Anna Black - Os Costatinis 1 - Destinada Para O Capo

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Destinada para o Capo Anna Black

Copyright©2020 Ana Elisa Bonifácio Barros Edição Digital Todos os direitos reservados. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Proibida a reprodução parcial ou total desta obra, em quaisquer meios – tangível ou intangível –, sem a expressa autorização por escrito da autora.

Revisão Textual Luhana Andreoli

Sumário Elizabeth Decisões O Casamento A Festa A Noite de Núpcias Nova Vida Adaptação Revelações Rival Intrigas Boate Explicações Mudança de Planos Infância Espionagem Prelúdio* O Baile de Máscaras No Woman, No Cry* A Verdadeira Face A Cúpula Surpresa Buenos Aires Atentado O Som do Coração Sequestro A Verdade Finalmente

Epílogo Agradecimentos

Sugestão da autora:

A personagem principal deste livro é uma musicista, portanto, vários trechos da história são ambientados com música. Para uma melhor experiência de imersão e contextualização na história, eu criei uma playlist pública com todo carinho para você, no link abaixo:

https://www.youtube.com/playlist? list=PLM6kSG2GyV2d1us3nj9H3hTqzyRpWVV4n

Desejo que desfrutem dessa experiência multissensorial. Beijos,

Anna Black.

Elizabeth Será que ele vem? Tenho observado um rosto familiar em meus concertos. Eu nunca o encaro abertamente, sempre dissimulo a minha observação, mas há algum tempo tenho notado a presença constante de um homem alto, moreno e de olhos amarelados. Ele fica sempre nos últimos lugares da sala de concerto. Não há como não notá-lo, acho que todos na sala o notam. Ele não é um homem que passa despercebido. Além de sua beleza, ele parece exercer uma atração magnética natural sobre as pessoas. Tenho curiosidade para saber por que ele vem a todos os meus concertos, mas nunca se aproxima ao final deles para me felicitar, como é de praxe. Sempre que saio do camarim após os concertos, eu fico observando para ver se vou encontrá-lo, mas nunca o vejo. Ele parece sempre muito concentrado nas minhas performances, então eu tento passar todos os meus sentimentos através da música. A música tem sido o nosso único canal de comunicação. Às vezes, eu me pego sonhando acordada com ele... Mas é claro que é pura perda de tempo, um homem como ele jamais estaria sem uma namorada, esposa ou qualquer companhia feminina que fosse. Nunca o vi acompanhado por uma mulher, mas é óbvio que um homem como ele não vai ficar sem uma. Hoje vim ao teatro para ensaiar sozinha antes do concerto, gosto de passar o som e sentir a acústica do lugar antes de me apresentar. Nesses momentos, sinto falta de minha mãe, que sempre me acompanhava e dava suas opiniões sobre a minha performance.

Ela foi a principal incentivadora na minha vida musical, foi ela quem me colocou nas aulas de música quando eu tinha cinco anos e me acompanhou a cada passo. Só de pensar nela e na falta que faz, já sinto lágrimas subindo aos meus olhos. Não, Lizzy, chega de chorar, concentre-se!, tento me encorajar a seguir. Fui adotada quando eu tinha dois anos de idade, pelos Sr. e Sra. White. Eles foram os melhores pais que alguém poderia ter. Infelizmente, um acidente de carro levou meu pai durante a minha adolescência, e minha mãe foi levada há apenas um ano, por um câncer fulminante que acabou com a sua vida em apenas três meses após o diagnóstico. Desde então, vivo sozinha na casa que eles me deixaram de herança, em um bairro de classe média, e tenho vivido da renda dos meus concertos e da venda dos meus CDs e gravações digitais. Ocasionalmente, dou aulas em conservatórios ou escolas de música. Tenho que estudar muito diariamente, para me manter preparada para as inúmeras apresentações musicais. Mas, ultimamente, essa vida de sacrifícios e solidão andam me cansando. Sinto a necessidade de mudar de vida, ter uma família, ter algo mais para me apoiar além do violoncello. Fui muito protegida pela minha mãe enquanto crescia. Apesar de ser uma mulher muito doce, ela era muito rígida com os meus estudos e concertos, e isso não me deixou muito tempo para namoros. Na verdade, eu só tive um namorado, mas não durou nada. Após o início do namoro, ele me pediu para terminar tudo de maneira muito estranha e abrupta. Então volto a pensar no homem misterioso. Será que ele virá hoje? — Oi, Lizzy! — Mia, a produtora do teatro, me chama pelo meu apelido. — Acho que já terminamos por hoje, o concerto desta noite foi

transferido para amanhã. — Por quê? Já estávamos com tudo pronto! — Não sei, Lizzy. Foram ordens da diretoria do teatro, talvez eles tenham tido algum problema com a emissão dos ingressos. De qualquer forma, não há mais nada para fazer hoje. Solto um suspiro de frustração, odeio quando esses imprevistos acontecem. Agora não terei a oportunidade de ver o homem misterioso. Eu sei que é bobagem, e que ele provavelmente nem pensa em mim, mas eu desfruto dos momentos em que posso vê-lo, ainda que de relance. — Vou indo. Nós nos vemos amanhã, Lizzy — Mia se despede, já caminhando em direção à porta de saída. — Tchau, Mia, até. Passo a arrumar as minhas coisas para sair e coloco o case do meu violoncello nas costas. Andar com um instrumento tão grande nas costas faz parecer que estou carregando um caixão. Saio pela porta traseira do teatro, a rua está deserta e mal iluminada. Vou caminhando em direção à rua principal, onde pretendo tomar um táxi, quando sinto uma mão apertando o meu ombro. — Venha, antes que eles te vejam! — uma voz grave ordena enquanto agarra meu pulso, puxando-me em direção oposta a que eu estava caminhando. Olho para trás e vejo o homem misterioso dos concertos. De perto, ele é muito alto e me força a levantar o queixo para olhá-lo. É a primeira vez que

o vejo tão próximo, e consigo notar a linha forte do seu maxilar e o nariz reto. Ele é muito mais bonito do que eu imaginava. Mas não está me olhando, ao contrário, ele está olhando para todos os lados deste beco, como se temendo que alguém apareça a qualquer momento. Será que ele é louco? — Para! — tento detê-lo. — Sobre o que você está falando? Assim que essas palavras saem da minha boca, eu escuto os primeiros tiros vindo em nossa direção, ao mesmo tempo em que ele me empurra para trás de um contêiner de lixo que está próximo a nós e me faz deitar no chão. Estou em pânico, com o rosto grudado no asfalto, quando vejo o homem misterioso tirar duas armas de dentro do seu terno e começar a disparar. Meu coração está acelerado, estou horrorizada com a cena que se desenrola. Será que esse homem é um policial? O que será que está acontecendo? Eu não consigo ver quem está disparando em quem, mas acho que ele atingiu os seus alvos, já que não escuto mais tiros. — Venha, temos que ir, antes que cheguem mais. — Ele me ajuda a me levantar e coloca o case do meu violoncello com facilidade em suas costas. Segura a minha mão e caminha com rapidez. Sinto as minhas pernas tremerem, acho que eu não conseguiria sair do lugar se ele não estivesse me guiando. Então percebo sangue escorrer pela manga de seu terno, no braço que não está me segurando. — Você está ferido, temos que ir para um hospital. — Sem hospital para mim, estou bem. Vamos — ele responde

sucintamente. Saímos correndo e entramos em uma SUV preta. O carro tem uma aparência robusta. O homem misterioso dá partida, fazendo os pneus cantarem. Nessa hora, um tiro atinge a minha janela, bem na altura da minha cabeça. — Aaaahhh!!! — solto um grito de susto, mas observo que a janela não quebrou, está apenas rachada. Pelo visto, este carro é blindado. — Merda! Chegaram mais. Abaixe-se! — o estranho ordena em tom urgente enquanto manobra o carro em alta velocidade em direção à rua, e eu não demoro em obedecê-lo. Fico abaixada enquanto escuto tiros de todos os lados, o homem parece estranhamente calmo para quem está baleado e no meio do fogo cruzado. Ele abre o porta-luvas e tira um revólver de dentro. Passa a dirigir com uma mão e a disparar com a outra. Continua dirigindo em alta velocidade por um tempo, trocando tiros ocasionais. Depois de muitos solavancos e algumas pequenas colisões (e depois de meu coração inúmeras vezes quase sair pela boca), sinto finalmente a frequência dos tiros diminuírem, até cessarem plenamente. O estranho usa o painel de controle do carro para fazer uma chamada. — Alô, Luc?! — alguém atende do outro lado. — Porra, cara, onde você está? Estávamos te procurando em todos os lugares! — Calma, Enzo, estamos chegando. Avise ao médico que se prepare.

— Caralho! O que aconteceu? Você está ferido? Que merda está acontecendo? — Foi apenas um arranhão. Faça o que eu estou te pedindo, Enzo, não tenho tempo de te explicar tudo agora. — Ele desliga o telefone sem esperar por uma resposta. Agora sei que ele se chama Luc. Depois de um tempo, paramos em frente a um grande portão, que se abre nem bem chegamos. Ao passarmos por ele, avançamos por alguns metros por uma estrada bem arborizada, parando em frente a uma casa. Na verdade, isso aqui não é uma casa, e sim uma mansão. Olho boquiaberta para a altivez de sua construção. Luc estaciona o carro, que já está bem avariado, em frente às portas de entrada e seguimos em direção à mansão. Observo, admirada, uma sala ampla, clara, com desenho moderno e pé-direito altíssimo. Os objetos parecem masculinos, é obviamente a casa de um homem. — Você está bem, Elizabeth? — o homem me pergunta, tirando-me dos meus devaneios. — Sim. Eu acho. Quem é você e o que foi que acabou de acontecer? — pergunto, necessitando de respostas. — Finalmente você chegou! Outro homem irrompe na sala, interrompendo a possibilidade de eu receber uma resposta. Ele é muito parecido com o meu salvador. Ou será captor? Ainda estou deliberando sobre isso, mas eles são obviamente parentes. Esse outro é uns poucos centímetros mais baixo que Luc, e seus

olhos são verdes. — O que você pensa que está fazendo, Luc?! Você perdeu a porra do juízo? Como desaparece assim, sem levar ninguém com você? Não sabe que é perigoso? — Fui resolver um assunto pessoalmente — Luc responde calmamente, em amplo contraste com o outro, que se mostra nervoso. — Mas... — Agora não, Enzo! — Luc fala em voz mansa, mas já é o suficiente para calar Enzo. Luc parece ser um homem acostumado a ser obedecido. — Elizabeth, perdoe-me por nos conhecermos dessa maneira — Luc diz, desta vez olhando em minha direção. — Não era esse o meu plano. Sei que você deve ter muitas dúvidas, mas agora mesmo preciso ir a um médico. Volto para falar com você assim que for possível. — Ele fala enquanto faz uma careta ao tirar o paletó do seu terno. Quando olho para o seu braço, noto gotas de sangue que escorrem para o chão. Luc está tão tranquilo e calmo que eu cheguei a me esquecer de que ele foi baleado. — Ok — assinto. O que eu poderia responder em uma situação como esta? Não me cabe outra escolha além de esperar por respostas. — Diga-me onde estou, assim posso pedir um táxi... — Não, você vai ficar aqui. Aquelas pessoas que nos atacaram ainda estão procurando por você. É perigoso para você lá fora. Mandarei lhe prepararem um quarto e mais tarde nos encontramos e poderei explicar tudo.

Sem mais uma palavra, Luc se retira, e Enzo me lança um olhar de curiosidade antes de segui-lo. Alguns segundos depois, uma mulher de meia-idade entra na sala. — Olá, eu me chamo Bianca. — Ela me estende a mão, que eu aperto. Sinto-me deslocada, sem saber o que fazer. — O senhor Luc disse que eu deveria preparar um quarto para a senhorita. Venha, siga-me. Eu pego o meu violoncello, que Luc havia deixado no sofá da sala, e a sigo. Vamos caminhando pela mansão, que parece ter um número infinito de cômodos. Bianca abre uma das portas e eu me deparo com um quarto tão bonito quanto o restante da casa, mas aqui a decoração parece mais feminina. — Este é o quarto de hóspedes, aqui a senhorita vai encontrar tudo o que precisar. Temos também roupas no armário, caso a senhorita queira se trocar. Avise-me se quiser fazer um lanche ou se precisar de qualquer outra coisa, é só digitar o número um naquele telefone ao lado da cama. O senhor Luc pediu para avisá-la que, assim que possível, ele virá vê-la. Nossa! Que loucura! O que será que está acontecendo? Quem estará me perseguindo? E qual é o papel de Luc em meio a tudo isso? Ele obviamente está acostumado com esse tipo de acontecimento, manteve-se calmo e determinado durante toda a cena de violência que presenciamos. Droga! Ele até levou um tiro, e ainda assim ficou com uma atitude toda blasé! Será que eu deveria fugir e tentar a minha sorte lá fora? E se eu encontrar aqueles homens que nos perseguiram? Acho que é mais inteligente eu ficar aqui, por enquanto. Luc parece que não quer me matar; se quisesse, eu já estaria morta.

Deixo o meu instrumento em um canto da sala e me dirijo ao banheiro. Depois de ser jogada no chão, atrás de uma lixeira, e sair correndo por aí, eu não estou com a melhor das aparências, preciso de um banho urgente. O banheiro é grande e suntuoso, como todo o resto da casa, mas, apesar de um longo banho de banheira parecer uma tentação, eu opto pelo chuveiro, não quero demorar, para o caso de Luc voltar logo, prefiro estar preparada. Eu me arrumo o mais rápido possível, visto as roupas mais práticas do guarda-roupa, que, curiosamente, couberam perfeitamente em mim, e me sento, esperando por Luc. Sei que eu deveria comer, mas depois do que passei e com tantas perguntas na cabeça, não tenho apetite. Algum tempo se passa, talvez horas, quando escuto batidas na porta. — Pode entrar — falo. Bianca aparece. — O senhor Luc lhe espera na sala de jantar, senhorita Elizabeth. Ele pediu que a senhorita o acompanhe. — Está bem. — Eu me levanto e a acompanho, curiosa para saber o que está se passando. Encontro Luc na sala de jantar. Ele parece recém-saído do banho, com os cabelos ainda úmidos. Está vestido da mesma maneira formal que antes, mas agora ele traja apenas uma calça cinza e camisa de botão branca, que está com as mangas enroladas, deixando à mostra um pedaço de seu curativo no braço.

— Você está bem? — pergunto. — Sim, não se preocupe, a bala passou de raspão, deixou apenas um arranhão. — Luc se levanta e puxa uma cadeira para eu me sentar. — Venha, sente-se, faça-me companhia para o jantar. Eu me sento à mesa, em frente a ele, e Luc começa a servir a comida no meu prato. A mesa está farta, mas eu não conheço todos os pratos que estão sobre ela. — Pode deixar, eu mesma posso fazer isso — eu me prontifico, afinal, ele está com um braço baleado. — É um prazer servi-la, Elizabeth! — Luc recusa o meu oferecimento. É impressão minha ou a sua voz está carregada de sensualidade? Sinto toda a minha pele se arrepiar. A palavra prazer sendo dita pela boca de Luc ganha um novo significado. Ele passa a se servir da entrada, que parece ser algum tipo de comida chique, e então começa a comer. Eu como um pouco, já que sei que preciso, mas não consigo comer muito, por causa da tensão que se acumula em meu estômago. — Por favor, Luc, me conte o que está acontecendo — peço, não aguentando mais o suspense. Luc para de comer, limpa a boca no guardanapo e passa a me estudar atentamente. — Tenho muita coisa para te dizer, Elizabeth, mas não sei se você

está preparada para saber toda a verdade. — Qualquer coisa é melhor do que ser mantida no escuro. — Corajosa. Gosto disso. Luc me olha com satisfação e toma um gole do seu vinho. — Seu nome original é Isabella de Santis. Você nasceu na Itália, filha de Giancarlo de Santis, que era um membro da máfia italiana da qual hoje eu sou o capo. Giancarlo traiu a máfia, por isso ele e toda a sua família foram assassinados. Mas, antes, ele te escondeu, com a intenção de salvar a sua vida. Por isso você foi adotada aqui na Inglaterra. Eu o olho chocada. Por alguns instantes, fico sem palavras. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que consigo finalmente começar a formar algum pensamento coerente. — Mas por que aquelas pessoas me atacaram? — tento entender essa história maluca. — Eu não pertenço à máfia! Pelo amor de Deus, eu sou apenas uma instrumentista! Que interesse eles teriam em mim agora? Luc me observa intensamente e continua a sua explicação: — Eles estavam atrás de você por minha causa. — Mas por quê? O que eu tenho a ver com você? — Eles descobriram que você é o meu ponto fraco e tentaram tirar vantagem disso. — Luc não consegue esconder o brilho de fúria no olhar enquanto fala. — Eu o quê? Mas como eu posso ser o seu ponto fraco? — Do que

será que ele está falando? — Quando você nasceu, seu pai fez um acordo com o meu, o que é uma tradição em nosso meio. — Que acordo é esse? — Nossos pais nos prometeram em casamento, Elizabeth. — O quê? — pergunto, atônita. — Você será a minha esposa, e eles descobriram, é por isso que, a partir de agora, você se tornou um alvo. Você não poderá levar a mesma vida que levava antes. — Luc me olha pesaroso. — Sinto muito, Elizabeth, mas, a partir de agora, a sua vida não será mais a mesma.

Decisões — Você está louco? — Acho que o tiro que ele levou o está fazendo delirar. — Como assim eu serei a sua esposa? Eu nem te conheço! — Você está certa. Nós não nos conhecemos. Permita me apresentar apropriadamente. Luc estende a sua mão direita, o lado que não foi atingido, e pega a minha mão, levando-a aos lábios e depositando um beijo. — Prazer, eu me chamo Luciano Costatini, mas entre os mais íntimos, sou conhecido como Luc. Sou o capo da Cosa Nostra. Tenho dois irmãos, que são o meu apoio neste negócio. Um deles, o caçula, você já conheceu, o Enzo. Falta conhecer o Dante, mas agora ele está em uma missão para a famiglia. Eu não vivo aqui, nossa base é na Sicília, mas por causa dos negócios, viajo muito, então acaba que vivo em muitos lugares. Eu tenho negócios diversificados, tanto ilegais e escusos quanto legítimos e legais, para fazer lavagem de dinheiro, então eu tenho que gerenciar os dois. Eu o olho atônita. Será que ele acha que essa apresentação é atrativa o suficiente para me fazer casar com ele? — Você tem certeza de que está bem? Você não está com febre? — indago. Luc volta a se recostar em sua cadeira. — Estou bem, Elizabeth, e estou falando muito sério quando digo que você vai ser a minha esposa. Eu já sei muita coisa sobre você, e acho que poderemos nos conhecer com o tempo. Teremos o resto da vida para isso, na máfia não há divórcios.

Minha nossa! Esse homem é louco! Mas espera aí... Ele disse que já sabe muita coisa sobre mim? — Você me espionou? — pergunto, indignada. — Sim, sou um homem que vale muito, vivo ou morto, então eu tenho que ser cuidadoso com qualquer um que se aproxime de mim, mas também te espionei porque estava preocupado com a sua segurança. Eu me levanto em um rompante. Não vou ficar mais nem um minuto aqui escutando essas sandices. — Vou embora, não estou mais interessada em suas explicações descabidas. Luc agarra o meu pulso, interrompendo o meu avanço em direção à porta. — Sente-se — ele fala tranquilamente, mas sua voz tem tanta autoridade que eu não consigo me retirar, porém, não quero dar-lhe o gosto de obedecê-lo ao me sentar. — Pode continuar a sua história, mas eu prefiro ficar em pé. — Como queira. Luc também se levanta e me encara, muito próximo a mim. A sua altura é intimidante, fazendo-me arrepender-me por não estar sentada, mantendo uma distância segura entre nós. — Você não vai fugir, você não tem mais essa opção, já que eles te descobriram. Se eles te pegarem, primeiro vão te torturar para tentar obter informações, depois, se não te matarem antes, vão te manter aprisionada para

me chantagear, e, por fim, vão te matar de qualquer jeito. — Como você sabe disso? — Porque eu faria o mesmo. Ai, meu Deus, esse homem é um monstro! — Não existe saída, Elizabeth. Eu sempre soube onde você estava, mas dei o máximo de tempo possível para que você vivesse em liberdade. Agora, no entanto, não é mais possível. Eu posso te proteger e te manter a salvo, porém, você terá que cumprir a sua parte e se casar comigo. Esse foi o destino que o seu pai selou para você quando você nasceu. Eu já tenho trinta e cinco anos, é esperado de mim que eu me assente e tenha herdeiros, preciso garantir a continuação da famiglia, então chegou a hora de você cumprir o seu destino. Senhor! Esse homem já pulou a fase de namoro para o casamento, agora está falando em filhos? — Temos uma boa diferença de idade — digo. — Sim, doze anos é um tempo considerável, mas eu não vejo problema nisso. Você pode me dar a sua juventude e eu posso te dar a minha experiência. E eu tenho muita — Luc completa de forma sensual. — Por que você sempre ia aos meus concertos? Você ia para me espionar? — tento mudar de assunto. — Porque era o máximo que eu podia me aproximar de você sem atrair atenção. Mas ele atraiu a minha atenção!

— Você pretende me forçar? — pergunto, sentindo-me vulnerável e trêmula com esta situação. — Não será necessário te forçar. — Luc passa a acariciar o meu rosto, deixando uma trilha de fogo por onde seus dedos passam. Sinto a excitação me dominar ante o seu toque. — Assim que te vi, eu soube que seríamos compatíveis, a atração é forte entre nós. — Isso é loucura! Não se pode manter um casamento embasado em atração sexual. — Existem muitos casamentos com menos do que isso. — Mas... — Sei que lhe dei muita coisa em que pensar — Luc fala, me interrompendo. — Nosso casamento será em uma semana, sugiro que use esse tempo para se acostumar com a ideia. O quê?! Casamento em uma semana?! Ele segura meu rosto com ambas as mãos. — O nosso casamento vai dar certo, Elizabeth. Deixe-me te mostrar como seremos bons juntos. Luc desce seus lábios sobre os meus, estou tão embriagada pela proximidade que não consigo fugir. Quando sinto o seu beijo, vejo o meu bom senso sair pela janela. Devagar, ele vai explorando a minha boca, até que não resisto e a abro para recebê-lo. Ele aproveita e me explora com paixão, acendendo em mim chamas por todo o meu corpo. Desce as mãos pelo meu corpo, parando na minha bunda, apertando-a e me aproximando de

sua ereção. Quando sinto a prova de sua excitação, eu me assusto, saindo do meu estado hipnótico, e dou um pulo para trás. — Não! Olho para Luc, que parece tão tomado pela paixão quanto eu. — Eu sabia que seria assim entre nós. Terei paciência, Elizabeth, mas aviso que a paciência nunca foi o meu forte. — Com essas palavras, que mais parecem uma ameaça, ele se dirige para a porta, quando para e se vira novamente para mim: — Boa noite, Elizabeth. Aviso que esta casa está fortemente vigiada, não tente fugir, para o seu próprio bem. Nós nos veremos amanhã. Sou deixada sozinha com os meus pensamentos e conflitos mentais. Ai, meu Deus, estou perdida!

Passo a noite em claro, revirando-me na cama. Em que situação eu fui me meter? Que coisa mais bizarra! Estou tentando absorver essa história a respeito da minha família biológica. Meu pai assassinado me comprometeu em casamento com Luc? Eu nunca me permiti pensar muito na minha família biológica, sempre pensei que eles não me quiseram por qualquer motivo que fosse, e eu tive sorte de encontrar excelentes pais. Ponto! Eu nunca quis explorar o meu passado mais do que isso. E, agora, me surge essa história fantástica! Passo a mão pelo rosto, exasperada.

Ontem mesmo eu estava pensando sobre mudar de vida, é um desejo que tenho tido ultimamente, mas eu jamais imaginaria que fosse realizar meus desejos tão rápido. Mas me casar com Luc?! É verdade que ele me chamou atenção como nenhum outro homem conseguiu, e eu me sinto muito atraída por ele, mas daí a casar? Ainda mais sabendo que ele é um mafioso?! Eu jamais pensei em me envolver em qualquer aspecto com gangues, máfia ou outra coisa afim. Prefiro estar longe de tudo isso. Mas qual é a alternativa? Morrer assassinada por seus inimigos? Por que eu tenho que manter um contrato feito quando eu era apenas um bebê? Que sentido tem tudo isso? Vejo o sol se levantar no horizonte e perco a esperança de dormir, é melhor eu me levantar e encarar o que esse dia me reserva. Depois de trocar de roupa, eu me dirijo para a cozinha, preciso comer. Ontem não comi quase nada no jantar, não tive apetite depois do meu encontro com Luc, e, pelo que notei, ele também comeu pouco. Após procurar por um tempo, eu encontro a cozinha. Ao entrar, sinto um cheiro convidativo de café. Encontro Bianca na cozinha, ela parece surpresa em me ver. — Buongiorno, Elizabeth! O que você está fazendo aqui? Por favor, vá para o jardim, o senhor Luc está lá esperando pelo café da manhã. — Não quero incomodá-lo, posso tomar o meu café aqui mesmo — tento me esquivar do encontro com Luc. — Bobagem, ele vai adorar a sua companhia! Vamos! Bianca me conduz em direção ao jardim. Ali, debaixo de uma belíssima pérgola, Luc está sentado, relaxado e de pernas cruzadas lendo as

notícias. Ao me ver, ele dobra o jornal e o deixa sobre a mesa. — Buongiorno, Elizabeth! Eu não esperava te ver acordada tão cedo. — Ele toma um tempo observando o meu rosto. — Vejo que não dormiu bem. Bianca se retira e me deixa a sós com Luc. Eu me sento à mesa, de frente para ele. — Como eu poderia dormir bem? Ontem passei por tiroteio, perseguição de carro, sequestro, fiquei sabendo que a minha família biológica foi assassinada e, no final, ainda sou coagida a me casar com um mafioso que não conheço por causa de um contrato feito quando eu ainda era um bebê! Luc dá um sorriso de lado, lindo, como sempre. Ao contrário de mim, ele parece ter passado muito bem a noite. — Você não é uma pessoa matinal, não é? Ele parece levar toda essa situação na brincadeira. — Por que eu, Luc? Tenho certeza de que você pode arranjar uma mulher que queira se casar com você. Eu posso tentar mudar de cidade, talvez morar em outro lugar... — Não vai funcionar. Mais cedo ou mais tarde, eles te encontrarão. A máfia tem regras rígidas, Elizabeth, um contrato deve ser honrado. Além do mais, por que eu arranjaria outra mulher, se você me parece perfeita para o cargo? — Eu não sou uma mulher da máfia, Luc! Eu nem saberia o que fazer nesse mundo.

— Você aprenderá tudo quando chegar a hora. — Buongiorno! — Enzo aparece e se senta à mesa, ignorando totalmente a tensão de nossa conversa. Ele aparenta estar de bom humor. — Estou faminto! Como se esperasse a deixa, Bianca surge e começa a servir o café da manhã. Desta vez, como com apetite, não posso mais seguir me alimentando mal. — Como vai, cunhada? — Enzo me pergunta enquanto come a sua omelete. — É bom finalmente te conhecer. — Eu não vou me casar com ninguém! — vocifero, indignada. — Se o Luc decidiu que vai se casar com você, então isso será feito! Não conheço nada que o Luc queira que ele não conquiste — comenta Enzo, como se fosse um fato consumado. — Eu não sou uma coisa para ser conquistada! — Ela parece ter um gênio difícil, irmãozinho. Acho que vai te dar trabalho. — Estou contando com isso — responde Luc, com um brilho predatório no olhar, enquanto toma o seu café. Ah, eu me cansei de escutar esses dois! Falar com Luc não resolve nada, e parece que com Enzo também não. É melhor eu me concentrar na minha comida e ignorá-los. Comemos por algum tempo em silêncio, até que Luc se levanta.

— Preciso ir, você vai ficar responsável por ela hoje — diz ele, dirigindo-se a Enzo. — Eu não preciso de babá! — Ele não vai ficar para te vigiar, e sim para evitar que desconhecidos entrem. Ele vai ficar para te proteger — Luc contesta. — Não se preocupe, cunhada, eu vou cuidar de você — fala Enzo, com a boca cheia de comida, parecendo um garoto. — Cuide da equipe de segurança hoje, Enzo — pede Luc. — Pode deixar! Agora Luc fala olhando para mim: — Mandei buscar as coisas da sua casa, hoje à tarde elas já devem estar aqui. — Você não tinha esse direito! — vocifero, indignada. — Serei o seu marido, é meu direito cuidar das suas necessidades. — Ele segura meu rosto entre as mãos. — Tente não se meter em confusão. — Parece que eu já estou nela, e não sei como sair. Luc responde dando um daqueles sorrisos tortos charmosos. Ele me rouba um beijo rápido e parte em seguida. — Não se preocupe, cunhada, o Luc vai cuidar bem de você. Ele sempre protegeu muito bem a nossa famiglia e cuidou de mim e do meu irmão.

— Luc me falou que o seu pai morreu, e quanto à sua mãe? — Ela morreu quando nós éramos pequenos, desde então, Luc tem cuidado de nós, já que é o mais velho. Ele nos protegia do nosso pai, que não passava de um escroto. — Eu sinto muito pela sua mãe, e pela vida que tiveram, mas não quero estar aqui, Enzo, eu não escolhi esta vida. — E você acha que algum de nós escolheu? Ninguém escolhe onde vai nascer. Sabe, a gente só dança conforme a música. Mas as coisas não precisam ser ruins entre vocês, você pode tentar fazer isso funcionar. — Mas eu nem o conheço! — Então tente conhecê-lo. Tempo não faltará, vocês têm o resto da vida. — Vocês são loucos! Terminando a minha refeição, eu me retiro, vejo que não adianta gastar saliva com esses dois.

Passo os próximos dias evitando encontrar Luc. O que não é muito difícil, já que ele nunca está em casa durante o dia, parece que o mundo do crime o mantém muito ocupado. À noite, quando ele chega, eu invento uma desculpa e peço para Bianca servir o meu jantar no quarto. Tenho observado que sempre temos homens fazendo a segurança na

casa, parece que Luc falou a verdade quando disse que este lugar estava fortemente vigiado. Não vejo oportunidade de fugir daqui, e, ao mesmo tempo, não sei se devo, não sei o que eu encontraria lá fora. Até hoje, eu só me encontrei com um dos irmãos de Luc, o Enzo. Dante parece que ainda está em missão para a famiglia, seja lá o que isso signifique. Enzo parece ser sempre simpático e estar de bom humor. Ao contrário de Luc, que sempre carrega uma aura de mistério e perigo, Enzo parece refrescante. Mas não dá para conversar muito com ele, ele logo começa a me chamar de cunhada e me dá conselhos para a minha suposta futura vida marital. Para não morrer de estresse e tensão, eu continuo a minha rotina de estudos de música, isso é algo sólido a me agarrar e que me faz sentir segura. Como Luc havia falado, todos os meus objetos pessoais já chegaram e foram guardados por uma equipe de empregados. Estar entre os meus tão conhecidos objetos me dá uma sensação de conforto em meio à tormenta. Eu já consegui selecionar as minhas partituras de estudo, e assim continuo a minha rotina, tentando ignorar, o máximo possível, toda essa reviravolta em minha vida. Ouço uma batida à porta, que interrompe os meus estudos. Deve ser Bianca, mais uma vez eu pedi para ela servir o meu jantar no quarto. — Entre — aviso, enquanto guardo o meu violoncello, preparandome para comer. Quando olho em direção à porta, vejo Luc entrando com um carrinho

de comida. — Onde está a Bianca? — pergunto, surpresa. — Eu a dispensei, disse que eu mesmo poderia te servir. E como eu já te disse antes: é um prazer te servir, Elizabeth! Senhor! Será que ele tem que falar dessa maneira sexy? Isso torna muito difícil resistir a ele. — Venha, Elizabeth, chega de se esconder, já fui muito paciente com você. O nosso casamento está se aproximando, vamos aproveitar esse tempo para nos conhecer. Vamos jantar. Luc se dirige para uma pequena mesa que está no quarto e começa a servir a refeição. O cheiro é delicioso, acho que Bianca preparou peixe hoje. Não tendo mais opção, decido ir ao banheiro lavar as mãos para o jantar. Quando retorno, Luc já está sentado, só me esperando. Ele apagou as luzes e acendeu velas sobre a mesa, então me olha enquanto toma uma taça de vinho. Eu me sento à sua frente, olhando-o com cautela, como alguém que encara uma víbora que a qualquer momento pode dar o bote. — Fique tranquila, Elizabeth, eu não farei nada que você não queira. Posso ser um criminoso, mas nunca pratiquei crimes sexuais, essa é uma prática que não me interessa e da qual eu nunca tive necessidade. Eu acredito nele; com esse rosto e esse corpo, tenho certeza de que Luc tem uma fila de mulheres esperando uma oportunidade para cair aos seus pés. Esse pensamento me deixa estranhamente irritada.

Tomo todo o vinho que estava na taça à minha frente em um só gole. O álcool desce queimando, eu nunca me dei bem com bebidas alcoólicas. — Vamos comer, então — respondo, tentando afugentar os pensamentos fora de controle. Passamos a refeição em silêncio, enquanto apreciamos a comida. Eu tomo algumas taças de vinho, que está delicioso, e já começo a me sentir mais leve sob o efeito do álcool. — Você tem alguma pergunta para me fazer, Elizabeth? — O que eu posso perguntar? Você tem tudo decidido e preparado mesmo! Estou presa em sua armadilha — falo com amargura. — Amanhã partiremos para a Itália, que é onde será realizada a cerimônia do nosso casamento. Como eu disse, a sede de nossos negócios são lá, e é esperado que nos apresentemos ao restante da famiglia — Luc fala, ignorando totalmente o meu comentário anterior. — Sua famiglia! Eu não tenho nada a ver com isso! — Não adianta negar, Elizabeth, você tem o sangue da máfia nas veias. — Em minha experiência, sangue e genética não são grande coisa — argumento. — Em minha experiência, sangue e genética são tudo o que determinam a nossa vida! Fico sem palavras diante dos seus argumentos.

Eu o olho e, pela primeira vez, começo a observá-lo de verdade; o brilho de seus olhos castanho-claros que parecem amarelos, a linha elegante do seu rosto, o seu porte elegante... tudo parece um conjunto muito bonito e atraente. Até o seu perfume me atrai. Luc parece notar o meu embasbacamento, pois se aproxima de mim, o que é fácil, já que a mesa que nos separa é pequena. Ele me atrai colocando a mão na minha nuca. — Não negue a atração que existe entre nós, Elizabeth! Eu consigo ler claramente em seus olhos. Prometo que vou fazer valer a pena, vou fazer com que seja bom para você. Farei com que goste e que deseje cada segundo que passarei com você em meus braços. Luc se aproxima vagarosamente de mim e eu me sinto hipnotizada pelo seu feitiço. Ele então me beija, e é o suficiente para me fazer sentir perdida. Eu o enlaço pelos ombros e retribuo pela primeira vez o seu beijo com paixão. Quando dou por mim, Luc já se levantou e está me tirando da cadeira. Ele me carrega e me leva para a cama. Luc me beija com fervor enquanto passeia as mãos pelo meu corpo. Nota-se claramente que é um homem experiente, parece saber exatamente como me excitar. Levanta o meu vestido, passando-o por cima da minha cabeça e me deixando apenas de calcinha e sutiã. Ele observa meu corpo com um olhar ardente, então começa a deixar uma trilha de beijos no meu pescoço. Vai descendo pelo vale entre os meus seios, pelo umbigo, e continua descendo. Quando percebo o rumo de suas intenções, eu me desperto do meu estado

embriagado de excitação. O que estou fazendo? — Não! — grito e pulo para fora da cama, ficando de costas para ele. Escuto dele um suspiro exasperado. — Sabia que parada aí, sob as luzes das velas, você parece uma deusa que veio ao mundo para atormentar a nós, pobres mortais, com a sua beleza? Eu me sinto envergonhada com o seu elogio. Onde será que foi parar o meu vestido? Ouço os passos de Luc se aproximando, ele para atrás de mim e me vira. — Como eu disse, serei paciente. Não negue o que você sente. Esse tipo de atração é raro. É grande demais para ser ignorado. Ele anda com graça até a mesa, pega o paletó que havia deixado na cadeira e marcha em direção à porta. — Faça as suas malas. Viajaremos pela manhã. Ele se retira do quarto, mais uma vez me deixando sozinha com os meus conflitos internos.

O Casamento Chegamos à Itália, a minha terra de origem, segundo o que Luc me disse. Eu vim a este país apenas uma vez, muito brevemente, por ocasião da minha apresentação em um concerto, então não tive a oportunidade de conhecer muita coisa. A viagem até aqui foi tensa. Ainda estou embaraçada pela noite de ontem. Não consigo acreditar no quão rápido eu me entreguei com apenas um toque de Luc. Ele tem um efeito devastador sobre o meu autocontrole. Passei toda a viagem introspectiva. Eu não conseguia olhar Luc nos olhos, com vergonha do que fizemos, não estou acostumada a ter esse tipo de comportamento. Ele, por sua vez, parecia tranquilo e seguro, como sempre. O que será que me aguarda aqui? Será que terei mesmo coragem de me casar com Luc? Pelo que entendi, eu não tenho alternativa. Por isso, passei toda a viagem tecendo planos. Preciso conversar seriamente com Luc, já que ele está irredutível com essa história de casamento, e eu não tenho outra escolha a não ser concordar, então eu devo ao menos traçar regras e limites para o nosso casamento, e depois tentar bolar alguma forma de fugir de tudo isso. Eu não posso aceitar tão docilmente uma vida que foi imposta para mim, tenho que encontrar uma saída. No avião, eu não tive oportunidade de conversar com ele privadamente, já que Enzo também estava presente. Agora, estamos em outra propriedade de Luc, que também parece ser uma mansão. Ele obviamente é podre de rico. Acho que o mundo do crime está rendendo muito dinheiro para ele. Enzo saiu mais cedo para resolver assuntos da famiglia. Estou a sós na sala com Luc, acho que essa é a minha chance.

Luc está lindo, parece recém-saído de uma capa de revista. Além de bonito, ele é dono de um charme e um apelo sexual únicos. E tudo isso em um só pacote tem o poder de me abalar até a estrutura. Pare com isso, Elizabeth! Paro minha contemplação, tentando afastar meus pensamentos lascivos. Preciso me concentrar no que precisa ser dito. — Luc, nós precisamos conversar. — Ah! Finalmente você está falando! Pensei que você tivesse feito voto de silêncio — Luc fala em tom jocoso, e depois volta a me olhar sério. — Fale, o que te preocupa, Elizabeth? — Já que eu não tenho escolha, nós precisamos estabelecer regras para esse casamento. — Regras? Que interessante! — Luc fala enquanto se senta no sofá. Seus modos elegantes e fluídos são impecáveis. — Agora estou curioso... Esclareça-me, em quais regras você tem pensado, Elizabeth? — Bem... — Ai, meu Deus! Eu tenho que tomar coragem e falar. Respiro fundo e decido falar tudo de uma vez. — Primeiro: vou continuar tocando o meu instrumento e fazendo concertos, violoncelista tem sido a minha profissão desde que eu me entendo por gente, e não quero abrir mão dela. Segundo: vamos dormir em quartos separados, eu prefiro manter a minha privacidade enquanto viver com você. Terceiro: eu quero saber se você é saudável. Não me leve a mal, mas você é um homem da máfia, e isso não fala bem de você. Eu não sei com quem você andou e eu não quero me expor a doenças. E, quarto: caso você seja saudável, eu quero ter uma consulta com um ginecologista, eu tenho que começar a tomar anticoncepcionais. Não quero filhos agora, eu sequer quero me casar agora! Filhos seriam demais para mim.

Droga! Eu me sinto muito envergonhada por tocar em assuntos sexuais com ele, mas conhecendo a minha baixa resistência a ele, é melhor eu esclarecer esse tópico logo. Agora que desabafei, eu consigo me sentar no sofá em frente a ele para esperar, apreensiva, por uma resposta. Luc me olha por um tempo, como se estivesse analisando as minhas propostas, mas eu tenho a impressão de que ele não é uma pessoa razoável em uma negociação. — Bem... Vamos para o primeiro tópico, então. Sim, você vai continuar tocando o seu violoncello, o que seria um prazer escutar, você toca divinamente, mas, infelizmente, você não poderá mais fazer concertos. Se os meus inimigos souberem que você tem uma agenda de concertos, onde deixa claro a sua localização futura, então você estaria morta em pouco tempo. Você ainda pode se apresentar ocasionalmente, mas em pequena escala e sem grande antecipação, desde que os meus homens estejam preparados para isso. O segundo tópico, de jeito nenhum! A minha esposa dormirá comigo, ou pelo menos ficará desperta comigo, já que eu não acredito que te deixaria dormir muito. Luc termina a última parte com um brilho predatório no olhar, e eu sinto as minhas bochechas esquentarem em resposta. — Quanto ao terceiro tópico, eu concordo. Sou saudável e sempre fui muito cuidadoso na minha vida sexual, sempre me precavi. Sempre fiz exames periodicamente e posso te mostrar, se você quiser. — Mas e você, não tem curiosidade para saber se eu sou saudável? — Não. Como eu disse anteriormente, eu sei muita coisa sobre você, e sei que eu não tenho motivos para me preocupar com a sua saúde. Eu já vi os exames do seu último check-up médico e sei que você é saudável. Quanto

à sua vida sexual, sei que é inexistente — Luc completa em um tom sensual. — Até agora. A sua provocação me faz arrepiar, como ele pode me tentar tão facilmente? — Quanto aos filhos, eu estou de acordo, não é hora de termos um agora, vamos aguardar um pouco e nos conhecer melhor. Mas eu te advirto que não poderei aguardar por muito tempo, preciso de um herdeiro para os negócios. — Só para os negócios? Você não ligaria para o seu próprio filho? — pergunto, preocupada. — Eu ajudei a criar os meus irmãos e os protegi da melhor forma possível. Acredito que assim seria com o meu filho também, mas não posso negar a posição estratégica que um filho teria em minha vida. — E se for menina? — Então ela será cuidada e querida por todos nós, mas não poderá assumir os negócios, é assim que a máfia funciona. Que machistas! Como eu previa, Luc é um negociador muito rígido, ele abriu mão de pouca coisa nessa negociação. — Eu não posso ficar em casa sem fazer nada, Luc! — tento insistir pelo menos nesse ponto. — Eu entendo, tenho muitos negócios nos quais você poderia trabalhar. Depois eu posso te ajudar a encontrar um ofício, só não posso permitir que esse trabalho te exponha ao público. Nós não podemos gozar de tal liberdade, Elizabeth. — E eu quero um quarto para mim, Luc — tento insistir em mais um tópico, já que parece que ele está sendo um pouco mais razoável. — Eu

realmente preciso de privacidade, quero estudar o meu instrumento. Faz parte da minha rotina passar muitas horas estudando e praticando música. Luc dá um suspiro, pelo menos parece que estamos entrando em alguma espécie de negociação. — Apesar de eu não me incomodar em te escutar tocando, na verdade, seria um prazer... se te incomoda tanto, você pode ter uma sala pessoal de estudos. Como você pode ver, em minhas casas não faltam espaço. Mas você vai dormir comigo, Elizabeth, esse não é um ponto negociável. Luc se levanta. — Mandarei trazer uma ginecologista de confiança da famiglia para a sua consulta assim que possível. Luc se aproxima de mim, levanta-me da cadeira na qual eu estava sentada e cola seu corpo ao meu. — Isso é tudo? — pergunta. — Bem... — A proximidade com ele me desconcerta. — Eu falei tudo, mas você não abriu mão de muita coisa. — Mas isso é tudo o que você terá por hoje. Agora que encerramos o nosso primeiro compromisso, eu acho que é adequado selarmos o nosso acordo com um beijo, não, cara mia? Sem perder tempo, Luc desce sua boca sobre a minha, e, como sempre, eu fico totalmente indefesa ante o seu ataque sensual. O que será que esse homem tem que consegue me enfeitiçar completamente e me deixar ardente de desejo em poucos segundos?

Passo a tarde tentando me concentrar nos meus estudos de

violoncello, mas está sendo muito difícil manter o foco necessário. Essa tática para fugir da realidade já não está funcionando mais. Eu não consigo parar de pensar sobre a nossa conversa de mais cedo, e, o pior, eu não consigo parar de pensar naquele beijo. Ainda bem que ele teve que sair em seguida, ou eu não sei por quanto tempo mais eu conseguiria resistir. Paro de executar um exercício de escala que eu estava fazendo, ou pelo menos estava tentando fazer, já que ando com os pensamentos muito dispersos, quando escuto uma batida à porta. — Pode entrar. Bianca, que parece sempre acompanhar os irmãos por suas viagens, abre a porta e entra, acompanhada de uma mulher loira que usa um jaleco branco. — Olá, senhorita Elizabeth. O senhor Luc pediu para trazer a doutora Carla Caruso até aqui. Ela vai lhe examinar. — Olá, boa tarde — cumprimento. Espero que essa mulher fale a minha língua, senão a nossa comunicação vai ser difícil. — Boa tarde, senhorita Elizabeth — ela fala com um forte sotaque italiano. Bianca aproveita para sair do quarto. Carla parece ser uma médica muito eficiente, e passado o momento de constrangimento do exame, ela me prescreve o anticoncepcional que devo usar. Segundo ela, é um anticoncepcional de boa tolerância, baixos efeitos colaterais e baixa dosagem de hormônios. Mas ela se nega a entregar a receita para mim. — O senhor Luc me pediu que eu entregasse para ele. Não se preocupe, ele disse que cuidará de tudo.

Eu me sinto muito estranha por estar nesta situação, passei de mulher independente à mulher dependente novamente. Pelo visto, o nosso casamento será muito conturbado se ele insistir em me manter no escuro e sem opções de escolha. Por maior química e atração sexual que tenhamos, não vejo como esse casamento pode dar certo.

O dia do casamento chega em um piscar de olhos, nem tive tempo de processar nada. Por Deus! Uma semana não é suficiente para preparar ninguém para um casamento, muito menos com alguém da máfia. Estou diante do espelho tentando saber quem é a pessoa refletida à minha frente. Essa mulher é estonteante. Eu nunca havia parado para fantasiar sobre como seria o meu vestido de noiva. Como eu nunca tive um namorado por um longo tempo, na verdade, o único que eu tive foi por um tempo mínimo, nem se pode dizer que ele foi realmente um namorado, então eu nunca fantasiei estar nessa posição. Acho que Luc conseguiu realizar com louvor qualquer sonho que eu pudesse ter com um vestido de casamento. Este vestido é um sonho em si, ele deixa meus ombros à mostra e tem uma renda delicada em todo o corpete até as mangas. É sexy, mas não vulgar. É delicado e feminino. Como será que Luc conhece até os meus gostos? Estou usando uma linda maquiagem que ressalta os meus traços e os meus olhos azuis. Meus longos cabelos castanho-escuros estão soltos, penteados de forma elegante e escondidos pelo véu. A minha tez morena faz um bonito contraste com o branco do vestido, eu pareço simplesmente perfeita. Lágrimas vêm aos meus olhos ao me lembrar de que é o meu casamento, ainda que imposto, e estou só. Eu gostaria de ter os meus pais

aqui para me proteger e me consolar. Como poderei caminhar até o altar sem ser levada pelo meu pai e sem ter a companhia da minha mãe? Enzo entra no quarto onde estou, está falando com alguém ao celular, mas para ao perceber o meu estado emocionado. — Merda! Não, não! Você não vai chorar! — fala dirigindo-se a mim, mas a pessoa que está ao celular falando com ele parece querer chamar sua atenção. Ele responde: — Sim, ela está chorando... — A pessoa fala alguma coisa para Enzo. — Não, de jeito nenhum você virá aqui! Você não pode vir, já está na igreja! Você vai acabar arruinando tudo... — A pessoa fala mais alguma coisa para Enzo, que afasta o celular do ouvido fazendo uma careta. — Pode me xingar o quanto quiser, deixe eu cuidar disso. Enzo desliga o celular. — Por favor, não chore, cunhada! Senão o Luc vai aparecer aqui e estragar toda a cerimônia. Não o deixe nervoso, ok? O que está acontecendo? — Eu estou só, Enzo, sinto falta dos meus pais, e não tenho ninguém aqui — falo, chorosa, enquanto olho para o teto e me abano tentando evitar que as lágrimas caiam dos meus olhos. — Eu vou entrar naquela igreja sozinha... e estou nesta situação bizarra. Enzo caminha em minha direção e segura a minha mão. — Você tem toda razão de temer essa nova vida, muitas vezes até eu gostaria de trocar de vida, mas se tem uma coisa da qual você não precisa temer é estar sozinha. Eu, Luc e Dante somos a sua famiglia, e, segundo os nossos códigos, nós nos protegemos até a morte. E olha que já colocamos esse código à prova muitas vezes! — Enzo me lança um olhar doce. — Não se preocupe, eu caminharei com você até o altar. Eu não duvido que isso seja verdade, o problema é que não me sinto parte dessa família, todos ainda são estranhos para mim. Essa situação não

passa de uma chantagem, na qual eu sou obrigada a aceitar uma nova vida que não escolhi. Escutamos uma batida à porta, mas a pessoa não espera por uma resposta e eu vejo um homem vestido com um terno entrar no quarto. Imediatamente me dou conta de que este é Dante. Todos eles carregam semelhanças físicas entre si, todos são bonitos, mas Dante parece ser o mais frio. Sua frieza não é como a de Luc, que consegue parecer superior a nós, insignificantes mortais. Dante, por sua vez, parece apenas não ter alma, parece que carrega uma grande escuridão dentro de si. — Olá, Elizabeth, é um prazer conhecê-la. Infelizmente, eu não pude conhecê-la antes, pois estive muito ocupado ultimamente. Agora que te vejo, eu entendo por que Luc está tão ansioso por se casar. Eu me sinto envergonhada com o elogio. — Prazer em conhecê-lo também, pode me chamar de Lizzy. — Estendo a minha mão para apertar a mão que ele me oferece. — Bem, agora que todos já se conhecem, temos que ir para o casamento — diz Enzo. — Sim. Vou acompanhar vocês na limusine, hoje eu sou o responsável pelos seguranças. Você sabe que não tem ninguém melhor nisso do que eu. — Você é bom em ser presunçoso e um filho da mão convencido, isso é o que você é! — Enzo responde em tom brincalhão. — Vamos, então. Sou levada para o lugar do casamento, uma igreja suntuosa e antiga. Estou nervosa e suando frio. Meu Deus! É agora que vou selar a minha vida com a de um criminoso. Que me repele e me atrai em medidas iguais. — Acalme-se, cunhadinha, estamos todos aqui, vai dar tudo certo! —

Enzo tenta me tranquilizar ao se dar conta do meu nervosismo. — Vou para o meu lugar na nave da igreja, ao lado de Luc — Dante informa e parte. Parece que Dante é o padrinho de Luc, e Enzo ficou como meu padrinho. Acho que foi o melhor arranjo, já que eu não tenho ninguém para ocupar o cargo. Momentos depois, escuto a Marcha Nupcial ser tocada e vejo as portas da igreja se abrirem. É agora! Meu coração parece que vai sair pela boca e minhas pernas estão trêmulas. Respire, Elizabeth, só respire. Enzo pega a minha mão, coloca-a por dentro do seu braço e me conduz em direção à nave da igreja. Ainda bem que ele me conduz, senão eu acho que ficaria parada, em estado de choque. A igreja está lotada, de onde vieram todos? O véu está cobrindo o meu rosto, o que eu acho bom, já que não gosto de ter todos esses estranhos me analisando. Uma igreja inteira com somente os convidados do noivo, não tenho ninguém aqui. Enzo aperta a minha mão como se lesse os meus pensamentos, tentando me consolar. Olho para frente e quase paro de respirar, Luc está magnífico em seu terno de três peças, mais bonito do que um homem tem o direito de ser, mas o que me tira o fôlego é o seu olhar sobre mim. Ele me olha com tanta intensidade que qualquer um diria que se trata de um noivo extremamente apaixonado, o que obviamente não é o caso. Mas, mesmo assim, o seu olhar me faz arrepiar até o último fio de cabelo. Parece que ele é um predador e a qualquer momento vai se atirar em cima da caça. Paramos em frente ao padre e Enzo me entrega para Luc, que pega a minha mão e deposita um beijo quente em minha palma. E diz baixinho,

somente para mim: — Você está molto bela, Elizabeth! Finalmente vai ser minha. Fico sem palavras para responder, ser dele é uma perspectiva que me excita e me apavora ao mesmo tempo. O padre começa a cerimônia, que se passa como em um transe. Escuto o italiano do padre, mas não entendo o que ele fala, eu só consigo olhar para Luc, que me devolve o olhar com intenso fervor. Em algum momento, o padre deve ter perguntado se Luc me aceitava como sua esposa, pois ele fala sem titubear: — Si, accetto! O padre se volta para mim e parece repetir a mesma pergunta, esperando pela minha resposta. Luc me olha com um olhar incisivo, estimulando-me e desafiando-me a dar a minha resposta. — Sim, eu aceito — digo finalmente, selando o meu destino. Em um determinado momento, o padre deve ter pedido para que coloquemos as alianças, pois Luc pega de Dante uma caixinha e retira duas alianças, colocando uma em meu dedo. Eu não sou especialista em pedras preciosas, mas até uma ignorante nesse assunto como eu pode se dar conta de que se trata de uma joia extraordinária. Ela tem uma pedra enorme no meio, que eu acho que se trata de um diamante, com várias pedras menores ao redor, que eu acho que são brilhantes. O anel, assim como o vestido, coube perfeitamente em mim. Agora é a vez de eu colocar a aliança nele, que é um anel largo de

ouro com design sóbrio e elegante. Não sei quais são as próximas palavras do padre, mas, quando termina, Luc vem em minha direção, levanta o meu véu, me abraça, me olha nos olhos e diz: — Minha! — E me beija profundamente, não se importando com a nossa audiência, que começa a assobiar e aplaudir. — Mia moglie, senhora Elizabeth Costatini — fala Luc, como se tivesse conquistado um grande prêmio. Agora não há volta, eu sou a esposa da máfia, e a consciência deste fato me deixa apavorada.

A Festa Partimos da igreja sob uma chuva de arroz e com uma quantidade enorme de pessoas assoviando, aplaudindo e falando palavras de incentivo ao nosso redor. Mas eu não posso deixar de notar vários homens de preto, que estão obviamente fazendo a segurança do casamento. Luc mantém o seu braço em volta da minha cintura todo o tempo, conduzindo-me a entrar na limusine que nos espera. Eu acho que a qualquer momento as minhas articulações vão se quebrar, de tanta tensão que estou sentindo. — Relaxe, Elizabeth — Luc fala, sentando-se ao meu lado. Ele se aproxima de mim e me vira, posicionando-me de costas para ele. — Qualquer um que te visse assim, pensaria que você está indo em direção à sua sentença de morte, e não saindo do seu próprio casamento. Luc começa a massagear as minhas costas. — Hummm... — deixo um gemido escapar, sentindo o meu corpo relaxar sob o seu toque preciso. Até nisso Luc é bom. — O sentimento é quase esse — respondo de olhos fechados, apreciando a massagem. De repente, a massagem ganha um novo rumo. Luc para a massagem e me puxa, ainda de costas, para o seu colo e começa a me acariciar, passeando suas mãos pelos meus ombros, nuca, cintura... Passa as mãos por minha barriga e as sobe para os meus seios, fazendo todo o trajeto de maneira preguiçosa. — Será que você não consegue ver nenhum aspecto positivo em nossa união?

Espero que essa pergunta tenha sido retórica, pois agora não estou em condições de responder. Sinto ondas de calor percorrerem todo o meu corpo. — Sinta, Elizabeth, apenas sinta. Luc sobe a saia do meu vestido e desce a mão para o meio do meu sexo, tendo acesso fácil pela posição em que nos encontramos. Eu me sinto inebriada de desejo, arqueio as costas apoiando a minha cabeça em seus ombros. Ele agarra o elástico da minha calcinha e o rasga, tirando-a do caminho, e passa a acariciar de forma precisa o meu clitóris. — Hummm... — não consigo impedir o gemido que me escapa. O calor que eu sentia se transforma em labaredas intensas, sinto a tensão se apoderar do meu corpo. Luc massageia o meu sexo úmido de excitação, aumentando a velocidade da fricção com maestria. Em seguida, ele desliza o seu dedo dentro de mim e o movimenta em vai e vem. — Dê para mim, Elizabeth! Goze para mim, deixe-me sentir o seu gozo com as minhas mãos — Luc fala com voz pecaminosa em meu ouvido. E então eu não aguento mais, sinto um orgasmo potente se apoderar de meu corpo em ondas de espasmos. — Isso, assim... — Luc sussurra com voz grave em meu ouvido, então mordisca a minha orelha. Sinto que fui para o céu e voltei, meus músculos se transformaram em gelatina.

— Perfeito! Você está muito mais relaxada agora. Está com um tom ruborizado adorável por toda a sua pele. Olho para Luc, que prende o meu olhar ao lamber os dedos ainda melados da minha excitação. Ele fecha os olhos, como se apreciasse o sabor. — Deliciosa! — fala de forma sedutora. — Depois eu vou querer provar muito mais disso. Caramba! Acho que vou gozar novamente só de ouvi-lo falar essas safadezas. Controle-se!, eu me dou uma sacudida mental. Como é que eu deixei as coisas chegarem a esse ponto? Sério? Dentro do carro? Demonstre um pouco de autocontrole, Elizabeth!, eu me amaldiçoo mentalmente. Ainda com a respiração pesada, eu tento me recompor, saindo do seu colo, voltando para o meu lugar e ajeitando o meu vestido. Quando olho para Luc, vejo que ele me olha com cara de satisfação, mas ainda mostra uma potente ereção. A sua ereção atrai o meu olhar por um tempo maior do que seria educado. — Gosta do que vê? — Luc ronrona para mim. Desvio o olhar, desejando que um buraco se abra no chão neste momento para que eu possa me esconder. Não sei com o que eu estou mais mortificada, com a minha reação despudorada ou com a reação safada dele. Luc respira fundo, como se buscasse um pouco de controle, e passa a ajeitar as suas roupas, fechando o seu paletó de forma a tapar a visão de sua ereção. — Já estamos quase chegando ao lugar da festa, e eu não quero dar

um espetáculo para os convidados, não é? Eu não respondo nada, não acho que encontraria a minha voz agora, mas mentalmente eu concordo, isso seria um GRANDE espetáculo! Sinto o carro parar e estacionar. Luc se abaixa e pega a minha calcinha, que estava em farrapos jogada no chão do carro. Ele a cheira, fechando os olhos como se estivesse apreciando uma rica fragrância, então a guarda no bolso da calça. — Uma lembrança deste dia memorável! — Pisca para mim. — Vamos, chegamos. Será que eu poderia ficar mais mortificada? Sou levada para a festa de casamento, ainda sinto o meu rosto vermelho, espero que as pessoas não adivinhem o motivo. Sou apresentava para um monte de desconhecidos, eu jamais conseguiria memorizar tantos nomes. Mantenho um sorriso forçado, até que os músculos do meu rosto começam a doer. Luc olha para o próximo casal que está na fila de convidados para ser cumprimentado e fecha a cara, ficando tenso. — Este é Matteo Barbieri. Ele é do mesmo ramo de negócios que eu. — O que será que isso quer dizer? Ele também é da máfia? Matteo é um homem atraente, de cabelos castanho-claros e olhos verdes, e tão alto quanto Luc. — Como vai, Elizabeth? Agora sei por que Luc se encantou com a

sua beleza! — fala Matteo, com um leve sotaque italiano. Em seguida, beija a minha mão, demorando mais tempo do que seria esperado, deixando-me constrangida. — Não abuse da sorte, Matteo, nunca se sabe quando ela poderá acabar! – Luc ameaça em tom mordaz. — Ah, mas você sabe como eu adoro testar os limites, não é, Luc? — Matteo responde de maneira mordaz. O que será que existe entre esses dois? Luc, que está com a mão em minha cintura, afasta-me discretamente do toque de Matteo. Em seguida, sou apresentada ao seu par, uma loira estonteante de vestido preto colado ao corpo, que me olha em aberta avaliação. Ela não faz nenhum gesto inadequado como o Matteo, mas consigo sentir o olhar carregado de antagonismo, e sequer sei o porquê. Será que ela era amante do Luc? Ou ex-namorada? Será que eu acabei com os seus sonhos de se tornar a esposa dele? O pensamento dos dois juntos nus se enroscando na cama me dá náuseas. — Esta é Angelina Carbone, ela é minha sócia em um dos meus negócios — Luc me apresenta. Angelina segura minha mão em um aperto fraco, como se não quisesse me tocar. Sempre detestei apertos de mão que não sejam firmes. — Parabéns pelo casamento, desejo felicidades ao casal. — Sinto a falsidade pingar de cada palavra. — Obrigada — respondo, apenas por educação.

Felizmente, a fila tem que prosseguir e temos que receber os outros convidados. Quando terminamos de recepcionar todos os convidados, já estou exausta e sinto que o meu rosto vai colapsar por manter um sorriso falso por tanto tempo. — Venha, vamos para o nosso lugar. Luc me conduz pelo salão luxuoso em que nos encontramos e nos dirigimos para uma pequena mesa redonda decorada com bom gosto e luxo. Toda essa parte do salão está cheia de mesas decoradas assim, todas já ocupadas pelos seus convidados, que comem e conversam, parecendo se divertir enquanto escutam a música ambiente. Luc puxa uma cadeira para eu me sentar, toma o seu lugar ao meu lado e finalmente somos servidos. Como pouco, mais uma vez sentindo o meu apetite ser abalado pelos eventos. Aproveito este raro momento de proximidade com Luc, incentivada por estar protegida de um ataque sexual em público, e decido matar a minha curiosidade: — Quem é Matteo? E por que vocês parecem ser inimigos? — Porque somos inimigos. — Então por que você o convidou para o nosso casamento? – pergunto, confusa. Luc dá um suspiro e toma um pouco de champanhe. O mundo ao qual pertenço vive de aparências. Era esperado que um

homem importante como Matteo fosse convidado, ele é da Cosa Nostra, de uma das famílias mais antigas. Ele recentemente se lançou à vida política, mas suspeito que está tentando me tirar o posto de capo. Luc me analisa por alguns segundos. — Você deve entender que pessoas estão constantemente tentando me tirar do meu posto de capo e comandante da famiglia, nem todos concordam com a maneira com que eu administro as coisas, ou simplesmente querem ter o poder para si. Alguns tentam me derrubar, então ultimamente tem ocorrido suspeitas de fraudes nas nossas contas, números que não batem, desvio de cargas de contrabando, desaparecimento de armamentos... Alguém está se movendo pelos bastidores, e eu suspeito de que esse alguém seja o Matteo. — E por que você não toma alguma providência? — Porque eu ainda não tenho provas, então, por enquanto, prefiro manter meus inimigos por perto. — Luc demonstra um olhar mortal. — Mas eu logo descobrirei tudo, Elizabeth, pode apostar, e então Matteo vai desejar não ter nascido. Pelo visto, ser o capo da máfia não é uma tarefa tão fácil como se poderia pensar. — Coma, Elizabeth, você vai precisar de energia para mais tarde — Luc pede com voz provocante. Se o objetivo dele era estimular o meu apetite, o efeito foi oposto, agora estou ainda mais nervosa com a perspectiva do que virá esta noite. Meu estômago dá um nó, mas eu me forço a comer um pouco. A comida tem um aspecto maravilhoso, mesmo assim, eu não consigo sentir o gosto, eu a faço descer com pequenos goles de champanhe.

— E a Angelina, você já saiu com ela? — Eu não achei que teria coragem de perguntar isso, mas quando percebi, a pergunta já tinha saído. Deve ser o champanhe. Eu começo a amaldiçoar mentalmente a minha fraqueza para o álcool. Luc me olha satisfeito. — Ciúmes, Elizabeth? Isso é uma grata surpresa! — É apenas curiosidade — respondo rapidamente, tentando reparar o meu erro em me expor. Afinal, não pode ser ciúmes, certo? Eu o conheço há apenas poucos dias, nem sequer temos um relacionamento real. — Bem, respondendo à sua... curiosidade, aviso que nunca tive nada com Angelina. Como você viu, ela está saindo com Matteo, e eu não sou um homem que gosta de compartilhar. — E os seus irmãos, o que eles fazem dentro da máfia? — Tento desviar a conversa e ao mesmo tempo desvendar como funciona essa família. — Eles fazem de tudo, me ajudam com a administração dos negócios legais. E dos ilegais também. Eles também ajudam a fazer a parte mais prática e suja do negócio quando é necessário, principalmente Dante, que parece ter uma inclinação natural para essa área. — Noto um tom de preocupação em sua voz ao mencionar Dante. Luc toma mais champanhe e continua: — Nossos negócios são extensos, não existe um lugar onde a máfia não esteja infiltrada, estamos presentes em mais lugares do que você imaginaria. Para o mundo, eu sou apenas um empresário recluso, discreto e bem-sucedido. Eles não têm noção da vida que levo, nem do alcance que o

meu poder e influência têm. Céus! Será que eu quero fazer parte de tudo isso? Na verdade, parece que eu não tenho escolha. Já estou envolvida nesse mundo obscuro que Luc me apresenta. Não posso deixar de me sentir amargurada por ser empurrada para uma vida que não escolhi. Sou tirada dos meus devaneios quando sinto a mão de Luc sobre a minha coxa. Só agora me lembro de que não estou usando calcinha. Esse homem sem vergonha rasgou a que eu estava usando. Sinto o meu rosto esquentar. — Você está se sentindo bem, Elizabeth? Está sentindo calor? Realmente está muito calor aqui. Fico mortificada quando vejo Luc tirar a minha calcinha do bolso e passá-la discretamente pela testa como se fosse um lenço. Por que o meteoro está demorando tanto para atingir a Terra?, pergunto olhando para cima, dirigindo-me a qualquer divindade que esteja disponível. — E aí, cunhada, vamos dançar? — Enzo me tira do meu momento de oração forçada. Não é um meteoro, mas já serve, por enquanto. — Sim — digo prontamente, aceitando a mão que me está sendo oferecida. — Você parecia estar se sentindo mal na mesa. Está se sentindo bem? Você parece afogueada, está com calor? — diz Enzo, enquanto dançamos uma música lenta no salão, com outros casais que também estão dançando ao som de uma banda ao vivo.

Mas que droga! Será que os meus pensamentos pecaminosos estão escritos no meu rosto? — Não, eu estou bem — falo de forma abrupta. — Onde está o Dante? — pergunto, tentando mudar de assunto. — Ele está responsável pela equipe de segurança hoje, e como é um evento que envolve uma grande quantidade de pessoas, ele está muito ocupado coordenando tudo, desde a verificação das identidades das pessoas que entram, convidados, músicos da banda, funcionários do buffet e etc., até a vistoria dos presentes que chegam endereçados a vocês, para evitar que entreguem um explosivo ou sabe-se lá o que mais os nossos inimigos poderiam querer enviar. Nossa! Eu jamais pensei que uma festa de casamento demandasse tanto cuidado, parece até que somos Chefes de Estado. — Mas ele deve vir mais tarde, para dançar com a noiva. Dançamos por mais um tempo, até que somos interrompidos por Luc. — Acho que é a minha vez de desfrutar da minha esposa. Enzo levanta as mãos em um gesto de rendição e se afasta. — Finalmente em meus braços, que é o lugar onde você deve estar – Luc fala enquanto me enlaça pela cintura. Luc me rodopia e volta a me receber em seus braços, curvando-me para trás e me beijando como em uma cena de filme. Os convidados começam a rir e a assoviar ao nosso redor. Apesar de constrangida pela atenção que atraímos, eu não posso

deixar de achar graça da cena. Luc me embala no ritmo da música, ele é um excelente bailarino, não necessito fazer qualquer esforço para acompanhá-lo, ele me conduz perfeitamente pelo salão. Luc tem tantas habilidades que até agora eu não descobri algo que ele não faça bem. A música chega ao fim e escuto uma voz que tenta chamar atenção de todos. — Boa noite, senhoras e senhores! Bem-vindos a esta linda festa de casamento! — o cerimonialista, que está vestido um smoking, fala ao microfone. — Não sei se vocês sabem, mas a senhora Elizabeth Costatini é uma cellista internacionalmente conhecida. Ela nos dará a honra de compartilhar conosco o seu talento esta noite. Senhoras e senhores, com vocês, a mais nova senhora Costatini! Vejo que todos me olham, expectantes. Olho para Luc surpresa, eu não esperava por este momento. — Achei que este seria um ótimo momento para você se apresentar, sei que você sente falta do palco e lamento ter que te afastar disso, então, pelo menos eu posso te dar este momento. Toque para mim, Elizabeth – Luc me pede enquanto me fita com intensidade. Eu não posso resistir ao seu pedido e fico agradecida pela surpresa. Dirijo-me ao palco e tomo o meu lugar ao centro, onde me espera o meu violoncello. Eu o afino e, como não estou treinada e com os dedos aquecidos, escolho uma música não tão difícil do meu repertório, porém, não menos significativa. Olho para Luc, que retorna o meu olhar com apreciação, e lembro-me

das tantas vezes em que toquei para ele sem que nos conhecêssemos. Mas, desta vez, ele sabe que é para ele, então toco o Prelúdio da Suíte No. 1 de Bach com toda a emoção que me inunda, e como sempre me desconecto de tudo e entro na música. Quando termino, sou ovacionada pelos convidados, mas o meu olhar é atraído somente para Luc, que me aplaude e me olha com orgulho. Quando desço do palco, procurando por Luc por entre os convidados, sou interceptada por Dante. — Acho que é a minha vez de dançar com a noiva, o Luc terá muito tempo com você. Esperamos em silêncio enquanto a banda volta a tocar e então começamos a dançar. Dançamos quietos, Dante não parece ser um homem de muitas palavras, mas enfim ele decide romper o silêncio: — Eu nunca fui casado, então não sei o suficiente sobre casamento para te aconselhar, acho que você vai descobrir sobre o que se trata sozinha. Mas eu sei muito sobre a máfia, sobre violência, ganância, ambição e jogo de poder. E essa é uma área que eu posso te aconselhar, e o primeiro conselho que te dou é: nunca confie em ninguém! Os únicos dignos de confiança que eu vi na minha vida até agora são apenas Luc e Enzo, e ninguém mais. Dante faz o seu discurso me olhando seriamente, com o semblante taciturno. — Ok, obrigada. Eu acho...

— Já está na hora de eu ter a minha esposa de volta. — Luc se aproxima, interrompendo este momento estranho. Dante se afasta, dá um tapinha nos ombros de Luc e vai embora. — Não ligue para o Dante, ele passou por muitas coisas, por isso é assim, meio quebrado. — O que aconteceu com ele? — Esse não é um segredo meu para que eu possa te contar. Se ele quiser, um dia ele te dirá. Luc pega a minha mão e me faz dar um giro. — Vamos dançar! Dançamos, bebemos, e até que eu me diverti um pouco, devo dar o braço a torcer. Quando Luc quer, ele sabe ser uma criatura educada e encantadora. Mas agora os meus pés começam a me incomodar e sinto os primeiros sinais de cansaço e sono tomarem o meu corpo. Luc deve ter percebido o meu estado, pois me conduz para fora do salão. Ele pega o celular de dentro do paletó e faz uma ligação. — Dante, já estamos indo, mande trazer a limusine. Luc escuta uma resposta e desliga o telefone. — Não temos que nos despedir dos convidados? — pergunto, já sonolenta. — Você está exausta e já está tarde, a maioria nem vai sentir a nossa falta. Mais tarde, o Enzo pode avisar que tivemos que partir. Agora venha.

Luc me leva para a área do estacionamento, onde entramos na limusine. Estou muito cansada e os meus pés estão me matando. Tiro as sandálias de salto, jogo-as no chão e me deito no assento. O dia cheio de tensão e a noite de dança e de bebida estão cobrando o seu preço, eu sequer consigo manter os olhos abertos. Luc pega o meu pé e começa a massageá-lo. Hummm, que gostoso! É o último pensamento coerente que tenho antes de deslizar para o mundo dos sonhos.

A Noite de Núpcias Acordo ao sentir que estou sendo carregada. Ao abrir os olhos, eu me dou conta de que estou dentro de um quarto, que está mergulhado na penumbra, sendo iluminado apenas por uma luminária ao lado da cama. Olho através das imensas janelas e vejo os imensos arranha-céus do lado de fora, é uma vista espetacular. — Onde estamos? — pergunto, ainda sonolenta. Luc me deposita sobre a cama e se afasta, olhando-me em contemplação. — Estamos em um hotel do qual sou sócio. Eu gostaria de poder viajarmos em lua de mel, mas infelizmente tenho algumas urgências no trabalho, não posso me ausentar agora. Como eu já havia te dito, nós temos um traidor para descobrir. Então, já que eu não posso te tirar da cidade, pelo menos mudamos de cenário. Prometo te compensar depois. Estou nervosa, não sei o que fazer nesta situação. Luc se dirige a uma mesa do outro lado da suíte. Ele tira o paletó e o coloca no encosto da cadeira. Pega o champanhe, que descansa no balde de gelo, enche duas taças dispostas sobre a mesa, vem em minha direção e me oferece uma taça. Não sabendo mais o que fazer, eu aceito, talvez a bebida me ajude com os meus nervos. — Um brinde à uma nova etapa de nossas vidas! Luc toca a sua taça contra a minha. Eu viro a bebida de uma vez, vou

precisar de muita coragem para hoje. — Cuidado, Elizabeth, quero que você esteja consciente e disposta esta noite. Ele pega a taça que estava em minhas mãos trêmulas e a leva de volta para a mesa. Parece não ter pressa de vir a consumar o nosso casamento, parece que está brincando com a sua presa. — Posso usar o banheiro? — tento escapar deste momento, ainda que seja para ganhar alguns poucos minutos. — É claro, mas não tire o vestido, eu quero ter a honra de tirá-lo. Na verdade, eu estive fantasiando em tirá-lo durante todo o casamento. Saio em disparada. Entro no banheiro enorme e luxuoso. Até no banheiro tem janelas amplas com uma linda visão do lado de fora. Eu me olho no espelho e vejo que ainda estou com a maquiagem no lugar. É melhor eu tirar, dormir com isso na cara vai me deixar uma bagunça. Eu me concentro na tarefa de tirar a maquiagem e aproveito para passar água no meu rosto, pescoço e colo. Estou muito nervosa com a perspectiva do que virá. Eu gostaria de dizer que entraria naquele quarto e Luc faria um ato sexual seco, destituído de qualquer participação da minha parte, mas a verdade é que quando ele me toca, eu perco o controle, então sei que esta é uma batalha perdida. Uso o banheiro para fazer a minha higiene do jeito que posso, já que não consigo tirar esse vestido que possui os botões nas costas, então só Luc poderá tirá-lo, como é de sua vontade.

Mais uma vez, eu me olho no espelho e tento acalmar a minha respiração e os meus tremores. É isso aí, não tenho mais como escapar. Puxo uma última respiração profunda e me dirijo para o quarto. Ao entrar no quarto, eu o vejo sentado em uma cadeira junto à mesa. Luc já tirou os sapatos, meias, gravata, e enrolou as mangas da camisa, que está entreaberta. Ele ainda está tomando seu champanhe. Ao me ver, ele se levanta e anda decidido em minha direção. Sinto as minhas pernas tremerem. Ele começa a andar ao meu redor, circulando-me e apreciando-me como um predador tentando decidir qual será a melhor maneira de atacar a sua presa. Ele para atrás de mim e começa a desabotoar lentamente o meu vestido. Quando termina, ele o tira dos meus ombros e o vestido cai aos meus pés. — Venha — diz, oferecendo-me sua mão. Eu a aceito, já cativa do seu feitiço. Ele me tira do amontoado que o vestido faz no chão, toma distância e me aprecia com intensidade. Estou apenas de sutiã de renda branco e um conjunto de meia-calça e cinta-liga, também branco. Já não tenho a calcinha que fazia parte do conjunto, ela deve estar guardada em seu bolso. — Se Afrodite pudesse te ver, ela choraria de inveja da sua beleza! — Luc então caminha em minha direção, me agarra e me dá um beijo profundo e feroz. O homem calmo, comedido e tranquilo não existe mais, este deu lugar a um homem selvagem e apaixonado.

Ele me carrega e me deposita na cama sem quebrar o contato do beijo. Depois de um longo tempo me beijando e me acariciando com as mãos, ele se levanta e começa a tirar a roupa. O corpo que vai se desvelando é impressionantemente forte e musculoso. Algumas cicatrizes espalhadas pelo corpo são as únicas imperfeições aparentes; dentre elas, a que está no seu braço, resultado do tiroteio por qual passamos. Ela ainda não está inteiramente curada, mas parece não o incomodar mais. Ao contrário do que retratam os filmes sobre a máfia, Luc não possui tatuagens. Eu devo ter deixado a minha última observação escapar sem me dar conta, já que Luc me responde: — Tatuagem? Para um mafioso? Que clichê! Agora ele está inteiramente nu e excitado à minha frente, o que me deixa apreensiva pela mecânica da coisa. — Não se preocupe, eu cuidarei de você — Luc diz, como se lesse os meus pensamentos. Acho que a minha expressão deve ter demonstrado o meu nervosismo. Ele sobe na cama lentamente, deslizando seus lábios pelas minhas pernas até chegar ao topo das minhas meias, então começa a descê-las; primeiro, de uma perna, depois a de outra. Eu nunca me senti tão exposta na minha vida. Luc então pega a minha perna e vai beijando os meus pés, passeando os lábios pela minha panturrilha e coxa, até chegar ao meu sexo, onde ele explora usando toda a sua experiência e perícia sobre o meu clitóris. Eu não consigo me conter, agarro os seus cabelos e solto um grito abafado. Ele tem uma língua muito depravada. Sinto novamente uma deliciosa tensão tomar conta de mim, e ondas de prazer tomarem o meu

corpo, então eu arqueio as costas, sentindo um orgasmo poderoso me varrer. Acho que eu fico até sem visão por alguns segundos, pois, quando eu o olho novamente, ele está passando a língua pela boca, lambendo a minha excitação dos seus lábios, parecendo um gato depois de tomar leite. Essa visão é a coisa mais sexy que eu já vi, esse homem vai acabar sendo a minha morte, penso, com a respiração ainda irregular. Luc então tira o meu sutiã, deixando-me inteiramente nua. Ele coloca os meus seios sob as palmas de suas mãos, apalpando como se estivesse apreciando a textura e o peso. — Eles são perfeitos, cabem perfeitamente em minhas mãos — Luc fala enquanto os acaricia, deixando-me quente novamente. Depois, ele para e abre a gaveta do móvel de cabeceira, à procura de um preservativo. Ele deve saber que eu ainda não estou protegida pelo anticoncepcional, a doutora Carla Caruso deve ter dito para ele. Como sempre, ele sabe tudo. Luc veste o preservativo e olha para mim com propósito. Ele se abaixa sobre mim e suga um dos meus mamilos, que estão duros e rígidos pela excitação, enquanto estimula o outro com a mão. Não pode ser que ele consiga me acender tão rápido novamente. Eu sinto o seu toque ter efeito imediato nas minhas partes íntimas, sinto a lubrificação escorrer entre as minhas coxas. Luc desce uma das mãos para massagear o meu clitóris, enquanto, com a boca, brinca com os meus mamilos. Sinto novamente outra onda potente de prazer se aproximar, mas desta vez Luc se afasta, antes que ela consiga me alcançar, e separa as minhas

pernas se posicionando para entrar. Eu o agarro em expectativa enquanto ele me beija com ousadia. Luc me penetra lentamente, sinto o estremecimento em seu corpo enquanto ele se segura ao encontrar a barreira da minha virgindade. Ele toma longas respirações, que são entrecortadas por beijos que ele espalha pelo meu rosto, dando um tempo para que meu corpo se adapte à invasão, e então ele avança de uma vez, estocando até o fim. — Ahh! — solto um pequeno grito. Sou pega de surpresa pelo movimento e sinto uma dor aguda me tomar, então gemo, mas, desta vez, de dor. Sinto as lágrimas arderem nos meus olhos e tento afastá-las. — Calma, Lizzy, vai passar... Shhh, relaxe — Luc tenta me consolar. Tento relaxar e respirar profundamente enquanto sou acarinhada por ele, que não para de falar palavras de consolo. Até que, lentamente, sinto a dor arrefecer e abrir espaço para novas sensações. Luc percebe isso também, pois, depois do que parece ser uma eternidade, ele começa a se movimentar. Colocando a mão entre nós, ele volta a estimular o meu clitóris com maestria, e mais uma vez eu me entrego completamente às sensações. Ao sentir a minha entrega, Luc passa a se movimentar mais rápido e com vigor. Até que eu não sinto mais dor, sinto somente um prazer avassalador, e mais uma vez o orgasmo toma o meu corpo. Em seguida, Luc se deixa levar, também soltando um grave grunhido, e então desaba sobre mim. Somos uma massa confusa de corpos suados e respirações ofegantes. Sexo com Luc é uma experiência inesquecível. Mas ao final dela eu me sinto perdida. Meu corpo e minha mente estão em direções opostas. Meu corpo o deseja com cada célula, mas minha mente grita que eu deveria fugir.

Luc deve ter percebido o meu estado confuso, pois sai de cima de mim e caminha em direção ao banheiro sem dizer nenhuma palavra. Eu me embolo em posição fetal, como se pudesse me proteger de todos os eventos que me ocorreram nos últimos tempos. Tomo um susto quando, momentos depois, Luc me levanta da cama e me carrega em direção ao banheiro. — O que você está fazendo? — pergunto, surpresa. Eu achava que ele havia me abandonado na cama. — Vamos tomar um banho quente, para relaxar, eu já preparei a banheira. — Franzindo as sobrancelhas, ele completa: — Eu disse que cuidaria de você. Luc me deposita na banheira, que já está quase cheia e com os jatos de hidromassagem potentes ligados. Ele então se senta às minhas costas e começa a me massagear e ensaboar o meu corpo. Estou exausta, todos os últimos eventos caem sobre mim, e vejo a luz que se infiltra pela janela do banheiro, o dia está nascendo. Luc termina de me lavar, e se eu estivesse um pouco mais desperta e atenta, perceberia a doçura dos seus gestos. Ele me ajuda a sair da banheira, seca todo o meu corpo e me leva para a cama. Ele me abraça em posição de conchinha e cobre nossos corpos nus com o lençol. Para o final deste processo, já estou dormindo e não vejo que ele ainda passa alguns minutos acordado, me abraçando e pensando no fato de que ele acabara de passar pela experiência sexual mais profunda e significativa de sua vida.

Acordo me sentindo revigorada, espreguiço-me e dou voltas na cama, até que sinto que estou dolorida em lugares que antes nunca estive. Então me lembro de todos os acontecimentos da noite anterior e me sento em um pulo. Meu Deus! Eu estou casada com um mafioso! E até dormi com ele! Vistorio o quarto e não vejo Luc; pelo visto, saiu. Agora que estou descansada e não me sinto mais tão nervosa, posso observar melhor este ambiente. Chamá-lo de quarto é um eufemismo. O quarto é maior do que muitos apartamentos que eu já vi. Tudo está decorado com extremo bom gosto e sofisticação. O meu vestido está em cima do encosto de uma cadeira. Deve ter sido Luc quem o colocou lá. Observo também duas malas no outro extremo do quarto, então me levanto e vou em direção a elas. Eu dormi nua na noite anterior, mas não tenho esse hábito e já me sinto estranha por passar tanto tempo sem calcinha. Não sei quem fez as minhas malas, eu não as fiz, já que Luc não me havia informado sobre os planos para a nossa noite de núpcias. Na verdade, Luc não parece ter o hábito de informar seus planos para ninguém, mas a pessoa que fez essas malas deve ter um gosto inteiramente diferente do meu. Dentro da mala só há peças de lingerie minúsculas e delicadas, e as demais roupas são curtas e decotadas. Não parecem ser de mau gosto, mas também não são do meu gosto. Espero que Luc não tenha planos de passar muito tempo aqui, pois eu não pretendo passar muito tempo vestindo essas roupas. Escolho um conjunto de calcinha e sutiã da cor da pele e visto junto com um

vestido curto, azul florido e soltinho. Meu olhar cai então na mala de Luc, eu me sinto curiosa para saber o que ele traz nela. Olho para a porta do quarto e não vejo nenhum movimento, então sou levada pela curiosidade a explorar, aproveitando a sua ausência. Abro a mala e vejo algumas roupas de marca que parecem ser caras, algumas peças sociais, que ele normalmente usa, e outras poucas peças que parecem ser para academia. É claro que ele malha! Quem conseguiria manter um corpo daquele sem se esforçar em uma academia? No fundo da mala, sinto algo metálico. Afasto as roupas e vejo um revólver. Eu levo um susto. Mas também, o que eu esperava? É obvio que Luc estaria armado, ele é um criminoso! Deixo a arma no mesmo lugar em que a encontrei, eu não sei mexer nela e não quero causar um acidente. Ao continuar a minha procura, vejo a sua carteira. Ué! Ele não está com a carteira? Ao abri-la, observo alguns cartões de crédito, todos negros, parecem ser aqueles cartões sem limites que somente gente podre de rica tem. Vejo também duas identidades com o rosto dele nas fotos, mas com nomes diferentes. Ele pratica falsidade ideológica, também? Será que o nome dele é Luc mesmo? Quantos crimes será que ele pratica? Será que há um limite? — Você encontrou o que estava procurando? Eu levo um susto e deixo cair a carteira e os documentos dele no chão. Luc está recostado na parede, parece que esteve me observando por algum tempo. Fiquei tão absorta na minha espionagem que nem notei a sua entrada no quarto. Ele está com os cabelos suados e desgrenhados, dando um ar de bad boy sexy. Está vestindo roupas esportivas, usa tênis, uma calça folgada de moletom preta e uma camiseta sem mangas, também preta, que

deixa os seus braços musculosos à mostra. E está todo suado, parece que esteve fazendo algum tipo de atividade física. Luc então caminha em minha direção e se abaixa para pegar os objetos que deixei cair. Ele guarda todos os documentos dentro da carteira em silêncio, depois, me olhando, levanta a bainha da camisa e tira um revólver que estava no cós de sua calça. Ao ver a arma, eu solto um grito e dou um pulo para trás. Luc verifica a trava a arma com um movimento eficiente e a deposita dentro de sua mala. — Calma, Elizabeth. Você tem que se acostumar a me ver armado, eu vivo a maior parte do tempo armado. Você estava dormindo, então eu não pedi para guardarem as nossas coisas, espero que não se incomode. Eu aceno negativamente com a cabeça. Ainda não encontrei a minha fala depois de ter sido pega em flagrante fuçando as coisas dele. Luc me fita e começa a tirar a sua roupa suada, jogando-a no chão. Ele não tem nenhuma vergonha em mostrar o seu corpo, nota-se que está muito à vontade sob a própria pele. E eu, mais uma vez, estou hipnotizada por ele. Luc é um espetáculo de dar água na boca. Vejo o seu membro enrijecer na minha frente, não sei se saio correndo ou se pulo em cima dele. Acho que o meu cérebro está sofrendo problemas de coerência. — Então, Elizabeth, você não vai me responder? O que estava procurando?

— Eu... ah... Droga! Concentre-se, Elizabeth! Você não é gaga! — Eu estava curiosa e mexi nas suas coisas, me desculpe — falo olhando para o chão, já que a visão de seu corpo nu me desconcentra e faz o meu cérebro se desconectar da minha boca. — Humm... E viu alguma coisa que ajudasse a aplacar a sua curiosidade? Você pode me perguntar sobre o que quiser, Elizabeth. Ah! Já que eu fui pega no flagra, é melhor perguntar de uma vez. — Eu vi uns documentos seus com outros nomes, você é Luciano Costatini mesmo? Quem é você? E como posso confiar em você, se eu não sei nada sobre a sua vida? — Sim, Luciano Costatini é o meu nome, e você é a legítima senhora Costatini. Mas eu te avisei que tenho negócios... Como posso dizer? Diversificados pelo mundo. E não é em todos que eu apresento o meu verdadeiro nome. Que tipo de mafioso eu seria se não tivesse algumas identidades falsas? Quanto à confiança, acho que é algo que se conquista com o tempo. Luc se aproxima ainda mais de mim, abraçando-me e pressionando sua ereção contra mim. — Mais alguma pergunta, senhora Costatini? — Na-não — gaguejo, nervosa. — Bom, por que você não me faz companhia no chuveiro? Acabei de praticar boxe e, como você pode ver, estou todo suado, preciso de um banho.

— Não, tudo bem, pode ir, eu te espero aqui. Luc abre um largo sorriso, daqueles sexys que faz qualquer mulher molhar a calcinha. — Ah, senhora Costatini...! Você é tão difícil! Isso só faz com que a conquista seja ainda mais doce. Luc agarra a bainha do meu vestido e o tira do meu corpo, depois agarra a minha bunda e me levanta, fazendo-me enlaçar a minha perna em sua cintura, então ele começa a caminhar em direção ao banheiro. A fricção da sua ereção no meu clitóris é alucinante, fazendo-me movimentar involuntariamente os quadris em busca de mais contato. Somente a minha calcinha nos separa. Luc grunhe, excitado, então mais uma vez enrosca os dedos em torno da minha calcinha e a rasga. Acho que ele não é fã de calcinhas, e, nesse ritmo, em pouco tempo eu não terei mais nenhuma. Luc me deposita no enorme balcão de mármore do banheiro, que vai de uma parede à outra, e então tira o meu sutiã. Estamos ambos nus e ofegantes. Ele se ajoelha à minha frente e abre ainda mais as minhas pernas, expondo-me inteiramente para o seu olhar, e, então, mais uma vez ele me devora. — Ahh!!! — Escuto ao longe gritos de uma mulher inebriada de paixão, até que me dou conta de que os gritos são meus. Estou entrando em combustão. Esse homem tem uma boca diabólica. Quando estou quase chegando ao orgasmo, Luc para de me lamber, e eu não consigo evitar um gemido em protesto.

— Não se preocupe, Lizzy, ainda tem muito mais. Ele então abre uma gaveta abaixo do balcão, tira uma camisinha e a veste rapidamente. Acho que tem preservativos em todas as gavetas desta suíte. Ele agarra as minhas pernas, abrindo-as e levantando-as, mantendo-as seguras em seus braços. Ele me atrai ainda mais para a beira do balcão e me penetra. Nesta posição, eu o sinto mais fundo, é quase demais para mim. Eu não sinto mais a dor de ontem, apenas um pouco de sensação de ardência e de preenchimento em excesso. Ele então começa a estocar, a princípio, em um ritmo lento, depois em um ritmo cada vez mais rápido. Eu escuto o barulho erótico da batida de nossos corpos e me sinto ainda mais excitada, até que sou tomada por um orgasmo tão potente que me faz revirar os olhos. Luc me segue com um grunhido grave. Eu não tenho mais forças, só consigo tentar respirar para me recompor. Luc joga a camisinha no lixo e me tira do balcão. Ele me apoia para entrar debaixo do chuveiro, já que as minhas pernas estão bambas. — Estou gostando muito desse casamento, Elizabeth — fala com um sorriso safado no rosto. Nesse ritmo, ele vai me matar antes que completemos um ano, penso, ainda me recompondo.

Nova Vida Qualquer um esperaria que no primeiro dia de casados, o casal fizesse uma programação romântica, mas parece que esse conceito não se aplica quando você faz parte da máfia. Depois de nos vestirmos (finalmente eu consegui colocar uma calcinha que pretendo manter intacta, longe das mãos destruidoras de Luc) e almoçarmos, já que estava muito tarde para tomarmos o café da manhã, entramos em um carro, na companhia de seguranças, e viajamos por um tempo. Uma hora, talvez? Até chegarmos a um lugar onde posso ver um galpão com aparência sinistra, que parece estar abandonado. — O que estamos fazendo aqui, Luc? — pergunto, curiosa. Ele está tirando uma maleta preta de dentro do porta-malas do carro, enquanto os seguranças passam a vigiar a porta do galpão. — Vamos entrar, lá dentro eu te explico — Luc responde. Eu o sigo, intrigada para saber o que estamos fazendo aqui e do que se trata tudo isso. Está tudo escuro dentro do galpão, até que Luc acende a luz. Agora posso ver que se trata de um ambiente amplo, espartano e com uma aparência meio suja e velha. Os únicos móveis que vejo são duas pequenas mesas, que aparentam já ter tido dias melhores. Luc deposita a maleta em cima de uma das mesas e a abre. Vejo que ele tira várias peças de revólveres de dentro dela, e revólveres inteiros também. Ele passa a montar as peças com rapidez e precisão, e ordena todos

os revólveres juntos, enfileirados em cima da mesa. Escolhe um e caminha para a outra mesa. Coloca em cima dela uma garrafa de vidro vazia, que estava no chão, e se dirige ao extremo oposto do galpão. — Venha — Luc me chama, mas eu não gosto do caminho por onde está indo essa história. Caminho até ele com receio. — Venha, não tenha medo — Luc me incentiva. Quando chego até ele, Luc pega a minha mão e coloca a arma na minha palma. Fico sem reação. O que se supõe que eu deva fazer com isso? — Você, ao se casar comigo, se tornou um alvo, Elizabeth, é necessário saber se proteger. Todos que nascem na máfia aprendem a atirar desde cedo. No seu caso, já está muito atrasada nas suas aulas de autodefesa, perdemos anos de treino, então devemos começar agora. — Luc, eu não quero, eu não teria coragem de atirar em alguém — tento chamá-lo à razão. — Acredite em mim quando eu digo que, se você estiver em um caso de vida ou morte, você vai ter a coragem para atirar. Luc se posiciona atrás de mim e ajeita o revólver em minhas mãos. — Está vendo esta peça? — Ele aciona um mecanismo do revólver em um movimento para trás e escutamos um clique. — Aqui é onde você trava e destrava a arma. Quando precisar usá-la, certifique-se de que ela esteja destravada. E quando você não a estiver usando, ela deve estar travada, para evitar acidentes.

Luc faz com que eu repita o procedimento sozinha algumas vezes para fixar o processo na mente. — Agora, afaste as suas pernas. Eu as afasto, tentando imitar a sua postura. — Muito bem. Quando você atirar, vai sentir o solavanco da arma, então você tem que segurar firme, com as mãos, braços e ombros posicionados assim... Luc me exemplifica como deve ser feito e depois corrige a minha postura. — Agora, espere um momento — pede ele, enquanto caminha em direção à maleta. Luc volta com um objeto que parece ser um fone de ouvido. — Não queremos que uma musicista extraordinária como você perca a audição durante as nossas aulas. Luc então coloca essa espécie de fone de ouvido sobre a minha cabeça e os ajeita em minhas orelhas. Ele dá um sorriso divertido e me rouba um beijo rápido. Será que ele está rindo porque eu estou engraçada? Ele volta a postar-se atrás de mim, seus braços longos e fortes me envolvendo no calor de seu corpo, o que me faz pensar em coisas... Pare, Elizabeth! Esse homem te transformou em uma ninfomaníaca assim, do dia para a noite?, eu me repreendo. Luc coloca o dedo no gatilho por cima do meu e o aperta, fazendo o disparo. O tiro é certeiro! Atinge a garrafa sobre a mesa, estilhaçando-a em mil pedaços. Mas eu sei que só consegui acertar o alvo por causa dele. Estamos muito longe, uns quinze metros, eu jamais conseguiria sozinha.

Ele coloca outra garrafa em cima da mesa, volta até onde estou e afasta momentaneamente os fones dos meus ouvidos. — Agora, tente sozinha. Passo a última hora usando diferentes tipos de armas, de diferentes tipos de calibre, formatos e tamanhos. Atiro para tudo quanto é lugar, nem o chão e o teto são poupados, menos a garrafa, que permanece intacta. — Ainda bem que estou atrás de você, senão eu seria atingido também — Luc fala com diversão. — Eu avisei que não servia para essas coisas — falo, fechando a cara. Sou colocada em uma situação em que não quero estar, e ainda por cima me torno alvo de chacota?! Neste instante, o celular de Luc toca, interrompendo o meu momento de indignação. Ele o atende ainda com um sorriso nos lábios. — O que foi, Enzo? Luc escuta durante um tempo, e vejo o seu bom humor se esvair em segundos. — Estamos voltando — Luc responde e desliga o celular. Ele então me olha e fala: — Sinto muito, Elizabeth, infelizmente teremos que suspender a nossa aula. Emergências surgiram e precisamos voltar. Eu não sei do que se trata essa emergência, mas, pela tensão que vejo em Luc, sei que se trata de algo grande.

Voltamos à mansão sob forte escolta. Eu ainda não me acostumei a ser constantemente vigiada, mas parece que essa é mais uma coisa da qual serei obrigada a me acostumar. Ao chegarmos, Luc segue diretamente para o seu escritório. Paro, sem jeito. O que eu devo fazer? Será que devo segui-lo? Eu não sei qual lugar devo ter na sua vida agora. Luc extermina as minhas dúvidas ao abrir a porta do escritório e se postar de lado, fazendo um gesto para que eu entre. Dentro do escritório estão Enzo e Dante, sentados lado a lado em um sofá escuro e elegante, ambos com cara de poucos amigos. Luc se senta à mesa, onde se encontram poucos objetos, um computador portátil, um tipo de caderno de capa dura negra com cara de agenda, um par de canetas que parecem caras, e uma caixa branca grande com um laço de presente em cima. Sento-me em uma cadeira ao lado do sofá, sentindo-me deslocada neste ambiente. — Contem-me tudo o que aconteceu — Luc solta de forma direta. Enzo e Dante, em lugar de responder, ficam olhando para mim com cara de dúvida. Luc deve ter entendido qual é o impasse, pois esclarece:

— Ela é uma Costatini agora, terá que tomar conhecimento das coisas que acontecem em nosso mundo. Enzo parece aceitar este fato facilmente, pois limpa a garganta e começa a falar: — Ontem, durante a sua festa de casamento, fomos atacados em uma de nossas unidades de distribuição de drogas. Perdemos dez homens que estavam de guarda, dentre eles, o nosso gerente Giovani, que desde então estava desaparecido. Até agora... — completa de maneira misteriosa. — Por que eu não fui avisado? — Luc pergunta, com a sua costumeira postura tranquila, mas percebo em seus olhos um brilho de fúria. — Ontem foi o seu casamento, Luc! Se te contássemos, teríamos estragado o seu dia. Sei que você largaria tudo para resolver o problema. Nós sabemos como você é diligente no trabalho — Dante responde. — Ficamos muito ocupados ontem, tentando dar conta da segurança do casamento e ao mesmo tempo coordenando equipes para procurar pelos possíveis responsáveis pelo ataque. Acredite, não tinha nada que você pudesse fazer que nós mesmos não fizemos. Luc se levanta em um rompante, e desta vez os olha com um semblante enfurecido. — Eu sou o capo da porra desta família! Eu não posso ser o último a saber sobre os meus próprios negócios! Que tipo de respeito eu posso ter assim?! Vocês nunca mais poderão me deixar no escuro, ou eu vou ter que afastá-los dos negócios. Entenderam? Enzo olha para o chão, mas Dante responde:

— Eu também tenho compromisso com esta organização, Luc, você sabe disso, mas o meu primeiro compromisso é com você e com a minha verdadeira família. Eu não vou lamentar as escolhas que fiz, então, se eu tiver que ser afastado, que assim seja. O brilho de fúria nos olhos de Luc parece arrefecer um pouco com a justificativa de Dante, ele então volta a se sentar, parecendo estar mais calmo. — E o que é essa caixa em cima da mesa? — pergunta. — É a última mensagem que eles nos enviaram — Enzo responde. Luc abre a caixa, e o conteúdo revelado me faz ter ânsia de vômito. Sinto o sangue fugir do meu rosto. Ai, meu Deus! Como é possível esse tipo de monstruosidade? Dentro da caixa está a cabeça decepada de um homem. Parece que só eu me sinto mal com a visão, os três homens não demonstram nada, é como se todos os dias eles tivessem a cabeça de um homem morto sobre a mesa. — Esta manhã entregaram essa caixa por meio de uma transportadora. Ela foi enviada de um endereço falso, assim como também são falsos todos os dados passados para a transportadora — Dante fala de maneira objetiva. — Pelo menos não teremos mais que procurar por Giovani, ele já foi encontrado — Enzo fala com um toque de humor. Dante joga um envelope na direção de Luc. — A caixa veio com esta mensagem, está endereçada a você.

Luc abre o envelope e tira o bilhete que está dentro, então o lê em voz alta. “Parabéns pelo casamento, Luciano! Desejamos felicidades aos noivos. E aqui vai uma lembrancinha para tornar esse momento ainda mais especial. De quem será a cabeça que virá na próxima caixa?” Luc volta a colocar o bilhete dentro do envelope e o deposita em cima da mesa. Fica contemplativo por um tempo, então passa a falar de maneira fria e determinada: — Vamos substituir o Giovani, teremos que mudar a nossa base de distribuição de drogas para outro lugar. Quero que dessa vez os carregamentos estejam mais protegidos, dobraremos a segurança desse novo lugar. Eu não quero mais falhas nem brechas para esse tipo de incidente, não podemos perder milhares de euros assim, tão facilmente! — Vou repassar as suas ordens para o pessoal — Dante fala, solícito. — Não. Existem coisas que precisam ser feitas pessoalmente. Eu já me ausentei o suficiente das minhas responsabilidades, nossos aliados e inimigos vão pensar que estou fraco e desleixado, e isso é uma coisa que estou longe de ser. Vou caçar testemunhas e possíveis envolvidos no ataque. Vou interrogá-los pessoalmente! Tenho a impressão de que os métodos de interrogação de Luc não devem ser nada agradáveis. Ele solta um profundo suspiro e passa a mão nos cabelos em um gesto de cansaço. — Deixem-me a sós com a Elizabeth, por favor. E levem essa cabeça daqui, mandem entregá-la para a família do morto.

— Lamento que a lua de mel de vocês tenha sido interrompida, cunhadinha — Enzo fala em tom desculpas ao passar por mim, então sai do escritório. Em seguida, Dante pega a caixa de cima da mesa e parte em silêncio, deixando-me a sós com Luc. Luc se levanta e caminha em minha direção, parando em frente a mim. — A vida de vocês é sempre assim? — pergunto, chocada pelos últimos acontecimentos. — Incidentes como esse ocorrem mais vezes do que você poderia contar. Mas é a vida que temos, nunca conheci outra. Luc solta um suspiro cansado. — Eu tinha muitas coisas planejadas para conversar e fazer com você, Elizabeth, porém, mais uma vez somos atropelados pelos acontecimentos. Vou sair e não sei a que horas vou poder terminar de organizar as coisas, então, não me espere. Luc então me abraça apertado e me levanta, enterrando seu rosto no meu pescoço e cheirando profundamente o meu perfume. — Infelizmente, essa é a única vida que eu tenho para te oferecer, Elizabeth. Agora ele passa a me olhar nos olhos, como se quisesse deixar uma mensagem bem clara. — Isso é o que eu sou!

E, olhando nos seus lindos olhos amarelos, eu não posso deixar de enxergar o monstro que habita neles. Sim, isso é o que ele é. — Tenho que ir. — Luc me dá um longo beijo, que me deixa desejosa por mais, e parte.

Estou só na casa, acompanhada unicamente pelos empregados e seguranças, que parecem nunca nos abandonar. Enzo e Dante acompanharam Luc em sabe-se Deus quantos crimes eles pretendem praticar hoje. Quanto mais eu conheço sobre a família Costatini e sobre a máfia, mais assustada eu fico. É um mundo cheio de violência, crimes, selvageria, traições e inimizades. Quanto mais eu penso, mas sinto a urgência de cair fora daqui. O problema é: como? Parece que, se eu tentar sair, outros piores que os Costatinis poderão me alcançar. Além de tudo, eu tenho outro grande motivo para escapar: Luc. Passo as mãos pelo rosto em um gesto de frustração. Eu não sei como reagir perto dele. Ele consegue extrair de mim coisas que eu sequer sabia que possuía. Sinto-me atraída, mas eu o quero longe, quero que ele me agarre com a sua usual forma apaixonada, que me faz derreter, e também quero sair correndo em direção oposta a ele, e a tudo o que ele representa. O pior é que eu sei que, quanto mais tempo eu passar com ele, menor será a minha resistência a ele. Luc é um homem extremamente sedutor e dono

de um charme devastador, mas tudo o que ele tem de apelo sexual, ele também tem de crueldade. Eu sei. Ele nunca se mostrou agressivo comigo, mas eu sei que o monstro está lá, à espreita. Mais um tempo com ele e eu sei que mandarei os meus princípios às favas e cairei escrava de seu charme para sempre. E o que ele me dará em troca? Orgasmo alucinantes e dias solitários? O que eu sou para ele, além de uma conveniência? Uma fêmea reprodutora para gerar o seu tão desejado herdeiro? Sou apenas uma mulher que estava desesperada o suficiente para se casar com ele e cumprir com as suas exigências. — Senhora Costatini? — Escuto Bianca me chamar, tirando-me dos meus devaneios. — Pois não, Bianca? — respondo, tentando ser simpática, afinal, ela não tem nada a ver com a situação em que estou metida. — O senhor Costatini, antes de sair, pediu que a senhora decidisse o que fazer com os presentes de casamento que vocês receberam. — O quê? Quais presentes? — pergunto, surpresa. — Venha, me acompanhe, assim poderei mostrar para a senhora. Noto que, após o casamento, Bianca me trata com mais cerimônia. Será que o fato de eu ter me casado com Luc faz com que todos me tratem com maior deferência? — Pode me chamar de, Elizabeth. Ou de Lizzy. Eu continuo sendo a mesma, Bianca. — Pois não, Elizabeth. Venha! — Bianca me responde com um

sorriso simpático. Ao chegar à sala para onde Bianca me guiou, eu fico boquiaberta. O que será que eu devo fazer com tudo isso? A sala está repleta de utensílios e objetos de aparência cara espalhados pelo chão. Vejo quadros, esculturas, jogos de pratos de porcelana, pratarias... São tantas coisas que eu não conseguiria sequer relacioná-las. — O que eu devo fazer com tudo isso, Bianca? — O senhor Costatini disse que a decisão é sua. O que a senhora decidir, será feito. Eu paro para pensar um pouco sobre o caso. — Precisamos desses objetos em alguma das casas de Luc? — Não, senhora. Todas as casas de vocês estão plenamente abastecidas. Nossas casas? Esta é uma ideia da qual eu não consigo me acostumar facilmente. Há poucos dias eu estava vivendo em uma casa simples que ganhei de herança dos meus pais, e agora sou dona de mansões espalhadas pelo mundo. Nossa! — Muito bem, então... Vamos doar tudo para caridade! — anuncio, feliz, já que vou poder devolver para os menos favorecidos pelo menos uma pequena parte do dinheiro que Luc deve roubar deles. — Pois não, senhora. E como pensa em fazer isso? — Por quê? Tem mais de uma maneira de fazer essa doação?

— É claro! A senhora pode doar do jeito que os objetos estão, mas eu não sei até que ponto um faqueiro de prata ou um jogo de chá de porcelana chinesa fará diferença em um orfanato, por exemplo. Ou poderia leiloá-los e repassar o dinheiro angariado. Eu tenho certeza que, se o senhor Luc usar a sua influência, ele conseguirá um bom preço para todos esses itens, talvez o dobro ou o triplo do seu valor. — Nossa! Eu jamais teria pensado nisso! Obrigada, Bianca, acho que temos um leilão para realizar. — Perfeito, Elizabeth. Ótima escolha — Bianca fala, sorridente e com ar de satisfação. Bem, pelo menos alguma coisa boa pode resultar dessa situação calamitosa.

Adaptação Eu estou no meu novo quarto. Mais cedo, Bianca me trouxe para a minha nova habitação. Observo o closet, que é um espaço enorme, quase como um pequeno quarto, com armários que se estendem do chão ao teto em toda a parede. De um lado, vejo as coisas de Luc, e, do outro, as minhas. A mesma coisa acontece quando eu observo o banheiro da suíte; na pia dupla do banheiro, de um lado, estão organizadas as minhas coisas, creme hidratante, perfumes e tônicos, e, do outro, as coisas de Luc. Eu não vejo perfume na sua parte da pia, mas vejo a loção pós-barba dele. Curiosa, eu a abro e inalo o cheiro. Sim, este é o cheiro do Luc. É um aroma um pouco cítrico e seco, de característica intrinsecamente masculina. E é um aroma ao qual estou ficando viciada, muito mais rápido do que eu gostaria. Olhar para os nossos objetos assim, compartilhando os mesmos espaços, só me deixa ainda mais consciente da realidade. Eu me casei! Em apenas uma semana eu me casei com um mafioso! A sensação que eu tenho é que estou vivendo em uma realidade paralela. Sou tomada por uma sensação de irrealidade. Como pode ser possível ter a vida revirada do avesso de maneira tão rápida? Mais cedo, Bianca me explicou que Luc, Enzo e Dante moram juntos, e que os três muitas vezes viajam juntos para diferentes sedes de trabalho no mundo. Cada um dos irmãos ocupa uma ala independente nas mansões em que ocupam, ou um andar de apartamento em algum edifício que eles compartilham.

Os irmãos parecem ser muito unidos, e é a única coisa bonita que eu vi na vida deles até agora. Suspiro, frustrada. Já está tarde e eu estive esperando para ter notícias de Luc e dos irmãos por muito tempo. Fico apreensiva por essa tal caçada que eles estão empreendendo por aí, à procura do responsável pelo atentado que sofreram. Todos sabem que uma vida de violência pode terminar em uma morte inesperada. Ai, meu Deus! Esse pensamento me deixa ainda mais nervosa. Tento me consolar com o fato de que eu já vi Luc em ação e sei que ele tem habilidades mais que suficientes para se defender. Olho para o relógio digital ao lado da cama, já é uma da manhã e eu ainda não consegui conciliar o sono. Eu me levanto da cama em que estive me revirando durante a última hora e busco um robe para cobrir a minha camisola, calço as sandálias e saio em direção à sala de estudos, que, como Luc prometeu, foi preparada para mim. Tocar sempre me aliviou a tensão, então talvez esse seja o melhor remédio para a minha insônia. Toda a casa está escura e deserta. Entro em minha sala de estudos, acendo as luzes e, sem demora, sento-me à beira da cadeira, pegando o meu instrumento e começando a minha tão rotineira série de aquecimento e estudos. Até que finalmente começo a executar a melodia principal das Bachianas Brasileiras No. 5, de Villa-Lobos. Toco com todo o fervor da minha alma, imaginando o acompanhamento da melodia em minha cabeça, até que vejo a porta se abrir, dando passagem para Luc, que fica parado, recostado de maneira sexy à soleira me observando com atenção. — Não pare, continue, por favor — ele pede quando percebe a minha hesitação.

Luc está com banho recém-tomado e os cabelos ainda úmidos. Acho que estou tocando há mais tempo do que eu pensava, já que deu tempo de ele chegar, tomar banho e trocar de roupa. Ele está vestindo apenas a calça do pijama, que pende baixa em seus quadris. Esse homem é uma tentação ambulante com toda essa musculatura à mostra! Mas não posso deixar de notar também que o dorso de uma das mãos está ferido, como se ele tivesse socado muito alguma coisa, mas acho que seria mais preciso dizer alguém. — Você está bem? — pergunto, preocupada ao ver as suas escoriações. — Sim, estou ótimo. Por favor, não pare. Volto a tocar a Bachiana, e Luc me observa por algum tempo, até que caminha em minha direção e se senta atrás de mim. — Não pare de tocar, toque até o fim — ele sussurra na minha orelha e depois a morde de leve, fazendo-me arrepiar toda. Luc então me abraça por trás e levanta o meu cabelo, prendendo-o firmemente em uma mão, ao mesmo tempo em que passa a beijar e lamber o meu pescoço. Tocar está sendo quase impossível, acho que estou desafinando em trechos que eu normalmente jamais desafinaria. Manter a concentração sob essas circunstâncias é um desafio e tanto! — Concentre-se, Elizabeth, quero escutar a sua música enquanto te fodo com as mãos. Eu sempre quis fazer isso, finalmente vou realizar a minha fantasia. O quê? Ele acha que eu sou uma máquina? Esse homem é muito

devasso! — Acho que não consigo, Luc — falo com voz trêmula, ainda tocando. — Sim, você consegue. Prometo te recompensar. Acho que ele tem uma autoconfiança grande demais e agora pensa que pode transferi-la para mim. Tento seguir tocando, mas o desafio é grande. — Isso, Lizzy. Muito bem — Luc me incentiva. Luc então passa as mãos pelos meus seios sobre o fino tecido da camisola, dedicando especial atenção aos meus mamilos. Fecho os olhos e arqueio as costas, sinto a lubrificação descer por meu sexo. Por um milagre, ainda me mantenho tocando. Luc espalha a palma de uma mão sobre o meu ventre, enquanto desce a outra mão em direção ao meu sexo, afastando a minha calcinha molhada do caminho. Desafino várias notas agora e saio do ritmo, faço um esforço enorme para lembrar o que eu estava tocando. — Assim, Lizzy, continue. Está perfeito. Ele massageia o meu clitóris sem piedade. Sinto ondas de prazer e tensão se espalharem e se acumularem por todo o meu corpo, culminando em um orgasmo alucinante, o que coincide com a parte de maior tensão da música. Eu toco tão forte que não sei como não quebro a crina* do meu arco.

— É isso, eu não consigo mais — falo, ofegante, parando a minha performance e sentindo a languidez pós-orgasmo. Luc se levanta, pega o meu cello e o guarda. Então ele se volta para mim. — Bravo, Elizabeth! Bravíssimo! Essa foi a sua melhor performance, devo dizer — fala, piscando para mim, desavergonhado. — Agora venha, quero estrear o nosso leito nupcial. — Luc me oferece a sua mão. Eu aceito, pois simplesmente não consigo resistir ao seu apelo. Ele ajeita as minhas roupas e então me leva para o nosso quarto, que está à meialuz, deixando o ambiente com uma atmosfera romântica. — Eu senti a sua falta hoje, Lizzy — Luc fala enquanto tira as minhas roupas. Acho que Luc sente falta é de sexo, já que sequer convivemos por tempo suficiente para que ele possa sentir saudades. Mas prefiro não falar nada, qual seria o sentido? Luc me carrega nua para a cama e passa a tirar as suas próprias roupas. Não importa quantas vezes eu o veja nu, para mim, sempre será um espetáculo digno de apreciação. — Gosta do que vê? — Luc pergunta, sedutor. O que eu posso responder? — Sim, Luc, gosto mais do que deveria. Ele parece satisfeito com a resposta e me lança um sorriso de lado, então pega uma camisinha da cômoda e a veste.

— Quando será a sua menstruação? — Que pergunta mais intrusiva, Luc! — eu o repreendo, envergonhada. — Preciso saber quando eu não precisarei mais usar a camisinha. Não vejo a hora de te sentir por completo, sem barreiras entre nós. — Duas semanas — respondo, reticente, sentindo o rosto quente. — Será em duas semanas, então. Luc sobe na cama e mais uma vez ataca o meu corpo, mostrando toda a sua habilidade e perícia sexual. Então, ele me posiciona de quatro, forçando-me a segurar-me na cabeceira da cama em busca de apoio. Eu fico na expectativa de que ele me penetre logo, mas em vez disso, ele começa a massagear as minhas coxas, a minha bunda e as minhas costas com movimentos eróticos. — Porra, Elizabeth! Ver você desse ângulo é uma visão e tanto! Ele dá um tapa na minha bunda, extraindo-me um grito de susto, e então me penetra em um golpe forte e profundo. Eu não sabia, mas era disso que eu precisava, simplesmente perfeito. Luc começa a estocar com selvageria, até que ambos nos perdemos em ondas quentes de prazer e espasmos. Eu desabo na cama como estou, de bruços e com o corpo de Luc sobre o meu, não tenho forças para mudar de posição. Depois de alguns momentos, Luc se levanta e apaga a luz; momentos depois, eu o sinto se aproximar de mim e me abraçar, colocando-me de lado, com ele colado às

minhas costas. Já é tarde e eu estou cansada. De alguma maneira, sua presença e sua respiração ritmada me acalmam, e agora eu me sinto deslizar para o mundo dos sonhos.

Sou acordada por barulhos de passos de sapato ecoando sobre o assoalho de madeira. Eu me espreguiço e procuro a fonte do ruído. — Acorde, senhora Costatini. Vamos trabalhar. Luc está parado ao pé da cama, vestindo uma calça social cinza, que deve fazer par com o paletó cinza que está jogado em cima da cama, e camisa social branca. Ele está dando um nó em uma gravata azul enquanto me olha com bom humor. Eu me sento, envolvendo o lençol ao meu redor. — O quê? Como? Trabalhar de quê? — pergunto, ainda sonolenta. — Foi você quem disse que gostaria de trabalhar, e como continuar fazendo concertos não é mais uma opção... — Luc para, como se tivesse lembrado de alguma coisa. — Na verdade, você pode dar concertos como o de ontem a qualquer momento que quiser. Você tem em mim uma plateia cativa, senhora Costatini! — Volte ao assunto, Luc — eu o repreendo. Luc solta uma risada.

— Bem, estive pensando… Já que você quer trabalhar, poderíamos começar logo, então. Eu te disse que tenho vários tipos de negócios em vários países, então é comum eu trabalhar em alguns dos meus escritórios que mantenho nas empresas em que sou sócio. Luc passa a abotoar os punhos da camisa. — Normalmente, eu não sou o dono principal das empresas, pois isso levantaria muita atenção indesejada. De qualquer forma, você poderia trabalhar em uma dessas empresas. O que você gostaria de fazer, senhora Costatini? Sei que você é uma mulher inteligente e com um diploma em Artes. Talvez trabalhar na diretoria do departamento de design ou marketing fosse o mais próximo da sua área. Eu paro para analisar a proposta. Realmente seria ótimo ter um trabalho ao qual me dedicar e manter a minha mente ocupada. Mas um cargo na diretoria? — Não, Luc, eu prefiro alguma coisa mais singela, em que eu pudesse aprender aos poucos no que consiste um trabalho dentro de uma empresa. Luc me olha por um tempo. Seria admiração o que eu vejo em seus olhos? — Está bem, Elizabeth, então você poderia trabalhar como auxiliar da senhora Rossi, ela é minha secretária pessoal nos negócios legais. Nos demais negócios, apenas Enzo e Dante me auxiliam na administração. Seria bom te ter trabalhando perto de mim, assim eu poderia garantir a sua segurança da melhor maneira possível. — Está bem — assinto.

— Então se apresse, pois se eu continuar te vendo assim, nua sob os lençóis, vou ter que me atrasar no trabalho hoje! — Luc fala em tom provocativo. Olho para todos os lados e não consigo ver a minha camisola, nem nenhuma peça de roupa próxima. Penso em ir para o banheiro enrolada no lençol, mas qual seria o sentido? Ele já viu cada centímetro do meu corpo mesmo. Empurro o lençol de lado e saio da cama. Acho que Luc não esperava essa minha decisão, pois, ao se deparar comigo saindo nua da cama, ele para de ajeitar as suas roupas e caminha resoluto em minha direção. — Ah! Que se foda! Vamos chegar atrasados hoje! Para que serve ser o chefe, não é mesmo? Ele me agarra e me leva de volta para a cama, onde mais uma vez me leva ao ápice do prazer.

Chegamos ao prédio da In Diretta Solutions, uma empresa especializada em telecomunicações, segundo o que Luc me explicou. É um prédio enorme e com aparência moderna e luxuosa. Luc passa diretamente pela recepção com ar de superioridade, é uma coisa natural dele, ele sequer precisa se esforçar. Ele é cumprimentado pelos funcionários da empresa que transitam pelo local, e, em resposta, Luc apenas meneia a cabeça ocasionalmente.

Vejo os olhares lascivos das funcionárias em direção a ele. Elas se mostram embasbacadas com a beleza e o porte de Luc. Eu não as culpo, muitas vezes ainda sinto o mesmo. Viemos até aqui seguidos por seguranças, que ainda permanecem espalhados pelo prédio. Sei também que Luc está armado, pois eu o vi escondendo uma arma em um coldre por dentro do paletó enquanto se vestia mais cedo. E, pelo pouco que conheço dele, deve existir alguma outra arma escondida em algum lugar deste escritório. Luc é obsessivo quando o assunto é segurança. Acho que isso é resultado de ser o capo de uma grande organização criminosa. Saímos do elevador e entramos em uma sala espaçosa onde o branco predomina na decoração, com alguns objetos e móveis em tons pretos e metálicos. Uma das paredes da sala é toda de vidro, deixando ver uma vista maravilhosa da cidade. Vejo uma senhora sentada atrás da mesa do escritório. Ela é negra, de aparência distinta e elegante, aparentando estar por volta dos cinquenta anos de idade. A senhora se levanta em um gesto de deferência quando nos vê. — Buongiorno, senhor Costatini — ela o cumprimenta. — Buongiorno, Andréia. Luc então nos apresenta: — Elizabeth, esta é Andréia Rossi, a minha secretária. Andréia, esta é a minha esposa, Elizabeth Costatini.

— É um prazer! — falo, estendendo a mão para ela, que a aperta, aparentando estar surpresa. — O prazer é todo meu, senhora Costatini! Perdoe-me, eu não sabia que a senhora viria hoje, senão eu teria providenciado uma recepção à altura. — Não é necessário, Andréia. Na verdade, eu vim para trabalhar. — O quê? — Andréia pergunta, com uma expressão confusa no rosto. — A senhora Costatini vai trabalhar provisoriamente como sua auxiliar, Andréia. Por favor, a assessore naquilo que for necessário — Luc explica com polidez. — O quê? Como minha auxiliar? Mas uma senhora com tanto prestígio deveria ocupar um cargo muito mais importante do que a de uma simples auxiliar de secretária — Andréia fala, inconformada. — Não, Andréia, eu prefiro que seja assim. Eu não tenho noção do que seja uma vida empresarial, prefiro começar a aprender pelo básico e observar, por enquanto. Quem sabe algum dia eu mereça algum cargo importante? Por ora, eu só preciso aprender, e não tenho medo de trabalho duro. E pode me chamar de Elizabeth ou de Lizzy. Lembre-se de que aqui eu sou apenas a sua auxiliar. Andréia me olha boquiaberta, parece que esse não é um tipo de comportamento padrão por aqui. — Quais são os meus compromissos de hoje? A agenda já está sobre a minha mesa? — Luc pergunta, interrompendo o momento de confusão e surpresa de Andréia, que se recompõe rapidamente e responde de maneira eficiente:

— A primeira reunião do dia foi desmarcada, senhor Costatini, por causa do seu atraso. Estou tentando a reagendar. Enquanto isso, o senhor tem uma reunião programada para daqui a meia hora. Os demais compromissos estão em cima de sua mesa, assim como os últimos relatórios que o senhor pediu. Enrubesço ao me lembrar do motivo pelo qual Luc perdeu a primeira reunião. — Obrigado, Andréia. Depois me traga um café, sim? — Pois não, senhor — Andréia fala com polidez. Luc vem em minha direção e me dá um beijo rápido nos lábios. — Tenha um bom dia de trabalho, senhora Costatini — fala, com um toque de diversão na voz, e parte em direção à sua sala, fechando a porta ao entrar. O restante do dia passa em uma confusão de tarefas. Há tantas coisas que eu tenho que aprender! As tarefas vão desde como usar a cafeteira até a como escrever relatórios financeiros. Ainda bem que Andréia, além de eficiente, é muito paciente e simpática, ela me ajuda em todas as tarefas. — Você está se saindo muito bem, Elizabeth. Logo estará melhor do que eu. Acho que até tenho que começar a me preocupar... Nesse ritmo, você logo tomará o meu cargo — Andréia me elogia em tom brincalhão. A hora do almoço é uma correria. Pedimos comida no escritório mesmo e comemos em meio a recebimentos de ligações e redação de textos. Luc almoça fora, em uma reunião de negócios.

Apesar de eu trabalhar ao lado dele, nós não temos a oportunidade de conversar, pois ele passa o dia todo entrando e saindo do escritório. E nas poucas vezes em que nos encontramos, ele está ocupado com alguma ligação telefônica, sempre feitas em diferentes línguas. Quantas línguas ele fala? Acho que em uma das ligações eu o escutei falando em mandarim. Pelo visto, Luc é fluente com a língua em mais de uma maneira... Tenha compostura, Elizabeth! Você está no trabalho! No fim do dia, já estou exausta, mas posso dizer que aprendi muito hoje. Fico satisfeita com os meus progressos. O trabalho me ajudou a não me concentrar nas minhas confusões mentais a respeito da minha nova vida. Luc finalmente sai do escritório e se oferece para me ajudar a vestir o meu casaco. Em seguida, ele se dirige à Andréia: — Tenha uma boa noite, Andréia. Finalizamos o trabalho por hoje. — Boa noite, senhor e senhora Costatini. Nós nos veremos amanhã. — Tchau, Andréia. Obrigada pela paciência. — Eu me dirijo a ela com gratidão pelos ensinamentos transmitidos. — Imagina, querida. Você se saiu muito bem. Após as despedidas, saímos do escritório, que está muito mais deserto do que quando chegamos. — Vamos jantar fora hoje, vamos comemorar o seu primeiro dia de trabalho — Luc me avisa. Eu já aprendi que ele não é muito de perguntar sobre os seus planos, ele apenas os compartilha quando acha conveniente e espera que os aceitem.

Mas, desta vez, eu concordo prontamente. — Acho ótimo! — respondo com alegria. É uma excelente oportunidade para entender os negócios e a vida de Luc sem a interferência dessa constante atração sexual que sentimos. Sintome mais protegida quando estamos em público, já que ele tem que se comportar de forma minimamente civilizada. Ontem eu tinha pensado em perguntar tantas para Luc, mas bastou um toque seu para que eu me esquecesse de tudo, e hoje não tivemos tempo de conversar, por causa do trabalho incessante. Sentimos uma atração fatal um pelo outro, espero apenas que não seja de forma literal.

*O arco é um dispositivo utilizado para produção de som em idiofones ou cordas a partir da fricção destes com um feixe de crina.

Revelações Chegamos a um restaurante com aparência cara e elegante, como tudo o que gira ao redor de Luc. Ele é dono de um gosto exigente e refinado, escolhe sempre os ambientes mais caros e exclusivos. Ao entrarmos, ele solicita “um lugar mais privado” em tom de confidência para o maître. Eu pensei que seríamos destinados a uma mesa um pouco mais reservada, próximo à parede, talvez; mas fico surpresa quando somos direcionados a um outro ambiente, como uma pequena sala à parte. Os seguranças ficam do lado de fora da porta. Lá se foi o meu plano de manter a minha libido sob controle por medo de causar danos à ordem pública! Mas, desta vez, eu vou ter que me controlar, temos muito que conversar. Depois de acomodados, fazemos os pedidos. Luc pede vinho branco, que está simplesmente divino. Eu o beberico enquanto espero pelas entradas. — O que aconteceu ontem, Luc? Vocês tiveram algum resultado na busca pelo culpado? — solto de uma vez, enquanto ainda tenho algum domínio sobre a situação. Luc toma um pouco do seu vinho. — Não, todas as pistas deram em um beco sem saída. A pessoa que armou tudo isso sabia muito bem cobrir os rastros. — E você ainda acha que o Matteo foi o responsável? — Eu não acho, eu sei que ele é o responsável! — Luc responde, incisivo.

— Não me entenda mal, eu não quero dar ideias violentas para você, na verdade, eu acho que a sua mente é povoada demais por elas, mas eu queria apenas entender... Vocês são da máfia, não seguem coisas como regras e leis, então, por que vocês simplesmente não o pegam? Luc mostra um sorriso divertido. — Eu gosto da sua linha prática de pensamento, mas, infelizmente, Matteo Barbieri é de uma família antiga da Cosa Nostra, e se eu simplesmente exterminá-lo, vou acabar incitando uma guerra dentro do meu próprio domínio. Eu preciso de provas para mostrar a todos e poder agir. A família dele vai ficar contra mim, de qualquer forma, mas pelo menos não conseguirão tanta adesão. A traição não é aceita dentro da máfia; por esse motivo, a sua família foi morta. — O que aconteceu com a minha família? Como foi que eles traíram a máfia? — Será que eu realmente quero saber os motivos? Luc dá um suspiro. — O motivo foi o mais comum: ganância. O seu pai era o consiglieri, uma espécie de consultor ou conselheiro, o segundo em comando para o meu pai, que era o capo, o chefe. Giancarlo, o seu pai, desviou dinheiro da máfia para si próprio. Meu pai descobriu e não o perdoou, então a sua família foi executada. — Mas por que toda a família teve que pagar pelos erros do meu pai? Luc solta uma risada destituída de humor. — Porque o meu pai era um filho da puta cruel, que muitas vezes gostava de atirar nas pessoas apenas para apreciar o buraco que a bala

produzia ao entrar na carne. Ele não precisava de muito incentivo para matar alguém. — E você por acaso é diferente? Luc fica contemplativo por alguns segundos, até que decide responder: — Eu gostaria de dizer que sim, mas já tive que lançar mão de métodos imorais, ilegais, antiéticos, agressivos e violentos muito mais vezes do que eu posso me lembrar, então talvez eu não seja tão diferente do meu pai. Luc volta a ficar contemplativo, como se essa realidade o entristecesse. — E os seus negócios? Hoje, no escritório, trabalhamos em negócios legais, não? — Sim, não se preocupe quanto a isso, a sua consciência se manterá intacta. Hoje, tudo o que você fez esteve dentro da legalidade — Luc responde, saindo dos seus devaneios. — Mas esse tipo de trabalho é temporário para mim. Como eu disse, sou apenas um sócio minoritário na maioria dos negócios legais que tenho. Possuo ações suficientes para ser importante para a empresa, mas não o suficiente para ser o dono dela. Luc volta a tomar mais vinho. — Na maior parte do tempo, outras pessoas administram os negócios da famiglia. Na verdade, pessoas da máfia, de diferentes famílias, administram os negócios, e eu supervisiono tudo, apenas de vez em quando eu realmente tenho que interferir em algum negócio específico, e é isso o que

está acontecendo agora. A In Diretta Solutions é uma empresa nova e que está passando por dificuldades, então eu vim trabalhar pessoalmente por um tempo para ajudá-la a se estabilizar. Neste momento, o garçom traz a nossa entrada. Estou faminta, então começo a comer com vontade. — Eu te trouxe aqui para comemorarmos o seu primeiro dia de trabalho e nos perdemos em outros assuntos. Luc estende a sua taça por cima da mesa, convidando-me a brindar com ele. Eu aceito o convite tocando as nossas taças. — Ao primeiro de muitos dias de trabalho recompensador, senhora Costatini! — Obrigada — agradeço, tomando um gole do vinho. Mas eu não demoro em voltar ao assunto, não quero perder a ótima oportunidade que tenho para saber mais. — Eu agora fiquei curiosa... Como a Andréia se encaixa em tudo isso? Você disse que esse é um negócio temporário, então, no que consiste o trabalho dela? Luc dá uma pausa à refeição e limpa a boca com o guardanapo. — Ela é minha secretária pessoal. Sou eu quem paga o seu salário, não a empresa. Ela me acompanha a qualquer lugar quando preciso. Ou eu apenas passo os dados que preciso e ela trabalha de casa mesmo. Devo ajudar a resolver os problemas dos negócios da In Diretta Solutions em aproximadamente um mês, então partirei para o próximo problema. Por isso eu te disse que costumo viajar com frequência, para dar cabo das diferentes responsabilidades que tenho pelo mundo.

— E quanto aos seus negócios ilegais? Como você os administra em meio aos outros negócios, como consegue ter tempo para tudo? — Você está muito curiosa hoje, Elizabeth! Eu dou de ombros. — Eu acho que tenho o direito de saber sobre essa nova vida — sentencio. — É justo. Como eu te disse, Enzo e Dante me ajudam, então nós nos revezamos na administração de todos os negócios. Eles são ótimos administradores. Comemos em silêncio por algum tempo, estou tentando digerir as novas informações. Os pratos vazios são levados e nos trazem o prato principal. Já que estou na Itália, eu não resisti em pedir uma massa. Olho com avidez para os raviólis que são servidos e começo a comer sem demora. O sabor é divino. — Vejo que você está apreciando o seu prato — Luc comenta. — Sim, está ótimo. Mas se eu continuar comendo essas iguarias italianas, logo vou ficar enorme. Luc me lança um daqueles sorrisos sexys tão característicos dele. — Não se preocupe, Elizabeth, eu te ajudarei a gastar muitas calorias. Caramba! Esse homem não perde uma oportunidade de me tentar!

— A Bianca me informou que você escolheu doar os nossos presentes de casamento. Você está certa disso? Não deseja ficar com algo? — Não, eu não preciso de nada, tenho mais do que o suficiente nessa nova vida que ocupo. Pelo menos, vou poder ajudar quem precisa. — Um mafioso ajudando os pobres... Assim você vai manchar a minha reputação, senhora Costatini! — Luc fala em tom divertido. — Acho que a sua reputação está suficientemente preservada, senhor Costatini — falo olhando para as lesões em suas mãos. Ele ri em resposta. — Touché, Elizabeth! Mas, infelizmente, o leilão demanda tempo para ser organizado. É necessário enviar convites para as pessoas certas, organizar atrações para o entretenimento dos convidados, além de organizar o esquema de segurança, que é a parte mais complexa de todas. Principalmente agora, que temos traidores dentro da famiglia. Eu vou contratar pessoas para organizar o evento, mas, de qualquer forma, teremos que esperar um pouco. — Falando em segurança… Como se chamam esses homens que nos seguem para todos os lugares? Guardas? Capangas? Seguranças? — A máfia mudou muito ao longo do tempo, Elizabeth, nós nos adaptamos aos desafios da modernidade. Nós não somos mais aquelas gangues pequenas que lutavam por território dentro dos bairros, agora lutamos por mais espaço pelo mundo. Agora somos menores, somos poucos. Sei que pode parecer contraditório, mas sermos poucos nos otimizou o trabalho, pois temos influência nos lugares certos sobre muitos. O dinheiro controla tudo. Temos pessoas dentro do primeiro escalão: a cúpula, que são os que realmente mandam. É uma espécie de conselho presidido por mim,

por direito de nascimento. Luc enche mais a minha taça de vinho, que eu nem havia percebido que já estava vazia, e toma mais do seu vinho. Ele parece à vontade em me revelar os meandros da máfia. — E temos outras pessoas no segundo escalão, que fazem todo tipo de serviço que seja necessário. Nós não nos metemos mais em brigas pequenas de bairro e com gangues rivais, nós deixamos que eles se matem entre si e oferecemos os nossos produtos para o vencedor, então não precisamos nos meter nas questões dos traficantes de qualquer esquina suja por aí. Nós produzimos, vendemos e transportamos drogas, assim como armamentos e contrabando. Entregamos os produtos, recebemos o dinheiro e nada mais. Lavamos o dinheiro através de nossas empresas legais, dinheiro produzindo mais dinheiro. E... voilá, controlamos o mundo. Luc fala com desdém; na verdade, até com satisfação, como se fosse a coisa mais natural do mundo ser o responsável pelo sofrimento e morte de milhões de pessoas no mundo. — E sobre a segurança, sim, chamam-se seguranças. Os meus seguranças mais próximos são do segundo escalão da máfia, são da famiglia, pois não quero que estranhos saibam sobre a minha rotina. Mas, quando necessário, eu ainda contrato seguranças externos. Depois de seu discurso, Luc pergunta: — Mais alguma coisa, senhora Costatini? — Por que você veio me encontrar sozinho no dia do tiroteio? Por que você não estava escoltado, como sempre?

Luc fecha a cara. — Porque ocorreu um imprevisto e eu precisei agir sozinho, não tive tempo de chamar ninguém. Mas, por sorte, eu consegui chegar antes que te levassem de mim. Luc me analisa por um tempo e volta a comer em silêncio, não se incomodando de me oferecer mais explicações sobre o assunto. Acho que o momento de ser aberto e franco terminou por hoje.

Chegamos à mansão dos Costatinis, e enquanto passamos pelos corredores, escuto vozes femininas soltando gritinhos e risadas animadas. O que será que está acontecendo? Então dou de cara com Enzo vestindo apenas uma cueca box, acompanhado de três mulheres a tiracolo, que estão agarradas a ele e disputando sua atenção. Sério? Três?! penso, chocada. Enzo fica sem ação quando nos vê, acho que ele não esperava nos encontrar. — Enzo, leve essas mulheres para a sua ala ou mande-as embora. Você sabe que as coisas mudaram em casa agora. Uma das loiras esculturais que estavam com Enzo parte para cima de Luc, obviamente embriagada, esfregando o seu corpo nele como se fosse uma gata.

— Ah, Luc... Você poderia se juntar a nós e participar da festa, como nos velhos tempos. Luc arranca as garras dela de cima do seu paletó e a afasta. — Desculpe-me, Noelle, mas nós vamos deixar esses velhos tempos onde devem ficar: no passado. Luc agora se dirige com um olhar furioso para Enzo: — Arrume essa bagunça! — Eu não sabia que vocês tinham saído, pensei que estavam no quarto de vocês, e eu estava apenas de passagem — Enzo fala em tom de desculpas. Luc não dá ouvidos e me conduz para o nosso quarto, mas eu tiro o meu braço de suas mãos com brusquidão e apresso o meu passo para longe dele, chegando primeiro ao quarto. Estou furiosa! Eu me dirijo para o closet para pegar o meu pijama. Vou pegar o mais feio que tiver! Se ele quiser alguma coisa mais bonita, ele pode procurar a Noelle! Depois de escolhida a minha roupa, vou em direção ao banheiro, ignorando-o completamente. É nisso que dá eu me envolver com mafiosos mulherengos, as ex-amantes acabam aparecendo de algum buraco! Luc vem atrás de mim, mas eu bato a porta com força na sua cara, pouco me importando se arrebento o seu nariz ou não. — Você está sendo infantil, Elizabeth.

Eu sei que estou, mas não consigo agir de outro jeito. Estou com muita raiva para ser razoável agora. É claro que Luc teve muitas amantes, ele é um homem de trinta e cinco anos e obviamente muito experiente na cama. Eu tinha aceitado isso apenas como um conceito, uma ideia irreal, mas ver Noelle se atirando em cima dele em nome dos “velhos tempos” tornou a coisa real demais para mim. Eu me demoro no banheiro. Com a porta trancada, tomo meu banho em paz, faço toda a minha rotina noturna, coloco o meu pijama velho, largo e confortável, dou uma respiração profunda, à procura de coragem, e saio do quarto. Encontro Luc sentado de pernas cruzadas tranquilamente em uma poltrona, com um copo de whisky na mão. Ele está vestido com a calça do pijama, deixando o peito à mostra. Acho que ele faz isso de propósito. Com esse abdômen de fora, ele é uma tentação só! — Se você estava tentando ficar feia para desestimular a minha libido, pode desistir, não se consegue disfarçar facilmente uma beleza como a sua. Faço-me de surda e saio pisando duro em direção à cama, entro debaixo dos lençóis e me ajeito para dormir. Como se eu fosse conseguir, com toda essa irritação que eu sinto! Sinto Luc subindo ao seu lado da cama. — Não seja ridícula, Elizabeth! Que culpa eu tenho das escolhas sexuais do Enzo?

— Não é do Enzo que eu estou com raiva agora — respondo, emburrada. — E por que você estaria com raiva de mim? É claro que eu tive uma vida sexual ativa antes de te conhecer! Eu tenho trinta e cinco anos, Elizabeth, o que você esperava? Eu não aguento mais isso. Sento-me na cama para encará-lo. — O que você acharia se um ex-amante meu aparecesse na sua casa e se esfregasse em mim querendo relembrar os “velhos tempos”? — Faço aspas com as mãos enquanto as últimas palavras saem carregadas de sarcasmo. Luc me olha com possessividade. — Isso jamais aconteceria! Você teve apenas um namorado, e durou pouco tempo. Eu o olho incisivamente. — Como você sabe que eu namorei apenas por pouco tempo? Você sabia que eu era virgem, mas eu posso ter tido um longo namoro e ter feito outras... coisas... — Deixo a última palavra solta no ar propositalmente. Vejo um músculo se soltar do maxilar tenso de Luc. Acho que eu o desafiei além dos limites. Luc se aproxima de mim em um movimento rápido e pega meu rosto entre as mãos, fazendo-me encará-lo de perto. A sua expressão mostra possessividade e fúria. — Não brinque comigo, Elizabeth! Não tente me enganar, a minha experiência é maior do que a sua em muitos sentidos.

— Quem disse que eu estou te enganando? — Eu não posso me conter, continuo provocando-o. — Porque quando aquele idiota se aproximou de você, eu tive uma “conversinha” com ele que o fez se mijar nas calças, então ele desapareceu da sua vida mais rápido que um raio. Ele não passava de um covarde! Sinto o sangue subir para a minha cabeça. — Seu... Como você pôde?! Como você ousou interferir na minha vida desse jeito? — grito, com raiva. — Eu ousei e ainda ouso, porque você é minha! Sempre foi! E eu não deixo ninguém tocar naquilo que é meu! – Luc vocifera. Sem me dar conta, eu desfiro um tapa no rosto dele com toda a força. Eu me sinto chocada com o meu próprio comportamento. Vejo a marca vermelha de minha mão em seu rosto. Luc me olha de forma velada por um momento, e com um movimento rápido, ele me beija. Eu, sem pensar, devolvo o beijo com selvageria. Tiramos e rasgamos as nossas roupas como animais. Luc para rapidamente para colocar a camisinha e me penetra sem preliminares. Eu arranho as suas costas e mordo a sua orelha, aceitando-o de bom grado em meu corpo. Continuamos em ritmo frenético e selvagem, à procura de mais. Eu quero mais dele, eu o quero próximo e dentro de mim. Ele puxa os meus cabelos e me olha profundamente nos olhos. Eu não sei o que seu olhar quer

dizer, mas sinto o tom do momento mudar completamente. Os movimentos de Luc passam a ser mais calmos e controlados, eu o acompanho. Luc me beija profundamente enquanto eu entrelaço as minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele estabelece um ritmo preciso e perfeito para me levar ao ápice enquanto eu grito o seu nome. Ele libera o seu gozo logo depois. Como podemos estar em uma briga tão feia e terminarmos em sexo em poucos segundos? Luc se coloca silenciosamente ao meu lado e acaricia os meus cabelos. — Eu te odeio, Luc. Odeio que você tenha tirado todas as decisões de mim — falo aconchegada a ele, enquanto sinto uma lágrima cair. — Eu sei — Luc fala enquanto continua a sua carícia sobre os meus cabelos. E assim ele fica, mesmo depois de eu já ter dormido.

Rival Acordo e me espreguiço na cama. Hummm está tão confortável e quentinho… Espera! Eu me sento em um rompante. Eu não tenho que trabalhar? Olho em volta e vejo que estou só no quarto. Luc já saiu? Não me acordou? Olho para o relógio e vejo que são sete da manhã. Ainda é cedo, tenho tempo de me arrumar. Levanto-me em um pulo e parto para o banheiro. Tomo banho o mais rápido que posso e faço a minha rotina de higiene. Passo uma maquiagem simples e leve, mesmo porque, eu não sei fazer algo mais sofisticado do que isso, e saio à procura de uma roupa. Escolho um tailleur composto por saia e blazer na cor branca, e uma blusa de alcinha cor-de-rosa por baixo. Estou com uma aparência sofisticada que transmite profissionalismo, acho que combina com o ambiente do escritório. Calço um sapato de salto médio, pego a minha bolsa e saio em disparada, à procura do café da manhã. Quando chego ao terraço, que é onde os Costatinis preferem tomar o café (acho que é porque a vista é linda e o ambiente é arejado), Enzo e Dante já estão comendo, mas não vejo nenhum sinal de Luc. O que será que está acontecendo? Será que a nossa briga de ontem teve repercussões maiores do que eu previ? — Bom dia, cunhada! — Enzo me cumprimenta com o seu típico bom humor. — Venha, tome o seu café. — Onde está o Luc? — pergunto, direta.

— Ele teve negócios para resolver muito cedo, e preferiu te deixar dormindo por mais um tempo. Dante vai te levar para o trabalho hoje — Enzo responde enquanto se serve de mais café. — Não é preciso, eu não quero dar trabalho, posso pegar um táxi. — Não gosto de dar trabalho desnecessário para as pessoas, eu posso cuidar de mim. Enzo e Dante bufam quase em uníssono, rejeitando imediatamente a minha proposta. — A mulher de Luciano Costatini andando de táxi? Sem seguranças? Se Luc se inteirasse disso, ele arrebentaria a nossa cara! Tenha piedade de nós, cunhadinha, não arrume confusão para o nosso lado. — Está bem, então, obrigada — cedo ante o tom de súplica de Enzo, e agradeço a Dante pela carona. — Disponha — Dante me responde. — De qualquer maneira, vou ter que trabalhar por um par de horas com o Luc. Começo a me servir de torradas, ovos mexidos e suco de laranja. Quero comer bem, ontem já vi que a rotina do escritório é agitada e temos pouco tempo para o almoço. Volto a pensar na ausência de Luc. Será que está tudo bem entre nós? Na verdade, eu acho que nunca estivemos bem. Luc é intrusivo e manipulador, ele me trata como um objeto que “pertence” a ele, não pede a minha opinião nem o meu consentimento para se meter em minha vida. Fiquei transtornada com ele ontem, mas nada justifica eu ter batido nele, eu nunca bati em ninguém na vida, não sou uma pessoa agressiva. Essa não é a melhor forma para se resolver os conflitos, e ele saiu tão cedo que não me

deu nem a possibilidade de conversarmos sobre isso. — Desculpe-me por ontem, cunhadinha — Enzo fala, interrompendo os meus devaneios. — Eu só estava me divertindo, e não estou acostumado a ter uma mulher vivendo conosco em casa. Normalmente, as mulheres só entravam e saíam daqui com bem pouca roupa... Ai! Dante dá um tapa na cabeça de Enzo. — Ei! — Enzo protesta enquanto revida com uma cotovelada em Dante. — Seu animal! Você não precisa dar detalhes das safadezas que aconteciam aqui — Dante o repreende. Enzo para de querer revidar as agressões do irmão e olha para mim com o semblante culpado. — Desculpe-me, cunhadinha, isso são águas passadas, hein?! Bem, são águas ainda correntes para mim, mas não mais para o Luc. Ele já se amarrou com você e já finalizou essa parte da vida dele. Não conte para ele nada sobre a nossa conversa, ok? Senão, ele vai querer comer o meu fígado. Eu solto uma risada. Na verdade, é revigorante presenciar a interação familiar em uma cena tão típica de provocação entre irmãos. Eu nunca tive oportunidade de participar disso antes, já que fui criada como filha única. Esse fato pelo menos me deixa satisfeita, sempre pensei em ter uma família grande. Mas eu ainda não me sinto parte dessa família, é tudo muito novo para mim, porém, gosto de presenciar essas cenas. — Pode deixar, Enzo, não falarei nada para o Luc. Mas agora estou curiosa... Se Luc foi prometido em casamento, vocês também não foram?

A atmosfera leve dá lugar a expressões de tensão. Acho que esse não é um assunto apreciado por nenhum dos dois. Ambos os irmãos fecham a cara. — Desculpe-me, falei alguma coisa errada? — pergunto, preocupada em estar sendo muito intrusiva. — Não tem problema, cunhada, é que esse é um assunto complicado, só isso. Aquele velho desgraçado que se dizia nosso pai amarrou a nós três nesse negócio de casamento. Mas olhe para mim! Ainda sou muito novo e estou desfrutando a vida. Pelo que vi ontem, ele anda desfrutando em dose tripla. — Eu ainda não estou pronto para me amarrar a ninguém, prefiro postergar esse assunto, por enquanto. Quem sabe no futuro eu esteja mais preparado? — Quantos anos você tem, Enzo? — Eu tenho vinte e sete, e Dante tem trinta. — Eu fui obrigada a me casar, e tenho vinte e três — argumento usando da sua própria lógica. — Não me meta nessa história, cunhada, eu só posso falar por mim. Eu ainda tenho muito que desfrutar da vida antes de sossegar. — E você, Dante? — pergunto, curiosa. Dante, que estava concentrado na comida, limpa a boca no guardanapo antes de me responder.

— Ela ainda não está preparada. — Ele é sucinto e misterioso em sua resposta, e não parece que vai oferecer maiores explicações, já que volta a se concentrar na comida. Bem, já que não há mais nada a fazer, é melhor eu me apressar a voltar a comer para seguir para o trabalho.

Dante me leva de carro até o trabalho e me acompanha até o escritório. Quando entro, sou recepcionada por um sorriso caloroso de Andréia, que, ao que tudo indica, já está a todo vapor nas atividades. — Bom dia, Elizabeth. Seja bem-vinda! — Obrigada, Andréia. Um bom dia para você também. — Enquanto falo, já vou guardando a minha bolsa e o meu casaco e parto para a minha mesa de trabalho. — Bom dia, senhor Costatini. O senhor Luciano já está lhe aguardando no escritório — Andréia fala se dirigindo a Dante, com seu jeito polido e educado de sempre. — Ok. Bom dia, Andréia. — Dante entra no escritório de Luc e fecha a porta. Andréia me passa todas as tarefas de hoje, sem fazer nenhum comentário sobre o fato de eu e Luc termos chegado separados. Se ela achou estranho, não quis dividir a sua opinião comigo. Agora eu entendo por que

Luc a contratou, ela é uma funcionária eficiente e discreta. Acho bom que Andréia não tenha me perguntado nada, afinal, o que eu poderia responder, se nem mesmo eu sei em que pé estamos? Ainda me sinto magoada por descobrir a forma brutal com que Luc interferiu na minha vida sem eu sequer ter conhecimento. Mas pelo que vejo, ele não está disposto a mudar a sua forma de agir; na verdade, ele é muito contundente ao defender suas ações. Sacudo a cabeça, tentando esvaziar a mente dos meus dramas pessoais. Preciso me concentrar nas minhas tarefas, antes que eu cometa algum erro. Entro facilmente no ritmo do escritório. Dou boas-vindas ao trabalho, ocupo a minha mente com várias atividades, memorandos, e-mails comerciais, relatórios, ligações etc. Isso ajuda a manter minha mente longe de temas difíceis e sem solução que ultimamente ocupam a minha vida. Alguns minutos depois de Dante sair do escritório, um pouco antes da hora do almoço, Andréia atende ao telefonema feito de um ramal da empresa. — Pois não, senhor Costatini? — Escuto a sua resposta e me dou conta de que ela está falando com Luc. — Agora mesmo, senhor Costatini. Andréia desliga o telefone e começa a preparar um café na cafeteira automática. Depois, ela coloca a xícara em uma bandeja, e, em seguida, pegame de surpresa ao colocar tudo em cima da minha mesa. Franzo a sobrancelha e a olho com interrogação. — O senhor Luc pediu que você leve o café dele pessoalmente. — Andréia suspira, em um gesto romântico. — Eu acho que ele deve estar com

saudades de você, querida. Ah, Andréia, se você soubesse como as coisas andam entre nós..., penso com desânimo. Sem falar nada, eu me levanto e levo a bandeja para o escritório, e Andréia gentilmente me ajuda abrindo a porta para mim, já que estou com as mãos ocupadas. Ao entrar em seu escritório, mais uma vez pelo charme e pela beleza do homem que ocupa mesa de design moderno. Ele está vestido com usando uma gravata na cor vinho; está elegante sempre.

sou tomada de admiração a cadeira atrás da grande um terno cinza-escuro e e lindo de morrer, como

— Você não vai me entregar o café, Elizabeth? — Luc me pergunta com um meio sorriso zombeteiro nos lábios. Acho que ele me olha com diversão porque sabe que eu o estava admirando feito uma idiota, babando com a boca aberta parada à porta. Eu recobro o decoro necessário e volto a andar em sua direção. Deposito a xícara de café em sua mesa, que o prefere puro e sem açúcar. É melhor eu sair logo daqui, antes que eu volte a babar em cima dele novamente. Dou meia-volta e parto em direção à porta. — Fique, Elizabeth, e tranque a porta, por favor. — Estaco os meus passos e olho para ele, que está com a expressão inescrutável. Luc deve ser um ótimo jogador de pôquer, ao contrário de mim, que normalmente sou um livro aberto.

Tranco a porta e fico de pé, esperando para saber o que ele quer. — Você precisa de alguma coisa, Luc? — Venha até aqui, Elizabeth. — Luc se afasta da mesa rolando a sua cadeira para trás. O que será que ele está planejando? Ele não faria sexo aqui, com a Andréia logo ao lado, faria? Caminho apreensiva em sua direção e ele abre as suas pernas, indicando-me que eu devo ficar em pé entre elas. Reticente, eu o obedeço, e, quando estou à sua frente, Luc me abraça nessa posição estranha, com ele sentado e eu em pé. Ele encosta a cabeça na minha barriga e circula meus quadris com os braços, e assim ficamos durante alguns segundos, sem dizer nada. Luc então cola o nariz em mim e aspira profundamente de olhos fechados, como se estivesse apreciando o meu perfume. Ele então me solta do seu abraço e começa a passear as suas mãos pelos meus quadris, pernas e bunda. Sinto a tão conhecida excitação tomar conta do meu corpo, encharcando a minha calcinha. — Luc, nós não podemos... A Andréia está aqui ao lado, ela vai saber... — tento avisá-lo com o resto de autocontrole que ainda me resta, mas acho que a minha voz vacilante não é muito convincente. — Então seremos rápidos e silenciosos. Eu preciso de você agora, Elizabeth. Luc fica de pé e, agarrando os meus quadris, levanta-me com facilidade, colocando-me sentada sobre a sua mesa. Ele então coloca as mãos sobre os meus joelhos e vai subindo pelas laterais das minhas coxas,

levantando a minha saia até alcançar a minha calcinha. Ele a agarra e a puxa vagarosamente, descendo pelas minhas pernas. Sinto a minha respiração ficar pesada com a excitação que se apodera de mim. Ele me faz deitar sobre a mesa e passa a friccionar com o polegar o meu clitóris no ponto exato para me deixar louca. Quando sinto o orgasmo se aproximar, Luc para e tira uma camisinha do bolso; pelo visto, ele está sempre preparado para uma sessão de sexo. Luc abre o zíper de sua calça, expondo o pênis rijo, e veste a camisinha com rapidez, então me puxa para a beirada da mesa. — Lembre-se de que temos que ser silenciosos, Lizzy — Luc me adverte. Eu assinto. Em um momento como este, eu aceitaria qualquer proposta que ele me fizesse. Luc então me penetra fundo em apenas uma estocada. Ambos gememos baixinho com o prazer que o movimento nos causa. Ele começa a empregar um ritmo de vai e vem frenético, os únicos sons que escuto são das nossas respirações pesadas e das batidas do encontro dos nossos corpos. Não poder fazer ruído é um tormento, mas ao mesmo tempo amplia todas as sensações. Então sinto o orgasmo varrer todo o meu corpo, as ondas de calor e prazer chegam até o dedinho do meu pé. Luc não demora a me acompanhar. Ainda bem que o escritório dele tem um pequeno lavabo, onde tento organizar a minha aparência da melhor maneira possível após o sexo despudorado sobre a mesa. Eu nem sei como poderei encarar a Andréia ao sair daqui. Eu não consigo esconder o rubor do meu rosto. Luc também se ajeita e depois olha para mim, passando a mão pelos meus cabelos, tentando ajeitá-los.

— Pronto, agora você está perfeitamente apresentável, senhora Costatini. — Luc, você é impossível! — respondo revirando os olhos. Luc solta uma risada enquanto eu me dirijo para a porta, destrancando-a. Quando saio, Andréia já não está. Graças a Deus! Esse é um vexame que pôde ser evitado. Ela deve ter saído para resolver algum assunto, ou adivinhou o que estava acontecendo no escritório de Luc e preferiu nos dar privacidade. Espero que tenha sido a primeira opção. Passo a respirar mais aliviada agora. Quando caminho com a intenção de ocupar o meu lugar, eu me dou conta de que estou sem calcinha. Droga! De novo?! Esse homem deve ter algum tipo de ódio pelas calcinhas! Será que é alguma coisa da vida passada? É muito difícil manter uma quando estou perto dele. — Olá! Que surpresa te ver aqui! — Paro as minhas divagações sobre Luc e seus problemas relacionados a calcinhas e observo a figura que acaba de sair do elevador. Angelina Carbone anda em minha direção parecendo uma modelo desfilando pela passarela. Ela caminha com um salto fino altíssimo, com passos firmes e precisos, típicos de quem está acostumada a usá-los. Ela está com um vestido vermelho de corte moderno, que é sexy e elegante ao mesmo tempo. E a sua maquiagem ressalta os seus olhos castanhos. Eu não gostei dela quando a vi pela primeira vez em meu casamento, e certamente continuo sem gostar dela agora.

— Eu não esperava que você fosse assumir o cargo de uma reles empregada, Elizabeth. Fiquei muito surpresa quando me encontrei com a senhora Rossi lá embaixo e ela me disse que você me receberia. — Olá, Angelina. Sim, estou trabalhando como auxiliar da senhora Andréia. Aguarde apenas um minuto, vou confirmar o seu horário. — Tento ignorar as provocações dela, agindo com profissionalismo. — Não se preocupe com isso, querida, eu e Luc somos muito... próximos, nós não precisamos de formalidades para os nossos encontros. — Cada palavra de Angelina é carregada de insinuações. Ela sequer espera por uma resposta minha; sem cerimônia, dirige-se rebolando para o escritório de Luc, e ainda tem a audácia de piscar um olho para mim antes de fechar a porta. Fico alguns minutos paralisada, chocada com esse comportamento vulgar. Ah, mas isso não vai ficar assim, não! Não vai ficar mesmo! Caminho em direção ao escritório de Luc com passos decididos e abro a porta com brusquidão, sem dar nenhum tipo de aviso. Vejo Luc sentado à sua mesa e Angelina ocupando uma cadeira de frente para ele. Os dois, ao perceberem a minha entrada abrupta na sala, interrompem a conversa que estavam tendo e me olham com semblantes surpresos. Eu não falo nada para nenhum dos dois, vou direto, com passos decididos, para trás da mesa onde Luc se encontra e passo a procurar o objeto que eu preciso pelo chão. — Posso te ajudar com alguma coisa, Elizabeth? — Luc pergunta de modo educado, mas noto um toque de curiosidade em sua voz.

Ah! Achei o que eu queria! — Não, querido, eu acabo de encontrar o que eu procurava — informo com voz insinuante. Levanto a minha calcinha, que estava no chão, e a estendo à vista de todos. — Eu vim procurar pela minha calcinha, que você tirou de mim agora há pouco, enquanto me fodia sobre a sua mesa. Pela primeira vez na vida, vejo Luc atônito. Já Angelina... parece furiosa. Agora que eu dei o meu recado, posso sair da sala. — Tchau, querido. Tenha uma boa reunião. Coloco a mão no meu peito assim que fecho a porta, desfazendo imediatamente a imagem de mulher poderosa, e tentando manter o meu coração dentro da caixa torácica. Jesus! No que eu estou me transformando? Tomo algumas respirações profundas, tentando me acalmar. Eu não quero me encontrar com a Angelina quando ela sair, já gastei a minha cota de antagonismo de hoje. Decido que preciso dar uma volta para espairecer e colocar a cabeça no lugar. Pego as minhas coisas, guardo minha calcinha em uma gaveta, já que eu não quero ficar aqui nenhum segundo a mais, e rumo em direção aos elevadores. Assim que coloco o pé para fora do elevador, vejo homens de negro me seguindo. Eu olho para trás, ansiosa. Esses homens são nossos seguranças? Ou são alguns dos inimigos de Luc? Escuto um toque de celular

vindo de dentro da minha bolsa, mas quando a abro, vejo que o celular que está tocando não é o meu. Estranhando esse novo aparelho, que parece ser um desses modelos de última geração, eu atendo à chamada. — Alô? — pergunto, intrigada. — Você deu um grande show hoje, senhora Costatini! Realmente memorável... — Escuto a voz risonha de Luc pelo telefone. Ah! Então esse desgraçado ainda ri da minha cara?! — O que você quer, Luc? E de quem é esse celular? — pergunto secamente. Não estou com paciência para ele agora. — Eu comprei um celular novo para você, já que o seu parecia da época dos dinossauros. Para onde você está indo, Elizabeth? Fui informado pelos seguranças de que você saiu do edifício. Luc, com o seu comportamento intrusivo de sempre, me compra coisas e as me impõe sem o meu consentimento. Mas eu não quero conversar sobre isso agora, ao telefone. — Preciso de espaço, Luc. Deixe-me em paz por apenas alguns minutos, logo retornarei. A linha fica em silêncio por alguns segundos, será que ele ainda está na linha? — Tudo bem, Elizabeth. Os meus seguranças te acompanharão, tome cuidado e volte logo. Desligo o celular sem sequer dar uma resposta. Eu apenas caminho pelas ruas, é algo que não tenho feito

ultimamente, e sinto falta de ter a liberdade de fazê-lo. Ignoro totalmente os homens que me seguem e passo a meditar sobre o ocorrido. Por que eu fiz aquela cena? Qual foi o sentido? Se Luc quiser ter um caso com Angelina, Noelle ou qualquer outra por aí, não há nada que eu possa fazer. Tenho certeza de que um show como aquele não desestimula ninguém. Por que eu perco a calma com situações assim? O nosso casamento é apenas uma conveniência para Luc. Ele nunca expressou nenhum sentimento por mim que não seja o de posse. Por que eu esperaria mais dele, então? Eu não passo de um objeto que ele pode lançar mão quando lhe convém. Essa mistura de sexo e conflitos internos anda me deixando muito desequilibrada ultimamente. Eu tenho que encontrar uma forma de desfrutar do sexo fantástico que ele me proporciona sem envolver meus sentimentos nisso, caso contrário, sei que estarei perdida. Tenho certeza de que me apaixonar pelo rei do crime é a pior escolha que eu poderia fazer na minha vida. Acho que estou caminhando há apenas meia hora, mas é melhor eu voltar, ainda tenho muito trabalho a fazer. No entanto, já que estou na rua e já é hora do almoço, acho que é melhor eu parar para comprar comida em um pequeno restaurante que está próximo. Peço apenas para mim e para Andréia, já que, segundo o que ela me disse, Luc normalmente come fora, em almoços de negócios. Pego os nossos almoços e nossas bebidas e volto acompanhada pelos seguranças para o escritório. Quando estou entrando no prédio, esbarro com força em alguém que estava saindo ao mesmo tempo. O impacto acaba derramando as bebidas que

eu estava levando. — Ai! Sua idiota distraída! — Sinto muito! Me descul... — Interrompo o meu pedido de desculpas ao perceber em quem eu esbarrei. Angelina está toda banhada com os sucos que eu havia pedido. Ela então vocifera em tom de ameaça: — Aproveite bastante o Luc, querida, enquanto você ainda pode! Angelina coloca seus óculos escuros e parte em direção à rua. Desde que eu me casei, minha vida ganhou muita emoção, mas não era esse tipo de emoção que eu queria. Quando será que as coisas vão se acalmar?

Intrigas Estou em minha sala de estudos tocando uma das minhas obras favoritas: O Libertando, de Astor Piazzola. Essa obra é carregada de mistério, passagens rápidas e ritmos cruzados. Parece uma analogia da minha vida ultimamente. Resolvi tocar hoje depois de chegar do trabalho, ainda que seja por pouco tempo. O violoncello é a minha zona de conforto, e esse tipo de consolo é algo que estou precisando no momento. Depois da tarde tumultuada com o episódio da Angelina, não tivemos mais nenhuma intercorrência, apenas trabalho rotineiro do escritório. Luc ficou ausente a maior parte da tarde, entre reuniões e outros compromissos de trabalho, e esta noite, depois do jantar, eu senti a necessidade de me retirar para cá. Disse a Luc que eu precisava de um tempo sozinha, ele pareceu um pouco contrariado, mas cedeu. Nesse tempo, além de estudar, consegui pensar em algumas coisas que devem ser feitas. Preciso pedir desculpas pelo tapa que eu dei em Luc, sei que o nosso relacionamento não é dos melhores; na verdade, estamos longe disso, mas eu não quero agravar ainda mais a relação com cenas de agressões físicas. Outro tópico: eu sei que ele e Angelina são sócios, mas eu gostaria que ele a visse o mínimo possível. Essa mulher me tira do sério, e pelo ódio que eu vi estampado em seus olhos, acho que ela não me deixará em paz tão cedo, então o melhor é manter distância. Será que conseguirei convencê-lo? Eu tenho pelo menos que tentar, para o bem da minha sanidade mental.

Com essa decisão tomada, vou para o quarto decidida. Quando entro, encontro o centro das minhas aflições recostado na cama, com um livro nas mãos. Luc está despido da cintura para cima e usa somente a calça do pijama. Já notei que ele tem o hábito de dormir nu ou com apenas a calça do pijama, e ambas as formas são muito tentadoras. Ao me ver, Luc fecha o livro e o coloca sobre o móvel de cabeceira. — Teve o tempo que precisava? — Sim — respondo, sem conseguir olhá-lo nos olhos. É difícil para mim reconhecer que errei, e não é somente uma questão de ego, é principalmente porque eu sei que ele jamais reconhecerá os seus erros, então fica parecendo que só eu erro aqui. Mas como dizia o ditado: “Dois erros não fazem um acerto”. Respiro fundo e solto de uma vez: — Desculpe-me, Luc, por eu ter te batido. Isso não foi correto, eu nem sei o que deu em mim. Eu não sou uma pessoa violenta. Luc me observa com uma expressão insondável. — Às vezes a violência emana quando estamos sob tensão. Acho que ele fala por conhecimento de causa própria. — É normal reagir com exagero quando as nossas emoções estão elevadas. Você passou por muita coisa desde que se casou comigo, ainda está se adaptando à sua nova vida. Eu pensei que eu já soubesse muito sobre você, mas tem sido uma surpresa ver as suas crises de ciúmes, Elizabeth.

— Eu não te bati por ciúmes, Luc — tento me defender. — Não, mas começamos a nossa discussão por causa disso, e hoje o ciúme me fez ver uma versão sua que me surpreendeu, e eu não sou uma pessoa que se surpreende com facilidade. — Eu estou agindo fora de mim ultimamente — resmungo, envergonhada. — Não. Essa é você, Elizabeth. Mas essa é uma versão suscitada por estar comigo. E eu me pergunto... quantas versões suas ainda surgirão? Essa é uma boa pergunta, e eu tenho medo da resposta. — Eu soube pela equipe de segurança que a Angelina te ameaçou. Isso é verdade? Sou pega desprevenida pela pergunta. — Bem, sim... — Por que você não me contou? Minha mente fica em branco. Por que eu não contei? Lembro que assim que voltei, tive muito trabalho no escritório e pouca oportunidade de falar com ele, e depois disso eu não queria falar com ele, pois queria ficar só. Depois que a minha mãe morreu, eu me habituei a não compartilhar os meus problemas com mais ninguém, e ainda não confio em Luc para compartilhar os meus problemas com ele. Na verdade, eu nunca sei o que esperar dele. Diante do meu silêncio, Luc solta um suspiro resignado.

— Eu já tomei as providências para desfazer os meus negócios com a Angelina. Vou vender para os seus concorrentes todas as ações que eu tinha da empresa dela, então logo ela estará arruinada financeiramente — Luc fala com frieza. Eu o encaro, surpresa. — Você vai descobrir logo, Elizabeth, que ninguém ameaça um Costatini e fica impune. Angelina não deveria ter se metido com aquilo que não pode lidar. Fico perplexa com essa notícia, eu esperava que com boa sorte eu talvez o convencesse a vê-la com menos frequência, mas desfazer os negócios? E ainda prejudicá-la no processo? Uau! Não sei o que pensar. Uma parte de mim acha muito antiético que alguém tome decisões de negócios embasadas em questões pessoais, destruindo empresas assim, do nada, mas a outra parte de mim... Bem, essa parte está dando saltos e piruetas em comemoração, com direito a um duplo twist carpado. — Venha, Elizabeth, tivemos um longo dia hoje, e amanhã teremos que acordar cedo para ir para o trabalho. Caminho em direção à cama, tiro o robe que eu estava vestindo sobre a camisola e me deito. Luc apaga as luzes, o quarto fica banhado apenas pelas luzes de fora da casa. Ele me agarra, aproximando-me dele. E, então, com gestos lentos e precisos, Luc tira toda a minha roupa, mas, para a minha surpresa, em lugar de partir diretamente para o lado sexual, ele começa a massagear todo o meu corpo, desatando todos os meus pontos de tensão. Estou tão mole e relaxada que pareço manteiga derretida sobre a cama.

A massagem vai mudando de rumo de maneira gradual e constante. Luc passa a explorar o meu corpo com uma paixão tranquila, calma e lenta. Quando eu finalmente retorno do clímax poderoso, de fazer revirar os olhos, eu penso: será que isso é fazer amor? Será que Luciano, um grande criminoso, é capaz de algo parecido com amor? Com essas últimas dúvidas na cabeça, a minha consciência cede espaço para o sono.

Amanhece o dia e mais uma vez estou só. Será que terei que ir com Dante novamente para o trabalho? Eu me arrumo para mais um dia no escritório. Desta vez, escolho uma calça social azul, com uma camisa branca e um casaco também branco. Estou no processo de colocar os meus sapatos quando Luc entra no quarto. Ele está suado e vestido com roupas esportivas. Pelo visto, esteve fazendo algum tipo de atividade física. Luc parece necessitar de pouco tempo de sono, ele normalmente dorme depois de mim e desperta antes. E, pelo visto, ainda tem energia para fazer exercícios matinais e passar o dia trabalhando em um ritmo frenético. Esse homem é uma máquina! Ele vem em minha direção com passos resolutos, me agarra e me beija profundamente. Nem parece que foi apenas ontem à noite que estivemos entrelaçados entre os lençóis. Nossos corpos se anseiam sem medidas.

— Bom dia, senhora Costatini. Você está muito bonita, como sempre. — Obrigada — respondo sem jeito. — É impressionante como você ainda consegue ruborizar ante um simples elogio. Toco o meu rosto, sentindo-o quente. Luc dá um meio sorriso ante o meu embaraço. — Vou tomar uma ducha rápida. Vá tomar o seu café para partirmos. — Você não vai tomar o café da manhã? — Eu já tomei, Elizabeth. — A que horas você acorda? — pergunto, curiosa. — Entre cinco e seis da manhã. É o único jeito de ter tempo para treinar antes de trabalhar. Normalmente, treino com os meus irmãos logo cedo. — O que vocês treinam? Luc começa a tirar suas roupas sem nenhum tipo de cerimônia ou pudor. — Treinamos todos os tipos de artes marciais. Temos que estar sempre preparados, Elizabeth. Apesar de a máfia viver um pouco mais civilizada ultimamente, sempre ocorrem... situações que exigem uma boa dose de violência. A visão dele nu está mexendo com a minha libido.

— Bem, então eu vou te esperar no terraço — falo com voz meio trêmula. Saio antes que Luc possa me atacar e me convencer a entrar no banheiro com ele, nos atrasando novamente para o trabalho. Antes de sair, eu escuto a sua risada. Ele sabe que estou fugindo. Quando chego ao terraço, a mesa está posta, mas está vazia. Enzo e Dante provavelmente já tomaram café, já que estavam treinando com Luc. Como com apetite, e, quando termino, Luc me leva para mais um dia de trabalho.

O dia no escritório está cheio de atividades, como sempre. Eu não tenho ideia de como a Andréia lidava com tudo isso sem a ajuda de uma assistente. Abro o e-mail corporativo para verificar se os relatórios foram enviados para os fornecedores conforme me orientou Andréia, mas um título de e-mail me chama atenção: “Precisamos falar com você.” A mensagem veio endereçada do dipartimento di polizia del governo italiano. Entendo muito pouco de italiano, mas isso significa que é da polícia, não? Mas o título e conteúdo do e-mail estão em inglês, obviamente para que eu entenda. Sinto a minha boca ficar seca de nervoso. O que será isso?

Olho para todos os lados do escritório. Andréia saiu para entregar algumas correspondências nos correios, e Luc está em uma reunião de negócios em outra empresa. Quando me certifico de que estou só, abro o e-mail. “Bom dia, senhora Costatini, Sou Luigi Bruno, da polícia da nacional da Itália. Preciso entrar em contato com a senhora, é a respeito do seu marido, o senhor Luciano Costatini. Envio as minhas informações, como o número do meu distintivo (para comprovar a minha identidade), o número telefônico do departamento em que trabalho e o meu número pessoal em anexo. Não avise ao senhor Costatini sobre esta mensagem, pode ser perigoso para a senhora. Por favor, entre em contato. É muito importante.” Olho estupefata para o e-mail na tela à minha frente. O que eu devo fazer? Por que seria perigoso avisar ao Luc sobre isso? O que será que esse tal Luigi tem a falar que é tão importante? Mais uma vez, olho para todos os lados, certificando-me de que estou sozinha. Os seguranças estão do lado de fora da porta, mas sei que de lá não é possível escutar nada daqui de dentro. Bem, é agora ou nunca, preciso saber logo do que se trata tudo isso. Pego o meu celular e digito o número indicado no e-mail. Espero o sinal sonoro com o estômago embrulhando em expectativa.

— Luigi Bruno falando... Por um momento, não consigo forçar as palavras a saírem. — Alô, tem alguém na linha? — Luigi insiste. — Alô, aqui é a senhora Costatini — forço as palavras para fora. A linha fica em silêncio por alguns segundos. — Senhora Costatini, muito obrigado por responder ao meu e-mail. Peço desculpas, mas não posso revelar as razões para eu ter entrado em contato agora, o seu telefone pode estar grampeado. Estou em uma viagem a trabalho agora, mas a senhora poderia dar um jeito de se encontrar comigo daqui a uma semana ao meio-dia, no estacionamento do subsolo do edifício onde a senhora trabalha? Ai, meu Deus! Essa história se complica a cada segundo... — Eu não sei... Eu vou tentar — falo, hesitante. — Tente, senhora Costatini, é muito importante! Vidas dependem da sua ajuda. Mas não se esqueça de se certificar de que a senhora não esteja sendo seguida antes do nosso encontro. Se seu marido suspeitar, pode ser fatal para nós dois. — Sim — respondo em um fio de voz. — Nós nos veremos logo, então. Até mais, senhora Costatini. Desligo o celular com mãos trêmulas. Como será que conseguirei despistar os seguranças de Luc? O que será que Luc faria comigo se soubesse que estou me encontrando com a polícia? E o que será que Luigi tem de tão

importante para me informar que precise de medidas tão drásticas? Resolvo gastar o pouco tempo que ainda me resta de solidão para confirmar a identidade de Luigi, não quero cair na armadilha de algum possível inimigo de Luc. Ligo para o número do departamento de polícia que ele me enviou por e-mail. Depois de tentar falar usando o meu italiano muito pobre, sou transferida para vários atendentes, até que finalmente encontro uma atendente que fala inglês. Ela me informa que Luigi Bruno não é somente um policial, como também é delegado de polícia. Desligo o telefone e, poucos minutos depois, Andréia entra, estabelecendo uma conversa animada. Tento responder da melhor maneira possível, mas estou com a cabeça cheia de dúvidas e incógnitas sobre o ocorrido. Depois de um tempo, Andréia percebe o meu estado disperso e desiste de tentar conversar, então recomeçamos a trabalhar. Almoçamos juntas, desta vez no restaurante dos funcionários do edifício. Somos acompanhadas pelos seguranças, sempre presentes, que parecem mais sombras grudadas a mim. Como farei para despistá-los? Já estou ficando com dor de cabeça ao pensar nisso. Ao voltarmos ao escritório, eu caio no trabalho, essa é a única maneira de manter um pouco de sanidade na minha cabeça, e de eu não ceder à vontade de sair correndo gritando por aí, enlouquecida com tantos acontecimentos. No meio da tarde, a porta do escritório é aberta com um estrondo.

Angelina entra parecendo um tornado. Os seguranças a seguem, procurando controlá-la. — Onde está Luc? — grita, totalmente destemperada. Coincidentemente, neste momento vejo Luc sair dos elevadores em frente ao escritório e atravessar o corredor em nossa direção. — O que está acontecendo aqui, Angelina? — Luc mostra o seu lado calmo, mas letal. Pode-se ver todo tipo de ameaças em seus olhos. — Por que, Luc? Por que você quer me destruir? Você está acabando com a minha empresa! Eu vou ficar sem nada! Eu confiei em você! Angelina brada aos berros, ela está claramente fora de si. — É por causa dela, não é? — Angelina aponta o dedo para mim. — Ela te envenenou contra mim! Por que você dá ouvidos a uma pessoa tão baixa, Luc? Ela não passa de uma serviçal! Olhe para a criatura patética que ela é! Luc a olha com dureza. — Chega, Angelina! Você nunca mais se referirá à minha esposa com desrespeito, ou descobrirá que eu posso ir muito além da destruição da sua empresa! Considere este meu aviso uma gentileza pelo tempo em que fomos sócios, mas eu sugiro que você o leve muito a sério, pois este será o último aviso que você receberá. — Cada palavra é dita com muita calma, mas as ameaças que elas contêm são inequívocas. Luc se volta para os seguranças: — O que vocês estão esperando? A tirem daqui imediatamente! E

nunca mais a deixem se aproximar da minha família ou dos meus negócios! Depois eu quero o responsável da equipe de segurança de hoje em minha sala, alguém vai ter que se explicar sobre a essa falha imperdoável na segurança. Os seguranças ficam lívidos e partem imediatamente, arrastando Angelina esperneando pelos corredores. O que será que Luc pode fazer que causa medo em homens grandes e armados? Esse pensamento me causa calafrios. Se eles, que são treinados e bem armados, têm medo de Luc, o que eu posso esperar, então? O que será que Luc faria comigo se soubesse que marquei um encontro com a polícia pelas suas costas?

Boate O dia no escritório passa dentro da normalidade, finalmente. Mas eu ando mais dispersa que o normal, devido à tensão causada pelo e-mail de Luigi. Tentei agir o mais natural possível, mas não sei o quão normal eu realmente consegui aparentar. Ainda tenho muitas dúvidas, não sei se devo me encontrar com Luigi, por causa dos perigos que isso envolve. Mas ele comentou que vida de pessoas estariam envolvidas nisso. Eu conseguiria dar as costas para elas? Apesar de que eu não tenho ideia de como poderia ajudar Luigi em seus planos. Eu sequer sei quais são os seus planos! E mesmo que eu tente ajudar, como vou fazer para escapar da vigilância constante dos seguranças de Luc? Esses assuntos rondam os meus pensamentos durante todo o dia, sem que eu encontre qualquer solução ou chegue à alguma conclusão. Agora estamos no carro, a caminho de uma boate. Antes de sairmos do escritório, Luc recebeu uma chamada de um dos seus sócios, que pediu para fazer uma reunião em algum lugar, que, no caso, será em uma boate. Luc me assegurou que será uma visita rápida, que demorará apenas poucos minutos. Eu espero que sim, já estou cansada da correria do trabalho. Eu normalmente não gosto dos agitados ambientes noturnos, ainda mais quando estou cansada e com dores nos pés causadas pelo uso do salto. — Chegamos — Luc anuncia. Ele sai do carro e dá a volta para abrir a porta para mim, com as suas perfeitas maneiras educadas e elegantes.

Os seguranças normalmente, como hoje, nos seguem em outro carro. Acho que Luc gosta de dirigir, ou ele prefere manter o controle, mas, observando sua personalidade, eu acho que se trata da segunda opção. Saio do carro e observo uma boate de vidros escuros, com filas gigantescas de pessoas na porta, ansiosas por entrar no ambiente. Mesmo daqui, já se pode ouvir a música forte se propagar pelo ar. Pelo visto, esse negócio está rendendo um bom dinheiro para Luc. Ele pega a minha mão e me conduz para dentro da boate; nem sequer para na porta, ganhamos passagem imediata para o lado de dentro. O segurança parado à porta já deve conhecê-lo, o que é lógico, já que Luc é um dos donos. Como já se imaginava, a boate está borbulhando de gente dançando, bebendo e se divertindo. O ambiente é escuro, cheio de jogos de luzes e tecnologia. Tiro o meu casaco, aqui está muito quente para usar abrigos. Luc me conduz, passando direto pela multidão, até uma zona um pouco mais afastada, na parte traseira da boate. Ele para em frente a um balcão junto ao bar, então se aproxima do meu ouvido e ergue a voz para poder ser ouvido por cima da música frenética do ambiente. — Pegue uma bebida para você e relaxe. Meus seguranças vão fazer a sua guarda, eu volto logo. Eu movo a cabeça em um gesto positivo, nem me preocupo em falar, já que não é possível ouvir nada aqui dentro. Luc parte e vejo os seguranças tomarem lugar nas cadeiras ao meu

lado. Eu me sento e faço um sinal para o barman, que vem me atender em seguida. — Boa noite! Qual é o seu veneno de hoje? Nossa, que animador!, penso sarcasticamente. — Qualquer coquetel leve que você tiver. — As únicas bebidas alcoólicas que eu já bebi na vida foram vinho, champanhe e cerveja, eu não conheço nomes de coquetéis, essa é uma área que eu não domino. O barman prepara a minha bebida misturando vários líquidos e fazendo movimentos mirabolantes que parecem fazer parte do espetáculo do bar. Ele coloca o líquido azul, resultado do seu malabarismo, dentro de uma taça de coquetel e me serve com gestos galantes e um sorriso no rosto. — Obrigada! — Aplaudo a sua performance. Tomo um pouco do coquetel fazendo uma careta, pois tem mais álcool do que estou acostumada e um gosto meio amargo. Mas continuo bebericando, afinal, eu não tenho muito a fazer enquanto espero o retorno de Luc. Creio que estou aqui faz o quê? Meia hora? Quarenta minutos? Luc está demorando. Será impressão minha ou a música está mais alta? Começo a sentir muito calor. Desabotoo os primeiros botões da minha camisa, tentando me refrescar. Minha vista está esquisita... Vejo as coisas meio desfocadas e nebulosas. Meu estômago está dando voltas, estou enjoada. Será que estou ficando doente? Acho que é melhor eu ir para o

banheiro, antes que eu acabe vomitando aqui. Por que Luc não chega logo? — Onde fica o banheiro? — pergunto para o barman entre um malabarismo e outro de sua performance no bar. — É só seguir direto por aquele corredor. Caminho em direção ao banheiro sentindo minhas pernas pesadas. Mas que diabos está acontecendo? O que há de errado comigo? Quando chego à porta do banheiro, noto que os seguranças me seguem. — Vocês não vão entrar comigo, né? — Vamos aguardar a senhora aqui na porta — um deles me responde. Mas que exagero! Ser escoltada até ao banheiro! Quando entro, noto que o banheiro está cheio. Não tenho chance de chegar à cabine para alcançar o vaso sanitário, então vomito na pia mesmo. Ai, meu Deus, que constrangedor! Vomitar com tanta gente me servindo de plateia. Eu me sinto péssima. — Cuidado com a bebida aí, querida, você já passou da conta por hoje —uma garota me aconselha, fazendo cara de nojo. Apesar do meu vômito, as coisas não melhoram. Com muita dificuldade, eu enxáguo a minha boca e passo água no rosto, então decido voltar e esperar por Luc para me tirar daqui. Saio com passos trôpegos, mas, ao abrir a porta do banheiro feminino, não noto a presença de nenhum segurança. Eles não deveriam estar aqui?

Por que o mundo não para de girar? — Ei, gostosa, vem comigo! Um homem me puxa pelo braço e me arrasta por entre a multidão. Eu não consigo ver direito o rosto dele. Por que a cara dele parece estar dançando? Mas que diacho! — Vamos, princesa! Vem comigo, que eu vou te mostrar um lugar muito divertido, você vai adorar! — ele fala enquanto continua me arrastando em direção à parte traseira da boate. É... se divertir é uma coisa boa, não é? Eu deveria me divertir? Eu tenho a sensação de que não deveria, mas eu não consigo me lembrar dos motivos. Andamos até uma porta de saída e ele continua me puxando pela mão, com a intenção de me tirar da boate. Então, alguma coisa acende o alarme em um neurônio desperto que ainda resta no meu cérebro. Estaco e me agarro à porta de saída com toda a minha força, tentando paralisar os seus intentos. — Não! Eu não quero ir, não quero me divertir! — Por que a minha voz está estranha? Estou falando normal na minha mente, mas as palavras saem lentas. Ai, droga! Alguma coisa está acontecendo comigo, será que eu estou tendo um AVC? Não tenho forças, os meus gestos são torpes e não o impedem de me arrastar pela porta, assim, eu não ofereço resistência suficiente para ele. Então, faço a única coisa que eu posso: mordo a sua mão que agarra o meu braço. — Ai! Sua puta! Vadia desgraçada!

Em seguida, eu sinto um golpe tão forte no meu rosto que vejo estrelas, minha visão demora alguns segundos para voltar, mas não há nada que eu possa fazer. Esse homem vai me levar para qualquer lugar que ele queira. Estou caída no chão devido ao golpe que ele me deu, sinto gosto de sangue na boca, o que só aumenta a minha náusea. — Agora eu vou te levar. — O desconhecido se agacha. — Seja uma boa menina e eu vou te tratar muito bem, você vai gostar do que eu tenho preparado para você — o desgraçado fala, todo cheio de segundas intenções. A porta de saída se abre com um estrondo e eu vejo um homem sair por ela. Quem é esse? Ele me parece familiar... Ele olha para mim, analisando o meu estado, e então passa a demonstrar uma fúria que eu jamais havia visto em alguém. — Pode se despedir dessa sua insignificante vida, seu filho da puta! — Ah, eu reconheço essa voz... É Luc! Cada fibra em mim relaxa em alívio. Vejo os dois partirem para uma luta corporal, mas eu só consigo ver borrões de movimentos. As coisas continuam rodando por aqui. Agora noto que alguém está perdendo feio, pois vejo um homem caído e imóvel, e o outro homem, que está em pé, não para de desferir golpes em cima do oponente. A porta se abre com outro estrondo e vejo mais dois homens irromperem nesta cena psicodélica. Por que as pessoas continuam fazendo tanto barulho? Não se pode ter um pouco de silêncio aqui? Tudo está agitado demais para mim.

— Para, Luc! Temos que mantê-lo vivo para tentar obter informações! Use a razão! — um dos homens que vieram por último comanda. Essa voz seria do Dante? — Cuidem da Elizabeth, eu cuido dele. Contrariado, Luc para o seu ataque e caminha em minha direção. Ele se abaixa e se aproxima, olhando-me nos olhos. — Por que você está dançando, Luc? Fique parado, você está me dando náuseas — eu o repreendo. — Eu não estou dançando, querida. Pelo tamanho das suas pupilas, eu diria que você foi drogada. — Drogada? Por que me drogariam? — pergunto com voz arrastada. — É isso o que eu vou descobrir, pode ter certeza. Luc me pega nos braços e me levanta. — Pegue o meu carro, Enzo, vou precisar que você dirija hoje. A partir desse momento, a minha mente começa a desligar e ligar. Tenho flashes de consciência em alguns momentos, e depois não vejo nada. Em algum momento, eu consigo abrir os olhos, acho que estou dentro de um carro, está escuro aqui. Escuto Luc me dizer: “vai ficar tudo bem, Lizzy”. Mas é claro que vai ficar bem, eu me sinto leve, estou voando... Vejo Luc franzir ainda mais o cenho, em sinal de preocupação. Será que eu falei isso em voz alta? Estou em seu colo, segura entre os seus braços.

Hummm… Está tão bom aqui. É tão gostoso ficar em seus braços, Luc. Eu o olho nos olhos, ele é tão lindo! — Você é muito lindo, Luc! Eu adoro os seus olhos, são amarelos, parecem olhos de leão. Você é muito gostoso. — Agora um traço de diversão cruza o seu semblante. Por que eu estou falando essas coisas em voz alta? Por que não há um filtro entre os meus pensamentos e a minha boca? Mas, de qualquer forma, eu não consigo me deter. — Luc? — O que foi, Lizzy? — Luc pergunta de maneira paciente, como se falasse com uma criança. — Você não gosta de calcinhas? — Não tenho nada contra calcinhas, Lizzy. Por que a pergunta? — Luc pergunta, intrigado. — Porque você nunca me deixa ficar com uma por muito tempo. Você sempre a tira ou a rasga. Eu cheguei a pensar que isso poderia ser trauma causado em alguma vida passada. Olho novamente dentro de seus lindos olhos. — Mas eu gosto das coisas que você me faz quando tira a minha calcinha. Desta vez, Luc sorri abertamente. — Muita informação! — Escuto uma voz resmungando de muito

longe. Essa voz seria de Enzo? Eu não consigo definir... — Você é uma pessoa muito divertida quando está em estado alterado de consciência, senhora Costatini. Guardarei essa informação para o futuro. — O que você faz para viver me assusta muito, Luc — continuo meus diálogos desconexos e sem filtros. — E eu ainda não consigo confiar em você. Vejo um brilho em seus olhos. O que será isso? Isso seria tristeza? Volto a apagar, mas em alguns momentos eu consigo escutar trechos de conversas. — ...chegaram muito perto hoje, Luc... — Isso não vai ficar assim... Vou investigar até o fim... — Dante o está torturando agora. Vamos ver se ele consegue extrair alguma informação... — ...Eu me juntarei a ele logo... Não sei o que eu faria se eles a tivessem pegado... Vou destruir toda a porra da Itália, se for necessário... Mas eu vou encontrar o responsável por isso... logo. Quando volto a mim novamente, eu estou agasalhada na minha cama, e Luc está conversando com um homem usando um jaleco branco. — ...drogada. Boa noite, Cinderela. Os sintomas são variados e podem mudar de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são estado de confusão, baixa inibição, náuseas, vômitos e alucinações. O tempo de duração da droga também varia, dependendo de quais substâncias foram utilizadas e em quais quantidades. Mas, no caso dela, acho que ainda vai

durar um par de horas. Por sorte, a dose usada não parece ser forte suficiente para maiores consequências. Mantenha-a sob observação e hidratada. Estou prescrevendo medicação para náusea e dor de cabeça, caso ela necessite quando acordar. Lembre-se também de que é bastante comum à vítima desse tipo de droga apresentar amnésia, o melhor é não a forçar a nada. Faça compressa de gelo quanto antes sobre a lesão do rosto para evitar que inche mais, ok? E deixe-a descansar. — Obrigado, doutor. Bianca lhe acompanhará até a saída — Luc fala, acompanhando o médico até a porta do quarto. Sou levada mais uma vez pela inconsciência, mas sou forçada a retornar quando sinto uma dor no meu rosto. Abro os olhos e vejo Luc ao meu lado na cama, ele está colocando alguma coisa gelada no meu rosto. — Isso dói! — reclamo. — Eu sei, Lizzy, mas é necessário colocar gelo agora, você se sentirá melhor depois. Pode deixar, vou cuidar de você — Luc me responde docemente. Olho para o seu tronco, que mais uma vez está descoberto. Ele parece tão apetitoso! — Adoro o seu tanquinho, Luc, principalmente esse “V” que indica o caminho da felicidade — falo enquanto passeio a mão de maneira atrevida e despudorada pelo seu corpo. — Minha esposa na cama toda acesa, desinibida e cheia de segundas intenções, e eu tenho que me aguentar. Só pode ser castigo! — Luc resmunga

para ninguém específico. — Por que pessoas querem acabar comigo todo o tempo agora? — pergunto com voz chorosa, parando a minha apalpação desenfreada e dando seguimento às minhas incoerências. Não sou capaz de seguir uma conversa linear agora. — Eu não fiz nada contra ninguém. — Eu sei, Lizzy, mas não se preocupe, eu vingarei você — Luc fala, com a voz carregada de promessa. — Eu não quero vingança, Luc, eu só quero paz. — Quem sabe um dia, Lizzy, quem sabe um dia teremos paz... — Luc me responde, e mais uma vez caio na inconsciência.

Explicações Ao acordar, abro os olhos devagar, adaptando-me com dificuldade à iluminação da manhã. Encontro o olhar vigilante de Luc sobre mim. Ele está sentado em uma poltrona de frente para mim, vestido com um dos seus ternos sob medida, com os cabelos ainda úmidos do banho. — Buongiorno, Elizabeth, como você está? — pergunta em tom preocupado. Como eu estou? Eu faço uma rápida avaliação do meu estado físico. — Estou com um pouco de dor de cabeça. E o meu maxilar está sensível. E eu me sinto um pouco fraca. — A minha resposta sai abafada pela sensação de secura na boca. Luc pega um copo com suco de laranja, que eu agora observo que estava sobre a mesa de cabeceira, e me oferece junto com dois comprimidos. — Tome. São analgésicos e remédio para enjoo. Você vai se sentir melhor. A dor de cabeça é por conta das drogas que você ingeriu, e a fraqueza deve ser porque você não come nada desde ontem à tarde. Aceito os comprimidos que me são oferecidos. Eu os coloco na boca e os forço para dentro com o suco, que tomo com sofreguidão. O suco cai como um bálsamo em minha garganta seca. — Infelizmente, tenho que sair agora, Elizabeth. Tenho muitas coisas para resolver.

— Você vai para o escritório? Eu não deveria ir também? — Não e não. Eu não irei para o escritório. O tipo de trabalho que terei que realizar hoje é de natureza... Como eu diria? Mais selvagem e brutal do que o do mundo dos negócios. Luc pega o copo vazio de minhas mãos e o devolve ao móvel de cabeceira. — Você obviamente não vai trabalhar hoje porque está sem condições, e o seu chefe já te liberou. Luc fala mateiro, piscando um olho e com um meio sorriso no rosto. — Enzo vai ficar com você hoje. Se precisar de qualquer coisa, peça a ele. — Eu não quero dar trabalho, Luc! Tenho certeza de que ficarei perfeitamente bem sozinha. O Enzo deve ter coisas mais importantes para fazer — protesto contra essa dependência exagerada que ele gosta de me forçar. Luc me encara com determinação. — Fomos atacados antes do nosso casamento. Depois, eu tive a minha carga de drogas roubada, e meus homens mortos no processo, incluindo o meu gerente Giovani, cuja cabeça foi entregue para mim em uma caixa de presente. E, agora, você foi drogada em um dos meus clubes noturnos, bem debaixo da minha vista! Então, NÃO! Eu não vou te deixar só! Luc narra os fatos frisando a sua rejeição ao meu protesto. — A segurança da casa foi reforçada, e Enzo está responsável por ela

hoje. Isso é a coisa mais importante que ele poderá fazer pela famiglia, por enquanto. Descanse e não tente sair de casa por hoje. Luc se levanta da poltrona e se aproxima de mim, dando-me um longo beijo. Depois, ele me analisa com um brilho diferente no olhar. O que será que essa expressão em seu rosto significa? — Até mais, Elizabeth. — Ele me dá um beijo na testa e parte. Poucos minutos depois de sua partida, Enzo entra no quarto, está segurando uma bandeja com o café da manhã. — Buongiorno, cunhadinha! — Enzo está animado, como sempre. — Bom dia, Enzo. Ele coloca a bandeja sobre o meu colo. — Bianca preparou um café da manhã leve para você, por ordens médicas. Observo o conteúdo da bandeja, tem um copo de suco, uma xícara de café, um prato com mingau e torradas. Sem demora, começo a comer; a princípio, receosa, com medo de que o meu estômago proteste. Mas parece que estou aceitando bem os alimentos, então eu continuo comendo com mais confiança. Enzo se senta na poltrona à minha frente, onde instantes antes esteve ocupada por Luc, e observa silenciosamente a minha alimentação. Isso não é típico dele, mas acho que Enzo não quer me interromper enquanto eu como. Quando estou no fim da minha refeição, Enzo começa a falar:

— A noite de ontem foi muito agitada. — Conte-me tudo, Enzo — peço depois de comer a última colherada do meu mingau. Depois da refeição, eu já começo a me sentir humana novamente. — Eu ainda não sei todos os detalhes, pois não tive muito tempo para conversar com Luc. Eu só sei o que aconteceu depois que eu cheguei. Luc notou o seu desaparecimento, assim como o dos seguranças, então ligou para Dante e para mim pedindo reforço. Por sorte, estávamos perto e evitamos que Luc matasse o cara que te capturou antes que pudéssemos tirar algumas informações dele. Acho que eu tenho alguma memória de Luc batendo em alguém, mas as minhas memórias não são muito nítidas. — Depois, te trouxemos para casa. — Enzo abre um largo sorriso. — Você estava muito engraçada, cunhadinha! — Enzo! — eu o repreendo. — Desculpe, mas você estava impagável. Estava grudada no Luc como um carrapato, e falava um monte de coisas obscenas para ele. E algumas dessas coisas, você tentava colocar em prática publicamente. Eu até que posso curtir um pouco de voyerismo, mas com o meu irmão e cunhada... não rola — Enzo continua, ainda achando graça. — Coitado do Luc, teve que driblar as suas mãos assanhadas todo o tempo! Quase que ele perde as calças antes mesmo de conseguir te trazer para o quarto! Eu nunca pensei que você fosse uma tarada enrustida! Enzo tem um acesso de riso.

Minha nossa! Será que o meu inconsciente é tarado? Sinto meu rosto esquentar. Estou mortificada de vergonha. Jogo um travesseiro em direção à cabeça de Enzo, em sinal de irritação, mas ele agarra antes de chegar ao seu destino, obviamente. — Não se ofenda, cunhadinha. Você estava uma graça! Foi interessante quando você subiu em cima da mesa de jantar e começou a tirar as roupas. — NÃO! Não é possível que eu tenha feito isso! — Caramba! O quão longe eu fui na minha decadência? — Talvez sim, talvez não... — Enzo fala, obviamente caçoando de mim. — Você se lembra de alguma coisa da noite passada? — Não, eu só lembro até o momento em que você e Dante chegaram; depois, eu não consigo me lembrar de mais nada. Enzo sorri em provocação. — Então agora você nunca saberá se eu estou falando a verdade ou não! Ai! O Enzo está se esforçando muito para me irritar hoje! Jogo outro travesseiro em sua direção, que também é interceptado, e devolvido em seguida. — Mantenha algum travesseiro para você, vai precisar para descansar. — Além de eu passar a noite me envergonhando desgraçadamente, ocorreu mais alguma coisa?

Enzo então passa a ficar sério. — Começamos as nossas investigações sobre o ocorrido ontem mesmo. Luc quase não dormiu essa noite, ele se manteve muito ocupado. Dante tentou, mas não conseguiu tirar informações importantes do seu sequestrador. Ele foi contratado por telefone por uma pessoa que não se identificou, e foi pago por uma conta fantasma. Tentamos localizar o telefone do contratante, mas o número era de um telefone pré-pago já desativado. Pelo visto, a pessoa que armou esse ataque contra mim tinha tudo planejado. — Quando Luc enviou pessoas para capturar o Antônio, sócio de Luc, que é o dono do lugar, ele já tinha caído fora, e por enquanto está foragido. Só conseguimos capturar o barman que te drogou, mas infelizmente descobrimos que ele também foi contratado pelos mesmos métodos do seu sequestrador. Então não conseguimos nada. Colocamos uma equipe para analisar os arquivos de vídeo das câmeras de segurança da boate, mas são muitas horas de vídeo de diferentes câmeras, então ainda vai levar um tempo para termos algum resultado. — O que aconteceu com o homem que estava tentando me sequestrar? E o barman? Enzo me olha sério, como se quisesse avaliar a minha reação. — Primeiro, eles foram torturados, para obtermos informações; e, então, eles foram mortos. Eu o olho em choque, sem palavras para responder a isso. Eu causei a morte de duas pessoas?

— Você tem que entender, Elizabeth, que a famiglia tem padrões e regras de comportamento. Se deixarmos alguém que nos atacou livre e ileso, então outros se animarão a fazer o mesmo, e isso é algo que não podemos deixar acontecer. Enzo estica as pernas e cruza os tornozelos como se estivesse discutindo a previsão do tempo. — Aqueles filhos da puta te bateram e te drogaram, então o destino deles foi selado por eles mesmos. Luc os matou com bastante satisfação e requintes de crueldade, devo dizer. Eu o olho em choque. — Falei demais? Às vezes eu não sei me conter — Enzo se repreende, passando a mão pela cabeça em um gesto de exasperação. — O que Luc está fazendo agora, já que ele ainda não conseguiu nenhuma prova? Enzo solta um suspiro frustrado. — Ele foi se reunir com a cúpula. — Por quê? — Nós estamos sendo sistematicamente atacados, cunhada. As principais famílias estão começando a ficar preocupadas. Todos esses ataques sistemáticos não são bons para os negócios da máfia. Isso gera um ambiente instável nos investimentos. Os representantes de cada famiglia que compõem a cúpula solicitaram uma reunião com o capo, para saber quais medidas ele está tomando.

— Isso pode ter alguma repercussão negativa para Luc? — pergunto, preocupada. — Luc é inteligente e experiente, ele já conhece muito bem o jogo desse monte de velhos. Não se preocupe, ele vai conseguir sair bem dessa reunião. Mas, de qualquer forma, ele e Dante vão ficar muito ocupados o resto do dia, em busca de provas e informações. Duvido que eles voltem cedo para casa hoje. — Vocês acham que Matteo ainda está por trás disso? — Sim — Enzo responde sem titubear. — Mas tenho certeza de que mais cedo ou mais tarde conseguiremos pegar o filho da puta. — Eu não lembro muito sobre a noite de ontem, mas lembro que os seguranças que estavam comigo desapareceram. O que aconteceu com eles? Enzo solta um pesado suspiro. — Eles foram encontrados jogados em um beco atrás da boate. Foram assassinados. Saberemos mais informações quando terminarem de analisar os vídeos de segurança, mas parece que foram assassinados com algum tipo de veneno que foi injetado neles. Os corpos ainda estão em autópsia. Nossa, é muita coisa para processar! — Eu não deveria estar falando todas essas coisas para você. Você deveria estar descansando — Enzo fala enquanto se levanta e retira a bandeja vazia de cima do meu colo. — Tudo bem, Enzo, eu precisava saber. Obrigada por me trazer o café da manhã.

— Disponha, cunhadinha. Não se preocupe, o Luc vai resolver tudo — ele fala com determinação. Eu gostaria de ter tanta certeza quanto ele.

Decido dormir um pouco mais depois da saída de Enzo, e, quando acordo, já me sinto melhor, a dor de cabeça já passou, assim como a sensação de fraqueza. Mas ainda sinto o meu maxilar um pouco sensível. Resolvo que não devo mais procrastinar, já fiquei tempo suficiente na cama, então me levanto e sigo em direção ao banheiro. Paro em frente ao espelho para observar o meu estado. Estou usando uma camisola de seda na cor marfim, com corte simples. Acho que foi Luc quem a colocou em mim. O meu cabelo é uma massa emaranhada. Eu me aproximo do espelho para observar melhor o meu maxilar. Ele está um pouco avermelhado, mas não está inchado. Acho que em pouco tempo ele voltará ao normal. De resto, eu não observo mais nada fora do comum. Acho que tenho que me dar por satisfeita pelos danos não terem sido maiores. Tiro a roupa e entro no chuveiro. Começo o meu banho enquanto me ponho a refletir sobre os eventos. A vida com Luc tem mais emoções do que uma montanha-russa, nunca se sabe o que virá na próxima esquina. A noite passada está muito nebulosa para mim. A única coisa que eu

realmente sei é que quase fui sequestrada, e isso somente pelo fato de ser uma Costatini agora. Estremeço ao tentar imaginar o que poderia ter ocorrido caso eles conseguissem concretizar os seus planos. Em consequência do ataque de ontem, dois homens morreram ao tentar fazer a minha segurança, e outros dois morreram nas mãos de Luc, como retaliação. E só Deus sabe quantas pessoas Luc e Dante estão caçando, torturando e matando agora mesmo. Essa não é uma vida que eu quero para mim, isso me faz sentir culpa pelas vidas perdidas. Já pelo lado dos outros Costatinis, culpa é uma palavra que nem existe no dicionário. Será que essa reunião com a cúpula apresenta algum tipo de perigo para Luc? Será que ele pode ser destituído do posto caso a cúpula não se dê por satisfeita com as suas respostas? Eu nem sei se um capo pode ser destituído do cargo! Termino o meu banho e visto uma calça jeans confortável e uma blusa básica na cor verde. Coloco os meus cabelos em ordem e calço um tênis confortável. Observo o relógio e vejo que já é hora do almoço. Nossa, eu dormi quase toda a manhã! Essa droga acabou mesmo comigo. Sinto o meu estômago protestar de fome, então saio do quarto e me dirijo para a sala de refeições. — Olá, Elizabeth! Como a senhora está? Bianca está colocando a comida à mesa, que está com um cheiro divino. Acho que cheguei na hora exata! — Olá, Bianca. Eu já estou me sentindo melhor. Obrigada por ter enviado o meu café da manhã.

— Ah! Não foi nada! Fico feliz que esteja melhor. — Me diz que você fez canelone hoje, Bianca! — Enzo fala enquanto entra na sala, e sem demora se senta, começando a se servir. — Maravilha! Adoro quando você faz canelone! — fala, já com a boca cheia de comida. Ele parece um menino que não cresceu. Eu também me sento e me apresso a me servir, pois, pelo ritmo das garfadas de Enzo, a comida não vai durar muito tempo. — Eu sei, querido, é por isso que quando eu soube que você ia almoçar aqui hoje, preparei o seu prato favorito. — Bravíssimo, Bianca! Bianca sai da sala com um sorriso de satisfação. Eu começo a comer e constato que os canelones da Bianca são realmente divinos! — Alguma novidade sobre a reunião com a cúpula? — pergunto para Enzo entre uma garfada e outra. — Acabei de falar agora há pouco com o Luc pelo celular. — E então? — pergunto, ansiosa. — A maioria da cúpula é favorável a Luc, menos a família de Matteo, como era de se esperar. Mas ele conseguiu se sair bem, não se preocupe. — E caso se saísse mal, o que vocês fariam? Que tipo de repercussão isso poderia ter? Enzo limpa a boa e responde:

— Bem, nesse caso, eu suponho que não sairiam muitas pessoas vivas da reunião. Esse mundo do crime não para de me chocar. — E quanto ao resto, alguma informação? — Eu não pude falar muito com o Luc, ele estava ocupado. Acho que quando ele voltar, saberemos mais novidades. Então não me cabe outra alternativa senão esperar pelo retorno de Luc. Fico ansiosa para saber se eles encontrarão provas contra Matteo. E se essa onda de violência finalmente terá um fim.

Mudança de Planos A noite está linda! Mas um pouco fresca demais para ser considerável confortável estar aqui fora, mesmo assim, eu não resisti à paisagem. Já faz alguns minutos que estou aqui na sacada da minha sala de estudo. Depois do jantar com Enzo, que não teve mais nenhuma novidade para me contar e aproveitou o tempo apenas para continuar fazendo chacota da minha cara, mais uma vez eu me refugiei na minha música. Estudei por algumas horas e agora estou dando uma pausa enquanto aprecio a paisagem. Luc não voltou para casa até agora, como Enzo previu. Os irmãos estiveram muito ocupados hoje. Mais uma vez, volto a pensar sobre o encontro marcado com Luigi. O único motivo pelo qual eu ainda cogito me arriscar a encontrá-lo é a possibilidade de realmente existirem pessoas que, segundo o que disse Luigi, dependem da minha ajuda. Mas para saber se elas realmente existem, eu terei que me arriscar a encontrá-lo pessoalmente, para saber quais informações ele tem, e então, a partir daí, decidir se eu devo ou posso ajudá-lo ou não. Eu não posso avisar Luc sobre as minhas intenções de me encontrar com um policial, pois, apesar de eu poder tomar a decisão de arriscar a minha vida, eu não posso aguentar a responsabilidade de arriscar a vida de Luigi como consequência de minhas ações. Eu não tenho ideia do que Luc faria com ele. Levo um susto quando, de repente, um paletó cai sobre os meus ombros, seguidos de braços que me abraçam por trás, trazendo-me o calor que eu precisava.

Eu estava tão absorta em meus pensamentos que não percebi a entrada de Luc na minha sala. Sinto o meu coração acelerado. Eu me assustei com a sua repentina presença, como se fosse possível ele ter escutado os meus pensamentos anteriores. — Boa noite, senhora Costatini. Como a senhora anda se sentindo? — Luc pergunta enquanto apoia o queixo no topo da minha cabeça. Giro o corpo e ergo a cabeça para encará-lo, mesmo assim, ele ainda me mantém abraçada. Luc tem uma aparência cansada, o dia deve ter sido longo e exaustivo para ele. — Eu estou melhor. E você? Como estão as coisas? Luc solta um longo suspiro. — Enzo me disse que já te antecipou algumas informações sobre os últimos eventos, não é? — Sim. — E o quanto você lembra sobre ontem? — Eu lembro somente até o momento em que seus irmãos chegaram à boate. — Muito bem, então... Vou te atualizar sobre algumas informações que o Enzo não tinha no momento. Luc toma uma longa respiração. — Bem, ontem eu fui chamado por Antônio, o dono da boate, que disse ter uma emergência financeira sobre os negócios e pediu que eu fosse

encontrá-lo pessoalmente. Essa parte você já sabe, já que nós fomos juntos. Mas chegando lá, eu achei tudo muito estranho... Antônio ficou muito tempo me enrolando e não me apresentou nenhum dado concreto sobre as suas preocupações. Percebi que ele começou a ficar muito nervoso com as minhas perguntas, e foi aí que eu o coloquei contra a parede, literal e figurativamente. Então, depois de usar nele um pouco das minhas técnicas de persuasão, o idiota finalmente disse que ele havia me atraído para uma armadilha e que você estava sendo sequestrada. O filho da puta tinha me emboscado! Luc me solta e começa a caminhar pela sacada, ele fica obviamente irritado ao relembrar a cena. — Eu o deixei desacordado antes de sair da sala. Não queria matá-lo antes de arrancar dele todas as informações que necessitava, mas eu não tinha tempo a perder com interrogatório naquele momento. — Luc sacode a cabeça em frustração. — Mas antes eu o tivesse matado! Luc passa a mão pelos cabelos em um gesto de exasperação. — Foi então que eu liguei para você e para os seguranças. Quando não obtive respostas, liguei imediatamente para os meus irmãos pedindo reforços, afinal, eu não sabia quantas pessoas envolvidas com essa emboscada estavam dentro da boate. Cheguei a pensar que eu tinha demorado demais para agir e que talvez fosse tarde demais... — Luc fala essa última parte com voz angustiada. Ele volta a caminhar pela sacada e se volta para a paisagem, deixando seus olhos vagarem por ela enquanto continua narrando toda a história: — Então, corri para a saída da parte de trás da boate. Eu sabia que seria por lá que eles iriam tentar te tirar, já que ela dá para um pequeno beco

escuro; seria uma saída conveniente para eles. E o meu palpite estava certo, eu te encontrei do lado de fora com aquele verme. Quando te vi e notei que ele havia te batido... — Luc me olha, e vejo novamente a fúria em seus olhos que eu havia notado naquele momento. — Enfim... eu quase matei aquele sujeito de merda lá mesmo! Mas essa parte você já sabe. Foi por muito pouco, Elizabeth! Mais um minuto e eu não teria te encontrado. — Mas por que eu? Por que eles não vêm atrás de você ou dos seus irmãos? Não que eu queira isso, mas eu queria entender o que eu tenho de tão importante. — Eu não sei exatamente, Elizabeth. Mas tenho algumas teorias... Uma delas é que eu e meus irmãos fomos criados para a violência. Se alguém nos capturasse, o que daria muito trabalho fazer, devo dizer, não conseguiria arrancar nenhuma informação de nós. Tenho certeza de que qualquer um de nós morreria antes de deixar que qualquer informação escapasse. — Mas eu não teria nenhuma informação útil sobre vocês ou sobre a máfia para passar, Luc! — Eu sei, Elizabeth, mas como já te avisei antes, se eles não encontrassem nenhuma informação útil com você, então eles te usariam para tentar me chantagear. Será que é isso? Eu não tenho todo esse poder sobre Luc. Esses bandidos ficariam surpresos ao descobrirem o quão pouco significante para ele eu sou. Ele não se casou comigo por escolha, foi apenas um acordo de negócios entre os nossos pais. Ele se preocupa comigo apenas como uma futura reprodutora. Luc continua com o olhar perdido na paisagem.

— Tirar o cargo de um capo e substituí-lo é mais difícil do que se pensa, Elizabeth. Não basta matá-lo, deve-se saber todos os dados que ele tem. Todos os contatos e informações importantes para dar prosseguimento aos negócios. Então, Matteo deve achar que te ter seria uma maneira mais eficaz de obter essas informações, já que até a minha tortura e morte não seriam capazes disso. Luc para a sua caminhada e se volta para mim. — Bem, depois eu te trouxe para casa. Essa foi a parte divertida do dia. Pode-se dizer que eu fui molestado sexualmente por você, senhora Costatini! Talvez eu preste queixa à polícia — diz Luc, com um sorriso divertido nos lábios. Olho novamente para o céu. Quantas vezes vou ter que pedir pela vinda do meteoro para que destrua logo esse planeta? Que vergonha! — Você falou e fez coisas muito interessantes ontem, Elizabeth. Foi uma descoberta ver a minha esposa com a personalidade totalmente alterada. Você tem uma natureza muito introvertida, tímida e contida, mas ontem você estava muito falante, atrevida e desinibida. Uma coisa realmente muito interessante de se presenciar. — O que eu falei ontem, enquanto estava drogada? — Ah, senhora Costatini... Eu levarei esse segredo para o túmulo! — Luc olha para mim e pisca um olho, em um gesto provocativo. Isso me faz lembrar de um assunto que eu preciso saber... — Luc, o Enzo me disse... — Ai, meu Deus, como eu vou perguntar isso? Esses assuntos me deixam mortificada.

— O que disse Enzo, Elizabeth? — Luc me incentiva a terminar a frase. — Ele disse que eu subi em cima da mesa de jantar e fiz uma espécie de strip-tease... Luc solta uma gargalhada. — O Enzo estava apenas te provocando, Elizabeth. Você acha que eu te deixaria se expor assim? Eu já te disse que não tenho o hábito de compartilhar o que é meu. Bem, pelo menos algo positivo nessa possessividade toda. Fico um pouco mais aliviada de não ter passado essa vergonha. — Enquanto eu estive nesse estado alterado, nós... por acaso... — Não sei como eu devo completar mais essa frase. — Fizemos sexo? — Luc completa por mim. — Não sei qual ideia você faz de mim, Elizabeth... Bem, na verdade, eu acho que sei... Mas obviamente o seu julgamento sobre o meu caráter não é muito elevado. E eu não te culpo por isso, eu realmente já fiz coisas muito condenáveis, mas como eu já te disse antes, crimes sexuais são um limite para mim. Você não estava em condições ontem. Mas foi um tormento resistir aos seus encantos, acredite. Olhando-me assim, com esse olhar predatório, Luc me faz desconcentrar do assunto principal. É melhor voltarmos ao foco. — Prossiga com a história. O que mais aconteceu depois que eu cheguei aqui?

Uma sombra escura passa pelo olhar de Luc. — Enquanto eu estava com você, enviei uma equipe para capturar o Antônio na boate, mas, infelizmente, ele já havia fugido, então eles me trouxeram apenas o barman. Mais tarde, quando eu me juntei com Dante, usamos os nossos melhores métodos de tortura para arrancar informações dos dois desgraçados envolvidos com a sua tentativa de sequestro. Posso apenas imaginar em que esses “métodos” consistem. — Enzo me falou que as informações que vocês conseguiram não deram em nada. — Infelizmente, não. De qualquer forma, eu me dei o prazer de terminar com a raça daqueles dois. — Como você consegue falar de maneira tão trivial sobre o assassinato de alguém, Luc? — pergunto, exasperada. Ele dá de ombros. — Eu sempre fui assim, Elizabeth. Eu sequer sei o que é ser diferente disso. Para fazer as coisas que faço e ocupar o cargo que ocupo, eu não tenho outra opção que não seja ser frio. É assim que eu fui treinado e moldado por toda a vida. Que tipo de vida será que ele teve na infância? Luc nunca conversou comigo sobre esse assunto. A única coisa que eu sei é que eles cresceram sem mãe e que o pai não era grande coisa, para dizer o mínimo. — Acho que depois de tudo isso, eu consegui dormir apenas um par de horas. Mas até isso foi difícil, pois eu tinha uma gata ronronando e se

esfregando em mim na cama! — Mais uma vez, ele pisca um olho para mim, em divertimento. A humilhação não tem fim! — E, depois, eu acordei para ir à reunião da cúpula. — Enzo me disse que ocorreu tudo bem na reunião. — Sim... pode-se dizer que sim. Eu os controlei, por enquanto, mas eles não estão satisfeitos. Preciso encontrar as provas contra Matteo logo. — E você já tem algum plano para isso? Luc me olha com uma expressão estranha, e é a segunda vez que eu o vejo com essa expressão no rosto. A primeira vez foi quando ele estava se despedindo de mim nessa manhã. O que será que essa expressão quer dizer? — Sim, meus planos mudaram de rumo. E, agora, com esses novos planos, acho que talvez eu consiga o resultado satisfatório que preciso, mas eu não sei quanto isso vai me custar — Luc me responde, enigmático, ainda com o brilho estranho no olhar. — Você vai gastar muito dinheiro nesse novo plano? — Não. Nesse caso, a minha perda seria de caráter pessoal. O que será que isso significa? O que será esse brilho estranho em seu olhar? — Alguém vai se ferir ou se machucar? Quem seria essa pessoa? Luc solta um suspiro cansado.

— Eu ainda não sei se o plano vai funcionar, Elizabeth. Terei que fazer um movimento muito arriscado, e eu vou precisar de tempo para ver qual direção as coisas irão tomar. Na hora certa, você saberá. Luc estende a sua mão em minha direção. — Venha, vamos para o quarto, já está tarde e eu tive um dia muito atribulado, estou exausto.

Chegando ao quarto, Luc toma um banho rápido e vem para a cama, onde, pela primeira vez, pelo menos no meu estado consciente, não me procura para sexo. Isso mostra o quanto ele realmente está cansado, depois de mal ter dormido ontem e ter passado o dia em diferentes tipos de tensões. Luc apenas me abraça em posição de conchinha e, pela primeira vez desde que estamos juntos, dorme primeiro que eu, dando-me a oportunidade de refletir sobre a nossa conversa na sacada. O que será que significam os novos planos dele? Ele se referiu a “perdas pessoais”. Na vida dele, existem apenas duas pessoas importantes: Enzo e Dante. E eu não consigo ver a possibilidade de Luc colocar a vida de nenhum dos dois em perigo. Os irmãos são obviamente muito próximos. O único dano pessoal aceitável seria eu, a esposa dele. Luc não me pareceu disposto a me entregar ou me colocar intencionalmente em risco até agora, mas ele disse que “seus planos mudaram de rumo”. Então, será que com os atentados contra ele e o seu pessoal, e com a recente pressão da cúpula, Luc está cogitando a opção de me entregar para conseguir pegar os seus

inimigos? É claro! Como eu não pensei nisso antes?! Ele poderia fazer uma emboscada para os seus inimigos, oferecendo-me como isca. Será que essa seria a possível “perda pessoal”? Será que ele estaria disposto a arriscar a minha vida para finalmente poder colocar as mãos em Matteo? Será que ele seria capaz de fazer isso comigo? Esse pensamento faz meu coração se afundar e ficar pequenino dentro do meu peito. Ai, meu Deus! Em que tipo de vida eu me meti? Eu nem consigo confiar na pessoa com quem eu durmo. Será que estou literalmente dormindo com o inimigo?

— Venha, Elizabeth! Salte e pegue a minha mão! — Luc está gritando para mim, e de uma janela muito alta ele estende a sua mão para baixo, em minha direção. Agora eu consigo ver que o lugar em que me encontro está pegando fogo, vejo chamas altas por todos os lados, ávidas por me alcançar. Eu salto o mais alto que posso, mas não consigo alcançar sua mão. O desespero e a sensação de urgência me consomem. — Vamos, Elizabeth! Pegue a minha mão! — Luc insiste. — Eu não consigo! — respondo, em prantos, esforçando-me ao máximo por alcançá-lo. Através da janela, vejo Luc se levantar. — Bem... eu tentei... É uma pena, senhora Costatini — fala Luc, com toda a sua frieza, então me dá as costas como se nada estivesse acontecendo,

e sem mais nenhuma palavra, parte para longe de mim. Nesse momento, as chamas me alcançam e eu solto um grito agoniado. — NÃO!!!! — Acorde, Elizabeth! — Escuto a voz de Luc me chamar enquanto sinto um chacoalhão sobre os meus ombros. Abro os olhos e me dou conta de que era só um sonho. Eu me sento, sentindo a minha respiração ainda irregular por conta do sonho muito realista que acabo de experimentar. Luc acende a luminária ao lado da cama. — Está tudo bem, Elizabeth? — pergunta, preocupado. — Você estava muito agitada e gritando — diz enquanto afaga os meus braços e ombros, tentando me consolar. — Sim, foi apenas um pesadelo — respondo, tentando me recompor. — Você quer falar sobre isso? — Não. — Ok. Então... já vai passar. Você quer um copo d’água? — Não, apenas... fique aqui comigo, por favor. — Está bem, não irei a lugar algum. O Luc do meu sonho me abandonou à própria sorte, então tenho a urgência irracional de sentir o Luc verdadeiro perto de mim. Eu gostaria de

ter a certeza de dizer que Luc jamais seria capaz de me abandonar como fez no sonho. Luc se aproxima ainda mais de mim e me abraça, acariciando a minha cabeça e beijando os meus cabelos. Minha respiração vai se acalmando aos poucos e os meus batimentos cardíacos vão voltando ao normal. Em poucos minutos, sinto novas sensações tomarem conta de mim. Nossos corpos se atraem de maneira inexorável. Sinto a tão conhecida atração sexual atuar entre nós. Luc acaricia os meus ombros, pescoço, braços, e depois estende a sua exploração de maneira deliciosa para os meus seios. Quando me dou conta, ele já está tirando a minha camisola e calcinha, e eu aceito e correspondo. Porque simplesmente é assim! Meu corpo o quer, sempre o quis. Mesmo que a minha mente não confie nele, eu não consigo resistir à atração magnética que ele exerce sobre mim. Luc continua suas carícias ousadas, tirando de mim gemidos e suspiros de prazer. Ele lambe e beija cada centímetro da minha pele, parece sedento de mim. E eu me entrego completamente ao prazer. Luc veste o preservativo e me posiciona sentada em cima dele, penetrando-me nessa posição. — Hummm... — solto um gemido de intenso prazer. Estamos sentados um de frente para o outro, então passamos a nos movimentar em um frenesi de sensações. Quando estou prestes a alcançar o ápice, abro os olhos e o olho, e mais uma vez eu vejo aquele brilho estranho em seu olhar. Eu imediatamente travo ao me lembrar do Luc dos meus sonhos, que me abandonou com tanto desprezo e sem nenhum tipo de remorso.

Percebendo a minha hesitação, Luc coloca a sua mão entre nós e começa a estimular o meu clitóris em um ritmo frenético, fazendo-me novamente entrar em estado de intensa excitação. — Volte para mim, Elizabeth! Fique aqui comigo e não se contenha, volte! Deixe-me senti-la gozar no meu pau — Luc exige, sem me dar chance de escapatória. E com essas palavras lascivas, eu não consigo me conter e gozo de maneira poderosa. E não demora muito para Luc grunhir em voz grave no meu ouvido, soltando o seu próprio orgasmo. Desta vez, eu sinto que o nosso ato foi diferente. Desta vez, eu sinto que de alguma forma nós estávamos desconectados.

Infância Hoje acordei novamente sem a presença de Luc. Mesmo sendo fim de semana, acho que estará ocupado com os assuntos da máfia e com a caça de provas contra Matteo. Não é de admirar que Luc ande tão cansado, ele não para de trabalhar! Dorme tarde, levanta cedo, treina, trabalha o dia todo, não tem direito a descansar nos fins de semana... Até na lua de mel não tivemos o direito de uma pausa, por conta dos problemas que surgiram. Depois de fazer a minha rotina matinal, eu vim direto para o terraço, em busca do café da manhã. Este é o meu primeiro fim de semana depois de começar a trabalhar no escritório, mas a verdade é que já estou sentindo falta de trabalhar. Ficar o dia sozinha refletindo sobre o que poderiam significar os novos planos de Luc e me escondendo de outros possíveis atentados só me fazem ficar em estado de constante ansiedade. Desta vez, ao chegar ao terraço para tomar o café da manhã, encontro somente Dante sentado à mesa, que parece estar finalizando o seu café. — Bom dia — eu o cumprimento, estranhando o fato de ele estar aqui sozinho. Dante é o irmão que eu menos vejo na casa. — Buongiorno, Elizabeth. — Onde estão todos? Já saíram para trabalhar? Dante deposita a sua xícara de café vazia sobre a mesa. — Luc e Enzo foram continuar as investigações, à procura de provas

contra Matteo. Hoje deve sair o resultado da análise do vídeo da boate, e também da autópsia dos corpos dos seguranças, então eles vão estar ocupados. E eu estou responsável pela sua segurança hoje, estou supervisionando os homens que estão de guarda. — Eu já tinha avisado para o Luc que não quero dar trabalho para nenhum de vocês. — Trabalho é algo que estamos acostumados a fazer, Elizabeth. Só muda o lugar. Eu não tenho problema algum em ficar aqui, cuidar da segurança e te treinar. Eu quase me engasgo com o café que estou tomando. — Me treinar? — Sim. Luc pediu que eu fizesse um treinamento básico com você, de autodefesa, para você estar prevenida caso ocorram intercorrências como a do seu quase sequestro. Com a vida na máfia, todos nós temos que estar prevenidos. Eu não gosto da ideia de treinar autodefesa, não sou boa nesse tipo de coisa. Dante deve ter percebido a minha cara de desgosto, pois tenta me convencer: — É necessário, Elizabeth. Pense no quão perto você esteve de ter sido sequestrada. Imagine quais tipos de coisas eles poderiam ter feito com você. — Sinto calafrios só de pensar nas possibilidades. — Você tem que aprender a se defender, pelo menos minimamente.

Droga, o pior é que ele tem razão. Já que eu infelizmente estou nessa vida cheia de perigos e ameaças, tenho que saber como escapar de situações perigosas. Eu não posso ficar vulnerável e à mercê dos inimigos de Luc, e talvez ao próprio Luc. Ainda mais agora, com as suspeitas que eu tenho sobre os “novos planos” dele e das possíveis consequências que podem ter o meu encontro com Luigi. — Está bem, Dante, eu vou treinar com você. — Nós nos encontramos em meia hora na área de treino, então. — Combinado — confirmo, já saindo rumo ao meu quarto para me preparar.

Estou vestida com roupas esportivas. Tênis, short e uma camiseta. Estou intrigada e um pouco nervosa, esperando pelo que Dante tem preparado para mim. Observando o ambiente, vejo que esta área está equipada com vários tipos de equipamentos esportivos: pesos, cordas, máquinas para musculação, esteira e inúmeros objetos que eu sequer sei para que servem. Mas Dante não me dirige para nenhum desses equipamentos, em lugar disso, estamos em pé numa espécie de ringue de boxe. Dante também está vestido com roupas esportivas. Todos os irmãos são altos, mas Dante é o mais alto de todos, um ou dois centímetros a mais que Luc. E, assim como os outros irmãos, Dante também tem o corpo todo musculoso e trabalhado, o que é muito intimidante se você pensa em entrar

em algum tipo de aula de combate com eles. Espero que Dante pegue leve comigo. — Bem, Elizabeth, para começar, eu quero deixar claro que as lições que vou te ensinar hoje não vão te ajudar a lutar contra ninguém. Por enquanto, vou te ensinar apenas a defesa básica, ou seja, alguém se aproxima e te ataca, e você se defende e sai correndo. Não é para você ficar e tentar lutar, entendeu? As técnicas que vou te passar são apenas para te dar tempo para correr. Apenas isso. — Está bem. — Aprender somente isso já será de muito bom tamanho para mim. — A primeira coisa que eu quero que você fique muito atenta é que não existe jogo limpo. Dedo no olho, chute nos genitais, eletrocussão, água quente... Enfim, tudo o que você tiver à mão para se livrar de um ataque é válido, ok? — Ok. — Mas tem coisas que não vão te ajudar, como, por exemplo, mordida. O seu adversário vai ficar apenas puto com você, piorando a sua situação. A mesma coisa serve para puxada de cabelo, arranhões, enfim... Essas coisas não causam um dano sério, apenas irritam o seu agressor. Então, se você for fazer algo, o melhor é que seja um golpe debilitante por tempo suficiente que te permita fugir. Lembro que mordi o homem que tentou me sequestrar na boate, eu realmente o deixei furioso. Parece que eu estava usando a tática errada. Dante toma uns passos de distância de mim, para que eu possa observá-lo melhor.

— Antes de mais nada, você deve saber quais são os pontos de pressão do seu oponente, ou seja, os pontos mais fracos dele, assim fica mais simples derrubá-lo. — Dante gesticula apontando com as mãos os pontos em seu próprio corpo. — Nariz, olhos, garganta, plexo solar, virilha e joelho. Vou te ensinar algumas técnicas que comprometem essas partes do corpo. Ele passa a me dar vários exemplos práticos de golpes nesses lugares. Dante me mostra como executar e, em seguida, pede que eu execute nele tudo o que aprendi. Os golpes que seriam mais perigosos e dolorosos, eu executo em um boneco de teste. Dante me ensina basicamente a como dar golpes para escapar e a como fugir de diferentes tipos de ataques: ataque frontal, lateral, de costas, agarre de mão, de braço, enforcamentos, entre outros. Depois de horas de treino, eu já estou suada e cansada, mas parece que Dante ainda não está satisfeito com a aula. — Uma coisa muito importante, Elizabeth, é que o fato de você ser mulher e não ter sido criada em nosso meio pode ser usado a seu favor. Eles não a veem como uma ameaça. Se for necessário, use isso como um fator surpresa. Dante desce do ringue com agilidade e volta com alguns objetos nas mãos. — Agora uma parte muito importante, Elizabeth: você deve aprender a se soltar de braçadeiras plásticas. Elas são muito utilizadas para a imobilização de vítimas, mas se você souber como, pode se soltar delas. Ateme, vou te mostrar. Dante me entrega as braçadeiras e estende os pulsos para mim. Sob

suas instruções, eu os ato com as braçadeiras. — Existem várias técnicas para escapar das braçadeiras, eu vou te ensinar algumas mais rápidas, pois talvez você não tenha muito tempo para escapar. Para se soltar de uma braçadeira, você deve usar a força do seu próprio corpo. Coloque os seus cotovelos para trás, próximos ao seu tronco, e separe os braços o máximo que puder, impulsionando os seus pulsos contra o seu abdômen com força. Outra opção é afastar os braços ao máximo e bater na região onde está a braçadeira diretamente no joelho, como se estivesse quebrando uma régua ou um galho. Dante executa o movimento com perfeição, não parece difícil. Em seguida, ele coloca luvas de manga longa nas minhas mãos. — A braçadeira pode arranhar feio os seus pulsos, então é melhor protegê-los durante a nossa simulação. Mas saiba que se você tiver que lidar com a situação real, escapar das braçadeiras provavelmente será uma experiência dolorosa. — Entendi. Após colocar as luvas, Dante prende os meus pulsos bem apertados com as braçadeiras. Em seguida, eu tento imitar os mesmos gestos que ele tinha feito para escapar, porém, as coisas não são tão fáceis quanto pareciam. Mas depois de algumas tentativas, eu consigo realizar a tarefa com sucesso. — Muito bem, Elizabeth! Você se saiu muito bem hoje. — Obrigada, Dante! — agradeço, satisfeita. — Você é um bom professor. Como foi que você aprendeu a lutar? Dante fica muito tempo sem responder, concentrado apenas em

guardar os equipamentos que estávamos usando. Será que ele escutou o que eu disse? Será que perguntei algo que não deveria? Eu já estou desistindo de obter uma resposta, quando ele finalmente resolve me responder: — O nosso pai nos obrigou desde muito cedo a aprender diferentes tipos de artes marciais. Tínhamos uma rotina muito rígida de treinos, e quando não alcançávamos os seus elevados padrões, ele nos castigava. E ele era muito criativo em seus castigos, devo dizer. Novamente Dante se mantém em silêncio por um tempo, parece perdido em suas próprias memórias. Deve ser doloroso falar sobre o seu passado. — Os castigos incluíam nos manter com fome, nos espancar, sessões de afogamentos, de eletrocussão, nos prender em celas por longos períodos, entre outras técnicas de tortura que a mente distorcida dele considerasse adequado. — Dante solta um sorriso sem humor. — O desgraçado dizia que estava nos ajudando a nos tornar homens de verdade. Ele termina de guardar os equipamentos e desce do ringue, oferecendo-me a mão para me ajudar a descer. Eu a aceito e desço. — Desde cedo, ele nos obrigou a presenciar as cenas cruéis de violência que ocorria dentro da máfia, em todos os seus matizes. Ele queria nos dessensibilizar, e conseguiu. Dante pega duas garrafas d’água de uma geladeira que fica próxima ao ringue e me passa uma. Começo a beber água, sedenta por causa do treino

extenuante. — Às vezes, quando eu estava preso e com fome, Luc conseguia roubar um pouco de comida para mim, e fazia a mesma coisa para Enzo. Quando estávamos encrencados, um fazia companhia para o outro, na medida do possível. Luc também nos fazia companhia quando tínhamos pesadelos à noite, devido às cenas de horror que vivenciávamos durante o dia. Mas Luc é o mais velho, ele tem cinco anos a mais que eu, e oito anos a mais que Enzo, então eu e Enzo tivemos sua companhia para ajudar a passar pelo inferno que foi a nossa infância. Mas eu fico imaginando: quem fazia companhia para ele quando nós éramos muito pequenos para isso? Luc, por ser o primogênito e futuro capo, teve que passar sozinho pelos piores treinamentos. Esse tipo de inferno é algo que eu nem consigo conceber. Que tipo de efeito esse tratamento teve sobre eles? Principalmente sobre Luc? — A nossa mãe morreu um pouco depois do nascimento de Enzo. Foi suicídio. Eu tenho poucas lembranças dela, e Enzo não tem nenhuma lembrança, já que ele era apenas um bebê recém-nascido. Luc foi o que mais conviveu com ela, mas as lembranças que ele tem dela também não são boas. Pelo que ele relata, achamos que ela sofria de depressão. Fico aturdida por suas revelações. — Nossa, Dante, que triste! Lamento muito por tudo isso. Por que será que ela nunca tomou nenhuma atitude a respeito dos maus-tratos que vocês sofriam? Por que será que ela nunca protegeu vocês? Dante solta um suspiro. — Não existem divórcios na máfia, Elizabeth, espero que Dante tenha lhe dito isso. As esposas sabem demais sobre o funcionamento e a rotina da

máfia, então não é permitido que elas fiquem soltas por aí, já que essas informações poderiam ser facilmente usadas contra nós. Se as coisas não vão bem em um casamento no nosso mundo, é normal o casal viver apenas de fachada, ou então as esposas “desaparecem” misteriosamente. Eu acho que o casamento dos meus pais se tratava apenas de aparências. Ela vivia aqui, mas não era participativa. Ela estava em constante estado depressivo e não tinha forças para intervir. De qualquer forma, o meu pai não permitiria que ela intervisse, mesmo que ela quisesse. Do jeito que ele era, provavelmente a castigaria também, caso ela se metesse em seus assuntos. Seguimos nossa caminhada pelos corredores, em direção às nossas respectivas alas na mansão. — Luc foi inteligente, foi o perfeito filho obediente que se saía bem em todas as tarefas. Já nós, nem tanto... O nosso pai acreditou até o último minuto de vida que Luc seria a sua imagem perfeita na continuação dos negócios da máfia, ele acreditou que tinha feito uma réplica de si mesmo, para continuar os negócios da família quando não estivesse mais aqui. Então, após a sua morte, Luc mudou tudo o que pôde, ele retirou os consiglieres anteriores, que auxiliavam meu pai e que eram fiéis a ele, e substituiu-os por nós, seus irmãos. Dante toma um pouco mais de água, fazendo uma pequena pausa na conversa. — A reestruturação foi grande e tivemos muitos entraves no caminho, mas, depois de algumas batalhas, conseguimos impor a nossa vontade. Espero que o desgraçado do nosso pai esteja assistindo, ardendo e esperneando lá no fundo dos infernos, ao seu filho contrariando todas as suas ordens e modificando todo o seu império. Mas o importante é que

conseguimos colocar todas as coisas nos eixos. Até agora... — O que você quer dizer com “até agora”, Dante? — Matteo Barbieri é uma ameaça para nós, Elizabeth. Temos que conseguir derrotá-lo logo, antes que uma guerra mais aberta seja necessária, aí não saberemos quais serão os resultados.

Estamos todos sentados à mesa. Acho que hoje os irmãos conseguiram resolver mais rapidamente o que quer que seja que eles estavam resolvendo, permitindo que viessem para casa para o jantar. Depois do rompante de revelações de Dante esta manhã, ele voltou ao seu modo normal: quieto e calado. Tive muito tempo para pensar sobre o que ele me disse. A vida deles, apesar de ser rodeada de riquezas, careceu do que mais importava: afeto. Eles não tiveram sequer o afeto mais básico, que é os dos pais. Mas pelo menos eles tiveram uns aos outros para lidar com os problemas. Porém, como Dante disse, o mais afetado foi Luc, que, por ser o filho mais velho, teve que lidar com as agressões físicas e psicológicas por muito tempo sozinho, aguentando todas as responsabilidades de ser o futuro capo. Fico pensando se, depois de passar por todas essas provas, ele é capaz de amar alguém além dos irmãos. Luc nunca me falou nada sobre amor, no máximo ele se refere a mim como uma espécie de posse, e eu acho que não poderei esperar nada a mais dele do que isso. Na verdade, eu não sei se ele é capaz de dar mais. O que eu estou pensando? É claro que eu não devo esperar nada dele! Não quero ter

ilusões, é melhor eu manter o meu coração longe desse casamento, caso contrário, as probabilidades de que eu me machuque feio são enormes. Outra coisa que Luc nunca me falou foi sobre os motivos pelos quais não há divórcio dentro da máfia. As informações que Dante me deu me deixa ainda mais nervosa a respeito dos planos de Luc. E se em algum momento ele decidir que o nosso casamento não funciona para ele, o que ele seria capaz de fazer comigo? Eu o conheço há muito pouco tempo para saber a resposta. Droga! Nunca senti tanta instabilidade em minha vida! Os irmãos estão conversando enquanto comem, é melhor eu parar os meus conflitos internos e prestar atenção na conversa. — ...os resultados saíram hoje. A autópsia confirmou que os seguranças foram mortos por envenenamento. Eles provavelmente morreram antes de sequer perceberem o que estava acontecendo. Enzo fala entre as garfadas, obviamente o tema “assassinato” à mesa não tira o seu apetite, ao contrário de mim, que já não consigo mais comer. — Mas, como era esperado, os legistas não conseguiram encontrar nenhuma evidência que indicasse quem os executou — completa. — E sobre a análise dos vídeos, já temos algum resultado? — Dante pergunta, servindo mais comida em seu prato. Parece que falar sobre cadáveres na hora da refeição não abala o apetite de ninguém aqui, a não ser o meu. — Sim — Luc responde. — Além de Antônio, do barman e do pretenso sequestrador, vimos pelas imagens de vídeo apenas mais um envolvido. Mas não sabemos de quem se trata. Os vídeos não tinham áudio, e

mesmo que tivessem, a música forte não permitiria entender nada, então não sabemos quais foram os pretextos usados. Mas o fato é que vimos que o sequestrador e o homem não identificado atraíram os seguranças para uma briga do lado de fora, e os idiotas caíram na armadilha direitinho, foi aí que ambos foram envenenados por meio de uma seringa. — Eu me pergunto por que eles não os mataram a tiros. Colocar um silenciador na pistola seria o suficiente para não atrair atenção indesejada — Enzo diz, utilizando da lógica macabra deles. Mas em lugar de Luc, é Dante quem responde, atraindo a atenção de todos: — Não é a primeira vez que vemos esse método. Eu tomei a liberdade de mandar a cabeça de Giovani para a autópsia, antes de devolvê-lo à sua família. E o resultado indicava que a decapitação ocorreu após a sua morte, a causa original da morte foi envenenamento. Então só podemos chegar à conclusão de que essa seja a assinatura da equipe de Matteo. Essa deve ser a sua forma de agir. — Eles gostam de fazer a vítima sofrer enquanto morrem. Nesse sentido, a bala seria mais misericordiosa — Luc conclui. — E, então, qual será o próximo passo? — Enzo pergunta, finalizando a sua refeição. — Eu tenho um novo plano. Estou esperando algumas respostas primeiro. Mas assim que eu souber em que rumo as coisas irão, vocês serão avisados — Luc fala, mantendo o suspense sobre o assunto. De novo esse plano secreto? Por que será que sequer seus irmãos podem ficar sabendo? As minhas suspeitas só aumentam.

Espionagem Estou uma pilha de nervos! O nervosismo e a ansiedade são as minhas principais companhias nesses últimos dias. Até onde eu sei, Luc e seus irmãos continuam a campanha em busca de provas contra Matteo, mas, apesar de seus esforços, eles ainda não conseguiram nada concreto. Desde o fatídico dia do meu quase sequestro, Luc tem andado ainda mais ocupado que o normal, mal o vejo durante o dia no escritório. À noite, entretanto, não há como escapar da potente atração que nos une. Nossos corpos se atraem como imã, estou sempre desejosa dele. Eu sempre me espanto com o fato de a cada dia o necessitar mais, com maior ânsia e desespero. As suspeitas estão sempre presentes em nossa relação, mas também estão presentes o desejo, a luxúria e a paixão. O amor já é outro assunto, é algo que eu sequer me permito pensar. Às vezes, na cama, quando Luc me olha com tanta intensidade e toca o meu corpo com tanta veneração e adoração, eu quase acredito que realmente estamos fazendo amor, e chego a me sentir emocionada com o seu toque devotado. Outras vezes, nos atracamos com tanta selvageria que parecemos animais, eu nem sei como no dia seguinte não amanheço cheia de arranhões e hematomas. Luc nunca mais mencionou os seus planos misteriosos, mas existem algumas raras ocasiões em que ainda vejo aquela expressão estranha em seu rosto, e nesses momentos me sinto transportada para o meu sonho, onde tão friamente sou abandonada à própria sorte por ele, e então sinto medo de seus

planos. Às vezes, eu me pergunto se não estou vendo coisas, mas não sei... Eu tenho um sexto sentido que me diz que há algo estranho aí. Agora estou trabalhando no escritório, esperando pela hora de me encontrar com Luigi. A certeza de que devo me encontrar com ele foi se calcificando dentro de mim nos últimos dias. Eu devo pelo menos tentar saber sobre o que se trata esse pedido de encontro, e, a partir daí, com posse das informações, decidir de maneira lógica o que devo fazer. O problema está na execução do meu plano; na verdade, até agora eu ainda não tenho um plano concreto. Eu não sei exatamente o que fazer, mas a hora do almoço está se aproximando, então eu preciso agir logo. Desde o meu quase sequestro, a minha segurança anda reforçada, então não será fácil despistá-la. Por sorte, Luc está mais uma vez em um almoço de negócios. Ele não deverá voltar até bem mais tarde. Respiro fundo para tomar coragem. Está na hora de agir. — Andréia, ainda faltam alguns minutos para o meio-dia, mas a verdade é que eu já estou faminta. Eu gostaria de sair um pouco do escritório, então estava pensando em almoçar no refeitório dos funcionários hoje. Vamos? De vez em quando, Andréia e eu almoçamos no refeitório dos funcionários, então ninguém estranhará a minha ida até lá. O refeitório fica no primeiro andar, e o meu encontro com o Luigi será no estacionamento no subsolo, então será mais fácil escapar por lá do que se pedirmos comida aqui. Depois, eu vou pensar em uma forma de despistar Andréia e os seguranças. — Ah, Elizabeth, eu ainda tenho esse relatório para finalizar... Por que você não vai na frente? Em uns vinte minutos, mais ou menos, eu já devo

ter finalizado aqui e poderei descer para te acompanhar. Eu mal posso acreditar no meu golpe de sorte. Tenho ao redor de vinte minutos para escapar dos seguranças e resolver os meus assuntos com Luigi. Mas pelo menos já são dois problemas resolvidos: Luc e Andréia. Agora tenho que descobrir como lidar com os problemas restantes. Pego as minhas coisas e me despeço de Andréia, mas assim que coloco o pé para fora do escritório, os seguranças imediatamente me seguem, entrando no elevador junto comigo. Merda! Como eu vou fazer agora? Vejo os números passando de forma decrescente no painel do elevador, até que chegamos ao primeiro andar. Saio acompanhada pelos seguranças em direção ao refeitório. Escolho uma mesa disposta perto do banheiro, e os seguranças se sentam duas mesas depois da minha. Eu me dirijo ao buffet e me sirvo, com mãos trêmulas, de qualquer coisa que esteja à minha frente, sequer consigo me concentrar o suficiente para saber o que estou colocando no meu prato. Ao chegar ao caixa, eu pago a comida e sigo em direção à mesa. Droga! Estou perdendo tempo aqui! Tenho que descobrir como fugir desses guardas, daqui a pouco a Andréia chegará e eu terei ainda mais dificuldades em escapar. Então, de repente uma ideia surge em minha cabeça. É isso! É minha única opção! Olho em meu relógio e vejo que já se passaram dez minutos desde que saí do escritório, não tenho mais tempo a perder. Vou em direção ao banheiro feminino do refeitório, os seguranças me observam atentos, mas não me seguem, afinal, para tudo há limites, perseguição até dentro do banheiro é algo que eu não permito. Eu tranco a

porta rogando a Deus que ninguém queira entrar aqui enquanto estou com esses planos à la James Bond. Por sorte estou de calça hoje, pois parece que eu vou precisar. Ponho os meus planos em ação. O banheiro tem uma pequena janela em cima do balcão de mármore da pia. Essa parte é fácil. Tudo está acessível, mas eu não sei o que me espera do outro lado. Passo a minha cabeça pela janela e vejo a rua deserta do lado de fora do edifício. Quando olho para baixo, vejo um contêiner de lixo logo abaixo da janela. Beleza! Parece que o Universo está conspirando a meu favor! Eu jogo primeiro os meus sapatos para a rua, e depois, desajeitadamente, passo o meu corpo pela janela, coloco os pés em cima da tampa do contêiner, que ainda bem que está fechado, e desço. Calço os meus sapatos rapidamente e saio correndo em direção à entrada do edifício. Uso a escada de emergência em lugar do elevador, já que eu não tenho tempo a perder, e desço o mais rápido que posso em direção ao estacionamento do subsolo. Assim que chego ao estacionamento, paro e olho para todos os lados, procurando por Luigi, mas não vejo ninguém, apenas carros estacionados. Eu ainda estou ofegante pela corrida desenfreada até aqui. Será que todo esse esforço foi em vão? — Senhora Costatini? — Ahh! — solto um pequeno grito de susto ao escutar uma voz atrás de mim. Quando eu me viro, observo um homem de altura mediana vestido de preto. Ele está usando boné e óculos escuros, impedindo que eu tenha uma

clara descrição dele. — Perdoe-me assustá-la, não era essa a minha intenção. Eu sou o Luigi Bruno, delegado responsável pelo departamento antidrogas da polícia nacional da Itália — Luigi fala enquanto retira o boné e os óculos, noto então que ele aparenta ser um homem ao redor dos quarenta anos, e tem cabelos e olhos castanhos. — Tudo bem — falo enquanto tento manter o meu coração no lugar, pois ele está querendo sair pela minha boca. — Seja o que for que você tiver para me falar, você tem apenas cinco minutos, eu tenho que voltar logo. — Ok, então deixe-me lhe entregar isso logo. Fico tensa quando o vejo tirar uma mochila das costas e abri-la, procurando por alguma coisa dentro dela. E se esse homem está procurando uma arma? Será que eu vim parar em uma emboscada? Por sorte, ele tira um pen drive e o entrega para mim. — Nesse pen drive estão todas as informações que a polícia da Itália tem sobre o seu marido. Eu traduzi tudo para o inglês, para que a senhora possa entender melhor. Eu guardo o pen drive no bolso da minha calça. — O que você quer de mim, delegado Luigi? Por favor, seja direto. — Muito bem... Já faz muito tempo que eu estou atrás da máfia italiana: a Cosa Nostra. Luciano é o homem mais blindado e astuto que eu já vi. É impossível pegá-lo! Ele está relacionado com todos os crimes que alguém pode cometer, desde os de caráter financeiro até os civis criminais:

assassinatos, sequestros, tortura, tráfico de influência, falsidade ideológica, tráfico de drogas, fraude, extorsão... Enfim, a lista é tão vasta que não dá nem para enumerá-la. Mas eu preciso de provas contra ele, Elizabeth, a polícia não tem conseguido nada de concreto. — Não, eu não posso! Eu não sei de nada, eu não quero me meter nisso — recuso imediatamente. — Ouça-me, eu entendo que a sua posição é difícil, mas você tem noção da quantidade de gente que morre todos os dias por causa das drogas que o seu marido traz para este país? Quantas famílias são destruídas por conta do vício? Isso falando somente da Itália, sabe-se lá quantos negócios imundos ele tem pelo mundo! Ele mata as suas vítimas tanto de overdose quanto de morte violenta causada na guerra do tráfico. O seu marido tem muito sangue inocente nas mãos. É necessário dar um basta nisso! É necessário fazer alguma coisa para pará-lo! A senhora pode ajudar a salvar as próximas vítimas dele. — Luigi, sinto muito, mas eu não posso te ajudar... — Espere, senhora Costatini, não me dê uma resposta agora, ok? Apenas olhe o arquivo que eu lhe dei e pense sobre o assunto. Eu estarei presente no baile beneficente que o seu marido está organizando. Será um baile de máscaras, e eu darei um jeito de entrar disfarçado. Eu sequer sabia que Luc estava organizando um baile de máscaras. De qualquer forma, já me sinto aterrorizada só de pensar em tentar esses planos de espionagem e planejamentos de fuga. — O quê? Nós nos encontrarmos novamente? Você tem ideia do que eu tive que fazer para me encontrar com você agora?

Luigi levanta as mãos em um gesto de rendição e continua como se eu não tivesse dito nada. — Eu precisarei que a senhora encontre e pegue uma coisa para mim, um arquivo que ele tem, que deve estar dentro do seu computador pessoal. Esse arquivo contém todos os dados a respeito dos seus negócios ilegais: detalhes sobre as cargas de droga, de armas de contrabando, os horários de chegada e saída de cada uma delas no país, os valores, entre outros detalhes financeiros, tanto dos negócios legais quando dos ilegais. Preciso também que a senhora encontre um caderno que ele tem há gerações na sua família, que detalha todos os nomes e contatos completos de todos os envolvidos com a máfia. — Mas, Luigi... — Espere! Eu estarei na festa que ocorrerá daqui a cinco dias. Caso você puder e quiser me entregar essas provas, a polícia da Itália ficará muito grata. E eu poderei colocá-la em um programa de proteção a testemunhas, se a senhora quiser. A senhora ficará protegida, mas, caso não queira, eu entenderei. Vou desaparecer da sua vida sem nenhum problema, está bem? Mas eu quero te tranquilizar, senhora Costatini, sei que os casamentos dentro da máfia costumam ser arranjados, no entanto, caso a senhora tenha algum sentimento por ele... Mesmo que o peguemos, ele provavelmente nunca entrará dentro de uma cela de prisão, ele tem dinheiro, influência e poder para evitar que isso aconteça. Acho que esse fato deve lhe consolar. De qualquer forma, algo deve ser feito em nome de suas vítimas. Eu não posso simplesmente assistir a tudo parado. Luigi coloca o boné preto sobre a cabeça. — A senhora decide o que fazer, é necessário tomar um lado, e espero

que a senhora fique ao lado do bem e da justiça. E então Luigi parte, sem esperar por uma resposta, deixando-me novamente sozinha no estacionamento. Sem esperar mais nem um segundo, corro desesperada, fazendo o caminho inverso. Quando finalmente chego ao banheiro, escuto batidas na porta, que eu havia trancado antes de sair. Quando a abro, dou de cara com os dois seguranças, que me encaram com cara impaciente. — A senhora demorou muito aí dentro. Nós estávamos preocupados. — Mas não se pode nem usar o banheiro em paz?! Vocês não acham que já estão exagerando, não? Agora me deem licença! Os dois se entreolham como se não soubessem como reagir. Eu fecho a porta na cara deles e respiro fundo em alívio, espero que eles tenham engolido essa. Lavo o meu rosto na pia do banheiro e tento me acalmar. Caramba! Que aventura! Pelo menos eu tenho certeza de que eu não sirvo para a vida de agente secreto, eu teria infartado na primeira missão. Depois de estar recomposta, eu saio do banheiro, e quando estou retornando para a mesa, vejo Andréia entrando no refeitório. Ao me ver, ela abre um largo sorriso e se aproxima. — Desculpe-me pelo atraso, querida, o relatório me tomou mais tempo do que o esperado. Ainda bem que sim! — Tudo bem, Andréia, sem problemas — respondo, com um sorriso

cordial no rosto. Ufa! Consegui, penso, aliviada.

A tarde no escritório é muito corrida, com muito trabalho, o que é comum. Andréia não se ausentou do escritório, então ainda não tive tempo nem oportunidade de abrir o pen drive que Luigi me deu. Finalmente no fim da tarde, Andréia sai para buscar mais insumos para o escritório, e Luc ainda não retornou desde a sua saída no horário do almoço. Rapidamente, eu pego o pen drive, que parece estar pesando uma tonelada dentro do meu bolso, já que eu não consigo parar de pensar nele, e o insiro no meu computador de trabalho. Passo o antivírus antes de abrir o dispositivo, com medo de conter algum tipo de armadilha para mim (se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida na máfia, é a desconfiar de tudo!). O dispositivo está limpo, então eu o abro. Vejo apenas uma pasta, com uma série de arquivos. Não sei qual eu deveria abrir primeiro, então clico em qualquer um aleatoriamente. Nele tem uma foto de Luc mais jovem, ele deveria ter ao redor de vinte anos de idade. A foto foi tirada na rua, ele parece alheio ao seu fotógrafo. Observo que Luc já era lindo nessa idade, mas agora parece que a idade lhe deu uma aura predatória, que exala poder. Devo dizer que a idade lhe fez bem. Embaixo da foto, tem uma espécie de relatório: Nome: Luciano Costatini.

Sexo: Masculino. Idade: Vinte e dois anos. Suspeito de ser o novo capo da Cosa Nostra, assumindo o cargo de seu pai, Ettore Costatini. Então é esse o nome do pai dele? Normalmente eles se referem ao pai apenas como “velho desgraçado” ou “velho filho da puta”, por isso eu nunca soube seu nome. Até agora. Não existem provas suficientes, mas suspeitamos de que Luc Costatini esteja mudando a estrutura deixada por seu pai. Foram encontrados vários corpos carbonizados na cidade da Sicília, sede da máfia, que, após análise de DNA, descobriu-se que eram de pessoas que, segundo se suspeita, estavam relacionadas à administração da máfia na época em que seu genitor era o capo. Dante não estava brincando quando disse que Luc mudou as coisas após a morte de seu pai. Parece que os métodos de mudança de Luc são de caráter permanente. Continuo passando pelos arquivos, vejo um documento que se chama “vítimas” e clico para abri-lo. Fico aturdida com as imagens que aparecem na tela. Há uma quantidade espantosa de fotos de pessoas: homens, mulheres, velhos, e até crianças mortas. E por vários métodos diferentes: a tiros, queimadas, enforcadas, afogadas, decapitadas... O arquivo mostra os nomes, idade, nacionalidade e filiação das vítimas.

Não foram encontradas evidências suficientes, mas temos indícios de que essas pessoas foram vítimas diretas ou indiretas de Luciano Costatini e da máfia Cosa Nostra. Os relatórios das autópsias apontaram que muitas das vítimas sofreram tortura antes de serem assassinadas. As imagens são cruéis, brutais e selvagens. Como será que ele consegue dormir à noite depois de ter sido responsável por tudo isso? O que será que ele é, o diabo? — Você está bem, Elizabeth? Parece um pouco pálida. Olho assustada para a porta do escritório, e, parado logo na entrada, está o diabo em pessoa me observando: Luc Costatini. Fui pega desprevenida pela sua chegada. Com movimentos discretos e sutis, eu fecho a pasta que estava aberta no computador e guardo o pen drive novamente no meu bolso. — Não é nada, estou bem, eu estava apenas olhando as notícias na internet. Eu sempre fico chocada quando vejo as notícias policiais. Luc dá alguns passos para dentro da sala, olhando-me intensamente. Ele está com as mãos nos bolsos; lindo, elegante e irresistível, como sempre. — Se você se sente mal com essas notícias, então não as veja, não entre naquilo que você não pode lidar. Não sei se foi por causa do dia tenso ou por acabar de ver os resultados do “trabalho” de Luc, mas será que ele está me dando um aviso? Uma advertência? Fazendo uma ameaça? Ou tudo não passa de impressão, causada pelos últimos acontecimentos?

Prelúdio* Estou na banheira, relaxando em um banho quente. Depois das aventuras que tive hoje, os meus nervos ficaram em frangalhos. Preciso desse banho para tentar aliviar a tensão. Depois do jantar, Luc foi para o escritório se reunir com os seus irmãos. Eles devem estar tratando de assuntos relacionados à máfia, como sempre. E eu decidi vir para cá relaxar. Coloquei meus sais de banho relaxantes na banheira, abaixei as luzes para uma meia iluminação, e acionei o sistema de som para tocar obras de Thomas Tallis, um compositor inglês do período renascentista, e um dos meus compositores favoritos. Deixei as vozes de suas densas e profundas melodias se propagarem pelo ar. Agora fecho os olhos e me permito relaxar, escuto a minha obra favorita de Thomas Tallis: Allegri: Miserere. Não quero pensar em nada neste momento, pensar só arruinaria o propósito de estar aqui. Escondo os meus problemas em um canto longínquo da minha mente e foco apenas na sensação de relaxamento que a água, o aroma e a música me produzem. Já estou há algum tempo assim, com olhos fechados, em absoluto estado de relaxamento, um estado quase meditativo, até que sou alertada, pela movimentação da água, da chegada de alguém. Abro os olhos e vejo Luc, totalmente nu, entrar na banheira, sentandose no lado oposto ao meu. A banheira é grande o suficiente para que

caibamos os dois confortavelmente. Ele se recosta na banheira, arqueando o pescoço para trás e apoiando a cabeça e os braços na borda da banheira. Luc não diz nada, ele parece estar apenas apreciando o ambiente, em sua pose relaxada. — Thomas Tallis... É um ótimo compositor, adoro a polifonia* de sua música e a forma como as vozes se interconectam. Fico surpresa, eu não sabia que Luc entendia tanto sobre música. Existe alguma coisa que ele não entenda? — Sim, ele é — concordo com a sua análise. Luc parece relaxado, mas estar compartilhando a banheira com ele nu me desconcentra muito, não me permitindo qualquer estado de relaxamento. Quando estou perto dele, o meu corpo sente apenas a tão conhecida tensão sexual que existe entre nós. Mas ao mesmo tempo não quero interrompê-lo em seu momento de tranquilidade. Luc abre os olhos, então vejo a atenção daqueles olhos amarelos quase felinos se concentrar em mim. Ele alcança um dos meus pés e começa a massageá-lo preguiçosamente. — Você tem andado muito tensa ultimamente, Elizabeth, deixe-me ajudá-la a relaxar. Luc continua sua massagem por um tempo, passando de um pé ao outro. A massagem está deliciosa. Estou quase ronronando sob suas mãos. — A massagem está do seu agrado, senhora Costatini? — Luc me pergunta, notando o meu estado satisfeito. Ele tem um sorriso perverso nos lábios. — Também conheço outros métodos muito eficientes de relaxamento.

Disso... eu não tenho dúvidas! Luc pega os meus dois pés e me atrai vagarosamente até ele, colocando-me escancarada em seu colo, com as minhas pernas ao redor de seus quadris. Nesta posição, posso sentir claramente o seu membro enrijecido contra mim. Luc passa a massagear a minha bunda, apalpando-a com lascívia. Sinto o meu sangue ferver em minhas veias. — Sempre tão gostosa e receptiva, senhora Costatini — Luc fala sensualmente no meu ouvido, e então mordisca a minha orelha, fazendo raios de prazer dispararem em direção ao meu sexo. Nossa! Esse homem sabe o que faz! Ele então beija a minha boca com fervor, a exploração de sua língua na minha boca é lenta e sensual. Estou me derretendo em seus braços. Luc deixa de explorar a minha boca e me faz arquear levemente o meu corpo para trás, para lhe dar melhor acesso aos meus seios, que passam a ser o seu novo foco de exploração. Luc os lambe e os suga com volúpia. — Humm... Luc... — Eu puxo os seus cabelos e gemo despudoradamente, até que ele me faz mudar de posição, deixando-me de quatro na beirada da banheira, com a bunda exposta no ar. — Eu não me canso de desfrutar desta linda visão, senhora Costatini — Luc fala enquanto massageia sensualmente os globos da minha bunda, fazendo-me ficar ainda mais lubrificada para ele. Luc deve ter notado isso, pois, em resposta, ele geme, como se estivesse em sofrimento. Luc então passa a explorar com os dedos a minha entrada, espalhando a minha lubrificação no processo. Ah! Isso está tão bom! Sem nenhum aviso, Luc desce desavergonhadamente a boca sobre o

meu sexo, lambendo-o e sugando-o de boca aberta, sem nenhuma piedade, até que passa a concentrar o seu ataque especificamente sobre o meu clitóris, então eu não aguento mais e gozo ruidosamente em sua boca. Depois do orgasmo, eu me jogo de barriga para baixo sobre a bancada de mármore que envolve a banheira, tentando me recompor do assalto de Luc sobre o meu corpo. Ele se levanta e abre uma gaveta do armário da pia em busca de um preservativo (ainda bem que ele nunca esquece; se dependesse de mim, estaríamos perdidos). Após colocá-lo, ele volta a entrar na banheira, posicionando-se de joelhos atrás de mim, e nesta mesma posição ele me penetra. As sensações são intensas demais, ainda estou sensível com o orgasmo anterior. Ao fundo, ainda escuto a música coral de Thomas Tallis pelo sistema de som, o que torna o ato sexual ainda mais sensual. — Sexo e Thomas Tallis — Luc comenta enquanto me penetra, estabelecendo um ritmo lento. — Será que estamos cometendo algum tipo de pecado? — graceja, já que a música que escutamos tem uma letra de cunho religioso cantada em latim, o que era comum para a música religiosa daquela época. Eu passo a me lembrar das fotos das vítimas de Luc que Luigi me entregou hoje. Olho para trás e vejo esse homem lindo junto ao meu traseiro, estocando-me em um ritmo simplesmente perfeito. — Eu não acho que a essa altura do campeonato você tenha qualquer preocupação em cometer qualquer pecado, Luc, você é o diabo em pessoa — eu o alfineto. Luc para os seus movimentos e me olha intensamente por alguns segundos.

— Muito bem apontado, senhora Costatini. Será que a senhora está pronta para conhecer o meu lado mais... diabólico? Sem nenhum aviso, Luc junta os meus cabelos, os enrola ao redor de seu pulso e os puxa o suficiente para atrair a minha cabeça para trás, arqueando o meu corpo e me provocando uma leve dor no couro cabeludo, ao mesmo tempo que começa a me estocar com força e vigor, em um ritmo acelerado. Não importa o que ele faça comigo, Luc parece sempre saber fazer a coisa certa para me excitar. Em poucas estocadas, ele extrai de mim um orgasmo tão pleno que acho que viajei para fora do meu corpo e retornei. Desta vez, gozamos juntos. Luc me solta, retirando-se de dentro de mim, e mais uma vez deixo o meu tronco cair na beira da banheira, concentrando-me apenas em recuperar a respiração. Luc estava certo ao dizer que essa era uma boa técnica de relaxamento. — Apesar da visão fantástica, senhora Costatini, já é hora de sairmos de dentro da banheira, você já está ficando toda enrugada. Luc sai da banheira, joga a camisinha fora e me estende uma toalha. Ele me ajuda a me secar e depois se seca. Após a sessão de relaxamento e sexo, eu me sinto muito sonolenta. Caminho nua para a cama, sem energia para procurar por uma camisola, e entro debaixo dos lençóis. Luc não demora a me acompanhar até a cama. Ele passa os braços ao meu redor, atraindo-me em sua direção e colocando a minha cabeça sobre o

seu amplo peito. Nesta posição, ouvindo as batidas compassadas de seu coração, eu não demoro a pegar no sono.

Estou em uma rua escura, que está cheia de ratos e baratas correndo por cima do lixo, que está espalhado por todos os lugares que vejo. Tudo exposto a céu aberto. Uma família revira o lixo à procura de comida, disputando com os ratos e alguns insetos a sua sobrevivência. Toda a família, um homem, uma mulher e dois meninos, está em óbvio estado de desnutrição. Suas roupas estão largas, sujas e rasgadas. As maçãs do rosto estão fundas; e os seus ossos, proeminentes. As crianças choram de fome, e em seus rostos só se vê o ranho, as lágrimas, a desnutrição e a imundice. Quero ajudá-los, mas não consigo me mover, estou paralisada. Fui reduzida a uma mera observadora dessa cena trágica. Um dos meninos, que não deve ter mais que três anos de idade, aproxima-se de mim e me olha com lágrimas nos olhos. — Tia, por favor, me ajuda — ele suplica, soluçando e fungando. — Nos dê comida, estamos com muita fome! Eu olho em volta, mas não vejo nada que eu possa dar para o menino, e meu coração está angustiado ao ver essa cena tão degradante. Ao longe, escuto o motor de um carro se aproximando, até que para ao meu lado. A porta se abre e por ela sai um homem alto, musculoso, de

porte elegante, trajando um terno sob medida e óculos escuros de grife. A figura desse homem, tão obviamente rico, faz um grande contraste com o ambiente miserável em que estamos. O homem tira os óculos escuros, permitindo-me ver os tão conhecidos olhos amarelos que tanto me encantam. Ele observa todo o ambiente antes de se dirigir a mim. — Algum problema, Elizabeth? Eu vim te buscar. Será que Luc não consegue ver o problema? Será que ele não consegue sentir empatia por essas pessoas e se condoer pelo estado lastimável de miséria em que elas vivem? O menino que está ao meu lado puxa a manga da minha camisa, pedindo a minha atenção. — Tia, estou com fome — choraminga com olhar suplicante. Eu olho para Luc e aponto em direção à família. — Eu não posso sair antes de resolver o problema dessa família. Você não vê que eles estão com fome? Ajude-os! Luc analisa toda a família com frieza, até que abre o paletó. Mas em lugar de tirar a sua carteira de dentro para doar o dinheiro, ele puxa uma pistola e dá quatro tiros rápidos e certeiros em direção à família, atingindo a cabeça dos quatro, que imediatamente caem sem vida no chão. — Nãããooo!!! — grito em desespero. Por que ele fez isso?! Olho para o menino que estava ao meu lado e que agora está caído em uma poça de sangue no chão. Eu me abaixo e, com lágrimas nos olhos,

seguro o seu pequeno corpo, como se com esse gesto eu pudesse devolver-lhe a vida. Olho com ódio para Luc, que mesmo na presença da morte, conserva um meio sorriso zombeteiro no rosto. — Problema resolvido, agora já podemos ir — Luc fala friamente. Olho novamente para o menino em meu colo, e desta vez ele está com os olhos abertos. Mesmo com o ferimento à bala em sua cabeça, ele me pede: — Tia, ele nos matou! Nos ajude! Acordo com o susto. Olho para o teto iluminado levemente pela luz do luar. Foi apenas um sonho, eu tendo me acalmar. Viro de lado e vejo Luc dormindo placidamente. Desta vez, eu não devo ter feito barulho durante o meu pesadelo, já que eu não o acordei. Sei que o meu sonho não foi aleatório, a família com que sonhei foi vítima de Luc ou da máfia. Eu os vi no relatório de Luigi. Observo o rosto tão lindo de Luc, linhas tão firmes e elegantes, maxilar forte e nariz reto. Como pode um ser tão lindo ser capaz de tamanha atrocidade? E como pode um ser capaz de tamanha atrocidade ser tão atraente para mim? Ambas são perguntas que eu não sei responder. Uma pessoa como Luc deveria pagar pelos seus crimes? Existe maneira de evitar que outras famílias, como a do meu sonho, morram por causa de suas ações? Eu deveria tentar impedir que injustiças assim continuem acontecendo?

Escolher o bem e a justiça, Luigi me disse... Será que eu terei força e sabedoria para escolher o lado certo? Passo muitos minutos insone pensando sobre possibilidades, até que mais uma vez o sono me reclama.

as

minhas

Pensei muitas vezes em terminar de explorar os arquivos do pen drive que Luigi me deu, mas não tive chance, não tenho nenhum computador pessoal. Desde que o meu computador quebrou há alguns meses, eu tenho usado somente o meu celular para as minhas pesquisas, quando necessário. Eu planejava usar novamente o computador do escritório para abrir os arquivos do pen drive, mas o dia no escritório foi muito agitado, mal tivemos tempo para comer hoje. Tenho muita curiosidade de descobrir todas as informações que estão dentro do pen drive, mas vou ter que aguardar até um momento oportuno. Ao redor das cinco da tarde, Luc chega ao escritório, depois de ter se ausentado boa parte do dia. — Venha, Elizabeth, vamos sair — ele anuncia. Eu o olho com surpresa. — Sair? Para onde? Mas ainda não terminamos o expediente. — Não se preocupe, Elizabeth querida, eu dou conta por hoje, e o que eu não conseguir finalizar hoje, poderemos terminar amanhã — Andréia gentilmente se prontifica. — Não perca a oportunidade de escapar com o seu

marido! — Ela pisca um olho para mim. — Você ouviu a Andréia. Vamos, Elizabeth, no caminho eu te explico sobre o que se trata. Não havendo mais escolhas, eu o sigo. Entramos no carro e Luc dá partida no motor, colocando o carro em movimento. — Para onde estamos indo, Luc? — pergunto, não aguentando mais a curiosidade. — Você lembra que nós não conseguimos terminar os nossos treinos de tiro? Hoje eu consegui finalizar uns negócios um pouco antes do esperado, então pensei que poderíamos aproveitar esse tempo antes do jantar para treinarmos um pouco. Como eu te disse antes, você já está bem atrasada com os seus treinos. Faço uma cara de tristeza. — Você sabe que eu não sou boa nisso, não é? Espero que você esteja bem protegido longe da minha mira. Luc solta uma risada. — Que mira? Você ainda não possui uma. Eu faço uma careta para ele colocando a língua para fora, como uma criança. Luc ri em resposta. — Tão charmosa, senhora Costatini...

Eu não consigo evitar e começo a rir junto com ele. Luc para de sorrir e me olha por um instante, com o que parece ser um brilho de admiração em seu olhar, antes de voltar sua atenção novamente para a estrada. — Há muito tempo que eu não te vejo sorrir, Elizabeth. Você tem um lindo sorriso, deveria sorrir mais. O meu sorriso também morre, não sei como respondê-lo. O que eu poderia dizer? “Eu não tenho sorrido muito porque vivo com medo de você, da máfia e dos seus inúmeros inimigos? Eu não sorrio porque tenho medo do que você poderia fazer caso descobrisse que eu me encontrei com a polícia, e que tenho a missão de entregar provas contra você para as autoridades? Eu não sorrio porque tenho me sentido culpada pelas vítimas que você faz?” No fim, eu decido me manter calada. Passamos os próximos minutos em um silêncio pesado, cheio de palavras não ditas. — Além de treinarmos hoje, eu queria esse tempo com você para te avisar sobre o seu leilão, Elizabeth — Luc fala, rompendo o silêncio. — Eu tinha planejado te avisar ontem, depois do jantar, mas ficamos ocupados com outras... atividades... muito interessantes, devo dizer, mas muito intensas. Você ficou cansada e dormiu logo depois, não me dando a oportunidade de te contar. E hoje o dia foi cheio, estive ocupado o tempo todo, então só agora vamos poder falar a respeito disso. Agora eu me lembrei de Luigi me falando de uma festa beneficente que Luc estaria organizando. Deve ser o meu leilão! — Então, tudo já foi organizado. Os convites já foram entregues, o

espaço reservado, e todos os preparativos estão em execução. Em quatro dias teremos o leilão que você pediu, será realizado junto com um baile de máscaras, para atrair os convidados, que adoram festas com essa temática. E você, Elizabeth Costatini, será o centro da festa. — Eu?! — pergunto, surpresa. — Claro! Todos querem conhecer a nova esposa da máfia que gosta de distribuir dinheiro aos pobres — Luc graceja. — Eu não saberei como agir como uma esposa da máfia em um evento social, Luc — tento adverti-lo. — Não se preocupe, Elizabeth, eu te ensinarei tudo o que você precisa saber. De qualquer forma, o seu charme e graça são naturais. Muitas socialites se matariam para ter essas qualidades que você tem sem sequer se esforçar. Eu? Graça e charme? Nunca tinha pensado nisso... Eu acho que Luc está exagerando. Passo o resto do caminho em silêncio, observando a paisagem e tentando digerir a ideia de ser o centro das atenções de um grande baile de máscaras da alta sociedade, no qual um delegado da polícia da Itália espera que eu desempenhe o papel de espiã. O meu sexto sentido diz que isso não vai dar certo. Chegamos ao mesmo galpão da vez anterior. Luc começa a arrumar as armas com precisão, deixando-as em cima de uma das mesas do local. Mais uma vez, seguimos o método do último treino. Ele me ajuda a me posicionar corretamente, coloca-me o protetor de ouvidos e se coloca

atrás do meu corpo, estendendo os braços junto aos meus. Ele segura as minhas mãos, que estão segurando uma pistola, e juntos atiramos em direção a uma garrafa que está sobre a mesa. A mira de Luc é perfeita, ele acerta o alvo todas as vezes que atira. Ele afasta o protetor dos meus ouvidos. — Lembre-se de segurar firmemente a arma e manter a postura que eu te mostrei. Concentre-se, respire e atire com tranquilidade. Vamos lá, agora é a sua vez. Passo os primeiros minutos atirando tão mal quanto na aula passada. Mas depois de um tempo, eu começo a relaxar mais e as coisas começam a melhorar. Eu não atiro tão bem quanto Luc, obviamente, não acerto o alvo sequer uma vez, mas pelo menos hoje eu não atingi o teto ou o chão. Já comecei a atirar na direção certa. Em uma ocasião, até que o tiro passou perto do alvo. Quando terminamos, eu me sinto melhor com os resultados obtidos. Hoje não passei tanta vergonha. — Muito bem, Elizabeth. Pelo menos estamos progredindo. Um dia você chega lá — Luc tenta me incentivar. Será? Mas para onde será que eu estou indo? Para onde será que a minha vida está me conduzindo? Eis uma pergunta muito difícil de se responder no momento.

Prelúdio*: em termos musicais, é o que vem antes do jogo, obra musical introdutória de outras obras. Polifonia*: combinação simultânea de várias melodias.

O Baile de Máscaras Os dias que antecederam o baile passaram voando, e até o momento eu ainda não tive a oportunidade de explorar melhor o conteúdo do pen drive que Luigi me entregou. Mas agora parece que é a minha melhor chance. Todos os três irmãos se ausentaram, eles foram tratar dos detalhes relacionados à segurança do evento de hoje. Por questões de segurança, o evento será aqui mesmo, em um dos salões da mansão. Acho que a mansão é um dos lugares mais protegidos que eu já vi, portanto, o mais seguro para realizar a festa, além de que aqui não falta espaço para qualquer tipo de evento. Desde cedo, a mansão está em polvorosa, com pessoas entrando e saindo, cuidando da decoração, do buffet e dos demais preparativos para a festa, sob os olhares atentos da equipe de segurança. É claro que, antes de partir, os irmãos deixaram um esquema de segurança para a minha proteção, digno de um representante de estado. Mas pelo menos eu possuo uma relativa liberdade dentro de casa. Não demoro em ir em direção ao escritório de Luc. Faço todo o meu percurso atenta a qualquer sinal de retorno dos irmãos, mas no caminho encontro apenas alguns poucos funcionários já conhecidos. Por questão de segurança, Luc não permitiu que nenhum funcionário estranho entrasse na nossa ala da mansão. Entro com rapidez no escritório, fechando a porta com cuidado ao passar. Assim que entro, vejo o meu objeto de desejo aberto em cima da mesa. Eu me sento na poltrona confortável de couro que está posicionada

atrás da suntuosa mesa do escritório. O computador está desligado, então eu o ligo, torcendo para que não seja necessário digitar nenhuma senha. O meu coração está quase saindo pela boca de tanto nervosismo, enquanto espero a inicialização do computador. Ótimo! Constato que não é necessário colocar nenhuma senha. Tiro sem demora o pen drive do bolso e o insiro no computado. Vou abrindo as pastas, explorando e lendo os arquivos um por um. Existem muitas fotos das vítimas e relatórios das suspeitas dos crimes, mas tudo é muito vago. Pelo que vejo, a polícia não tem provas substanciais contra Luc, apenas suspeitas. Pelo visto, Luc é muito cuidadoso em seus negócios, ele não deixou nenhuma ponta solta, nenhum vestígio que o expusesse à polícia. Agora que estou aqui, relembro as palavras de Luigi. Ele disse que no computador de Luc eu encontraria arquivos com informações sobre os seus negócios escusos. Sem parar para pensar, eu passo a procurar imediatamente por eles. Demoro um tempo, mas depois de alguns minutos de procura, eu finalmente consigo encontrá-los. É isso! Vejo relatórios financeiros detalhados dos mais diferentes tipos de operações ilegais. Eu não entendo tudo o que está escrito aqui, mas entendo o suficiente para não ter dúvidas de que é isso o que Luigi está procurando. Salvo tudo no pen drive que Luigi me deu. De repente, a porta se abre, fazendo o sangue gelar em minhas veias. Luc entra no escritório e para em frente à mesa, de frente para mim. Observo que ele está vestido mais descontraidamente hoje, com calça jeans e camiseta de gola “V”. Ele parece surpreso em me ver. E agora, o que eu faço?

— A que devo a honra de sua visita em meu escritório, senhora Costatini? Você está procurando por algo? Ai, droga! Pense em alguma coisa, Elizabeth! — Eu... Bem... Você... — Pare de gaguejar, Elizabeth!, eu me repreendo mentalmente. — Você sabe que eu não tenho computador? Então, faz tempo que eu não tenho notícias dos meus amigos, e queria ver o meu email e enviar algumas mensagens. No escritório eu não tenho tido tempo, e eu prefiro digitar no computador do que no celular, então pensei em usar o seu. Luc me olha longamente, com a expressão inescrutável. — Desculpe-me, senhora Costatini, por não ter antecipado as suas necessidades. Eu lhe providenciarei um computador o mais breve possível. Enquanto isso, fique à vontade para usar o meu, mas não demore, já estamos próximos da hora do almoço, e você receberá em breve uma equipe que lhe ajudará a se preparar para a festa. — Equipe? — pergunto, confusa e ao mesmo tempo aliviada pela mudança de assunto. — Sim. Você receberá estilistas, cabeleireiros, maquiadores... Esse tipo de coisa — Luc fala, dando de ombros. — Eu vou lhe dar privacidade, então. Até mais, Elizabeth, te vejo no almoço. — Luc sai, fechando silenciosamente a porta atrás de si. Solto a respiração que eu sequer sabia que estava contendo. Dessa vez, foi por pouco! Luigi pediu que eu encontrasse um caderno também, mas não vejo

nenhum tipo de caderno em nenhum lugar aparente, e agora eu não tenho tempo para procurar. Pego o pen drive com os arquivos salvos, desligo e fecho o computador, então saio.

Durante o almoço, noto novamente o brilho estranho no olhar de Luc. Fico arrepiada ao pensar no tipo de encrenca em que posso estar me metendo, mas não tenho muito tempo para pensar sobre isso, pois logo após o almoço Bianca me avisa que a tal equipe que Luc havia mencionado me espera em um dos quartos de hóspedes, que foi reservado para realizar o trabalho de me preparar. Durante as horas seguintes, sou cercada por pessoas que pintam as minhas unhas das mãos e dos pés de um bonito tom de vinho. Os meus cabelos são lavados, escovados e finalmente presos em um penteado elegante de coque baixo. Em seguida, a maquiadora começa a trabalhar em meu rosto, fazendo uma maquiagem marcada e expressiva, deixando em evidência os meus olhos azuis e a minha boca, que está pintada com o mesmo tom de vinho do meu esmalte. Finalmente depois de toda a maratona de beleza, eu me vejo em frente ao espelho de corpo inteiro. A estilista e a personal stylist que estão responsáveis por me ajudar a encontrar uma roupa adequada já me colocaram dentro de muitos vestidos, mas ou elas não gostam de alguma coisa, como o estilo ou a cor, ou sou eu que não gosto. Agora estou dentro de um vestido preto de renda, com transparências em lugares estratégicos e um decote muito generoso entre os seios. Neste vestido não sobra muito espaço para a imaginação. As profissionais da moda adoraram, mas eu tenho as minhas

reservas. O vestido é lindo, não há como negar, mas eu nunca expus tanta pele em público antes. Com a educação rígida de minha mãe, eu não tinha permissão de usar decotes tão generosos assim, e apesar de hoje eu já ser uma mulher adulta, eu não me sinto muito à vontade. — Molto bella, senhora Costatini! Ao ouvir a voz de Luc, eu me viro, encontrando-o próximo à porta. Luc está simplesmente fabuloso dentro de um smoking. Ele está tão bem que até parece comestível. Entretida com os meus conflitos a respeito da roupa, eu não tinha me dado conta de sua chegada. Agora que Luc se aproxima de mim, eu vejo a equipe de moda sair discretamente do quarto, eu acho que elas querem nos dar privacidade. — Eu não sei, Luc... Este vestido é lindo, mas é muito revelador. Luc me vira em direção ao espelho novamente, colocando-me de frente para a nossa imagem refletida. Eu me dou conta de que formamos um lindo casal. Estou com sapatos de saltos altíssimos, mas mesmo assim alcanço somente a linha do seu queixo. — Olhe para você, Elizabeth, deixe de pudores e pense de forma prática. Você gosta do vestido? — Luc me pergunta encarando-me através do espelho. Eu paro para pensar mais detidamente sobre o assunto, tentando me observar sem a interferência de julgamentos alheios, e a resposta vem fácil.

— Sim. — Então esse será o seu vestido hoje! — Luc anuncia de maneira prática. — Mas eu não vou atrair muita atenção? — pergunto, hesitante. — Mas é claro que vai atrair atenção, Elizabeth! Olhe a figura perfeita que você é! — Luc fala como se estivesse comentando apenas uma obviedade. — Mas todos na festa sabem quem eu sou e do que sou capaz, então, não se preocupe, que ninguém terá coragem de incomodá-la. E se alguém sequer tentar, terá que lidar com as consequências disso — Luc completa, com promessas sombrias no olhar. Ele então me vira, posicionando-me de frente para ele. — Eu trouxe algo para você. Luc tira de dentro do paletó uma caixa de veludo negro e a estende para mim. — Abra. Eu o olho hesitante. — Luc, não é necessário, eu não preciso de joias, eu estou bem assim. — Abra, Elizabeth! Eu não te dou coisas porque você precisa, eu te dou porque eu quero e posso. — Típico de Luc ser arrogante! — De qualquer forma, você não sabe o que tem dentro da caixa. Eu então aceito a caixa, pegando-a com cuidado. Eu a abro e vejo uma máscara de desenho impressionante e delicado. Ela é negra e cheia de

detalhes brilhantes. — A máscara é linda, Luc, obrigada! — É um prazer servi-la, senhora Costatini. Deixe-me ajudá-la. — Luc se põe atrás de mim, ajudando-me a colocar a máscara no meu rosto, atando-a atrás da minha cabeça. Olhando-me no espelho, vejo que ela combina perfeitamente com o meu vestido. Luc me abraça apertado por trás e inala o meu perfume junto à minha nuca, fazendo-me arrepiar. — Ninguém irá incomodá-la esta noite, Elizabeth. Já eu... Não prometo nada em relação a mim. Tentarei me controlar ao máximo para não rasgar as suas roupas e te foder em qualquer cômodo que esteja disponível. — Luc solta um longo suspiro. — Prevejo que será uma noite torturante. Agora que ele comenta sobre os seus planos lascivos, acho que vai ser torturante para mim também. Em seguida, Luc me solta, e antes de sair, ele para junto à porta. — As joias já estão sobre a cômoda. Deixarei você terminar de se arrumar e te encontrarei na entrada daqui a uma hora, para recepcionarmos juntos os convidados. Eu assinto com a cabeça e Luc sai. Vou em direção à cômoda e encontro as joias deixadas por Luc. Não sei como ele soube que eu escolheria este vestido, mas tanto a máscara quanto as joias combinam à perfeição com ele. Luc parece sempre antever os

meus movimentos, mas espero que ao menos esta noite ele não consiga prever os meus planos. Eu pego a pequena bolsa de mão, que combina com o vestido, e a abro. Dentro está o pen drive que devo passar para o Luigi. Faço uma prece aos céus para que nesta noite tudo termine bem.

O salão de festas está com as suas amplas portas abertas, integrando-o com a área externa da mansão. Ambos os ambientes estão lindamente decorados e interconectados, criando assim um ambiente imenso, onde uma grande quantidade de convidados se diverte. Um palco foi instalado dentro do salão de festas, onde está sendo realizado o leilão. O palco é cercado por uma grande quantidade de mesas e cadeiras elegantes, com toalhas de linho, fina louça e talheres, onde os convidados já estão sentados, sendo servidos pelos garçons, que não param de transitar entre as mesas, carregando bandejas com petiscos e bebidas diversas. Na área externa está outro palco, cercado pelo que parece que mais tarde será a pista de dança. A decoração e a iluminação estão perfeitas. Lindas e glamourosas mulheres desfilam em cima de saltos altíssimos, exibindo os seus vestidos de gala, enquanto os homens, todos vestidos de smoking, bebem e conversam animadamente.

Luc está ao meu lado na mesa, onde também estão presentes outros convidados, que parecem ser sócios de alguns de seus muitos negócios. Enzo e Dante estão responsáveis pelas equipes de segurança hoje, então eu ainda não os vi durante a festa. Acho que eles devem estar trabalhando em algum lugar pelos bastidores. Luc está usando uma máscara preta, que faz conjunto com a minha, mas de um jeito masculino. A máscara lhe confere um aspecto sombrio. Como se ele ainda precisasse acrescentar isso para intimidar alguém!, penso com ironia. Já estamos no fim do leilão. O apresentador do leilão é um senhor que aparenta estar ao redor dos seus sessenta anos de idade, e se nota que ele tem muita experiência nesse tipo de evento, pois o comanda com desenvoltura e animação, fazendo piadas nos momentos certos e extraindo risadas do público presente. O leilão está sendo um sucesso! Os valores oferecidos pelas peças ganhadas no nosso casamento são indecentes. Fico muito feliz e satisfeita em saber que esse dinheiro terá um destino adequado e que pelo menos eu fiz alguma diferença de maneira positiva com esse casamento. — Senhoras e senhores, estamos finalizando o nosso leilão de hoje — o apresentador anuncia, para a tristeza de todos os presentes, que soltam um “ah” em sinal de desgosto pelo fim desta etapa do evento. Nota-se claramente que todos estavam se divertindo com o leilão. — Mas como de costume — o apresentador prossegue —, nós reservamos o melhor e mais valioso item do leilão para o final. Toda a plateia fica em silêncio, em expectativa para saber do que se

trata esse item misterioso. — O nosso item é nada mais, nada menos do que a senhora Costatini! Por favor, venha até aqui, senhora Costatini. Todos os convidados começam a aplaudir. Eu fico sem reação, pega de surpresa pelo anúncio repentino. Luc se levanta e puxa a minha cadeira em um gesto educado, me ajudando a me levantar. — Você ouviu o apresentador, vá até lá, Elizabeth! — fala com um toque de diversão na voz. Ah! Esse homem perverso sabia de tudo e não me disse nada! — Você me paga, Luc! — eu o ameaço. — Estou aguardando ansiosamente por isso, senhora Costatini — Luc fala sedutoramente em meu ouvido. Caminho em direção ao palco com passos hesitantes. O que será que eu terei que fazer? Eu subo sendo ajudada pelo apresentador, que me estende a sua mão para eu subir a escada que dá acesso ao palco, e depois eu me posiciono timidamente ao seu lado. — Senhoras e senhores, como eu estava dizendo, é de praxe reservar para o último lance do leilão o melhor e mais valioso item. Fui informado de que a senhora Costatini se ofertou para fazer um recital individual e exclusivo de violoncello para aquele que der o maior lance na noite de hoje. Então, sem mais delongas, declaro aberto o recebimento das ofertas! Vamos começar

pelo valor de cinco mil euros?! Quem quer fazer o primeiro lance? Os próximos segundos são constrangedores, escuta-se somente o silêncio. Estou olhando para os meus pés, mortificada com a situação, obviamente ninguém tem interesse em um recital individual e exclusivo meu. Quando, por curiosidade, decido levantar a cabeça, vejo que os convidados não estão olhando para mim, e sim para Luc, que sorri para mim de um jeito travesso. Ai, esse homem infernal me paga! Agora eu entendo! Ninguém oferece nenhum lance porque ninguém quer se meter com ele! Por isso todos somente o observam, expectantes. Ele me disse mais cedo que ninguém me importunaria esta noite, pois sabiam quem ele era. Agora isso está muito claro para mim. — Um milhão de euros! — Luc dá o lance de maneira decidida. Ao escutar sua oferta, fico atônita, assim como todos os presentes. Parece que Luc não quer subir paulatinamente o seu lance, como é a maneira usual. Ele dá um lance para fechar logo negócio. O apresentador entende rapidamente a deixa. — Muito bem, senhoras e senhores, depois desse lance espetacular, declaro vendida a noite exclusiva de recital da senhora Costatini para o senhor Costatini. Uma salva de palmas, senhoras e senhores, para o fim deste leilão magnífico! Caminho de volta para o meu lugar sob os aplausos dos presentes. Luc me recebe puxando galantemente a cadeira para eu me sentar. — Você é um homem muito malvado e astuto, senhor Costatini — eu o repreendo.

— A minha vida toda, senhora Costatini! — Luc me responde com um sorriso travesso nos lábios. — Mas agora você me deve um recital, e pode apostar que eu vou cobrar. — Ele pisca um olho em minha direção. Com o fim do leilão, é dada uma pausa no evento, enquanto os funcionários se preparam para servir o jantar, e eu sei que essa é a minha única oportunidade de me encontrar com Luigi. Eu não o vi em nenhum momento durante a noite, mas acho que ele só se aproximará se eu estiver longe de Luc. Mas, antes disso, eu preciso encontrar a prova que falta: o caderno. Peço licença a todos na mesa, com a desculpa de que preciso retocar a maquiagem. Luc não parece duvidar da minha desculpa, pois me ajuda a me levantar da cadeira e volta a sentar-se, retomando a conversa com os outros convidados à mesa. Saio o mais rápido que posso, dentro dos limites educados para uma festa, e sigo em direção ao escritório de Luc. Esta ala da mansão está deserta. Os seguranças estão na entrada e não permitem que estranhos se aproximem. Quando chego ao escritório, passo a procurar pelo caderno, e finalmente o encontro no fundo de uma gaveta na mesa de Luc. O caderno é pequeno, tem a capa de couro escuro, com aparência masculina, e dentro está uma série de nomes e contatos telefônicos e bancários. É isso! Consegui! Agora já tenho tudo! Parto em direção à porta com a intenção de sair, mas os meus passos desaceleram, até que eu estaco. Eu simplesmente não consigo fazer as minhas pernas se mexerem. Eu não consigo dar prosseguimento aos meus planos;

cheguei muito perto, mas não consigo. Eu pensei que conseguiria, eu realmente pensei. Tenho a convicção de que pessoas tão nocivas para a sociedade como Luc não poderiam estar soltas. Esse tipo de gente precisa ser detida! Mas eu simplesmente não posso! Eu não consigo traí-lo, não posso trair essa família! De alguma forma, sem eu me dar conta, Luc conseguiu entrar sob a minha pele. E, contra a minha vontade, ele conquistou a minha lealdade. Fico parada perto da porta, sentindo-me estarrecida com essa constatação. Luc venceu! Eu não tenho coragem de detê-lo. De alguma forma, ele me tirou essa capacidade. Observo a porta se abrir, e por ela entra o centro dos meus conflitos. — O que aconteceu, Elizabeth? O que você está fazendo aqui? Por que não retorna para a festa? — Luc me pergunta com o cenho franzido. Eu o olho sem saber o que responder. Fui pega, mas não consigo explicar para ele o que eu mesma mal alcanço a entender. Em estado de choque, observo que o caderno ainda está em minhas mãos. Estendo o meu braço lentamente, oferecendo o caderno para ele, que o pega sem perguntar nada. Em seguida, eu abro a minha bolsa de mão, pego o pen drive e o entrego para Luc sem dizer nenhuma palavra. Luc segura os objetos e me observa. — O que significa isso, Elizabeth? — Eu não consigo, eu tentei... — tento me justificar em um fio de voz. — Eu acho que você realmente merece ser pego e pagar pelos seus crimes, mas não consigo te entregar. Eu pensei que conseguiria... Mas eu não

consigo te trair — falo, ainda em estado de choque e sem muito nexo. Luc se aproxima de mim, deixando os objetos que ele segurava caírem no chão, e me agarra pelos ombros, falando com ferocidade: — Por que você não consegue me trair? Eu sou um monstro, Elizabeth! Eu já fiz coisas que você sequer pode imaginar, e vou continuar fazendo! Por que você não me entrega e acaba logo com tudo isso?! Você até poderia ter uma outra vida longe de mim, sendo protegida como testemunha. Você poderia ter a sua tão sonhada liberdade! E ficar longe de quem tira de você todas as suas escolhas! POR QUE, Elizabeth? — Luc grita, pressionando-me por uma resposta enquanto sacode os meus ombros. — POR QUÊ? Então eu saio do estado de letargia. — EU NÃO CONSIGO TE ENTREGAR PORQUE EU TE AMO! — grito de volta, surpreendendo a nós dois com a resposta. Por um instante, nós apenas nos olhamos, absorvendo os significados das palavras. Até que Luc parte para cima de mim, tirando as nossas máscaras antes de me beijar com euforia e intensidade, como se quisesse me devorar. Ele interrompe o beijo e segura o meu rosto firmemente com ambas as mãos. Prende o meu olhar ao seu, não me dando possibilidade de escapatória. — Repita, Elizabeth! Repita, por favor, o que você acabou de dizer, eu preciso ouvir outra vez! — Esta é a primeira vez que vejo Luc suplicar por alguma coisa, e eu não posso negar-lhe o pedido.

— Eu te amo, Luc! — eu me declaro com sinceridade, olhando em seus olhos. Luc fecha os olhos e encosta a sua testa na minha por alguns segundos, como se estivesse apreciando o momento, e então mais uma vez me beija, mas agora de maneira mais calma e lenta. É um daqueles beijos que ficam para a memória, impossíveis de se esquecer. Mas, infelizmente, o beijo termina muito antes do que eu gostaria. Luc interrompe o momento e se abaixa, buscando no chão os objetos caídos. Ele pega o pen drive e o coloca dentro da minha bolsa; em seguida, pega o caderno e o coloca em minhas mãos. Em silêncio, ele volta a colocar a minha máscara em meu rosto. — Agora vá, você deve sair para se encontrar com Luigi e entregar essas coisas. — O Luc apaixonado de poucos momentos atrás desapareceu como em um passe de mágica, e agora quem eu vejo é o Luc frio e calculista, muito parecido com o Luc que vejo em meus pesadelos. Eu abro a boca, sem saber o que falar, até que forço as palavras a saírem: — O que você está dizendo? Você quer que eu entregue essas provas para o Luigi? — Espera aí! Agora que eu saí do meu estado de choque, me dou conta de que todo esse tempo ele mostrou ser conhecedor dos meus planos e dos meus diálogos com Luigi! — Você conhece o Luigi? Você já sabia o que estava ocorrendo? — indago, estupefata. — Não se preocupe, Elizabeth, está tudo dentro dos meus planos. Você está sendo muito bem vigiada, nada acontecerá com você. Agora vá, Luigi está disfarçado de garçom, você deve vagar por alguma área próxima à

cozinha. Ao perceber que você está sozinha, ele não tardará em te encontrar. “Os meus planos”, ele disse. Então era disso do que se tratava os seus novos planos?! Ele estava planejando me usar! — Você me usou! — eu o acuso ao constatar a verdade. — Sim, desde o princípio — Luc declara com frieza. — Você acabou de escolher o seu lado, Elizabeth, agora temos que continuar o jogo. Sinto as lágrimas me encherem os olhos. Eu lhe ofereci o meu coração, e é isso o que ele me oferece em troca? A posição de um peão em seu jogo de xadrez? Eu sempre soube que não deveria me apaixonar por ele! Eu sabia que, se eu fizesse isso, ia doer, eu só não tinha noção do quanto.

No Woman, No Cry* Saio em direção à área da cozinha com o pen drive dentro da bolsa e o caderno na mão. Caminho pelos corredores quase cega pelas lágrimas não derramadas. Eu não me permiti chorar diante de Luc, já me humilhei o suficiente por hoje ao me declarar sem receber nada em troca. Eu não vou me humilhar ainda mais chorando pateticamente por ele, implorando que ele corresponda ao meu amor. Eu tenho amor próprio suficiente para me impedir de fazer isso, mas o meu amor próprio não basta para impedir que eu sinta o meu coração em frangalhos. Como eu pude fazer isso? Como eu pude me apaixonar por um mafioso? Se não bastasse ele ser um criminoso, Luc ainda por cima não é um criminoso comum, ele está entre os mais perigosos, é o líder da máfia, o capo! Eu poderia me negar a seguir com os seus planos hoje, mas a verdade é que Luc tinha razão quando disse que eu já escolhi o meu lado. E, ao que tudo indica, eu escolhi o lado dele. Caminho ao redor da área próxima à cozinha, como Luc havia indicado. Não demora para que Luigi me encontre, conforme o previsto. Luc é praticamente um oráculo, ele sabe tudo o que vai acontecer. Ele é muito astuto e manipulador!, penso com irritação. Luigi está vestido com o uniforme padrão dos garçons do evento, paletó branco e calça preta. Ele também usa uma máscara, o que quase me impediu de identificá-lo em um primeiro momento. Ele parece tenso e ansioso, olha para todos os lados, com medo de ser pego. Luigi mal sabe que caiu na armadilha de Luc há muito tempo.

— Boa noite, senhora Costatini — murmura, não querendo chamar atenção. — O que foi que a senhora decidiu? A senhora vai me ajudar? Quais serão os planos de Luc para Luigi? Acredito que não deva envolver nada de bom. — Sim, Luigi, eu vou te ajudar. Aqui está tudo o que você me pediu. — Eu entrego o pen drive e o caderno para ele. — Você não tem ideia do que isso me custou — respondo, ainda consternada pela cena dentro do escritório. Luigi pega as provas e me olha com preocupação, provavelmente notando as lágrimas em meus olhos e o meu estado transtornado que eu não consigo disfarçar. — A senhora quer que a polícia lhe proteja, senhora Costatini? — Não, Luigi, não há nada que possa me proteger agora. Por favor, tenha cuidado e não me procure nunca mais. Com essas palavras, eu me retiro, sem poder olhá-lo por sequer um segundo a mais. Eu jamais quis ser responsável pelo mal de alguém, mas prevejo que Luigi não terá escapatória. E, infelizmente, eu não posso mudar o seu destino. A minha decisão está irrevogavelmente tomada. Vou para o banheiro para me recompor. Respiro fundo algumas vezes, até que me sinto recomposta o suficiente para voltar à festa. Não tenho mais nenhuma vontade de participar da festa. Esta noite se tornou um completo desastre! Vi meus planos irem por água abaixo, eu me declarei sem planejar, e em troca descobri que fui friamente usada, e acabo de colocar a vida de uma pessoa em perigo. Entretanto, preciso manter as aparências, se eu desaparecer agora, como é a minha vontade, talvez eu levante suspeitas em Luigi. E, apesar de tudo, eu não quero atrapalhar os planos de Luc.

Gasto um tempo retocando a minha maquiagem, com o batom que tenho dentro da bolsa, e retorno à festa. Quando entro novamente no salão, vejo que o jantar já está no final. — Venha, Elizabeth, vamos comer. — Luc surge ao meu lado assim que eu piso dentro do salão. Ele obviamente esteve me esperando, provavelmente o seu único interesse é saber se os seus planos continuam bem encaminhados. Luc me conduz pela cintura até a nossa mesa. Em seguida, faz um gesto para um garçom, que se aproxima e me serve de algum tipo de sopa chique. — Coma, Elizabeth, você precisa se alimentar — Luc pede com gentileza. Eu como um pouco, fico a maior parte do tempo apenas remexendo a comida no prato. Estou sem apetite. Não olho para nenhum lado, concentro-me apenas no meu prato. Não quero olhar para Luc, tenho medo de ver a mesma frieza no seu olhar que eu via em meus pesadelos, e que há poucos momentos eu voltei a ver dentro do escritório. Agora que eu revelei os meus sentimentos, isso dói demais. Também tenho medo de, ao encará-lo, acabar chorando de raiva, decepção, tristeza e vergonha, aqui, na frente de todos, dando um grande espetáculo. Sinto Luc colocar a sua mão sobre a minha, que está descansando sobre a minha coxa, mas eu a retiro imediatamente. Não posso suportar o seu toque agora. Luc solta um suspiro exasperado.

— Conversaremos mais tarde, Elizabeth. Pode apostar que sim, penso desafiadoramente. O jantar termina neste clima estranho e tenso. Eu não comi praticamente nada. Esforço-me apenas para tentar terminar inteira esta noite. Com o fim do jantar, já podemos escutar a banda começar a tocar na área externa. Os convidados começam a migrar para o lugar onde será realizada a última parte da festa. Nós permanecemos em nossa mesa, mas Luc está ocupado, verificando alguma mensagem em seu celular. — Escute, Elizabeth, Dante e Enzo querem conversar comigo — ele me avisa, guardando o celular no bolso. — Volto logo em seguida. Tente relaxar e aproveitar a festa. Eu não demoro. Eu assinto com a cabeça sem olhar em sua direção. Novamente, escuto um suspiro exasperado e sinto um leve toque de seus lábios na minha cabeça. E, quando vejo, ele já partiu. Saio do salão, pois não quero que todos vejam a figura solitária e patética que sou aguardando pelo meu marido. Encontro um banco no jardim que me permite observar a festa de longe e com privacidade. Muitas pessoas estão animadas e empolgadas, dançando no ritmo frenético da música. Outras estão sentadas em mesas espalhadas pelo gramado, conversando, bebendo e se divertindo. Mas eu não consigo partilhar da mesma empolgação. Luc ainda não voltou; seja lá o que for que lhe chamou atenção, parece que está lhe mantendo muito ocupado.

Apesar das minhas roupas reveladoras, ninguém olhou em minha direção de um modo inadequado hoje. Mais uma vez, Luc mostra estar certo em suas previsões, ele realmente aterroriza todo mundo. A música agitada termina e um dos músicos da banda assume o microfone. — Boa noite a todos! Faremos agora uma pequena pausa neste maravilhoso evento beneficente, para assistirmos a uma apresentação especial. Sabemos que o senhor Costatini terá a honra de ter um recital privativo, mas, para a nossa alegria, nesta noite nós teremos a honra de escutá-la em público. Por favor, senhora Costatini, suba ao palco e nos encante com a sua música! Pelo visto, as surpresas não param de chegar hoje. Caminho com dificuldade por entre os convidados que lotam o caminho em direção ao palco, até que alguém me oferece a mão para me ajudar a subir as escadas. Quando levanto o olhar, vejo que é a mão de Luc que me ajuda a subir. Ele me olha com um meio sorriso travesso no rosto e pisca um olho em um gesto jocoso. Está claro que foi ele quem arranjou a minha apresentação para esta noite. Mas eu não vou reclamar, estou precisando me consolar com a música mesmo. Será que ele sabia que eu estava precisando disso? Do jeito que ele é, dominador, manipulador e controlador, deve saber cada pensamento que me passa pela cabeça. Ao subir no palco, sento-me de frente para o público. Eu sempre fui tímida e introvertida. As pessoas acham que pelo fato de eu ter experiência em me apresentar em público durante toda a minha vida, isso significa que eu fico à vontade para encarar uma plateia, mas não é verdade. Eu me sinto

intimidada por estar exposta à avaliação de todo mundo. Mas quando eu me concentro na música, eu esqueço que existem pessoas presentes. Sempre foi assim que as coisas funcionaram para mim. Um dos músicos me passa o violoncello e o arco, eu agradeço e me concentro no que vou tocar. Já que a festa tem um tom descontraído, longe da rigidez de um ambiente de concerto, eu decido tocar uma música do estilo popular que eu sempre compartilhava com a minha mãe: No Woman, No Cry, com letra de Vincent Ford, mas eternizada na voz de Bob Marley. Eu costumava tocar muito essa música para ela quando estava doente, acamada pelo câncer, e naquela época ela sempre me dizia “não se preocupe, Elizabeth, eu estou aqui com você”. E, neste momento, eu preciso sentir que ela está aqui comigo, confortando-me. Fecho os olhos e começo a tocar. Um percussionista da banda não tarda em me acompanhar com um ritmo leve. Entrego tudo o que tenho na música, relembrando os meus últimos momentos ao lado da última pessoa que me amou neste mundo. Quando termino, escuto um segundo de silêncio profundo, seguido de aplausos efusivos. Sou ovacionada pela plateia presente. Eu me curvo em um gesto de agradecimento a todos e desço do palco, mas agora Luc não está mais na escada para me ajudar a descer. Tento passar por entre os convidados, mas demoro a conseguir, já que sou calorosamente cumprimentada e felicitada pela minha apresentação a cada passo que dou. Agradeço a todos com educação, apesar do meu estado emocional, e vou me afastando sutilmente da festa, com a intenção de voltar ao meu lugar de observadora solitária no banco do jardim. Mas quando faço o meu

caminho, estaco ao ver Luc muito entretido, conversando em italiano com uma mulher estonteante. Ela é morena, com cabelos cacheados e lindos olhos cinzas, que fazem contraste com a sua pele. Estou tomada pelas emoções e não tenho ânimo para lidar com o assédio de mulheres em cima de Luc agora. Ele que faça o que bem entender com essa ou com qualquer outra mulher. Esforço-me para conter as lágrimas e dou meia-volta, partindo em direção ao terraço. Lá é uma área isolada pelos seguranças, então ao menos terei alguns minutos de paz. Fico alguns minutos tentando controlar o choro. Muitas coisas têm ocorrido ultimamente. Estou vivendo uma montanha-russa de emoções, e lembrar da minha mãe só me deixa pior, torna-me muito consciente de que eu não tenho ninguém que me ame neste mundo. Eu estou só. Mas parece que não estou mais fisicamente só agora. Escuto passos entrando pelo terraço. Luc vem ao meu encontro sem dizer nada, ele esquadrinha meu rosto, então tira a minha máscara. — Pode chorar, Elizabeth, não se preocupe, eu estou aqui com você. — Como esse homem pode mudar de frio e insensível para doce e gentil de um segundo para o outro? Luc é uma combinação estranha de cuidado, gentileza e amabilidade com frieza, dominação e manipulação, e eu não sei lidar com todas essas variações e extremos. Mas com essa frase, Luc consegue romper as comportas dentro de mim. Ainda agora eu estava pensando nela enquanto tocava. Essas eram as exatas palavras que a minha mãe sempre me dizia: “não se preocupe, Elizabeth, eu estou aqui com você”. Até que um dia ela não pôde mais estar.

Luc me abraça e beija a minha cabeça, e eu choro em prantos, pela minha mãe, pela situação em que me meti, e por ter entregue o meu coração para o ser mais perigoso que eu já conheci. Eu me sinto muito perdida neste mundo estranho. Apesar de eu não entender como, sinto a proximidade de Luc; o seu cheiro, o seu calor e a sua força me consolam. É muito estranho ser consolada por quem é o originador dos seus problemas. Mas é simplesmente assim que funciona. Após alguns minutos, as lágrimas e os soluços cessam. — Melhor? — Luc me pergunta. Eu assinto com a cabeça, sem conseguir encará-lo depois dessa crise emocional. Parece que a única coisa que eu consigo fazer hoje é me humilhar na frente dele. Luc pega um lenço do bolso do paletó e seca as minhas lágrimas. Espero que tenham me maquiado com produtos à prova d’água, senão eu devo estar um desastre. — Conhecendo a sua natureza ciumenta, eu vim até aqui me antecipar em te avisar que a mulher com quem eu estava conversando é a noiva prometida de Enzo. — E por que ele não estava com ela? — pergunto, ainda olhando para o chão. Luc solta um suspiro. — É complicado...

Luc volta a guardar o lenço no bolso e não fala mais nada sobre o assunto. Acho que ele não vai falar mais nada sobre isso. — Parabéns pela apresentação, Elizabeth. Como sempre, você esteve extraordinária. Eu, mais uma vez, assinto olhando para o chão. Luc então segura delicadamente o meu queixo e o ergue, obrigandome a encará-lo. — Não fuja mais de mim, Elizabeth. Sei que você tem muitas dúvidas rondando por sua cabeça. Agora que estamos sozinhos e temos um pouco de tempo, você pode perguntar o que quiser. — Como você soube? Desde quando você sabe sobre o Luigi? Ele solta um sorriso sem humor. — Não é tão fácil me enganar, Elizabeth. Se assim fosse, eu não seria o capo da famiglia, eu já estaria morto há muito tempo. Mas, desta vez, eu não tive que me esforçar muito para descobrir a verdade, você mesma me contou sobre o Luigi. — Eu?! Como? — pergunto, surpresa. — Durante o período em que você esteve drogada. Você ficou muito falante, mas a maioria das coisas que você falava era desconexa. Você basicamente fazia muitos elogios aos meus aspectos físicos ou à minha performance sexual, e eu obviamente me senti lisonjeado por estar agradando à minha esposa — Luc declara em um tom de pura vaidade masculina. — Outras vezes, você me recriminava pelo meu estilo de vida. Algumas vezes

lamentou por estar sozinha no mundo, e em um dado momento você disse: “Me perdoe por falar com Luigi pelas suas costas, Luc”. Você me pediu perdão de maneira tão adorável... Pena que você estava fora de si, eu sabia que você não teria me dito aquilo se estivesse consciente de suas ações. Meu Deus! Por favor, alguém abre um buraco no chão para eu poder me esconder nele. Como eu posso ter falado todas essas coisas e me entregado tão facilmente? Merda! — Mas por que você não me disse que sabia? Por que você decidiu me usar? — Te usar não fazia parte dos planos iniciais, mas você mesma se colocou nessa posição, Elizabeth. Você poderia ter me contato a verdade a qualquer momento. Eu apenas joguei conforme o jogo. Luc começa a caminhar distraidamente pelo terraço. — Eu sempre soube das suas reservas em relação a mim, Elizabeth. Você constantemente me entregava o seu corpo, mas não me permitia entrar sequer um centímetro dentro da armadura impenetrável que você construiu em torno de você. Eu conseguia perceber claramente que você constantemente se ressentia por desfrutar tanto de se entregar sexualmente a mim. Mas eu te avisei, a química sexual que nós temos não é algo fácil de se negar. Eu o olho chocada. Como ele sabe de tudo isso? — Você tem um rosto muito expressivo, Elizabeth, e eu sou um bom leitor das pessoas, sou obrigado a ser. A verdade estava escrita claramente em seu rosto e em seus gestos corporais.

Minha mãe sempre me dizia que eu era uma pessoa fácil de ler, agora posso ver que ela falava a verdade. — Mas depois da noite que você me contou sobre o Luigi, eu fui investigar o que estava ocorrendo, e então descobri o e-mail. Luc se vira de frente para a paisagem. — Luigi me desaponta... Enviar uma mensagem para um e-mail corporativo? — Luc bufa em desdém. — Foi tão fácil de encontrar! Depois disso, eu tive apenas que esperar e observar quais seriam os seus passos. De repente, Luc começa a rir como se estivesse desfrutando de alguma memória engraçada. — Eu tive que te ajudar sutilmente a conseguir o que você queria, Elizabeth. A primeira parte foi te ajudar a sair do banheiro. Quando percebemos os teus planos, tivemos que correr para colocar o contêiner de lixo debaixo da janela do banheiro sem que você percebesse. Quanto ao notebook... Que tipo de mafioso não usa uma senha?! — Luc bufa novamente. — Eu obviamente o deixei desbloqueado para você. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria buscar os arquivos dentro dele. Mas caso você queira usar o meu computador no futuro, a minha senha é Elizabeth. — Luc sorri divertido. — Não que isso valha muita coisa, pois obviamente eu não mantenho arquivos importantes em casa. Na verdade, a maioria das informações valiosas não está registrada em nenhum lugar, eu as tenho memorizadas na mente. Já o verdadeiro caderno se trata de contatos de negócios que se passam de uma geração para outra entre os capos das famílias. Os contatos atualizados estão escondidos em um lugar muito bem protegido, e será passado para o meu filho quando chegar a hora de passar o cargo. Aquele caderno que deixei no escritório era obviamente falso.

— Mas sobre o estacionamento, eu não vi ninguém por lá. Como pode ser que vocês estivessem me vigiando? — pergunto, relembrando esse momento. — O estacionamento tinha câmeras espalhadas em todos os lugares. Eu instalei um rastreador em uma sola de seus sapatos para poder te localizar rapidamente, e no estacionamento estávamos escondidos eu, Dante e Enzo. Nós três tínhamos Luigi sob a nossa mira, se ele tivesse feito um movimento em falso, estaria morto, com uma bala enfiada na cabeça; ou três, no caso. — Luc comenta sobre o quase assassinato de Luigi tão casualmente, como se estivesse falando sobre o clima. — Na verdade, ele quase morreu quando eu o vi abrir a mochila. Eu não sabia o que ele poderia tirar de dentro... Quase não me contive. Agora Luc se volta para mim com um olhar duro. — Você tem ideia dos riscos que correu? Não somente em se encontrar com um estranho, mas se alguém de dentro da máfia soubesse o que você estava planejando... Nós três tivemos que nos revezar em sua vigilância pessoalmente durante todo esse período, não pudemos envolver nenhum segurança de nossa equipe, para que ninguém de fora soubesse. Seja mais prudente, Elizabeth! O mundo em que vivemos não permite nenhum deslize. Agora Luc caminha em minha direção e segura os meus ombros. — Eu tenho que estar constantemente atento a tudo e a todos, e prever todos os movimentos futuro de meus inimigos. Você acha que eu não me daria conta dos movimentos da minha própria esposa? O nosso mundo não permite esse tipo de ingenuidade, Elizabeth! Aprenda esta lição, para o seu próprio bem.

Pelo que me diz, eu nunca tive uma chance contra ele. Luc é anos luz mais experiente do que eu nesse tipo de coisa. Essa batalha estava perdida antes mesmo de iniciar. — A sua doce inocência é a característica mais encantadora em você, Elizabeth. É muito raro ver isso em meu mundo — Luc fala enquanto passa a acariciar o meu rosto com as pontas dos dedos. — Mas essas também são as características que mais levam à morte em nosso meio. Eu não tinha a mínima noção dos riscos que corria. Pensar nisso me dá uma sensação de terror. Luc volta a se afastar, encostando os quadris no parapeito do terraço e ficando de frente para mim. — Eu não sabia o que você ia escolher fazer, se teria ou não coragem de seguir adiante, atuando contra mim pelas minhas costas. Então tive que observar para ver o que você faria. Fiquei esperando e torcendo que você viesse me contar a verdade, mas passava dia após dia e eu via que você estava resolvida a seguir com o jogo. Eu já estava perdendo as esperanças, até que, no último segundo, você finalmente decidiu me contar a verdade. Você me surpreendeu, senhora Costatini! Mais uma vez... Percebo que Luc não comenta sobre a minha declaração de amor, e é melhor assim. É melhor isso do que escutá-lo reconhecer que os meus sentimentos não são recíprocos. É melhor fingir que eu nunca me declarei. — O que você faria se eu seguisse adiante? — pergunto, curiosa. Luc reflete durante alguns segundos sobre a minha pergunta. — Eu deixaria você seguir com os seus planos por um tempo, mas em

algum momento eu teria que intervir. — E o que você faria, então? — eu o pressiono. Luc solta um suspiro pesado. — Se você seguisse com o plano, é porque estaria resolvida a não ter uma vida comigo, então, como não existem divórcios na famiglia, provavelmente teríamos que viver separados, em um casamento de fachada. E por perder a minha confiança, você teria que viver sob constante vigilância. O preço a pagar seria menor do que eu achei que seria o meu castigo caso ele soubesse. Eu imaginava coisas mais sanguinolentas. — Você imaginava que eu iria te torturar e matar? Que bárbaro, Elizabeth! Luc me repreende como se fosse eu a pessoa maquiavélica e assassina sanguinolenta aqui. — Esse tratamento eu reservo apenas para outros tipos de contextos. Mas se a cúpula soubesse sobre a sua traição, eles exigiriam respostas mais... definitivas da minha parte. Sendo assim, eu fico feliz que você não tenha me forçado a me colocar contra a cúpula. Depois de ficar ciente sobre essas informações, eu também me sinto aliviada por não ter seguido adiante com os planos de entregá-lo. — E o que você espera conseguir com tudo isso, Luc? O que você espera conseguir de Luigi, agora que eu entreguei as provas falsas? Luc sorri enigmaticamente.

— Isso, logo você saberá.

No Woman, No Cry*: Não mulher, não chore (tradução livre).

A Verdadeira Face Acordo e mais uma vez estou sozinha. Acho que como ainda é cedo, Luc deve estar treinando com os irmãos. Hoje é fim de semana, então eu não tenho necessidade de ir trabalhar, o que é bom, já que fomos dormir tarde depois da festa. A festa foi até tarde, mas fomos dormir ainda mais tarde, por causa do ataque sexual de Luc sobre os meus sentidos. Nós estávamos tão excitados que mal conseguimos passar pela porta. Luc me possuiu da maneira mais deliciosa possível contra a parede, depois continuamos o nosso interlúdio no chão. Só depois de muito tempo, e totalmente exaustos, conseguimos desabar sobre a cama, onde mais uma vez dormimos nus e entrelaçados. A verdade é que eu não me canso de Luc, do seu cheiro, do seu toque, do seu calor. Já estou irremediavelmente viciada em Luciano Costatini. Consigo distinguir claramente que fizemos amor. Bem, pelo menos, eu fiz. Reconheço que o que sinto por Luc não pode ser nomeado de outra coisa que não amor. Relutei muito em reconhecer os meus sentimentos. Na verdade, eu acho que sempre soube que estava me apaixonando por ele, mas eu tinha medo, e ainda tenho. Não é todo dia que você se apaixona por um dos criminosos mais perigosos e importantes do mundo. É de dar medo em qualquer um. Mas, apesar de eu ter declarado os meus sentimentos para ele e de termos tido a nossa noite de paixão desenfreada, nenhuma palavra sobre amor, ou sobre qualquer sentimento parecido, escapou de seus lábios em nenhum momento.

Fico insegura com a perspectiva de dar mais do que eu recebo nesse relacionamento. Que tipo de relacionamento se mantém assim? O que eu posso esperar para o nosso futuro? Pelo menos, eu me sinto mais aliviada de saber que Luc não quer o meu mal. Na verdade, ele tem uma forma muito estranha de prever todas as minhas necessidades e se antecipar a elas. Isso é meio perturbador, pois isso cria uma linha muito tênue entre um cuidado carinhoso e uma manipulação ardilosa. Somente Luc consegue combinar ambas as coisas com maestria, o que me deixa confusa. Agora percebo que as expressões estranhas que eu via em seu rosto eram motivadas pelo fato de ele saber o que eu estava tramando. O que será que ele sentiu? Desconfiança? Raiva? Decepção? Eu não sei dizer, e é difícil saber, já que Luc não é dado a falar sobre os seus sentimentos. Ainda me sinto impactada pelas revelações de ontem. Quantas coisas aconteceram pelos bastidores, sem que eu sequer tivesse me dado conta? Pude constatar o quanto Luc é inteligente, astuto e afiado. Ele consegue antecipar os movimentos das pessoas ao seu redor com muita precisão. Luc é claramente um homem que nasceu para liderar. Ainda que ele não tivesse nascido dentro da máfia, eu tenho certeza de que ocuparia um cargo de destaque em qualquer tipo de atividade que fizesse. Eu me espreguiço na cama, sentindo-me deliciosamente dolorida pelo excesso de sexo da noite passada. Levanto-me para começar o dia e sigo para o banheiro. Após o banho, eu me visto com um vestido verde, longo e confortável, calço sandálias de tiras finas e me dirijo para o café da manhã. Ontem à noite, com todas as tensões que eu passei, acabei ficando sem comer praticamente nada, então agora estou faminta.

Quando chego ao terraço, vejo que os três irmãos estão presentes. Luc se levanta imediatamente ao notar a minha presença e me ajuda a me sentar em meu lugar. Pode-se reclamar de muitas características de Luc, mas nunca da sua falta de cavalheirismo. Pelo menos, não comigo. Os três irmãos ainda estão vestidos com roupas esportivas, e todos estão suados. Parece que os treinos foram duros hoje. Eu me sirvo de tudo que posso, preciso repor as energias. Começo a comer com afinco. — Ainda bem que você decidiu contar a verdade, cunhada, eu já estava ficando preocupado, e também estava cansado de te seguir. Fico feliz que você tenha tomado a decisão certa! — Enzo comenta displicentemente, enquanto come sua omelete. O seu comentário quase me faz engasgar com o meu suco. Eu não esperava que eles fossem comentar sobre a minha quase traição de forma tão aberta. — Hummm... Obrigada? Eu acho... — Eu nunca tive dúvidas de que ela fosse dizer a verdade — Dante informa, atraindo a atenção de todos na mesa. — Olhem a cara dela! — diz apontando a mão em minha direção. — Ela está claramente apaixonada por Luc, é claro que não conseguiria ir até o fim. Ai, meu Deus! Os meus sentimentos são tão óbvios assim? Olho de soslaio para Luc, que me devolve o olhar com um sorriso divertido e convencido nos lábios. Homem diabólico! Acho que a essa altura eu devo estar mais vermelha que um pimentão. Droga! Além de passar vergonha em frente ao meu marido, agora tenho que compartilhar a vergonha com toda a

casa? — Podemos mudar de assunto e falar sobre outra coisa além de mim, por favor? — suplico. Mas o pedido de mudança de assunto não era necessário, já que logo em seguida somos interrompidos pela entrada repentina de Bianca no terraço, com seu semblante aflito. — Senhor Luciano?! — O que foi, Bianca? — Luc pergunta, limpando a boca com o guardanapo e ficando imediatamente sério. — A polícia está aqui, senhor! Eles disseram que têm um mandado de prisão contra o senhor. O delegado está lhe aguardando em seu escritório. Os três irmãos se olham, estabelecendo uma comunicação silenciosa entre eles. Mas eu estou por fora, não entendo nada do que está acontecendo. Luigi veio para prender o Luc? Mas não foi Luc que me mandou entregar aquelas provas falsas? Será que eu acabei prejudicando-o? — É hora do show! — Luc fala, parecendo quase eufórico. — Vocês já sabem o que fazer. Dante e Enzo assentem e saem sem dizer nenhuma palavra. É impressionante observar que em apenas um momento eles mudam drasticamente o aspecto leve e descontraído para uma expressão sombria e fria. Até mesmo Enzo, que é sempre bem-humorado e extrovertido, parece outra pessoa agora. — Diga para o delegado que eu já estou a caminho, Bianca — Luc

ordena, e Bianca parte imediatamente para transmitir a mensagem. Agora Luc se levanta e me fita com seriedade. — Você ainda quer saber quais são os meus planos para pegar o Matteo? — Sim — respondo sem duvidar. — Sei que será difícil para você, mas terá que confiar em mim e se manter calma, independente do que ocorra naquele escritório, ok? — Luc me pergunta enigmaticamente. Eu faço um gesto positivo com a cabeça, mesmo sem saber do que se trata tudo isso. — Então venha. — Luc me oferece sua mão, e assim caminhamos juntos até o seu escritório. Dentro do escritório, sou surpreendida pela visão de Luigi sentado relaxadamente sobre a cadeira de Luc, fumando um charuto enquanto mantém as pernas cruzadas sobre a mesa, como se fosse o dono do lugar. Luigi parece outra pessoa, o aspecto simpático que ele apresentava deu lugar a um certo ar de presunção. Não vejo nenhum sinal de Enzo ou de Dante aqui. Para onde será que eles foram? O que será que eles tinham para fazer de tão urgente que é mais importante do que tentar impedir a iminente prisão do irmão? Acho que eles estão armando alguma coisa! Luc mantém a expressão inescrutável. Ele faz um gesto com as mãos, para que eu me sente em uma das poltronas de frente para a mesa, enquanto

ele ocupa outra poltrona ao meu lado. É muito estranho ver Luc ser recebido em seu próprio escritório como se fosse apenas um convidado. — Bom dia, Luigi. A que devo a honra de sua visita? — Luc pergunta com gentileza, mas eu não me deixo enganar. Sei que por trás da sua educação está uma força mortal. — Bem, eu deveria ter vindo te prender. — Luigi retira alguns documentos de dentro do paletó e os desdobra, oferecendo-os para Luc. — Aí está o mandado de prisão, assim como também o mandado de busca e apreensão. Mas nós dois sabemos que as coisas não funcionam assim, você provavelmente anularia tudo isso aqui antes mesmo que eu conseguisse te dar voz de prisão. Bastaria ligar para algum juiz que você tem escalado na sua folha de pagamento e todo o caso estaria encerrado. Luc solta um pequeno sorriso enquanto dobra os documentos e os deposita sobre a mesa. — Bem apontado, Luigi. Já que você já conhece os fatos, então, qual é o ponto? — Bem... Eu pensei que talvez poderíamos fazer uma espécie de negociação. Isso sequer lhe custaria muito. Acho que podíamos dividir a metade dos lucros dos seus negócios, e eu passaria a ser o seu sócio. O que você me diz? Luc bufa em diversão. — É mesmo? E por que eu faria isso? Luigi lança o seu olhar sobre mim e aponta em minha direção.

— Graças à sua ingênua esposa, eu agora tenho todos os dados que necessito. Ela me passou todos os dados sobre as suas transações comerciais. Devo dizer que foi muito fácil enganá-la com esse papo de justiça e bondade. — Luigi ri de maneira escarnecedora. — O quê? Sobre o que você está falando? — Luc indaga, transparecendo incompreensão. — É isso mesmo, a sua esposa me entregou tudo! — Luigi confirma. — O quê? Você realmente fez isso? — Luc me pergunta com incredulidade. Eu olho para baixo, sem saber o que responder. Neste momento, eu acho melhor ficar calada. — É sempre um rabo de saia que enfraquece um homem. Típico! — Luigi caçoa, enquanto ri divertido da situação. — Sua estúpida! — Luc dispara contra mim, com fúria estampada em seus olhos. — Lidarei com você mais tarde! — promete com irada ferocidade. Tem tanta fúria no olhar de Luc que eu não consigo evitar me encolher na poltrona. Do que ele está falando? Então me lembro de que ele me pediu para confiar nele, por isso decido me manter quieta. — Ah, não fique assim tão bravo, Luc! — Luigi fala com sarcasmo. — Se eu entregasse tudo isso para Matteo, a sua situação seria muito pior. Você sabe que ele não aceitaria compartilhar o cargo de capo com você. Depois de pegar essas informações valiosas, ele daria um jeito de dar um fim em você e na sua família. Você sairia ganhando com a nossa parceria.

Luc se levanta e caminha em direção a Luigi. Espalma a suas mãos sobre a mesa, encarando-o em uma posição desafiadora. — Matteo contratou você para armar contra mim? — pergunta, com surpresa e raiva. Luigi não se intimida, mantém o seu odioso sorriso no rosto. — É claro que sim! Ele me passou todos os dados sobre a senhora Costatini! Ele falou como o casamento de vocês foi arranjado, e pela cara de desgosto que ela tinha no dia do casamento, ele acha que ela não estava se casando de bom grado. Ele me disse que seria fácil enganá-la, já que foi obrigada a se casar. Isso significa que ela não deve ter muito apego a você, e também pelo fato de ela não ter sido criada dentro da máfia. Você sabe que ela é muito ingênua e carrega todo esse idealismo sobre a moral, a ética e toda essa baboseira. Meu Deus! Luigi é um vigarista barato da pior espécie! Por muito pouco eu não caio em sua lábia. Ele planejava o tempo todo obter apenas dinheiro e poder! Esse mundo onde Luc vive não tem mocinhos e bandidos, parece que aqui são todos bandidos. — O plano original era eu entregar todas as informações para Matteo e receber o restante do pagamento que ele me deve. Mas você sabe como são as coisas... Por que eu devo me contentar com migalhas, se posso ter o prato principal? Neste momento, vejo Luc se transformar diante de nossos olhos. Ele sai do seu modo colérico e nervoso e retorna para a sua personalidade tranquila e calma, abandonando completamente o personagem que ele havia vestido. Só que Luigi não sabe que quando Luc aparenta estar calmo, é

quando ele é mais letal. Ele é como uma cobra quando faz uma pausa antes de dar o bote. A próxima cena acontece tão rápido que eu me assusto. Luc parte para cima de Luigi, agarrando-o pelo colarinho e levantando-o da cadeira como se ele não pesasse nada. — Seu imbecil, arrogante e presunçoso! Quem te autorizou a ocupar a minha cadeira? Você não é digno de se sentar nela! Luc tira-o da cadeira arrastando-o por cima da mesa e joga-o no chão. Luigi tenta resistir, protestar e lutar, mas depois de algumas tentativas de golpes malsucedidos, ele é subjugado pela força e perícia de Luc, que, rapidamente após dominá-lo, retira a arma que estava dentro do paletó de Luigi, guardando-a na parte traseira do cós de sua própria calça. — Você tem a mínima noção da quantidade de pessoas que já tentou me trair, me enganar, ludibriar e me matar durante todo esse tempo em que sou um capo? E até mesmo antes disso? O número é incontável! Você é apenas mais um na fila, e sequer é o mais inteligente. É óbvio que os dados que eu passei para você eram falsos, seu estúpido! Luigi está jogado no chão, e a sua fisionomia mostra incompreensão, mas depois de alguns segundos, ele parece entender o que está acontecendo, então olha enfurecido para mim. — Sua vadia! — ele me xinga, colérico. — Você me enganou! Em resposta, Luc se abaixa e o soca repetidamente no rosto, até que Luigi passa a cuspir sangue para todos os lados. — Você teve a honra e o privilégio de chegar perto da minha esposa e

conversar com ela. Mas isso nunca mais acontecerá novamente. Você não tem permissão para mencionar o nome dela, não tem permissão para sequer respirar o mesmo ar que ela! Luc inclina a cabeça, em um gesto de análise, e observa Luigi como se quisesse compreender alguma coisa. — Eu nunca me canso de me surpreender com a ganância do ser humano! Eu planejava que você entregasse as falsas provas para Matteo, assim eu poderia encontrá-lo e incriminá-lo, já que coloquei rastreadores modernos e difíceis de detectar tanto no pen drive quanto no caderno. Mas olha só o que me aparece! O policial que já está em minha folha de pagamento, mas que decide que quer ainda mais... E pensa que pode armar contra mim, colocando a minha mulher contra mim?! Eu?! Luciano Costatini?! Eu sou o capo da porra da máfia e o seu senhor! — Luc esbraveja. Luigi é mais uma vez socado com selvageria por Luc, o que faz com que a sua cabeça penda para o lado e sangue seja salpicado pelo tapete. Eu fico com náuseas ao presenciar essa cena de violência tão crua. Mas depois de alguns segundos, eu escuto, perplexa, Luigi soltar uma gargalhada. — Você me pegou, Luc! Você faz jus à sua fama de ser um grande estrategista. Mas deixou escapar dois pequenos detalhes... Luc o observa, esperando pela sua explicação. — Você conseguiu me pegar, é verdade, mas eu sou um peixe pequeno. Como eu não entreguei as provas para Matteo, você não pode incriminá-lo, então o seu maior inimigo continua à solta.

— E qual seria o outro detalhe, Luigi? — Luc pergunta, curioso. Para a minha surpresa, Luigi aponta o dedo em minha direção. — Ela! Ela conspirou contra você! Pode ser, é verdade, que no final ela decidiu te ajudar, mas eu sei que no princípio ela realmente acreditou em mim. Não tem como disfarçar todo aquele ar de ingenuidade. Se a cúpula chegar a saber disso, você sabe que terá que tomar providências contra ela. Então, em lugar de conseguir pegar o seu inimigo, você terá que perder a sua esposa. Sinto o meu sangue congelar nas veias. Fico estarrecida com o nível de crueldade e falsidade de Luigi. — Entrem! — Assim que Luc emite essas palavras, Enzo e Dante entram pela porta do escritório, e ambos param ao meu lado. Luc então ri para Luigi, que o olha desconfiado. Tenho certeza de que se um tubarão pudesse sorrir, ele sorriria como Luc está sorrindo agora, de forma predatória. — Tcs tcs tcs... Você me decepciona, Luigi, é muito amador. Detesto lidar com amadores, não consigo ter sequer a emoção pela vitória... — Luc fala a última parte mais para si mesmo do que para os demais presentes. — Quanto ao seu primeiro ponto... Bem, este escritório possui câmeras ocultas espalhadas estrategicamente pelo cômodo. Tudo o que você disse foi gravado. Dante retira um celular do bolso e mostra para Luigi as imagens de poucos momentos atrás. Dante mostra o vídeo no ponto em que Luigi afirmava que foi contratado por Matteo.

— Então... aí eu tenho a prova contra Matteo. A cúpula vai adorar saber disso! E lembro-me ainda de que você mencionou que tinha recebido parte do pagamento pelo serviço de me trair. Suponho que se eu investigar sua conta, encontrarei os vestígios de Matteo nela, não é? Luigi se põe ainda mais pálido do que estava, revelando que Luc está indo pelo caminho certo. — Quanto à segunda parte, a minha esposa fez apenas o que eu lhe pedi. Quem poderá dizer o contrário? — Eu posso! — Luigi grita, cuspindo sangue no processo. Luc mais uma vez ri sem humor, e depois fala com a voz mansa: — Você sabe como a profissão de policial é perigosa? Eu sempre fico entristecido quando vejo notícias de policiais assassinados ao enfrentarem bandidos, acho realmente uma pena... Seria muito fácil fabricar a sua morte, não é? Seria apenas mais um policial assassinado na guerra contra o crime. Mas não se preocupe, você teria um lindo enterro, digno de um herói que morreu lutando pelo bem da sociedade, e não como a escória que você realmente é. Mas você ainda vai desfrutar de um tempo vivo, nós vamos tirar de você todas as informações que possa ter sobre Matteo. — Seu filho da puta! — Luigi se estrebucha no chão. — Eu jamais vou falar nada! Vá se foder! — Ah, você vai falar, sim! Nós desenvolvemos muitas técnicas que estimulam as pessoas a soltarem todos os seus segredos. Você vai ficar familiarizado com algumas delas, e vai implorar pela morte antes que eu termine com você. Então não terei mais motivos para temer qualquer repercussão que esse assunto possa ter sobre a minha esposa, não é? — Luc

pergunta levantando uma sobrancelha, ostentando um ar de fingida ingenuidade. Observar essa cena deixa muito claro o quão habituado Luc está com a violência. Ele obviamente está em seu habitat natural, eu diria até que ele desfruta desses momentos. — Levem-no! Comecem a trabalhar nele, daqui a pouco eu me juntarei a vocês. Dante e Enzo arrastam um Luigi se contorcendo e esperneando para fora do escritório. Eu acho que estou em estado de choque com toda essa cena. Luc se dirige a um pequeno bar localizado em um canto do escritório, ele pega um copo e se serve de uma dose de whisky; em seguida, ele me oferece. — Não, é muito forte para mim, Luc — protesto ao sentir o cheiro da bebida. — Você precisa, Elizabeth, está muito pálida, isso vai te ajudar a tirar do estado de choque. A contragosto, eu tomo a bebida em pequenos goles, e com o tempo eu volto a sentir o meu sangue esquentar. — Eu deixei você presenciar essa cena porque é necessário que você aprenda uma lição muito importante: no nosso mundo, não existe o certo ou o errado, o branco ou o negro. Aqui é tudo em diferentes tons de cinza. Aqui o certo e o errado são conceitos relativos.

Luc pega o meu copo, que já está vazio, e volta a colocar outra dose de Whisky nele, mas desta vez é para si mesmo, que o toma em um só gole. — O homem que você considerava íntegro e justo há tempos já fazia parte da minha folha de pagamento. Ele queria apenas me extorquir, e não tinha nenhum escrúpulo em te entregar para a morte para concretizar os seus planos. Luc guarda o copo vazio de volta em seu lugar no bar e se senta de frente para mim. — Eu tenho a polícia toda comprada, Elizabeth. A minha lista de pagamentos é extensa, e inclui policiais, juízes, governadores e diferentes estadistas e autoridades. Aqueles que você considera os heróis da história são tão ou mais bandidos que eu. O sistema é todo corrupto e distorcido, e os poucos verdadeiramente bons e íntegros no mundo não se metem com gente como eu, pois eles querem proteger a si e suas famílias. É assim que funciona, Elizabeth. De agora em diante, pense muito bem em quem você vai dar a sua confiança, pois isso pode te custar a vida. Abaixo os olhos e assinto. Eu vejo agora o quão pouco conheço o mundo, eu apenas tinha uma ilusão do que ele era. Preciso abrir os olhos para a realidade. Caso eu queira sobreviver, não poderei mais ser tão ingênua. Entregar a confiança para a pessoa errada pode ser fatal. Mas eu me pergunto: o que ocorre quando você entrega o seu coração para a pessoa errada? Será tão fatal quanto?

A Cúpula Eu me sinto muito nervosa e ansiosa. Estou sentada em uma ampla e espaçosa sala de reuniões, com design moderno e elegante, em tons de branco, cinza e negro. Tudo neste ambiente grita riqueza e poder. Enzo e Dante também estão sentados juntos comigo, cada um a um lado. Quando eles me trouxeram para a reunião da cúpula, eu tinha imaginado que o lugar de reuniões fosse em estilo clássico, com um ambiente pesado e escuro, ao estilo O Poderoso Chefão. Eu me surpreendi ao constatar que o lugar de reunião da máfia é um ambiente muito claro, de onde é possível ter uma linda visão da cidade através de uma parede de vidro. A sala é claramente dividida entre quem é da alta cúpula (o capo e um representante de cada famiglia da máfia) e o baixo clero, nós, que não temos direito à voz na reunião. Os membros seletos da cúpula são em sua maioria pessoas de idade mais elevada, e estão todos devidamente sentados em suas cadeiras ao redor de uma enorme mesa de vidro. E, à cabeceira, está o dirigente da cúpula em todo o seu esplendor: Luciano Costatini, o capo. Nós, os participantes silenciosos e menos importantes desta reunião, estamos na parte de trás, sentados em fila, compondo uma espécie de plateia. Eu tive que insistir muito para poder estar presente aqui. Os irmãos, após passarem os três últimos dias se revezando na tortura de Luigi (fico só imaginando que tipo de tortura eles empregaram durante esse tempo), conseguiram reunir finalmente as provas necessárias para esta reunião. Ao que tudo indica, este é o fim da linha para Matteo Barbieri.

Eu não suportava a ideia de ficar em casa esperando ansiosa pelo resultado desta reunião. Matteo já me prejudicou muito, tanto direta como indiretamente. Eu precisava me certificar de que tudo ocorreria bem hoje e que esse pesadelo terminará logo. Mas Luc permitiu a minha vinda até aqui somente porque Enzo e Dante também estariam presentes, assim fariam a minha guarda pessoalmente. Eu não apoio a violência, mas agora finalmente compreendi que não existe uma saída pacífica para esse conflito com Matteo. Matteo não descansará até que consiga tomar os negócios e o cargo de Luc. Só há um possível desfecho final: um dos dois terminará morto, Luc ou Matteo. E como Luc já havia dito antes, eu já escolhi o meu lado. Luc se levanta de sua cadeira, o que marca o início da reunião. — Obrigado a todos pela presença. — Luc inicia a reunião com uma aparência imponente. — Como já é do conhecimento de todos, nós andamos sofrendo uma série de problemas, desde atentados contra mim e minha família, até a interferência em nossos negócios, como roubo de cargas e falsificações de documentos, além do assassinato de membros da nossa organização. E vocês sabem que eu não posso deixar algo tão grave passar sem nenhum tipo de retaliação. Mas hoje finalmente posso dizer que encontramos a pessoa responsável pelos nossos problemas. Trago as evidências para comprovar. Após essas palavras impactantes, começa uma série de burburinho entre os presentes, que logo é interrompido com apenas um levantar de sobrancelha e um olhar mais severo de Luc, que dirige esta reunião com mão de ferro. — Continuando... Há tempos eu desconfiava que essa série de eventos

derivavam de alguém do nosso meio, de alguém de dentro da famiglia. — Mas como você pode dizer uma coisa dessas? Isso é ultrajante! — um homem de mais idade, corpulento e calvo, o interrompe, indignado. — Há décadas que não se escuta sobre esse tipo de traição em nosso meio. Mais precisamente, desde a época em que seu pai descobriu que Giancarlo era um traidor e extirpou toda a sua famiglia. Bem, quase toda... — Ele termina a última parte de seu discurso me dirigindo um olhar recriminador. — É verdade, Francesco, que faz tempo que não sofremos uma traição dentro do nosso meio, mas desta vez é o caso, e eu posso provar. Luc pega o controle remoto que está à sua frente e aperta um botão, ligando uma grande televisão que está na sala. Um vídeo é iniciado, mostrando as imagens de Luigi diante de todos. Assistimos às cenas que se desenrolaram no escritório de Luc. A chegada de Luigi ao escritório e a sua tentativa de chantagem, e depois o vemos confirmando que havia sido contratado por Matteo. Não me passa despercebido, porém, o fato de que Luc cortou a última parte do vídeo, onde Luigi afirmava que eu o havia traído. Todos os presentes assistem ao vídeo em silêncio, mas posso observar o óbvio desconforto de Francesco, que está com o rosto excessivamente vermelho e suando em profusão. — Francesco é o pai de Matteo, ele não vai aceitar isso tão facilmente — Enzo sussurra em meu ouvido, orientando-me sobre o que está acontecendo. — Mas isso não prova nada! — Francesco protesta assim que o vídeo termina. — Essa é apenas uma acusação sem nenhum tipo de fundamento

desse tal de Luigi! Luc observa Francesco com atenção, mas a sua fisionomia está em branco, é impossível saber o que ele está pensando. — As coisas não são bem assim, Francesco. Depois de algum tempo utilizando as melhores técnicas de persuasão da família Costatini em Luigi, nós conseguimos os números de todas as contas bancárias que ele mantinha escondido; e depois de um tempo de análise, nós conseguimos rastrear os depósitos de Matteo nelas, comprovando que Luigi foi realmente contratado por ele para me trair, para trair esta organização, a nossa famiglia! O discurso de Luc, que começou em tom suave, termina em tom duro e enfático. — Você sabe muito bem, Francesco, que nós eliminamos pessoas por motivos bem menores do que esse. Normalmente, apenas uma leve suspeita já seria mais do que o suficiente para justificar a morte de alguém, mas, nesse caso, eu me dediquei a conseguir todas as provas necessárias, por se tratar de uma pessoa de uma família importante entre nós, para que não se tenha nenhum equívoco. Então, com todas essas provas em mãos, eu convoquei essa reunião, não para pedir o seu apoio, pois eu não preciso dele, e sim para informar a todos que eu declaro aberto o período de caça a Matteo Barbieri. E se alguém tiver algo contra, também será alvo de minha caça. Então, se alguém quiser se manifestar, fale agora ou cale-se para sempre! — Luc exclama sarcasticamente. Francesco se levanta em um rompante e grita, colérico: — Não será tão simples assim, Luciano! Eu soube de fonte confidencial que a sua esposa esteve vazando informações com a intenção de

te trair. Eu fiquei calado até agora sobre isso, por acreditar que poderia ser um engano ou uma mentira. Mas depois de ver esse vídeo, ficou claro que Matteo acreditou obter provas de algum lugar, então essas provas só podem ter sido dadas por ela. Não pode haver dois pesos e duas medidas, Luciano. Se você vai caçar um traidor, então tem que caçar todos eles! Sinto o meu coração acelerar em terror. Ai, meu Deus! Será que o pior vai acontecer? Eu vou acabar pagando por uma traição que eu nunca cheguei a concretizar! Enzo e Dante seguram cada uma de minhas mãos em um gesto de consolo, ao mesmo tempo em que olham para todos os presentes com desafio nos olhos. Neste momento, eu me sinto consolada e protegida; pela primeira vez, eu me sinto parte desta família. Luc lança um olhar frio e mortal em direção a Francesco. — Cuidado com as suas acusações levianas, Francesco — Luc adverte em tom mordaz. — A minha esposa foi orientada por mim desde o princípio a fornecer dados falsos para Matteo, com o intuito de enredá-lo em sua própria ganância e para que eu descobrisse quem estava por trás dessa tentativa de me emboscar. Qualquer outra declaração além desta é falsa e mentirosa, e eu gostaria muito de ter uma conversinha com essa sua fonte oculta, senhor Francesco Barbieri. Mas caso você possua alguma prova contrária, mostre-a agora, e iremos apreciá-la. — Luc fala todas as palavras transparecendo incrível veracidade. Qualquer um que o escutasse jamais duvidaria de que se trata da mais absoluta verdade. Francesco engole em seco e volta a sentar-se em silêncio, obviamente vencido pelos argumentos de Luc.

— A partir deste momento, todos estão autorizados a buscar e caçar Matteo Barbieri, vivo ou morto. — Luc agora olha para Francesco em aberto desafio. — A partir deste momento, Matteo Barbieri não pertence mais à nossa famiglia. A partir de agora, Matteo é nosso inimigo. Se ninguém tem nada mais a acrescentar, declaro esta reunião finalizada. Solto um longo suspiro de alívio, com a esperança de que dentro de um futuro próximo nós tenhamos paz.

Depois da reunião, Enzo me trouxe de volta para casa. Luc e Dante tiveram que permanecer para resolver assuntos de negócios com os membros da cúpula. Decidi passar um tempo estudando música em minha sala. Assim que eu entrei nela, percebi uma mudança. Em um canto da sala tem uma pequena mesa de escritório, onde descansa um computador portátil de última geração. Pelo visto, Luc não esquece as suas promessas. Algum tempo depois, vejo Luc entrar na sala. Ele ainda está vestindo o terno que usou hoje à tarde, durante a reunião, mas agora está sem a gravata e com os primeiros botões da camisa desabotoados. Luc caminha em minha direção de maneira decidida. Na verdade, ele parece perturbado com alguma coisa. Sem falar uma palavra, ele me levanta da poltrona onde eu estava sentada organizando algumas partituras e me abraça apertado, como se há muito tempo não me visse.

— Eles não vão te tirar de mim, Lizzy, você é minha! Eu jamais permitiria! — Será que ele ficou perturbado pela possibilidade de ameaça contra a minha vida? Eu retribuo o seu abraço com fervor, pois a verdade é que também fiquei perturbada com as ameaças dessa reunião. — Mas agora está tudo bem, Luc? — É claro que está! Eu não permitiria que fosse de outro modo — Luc declara com o seu habitual jeito arrogante. Eu exalo em alívio. — E agora teremos paz? — pergunto, esperançosa. Luc se afasta um pouco para me olhar nos olhos com pesar. — Paz não é um conceito que exista em minha vida, Lizzy. Eu diria que talvez tenhamos algum período de tranquilidade no futuro, mas não ainda. Temos que encontrar Matteo primeiro. Ele está foragido, e ainda não pudemos encontrá-lo. Estive caçando-o, mas ele evaporou. Ele deve ter sabido sobre o resultado da reunião da cúpula de hoje. — Luc passa a mão pelos cabelos em um gesto de frustração. — Matteo solto é um grande motivo de preocupação, não sabemos onde ele poderá atacar, ele ainda tem muitos homens fiéis a ele. Mas continuaremos investigando, mais cedo ou mais tarde o alcançaremos. Matteo parece ser um adversário ardiloso. Até agora ele tem conseguido sempre se manter longe do alcance de Luc. — Mas chega de falar sobre a máfia ou Matteo. Agora eu tenho outros planos para nós — Luc me avisa com um brilho de desafio no olhar. — Tire as minhas roupas, Lizzy.

Esta é a primeira vez que ele pede para que eu tome a iniciativa no sexo. Eu ainda sou muito acanhada e tímida nesses assuntos, mas não tardo em obedecê-lo. Hoje sinto uma urgência desesperadora de senti-lo, principalmente agora que saímos da sombra da ameaça de Matteo. Agora preciso extravasar toda a tensão acumulada sentindo a sua pele contra a minha. Eu quero me derramar em Luc. Eu removo com mãos hesitantes o seu paletó e passo a desabotoar a sua camisa. Luc não desvia o seu olhar ardente de mim nem por um segundo. Depois de retirar a sua camisa, eu tiro o seu cinto e abro a sua calça, observando a sua potente ereção sob a cueca. A calça cai, deixando à vista a sua cueca boxer. Luc é sempre uma visão de dar água na boa; apesar das cicatrizes que o seu corpo revela, nada consegue mitigar a sua beleza. Luc retira os seus sapatos e meias, ficando apenas com a cueca. O olhar desafiador de Luc me instiga a continuar, e com ousadia eu me aproximo dele e começo a depositar pequenos e delicados beijos por todo o seu peito. Eu o abraço, colando os nossos corpos, e sugo o seu mamilo em um gesto erótico. Luc, que esteve completamente imóvel até agora, permitindo-me explorá-lo, emite um gemido gutural em sinal de aprovação, mas parece que agora ele decide que não quer mais ficar parado. Ele tira o meu vestido com gestos precisos, deixando-me apenas com uma delicada calcinha de renda branca. — Você é sempre uma visão perfeita, Elizabeth — Luc me elogia, aproximando-se de mim para me beijar.

O seu beijo é profundo e faminto, e me deixa desejosa por muito mais. Em um gesto de ousadia, eu abaixo a sua cueca e acaricio o seu membro com as mãos, explorando e apreciando a sua extensão e textura. Luc geme em apreciação. — Assim você me deixa impaciente, senhora Costatini. Hoje foi um dia pesado, e está sendo muito difícil manter o meu controle para ir devagar aqui. Eu o encaro em aberto desafio. — Eu não quero o seu controle, Luc. Eu preciso de você, não precisa se conter. Luc esquadrinha o meu rosto por um momento, como à procura de alguma informação. O que quer que seja que ele estava procurando, ele parece ter encontrado, porque finalmente chega a uma conclusão. Luc se abaixa e procura a carteira em seu paletó que está jogado no chão, tirando um preservativo de lá. Em seguida, ele o veste e vem em minha direção. — Muito bem, senhora Costatini, será feita a sua vontade. Sexo selvagem, então! Eu assinto com uma inclinação de cabeça, sentindo um frio no estômago com a expectativa do que virá. Luc me agarra com ferocidade, levantando-me do chão e me beijando profundamente. Eu devolvo o seu beijo com igual selvageria e enrolo as minhas pernas ao redor de sua cintura. Luc acaricia e massageia a minha

bunda, depois engancha os dedos em volta da minha calcinha e a rasga. Luc e os seus traumas com as calcinhas! Ele então me ergue ainda mais e passa os braços por baixo de cada uma de minhas pernas, enquanto eu engancho os meus braços na sua nuca. — Agora, senhora Costatini, aqui vai o sexo selvagem — Luc me avisa com luxúria, antes de se posicionar na minha entrada e invadir o meu corpo nesta posição quase impossível. Eu sei que é apenas por ser um homem muito forte que ele consegue mantê-la. Luc me impulsiona com os seus braços, entrando e saindo de dentro mim em um ritmo perfeito. — Sim! Luc, assim! — arfo em seus lábios, sentindo-o entrar muito profundo em mim, quase a ponto da dor. O ritmo de suas estocadas vai se intensificando, criando uma onda de tensão e calor pelo meu corpo. Eu estou muito perto, e Luc parece muito concentrado na sua tarefa de me levar ao ápice. — Caralho, Lizzy! Você é tão gostosa! Venha, goze para mim! As suas palavras me deixam ainda mais excitada. Não demoro em obedecê-lo e o orgasmo me toma. Tenciono as minhas pernas em seus braços, enquanto sinto as contrações poderosas de prazer me levarem às alturas. — Isso, Lizzy! Perfeita! — Luc grunhe roucamente, e após mais algumas estocadas, ele também goza longamente. Luc se retira de dentro de mim e me leva para o sofá da sala. Estamos com as respirações irregulares, resultantes da nossa intensa atividade física. Fico esparramada por cima dele. Tento controlar a minha respiração e

o meu coração. Caramba! Esse homem ainda vai me matar desse jeito. Será que é possível morrer de prazer? Sou tirada de meus devaneios quando Luc me chama atenção ao tirar a camisinha. — Quando eu vou poder parar de usar isso, Elizabeth? Eu o olho sem entender a pergunta por um momento, e quando finalmente a ficha cai, eu me sento, em choque. Não pode ser! — O que foi, Elizabeth? — Luc pergunta, preocupado. — O que aconteceu? Eu não respondo, pego o meu vestido do chão e o visto rapidamente. Saio correndo em disparada em direção ao nosso quarto, entro no closet e começo uma busca desenfreada pela minha necessaire, onde eu havia guardado os anticoncepcionais receitados. Depois de revirar os objetos dentro do closet por algum tempo, eu a encontro, então verifico que a cartela que Luc me havia entregado há algum tempo ainda está aqui, intacta. Passo a procurar pela minha bolsa e encontro o meu celular dentro dela. Abro o aplicativo de calendário e começo a fazer as contas. Eu deveria começar a tomar o anticoncepcional no primeiro dia do meu ciclo, mas o fato é que há mais de um mês que o meu ciclo não vem. Sinto o meu coração acelerar novamente, mas agora por um motivo não sexual. Meu Deus! Como isso é possível? Apoio o meu corpo na parede e vou descendo até o chão, olhando incrédula para o calendário em minhas mãos, que me hipnotiza, como se com

o poder da mente eu pudesse mudar as datas que estão diante de mim. Fico assim por um tempo, até que uma mão tira o celular de mim. Luc me pega em seus braços e me carrega até a cama, colocando-me sentada sobre o seu colo. Ele segura o meu rosto com ambas as mãos, forçando-me a encará-lo. — O que foi, Elizabeth? Você tem um péssimo hábito de se esconder dentro de você mesma quando se depara com algum problema — Luc me repreende com gentileza. — Compartilhe comigo o que quer que a esteja angustiando. Ainda em estado de choque, eu olho para os seus lindos olhos amarelos. — Eu ainda não menstruei, Luc — aviso em um fio de voz. — Estou há pelo menos uma semana atrasada, e eu nunca atraso. Luc olha para mim surpreso. — Isso é o que eu estou pensando que significa? — Sim, não... Eu não sei — respondo, confusa. Como pode ser possível? — Ainda é muito cedo para dizer... Paro abruptamente e olho para ele com raiva. — Você planejou isso?! — pergunto em tom de acusação. Conhecendo o seu caráter manipulador, eu não duvido nada. Luc me fita espantado. — Você estava presente enquanto eu te fodia? Como você pode

perguntar uma coisa dessas? Você não viu que eu usei preservativo em todas as vezes, conforme você própria me solicitou? — Mas então como pode ser possível eu estar grávida, Luc? — pergunto, sentindo as lágrimas formarem-se em meus olhos. Luc solta um suspiro e me abraça. — Nenhum método anticoncepcional é cem por cento seguro, Elizabeth. Acho que pode ter alguém aí dentro que está muito determinado a vir a este mundo. E eu quero ser pai, então você foi vencida, por estar em menor número — Luc comenta, zombeteiro. Eu me afasto dele e sinto as lágrimas descerem pela minha face. — O bebê mal se instalou e vocês dois já estão fazendo complô para me derrotar?! Isso só confirma que ele tem sangue mafioso! Luc ri com o meu protesto absurdo. — Não se angustie antes da hora, Lizzy, ainda é cedo para saber. Amanhã chamarei a ginecologista, e então teremos certeza sobre o que está realmente acontecendo. Mas se for realmente gravidez, você não tem com o que se preocupar, eu estarei com você a cada passo do caminho — Luc fala docemente, secando as minhas lágrimas com as mãos. Quando Luc fala essas coisas de maneira tão doce, eu quase posso acreditar que lá no fundo ele me ama.

Surpresa Acordo lentamente, aproveitando o resquício do sono. Eu me reviro na cama, desfrutando desse momento entre o sono e a vigília, até que sinto lábios macios beijando os meus. — Buongiorno, senhora Costatini. Você tem que acordar. — Temos que ir trabalhar? — pergunto abrindo os olhos, ainda sonolenta. Vejo que Luc já está arrumado para o dia, e está com um visual mais casual hoje. Ele está com uma calça caqui bege e uma camisa azul-marinho, que está com os punhos enrolados e os primeiros botões abertos, deixando antever um pouco do seu peito. — Não hoje. Dante e Enzo se responsabilizarão pelos meus compromissos. De qualquer forma, meus negócios aqui já estão quase finalizados. — Por que não vamos para o trabalho hoje? — indago, curiosa. — Porque hoje você tem uma consulta com a sua ginecologista, que, a propósito, já está a caminho. Eu me sento de repente, afastando qualquer resquício de sono que ainda me dominava. Consulta com ginecologista? Sim, eu posso estar grávida! No meio da minha sonolência, eu havia esquecido. Mas eu não esperava que Luc fosse querer estar presente nesse momento. Acho que ele

está levando muito a sério o cumprimento de sua promessa de me acompanhar a cada passo no caminho. — Vou te deixar se arrumar. Eu te aguardo no terraço para o café da manhã — Luc me informa, já se dirigindo para fora do quarto. Eu assinto e saio em disparada para o banheiro. Tomo um banho rápido e visto uma saia florida soltinha, que chega até um pouco acima dos joelhos, e uma camisa de manga curta. Penteio o meu cabelo e o deixo solto, calço uma sapatilha e saio à procura do café da manhã. — Buongiorno! — Dante e Enzo me cumprimentam quando eu chego ao terraço. Ambos estão vestidos com trajes sociais, a diferença é que Enzo não usa gravata. Acho que eles estão preparados para o dia de trabalho no escritório. — Bom dia! — eu os cumprimento, enquanto sou ajudada por Luc a tomar o meu assento. — Eu não sabia que vocês queriam engravidar tão cedo, cunhada — Enzo solta abruptamente, sem nenhum tipo de tato. Eu engasgo, começando a tossir o meu café para fora, então tampo a boca com o guardanapo. Luc dá uns tapinhas nas minhas costas, tentando me ajudar. — Você contou para eles? — pergunto para Luc, incrédula, quando me recupero do meu acesso de tosse. Luc dá de ombros. — Eles me perguntaram por que eu não ia trabalhar hoje, o que é um

evento muito raro, Elizabeth. Então eu expliquei que vou te acompanhar em seus exames com a ginecologista. O resto... eles deduziram sozinhos. Eu não esperava ter que expor o assunto tão precocemente, mas decido responder à pergunta de Enzo: — Nós não estávamos planejando. — Então Luc deve ter um super esperma! Enzo afirma em tom de gozação. Vejo um pedaço de pão voar por sobre a mesa e acertar a cabeça de Enzo, que estava desprevenido. — Você é muito sem noção! — Dante o recrimina. Enzo joga o pão de volta em direção a Dante e levanta os ombros em um gesto de descrédito. — Ter um menino correndo e brincando por aí seria interessante. Eu poderia ensiná-lo a como conquistar as meninas. Eu seria um bom professor nisso — Enzo comenta piscando travesso para mim. — Você não acha que está se precipitando? — eu o recrimino. — Eu sequer sei se realmente estou grávida. E mesmo que esteja, o bebê pode ser uma menina. Os três passam a olhar sérios em minha direção. — Nesse caso, cunhada, nenhuma aula de conquista para ela! Pode ter certeza de que nenhum garoto vai chegar perto antes de ela completar pelo menos trinta anos — Enzo me informa com ar determinado.

Os outros dois parecem concordar com essa ideia. — Seus malditos machistas hipócritas! Vocês têm dois pesos e duas medidas! Vivem por aí fazendo todo tipo de orgia, mas não permitem que uma mulher faça o mesmo?! — Esses Costatinis me dão nos nervos! Nenhum deles me responde. Eles sabem muito bem que eu tenho razão, mas duvido que isso faça qualquer diferença na forma como pensam. — Como ficou o caso do senador Fontana? — Dante pergunta, mudando de assunto. O que é muito sábio da parte dele, eu diria. Luc deposita os talheres na mesa enquanto limpa a boca para responder. — Eu tive uma pequena conversa com aquele filho da puta corrupto. Com quem ele pensa que está lidando? Com o eleitorado dele? — Luc bufa em desprezo. — Aquele patife anda muito ganancioso, queria nos pressionar por uma porcentagem maior sobre os negócios de tráfico de drogas. Vocês sabiam que ele costuma fretar avião particular com uma de nossas empresas? Fazer um desses aviões desaparecer em um “trágico acidente”, não me custaria nada, e isso foi o que eu comentei com ele. Acho que agora ele entendeu o recado. Dante assente. — Isso é bom, temos que deixar essa escória controlada. E falando em escória, você se saiu muito bem na reunião com a cúpula ontem, Luc. Conseguimos evitar dissensões internas. Com as provas que apresentamos, todos estão nos apoiando em nossa caçada contra o Matteo. — Sim, eu delimitei os nossos problemas somente aos Barbieris.

Temos que ficar de olho em Francesco, ele pode querer ajudar o filho. — Não se preocupe, eu já mandei grampear o telefone dele e coloquei pessoas para o vigiarem constantemente. Luc assente enquanto toma seu café. — Vamos ver se Matteo entra em contato com o pai e entrega a sua localização. Enquanto isso, sigamos com as nossas buscas. Luc carrega um olhar de determinação letal. Está muito claro qual será o destino de Matteo quando ele finalmente o capturar. — Senhor Luciano, a doutora Caruso chegou — Bianca avisa ao entrar no terraço. — Ela está esperando na sala de visitas. — Obrigado, Bianca. Nós já estamos indo. Fico nervosa ante a perspectiva das próximas notícias. Luc se levanta e estende a sua mão para me ajudar a me levantar. — Vamos, Elizabeth, vamos saber o que está acontecendo.

A consulta com a doutora Caruso foi rápida. Ela basicamente me informou que, pelas datas do meu ciclo, eu realmente tenho a possibilidade de estar grávida, mas que é muito cedo para comprovar com exatidão por meio de um exame de urina. Então ela indicou um exame de sangue, que é mais preciso.

Ela mesma coletou o meu sangue e disse que o levaria pessoalmente para o laboratório. Eu fico só imaginando quando deve custar ter uma médica pessoal com toda essa disponibilidade. Agora estamos esperando o resultado, que deve sair a qualquer momento. Estamos no nosso quarto. Luc está relaxado em uma poltrona enquanto lê algum tipo de relatório de negócios. Como ele consegue se concentrar em algo enquanto esperamos pelo resultado que pode mudar toda a nossa vida?, penso enquanto caminho repetidamente de um lado para o outro. Luc levanta os olhos do relatório e me observa. — Acalme-se, Elizabeth. Desse jeito, você vai gastar o piso de tanto dar voltas pelo mesmo lugar — graceja. Mas eu não consigo me conter e continuo com a minha caminhada nervosa. Céus! Um filho? Que pode ser o herdeiro da máfia? Um futuro capo? Só o pensamento já faz com que eu caminhe ainda mais rápido em vai e vem. Luc solta um suspiro resignado, larga o relatório que estava lendo e vem em minha direção, interceptando-me no meu trajeto nervoso. Ele me puxa para um abraço e beija o topo da minha cabeça. — Calma, Elizabeth, vai dar tudo certo. — Mas, Luc, eu sou muito nova para ser mãe, e estamos casados há muito pouco tempo, mal nos conhecemos! Além do que, me preocupa muito

o fato de, se for menino, ser o herdeiro do seu cargo. O que vocês fariam com ele? Ele teria que ter o mesmo tipo de treinamento desumano que vocês tiveram? — Tomo uma respiração profunda após enumerar em um só fôlego todos os motivos do meu nervosismo. Luc se afasta para me olhar nos olhos. — Tudo vai ficar bem, Elizabeth, eu me certificarei disso. Eu não vou mentir para você, todos os nascidos no nosso mundo têm a sua cota de violência muito maior do que o normal. O nosso filho teria que passar por treinamentos intensos que o desafiariam, física e mentalmente. Ele provavelmente teria que fazer coisas que te deixariam chocada, mas eu não seria como o meu pai, Elizabeth, pode ter certeza. Aproveito o momento que Luc toca no assunto para tentar entender melhor o que aconteceu na sua infância. — Dante contou como a infância de vocês foi trágica, mas ele disse que você, por ser o mais velho e o futuro capo, teve que passar por coisas piores. O que aconteceu na sua infância, Luc? Ele me analisa por um momento e se afasta, caminhando para a janela do nosso quarto, onde passa a apreciar a vista. Esse obviamente é um assunto desconfortável para ele. — O meu pai me moldou com mãos de ferro, Elizabeth, ele era o pior tipo de monstro que existe. Desde muito cedo ele me levava para todas as sessões de tortura. Presenciei coisas que não estava preparado para ver, eu tinha pesadelos diários... Eu não passava de uma criança, naquela época. Não demorou muito tempo para que ele quisesse experimentar algumas técnicas de torturas em mim. Ele queria se certificar de que eu não soltaria nenhuma

informação caso eu fosse capturado por algum inimigo. Então tive que passar horas incontáveis sendo surrado, espancado, eletrocutado, sendo quase afogado... Enfim, meu pai era muito criativo com essas coisas. Mas eu nunca abria a boca. Eu sabia que, se o fizesse, isso só me renderia mais tempo de tortura, para aprender a ficar calado. Lembro que Luc me disse que ele e os irmãos nunca entregariam nenhuma informação para os seus inimigos. Agora eu entendo de onde eles tiraram toda essa resistência. — No início, éramos somente eu, minha mãe e meu pai. As poucas memórias que tenho de minha mãe são de uma mulher apática e silenciosa, que nunca se impunha diante do meu pai. Ela não era agressiva comigo, mas tampouco era amorosa. Mesmo assim, foi traumático encontrá-la enforcada em seu quarto, eu tinha apenas oito anos. Fico em choque. Dante tinha me dito que a mãe havia cometido suicídio, mas eu não sabia que Luc foi a pessoa que a encontrou morta. Nenhuma criança deveria passar por uma tragédia assim. — Meu pai não aparentou se importar muito pela perda da esposa. Enzo foi criado por uma babá, mas Dante e eu tivemos que nos virar sozinhos desde então. Não que a nossa mãe nos ajudasse muito antes, devo dizer. Desde que eu me entendo por gente, a minha batalha foi a de proteger os meus irmãos ao máximo da constante fúria do nosso pai. Ele nunca estava satisfeito com nada; para ele, nós sempre éramos lentos demais, fracos demais, suscetíveis demais... Era impossível agradá-lo, então constantemente nos tornamos alvos de sua ira. Luc se vira de frente para mim.

— Era muito difícil proteger meus irmãos. Sempre que meu pai descobria que eu tentava ajudá-los a sair de algum dos castigos, ele encontrava uma maneira de tentar me fazer arrepender por isso. Mas ele nunca conseguiu, eu nunca me arrependi de ajudar os meus irmãos. Principalmente Enzo, que era o mais indefeso. Já com Dante... Apesar dos meus esforços, eu falhei com ele. — Luc parece distante, perdido em memórias. — O que aconteceu com Dante? — Dante é o irmão mais sombrio. Sinto como se ele fosse o mais “quebrado” de todos. Apesar de Dante afirmar que Luc foi o mais prejudicado durante a infância dos três, existe algo não dito sobre ele. Algo aconteceu com Dante. Luc sacode a cabeça, retornando da viagem em sua própria memória. — Um dia eu cheguei tarde demais para ele. Isso é tudo o que eu posso te dizer, Elizabeth. Como eu já te disse antes, esse não é um segredo meu para que eu possa contar — fala Luc, com um olhar culpado. Neste momento, somos interrompidos pelo sinal de mensagem do celular de Luc. Fico apreensiva, será alguma notícia sobre o resultado do exame? Luc retira o celular do bolso e lê a mensagem, enquanto eu o olho em expectativa. Estou quase pirando de tanta aflição. Após ler a mensagem, Luc me olha com o sorriso mais feliz que eu já vi em seu rosto. — Seremos pais, Elizabeth! Você está grávida de cinco semanas! Fico sem reação por um momento, depois começo a fazer as contas.

— Isso significa que você me engravidou pouco tempo depois de nos casarmos! Luc me abraça e me rodopia, feliz. — Isso significa que eu acerto até quando não tenho a intenção! — responde em tom brincalhão. — Agora aumentaremos o número de Costatinis no mundo, Elizabeth! Ele me dá um beijo tão profundo e ardente que me faz derreter. Eu sabia que Luc queria ser pai, mas não tinha ideia do quão feliz ele ficaria com isso. A sua empolgação começa a me contagiar. Eu sempre quis ter uma grande família, então acho que devo ficar satisfeita em começar uma logo. Agora eu já não estarei só no mundo, terei pelo menos uma pessoa para amar e ser amada incondicionalmente, e esse pensamento aquece o meu coração. Olhos amarelos traçam o meu rosto, olhando-me com intensidade. — Obrigado por esse presente, Elizabeth. Fico sem saber o que responder. Eu não imaginava que as coisas aconteceriam assim tão rápido. Casar-me e engravidar no espaço de pouco mais de um mês?! É uma ideia absurda, mas diante da felicidade de Luc, eu só tenho uma coisa a dizer: — Só me prometa que este bebê saberá que é amado, Luc. É a única coisa que eu peço. — Eu prometo! — Luc confirma com uma convicção profunda. Eu gostaria que ele me dissesse que eu também sou amada, penso

com tristeza. O nosso momento é interrompido pelo som de uma chamada telefônica. Luc atende, ainda de bom humor, com um brilho de felicidade no olhar. — Fala, Dante. Luc fica escutando por um tempo, e vejo o seu semblante alegre se transformar em uma expressão de preocupação enquanto escuta o que Dante tem a dizer. — O quão grave foi? Pelo tom da conversa, alguma coisa séria está acontecendo. — Droga!... Sim, providencie tudo... Não, hoje mesmo... Nos vemos mais tarde. Luc desliga o celular e me olha. — Arrume as malas, Elizabeth, tenho uma emergência para resolver, e eu não quero te deixar longe da minha vista — avisa enquanto se encaminha para o closet. Eu o sigo e o assisto pegar uma mala e começar a organizar as coisas dentro dela. — O que aconteceu, Luc? Para onde estamos indo? — Fico tonta pela mudança repentina de assunto. — Estamos indo para Buenos Aires. Ainda não sei de todos os detalhes, mas logo saberei. Fomos atacados lá; dessa vez, levaram os nossos

carregamentos de contrabando. Preciso ir pessoalmente e saber o que está acontecendo. — Luc para a sua arrumação e me olha, pesaroso. — Sinto muito, Elizabeth, não era assim que eu gostaria de passar este dia especial, mas mais uma vez estou em dívida com você. Prometo te recompensar assim que puder. A minha vida com Luc pode ser muitas coisas, mas ninguém pode dizer que falta emoção nela. Mais uma vez, vamos mudar de casa. O que será que nos trará essa nova fase? Espero apenas que tudo termine bem.

Buenos Aires Partimos sem demora em direção ao aeroporto, onde nos espera o jato particular dos Costatinis. Quando chegamos ao avião, nós nos encontramos com Enzo e Dante, que já nos esperavam no local. — Conte-me tudo o que vocês ficaram sabendo — pede Luc, sem cerimônia. — Nossas cargas foram interceptadas antes de atracarem no porto de Buenos Aires. Nossos homens responsáveis pela carga no local foram encontrados mortos. Envenenados — Dante informa de maneira também direta, dando ênfase à última palavra. — Matteo! — os três concluem quase ao mesmo tempo. Luc passa as mãos na cabeça em um gesto exasperado. — Eu não consigo ter sequer um dia de folga! Toda vez que pretendo ter um dia de sossego, Matteo encontra uma forma de me interromper. — Nós já mandamos uma equipe de limpeza para o local, para não deixar vestígios do que ocorreu para a polícia, isso só nos daria mais dor de cabeça. Tudo já está feito — Dante informa, pragmático. Luc assente. — Matteo está nos causando muitas perdas, Luc. Temos que capturálo quanto antes! — Enzo entra na conversa, mostrando sua preocupação. — E é exatamente isso o que nós vamos fazer — Luc afirma, com determinação no olhar.

Todos parecem ficar pensativos por alguns momentos, certamente arquitetando qual seria a melhor maneira de capturar Matteo. — E então? Nós vamos ser tios? — Enzo pergunta, quebrando o silêncio. — Sim, a gravidez foi confirmada, a família Costatini vai crescer! — Luc responde, voltando a mostrar um pouco da felicidade anterior. — Eu sabia! Luc não erra uma! — Enzo parece verdadeiramente contente com a notícia. — E aí, cunhada, você já está preparada para correr atrás do pirralho por aí? — Eu não sei, Enzo, tantas coisas estão acontecendo em tão pouco tempo... Eu não tive a oportunidade de me acostumar com a ideia ainda, mas acho que vou ter que me acostumar logo. Luc, que está ao meu lado, aperta a minha mão em um gesto de apoio. — Não se preocupe, cunhada, nós vamos te ajudar com o moleque — Enzo fala, tentando me confortar. Eu não posso evitar sorrir para ele. Aos poucos, estou me acostumando com o fato de fazer parte desta família. — Obrigada, Enzo, o seu apoio significa muito para mim. Mas lembre-se de que também pode ser uma menina. — Dá no mesmo, cunhada. Nós vamos ajudar de qualquer maneira. — Sim, nós vamos! — Dante, que estava calado até agora sobre o assunto, também me confirma o seu apoio.

Lágrimas se formam nos meus olhos com o apoio demonstrado. Droga de hormônios! Agora eu sei porque andava toda emocionada nos últimos tempos. Ao perceber o meu estado emotivo, Luc me tira da minha cadeira e me coloca sentada em seu colo. — Eu tenho você — fala, me confortando. Sim, ele me tem, disso não há dúvidas. Mas será que um dia eu o terei?

O voo até a capital da Argentina foi longo, e tivemos que fazer algumas escalas para abastecer. Apesar de estarmos em um avião privado, e com todo o luxo que se possa ter, o voo não deixou de ser cansativo. Desembarcamos na madrugada do dia seguinte à nossa partida e passamos direto por dentro do aeroporto, sem sermos incomodados por nenhuma autoridade presente. Constato que de fato o sistema está todo corrompido, conforme Luc me havia avisado. Todos os policiais do aeroporto olham para outro lado quando passamos por eles, fingindo que não nos veem. Não passamos por nenhum tipo de revista, ou eles teriam percebido que os três irmãos portam armas. Estamos agora na área do estacionamento do aeroporto, onde nos esperam quatro carros, dois deles ocupados por seguranças da máfia. — Tchau, cunhada. Cuida do pirralho aí! — Enzo se despede de

maneira irreverente e caminha em direção a um dos carros. Dante, por sua vez, despede-se de maneira mais sóbria, apenas com um aceno de cabeça, então o segue. Luc me leva pela mão em direção a outro carro. — Por que eles não vêm junto com a gente? — Porque daqui eles vão direto para o trabalho. Não temos tempo a perder, precisamos saber todos os detalhes do que ocorreu aqui. Mas eu quero te instalar em casa primeiro, antes de me juntar a eles, e me certificar de que você estará segura. Mas não se preocupe, nós voltaremos logo. Já está tarde, estamos cansados e não poderemos fazer muita coisa agora, e eu não gosto da ideia de vocês não estarem devidamente protegidos — Luc comenta com o cenho franzido, demonstrando preocupação. É a primeira vez que Luc se refere a mim no plural. Passo a mão pelo meu ventre ainda plano. Aos poucos, vou tomando consciência de que realmente existe um bebê aqui, e de que ele é real. Partimos do aeroporto com os seguranças atrás de nós, cada equipe de segurança seguindo um grupo de Costatinis. No caminho à nossa nova casa, pelo menos nova para mim, observo as ruas e suas construções antigas, com prédios de tamanhos relativamente baixos. Noto que a arquitetura de Buenos Aires tem uma grande influência europeia. O clima aqui é frio, ao contrário da Itália, que estava ameno. Ao chegarmos, eu me dou conta de que não ficaremos em uma

mansão desta vez, e sim em um complexo com três grandes casas que compartilham o mesmo terreno. E, como sempre, as moradias dos Costatinis são lindas e de incrível bom gosto. — Bianca deve chegar amanhã. Como viemos com pressa, ela não pôde nos acompanhar. Ela sempre nos acompanha em todos os lugares que vamos, já que é difícil conseguir funcionários fiéis e leais como ela — Luc comenta enquanto entramos na casa. — O restante das suas coisas deve chegar logo em seguida — informa. Vamos em direção ao quarto principal, onde Luc deposita a minha mala. — A casa está abastecida, deve ter alguma coisa para você comer na geladeira, caso sinta fome. Tente dormir, o voo foi muito longo. Eu assinto. Luc me dá um rápido beijo. — Vou verificar a segurança da casa agora. Em seguida, tenho que ir. Se precisar, me liga. — Ok. Quando Luc já está virando o corpo com a intenção de sair, eu agarro a sua mão em um rompante. Luc então estaca e retorna, olhando-me intrigado. — Tenha cuidado — peço. Fico angustiada que Luc e os irmãos estejam constantemente expostos ao perigo. Luc me mostra o seu habitual meio sorriso e volta a me beijar, mas desta vez mais demoradamente.

— Não se preocupe comigo, senhora Costatini. São os meus inimigos que devem ter cuidado comigo. Eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Luc é claramente um homem perigoso. Luc sempre me chama de senhora Costatini quando quer ser brincalhão ou provocativo. Nesse caso, eu acho que ele quis melhorar o meu humor angustiado. Desta vez, Luc parte, eu não o impeço.

Duas semanas se passaram, e os irmãos Costatinis se mantiveram muito ocupados durante esse período, entre a administração de seus negócios e a busca incessante pelo paradeiro de Matteo. Eu quase não os vi, eles mal pararam em casa. Foi montado um forte esquema de segurança na casa, já que os três irmãos raramente estavam presentes. Luc saía de manhã, muitas vezes antes que eu tivesse acordado, e frequentemente retornava quando eu já estava dormindo. Muitas vezes ele me acordava no meio da noite com os seus beijos e as suas carícias tentadoras. Era o momento que eu mais gostava, o de estar com Luc. Nesses momentos, não nos interessava conversar, estávamos ocupados com as urgências dos nossos corpos. E depois de passada a tempestade de luxúria, eu ficava muito exaurida para conversar sobre qualquer coisa, acabava pegando no sono em pouquíssimo tempo.

Ando muito entediada com essa nova rotina. Como Luc tem delegado o trabalho de escritório para outras pessoas e anda ocupado com a caçada a Matteo, eu não tenho mais desempenhado o papel de secretária. O meu violoncello já chegou, mas apesar de passar boa parte do dia estudando e tocando, eu gostaria de me ocupar com alguma outra coisa, em lugar de ficar sozinha em casa esperando pelas raras visitas de meu marido e angustiada pelas ameaças constantes de perigo que sempre pairam sobre os irmãos Costatinis. Hoje será diferente!, mentalizo de forma positiva. Eu tirei um cochilo prolongado à tarde para tentar permanecer desperta à noite. Preciso conversar com Luc. Eu não posso mais viver assim! Horas se passam sem nenhum sinal de Luc. Olho para o relógio despertador ao lado da cama, já são duas da manhã. Aguente mais um pouco, Lizzy, vamos conseguir!, tento me incentivar, mas os meus olhos teimam em se fechar sem a minha permissão. Vou tirar apenas um cochilo, decido. Tenho certeza de que despertarei quando Luc entrar. Estes foram os meus últimos pensamentos conscientes antes de perder a batalha contra o sono. Abro os olhos. Merda! Será que eu dormi muito? Será que Luc já voltou? Observo que o quarto está totalmente escuro, sendo iluminado apenas pela luz do luar e pelas lâmpadas externas da casa, que se infiltram pela janela. Olho para o meu lado e vejo que Luc está dormindo. O seu peito está exposto e o lençol está enrolado nos quadris. Ele parece tão apetitoso! Droga! Eu perdi a oportunidade de conversar com ele novamente!

Volto a olhar para ele e analiso sua figura. Um dos seus braços está levantado e flexionado ao lado de sua cabeça, e o outro está junto à sua lateral. As suas fortes pernas estão afastadas. O seu rosto está voltado para mim, e, graças à tênue luz do ambiente, eu consigo analisar a linha firme do seu maxilar, os seus lábios bem desenhados, a sua barba curta e bem aparada. Ele está com uma aparência muito plácida. Sinto-me excitada só de olhar para ele. A gravidez ampliou ainda mais o meu apetite sexual, coisa que eu sequer sabia que possuía antes de conhecê-lo. Então uma ideia cruza a minha mente... Eu nunca tomei a iniciativa no sexo, além das vezes em que ele me pediu. Eu não me sentia segura o suficiente, mas acho que desta vez eu quero tentar. Eu me aproximo dele devagar, para não despertá-lo antes da hora. Começo a depositar pequenos beijos pelo seu peito, então lentamente vou subindo até o seu pescoço, onde deixo uma lambida provocante. Luc solta um pequeno suspiro. Não sei se eu o acordei, mas ele permanece imóvel. Posiciono o meu corpo sobre o dele, colocando um joelho em cada lateral do seu quadril. A minha camisola sobe até o topo das minhas pernas, eu me abaixo e me sustento sobre os meus braços. O único contato do meu corpo com o dele são os meus lábios. Começo a beijar e lamber todo o seu tórax, dou especial atenção aos seus mamilos, que ficam rígidos. Luc mais uma vez solta um longo suspiro. Sinto a sua respiração mudar e seu pênis começar a ficar ereto. Desta vez, tenho certeza de que ele está acordado, mas ainda não quis se mover. Acho que ele quer ver até onde eu irei. Vou descendo pelo seu corpo, deixando um rastro de beijos pelo seu abdômen marcado, e quando me deparo com a barreira do cós de elástico da sua calça do pijama, decido que já fui muito longe. Já que cheguei até aqui,

vou continuar. Desço facilmente o elástico de sua calça e o encontro nu por baixo, como é comum. Eu pego o seu membro em minha mão e o exploro com os dedos, apreciando a sua textura de veludo, então me abaixo e lambo a ponta. O pênis de Luc dá uma sacudida em minha mão, ele está totalmente rijo, e o sinto pulsar. Dou outra lambida ao redor de toda a cabeça, apreciando pela primeira vez o gosto do seu sexo. Então, sem pressa, eu o coloco na boca. Coloco tudo o que posso e chupo com vontade, fazendo com a cabeça o movimento de vai e vem. Esta é a primeira vez que faço isso, não sei se estou fazendo da maneira correta, mas escuto os gemidos graves de Luc, o que me incentiva a continuar. Eu me massageio entre as pernas, para aplacar a excitação que sinto ali, ao mesmo tempo que lhe dou prazer com a boca. De repente, sou mudada de posição, agora é Luc quem está por cima. — Quem é essa ninfa que vem me despertar no meio da noite com os lábios de mel e língua de pecado? — Luc me pergunta, poético. — Adoro ter os seus lábios sobre mim, Elizabeth, mas agora é a minha vez. Luc tira a minha camisola pela cabeça e desce minha calcinha pelas pernas. Sem demora, passa a devolver toda a atenção que eu dei a ele. Luc me beija, me lambe e deixa pequenas mordidas por toda a parte superior do meu corpo. Eu me sinto em combustão. A qualquer momento meu corpo se tornará cinzas, com tanto calor sensual que ele me faz sentir. Luc então se abaixa, abrindo as minhas pernas e colocando-se entre elas. Ele coloca as mãos por baixo da minha bunda, aproximando o meu sexo do seu rosto. Desejo o seu próximo toque mais do que do ar que eu respiro. Mas em lugar de colocar a sua boca onde eu quero, ele me dá uma pequena mordida na virilha. Eu gemo em frustração, o que só o faz rir. Até o ar que

ele exala sobre o meu sexo me excita ainda mais. Luc então passa a deixar lambidas, beijos e mordidas por todos os lugares próximos à minha entrada, menos onde eu realmente quero. Eu agarro os seus cabelos em frustração. — Impaciente, senhora Costatini? Solto um grunhido para ele; a essa altura, eu já estou impaciente. — Vamos ver o que eu consigo fazer por você então, senhora Costatini — Luc fala com voz safada. Finalmente sinto o toque perfeito de seus lábios e língua em meu clitóris, exatamente onde eu quero. Solto um grito de felicidade. Luc sabe exatamente qual é o ponto que deve ser explorado, e o explora com incrível perícia. Sinto os meus sucos transbordarem de mim. Não demora nada para que eu atinja o ápice em fortes ondas de espasmo e calor. Mal tenho tempo para tomar algumas respirações para me recuperar, pois Luc já me troca de posição novamente. Desta vez, ele me coloca escancarada por cima dele. — Você começou, então vai ter que terminar! Venha, Elizabeth, monte no meu pau. Eu não demoro a atender-lhe o convite. Acho que estou me transformando em uma ninfomaníaca, pois estou extremamente viciada em sexo com Luc. Luc me ajuda a me posicionar, colocando-se em minha entrada. Vou descendo devagar, acostumando-me com o seu tamanho aos poucos. Luc

passeia as suas mãos pelos meus seios e depois as pressiona em meus quadris. — Foda, Elizabeth! Perfeito! — Luc rosna. Estimulada por suas palavras, eu começo o movimento de vai e vem. A princípio, estabeleço um ritmo lento, até que Luc me impulsiona com as mãos em meus quadris, fazendo-me acelerar os meus movimentos. Mais uma vez eu me sinto perto de me quebrar em um orgasmo. O movimento se torna frenético e eu chego ao meu ponto de ruptura, gozando forte com ele dentro de mim. Luc grunhe o meu nome, gozando logo em seguida. Eu caio esparramada por cima dele e, depois de ter sido levada às alturas, vou retornando à Terra aos poucos. — Luc? — Sim, Elizabeth. — Eu queria conversar com você — peço entre respirações entrecortadas, ainda retomando o fôlego. Luc acaricia as minhas costas com gestos lentos. — Se essa é a sua forma de me chamar atenção para uma conversa, eu aprovo totalmente. Sinto o meu rosto esquentar. — Sinto pelo calor do seu rosto sobre o meu peito que você está corando, não é? — Luc me pergunta com um toque de diversão. Acho que é uma pergunta retórica, já que ele sabe a resposta.

— Como você ainda consegue ficar ruborizada depois de tudo o que já fizemos? — Luc me pergunta, incrédulo. Dou de ombros. Acho que ruborizar é a minha segunda natureza. — Que tal deixarmos essa conversa para amanhã? Já é muito tarde, Elizabeth. Prometo que amanhã conversaremos em um horário mais razoável. Concordo com a cabeça, porque, na verdade, eu já estou exaurida depois desse sexo fantástico. Mas amanhã eu não o deixarei escapar! prometo para mim mesma.

Atentado Sou acordada por beijos sedutores, com lábios macios sobre os meus. Hummm... Essa é uma ótima maneira de acordar! — Buongiorno, mia bella moglie*! — Luc me cumprimenta com um sorriso nos lábios. Observo que ele já está vestido com um dos seus ternos. Ele provavelmente já está preparado para sair. Sento-me na cama, lembrando que temos que conversar. E desta vez não pretendo deixá-lo escapar. — Bom dia, Luc. Precisamos conversar — eu o informo, direta. — Sim. Desculpe-me não estar disponível como deveria, Elizabeth, mas estamos focando todos os nossos esforços em encontrar Matteo. Não teremos descanso enquanto ele estiver livre e aprontando por aí. — Tudo bem, Luc, eu entendo. Mas eu estou cansada de ficar dentro de casa! Aqui mais parece uma prisão, com todos esses seguranças espalhados por todos os lados! Eu preciso me ocupar! Pelo menos antes eu trabalhava no escritório, mas agora eu não tenho muito o que fazer durante o dia, Luc. Eu preciso ter uma ocupação! — desabafo o motivo de minha irritação. Luc reflete por alguns momentos. — Eu entendo, Elizabeth, mas eu me preocupo com a sua segurança. Não é possível te manter sem nenhum segurança por perto. Você já foi alvo de Matteo antes, não quero te deixar desprotegida para um novo possível ataque.

— Tudo bem, Luc, mas pelo menos me deixe trabalhar em algo — suplico, já em desespero. Não suporto a ideia de continuar aqui sem fazer nada. Luc solta um suspiro resignado. — Tudo bem, Elizabeth. Mas eu não posso te levar comigo. Agora eu não estou trabalhando com assuntos que você possa se envolver. Estamos revirando a cidade pelo avesso à procura de Matteo. Conseguimos pistas de que ele está perto, então estamos interrogando, acossando, perseguindo e torturando pessoas que têm possíveis ligações com ele, e em alguns casos matando, também. E toda uma série de outras atitudes que eu tenho certeza de que não te deixariam à vontade. Ele tem razão, eu prefiro ficar longe desse tipo de coisa. Luc reflete por mais um tempo, até voltar a falar: — Acho que tem um trabalho que combina com você. Eu posso entrar em contato com alguma fundação filantrópica para encontrar um posto para você. Acho que esse tipo de trabalho estaria mais de acordo com a sua natureza. — Ele dá um sorriso irônico, certamente comparando a minha natureza com a dele. — Mas você deve trabalhar apenas meio período, Elizabeth. Você está grávida, é melhor se poupar, não deve mais seguir aquela rotina insana do escritório. Aquiesço. Um trabalho filantrópico me parece uma sugestão maravilhosa. Eu sempre tive vontade de ser voluntária, mas eu tinha pouco tempo disponível entre os meus estudos e os meus concertos. Agora acho que terei finalmente uma oportunidade. — Deixe-me acertar as coisas por hoje, e amanhã eu te levo para o

seu novo trabalho. Eu não consigo me conter de alegria, então me jogo em cima dele, abraçando-o. Luc parece surpreso com o meu gesto impulsivo. — Se eu soubesse que seria assim tão fácil te agradar, eu já teria tomado essa providência antes — Luc fala enquanto corresponde ao meu abraço. — Lembre-se de nunca sair sem os seguranças. E todos os dias vou pessoalmente levá-la e buscá-la. Ou os meus irmãos. E uma equipe de segurança permanecerá com você todo o tempo em que estiver no trabalho. — Está bem, Luc. — Eu concordo com qualquer coisa para me ver livre do constante confinamento desta casa. Luc me dá outro beijo. — Agora tenho que ir, Elizabeth, te vejo mais tarde. Se precisar, me ligue. — Está bem. Luc parte mais uma vez, deixando-me só. Mas desta vez estou feliz, sabendo que logo estarei ocupada fazendo algo que gosto.

No dia seguinte, fui apresentada à diretora de um orfanato. Antonella fala a minha língua, é uma jovem mulher Argentina que carrega o peso da responsabilidade de gerenciar um orfanato vinculado ao governo da cidade de Buenos Aires.

Antonella me explicou que as crianças ficam aqui temporariamente, até que a justiça decida se elas devem voltar ao convívio de seus familiares ou se devem ser encaminhadas para uma nova família. Neste orfanato vivem crianças das mais diferentes idades, desde muito pequenas, com poucos meses de vida, até adolescentes prestes a completar a maioridade. O orfanato tem diferentes alas, onde as crianças são distribuídas de acordo com a faixa etária. Quando mais velhas, também são separadas por sexo. Em cada ala trabalham diferentes profissionais: assistentes sociais, psicólogos, professores e voluntários. No meu caso, eu me voluntariei com a ajuda de uma intérprete, para dar aula de música para as crianças. Tenho dado aulas de música para diferentes turmas de crianças, do horário das quatorze até as dezoito horas, que é o meio período que eu havia acordado com Luc. Tenho adorado cada minuto que passo aqui junto às crianças. Sinto que desempenho um papel importante para o bem da sociedade. Luc diz que estou equilibrando o mal que ele faz, mas eu sei que os estragos causados por Luc são maiores do que eu possa sanar. De qualquer maneira, fico feliz de fazer a diferença de forma positiva. Destinei para este orfanato o dinheiro angariado no leilão realizado na Itália. Todos ficaram muito agradecidos. Mas o importante é que as crianças ganharam tratamento médico, material escolar, alimentação... Por meio da doação, eles conseguiram sanar, pelo menos por algum tempo, suas necessidades emergenciais. Eu me despeço com um beijo carinhoso da última criança que sai da sala e me dirijo à recepção do orfanato, onde há uma semana eu tenho como rotina esperar que Luc venha me buscar. Sempre espero, é claro, junto aos

outros seguranças, que ficam por perto enquanto estou no trabalho. Antonella se aproxima de mim, pronta para terminar o seu dia de trabalho. — As crianças estão adorando as suas aulas, Lizzy! As suas aulas de música têm sido um verdadeiro sucesso! Têm dado uma nova vida a este lugar — comenta ela, com uma animação estampada nos olhos. Sorrio feliz para ela. Eu nem sei há quanto tempo não sinto tanta felicidade. Sinto que encontrei a minha função no mundo. A única sombra projetada por cima de toda essa minha felicidade é a incerteza de um amor não correspondido. Até hoje Luc nunca me deu sequer uma palavra nesse sentido. Nenhum de nós comentou novamente sobre a minha declaração de amor no baile de máscaras. Às vezes, eu acho que vejo amor nos olhos de Luc, mas eu nunca ouvi a confirmação em suas palavras, o que me deixa incerta se eu não estou apenas projetando as minhas próprias expectativas e ilusões sobre este relacionamento. — Obrigada, Antonella. Eu é que sou grata pela oportunidade de estar aqui ajudando — agradeço enquanto tento afastar os pensamentos tristes da minha mente. — ¡Buenas noches! ¿Cómo estás, Antonella? ¿Todo bien?* — Luc pergunta, pegando-me de surpresa. É claro que ele fala espanhol! Qual língua ele não fala? — Tudo bem, Luc — Antonella responde em Inglês. — Estamos muito contentes com a presença de Lizzy aqui. Ela tem transformado este lugar. Coro ante o elogio, é óbvio que eu não consigo evitar enrubescer.

Luc sorri e aperta levemente a minha bochecha ao notar o meu embaraço. — Sim, é certamente um privilégio ter a companhia de Elizabeth. A sua presença transforma qualquer lugar — Luc fala enquanto me olha com intensidade. Será que ele quer dizer algo mais profundo com isso? — Peço licença, Antonella, mas temos que ir. Temos planos para hoje — Luc informa. Quais planos nós temos?, eu me pergunto, intrigada. — Claro, senhor Luciano! Que tenham uma boa noite e se divirtam! Nós nos despedimos de Antonella e caminhamos em direção ao carro, com os seguranças em nosso encalço. — Quais planos você tem, Luc? — pergunto, não contendo a curiosidade quando entramos no carro. — Estou te devendo, Elizabeth. Assim como na nossa lua de mel, também não tivemos tempo de comemorar a sua gravidez — Luc me responde enquanto me ajuda a colocar o sinto de segurança. — Fomos atropelados pelas circunstâncias, como sempre. Luc ajusta o sinto em si mesmo e dá partida no carro, entrando no tráfego pesado da cidade. — Separei esta noite para nós dois, Elizabeth. Pensei em assistirmos a um concerto e depois jantarmos fora. — Luc me olha por um segundo antes de voltar a sua vista para o trânsito. — Esta é a minha forma de me desculpar pela minha contínua ausência ultimamente. Fico feliz de fazer uma programação a dois, faz tempo que não saímos

sozinhos. Será bom poder curtir a noite portenha e espairecer um pouco. — Parece uma ótima ideia, Luc — concordo, com um sorriso satisfeito nos lábios. — Só de ver esse sorriso, já valeu a pena — Luc responde, galante como sempre. — Mas eu não me arrumei para ir a um concerto, Luc — aviso ao observar as minhas roupas, preocupada em parecer muito desmazelada. Estou usando uma calça jeans, botas de couro de cano alto, um suéter branco, e um casaco comprido e de bom corte por cima de tudo. Pelo menos o casaco esconde as roupas simples que visto por baixo. — É apenas um concerto, Elizabeth, não uma noite de gala. Além do mais, você poderia estar usando um saco de batatas e ainda seria a mulher mais bonita do local! — Querendo me conquistar, Luc? — pergunto em um gracejo. Luc tira os olhos da rua por um momento. — Sempre, senhora Costatini! — E então pisca para mim daquele jeito sexy, sua marca registrada. Ele me faz ter a vontade súbita de mudar os nossos planos e irmos imediatamente para casa, para que eu possa agarrá-lo. Controle-se, Elizabeth! Virou ninfomaníaca agora?, eu me repreendo, tentando manter o controle. Após alguns minutos, chegamos ao Teatro Colón, situado no centro da cidade. Apesar de ser um teatro lindo e majestoso, as ruas ao redor não inspiram confiança. São ruas estreitas e mal iluminadas.

Luc me conduz para dentro do teatro, e sempre somos acompanhados pelos seguranças. O interior do teatro é suntuoso e imponente. É um teatro muito grande, com linda iluminação e decoração histórica. Entramos em uma cabine privativa, mas aqui estamos apenas nós dois, os seguranças ficaram em algum lugar do lado de fora. Isso pelo menos nos dá um pouco de privacidade, o que é bom, pois assim que apagam as luzes para iniciar o espetáculo, Luc não tarda em me atrair para o seu colo e me beijar com sofreguidão, deixando-me sem ar. — Comporte-se, senhor Costatini! Você me trouxe aqui para assistirmos a um concerto, então é o que faremos — sussurro em seu ouvido. — Ah, senhora Costatini! A espera só tornará a coisa mais intensa para nós mais tarde, me aguarde! — Luc sussurra provocante em meu ouvido. Eu o olho hipnotizada, achando as suas palavras muito atraentes e tentadoras, e mais uma vez fico com vontade de partir para casa imediatamente. Sacudo a cabeça para sair desse feitiço. Vou me concentrar neste bendito concerto!, eu me proponho mentalmente com determinação. Vou aproveitar, finalmente, uma noite em que posso sair! Luc sorri divertido, adivinhando o rumo lascivo dos meus pensamentos. Maldita facilidade para ler as pessoas!, penso, envergonhada. Luc me mantém sentada em seu colo e me abraça, colando os nossos corpos. Suspiro romântica, recostando-me nele e adorando desfrutar do seu calor e da sua proximidade.

O concerto começa. Estamos escutando uma orquestra de câmara executando brilhantemente As Quatro Estações, de Vivaldi, um compositor italiano do período barroco. Eu adoro essa música. Luc soube escolher muito bem o nosso programa para hoje. Aprecio especialmente o primeiro movimento do inverno, que é a minha parte favorita da obra. Fico maravilhada com a interpretação dos músicos e com a beleza do teatro, é uma noite encantadora, realmente. Suspiro, satisfeita. — Você gostou, senhora Costatini? — Luc me pergunta ao final do concerto. — Eu adorei, senhor Costatini. Foi um concerto maravilhoso. — Fico feliz por ter agradado na escolha do programa de hoje. Agora, vamos para o nosso jantar. Saímos abraçados do teatro e caminhamos em direção a uma rua lateral, onde estão estacionados os nossos carros. Solto um grito de susto e pavor ao escutar um tiro que passa a poucos centímetros de mim, atingindo o nosso carro. Luc destrava rapidamente o carro, empurrando-me sem cerimônia para dentro. Sou trancada do lado de dentro, enquanto ele e os seguranças começam um tiroteio em plena rua. Os transeuntes saem correndo ao perceberem a situação de perigo. Eu estou mais protegida do que eles, já que estou dentro do carro, que tenho a certeza de que é blindado. Mas temo pelos que estão do lado de fora. Temo principalmente por Luc. Escuto o som de celular tocando dentro da minha bolsa. Eu o pego e observo a tela, vejo que é Dante quem está ligando. Atendo à chamada com mãos trêmulas.

— Alô? — Elizabeth, onde vocês estão? Estou ligando para Luc e não consigo resposta, isso não é típico dele — informa Dante, com preocupação na voz. — Estamos na saída do Teatro Co... Ahhh! — grito quando uma bala atinge a minha janela. Eu me abaixo ainda mais para tentar me proteger. — Teatro Colón, Dante. Estamos sob tiroteio! Dante solta um palavrão. — Já estamos a caminho. Me faça um favor, Elizabeth, acione o GPS do seu celular, assim poderei encontrá-los mais rápido. Sigo as instruções de Dante com as mãos vacilantes e coração acelerado. — Já estamos indo! — Dante desliga, e eu fico apreensiva pelo que possa estar acontecendo do lado de fora. Dou uma espiada pela janela, os tiros são constantes. Vejo Luc e apenas dois seguranças na rua, posicionados em diferentes lugares, atrás de um poste, de um contêiner de lixo e do muro de uma loja. O que será que aconteceu com os outros dois seguranças? Vejo mais um segurança ser atingido na minha frente. Meus Deus! Que nada aconteça com Luc! Eu sei que ele não é uma boa pessoa, mas eu o amo. Rezo, aflita, tentando arrazoar com Deus. Vejo Luc fazer um gesto para o único segurança que sobrou, e ambos partem correndo em direção ao carro onde estou, mas sem deixar de atirar contra os seus inimigos enquanto correm.

Luc entra abaixado no lugar do motorista, enquanto o segurança entra pela porta traseira. Eu os observo do banco do passageiro, ao lado de Luc. Luc não tarda em dar partida no carro, cantando pneu e nos balançando perigosamente quando sobe na calçada, enquanto somos alvejados por todos os lados. Eu me agarro ao meu banco o máximo que posso, tentando me manter inteira. — Puta que pariu! Eles estão em maior número e estão fortemente armados, chefe! As nossas chances não são boas! — o segurança restante informa com agouro. Luc abre o porta-luvas, tirando uma arma de lá e passando-a para o segurança. — Há armas debaixo do seu assento, Pietro — Luc indica, enquanto pega outra arma para si no porta-luvas, sem deixar de dirigir, alucinado. Por sorte, o trânsito já está bem esvaziado agora e podemos passar mais facilmente pelas ruas. O tal Pietro, já devidamente armado, abaixa o vidro da janela e começa a responder aos tiros que atingem o nosso carro. — Fique abaixada, Elizabeth! — Luc me ordena com voz urgente. Eu me encolho o máximo que posso em meu assento. — Droga, chefe! Temos um carro nos perseguindo, e outro filho da puta de moto atrás de nós.

— Merda! — Luc exclama, enquanto faz uma curva fechada em uma das ruas. Eu nem tenho ideia de como não capotamos com essa manobra arriscada. Somos chacoalhados dentro do carro, o que faz o meu estômago ficar embrulhado. — A moto está se aproximando! — Pietro avisa. Dou uma espiada para trás e vejo uma moto parear conosco. Pietro inicia então uma troca de tiros com o motociclista. De repente, assisto Pietro cair alvejado no banco do carro, com uma bala na testa. — Meu Deus! — grito em desespero, e já não consigo conter as lágrimas de aflição. Então Luc faz o impensável: abre a sua porta e freia bruscamente o carro. O motociclista colide com toda a velocidade contra a porta, sendo arremessado a metros de distância, arrancando a porta do carro no processo. O alívio de nos livrarmos da perseguição do motociclista não dura muito tempo, pois quase imediatamente um carro colide com a nossa traseira, e escutamos mais tiros em nossa direção. Luc volta a acelerar, mas agora não temos mais a porta do motorista para nos proteger. Por sorte, a rua em que estamos passando é muito estreita, o que força o carro dos nossos inimigos a ficar atrás de nós, e não na nossa lateral indefesa. Escuto mais uma vez o meu celular tocar. — A... Alô? — atendo, sem saber como eu ainda consigo encontrar a

voz. — Estamos atrás de vocês — Dante informa com a sua habitual voz fria. — Coloque o telefone no viva-voz para que Luc possa me escutar, Elizabeth. Eu aciono o botão do viva-voz e coloco o celular próximo a Luc, voltando a me abaixar no assento. — Luc? — Escutamos a voz de Dante. — Fala — Luc pede com voz tensa, enquanto dirige como um demônio fugindo do inferno. — Estamos atrás deles, Luc! É apenas um carro, vamos encurralá-lo! Freie e nós o fecharemos por trás. — Certo! Vocês estão preparados? — Sim, manda ver! — Dante responde, resoluto. — Segure-se, Elizabeth — Luc me avisa. Eu me embolo o máximo que posso e começo a rezar para qualquer divindade que possa estar disponível no momento. O carro freia bruscamente, jogando-me com força para frente. Na sequência, sinto uma forte colisão atrás de nós. Bato a cabeça contra o painel e sinto que abri um corte na testa, mas não ouso me mover para verificar como estou. Escuto tiros por todos os lados. Em pouco tempo, Luc sai do carro com uma arma em punho. Escuto mais tiros pelo ar, até que eu não escuto

mais nada. Instantes se passam, e então ouço pedaços de diálogos ao longe... — ...pegamos esses filhos da puta... Nós vamos levá-los, Luc, fique com a... Momentos depois, a minha porta se abre. Mas eu não consigo me mover, tenho certeza de que, se tentasse, cairia estatelada no chão. Minhas pernas não param de tremer. Luc me ajuda a sair do carro, mas assim que piso para fora dele, sinto o meu estômago se revoltar e vomito furiosamente no asfalto. Luc me ajuda segurando os meus cabelos para trás, enquanto eu arquejo com violência, jogando para fora todo o conteúdo do meu estômago. Depois dessa humilhação pública, Luc tira um lenço do bolso e limpa a minha boca, e então ele limpa também o sangue que cai por minha testa. Noto que o seu rosto está tenso e preocupado. — Você se feriu, Elizabeth. Venha, vamos para casa. Vou chamar um médico para você. Luc me pega nos braços e me coloca dentro de outro carro, que pelo visto foi deixado pelos irmãos. Eu não consigo parar de chorar e tremer. Meu Deus! Poderíamos estar mortos agora! Dentro do carro, Luc me senta em seu colo no banco de trás, enquanto um segurança que estava com os irmãos assume a direção. — Calma, Lizzy. Já terminou, vamos para casa. Você está segura agora, eu vou cuidar de você. — Luc me conforta esfregando os meus braços e beijando a minha testa.

Eu o olho, mas a sua imagem está desfocada pelas minhas lágrimas. — Você me deve uma noite decente, Luc — eu o repreendo, fungando e tentando aliviar a tensão do momento. Luc solta um suspiro e me dá um sorriso desprovido de humor enquanto limpa as minhas lágrimas. — Parece que agora eu estou te devendo muitas coisas, Lizzy! — Luc fala com um toque de pesar na voz. Eu não preciso de muitas coisas, Luc, preciso apenas do seu coração, penso, entristecida.

* Buongiorno, mia bella moglie! – Bom dia, minha linda esposa! (tradução livre). *¡Buenas noches! ¿Cómo estás, Antonella? ¿Todo bien? – Boa noite! Como estás, Antonella? Tudo bem? (tradução livre).

O Som do Coração Assim que chegamos em casa, Luc me preparou um banho quente, para me lavar do sangue, do vômito, e para tentar diminuir o frio congelante que tomava o meu corpo, derivado do choque pelo qual passei. Todo o meu corpo tremia involuntariamente por conta da adrenalina. Após o banho, Luc me ajudou a me secar e a me vestir. Eu me sinto cansada depois do estresse vivido. Não quero nada além de dormir, mas Luc quer que um médico me examine ainda hoje. Descanso na cama enquanto Luc toma o seu próprio banho. Acho que cochilo um pouco, pois sou acordada quando ele me chama, sacudindo levemente os meus ombros. — Acorde, Elizabeth. O médico chegou — Luc me avisa. Observo que ele já tomou o seu banho e trocou de roupa, está usando calça e camisa preta, parece um anjo vingador. Sento-me na cama ao observar a entrada do médico no quarto. Ele faz algumas perguntas, afere a minha pressão e examina o meu corte. — O corte é pequeno, vai precisar de poucos pontos. Dois já serão suficientes — o médico me avisa, tentando me animar com a informação. Ele remexe em sua maleta em busca dos utensílios necessários para o procedimento de sutura. Luc se senta ao meu lado e segura a minha mão, enquanto o médico prepara a sua bandeja com as ferramentas esterilizadas. — Não se preocupe, senhora Costatini, não será necessário cortar o

seu cabelo. E eu tenho certeza que em pouco tempo mal sobrará uma cicatriz. Vai ficar tudo bem — o médico me consola de maneira simpática. Eu assinto para ele, mas tenho as minhas dúvidas se tudo realmente vai ficar bem. As coisas andam muito confusas ultimamente. O médico começa a assepsia na minha testa; em seguida, aplica a anestesia e começa a suturar. Eu prefiro me concentrar em outra coisa neste momento, para não entrar em pânico novamente com a sensação de alguém costurando a minha cabeça. — Como estão Dante e Enzo? Estão bem? — pergunto, pois realmente estou preocupada, mas também porque preciso desesperadamente que Luc me distraia no momento. — Sim, estamos todos bem, Elizabeth. Eles foram trabalhar, mas logo Enzo virá para se responsabilizar pela sua segurança. Eu aperto a sua mão em um gesto involuntário. — Você não vai ficar? — pergunto, parecendo desesperada. Merda! Somando o fato de termos corrido risco de vida hoje, o meu choque traumático e os hormônios da gravidez, o resultado é que eu obviamente estou uma bagunça emocional. Se eu pudesse, trancaria Luc dentro de casa e não o deixaria sair nunca mais. — Preciso ir, Lizzy. — Eu já percebi que Luc só me chama pelo meu apelido quando ele quer ser doce comigo. — O que ocorreu no trabalho hoje foi muito grave. Preciso saber todos os detalhes do que aconteceu e tomar as

devidas providências. Acho que Luc está falando de maneira dissimulada por causa da presença do médico em nosso quarto. — Enzo virá para garantir a sua segurança, e eu retornarei assim que puder. Eu faço um gesto afirmativo com a cabeça, mas não deixo de apertar a sua mão. É como se o meu lado consciente entendesse a situação, mas o meu inconsciente não quer nada mais do que se assegurar de que Luc está bem e que vai ficar aqui ao meu lado. — Pronto, senhora Costatini, está terminado. — O médico começa o processo de recolher suas coisas. — Eu deixei o ferimento sem os curativos, já que se trata de um corte pequeno, mas tenha cuidado na hora de pentear e lavar os cabelos. — Pode deixar. Obrigada, doutor. — Aqui está. — O doutor entrega uma caixa de remédios para Luc. — Esse é um calmante leve, de uso fitoterápico, não fará mal ao bebê. Mas é bom que ela tome um comprimido, após o choque que passou. O médico não sabe o que ocorreu de verdade, ele pensa que eu apenas sofri um acidente de carro, então não tem a real dimensão do choque pelo qual passei. Luc pega a caixa e a abre, pegando um comprimido de dentro, que depois me passa, oferecendo junto um copo de água que estava sobre a cômoda.

Eu tomo o comprimido sem pensar duas vezes, preciso de qualquer coisa que ajude os meus nervos em frangalhos. — A senhora relatou não sentir nenhuma dor além do corte na cabeça, e não houve golpes na região do abdômen, então eu acredito que esteja tudo bem com o bebê. Mas, apenas por precaução, seria bom a senhora consultar um obstetra amanhã. — Providenciarei isso, doutor. Obrigado pela sua disponibilidade em nos atender a essa hora da noite — Luc agradece. — Disponha! Tchau, senhora Costatini. — Eu aceno para o médico em despedida, e Luc se levanta para acompanhar o médico até a saída, saindo do quarto junto com ele. Será que ele já foi embora sem se despedir?, eu me pergunto, já sentindo aflição novamente por sua partida, pensando nos possíveis perigos que ele pode estar correndo lá fora. Fico surpresa quando, em instantes, Luc retorna ao nosso quarto carregando uma bandeja com comida. Ele a deposita em meu colo. — Coma, Elizabeth. Eu pedi para Bianca preparar uma sopa leve para você — fala enquanto se acomoda ao meu lado na cama. — Por fim, acabou que não pudemos jantar, como tínhamos planejado hoje. E você vomitou o resto que tinha no estômago, então precisa comer, para o seu bem e o do nosso filho. Ainda é tão estranho pensar no bem de uma pessoa dependente de mim. Mas eu me esforço em comer, sei que é realmente necessário. — Você já comeu? — pergunto entre uma colherada e outra.

— Sim, comi enquanto você cochilava. Como está se sentindo? — Luc me pergunta, com um olhar preocupado. Eu abaixo a colher no prato para responder. — Eu não sei, Luc, ainda me sinto entorpecida pelos eventos. Eu nunca vou me acostumar com esse tipo de coisa. Fiquei em pânico, achei que íamos morrer! Eu olho em direção a Luc, e a única coisa que observo em sua expressão é a sua preocupação. — E você? Você está bem? Não se sente abalado por eventos assim? — Há muito tempo que sentimentos como medo, desespero e aflição foram extintos em mim. Graças ao esforço do meu pai, que garantiu que assim fosse. Mas hoje foi diferente, hoje eu temi por você e pelo nosso filho — Luc revela, com um olhar de pura ferocidade no rosto. — Eu vou pegá-lo, Elizabeth! E vou matá-lo! Matteo nunca mais vai poder colocar a vida de vocês em perigo — promete com determinação. Não sei como interpretar as suas palavras. Ele não me fala de amor, mas pelo menos mostra a sua preocupação comigo e com o nosso filho. Além de revelar o seu ímpeto homicida, que prefiro não pensar muito a respeito. Será que querer bem é o suficiente para uma relação? Não consigo imaginar uma criança vivendo em meio a tudo isso. A minha vida mais parece um filme de ação agora. Também não sei como uma criança se encaixará em meio a essas constantes viagens e mudanças de lugar. — Luc, isso não é um ambiente para crianças. Não é saudável estar constantemente em meio a complôs e perseguições, é perigoso! E essas

constantes viagens pelo mundo tornam a vida muito instável para uma criança, que precisa de rotina. — Coma, Elizabeth, termine de comer e seguiremos conversando. Volto a comer, e com poucas colheradas a mais eu termino a minha refeição. Em seguida, tomo um pouco de água. Luc retira a bandeja e a apoia sobre o móvel de cabeceira. — Se tivermos um menino, eu não posso mudar o seu destino. Assim como eu, ele terá os seus próprios desafios em nosso mundo, e também terá que assumir imensa responsabilidade. Mas como eu te disse antes, não serei como o meu pai, não serei duro além do estritamente necessário. Quanto às viagens, estou de acordo com você. A nossa base é na Itália, então permaneceremos por lá por mais tempo quando ele nascer. Eu não poderei deixar de viajar de vez em quando, mas vou fazer de tudo para diminuir as viagens ao mínimo possível. — Será que vai dar certo, Luc? — pergunto, já sentindo os efeitos dos calmantes, que tornam as minhas pálpebras pesadas. — Será que o nosso filho estará protegido? — Farei tudo para que assim seja, Elizabeth. Eu prometo. Agora deite-se, você precisa descansar. Eu me deito na cama e Luc me ajuda a me cobrir. Ele se deita ao meu lado por sobre o lençol, aproxima-se de mim e acaricia os meus cabelos. — Durma, Lizzy. Ficarei com você até dormir. Fecho os olhos e, sob as suas leves carícias, sou levada para a terra

dos sonhos.

Acordo mais uma vez sozinha na cama. Eu já esperava por isso. Depois do atentado, Luc ficará ocupado tentando encontrar Matteo e fazê-lo se arrepender por ter nascido. Eu me sinto melhor hoje, os meus tremores passaram, até sinto fome. Faço a minha rotina de higiene matinal e visto uma calça folgada, uma blusa e um cardigã por cima. Calço um par de sapatilhas e vou em direção ao nosso único cômodo compartilhado aqui: um espaço para refeições que fica de frente para a bonita vista do jardim. Enzo está sentado lendo o jornal e tomando o seu café. Ele deixa o jornal de lado ao perceber a minha presença. — Buongiorno, cunhadinha! Ontem à noite foi difícil, hein? — Bom dia, Enzo. Nem me diga, quase morri de susto! — Você se saiu muito bem, cunhadinha, nem desmaiou. Bem... vomitou um pouco, mas isso não conta — Enzo fala em tom de zombaria. Eu paro o ato de passar manteiga no pão. — Já vai começar com implicância a essa hora da manhã, Enzo? — pergunto, irritada. Enzo solta uma risadinha.

— O que é isso, cunhada? Não fique irritada, isso vai fazer mal para o moleque aí! — Enzo fala gesticulando em direção à minha barriga. Começo a comer com afinco o meu pão, ignorando as brincadeiras de Enzo. Mas decido aproveitar a sua presença para saber mais informações sobre o ocorrido ontem. — Não vi vocês depois do ocorrido. O que aconteceu? — Nós matamos dois dos atacantes e conseguimos capturar outros dois. Quisemos partir o mais rápido possível do local, antes que a polícia chegasse. Não que eles fossem fazer algo conosco, mas não queríamos ter mais problemas com que lidar. Luc ficou para trás, para cuidar de você. — Vocês conseguiram descobrir alguma informação importante? — pergunto enquanto tomo o meu suco. — Algumas coisas... Ainda estamos trabalhando neles. Até agora, eles já soltaram os números das contas bancárias, mas, ao que parece, também foram contratados remotamente e não conhecem a identidade dos seus contratantes. Mas nós sabemos de quem se trata. Não pode ser coincidência que a presença de Matteo na cidade ocorra ao mesmo tempo em que vocês sofrem um atentado. — Vocês já conseguiram rastrear as contas bancárias? Enzo solta um suspiro exasperado. — Ainda não, estamos no processo. Enquanto isso, Dante e Luc passaram a noite trabalhando neles, para ver se soltam mais informações que nos ajudem a localizar Matteo.

Faço uma imagem mental do que seria o “trabalho” exercido sobre os homens capturados. Sinto calafrios só de pensar. Isso me traz outra questão: eles passam a noite acordados torturando pessoas? Como conseguem dormir tão pouco? Decido matar a minha curiosidade: — Me diz uma coisa, Enzo, vocês não dormem? Eu quase não os vejo em casa ultimamente. Enzo deposita na mesa a xícara de café que estava tomando. — Nós três dormimos pouco, cunhada, fomos forçadamente habituados a isso desde criança. Isso fazia parte do treinamento do velho filho da puta do nosso pai, que muitas vezes nos despertava no meio da noite no tapa. Ou com coisa pior. Passamos a ter um sono muito leve, com medo do que aquele desgraçado poderia aprontar durante a noite. Eu o olho estarrecida. Ainda não consigo compreender como alguém pode tratar a uma criança dessa maneira. — Mas quando estamos em períodos de caça intensiva, como agora, e não temos tempo de retornar para casa, nós dormimos algumas poucas horas no local de trabalho mesmo — Enzo prossegue com as suas explicações. — Qualquer galpão vazio e um colchão no chão serve. Você sabe como é, não torturamos os nossos inimigos em hotel de luxo. A gente se vira como pode. Se dá tempo, descansamos em casa, se não, ficamos por lá mesmo. Já estamos acostumados... — Enzo termina com um dar de ombros. Eu não tinha ideia de que eles podiam passar tanto tempo com privação dos luxos. Luc sempre aparentou ser uma pessoa de gostos extravagantes. Ele sempre usa e exige o melhor em tudo, as melhores marcas de roupas, os melhores carros, casas, enfim. Quem diria que ele vive boa

parte do tempo em condições tão desconfortáveis e deploráveis?! — Luc pediu para avisar que daqui a pouco vem te buscar. Ele vai te levar para uma consulta com a obstetra. Eu tinha me esquecido dessa recomendação do médico. Será que está tudo bem com o bebê? Passo a mão no meu ventre como se pudesse alcançálo e garantir a sua segurança. Enzo observa o meu gesto nervoso. — Não se preocupe, cunhada, vai dar tudo certo — tenta me confortar. Eu peço a Deus que ele tenha razão e que esteja tudo bem com o bebê. Eu não planejava tê-lo agora, mas já que ele está aqui, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para mantê-lo seguro e saudável.

Chegamos a uma clínica particular. Pelo que Luc me explicou, não era possível me consultar em casa, já que eu tenho que fazer ultrassom com equipamentos especializados. Caminho de mãos dadas com Luc pelos corredores da clínica, seguidos pelo dobro de seguranças que normalmente nos acompanham. Acho que Luc está mais precavido depois do atentado. Passamos pela recepção e por alguns corredores até o elevador, mas não cruzamos com ninguém. Este fato me desperta a curiosidade.

— O que está acontecendo, Luc? Por que a clínica está vazia? — Mandei fecharem a clínica para a sua consulta — Luc fala simplesmente, como se fosse algo usual. — Você não acha que está exagerando um pouco? Luc para a caminhada e me olha fixamente. — Não correrei mais riscos com vocês, Elizabeth. — Luc aponta para a minha barriga. — Farei de tudo para mantê-lo protegido, lembra? E a você também. Fico feliz pelo seu esforço em nossa proteção, mas ainda tenho dúvidas se essas medidas extremas não são um exagero. Porém, sei que não conseguirei convencê-lo do contrário agora. Quando as coisas se acalmarem, tenho que conversar com ele sobre liberdade. Ele não poderá nos prender em uma redoma pelo resto das nossas vidas, ainda que suas intenções sejam boas. Voltamos a caminhar, até chegarmos frente a uma porta. Luc bate na porta e espera por uma resposta. — Podem entrar — uma mulher com leve sotaque espanhol informa. Entramos e nos acomodamos em duas poltronas de frente para uma mesa, onde está a médica. — Olá, senhor Costatini. — A doutora o cumprimenta com um aperto de mão. — E você deve ser a senhora Costatini. Eu sou a doutora Consuelo. — Eu aperto a mão da doutora, que aparenta ter ao redor de sessenta anos de idade. Ela tem um sorriso simpático no rosto, imagino que deve estar feliz

não somente pela nossa visita, mas pelo valor astronômico que Luc deve estar pagando para fechar a clínica inteira para esta consulta. — Contem-me o que aconteceu. Passamos a relatar o acidente de carro e os sintomas que sofri após ele. — Pelo que você falou, não deve haver nenhum problema com o bebê, mas vou fazer um ultrassom para me certificar. Acompanhe-me, por favor. A médica me leva a um espaço reservado. Ela me indica um banheiro anexo ao consultório e sou instruída a colocar uma daquelas batas constrangedoras de hospital. Ao sair do banheiro, ela me ajuda a subir em uma maca típica de ginecologista, colocando-me naquelas posições ainda mais constrangedoras de exame ginecológico, com um pano sobre as minhas pernas, cobrindo a minha visão dela. Ainda bem que as luzes estão baixas e Luc ainda está sentado na outra parte da sala. — Como você ainda está na fase inicial da gravidez, a única forma de fazer o ultrassom mais nítido é através do exame intravaginal. Jesus! O constrangimento não tem fim! Ela prepara o equipamento e inicia o exame. — Pode vir, senhor Costatini, venha ver o seu filho! — a doutora Consuelo chama, elevando a voz para que Luc possa ouvi-la. Luc se aproxima de mim e segura a minha mão. Então o mais sublime som toma a sala. É o som mais lindo que eu já escutei! Mais do que qualquer

música que eu já toquei ou ouvi. É o som do coração do meu bebê! — O feto está muito bem, obrigada! — a doutora informa com animação. — Ele ou ela, ainda não dá para saber o sexo, está em perfeitas condições. E, como vocês podem ouvir, o coração está firme e forte. Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto com a emoção do momento. Olho para Luc e vejo o reflexo do mais puro orgulho e felicidade refletido em seu olhar. — O nosso bebê é forte, Elizabeth, ele não se amedronta tão facilmente. Ele é um Costatini! — Luc sentencia, com um sorriso enorme no rosto. Escutar o coração do meu filho me faz perceber o quão real ele é. Eu vou cuidar de você meu bebê. Para sempre!, prometo mentalmente.

Sequestro — Por favor, não, Luc! — peço, já me sentindo histérica. Vamos retornar a este assunto novamente? Sério?! — Você não viu o que aconteceu ontem, Elizabeth? — Luc me pergunta, exasperado. — Estamos passando por um momento muito delicado. Normalmente você não teria tanta privação de liberdade, mas agora você tem que ter paciência. Você precisa ficar em casa, onde estará segura e protegida. Ao retornarmos da clínica, eu comecei a me arrumar para o meu trabalho no orfanato à tarde, já me sentindo mais animada com a perspectiva de ver as crianças e manter a minha mente distraída das cenas horrorosas presenciadas ontem. Mas Luc me impediu, ele quer me manter novamente confinada nesta casa. — Luc, eu vou ficar louca presa aqui! — aviso, nervosa, caminhando de um lado para o outro do nosso quarto. — O que eu vou fazer durante o dia, hein?! Ficar aqui imaginando os inúmeros tipos de perigo que vocês podem estar correndo? Eu vou ficar louca! E eu estou falando sério! — Gesticulo apontando o dedo indicador em direção a ele, para dar ênfase ao que falo. — Pelo menos, quando estou ocupada, eu não tenho tantos pensamentos perturbadores na cabeça. Trabalhar com as crianças me ajuda a manter a mente sã. Luc está trocando de roupa e colocando o seu coldre com uma arma presa junto ao corpo, sob o paletó. — Não vou deixar você e o nosso filho expostos ao perigo, Elizabeth. Isso não é negociável! — Luc fala em tom implacável, olhando duro em

minha direção. Quando noto a resolução em seu olhar, tenho a certeza de que não poderei demovê-lo de sua decisão. — Vou ficar angustiada e infeliz aqui, Luc. Será que você se importa com os meus sentimentos, Luc? Por favor, demonstre que sim. Torço para que ele me dê pelo menos um fio de esperança quanto ao futuro deste casamento. — Mas você estará viva! E isso é o mais importante agora. Depois teremos tempo para que você fique satisfeita e feliz — Luc me informa de maneira irredutível, despedaçando as minhas esperanças. — Eu prometi proteger a vocês dois, e é exatamente isso o que eu vou fazer. Ninguém poderá me demover de minha promessa, nem mesmo você! Eu o observo, ele está estático. É a primeira vez que ele fala comigo nesse tom, agora eu posso perceber claramente por qual motivo Luc é o temido capo da máfia italiana. O seu tom de voz requer obediência imediata, mas eu não sou um dos seus homens, não sou a sua subordinada. — Não faça isso comigo, Luc! Você não tem o direito! — respondo em tom também duro, já sentindo as lágrimas de frustração subindo aos olhos. Droga de hormônios da gravidez que me deixam mais sensível que o normal! Luc termina de se vestir, colocando um longo sobretudo por cima de seu terno, e se aproxima de mim. — Você me deu esse direito quando se casou comigo, Elizabeth. Não me pressione, pois não terá nenhum resultado. Essa é a minha palavra final! — Luc sentencia mantendo o seu olhar duro sobre mim. E sem dizer mais nenhuma palavra, ele sai.

Então eu deixo as lágrimas descerem livremente pelo meu rosto. Infeliz por constatar que além de eu não ter o seu amor, eu provavelmente também não tenho o seu respeito. Estou condenada a ficar só e presa em uma gaiola de ouro.

No início da tarde, eu me concentro no meu violoncello, que é a única coisa que eu tenho para me ocupar agora. Mas interrompo os exercícios musicais ao escutar vozes de crianças dentro de casa. Paro o que estou fazendo e me levanto para saber o que está acontecendo. Estou quase na porta quando escuto uma batida. Quando a abro, Enzo está parado à soleira, com um grande sorriso no rosto e rodeado de crianças sorridentes. Eu não consigo dizer nada, apenas o olho, surpresa. — Luc providenciou para que as crianças do orfanato fossem trazidas até aqui, junto com a intérprete e Antonella, que será a sua auxiliar hoje. Parece que “se Maomé não pode ir até a montanha...”, o resto você já sabe — Enzo me informa, piscando o olho para mim de um jeito brincalhão. — Luc providenciou que uma sala fosse arrumada, vocês podem fazer as aulas de música lá. Fico tão surpresa e radiante de felicidade que dou um pulo em cima de Enzo, abraçando-o com alegria. Enzo me abraça e me rodopia no ar.

— Também fico feliz por você, cunhada! Mas acho que você deve reservar toda essa alegria para o verdadeiro responsável. Luc foi quem providenciou tudo, eu sou apenas um mero mensageiro. Típico de Luc não me informar sobre os seus planos. Ele me tratou tão dura e friamente mais cedo, eu não esperava por essa surpresa. Luc levou em consideração os meus desejos e arranjou uma forma de contornar a situação. Fico imensamente grata e satisfeita por perceber que ele leva os meus desejos em consideração, e eu vou pensar em uma forma de agradecê-lo esta noite. Minha mente começa a ser dominada por um monte de pensamentos eróticos... Sacudo a cabeça tentando espantá-los. Tenho que concentrar a minha atenção nas crianças agora. Olho em direção a elas, que estão animadas, pulando e brincando pelo corredor, e já tenho a certeza de que terei um lindo dia.

A tarde foi fabulosa! É claro que eu gostaria de ter saído e mudado de ares, mas me manter ocupada com as crianças já me trouxe a satisfação necessária. Nada é melhor do que ver o interesse e a curiosidade em seus olhos, e a admiração pelos sons produzidos pelos instrumentos. Antonella me avisou que a cada dia trará uma turma diferente de crianças, assim eu poderei cobrir uma aula por semana em cada faixa etária. Essa será a rotina enquanto eu estiver impossibilitada de sair. Traz-me uma sensação de satisfação pensar que pelo menos vou ter um ofício enquanto espero que esse pesadelo com Matteo acabe.

Agora estou esperando por Luc em nossa sala. Quero vê-lo assim que ele entrar em casa para agradecer, mas também para conversarmos sobre o tipo de vida que ele pensa que eu devo ter. Quero deixar bem claro que eu não sou mulher de ficar trancada em casa, que preciso trabalhar para me sentir realizada. Já é tarde, mas estou irredutível, não cederei ao sono. Vou ficar aqui esperando-o. Momentos depois, escuto a porta se abrir, dando passagem para um homem alto, vestindo um sobretudo aberto, de corte elegante e moderno em um tom cinza escuro. O homem possui um rosto de traços duros e clássicos, que apresenta uma barba curta e bem aparada, assim como olhos amarelos. Amando-me ou não, esse é o meu marido, então eu vou agarrar o que é meu! Eu me jogo sobre ele, pegando-o de surpresa. Luc me segura, aceitando o meu abraço enquanto me levanta, apoiando as mãos na minha bunda, o que faz a minha camisola subir em minhas coxas. Enrolo as minhas pernas ao redor dos seus quadris. — Feliz em me ver, senhora Costatini? Um homem pode se acostumar a ser recepcionado em casa assim, com tanto entusiasmo — Luc graceja junto ao meu ouvido. Eu me afasto para olhá-lo nos olhos. — Obrigada, Luc! Estou muito feliz que você tenha levado em consideração as minhas vontades e os meus desejos. — Ah, senhora Costatini... Sempre que possível eu farei a sua vontade, desde que não te ponha em perigo. E quanto aos seus desejos, eu fico mais do que feliz em realizá-los — Luc fala em um tom rouco e

provocante. — Luc?! — eu o repreendo. — Ainda tenho mais coisas para falar! — informo, tentando desesperadamente manter o foco da conversa, já que estou sentindo uma firme protuberância crescer entre as minhas pernas, mais precisamente dentro da calça de Luc. — Daqui a pouco, Elizabeth. Agora eu tenho outros planos para nós — Luc fala com um olhar lascivo, ao mesmo tempo em que me pressiona contra a parede mais próxima. Ele passa os momentos seguintes me mostrando com detalhes todos os seus planos, e eu fico muito satisfeita em fazer parte deles.

Depois do sexo fantástico que fizemos na sala (parece que qualquer sessão de sexo com Luc é fantástica), Luc me leva para a cozinha. Ele me avisou que ainda não havia jantado, então viemos para cá, para que ele pegue alguma coisa para comer. Bianca já se recolheu, mas deixou um prato feito na geladeira para Luc. Após aquecer o prato e se servir de uma taça de vinho, Luc decide comer na cozinha mesmo. Ele coloca tudo em cima da bancada da cozinha e nós nos sentamos lado a lado em cima de banquetas altas. — Sobre o que você queria conversar mais cedo, antes de ser atacada pelo seu marido impaciente? — Luc pergunta em um gracejo. Sorrio para ele e exponho o meu assunto:

— Eu quero ter certeza de que estamos na mesma página, Luc. Quero deixar claro que eu não quero ser uma mulher que vive dentro de casa. Eu sempre trabalhei, e é assim que quero continuar. Ainda mais agora que eu me encontrei no trabalho beneficente e voluntário. Tenho certeza de que é isso o que eu quero continuar fazendo, quero aliar a música ao voluntariado. Para mim, essa é a combinação perfeita, pela qual me sinto realizada. Luc me escuta atentamente enquanto apresento os meus argumentos, desviando de vez em quando a sua atenção do seu prato para mim. — Eu sei, Elizabeth, mas o que você tem que entender é que não estamos em uma situação normal aqui. Estamos sob intenso ataque, e isso só se resolverá quando eu capturar Matteo. Então, quando isso ocorrer, você poderá levar a rotina que você escolher. É óbvio que você nunca poderá exercer a mesma liberdade que as pessoas comuns desfrutam, mas se você andar com os seguranças, isso será suficiente, assim como era quando você trabalhava comigo no escritório. — Ok, eu entendo. Desde que eu possa dar aulas aqui em casa, eu posso esperar mais um tempo. — Acho que o seu pedido é razoável, desde que seja por pouco tempo. — Enzo me avisou mais cedo que vocês estavam atrás de informações sobre o paradeiro de Matteo. Vocês conseguiram? Já sabem onde ele está? — pergunto, ansiosa para saber quando tudo isso vai terminar. Luc toma o resto do vinho que acompanha a refeição. — Ainda não conseguimos nada. Estamos analisando as contas bancárias que aqueles desgraçados que capturamos nos passaram. Acho que amanhã teremos algum resultado. Enquanto isso, temos pessoas vigiando os portos e aeroportos, e as principais vias de acesso à cidade. Temos infiltrados

dentro da polícia, que está usando o serviço inteligente de vigilância para encontrar Matteo. Ele está encurralado, Elizabeth, encontrá-lo é apenas questão de tempo, e a minha intuição diz que isso não tardará a ocorrer. Fico torcendo para que a intuição de Luc esteja certa e que esse pesadelo termine logo. As minhas reflexões são interrompidas pelo toque do celular de Luc, que o retira do bolso do paletó e o atende. — Oi, Dante. Vejo a expressão relaxada do rosto de Luc se esvair em questão de segundos, dando lugar a uma expressão de preocupação. — Você já tentou o celular dele?... Quanto tempo faz?... Você já procurou em todos os lugares?... Tem certeza?... Onde?... Estou indo me encontrar com você! — Luc termina a ligação e desliga o celular, levantandose da mesa e guardando-o no bolso. — O que aconteceu? — pergunto assim que Luc desliga o celular. — Enzo está desaparecido. Ele não atende ao celular e não é encontrado em nenhum lugar. Tenho que ir, Elizabeth — Luc me informa em tom de urgência. — Você terá uma equipe de segurança com você, mas eu não poderei ficar. — É claro! Vá, Luc! Encontre o Enzo. Vou ficar com o celular em mãos aguardando notícias. Por favor, me mantenha informada, eu não conseguirei dormir enquanto você não me der alguma novidade — peço, nervosa.

Luc assente, me dá um beijo rápido na testa e parte apressado. Observo que ele sequer teve tempo de terminar a sua refeição. Passo a próxima hora no meu quarto, andando de um lado para o outro com o celular na mão, à espera de alguma mensagem ou ligação de Luc para me informar sobre Enzo. Por favor, meu Deus, que Enzo esteja bem!, rezo, aflita. Acho que nunca rezei tanto como nos últimos tempos. E então eu me assusto com o som de um estrondo muito forte. O que está acontecendo?! Eu me aproximo da janela do meu quarto e vejo através do vidro que está ocorrendo uma verdadeira guerra do lado de fora. Apesar da escuridão, vejo os lampejos e clarões de tiros e explosões por todos os lados. A equipe de segurança que Luc deixou está tentando combater a entrada de invasores, que, por sua vez, estão fortemente armados. Eles estão usando granadas? Droga! O que eu faço? Tranco a porta do meu quarto e corro em direção ao closet, fecho a porta e me escondo dentro dele. Neste momento, o celular que está em minhas mãos começa a tocar. — Elizabeth? — Luc me chama com urgência. — Luc?! Estamos sendo atacados! — informo com voz tensa, ainda escutando as explosões que são abafadas pelas paredes do quarto. Luc solta uma série de imprecações e palavrões. — Era mentira, Elizabeth, o sumiço de Enzo era apenas uma emboscada para me atrair para fora de casa. Estamos retornando agora mesmo. Estamos dirigindo o mais rápido possível. Escuto um forte barulho na direção da porta do meu quarto, eles estão

tentando arrombá-la. — Luc?! — Choro, desesperada. — Não há tempo! Eles estão entrando no quarto! Eles vão me pegar! — constato com desespero. Merda! Será que eu vou morrer agora? O que eles vão fazer comigo? Decido que não tenho tempo a perder, já que talvez eu não tenha outra oportunidade de falar com Luc. — Eu te amo, Luc! — eu me declaro pela segunda vez, mas desta vez a minha voz está embargada pelo choro, pois eu tenho consciência de que esta pode ser a última vez. — Não, amor, não se despeça de mim, não faça isso comigo. Mantenha a calma, amor, respire fundo. É necessário que você seja forte agora, Lizzy. Onde você está? — Dentro do closet — informo, fungando e chorando. — Preste atenção, amor, siga as minhas instruções exatamente como eu vou te dizer. Eu sigo rapidamente todas as instruções de Luc, sem deixar de notar que, pela primeira vez, ele me chamou de amor. Mas não tenho muito tempo para pensar a respeito, pois escuto a porta do quarto ser finalmente arrombada depois de algumas tentativas, e em segundos alguém abre a porta do closet. Vejo vários homens fortes entrarem no closet, vestindo máscaras negras que me permitem ver apenas seus olhos e suas bocas. Eles estão fortemente armados. Dois deles me seguram com rudeza e me arrastam, segurando-me por baixo de cada um dos meus braços. Eles me deixam parada em frente a outro homem que também usa máscara. O meu sangue congela

nas veias ao constatar que esse homem tem a mesma altura e a mesma cor dos olhos de Matteo. Ele toma o celular das minhas mãos e ri ao observar com quem eu estava falando. Em seguida, coloca o celular em seu próprio ouvido. — Olá, Luc, há quanto tempo! Acho que eu tenho uma coisa sua aqui. — O homem ri com ironia. — Mas não se preocupe, logo mais passaremos as instruções. Na verdade, pensando bem, eu acho que é o caso de você se preocupar, sim. — Em seguida, o homem desliga o celular, sem esperar por uma resposta de Luc, e o joga no chão, enquanto ri maquiavelicamente de sua própria piada. E então dirige o seu olhar odioso para mim. — Finalmente, princesa! Agora você é nossa! — declara com satisfação. Eu não tenho tempo de responder às suas palavras, pois logo sinto uma picada no meu pescoço, e em poucos segundos já não vejo mais nada.

A Verdade A primeira coisa que noto ao acordar é que estou em algum tipo de edifício. As paredes são de concreto cru, não existe qualquer iluminação natural aqui, apenas luzes fluorescentes iluminam parcamente o espaço. O ambiente não tem janelas, existe apenas uma porta, que posso apostar que está trancada. Não é possível ver o que tem do lado de fora deste cômodo. Os únicos móveis presentes aqui são uma pequena mesa e duas cadeiras de madeira. A boa notícia é que eles me colocaram lacres nas mãos e nos pés do mesmo tipo que Dante me ensinou a fugir. E ainda bem que as minhas mãos estão atadas à frente do meu corpo. A má notícia é que, como eu não sei o que me aguarda do lado de fora, não é prudente me libertar das minhas amarras agora. Dante me advertiu durante o nosso treinamento que o objetivo era escapar, mas se eu não visse uma oportunidade clara para isso, então o melhor era eu aguardar até a situação se apresentar. A minha cabeça dói, e o meu pescoço também, talvez por causa das drogas que eles me injetaram, ou por causa da posição incômoda que estou há algum tempo. Não sei há quanto tempo estou aqui, só sei que estou jogada em posição fetal no chão frio de concreto, e não vejo sinal de ninguém. Luc tinha me avisado no início que se seus inimigos me capturassem, eu seria usada para chantageá-lo, então eu acho que é por isso que ainda não fui assassinada. Mas Luc me falou também sobre a possibilidade de eu ser torturada e assassinada de qualquer maneira no final. Sinto o desespero querer me dominar. Respiro fundo e com calma,

Luc me pediu que eu me mantivesse calma e forte nesta situação, então é assim que tentarei me manter. Procuro não pensar sobre o que virá, só me concentro nas vantagens que tenho agora. Não são muitas, é verdade, mas espero que sejam suficientes para me tirar desta situação. Antes de me sequestrarem, quando eu ainda estava dentro do closet, Luc me instruiu a fazer algumas coisas. A primeira era que eu me vestisse com algo quente, ele disse que eles provavelmente me deixariam em um lugar frio, e ainda bem que eu segui o seu conselho. Troquei a camisola fina que estava vestindo por uma calça de tecido grosso e uma camisa de mangas compridas, com um pesado casaco por cima e botas de couro de cano alto. Se não fosse por isso, a minha situação estaria ainda pior agora. Estamos no pleno inverno Argentino, e este lugar não tem aquecedor, faz muito frio e estou jogada no chão de concreto, onde está ainda mais frio. Pelo menos as minhas roupas me protegem um pouco. A segunda coisa que Luc me pediu foi para que eu procurasse por um sapato específico, de solado oco, pois esse tinha sido o sapato em que ele havia colocado o rastreador quando ainda estávamos na Itália e ele estava me monitorando por causa da minha suposta traição com Luigi. Encontrei rapidamente o sapato, abri o seu solado e retirei o rastreador de dentro, colocando-o dentro da minha meia, que está dentro da bota. Pelo amor de Deus, que esse localizador esteja funcionando e que Luc possa vir me resgatar logo! Enquanto isso, a única coisa que posso fazer é esperar, para ver se encontro algum momento oportuno para tentar escapar. Não quero me desatar agora, pois caso eu não consiga sair daqui, eles podem me encontrar e sabe-se lá quais medidas tomarão em retaliação ao me verem solta.

Escuto o barulho da porta sendo destrancada, ela então se abre, atraindo a minha atenção. Vejo passar através dela um homem e uma mulher loura e bonita, vestida com calça e jaqueta de couro negro e salto alto. A mulher caminha com graça e elegância em minha direção, até que, com a aproximação, eu consigo finalmente ver seu rosto. Fico em choque ao constatar que se trata de Angelina Carbone. O que ela está fazendo aqui? O que ela tem a ver com tudo isso? — Coloque-a na cadeira — Angelina comanda ao homem com voz fria. O homem que veio com ela me agarra por baixo das axilas e me arrasta pelo chão, depois me levanta rapidamente, colocando-me sentada sobre a cadeira. O homem se afasta e dá lugar à Angelina, que pega a outra cadeira e se próxima de onde eu estou, ela posiciona a sua cadeira de maneira que o encosto fique de frente para mim, e ela se senta cruzando os braços sobre encosto, ficando muito próxima do meu rosto. — Olá, Elizabeth! É um prazer finalmente revê-la! — Angelina me cumprimenta com um sorriso falso nos lábios. — O que você está fazendo aqui, Angelina? Você está trabalhando com Matteo? Angelina solta uma gargalhada macabra. — Não, querida, eu não trabalho com Matteo. Na verdade, ele nem existe mais. — O quê? Sobre o que você está falando? — pergunto, incrédula.

— Aproxime-se, Marcus — Angelina ordena. O homem que havia se afastado volta a se aproximar, e agora eu o observo melhor. Ele é o homem que me sequestrou. Mas espera... Observo com mais atenção. Ele não é Matteo, é apenas muito parecido com ele. — Mas o que isso significa? — pergunto, sem conseguir compreender. Angelina puxa de dentro do seu casaco uma carteira de cigarros, e Marcus não tarda em ajudá-la a acender um cigarro, estendendo um isqueiro em sua direção. Angelina dá uma longa baforada satisfeita, jogando a fumaça no meu rosto. — É simples, Elizabeth. Eu trabalhei com Matteo até um certo tempo, mas depois ele começou a abusar das drogas que traficávamos e se tornou um estorvo para os meus planos. Como eu posso conspirar junto com um maldito viciado? Matteo já estava praticamente inoperante, então eu me livrei dele de maneira permanente, se é que você me entende... — Angelina levanta uma sobrancelha maliciosa. — Como vocês já devem ter percebido, eu adoro usar veneno, então ele teve o seu fim ao injetar nele mesmo o veneno que pensava ser heroína. Não é hilário? — Angelina solta uma gargalhada de sua própria forma macabra de piada. — Mas é claro que antes de dar um fim em Matteo, eu garanti que ele me passasse todos os dados importantes sobre os seus negócios e suas contas. Então lancei várias pistas falsas para que Luc pensasse que os atentados e roubos eram provocados por Matteo. Depois eu encontrei Marcus... Eles são muito parecidos, não são? São praticamente sósias. Marcus me ajudou com os meus planos, de vez em quando ele aparecia aqui e acolá, dando a impressão de que Matteo estava à solta por aí. Até o pai de Matteo acha que ele ainda está vivo e foragido. O meu plano não

é espetacular? Devo reconhecer que Angelina é uma mulher malignamente inteligente e astuta, seu plano é perfeito! Por isso Luc está dando voltas em círculos e nunca consegue encontrar Matteo, pois Matteo simplesmente não existe, enquanto isso, os verdadeiros culpados continuam à solta e livres para nos atacar. Angelina lança mais uma baforada no meu rosto, o que me deixa com náuseas. — Foi um prazer jogar esse jogo com Luc. Enganar um reconhecido estrategista como ele... Uau! Foi lendário! O ápice da minha carreira no crime! Tenho certeza de que muitas gerações vão comentar como Angelina Carbone conseguiu enganar e aniquilar Luciano Costatini, o capo da Cosa Nostra. Magnífico! — Angelina fala de maneira sonhadora, continuando a fumar. — Mas Luc foi enganado mais de uma vez, Elizabeth. A primeira, como eu já te disse, foi quando achou que Matteo estava vivo e que era ele o responsável pelos seus problemas. E a segunda foi quando ele pensou que tudo isso foi por causa dele e por causa dos negócios da máfia. — E não foi? — pergunto, surpresa. Angelina ri mais uma vez, parecendo muito contente em me revelar os seus planos, o que me parece um mau agouro. Quando os bandidos revelam facilmente as suas intenções, significa que não pretendem deixar suas vítimas vivas após as revelações. — Não, Elizabeth, não foi. O objetivo sempre foi outro: você! — Eu? Mas eu não tenho nada que possa te ajudar com a máfia ou com os seus negócios!

— Sim, você vai me ajudar a tomar os negócios da máfia, não se preocupe. Mas existe um motivo principal anterior a este. Olhe para mim, Elizabeth. Você não nota nenhuma semelhança? Olhe o meu nariz, a minha boca e o formato das minhas sobrancelhas. Angelina coloca o seu rosto próximo ao meu. Agora que paro para analisar, vejo que as características dela realmente me parecem familiar... Mas não pode ser! Ela se parece... comigo! — Ah! Vejo que matou a charada, irmãzinha. Finalmente você está compreendendo. — O quê? Irmã? Mas a minha família não foi toda assassinada? — pergunto, em estado de confusão. — O nosso pai teve quatro filhos. Quando ele percebeu que seria descoberto, nos escondeu em diferentes lugares. A máfia conseguiu encontrar dois deles e os matou, mas nós duas escapamos. Você foi levada para a Inglaterra, onde pôde ser adotada por pais carinhosos. Que sorte a sua, não? — Angelina pergunta, sarcástica. — Mas eu fui adotada por outra família de dentro da máfia, os Barbieris. Os Barbieris me deram outro nome e me esconderam. Caso contrário, eles também seriam considerados traidores. Mas não pense que eles foram amorosos comigo. Tcs, tcs, tcs. Nada de amor para mim! — Angelina fala fazendo um gesto negativo com o dedo indicador. — Eles me usavam como empregada doméstica e como prostituta, tanto do filho quanto do pai. Mas eu aguentei firme. Fui crescendo e aprendendo sobre os bastidores da máfia enquanto eu escutava pelos cantos. Com o tempo, consegui ganhar a confiança dos Barbieris e me tornei amante de Matteo, que ficou convencido de que eu o amava. — Angelina solta outra risada maléfica, quase histérica. — Idiota! Como se fosse possível amar o seu estuprador da

infância... Depois, com o tempo e muita dedicação, eu até consegui convencê-lo a me financiar uma empresa, que estava indo muito bem, até que Luc me arruinou os negócios. Por sua causa! Angelina, que estava calma até então, termina o seu discurso de maneira colérica e me desfere um forte tapa, fazendo a minha cabeça girar. — Faz tempo que eu te devo essa, Elizabeth! Mas onde eu estava mesmo...? Ah, sim, me lembrei. — Angelina volta a dar outra tragada em seu cigarro, enquanto mantém o olhar perdido, como se estivesse refletindo. — Então, com tempo e persuasão, eu atraí Matteo para dentro dos meus planos de tomar o posto de capo. Matteo ficou muito entusiasmado com as minhas ideias. Lastimo que ele não esteja mais aqui para comemorar comigo. Não é uma pena ele não presenciar este gran finale?! — Angelina pergunta ironicamente. Ela aperta a minha bochecha em uma de suas mãos, causando-me dor no lado da face que ficou machucada devido ao tapa. Mas eu seguro o meu gemido, não quero lhe dar essa satisfação. — Por que tanto amor foi dado para você, e nada para mim, Elizabeth? Por que você conseguiu pais amorosos e um marido que te ama, e eu não consegui nada? Por que o seu destino foi melhor que o meu? O que você tem que eu não tenho? — Angelina pergunta com expressão intrigada, analisando o meu rosto como se dali ela fosse conseguir alguma resposta para as suas indagações. Acho que, ao final, ela não encontra nada, pois volta a se concentrar no cigarro. — Do que você está falando, Angelina? — falo enquanto desvencilho o meu rosto de suas mãos. — Eu realmente tive pais amorosos, mas todos sabem que o meu casamento foi arranjado, eu sou apenas uma conveniência

para Luc, uma obrigação por causa do acordo dos nossos pais, que nos prometeram em casamento. Angelina começa a gargalhar diante da minha resposta. — Foi isso o que ele te falou? Pobre criança iludida! Como você pode ser tão burra? É verdade que os nossos pais fizeram um acordo de casamento, mas o acordo não envolvia você, e sim a mim. Eu a olho em choque. Isso só pode ser mentira. — Você duvida?! — Angelina bufa em desdém. — Eu tenho nove anos a mais que você, Elizabeth, e tenho três anos a menos que Luc. Quem parecia a filha mais adequada para ser prometida em casamento, hein?! Então você tomou o meu lugar! — Isso não pode ser verdade! Isso não é possível! — exclamo, surpresa. — Ah, mas é a mais pura verdade. Tem mais um detalhe nessa história que Luc não te contou: quando o nosso pai, Giancarlo, traiu a máfia, isso anulou qualquer acordo que a famiglia fez com ele. A máfia não honra acordos com os traidores, Elizabeth, você deveria saber disso. Então, no final, Luc não precisava ter se casado comigo, e muito menos com você. Então, o que quer que ele tenha dito para você, não passa de uma mentira. Luc me enganou por todo esse tempo? Ele usou falsos argumentos para me forçar a me casar com ele? Ele mentiu para mim? Eu nem sei a que conclusão chegar com tudo isso. Afinal, por que ele se casou comigo, se não era obrigado? — Antes de você aparecer, eu estava me conectando bem com Luc.

Eu tinha certeza de que, com um pouco mais de tempo e persuasão, eu poderia atraí-lo para mim e reinar sobre a máfia junto com ele. Mas, de repente, ele desapareceu. Foi então que eu soube que você existia e tentamos te pegar, mas ele evitou. Mas eu não sabia da extensão do interesse dele por você... Pode imaginar a minha surpresa quando eu descobri que ele ia se casar com você, a minha irmã? Então os planos mudaram, Elizabeth! Já que eu não posso tê-lo pelo amor, então ele vai sofrer o meu amargor. E é claro que você vai sofrer também. — O que você pretende fazer comigo, Angelina? — pergunto, sentindo horror pela sua possível resposta. — Bem, primeiro nós vamos chantageá-lo. Apesar de esse não ser o fator principal pelo qual eu fiz tudo isso, vem bem a calhar ter todos os negócios de Luc em minhas mãos. Eu serei a mulher mais poderosa na porra dessa máfia! — Angelina parece em júbilo. — Depois, eu vou te matar, é claro. Ninguém se mete no meu caminho, Elizabeth, e você já interferiu nele muito mais do que deveria. Você teve tudo o que eu não pude ter, você tomou tudo de mim, e agora eu vou pegar tudo de volta! — Angelina fala, determinada, e joga o restante do cigarro no chão, pisando-o em seguida. Sinto o meu corpo tremer de terror com a perspectiva do que virá. — Vamos começar o show! Marcus, traga o celular de Matteo. Marcus, que esteve até agora apenas parado observando o nosso diálogo, sai do cômodo e retorna poucos momentos depois. Ele monta um tripé, instala o celular em cima dele e o ajusta. — Está bem enquadrado? — Angelina pergunta.

— Sim — Marcus responde, sucinto. — Muito bem. Lembre-se de que temos que estar certos de que Luc entregará tudo o que nós queremos, então eu acho que talvez ele precise de um pouco de incentivo... — Angelina termina a frase de maneira maliciosa. Eu não sei do que se trata esse tal incentivo, mas tenho certeza de que não vou gostar dele. Marcus passa a olhar lascivamente para mim, e eu sinto a bílis subir à minha boca. — Não se esqueça de colocar a máscara, nós queremos que ele pense que você é o Matteo. Coloque a mordaça nela, não queremos que ela dê com a língua nos dentes. Marcus assente, já colocando e ajustando a máscara sobre o rosto. Em seguida, ele passa uma grossa fita adesiva sobre os meus lábios, dando várias voltas ao redor da minha cabeça e prendendo até os meus cabelos no processo. — Vou ficar gravando atrás do celular. Siga o plano — Angelina ordena. Marcus assente. Angelina começa a digitar no celular e inicia uma vídeo-chamada. Em seguida, escutamos o sinal sonoro da chamada. — Matteo?! — Luc atende com voz tensa. — O que você fez com Elizabeth?! — Por enquanto, nada — Marcus responde olhando para Luc. — Mas

as possibilidades são infinitas — finaliza, cheio de insinuações. Ver Luc pelo vídeo me traz lágrimas aos olhos, eu quero contar para ele que é tudo uma mentira e que Matteo está morto. Quero contar para ele quem é o verdadeiro inimigo, mas estou totalmente impotente e imobilizada. Luc parece estar em algum lugar com fundo escuro, não dá para saber onde. Mas vejo um profundo vinco de preocupação entre os seus olhos. — Você está bem, Lizzy? — Luc me pergunta, preocupado. Mas antes que eu pense em uma maneira de me expressar, Marcus se posta atrás de mim e começa a me acariciar por sobre as minhas roupas. — Mas é claro que ela está bem, você não consegue ver? — Marcus ironiza enquanto abre o meu casaco e aperta o meu seio por baixo da minha blusa. Eu me contorço tentando evitar o seu contato, mas é em vão. — A sua esposa é muito gostosa, Luc! Agora eu sei o porquê você se casou com ela. É um material de primeira! — Seu maldito filho da puta! Eu me certificarei de arrancar a sua mão e metê-la dentro da sua boca antes de te matar, guarde as minhas palavras! — Luc promete, possesso de raiva. — Já está nervosinho, Luc? — Marcus debocha. — Mas eu ainda nem comecei... Marcus então começa a acariciar o meu pescoço, mas a pressão das mãos vai subindo gradualmente, até que eu não consigo mais respirar. Eu me debato na cadeira e escuto ao longe alguém gritando palavrões, pedindo que Marcus pare, mas eu não consigo perceber exatamente o que está acontecendo. Sinto as bordas da minha visão escurecer, então, quando eu penso que vou morrer, a pressão sobre o meu pescoço cessa. Eu busco pelo

tão necessário ar, mas tenho dificuldade por causa do adesivo em minha boca. — Esse foi apenas um aviso, Luc! Se você não nos entregar o que nós pedirmos, eu farei coisas muito deliciosas para mim, mas muito dolorosas para ela, tenha certeza! Você tem meia hora para me transferir todos os dados que estou solicitando por e-mail agora. Não tente me enganar ou ludibriar, pois se eu sequer suspeitar de alguma coisa, garantirei que a sua doce Elizabeth morra de maneira muito violenta. Será uma morte muito suja! Marcus desliga sem esperar a confirmação de Luc para a sua demanda. — Muito bem, Marcus, perfeito! — Angelina o elogia, enquanto eu ainda tento desesperadamente tomar alento. Marcus se abaixa para me olhar nos olhos. — Torça para que Luc leve o meu pedido muito a sério, caso contrário, eu vou mandar entregar o seu corpo em pedaços para ele! — Marcus me ameaça com frieza. Por favor, Luc, venha logo, me salve!, penso, enviando todos os meus pensamentos e esperanças em direção a ele.

Finalmente Faz alguns minutos que fui deixada aqui sozinha. Acho que assim é melhor. Tenho medo de estar na companhia de Marcus e Angelina; pela frieza que vejo em seus olhos, sei que eles planejam coisas terríveis para mim. Caso Luc não me resgate logo, eles não pretendem me deixar viva por muito tempo, tenho certeza disso. Lembro-me da última promessa que Luc me fez antes que Marcus e seus homens me encontrassem no closet: “Eu vou te buscar, Lizzy, fique certa disso! Nem que eu tenha que te procurar no inferno, mas eu vou te encontrar!”. Eu não duvido nem por um segundo de sua promessa. Eu só espero que ele não se machuque no processo de me resgatar. E que chegue a tempo, antes que seja tarde demais. Meus pensamentos são interrompidos por sons de estrondos. Eu me levanto da cadeira em um rompante, acho que sinto até a terra tremer. Luc! Ele veio! Estou eufórica. Se esta não é a minha deixa para entrar em ação, então eu não sei o que mais seria! Rapidamente empurro o lacre em volta dos meus pulsos em direção ao meu abdômen com força e rapidez, seguindo exatamente as instruções de Dante. O lacre se rompe, mas desta vez eu não tenho luvas protetoras sobre os meus pulsos, então eu arranho profundamente a minha pele no processo. Mas eu não estou ligando para isso agora, é só um pequeno preço a se pagar para cair fora daqui. Com as mãos livres fica mais fácil tirar o lacre dos pés. Em seguida, empurro a fita isolante para baixo, para deixar a minha boca livre, deixando a

fita pendente em meu pescoço. Agora eu pego o celular de Matteo, que ainda está aqui (acho que eles pretendiam enviar outro vídeo para Dante mais tarde, e tenho certeza que não seria nada divertido para mim), e o enfio no bolso. Agarro o tripé, que parece ser de qualidade e é um pouco pesado, e fecho-o de forma a usá-lo como uma espécie de bastão. Então eu me posiciono atrás da porta. O primeiro a entrar aqui terá uma grande surpresa. Peço a Deus que meu plano de escapar funcione, caso contrário, estou ferrada. Os minutos seguintes se passam com o meu coração acelerado e a minha adrenalina nas alturas. Não sei o que está acontecendo lá fora, mas de vez em quando eu ainda escuto alguns estrondos esporádicos. Parece que está tendo uma guerra lá fora. Que Deus queira que Luc e os irmãos estejam bem. Mais uma vez incomodo o Senhor com as minhas aflições. A porta finalmente se abre. Fico imóvel e prendo a respiração, à espera de que a pessoa entre na sala. Assim que vejo um homem passar pela soleira da porta, eu desço o tripé sobre a sua cabeça com o máximo de força que posso reunir. O homem cai no chão, mas eu não fico para observar o resultado, saio correndo imediatamente, sem olhar para trás. Coloco toda a minha energia sobre as minhas pernas, tentando chegar o mais rápido possível ao final do corredor, que está vazio. Mas antes de eu conseguir alcançar o meu objetivo, sinto um forte impacto contra as minhas costas. Um corpo se choca contra o meu por trás, atirando-me violentamente de barriga para baixo ao chão. Sinto uma dor horrível em meu ombro. Sou virada bruscamente de peito para cima, e agora posso observar que Marcus foi a pessoa em quem eu bati agora há pouco. Há sangue

escorrendo pelo seu rosto, e ele exala puro ódio. Marcus se senta em cima de mim, imobilizando-me com o seu peso. Em seguida, ele me dá um soco tão forte que eu vejo estrelas. — Aonde você pensa que vai, sua vagabunda? — Marcus me pergunta, colérico. — Eu não sei como o filho da puta do seu marido descobriu o nosso esconderijo, mas ele trouxe um exército para cá. Ele parece o diabo e está fazendo o inferno lá fora! Você vai ser o meu passe para sair daqui! Você vai vir comigo agora. Nem bem ele termina a sua frase, observo, chocada, um tiro atingir a sua testa. Marcus cai em cima de mim, e eu não consigo evitar gritar com o susto e o horror da cena, enquanto tento desesperadamente removê-lo de cima de mim. De repente, o peso desaparece, e eu quase desmaio com o alívio que toma o meu corpo quando tenho a visão mais perfeita de todas: Luc. Ele está vestido de preto, com armas atadas por todo o corpo, parece um atirador de elite da polícia, e se nota que ele não veio para brincadeira. Luc me ajuda a me levantar do chão e me dá um abraço apertado, quase desesperado. — Você está bem, meu amor? — pergunta com voz preocupada. — Sim, eu acho que sim. — Sinto dores em várias partes do corpo, mas acho que não tenho nada grave. Luc me dá um beijo rápido. — Venha, vamos sair daqui.

Saímos pelo que parece ser um labirinto de corredores, até que nos encontramos com Dante e Enzo, que estão em um espaço mais aberto do edifício. Aqui o pé-direito é alto e com um espaço acima que parece ser um mezanino em construção. Pelo que eu pude notar até agora, estamos em um edifício abandonado. — Você está bem, Elizabeth? — Enzo me pergunta me chamando pelo nome, o que mostra o quão preocupado ele está. — Sim, Enzo, eu não sofri nada irremediável. Obrigada por me resgatar — agradeço, mas agora, observando-o melhor, eu noto que ele está com a boca ferida. — O que aconteceu com você? Você foi ferido ao vir me resgatar? Pela primeira vez, vejo Enzo constrangido. Ele abaixa o olhar para o chão. — Não, isso foi o seu marido que fez — responde com voz fraca. Eu olho de Luc para Enzo. Luc mantém um olhar duro sobre Enzo, que, por sua vez, parece envergonhado. — O que aconteceu? — pergunto, tentando desvendar esse mistério. — Aconteceu que, quando nós procuramos por Enzo, preocupados por causa do seu suposto sumiço, nós o encontramos enterrado em uma boceta! — Dante responde e dá um tapa na nuca de Enzo. — Ei! — Enzo protesta. — Eu sinto muito, está bem?! Eu não sabia que aquela vadia tinha armado para cima de mim e desaparecido com o meu celular!

Então foi por isso que Luc lhe deu um soco, pelo sumiço de Enzo precipitar o ataque em casa? — Não temos tempo para isso agora. — Luc adverte. — Como está a situação? — Tudo sob controle, Luc. Já finalizamos lá fora, a maioria está morta, deixamos apenas dois vivos, para interrogatórios futuros. Os nossos homens já estão recolhendo os corpos, para não deixar vestígios, e estão levando os prisioneiros para que possamos nos divertir com eles mais tarde. Dante tem uma ideia muito diferente da minha sobre diversão. — E a Angelina, vocês a pegaram? — pergunto com preocupação, afinal, ela é a mandante de tudo isso. Os três me olham com expressão de interrogação. — Angelina? O que tem ela? — Luc me pergunta. Assim que Luc termina a sua pergunta, um movimento atrai a minha atenção para o mezanino acima de nós. Angelina sai de trás de uma coluna e aponta uma arma em nossa direção. Os três homens olham absortos para mim e não se dão conta do perigo. De forma alguma eu vou deixar essa vadia machucar ou matar a minha família! Em um átimo de segundo eu tomo a arma das mãos de Luc com uma destreza que eu nunca tive e a aponto com rapidez em direção à Angelina. Sem parar para pensar, eu atiro em direção a ela. Vejo com satisfação que pela primeira vez na vida eu acertei um alvo. O tiro acerta o peito de Angelina, que cai no chão. Mas eu não tenho tempo de comemorar, pois da mesma maneira que eu a acertei, ela também me acertou. É claro que ela

estava mirando em mim, afinal, eu sempre fui o seu verdadeiro alvo. Olho para baixo e vejo, consternada, uma mancha de sangue tomar conta do meu peito. Minhas pernas perdem a firmeza, mas Luc me segura antes de eu alcançar o chão. — Elizabeth?! — Luc grita em desespero, segurando-me nos braços. — Luc... Ela me acertou — aviso o óbvio. Os três Costatinis me olham em choque. — Eu sei, amor, aguente firme. Vamos te levar para o hospital — Luc me avisa e sai em disparada comigo pelos corredores, sendo seguido pelos dois irmãos. Logo chegamos ao estacionamento e alcançamos o carro. Luc entra na parte de trás comigo, e os dois irmãos vão na frente. — Aguenta aí, cunhada! Vai ficar tudo bem! — Enzo me incentiva com voz urgente, e Dante não tarda em dar partida, acelerando o carro pelas ruas. Sinto um frio estranho tomar o meu corpo. Olho para as minhas roupas e vejo que elas estão ficando encharcadas de sangue. — Luc... — falo com voz trêmula. — O nosso bebê... — Shhhh! Vai ficar tudo bem, com você e com o nosso bebê — Luc me conforta, e pela primeira vez vejo algo que há pouco tempo eu diria ser impossível: o grande mafioso e capo, rei e soberano do submundo do crime, chorar. — Fique comigo, Lizzy, não me deixe! — ele me pede entre lágrimas enquanto acaricia o meu rosto.

Eu me esforço em ficar, mas não consigo. A partir daí, eu apago, e a única coisa que vejo é a escuridão.

Na escuridão onde estou, de vez em quando capto algumas impressões... “Como ela está? Ainda não melhorou?” Mais escuridão me toma. Sinto uma mão carinhosa em meus cabelos. O que é isso? Seria um beijo em minha testa? “Doutor, como está o bebê?” Sim! Eu quero saber como ele está! Por favor, digam-me como ele está! Por que eu não consigo escutar mais nada? Por que eu não consigo abrir os olhos? A escuridão dura mais algum tempo, até que escuto um bip bip constante que me incomoda. Por que não desligam esse som? Abro os olhos em um esforço hercúleo, está claro demais aqui, as minhas retinas estão muito sensíveis. — Elizabeth? — Escuto uma voz me chamar. — Finalmente você acordou! Olho em direção à voz e me surpreendo ao ver Luc sentado em uma cadeira ao lado da cama. Ele está com a barba mais comprida e uma

aparência de cansaço, até seus olhos estão mais profundos. Ele está vestido com uma calça jeans preta e uma camisa de manga comprida que se molda aos músculos com perfeição. Será que nem acamada a sua aparência deixa de me impactar?, eu me pergunto, exasperada comigo mesma. — Luc? O que aconteceu? — A minha voz está um pouco rouca por causa da falta de uso. Luc se aproxima e beija a minha testa. — Graças a Deus que você acordou. Angelina atirou em você, Elizabeth, mas por um milagre a bala se alojou entre as suas costelas e não perfurou nenhum órgão, mas você não acordava. Você sofreu uma espécie de blackout, os especialistas disseram que pode ter sido causado pelo choque que você sofreu, mas que retornaria quando estivesse preparada. Mas eu já estava impaciente! — Luc fala com sofrimento expresso em seu rosto. Olho ao redor e observo que estou em casa, na minha cama, mas tem um equipamento que emite esse barulho chato que parece monitorar os meus batimentos cardíacos. Ao meu lado há um suporte com soro, cuja extremidade está inserida na minha veia. Levanto o lençol e vejo algo estranho. Isso é uma sonda? Eu me sinto dolorida em todos os lugares. Passo a mão em meu ventre. — E o nosso bebê, Luc, como ele está? — pergunto, apreensiva pela resposta. Luc coloca a sua mão sobre a minha em cima do meu ventre. — Ele está bem, Lizzy, firme e forte. Um verdadeiro Costatini, ele

não se amedronta facilmente — fala, orgulhoso. Solto um suspiro de alívio. Graças a Deus o meu bebê está bem! — Há quanto tempo estou dormindo? — Três dias. Nossa! Fiquei muito tempo apagada. Agora passo a me lembrar de algumas cenas do meu sequestro. — Luc, o que aconteceu com a Angelina? Eu a matei? — Eu não quero ter o sangue de ninguém em minhas mãos, mas quando atirei nela, eu pensei que ela feriria alguém da minha nova família, e isso é algo que eu não poderia permitir. Sou uma Costatini agora, e farei qualquer coisa para proteger os membros desta família. Sinto essa convicção em cada fibra do meu ser. É surpreendente perceber como as coisas mudaram em tão pouco tempo. — Sim, Elizabeth, ela está morta. Quando você perguntou por ela, eu não fazia ideia do que tinha acontecido, Lizzy, mas quando eu vi que você atirou nela, eu tive certeza de que ela estava metida em algo muito grave, pois você jamais atiraria em alguém se não fosse por um motivo muito forte. Nossa! Eu matei a minha irmã! Esta é uma informação impactante e que me deixa com um gosto amargo na boca. Ser a responsável pelo assassinato da minha própria irmã é algo que me assombrará por muito tempo, mas eu não quero pensar sobre isso agora. Por enquanto, vou enterrar isso no fundo da minha mente, para ser processado e assimilado mais tarde. Mas se eu tivesse que voltar no tempo, sei que teria tomado a mesma atitude. — Mas, naquele momento, eu não podia investigar nada sobre isso,

eu estava ocupado te socorrendo — Luc continua me explicando o que aconteceu, alheio aos meus tristes pensamentos. Agora foco os meus pensamentos em Luc, no aqui e no agora. — Somente ontem, quando eu te tirei do hospital e te trouxe para casa, eu recebi os pertences que você estava usando ao dar entrada no hospital, então percebi o celular. Fiquei surpreso ao constatar que aquele celular não era seu, e sim do Matteo. Mandei desbloquear as informações que estavam nele e descobri tudo. — Então você já sabe que a Angelina foi a responsável por tudo? — Sim. Muito inteligente da parte dela, devo reconhecer. — Luc senta-se ao meu lado na cama. — Ela quase conseguiu completar os seus planos. Foi por tão pouco, Lizzy! — Ele passa as mãos sobre o rosto em um gesto de angústia. — Você também descobriu que ela era minha irmã? Foi por isso que ocorreu tudo, Luc. Ela acreditava que, de alguma forma, eu estava em dívida com ela, por ter tido uma vida melhor do que a que ela teve. — Sim, eu descobri o parentesco de vocês por meio do histórico de mensagens entre Matteo e Angelina que estava gravado no celular. Os Barbieris esconderam Angelina muito bem da máfia. Mas agora terão que lidar com as consequências. Eu já ordenei o banimento deles da famiglia — Luc informa com um olhar implacável no rosto, o que me faz me perguntar como devem ter sido as técnicas usadas nesse “banimento”. Mas agora eu não posso mais procrastinar, tenho que saber se tudo o que Angelina me contou é realmente verdade. — Luc, a Angelina me disse que eu não era obrigada a me casar com você. Ela me disse que você mentiu para mim. É verdade?

Luc me observa com os seus tristes olhos amarelos por um tempo. — Sim, eu menti. — Mas por que, Luc? — pergunto, em total incompreensão. Luc solta um sorriso sem humor. — Há uns cinco anos eu fui informado que uma das filhas de Giancarlo havia sido encontrada. Eu já não tinha mais ideias de vingança a respeito, afinal, a traição de Giancarlo ocorreu há muito tempo, na época em que meu pai era o capo. Mas fiquei curioso para conhecer a pessoa que teve a sorte de conseguir escapar da máfia e se transformar em uma talentosa instrumentista. Por casualidade, eu estava na Inglaterra resolvendo negócios nesse período, então decidi te encontrar. A primeira vez que eu te vi, senti como se tivesse levado um tiro, tamanho o seu impacto sobre mim. Foi imediato, eu te vi e eu te quis. Na época, eu já tinha trinta anos de idade, mas você tinha apenas dezessete, quase dezoito, e eu posso ser muitas coisas, mas não sou o desgraçado de um pedófilo. Mas havia alguma coisa que me atraía inexoravelmente a você. Luc me olha tão intensamente que sinto borboletas na barriga. — Então eu mantive à distância. Mas fiquei te vigiando, e sempre que possível eu assistia a um dos seus concertos. Você sempre me deixou extasiado e maravilhado, Elizabeth, você parecia um anjo tocando. Sinto as minhas bochechas esquentarem com o elogio; pelo visto, eu nunca vou perder esse costume constrangedor. — Mantive todos os seus pretendentes afastados durante esses anos, e foram muitos, mas eu obviamente não os deixaria tocar naquilo que era meu

— fala Luc, com um toque dominador e possessivo no olhar. Esse é o Luc que eu conheço. — Você sabe que não tinha esse direito, não é? Você não podia interferir na minha vida como se fosse dono dela, Luc! — Eu não sou uma boa pessoa, Lizzy, nem finjo ser, e sei que jamais serei bom o bastante para você. Eu te vi e te quis, e te forcei a se casar comigo. Eu minto, manipulo, chantageio e engano, entre coisas piores. Eu sou assim, e provavelmente nunca mudarei. Pois se um dia eu mudar, seguramente não serei mais o capo da máfia. — Luc solta um longo suspiro resignado e continua: — Eu esperei o tempo que pude, mas não consegui me impedir de estar sempre por perto. Isso deve ter despertado o interesse dos meus inimigos, para saber quem era o alvo da minha constante atenção. — Angelina comentou que eles tentaram me pegar quando souberam que eu existia. Luc passa a mão pelo meu rosto em uma carícia suave. O seu olhar parece culpado. — A minha presença em sua vida te expôs a tantos riscos, Lizzy. Eu queria ter sido mais forte e te deixado em paz, mas eu não pude me conter, eu tinha que te ter. — Luc dá um sorriso sem humor. — Eu consegui me conter por cinco longos anos, em alguns momentos foi muito difícil me manter à distância, principalmente quando a sua mãe faleceu e eu te vi tão triste e sozinha. Mas eu tentei resistir o máximo que pude, até que um dia eu estava mais uma vez por perto, te observando enquanto você ensaiava no teatro, e notei que eu não era o único a te vigiar, então tudo entrou em ação, e o resto você já sabe. No início, eu pensei que com o tempo talvez você percebesse que poderíamos dar certo. Eu pensei que, se eu te tratasse bem, como você

merece, você um dia poderia vir a me aceitar. Fiquei muito angustiado quando você cogitou me trair. Eu achei que o nosso casamento ia fracassar. Mas quando você surpreendentemente me revelou o seu amor... — Luc fecha os olhos, dominado pelas emoções. — Eu senti que tinha alcançado o paraíso! Nem nos meus sonhos mais ousados eu achei que teria o seu amor, Lizzy. Quando eu te disse que te deixaria ir caso você me traísse, eu menti, pois jamais conseguiria ficar longe de você. Eu teria aberto uma guerra contra quem fosse, mas eu não desistiria de você! — Luc termina o seu discurso de maneira inflamada. — Mas você foi tão frio comigo, Luc! Você nunca disse que me amava, nem mesmo depois de eu ter me declarado. — Às vezes eu esqueço o quão jovem você ainda é, e o quão pouco você viu da vida. Eu te disse que te amava cada vez que fizemos amor, a cada toque, a cada gesto, a cada momento, a cada decisão... Você me tem cativo de seus encantos, Lizzy, como pode não ter percebido? — Mas eu nunca escutei as palavras, Luc — falo, tocando em seu rosto com a mão que está sem o soro. — Elas são minhas, e eu as quero já! — ordeno com um sorriso no rosto. Luc sorri e me beija. — Ah, senhora Costatini... Você não descansará até me derrubar de joelhos! Sim, elas são suas. Eu te amo, Elizabeth! Eu te amo desde a primeira vez que te vi. Eu amo a sua inocência, a sua alma benevolente, o seu talento, a sua música, a sua humildade, a sua determinação em ser uma mulher independente... E eu amo cada pedacinho do seu corpo. — Luc põe a mão em minha barriga. — E amo saber que dentro dele tem um pedaço de mim. Eu amarei e protegerei você e os nossos filhos para sempre, Lizzy! — Luc me

promete com determinação inabalável. Sinto lágrimas de felicidade escorrerem pelo meu rosto, finalmente eu sei que o tenho. Luciano Costatini é meu, cada pedaço dele, até o mais sombrio. — Eu não disse antes porque não estou acostumado a isso, Lizzy. Fomos educados a não sentir, e, caso sinta, não demonstrar. É difícil romper um hábito e me desnudar desse jeito para alguém, eu não sou bom com esse tipo de palavras. — Para mim, você foi simplesmente perfeito, senhor Costatini. Mas acho que você vai ter que se declarar mais vezes, para se habituar e pegar o jeito. — Lanço uma piscadela brincalhona para ele. — Suspeito que a senhora vai me manter muito treinado, senhora Costatini. — Luc se deita ao meu lado na cama e aproxima ainda mais nossos corpos, abraçando-me com carinho. — Pode apostar que sim, senhor Costatini. — Nós nos beijamos, e eu sinto toda a felicidade que vem da certeza de ser amada.

Epílogo Inglaterra, 3 anos atrás... Eu a observo novamente. Ela é o meu vício, a minha perdição. Não posso evitar estar sempre que possível ao seu redor. Ela é a luz que me atrai, e é por isso que eu não posso me aproximar, porque eu sou a escuridão. Ela não sabe quem ela é, e não sabe quem eu sou; na verdade, ela nem sequer sabe que eu existo, e prefiro que por enquanto as coisas fiquem assim. Não quero contaminá-la com o esgoto que é o meu mundo, pois, uma vez dentro dele, não há como sair. Porém, meus esforços serão em vão, eu sei. Elizabeth White é filha de Giancarlo, um amigo de meu pai e também um membro da máfia, até ser assassinado por corrupção dentro do nosso grupo. A máfia não dá segundas chances, e Giancarlo de Santis sabia disso. Muita coisa aconteceu desde então, Giancarlo e toda a sua família foi assassinada, com exceção de Elizabeth. Há alguns anos meu pai morreu de causas naturais, o que é raro na nossa profissão. Não vou dizer que eu sinto pela morte do meu pai, ele era um filho da puta miserável. Que o capeta o tenha ardendo no inferno! Depois de sua morte, eu, como filho mais velho, assumi o seu lugar como o capo da família. Desde então, com a ajuda dos meus irmãos, mudei tudo dentro da máfia. Eu não sigo ordens de ninguém, eu sou a lei, e faço todos me obedecerem. Muitas cabeças rolaram e muitas mãos foram “molhadas” com dinheiro de corrupção, mas eu consegui me firmar no meu posto e deixar as coisas em ordem. Entre as mudanças que estabelecemos, eu acabei com o tráfico humano e de órgãos. Todos se queixaram pela perda dos lucros, mas

existem limites para mim, que não devem ser cruzados. Não que isso me torne um homem bom, não, longe disso. Eu pratico muitas coisas reprováveis, e muitas vezes desfruto de praticá-las. Volto a olhar para quem tem sido o centro da minha atenção. Quando eu vi Elizabeth pela primeira vez, ela não passava de uma menina, e hoje se nota claramente que é uma mulher, com todas as curvas nos lugares certos, com o corpo mais tentador que eu já vi, apesar de eu não ter visto muito dele, ainda, e um rosto extremamente sedutor. Ela é uma linda mulher de cabelos castanho-escuros e compridos, tez morena, tão típica do Mediterrâneo, e os olhos azuis mais límpidos e inocentes que eu já vi. Ela certamente atrai muita atenção, mas a sua personalidade tímida e reclusa não a permite perceber isso. Mas eu percebo, e elimino imediatamente as atenções masculinas sobre ela. Um sorriso divertido se forma em meu rosto quando eu me lembro de como lidei com o suposto namorado dela. Puff! Aquele pirralho mijou nas calças com a primeira prensada que dei nele contra a parede. Ele saiu correndo tão rápido com o susto que eu tenho certeza que nunca mais se aproximará da minha Elizabeth. Atualmente, ando sentindo pressão de todos os lados para que eu me case logo, mas tenho resistido firmemente a isso. Todos querem que eu escolha outra “boa moça” da máfia para esposa, afinal, Giancarlo se provou um traidor, então eu não deveria honrar nenhum pacto que o meu pai fez com ele. Todos jogam as suas filhas em minha direção, com a esperança de que eu escolha alguma. Eu até as uso, eu as fodo, mas me recuso a dar-lhes qualquer lugar de importância em minha vida, elas não passam de um passatempo divertido. Desde que coloquei meus olhos em Elizabeth, eu soube que não havia possibilidade de existir outra no lugar de minha esposa, mas quando eu a vejo

tão perfeita e inocente, eu simplesmente não consigo tocá-la, pois sei que, no dia em que eu tocá-la, ela estará perdida, arruinada. Tudo o que eu toco se corrompe, e eu não queria que esse fosse o destino dela. E esse tem sido o meu dilema, quero dar o máximo de tempo para ela em uma vida sadia, pois o que eu tenho a oferecer é apenas riqueza, prazer, perigo, luxúria, violência e privação de sua liberdade. Liberdade, esta é uma palavra que eu nem sei mais o que significa, eu não gozo dela há muito tempo, vivo preso e acompanhado pelos meus seguranças e pelos meus irmãos, já que vivo sob constantes ameaças de máfias e inimigos diversos. Eu paro os rumos dos meus pensamentos para me concentrar nela. Ela está estudando em um teatro, mas não sabe que eu estou aqui, então aprecio os últimos momentos que tenho com ela. Infelizmente, preciso ir, tenho negócios para resolver. No caminho para o meu carro, que está estacionado na rua, tiro o celular do meu bolso e ligo para Enzo. — Oi, Luc? — Enzo atende. — Oi. Como estão as coisas por aí? — Já comecei a trabalhar com esse filho da puta. Estamos te esperando. — Estou a caminho. Desbloqueio o carro, entro e saio dirigindo rumo ao nosso esconderijo. Descobrimos que um dos nossos sócios em uma das empresas

estava nos passando a perna, agora ele vai descobrir quais são as consequências de passar a perna nos Costatinis. Chego ao local, um galpão perdido em um terreno baldio. Não há vizinhos perto, por isso o escolhemos. Eu passo rapidamente pelos corredores. Todos os seguranças abrem espaço ao me ver. A verdade é que uso seguranças para o caso de sofrer um ataque em massa, pois se eu sofrer apenas um ataque individual, dificilmente encontrarei alguém páreo para mim, e o mesmo ocorre com os meus irmãos. Temos uma rotina muito rígida de treinamentos e uma mira certeira. Abro a porta da nossa sala de “interrogatório”; esta palavra me diverte, é um eufemismo para sala de tortura, porque é isso o que acontece aqui, tortura pura e simples. Não vou mentir, muitas vezes me divirto com as coisas que acontecem aqui, mas eu não me divirto tanto quanto Dante. Ele é o mais sanguinário de nós três, gosta de ver o sangue escorrer. Entra em uma espécie de hipnose quando isso acontece, e é difícil pará-lo. Deve ser pelo que aconteceu quando ele era muito jovem, quase uma criança. Sempre que penso nisso, sinto a culpa me dilacerar, eu deveria ter chegado antes! Eu deveria ter impedido! Sacudo a cabeça para afastar esses pensamentos. Agora preciso me concentrar no trabalho. Tiro com calma o meu paletó e arregaço as mangas. Assim como no sexo, as preliminares também são essenciais no processo de tortura. O terror pelo que virá é determinante para fazê-los abrir o bico. — Olá, John, como você está? — pergunto enquanto posiciono uma cadeira para me sentar de frente para ele. — Vá se foder! — John pragueja. A sua aparência é lastimável, ele está devidamente amarrado na cadeira, está suado, com um olho fechado, de

tão inchado, e sangue sai de seu nariz quebrado. Pelo visto, apenas Enzo trabalhou nele, pois se Dante tivesse trabalhado, ele estaria muito pior... Muito bem, que comecem os trabalhos! — O que é isso, John? Me tratando com tanta falta de cortesia! Assim eu fico magoado — falo ironicamente. — Bem, vamos ao que interessa. Onde está o meu dinheiro, John? — Isso de novo? Eu já falei todos os dados para o desgraçado do seu irmão, eu já informei a conta bancária para ele! — John fala, em desespero, chorando feito uma criança. — John, John... Por que você está dificultando as coisas? Já averiguei a conta e lá tem apenas a metade do dinheiro. Onde está o restante da porra do meu dinheiro? — pergunto de forma exaltada. — Eu não sei — choraminga John. Por que eles sempre dificultam as coisas?, eu me pergunto. Puxo a mão de John e a coloco em cima da mesa. Enzo não demora a me ajudar a mantê-la lá. Eu me levanto, vou até a nossa caixa de ferramentas e pego uma pequena cerra portátil. Eu adoro esse brinquedo, ele é muito efetivo. — Vou contar até três, se você não me falar onde está o meu dinheiro, ao final dessa contagem eu vou cortar os seus dedos fora, um a cada minuto, até você falar. — Eu o olho com firmeza. — E saiba de uma coisa John: eu nunca blefo. John resolve testar a minha resolução, ele obviamente não me conhece.

Corto o primeiro dedo, o indicador, com facilidade, adorando os gritos desesperados que ele dá. Ao final da sessão, eu finalmente obtive o que queria, tenho o meu dinheiro de volta, e John está dentro de um saco preto e com menos seis dedos agora. Traidores não ficam vivos no nosso meio. É um mundo sujo, escuro e doentio, um mundo tão distante de Elizabeth... Solto um suspiro cansado. Eu gostaria de ter outra vida, Elizabeth, gostaria de oferecer algo melhor para você, mas a verdade é que eu só posso ser eu mesmo e esperar que um dia você me aceite. De vez em quando, eu crio esse tipo de pensamentos ilusórios na minha mente a respeito do futuro.

Inglaterra, alguns meses atrás... Hoje eu estou nos bastidores, observando-a tocar e experimentar o som do teatro. Estou só, não trouxe ninguém como companhia, nem mesmo os meus seguranças. Sempre que eu venho observá-la, tomo o cuidado de vir só. Eu não quero que eles vejam a minha obsessão por essa mulher, isso me tornaria uma piada e fraco aos seus olhos. Elizabeth toca violoncello como um anjo! Não parece ser uma criatura deste mundo, eu me sinto encantado e fascinado. Eu sempre me sinto assim quando a vejo. Mas ao mesmo tempo fantasio fazer muitas coisas sujas com ela enquanto toca. Quem sabe um dia poderei fazê-la gozar em minhas mãos enquanto ela executa uma de suas obras? As possibilidades são tentadoras. Olho para ela mais uma vez, apreciando a linda paisagem que é essa mulher, mas ela não tem a mínima noção do que o destino a prepara. Um dia vamos nos encontrar, meu anjo, em minha mente, eu dirijo

essas palavras de despedida para ela. Saio, antes que ela perceba a minha presença, mas quando já estou dentro do carro, percebo uns movimentos estranhos pela rua. O meu olhar é treinado para perceber o mais mínimo indício de qualquer coisa fora do comum. Droga, puta que pariu! Alguém a encontrou! Ninguém vai tirá-la de mim! Então, que comecem os jogos!

Itália, quatro anos depois... Atendo ao celular. — Socorro! Resgate a gente, pelo amor de Deus! — Recebo o pedido de socorro com um sorriso. — Já estou indo. Saio do escritório e vou em direção à sala de brinquedos. Lizzy está trabalhando na fundação agora. Ela fundou a sua própria fundação, que auxilia crianças carentes por meio de aulas de música. Nós somos o perfeito Ying e Yang, completamos a luz e a escuridão no mundo. Nós nos prontificamos a ficar com a pequena Cora esta tarde. Quem diria que seria uma tarefa tão difícil? Parece que os tios não estão dando conta. Quando abro a porta, eu me deparo com a cena mais cômica que já vi: Enzo e Dante estão sentados ao redor de uma pequena mesa, rodeados de bonecas e com um completo jogo de chá de madeira servido diante deles.

Acho que agora é a hora do chá para as bonecas de Cora. Dante está com o cabelo amarrado com laços coloridos, e Enzo está sendo devidamente maquiado pela minha filha. Solto uma gargalhada e não resisto em tirar uma foto deste momento com o meu celular. — Se você mostrar essa foto para alguém, eu te mato, e eu nem quero saber se você é da família — Enzo me ameaça, mas a ameaça vinda de um homem com blush fortíssimo e batom rosa borrado nos lábios não faz muito efeito sobre mim. — Não, tio Enzo, não pode! — Cora o repreende. — É brincadeira, querida, eu não quis dizer isso, está bem? — Enzo tenta disfarçar. — Mas eu acho que o tio já está muito bonito e muito bem maquiado, e também já tomou muito chá com as suas bonecas. Por que você não chama o papai para continuar com a brincadeira? Cora olha para mim, ela é uma linda menina de cabelos castanhoclaros e olhos amarelos, como os meus. Eu não poderia ser mais abençoado. — Você quer brincar comigo, papai? — Cora me pergunta com os olhinhos brilhantes. Eu não posso resistir aos seus desejos, ela tem me dominado, como a sua mãe. Estou perdido com essas mulheres. — É claro, querida. Vocês dois já podem cair fora. Os dois se despedem dela e não perdem tempo para sair. — Que tal mudarmos de brincadeira? Que tal contarmos histórias?

— História! — Cora sai correndo para um cantinho com pufes confortáveis no chão. Após nos acomodarmos, eu começo a contar uma história muito especial. — Era uma vez... um grande vilão. Ele se sentia muito triste e só, até que, um dia, ele encontrou uma linda princesa. — Não, papai, a princesa não pode ficar com os homens maus — Cora me responde, contrariada com a minha história. — Eu acho que a princesa ficou com pena do homem mau, pois ela aceitou se casar com ele no final. — E o que aconteceu, papai? — Cora pergunta, curiosa. — Pelo fato de o homem ser mau, ele tinha muitos inimigos, e a princesa correu muitos perigos. Os dois enfrentaram muitas batalhas juntos, mas conseguiram vencê-las. E, por fim, tiveram uma linda princesinha. — E o que aconteceu com o homem mau? — Ele nunca mais se sentiu triste ou sozinho, amor. Graças às duas princesas, o homem passou a ser feliz. Cora sorri encantada com a história, mal sabe ela que se trata da mais pura verdade. — Que linda história! — Lizzy fala atrás de nós, surpreendendo Cora com sua presença. Cora sai correndo em direção à mãe, que está com uma grande barriga

de oito meses, à espera do nosso primeiro menino. Lizzy continua sendo a coisa mais linda que eu já vi. Ela abraça Cora com felicidade e se aproxima, sentando-se ao meu lado na nossa área de contação de histórias e me cumprimenta com um beijo nos lábios. Olho para a minha família e sei que o conto é real. Mesmo que eu não seja digno nem mereça, mesmo assim, pela primeira vez eu sou feliz.

Agradecimentos Nossa! Termino o segundo livro. Foi um livro cheio de aventuras, intrigas ação e muito amor. Sou muito grata a Deus, por me permitir me dedicar a mais uma obra. Gratidão à minha família, que mais uma vez teve que ter muita paciência comigo nesse período em que estive muito distraída pensando em mafiosos e todo o seu submundo. Agradeço a todos os leitores que dedicaram o seu tempo para ler o meu livro, comentar e/ou divulgar o meu trabalho. A vocês, toda a minha gratidão. Vocês são o motivo pelo qual escrever vale a pena. Agradeço às pessoas que se dispuseram a me dar dicas, fazer divulgação do meu trabalho, ou que de alguma forma me estimularam a seguir pelo caminho da escrita. Entre elas, eu especialmente agradeço às autoras Vicky Fenix, Dayse Mendes, Jessica Lopes, Val Gonçalves e Cereja Design. E finalmente o meu agradecimento especial para a minha revisora Luhana Andreoli, que embarcou comigo em mais uma viagem, mantendo sempre a docilidade e o bom humor, mesmo em meio a uma situação tão difícil de pandemia. Luh, muito obrigada!
Anna Black - Os Costatinis 1 - Destinada Para O Capo

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