Eloisa James - Atividades Indecorosas

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Eloisa James Atividades Indecorosas

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Eloisa James Atividades Indecorosas Improper pursuits

Relato online - Web da autora Disp em Esp: Ellloras Digital Envio do arquivo: Gisa Revisão: Danielle Aguiar Revisão Final: Greicy Formatação: Danielle e Gisa Tiamat - World Um dos mais imorais, desavergonhados, e escandalosamente eróticos manuscritos (do século XIX) que foram publicados: “Querido leitor: Dado que me resulta muito desagradável surpreender e turvar, devo rogar a todas as damas de sensibilidade delicada que deixem imediatamente este livro. Vivi uma existência de paixão desmesurada, e me persuadiram que dar a conhecer seus detalhes, com a esperança de impedir que alguma pessoa nobre e sensível siga meus passos… Atenção, leitor, tome cuidado!” 1

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Comentário da Revisora Danielle: livro curtinho, sobre um casal que se ama desde pequeno e a mocinha se acha indigna de ser esposa de um duque. O mocinho sem se preocupar com qualquer preconceito vai a sua procura e acaba achando um manuscrito interessante... leitura curtinha e rápida. Vale dar uma conferida. Comentário da Revisora Greicy: história curta; amor verdadeiro; e um escândalo na sociedade londrina... Adorei. Pena o livro ser tão pequeno.

Atividades Indecorosas Um dos mais imorais, desavergonhados, e escandalosamente eróticos manuscritos (do século XIX) que foram publicados.

14 de fevereiro, 1818 Escritórios da editora Thurman & Thurman Editores da Coroa Londres, Inglaterra

Do manuscrito de Reginald Feathergastington “Relato de sensibilidade e dor”

Querido leitor: Dado que me resulta muito desagradável surpreender e perturbar, devo rogar a todas as damas de sensibilidade delicada que deixem imediatamente este livro. Vivi uma vida de paixão excessiva, e estão me persuadindo a levar ao conhecimento de todos, os detalhes, com a esperança de impedir que alguma pessoa nobre e sensível siga meus passos… Atenção, leitor, tome cuidado!

Dizem que um homem daltônico nunca entenderá que o vermelho é uma cor perigosa. Também se diz que um homem tolo nunca se dará conta do perigo de apaixonar-se. Por isso é óbvio que a coisa mais perigosa que poderia fazer um homem é apaixonar-se por uma mulher ruiva. Jas Griffin poderia dar testemunho disso: quatro anos depois de que se apaixonasse precisamente por uma mulher assim, seu próprio pai, o duque do Honingborne, iniciava um processo para que não fosse seu herdeiro. Sua mãe tinha informado a maior parte da sociedade

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de Londres que ele era ilegítimo. Sua querida ruiva tinha saído correndo, desaparecendo sem deixar rastro fazia uns seis meses. E agora, ao que parece, estava a ponto de ser despedido de seu trabalho na editorial Thurman & Thurman. Tudo por uma mulher ruiva. E ele nem sequer podia usar a desculpa de que era daltônico. A primeira vez que Jas Griffin viu Linnet Chandros, era um rapaz antissocial —muito antissocial— de doze anos. Seu pai, o duque do Honingborne, tinha-lhe convocado ao salão, e logo tinha o informado que um tal senhor Chandros ia ser seu novo tutor em Retórica, Heráldica, Versificação e História. Também lhe ensinaria algo de Direito, Física e Astronomia. Jas grunhiu. Viu a moça ao lado de seu pai, certamente, e não lhe caiu muito bem, tinha uma cara pequena, ela parecia com um camundongo impertinente, e levava o cabelo em uma apertada trança. —Amavelmente, dei permissão ao senhor Chandros para que inclua a sua filha nas lições que sejam apropriadas para uma mulher. —disse seu pai, pomposo como sempre. O mais seguro é que Jas grunhisse outra vez. Não foi até o dia seguinte que compreendeu que sua vida tinha trocado para sempre. O que tinham sido dias intermináveis cheios de lições tediosas dirigidas a convertê-lo no seguinte duque, transformaram-se, em dia que passaram em uma espiral de brigas furiosas. O primeiro dia não tinha notado que o cabelo de Linnet Chandros era tão vermelho como o fogo e que fazia jogo com seu temperamento. Aquele ano, ela se especializou em assinalar todos seus enganos. —Estúpido. — dizia, enquanto olhava sua folha de matemática— Olha! —E lhe agarrava o papel e começava a escrever nele, somando colunas inteiras de números sem pensá-lo duas vezes. Devolveu-lhe a bola quando chegou história. —Gorda estúpida. — diria ele com desdém quando ela acreditava que um regente de repente assassinou a seu tutelado, o futuro rei, em um impulso. —Sua esposa deve ter dado a luz a um varão, certamente. O regente planejou o assassinato no momento que ouviu que sua esposa esperava um filho. Linnet gostava dos atos impulsivos e irracionais. Jas era o oposto: não valia a pena empreender nenhuma ação, sem um cuidadoso plano. Ao cabo de seis meses eram inseparáveis, embora ninguém se desse conta. De fato ninguém tinha nem ideia de que o distraído tutor, o senhor Chandros, frequentemente perdia de vista a sua filha... ou que o jovem amo nunca a perdia de vista. O duque visitava sua propriedade do campo muito poucas vezes, e a duquesa a evitava por completo. Se qualquer um tivesse olhado com atenção teria visto Linnet e Jas pescando no rio ou disparando flechas ao tronco de um álamo. Mas ninguém nunca olhou. Passavam os dias discutindo se procediam segundo o plano estragavam a diversão de uma ação impulsiva. E quando chegava o anoitecer, se Jas não fosse convocado à biblioteca para fazer um exame (e quase nunca o era), esperavam até que as criadas serviam um jantar solitário no

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quarto dos meninos e logo Linnet descia do terceiro piso e jantava com ele. O cozinheiro acreditava que o amo tinha bom apetite e seu carinho para ele era cada vez maior ao ver que os pratos que preparava voltavam vazios à cozinha. Não foi até que Jas teve quinze anos que seu pai se deu conta da existência de Linnet e recordou que ela vivia em sua casa. Convocou seu filho e herdeiro nessa mesma noite. —Confio em que compreenda sua responsabilidade para pessoas que são inferiores a ti. — disse com rigidez, de pé ante o fogo, com as pernas separadas. Se o duque tivesse sido capaz de admitir tal coisa (que não o era), teria tido que reconhecer que lhe deixava nervoso estar com seu filho. Havia uma inteligência nos olhos de seu filho que era desconhecida para ele. Jas pigarreou e disse algo sobre que as casinhas do caminho do oeste necessitavam um teto de palha novo. O duque lhe interrompeu. —Estou falando dessa moça, a filha do Chandros. — disse — Parece que é uma coisinha aborrecida, mas com as mulheres nunca se sabe. O coração de Jas parou quando se deu conta que se não dirigisse bem a situação, seu mundo se veria feito migalhas. Então endireitou as costas e pôs um olhar desdenhoso. —Confio, Sua Graça, em que não esteja insinuando que sou desses que beliscam às criadas. —Ela não é precisamente uma criada. — disse o duque. E ele sim era desses que beliscavam às criadas e por isso pensava que o mesmo lhe podia fazer a Linnet— E o que está esperando? — continuou— Uma queda no feno não te faria mal. Seu filho tinha olhos estranhos: muito intensos. O mais provável é que nem sequer soubesse o que significava dar um beliscão, pensou. Ou seja, quanto tempo demoraria o rapaz em resolver o assunto. —Como deseja. — adicionou, irritado ante esta prova (uma mais) de que seu filho e herdeiro era muito diferente dele — Se desvirginar a uma ou duas criadas, não seria algo que eu não tenha feito quando era uma rapaz. Mas mantém-se longe da filha do tutor. Com ela não é apropriado. Procura no povoado se decidir se tornar um homem. Jas se inclinou de modo respeitoso, e se retirou. Mas, claro, tudo trocou. Quando de noite Jas olhou Linnet, viu uma mulher. Não teve nem o mais mínimo impulso de beliscá-la. Ou desvirginá-la, fosse o que fosse o que significasse isso. Em realidade, não sabia o que queria. Além de tocá-la. E estar com ela. Esse foi o princípio de todo o mau que aconteceu.

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Introdução Manuscrito de Feathergastington Possivelmente alguns dos que embarcam em uma existência caracterizada pelos pecados da carne sabem já da infância que nasceram para levar uma vida deste tipo. Eu, querido leitor, cresci em uma deliciosa ignorância de minha futura infâmia. O certo é que não comecei até os tenros anos de minha juventude, quando, com toda inocência, visitei a corte de St.James. —OH, como odeio expressá-lo com palavras, sobre o papel— e conheci uma duquesa. O episódio das meias verdes é conhecido por algumas pessoas, mas posso contar agora que…

Quatro anos de descobrimentos, prazer, e certamente, perigo, tinham passado desde aquela tarde. No dia 14 de fevereiro de 1818, fazia seis meses que Linnet tinha desaparecido. Jas a tinha procurado por toda parte, tinha gasto até o último centavo que tinha em procurá-la... e aquela manhã sua mãe, sem nenhum cuidado, tinha-lhe lançado uma nota. —Isto é um presente de São Valentín. — disse ela, com uma pitada de desprezo na voz — Enganei seu pai, esse bobo. Então não diga que não me importo. Ele se inclinou de modo respeitoso, beijou-lhe a mão e se deu a volta. —Aonde vai? —ela o chamou— Acaso pretende te casar com ela, uma moça que não pertence a nossa classe? —Não agora, sua graça. Estou trabalhando no Thurman & Thurman. —OH, pelo amor de Deus, basta já dessas tolices! —gritou ela— Não te ofereci todo o dinheiro que queria? Como pode envergonhar a ti mesmo, e o que é mais importante, a mim, dessa maneira? Porque eu gosto do trabalho de uma editorial mais do que eu gosto de você, pensou Jas. Porque quero ter minha esposa e meus filhos afastados de seus escândalos. Porque tenho um “plano”. Embora de momento o plano parecesse estar em perigo. —Fofocas! Insensatezes! Sujeira! —Seu chefe tinha ficado vermelho de fúria— Como lhe ocorre sequer pensar que este estabelecimento, a digna assinatura do Thurman & Thurman, editorial da Coroa, publicaria este lixo!?

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—Eu gostei bastante. — disse Jas, esforçando-se em controlar seu tom de voz. Mufford agitava as páginas do manuscrito com as bochechas que foram do rosa à arroxeado conforme ia lendo. —Você está louco? Aqui descreve uma mulher dançando ao ar livre, sem roupa. Isto não é só escandaloso, é sem sentido. Trouxe-me um manuscrito que descreve, e o faz com detalhe, as ações de uma amante! Jas suspirou. —Preciso lhe recordar outra vez, Griffin, que esta casa editorial dispensou a poesia imoral do Byron? — continuou Mufford. —Se venderá. — disse Jas com secura — Os livros do Byron se venderam. Os papéis, que Mufford agarrava com força, moveram-se fazendo um som semelhante a um vento enfurecido. —Byron é um nobre. Nunca ouvi falar desse Feathergastington. Quem vai se interessar por uma novela de alguém com um nome como esse? —bufou. —O que temos que fazer... —Não vamos fazer nada. — lhe interrompeu Mufford—. Dei-lhe um trabalho porque tenho bom coração. E você me corresponde trazendo lixo de seus dissolutos companheiros de jogos. Sou um cristão praticante igual a meus leitores. Acaso acredita que uma dama, como por exemplo, a senhora Mufford leria isto? Nunca! —Às senhoras adorarão. Está escrito por um membro da nobreza que fala a respeito de seus companheiros. Passarão os meses tentando descobrir a identidade do Feathergastington; está claro que é um nome falso. —Me mostre a uma mulher decente que aplauda este montão de fofocas, em vez de assinalar que isto é uma imoralidade, porque isso é o que diria a senhora Mufford. —Ao azar arrancou uma folha— Eu poderia abri-lo em qualquer parte e... —Os olhos lhe abriram exorbitados— Ele está... ele está... Nem sequer posso dizê-lo... ele, ele... Com um pouco de interesse, Jas agarrou o manuscrito. —Essa parte é um pouco intensa. —disse. —Ele está... ele está atado à parede! —Só com um cachecol. — assinalou Jas. Mufford colheu com brutalidade a folha e seguiu lendo. —Suponho que Feathergastington é um de seus amigos mais íntimos, não? —Não o conheço pessoalmente. Mas ele diz que é uma história excelente. —Basta. — disse Mufford com brutalidade — Qualquer mequetrefe contratado na rua poderia encontrar um manuscrito pornográfico. Acreditei que você nos traria algo um pouco refinado como corresponde a um cavalheiro, algo com classe. Agora entendo por que seu pai o jogou à rua. Ele já sabia a classe de mente que tem você. Jas não pôde menos que sorrir ante essas palavras, o que fez deixar seu chefe mais furioso. —Não vamos publicar este lixo. — gritou Mufford — Seria outra coisa se a história fosse real.

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Quem vai querer ler algo sobre mulheres desavergonhadas que nem sequer existem? —São reais. —Me traga o autor e veremos se me convence. — Folheou umas quantas páginas mais — Na pista jogando tênis, no Almack’s, lady G...? O que é o que pretende com isto? Este manuscrito é só uma invenção de má qualidade. —É real, —disse Jas— reconheço a alguns de seus protagonistas. —Compreendeu seu engano um momento depois. Mufford detestava que lhe recordassem que Jas não era um empregado comum, a não ser um membro da nobreza. —Demonstre-me isso, me traga esse Feathergastington, ou a quem queira que seja quando não se está dando importância. —Não posso fazer isso. — A verdade era que o manuscrito foi entregue por um rapaz com uma anotação que dizia que se lhe interessava publicá-lo pusesse uma nota no Times. Mufford fez uma careta com os lábios. —Mas se pode provar sua veracidade sem ajuda do autor. —Mesmo assim, teríamos perdas. —Não, se eu respaldar a aventura. Pagaria o custo editorial, e lhe daria vinte por cento dos lucros. Isso deteve Mufford. —Por quê? —perguntou com suspeita — Se você tivesse dinheiro, não mancharia suas mãos de cavalheiro trabalhando. Rejeitei um montão de manuscritos que não eram mais que lixo. Por que insiste tanto em imprimir este, hã? Tinham chegado a um momento crucial. Jas deu de ombros com indiferença. —Talvez trabalhe com você por amor à arte, Mufford. O que acontece? Tem medo de aceitar meu patrocínio? Quase podia ouvir como as rodas da mente de Mufford foram girando. —De onde tirará o dinheiro para editar um livro? Pensa ir correndo pedir ajuda a seu pai? Depois que ele... —Viu o olhar de Jas e se calou. Todo mundo tinha se informado do ataque de fúria do duque, em que ele renegou publicamente seu filho e herdeiro, jurando que Jas não veria nem um centavo até que ele morresse. —Tenho o dinheiro. — indicou Jas. —Trezentas libras e a prova de que todas essas histórias libertinas são algo mais que uma invenção. — disse Mufford. Guardou silêncio durante um instante e sorriu— Possivelmente uma das mulheres descritas na história confesse. Por seu bem, espero que não apareça nenhum de seus parentes. Jas pensou brevemente se defenderia a honra de sua mãe e decidiu que não. Depois de tudo foi ela que tinha contado a toda a nobreza que Jas era ilegítimo. —Trezentas libras é o dobro do que custa imprimir um livro. Mufford sorriu, mostrando os dentes.

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—Se imprimirmos esse lixo, faremo-lo parecer tão piedosa como uma bíblia encadernada em couro com bordas douradas. E você ficará com as duas terceiras partes dos lucros, nem um centavo mais. A não ser que não possa reunir o dinheiro, é obvio. E nesse caso... — E Jas o viu em seus olhos antes que o dissesse — pedirei-lhe que saia deste escritório, “senhor” Griffin. Jas sabia quanto gostava de dizer “senhor”. Quanto gostava Mufford referir-se ao fato de que o pai de Jas — o duque do Honingborne — tinha apresentado uma solicitação à Coroa para lhe tirar os títulos. Mas como já tinha obtido o que queria, não havia nenhuma razão para discutir. Jas não se incomodou em despedir-se, deu-se meia volta e partiu com a voz alta de Mufford soando a suas costas. Tinha chegado a hora de encontrar Linnet. De vê-la outra vez.

Primeiro capítulo Manuscrito de Feathergastington …Ela tirou suas meias com a maior delicadeza imaginável, querido leitor. Fiquei transfigurado ao ver seu tornozelo, magro, delicioso. Em um momento de arrebatamento, pus meu coração e meus lábios a seus pés e venerei essa amada parte de seu corpo como tão evidentemente se merecia...

Foi como quando a viu pela primeira vez, o momento no qual se apaixonou por ela, embora não o tivesse sabido naquele instante. Agora que seu rosto pálido se arredondou ao amadurecer, era deliciosa. O cabelo ainda tinha a cor do fogo e as pestanas eram pálidas como sua pele. Estava sentada em uma cadeira de balanço e não lhe ouviu, assim ficou parado na soleira, admirando-a: as mãos magras, o pescoço cheio de graça. E em seus braços... Um bebê. Seu bebê. —Linnet. — sussurrou. Ela elevou com brutalidade a cabeça e por um momento ele viu a alegria florescendo em seus olhos, unindo-se à alegria de seu próprio coração. E logo seus olhos se apagaram e disse: —Não deveria estar aqui. —Minha mãe não é uma pessoa a quem confiar um segredo. Embora durante seis meses tive que ir cada dia vê-la para conseguir que me desse sua localização. —Se aproximou dela— É meu bebê? Posso vê-lo... vê-la? Linnet lhe olhou e abraçou com suavidade o bebê. —Não o faça, Jas, não deve fazê-lo. Essas palavras foram como uma faca no coração.

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—Por quê? —Não é tua. Ele se aproximou mais, sentindo-se seguro. —É nossa. — Caiu de joelhos a seu lado— Por favor, Linnet. Não me afaste. Ela fechou os olhos, abraçando de tal maneira ao bebê que ele não podia ver mais que uma face rosada. —Tenho que fazê-lo, Jas. Tenho que fazê-lo... por seu bem. Tal como ele pensava. E sabia exatamente o que tinha que dizer. —Você pode se sacrificar, Linnet. Mas não pode sacrificar a nosso filho. —Ela é... —Assim é uma menina? —Antes tinha dito “ela”. Se chama Rose. Essa era sua Linnet: corrigindo suas inexatidões. —Destruirá a ti e a mim por nada. —disse ele— Por algo como a reputação, pela opinião das pessoas que nos aceitam. Ela franziu o cenho. —Assim é como você vê? —E de que outra forma posso ver nossas vidas? Você está desonrada, graças a mim. Eu sou ilegítimo e estou desonrado, graças a minha mãe. Rose, a pobre pequena, escolheu um lamentável par de pais. Linnet entrecerrou os olhos e em suas bochechas apareceu um leve rubor. —Rose terá uma vida maravilhosa. Será amada. —Que seja amada não é suficiente. Se sentirá amada ainda daqui a uns anos, quando saiba que sua mãe se negou a casar-se com seu pai... deixando-a sem um pingo de reputação, com a impossibilidade de casar-se e ter seus próprios filhos? As maçãs do rosto de Linnet se ruborizaram. —Não podes entender que não quero me casar contigo? —disse com ferocidade. Ele se levantou. —Não? Por que não? Porque não me ama? Olhou aos olhos. —Por isso mesmo. —Isso é uma tolice. — rebateu ele sem deixar de olhá-la. Linnet soube nesse momento que tudo era inútil. Embora para ser sincera, soube do mesmo momento em que elevou o olhar e viu seu rosto. Às vezes ainda pensava nele como o rapaz que cresceu com ela, costas largas, mais alto que seu pai e mais bonito que sua mãe. Tinha a aparência de um rei, era seu rosto o que deveria estar na cara das moedas. Um homem assim deveria casar-se com uma princesa. —Não posso deixar que a veja. —Por que não? Há algo de errado?

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O medo que apareceu em seus olhos a derreteu, afrouxou o nó de gelo que tinha no coração e começou a debilitar sua determinação. —Não deve fazê-lo! —disse chorando. Mas Jas não era um menino, era um homem, e parecia um homem. Não, parecia um duque. Não se podia confundir esse feroz nariz aristocrata ou a forma de seus ombros. —Minha filha seguirá sendo minha filha, sem importar se tiver a cara disforme ou não! — disse no mesmo tom no que um duque ordenaria aos deuses que lhe obedecessem. —Não é disforme! —respondeu Linnet, indignada— É perfeita, é muito perfeita. A mão dele, que já apartava a manta, deteve-se. —Então? —Conheço-te, Jas. Se a vir, nunca será capaz de... —De deixá-la? —Olhou-a meio sorrindo, com esse sorriso torcido que tinha feito com que se apaixonasse por ele fazia anos, quando se deu conta de quão só estava e do simpático e bonito que era. —Não ria! —Não o faço. Mas você não me conhece, Linnet. —Sim, eu... Ele continuou olhando-a aos olhos, inquebrável. —Pois então sabe que nunca abandonaria a minha filha. Ou acredita que o faria? Ela sabia em seu interior, como sempre tinha sabido que a encontraria algum dia. Embora tivesse enganado a si mesmo. —Não. — murmurou. —E acredita que abandonarei a ti? —Deve fazê-lo. —sussurrou, angustiada— Deve fazê-lo! —Para que possa ser duque? —Sua voz era suave, como se o título não significasse nada para ele, mas não enganava Linnet. —Tem que ser duque. —respondeu ela— É o que é, Jas. É um duque. Um futuro duque. Ele envolveu um dos suaves cachos de Rose ao redor de seu dedo. Eram da cor da manteiga recém-feita. Logo afastou a manta e já foi muito tarde, porque Rose era tão formosa que ficou encantado. —Olhe que pestanas. —disse ele— E que nariz tão doce. Tem sua boca, Linnet. —E tem seus olhos. Quando despertar verá. São do mesmo azul cinzento que os teus, exceto quando se zanga. Então se voltam negros! Ele riu. —Está tão tranquila que não posso imaginar zangada. —Pois tem um caráter terrível. —disse Linnet. —Me pergunto de onde o terá tirado. —comentou ele, com riso nos olhos. Logo estendeu os braços. Agarrou à pequena e a abraçou com suavidade, balançando-a enquanto a olhava, e logo a levou ao berço que havia em um canto.

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Linnet se levantou e disse a suas costas. —Não arruinarei sua vida. — Pronunciou as palavras que tinha praticado na escuridão, noite atrás de noite— Não sou ninguém. Não tenho nada, nem sequer um dote. Não posso ser duquesa. —E eu não sou um duque. — Se girou para ela— Acaso não sabe o que minha mãe disse a quase toda Londres? Não sou filho de seu marido. Linnet o olhou com uma sombra de desdém. —E você acreditou nisso? —Claro. —Que idiota você é. Ela lançou uma isca à seu pai, e ele é tão parvo que acreditou. Sua mãe o despreza. —A verdade é que não me importa. —É igual a ele. — E o era. Era uma cópia de seu pai, mas mais bonito e mais inteligente. Muito mais inteligente. O duque fanfarroneava e se pavoneava, mas na opinião de Linnet, não tinha a menor substância. Enquanto que Jas era Jas. Ele parecia exatamente o que era: uma pessoa tão inteligente que quão único tinha que fazer era pensar em como realizar algo, e o realizava com êxito — De verdade te jogou de casa? —perguntou-lhe— Li em uma coluna de fofoca, mas não podia acreditar nisso. —Sim. Estive trabalhando em uma editora enquanto tentava te encontrar. Ela se sentou, consternada. —Não acreditei nisso. Então os dois perdemos tudo. Ele ficou de cócoras ao seu lado. —Será que não se dá conta, minha bobinha? Será que não vê que você nunca me perdeu? Aproximou-a dele e Linnet nem sequer tentou o deter. Jogou-se em seus braços com um pequeno soluço e o beijou nos lábios. Ao princípio foi todo doçura, lhe enredou as mãos na seda escura de seu cabelo e murmurou algo sem sentido, algo que fazia referência a todas as noites que tinha jazido acordada, sabendo que tinha cometido um engano terrível. Às noites nas quais tinha chorado até dormir. Mas depois, ele a abraçou com força, levantou-a e a apertou contra seu corpo. Voltou a beijá-la, mas esta vez com dureza, não com doçura. E aí estava aquilo que havia entre eles: o fogo que sempre se acendia, os queimando. Tinha enredado os dedos no cabelo dele e de repente já não era amor, viu-se superado pelo rápido batimento de seu coração e pela chuva dourada de excitação em sua feminilidade. A boca de Jas bebeu seu desejo, reclamou-a, disse-lhe em silencio coisas que ela já sabia, que sempre tinha sabido, falou-lhe da nostalgia, do desejo e daqueles que eram o bastante sortudos para encontrar um amor que durava toda a vida. Pela primeira vez em seis meses, Linnet esqueceu por completo de sua filha, que dormia no berço. Esqueceu todas as boas razões para escapar e recusar casar-se com Jas. O que fez foi rebolar contra ele, contra a dureza de seus quadris e a exigência de sua boca. Sentiu como a abraçava, com as mãos trementes. Como a apertava contra si como se ela fora...

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—Deus, Linnet como pôde me fazer isso? —disse-lhe ele, com voz áspera e profunda— Não podia dormir, não sabia onde estava, acreditei que ia me deixar louco! —Eu... eu... —ofegou ela. —Por quê? —continuou Jas— Me fará voltar cada dia até que sejamos velhos e tenhamos o cabelo cinza para te rogar que se case comigo, Linnet? Por quê? Por que nos está fazendo isto? — Era como se lhe arrancassem as palavras do peito. Ela abriu a boca para responder, mas ele já a estava beijando outra vez, com uma urgência febril que fez com que se envergonhasse de tê-lo abandonado. —Sinto muito.— disse e lhe devolveu os beijos, lhe dizendo em silêncio que o amava, amava-o... Ouviram-se vozes no piso de baixo. Linnet foi para trás. —OH, não! Lhe acariciou as costas com as mãos. Olhou aos olhos, meio ocultos pelas pálpebras e soube que nunca voltaria a abandoná-lo. Soltou um trêmulo suspiro e enxugou uma lágrima. —Quem é? —perguntou Jas, sem nenhum interesse. Seus dedos lhe acariciando as costas eram uma promessa— Seu pai? —Pior. —murmurou Linnet— É a duquesa de Alderman. Ele franziu o cenho. —Que diabos significa isto? —É uma prima distante de meu pai. Por que acredita que Rose e eu vivemos aqui? —De seu pai? Ela sorriu, mas foi um sorriso irônico. —Meu pai não pôde me perdoar nunca que ficasse grávida, mas a duquesa é minha madrinha, e me ajudou muito. Atraiu-a de novo para ele, tão zangado que parecia a ponto de sacudi-la. —Nunca poderei te perdoar por fugir aquela noite. Nunca. Mas havia alguém na porta. Jas se virou. A duquesa de Alderman era uma mulher elegante e ainda bela a seus sessenta anos. Seu cabelo grisalho estava penteado com um estilo que qualquer debutante admiraria. —Bem. —disse a mulher— Aqui está a origem do problema. Jas se inclinou respeitosamente e foi direto ao ponto. —Pedi-lhe cem vezes que se case comigo. —Algumas vezes mais. —indicou Linnet— Talvez umas duzentas. —Então por que não está casada? —exigiu a duquesa— Sua mãe não era nenhuma idiota. Lamentaria acreditar que depois de tudo se parece com seu pai. Um parvo sonhador. Jas sorriu amplamente, mas antes que pudesse falar a duquesa arremeteu contra ele. —Sua mãe e eu fomos amigas íntimas, antes que se casasse com esse desesperador sanguessuga. Morreu no parto e prometi lhe dar um dote... mas seu pai é tão idiota que não pôde

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manter fechada a porta de seu quarto! Como pôde você deflorar a uma jovem decente em sua própria casa? Ele a olhou aos olhos com decisão. —Isso foi desprezível de minha parte. — Se fez um silêncio— Mas não o lamento. Quão único lamento é que nunca aceitasse quando lhe pedia que viesse comigo a Gretna Green. —É obvio, os duques sempre estão fazendo esse tipo de coisas. —resmungou a duquesa— Mas não me parece bem. E menos quando se trata de uma moça que está sob meu amparo! —E acrescentou— Soubesse você ou não. —Por favor. —disse Jas, olhando sem acovardar-se aqueles ferozes olhos verdes— Poderia convencer à senhorita que está sob seu amparo de que a amo? De que quero me casar com ela, e seguir com ela todos os dias de minha vida? E que se não me caso com ela, não me casarei com ninguém? —Em nenhum momento olhou a Linnet. Entretanto, a duquesa sim que o fez. Olhou a ele, logo a Linnet, e finalmente voltou a olhálo. —Lhe expulsaram da casa de seu pai. —disse— Seu pai é um asno, certamente, e algum dia você será duque. O Tribunal vai rir dele, se sua mãe não lhe disser antes a verdade. Como pensa manter a uma esposa e a um filho? —Estive trabalhando em uma editora. Ela fez um gesto de desdém. —E tenho um castelo na Escócia. O desdém foi substituído por um brilho nos olhos. —Isso está melhor. Suponho que pelo lado materno. —A verdade é que não. Meu pai me deu de presente o castelo quando fiz doze anos. Não me interessava a caça, assim que me ofereceu um suborno. Deu-me o castelo em troca de que caçasse um cervo. —Já vejo, algo próprio de um tosco como ele. Agora que o penso, tanto seu pai como sua mãe são, notavelmente, tolos. Bom, você tem um castelo. Isso já é algo. —Tenho algo mais também: um manuscrito que vale centenas de libras... ou mais. Ela soprou. —São memórias. — acrescentou Jas, olhando-a— Memórias escritas por um nobre muito desavergonhado. Se publicará de maneira anônima, é obvio. Troca-se alguns detalhes para não ser identificado... mas é fascinante. Escreve sobre um caso no Westminster, em um armário de artigos de limpeza. Um pequeno som escapou dos lábios da duquesa. Era uma risada? —O armário de artigos de limpeza da ala oeste? —Se me recordo, era o armário que estava ao lado da Sala do Tesouro. —OH, esse. —Posso supor que recorda os cafés da manhã da condessa do Yarmouth? —É obvio. E que fazia ele nesses cafés da manhã?

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—Dedicar-se a uma vida perdida. —respondeu Jas— Descreveu para o desfrute de toda a nobreza. Pôs em chave os nomes de suas diversas “namoradas”. —Escandaloso! —disse a duquesa— Teria que examiná-lo. Estou segura de que tudo é uma invenção. Linnet deu um passo para frente. —Nada disto tem a ver com o fato de que me nego a me casar com Jas. Ambos se viraram, a duquesa olhando-a como se ela fosse um macaco encerrado em uma jaula. —Isto não se parece com uma história, não? —Ele é um duque. E eu sou a filha de um tutor. —Você está sob minha tutela, —disse a duquesa— darei-te um dote, é obvio, e algo mais para essa novela infernal, isso deveria bastar até que o velho duque receba sua justa recompensa, qualquer que seja esta, e que seu marido entre em posse de seu legítimo patrimônio. —Necessito uma coisa para publicar o livro. —disse Jas— Tenho que provar ao parvo de meu editor que o autor descreve acontecimentos de pessoas reais. —Estou segura que tudo é inventado. Nunca ouvi nenhuma fofoca sobre os cafés da manhã da duquesa de Yarmouth. E se eu não o ouvi, não ocorreu. Ele extraiu um relato do manuscrito. —Aqui há uma parte que pode lhe interessar: Quando conheci Helena — no salão de baile do Almack’s, querido leitor, — eu acreditava que já tinha apurado até o fundo a taça da paixão. Em poucas palavras, pensei em me casar. Porque certamente o matrimônio é a contrapartida da inércia das velhas paixões, do cansaço de ver antigas amantes enchendo o salão de baile. Sim! Tal era a magnitude de minha depravação... —Helena? —disse a duquesa pensativa— Está a filha do velho Rathgate, mas... —Lhe pôs os nomes das heroínas de Shakespeare a todas suas amantes. — interveio Jas. —Tolice! Estou de acordo com seu editor, claro que isto está escrito por um mequetrefe que não sabe nada da nobreza. Jas tirou outra página. Burlou-se de mim, me levando aos jardins privados que havia detrás da casa da duquesa de P_, não, não aos jardins formais, querido leitor, a não ser ao jardim privado e murado da duquesa. Levou-me ali e, com uma sensação de culpa e pecado, conto que dançou loucamente... dançou sobre as lajes dos atalhos... dançou sem vestido, sem as anáguas... A duquesa ofegou. —É o jardim da duquesa de Parlowe. Ninguém conhece o jardim... nem os armários da limpeza do castelo... a não ser que seja um dos nossos. —Entrecerrou os olhos— Este livro vale uma fortuna. —Isso é o que pensei. — disse Jas. —O que necessita que faça? —Convença ao imbecil do Mufford de que a história é real.

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—E como vamos conseguir isso? Jas lhe dedicou um amplo sorriso. —Importaria-lhe dar a entender que você tem um conhecimento íntimo dos armários de limpeza do castelo? —Jas. —protestou Linnet— Não deveria dizer algo tão grosseiro. —Com a minha idade, isso não é grosseiro. —disse a duquesa— É um elogio. Mas inclusive assim... ele não me acreditaria. Terá que fazê-lo você, Linnet. —Eu? —Você. A disfarçaremos e entrará ali gemendo e dizendo que não podem publicar essa história ou sua reputação ficará arruinada. Linnet se olhou, percorrendo com os olhos o simples vestido que levava. —Não acreditará que seja um membro da nobreza. —Sim que o fará. —E embora acredite —disse Linnet, já desesperada— nunca acreditaria que sou essa classe de mulher. O tipo que... dançaria pelos atalhos! —Tinha-me parecido entender que dançava nua. — disse a duquesa, desfrutando claramente do momento— O ar fresco é bom para ti, Linnet, minha queridinha. Linnet moveu a cabeça negando. —Sou um vulgar camundongo, ninguém o engoliria. —É formosa. — disse Jas, agarrando seu rosto entre as mãos— Mufford acreditará imediatamente que a metade dos cavalheiros de Londres tentaram te seduzir. —Tenho uma criada francesa. —anunciou a duquesa— Algumas vezes é incrivelmente grosseira, mas pode fazer milagres. —olhou a Linnet— Pode converter um vulgar camundongo em um cisne. Já o verá. Também levaremos a minha outra afilhada, Patience, a condessa de Coulter. Tem mais aptidões para o drama do que é aconselhável: levou a cabo um truque que fez que a metade da nobreza acreditasse que era a condessa de Fraser. —Por que fez algo assim? —Fez-o para que seu marido a percebesse, lhe desse importância. —disse a duquesa— Quanto mais penso, mais convencida estou que é a pessoa perfeita. Contigo e com Patience, esse tolo não terá outra solução a não ser aceitar que as memórias são reais.

Segundo Capítulo Do manuscrito de Feathergastington Acredite-me, sei a angústia que esta história depravada e imoral lhe está causando, querido leitor, mas meu confessor me assegura que devo contá-lo tudo para manter a outros jovens

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pecadores separados do caminho que eu segui. Essa duquesa — tão jovem em anos e tão velha em depravação— abriu uma porta que levava a uma espécie de armário com artigos de limpeza. Ali me encarregou que a fizesse a mulher mais feliz da Corte...

Uma semana mais tarde, Jas estava jogando uma partida amistosa de bilhar com o conde de Coulter, enquanto esperavam que baixassem a condessa e Linnet que estavam na penteadeira da condessa, onde a criada francesa transformava Linnet em uma dama da alta sociedade. —Suponho que ouviste que sua mãe confessou tudo. —comentou o conde. —Hmmm. — disse Jas, alinhando o seguinte tiro. —Ao que parece não é ilegítimo, embora de todas maneiras não se pode dizer que a maioria das pessoas acreditasse. —Ah. —respondeu Jas. Damien pôs-se a rir. —Não se importa, verdade? —Não especialmente. —Já disse a sua mãe que se casaste com Linnet com uma licença especial. Casaram-se aquela mesma manhã. —Não. —disse Jas— Uma vez que se resignou ao fato, mostrou pouco interesse no acontecimento. Acabava de estender a mão para um longo lance quando viu que o olhar de Damien se desviava para a porta. —Sua esposa, suponho. — murmurou o conde. E embora não houvesse nada impertinente nos olhos de Damien, Jas teve vontade de grunhir mostrando os dentes. Em lugar disso, virou-se. Sua Linnet, sua pequena Linnet de um brilhante acobreado, transformou-se em alguém totalmente diferente. Levava a maior parte de seu cabelo recolhido sobre a cabeça; só uns lânguidos cachos lhe caíam sobre os ombros. Nunca a tinha visto com outra roupa que não fosse o singelo vestido de lã azul que a cobria do pescoço até as pontas dos pés. Mas agora o vestido era de seda vermelha escura, o que para ele não era muito. Só um pouco de tecido formava o sutiã, e logo as dobras de seda que revelavam de forma exuberante a figura curvilínea. A via excitante, magnífica e rica. Parecia uma duquesa em todos os aspectos, mas não uma dessas “magníficas damas” dos quadros da galeria de retratos da família. Ela era de uma classe mais nova, uma pecaminosa versão excitante que dizia que se divertia muito para ficar imóvel e posar para um retrato. E ainda assim, seguia sendo ela. O rosto da sua Linnet era um triângulo perfeito de traços finos e delicados e rasgados olhos cinza. As sobrancelhas formavam um perfeito arco aristocrático, e os lábios, aqueles doces lábios, estavam sempre tão pálidos que não estava seguro de que tivessem alguma cor.

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Entretanto, agora, seus lábios eram de um vermelho escuro que fazia jogo com seu vestido, e suas preciosas sobrancelhas douradas estavam obscurecidas. —Não me... —disse ele e tragou as palavras quando o sorriso dela se voltou incerto— Eu não gosto de pensar na competição que terei para que se fixe em mim quando as pessoas a vejam — continuou, aproximando-se dela. As mãos lhe formigavam ansiosas por lhe arrancar a seda, por levá-la até a loucura, a um ponto em que não se desse conta de que o cabelo lhe caía sobre os ombros e suas bochechas se ruborizavam. Quando a beijasse, os lábios se voltariam vermelho escuro. Ela não necessitava toda essa pintura no rosto para ser formosa. O conde se inclinou mostrando uma admiração tão profunda, que Jas se sentiu comovido. Mas então a própria esposa de Damien, Patience, apareceu na porta e Damien desviou sua atenção para ela com os olhos brilhando de alegria e com um sorriso que lhe fez parecer muito mais jovem. Patience era mais baixa que Linnet, mas igualmente formosa. Cachos da cor caramelo lhe emolduravam as têmporas, e sua boca tinha a encantadora forma do arco do Cupido. —Vou jogar a ser a angélica alma gêmea de seu autor favorito. Não a que morre, a não ser a outra. —disse ela, lhe dedicando um sorriso que formou covinhas em suas bochechas— E estou segura que adivinhaste que Linnet vai jogar a ser a depravada Hippolyta. Damien explodiu em gargalhadas. —Vais fingir ser um anjo, Patience? O deslumbrou com um sorriso sem pudor e zombador. —Tenho algumas qualidades de Santa. Por exemplo, aguento-te. Damien olhou a Jas com um amplo sorriso. —Quer ver como meu anjo se converte em demônio? Chame-a Penélope! Jas não entendeu a brincadeira, mas Patience se equilibrou furiosa contra seu marido, só para ficar apanhada entre seus braços e envolta em um beijo que não tinha nada a ver com anjos, harpas e esponjosas nuvens. —Hippolyta é uma boa escolha. —disse a duquesa de Alderstone, aparecendo na porta, atrás de Linnet— Me refiro à festa no jardim da condessa de Yarmouth, e eu estava ali. E o que é mais... Acredito que já sei quem é nosso Reginald Feathergastington! —Quem? —perguntou lorde Coulter com um ar desinteressado. Tinha passado o braço sobre os ombros de sua esposa e pelo modo em que a olhava, não pensava nela como em um modelo de costumes puritanos. —O conde do Mayne. — disse a duquesa, triunfal — Porque lembro com muita claridade que nessa festa paquerou de maneira escandalosa com lady Heather Missle. Não me espantaria o mínimo que ela se deixasse seduzir, ou algo pelo estilo com ele. Jas não estava escutando. Só tinha olhos para Linnet, sua Linnet, agora transformada em algo um pouco muito apetitoso, delicioso e pecaminoso. Lhe sorriu com uma pequena e misteriosa inclinação dos lábios e lhe sussurrou algo no ouvido. —O que? —perguntou ele, acompanhando-a até a porta da sala. Ao que parece não podia

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concentrar-se, olhando a curva cremosa de seu peito. Levava um colar de rubis, que pareciam gotas de vinho e que fez que tivesse vontade de lambê-la. —De verdade pensa que o senhor Mufford acreditará que sou uma dama, Jas? Ele quase pôs-se a rir. Linnet nunca tinha necessitado um vestido elegante para parecer uma duquesa. Ela era tudo o que ele não era: legítima onde ele era ilegítimo, elegante onde ele era comum, doce onde ele era rude.

Mufford nunca chegou a ver de onde chegou o golpe. Primeiro uma condessa com cara de anjo entrou correndo em seu escritório, dizendo que sabia que ele estava a ponto de publicar a história de seu noivado e lhe suplicou que não o fizesse. E logo, mais ou menos uma hora depois, chegou uma duquesa, uma mulher tão apetitosa e sensual, e tão, tão formosa, que o homem não pôde articular nenhuma só palavra. A mulher deslizou pela sala sem dirigir nenhum olhar a Jas. Sentou-se na borda da mesa de Mufford e se inclinou para ele. Mufford nunca soube o perto que esteve de morrer quando olhou de esguelha os cremosos peitos. Ela esteve no escritório só um par de minutos, mas ambos os homens guardaram silêncio depois de que a duquesa se foi. —É ela quem o atou à parede? —sussurrou por fim Mufford. —Não. — respondeu Jas, apoiando-se na porta e olhando divertido. — Esta Mufford, é Hippolyta. A que seduziu ao Feathergastington no jardim, durante uma festa. —E com razão o seduziu. — assegurou Mufford. Os olhos de ambos os se encontraram— Essa mulher é... —Real. — disse Jas com secura— O publicamos? —Três folhas cada vez. — afirmou Mufford — E desfaça-se desse nome, Feathergastington. Será anônimo. —Tsk, tsk —lhe reprovou Jas— Não disse a essa encantadora dama que você protegeria seu nome? —Exato. —disse Mufford— Estou seguro que isto era o que ela queria dizer. Publicaremos como um anônimo. Jas sorriu e se endireitou. —Voltarei amanhã e acabaremos de falar dos detalhes de nosso contrato. Mufford parecia um pouco aturdido quando Jas se foi. Saiu à rua e se dirigiu à carruagem que lhe esperava. Ela estava ali, apetitosa e doce como um pêssego, pecaminosa e sedutora como uma longa noite de inverno, amorosa e angelical como a mãe de sua filha. Só se deteve um momento para perguntar: —Rose estará bem durante um momento? Linnet lhe sorriu.

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—É obvio. A babá a entreterá durante uma hora mais pelo menos. Mas... Ele se voltou para trás e gritou ao chofer: —A Tempere Gate e depois volte aqui outra vez. —Logo entrou e fechou dando uma portada. —A Tempere Gate? —perguntou Linnet. —O trajeto é mais ou menos de uma hora. — explicou ele, e o sorriso que apareceu em sua boca, também estava em seu coração— Muito bem, minha querida esposa, ou deveria te chamar Hippolyta? Ela soltou uma risada tola. E então a beijou. E depois disso, os únicos sons na carruagem foram o estalo contínuo das rodas enquanto giravam em Tempere Gate e, depois de um momento, um rouco sussurro. —O que? —perguntou Jas no ouvido de sua esposa. —Amo-te. —repetiu ela. —Não volte a escapar outra vez. —Não o farei. —Não posso passar a vida te perseguindo. —disse ele. Sua voz deslizou na escuridão do carro — Há tantas perseguições... indecorosas com as quais poderíamos ocupar nosso tempo. —Nesse caso, —lhe assegurou Linnet, e a risada na voz era um reflexo da dele— nunca me separarei de seu lado, Sua Senhoria. —Bom. —disse ele. E depois houve um verdadeiro silêncio. Fim

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