebrou. Desculpa — respondi apontando para o escritório. — Compre outro. Se não quer mais minha visita, atenda a porra do telefone, faça o pagamento e trabalhe. — Que pagamento? — questionei desesperada, porque não paguei o cartão completamente e tinha um pouco para comprar comida na conta. — Preciso de mais dinheiro. Como você não serviu para bosta nenhuma naquela festa, não consegui negociar a dívida e preciso de mais dinheiro antes do final do mês. — Neves, estou me endividando novamente. — Levantei-me para que nosso olhar ficasse na mesma altura. — Não consegui pagar o cartão, ficarei sem celular até terminar esse trabalho. — Com o quê você gasta, Daisy? — Abriu os braços estufando o

peito. — Quem te deu esse apartamento fui eu. Seu computador, as roupas, essa porcaria de tatuagem... — Pegou no meu braço e tentei me livrar, mas se irritou com meu choramingo de dor. — Você me deve, gordinha! — Quanto? — questionei alto e o enfrentei. — Não acho que devemos continuar juntos. Preciso viver minha vida. Dê o valor completo dessa dívida, eu... O tapa de dorso de mão veio forte no meu rosto. Ele não me soltou, pelo contrário, trouxe meu rosto para próximo do dele e destilou toda a sua fúria. — Valor completo? — ironizou em tom perigoso. — Sua alma é minha. Não quer mais ser fodida por mim? Ótimo, já estava cansado dessa bunda gorda e sua frigidez. Fique sozinha e morra na siririca, porque nenhum homem vai te querer. — Pare — implorei, porque suas palavras atingiram um ponto sensível em mim. Céus, comi tão pouco essa semana e ainda não foi o suficiente para ser vista como magra? — Vai me escutar. — Continuou apertando meu braço e abaixei a cabeça para controlar as lágrimas, pela dor e a humilhação. — Fui o único que te ajudou. Gorda e feia, se não fosse eu para tirar a virgindade da sua boceta peluda, ninguém mais faria. Nenhum homem vai ficar com alguém assim. — Me solta. — Forcei para me livrar e mesmo com suas unhas me arranhando, consegui. Ainda que uma parte da minha mente sabia que ele queria me machucar, que nada era verdade, havia o lado inseguro dominando o momento e engolindo todas as merdas que ele falou. — Vá embora. — Esse apartamento é meu, Daisy. Vá você. — Apontou para a rua e congelei no lugar. — Eu arrumei sua vida e o pagamento é você destruir a

minha. Estou precisando de dinheiro, posso morrer se não pagar Laerte. Então, se está pouco se fodendo para mim, eu farei o mesmo. — O quê? — Desviei dele e fui para o quarto, não queria continuar conversando, eu o queria fora da minha vida. Se fosse possível, que levasse a culpa que sentia junto com ele. — É isso mesmo. Vou morrer, porque você está preocupada em pagar a porra do cartão de crédito. O banco não coloca uma arma na sua testa, mas a família Azevedo sim. — Ele acompanhou e me observou andar pelo quarto. — Ou... — Ou o quê? — soltei irritada, ele sorriu malicioso e olhou para a cama. Um calafrio de medo me fez abraçar o corpo e arregalar os olhos. — Uma despedida, gordinha. Me dê esse rabo que tanto pedi, vou te fazer ver mais estrelas que essa tatuagem ridícula que fez. Odeio essas coisas, eu não quero foder com alguém rabiscada. — Não! — respondi indignada. — Chega, Neves. Nunca fomos namorados, foi humilhante estar em um lugar onde todos sabiam que eu era sua acompanhante e você transava com outra do banheiro do restaurante. Se você precisa de dinheiro, me diga quanto e vou te entregar tudo. — Você vai sair desse apartamento, vai me pagar e eu vou ter a minha despedida, gordinha. — Deu um passo para frente e fiquei em posição de combate. Ele fechou a cara, recuou e pegou o celular, fingindo não ter se abalado pela minha ação. Nunca tinha o enfrentado. Poderia pagar pelo meu sumiço e o dinheiro, mas não deixaria que tocasse meu corpo novamente. — Max? É Neves, preciso que veja minha dívida com Laerte e se há outras formas de pagamento além de dinheiro. Tenho material humano para negociar. — Tá louco? — Avancei nele, que pegou no meu cabelo com força e

me fez ajoelhar na sua frente. Gritei de dor enquanto ele ria. Por que tinha esquecido todos os movimentos de defesa pessoal naquele momento? — Sim, meu pagamento está precisando de uma boa pica para encher a boca. — Colocou meu rosto na sua virilha e o esmurrei na coxa, ele aumentou a pressão no meu couro cabeludo. — Perfeito. Vou providenciar o pagamento. — Vou na polícia, Neves. Você está ficando louco. Acertou uma joelhada no meu estômago, gemi de dor e me jogou no chão encolhida. Pisou na minha cabeça e não consegui reagir, estava chocada demais com o que tinha escutado. — Vou te mandar o valor e o local que você levará o dinheiro. Até o final do mês, gordinha, ou virão atrás de você. Eles não são tão cuidadosos como eu. — Gemi me encolhendo quando deu um passo para trás. — Saia desse apartamento e leve apenas as suas roupas. Se acionar a polícia, dona Paula e seu Alonso irão pagar pelo erro da filha. — Meus pais não — implorei tentando me levantar. As lágrimas escorreram, porque sabia que não conseguiria enfrentar essa situação sozinha. Estava perdida. — Eu vou pagar, nem que faça um empréstimo no banco. — Roube se for necessário, não me importo. A morte será um presente quando a família Azevedo tocar em você e em quem você se importa. — Senti o cuspi tocar minha bochecha, limpei o rosto rapidamente junto com as lágrimas. — Compre um celular, responda minha mensagem, senão, vou te preparar antes de te entregar sem alternativa. Finalmente deu-me as costas e saiu do apartamento. Queria me sentir segura, aliviada, mas o sentimento era pior do que antes de encerrar meu relacionamento com Neves. Diogo havia me falado sobre o perigo que era o tal Laerte Azevedo, mas será que nem a polícia poderia intervir?

Era final da tarde, não conseguiria um aparelho fácil se não fosse no shopping. Com que dinheiro, por Deus! Voltei a me deitar em posição fetal no chão, chorei me esquecendo da boa sensação que estava enquanto trabalhava. Com Neves agindo dessa forma, agora entendia que ninguém conseguiria me ajudar. Por mais inconstante, ele era meu pilar, aquele que sempre me ajudou e deu carinho. Nos últimos meses, estava ao contrário, mas nada apagava o que fez para mim, ainda mais que me lembrava diariamente. Afastei-me de Diogo, a última ligação nossa tinha sido uma discussão que não conseguiria retomar. Ele queria me ver, eu continuava fugindo. Como envolvê-lo nesse pesadelo? Não poderia deixar que nada de mal acontecesse aos meus pais, mesmo que pouco nos falávamos. Era tudo culpa minha e o fardo estava pesado demais. Exausta emocionalmente, engatinhei até minha cama, deitei-me e dormi esperando que quando acordasse, tudo estivesse bem.

Capítulo 15 Daisy Acordei com vontade de dormir mais um pouco. Como a necessidade de concluir o trabalho e não deixar mais um assunto pendente na minha vida, levantei-me, tomei um banho rápido, arrumei um shake para tomar e aplacar a fome que sentia e fui para o computador. Não consegui focar em nada que não fosse arrumar um celular. Conferi o saldo da minha conta, meus cartões e percebi que teria que usar um saldo emergencial pré-aprovado da minha conta. Os juros do parcelamento eram altíssimos, mas estava sem alternativa. Com raiva, fiz a operação no site do banco, pedi um prazo maior para o meu cliente e fui para a rua gastar meu último recurso. Para onde iria depois de fazer o que ele pediu? Estava tentada em testar a polícia, o tal Azevedo não poderia ser tão poderoso a esse ponto. De uma certa forma, só me sentia ameaçada emocionalmente, não fisicamente. Peguei um táxi próximo de casa, fui para o centro da cidade e habilitei o celular mais barato que consegui. A cada clique, precisava esperar o processamento, apenas para agravar minha ira. Voltei para meu apartamento e não entrei, fui para a academia, correr uma maratona e descarregar essa energia estressada. A recepcionista demonstrou surpresa com a mudança de horário, escolhi uma das esteiras, coloquei os fones de ouvido no celular e comecei caminhando, depois trotando e minutos depois, estava correndo.

Não havia música ou algo para ser ouvido, era apenas uma tentativa de me alertar caso chegasse alguma mensagem de Neves. Meu olhar estava longe enquanto ofegava na corrida. Não percebi nada ao meu redor, nem olhares, nem aproximação. Tinha que surgir uma solução para os meus problemas, mais especificamente, para onde iria quando saísse daquele apartamento? Onde conseguiria outra ferramenta de trabalho? Quase tropecei quando a velocidade da esteira diminuiu sem que eu acionasse. Olhei para o lado e vi a mão de Diogo manipulando o painel, seu semblante era chateado. Caramba, estava exausta, não dava para lidar com outra cobrança, mesmo que a presença dele me fizesse bem. — Precisamos conversar — falou suave. Peguei sua mão, tirei de perto e voltei a aumentar a velocidade. — Estou terminando o exercício. Poderia respeitar o meu espaço? Percebi que deu passos para trás, sentou-se em um dos aparelhos e ficou me observando correr. Seria possível continuar com minha encenação por toda a manhã? Um tempo nos encarando foi o suficiente para que revivesse a parte boa de estar com esse homem. A única cobrança que existia, era que eu sorrisse, ele era alguém que me fazia feliz. Mas Neves também não era no início da nossa relação? Quem me garantia que daqui dois anos ele não se tornaria alguém pior? Sentindo o pânico me dominar, fui reduzindo a velocidade aos poucos e desliguei a esteira. Saí dela, desequilibrando por ter mudado o meu ponto de referência no chão. Estava agindo de forma literal como me sentia

por dentro. Mãos fortes seguraram meu corpo. Em busca de conforto, envolvi meus braços na sua cintura, senti o cheiro do seu corpo, da sua roupa e me rendi ao carinho que fazia nas minhas costas. Só naquele momento que reparei que estava de terno e gravata, como ele sabia que eu estava aqui? — Sei que algo aconteceu. Precisamos conversar no meu restaurante. — Eu fugi de você. — Ergui a cabeça para o encarar, aquele sorriso de lado me encheu de esperança. — Como soube que eu estava aqui? — Apesar de não ter pedido, respeitei seu distanciamento. Algo estava acontecendo com você e eu só precisava saber que estava bem. Falei com a recepcionista da academia e o seu porteiro. — Tocou minha tatuagem com carinho e ergueu meu braço ao ver a vermelhidão próximo ao cotovelo. — Quem? — questionou irritado. — Vamos embora. — Peguei tudo o que tinha comigo e o puxei para o estacionamento. Ele me ajudou a entrar no carro no banco de trás, havia um motorista para nos guiar. Assim que nos acomodamos, ele puxou meu rosto para o seu e beijou meus lábios, demonstrando sua saudade. Gemi pelos sentimentos que me inundavam, o conflito entre esperança e pânico que não me deixavam apreciar o momento. Interrompeu o beijo, finalizando com um singelo unir de lábios na minha testa. Puxou-me para ficar ao seu lado, envolveu seu braço nos meus ombros e acariciou a região machucada por Neves. Seria tão bom ter outra pessoa para me salvar, pertencer a alguém e ser feliz. Mas não conseguia deixar de pensar que essa era a introdução das

marcas mais profundas e doloridas da minha alma. No som do carro, próximo ao restaurante, uma música agitada e que combinava com meus sentimentos soou. Conferi no painel central do carro, era Mudvayne cantando Scream With Me.

“Fique em um canto e grite comigo Um corpo cheio de nada Uma cabeça cheia de raiva, é melhor acreditar”

Soltei o ar com força, acomodando meu corpo ao lado de Diogo e reparando o quanto parecíamos ter um encaixe perfeito. Peguei sua mão apoiada na coxa, observei a tatuagem que adornava e alisei o rosto do leão raivoso. Ele parecia ter um monstro dentro de si pronto para brigar e gritar, como eu mesma tinha. O carro entrou em um estacionamento subterrâneo, parou e Diogo abriu a porta para sairmos. Quando estávamos lado a lado, fechou a porta e me pressionou contra ela, devorando minha boca e apertando minha cintura com a intensidade suficiente para acender meu corpo. Ergui uma perna para envolver na dele e expor o ponto certo para que sua pélvis se esfregasse em mim. Ele sorriu contra os meus lábios antes de continuar beijando, inclinando a cabeça e aprofundando o beijo com intensidade. Desabotoei seu terno e o abracei pela cintura, a sensação de proteção me excitava, era o que precisava naquele momento. — Oi, linda — falou com rouquidão, afastando o rosto de mim. O apelido que me incomodava, agora, parecia o hino da minha vitória. — Senti sua falta. No boxe, do seu sorriso, de conversar...

— Sem sexo? — perguntei com ousadia, porque ele parecia ter uma cola potente para unir os pedaços da minha alma. Sentia-me cicatrizada. — Você toda. Afastou-se de mim, entrelaçou nossos dedos e caminhamos lado a lado até o elevador, que nos aguardava. Apertou o último andar e me deixou na sua frente, de costas para ele. Abraçou minha cintura e caminhamos assim quando chegamos no nosso destino. O restaurante estava vazio, as cadeiras em cima das mesas e as luzes apagadas, apenas a parede de vidro deixava a luz entrar. Fomos até seu escritório, ele me virou e segurou meu braço com carinho, parecia que não acreditava no que via. — Desculpe ter demorado. Essa semana quase não pude respirar direito e, como não atendia minhas ligações, não pude fazer mais. — Terminei com Neves. — Coloquei minhas mãos para trás, numa tentativa de fazê-lo esquecer a agressão do meu corpo. Foi quando tocou meu rosto e fiz uma careta, não tinha percebi que houve sequelas nesse lugar também. — Enfim — tirei sua mão de perto —, não foi amigável, mas consegui. — Você luta boxe, Daisy. Ele não deveria conseguir tocar um dedo no seu corpo. — Fechou o semblante e dei um passo para trás. — Vamos denunciar esse filho da puta na polícia. — Você acha que vai adiantar? — Fez uma careta, percebendo a direção dos meus pensamentos. O pouco de esperança que eu tinha, se esvaiu. — Estou esperando que me diga o quanto devo pagar, para quem e pronto. Ele ameaçou meus pais. — E fica cada vez melhor. — Colocou as mãos no cabelo e os

bagunçou. Olhou para a parede de vidro por um tempo e fui na direção dela, em busca de apoio, já que nem a tatuagem no meu braço conseguia servir de suporte. — Meu pai teve um relacionamento extraconjugal. Minha irmã está com Laerte, não sei se viva ou morta. — Sinto muito — comentei ao olhar para o lado, ele veio até mim. — Não a conheço. Ao mesmo tempo que deixo essa situação de lado e sigo minha vida, há momentos cruciais que me fazem travar por causa disso. É confuso, sinto que estou perdendo o controle da situação e ignoro tudo por conta de uma suposição. — E o que pretende fazer? — Falar de outro assunto estava me acalmando. — Não sei. Laerte usa esse restaurante como seu local para reuniões extraoficiais. Presencio todas, inclusive de Fábio Neves. Ele está na mira do meu primo, isso é péssimo. — Seu primo? — Virei em sua direção atordoada. Diogo estava envolvido muito mais do que imaginava. Quem me garantiria que não trocaria seis por meia dúzia? Por que eu tinha que me relacionar com pessoas tão perigosas? Ele continuou encarando a parede de vidro e deu de ombros. — Depois que resolver minha dívida, não quero ter mais nada com esse mundo. — Eu te entendo. — Respirou fundo, parecia que tinha sido acertado por um soco no estômago. — Nunca soube desse lado da família, até meu pai falecer e minha mãe surtar por conta de uma amante que teve. Apesar do sangue Azevedo correr em minhas veias, meu pai foi bondoso o suficiente para não pôr o sobrenome da minha mãe em mim. — O que ele é? Uma quadrilha? Máfia?

— Uma família poderosa, que acha que pode decidir quem deve viver ou morrer. Eles mandam e desmandando conforme seu interesse egoísta e me fazem de fantoche, ameaçando minha vida, meu restaurante e minha irmã. — Colocou as mãos no vidro e abaixou a cabeça. — Perdi meu melhor amigo, vi sua mulher ser humilhada e não pude fazer nada. O caos me acompanha constantemente, mas estou farto essa merda. — Sua tatuagem — comentei colocando a mão nas suas costas, ele me encarou determinado. — Quero que essa realidade seja parte do passado. Para isso, eu precisava de algo concreto para me apoiar. Você é o que preciso. — Não. — Dei um passo para trás, desesperada por ter alguém me salvando e criando mais uma dívida. — Eu dou conta do que é meu. — Que ironia, você luta melhor que muitos homens e mesmo assim, está marcada por agressões. — Virou para me encarar, sua fragilidade continuava no olhar, mas a postura havia se transformado. Suas palavras me magoaram, abracei meu corpo e senti a emoção me tomar. — Basta ser um para reconhecer o outro. Sei o que está passando, o que é ter os recursos e não conseguir usar por conta da culpa e as consequências das nossas ações. — E acha que conseguirá me ajudar como, se é tão frouxo quanto eu? — cuspi com raiva, mesmo que sua dor ao me ouvir falar era como a minha. — O que tivemos foi bom, gosto de você, mas estou pronta para me livrar das dívidas emocionais. Quero ser dona de mim mesma, sozinha. — E isso nos torna diferentes, Daisy. Porque eu não quero estar por minha conta. É uma merda viver sozinho. — Foi para a cadeira se sentar e apoiou a cabeça no encosto. Suas palavras me deram uma outra perspectiva da minha situação e, por mais que ele não visse, eu também me sentia dessa forma. Minha boca

queria solidão, mas meu peito ansiava por compartilhar bons momentos com alguém. Era possível ser dona de mim mesma e estar com alguém?

Capítulo 16 Daisy — Quase perdi a amizade de Oton e estou recuperando o pouco que perdi com Erik ao mesmo tempo que busco formas de blindar os dois e suas famílias de Laerte. — Encarou-me com seriedade. — E tem a minha irmã, agora você. Se continuar inerte, vou perder mais do que poderia suportar. — Não faça nada por mim — exigi demonstrando insegurança. — Gosto de você, Daisy, mais do que poderia acreditar sentir por uma mulher em tão pouco tempo. Se era isso que precisava para tomar uma atitude, não vou questionar, porque estou bem conosco. — E então, depois de tudo, não poderei retribuir o que me deu. — Meu celular tocou, peguei-o da pequena bolsa que estava no meu corpo e tremi ao conferir a mensagem recebida, era de Neves. — Merda! O valor exposto na tela do meu celular era mais do que eu mesma ganhava em um ano. Será que gastei tanto assim? Por que eu tinha que pagar mais do que o necessário? Percebi a aproximação de Diogo, lutei para sair do lugar, esconder minha vergonha, mas não fiz nada além de responder Neves, indicando que estaria indo para o banco conseguir tal valor. Não me surpreendeu quando o local indicado para deixar o dinheiro fosse o Restaurante San Marino. — Alô. — Olhei para Diogo, que estava no celular. — Preciso de uma reunião com você. — Fechou os olhos rapidamente com impaciência. — Sim, vou fazer o que me ordenou e, como estou me tornando um membro ativo, quero me envolver em mais coisas. — Encarou-me determinado. —

Ótimo, te espero. — Eu falei... — Para te mostrar o quanto é especial para mim, poderia dizer que é sobre você, Daisy. Eu te vejo — pegou nas minhas mãos depois que guardou o celular no bolso —, te sinto e sei que é real. Se te faz mal, esqueça isso, tenho uma irmã desconhecida e amigos que preciso proteger. Vou me envolver, encontrarei um ponto fraco ou uma brecha para nos tirar da vida dele. — Por que não dá para envolver a polícia? — Com que provas? As mensagens não são o suficiente, eles têm muitos contatos que dariam a vida para os proteger, porque também possuem pessoas importantes na mira deles. — Apertou meus dedos. — Entende onde quero chegar? — Fico feliz que esteja solucionando sua vida. — Soltei suas mãos e a dor no peito por me afastar causou uma tontura, que disfarcei com uma careta. — Preciso resolver minha vida. — Eu preciso de você. — Estendeu o braço para me puxar contra o seu corpo. — Me deixe assumir sua dívida, isso fará com que Laerte me cobre ou faça com que pague com outros serviços. — Nem sei como conseguirei esse dinheiro, não posso. — Qual a parte do preciso de você não entendeu? — exigiu convicto e minha respiração acelerou. — Se não fosse sua dívida, talvez não conseguiria me infiltrar. Laerte exige de mim, porque ele me deve. Agora, invertendo os papéis, poderei me misturar e descobrir se minha irmã existe e está viva. Também garantirei que meus amigos não sejam envolvidos, porque estarei mais próximo. — Seu rosto se aproximou do meu. — Te imploro,

Daisy, me deixe assumir essa dívida. — Si... sim — respondi hipnotizada, ele uniu nossos lábios e suspirei aliviada. Dessa forma, eu continuava sendo minha e sem dívidas, certo? Não importava, ainda mais quando meu corpo ficou em brasa, meus braços envolveram o pescoço de Diogo e aprofundei o beijo com mais ousadia. Céus, não precisaria me desesperar, porque parte das minhas dívidas estavam resolvidas. Enquanto me devorava com os lábios impetuosos demonstrando toda a sua paixão, cogitava interromper nosso momento para me afastar. Não queria estar com alguém perigoso e, tendo Diogo envolvido com Laerte, ele poderia se tornar igual Neves. Suas mãos foram para minha bunda, esfregou seu quadril em mim e gememos de necessidade. Quem sabe, apenas um último momento compartilhado fosse necessário. Tirei seu paletó, colocou uma mão por trás, dentro da minha calça e achou meu canal molhado. Penetrou-me com dois dedos, minha cabeça se jogou para trás e deixei que me fizesse gozar pela primeira vez no dia. — Linda gemendo. — Encarei-o descrente em meio a neblina de luxúria. — Quero que enxergue a mesma coisa que eu. Tirei os tênis e minhas pernas perderam as forças quando o orgasmo me atingiu. Suas mãos me seguravam firmes, tirou a parte de baixo das minhas roupas e me pegou no colo, sentando-nos na cadeira do escritório, eu montada de frente a ele. — Gosto do que sinto quando estou com você. Mas tenho medo de me perder, justo agora que acredito estar no caminho certo para me preservar — comentei abrindo sua calça social, seu pau ereto forçava a roupa.

— Estou fazendo um péssimo papel em mostrar o quanto pode confiar em mim. — Envolvi seu membro com minha mão e o encaixei na minha entrada. — Enquanto EU estiver no comando, acredito em você. — Fui descendo em seu pau, sentindo-o me preencher. — É tão bom assim. — Subi e desci lentamente. — Confiar não é dominar, linda. — Abriu a boca em busca de ar, ele estava apreciando o movimento. — Submisso a você, eu abro mão do controle. Mesmo sem saber tudo o que guarda a seu respeito — beijou entre meus seios —, eu escolho acreditar que o melhor para você, será também para mim. Suas mãos apertaram meus seios, espremi seus ombros e subi e desci rapidamente. Não tirei meus olhos do dele, a intensidade das suas palavras tocou minha alma. Confiar não era estar no controle, mas ceder à ele e acreditar que tudo daria certo. Meu quadril começou a se esfregar no dele, minha boca encontrou a sua e quando o clímax me atingiu, senti-o pulsar dentro de mim enquanto gemia contra meus lábios. Não parei o vai e vem, ainda mais porque não queria encerrar o ato. Aos poucos, fui reduzindo minha agitação, deitei minha cabeça no seu ombro e suspirei em contentamento. Seu pau saiu de dentro de mim e lambuzou a parte interna da minha perna, indicando que não usamos camisinha. O que era uma pena para quem estava carregando um piano nas costas? Não tinha espaço para me preocupar com doenças ou gravidez. Era um anseio distante, iria atrás disso quando encontrasse um canto para mim. — Ainda estou duro — sussurrou cutucando meu buraco apertado

entre as nádegas. Tive que rir, porque também estava excitada mais que o normal. — Fizemos sem camisinha, Daisy. — Só me faça esquecer de mim mesma. — Ergui a cabeça e saí do seu colo, deitando-me de frente para a mesa e arrebitando minha bunda. — Quero sentir estando na sua posição. Estou cedendo o controle, quero confiar em você. Levantou-se sedento, cobriu meu corpo com o seu e abriu minha bunda para introduzir seu pau onde ninguém havia tocado. Por um momento, fechei os olhos e lembrei de Neves, a sua posição de praxe, sem sentimento ou tesão. A boca dele na minha, seu sabor único e língua ávida fizeram minha mente retornar para o presente. Aos poucos, foi introduzindo seu pau enquanto eu gemia e relaxava. Era incômodo, mas também, prazeroso. Uma mão foi para minha boceta e enquanto esfregava os dedos no meu clitóris, entrou e saiu de mim com movimentos medidos. Senti medo, tesão e algo mais profundo. Ele parou de me beijar para fixar seu olhar em mim enquanto sentia prazer com a ação. — Eu preciso de você, Daisy — implorou acelerando o vai e vem. — Acho... que você me tem — falei com dificuldade, ainda mais porque o orgasmo me desconsertou. Ele urrou de prazer, acompanhando-me no clímax e cedendo em cima de mim. Fechei os olhos e sorri, ele deixou beijos na minha bochecha, pescoço e ombros antes de voltar a se sentar. Puxou meu braço para que o corpo se deitasse em seu colo, como uma noiva e suspirei aceitando que teria que errar novamente, para saber se poderia acertar no final. Entregaria minha vida, mais uma vez, nas mãos de um homem,

temendo que no final, ele cobrasse todos os orgasmos não recebidos. — Estou fodida — comentei em tom divertido, aninhando-me nele. — Apenas bem comida, linda. O resto, pode confiar em mim, eu darei conta por nós dois. Que assim acontecesse.

Capítulo 17 Diogo de San Marino — Venha ficar comigo — pedi desesperado, porque não conseguia imaginar que poderia estar longe dela novamente. — Preciso terminar um trabalho. Você vai conversar com Laerte, isso quer dizer que Neves estará livre e me dará um tempo. — Suspirou andando de um lado para o outro na sala. Tínhamos nos limpado depois do sexo arrebatador. Estava ligado a essa mulher de mais uma forma, o sentimento era palpável entre nós. — Ele tem acesso a seu apartamento? — questionei indo na sua direção, mas percebendo que ela queria espaço. Por que não poderia ser aqueles idiotas que invadiam o espaço alheio? Não conseguia, ainda mais quando tinha conhecimento de que sua vulnerabilidade nos afastava. Confessou que confiaria em mim, precisava me agarrar a essas palavras. — Sim, mas não virá novamente. Eu vou atrás de outro lugar essa semana. — Daisy. — Está tudo bem! — Forçou o sorriso e segurou meu rosto. — A pior parte, você assumiu e me explicou que será para seu bem. Confio em você, agora, me deixe resolver o resto. — Não poderei te proteger estando longe de mim. — Está errado eu entrar no seu apartamento sem... — Soltou-me e mexeu as mãos irritada. — Enfim, precisamos de tempo para nos conhecer

melhor. — Tudo bem — respondi derrotado enquanto ela pegava a bolsa e colocava no ombro. — Vamos almoçar juntos? — Minha alimentação é diferenciada. Vou voltar para casa, você me manda notícias. — Vai para o boxe hoje? — questionei frustrado e não aliviou quando sorriu para mim, como se estivesse lendo meus pensamentos. Com Daisy, nada era simples, sempre haveria uma barreira invisível que impediria de fluir naturalmente. — Por você, eu vou. — Vá, porque você quer me encontrar, não porque quero te ver novamente. — Segui para a porta, abri com irritação e ela passou séria por mim. O cheiro da comida chamou nossa atenção, ela apreciou enquanto caminhava em direção ao elevador. Por que tanta restrição alimentar? — Obrigada — falou quando ficamos em silêncio enquanto descíamos os andares na caixa de metal. Toquei sua mão e ela entrelaçou nossos dedos. — De nada — sussurrei, as portas se abriram e fui até a calçada, meu motorista esperava. — Ele vai te levar para onde quiser e depois também. — Abriu a boca para protestar e lhe beijei, surpreendendo-a. — Use meu motorista. Economize para se mudar o quanto antes. — Você já comprou minha dívida — comentou abrindo a porta de trás do carro. — Ela nunca foi sua, linda. Mas entendo que está difícil enxergar. — Ajudei-a a entrar, fechei a porta e acenei em despedida. — Eu vou matar

Fábio Neves — jurei no calor do momento, virei para entrar na recepção do prédio que tinha meu restaurante e voltei para a minha sala. Meu plano era o pior possível para proteger as pessoas que importava. Ao invés de me afastar, afundei ainda mais na lama. Como dizia o ditado popular, mantenha os amigos por perto e os inimigos ainda mais. Pelo menos, se Laerte pretendia alcançar meus amigos e Daisy, estaria por perto para saber e não seria pego de surpresa. Almocei rapidamente e esperei meu primo aparecer para conversamos. Agora que estava em dívida com ele, esperava me aproximar o suficiente para entender como ele funcionava e o esquema da família. Ladeado por seus dois seguranças, Laerte apareceu no meu restaurante. Não me levantei quando chegou ao seu espaço preferido, sentouse na poltrona e me encarou com superioridade. — Quer conversar? Traga o dinheiro primeiro, faremos enquanto meus seguranças contam as notas. — Olhou ao redor. — Estou assumindo a dívida de Neves. — Encarou-me sem esboçar reação. — Quero fazer parte da família, ser mais ativo. — Olhei para um dos seguranças, que sorriu com escárnio. — O que Fábio fez para você o salvar? — Analisou-me com frieza, preferia que pensasse no homem e não na mulher por de trás dele. — Ou seria outra pessoa seu interesse? — Minha irmã — apressei-me em expor o que ele já sabia. — Faço isso pensando em ter contato com ela. — Esqueça a garota. — Percebi irritação, ainda mais quando mudou a posição da perna. — O serviço foi feito, está nas mãos da sua mãe. — Ela está com Kátia? — Surpreendi-me, não tive coragem de

chamá-la pelo posto que tinha na minha vida. — Há quanto tempo não conversa com sua família? — ironizou. — Falo com você, é o suficiente. — Inclinei para frente e um dos seguranças pareceu ficar em alerta. — Então, a dívida é minha. Como quer o pagamento? — Em dinheiro. Não me interessa nada o que vem de você a não ser o restaurante ser um local neutro. — Um dos seguranças abaixou para falar próximo do ouvido dele. Foi um movimento minúsculo, mas percebi seu incômodo, como se estivesse agindo a contragosto. — Não é suficiente. Ou me envolvo de uma vez, ou vou para a polícia dizer o que sei — blefei. Ele riu alto, junto com seus seguranças. Um deles afastou o terno e mostrou a arma, para me intimidar. — Está com desejos suicidas? Tem coisas piores do que morrer e ver os amigos irem juntos. — Voltou a ficar sério. — Estou sabendo que Orquídea está grávida. — Você prometeu esquecer Oton e sua família — rosnei irritado, para seu deleite. — Estou me oferecendo como escravo, porra! Assumi a dívida, eu pagarei e quero trabalhar para você. — Nada fica intocado, ainda mais quando alguém diz merda para me provocar. — Levantou-se irritado e fiz o mesmo, um duelo de olhar se firmou entre nós, comigo em desvantagem, já que havia dois seguranças apontando uma arma para mim. — O que Fábio fez para você? Por que o protege? — Quero que ele se foda. Minha questão não é o dono da dívida, mas o que farei por assumi-la. — Ergui as mãos em rendição. — Se não posso me livrar de você, que eu aceite a porra do meu posto nessa família. — Está mentindo. — Negou com a cabeça, colocou as mãos na

cintura e olhou ao redor. — Fale a verdade e, talvez, posso pensar no assunto. Porra, como ele sabia que estava querendo proteger uma mulher? Olhei para os seguranças, o que tinha falado com Laerte sorria como um idiota, ele parecia saber além das minhas palavras. Se colocasse Daisy na jogada, eu pioraria sua situação e a proteção deveria ser além de Fábio. O que deveria fazer? — Vamos conversar semana que vem. Sua mãe dará uma festa de noivado, entre em contato e resolva o buffet com ela. — O quê? — Dei um passo para frente, Laerte deu de ombros e saiu, sem me dar maiores explicações. Um dos seguranças se aproximou e entregou um cartão, com um número. — Que merda é essa? — Esse é o telefone do cerimonial que está organizando tudo para Kátia. Tenho certeza de que ela ficará muito feliz com a presença do filho. Engoli em seco olhando para os números e depois, para eles indo embora. O que deveria fazer? Será que piorei a situação ou não havia forma de melhorar? Voltei a me sentar no sofá, peguei meu celular e digitei o número, não querendo adiar o inevitável. Laerte falou que minha mãe sabia da minha irmã. Se Kátia queria minha presença nesse noivado do caralho, aproveitaria para acionar o lado materno, se é que existia. Meses sem vê-la, magoado por tudo o que fez e o que tinha se transformado. Ela não era mãe, mas alguém que me gerou e jogou no mundo para aprender sozinho. O único que contava era comigo mesmo, até criar amizades insubstituíveis. Iniciei a ligação, falei com o cerimonial e agendei um horário para acertar a comida da recepção de noivado.

Achei que estava no meio da história, mas era apenas o início do meu tormento.

Capítulo 18 Diogo de San Marino Sabia o quanto estava sendo imprudente. Não deveria conversar com Daisy sobre o ocorrido hoje, mas queria que ela confiasse em mim como fazia com ela. Meu peito doía, imaginava que ela poderia agir por conta própria e não pensar no esforço que era me manter neutro ao mal que fazia a ela. Descarreguei meu ódio no saco de areia enquanto Daisy acompanhou outro novato na aula de boxe. Pedi para o instrutor me deixar focado e perdi noção de tempo enquanto esmurrava minhas frustrações. Patrocinar a comida no noivado da minha mãe. Ter Laerte cobrando a dívida, que eu queria pagar de outra forma que não fosse dinheiro. Convencer Daisy que gostava dela e valia a pena confiar em mim para ser protegida. Braços cobertos por mangas me abraçaram a barriga enquanto um corpo feminino se posicionou nas minhas costas. Parei meu assalto, respirei com dificuldade e olhei por cima do meu ombro, encarando minha linda mulher sorridente. Depois da conversa com Laerte, meu único contato com ela foi por telefone. Focada no trabalho, pediu desculpas e combinou outro horário para nos ver. Respeitei sua escolha, como sempre fazia. Para meu alívio, ela parecia melhor depois desse tempo distante, por pior que tinha sido ruim para mim, fez bem a ela. — Temos um estressado no recinto — comentou beijando minha

tatuagem exposta pela regata. — A aula acabou. — Posso ficar com você essa noite? — pedi me virando e dando um passo para trás, para tirar as luvas. — Seu apartamento é aqui perto. — Soa irresistível para mim, mas tenho trabalho a fazer. — Fez uma careta divertida enquanto fiquei na expectativa. — Pode me levar de volta antes de dormir? Prefiro o seu apartamento. — Terá que bastar — comentei forçando um sorriso de lado. Ela foi pegar sua mochila, guardei minhas coisas na minha e saímos juntos até meu carro. Ligou o som antes de pôr o cinto e relaxar no banco. Estendi a mão para apertar seu joelho, ela sorriu em resposta ao meu gesto. — Posso confessar algo bobo? — Apertou minha mão com as suas e as coxas. Um pouco mais, estaria de encontro a junção de suas pernas. — Tudo o que vem de você é importante. — Avancei minha mão para cima, ela liberou para avançar. — Quando vou rebater algo que diz, acho que você vai brigar comigo, mas sempre concorda. — Nem sempre — falei olhando-a de relance. Ela sorria encantada, salientando ainda mais sua beleza delicada. — Tento negociar sempre. — Eu gosto disso. — De conversar comigo? — Meus dedos encontraram seu sexo coberto pela legging e massageei a região delicadamente. — Ou quando te faço gozar com meus dedos? — Gosto do que não é imposto. Por mais idiota que seja, você não... — Arfou abrindo as pernas. — Diogo! — Sim, linda? — perguntei cínico, ela se derretia em minhas mãos.

— Não me faça ficar mais apaixonada do que já estou. Eu não sei lidar com as consequências de mais uma decepção. — Tampou o rosto com as mãos e parei em frente ao portão do meu prédio. Ela gemia enquanto os movimentos se intensificaram em um vai e vem frenético. — Oh! Ergueu o quadril para alcançar o ápice, manobrei o carro até achar a minha garagem, tirei suas mãos do rosto e tomei sua boca quando parei. Ela me beijou com fome, mordendo meu lábio e duelando com minha língua por espaço. Tentou vir para cima de mim, mas impedi, não daria para rasgar mais uma calça sua. — Linda — chamei-a com um sussurro enquanto afastava nossos rostos. — Estou começando a acreditar nas suas palavras. — Seus olhos ainda estavam fechados, ela sorria para mim. — Preciso repetir mais vezes o quanto você é linda, de todas as maneiras. — Abriu os olhos. — Eu deveria ficar com você. — Mas há trabalho, eu entendo. — Não a noite, mas aceitar o convite que me fez no restaurante. Tenho medo de Neves aparecer enquanto durmo, mas tenho pavor de me perder enquanto crio uma dívida que não conseguirei pagar a você. — Estamos em um relacionamento, é comum um dever ao outro, de forma saudável. — Sorri quando franziu a testa confusa. — Te dou alguns orgasmos, você prepara um café da manhã na cama. — Você me dá um teto sobre minha cabeça e eu retribuo como? — Arregalou os olhos demonstrando ter uma ideia. — Posso trabalhar com você, fazer a parte de mídias digitais. Não é minha especialidade, mas...

— Eu te dou um lar, você o preenche com o céu e suas estrelas. — Saí do carro, precisava respirar para não surtar com a proximidade da nossa relação. Envolvida comigo, ela precisava saber que não seria fácil, mas tentaria transformar em seguro. Peguei nossas mochilas, esperei-a vir para o meu lado e segurei em sua mão para caminhar em direção ao elevador. — Posso aprender a fazer estrelas iguais a que fez para mim. — Fez um bico adorável para mim. — É gostoso sonhar com você. — Vai se mudar amanhã para cá? — questionei sério e ela riu abraçando meu braço. Merda, o que viria agora? Entramos no elevador e apertei o meu andar. Havia um bolo na minha garganta, estava ficando difícil negociar quando tudo o que queria era fazer do meu jeito, manter o controle. — Mesmo com as ressalvas pessoais, quero estar com você e tentar. O que de pior pode acontecer? Tenho outros assuntos pendentes para resolver. A dívida que assumiu era a pior delas, depois havia nós dois e, por fim, minha família. — O que tem eles? — Meu irmão está na cidade, tenho fugido dele para não contar o que estou passando. — Não precisa se sentir assim. Estou do seu lado, você não precisa passar por isso sozinha. O pior já passou. — Saímos no meu andar, entramos no meu duplex e subimos direto para o meu quarto. — Desde quando decidi ser autônoma, afastei-me das pessoas, incluindo minha família. Tinha vergonha do que havia me tornado, até que Neves surgiu na minha vida.

— Ele não te salvou. — Naquela época, sim. — Afastou-se e foi tirar a roupa no banheiro. — Preciso reconhecer que se não fosse ele, talvez você teria uma mulher com mais de cem quilos na sua frente. Olhei-a da cabeça aos pés, não conseguindo imaginar Daisy da forma que ela via. Percebi que foi um movimento errado quando me deu as costas e foi para debaixo do chuveiro. — Linda. — Tirei a roupa apressado para acompanhá-la. — Ele está sendo cruel hoje, mas no passado, foi o que me olhou sem se importar com a aparência. — Deixou a água escorrer pela cabeça e corpo enquanto me encarava e jogava sua opinião no meu colo. — Há um motivo para nossos caminhos terem se cruzado apenas agora, Daisy. E o que Neves sentia não era amor. — Também não acredito que seja, eu não sentia isso. — Tocou meu peito alisando as tatuagens. — Você me fez reconhecer o que era gostar de verdade. — Você se amava naquela época? — repeti a pergunta que fiz um tempo atrás. — Alguém só pode te amar se você o fizer primeiro por si. — Não importa, o passado já foi. Certo? — Era tanto para mim quanto para ela. — Controlo minha alimentação, vai dar tudo certo. — Não estou com você pela aparência física. — Segurei seu rosto e a tirei debaixo da ducha. — Daisy, não é apenas pela minha irmã, por mim mesmo ou o inferno que Laerte pode transformar a nossa vida. Se está disposta a ficar comigo, farei valer à pena. — Confio em você. — Abraçou meu pescoço e colou nossos corpos. Soltei seu rosto para segurar sua bunda e a ergui para envolver suas pernas na

minha cintura. Pressionei-a contra a parede e sorri, ela retribuiu. — Enquanto respeitar minha opinião e meu momento, vou estar com você. — Prepare-se para me aturar por muito tempo. Tomei sua boca com brusquidão e impulsionei minha pélvis contra sua boceta em apenas um movimento, selando o nosso acordo de almas. Sentia que era um caminho de incertezas, mas sem volta.

Capítulo 19 Daisy Poderia ter passado alguns dias desde o nosso acordo sobre iniciar um relacionamento baseado em confiança. Claro, não foi usado essas palavras, mas para mim, ter um motorista a meu dispor e demonstração de afeto na aula de boxe, era o suficiente para acreditar que eu tinha um namorado real. Mesmo com receio de que Neves poderia aparecer no apartamento, estava animada para usufruir até o último instante do computador. Tinha colocado minhas roupas em uma mala e estava carregando meus arquivos na nuvem. Minhas dívidas com o banco, pensaria depois, eu só precisava concluir as pendências antes de passar um tempo no limbo. Será que Diogo me aceitaria no seu restaurante para trabalhar? Enviei uma mensagem, dizendo que estava ocupado demais e não poderia fazer aula comigo. Pediu que fosse até o seu apartamento para dormirmos juntos, estava tentada em levar minhas roupas para lá antes que me sentisse, realmente, pronta. Por que protelar mais? Estava pronta ao mesmo tempo que lembranças do passado me faziam hesitar. Ficar sob o mesmo teto que Diogo era assumir a perda do controle da minha vida até que me estabilizasse novamente. Com vontade de vê-lo, mas não corajosa o suficiente para dar um passo maior que demonstrar minha saudade, chamei seu motorista e pedi que me levasse até o Restaurante San Marino. Era início da noite, o local deveria

estar começando o movimento e esperava que não o atrapalhasse. Minha entrada estava liberada e peguei o elevador direto para o último andar. A hostess não me impediu de seguir até os fundos do salão principal para chegar no dono daquele lugar. — Olá. — Abri a porta do escritório de Diogo, percebendo que ele sempre seria, para mim, o executivo tatuado. Ele olhava para a tela do seu notebook com seriedade e quando me encarou, sorriu e virou a cadeira para que fosse até ele. Dei passos apressados, sentei-me no seu colo e beijei sua boca, apreciando o sabor e os braços envolta da minha cintura. — Sei que está ocupado, mas não resisti em te ver antes do final da noite. — Veio como? — perguntou ajeitando meu cabelo atrás da orelha, seu olhar de admiração era o que mais ansiava quando acordava e antes de dormir. — Vicente. — Ele pareceu satisfeito por usar seu motorista. — Estou te atrapalhando? Posso ajudar. — Não a colocaria em perigo além do necessário. — Alisou minhas costas e observou a reação do meu corpo com um sorriso de lado safado. — Preferia que estivesse segura na minha cama do que no apartamento daquele babaca. — Surgiu um trabalho extra, será bom para mim. — Saí do seu colo quando escutei um “plim” e me sentei na mesa enquanto ele se voltou para o notebook. — Já fiz as malas para sair de lá. — O espaço no closet está te esperando — comentou ainda focado em outra coisa que não fosse eu. — Baile de máscaras? Pelo amor de Deus, se minha mãe fosse homem... — Você não teria nascido. — Inclinei para ler a tela, era um e-mail

informando sobre uma festa de noivado temático. — Kátia Azevedo e Conrado Azevedo. Quem são? — Minha mãe e um primo distante. Estou cuidando do buffet e estarei na recepção, para descobrir algo da minha irmã. — Respirou fundo e apertou minha coxa com carinho. — Falando nisso, e o seu irmão? — Vou falar com ele quando estiver estável financeiramente e emocionalmente. — Entrelacei meus dedos com os dele e dei de ombros. — Pode parecer bobo, mas acredito que Neves não vai vir atrás de mim depois da dívida paga. Sua última mensagem dizia que ele me comunicaria um dia antes de precisar do apartamento. Como ficarei sem computador, preferi usar todos os recursos até o último minuto. — Mordi o lábio insegura, com medo de Diogo entender que ainda gostava do outro. — Use o meu. — Vi em seus olhos a vontade de retrucar comigo, ele tinha muito autocontrole. Empurrou o notebook na minha direção e me puxou para cair em seu colo com as pernas ao seu redor. — Volte para seu apartamento e vá para o meu. — Tenho certeza de que na primeira renderização de imagem que fizesse, daria tela azul. — Beijei seus lábios com carinho. — Me deixe terminar. — No seu tempo — complementou apertando minha nuca e minha bunda. — Exatamente. — Mordi seu lábio inferior encarando-o perversa. — Quer acompanhante para a tal festa? — Qual? — Olhou para o notebook e depois para mim. — É tentador mostrar para todos que tenho uma namorada, mas não. É território da família Azevedo, Laerte estará lá e te colocará sob sua mira.

— Acha que não estou? — Vi-o pensar e franzir a testa. — Estivemos no seu apartamento, na academia, no estúdio de tatuagem... se seu restaurante é o único lugar seguro, então, eu já estou exposta há muito tempo. — Droga. — Abraçou-me apertado e o medo que eu tinha de estar vinculada a uma ameaça pareceu se dissolver. Ele não era o tipo de pessoa que me colocava na frente e se escondia atrás, mas fazia de tudo para que eu não aparecesse. — Laerte já sabe sobre nós e quer que eu assuma nosso relacionamento. — Saí do seu colo e voltei para a mesa, ele parecia em conflito. — Confia em mim? — Nesse momento, estou sem alternativa. — Não foi uma boa frase para se falar, senti em meu coração o descaso que fiz sobre seu esforço para me manter segura. Mas, poxa vida, eu não queria ter alguém para me salvar. — Não era isso que queria dizer. — Ligue para seu irmão — ordenou sério. — Já disse, eu vou falar com ele depois. — Linda, linda... — Esfregou as mãos no rosto e saiu da cadeira, andando de um lado para o outro. — Quer ir mesmo na festa da minha mãe? — Apontou para o notebook parando próximo de mim. — Sim. Essa é minha forma de saber que posso te dar apoio como está fazendo comigo. — Certo. — Acenou afirmativo. — Quanto tempo até vir para minha casa? — Preciso terminar o trabalho. — Você deu um prazo para seu cliente, certo? — Cruzei os braços irritada, ele queria me por contra parede e não estava gostando. Empurrou a cadeira e se agachou na minha frente, implorando com o olhar. — Se for

necessário, direi que te amo, preciso de você na minha vida, ao meu lado, todos os dias. — Di... você me ama? — Coloquei as mãos na boca em choque. — É precipitado, mas pode ser. — Apertou meus joelhos. — Você foi o elemento principal para que eu fosse atrás de resolver tudo com Laerte. Não posso ignorar o quanto gosto de você e me frustra não querer ficar comigo. Mas... — Você respeita o meu tempo — complementei sorrindo como uma adolescente iludida. Queria retribuir as palavras de carinho, mas só consegui tomar força para terminar minhas pendências. — Vou voltar para casa. — Não vai dormir comigo? — questionou dando espaço para que eu saísse da mesa, ficou de pé e bloqueou minha passagem. — Linda! — Mais alguns dias, entrego o projeto e não pegarei mais nenhum até conseguir dinheiro para pagar um computador novo. Prometo. — Olhei para o notebook e sorri. — Quero conhecer minha sogra e seu futuro padrasto. — Caralho. — Fez uma careta e voltou a se sentar na cadeira. — Tudo bem, estamos juntos, certo? — Sim. — Sabemos lutar, precisamos aprender a atirar. — Estranhei a linha de pensamento dele, mas concordei com a cabeça, mesmo que não estivesse me vendo. — Também quero conhecer os seus pais. — O quê? Não. — Tentei me afastar, mas ele conseguiu segurar no meu pulso e me puxar para o seu colo. — Melhor deixarmos para outro ano. — Tudo bem, vamos começar pelo seu irmão. — Neguei com a cabeça e ele começou a me fazer cócegas. — Ligue para ele.

— Pare, Diogo! — Só quando você marcar um jantar para nós. — Depois que me mudar para a sua casa. — Agora! — exigiu com diversão ainda fazendo cócegas, consegui me livrar e colocar a mesa entre nós. — Está com vergonha de mim? — Do que fiz, sim. O medo do julgamento é maior que assumir que estou bem hoje. — Juntei as mãos em oração e implorei com o olhar. — Mais uma semana, no máximo. — Vai dormir comigo depois do baile de máscaras do caralho. — Podemos até fazer uma tatuagem juntos. — Seus olhos brilharam e revirei os meus, dando passos para trás. — Onde vai? — Terminar meu trabalho e você, faça o mesmo, executivo tatuado. — Apontei para o notebook e ele se rendeu, sorrindo para mim. — Até mais, linda.

Capítulo 20 Daisy Passei um batom vermelho marcante, para combinar com o vestido longo frente única da mesma cor. Fiz um coque frouxo e conferi a fenda na minha perna, que quase chegava na minha virilha. Amava roupas ousadas e sexy, mesmo ainda não estando no meu peso ideal. Muitos poderiam achar que estava magra. Comparada com dois anos atrás, havia perdido muito peso, mas não era o ideal. Chquei o celular, havia uma mensagem de Vicente indicando sua chegada na frente do meu prédio e do meu irmão, pedindo para entrar em contato com ele urgente. Ah, Dário, você ficaria para depois. Mesmo tendo acompanhado Neves em reuniões com seus parceiros de negócio, não era a mesma coisa de estar com Diogo. Éramos reais, não um arranjo estranho baseado em dívidas. Saí do apartamento, desci de elevador e entrei no banco de trás do carro de Diogo tendo-o me esperando. A fenda do vestido expos minha perna. Seu olhar foi para meu corpo antes de parar nos olhos e respirar com dificuldade. — Você está espetacular. — Passou a mão na pele exposta e foi até minha virilha, conferir a calcinha minúscula. — Porra, linda. Vai me deixar duro desse jeito. — Diogo — repreendi olhando encabulada para frente, o motorista

parecia alheio a nossa conversa. — Preciso de um beijo seu — ele pediu segurando meu queixo e unindo nossos lábios com suavidade. Queria aprofundar, ser mais ousada, mas deixei que comandasse o momento, por conta da minha animação. — Onde está nossas máscaras? — Aqui. — Pegou ao seu lado no banco, colocou no meu rosto e amarrou atrás. Entregou-me a dele, fiz o mesmo e senti um frisson irresistível de fazer uma loucura afoita, já que não saberiam quem eram nós. — Continua linda. — E você, um verdadeiro executivo tatuado. — Clássico e ousado. — Repetiu as palavras da minha análise da sua logomarca. — Não saia de perto de mim, tudo bem? — Nem para ir ao banheiro? — questionei divertida. — Pode ter certeza, iremos juntos. Chegamos em frente a uma casa elegante, cheios de segurança ao redor e carros estacionados pelo grande quintal da frente. Vicente estacionou próximo da entrada, saímos do carro e caminhamos sem pressa até a entrada, onde uma loira elegante segurava um tablet. — Digital, por favor. — Esticou um pequeno leitor biométrico. Olhou para a tela do dispositivo eletrônico, sorriu e mordeu o lábio quando voltou sua atenção para meu namorado. — Bem-vindo, Diodo de San Marino. — E eu sou... — Tentei chamar atenção, mas fui puxada por ele para dentro. Olhei-o furiosa, ainda mais por sentir que poderia estar revivendo uma situação constrangedora. — Eu não serei deixada de lado — sibilei. — Ninguém precisa saber seu nome, linda. — Parou e segurou meu

rosto, seu olhar sério me fez recuar do ataque de ciúme. — Está comigo e ninguém está a sua altura, eu só quero você. Confia em mim. — Sim, claro. Desculpe. — Beijou meus lábios e voltamos a caminhar, entrarmos em um grande salão e seguimos para os fundos, onde havia uma piscina, mesas e várias pessoas circulando. Meu coração acelerou ao perceber que não estava lindando com alguém que iniciava sua vida como eu, mesmo estando em meus vinte e sete anos. — Quantos anos tem? — Trinta e um. — Olhou-me divertido e continuou andando. — Preocupada com alguma coisa? — Aquela é sua mãe? — Indiquei com o queixo para frente e uma senhora, com cabelo bem alinhado e roupa tão ousada quanto a minha conversava com as pessoas. O decote era mais atrevido e as rugas no pescoço e no braço não estavam escondidas, denunciando sua idade avançada, apesar do espírito ser mais jovem. Percebi que Diogo engoliu em seco e nos direcionou para a dona da festa. Sem máscara, acompanhada de um homem que parecia mais jovem que meu namorado, também sem cobrir o rosto, eles se destacam entre tantas pessoas ocultas. Um homem e seus dois seguranças entraram na nossa frente e paramos de andar. Todos estavam de máscara, mas era fácil identificar quem era, por conta do poder que emanava dele. — Laerte — Diogo cumprimentou estendendo a mão. — Olá, primo. — Apertou sua mão e pegou a minha, mesmo que não havia lhe oferecido. Levou para os lábios e beijou o dorso, fingindo um galanteio. — Resolveu contar a verdade? — Você sempre soube — falou irritado.

— O que estava difícil acreditar era que você se contentava com as sobras das vagabundas gordas de Fábio. — Laerte encarou-me com desprezo e não deveria, mas senti exatamente como me pintou. Tentei me soltar de Diogo, mas ele tomou minha mão na sua e apertou, como se isso fosse o suficiente para não avançar no idiota a nossa frente. — Ele prefere aquelas sem autoestima para extorquir. Ou seria ela se aproveitando de quem tem dinheiro? — Me dê um motivo para não socar essa sua cara de merda — Diogo rosnou, para diversão de Laerte e seus seguranças. Um deles expos a arma que estava na cintura e deu um passo em minha direção. Tanto eu, quando o braço de Diogo me protegeu às suas costas. — Vão se foder. — Podemos negociar seu distanciamento da família, Diogo. Tenho certeza de que para ela não será um sacrifício. Meu namorado me puxou para longe dos três, que continuavam rindo das insinuações. Todos sabiam do meu acordo com Neves, o que meu homem iria pensar sobre o que fiz no passado? Por que arrisquei vir se não dava conta das minhas emoções? Nem vi para onde me levou, apenas que um copo de água parou na minha frente e o tomei, em grandes goladas. Busquei o olhar de Diogo e vi preocupação, não julgamento ou acusação. — Estou por um fio para fazer algo impensado. Se não fosse arriscar sua vida, eu partiria para cima de Laerte. — Respirei fundo e ele fez o mesmo. Olhei ao redor e conferi ser uma sala de jantar, com uma mesa enorme cheia de comida em cima. — Não dê ouvidos para o que ele disse. — É verdade — confessei sem forças. — A mulher que luta boxe e fez a tatuagem maravilhosa no braço,

sem reclamar de dor, não é a mesma que Laerte pintou. — Alisou onde tinha o desenho e tentei sorrir, não consegui. — Estou puto, mas vou me controlar. — Ele está nos provocando. — Sim, principalmente, porque não me quer envolvido nos negócios da família além do meu restaurante. Avançar em seu pescoço é um motivo para impedir que eu te proteja. — E sua irmã — sussurrei e ele acenou afirmativo, olhando ao redor. — Quer ir para casa? — Se puder, queria estar com você. — Admirado, era o olhar que mais gostava. — Prefiro estar por perto se vão falar de mim. Eu mudei. — Não acreditaria em nada vindo deles. Agora, todos sabem que você está comigo e foda-se o resto. — Segurou na minha mão e me puxou para fora da sala de jantar. — Acho melhor não voltar para seu apartamento depois dessa noite. — Mais um dia e vou. Prometo. — Ele sorriu de lado e me deu um selinho, suavizando o horror que sentia. Minha vida poderia estar muito pior com Neves se forçando sobre mim. — Vamos para a sua mãe. — Ela poderá ser mais cruel que Laerte — comentou sério, puxando meu braço no seu. — Por que te trouxe aqui? Caralho, não estou pensando direito. — Porque pedi e você respeita minhas vontades. Aproximamos da mulher, que nos encarou com um brilho perverso no olhar. Mediu-me da cabeça aos pés e franziu o nariz, demonstrando desgosto. — Você e seu pai tem o mesmo gosto ruim para amantes, Diogo de San Marino.

— Não fique com ciúmes, querida. Tudo já foi resolvido — falou o homem mais novo que parecia ser Conrado, o noivo. — Você é... — Estendeu a mão para mim e Diogo se colocou na minha frente. — Minha mulher — rosnou para o homem e encarou a mãe. — Parabéns pelo noivado. Espero que a comida esteja do seu agrado. — Não comi. — Deu um último olhar indignado para mim e desdenhou o filho. — Laerte tem um jeito estranho de manipular as pessoas. Cuidado, você está na mira dele. — Não mais do que você. — Meu namorado me puxou para mais próximo dele. — Pelo visto, você tem mais da família Azevedo no sangue do que imaginei. Me desafiando no meu noivado? — Não. Vim cumprir com meu dever com buffet e rever os parentes. — Fingiu interesse ao olhar ao redor, a interação dos dois estava tensa, até o noivo se afastou. — Cuidado com o que procura, pode se envolver mais do que o necessário, filho — a última palavra saiu com desdém. — Está escondendo algo, mãe? — ele ironizou. — A bastardinha não está aqui. — Ele retesou ao meu lado. — Esqueça seu pai e tudo o que tem a ver com ele, Diogo. Para o seu bem. — Quem não consegue se desligar de Ulisses de San Marino é você, mãe. — Deu um passo para trás e me levou junto. — Com licença. — Não fique tão à vontade — falou e nos viramos para ir o mais longe possível do centro das atenções. Acompanhei-o tensa até chegar em uma mesa vazia. Sentamo-nos com vista para todo o jardim e suspiramos quando nos serviram taças de

vinho espumante. — Percebi que minha vida nunca será simples como planejei. — Olhou-me com pesar. — Sinto muito por te trazer para meu caos particular. — Nunca pensei que minha vida seria normal algum dia. Então, que haja estrelas em meio a escuridão. — Toquei suas costas, onde sabia que a tatuagem estava. Ele sorriu e tocou sua taça na minha. — Tenho a melhor constelação para me guiar. Era melhor do que escutar que me amava, por isso tomei toda a bebida e beijei sua boca, sem me preocupar em chamar atenção pela intensidade. Sua mão tocou minha perna nua, mordi seu lábio inferior e me afastei sentindo que o clima tenso tinha se transformado. Aceitado o nosso destino, que aproveitássemos o passeio.

Capítulo 21 Daisy A festa continuou enquanto nos dedicamos a saber mais um do outro. Não sabia que era possível conversar sobre tudo com ele, ainda mais quando tinha um humor ácido e sarcástico. Comida era servida e me atentava apenas a bebida, que mudei para água depois da segunda taça de vinho espumante. Sabia que incomodava minha abstenção de comer qualquer coisa, mas só quem já teve problemas com peso e teve dificuldades com disciplina sabia que meu sacrifício era necessário. Qualquer deslize, voltaria a ser obesa. — Não vai comer nada? — Diogo questionou pela enésima vez. Revirei os olhos e fiz bico, será que ele não entendia que minha alimentação era rígida? — Do que se alimenta então? — Shakes e proteínas. Eu sou complicada, porque meu passado me condena. — Mostre — desafiou-me e franzi a testa. — Por várias vezes te ouvi falar sobre seu peso e como era no passado. Tem foto? — Não... quero dizer, muito poucas. Eu só tirava foto do meu rosto. — Olhei para as minhas mãos em cima da mesa. — Prefiro te manter na ignorância, ainda mais por não ter me mudado para sua casa ainda. — Você acha que vou te largar por conta da sua aparência? — Fácil assumir um compromisso, quando não conviveu com

alguém como eu. — Irritada, peguei meu celular, abri meus e-mails e fui em busca da foto que eu tinha guardado há muito tempo. — Diogo, mesmo ainda não tendo o peso ideal, prefiro estar assim do que, como antes. — Você é magra, Daisy. — Não sou. — Linda, não há nada de errado com o seu corpo. — Colocou a mão na minha perna exposta pela fenda e apertou. — Poderia engordar dez quilos e ainda seria tão gostosa quanto eu vejo. — E cinquenta? — Apertei na imagem para ampliar e virei a tela para ele. — Quem sabe, setenta? — Vi o choque no seu rosto, sua mão na minha pele parou de se mover. — Sim, essa sou eu e... Laerte falou a verdade sobre Neves ter se aproveitado. Mas também, ajudou. Não posso tirar o mérito dele. — Comendo um pedaço de batata que está no meu prato, você acha que voltará a ser como era? — Pegou o celular da minha mão, ampliou meu rosto e me fez encarar os olhos tristes, que costumava ver no espelho. — Sim, meu rosto sempre foi bonito. — Não é isso que você precisa ver. — Encarei seus olhos, havia fogo neles. — Felicidade, Daisy. Seu olhar estava apagado nessa foto e quando te pego sozinha lutando boxe, vejo a mesma coisa. Sou um filho da mãe orgulhoso por saber que posso resgatar esse desejo de viver. — Comeu um pedaço da comida no seu prato e sorriu. — Experimentar sabores faz parte disso. — Obrigada, mas não. — Tomei o celular da sua mão, fechei os aplicativos e soltei o ar irritada. Ele começou a rir e minha irritação se transformou em uma birra cômica, mas não dei o braço a torcer para entrar no

seu clima. — Podemos dançar. — Você não me assusta, linda. — Tem música. — Apontei discretamente para a pista de dança onde dois casais estavam. Era bom demais para ser verdade, Diogo não tinha fugido ou concordado com minha dieta. — A tatuagem de caos nas minhas costas não te afastou, por que eu faria? — Segurou meu queixo e virou na sua direção. Sabia que estava radiante, porque seu olhar admirado me fazia render aos seus pés. — Não importa por onde passou ou o que teve que acontecer para nos conhecer. Estamos juntos aqui, não há outro caminho que não seja para frente. Isso quer dizer que, você não vai voltar a ser aquela mulher, porque hoje, você se ama o suficiente, certo? Dona de si, ser de você mesma. — Eu me pertenço — sussurrei antes dele beijar minha boca e degustar meus lábios e língua. Foi sensual, apesar de se manter sobre a superfície. Mordeu meu lábio inferior e sorriu quando esfreguei minha perna na sua. — Quero ser um pouco de você também. — Prometo te honrar e proteger. — Levantou-se da mesa segurando a minha mão, puxou-me para o centro da pista de dança e dançamos a música lenta que tocava. Sua mão espalmou minhas costas onde estava nua, a outra abraçou meus dedos e segurou contra o seu peito, permitindo que também escorasse minha cabeça. A voz suave de Demi Lovato cantando uma versão lenta de I Love Me me fez refletir sobre a minha atual situação.

“Por que estou sempre procurando por relações problemáticas? Já que o meu coração é o único que terei para sempre

Depois de todas as vezes que eu estraguei tudo Eu me pergunto quando me amar será suficiente”

Será que estava misturando as coisas novamente ou era apenas uma evolução? Acreditava nas palavras de Diogo, caminhávamos para frente, não havia motivo para preocupação quanto ao que passou. Eu tinha que me bastar ao mesmo tempo que seria possível compartilhar das minhas conquistas. — Posso dizer que te amo? — questionei com um sussurro. — Em meio a escuridão que nos cerca, somos dois pontos brilhantes se amando. — Parou de dançar e deu um selinho em meus lábios. — Te amo, linda. — Acho que é nossa deixa — intimei-o sentindo necessidade de consumar a nossa declaração. — Vamos. — Pegou na minha mão e caminhamos em direção a porta de entrada da casa. Cruzamos com Laerte, que fez questão de nos encarar com desdém e atravessamos a parte coberta sem empecilhos. Quando chegamos na parte da frente, para seguirmos até o carro, uma pessoa trombou em mim e quase caí com tudo no chão, se não fosse a mão de Diogo me segurando. Colocou-me às suas costas e reconheci a risada dada pela pessoa que estava à frente. — Siga seu caminho, Fábio — Diogo falou com raiva enquanto o outro ria. — Grande San Marino — debochou. — O quê? Acha que vou disputar a sobra? — Percebi que se inclinou para frente e me mantive escondida, não queria que meu momento fosse manchado por ele ou qualquer coisa que dissesse. Sabia que era meu ponto fraco, ele conseguiria me fazer

sucumbir. — Ingrata filha da puta, dei tudo e me trocou pelo primo do chefão. Ela só quer saber do seu dinheiro. — Não! — gritei assustada quando Diogo avançou esmurrando Fábio. A negação era para evitar mais discórdia e não que estava protegendo meu antigo companheiro. Segurei o braço do meu namorado, ele soltou irritado e se afastou ao som dos risos de Fábio. Precisava ir atrás dele, mas antes, tinha que expurgar uma última fala. — O que quer de mim? — Abri os braços irritada. — Você me ajudou, agradeço, mas chega! Nunca me amou, me deixe ser feliz. — Como poderia gostar de uma anta gorda que nem dinheiro me dava? — Arrancou minha máscara e segurou meu queixo com força, meu corpo não se mexeu de nervoso e por despertar lembranças de dor. — Nunca será feliz, porque somos iguais. O resto que ninguém quis, o humilhado que está sob a mira de uma arma. Vi sua mão se levantar em câmera lenta, estava prestes a ser agredida, sem máscaras, na frente de Diogo. Havíamos nos declarado, não era mentira. Poderia ser a sobra de alguém, ao mesmo tempo que era a prioridade de outrem. Eu me amava e estava aprendendo a me compartilhar com alguém. Um passo de cada vez, achava que teria tempo para digerir tudo, mas não. Comigo nunca foi suave, era sempre uma confusão para lidar. Meu braço fez o movimento ao mesmo tempo que recebi o tapa. Desequilibrei dando passos para trás, Vi Diogo avançar com fúria sobre Neves, derrubando-o no chão, montando sua cintura e esmurrando seu rosto sem dó. O homem estirado na horizontal não rebateu e precisou de outros homens para tirar meu namorado de perto antes que o matasse com as próprias mãos.

Seu olhar era selvagem quando se levantou, ergueu os braços indicando rendição e, por um segundo de descuido de todos, chutou a barriga de Fábio. Ele gemeu e se encolheu, para meu alívio, por não o ter matado. Poderíamos estar no meio de pessoas perigosas e inescrupulosas, mas não éramos assassinos. Peguei no seu pulso, puxei-o para longe da aglomeração que se formou e achei Vicente acenando para nós. Empurrei-o para se sentar no banco do passageiro, fiquei ao seu lado e deixamos que o motorista nos conduzisse para o seu apartamento. Suas mãos tremiam, percebi que as minhas também, quando tentei estendê-las para tocá-las. Lágrimas escorreram dos meus olhos, porque sentia a ruptura na minha alma, o passado não mais se conectava com o meu presente. Eu revidei. Lutei pela minha felicidade. Senti braços me apertando, soltei um soluço e chorei agarrada aquele que era o meu presente, quem se esforçou para me amar com todas as minhas imperfeições e inseguranças. — Me perdoa, não te protegi — lamentou me dando carinho. O que ele não sabia, era que fez o certo em deixar que minhas mãos resolvessem o assunto. Eu era capaz de me proteger e ninguém me tocaria dessa forma, nunca mais.

Capítulo 22 Daisy Acordei me sentindo febril. Não tinha nada a ver com o corpo que me abraçava por trás, mas o sonho erótico que tive. As sensações estavam exalando do meu corpo e, ao invés de acordar Diogo para consumar o ato, virei-me no seu abraço lentamente e fui escorregando para baixo, até encontrar seu membro. Alguns movimentos com minha mão e ele já estava ereto para chupá-lo. Suguei desesperada, era parte do que fiz e fui recompensada com um dos melhores orgasmos da minha vida. A coberta saiu de cima de nós, Diogo virou para ficar deitado de costas na cama e me encarou em plena neblina de luxúria. — Bom dia, linda — gemeu com rouquidão. — Quero gozar dentro de você. — Eu também. — Subi no seu corpo e estiquei-me para pegar a camisinha na gaveta do armário de cabeceira. Encapei seu pau e me sentei nele pouco a pouco, subindo e descendo. Suas mãos apertaram meus seios, deixei que meus quadris ditassem o ritmo e me entreguei as sensações, sem vergonha do meu corpo, muito menos de como buscava o prazer. Ele se sentou, ajudou-me a subir e descer enquanto beijava meu pescoço. Uma mão foi para minha bunda, invadiu meu buraco e sorri, porque estava apreciando essa ousadia.

Abriu a boca, parecia que ia dizer algo, mas não fez, gemeu e encarou-me apreciar o vai e vem. Curvei meu corpo lentamente, para frente e para trás, até que o orgasmo foi anunciado e me desmanchei no seu colo. Ele caiu de costas na cama me levando com ele, tínhamos encontrado o clímax junto. Foi surpreendente. Estava me acostumando a ter sonhos virando realidade. Saiu de dentro de mim deixando um beijo suave nos meus lábios. Tocou meu rosto e vi o punho esfolado por conta da briga do outro dia. Quando chegamos, não falamos nada, apenas tomamos um banho e dormimos abraçados, precisávamos desse tempo para lidarmos com o que tinha dentro de nós. Ele achou que tinha falhado com minha proteção, eu estava feliz por ter me erguido por mim. Antes de me compartilhar para alguém, precisava ser autossuficiente para mim. Beijei seus arranhões e sorri satisfeita enquanto me admirava. — Vamos juntos pegar suas coisas — declarou com tanto carinho, que quase aceitei. — Preciso terminar um job. — Ficarei com você até concluir. — Não tem trabalho hoje? — questionei divertida. — Tenho muitas coisas para fazer, mas quero começar com você estando segura. — Sentou-se na cama e fiz o mesmo. — Uma pessoa me abordou ontem na festa. — Que horas? Nós ficamos juntos em todos os momentos. — Quando saí irritado, porque me impediu de continuar socando a cara do Fábio. — Demonstrou arrependimento quando neguei com a cabeça.

— Entendi depois o real significado, estava puto, apenas isso. — O que essa pessoa falou? É homem? — Mulher. — Ergueu as sobrancelhas para minha seriedade. — Era uma das garçonetes. Escutou meu nome e disse que em outro momento, ouviu alguém dizendo que apenas eu poderia salvar a mulher que estava presa, em cárcere. — Bagunçou o cabelo. — Não tive tempo para questionar ou saber mais, porque Fábio bateu em você e... — Acha que é sua irmã? — Segurei sua mão e ele acenou afirmativo. — Será que está na casa da sua mãe? — Só vou descobrir se for novamente lá. Mas antes, te quero por perto e vou procurar essa garçonete com o cerimonial. Preciso achar uma desculpa para não dar bandeira que estou mexendo onde não devo. — Posso te ajudar? — perguntei ficando de joelhos para sentar-me no seu colo. Abraçou minha cintura enquanto envolvi os braços no seu pescoço. — Sei me defender. — Sabe mesmo. — Apertou minha coxa e subiu para a bunda, sorria apaixonado. — Vamos pensar primeiro e prioridades no topo da lista. — Levantou-se da cama comigo em seus braços. — Banho e café da manhã. — Gosto assim — comentei deixando vários beijos no seu rosto e terminando na sua boca. Demoramos para nos aprontar, ainda mais porque levei um tempo para cuidar dos seus machucados. Conheci suas ajudantes do lar e fui apresentada como namorada, aquela que também poderia ditar o que fazer. Meu coração se encheu de amor quando perguntou o que iria nos meus shakes, que providenciaria na compra do supermercado. Quando me preocupei em retribuir, ainda mais pensando que não

tinha o suficiente de dinheiro para minhas dívidas, ele falou sobre aulas particulares de boxe. Havia uma academia privada no seu prédio, iríamos improvisar enquanto o nosso foco seria encontrar a irmã. Sem informações concretas, tinha receio de que tudo fosse uma ilusão e Diogo se frustrasse ainda mais. Lembrei de Oton e seu amigo Erik, que estava com a amizade estremecida por conta do que Laerte fez. Será que era possível retomar o que eles tinham? Como amenizar a ameaça de Laerte nas nossas vidas? Seguimos para meu apartamento com Diogo dirigindo. Com nossas mãos unidas, escutamos suas músicas agitadas enquanto ele parecia com o pensamento longe. Ill Niño cantava How Can I Live?, no refrão, ele se virou rapidamente para mim.

“Tudo o que está em mim, Tudo o que morre em mim. Como eu posso viver sem você?”

Beijou minha mão e acompanhou a parte final da música: — Do you think of me? Do you dream of me? I always dream about you[1]. — Você teve a prova hoje de manhã. Estava sonhando com você, acordei e realizei — respondi suas perguntas cantadas. — Tem horas que penso que está bom demais para ser verdade. — Será? Abri a boca para responder com alguma observação divertida, vi a

figura do meu irmão ao longe, estávamos nos aproximando do meu prédio. Soltei meus dedos do agarre de Diogo, cruzei os braços assustada e quando o carro parou, lá estava uma das pessoas que temia encontrar pessoalmente. Acostumada a vê-lo em outro tipo de roupa, o terno e gravata que estava me intimidou. Sem perceber minha reação ou ignorando-a, Diogo saiu do carro e foi até Dário, cumprimento-o. Eles pareciam conhecidos, meu coração acelerou ainda mais, até que minha porta foi aberta e não tive escolha. — Sim, estou com minha mulher comigo — meu namorado comentou me ajudando a sair do carro. — Dário, essa é Daisy. — Oi, irmã — ele cumprimentou sério, Diogo olhou de um para outro e me colocou no seu abraço. — Sabe como odeio usar meus recursos para resolver algo, ainda mais que poderia ter de você. — Vamos conversar lá dentro, certo? — Diogo ficou entre nós, enfrentando meu irmão. — Sei que tem muitas perguntas e talvez, ela não esteja pronta para responder. Só... dê tempo. — Para você, pode ser novidade. Mas estou há anos esperando. Esse é meu limite. Troquei de lugar para ficar mais longe de Dário, apesar da minha vontade ser de abraçá-lo. Estava tão diferente, parte da sua rigidez tinha sido trocada por uma seriedade mais plácida. Entramos no meu prédio, subimos de elevador ainda mantendo o distanciamento e, quando ficamos na privacidade no apartamento, fui para a cozinha preparar meu shake, já que não comi nada em Diogo. — Estão namorando há quanto tempo? — meu irmão perguntou, estava prestando atenção na sala.

— Algumas semanas. Ela vai terminar um trabalho e vai morar comigo. — Diogo suspirou. — É complicado, mas sua irmã precisa de proteção. — Está com ela para ser algum herói? — Se quer saber se a amo, sim. Tenho muita coisa acontecendo na minha vida, não ficaria com ela se não valesse a pena. — Daisy sempre foi tímida e reclusa, apesar de sempre ter uma observação geniosa para fazer. Ela parece com medo... está diferente. — Sim. — Apareci na sala, os dois me encararam e Diogo me deu espaço quando estendi a mão para impedir que se aproximasse. Tomei um gole do shake como se fosse a coragem que precisava para conversar. — Muita coisa aconteceu comigo, Dário. Fiz coisas que me envergonho e não — apontei o dedo para ele —, deixaremos a conversa detalhada para depois. Você também está diferente, vão criar um clube do terno e tatuagem? Enfim, preciso trabalhar, tirar o nervoso que estou de pensar que Neves pode aparecer e vocês dois começarem uma guerra. Ele me ajudou, eu paguei, agora devo apenas a mim mesma. Tomei um gole do meu shake, fui para o escritório e deixei os dois sozinhos, mesmo sabendo o quanto estava sendo uma péssima anfitriã. Prioridades primeiro, terminar o trabalho, pegar minhas malas e começar uma nova fase da minha vida com o MEU executivo tatuado.

Capítulo 23 Diogo de San Marino — Neves quem? — Dário rosnou se sentando no sofá. Fiz o mesmo, porém, relaxado. Teria um momento de distração e conheceria mais de Daisy, pelo olhar da família. — Fábio Neves. — Vi quando franziu a testa, pegou o celular e olhou algo antes de soltar um xingamento baixo. — Conhece a família Azevedo? — questionou irritado e bufei. — Acho que preciso me apresentar primeiro. — Estendi a mão e ele cumprimentou confuso. — Sou Diogo de San Marino, dono do Restaurante San Marino. Minha mãe é Kátia Azevedo e meu primo é Laerte Azevedo. — Vai se foder! — Levantou-se irritado. — Minha irmã não vai chegar perto de você nunca mais. — Estou vinculado a eles, mas não fazem parte de quem eu sou. — Encarei-o de onde estava. Percebi que Dário era forte e estava muito bem informado. — Conheci sua irmã no lado bom da minha vida e é nela que pretendo manter meu foco. — Corruptos e controladores! Só não tem o título de mafiosos, mas são piores do que eles, porque se portam como grandes empresários. — Concordo, começando pela minha mãe. Não pedi para fazer parte dessa porra toda. Estou por Daisy e pela minha irmã. — Você meteu minha família no meio do seu rolo? — Tentou avançar em mim, levantei-me e dei espaço para respirar.

— Não vou brigar com você. Me escute, depois podemos entrar no ringue da academia e lutar. — Parem com isso, vocês não vão brigar! — ela gritou irada do seu escritório e não contive o sorriso. Mesmo trabalhando, estava focado em nós. Dário voltou a se sentar e fiz o mesmo, minha atenção estava aguçada, porque minhas mãos ainda estavam doloridas. — O que Fábio Neves tem a ver com tudo isso? — ele questionou olhando para o celular. — Se metade do que está escrito aqui é verdade, então, minha irmã é uma prostituta — falou baixo com aflição. — Ela teve um relacionamento com esse imbecil. Se aproveitou da situação dela estar sensibilizada e acima do peso, deu tudo o que ela precisava e começou a cobrar com juros. — São mais de dez anos de diferença entre eles. Não faz sentido. Onde se conheceram? Ele a impedia de ver sua família? — Não sei os detalhes, cara. Sua irmã precisa de tempo, mesmo que para você, já foi mais do que suficiente. É o tempo DELA! — Defendi minha mulher. Eu mesmo não sabia os pormenores e, na altura do campeonato, não me importava desde que conseguíssemos construir algo novo com o que tínhamos. — Gosto de Daisy e, de certa forma, seu vínculo com Neves abriu uma brecha para fazer mais para a família Azevedo e encontrar minha irmã. — Sabe que há mortes vinculadas a sua família. Não é possível comprovar judicialmente, mas é real. Eles não terão clemência se você fizer algo que não gostam. — Acredite, eu sei. Mas eles não me verão com medo, quero lutar. — Ele acenou concordando e inclinei a cabeça. — Sua vez, cunhado. Já sabe o importante para mim.

— Trabalhei na tropa de elite da polícia. — Ergueu as sobrancelhas. — Faz parte do meu contrato o sigilo, por mais que não faço parte desse universo. Abri um bar na cidade dos meus pais e vou abrir aqui na cidade, queria ficar próximo da minha irmã. — Casado? — questionei olhando seus dedos, já que parecia mexer em um anel invisível. — Separado? — Solteiro — comentou com irritação. — Estou fazendo os últimos ajustes no bar, como a contratação de pessoas. Vou cuidar da minha família. — Então, vai ter que adicionar Diogo no meio. — Daisy aparece, se sentou no meu colo e encarou o irmão. — Estou com ele. — Vai apresentar para nossos pais o primo do homem mais perigoso e temido da cidade? — Meu namorado, o homem que vou morar junto e construir uma vida ao lado dele. — Sorri vitorioso, tanto por ter conquistado o coração de Daisy, como por mostrar a Dário que não era viver com medo, mas com cautela. — Estou organizando minhas contas, vai dar tudo certo. — Ele tem uma irmã que, pelo o que entendi, está em cárcere privado. Acha que vai escolher quem, se as duas estarão sob a mira de Laerte? Era um filho da mãe desgraçado, que me colocou em uma posição onde não havia escolha, mas ação. Não deixaria que acontecesse, porque a perda de uma me faria sofrer pela outra. Daisy se levantou, segurou nas mãos do irmão e o fez a abraçar de pé. O olhar do homem estava em mim, ameaçador, mas também agradecido, por ter recuperado parte da família. Mostrei meu lado dos sentimentos ao observá-los, se ele sabia o que era recuperar uma irmã, ele deveria me

entender. Não a conhecia, nunca tivemos contato, mas dentro de mim queimava uma necessidade por recuperar a última parte viva do meu pai. Era como se, com ela, minha paz e distanciamento da família Azevedo fosse restaurada, seria peça fundamental na solução de todos os problemas. — A situação não acontecerá e ele não terá que escolher, porque se fossem os dois na minha frente, eu também ficaria sem reação. — Afastou do irmão e sorriu. — Vou te contar tudo, um dia. Agora, se vocês puderem ser amigos e não ameaçar a cada diálogo, poderei concluir o meu serviço. Esse apartamento é de Neves, não precisamos ficar mais que o necessário aqui. — Vai lá. — Empurrou-a de leve para longe, sentou-se no sofá relaxado e olhou para o teto. Fiz o mesmo e estiquei as pernas, precisava pensar no próximo passo. — O que tem em mente para recuperar sua irmã? — questionou me fazendo olhá-lo. — Tem o nome completo? Onde moravam? — Vai se envolver com o primo de um bandidão? — ironizei sorrindo, ele tinha malícia no seu olhar sério. — Vou ajudar o meu cunhado, ouvi dizer que não adianta reclamar por ele ser apenas um agregado. — Sorriu de boca fechada. — Eu protejo a família. No meu caso, eu só preservava aqueles que valiam a pena, os amigos que eram a família que escolhi para estar por perto. Iniciei uma conversa sobre o seu bar e até o almoço, onde Daisy comeu sua marmita fitness enquanto eu e Dário nos esbaldamos na entrega que solicitei do meu restaurante. Se não fosse as limitações, poderia fazer uma parceria com meu cunhado.

Ele tinha uma visão empresarial parecida com Erik. Comentei sobre meu amigo dono dos vinhos Bortolini, além do tatuador Oton. Seu interesse pelos dois aumentava cada vez que narrava uma história antiga sobre as farras da noite, omitindo a parte das mulheres. Como meu caos, estava nas minhas costas, no passado. Próximo do meio da tarde, fomos interrompidos por um grito animado. Daisy apareceu na sala pulando e batendo palmas, para nossa confusão. — Terminei! Um novo cliente surgiu, mas pedi que falasse comigo na próxima semana, porque estava de mudança. — Tirou-me do sofá e foi para o seu quarto, fechou a porta e trancou. — O que foi? — Assustei quando tirou a blusa e começou a se despir. — Seu irmão está na sala. — Nessa cama, Di. Me faça ver estrelas, quero que essa seja a última lembrança desse lugar. Vamos recomeçar. — Nua, pulou no meu colo e beijou minha boca em desespero. Virei-a para pressionar contra a parede, coloquei minha língua na sua boca para degustá-la sem receios e realizei seu pedido. Se fosse para ser feliz, que não perdêssemos a oportunidade de iluminar o caos que nublava nosso passado.

Capítulo 24 Diogo de San Marino Fomos para a portaria do meu edifício buscar Dário. Ele carregava duas malas e havia outras caixas no porta-malas do meu carro, que seriam levadas depois que instalasse minha mulher. Esbocei um sorriso para Daisy quando entramos no elevador e seu irmão não direcionou o olhar para nós. Nossa comemoração não foi silenciosa, apesar de ter me contido ao máximo. O que importava era a nossa felicidade. — Preciso falar com você depois, San Marino — meu cunhado exigiu quando entramos no meu apartamento. — Não brigue com ele. — Daisy postou-se em minha defesa. — Sei o que está pensando, outro homem para me bancar, estou sem computador, como farei para trabalhar... — Colocou as mãos na cintura e enfrentou-o, havíamos parado no meio da sala. — Farei minha parte nessa relação, nenhuma dívida será realizada, porque aprendi a lição. — Onde é seu quarto? — Dário questionou e apontei para as escadas. — Venha comigo, depois conversarei com seu namorado. — Você não é meu pai — resmungou irritada, mas o acompanhou. Optei por esperá-los, havia algum assunto mal resolvido que precisava ser esclarecido. Fui para a cozinha, instruí minha ajudante para preparar um bom jantar e esperei-os voltar relaxando na sacada da sala. Tão focado na minha rotina, há muito tempo não apreciava a vista do pôr do sol. Com as mãos no

mármore que cobria a grade, percebi que teria muitos momentos apreciando as estrelas com minha mulher. Ela estava preocupada em não ter uma dívida comigo, enquanto eu focava nos bons momentos que poderíamos participar, sem pensar em dar e receber. A palavra de ordem, em meu coração, era compartilhar. — Apesar das restrições que ainda tenho com você, acho que minha irmã está em boas mãos. — Dário apareceu ao meu lado com as mãos no bolso. Olhei para trás, não vi Daisy. — Pedi que me desse essa conversa em particular com você. Esse assunto será entre nós. — Amo Daisy — confessei sem encará-lo. — Não a colocaria dentro da minha casa, sabendo dos riscos que é estar comigo, se desconhecesse o quanto poderia protegê-la. Lido com a família Azevedo para que ninguém se machuque. — Tenho amigos na região. Pessoas que manterão a segurança por um bom preço mensal. — Olhei-o surpreso, ele não parecia estar disposto a fazer um acordo. — Não é uma negociação — constatei e ele acenou, eu daria cabo da minha parte nesse contexto. — Meus pais vão querer vir te conhecer, reatar a conexão que minha irmã rompeu quando não se achou digna de ser cuidada. Fábio Neves destruiu a autoestima de Daisy, ela não se alimenta direito e deixa claro o quanto não gosta do seu corpo. — Ela tem medo de engordar. Prefiro respeitar suas vontades e, aos poucos, mostrar que pode ser diferente. — Voltei a olhar para o céu. — Algumas pessoas são moldadas na dureza e pressão, outras precisam de espaço para cair várias vezes antes de seguir caminhando com confiança.

— Daisy não sabe que maltrata a si mesma — falou baixo se aproximando mais de mim. — Ela é mais forte do que nós dois damos crédito. — Tenho vontade de encontrar aquele que causou tudo isso e acabar com ele com minhas próprias mãos. — Estamos sob o mando da família Azevedo. — Virei para ficar de frente a ele. — Quando tiver a oportunidade, não terei piedade com Fábio. — Você é muito passivo, Diogo de San Marino. Pode perder a sua irmã no caminho, porque não agiu. — Um golpe na boca do meu estômago doeria menos. — Minha irmã poderá ser vítima novamente, se não colocar limites. — Existe uma linha tênue entre sugerir e impor. Daisy vem de um relacionamento abusivo, onde sua prioridade se tornou amar a si mesma antes de qualquer coisa. — Inflei meu peito, para não começar uma luta que seria maléfica para ambos. — Ela precisa de um tempo, ainda bem que sou paciente, darei a ela o que acho necessário. — Leve-a na terapia, procure ajuda especializada, o caralho a quatro. — Apontou para dentro do apartamento com raiva. — O que não aceitarei, de forma alguma, é ver minha irmã ser destruída novamente. — Vou contratar seus amigos, o que quer que eles sejam. Farei o que quiser para te deixar tranquilo, desde que não interfira em como eu lido com minha mulher. — Estendi a mão para que ele cumprimentasse e selasse o acordo. — Vai falar com Daisy e... — Dário, te irrita minha inércia, porque você é igual. Quanto tempo demorou para descobrir onde sua irmã morava para confrontá-la? — Indiquei

minha mão e ele percebeu o quanto eu tinha razão. — A diferença do passado para o presente, é que agora, existe alguém que ama a sua irmã de verdade. O que acontecer a partir desse momento, será para o nosso bem, porque estamos em um relacionamento sério. — Você precisa encontrar sua irmã. — Apertou minha mão com força, retribuí na mesma intensidade. — Enquanto houver algo que poderá te atingir, minha irmã estará vulnerável, ambos estarão. — Soltou-me com semblante menos agressivo. — Posso te ajudar. — Obrigado. — Bati no seu ombro com força, ele parecia ter reparado apenas naquele momento a tatuagem no meu punho. — Me passe seu número, entrarei em contato qualquer dia desses. — Tem algum tatuador de confiança na área? — questionou e sorri de lado, lembrando do quanto Oton poderia bater de frente com meu cunhado. — Eu e Daisy faremos uma nova tatuagem a qualquer dia desses, você pode vir junto. — Puta que pariu, não coloque seu nome no corpo da minha irmã. — Pegou o celular bufando irritado. Passei meu número, ele enviou uma mensagem e me coloquei superior. — Vou te passar o contato de Vicenzo Rizzo, da Irmandade Horus. Ele e seus homens farão a proteção de vocês. — Será que poderá estender para outra família? — Cruzei os braços e alisei o queixo pensando em Erik, Orquídea e Oton. — Seu bolso será o guia. — Sua vez de bater no meu ombro, desloquei para o lado e ele riu. — Sua sorte que não quero quebrar sua cara de anjo no ringue. — Estou pronto para mostrar que sua irmã, além de forte, sabe

ensinar muito bem. Entramos na sala e olhei para o topo da escada, onde Daisy estava sentada com os braços cruzados. — E então, os homens já se acertaram? — questionou se levantando. — Vamos parar com a disputa e sermos uma família? — Fique bem. — Dário abriu os braços e ela foi para se aninhar nele. — Vou nessa, ainda tenho muito o que fazer antes de abrir o bar. — O jantar será servido em poucos minutos. É bem-vindo. — Convidei mais brando, olhando a interação dos dois e tomando as palavras de Daisy em doses homeopáticas. Família... por muito tempo tive a ilusão do que seria esse vínculo. Perdi a referência depois da morte do meu pai, as atitudes da minha mãe e, então, a amizade com Erik. Perceber que romperia com o que tínhamos me fez acreditar que existia outras formas de me sentir pertencente a algum lugar. Não era o melhor dos homens, nem o mais sensato, mas com certeza fazia o melhor que eu podia. Despedimo-nos de Dário, levei Daisy para a sacada e esperamos a refeição enquanto apreciávamos o céu escuro, de pé, escorados contra a grade. As estrelas começavam a aparecer, meu corpo pressionava mais o seu e o silêncio transformou dúvidas em exatidão. — Você tem linha e agulha? — ela questionou ficando de frente para mim. — Trouxe aquelas estrelinhas que você fez enquanto eu tatuava. Estou pensando em fazer algo... meio bobo, mas... — Está tudo bem, quero que se sinta em casa. — Beijei seus lábios e a puxei para a sala. — Vamos comer, talvez precise de mais estrelas para seu projeto.

Sentia a resistência em suas ações, como percebia o esforço para agir como eu também fazia. Nem sempre, em uma relação, começamos em pé de igualdade. Cabia a nós reconhecer o quanto recebemos a mais, ou a menos, aceitar e fazer a partir daqui. Como explicar para Daisy que ela tinha dívida de sentimentos comigo e não material? Que meu trabalho, os lucros e ganhos, foram feitos para ter uma vida melhor e poder proporcionar isso para quem estivesse ao meu lado? Talvez Dário estivesse certo, a terapia seria importante para ambos.

Capítulo 25 Daisy — Puta que pariu. — Diogo se levantou com brusquidão da cadeira e andou pela sala. Estávamos no restaurante, alguns dias se passaram desde que me mudei para seu duplex e, consequentemente, queria ajudar de alguma forma no restaurante. — O que foi? — Tirei os olhos dos papéis que estava organizando para ele. — Laerte está vindo para cá com a minha mãe. Disse que o assunto é comigo. — Alisou o cabelo e rosnou irritado. — O que eles querem? Será que desconfiaram da minha busca pela garçonete da festa de noivado? — Conseguiu achá-la? — Fui até ele e o abracei, conseguindo acalmá-lo um pouco. — Você tira de letra essas reuniões, precisa se acostumar. — Nunca verei o que eles fazem como normal, ainda mais no restaurante. — Beijou minha cabeça e alisou minhas costas. — Vá para casa, eu lido com isso. — Você cobre minhas costas, eu cubro a sua. — Afastei meu rosto para encará-lo e sorri para o quanto ele pareceu gostar. — Sim, suas costas é toda minha. — Virou-me e inclinou meu corpo em cima da mesa. — Estou tão irritado, ao mesmo tempo excitado que você está querendo enfrentar tudo ao meu lado. Não basta dividir a cama comigo, a casa, agora quer se envolver nos meus problemas, Daisy?

Apertou minha cintura, esfregou sua pélvis na minha bunda e arfei apreciando a direção dos seus pensamentos. Era o que poderia fazer no momento de transição da minha vida, estava no limbo profissional enquanto minha vida pessoal estava indo muito bem. — Vamos de rapidinha? — questionei abrindo minha calça e tirando-a, junto com a calcinha, expondo minha bunda para ele. Apressado, tirou seu pau duro, pegou uma camisinha e se agachou para me chupar. — Oh! Estiquei os braços e tentei abrir o tanto que dava das pernas para ele me beijar com intimidade. Abusou da saliva, me deixou molhada enquanto sua língua tocava meu clitóris e foi até entre minhas nádegas, causando um rebuliço no meu ventre. Ficou de pé, colocou seu pau na minha boceta, entrou devagar, depois tirou, forçando a entrada no meu ânus. Virei a cabeça para encará-lo, estava concentrado em me dar prazer de várias formas ao mesmo tempo. Relaxei um pouco mais, seu olhar encontrou o meu e sorriu de lado como o safado que era. — Gostoso? — Revezou entre um buraco e outro, lentamente. — Estou pronta para gozar, homem de terno. — Prefiro o outro apelido. — Meteu forte na minha boceta e lá ficou, entrando e saindo, apertando minhas ancas e gemendo em apreço. — Executivo tatuado? — Inclinou para frente, colocou o dedo entre minhas pernas e estimulou meu clitóris. Com os pensamentos nublados pela luxúria, percebi que o meu filtro de confissões estava desativado. — Você é meu homem, San Marino, com ou sem a pose de empresário. — Ainda bem que sabe. — Lambeu minha orelha e saiu de mim

para posicionar na minha bunda. — Eu vou te proteger. Abri a boca em busca de ar, ele me penetrou com os seus dedos e o pau, meteu firme levando-nos ao clímax. Os tremores do meu corpo acabaram quando ele relaxou e saiu de dentro de mim. Busquei sua boca e trocamos beijo suave, porque a bateram à porta. — Droga — resmungou se levantando. Fiquei tempo demais naquela posição e Diogo ajeitou minha roupa no corpo antes de me ajudar a ficar de pé. — Deve ser eles. Não precisa lidar com isso. — Eu quero, porque faz parte de você. — Tocou meu rosto e fiz o mesmo. — Devo estar com cara de quem acabou de transar. — Deslizei meus dedos em seus lábios. — Se falarem merda, você não vai retrucar. Me deixe escolher as batalhas que quero lutar, então, você entra em jogo. — Te ofenderem é a mesma coisa que fosse para mim. — Segurou na minha mão e foi para a porta me puxando. — Posso não agredir fisicamente nenhum dos dois, mas me permita rebater verbalmente. Ele abriu a porta e ao fundo, sentados em uma mesa, estava Laerte demonstrando tédio com seus dois seguranças de pé as suas costas e a minha sogra, Kátia, vestida de forma elegante e com olhar mortal em minha direção. Mal aproximamos da mesa, o veneno parecia prestes a pular na minha veia. — Ela não faz parte dessa conversa, Diogo — a mulher falou irritada. — Estão no meu restaurante e não anteciparam o assunto. Por conta disso, Daisy fica. — Meu homem pegou a cadeira, puxou e me sentei olhando para Laerte, que sorria para mim apenas com os olhos. Senti um calafrio de medo, ainda mais porque Kátia não parecia satisfeita. — O que

querem? — Acomodou-se ao meu lado e pegou minha mão para pôr em cima da sua perna. — Sua mãe tem um assunto importante para tratar, que interfere nos negócios da família. Estou aqui para decidir o que será feito com essa informação, então, Kátia — Laerte olhou-a indiferente —, fale de uma vez. — Como todos sabem, estou me casando com Conrado, grande empresário da família Azevedo. — Empinou o nariz e ignorou-me ao olhar apenas para os homens. — Pretendemos expandir os supermercados da cidade, comprando aqueles com menor visibilidade. Há uma rede importante que está difícil a negociação. Preciso de você, meu filho. — Não entendo nada sobre esse tipo de negócio e não tenho interesse em intermediar nada por você, mãe — falou irritado e apertei seus dedos para conforto. — Não preciso do seu cérebro, apenas uma assinadora. O dono do mercado que quero tem uma filha, você irá se casar com ela. — Meu coração congelou, ainda mais quando percebi os seguranças de Laerte descontentes com a fala de Kátia. — Ela completou dezoito anos, você pode engravidar a menina e... Diogo começou a rir, forçou a gargalhada e trouxe minha mão para sua boca, beijou, antes de tentar se acalmar. Olhei para os convidados, nenhum deles pareciam satisfeitos e, talvez, nem fosse pelo mesmo motivo. — Em que século você parou no tempo? — meu namorado zombou. — Você não me chamou para isso, Kátia — Laerte pontou pausadamente. — Como vamos contribuir com nossa parte, para a família, se não temos o monopólio dos supermercados? — Ela bateu na mesa irritada, vi um

dos seguranças tirar a arma da cintura por precaução. — Que se foda a amante de Fábio, ele precisa pensar na família! — Estou pensando, mãe. Mais, precisamente, na minha irmã. — Diogo inclinou para frente, desafiando-a. — Onde ela está? — Em uma kitnet no bairro Dunas, com uma coleira no pescoço e ração para cachorro como alimentação. — Laerte se levantou e negando com a cabeça ao que um dos seguranças falou próximo ao seu ouvido. — Você não pode fazer isso! — Kátia gritou e tentou se levantar, mas o segurança apoiou a mão no seu ombro forçando-a a ficar onde estava. — Filho da puta! — Mas não são todas as mulheres com sobrenome Azevedo, titia? — Vi quando o homem ajeitou o terno e olhou para Diogo com desprezo. — Vocês estão me dando mais dor de cabeça do que o necessário. Mandaria os dois para a vala comum por muito menos. — Ele comprou a dívida de Fábio, está devendo a família, isso quer dizer que também me deve. E o que você fez? Entregou de bandeja a localização da bastarda. Coloquei as mãos na boca quando um dos seguranças deu um tapa no rosto de Kátia, que caiu no chão por conta da força. Lembrei do que fizeram comigo na sua festa e compreendi a raiva de Diogo por Neves ter feito isso para mim. Era desesperador assistir, ainda mais sem poder rebater ou proteger. E por que deveria fazer algo? Apesar de tudo, era a mãe de Diogo, por pior que ela fosse. — Você me fez perder tempo e dinheiro. — Laerte seguiu para o lado de Kátia, que se levantava humilhada. Eu e Diogo continuamos na

mesma posição sentados, em alerta. — Estou te fazendo um favor, a vingança que pensa estar fazendo vai causar a sua morte. — Saiu andando e os dois seguranças nos intimidaram antes de acompanhar. — Resolva isso o quanto antes, San Marino, ou eu o farei. Assustei ao ouvir o grito histérico da minha sogra. Ela se levantou derrubando a cadeira. Digo me ajudou a me afastar antes da mesa ser virada em nossa direção por conta da reação de Kátia. — Está bem? — meu namorado perguntou baixo, colocando-me atrás dele. Mais um grito soou, respirei fundo e acenei afirmativo. — EU TE ODEIO! — Kátia gritou na direção do seu filho. Derrubou mais cadeiras, ela parecia uma lunática em crise existencial. — Você é igual ao seu pai, egoísta, traiçoeiro! — Se quer me ofender, está fazendo errado. Gosto de ser como meu pai — Diogo falou calmo. — Mas nunca irá se livrar de mim, dos Azevedo! — Ajeitou a postura, respirou fundo e tentou arrumar o cabelo. — Tome cuidado por onde anda, biscatinha. Ele é MEU filho. — Recado dado, sogra. — Ousei apontar para o elevador e enfrentála sem medo. — Não nos espere para o Natal. — Se acha engraçada? — Pegou o celular da bolsa com raiva. — Brinquei demais com a bastarda, está na hora de dar um fim nela. — San Marino prevalecerá, não importa o que faça. — Ele avançou, tirou o celular na mão dela e a arrastou para o elevador xingando e batendo nele. Voltou na minha direção e entregou o aparelho para mim, tocando a tela a cada segundo.

— Não deixe que bloqueie. Vou ligar para seu irmão, falar com a Irmandade Horus, vamos atrás da minha irmã agora. Olhei para Diogo e vi o brilho de esperança nos seus olhos. Depois de assumir o quanto gostava dele, encontrar sua irmã era a próxima ação para acalmar meu coração, também o dele. Nossos objetivos estavam em sincronia, meu peito parecia que iria explodir de emoção e minha vida, por mais bagunçada que parecia estar, era aquela que eu ansiava permanecer.

Capítulo 26 Daisy Por mais que insistissem para que eu ficasse, Diogo e Dário tiveram que aceitar minha companhia nessa missão. A emoção misturada a adrenalina não me deixou apenas esperar. Por Deus, uma mulher estaria sendo resgatada de cárcere, tortura e sabe-se lá mais o quê. Não dava para envolver a polícia, talvez nem a convocação de um médico para examiná-la nesse primeiro momento. O jeito era contar comigo para dar apoio. — Nunca perguntei o nome dela — constatei respirando fundo enquanto observava o carro da frente, que tinha meu irmão e dois outros homens que desconhecia. — Também não sei. — E como foi possível acreditar que ela existia sem ter nada concreto? — Não queria ser a pessoa a jogar areia no fogo do momento, mas foi impossível me conter. Ele apertou o volante e ficou calado. — Diogo, o que se passa na sua cabeça? — Confiei em meus instintos. — Virou o volante e reduziu a velocidade de acordo com o veículo da frente. Era a terceira kitnet que visitaríamos, para contribuir com a ansiedade de não ser essa a que procurávamos. — Perdi a referência familiar, desfiz uma amizade de anos e quase rompi por completo meu vínculo com Oton. — Desligou o carro e estendeu a mão para apertar a minha. — Agarrei-me a qualquer resquício de esperança para voltar a pertencer. Não faço parte da família Azevedo, estou

construindo a minha própria, começando pela irmã que meu pai deixou para cuidar. Saímos do carro e fiquei ao lado do automóvel enquanto os homens invadiam o local. Batiam à porta e arrombavam quando não havia ninguém no lugar. Cruzei os braços e conferi os arredores, era um bairro muito humilde e com terrenos baldios ao redor para esconder... pessoas. Escutei uma discussão entre eles mais ao fundo. Diogo passou as mãos nos cabelos e percebi seu nervosismo de longe, não era o local que procurávamos. Refleti sobre as últimas palavras do meu namorado para mim, sobre seguir seus instintos e sentir-se pertencente a algo. Minhas pernas se moveram por conta própria e meu ouvido escutou um gemido baixo no meio do mato ao lado. Não me importei com a sujeira ou o perigo, invadi o terreno baldio, afastei o mato que estava da minha altura e fui em direção ao barulho, que mais parecia uma ilusão da minha mente. Percebi um espaço descampado mais a frente, olhei para o chão e lá estava uma garota, com menos idade que eu, encolhida e suja no chão. De olhos fechados, parecendo desfalecida, suas mãos estavam presas com um pano, seus tornozelos e sua boca. No mínimo movimento que fez, não hesitei em anunciar: — Aqui! — gritei para quem quisesse ouvir, tirei minha blusa sem pensar e tentei colocar em seu corpo. Ela resmungou enquanto eu forçava as amarras a se soltarem. Escutei os homens se aproximarem na hora que soltei seus pulsos e ela me atacou, com as mãos no meu pescoço. Não tive tempo para processar

o ocorrido, ela foi separada de mim, Diogo conteve a mulher enquanto Dário me ajudava a levantar. — Por que está apenas de sutiã? — Fiquei firme sobre meus pés e colocou sua camiseta em mim. Estava hipnotizada ao ver a cena na minha frente, os dois se olhando, irmãos se conhecendo pela primeira vez. — Está tudo bem, Daisy? Como foi que a descobriu aqui? — Me solta! — ela gritou e começou a espernear. Um dos homens que desconhecia segurou seu braço, aplicou uma injeção e ela desmaiou. Meu namorado deixou que o outro homem a levasse depois de algumas palavras. Diogo se virou para mim enquanto eles estavam saindo do meio do mato com a mulher resgatada. Corri para seus braços e ele me pegou no colo, tendo meu irmão para nos acompanhar. Estávamos bem, tudo ficaria bem. — Eles vieram preparados para tudo. É apenas um calmante — meu irmão esclareceu. — Precisamos de um médico — meu namorado comentou. — Os primeiros atendimentos teremos que fazer por conta. Combinei apenas coletar material para o teste de DNA, em poucos dias terá a confirmação. — Eu ajudo — voluntariei-me quando saímos do mato e coloquei os pés na calçada. Diogo foi até seu carro e abriu a porta do passageiro para por sua irmã, que estava coberta com minha blusa. Tentei entrar com ela, fui barrada por mãos nos meus braços. — Deixa comigo. — Ela deve estar desnorteada, confundindo você com outra pessoa e atacando. — Dário ponderou. — Estou ciente e poderia ter me defendido, se vocês não chegassem

no momento do caos. Eu dou conta! — Fiquei na ponta dos pés, beijei os lábios de Diogo e entrei, colocando as pernas da minha cunhada no meu colo. Fechei a porta e logo o banco do motorista foi ocupado. Ficamos em silêncio apenas alguns segundos, porque Diogo ligou o som e deixou que seu estilo musical preenchesse o ambiente. Conferi o braço da mulher, as marcas em sua pele exposta e meu peito doeu, porque poderia estar na mesma situação que ela, se continuasse com Neves. Mesmo assim, não me sentia ameaçada ou prestes a ser atacada. Estar com Diogo era compartilhar da sua segurança quando não tínhamos Laerte por perto e aflição, quando a família Azevedo se fazia presente. Skillet soava baixinho com a música Not Gonna Die. Segurei na mão machucada e pesada da minha cunhada e tentei enviar parte da força que a letra transmitia. A hora era de lutar para sobreviver, porque ninguém morreria naquele dia.

“É isso o que se sente quando você toma sua vida de volta É isso o que se sente quando você finalmente revida Quando a vida me empurra eu empurro mais forte O que não me mata, me deixa mais forte”

Chegamos no prédio de Diogo e ele carregou a irmã no colo até seu apartamento. Colocou-a em uma das camas do quarto de visita, peguei uma toalha, molhei e comecei a limpar seu corpo sentada ao lado dela. — Será que... — meu namorado comentou apoiado na porta, nos dando distância. — Vou ter que achar um médico, ela pode precisar.

— Deixe que acorde. — Virei para ele e tentei sorrir para tranquilizá-lo. — Vamos conversar e tomar as medidas necessárias para lidar com o que aconteceu. — Limpei sua perna e estava indo para outra, só então entendi que a preocupação do meu namorado era se ela tinha sido abusada sexualmente. Não tocaria na região, mesmo que de onde estava, era visível a mesma sujeira que tinha no resto do seu corpo. Levantei-me para repassar a toalha na água e quando voltei, a mulher estava com os olhos abertos enquanto lágrimas escorriam pelos cantos. Diogo continuou de onde estava com olhar aflito, então fiquei onde estava para iniciar a aproximação. — Oi. — Ela não reagiu. Precisava dizer mais para despertá-la do transe depressivo que estava. — Você está segura agora. Observei seu rosto virar na minha direção, depois seu olhar vagou de mim para Diogo. Ela se encolheu e seu corpo tremeu mostrando medo, ergui as mãos e mostrei a toalha que tinha. — Estava te limpando, mas se quiser, pode usar o banheiro. — Mostrei a porta atrás de mim e sorri. — Quem são vocês? — sua voz era doce e frágil. Pelo menos, não me atacou como no mato. — O quê... — Sou Daisy e esse é Diogo. Como se chama? — Abaixei as mãos e dei um passo em sua direção, ela recuou. Fiz o mesmo, não dava para avançar o sinal para não perder a confiança. — Estou aqui para te ajudar. — Jasmim — sussurrou e se sentou puxando a colcha da cama para se cobrir. — Você é muito parecido com meu pai. Por quê? O peso nas costas e o bolo na garganta sumiram com apenas essa pergunta. Diogo abaixou o rosto e passou os dedos nos olhos, queria abraçá-

lo e dizer que seus esforços não tinham sido em vão, que ele tinha encontrado sua irmã. — Ulisses de San Marino, certo? — meu namorado falou emocionado e tentando não chorar. A mulher acenou afirmativo e ele fez o mesmo. — Me chamo Diogo de San Marino. Sou seu irmão, Jasmim. Mais lágrimas escorreram dos olhos dela, olhou para mim, depois para ele e se desmanchou. Dei passos hesitantes, até que cheguei próxima dela o suficiente para ser puxada para um abraço. A cada soluço que ela deu, uma enxurrada de lágrimas escorreu dos meus próprios olhos sentindo minha cunhada e observando meu namorado. Quando a minha história se tornou toda essa explosão de sensações? Por que demorei para aceitar o convite de morar com Diogo? — Eu não tenho pai nem mãe — falou chorosa, molhando a camiseta do meu irmão enquanto desabafava. — O que fiz de tão errado? Por que me deixaram sozinha? — Soube de você apenas alguns meses atrás. — Diogo se sentou na cama, ficando na mesma altura da irmã. Fiz carinho no seu cabelo duro e suas costas, ela suspirava em contentamento. — Desculpe não ter feito nada antes. Foi difícil lidar com minha mãe e a traição do nosso pai. — Kátia Azevedo — falou com amargor. — Ela não tinha o direito... você também não o tem. — Jasmim, é mais complexo do que você imagina. — Fui empurrada e Diogo se levantou preocupado comigo. Confirmei que estava bem e voltei a atenção para a mulher quebrada e confusa sentada na cama. — O que você precisa? — Me deixem em paz! — gritou jogando a almofada atrás dela em

Diogo. Fui até ele, acompanhei-o até a porta do quarto e a fechei, para ficarmos apenas nós. — Vá embora. — Em outro momento, talvez sim. Agora, estarei por perto para te escutar e ser seu apoio. — Coloquei as mãos para trás e suspirei. — A mãe dele me destruiu. Como posso viver com um irmão que faz parte da minha ruína? — Da mesma forma que eu estou envolvida com a família Azevedo por conta de uma dívida. — Mostrei seriedade, a situação dela poderia ser pior, mas nosso caso era o mesmo. — Tome um banho e vamos comer. — Quero ir para a polícia. Vocês são loucos. — Precisa de um médico? — Fui até o banheiro, abri o chuveiro e regulei a temperatura. Esperei-a aparecer na porta, entreguei uma toalha limpa e mostrei minha simpatia. — Me dê a vida que roubaram. Meus pais, minhas coisas, meu lar. — Tentou avançar em mim e segurei seus pulsos com força, estava preparada para enfrentar seu desespero falando mais alto. — Não quero a porra de um médico, mas os dias em que fui tratada como animal. Nada do que fizerem vai apagar o horror que vivi. — E descontar sua raiva em mim também não. — Virei para colocála debaixo d’água. Ela gritou, depois se rendeu ao choro e aos poucos, foi tirando a blusa que estava e apreciando a ducha. Escutei um barulho no quarto, fui até ele e Diogo colocava na cama uma muda de roupa minha. — Espero que não se importe. Está tudo bem? — Fui até ele e beijei seus lábios. Suspirou e alisou meu rosto, estava aflito enquanto dava o tempo necessário para lidar com sua irmã.

— Você terá sua irmã de volta, dê tempo, porque nem comigo ela está simpática. — Obrigado por se colocar na mira. — Nada menos do que você fez. — O chuveiro foi desligado e o virei para sair. — Providencie uma sopa, vamos comer juntos. Fui até minha cunhada, que parecia mais centrada, apesar de triste e conversamos um pouco mais sobre como tudo aconteceu para chegar onde estava. Deparei-me com uma mulher que, mesmo depois de situações perversas, ela não perdeu o amor próprio, algo que me faltava e estava recuperando aos poucos. Jasmim sobreviveu e, como eu, teria Diogo para lhe dar a proteção necessária para recomeçar. A questão era que, para ele, ainda faltava reatar a amizade com antigos amigos.

Capítulo 27 Daisy — Estarão todos no horário combinado? — perguntei com o celular no ouvido, andando de um lado para outro na sala do duplex de Diogo. — Repassei o recado e todos confirmaram. Agora, garantir a pontualidade alheia, é outra história. — Dário ironizava suas respostas, ainda mais me percebendo nervosa. — É importante. — Para você ou ele? — Conversou com alguém e depois pigarreou. — Preciso lidar com uma situação aqui. Acho que encontrei a garçonete que avisou Diogo sobre a irmã. — Vocês ainda estão atrás dela? Jasmim já foi encontrada. — Eu, na verdade. Se ela estava desaparecida, algum problema tinha e minha consciência não estaria em paz se não resolvesse esse problema. Pessoas como as dessa família não deixa pontas soltas, por mais que o assunto tenha sido resolvido. — Desde que volte no horário que combinei, não te darei sermão como gosta de fazer comigo. — Até logo. Ligue para nossos pais. Fiz uma careta e olhei para o meu celular preocupada. Fazia quinze dias desde que resgatamos Jasmim. Conseguimos uma consulta particular com uma clínica geral para avaliar a saúde dela, além de ser entregue a confirmação do teste de DNA, eles eram irmãos.

Como me mantive no apartamento com minha cunhada, acabamos nos entrosando mais do que Diogo e ela. Formada em marketing, com vinte e quatro anos e vários cursos de mídias digitais, tomamos posse do computador do escritório do meu namorado enquanto fazíamos vários planos de trabalho. No final das contas, pensar em algo de rotina trouxe sanidade a nós duas. Até certo ponto, já que acordei várias vezes a noite com seus gritos e terrores noturnos. Estava claro a necessidade de um psicólogo para lidar com os problemas que não expunha, até comecei a frequentar um para incentivá-la a ir, mas não houve acordo com Jasmim. Ela tinha o tempo dela. — Conseguiu? — Minha cunhada apareceu na sala com os braços cruzados. Ela vivia na defensiva, com medo do desconhecido. — Sim, meu irmão chamou o pessoal, agora, é convencer Diogo a ir comigo. — Fui até ela e apertei seus braços com carinho. — Vamos também. — Para ser alvo fácil? Essa não é minha vida. — Deu um passo para trás e indicou o escritório. — Estou terminando as redes como combinamos. Preciso de mais duas imagens para completar o mosaico que estou fazendo. — A vida não é só trabalho. — Para mim, é a única forma de me manter sã. — Deu-me as costas e suspirei, percebendo que estava provando do meu próprio remédio. Fiquei um tempo com Jasmim, depois subi para tomar um banho e esperar Diogo. Acabei perdendo o horário enquanto a água da banheira esfriava. Pensava na vida, na rotina e no amor. O quanto perdíamos de tempo esperando ter uma segurança que era tão ilusória quanto os sentimentos que permitíamos transbordar de nós. Não era possível aplacar o desejo, muito menos medir a luxúria.

Poderíamos nos entregar aos movimentos da paixão e assim, consumar o que o coração fala por atos. Assim que meu amor colocou a cabeça na porta do banheiro, não hesitei em me declarar: — Eu te amo, Diogo de San Marino. Com todo o meu coração. Ele sorriu, entrou no banheiro e tirou sua roupa social com pressa. Ele deveria estar trabalhando, costumava vir de madrugada para casa, mas pedi que voltasse cedo por mim. Nem questionou, apenas acatou meu pedido e lá estava o quanto era recíproco o sentimento. Entrou na banheira, puxou-me para seu colo e me beijou com fome, pressionando seus lábios, usando sua língua para me explorar, possuindo minha alma com seu corpo. Senti seu pau cutucando minha entrada, encaixei-me para subir e descer no seu membro ereto. Largou minha boca para sugar um seio depois o outro. Apoiei minhas mãos na borda e espirrei água para os lados quando dei voz para meu tesão. Joguei a cabeça para trás, rebolei no seu colo e gozei enquanto ele apertava minha cintura e se preparava para me acompanhar. — Vire. — Essa posição não me incomoda mais, porque com ele, sexo era sinônimo de dar e receber prazer. Sentei-me de costas para ele, ainda em seu colo. Penetrou-me com força e me ajudou a continuar enquanto apertava um seio. A outra mão esfregava meu clitóris e sua boca, no meu pescoço, sugava minha pele como se tivesse fome de mim. Estava disposta a saciar tudo o que ele necessitava. Dobrou as pernas para ajudar com o entra e saí, gozou com força e

urrando baixo no meu ouvido. Seus braços e corpo foram relaxando e suspiramos juntos no final, fazendo-nos rir pela coincidência. — Me lembre de dizer todas as noites que te amo, para dormir como um anjo. — Já vamos para cama? — Acariciou meu corpo e buscou meus lábios para um beijo. — Também te amo, Daisy. — Você merece um prêmio. — Saí do seu colo e me levantei. — O tal de esperar o tempo dos outros é um saco. — Jasmim? — perguntou seguindo meus passos para o chuveiro. — Ela ainda não quis ver o psicólogo? — E nem participar do que farei hoje. — Apertei os lábios para que soubesse o quanto era segredo. Ergueu a sobrancelha e começou a se ensaboar. — Seu irmão está bem? — Diz ele que achou a garçonete que falou com você no noivado da sua mãe. — Revirei os olhos para sua preocupação. — Ele é o ex-policial fodão, deixe que lute. — E por você, quem lutará? — questionou me abraçando por trás e colocando a mão entre minhas pernas. — Esquecemos a camisinha novamente. Como estamos? — Bem. — Olhei-o de lado. — Meu médico sempre falou que teria dificuldade para engravidar por conta do meu peso, os hormônios desregulados, a endometriose... Não sei quais são os seus planos, mas no meu, bebês podem não ser opção. — Estou bem com isso. — Virou-me de frente e beijou meus lábios. — Também ficaria tranquilo se fosse o contrário. Fico feliz que não há

preocupação por aumentar de peso e ter que trocar os shakes por comida de verdade. — Podemos voltar com a camisinha, por favor? — o tom era de brincadeira, mas o pânico que se instalou em mim tirava minha sanidade. Meu passado de sobrepeso nunca poderia voltar a ser realidade, mesmo que envolvesse outra vida. Ele segurou meu rosto e ficou sério demais para meu gosto. — Apesar de amar seu corpo, são suas atitudes que me conectam a você. Eu te amo, Daisy Levy, com suas estrias, quilos a mais e as necessidades de tempo. Respeito. Te amo. — Beijou meu ombro e parte da tatuagem que tinha no braço. — Você é minha constelação inteira. Terminei de tomar banho sob seu olhar atento. Fui para o closet, coloquei um vestido ousado enquanto ele optou pelo clássico terno e gravata. Anunciei que iríamos para o bar de Dário e passamos no escritório para nos despedir de Jasmim, que estava focada no computador. — Será que ela sairá desse apartamento em algum momento? — Diogo questionou quando entramos no carro. Comecei a rir e ele me acompanhou, entendendo qual seria a minha resposta. — Porra, no tempo dela, certo? — Exatamente. Você é perito na arte de ter paciência, meu amor. Se conseguiu comigo, vai tirar de letra com Jasmim. Guiou o carro em silêncio, deixou que a música conversasse conosco e apreciei a escolha do momento. Spoken cantava Through It All:

“Todos os nossos mundos foram quebrados Nós fomos queimados pela chama

Mas vamos renascer das cinzas novamente”

Era um recomeço, agora, para a família que Diogo escolheu. Estacionou próximo da entrada, caminhamos de mãos dadas e passamos a fila de pessoas que aguardavam por uma mesa. Meu irmão sempre fez sucesso por onde se estabelecia, estava orgulhosa. A hostess reconheceu-nos e liberou a passagem. Olhei ao redor e logo visualizei a mesa reservada para nós, porque todos estavam nela. — Mas que caralho... — Diogo comentou enquanto nos aproximávamos. Oton foi o primeiro a se levantar, cumprimentou meu namorado e deu vários tapas nas costas dele. Eles já estavam se alinhando novamente, agora, era em definitivo – assim esperava. Samira e Orquídea se levantaram e deram um abraço tímido em Diogo. Ele demorou mais tempo com a segunda, provavelmente pedindo perdão pela culpa que sentia do que presenciou e não fez nada para impedir. Virou-se para Erik e segurei a emoção ao vê-los juntos. O cumprimento foi igual de Oton e tão hipnotizada com a situação, esqueci de falar com os outros. — Mais uma chorona no meu ouvido, não dou conta — Oton brincou e ri envergonhada. Abracei-o e depois sua mulher. — Olha! — Surpreendi-me quando vi a barriga saliente de Orquídea. Ela alisou e me deu um sorriso singelo. — Prazer em te conhecer. — Obrigada pelo o que fez. — Abraçou-me e segurou minhas mãos. — Eu não teria forças para tomar a iniciativa, por mais que sabia que nada foi culpa dele.

— De nenhum de nós. — Virei para Diogo, meu irmão se aproximava da mesa. Acabei me sentando com as mulheres enquanto os homens se juntaram para falar besteiras e renovar os laços de amizade. Dário ficou pouco tempo e voltou a trabalhar enquanto conheci mais de Samira e Orquídea. Elas seriam parte da minha família, estava honrada de estar ao lado de mulheres tão fortes. Orquídea estava esperando uma menina, Sofia seria a companheira de Sâmia quando for mais velha. Entramos no assunto maternidade e não compreendia o quanto me identificava e, lá no fundo, ansiava por estar na mesma fase que elas. Céus, Jasmim deveria estar conosco debatendo sobre brinquedos e ficar sem dormir à noite. Dançamos juntos, brindamos com bebida sem álcool em homenagem a Sofia e fomos embora com a promessa de nos reunirmos mais vezes. — Eu te amo — Diogo falou enquanto dirigia para casa. — Dário está nos dando proteção, Erik aceitou meu pedido de desculpa e Orquídea também. Você fez isso acontecer. — Dei um empurrão, o resto, foi com você. — Posso proteger a minha família. — Sei que vai, meu irmão deve estar adorando fazer parte disso tudo. Voltamos para o seu prédio em êxtase, entramos no elevador aos beijos e abrimos a porta da sala pronto para consumar o ato. Interrompi o momento para puxá-lo pelas escadas, a porta do quarto de Jasmim estava fechada e a nossa também.

Diogo pressionou-me contra a parede do lado da porta, beijou minha boca e ergueu meu vestido para me provocar. Estiquei a mão para abrir a porta, o brilho do ambiente chamou nossa atenção e estacamos no lugar ao ver o que tinha se tornado o nosso quarto. Uma constelação, com estrelas pequenas coladas pelo teto e cabeceira da cama. Havia luzes pequenas ao redor e meu coração se encheu de emoção ao tomar nota de que foi Jasmim quem fez. Ela prestava atenção em tudo o que falava, até na história sobre a minha tatuagem e meu gosto pelas estrelas, que até aquele momento, não tinha feito nada com elas. Isso me deu esperança de que Jasmim não iria sucumbir a sua escuridão. Quem brilha a vida alheia também ilumina a si próprio. — Você que fez? — perguntou confuso. — Sua irmã, Diogo. Jasmim vai ficar bem. — Fechei a porta e tirei o vestido com o coração explodindo de emoção. — Nós estamos bem, então me ame. — Por anos luz, enquanto as estrelas brilharem por nós. — Tirou o paletó com o sorriso de lado que tanto amava. — Estou romântico pra caralho. Segurei na sua gravata, puxei-o para mim e tomei sua boca para silenciar o que deveria ser dito em ações. Não importava o perigo que nos cercava, desde que o amor conseguisse nos dar forças para buscar ajuda. Profissional ou pela amizade, juntos seríamos mais fortes e a família Azevedo se tornaria menos ameaçadora a cada conquista.

Epílogo Diogo de San Marino Dias depois...

Observei minha mulher abraçar um casal de idosos, seus pais. Queria que essa reunião fosse feita no meu restaurante, mas Dário fez questão de abrir seu bar no almoço, apenas para receber aqueles que lhe deram a vida. Era justo, ele conhecia o cunhado que tinha, compreensivo. Mas isso não me impediu de trazer parte da comida que eu preparava no meu restaurante. — Que saudades de você, minha menina — dona Paula segurou no rosto da filha e a encarou emocionada. — Está tudo bem? — Melhor, impossível. — Daisy estendeu a mão na minha direção e me aproximei. — Quero que conheçam Diogo, meu namorado. — Namorido. Eles estão morando juntos. — Dário estava ao lado e parecia contente em nos provocar. Fiquei sem graça, mas não deixei de me apresentar os meus sogros. — Quando vai pedir a mão da minha irmã em casamento? Aproveite, cunhado. — Não ligue, ele aprendeu comigo. — Seu Alonso estendeu a mão para mim e o cumprimentei com um aperto firme. — Espero uma data. — Peço a benção dos senhores para que minha união com Daisy continue próspera. — Fui estar ao lado dela, que tinha lágrimas nos olhos. Ela andava muito emocionada ultimamente, ainda mais quando conversava com Jasmim.

— Claro que tem. O homem que coloca um sorriso no rosto da minha filha merece ser da família Levy. — Dona Paula ficou ao lado do marido e juntos, nos sentamos à mesa preparada por Dário. Senti a mão de Daisy na minha, suada e nervosa. Engoliu em seco várias vezes e tentei adivinhar o que estava acontecendo. Havia deixado passar algo? — A comida foi patrocínio do cunhado. Ele tem um restaurante de comida italiana. — Dário apontou para as travessas que estavam sendo servidas por seus funcionários, meus sogros aprovaram pelo cheiro. — Lembra o quanto você comia macarrão quando criança, minha filha? Se deixasse, era todos os dias. — Minha sogra encarou minha mulher, que soluçou. — O que foi? — Daisy? — Virei para abraçá-la, nunca a vi tão descontrolada. As sessões de terapia que fazia, algumas individuais, outras comigo, estavam sendo proveitosas. Nunca pensei que a saúde mental fosse tão importante para lidar com Laerte e fazer o meu relacionamento amoroso fluir melhor. — Meu amor, o que está acontecendo? — Eu... não... queria... mas... — Teve dificuldades de concluir a frase, piorando a situação. — Minha arma está debaixo do balcão, é só dizer, irmã — Dário falou ameaçador, encarei meu cunhado com repreensão e ele deu de ombros. A essa altura, nós já nos conhecíamos o suficiente para não termos dúvidas. — O que está acontecendo, minha filha? — seu Alonso questionou em tom mais autoritário, Daisy respirou fundo e controlou o choro. Percebi que havia um pulso firme naquela posição, nem sempre nos afastávamos da família por conta do nosso presente, mas motivada pelo passado dolorido.

Apesar disso, o que foi como tinha que ser, para que minha mulher buscasse consolo nos meus braços. — Eu estou... — Ergueu a cabeça para me encarar, sequei suas lágrimas e franzi a testa, ela não precisava ter medo de mim. — Não sei como aconteceu, Diogo. Iria falar com você hoje a noite, mas ver meus pais... — Grávida? Vou ter um sobrinho? — Dário questionou e dona Paula soltou uma exclamação surpresa. Percebi que segurei a respiração e a soltei impactado, essa era a verdade? O que ela achava que era um problema? Seus olhos piscaram várias vezes antes de acenar afirmativo e voltar a chorar. Rindo com a notícia, abracei minha mulher e encarei meus sogros com orgulho, nós estávamos formando uma família, aquela eu tanto quis. Eu seria pai, tão bom quanto o meu foi para mim. — Traga o champanhe! — Dário gritou, os três se levantaram e rodearam a mesa para nos cumprimentar. Tive que esforçar para Daisy sair do seu casulo feito pelos meus braços, ela abraçou os pais, o irmão, que a rodou animado e depois, voltou a me apertar. — Eu não vou fugir. Isso é motivo para não te deixar longe de mim pelas vinte e quatro horas do dia. — Ela riu, abraçou meu pescoço e me beijou os lábios com carinho. Escutei o barulho de champanhe estourando e nos deram um momento enquanto conversávamos com o olhar. Medo e esperança, imaginava o quanto de confusão inundava a sua mente. Ela estava em processo, evoluía cada vez mais, a cada dia. — Achei que nunca teria um filho — murmurou assustada. —

Tenho muitos problemas de saúde, não sei como aconteceu. — Precisamos ir a uma consulta médica. Quando tem que ser, não há problema hormonal que impedirá de acontecer. — Alisei seu cabelo. — E se eu engordar? — Farei questão de te acompanhar. Nosso amor não é sustentado pela aparência, mas a parceria que estabelecemos desde o momento que esperei seu tempo. Estamos nos compartilhando, lembra? — O que será da nossa vida? Não quero que o bebê viva com a sombra daquelas pessoas — comentou preocupada, a família Azevedo seria uma constante em nossa vida, apesar de termos mais liberdade tendo segurança privada no nosso encalço. Minha mãe continuava com sua brincadeira de estar casada com Conrado. Fábio Neves estava sob vigilância, mas pelo relato de Dário, o homem seria executado em poucos dias, sua dívida com bebidas e prostitutas estava longe de ser paga. Laerte Azevedo continuava com suas reuniões no meu restaurante, algumas mais preocupantes que as outras, mas não sofria como das outras vezes. Sentia-me livre, a partir do momento que conheci minhas limitações e as aceitei. Não era o ideal, mas o suficiente para afirmar para Daisy que ela estaria segura. Banir a família não era possível, aprender a lidar era o segredo e estava fazendo com maestria. Todos com quem eu, realmente, me importava estavam seguros. — Diogo? — questionou aflita, percebi que divaguei na minha mente e não respondi sua pergunta. — Você me faz o homem mais feliz desse mundo por me dar um

filho. Se está comigo, confia que posso te proteger. Acredite que farei isso para nosso bebê. — Toquei sua barriga, ela sorriu em meio as lágrimas que teimavam em escorrer. — Jasmim será uma ótima tia, nossa família é perfeita. Dário colocou uma taça na minha mão e da irmã, com olhar repreendedor, era apenas uma encenação. — Vamos brindar. Bem-vindo a família, San Marino. — Pensei que já fazia parte — brinquei antes de estender minha taça e tocar com a de todos os outros. — Obrigado por terem dado a vida a mulher maravilhosa que está ao meu lado. É nossa vez de fazer tão bem quanto vocês. — Eu te amo — ela sussurrou próximo a mim e tomei um gole do champanhe. — Obrigada por não surtar, Diogo. — Minha estrela, a constelação que ilumina meu dia — toquei seus lábios com os meus —, eu te amo. — Vamos almoçar, então? Toda essa celebração ampliou minha fome — meu cunhado chamou nossa atenção, eles haviam tomado seus lugares na mesa. Sentamo-nos e tentei relaxar Daisy, que parecia impaciente ao ter seus parentes exigindo que comesse mais que o necessário, por conta da gestação. Já estava acostumado com suas restrições alimentares e, desde que nos conhecemos, ela havia melhorado. No final das contas, nada mais era que pessoas preocupadas com Daisy. Enquanto viveu afastada, desacostumou em ter tanto carinho, mesmo que por meio de exigências. Com meu apoio e dedicação, além do suporte profissional que

tínhamos para a saúde mental, lidaríamos com nosso futuro um dia de cada vez. Nossa parte tinha sido feita, era a vez de Dário ou a minha irmã darem o passo – não, necessariamente, juntos. Caminhos que se cruzavam, vidas que se entrelaçavam, romances que aconteceram. Era tempo de prosperar.

Agradecimentos Gratidão por mais uma obra concluída, com satisfação e sentimento de dever cumprido. Tive muitos aprendizados durante a escrita e releitura, essa série está servindor, inclusive, para meu autoconhecimento. Agradeço à Deus, pelo dom da escrita. À minha família, Fabricio, Amanda e Daniel, por todo amor, paciência e apoio de todas as formas. Mesmo focada no trabalho, parte da minha mente e coração estão sempre com vocês. Eu amo vocês, gratidão. Aos meus pais, gratidão pela vida e por me abençoarem, independentemente do caminho que escolhi para seguir. Mesmo longe fisicamente, sinto-os sempre perto, acima de mim me dando força. Aos grupos do meu dia a dia e as pessoas que estão neles, vocês fazem a diferença e estão no meu coração. Nesse universo há leitores, influenciadores, blogueiros, amigas e autoras... sou uma pessoa encantada e afortunada, gratidão. Às redes sociais, mesmo sendo feitas de códigos e algoritmos, Facebook, Instagram, Youtube, Pinterest, Twitter, Tumblr, etc, gratidão por existirem e serem ponte para me conectar com o mundo inteiro. À Jéssica Macedo, pelo incentivo para não deixar esse tatuado na mão. A releitura foi em conta-gotas, ter um empurrãozinho ajudou a chegar até a publicação. A todos aqueles que me leem com ou sem frequência, se estão me dando a primeira chance, ou até mesmo uma segunda oportunidade... gratidão. Espero ter feito a diferença na sua rotina de leitura, de qualquer

forma. E, tão importantes como todos aqui, aos meus parceiros poderosos, dos mais antigos aos novos, vocês são maravilhosos e peças fundamentais para que minhas histórias alcancem mais leitores. Gratidão pela dedicação! @_aapaixonadaporlivros @AlfasLiterarias @amantesliterariascariocas @aoabrirumlivro @atrasdaspaginas @betaliteraria @biblioteca_da_tati_chacon @bibliovicio.da.jess @cia_da_leitura @clubedeleitura_sophiiemalka @contandocapitulos @coruja_dos_livros @dayukie @divando_livros @doisjeansviajantes @duasamigaselivros @duaslivrolatras @ebtb_brasil @elaseoslivros

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@vicialivros @vidadebibliotecaria Amor, respeito e gratidão. Mari Sales

Sobre a Autora Mari Sales é conhecida pelos dedos ágeis, coração aberto e disposição para incentivar as amigas. Envolvida com a Literatura Nacional desde o nascimento da sua filha em 2015, escutou o chamado para escrever suas próprias histórias e publicou seu primeiro conto autobiográfico em junho de 2016, "Completa", firmando-se como escritora em janeiro de 2017, com o livro "Superando com Amor". Filha, esposa e mãe de dois, além de ser formada em Ciência da Computação, com mais de dez anos de experiência na área de TI, dedica-se exclusivamente à escrita desde julho de 2018 e publicou mais de 70 títulos na Amazon entre contos, novelas e romances. Site: http://www.autoramarisales.com.br Facebook: https://www.facebook.com/autoramarisales/ Instagram: https://www.instagram.com/autoramarisales/ Wattpad: https://www.wattpad.com/user/mari_sales Pinterest: https://br.pinterest.com/autoramarisales/ Luvbook: https://www.luvbook.com.br/perfil/MariSales/ Newsletter: http://bit.ly/37mPJGd

Outras Obras

Vendida Para Bryan (Clube Secreto): https://amzn.to/2VTZTKb Sinopse: Proprietário do Paradise Resort nas Ilhas Maldivas, Bryan Maldonado construiu seu patrimônio com dedicação na administração de sua herança. Além do sucesso profissional, ele explorava sua sexualidade ao extremo. Sem compromisso ou paixões que durassem mais que uma noite, Bryan era racional e sabia como lidar com as mulheres, tomando o que ele queria e dando a elas o que necessitavam. Convidado para participar do exclusivo Clube Secreto, ele estava disposto a investir altas quantias para experimentar uma nova forma de sentir prazer. Ao descobrir que se tratava de um leilão de mulheres, percebeu que estava além do seu limite, ele tinha princípios. Todavia, não conseguiria ir embora sem tentar salvar pelo menos uma delas. Valkyria não sabia o que tinha acontecido com ela até acordar em um quarto

desconhecido. Até que chegasse nas mãos de Bryan, ela conheceu o pior do ser humano, ela não sabia o que tinha feito para merecer tanto. Ele não era um salvador, muito menos um príncipe, Bryan estava mais para o perfeito representante do deus Afrodite. Disposto a libertá-la, a última coisa que ela queria era rever aqueles que poderiam ser os causadores da sua desgraça. E, enquanto ela não decidia o que fazer da sua vida, tornou-se parte da rotina de Bryan, conheceu seus gostos, experimentou suas habilidades e tentou não se apaixonar pela melhor versão de homem que já conheceu. O único problema era que Bryan tinha limitações e Valkyria parecia disposta a ultrapassar todas elas antes que seu tempo com ele terminasse. ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada de personagens.

Scorn: e a inevitável conexão (Série Dark Wings – Livro 02): https://amzn.to/2YZfb0O Sinopse: Scorn era um dos líderes vampiros do Dark Wings Moto Clube. Apreciava sua imortalidade impondo seu poder enquanto degustava as variedades de tipos sanguíneos de mulheres. Insensível e meticuloso, Scorn acreditava que sabia de tudo e sobre todos. Sua maior frustração era não ter impedido que seu irmão Trevor se unisse a Diana e gerassem o bebê proibido, Thomy. Ele desprezava aquela criança. Shantal Davis foi criada por caçadores, para ser a mulher do inabalável Mestre Isaac. Alienada sobre o mundo que a cercava, ela não imaginava que o homem que conheceu na madrugada deveria ser seu maior inimigo. Sedutor e com o poder de deixar suas pernas bambas, ela cedeu a todos os seus caprichos enquanto descobria seu verdadeiro propósito no mundo. Scorn estava na direção contrária de suas convicções. Shantal acreditava que todos mereciam uma segunda chance. Um novo bebê estava a caminho, fazendo com que o mais cruel dos vampiros voltasse a sentir. Restava saber se era tarde demais para Scorn assumir a

inevitável conexão com a mãe da sua filha.

Amor Interceptado: https://amzn.to/2HPnQe7 Sinopse: Um jogador de sucesso de futebol americano, com bons números na temporada, não deveria ter nenhuma preocupação, a não ser treinar. Luke Carlson, do Red Dragon, era o safety mais prestigiado do esporte e ninguém sabia sobre o seu passado, a não ser o impiedoso empresário, Cachemir, e o seu melhor amigo Theo, o quarterback do time. A culpa o corroía por dentro dia após dia, mas Luke sempre teve esperança de que um dia ele a veria novamente. Esse dia chegou. Cassandra estava em uma fase ruim de sua vida e não hesitou ao aceitar fazer um intercâmbio de dois meses para os EUA com sua amiga Maria Flor, para fugir dos problemas familiares. Cassy precisava manter distância do relacionamento tóxico que tinha com os pais, só não imaginava que trocaria uma confusão por outra. A amiga, que fazia parte do seu porto seguro, agora lhe apresentou um caminho sem volta para ameaças, segredos e muitos jogos de futebol americano. Luke fazia parte dessa nova vida e demonstraria ser um bom safety dentro e fora de campo.

Amor de Graça: https://amzn.to/35V0tdW Sinopse: Anderson Medina, dono da Meds Cosméticos, não conseguia descansar por conta de problemas no trabalho e o término do seu noivado. Frustrado, ele toma um porre e logo em seguida vai atrás de remédios em uma drogaria para dormir. Acostumado a comprar tudo e todos, ele se surpreendeu quando a farmacêutica Gabriela o ajudou em um momento humilhante sem pedir nada em troca. Ela não queria seu dinheiro. Como Anderson não conseguia tirar Gabriela da cabeça e tinha um enorme problema de marketing nas mãos, voltou para a drogaria em busca de resolver suas pendências com um contrato de casamento. Ele buscava não perder mais dinheiro e também se vingar da sua ex-noiva. Gabs tentou fazer sua parte sem se envolver emocionalmente, mas não conseguiu controlar os sentimentos que eram singelamente retribuídos pelo CEO que não acreditava que o amor vinha de graça.

Box – Quarteto de Noivos: https://amzn.to/2JQePU2 Sinopse: Essa é a história de quatro primos solteiros que encontram o amor. Coincidência ou não, o movimento para que eles se permitissem amar iniciou com a matriarca da família, avó Cida, em uma reunião de família. Ela mostrou, sem papas na língua, o quanto eles estariam perdendo se buscassem apenas relacionamentos vazios. O que era para ser um encontro casual se tornou em uma grande história sobre a próxima geração da família Saad. Nenhuma das mulheres que se envolveram com o quarteto de primos era convencional. Quem as visse de longe, julgariam suas escolhas ou mesmo se afastariam. Fred, Guido, Bastien e Leo aceitaram o ponto de vista da avó de forma inconsciente, mas se apaixonaram por completo com a razão e o coração em sintonia. Envolva-se com as quatro histórias e se permita olhar para a família Saad de uma forma completamente diferente.

Obs: Esse BOX contém: 1- Enlace Improvável 2- Enlace Impossível 3 - Enlace Incerto 4 - Enlace Indecente Epílogo Bônus

BOX – Família Valentini: https://amzn.to/2RWtizX Sinopse: Esse e-book contém os seis livros da série família Valentini: 1 - Benjamin 2 - Carlos Eduardo 3 - Arthur 4 - Antonio 5 - Vinicius 6 – Rodrigo 1 - Benjamin – sinopse: Marcados por uma tragédia em sua infância, os irmãos Valentini estão afastados há muito tempo uns dos outros. Benjamin, o irmão mais velho, precisou sofrer uma desilusão para saber que a família era o pilar de tudo e que precisava unir todos novamente. Embora a tarefa parecesse difícil, ele encontra uma aliada para essa missão, a jovem Rayanne, uma mulher insegura, desempregada e apaixonada por livros, que foi contratada para organizar a biblioteca da mansão e encontrar os diários secretos da matriarca da família. Em meio a tantos mistérios e segredos, o amor familiar parece se renovar

tanto quanto o amor entre um homem e uma mulher de mundos tão distintos.

[1]

Você pensa em mim? Você sonha comigo? Eu sempre sonho com você
Mari Sales 2 - O Executivo Tatuado - Série Flores

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